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  • 7/21/2019 Monografia Juliana Falco

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    que nunca se apagaH UMA LMPIDA

    JULIANA DANTAS BOTELHO FALCO

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    H UMA LMPIDAQUE NUNCA SE APAGAAdoniran Barbosa, The Smiths e Autoconhecimento.

    Projeto Experimental apresentado como requisito parcialpara a obteno do ttulo Bacharel em Moda.

    rea: Estilismo;Segmento: Moda Feminina Contempornea

    Orientadoras: Professora Simone Mina& Professora Slvia Regina Brando.

    minha me Dalva e avs Margarida e Binota.

    And if a ten ton truckKills the both of usTo die by your side

    Well, the pleasure and the privilege is mine.

    Obrigada por tudo, amo vocs.

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    agradecimentos

    Agradeo primeiramente a Deus, pelasanidade mental, emocional e espiritual.

    Agradeo a meus pais, familiares, amigas-quase-irms (Vilma, Thas, Cntia...) e aminhas queridas amigas desde a poca

    de colgio, Julia Maol, Julia Brasileiroe Jssica... Obrigada pelos conselhos eapoio.

    Todos foram essenciais para quecontinuasse a trilhar e a encerrar comcoragem essa etapa, e sou abenoadapor t-los em minha vida.

    Agradeo s queridas Professoras Astrid(pelo seu estmulo), Walquria (pela suaexigncia), Slvia (pela sua compreenso),Simone (pela sua sensibilidade) e Renata(pelo seu profissionalismo) que, desde

    o primeiro ano, me deram puxes deorelha necessrios, me incentivaram

    quando preciso e, acima de tudo,me ajudaram a abrir meus olhos, aamadurecer minha percepo de Modae de mundo.

    Sou tambm grata ao Professor FeresKhoury por suas aulas de Desenho.Sua franqueza e extroverso em salame ajudaram a libertar meu trao, me

    encontrar em meio a gizes pastel e lpisde cor. Descobrir que eu conseguiadesenhar e, alm disso, que tinha meuprprio trao foi essencial para meudesenvolvimento acadmico.

    Agradeo tambm Isadora Martinez,Alexia Panella e Marina Duarte,verdadeiras amigas e companheiras detrabalhos. Choramos, rimos, comemos(muito) juntas, discutimos (muitas) ideias,teorias, Arte, Fotografia, Cinema, Moda,

    Msica (inclusive Smiths e Moz, demais!Obrigada, Lex!)... O estmulo e influncia

    que vocs me proporcionaram tambmme ajudaram a chegar at aqui.

    Conhecer a todos vocs fez valer minhaexperincia nesses ltimos quatro anos.

    Mais uma vez,

    obrigada.

    A msica a nica entrada incorprea para o mundo maiselevado do conhecimento que compreende a raa humana,

    mas que a raa humana no consegue compreender

    Ludwig van Beethoven

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    resumo abstract

    O Projeto Experimental e Coleoexploraram como algumas relaesentre a obra e vida dos contemporneosAdoniran Barbosa, cantor paulistano,e a banda inglesa The Smiths, maisespecificamente de seus fundadores

    Johnny Marr e Steven Morrissey, podemser traduzidos em imagem e produtode Moda.

    Palavras-chave: Contemporaneidade,Msica, Adoniran Barbosa, The Smiths,Moda.

    The Experimental Project and Collectionexplore some links between the workand life of the contemporary AdoniranBarbosa, brazilian singer from So Paulo,and the English band The Smiths, morespecifically of its founders Johnny Marr

    and Steven Morrissey and how they canbe translated into Fashion image andproduct.

    Keywords: Contemporaneity, Music,Adoniran Barbosa, The Smiths, Fashion.

    sumrio

    Introduo

    1 apresentao da coleo1.1 Olhar para o Eu e o Autoco-nhecimento -8

    1.2 Msica - 9

    2 contemporaneidade - 102.1 A coleo - 112.2 H uma lmpida que nunca seapaga... - 12

    3 vida e obra - um breve resumo3.1 Dod e Moz o incio- 143.2. Msica e carreira - 193.3 A vida nas cidades - 253.4 Amanh (no) vou trabalhar...- 323.5 A tristeza um bichinho queparoeta sozinho - 343.6 Dod, Moz (e Marr) retratoscontemporneos. - 36

    4 metodologia4.1 Estilo e Moda - 424.2 - Subjetividade toma forma - 49

    5 construo da coleo - primeirasexperincias - 54

    6 moulage e esboos - 567 flores - 668 cores - 68

    9 styling e pblico-alvo- 72

    10 matrias10.1 - Txteis - 7510.2 - Aviamentos - 79

    11 coleo - 80

    12 identidade visual - 84

    13 consideraes finais - 86

    bibliografia - 88

    webgrafia- 89

    lista de imagens - 90 e 91

    filmografia - 92

    lista de canes - 93

    ANEXOS - banca - 94

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    introduo1 apresentao da coleo

    1.1 Olhar para o Eu e o Autoconhecimento

    A construo desse Projeto Experimental e Coleo inicia-se no incio da trajetriaacadmica e pessoal da autora, sendo o nascimento a primeira pea de tal quebra-cabea.

    Migrante carioca, sempre viveu entre Estados: So Paulo, a terra que a acolheu,

    assim como a seus pais, e Rio de Janeiro, sua terra natal, e a de todos os outros pa-rentes. O migrante um ser hbrido, vivendo das lembranas de um lugar que j no enquanto se adapta a um novo. Vivendo e criando para si uma realidade que ssua, um no pertencimento ao seu tempo e espao.

    Outro fato decisivo na sua vida da autora o de que veio de uma famlia de idosos,com toda a sua sabedoria, lembranas e causos, crescendo no seio de suas fasci-nantes, generosas e fortes tias-avs - hoje com 99 e 92 anos. A nostalgia, portanto, uma caracterstica forte da autora. Seu fascnio pelo passado, por outros tempos,com a angstia de querer ter vivido em outras dcadas. Tal trao pode ser notadopraticamente em todos os trabalhos apresentados em seu portflio, exerccio aca-dmico proposto no ano de 2014. De Armnia a Elis Regina, de Ren Lacoste aAdoniran Barbosa, a nostalgia est l, o passado sempre se mostra.

    A segunda e terceira (quarta, quinta...) peas foram encaixadas mais recentemente.Graas ajuda profissional, foi diagnosticada com TDM Transtorno DepressivoMaior. Pondo a vida em perspectiva, notou que sempre fora triste. No por luto,nem sempre por traumas.A melancolia sempre esteve presente, como uma espectadora que se recusa a le-vantar e a deixar seu assento na sala de espetculos. A pea muda comdia, drama,musical mas ela continua l.

    Sensibilidade, nostalgia e melancolia, ento, sempre fizeram parte de sua vida. No en-tanto, a melodia que a embala no inteiramente triste. intensa, mas graciosa. bela, apesar de sbria.

    1.2 Msica

    Melodia, termo usado metaforicamente, tambm um fator crucial para a elabora-o desse Projeto e Coleo em sentido literal. A msica sempre esteve presenteem sua trajetria acadmica e sempre foi uma de suas maiores fontes de inspirao.Por que no us-la ento mais uma vez como fonte de inspirao? Por que no usaro que mais lhe cativava, a msica, abstrata, para motivar-lhe a criar em Moda, con-

    creta?Deixou-se ento se inspirar pelas suas maiores paixes musicais, Adoniran Barbosae The Smith, principais acordes desse trabalho.Assim como a autora, tais artistas tm uma caracterstica essencial, a capacidade dever a beleza na tristeza, a graa na melancolia, a luz na escurido...

    O contemporneo aquele que mantm fixo o olhar no seu tempo para perceber no as luzes, mas oescuro. [...] , justamente, aquele que sabe ver essa obscuridade, que capaz de escrever mergulhandoa pena nas trevas do presente [...]. (AGAMBEN, 2010, p. 2012, p. 62-63).

    Graas ao ensaio de Agamben, encontram-se respostas.D-se, finalmente, um nome para esse conjunto de sentimentos expressos pro-porcionalmente - pela autora e pelos seus artistas favoritos em suas trajetrias: con-temporaneidade.

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    De acordo com Agamben, o contemporneo uma mistura entre o arcaico e oavant-garde, no coincidindo aparentemente com seu tempo, mas estando em totalsintonia com este.

    Pertence verdadeiramente ao seu tempo, verdadeiramente contemporneo, aquele que no coincideperfeitamente com este (...) exatamente atravs desse deslocamento e desse anacronismo, ele ca-paz, mais do que os outros, de perceber e apreender seu tempo, verdadeiramente contemporneo

    (AGAMBEN, 2010, p. 58-59).

    Percebe o escuro do seu tempo com algo que lhe concerne e no cessa de incor-por-lo, algo que, mais do que toda a luz, dirige-se direta e singularmente a ele.(AGAMBEN, 2012, p.64). Torna-se assim, alheio ao seu prprio tempo, como umapea que no se encaixa perfeitamente no conjunto de quebra-cabea da sociedade.

    O contemporneo aquele que percebe o escuro do seu tempo com algo que lhe concerne e nocessa de incorpor-lo, algo que, mais do que toda a luz, dirige-se direta e singularmente a ele. (AGAM-

    BEN, 2012, p.64).

    Encontra-se assim mais que um nome, uma base em comum entre uma estudantede Moda carioca de 23 anos, um cantor paulista j falecido e uma banda inglesa des-

    feita a quase duas dcadas: a capacidade de se identificar, conectar e conversar como escuro, de t-lo como seu. Sua busca por responder ao chamado dessa luz nomeio da escurido que se aproxima, mas se afasta (AGAMBEN, 2010, p. 65), assimcomo a disparidade de no estar em total conexo com a sociedade, mas a com-preendendo e apreendendo como poucos. Mas, principalmente, a sensibilidade escurido; melancolia e tristeza, junto com a percepo de dentro dela, enxergar umaluz; beleza e graa...

    A Coleo de Graduao, portanto, nasce de um lugar particular, nasce a partir doolhar sensvel para o interior da autora, mas, alm disso, um olhar para seu universo,repleto de msica.

    Traar paralelos entre o estilo, a poca, as cidades-natal e caractersticas dos artistasem destaque, Adoniran Barbosa; o Dod, Steven Morrissey; o Moz, e John Maher;o Marr, so ento pretextos para tal fim, o eu.

    Como seus retratos de suas cidades podem ser traduzidos em imagens reais? Comoa interpretao subjetiva de suas obras pode ser transformada em matria tridimen-sional? Acima de tudo, como a identificao da autora com suas letras e canes -que carregam dentro de si luz e escurido, melancolia e graciosidade - podem sertransformadas em produto de Moda?

    Por que a leitura de personalidades to peculiares por uma estilista hojese torna algovlido e interessante para a moda atual? Por que o olhar de hoje perante essas gera-es passadas relevante em pleno ano 2014?

    Tais inquietaes so, portanto, as linhas-guias que sero tratadas ao longo do Proje-to Experimental e da Coleo.Sero apresentadas aqui tambm, alm das bvias diferenas, algumas interessantessemelhanas de tais retratos contemporneos, que viveram com dcadas e um Oce-ano de distncia.

