museologia.pt - discretos tesouros 2008

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    museologia.pt

    n 2/2008periodicidade anual

    stituto dos Museus e da Conservao ano II, n 2, 2008

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    * As legendas completas das imagens encontram-se na pgina 33

    Fig. 1 Proclamao das loas por ocasio da Festa dos Rapazes*Varge, Bragana, 2000

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    O texto reflecte sobre o enquadramento legislativo, institucional e cientfico nacional,no mbito da definio da estratgia do Instituto dos Museus e da Conservao paraa salvaguarda do patrimnio cultural imaterial. Neste contexto, identifica os planos demais complexa aplicabilidade da Conveno UNESCO 2003, bem como os principaispontos fortes que devero ser capitalizados naquela estratgia, e que se consubstanciamna utilizao de paradigmas adequados s especificidades do PCI, bem como no recursos recolhas efectuadas ao longo de mais de um sculo no mbito da Antropologia e reasdisciplinares relacionadas.

    The text debates on Intangible Cultural Heritage within the Portuguese context, namely

    on the legal, institutional and scientific issues that must be taken into consideration in

    order to implement the inventory of ICH at a national level, which constitutes a duty of

    the Institute for Museums and Conservation. The text also debates on the most complex

    questions raised by UNESCOs 2003 Convention on its regard to the Portuguese context,

    as well as the main strengths which must be taken into account for that strategy, namely

    innovative legal paradigms, adequate to the specificity of ICH, as well as inventories

    produced for more than one century by Anthropology and related social sciences.

    PALAVRAS-CHAVE:Patrimnio Cultural Imaterial, Instituto dos Museus e da Conservao,Inventrio, Lei de Bases do Patrimnio Cultural, Patrimnio Etnolgico, Cultura Popular,Antropologia.

    Director do Departamento de Patrimnio Imaterial, Instituto dos Museus e da Conservao, [email protected]

    Paulo Ferreira da Costa

    Discretos Tesouros:limites Proteco e outros Contextospara o Inventrio do Patrimnio Imaterial

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    categoria de patrimnio cultural imaterial expresso de um recentealargamento da noo de patrimnio, institucionalizado internacionalmentepela UNESCO por referncia ao patrimnio de carcter monumental/mundial

    (cultural e natural), pressupondo a abordagem integrada aos domnios do imaterial edo material.

    Das vrias questes orientadoras da reflexo sobre esta categoria de patrimnio, aquela

    que porventura reunir maior consenso ser a de saber porque merece este domnio oesforo no sentido da sua salvaguarda. A resposta reside, em primeiro lugar, no facto deque a noo de patrimnio imaterial remete imediatamente para a identidade de umasociedade, independentemente do seu mbito e escala, como colectivo orientado parao futuro pela partilha de um mesmo quadro de valores, encontrando-se estes inscritosnum tempo de longa durao, e assumindo-se determinada manifestao dessepatrimnio como expresso da singular viso do mundo dessa mesma sociedade.

    Contudo, a categoria de patrimnio cultural imaterial suscita inmeras interrogaesquanto ao que constitui, ou pode efectivamente constituir, o seu objecto, designadamentequando pensado conjuntamente com outras categorias de patrimnio bens materiaise espaos que frequentemente se lhe encontram associados. Para alm de sabero que constitui afinal patrimnio imaterial, e ao que deve ou pode entender-sepelo processo da sua salvaguarda, as interrogaes estendem-se ainda s questesde saber para que fins agir sobre ele, de que modos e com recurso a que agentes.Estas questes constituem-se assim como os planos de reflexo do presente texto, nocontexto da poltica definida pelo Instituto dos Museus e da Conservao [IMC] parao estabelecimento das bases do inventrio do patrimnio cultural imaterial [PCI] emPortugal.

    Normativos e Instituies

    No quadro actual da poltica cultural portuguesa, 2001 constitui um ano marcante nombito da actuao sobre o patrimnio cultural imaterial, contemplado desde entona Lei de Bases do Patrimnio Cultural [Lei 107/2001], que, no obstante o escasso

    articulado que dedica a este domnio, semelhana da sua antecedente, introduz umainovao relativamente Lei 13/1985, de 6 de Julho. Trata-se da diferenciao entrerealidades com suporte em bens mveis ou imveis passveis de proteco legal deacordo com os mesmos regimes e nveis de proteco previstos para os restantes bensmveis e imveis e realidadesque no possuam suporte material, para os quais no aplicvel qualquer forma de proteco legal, preconizando-se o seu registo (grfico,sonoro, audiovisual ou outro) como medida indispensvel para a sua salvaguarda.

    Enquanto as primeiras se encontram sujeitas tal como os restantes bens mveis ouimveis a uma eventual distino de valor e sua correspondente hierarquizao deacordo com diferentes regimes (inventariao ou classificao) e formas de proteco(interesse municipal, pblico ou nacional), as segundas so objecto de uma abordagemque implicitamente reconhece a equivalncia do sentido e valores intrnsecos das suasmanifestaes, independentemente da diversidade formal que estas possam assumir.

    Se a ampliao do patrimnio cultural ao domnio do imaterial resultou, em grandemedida, numa ruptura de paradigma relativamente noo clssica de patrimnio,no quadro legal nacional a Lei 107/2001 revela a conscincia de que este (novo)domnio pressupe e exige a formulao de um paradigma inovador relativamente aopatrimnio mvel e imvel e adequado s especificidades do patrimnio imaterial.

    A

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    Para tal ter certamente contribudo a evidncia deque o patrimnio imaterial define, antes de mais,e independentemente da longevidade passvel dedocumentao de uma determinada manifestao, umarealidade em permanente devir, ao invs da protecolegal de qualquer bem fsico, que pressupe a intenoda sua preservao ad aeternum. Dando expresso a tal

    diferena intrnseca entre bens imateriais e bens materiais,a soluo preconizada pela Lei 107/2001 resulta, pois,numa abordagem diferenciada a ambas as categorias.

