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UNIVERSIDADE DA AMAZNIA UNAMAINSTITUTO DE CINCIAS JURDICAS ICJCURSO DE DIREITO

JULIANA BOTELHO ARAJO

O SERIAL KILLER PSICOPATA E SUA RESPONSABILIDADECRIMINAL PERANTE A LEI PENAL BRASILEIRA

BELM/PA2013JULIANA BOTELHO ARAJO

O SERIAL KILLER PSICOPATA E SUA RESPONSABILIDADECRIMINAL PERANTE A LEI PENAL BRASILEIRA

Trabalho de Concluso de Curso de Graduao apresentado ao Instituto de Cincias Jurdicas da Universidade da Amaznia como requisito para a obteno do grau de Bacharel em Direito.Orientador: Ivanildo Ferreira Alves.

BELM/PA2013JULIANA BOTELHO ARAJO

O SERIAL KILLER PSICOPATA E SUA RESPONSABILIDADECRIMINAL PERANTE A LEI PENAL BRASILEIRA

Trabalho de Concluso de Curso de Graduao apresentado ao Instituto de Cincias Jurdicas da Universidade da Amaznia como requisito para a obteno do grau de Bacharel em Direito.Orientador: Professor Ivanildo Ferreira Alves.

Banca Examinadora

Prof. Ivanildo Ferreira AlvesOrientador UNAMA

Membro Instituio

Membro Instituio

Apresentado em: _____/_____/_______.

Conceito: ________________________.

BELM/PA2013

Dedico este trabalho minha me, por todo amor e carinho.

AGRADECIMENTOS

Agradeo, primeiramente, minha me, Sonia, que tanto me apoiou e esteve presente nas horas mais necessrias, proporcionando inteligncia e pacincia para vencer cada obstculo.Ao meu querido orientador, o professor Ivanildo Ferreira Alves, pelo seu conhecimento e amizade, que, apesar das inmeras dificuldades, me acompanhou nessa jornada, tornando possvel conclu-la com xito. Tenho a convico de que seus ensinamentos sero de grande valia para a minha vida profissional e de que seu carinho e humildade diante de todos sero mais que um exemplo em minha vida.Aos professores lder Lisba e Marilene Pantoja que me auxiliaram no incio deste trabalho.Agradeo imensamente professora Maria Clarice Leonel que me ajudou na elaborao do projeto, acreditando na seriedade do presente estudo, tornando vivel sua realizao. coordenao do curso de Direito, por todo apoio e ateno nas horas necessrias.Aos colegas de classe que me acompanharam nesses cinco anos de luta e perseverana. instituio de ensino, da qual nunca esquecerei cada espao, em que muitos bons momentos foram vividos, que foi meu ponto de partida e sempre ser meu porto seguro, aonde algum dia voltarei para relembrar toda uma histria.Enfim, os agradecimentos so infinitos aos que ajudaram para que a minha satisfao fosse garantida, oportunizando, assim, mais uma vitria.Muito obrigada a todos!

Existem emoes que eu s conheo de nome. Posso imaginar que as tenho, mas na verdade nunca as senti.

JACK ABOTT (No Ventre da Besta Cartas da Priso)

RESUMO

O que faz pessoas aparentemente normais comearem a matar e no parar mais? O que os move e o que pode det-los? Por que tm essa compulso por matar e o prazer de causar dor, sem qualquer arrependimento? O presente trabalho buscou analisar o serial killer, desde sua denominao, transtornos, causas e fatores que os levam a cometer crimes to cruis, at o tratamento penal dado a esses indivduos. O serial killer vive em um estado fronteirio, entre a loucura e a sanidade. A maioria diagnosticada com distrbio de personalidade psicoptica, portanto, fez-se uma analise da psicopatia e sua influncia na psique do indivduo e a compreenso que ele tem do certo e errado, relacionando interpretao de doena mental do artigo 26 do Cdigo Penal brasileiro e com seu pargrafo nico que trata da semi-imputabilidade, a fim de demonstrar qual a soluo penal tem sido dada a esses indivduos, tanto na teoria, pelo enquadramento de seus crimes na legislao, como na prtica, sob o aspecto das penas e medidas de seguranas aplicadas. Por fim, observou-se que o agente que mata em srie pode ser considerado imputvel, inimputvel ou semi-imputvel.

Palavras-chave: Serial killer, psicopatia, responsabilidade penal, imputabilidade.

ABSTRACT

What makes people apparently normal start to kill and doesn't stop? What moves and what can stop them? Why they have this compulsion for killing and the pleasure of inflicting pain, without any regret? The present study sought to analyze the serial killer, since its designation, disorders, causes and factors that lead them to commit a crime so cruel, even criminal treatment meted out to these individuals. The serial killer lives in a border state, between madness and sanity. Most are diagnosed with psychopathic personality disorder, so therere was made a review of psychopathy and its influence on an individual's psyche and the understanding that he has about "right and wrong", relating to the interpretation of "mental illness" of article 26 of the Brazilian Penal Code and its sole paragraph which deals with the semi-imputability, with the aim of to demonstrate what the criminal solution has been given to those individuals, both in theory, by the framing of his crimes in legislation, as in practice, under the appearance of feathers and security measures applied. Finally, it was observed that the agent who kills in series can be considered imputable, irresponsible or semi-imputable.

Keywords: serial killer, psychopathy, criminal liability, imputability.

SUMRIO

1INTRODUO10CAPTULO I DO SERIAL KILLER122HISTRICO123INCIDNCIA E PREVALNCIA DE ASSASSINATOS EM SRIE144ORIGEM DO TERMO155DEFINIO DE SERIAL KILLER176CATEGORIA DE ASSASSINATO: em srie, em massa e relmpago.196.1Assassino em srie196.2Assassino em massa196.3Assassino relmpago207CLASSIFICAO DOS ASSASSINOS EM SRIE207.1Tipologia de Holmes217.2Comportamento e perfil criminoso do serial killer218INFNCIA249DIAGNSTICO DOS SERIAL KILLERS259.1Assassino psictico289.2Assassino psicopata28CAPTULO II DA PSICOPATIA E O SERIAL KILLER3010VISO HISTRICA: da loucura psicopatia3011O que psicopatia?3312TERMINOLOGIA3513O QUE CAUSA A PSICOPATIA?3614TRAOS DA PERSONALIDADE PSICOPTICA3715CLASSIFICAO DOS PSICOPATAS3815.1Psicopata comunitrio ou de grau leve3815.2Psicopata antissocial ou de grau moderado grave3916PSICOPATIA FEMININA4017A conduta do psicopata4118CRIMINOSOS CRNICOS x PSICOPATAS4319O CREBRO DO PSICOPATA E O SISTEMA DAS EMOES4420PSICOPATIA TEM CURA?45CAPTULO III A RESPONSABILIDADE CRIMINAL DO SERIAL KILLER4721ORIGEM DO CRIME E SUA PUNIO4722CONCEITO DE CRIME4823O FENMENO DA VIOLNCIA E O COMPORTAMENTO CRIMINOSO4924ORIGENS E NATUREZA: bases genticas e biolgicas5224.1Parmetros biolgicos5324.2Parmetros psicolgicos5424.3Parmetros sociais5425O CRIME DE HOMICDIO E O SERIAL KILLER5526RESPONSABILIDADE PENAL5726.1A responsabilidade penal no decorrer da histria5726.2Responsabilidade x Imputabilidade5927CRITRIOS DE AVALIAO DA IMPUTABILIDADE6128IMPUTABILIDADE POR SANIDADE MENTAL AO SERIAL KILLER6229APLICABILIDADE DAS PENAS AO SERIAL KILLER PSICOPATA6329.1O critrio temporal da pena mxima brasileira6329.2Psicopatia X Art. 26 do CPB (doena mental)6429.3Crime e Reincidncia6529.4Tratamento penal do serial killer6629.5O Projeto de Lei n 140/2010 e a implementao do serial killer na legislao penal brasileira7030CONCLUSES72REFERNCIAS74

INTRODUOAntes mesmo da existncia do mundo como conhecemos, ouvimos acerca de inmeros casos de assassinatos, um grande exemplo remonta, inclusive, do livro mais conhecido de todos os tempos: a Bblia, com a histria do assassinato de Abel por seu irmo Caim, por inveja da relao que Abel tinha com Deus.No obstante, j se ouviu vrios outros casos de pessoas que matam pelo simples gosto de matar, so os chamados assassinos em srie. Na literatura e no cinema temos vrios exemplos desses indivduos, como Hannibal Lecter, um clebre personagem de fico do escritor Thomas Harris, que trouxe um Oscar a Anthony Hopkins em O Silncio dos Inocentes, por sua interpretao na verso adaptada ao cinema. A srie televisiva Dexter, cujo protagonista, que leva o mesmo nome da srie, um serial killer que, seguindo um cdigo ensinado pelo seu pai, caa e mata apenas outros serial killers. Acreditado por muitos como anti-heri pois, como o prprio personagem assimila: elimina o lixo da sociedade, isto no quer dizer que ele no tenha o chamado gosto por matar.O fato que so incontavelmente numerosos os livros e filmes acerca do assunto, demonstrando perfeitamente o fascnio que a mente humana tem sobre os assassinos em srie. H uma crena comum de que os assassinatos em srie constituem em um fenmeno moderno que teve incio com as barbaridades cometidas por Jack, o Estripador. Na realidade este um grande equvoco. O ser humano, por si s, j pertence a uma espcie violenta e os tipos de atrocidades que os serial killers cometem nada mais so do que um aspecto desta dura realidade.Em estudos recentes, cientistas sugerem que este gosto pela crueldade selvagem esteja codificado em nosso DNA, como herana evolutiva de nossos ancestrais mais antigos: os primatas.No decorrer da histria, evidente o fato de que os seres humanos sempre incorreram em comportamentos extremamente brbaros. Isto fica bastante claro a partir dos mitos gregos antigos, como a histria de Atreu, que assassinou os filhos do irmo e preparou uma torta canibal com eles; dos gladiadores de Roma, cujas disputas eram verdadeiros espetculos que geralmente acabavam em morte; bem como das faanhas dos cavaleiros medievais que estupravam e matavam durante as inmeras pilhagens que realizavam.Assim, considerando todas as evidncias histricas de que matar por prazer sempre foi um trao do comportamento humano, no se pode acreditar que os serial killers sejam exclusivos da modernidade. De fato, eles sempre existiram, s no eram denominados como tal. At a dcada de 1970, quando Robert Ressler (agente do FBI Federal Bureau of Investigation que criou o termo serial killer) passou a utilizar o termo serial killer para se referir a esse tipo de criminoso, eles eram considerados simplesmente assassinos em massa, embora seus crimes sejam de maior complexidade.H dois tipos essenciais de serial killers, o serial killer psicopata e o psictico. Os psicticos, geralmente so aqueles que vivem em um mundo ilusrio, que ouvem vozes e tm uma distoro to grande da realidade que creem que fazem o que fazem por um bem maior. Os psicopatas, por sua vez, so indivduos extremamente racionais, mas que possuem uma gama de sentimentos bastante limitada, pois so frios e no costumam sentir remorso ou culpa pelo que fazem, estando cientes de que o que fazem errado, mas o fazem por mero prazer. Ted Bundy, que foi um dos mais temveis assassinos em srie que os Estados Unidos conheceu na dcada de 1970, uma vez disse: eu sou o mais frio filho da puta que vocs jamais vo encontrar, eu gostava de matar, eu queria matar.Diante disto, este estudo objetiva esmiuar acerca da pessoa do serial killer em si, sobretudo o serial killer psicopata e dos transtornos biopsicossociais que padecem, para, por fim, discutir sobre as penalidades comumente aplicadas a esses indivduos, analisando sua responsabilidade e imputabilidade pelos crimes que comete, bem como o critrio temporal da pena mxima no Cdigo Penal brasileiro e sua aplicabilidade ao assassino em srie.