    2.1 A coleo2 contemporaneidade

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    Criadores no s de canes, mas de hinos, duas de suas msicas mais icnicas epopulares, cada uma em sua dcada e gerao, do ttulo e tema a esse trabalho. AsMariposas, de Adoniran, e There is a Light That Never Goes Out (existe uma luz quenunca se apaga), de Morrissey e Marr. Cada uma ao estilo de seu autor, tais canesexprimem a ideia de luz na escurido, que no poderia ser mais apropriado.

    Uma luz que nunca se apaga...Bem, ao no ser que desliguem a lmpida!

    As mariposa quando chega o frioFica dando vorta em vorta da lmpida pra si isquent

    Elas roda, roda, roda e dispois se sentaEm cima do prato da lmpida pra descans

    Eu sou a lmpidaE as mui as mariposa

    Que fica dando vorta em vorta de mimTodas noite s pra me beij

    As mariposa quando chega o frio

    Fica dando vorta em vorta da lmpida pra si isquentElas roda, roda, roda e dispois se senta

    Em cima do prato da lmpida pra descansT muitu bom...

    Mas num vai si acostum, viuDona mariposinha?.

    (As Mariposas, BARBOSA; 1955).

    2.2 H uma lmpida [sic] que nunca se apaga... Take me out tonightWhere theres music and theres people

    Who are young and aliveDriving in your car

    I never never want to go homeBecause I havent got one

    Anymore

    Take me out tonightBecause I want to see people

    And I want to see lightsDriving in your car

    Oh please dont drop me homeBecause its not my home

    Its their homeAnd Im welcome no more

    And if a double-decker busCrashes into us

    To die by your sideSuch a heavenly way to die

    And if a ten-ton truckKills the both of us

    To die by your sideWell, the pleasure and the privilege is mine

    Take me out tonightOh take me anywhere

    I dont care, I dont care, I dont careAnd in the darkened underpass

    I thought Oh God, my chance has come at lastBut then a strange fear gripped me

    And I just couldnt ask

    Take me out tonight

    Take me anywhereI dont care, I dont care, I dont care

    Just driving in your carI never never want to go home

    Because I havent got oneOh, I havent got one

    There is a light that never goes out...

    Me leve para sair essa noiteOnde h msica e pessoasQue sejam jovens e vivasAndando em seu carroEu nunca nunca quero ir para casaPorque eu no tenho maisUma casaMe leve para sair essa noitePorque eu quero ver pessoasE eu quero ver luzesDirigindo em seu carroOh por favor no me deixe em casaPorque no meu lar a casa delesE eu no sou mais bem-vindo

    E se um nibus de dois andaresBater em nsMorrer ao seu lado -Que maneira celestial de morrerE se um caminho de dez toneladasMatar a ns doisMorrer ao seu lado -Bem, o prazer e o privilgio so meusSaia comigo esta noiteOh me leve para qualquer lugarEu no me importo, eu no me importo, eu nome importo...E numa passagem subterrnea escurecidaEu pensei Oh Deus, minha chance finalmentechegouMas ento um estranho medo me tomouE eu simplesmente no pude pedir

    Me leve para sair essa noite

    Leve-me em qualquer lugarEu no me importo, eu no me importo, eu nome importoApenas andando no seu carroEu nunca nunca quero ir para casaPorque eu no tenho umaAh, eu no tenho umaH uma luz que nunca se apaga...

    (There is a Light That Never Goes Out, MORRIS-SEY; MARR, 1985).

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    3 vida e obra - um breve resumo

    Adoniran Barbosa, o Dod, nascido Joo Rubinato, filho dos imigrantes de Treviso,cidadezinha do norte italiano, Fernando e Emma Rubinato, nasce em Valinhos, aindauma tambm cidadezinha (bairro da cidade de Campinas) no dia de 6 de agosto de1912. Porm, para colaborar no sustento da famlia, precisou envelhecer dois anospara atingir mais cedo os 16, idade da poca para se trabalhar legalmente (MUGNAI-NI JUNIOR, 2002, p.13).Alguns fatos sobre a vida de Adoniran so muito discutveis, o que soa paradoxal.

    Assim Reinventar novos fatos, datas e nomes talvez fosse a forma de amenizar aamargura do passado, apagando as dificuldades que circularam sua vida. Assim, suaarma para driblar as dificuldades era simples: o bom-humor.Na sua certido ento consta: 6 de Agosto de 1910. Isso foi muito bom, porque soucorintiano, e o Corinthians foi criado em 1910!. (BARBOSA apud MUGNAINI JU-NIOR, 2002, p.13).

    Morrissey, o Moz, nascido Steven Patrick Morrissey, filho dos imigrantes irlandesesPeter e Betty Morrissey, nasce em Davyhulme, uma pequenina rea do condado daGrande Manchester, Inglaterra, no dia 22 de maio de 1959 em um lar recm-esta-belecido numa nova terra.

    Morrissey e sua irm mais velha, Jacqueline vieram de uma famlia de trabalhadoresdas fbricas de Manchester, que est para os imigrantes irlandeses o que o Estado deSo Paulo est para os imigrantes italianos. Da mesma forma, o algodo representou

    para os britnicos o que o caf representava para a vida socioeconmica do Sudo-este brasileiro.

    Na virada do sculo XIX para o XX, Valinhos contava com cerca de 90% de italianose 10% de brasileiros e portugueses. Similarmente, Manchester era uma das mqui-nas da Revoluo Industrial e, por volta de 1830, um quinto da populao do conda-do era formado por irlandeses, que imigraram por causa da pobreza em sua ptria epela promessa de empregos nos novos e enormes moinhos de algodo, bem comos outras indstrias criadas para servir essa primeira fundies de ferro, fbricas devidro e de mquinas. (FLETCHER, 2012, p.27).

    Assim como os recm-chegados imigrantes italianos contadini, camponeses no ter-mo italiano - sofreram discriminao, abusos e preconceitos, vindos para uma terraque at pouco tempo empregava a mo-de-obra escrava nas lavouras, ocupandosua lacuna, os irlandeses viram-se marginalizados pelos ingleses, que os viam com oolhar preconceituoso de uma nao protestante, como uma ameaa aos seus em-pregos, como uma raa inferior de lngua (galico) e modos distintos (FLETCHER,2012, p.27).Ao chegar, ento, os irlandeses foram segregando-se em guetos, formando verda-deiras malocas.

    Estvamos bastante satisfeitos por nos esconder em guetos como a comunidade irlandesa em Manches-ter; os irlandeses ficavam juntos e sempre havia um parente vivendo a duas portas de voc, nos fundos

    ou no corredor. Sempre considerei esquisito que pessoas que tenha vivido durante vinte ou trinta anosem Manchester ainda falassem com o mais amplo e afiado so taque da Pearse Street. (MORRISSEY apudHot Press, maio de 1984).

    Eu tinha conscincia de ser irlands e nos diziam que ramos muito distintos dos garotos imundos nossa volta ramos diferentes deles. De muitas formas, no entanto, acho que recebi o melhor dosdois lugares e o melhor dos dois pases. Sou um de ns nos dois lados. (MORRISSEY apud Irish Times,

    novembro de 1999).

    Tal fato pode-se tambm notar na histria de Adoniran, que tinha, porm, poucaslembranas de Valinhos, sua cidade natal. Isso porque sua famlia se mudara para Jun-dia, onde passou a maior parte de sua infncia e juventude. L, a 46 km de distnciade So Paulo, foi aonde comeou a notar os primeiros sinais de conflito entre a cida-de e o campo na virada do sculo XIX para o XX. O pogrsio que conheceu em

    Jundia estava nos cortios, habitao dos Rubinato e dos tantos outros trabalhadoresbraais da regio, fora motora das indstrias e das ferrovias em construo (SoPaulo Railway, futuramente Santos-Jundia).

    Segundo o prprio, Como eu no tinha queda pra intelectual, meus pais resolve-ram me pr no batente (BARBOSA apud MUGNAINI JUNIOR, 2002).No necessariamente vocao, vontade. Adoniran por meio de suas letras, simplese fortes, fazia descries simples e poticas da vida em So Paulo no sculo XX,porm, quando criana...

    3.1 Dod e Moz o incio

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    Adoniran fugia das aulas, jogava fora os cadernos, lpis e borrachas como pretextopara no estudar. O filho gazeteiro de Dona Emma que, aps uma surra memorvel,abandonou aos 13 anos a escola Siqueira de Moraes de vez. Mas naquele ano, 1923,o que doeu mais foi o castigo do pai trabalhar. Ui.(CAMPOS JUNIOR, 2004, p.55).

    Como bom gente ter me, mesmo apanhando... Hoje em dia eu apanho do mundo.E como apanho!. (BARBOSA, apud CAMPOS JUNIOR, 2004).

    Morrissey, porm, frequentou a rgida escola catlica de St. Marys Roman CatholicSecondary Modern. Segundo o cantor, minha educao na St. Marys [...] no foiuma educao. Foi apenas violncia e brutalidade. (MORRISSEY apud Irish Times,1999).Um exemplo dessa disciplina inclusive fsica - sistemtica brbara e bruta, que pre-

    parava os alunos para preencheram vagas burocrticas ou braais nas fbricas, estavanos castigos corporais aplicados semanalmente, seno diariamente, aos alunos.Aqueles que no cumpriam os padres exigentes [...] eram levados at o gabinete dodiretor para esperar o castigo de cinto (a que os alunos de referiam como chicote)em suas mos esticadas. E ento comeava o dia letivo. (FLETCHER, 2012, p. 72).O professor da oficina de trabalho em metal tinha um pedao de madeira gasto de60 centmetros que ele chamava de Charlie e com o qual batia livremente nas costasdos garotos. (FLETCHER, 2012, p. 73).Tal tratamento no era comum apenas escola de Steven Morrissey, mas tal trata-mento ficou imortalizado nas letras de The Headmaster Ritual (O Ritual do Dire-tor):

    Belligerent ghoulsRun Manchester schools

    Spineless swinesCemented minds

    Sir leads the troopsJealous of youthSame old suit since 1962

    He does the military two-stepDown the nape of my neck

    Sir thwacks you on the kneesKnees you in the groin

    Elbow in the faceBruises bigger than dinner plates

    []

    Mortos-vivos beligerantesDirigem as escolas de ManchesterPorcos imoraisMentes cimentadas

    O professor lidera as tropasInvejoso da juventudeO mesmo terno velho desde 1962Ele faz dois passos militaresSobre a minha nucaO professor golpeia voc nos joelhosD uma joelhada na sua virilhaAcotovelada no seu rostoHematomas maiores que pratos de jantar[...]

    (Trecho de The Headmaster Ritual, MORRISSEY;MARR, 1985).

    Num cenrio menos trgico, mas no menos difcil, apanhando da vida, Adoni-ran comea a trabalhar, passando a ajudar o pai a carregar os vages da So PauloRailway.Depois disso, passou a trabalhar entregando marmitas para o Hotel Central da cida-de, o emprego durou at a descoberta de que surrupiava alguns pastis para comer.[...] Malandragem, no, fome. (BARBOSA apud MUGNAINI JUNIOR, 2002).Seu pai ficara novamente desempregado e Jundia se tornou pequena demais paraos Rubinato, que migram para Santo Andr, agora a apenas 17 km de So Paulo.Joanin, que vivia de bicos, entrando na adolescncia, logo se adaptou. L, a vocaode cantor e compositor revelou-se juntamente com sua profisso mais duradoura:vendedor ambulante, mascate. (MUGNAINI JUNIOR, 2002, p.22).

