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UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE LETRAS JOANA ALINE VASCONCELOS GOMES O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO NO CONTEXTO DA UFV MULTICAMPI: DESAFIOS DE UMA NOVA REALIDADE DE GESTÃO

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Monografia Joana

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIOSACENTRO DE CINCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTESDEPARTAMENTO DE LETRAS

JOANA ALINE VASCONCELOS GOMES

O PLANEJAMENTO ESTRATGICO NO CONTEXTO DA UFV MULTICAMPI: DESAFIOS DE UMA NOVA REALIDADE DE GESTO

VIOSA MG2012

JOANA ALINE VASCONCELOS GOMES

O PLANEJAMENTO ESTRATGICO NO CONTEXTO DA UFV MULTICAMPI: DESAFIOS DE UMA NOVA REALIDADE DE GESTO

Monografia apresentada ao Departamento de Letras da Universidade Federal de Viosa, como parte das exigncias da disciplina SEC 499 Monografia e como requisito obrigatrio para concluso do curso e obteno do ttulo de Bacharel em Secretariado Executivo Trilngue.

Aprovada em 25 de outubro de 2012.

Cisne Zlia Teixeira Reis (PPO/UFV)Orientadora

II

Roslia Beber de Souza (DLA/UFV)Examinadora

Walmer Faroni (DAD/UFV)Examinador

UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIOSAVIOSA MG2012

AGRADECIMENTOS

Aos meus pais e irmos, por todo amor e apoio;

Zlia Reis, pelo exerccio de uma quase maternidade durante nossa convivncia, pela atuao como orientadora do meu trabalho e pela admirvel trajetria de dedicao UFV;

Aos professores do curso de Secretariado Executivo Trilngue da UFV, em especial Roslia Beber, professora de aulas que deixaro muitas saudades;

Ao professor Walmer Faroni, pelas valiosas sugestes enquanto examinador do meu trabalho e pelo incentivo a novas atividades de pesquisa;

Aos entrevistados, pela colaborao com este trabalho, em especial aos diretores de campus da UFV, professores Luciano Baio e Antnio Czar Calil, pela amigvel acolhida em Rio Paranaba e Florestal;

s minhas filhas da Casa da Me Joana, pelos abraos carinhosos nos momentos em que eu mais precisava;

Aos colegas do Centro Acadmico, por compartilharem meus valores;

Aos companheiros da Pr-Reitoria de Planejamento e Oramento, Leiza Granzinolli e ao Gustavo Sabioni, por todo carinho e ensinamento.

III

[...] Instituies do vulto desta Escola nunca se concluem, por terem de se conservar activas na evoluo, que deve ser progressiva. Seria preferencial no conservarem dirigentes, se no satisfazem, conservar em seus postos de ensino os mesmos professores que no esforassem pelo progresso scientfico das suas especialidades, ou por outro motivo grave, no se reformassem os laboratrios, adquirindo-se material moderno, manterem-se as mesmas edificaes, etc. Concluindo, pois, a Escola esta realizada, mas concluda no, no se concluir jamais.

Trecho do discurso proferido por Bello Lisba como paraninfo da primeira turma do Curso de Veterinria da Esav. Dezembro de 1935.

IV

RESUMO

GOMES, Joana A. V. O planejamento estratgico no contexto da UFV multicampi: desafios de uma nova realidade de gesto. Monografia (Bacharelado em Secretariado Executivo Trilngue) Universidade Federal de Viosa, Viosa. Orientadora: Cisne Zlia Teixeira Reis. 2012.

Este trabalho teve como objetivo geral identificar, luz dos conceitos de planejamento estratgico, os fatores que determinaram a expanso da Universidade Federal de Viosa e seus principais desafios de gesto enquanto Universidade multicampi. Trata-se de um estudo de caso realizado na UFV e foi elaborado a partir da anlise de documentos e de entrevistas realizadas com dirigentes da Instituio inseridos no contexto do planejamento institucional e da organizao multicampi, com a finalidade de melhor conhecer o assunto estudado e garantir uma viso institucional sobre o tema abordado. Segundo a percepo dos entrevistados, apesar dos pontos fracos observados, como risco de sucateamento da universidade, falta de tempo hbil para planejamento de sua expanso e falta de definio de um modelo ideal de gesto multicampi, a expanso da UFV nesse contexto ocorreu principalmente em funo da oportunidade proporcionada pelo governo federal, aproveitando as potencialidades da excelncia da Instituio.

V

ABSTRACT

This study aimed to identify, according to the concepts of strategic planning, the factors that led Universidade Federal de Viosa to its expansion and its major management challenges as a multicampi university. This is a case study conducted at UFV and was drawn from the analysis of documents and interviews with leaders of the Institution from the institutional context of planning and multicampi organization, in order to better understand the subject and ensure institutional view about the topic. From the respondents perceptions, despite the weaknesses seen as risk of scraping the university, lack of time for planning its expansion and lack of definition of an ideal multicampi management model, UFVs expansion in this context was mainly motivated from the opportunity provided by federal government, leveraging the potential of excellence of the Institution.

VI

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Cenrio do ensino superior no Brasil em 199820Tabela 2 Matrcula por Dependncia Administrativa Brasil e Regies Nvel Superior 199820Tabela 3 Comparativo entre os anos de 1998, 2008 e 2010 do nmero de matrculas por dependncia administrativa no Brasil22Tabela 4 Comparativo entre os anos de 2006 e 2011 dos principais nmeros representativos da UFV33Tabela 5 Novas vagas ofertadas para cursos do Campus sede em 201134Tabela 6 Oramento pactuado do Reuni em capital e custeio para o perodo entre 2008 e 201135Tabela 7 Oramento Reuni recebido pela UFV entre os anos de 2007 e 201035Tabela 8 Cursos recomendados pela Copeg para implantao nos campi da UFV em Rio Paranaba e Florestal em 200739

VII

LISTA DE SIGLAS

AndifesAssociao Nacional dos Dirigentes das Instituies Federais de Ensino Superior

CAFCampus UFV Florestal

CAVCampus UFV Viosa

CedafCentral de Ensino e Desenvolvimento Agrrio de Florestal

CepeConselho de Ensino, Pesquisa e Extenso

CNEConselho Nacional de Educao

ColuniColgio de Aplicao

ConsuConselho Universitrio

CopegComisso de Poltica de Ensino de Graduao

CRPCampus UFV Rio Paranaba

DifesDiretoria de Desenvolvimento da Rede de Instituies Federais de Ensino Superior

EmafEscola Mdia de Agricultura de Florestal

EsavEscola Superior de Agricultura e Veterinria

FGVFundao Getlio Vargas

ForcampiFrum Nacional de Dirigentes de Campus da Rede Federal de Ensino Superior

IESInstituies de Ensino Superior

IfesInstituio Federal de Ensino Superior

InepInstituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais

MECMinistrio da Educao

PDIPlano de Desenvolvimento Institucional

PGPlano de Gesto

PingIfesPlataforma de Integrao de dados das Ifes

PNEPlano Nacional de Educao

PPOPr-Reitoria de Planejamento e Oramento

PREPr-Reitoria de Ensino

ProuniPrograma Universidade para Todos

ReuniPrograma de Apoio a Planos de Reestruturao e Expanso das Universidades Federais

RTRReitoria

SeecSecretaria de Estado da Educao e da Cultura

SesuSecretaria de Educao Superior

SetecSecretaria de Educao Profissional e Tecnolgica

SinaesSistema Nacional de Avaliao da Educao Superior

SisuSistema de Seleo Unificada

SwotStrengths, Weaknesses, Opportunities & Threats

UFVUniversidade Federal de Viosa

UremgUniversidade Rural do Estado de Minas Gerais

VIII

SUMRIO

1.APRESENTAO102.CONTEXTUALIZAO, JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS DO TRABALHO123.PLANEJAMENTO INSTITUCIONAL133.1. O planejamento e sua importncia133.2. Etapas do planejamento estratgico153.3. Planejamento no meio universitrio164.A EXPANSO DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL E A REALIDADE MULTICAMPI184.1. O ensino superior no Brasil e sua expanso184.2. A configurao multicampi225.PROCEDIMENTOS METODOLGICOS255.1. Caracterizao da pesquisa255.2. Coleta dos dados255.3. Anlise e Tratamento dos Dados275.4. Unidade de Anlise285.4.1. Sntese Histrica da Universidade Federal de Viosa285.4.2. O Planejamento na UFV306.ANLISE E DISCUSSES326.1. A expanso da UFV entre 2006 e 2011326.2. Identificao das categorias de anlise366.2.1. Categoria Ambiente Externo366.2.2. Categoria Ambiente Interno396.3. Importncia do planejamento na gesto universitria446.4. Desafios gesto organizacional multicampi467.CONSIDERAES FINAIS488.BIBLIOGRAFIA50APNDICE53

IX

APRESENTAO

A Universidade Federal de Viosa destaca-se como Instituio de excelncia no ensino, pesquisa e extenso, nacional e internacionalmente. Em 2011, figurou entre as instituies de ensino superior mais bem avaliadas do Brasil pelo Ministrio da Educao. Na ps-graduao, oito dos 40 programas foram avaliados com conceitos mximos de excelncia (6 e 7) aferidos pela Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior.No desempenho de suas tarefas, a administrao da Universidade tem trabalhado continuamente na sensibilizao de seus dirigentes quanto importncia do planejamento institucional para o sucesso no alcance dos objetivos e metas traados pela Instituio.Com adeso aos Programas Expanso I e Reuni, do Governo Federal, a Universidade Federal de Viosa formalizou junto ao Ministrio da Educao, sua expanso, com aumento de cursos e vagas no campus sede e criao de dois novos campi, localizados nas cidades mineiras de Rio Paranaba e Florestal, o que forou a mudana da realidade acadmica e administrativa da Instituio.Na medida em que a Universidade Federal de Viosa se transformou de universidade unicampus para multicampi, a partir de 2006, sua estrutura, sobretudo conceitual, necessitou ser revisada, sob pena de no alcanar o sucesso em suas atividades e no se manter como universidade de excelncia.Reconhecendo a complexidade da gesto de uma universidade multicampi, seus desafios e especificidades, o presente trabalho props-se a estudar o quo a Universidade Federal de Viosa adotou as tcnicas de planejamento estratgico com vistas expanso de46

sua atuao, em consonncia com os programas governamentais, com a proposta de interiorizao do ensino superior pblico, gratuito e de qualidade. luz dos conceitos de planejamento institucional e estratgico, o presente estudo, de carter descritivo, apresenta a viso de agentes de planejamento da Universidade Federal de Viosa frente implantao e manuteno de seus dois novos campi, nesse novo modelo de universidade multicampi.Buscou-se, ainda, ampliar a discusso sobre a importncia do planejamento e a nova realidade estrutural da Instituio, que demanda, por consequncia, reformulaes em sua forma de gesto, na procura de oportunizar discusses que possam fomentar a ao das prximas gestes, tendo como foco o crescimento institucional e a preservao de suas reconhecidas excelncia e qualidade.

