mÓdulo especÍfico licenciamento ambiental de

68
Ministério do Meio Ambiente Programa Nacional de Capacitação de Gestores Ambientais MÓDULO ESPECÍFICO LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE ESTAÇÕES DE TRATAMENTO DE ESGOTO E ATERROS SANITÁRIOS Brasília, 2009

Upload: habao

Post on 07-Jan-2017

223 views

Category:

Documents


6 download

TRANSCRIPT

Page 1: MÓDULO ESPECÍFICO LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE

Ministério do Meio AmbientePrograma Nacional de Capacitação de Gestores Ambientais

MÓDULO ESPECÍFICO LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE ESTAÇÕES DE TRATAMENTO DE ESGOTO E

ATERROS SANITÁRIOS

Brasília, 2009

Page 2: MÓDULO ESPECÍFICO LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE

Esta publicação foi produzida no âmbito do Departamento de Coordenação do Sistema Nacional de Meio Ambiente-SISNAMA/

Programa Nacional de Capacitação de Gestores Ambientais- PNC, com o apoio do Departamento de Licenciamento e Avaliação

Ambiental-DLAA / Secretaria de Mudanças Climáticas e Qualidade Ambiental-SMCQ e do Departamento de Ambiente Urbano- DAU/

Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano do Ministério do Meio Ambiente - SRHU.

Departamento de Coordenação do SISNAMA/Programa Nacional de Capacitação de Gestores Ambientais-PNC

Diretora: Flora Cerqueira

Equipe: Daniel Rosa, Jorge Gabriel Moisés Filho, Luciana Resende, Marcelo de Faria Campos, Maria de Fátima Massimo, Maurício Laxe

e Neuza G. S. Vasconcellos

Departamento de Ambiente Urbano- DAU

Diretor: Silvano Silvério da Costa

Equipe: Alexandra Albuquerque Maciel, Ana Flávia Rodrigues Freire, Carmem Lúcia R. Miranda, Cláudia Monique F. de Albuquerque,

Francisco Eduardo Porto, Hidely Grassi Rizzo, Ivana Marson Sanches, Joaquim Antônio de Oliveira, João Geraldo Ferreira Neto, Leandro

Batista Yokomizo, Marcelo Chaves Moreira, Marcos Pellegrini Bandini, Marcus Suassuna Santos, Maria Luíza Gondim Fontenele, Mariana

Alvarenga do Nascimento, Moacir Moreira da Assunção, Rafael Pelegati, Rafael Menna Barreto Azambuja, Sandra Cristina Ramos, Silvia

Regina da Costa Gonçalves, Thais Brito de Oliveira e Rosângela de Assis Nicolau

Departamento de Licenciamento e Avaliação Ambiental-DLAA

Diretor: Volney Zanardi Júnior

Equipe: Elvira Maria Xavier Vieira, Flávio Santos Gonçalves, Jorge Yoshio Hiodo, Lúcia Regina Moreira Oliveira, Regina Coeli M. Generino

e Verônica Marques Tavares

Comissão de Redação: Flávio Santos Gonçalves, João Geraldo Ferreira Neto e Lúcia Regina Moreira Oliveira

Revisão: João Geraldo Ferreira Neto, Luciana Resende, Marcus Corrêa Fernandes e Maria de Fátima Massimo

Fotos: Ministério do Meio Ambiente

Catalogação na FonteInstituto do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

P962 Programa Nacional de capacitação de gestores ambientais: Módulo específico licenciamento ambiental de estações de tratamento de esgoto e aterros sanitários / Ministério do Meio Ambiente. – Brasília: MMA, 2009.

67p. ; il. color. ; 29cm.

BibliografiaISBN 978-85-7738-128-9

1. Saneamento básico – Brasil. 2. Legislação (saneamento básico). 3. Esgoto sanitário. 4. Tratamento de esgoto.5. Resíduo sólido público. 6. Licenciamento Ambiental. 7. Resoluções CONAMA. I. Ministério do Meio Ambiente. II.Título.