    Segundo Adoniran,

    Eu cantava minhas coisas, s minhas coisas, pelas ruas. No eram bem ruas, eram vielas, vilas. No ti-nha nem ningum por perto. No tem cara que anda falando sozinho, no tem? Pois eu, invs de falar,

    cantava. (BARBOSA apud MUGNAINI JUNIOR, 2002, p. 23).

    Andava bastante, verdade, mas podia ficar observando a cidade e sua gente. Essas descobertas at quecompensavam o cansao das pernas e motivaram, pela primeira vez, o rapazola a cantar e a comporsambas. Sambas na base do deixa-pra-l de acordo com ele, bem ruinzinhos -, mas que serviamcomo treinamento para o curioso modo de criao que Joo Rubinato, j como Adoniran Barbosa, de-

    senvolveria mais tarde: compor andando na rua. (CAMPOS JUNIOR, 2004, p. 61).

    Em 1932, em plena Revoluo Constitucionalista, a famlia veio tentar a sorte emSo Paulo. Trabalhou por um tempo como entregador de tecidos de uma loja na 25de Maro, mas o que queria mesmo era cantar. Em 1934, a rdio Cruzeiro do Sulestreava um programa dedicado a revelar novos talentos, Os Calouros do Rdio.

    No demorou muito, ento, para Joo trocar seus mil empregos anteriores pelavocao de artista (MUGNAINI JUNIOR, 2002, p.27). Da que nasce, de fato,Adoniran Barbosa, o sensvel observador e cronista da cidade ao seu redor.

    Enquanto, porm, Adoniran em sua juventude se abria para a vida e a cidade, Mor-rissey se fechava em seu interior. No largou a escola, afinal, no estava disposto ase rebelar e arriscar ser espancado diariamente, (FLETCHER, 2012, p. 75).

    Adoniran no se encaixava nos padres da escola, nos padres de Jundia, muitomenos Santo Andr. Da mesma forma, Morrissey se diferenciava se seus colegas,desde a maneira de agir at a forma de pensar.

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    Segundo um antigo colega de classe de Moz, Paul Whiting,

    Ele era muito inteligente para ns. ramos todos retardados dos conjuntos habitacionais brigando unscom os outros e roubando uns dos outros, e Steve Morrissey estava acima daquilo. Ele no devia estar

    naquela escola. (FLETCHER, 2009, p.76)

    Nota-se, ento, a desconexo, indcio de contemporaneidade, que aflora desdecedo.

    Sua me, Betty, foi extremamente influente na formao, inclusive literria do filho,introduzindo-o s obras de Thomas Hardy e Oscar Wilde, extremamente importan-tes na identidade do Morrissey adulto e, posteriormente, na identidade das msicase imagem dos Smiths.

    Assim, Wilde se tornou uma das suas obcesses, seu primeiro heri. De sua escrita,Morrissey apreendeu o poder da simplicidade. Ele usava a linguagem mais bsica edizia as coisas mais poderosas (MORRISSEY apud FLETCHER, 2012, p. 81). Tal sim-plicidade, pura e poderosa, tambm pde ser vista nas obras de Adoniran.Paulo Vanzolini, falecido em 2013, zologo - com formao em Harvard - compo-sitor e autor de famosas canes como Ronda, Volta por Cima e Na Boca daNoite, sempre se admirou coma capacidade do amigo de escolher poucas e boaspalavras.

    Segundo Vanzolini, o Adoniran tinha um poder de sntese que estava acima do nveleducacional dele. Ele escrevia como quem tivesse lido muito, e ele nunca leu nada.(VANZOLINI apud CAMPOS JUNIOR, 2011, p. 104).

    Se a munio criativa de Adoniran iniciou-se em suas andanas pela cidade comomascate, observando a vida dos universos mais pobres de So Paulo, a jornada deMorrissey foi mais introspectiva, interiorizada. Na adolescncia passou a se isolar,emocional e fisicamente.

    Eu me lembro de ter passado por perodos, quando tinha 18 ou 19 anos, nos quais eu literalmente ficavadentro do quarto de trs a quatro semanas [...]. Eu ficava ali dentro, quase na escurido, sozinho coma mquina de escrever e cercado por montes de jornal. [...] Parece dramtico, mas em um momento,pensei que nunca conseguiria sair daquele quarto. Parecia que tudo que sou havia sido concebido a li [...].

    (MORRISSEY apud GODDARD, 2009, p. 287).

    Tal solido o deixou com sequelas ao longo dos anos: paranoia irreversvel, falta deconfiana, melancolia e misantropia injustificada (GODDARD, 2009, p. 288). Po-rm, foi chave para sua posterior criatividade artstica.

    Da mesma maneira, Adoniran contraiu graas ao seu estilo de vida, abastecido porfartos de maos estoura-peito de cigarros Yolanda e noites de carnaval passadas nosereno, o seu notrio tom rouco de voz. Alm disso, segundo seu bigrafo, Celsode Campo Jnior, bomio, botequeiro, bico-doce, chupa-rolha, mata-borro, pa-tusco, borracho, flauteador eram algum dos muitos sinnimos para de descrever orapaz de Valinhos fora do mbito da rdio. (2004, p.90).

    3.2. Msica e carreira

    A mudana de nome foi a menor das dificuldades enfrentadas dos Joo Rubinato. Eleteve de travar diversas lutas para conseguir entrar em um meio competitivo, inclusivecontra si mesmo. Seu jeito descontrado sua proverbial irreverncia e seu tempe-ramento afvel, porm um tanto fechado, interpretado por muitos como arredio.Adoniran parecia no gostar de seguir o caminho mais fcil, e o papel de anti-herisempre lhe caiu muito bem (MUGNAINI JUNIOR, 2002, p.30).

    Em 1934, se tornara um participante assduo do programa de calouros, mas sempreera gongado. Finalmente, interpretando Filosofia, de Noel Rosa, foi aprovado.

    O mundo me condena, e ningum tem penaFalando sempre mal do meu nome

    Deixando de saber se eu vou morrer de sedeOu se vou morrer de fome

    Mas a filosofia hoje me auxiliaA viver indiferente assimNesta prontido sem fim

    Vou fingindo que sou ricoPra ningum zombar de mim

    No me incomodo que voc me diga

    Que a sociedade minha inimigaPois cantando neste mundoVivo escravo do meu samba, muito embora vagabundo

    Quanto a voc da aristocraciaQue tem dinheiro, mas no compra alegria

    H de viver eternamente sendo escrava dessa genteQue cultiva hipocrisia.

    (ROSA; FILHO, 1933, Filosofia).

    O homem do gongo estava dormindo! (BARBOSA apud MUGNAINI JUNIOR,2002, p.31).

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    Nos anos 40, porm, revelou-se o Adoniran ator. Nessa dcada, sua carreira mu-sical contabilizava zero disco e pouco sucesso nas suas composies cantadas poroutros intrpretes, Era, ento, duas pessoas em uma: o ator e o cantor-compositor.Primeiro surgiu o cantor-compositor, que fez pouco sucesso; depois se revelou oator, fazendo um sucesso to grande que, nos anos 1960, muita gente se surpreen-deria ao descobrir que Adoniran (ou Barbosinha) era tambm cantor-compositor(MUGNAINI JUNIOR, 2002, p. 43).

    No teatro e no rdio viveu Charutinho, Mr. Richard Norris, Dr. Sinsio Trombone,o gostoso da Vila Matilde, o comerciante Judeu Moiss Rabinovitch, Pernafina,Barbosinha Mal-Educado da Silva...

    Adoniran formava uma dupla de sucesso com Oswaldo Molles, um milionrio cria-

    dor de tipos. Criativo escritor, observador dos costumes e usos do povo, Mollestransformava migalhas em banquetes, usando o folclore urbano como matria-pri-ma para arte (MUGNAINI JUNIOR, 2002, p. 48) e exerceu enorme influncia emAdoniran.

    Segundo Mugnaini (2002), Molles criou como que sob-medida os famosos persona-gens interpretados por Adoniran na rdio e foi ele quem despertou em Adoniran suavocao de cronista e satirista musical. Antes dele, Adoniran era apenas um cantorverstil, mas falava aquele algo a mais para que ele encontrasse estilo prprio e sedestacasse. Tal papel coube a Oswaldo Molles (MUGNAINI JUNIOR, 2002, P. 48).A dupla tambm teve xito no campo musical. Ao final dos anos 50 Tiro ao Alva-ro, Mulher, Patro e Cachaa e o hino Saudosa Maloca foram alguns dos, agoraclssicos, compostos em parceria com Molles. Com a ajuda de Molles, Adoniranencontra seu estilo caractersticas adonirnicas, (p. 71) no final dos anos 40 e se

    destaca com o samba Malvina.Tal cano foi includa no repertrio do grupo vocal-instrumental, e tambm pau-listano, Demnios da Garoa em 1950 e, segundo o autor, foi uma das melhorescoisas que aconteceram a Adoniran [...] e vice-versa (p. 72).Em 1967, a parceria de sucesso com Molles se encerra. Ele tira a sua prpria vida.

    Embora a parceria de cinco anos com os Smiths, e, principalmente, com sua duplacriativa, Johnny Marr, tivesse acabado de forma menos trgica, Morrissey tambmjamais obteria sozinho o sucesso e reconhecimento galgados na dcada de 80 (queperduram at hoje) sem pertencer primeiro a uma banda.

    impossvel falar de Smiths e Morrissey sem falar de Marr.John Martin Maher nasceu em 31 de Outurbo de 1963 e o real fundador da banda(1982). Por pouco no cresceu ao lado de Steven Morrissey. Assim como Morrissey,os Maher nome real de Marr- imigraram da Irlanda no comeo dos anos 1960.

    Marr passou o comeo da infncia em Ardwick, ao sul do centro da cidade de Man-chester. Seu pai e me ainda eram muito jovens quando nasceu - 20 e 17 anos res-pectivamente- e eram fs devotos da msica Pop da poca.Assim, desde muito cedo, Marr foi exposto s melodias tristes de Johnny Cash e daMowtown. A cidade em que cresceu reforava ainda mais esse sentimento:

    Eu era triste na infncia porque a rea onde cresci era muito barra pesada. Ardwick estava semprechuvoso e havia muito trnsito. [...] Era uma comunidade irlandesa muito jovem, com muita msica ebebida. Sempre havia festas e casamentos, e muita melancolia na msica que me cercava naquela poca.[...] Isso me deixou fascinado e parecia combinar com o ambiente que me cercava. (MARR apud GO-

    DDARD, 2009, p. 343).

    Tony Fletcher, bigrafo da banda, escreve:

    Nesse caminho, Morrissey saiu de seu casulo para se tornar um dos smbolos sexuais mais improvveisdo fim do sculo XX, e um de seus melhores letristas/poetas. A seu lado, Johnny Marr passou a serreverenciado com provavelmente o guitarrista mais talentoso de sua gerao e, certamente, um de seus

    melhores arranjadores [...] (2012, p.10).

    Um estimulava o melhor do outro, ambos tinham dedicao, determinao, habilidade e intelecto. Acamaradagem, porm, no suportou o peso causado por provocaes, exausto mtua e diferenas

    musicais implacveis. (FLETCHER, 2012, pgs. 9 e 10).

    I would rather not goBack to the old house

    I would rather not goBack to the old houseTheres too many

    Bad memoriesToo many memories

    There[...]