CAPTULO I DO SERIAL KILLERHISTRICOEm diversos trabalhos envolvendo o tema serial killer[footnoteRef:1], vrios estudiosos reconhecem, como sendo o primeiro serial killer da histria Jack, o Estripador, que aterrorizou Londres no sculo XIX. Todavia, diversos outros casos antes deste foram registrados no decorrer dos tempos. [1: Expresso inglesa para assassino em srie.]

O primeiro caso de assassinato em srie que se tem registro ocorreu em Roma, em meados do primeiro sculo d.C., tendo como agente Locusta, a Envenenadora, a primeira serial killer documentada[footnoteRef:2]. [2: VELLASQUES, Camila Tersariol. O Perfil Criminal dos Serial Killers. 2008. 81f. Trabalho de Concluso de Curso (Bacharelado em Direito) Faculdade de Direito de Presidente Prudente, 2008, p.15.]

Cerca de quatrocentos anos depois, Zu Shenatir, no Imen, pas rabe que ocupa a extremidade sudoeste da Pennsula da Arbia, seduzia garotos para a sua casa, em troca de dinheiro e comida, sujeitando-os sodomia, e depois os atirava pela janela[footnoteRef:3]. [3: VELLASQUES, loc. cit.]

Alm desses casos, sabe-se tambm de prticas de cultos que envolviam assassinatos, a exemplo da seita dos hashashins[footnoteRef:4], na Prsia que resultou no assassinato de aproximadamente doze mil membros[footnoteRef:5]. [4: Criao de Hassan ibn Sabbah, os hashashins surgiram no sculo XI, na Prsia (atual Ir), constitudo por um grupo de muulmanos que criaram uma seita onde seus integrantes, sob efeito de haxixe (da seu nome), tinham vises e preparavam-se para executar assassinatos rituais. A palavra assassino origina-se de hashashin. Nos ltimos anos, esta seita tem despertado consideravelmente o interesse, sobretudo do pblico nerd, em funo de um jogo eletrnico chamado Assassins Creed, cuja histria se passa na Idade Mdia e envolve a seita.] [5: VELLASQUES, op. cit., p.15.]

Na ndia, no incio do sculo XIII, uma seita conhecida por thug, durante seus rituais, realizava desde homicdios casuais, at meios masoquistas, nos quais os devotos submetiam-se a atos de flagelao e mutilao pelos sacerdotes, ou ento eram suspensos com ganchos presos em sua carne[footnoteRef:6]. [6: VELLASQUES, loc. cit.]

Na Europa, por sua vez, os considerados homicidas seriais[footnoteRef:7] surgiram, principalmente, entre a classe dos nobres e camponeses, inclusive, em 1440, Gilles De Rais, confidente de Joana DArc, foi executado por matar mais de cem crianas em rituais de magia e sexo[footnoteRef:8]. [7: No Brasil, o termo mais correto para se referir ao serial killer homicida serial, visto que, pelo Direito Penal brasileiro, ele comete o crime de homicdio.] [8: NEWTON, Michael. The Encyclopedia of Serial Killers. 2 ed. Nova York: Facts On File, 2006, p. 22-23.]

Ainda, na Frana e Alemanha, pelo menos cinco canibais foram acusados como lobisomens entre 1573 e 1590. Entre eles tem-se Gilles Garnier, que morreu queimado na estaca acusado de licantropia[footnoteRef:9], em 1573; Peter Stubbe que foi executado por canibalismo e mltiplos assassinatos acreditava-se que Stubbe tinha um cinto que o permitia se transformar em lobisomem; e Jean Grenier que, em 1603, foi acusado por uma srie de desaparecimentos e assassinatos Grenier foi considerado insano e confinado em um monastrio[footnoteRef:10]. [9: No folclore, licantropia a capacidade de um indivduo se transformar em lobo. Na psiquiatria, um distrbio no qual o indivduo pensa ser ou ter sido transformado em um animal, qualquer que seja.] [10: DUNLOP, Dr. James. Medicine and Myths. Health and Hygiene. Vol. 22, n.3. Outono de 2001.]

Todavia, um dos casos mais brbaros noticiados o da condessa hngara Erzsbet Bthory[footnoteRef:11], que foi condenada, em 1611, pela prtica de tortura. Suas vtimas eram jovens mulheres atormentadas at a morte para o divertimento da condessa[footnoteRef:12]. [11: Erzsbet Bthory em portugus Elisabete ou Isabel Bthory foi uma condessa hngara da renomada famlia Bthory que ficou conhecida como a condessa sangrenta e a condessa Drcula, por uma srie de crimes hediondos e cruis que cometeu, em decorrncia de sua obsesso pela beleza.] [12: NEWTON, 2006, op. cit., p. 14.]

Os homicdios em srie perpetuaram pela Europa at o sculo XIX, inclusive com o caso de Swiatek, em 1850, pedinte austraco que alimentou sua famlia com cerca de seis crianas assassinadas, e de Joseph Philips que assassinou prostitutas francesas em 1860. Apenas vinte anos depois, foi a vez de Jack o Estripador[footnoteRef:13]. [13: VELLASQUES, op. cit., p.16.]

Durante o sculo XX, por sua vez, vrias foram as manchetes de crimes cometidos por serial killers, dentre eles tem-se o caso de Leonard Nelson que, na dcada de 1920, estuprou e assassinou locatrias. Na dcada de 1930, destacou-se o Carniceiro Louco de Cleveland, que dissecou dezesseis pessoas com tanta engenhosidade que dez cabeas nunca foram achadas[footnoteRef:14]. [14: NEWTON, 2006, op. cit., p. 118.]

Melvin Rees, conhecido como a Besta do Sexo, aterrorizou a nao em 1960, com a prtica de terrveis homicdios[footnoteRef:15]. [15: VELLASQUES, op. cit., loc. cit.]

No Brasil, na dcada de 1920, o pas conheceria os primeiros assassinatos em srie da histria brasileira. Em So Paulo trs jovens foram estrangulados e estuprados. Jos Augusto do Amaral, conhecido como Preto Amaral, mineiro, 55 anos, ex-soldado da Fora Pblica, confessou os homicdios, mas faleceu em 12 de julho de 1927, em decorrncia de tuberculose, antes mesmo de ser julgado[footnoteRef:16]. [16: _______. Preto Amaral: o primeiro serial killer brasileiro. Folha do Delegado, 16 de fevereiro de 2011. Disponvel em: . Acesso em: 03 de novembro de 2012.]

Suas vtimas foram atacadas em menos de um ms. Em cinco de dezembro de 1926, Antnio Sanchez, de 27 anos, foi encontrado morto na Zona Norte da cidade, no Campo de Marte, aps aceitar um convite para almoar. Jos Felippe de Carvalho, 12 anos, foi abordado na vspera do Natal, quando ia para a missa. Tambm foi levado para o Campo de Marte, onde fora estrangulado e sexualmente abusado. A ltima vtima foi Antnio Lemes, 15 anos, encontrado morto em primeiro de janeiro de 1927, aps ganhar um almoo[footnoteRef:17]. [17: Ibidem. ]

INCIDNCIA E PREVALNCIA DE ASSASSINATOS EM SRIEPor certo que os assassinatos em srie no so nenhuma novidade. Embora seja um tipo de crime bastante antigo a exemplo de Locusta, a primeira serial killer devidamente documentada, que viveu no primeiro sculo d.C. , estudos sobre o assunto que so novos e escassos.Sabe-se que a maioria esmagadora dos serial killers so psicopatas, segundo a matria Mente que Mata[footnoteRef:18], para a medicina, os psicopatas so, na realidade, portadores de distrbio de personalidade antissocial, transtorno este catalogado em 1968, cujos principais sinais so o desrespeito dos desejos, direitos ou sentimentos alheios, alm de um padro repetitivo de violao das normas. A matria relatou ainda que, de acordo com o psiquiatra Marco Antnio Beltro[footnoteRef:19], a prevalncia desse distrbio na populao estimada em 2,5%. E, segundo essa proporo, o Brasil teria cerca de 4,5 milhes de pessoas na condio de psicopatas, valor este que equivale soma das populaes dos Estados de Mato Grosso e Sergipe. [18: CAVALCANTE, Rodrigo; SAMBUGARO, Adriano. Mente que mata. Revista Superinteressante, abril de 2002. Disponvel em: . Acesso em: 12 de maro de 2013.] [19: Diretor do Instituto de Medicina Social e Criminolgica do Estado de So Paulo (Ismec).]

No entanto, apesar desses valores, importante destacar que apenas uma nfima parcela dos psicopatas se tornam serial killers, geralmente aqueles que esto em um grau mais elevado do distrbio.No Brasil, no grande o nmero de assassinos seriais. No mundo ocidental, um nico pas desperta a ateno por sua grande quantidade: os Estados Unidos, porquanto apresentam 75% de 200 serial killers pesquisados no mundo inteiro, como afirma o Ministrio da Justia da Frana (in: Oliver Blanc Tueurs en srie, mmoire, apresentado Universit Aix-Marseille, Aix-en-Provence, 1999, p. 13), onde as autoridades se viram obrigadas a adotar um grande nmero de medidas para diminuir a incidncia das aes praticadas por tal sorte de indivduos[footnoteRef:20]. [20: BONFIM, Edilson Mougenot. O julgamento de um serial killer: o caso do manaco do parque. 2 ed. Niteri, RJ: Impetus, 2010, p. 68.]

ORIGEM DO TERMODepravados, perversos, ou malvados? Essas so algumas das vrias interpretaes dadas aos serial killers. Contudo, quanto mais brutal e injustificado o crime, mais se tende a usar os termos mal, maldade, perversidade ou diablico.Atualmente, o termo popular mais utilizado para fazer referncia aos assassinos seriais a palavra monstro. Este termo vem sendo utilizado desde o caso do homicida em srie Jeffrey Dahmer[footnoteRef:21], diante da falta de explicao sobre o seu comportamento, pois, embora se entenda que tal conduta tenha origem na infncia e predies genticas, posto que escapa a qualquer explicao racional, as pessoas comumente relacionam como algo diablico e satnico[footnoteRef:22]. [21: Jeffrey Dahmer assassinos 17 jovens homens entre 1978 e 1991. Seus crimes envolveram estupro, necrofilia e canibalismo. ] [22: TENDLARZ, Silvia Elena. A quem o assassino mata? O serial killer luz da criminologia e da psicanlise. So Paulo: Editora Atheneu, 2013, p. 18-19.]

Para os estudiosos, no entanto, durante muito tempo o assassinato em srie foi considerado simplesmente uma forma de assassinato em massa. Apenas no final da dcada de 1950 que os criminologistas passaram a distinguir os vrios tipos de homicdios mltiplos. E por esta razo que as pessoas acham que o assassinato em srie um fenmeno novo e alarmante, visto que, at cerca de 20 anos atrs, ningum jamais tinha ouvido falar do assunto. Durante a maior parte do sculo XX, a mdia nunca fez referncia a assassinos em srie, mas isso no quer dizer que os psicopatas homicidas no existiram no passado. Na verdade, um dos serial killers norte-americanos mais infames de todos os tempos, Albert Fish, cometeu suas atrocidades na poca da Grande Depresso. Depois de sua priso, seus abominveis crimes foram amplamente cobertos pelos jornais. Em nenhum lugar, entretanto, Fish descrito como um serial killer. A razo simples: a expresso no tinha sido inventada ainda[footnoteRef:23]. [23: SCHECHTER, Harold. Serial Killers: anatomia do mal. Rio de Janeiro: DarkSide Books, 2013, p. 13.]

O termo assassino em srie (serial killer) foi criado nos anos 1970 pelo agente do FBI (Federal Bureau of Investigation) Robert Ressler, autor do livro Dentro dos monstros. Ressler trabalhou 20 anos no FBI, tornando-se especialista e pioneiro na elaborao dos perfis psicolgicos desses criminosos, depois de entrevistar mais de uma centena deles[footnoteRef:24]. [24: TENDLARZ, op. cit., p. 128.]

