mundo natural

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A CRIANÇA E O MUNDO NATURAL CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO INFANTIL DE CONTAGEM EXPERIÊNCIAS, SABERES E EXPERIÊNCIAS, SABERES E CONHECIMENTOS CONHECIMENTOS

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Educação infantil

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  • A CRIANA E O MUNDO NATURAL

    CURRCULO DA EDUCAO INFANTIL DE CONTAGEM

    EXPERINCIAS,SABERES EEXPERINCIAS,SABERES ECONHECIMENTOSCONHECIMENTOS

  • VOLUME 9: A CRIANA E O

    MUNDO NATURAL2012

    CURRCULO DA EDUCAO INFANTIL DE CONTAGEM

    EXPERINCIAS,

    CONHECIMENTOSSABERES E

  • 2 | Prefeitura MuniciPal de contageM a criana e o Mundo natural | 3

    Marlia camposPrefeita de contagem

    lindomar diamantino SegundoSecretrio de educao e cultura

    APRESENTAO

    a publicao da coleo Currculo da Educao Infantil de Contagem: experincias, saberes e conhecimentos vem coroar o trabalho de reflexo sobre o currculo a ser desenvolvido com as crianas dessa etapa da educao Bsica, realiza-do pelas profissionais que atuam nas instituies de educao infantil pblicas e conveniadas de contagem.

    a coleo, construda a partir das dvidas e inquietaes das profissionais, tem como objetivo orientar o processo de elaborao da proposta curricular de cada instituio, fomentando a discusso sobre a prtica educativa. essa atitude democrtica de construo coletiva uma das marcas da poltica municipal que estamos gestando na cidade e que visa garantia do direito da criana a uma educao infantil de qualidade.

    a proposio de um currculo para a educao infantil, consubstanciada na coleo que ora apresentamos, pretende ser um material aberto, flexvel, coerente com as concepes de criana, de infncias, de educao infantil, de aprendizagem e desenvolvimento que a poltica municipal de educao defende, alm de provocar a articulao entre teoria e prtica, expli-citando os objetivos, os saberes e conhecimentos que possibilitaremos que as crianas vivenciem nas nossas instituies.

    a coleo, ao provocar a reflexo e ao desconstruir propostas prescritivas que meramente apontam contedos a serem desenvolvidos, busca uma relao interativa com a profissional que atua na educao infantil. nosso objetivo possibilitar s crianas contagenses experincias que as toquem, as transformem e as considerem cidads. experincias que sero plurais, variadas, diversas, assim como o so as propostas pedaggicas que desenvolvemos na cidade, que tm como eixo comum a formao humana dessa criana, considerando sua especificidade e as concepes que acreditamos.

    esperamos que a leitura dos cadernos da coleo Currculo da Educao Infantil de Contagem: experincias, saberes e conhecimentos estabelea um dilogo frtil sobre a educao infantil em nossa cidade. um dilogo que garanta tempos e espaos para a vivncia de uma infncia cidad, na qual a criana possa se apropriar do mundo e da cultura, tornando-se cada vez mais humana.

    PREFEITA MUNICIPALMarlia aparecida campos

    VICE PREFEITOagostinho da Silveira

    SECRETRIO MUNICIPAL DE EDUCAO E CULTURAlindomar diamantino Segundo

    SECRETRIO ADJUNTO DE EDUCAO E CULTURAdimas Monteiro da rocha

    COORDENADORA DAS POLTICAS DE EDUCAO BSICAMaria elisa de assis campos

    REVISOluciani dalmaschio

    PRODUO EDITORIALfernanda cristina Mariano dinizMrio fabiano da Silva Moreira

    AUTORAS DO DOCUMENTO

    CONSULTORIA PEDAGGICAftima regina teixeira de Salles diasVitria lbia Barreto de faria

    FICHA TCNICA

    DIRETORIA DE EDUCAO INFANTILlucimara alves da Silvarosalba rita limaValma alves da Silva

    ASSESSORIA DE EDUCAO INFANTIL DOS NCLEOS REGIONAIS DE EDUCAOcibelle de Souza Braga nre industrial/riachodarci aparecida dias Motta nre Sederica fabiana Beltro Pereira nre Vargem das floresliliane Melgao ornelas nre eldoradoMaria elizete campos nre PetrolndiaMicheli Virgnia de andrade feital nre eldoradoSandro coelho costa nre industrial/riachoSilvia fernanda Mutz da Silva nre ressaca/nacionalSnia Maria da conceio flix nre Sede

    COLABORAOghisene Santos alecrim gonalves nre ressacaPauline gonalves cardoso duarte nre nacional

    GRUPO DE TRABALHO RESPONSVEL PELA ELABORAO DO CADERNO A CRIANA E O MUNDO NATURALdeize de oliveira do carmo assuno - e.M. Jos Silvino dinizluzia ferreira gomes - anexo eustquio Junio MatosinhosMaria elizete campos coordenao do grupoSolange rocha de oliveira amaral - cei Jardim das oliveiras

    CO-AUTORASProfissionais da educao infantil da rede Municipal e da rede conveniada de contagem

    contagem. Minas gerais. Prefeitura Municipal. Secretaria Municipal de educao e cultura.

    a criana e o mundo natural/ Prefeitura Municipal de contagem. - contagem: Prefeitura Municipal de contagem, 2012.

    iSBn coleo: 978-85-60074-08-2iSBn Volume: 978-85-60074-17-432 p.: il. - (currculo da educao infantil de contagem, 9).