    Eu preferiria no voltar casa velha

    Eu preferiria no voltar casa velhaH muitasLembranas ruinsTantas lembranasL

    [...]

    (MORRISSEY; MARR, 1984, trecho de Back to theOld House).

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    Os dois cresceram na mesma cidade, frequentaram o mesmo tipo de escola, tinhamo mesmo tipo de estrutura familiar, ambos tinham uma irm mais velha, com doisanos de diferena, uma relao achegada com mes jovens e a participao foradano movimento de eliminao de cortios no centro da cidade, onde moravam. (FLE-TCHER, 2012, p. 188).

    Quando o oficial de justia chegouL na favela

    E contra seu desejoEntregou pra seu Narciso

    Um aviso uma ordem de despejoAssinada, seu doutorAssim dizia a petio

    Dentro de dez dias quero a favela vaziaE os barracos todos no cho

    uma ordem superior meu senhor uma ordem superior meu senhor

    No tem nada no, seu doutorNo tem nada no

    Amanh mesmo vou deixar meu barracoNo tem nada no, seu doutor

    Vou sair daquiPra no ouvir o ronco do trator

    Pra mim no tem problemaEm qualquer canto me arrumo

    De qualquer jeito me ajeitoDepois, o que eu tenho to pouco

    Minha mudana to pequena que cabe no bolso de trsMas essa gente ai, hein

    Como que faz?

    (Despejo na Favela, BARBOSA, 1969).

    Marr, sempre muito dedicado, guitarrista e arranjador de mo cheia, acreditava serJerry Lieber, e estava procura de seu Mike Stoller. Porm, a chance encontraralgum to coprometido, talentoso e desesperado seria de uma em um bilho (GO-DDARD, 2009, 346).Foi num encontro a l Leiber e Stoller, mediado por um amigo em comum, queMarr foi atrs de Morrissey, o intelectual tmido que conhecera antes de vista em umshow de rock.

    [...] Morrissey podia contar seus amigos nos dedos de uma das mos. Ele vivia na Kings Road comsua me divorciada. Estava desempregado por opo, certo, mas mesmo assim, desempregado.Completaria 23 anos naquele ms. Qualquer um pensaria que o tempo o estava deixando para trs.

    (FLETCHER, 2012, p. 8).

    Ainda uma lembrana muito viva. O dia estava ensolarado. Era cerca de uma da tarde. No liguei

    antes de ir nem nada. Simplesmente bati, e ele abriu a porta. (MARR apud GODDARD, 2009, p. 347).

    Foi um acontecimento que eu sempre tinha esperado e, inconscientemente, estava aguardando desdeminha infncia. O tempo estava passando eu tinha 22 anos e Johnny era muito mais jovem, mas pa-recia que eu tinha rodado muito durante muito tempo esperando por um momento mgico e mstico,

    que definitivamente ocorreu. (MORRISSEY apud Melody Maker, setembro de 1987).

    E assim nasceu a maior dupla musical do fim do sculo XX e uma histria de amizadee admirao que beirava o amor platnico.O surgimento dos nomes mais uma histria.

    Cansado de ser gongado nos inmeros concursos de calouros que participava,Adoniran - at ento Joo- via em seu nome o bode expiatrio para tanto insucesso.

    Se eu soubesse que ia ser radioator, teleator e artista de cinema, no mudava meu nome, ficava Joo

    Rubinato mesmo. Mas cantas samba com nome italiano... No d! (BARBOSA apud MUGNAINI JU-NIOR, 2002, p.29).

    Valendo-se ento do nome de seu amigo de copo Adoniran Alves, e do sobrenomedo cantor carioca Luiz Barbosa, surge um nome verdadeiramente brasileiro, identifi-cvel e, alm disso, prximo do povo. A mudana acompanhou a guinada profissio-nal de Dod. Coincidncia? Jamais saberemos. (CAMPOS JUNIOR, 2011, p. 18).E The Smiths? Bem, Tony Fletcher disserta brilhantemente a respeito desse nome...

    1 Jerome Jerry Leiber (1933 - 2011) e Mike Stoller (1933) formaram a famosssima dupla de compositores Leiber e Stoller,uma das principais da histria do rock. Compuseram vrios clssicos de Elvis Presley, entre eles, Hound Dog (GODDARD, 2009,p.304). Lieber, guitarrista, batera na casa de Stoller, ambos ainda adolescentes, com a inteno de formar uma dupla criativade sucesso. (FLETCHER, 2012, p.9).

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    Desde o comeo do processo, Morrissey sugeriu o nome da banda e Marrconcordou. The Smiths. Tanto fs quanto crticos procuraram por toda a par-te, ao longo dos anos, explicaes que so facilmente encontradas, consi-derando-se que Smith o sobrenome mais comum na Inglaterra. Mas essa,na verdade, a nica explicao necessria. Ao chamarem a si mesmos TheSmiths, M, orrissey e Marr se afirmaram como pessoas comuns, pessoastrabalhadoras do dia a dia. Ao fazerem isso, eles tambm se desassociam dosnomes estranhos que eram to disseminados na poca (Echo & The Bunny-men [...], Duran Duran etc.). E, no processo de escolher um nome de umaslaba com artigo definido, eles estavam se oferecendo a uma linhagem delendas do rock britnico: The Who, The Jam, The Stones [The Rolling Sto-nes] (segundo a abreviao comum), The Kinks, The Clash, The Jam, e pora vai; e possibilidade de que eles um dia fossem considerados parte daquelarica tapearia. Foi, em resumo, um declarado retorno simplicidadequando a

    pompa era dominante. (FLETCHER, 2012, p.200)

    Praa da SPraa da S

    Hoje voc Madame estao SQuem te conheceuA alguns anos atrs

    Como eu te conheciNo te conhece mais

    Nem vai conseguirTe reconhecerSe hoje passa por aqui

    Algum que j fazAlgum tempo que no te vPouca coisa tem que contar

    Pouca coisa tem que dizerVai pensar que est sonhando

    naturalNunca viu coisa igual

    Da nossa Praa da S de outroraQuase que no tem mais nada

    Nem o relgio que marcava as horasPros namorados

    Encontrar com as namoradasNem o velho bonde

    [...] o progresso o progresso

    Mudou tudoMudou at o climaVoc est bonita por baixo

    S indol pra verMas no v sozinho, meu senhor

    Que o senhor vai se perderPraa da SPraa da S

    Hoje voc Madame estao S

    (BARBOSA, 1978, Praa da S.)

    3.3 A vida nas cidades

    direita, instituies paulistas: Adoniran Barbosa e a Cate-dral da S, na praa remodelada e inauguraa no innio de 1978

    (CELSO JUNIOR, 2004, p. 513).FIGURA1

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    No largo So Bento, na dcada de 1970. Desta-que para a forma macarrnica, Adoniran Bar-bosa, de se anunciar os calados de Franca

    FIGURA 2

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    Morrissey, mais recluso, e Adoniran, bomio, viam suas cidades como inspirao epano de fundo para suas criaes, mas, sem dvidas, a influncia das cidades umtrao marcante nas obras dos artistas em destaque, seu olhar afiado perante sua gen-te e costumes tambm se revela.

    Cantar a Paulicia, por exemplo, foi uma das maiores causas de sucesso para Ado-niran...

    O Rio uma cidade muito bonita, que inspira bastante, e tem vrios lugares cujo prprio nome j so[sic] meio samba, de to sonoros, tm muita poesia. Quer ver? Jacarpagu, Leblon, Graja, Copacaba-na... Em So Paulo, nada disso. Algum consegue encaixar Vila Alpina, Vila Nhocun, Morumbi e SantoAndr em samba? No d, reconheo. Mas gosto tamto da cidade que acabo dando um jeito. Foi por

    isso que fiquei conhecido. (BARBOSA apud MUGNAINI JUNIOR, 2002, p. 121).

    Se eu fizer um samba homenageando casa coisa de So Paulo, onde vou parar?(BARBOSA apud MUGNAINI JUNIOR, 2002, p. 153). Se Adoniran o fez, foi es-pontaneamente. Alguns bairros homenageados em suas obras: Bixiga, Jaan, VilaEsperana, Casa Verde, Ermelino Matarazzo, Moca, Brs, Vila R, Vergueiro... So-mam tambm as homenagens a ruas, avenidas e praas, como a Rua dos Gusmes,Rua Aurora, Avenida So Joo, Avenida 23 de Maio, Viaduto Santa Ifignia, Praa daBandeira, Praa Jlio Mesquita...

    Em contrapartida, a influncia de Manchester nas letras de Morrissey entrou de ma-neira mais relutante no incio de sua carreira. No costumava falar muito bem de suaterra natal, dizendo ser um lugar aprisionante.

    No sinto nenhuma afinidade com o local. s o local onde por acaso vivo. No significa muito paramim e tenho certeza de que sairei daqui logo. Quando ficar rico. (MORRISSEY, 1983, apud GOD-

    DARD, 2009).

    Em seu auge em 1985, como prometido, o grupo chegou a morar em Londres porum curto perodo de tempo, mas a sede do grupo pelo resto da carreira deles seriaa casa de Johnny Marr e sua esposa Angie, na rea em torno de Cheshire, condadoao Noroeste da Inglaterra.

    Anos mais tarde, ento, a cidade passou a obter um novo significado para Moz:

    a sensao que tenho. Nasci e fui criado aqui, e, de um jeito ou de outro, foi o local que me tornouque sou. Voc pode se revoltar com as coisas ruins de que no gosta em si mesmo e pode culpar Man-chester por isso. A nica coisa da qual culpo Manchester a educao horrvel que recebi, mais nada.Considero a cidade um lugar fantstico agora. No te nada a ver com a cidade na qual cresci. Est bemmais limpa e mais cosmopolita. As lojas so incrveis e as pessoas so lindas [...]. Est bem diferente da

    Manchester que eu conhecia. (MORRISSEY apud GODDARD, 2009, p. 341).

    O videoclipe de There is a Light That Never Goes Out,msica icnica da banda, foifilmado na cidade de Manchester. Acima, podem-se ver nas placas alguns pontos jcitados em algumas de suas canes. Strangeways, Here We Come, por exemplo, onome no quarto e ltimo lbum dos Smiths (1987). Salford, cidade vizinha de Man-chester o lar do mais famoso marco na histria dos Smiths, O Salford Lads Club(ouClube de Salford para Rapazes), que curiosamente se tornou uma Meca para os fsda banda graas sesso de fotos realizada l por Stephen Wright em 1985.

    Busto de Adoniran Barbosa naPraa Dom Orione, no Bixiga. Obrade Luiz Morrone. So Paulo retri-buindo o carinho de Adoniran.

    FIGURA 3 FIGURA 4

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    Antes disso, nunca teve nenhuma outra ligao com os integrantes dos Smiths. En-tre os nativos de Salford est a dolo de Morrissey, Shelagh Delaney, dramaturga eestrela da capa dos Smiths, mais conhecida por sua pea mais tarde adaptada parao cinema Um Gosto de Mel (1961), e a quem Morrissey reconheceu como umagrande influncia (MORRISSEY apud GODDARD, 2009, p.136, 526,527).

    Brs, Hulme, Bexiga, So Paulo, Manchester...To diferentes, to simila-res. esquerda, foto da casa em que Morrissey cresceu,1969. direita,

    crianas brincando, Brs,1947.