A palavra serial foi escolhida em decorrncia do termo crimes em srie, utilizada pela polcia da Inglaterra para esse tipo de assassinato.Antes de Ressler popularizar o conceito de assassino em srie, tais crimes eram conhecidos como homicdios cometidos por desconhecidos e executados por assassinos mltiplos[footnoteRef:25]. Um exemplo desse tipo de assassino annimo Jack, o Estripador, que dilacerou vrias prostitutas em Londres durante o ano de 1888. [25: TENDLARZ, loc. cit.]

A denominao assassino serial instalou-se definitivamente na linguagem popular em grande parte devido publicidade dada aos crimes cometidos por Ted Bundy e por David Berkowitz (O Filho de Sam), nos anos de 1970, nos Estados Unidos[footnoteRef:26]. [26: Ibid., p. 129.]

Entretanto, embora tenham existido assassinos seriais ao longo de toda a histria, Philipp Jenkins apud Tendlarz[footnoteRef:27] afirma que o conceito serial killer nasce em um contexto poltico, social e cultural determinado, sendo utilizado por grupos especficos de acordo com suas particularidades e interesses, que decorrem desde os avanos no nmero de assassinatos mltiplos, individuais e em srie, at os avanos tecnolgico e cientfico da criminologia em si. [27: Ibid., p. 176-177. ]

DEFINIO DE SERIAL KILLER importante destacar que h uma problemtica em relao definio real de serial killer, uma vez que alguns estudiosos entendem serem necessrias apenas duas mortes para que se encaixe na situao de assassinato em srie, ao passo que outros dizem serem necessrias no mnimo, quatro mortes. O FBI (Federal Bureau of Investigation) define o serial killer como trs ou mais eventos separados em trs ou mais locais separados com um perodo de resfriamento emocional entre os homicdios.[footnoteRef:28] Ou seja, para o FBI, os assassinos em srie so pessoas que matam pelo menos em trs ocasies com um intervalo entre cada assassinato.[footnoteRef:29] O QUADRO1 mostra de maneira esquematizada tal definio: [28: NEWTON, Michael. A enciclopdia de serial killers. So Paulo: Madras, 2005, p. 49.] [29: TENDLARZ, op. cit., p. 129.]

QUADRO1. Definio oficial do serial killer proposta pelo FBI[footnoteRef:30]. [30: SCHECHTER, op. cit., p. 16.]

ESSA DEFINIO ENFATIZA TRS ELEMENTOS

QUANTIDADETem de haver pelo menos trs homicdios.

LUGAROs assassinatos tm que ocorrer em locais diferentes.

TEMPOTem de haver um perodo de calmaria um intervalo entre os assassinatos que pode durar de algumas horas a vrios anos.

Este perodo de calmaria entre os homicdios, segundo o Manual, o que os separa dos assassinos em massa, que matam quatro ou mais pessoas simultaneamente no mesmo local, e dos assassinos turbulentos, que matam em vrios locais e em curto espao temporal. Alm disso, diferentemente dos crimes passionais, os serial killers trabalham sozinhos, matam estranhos, e matam por matar.Segundo Mougenot Bonfim[footnoteRef:31], no Brasil, se aceita a ocorrncia mnima de trs mortes para que se enquadre o criminoso como assassino serial. O autor diz, ainda, que necessria a ocorrncia de sete critrios cumulativos para que se possa definir tal delinquente como serial killer[footnoteRef:32]: [31: BONFIM, op. cit., p. 82.] [32: Ibid., p. 80-86.]

a) homicdio narciso-sexual: o cometimento do delito a fim de experimentar um prazer sexual e/ou narcsico;b) falta de motivo aparente: geralmente chega-se a concluso que as nicas motivaes para o cometimento dos assassinatos so puramente narcsicas, sexuais, podendo tambm, em alguns casos, ser patolgicas em graus diversos;c) uma vtima coisificada: o homicida desumaniza sua vtima completamente para desfrutar plenamente de suas fantasias sexuais/criminais; d) o carter anunciador da srie criminosa: a ocorrncia de no mnimo trs homicdios narciso-sexuais para que se possa falar em assassinato em srie; e) a existncia de um perodo de calmaria entre os homicdios; f) similaridade no tipo de cenrio: apresentam uma assinatura psicolgica, mesmo que seu modus operandi sofra alguma alterao, em geral, desde a abordagem da vtima ao modo de execuo, os cenrios apresentam certa analogia;g) semelhanas de espao-tempo: o perodo entre um e outro assassinato pode variar, seja de 15 dias a cinco anos, ou at mesmo dez anos, mas o assassino em srie opera sobre o mesmo territrio de caa. Neste caso, quanto mais organizado seja o criminoso, mais o fator espao-tempo estar presente.

Assim, uma das muitas definies de homicida serial aquela que acumula ingredientes de ordem psicanaltica, por mais se adequarem ao perfil deste tipo de criminoso, na qual costuma-se cham-lo de matador em srie ou criminoso narciso-sexual.

CATEGORIA DE ASSASSINATO: em srie, em massa e relmpago.Embora as pessoas comumente confundam os termos e tendam a us-los como sinnimos, existem importantes diferenas entre homicdio em srie e outros principais tipos de homicdios mltiplos, como assassinato em massa (do ingls mass murder) e assassinato relmpago (do ingls spree killing, tambm traduzido como assassinato em sequncia ou por impulso).

Assassino em srieDe modo geral, o homicdio em srie um crime sexual, fato que justifica suas caractersticas distintivas. O padro clssico do assassinato em srie uma caricatura grotesca do funcionamento sexual normal. Enquanto a maioria das pessoas, quando no pratica sexo por algum tempo, comea a ficar mais ansiosa, fantasiando sobre sexo, de forma anloga, o serial killer, passa seu tempo fantasiando sobre dominao, tortura e assassinato. Logo, quando seus desejos distorcidos tornam-se fortes demais para resistir, sai em busca de vtimas incautas, de modo que sua excitao atinge o clmax com o sofrimento e a morte da vtima[footnoteRef:33]. [33: SCHECHTER, op. cit., p. 18.]

Como dito, embora alguns autores determinem que a partir de dois homicdios j se configure assassinato em srie, para Mougenot Bonfim[footnoteRef:34], so necessrios trs ou mais acontecimentos distintos, com intervalo de tempo a separar cada um dos homicdios, crimes estes sempre com uma motivao narciso-sexual. [34: BONFIM, op. cit., p. 71. ]

Assassino em massaExcetuando-se o fato de que ambos envolvem homicdios mltiplos, o homicdio em massa e o assassinato em srie no tm quase nada em comum. Enquanto o assassino em srie frequentemente descrito como um predador, o assassino em massa estereotipicamente definido como uma bomba-relgio-humana.Ainda, assim como no caso dos assassinos em srie, apesar de existir alguns homicidas em massa do sexo feminino, a grande maioria de homens. Harold Schechter[footnoteRef:35] diz que, em geral, o assassino em massa algum cuja vida saiu dos trilhos: que foi largado pela mulher, despedido do emprego ou que sofreu alguma humilhao que o fez perder o controle. Assim, tomado por uma fria aniquiladora, explode em um surto de violncia devastadora, a exemplo dos homens-bomba, que, sem qualquer aviso, explodem um restaurante, sala de aula ou playground, transformando um ambiente seguro e familiar em cenrio de chacina, com cadveres espalhados por todos os lados. [35: SCHECHTER, op. cit., p. 18.]

Mougenot[footnoteRef:36] afirma que, para ser considerado assassinato em massa, necessrio que haja quatro ou mais vtimas num mesmo local, envolvidas em um nico episdio criminoso. [36: BONFIM, op. cit., p. 70.]

Assassino relmpagoAssemelha-se consideravelmente com os assassinos em massa: tambm algum que se tornou to profundamente alienado e amargurado que no se sente mais conectado sociedade humana. Sua vida se resume a nada e a fria assassina a maneira que o indivduo encontra para dar um fim explosivo sua existncia intolervel[footnoteRef:37]. [37: SCHECHTER, op. cit., p. 22.]

Para Schechter[footnoteRef:38], a diferena determinante entre o homicida em massa e o assassino relmpago tem haver com o movimento. Enquanto o assassino em massa mata em um s lugar, o assassino relmpago se desloca de um lugar ao outro, matando no percurso. Nesse sentido, o assassino relmpago poderia ser mais bem descrito como um assassino em massa itinerante. [38: Ibid., p. 22.]

CLASSIFICAO DOS ASSASSINOS EM SRIEH duas formas de classificar o assassino em srie: uma baseada no motivo e outra nos padres organizacionais e sociais.O mtodo baseado no motivo chamado de Tipologia de Holmes, por causa de Ronald M. e Stephen T. Holmes, autores de diversos livros sobre assassinatos e crimes em srie e crimes violentos[footnoteRef:39]. [39: MOURA, Bruna Toniolo. A anlise criminolgica e a imputabilidade dos assassinos em srie. Monografia Faculdades integradas Antnio Eufrsio de Toledo Faculdade de Direito de Presidente Prudente. 2010, p. 18-19.]

Tipologia de HolmesDe acordo com a Tipologia de Holmes, os assassinos em srie se concentram no ato ou no processo, dependendo da forma em que matam.Os serial killers que se concentram no ato matam rapidamente, ou seja, para esses assassinos matar nada mais do que o ato em si. Nesta categoria h, ainda, dois subtipos: os visionrios e os missionrios. O visionrio mata porque escuta vozes ou tem vises que o levam a praticar o ato. O missionrio, por sua vez, mata porque acredita que deve acabar com um determinado grupo de pessoas[footnoteRef:40]. [40: Ibid., p. 19.]

J os serial killers que se concentram no processo matam vagarosamente, pois so os que sentem prazer em torturar e matam lentamente, apreciando cada momento de horror de suas vtimas. Neste grupo h trs subtipos diferentes de hedonistas: os assassinos sexuais, os que buscam emoo e os assassinos em busca do poder. Os assassinos sexuais obtm prazer sexual ao matar, os assassinos que buscam emoo se excitam com a prtica de matar, enquanto que os assassinos que buscam o poder, o fazem porque querem brincar de Deus ao ter controle sobre a vida e morte de suas vtimas[footnoteRef:41]. [41: Ibid., loc. cit.]

Comportamento e perfil criminoso do serial killerOs especialistas em assassinos em srie tm estabelecido uma caracterstica no modus operandi dos homicdios, que justifica a necessidade de diferenciar dois tipos de assassinos: o organizado e o desorganizado[footnoteRef:42]. [42: TENDLARZ, op. cit., p. 144.]

Logo, por esta classificao, os serial killers so qualificados por suas habilidades organizacionais e sociais, podendo ser organizados ou desorganizados, dependendo do tipo de cena de crime que deixam. Podem, ainda, ser no sociais ou antissociais, segundo a forma que a sociedade os exclui ou se excluem dela[footnoteRef:43]. [43: CASOY, Ilana. Serial killer: louco ou cruel?. 2. ed. So Paulo: Madras, 2002, p.39-41.]

