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Mônica Martins Nóbrega BACTERIÚRIA EM MULHERES APÓS ESTUDO URODINÂMICO: FATORES DE RISCO E ANÁLISE MICROBIOLÓGICA Dissertação apresentada ao Curso de Pós- Graduação da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo para obtenção do título de Mestra em Pesquisa em Cirurgia. São Paulo 2015

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Mônica Martins Nóbrega

BACTERIÚRIA EM MULHERES APÓS ESTUDO URODINÂMICO:

FATORES DE RISCO E ANÁLISE MICROBIOLÓGICA

Dissertação apresentada ao Curso de Pós-Graduação da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo para obtenção do título de Mestra em Pesquisa em Cirurgia.

São Paulo

2015

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Mônica Martins Nóbrega

BACTERIÚRIA EM MULHERES APÓS ESTUDO URODINÂMICO:

FATORES DE RISCO E ANÁLISE MICROBIOLÓGICA

Dissertação apresentada ao Curso de Pós-Graduação da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo para obtenção do título de Mestra em Pesquisa em Cirurgia. Área de Concentração: Reinserção Social Orientador: Prof. Dr. Antonio Pedro Flores Auge Coorientador: Prof. Dr. Mauro José Costa Salles

São Paulo

2015

(Versão Corrigida)

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FICHA CATALOGRÁFICA

Preparada pela Biblioteca Central da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo

Nóbrega, Mônica Martins Bacteriúria em mulheres após estudo urodinâmico: fatores de risco e análise microbiológica./ Mônica Martins Nóbrega. São Paulo, 2015.

Dissertação de Mestrado. Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo – Curso de Pós-Graduação em Pesquisa em Cirurgia.

Área de Concentração: Reinserção Social Orientador: Antonio Pedro Flores Auge Co-Orientador: Mauro José Costa Salles

1. Urodinâmica 2. Mulheres 3. Bacteriúria 4. Infecção 5. Sistema urinário

BC-FCMSCSP/04-15

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Dedicatória

DEDICATÓRIA

Dedico aos meus pais Mário Nóbrega e Lourdes Nóbrega por todo o apoio e incentivo em seguir adiante com meus sonhos de realização profissional. Mesmo distante dos seus afagos, souberam me dar forças e sabedoria para a caminhada. Às minhas irmãs Monisa e Lisieux por compreenderem os momentos de ausência e a distância física. Ao meu namorado Renato Retz por estar sempre ao meu lado me dando forças, apoiando minhas decisões e por compreender todos os momentos de ausência. À minha primeira sobrinha Lia que mesmo distante fui a escolhida para fazer todo o seu acompanhamento pré-natal e tive a honra de poder trazê-la ao mundo.

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"Cada pessoa que passa em nossa vida, passa sozinha, é porque cada pessoa é única e nenhuma

substitui a outra! Cada pessoa que passa em nossa vida passa sozinha e não nos deixa só porque

deixa um pouco de si e leva um pouquinho de nós. Essa é a mais bela responsabilidade da vida e a prova de que as pessoas não se encontram por

acaso." (Charles Chaplin)

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Agradecimentos

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente à Deus pelo dom da vida, pela sabedoria e por ser o

responsável por todas as minhas conquistas, pois sem Ele em minha vida eu nada

seria. Obrigada Pai!

Aos meus pais por todo o amor, ensinamentos, educação e apoio que me deram

para seguir em frente mesmo diante de todas as adversidades que a vida nos

mostra. Obrigada por acalmarem meu coração quando a saudade doía.

Às minhas irmãs por todo o carinho e incentivo em todos os momentos.

À Tia Aline, por todo o apoio e por sempre estar por perto e disposta a ajudar.

Ao meu namorado Renato Retz por todo o carinho e cuidado comigo durante esses

anos que estive em São Paulo. Longe de toda minha família, soube me acalmar, me

tranquilizar, me dar o ombro amigo, me fazer sorrir, me alegrar. Compreendeu os

momentos de ausência para ir em busca da minha realização profissional.

À minha amiga Luciana Retz por me acolher como uma filha em São Paulo, pela

contribuição com a revisão do meu trabalho e por todas as orientações para melhor

conduzir a minha dissertação.

Ao meu orientador, Prof. Dr. Antonio Pedro F. Auge, que desde o primeiro momento

me acolheu no grupo da Uroginecologia, sempre me incentivando. Acreditou no meu

potencial e apoiou que eu seguisse adiante na pós-graduação. Por todos os

ensinamentos, conselhos e disponibilidade durante esse período, meu profundo

respeito e agradecimento.

Ao meu co-orientador, Prof. Dr. Mauro José Costa Salles, por ter aceitado o convite

para contribuir com a orientação do trabalho, por toda sua disponibilidade e

competência na co-orientação deste trabalho. Ser Humano que admiro demais.

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Agradecimentos

Ao meu mestre e amigo, Dr. Armando Brites Frade, da FCMSCSP, Ser Humano

ímpar, o qual aprendi a admirar como pessoa e profissional, que me acolheu e me

ensinou sobre a vida e medicina, em especial a Uroginecologia. Meu profundo

respeito, admiração e carinho.

Aos mestres da Uroginecologia da ISCMSP, Prof. Dr. Antonio Pedro Auge, Profª.

Dra. Sílvia Carramão, Prof. Dr. Armando Frade, Dr. Agilda Barros Meira, meus

sinceros agradecimentos por todos os ensinamentos que irei levar comigo por onde

estiver. Obrigada pelo carinho e amizade, sei que posso contar com vocês sempre.

À Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo por todo o incentivo

à pesquisa e oportunidade de desenvolvê-la.

À Irmandade Santa Casa de Misericórdia de São Paulo pela oportunidade de

aperfeiçoar meu aprendizado e colocá-lo em prática.

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) por ter

concedido o auxílio para realização do mestrado.

Às amizades que construi no grupo da Urogineco: Thaís Zaros, Raquel Richetti,

Carla Pereira, Marianne Castiglione, Mara de Abreu Etienne, Susane Hwang, Camila

Frade.

À equipe de enfermagem do Ambulatório de especialidades "Dr. Geraldo Bourroul"

(AEGB): Fabiana, Nelma, Mirian, Nilcélia, Noralice, Marli, Alessandra, por toda a

disponibilidade e disposição para ajudar na realização do estudo urodinâmico.

A todos os funcionários da recepção do AEGB, em especial Fátima e Elaine, por

todo o carinho e atenção com as pacientes.

Aos funcionários do Laboratório Central da Santa Casa de São Paulo, pela

receptividade e atenção em receber os exames.

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Agradecimentos

À minha amiga da pós-graduação, Norma Aparecida, por todas as informações

trocadas e momentos de descontração.

À Cely Barreto, membro da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar da Santa

Casa de São Paulo, por toda a disponibilidade e auxílio no esclarecimento de

dúvidas relacionadas à microbiologia.

À equipe da secretaria da pós-graduação: Sonia, Mirtes, Daniel e Rodrigo, pela

dedicação e assistência em todos os momentos.

Em especial a todas as pacientes que aceitaram participar do estudo e desta forma

viabilizaram a conclusão do meu estudo. Meu profundo agradecimento e carinho.

A todos que direta ou indiretamente contribuíram para a realização deste grande

passo na minha vida profissional.

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Abreviaturas e Símbolos

ABREVIATURAS E SÍMBOLOS

ºC - Grau Celsius

ARESC- Antimicrobial Resistance Epidemiological Survey on Cystitis

CIM- Concentração Inibitória Mínima

CLSI- Clinical Laboratory Standards Institute

cm- centímetros

DM- Diabetes mellitus

DOGI- Departamento de Obstetrícia e Ginecologia

EUD- Estudo urodinâmico

Fr- French

ICS- International Continence Society

IMC- Índice de massa corporal

ISCMSP-Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo

ITU- Infecção do Trato Urinário

IUGA- International Urogynecological Association

Kg/m2- Quilograma por metro quadrado

mL- mililitro

min- minuto

SF 0,9%-Soro fisiológico 0,9%

UFC/mL- Unidade formadora de colônia por mililitro

VPN- Valor preditivo negativo

VPP- Valor preditivo positivo

µL - microlitro

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Sumário

SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ……………………………………………………………………... 1

1.1. Infecção do trato urinário .......................................................................... 2

1.2. Bacteriúria assintomática ......................................................................... 12

1.3. Estudo urodinâmico .................................................................................. 14

2. OBJETIVOS ………………………………………………………………………... 18

3. CASUÍSTICA E MÉTODO ………………………………………………………... 20

3.1. Casuística ................................................................................................. 21

3.2. Método ..................................................................................................... 22

3.3. Análise microbiológica .............................................................................. 25

3.4. Análise estatística ................................................................................... 28

4. RESULTADOS …………………………………………………………………….. 30

5. DISCUSSÃO ……………………………………………………………………….. 36

6. CONCLUSÕES …………………………………………………………………….. 43

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................... 45

RESUMO..........................................................................................................

ABSTRACT.............................................................................................. ........

LISTAS E APÊNDICES....................……………………………………………..

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1. INTRODUÇÃO

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Introdução

1.1. Infecção do trato urinário

A Infecção do Trato Urinário (ITU) é definida como infiltração microbiana do

trato urinário estéril, sendo uma das infecções bacterianas mais comuns em todo o

mundo(1). Além disso, é a enfermidade urológica mais frequente entre as mulheres(2),

podendo manifestar-se em qualquer faixa etária, sendo mais prevalente em três

grupos: crianças com até seis anos de idade, mulheres jovens sexualmente ativas e

idosas com mais de 60 anos(3).

A prevalência de ITU no sexo feminino aumenta com a idade, estando a

bacteriúria presente em 10% - 15% das mulheres com idade entre 65 - 70 anos e em

15% - 20% nas com mais de 80 anos(4). Cerca de 40% a 50% das mulheres

apresentam pelo menos um episódio de ITU ao longo da vida e 30% delas

desenvolvem ITU recorrente(5).

