movimentos da contemporaneidade - a rua as redes e seus desencontros 2014

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    Movimentos da contemporaneidade: a rua, as redes e seus desencontros

    Movements of contemporary: the street, the networks and its dis-agreement

    Cristiane Dias*Marcos Aurlio Barbai**Greciely Cristina da Costa***

    ResumoO objetivo deste artigo refletir sobre as formas de organizao social contempornea queacontecem, em nosso tempo, por meio da conectividade. Para isso, buscamos compreender

    como tem se produzido as relaes sociais marcadas por um lao entre a rua e a rede, analisandoas manifestaes e protestos sociais no Brasil no ano 2013, o encontro de jovens, em shoppingcenters, denominado rolezinhos e a criminalizao de alguns movimentos sociais, com afigura dos black blocs. Estes trs movimentos de anlise apontam para uma transformao dasnossas condies de sociabilidade e poltica sustentadas por um lao entre o sujeito, a cidade e arede.Palavras-chave: mobilidade, manifestao, conectividade, criminalizao, laos sociais.

    AbstractThe aim of this article is to reflect on contemporary forms of social organization that happen, inour time, through connectivity. For this, we search to understand how it has produced socialrelations marked by a bond between the street and the network, analyzing the social protests anddemonstrations in Brazil in 2013, the youth meeting at malls, called "rolezinhos" and thecriminalization of some social movements, with a figure of black blocs. These three movementsof analysis point to a transformation of our sociability and political conditions sustained by abond between the subject, the city and the network.Keywords: mobility, demonstration, connectivity, criminalization, social bond.

    *Pesquisadora do Laboratrio de Estudos Urbanos Nudecri da Unicamp. E-mail:[email protected] Endereo: Labeurb Laboratrio de Estudos Urbanos Unicamp/Cocen /

    Nudecri Caixa Postal 6166 Campinas/SPBrasil. CEP: 13083-892**Pesquisador do Laboratrio de Estudos Urbanos/Nudecri da Unicamp. E-mail: [email protected]: Labeurb Laboratrio de Estudos Urbanos Unicamp/Cocen/Nudecri Caixa Postal 6166

    Campinas/SPBrasil. CEP: 13083-892***Professora do PPGCL da Univs. E-mail: [email protected] Endereo: Rua Irmos Bierrembach, n.14 Apto. 73 Cep 13024-150 Campinas SP

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    Esse artigo apresenta trs lugares de anlise que se tocam e se distanciam ao

    mesmo tempo, tendo como ponto de partida os des-encontros do sujeito, no espao e em

    conexo. Movimentos da contemporaneidade no espao urbano que do vazo a um

    processo discursivo em constante deslize, num ritual com falhas.

    rua!Expresso convocatria que pode deslizar para: para arua (v/vem para;

    d a ela),narua (acontece nela, esteja nela), arua (lugar determinado), derua (prprio

    dela). Deslizamentos possveis da expresso que reclama sentidos para aquele que est

    entre o espao privado e o espao pblico, est no caminho, no urbano, no ir e vir; se

    apresentando imaginariamente como um espao de/para todos, indistintamente.

    Espao de mobilidade e de conexo, pois a conectividade o que define a

    mobilidade contempornea (DIAS, 2014, p. 12), produzindo laos sociais a partir de

    processos de identificao, que resultam no encontro metafrico entre a rua e a rede,

    expandindo as fronteiras que delimitam as relaes entre sujeitos.

    Diferentes manifestaes so um flagrante disso. O ano de 2011 talvez seja

    lembrado na histria como um ano em que uma ecloso simultnea e contagiosa de

    movimentos sociais de protesto (HARVEY et. al., 2012, p. 07) marcou distintas

    sociedades (Cairo, Londres, Nova York, Madri, Tunsia, Lbia, entre outras.). Embora

    distintas, com reivindicaes distintas, algo em comum marcou essas manifestaes: a

    forma de organizao por meio da conectividade.

    No Brasil, a nossa sociedade tem vivido um momento muito particular no que se

    refere s manifestaes que se organizam na rede e que se conectam a outros espaos,

    metaforizando-se. Assim, nosso movimento de reflexo, toma as formas das

    manifestaes brasileiras a partir de 2013, buscando compreender o modo de

    organizao dessas manifestaes e protestos.

    Num primeiro movimento de anlise, observamos a organizao dos protestos

    que ocorreram no Brasil em junho de 2013, a partir de uma pauta especfica, propostapelo MPL - Movimento Passe Livre, um movimento social fundado em 2005, numa

    plenria do Frum Social Mundial1. Essa pauta especfica referia-se ao primeiro grande

    ato contra o aumento de 20 centavos na tarifa de transporte pblico em So Paulo.

    Em face dessas condies de produo, procuramos compreender o quanto a

    mobilidade definida pela conectividade tem implicaes importantes para o sentido dos

    movimentos sociais e urbanos, por um processo de deriva do sentido constitudo numa

    1http://pt.wikipedia.org/wiki/Movimento_Passe_Livre

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    Libere o seu wi-fie ajude nas manifestaes

    Em maio de 1968 milhares de estudantes e trabalhadores tomaram as ruas de

    Paris, num dos maiores movimentos sociais do sculo XX. O motivo era a busca por

    mudanas na forma de governo capitalista burgus.

    Alguns meses frente, em junho do mesmo ano, estudantes contrrios ditadura

    instalada no Brasil, tomavam as ruas do Rio de Janeiro, na chamada Passeata dos Cem

    Mil. No foram as mesmas razes que levaram os manifestantes da Frana e do Brasil

    rua, j que o momento histrico brasileiro e francs eram distintos, apesar da

    proximidade no tempo, mas em comum pode-se apontar, certamente, uma crise.

    Nos Estados Unidos, na mesma poca e nos anos que se seguiram, a oposio

    guerra do Vietn tambm levou milhares de alunos s ruas em protesto.

