interpretação cinematográfica: encontros e desencontros

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Catálogo do evento Interpretação Cinematográfica: encontros e desencontros.

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Page 1: Interpretação Cinematográfica: encontros e desencontros

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Interpretação Cinematográfica:

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Apresentação

Encontros e Desencontros surgiu do desejo de promover uma reunião entre pesquisadores, estudantes e

instituições de ensino que encontraram no Cinema uma forma de expressão e diálogo com o mundo.

A interpretação cinematográfica procura estudar o texto cifrado que necessita de interprete. Nesse encontro o

leitor sai de sua condição passiva e periférica para assumir o papel de protagonista. Acreditamos no encontro promovedor de

desencontros, ou seja, o encontro com estéticas inovadoras através de obras que produzem um efeito de estranhamento ou

desconserto na recepção.

O momento em que o espectador se (des)encontra com a obra cinematográfica é um momento extremamente

produtivo. O estranhamento diante da obra tem a capacidade de libertar e transformar estados opressores. Entendemos que

o cinema não deve ser apreciado apenas como forma de representação, cinema também é ação. Essa é a nossa crença.

os (des)organizadores

07/11 (Segunda-feira) - 19h - Auditório do CAHL

Mesa: Um encontro interdisciplinar sobre O Desprezo.

Mediadora: Rita Lima (UFRB)

Dr.ª Josette Monzani (UFSCar) - A recriação de O desprezo,

de Moravia, por Godard.

Dr. André Itaparica (UFRB) - Notas sobre O desprezo, de

Jean-Luc Godard.

Programação

08/11 (Terça-feira) - 19h - Auditório do CAHLMesa: Um desencontro produtivo entre linguagens: documentário e cine-teatro.Mediador: Danillo Barata (UFRB)Dr.ª Josette Monzani (UFSCar) - A morte viva. Apontamentos sobre Nick´s movie.Ms.ª Angelita Bogado (UFRB) - Dogville e Canção de Baal, uma perspectiva brechtiana.

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O campo do cinema é por definição um espaço de interlocução e diálogo, pois a produção audiovisual é

essencialmente forjada na interação entre inúmeros agentes: diretores, atores, técnicos, roteiristas etc. Mesmo em

subáreas específicas do audiovisual como a vídeo-arte, onde é frequente encontrarmos produções do tipo um-

homem-uma-câmera, nosso fazer é sempre minimamente um dar a ver, uma oferta de imagem-som em busca do

diálogo com o olhar-ouvir do outro. O cinema, arte coletiva, é sempre uma demanda por uma interpretação

dialética jamais redutível à mera decodificação.

Dentro da academia não poderia ser diferente: necessitamos de interlocuções incessantes com nossos

pares, sem as quais nossa mirada sobre o cinema e sobre nós mesmos estará irremediavelmente comprometida —

apenas o intercâmbio científico pode legitimar e enriquecer nossas interpretações, questionando-as. Tal diálogo se

torna ainda mais fundamental no momento rico e incipiente de formação de tantos cursos de audiovisual no Brasil.

Estamos a construir em vários pontos do país espaços acadêmicos de excelência voltados para um campo de

práticas igualmente em formação e em perpétua transformação.

É neste sentido amplo que saudamos com entusiasmo o encontro entre UFRB e UFSCAR no evento

dedicado a esta questão teórica fundamental e multifacetada que é a interpretação no cinema. Que esta seja

apenas a primeira de muitas interlocuções entre nossos (sempre) jovens cursos.

Adriano A. OliveiraCoordenador do curso de Cinema e Audiovisual da UFRB

Cinema: interlocuções incessantes

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Os Cinemas de O Desprezo (1963) de Jean-Luc Godard

Emerson Dias Graduando de Cinema e Audiovisual - UFRB

O Desprezo (1963), de Jean-Luc Godard, adaptação do romance homônimo de Alberto Moravia, revela-se um filme metalinguístico por excelência. Antes dos créditos, a sequência inicial já desvela o dispositivo cinematográfico: um travelling indo de encontro à câmera descortina um fazer, que nos conduz a uma influência brechtiana, haja vista a quebra da convenção da “quarta parede”, interpelando diretamente o espectador.