    FIGURA 5, 6&7

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    Poucas so as pessoas que podem dizer que no precisam porque simplesmenteno gostam de trabalhar.Como um remdio amargo que Dod teve de tomar comeando a trabalhar desdecedo, por exemplo, Morrissey tambm sempre foi resistente ao lavoro, basta notaras letras de Still IlleYouve Got Everyhting Now...

    Morrissey considerou os breves empregos que teve como a pior doena que jtivera. Sua filosofia antitrabalho, expressada nas canes acima, vem do pensamentoque os empregos reduzem as pessoas estupidez.

    3.4 Amanh (no) vou trabalhar...

    Oh, what a mess Ive made of my lifeNo, Ive never had a job

    Because Ive never wanted oneIve seen you smile

    But Ive never really heard you laughSo who is rich and who is poor?

    I cannot say[...]

    Oh, que baguna eu fiz da minha vidaNo eu nunca tive um empregoPorque nunca quis ter umEu j vi voc sorrirMas eu nunca vi voc rir de verdadeEnto quem rico e quem pobre?Eu no sei dizer[...]

    (Youve Got Everything Now, MORRISSEY; MARR,

    1984)

    And if you must go to work tomorrowWell, if I were you I really wouldnt bother

    For there are brighter sides to lifeAnd I should know, because Ive seen them

    But not very often[...]

    E se voc tiver que trabalhar amanhBem, se eu fosse voc eu no me incomodariaPor que existem lados mais brilhantes da vidaE eu deveria saber, pois os tenho vistoMas no com muita freqncia[...]

    (Still Ill, MORRISSEY; MARR, 1984)

    Morrissey considerou os breves empregos que teve como a pior doena que jtivera. Sua filosofia antitrabalho, expressada nas canes acima, vem do pensamentoque os empregos reduzem as pessoas estupidez.

    Bem menos engajado, mas no menos profundo, Charutinho personagem deAdoniran - dizia: trabaio boca? Trabaio num boca. sepultura, tumo.(BARBO-SA apud MUGNAINI JUNIOR, 2002, p.62).

    Falou e disse.

    Quando Deus fez o homem,Quis fazer um vagolino que nunca tinha fome

    E que tinha no destinoNunca pegar no batente e viver folgadamente.O homem era feliz enquanto Deus assim quis.

    Mas depois pegou Ado, tirou uma costela e fez a mulher.Desde ento, o homem trabalha prela.

    Mas da, o homem reza todo dia uma orao.Se quiser tirar de mim arguma coisa de bo,

    Que me tire o trabaio. a mui no!

    Pogressio, pogressio...Eu sempre iscuitei falar, que o pogressio vem do trabaio

    Ento amanh cedo, nis vai trabalhar.

    Quanto tempo nis perdeu na boemiaSambando noite e dia, cortando uma rama sem parar

    Agora iscuitando o conselho da mulherAmanh vou trabalhar, se Deus quiser,

    mas Deus no quer!

    (Conselho de Mulher, ARBOSA; BELARMINO; MOLLES,1952)

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    3.5 A tristeza um bichinho que paroeta sozinho

    Em 1979, o compositor Carlinhos Vergueiro leva sua recm-escrita cano, Bife Milanesa, para a aprovao do j veterano Adoniran Barbosa, em Cidade Ademar.

    A letra no agradou Adoniran, que sugeriu algumas mudanas, justamente no ingre-diente principal.

    -Carlinhos, vamos mudar bife milanesa para torresmo milanesa.-Por que, Adoniran?-Porque no existe.

    Carlinhos Vergueiro ento substituiu o nome do prato e ligou o gravador para registrar a nova verso.Quando chegou ao final, veio o toque final do chef nos versos Arroz com feijo/ E torresmo milanesa.-Carlinhos, vamos mudar para um torresmo. Tem que ficar Arroz com feijo/ E umtorresmo mila-

    nesa.-Por que s um, Adoniran?

    -Porque mais triste.

    Voil.

    (BARBOSA; VERGUEIRO apud CAMPOS JUNIOR, 2004, p. 517).

    Voltando outra parceria, Marr/Morrissey, Simon Goddard relata:

    Na verdade, eles reconheceram um no outro a mesma ambio sria e uma tristeza anterior assusta-doramente parecida.

    Eu achei que a msica dele combinava tristeza e alegria, disse Morrissey. Achei que era uma msicamuito, muito triste. At mesmo os acordes alegres que ele produzia, na minha opinio, tinham um to-

    que de tristeza terrvel... que realmente me atraiu para a msica dele.

    (MARR; MORRISSEY apud GODDARD, 2009, p.349)

    Os contemporneos, ento, sofrem. Sofrem, pois encaram como suas as trevas,incorporando-o.Sofrem, pois vm o presente com mais clareza que os demais. Sofrem, pois esto frente de seu tempo, mas tambm no passado, dissociando-se do hoje.So inovadores, mas tambm incompreendidos. So sensveis, e, por isso, sofrem.

    I was happy in the haze of a drunken hour, but heaven knows Im miserable now (Euestava feliz na bruma de uma hora embriagada, mas o cu sabe que eu estou infelizagora. MORRISSEY; MARR, 1984, de Heaven Knows Im Miserable Now).

    Eu sou um cara triste, sabe, eu fao piada, mas tudo por fora. (BARBOSA apudMUGNAINI JUNIOR, 2002, p.13).

    A beleza e a melancolia seriam as cores primrias de suas canes, ainda que com toque de humor,absurdo, blasfmia, profundidade e uma petulncia nortista irrepreensvel. Morrissey tinha talento paraas letras, mas os Smiths nunca teriam alado voo se ele no tivesse encontrado seu semelhante musical

    em Marr.

    Ns dois reconhecamos a beleza da melancolia,concorda Marr. Ns dois compreendamos isso. Con-versvamos sobre isso e, com frequncia, sobre a diferena entre depresso e melancolia. Falvamosque a depresso intil, mas que a melancolia um sentimento de verdade, um lugar real; um lugar criativoque lida com imagens, msica e aspectos criativos da personalidade. Eu simplificava as coisas dizendo: aquela sensao que se tem quando estamos cruzando Manchester com a cabea recostada na janelade um nibus em uma manh de quarta-feira, no ms de novembro, com a chuva caindo. A maioriade minhas msicas era assim porque eu passava muito tempo fazendo exatamente isso. Nesse aspecto,

    meu conceito e o de Morrissey a respeito da melancolia eram absolutamente o mesmo..

    (MARR; MORRISSEY apud GODDARD, 2009, p.349)

    No, Johhny, no s vocs dois. Vocs trs...

    A tristeza um bichinho que paroeta sozinho,E como ri a bandida...

    Parece rato em queijo parmesoBom dia, tristeza

    Que tarde, tristezaVoc veio hoje me ver

    J estava ficandoAt meio triste

    De estar tanto tempoLonge de voc

    [...]

    (Bom Dia, Tristeza, BARBOSA; MORAES, 1957)

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    A seguir, esto transcritos duas citaes a respeito da obra desses artistas, que souma sntese de sua genialidade, talento, impacto e contemporaneidade.

    A primeira, realizada por Antnio Candido, um dos fundadores do Departamento deTeoria Literria e Literatura Comparada da Faculdade de Filosofia, Letras e CinciasHumanas da Cidade de So Paulo, em 1952 reservaria a Adoniran Barbosa o mes-mo respeito que reservava aos metres da literatura nacional (CAMPOS JUNIOR,2004, p. 486). Em seguida, textos dos bigrafos dos Smiths e jornalistas musicaisSimon Goddard e Tony Fletcher.

    Adoniran Barbosa um grande compositor e poeta popular, expressivo como poucos; mas no Ado-niran, nem Barbosa, e sim Joo Rubinato, que adotou o nome de um amigo funcionrio do Correio eo sobrenome de um compositor admirado. A ideia foi excelente, porque um artista inventa, antes demais nada, a sua prpria personalidade; e porque, ao fazer isto, ele exprimiu a realidade to paulista decerne que exprime a sua terra com a fora da imaginao alimentada pelas heranas necessrias de fora.

    J tenho lido que ele usa uma lngua misturada de italiano e portugus. No concordo. Da mistura, que o sal de nossa terra, Adoniran colheu a flor e produziu uma obra radicalmente brasileira, em que asmelhores cadncias do samba e da cano, alimentadas inclusive pelo terreno frtil das Escolas, se alia-ram com naturalidade s deformaes normais de portugus brasileiro, onde Ernesto vira Arnesto, emcuja casa nis fumo e no encontremo ningum, exatamente como por todo esse pas. Em So Paulo,hoje, o italiano est na filigrana.vA fidelidade msica e fala do povo permitiram a Adoniran exprimir a sua cidade de modo comple-to e perfeito. So Paulo muda muito, e ningum capaz de dizer aonde ir. Mas a cidade que nossagerao conheceu (Adoniran de 1910) foi a que se sobreps velha cidadezinha caipira, entre 1900e 1950; e que desde ento vem cedendo lugar a uma outra, transformada em vasta aglomerao de

    gente vinda de toda a parte. A nossa cidade, que substituiu a So Paulo estudantil e provinciana, foi a dosmestres-de-obras italianos e portugueses, dos arquitetos de inspirao neoclssica, floral e neocolonial,em camadas sucessivas.

    So Paulo dos palacetes franco-libaneses do Ipiranga, das vilas uniformes do Brs, das casas meio france-sas de Higienpolis, da salada da Avenida Paulista. So Paulo da 25 de Maro dos srios, da Caetano Pin-to dos espanhis, da rapaziada do Brs na qual se apurou um novo modo cantante de falar portugus,como na lngua geral da convergncia dos dialetos peninsulares e do baixo-contnuo vernculo. Estacidade que est acabando, que j acabou com a garoa, os bondes, o trem da Cantareira, o Tringulo,as cantinas do Bixiga, Adoniran no a deixar acabar, porque graas a ele ela ficar, misturada vivamentecom a nova mas, como o quarto do poeta, tambm intacta boiando no ar.

    A sua poesia e a sua msica so ao mesmo tempo brasileiras em geral e paulistanas em particular. So-bretudo quando entram (quase sempre discretamente) as indicaes de lugar, para-nos, porm no alto

    3.6 Dod, Moz (e Marr) retratos contemporneos. da Mooca, na Casa Verde, na Avenida So Joo, na 23 de Maio, no Brs genrico, no recente metr, noantes remoto Jaan. Quando no h esta indicao, as lembranas de outras composies, a atmosferalrica cheia de espao que a de Adoniran, nos fazem sentir por onde de perdeu Ins ou onde o desas-trado Papai Noel da chamin estreita foi comprar Bala Mistura: nalgum lugar de So Paulo. Sem falar queo nico poema em italiano desse disco nos pe no seu mago, sem necessidade de localizao.

    Com seus firmes 65 anos de magro, Adoniran o homem da So Paulo entre duas guerras, se prolon-gando na que surgiu como jiboia fuliginosa dos vales e morros para devor-la. Lrico e sarcstico, malicio-so e logo emocionado, com encanto insinuante da sua antivoz rouca, o chapeuzinho de aba quebradasobre a permanncia do lao de borboleta dos outros tempos, ele a voz da Cidade. Talvez a borbo-leta seja mgica; talvez seja a mariposa que senta no prato das lmpida e se transforma na carne noturnadas mulheres perdidas. Talvez Joo Rubinato no exista, porque quem existe o mgico Adoniran Ba r-bosa, vindo dos corredores de caf para inventar no plano da arte a permanncia da sua cidade e depoisfugir, com ela e conosco, para a terra da poesia, ao apito fanta smal do trenzinho perdido na Cantareira.