    Aquela distino, entre bens materiais que constituem osuporte de realidades imateriais (e passveis de protecolegal, como os demais bens mveis e imveis) e bensimateriais propriamente ditos (no sujeitos a qualquerproteco legal) parece-nos assim de capital importncia,como paradigma adequado s especificidades do PCI, porse revelar em sintonia com o princpio de equivalncia dovalor das suas diversas manifestaes (designadamente nacomparao de cada uma com manifestaes congneresem contextos sociais diversos), e, como tal, com o princpiode equivalncia do valor das comunidades e respectivasidentidades que lhes esto na origem. Afinal, este quadrode relativismo cultural constitui o pano de fundo essencialpara a leitura de todos os esforos sistematicamentedesenvolvidos a nvel internacional, em particular pelaONU, pela UNESCO, pela WIPO e pelo CE/UE, nombito de uma estratgia global em que a salvaguarda dopatrimnio imaterial reconhecida como componenteessencial da preservao da identidade e da diversidadecultural das comunidades e grupos, em articulao com apromoo do dilogo intercultural, do respeito mtuo entrecomunidades, grupos e indivduos, do respeito pelos direitoshumanos, e da proteco da cultura tradicional popular emvista promoo da coeso social e do desenvolvimentosustentvel.

    Por outro lado, e apesar da sua antecedncia sobre aConveno para a Salvaguarda do Patrimnio CulturalImaterial, adoptada na 32. Conferncia Geral da UNESCO,em Paris, a 17 de Outubro de 2003 [Conveno 2003],o paradigma institudo pela Lei 107/2001 revela-se aindaconceptualmente em sintonia com os instrumentos quea UNESCO veio depois a desenvolver com vista a umaaproximao integrada aos patrimnios material e imaterial,expressos logo em 2004 com a adopo da Declarao deYamato, que se reveste assim de carcter de adenda quelaConveno.

    precisamente na sequncia da elaborao da Conveno2003, o normativo internacional de referncia para aactuao sobre o PCI, que a poltica cultural portuguesavem a dar expresso concreta s preocupaes relativas

    a este domnio, atravs do cometimento ao Instituto dosMuseus e da Conservao, em conjunto com as DirecesRegionais de Cultura, das respectivas competncias eatribuies.

    Atravs do Decreto-Lei n. 97/2007, de 29 de Maro,e correlativa Portaria n. 377/2007, de 30 de Maro, o

    IMC passa assim a constituir o organismo do Ministrioda Cultura cuja misso consiste no desenvolvimento eexecuo da poltica cultural nacional no domnio do PCI,nomeadamente atravs do respectivo estudo, preservao,conservao, valorizao e divulgao, da definio edifuso dos normativos, metodologias e procedimentosrelativos s diversas componentes da sua salvaguarda.

    Na correspondncia directa com o articulado da Lei deBases do Patrimnio Cultural, e considerando igualmente assuas competncias em matria de inventrio e classificaode bens mveis, ao IMC que compete promover o registogrfico, sonoro, audiovisual ou outro das realidadessem suporte material para efeitos do seu conhecimento,preservao e valorizao, bem como promover o registodos bens culturais mveis ou imveis associados aopatrimnio imaterial.

    No quadro de articulao interinstitucional no mbito doMinistrio da Cultura, ainda ao IMC que compete assegurara articulao e o apoio tcnico s Direces Regionaisde Cultura, s quais compete especificamente apoiara inventariao de manifestaes culturais tradicionaisimateriais, individuais e colectivas, nomeadamente atravsdo seu registo videogrfico, fonogrfico e fotogrfico(Decreto Regulamentar n. 34/2007, de 29 de Maro).

    Finalmente, o ano de 2007 revela-se ainda decisivo naactuao sobre o domnio do patrimnio imaterial, como incio do processo de ratificao, por parte do EstadoPortugus da Conveno 2003. Iniciado com a aprovaoda ratificao por parte do Conselho de Ministros, a23/08/2007, vem a concluir-se j em 2008: aprovada porunanimidade pela Assembleia da Repblica a 24 de Janeiro(Resoluo AR n. 12/2008), a 26 de Maro procede-se sua ratificao, por publicao em Dirio da Repblica doDecreto do Presidente da Repblica n. 28/2008. semelhana do que j sucede relativamente Listado Patrimnio Mundial, Cultural e Natural da UNESCO,ser certamente Comisso Nacional da UNESCO quecompetir a coordenao das futuras candidaturas s Listashomlogas previstas na Conveno 2003.

    Tambm em 2007 teve incio o processo de desenvolvimentoda Lei 107/2001 relativamente ao patrimnio imaterial, nombito de colaborao entre o IMC e a Comisso para o

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    Desenvolvimento da Lei de Bases do Patrimnio Cultural(estrutura criada no mbito do Ministrio da Cultura),processo ainda em curso no momento da elaborao dopresente texto, mas cuja concretizao consideramos de vitalimportncia com vista operacionalizao do inventriodo patrimnio imaterial escala nacional, particularmenteconsiderando as questes que seguidamente se suscitam.

    Tradicional e Popular,Patrimnio e Etnologia

    No universo do patrimnio imaterial integram-se prticas,representaes, expresses, conhecimentos e competnciastcnicas, bem como os bens materiais e os espaos que selhes encontram associados, que uma determinada sociedadereconhea como parte integrante do seu patrimnio cultural,no quadro de uma titularidade colectiva de mbito varivel ede uma efectiva transmisso intergeracional. Sendo objectode constante produo e recriao em funo do respectivocontexto social, histrico e ambiental, constitui-se comofonte de identidade e factor de continuidade culturaldessa sociedade. As formas pelas quais o PCI se manifestaencontram-se inscritas nos prprios modos de organizaoe nos referentes culturais de uma sociedade, sendoindissociveis dos mesmos e nelas convocando-se, comofenmenos totais, essa realidade social indecomponvel,

    independentemente do carcter mais ou menos difuso quetais manifestaes possam assumir.