    So momentos histricos distintos, distintas sociedades e consequncias polticas

    distintas no ps-maio de 68 francs, na instaurao de uma ditadura militar brasileira

    (que durou 20 anos), na guerra do Vietn... entre outros movimentos polticos ocorridos

    mundo afora, mais ou menos na mesma poca. Como afirma Braga (20083, ano 11) J

    se tornou um lugar-comum dizer que 1968 ficou marcado na memria coletiva de

    muitos povos como um instante de profundas transformaes sociais.

    Da mesma forma, talvez o ano de 2011 tambm fique marcado na memria

    discursiva, pelos acontecimentos reinvindicatrios das manifestaes que ocorreram em

    diferentes pases, tendo a conectividade como forma de organizao.

    Diferentemente da forma de organizao da luta em 1968, em 2011, esta no se

    deu por meio do panfleto ou do jornal local, ou dos catazes ou da organizao

    mobilizada pelos grupos estudantis sados do seio das universidades (DCE, UNE), dos

    sindicatos dos trabalhadores ou dos partidos de esquerda. A forma de organizao dos

    movimentos que ocorreram em diferentes regies do mundo teve como meio de

    disseminao, circulao e organizao, a internet, o que permitiu a esses movimentos,difundidos por um boca a boca eletrnico (CARNEIRO, 2012) uma organizao

    rpida e em larga escala.

    Nessa perspectiva, pensar as mobilizaes sociais tendo a conectividade como

    sua forma de organizao o nosso objetivo aqui.

    3 Disponvel em http://revistacult.uol.com.br/home/2010/03/a-rebeliao-estudantil-para-alem-do-espetaculo/.Acessado em 31/10/2014.

    http://revistacult.uol.com.br/home/2010/03/a-rebeliao-estudantil-para-alem-do-espetaculo/http://revistacult.uol.com.br/home/2010/03/a-rebeliao-estudantil-para-alem-do-espetaculo/http://revistacult.uol.com.br/home/2010/03/a-rebeliao-estudantil-para-alem-do-espetaculo/http://revistacult.uol.com.br/home/2010/03/a-rebeliao-estudantil-para-alem-do-espetaculo/http://revistacult.uol.com.br/home/2010/03/a-rebeliao-estudantil-para-alem-do-espetaculo/
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    Para Carneiro (2012, p. 8),

    em todos os pases houve uma mesma forma de ao: ocupaes de praas,uso de redes de comunicao alternativas e articulaes polticas querecusavam o espao institucional tradicional. Pases como a China sentiram o

    risco e censuraram a simples meno na internet praa Tahrir, palco dosprotestos egpcios.

    Porm, apesar de ter havido uma forma de ao semelhante nas manifestaes de

    diferentes pases, pelo uso das redes de comunicao alternativas, nem sempre esse uso

    garantia de uma recusa do espao conservador da mdia.

    No Brasil, as manifestaes que ocorreram em junho de 2013, seguiram na

    mesma onda do que ocorreu na Espanha (Movimento 15M), Mundo rabe (Primavera

    rabe), Estados Unidos (OWS), entre outros movimentos mundo afora.

    Uma diferena importante que a organizao da mobilizao popular

    brasileira, em relao s outras, ocorreu a partir de uma pauta muito especfica, proposta

    pelo MPL, como dissemos anteriormente.

    Foi a partir desse gesto organizador que milhares de pessoas foram s ruas no

    incio do ms de junho, motivados inicialmente pelo protesto contra o aumento da tarifa

    de nibus em So Paulo. Essa mobilizao se acirrou pela grande violncia policial

    sobre os manifestantes, e, com isso, o protesto passou a agregar a sua pauta, tambm, a

    violncia policial. No demorou muito para que, na medida em que a pauta de

    reivindicaes aumentava, aumentasse tambm a onda de manifestantes e de grupos

    sociais distintos, que j no necessariamente se identificavam com o MPL, mas com

    reivindicaes de outra ordem, como a corrupo na poltica, a PEC/37, a Copa do

    Mundo, entre tantas outras.

    Segundo matria do Portal Frum4 a respeito do seminrio Tecnologia e

    Poder, Marilena Chau, referindo-se s manifestaes de junho de 2013, no Brasil,

    afirmou que apesar de toda a celebrao em torno dos atos, tambm existe um carterconservador e de espetculo nas jornadas de luta de 2013.

    na partida, era a reduo das tarifas; na chegada, era a poltica, no entanto,essas manifestaes no criticaram as instituies, aderiram pauta da mdiaconservadora de que os partidos polticos so corruptos por excelncia. Aoinvs de propor uma nova democracia, aderiram ideia do semintermedirio, ou seja, ditadura (CHAU, 2014).

    4http://www.revistaforum.com.br/blog/2014/03/download-de-nossas-mentes-chaui/

    http://www.revistaforum.com.br/blog/2014/03/download-de-nossas-mentes-chaui/http://www.revistaforum.com.br/blog/2014/03/download-de-nossas-mentes-chaui/http://www.revistaforum.com.br/blog/2014/03/download-de-nossas-mentes-chaui/http://www.revistaforum.com.br/blog/2014/03/download-de-nossas-mentes-chaui/
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    O rumo das manifestaes e essa disperso que caracterizou seu desfecho no

    tema central dessa reflexo. Mas importante apontarmos essa disperso como um dos

    efeitos produzidos pela forma de organizao do protesto por meio da conectividade, e

    cuja constituio do sentido se d a partir da inscrio numa memria metlica, definida

    por Orlandi (2004), como sendo a memria da quantidade e no historicidade. Ou

    seja, essa organizao se d pela expanso horizontal de enunciados, como #vemprarua

    ou #naopor20centavos #mudabrasil etc. Para Orlandi (2004) um dizer que produz

    efeitos como se fosse uma memria vertical. No entanto, um dizer presentificado.

    Nessa inscrio, jogam os sentidos de uma sociedade conectada, online, em que

    a circulao e o compartilhamento da informao se sobressaem ao modo de

    organizao social constitudo historicamente.

    No entanto, justamente, por se organizar em rede, de forma descentralizada e

    dispersa, os movimentos da contemporaneidade so facilmente desmantelados e

    produzem efeitos pontuais, efeitos de memria. No encontram um espao de

    legitimidade para suas reivindicaes, de escuta, uma vez que so esvaziados e

    esquecidos no jogo algortmico da rede.