    (CANDIDO, Antnio apud CAMPOS JUNIOR, pgs..486 488,489 - Carta de Antnio Candido queintroduz o segundo LP de Adoniran, Adoniran Barbosa, 1975).

    Isso no quer dizer que o pblico em geral compartilhe do amor e respeito mtuos pelos Smiths. Algunsmotivos incluem a voz sem treinamento e o alcance vocal limitado de Morrissey, que ele compensava,no comeo da carreira, cantando como tirols, uivando e grunhindo ocasionalmente, alm da posiopoltica pessoal de suas letras, que buscavam provocar, entreter, confortar e confrontar (apesar de teremsidos muitas vezes rejeitadas por crticos mal informados como simples autoajuda) auxiliados por umarecusa coletiva to determinada a no ceder que fez com que a banda fosse mau interpretada como in-conveniente ou arrogante [...]... Por todas essas razes, os Smiths eram amados ou odiados. No haviaespao para meio-termo. (FLETCHER, 2012, p.13).

    [...] Em termos mais claros, os Smiths expressavam as esperanas de forma to relevante quanto osmedos de uma gerao de forma que nenhuma outra banda da poca conseguiu. O fato de eles teremfeito isso com uma combinao to notvel de ambiguidade sexual, petulncia poltica, confiana coletiva

    e, especialmente, humor selvagem, no apenas garantiu banda a imortalidade entre seus contempo-rneos, mas os ajudou a ganhar geraes futuras de fs igualmente leais, para quais os Smiths a muitoextintos, existem num pedestal reservado a santos e deuses. (FLETCHER, 2012, p.11)

    Desde o primeiro disco deles, de Maio de 1983, ao ltimo, de Dezembro de 1987, por quatro lbuns,17 singles e cerca de 70 msicas da parceria Morrissey/Marr, os Smiths cobriram todos os gneros popimaginveis, normalmente reconfigurando-os em sua prpria criao insondvel. Shakespeares Sisterera rockabilly, mas que tipo de rockabilly Johnny Cash no olfato, as irms Bront no paladar -, eraimpossvel saber. Se Panic era glam rock, ento era um novo tipo de glam, possivelmente um glam al Gordon-Riots, um glam derrubem- a-Bastilha, um glam que usava plvora no rosto ao invs deglitter. There is a L ight That Never Goes Out era uma cano de amor, mas que ousava substituir ca-rinhos por jugulares cortadas atravs de um para-brisa de automvel. Eles tentaram escrever um singlede reggae, mas acabaram escrevendo Girlfriend in a Coma, que no era exatamente reggae, ou, se

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    era, ento foi o primeiro e ltimo single de reggae a respeito de uma mquina de respirao artificial.Os Smiths foram nosso sucesso, meu e de Johnny, totalmente, disse Morrissey. As nuances da histriadeles e da complexidade de seu songbook podem ser encontradas espalhadas ao longo deste livro, masresumindo a singularidade de Morrissey/Marr e dos Smiths, s preciso dizer quem nenhum outrogrupo antes ou desde ento consegiu mostrar cores to chocantes para tanta gente. Ningum teve acoragem de dar lbuns nomes to polmicos como Meat is Murder (Carne Assassinato) e TheQueen is Dead (A Rainha Morreu), nem de dar a um single o ttulo Shoplifters of the World Unite,tampouco escrever um refro to incendirio hang the DJ (enforquem o DJ) e grav-los com tama-nha tranquilidade. Ningum resumiu o trabalho com o mesmo desespero cmico como Frankly MisterShankly, ou a escola com a vingana, como The Headmaster Ritual (O Ritual do Diretor ). Ningumprovou que menos mais com o mesmo brilho de Please Please Please Let Me Get What I Want.Ningum mostrou tanta beleza e tanta melancolia com a mesma delicadeza assustadora de Asleep.Ningum adentrou o poo da solido na mesma profundidade Last Night I Dreamt That SomebodyLoved Me (Na noite passada sonhei que algum me amava).

    Ningum mesmo.

    (GODDARD, 2009, pgs. 350 e 351).

    Assim, tentou-se ao longo desse projeto, transmitir a subjetiva e imaterial contempo-raneidade de Adoniran, Marr e Morrissey. Eram considerados romnticos em suasgeraes, mas tambm traziam com si uma melancolia e acidez excepcionais.

    Sua sensibilidade perante o presente, sua percepo em reconhecer nas trevas dopresente a luz (AGANBEM, p. 66), fazem dos artistas em destaque verdadeiroscontemporneos e nicos, que conseguiram, assim, ler de modo indito a histria(AGANBEM, p. 70).

    Tentou-se, porque melodias e acordes so imateriais. Precisam ser mais do que en-tendidos,sentidos.

    Crie um cenrio mental a partir das sensaes que surgem, tente imaginar a So

    Paulo dos anos 60 de Adoniran, repleta de mudanas, assim como a Manchester dosanos 80 dos Smiths, industrial e nublada. Imagine-se andando por essas ruas imagi-nrias, vendo o desenrolar das tramas. Imagine-se nos bailes de carnaval de dcadas passadas, jogando serpentina pelosalo, e depois o vazio da quarta-feira de cinzas. Ou ainda passeando pelo centroantigo da cidade de So Paulo, pelos seus prdios histricos que ocuparam e desalo-jaram inmeros moradores de cortios, imortalizados por Adoniran.

    [...]O carnaval passou, levou a minha rosa

    Levou minha esperana, levou o amor crianaLevou minha Maria, levou minha alegria

    Levou a fantasia, s deixou uma lembrana.

    (Vila Esperana, BARBOSA, 1968).

    Se o senhor no t lembradoD licena de cont

    Que aqui onde agora estEsse edifcio artoEra uma casa via

    Um palacete assombradadoFoi aqui seu moo

    Que eu, Mato Grosso e o JocaConstrumos nossa maloca

    [...]

    (Saudosa Maloca, BARBOSA, 1951)

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    Imagine-se voltando sua cidade-natal, andando por suas saudosas ruas e relem-brando de seus antigos amores, ou cantando apaixonadamente uma declarao deamor em um carro a alta velocidade, com o vento no rosto...

    When you cycled byHere began all my dreams

    The saddest thing Ive ever seenAnd you never knew

    How much I really liked youBecause I never even told you

    Oh, and I meant toAre you still there?

    Or have you moved away?Or have you moved away?Oh...[...]-

    Quando voc pedalavaAqui comearam todos os meus sonhos

    A coisa mais triste que eu j viE voc nunca soube

    O quanto eu realmente gostava de vocPorque eu nunca sequer lhe contei

    Oh, eu tenteiVoc ainda est l?Ou voc se mudou?Ou voc se mudou?

    Oh...[...]

    (MORRISSEY, MARR; Back to the Old House, 1984).

    Fica o incentivo para que o leitor busque suas canes e deixe-se emo-cionar pelas suas letras e melodias e que um dia compartilhe com a au-tora o mesmo fascnio e admirao por tais retratos contemporneos.

    And if a double-decker busCrashes into us

    To die by your sideSuch a heavenly way to die

    And if a ten-ton truckKills the both of usTo die by your side

    Well, the pleasure and the privilege is mineTake me out tonightOh take me anywhere

    I dont care, I dont care, I dont care[]

    -E se um nibus de dois andares

    Bater em nsPara morrer ao seu lado

    Que maneira celestial de morrerE se um caminho de dez toneladas

    Matar a ns doisMorrer ao seu lado

    Bem, o prazer e o privilgio so meusLeve-me em qualquer lugar

    Eu no me importo, eu no me importo, eu no me importo...[...]

    (There is a Light That Never Goes Out, MORRISSEY; MARR, 1985).

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    me.to.do.lo.gi.a

    sf (mtodo+logo+ia) 1 Estudo cientfico dos mtodos. 2 Arte de guiar o espritona investigao da verdade. 3 Filos Parte da Lgica que se ocupa dos mtodos doraciocnio, em oposio Lgica Formal. M. didtica: teoria dos procedimentos deensino, geral ou particular para cada disciplina; didtica terica. (Michaelis ModernoDicionrio da Lngua Portuguesa).

    Arte de guiar o esprito na investigao da verdade.

    Substituindo verdade por Moda ou at mesmo Coleo, chega-se ao objetivo desseProjeto.Aps meses de pesquisa e investigao, o esprito chegou qual concluso? Onde,de fato, est a Moda?

    Tais questionamentos foram guias necessrios para se chegar a uma Coleo mate-rial, tridimensional.Desde o incio, desejou-se trabalhar as referncias de estilo pessoal registradas emfotos e vdeos dos artistas em destaque. Adoniran, por exemplo, no dispensava umbom terno... Mesmo antes de vir tentar a vida em So Paulo, mesmo no cenrioainda rural do interior de So Paulo.

    Com 300 mil-ris, prmio recebido por Dona Boa, sua marchinha vencedora docarnaval de 1950 (Era uma porcaria de marcha, um porcaria de marcha, mas ga-nhou o primeiro lugar do Carnaval [...]. ADONIRAN apud MUGNAINI JUNIOR,p. 35) seriam, na realidade, convertidos em um terno sob medida...

    Deram [o prmio] em cheque, no Teatro Boa Vista [onde se realizou a finalssima]. Eu tinha dois amigosnaquela noite. Quando ganhei o prmio, que recebi o cheque arranjei 20 amigos, rpido. Tudo atrs demim: Adoniran, voc o maior, salve ele e tal. E troca o cheque, troca o cheque. Eu troquei o chequena marra e foi birra, birra, birra [cerveja]. E eu tinha mandado fazer um palet, escuite essa qui, prair buscar no outro dia. No fui buscar o palet, porque o dinheiro no deu, acabou na mesma noite,

    rapaz. [...] (ADONIRAN apud MUGNAINI JUNIOR, pgs. 38 e 39).

    4 metodologia

    4.1 Estilo e Moda

    ... Isso se a boemia tivesse deixado.

    A moda tambm teve um importante e crescente papel na carreira dos Smiths.

    Johnny Marr trabalhava em uma loja de moda alternativa em Machester, X-Clothes,e se tornou amigo do dono da loja de Jeans ao lado, Joe Moss, primeiro empresrioe padrinho dos Smiths. Johnny sempre cuidava para sempre apresentar a bandacom uma imagem coesa. (GODDARD, 2012, p. 511).Enquanto Morrissey achava os Smiths o grupo mais mal vestido da histria das rou-pas (MORRISSEY apud GODDARD, 1984), o interesse de Marr cresceu cada vezmais em relao moda. Em 1999, lanou uma marca de roupas alternativas, a Elk.

    Por outro lado, Moz nunca deu, em carreira com os Smiths, tanta importncia s

    roupas. Muito pelo contrrio. Ao afirmar que a banda era uma das mais mal vestidasprovavelmente estava se referindo a si mesmo, que usava camises da Evans, umarede inglesa de roupas femininas, especializadas em tamanhos grandes. Elas caemmuito bem e deixam claro o fato de que eu no tenho corpo, disse ele, em 1984.A moda, alis, foi um aspecto que uniu os at ento ilustres desconhecidos Marr eMorrissey, obcecado pela imagem de James Dean, morto em 1955.