O QUADRO2 dispe, de forma sucinta, a classificao do homicida em srie de acordo com o seu comportamento:

QUADRO2. Classificao do serial killer segundo o comportamento que adota[footnoteRef:44]. [44: OCONNOR, Tom. Serial Killer Typology. Jan/2006. Disponvel em: . Acesso em: 05.12.2012. (traduo livre)]

ORGANIZADO E NO SOCIALDESORGANIZADO E ANTISSOCIAL

QI 105-120 (normal)QI 80-95 (abaixo da mdia)

Socialmente adequadoSocialmente inadequado

Casado, mora com parceira ou namoradaMora sozinho, no namora

Figura paterna estvelPai ausente ou abusivo

Severo abuso fsico na famliaAbuso emocional contraditrio na famlia

Mobilidade geogrfica / ocupacionalMora e/ou trabalha perto das cenas dos crimes

Acompanha o noticirioNo se interessa pelo noticirio

Possivelmente fez faculdadePossivelmente abandonou a escola no ensino mdio

Boa higiene e cuidados com a casaM higiene e poucos cuidados com a casa

No mantm um esconderijo em casaMantm um esconderijo em casa

Hbitos diurnosHbitos noturnos

Tem um carro ostentosoTem um carro velho ou picape

Volta cena do crime para acompanhar o trabalho da polciaVolta cena do crime para reviver o assassinato

Entra em contato com a polcia para fazer joguinhosEntra em contato com a famlia da vtima para fazer joguinhos

F da polcia, quer ser um delesNo se interessa pelo trabalho da polcia

No explora autoajudaExplora programas de autoajuda

Mata em um lugar, deixa o corpo em outroMata e deixa o corpo na cena do crime

Pode desmembrar o corpoGeralmente no desmembra o corpo

Usa a seduo para dominarSeus ataques so repentinos

Conversa com as vtimasDespersonaliza as vtimas, pensa nelas como coisas

Controla a cena do crimeDeixa a cena do crime um caos

Deixa poucas provas fsicasDeixa provas fsicas

Responde melhor entrevista diretaResponde melhor entrevista com advogado

A maioria dos assassinos do tipo organizado, pelo menos trs quartos do total dos casos. Considera-se que tal organizao se deve ao fato de que usualmente sua inteligncia est acima da mdia. Os demais, do tipo desorganizado, so criminosos extremamente solitrios, evidenciando em seus crimes uma irreprimvel frustrao. Com baixo nvel intelectual e, na maioria dos casos, apresentando desordem mental[footnoteRef:45]. [45: TENDLARZ, op. cit., p. 144.]

Estudiosos acerca da temtica do serial killer, como Eric Hickey[footnoteRef:46], identificam que a maioria dos assassinos em srie so organizados e no sociais. Alm disso, mais de 80% so homens brancos, na faixa dos 20 aos 30 anos, que, em geral, possuem inteligncia considervel e matam frequentemente mulheres brancas[footnoteRef:47]. [46: HICKEY, Eric W. Serial murderers and their victims. Wadsworth/ Thomson Learning, 2002, p. 23.] [47: HICKEY, loc. cit.]

Entre os assassinos organizados, tem-se Gacy[footnoteRef:48] e Bundy[footnoteRef:49], cujo mtodo era detalhadamente planejado. Consistia em dirigir-se cena do crime em um carro, j levando consigo os instrumentos para matar: corda, clorofrmio, algemas etc. A violao e tortura ocorrem antes do assassinato, para a sua satisfao. Assim, o crime era resultado de um longo processo, com o propsito prvio de realizar sua fantasia. Consciente de que assassinato deixa evidncia de suas aes, trata, ento, de esconder ou destruir as possveis pistas. Para evitar ou dificultar sua captura, esconde, enterra ou destri o corpo da vtima[footnoteRef:50]. [48: John Wayne Gacy foi o conhecido como O Palhao Assassino, que assassinou 29 garotos.] [49: Theodore Robert Cowell, apelidado de Ted Bundy, foi um dos mais temveis assassinos em srie que os Estados Unidos j conheceu. Atuou na dcada de 1970 e at hoje no se sabe ao certo quantas pessoas ele matou.] [50: TENDLARZ, op. cit., p. 144-145.]

Ao contrrio, o assassino desorganizado, a exemplo de Berkowitz[footnoteRef:51] e Chase[footnoteRef:52], usualmente chega e sai da cena do crime caminhando, embora, excepcionalmente, tambm possa chegar num veculo em mal estado. No realiza prvio planejamento do crime, ocorrendo no calor do momento. Tampouco leva o clssico kit de ferramentas para matar, usando, em muitos casos, as prprias mos, uma arma afiada e cortante ou uma pistola. Seu ataque furioso e decisivo, no tendo contato com a vtima at o momento do seu crime. Tambm no se preocupa com as evidncias e pistas deixadas ou sequer em esconder o corpo da vtima, a quem deixa no local onde finalmente encontrar a morte[footnoteRef:53]. [51: David Richard Berkowitz, tambm conhecido como o Filho de Sam, aterrorizou a populao de Nova York durante os anos de 1976 e 1977, at ser preso.] [52: Richard Chase ficou conhecido como O Vampiro Sangrento porque bebia o sangue de suas vtimas, alm de realizar rituais de canibalismo com os rgos internos que removia. ] [53: TENDLARZ, op. cit., p. 145. ]

Ainda, enquanto o assassino organizado, depois do assassinato, perde o interesse pelo crime e tenta esquecer do incidente, o assassino desorganizado pode chegar a cometer canibalismo com o cadver e, inclusive, tomar suvenires fetichistas, tal como se observa no filme Se7en, os sete pecados capitais. Logo, este tipo tem em comum com o criminoso do tipo organizado to somente a satisfao produzida pela morte do outro[footnoteRef:54]. [54: TENDLARZ, op. cit., 2013, p. 145. ]

INFNCIADurante a infncia, os assassinos em srie demonstram trs comportamentos eloquentes, conhecidos como a Trade de MacDonald[footnoteRef:55]. Ilana Casoy[footnoteRef:56] denomina esta trade como a terrvel trade, que parece estar presente no histrico de todos os serial killers, cujos sinais so: enurese[footnoteRef:57] em idade avanada, abuso sdico de animais ou outras crianas e piromania[footnoteRef:58]. [55: A Trade de MacDonald, tambm chamada de Trade de Sociopatia, foi identificada pela primeira vez nas pesquisas de J. M. MacDonald intitulada A Ameaa de Morte, na edio do American Journal of Psychiatry, em 1963.] [56: CASOY, op. cit., p. 15.] [57: Incontinncia urinria sem conhecimento, mico involuntria, inconsciente.] [58: Mania de atear fogo.]

Embora alguns estudiosos digam que no h uma relao significativa entre a Trade de MacDonald e a tendncia aos crimes violentos, muitos assassinos seriais exibiram esses comportamentos durante a infncia. Singer e Hensley[footnoteRef:59] afirmam que o comportamento particularmente homicida dos assassinos em srie tem profunda ligao crueldade contra os animais, obsesso com o atear fogo, e persistente incontinncia urinria aps a idade de cinco anos. [59: SINGER, S.D.; HENSLEY, C. Learning theory to childhood and adolescente firesetting: can it lead to serial murder. International Journal of Offender Therapy and Comparative Criminology. V. 48, 2004, p. 461-476. ]

Outras caractersticas comuns na infncia desses indivduos, segundo Ilana Casoy[footnoteRef:60], so: devaneios diurnos, masturbao compulsiva, isolamento social, mentiras crnicas, rebeldia, pesadelos constantes, roubos, baixa autoestima, acessos de raiva exagerados, problemas relativos ao sono, fobias, fugas, propenso a acidentes, dores de cabea constantes, possessividade destrutiva, problemas alimentares, convulses e automutilaes, todas elas relatadas pelos prprios serial killers em entrevistas com especialistas. [60: CASOY, op. cit., p. 15.]

H de ressaltar, tambm, que muitos homicidas em srie tm origem em lares desfeitos, ou sofreram abusos ou negligncia durante a infncia. Logo, muitos tericos apontam as infncias conturbadas dos serial killers como uma possvel razo para seus atos. Segundo Casoy[footnoteRef:61], aproximadamente 82% dos serial killers sofreu algum tipo de abuso na infncia. Abusos estes sexuais, fsicos, emocionais ou relacionados negligncia ou abandono. [61: CASOY, op. cit., p.23.]

Para Alvarez[footnoteRef:62], mesmo que algumas crianas consigam lidar melhor com certos tipos de abusos, superando-os, enquanto outras, sofrendo da mesma agresso, tm suas vidas drasticamente alteradas, fato que os laos familiares na infncia de um ser humano serviro de mapa para todas as suas relaes. Uma criana cria laos com seus pais entre 3 a 9 meses de vida, que com o tempo se torna mais profundo, a falta desses laos o grande fator de desenvolvimento da psicopatia, pois atravs do qual a criana desenvolver intelecto e conscincia, aprendendo a lidar melhor com as frustraes, ter mais confiana e autoestima e, sobretudo, a desenvolver relacionamentos empticos. [62: ALVAREZ, Fernando Valentim. A imputabilidade dos serial killers. Monografia Faculdades integradas Antnio Eufrsio de Toledo Faculdade de Direito de Presidente Prudente. Presidente Prudente/SP, 2004, p. 22. ]

Afirma, ainda, que uma criana que no aprende a valorizar a famlia e a relacionar-se com ela, dificilmente conseguir se relacionar normalmente com outras pessoas. Entre os serial killers estudados, esta outra caracterstica encontrada com facilidade: seu tenso e difcil, s vezes at inexistente, relacionamento familiar.No entanto, com relao ao comportamento social, enquanto alguns eram crianas tmidas e introvertidas, outras eram bastante sociveis e comunicativas, apesar de que, em geral, todas se sentiam profundamente isoladas[footnoteRef:63]. [63: ALVAREZ, loc. cit.]

DIAGNSTICO DOS SERIAL KILLERSEm 2005, Benedict Carey, do jornal New York Times Especial, publicou uma nota onde fez referncia a um debate nos Estados Unidos da Amrica, sobre a mente dos assassinos mais brutais e a pertinncia do conceito de maldade associado a eles. Nele afirma[footnoteRef:64]: [64: TENDLARZ, op. cit , p. 19-20.]

Muitas vezes, os assassinos fazem algo mais que cometer um crime. Alguns seduzem as suas vtimas e as submetem a torturas prolongadas. Outros tm gostos exticos pela vivisseo[footnoteRef:65] ou pela humilhao sexual. Muitos realizam seus rituais bizarros, tanto por prazer quanto por qualquer outra razo. Alguns cientistas forenses se puseram a pensar sobre estes assassinos no simplesmente como pessoas perturbadas, mas sim como pessoas ms, no sentido de que sua selvageria deliberada e habitual desafia qualquer explicao psicolgica ou inteno de tratamento. A maioria dos psiquiatras muitas vezes evita a palavra mau: afirmam que seu uso precipitaria um juzo moral que poderia resultar em penas de morte desnecessrias e tornaria obscura a compreenso dos crimes violentos. Ainda assim, muitos psiquiatras forenses dizem que seu trabalho os obriga a reflexionar sobre o conceito de Mal e alguns at mesmo admitem que no conseguem encontrar outro termo para certos indivduos avaliados. Em um esforo por uniformizar o que torna um crime particularmente cruel, um grupo de investigadores da Universidade de Nova York tem desenvolvido o que chamam de escala de depravao, que qualifica o horror de um ato pela soma de seus detalhes macabros. Por outro lado, um especialista em personalidade da Universidade de Columbia publicou a hierarquia de 22 nveis do comportamento malvado[footnoteRef:66], que deriva de biografias detalhadas de mais de 500 criminosos violentos. [65: Vivisseo o ato de dissecar um animal vivo com o propsito de realizar estudos de natureza anatomofisiolgica. Em sentido genrico, define-se como uma interveno invasiva num organismo vivo, com motivaes cientfico-pedaggicas. ] [66: No Brasil, tal classificao ganhou o nome de ndice da maldade e foi apresentada em programas de TV a cabo. O principal responsvel pelo estudo foi o psiquiatra forense Michael Stone. No nvel mais baixo do ndice da maldade encontram-se aqueles indivduos tidos como normais, que matam em legtima defesa, e, conforme o grau de perversidade do indivduo, aumenta seu nvel na escala, at chegar no nvel 22, onde se encontram os psicopatas assassinos-torturadores, em que a tortura a principal motivao (na maior parte dos casos, o crime tem uma motivao sexual).]