CDU(2.ed.)628.4

Page 3: MÓDULO ESPECÍFICO LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE

SUMÁRIO1. PANORAMA DO SANEAMENTO BÁSICO NO BRASIL ........................................................................................................................................6

2. LEGISLAÇÃO FEDERAL SOBRE SANEAMENTO BÁSICO .................................................................................................................................10

3. ESGOTAMENTO SANITÁRIO ...........................................................................................................................................................................................14

4. RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS ...................................................................................................................................................................................34

5. CONTEXTUALIZAÇÃO DO LICENCIAMENTO AMBIENTAL PARA O SANEAMENTO BÁSICO ...................................................48

6. PRINCIPAIS ASPECTOS DO LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE PROJETOS DE SANEAMENTO ................................................50

7. ENTENDENDO AS RESOLUÇÕES CONAMA QUE TRATAM ESPECIFICAMENTE DO

LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE OBRAS DE SANEAMENTO ....................................................................................................................54

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................................................................................................................................60

ANEXO I...........................................................................................................................................................................................................................................62

ANEXO II .........................................................................................................................................................................................................................................66

Page 4: MÓDULO ESPECÍFICO LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE
Page 5: MÓDULO ESPECÍFICO LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE

Estamos diante de importantes desafios. A universalização do acesso ao saneamento básico foi assumida como

um compromisso de toda a sociedade brasileira, conforme a Lei 11.445/2007, que orienta hoje um expressivo esforço

das três esferas de governo no sentido de melhorar a prestação de serviços de saneamento. Esse esforço é funda-

mental para o alcance da qualidade de vida e a conservação do meio ambiente, por meio do aperfeiçoamento dos

instrumentos de gestão, cujo foco principal é contribuir para o acesso ao saneamento básico.

A Lei 11.445/2007 considera que o saneamento básico é o conjunto de serviços, infraestruturas e instalações

operacionais de abastecimento de água potável, esgotamento sanitário, limpeza urbana e manejo de resíduos

sólidos, drenagem e manejo de águas pluviais urbanas.

Uma característica importante é que esses serviços são de titularidade do Município, ou seja, a participação do

Município é decisiva para que tais serviços sejam adequadamente prestados à população.

Entre os principais problemas ambientais relacionados ao saneamento básico, temos a falta de tratamento de

esgoto e a ausência de destinação final adequada de resíduos sólidos urbanos.

O presente Caderno objetiva servir como material de apoio para o módulo sobre “Licenciamento Ambiental

de Estações de Tratamento de Esgoto e Aterros Sanitários”, que complementa o módulo básico sobre “Licenciamen-

to Ambiental” do curso promovido pelo Programa Nacional de Capacitação de Gestores Ambientais - PNC.

Este material de estudo não esgota o assunto. Para estimular o aprofundamento de reflexões sobre a temática

e a ampliação dos conhecimentos, o curso disporá ainda de outros recursos didáticos, tais como vídeos, textos

complementares e fóruns de discussão disponibilizados na Plataforma /Moodle/de Ensino a Distância.

Equipes PNC/DAU/DLAA

APRESENTAÇÃO

Page 6: MÓDULO ESPECÍFICO LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE

1. PANORAMA DO SANEAMENTO BÁSICO NO BRASIL

Page 7: MÓDULO ESPECÍFICO LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE

7

O Brasil passou no último século por um acelerado processo de urbanização. Nas primeiras

décadas do século XX, a maioria da população brasileira vivia na zona rural e, em poucas décadas,

com o processo de industrialização e a migração para os centros urbanos, o Brasil chegou ao final

do século XX como um país predominantemente urbano. Em 2000, a população urbana chegou a

81,3%1 da população total. Essa rápida inversão provocou um enorme déficit no setor de saneamen-

to, tornando-se um dos principais problemas ambientais brasileiros.

Foto 1 - Tratamento de esgoto.

As relações estabelecidas entre Meio Ambiente e Saneamento são recíprocas. Tanto o sane-amento básico afeta a qualidade ambiental do meio, quanto a qualidade ambiental pode ser fun-damental para se planejar e implementar medidas de saneamento. A sinergia entre as políticas de Meio Ambiente e de Saneamento Básico se manifesta por meio de ações capazes de promover a compatibilização do desenvolvimento econômico e social com a preservação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico.