CONTEXTUALIZAO, JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS DO TRABALHO

No ano em que a Universidade Federal de Viosa (UFV) completa 86 anos de existncia e 6 como universidade multicampi e diante do esforo atual do Governo Federal e das Instituies Federais de Ensino Superior (Ifes) para consolidao de suas unidades fora de sede, discutir a realidade multicampi apresenta-se como tema bastante oportuno.Este estudo pretende contribuir para a sensibilizao da comunidade universitria quanto nova realidade estrutural e conceitual da UFV, servindo de reflexo aos gestores da Instituio, auxiliando no entendimento das peculiaridades do fenmeno organizacional multicampi.Como objetivo geral deste trabalho, pretende-se identificar, luz dos conceitos de planejamento estratgico, os fatores que determinaram a expanso da UFV e seus principais desafios de gesto enquanto universidade multicampi.Para tanto, sero discutidos conceitos sobre planejamento estratgico e esboo sobre a realidade do ensino superior no Brasil e seus processos de expanso. Sero, ainda, apresentadas sntese histrica da unidade de anlise, a Universidade Federal de Viosa, e avaliao de dirigentes da Instituio sobre o processo de expanso da UFV, suas carncias e principais desafios.Destaca-se ainda que a atuao qualificada do profissional de Secretariado Executivo requer o conhecimento de temas relevantes para o contexto organizacional, sua estrutura e funcionamento, na busca da promoo de discusses positivas que visem ao desenvolvimento da organizao na qual est inserido.

PLANEJAMENTO INSTITUCIONAL

3.1. O planejamento e sua importncia

Os crescentes dinamismo, competitividade e exigncias enfrentados no ambiente de negcios requerem das organizaes postura pr-ativa que a leve ao exerccio de se planejar com antecedncia, a fim de preparar respostas oportunas a questes que por ventura possam aparecer.Em razo da dinamicidade do ambiente e das foras que agem sobre as organizaes, o planejamento assume carter formal e sistmico, contribuindo efetivamente para o sucesso das organizaes, pblicas ou privadas, em funo de seus objetivos.O planejamento como ferramenta norteadora da gesto organizacional permite instituio reavaliar suas estratgias de ao visando a sua manuteno no cenrio em que se encontra e projeo de crescimento em longo prazo, adequando metas e objetivos a sua prpria capacidade de expanso.Como exposto por Ansoff e McDonnell (1993), a maneira de administrar o que condiciona o funcionamento de uma organizao, indicando sua percepo quanto aos desafios dos diversos ambientes que a cercam, capacidade de anlise de impactos e deciso das aes a serem adotadas. Capacidade de resposta s exigncias e mudanas do ambiente externo caracterstica muito demandada das organizaes.Ansoff e McDonnell (1993) trabalharam numa anlise de comparao entre o planejamento de longo prazo e o planejamento estratgico. Para eles, a partir de tendnciasobservadas no passado, pode-se prever o futuro da organizao, entendendo haver, nesse caso, expressiva melhora na atuao e desempenho administrativos da empresa, o que pode levar definio de metas mais elevadas de desempenho.Ao contrrio, no planejamento estratgico no h a crena de que o futuro possa ser melhor que as experincias passadas. Esse planejamento, que deve ser periodicamente revisto e atualizado, baseia-se numa anlise das perspectivas organizacionais em determinado momento, onde so identificados pontos fortes e fracos da instituio, suas ameaas e oportunidades.Segundo Kotler (2000), o planejamento estratgico como metodologia gerencial permite estabelecer que direo ser seguida pela organizao, em busca do maior grau de interao com o ambiente e seus determinantes.Para estudo do ambiente organizacional, foi desenvolvida por professores da Harvard Business School a anlise conhecida como Swot. A proposta dessa ferramenta estudar a competitividade de uma organizao, de acordo com as variveis foras (strengths), fraquezas (weaknesses), oportunidades (opportunities) e ameaas (threats).Tarapanoff (2001) credita a Sun Tzu a origem do pensamento Swot, quando em sua obra Inteligncia organizacional e competitiva evidencia o seguinte trecho "Concentre-se nos pontos fortes, reconhea as fraquezas, agarre as oportunidades e proteja-se contra as ameaas." (SUN TZU apud TARAPANOFF, 2001, p. 209)De acordo com Chiavenato e Sapiro (2003), a anlise Swot leva a organizao viso clara e objetiva dos fatores internos, pontos fortes e fracos, e externos, oportunidades e ameaas, cujas definies permitem organizao delinear sua atuao, elaborando estratgias em busca de melhor desempenho e sucesso.Para Bateman e Snell (2006), a anlise dos ambientes externo e interno, relacionada Teoria Geral dos Sistemas, fundamental s organizaes modernas que, enquanto sistemas abertos, so constantemente influenciadas pelo meio no qual esto inseridas, tambm agindo sobre ele, enquanto permanecem em constante interao.O ambiente externo, ou macroambiente, representa, de acordo com Maximiano (2004), as foras relevantes capazes de influenciar decises organizacionais, sejam elas oportunidades ou ameaas. Esse ambiente pode ser qualificado por caractersticas culturais, legais e, ou, polticas, econmicas, tecnolgicas, demogrficas, e sociais.Por outro lado, o ambiente interno, ou microambiente, constitui-se de elementos prprios da instituio analisada, cujas caractersticas podem ser determinantes para o sucesso ou insucesso da organizao. Esses elementos, foras e fraquezas, podem estar relacionados cultura corporativa, anlise de desempenho, vantagem competitiva e, ou, desvantagem operacional.Para Oliveira (2009), avaliar os ambientes considerando suas caractersticas determinantes necessrio e colabora para a sobrevivncia em longo prazo das organizaes. Enquanto a avaliao do ambiente externo proporciona a assimilao de oportunidades a serem usufrudas e ameaas a serem evitadas, a anlise do ambiente interno identifica os pontos fortes e fracos determinantes ao bom desempenho e consequente desenvolvimento da organizao.

3.2. Etapas do planejamento estratgico

De acordo com Thompson e Strickland (2000), o planejamento estratgico envolve cinco etapas, quais sejam 1) desenvolvimento de viso estratgica e misso, 2) estabelecimento de objetivos quantificveis, 3) definio de estratgia para alcance dos objetivos, 4) execuo da estratgia planejada, com envolvimento de recursos humanos, financeiros e materiais e 5) monitoramento da execuo da estratgia, no sentido de avaliar e, se necessrio, reprogramar o planejamento na tentativa de se corrigir desvios identificados.A adoo do planejamento estratgico requer da organizao, segundo Ansoff e McDonnell (1993), uma administrao tambm estratgica. Essa, por sua vez, compreendida como processo contnuo e dinmico, tendo como principal responsvel o dirigente mximo da organizao em interao constante com os demais agentes de planejamento, na construo de identidade e compromisso organizacionais.Para Fischmann e Almeida (2009), a administrao estratgica envolve as funes administrativas de planejar, organizar, dirigir e controlar e deve ser trabalhada no sentido de sensibilizar os agentes de planejamento, incitando o esprito crtico nos envolvidos, na busca das melhores alternativas de resposta ao ambiente.

3.3. Planejamento no meio universitrio

Diferente do que se v na rea privada, o pensar estrategicamente no setor pblico recente. O Plano Diretor de Reforma do Aparelho de Estado (BRASIL, 1995) entende a necessidade das instituies pblicas adotarem posturas gerenciais semelhantes s das organizaes privadas, tornando-as, assim, mais eficientes no atendimento s demandas apresentadas pela populao.Para Buarque (2000), nenhuma instituio sobrevive muito tempo, se no for capaz de reformar-se, adaptar-se a cada instante s exigncias do momento, mantendo-se fiel ao seu papel permanente (BUARQUE, 2000, p. 161). Nesse sentido, tambm as universidades precisam se reinventar na preparao de respostas s diversas e crescentes cobranas da sociedade.Dadas as especificidades das organizaes pblicas, fator importante para o sucesso do planejamento estratgico no setor o envolvimento de toda a comunidade no processo de elaborao e conduo desse planejamento. Em consonncia com o exposto por Ansoff e McDonnell (1993), Estrada (2000) reafirma a necessidade do comprometimento da cpula da administrao com o planejamento voltado s universidades, incentivando de maneira constante a cultura do planejamento, sensibilizando os agentes sobre sua importncia e efetividade.Para Delgado Filho (2004), a universidade deve utilizar o planejamento estratgico como prtica permanente de gesto, buscando discutir com outras instituies boas prticas administrativas, sem desconsiderar, claro, as caractersticas diversas de cada uma.Meyer Jnior et al. (2005) discutem que o planejamento e a gesto estratgica em instituies de ensino superior (IES) so tratadas de maneira negligenciada. Segundo eles, isso se deve a trs questes, quais sejam

o fato de se atribuir funo gerencial na escola uma dimenso essencialmente operacional e secundria. A segunda a ausncia de modelos prprios de gesto para a organizao educacional fazendo com que se utilize modelos importados do contexto empresarial, inadequados realidade das escolas. Finalmente, um terceiro elemento o predomnio de uma prtica amadora e professoral de gesto. As pessoas escolhidas para ocupar as posies de gesto no possuem preparao formal ou adequada experincia para assumir posies gerenciais. (MEYER JNIOR et al., 2005, p. 3)

Na tentativa de contribuir para a mudana desse cenrio de negligncia na gesto estratgica universitria, a Presidncia da Repblica, por meio da Lei n 10.861, de 14 de abril de 2004, estabeleceu o Sistema Nacional de Avaliao da Educao Superior (Sinaes) que busca analisar as instituies, os cursos por elas oferecidos, bem como o desempenho dos estudantes, fundamentando-se na necessidade de promover continuamente a melhoria da educao superior.Nesse contexto, o Ministrio da Educao (MEC) iniciou um processo de reviso das atribuies e competncias da Secretaria de Educao Superior (Sesu), da Secretaria de Educao Profissional e Tecnolgica (Setec), do Conselho Nacional de Educao (CNE) e do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), levando os dirigentes das instituies de ensino discusso e elaborao do Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI).No PDI, segundo o prprio Ministrio da Educao, devem estar definidas misso e viso de futuro da instituio de ensino superior, suas polticas, diretrizes e estratgias para alcance dos objetivos traados, articulando de maneira coerente as diversas aes, propondo-se manuteno de padres de qualidade.Diante de um processo sistemtico, crtico, contnuo e, sobretudo, democrtico de autoconhecimento para a elaborao de um documento complexo como o Plano de Desenvolvimento Institucional, entende-se que as Universidades estaro atentas a suas foras e fraquezas, ameaas e oportunidades, em busca da melhoria da qualidade de seu ensino, pesquisa e extenso, repensando suas aes e corrigindo rumos, se necessrio.