    1- educao infantil. 2- currculo. 3- Meio ambiente. 4- fenmenos. 5- Sustentabilidade. 6- campos de experincias. i- ttulo. ii- Srie.

    cdd: 372.21

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    INTRODUO

    a coleo Currculo da Educao Infantil de Contagem: experincias, saberes e conhecimentos tem como objetivo orientar o processo de construo da proposta curricular de cada instituio de educao infantil de contagem. trabalha-mos nessa coleo com o seguinte conceito de currculo:

    Conjunto de experincias culturais relacionadas aos saberes e conhecimentos, vividas por adultos e crianas numa instituio de Educao Infantil IEI , na perspectiva da formao humana. As experincias vividas nessa caminha-da so selecionadas e organizadas intencionalmente pelas profissionais da IEI, embora estejam sempre abertas ao imprevisvel. O currculo um dos elementos do PPP, devendo se articular com os demais elementos desse projeto e ser norteado por suas concepes. Nesse sentido, a seleo das experincias determinada pelas necessidades e interes-ses das crianas com as quais a IEI trabalha, considerando as especificidades do seu desenvolvimento e do contexto onde vivem, a diversidade que as caracteriza, bem como pelas exigncias do mundo contemporneo.

    esse conceito procura consolidar uma concepo que leve em conta o contexto em que a instituio de educao infantil est inserida e que coloque a criana na centralidade do processo pedaggico. nessa perspectiva, a criana sujeito de sua ao e reflexo, possibilitando, a partir da interao com outras crianas e com adultos e das experincias que vivencia nas relaes sociais e nos processos de aprendizagem e desenvolvimento, sua formao humana.

    a coleo est organizada em onze cadernos, a saber:

    DiscutindooCurrculodaEducaoInfantildeContagem;

    ACrianaeaLinguagemOral;

    ACrianaeaLinguagemEscrita;

    ACriana,oBrincareasBrincadeiras;

    ACrianaeoMundoSocial;

    ACriana,oCuidadoeasRelaes;

    ACriana,oCorpoeLinguagemCorporal;

    ACriana,aMsicaeaLinguagemMusical;

    ACriana,aArteeaLinguagemPlsticaeVisual;

    ACrianaeoMundoNatural;

    ACrianaeaMatemtica.

    o caderno Discutindo o Currculo da Educao Infantil de Contagem apresenta e detalha o conceito de currculo adotado pelo municpio e as concepes que norteiam o trabalho na educao infantil. apresenta, ainda, o histrico do processo de construo da coleo e destaca a necessria relao que cada instituio deve estabelecer entre seu currcu-lo e seu Projeto Poltico-pedaggico.

    os outros dez cadernos, cada um identificado por uma cor especfica, apresentam os campos de experincias a serem trabalhados com as crianas. em cada um deles busca-se fundamentar a discusso sobre o campo de experincia, elencar objetivos, saberes, conhecimentos e experincias e apontar possibilidades de trabalho.

    as fotos utilizadas na coleo retratam propostas de trabalho desenvolvidas nas instituies de educao infantil da cida-de. J os desenhos, foram produzidos pelas crianas especialmente para essa coleo; uma forma alegre e colorida delas dizerem para ns, profissionais, como veem o que tem sido desenvolvido nas instituies. esses desenhos constituem um texto a ser lido e permitem a produo de outros sentidos para a nossa prtica pedaggica.

    outro ponto que gostaramos de salientar na coleo foi a opo por tratar no feminino as profissionais que atuam na educao infantil. Poderamos ter optado pela forma masculina/feminina, mas preferimos dar destaque s mulheres, que so maioria na atuao nas iei. com isso, no estamos dizendo que esse um campo fechado aos homens, mas apenas valorizando e destacando a fora e a presena feminina na educao infantil de contagem.

    esperamos que a coleo Currculo da Educao Infantil de Contagem: experincias, saberes e conhecimentos possa enriquecer as prticas pedaggicas que vm sendo desenvolvidas nas instituies. nesse sentido, convocamos as edu-cadoras, nossas interlocutoras privilegiadas, para discutir a efetivao de uma educao de qualidade a partir de um traba-lho com as crianas que esteja pautado no respeito mtuo, na construo de saberes e conhecimentos e na formao integral; um trabalho que incite novas aprendizagens e que seja estimulador para todos e todas.

    Equipe da Educao Infantil

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    2012

    A CRIANA E O MUNDO NATURAL

    ensina a teus filhos o que temos ensinado aos nossos: que a terra nossa me. tudo quanto fere a terra fere os filhos da terra. [...]. o homem no tece a teia da vida. ele um de seus fios. o que ele faz para a teia faz para si prprio.

    chefe Seattle

    DELIMITAO

    este campo de experincias, na educao infantil, diz respeito aos elementos e fenmenos fsicos, qumicos e biolgicos, bem como relao da criana com o meio ambiente, enquanto ser da natureza e sustentabilidade da vida no planeta.

