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O Exercício da Parentalidade em Crianças com Perturbação do Espectro do Autismo Dissertação de Mestrado em Psicologia da Educação Neuza Micaela Quintal de Jesus Orientador: Professor Doutor Renato Gil Gomes Carvalho Funchal, Outubro 2016

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O Exercício da Parentalidade em Crianças com Perturbação

do Espectro do Autismo

Dissertação de Mestrado em Psicologia da Educação

Neuza Micaela Quintal de Jesus

Orientador:

Professor Doutor Renato Gil Gomes Carvalho

Funchal, Outubro 2016

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Agradecimentos

Não poderia finalizar esta etapa da minha vida académica sem agradecer à

minha família, pais, irmãos, sobrinhos, que sempre acreditaram em mim.

Agradeço ao meu Professor Renato Carvalho por ter sido tão compreensível.

Um agradecimento especial à Isabel Dinis, que apesar de já não ter o dever de

me orientar nesta fase fê-lo por amizade e por essa amizade, compreensão e carinho

agradeço também.

À minha querida Manu, que mesmo não estando presente diariamente, sempre se

predispôs a ajudar.

Ao meu marido e filho, que “suportaram” o meu mau humor nesta fase final, que

me apoiaram dando-me muito amor e carinho incondicional.

Mãe tu consegues, tu consegue!

Meu filho Simão

Um especial obrigado aos pais, que não só se disponibilizaram a me ajudar,

como também partilharam sentimentos muito “seus” e que me ajudaram também a amar

os seus meninos.

“Apesar de que ela ainda tem aqueles gestos, eu já aprendi a amar esses momentos da

minha filha.”

Mãe de menina com PEA

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ÍNDICE

RESUMO ......................................................................................................................... 5

ABSTRACT ..................................................................................................................... 6

Introdução ......................................................................................................................... 7

Parte 1 ............................................................................................................................... 9

Enquadramento Teórico ................................................................................................... 9

Autismo .......................................................................................................................... 10

Etiologia do Autismo ............................................................................................................... 11

Revisão de Bases Biológicas ................................................................................................... 12

Classificação e Critérios de Diagnóstico .................................................................................. 15

O autista e a importância da família ....................................................................................... 16

A Parentalidade no Autismo e o Impacto do Diagnóstico ...................................................... 17

Fatores de Risco e de Proteção para o Desenvolvimento de Crianças com PEA ................ 20

Intervenção na PEA ................................................................................................................. 22

Parte II ............................................................................................................................ 25

Estudo Empírico ............................................................................................................. 25

Metodologia .................................................................................................................... 26

Questões de investigação e objetivos ..................................................................................... 26

Natureza do estudo ................................................................................................................. 27

Amostra ................................................................................................................................... 27

Instrumentos ........................................................................................................................... 28

Procedimentos ........................................................................................................................ 29

Resultados ............................................................................................................................... 30

Análise e interpretação dos resultados estatísticos da EADS ......................................... 32

Discussão ........................................................................................................................ 34

Referências Bibliográficas .............................................................................................. 40

ANEXOS I ...................................................................................................................... 45

Escala de Avaliação, Ansiedade e Stress ....................................................................... 45

ANEXOS II .................................................................................................................... 48

Transcrição das entrevistas ............................................................................................. 48

ANEXOS III ................................................................................................................. 100

Grelhas de Análise de Conteúdo das Entrevistas Semi-Estruturadas ........................... 101

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SIGLAS UTILIZADAS

PEA – Perturbação do Espectro do Autismo

APA- American Psychological Association

DSM-V- Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (Versão portuguesa)

EADS- Escala de Avaliação de Ansiedade, Depressão e Stress

CREE – Centro de Recursos Educativos Especializados

TRE - Treino das Respostas Essenciais

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RESUMO

As famílias de crianças com Perturbações do Espectro do Autismo (PEA)

enfrentam ao longo de todo o processo de socialização, inúmeros desafios. Face ao

impacto que a existência de uma criança com PEA pode ter na família e no tipo de

interações que nela se estabelecem, torna-se importante analisar esta temática. Assim,

com este estudo pretendeu-se compreender o modo como decorre o exercício da

parentalidade com crianças com PEA, particularmente se os pais com crianças com

PEA apresentam níveis mais elevados de stress e que fatores contribuem para uma

maior capacidade parental de pais com crianças com PEA.

Para a concretização desta investigação optou-se por um estudo de natureza

mista, recorrendo a técnicas quantitativas e qualitativas. Constituiu-se uma amostra de

10 pais de crianças com PEA para a avaliação qualitativa, incluído numa amostra de 30,

bem como uma amostra de pais 30 sem crianças com o diagnóstico de PEA. No que

concerne aos instrumentos de coleta de dados, utilizámos entrevistas Semi-Estruturadas

e a Escala de Avaliação de Ansiedade, Depressão e Stress.

A análise dos resultados qualitativos da nossa amostra permitiu-nos perceber que

não existem diferenças significativas no exercício da Parentalidade entre pais com

crianças com PEA e pais de crianças sem PEA, apenas verificando alguma

particularidade no cuidado como comunicam com os seus filhos. De ressalvar que estes

pais apesar das dificuldades, sempre que há a aceitação e compreensão da problemática

tornam-se mais resilientes ultrapassando deste modo as dificuldades. As médias

resultantes da análise qualitativa corroboram com a literatura, evidenciando maiores

níveis de ansiedade, depressão e stress em pais de crianças com PEA.

Palavras-chave: Autismo; Parentalidade; Impacto do Diagnóstico.

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ABSTRACT

Families of children with Autism Spectrum Disorders (ASD), face many

challenges over the process of socialization. According the impact that the existence of

a child with ASD may have in the family and the type of interactions that it is

established, it is important to analyze this subject. So this study aims to understand how

it occurs the exercise of parenting with children with ASD, particularly if the parents

with children with ASD have higher levels of stress and what factors contribute to

increased parental capacity of parents with children PEA.

For the realization of this research we opted for a study of a mixed nature, using

quantitative and qualitative techniques. A sample was constituted with 10 parents of

children with ASD to the qualitative assessment, including a sample of 30 as well as a

parent sample 30 without children diagnosed with ASD. Regarding the data collection

instruments, we used semi-structured interviews and Anxiety Rating Scale, Depression

and Stress.

The analysis of the qualitative results of our sample allowed us to realize that

there are no significant differences in the performance of parenting among parents with

children with ASD and parents of children without ASD, but there is some peculiarity

in the care they communicate with their children. Of these parents to note that despite

the difficulties where there is acceptance and understanding the problems become more

resilient thereby overcoming difficulties. The average results of qualitative analysis

corroborate the literature, showing higher levels of anxiety, depression and stress in

parents of children with ASD.

Keywords: Autism; Parenthood; Diagnosis Impact

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Introdução

A Perturbação do Espectro do Autismo (PEA) apresenta-se como uma condição

do desenvolvimento neurológico que interfere com a capacidade da pessoa comunicar e

se relacionar com os outros. Reconhece-se, no entanto, que algumas das pessoas

diagnosticadas com PEA conseguem assumir autonomia, bem como uma vida

independente. Ainda assim, não podemos afirmar que todos possuem esta capacidade,

pois de acordo com os diferentes graus de autismo, verifica-se que em alguns indivíduos

necessitam empiricamente do apoio incondicional dos pais ou cuidadores (Elsabbagh, et

al., 2012).

O nascimento de uma criança com qualquer tipo de deficiência ou incapacidade

transporta inevitavelmente modificações no contexto e dinâmica familiar, podendo

comportar situações emocionais de stress e ansiedade e de alguma frustração. Deste

modo, procura-se apoiar estes grupos de pais e crianças, de modo a que os fatores de

resiliência parental sejam um contributo para o desenvolvimento dos seus filhos.

Contudo, permanecem algumas questões no âmbito do exercício parental de famílias em

crianças autistas, nomeadamente se estes o exercem de igual modo que os pais de filhos

sem este diagnóstico, isto é, se a existência de uma criança com PEA se associa a

distinções ou especificidades na forma como os pais exercem o seu papel. Esta

investigação é consequência da necessidade de poder verificar se os fatores de

resiliência parental destes grupos (pais de crianças com PEA) verificam-se abonatórios

para desenvolvimento global destas crianças (Delion, 2015).

Segundo a literatura a Parentalidade é compreendida como uma das funções

mais complexas, delicadas e caraterizada por grandes desafios e responsabilidades para

os pais ou educadores. Esta compreende um conjunto de tarefas e funções que são

designadas aos pais, com a primordial intenção no zelo, no cuidado e no modo em como

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ajudam os seus filhos no seu crescimento saudável, tendo sempre em consideração a

promoção do desenvolvimento das crianças (Barroso & Machado, 2010).

Assim pretendemos contribuir para uma melhor compreensão desta temática,

através de uma investigação constituída por dois estudos, um qualitativo e outro

quantitativo. Atendendo ao fato de que a prevalência do número de casos com PEA ter

aumentado, achámos que seria uma mais-valia este estudo.

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Parte 1

______________________________________________________________________

Enquadramento Teórico

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Autismo

A palavra "autismo" foi empregue originalmente por Bleuler em 1911, para

denominar a perda do contacto com a realidade, o que transportava um imenso

obstáculo ou impedimento de comunicação.

Mais tarde, em 1943, Kanner, surge novamente com a mesma expressão

identificando e descrevendo-a como sendo uma incapacidade inata no estabelecimento

de contato, quer afetivo, quer interpessoal, retratando-a como um síndrome raro, mas

mais frequente do que o expectável, tendo em conta o comportamento observável de

crianças (Gadia & Rotta, 2004).

Esta descrição foi de imediato aceite pela comunidade científica. A abordagem

etiológica do Autismo evidenciava a existência de uma disfuncionalidade familiar, que

despoletava alterações no desenvolvimento psicoafetivo da criança. Contudo, este, não

colocava de lado a hipótese de este síndrome ter um fator biológico, tendo em conta as

alterações de comportamento evidenciadas precocemente, dificultando assim a teoria de

que seria apenas de caráter relacional (Tamanaha, Perissinoto & Chiari, 2008).

Em 1978, Rutter sugeriu critérios de diagnóstico, com ênfase na observação do

comportamento das crianças, onde como critérios incluía a perda do interesse social e

da resposta a estímulos, bem como alterações da linguagem que peculiariza a ausência

da fala ou até mesmo a ausência da mesma. Os comportamentos peculiares,

estereotipados e compulsivos, com limitações no brincar são também incluídos neste

quadro precoce de diagnóstico, que se prevê antes dos 30 meses de idade.

As demonstrações comportamentais que descrevem o autismo abarcam défices

qualitativos na interação social e na comunicação, padrões de comportamento

repetitivos e estereotipados e um repertório restrito de interesses e atividades (Gadia &

Rotta, 2004, p.83).

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Posto isto, os autores apontam a hipótese de um “gap” cognitivo que interfere na

comunicação social dos indivíduos com PEA, propondo assim um estudo sobre a Teoria

da Mente, que preconiza a condição da existência de incapacidade na identificação, bem

como a área afetiva e emocional, que gera dificuldades nas relações interpessoais.

Com suporte na literatura, a definição de autismo foi mudando, tendo-se

identificado distintas etiologias, graus de severidade e diferentes especificidades.

Assim, a PEA tem vindo a ser considerada como um síndrome e não como um quadro

único.

Atualmente e de acordo com o Diagnostic and Statistical Manual (DSM-V), o

autismo está classificado como parte das perturbações do neurodesenvolvimento,

caraterizado por défices no neurodesenvolvimento que afetam o funcionamento pessoal,

escolar, social e na sua fase adulta, a parte profissional (APA, 2013).

Em Portugal verifica-se que a predominância da PEA é significativamente

variável, atendendo a vários estudos realizados neste contexto. De acordo com o

apurado nesses mesmos estudos, verificou-se que a população autista é de

aproximadamente 20/10 000 e 60/10 000 crianças. Verificou-se igualmente que no

género masculino o risco apresenta-se quatros vezes mais elevado que no género

feminino. No que concerne à especificação que os distingue, notou-se que no género

feminino existe um maior comprometimento a nível cognitivo do que no género oposto

em que este último está enquadrado num quadro de afetividade e de socialização mais

comprometido (Ribeiro, Freitas & Oliva-Teles, 2013).

Etiologia do Autismo

A PEA é descrita como uma síndrome do desenvolvimento neurológico para a

qual não há ainda um consenso sobre o problema ou etiologia neurobiológica, ou seja, é

conhecida a sua definição por avaliação clínica com base em três principais distúrbios

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antes dos três anos de idade: comportamentos sociais atípicos; lacunas na linguagem

verbal e não verbal; padrões incomuns de interesses altamente restritivos e repetitivos.

Contudo, neste núcleo, existem diferenças significativas em relação à extensão e à

qualidade dos sintomas (Geschwind & Levitt, 2007).

A investigação sobre a base biológica e genética do autismo está diretamente

ligada à infância, no entanto, devido à natureza do desenvolvimento do autismo não é

primariamente como nos síndromes de desconexão originais, mas sim uma falha do seu

desenvolvimento normal que pode ter diversas etiologias (Geschwind & Levitt, 2007).

Com base em estudos individuais e familiares, o autismo está entre os distúrbios

neuropsiquiátricos comuns como sendo o que apresenta mais causas hereditárias. O

risco para uma família onde existe um irmão autista aumenta significativamente para

25-100 vezes mais comparativamente à restante população em geral. Esses mesmos

estudos revelam que a população em geral, cujos traços autistas variam de nenhum a

grave, sugerem que as três características fundamentais são maioritariamente

hereditárias, apesar dos diferentes genes e a questão do ambiente envolvente

(Geschwind & Levitt, 2007).

Revisão de Bases Biológicas

Fatores Genéticos e Neurológicos. De acordo com estudos relativamente à

genética do autismo, verifica-se que este possui uma considerável quantidade de dados

que suportam a sua evidência/base genética. De acordo com estudos realizados através

de técnicas de scanner de genótipos, constatou-se uma relação positiva entre quase

todos os cromossomas e 188 genes específicos, que foram observados. Neste contexto,

refere-se que na região cromossómica 15q11-q13, evidência diferentes mutações. Deste

modo, as malformações do cromossoma 15 da mãe são a causa mais frequente da

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alteração genética, para além daqueles que abarcam a síndrome do X frágil ou Esclerose

Tuberosa (Volker & Lopata, 2008).

Para esse efeito, constatou-se que esta região é foco de interesse para a análise

no âmbito da epilepsia, devido à prevalência da mesma na PEA. De facto, esta região

possui vários constituintes, como os recetores complexos GABA A (ácido gama-

aminobutírico), cujo mau funcionamento leva ao aumento do risco de autismo. Por

conseguinte, ressalta-se a ocorrência de uma ligação entre um gene do cromossoma 7 e

o autismo. Assim, estudos com enfoque na reelina (proteína da matriz extracelular) do

gene FOXP2, propuseram que a mesma estava compreendida na orientação da migração

neural, durante o inicio do desenvolvimento, bem como na plasticidade sináptica do

cérebro dos adultos (Volker & Lopata, 2008).

Contudo, uma exequível relação entre o gene FOXP2 e o autismo revelou-se

inconclusiva. De facto uma mutação neste gene, gerava uma desordem severa na

linguagem e no discurso nas 3 gerações seguintes de uma família, não estando

associado às formas comuns do comprometimento da linguagem ou autismo. Por

decorrente, verifica-se que podem ser encontradas mutações genéticas na neuroligina,

neuroxina e nos genes SHANK3, separadamente associados a um pequeno número de

casos de autismo. A neuroligina e neurexinas são proteínas adesivas das células, sendo

que as primeiras formam a zona terminal pós-sináptica, e as segundas, a zona terminal

pré-sináptica de um influxo nervosa entre duas células. O SHANK3 é uma proteína de

preservação que assiste o crescimento e posicionamento das dendrites durante a

excitação sináptica, sendo que a perturbação na formação ou no transporte de qualquer

uma destas proteínas resulta num processo sináptico anormal, que possivelmente afetará

o nível de excitação, bem como a atividade inibitória das regiões do cérebro (Volker &

Lopata, 2008).

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Relativamente aos correlatos neurológicos que conseguiram apurar, referem os

autores que devido à heterogeneidade na apresentação sintomática da PEA, existe uma

variação considerável em diferenças neurológicas. Estudos realizados em crianças

autistas demonstraram a diminuição da síntese de serotonina no córtex frontal e no

tálamo, bem como o aumento da sua síntese no cerebelo dos homens, corroborando

assim, uma anormal relação entre a idade e a síntese de serotonina, independentemente

do sexo (Volker & Lopata, 2008).

Em relação ao crescimento e tamanho cerebral, verificou-se que crianças com

autismo tendem a passar por um período de rápido crescimento cerebral e da cabeça,

logo após o nascimento, que parece conservar-se até aproximadamente dos 24 meses de

idade. Imediatamente após, assiste-se a um período de crescimento lento,

comparativamente com crianças da mesma idade não autistas, não sendo evidente a

mudança nas demais crianças. Concomitantemente verifica-se um aumento da massa

branca ao nível dos lobos frontal, parietal e cerebelo, ocorrendo um aumento da massa

cinzenta nos lobos frontal e temporal (Volker & Lopata, 2008).

O cérebro das pessoas com autismo apresenta um padrão minicolunar (as

menores unidades organizacionais verticais do neocórtex) distinto. Deste modo, as

minicolunas do lobo temporal e frontal, parecem ser menores, mas mais numerosas e

compactadas, parecendo que as suas células constituintes estão mais separadas do que a

normal estrutura colunar. Assim, o autismo conduz-nos a uma teoria que pressupõe uma

ligação neural excessiva entre as regiões cerebrais, realçando uma maior ligação entre

regiões cerebrais próximas, e menores 3 nas regiões maiores e mais distantes, o que

justifica as propensões sensoriais anómalas em algumas pessoas com autismo, e o

surgimento ocasional de talentos extraordinários e de capacidades, em contextos nos

quais estejam integradas (Volker & Lopata, 2008).

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Classificação e Critérios de Diagnóstico

Assim a classificação de PEA, apresenta-se com sinais e sintomas que vão desde

as perturbações mais ligeiras às mais severas, no que concerne ao domínio relacional, de

comunicação, bem como os comportamentos por conveniência (APA, 2013).

Para haver classificação de diagnóstico deverão ser preenchidos os seguintes critérios

abaixo mencionados:

1. Alterações clinicamente significantes e persistentes na comunicação social e nas

interações sociais, manifestadas de todas as seguintes maneiras:

a) Dificuldade na comunicação verbal e não verbal usada para interagir

socialmente;

b) Falta de reciprocidade social;

c) Inabilidade para o desenvolvimento de amizades correspondente à faixa

etária cronológica do desenvolvimento.

2. Padrões limitados de comportamento, repetidos e de baixo interessem em

atividade, que se manifestam no mínimo por duas dos exemplos seguintes:

a) Discurso verbais e motores estereotipados, ou comportamentos sensoriais

pouco comuns;

b) Adesão por excesso a rotinas e rituais de comportamentos padronizados.

c) Interesses limitados, com intensidade e fixos.

d) Hiper ou hipo reatividade a estímulos sensoriais

3. Estes sintomas deverão estar presentes logo no início da infância, mas poderão

manifestar-se apenas aquando da exigência da demanda social o exigir,

verificando incapacidade para fazê-lo.

4. Os sintomas limitam ou prejudicam de forma clinicamente significativa a área

social, ocupacional ou outras àreas importantes do funcionamento atual.

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5. Estas dificuldades não são melhores explicadas por atraso global de

desenvolvimento ou défice cognitivo.

O autista e a importância da família

O nascimento de uma criança obriga a uma nova dinâmica familiar. A

organização familiar sofre algumas mudanças, tornando-se mais difícil o exercício da

Parentalidade quando a criança apresenta dificuldades na interação com o ambiente,

causadas por questões de origem genéticas, orgânicas ou mesmo adquiridas (Rodrigues,

Fonseca & Silva, 2008).

No que concerne à família, as limitações que se sentem devido à problemática de

crianças com PEA, fazem com que algumas delas sejam de caráter permanente, pois os

desejos das crianças saudáveis confrontam-se com as emoções de luto e perda de tal

sentimento (Sprovieri & Assumpção, 2001).

No entanto, é o no sistema familiar que mais se faz sentir a influência direta para

o desenvolvimento da criança e onde surge, inclusive, o mais importante sistema de

socialização. Na maior parte das vezes, é no núcleo familiar que a criança experiência

as primeiras aprendizagens, normas e valores (Silva, Nunes, Betti, & Rios, 2008).

Assim, a problemática em torno da PEA, afeta incondicionalmente a família

como unidade, tornando-se empírico um maior envolvimento e responsabilidade

acrescida na sistémica familiar. Tendo em conta o nível e gravidade da condição de

saúde, é legítima à criança a exigência de cuidados pessoais que garantam o seu bem-

estar e segurança. Compete aos pais ou educadores esta função e responsabilidade no

que concerne à manutenção da estabilidade familiar. Posto isto, surge outra questão que

se refere ao nível de stress destes pais, o que pode comprometer a sua capacidade de

cuidado efetivo e eficaz nos seus filhos (Peer & Hillman, 2014).

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Verifica-se que crianças e jovens com PEA evidenciam ocasionalmente

respostas pouco adequadas a estímulos sensoriais, salientando a resistência à dor, ao

interesse incompreendido por certos estímulos ou a hipersensibilidade ao toque. Estas

reações levam a uma maior preocupação por parte dos pais e eventualmente ao aumento

de stress nos mesmos. Para tal, é crucial que os pais superem a conjuntura complexa de

crises originadas pelo desenvolvimento destas características, de modo a que haja um

comprometimento o mais dentro da normalidade possível, permitindo um exercício

parental coeso e equilibrado (Marques & Dixe, 2010).

São confrontados regularmente com dificuldades que lhes fazem pensar na sua

própria competência parental, levando a que nestas circunstâncias seja necessário ajuda

especializada na área, de modo a poderem aprender técnicas e meios de contato com os

seus filhos (Delion, 2015).

A Parentalidade no Autismo e o Impacto do Diagnóstico

O exercício da Parentalidade no autismo poderá ser composto por momentos de

stress, afetando o comportamento interativo parental com prejuízo na interação social.

A sugestão de que a paternidade seria particularmente afetada evidencia-se pela falta de

adaptabilidade da criança no que concerne às mudanças no ambiente social, a

dificuldade com o enfrentar de situações de problemas comportamentais da criança,

incluindo a desobediência e solicitação de ajuda (Rutgers, et al., 2007).

