motivação para a prática desportiva dos alunos - artigo cientifico

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MOTIVAÇÃO PARA A PRÁTICA DESPORTIVA DOS ALUNOS DA ESCOLA BÁSICA E SECUNDÁRIA DE CELORICO DE BASTO CARVALHO, Carmen; MENDES, Filipe; OLIVEIRA, Liliana. (UTAD; Escola Básica e Secundária de Celorico de Basto) RESUMO A realização deste estudo teve como objetivo investigar as motivações que conduzem os jovens à prática desportiva. A amostra foi constituída por alunos de ambos os sexos, da Escola Básica e Secundária de Celorico de Basto, onde participaram 143 inquiridos todos eles praticantes de atividades desportivas. O instrumento aplicado foi o Questionário de Motivação para as Atividades Desportivas QMAD versão traduzida e adaptada de Serpa & Frias, (1992) da versão original Participation Motivation Questioner PMQ (Gill et al., 1983). Os resultados obtidos demonstram como motivos mais importantes para a prática “melhorar as capacidades técnicas”, “divertimento”, “estar em boa condição física” e “manter a forma”. Os menos importantes compreendem “influência da família ou outros familiares”, “pretexto para sair de casa”, “ser conhecido” e “ter a sensação de ser importante”. As análises comparativas indicam que as variáveis independentes afetam os jovens na prática desportiva. Palavras - chave: Motivação, prática desportiva, escola ABSTRACT The purpose of this study was investigating the motivations that take young people to sport. The sample consisted of students of both sexes, the Primary and Secondary School in Celorico de Basto, attended by all 143 participants practicing sports activities. The instrument used was the Motivation Questionnaire for Sports Activities - QMAD translated and adapted version of Serpa & Frias, (1992) original version of the Participation Motivation Questioner - PMQ (Gill et al., 1983). The results revealed how the most important reasons for the practice "to improve the technical capabilities," "fun", "be in good physical condition" and "keep fit". The least important being "the influence of family or other relatives," "excuse to leave home," "be known" and "have a sense of being important."

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Page 1: Motivação para a prática desportiva dos alunos - Artigo Cientifico

MOTIVAÇÃO PARA A PRÁTICA DESPORTIVA DOS

ALUNOS DA ESCOLA BÁSICA E SECUNDÁRIA DE

CELORICO DE BASTO

CARVALHO, Carmen; MENDES, Filipe; OLIVEIRA, Liliana.

(UTAD; Escola Básica e Secundária de Celorico de Basto)

RESUMO

A realização deste estudo teve como objetivo investigar as

motivações que conduzem os jovens à prática desportiva. A amostra

foi constituída por alunos de ambos os sexos, da Escola Básica e

Secundária de Celorico de Basto, onde participaram 143 inquiridos

todos eles praticantes de atividades desportivas. O instrumento

aplicado foi o Questionário de Motivação para as Atividades

Desportivas – QMAD versão traduzida e adaptada de Serpa & Frias,

(1992) da versão original Participation Motivation Questioner – PMQ

(Gill et al., 1983). Os resultados obtidos demonstram como motivos

mais importantes para a prática “melhorar as capacidades técnicas”,

“divertimento”, “estar em boa condição física” e “manter a forma”. Os

menos importantes compreendem “influência da família ou outros

familiares”, “pretexto para sair de casa”, “ser conhecido” e “ter a

sensação de ser importante”. As análises comparativas indicam que as

variáveis independentes afetam os jovens na prática desportiva.

Palavras - chave: Motivação, prática desportiva, escola

ABSTRACT

The purpose of this study was investigating the motivations

that take young people to sport. The sample consisted of students of

both sexes, the Primary and Secondary School in Celorico de Basto,

attended by all 143 participants practicing sports activities. The

instrument used was the Motivation Questionnaire for Sports

Activities - QMAD translated and adapted version of Serpa & Frias,

(1992) original version of the Participation Motivation Questioner -

PMQ (Gill et al., 1983). The results revealed how the most important

reasons for the practice "to improve the technical capabilities," "fun",

"be in good physical condition" and "keep fit". The least important

being "the influence of family or other relatives," "excuse to leave

home," "be known" and "have a sense of being important."

