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Motivações para a Parentalidade em Futuros Pais Adotivos e

Futuros Pais Biológicos

Cátia Filipa Domingues Andrade

Dissertação Apresentada ao ISMT para Obtenção do Grau de Mestre em Psicologia

Clínica – Terapias Cognitivo-Comportamentais

Orientadora: Professora Doutora Ana Galhardo, ISMT

Coimbra, Setembro de 2016

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Agradecimentos

Ao aproximar-se o final de mais um ciclo da minha vida pessoal, académica e profissional,

torna-se relevante agradecer a quem, de alguma forma, contribuiu para que tal fosse possível.

Em primeiro lugar, agradeço à minha orientadora Professora Doutora Ana Galhardo pelo

profissionalismo exímio, partilha de conhecimentos e disponibilidade com os quais me

brindou.

Em segundo lugar, agradeço ao ISCTE por me ter permitido adquirir as bases científicas

necessárias para ingressar nesta etapa e também ao ISMT por me ter facultado novos

conhecimentos e por me preparar para a prática clínica.

Agradeço também aos participantes desta investigação e às associações que me auxiliaram

na divulgação do estudo pois sem eles esta Dissertação não teria sido possível.

Um agradecimento muito especial à minha colega Cristiana Marques por toda a ajuda

prestada, paciência e cooperação durante todo o processo de desenvolvimento da Dissertação.

Não poderia deixar de agradecer ainda à Dª Manuela Duarte e ao Sr. Carlos Santos por me

acolherem como se fosse da família e facultarem um ambiente propício ao desenvolvimento

deste projeto. À minha madrinha, Mafalda Saltão, por toda a força e apoio que me deu nos

momentos de desânimo. À Vanessa Barroso, Mara Chora, Andreia Antunes e Sofia Oliveira

pela amizade, conselhos, paciência e partilha de opiniões que em tanto contribuem para a minha

lucidez e paz de espírito.

Um agradecimento muito especial aos meus pais pelo apoio incondicional nesta que foi uma

fase também ela difícil da minha vida. Por acreditarem nas minhas capacidades, por “estarem

perto, mesmo estando longe” e por compreenderem a necessidade dessa minha ausência.

Agradecer ainda ao meu namorado, João Santos, por todo o apoio, carinho, paciência e

compreensão ao longo deste processo. Por segurar o meu Mundo quando, por vezes, eu mesma

tinha vontade de o deixar cair.

Por fim mas não menos importante, agradecer à minha avó, Maria José Domingues, por

sempre ter sido capaz de se colocar no meu lugar. Por celebrar comigo as minhas vitórias e

chorar comigo nos momentos de angústia. Por ser a minha força e a minha motivação. O

Alzheimer pode tirar-lhe a capacidade de se recordar de algumas coisas, mas não a impede de

sentir com todo o seu coração.

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Resumo

Introdução: A parentalidade é um dos desejos mais universais da população adulta. No

entanto, nem todas as pessoas conseguem alcançar a gravidez de forma espontânea, pelo que

são conduzidas à reconstrução de significados acerca da parentalidade e à procura de soluções

alternativas para a concretização desse desejo, afigurando-se a adoção como uma das

possibilidades. Ainda que as motivações para a parentalidade tenham sido alvo de estudos

internacionais, em Portugal os estudos são ainda escassos, nomeadamente no que diz respeito

às motivações para a parentalidade adotiva.

Objetivos: A presente investigação pretendeu explorar e sistematizar as motivações para a

parentalidade de indivíduos candidatos à adoção, comparando-as com as motivações de

indivíduos que se encontram num processo de concretização da parentalidade biológica.

Pretendeu-se ainda verificar se no período de espera gestacional e no período avaliativo de

espera dos candidatos à adoção se estes diferem no que diz respeito aos sintomas emocionais

negativos experienciados.

Metodologia: Estudo exploratório numa amostra de 73 futuros pais, 41 dos quais em situação

de futura parentalidade biológica e 32 em situação de futura parentalidade adotiva. Os

participantes preencheram um conjunto de questionários destinados a avaliar as motivações

para a parentalidade e os sintomas emocionais negativos numa plataforma online

Resultados: Através dos dados obtidos verificou-se que, ao nível das motivações positivas,

quer a amostra total, quer os dois grupos analisados, consideraram que as gratificações

intrínsecas inerentes a ter um filho são a motivação mais importante para a parentalidade (i.e.

Realização Pessoal). No que diz respeito às motivações negativas, a generalidade dos

participantes demonstrou valorizar mais a motivação Preocupações Sociais e Ecológicas.

Relativamente aos sintomas emocionais negativos os dois grupos não diferiram.

Discussão: A parentalidade tem sido cada vez menos considerada como um dever perante a

sociedade e mais frequentemente como uma forma de preenchimento pessoal e extensão do

próprio. Verificou-se também que, tal como em outros estudos, o contexto de insegurança

social e ambiental atual exerceu impacto no ponto de vista parental. No que diz respeito aos

sintomas emocionais negativos, não se observaram diferenças entre os dois grupos em análise,

contrariamente ao que é reportado na literatura, mas que sugere que estes períodos de espera

podem ser semelhantes no que respeita ao evidenciar de sintomas de ansiedade, depressão e

stresse.

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Palavras-chave: motivações para a parentalidade; parentalidade adotiva; parentalidade

biológica; sintomas emocionais negativos.

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Abstract

Introduction: Parenthood is one of the most universal adults’ desires. However, not all people

can achieve pregnancy spontaneously and therefore have to reconstruct their representations

about parenting and pursuing alternative solutions to achieve this desire, being adoption one of

these possibilities. Although parenthood motivations have been addressed, mainly in

international studies, in Portugal and particularly regarding adoption parenthood motives,

research is scant. .

Objectives: This study sought out to explore and systematize parenthood motivations in people

pursuing adoption, comparing them with the motivations of people who are in the process of

becoming biological parents. Additionally differences concerning negative emotional

symptoms between these two groups of intended parents were explored.

Methods: This exploratory study included a sample of 73 future parents, 41 of which in a

situation of future biological parenthood and 32 in future adoptive parenthood situation.

Participants completed a set of self-report questionnaires assessing parenthood motivations and

negative emotional symptoms on an online platform.

Results: Regarding positive parenthood motivations, both the total sample and the two groups

consider that intrinsic rewards inherent to having a child are the most important motivation for

parenthood (i.e. Personal Fulfilment). Regarding the negative motivations, the majority of

participants valued Social and Ecological Concerns motives. No significant differences were

found between the groups concerning negative emotional symptoms.