    O que h, em nosso entender, um desencontro entre uma forma de organizao

    dos movimentos sociais (e do Estado como efeito-leitor), inscrita numa memria do

    interdiscurso que a dos movimentos sociais institucionalizados (sindicatos,

    movimentos estudantis, partidos polticos) e uma forma de organizao desses

    movimentos que se inscreve numa memria metlica, como se fosse do interdiscurso,

    dando margem para incompreenses e equvocos tanto da parte dos manifestantes

    quanto da parte do Estado. Numa democracia, abolir as instituies sem um projeto

    poltico outro em seu lugar cair facilmente numa ditadura.

    Se por um lado, nos anos 60, o modo de simbolizao do poltico se dava por

    dizeres como proibido proibir! , Faa amor no faa guerra (cf. ORLANDI, 1999,p. 62), por outro lado, nos movimentos contemporneos, essa simbolizao se d por

    formulaes como: #vemprarua, #nopor20centavospordireitos etc., inscrevendo o

    sentido em outra discursividade, em outra memria do dizer: a metlica. No caso dessas

    formulaes, a inscrio do dizer nessa memria metlica se d pela hashtag.

    Conforme Dias e Coelho (2014, p. 236), as hashtagsso um convite aos sujeitos

    no s informao, mas tambm colaborao (no sentido da rede, de

    colaboratividade) com a causa da rua. Essas hashtagsso uma repetio horizontal, umare-atualizao constante do sentido, presentificando a histria no imediatismo da

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    circulao, do tempo real. A hashtag tem o sentido da quantidade, sendo, portanto,

    inscrita na memria metlica, para significar. Ainda para os autores:

    essa possibilidade de replicao que rege a produo da memria na rede.Assim, a re-produo de sentidos dos sujeitos que foram para a rua protestarno se limitou a passeata em si, ou mesmo a correntes oriundas da mesma,mas, pelo funcionamento da hashtag, esses sentidos produziram efeitostambm naqueles que no foram s ruas, mas se manifestaram pelas redessociais, pela forma de postagens, compartilhamentos, etc. (DIAS;COELHO, p. 237)

    www.twitter.com

    Esse modo de organizao online, portanto, o que est aqui em anlise a partir

    de uma compreenso de que muito mais do que isso, na deriva dos sentidos da memria

    discursiva da organizao dos movimentos sociais, o que temos um modo de

    disseminao e/ou compartilhamento dos sentidos, que se estruturam numa velocidade e

    numa espacializao por conectividade, de maneira que reunir milhares de pessoas com

    diferentes reivindicaes, crenas, posies polticas, no tarefa to difcil e nem

    demanda muito tempo.

    A configurao do espao pela conectividade vai determinando a abrangncia da

    manifestao e, com isso, sua eficcia quantitativa. nesse sentido que dizemos que

    por inscrio a uma memria metlica que os sentidos da manifestao se produzem

    nas circunstncias que se esgotam em si mesmas e imobilizam [o sujeito] na falta de

    uma filiao (ORLANDI, 2012, p. 18), diferentemente da formao discursiva dos

    movimentos sociais dos anos 70/80, cujo ncleo organizacional se dava atravs de uma

    identificao/filiao luta dos trabalhadores, ao movimento estudantil e/ou aos

    partidos polticos.

    Essas mobilizaes estavam ligadas, em sua formulao, circulao e

    constituio, a uma ideologia poltica, enquanto que as mobilizaes que se

    organizaram em junho de 2013, no Brasil, estavam ligadas, nessas mesmas instncias doprocesso de produo do discurso, comunicao ou a ideologia da comunicao.

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    www.twitter.com

    Nesse sentido, dizer: libere seu wi-fi e ajude nas manifestaes uma

    formulao que produz seu sentido a partir de uma filiao memria das redes de

    comunicao sem fio (wi-fi). a conectividade, como gesto disseminador da

    informao e, tambm, como possibilidade da espacializao das manifestaes que

    torna possvel a prpria manifestao, nessas condies de produo de um modo de

    circulao digital.

    www.twitter.com

    Essas redes de comunicao visam, sobretudo, a repetio: sinalize o que est

    acontecendo com #protestosp + foto, texto, vdeo..., numa disseminao horizontal da

    manifestao. Para Orlandi (2004), ao contrrio da memria discursiva, que vertical,

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    histrica, a memria metlica horizontal e reduz o saber discursivo a um pacote de

    informaes. A memria metlica uma simulao da memria discursiva. uma

    memria da repetio do mesmo, da produtividade. Segundo a autora, sempre pode

    haver deslizes de sentido, mas a estratgia de ficar mais ou menos nesse mesmo (p.

    49).

    Vejamos o mapa colaborativo dos protestos a ser construdo por uma

    espacializao por conectividade e informao.

    http://protestosbr.tumblr.com/post/53142143778/mapa-colaborativo-dos-protestos-br

    H uma questo nessa proposta de construo de um mapa dos protestos que a

    do tempo real, o tempo da conectividade como aquele que torna possvel uma

    espacializao cartogrfica dos protestos e, com ela, a segurana, por localizao, dos

    manifestantes e a eficincia dos protestos. Esse sentido tambm aparece nas

    postagens anteriores, pelo ao vivo, e, tambm, como podemos ver na postagem a

    seguir:

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    www.twitter.com

    Esse sentido fortemente inscrito numa memria metlica. Para Orlandi (2012,

    p. 16), o tempo real est ligado ao presentismo. o tempo do capitalismo, da

    imediatez, efeito ideolgico que ao mesmo tempo constri um sujeito livre e

    responsvel e o significa pela irresponsabilidade. O sentido de vandalismo atribudo

    aos manifestantes vem atestar esse efeito ideolgico que criminaliza e enquadra o

    sujeito na instituio jurdica do Estado. Por um lado, a liberdade de manifestao, tantona rua, quanto na rede internet, por outro lado, a irresponsabilidade e criminalizao do

    sujeito por essa mesma manifestao.

    o tempo congelado do capitalismo, balanando ao sabor das circunstncias.