Page 2: Motivação para a prática desportiva dos alunos - Artigo Cientifico

Comparative analyzes indicate that the independent variables affect

youth in sports.

Key words: Motivation, sports, school

INTRODUÇÃO

A atividade física tem sofrido algumas transformações ao

longo do tempo, e se um dia foi utilizada pelo ser humano como um

instrumento para caçar, atualmente adquire um papel crucial na

cultura e na educação da sociedade.

Este fenómeno social desencadeou uma atenção especial por

parte dos investigadores e vários têm sido os estudos científicos que

demonstram a pertinência da atividade física tanto na prevenção de

doenças como na promoção da saúde e na melhoria da qualidade de

vida das pessoas (Mouratidis & Michou, 2011; Aaltonen et al., 2012;

Moreno et al., 2012). Contudo e apesar dos conhecimentos adquiridos

acerca dos beneficios da atividade fisica, ainda são elevados os

números de sedentários na nossa sociedade. Estes dados têm sido alvo

de enúmeras preocupações dos profissionais do desporto para tentar

compreender as motivações e os motivos que levam as pessoas à

prática de atividade física e à prática do desporto (Patherick &

Weingand, 2002) e consequente maximização na adesão dos

adolescentes à prática das mesmas. (Allen, 2003; Moreno et al., 2012).

A motivação e os motivos não são lineares nem têm o mesmo

significado. Motivação tem como origem etimológica o verbo latim

“movere” que surge como uma força interna ou externa que nos leva a

desenvolver uma determinada ação. A intensidade desta ação irá

variar de pessoa para pessoa.

Motivo, surge do latim “motivum” que significa “uma causa

que põe em movimento” estando relacionados com os impulsos do ser

humano relativamente a uma tarefa. (Buonamano et al., 1995;

Weinberg et al., 2000).

Estudos recentes têm vindo a generalizar a área da motivação

como uma componente que não se rege apenas por forças internas mas

que depende também de fatores externos ao indivíduo nomeadamente

no contexto social e cultural onde este se encontra inserido. (Vallerand

& Losier, 1999; Gagne & Deci, 2005).

Segundo vários autores como Linnenbrink & Pintrich, (2002),

vários fatores podem afetar e até mesmo alterar as motivações dos

alunos perante uma determinada tarefa destacando-se como por

Page 3: Motivação para a prática desportiva dos alunos - Artigo Cientifico

exemplo: organização do sistema educativo, as aspirações dos pais e

professores, o ambiente escolar e as perspetivas e ambições

individuais de cada aluno.

Assim sendo, podemos definir duas orientações motivacionais:

a intrínseca e a extrínseca, visto que o individuo não se encontra

isolado do meio, mas sim em constante simbiose com o mesmo.

Desta forma a motivação intrínseca relaciona-se com

atividades realizadas pelo ser humano e lhe conferem um elevado grau

de prazer e satisfação, definindo-se na busca pela aventura, pelo

desafio onde a recompensa que extrai dessa ação é a satisfação do

modo de explorar essa tarefa.

Este tipo de motivação pode ser identificado por exemplo na

persistência do aluno na aquisição de um determinado conhecimento

bem como o empenho e a dedicação que este disponibiliza nas tarefas

que lhe são propostas. (Ryan & Deci, 2000a; Ryan & Deci, 2000b).

Segundo Briere et al., (1995), a motivação intrínseca pode ser

subdividida em três categorias: para saber, para realizar e para

experiência. A motivação “para saber”, está relacionada com a

satisfação de uma necessidade, enquanto a motivação “para realizar”

está relacionada com o prazer de executar alguma atividade. Por

último temos a motivação para a experiência, que ocorre quando o

indivíduo realiza uma atividade para experienciar as situações

estimulantes a ela inerentes. (Vallerand & Losier, 1999).