Discussion: Parenting has been less and less regarded as a society duty and more often as a

means of personal fulfilment and extension of oneself. It was also found that, like in other

studies, the current social and environmental insecurity context had impact on parental

standpoint. Concerning negative emotional symptoms, the inexistence of differences between

adoption and biological future parents suggests that these period of time may be similar when

it comes to anxiety, depression and stress symptoms.

Key-words: parenthood motivations, adoptive parenthood, biological parenthood, negative

emotional symptoms.

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Motivações para a Parentalidade em Futuros Pais Adotivos e Futuros Pais Biológicos

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Introdução

No ciclo de vida de uma família, um dos acontecimentos mais expectáveis é a chegada

dos filhos (Valério, 2013). O ser humano anseia pela descendência (Galhardo, 2012),

constituindo-se a parentalidade como um dos desejos mais universais da população adulta

(Boivin, Bunting, Collins, & Nigren, 2007).

A parentalidade e o desenvolvimento que lhe está inerente têm início no período da

gravidez, ou até mesmo antes, quando o indivíduo pondera a possibilidade de tornar-se

pai/mãe. Na prática, resulta de um processo de maturação que conduz a uma

reorganização a nível psicológico e afetivo, para que o indivíduo se torne capaz de dar

resposta às necessidades emocionais e práticas dos filhos, proporcionando-lhes um

contexto seguro, promotor do seu bem-estar e desenvolvimento (Figueiredo, 2013). Este

processo é considerado como uma das tarefas mais desafiantes da idade adulta, na medida

em que está associado a profundas mudanças conjugais, familiares e sociais (Holden,

2010), bem como a uma reorganização qualitativa do self e do comportamento (Cowen,

1991). Ainda assim, tem também sido referido na literatura como um processo bastante

satisfatório e compensador (Ferreira, Monteiro, Fernandes, Cardoso, Veríssimo & Santos,

2014).

O estudo das motivações para a parentalidade teve início com pesquisas acerca do

valor das crianças, focando-se na análise dos custos (Fawcett, 1983) e benefícios

(Hoffman & Hoffman, 1973) que estas acarretavam para os pais. Atualmente, porém, os

estudos têm tido por base um modelo multidimensional, analisando as motivações

positivas e negativas que se traduzem em traços psicológicos ou disposições latentes para

percecionar a paternidade/maternidade de forma favorável ou desfavorável (Miller, 1995;

Guedes, Pereira, Pires, Carvalho & Canavarro, 2015). Esta nova abordagem ao estudo

das motivações para a parentalidade parte do pressuposto de que as disposições latentes

a favor ou contra tornar-se pai/mãe conduzem a comportamentos diferenciados nos

sujeitos, sendo que uns irão manifestar esforços no sentido de alcançar a parentalidade e

os outros irão esforçar-se no sentido de a prevenir (Miller & Pasta, 2002). A investigação

tem identificado motivações bastante diferenciadas, quer a nível positivo, quer a nível

negativo. No entanto, ao contrário do que seria expectável, as motivações manifestadas

pela generalidade dos indivíduos não são opostas, mas antes complementares (Miller,

1995; Guedes et al., 2015).

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Motivações para a Parentalidade em Futuros Pais Adotivos e Futuros Pais Biológicos

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Embora alguns casais, pelos mais diversos motivos, decidam não ter filhos, estes são

uma minoria. O desejo pela parentalidade continua a ser comum na maioria das famílias.

No entanto, diversos eventos disruptivos podem marcar a trajetória de vida dos indivíduos

(Valério, 2013). Nem todas as pessoas conseguem alcançar a gravidez de forma

espontânea (Boivin et al., 2007), umas porque não encontram alguém que considerem

compatível para a realização desse projeto, outras porque preferem investir inicialmente

na formação e vão adiando o plano da reprodução até idades em que a probabilidade de

ocorrência de infertilidade é exponencialmente maior (Nouri, Huber, Walch, Promberger,

Buerkle, Ott & Tempfer, 2014; Lampic, Svanberg, Karlstrom & Tydén, 2006). Alguns

autores verificaram que a infertilidade está associada a problemas de baixa auto-estima,

ansiedade, depressão, imagem corporal distorcida, ressentimentos para com o parceiro

(Brodzinsky, Lang & Smith, 1995), diminuição do interesse sexual, desestruturação da

relação do casal e perda de intimidade conjugal (Gasparini, 2006). Neste âmbito,

Brodzinsky et. al. (1995) ressalvou que, caso os indivíduos não sejam capazes de lidar

com estes problemas inerentes à sua condição infértil, a relação do casal poderá ficar

ameaçada, bem como a sua capacidade para estabelecer um ambiente propício ao

desenvolvimento de uma relação pais-filhos adequada. Valério (2013), por sua vez,

chamou a atenção para o facto de a ruptura provocada pela infertilidade não ser apenas

de natureza biológica mas sobretudo de natureza cultural, na medida em que simboliza

uma quebra na expectativa que a sociedade tem acerca da procriação. Assim, a

inexistência involuntária de filhos ameaça a estabilidade dos indivíduos e dos seus

relacionamentos (Galhardo, 2012) e leva-os à reconstrução de significados acerca da

paternidade. Quando o desejo de ser pai/mãe encontra um obstáculo à sua concretização,

as famílias tendem a procurar soluções alternativas para o alcançar, passando a adoção a

configurar-se como uma das opções para fazer face a essa realidade (Diniz, 1993; Valério,

2013).

A adoção transcende todas as culturas e existe há muitos séculos, tendo desempenhado

diferentes funções ao longo da história (Salvaterra & Veríssimo, 2008; Houaiss, 2001).

Em Portugal, o abandono de crianças foi uma realidade expressiva durante muito tempo,

em grande parte para ocultar a maternidade devido a razões morais e sociais,

essencialmente das mulheres de classe alta. Esta prática conduziu à publicação da Carta

Régia, em 1543, que atribuiu à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa a função de recolher,

proteger e criar as crianças abandonadas. A Roda dos Expostos, local onde até então eram

entregues os enjeitados, foi extinta em 1870, incentivando-se as famílias, através da

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concessão de subsídios, a acolherem as crianças outrora abandonas (Lopes, 2002). Ainda

assim, só após a I e II Guerras Mundiais, e devido ao grande número de órfãos que

provocaram em todo o Mundo, a adoção foi introduzida de forma ligeira no regime

jurídico português, através do Código Civil de 1966 (Decreto-Lei n.º 47344/66, de 25 de

Novembro) e de forma mais assumida na reforma de 1977 (Decreto-Lei n.º 496/77, de 25

de Novembro). Visando inicialmente sobretudo os interesses dos adultos, a adoção foi-se

tornando cada vez mais um instituto da criança, promovendo os seus interesses e direitos.