Segundo a literatura, o stress não é uma caraterística padronizada no

quadro da Parentalidade no autismo. O perfil do mesmo sugere que são as preocupações

sobre a dependência da criança e as oportunidades que à família se apresentam de

algum modo limitadas, que contribuem para o aumento do stress. Incluindo o fato de

que a inclusão destas crianças na sociedade e a preocupação com o futuro das mesmas

serem uma das grandes preocupações parentais, (Koegel et al., 1992).

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De acordo com a literatura, a família assume um papel crucial para o

desenvolvimento, ainda assim, é nela que experienciam sentimentos dolorosos e

decepcionantes nas diversas fases desde o momento do diagnóstico, bem como durante

o processo de evolução dos seus filhos que poderão influir na forma como estes irão

apoiá-los enquanto família, daí que a aceitação numa fase inicial torna-se importante.

Do ponto de vista técnico, a intervenção precoce com estas crianças torna-se

extremamente benéfica e profícua, verificando-se grande evolução no percurso

desenvolvimental das crianças com PEA (Serra, 2010)

Segundo Silva e Dessen (2001), a família assume também importância ao nível

do desenvolvimento da comunicação, seja ela verbal ou não verbal, onde se estabelecem

primordialmente as relações fundamentais. Afirmam que a família caracteriza-se pela

forma de relação mais complexa e com uma envolvente de ação profunda sobre a carga

emocional imensurável de relacionamentos entre os seus próprios membros. Esta

asserção é igualmente feita por Rey e Martinez (1989).

Numa família com crianças com PEA, os pais são confrontados com o desafio

de ajustamento dos seus planos envolvendo as suas expetativas em relação ao futuro da

criança, as suas limitações e condições com o acréscimo de uma maior preocupação em

relação aos cuidados a ter e adaptação à condição patológica. Estas caraterísticas

normalmente comportam um nível de stress elevado para as famílias destas crianças

(Schmidt & Bosa, 2003).

O modo como lhes é transmitido e rececionado o diagnóstico de PEA, pode ser

determinante para o desenvolvimento da criança. Cabe ao especialista enfatizar, de

modo coerente e consciente sobre as limitações bem como as potencialidades da

criança, encaminhando-a para os serviços próprios de acordo com a gravidade da

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problemática. Ressalvamos então, a importância do diagnóstico e intervenção numa fase

precoce (Serra, 2010).

O diagnóstico é difícil de concluir nesta faixa etária, atendendo a que, desde

tenra idade até 1 ano e 8 meses, o bebé é possuidor de uma pré-linguagem, com emissão

de sons, repetição de palavras e até mesmo reprodução do que o adulto lhe diz. Na fase

dos 2 e 3 anos, a linguagem pragmática e funcional deverá aparecer. É neste momento

em que as funções cognitivas tais como a linguagem, assumem uma dinâmica diferente,

sem ser apenas a de repetição e é neste momento em que se verificam as diferenças e o

“desaparecimento” da mesma em relação às crianças com PEA. O que leva os pais a

assumirem que os seus filhos “tornaram-se” autistas a partir dessa fase, atribuindo a

causa do mesmo a algo inexplicável (Serra, 2010).

São vários os estudos que demonstram a existência de stress nestas famílias.

Bristol e Schopler (1983) referem que famílias de crianças com PEA manifestam

padrões de stress mais elevados do que famílias que possuem um filho com

desenvolvimento típico ou com síndrome de Down, tornando-se comum uma sobrecarga

emotiva muito grande. O nível de stress poderá ser influenciado pelas especificidades

do autismo e não apenas pelo atraso desenvolvimental do mesmo (Schmidt & Bosa,

2003).

Recentemente e com base na hipótese no sistema de crenças e na sua

interpretação em relação aos eventos e por conseguintes decisões, foi realizado um

estudo com 62 casais do Norte da América, pais de crianças com o diagnóstico de PEA.

O instrumento utilizado para tal foi um questionário que pretendia aferir a altura em que

estes pais verificaram diferenças no desenvolvimento dos seus filhos; o momento em

que lhes foi comunicado o diagnóstico pelo técnico de saúde; a confiança no técnico

especialista que acompanhavam os seus filhos; se os mesmos acreditavam que algo teria

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potenciado o surgimento do autismo na criança e em como essa crença alterou levando

a uma mudança de atitude, promovendo rotinas e cuidados de saúde (Semensato &

Bosa, 2014).

Fatores de Risco e de Proteção para o Desenvolvimento de Crianças com PEA

A literatura refere a existência de fatores de proteção, fatores de risco e

resiliência. A explicação para o fator de risco é consensual entre os investigadores, ou

por outras palavras, apresenta-se como uma variável que acresce à probabilidade do

indivíduo adquirir alguma patologia, quando exposto à mesma. Mas no que concerne

aos fatores de proteção e resiliência, ambos surgem de “mãos-dadas” e de acordo com a

contemporaneidade há como que uma mistura. O mundo atual, explica esta simbiose

numa complexidade de problemáticas que se expõem em forma de risco, apresentadas

por diferentes variáveis, quer sejam genéticas e biológicas, bem como psicossociais

(Sapienza & Pedromônico, 2005).

São considerados fatores de risco parental, no que concerne o desenvolvimento

infantil, situações tais como famílias com histórico disfuncional, quer seja por baixo

nível educacional, quer por dependências de substâncias psicoativas. Os altos níveis de

stress poderão também ser um fator de risco, atendendo ao fato de não serem

promotores de resiliência nem de um desenvolvimento saudável a nível psicológico,

afetando deste modo o exercício da Parentalidade (Silva, Nunes, Betti, & Rios, 2008).

Segundo a literatura, os momentos stressores são constituídos como uma reação

psicológica, cuja génese poderá ser de variáveis externas ou internas. Assim, com tais

efeitos psicológicos, podemos somatizar alguma tensão, angústia, alguma dificuldade

interpessoal o que comporta dúvida no que concerne ao seu papel enquanto pais com

alguma inabilidade de relaxamento e tranquilidade face aos comportamentos por vezes

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estereotipados e repetitivos, que são caraterísticos desta população em particular (Lipp

& Guevara, 1994).

Num estudo realizado numa população Australiana de 73 mães e 35 pais de pelo

menos um filho/a autista, que contemplava um questionário sobre o exercício da

Parentalidade com estas crianças, verificou-se qualitativamente que estes acham que

toda a dinâmica familiar normal ficava comprometida (Meirsschaut, 2010).

Já um estudo de nível quantitativo constatou igualmente que estes pais

demonstram maiores níveis de ansiedade, stress e depressão comparativamente com a

restante população, ainda que alguns dos restantes pais tivessem filhos com outras

perturbações que não PEA (Bitsika, Sharpley & Bell, 2013).

Relativamente aos fatores considerados protetores, a literatura descreve a

resiliência como um potencial fator de proteção no que diz respeito ao exercício da

Parentalidade. De acordo com a Teoria do Stress e Adaptação de McCubbin, Thompson

e McCubbin (1996), a resiliência familiar não é vista apenas como um ajuste

psicológico a eventos ou situações de stress, mas também a uma transformação na

forma como se vêm no mundo e o seu enquadramento emocional e psicológico. De

algum modo, e em consequência desta linha de pensamento Walsh (1996) refere que a

resiliência no campo de ação familiar seria uma forma de conseguir superar desafios,

acrescentando algo de positivo ao desenvolvimento pessoal, dando assim o seu

contributo de modo a transformar este “obstáculo” em fonte de recurso.

O apoio social é igualmente considerado um fator protetor, desempenhando um

papel de mediação entre a relação dos efeitos stressores e do desânimo perante o

problema. O uso deste apoio social tem funcionado como estratégia de copping

reduzindo assim o stress e os sentimentos negativos em relação ao seu papel enquanto

pai ou mãe. Quando o apoio informal não é suficiente para ultrapassar a barreira da

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“incapacidade parental”, torna-se empírico o apoio formal recorrendo a ajuda técnica

especializada. No entanto, verifica-se que quer seja o apoio formal ou informal, ambos

são relevantes no que concerne à adaptação familiar em relação aos seus filhos,

entendendo que estes são inclusive promotores de bem-estar e resiliência, aumentando

assim as suas capacidades e competências parentais (Semensato & Bosa, 2014).

Intervenção na PEA

Intervenção Cognitivo-Comportamental. No que concerne às intervenções

comportamentais, estas são exaustivamente estudadas e identificadas, sendo

predominantes em indivíduos com PEA. Contudo, apesar do suporte empírico ser

direcionado para a intervenção comportamental estruturada no adulto, as competências

não devem ser generalizadas em qualquer configuração ambiental. Verifica-se que as

intervenções têm resultados significativos e com efeitos profícuos no desenvolvimento

das crianças com PEA, em áreas tais com a linguagem, comportamentos adaptativos e

problemas de comportamento (Lovaas, 1987).

Com a finalidade de superar esta barreira, as intervenções comportamentais

naturalísticas como o treino das respostas essenciais (TRE) e a aprendizagem incidente,

permitem a aquisição de competências em ambientes específicos, sendo que o TRE

utiliza as atividades preferidas das crianças para reforçar, através da utilização de

reforços naturais, relativos ao ambiente para os quais elas se enquadram

funcionalmente, as suas capacidades e competências comunicacionais, interativas e

sociais (Lovaas, 1987).

Nas intervenções cognitivo-comportamentais, existem lacunas no

desenvolvimento de estudos relativos a estas, tendo alguma evidência empírica

demonstrada a existência de uma correlação entre a intervenção cognitivo-

comportamental e o incremento do funcionamento social nas crianças com autismo, o

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que leva ao aumento significativo no alcance das áreas sociais. Essas intervenções

sugerem um aumento de capacidades nos domínios cognitivos e de linguagem, usando

uma combinação de instrução direta, modelagem, role-playing, feedback de

desempenho e / ou reforço (Safran, 2001).

Verificou-se, segundo a literatura, que trabalhos realizados com grupos de pares

possibilitam algumas vantagens, de entre as quais a possibilidade para a prática de

habilidades num ambiente seguro, bem como oportunidades de desenvolver

relacionamentos com os outros em torno de interesses comuns, a exposição a modelos, e

estabelecimento de relações que se estendem para além da configuração de grupo.

Melhorando significativamente uma variedade de áreas, tais como habilidades sociais

(Volkmar, & Klin, 2005).

Intervenções Psicofarmacológicas. No que concerne às intervenções

psicofarmacológicas, testemunha-se o seu aumento nos indivíduos com PEA, com a

utilização de methilfenidato, clonidina e respiridona, cujos efeitos adversos associados

são, por exemplo, a irritabilidade, disforia, esteriotipias, insónia, estando todos

aparentemente relacionados. Os sintomas nucleares do comportamento repetitivo e a

resistência à mudança, assim como sintomas obsessivo-compulsivos e de ansiedade, são

frequentemente tratados com os inibidores seletivos da recaptação de serotonina, cujos

efeitos acessórios são a agitação; insónia; labilidade do humor; náusea e ocasionalmente

sedação (Steingard, Connor & Au, 2005).

Neste âmbito são usados os antidepressivos tricíclicos (como a clomipramina)

no tratamento do comportamento repetitivo, estereotipado e obssessivo-compulsivos,

não descurando os riscos cardíacos diretamente ligados à sua utilização, bem como a

diminuição do limiar de crises convulsivas. É de salientar um conjunto de

comportamentos, que por serem tratados farmacologicamente, levam a comportamentos

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de agressão e autoagressão, traumas severos e destruição de propriedade. Ressalva-se

que os agentes psicofarmacológicos derivados dos antipsicóticos atípicos, tais como a

resperidona e olanzepina, podem incitar respostas positivas, como a redução da

irritabilidade, agressividade, autoagressão, e alguns sintomas de ansiedade, nervosismo

e comportamentos repetitivos. Porém, poderão apresentar riscos acrescidos dos efeitos

secundários de foro neurológico, como os efeitos extrapiramidais e disquinésia tardia

(McCracken et al., 2002).

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Parte II

______________________________________________________________________

Estudo Empírico

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Metodologia

Questões de investigação e objetivos

Questão geral. Como se caraterizam as práticas parentais de pais com filhos

autistas?

Questões específicas. Quais as dificuldades sentidas pelos pais de crianças

autistas?

Que fatores contribuem para a adaptação dos pais destas crianças?

Os pais com filhos com PEA apresentam indicadores de mal-estar psicológico,

expresso em ansiedade, depressão e stress comparativamente aos pais com filhos sem

PEA?

Objetivo Geral. Os objetivos desta investigação, que se apresenta de natureza

metodológica mista, incidem na necessidade de compreender quais os fatores que

contribuem para a prática do exercício da Parentalidade nas famílias com filhos com o

diagnóstico da Perturbação do Espectro do Autismo (PEA), bem como a perceção de

que existem ou não, mais fatores de risco no exercício da Parentalidade em pais com

filhos com este diagnóstico, ou em pais com filhos compreendidos nos parâmetros da

normalidade.

Quais as caraterísticas promotoras do desenvolvimento global de crianças

autistas, ou seja, perceber se os fatores protetores e a resiliência tornam-se profícuos no

exercício da Parentalidade, diminuindo a ansiedade e o stress diretamente relacionados

à problemática do autismo.

Objetivo Específico. Atendendo à compreensão do diagnóstico, pretende-se

aferir se nestes pais foram usadas algumas estratégias que os ajudaram a superar

dificuldades, sejam em questões de comunição, bem como relacionais e de afetividade.

Isto leva a uma interpretação mais acentuada sobre o exercício da Parentalidade nos

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mesmos, percebendo quais as dificuldades sentidas bem como os aspetos positivos. No

que concerne à intervenção técnica, pretende-se aferir se houve ou não um

desenvolvimento profícuo em cada uma destas crianças com PEA.

Natureza do estudo

Este estudo assume-se de natureza mista, sendo constituído por dois estudos, um

de natureza qualitativa e outro de natureza quantitativa. Atendendo que temos por

objetivos compreender os desafios encontrados pelos pais de crianças com PEA e se

existe ou não maior nível de stress em pais de crianças com PEA e pais de crianças

consideradas nos parâmetros normais do desenvolvimento, tornou-se relevante utilizar

instrumentos qualitativos e quantitativos de recolha de dados.

Amostra

Para este estudo de caso, foi possível selecionar uma amostra junto de um dos

CREE (Centro de Recursos Educativos Especializados) da Região Autónoma da

Madeira, composta por 10 elementos (pai ou mãe) de crianças com diagnóstico de

PEA, sendo apenas 1 elemento do sexo masculino e 9 do sexo feminino de uma faixa

etária variável entre os 27 e os 44 nos de idade e com habilitações literárias que variam

entre o 9º ano de escolaridade e 12º ano de escolaridade. Em relação à amostra para a

coleta de dados quantitativos, a mesma foi feita através de um grupo de pais de crianças

de uma escola de 1º ciclo do mesmo Concelho do CREE, a frequentar o pré-escolar e 4º

ano de escolaridade. As idades deste grupo variaram entre os 27 e os 43 anos de idade.

Totalizando deste modo uma amostra de 60 pais, onde 30 elementos desta amostra são

pais de crianças com PEA e os restantes 30 são pais de crianças sem PEA, com a

finalidade de avaliar a Ansiedade, Depressão e Stress e perceber se existem diferenças

entre grupos. Neste segundo grupo as idades dos indivíduos constituintes da amostra

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variam entre os 24 e os 46 anos de idades, sendo que relativamente a qualificações

académicas variam do 3º ciclo ao nível de Ensino Superior.

Instrumentos

Entrevista Semi-Estruturada. A entrevista semi-estruturada é uma técnica de

coleta de dados que nos permite entender de uma forma mais alargada, os relatos

descritos pelo entrevistado. Sendo este um instrumento de análise qualitativa, com a

finalidade de perceber toda a dinâmica familiar dos pais com crianças com PEA, foi

criado um guião de entrevista semi-estruturada com 15 questões. Deste modo, os dados

foram organizados por categorias, para que se pudessem aferir resultados. As principais

categorias a avaliar foram o modo como cada pai/mãe exerce o seu papel com estas

crianças; o diagnóstico de PEA propriamente dito e o acompanhamento técnico

especializado durante a intervenção terapêutica.

Escala de Avaliação de Ansiedade, Depressão e Stress, (EADS). A EADS de

42 itens de Lovibond e Lovibond (1995) está adaptada à versão portuguesa por Pais-

Ribeiro, Honrado e Leal (2004), A ansiedade e a depressão no que concerne à

explicação fenomenológica são consideradas distintas, contudo e fazendo uma

interpretação empírica, não nos é possível essa separação. Deste modo, com a criação

desta escala de avaliação consegue-se clarificar qual a relação existente entre ambos os

construtos, através de um modelo tripartido, que sugere uma avaliação empírica sobre

estes três elementos de modo a aferir conclusões e a forma que cada sujeito alvo desta

escala, percecionam cada sentimento emanado em cada uma das 21 questões expostas

na mesma, tendo em conta uma escala de frequência de 4 valores (Pais-Ribeiro,

Honrado & Leal, 2004).

Dividida em sub-escalas, relativamente à sub-escala da depressão, temos então a

falta de interesse ou do envolvimento; a anedonia e inércia; a auto-depressiação e a

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desvalorização da vida. No que concerne à sub-escala da ansiedade, analiza-se a

excitação do Sistema Autónomo; os efeitos do músculo esquelético; a ansiedade

situacional e as experiências subjetivas de ansiedade. Em relação à sub-escala do stress,

avalia-se a dificuldade em relaxar; bem como a excitação nervosa; se o sujeito fica

agitado com facilidade; se é facilmente irritável e tem alguma reação exagerada e a

impaciência (Pais-Ribeiro, Honrado& Leal, 2004).

A cotação atribuída a cada sub-escala é somada e depois multiplicada por dois,

de modo a obter-se a pontuação equivalente à EADS de 42 itens. Esta cotação é

classificada de acordo com a tabela de classificação “Níveis de Severidade da EADS”,

abaixo denominada por tabela nº 1.

Depressão Ansiedade Stress

Normal 0-9 0-7 0-14

Leve 10-13 8-9 15-18

Moderado 14-20 10-14 19-25

Severo 21-27 15-19 26-33

Muito Severo 28+ 20+ 34

Tabela 1- Niveís de Severidade da EADS de acordo com Lovibond and Lovibond (1995)

Procedimentos

Recolha de dados. Após a obtenção das necessárias autorizações e do

consentimento livre e informado, foram agendadas sessões para a realização das

entrevistas Semi-Estruturadas com os pais de crianças com PEA. Posteriormente à

realização das entrevistas, foi aplicado o instrumento de avaliação da ansiedade,

depressão e stress (EADS). Em paralelo realizou-se a aplicação da EADS com pais de

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crianças sem PEA ou outra perturbação conhecida. A recolha de dados foi efetuada no

CREE atendendo a que o acompanhamento dado às crianças com PEA, ser realizado no

mesmo lugar.

Análise de dados. Após recolha de dados, procedeu-se à sua categorização e

análise. No caso do instrumento qualitativo, os dados foram analisados através de

análise de conteúdo e aferidos as respetivas conclusões. Relativamente aos dados

quantitativos, procedeu-se às análises comparativas inter-sujeito, aplicando o teste

estatístico de T-Student para amostras independentes, bem como uma análise de

estatística descritiva no sentido de identificar potenciais diferenças entre os dois grupos

de pais.

Resultados

Com base nos instrumentos aplicados, foi-nos possível constatar relativamente à

primeira questão concluímos que existem efetivamente algumas dificuldades

encontradas no exercício da parentalidade em pais de crianças com PEA, no entanto e

de acordo com as entrevistas, verificou-se que no papel parental as diferenças não são

muito divergentes em relação aos outros pais, pelo menos da perspetiva deste grupo.

Sendo que nas maiores dificuldades destacaram o impacto do diagnóstico, tal como foi

possível verificar através da citação de um dos entrevistados abaixo descrita e a

aceitação inicial do mesmo, ressalvando que após a mesma, tudo se tornava mais

simples e de algum modo atenuava a sua ansiedade, neste sentido a aceitação e

resiliência, como indica a própria literatura revelam ser fatores de proteção parental.

(...) não há palavras para dizer (…) parecia que o nosso mundo desmoronou

completamente.

Era o fim..han han...é difícil, acho que não consigo transmitir em palavras (choro), é

um sentimento muito mau!

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No que concerne à escala, apuraram-se diferenças em relação à ansiedade,

depressão e stress, corroborando a literatura que afirma que os pais de crianças com

PEA tendem a ser mais ansiosos. No entanto, verificou-se que os níveis na sub-escala

ansiedade nos pais de crianças sem PEA, são ligeiramente superiores. De acordo com a

tabela dos Níveis de Severidade da EADS, foi-nos possível identificar os seguintes

resultados, no que concerne à sub-escala da depressão, os níveis apurados sugerem que

os pais de crianças com PEA apresentam maiores níveis depressão classificando-os na

escala com o nível “Leve” e com nível “Normal” para os pais de crianças com filhos

sem PEA, 𝜇1=8.27 < 𝜇2= 10.27. Em relação aos níveis Ansiedade apurados sugerem que

os pais com filhos sem PEA, apresentam uma média superior aos dos pais de crianças

com PEA, 𝜇1=10.47 > 𝜇2= 8.67, com a classificação média de 10.47 de nível

“Moderado” comparativamente aos pais de filhos com PEA com a classificação média

de 8.67 de nível “Leve”. Quanto aos resultados apurados na sub-escala do Stress,

𝜇1=14.20 < 𝜇2= 16.00, os pais de crianças sem PEA apresentam-se com a classificação

média de 14.20 de nível “Normal” comparativamente aos pais de filhos com PEA com a

classificação média de 16.00 de nível “Leve”. Em suma, os resultados ainda que pouco

relevantes, apresentam de um modo geral diferenças entre grupos corroborando os

autores que afirmam os pais de crianças com PEA, apresentam níveis superiores de

ansiedade, depressão e stress em relação aos pais de crianças sem PEA (Bitsika,

Sharpley & Bell, 2013).