    Funcionando no regime da impresso da liberdade, como alerta Orlandi(2012, p. 18).

    Nesses des-encontros, o sujeito segue em sua busca, procurando brechas,

    continua se debatendo com o real numa sociedade da tecnologia e da informao, que

    se materializa em redes.

    Vamos dar um rolezinho

    Uma marca desse tempo, o da sociedade da tecnologia e da informao, que se

    materializa em redes, diz respeito s expresses e prticas da facilidade da

    comunicao, sobretudo nas condies de produo das redes sociais e da tecnologia

    mvel: vivendo o mundo em expanso e hibridamente, ou seja, no real e no virtual,

    ao mesmo tempo, reinventa-se o lao social, no espao. Isso se d, porque a rede

    significada como um lugar para os encontros que acabam desafiando a lgica dos

    corpos seriados e ordenados no espao. Frente aderncia do espao experimentamos

    instantes de vida fluida na cidade.

    A nossa sociedade atual tem vivido um momento muito particular de incessante

    conversao mediada pela tecnologia. Dos computadores pessoais aos smartphones

    construmos os nossos laos com o outro, produzindo uma interseco crescente entre o

    mundo virtual e o mundo fsico. Todo esse processo parte da constituio dos modos

    de identificao individual e tambm de grupo dos sujeitos. As TICs (e inclumos aqui a

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    tecnologia mvel) nos tem feito viver, como dizem Mizuko e Daisuke (2004, p. 162),

    um encontro ampliado, j que abrimos, quando conectados e interligados, as

    fronteiras do encontro fsico. Esse nosso tempo aquele de movimentos e de desordem

    no tecido social. O espao social elstico, resistente e resiliente, efeito esse da

    aderncia. Mas hoje o queremos fludo.

    Assim, para apresentar esse movimento pensando-se nos jovens, no corpo

    capital da cidade, propomos como lugar de observao, pensando na forma de

    organizao de encontros por meio da conectividade, as reportagens da imprensa

    brasileira para comunicar e informar esse acontecimento indito na cidade, denominado

    rolezinho. O arquivo com que trabalhamos nos permite articular uma problemtica

    importante, isto , a relao entre a linguagem, leitura e acontecimento, j que algo da

    ordem do agora, do atual se impe com fora no mundo, demandando

    interpretao. Partimos da ideia de que a informao, ou seja, um X que diz sobre Y,

    no nunca uma montagem transparente.

    A questo da montagem da cena , no arquivo, fundamental. Isso se d porque

    vamos analisar um recorte do Editorial de Arte, da Folha de So Paulo, publicado em

    15/01/2014, cuja reportagem circulou com o ttulo: Rolezinho surgiram com jovens da

    periferia e seus fs, de autoria de Ana Kepp.

    Ao trabalharmos com a circulao do acontecimento rolezinho, considerando

    que h um lao entre o sujeito, a cidade, a tecnologia e o sentido, duas premissas nos

    movem: escutar como dizemos, enquanto sociedade brasileira, a juventude nesse tempo

    da comunicao; pensar a cidade como uma cena fluida, ou seja, lugar de uma

    indistino entre o numrico e fsico. Para isso, trabalharemos com a arte Bonde do

    Rol Encontro de jovens em shoppings provoca polmica. Eis a arte5, que para fins

    da anlise ser segmentada em trs recortes.

    Entretanto, antes de entrar diretamente na materialidade e na sintaxe da imagemgostaramos de falar um pouco da relao entre a narratividade da informao, a

    imagem e o acontecimento. Partimos da ideia de que a narrativa da informao um

    movimento na linguagem para administrar semanticamente um acontecimento: um

    tempo sem presente, instaurando uma temporalidade que ignora qualquer casustica. O

    5

    http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2014/01/1397831-rolezinhos-surgiram-com-jovens-da-periferia-e-seus-fas.shtml. Acesso em outubro de 2014.

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    acontecimento, preciso dizer, no um fato, pois h algo da relao entre o atual e a

    memria que no se mede jamais em seu funcionamento (cf. Barbai, 2013, p. 198).

    O acontecimento e a memria perturbam o tempo. No se trata, em nossa tica,

    de um desarranjo, de movimentos que podem ser medidos ou de avatares que podem ser

    escondidos. Um evento rompe com a temporalidade do presente, do passado e do futuro

    esse imaginrio da cronologia. O que se tem aqui que o acontecimento produz o

    equvoco do tempo. H no gesto e na criao de um evento onlineque convida jovens

    para se reunir em Shopping Center da cidade de So Paulo, uma atualidade divergente

    que fura todo e qualquer efeito de uma srie temporal. Nesse sentido, esse primeiro

    recorte que se segue, tem um funcionamento especfico: ele nos empurra ao nome, ao

    dado, como se o acontecimento tivesse uma anterioridade e referncia. Vejamos, ento,

    como o recorte de arte, procura definir o sentido de rolezinho.

    Esse recorte muito importante, porque enquanto arte h todo um texto que

    procura delimitar, clarear e elucidar o contedo de um evento, no corpo da cidade,

    buscando regularizar um acontecimento. Nesse sentido, a fora material da palavra

    uma cena a ser vista e lida. No primeiro quadro, j temos um jogo do legvel em relaoao prprio legvel: o rolezinho definido no discurso jornalstico atravs de duas vozes:

    a dos jovens e das instituies, ou seja, a polcia e os lojistas.