Por outro lado, temos a motivação extrínseca que se encontra

relacionada com a recompensa que o ser humano adquire da atividade

a que se propõe executar, e que não considera inerente à própria

pessoa. (Ryan & Deci, 2000).

Para Mouratidis & Michou, (2011) podemos também

caracterizar a motivação extrínseca em categorias de acordo com o

grau de autonomia: Motivação de regulação externa quando o

comportamento humano é regulado por premiações materiais ou então

consequências negativas. Motivação de regulação interiorizada

quando o comportamento tem uma fonte inicial externa e é

interiorizada, por exemplo o sentimento de culpa ou a necessidade de

pertencer a um grupo; por último a motivação de regulação

identificada quando alguma atividade é realizada na qual não tem

opção de escolha, uma atividade importante de ser realizada mesmo

que não lhe seja interessante.

Os primeiros estudos nesta temática foram de Gill et al., (1983)

destacando-se como um dos estudos mais relevantes. Neste estudo foi

desenvolvido um questionário designado por “Participacion

Page 4: Motivação para a prática desportiva dos alunos - Artigo Cientifico

Motivation Questionnaire”, onde os resultados mostraram que os

motivos mais importantes para a participação desportiva foram

melhorar as competências, divertimento, aprender novas

competências, desafio e ser fisicamente saudável. Paralelamente à

análise destas respostas permitiu identificar várias dimensões da

motivação para a participação desportiva: realização/estatuto,

orientação para a equipa, saúde física, descarga de energias, fatores

situacionais, desenvolvimento de competências, amizade e

divertimento.

Na década de 90, Buonamano et al., (1995) efetuaram um

estudo sobre a motivação para a participação desportiva em jovens

italianos através do questionário de motivação de participação de Gill

et al., (1983). Este estudo foi realizado com o intuito de verificar se

um país latino com uma cultura desportiva diferente dos países de

língua inglesa apresentavam os mesmos fatores motivacionais. Na

análise das respostas identificaram-se como motivos mais importantes

o divertimento, saúde física, amizade e competição.

Recentemente, estudos realizados nesta área têm demonstrado

que as crianças realizam atividades físicas por enumeras razões sendo

as mais significativas: desenvolvimento da técnica; demonstração de

competências; exercitação; desafio e o divertimento (Yli-Piipari et al.,

2009).

Veigas et al., (2009) constataram que os motivos mais

importantes para a prática da atividades física são: estar em boa

condição física; atingir um nível desportivo mais elevado e manter a

forma física. Os mesmos autores também referenciaram os fatores: ser

conhecido; a sensação de ser importante e pretexto para sair de casa

como os motivos menos importantes referidos pelas crianças para a

prática de atividade física.

Obter informações mais detalhadas relativamente às

motivações dos alunos irá permitir ao professor orientar as suas aulas,

aperfeiçoando as oportunidades de aprendizagem de forma mais

adequadas, tendo em conta as características e especificidades dos

alunos e do meio.

Sendo a educação física um conceito vinculado na formação

integral e permanente do aluno, este trabalho tem como objetivo

conhecer e identificar as motivações para a prática da atividade física

nos alunos do ensino Básico e Secundário da Escola de Celorico de

Basto.

Page 5: Motivação para a prática desportiva dos alunos - Artigo Cientifico

METODOLOGIA

Amostra

A amostra deste estudo é de conveniência, tendo os

participantes sido selecionados de acordo com a sua prática de

atividade física, obtendo na Escola Básica e Secundária de Celorico de

Basto, um total de 143 alunos, sendo todos eles praticantes de alguma

modalidade.

Para o presente estudo, esta investigação envolveu 61 alunos

do sexo masculino (42,7%) e 82 elementos do sexo feminino (57,3%)

com idades compreendidas entre os 10 e 19 anos de idade (13,8±2,26).

Relativamente ao ciclo de escolaridade, no 2º ciclo obtivemos 40

participantes (28%), no 3º ciclo 52 participantes (36,4%) e no

secundário 51 (35,7%).