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Análise e interpretação dos resultados estatísticos da EADS

Tabela 2- Resultados estatísticos descritivos para a sub-escala Depressão

N Min. Máx. Média Desvio Padrão Assimetria

Grupo 1 30 0 28 8.27 7.100 .789

Grupo 2 30 0 32 10.27 9.032 9.032

Grupo 1- Nível de severidade Leve 𝜇1=8.27 < 𝜇2= 10.27. 𝑝 < 0,05

Grupo 2- Nível de severidade Normal

Tabela 3 Resultados estatísticos descritivos para a sub-escala Ansiedade

N Min. Máx. Média Desvio Padrão Assimetria

Grupo 1 30 0 36 10.47 9.228 .941

Grupo 2 30 0 20 8.67 6.712 .129

Grupo 1- Nível de severidade Moderado μ1=10.47 > μ2= 8.67 p < 0,05

Grupo 2- Nível de severidade Leve

Tabela 4- Resultados estatísticos descritivos para a sub-escala Stress

N Min. Máx. Média Desvio Padrão Assimetria

Grupo 1 30 0 36 14.20 8.540 .709

Grupo 2 30 0 28 16.00 8.017 -.437

Grupo 1- Nível de severidade Normal 𝜇1=14.20 < 𝜇2= 16.00 𝑝 < 0,05

Grupo 2- Nível de severidade Leve

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Teste estatístico de t-Student: amostras independentes

Tabela 5- Resultado teste para a sub-escala Depressão

t gl Sig.

(bilateral) Média 95%

Intervalo

de

confiança

Extremo

Inferior

95%

Intervalo

de

confiança

Extremo

Superior

Grupo 1 6.226 29 .000 10.267 6.89 10.92

Grupo 2 6.377 29 .000 8.267 5.62 13.64

Tabela 6- Resultado teste para a sub-escala Ansiedade

t gl Sig.

(bilateral) Diferença

média 95%

Intervalo

de

confiança

Extremo

Inferior

95%

Intervalo

de

confiança

Extremo

Superior

Grupo 1 6.213 29 .000 10.467 7.029 13.91

Grupo 2 7.072 29 .000 8.667 6.16 11.17

Tabela 7- Resultado teste para a sub-escala Stress

t gl Sig.

(bilateral)

Diferença

média

95%

Intervalo

de

confiança

Extremo

Inferior

95%

Intervalo

de

confiança

Extremo

Superior

Grupo 1 9.108 29 .000 14.200 11.01 17.39

Grupo 2 10.931 29 .000 16.000 13.01 18.99

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Discussão

Explanando o estudo sobre a Parentalidade no autismo procura-se expôr de

forma esclarecedora as conclusões resultantes da investigação realizada. De acordo com

o que nos foi possível investigar neste estudo, apuraram-se três grandes categorias no

que concerne ao estudo qualitativo.

Este sentimento e preocupação corroboram os autores Marques e Dixe (2011)

que afirmam que embora haja por parte dois pais um reconhecimento das adversidades a

que o autismo lhe impõe, o mais promotor para o desenvolvimento dos seus filhos é

acompanhamento que os mesmos dão a eles, o afeto e a compreensão.

Através da análise de conteúdo das entrevistas aplicadas aos pais das crianças

com PEA, toda a informação categorizada no Anexo II, onde podemos aferir algumas

conclusões gerais relativamente ao exercício da Parentalidade; o impacto do diagnóstico

e as intervenções técnicas especializadas. Estas três categorias, fizeram-se prevalecer

sobre os restantes dados obtidos. Foi unânime, o sentimento aquando do diagnóstico de

alguma culpa e desespero como podemos verificar pela citação seguinte durante a

realização da entrevista. Deste modo, podemos afirmar que os sentimentos sentidos

pelos pais destas crianças, são corroborados pela literatura quando afirma que, quando

um casal decide ter filhos, parte sempre da expetativa e do imaginável dos pais de que o

mesmo será perfeito e que tenha um desenvolvimento saudável, tornando-se mais tarde

num adulto autónomo (Franco & Apolónio, 2009).

No momento em que é diagnosticado o autismo à criança, tendencionalmente a

família sente um forte abalo nas suas bases emocionais. Os pais são confrontados com

uma série de sentimentos desafiantes à sua compreensão emocional e são igualmente

afetados na sua condição enquanto família e no exercício do seu papel enquanto pais,

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principalmente no que concerne às limitações e necessidades especiais que as mesmas

acarretam (Schmidt & Bosa, 2003).

(...)e depois disse, “já ouviu dizer sobre o síndrome de asperger?” e foi quando

(...) pus as mãos na cara e disse que sim! Era a minha confirmação, porque eu já tinha

notado...

Como já foi referenciado anteriormente, ser pai ou mão de uma criança autista,

implica sempre uma alteração na dinâmica familiar. Estas transformações poderão ser

carregadas com algumas emoções negativas, em torno do comportamento típico de

crianças com PEA. Considerando as dificuldades na comunicação e na interação social

como características comuns de crianças com autismo e crianças com distúrbio de

linguagem receptiva, o nível de stress e de ansiedade poderá ser uma constante nestas

famílias, pois constata-se que essa inabilidade comunicacional torna-se deficitária e

incompreensível, proporcionando momentos de angústia (Rutgers et al., 2007) .

Ela fazia coisas diferentes das outras crianças (...) Já se sabe que com a minha

filha tenho que ter mais atenção e mais preocupação

A preocupação generalizada que se pôde constatar nas entrevistas, é referente

normalmente à dependência da criança e às dificuldades que as famílias por vezes

enfrentam em lidar com o problema, principalmente sobre a inclusão dos seus filhos na

sociedade. Levando-os a uma projeção futuro, e consequentemente preocupação, sobre

o futuro dos seus filhos (Koegel et al., 1992).

Já convive mais com os primos e por isso penso que no futuro, com o tempo que ela vá

evoluir bastante. Não sei se vai conseguir ser autónoma completamente, mas…

Contudo, durante as entrevistas, pudemos verificar que o diagnóstico levantou

sempre sentimentos de tristeza, contudo a aceitação ao mesmo foi unânime. De

ressalvar, que em todos os pais, no seu exercício parental, são equiparáveis no que se

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refere ao exercício da Parentalidade em relação aos outros pais de crianças dentro dos

parâmetros da normalidade. Esta afirmação vai ao encontro da questão geral

inicialmente colocada, sobre “Como se caraterizam as práticas parentais de pais com

filhos autistas?”. Deste modo, e por concordância geral dos entrevistados, estes não se

sentem diferentes dos outros pais no que concerne à forma como exercem o seu papel.

(...)eu acho que cada pai é pai à sua maneira. Eu não sei se sou diferente, talvez

seja diferente, não por ela ser diferente.

tento fazer o melhor que posso, embora às vezes tenha que meter mais regras,

mas faço o melhor que posso.

As evoluções sentidas após o diagnóstico e consequentemente acompanhamento

técnico, são indubitavelmente benéficas e profícuas no desenvolvimento das crianças

com PEA. Na tentativa de procurar reduzir os efeitos dos fatores de risco no

desenvolvimento destas crianças, acentua-se a importância de intervir precocemente a

nível técnico, de modo a poder atenuar as limitações funcionais iniciais. Esta consiste,

através de uma equipa multidisciplinar dirigida à criança como apoio social à família,

com o objetivo primordial de promover o bem-estar da família e principalmente da

criança. Esta abordagem torna-se benéfica no sentido em que a intervenção atempada,

poderá atenuar e até mesmo ultrapassar as dificuldades sentidas pelas crianças com

estas características (Sandall, McClean & Smith, 2000).

Os objetivos primordiais da intervenção precoce abarcam principalmente o

desenvolvimento de habilidades comunicativas. Em termos mais gerais, ele deve ter

como foco o aumento das habilidades comunicativas e sociais, de modo a que estas

crianças saibam como interagir não só com os grupos de pares, mas também em

sociedade. Os programas de intervenção de abordagem desenvolvimental são bastante

abrangentes, permitindo uma perspetiva encorajadora no que concerne à possibilidade

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de recuperação e de melhoria significativa. Não descurando que estes progressos, terão

de ter sempre em consideração os níveis da PEA em que a criança se encontra

(Lampreia, 2007).

Há evolução… há. Puxam bastante por ele, acho que há bastante

desenvolvimento. Ele até gosta. Ele até gosta de ir lá

ele lida melhor com as pessoas adultas do que com as crianças, isso sem dúvida…mas

eu acho que ele chega lá. Tem um longo caminho pela frente, mas também com os

apoios que ele tem tido, eu acho que ele chega.

Apesar de todo o processo, desde o diagnóstico com PEA, toda a carga que o

mesmo transporta, notou-se que existe sempre um amor incondicional destes pais em

relação aos seus filhos, bem como o acreditar que através do apoio, quer seja ele

familia, social ou técnico, existe sempre a esperança de recuperação, desenvolvimento e

o anseio pela autonomia das suas crianças. A resiliência é apontada como um dos

fatores principais para esta crença e que permite aos pais, continuar incansavelmente

esta busca pelo bem-estar, que das suas crianças, quer da família propriamente dita

(Walsh, 1996).

A evolução e melhoria positiva das crianças com PEA, deve-se à intervenção

precoce, abrangendo todas as técnicas terapêuticas e também ao trabalho sistémico

realizado igualmente com as famílias.São por várias vezes referidas nas entrevistas

realizadas que existem efetivamente evoluções no que concerne ao desenvolvimento,

quer cognitivo quer emocional da criança com PEA.

É assim, eu acho que ele está a ir bem. Acho que está a progredir bem. Ele é

inteligente, acho ele super inteligente (...) eu acho que ele está a ir pelo bom

caminho.

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38

Para realizar a análise quantitativa, foram realizados testes estatísticos t-student,

para amostras independentes a fim de podermos verificar a consistência das diferenças

entre os dois grupos. Contudo, apurou-se que de acordo com os resultados em cada su-

escala, rejeitamos 𝐻0: 𝜇1=𝜇2vs 𝐻1: 𝜇1≠𝜇2, . De um modo geral, querendo isto afirmar

que o teste foi significativo, concluindo com 95% de confiança que as médias são

diferentes. Corroborando de algum modo a literatura em que afirma que os pais de

filhos com PEA.

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39

Limitações

Neste estudo realizado maioritariamente com crianças com PEA, verificaram-se

algumas limitações, tal como, a não realização de entrevistas semi-estruturadas a pais

com filhos sem PEA, de modo a perceber qualitativamente se existem verdadeiramente

diferenças significativas no exercício parental entre estes dois grupos. Pois no que foi

possível aferir das entrevistas aos pais de filhos com PEA, subentendeu-se que as

diferenças poderão não ser significativas, mas como não foram realizadas entrevistas ao

segundo grupo, não nos foi possível afirmar essa hipótese. Outra limitação foi a não

realização de um questionário socio-demográfico, pois talvez através do mesmo

conseguíssemos apurar mais respostas no que concerne à resiliência parental e até

mesmo à capacidade e desenvolvimento de competências no exercício da Parentalidade.

Outra limitação encontrada após o apuramento dos resultados foi o número da

amostra não ser tão significativo quanto o esperado de modo a poder aferir resultados

mais consistentes.

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40

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ANEXOS I

______________________________________________________________________

Escala de Avaliação, Ansiedade e Stress

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Nome _________________________________________________________ Data ___/___/___

Por favor leia cada uma das afirmações abaixo e assinale 0, 1, 2 ou 3 para indicar quanto cada

afirmação se aplicou a si. Não há respostas certas ou erradas. Não leve muito tempo a indicar a

sua resposta em cada afirmação.

A classificação é a seguinte:

0 – não se aplicou nada a mim

1 – aplicou-se a mim algumas vezes

2 – aplicou-se a mim de muitas vezes

3 – aplicou-se a mim a maior parte das vezes

1. Tive dificuldades em me acalmar

2. Senti a minha boca seca

3. Não consegui sentir nenhum sentimento positivo

4. Senti dificuldades em respirar

5. Tive dificuldade em tomar iniciativa para fazer coisas

6. Tive tendência a reagir em demasia em determinadas situações

7. Senti tremores (por ex., nas mãos)

8. Senti que estava a utilizar muita energia nervosa

9. Preocupei-me com situações em que podia entrar em pânico e fazer figura

ridícula

10. Senti que não tinha nada a esperar do futuro

11. Dei por mim a ficar agitado

12. Senti dificuldade em me relaxar

13. Senti-me desanimado e melancólico

14. Estive intolerante em relação a qualquer coisa que me impedisse de terminar

aquilo que estava a fazer

15. Senti-me quase a entrar em pânico

16. Não fui capaz de ter entusiasmo por nada

17. Senti que não tinha muito valor como pessoa

18. Senti que por vezes estava sensível

19. Senti alterações no meu coração sem fazer exercício físico

20. Senti-me assustado sem ter tido uma boa razão para isso

21. Senti que a vida não tinha sentido

0 1 2 3

0 1 2 3

0 1 2 3

0 1 2 3

0 1 2 3

0 1 2 3

0 1 2 3

0 1 2 3

0 1 2 3

0 1 2 3

0 1 2 3

0 1 2 3

0 1 2 3

0 1 2 3

0 1 2 3

0 1 2 3

0 1 2 3

0 1 2 3

0 1 2 3

0 1 2 3

0 1 2 3

Obrigada pela sua colaboração

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ANEXOS II

______________________________________________________________________

Transcrição das entrevistas

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Designação dos

Blocos

Objectivos Questões

Adaptação do

Diagnóstico

Compreender a

adaptação dos pais

ao diagnóstico e

que estratégias

usam para

ultrapassar as

dificuldades

1. - Quando sentiu que o seu filho era

diferente das outras crianças?

2. - Em que momento identificou essas

diferenças de comportamento?

3. - E no convívio com outras crianças,

identicava alguns comportamentos em

particular?

4. - Como soube do diagnóstico?

5. - Após saber do diagnóstico, como se

sentiu?

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Parentalidade

no Autismo

Compreender quais

as dificuldades e

benefícios que os

pais sentem no

exercício da

parentalidade

6. - Como pai/mãe, como descreve o seu

papel?

7. - A forma como educa é diferente dos

outros pais que conhece?

8. - Quais as suas principais preocupações

em relação ao seu filho?

9. – Utiliza estratégias especificas para

comunicar com o seu filho?

10. - Quais os momentos mais gratificantes

em todo este percurso?

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Intervenção e

apoio técnico

Compreender se são

profícuas as

intervenções

técnicas e de que

modo interferem no

desenvolvimento

das crianças com

PEA

11. - Recorreu a algum serviço para poder

ajudar o seu filho?

12. - Qual foi o encaminhamento que o

serviço deu?

13. – Que tipo de intervenção foi levado a

cabo?

14. – Como se sentiu em todo este

processo

15. - Quais as suas expetativas em relação

ao seu filho?

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Transcrição entrevista 1

Entrevistador: Pronto, vamos então dar início à nossa entrevista, o meu nome é L

como já tinha dito da outra vez...hummm...e como primeira questão é ...o que é que

sentiu quando percebeu que havia alguma diferença no seu filho em relação ás outras

crianças?

Entrevistado: O que é que eu senti?han...hummm...não sei, eu sempre notei que ele era

criança diferente e...eu acho que não senti nada nesse momento porque não tava

confirmado..eu é que sentia, eu acho que ele tem autismo, mas..hum..como era tão

ligeiro pensei oh..pode ser que ele, oh que ele vai ultrapassar ou coisa assim ,mas

hum..não sei se tem outras perguntas mas...

Entrevistador: Tenho mas não se preocupe, porque esta entrevista serve para conhecer

um bocadinho...humm...porque o meu objetivo é perceber como é o exercício da

Parentalidade e as perguntas podem ser aleatórias, eu tenho um guião que me ajuda a

fazer a entrevista ...humm...e em que momentos verificou essas diferenças?

Entrevistado: Ele já tinha dois anos e meio e fui à África do sul e como a minha irmã é

uma professora e já que disse que...e ela já trabalhou com crianças com vários níveis de

autismo, ela sempre que vinha para casa ela dizia, oh eu tenho esta criança e ele faz isto

ou aquilo, então eu percebia qualquer coisa mas humm.....

Entrevistador: Esteja à vontade...

Entrevistado: Desculpe, qual era a pergunta outra vez...

Entrevistador: Em que momentos é que identificou, qual foi o momento em que

percebeu realmente essa diferença?

Entrevistado: Sim..humm...eu notei foi quando mais o ano passado quando agente

fomos a Londres, eu já tinha percebido a diferença, mas só quando eu tava ca minha

amiga, que o filho oito meses mais novo que o Rafael e depois agente pusemos eles

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juntos e notei diferença e também uma vez que ela ligou-me no skype antes de irmos

para Londres e ela disse “hello R, how are you” eu disse “tás à espera que ele

responda?” e ela disse que sim e eu disse “mas tu falas com o D e ele responde?” e ela

disse sim, “ e o R não responde..e eu disse que não...e foi quando eu comecei a perceber

que ele tinha mesmo dificuldade...

Entrevistador: Pois, aí começou a aperceber-se, e depois como soube do diagnóstico?

Pois havia estas características todas e como soube do diagnóstico? Foi através de

situação, alguma...

Entrevistado: Eu tava a ficar frustrada na escola, eles tavam sempre a dizer, ou ele fica

muito isolado ou que ele não tá a falar bem e ele tá a ficar confuso, porque vocês tão a

falar inglês e falam em português e ele já não sabe qual é a que é para falar e eu disse

não, desculpa mas na África do sul agente tinha inglês, afrikans, kosa e agente em casa

desde nascer, a minha família toda de roda de mim, toda falava em português e na

escola era em inglês e agente todos falámos e eu acho que tem outra coisa , eu acho que

tem outra coisa...ah não não, a culpa é de vocês! Mas depois eu falei com a minha irmã

e comecei a dizer a ela, eu tou a notar isto isto e isto, o que é que tu achas...e depois ela

mandou um link do síndrome de asperger, e ela disse, lê isto...e quando eu comecei a ler

parecia que era sobre o Rafael...e humm...foi quando agente fomos para Londres em

maio e olha eu disse...quando chegar de férias eu vou começar a ver o que é que eu

posso fazer, porque eu tava à espera do centro de desenvolvimento ligar e já estava à

espera há um ano e foi quando a clínica abriu no Garajau, eu fui fazer uma marcação era

com a Andreia, então foi com ela, e então foi que percebi, ela tentou fazer perguntas e

ele olhava para todo o lado, menos para ela e aquilo que ela tava a perguntar, ela

disse...sim tem algum problema, e ela disse quanto era e eu disse, tudo bem....tou

sempre à espera do centro de desenvolvimento e e isto não poder ser... Foi quando uma

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amiga hann....disse , olha hann...eu tive apoio do CAP, vamos passar lá só para

saber...eu nunca tinha ouvido o que era CAP, não sabia o que era CAP, então agente

iasse almoçar, então agente passamos cá, e falámos com a humm...ai...hum....

Entrevistador: ...coordenadora?

Entrevistado: sim...e foi quando ela disse que era para falar com neuropediatra para ver

o que é que ele diz, e foi quando agente fomos lá com ele, e ele hum..fez perguntas, e

ele observou o Rafael e depois disse, já ouviu dizer sobre o síndrome de asperger e foi

quando eu disse...e pus as mãos na cara e disse que sim! Era a minha confirmação,

porque eu já tinha notado...

Entrevistador: ...pois....já tinha percebido através desses comportamentos, e depois

como é que se sentiu, depois de ter sabido do diagnóstico?

Entrevistado: Não sei se eu tive tempo de sentir, porque depois disso eu sabia que

tinha coisas que agente podia fazer, foi quando eu tive que ir à psicóloga para ver o

nível dele, tá bem, vamos fazer a consulta para ver o nível dele para aí agente ver o que

pode fazer! Passado isto tudo, não tive tempo para sentir, nunca senti nada...porque

ok...o Rafael tem isto e vamos fazer tudo o que a gente pode fazer era uma coisa atrás

da outra e depois é que eu não senti nada... ok..o que é que agente pode fazer... foi o que

senti, isso foi em junho...foi fazendo foi fazendo foi fazendo até dezembro, ca depois eu

tive tempo para parar pensar e então é que eu, aquilo que se diz em inglês “Cord up to

me”...

Entrevistador: ...sim...veio tudo ao de cima

Entrevistado: Tudo ao mesmo tempo...foi quando eu quase entrei em depressão e que a

doutora queria dar antidepressivos, eu ainda tomei,...dois ou três dias..e fiquei tão mal

disposta que disse olha...vai ser melhor é tratamento natural...

(Risos)

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Entrevistado: então foi assim...eu falei com a minha chefe e disse a ela da situ...ela já

sabia, porque, hum....eu mudei de trabalho porque eu sabia que ele tinha qualquer coisa,

porque eu tou a trabalhar onde eu tou a trabalhar, porque é mais...flexível.. eu já tinha

dito a ela que eu acho que o meu filho tem algum problema e eu tinha dito a ela sobre a

flexibilidade e ela disse tá bem, quando tu queres, quando tu precisas tu vais e tava

falando com ela e disse que eu não tava me sentindo bem e que a doutora tinha-me dado

os antidepressivos e ela disse não...tu não vais tomar isso! Para mim, podes tirar uns

dias, sai da ilha, sai daqui vai descansar a tua cabeça...e eu disse tá bem, fui falar com o

meu marido e disse, eu acho que ela tá certa, eu preciso de sair, eu não tive tempo de

processar isto tudo, e ele disse tá bem... se a tua chefe tá a dizer que podes tirar férias

tira, então foi isso que eu fiz... Fui sozinha a Lisboa, minha mãe tem a madrinha dela lá,

e fui lá com ela, e três dias foi a melhor coisa que fiz, descansei a cabeça, pus tudo em

ordem

Entrevistador: ...concentrou-se...

Entrevistado: e pois é que tou a conseguir fazer isto, porque senão era pastilhas e tudo

isso...não é bom...pa ninguém!

Entrevistador: E então como mãe, como que descreve o seu papel?

Entrevistado: Ah..tenho que fazer tudo para ele, tou a tentar fazer tudo o que eu possa

...eu falo com a Andreia para saber o que é que posso fazer em casa e com a Luísa para

ver o que é que posso fazer em casa com ele e pesquisei na internet o que é que posso

fazer em casa com ele, sou educadora, sou mãe, sou tudo

Entrevistador: Tenta fazer um bocadinho de tudo, acho que sim, acho que faz muito

bem! Hum... A forma como educa o seu filho, acha que é diferente dos outros pais que

conhece?

Entrevistado: (Risos....)

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Entrevistador: Tenta fazer tudo, mas acha que os outros pais não tentam fazer tudo?

Entrevistado: Sim...sim...eu não sei se é de mim que eu sou muito humm...em inglês

“over protectiv”..sempre foi sim, agora não sei se por causa que ele é assim, porque ele

não tem a noção de perigo, não sei qual a diferença..

Entrevistador: Por ser mãe....