No filme, o cineasta Fritz Lang desempenha o papel de diretor de cinema e, ao sair de reunião com o produtor Jeremy Prokosch (Jack Palance), o roteirista Paul Javal (Michel Piccoli), sua esposa Camille (Brigitte Bardot) e a Francesca Vanini (Giorgia Moll), deparamo-nos com o cartaz do filme Viagem à Itália (1954), de Roberto Rossellini. Desde então um diálogo se estabelece entre as narrativas godardiana e rosselliniana. Ambos os filmes focalizam as dificuldades de relacionamento, seja entre Camille e Paul Javal, no primeiro filme, seja entre Katherine e Alexander Joyce, no segundo. Acrescente-se a isso, a referência à mitologia grega em ambas as intrigas, uma espécie de fio condutor operando como o equivalente de uma estrutura mise en abîme e especular, um microcosmo no seio do macrocosmo que constitui o enredo de ambos os filmes.

Em O Desprezo há uma riqueza de referências, típica do cinema de Jean-Luc Godard, tais como Psicose (1960), de Alfred Hitchcock, Hatari! (1962), de Howard Hawks, Viver a vida (1962), do próprio Jean-Luc Godard, Vanina Vanini (1961), de Roberto Rossellini, além de O Ano Passado em Marienbad (1961), de Alain Resnais e Mônica e o Desejo (1953), de Ingmar Bergman. Transitando entre vários gêneros cinematográficos tais como o suspense, a aventura e o drama, testemunhamos em Rossellini, Resnais, Bergman, além do próprio Godard, as diversas formas de amar, sem contar o amor ao cinema, traduzido em homenagem declarada. Vale lembrar, que o próprio Godard participou do grupo dos então chamados hitchcock-hawksianos.

No entanto, o diálogo com o filme M, O Vampiro de Dusseldorf (1931), de Fritz Lang merece uma atenção especial. Sabe-se que esse filme de Lang pouco fala de amor. Mas então o que estaria em jogo em tal diálogo? M, O Vampiro de Dusseldorf constitui um marco da história do cinema, ao empregar o uso criativo do som do assovio do assassino, identificado como tal ao longo da narrativa. Assim sendo, uma relação formal se instaura: em O Desprezo podemos perceber a presença recorrente da música sempre que Camille se encontra em crise no seu relacionamento com Paul, o que a faz operar enquanto leitmotiv, ou seja, de modo semelhante ao filme de Lang. Além de estar inserido na música operística, o leitmotiv musical contribui para a beleza e a expressividade do filme, ao lado da pintura e arquitetura grega, trabalhando no campo ótico-sensível e simbólico.

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Edson CostaMestrando do Programa em Imagem e Som - UFSCar

Um táxi amarelo entra em quadro, perturbando a paisagem monótona de um domingo em Nova York,

1979. O veículo faz uma rápida parada na esquina da Spring Street com a West Broadway. É o tempo necessário para

um sujeito de sobretudo e mala nas mãos descer, o diretor alemão Wim Wenders. O cineasta aproveitou algumas

semanas de intervalo, durante as filmagens de Hammett, para visitar o amigo e mestre Nicholas Ray, àquela época

com câncer em estado terminal. O encontro resultou no documentário Nick's movie - Lightning Over Water (1980).

O filme expõe, inicialmente, um tom um tanto quanto amargo. Sensação alimentada pelo estado de saúde

delicado do diretor norte-americano: crises de tosse e uma fisionomia desgastada fazem um retrato sôfrego dele.

Tem-se, ali, uma imagem senil que incomoda e contrasta com a vitalidade, marca do cinema de Nicholas Ray.

A impressão de que Wenders presta um tributo melancólico se desfaz aos poucos. O medo e a angústia

que impregnam as primeiras cenas são minimizados perante a presença do próprio Ray que, nas imagens e

diálogos, cresce, revelando por detrás da figura pálida, uma mente criativa, lúcida e em plena atividade. É esse Ray

que Wenders filma, respeitoso, sem perder de vista o próprio cinema, paixão que ambos compartilham.