    No discurso jornalstico tem-se todo jogo de produzir, como j apontou Mariani

    (1998, p. 145), os consensos em torno do que seria a verdade de um evento. Desse

    modo, o rolezinho da ordem da articulao de duas foras: (a rede social) e (um

    encontro de jovens no shopping) para, segundo a reportagem, atingir duas finalidades:

    (zoar, beijar, paquerar e se divertir) e (tumultuar centros de compras atravs do roubo efurto). O interessante aqui a neutralidade, a transparncia e a iluso referencial da

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    definio, isto , h trs elementos semnticos (os jovens, os lojistas e os policiais) cada

    um marcado no espao social, com sinais e atributos que lhe so constitutivos, na

    sociedade capitalista: a juventude (da periferia) como da ordem daqueles que no tem

    essncia, cuja a natureza o desinteresse, a transgresso, a festa; os lojistas que veem

    nos jovens uma massa desprovida do capital (porque no esto inseridos no mercado de

    trabalho e, portanto, no so consumidores com renda) e a polcia que deve se ocupar da

    segurana da propriedade privada e do espao pblico, combatendo os criminosos.

    Uma vez no shopping somos todos individuados como consumidores. Mas a

    presena dos jovens no Shopping Center, em reposta a um convite da rede social produz

    a um equvoco: uma desestabilizao do espao e de sua finalidade. Essa massa de

    jovens que combina de se encontrar no shopping torna-se um problema a ser

    administrado.

    O rolezinho dos jovens da periferia um movimento espontneo e fludo que

    procurar significar o Shopping Center como um lugar pblico, tal qual a rua, em que

    todos possam circular. A escolha do Shopping Center no aleatria: ele um espao

    da economia de mercado e de consumo, cujos produtos todos querem atingir. A

    juventude da periferia, ao se apropriar de um espao que lhe negado no dia-a-dia,

    desafia a lgica da aderncia ao espao, em que cada tem teria seu lugar. Porm, uma

    vez ali o lao social reduzido a um imaginrio social que constri e sustenta um

    esteretipo de juventude, que acaba sendo reduzida a um grupo criminoso. isso que d

    a ver, por exemplo, o segundo recorte:

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    Esses dois registros recortam a memria de um modo muito particular: ns

    somos acostumados a ver a polcia averiguar jovens que esto impedidos

    simbolicamente e financeiramente de entrar em um Shopping Center. H uma fronteira

    que delimita e determina quem pode ou no ali entrar. H um cdigo de conduta e de

    vestimenta para ali estar. Os jovens, ao proporem um encontro no shopping, via rede

    social (h a iluso, fora e injuno de que todos podem aludir ao convite) desafiam a

    ordem que homogeiniza os espaos e os arranjos da organizao urbana. Essas duas

    imagens so um flagrante da fora no espao: a segurana como uma tecnologia de

    gerenciamento e jurisdio humana. A dimenso da existncia social da juventude, a sua

    proteo, o direito ao lazer est, ali, completamente apagada e denegada. O que se tem

    so objetos humanos legislados.

    O que deveria ser um passeio no Shopping Center, nica forma de lazer de toda

    uma regio da cidade de So Paulo, sobretudo para os jovens, toma o contorno de

    ameaas ao bem privado.

    Nesse nosso tempo, ns temos enquanto sociedade nos tornado expert em

    desvalorizar a imagem das pessoas - e no estamos falando aqui no selfie(o mote atual

    da rede que consiste em publicar a imagem de si) de que jocosamente rimos. De fato,

    temos uma ferramenta histrica de humor: a caricatura, isto , um desenho de uma

    personagem da vida real, cujo objetivo apresentar a pessoa em perspectiva cmica,

    irnica satirizando seus hbitos e costumes. Assim, apresentamos no recorte que se

    segue a caricatura do jovem praticante do rolezinho e, no menos importante para o

    processo de significao, morador das reas perifricas dos grandes centros urbanos.

    Vejamos:

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    Nos chama a ateno, nesse desenho grfico, em primeiro lugar, a expresso

    entre aspas Estilo Rolezinho. Aqui, a vestimenta tem um papel determinante na

    identificao do grupo. A roupa imprime uma digital ao corpo. Alm disso, temos o

    carter material da palavra, em que Estilo Rolezinho absolutamente dissonante. Joga

    aqui a ironia (a lngua jogando consigo mesma) como marca que articula e produz, ao

    mesmo tempo, a construo e a destruio de um sentido. De fato, o jovem da periferia

    tem um estilo em que moda e aparncia so componentes indistintos: por mais que ele

    se adorne com as grifes celebradas do capitalismo, que conferem status, luxo e

    evidncia, h algo nesse estilo que fala a mais, dizendo o a menos.

    Nesse desenho caricatural, com seus elementos dispostos e nomeados, funciona

    a todo tempo o no-dito. O imaginrio preside com maestria os jogos significantes. H

    um conjunto de diferenas que so ditas, mas no explicitadas como tal. Essa arte um

    exemplar da leitura que feita do jovem em nossa sociedade. H um jovem cujo corpo

    um objeto de investimento (grifes), porm parece haver um a menos em relao ao

    jovem da periferia que recusa o estilo extico e romntico da vulnerabilidade social.

    A sociedade deseja, em relao a esses jovens, que eles sejam trabalhadores e

    voluntrios. No entanto, os jovens do rol querem ser vistos e reconhecidos na

    apropriao dos smbolos mais altos de poder que so vendidos no espao dos

    shoppings. Todavia, o sujeito da vulnerabilidade no cabe na lgica e na poltica das

    compras e acesso a bens de consumo. Se h lugar para os encontros e laos sociais a arte

    bem diz: sambdromo (lugar de msica do morro) ou espaos pblicos. preciso

    lembrar que o shopping (o lugar da circulao livre das mercadorias e do dinheiro) no

    a rua.

    Quebro, logo existo

    O espao pode se metaforizar em outro? Se partirmos da premissa de que oshopping no a rua, mas espao de mobilidade, podemos dizer que o espao se

    metaforiza em outros. H algo da rua no shopping que se mostra por uma memria da

    circulao, do lazer, do encontro, do consumo. No entanto, nessa metaforizao, algo da

    rua impedido de significar no shopping, por exemplo, as manifestaes. Assim como

    algo da diviso do corpo social urbano ali no pode figurar: a periferia.