    1 FUNDAMENTAO

    1.1 O que esse campo de experincia e qual o seu significado?

    Quando falamos em elementos e fenmenos fsicos, qumicos e biolgicos estamos nos referindo a tudo que constitui o mundo natural, como ele funciona e se transforma e transformado pelo homem.

    assim, estamos falando dos seres vivos, envolvendo o conhecimento sobre o nosso prprio corpo, sobre os animais e seus modos de vida, as plantas e os fenmenos biolgicos, tais como a respirao, a fotossntese, a digesto, os batimentos cardacos. falamos ainda sobre a gua, o fogo, o ar, a terra, os astros, planetas e seus movimentos, as chuvas, os troves e relmpagos, o vento, os terremotos e maremotos, os vulces. fazendo referncia tambm a fenmenos como ebulio, evaporao, flutuao, gravidade, luz, sombra, calor, som, magnetismo, eletricidade, equilbrio, fora, movimento, bem como s transformaes da matria, por exemplo, as mudanas dos estados da gua, misturas de cores das tintas e de ingredientes diversos na culinria, entre muitos outros.

    a esse conjunto de elementos e fenmenos chamamos meio ambiente, que, segundo Scardua, [...] no se resume a re-cursos naturais. nem to pouco ao que est ao redor do homem, pois este parte desse meio, integrando-o e interagindo com ele. (Scardua, 2009, p. 57)

    sobre o conhecimento desse meio ambiente que as crianas manifestam sua curiosidade. Paula toller e dunga, na msi-ca oito anos, dizem dessa curiosidade sobre os fenmenos e acontecimentos que as cercam:

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    (...) Por que os ossos doem enquanto a gente dorme Por que os dentes caem Por onde os filhos saem Por que os dedos murcham Quando estou no banho Por que as ruas enchem Quando est chovendo (...) Por que o fogo queima Por que a lua branca Por que a terra roda

    Por que deitar agora Por que as cobras matam Por que o vidro embaa Por que voc se pinta Por que o tempo passa Por que a gente espirra Por que as unhas crescem Por que o sangue corre Por que a gente morre do que feita a nuvem do que feita a neve (...)

    a educao infantil deve aproveitar esses momentos de indagaes e curiosidade e estimular as crianas para que mer-gulhem na explorao desses instantes, buscando significados e construindo saberes e conhecimentos. dessa forma, vo, progressivamente, enriquecendo as suas possibilidades de descoberta e compreenso do mundo, e se reconhecendo, cada vez mais, como parte integrante da natureza. fundamental que,

    [...] as crianas tenham contato com diferentes elementos, fenmenos e acontecimentos do mundo, sejam instigadas por questes significativas para observ-los e explic-los e tenham acesso a modos variados de compreend-los e represent-los. (BraSil, 1998, p. 166).

    assim, quanto mais as crianas experimentam o meio em que vivem, maior ser o sentimento de pertencimento. a inten-

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    o, portanto, de possibilitar a elas experincias para atuar no meio, modificando-o, mas de forma sustentvel, pre-servando-o e conservando-o. importante que a criana conhea e compreenda a natureza se religando com o mundo natural, reinventando outros caminhos para conhecer o mundo e dizendo no ao consumismo e ao desperdcio. (tiriBa, 2010). uma proposta baseada nesses objetivos possibilitar a construo de outra forma de viver no mundo, pautada pelo respeito.

    nesse sentido, tiriba (2007) sugere que organizemos nossas aes, desde a educao infantil, considerando trs ecologias: pessoal, social e ambiental. as trs ecologias expressam as dimenses da existncia humana e apontam para a proposta de construirmos uma sociedade mais igualitria, menos excludente e com mais qualidade de vida. de acordo com a autora,

    a ecologia pessoal diz respeito s relaes de cada um consigo mesmo, s conexes de cada pessoa com o seu prprio corpo, com o inconsciente, com os mistrios da vida e da morte, com suas emoes e sensaes corporais, com sua espiritualidade. a ecologia social est relacionada s relaes dos seres humanos entre si, as relaes geradas na vida em famlia, entre amigos, na escola, no bairro, na cidade, entre os povos, entre as naes. a ecologia social retrata a qualidade destas relaes. a ecologia ambiental diz respeito s relaes que os seres humanos estabelecem com a natureza. reflete as diferenciadas maneiras como os grupos humanos se relacio-nam com a biodiversidade, de maneira sustentvel ou predadora: com o objetivo de satisfazer suas necessidades fundamentais, ou com o objetivo de apropriao-transformao-consumo-descarte [...]. (gouVa; tiriBa, 1998, p. 26 apud tiriBa, 2007 p.225)

    essa concepo tratada ainda na as diretrizes curriculares nacionais para a educao infantil - dcnei - que propem no art. 9 que,

    as prticas pedaggicas que compem a proposta curricular da educao infantil devem ter como eixos norteadores as interaes e a brincadeira, garantindo experincias que:[...]Viii incentivem a curiosidade, a explorao, o encantamento. o questionamento, a indagao e o conhecimento das crianas em relao ao mundo fsico e social, ao tempo e a natureza.[...]X promovam a interao, o cuidado, a preservao e o conhecimento da biodiversidade e da sustentabilidade da vida na terra, assim como o no desperdcio dos recursos naturais. (BraSil, 2009)

    Vale ressaltar que ao se buscar garantir experincias com o mundo natural, a preocupao da instituio de educao infantil iei - no deve ser com o acmulo de conhecimentos e com a elaborao de conceitos pelas crianas, mas com o desenvolvimento das capacidades de perguntar, levantar hipteses, explorar, experimentar, buscar informaes em fontes diversas, estabelecendo relaes entre elas, elaborar ideias, argumentar. ao mesmo tempo, a iei deve se preocupar em desenvolver atitudes de curiosidade, criatividade e criticidade, possibilitando s crianas perceberem que o conhecimento no algo pronto e que elas podem redescobrir e transformar o mundo de maneira positiva e sustentvel.