Entrevistado: Sim..humm..mas como a gente vê os outros, parece que é sempre mais

fácil para os outros.. mas I dont know.. é como quando eu fui a Londres e a minha

amiga tava com o filho dela e a gente ia po supermercado e eu deixei o meu filho em

casa com o meu marido e outras crianças e o filha dela vinha ca gente...e ele vinha mais

à frente e eu disse a ela, não vais parar ele..e ela disse, não, ele sabe onde deve parar e

ele nunca foge, e eu disse...se fosse o Rafael ele já tinha atravessado o caminho sem ver

se vinha carros ou não (Risos)...

Entrevistador: Quais são as suas preocupações em relação ao seu filho?

Entrevistado: É a noção de perigo...e e que ele vai com qualquer uma pessoa e depois a

concentração dele se vai ficar melhor na escola porque tá na pré agora e depois quando

ele começa...hummm.... I dont know..hummm....é difícil, que eles deram um trabalho da

escola para ele fazer para fazer borboletas..e ele fez a borboleta e eu disse Rafael pinta...

metade da borboleta tá muito bem pintada e outra é...(Risos)..é isso eu tenho medo se

ele perde-se na escola, é isso o meu medo...o meu grande medo...

Entrevistador: Utiliza estratégias especificas para comunicar com o seu filho?

Entrevistado: Ah sim...sim...ele gosta de anúncios, quando ele não quer ir para a escola

eu tenho de fazer anúncios...eu já fiz do supermercado...porque uma vez fomos ao

pingodoce, e ele disse...mamy mamy..a senhora está a falar comigo..e as pessoas

começaram todas a rir, então ele gosta de anúncios...ele gosta de comboios ..autocarros

e isso tudo...então..e aviões e coisas assim...e então, para levar ele pá escola quando ele

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não quer ir..eu tinha que fazer um anúncio, “isto é o carro da 8h30 para a escola do

caniço, por favor, vá para o carro”..então ele já queria ir para o carro..e depois no

carro...”This is de 8h30 car to Caniço School, please make sure that youre seetbelt are

fasteen”...e depois antes de chegar à escola...”Were arriving ate Caniço School in 5

minutes, please make sure that you have all the lugage with you when you leave the car,

and please dont take of youre seatbelt, until the sign of the seatbelt come of”...depois eu

estacionava o carro e depois ele não queria sair do carro...então eu fazia a luz com a

mão e depois eu dizia, “the seatbelt sign as come of, please make sure that you have all

the lugage with you when you leave the car” , tirava o cinto e ele saia do carro todo

contente e ia à procura da bolsa dele e depois agente ia.

Entrevistador: É engraçado as estratégias que os pais criam e até é gratificante ouvir

isso.

Entrevistado: Ah sim...ele agora é que faz os anúncios...ele chega à escola e começa a

dizer...” in 5 minutes we will be arriving ate Caniço School”, eu já não tenho que

fazer...ele já faz os anúncios!

Entrevistador: Ainda assim...com algumas dificuldades de que me falou, existem

momentos gratificantes em todo este percurso de ser mãe de uma criança com PEA?

Entrevistado: Muitas coisas....qualquer coisinha pequenina eu fico já contente,

primeiro quando ele começou ca Luísa, uma coisa que, ele fazia..quando ele comia com

as mãos, comia uma ou duas vezes e dizia “mamy, limpa as mãos e eu dizia, Rafael,

acaba de comer isso que eu limpo as mãos”...e se ele tava a comer batata frita, a cada

uma batata frita ele..”mamy limpa as mãos..” e já não...humm...hummm..era frustrante,

mas depois...eu nem sequer tinha falado isso ca Luísa, mas ela notou isso e ela

conseguiu e depois eu notei grande diferença quando ele tava a comer, comia mais

tempo antes de pedir para lavar as mãos e aquilo para mim, foi uma grande coisa

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Entrevistador: Neste percurso, entretanto já evidenciou algumas ajudas técnicas que

teve e o facto de ter procurado, para além do CAP, recorreu a algum outro serviço?

Entrevistado: O Centro de Desenvolvimento..eles ligaram e disseram para falar com a

Dra Cátia e sim, ela deu-me algumas dicas, ela humm..primeiro ela não queria fazer

diagnóstico a ele e então do centro de desenvolvimento ele não tem diagnóstico, não sei

como é que é isso, para mim o centro de desenvolvimento é muito confuso, ninguém

fala com a gente, quando eu fui lá com a Dra. Cátia eu disse, “desculpe if I sound rude,

mas a senhora é doutora do quê?”..eu não estou a tentar ser “rude”...mas no outro dia

eles ligaram-me a dizer que era para ter consulta de enfermagem e eu disse, mas

enfermagem para quê?...aqui ninguém me explica nada, principalmente para mim que

eu não entendo português muito bem...mas, ela ajudou-me com algumas dicas, ela

disse-me , tenta tirar o tablet e a televisão e uma coisa assim..e eu disse, tá bem..ele

também ..agente não deixa ele tar muito no tablet ou ver televisão, mas de manhã eu

levantava ele uma hora mais cedo antes de ele ir para a escola e depois eu deixava ele

ver televisão e depois comer o pequeno almoço e coisa assim e depois para sair de casa

todos os dias, era um stress que ele não queria sair de casa e depois ele tava tão difícil,

mas depois eu disse...tá bem, eu vou mudar a rotina dele e a a professora do ensino

especial também ajudou-me a fazer as rotinas, e eu disse, eu vou experimentar tirar a

televisão de manhã, só um bocadinho à tarde que ele gosta de ver a patrulha para não

tirar tudo (Risos)...então, ele vai para a escola às 8h30...então, comecei a acordar ele às

8h, ele acorda, agente veste ele, ele toma o pequeno almoço, quando ele tá pronto, tenho

que fazer os anúncios e vaisse po carro e agente vai pá escola. Eles até notaram

diferença na escola, que ele tava mais calmo, então são estas coisas pequeninas ajuda e

foi isso no centro de desenvolvimento com a Dra Cátia, outra coisa que ela disse que tá

muito difícil para fazer é para ele não ir com pessoas estranhas, mas ele não entende

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isso e aqui na Madeira eu acho isso mais difícil por como é pequenino e muitas pessoas

falam com ele e dão a mão e ele vai com qualquer uma pessoa, e um pessoa quer

ensinar para ele não ir com qualquer uma pessoas, mas também não quer que ele pareça

mal educado, não sei, é difícil, é isso!

Entrevistador: Já falou nalgumas técnicas que o acompanhavam, que tipos de

intervenção que foi dado a este processo, sabem quais as intervenções feitas? As

intervenções, a terapia da fala....

Entrevistado: A Andreia, terapia da fala, a Luísa, terapia Ocupacional ...

Entrevistador: E sente que houve evolução após a intervenção?

Entrevistado: Sim...sim...definitely..ca fala e tudo...ele ainda tá um pouco baralhado

com o inglês e o português mas...tá melhor! Ainda não posso ter uma conversa...mas ele

já fala mais, já diz mais! A até na escola eles notam que ele já tá a falar mais e quando é

coisas que interessa ele...ele fala! Mas que não interessa, esquece! (risos).. e como eu

disse que a terapia ocupacional também ajuda bastante!

Entrevistador: Como se sentiu em todo este processo?

Entrevistado: Sim..eu tenho mais Hope...como se diz...

Entrevistador: Esperança...(risos)

Entrevistado: Sim..tenho mais esperança porque ele já consegue fazer muito mais

coisas e sei que ele vai conseguir muito e vai fazer muito mais coisas..que ele tem

memória grande, ele lembra-se de muita coisa, e se não é num lado, ele vai conseguir no

outro...isso eu sei que ele vai conseguir!

Entrevistador: Pois...isto vem ao encontro da minha última pergunta, Quais as suas

expetativas em relação ao seu filho?

Entrevistado: (suspiro profundo)...aiii..que ele ultrapasse muitas coisas e que ele

consegue controlar algumas coisas , e como as pessoas dizem..ohh ele parece que não

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tem alguma problema...e que as pessoas continuar a ver que ele parece que não tem

nenhuma problema, eu já falei como eu trabalho num hotel e falo com muitas pessoas e

tou sempre a falar do Rafael e conheci muitas pessoas com filhos e netos com autismo e

que eles já tem 17 anos e vinte e tal anos e que eles dizem que eles estão bem e que eles

conseguiram ultrapassar, tem bom trabalho, universidade e tudo e assim eu tenho mais

esperança que eu sei que ele vai conseguir.

Transcrição entrevista 2

Entrevistador: Quando é que sentiu que o seu filho era diferente das outras crianças?

Entrevistado: desde sempre, desde que ele nasceu!

Entrevistador: E em que momento, se bem que já respondeu, é que identificou essas

diferenças de comportamento? foi desde que nasceu ou se calhar não era tão percetível

mas

Entrevistado: Não, foi… Começou a ser mais evidente a partir de um ano de idade, a

partir de um ano quando ele regrediu, tava a começar a andar regrediu e a começar a

falar regrediu, e vendo o comportamento de outras crianças ele isolava-se, mas não,

chegamos a pensar que ele teria problemas de audição porque ele não regia ao nome e

foi quando nós estávamos à espera que ele já devia começar a falar e a reagir a nós

começamos a notar humm, comecei a notar grande diferença nele.

Entrevistador: E como é que soube do diagnóstico ou quem é que lhe deu o

diagnóstico?

Entrevistado: Foi a psicóloga do hospital do centro de desenvolvimento da criança

Entrevistador: Após saber o diagnóstico como é que se sentiu?

Entrevistado: Culpada

Entrevistador: Mas acha que a culpa é sua? Como é que entende esta patologia?

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Entrevistado: Eu entendo que é um problema neurológico, químico hmm mas senti-me

culpada se quer de andar atrás de psicólogos e médicos a tentar arranjar… nome à

diferença que o Afonso tinha e senti-me culpada por querer arranjar isso porque ou era

isso ou eu era uma má mãe, porque ele não se relacionava comigo como as outras

crianças relacionavam-se com os pais, depois a primeira reação que o médico teve pra

nós, foi que ele tinha falta de estímulo e se ele tinha falta de estímulo é porque eu e o

pai não interagíamos com ele como devíamos.

Entrevistador: E assim sendo como é que descreve o papel? como é que se identifica

enquanto mãe? Como é que se descreve enquanto mãe? Acha realmente que foi falta de

estímulo? Sente isso, à parte já foi diagnosticado, mas como é que descreve o seu papel?

Sente-se mãe?

Entrevistado: Sinto que ele precisa de mim como mãe mas às vezes… também não

tenho outro filho pa poder dizer como é que uma pessoa se sente como mãe, se calhar

tinha uma expectativa que fosse diferente, uma coisa é nós tarmos constantemente a

observar, a tentar compreender a tentar que ele comunique connosco também deve ser o

que os outros pais fazem mas tinha a ideia que deveria ser mais sentido

Entrevistador: Ainda que não seja mãe de outra criança seja apenas mais de um

menino acha que a sua forma como educa o seu menino é diferente dos pais que

conhece, daqueles pais que a envolvem no seu dia a dia? É diferente?

Entrevistado: Não, eu acho que posso ser um bocadinho mais permissiva mas acho que

há muitas mães também mais permissivas que os pais acho que há sempre um que deixa

mais que o outro mas tenho a noção que eu é sou a mais permissiva da casa deixo fazer-

lhe mais coisas

Entrevistador: E quais são as suas preocupações em relação ao menino?

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Entrevistado: o que lhe vai acontecer um dia que eu não esteja cá, se ele vai ser

totalmente independente acima de tudo se ele é feliz, se ele consegue ser feliz longe de

mim, quando não ta comigo, se as outras pessoas deixam-no ser como ele é, se ele não é

obrigado a ter que ser diferente, se ele é feliz… é isso

Entrevistador: E utiliza, nestas preocupações em relação à autonomia à felicidade

utiliza estratégias para poder comunicar com o seu filho?

Entrevistado: Acho que podia fazer mais… daquilo que tamos a fazer acho que ta um

bocado entregue neste momento mais aos terapeutas essa parte, da minha parte é mais

conseguir que eu perceber o que é que ele quer, ele… não é de obrigá-lo a ele ter que

ser como eu acho que ele devia ser ou como os outros acham que ele devia de ser é eu

tentar entrar no mundo dele e perceber o que é que ele quer transmitir, a outra parte do

funcionamento com os outros ele tá a ser mais trabalhado nas terapias e na escola e

neste momento ainda tou a tentar encontrá-lo, percebê-lo que tenho dificuldade além

disso estar a fazer mais porque parece que é deixado po lado a parte da mãe que é a

parte de nós estarmos um com o outro somo nós a ter que passar a fazer a parte também

de terapia de…

Entrevistador: Mas de certo que no seu dia a dia encontra formas de comunicação com

o seu filho?

Entrevistado: Sim Sim

Entrevistador: Tem alguma em específica que queira falar?

Entrevistado: Ele primeiro ele percebe, eu tenho a perceção ele percebe tudo aquilo

que eu lhe digo pode ou não fazer aquilo que eu quero mas ele percebe tudo aquilo que

eu lhe digo, a música é uma das formas de conseguir que ele interaja connosco e fazê-lo

fazer as coisas connosco que queremos que ele faça hmm jogos no tablet seja

computador ele agora com o tablet ta muito mais, noto mais próximo de nós que ele

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antes parecia que queria tar só mais no mundo dele, o tablet como ele tem mais

dificuldade em conseguir fazer sozinho ele sente-se de alguma forma não só do partilhar

connosco mas também de ter que ter a nossa ajuda a tar connosco

Entrevistador: Quais os momentos que considera mais gratificantes em todo este

percurso desde o nascimento, o diagnóstico até agora, por aquilo que sei o diagnóstico

foi recente mas consegue identificar algum momento gratificante perante este percurso?

Alguma evolução que possa ter havido

Entrevistado: Sim ele já canta desafinado mas canta, já tenta acompanhar as músicas,

tá muito mais presente connosco, muito mais ativo até com os outros sinto que ele tá

cada vez sinto-o tão feliz e tão mais à vontade com ele próprio com o meio, de tentar

sempre experimentar coisas novas tirando a comida, ai já não quer experimentar coisas

novas mas no ambiente dos brinquedos, as plantas, a terra, os outros assim meio de lado

mas curioso com aquilo que tá là à volta dele quando antes não ligava nenhuma, noto

muita diferença

Entrevistador: Recorreu a algum serviço, por aquilo que percebi já recorreu à terapia

há mais algum outro serviço que tenha recorrido? Ou que ele esteja a ser acompanhado

por?

Entrevistado: Neste momento ele está no centro de desenvolvimento da criança e na

terapia ocupacional, começou à muito pouco tempo com a terapia da fala teve duas três

sessões no máximo, tamos a ajudá-lo, tamos a ajudar com a parte da alimentação

principalmente neste momento e já recorremos também à parte de ainda antes de ter

sido feito o diagnóstico fui com ele ao oftalmologista, tinha algumas dúvidas em relação

à visão dele, agora a próxima fase quero que ele vá ao otorrino, que ele seja

devidamente observado por um especialista porque é sempre aquela sensação eu quero

ter a certeza que fisicamente não há nada que esteja a fazer com que ele bloqueie a

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comunicação connosco que não o ajude a se expressar que não o ajude a comer de

alguma forma faça-lhe não só pela hipersensibilidade das terapeutas indicam que ele

tem mas também por outra razão mais física motora que possa não ajudar eu quero

esclarecer isso tudo

Entrevistador: Em relação a este processo entre terapias, evoluções, todo o processo

envolvido neste acompanhamento que o Afonso tem sido alvo de como que é se sente

em relação a este processo?

Entrevistado: A sensação que eu tenho é que as evoluções que eu vejo no Afonso ele

tem só meia hora por semana de terapia a evolução maior que eu senti nele foi quando

ele teve connosco não foi na altura da terapia eu sei que ele tá com outra idade mas acho

que o tempo que ele tá na terapia na minha opinião deverá ser pouco porque meia hora

por semana não vejo como é que naquele pouco tempo ele consegue ela consegue

começa com espuma de barbear põe lá ele no início nem sequer quer tocar depois já tem

o dedo já meteu a mão depois já tá a dessensibilizar aquele tipo de consistência com ela

mas depois passou uma semana depois vamos voltar a fazer o trabalho o período que…,

parece que não… também já me avisaram que não esteja à espera de grandes mudanças,

rápidas mudanças são processos que vão levar tempo e não é de um dia para o outro que

ele começa a falar de um dia para o outro que ele deixa de ter sensibilidades mas às

vezes sinto que se calhar um outro tipo de acompanhamento também não sei se seria

demasiado exigente pra ele, a idade que ele tem se ele tivesse mais tempo do que isso

ou duas vezes por semana se não seria, se seria até mau em vez de ser benéfico, não sei

porque ele tem muitas hipersensibilidades consigo neste momento mas acho que é

pouco e honestamente de evolução que eu vejo no Afonso não sinto que seja só pela

terapia acho que tem a ver primeiro com aceita…

Entrevistador: Mas sente que ta a haver uma grande evolução é isso?

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Entrevistado: Sinto. Sinto que há uma grande evolução mas acho que tem haver muito

com aceitação se calhar sou eu que vejo as coisas de forma diferente se calhar eu tava a

espera de ver uma coisa e agora eu já não tou à espera de ver isso por isso acho que todo

o caminho que ele faz pra mim é uma evolução muito grande se calhar eu tava a espera

que ele tivesse outro tipo de comportamentos que agora eu sei que vão levar algum

tempo a ter e nem sei como é que ele os vai os ter vai ser diferente

Entrevistador: Ainda que seja cedo talvez para fazer esta questão mas pela pertinência

daquilo que me falou anteriormente, de acordo com as evoluções e com aquilo que tem

vindo a sentir no crescimento e na evolução do seu filho como é que se sente em

relação, quais são as suas expectativas futuras em relação ao seu filho?

Entrevistado: A minha expectativa é que ele seja uma pessoa totalmente independente

e que seja uma pessoa de sucesso, sucesso e muito feliz como ele é, é só isso que eu

quero, e que ele consiga se sentir não é que seja igual aos outros é que ele seja mas que

ele saiba que a diferença dele é melhor ele é especial não é que ele é melhor que os

outros mas que a diferença que ele tem o torna especial e que ele nunca sinta que isso

pra ele torna-o menos igual que os outros ou que torna menos preparado ou que por

causa disso ele vai ser excluído ou ele próprio possa se querer excluir, o receio que eu

tenho é quando ele seja mais velho e compreenda melhor as coisas tenho a certeza que

ele vai perceber compreender e vai ver que é diferente dos outros e vai saber que há

qualquer coisa que ele não conseguir se calhar acompanhar em algumas situações, não

quero que ele se isole e que ele fique mais frustrado, ainda aquilo que eu quero é que ele

se sinta bem com ele próprio, como ele é

Entrevistador: Agradecimentos

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Transcrição entrevista 3

Entrevistador: Como é que sentiu ou quando sentiu que o seu filho era diferente das

outras crianças?

Entrevistado: Senti a partir do momento que ele se começou a afastar mais

completamente das pessoas principalmente familiares e… de nós eh o facto de algumas

palavras e… não falar deixar de falar e… pensei que se passava algo com ele não… foi

mais essa a questão de não… deixar de falar a regressão que ele fez… mais isso.

Entrevistador: E no convívio com as outras crianças identificou algum comportamento

em particular?

Entrevistado: Sim tinha duas crianças, minimamente tinha duas crianças que ele

brincava ou olhava eh pessoas amigas que ele falava mas depois disso não, deixou de

querer aceitar o carinho dessas duas crianças, não quis aceitar afastava-se agarrava-se

aos pais… não convivia muito com crianças não… até entrar para a escola mesmo

agarrava-se mais aos adultos do que aos próprios amigos que tinha lá na escola

Entrevistador: E quando é que soube do diagnóstico? Como é que soube?

Entrevistado: Através de… da escola, foi através da escola, pediram-nos para consultar

alguém, saber se passava-se alguma coisa com ele e também uma amiga nossa…

aconselhou-nos eh a tentar perceber-se o que se passava com ele, é uma pessoa meia

chegada e teve lá confiança para nos falar sobre o Afonso sobre o meu filho, e foi-nos

um bocado… criar tipo coragem de… querer saber o que se passava com ele ao certo

Entrevistador: E após saber o diagnóstico como é que se sente?

Entrevistado: Um balde de água fria… que… para além de ser o nosso único filho é…

o nosso primeiro filho, a gente cria-se umas expectativas de… diferentes… já dentro da

barriga da mãe imagina-se mil e uma coisas, o que é que vamos fazer com ele? O que é

que não vamos fazer, e após… após descobrirmos… muito mau foi… algumas dessas

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expectativas queríamos fazer, mais por mim… foi fazê-las… conforme ele aceitar,

não… quando ele quiser, já não é vamos fazer ou… queres ir… não, quando ele quiser

ele vai-nos dizer que quer fazer as coisas

Entrevistador: Talvez não alterou as coisas mas se calhar a um ritmo diferente…

Entrevistado: Diferente, é um ritmo diferente, sim sim… pah muita coisa de… é pah

perspetivas imaginar fazermos com ele que imaginávamos e… sei que tão cedo não

vou, não irei fazer vou fazê-los mas… mais calma, com mais paciência e fazer não…

Entrevistador: Então com mais calma e com mais paciência ao ritmo do menino assim

envolve-se a questão da Parentalidade como é descreve então o seu papel de pai do

menino com esta perturbação?

Entrevistado: Papel…

Entrevistador: Como é que se descreve como pai?

Entrevistado: Como pai… O melhor amigo dele, mais melhor amigo dele ajudá-lo no

que ele precisar tentar percebê-lo…

Entrevistador: Atualmente como é que se descreve? Atualmente, não estou a falar

ainda nas relações… na relação futura mas atualmente como é que se descreve?

Entrevistado: Sim mas mesmo no dia a dia refiro-me a isso mesmo é… ajudá-lo é

tentar percebê-lo tentar compreendê-lo… é sempre um bocado… é difícil muitas vezes

é difícil, é verdade é difícil perceber o que realmente ele quer eh… tentamos, mesmo

por mim tento… incentivá-lo algumas coisas estimulá-lo mesmo, puxar por ele noto que

ele quer mas ao mesmo tempo ele sente dificuldade, eu não forço não forço eh penso

mais numa etapa bem ele fez isto mais alguma coisa assim penso que é mais uma etapa

conseguiu fazer isto vai-se esperar pela outra próxima

Entrevistador: A forma como educa o seu menino acha que é diferente dos outros pais

que conhece?