Assim, de entre as inúmeras revisões à lei da adoção, destaca-se o Decreto-Lei n.º 120/98,

de 8 de Maio, que visou reforçar na lei o superior interesse das crianças e a

responsabilidade que a comunidade tem para com os menores desprovidos de meio

familiar normal (Salvaterra & Veríssimo, 2008).

O processo de adoção surge nos dias de hoje como uma das formas de proteção à

infância, facultando às crianças um ambiente que lhes proporcionará a possibilidade de

um desenvolvimento mais adequado e adaptativo (Diniz, 1993), ao permitir que uma

pessoa ou casal crie com elas um vínculo de filiação (Instituto da Segurança Social, 2016).

Visando realizar os objetivos supracitados, a adoção é decretada quando, após um período

de avaliação da capacidade de criação de laços afetivos entre as partes envolvidas no

processo, se verifica que é razoável supor que entre o adotando e o adotante se

estabelecerá um vínculo semelhante ao da filiação biológica (Lei N.º 31/2003). Neste

contexto, é possível concluir que uma adoção bem-sucedida será aquela que for de

encontro às necessidades do menor e, preferencialmente, também de encontro às

necessidades e desejos da família adotiva (Salvaterra & Veríssimo, 2008).

Muitas têm sido as motivações identificadas pela literatura para a prática da adoção na

atualidade: a idealização de uma família, o desejo ser pai/mãe, a vontade de ajudar uma

criança (Gondim, Crispim, Fernandes, Rosendo, Brito, Oliveira & Nakano, 2008), a

morte anterior de um filho, o desejo de ter filhos quando já se ultrapassou a idade em que

isso é biologicamente viável, o desejo de ter filhos sem ter de passar pelo processo de

gravidez, a falta de um companheiro (Levinzon, 2004), o desejo de ter companhia na

velhice, o medo da solidão, o preenchimento de um vazio existencial, a tentativa de salvar

um casamento, a possibilidade de escolher o sexo da criança (Schettini, 1998a) e,

sobretudo, a infertilidade de um ou de ambos os elementos do casal (Gondim et al., 2008;

Levinzon, 2004; Maldonado, 1997; Paiva, 2004; Reppold & Hutz, 2003; Weber, 1999;

Salvaterra & Valério, 2008).

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A decisão de recorrer à adoção decorre necessariamente de uma rede complexa de

construção de significados que integra a cultura pessoal e a cultura coletiva a que o

indivíduo está sujeito (Valério, 2013). Inicialmente possuía finalidades religiosas,

políticas e económicas, contudo, na atualidade assume um caráter mais social e humano

(Oliveira & Próchno, 2010), considerando Ebrahim (2001) que a difusão da cultura da

adoção tem como objetivo proporcionar um lar às crianças que não o têm. No entanto,

Weber (2002) afirma que esse não tem sido o principal objetivo desta prática por ter como

base as necessidades das famílias adotivas, o que é corroborado por Salvaterra &

Veríssimo (2008). Este refere que, embora as famílias tentem associar uma motivação

social e altruísta ao ato da adoção, tal se afigura sobretudo como uma solução para as suas

próprias necessidades. Também Riley e Van Vleet (2012) afirmam que a adoção está

envolta em crenças sociais e culturais e transações económicas e realidades políticas.

Ainda assim, a adoção pode ser considerada como uma nova forma de família, uma

vez que proporciona aos seus membros proteção, companhia, segurança e socialização

(Fonte, 2004). A parentalidade, como já foi possível perceber, consiste num processo

complexo e desafiante, mais ainda no caso quando se fala de parentalidade adotiva, uma

vez que pressupõe uma diversidade de tarefas acrescidas (Gondim et al., 2008; Miall,

1987; Vieira, 2010), tais como lidar com a incerteza do tempo que demora o processo de

adoção, conviver com o estigma social que lhe está associado (Brodzinsky et al., 1995) e

a necessidade de justificar a sua decisão perante a família alargada e os amigos (Singer,

Brodzinsky, Ramsay, Steir & Waters, 1985). Segundo Barbosa (2010), a parentalidade

adotiva implica um maior nível de determinação para ser pai/mãe. A mesma autora referiu

ainda que os candidatos à adoção possuem expectativas mais positivas relativamente à

parentalidade e uma maior facilidade de adaptação. Santos (1988) seguiu o mesmo

raciocínio ao afirmar que os pais adotivos atingem um nível superior de determinação,

quando comparados com os pais biológicos, na medida em que necessitam de se expor a

um processo exaustivo para que esse projeto se possa concretizar, enquanto os pais

biológicos podem tornar-se pais sem terem sequer refletido muito sobre a questão da

parentalidade. Importa ainda referir que é importante ter em consideração o facto de

período de gestação oferecer uma oportunidade para se ir constituindo a identidade

parental e construindo um vínculo de filiação com o bebé gerado no ventre. No caso da

adoção, a constituição da identidade parental ocorre através de uma gestação psicológica

que, muitas vezes é abalada pelas dificuldades, preconceitos e falta de acompanhamento

psicológico ao longo do processo (Woodward, 2000).

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Berthoud (1997), Maldonado (1997) e Paiva (2004) concluem nos seus estudos que

ser bons ou maus pais depende essencialmente da motivação que leva os indivíduos a

procurar a parentalidade e não o facto de serem pais biológicos ou adotivos. Neste

contexto, todas as motivações são aceitáveis, desde que tenham por base a parentalidade

a as suas obrigações, colocando sempre as necessidades da criança à frente das

necessidades do adulto (Palacios 2010).

Embora exista internacionalmente alguma literatura acerca da temática das motivações

para a parentalidade, em Portugal os estudos são ainda escassos. A juntar ao facto de, no

nosso país, as motivações não terem ainda sido muito observadas a nível

multidimensional (i.e. diferenciando e comparando as motivações positivas com as

motivações negativas), poucos são os estudos que comparam as populações adotiva a

biológica nestas dimensões. Também no que diz respeito aos sintomas emocionais

negativos a literatura tem apresentado limitações, nomeadamente na análise e

comparação destes dois grupos amostrais. Afigurou-se assim pertinente explorar as

motivações para a parentalidade em candidatos à adoção e compará-las com as

motivações dos futuros pais biológicos. Procurou-se ainda verificar se existem diferenças

entre estes dois grupos durante o período de espera gestacional e o período avaliativo de

espera dos candidatos, no que diz respeito aos sintomas emocionais negativos

experienciados.

Material e Métodos

Participantes

A amostra do presente estudo é constituída por 73 futuros pais, 41 dos quais em

situação de futura parentalidade biológica (56,2%) e 32 em situação de futura

parentalidade adotiva (43,8%).