    Tal como definido na Conveno 2003, as manifestaesdo PCI tm particular expresso nos domnios1 dastradies e expresses orais, incluindo a lngua comoveculo do patrimnio cultural imaterial; das expressesartsticas e manifestaes de carcter performativo; dasprticas sociais, rituais e eventos festivos; das concepes,conhecimentos e prticas relacionados com a natureza eo universo, tambm designados por saberes naturalistaspopulares, bem como das competncias no mbito deprocessos e tcnicas tradicionais, vulgarmente objecto decorrespondncia com a actividade artesanal2.

    Poderia facilmente este conjunto de domnios corresponders coordenadas ou aos captulos para qualquer inqurito,monografia ou manual para a etnografia da maior partedos contextos da cultura tradicional popular, que defacto constitui o objecto privilegiado da Conveno 2003,ainda que o articulado desta no o refira explicitamente eremeta apenas para a Recomendao para a Salvaguardada Cultura Tradicional e Popular, adoptada pela UNESCOem 1989, e ainda que o enquadramento e os princpiosde actuao previstos na Conveno sejam objecto derelevncia para domnios que no os dessa cultura emsentido estrito3.

    Fig. 2 Para uma definio de Patrimnio Cultural Imaterial(adaptado de:The Intangible Heritage Messenger, n1, Paris, UNESCO, Fev. 2006)

    as comunidades e os grupos reconhecem como pertencendo ao seu patrimnio cultural so transmitidas entre geraesso objecto de constante recriaoproporcionam um sentido de identidade e continuidade aos grupos e comunidadesso compatveis com instrumentos internacionais relativos aos direitos humanos

    Prticas

    Expresses

    Representaes

    que associadas a saberes e tcnicas objectos e lugares

    manifestadas em

    tradies e expresses orais expresses artsticas e manifestaes

    de carcter performativoprticas sociais, rituais e eventos festivosconcepes, conhecimentos e prticas

    relacionados com a natureza e o universo

    competncias no mbito de processose tcnicas tradicionais

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    precisamente naquela Recomendaoque se encontra aorigem dos diversos programas de salvaguarda dedicados cultura tradicional popular que a UNESCO desenvolveuao longo da dcada de 1990, designadamente o LivroVermelho das Lnguas em Risco de Desaparecimento(1993), o Programa dos Tesouros Humanos Vivos (1994)e a Proclamao das Obras-Primas do Patrimnio Orale Imaterial da Humanidade (1997/1998)4, este ltimocancelado com a entrada em vigor, em 2006, da Conveno2003.

    Mas mais directamente do Relatrio Our Creative Diversity(WCCD, 1996), elaborado por referncia Convenode 1972, e da Conferncia A Global Assessment of the1989 Recommendation on the Safeguarding of TraditionalCulture and Folklore: Local Empowerment and InternationalCooperation, realizada em Washington conjuntamente pelaUNESCO e pela Smithsonian Institution (BOUCHENAKI;KURIN 1999), que vem a resultar a Conveno 2003, eque o termo imaterial vem a instituir-se em definitivo nopanorama internacional. Com este pretende-se superar,sublimando-os, os qualificativos de tradicional epopular, noes inerentemente complexas e de utilizaono consensual nas Cincias Sociais, bem como ultrapassara divergncia de sentidos das terminologias oficiais no seioda UNESCO: traditional culture and folklore / culturetraditionnel et populaire.

    Por seu turno, a Lei 107/2001 refere-se cultura tradicionalpopular como devendo ser objecto de legislao prpria(n. 8 do Art. 2.). No entanto, precisamente com estedomnio que o seu articulado faz coincidir a concepode bens imateriais, identificando-os como realidadesque, tendo ou no suporte em coisas mveis ou imveis,representem testemunhos etnogrficos ou antropolgicoscom valor de civilizao ou de cultura com significadopara a identidade e memria colectivas (n. 1 do Art. 91.).A referncia ao interesse etnogrfico ou antropolgico dasrealidades com suporte em bens mveis ou imveis (n. 3do Art. 91.) dever ser lida ainda conjugadamente com oteor do Art. 55., especialmente na referncia ao especialinteresse para o estudo e compreenso da civilizao ecultura portuguesas.

    Neste contexto, a matria do patrimnio imaterial pode serconsiderada plenamente coincidente com a depatrimnioetnogrfico ou patrimnio etnolgico5, quer comoexpresso de uma abordagem holista da cultura tradicionalpopular, por princpio integradora das realidades materiale imaterial, quer enquanto objecto da Antropologia e reasdisciplinares afins, independentemente de corresponder aaces estritas de estudo, inventrio e documentao, e/ou a aces de salvaguarda fsica, no contexto de recolhasorais ou documentao audiovisual, da constituio decoleces, etc.

    Fig. 3Antnio Germano, lavrador, comerciante de carroas e antigo almocreveMurteira, Cadaval, 1996

    Fig. 4 Festa dos LeilesAtouguia, Abrigada, Alenquer, 2000

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    Mas aquela equao de equivalncia entre patrimnioimaterial, como categoria tcnico-poltica (no sentidode actuao em matria de patrimnio), e patrimnioetnolgico, como categoria tcnico-cientfica, dificilmentepoder reunir consenso absoluto, no apenas por sereferirem a campos de aco pblica relativamente distintos,mas, em grande medida, em funo dos pressupostos erespectiva aplicabilidade de determinados mecanismos desalvaguarda institudos pela Conveno 2003.