Diante disso, primeiramente importante salientar que o diagnstico do serial killer est intimamente ligado no apenas forma que cometeu os crimes, mas, sobretudo, ao nvel de seu entendimento sobre o que fez. Assim, o primeiro passo para diagnosticar o homicida em srie, responder a seguinte pergunta: ele compreende a diferena entre o bem e o mal?[footnoteRef:67] [67: TENDLARZ, op. cit., p. 149.]

Por certo que essa uma pergunta polmica e, em grande parte sem resposta, entretanto, graas evoluo da cincia, os diagnsticos baseados em sentimentos e reaes humanas esto cada vez mais precisos, tornando possvel um maior aprofundamento nos estudos relacionados a esses indivduos. Vrios so os fatores relevantes ao serial killer, especialmente de cunho sexual, fatores estes biolgicos, psicolgicos e sociolgicos. O primeiro psiquiatra a analisar de perto as formas mais extremas de comportamento sdico foi o clebre mdico alemo Richard von Krafft-Ebing. Alm de cunhar o termo masoquismo, Krafft fez uma grande contribuio para a psicologia mrbida com seu clssico livro Psychopathia Sexualis um vasto compndio de cada perverso conhecida, ilustrado com centenas de casos. Obviamente, Krafft-Ebing no usa o termo serial killer ou assassinato em srie, que s seria incorporado na lngua inglesa cem anos mais tarde, mas utiliza a palavra alem lustmord, que poderia ser traduzida como assassinato por luxria ou, simplesmente, assassinato sdico [footnoteRef:68]. [68: SCHECHTER, op. cit., p. 205.]

O criminoso portador de personalidade esquizoide[footnoteRef:69], por exemplo, pode demonstrar uma predisposio hereditria, pois comumente possui membro da famlia, em geral um dos pais, portador deste transtorno ou, at mesmo, de esquizofrenia. [69: O Transtorno de Personalidade Esquizoide caracteriza-se por falta de interesse em relaes sociais, tendncia ao isolamento, frieza emocional, bem como por uma rica e elaborada atividade imaginria interior. Ainda que haja maior prevalncia em famlias com esquizofrenia, este transtorno no corresponde esquizofrenia.]

Nesse ponto, enquanto entende-se que a personalidade esquizoide reflete uma predisposio hereditria, a personalidade sdica[footnoteRef:70] parece mais provvel surgir como resultado de severas agresses na infncia (fsica, sexual ou verbal) que foram negligenciadas, de maneira que o sadismo acaba por surgir como uma forma de antdoto contra a experincia do abuso sofrido. Assim, quem era vtima no passado, se transforma em um adulto vitimizador. No entanto, h de se ressaltar que existem tambm serial killers de tendncia definitivamente sdica que no tm qualquer histrico de abuso na infncia[footnoteRef:71]. [70: O Transtorno de Personalidade Sdico ou simplesmente personalidade sdica um padro de comportamento em que o indivduo adota uma conduta cruel, humilhante e agressiva. ] [71: MORANA, Hilda C. P.; STONE, Michael H.; ABDALLA-FILHO, Elias. Transtornos de personalidade, psicopatia e serial killers. Rev Bras Psiquiatr. 2006; 28 (Supl II): S74-9. p. s78.]

Segundo Hazelwood e Michaud apud Morana et al.[footnoteRef:72], a maior parte dos assassinos em srie exibe um comportamento sexualmente sdico, acompanhado do desejo por dominar outra e subjuga-la completamente aos seus desejos. [72: MORANA et. al., loc. cit.]

Portanto, em funo disso, a grande maioria dos serial killers diagnosticada como psicopata, haja vista que comumente enganam as vtimas, conduzindo-as a reas em que no seja possvel que elas resistam. Alm do fato de que, quando presos, costumam enganar funcionrios penitencirios, psiclogos, psiquiatras e diversos outros profissionais da rea de sade mental, fazendo com que acreditem que ele est curado e pronto para ser reinserido na sociedade. Porm, tais decises conduzem a erros to graves que geralmente custam a vida de novas vtimas.[footnoteRef:73] [73: MORANA et. al., loc. cit.]

Sob a tica da psiquiatria, os estudiosos apresentam uma diviso bipartida para distinguir os grandes grupos de matadores seriais a partir do diagnstico: o assassino psictico e o assassino psicopata.

Assassino psicticoO assassino psictico tido como o verdadeiro doente mental, que padece de uma psicose, ou seja, o chamado paranoide psictico ou portador de uma esquizofrenia paranoide. Este tipo de assassino no consciente de seu estado, haja vista que, normalmente, encontra-se acometido por delrios e alucinaes, as quais considera como se fosse sua prpria realidade[footnoteRef:74]. [74: BONFIM, op. cit., p. 75. ]

Um exemplo recente que se enquadra na situao de assassino psictico o caso de Carlos Eduardo Sundfeld Nunes, que matou o cartunista Glauco Villas Boas e o filho dele Raoni. Nunes foi considerado portador de doena mental, recebendo medida de segurana de trs anos, o mnimo previsto pelo Cdigo Penal brasileiro para portadores de enfermidades mentais que praticam crimes[footnoteRef:75]. [75: CANCIAN, Natlia. Assassino de Glauco pode ir para casa, decide Justia. So Paulo: Folha de S. Paulo, 09 de agosto de 2013. Disponvel em: . Acesso em: 12 de setembro de 2013.]

Assim, com relao aos serial killers psicticos, eles vivem em outra realidade, logo, por estarem no auge da anormalidade, necessitam de acompanhamento psiquitrico, j que no conseguem distinguir seus atos.

Assassino psicopataUma antiga fbula de Esopo[footnoteRef:76] chamada O escorpio e a r um excelente exemplo para definir a natureza do assassino psicopata e seu instinto de matar: [76: Esopo foi um escritor grego a quem se atribuiu vrias fbulas populares.]

Um escorpio e uma r encontraram-se s margens de um riacho. O escorpio queria atravessar para o outro lado e, ento, pediu r que o levasse nas costas. Mas como saberei que voc no vai me picar? perguntou a r desconfiada. lgico que no vou fazer isso respondeu o escorpio. Se eu pic-la, tambm morrerei.Satisfeita, a r concordou, e o escorpio subiu em suas costas.Na metade da travessia, o escorpio deu uma ferroada na r, condenando ambos morte. Por que voc fez isso? gritou a r moribunda. Porque essa minha natureza respondeu o escorpio.

Segundo Cleckley apud Mougenot Bonfim[footnoteRef:77], este indivduo incapaz de amar com autenticidade porque devido ao egocentrismo somente ama a si prprio, alm disso, possui perfil hedonista, no sente remorso, apresenta aspecto normal e, sobretudo, tem preservado absolutamente hgido o seu aspecto intelectivo, entendendo perfeitamente a natureza das coisas e as diversas situaes do cotidiano, embora sua capacidade de autodeterminao seja diminuda. Ou seja, apesar de conhecer o certo e errado sobre a conduta humana, no tem pleno autodomnio ou autodeterminao para agir de acordo com esse entendimento.[footnoteRef:78] [77: BONFIM, op. cit, p. 75.] [78: BONFIM, loc. cit. ]

Para diferenci-los daqueles indivduos acometido por psicose, que, por viverem em um mundo de iluses, no distinguem substancialmente o certo e o errado na conduta que adota, em 1904, o psiquiatra alemo Kraepelin classifica as enfermidades mentais, utilizando-se do termo personalidade psicoptica para referir-se a um tipo de pessoa que no se enquadra entre os neurticos nem os psicticos. Afirmou tambm que as personalidades psicopticas so meras formas frustradas de psicose. Define-as fundamentalmente seguindo um critrio gentico e considera que seus efeitos se limitam essencialmente vida e vontade[footnoteRef:79]. [79: TENDLARZ, op. cit, p. 163. ]

Portanto, o assassino psicopata no se enquadra nas hipteses de doena mental. Para alguns estudiosos, este grupo se encontra em um terreno cinzento, imerso entre a normalidade e a anormalidade, configurando uma seminormalidade psquica.

77

CAPTULO II DA PSICOPATIA E O SERIAL KILLER

VISO HISTRICA: da loucura psicopatiaOs psicopatas no so loucos, mas podem ser muito, muito maus. medida que a raa humana evoluiu, desde que fomos perdendo o excesso de pelos do corpo e aprendemos a caminhar eretos, sempre houve pessoas que parecem imunes s regras normais ou insensveis aos sentimentos daqueles que os cercam lembre-se de tila, o Brbaro, de Calgula e Hitler[footnoteRef:80]. [80: DAYNES, Kerry; FELLOWES, Jessica. Como identificar um psicopata: cuidado! Ele pode estar mais perto do que voc imagina. So Paulo: Cultrix, 2012, p. 19-20.]

Pode-se argumentar que toda a nossa histria foi moldada por diversos psicopatas extremos, mas como at a dcada de 1940 no havia parmetros para avaliao de psicopatia, difcil comprovar isso. Antes disso, a sociedade simplesmente declarava que essas pessoas tinham "falncia moral" ou maldade pura e simples[footnoteRef:81]. [81: DAYNES, loc. cit.]

O conceito de psicopata percorreu um longo e tortuoso caminho at chegar noo de psicopatia como se conhece atualmente. Um dos primeiros mdicos a escrever sobre os psicopatas foi Philippe Pinel[footnoteRef:82], que usou o termo mania sem delrio para descrever um comportamento marcado por absoluta falta de remorso e completa ausncia de conteno, um padro que ele acreditava distinto daquele mal que os homens costumam fazer [footnoteRef:83]. [82: Psiquiatra francs do comeo do sculo XIX.] [83: HARE, Robert. Sem conscincia: o mundo perturbador dos psicopatas que vivem entre ns. Porto Alegre: Artmed, 2013, p. 41.]

Enquanto Pinel considerava essa condio moralmente neutra, outros escritores consideravam esses pacientes moralmente insanos, uma verdadeira personificao do mal, dando incio a uma discusso que se estendeu por geraes e que oscilou entre a viso de que os psicopatas so loucos ou de que so maus ou at diablicos[footnoteRef:84]. [84: HARE, loc. cit.]

Neste ponto, tornou-se necessrio diagnosticar aquelas pessoas com tendncia delinquncia. Foi ento que surgiu uma das classificaes mais antigas que se conhece sobre o sujeito criminoso: a classificao de Lombroso.Cesare Lombroso, fundador e lder da chamada Escola Positiva, em sua obra intitulada O homem delinquente, de 1876, dedicou-se ao estudo da delinquncia atravs da medida dos traos anatmicos e fisiolgicos dos criminosos, pouco considerando os traos de natureza psicolgica.[footnoteRef:85] Para Lombroso, o criminoso sempre nascia criminoso, podendo classifica-los por seus traos anatmicos, seria o que ele definia como delinquente nato [footnoteRef:86]. [85: TRINDADE, Jorge; BEHEREGARAY, Andra; CUNEO, Mnica Rodrigues. Psicopatia: a mscara da justia. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2009, p. 27.] [86: SHECAIRA, Srgio Salomo. Criminologia. 5 ed. rev. So Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013, p. 89.]

Dentro da teoria de Lombroso da criminalidade, a categoria do delinquente nato ocupava um lugar de destaque, pois ele definiu este grupo como uma subespcie ou subtipo humano. Conforme destaca Shecaira[footnoteRef:87], Lombroso iniciou suas investigaes aps examinar o crnio de um conhecido delinquente, no qual afirmou ter encontrado uma grande srie de anomalias atvicas, sobretudo uma enorme fosseta occipital mdia e uma hipertrofia do lbulo cerebelar mediano (vermis), anloga que se encontra nos vertebrados inferiores. [87: Ibid., p. 87-91.]