Esta prevalência, quatro vezes maior nas mulheres é devida às diferenças

anatômicas tais como: uretra curta (medindo 3 cm - 4 cm), proximidade entre o ânus

e o introito vaginal e a colonização da uretra distal pela flora vaginal habitual(2)

. Na

maioria das vezes, a infecção resulta da ascensão uretral até a bexiga de uma

bactéria perineal ou periuretral, frequentemente relacionada à atividade sexual ou à

instrumentação mecânica, como a cateterização(2). Outros fatores que predispõem à

ITU são: obstrução do trato urinário, esvaziamento vesical incompleto, anomalias do

trato urinário, uso de espermicidas, hipoestrogenismo, história prévia de ITU, status

não secretor e história familiar de ITU, em parentes de primeiro grau, do sexo

feminino(1,4,6).

A ITU associada a assistência à saúde está mais relacionada ao uso de

cateter vesical, acometendo 25% dos pacientes que necessitam de cateterismo por

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Introdução

mais de sete dias, com risco diário de 5%(5).

A bactéria Escherichia coli é responsável por 75% - 90% dos casos de cistite

aguda não complicada e de pielonefrite, além de 50% dos casos de infecção

nosocomial(7,8). Os demais casos são geralmente desencadeados por outras

Enterobactérias tais como: Klebsiella sp., Proteus sp., Enterobacter sp.,

Pseudomonas sp. e por bactérias gram-positivas como Staphylococcus

saprophyticus, Enterococcus faecalis, e Streptococcus agalactiae(5,6). Espécies de

Cândida podem determinar ITU principalmente em pacientes diabéticas não

controladas e em imunocomprometidas(9).

O estudo ARESC (Antimicrobial Resistance Epidemiological Survey on

Cystitis) realizado em nove países europeus e no Brasil, entre os anos 2003 - 2006,

identificou a Escherichia coli como o principal uropatógeno causador de cistite não

complicada em mulheres, com perfil de resistência microbiana apresentando um

melhor padrão de sensibilidade para fosfomicina (98,1%), nitrofurantoína (95,2%) e

ciprofloxacino (91,7%) e uma maior resistência para ampilicilina,

sulfametoxazol/trimetoprim e ácido nalidíxico(10). Em todos os países, a sensibilidade

microbiana para a Escherichia coli maior que 90% foi encontrada apenas para a

fosfomicina e nitrofurantoína(11). A resistência ao ciprofloxacino foi maior que 10% no

Brasil, na Espanha, Itália e Rússia(10).

De acordo com revisão da literatura realizada por Salles et al (2013) o

principal agente causal das ITUs comunitárias na América Latina, nos últimos 10

anos, foi a Escherichia coli. Esse uropatógeno apresentou elevadas taxas de

resistência antimicrobiana para sulfametoxazol/trimetoprim, quinolonas e

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Introdução

cefalosporinas de segunda geração e, baixos níveis de resistência para

aminoglicosídeos, nitrofuratoína e fosfomicina(12).

Um estudo realizado em Curitiba, no ano de 2009, mostrou que a Escherichia

coli (66%) foi o patógeno gram-negativo mais prevalente nas ITUs comunitárias,

seguido da Klebsiella spp. (6%), Proteus mirabilis (4%) e Enterobacter spp. (3%). O

perfil de sensibilidade microbiana da Escherichia coli variou de acordo com a classe

da medicação, sendo muito baixa para ampicilina (56%) e

sulfametoxazol/trimetoprim (66%), intermediária para fluoroquinolonas (82%) e

aceitável para gentamicina (93%), ceftriaxona/cefotaxima (97%) e nitrofurantoína

(96%). Em relação aos patógenos causadores de ITU comunitária, a Escherichia coli

foi 3% - 4% mais sensível às fluoroquinolonas e à gentamicina e, pelo menos, 30%

mais sensível para nitrofurantoína e cefalosporinas de amplo espectro(12).

A virulência das Enterobactérias é determinada principalmente pela

presença de: flagelos ou do antígeno "H", responsáveis pela motilidade bacteriana;

cápsula ou antígeno "K", que determina resistência à fagocitose; polissacarídeos ou

antígeno "O", presentes na membrana externa da bactéria, sendo determinante

antigênico de anticorpos específicos; fímbrias ou pili ou adesinas, responsáveis pela

adesão bacteriana ao urotélio. A virulência também é causada pela produção de

toxinas como a hemolisina e o fator de necrose tumoral, que irão romper a

integridade do epitélio e permitir a invasão bacteriana(5,8,13).

As fímbrias são filamentos delgados de adesão bacteriana, constituídos de

subunidades proteicas. Delas, existem dois tipos: Tipo I (manose - sensível): cujos

receptores são a manose e a proteína de Tamm-Horsfall; é o fator de virulência mais

expressivo, estando presente em mais de 80% de todas as Escherichia coli

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Introdução

uropatogênicas. Aumenta, também, a resposta inflamatória associada à adesão e

invasão bacteriana. O Tipo II (manose - resistente): cujo receptor é parte de um

glicoesfingolípide (Gal-Gal), está implicado na patogênese da ITU ascendente e na

pielonefrite(8,13).

A proteína de Tamm-Horsfall - também conhecida como uromucóide - é uma

glicoproteína sintetizada pelas células epiteliais do néfron distal, que se liga às

bactérias que apresentam fímbrias do tipo I. É uroprotetora, pois o complexo

resultante, uromucóide-bactéria, é eliminado na urina, prevenindo assim, a

aderência bacteriana(5,8).

Os antígenos do grupo sanguíneo P interferem na aderência de bactérias

com fímbrias do tipo II: as células colonizadas entram em apoptose e são excretadas

na urina. Quando esses antígenos estão presentes, o hospedeiro é classificado

como secretor positivo havendo redução na incidência de aderência bacteriana e,

consequentemente, de ITU(5,8).

Os fagócitos do hospedeiro, incluindo neutrófilos polimorfonucleares e

macrófagos, reconhecem os pili tipo I, fagocitam e destroem as bactérias, na

ausência de anticorpo específico(13).

A característica de esterilidade da urina é mantida por fatores físicos, como o

fluxo urinário unidirecional determinado pelo peristaltismo do ureter para a bexiga e

o esvaziamento vesical completo e frequente. Além disso, o crescimento bacteriano

é inibido pela elevada osmolaridade e baixo pH urinário(5,8).

Há fatores do hospedeiro que são predisponentes à colonização pelos

uropatógenos e/ou a não destruição pelo sistema fagocitário. A obstrução do trato

urinário causa uma estase urinária que propicia a proliferação bacteriana e leva à

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Introdução

diminuição da ação bactericida da mucosa, pela distensão vesical(13). A

cateterização vesical aumenta significativamente o risco de bacteriúria, que é

proporcional ao tempo de permanência do cateter. A relação sexual aumenta a

chance de haver o desenvolvimento de bacteriúria, estando bem estabelecida a

associação entre cistite aguda e atividade sexual(13). O uso de diafragma e geleia

espermicida como métodos contraceptivos predispõe à ITU. A presença do

diafragma pode causar discreta obstrução uretral e a geleia altera o pH e a flora

vaginal, facilitando a ascensão dos germes uropatogênicos(13).

Na menopausa, a diminuição do estrogênio determina o aumento do risco de

bacteriúria e ITU sintomática, pois há redução do glicogênio vaginal, diminuição dos

lactobacilos e elevação do pH vaginal(13).

Idade avançada é um fator relevante a ser destacado, pois a frequência da

ITU aumenta com a idade, em ambos os sexos. A presença de comorbidades

coexistentes como, diabetes, acidentes vasculares cerebrais, demência e alterações

na resposta imune, aliadas à hospitalização e/ou instrumentação mais frequentes,

tornam a ITU mais prevalente, nesta faixa etária(13).

A interação entre os fatores de virulência bacteriana e a resposta do

hospedeiro irá determinar o desfecho da exposição bacteriana(8).

A ITU abrange infecções da uretra (uretrite), bexiga (cistite), ureter (ureterite)

e rins (pielonefrite)(1). Pode ser classificada como não complicada e complicada.

Quando acomete pacientes fora do ambiente hospitalar, sem anormalidades

anatômicas e funcionais do trato urinário, caracteriza ITU não complicada. Em

homens, mulheres e crianças com alterações funcionais, metabólicas ou

anatômicas, como obstrução infravesical, cálculo renal, bexiga neurogênica,

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Introdução

insuficiência renal, diabetes, imunossupressão, manipulação do trato urinário,

presença de cateteres urinários, idosos, gestantes, podem apresentar risco

aumentado de falha terapêutica ou complicações mais graves, sendo portanto,

classificados como portadores de ITU complicada(6,13).

Denomina-se infecção isolada ao primeiro episódio de ITU, ou a episódios

que ocorram com mais de seis meses de intervalo entre si, correspondendo a 25%-

40% dos casos que acometem mulheres jovens(14).

A infecção não resolvida decorre de falha terapêutica ocasionada por

resistência bacteriana, ou ainda pelo fato da infecção ter sido desencadeada por

dois tipos diferentes de bactérias, com suscetibilidades diferentes aos

antimicrobianos(14).

Na reinfecção, o resultado da urocultura será negativo após o tratamento.

Porém, duas semanas após a terapia, o mesmo micro-organismo desenvolver-se-á

novamente ou ainda, outro micro-organismo poderá crescer, a qualquer momento. A

reinfecção constitui cerca de 90% - 95% dos casos de ITU de repetição(3,14,15).

Cerca de 10% das ITU recorrentes resultam da não erradicação do agente

causal, que persiste no trato urinário e caracteriza recidiva(3,14,15). A persistência

bacteriana decorre do acúmulo de bactérias em locais de difícil acesso para os

antibióticos, como cálculos infectados, divertículo uretral e glândulas parauretrais

infectadas(14).

A cistite é a infecção da bexiga, também definida como ITU baixa. É a forma

mais comum de ITU, com quadro clínico composto por disúria, frequência e urgência

urinárias, dor suprapúbica, hematúria e urina turva ou escura. Esses sintomas

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Introdução

clássicos, se presentes, geralmente fecham o diagnóstico clínico da cistite. Alguns

sintomas sistêmicos como febre, náuseas, vômitos, mal-estar geral e indisposição

são raramente observados(1,5,13). No idoso, é comum dor abdominal ou distúrbio de

comportamento(13). A probabilidade de cistite é maior que 90% em mulheres que

apresentam disúria e frequência urinária, sem queixa de leucorreia ou irritação

vaginal(6).