    O shopping center, no caso do rolezinho, transfere e tm seus sentidos de

    mobilidade interditados nesse espao, pois, como vimos, o shopping no lugar detodos, nem todos podem ir e vir, h sujeitos os jovens da periferia que, em certas

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    condies, so impedidos de transitar por esse espao. Na anlise acima mostramos que

    h um discurso incessante que no para de ecoar que no se pode confundir o shopping

    com a rua. Mas, quem de fato "pode" transitar pela rua? Como podemos compreender a

    rua como lugar de manifestao, organizada pela conectividade da/na rede, em que a

    criminalizao de movimentos sociais tambm se d?

    Quando a metfora a da rua enquanto espao poltico, lugar indistintamente de

    todos, ao tomamos as manifestaes de 2013, podemos observar o processo de

    estilhaamento produzido por essa metfora que aponta para o fato de que nem todos

    podem se manifestar. Ou ainda, de que proibido manifestar-se. Chegamos, por meio

    de um processo de deslizamento de sentidos, ao fato de que a rua pode se tornar (se

    significar) um espao cerceado. Um espao de cerceamento da mobilidade, da

    liberdade, da livre expresso. Interditam-se os sujeitos e sentidos. Por outro lado, esse

    mesmo espao, por ser poltico, permite o conflito, o protesto, se configurando como

    espao de insurgncia dos movimentos sociais. Efeito da diviso dos sentidos, das

    relaes sociais hierarquizadas e de poder.

    Acompanhando as discusses sobre a criminalizao de alguns movimentos

    sociais durante as manifestaes de 2013, nos ocorreu pensar de que modo o discurso da

    criminalizao formulado e circula na rede com a mesma velocidade com que se

    organizam as manifestaes. Na busca por compreenso, passamos a observar de que

    maneira as discursividades de criminalizao, especificamente, as que criminalizam o

    black bloc, so engendradas, cujo funcionamento nos parece jogar com a interdio da

    rua e a interdio do sujeito. Em paralelo, observamos o modo pelo qual esse discurso

    desestabilizado pelo equvoco tomado como "o ponto onde o impossvel (lingustico)

    vem se conjugar contradio (histrica); o ponto onde a lngua toca a histria

    (PCHEUX & GADET, 2004, p. 62), a comear por uma suposta origem do black bloc.

    Dupuis-Dri (2004) afirma que a expresso black blocs foi inventada pelapolcia de Berlim Ocidental para denominar ossquatters6que, em 1980, com capacetes,

    escudos, pedaos de pau e diversos projteis, foram s ruas para defender o lugar onde

    moravam. Na descrio inicial do autor, uma outra caracterstica se destaca, todos

    vestiam preto. O autor avana dizendo que os black blocsfazem parte de uma histria

    poltica ligada ao movimento Autonomen, da Alemanha Ocidental, que seria um

    prolongamento do movimento italianoAutonomia. Composto pelos movimentos sociais

    6Termo usado para se referir a pessoas que ocupam habitaes sem a permisso de seus proprietrios.

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    de operrios e jovens de esquerda, o movimento Autonomia defendia uma poltica

    participativa, sem lder ou representante, com base nos princpios de igualdade e

    liberdade para construo da autonomia individual. Lutavam contra a energia nuclear, a

    guerra e o racismo e se confrontavam, nas ruas, com grupos neofacistas racistas. Nesta

    descrio, que remete a uma ideia de origem dos black blocs, observamos que eles

    surgem ligados a um movimento poltico, cuja caracterstica principal a luta em defesa

    da igualdade e contra injustias, mas, no figuram como um movimento poltico, no

    so ditos assim.

    Num cenrio mais recente, relata Dupuis-Dri (idem), os black blocssurgem no

    interior de um outro movimento poltico, o movimento altermundialista, que contesta a

    legitimidade de grandes instituies internacionais associadas mundializao do

    capitalismo tais como a Organizao Mundial do Comrcio, o Fundo Monetrio

    Internacional, o Banco Mundial, o G8, a Unio Europeia, etc. Comparecem, segundo o

    autor, na Batalha de Seattle em 30 novembro de 1999, momento em que quebraram

    vitrines do McDonald's, da Nike, da Gap e de bancos. Mais uma vez o autor aponta para

    os black blocs como oponentes do capitalismo e suas instituies. No entanto,

    acrescenta uma forma de atuao que consiste na depredao de empresas, bancos, lojas

    consideradas representativas do sistema socioeconmico que contestam. Mais do que

    gritos anticapitalistas e antiautoritrios, recorrem ao uso da fora, acentua ainda o autor.

    Participaram dos protestos contra a Cpula das Amricas em Quebec, em 2001,

    contra a cpula do G8, em Annemasse e Genebra, no ano de 2003. Esto na Amrica do

    Norte, no Mxico, na Europa, na Turquia e no Brasil (DUPUIS-DRI, 2004). Em

    entrevista Rede Atual Brasil7, o mesmo pesquisador define black bloc da seguinte

    maneira:

    Black bloc simplesmente uma ttica, uma maneira de se organizar dentro de

    uma manifestao. Consiste em se vestir de preto para garantir um certoanonimato. Pelo que conheo, a maioria dos black blocs desfilam com calmanas manifestaes. A simples presena deles forma, de certa maneira, uma

    bandeira preta, smbolo do anarquismo.

    Aqui temos uma definio que associa o black blocao anarquismo. Associao

    essa que reiterada e explicada pelo autor em "Penser l'action directe des Black Blocs"

    medida que afirma ser o black bloc um epifnomeno de um movimento social

    antiautoritrio mais amplo que remete a outros movimentos tais como os sans-culottes,

    7 Disponvel em: http://www.redebrasilatual.com.br/cidadania/2013/10/black-blocs-sao-politizados-e-expressam-revolta-contra-injusticas-sociais-1922.html

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    os socialistas utpicos, os niilistas, os sovietes, os conselhos operrios e anarquistas, os

    estudantes de 68, e os chamados novos movimentos sociais (feministas, ambientalistas,

    jovens etc.) que buscavam romper, anos 1960-1970, com o ativismo partidrio ou

    sindical para empreender uma forma de organizao horizontal, igualitria e consensual

    (idem, 2004,p.80). Isso em razo da luta pelo fim de todas as formas de autoridade, de

    hierarquia e de poder.

    interessante observar acima que black blocno definido como um grupo,

    como um partido, como uma organizao poltica, mas como uma ttica de

    manifestao, na qual o anonimato primordial e a vestimenta preta permite que

    qualquer um se torne black bloce ao mesmo se torne corpo de um movimento poltico

    no institucionalizado. O corpo do sujeito envolto ao traje preto garante o anonimato, ou

    seja, garante que aquele sujeito no seja identificado ao passo que abre espao para a

    indistino do sujeito que ali se rene num jogo entre o visvel e o invisvel: um bloco

    negro. Enquanto a unidade de um corpo social se forma por meio do mesmo recurso,

    ganha visibilidade ainda que difusa: um bloco negro que se forma e se dissolve na e

    com a manifestao.