O documentário reflete a narrativa, a composição dos planos e a linguagem. Mais que um formalismo, o

diretor alemão encara as imagens pela capacidade delas em compor uma existência, em materializar uma pulsação

que é a da vida, do cinema e de Ray.

Nick's movie, de Wim Wenders e Nicholas Ray

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Cinema que pulsa e pensa

Dr.ª Josette Monzani - UFSCar........................................................................................................................................................................

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Wim Wenders interrompe as filmagens de Hammet para visitar o amigo Nicholas Ray, que está com câncer em estado

terminal. O encontro é registrado em “Nick's movie – Lighting over the water” (1980). Além de homenagem ao diretor norte-

americano, o filme se torna uma reflexão sobre a criação e a linguagem do cinema.

O desprezo (Le Mépris, 1958), de Jean-Luc Godard, recusa breves sinopses, mas, à guisa de apresentá-lo, podemos

descrevê-lo como a história do roteirista Paul Javal (Michel Piccoli), convidado a participar da adaptação de A Odisséia, de

Homero, que está sendo realizada pelo diretor Fritz Lang. Um dos produtores do filme passa a cortejar a esposa de Paul,

Camille Javal (Brigitte Bardot), iniciando uma crise no relacionamento do casal. Tendo esse enredo como ponto de partida,

Godard faz do metacinema um recurso narrativo voltado para o desenvolvimento do percurso empreendido pelo artista

durante as etapas do processo de (re) criação.

Os filmes de Godard e Wenders podem ser pensados, dadas suas respectivas especificidades, sob um denominador

comum: o fazer artístico, principalmente o cinematográfico. Trabalhando sobre a gênese criativa que se esboça durante os

filmes, em entrevistas dos autores ou outros materiais, a Profa. Dra. Josette Monzani (UFSCar) analisa a linguagem e as formas

narrativas de Lighthing over the water e Le mépris.

O trabalho “A morte viva. Apontamentos sobre Nick's movie” lança um olhar crítico que abrange a criação do filme

de Wim Wenders, contemplando aspectos compreendidos entre a idéia original, o roteiro, a filmagem e a segunda versão do

filme, lançada depois da exibição em Cannes, em 1980. Valendo-se de entrevistas dadas por diretor, do testemunho de autores

como Philippe Dubois, e do modo de produção revelado pela metalinguagem do filme, o texto traz à tona as idas e vindas que

marcaram a realização de Nick's movie. A aproximação com a gênese da obra permite o entendimento do impulso que levou

Wenders a se dedicar a um documentário tão controverso, alvo de discussões sobre a ética que balizou a postura do diretor

alemão diante do tabu que circunda o filme, a morte. A autora descortina a impressão polêmica a fim de revelar o filme como

um gesto de respeito e amor ao amigo Ray e ao cinema.

O artigo “A recriação de O desprezo, de Moravia, por Godard” traz à tona o complexo jogo de referências

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Dr. André Itaparica - UFRB

O cinema de Godard possui um caráter metacrítico marcante. Seus filmes são ensaios sobre as próprias capacidades representativas do cinema, em um discurso que elimina os tênues limites entre o representado e a representação. No caso de O desprezo, essa característica atinge o extremo, quando Godard discorre, em registro metalinguístico, sobre as relações entre cinema, realidade e ficção. A história central, da relação entre Camille (Brigitte Bardot) e Paul (Michel Piccoli), é inserida no contexto da produção de um filme, o que permite a Godard refletir sobre o cinema, em sua tensão entre a arte e a indústria. Além disso, paralelamente à narrativa da crise do casal, Godard realiza uma contraposição entre aspectos da cultura contemporânea e o ideal grego de cultura, representado pela Odisseia, epopeia que, no filme de Godard, está sendo filmada por Fritz Lang (representado pelo próprio Fritz Lang). Procuraremos discutir essas questões, extraindo delas suas eventuais implicações filosóficas.