A pielonefrite é a infecção que envolve o parênquima renal, caracterizando a

ITU alta. As manifestações clínicas incluem dor lombar, hematúria, febre, calafrios,

náuseas, vômitos e choque séptico. Sintomas de cistite nem sempre estão

presentes, apesar da bactéria que acomete o rim seguir uma via ascendente, na

maioria das vezes (1,5,13).

A infecção urinária de repetição é definida pela ocorrência de três episódios

de ITU, confirmadas pelos resultados positivos da urocultura, no período de 12

meses, ou ainda pela ocorrência de duas infecções, durante os últimos seis

meses(2,14). Os principais fatores de risco para ITU de repetição são: história prévia

de ITU, status não secretor, incontinência urinária, distúrbios no esvaziamento

vesical, distopia genital, atrofia genital, diabetes, obesidade, cálculo renal e atividade

sexual frequente(2,4).

A síndrome uretral geralmente acomete mulheres que apresentam sintomas

de ITU, com urocultura sem crescimento bacteriano e falha de resposta terapêutica,

aos antibióticos. Pode ser secundária a infecções por micro-organismos que não

crescem nos meio de cultura rotineiramente utilizados, como a Chlamydia

trachomatis, Ureaplasma urealyticum, Neisseria gonorrhoeae, Mycoplasma,

Mycobacteria, Trichomonas vaginalis, Cândida sp.. Deve-se realizar o diagnóstico

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Introdução

diferencial com vulvovaginites, uretrites, cistites virais e fúngicas, tumores, corpos

estranhos, radiação, químicas (ciclofosfamida) e cistite intersticial(5,13).

O diagnóstico presuntivo de ITU pode ser elaborado de acordo com a história

clínica e o exame físico do paciente, principalmente quando os sintomas clássicos

estão presentes. No entanto, apenas 65% das mulheres que apresentam sintomas

de cistite têm a infecção confirmada(5).

A fita reagente, dipstick, é útil na triagem de casos agudos, com suspeita de

ITU. A presença de esterase leucocitária (indicativa de piúria), de nitrito (formado

pela redução do nitrato a nitrito, por algumas Enterobactérias) e de hematúria

microscópica estão relacionadas à ITU em, 90%, 76% e 75%, respectivamente, das

pacientes com urocultura positiva(5).

Em mulheres com queixa de disúria, urgência e frequência miccional o valor

preditivo positivo (VPP) para nitrito é de 96%, com especificidade de 94%, enquanto

que o valor preditivo negativo (VPN) e a sensibilidade são 30% e 44%,

respectivamente(16). Quando a pesquisa do nitrito é negativa, o VPP para esterase

leucocitária é de 79% e a sensibilidade de 82%(16). No entanto, quando ambos os

testes são negativos, 50% das culturas de urina podem ser positivas. Dessa forma,

um dipstick negativo não exclui a possibilidade de ITU(16).

No exame do sedimento urinário, a identificação de leucocitúria (>10

leucócitos/campo) é forte indicador de infecção(13,17). No entanto, cerca de 20% dos

pacientes com ITU confirmada podem apresentar contagem normal de leucócitos,

assim como leucocitúria significativa pode ocorrer na ausência de ITU(3).

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Introdução

O padrão ouro para o diagnóstico da maioria das ITU é a urocultura com a

identificação do agente causal e o antibiograma apresentando o teste de

suscetibilidade antimicrobiana(1,5,18).

A bacteriúria é considerada significante quando há crescimento de ≥105

unidades formadoras de colônia/mL (UFC/mL) de urina, em urocultura realizada com

amostra do jato médio urinário. O critério da presença de bacteriúria significante

para o diagnóstico de ITU tem sido frequentemente questionado e os sintomas

clínicos têm sido cada vez mais valorizados, de tal modo que, em pacientes

sintomáticos, contagens a partir de 103 UFC/mL de urina sugerem ITU(1,5,13). Quando

a amostra urinária é obtida por meio de punção suprapúbica, qualquer crescimento

bacteriano já é indicativo de ITU(5).

A solicitação de exames de imagem é reservada para pacientes que

apresentem manifestações recorrentes e não usuais, sendo indicada para identificar

anormalidades que predisponham à ITU(13). Contribuem para o diagnóstico, a ultra-

sonografia na identificação de cálculos, abscessos e rins policísticos; a urografia

excretora para esclarecimentos a respeito de alterações anatômicas, não devendo

ser realizada na fase aguda da infecção pela nefrotoxicidade(13); a tomografia

computadorizada raramente é utilizada, auxiliando principalmente nos casos de

abscesso perinefrético e em alguns casos de rins policísticos relacionados a ITU(13).

Em idosos que apresentem ITU de repetição associado a hematúria, deve-se

realizar cistoscopia para descartar câncer de bexiga(13).

O diagnóstico diferencial de ITU em mulheres inclui: a pesquisa de vaginite,

uretrite, alterações anatômicas tais como divertículo uretral, síndrome da bexiga

dolorosa, dor pélvica crônica e nefrolitíase(2,17).

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11

Introdução

O tratamento da ITU baixa não complicada, em mulheres, habitualmente é

realizado empiricamente, segundo os padrões de resistência microbiana local, com

grande probabilidade de sucesso terapêutico. Neste caso, não há indicação de

realização de urocultura com antibiograma, estando este exame reservado para os

casos de ITU alta, complicada ou recorrente e com elevada possibilidade de falha

terapêutica. Na ausência de sintomas, a realização da urocultura está indicada para

mulheres gestantes e para pacientes que serão submetidos a intervenções

urológicas(5).

Atualmente, para mulheres com quadro de ITU não complicada, o tratamento

padrão é o uso de antibiótico pelo período de três dias, o qual tem apresentado taxa

de cura entre 85% - 90%. O tratamento com antibióticos por 7 - 10 dias é reservado

para os casos de ITU complicada. Os casos mais graves necessitam de internação

hospitalar, administração de antibióticos por via endovenosa, hidratação e

finalização do tratamento com antibiótico oral, completando um curso de 14 dias(2,5).

O tratamento empírico para ITU não complicada pode ser iniciado sem

nenhuma investigação adicional em mulheres jovens com menos de 55 anos, sem

comorbidades, na menacma, não gestantes, sem episódio recente de ITU relatado,

sem sintomas de vaginite ou cervicite, na presença de disúria e aumento da

frequência urinária(2).

O tratamento da pielonefrite não complicada, na qual a paciente apresenta

sintomas leves, sem náuseas, vômitos ou queda do estado geral, pode ser iniciado

com antibióticos por via oral, de forma empírica e a seguir guiado pelo antibiograma,

por 10 - 14 dias(2).

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12

Introdução

Nos casos de ITU não complicada, na maioria das vezes, o seguimento não

se faz necessário, a menos que ocorra falha terapêutica ou os sinais e sintomas

sejam sugestivos de envolvimento do trato urinário superior. A urocultura é indicada

se os sintomas persistirem após a realização do tratamento padrão ou se houver

recorrência dos sintomas após 2 a 4 semanas do término do tratamento. Quando o

paciente apresenta-se séptico ou sem tolerabilidade para a medicação por via oral, a

internação hospitalar se faz necessária(2,5).

O uso indiscriminado e abusivo de antibióticos de baixo custo para o

tratamento de ITU comunitária determina um aumento na incidência de micro-

organismos com resistência bacteriana, o que reflete na maior dificuldade para o

tratamento desses casos, na atualidade. Portanto, a prescrição antibiótica deve ser

guiada pela severidade da infecção, pelos fatores de risco do paciente para

resistência antibiótica, pelo conhecimento dos padrões de resistência antibiótica de

cada local e pela urocultura(12).

1.2. Bacteriúria assintomática

A bacteriúria assintomática em mulheres é caracterizada pela presença de

crescimento bacteriano significante na urina (≥105 UFC/mL), de um mesmo micro-

organismo, em duas coletas consecutivas, com ausência de sintomas clínicos(2,15).

Alguns autores não a consideram uma infecção e a descrevem como uma

colonização(19).

A presença de piúria é indicativa de inflamação do trato genitourinário e é

comum em indivíduos com bacteriúria assintomática(15). Pode ser identificada

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13

Introdução

juntamente com a bacteriúria assintomática em aproximadamente 32% das

mulheres jovens, 30%-70% das gestantes e 70% das mulheres diabéticas. No

entanto, também pode estar presente em condições inflamatórias que cursam com

cultura de urina negativa(15). Portanto a presença de piúria não é suficiente para

diagnosticar bacteriúria e nem para diferenciar infecção urinária sintomática da

assintomática(15).

A prevalência da bacteriúria assintomática varia com a idade, sexo e

presença de anomalias no trato genitourinário(15). Em mulheres saudáveis, a

prevalência aumenta com a idade, variando de 1% - 5% em jovens, até mais de 20%

dentre mulheres com mais de 80 anos(15). A Escherichia coli é o micro-organismo

mais prevalente(20).

A bacteriúria assintomática é usualmente benigna, não se mostrando

prejudicial para a maioria das pacientes(15,20). No entanto, pode aumentar o risco de

desenvolvimento de ITU em 8% das mulheres, em até uma semana após o

diagnóstico(17). A morbidade atribuída à bacteriúria é reconhecida em gestantes e

pessoas submetidas a intervenções urológicas invasivas, com trauma de

mucosa(19,20).

Embora pessoas com bacteriúria apresentem um risco aumentado de ITU, o

tratamento da bacteriúria assintomática não diminui a frequência da infecção

sintomática, nem melhora outros desfechos(14). Por esse motivo, a investigação e o

tratamento da bacteriúria assintomática está recomendada para todas as gestantes,

pelo menos uma vez no início da gestação, reduzindo o risco da ocorrência de

pielonefrite e de trabalho de parto prematuro. Está recomendada também, antes de

procedimentos urológicos que possam levar a trauma da mucosa do trato urinário.