A maioria dos indivíduos de ambos os grupos pertence ao sexo feminino,

evidenciando-se 95,1% (n = 39) no grupo dos futuros pais biológicos e 81,3% (n = 26)

no grupo dos futuros pais adotivos.

A Tabela 1 apresenta as características sociodemográficas dos participantes. As idades

destes variam entre os 19 e os 40 anos no grupo da parentalidade biológica (M = 30,22,

DP = 6,044) e entre os 27 e os 53 anos no grupo da parentalidade adotiva (M = 38,53, DP

= 5,946).

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No que diz respeito aos anos de escolaridade verificou-se que os futuros pais

biológicos estudaram entre 7 e 19 anos (M = 14, DP = 6,044) e os futuros pais adotivos

entre 10 e 22 anos (M = 15,38, DP = 2,612).

Quanto à situação profissional, 73,2% dos futuros pais biológicos estão empregados

(n = 30), face a 96,9% futuros pais adotivos profissionalmente ativos (n = 31).

Relativamente ao estado civil, no grupo da parentalidade biológica registaram-se 6

participantes solteiros (14,6%), 19 casados (46,3%), 14 em união de facto (34,1%) e 2

divorciados (4,9%). O grupo da parentalidade adotiva incluiu 2 participantes solteiros

(6,3%), 23 casados (71,9%), 6 em união de facto (18,8%) e 1 divorciado (3,1%).

Verificou-se ainda que, relativamente aos participantes que possuem cônjuge (33 no

grupo dos futuros pais biológicos e 29 no grupo dos futuros pais adotivos), a duração

média dos seus casamentos/uniões de facto é de 6,64 e 9,55 anos, respetivamente.

No que diz respeito a experiências prévias de parentalidade, 24 futuros pais biológicos

revelaram já ter filhos biológicos (58,5%) e 7 revelaram ter filhos adotivos (21,9%). Do

grupo dos futuros pais adotivos, 2 revelaram já ter filhos biológicos (4,9%) e 4 revelaram

ter filhos adotivos (12,5%).

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Motivações para a Parentalidade em Futuros Pais Adotivos e Futuros Pais Biológicos

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Tabela 1

Características Sociodemográficas

N %

Sexo

Parentalidade Biológica

Feminino

Masculino

Parentalidade Adotiva

Feminino

Masculino

39

2

26

6

95,1

4,9

81,3

18,8

M (DP) Variação

Idade

Parentalidade Biológica

Parentalidade Adotiva

30,22 (6,044)

38,53 (5,946)

19-40

27-53

Anos de Escolaridade

Parentalidade Biológica

Parentalidade Adotiva

14,00 (3,066)

15,38 (2,612)

7-19

10-22

N %

Situação Profissional

Parentalidade Biológica

Empregado

Desempregado

Parentalidade Adotiva

Empregado

Desempregado

30

11

31

1

73,2

26,8

96,9

3,1

Estado Civil

Parentalidade Biológica

Solteiro(a)

Casado(a)

União de facto

Divorciado(a)

Parentalidade Adotiva

Solteiro(a)

Casado(a)

União de facto

Divorciado(a)

6

19

14

2

2

23

6

1

14,6

46,3

34,1

4,9

6,3

71,9

18,8

3,1

No grupo da parentalidade biológica, 9,8% participantes revelaram ter realizado

anteriormente tratamentos médicos para a infertilidade (n = 4) e 7,3% revelaram que a

gravidez atual resultou de tratamentos médicos para engravidar (n = 3). No grupo da

parentalidade adotiva, 59,4% dos participantes revelaram possuir diagnóstico prévio de

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Motivações para a Parentalidade em Futuros Pais Adotivos e Futuros Pais Biológicos

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infertilidade (n = 19) e 43,8% revelaram ter realizado anteriormente tratamentos médicos

para a infertilidade (n = 14).

Instrumentos

A seleção dos instrumentos de avaliação bem como a seleção das perguntas a incluir

no questionário sociodemográfico foram realizadas de acordo com os objetivos

estabelecidos para esta investigação. Deste modo, foram utilizados um Questionário

Sociodemográfico, as Escalas de Ansiedade, Depressão e Stress (EADS-21) e a Escala

de Motivações para a Parentalidade (EMP).

- Questionário Sociodemográfico – O Questionário Sociodemográfico, com o

objetivo de recolher dados para uma caracterização detalhada da amostra, incluiu

questões acerca do sexo dos participantes, idade, habilitações académicas, situação

profissional, estado civil, existência de filhos biológicos ou adotivos, existência de

diagnóstico prévio de infertilidade e tratamentos médicos para a infertilidade, tempo de

gestação (no caso da versão do questionário para gestantes e/ou cônjuges) e tempo de

candidatura à adoção (no caso da versão do questionário para candidatos à adoção).

- Escala de Ansiedade, Depressão e Stress (EADS-21) – A primeira adaptação da

Depression, Anxiety Stress Scales (DASS) para a população portuguesa foi aferida por

Baptista, Santos, Silva e Batista, em 1999, tendo sido mantidos os 42 itens originais

elaborados por Lovibond e Lovibond, em 1995, e foi denominada de EADS-42 (Baptista,

Santos, Silva, & Batista, 1999, cit. in Pais-Ribeiro, Honrado, & Leal, 2004).

Posteriormente, foi elaborada a EADS-21, uma versão mais reduzida das escalas, que

teve como principal objetivo evitar sobrecarregar os sujeitos aquando do preenchimento

da mesma (Pais-Ribeiro et al., 2004). Ainda assim, esta segunda adaptação seguiu com

rigor todos os critérios metodológicos da versão original, consistindo numa

operacionalização do modelo tripartido de Clark e Watson (Pais-Ribeiro et al., 2004).

A EADS-21 é um instrumento de autorresposta, administrável a indivíduos com mais

de 17 anos e inclui 21 itens que se distribuem equitativamente pelas escalas Ansiedade

(itens 2, 4, 19, 7, 9, 15 e 20), Depressão (itens 13, 10, 21, 17, 3, 16 e 5) e Stress (itens 1,

12, 8, 18, 6, 11 e 14), através de afirmações que remetem para sintomas emocionais

negativos (Pais-Ribeiro et al., 2004).

Partindo da premissa de que as perturbações psicopatológicas são dimensionais e não

categóricas, a EADS considera que os diferenciais a nível de Ansiedade, Depressão e

Stress de um sujeito são mensuráveis em grau, motivo pelo qual a sua avaliação consiste

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Motivações para a Parentalidade em Futuros Pais Adotivos e Futuros Pais Biológicos

15

numa escala de tipo Likert com 4 possibilidades de resposta, de acordo com a gravidade

e/ou frequência (0- “não se aplicou nada a mim”; 1-“aplicou-se a mim algumas vezes”;

2- “aplicou-se a mim muitas vezes”; 3- “aplicou-se a mim a maior parte das vezes”), às

quais o sujeito deve responder tendo em conta a “semana passada” (Pais-Ribeiro et al.,

2004).