Vale esclarecer que saneamento básico é o conjunto de serviços, infraestruturas e instalações operacionais de abastecimento de água potável, esgotamento sanitário, limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos, drenagem e manejo das águas pluviais urbanas.

1 Censo 2000 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE.

Page 8: MÓDULO ESPECÍFICO LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE

8

O setor de saneamento pode ser considerado um usuário de serviços ambientais em condição

ainda incipiente que carece da devida institucionalização. Contudo, existem esforços que apontam

na direção de se fomentar essa linha de ação. Essa relação tem como beneficiário toda a sociedade

brasileira, uma vez que reduz a necessidade de investimentos em infraestrutura física para o con-

sumo de água, assegura maior qualidade das águas consumidas, além de ter efeito direto sobre a

manutenção das formas de vida e do equilíbrio ecológico existente no meio.

Diversas bases de dados, como o Sistema Nacional de Informações em Saneamento - SNIS,

a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico - PNSB, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia

e Estatística - IBGE em 2000, e a mais recente (2007) Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios

- PNAD, também do IBGE, revelam que o Brasil ainda apresenta graves deficiências em relação ao

saneamento básico. Parcela expressiva da população não tem acesso ao abastecimento público de

água, indicando que, num futuro próximo, o Brasil possuirá sérias restrições aos recursos hídricos. Ou-

tros tantos domicílios, numa proporção ainda mais crítica, não são atendidos por sistemas de coleta,

tratamento e disposição adequada de esgoto. A coleta de lixo apresenta um dos melhores índices de

atendimento entre os serviços de saneamento básico, porém a grande maioria dos Municípios ainda

não possui destinação final adequada para resíduos sólidos urbanos. Ao mesmo tempo, observamos

anualmente o crescimento significativo de acidentes causados por inundações nas grandes cidades,

agravados pela falta de soluções sustentáveis para o manejo das águas pluviais.

Aliado a esse problema enorme de domicílios que não são servidos pelos serviços de sanea-

mento, há o desenvolvimento urbano acelerado do País, que faz muitos desses domicílios surgirem

na periferia das grandes cidades brasileiras sem as condições ideais de habitabilidade e saúde. Mes-

mo com esse quadro, os índices dos serviços de abastecimento de água, esgotamento sanitário e

coleta de resíduos sólidos no País vêm crescendo.

Os dados apresentados na Tabela 1 seguem a metodologia adotada pela PNAD, cuja coleta

de dados excluía a área rural da Região Norte até 2003. Os dados de 2004 a 2007 foram inseridos de

modo coerente com essa metodologia, excluindo também a área rural da Região Norte.

Tabela 1 - Dados sobre os domicílios e os serviços de saneamento básico no Brasil

Domicílios Particulares Ano 1993 Ano 2007

Número de Domicílios 36.957.963 55.446.272

Domicílios com rede de abasteci-

mento de água27.710.268 46.778.067

Domicílios com rede de

coleta de esgoto14.381.852 28.905.709

Domicílios cobertos por

coleta de lixo23.817.243 44.866.124

Fonte: Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios - PNAD, realizada pelo IBGE.

Em 1993, a pesquisa apontou que havia 36.957.963 domicílios particulares permanentes no

Brasil. Em 2007, esse número passou para 55.446.272, um incremento de 18.488.309 domicílios no

País em 15 anos, com uma média de 1.232.554 novos domicílios a cada ano. Ao considerar apenas os

domicílios surgidos nos últimos cinco anos, essa média sobe para 1.577.523 domicílios por ano.

Page 9: MÓDULO ESPECÍFICO LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE

9

Em 1993, 27.710.268 domicílios eram abastecidos por rede geral de água, o que correspondia

a 74,98% do total. Em 2007, o número de domicílios abastecidos por este serviço era de 46.778.067,

84,37% do total, o que representa um incremento de 19.067.799 domicílios em quinze anos, com

uma média de 1.271.187 novos domicílios a cada ano. Ao considerar apenas a média dos últimos

cinco levantamentos de dados, 2003 a 2007, os valores médios passam a ser de 1.559.806 domicí-

lios a cada ano.