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14

Introdução

Por sua vez, não está indicado para mulheres na pré-menopausa, não gestantes,

diabéticas, idosas que morem em comunidades, pessoas com lesão medular e

pacientes cateterizados, enquanto estiverem com o cateter(15,21).

Pacientes indevidamente tratadas para bacteriúria assintomática podem

apresentar desfechos desfavoráveis como reações adversas ao antimicrobiano e

reinfecção com micro-organismos mais resistentes. Portanto, deve-se evitar o

tratamento dos indivíduos onde nenhum benefício foi evidenciado(21).

1.3. Estudo urodinâmico

A realização de alguns procedimentos urológicos podem determinar

traumatismo da mucosa do trato urinário e consequentemente desencadear um

processo infeccioso, sendo que 1% - 5% dos pacientes submetidos a um único

episódio de cateterização vesical apresentam bacteriúria(22).

O estudo urodinâmico (EUD) é definido pela International Continence Society

(ICS) e pela International Urogynecological Association (IUGA) como o estudo

funcional do trato urinário inferior(23).

O primeiro registro do estudo pressórico do trato urinário data de 1882,

realizado na França por Mosso, Pellacani*. Os autores apresentaram o "Le

Plètismografe", uma máquina capaz de registrar a pressão vesical durante a micção,

realizando assim a primeira cistometria(24).

*Mosso, Pellacani (1882) Apud Susset JG. Cystometry. In: Krane RJ, Siroky MB. Clinical neurology. 2ª ed. Boston: Little, Brown and Company; 1991. P. 163-84.

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15

Introdução

É um procedimento invasivo, utilizado nas áreas de ginecologia, urologia,

geriatria e pediatria, que envolve a cateterização uretral para avaliação de

disfunções do trato urinário inferior, como incontinência urinária de esforço,

incontinência urinária de urgência, obstrução infravesical e bexiga neurogênica. A

cateterização, apesar de ser realizada com técnica asséptica rigorosa, determina

uma maior suscetibilidade à ITU(22,25).

Segundo Hermieu (2007), na presença de incontinência urinária de esforço

sem nenhum outro sintoma clínico associado, a investigação urodinâmica não é

mandatória, mas pode ser útil para definir o prognóstico e fornecer informações a

respeito da função vesico-esfincteriana da paciente. Dessa forma, a urodinâmica é

reservada para os casos de pacientes com incontinência urinária recidivada após

tratamento cirúrgico, urgência urinária refratária ao tratamento inicial, incontinência

urinária grave, disfunções miccionais, diminuição da capacidade vesical, suspeita de

obstrução infra-vesical ou da diminuição da contratilidade vesical ou, ainda, falha

terapêutica(26).

O aparelho de urodinâmica deve ser instalado em um ambiente tranquilo, no

qual a paciente sinta-se confortável, tanto física quanto emocionalmente(27), pois,

para que os resultados sejam confiáveis, o exame deve reproduzir os sintomas da

paciente(28).

É recomendado descartar bacteriúria antes da realização do EUD(29), cuja

presença pode simular disfunções intrínsecas do trato urinário baixo, na forma de

urgência, hiperatividade do detrusor ou incontinência urinária de esforço(30).

Portanto, se a urocultura for positiva antes do EUD, o tratamento da bacteriúria deve

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16

Introdução

ser instituído e o exame postergado, para evitar resultados de cistometria falso-

positivos e, consequentemente, intervenções inadequadas(31).

A relação entre bacteriúria significante e alterações cistométricas foi

demonstrada por Bergman, Bhatia, (1985). Após realizar o tratamento da bacteriúria,

60% das pacientes que apresentavam hiperatividade detrusora confirmada pelo

EUD recuperaram a estabilidade vesical e 30% daquelas com incontinência urinária

de esforço tornaram-se continentes, após o tratamento(32).

Após a realização da cistometria, segundo a literatura, as taxas de incidência

de bacteriúria variam de 1,5% a 30%, motivo de divergência quanto à segurança do

exame(33,34).

O uso profilático de antibiótico, antes ou imediatamente após a realização da

avaliação urodinâmica, ainda é bastante controverso. Segundo Gürbüz et al (2013),

esta avaliação determina um pequeno aumento na prevalência de bacteriúria que,

entretanto, não justifica a antibioticoprofilaxia universal que pode determinar a

emergência de micro-organismos resistentes(34)

.

De acordo com Richard et al (2012), em revisão sistemática da Cochrane, a

antibioticoprofilaxia, após a realização do EUD em mulheres, é benéfica quando a

taxa de ITU do serviço em que foi realizado o exame é superior a 10%(22). Portanto,

cada instituição deve conhecer sua taxa de infecção, para poder estabelecer sua

política de antibioticoprofilaxia. Em caso de taxas superiores a 5%, o controle de

infecção deve ser revisado e a escolha do antibiótico para a profilaxia, baseada no

perfil local de sensibilidade(22).

Apoiados nestas observações e estando a avaliação urodinâmica incluída na

prática diária do setor de Uroginecologia e Cirurgia Vaginal da Santa Casa,

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17

Introdução

propusemos o presente estudo afim de identificar a incidência de bacteriúria e,

consequentemente a necessidade ou não de antibioticoprofilaxia; descrever o perfil

microbiológico, bem como a suscetibilidade antimicrobiana, em mulheres submetidas

ao EUD.

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2. OBJETIVOS

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Objetivos

Após a realização do Estudo Urodinâmico em mulheres:

1. Definir a incidência de bacteriúria e consequentemente a necessidade de

antibioticoprofilaxia.

2. Identificar os fatores de risco para bacteriúria.

3. Identificar os principais agentes etiológicos e o perfil de sensibilidade

microbiana.

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3. CASUÍSTICA E MÉTODO

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Casuística e Método

3.1. Casuística

Foi realizado um estudo de coorte prospectivo, unicêntrico, envolvendo 257

mulheres selecionadas para serem submetidas ao estudo urodinâmico, no

Ambulatório de Uroginecologia e Cirurgia Vaginal do Ambulatório de Especialidades

“Dr. Geraldo Bourroul”, do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia (DOGI) do

Hospital Central da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo

(ISCMSP), no período de Junho de 2013 a Junho de 2014.

Os critérios de inclusão foram: mulheres de qualquer faixa etária, portadoras

de incontinência urinária com indicação de investigação urodinâmica, portadoras de

distopia genital em avaliação para incontinência urinária oculta e portadoras de

dificuldade no esvaziamento vesical.

Pacientes que apresentavam infecção do trato urinário, bacteriúria

significante, uso de sonda vesical de demora, realizando cateterismo vesical

intermitente, uso de antibiótico nos últimos 15 dias, gestantes, portadoras de bexiga

neurogênica ou que não aceitaram participar do estudo, não foram incluídas.

Todas as participantes foram orientadas a respeito do estudo urodinâmico e

da coleta das amostras de urina. O termo de consentimento livre e esclarecido foi

lido e assinado pela paciente, após todas as dúvidas serem dirimidas, ficando uma

via do documento em poder da mesma (Apêndice 1).

O estudo foi aprovado e acompanhado pelo Comitê de Ética em Pesquisa

em Seres Humanos da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, tendo recebido o

registro CAAE nº 14108813.1.0000.5479 (Apêndice 2).

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22

Casuística e Método

3.2. Método

No dia do exame, as pacientes foram interrogadas a respeito de queixas

urinárias e tiveram os resultados dos exames de urina tipo 1 e da urocultura,

colhidas no período máximo de 7 dias, avaliados. Estando sem queixas, com a

urocultura sem bacteriúria significante (≥ 105 UFC/mL de um único micro-organismo)

e tendo aceitado participar do trabalho, as pacientes foram então, orientadas a

coletar uma nova amostra de urina, naquele dia e esclarecidas a respeito da

necessidade de realizarem mais uma coleta 3 - 5 dias após a realização do EUD.

Foram consideradas positivas as culturas com mais de 100.000 UFC/mL de

um único micro-organismo isolado.

Todas as amostras de urina foram obtidas pela própria paciente, após

orientações sobre a higienização vulvar e a forma adequada de coletar a urina, no

recipiente estéril.

Os exames coletados no dia do EUD foram analisados pelo Laboratório de

Microbiologia da Santa Casa de São Paulo. No entanto, nem todos os exames

utilizados para análise antes e após o EUD foram realizados por este mesmo

laboratório, uma vez que algumas pacientes não conseguiam se deslocar até o

Ambulatório de Especialidades "Dr. Geraldo Bourroul", para realizar a coleta, dando

preferência por laboratórios mais próximos de sua residência. As pacientes que não

realizaram a coleta após o EUD na Santa Casa, foram contatadas por telefone para

lerem os resultados e, quando possível, enviarem-no por e-mail.

Antes do início do EUD, foi preenchida ficha com dados referentes à

anamnese e exame físico especializado, com os seguintes itens: idade, índice de

massa corporal (IMC), paridade, condição menopausal, vida sexual, comorbidades,

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Casuística e Método

cirurgia prévia para incontinência urinária, cirurgia prévia do assoalho pélvico,

infecção do trato urinário de repetição, queixa atual, distopia genital e teste de

esforço (Apêndice 3).

O estudo urodinâmico, com avaliação da urofluxometria, cistometria e estudo

fluxo/pressão era realizado no aparelho de urodinâmica Uranus® (Alacer Biomédica

Ltda, São Paulo, Brasil).

A urofluxometria era realizada antes de qualquer manipulação na paciente, à

qual era solicitado que, estando com a bexiga confortavelmente cheia, urinasse em

um fluxômetro conectado a computador que, a partir dos sinais recebidos, gerava a

curva a ser analisada.

Uma vez realizada a urofluxometria, a paciente era colocada em posição

ginecológica e submetida à desinfecção vulvar, do meato uretral externo e da região

perineal, com solução aquosa de Clorexidine 2%. Mantendo os pequenos lábios

separados, era realizado cateterismo vesical com uma sonda uretral nº 6Fr,

devidamente preenchida com soro fisiológico, para aferição da pressão vesical e

outra nº 8Fr, para infusão de solução salina estéril, à temperatura ambiente. Todas

as sondas eram previamente lubrificadas com lidocaína gel 2%, estéril.