    Nos movimentos contemporneos, em que a rede tem um papel fundamental nas

    manifestaes, j que pela conectividade que elas so organizadas, os black blocsda

    mesma maneira a esto, se constituindo na estrutura e funcionamento da rede, de modo

    informal, disperso, descentralizado, des-institucionalizado. Formam-se e se separam

    diante de uma demanda de protesto. Esse modo de organizar-se permite, por um lado,

    inicialmente, escapar da administrao e do controle do Estado; por outro, a indefinio,

    a disperso abre espao para a definio que criminaliza, cujos sentidos interditam os

    sujeitos na rua, na manifestao, em seus gestos polticos. Os black blocsincomodam.

    No Brasil8, passam a ser definidos, e assim criminalizados, sobretudo, pelo

    discurso da mdia, que ao narrativizar os atos de depredao de bancos e fachadas degrandes empresas e os gestos de confronto direto com policiais, produz enquanto efeito

    o esvaziando do sentido poltico da manifestao dos black blocs. A partir da, a

    violncia passa a ser atribuda a eles e uma denominao aparece para rotul-los:

    vndalos. Eficaz em sua opacidade, essa denominao entra em cena num lugar deixado

    vazio pela indistino, pela definio flutuante, pela ausncia de ligao dos black blocs

    8 Nas redes sociais encontramos pginas e grupos fechados com milhares de curtidas, seguidores emembros, tais Black Bloc Brasil, Black Bloc So Paulo, Black Bloc RJ, Black Bloc Fortaleza, Black BlocBraslia, etc.

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    a uma instituio, a um partido, a um sindicato. Ao mesmo tempo essa denominao

    tambm lugar de equvoco uma vez que passou a circular na rede com outros sentidos.

    Enquanto vndalos ou vandalismo aparece nas manchetes de grandes jornais

    condenando os black blocs, significando-os como criminosos; na rede (facebook, blogs,

    pginas, etc.) a mesma denominao circula significando vndalo como aquele que luta

    por direitos, por justia, por igualdade, como caso do texto "Somos todos vndalos"9.

    A partir dessas condies de produo, trazemos para esse nosso terceiro e

    ltimo movimento de anlise, a charge abaixo10, observando sua constituio, "a partir

    da memria do dizer", sua formulao, considerando que "na formulao que a

    linguagem ganha vida, que a memria se atualiza, que os sentidos se decidem, que o

    sujeito se mostra (e se esconde)", e sua circulao, ou seja, por onde transitam e como

    se mostram os dizeres (ORLANDI, 2001: p. 9).

    #ChargeDescartes, versao @BlackBlocBRASIL

    A charge apresenta em sua formulao uma relao parafrstica com outra

    imagem, uma vez que convoca uma imagem, j-vista, j-significada, a da escultura de

    bronze, conhecida como "O Pensador", de Auguste Rodin. Na escultura, a postura, os

    traos e contornos dos msculos bem definidos, de um corpo nu, remetem a um homem

    forte, que sentado em uma rocha, com a cabea baixa apoiada em sua mo direita, e o

    brao esquerdo sobre a perna esquerda, pensa. Vemos na charge, a partir do processo

    9 Somos todos vndalos. Disponvel em: http://mateusbrandodesouza.blogspot.com.br/2013/06/somos-todos-vandalos.html10Charge de Latuff, 2013, disponvel em: https://latuffcartoons.wordpress.com/tag/black-bloc/

    https://latuffcartoons.wordpress.com/2013/10/29/charge-descartes-versao-blackblocbrasil/https://latuffcartoons.wordpress.com/2013/10/29/charge-descartes-versao-blackblocbrasil/https://latuffcartoons.wordpress.com/2013/10/29/charge-descartes-versao-blackblocbrasil/https://latuffcartoons.wordpress.com/2013/10/29/charge-descartes-versao-blackblocbrasil/
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    metafrico de imagem por outra (COSTA, 2012), o pensador ser substitudo pelo black

    bloc. De preto, mscara e coturno, numa mesma posio corporal, a diferena que a

    mo esquerda parece brincar com uma pedra.

    A charge tambm apresenta em sua formulao um enunciado que remete a

    outro: Quebro logo existo! que faz ressoar o dizer "Penso, logo existo!". Esse dizer

    bastante popularizado tem relao com a reflexo de Rne Descartes, para o qual a

    existncia est submetida ao pensamento, existimos porque pensamos. Nesta

    perspectiva cartesiana, a existncia est condicionada ao pensar, se distanciando de uma

    concepo de existncia baseada na existncia fsica, do corpo no mundo. importante

    observar tambm que o ttulo da charge faz referncia a Descartes e ao black bloc, cuja

    palavra verso une Descartese Black Bloc Brasil. Sendo seu modo de circulao, que

    na rede, tambm marcado pela #Charge. A charge est na rede, num website de

    charge do cartunista Latuff. Por fazer parte de um arquivo na rede, pode ser encontrada

    por buscadores, acessada de diferentes maneiras.