Em 1993, havia 14.381.852 domicílios no País cobertos por rede coletora de esgotamento sanitário,

correspondendo a 38,91% do total de domicílios. Em 2007, eram 28.905.709 domicílios, representando

52,13% do total, com um crescimento absoluto de 14.523.857 domicílios cobertos por esse serviço e um

crescimento médio, nos quinze anos, de 968.257 domicílios a cada ano. Do total do esgoto coletado,

apenas 32,5% é tratado, segundo dados do SNIS de 2007. Dessa maneira, chegamos a um volume tratado

estimado de apenas 15% do esgoto total gerado nas cidades brasileiras, com graves consequências quan-

to à poluição dos corpos hídricos, à saúde pública e ao próprio abastecimento de água urbano.

Foto 2 - Esgoto a céu aberto nas ruas, situação comum em algumas cidades brasileiras.

Percebe-se que, mesmo que o número de domicílios cobertos por rede coletora tenha dobrado

nesses quinze anos, ainda há um grande passivo existente, aliado ao fato de o número de domicílios

surgidos nesse período ter sido maior que o dos cobertos por rede coletora, mesmo considerando a

média de crescimento dos últimos cinco anos, 1.363.802 de domicílios entre 2003 a 2007.

Com relação aos Resíduos Sólidos Urbanos, em 1993, havia 23.817.243 domicílios no País cobertos por

coleta de lixo, correspondendo a 64,44% do total de domicílios. Em 2007, o número passou para 44.866.124

domicílios, representando 80,92% do total, com um crescimento absoluto de 21.048.881 domicílios cober-

tos por esse serviço e um crescimento médio, nos quinze anos, de 1.403.259 domicílios a cada ano.

Esses dados serão atualizados e melhor explorados em 2009 com a publicação da Pesquisa

Nacional de Saneamento Básico – PNSB. O Governo Federal, por meio do Ministério das Cidades e do

IBGE, está promovendo a PNSB, que tem por objetivo investigar as condições de saneamento básico

de todos os Municípios brasileiros. Essa pesquisa permitirá uma avaliação da oferta e da qualidade

dos serviços prestados à população brasileira.

Page 10: MÓDULO ESPECÍFICO LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE

2. LEGISLAÇÃO FEDERAL SOBRE SANEAMENTO BÁSICO

Page 11: MÓDULO ESPECÍFICO LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE

11

No art. 23 da Constituição Federal, é atribuída à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Mu-

nicípios a competência comum para promover programas de construção de moradias e a melhoria

das condições habitacionais e de Saneamento Básico.

A Política Nacional de Meio Ambiente, instituída pela Lei nº 6.938/1981, tem como objetivo

primordial a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando as-

segurar condições ao desenvolvimento socioeconômico e à proteção da dignidade da vida humana.

A articulação dos serviços públicos com a política ambiental está explicitada na Lei nº. 11.445/2007

que, no inciso III do art. 2º, determina que os serviços públicos de Saneamento Básico serão realiza-

dos de forma adequada à saúde pública e à proteção do meio ambiente.

A Lei nº 11.445/2007 definiu e estabeleceu as diretrizes nacionais para o Saneamento Básico,

assim como para a Política Federal de Saneamento Básico. Essa iniciativa governamental supriu uma

lacuna jurídica e político-institucional existente desde a década de 1980 e assegurou aos atores en-

volvidos com a execução da política de saneamento básico a referência legal e institucional necessá-

ria para atuarem com transparência e segurança jurídica.