    Patrimnio Imaterial e Mudana Social

    A noo de PCI remete para a imagem de uma determinadasociedade e do seu respectivo quadro cultural como todo

    orgnico e, no obstante o seu carcter dinmico, dotadode coerncia interna, com uma historicidade e um corpo desolues sociais estrutura e modos de organizao social,mundiviso, lngua, tecnologia, etc. que constituem fontede identidade para os seus membros, bem como critrio deespecificidade, simultaneamente do ponto de vista internoe externo, face s demais sociedades. por relao com essa imagtica que tambmdevero ser entendidas as polticas internacionais deconservacionismo6 cultural, pensadas sobretudo comoestratgia de proteco das sociedades dos pases emvias de desenvolvimento, no quadro contemporneode globalizao, com vista preservao da identidadee da diversidade cultural das comunidades e grupos,

    Fig. 5 Senhor da Boa-MorteMonte e Ermida do Senhor da Boa-Morte, Vila-Franca de Xira, 1998

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    promoo do dilogo intercultural, da coeso social edo desenvolvimento sustentvel, e, no caso especficoda Conveno 2003, como resposta s expectativasdaqueles pases de implementao de um mecanismode valorizao patrimonial homlogo Conveno doPatrimnio Mundial, Cultural e Natural, adequado noapenas s caractersticas das suas sociedades, regra geralsem objectos de patrimnio monumental, mas tambms prprias ameaas que recaem sobre estas naquelemesmo quadro de globalizao e homogeneizaocultural. este tambm um dos contextos possveis parao entendimento das Listas preconizadas pela Conveno2003: a Lista Representativa do Patrimnio CulturalImaterial da Humanidade e, muito em particular, aLista do patrimnio cultural imaterial que necessita de

    urgente salvaguarda, enquanto instrumentos fundamentaisde sensibilizao, escala mundial, para a necessidade deproteco do PCI.Tal como preconizado pela Conveno2003, a inscrio de um determinado elemento do PCInaquelas Listas, a partir de proposta de um ou mais pases,pressupe o prvio registo dessa manifestao no(s)respectivo(s) inventrio(s). Independentemente de todos osefeitos que possam resultar dessa inscrio7, o que aquiimporta reflectir , para o caso da sociedade portuguesa, ocontexto de leitura para o que ou pode ser afirmado comoPCI, e, correspondentemente, para o que pode ou no vir aser objecto de registo no inventrio nacional e, eventual esubsequentemente, a ser objecto de candidatura a inscrionaquelas Listasda UNESCO. Para tal devero ser referidasalgumas evidncias.

    Fig. 7 Colocao do mastro num moinho recm-construdoCatefica, Torres Vedras, 2000

    Fig. 6Aguardando a procisso nocturna em honra de S. JosCarvalhal, Bombarral, 2000

    Fig. 8 Feira MedievalTomar, 2007

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    Grosso modo, o interesse pela cultura tradicional popularportuguesa desenvolve-se a partir do ltimo quarteldo sculo XIX, no plano estritamente etnogrfico, ounas relaes deste com outras reas disciplinares, compersonalidades como Tefilo Braga (1843-1924), OliveiraMartins (1845-1894), Adolfo Coelho (1847-1919),A. Toms Pires (1850-1913), Consiglieri Pedroso (1851-1910) e Jos Leite de Vasconcelos (1858-1941). Emciclos de desenvolvimento caracterizados por objectos,perspectivas, metodologias, recursos e fins diferenciados(vd. LEAL 2000), esse esforo de conhecimento prosseguepor todo o sculo XX, vindo a culminar, em diferentestempos, com a autonomizao e a institucionalizaodos vrios campos disciplinares devotados culturatradicional popular, e conduzindo inclusivamente sua reproduo corporativa no apenas pela via dainvestigao, no contexto de Centros de Investigao,Museus e Universidades, mas tambm pela via daformao acadmica dos seus profissionais. Ao longo detodo esse perodo, e no obstante os diferentes e sucessivosinteresses temticos, geogrficos e metodolgicos, grandeparte do territrio nacional vem a ser alvo de inqurito ecartografia, mais ou menos extensos e em maior ou menorprofundidade. principalmente naquelas instituiesque se encontram os repositrios/inventrios do PCI emPortugal.

    Volvido precisamente um sculo sobre o despertar desteinteresse e projecto colectivo de conhecimento do queactualmente recebe a designao de patrimnio culturalimaterial, a sociedade portuguesa acelera um processo demudana que altera radicalmente o contexto e as condiespara a continuidade das matrizes da cultura popular quepara esse perodo lhe foram documentadas.

    Modos de vida seculares e as suas correspondentesmundivises so submetidos a partir de ento a profundastransformaes estruturais na sociedade portuguesa, vindo asubsistir em bolsas residuais ou a desaparecer por completo,por razes de ordem demogrfica, econmica, social ousimblica, sendo por vezes revalorizados e revivificadosaps o seu abandono, mas regra geral j no contexto daatribuio de novos sentidos a essas prticas tradicionais.Para o caso do mundo rural, contexto de leitura de partesignificativa do que ou pode ser afirmado como PCI,este declnio de um tempo longo (BAPTISTA 1996) deveconstituir precisamente um dos enquadramentos-base paraa leitura dos domnios do tradicional e do popular nacontemporaneidade, paradoxalmente entendidos numaperspectiva de atemporalidade, como se tais usos e costumestivessem sobrevivido inalterveis como fragmentosincorruptos dessas vivncias ancestrais no obstanteas demais componentes da realidade das respectivascomunidades terem sido sujeitas a transformaes deordem diversa.

    O actual contexto do PCI em Portugal no , pois,exactamente o das sociedades frias que se assumemcomo beneficirias preferenciais das preocupaesque presidiram elaborao da Conveno 2003 e dasListas por ela institudas escala internacional. Alis, sereconhecidamente muitas das tradies j no so oque eram, muitas delas apresentam, paradoxalmente,uma vitalidade suspeita no quadro de anteriores vaticniosde extino. Restar saber se se tratam efectivamentede tradies ou, ao invs, de representaes detradicionalismo, valorizadas pela respectiva comunidadecomo modo discursivo de afirmao da sua longevidade,identidade e especificidade e que, mais do que traduzirem

    Fig. 9A figura da vivaMurteira, Cadaval, 2000

    Fig. 10 Procisso em honra de N. Senhora das NevesMontejunto, Cadaval, 1994

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    o que a comunidade efectivamente , serve para esta secontar e representar a si prpria.Um caso bom para pensar a actual situao do PCI e osseus possveis duplos o dos Caretos de Podence, exemplode como a tradio, neste caso a do Carnaval, podemanifestar-se em dois sentidos distintos para a mesmacomunidade: por um lado atravs da sua realizao nolocal e na comunidade que lhe esto na origem, Podence,e no tempo prprio da tradio, o Carnaval; por outro, aperformance da tradio no exterior da aldeia, em qualquerlugar e momento do calendrio, como representaoda comunidade, da regio do Nordeste Trasmontano,e mesmo, sobretudo quando sucede alm-fronteiras,como representao da tradio de mbito nacional(RAPOSO 2006). Dever ser este, alis, um dos factores doentendimento para a sua escolha, de entre tantos possveisexemplos da presena dos personagens mascarados nosrituais de Inverno naquela regio, para integrar diversaslgicas de promoo deste tipo de festividades, inclusive escala mundial. Neste mbito temtico e regional, talescolha ilustra ainda como a questo do contexto e daescala assumiro particular relevncia na concepoe implementao de um sistema de inventrio do PCI escala nacional, no apenas para fins de coernciainterna no processo de identificao, estudo e registo doPCI, designadamente na perspectiva da sua classificaotipolgica, mas igualmente como instrumentos de apoio eventual candidatura sua inscrio naquelas Listas.