    Marr tambm acredita que, quando ele conheceu Morrissey no vero de 1982, o estilo de moda retrodos anos 1950 que eles compartilhavam (os dois curtiam calas americanas Levis antigas) foi fator

    decisivo pra estabelecer uma afinidade. (GODDARD, 2012, p. 511).

    A moda considerada retro nos anos 80, era a moda vigente do tempo de Adoniran:os ternos com transpasse frontal, camisaria mais enxuta, calas cigarretes, mocas-sins... Grandes influncias para a construo dessa Coleo. Ao mesmo tempo, oestilo despojado da banda, com suas camisas para senhora acima do peso, calas je-ans, e evocando a Moda alternativa dos anos 80 tiveram igual peso para o processo

    de criao.

    Alm da busca pela nova traduo dos estilos, a busca pela reproduo da tcnicaartstica da Alfaiataria foi uma grande influncia para a construo dessa Coleo.

    Sobre essa arte, o livro Classic Tailoring Techniquesintroduz:

    Os alfaiates de hoje continuam a praticar sua arte quase exatamente como era praticada h um sculo.No porque mais lento necessariamente melhor, mas porque esses mtodos produzem corpo e for-ma, detalhes e durabilidade que novos mtodos mais rpidos de alfaiataria so simplesmente incapazes

    de iguais. (CABRERA, MEYERS, 2007, p. 1. Traduo livre.)

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    foto do cone James Dean, por Roy Schatt, 1954.Ao centro, moz e marr, por peter s latery, 1984. direita, adoniran cantando, acervo a.b.

    FIGURA 8, 9&10 E 11

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    Em tempos de fast-fashion, buscar uma tcnica nobre, porm centenria, foi umexerccio do que Agamben destaca como uma caracterstica contempornea: olharpara o passado, para se entender o presente e antecipar o futuro, inclusive da Moda.

    O tempo da moda est constitutivamente adiantado a si mesmo e, exatamente por isso, tambm sem-pre atrasado, tem sempre a forma de um limiar inapreensvel entre um ainda no e um no mais.(AGANBEM, 2012, p. 67).

    Assim, para ficar a par das tecnologias e tcnicas empregadas na Moda a autora re-alizou alguns cursos como Estamparia Digital (FAAP; ainda no), Alfaiate Camiseiroe SilkScreen (Projeto Sob Medida e Galeria do Rock, respectivamente; no mais).

    Cristiane Mesquita disserta:

    A partir da [dos anos 1950], a Moda nunca mais foi a mesma, pois singularidades surgem exatamenteda misturaentre roupas, sapatos, maquiagem, cabelo e comportamento e as subjetividades individuais:da interao do que cada um de ns tem no guarda-roupa com nossa histria e nossa realidade . O olharcurioso por tipos e estilos deve ir alm das aparncias. Ao ver, deve imaginar histiras:passado, pre-

    sente e futuro, casa trabalho, trilha sonora e, at mesmo, amigos. (MESQUITA, 2004, p.16).

    Assim, um dos maiores desejos para a Coleo o de realizar uma mistura que sejabem-sucedida, ou seja, que alm de trazer um casamento harmnico entre duaspartes distintas, se misture com a personalide de quem usa, incorporando sua atitu-de, ou lhe transmitindo uma, algo que vai alm das aparncias...

    FIGURA 12

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    Como escrito na Introduo desse Projeto, a inspirao surge a partir do interior daautora. O pretexto de toda a pesquisa, que se relaciona com a vida e jornada acad-mica da autora, para falar do indivduo,eu.Quando criana, por exemplo, ouvia sua av cantarolar Saudosa Maloca, com-posio de Adoniran Barbosa e Oswaldo Molles. As msicas dosSmiths, em con-trapartida, fez parte de sua adolescncia e do incio da sua vida adulta, presente em

    momentos tristes e alegres.I Know Its Over, por exemplo, foi uma forma de consolo.O ncio da construo desse trabalho foi, ento, tentar dar cara e cor a essas impres-ses subjetivas.As imagens de Adoniran, por exemplo, so todas praticamente do mesmo livro,crucial para a pesquisa de tal artista j no terceiro ano de faculdade, para a matria dePlanejamento de Coleo. Tal livro, repleto de fotografia de So Paulo dos anos 40 e50 e de vrios momentos da carreira do cantor, foi base imagtica para as colegens,montagens e recoloraes feitas com as letras de Adoniran.O livro fotogrfico The Smiths: The Early Years, de Paul Slattery, fonte da maiorparte de imagens encontradas dos Smithsem blogs e sites de fs, inclusive no daautora. Alm disso, pesquisaram-se imagens da banda em diversos momentos mar-cantes de sua carreira do fotgrafo Stephen Wright.

    A seguir, montagens feitas para a matria de Estilo no segundo bimestre, as primeirastentativas de transformar esse Projeto em imagens...

    4.2 - Subjetividade toma forma

    FIGURAS 13 E 14

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    Montagens realizadas com misturas de imagens de referncia, foto de acervo pessoal(estao do Brs) e ilustraes de um antigo livro de Botnica da autora - tal monta-gem - abaixo - deu origem estampa Nature Is a Language, Cant You Read?, trecho dacano Ask, dos Smiths , (a natureza uma lngua, voc no consegue ler?).

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    5 construo da coleo - primeiras experincias

    coleo apresentada no segundo bimestre - 2014, acervo pessoal.

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    6 moulage e esboos

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    com base na pesquisa de estilos e tcnicas, rascunhos iniciais e um teste na moulage...

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    AGOSTO - 2014

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    rabiscos, rabiscos, rabiscos... acervo pessoal.

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    Deixem-me contar por que adoramos o narciso...

    A frase acima de Oscar Wilde, que sempre usava flores. Sendo uma das maioresinfluncias dos Smiths, no seria diferente com a banda. O perodo das flores temseu apogeu no ano de 1984, com a primeira grande turn do grupo no Reino Unido.

    As flores foram um gesto muito humano. Elas integravam a harmonia com a natureza, algo de que aspessoas pareciam morrer de medo. Havia chegado a um ponto na msica em que as pessoas tinhammuito medo de mostrar como se sentiam. De mostras suas emoes. Eu achava aquilo um pena e mui-

    to chato. As flores deram esperana. (MORRISSEY apud GODDARD, 2009, p. 189)

    Cansado de carregar flores no palco, Morrissey passou a coloc-las no bolso traseirode seusjeans, para poder ficar com as mos livres.No fim de 1984, a banda havia parado de levar flores aos palcos, mas seus fs sem-pre garantiam que elas continuassem a ser parte do show.

    Foi um fim de um estgio para ns, mas acho que era muito artstico. Pelo menos, aquilo no tinha sidofeito antes. (MORRISSEY apud GODDARD, 2009, pgs. 190,191)

    As flores nos bolsos, ento, sero introduzidas no styling final.

    7 flores

    tulipas, gladolos e narcisos no bolsotraseiro de morrissey no camarim, 1984,foto de peter slatery.

    FIGURA 15 rapport Narcisos

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    cores

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    Cores de narcisos, cores de Salford,cores de So Paulo, cores dO PASSADO,cores de um encontro imaginrio...

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    9 styling e pblico-alvo

    ACIMA, backstage nYFW da oyster, fotos de rebekahcampbell - outubro 2014;

    algumas inspiraes para styling E CASTING:figuras 16, 17 e 18.

    PBLICO-ALVO DA COLEO, FIGURAS 19-27.

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    O pensamento principal para o pblico-alvo gira em torno de mulheres pertencen-tes ao clusters dos sociveis - cosmopolita, que gosta de sair para eventos culturais esociais, memso com vida profissional agitada.

    Gosta de explorar a cidade, valoriza o passado. Aprecia feiras de antiguidades e mu-seus, alm deshowse concertos de Rock.

    despojada, anda de bicicleta, transporte pblico, prtica... Efforless chiq. Prezaestilos atemporais mas com vis moderno e d valor matria prima, durabilidade ,

    modelagem e caimento da pea.

    Podem ser jovens profissionais, profissionais j consolidadas ou jovens que queremse vestir com mais elegncia. Assim, a idade varia de 20 50 anos.

    Apreciam marcas como Stella McCartney, Cline, Pringle of Scotland, Raf Simons,Bottega Veneta, Givenchy e Dior, mesmo sem ter o poder necessrio para consumirtais marcas.

    Feita para a vida das grandes metrpoles, essa coleo pode ser chamada de PRIMA-VERA/ OUTONO - visto que o tempo em uma cidade como So Paulo instvele dita a forma como as pessoas se vestem , em camadas, sempre prontas para umamudana climtica.

    10 matrias

    A escolha das matrias preza o conforto, toque e caimento.Buscou-se tambm a mistura entre tecidos mais nobres - Linho, Seda e L. - e te-cidos comuns, como a tricoline e oJeans.

    Para confeco da estampa digital desenvolvida recorreu-se impresso digital dire-

    tamente sobre o tecido de fibra natural, da empresa Dtprint.

    BARDOT

    58%Viscose35%Seda7%Linho

    Fornecedor:G.Vallone.

    TI

    74%Viscose26%Algodo

    Fornecedor:G.Vallone.

    VALENTINE

    65%Liocel35%Seda

    Fornecedor:G.Vallone.

    BLUE JEANS

    100%Algodo

    Fornecedor:Grupo EP.

    10.1 - Txteis

    moda feminina conempornea;primavera-outono;mulheres de 20 a 50 anos;classe mdio-baixa a alta.

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    PIQUET

    52%Algodo47%Polister1%Elastano

    Fornecedor:Txtil Fvero.

    ACETINADO -ESTAMPA-RIA DIGITAL

    64%Algodo36%Polister

    Fornecedor:DTPRINT

    ETRO:DOPIA EENTRETELA

    100% Viscose

    Fornecedor:G.Vallone.

    TRICOLINEESTAMPADA

    100%Algodo

    Fornecedor:Center Fabril.

    [A coleo] no girava em torno de destruir a ele-gncia, mas sim em conseguir uma que fosse dife-

    rente. Havia uma mistura de tecidos ricos e pobres,uma manipulao do tecido e do material para atri-

    buir um significado maior.

    (Miuccia Prada apud FOGG, 2014, p.82, sobre a coleo daMiu Miu em 2013 em que apresenta um conjunto em brim,

    misturando a alta-costura com a moda do cotidiano).

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    Enquanto os conceitos da coleo giram em torno do retorno simplicidade (FLE-TCHER, p. 2012, p.200) - ou seja, formas simples, mas no simplrias - economiade formas, porm no com uma economia dedesign, o pensamento usado para osacessrios e aviamentos so bem diferentes.

    Para se passar o valor subjetivo e emocional das canes dos artistas em destaquenesse Projeto para as peas, inclusive de unicidade, escolheu-se aviamentos igual-mente nicos. So botes de estilos e materiais diferentes, provenientes de com-pras em armarinhos e da coleo particular da autora.

    Alguns botes foram presentes de sua av, Margarida da Silva Santos, a quem sededica esse Trabalho. Foi uma das maiores referncias da autora antes de iniciar essajornada h quatro anos atrs, de quem herdou no s seu amor por Adoniran Bar-bosa e sua Saudosa Maloca, mas por tecidos (ediversos tecidos, fazendas, segundoela),flores, tcnicas manuais, Moda (a primeira e mais confivel mquina de costurada autora foi presente dela), como tambm seu amor por botes de todos os tipose tamanhos.