A Lei nº 11.445/2007 também trouxe um instrumento fundamental de implementação dessa

Política, o Plano Nacional de Saneamento Básico - PLANSAB, que deverá ser elaborado conside-

rando aspectos relevantes da transversalidade e interdependência com as questões relativas ao

desenvolvimento urbano e com as políticas públicas de saúde, os recursos hídricos, a mobilidade

e o transporte urbano, a habitação e o meio ambiente para a melhoria da salubridade ambiental

e da qualidade de vida. O PLANSAB deverá criar canais que promovam a integração dos diferen-

tes órgãos que atuam no Saneamento Básico, no desenvolvimento e na implementação de seus

programas, ações e em todas as modalidades relacionadas ao tema. O PLANSAB, já em elaboração,

tem previsão de ser concluído ainda no primeiro semestre de 2010, de forma a poder subsidiar

inclusive o Plano Plurianual 2012-2015.

A Lei de Saneamento Básico trouxe também um grande avanço e, ao mesmo tempo, um enor-

me desafio para o Licenciamento Ambiental de unidades de tratamento de esgoto sanitário e de

efluentes gerados nos processos de tratamento de água, que deverão considerar etapas de eficiên-

cia, a fim de alcançar progressivamente as metas estabelecidas pelos órgãos do Sistema Nacional de

Recursos Hídricos e os padrões definidos pela legislação ambiental. Também a autoridade ambiental,

com base nas metas progressivas para o corpo receptor, estabelecerá prazos para a implantação

das etapas de eficiência para efluentes gerados nas unidades de tratamento de esgoto sanitário e

de tratamento de água, a fim de adequar a qualidade do corpo receptor às metas progressivas do

enquadramento, a partir dos níveis presentes de tratamento e tecnologia disponível, considerando a

capacidade de pagamento das populações e usuários envolvidos.

O enquadramento dos corpos de água é o estabelecimento do nível de qualidade (classe) a ser

alcançado ou mantido em um segmento de corpo de água ao longo do tempo, que se expressa por

meio do estabelecimento de metas intermediárias e meta final a serem alcançadas.

Sobre o Licenciamento Ambiental, a Lei nº 11.445/2007 define que a autoridade ambiental

competente estabeleça procedimentos simplificados de licenciamento para as atividades de

tratamento de esgoto sanitário e de efluentes gerados nos processos de tratamento de água,

em função do porte das unidades e dos impactos ambientais esperados. Com relação a essa

determinação, o governo federal, por meio do CONAMA, já havia publicado a Resolução nº 377,

de 09/10/2006, que dispõe sobre licenciamento ambiental simplificado de Sistemas de Esgota-

mento Sanitário.

Page 12: MÓDULO ESPECÍFICO LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE

12

Todas essas questões sobre Licenciamento Ambiental constam do art. 44 da Lei nº 11.445, de 5

de janeiro de 2007:

Art. 44. O licenciamento ambiental de unidades de tratamento de esgotos sa-

nitários e de efluentes gerados nos processos de tratamento de água conside-

rará etapas de eficiência, a fim de alcançar progressivamente os padrões esta-

belecidos pela legislação ambiental, em função da capacidade de pagamento

dos usuários.

§ 1o A autoridade ambiental competente estabelecerá procedimentos simplifica-

dos de licenciamento para as atividades a que se refere o caput deste artigo, em fun-

ção do porte das unidades e dos impactos ambientais esperados.

§ 2o A autoridade ambiental competente estabelecerá metas progressivas

para que a qualidade dos efluentes de unidades de tratamento de esgotos sa-

nitários atenda aos padrões das classes dos corpos hídricos em que forem lan-

çados, a partir dos níveis presentes de tratamento e considerando a capacidade

de pagamento das populações e usuários envolvidos.

De fato, existe uma ampla interface do Saneamento Básico com a gestão das águas, con-

forme as diretrizes da Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei n°. 9.433/1997) e seu respectivo

Plano Nacional de Recursos Hídricos - PNRH. Essa legislação tem influência direta na organização

e no desempenho do setor, tanto no controle sobre o uso da água para abastecimento, como na

disposição final do esgoto e, ainda, na complexa e sensível interação das cidades com as bacias

hidrográficas em termos da situação de disposição dos resíduos sólidos e do manejo das águas

pluviais urbanas.