    Em relao ao funcionamento discursivo dessa charge, podemos dizer que

    estamos diante de um discurso que atualiza a memria ao jogar com a imagem do

    pensador e com o enunciado que aponta para o fato de que a existncia prescinde do

    corpo, o sujeito s existe se pensar. Trata-se de uma verso que, nas palavras de Orlandi

    (2001: p. 13), refere-se a "direo, espao significante, recorte do processo discursivo,

    gesto de interpretao, identificao e reconhecimento do sujeito e do sentido

    produzidos por uma formulao na relao com outras formulaes possveis, suas

    verses. Neste caso, a verso joga com a figura do black bloctextualizada no lugar do

    pensador, que se diferencia, sobretudo, porque tem consigo uma pedra. Essa verso,

    essa imagem atravessada e, portanto, constituda pelo dizer Quebro, logo existo!, que

    ao ressoar o enunciado "Penso, logo existo", aponta para uma outra diferena, a

    substituio de pensarpelo verbo quebrar, acentuando por um lado, os discursos quecriminalizam os black blocs medida que os relacionam com o quebra-quebra, com a

    depredao, a partir do verbo quebrar, de maneira a reiterar que a existncia deles

    determinada pelo vandalismo.

    Entretanto, esse processo discursivo marcado pelo equvoco que irrompe

    desestabilizando as discursividades de criminalizao uma vez que o impossvel da

    linguagem alia-se contradio. Isso porque o verbo quebrar, num funcionamento

    transitivo, diferente de pensar, intransitivo, reclama um complemento - quebrar o qu? -,possibilitando que outros sentidos se discursivizem. Dito de outro modo, conforme

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    Orlandi (2005: p. 77), pelo "efeito da falha da lngua inscrevendo-se na histria" que

    outros sentidos podem vir tona. O sentido de quebrar na charge est aberto, isso

    porque o cartunista joga com a polissemia do verbo quebrar, e ao fazer isso deixa

    brechas para outros sentidos do verbo, o que nos permite uma interrogao e algumas

    parfrases. Que complemento reclama o verbo em primeira pessoa?

    Quebro uma vidraa, logo existo!

    Quebro a regulao da manifestao, logo existo!

    Quebro o sistema, logo existo!

    Quebro o sistema poltico vigente, logo existo!

    Quebro um sistema coercitivo, logo existo!

    Quebro o Estado, logo existo!

    Essas parfrases nos permitem observar o deslizamento de sentidos produzido

    pela reivindicao de um objeto direto. No sentido de quebrar da primeira parfrase se

    ancora inicialmente o discurso da criminalizao, esvaziando o sentido de manifestao

    e interditando o direito a ela. Porm, esse sentido desliza para romper com o discurso

    criminalizante, dando relevo a quebrar enquanto ruptura (romper, dividir, partir,

    despedaar, dobrar, desobedecer, etc.).Osblack blocsquebram a necessidade histrica de nomear, de identificar, de se

    institucionalizar, de ceder ao Estado. Nessa direo, quebrar, enquanto ruptura, pode

    significar a resistncia em relao ao prprio discurso da criminalizao e a reiterao

    do sentido de romper com o prprio funcionamento da formao social capitalista. Para

    existir, a premissa a de que os black blocsprecisam quebrar. Efeito de sentido que faz

    furo no sentido de manifestao, dos movimentos sociais, ideologicamente constitudos,

    marcando um ritual com falhas.

    Por fim, a partir desses trs movimentos de anlise que se sustentam por um lao

    de conectividade, mobilidade e manifestao, o que se pode dizer da sociedade e suas

    formas de organizao (hierrquica, coercitiva, determinada por relaes de fora e de

    poder)?

    Podemos dizer que os laos sociais que praticamos hoje tm sofrido uma

    profunda transformao. As nossas condies de sociabilidade e manifestao poltica

    so outras. Isso se d em/por uma metaforizao entre a cidade e a rede, que amplia

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    nossos encontros e, tambm, nossos desencontros, expande nossas fronteiras fsicas e de

    comunicao, modifica a relao entre o individual, o privado e o pblico, impondo

    como modo de organizao a conectividade e a mobilidade nos espaos.

    Assim, poderamos propor ainda outras parfrases para a formulao Quebro,

    logo existo, fazendo significar outros sentidos, outros efeitos:

    Quebro, logo sou - colocando em jogo os processos de identificao no

    movimento da contemporaneidade, determinados pela conectividade, podendo, com

    isso, deslizar ainda para Je suis connect, donc je sui Eu sou/estou conectado, logo

    sou - (cf. KRUSE e CARLSSON, 2004), em que a conexo no uma substncia, mas

    uma produo de sentidos, na historicidade das relaes contemporneas, de des-

    encontros, de existncia, de vida e de poltica no mundo.

    Propondo ainda uma ltima parfrase podemos trazer a resistncia como modo

    de significao dos movimentos polticos das manifestaes de rua/rede, dos

    rolezinhos nos shopping centers, dos Black blocs nos entremeios. Movimentos nas

    margens, na falha do Estado: Quebro, logo resisto, abrindo para outros modos de

    historicizao do sentido.

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    Para citar essa obra:

    DIAS, C.; BARBAI, M. A.; COSTA. G. C. Movimentos da contemporaneidade: a rua, asredes e seus desencontros. In: RUA [online]. 2014, Edio Especial - ISSN 1413-2109.Consultada no Portal LabeurbRevista do Laboratrio de Estudos Urbanos do Ncleo deDesenvolvimento da Criatividade.http://www.labeurb.unicamp.br/rua/

    Capa: #ChargeDescartes, verso @BlackBlocBRASIL. Disponvel em:

    https://latuffcartoons.wordpress.com/2013/10/29/charge-descartes-versao-blackblocbrasil/

    Laboratrio de Estudos Urbanos LABEURBNcleo de Desenvolvimento da Criatividade NUDECRIUniversidade Estadual de Campinas UNICAMPhttp://www.labeurb.unicamp.br/Endereo:LABEURB - LABORATRIO DE ESTUDOS URBANOS

    UNICAMP/COCEN / NUDECRICAIXA POSTAL 6166Campinas/SPBrasilCEP13083-892Fone/ Fax:(19) 3521-7900Contato: http://www.labeurb.unicamp.br/contato