    Em Podence, enquanto manifestao social, a Festa doCarnaval assume assim um sentido duplo: por um lado investida de sentido e funo por referncia ao contextorural, arcaico e comunitrio, como objecto de identificaoe participao no seu mbito social de origem; por outro,

    objecto de des-semantizao e transformao, a partirda matriz cultural original, em puro espectculo e objectode consumo por parte do exterior da comunidade. Esteexemplo de como as festividades do Ciclo de Invernoconstituem um dos principais recursos de emblematizaocultural da regio trasmontana, ilustra com particularacutilncia processos de revivificao, reinveno oumesmo folclorizao da cultura tradicional popular,simultaneamente como reconfigurao das identidadeslocais e tradio num contexto de mudana social8e comoprocessos de mercantilizao daquela cultura, induzidospor entidade externas e/ou pelas prprias comunidades.Tal como refere Paulo Raposo, cujo trabalho constitui afonte desta breve sntese sobre o Carnaval de Podence, ocaso dos seus Caretos revela como por vezes O recenteformato de emblematizaoepatrimonializaoparece sermais relevante do que a assertiva e criteriosa sobrevivnciae manuteno de uma morfologia da festa autntica(2006: 90).

    Longe de se constiturem apenas como instrumentos dedesconstruo dos domnios do tradicional e do popular,os estudos sobre os processos de patrimonializaoda cultura popular, designadamente na perspectiva dainveno de tradies (HOBSBAWM; RANGER 1983) eda folclorizao (CASTELO-BRANCO; BRANCO 2003),mercadorizao e promoo do consumo dessa cultura,constituiro certamente uma das vias para circunscrevere identificar o que constitui, efectivamente, PCI, ajudandoa distingui-lo do que traduz mera prtica discursiva eperformance da tradio e emblematizao e representaode especificidade cultural popular por parte de umacomunidade, para si prpria e/ou para o exterior, e quantasvezes, procura de certificao dessa suposta autenticidade.

    Fig. 11Arte XvegaPraia da Nazar, 2000

    Fig. 12 Ronda aldeia por ocasio da Festa de Santo EstvoOusilho, Vinhais, 1999

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    Em particular, os estudos sobre os movimentos e os agentesde recriao e revivificao da cultura popular podemrevelar-se um importante repositrio e meio para anlisedas realidades sociais declaradas como autnticas,tradicionais, ancestrais, etc. e para cuja imagticade originalidade, colorido, exotismo, atemporalidade eespectacularizao se promove o consumo mais ou menosmassificado, num processo de emulao extensivo a aldeias,vilas, cidades e regies , mas que efectivamente deveroser entendidas num plano distinto do da salvaguarda do PCIe objecto de estratgias e apoios diferenciados, tal comosucede, por exemplo, para o domnio do Artesanato, o qualpode inclusive beneficiar de apoios de carcter financeiro,tcnico ou logstico, e no qual se enquadra a certificao

    de saberes e tcnicas especficos com expresso na suautilizao pelas unidades produtivas artesanais e nos seusrespectivos produtos (vd. nota n. 2).

    Para regressar s especificidades do PCI no contexto dasociedade portuguesa contempornea, designadamenteenquanto sociedade democrtica e no quadro da suaintegrao das sociedades ocidentais modernas, no nosparece que suscitem especial complexidade ou inquietaodeterminadas exigncias preconizadas pela Conveno2003 por referncia cultura tradicional popular, taiscomo as relativas compatibilizao do que possa serconsiderado como PCI com os instrumentos internacionaisem matria de direitos humanos9.

    Fig. 13 Pinturas realizadas por ocasio do Cantar dos ReisOlhalvo, Alenquer, 2008

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    No entanto, outras exigncias no sero eventualmentesusceptveis de reunir o mesmo consenso, em particularno que respeita sua aplicabilidade. em particular ada necessidade do reconhecimento do PCI por parte dosseus respectivos detentores (as comunidades, os grupos e,sendo o caso, os indivduos10), bem como a da participaodesse(s) mesmo(s) detentor(es) no processo de elaboraodos respectivos inventrios, conceptualizada originalmentepor referncia s sociedades frias, em pases quentes, emrelao s quais importa precaver, por exemplo, a utilizaode saberes e tcnicas tradicionais sem que os benefciosresultantes da mesma revertam directamente a favor dosseus detentores originais11.

    Quanto primeira, no contexto democrtico da sociedadeportuguesa, e no actual quadro de valorizao endgena dacultura popular tradicional, ser pouco provvel que umacomunidade, grupo ou indivduo no venha a reconhecer-se no que seja proposto considerar, independentemente dasua fonte, como PCI. Pelo que atrs referimos relativamenteaos processos de patrimonializao e mercantilizao dacultura popular, poder precisamente suceder o inverso:que o desejo e a expectativa de vir a ser declarada comoPCI no contexto do inventrio nacional, e eventualmenteno mbito das Listas da UNESCO uma manifestaoque afirmada como tal pelo seu detentor, no possamencontrar correspondncia nas suas caractersticas mnimasindispensveis para que, com rigor tcnico e cientfico,possa ser considerada como tal.