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Entrevistado: não, não educo o meu filho como se fosse uma criança como as outras

todas não tenho não acho que ele seja… tem algumas dificuldades de algumas coisas

tudo bem mas ago para ele como qualquer outras crianças não acho que educo

Entrevistador: Os pais que… de certo convive com outros pais

Entrevistado: Sim não, não tenho restrições para ele, ele tá à vontade eu falo com ele

brinco ele

Entrevistador: Sente que é igual

Entrevistado: sim sim É igual pa todos é igualdade

Entrevistador: Os pais que conhece não vê diferença? Os pais que conhece…

Entrevistado: Os pais dos amigos, não, claro é normal tenho alguns amigos que eu,

sabe eu não diferencio o Afonso de nada claro também ...

Entrevistador: Mas refiro-me, peço desculpa por interromper, à forma como o educa?

Não sente ou sente que é diferente a forma como educa por exemplo de certo tem

alguns amigos que têm crianças esses pais educam a forma como exercem a sua

Parentalidade com essas crianças é diferente como exerce a Parentalidade com o seu

filho?

Entrevistado: é por igualdade, é igualdade

Entrevistador: Quais são as suas principais atuais preocupações em relação ao

menino?

Entrevistado: preocupações… um bocado difícil… difícil eh… preocupações eh como

referi a pouco criei umas expectativas com ele antes de saber da perturbação dele agora

cria-se umas certas expectativas sempre que ele melhore eh, que evolua que seja uma

criança que esteja a evoluir por mais exemplos digamos de pessoas mas não só quero

saber a dele, que ele venha sempre a melhorar não… é um bocado complicado não…

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Entrevistador: E dentro dessas melhoras há alguma forma alguma estratégia específica

que utilize para comunicar com o menino?

Entrevistado: estratégia…

Entrevistador: Ou tem alguma em particular que queira partilhar…

Entrevistado: O Afonso o meu filho adora música e muitas das vezes eh ele interage ou

faz algumas coisas com a música desde o falar, ele já canta algumas partes de músicas

penso que a música ajuda-lhe muito

Entrevistador: é uma forma de se sentir mais próximo?

Entrevistado: de nós sim

Entrevistador: e vice-versa?

Entrevistado: sim porque vem nos buscar para dançar ou pula-nos à nossa frente e diz-

nos que não nos diz mas os olhos dele… a felicidade dele da música que está a ouvir ou

que está a ver

Entrevistador: E pede-vos para pôr música sentem quando ele quer ouvir música ele

pede-vos?

Entrevistado: sente com estas novas tecnologias até… já sabe ir buscar músicas pelo

próprio ouvido que sabe que gosta.

Entrevistador: Quais são os momentos ou quais foram os momentos mais gratificantes

em todo este processo?

Entrevistado: Mais gratificantes… o apoio… o apoio de algumas pessoas, nós… eu

tenho tido tanto eu como a mãe eh.

Entrevistador: E em relação mesmo ao desenvolvimento dele?

Entrevistado: noto uma diferença enorme nele… noto uma diferença enorme nele…

noto uma diferença nele, noto… noto diferença eh desenvolvimento dele é grande, nota-

se que ta havendo um desenvolvimento dele

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(Surge uma criança a interagir)

Entrevistador: Não faz mal não se preocupe não tem qualquer problema, é normal esta

interação com outros meninos e é bom que ele partilhe momentos de brincadeira com

outras crianças e pronto se calhar será um exemplo de ele brincar?

Entrevistado: sim mas noto, nota-se, vai buscar brinquedos depois como tem cá um

amigo noto uma interação dele com esse amigo noto, noto porque é das poucas pessoas

com quem ele brinca muito eh mas claro noto uma diferença dele desde terapias, desde

do apoio que se tem dado, de pessoas amigas nota-se ele tem tado tem desenvolvido o

que me faz sentir bem

Entrevistador: Esse desenvolvimento deve-se algum serviço que tenha recorrido para

apoiar o seu filho? Ou é apenas através do círculo de amizades?

Entrevistado: não não não pah através do centro de desenvolvimento da criança e pah

também um bocado insistência nossa pedimos

Entrevistador: Tiveram algum encaminhamento?

Entrevistado: sim tivemos através de lá também da escola a escola pediu-nos pa

pediram uma opinião uma ajuda e através dessa opinião pedimos logo pa, mais uma vez

foi através de uma pessoa amiga e que nos ajudou a incentivarmo-nos cada vez mais e

com a terapia da fala e a terapia ocupacional nos tem ajudado bastante ele descontraiu

muito mais, interagiu muito mais, começando já a socialização um pouco mais também

Entrevistador: De alguma maneira para terminar a nossa entrevista quais são as suas

expectativas futuras em relação ao seu menino?

Entrevistado: Pah essa parte é que como já foi... não ando a criar expectativas demais,

levo um dia de cada vez com ele e… todos os momentos de reação dele ou de melhoras

são muito grandes e é sempre uma vitória, é uma vitória eh expectativas sim ...algumas

mas os impasses são tão grandes e é só vitórias é mais isso..

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70

Entrevistador: Um dia de cada vez

Entrevistado: Um dia de cada vez

Entrevistador: Agradecimentos

Transcrição entrevista 4

Entrevistador: Vamos então começar a entrevista com esta questão. Quando é que

sentiu que a sua filha era diferente de outras meninas, das outras crianças?

Entrevistado: A partir dos 6 meses ela começou a fazer coisas um pouco diferentes das

outras crianças. Não tinha muita base de comparação porque ela foi o meu primeiro

filho, mas ela… a primeira coisa que se fazia era chamar e ela não olhava, de maneira

nenhuma. Chamava-se várias vezes e ela não olhava. Foi aí que eu percebi que alguma

coisa se estava a passar com ela.

Entrevistador: Isso foi um dos momentos em que identificou diferenças?

Entrevistado: Sim, sim…isso foi na altura, e depois levei ela a uma consulta médica

aos 18 meses. Ela ao fazer o teste de desenvolvimento, viram que ela não estava a

conseguir acompanhar um teste básico para crianças daquela idade.

Entrevistador: E no convívio com outras crianças, identificou algum comportamento

em particular?

Entrevistado: Como ela na altura era filha única e eu não tenho família, ela raramente

convivia com outras crianças, por isso eu não sabia qual era a diferença, como ela era

sozinha.

Entrevistador: Não se colocava essa questão, porque não havia termo de comparação.

Entrevistado: Não, nessa altura não havia base de comparação.

Entrevistador: E como é que soube do diagnóstico?

Entrevistado: Como é que foi depois do diagnóstico?

Entrevistador: Não, como é que soube do diagnóstico?

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Entrevistado: Foi o pediatra dela que…eu falei com e ele e ele começou a, realmente,

notar diferenças após as consultas dela. E foi agendada uma consulta com o

neuropediatra e ele é que diagnosticou ela.

Entrevistador: Agora uma pergunta que eu acho que é muito pertinente e…após saber

o diagnóstico como é que se sentiu?

Entrevistado: Ai…isso…não há palavras para dizer…parecia que o nosso mundo

desmoronou completamente. Primeiro não sabia bem o que era o autismo e depois

segundo pensa-se…não pode ser, não pode ser, não pode ser com a minha filha. Foi

muito difícil, muito difícil.

Entrevistador: Enquanto mãe como é que descreve o seu papel?

Entrevistado: Eu sou…além de ser mãe dela, eu sou amiga dela porque eu tenho que

fazer o papel de mãe e impor regras e depois também tenho que ser a amiga para

brincar, para fazer as brincadeiras dela, para que ela saiba que eu sou a base de

confiança dela.

Entrevistador: E a forma como educa, certamente agora já conhece outros pais no seu

núcleo familiar ou amigos, mas tem outros pais que conhece. Acha que a forma de

educar a sua menina é diferente dos outros pais que conhece?

Entrevistado: Sim, porque agora que eu tenho um segundo filho e a educação que eu

dou…tento ser o mais imparcial possível mas eu tenho sempre mais…como é que eu

hei-de explicar, tenho mais paciência, mais tolerância, com a minha filha.

Entrevistador: Quais são as suas preocupações em relação à sua menina?

Entrevistado: a minha maior preocupação é que como para o ano que vem ela vai para

a primeira classe, ela vai para uma escola nova, e isso preocupa-me imenso, porque eu

tenho medo que ela não se consiga enquadrar bem ou que vai ter muita dificuldade em

se adaptar. Para agora é uma grande preocupação que eu tenho.

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Entrevistador: Em relação à forma como comunica, desde o início até agora, existe

alguma estratégia especifica que utiliza para comunicar com ela?

Entrevistado: hum…eu tento explicar aquilo que nós vamos fazer. Por exemplo, se

vamos fazer um passeio em família no fim de semana, já alguns dias antes eu vou

preparando ela e digo que vamos fazer isto, isto e isto. A preparação é o melhor método

que eu tenho para ela estar preparada para o evento ou alguma coisa que vai fazer.

Entrevistador: Quais foram os momentos mais gratificantes

Entrevistado: a primeira palavra que ela disse aos 3 anos que foi mãe…isso para mim

foi muito gratificante, porque ela não falava nem comunicava e a partir dos 3 anos já

notei uma grande mudança. Começou a usar mais palavras para explicar como é que ela

se estava a sentir ou aquilo que ela queria.

Entrevistador: Recorreu a algum serviço para ajudar a sua menina?

Entrevistado: Sim, a partir dos 2 anos e meio. Ela ficou colocada no centro de

desenvolvimento no Funchal e é seguida lá desde essa altura.

Entrevistador: E terapias?

Entrevistado: Ela tem terapia ocupacional, terapia da fala e psicologia.

Entrevistador: Sente evolução?

Entrevistado: Ah!... sim imensa. Por exemplo, uma situação concreta…a Daniela aos 2

anos caia e esfolava o braço, mas não chorava, e agora o tacto ela consegue sentir tudo.

Isso já foi uma grande evolução, por exemplo.

Entrevistador: desde a altura em que soube do diagnóstico e da intervenção que tem

vindo a ser feita, ao longo de todo este tempo, como é que se sentiu? Na altura, já

percebi que foi como se lhe tivessem retirado o chão…

Entrevistado: sim

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Entrevistador: Mas depois de toda esta evolução como é que se sentiu durante todo

esse processo?

Entrevistado: Claro que no início é muito…é como uma montanha-russa, às vezes,

estamos lá em cima quando ela está a ter um bom dia e depois existem dias que estamos

mesmo em baixo porque não se sabe bem o que é que ela vai fazer, como é que ela vai

reagir. Mas este processo tem sido muito gratificante, porque de dia para dia eu vejo que

ela está a evoluir… desde os abraços aos beijinhos que ela dá.

Entrevistador: e agora em relação às expectativas futuras. Quais são as suas

expectativas em relação à sua menina?

Entrevistado: Eu tenho as expectativas de que ela vai ser uma grande mulher, mas

tenho consciência de que vai ser uma viagem muito longa. Agora vamos ver como é que

ela se vai integrar na escola, eu acho que isso é o primeiro passo tentamos ter

expectativas a curto prazo porque a longo prazo é difícil.

Entrevistador: Quando eu falo em expectativas futuras eu não falo…há situações em

que os pais pensam um pouco mais além, num futuro mais longo.

Entrevistado: Sim

Entrevistador: Mas a sua expectativa é step by step

Entrevistado: É step by step, porque tem que ser mesmo assim, porque todos os dias é

uma nova evolução…por isso não se pode…no meu caso, eu não ponho expectativas

muito de termo longo.

Entrevistador: Mas acredita?

Entrevistado: Acredito, é como quando eu digo que ela vai ser uma grande mulher. Ela

quer ser doutora, vamos ver…

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Transcrição entrevista 5

Entrevistador: Vou então dar início á nossa entrevista, a intenção da minha entrevista é

perceber o exercício da Parentalidade nos pais com PEA, perturbação do Espectro do

Autismo, e então como primeira pergunta, tenho esta, quando sentiu que o seu filho era

diferente das outras crianças?

Entrevistado: Inicialmente foi mesmo a questão das mãos, ele começou a dar muita

atenção às mãos e olhava muito para elas durante muito tempo..humm..e a partir daí

acabamos por achar que seria a descoberta das mãos, o movimento, ou seja, uma

exploração daquele membro, só que posteriormente veio a questão do correr, a questão

do não conseguir estar atento ..humm.. e o mais difícil era ir a um centro comercial e

tinhamos que sair imediatamente porque ele chorava imenso e começamos a partir daí a

ver que alguma coisa não está bem mas o que realmente chamou a atenção foi mais a

parte do meu marido foi..a questão do chamar e ignorar, e até mesmo no banho com os

brinquedos ficava completamente estático e não reagia, (00:01:25), e até que ele

próprio começou a pesquisar e acabou por chegar à conclusão que poderia ser...e a partir

daí, tentamos encontrar a pessoa certa pra nos orientar e realmente confirmar se seria ou

não seria.

Entrevistador: Então digamos que haviam alguns comportamentos que conseguia

identificar nessa fase prematura, antes de haver um diagnóstico propriamente dito, e no

convívio com outras crianças, certamente que no convívio com outras crianças ...notou

algo?

Entrevistado: Ele convivia, mas as partir dos dois anos notava-se que ele afastava-se

mais, era a questão do isolamento, e às vezes nem afastava-se, era o concentra-se no

movimento das mãos e ficava distante, estava presente mas conscientemente distante.

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Entrevistador: Então após isso, tentou recorrer a algum serviço para perceber se era

esse o diagnóstico?

Entrevistado: Sim, logo que surgiu a suspeita, por parte da pesquisa que o meu marido

fez, tentámos saber quem seria a pessoa mais indicada para realmente confirmar a nossa

suspeita e fomos ao neuropediatra e realmente após, nem foi preciso muito tempo não

é..após ver o comportamento dele, ele disse logo que a nossa suspeita estava correcta

era esse o problema!

Entrevistador: Após saber do diagnóstico, como se sentiu?

(silêncio e lágrimas do entrevistado)

Entrevistado: Era o fim..han han...é difícil, acho que não consigo transmitir em

palavras (choro), é um sentimento muito mau! Muito duro...por mais que quisesse

descrever...não consigo...!Só sentindo..é..é...

Entrevistador: Ainda assim, com tudo isto, como se encara como mãe?

Entrevistado: Neste momento...hann...(riso e lágrimas)..o melhor filho que podia ter, é

o meu príncipe e por ele faço tudo.

Entrevistador: A forma como educa é diferente dos outros pais que conhece?

Entrevistado: Não, eu não me acho nem diferente nem melhor não me qualifico de

maneira nenhuma , acho que a grande diferença e que não é fácil, foi conseguir aceitar e

acho que foi a partir da aí que as coisas começaram a fazer sentido desde o momento

que consegui aceitar e sei que não é fácil sentir na pele e respeito imenso os pais

qualquer das situações que seja, qualquer sentimento que sinto numa situação destas,

porque não é fácil chegar à aceitação, eu levei o meu tempo e graças a Deus consegui

chegar lá, mas não é fácil! Muito difícil!

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Entrevistador: Quais as suas principais preocupações em relação ao seu filho, depois

da aceitação, até porque já consegue compreendê-lo melhor, quais são as suas principais

preocupações em relação ao seu filho?

Entrevistado: oh... é claro que a minha preocupação é o futuro, não é que eu esteja

preocupada directamente com ele , porque eu confio muito nele e sei que ele consegue,

o que me preocupa realmente é o exterior, quem é que ele vai encontrar, com quem é

que ele vai ter que lidar, o que meu mais desejo é que ele encontre as pessoas certas no

caminho dele, porque sei que ele consegue, ele tem capacidades para ter uma vida

normal e ser feliz, isso é a minha grande preocupação! É mesmo o que está lá fora à

espera dele!

Entrevistador: E durante este percurso, utilizou estratégias especificas para comunicar

com ele?

Entrevistado: humm...com ele?!....a principal estratégia com ele, foi demonstrar que o

amava independentemente de ele ser como era, e a partir daí começou a dar respostas,

quando ele viu que tava mais presente, tava mais...eu olhava para ele já não chorava,

abraçava, já .... foi diferente, uma atitude diferente! Eu acho que foi aí que começou a

esforçar-se um pouco também pra me dar ...e demonstrar que tava tudo bem, que

independentemente de ele não conseguir determinadas coisas, estava ali.(00:07:18)

Entrevistador: Concretiza que depois de tudo isto, conseguiu sentir algum momento

gratificante me todo este percurso?

Entrevistado: Ah...muitos... é cada sorriso, cada abraço, foram momentos de grande

vitória, aquela emoção e aquele sentimento que continuo a não conseguir descrever, é

único! (sorriso)

Entrevistador: À pouco falámos que recorreu ao neuropediatra para o diagnóstico,

recordasse de recorrer a algum serviço para poder continuar?

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Entrevistado: Sim, após a consulta do neuropediatra, fomos imediatamente ao pediatra

que o acompanhava desde recém-nascido e a partir daí o pedriatra acabou por nos

conduzir aos serviços indicados , centro de desenvolvimento, e a todo aquele processo

que nestes casos tem de ser feito.

Entrevistador: E o tipo de intervenção que fizeram, Que tipo de intervenção foi levado

a cabo?

Entrevistado: A questão foi a fala, não verbal, completamente e uma das coisas a

trabalhar inicialmente era a fala hum...psicologia também, tive o apoio de psicologia, da

terapia da fala só que houve aquela questão da lista de espera interminável e isso foi

também um momento que custou-nos imenso, porque o que mais ouviamos é que a

intervenção tinha que ser o mais rápido possível ...só que na realidade não era isso que

tava a acontecer, ficámos meses e meses à espera, inicialmente ele iniciou com

psicologia, terapia da fala que supostamente seria o mais importante naquele momento,

continuava em espera, isso foi uma parte difícil para tentarmos entender, também

porque entramos num mundo completamente novo, era desconhecido, completamente

desconhecido para nós, como funcionava, foi uma aprendizagem muito grande. Fazia

parte, tinhamos que esperar, quando os pais sabem que é importante, mas temos que

esperar, humm.... é um bocado complicado entender ao inicio, porque a nossa

sociedade é assim, o nosso sistema de saúde é assim infelizmente e olha, temos que

esperar! Ele já tem, e também, antes disso fizemos o nosso trabalho de casa, tamos a

ajudá-lo sempre dentro das nossas possibilidades, sempre dando o máximo de nós,

porque se era para fazer, alguém tinha que começar, não é??!! E inicialmente, chegámos

à conclusão que tinhamos que ser nós a iniciar e fazer muito trabalho de casa, tanto que

algumas das evoluções dele, ele adquiriu em casa!

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Entrevistador: À pouco eu falava das suas preocupações, agora eu gostava de saber

quais as suas expetativas em relação ao seu filho?

Entrevistado: É como eu lhe disse á pouco, as minhas expectativas são grandes, como

mãe, acho que qualquer mãe tem uma expectativa muito alta referente aos seus filhos e

no caso dele, aquilo que ele nos tem dado e aquilo que ele tem conseguido alcançar eu

acho que ele é um vencedor, e se ele conseguiu ultrapassar tanto até agora...eu acho que

não há limites.. eu acho que é a tal questão, se ele tiver o acompanhamento certo, que as

pessoas o entendam , eu acho que o futuro dele é positivo, eu vejo como positivo, a

única preocupação é essa, com que ele vai lidar, se vão apoiá-lo e aceita-lo... a inclusão,

quanto a ele...a ele mesmo eu não ...eu sinto-me positiva.

Transcrição entrevista 6

Entrevistador: Vamos dar início à nossa entrevista. São questões simples com o

objectivo de perceber o exercício da Parentalidade. Quando é que sentiu que o seu

menino era diferente das outras crianças?

Entrevistado: É assim…a forma como ele reagia, ficava mais…mas no seu mundo à

parte, não brincava tanto com os outros meninos. Ficava no seu mundo, não…

Entrevistador: E em que momento é que identificou essas diferenças? brincava mais

sozinho?

Entrevistado: Exatamente.

Entrevistador: e no convívio com outras crianças, identificava alguns comportamentos

em particular?

Entrevistado: Não era assim…pronto…

Entrevistador: Não era visível?

Entrevistado: Não era assim tão visível, porque como eles centram-se neles próprios,

acabam por não ver o que os outros estão a fazer.

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Entrevistador: Mas a mãe identificava? Por exemplo, ele estava a brincar com um

grupo, estava a brincar no recreio com outros meninos, ou noutro lugar, dependendo das

circunstâncias, ou numa festinha com a família, identificou se ele brincava com os

outros meninos , ou se não brincava?

Entrevistado: É assim, ele parecia que estava a brincar, mas no fundo ele não estava,

estava sozinho, está a perceber…ele ao mesmo tempo parecia que estar a brincar,

estava a correr e via os outros a correr e corria, isto é um exemplo, mas no fundo ele não

estava…

Entrevistador: E aí percebeu alguma coisa. E como é que soube do diagnóstico?

Entrevistado: Isto é foi através de uma enfermeira do Centro de Saúde, que é mesmo

de pediatria. Porque é assim…na altura não tinha grande conhecimento sobre o caso. Já

tinha ouvido falar mas não tinha uma visão muito ampla sobre…e ela nos disse ele

parece que tem algumas coisas que parece…agora vamos ver com o crescimento. Isto

até pode ter a ver, como ele ainda é pequenino, pode ter a ver com o crescimento e

depois de mais algum tempo vamos ver se realmente é normal. Depois, ela entretanto

viu que não era assim tão… porque ela notava-se que ele olhava os objectos muito

próximos, pegava nas coisas com as pontas dos dedos. E depois ela encaminhou-nos

para o Centro de Desenvolvimento.

Entrevistador: E foi no Centro de Desenvolvimento que lhe deram o diagnóstico?

Entrevistado: Deram o diagnóstico, exactamente.

Entrevistador: E após saber o diagnóstico como é que se sentiu?

Entrevistado: Senti-me um bocadinho, como é normal, pronto qualquer uma mãe gosta

de ter um filho…quer dizer, o meu filho é normal, não tem uma deficiência assim coisa

que …mas não digo que fiquei em estado de choque, mas fiquei assim um bocadinho.

Depois a seguir aceitei bem, acabei por aceitar bem.

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Entrevistador: E como é que descreve o seu papel como mãe?

Entrevistado: Acho que sou uma mãe que faz dentro do possível, que ajuda da melhor

maneira para que as coisas corram bem.

Entrevistador: E é diferente dos outros pais que conhece? A sua forma de agir é

diferente dos outros pais que conhece?

Entrevistado: …pois…

Entrevistador: É diferente?

Entrevistado: Não, não.

Entrevistador: Quais são as suas principais preocupações em relação ao seu filho?

