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Noites Azuis Adriana Falcão

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Page 1: Noites Azuis Adriana Falcão Noites Azuis Adriana Falcão

Noites Azuis

Adriana Falcão

Noites Azuis

Adriana Falcão

Page 2: Noites Azuis Adriana Falcão Noites Azuis Adriana Falcão

Entre os mil tipos de noite que existem,

escondidas no meio das outras,

dormem

as Azuis,

as Brancas

e as Desgraçadas.

De vez em quando, uma delas acorda para dar plantão.

A gente identifica logo.

Entre os mil tipos de noite que existem,

escondidas no meio das outras,

dormem

as Azuis,

as Brancas

e as Desgraçadas.

De vez em quando, uma delas acorda para dar plantão.

A gente identifica logo.

Page 3: Noites Azuis Adriana Falcão Noites Azuis Adriana Falcão

Nas Noites Azuis,

as crianças sonham com os anjos.

as mulheres sonham com beijos.

os homens sonham com feitos.

As dores roncam profundamente.

as gentilezas saem por aí a passeio,

os crimes tiram uma noite de folga

e o amor sofre uma terrível insônia.

Nas Noites Azuis,

as crianças sonham com os anjos.

as mulheres sonham com beijos.

os homens sonham com feitos.

As dores roncam profundamente.

as gentilezas saem por aí a passeio,

os crimes tiram uma noite de folga

e o amor sofre uma terrível insônia.

Page 4: Noites Azuis Adriana Falcão Noites Azuis Adriana Falcão

Os casais acordados sussurram baixinho.

(Se alguém despertar, eles não estarão mais sozinhos).

No entanto, os sonhos acordados falam mais alto,

ansiosos para ser logo promovidos a fatos.

Os namorados namoram, namoram e namoram,

pois quem vai fazer a besteira

de não aproveitar uma noite azul para esse tipo de coisa?

Os casais acordados sussurram baixinho.

(Se alguém despertar, eles não estarão mais sozinhos).

No entanto, os sonhos acordados falam mais alto,

ansiosos para ser logo promovidos a fatos.

Os namorados namoram, namoram e namoram,

pois quem vai fazer a besteira

de não aproveitar uma noite azul para esse tipo de coisa?

Page 5: Noites Azuis Adriana Falcão Noites Azuis Adriana Falcão

As partes tentam se colar uma na outra.

O escuro vira cúmplice.

Cada olhar cumpre sua cota.

A lua ajuda no que pode.

As estrelas se empenham especialmente.

Os vaga-lumes executam seu trabalho.

As partes tentam se colar uma na outra.

O escuro vira cúmplice.

Cada olhar cumpre sua cota.

A lua ajuda no que pode.

As estrelas se empenham especialmente.

Os vaga-lumes executam seu trabalho.

Page 6: Noites Azuis Adriana Falcão Noites Azuis Adriana Falcão

A brisa e o calor se alternam

no ritmo dos suspiros.

As mãos também

fazem cada qual sua parte.

Nas noites azuis, o preto,

o marrom, o roxo, o cinza

e todas as outras cores descansam,

exceto o dourado.

A brisa e o calor se alternam

no ritmo dos suspiros.

As mãos também

fazem cada qual sua parte.

Nas noites azuis, o preto,

o marrom, o roxo, o cinza

e todas as outras cores descansam,

exceto o dourado.

Page 7: Noites Azuis Adriana Falcão Noites Azuis Adriana Falcão

Os velhos sentem vontade de dar pulos.

Os adultos têm ataques súbitos de doidice.

Os adolescentes se tornam

as vítimas preferidas dos acasos.

É como se tudo fosse festa.

Os velhos sentem vontade de dar pulos.

Os adultos têm ataques súbitos de doidice.

Os adolescentes se tornam

as vítimas preferidas dos acasos.

É como se tudo fosse festa.

Page 8: Noites Azuis Adriana Falcão Noites Azuis Adriana Falcão

A bebida desce bem, nas noites azuis.

Depois sobe, pra cabeça,

e então a gente pode cometer o que quiser,

inclusive insanidades.

Tomara que não amanheça!

Tomara que não amanheça!

Tomara que não amanheça!

Tomara!

A bebida desce bem, nas noites azuis.

Depois sobe, pra cabeça,

e então a gente pode cometer o que quiser,

inclusive insanidades.

Tomara que não amanheça!

Tomara que não amanheça!

Tomara que não amanheça!

Tomara!

Page 9: Noites Azuis Adriana Falcão Noites Azuis Adriana Falcão

Nas Noites Brancas,

os sonhos de quem dorme

sentem falta das idéias melhores

e aí vai qualquer uma mesmo:

Escola, ônibus, engarrafamento,

Caneta, carteira, trabalho,

Até documento serve.

Nas Noites Brancas,

os sonhos de quem dorme

sentem falta das idéias melhores

e aí vai qualquer uma mesmo:

Escola, ônibus, engarrafamento,

Caneta, carteira, trabalho,

Até documento serve.

Page 10: Noites Azuis Adriana Falcão Noites Azuis Adriana Falcão

A chatice às vezes dá para chatear as dores

e elas não dormem direito.