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    outro aspecto a considerar quanto sustentabilidade da vida no planeta. a sustentabilidade um ideal que se pauta pela articulao entre desenvolvimento econmico e a preservao do ecossistema. o conceito de sustentabilidade busca promover a explorao de reas ou o uso de recursos planetrios (naturais ou no) de forma a prejudicar o menos possvel o equilbrio entre o meio ambiente e as comunidades humanas e toda a biosfera que dele dependem para exis-tir. isso implica entender que o meio ambiente no se refere somente natureza, aos animais e vegetais isoladamente. na realidade o significado do conceito de meio ambiente est diretamente relacionado interdependncia entre o homem, a sociedade, aos fenmenos fsicos, qumicos e biolgicos associados aos aspectos econmicos, sociais e culturais.

    papel da iei possibilitar que as crianas construam saberes e conhecimentos que lhes permitam aprender a cuidar do planeta, trazendo para a pauta de discusso com as crianas a dimenso ambiental da existncia humana, articulada com a dimenso cultural, j que as crianas,

    so seres da natureza e, simultaneamente, da cultura; so corpos biolgicos que se desenvolvem em interao com os outros membros de sua espcie (Vigotski, 1989), mas cujo desenvolvimento pleno e bem estar social depende de interaes com o universo natural de que so parte. (tiriBa, 2010, p. 3).

    essas interaes possibilitam a construo de valores pautados numa tica ambiental capaz de reorientar o agir humano em sua relao com o meio ambiente. (grun, 1996, p, 11). uma tica do cuidado que respeite a diversidade cultural, a biodiversidade e a sustentabilidade ambiental. na explorao desse campo de experincia que garantiremos s crianas,

    [...] o convvio com o mundo natural que lhes possibilitar se constiturem como seres no antropocntricos, que aprendam o cuidado, a preservao e o conhecimento da biodiversidade e da sustentabilidade da vida na terra [...]. e resistam ao consumismo que destri e desperdia o que natureza oferece a todos os seres vivos como ddiva. Se as crianas so o centro do planejamento escolar, este convvio no uma opo de cada professor ou professora. um direito. (tiriBa, 2010, p. 6)

    1.2 Como o conhecimento sobre esse campo de experincia foi construdo historicamente pela humanidade?

    as marcas que distinguem o homem dos outros seres so a capacidade de descoberta, a curiosidade, a forma de conhe-cer o mundo em que vive, a conscincia de suas sensaes e de seus desejos. Muitas indagaes que o homem coloca a si prprio so curiosidades que podem dar origem ao estudo do mundo natural.

    desde os primrdios da civilizao, o homem buscou entender a si mesmo e interpretar o mundo que o cercava. a curio-sidade o levou a questionar sobre os mistrios da natureza: Por que chove? o que relmpago? o que trovo? Por que morremos? Por que fica escuro noite? Por que a lua no cai?

    Para responder a essas perguntas, o homem, no seu processo evolutivo, percorreu um longo caminho, buscando, inicial-

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    mente, explicaes no conhecimento mtico, religioso e no senso comum. Posteriormente, encontrou algumas respostas para suas indagaes no conhecimento racional filosfico, at explic-las por meio do conhecimento experimental cient-fico. entretanto, at os dias atuais, no h unanimidade entre os seres humanos no que se refere explicao e compreen-so dos mistrios da natureza.

    Segundo coutinho e cunha (2004), o conhecimento mtico baseia-se na intuio e surge para tranquilizar as inquietaes humanas. o conhecimento mtico antecede a cincia e diz da vontade de um deus ou de deuses. o pensamento mtico considera infinitas verdades para as curiosidades naturais humanas, e suas respostas so baseadas na observao direta da natureza. o conhecimento mtico e religioso fundamenta-se,-portanto, apenas no princpio da autoridade.

    o conhecimento do senso comum caracteriza-se pela subjetividade e pela maneira dicotmica de classificar os objetos e as pessoas, por exemplo, a crena de que os pobres so menos inteligentes que os ricos ainda uma verdade para muitos.

    esses dois conhecimentos citados acima prevaleceram at o sculo Vi a.c. a humanidade buscou no imaginrio solues para explicar o desconhecido, contou com a ajuda dos deuses, dos espritos e da intuio. na grcia antiga, os homens acreditavam que os troves eram manifestaes da ira de Zeus (deus do trovo).

    a essas formas de explicar o mundo seguiu-se o pensamento filosfico e racional, que se baseia na especulao em torno do real. sistemtico, mas no experimental. Busca a verdade e o sentido da existncia e respostas para as indagaes humanas: quem o homem? de onde veio? Qual o sentido da vida? filsofos como tales de Mileto, Plato, Scrates e aristteles foram os pensadores que, a partir do sc. Vi a.c se destacaram na tentativa de dar respostas racionais a essas perguntas.

    na idade mdia, com o predomnio de uma viso teocntrica, h um retorno s explicaes religiosas, em que se acredi-tava que a sabedoria provinha da Bblia e de deus como criador de todas as coisas. Para entender a natureza era preciso conhecer as escrituras Sagradas.