Ou seja, na teoria lombrosiana da criminalidade, o criminoso nato caracterizava-se pelos seguintes traos: cabea sui generis, com pronunciada assimetria craniana, fronte baixa e fugdia, orelhas em forma de asa, zigomas, lbulos occipitais e arcadas superciliares salientes, maxilares proeminentes (prognatismo), face longa e larga, apesar do crnio pequeno, cabelos abundantes, mas barba escassa, rosto plido[footnoteRef:88]. A ilustrao (Figura1) a seguir demonstra o criminoso nato segundo Lombroso: [88: Ibid., loc. cit.]

Figura1. Criminoso nato, segundo Lombroso.Fonte: criminologiafla.files.wordpress.com.

Posteriormente, com o advento da Segunda Guerra Mundial, uma nova urgncia prtica surgiu: era necessrio, mais do que nunca, identificar, diagnosticar e, se possvel, tratar indivduos que pudessem romper ou at destruir o controle militar estrito, tema que despertava vivamente a ateno pblica. Foi ento que surgiu a primeira viso detalhada da psicopatia, publicada por Hervey Cleckley em seu livro, agora clssico, The Mask os Sanity (A mscara da sanidade), em 1941[footnoteRef:89]. [89: HARE, op. cit., p. 42.]

Em seu livro, ele escreveu de modo dramtico sobre seus pacientes, incluindo uma srie de notas dos casos, nas quais utilizou expresses como sagacidade e agilidade da mente, conversas magnetizantes e charme excepcional. Observou ainda que, na cadeia ou na priso, o psicopata costuma usar suas considerveis habilidades sociais para persuadir o juiz de que ele, na verdade, devia estar em um hospital para doentes mentais. Uma vez no hospital, onde ningum quer saber dele, pois muito disruptivo, pe em prtica suas habilidades para conseguir a soltura[footnoteRef:90]. [90: Ibid., p. 43.]

At hoje o livro The Mask of Sanity influencia muitos pesquisadores, pois fornece estrutura clnica de muitas pesquisas cientficas sobre psicopatia realizadas nos ltimos 25 anos, aliando-se, sobretudo, aos avanos tecnolgicos, para que seja possvel conhecer vitalmente suas causas, bem como atingir de forma mais tnue a linha sobre a devastao causadas pelos psicopatas na sociedade em geral[footnoteRef:91]. [91: Ibid., loc. cit.]

Diante disto, o conceito moderno que se tem de psicopatia este proposto por Hervey Cleckley, aliado, contudo, ao desenvolvido por Robert Hare, considerado o maior especialista em psicopatia no mundo, que elaborou uma escala, denominada "Escala Hare" ou escala PCL-R[footnoteRef:92], que avalia o grau de risco e pondera traos de personalidade prototpicos de psicopatia[footnoteRef:93]. [92: Psychopathy Checklist Revised. Traduo: Lista de verificao de psicopatia (traduo livre).] [93: TRINDADE, op. cit., p. 29-30.]

No Brasil, foi Hilda Clotilde Penteado Morana[footnoteRef:94] quem fez a validao da Escala Hare PCL-R. Para coloca-la disposio de peritos, tanto psiclogos como psiquiatras, Morana traduziu a escala PCL-R para a lngua portuguesa e a validou para a populao brasileira[footnoteRef:95]. [94: Psiquiatra forense que traduziu e validou o PCL-R (Psychopathy Checklist Revised) no Brasil.] [95: TRINDADE, op. cit., p. 154-155.]

A Figura2 a seguir ilustra de forma sucinta a escala da mente criminosa, enquadrando-se, no grupo mais elevado, os psicopatas:

Figura2. A escala da mente criminosa.Fonte: revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/1,,EMI92652-15228,00.html

O que psicopatia?Frios, manipuladores, cruis e destitudos de compaixo, culpa ou remorso. Utilizam-se de seu charme e de sua inteligncia para impressionar, seduzir e enganar quem atravessa o seu caminho. Esto camuflados de executivos bem-sucedidos, bons polticos, bons amigos, pais e mes de famlia, e no costumam levantar suspeitas sobre quem realmente so. Assim descreve os psicopatas a doutora Ana Beatriz Barbosa Silva no resumo de seu livro Mentes Perigosas[footnoteRef:96]. A rigor, o psicopata tido como uma pessoa perversa com personalidade psicoptica. [96: SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Mentes perigosas: o psicopata mora ao lado. So Paulo: Editora Fontanar, 2008, resumo [contracapa].]

A palavra psicopata significa literalmente "mente doente", mas, embora possam desenvolver estados temporrios de doena mental como outra pessoa qualquer, os psicopatas no so dementes. Eles tm total conscincia e controle do seu comportamento. Seus atos so ainda mais assustadores por no poderem ser considerados consequncia de uma doena temporria, mas sim, de uma permanente indiferena fria e calculista em relao aos outros[footnoteRef:97]. [97: DAYNES, op. cit., p. 19.]

A psicopatia caracterizada como sendo um distrbio mental grave determinado por um desvio de carter, ausncia de sentimentos genunos, frieza, insensibilidade aos sentimentos alheios, manipulao, egocentrismo, falta de remorso e de culpa para atos cruis e inflexibilidade com castigos e punies[footnoteRef:98]. [98: HARE, op. cit, p. 48-70. ]

Apesar da psicopatia tambm ser conhecida como sociopatia, cientificamente a doena diagnosticada como transtorno de personalidade antissocial, vez que o diagnstico clnico que mais se aproxima do quadro do psicopata[footnoteRef:99]. Todavia, no se pode olhar este tipo de transtorno como sinnimo de psicopatia, haja vista que nem todos os indivduos com Transtorno de Personalidade Antissocial (TPAS) preenchem todos os critrios para psicopatia, de modo que o psicopata representa uma pequena esfera do TPAS[footnoteRef:100]. [99: TABORDA, Jos G. V; ABDALLA-FILHO, Elias; CHALUB, Miguel. Psiquiatria Forense. 2 ed. Porto Alegre: Artmed, 2012, p. 437-438.] [100: TRINDADE, op. cit., p.97-98.]

No possvel determinar um nico fator causador do distrbio, uma vez que a psicopatia parece estar relacionada a diversas disfunes cerebrais importantes. Entretanto, apesar de alguns psicopatas com nvel mais brando no apresentarem histrico do transtorno, em casos mais graves como os sdicos e os serial killers, parece haver associao de trs fatores principais: disfunes cerebrais/biolgicas ou traumas neurolgicos, predisposio gentica e traumas sociopsicolgicos na infncia, como abuso emocional, sexual, fsico etc.[footnoteRef:101] [101: SCHCHTER, op. cit., p. 251-252.]

Vale destacar que nem todo indivduo que passou por algum trauma na infncia se tornar um psicopata, se no houver alguma influncia gentica ou distrbio cerebral. Alm disso, no se pode dizer que o psicopata j nasa fruto deste transtorno. essencial a coexistncia dos trs fatores: gentica, traumas psicolgicos e disfunes no crebro, sobretudo no lobo frontal (Figura3) e sistema lmbico[footnoteRef:102] (Figura4). [102: O sistema lmbico a unidade responsvel pelas emoes e comportamentos sociais.]

Figura3. Lobo frontal.Fonte: setimodia.files.wordpress.com Figura4. Sistema Lmbico.Fonte: liquidarea.com

TERMINOLOGIA A palavra psicopatia d uma grande margem de dvidas quanto ao seu significado, haja vista que, ao analisar sua origem, patia (patus = doena) e psico (mente, psique), d a entender que psicopata algum que possui doena da mente ou doena da psique, mas no bem assim. O termo psicopata restringe-se s pessoas que tem um determinado tipo de personalidade, a chamada personalidade psicoptica, ou seja, a uma maneira de ver e de ser do indivduo, no qual o outro no representa nada, o outro apenas um instrumento para ele obter diverso, status ou poder[footnoteRef:103]. [103: SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Psicopata. Programa do J: Rede Globo, 08 de junho de 2012. Entrevista no programa do J Soares, com a psiquiatra Dra. Ana Beatriz Barbosa Silva sobre psicopatia tema do livro Mentes Perigosas: o psicopata mora o lado (informao verbal).]

Por outro lado, quando se fala de psicopatia e sociopatia, geralmente costuma-se pensar que se trata de transtornos diferentes, porm com alguma semelhana. Na realidade ambos os termos so sinnimos, no havendo diferena entre as duas expresses. O termo sociopata surgiu por duas razes. Em primeiro lugar, porque alguns psiclogos achavam que a palavra "psicopata" era muito parecida com "psictico". O filme Psicose representa um grande exemplo da confuso que a semelhana das duas palavras pode causar, afinal, quando se trata de indivduo psicopata, quem no pensa automaticamente em Norman Bates como o sinistro proprietrio do motel no filme de Alfred Hitchcock? Mas o pobre e incompreendido Norman era doente mental, de modo que o ttulo do filme se refere ao fato de ele ser psictico que provavelmente sofria de Transtorno Dissociativo de Identidade e no psicopata[footnoteRef:104]. [104: DAYNES, op. cit., p. 31-32.]

Os psicticos agem sob influncia de delrios e alucinaes, enquanto os psicopatas no tm percepes distorcidas da realidade e raramente tm conflitos interiores em relao forma como tratam os outros, muito menos crise de conscincia. Em segundo lugar, alguns psiclogos sociais esto convencidos de que os psicopatas so criados pelo ambiente familiar e por uma sociedade cada vez mais psicopata. Eles acham que a palavra psicopata enfatiza tanto suas crenas sobre as origens do problema como o fato de as caractersticas associadas serem prejudiciais a grupos inteiros[footnoteRef:105]. [105: DAYNES, loc. cit.]

O QUE CAUSA A PSICOPATIA?Quando se pensa sobre a psicopatia em crianas, rapidamente se chega a seguinte pergunta: Por qu? Muitas crianas e adolescentes se desvirtuam em decorrncia de um ambiente social ruim abuso dos pais, pobreza, falta de oportunidades de trabalho, ms companhias , mas por que o psicopata parece que j vem ruim de fbrica?Os estudiosos ainda no tm uma causa determinada para a psicopatia. Em outras palavras, os cientistas no sabem se o transtorno psicoptico gentico ou se produto de falhas da criao.O que se sabe que os psicopatas possuem vrias anormalidades neurobiolgicas. Inmeras pesquisas mostram haver diferena na atividade eltrica cerebral de pessoas tidas como normais e dos psicopatas. Em geral, nas pessoas normais, o crebro reage mais rapidamente a palavras como morte e estupro, enquanto que o crebro dos psicopatas no faz nenhuma distino. Todavia, embora haja diferena entre as atividades cerebrais do psicopata em relao pessoa normal, no h como identificar se so determinadas antes do nascimento ou moldadas no incio da infncia[footnoteRef:106]. [106: Ibid., p. 119.]

Existem vrias teorias sobre as causas da psicopatia. Em um extremo esto as teorias que consideram a psicopatia como produto de fatores genticos ou biolgicos (da natureza), enquanto que, em outro, as teorias que afirmam que a psicopatia resulta, inteiramente, de um ambiente social inicial problemtico (da criao) [footnoteRef:107]. [107: HARE, op. cit., p. 172. ]

Para Hare, um dos mais renomados estudiosos do assunto, a causa da psicopatia est em algum lugar entre os dois extremos: as atitudes e os comportamentos do psicopata so, muito provavelmente, resultado de uma combinao de fatores biolgicos e foras ambientais [footnoteRef:108]. [108: Ibid., p. 173.]

TRAOS DA PERSONALIDADE PSICOPTICAComo j fora mencionado, pode-se dizer que a psicopatia no propriamente um transtorno mental, sendo mais adequado considerar a psicopatia como um transtorno de personalidade.Segundo Trindade et al., psicopatia personalidade; ela no uma simples entidade, pois o que nela se procura captar so essencialmente aspectos que configuram uma personalidade [footnoteRef:109]. [109: TRINDADE et. al., op. cit., p. 59.]