Se, por um lado, o índice de coleta de lixo é um dos melhores entre os serviços de sane-

amento básico em relação à disposição final de resíduos utilizada pelos Municípios, por outro

lado, dados de 2000 da PNSB revelam que 59% dos Municípios depositam inadequadamente

seus resíduos a céu aberto (lixões), 17% em aterros controlados, 13% em aterros sanitários e

menos de 3% reciclam seus resíduos. Entre as ações do Governo Federal para reverter esse

quadro que se relacionam à questão do Licenciamento Ambiental e considerando ainda, en-

tre outros critérios, o porte do empreendimento, foi elaborada e publicada pelo CONAMA a

Resolução nº 404, de 11/11/2008, que revoga a Resolução CONAMA nº 308/02 e estabelece

critérios e diretrizes para o licenciamento ambiental de aterro sanitário de pequeno porte

de resíduos sólidos urbanos, com o intuito de simplificar o procedimento de Licenciamento

Ambiental.

Page 13: MÓDULO ESPECÍFICO LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE

13

Foto 3 - Imagem de um lixão, realidade na maioria dos Municípios.

Sobre a questão dos Resíduos Sólidos, encontra-se em tramitação no Congresso Nacional o PL

1991/07, enviado pelo Presidente da República em setembro de 2007, apensado ao PL 203/1991,

que trata da Política Nacional de Resíduos Sólidos. A ausência de legislação federal sobre o assunto

tem ocasionado posicionamentos distintos por parte dos Estados e Municípios. Ressalta-se que a

proposta de Política Nacional de Resíduos Sólidos reúne princípios, objetivos, instrumentos, diretri-

zes, planos, ações e programas a serem adotados pelo Governo Federal, isoladamente ou em regime

de cooperação com Estados, Municípios ou particulares, com vistas à gestão integrada e ao geren-

ciamento ambientalmente adequado dos resíduos sólidos. Destaca-se no texto do Projeto de Lei o

estabelecimento das responsabilidades dos geradores e do Poder Público, o que permitirá o acom-

panhamento e monitoramento das ações realizadas.

Quanto à organização jurídica do setor de saneamento, o Estatuto das Cidades, Lei nº 10.257/01,

que definiu o acesso aos serviços de saneamento básico como um dos componentes do direito a

cidades sustentáveis, e a Lei 11.107/05, Lei dos Consórcios Públicos, que criou a base normativa para

a gestão associada de serviços públicos entre os entes federados, foram referenciais para o novo

ordenamento do setor de saneamento básico.

O surgimento da Lei 11.107/05 deu estabilidade aos consórcios, por meio da figura do consór-

cio público, que possibilita a formação de uma autarquia pública dos entes consorciados, habilitada

a celebrar contratos muito mais estáveis, permitindo, portanto, um planejamento de longo prazo.

Por outro lado, a nova Lei favorece também a necessária intervenção dos Governos Estaduais no

processo de gestão dos serviços de saneamento, suprindo uma lacuna importante, com o aporte

de conhecimento técnico mais diversificado. Além disso, a presença do Estado permite que esse

processo se dê de maneira ordenada, articulado com o planejamento do desenvolvimento regional,

evitando a pulverização de soluções isoladas.

No Anexo I, apresenta-se a lista de Resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente - CO-

NAMA e do Conselho Nacional de Recursos Hídricos - CNRH que se relaciona com os serviços de

saneamento básico.

Page 14: MÓDULO ESPECÍFICO LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE

3. ESGOTAMENTO SANITÁRIO

Page 15: MÓDULO ESPECÍFICO LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE

15

A palavra esgoto é utilizada, quase sempre, para caracterizar os despejos provenientes dos di-

versos usos e da origem das águas, tais como as de uso doméstico, comercial, industrial, as de utili-

dade pública, de áreas agrícolas e outros efluentes. A aversão ao termo “esgoto” tem levado alguns

autores ao emprego do termo “águas residuárias”.

O esgoto costuma ser classificado em dois grupos principais: o esgoto sanitário e industrial.