    So tambm da idade Mdia, os alquimistas, que explicavam o mundo natural como algo misterioso e cheio de simbo-lismos a serem decifrados. Buscavam a transformao do metal e das matrias brutas, a manipulao de frmulas em laboratrios, experimentando fogo, gua, ar e terra. Porm, essas prticas eram consideradas ilcitas, sendo os alquimistas vistos como pessoas de hbitos estranhos, por passar, por exemplo, horas e horas contemplando uma planta.

    na idade moderna, o conhecimento experimental cientfico despontou como a forma de explicar o que antes as divin-dades e a religio respondiam. o homem se viu desafiado a interpretar as questes e socializ-las, garantindo, assim, a sobrevivncia e um maior controle da natureza. o saber cientfico descartava a utilizao da intuio, pois ela est sujeita a erros e enganos. os mtodos, a verificabilidade, a mensurao tornaram-se os critrios aceitos para alcanar o que seria a verdade. a cincia moderna nasce, portanto, estabelecendo um objeto especfico de investigao e um mtodo pelo qual

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    se faria o controle do conhecimento produzido, buscando a objetividade. acreditava-se que a cincia e a tecnologia ga-rantiriam uma melhor qualidade de vida, ou seja, o progresso. o homem, cada vez mais, se v como o centro do universo e proprietrio dos recursos naturais, podendo explorar indiscriminadamente esses recursos.

    essa forma de se relacionar com a natureza trouxe, ao longo dos ltimos sculos, transformaes profundas para a vida humana. Se, por um lado, o mundo era otimista diante dos progressos cientfico, tecnolgico e econmico, de outro, havia um pessimismo diante da falta de sentido da vida. o desenvolvimento trouxe guerras, devastao, poluio entre outros problemas que questionavam a ideia de progresso que a cincia trazia e que tanto marcou os sculos anteriores.

    esse processo de questionamento da cincia culminou no fim do sculo XX com o ps-modernismo. Segundo essa cor-rente que domina os meios intelectuais de hoje, nada pode ser realmente conhecido, pois todo conhecimento erguido em bases ideolgicas e esse saber no pode ser questionado. Mesmo a cincia seria apenas uma entre vrias formas de conhecer a realidade. assim sendo, ela no a nica possibilidade de interpretao da natureza e os demais conhecimen-tos tambm contribuem para essa interpretao.

    Podemos dizer que temos hoje outros saberes circulando, novas formas de relacionamento com a realidade, formas mar-cadas pela ambiguidade e complexidade, o que possibilita novas alternativas de ao e certo relativismo. o tempo atual no o das certezas, mas sim das incertezas, da mutabilidade, da busca, do questionamento. fundamental trabalhar com as crianas buscando no verdades absolutas, mas formas de compreender e atuar no mundo, marcadas inclusive pela provisoriedade. preciso instigar o pensamento crtico, a dvida, a pesquisa, a investigao e a vinculao entre o conhecimento do mundo natural e o mundo social, entendendo que todo o conhecimento cientfico-natural cientfico--social (SantoS, 1988), pois produo humana.

    1.3 Como a criana aprende, se desenvolve e torna-se progressivamente humana, por meio desse campo de experincia?

    no processo de construo de conhecimentos sobre o mundo natural, a criana segue o mesmo percurso vvido pela espcie humana na produo desses conhecimentos. o pensamento fantasioso assemelha-se ao conhecimento mtico. a postura investigativa e a busca por explicaes diante da curiosidade sobre o mundo se aproximam do conhecimento cientfico.

    Para conhecer e compreender o mundo sua volta o beb, inicialmente, pega os objetos, coloca-os na boca, morde-os, balana-os, arremessa-os, empurra-os e observa o que acontece. repete movimentos e os organiza cada vez mais. agindo sobre o meio fsico cria uma forma de conhecer esse meio. a criana descobre que sua ao produz uma reao. essas aes fsicas vivenciadas pelas crianas geralmente so verbalizadas pelos adultos e, dessa maneira, a percepo de mun-do e as noes de tempo e espao vo sendo ampliadas.

    o incio da locomoo um passo importante para a investigao, descoberta e conhecimento do mundo: se antes de

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    andar o beb apenas manipulava os objetos que lhe estavam prximos, caminhando ele se aproxima de tudo o que lhe desperta curiosidade, expandindo, dessa forma, a explorao dos espaos e das propriedades dos objetos.

    com o progressivo desenvolvimento da capacidade simblica, a criana passa a manifestar interesses e satisfazer a curio-sidade sobre o mundo natural, por meio das brincadeiras e das diferentes linguagens, representando e comunicando, assim, as indagaes e formas de entendimento que ela construiu. de acordo com gadotti,

    a sensao de se pertencer ao universo no se inicia na idade adulta nem por um ato de razo. desde a infncia, sentimo-nos ligados com algo que muito maior do que ns. desde criana nos sentimos profundamente ligados ao universo e nos colocamos diante dele num misto de espanto e respeito. e, durante toda a vida, buscamos respostas ao que somos, de onde viemos, para onde vamos, enfim, qual o sentido da nossa existncia. uma busca incessante e que jamais termina. (gadotti, 2000, p 77).

    as indagaes das crianas sobre sua existncia e sobre a natureza demonstram que elas percebem que as coisas esto integradas. ao darem explicaes, utilizam conceitos dos adultos, mesmo sem entender o significado desses conceitos e, ao esbarrarem com o desconhecido, explicam de forma imaginria, a partir de seu olhar sobre o mundo.

    a criana, num primeiro momento, no tem clareza do que real e do que imaginao. formula conceitos espont-neos baseados na interpretao dos fenmenos ao seu redor em que se misturam pensamento mgico e lgica. nos momentos em que interage com os pares e com adultos, ela confronta as hipteses levantadas anteriormente, a partir de experincias vividas e reelabora os conceitos espontneos. esse processo acontece ao longo da vida. alguns conceitos se transformam em conceitos cientficos, outros permanecem no campo do espontneo.

    na interao com o outro e com o meio em que vivem, as crianas experimentam o mundo para investig-lo. Quanto mais contato com a natureza, mais elementos elas tero para experimentar. gua, rvores, flores, terra, ventos, bichos, chuva, raios, troves so exemplos de elementos e fenmenos da natureza. assim, elas usam todos os sentidos, cheiram, obser-vam, tocam, escutam, o que contribui para sua aprendizagem e desenvolvimento.