O instrumento fornece três resultados, um por cada escala, que se obtêm através da

soma dos resultados dos 7 itens de cada escala. Os resultados podem variar entre 0

(mínimo) e 21 (máximo) e, quanto maior for o resultado de cada escala, maiores os níveis

de Ansiedade, Depressão e Stress, respetivamente. Este instrumento permite a

diferenciação entre Ansiedade, Depressão e Stress, pelo que é um instrumento útil, tanto

para a investigação, quanto para a prática clínica, uma vez que é capaz de analisar a

dinâmica entre as perturbações emocionais e as exigências do meio (Pais-Ribeiro et al.,

2004).

A versão original das escalas apresentou uma boa consistência interna, com Alfas de

Cronbach de α=0.94 para a escala Depressão, α=0.87 para a escala Ansiedade e α=0.91

para a escala Stress (Lovibond, & Lovibond, 1995, cit. in Pais-Ribeiro et al., 2004). A

versão portuguesa reduzida, EADS-21, também demonstrou uma boa consistência interna,

com Alfas de Cronbach de α=0.85 para a escala Depressão, α=0.74 para a escala

Ansiedade e α=0.81 para a escala Stress (Pais-Ribeiro et al., 2004).

No presente estudo foram obtidos os seguintes valores de consistência interna, medida

através do Alfa de Cronbach: α=0.71 para a escala Depresão, α=0.81 para a escala

Ansiedade e α=0.86 para a escala Stress.

- Escala de Motivações para a Parentalidade (EMP) – A Escala de Motivações para

a Parentalidade (EMP), de Guedes, Pereira, Pires, Carvalho e Canavarro (2015) é um

instrumento de autorrelato que tem como objetivo avaliar tanto as motivações positivas,

quanto as motivações negativas para a parentalidade (Guedes et al., 2015).

Esta escala é composta por um total de 47 itens, distribuídos por duas subescalas:

Motivações Positivas Para a Parentalidade (26 itens) e Motivações Negativas Para a

Parentalidade (21 itens). Os itens da subescala Motivações Positivas Para a

Parentalidade (MPP) distribuem-se por 4 dimensões, denominadas de Aspetos

Socioeconómicos (8 itens); Realização Pessoal (8 itens); Continuidade Pessoal (6 itens);

Relacionamento Conjugal (4 itens). Os itens da subescala Motivações Negativas Para a

Parentalidade (MNP), por sua vez, distribuem-se por 5 dimensões, denominadas de

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Motivações para a Parentalidade em Futuros Pais Adotivos e Futuros Pais Biológicos

16

Encargos e Imaturidade Parental (6 itens); Preocupações Sociais e Ecológicas (4 itens);

Tensão Conjugal (4 itens), Problemas Financeiros (4 itens); Sofrimento Físico e Imagem

Corporal (3 itens) (Guedes et al., 2015).

Ao sujeito pede-se que, a cada uma das razões apresentadas como favoráveis (escala

MPP) e desfavoráveis (escala MNP) para se tornar pai ou mãe, responda de acordo com

a importância que atribui a cada afirmação, através de uma escala de tipo Likert, com 5

possibilidades de resposta (1- “Nada”; 2-“Pouco”, 3- “Moderadamente”; 4- “Muito”; 5-

“Completamente”) (Guedes et al., 2015).

O estudo psicométrico de Guedes e colaboradores (2015) apresentou uma boa

consistência interna, tanto para as Motivações Positivas Para a Parentalidade, quanto

para as Motivações Negativas Para a Parentalidade (Guedes et al., 2015).

A análise da consistência interna das duas subescalas na nossa amostra revelou um

Alfa de Cronbach de α=0.89 na escala de Motivações Positivas para a Parentalidade e

α=0.95 na escala de Motivações Negativas para a Parentalidade.

Procedimentos

De modo a proceder à recolha de dados respeitante à amostra, revelou-se necessário

contactar com instituições ligadas à temática em estudo. Neste sentido, foi estabelecido

um contacto formal via e-mail com a Associação Bem Me Queres, Associação Portuguesa

de Fertilidade (APFertilidade) e Fórum PinkBlue no qual foi exposto o âmbito da

investigação, os objetivos e procedimentos inerentes, com o objetivo de solicitar a

colaboração no processo de divulgação do estudo. Nos e-mails enviados esclareceu-se o

âmbito da investigação, os objetivos e os procedimentos inerentes, sendo solicitada a

colaboração destas entidades no processo de divulgação do estudo (Apêndices 1, 2 e 3).

Após resposta favorável por parte das entidades supracitadas procedeu-se à divulgação

do estudo através das suas páginas web e rede social Facebook, tendo sido disponibilizado

o link de acesso à plataforma Google Forms. Uma vez acedida a plataforma foram

expostos aos participantes os objetivos do estudo e as finalidades da investigação,

sublinhando a confidencialidade e anonimato das suas respostas. Foi ainda solicitado o

seu consentimento informado enquanto condição necessária para proceder ao

preenchimento dos instrumentos de autorresposta selecionados. Assim, após o

consentimento, foi requerido o preenchimento de um breve questionário

sociodemográfico, bem como da Escala de Ansiedade, Depressão e Stress (EADS-21) e

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Motivações para a Parentalidade em Futuros Pais Adotivos e Futuros Pais Biológicos

17

da Escala de Motivações para a Parentalidade (EMP), cuja utilização foi solicitada

previamente aos seus respetivos autores (Apêndice 4).

Análise Estatística

A análise estatística realizou-se com recurso ao programa informático Statistical

Package for the Social Sciences (SPSS) versão 23.

Para a descrição da amostra realizaram-se análises descritivas, procedendo-se ao

cálculo das médias, desvios-padrão e valores mínimos e máximos para as variáveis

contínuas, bem como à obtenção de frequências e percentagens para as variáveis

categoriais. Recorreu-se ainda ao teste T-Student para amostras independentes para

apurar as principais diferenças entre as variáveis sociodemográficas nos grupos da

parentalidade biológica e da parentalidade adotiva.

Analisou-se as médias e desvios-padrão das diferentes subescalas da Escala de Stress,

Ansiedade e Depressão e da Escala de Motivações para a Parentalidade. Para a

comparação entre grupos utilizou-se novamente o teste T-Student para amostras

independentes.

Procedeu-se à avaliação da Assimetria (Skweness) e do Achatamento (Kurtosis) para

analisar a normalidade da distribuição, não tendo sido observadas violações severas à

distribuição normal, ou seja, |SK| > 3 e de |Ku| > 10 (Marôco, 2011).