A EXPANSO DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL E A REALIDADE MULTICAMPI

4.1. O ensino superior no Brasil e sua expanso

Discute-se que a primeira escola de ensino superior no Brasil data de 1550, fundada pelos jesutas, em Salvador, Bahia, sede do governo na poca. Trs anos mais tarde, os jesutas teriam disseminado o ensino superior, instalando outras escolas em cidades de Maranho, Par, Pernambuco, Rio de Janeiro e So Paulo.Entretanto, Romanelli (1985) afirma que apenas em 1808, com a transferncia da Corte portuguesa para o Brasil, que foram criados os primeiros cursos superiores, forando ao Pas a definio de um modelo de ensino superior, o qual no foi criado pelo Brasil, mas importado da Europa.Comparada educao superior europeia, percebe-se que a brasileira de origem recente. Em 1889, data da Proclamao da Repblica, o Brasil contava com cerca de dois mil estudantes de nvel superior em cursos de direito, engenharia e medicina. Para Cunha (1980), j na Constituio de 1891, foi atribudo ao Poder Central, embora no exclusivamente, a manuteno do ensino superior no Pas.Em 1920, o Presidente Epitcio Pessoa instituiu a Universidade do Rio de Janeiro, por meio da juno das Escolas Politcnicas e de Medicina do Rio de Janeiro Faculdade Livre de Direito. Segundo Ferreira (2009), essa foi a primeira instituio a assumir o status deuniversidade. Posteriormente, em 1934, a Universidade de So Paulo e, em 1935, a do Distrito Federal.Para Fialho (2005), a criao dessas universidades evidenciava os procedimentos para implantao de um modelo universitrio no Brasil.

A criao da universidade brasileira e a sua reforma so marcos excepcionalmente demonstrativos das representaes acerca da idia do modelo de universidade que se encontrava em curso. Nossa trajetria compreende, portanto, o percurso que nos leva das unidades isoladas universidade conglomerada e, desta, cidade universitria, edificada sob a idia de um campus. Partindo desse lastro que buscamos compreender a configurao multicampi, matriz de um tipo de instituio universitria que, refletindo-se nas dimenses acadmicas, organizacionais e espaciais, se traduz segundo uma morfologia composta por muitos campi. (FIALHO, 2005, p. 27)

A Reforma Universitria de 1968 produziu, segundo Fernandes (1975), efeitos distintos para o ensino superior do Pas. Ao mesmo tempo em que modernizava parte significativa das universidades pblicas, o Estado no foi capaz de ampliar satisfatoriamente a demanda por acesso educao de nvel superior.Esse paradoxo levou ao crescimento forte da atuao de instituies privadas no ensino superior, efeito intensamente discutido no Plano Nacional de Educao (PNE 2001-2010), que levaria o Governo Federal a uma nova proposta de Reforma Universitria em 2003.No contexto de elaborao do PNE 2001-2010, a educao superior brasileira enfrentava, como exposto no prprio Plano, srios problemas que seriam agravados caso o Governo no estabelecesse uma poltica de renovao e desenvolvimento da educao superior pblica.O PNE 2001-2010 evidencia que "[...] o nmero total de matriculados saltou de 1 milho e 945 mil em 1997, para 2 milhes e 125 mil, em 1998. [...] crescimento de 9%, - ndice igual ao atingido pelo sistema em toda a dcada de 80" (BRASIL, 2001). Resultado de fatores como aumento das exigncias do mercado de trabalho por qualificao e as polticas de melhoria do ensino mdio, a demanda por educao superior cresceria de maneira explosiva.A Tabela 1 evidencia a expressiva atuao da iniciativa particular, comparada da esfera pblica, no campo da educao superior no Brasil. No cenrio apresentado, as instituies particulares eram responsveis por quase dois teros do total de vagas oferecidas no ensino superior.

Tabela 1 Cenrio do ensino superior no Brasil em 1998Ensino SuperiorFederalEstadualMunicipalParticularTotal

Instituies577478764973

Cursos1.3381.1255073.9806.950

Vagas oferecidas90.78870.67044.267570.306776.031

Ingressantes89.16067.88839.317454.988651.353

Vagas no preenchidas1.6282.7824.950115.318124.678

Fonte: (BRASIL, 2001)

A Tabela 2 indica uma desigual distribuio de vagas no ensino superior entre as regies do Brasil, em 1998, resultado da grande concentrao das matrculas em instituies particulares localizadas em regies mais desenvolvidas do Pas, como o Sudeste, com 862.087 matriculados e o Sul, com 230.366.

Tabela 2 Matrcula por Dependncia Administrativa Brasil e Regies Nvel Superior 1998Regio%Dependncia AdministrativaTotal

Federal%Estadual%Municipal%Particular%

Brasil100,00408.64019,22274.93412,93121.1555,691.321.22962,142.125.958

Norte4,0145.95754,019.68811,389521,1128.48033,4785.077

Nordeste14,58118.45538,1980.70226,0110.6813,44100.32132,34310.159

Sudeste54,00127.99111,14114.7169,9943.2103,76862.08775,091.148.004

Sul19,7171.96017,1655.54313,2561.26414,61230.36654,96419.133

Centro-Oeste7,7044.27727,0614.2858,735.0483,0899.97561,11163.585

Fonte: (BRASIL, 2001)

De acordo com o PNE 2001-2010, houve expanso no setor pblico de atendimento demanda por vagas no ensino superior, mas principalmente nas dependncias administrativas estadual e municipal. Tal tendncia de ampliao contraria a atribuio do sistema municipal, por exemplo, de atender prioritariamente educao infantil e ao ensino fundamental. Alm disso, Unio atribui-se historicamente o papel de atuar na educao superior, funo prevista na Carta Magna.

As IES tm muito a fazer, no conjunto dos esforos nacionais, para colocar o Pas altura das exigncias e desafios do Sc. XXI, encontrando a soluo para os problemas atuais, em todos os campos da vida e da atividade humana e abrindo um horizonte para um futuro melhor para a sociedade brasileira, reduzindo as desigualdades. [...] O sistema de educao superior deve contar com um conjunto diversificado de instituies que atendam a diferentes demandas e funes. Seu ncleo estratgico h de ser composto pelas universidades, que exercem as funes que lhe foram atribudas pela Constituio: ensino, pesquisa e extenso. Esse ncleo estratgico tem como misso contribuir para o desenvolvimento do Pas e a reduo dos desequilbrios regionais, nos marcos de um projeto nacional. [...] No mundo contemporneo, as rpidas transformaes destinam s universidades o desafio de reunir em suas atividades de ensino, pesquisa e extenso, os requisitos de relevncia, incluindo a superao das desigualdades sociais e regionais, qualidade e cooperao internacional. [...] A diretriz bsica para o bom desempenho desse segmento a autonomia universitria, exercida nas dimenses previstas na Carta Magna: didtico-cientfica, administrativa e de gesto financeira e patrimonial. [...] A presso pelo aumento de vagas na educao superior, que decorre do aumento acelerado do nmero de egressos da educao mdia, j est acontecendo e tender a crescer. Deve-se planejar a expanso com qualidade, evitando-se o fcil caminho da massificao (BRASIL, 2001).

Diante desse cenrio e na tentativa de fazer cumprir o importante papel das universidades na diminuio das desigualdades sociais, o Ministrio da Educao elegeu como prioridade uma nova reforma universitria, estabelecendo, entre outros fatores, novas regras para regulao do ensino superior pblico e privado no Pas e ampliao do acesso educao superior na constante busca pela manuteno do padro de qualidade.A expanso universitria teve incio em 2003 com o Programa de Expanso Fase I das universidades federais, com previso de recursos especficos s universidades que desejassem se expandir com a criao de novos campi, e teve sua continuidade reafirmada com o Programa de Apoio a Planos de Reestruturao e Expanso das Universidades Federais (Reuni).Por meio do Decreto n 6.096, de 24 de abril de 2007, o Reuni foi institudo com o objetivo de criar condies para a ampliao do acesso e permanncia na educao superior, no nvel de graduao, pelo melhor aproveitamento da estrutura fsica e de recursos humanos existentes nas universidades federais.Essa nova reforma universitria props-se interiorizao das Ifes e reestruturao das universidades por meio da melhoria de infraestrutura fsica e recomposio do quadro de servidores tcnicos e docentes.Articulados a polticas afirmativas de acesso no ensino superior, como o Programa Universidade para Todos (Prouni) e o Sistema de Seleo Unificada (Sisu), os efeitos dessa iniciativa de expanso podem ser percebidos, por exemplo, no aumento do nmero de ingressantes.De 1998 a 2008, primeiro ano do Programa Reuni, o nmero de matrculas em instituies pblicas federais de ensino superior cresceu aproximadamente 60%. Destaca-se que, percentualmente, igual crescimento foi atingido entre os anos de 2008 e 2010, nmero alcanado em funo da adeso das Ifes aos programas de expanso do governo federal. (Tabela 3)Nota-se que apesar desse crescimento, prevalece a hegemonia do sistema privado na deteno de matrculas no ensino superior, quando, em 2010, as IES privadas detinham 72,71% do total de 6.552.707 matrculas distribudas em todo o territrio nacional. (Tabela 3)

Tabela 3 Comparativo entre os anos de 1998, 2008 e 2010 do nmero de matrculas por dependncia administrativa no BrasilAnoFederalEstadualMunicipalTotal pblicas% PblicasParticula-res% ParticularesTotal

1998408.640274.934121.155804.72937,861.321.22962,142.125.958

2008643.101490.235140.6291.273.96525,073.806.09174,925.080.056

20101.033.769650.062104.3781.788.20927,284.764.49872,716.552.707

Fonte: (BRASIL, 2001 e 2011)

Esse novo contexto de estmulo do Governo Federal expanso do ensino superior por meio da interiorizao levou criao de 104 novos campi universitrios, o que representa a presena das universidades federais em 235 municpios brasileiros, segundo dados apresentados no Relatrio de primeiro ano do Programa Reuni (2009) da Diretoria de Desenvolvimento da Rede de Instituies Federais de Ensino Superior (Difes).