Uma sonda retal nº 10Fr com balão, previamente lubrificada, era introduzida

via retal, para monitorar a pressão intra-abdominal e, a seguir, o balão era

preenchido com 5 mL de soro fisiológico.

Em sequencia, a paciente era posicionada na cadeira com o fluxômetro, os

cateteres de pressão conectados aos transdutores e o cateter de infusão conectado

ao equipo da solução salina. O conjunto dos transdutores era posicionado ao nível

da sínfise púbica da paciente e o equipamento calibrado.

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24

Casuística e Método

O exame era realizado com a paciente na posição sentada, conforme

padronização do nosso serviço(35) e de acordo com as recomendações da ICS(28).

Finalizado o exame, as pacientes eram orientadas quanto à possibilidade do

aparecimento de sintomas irritativos e da necessidade de ingerir bastante líquido.

Também eram alertadas de que deveriam procurar o serviço ou entrar em contato

com a pesquisadora, caso não houvesse melhora espontânea dos sintomas ou

apresentassem febre, disúria, dor suprapúbica, ou complicações decorrentes da

cateterização, como hematúria.

Após 3 - 5 dias as pacientes coletaram nova amostra de urina.

Decorrida uma semana da realização do EUD, a pesquisadora entrava em

contato, por telefone, com todas as pacientes para informar o resultado do exame

que foi coletado depois do EUD e para interrogar a respeito de queixas

apresentadas após o mesmo. As pacientes que não coletaram a urina na Santa

Casa informavam o resultado dos exames por telefone ou por e-mail. Quando na

primeira ligação ainda não havia resultado dos exames, novo contato era realizado

posteriormente.

As pacientes com mais de 100.000 UFC/mL sem sintomas, foram

classificadas como portadoras de bacteriúria significante e as que apresentaram

sintomas, portadoras de ITU.

Todas as pacientes portadoras de bacteriúria significante tiveram nova

amostra de urina coletada uma semana após a última coleta, para avaliar se a

bacteriúria era persistente e assintomática ou transitória. Todas as pacientes do

grupo ITU foram devidamente tratadas, com base no resultado do antibiograma.

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Casuística e Método

3.3. Análise microbiológica

Os coletores universais estéreis com urina eram mantidos por até duas

horas a temperatura ambiente e após este período, refrigerados à temperatura entre

2ºC e 8ºC.

Os recipientes eram encaminhados ao laboratório de microbiologia onde

após homogeneização, com o auxílio de alça calibrada de 0,01 µL estéril, eram

semeados em meio cromogênico para identificação de patógenos urinários (CPS

ID3, bioMérieux, Inc., Durham, Carolina do Norte, USA).

O meio cromogênico era incubado por até 48 horas a 35ºC ± 2ºC em estufa.

As placas eram analisadas diariamente, para o acompanhamento do crescimento

bacteriano. Os crescimentos bacterianos foram quantificados em UFC/mL e

seguiram a rotina laboratorial pré-definida para identificação dos agentes isolados e

realização dos testes de suscetibilidade.

A utilização de meios cromogênicos permite a identificação direta, ou seja,

sem a necessidade de provas biquímicas, de algumas espécies, pois o crescimento

apresenta diferentes cores que se relacionam com a espécie bacteriana isolada. O

Agar CPS permite identificar as espécies: (i) Escherichia coli, (colônia rosa a bordô),

(ii) Proteus mirabilis (colônia marrom escura e indol negativo) – as cepas indol

positivo podem ser Proteus vulgaris, Morganella spp ou Providência spp e

necessitam de outras provas para diferenciação e (iii), Enterococcus spp formam

colônias turquesa.

Quando não é possível diferenciar por meio da coloração desenvolvida, ou há

necessidade de testes complementares, as rotinas estabelecidas pelo laboratório

são baseadas na propriedade morfotintorial observada na coloração de Gram.

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Casuística e Método

Sucintamente, a rotina para Gram positivos é o teste de catalase realizado com a

finalidade de diferenciar Staphylococcus spp e Streptococcus spp. Os

Staphylococcus spp passam pelo teste da coagulase que diferencia Staphylococcus

aureus de Staphylococcus coagulase negativa. Os Staphylococcus coagulase

negativa, por meio do disco difusão da novobiocina, diferenciam-se em

Staphylococcus saprophyticus ou outros coagulase negativas. Os Streptococcus spp

ou Enterococcus spp têm sua identificação norteada de acordo com a hemólise,

associada aos testes de sensibilidade à optoquina ou à bacitracina e CAMP Test, se

necessários. As colônias de Gram negativos são identificadas por série bioquímica

(Enterobactérias) e no caso dos não fermentadores de glicose, por kit com provas

apropriadas para estas espécies.

O teste de suscetibilidade era feito de acordo com o CLSI (Clinical

Laboratory Standards Institute) vigente e os antimicrobianos testados também

seguiram a padronização preconizada por esse órgão para as diferentes espécies

de bactérias. O teste de suscetibilidade era realizado por meio da técnica de disco

difusão, exceto para vancomicina, para a qual é utilizado o método de concentração

inibitória mínima (CIM).

Nos dois métodos, aproximadamente 3 a 4 UFC eram utilizadas e

suspendidas em meio Caldo TSB, Caldo BHI ou salina, até que o inóculo

equivalente a 0,5 da escala de McFarland (1,5 x108 UFC/mL) fosse alcançado. A

partir do ajuste visual, em comparação com a escala padrão, o inóculo era semeado

em Agar Mueller Hinton ou Mueller Hinton Sangue, com a ajuda de um swab, e os

discos impregnados com antimicrobiano ou a fita de Etest® colocados na superfície

do meio, com o auxílio de uma pinça. Após incubação de 24 horas, os diâmetros dos

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27

Casuística e Método

halos de inibição foram medidos e interpretados de acordo com os padrões de cada

antimicrobiano determinados pelo CLSI vigente.

A concentração inibitória mínima (CIM) era determinada pelo método do

Etest® (bioMérieux, França) que consiste em fita plástica inerte impregnada com

antimicrobiano em diferentes concentrações. A CIM para o antimicrobiano é

determinada pela leitura do ponto de encontro onde se forma um halo elíptico.

Os antimicrobianos utilizados para testar os agentes isolados seguiam as

recomendações do CLSI e padrões do laboratório de microbiologia:

Staphylococcus spp: Penicilina, Oxacilina, Cefoxitina, Eritromicina,

Trimetoprim-Sulfametoxazol, Clindamicina, Vancomicina (CIM), Cloranfenicol,

Ciprofloxacina, Gentamicina, Tetraciclina, Teicoplanina, Nitrofurantoína e

Norfloxacina;

Enterococcus spp: Penicilina, Ampicilina, Vancomicina, Teicoplanina,

Gentamicina, Estreptomicina, Tetraciclina, Eritromicina, Cloranfenicol, Linezolida,

Nitrofurantoína, Norfloxacina e Ácido Nalídixico;

Bacilos Gram negativos (Enterobactérias): Ampicilina, Cefazolina, Cefalotina,

Gentamicina, Amicacina, Amoxacilina + Ácido Clavulânico, Cefuroxima, Cefepima,

Cefoxitima, Cefotaxima, Ciprofloxacina, Imipenem, Meropenem, Trimetoprim-

sulfametoxazol, Ceftazidima, Aztreonam, Cloranfenicol, Tetraciclina, Tobramicina,

Nitrofurantoína, Norfloxacina e Ácido Nalídixico;

Bacilos Gram negativos não fermentadores de glicose: Ceftazidima,

Gentamicina, Amicacina, Aztreonam, Cefepima, Ciprofloxacina, Ampicilina

Sulbactam, Imipenem, Meropenem, Tobramicina, Cefotaxima, Ticarcilina + Ácido

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28

Casuística e Método

Clavulânico, Cloranfenicol, Polimixina, Piperacilina Tazobactam, Trimetoprim-

Sulfametoxazol e Norfloxacina.

O controle de qualidade do teste de suscetibilidade foi realizado com as

cepas padrões (Pseudomonas aeruginosa ATCC 27853, Escherichia coli ATCC

25922, Staphylococcus aureus ATCC 25923). O padrão de referência adotado para

estes testes foi o utilizado no laboratório e seguiu os critérios internacionais do CLSI.

3.4. Análise estatística

A variável de desfecho principal foi a detecção de bacteriúria em mulheres

submetidas ao estudo urodinâmico. O desfecho secundário foi a diferenciação entre

bacteriúria sintomática e assintomática, após o exame. Também foram identificados

os fatores de risco associados à bacteriúria.

Para o cálculo amostral, utilizando como variável de desfecho primário a

presença ou não de bacteriúria, foram utilizadas as variáveis qualitativas: vida

sexual, condição menopausal, ITU de repetição e distopia genital, que são as que

mais interferem no desfecho primário. Considerando um nível de significância de

5% (α=0,05) e poder de 80% (β=0,80), definiu-se uma amostra de 220 participantes

no total. Antecipando uma perda de seguimento de 15%, foram incluídas 257

pacientes no estudo.

Para a descrição das variáveis qualitativas, foram utilizadas as frequências

absolutas (n) e relativas (%) e nas quantitativas, a média, a mediana e o desvio

padrão.

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29

Casuística e Método

Para o cálculo da associação entre as variáveis qualitativas, foram

empregados o teste de ANOVA e o teste de igualdade de duas proporções. O

cálculo do odds ratio e o intervalo de confiança de 95% foram calculados para todos

os desfechos. Todos os valores do p foram bicaudais e o nível de significância

estatística foi de p<0,05. Para a análise dos fatores de risco associados à presença

de bacteriúria, foi realizada análise multivariada com regressão logística múltipla. Em

todas as análises, foi utilizada a versão 17.0 do programa estatístico SPSS e Minitab

16.