Entrevistado: É mais a parte emocional dele, porque ele não consegue lidar com a

frustração. Fica mais frustrado perante certas situações e ele…é mais a parte emocional

que me preocupa.

Entrevistador: Utiliza alguma estratégia diferente para comunicar com ele?

Entrevistado: Não.

Entrevistador: Fala normal? Ele reage? Ele responde?

Entrevistado: Sim, sim…

Entrevistador: Quais os momentos mais gratificantes em todo este percurso?

Entrevistado: É assim, eu acho que ele está a ir bem. Acho que está a progredir bem.

Ele é inteligente, acho ele super inteligente. E pronto, eu acho que ele está a ir pelo bom

caminho.

Entrevistador: Recorreu a algum serviço, para além do Centro de Desenvolvimento,

para puder ajudar o Guilherme?

Entrevistado: Sim recorri à APPDA, que é a associação de Autismo. Ele está a ter

psicomotricidade em sala e aquática.

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Entrevistador: E depois destas intervenções, como é que se sente? Acha que há

evolução?

Entrevistado: Sim, acho que ele está a evoluir, está a ir bem, está mais solto.

Entrevistador: E em relação às suas expectativas futuras, como é que pensa no

Guilherme daqui a algum tempo?

Entrevistado: Acho que ele vai estar muito bem. O que a gente tem feito por ele e…

Entrevistador: Vai superando

Entrevistado: Exatamente, acho que ele tem tudo para chegar

Entrevistador: ter uma evolução dentro da normalidade

Entrevistado: Exatamente

Entrevistador: Com algumas dificuldades…

Entrevistado: Sim mas que são próprias da sua situação.

Transcrição entrevista 7

Entrevistador: vou então dar início à nossa entrevista para tentar perceber como é a

sua menina. Quando é que sentiu que a sua filha era diferente dos outros meninos?

Entrevistado: Senti que ela era diferente porque ela começou a regredir no trabalho que

ela fazia, eu chamava e ela não fazia caso, olhava… e quando eu saía ela assustava-se

muito com as luzes e os barulhos.

Entrevistador: quando saía à rua …No fundo já respondeu à próxima pergunta. Em

que momento identificou essas diferenças, para além, de sair e as luzes, mais momentos

em que possa ter identificado essas diferenças.

Entrevistado: mais foi as questões das luzes.

Entrevistador: e em casa?

Entrevistado: em casa ficava muito parada. Eu chamava e ela não ouvia…hum…penso

que é só.

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Entrevistador: e no convívio com as outras criança. Identificava alguns

comportamentos em particular, quando ela estava em convívio com outros meninos?

Entrevistado: até ela fazer um ano e meio, ela convivia bem. Até tenho uma colega que

tinha uma filha da idade dela, e a Juliana foi à festa do primeiro ano e conviveu bem

com os outros meninos. A partir do ano e meio é que eu vi que começou a regredir, a ter

outros comportamentos. Ela já dizia mamã, dizia papá, dizia água e outras coisas e

deixou de dizer, deixou completamente de falar. E os jogos de encaixe… deixou de

fazer. E depois ela andava sempre com as rodinhas do carrinho, ela gostava muito das

peças. E as peças do lego eram sempre as mesmas cores…duas peças.

Entrevistador: Como é que soube do diagnóstico?

Entrevistado: Eu estava na Inglaterra, em Guernsey. Quando ela foi à consulta dos dois

anos e estava tudo bem, o peso e assim… Só que eu falei no assunto. Disse que ela

estava um pouco diferente . Então marcaram o teste da audição. Estava tudo bom e

depois marcaram para uma escola que era especializada, parecida com o Centro de

Desenvolvimento da Criança, mas diferente , uma coisa enorme… Depois veio a equipa

técnica especializada de Londres e então chegaram à conclusão que…eles viram a

Juliana, fizeram uma avaliação e verificaram que a Juliana fazia coisas diferentes das

outras crianças e depois chegaram á conclusão que era Autismo.

Entrevistador: após ter sabido qual o diagnóstico, como é que se sentiu?

Entrevistado: Chorei…chorei bastante… Nós já estávamos preparados porque durante

o processo de avaliação foram nos preparando. Além de eu não estar muito dentro do

Autismo, imaginei que era isso. Foi muito difícil.

Entrevistador: No seu papel de mãe, como é que se descreve como mãe?

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Entrevistado: sou uma supermãe, forte, faço o que posso…Aprendi muito, tenho

aprendido muito, é tudo complicado. A minha preocupação já se sabe que é o futuro.

Agora por enquanto tem pai, mãe e irmã.

Entrevistador: A forma como educa a menina é diferente dos outros pais?

Entrevistado: Eu falo com ela como falava com a mais velha, a forma de educar foi a

mesma . Já se sabe que com a Juliana tenho que ter mais atenção e mais preocupação.

Entrevistador: mas a forma como educa não se altera?

Entrevistado: não altera.

Entrevistador: Quais são as suas principais preocupações em relação a ela?

Entrevistado: é o futuro dela.

Entrevistador: Utiliza algum tipo de estratégias para comunicar com ela?

Entrevistado: Não. Eu falo com ela em casa normal. Ela faz tudo o que eu mando. A

não ser quando ela anda no mundo dela, a brincar ou isso e esteja distraída, mas eu falo,

dou-lhe uma ordem e ela faz tudo.

Entrevistador: não sente necessidade de fazer coisas diferentes para adoptar com a

Juliana?

Entrevistado: No inicio, quando ela estava na Academia da Fantasia, que era a

educadora Mónica, ela ainda lhe fez as imagens, por exemplo da sanita…e não valeu a

pena. Ela vai sozinha, quando ela quer ir à casa de banho, vai. Abre a gaveta sozinha

para tirar as cuequinhas. Estas férias estive a tentar ensiná-la a vestir as cuequinhas.

Entrevistador: É autónoma, e isso é muito bom. É muito bom a autonomia destes

meninos, pensando no futuro deles. Quando eles já têm alguma autonomia, isso é

óptimo.

Entrevistado: pois, ela sabe pôr a mesa, vai buscar o copo para pôr o sumo. Quando eu

estou a cozinhar, ela cheira e gosta muito de provar as coisas.

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Entrevistador: ela é gulosa.

Entrevistado: ela está sempre muito atenta.

Entrevistador: Quais os momentos mais gratificantes desde que a Juliana nasceu, ao

longo do seu percurso? Sentiu alguma coisa gratificante?

Entrevistado: ela ter deixado a chucha. Ela usou a chucha até aos 5 anos. Por volta

desta idade ela já não chuchava, ela roía a chucha, e eu levava a vida a comprar

chuchas. E depois com a idade dela, já não podia comprar chuchas de bebé, tinham que

ser outras.

E deixar a fralda. Num mês de Verão consegui tirar-lhe a fralda. Era a minha

preocupação, que ela não conseguisse deixar a fralda. E ainda fiquei mais contente,

porque quando ela regressou à creche, as educadoras punham-lhe a fralda para ela

dormir e ela não queria, ela tirava.

Entrevistador: durante este percurso, certamente recorreu a algum serviço para ajudar

a Juliana. Ela teve alguns apoios? A Juliana foi acompanhada desde que soube do

diagnóstico? O encaminhamento dos serviços a que recorreu, como é que foi? Achou

que foram produtivos?

Entrevistado: Sim, sim. No inicio, quando chegámos cá (à Madeira), ela foi

acompanhada pelo Centro de Desenvolvimento da Criança. Depois teve alta porque

tinha as terapias na creche e continuou com os apoios da equipa de educação especial

até agora.

Entrevistador: Sabe algum nome de alguma intervenção que tenha sido feita, alguma

intervenção especifica?

Entrevistado: Não estou a perceber.

Entrevistador: a nível das terapias?

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Entrevistado: Terapia da fala…agora já não tem, há 2 anos que já não tem. Tem terapia

ocupacional. No Centro de Desenvolvimento da Criança teve apoio da Psicologia, mas

foi durante pouco tempo.

Entrevistador: e por todo este percurso da sua filha, pelo que tem visto que ela tem

evoluído, nomeadamente o facto de ela estar mais autónoma. E todo o percurso que ela

tem vindo a desenvolver. Quais são as suas expectativas?

Sei que tem preocupações com o futuro da Juliana, mas como é que vê, visto que ela

tem tido um bom desenvolvimento. Quais são as suas expectativas?

Entrevistado: Eu tenho expectativas de que ela vá melhorar bastante, porque ela agora

já sai mais, já sabe esperar mais um bocado, coisa que ela não sabia esperar. Já convive

mais com os primos e por isso penso que no futuro, com o tempo que ela vá evoluir

bastante. Não sei se vai conseguir ser autónoma completamente, mas…

Entrevistador: mas tem bons pressentimentos?

Entrevistado: tenho, tenho

Entrevistador: Aliás, isso é uma das coisas que a acompanha, depois de saber, que

acompanha os pais. São pais muito esperançosos.

Entrevistado: Ela faz muitas coisas. Ela levanta-se e vai ao quarto dar um beijinho ao

papá, porque ele é sempre o último a se levantar. Quando ela vai dormir, dá sempre um

beijinho a mim, à mana e coisa…coisinhas que ela antes não fazia, estas coisinhas

todas.

Se disser que vamos a casa do avô, ela já sabe onde é.

Entrevistador: O caminho?

Entrevistado: Ela sai do carro e já sabe que está na casa do avô e isso. Memória, que

sei que ela tem bastante memória. Guarda bastante as coisas, não esquece.

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Entrevistador: Isso passou-se comigo. Eu não estive muitas vezes com a Juliana e ela

ainda me reconhece.

Transcrição entrevista 8

Entrevistador: Quando é que sentiu que a sua menina era diferente dos outros

meninos?

Entrevistado: Quando ela tinha 2 anos.

Entrevistador: E em que circunstâncias?

Entrevistado: Em que estranhava muito, chorava muito, não gostava das pessoas

(discurso imperceptível)…só mesmo com o pai e comigo, de contrário não ia com

ninguém…e não falava, não se comunicava, não olhava para mim quando falava.

Entrevistador: E no convívio com outras crianças, identificava alguns

comportamentos, conseguiu perceber comportamentos que fossem semelhantes ou

diferentes?

Entrevistado: sim pero mas fui eu com ela, porque eu estava acostumada com os meus

sobrinhos e notava diferença, notava diferença, porque ela não reagia, ela estranhava

muito, queria era estar mesmo só com o pai e comigo, e em casa, ela estava muito bem

em casa…se era fora de casa já era complicado.

Entrevistador: Como é que soube do diagnóstico?

Entrevistado: Como diagnóstico ele ainda não me foi dado. Eu primeiro fui ao Centro

de Saúde, depois do Centro de Saúde, a doutora encaminhou ela para o Hospital, fui

com a Dr.ª Cátia e ela disse que de facto ele apresenta… ele é uma criança com

Autismo, só que ele está muito pequenina vamos ver, vamos fazer um tratamento e

haver se ela…lá reacion de ela, e só lo que tem acontecido. A reacion dela, ela à

evoluído muito bem. E eu sei que o diagnóstico é este más, ela à superado muito às

expectativas.

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Entrevistador: E como é que descreve então, o seu papel enquanto mãe?

Entrevistado: Me papel em todo isto enquanto mãe? Tem sido, eu acho que tem sido

fundamental, tenho feito o que à aprendido, porque sou…ser mãe é aprender e más

quando te encontras com este tipo de situações que não…

Entrevistador: Se calhar, até quando lhe disseram, depois de saber mais ou menos o

diagnóstico, teve alguma reacção, sentiu alguma coisa?

Entrevistado: Dicir… senti no momento, no exato momento em que me falaram disto,

e eu soube que ela não estava bem, pero foi um choque… fiquei… mas pero em mesmo

instante disse se isto me está a acontecer é porque tem um motivo para ser para mim, e a

partir desse mesmo momento, sentada na consulta eu senti que tinha que ter força, e

tinha que lutar por esto, porque ela era minha filha. Se eu a abandonasse, se eu caía, e

ela também caía e não vá conseguir.

Entrevistador: Então descreve o seu papel como mãe como uma pessoa de suporte?

Entrevistado: De suporte, de luta, eu tenho aprendido muito com as pessoas, eu tenho

muita ajuda, tenho tido ajuda na escola, na sua escola, com lá doutora, os terapeutas.

Tem sido… a parte de ajuda à Ariana, têm ajudado muito. Tenho tido muita sorte.

Tenho uma equipa de personas ajudando a Ariana e ajudando a mim como mãe. Tenho

aprendido muito e me tem apoiado muito.

Entrevistador: E a forma como educa a Ariana, é diferente da dos outros pais que

conhece?

Entrevistado: A Ariana é uma criança muito sensível, ela é muito…não para…a Arina

já começa a chorar. Eu sou una persona que… já minha mãe dizia que eu mimava muito

o meu sobrinho, ele era muito mimoso, não tenho carácter nenhum…todos faziam

comigo o que queriam, e com a Ariana eu trato que ela não faça comigo o que ela

quer…pero és um pouco complicado, tanto que é que meu marido diz que eu não posso

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deixar ela fazer tudo. Então eu trato e ela …eu trato de educar conforme eu fui educada.

Ela… ser.. sobretudo una boa persona, agradável, respeitável, respeitar-se a ela própria.

Eu estou tratando de esto. Pero, não vou dizer que não dou miminhos, uma coisinha de

mais à Ariana.

Entrevistador: Então é diferente ou não é diferente dos outros pais que conhece?

Entrevistado: Não, eu acho que cada um…tirando este problema dela, cada pai é à sua

maneira. Eu sou mais mãe galinha, mas eu trato de deixar ela. E eu acho que cada pai é

à sua maneira. Eu não sei se sou diferente talvez seja diferente, não por ela ser diferente.

Talvez também o fato de estar aqui sozinha, agora já não, já tenho aqui a minha família.

Mas o fato de estar sozinha eu me ferrei muito à Ariana. Tinha o meu marido e a família

do meu marido, me dou bastante bem com eles, mas eu estava sozinha, tenho tios aqui

pero não é igual, não são os meus pais. O facto de não estar com as pessoas mais

próximas fez-me muito focar na Ariana. Mas tenho cometido alguns erros como mãe,

mas todos os pais cometemos. Eu acho que não existem muitas diferenças…eEu trato

que ela se sinta igual que todos.

Entrevistador: Então quais são as suas preocupações em relação à Ariana?

Entrevistado: Eu quero que a Ariana, as minhas preocupações em relação á

Ariana…preocupo-me com o dia de amanhã, que eu não esteja. Eu trato de fazer, eu

estou a educar a Ariana para que ela seja independente, que seja uma persona normal, e

conclua as suas coisas e que tenha força. Porque fico preocupada de que no dia de

amanhã eu não consiga cuidá-la e não consiga estar com ela para cuidá-la, então por

esto eu estou a fazer tudo para que ela se possa cuidar a ela própria, que seja

independente.

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Entrevistador: Utiliza alguma estratégia especifica para comunicar com ela? Agora, ou

antes, alguma situação que fosse especifica, diferente e adaptada para comunicar com

ela?

Entrevistado: Não. No inicio quando ela não falava…quando eu vi o problema… e eu

vi que ela não comunicava, eu não sabia como. Por isso também é que procurei ajuda,

porque eu não sabia como fazer que ela se comunicasse comigo, não conseguia. Tanto é

que foi… eu própria disse amor …acabou, isto está a fugir das nossas mãos, melhor é

buscar ajuda. Hoje em dia é completamente normal, utilizo la maneira de comunicar,

penso que é a maneira de comunicar normal. Hay coisas que trato de explicar mais

vezes. Ela é muito inteligente, ela capta muito as coisas. Quando ela não capta à

primeira, tento arranjar outra maneira para explicar. Agora com as perguntas. Agora que

ela está a começar a perguntar coisas, então o que é que eu comecei a fazer, eu é que

faço as perguntas a ela, filha porque é que tal coisa…pero não é de mim, é que eu vou

pedindo sempre ajuda, porque eu não sei como faço. Eu trato de pedir ajuda, pergunto.

Por exemplo neste caso, como é que faço para ela saber porque não vamos a tal sitio,

porque nós vamos…então eu explico, Ariana não vamos fazer tal coisa por tal …e falo

muito com ela. Isso tem ajudado, eu acho que tem ajudado muito, e falo muito com ela.

Entrevistador: Consegue identificar alguns momentos gratificantes neste percurso?

Entrevistado: …Ai tantos, da Ariana…ui tantos, a expressão dela, que posso dicer

…esta semana ela perguntou porque é que o papá não vai, depois outra coisa, olhar nos

meus olhos, que minha filha não olhava nos meus olhos, pedir as coisas “mamã

pudemos fazer tal coisa”, o seu sorriso quando canta… tanta coisa que a Ariana faz que

não fazia, que estava completamente bloqueado e que ela agora faz…faz tanta coisa.

Tem sido muito gratificante.

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Entrevistador: Na altura que recorreu ao serviço foi com a Drª Cátia, qual foi o

encaminhamento que foi dado por esse serviço, depois dessa consulta?

Entrevistado: Primeiro enviaram-me aqui (Santa Cruz), para a terapia da fala e

ocupacional, pero era com um terapeuta que estava mesmo no Centro de Saúde.

Entrevistador: No Centro de Saúde?

Entrevistado: Mesmo no Centro de Saúde. Mas nunca ligaram a ela, nunca me ligaram

para começar as terapias ocupacionais. Depois ela começou com psicologia no Hospital

…então tinha umas aqui e outras lá, então o que é que eles fizeram, mandaram todas

para o Hospital, ela tem tudo no Hospital. Depois falei com as colegas daqui (CREE

Santa Cruz)…estive em contacto com elas aqui, foi encaminhada para uma educadora

especial na escola, e foi assim que ela foi encaminhada.

Entrevistador: E como é que se sentiu durante todo este processo? Esta evolução que

ela tem tido, como é que se sente?

Entrevistado: Eu me sinto muito orgulhosa de mi filha. Mi sinto feliz, apesar de que

não sei ainda…este é um processo bastante…pero pelo facto de…me sinto feliz, me

sinto orgulhosa dela, me sinto orgulhosa de mim própria, de saber que consigo.

Agradeço imenso a ajuda de todas as personas que me tem ajudado, porque sem as

pessoas não conseguia, e me sinto bem, sinto-me bem. Apesar de ela ainda tem aqueles

gestos…eu já aprendi a amar esses momentos da Ariana. Ela às vezes me faz aquele

tipo de gestos, e que ainda tem aquela… mas antes ela fazia muitos gestos, a andar,

mover as mãozinhas, fazia muito estas coisas, agora ela já não faz nada disso. Mesmo

que faça de facto, às vezes ela está e eu digo “olha lunática adonde andas, não estás

aqui?” e ela “eu não sou lunática mamã”, “tu és uma lunática”. Já aprendi a amar esses

momentos. Ao princípio são momentos…ai meu Deus e agora o que vai…era ansiedade

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saber. Pero depois eu tenho aprendido a lidar com esta coisa, e aprendo… e eu amo tudo

o que tem ver com ela.

Entrevistador: Há pouco respondeu que, em parte, a sua preocupação é o futuro?

Agora quais são as suas expectativas? Como é que pensa na Ariana daqui a algum

tempo?

Entrevistado: Como é que eu penso na Ariana daqui a algum tempo?...Uma boa

pessoa, uma pessoa carinhosa. Pensa na Ariana em estudar, acho que ela vai estudar,

que vai conseguir. E penso que a ariana vai cuidar da mamã e do papá quando for

preciso.

Transcrição entrevista 9

Entrevistador: Vou então dar inicio à entrevista com o tema o exercício da

Parentalidade em crianças com PEA. Como primeira questão eu tenho: quando é que

sentiu que o seu filho era diferente dos outros meninos?

Entrevistado: Foi na escola, disseram que ele recusava-se a brincar mais com os

meninos, brincava sozinho. Praticamente foi na escola que me disseram.

Entrevistador: Não foi em casa?

Entrevistado: Porque ele brinca com a irmã, com a irmã ele brinca bem.

Entrevistador: E então não conseguia identificar diferenças? Neste caso não conseguia

identificar diferenças?

Entrevistado: Não.

Entrevistador: Mas depois de elas terem falado que ele brincava muito isolado,

sozinho, já se apercebia, começou… porque às vezes nós não estamos focados para isso.

Mas de repente quando alguém nos fala começamos a ficar um pouco mais atentos. Em

nenhum momento identificou diferenças?

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Entrevistado: Sim…aí eu já comecei a perceber que não fazia grupinhos, não ia com

aquelas crianças.

Entrevistador: Não brincava?

Entrevistado: Não, não brincava.

Entrevistador: E como é que soube do diagnóstico?

Entrevistado: Foi pela Dr.ª … qual foi a Dr.ª…

Entrevistador: Foram para o Centro de Desenvolvimento?

Entrevistado: Sim, a Elisa teve alta e então ficou com a Goreti e com a Carlota que é a

terapeuta da fala. Depois entretanto…

Pai: ele foi enviado para lá pelo médico de família.

Mãe: Sim, mas isso foi por ele não comer em casa, da alimentação e foi aí que surgiu a

ideia do autismo. Foi aí que a educadora, ao trabalhar com ele na escola com os

meninos, viu que ele tinha um pouco de autismo, não era forte, mas tinha.

Entrevistador: Não houve nenhuma consulta de neuropediatra ou pediatra? No Centro

de Desenvolvimento?

Entrevistado: Ele esteve com o Dr. Sílvio, mas ele estava a acompanhar era mais os

ouvidos dele por causa da fala. Ele pensa que ele tem algum problema nos ouvidos e por

isso a fala não se desenvolveu.

Entrevistador: E após saber o diagnóstico como é que se sentiu?

Entrevistado: Eu senti-me esperançosa, porque eu senti que não era aquele autismo

assim que fosse muito grave…prontos, pelo que eu li. Estive a pesquisar na internet, não

comparei muito ele com outras situações mais graves.

Entrevistador: E como é que descreve o seu papel como mãe?

Entrevistado: …tento fazer o melhor que posso, embora às vezes tenha que meter mais

regras, mas faço o melhor que posso.

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Entrevistador: E acha que a forma como educa é diferente dos outros pais que

conhece? Conhece outros pais de outros meninos, e acha que é diferente? Age de forma

diferente? À parte das regras que os outros pais também impõem nos seus filhos. Acha

que é diferente a forma como educa o seu filho?

Entrevistado: Acho que não…acho que não. Pronto…quando ele faz asneira leva

castigo, depois quando não faz, olha…recebe um agradecimento

Entrevistador: E quais são as suas principais preocupações atuais em relação ao seu

filho?