4.2. A configurao multicampi

A adeso de 100% das universidades federais ao Reuni e a expanso do ensino superior como poltica pblica resultaram em instituies federais de carter bastante diferentes daquelas antes da expanso. Aps 2005, a maioria das Ifes se tornou multicampi.Nesse momento, identifica-se o contraponto entre a formao das universidades brasileiras que, originadas pela juno de unidades dispersas, so levadas pelo novo processo de expanso sua prpria disperso, resultando num fenmeno organizacional multicampi, com o permanente desafio de manter sua identidade institucional.Sampaio et al. (1998) afirmam haver um impasse para se designar o conceito de universidade multicampi, j que diversas so as universidades que adotaram essa estrutura e mais diversas as denominaes por elas empregadas, o que demonstra a dificuldade de classificao das configuraes dessas universidades. Para mencionar seus campi, utilizam-se de diferentes designaes, quais sejam campus, campus avanado, ncleo, campus regional e at mesmo utilizando o nome do prprio municpio onde est localizado.Para Fialho (2005), complexo determinar o significado do termo universidade multicampi por se tratar de conceito ainda inacabado. A autora evidencia trs ideias principais atribudas palavra multicampi: 1. Quantidade; 2. Localizao geogrfica; e 3. Lugar da produo.

Essa expresso (multicampi), portanto, cujos significados nem sequer se encontram absorvidos pela lngua verncula, embora j consagrada para dizer de uma modalidade de ensino superior, vai alm do mero ato de designar alguma coisa: ela aponta para um fenmeno que se pretende diferenciado de outros, a exemplo dos modelos universitrios cuja configurao no se restringe a um nico lugar enquanto localizao fsica, por exemplo. (FIALHO, 2005, p. 51)

Na concepo de Fialho (2005), no s a denominao de uma universidade multicampi complexa, como tambm sua prpria estrutura, por envolver, alm da desconcentrao administrativa, relaes diversas com as regies geogrficas e seus cenrios histrico, cultural, educacional, social, econmico e demogrfico.De acordo com Boulet (1985), as organizaes multicampi originaram de dois tipos de sistemas. O primeiro organizado pelo reagrupamento de instituies pr-existentes, o que caracteriza economia de recursos em sua formao, e o segundo, criado a partir de uma universidade sede, com a implantao de unidades em outras regies, mantendo-se a orientao administrativa e institucional do campus sede.Essa diversidade de origem contribui na orientao da misso de cada universidade, segundo seus prprios anseios frente s especificidades do ambiente no qual est inserida. Para Boulet (1985), enquanto uma universidade busca expanso e fortalecimento dos seus pilares ensino, pesquisa e extenso, outra pode optar por se inserir de maneira decisiva em determinada regio, enfatizando sua misso no desenvolvimento regional.Dada a complexidade inerente dimenso organizacional da configurao multicampi e por se tratar de realidade nova na administrao das universidades brasileiras, principalmente das federais, os gestores das Ifes com campi fora de sede tm enfrentado muitos desafios.Nos dias 6 e 7 de dezembro de 2011, esses dirigentes se reuniram em Catalo, Gois, para o I Encontro Nacional dos Dirigentes de Campus da Rede Federal de Ensino Superior. Nessa oportunidade, assinaram o que se chamou de Carta de Catalo, endereada Associao Nacional dos Dirigentes das Instituies Federais de Ensino Superior (Andifes), com a proposta de criao do Frum Nacional de Dirigentes de Campus da Rede Federal de Ensino Superior (Forcampi), semelhana dos fruns de pr-reitores das diversas reas administrativas das Ifes.Alm da criao do Forcampi, a Carta de Catalo discute o cenrio criado pelas mudanas nas universidades pblicas brasileiras, evidenciando a insero [das Ifes] em um projeto de expanso sem precedentes na histria da educao superior no Brasil, direcionado para a interiorizao e uma crescente desconcentrao do ensino, da pesquisa, da extenso e da ps-graduao. (ENCONTRO NACIONAL DOS DIRIGENTES DE CAMPUS DA REDE FEDERAL DE ENSINO SUPERIOR, 2011)Os dirigentes expressam na carta a preocupao com as situaes diversas e adversas encontradas no territrio brasileiro, adicionadas s particularidades de cada instituio. Segundo eles, os pactos dos processos de expanso foram diferenciados em cada universidade, o que gerou distines em aspectos como matrizes oramentrias, demarcao estrutural, distribuio de pessoal e logstica estrutural e acadmica que possibilitasse, alm da expanso quantitativa, crescimento qualitativo da gesto universitria.Desse modo, a criao do Forcampi teria papel importante na busca de uma nova forma de articulao para a defesa de interesses comuns s instituies reconfiguradas como multicampi, considerando que as experincias dos dirigentes dos campi fora de sede, discutidas por meio do Frum, auxiliariam os reitores, a Andifes e o prprio MEC na promoo de um espao importante para a consolidao da expanso do ensino superior no Brasil.Como poltica de estado, os programas governamentais de expanso do ensino superior da ltima dcada tm figurado como fundamental democratizao do acesso ao ensino superior no Brasil e sua interiorizao. Entretanto, dada a dimenso e o forte impacto desses programas para universidade e sociedade, to fundamental quanto a prpria expanso o seu planejamento, garantindo qualidade do ensino e retorno satisfatrio dos investimentos.

PROCEDIMENTOS METODOLGICOS

5.1. Caracterizao da pesquisa

Considerando os apontamentos de Gil (2010), este trabalho direcionou-se abordagem qualitativa, quando se pretende observar a relao dinmica entre o ambiente estudado e o sujeito, onde se esperam interpretao e atribuio de significados, respeitando o vnculo no dissocivel entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito.Esta pesquisa classifica-se como descritiva, dado o objetivo de explicitar e tornar mais familiar o tema em discusso. Classifica-se tambm como estudo de caso, entendendo que esse tipo de trabalho, como relata Santos (2007), caracteriza-se pelo estudo de um objeto de pesquisa restrito, com o objetivo de aprofundar-lhe aspectos caractersticos.

5.2. Coleta dos dados

Os dados da pesquisa foram coletados por meio de pesquisa documental e entrevistas.Na pesquisa documental, foram estudados os Processos 008252/2006/UFV e 005289/2006/UFV, que tratam de instalao e estudos preliminares de viabilidade tcnico-acadmica para implantao do campus da UFV em Rio Paranaba, respectivamente. Caberessaltar nesta oportunidade que no foi encontrado trabalho semelhante de anlise de viabilidade para criao do Campus UFV Florestal, imagina-se, por j existir nessa localidade a Cedaf, vinculada UFV, o que facilitaria, nesse caso, a criao de um campus universitrio.Foram tambm contemplados neste estudo documentos elaborados pela prpria Universidade Federal de Viosa, os relatrios de atividades da UFV, com base de dados referente aos anos de 2006 a 2011, coordenados pela Pr-Reitoria de Planejamento e Oramento, o relatrio do Programa Reuni, elaborado pela Comisso de Gesto do Reuni, alm da Carta de Catalo, escrita pelos dirigentes de campus da rede federal de ensino superior, em ocasio de seu primeiro encontro nacional.Foram realizadas entrevistas semiestruturadas com os diretores gerais dos campi da UFV em Rio Paranaba e Florestal e tambm com o pr-reitor de planejamento e oramento do campus sede, com a finalidade de melhor conhecer o assunto estudado e garantir uma viso institucional sobre o tema abordado, uma vez que esses agentes so, como parte da Instituio, sua prpria representao.Segundo Lakatos e Marconi (2010), a entrevista semiestruturada baseia-se no estabelecimento de questes norteadoras que colaboraro para melhor desenvolvimento da entrevista, uma vez que o pesquisador segue roteiro previamente sistematizado.O roteiro para as entrevistas, Apndice, foi elaborado de maneira que possibilitasse identificar a percepo dos entrevistados, agentes inseridos diretamente no contexto do planejamento institucional e da organizao multicampi, em relao utilizao de conceitos bsicos das tcnicas de planejamento estratgico, consideradas para fins deste estudo como as categorias de anlise.Na categoria Ambiente Externo, buscou-se identificar a percepo dos entrevistados em relao s oportunidades e ameaas vivenciadas pela UFV no contexto de sua expanso, enquanto na categoria Ambiente Interno, foram agrupadas as falas dos entrevistados relacionadas s foras e fraquezas da Instituio, considerando o mesmo contexto.Adicionalmente, estudou-se a viso dos entrevistados em relao importncia do planejamento para a gesto universitria e a percepo desses agentes quanto aos desafios propostos pela configurao multicampi da Universidade.Com autorizao dos participantes, as entrevistas foram registradas em udio pela autora deste trabalho, em visita realizada aos campi da UFV em Rio Paranaba e Florestal, nos dias 6 e 8 de agosto de 2012, respectivamente, e no campus sede, no dia 20 do mesmo ms.

5.3. Anlise e Tratamento dos Dados

Para anlise dos dados coletados das entrevistas realizadas e de outros documentos que compuseram o corpus deste trabalho, optou-se pela utilizao da tcnica de anlise de contedo que, de acordo com Vergara (2005), consiste em identificar o que est sendo discutido sobre determinado tema.Podendo incidir sobre diversas mensagens, de obras literrias a entrevistas, verbal ou no-verbal, a anlise de contedo permite ao pesquisador delinear seu trabalho seguindo perspectiva tanto quantitativa quanto qualitativa. Suas fases de anlise, segundo Bardin (2011), organizam-se em 1) pr-anlise, 2) explorao do material e 3) tratamento dos resultados obtidos.1) A pr-anlise corresponde fase de organizao do material que se pretende analisar, formulando hipteses e elaborando indicadores que serviro de fundamentos para a interpretao final dos dados;2) A explorao do material trata-se da fase de anlise propriamente dita, onde se busca respostas s hipteses anteriormente propostas;3) Na fase de tratamento dos resultados obtidos, atravs do trabalho de interpretao, os dados brutos so tratados a fim de representar, de maneira significativa, o contedo das mensagens sob anlise.De acordo com Minayo (2008), com o uso de metodologias qualitativas possvel incorporar significados e intencionalidade inerentes s aes dos indivduos, estruturas sociais, suas relaes e transformaes, entendidas como construes humanas significativas (MINAYO, 2008, p. 23) importante ressaltar que o estudo qualitativo no rejeita a quantificao, mas prope uma anlise fundada na presena de um ndice (tema, palavra, personagem, etc.), e no sobre a frequncia da sua apario, em cada comunicao individual. (BARDIN, 2011, 115-116)Seguindo os critrios propostos pela anlise de contedo, as falas das entrevistas foram classificadas e agrupadas em categorias, onde foram agregados os principais temas da entrevista relacionados aos conceitos de planejamento estratgico, optando-se pela categorizao a priori, ou seja, trabalhando-se com categorias definidas a partir de um referencial terico previamente estudado.Oportunamente, os entrevistados foram identificados como E1, E2 e E3.