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30

4. RESULTADOS

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31

Resultados

Dados Demográficosb

Análise Bivariada Análise Multivariada

Mulheres com bacteriúria

( n=27 )

Mulheres sem bacteriúria ( n=205 )

ORc (ICd 95%)

pe

OR (IC 95%)

p

Idade (média [variação]) 60 (41 - 83) 56 (26 - 84) - 0,062 - - IMCf (média [variação]) 30,6 (23,2–43,6) 28,8 (16–53,3) - 0,089 1,10 (1,01-1,20) 0,025 Paridade (média[variação]) 4,2 (0 - 10) 3,6 (0 - 13) - 0,152 - - - Características clínicas (n. [%])

Cirurgia prévia para Incontinência urinária

4 (14,8) 27 (13,2) 1,15 (0,37-3,57) 0,813 - -

Dislipidemia 5 (18,5) 25 (12,2) 1,64 (0,57-4,71) 0,357 - - Diabetes mellitus 7 (25,9) 40 (19,5) 1,44 (0,57-3,65) 0,436 - - Hipertensão arterial 15 (55,6) 84 (41) 1,80 (0,80-4,04) 0,150 - - Hipotireoidismo 6 (22,2) 15 (7,3) 3,62

(1,27-10,33) 0,011 3,44 (1,03-11,43) 0,044

ITUg repetição 2 (7,4) 16 (7,8) 0,95 (0,21-4,36) 0,942 - -

Menopausa 20 (74,1) 126 (61,5) 1,79 (0,72-4,43) 0,202 - - Vida sexual ativa 16 (59,3) 121 (59) 1,01 (0,45-2,28) 0,981 - - Distopia genital estádio III/IV

8 (29,6) 24 (11,7) 3,18 (1,25-8,04) 0,011 3,67 (1,21-11,08) 0,021

Todas as 257 mulheres foram submetidas ao EUD. Foram excluídas 22 por

ausência de coleta de amostra de urina após o exame e três pela presença de

bacteriúria no momento da realização do EUD. Duzentos e trinta e duas (90%)

mulheres foram analisadas, apresentando média de idade de 56 (26 - 84) anos.

Das 232 mulheres, 27 (12%) apresentaram urocultura com crescimento

bacteriano significante, após EUD. Destas, 17 tiveram bacteriúria transitória e 10

bacteriúria sintomática, caracterizando ITU. Não houve nenhum caso de bacteriúria

assintomática. Portanto, a incidência de ITU após o EUD foi de 4,3% (IC 95% 1,6% -

6,9%) e de bacteriúria transitória de 7,3% (IC 95% 4,0% - 10,6%).

As Tabelas 1 e 2 apresentam os dados demográficos e as características

clínicas das 232 mulheres com presença e ausência de bacteriúria e ITU após EUD,

respectivamente.

TABELA 1: Características clínicas e demográficas das 232 mulheres com presença

e ausência de bacteriúria após EUDa

a EUD: estudo urodinâmico;

b Todas as porcentagens são em relação ao número de mulheres com e sem

bacteriúria; c

OR: Odds Ratio; d

IC: intervalo de confiança; e

Todas as características das pacientes foram descritas como frequência e porcentagem ou média e desvio padrão, sendo comparadas utilizando o teste ANOVA. Todos os testes foram bicaudais e o p-valor <0,05 foi considerado estatisticamente significante;

f

IMC: índice de massa corporal; g ITU: infecção do trato urinário.

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32

Resultados

Dados Demográficosb

Análise Bivariada Análise Multivariada

Mulheres com ITU

( n=10 )

Mulheres sem ITU

( n=222 )

OR

c (IC

d 95%)

p

e

OR (IC 95%)

p

Idade (média [variação]) 58,6 (41 - 78) 56,1 (26 - 84) - 0,487 - - IMC

f (média [variação]) 31,8(24,7– 43,6) 28,9 (16–53,3) - 0,087 1,16 (1,01-1,32) 0,029

Paridade (média[variação]) 4,3 (1 - 9) 3,6 (0 - 13) - 0,344 - - - Características clínicas (n. [%])

Cirurgia prévia para Incontinência urinária

2 (20) 29 (13,1) 1,66 (0,34-8,22) 0,528 - -

Dislipidemia 2 (20) 28 (12,6) 1,73 (0,35-8,57) 0,496 - - Diabetes mellitus 4 (40) 43 (19,4) 2,78(0,75-10,27) 0,112 - - Hipertensão arterial 5 (50) 94 (42,3) 1,36 (0,38-4,84) 0,632 - - Hipotireoidismo 2 (20) 19 (8,6) 2,67(0,53-13,49) 0,217 - - ITU

g repetição 0 ( 0 ) 18 (8,1) -x-

h 0,348 - -

Menopausa 7 (70) 139 (62,6) 1,39 (0,35-5,54) 0,636 - - Vida sexual ativa 7 (70) 130 (58,6) 1,65 (0,42-6,55) 0,472 - - Distopia genital estádio III/IV

3 (30) 29 (13,1) 0,5 (0,09-1,43) 0,129 - -

TABELA 2: Características clínicas e demográficas das 232 mulheres com presença

e ausência de ITUa após EUDb

a ITU: infecção do trato urinário;

b EUD: Estudo urodinâmico;

c Todas as porcentagens são em relação ao

número de mulheres com e sem infecção urinária; d

OR: Odds Ratio; e

IC: intervalo de confiança; f p: Todas as

características das pacientes foram descritas como frequência e porcentagem ou média e desvio padrão, sendo comparadas utilizando o teste ANOVA. Todos os testes foram bicaudais e o p-valor <0,05 foi considerado estatisticamente significante;

g IMC: índice de massa corporal;

h não foi possível aplicar nenhum

teste estatístico.

As mulheres que desenvolveram bacteriúria após o EUD tinham idade mais

avançada, com média de 60 anos, variando de 41 a 83 (±11,7) anos, comparado ao

outro grupo, cuja média de idade foi de 55,7 anos, variando de 26 a 84 (±11,1) anos.

No entanto, não houve diferença estatisticamente significante entre os grupos.

Observou-se, também, que as mulheres com hipotireoidismo (p=0,011) e distopia

genital com estádio mais avançado (p=0,011) apresentaram mais bacteriúria.

Dentre as mulheres que apresentaram ITU não se observou nenhuma

característica que apresentasse significância estatística, quando comparado ao

grupo que não apresentou ITU. No entanto, as mulheres eram mais idosas (59 anos

x 56 anos) e apresentaram IMC mais elevado (31,8 kg/m2 x 28,9 kg/m2).

Na análise multivariada com regressão logística, foram identificadas três

variáveis como fatores de risco para bacteriúria: hipotireoidismo (p=0,044), IMC

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33

Resultados

(p=0,025) e distopia genital (p=0,021) (Tab. 1). Para ITU foi identificada a variável

IMC (p = 0,029, OR 1,16, IC 95% 1,01 - 1,32) como fator de risco.

Sintomas irritativos, principalmente desconforto ao urinar, foram observados

em 122 (52%) mulheres, tendo cessado espontaneamente em média de 1,5 (1 - 5)

dias em 108 (89%) delas. Quatorze mulheres necessitaram de suporte terapêutico

para alívio dos sintomas, sendo 10 (8%) tratadas com antibiótico para ITU e 4 (3%),

com analgésicos.

Nas culturas de urina das 27 mulheres com bacteriúria significante após o

EUD, houve crescimento de apenas um micro-organismo, com identificação de

Enterobactérias do tipo Klebsiella sp. em 8 (30%) amostras, Escherichia coli em 7

(26%), Proteus sp. em 7 (26%), Citrobacter sp. em 3 (11%). Pseudomonas

aeruginosa e Candida sp. foram identificadas em 1 (4%) amostra cada um (Fig. 1).

Dentre as vinte e sete mulheres, dez desenvolveram ITU, com identificação de

Escherichia coli em 4 (40%) casos e, Klebsiella sp., Citrobacter sp. e Proteus sp. em

2 (20%) casos cada um destes (Fig. 2).

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34

Resultados

FIGURA 1: Distribuição dos micro-organismos identificados nas culturas de urina

das pacientes após o estudo urodinâmico.

FIGURA 2: Distribuição dos micro-organismos identificados nas culturas de urina

das pacientes com infecção urinária após o estudo urodinâmico.

Em relação ao perfil de sensibilidade desses micro-organismos aos

antibióticos mais utilizados na prática clínica diária (sulfametoxazol/trimetoprim,

nitrofurantoína, norfloxacino e ciprofloxacino), observou-se que 100% das amostras

com crescimento de Klebsiella sp. eram sensíveis ao sulfametoxazol/trimetoprim,

norfloxacino e ciprofloxacino e apenas 50% sensível à nitrofurantoína. As amostras

com Escherichia coli apresentaram 100% de sensibilidade à nitrofurantoína e 71,5%

de sensibilidade ao sulfametoxazol/trimetoprim, norfloxacino e ciprofloxacino. Com

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35

Resultados

relação ao Proteus sp. 100% das amostras mostraram-se resistentes à

nitrofurantoína, 100% sensíveis ao sulfametoxazol/trimetoprim e ao norfloxacino e

86% sensíveis ao ciprofloxacino. O Citrobacter sp. apresentou 100% das amostras

sensíveis ao ciprofloxacino e norfloxacino, 67% à nitrofurantoína e 33% ao

sulfametoxazol/trimetoprim. No perfil de sensibilidade testado para Pseudomonas

aeruginosa foi incluído, dentre os antibióticos anteriormente citados, apenas

norfloxacino e ciprofloxacino, ambos sensíveis. O perfil de sensibilidade global das

Enterobactérias mostrou 92,3% de sensibilidade ao norfloxacino, 88,5% ao

ciprofloxacino, 84% ao sulfametoxazol/trimetoprim e 52% à nitrofurantoína (Fig. 3).

FIGURA 3: Perfil de sensibilidade das Enterobactérias, identificadas nas culturas

de urina após o estudo urodinâmico, aos antibióticos

sulfametoxazol/trimetoprim, nitrofurantoína, norfloxacino,

ciprofloxacino.