Procedeu-se ainda à análise de correlações de Pearson para averiguar a existência de

associações estatisticamente significativa entre as diferentes variáveis em estudo.

Em todas as análises realizadas utilizou-se um intervalo de confiança de 95%.

Resultados

No que diz respeito às Motivações Positivas para a Parentalidade (Tabela 2), a

amostra total demonstrou considerar que a Realização Pessoal é a motivação mais

importante, tendo-se registado uma média de 3,96 associada a um desvio-padrão de 0,59.

As motivações Continuidade Pessoal (M = 3,58; DP = 0,78) e Relacionamento Conjugal

(M = 3,58; DP = 0,99) surgiram como as segundas motivações mais expressivas.

Consequentemente, a motivação Aspetos Socioeconómicos foi a menos valorizada pela

generalidade dos futuros pais. Tendo em conta os resultados em função do tipo de

parentalidade, foi possível verificar que a Realização Pessoal foi a motivação mais

valorizada, tanto pelos futuros pais biológicos (M = 4,07; DP = 0,58), quanto pelos

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Motivações para a Parentalidade em Futuros Pais Adotivos e Futuros Pais Biológicos

18

futuros pais adotivos (M = 3,82; DP = 0,59). Por sua vez, a segunda motivação mais

valorizada diferiu entre os grupos, sendo que os futuros pais biológicos realçaram a

motivação Relacionamento Conjugal (M = 3,74; DP = 0,92) e os futuros pais adotivos

realçaram a motivação Continuidade Pessoal (M = 3,69; DP = 0,70). A motivação

menos considerada pela amostra total (M = 2,08; DP = 0,84) e em ambos os grupos foi

Aspetos Socioeconómicos com média de 2,16 associada a um desvio-padrão de 0,96 e

média de 1,98 associada a um desvio-padrão de 0,66 registadas nos grupos de futuros

pais biológicos e futuros pais adotivos, respetivamente. Não se observaram diferenças

estatisticamente significativas entre os grupos em nenhuma das Motivações Positivas

para a Parentalidade (p > 0,05).

No que diz respeito às Motivações Negativas para a Parentalidade (Tabela 2), a

amostra total demonstrou considerar que Preocupações Sociais e Ecológicas é a

motivação mais valorizada, com média de 3,22 associada a um desvio-padrão de 1,04.

Esta manteve-se igualmente como a motivação mais importante para ambos os grupos,

com média de 3,40 associada a um desvio-padrão de 1,06 no grupo de futuros pais

biológicos e média de 3,00 associada a um desvio-padrão de 0,98 no grupo de futuros

pais adotivos. Encargos e Imaturidade Parental surgiu como a segunda motivação

desfavorável mais considerada pela amostra total (M = 2,55; DP = 0,98), bem como pelos

futuros pais adotivos (M = 2,40; DP = 0,85). No entanto, o mesmo não se verificou com

os futuros pais biológicos, os quais consideraram que a segunda motivação mais

desfavorável à parentalidade seria Problemas Financeiros (M = 2,74; DP = 1,12). As

motivações negativas menos valorizadas pelos futuros pais biológicos e adotivos foram

Sofrimento Físico e Imagem Corporal (M = 2,63; DP = 1,14 e M = 1,36; DP = 0,58,

respetivamente) e Tensão Conjugal (M = 2,48; DP = 0,99 e M = 1,83; DP = 0,85,

respetivamente). Observaram-se diferenças estatisticamente significativas entre os

grupos nas motivações Tensão Conjugal (p = 0,004), Problemas Financeiros (p = 0,002)

e Sofrimento Físico e Imagem Corporal (p <0,001), com os futuros pais biológicos a

evidenciarem valores mais elevados nas três motivações consideradas.

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Motivações para a Parentalidade em Futuros Pais Adotivos e Futuros Pais Biológicos

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Tabela 2

Médias, desvios-padrão e comparações entre os grupos relativamente às Motivações para a

Parentalidade

Total

Tipo de Parentalidade

Biológica Adotiva

Motivações para a

Parentalidade

M (DP) M (DP) M (DP) t p

Motivações Positivas

Aspetos Socioeconómicos

Realização Pessoal

Continuidade Pessoal

Relacionamento Conjugal

Motivações Negativas

Encargos e Imaturidade Parental

Preocupações Sociais e

Ecológicas

Tensão Conjugal

Problemas Financeiros

Sofrimento Físico e Imagem

Corporal

2,08 (0,84)

3,96 (0,59)

3,58 (0,78)

3,58 (0,99)

2,55 (0,98)

3,22 (1,04)

2,20 (0,98)

2,43 (1,03)

2,08 (1,12)

2,16 (0,96)

4,07 (0,58)

3,50 (0,83)

3,74 (0,92)

2,67 (1,07)

3,40 (1,06)

2,48 (0,99)

2,74 (1,12)

2,63 (1,14)

1,98 (0,66)

3,82 (0,59)

3,69 (0,70)

3,37 (1,05)

2,40 (0,85)

3,00 (0,98)

1,83 (0,85)

2,02 (0,75)

1,36 (0,58)

0,93

1,84

-1,04

1,63

1,17

1,64

2,98

3,28

6,60

0,356

0,071

0,300

0,109

0,248

0,106

0,004

0,002

<0,001

Na Tabela 3 encontram-se as médias, desvios-padrões e comparações entre os grupos

relativamente aos sintomas emocionais negativos, não tendo sido encontradas diferenças

significativas.

Tabela 3

Médias, desvios-padrão e comparações entre os grupos relativamente aos Sintomas

emocionais negativos

Total

Tipo de Parentalidade

Biológica Adotiva

Sintomas Emocionais

Negativos

M (DP) M (DP) M (DP) t p

Depressão 2,43 (3,13) 2,60 (3,15) 2,21 (3,14) 0,53 0,60

Ansiedade 2,84 (3,37) 3,43 (3,50) 2,09 (3,07) 1,72 0,09

Stresse 6,33 (4,10) 6,61 (4,19) 5,97 (4,01) 0,66 0,51

A Tabela 4 apresenta as correlações entre as variáveis sociodemográficas e as

motivações para a parentalidade dos futuros pais biológicos.

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Motivações para a Parentalidade em Futuros Pais Adotivos e Futuros Pais Biológicos

20

A motivação Realização Pessoal mostrou correlacionar-se negativamente com a idade

dos futuros pais biológicos (r = -0,035), sendo que quanto maior a idade menos valorizada

foi esta dimensão positiva.