5.4. Unidade de Anlise

5.4.1. Sntese Histrica da Universidade Federal de Viosa

A Universidade Federal de Viosa tem sua origem na Escola Superior de Agricultura e Veterinria (Esav), criada pelo Decreto 6.053, de 30 de maro de 1922, pelo ento Presidente do Estado de Minas Gerais, Arthur da Silva Bernardes.Considerando seu objetivo inicial de ministrar o ensino pratico e theorico de Agricultura e Veterinaria e [...] realizar estudos experimentaes [...] para o desenvolvimento de taes sciencias no Estado de Minas Geraes (BORGES et al., 2006, p. 20) e o avano dessas reas nos Estados Unidos, Arthur Bernardes decidiu organizar o ensino da nova Escola conforme o modelo americano.Foi convidado para organizar e dirigir a Esav, o professor Peter Henry Rolfs, que direcionou o funcionamento da Escola aos moldes dos Land Grant Colleges, firmados pelos pilares ensino, pesquisa e extenso, responsveis pelo forte desenvolvimento da agropecuria dos Estados Unidos na poca.A Esav foi inaugurada em 1926, mas apenas no ano seguinte tiveram incio os cursos Fundamental e Mdio. Em 1928, foi ministrada a primeira aula do Curso Superior de Agricultura e em 1932, a primeira do Curso Superior de Veterinria. S vinte anos mais tarde, em 1952, seria criado o Curso de Administrao do Lar.Diante de suas expressivas atuao no ensino e dedicao cincia e visando ao desenvolvimento da Escola, o Governo do Estado a transformou, em 1948, em Universidade Rural do Estado de Minas Gerais (Uremg).Graas a sua slida base e ao seu bem estruturado desenvolvimento, a Uremg adquiriu renome em todo o Pas, o que motivou sua federalizao, em 15 de julho de 1969, com o nome de Universidade Federal de Viosa.Em 2012, o campus sede contava com 45 cursos superiores de graduao e 39 programas de ps-graduao stricto sensu, alm do ensino mdio geral oferecido no Colgio de Aplicao (Coluni).De acordo com o Censo 2010, Viosa contava com 72.220 habitantes, alm de uma populao flutuante de aproximadamente 20.000 pessoas. Como principais atividades econmicas do municpio tm-se o cultivo de milho, feijo e caf, alm do comrcio e da prestao de servios.Como consta no Relatrio de Atividades 2012 (UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIOSA, 2012b), com a adeso aos programas do Governo Federal de expanso e melhoria da qualidade do ensino superior, a UFV optou, em 2006, pela criao de dois novos campi, instalados nas cidades mineiras de Rio Paranaba e Florestal.O Campus UFV Rio Paranaba (CRP), criado em 2006 por meio do Programa de Expanso Fase I do Ministrio da Educao, iniciou suas atividades acadmicas no segundo semestre de 2007, com a abertura dos cursos de Agronomia e Administrao. Em 2012, j contava com 12 cursos de graduao e um de ps-graduao stricto sensu.O CRP est situado na cidade de Rio Paranaba, distante a 550 km de Viosa, com populao de 11.885 habitantes. Como principais atividades econmicas da regio esto a pecuria, o cultivo de caf, alho, soja e milho, alm das atividades industriais de laticnios e fertilizantes.O Campus UFV Florestal (CAF) tem sua origem como unidade de educao profissional tcnica de nvel mdio e pesquisa, em 1939. Incorporada Uremg em 1955 como Escola Mdia de Agricultura de Florestal (Emaf), foi posteriormente transformada, em 1982, em Central de Ensino e Desenvolvimento Agrrio de Florestal (Cedaf), quando ministrava cursos de nvel mdio e tcnico.Com o advento do Programa de Apoio a Planos de Reestruturao e Expanso das Universidades Federais (Reuni) a rea que abriga a Cedaf passou a ser denominada Campus UFV Florestal e iniciou, no primeiro semestre de 2008, suas atividades acadmicas com os cursos superiores de tecnologia em Anlise e Desenvolvimento de Sistemas e Gesto Ambiental.Localizado a 280 km de Viosa, o CAF est situado na cidade de Florestal, regio metropolitana de Belo Horizonte, e em 2012 contava com 14 cursos tcnicos e 10 superiores de graduao.Com populao de 6.660 habitantes, as principais atividades econmicas que movimentam o municpio de Florestal so a pecuria leiteira e de corte, o comrcio varejista, a produo de hortifrutigranjeiros, pequenas indstrias e microempresas.

5.4.2. O Planejamento na UFV

Ao longo de sua existncia, a UFV sempre se demonstrou preocupada em garantir, alm da qualidade em suas atividades de ensino, pesquisa e extenso, solidez para suas aes e fundamentos para suas tomadas de deciso.Em seu estudo sobre o planejamento institucional na Universidade Federal de Viosa, Reis (2005) aponta que desde a sua federalizao, identificou-se na UFV experincias informais e formais de planejamento.Um convnio assinado entre a UFV e a Fundao Getlio Vargas (FGV), em 1972, teve como proposta a conduo de uma reforma administrativa na Universidade. Tal fato j demonstrava a preocupao da administrao universitria com as questes do planejamento e sua disposio institucionalizao dessa cultura.Contudo, segundo Reis (2005), somente aps 1997 a UFV tem trabalhado, de maneira mais sistemtica, na conduo de um planejamento institucional participativo, para cada perodo de gesto de um reitor, em busca da consolidao da cultura do planejamento na Instituio.

as tcnicas de planejamento adotadas na UFV, por certo, ainda carecem de aprimoramento. Observa-se ao longo de sua trajetria que, por vezes, o planejamento operacional e ttico foram confundidos com o planejamento estratgico, levando a uma elaborao muito detalhada sem condies de controle e avaliao. (REIS, 2005, p. 92)

O planejamento para cada gesto de um reitor na UFV, chamado Plano de Gesto (PG), elaborado a cada quatro anos e figura como documento norteador de metas e aes mais imediatas da administrao em exerccio. A preparao desse documento, coordenada pela Pr-Reitoria de Planejamento e Oramento da UFV (PPO), conta com a participao dos agentes de planejamento de todas as unidades acadmicas e administrativas da Instituio.Equivalente ao programa de governo de uma administrao, o Plano de Gesto estabelece dinmica condizente com as polticas de expanso e desenvolvimento da UFV e auxilia os gestores nas tomadas de deciso, representando importante ferramenta para a consolidao da cultura do planejamento na Universidade.Em nvel mais estratgico, em resposta exigncia do MEC a toda instituio de ensino superior, a UFV deu incio aos trabalhos de elaborao do seu Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) com a Comisso instituda pela Portaria n 0364/2005/RTR/UFV, de 14 de junho de 2005, e, posteriormente, deu sequncia com a Comisso composta pela Portaria n 0361/2010/RTR/UFV, de 29 de maro de 2010 e atualizada pela Portaria n 0815/2010/RTR/UFV, de 7 de julho de 2010.Caracterizado por uma construo democrtica e participativa, com envolvimento de seus trs campi, o PDI da UFV, aprovado pelos conselhos mximos da Instituio em maio de 2012, expressa as polticas acadmicas e administrativas da Instituio, apresentando um diagnstico da Universidade Federal de Viosa poca da elaborao do documento e estabelecendo objetivos e metas estratgicas para o perodo de 2012 a 2017.Vale ressaltar que

Aos trabalhos da Comisso de elaborao do PDI buscou-se conjugar as etapas adotadas para elaborao do Plano de Gesto, caracterizando, assim, o esforo da UFV em institucionalizar o planejamento, sob a forma compartilhada e representativa da prtica adotada por seus rgos administrativos e acadmicos. Assim, o PDI foi elaborado de forma a associar seus Eixos Temticos Perfil Institucional; Gesto Institucional; Organizao Acadmica; Infraestrutura; Aspectos Financeiros e Oramentrios; e Avaliao e Acompanhamento do Desenvolvimento Institucional aos Objetivos Institucionais da UFV. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIOSA, 2012a, p. 10)

ANLISE E DISCUSSES

Com o objetivo geral de descrever, luz dos conceitos de planejamento estratgico, os fatores que determinaram a expanso da UFV e seus principais desafios de gesto enquanto Universidade multicampi, foram consultados documentos em que constam registros do processo de expanso e entrevistados os diretores gerais dos campi UFV-Rio Paranaba e UFV-Florestal, bem como o pr-reitor de planejamento e oramento do campus sede.Alm de representar, em nmeros, a expanso da UFV no perodo, buscou-se identificar a percepo dos entrevistados em relao efetividade e importncia do planejamento no processo de expanso da universidade e aos desafios gerados pela peculiar caracterizao de uma universidade multicampi.

6.1. A expanso da UFV entre 2006 e 2011

Com a adeso aos programas do Governo Federal de expanso e melhoria da qualidade do ensino superior no Brasil, a UFV criou em 2006 o Campus UFV Rio Paranaba (CRP), por meio do Programa de Expanso Fase I, e, em 2008, deu incio s atividades acadmicas de cursos superiores no Campus UFV Florestal (CAF), antiga Cedaf, por meio do Programa Reuni. Como resultado dessa expanso, a UFV passou de universidade unicampus para multicampi e apresentava, no final de 2011, cenrio mais extenso e complexo, comparado a 2006, como sugere a Tabela 4.

Tabela 4 Comparativo entre os anos de 2006 e 2011 dos principais nmeros representativos da UFV20062011%

Estrutura fsica

rea fsica total (em ha)4.338,444.474,733,14

rea total construda (em m2)367.790,95391.930,316,56

rea de laboratrios (em m2)22.928,1728.397,3223,80

Matriculados12.16518.03948,28

Ensino mdio e tcnico1.0531.18312,34

Graduao9.43614.00248,38

Ps-Graduao stricto sensu1.6762.85470,28

Diplomados2.2472.74222,02

Ensino mdio e tcnico341286(16,13)

Graduao1.4561.68415,65

Ps-Graduao stricto sensu45077271,55

Cursos7112373,23

Ensino mdio22

Ensino tcnico514180,00

Graduao366786,11

Ps-Graduao stricto sensu284042,85

Vagas3.0155.04967,46

Ensino mdio e tcnico39751429,47

Graduao1.8353.30079,83

Ps-Graduao7831.23557,72

Pesquisa

Projetos em andamento1.6553.506118,42

Publicaes6.6275.601(15,49)

Atividades assistenciais

Atendimento em sade16.85984.219399,54

Bolsas concedidas2.2822.244(1,67)

Refeies servidas1.227.3701.815.35547,90

Atividades de extenso1.9342.27317,52

Acervo bibliogrfico252.504747.176195,90

Bolsas de ensino, pesquisa e extenso1.8743.13767,39

Servidores3.3183.4493,94

Docentes8751.18835,77

Tcnico-administrativos2.4432.261(7,45)

Oramento executado (em R$)262.838.981,00524.297.943,7799,47

Fonte: (UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIOSA, 2007 e 2012b.)