    Quanto exigncia da participao dos detentores do PCIno seu respectivo inventrio, ela suscita naturais dificuldades

    para diversos tipos de manifestaes, em particular asque envolvam escalas colectivas alargadas, devendo serentendida, evidentemente, de acordo com as prpriasorientaes tcnicas da UNESCO, que preconizam quecompete a cada Estado-Membro determinar os modos dasalvaguarda do PCI no seu contexto territorial, bem comoos modos de envolvimento das respectivas comunidades egrupos (UNESCO 2005: 19-20).

    Um dos principais desafios que se colocar nacionalmenteao inventrio do PCI constituir assim a concepoe implementao de um sistema suficientemente gilque permita viabilizar a participao desses detentorese, simultaneamente, a articulao entre as entidadespromotoras do registo do PCI, bem como as autarquias,enquanto instncias do poder poltico representantes dascomunidades locais. Para tal, os meios que a Sociedadedo Conhecimento hoje fornece constituiro certamenteum factor decisivo, designadamente como paradigmaalternativo e inovador face aos tradicionais mecanismoslegais de consulta pblica utilizados no mbito da protecolegal do patrimnio material.

    Finalmente, e para l das solues que venham a serencontradas para lhe dar aplicabilidade, esta mesmaexigncia da Conveno 2003 traduz-se num paradoxoessencial: por um lado, preconiza o indispensvelreconhecimento destes objectos de cultura, enquantoobjectos de patrimnio, por parte dos seus produtores/detentores; por outro, pressupe o seu inventrio comocondio primordial da sua salvaguarda, enquanto meiodo seu estudo e documentao.

    Fig. 14 Pinturas realizadas por ocasio do Cantar dos ReisAbrigada, Alenquer, 2008

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    Concomitantemente, de um lado afirma tratar-se este deum patrimnio vivo (expresso que suscita inmerasdificuldades, de ordem conceptual e operacional), quedeve encontrar correspondncia no que os seus produtores/detentores identificam e afirmam como tal; por outro,enquadra-o, compreensivelmente, na lgica patrimonialda perda decorrente do perigo do seu desaparecimento

    e, como tal, da urgncia da sua proteco, exigindoa interveno de agentes tcnica e cientificamentequalificados para assegurar essa proteco mediantea elaborao de inventrios, na qual devem participartambm, em determinado grau, os mesmos produtores/detentores, designadamente na perspectiva de recair sobreestes a titularidade desse bem.

    Este complexo contexto institucional e normativo de (re)descoberta do patrimnio imaterial configura certamente,independentemente de todas as retricas que a ele sepossam aplicar, um conjunto de novas oportunidades para osvrios profissionais, desde logo no campo da Antropologia,que o tm tomado como objecto de interrogao desdeo ltimo quartel do sculo XIX, e que, em planos embitos diversificados, tm-se constitudo como agentespreferenciais do seu estudo, promoo, valorizao e,mediante estes ltimos, como agentes preferenciais da suasalvaguarda.

    Tal como tem vindo a suceder j para outros contextos deactuao patrimonial (museus etnogrficos, movimentosassociativos de defesa e valorizao da cultura tradicionalpopular, instncias polticas de mbito diverso, etc.), umdos principais desafios que se colocar a esses profissionais,nomeadamente enquanto agentes de mediao entreos produtores/detentores do PCI e a constituio dorespectivo inventrio, e enquanto agentes qualificadospara o estudo e a documentao desse mesmo patrimnio,ser possivelmente o do equilbrio a conseguir entre aanlise e a documentao das realidades que estudam,que constitui a matria fundamental da sua actividade,e a sua potencial participao na legitimao directa deaspiraes patrimonializadoras dessas mesmas realidades.Aspiraes de comunidades, grupos e indivduos, queconstituem o principal veculo para esse conhecimento,e de cuja cultura esses profissionais assumem-se comointrpretes privilegiados, mas tambm aspiraes dosseus variados tipos de representantes. Enfim, tal desafio,a que a cada um responder de acordo com as suasprprias convices cientficas, profissionais, cvicas epolticas resultar no equilbrio entre o constiturem-secomo agentes do conhecimento do PCI e como potenciaisagentes da participao na construo e emblematizaodos patrimnios e das identidades dos seus objectos emeios de conhecimento.

    Inventrio do Imaterial:Princpios e Objectivos

    No actual quadro legal e institucional de salvaguarda doPCI, posio do Instituto dos Museus e da Conservaoque a poltica de proteco e valorizao daquele dever

    assentar, a nvel nacional, sobre o respectivo inventrio,na perspectiva de instrumento heurstico de importnciaprimacial para a sua identificao, estudo e documentaosistemticos, e enquanto componente prvia e incontornvelpara a sua adequada divulgao e valorizao.

    Mas tambm como medida indispensvel sua salvaguarda,considerando que cada inventrio assume esse papelfundamental de proteco, quando apenas o que subsistecomo memria do que no pde ser perpetuado. Esta ,em ltima anlise, e a despeito do reconhecimento pelaUNESCO do seu carcter dinmico, uma das poucascertezas que poderemos ter relativamente ao patrimnioimaterial, em particular para contextos em aceleradatransformao, pois, ao contrrio dos bens culturais mveise imveis, cada elemento daquele patrimnio permanecerno que apenas enquanto cumprir a funo, ou funes,de que investido pela sociedade que lhe est na origem eque lhe confere o seu sentido pleno.

    * * *Tal sistema de inventrio dever dar expresso aoscompromissos assumidos pelo Estado Portugus no mbitoda ratificao da Conveno 2003, no mbito da qual aconstituio de inventrios precisamente uma das medidasindispensveis. Do mesmo modo, dever constituir-se comoinstrumento de apoio deciso da salvaguarda de umadeterminada manifestao do PCI escala internacional,atravs da sua inscrio na Lista Representativa doPatrimnio Cultural Imaterial da Humanidadeou na Listado patrimnio cultural imaterial que necessita de urgentesalvaguarda. (Art.s 16. e 17. da Conveno 2003.