O autor ainda diz que a psicopatia refere-se a uma caracterstica individual de modelo de pensamento, sentimento e comportamento. Nesse sentido, a personalidade interna, reside no indivduo, manifesta-se globalmente, e possui componentes cognitivos, interpessoais e comportamentais[footnoteRef:110]. Logo, por esta definio, a psicopatia pode ser entendida como um modelo particular de personalidade. [110: Ibid., loc. cit.]

Em seu livro Como identificar um psicopata, Daynes e Fellowes[footnoteRef:111] apresentam os traos mais marcantes da personalidade do psicopata (QUADRO3). [111: DAYNES, op. cit., p. 24.]

QUADRO3. Traos da personalidadeTraos de personalidade:Loquacidade/ charme superficialAutoestima infladaMentira patolgicaEnganador/ manipuladorAusncia de remorso ou sentimento de culpaAfetividade superficialIndiferena/ falta de empatiaDescontrole comportamentalImpulsividadeIrresponsabilidadeIncapacidade de assumir a responsabilidade pelos prprios atos

CLASSIFICAO DOS PSICOPATASComo dito, o psicopata, em geral, tido como um indivduo exemplar, educado, gentil, por vezes socivel e simptico. So aquelas pessoas que ningum imaginaria qualquer atrocidade proveniente desse ser, causando espanto nas pessoas ao seu redor quando cometem algum tipo de maldade ou crime. Dependendo do distrbio que apresentam, so classificados nos seguintes graus:

Psicopata comunitrio ou de grau leveA maioria dos psicopatas encontra-se no grau leve de psicopatia, no preenchendo todos os critrios de determinao do transtorno de personalidade antissocial, sendo, portanto, os mais difceis de serem diagnosticados.Aqui esto os psicopatas mais comuns, aqueles que dificilmente matam. Costumam passar despercebidos em meio comunitrio. Normalmente tm inteligncia mdia ou acima da mdia, apesar disso so racionais, frios e mentirosos e pouco se importam com sentimentos alheios. So dissimulados e manipuladores, o que faz com que as pessoas raramente percebam que esto ao lado de um psicopata[footnoteRef:112]. [112: SILVA, 2012, op. cit. (informao verbal).]

Psicopata antissocial ou de grau moderado graveO psicopata antissocial aquele que costuma preencher todos ou quase todos os critrios determinantes do transtorno de personalidade antissocial. Aqui se encontram os psicopatas com grande tendncia de se enquadrar na categoria dos serial killers[footnoteRef:113]. [113: Ibid., loc. cit.]

Grande parte apresenta as mesmas caractersticas do psicopata de grau leve, apresentando, porm, comportamentos que facilmente possam inseri-lo no meio carcerrio. So agressivos, frios, sdicos, impulsivos e mentirosos, no apresentam empatia e em muitos casos esto associados a grandes golpes ou a assassinatos, incluindo-se os assassinatos em srie. Mas, assim como os primeiros, tambm escondem suas reais caractersticas, de modo que a sociedade os v como meras pessoas normais[footnoteRef:114]. [114: DAYNES, op. cit., p. 14-15.]

Os psicopatas de grau moderado so aqueles que, em geral, esto envolvidos em meio a drogas, lcool, jogos, promiscuidade, vandalismo, alm de grandes golpes e estelionatos graves, como os psicopatas de colarinho branco[footnoteRef:115]. Ao passo que, os de grau mais crtico, costumam ser assassinos sdicos, que obtm prazer com o sofrimento de outra pessoa. Em contrapartida, assim como os psicopatas comunitrios, tambm podem apresentar comportamentos de uma pessoa comum perante a sociedade, escondendo, porm, uma personalidade mais sombria[footnoteRef:116]. [115: Eufemismo utilizado para psicopatas com inclinao empresarial que utilizam de suas conexes e truques de manipulao para realizar grandes golpes, os quais costumam trazer um impacto devastador sobre a sociedade.] [116: HARE, op. cit., p. 113-132.]

Nesta classe de psicopatas trivial encontrar pessoas com histrico de doenas neuropsiquitricas, a exemplo da depresso, transtornos de ansiedade ou outros distrbios de personalidade. Alm disso, normalmente est presente o sentimento de tdio e vazio existencial, o que os faz procurar novas formas de se estimularem, inclusive atravs do assassinato em srie de pessoas[footnoteRef:117]. [117: HERCULES, Hygino de Carvalho. Medicina Legal: texto e atlas. So Paulo: Editora Atheneu, 2011, p. 666-667.]

PSICOPATIA FEMININASegundo Silva[footnoteRef:118], estima-se que h um psicopata do sexo feminino para cada trs do sexo masculino. Alm disso, embora a maioria dos serial killers sejam do sexo masculino, existe sim, porm em quantidade bem menor aproximadamente 11% dos casos de mulheres assassinas seriais[footnoteRef:119]. [118: SILVA, 2012, op. cit. (informao verbal).] [119: VELLASQUES, op. cit., p.49.]

Em geral, nas mulheres psicopatas a tendncia um grau leve ou moderado, de modo que so raras as mulheres com grau acentuado do distrbio, o que no significa que no existam, at porque vrios so os registros de serial killer do sexo feminino, como Aileen Wournos, Erzsebet Bathory e Marie Noe, alm do primeiro serial killer documentado, que foi uma mulher: Locusta, a Envenenadora.Das et al. apud Gomes e Almeida[footnoteRef:120] apontam o perfil de mulheres psicopatas. Segundo eles, durante a infncia costumam apresentar negligncia por parte de seus cuidadores, profundo sentimento de isolamento e introverso. Na adolescncia, comea a intensificao de comportamentos antissociais, abuso de substncias como lcool e outras drogas, podendo at mesmo ocorrer comportamentos sexuais promscuos e perversos. Quando adultas, no gostam de ser contrariadas, so bastante persuasivas, sedutoras e carismticas, tm contato volvel com a realidade e dificilmente possuem relacionamentos emocionais intensos. [120: GOMES, Cema Cardona; ALMEIDA, Rosa Maria Martins. Psicopatia em homens e mulheres. Arquivos Brasileiros de Psicologia, v. 62, n. 1, 2010. Disponvel em: . Acesso em: 15 de setembro de 2013, p. 5.]

Por outro lado, a impulsividade no uma caracterstica comum nas mulheres com este transtorno, como ocorre com os homens, no entanto a insensibilidade, a violncia, as emoes superficiais e a ausncia de culpa so traos comuns a ambos os sexos. Ainda, alguns consideram que as mulheres psicopatas tendem a ser mais paranoicas e histricas e, em geral, esto entre aquelas que assumem papis importantes os cuidados com os outros, a exemplo de enfermeiras e parteiras que, de incio, gostam de cuidar das pessoas sua volta, mas nessas profisses que surgiram as grandes psicopatas femininas que acabaram se tornando serial killer[footnoteRef:121]. [121: GOMES, loc. cit.]

A conduta do psicopataDaynes e Fellowes[footnoteRef:122] em seu livro Como identificar um psicopata descreveram o curioso caso do incidente do gato na lata do lixo que demonstra perfeitamente o comportamento do psicopata. [122: DAYNES, op. cit., p. 29.]

O caso ocorreu em agosto de 2010, quando o canal CCTV noticiou imagens da britnica Mary Bale jogando sorrateiramente Lola, a gata do vizinho, em uma lata de lixo. O episdio causou grande comoo social, tendo em vista que o vdeo foi visto por milhes de pessoas no YouTube, o que gerou manchetes como: Ser que Mary Bale a mulher mais perversa da Inglaterra? [footnoteRef:123] [123: Ibid., loc. cit..]

Apesar de toda a indignao pblica, a polcia demorou para decidir se era ou no um ato criminoso, no final decidiu-se que era ato criminoso e Bale acabou sendo processada pela Sociedade Protetora dos Animais da Gr-Bretanha e teve que pagar 250 libras de multa mais custas judiciais depois de admitir que havia cometido uma crueldade contra o animal[footnoteRef:124]. [124: DAYNES, loc. cit.]

O fato que, ilegal ou no, esse foi um comportamento psicopata? Definitivamente, pois foi um ato impulsivo, pois Bale disse que achou que seria divertido colocar o pobre animal na lata de lixo, demonstrando total falta de empatia pela gata e seus donos. A resposta inicial de Mary Bale foi que era s uma gata, do tipo por que tanto estardalhao. Entretanto, s mais tarde, depois da indignao popular, que ela pediu desculpas e disse que tinha sido um comportamento totalmente contrrio sua natureza [footnoteRef:125]. [125: Ibid., loc. cit.]

Por certo que um nico ato suspeito no caracteriza necessariamente um indivduo como psicopata, salvo se ele j tenha uma longa histria de crueldades que no foram flagradas. a personalidade condiciona modos de pensar, sentir, conduzir-se e reagir[footnoteRef:126]. No caso de Bale, contudo, a verdade que ela no passa de uma pessoa absolutamente comum, mas cuja indignao popular foi tamanha em decorrncia de um nico ato de crueldade que cometeu, tornando a sua histria extremamente interessante, ao demonstrar que a sociedade no lida bem quando indivduos violam as regras de conduta moral[footnoteRef:127]. [126: HERCULES, op. cit., p. 666.] [127: DAYNES, op. cit., p. 29.]

Na psicanlise no h qualquer categoria, quadro ou mesmo estrutura que se ajuste ao que corretamente se descreve por psicopatia. Porm, a psicopatia mais se aproxima do diagnstico psicanaltico da perverso quando se considera as caractersticas de ausncia de culpa e prevalncia da impulsividade sem diviso subjetiva, prprias desses casos[footnoteRef:128]. [128: TENDLARZ, op. cit, p. 182.]

Ademais, o verdadeiro psicopata, o genuno, no grau que culmina essa modalidade subjetiva, no aquele que exerce uma violncia aberta na perseguio de suas metas inconscientes, mas quem a usa (a violncia), em um jogo sutil de ameaas e promessas, por meio das quais obtm o consentimento do outro[footnoteRef:129]. E a partir disto que os psiclogos especializados em psicologia social empregam o termo efeito halo para descrever a atribuio de todos os tipos de qualidades a uma pessoa com base na sua aparncia[footnoteRef:130]. [129: Ibid., p. 183.] [130: DAYNES, op. cit., p. 111.]

O efeito halo um fenmeno ptico causado pela luz, bastante encontrado em imagens religiosas. Assim, de forma anloga, d-se o nome de efeito halo sobreposio de uma ou duas caractersticas de um indivduo sobre as demais, ou seja, quando se conclui que, se uma pessoa faz bem alguma coisa, ela far bem todas s outras e vice-versa[footnoteRef:131]. [131: Ibid., p. 111-112.]

Outra caracterstica fundamental na conduta do psicopata a chamada viso em tnel, na qual s enxergam aquilo de seu interesse. Enquanto, por bvio, at certo ponto, as pessoas tidas como normais se focam em coisas prazerosas, o psicopata leva isso ao extremo, podendo buscar agressivamente o prazer, mas, devido sua reduzida capacidade emocional, sua vida no costuma ser mais satisfatria do que a da maioria das pessoas, isso quando no menos satisfatria[footnoteRef:132]. [132: DAYNES, op. cit., p. 230.]

Entretanto, apenas do ponto de vista de um observador externo o psicopata pode ser qualificado como transgressor, uma vez que em sua posio subjetiva, ele no , nem mesmo sente-se, um infrator, pois sua essncia de sentimentos de culpabilidade desfaz os contornos e as barreiras entre o proibido e o permitido no lao social, posto que se guia por seus prprios cdigos. E a partir disto encontra-se o sdico, que aparentemente busca provocar a angstia em outrem, e o masoquista, que aparentemente tem o propsito de suscitar o gozo do outro, mas, inconscientemente, busca angustiar o outro[footnoteRef:133]. [133: TENDLARZ, op. cit., p. 186.]