Tabela 4

Correlações entre as variáveis sociodemográficas e as Motivações para a

Parentalidade dos futuros pais biológicos

Idade Anos de

escolaridade

Anos de

Casamento/União

de Facto

MP Aspetos Socioeconómicos -0,29 -0,22 -0,10

MP Realização Pessoal -,035* -0,24 -0,21

MP Continuidade Pessoal <-0,01 -0,27 0,03

MP Relacionamento

Conjugal

-0,27 -0,14 -0,15

MN Encargos e Imaturidade

Parental

-0,03 -0,05 -0,23

MN Preocupações sociais e

Ecológicas

-0,04 -0,01 -0,14

MN Tensão Conjugal 0,03 0,16 -0,18

MN Problemas financeiros -0,11 -0,05 -0,10

MN Sofrimento físico e

Imagem Corporal

-0,12 -0,05 -0,30

Notas: MP = Motivações Positivas; MN = Motivações Negativas; *p < 0,05

Na Tabela 5 são reportadas as correlações entre as variáveis sociodemográficas e as

motivações para a parentalidade dos futuros pais adotivos.

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Motivações para a Parentalidade em Futuros Pais Adotivos e Futuros Pais Biológicos

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Tabela 5

Correlações entre as variáveis sociodemográficas e as Motivações para a

Parentalidade dos futuros pais adotivos

Idade Anos de

escolaridade

Anos de

Casamento/União

de Facto

MP Aspetos Socioeconómicos -0,02 -0,08 -0,23

MP Realização Pessoal 0,14 -0,25 0,01

MP Continuidade Pessoal 0,38* -0,08 0,23

MP Relacionamento

Conjugal

-0,13 -0,13 0,06

MN Encargos e Imaturidade

Parental

-0,12 0,37* -0,22

MN Preocupações sociais e

Ecológicas

0,25 0,1 0,22

MN Tensão Conjugal -0,17 0,31 -0,36

MN Problemas financeiros 0,07 0,32 -0,12

MN Sofrimento físico e

Imagem Corporal

-0,10 0,26 -0,33

Notas: MP = Motivações Positivas; MN = Motivações Negativas; *p < 0,05

A motivação Continuidade Pessoal correlacionou-se positivamente com a idade dos

futuros pais adotivos (r = 0,38), sendo que quanto maior a idade dos participantes mais

estes valorizaram esta dimensão positiva. A motivação Encargos e Imaturidade Parental

mostrou correlacionar-se positivamente com os anos de escolaridade neste mesmo grupo

(r = 0,37), sendo que quanto mais anos de escolaridade mais os futuros pais adotivos

valorizaram esta dimensão negativa.

Discussão e Conclusão

A presente investigação teve como principal objetivo explorar e sistematizar as

motivações para a parentalidade de indivíduos que se encontram candidatos a adoção para

se tornarem pais, comparando-as com as motivações dos indivíduos que estão prestes a

concretizar a parentalidade biológica. Por outro lado, teve ainda como objetivo verificar

se existem diferenças no que diz respeito aos sintomas emocionais negativos

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Motivações para a Parentalidade em Futuros Pais Adotivos e Futuros Pais Biológicos

22

experienciados entre estes dois grupos que se encontram em período de espera gestacional

ou período avaliativo de espera dos candidatos.

As diferenças na média de idades entre futuros pais biológicos e futuros pais adotivos,

bem como ao nível dos anos de escolaridade e da situação profissional, vêm confirmar a

tendência para candidatos à adoção mais velhos, com carreiras mais estabelecidas e maior

segurança financeira (Brodzinsky & Pinderhughes 2002). Como possíveis fatores

explicativos deste adiamento da parentalidade podemos considerar questões relacionadas

com problemas de fertilidade (Magalhães, 2014; Costa, 2013; Amim & Menandro, 2007),

atual conjuntura socioeconómica, papel crescente da mulher no mercado de trabalho e

maior investimento nos estudos e na carreira profissional (Gonçalves, 2016; Martins,

2013). Também nos anos de escolaridade e na situação profissional foram encontradas

diferenças entre os grupos, ainda que pouco expressivas, indo, no entanto, de encontro

aos achados na literatura (Brodzinsky & Pinderhughes 2002).

Relativamente às Motivações para a Parentalidade, verificou-se que, ao nível das

motivações positivas, quer a amostra total, quer os dois grupos analisados, consideraram

que as gratificações intrínsecas inerentes a ter um filho são a motivação mais importante

para a parentalidade, tendo valorizado mais a motivação Realização Pessoal. Tal

resultado vai de encontro às conclusões de Frejka, Sobotka, Hoem e Toulemon (2008) de

que a parentalidade tem sido cada vez menos considerada como um dever perante a

sociedade e mais frequentemente como uma forma de preenchimento pessoal e extensão

do próprio. Riley e Van Vlett (2012), no entanto, afirmam que, embora se considere a

adoção como uma escolha, na verdade ela está imersa em crenças sociais e culturais, bem

como transações económicas e realidades políticas.

Como segundas motivações mais expressivas na amostra total verificaram-se a

Continuidade Pessoal e o Relacionamento Conjugal¸ pela ordem apresentada. Quanto

aos resultados por grupo, os futuros pais biológicos sobrepuseram a motivação

Relacionamento Conjugal à Continuidade Pessoal e os futuros pais adotivos preferiram

a motivação Continuidade Pessoal. Estes resultados estão em consonância com o que é

descrito pela literatura, que identifica o desejo de continuidade geracional e de elevação

e desenvolvimento da relação conjugal como uma das motivações mais fortes para a

maternidade (Cassidy & Sintrovani, 2008), concluindo ainda que a parentalidade pode

ser encarada como uma forma de fortalecimento da relação do casal (Guedes, Carvalho

& Canavarro 2011). Para além disso, os resultados da presente investigação reforçam a

ideia de que os candidatos à adoção estando, regra geral, casados há mais tempo, possuem

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Motivações para a Parentalidade em Futuros Pais Adotivos e Futuros Pais Biológicos

23

uma maior estabilidade conjugal e maior satisfação de casal (Brodzinsky, 1987; Levy-

Shiff, Goldshmidt & Har-Even, 1991).

A motivação Aspetos Socioeconómicos surgiu como menos valorizada pela amostra

total, bem como pelos grupos em análise, corroborando uma vez mais as conclusões de

Frejka e colaboradores (2008) de que a parentalidade é cada vez menos considerada um

dever perante a sociedade e mais uma decisão pessoal e ponderada.

No que diz respeito às motivações negativas para a parentalidade, quer a amostra total

do estudo, quer os dois grupos analisados, demonstraram valorizar mais a motivação

Preocupações Sociais e Ecológicas. Tal dado sugere que o contexto de insegurança social

e ambiental atual exerce impacto no ponto de vista parental. Esta observação poderá

relacionar-se com as dificuldades e entraves a nível económico e social experienciados

na atualidade, sendo que, segundo Rovei, Genneralli, Lantieri, Casano, Revelli e

Massobrio (2010), a situação económica e social tem um impacto considerável na

parentalidade.