Doem acordadas.

O resto todo fica quieto.

Até mesmo os namorados.

As alegrias cochilam de vez em quando.

A chatice às vezes dá para chatear as dores

e elas não dormem direito.

Doem acordadas.

O resto todo fica quieto.

Até mesmo os namorados.

As alegrias cochilam de vez em quando.

Page 11: Noites Azuis Adriana Falcão Noites Azuis Adriana Falcão

O escuro não se mete.

A lua fica muito preguiçosa.

As estrelas discutem entre elas.

Os vaga-lumes passam em branco.

A brisa não sopra.

O calor não esquenta.

O escuro não se mete.

A lua fica muito preguiçosa.

As estrelas discutem entre elas.

Os vaga-lumes passam em branco.

A brisa não sopra.

O calor não esquenta.

Page 12: Noites Azuis Adriana Falcão Noites Azuis Adriana Falcão

As mãos permanecem cruzadas.

As cores todas se misturam na roleta da noite

e então desaparecem.

Os velhos balançam nas cadeiras.

Os adultos fazem contas.

Os adolescentes se trancam nos quartos

porque as festas foram todas devidamente canceladas.

As mãos permanecem cruzadas.

As cores todas se misturam na roleta da noite

e então desaparecem.

Os velhos balançam nas cadeiras.

Os adultos fazem contas.

Os adolescentes se trancam nos quartos

porque as festas foram todas devidamente canceladas.

Page 13: Noites Azuis Adriana Falcão Noites Azuis Adriana Falcão

São sóbrias,

as noites brancas.

Devido à falta de surpresas,

o amanhecer não atrapalha.

São sóbrias,

as noites brancas.

Devido à falta de surpresas,

o amanhecer não atrapalha.

Page 14: Noites Azuis Adriana Falcão Noites Azuis Adriana Falcão

Nas Noites Desgraçadas,

os pesadelos se intrometem entre um respirar e outro,

abreviando os outros espaços.

Em compensação,

os ponteiros dos relógios tropeçam,

empacam, se arrastam,

e não aceitam ordens nem pedidos.

Nas Noites Desgraçadas,

os pesadelos se intrometem entre um respirar e outro,

abreviando os outros espaços.

Em compensação,

os ponteiros dos relógios tropeçam,

empacam, se arrastam,

e não aceitam ordens nem pedidos.

Page 15: Noites Azuis Adriana Falcão Noites Azuis Adriana Falcão

Os namorados estao cansados,

ou desanimados, ou raivosos, ou sozinhos.

Em todos os casos não se beijam.

Preferem fazer uso das bocas para pronunciar palavras,

uma após a outra, formando frases enormes.

Infelizmente não se entendem.

Os namorados estao cansados,

ou desanimados, ou raivosos, ou sozinhos.

Em todos os casos não se beijam.

Preferem fazer uso das bocas para pronunciar palavras,

uma após a outra, formando frases enormes.

Infelizmente não se entendem.

Page 16: Noites Azuis Adriana Falcão Noites Azuis Adriana Falcão

No meio da gritaria, as dores acordam irritadas.

O escuro ameaça.

A lua não dá as caras.

As estrelas fecham os olhos.

Os vaga-lumes andam sumidos.

A brisa se enfurece em desaforos.

O calor sente falta de casaco.

As mãos deixam escorrer qualquer oportunidade.

No meio da gritaria, as dores acordam irritadas.

O escuro ameaça.

A lua não dá as caras.

As estrelas fecham os olhos.

Os vaga-lumes andam sumidos.

A brisa se enfurece em desaforos.

O calor sente falta de casaco.

As mãos deixam escorrer qualquer oportunidade.

Page 17: Noites Azuis Adriana Falcão Noites Azuis Adriana Falcão

Noites assim quase sempre não têm cores.

Nem música.

Nem dança.

A bebida não faz bem.

Faz mal ao fígado.

Noites assim quase sempre não têm cores.

Nem música.

Nem dança.

A bebida não faz bem.

Faz mal ao fígado.

Page 18: Noites Azuis Adriana Falcão Noites Azuis Adriana Falcão

Os velhos morrem de saudades de antes.

Os adultos se irritam facilmente.

Os adolescentes envelhecem anos.

Não há o que festejar

em noites desgraçadas,

a não ser o amanhecer,

quando ele chega.

Os velhos morrem de saudades de antes.

Os adultos se irritam facilmente.

Os adolescentes envelhecem anos.

Não há o que festejar

em noites desgraçadas,

a não ser o amanhecer,

quando ele chega.

Page 19: Noites Azuis Adriana Falcão Noites Azuis Adriana Falcão

Mas é só o sol arrebentar

a teimosia das horas

e todo mundo comemora:

Graças!

Mas é só o sol arrebentar

a teimosia das horas

e todo mundo comemora:

Graças!

Page 20: Noites Azuis Adriana Falcão Noites Azuis Adriana Falcão

MUSICA do CD 3L – LOVERS

Ernesto Cortazar - Lovers in the Dark