CRIMINOSOS CRNICOS x PSICOPATASCriminalidade e psicopatia no configura o mesmo construto. Charme, crueldade, arrogncia, afeto superficial, desonestidade e falta de empatia no implicam necessariamente comportamento criminoso, e somente uma pequena minoria daqueles que se envolvem com comportamento criminoso so psicopatas. A contribuio das caractersticas de personalidade do comportamento antissocial uma questo emprica que somente pode ser respondida se ambos puderem ser identificados isoladamente[footnoteRef:134]. [134: TRINDADE et. al., op. cit., p. 86-87.]

De fato que muitos psicopatas so criminosos crnicos, porm somente um nmero relativamente pequeno de criminosos realmente psicopata, permanecendo a necessidade de investigar se o comportamento antissocial seria um sintoma de psicopatia ou simplesmente uma consequncia. Ademais, a classificao clnica de psicopatia no inclui o comportamento antissocial como uma caracterstica central ou como sintoma do transtorno. Na verdade, muitos psicopatas no possuem histrico de comportamento antissocial, o que poderia ser considerado uma patologia secundria de personalidade, de modo que o critrio para psicopatia que se baseia exclusivamente no comportamento antissocial tem sido duramente criticado[footnoteRef:135]. [135: Ibid., p. 87.]

No mais, impossvel considerar a agresso no ser humano como um evento em si, emancipado de circunstncias e contingncias. O exame de toda e qualquer manifestao da conduta deve ser feito em funo da personalidade do indivduo e do contexto social no qual ele se insere. Nesse sentido, fatores ambientais que influem para tecer o desenvolvimento da personalidade psicopata sempre devem ser considerados[footnoteRef:136]. [136: TRINDADE et. al., op. cit., p. 87.]

O CREBRO DO PSICOPATA E O SISTEMA DAS EMOESO crebro do psicopata no apresenta alteraes estruturais, mas funciona de forma diferente. Segundo Benedito Damasceno apud Deus[footnoteRef:137], neurologista da Unicamp: [137: DEUS, Teresa F. Os crebros dos psicopatas so diferentes dos crebros das pessoas normais? [20--?]. Disponvel em: . Acesso em: 13 de dezembro de 2012.]

Pode existir uma falha da transmisso qumica entre os neurnios, uma falha da atividade eltrica dos neurnios. Esse indivduo tem uma linguagem normal, uma noo normal, uma percepo normal e um raciocnio lgico normal. O nico problema dele que ele viola as normas morais e sociais. Mais do que isso: ele no se arrepende.

Algumas pessoas acreditam que a origem da psicopatia seja um distrbio neurolgico especfico, mas, apesar dos estudos no indicarem qualquer leso cerebral nos psicopatas seu crebro realmente parece ser diferente do das outras pessoas. Por exemplo, tcnicas de neuroimagem revelam que, quando os psicopatas so solicitados a realizar tarefas que requerem o processamento de palavras carregadas de emoo, as partes do seu crebro que so ativadas no so as mesmas dos grupos de controle normais[footnoteRef:138]. [138: DAYNES, op. cit., p.30-31.]

Circuitos defeituosos no sistema paralmbico[footnoteRef:139] podem ser particularmente significativos. Contudo, embora j tenha sido comprovado que a morfologia do crebro de um psicopata parece ser diferente se comparada a um crebro normal, os cientistas ainda no descobriram o que causa tal deficincia no funcionamento cerebral do psicopata[footnoteRef:140]. [139: O sistema paralmbico um circuito funcional do sistema lmbico que se encarrega de integrar as representaes abstratas do mundo exterior com os estados emocionais, desempenhando um papel fundamental na mediao dos estados emocionais, ou seja, constitui um grupo de regies cerebrais interconectadas envolvidas no autocontrole e processamento emocional.] [140: DAYNES, op. cit., p.31.]

De fato, evidncias de anomalias cerebrais nos psicopatas levaram alguns cientistas e advogados a alegarem que eles no so maus, mas, sim, menos favorecidos ou at mesmo deficientes (e, portanto, preciso dar um desconto maior para seus atos ilcitos e suas maldades). Enquanto, no outro extremo, alguns lanaram mo da teoria de que a psicopatia tem uma origem biolgica, para apoiar uma proposta ainda mais controversa de identificar e prender indivduos mesmo que no tenham cometido crime[footnoteRef:141]. [141: DAYNES, op. cit., p.31.]

PSICOPATIA TEM CURA? De fato que os psicopatas esto presentes em todos os mbitos do tecido social, do direito medicina, da polcia ao mundo dos negcios, e tambm na poltica. Alis, nenhuma parcela da atividade humana est livre da ao e influncia de psicopatas, e desse contingente que saem os autores dos piores crimes contra a humanidade, embora alguns no cheguem a cometer crimes violentos[footnoteRef:142]. [142: TRINDADE et. al., op. cit., p. 139]

Robert Hare[footnoteRef:143], em seu livro Sem Conscincia: o mundo perturbador dos psicopatas que vivem entre ns, assim relata: [143: HARE, op. cit., p. 199-200.]

Os mdicos costumam descrever os psicopatas como indivduos cujos poderosos mecanismos psicolgicos de defesa esmagam a ansiedade e o medo. Pesquisas de laboratrio sustentam essa viso e sugerem que deve haver uma base biolgica para sua capacidade de lidar com o estresse. Isso pode soar como se devssemos invejar os psicopatas. Entretanto, o aspecto negativo consiste em que a fronteira entre a ausncia de medo e a imprudncia bastante nebulosa: os psicopatas esto sempre se envolvendo em problemas, na maioria das vezes porque seu comportamento no motivado pela ansiedade nem guiado pelos alertas que indicam perigo. Assim como as pessoas que usam culos escuros em ambientes fechados, eles parecem descolados, mas perdem grande parte do que acontece ao seu redor.Alguns exemplos, bastante repulsivos, de habilidade de permanecer frio em situaes que poderamos chamar de extremamente assustadoras vieram luz algum tempo atrs. Jeffrey Dahmer, aquele cidado de Milwaukee que cometeu crimes indescritveis, incluindo assassinatos em srie, mutilao e canibalismo, com calma e deliberao, convenceu a polcia de que o adolescente que havia escapado de seu apartamento, nu e sangrando, era, na verdade, um amante adulto que estivera em sua casa por vontade prpria. Segundo a histria de Dahmer, acontecera uma briguinha de amor entre os dois. A polcia foi embora, aparentemente tranquilizada, e o garoto ficou nas mos do assassino, que o matou assim que os policiais saram. Durante o julgamento, em que se declarou culpado, mas inimputvel, em resposta acusao de 15 assassinatos (o jri o considerou imputvel), indcios de outras ocorrncias similares vieram tona.Um reprter da Associated Press (11 de fevereiro de 1992), por exemplo, descreveu um incidente em que o carro de Dahmer foi parado pela polcia quando ele levava o corpo de sua primeira vtima para um depsito de lixo. Quando o policial apontou a lanterna para a sacola de plstico em que estava o corpo, Dahmer disse, calmamente, que estava deprimido por causa do divrcio dos pais, ia sair para dar uma volta e lembrou que precisava jogar o lixo fora. Sua passagem foi liberada.

Portanto, de acordo com essa narrativa que mostra perfeitamente o comportamento persuasivo do psicopata, para Daynes e Fellowes[footnoteRef:144], a resposta a essa pergunta seria: definitivamente, no, psicopatia no tem cura, e os programas genricos para tratamento de criminosos no surtem efeitos nos psicopatas. Na verdade, os psiclogos aprenderam que as terapias tradicionais podem ter o efeito indesejado de ensinar os psicopatas a manipular as outras pessoas, ao aprenderem a dizer o que os outros querem ouvir. [144: DAYNES, op. cit., p.30.]

Para Trindade et al.[footnoteRef:145], os psicopatas no se importam com as consequncias de seus atos. O comportamento violento, emocionalmente desapegado, arrogante, destemido e audacioso pode at despertar nos outros uma impresso de coragem, sugerindo falsa liderana, pois passa a mensagem de que cometer delitos algo emocionante e divertido, cujas consequncias so desqualificadas. [145: TRINDADE et. al., op. cit., p. 139-140.]

Consequentemente, reina um ceticismo muito grande acerca da reabilitao de psicopatas, haja vista que, para que o comportamento humano se modifique mediante terapia, necessrio haver um vnculo emocional entre terapeuta e paciente, mtua cooperao e sinceridade, que so justamente os critrios que o psicopata no cumpre[footnoteRef:146]. Logo, os tratamentos que existem hoje para a psicopatia apresentam resultados limitados, s vezes desalentadores[footnoteRef:147]. [146: Ibid., p. 140.] [147: Ibid., p. 147.]

CAPTULO III A RESPONSABILIDADE CRIMINAL DO SERIAL KILLER

ORIGEM DO CRIME E SUA PUNIOa primeira manifestao de violncia da histria remonta do perodo bblico, quando Caim matou seu irmo Abel. A partir desta primeira manifestao de violncia, nasceu o anseio de punir o indivduo que causasse transtorno paz social, brotando, assim, o Direito Penal, cujas normas se baseiam nos costumes sociais de cada grupo social ou tribo[footnoteRef:148]. [148: SILVA, Melina Pelissari. Serial killer: um psicopata condado custdia perptua. 2004. 111f. Trabalho de Concluso de Curso (Bacharelado em Direito) Faculdade de Direito de Presidente Prudente, 2004, p. 14.]

Inicialmente, as primeiras normas criadas eram fundamentadas em ensinamentos religiosos, assimiladas de tal maneira que quem as infringisse estaria violando um pecado, uma vontade de Deus, como o caso dos fundamentos bblicos. Mas, apenas com o decorrer de vrios sculos que a punio do infrator deixou de ser religiosa e passou a ser uma vingana pessoal, na qual o ofendido ou sua famlia deveriam buscar justia em face do criminoso[footnoteRef:149]. [149: Ibid., loc. cit.]

Posteriormente, esta vingana pessoal recaiu sobre a responsabilidade do soberano, detentor da responsabilidade pela ordem pblica, quando surgiu as primeiras legislaes mais complexas. A exemplo do famoso Cdigo de Hamurabi.O Cdigo de Hamurabi foi um conjunto de leis criados pelo rei Hamurabi da primeira dinastia babilnica, em meados do sculo XVIII a.C., que pregava a lei do talio Lex Talionis, que adota o sentido olho por olho, dente por dente. Ou seja, pelo Cdigo de Hamurabi, em regra, o crime de homicdio, por exemplo, independente se praticados com culpa ou dolo, eram punidos com a morte[footnoteRef:150]. [150: COSTA, Elder Lisba Ferreira da. Direito Criminal Constitucional: uma viso sociolgica e humanstica. Parte geral. Arts. 1 ao 120. Belm: Paka-Tatu, 2011,p. 37.]

De incio importante ressaltar que no existia diferena entre crime culposo e doloso, diferena esta cuja noo surgiu apenas em meados de 500 d.C. na poca final do Direito Romano[footnoteRef:151]. [151: SILVA, 2004, op. cit., p. 15.]

Porm, foi apenas em 1830 que o Brasil conheceria seu primeiro Cdigo Criminal do Imprio, visto que antes disso o pas seguia as medidas de represso das ordenaes de Portugal: Ordenaes Afonsinas (1446), Manoelinas (1514) e Filipinas (1603), esta ltima teve um longo perodo de durao no Brasil, vigorando desde 1.603 at 1.830, e no tratava unicamente de direito penal, mas tambm de outras matrias, como cvel. Entretanto, somente em 1890, com a Repblica, nasceu o Cdigo Penal, e finalmente, em 1940, apareceria a legislao penal em vigor[footnoteRef:152]. [152: SILVA, 2004, op. cit., p. 15.]

CONCEITO DE CRIMECrime o conjunto de uma ao humana e de um fato social. Ao humana porque apenas o homem pode pratic-lo e fato social pois uma mani