Em estrutura fsica, destaca-se o aumento da rea total construda da UFV em 22.239,36 m2, dos quais mais de nove mil representam a obra do Pavilho de Aulas I do CRP.O nmero de vagas disponibilizadas para os diversos cursos e nvel de ensino da UFV subiu de 3.015 para 5.049, representando aumento de 67,46%. Se considerarmos apenas a graduao, o aumento foi ainda maior, representado pelo crescimento de 79,83%.Das 3.300[footnoteRef:1] vagas disponibilizadas para a graduao em 2011, 600 destinavam-se aos cursos do Campus UFV Rio Paranaba, e 400, aos cursos do Campus UFV Florestal. Alm dessas 1.000 novas vagas, o crescimento se deve ao aumento, por meio do Reuni, de 475 vagas disponibilizadas para cursos de graduao no Campus UFV Viosa (CAV). (Tabela 5) [1: Se somarmos 475, nmero de vagas criadas, ao nmero de vagas disponibilizadas em 2006, teremos o total de 3.310. Essa diferena justificada pela reduo de 10 vagas no curso de Cincias Econmicas com nfase em Agronegcio, em 2010.]

Tabela 5 Novas vagas ofertadas para cursos do Campus sede em 2011CursoVagasTurnoIncio

Novos cursos

Cincias Sociais Licenciatura e Bacharelado 60Noturno2009

Enfermagem60Integral2009

Engenharia Mecnica*40Integral2007

Engenharia Qumica*40Integral2007

Letras Habilitao Portugus/Espanhol20Noturno2010

Licenciatura em Cincias Biolgicas40Noturno2009

Licenciatura em Fsica40Noturno2009

Licenciatura em Matemtica40Noturno2009

Licenciatura em Qumica40Noturno2009

Medicina50Integral2010

Subtotal 1430

Cursos existentes

Qumica20Integral2007

Secretariado Executivo Trilngue5Noturno2009

Zootecnia20Integral2009

Subtotal 245

Total de vagas 475

Fonte: (UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIOSA, 2011)*Apesar de iniciados em 2007, foram includos no Reuni.

O novo nmero de vagas oferecidas pela UFV, pela criao de novos cursos e pela ampliao de vagas em cursos existentes, refletiu no aumento do nmero de matriculados nos trs campi da Instituio. Enquanto em 2006 a Universidade contava com 12.165 estudantes, o nmero de discentes no final de 2011 era de 18.039, o que corresponde a um aumento de 48,28% no nmero de matriculados na Instituio.Observando ainda outros nmeros apresentados na Tabela 4, pode-se inferir que os programas de expanso colaboraram no apenas com aumento no nmero de vagas oferecidas pela UFV, possibilitando o acesso ao ensino, mas permitiram tambm aumento expressivo das atividades em pesquisa e extenso.No fim de 2011, por exemplo, encontravam-se em andamento 3.506 projetos de pesquisa, o que representa aumento de 118% em relao a 2006. Destaca-se ainda a distribuio de 3.137 bolsas para o fomento de atividades de ensino, pesquisa e extenso em todos os nveis ensino mdio e tcnico, graduao e ps-graduao.Com o compromisso de encaminhar recursos especficos s universidades que aderissem expanso, o MEC pactuou com a UFV a descentralizao de quase 44 milhes de reais, distribudos no perodo entre 2008 e 2011. (Tabela 6)

Tabela 6 Oramento pactuado do Reuni em capital e custeio para o perodo entre 2008 e 2011Natureza da DespesaTotal pactuado (em R$)

2008200920102011*Total

Capital5.037.653,167.281.845,3314.175.575,9926.495.074,48

Edificaes4.440.606,003.902.647,008.156.620,0016.499.873,00

Infraestrutura868.782,501.121.782,501.990.565,00

Equipamentos597.047,162.510.415,834.897.173,498.004.636,48

Custeio722.0762.956.9295.418.5868.230.46217.328.053

Total5.759.729,1610.238.774,3319.594.161,998.230.462,0043.823.127,48

Fonte: (UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIOSA, 2011)*Para o perodo 2011-2012, o Programa Reuni no previa distribuio de recursos de capital.

Como apresentado pela Tabela 7, mais de 40 milhes do oramento pactuado foi dotado pela UFV, no perodo de 2007 a 2010.

Tabela 7 Oramento Reuni recebido pela UFV entre os anos de 2007 e 2010Natureza da DespesaTotal dotado (em R$)

2007200820092010Total

Total3.022.591,892.833.138,158.941.067,0025.491.271,0040.288.068,04

Custeio818.076,153.166.929,006.196.874,0010.181.879,15

Capital3.022.591,892.015.062,005.774.138,0019.294.397,0030.106.188,89

Fonte: (UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIOSA, 2011)

Analisando de maneira bruta os dados da Tabela 4, o comparativo de nmeros da UFV entre os anos de 2006 e 2011 apresenta-se satisfatrio. Entretanto, ele no mostra as condies que levaram a UFV a essa grande expanso, nem os desafios que a Instituio tem enfrentado para gesto de sua nova realidade multicampi.

6.2. Identificao das categorias de anlise

As categorias de anlise foram definidas a partir dos conceitos bsicos das tcnicas de planejamento estratgico. Desta forma, na categoria Ambiente Externo, buscou-se identificar oportunidades e ameaas UFV no processo de expanso, enquanto na categoria Ambiente Interno, foram agrupadas as ideias relacionadas s foras e fraquezas da Instituio, considerando o mesmo contexto, segundo a percepo dos entrevistados e a documentao analisada.

6.2.1. Categoria Ambiente Externo

Como acontece com qualquer organizao, as instituies pblicas inserem-se em ambientes de constantes mudanas que afetam intimamente seu funcionamento. Estudando as narrativas coletadas, buscou-se identificar nesta categoria as condies externas unidade de anlise que influenciaram sua deciso pela expanso de suas atividades, principalmente em relao criao de dois novos campi.Apesar de reconhecer a contribuio positiva da expanso do ensino superior no Pas, o entrevistado E1 revela que a falta de planejamento do prprio governo federal nesse processo representa ameaa qualidade do ensino da UFV, que para atender demandas urgentes recorre ao improviso para execuo de suas atividades.

Com relao ao governo, as coisas tm vindo, s vezes, um pouco precipitadas. So oportunidades que a gente tem que reconhecer que o governo colocou pra ampliao de vagas na universidade, mas muitas vezes a maneira que t se colocando as coisas, [...] nos coloca num apuro danado. Vm os cursos, a infraestrutura ainda no t ok e voc tem que improvisar. (E1)

O entrevistado reafirma ainda o papel de foras externas determinantes nas aes das organizaes pblicas

A gente no sabe ponderar at onde [...] deveria haver uma anlise puramente tcnica e planejada estrategicamente para o desenvolvimento do pas ou enquanto existem foras polticas interferindo nas decises e no prprio planejamento, que deveria haver e s vezes no acontece da maneira como deveria ser. (E1)

Para evitar a ameaa de figurar como Instituio que no foi parceira ou no teve envolvimento com a expanso do ensino superior no pas, e tambm evitar possvel sucateamento da Universidade por falta de investimento, a UFV reconheceu vrias oportunidades com a adeso ao programa proposto pelo governo federal. O entrevistado E2 evidencia que para implementar um projeto desse s mesmo dentro de um programa governamental. Porque implica em voc contratar mais docentes, mais servidores e a universidade, por si s, no tem condies pra isso. (E2)Ainda que a iniciativa de criao dos campi no tenha partido da UFV, os entrevistados enfatizam que a Instituio discutiu a proposta entre seus conselhos superiores, o Conselho Universitrio (Consu) e o Conselho de Ensino, Pesquisa e Extenso (Cepe), o que era necessrio principalmente pela organizao de gesto colegiada da Universidade.De acordo com E3, a adeso aos programas de expanso do governo federal foi induzida. Nesse contexto, o entrevistado destaca as caractersticas do processo

todas as instituies de ensino superior no pas participaram da expanso. Todas assinaram com o MEC adeso aos programas de expanso. No a UFV um caso especfico. Foram todas as Ifes do pas. [...] Essa expanso iniciada em 2006 teve caractersticas importantes, ela foi induzida pelo MEC. E uma caracterstica to importante ainda, ela foi pactuada, ou seja, ela recebeu financiamento para essa expanso, para criao de cursos, construo de edifcios, contratao de servidores. Foi um pacto e o MEC tem cumprido com o que foi pactuado.

Percebe-se pelas narrativas a oportunidade criada pelo Ministrio da Educao de expanso de atuao das Ifes, evidenciando que a promessa do governo de subsidiar esse processo representaria um dos fatores determinantes opo pela expanso.Reconhecendo essa oportunidade, a Reitoria da UFV encaminhou ao Conselho Universitrio, proposta de aprovao da instalao de um campus da Universidade em Rio Paranaba. Na proposta, a administrao superior evidencia os motivos que justificariam a implantao do novo campus, entre os quais se pode destacar interesse da Reitoria, demonstrao de interesse regional, manifestao de interesse dos governos federal e estadual, poltica do governo federal, demonstrao de apoio do MEC e demonstrao de apoio da prefeitura de Rio Paranaba.O entrevistado E1 refora a justificativa apresentada pela Administrao, quando afirma que o Campus UFV Rio Paranaba surgiu por oportunismo do poder pblico municipal da ocasio e alguns outros polticos, no contexto do lanamento do plano de expanso do MEC. (E1)Percebe-se assim, diante das narrativas e da fundamentao da Reitoria para encaminhar a proposta de aprovao ao Consu, como o fator poltico enquanto fora externa UFV colaborou para a criao do CRP, aprovada em 25 de julho de 2006, pelo Conselho Universitrio.Ao mesmo tempo em que trabalhava a expanso do ensino superior, o MEC investia forte na expanso da rede federal de educao profissional, cientfica e tecnolgica. Para E2, foi o momento de a Universidade decidir se deveria incorporar Florestal definitivamente aos projetos de ensino, pesquisa e extenso da UFV. (E2)Excepcionalmente reunido na cidade de Florestal, por meio da Resoluo n7/2006, de 22 de maio de 2006, o Consu decidiu denominar a rea registrada em nome da UFV nessa cidade de Campus UFV Florestal, determinando imediatas aes para a expanso e aperfeioamento de suas atividades no novo campus.