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36

5. DISCUSSÃO

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37

Discussão

A literatura mostra claramente que a manipulação uretral pode determinar

aumento no risco de desenvolvimento de ITU(36,37), com a taxa de infecção após o

EUD variando de 3% - 20%(38,39).

Alguns estudos(33,40,41) mostram que a história natural da bacteriúria não é

completamente conhecida, no entanto foi observado que ela pode ser introduzida no

momento da manipulação ou pode resultar de pequenos traumas causados na

mucosa uretral pela cateterização, que tornam o trato urinário suscetível à infecção

tardia. A bacteriúria relacionada ao EUD é, na maioria das vezes, assintomática e

transitória(42,43,44).

No presente estudo, a incidência de bacteriúria significante foi de 11,6%,

sendo 7,3% de bacteriúria transitória e 4,3% de ITU, 3 a 5 dias após o EUD. Não

houve nenhum caso de bacteriúria assintomática. Isso caracteriza uma incidência

baixa de infecção após a realização do EUD, com a maioria dos casos de bacteriúria

apresentando caráter transitório e sem repercussão clínica. Todas as pacientes

avaliadas apresentavam urocultura negativa antes da urodinâmica, sugerindo que os

casos de bacteriúria foram decorrentes da cateterização uretral.

Taxas de complicações urinárias infecciosas após o EUD foram descritas

por Choe et al (2007)(40) com 6,2% de bacteriúria significante, sendo 2,9% de ITU, 3

a 7 dias após o EUD; e por Bombieri et al (1999)(33) com incidência de 8% de

bacteriúria, e somente 0,5% de ITU. Entretanto, Quek, Tay (2004)(43) evidenciaram

taxas de 14% de bacteriúria significante, com 2% de ITU, 7,6% de bacteriúria

transitória e 4,6% de bacteriúria persistente, 3 a 7 dias após o EUD; e Tsai et al

(2013)(39) e Okorocha et al (2002)(36) demonstraram taxas elevadas com 20% de ITU,

2 - 3 dias e 3 - 7 dias após EUD, respectivamente. Esta discrepância nas taxas de

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38

Discussão

bacteriúria e ITU em mulheres após realizar o EUD pode ser decorrente das

diferenças no tempo de coleta da amostra de urina após o exame, da diferença de

idade entre os pacientes, da diferença na técnica de cateterização vesical, ou ainda

das diferenças entre as populações estudadas(33,36). Nossos achados estão dentro

do esperado para as complicações após EUD.

Com relação aos sintomas irritativos induzidos pelo EUD, Quek, Tay

(2004)(43) relataram esses sintomas em 25% das pacientes, com resolução

espontânea após cinco dias, em média. Bombieri et al (1999)(33) descreveram uma

incidência de sintomas irritativos após o exame em 34% das pacientes, com

resolução espontânea em 2 dias. Em nossa amostra, metade das pacientes

analisadas apresentou sintomas irritativos, porém, a maioria evoluiu para resolução

espontânea dos sintomas. Os achados estão de acordo com a literatura, segundo a

qual os sintomas irritativos são frequentes após o EUD. No entanto, eles são leves,

transitórios e apresentam uma pobre correlação com o desenvolvimento de

bacteriúria, podendo afetar 34% - 60% das pacientes submetidas ao exame(33,37,43).

A identificação dos fatores de risco associados ao desenvolvimento de

bacteriúria após a realização do EUD é de fundamental importância para melhor

orientação das pacientes, que devem ser aconselhadas a respeito da maior

predisposição ao desenvolvimento de bacteriúria e ITU após o exame. Fatores de

risco para estas complicações após o EUD tem sido descritos, como idade

avançada(33,42), ITU de repetição e cirurgia prévia para correção de incontinência

urinária(25,40). Em nosso estudo identificamos como fatores de risco para o

desenvolvimento de bacteriúria após o EUD, o hipotireoidismo, IMC elevado

(>30kg/m2) e distopia genital avançada. Entretanto, para ITU após EUD, somente a

presença de IMC elevado, foi identificado.

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39

Discussão

Bombieri et al (1999)(33), Yip et al (2004)(25) e Dass et al (2013)(42)

descreveram que a idade avançada é um fator de risco bem definido para bacteriúria

relacionada à cateterização vesical. No entanto, em nosso trabalho não houve

correlação estatística ente idade avançada e bacteriúria e ITU após EUD.

Neste estudo, identificamos, tanto na análise bivariada quanto na análise

multivariada, que existe uma associação entre a presença do hipotireoidismo e o

aparecimento de bacteriúria após o EUD. No entanto, não podemos inferir que se

trata de associação de causa-efeito, uma vez que avaliar esse tipo de relação não

foi objetivo deste trabalho. Além disso, não encontramos relatos na literatura que

corroborem esses achados. Portanto, para determinar o quanto o hipotireoidismo

contribui para o surgimento de complicações infecciosas após o EUD, investigações

mais apropriadas são necessárias.

Em relação à distopia genital, observou-se que as pacientes que apresentam

prolapso genital mais avançado (estádios III e IV) têm mais chance de desenvolver

bacteriúria. Este fator pode ser justificado pelo fato de estas pacientes, na maioria

das vezes, apresentarem disfunção miccional com esvaziamento vesical incompleto

e consequente volume residual aumentado, o que determina maior chance de

infecção urinária(45).

Quanto ao IMC, Semins et al (2012)(46) descreveram que existe maior

associação entre pacientes com IMC elevado e o desenvolvimento de ITU. No

entanto, a fisiopatologia desta associação ainda não está esclarecida, devido à

escassez de trabalhos a ela direcionados. Em nosso estudo, foi observado IMC

médio maior do que 30 Kg/m2 nas mulheres com bacteriúria e ITU.

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40

Discussão

O espectro de micro-organismos isolados nas culturas de urina com

bacteriúria após EUD foi discordante do apresentado por outros autores, já que em

nosso trabalho Klebsiella sp. foi o patógeno mais frequente, seguido de Escherichia

coli, Proteus sp. e Citrobacter sp.. Bombieri et al (1999)(33), Quek, Tay (2004)(43) e

Yip et al (2004)(25) descreveram a predominância de Escherichia coli em bacteriúria e

ITU respectivamente, seguidas por outras Enterobactérias como Klebsiella sp..

Neste estudo, Escherichia coli foi o patógeno mais identificado nas mulheres com

ITU após o EUD, concordante com os dados da literatura publicados

anteriormente(25,34,40,47).

O perfil de sensibilidade das infecções comunitárias como ITU, causadas por

Enterobactérias (Escherichia coli e Klebsiella sp.) tem se modificado nas últimas

décadas, mostrando aumento significativo de patógenos que expressam as beta-

lactamases de amplo espectro (ESBL)(12). Salles et al (2013), demostraram

recentemente que em países da América Latina, incluindo o Brasil, há crescente

prevalência de ITU causada por Escherichia coli resistentes à

sulfametoxazol/trimetoprim, quinolonas e cefalosporinas de segunda geração e

baixas taxas de resistência à nitrofurantoína, fosfomicina e aminoglicosídeos(12). Em

nosso estudo, o perfil de sensibilidade global das Enterobactérias foi bastante

variável, apresentando maior resistência à nitrofurantoína e boa sensibilidade para

sulfametoxazol/trimetoprim e quinolonas. Entretanto, Proteus sp. demonstrou total

resistência à nitrofurantoína, enquanto que Klebsiella sp. e Citrobacter sp.

apresentaram níveis de sensibilidade intermediária à nitrofurantoína. Escherichia coli

já demonstra taxas preocupantes de resistência às quinolonas e

sulfametoxazol/trimetoprim. Dados semelhantes foram encontrados em estudo de

prevalência populacional brasileiro em 2009, no qual a sensibilidade da Escherichia

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41

Discussão

coli à sulfametoxazol/trimetoprim foi de 66%, às fluoroquinolonas de 82% e à

nitrofurantoína de 96%(12).

Em recente revisão da Cochrane que avaliou o impacto da profilaxia

antibiótica após EUD para redução das complicações infecciosas, concluiu que essa

medida reduziu a incidência de bacteriúria significante, no entanto, não houve

redução nas taxas de ITU(22). Lowder et al (2007) concluiram que a administração da

profilaxia antibiótica é benéfica apenas nos casos em que a taxa de ITU da

instituição for maior que 10%(48). Cada instituição deve mensurar suas taxas de

complicações urinárias infecciosas após o EUD e discutir com os infectologistas a

melhor política de profilaxia antibiótica quando houver taxas elevadas de infecção(48).

Em nosso serviço a incidência de ITU foi baixa e não justifica a adoção de medidas

de profilaxia antibiótica de rotina para as mulheres que realizarem EUD. Como existe

a possibilidade de ITU tardia, todas as mulheres com fator de risco deverão ser

alertadas quanto à possibilidade de ITU após o exame. No caso de IMC elevado, a

indicação da profilaxia parece ser adequada, porém deverá ser respaldada por

estudos mais direcionados.

Nosso estudo apresentou algumas limitações, dentre elas podemos citar o

tempo no qual a amostra após o EUD foi coletada, que variou entre 3 a 5 dias.

Coletas após 7 dias podem identificar casos de complicações urinárias infecciosas

mais tardias, podendo aumentar a incidência dessas complicações. No entanto,

ainda não existe consenso na literatura a respeito de qual o melhor momento para

realizar a coleta. Outra limitação deve-se ao fato de terem as amostras de urina sido

coletadas pela própria paciente. Apesar de recebidas recomendações a respeito da

desinfecção da região genital, as pacientes não foram acompanhadas por

profissional da área da saúde para maior controle a respeito da contaminação da

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42

Discussão

amostra. Outro viés do estudo deve-se ao fato de que nem todas as amostras

coletadas após o EUD foram avaliadas pelo laboratório da Santa Casa, podendo ter

ocorrido diferença na padronização da realização da urocultura.

Concluindo, o EUD é um procedimento seguro, que determinou baixa

incidência de ITU. Os resultados por nós obtidos estão de acordo com os

apresentados em outros artigos publicados(37,40,41). Todas as mulheres submetidas

ao EUD devem ser estimuladas a aumentar a ingestão de líquidos e alertadas a

respeito da possibilidade de infecção urinária após o procedimento(33,37). Além disso,

boas práticas de antissepsia são imprescindíveis(43).