A motivação Encargos e Imaturidade Parental surgiu como segunda motivação mais

expressiva, quer na amostra total, quer no grupo dos futuros pais adotivos. Cuidar de uma

criança, na conjuntura atual, é um fator de preocupação para os futuros pais. Isto acentua-

se mais nos candidatos à adoção, provavelmente pelo processo avaliativo ao qual são

sujeitos. Estes dados são consistentes com as observações de Mooradian, Timm, Hock e

Jackson (2011) relativamente ao facto de os pais adotivos passarem por um escrutínio

público e procedimentos legais que lhes causa insegurança acerca dos seus recursos

parentais. Os futuros pais biológicos, por sua vez, atribuíram mais importância à

motivação Problemas Financeiros. Esta diferença foi estatisticamente significativa,

reforçando a ideia de que, regra geral, os candidatos à adoção são detentores de uma

situação financeira e profissional mais elevada e estável do que os pais biológicos

(Brodzinsky & Pinderhughes 2002).

As motivações negativas menos valorizadas pela amostra total foram Tensão Conjugal

e Sofrimento Físico e Imagem Corporal. Verificou-se que o grupo dos futuros pais

biológicos atribuiu menor importância à motivação Tensão Conjugal e os futuros pais

adotivos à motivação Sofrimento Físico e Imagem Corporal. Estes dados poderão ser

justificados com o facto de o desejo de ser pai/mãe se sobrepor a estes aspetos, colocando

o bem-estar da criança em primeiro lugar (Webber, 1996, citado por Rangel, 2007). As

diferenças entre os grupos foram estatisticamente significativas. O facto de os candidatos

à adoção serem, tendencialmente, casais com relações mais longas e eventualmente mais

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Motivações para a Parentalidade em Futuros Pais Adotivos e Futuros Pais Biológicos

24

estáveis, e não passarem pelas mudanças físicas associadas ao período gestacional

poderão contribuir para estes resultados. De acrescentar que muitas vezes a escolha da

adoção sucede a realização de tratamentos médicos de infertilidade mal-sucedidos e que

estes constituem elementos que podem acarretar coesão no casal (Peterson, Pirritano,

Block, & Schmidt, 2011).

Os resultados desta investigação não reportam diferenças significativas entre os dois

grupos em análise, no que diz respeito à sintomatologia emocional negativa,

contrariamente ao que é reportado por alguns estudos. Assim, no que diz respeito à

depressão, Levy-Shiff e colaboradores (1991) afirmaram que os candidatos à adoção

tendem a apresentar valores mais baixos, quando comparados com os futuros pais

biológicos. Brodzinsky (1987) referiu que o facto de os pais adotivos serem, regra geral,

mais velhos, com carreiras profissionais mais desenvolvidas e maior estabilidade

financeira é um preditor de menor stress associado à vida familiar. Por sua vez,

Brodzinsky et al. (1995) verificaram que os casais com problemas de infertilidade tendem

a apresentar maiores níveis de ansiedade e depressão.

Ao analisar as correlações entre as variáveis sociodemográficas e as motivações para

a parentalidade dos futuros pais biológicos verificou-se que a Realização Pessoal se

correlacionou negativamente com a idade dos participantes. Tal dado indica que quanto

mais velhos os futuros pais biológicos, menos estes valorizam esta motivação positiva

para a parentalidade. Embora não tenham sido identificados dados relativos a esta questão

na literatura, o facto de, com o avançar da idade, as pessoas tenderem a conseguir ter uma

vida mais organizada e estabelecida a nível profissional e conjugal poderá contribuir para

que priorizem outros aspetos que não a realização pessoal, podendo esta estar já mais

estabelecida.

Quanto ao grupo dos futuros pais adotivos, foi possível verificar que a motivação

Continuidade Pessoal se correlacionou positivamente com a idade. Tal dado indica que

quanto mais velhos os futuros pais adotivos, maior a sua valorização desta motivação

positiva para a parentalidade. Tal poderá ser justificado com o período de espera pelo

qual os candidatos à adoção têm de passar, podendo este contribuir para uma maior ânsia

pela consecução do seu desenvolvimento pessoal e aumento das aspirações de

imortalidade. Este dado corrobora as conclusões de Safra (2004) e de Maux e Dutra

(2009) acerca da necessidade de dar sentido à própria existência e mais significância à

vida. Verificou-se ainda que quanto mais anos de escolaridade, mais os candidatos à

adoção valorizaram a motivação Encargos e Imaturidade Parental, provavelmente por

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Motivações para a Parentalidade em Futuros Pais Adotivos e Futuros Pais Biológicos

25

possuírem uma maior noção das dificuldades inerentes a cuidar de uma criança. Este

resultado é congruente com o estudo de Mainemer, Gilman e Ames (1998) que concluiu

que quanto maior a escolaridade dos pais adotivos, mais estes consideram a adoção difícil

e têm consciência das suas complexidades.

A presente investigação apresenta algumas limitações que devem ser consideradas em

estudos posteriores. O facto de a amostra possuir uma dimensão reduzida e ter integrado

essencialmente indivíduos do género feminino não possibilitou realizar análises

estatísticas em função do sexo dos participantes e dificulta a generalização dos resultados

obtidos. Para além disso, no decorrer da análise dos resultados, sentiu-se falta de dados

respeitantes à fertilidade/infertilidade dos sujeitos.

Assim, propõe-se a realização de novas investigações com amostras maiores e uma

distribuição dos participantes por sexo mais igualitária. Seria ainda pertinente adicionar

ao estudo uma comparação entre participantes candidatos a adoção sem problemas de

fertilidade e candidatos cujo recurso a adoção resulta de um diagnóstico de infertilidade,

de forma a possibilitar uma melhor interpretação dos resultados. O futuro

desenvolvimento de um questionário de motivações para casais com infertilidade poderá

ser pertinente, uma vez que a condição de infertilidade, tal como é reportado na literatura,

tem influências significativas no bem-estar do indivíduo, pelo que poderá influenciar

também as motivações para a parentalidade.

Apesar das limitações acima enumeradas, esta investigação apresenta um contributo

relevante para a literatura desta área. Dado que em Portugal ainda são escassos os estudos

sobre as motivações para a parentalidade, sobretudo através de uma abordagem

multidimensional (i.e. motivações positivas e motivações negativas), este estudo veio

contribuir para um maior conhecimento destas em dois grupos cuja trajetória inerente ao

alcance da parentalidade é distinta.

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