Assim, na Categoria Ambiente Externo, na percepo dos entrevistados, a expanso da UFV para o status de universidade multicampi ocorreu, principalmente, em funo da oportunidade proporcionada pelo governo federal, caracterizada por um pacto entre a Universidade e o Ministrio da Educao, com proposta de incentivo financeiro e disponibilizao de vagas de pessoal.Alm disso, a Instituio percebeu como oportunidade o crescimento organizacional oriundo da insero da Universidade em diferentes regies, o que demandaria da UFV sua renovao frente s diferentes demandas apresentadas pelas comunidades locais, principalmente dos dois novos campi.Tal situao mostra que o posicionamento da UFV esteve em sintonia com Oliveira (2009), ao realizar a avaliao de seu ambiente externo, assimilando as oportunidades a serem usufrudas, evitando assim a ameaa de sucateamento e falta de envolvimento com a expanso do ensino superior no Pas.

6.2.2. Categoria Ambiente Interno

Entre os elementos componentes do ambiente interno de uma organizao, cujas caractersticas podem determinar seu xito ou fracasso, pode-se considerar a cultura corporativa e as vantagens competitivas que afetaro o desenvolvimento das aes da instituio.Assim, com a adeso ao programa de expanso, coube UFV avaliar suas foras e fraquezas diante desse processo, conforme apreciaes de seus colegiados competentes.Dentro da autonomia pertinente s universidades federais, a Comisso de Poltica de Ensino de Graduao da UFV (Copeg), recomendou ao Cepe a aprovao de seis cursos de graduao a serem oferecidos nos campi da Instituio em Rio Paranaba e Florestal, como sugere a Tabela 8.

Tabela 8 Cursos recomendados pela Copeg para implantao nos campi da UFV em Rio Paranaba e Florestal em 2007CursoIncioCarga horriaDurao(em anos)Vagas

Campus UFV Rio Paranaba

Administrao com nfase em Agronegcio200730004100

Agronomia20073600560

Campus UFV Florestal

Tecnologia em Gesto Ambiental200716002100

Tecnologia em Gesto de Turismo200716002100

Tecnologia em Mecanizao Agrcola200725002,5100

Tecnologia em Processamento de Alimentos200725002,5100

Fonte: (UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIOSA, 2006)

Contudo, observou-se pouca discusso e, ou, capacidade de deciso, visto que a proposta de criao do curso de Agronomia, por exemplo, ao ser submetida ao Conselho Departamental do Centro de Cincias Agrrias, apresentou considerao mais conservadora a sua criao, conforme manifestao constante do Processo 005289/2006/UFV.

[...] o Conselho acha prudente que a implantao do curso de agronomia em Rio Paranaba, sugerida pela COPEG, seja postergada para 2009. Esta deciso permitiria avaliar a continuidade da poltica governamental, bem como a discusso e a elaborao de um projeto didtico-pedaggico especfico, levando em conta as limitaes de infra-estrutura e as demandas de servidores tcnico-administrativos e docentes.

Mesmo diante dos apontamentos levantados, foi aprovada a proposta de criao dos cursos de Agronomia e Administrao (linha de formao em Agronegcio), no Campus UFV Rio Paranaba, com incio em 2007.As narrativas sobre o assunto apontam para uma fraqueza da Instituio que, na avaliao dos entrevistados, no soube definir de maneira vantajosa quais cursos deveriam ser criados nos novos campi da UFV.O entrevistado E1 assegura que as coisas poderiam ser mais planejadas, mais dentro de uma poltica de criao dos novos cursos (E1). Alm de concordar com esse posicionamento, E3 complementa, apontando uma consequncia arbitrria da opo pelos cursos implantados: Se tivssemos, na poca [...], escolhido campus com cursos semelhantes, poderamos ter maior complementaridade do corpo docente, ento nossa carncia no caso de pessoal poderia ser menor. (E3)Para E1, a carncia de servidores para a expanso da UFV, principalmente de pessoal docente, representa outro ponto fraco da Instituio. Quando da pactuao do seu plano de expanso junto ao governo federal, a UFV teria apresentado demanda muito modesta em nmero de servidores. Teve campi que ousaram mais no pedir e ganharam, ento hoje se encontram numa situao melhor. (E1)Essa carncia identificada principalmente no Campus UFV Rio Paranaba. Se levarmos em conta a relao que o MEC trabalha de 18 alunos para 1 professor e se considerarmos que ao final do ciclo de entrada de todos os cursos, o CRP ter aproximadamente 3.000 alunos, essa relao apresenta-se, como afirma E2, incompatvel. Segundo ele, sabamos que [...] conseguir dinheiro para prdios [...] muito menos difcil que conseguir vaga para servidores. (E2)Os dirigentes identificam tambm como ponto fraco a dificuldade da UFV em conscientizar e sensibilizar as comunidades universitrias das consequncias positivas consolidao de uma UFV multicampi.

Eu tenho minhas dvidas se toda a comunidade est consciente de que isso realmente bom e que ns vivemos um momento que talvez requeira um pouco de investimento, de gasto, um pouco de ateno aos campi, dividindo a ateno com o campus sede, mas que isso, futuramente, num futuro prximo [...] vai representar um salto bastante importante pro crescimento da nossa Universidade. (E1)

O entrevistado E2 assume que a sensibilidade da comunidade universitria frente organizao multicampi da UFV praticamente inexistente. Segundo ele, esse no um problema do campus sede para com os outros campi, mas acontece, na verdade, de maneira generalizada. A experincia mostra que se tiver programas a serem executados de forma conjunta vai haver essa integrao e com a integrao, aumenta a sensibilidade. Se no tiver, fica s no mbito da administrao mesmo. (E2)Ainda segundo E2, alm da obrigao, percebida pela administrao superior a necessidade de estabelecer tratamento igualitrio entre os campi. Para ele, essa talvez seja a cobrana nmero um das comunidades do CRP e CAF: tratamento igualitrio. (E2)Percebe-se pelas narrativas que o fato da UFV ter tido pouco tempo para se planejar para sua transformao de universidade unicampus para multicampi tem gerado bastante dificuldade, sobretudo na execuo de suas atividades administrativas.De acordo com E3, a dificuldade maior definir sob qual modelo de gesto a Universidade trabalhar, pensando no futuro. Para ele, a UFV ainda no tem clareza sobre o caminho a seguir, principalmente porque a nova realidade impe a necessidade de tomada de deciso para atendimento de questes prementes comunidade universitria para oferecer, como indica E1, conforto aos nossos professores, alunos e tcnicos (E1).Se por um lado a UFV ainda carece de experincias para potencializar sua gesto administrativa enquanto universidade multicampi, por outro, a organizao acadmica, segundo E3, foi facilmente estruturada, dada a larga vivncia da Instituio na prtica do ensino.Alm dessa fora, E3 revela que a UFV persegue a excelncia. Temos hoje dois [novos] campi, expanso do campus sede, diversos problemas [...], mas a UFV no negligencia a qualidade, ela procura expandir com qualidade. (E3)Nesse sentido, podemos interpretar como ponto forte a caracterstica da UFV de perseguir excelncia, o que, na avaliao dos entrevistados, acabar por contribuir positivamente proposta governamental de interiorizar ensino superior gratuito e de qualidade. O entrevistado E3 expe seu entendimento.

Ns temos um campus, diversos cursos e alunos [...] sendo oferecidos pra sociedade. claro que eu acho que o local, a regio, est melhor com o campus da UFV, do que se no tivssemos colocado l [...] A interiorizao vai ser positiva, vai ser melhor para o ensino superior no Brasil. (E3)

A atuao da UFV na extenso caracterstica avaliada como positiva pelos entrevistados. Compreende-se que alm de contribuir para o ensino superior no Brasil, a insero de universidades como as do vulto da UFV em cidades de pequeno porte, como Rio Paranaba e Florestal, contribuem tambm positivamente para o avano da comunidade local.

De imediato se sente, com a implantao gradual do campus, uma melhoria muito grande da infraestrutura urbanstica da cidade. Expanso, novas construes, maior empregabilidade da populao do municpio, maior riqueza em termos de circulao de recurso nas atividades comerciais da cidade. O impacto muito grande. E o municpio, ns temos feito reivindicaes nesse sentido, ele tem tambm que se movimentar pra isso e isso tem sido uma cobrana, melhoria do posto de sade, por exemplo. (E2)

Para E3, a expanso multicampi da UFV leva

o melhor desenvolvimento que uma cidade, uma comunidade pode ter, que a educao. A educao libertadora, gerao de conhecimento, de desenvolvimento. A educao o futuro. No se pode imaginar qualquer comunidade, qualquer pas que seja forte, independente, rico, e rico de conhecimento, se no tiver educao. (E3)

Na avaliao de E1, tambm para a UFV o resultado ser positivo. Avaliando a insero da UFV na cidade de Rio Paranaba, por exemplo, a 550 km de Viosa, E1 afirma ter clareza absoluta [...] que foi uma grande cartada e uma grande oportunidade que a UFV est tendo de se inserir dentro de uma regio com agronegcio igual ao de Rio Paranaba. (E1)No s a Universidade ganha com a oportunidade de se expandir inserindo-se em cenrios diferentes de Viosa, como sua fora caracterizada pela incessante busca pela qualidade conferir s sociedades regionais profissionais bem qualificados e dispostos a manter ativa a interao universidade-sociedade.Estudando as percepes dos entrevistados sobre as implicaes que trariam a distncia fsica entre os campi, Florestal a 280 e Rio Paranaba a 550 km de Viosa, entendeu-se que esse fator representa oportunidade, mas tambm fraqueza.Ao mesmo tempo em que a distncia positiva por possibilitar Universidade vivenciar diferentes conjunturas, pois a UFV vai estar inserida num ambiente completamente diferente, ento ela vai crescer com isso (E1), avaliada de maneira negativa sob o ponto de vista estrutural, considerando que a Instituio no tem ainda definido seu modelo de gesto: temos dificuldade at de distncia, de tramitar processos, dificuldades bsicas. (E3)

Portanto, na Categoria Ambiente Interno, na percepo dos entrevistados, a expanso da UFV para o status de universidade multicampi apresenta vrios pontos fortes e fracos.Percebeu-se que a UFV apresentava como foras a experincia de 86 anos na gesto acadmica, a constante busca pela excelncia das suas atividades e, por esse motivo, capacidade de contribuio para o avano e desenvolvimento das comunidades locais.Por outro lado, como fraquezas, foram identificadas a ausncia de planejamento prprio para a expanso, ou a falta de tempo hbil para esse planejamento, dificuldade na determinao de aes, como a criao de cursos a serem oferecidos nos campi fora de sede, o que evidencia a carncia de servidores, pouco entendimento da comunidade universitria quanto nova realidade estrutural da Instituio, no definio de estrutura e fluxo de rotinas administrativas e a prpria distncia fsica.Observa-se que o comportamento da UFV mostrou-se em sintonia com Oliveira (2009), o qual indica a necessidade de anlise do ambiente interno para identificar e viabilizar a soluo de pontos fortes e fracos determinantes ao bom desempenho da organizao, na busca pela qualidade de sua expanso.