    Assim, os botes tornam-se tambm um adorno, um enfeite, um lembrete, umahomenagem...

    10.2 - Aviamentos

    Curso de desenho, flores e botes DE mAR-GARIDA.aCIMA, DESENHO DE OBSERVAO FEITO PELAAUTORA, 2011. ACERVO PESSOAL.

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    12 identidade visual

    Juliana - fonte CODE LIGHT;

    Falco - fonte SIGNERICA MEDIUM;

    Software usado para desenvolvimento:CorelDraw X7;

    Fundo dos cartes: Estampa Narcisos,da autora;

    Papel dos cartes: Offset 240g;

    Grfica: Printi.

    FONTE CODE, D LEVEZA E LIMPEZA LOGO;

    fONTE SIGNERICA , DE Mns Grebck, SIMILAR ESCRITA MANUAL DA AUTORA.

    tag e carto desenvolvidos pela autora, acervo pessoal - outubro 2014.

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    13 consideraes finais

    2014 foi um ano em que pus minha formao, habilidades e deficincias em cheque,por isso, realizar esse trabalho foi uma montanha-russa emocional e acadmica, paradizer o mnimo.

    Significou para mim mais do que apenas um trabalho acadmico, ento... Foi comoolhar-se para um espelho e tentar arrumar tudo o que no agrada.Significou mudanas profundas, um verdadeiro crescimento, um mergulho profun-do, em pesquisas, livros, msica e em mim mesma.

    Porm, mais do que divagar sobre os terrveis e maravilhosos sofrimentos que en-volvem crescer, se formar (literalmente), eu s tenho a agradecer. Uma seo nofoi o suficiente.

    Agradeo a todos que me apoiaram, que me ajudaram, que me deram a mo quan-do estava completamente desanimada e sem direo durante a construo desseProjeto. Agradeo inclusive s crticas, que deram ainda mais fora e estrutura a essetrabalho. Agradeo tambm a esses artistas incrveis, que entraram na minha vidameio que por acaso e que j fazem parte dela.

    Obrigada, Banfi, ngela e Mariana Rocha por suas crticas (construtivas!) e puxes deorelha (ocasionais);Obrigada, Marcia Aguiar, D. Sueli e Aiza, por seus preciosos ensinamentos em Es-tamparia;Obrigada, Blenda Mota, por seu apoio, amizade e ajuda prtica;Obrigada, Edilma, Eliana, Srgio, Thata, Rodney... Minha outra famlia;Obrigada, Pedro Camargo, pelas verdadeiras aulas de Moda;(Mais uma vez, obrigada, Simone... Que prazer ser sua orientanda! Mais uma vez,obrigada, Isa... Sua amizade mais que preciosa para mim!)

    E, last but not least, obrigada, me... Por tudo. Tudo.Te amo!

    But dont forget the songsThat made you cry

    And the songs that saved your lifeYes, youre older now ...

    But they were the only ones who ever stood by you

    rubber ring - the smiths

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    bibliografia

    AGAMBEN, Giorgio. O Que o contemporneo? E outros ensaios. Chapec: Ar-gos, 2010.

    CABRERA, Roberto; MEYERS, Patricia Flaherty. Classic tailoring techniques: a cons-truction guide for men's wear. New York: Fairchild Publications, 2007.

    CAMPOS JUNIOR, Celso. Adoniran: uma biografia. So Paulo, SP: Globo, 2004.

    CAMPOS JUNIOR, Celso; KAZ, Leonel; LODDI, Nigge. Trem das Onze: A Poticade Adoniran Barbosa. Rio de Janeiro: Aprazvel Edies, 2010/2011.

    FLETCHER, Tony. The Smiths: A light that never goes out. A Biografia. Traduo deRodrigo Abreu. Rio de Janeiro: Best Seller, 2014.

    FOGG, Marnie. Quando a moda genial: 80 obras-primas em detalhes. So Paulo,SP: Gustavo Gili, 2014.

    GODDARD, Simon. Mozipdia: a Enciclopdia de Morrissey e dos Smiths. Traduode Carolina Caires Coelho. So Paulo: LeYa, 2013.

    MESQUITA, Cristiane. Moda contempornea: quatro ou cinco conexes possveis.So Paulo, SP: Anhembi Morumbi, 2004.

    MICHAELIS Moderno Dicionrio da Lngua Portuguesa. So Paulo: Editora Melhora-mentos, 2012. Disponvel em: . Acesso em: 27 out.2014.

    MUGNAINI JUNIOR, Ayrton. Adoniran: d licena de contar... .So Paulo: Editora34, 2002.

    SLATTERY, Paul. The Smiths The Early Years. Londres, Omnibus Press, 2007.

    The Smiths The Queen Is Dead turns 25 in pictures. Disponvel em Aces-so em: 13/09/2014;

    Photos of the Smiths at the Salford Lads Club and Live Shows 1984-87. Disponvelem < http://www.smithsphotos.com/>. Acesso em: 13/09/2014.;

    Monumentos em lugares pblicos. Disponvel em Acesso em: 13/09/2014.;

    Formatao das Normas ABNT. Disponvel em < http://formatacaoabnt.blogspot.com.br/>. Acesso em: 13/09/2014;

    James Dean Walking Photos. Disponvel em < http://www.jamesdean.com/>.Acesso em: 29/09/2014;

    Roy Schatt Photos. Disponvel em . Acesso em: 29/09/2014;

    The Queen Is Dead, 1986. Disponvel em < http://vulgarpicture.com/s1986.html>,Acesso em 29/09/2014;

    Hulme, A rare photo of the now demolished Queens Square, Hulme, 1964, thefirst street Morrissey lived on. Disponvel em < http://www.morrissey-solo.com/threads/83793-Hulme>. Acesso em 29/09/2014.

    webgrafia

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    FIGURA 1 - Livro Adoniran - Uma Biografia, p. 513;

    FIGURA 2 - Livro Trem das Onze - A Potica de Adoniran Barbosa, p.102, acervoAdoniran Barbosa;

    FIGURA 3 - Foto de Luiz Morrone, 2008. Disponvel em Acesso em:13/09/2014;

    FIGURA 4 - Disponvel em . Acesso em:03/09/2014;

    FIGURA 5 - Foto de Stephen Wright. Disponvel em < http://vulgarpicture.com/s1986.html>. Acesso em: 13/09/2014;

    FIGURA 6 - Disponvel em < Disponvel em < http://www.morrissey-solo.com/threads/83793-Hulme>. Acesso em 29/09/2014;

    fFIGURA 7 - Foto de 1947, de Peter Scheier; Livro Trem das Onze - A Potica deAdoniran Barbosa;

    FIGURA 8 - Foto de Roy Schatt. Disponvel em < http://www.jamesdean.com/>.Acesso em: 29/09/2014;

    FIGURAS 9/10 - Foto de Paul Slattery, 1983. Livro The Smiths The Early Years, p.15;

    FIGURA 11 - Adoniran, 1940, Acervo Adoniran Barbosa;

    FIGURA 12 - Livro Classic tailoring techniques: a construction guide for mens wear., p.1;

    FIGURA 13 - Acervo Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa. Livro Adoniran- Uma Biografia, p. 66;

    lista de imagens

    FIGURA 14 - Foto de Paul Slattery, 1983. Livro Livro The Smiths The Early Years,p. 50;

    FIGURA 15 - Foto de Paul Slattery, 1984. Livro The Smiths The Early Years, p. 60;

    FIGURA 16/ 17(montagem da autora) - Foto de Rebekah Campbell, 2014. Dispo-nveis em < http://rebekahcampbellphoto.tumblr.com/post/96974008223/faces-at-

    the-a-detacher-ss15>. Acesso em 13/09/2014;

    FIGURA 18 - Sem crdito. Disponvel em < http://from-ritz-to-rubble.tumblr.com/post/83965792393/yagazieemezi-what-color-is-love-photos-abby>. Acesso em:01/03/2014;

    FIGURAS 19-27 - Fotos de Scott Schuman. Disponvel em < http://thesartorialist.blogspot.com/>. Acesso : 13/09/2014;

    FIGURA 28 - Foto de Paul Slattery na Estao Central de Manchester, 1983. LivroThe Smiths The Early Years, p. 83;

    FIGURA 29 - Igreja da S, 2014, acervo pessoal;

    FIGURA 30 - Montagem da autora, 2014, acervo pessoal;

    FIGURA 31 - Recolorao em Ecoline pela autora, 2013. Foto Livro Trem das Onze- A Potica de Adoniran Barbosa, acervo Adoniran Barbosa;

    FIGURA 32 - Salford Lads Club por Stephe Wright. Disponvel em . Acesso em 29/09/2014.

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    POR Toda Minha Vida - Adoniran Barbosa. Direo de Fabricio Mamberti. Intr-pretes: Hugo Napoli, Marcelo Airoldi. Roteiro: George Moura, Teresa Frota. S.i.:Rede Globo, 2010. (48 min.), son., color. Disponvel em: . Acesso em: 27 mar. 2012.

    THERE Is A Light That Never Goes Out. Intrpretes: The Smiths. Msica: ThereIs A Light That Never Goes Out. Salford, Manchester: Wea, 1992. (4 min.), VHS,son., color. Srie The Complete Picture. Disponvel em: . Acesso em: 27 out. 2014.

    MPB Especial com Adoniran Barbosa. Intrpretes: Adoniran Barbosa. 1972. (47 min.),son., P&B. Disponvel em: .Acesso em: 27 out. 2014.

    THE Smiths - This Charming Man (Official Music Video). Intrpretes: Then Smiths.Msica: This Charming Man. 1983. (3 min.), son., color. Disponvel em: . Acesso em: 27 out. 2014.

    A TASTE of Honey. Direo de Tony Richardson. Produo de Tony Richardson.Intrpretes: Rita Tushingham. Roteiro: Shelagh Delaney , Tony Richardson. ReinoUnido: Woodfall Film Productions, 1961. (100 min.), son., P&B.

    THE Smiths - Heaven Knows Im Miserable Now (Official Music Video). Intrpretes:

    The Smiths. Msica: Heaven Knows Im Miserable Now. Reino Unido: Rhino, 1984.(4 min.), son., color. Disponvel em: . Acesso em:27 out. 2014.

    ADONIRAN BARBOSA

    As Mariposas, BARBOSA; 1955;

    Despejo na Favela, BARBOSA, 1969;

    Praa da S, BARBOSA, 1978;

    Conselho de Mulher, BARBOSA; BE-LARMINO, MOLLES, 1952;

    Bom Dia, Tristeza, BARBOSA; MORAES,1957;

    Bife Milanesa, BARBOSA; VERGUEI-RO, 1979;

    Saudosa Maloca, BARBOSA, 1951;

    Vila Esperana, BARBOSA, 1968;

    THE SMITHS

    There is a Light That Never Goes Out,MORRISSEY; MARR. 1985;

    The Headmaster Ritual, MORRISSEY;MARR, 1985;

    Back to the Old House, MORRISSEY;MARR, 1984;

    Youve Got Everything Now, MORRISSEY;MARR, 1984;

    Still Ill, MORRISSEY; MARR, 1984

    Heaven Knows Im Miserable Now, MOR-RISSEY; MARR, 1984;

    filmografia canesordem de apario

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    anca

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    fotos da banca - DEZ. 2014 - acervo pessoal

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