Quadro 1: Caracterização da amostra dos Praticantes de Atividade Física (n=143)

VARIÁVEIS INDEPENDENTES n %

Sexo Masculino 61 42,7

Feminino 82 57,3

Ciclo de Escolaridade 2º Ciclo 40 28,0

3º Ciclo 52 36,4

Secundário 51 35,7

Instrumentos

Neste estudo utilizou-se o QMAD (Questionário de Motivação

para as Atividades Desportivas), com o objetivo de avaliar os motivos

que levam os alunos à prática desportiva.

O QMAD foi traduzido e adaptado do Participation Motivation

Questioner – PMQ (Gill et al., 1983) traduzido e adaptado por Serpa

& Frias, (1991) e utilizado por Ávila & Vasconcelos Raposo, (1999).

O instrumento foi formado por 30 itens, e agrupado em 8 fatores sendo

o fator 1- Estatuto (motivos que se relacionam com a tentativa de

aquisição ou manutenção de um estatuto perante os outros. Itens: 5,

14,19, 21, 25 e 28); fator 2- Emoções (motivos que envolvem, de

algum modo, a vivência de emoções. Itens: 4, 7, 13); fator 3- Prazer

(constituído pelos motivos que se relacionam com a experimentação

Page 6: Motivação para a prática desportiva dos alunos - Artigo Cientifico

de prazer. Itens: 16, 29 e 30.); fator 4- Competição (constituído pelos

motivos que envolvem competição. Itens: 3, 12, 20 e 26.); fator 5-

Forma física (motivos relacionados com a tentativa de aquisição ou

manutenção de uma boa condição ou forma física. Itens: 6, 15, 17 e

24.); fator 6- Desenvolvimento técnico (motivos que se relacionam

com a tentativa de melhoria do nível técnico atual. Itens: 1, 10 e 23);

fator 7- Afiliação geral (constituído pelos motivos que envolvem, de

uma forma geral, o relacionamento com outras pessoas. Itens: 2, 11 e

22) e fator 8- Afiliação específica (motivos relacionados com as

relações geradas no âmbito da equipa. Itens: 8, 9, 18 e 27). Este

instrumento é precedido pela seguinte expressão “As pessoas praticam

atividades desportivas para…”. E as respostas são dadas numa escala

de tipo de Likert, representando o 1- “nada importante”, 2- “pouco

importante”, 3- “importante”, 4- “muito importante”, 5- “totalmente

importante”.

Para a avaliação da consistência interna, foi utilizado o alfa de

Cronbach em cada um dos fatores que indica uma razoável

consistência interna variando entre 0,60 e 0,84.

Quadro 2: Análise descritiva das variáveis dependentes (QMAD)

QMAD

Média Desvio

Padrão Skewness Kurtosis α

Estatuto 3,25 1,04325 -,298 -,673 , 84

Emoções 3,83 ,77910 -,224 -,665 , 74

Prazer 4,02 ,73561 -,522 -,447 , 81

Competição 3,83 ,70351 -,149 -,101 , 83

Forma Física 4,33 ,56211 -,876 ,763 , 60

Desenvolvimento

Técnico 4,45 ,60824 -1,198 1,141 , 80

Afiliação Geral 4,16 ,75459 -,753 -,172 , 75

Afiliação

Específica 3,68 ,68972 -,463 ,453 , 66

Observando o quadro anterior, que reporta a análise descritiva

da amostra em causa, confirmamos estar perante uma distribuição

normal, uma vez que os valores de Skewness (assimetria) e Kurtosis

(achatamento) do QMAD encontram-se dentro do intervalo

considerado para uma distribuição normal] -1.1 [, exceto em um fator

que se encontra ligeiramente acima do intervalo, porém tendo em

conta a proporção reduzida da nossa amostra os dados foram

estudados como seguindo uma distribuição normal.