Entrevistado: Neste momento é a saúde dele, por exemplo, ultimamente ele tem tido

muitas febres e isso preocupa-me bastante. Mas em relação a conviver, isso…eu acho

que ele está chegando lá, ele está a chegar.

Entrevistador: E em relação a estratégias especificas. Criou alguma forma de

comunicar com o seu filho diferente? Arranjou alguma estratégia para puder comunicar

com ele?

Entrevistado: Não. A maneira como eu falo coma irmã tento falar com ele, para ele

não se sentir diferente.

Entrevistador: Não sentiu necessidade de aplicar nenhuma estratégia para comunicar.

Porque ele fala?

Entrevistado: ele fala, embora não seja. a irmã vai lá e corrige. Ela ajuda bastante.

Entrevistador: Até agora, isto é, até ao momento quais foram os momentos mais

gratificantes? Desde que soube do diagnóstico até agora. Quais são os momentos mais

gratificantes que sentiu em todo este percurso?

Entrevistado: Sinto que ele está se desenvolvendo e está a fazendo já conversas

completas, isso acho bastante bom, positivo. As conversas, ele tenta imitar a irmã. Em

termos de comer em casa é que não é lá muito gratificante, mas pronto…

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Entrevistador: Recorreu a algum serviço para ajudar o seu filho? Para além do Centro

de Desenvolvimento recorreu a mais algum serviço?

Entrevistado: Não. Ele tem a escola, tem o centro de desenvolvimento que é a

terapeuta, a educadora Goreti e acho que ele está bem encaminhado.

Entrevistador: E em relação às intervenções feitas com o Afonso sente-se…o que é

que sente?

Entrevistado: Quando ele vai ao Centro de Desenvolvimento?

Entrevistador: todas as intervenções feitas e o tipo de intervenção levada a cabo nos

estabelecimentos, pelos técnicos, como é que se sente em relação... Acha que há

evolução, não há evolução?

Entrevistado: Há evolução…há. Puxam bastante por ele, acho que há bastante

desenvolvimento. Ele até gosta. Ele até gosta de ir lá.

Entrevistador: Quais são as suas expectativas futuras em relação ao seu filho?

Entrevistado: Positivas, muito positivas. Que ele vai conseguir. Eu acho que ele tem,

embora…ele lida melhor com as pessoas adultas do que com as crianças, isso sem

dúvida…mas eu acho que ele chega lá. Tem um longo caminho pela frente, mas

também com os apoios que ele tem tido, eu acho que ele chega.

Transcrição entrevista 10

Entrevistador: Vamos então dar início à nossa entrevista. Como já lhe falei é sobre o

exercício da Parentalidade em pais de crianças com PEA. Então como primeira questão

eu tenho: quando sentiu que o seu filho era diferente das outras crianças?

Entrevistado: Mais precisamente aos 18 meses. Eu vi que os sinais eram mais fortes.

Aos 18 meses eles já andam, já…

Entrevistador: Que tipo de sinais? Em que momentos identificou essas diferenças?

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Entrevistado: Aos 6 meses. Ele já se sentava, já gatinhava, já…Aos 4 meses ele já

dizia mamã. Coisa que até a minha sogra ficou admirada por ele já dizer mamã com 4

meses. Quando ele queria dormir, eu já sabia porque ele dizia mamã porque queria

dormir. E então eu deitava ele lá no berço, ele aí ficava. Eu já sabia quando ele queria

dormir. Aos 6 meses já se sentava, já gatinhava…e depois aconteceu que eu vim com

ele ao Centro de Saúde, para ele levar a vacina dos 6 meses. Eu penso…da minha

opinião de mãe, quando os médicos dizem que não, mas na minha opinião e eu conheço

muito bem o meu filho, ele levou a vacina de manhã, à tarde ele começou a piorar, e foi

piorando, ficou com dificuldades em respirar. Deixou de gatinhar, deixou de se sentar,

deixou de sorrir, deixou de fazer praticamente tudo o que ele já fazia. Na minha opinião

de mãe, eu digo que a vacina teve alguma reacção e fez com que o meu filho fosse

autista. Para mim ele não nasceu autista. Ele até aos 6 meses ele desenvolveu-se normal.

Entrevistador: E então começou a verificar as diferenças a partir dessa data?

Entrevistado: Sim, ele começou… até como ele tinha consultas de enfermagem, a

enfermeira ficava assim… começou a ver que ele já não se sentava sem apoio, não

segurava o tronco, não segura só… ele não chão não mexia muito bem as pernas, não

gatinhava, ia-se arrastando. As pernas, totalmente, ele deixou de …usava outras

estratégias, de barriga para baixo e usava os joelhos. Ele começou a andar aos 2 anos.

Entrevistador: E no convívio com outras crianças, identificou alguns comportamentos

em particular? Em que sentia essas diferenças?

Entrevistado: Isso foi mais a partir dos 18 meses. Foi o pediatra que me alertou, que

estava com a desconfiança que ele fosse Asperger. Eu não estava à espera que ele

fosse… que tivesse características de autismo. Pensei que a vacina lhe tivesse causado

algum atraso no desenvolvimento das pernas e isso, mas nunca pensei que fosse

autismo.

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Entrevistador: Como é que soube então do diagnóstico? Como é que soube do

diagnóstico de Autismo?

Entrevistado: O pediatra encaminhou-nos para o Centro de Desenvolvimento, para ele

ser atendido pela Dr.ª Cátia, só que entretanto estivemos à espera um ano e tal, à espera

de ser chamados, e foi preciso o pediatra insistir, que o meu filho precisava de ser visto,

de ter um diagnóstico. Nós não tínhamos o diagnóstico, só a desconfiança do que viria a

dar. Ele precisava de ser visto por um especialista. Depois foi então que eu soube que o

Dr. Nuno Lobo Antunes vinha à Madeira, pedi ajuda aos meus sogros para pagar a

consulta, como eu não trabalho também não é fácil, e então fomos. Ele assim que olhou

para o meu filho, ainda não tínhamos entrado na consulta já ele disse que ele tinha

características de autismo. O Rúben já andava, mas andava em bicos de pés, e isso é

uma das características.

Entrevistador: Quando soube do diagnóstico, como é que a mãe se sentiu?

Entrevistado: Não é fácil, acho que não é fácil para qualquer mãe ou pai. Há doenças

piores, é verdade. Mas claro não é fácil. Nós estávamos já habituados a um bebé a

crescer dentro dos parâmetros normais de qualquer bebé, e de repente ele deixa de fazer

aquilo tudo, que já fazia aos 6 meses.

Entrevistador: Houve uma regressão?

Entrevistado: Sim…Então vamos vivendo o dia a dia. Às vezes chorava. Mas a vida

ensina-nos muita coisa. Estas crianças são muito especiais, ensinam muitas coisas aos

pais e com o tempo…

Entrevistador: E como é que descreve o seu papel de mãe?

Entrevistado: Às vezes acho que me falta a paciência. Porque tenho 3 filhos, um com

dois anos, o Ruben com quatro e o mais velho tem sete. São idades que não é muito

fácil lidar sozinha, porque eu não tenho ajuda de ninguém. Os meus pais não estão cá,

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estou sozinha, praticamente com eles. Às vezes a minha sogra ajuda mas ela também

está muito doente, e sempre que pode auxiliar… quando é preciso ir ao médico ou isto,

ela ajuda.

Entrevistador: Sente que a forma como educa o seu menino, é diferente dos outros?

Entrevistado: Eu conheci algumas mães que elas entram muito em pânico ou é …que

(já fiquei baralhada)…Sim, elas entram muito em pânico. Os autistas não são todos

iguais, há crianças que não gostam de sair. O meu em princípio é ligeiro a moderado,

em princípio. Mas eu conheço uma mãe, principalmente, que o filho, se ele não queria

sair, ela não saia com ele, ou entrava em pânico se ele chorava ou se ele começava a

gritar…e eu às vezes dizia a ela, para ela não o trancar muito em casa mesmo que ele

não quisesse sair, mas para ela ajudá-lo, incentivá-lo, não entrar em pânico. No meu

caso o meu filho, por exemplo, não gosta de estar fechado, ele gosta muito de sair. Eu

sempre saí com ele para os supermercados, para os centros comerciais, eu nunca

escondia o meu filho do mundo como certos pais fazem, põem eles em casa porque

quando eles saem gritam como são os autistas, não é. Atiram-se para o chão e depois

têm medo do que as pessoas dizem. Eu não sou assim.

Entrevistador: Quais são as suas preocupações em relação ao menino, tendo em conta

esta problemática?

Entrevistado: No momento a minha preocupação é o futuro, o futuro dele, porque nós

não somos eternos, infelizmente. Eu tenho esperança que o meu filho, com o tempo

melhore e consiga ser independente.

Entrevistador: Durante todo este percurso utilizou algumas estratégias diferentes para

comunicar com o seu filho?

Entrevistado: Eu costumo ver muito no youtube o programa son-rise, na América. Foi

indicado por uma mãe que tinha ido aos Estados Unidos, e ela própria fez essa formação

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lá e ela disse-me que era muito boa, uma maneira de comunicar com eles, como o meu

filho ainda não fala, e então eu tentei ver através do youtube como é que se colocavam

em prática essas estratégias.

Entrevistador: Quais foram os momentos mais gratificantes?

Entrevistado: Quando ele deixou a fralda, quando deu o primeiro beijo, quando deu o

primeiro abraço e o primeiro sorriso. Mas principalmente também quando eu consegui

desfraldar ele durante o dia. No inicio ele fazia uma confusão, não entendia o porquê de

usar fralda. O mais novo usa fralda mas o mais velho, claro não usa. Ele viu a vestir

cuequinhas no mais velho e ele também queria, mas eu dizia que ele não podia porque

ele depois fazia xixi. Depois eu disse para mim mesma, não eu vou desfraldar ele e em

três meses eu consegui desfraldá-lo. Hoje usa só a fralda durante a noite, mas durante o

dia já vai à casa de banho. Ele diz xixi, diz papas, já diz algumas palavras. Não trato ele

diferente dos irmãos porque ele é muito inteligente e muito sabido, deita olho em tudo o

que nós dizemos, e se ele vê que é tratado de maneira especial ele vai manipular-nos

ainda mais, por isso eu trato ele como uma criança normal, como trato os irmãos. Se ele

quer uma coisa ele tinha a mania de apontar e levava-me até ao que ele queria, e eu

dizia que a mamã não sabe o que é, tens que falar para a mamã saber o que é, e foi

assim que ele começou a dizer papa, sopa, pão, enfim…

Entrevistador: Em relação a serviços de ajuda, foi a algum serviço para poder ajudar o

menino, para as terapias?

Entrevistado: Fui ao Centro de Desenvolvimento e ao CAP (agora CREE), começou a

ter mais terapias, ajudaram muito, estão a ajudar muito ele. Ele tem terapia ocupacional,

terapia da fala, acompanhamento médico e uma vez por semana vai com uma psicóloga,

a Dr.ª Luísa.

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Entrevistador: Em relação a este processo de evolução, no fundo é uma evolução

positiva, como é que se sentiu durante este processo, durante esta evolução?

Entrevistado: Ele vai ficar bem, porque eu tive que mudar praticamente a alimentação

dele. Tem que ser tudo sem glúten, sem soja, sem caseína. A alimentação influiu muito

nestas crianças. Por exemplo pessoas que comem doces ou muito açúcar já ficam logo

alterados, ficam como se estivessem drogados, não sabem o que estão a fazer, ficam

violentos, começam a bater nas pessoas. O meu filho também, ele bebia o leite e

vomitava e eu não sabia qual a razão, tinha muita dificuldade em fazer cocó, eu tinha

que lhe dar bisnagas todos os dias e ele todos os dias fazia sempre. Eu falava com o

pediatra e ele mandava tanta coisa, xaropes…

Entrevistador: Um processo complicado?

Entrevistado: Sim.

Entrevistador: Quais são as suas expectativas em relação ao seu filho? Expectativas

em relação ao futuro?

Entrevistado: Eu desejo que ele consiga ter uma vida normal como toda a gente, e que

consiga ser desenrascado, entre aspas, sozinho sem depender de ninguém. Nós os pais

não somos eternos. Se ele se apaixonasse por alguém e quisesse casar. Fazer o que uma

pessoa normal faz, e isso é o meu objectivo. Que ele seja autónomo e feliz.

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ANEXOS III

______________________________________________________________________

Grelhas de Análise de Conteúdo das Entrevistas Semi-Estruturadas

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Grelha de Análise de Conteúdo (entrevista 1)

Categoria Subcategoria Unidade de Registo Unidade de

Contexto

Adaptação

do

Diagnóstico

dos pais das

crianças com

PEA

Compreender a

adaptação dos

pais ao

diagnóstico

Percepção da

diferença entre

grupos de

pares(crianças)

Identificação

dessas diferenças

Comportamentos

repetitivos ou

estereotipados

Diagnóstico

“eu já tinha

percebido a

diferença (...)eu

comecei a

perceber que ele

tinha mesmo

dificuldade”

“mas só quando

eu tava ca

minha amiga,

que o filho oito

meses mais novo

que o (...) e

depois agente

pusemos eles

juntos e notei

diferença”

“..quando ele

comia com as

mãos, comia

uma ou duas

vezes e dizia

“mamy, limpa

as mãos e eu

dizia, (...) acaba

de comer isso

que eu limpo as

mãos”...e se ele

tava a comer

batata frita, a

cada uma batata

frita ele..”mamy

limpa as

mãos..”

“...falar com

neuropediatra

para ver o que é

que ele diz,(...)

ele observou o

(...) e depois

disse, já ouviu

dizer sobre o

síndrome de

asperger e foi

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102

Sentimentos pós-

diagnóstico

quando eu

disse...e pus as

mãos na cara e

disse que sim!

Era a minha

confirmação,

porque eu já

tinha notado...”

“Não sei se eu

tive tempo de

sentir, porque

depois disso eu

sabia que tinha

coisas que

agente podia

fazer”

Estratégias

usadas para

ultrapassar as

dificuldades

Estratégias

específicas como

forma de

comunicação

Aprendizagem

quotidiana na

partilha e

compreensão de

afetos

“ele gosta de

anúncios,

quando ele não

quer ir para a

escola eu tenho

de fazer

anúncios...eu já

fiz a do

supermercado(..

.)ele gosta de

anúncios,

quando ele não

quer ir para a

escola eu tenho

de fazer

anúncios...eu já

fiz do

supermercado

“o (...) tem isto

e vamos fazer

tudo o que a

gente pode

fazer”

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103

Parentalidad

e no

Autismo

O exercício da

Parentalidade

Ser pai/mãe de

criança com PEA

Educação

diferenciada ou

não pela

existência de

PEA

“tenho que fazer

tudo para ele,

tou a tentar

fazer tudo o que

eu possa”

“Sim..humm..ma

s como a gente

vê os outros,

parece que é

sempre mais

fácil para os

outros (...)eu

não sei se é de

mim que eu sou

muito

humm...em

inglês “over

protectiv”..semp

re foi sim, agora

não sei se por

causa que ele é

assim”

Dificuldades e

benefícios

Principais

preocupações

parentais

Comunicação

com a criança

“É a noção de

perigo...e e que

ele vai com

qualquer uma

pessoa e depois

a concentração

dele se vai ficar

melhor na

escola”

“Ainda não

posso ter uma

conversa...mas

ele já fala mais,

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104

já diz mais”

Intervenção

e apoio

técnico

Intervenções

técnicas

Evolução

profícua no

desenvolvimen

to da criança

Serviços técnicos

especializados

Tipo de

encaminhamento

Tipo de

intervenção

Sentimentos em

relação a todo o

processo de

intervenção

técnica

“O Centro de

Desenvolviment

o (...) CAP...”

“... terapia da

fala, (...), a

terapia

Ocupaciona”

Grelha de Análise de Conteúdo (entrevista 2)

Categoria Subcategoria Unidade de Registo Unidade de

Contexto

Adaptação

do

Diagnóstico

dos pais das

crianças com

PEA

Compreender a

adaptação dos

pais ao

diagnóstico

Percepção da

diferença entre

grupos de

pares(crianças)

Identificação

dessas diferenças

“desde sempre,

desde que ele

nasceu!”

“vendo o

comportamento

de outras

crianças ele

isolava”

Comportamentos

repetitivos ou

estereotipados

“foi quando nós

estávamos à

espera que ele

já devia

começar a falar

e a reagir a nós

começamos a

notar humm,

comecei a notar

grande

diferença nele”

Page 105: O Exercício da Parentalidade em Crianças com Perturbação ... · O Exercício da Parentalidade em Crianças com Perturbação do Espectro do Autismo Dissertação de Mestrado em

105

Diagnóstico

Sentimentos pós-

diagnóstico

“Foi a

psicóloga do

hospital do

centro de

desenvolvimento

da criança”

“Culpada”

Estratégias

usadas para

ultrapassar as

dificuldades

Estratégias

específicas como

forma de

comunicação

Aprendizagem

quotidiana na

partilha e

compreensão de

afetos

“...a música é

uma das formas

de conseguir

que ele interaja

connosco e fazê-

lo fazer as

coisas connosco

que queremos

que ele faça”

“noto mais

próximo de nós

que ele antes

parecia que

queria tar só

mais no mundo

dele, o tablet

como ele tem

mais dificuldade

em conseguir

fazer sozinho ele

sente-se de

alguma forma

Page 106: O Exercício da Parentalidade em Crianças com Perturbação ... · O Exercício da Parentalidade em Crianças com Perturbação do Espectro do Autismo Dissertação de Mestrado em

106

não só do

partilhar

connosco mas

também de ter

que ter a nossa

ajuda a tar

connosco”

Parentalidad

e no

Autismo

O exercício da

Parentalidade

Ser pai/mãe de

criança com PEA

Educação

diferenciada ou

não pela

existência de

PEA

“Sinto que ele

precisa de mim

como mãe mas

às vezes…

também não

tenho outro filho

pa poder dizer

como é que uma

pessoa se sente

como mãe, se

calhar tinha

uma expectativa

que fosse

diferente”

“Não, eu acho

que posso ser

um bocadinho

mais permissiva

mas acho que há

muitas mães

também mais

permissivas que

os pais”

Dificuldades e

benefícios

Principais

preocupações

parentais

“o que lhe vai

acontecer um

dia que eu não

esteja cá, (...) se

ele consegue ser

feliz longe de

mim, quando

não ta comigo,

se as outras

pessoas deixam-

no ser como ele

Page 107: O Exercício da Parentalidade em Crianças com Perturbação ... · O Exercício da Parentalidade em Crianças com Perturbação do Espectro do Autismo Dissertação de Mestrado em

107

Comunicação

com a criança

é, se ele não é

obrigado a ter

que ser

diferente”

“daquilo que

tamos a fazer

acho que ta um

bocado entregue

neste momento

mais aos

terapeutas essa

parte, da minha

parte é mais

conseguir que

eu percebe o

que é que ele

quer”

Intervenção

e apoio

técnico

Intervenções

técnicas

Evolução

profícua no

desenvolvimen

to da criança

Serviços técnicos

especializados e

intervenção

Sentimentos em

relação a todo o

processo de

intervenção

técnica

“Centro de

desenvolvimento

da criança”

“tá na terapia

ocupacional,

começou à

muito pouco

tempo com a

terapia da fala”

“Sinto que há

uma grande

evolução mas

acho que tem

haver muito com

aceitação se

calhar sou eu

que vejo as

coisas de forma

diferente”

Page 108: O Exercício da Parentalidade em Crianças com Perturbação ... · O Exercício da Parentalidade em Crianças com Perturbação do Espectro do Autismo Dissertação de Mestrado em

108

Grelha de Análise de Conteúdo (entrevista 3)

Categoria Subcategoria Unidade de Registo Unidade de

Contexto

Adaptação

do

Diagnóstico

dos pais das

crianças com

PEA

Compreender a

adaptação dos

pais ao

diagnóstico

Percepção da

diferença entre

grupos de

pares(crianças)

Identificação

dessas diferenças

“Senti a partir

do momento que

ele se começou

a afastar mais

completamente

das pessoas

principalmente

familiares”

“deixar de falar

a regressão que

ele fez”

Comportamentos

repetitivos ou

estereotipados

“...deixou de

querer aceitar o

carinho dessas

duas crianças,

não quis aceitar

afastava-se

agarrava-se aos

pais”

Diagnóstico

Sentimentos pós-

diagnóstico

“foi através da

escola”

“Um balde de

água fria…

que… para além

de ser o nosso

único filho é… o

nosso primeiro

filho, a gente

cria-se umas

expectativas

di… diferentes”

Page 109: O Exercício da Parentalidade em Crianças com Perturbação ... · O Exercício da Parentalidade em Crianças com Perturbação do Espectro do Autismo Dissertação de Mestrado em

109

Estratégias

usadas para

ultrapassar as

dificuldades

Estratégias

específicas como

forma de

comunicação

Aprendizagem

quotidiana na

partilha e

compreensão de

afetos

“o meu filho

adora música e

muitas das vezes

eh ele interage

ou faz algumas

coisas com a

música desde o

falar “

“incentivá-lo

algumas coisas

estimulá-lo

mesmo (...)eu

não forço não

forço eh “

Parentalidad

e no

Autismo

O exercício da

Parentalidade

Ser pai/mãe de

criança com PEA

Educação

diferenciada ou

não pela

existência de

PEA

“Como pai… O

melhor amigo

dele, mais

melhor amigo

dele ajudá-lo no

que ele precisar

tentar percebê-

lo”

“não, não,

educo o meu

filho como se

fosse uma

criança como as

outras todas não

tenho não acho

que ele seja”

Dificuldades e

benefícios

Principais

preocupações

parentais

Comunicação

com a criança

“que evolua,

que seja uma

criança que

esteja a evoluir

por mais

exemplos

digamos de

pessoas, mas

não, só quero

saber a dele”

“(...) vem nos

buscar para

dançar ou pula-

nos à nossa

frente e diz-nos

Page 110: O Exercício da Parentalidade em Crianças com Perturbação ... · O Exercício da Parentalidade em Crianças com Perturbação do Espectro do Autismo Dissertação de Mestrado em

110

que não nos diz

mas os olhos

dele

Intervenção

e apoio

técnico

Intervenções

técnicas

Evolução

profícua no

desenvolvimen

to da criança

Serviços técnicos

especializados e

intervenção

Sentimentos em

relação a todo o

processo de

intervenção

técnica

“(...)centro de

desenvolvimento

da criança”

“todos os

momentos de

reação dele ou

de melhoras são

muito grandes e

é sempre uma

vitória”

Grelha de Análise de Conteúdo (entrevista 4)

Categoria Subcategoria Unidade de Registo Unidade de

Contexto

Adaptação

do

Diagnóstico

dos pais das

crianças com

PEA

Compreender a

adaptação dos

pais ao

diagnóstico

Percepção da

diferença entre

grupos de

pares(crianças)

Identificação

dessas diferenças

“A partir dos 6

meses ela

começou a fazer

coisas um pouco

diferentes”

“Ela ao fazer o

teste de

desenvolvimento

, viram que ela

não estava a

conseguir

acompanhar um

teste básico

para crianças

daquela idade”

Comportamentos

repetitivos ou

estereotipados

“ela raramente

convivia com

outras crianças,

por isso eu não

sabia qual era a

diferença”

Diagnóstico

“Foi o pediatra

dela que…eu

Page 111: O Exercício da Parentalidade em Crianças com Perturbação ... · O Exercício da Parentalidade em Crianças com Perturbação do Espectro do Autismo Dissertação de Mestrado em

111

Sentimentos pós-

diagnóstico

falei com e ele e

ele começou a,

realmente, notar

diferenças após

as consultas

dela”

“não há

palavras para

dizer…parecia

que o nosso

mundo

desmoronou

completamente”

Estratégias

usadas para

ultrapassar as

dificuldades

Estratégias

específicas como

forma de

comunicação

Aprendizagem

quotidiana na

partilha e

compreensão de

afetos

“eu tento

explicar aquilo

que nós vamos

fazer(...)

preparando ela

e digo que

vamos fazer isto,

isto e isto”

“porque de dia

para dia eu vejo

que ela está a

evoluir… desde

os abraços aos

beijinhos que

ela dá”

Parentalidad

e no

Autismo

O exercício da

Parentalidade

Ser pai/mãe de

criança com PEA

Educação

diferenciada ou

“eu sou amiga

dela porque eu

tenho que fazer

o papel de mãe

e impor regras e

depois também

tenho que ser a

amiga para

brincar, para

fazer as

brincadeiras

dela”

“tento ser o

mais imparcial

Page 112: O Exercício da Parentalidade em Crianças com Perturbação ... · O Exercício da Parentalidade em Crianças com Perturbação do Espectro do Autismo Dissertação de Mestrado em

112

não pela

existência de

PEA

possível mas eu

tenho sempre

mais…como é

que eu hei-de

explicar, tenho

mais paciência,

mais tolerância,

com a minha

filha”

Dificuldades e

benefícios

Principais

preocupações

parentais

Comunicação

com a criança

“que como para

o ano que vem

ela vai para a

primeira classe

(...)porque eu

tenho medo que

ela não se

consiga

enquadrar bem

ou que vai ter

muita

dificuldade em

se adaptar”.