Notas sobre , de Jean-Luc GodardO desprezo

armado por Jean-Luc Godard em torno do processo de recriação do livro homônimo no qual se baseou para produzir o filme. A pesquisadora põe em foco o termo “recriação”, no sentido que Haroldo de Campos sintetiza como “a inserção da diferença no mesmo” ou mudanças que uma obra opera sobre outra, permanecendo, contudo, fiel ao seu espírito. Godard ultrapassa a transposição da literatura ao cinema a fim de articular uma malha de signos literários, fílmicos e culturais. A intertextualidade tecida pelo diretor é investigada juntamente à experimentação na linguagem cinematográfica. Josette Monzani nos mostra que a tradução de obras criativas implica uma recriação autônoma – ensaística e crítica - por parte dos que se lançam ao desafio de conhecê-la mais a fundo.

Por Edson Costa - Mestrando do Programa em Imagem e Som - UFSCar

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Ms.ª Angelita Bogado - UFRB

Este estudo pretende promover o encontro entre dois personagens e seus autores. Um encontro entre Grace, a protagonista de Dogville, (Lars Von Trier -2002) e Baal, personagem de Canção de Baal, (Helena Ignez - 2008). Inspirada na ousadia e originalidade de Trier e Ignez esta leitura apontará as influências do dramaturgo alemão Bertolt Brecht (1898-1956) presentes nestas obras destes dois diretores.

Tanto Canção de Baal quanto Dogville são experiências estéticas que promovem o estranhamento como forma de tocar o espectador. Obras que conjugam diferentes manifestações artísticas e não seguem o velho sistema de gêneros; literatura, teatro, música, fotografia e filosofia estão, aqui, amalgamadas pela linguagem cinematográfica própria de Trier e Ignez.

A influência de Bertolt Brecht aparece de imediato como traço de similitude das obras, em Dogville o dramaturgo alemão está presente principalmente na ausência dos elementos cênicos, na divisão em capítulos e na antecipação dos fatos. O filme Canção de Baal é inspirado na primeira peça de Brecht intitulada Baal (1918). Este texto não pertence ao período mais estudado do autor, o teatro épico. Nessa primeira fase do dramaturgo, a sociedade burguesa é negada através de personagens anárquicos que estão à margem da sociedade. Este traço de niilismo presente no primeiro texto teatral de Brecht é o que estimula Helena Ignez. Canção de Baal é a possibilidade de exaltar o espaço mágico e a narrativa anárquica em seu longa de estreia.

Em sua fase mais madura Brecht desenvolveu a ideia do teatro épico, ele acreditava que o aparelho teatral havia perdido o controle sobre si e o palco havia se convertido em tribuna. Passou a defender o palco como lugar de transformação, e para isso criou o teatro de tese com forte caráter político. Brecht acreditava “que de um homem tudo se pode fazer”. É com esta máxima brechtiana que Trier veste sua protagonista e nos deixa despidos em Dogville.

Mesmo trabalhando com períodos distintos do dramaturgo, os dois diretores manipulam a linguagem fílmica de modo a conceder à Grace e Baal uma face demiúrgica.

A linguagem de ambos, ao romper com o nosso horizonte de expectativa, nos move e nos transforma, e a tela se torna um espaço de sacralização. O projeto cine-teatro, inspirado em Brecht, de Trier e Helena Ignez, exige a participação ativa e móvel do espectador, é preciso romper a superfície da tela e com os limites da representabilidade para que a fruição se torne um ato celebratório. Canção de Baal e Dogville necessitam de espectadores dispostos a enfrentar a singularidade, nada tranquila, dessas duas grandes obras.

e , uma perspectiva brechtianaDogville Canção de Baal

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Organização

Angelita BogadoAry Rosa

Glenda NicácioHenrique RozaMárcia Souza

Identidade Visual

Henrique Roza

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Apoio

D O C E S E S A L G A D O S

l ianaEPOUSADA PARAGUASSU Café com Arte

Distribuidora de BebidasDistribuidora de Bebidas

R E S TA U R A N T E

CLUBE DOS FERROVIÁRIOSPQTRLVBAR E RESTAURANTE

Realização

aosaosCC Cine