Sugerimos a realização de estudos prospectivos randômicos para

determinar a eficácia, segurança e melhor droga para profilaxia antibiótica nas

pacientes de alto risco. Além de estudos que possam determinar a relação causa-

efeito dos fatores predisponentes às complicações infecciosas após o EUD, como o

hipotireoidismo e IMC elevado.

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6. CONCLUSÕES

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Conclusões

1. Após o EUD, a incidência de bacteriúria significante foi de 11,6%, sendo

4,3% de ITU e 7,3% de bacteriúria transitória. Portanto, a

antibioticoprofilaxia foi considerada desnecessária nas condições da nossa

estrutura de trabalho.

2. Pacientes portadoras de hipotireoidismo, IMC acima de 30Kg/m2 e distopia

genital avançada apresentam maior predisposição para o desenvolvimento

de bacteriúria.

3. Os agentes etiológicos predominantes foram as Enterobactérias Klebsiella

sp., Escherichia coli, Proteus sp., Citrobacter sp.. O perfil de sensibilidade

global desses micro-organismos mostrou 92,3% de sensibilidade ao

norfloxacino, 88,5% ao ciprofloxacino, 84% ao sulfametoxazol/trimetoprim

e 52% à nitrofurantoína.

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45

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Referências Bibliográficas

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RESUMO

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Resumo

Nóbrega MM. Bacteriúria em mulheres após estudo urodinâmico: fatores de risco e

análise microbiológica. Dissertação (Mestrado). 2015.

Introdução: Poucos estudos anteriores avaliaram as complicações infecciosas do

trato urinário após a realização do estudo urodinâmico (EUD) em mulheres.

Objetivo: Definir a incidência de bacteriúria e a necessidade de antibioticoprofilaxia

antes do EUD em mulheres. Avaliar os fatores de risco, identificar os micro-

organismos e perfil de sensibilidade em bacteriúria e infecção do trato urinário (ITU)

após o EUD em mulheres. Casuística e Método: Foi realizado um estudo de coorte

prospectivo, unicêntrico, envolvendo 257 mulheres, no ambulatório de

Uroginecologia e Cirurgia Vaginal da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. As

amostras de urina foram coletadas 7 dias antes, no dia e 3 - 5 dias após a

urodinâmica. Foram consideradas positivas as uroculturas que apresentaram

crescimento com mais de 100.000 UFC/mL. Todas as pacientes foram submetidas

ao EUD. Resultados: A incidência de bacteriúria após o EUD foi de 11,6%, sendo

4,3% de ITU e 7,3% de bacteriúria transitória. Na análise multivariada, o

hipotireoidismo (p=0,044), IMC acima de 30Kg/m2 (p=0,025) e distopia genital

avançada (p=0,021) foram identificados como fatores de risco para bacteriúria e,

apenas IMC acima de 30Kg/m2 (p=0,029) foi fator de risco para ITU. As

Enterobactérias (Klebsiella sp., Escherichia coli, Proteus sp., Citrobacter sp.) foram

os micro-organismos mais prevalentes dentre as pacientes com bacteriúria,

apresentando 92,3% de sensibilidade ao norfloxacino, 88,5% ao ciprofloxacino, 84%

ao sulfametoxazol/trimetoprim e 52% à nitrofurantoína. Conclusões: A incidência de

ITU após EUD foi baixa (4,3%), sendo portanto, desnecessária profilaxia antibiótica

de rotina, nesse serviço.

Palavras-chave: Urodinâmica. Mulheres. Bacteriúria. Infecção. Sistema Urinário.

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ABSTRACT

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Abstract

Nóbrega MM. Bacteriuria and Urinary Tract Infection after female urodynamic

studies: risk factors and microbiological analysis. Master Dissertation. 2015.

Introduction: Few studies have assessed the infectious complications of the urinary

tract after conducting urodynamic studies (UDS) in women. Objective: To define

incidence of bacteriuria and use of routine antibiotic prophylaxis before UDS in

women. To evaluate the risk factors and identify the microorganisms and sensitivity

profile of bacteriuria and urinary tract infection (UTI) after UDS in women. Sample

and Methods: A prospective cohort single-center study was conducted with 257

women at the Urogynecology and Vaginal Surgery Outpatient Clinic of the Santa

Casa de Misericordia de São Paulo Hospital. Urine samples were collected 7 days

before, on the day and 3-5 days after urodynamic. Urine cultures that grew to more

than 100,000 CFU/mL were considered positive. All of the patients underwent UDS.

Results: The incidence of bacteriuria after UDS was 11,6%, with 7.3% for transient

bacteriuria and 4.3% UTI. In the multivariate analysis, hypothyroidism (p=0.044), BMI

above 30 kg/m2 (p=0.025) and advanced genital dystopia (p=0.021) were identified

as risk factors for bacteriuria, and only BMI above 30 kg/m2 (p=0.029) was a risk

factor for UTI. Enterobacteriaceae (Klebsiella sp., Escherichia coli, Proteus sp.,

Citrobacter sp.) were the most prevalent microorganisms among patients with

bacteriuria, presenting 92.3% sensitivity to norfloxacin, 88.5% sensitivity to

ciprofloxacin, 84% sensitivity to sulfamethoxazole/trimethoprim and only 52% of

sensitivity to nitrofurantoin. Conclusions: The incidence of a UTI after a UDS was

low (4.3%), making the use of routine antibiotic prophylaxis unnecessary, in this

clinic; however, prophylaxis may be considered for patients with a BMI above 30

kg/m2.

Keywords: Urodynamic. Women. Bacteriuria. Infection. Urinary Tract.

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LISTAS E APÊNDICES

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Listas e Apêndices

APÊNDICE 1

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

“BACTERIÚRIA EM MULHERES APÓS ESTUDO URODINÂMICO: FATORES DE

RISCO E ANÁLISE MICROBIOLÓGICA”

Prezada Senhora:

Gostaríamos de convidá-la a participar da pesquisa “Bacteriúria em mulheres

após estudo urodinâmico: fatores de risco e análise microbiológica”, realizada no

Ambulatório de Uroginecologia e Cirurgia Vaginal do Ambulatório de Especialidades

“Dr. Geraldo Bourroul”, pertencente à Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de

São Paulo.

O objetivo da pesquisa é avaliar a presença de bactérias na urina de

mulheres que realizarem o estudo urodinâmico. A sua participação é muito

importante e ela se daria da seguinte forma: coletar urina em frasco apropriado,

cinco dias antes do estudo, no dia e três a cinco dias após o estudo.

Gostaríamos de esclarecer que sua participação é totalmente voluntária,

podendo você: recusar-se a participar, ou mesmo desistir a qualquer momento sem

que isto acarrete qualquer ônus ou prejuízo à sua pessoa. Informamos ainda que as

informações serão utilizadas somente para os fins desta pesquisa e serão tratadas

com o mais absoluto sigilo e confidencialidade, de modo a preservar a sua

identidade.

O benefício esperado é avaliar se há necessidade de administração de

antibiótico nas pacientes submetidas ao estudo urodinâmico. O presente estudo não

envolve risco para você.

Informamos que a senhora não pagará nem será remunerada por sua

participação.

Caso você tenha dúvidas ou necessite de maiores esclarecimentos pode nos

contatar: Mônica Martins Nóbrega, Telefone: (11) 95354-7472, email:

[email protected]; ou procurar o Comitê de Ética em Pesquisa Envolvendo

Seres Humanos da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, na Rua

Santa Isabel, 305, Santa Cecília, ou no telefone (11) 21767000.

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Listas e Apêndices

Este termo deverá ser preenchido em duas vias de igual teor, sendo uma

delas, devidamente preenchida e assinada, entregue a você.

Eu,_____________________________________________________, após a

leitura deste documento e ter tido a oportunidade de conversar com o pesquisador

responsável, para esclarecer todas as minhas dúvidas, acredito estar

suficientemente informado, ficando claro para mim que minha participação é

voluntária e que posso retirar este consentimento a qualquer momento sem

penalidades ou perda de qualquer benefício. Estou ciente também dos objetivos da

pesquisa, dos procedimentos aos quais serei submetido, dos possíveis danos ou

riscos deles provenientes e da garantia de confidencialidade e esclarecimentos

sempre que desejar. Diante do exposto expresso minha concordância de

espontânea vontade em participar deste estudo.

São Paulo, _____ de ______________ de _______

__________________________________________________ Assinatura da Paciente

___________________________________________________ Dra. Mônica Martins Nóbrega

CRM/SP: 152802

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Listas e Apêndices

APÊNDICE 2

APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA

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Listas e Apêndices

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Listas e Apêndices

APÊNDICE 3

FICHA PARA COLETA DE DADOS

ANAMNESE

Data:_______________ Registro:_______________Telefone:______________

Nome:__________________________________________________________

Profissão:____________________Escolaridade:________________________

Data de Nascimento:_____________Idade:__________ Cor:_______________

Peso:_____________Altura:____________IMC:_________________________

Paridade:_______________________ Peso do maior RN_________________

Vida sexual ativa? ( ) Sim ( ) Não DUM: ______/______/______

Menopausa: ( ) Sim ( ) Não Idade:_____ TH: ( )Sim ( ) Não Tempo:_____

Comorbidades:___________________________________________________

Cirurgia prévia? Qual?_____________________________________________

Cirurgia prévia para Incontinência Urinária? Qual?_______________________

Infecção do Trato Urinário de repetição? ( ) Sim ( ) Não

Tabagista? ( ) Sim ( ) Não

Queixa atual:_________________________________________________________

Resultado da Urocultura:

Prévia ao EUD:__________________________________________________

Dia do EUD:____________________________________________________

Após EUD:_____________________________________________________

Resultado do EUD:____________________________________________________

Sintomas após realização do EUD e duração: _______________________________

___________________________________________________________________

Cessou espontaneamente? ( ) Sim ( ) Não

Tratamento:__________________________________________________________

Aa Ba C

HG CP CVT

Ap Bp D

Manobra de Valsalva: ____________________