Page 7: Motivação para a prática desportiva dos alunos - Artigo Cientifico

Procedimentos

Antes da entrega dos questionários aos alunos fora realizada

uma informação inicial dos propósitos da investigação e a obtenção do

consentimento informado por parte dos indivíduos. Foi aplicado o

QMAD (Serpa & Frias, 1991), sendo os alunos alertados para a

realização de uma leitura das instruções de preenchimento dos

questionários, foi também reforçada a ideia de que não existem

respostas certas nem erradas e que as respostas seriam mantidas como

confidenciais. Por outro lado, foram fornecidas as devidas instruções

de preenchimento e os esclarecimentos de eventuais dúvidas, de forma

a evitar reservas por parte dos inquiridos. Na primeira parte do

questionário foram também recolhidos alguns dados

sociodemográficos: sexo, idade, local de residência e ano de

escolaridade.

Salvo algumas dúvidas nas respostas, meramente pontuais, o

preenchimento do inquérito decorreu com normalidade, não se

registando grandes dificuldades

Após a inserção dos dados recolhidos numa matriz do SPSS

v.20 para Windows, procedeu-se a um conjunto de análises

estatísticas. Inicialmente, realizaram-se análises descritivas

(frequências, média, desvio-padrão, assimetria e achatamento) e de

consistência interna das escalas. Posteriormente, na análise

comparativa dos instrumentos utilizados em função da variável

independente sexo, foi utilizado o t-test para as comparações entre

médias; a análise de variância (ANOVA) para comparações entre

fatores no caso da variável ciclos de escolaridade e o teste F de

Scheffé.

APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Através da análise descritiva dos dados o quadro 3 apresenta-

nos o valor médio das respostas a cada um dos 30 itens e de acordo

com a escala de importância do QMAD, os valores 4 e 5 reproduzem

motivos muito ou totalmente importantes. Da mesma forma, os

valores inferiores a 3 indicam-nos motivos pouco ou nada importante.

Assim, e em concordância com o quadro 3, os inquiridos indicaram

como principais motivos para a prática desportiva, “melhorar as

capacidades técnicas”, “divertimento”, “manter a forma”, “estar em

boa condição física”

Page 8: Motivação para a prática desportiva dos alunos - Artigo Cientifico

Como menos importantes os inquiridos apontaram “pretexto

para sair de casa”, “influência da família ou de outros amigos” e “ser

conhecido”.