    elas, em geral, so muito curiosas e gostam do contato com a natureza, de olhar como as formigas se comportam, de abrir as torneiras e brincar com a gua, [...] querem subir nas rvores, enfim, procuram [...] [em] cada canto [...] um vestgio de natureza com a qual possam ter contato. (Scardua, 2009, p. 61).

    cabe s educadoras, o papel da escuta, ouvindo o que as crianas dizem e propondo novas investigaes, sem a inteno de mostrar o certo ou errado, demonstrando as diferenas e relaes entre o mito e a cincia, incentivando-as aos novos conhecimentos, contrapondo e argumentando com novas ideias. importante tambm promover uma abordagem integradora entre os saberes e conhecimentos relacionados aos processos fsicos, qumicos e biolgicos para que elas entendam as inter-relaes que ocorrem no meio ambiente.

    nesse processo, importante que a criana seja provocada a sentir o ar, respir-lo profundamente, sentir o calor do sol e

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    olh-lo pelo horizonte, pisar na terra e reg-la, ver a rvore balanar, subir e observar as folhas caindo, experimentar os frutos e cheirar as flores, ouvir o barulho da chuva, dos troves e do canto dos pssaros. ao fazer isso, a criana estreita uma relao fsica com a natureza e exprime desejos do seu corpo que tambm natureza. aos adultos cabe instigar, cada vez mais, a curiosidade das crianas, dando significados a essas sensaes e encorajando-as a se conhecerem e conhecerem o meio em que vivem.

    2 OBJETIVOS

    a educao infantil, em relao ao mundo natural, deve possibilitar s crianas:

    estabelecer relaes com objetos, pessoas, fenmenos e elementos da natureza por meio da explorao investigao, pes-quisa, questionamento crtico, anlise, coleta de informaes.

    demonstrar respeito por si, pelos outros, pelos demais seres vivos e pelo ambiente em que vive.

    construir conhecimentos sobre os fenmenos fsicos, qumicos e biolgicos, relacionando-os s experincias do cotidiano.

    compreender o mundo ao seu redor, pensar e agir sobre ele de maneira positiva e sustentvel.

    perceber-se como parte integrante do meio ambiente.

    valorizar as diversas formas de produo de conhecimentos e saberes.

    compreender as diferenas e inter-relaes entre os fenmenos fsicos, qumicos e biolgicos e os elementos da natureza.

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    3 EXPERINCIAS

    tendo como eixo a formao humana, a educao infantil deve, em relao ao mundo natural, proporcionar s crianas a vivncia de mltiplas experincias, tais como:

    cheirar, morder, apertar, sacudir, manipular, tocar, explorar objetos diversos utilizando as mos, a boca, o corpo.

    encontrar objetos ou brinquedos escondidos dentro de caixas fechadas.

    explorar o ambiente engatinhando pelos espaos da instituio.

    tomar banho de sol.

    encaixar potes, empilhar latas, enfileirar toquinhos e demais objetos.

    arremessar objetos, pux-los e empurr-los, fazer com que rolem, observando os efeitos ao e reao.

    comparar objetos com propriedades diversas: peso, volume, massa, espessura, textura, cores.

    deslocar-se utilizando velocidades variadas nos brinquedos (escorregadores, gangorras, balanos, velotrol e outros) e nos jogos (corrida de saco, corre - cutia, corridas variadas e outros).

    observar o movimento dos astros e das nuvens e comparar as sombras.

    Brincar de teatro de sombras.

    Brincar com areia, gua, argila, barro, pedrinhas, gravetos, folhas, vivendo experincias de formar e transformar.

    Brincar com vasilhas de gua e objetos diversos para vivenciar experincias de flutuao.

    observar e prever a reao dos objetos pela ao dos sujeitos: queda dos corpos, flutuao, movimento do ar, direo, distncia, magnetismo por meio de situaes cotidianas.

    Soltar pipa, fazer cata-ventos, bales e bolinha de sabo, esvaziar e encher bales e sacos e outras.

    Montar e desmontar aparelhos velhos, relgios e outros.

    explorar o funcionamento de pilhas, lmpadas, baterias.

    discutir o funcionamento de telefones, computadores, lanternas, espelhos, calculadoras, funis, peneiras.

    atravessar a rua com segurana, considerando os deslocamentos dos veculos e pessoas.

    observar o apodrecimento de frutos e deteriorao de alimentos.

    Produzir de forma artesanal iogurte natural, po, sabo, massinha de modelar, tintas e outros.

    diferenciar materiais artificiais de naturais.

    Misturar tintas e descobrir novas cores produzidas.

    interagir com animais e plantas, desenvolvendo aes de cuidado.

    observar insetos e animais na instituio ou em outros espaos.

    Plantar flores, cultivar hortas, regar, colher.

    acompanhar o processo de amadurecimento de frutos.

    fazer terrreos, reproduzindo o ciclo da vida.

    fazer maquetes, representando paisagens naturais e outras.

    Participar de excurses com roteiro elaborado previamente, determinando focos a serem observados.

    recolher todo o lixo produzido nas excurses, nas atividades cotidianas e destin-los a locais corretos.

    reciclar materiais.

    observar o processo de decomposio dos resduos orgnicos por meio da compostagem.

    reaproveitar resduos slidos (sucata) para fabricao de brinquedos, para ornamentao da instituio, etc.

    discutir com outras crianas e/ou adultos sobre os problemas que ameaam nosso planeta.

    economizar bens naturais (gua, energia), evitando o desperdcio.

    investigar, formular hipteses sobre um determinado tema.

    utilizar instrumentos como lupas, lunetas, microscpios, ims, espelhos.

    fazer caleidoscpios.