    A concepo e implementao do referido sistema deinventrio dever ser efectuada segundo uma aproximaointegrada e holstica do patrimnio cultural, designadamente naperspectiva da frequente indissociabilidade entre patrimniomaterial e imaterial e, para as realidades imateriais comsuporte em bens materiais, em ntima articulao com oquadro de princpios, formas e procedimentos relativos proteco legal de bens mveis e imveis e na perspectivada importncia assumida pelo patrimnio no mbito dosmecanismos sociais e identitrios das comunidades egrupos, independentemente dos territrios e da profundidadehistrica nos quais se inscreve essa memria e identidade.

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    Dever igualmente dar expresso ao carcter dinmicodas manifestaes imateriais do patrimnio, do quedecorre que a sua salvaguarda deve consubstanciar-sena identificao, estudo e documentao sistemticos eexaustivos dos processos culturais que lhe so inerentes,isto , nos prprios actos sociais em permanentereelaborao que se constituem como garante dacontinuidade e reproduo social de tais manifestaes.

    Dever promover o inventrio do PCI de acordo comcritrios tcnicos e cientficos adequados, no mbito deprocedimentos uniformizados e no respeito pelas boas-prticas inerentes ao seu processo de identificao, estudo edocumentao, bem como, sempre que possvel ou aplicvel,com o envolvimento da respectiva comunidade, grupo ouindivduos, no quadro dos princpios ticos e deontolgicosaplicveis e com vista ao pleno reconhecimento datitularidade dos seus respectivos detentores.

    Tal sistema de inventrio dever assim constituir uminstrumento indispensvel: promoo do rigor tcnico noprocesso de identificao, estudo e documentao do PCI,com recurso a agentes dotados da adequada qualificao

    tcnico-profissional; ao conhecimento alargado, escalanacional, das mltiplas manifestaes do PCI, designadamenteno mbito da identificao de diversidades, recorrnciase afinidades tipolgicas; ao acesso ao PCI por parte dasrespectivas comunidades, grupos e indivduos.Simultaneamente, dever dar expresso importncia dopapel desempenhado pelas entidades de carcter cientficoe educativo, nomeadamente museus, arquivos e centros deinvestigao, como agentes indispensveis ao processo deconhecimento, salvaguarda e valorizao do PCI, atravsda constituio e preservao de colectneas e bancosde dados, independentemente do seu suporte e meio deregisto, e da promoo de inventrios, recolhas, estudose actualizaes de informao relativa ao PCI. Deverpromover a concertao de esforos e a cooperao entreas diversas instituies, pblicas e privadas, envolvidasna salvaguarda do PCI, designadamente promovendo adigitalizao de contedos e o seu acesso alargado, para finsda sua salvaguarda e fruio.

    Dever assentar sobre o princpio da equivalncia dosentido e valor cultural intrnseco da vasta diversidade demanifestaes do PCI, independentemente do tempo, lugar

    Fig. 15 Mulher recolhendo salMarinhas, Rio Maior, 2000

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    Fig. 16 A Aldeia Mais Portuguesa de Portugal

    Monsanto, 2002

    do Patrimnio Culturale os diplomas orgnicos relativos aoIMC e s Direces Regionais de Cultura , e os contedosdaqueles mesmos registos assumem-se inequivocamentecomo um dos principais pontos fortes para qualqueractuao qualificada sobre o patrimnio imaterial noterritrio nacional. Como tal, a estratgia de inventriopara este territrio dever recorrer indispensavelmente aesses fundos, dispersos por arquivos, museus, centros deinvestigao, associaes de proteco do patrimnio evrias outras instituies, promovendo a sua sistematizao,a sua digitalizao e a sua disponibilizao online deacordo com metodologias adequadas, promovendo assima valorizao, a divulgao e o seu acesso por parte dascomunidades que esto na origem desse patrimnio e paraa identidade das quais ele decisivo.

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    1A terminologia adoptada difere da traduo oficial para Portugus da Conveno 2003, publicadaem Dirio da Repblica (I/S, n. 60, de 26/3/2008), tendo beneficiado do confronto das versesdisponibilizadas previamente pela Procuradoria-Geral da Repblica e pela Comisso Nacionalda UNESCO, bem como do confronto das verses oficiais da Conveno em Ingls, Francs eCastelhano.2 No contexto nacional, o artesanato j objecto de polticas e de medidas de salvaguarda evalorizao especficas, autnomas do domnio do patrimnio e da cultura, na dupla componentede regulao de actividade produtiva e de certificao dos produtos dela decorrentes (vd. Decreto-Lei n. 41/2001, de 9 de Fevereiro, com as alteraes introduzidas pelo Decreto-Lei n. 110/2002,de 16 de Abril), designadamente no contexto de actuao do Instituto do Emprego e FormaoProfissional, I.P.3 Constituiu esta precisamente uma das vias de reflexo suscitada nos Colquios Inventrio,Proteco, Representatividade (Museu Nacional do Teatro, 11/04/2008) e Saberes e Tcnicas:entre o Registo e a Transmisso (Ecomuseu Municipal do Seixal, 27/06/2008). Ambos decorreramno mbito do Ciclo de Colquios Museus e Patrimnio Imaterial: agentes, fronteiras, identidades(Fevereiro a Novembro de 2008), organizado com vista promoo da reflexo e debate sobre odomnio do PCI, no contexto da recente criao do IMC.4Acresce ainda aColeco de Msica Tradicional do Mundo, programa iniciado pela UNESCO em1961.5