“eu tento

explicar aquilo

que nós vamos

fazer”

Intervenção

e apoio

técnico

Intervenções

técnicas

Evolução

profícua no

desenvolvimen

to da criança

Serviços técnicos

especializados e

intervenção

Sentimentos em

relação a todo o

processo de

intervenção

técnica

“centro de

desenvolvimento

no Funchal

(...)Ela tem

terapia

ocupacional,

terapia da fala e

psicologia.”

“é como uma

montanha-russa,

às vezes,

estamos lá em

cima quando ela

está a ter um

bom dia e

depois existem

dias que

estamos mesmo

em baixo

Page 113: O Exercício da Parentalidade em Crianças com Perturbação ... · O Exercício da Parentalidade em Crianças com Perturbação do Espectro do Autismo Dissertação de Mestrado em

113

(...)Mas este

processo tem

sido muito

gratificante”

Grelha de Análise de Conteúdo (entrevista 5)

Categoria Subcategoria Unidade de Registo Unidade de

Contexto

Adaptação

do

Diagnóstico

dos pais das

crianças com

PEA

Compreender a

adaptação dos

pais ao

diagnóstico

Percepção da

diferença entre

grupos de

pares(crianças)

Identificação

dessas diferenças

“partir dos dois

anos notava-se

que ele

afastava-se

mais, era a

questão do

isolamento”

“Inicialmente

foi mesmo a

questão das

mãos, ele

começou a dar

muita atenção

às mãos e

olhava muito

para elas

durante muito

tempo”

Comportamentos

repetitivos ou

estereotipados

“difícil era ir a

um centro

comercial e

tinhamos que

sair

imediatamente

porque ele

chorava

imenso”

Diagnóstico

“fomos ao

neuropediatra”

Sentimentos pós-

diagnóstico

“Era o fim..han

han...é difícil,

acho que não

consigo

transmitir em

palavras

Page 114: O Exercício da Parentalidade em Crianças com Perturbação ... · O Exercício da Parentalidade em Crianças com Perturbação do Espectro do Autismo Dissertação de Mestrado em

114

(choro), é um

sentimento

muito mau!”

Estratégias

usadas para

ultrapassar as

dificuldades

Estratégias

específicas como

forma de

comunicação

“a principal

estratégia com

ele, foi

demonstrar que

o amava

independenteme

nte de ele ser

como era, e a

partir daí

começou a dar

respostas”

Aprendizagem

quotidiana na

partilha e

compreensão de

afetos

“foi aí que

começou a

esforçar-se um

pouco também

pra me dar ...e

demonstrar que

tava tudo bem,

que

independenteme

nte de ele não

conseguir

determinadas

coisas, estava

ali”

Parentalidad

e no

Autismo

O exercício da

Parentalidade

Ser pai/mãe de

criança com PEA

Educação

diferenciada ou

não pela

“Neste

momento...hann.

..(riso e

lágrimas)..o

melhor filho que

podia ter, é o

meu príncipe e

por ele faço

tudo”

“eu não me

acho nem

diferente nem

Page 115: O Exercício da Parentalidade em Crianças com Perturbação ... · O Exercício da Parentalidade em Crianças com Perturbação do Espectro do Autismo Dissertação de Mestrado em

115

existência de

PEA

melhor”

Dificuldades e

benefícios

Principais

preocupações

parentais

Comunicação

com a criança

“a minha

preocupação é o

futuro, não é

que eu esteja

preocupada

directamente

com ele, porque

eu confio muito

nele e sei que

ele consegue, o

que me

preocupa

realmente é o

exterior”

“é cada sorriso,

cada abraço,

foram momentos

de grande

vitória (...)”

Intervenção

e apoio

técnico

Intervenções

técnicas

Evolução

profícua no

desenvolvimen

to da criança

Serviços técnicos

especializados e

intervenção

Sentimentos em

relação a todo o

processo de

intervenção

técnica

“Tive o apoio de

psicologia, da

terapia da fala

(...)”

“aquela emoção

e aquele

sentimento que

continúo a não

conseguir

descrever, é

único! (sorriso)

(...)as minhas

expectativas são

grandes”

Page 116: O Exercício da Parentalidade em Crianças com Perturbação ... · O Exercício da Parentalidade em Crianças com Perturbação do Espectro do Autismo Dissertação de Mestrado em

116

Grelha de Análise de Conteúdo (entrevista 6)

Categoria Subcategoria Unidade de Registo Unidade de

Contexto

Adaptação

do

Diagnóstico

dos pais das

crianças com

PEA

Compreender a

adaptação dos

pais ao

diagnóstico

Percepção da

diferença entre

grupos de

pares(crianças)

Identificação

dessas diferenças

“a forma como

ele reagia,

ficava

mais…mas no

seu mundo à

parte”

“ não brincava

tanto com os

outros meninos”

Comportamentos

repetitivos ou

estereotipados

“ele parecia que

estava a

brincar, mas no

fundo ele não

estava, estava

sozinho”

Diagnóstico

“Centro de

Desenvolviment

o”

Sentimentos pós-

diagnóstico

“Senti-me um

bocadinho,

como é normal,

pronto qualquer

uma mãe gosta

de ter um

filho…quer

dizer, o meu

filho é normal,

não tem uma

deficiência

assim coisa que

(…)”

Page 117: O Exercício da Parentalidade em Crianças com Perturbação ... · O Exercício da Parentalidade em Crianças com Perturbação do Espectro do Autismo Dissertação de Mestrado em

117

Estratégias

usadas para

ultrapassar as

dificuldades

Estratégias

específicas como

forma de

comunicação

“Não.”

Parentalidad

e no

Autismo

O exercício da

Parentalidade

Ser pai/mãe de

criança com PEA

Educação

diferenciada ou

não pela

existência de

PEA

“Acho que sou

uma mãe que faz

dentro do

possível, que

ajuda da melhor

maneira para

que as coisas

corram bem”

“Não, não...”

Dificuldades e

benefícios

Principais

preocupações

parentais

“a parte

emocional dele,

porque ele não

consegue lidar

com a

frustração. Fica

mais frustrado

perante certas

situações e

ele…é mais a

parte emocional

que me

preocupa”

Intervenção

e apoio

técnico

Intervenções

técnicas

Evolução

profícua no

desenvolvimen

to da criança

Serviços técnicos

especializados e

intervenção

Sentimentos em

relação a todo o

processo de

intervenção

técnica

“APPDA”

“acho que ele

está a evoluir,

está a ir bem,

está mais solto”

Page 118: O Exercício da Parentalidade em Crianças com Perturbação ... · O Exercício da Parentalidade em Crianças com Perturbação do Espectro do Autismo Dissertação de Mestrado em

118

Grelha de Análise de Conteúdo (entrevista 7)

Categoria Subcategoria Unidade de Registo Unidade de

Contexto

Adaptação

do

Diagnóstico

dos pais das

crianças com

PEA

Compreender a

adaptação dos

pais ao

diagnóstico

Percepção da

diferença entre

grupos de

pares(crianças)

Identificação

dessas diferenças

“Senti que ela

era diferente

porque ela

começou a

regredir no

trabalho que ela

fazia”

“eu chamava e

ela não fazia

caso, olhava… e

quando eu saía

ela assustava-se

muito com as

luzes e os

barulhos”

Comportamentos

repetitivos ou

estereotipados

“em casa ficava

muito parada.

Eu chamava e

ela não ouvia”

Diagnóstico

“escola que era

especializada,

parecida com o

Centro de

Desenvolviment

o da Criança,

mas diferente,

uma coisa

enorme

(...)equipa

técnica

especializada de

Londres e então

chegaram à

conclusão”

Page 119: O Exercício da Parentalidade em Crianças com Perturbação ... · O Exercício da Parentalidade em Crianças com Perturbação do Espectro do Autismo Dissertação de Mestrado em

119

Sentimentos pós-

diagnóstico

“Chorei…chore

i bastante (… )

Foi muito

difícil”

Estratégias

usadas para

ultrapassar as

dificuldades

Estratégias

específicas como

forma de

comunicação

Aprendizagem

quotidiana na

partilha e

compreensão de

afetos

“Não. Eu falo

com ela em casa

normal. Ela faz

tudo o que eu

mando”

“(...) mas eu

falo, dou-lhe

uma ordem e ela

faz tudo (...)

Num mês de

Verão consegui

tirar-lhe a

fralda. “Era a

minha

preocupação,

que ela não

conseguisse

deixar a fralda”

Parentalidad

e no

Autismo

O exercício da

Parentalidade

Ser pai/mãe de

criança com PEA

Educação

diferenciada ou

não pela

existência de

PEA

“Sou uma

supermãe, forte,

faço o que

posso…Aprendi

muito, tenho

aprendido

muito, é tudo

complicado.”

“Eu falo com

ela como falava

com a mais

velha, a forma

de educar foi a

mesma”

Page 120: O Exercício da Parentalidade em Crianças com Perturbação ... · O Exercício da Parentalidade em Crianças com Perturbação do Espectro do Autismo Dissertação de Mestrado em

120

Dificuldades e

benefícios

Principais

preocupações

parentais

“é o futuro

dela”

Intervenção

e apoio

técnico

Intervenções

técnicas

Evolução

profícua no

desenvolvimen

to da criança

Serviços técnicos

especializados e

intervenção

Sentimentos em

relação a todo o

processo de

intervenção

técnica

“Terapia da

fala…agora já

não tem, à 2

anos que já não

tem. Tem

terapia

ocupacional. No

Centro de

Desenvolviment

o da Criança

teve apoio da

Psicologia, mas

foi durante

pouco tempo.”

“Eu tenho

expectativas de

que ela vá

melhorar

bastante, porque

ela agora já sai

mais, já sabe

esperar mais um

bocado, coisa

que ela não

sabia esperar”

Grelha de Análise de Conteúdo (entrevista 8)

Categoria Subcategoria Unidade de Registo Unidade de

Contexto

Adaptação

do

Diagnóstico

dos pais das

crianças com

PEA

Compreender a

adaptação dos

pais ao

diagnóstico

Percepção da

diferença entre

grupos de

pares(crianças)

Identificação

dessas diferenças

“ela tinha 2

anos

(...)estranhava

muito, chorava

muito”

“não falava,

não se

comunicava,

não olhava para

mim quando

falava”

Page 121: O Exercício da Parentalidade em Crianças com Perturbação ... · O Exercício da Parentalidade em Crianças com Perturbação do Espectro do Autismo Dissertação de Mestrado em

121

Comportamentos

repetitivos ou

estereotipados

“porque ela não

reagia, ela

estranhava

muito, queria

era estar mesmo

só com o pai e

comigo, e em

casa, ela estava

muito bem em

casa…se era

fora de casa já

era

complicado.”

Diagnóstico

Sentimentos pós-

diagnóstico

“depois do

Centro de

Saúde, a

doutora

encaminhou ela

para o Hospital,

fui com a Dr.ª

Cátia e ela disse

que de facto ela

apresenta… ele

é uma criança

com Autismo”

“no exato

momento em

que me falaram

disto, e eu soube

que ela não

estava bem,

pero foi um

choque (...),

sentada na

consulta eu senti

que tinha que

ter força, e tinha

que lutar por

esto, porque ela

era minha filha.

Se eu a

abandonasse, se

Page 122: O Exercício da Parentalidade em Crianças com Perturbação ... · O Exercício da Parentalidade em Crianças com Perturbação do Espectro do Autismo Dissertação de Mestrado em

122

eu caía, e ela

também caía e

não vá

conseguir”

Estratégias

usadas para

ultrapassar as

dificuldades

Estratégias

específicas como

forma de

comunicação

Aprendizagem

quotidiana na

partilha e

compreensão de

afetos

“quando eu vi o

problema… e eu

vi que ela não

comunicava, eu

não sabia como.

Por isso também

é que procurei

ajuda”

“Apesar de ela

ainda tem

aqueles

gestos…eu já

aprendi a amar

esses momentos

da (...)”

Parentalidad

e no

Autismo

O exercício da

Parentalidade

Ser pai/mãe de

criança com PEA

Educação

diferenciada ou

não pela

existência de

PEA

“Tem sido, eu

acho que tem

sido

fundamental,

tenho feito o que

hay aprendido,

porque sou…ser

mãe é aprender

e más quando te

encontras com

este tipo de

situações que

não…”

“cada pai é à

sua maneira”

Page 123: O Exercício da Parentalidade em Crianças com Perturbação ... · O Exercício da Parentalidade em Crianças com Perturbação do Espectro do Autismo Dissertação de Mestrado em

123

Dificuldades e

benefícios

Principais

preocupações

parentais

Comunicação

com a criança

“preocupo-me

com o dia de

amanhã, que eu

não esteja. Eu

trato de fazer,

eu estou a

educar a (...)

para que ela

seja

independente”

“Hay coisas que

trato de explicar

mais vezes. Ela

é muito

inteligente, ela

capta muito as

coisas. Quando

ela não capta à

primeira, tento

arranjar outra

maneira para

explicar”

Intervenção

e apoio

técnico

Intervenções

técnicas

Evolução

profícua no

desenvolvimen

to da criança

Serviços técnicos

especializados e

intervenção

Sentimentos em

relação a todo o

processo de

intervenção

técnica

“terapia da fala

e ocupacional”

“me sinto muito

orgulhosa de mi

filha. Mi sinto

feliz, apesar de

que não sei

ainda…este é

um processo

bastante…pero

pelo facto

de…me sinto

feliz, me sinto

orgulhosa de

ella, me sinto

orgulhosa de

mim própria, de

saber que

consigo”

Page 124: O Exercício da Parentalidade em Crianças com Perturbação ... · O Exercício da Parentalidade em Crianças com Perturbação do Espectro do Autismo Dissertação de Mestrado em

124

Grelha de Análise de Conteúdo (entrevista 9)

Categoria Subcategoria Unidade de Registo Unidade de

Contexto

Adaptação

do

Diagnóstico

dos pais das

crianças com

PEA

Compreender a

adaptação dos

pais ao

diagnóstico

Percepção da

diferença entre

grupos de

pares(crianças)

Identificação

dessas diferenças

“Foi na escola,

disseram que ele

recusava-se a

brincar mais

com os meninos,

brincava

sozinho”

“depois de elas

terem falado

que ele brincava

muito isolado,

sozinho, já se

apercebia”

Comportamentos

repetitivos ou

estereotipados

“aí eu já

comecei a

perceber que

não fazia

grupinhos, não

ia com aquelas

crianças”

Diagnóstico

“Centro de

Desenvolviment

o”

Sentimentos pós-

diagnóstico

“Eu senti-me

esperançosa,

porque eu senti

que não era

aquele autismo

assim que fosse

muito grave”

Page 125: O Exercício da Parentalidade em Crianças com Perturbação ... · O Exercício da Parentalidade em Crianças com Perturbação do Espectro do Autismo Dissertação de Mestrado em

125

Estratégias

usadas para

ultrapassar as

dificuldades

Estratégias

específicas como

forma de

comunicação

Aprendizagem

quotidiana na

partilha e

compreensão de

afetos

“Não. A

maneira como

eu falo coma

irmã tento falar

com ele, para

ele não se sentir

diferente.(...) ele

fala, embora

não seja . a irmã

vai lá e corrige.

Ela ajuda

bastante”

“Sinto que ele

está se

desenvolvendo e

está a fazendo já

conversas

completas, isso

acho bastante

bom, positivo”

Parentalidad

e no

Autismo

O exercício da

Parentalidade

Ser pai/mãe de

criança com PEA

Educação

diferenciada ou

não pela

existência de

PEA

“tento fazer o

melhor que

posso, embora

às vezes tenha

que meter mais

regras, mas faço

o melhor que

posso”

“Acho que

não…acho que

não.

Pronto…quando

ele faz asneira

leva castigo,

depois quando

não faz,

olha…recebe

um

agradecimento”

Dificuldades e

benefícios

Principais

preocupações

parentais

“Neste momento

é a saúde dele,

por exemplo,

ultimamente ele

tem tido muitas

febres e isso

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126

preocupa-me

bastante. Mas

em relação a

conviver,

isso…eu acho

que ele está

chegando lá, ele

está a chegar”

Intervenção

e apoio

técnico

Intervenções

técnicas

Evolução

profícua no

desenvolvimen

to da criança

Serviços técnicos

especializados e

intervenção

Sentimentos em

relação a todo o

processo de

intervenção

técnica

“Ele tem a

escola, tem o

centro de

desenvolviment

o que é a

terapeuta, a

educadora

Goreti e acho

que ele está bem

encaminhado”

“Há

evolução…há.

Puxam bastante

por ele, acho

que há bastante

desenvolvimento

. Ele até gosta.

Ele até gosta de

ir lá.”

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Grelha de Análise de Conteúdo (entrevista 10)

Categoria Subcategoria Unidade de Registo Unidade de

Contexto

Adaptação

do

Diagnóstico

dos pais das

crianças com

PEA

Compreender a

adaptação dos

pais ao

diagnóstico

Percepção da

diferença entre

grupos de

pares(crianças)

Identificação

dessas diferenças

“Mais

precisamente

aos 18 meses”

“Eu vi que os

sinais eram

mais fortes. Aos

18 meses eles já

andam, já”

Comportamentos

repetitivos ou

estereotipados

“Deixou de

gatinhar, deixou

de se sentar,

deixou de sorrir,

deixou de fazer

praticamente

tudo o que ele já

fazia”

Diagnóstico

“Depois foi

então que eu

soube que o Dr.

Nuno Lobo

Antunes vinha à

Madeira, (...)Ele

assim que olhou

para o meu

filho, ainda não

tínhamos

entrado na

consulta já ele

disse que ele

tinha

características

de autismo.”

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Sentimentos pós-

diagnóstico

“Não é fácil,

acho que não é

fácil para

qualquer mãe

ou pai. Há

doenças piores,

é verdade. Mas

claro não é

fácil.”

Estratégias

usadas para

ultrapassar as

dificuldades

Estratégias

específicas como

forma de

comunicação

Aprendizagem

quotidiana na

partilha e

compreensão de

afetos

“Eu costumo ver

muito no

youtube o

programa son-

rise, na

América. Foi

indicado por

uma mãe (...) e

ela disse-me que

era muito boa,

uma maneira de

comunicar com

eles”

“Quando ele

deixou a fralda,

quando deu o

primeiro beijo,

quando deu o

primeiro abraço

e o primeiro

sorriso”

Parentalidad

e no

Autismo

O exercício da

Parentalidade

Ser pai/mãe de

criança com PEA

“Às vezes acho

que me falta a

paciência.

Porque tenho 3

filhos, um com

dois anos, o

Ruben com

quatro e o mais

velho tem sete.

São idades que

não é muito fácil

lidar sozinha,

porque eu não

tenho ajuda de

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Educação

diferenciada ou

não pela

existência de

PEA

ninguém”

“No meu caso o

meu filho, por

exemplo, não

gosta de estar

fechado, ele

gosta muito de

sair. Eu sempre

saio com ele

para os

supermercados,

para os centros

comerciais, eu

nunca escondia

o meu filho do

mundo como

certos pais

fazem, põem

eles em casa

porque quando

eles saem

gritam como são

os autistas, não

é?!”

Dificuldades e

benefícios

Principais

preocupações

parentais

“No momento a

minha

preocupação é o

futuro, o futuro

dele, porque nós

não somos

eternos,

infelizmente”

Intervenção

e apoio

técnico

Intervenções

técnicas

Evolução

profícua no

desenvolvimen

to da criança

Serviços técnicos

especializados e

intervenção

Sentimentos em

relação a todo o

processo de

intervenção

técnica

“Ele tem terapia

ocupacional,

terapia da fala,

acompanhament

o médico e uma

vez por semana

vai com uma

psicóloga”

“Eu desejo que

ele consiga ter

uma vida

normal como

toda a gente, e

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que consiga ser

desenrascado,

entre aspas,

sozinho sem

depender de

ninguém. (...)

Que ele seja

autónomo e

feliz”