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    colecionar objetos, classificando-os de acordo com as propriedades especficas que esses objetos apresentam.

    Subir em rvores.

    tomar banho de mangueira.

    Perceber, nos momentos das refeies, a quantidade necessria para alimentar sem desperdiar os alimentos.

    identificar diferenas e semelhanas entre os seres vivos.

    Perceber a transformao, o surgimento de novas substncias em atividades de culinria, tais como fazer bolo, gelatina, massinha, docinhos.

    contribuir no cuidado e conservao dos espaos.

    coletar dados referentes a observaes de fenmenos do cotidiano.

    formular hipteses, test-las e socializar com os pares.

    Participar de passeios fora da escola a museus, zoolgicos, parques, entorno da escola, jardim botnico e outros.

    observar a natureza.

  • 26 | Prefeitura MuniciPal de contageM a criana e o Mundo natural | 27

    observar e pesquisar sobre fenmenos naturais como: vento, chuva, relmpago, trovo, estaes do ano, dia e noite, etc.

    discutir e pesquisar sobre outros fenmenos naturais sobre os quais tm notcia: vulces, terremotos, maremotos, enchentes, movimento e disposio das estrelas e de outros astros.

    fazer entrevistas com pessoas da famlia e da comunidade.

    Pesquisar em livros, revistas, jornais, internet.

    registrar o trabalho realizado, confeccionando lbuns, dirios, cadernos, cartazes, etc.

    realizar registros das observaes e descobertas.

    realizar e registrar experimentos.

    4 SABERES E CONHECIMENTOS

    a partir das experincias relacionadas acima e de muitas outras, as crianas podero construir saberes e conhecimentos, tais como:

    Percepo de fenmenos fsicos como: inrcia, velocidade, queda dos corpos, flutuao, fora, fora gravitacional, mudanas de estados fsicos, equilbrio, eletromagnetismo, som, movimento, energia, calor, luz e sombra;

    Percepo de fenmenos qumicos como: matria, transformao, mistura, e fuso;

    Percepo de fenmenos biolgicos como: crescimento, envelhecimento, transpirao, respirao, sade, alimen-tao;

    Percepo de elementos naturais como: clima, ar, gua, solo, vulces, terremotos, tsunami, estaes do ano, dia, noite, chuva, eclipse, fases da lua;

    respeito ao meio ambiente, considerando a biodiversidade, a sustentabilidade, o equilbrio ecolgico e a utiliza-o adequada dos bens naturais

    Procedimentos de observao, levantamento de hipteses, formulao de perguntas, explorao, experimenta-o, pesquisa, verificao, registro, etc.;

    atitude de curiosidade, de investigao, de respeito, cooperao, etc.

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    5 DINAMIZAO DO CAMPO DE EXPERINCIA DO CURRCULO NA RELAO COM OS

    ELEMENTOS DO PROJETO POLTICO-PEDAGGICO

    as possibilidades de trabalhar os conhecimentos do mundo natural so variadas diante da prpria infinidade de conheci-mentos construdos pelo homem em relao a esse mundo. nesse sentido, impossvel delimitar contedos especficos, mas fundamental que se trabalhe com algumas ideias-chave que se constituem em eixos do trabalho com esse campo de experincia. So elas: movimento, transformao, preservao, relao.

    existem, tambm, alguns procedimentos prprios da cincia que precisam fazer parte do trabalho relativo ao Mundo natural, des-de a educao infantil, tais como: observar, perguntar, levantar hipteses, explicar, utilizar fontes diversas de informao e represen-tao. alm disso, necessrio provocar o encantamento, a curiosidade das crianas pela descoberta e compreenso desse mundo.

    cabe profissional da educao infantil possibilitar espaos, ambientes e situaes onde as crianas vivenciem, explorem, experimentem, observem o meio natural em que vivem, ao mesmo tempo em que, interagindo com a profissional e com outras crianas, possam superar obstculos, emitir opinies, avaliar as aes e tomar decises, expressas por meio da fala, de desenhos, de gestos. ao valorizar o poder de agir das crianas com atividades que tenham significado, contribumos para que elas desenvolvam a capacidade de transformar e provocar mudanas no meio, nos elementos, nos objetos e nas pessoas, construindo suas identidades, autonomia, criando novas formas de ao e participao no mundo.

    de acordo com tiriba, preciso reinventar os tempos, os espaos, as rotinas das instituies de educao infantil, possibilitando que as crianas possam ter acesso vida que est no entorno, isto , possam manter e alimentar os elos que as afirmam como seres orgnicos (tiriBa, 2010, p.7). em relao aos espaos dentro ou fora da sala, esses devem ser acolhedores e educativos, de modo a propiciarem maior aproximao das crianas com a natureza, oportunizando-lhes brincar com gua, barro, areia, grama, subir em rvores, observar os pssaros, o sol, a chuva, as nuvens, cultivar diversas plantas e despertar o sentimento de preservao do meio.

    na organizao dos espaos, faz-se necessrio que eles sejam desafiadores, com brinquedos e materiais interessantes e experincias estimulantes. uma possibilidade a criao de cantos nos quais as crianas se sintam instigadas a estar, tenham autonomia e se sintam seguras para escolherem onde e o que desejam explorar.

    essa organizao requer que a profissional utilize variados recursos tecnolgicos, de objetos com diferentes texturas, cores, pesos, formas, sonoridades, sabores, temperaturas e tambm disponibilize os materiais de uso coletivo em locais de fcil acesso para que as crianas os utilizem quando desejarem.

    assim, por meio da explorao do espao e dos objetos que a criana amplia suas possibilidades de investigar, de conhe-cer, de comunicar suas experincias atravs de gestos, palavras, imagens, jogos e brincadeiras, bem como de reapresentar o mundo. torna-se importante, portanto, que os espaos ocupados pelas crianas e a disponibilizao de seres e objetos sejam estruturados da forma mais diversificada possvel, de modo a provocarem desafios.