Quadro 3 – Análise descritiva em função dos itens do QMAD

QMAD n Média

Desvio

Padrão

1. Melhorar as capacidades técnicas 143 4,6084 ,61707

2. Estar com os amigos 143 4,1119 1,00775

3. Ganhar 143 3,3357 1,16246

4. Descarregar energias 143 3,5455 1,13663

5. Viajar 143 3,8322 1,21601

6. Manter a forma 143 4,4056 ,91342

7. Ter emoções fortes 143 4,0070 ,92307

8. Trabalhar em equipa 143 4,2657 ,86359

9. Influência da família ou de outros amigos 143 2,9930 1,25875

10. Aprender novas técnicas 143 4,4825 ,78591

11. Fazer novas amizades 143 4,3497 ,94391

12. Fazer alguma coisa em que se é bom 143 4,3846 ,75920

13. Libertar tensão 143 3,9441 1,03988

14. Receber prémios 143 3,3986 1,33817

15. Fazer exercício 143 4,2028 ,93115

16. Ter alguma coisa para fazer 143 3,7622 1,11303

17. Ter ação 143 4,1678 ,87199

18. Espírito de equipa 143 4,2517 ,97481

19. Pretexto para sair de casa 143 2,7692 1,30919

20. Entrar em competição 143 3,4406 1,27612

21. Ter a sensação de ser importante 143 3,1958 1,36999

22. Pertencer a um grupo 143 4,0210 1,01029

23. Atingir um nível desportivo mais elevado 143 4,2657 ,92653

24. Estar em boa condição física 143 4,5594 ,84439

25. Ser conhecido 143 3,1259 1,34723

26. Ultrapassar desafios 143 4,1469 ,96384

27. Influências dos treinadores 143 3,2098 1,26075

28. Ser reconhecido e ter prestígio 143 3,1818 1,35645

29. Divertimento 143 4,5664 ,75582

30. Prazer na utilização das instalações e material desportivo 143 3,7273 1,12702

Pode-se constatar que os fatores mais importantes do nosso

estudo, são muitas vezes apontados na literatura como principais

motivos dos jovens à prática desportiva. A bibliografia evidencia

vários motivos para a prática desportiva, contudo, alguns surgem

frequentemente referidos como os mais importantes. É o caso da

melhoria das capacidades técnicas, divertimento, vencer e

desenvolver/manter a forma física. No que se refere aos menos

importantes também eles são frequentemente referidos como é o caso

Page 9: Motivação para a prática desportiva dos alunos - Artigo Cientifico

da influência da família ou amigos e ser conhecido (Gill et al., 1983;

Buonamano, Cei, & Mussino, 1995; Veigas et al., 2009).

Em suma, podemos então referir que os motivos internos são

os que mais contribuem para a prática desportiva dos jovens.

Da análise do quadro 4 constata-se que existem diferenças

estatisticamente significativas em 2 dos 8 fatores. Assim os rapazes

dão mais importância que as raparigas aos fatores “forma física” e

“desenvolvimento técnico”.

Quadro 4: Análise comparativa da variável dependente (QMAD) em função do sexo

QMAD Rapazes Raparigas

t p

(n=61) (n=82)

M±DP M±DP

Estatuto 3,36 ± 1,16 3,17 ± 0,94 1,089 ,28

Emoções 3,85 ± 0,87 3,82 ± 0,70 ,268 ,79

Prazer 4,05 ± 0,81 3,99 ± 0,67 ,503 ,61

Competição 3,95 ± 0,77 3,74 ± 0,63 1,769 ,08

Forma Física 4,45 ± 0,60 4,25 ± 0,51 2,173 ,03*

Desenvolvimento Técnico 4,59 ± 0,55 4,35 ± 0,62 2,377 ,02*

Afiliação Geral 4,07 ± 0,84 4,23 ± 0,67 -1,305 ,19

Afiliação Específica 3,64 ± 0,75 3,71 ± 0,63 -,546 ,59 *p<0,05 **<0,01, ***<0,001

Indo ao encontro da bibliografia (Weinberg et al., 2000; Jones

et al., 2006) alguns estudos indicam que a variável competição é mais

importante para os rapazes do que para as raparigas. No nosso estudo

isso também se observa, no entanto, esta não é estatisticamente

significativa. As variáveis “forma física” e “desenvolvimento técnico”

tendem a ter mais importância no sexo masculino do que no sexo

feminino como é referido por Pelletier et al., (1995) e por Recours et

al., (2004) que dizem que as raparigas referiam mais aspetos ligados à

motivação intrínseca e menos em relação à motivação extrínseca, do

que os rapazes, ou seja, as raparigas estariam mais direcionadas para

os motivos sociais do que os rapazes, e estes estavam mais orientados

para motivos extrínsecos como a “competição” e a “forma física”.

No quadro 5 faz-se uma comparação entre os vários grupos,

(ciclos de escolaridade), de acordo com os 8 fatores identificados,

segundo uma análise de variância (ANOVA), complementada com um

Page 10: Motivação para a prática desportiva dos alunos - Artigo Cientifico

teste F de Scheffé, para verificar entre que grupos se observam essas

diferenças.

De acordo com o quadro 5, vemos que há diferenças

estaticamente significativas em 5 dos 8 fatores. Assim os alunos do 2º

ciclo dão maior importância que os alunos do Secundário aos fatores

“estatuto”, “prazer”, “afiliação geral” e “afiliação específica”, bem

como, maior importância do que os de 3º ciclo ao fator

“desenvolvimento técnico”.

Quadro 5: Análise comparativa da variável dependente (QMAD) em função dos ciclos

de escolaridade

QMAD 2º Ciclo 3º Ciclo Secundário

F p Comparação intergrupo

(n=40) (n=52) (n=51)

M±DP M±DP M±DP

Estatuto 3,73 ± 0,93 3,49 ± 0,86 2,62 ± 0,99 18,84 ,000*** 2>Sec.