    A expresso patrimnio etnogrfico, utilizada timidamente, reporta-se sobretudo s colecese actividades dos museus etnogrficos, de mbito geralmente local, designadamente no mbito dacrescente afirmao destas instituies no panorama museolgico, em Portugal e noutros contextos(vd. BROMBERGER 2007). A utilizao em Portugal da segunda expresso deve-se principalmente actuao do Museu Nacional de Etnologia, pela sua vocao e pela misso que prossegue desde a suaconstituio em 1962, tambm como herdeiro do Centro de Estudos de Etnologia (1947). Para o casofrancs, em particular para a declarao de coincidncia entre patrimnio imaterial e patrimnioetnolgico no contexto da actividade desenvolvida pela Mission lEthnologie, sucessora da Missiondu Patrimoine Ethnologique, vd. FABRE 2006.6 No sentido dos seus paralelismos com as polticas e instrumentos de preservao dabiodiversidade.7A mais notria resulta na sua imediata diferenciao e hierarquizao (vd. BARRETO 2003: 45) porreferncia s demais manifestaes do PCI (em particular relativamente s suas congneres) de ummesmo territrio, e, como tal, a correspondncia entre a elevao de uma ou mais manifestaesa patrimnio imaterial mundial e a sua assumpo como representao de um todo nacional, aliscom evidentes correspondncias com o esprito subjacente ao anterior programa da UNESCO deProclamao dasObras-Primas do Patrimnio Imaterial da Humanidade.8De tal so tambm exemplo asFestas de Rapazes, recuperadas e reactualizadas com a participaode raparigas, tradicionalmente interditas nestes rituais e vtimas preferenciais das aproximaesfsicas dos rapazes (ALMEIDA 2006).9Exceptuar-se-o, eventualmente, as prticas que envolvam o recurso ao trabalho infantil, outrorarecurso indispensvel economia domstica em inmeros contextos sociais.10Para a definio destes tipos de detentores, realizada subsequentemente Conveno 2003, vd.UNESCO/ACCU 2006: 9.11 O domnio da etnobotnica um dos exemplos mais frequentemente citados na literaturadedicada ao PCI.12Os normativos consultados so referidos apenas no prprio texto.

    Notas

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    Fig. 1 Proclamao das loas por ocasio da Festa dos Rapazes. Na janela, friso de mscaras,acompanhadas de letreiro indicando Para Venda. Varge, Bragana. 2000. [Foto Benjamim Pereira].

    Fig. 3 Antnio Germano, lavrador, comerciante de carroas e antigo almocreve, exibindo o seu aradode madeira. Nessa Primavera, o arado foi excepcionalmente utilizado para lavrar um campo de milho,

    pois o terreno encontrava-se encharcado pela chuva em excesso e desaconselhava a utilizao do seutractor, pelo peso excessivo deste. Murteira, Cadaval, 1996 [Foto PFC].

    Fig. 4 Decorando o cargo para o leilo da Festa dos Leiles, organizada pelo Atouguia Futebol Clube erealizada em honra do Mrtir S. Sebastio, orago da aldeia. Atouguia, Abrigada, Alenquer, 2000 [Foto PFC].

    Fig. 5 Circumambulao da imagem do Senhor da Boa-Morte em torno do Cruzeiro, finda a bno doscampos, carregada por homens envergando traje de campino. Nesta Quinta-feira de Asceno, feriadolocal, como em muitos outros municpios do Ribatejo, a bno estendeu-se, para alm da lezria, Expo 98, que inauguraria no dia seguinte. Monte e Ermida do Senhor da Boa-Morte, Vila-Franca deXira, 1998 [Foto PFC].

    Fig. 6Aguardando a passagem da procisso nocturna em honra de S. Jos. Sobre o muro, luminrias feitasde cascas de caracis e alimentadas a azeite. Aps a procisso, uma Comisso Avaliadora percorredepois as ruas da aldeia, com vista eleio do vencedor do concurso, ao qual se podem candidatarapenas as casas que recorram quelas luminrias tradicionais. Carvalhal, Bombarral, 2000 [Foto PFC].

    Fig. 7 Colocao do mastro, retirado de um moinho em avanado estado de degradao, num moinhorecm-construdo, em beto e tijolo, com o piso trreo destinado a habitao de veraneio. Catefica,

    Torres Vedras, 2000 [Foto PFC].Fig. 8 Recriao da tradio: Feira Medieval, com venda de produtos agrcolas e gastronmicos,assegurada por grupos folclricos e etnogrficos. Tomar, 2007 [Foto PFC].

    Fig. 9 A figura da viva carpindo as virtudes do seu defunto no Enterro do Entrudo. A tradiolocal foi interrompida na dcada de 1940, e retomada apenas em 1990, sob a iniciativa de um grupode jovens fortemente liderado pelo Gu, ou Hlder Jacinto, a quem coube desde ento aquele papel.Murteira, Cadaval, 2000 [Foto PFC].

    Fig. 10Procisso em honra de N. Senhora das Neves, um acto performativo em permanente reelaborao.Em 1994, pretendendo recuperar a tradio antiga de, antes da missa, os cavalos darem trs voltas capela, o pendo foi transportado a cavalo por um rapaz, acompanhado de uma menina tambm acavalo. Montejunto, Cadaval, 1994 [Foto PFC].

    Fig. 11 Encenao da Arte Xvega, por ocasio do festival anual que afirma este tipo de pesca tradicionalcomo marca da identidade da Nazar. Praia da Nazar, 2000 [Foto PCF].

    Fig. 12 Ronda aldeia por ocasio da Festa de Santo Estvo, outrora exclusivamente uma Festa de

    Rapazes. Ousilho, Vinhais, 1999 [Foto Benjamim Pereira].Fig. 13 Pinturas realizadas nas casas por ocasio do peditrio cerimonial que acompanha o Cantar dosReis. Olhalvo, Alenquer, 2008 [Foto PFC].

    Fig. 14 Pinturas realizadas nas casas por ocasio do peditrio cerimonial que acompanha o Cantar dosReis. Abrigada, Alenquer, 2008 [Foto PFC].

    Fig. 15 Mulher recolhendo sal no talho da sua famlia. Marinhas, Rio Maior, 2000 [Foto PFC].

    Fig. 16Monsanto, vencedora do concurso A Aldeia Mais Portuguesa de Portugal, promovido pelo SPNem 1938. O concurso, com fins claros de promoo dos valores ideolgicos do Estado Novo referentes cultura popular, destinava-se a seleccionar, como cone do mundo rural tradicional, uma aldeiaconsiderada resistente a quaisquer influncias estranhas e cristalizada no estado de conservao nomais elevado grau de pureza das suas caractersticas originais. Ao fundo, a Torre de Lucano, ostentandoa rplica do Galo de Prata ganho no Concurso [Foto PFC].

    Legendas das Imagens

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