    Quanto organizao do tempo, necessrio propor situaes em que a explorao do mundo natural ocorra associada a momentos de levantamento de hipteses, de perguntas, de reflexo, permitindo criana estabelecer relaes.

    no que se refere organizao das crianas, importante garantir espaos coletivos para que elas possam, nas relaes com os pares, com crianas de outras idades e com os adultos, dizer, ouvir e refletir sobre os saberes e os conhecimentos do mundo natural.

    trabalhar esse campo de experincia no significa focar em conceitos ou linguagem cientfica, mas sim propiciar a cons-truo de conhecimentos e saberes, como o respeito pelos seres vivos, o uso consciente dos recursos naturais, o reconhe-cimento da importncia de cada um para a construo de um mundo melhor, entre outros. nesse sentido, segundo tiriba,

    no basta classificar e seriar, no basta medir, somar e quantificar, preciso compreender que todos os membros de um ecos-sistema no esto isolados, mas interconectados em uma vasta rede de relaes. Portanto, no se trata de aprender o que uma rvore decompondo-a em suas partes. Mas de senti-la e compreend-la em interao com a vegetao que est ao redor, com os animais que dela se alimentam, consider-la em sua capacidade de seus frutos e a sombra em que brincamos. experin-cias de plantio de hortalias, flores e ervas e temperos possibilitam s crianas esta percepo ecolgica da realidade, em que as interaes entre seres, coisas e fenmenos tendem sempre para um todo coerente e complexo (Maturana e Varela, 2002). Mas estas experincias no podem ser eventuais, devem estar no corao do projeto pedaggico, constituindo-se como rotina. de tal forma que as crianas tenham acesso direto e freqente, reguem, participem da limpeza da horta, da colheita, se integrando, vivenciando e conhecendo na prtica os processos de nascimento e crescimento dos frutos da terra. (tiriBa, 2010, p.9-10).

    a manipulao de objetos, os ensaios e erros e possveis hipteses levantadas pelas crianas s tero significado se forem acompanhadas/mediadas pela profissional da educao infantil. o escutar atento da fala das crianas dar pistas de qual caminho seguir. Portanto, papel da educadora privilegiar as brincadeiras e as atividades coletivas, encorajando as crianas a buscarem respostas para as inmeras indagaes que elas se colocam, avanando no patamar da lgica estabelecida.

    diante do exposto, necessrio que as profissionais:

    favoream o contato da criana com fatos, situaes e fenmenos diversos, desafiando-as a pensar sobre o que se observa.

    descartem a crena de que as crianas nada sabem e que tudo necessrio lhes ensinar, pois elas trazem consigo vrios saberes e conhecimentos, construdos nas experincias vivenciadas em outros espaos e nas relaes com os familiares e pessoas mais prximas.

    respeitem o ritmo de cada criana, garantindo a participao de todos.

    selecionem e testem os experimentos antes de serem realizados com as crianas, evitando, assim, atropelos ou a falta de algum material.

    coloquem em discusso diversos temas, possibilitando a reflexo.

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    entendam que o raciocnio utilizado pela criana, ao dar determinada explicao, feito de acordo com a lgica prpria dessa criana.

    considerem os possveis erros como etapa do processo de construo de conhecimento.

    reflitam sobre a prtica pedaggica, com o intuito de romper com fazeres sem intencionalidade.

    coloquem-se em postura de ouvinte em relao ao que as crianas tm a dizer.

    estejam atentas, observem os interesses manifestados pelas crianas e lancem desafios.

    compreendam, considerem e valorizem as ideias e hipteses das crianas.

    planejem, prevejam possveis situaes e as diversas maneiras de conduzi-las, estando sempre abertas ao imprevisvel.

    trabalhem o registro das hipteses por meio das diferentes linguagens.

    proporcionem variadas fontes de informao s crianas como: jornais, revistas, livros, pessoas diversas, internet, bem como instrumentos diversos, como lupas, microscpios e outros.

    extrapolem os espaos da instituio, propiciando maior aproximao das crianas com o meio, com a natureza.

    proponham excurses e passeios em parques, museus, praas, zoolgicos e na comunidade.

    elaborarem perguntas e aguardem as respostas sem pressa, permitindo que as crianas formulem suas hipteses.

    estimulem a curiosidade e a criatividade das crianas.

    possibilitem que as crianas ressignifiquem as experincias e construam conhecimentos e saberes, ampliando o universo cultural, por meio da ao sobre os objetos, conhecendo as propriedades e as funes dos objetos.

    privilegiem o desenvolvimento da criticidade, para que a criana possa agir de forma positiva no mundo que a rodeia.

    selecionem atividades e informaes que agucem o desejo da criana em querer aprender.

    estabeleam uma relao de parceria com as famlias, baseada no dilogo e no respeito.

    incentivem a postura investigativa: observao, a formulao de hipteses, a experimentao e a partilha de resultados com os colegas.

    coloquem-se como algum que pesquisa e investiga junto com as crianas.

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