Emoções 4,00 ± 0,77 3,79 ± 0,75 3,73 ± 0,79 1,36 ,259

Prazer 4,29 ± 0,72 4,18 ± 0,64 3,63 ± 0,67 12,93 ,000*** 2>Sec.

Competição 4,01 ± 0,64 3,90 ± 0,73 3,60 ± 0,67 4,50 ,013

Forma Física 4,48 ± 0,46 4,30 ± 0,56 4,24 ± 0,61 2,30 ,104

Desenvolvimento Técnico

4,73 ± 0,38 4,33 ± 0,70 4,35 ± 0,58 6,40 ,002** 2<3

Afiliação Geral 4,55 ± 0,60 4,18 ± 0,67 3,83 ± 0,80 11,81 ,000*** 2>Sec.

Afiliação Específica 4,01 ± 0,59 3,70 ± 0,72 3,39 ± 0,60 10,54 ,000*** 2>Sec.

*p<0,05 **<0,01, ***<0,001

Relativamente aos resultados desta variável, esta não vai ao

encontro da literatura no que se refere aos fatores mais importantes,

tendo em conta que estes referem que os alunos do secundário

atribuem maior importância à realização/ estatuto relativamente aos

alunos do ensino básico. (Veigas et al., 2009). Aquilo que ocorre é que

os alunos do ensino básico dão mais importância do que os do

secundário aos fatores estatuto, prazer, desenvolvimento técnico,

afiliação geral e específica. Isso poderá dever-se ao facto dos jovens

do 2º ciclo, sendo eles muito novos acharem todos os fatores muito

importantes na prática desportiva. Em contrapartida os alunos do

secundário, com maior maturidade são capazes de filtrar aquilo que

mais os cativa na prática desportiva.

Page 11: Motivação para a prática desportiva dos alunos - Artigo Cientifico

CONCLUSÕES

Os resultados do nosso estudo coincidem com a literatura,

podendo então concluir que os jovens envolvem-se na prática regular

de atividades desportivas devido a motivos intrínsecos. Dentro desses

motivos, nos rapazes, salienta-se: estar em forma física ou

desenvolver a técnica e as suas capacidades. As raparigas são mais

orientadas para aspetos sociais como pertencer a um grupo e as

relações de amizade. Estes comportamentos podem dever-se à nossa

sociedade, à nossa cultura e à forma como esta se encontra

organizada, pois desde cedo os rapazes são incentivados a competir

entre eles e a elevarem as suas capacidades físicas e técnicas. Em

contrapartida, as raparigas são orientadas para a autoimagem, que elas

têm de elas próprias, sendo estimuladas a interagir com amigas e a não

se dedicar a atividades físicas de forma tão evidente.

No que diz respeito aos anos de escolaridade, os resultados do

nosso estudo contrariam a literatura, pois este revelou que os alunos

do ensino básico indicam que todos os fatores são muito importantes,

contrariando os alunos do secundário que possuindo outra maturidade,

conseguem catalogar os motivos mais importantes para a prática

desportiva.

Os motivos que levam as pessoas à prática desportiva na nossa

sociedade têm um cariz de grande importância, pois segundo a

Organização Mundial de Saúde, os benefícios da prática de atividade

física são evidentes e já estão comprovados a nível internacional, pelo

que saber o que cativa ou afasta as pessoas é de uma grande

relevância.

Estando a educação física integrada na nossa comunidade e

sendo o ponto de partida na maior parte dos jovens nas suas atividades

desportivas, esta tem um maior interesse, pois irá contribuir para que

os indivíduos no futuro estejam ou não ligados à atividade física.

Para a prática do desporto é então indispensável investir não só

em infraestruturas apropridas para os jovens, mas sobretudo na

educação e formação dos profissionais ligados a esta área através de

boas práticas educativas, fazendo com que os jovens adiram ao

desporto, como uma prática regular de saúde.

Page 12: Motivação para a prática desportiva dos alunos - Artigo Cientifico

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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