Diante das discusses proporcionadas e frente aos conceitos de anlise de ambiente e dos elementos capazes de influenciar decises e definio de objetivos das organizaes, possvel ilustrar, de maneira sinttica, as oportunidades, ameaas, foras e fraquezas identificadas no contexto da expanso multicampi da UFV, conforme quadro a seguir.Quadro-resumo da anlise de ambientes da UFV no contexto de sua expanso multicampiAmbiente ExternoOportunidadesAmeaas

Participao no programa nacional de expanso e interiorizao;

Pacto com o Governo Federal;

Incentivo financeiro;

Disponibilizao de vagas de pessoal;

Crescimento organizacional oriundo da insero em diferentes regies. Comprometimento da qualidade do ensino, decorrente de aes realizadas no improviso;

Risco de sucateamento das universidades;

Falta de envolvimento com a expanso do ensino superior no Pas.

Ambiente InternoForasFraquezas

Experincia de 86 anos na gesto acadmica;

Tenacidade na busca pela excelncia;

Capacidade de contribuio para o avano e desenvolvimento da comunidade local. Ausncia de planejamento prprio expanso da Universidade;

Dificuldade na determinao de aes, como cursos a serem oferecidos nos campi fora de sede;

Carncia de servidores;

Pouco entendimento da comunidade universitria quanto nova realidade estrutural da Instituio;

Falta de definio da estrutura e fluxo de rotinas administrativas;

Distncia fsica.

Fonte: Dados da pesquisa

6.3. Importncia do planejamento na gesto universitria

Verificou-se o reconhecimento dos entrevistados sobre a importncia da conduo de um planejamento estratgico para uma instituio federal de ensino superior. E2 destaca a vontade poltica da administrao superior da universidade em termos de planejamento [...], tanto que vrias aes nesse sentido esto sendo executadas. (E2)Nesse trecho, E2 refere-se aos trabalhos que tm sido articulados pela administrao superior da UFV e coordenados pela Pr-Reitoria de Planejamento e Oramento, no que tange discusso e elaborao de dois documentos de extrema importncia gesto universitria, o Plano de Gesto e o Plano de Desenvolvimento Institucional.Os entrevistados confirmaram como ponto forte da UFV a conscincia entre os dirigentes da Instituio quanto importncia do planejamento contnuo em favor dos objetivos institucionais. Eles identificaram, porm, a necessidade de se aprofundar essa compreenso. E3 pondera que

A cultura do planejamento, sua efetividade, s vai ser de fato percebida, interiorizada pelos dirigentes e valorizada como instrumento pactuado se a gente de fato trabalhar continuamente para que ela seja efetiva, negociada, e esteja funcionando. (E3)

Tal posicionamento representa consonncia com as ideias de Ansoff e McDonnell (1993), quando discutem sobre a importncia da interao entre o dirigente mximo da organizao e os demais agentes de planejamento para a consolidao do compromisso organizacional e o alcance dos objetivos previamente traados.Com avaliao satisfatria dos entrevistados como resultado de um processo de elaborao participativo e representativo, o Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) PDI-UFV/2012-2017 representa para E2 instrumento norteador essencial para a consolidao da UFV enquanto universidade multicampi.Alm de atender s exigncias legais do MEC, na viso do entrevistado E3 a UFV fica mais fortalecida, na conscincia dos seus gestores, dos seus agentes de planejamento, tendo de fato um documento que trata especificamente de planejamento institucional. (E3)E1 afirma que o PDI, como norteador dos objetivos que a UFV deseja alcanar nos prximos cinco anos, congrega a certeza que ns estamos caminhando pra consolidar uma universidade multicampi e por isso ele se mostra como ferramenta fundamental para delinear o que se deseja para o futuro da Instituio.Com a proposta de ser revisto pela comunidade a cada dois anos, as narrativas demonstram que o PDI configurar excelente instrumento para os gestores atuais e futuros da UFV em sua consolidao, na permanente busca pela excelncia em suas aes e pela qualidade da sua contribuio para o desenvolvimento do Pas.

6.4. Desafios gesto organizacional multicampi

Conhecendo a gesto de outras Ifes e participando das discusses propostas pelos dirigentes de campus da rede federal de ensino superior, os entrevistados concordam que as adversidades enfrentadas por quase todas as universidades nesse momento so decorrentes da maneira como foi conduzido o processo de expanso.Considerado muito rpido, o processo de expanso do ensino superior, principalmente pelas foras polticas atuantes nesse contexto, marcado pela dificuldade prpria de agir ante a falta de planejamento.

No Brasil, a gente primeiro cria o fato, o programa, o plano, depois vai atrs da infraestrutura. isso que ocorre. [...] Se est programado pra ter 2.000 estudantes, vamos comear a liberao do recurso pra infraestrutura primeiro. [...] Vamos liberar vagas para docentes e tcnicos primeiro, mas isso no ocorreu. E nem sei se um dia ocorrer. (E2)

Quando o entrevistado E2 diz no Brasil, pode-se entender que as problemticas da expanso e os desafios enfrentados, sobretudo pelas universidades que se expandiram para fora de sua sede, no so exclusivos da UFV.Em sua obra Universidade Multicampi, Fialho (2005) discute a complexidade inerente s instituies formadas por mais de um campus localizados em outras cidades que no a do campus sede.

Na universidade multicampi, por exemplo, os sujeitos, tanto quanto os lugares que ocupam, atomizados pela desconcentrao organizacional e pela disperso fsica, no podem responder mesma dimenso espao-temporal e funcional, prpria de modelos universitrios mais agregados. (FIALHO, 2005, p. 64)

Frente a essa questo e em busca de propostas para a configurao estrutural e regimental da UFV como universidade multicampi, a administrao superior da Instituio iniciou, em maio de 2012, discusses de novos regimento e estatuto para a Universidade Federal de Viosa.Com a participao das comunidades universitrias da UFV em Rio Paranaba e Florestal, buscou-se num processo extremamente bem representativo (E2), discutir a nova realidade da UFV e as especificidades a serem consideradas.Para E3, entender e organizar a estrutura acadmica foi mais fcil dada a experincia de 86 anos da UFV na rea. Para a estrutura administrativa, porm, as atividades exigem maior ateno. Os entrevistados E2 e E3 destacam os principais pontos que fomentaram as discusses para a elaborao da proposta dos novos regimento e estatuto nesse sentido:

O enfoque maior foi realmente a parte regimental pra poder criar as unidades de deciso, como o prprio conselho acadmico e administrativo, que sero os rgos de deliberao mxima do campus. (E2)

[As discusses] abordaram basicamente um modelo prvio que j havia no processo de apreciao pelo Consu dos organogramas dos campi. Na verdade, o que essa proposta de regimento [...] aborda exatamente atribuir a cada rgo mencionado, a cada rgo listado, colocado no organograma, sua funo especfica, sua atribuio, suas responsabilidades. Ele atribui normas e funcionamento de conselho, de tramitao de processos, recursos, quer dizer, um organizador. (E3)

Cabe, nesse ponto, ressaltar a importncia do trabalho na proposta de reformulao de seus documentos disciplinares, uma vez que o Regimento Geral da UFV foi elaborado em 1981, h mais de 30 anos, e o Estatuto, h mais de 15.

CONSIDERAES FINAIS

Os programas governamentais de expanso do ensino superior da ltima dcada foram fundamentais para a democratizao do acesso ao ensino superior, sobretudo para sua interiorizao. A universidade tem papel fundamental no transformar, desenvolver e promover o progresso na comunidade na qual se insere.Essa expanso provocou uma nova configurao das universidades federais, fazendo emergir no cenrio brasileiro o chamado fenmeno organizacional multicampi. Se por um lado a expanso recebe avaliao positiva por levar a regies distintas a presena de uma universidade federal conceituada, por outro, peca pela falta de planejamento e dificuldade de estruturao.Como toda organizao, as instituies federais de ensino superior devem estar sempre atentas s condies e influncias dos diversos cenrios que envolvem as Ifes, tendo como instrumento norteador o planejamento da Instituio. Por se tratar de conceito relativamente novo no Brasil, a realidade multicampi traz discusses prementes e necessrias aos seus gestores. A descentralizao geogrfica e administrativa de uma universidade impacta profundamente sobre o funcionamento das vidas acadmica e administrativa da instituio, o que pode comprometer seu desempenho.Alteraes como essas, de grande dimenso e forte impacto para universidade e sociedade, no podem acontecer de maneira aleatria, mas sim baseadas em pesquisas e anlises aprofundadas dos cenrios que envolvem a Instituio, visando ao sucesso de suas aes e manuteno da qualidade de suas atividades.

O Brasil enfrentou em 2012 uma extensa greve dos servidores das universidades federais que buscavam, entre outras reivindicaes, reestruturao da carreira e aumento do salrio, alm de melhores condies de trabalho. Perante tal mobilizao, em que todas as Ifes aderiram, em algum momento, greve, torna-se evidente que uma questo preocupante para a qualidade do ensino diante da expanso a valorizao da carreira do magistrio superior.Em universidades multicampi, considerando principalmente os campi fora de sede localizados em cidades de pequeno porte, a valorizao do magistrio determinante para que se consiga fixar nessas localidades docentes em busca de condies para produo acadmica e cientfica. Revela-se, portanto, imprescindvel a criao de polticas governamentais para investimento em cursos de ps-graduao nessas unidades, a fim de manter-se o compromisso indissocivel das universidades com o ensino, a pesquisa e a extenso.O fenmeno organizacional multicampi fez surgir muitas novidades e dificuldades para as gestes das universidades federais, que agora se sentem pressionadas ao desafio de expandir suas atividades preservando identidade e qualidade. Muitas dessas universidades ainda esto em fase de construo e, apesar do suporte financeiro e de pessoal pactuado pelo MEC, pode no ter havido dimensionamento adequados das necessidades, apresentando, assim, deficincias na estrutura fsica e de equipamentos para a oferta dos cursos.Cabe ressaltar que as diversidades e adversidades enfrentadas pela UFV no momento atual so percebidas tambm em outras universidades. Tais condies so caractersticas da universidade multicampi, quando consideramos que essas instituies sujeitam-se interao constante s condies de desenvolvimento do seu ambiente.Prope-se, desse modo, a ampliao dessa nova e necessria discusso acerca das universidades multicampi, recomendando como importante conhecer como se deu e que consequncias gerou o processo de expanso de outras Ifes no Brasil, estudando o impacto desse fenmeno tambm sob a tica da sociedade.Este trabalho aponta para a necessidade evidente de se estudar o planejamento estratgico nas instituies federais de ensino superior, a fim de conscientizar os gestores universitrios de sua relevncia, visando ao fortalecimento da cultura do planejamento em instituies de ensino e manuteno dos padres de excelncia das universidades brasileiras.

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