O primeiro é constituído essencialmente de despejos domésticos, uma parcela de águas pluviais e,

eventualmente, uma parcela não significativa de despejos industriais, tendo características bem de-

finidas. O esgoto industrial, extremamente diverso, provém de qualquer utilização da água para fins

industriais. Assim sendo, cada indústria deverá ser considerada separadamente, uma vez que seus

efluentes necessitam de diferentes processos de tratamento. No presente curso, trataremos apenas

do esgoto doméstico.

A engenharia sanitária brasileira apresentou uma notável evolução nas últimas décadas. Um

grande esforço está sendo realizado para que os Sistemas de Esgotamento Sanitário atendam ao

acelerado crescimento das cidades, tanto no aspecto qualitativo como no quantitativo.

Existe no Brasil a consciência de que o tratamento e o destino final do esgoto têm relação di-

reta com o meio ambiente e a qualidade das águas e seus benefícios. Trata-se de preocupação que

envolve não apenas a área de engenharia, mas também as áreas ambientais, de Recursos Hídricos,

organizações comunitárias e a sociedade.

3.1 SIStEMA DE ESGotAMENto SANItáRIo

Os sistemas de Esgotamento Sanitário podem ser de três tipos:

a) sistema de esgotamento unitário ou sistema combinado, em que o esgoto, as águas de

infiltração e as águas pluviais veiculam por um único sistema;

b) sistema de esgotamento separador parcial, em que parcela das águas de chuva prove-

niente de telhados e pátios dos domicílios é encaminhada juntamente com o esgoto e as águas de

infiltração para um único sistema de coleta de esgoto;

c) sistema separador absoluto, em que o esgoto e as águas de infiltração, que constituem o

esgoto doméstico, veiculam em um sistema independente. As águas pluviais são coletadas e trans-

portadas em um sistema de drenagem pluvial totalmente independente.

No Brasil, basicamente, utiliza-se o sistema separador absoluto, que diminui significativamente

os custos de implantação do sistema. Vazões bem menores resultam em obras de menor porte e,

consequentemente, de menor custo, resolvendo um dos problemas mais graves de saneamento da

cidade. Também possui outras vantagens: emprega tubos mais baratos; oferece mais flexibilidade

para execução por etapas; reduz consideravelmente o custo do afastamento das águas pluviais, pelo

fato de permitir seu lançamento no curso de água mais próximo; não se condiciona e nem obriga a

pavimentação das vias públicas; reduz a extensão das grandes canalizações (galerias) dentro da cida-

de, fato que dificulta sua execução por causa das diversas interferências; e não prejudica a depuração

do esgoto sanitário.

O Sistema de Esgotamento Sanitário é composto pelas seguintes partes principais:

a) Rede Coletora: conjunto de canalizações destinadas a receber e conduzir o esgoto. O siste-

ma de esgoto predial se liga diretamente à rede coletora por uma tubulação chamada coletor predial

ou ramal. Os ramais, por sua vez, são ligados a coletores tronco, que é o coletor principal de uma

bacia de drenagem.

Page 16: MÓDULO ESPECÍFICO LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE

16

b) Interceptor: canalização que recebe coletores ao longo de seu comprimento, não receben-

do ligações prediais diretas.

c) Estação Elevatória de Esgoto Bruto - EEEB: conjunto de instalações destinadas a transferir

o esgoto de uma cota mais baixa para outra mais alta.

d) Emissário: canalização destinada a conduzir o esgoto a uma Estação de Tratamento de Es-

goto, sem receber contribuições em marcha.

e) Estação de tratamento de Esgoto - EtE: conjunto de instalações destinadas ao tratamento

do esgoto antes de seu lançamento.

f ) Corpo receptor: corpo de água onde é lançado o esgoto tratado.

A figura seguinte ilustra o Sistema de Esgotamento Sanitário e suas partes principais.

3.2 NoRMAS téCNICAS ESPECíFICAS

A Lei nº 4.150, de 21 de novembro de 1962, institui o regime obrigatório de preparo e observância

das normas técnicas nos contratos de obras e compras do serviço público de execução direta, concedi-

da, autárquica ou de economia mista, por meio da Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT.

Lei 4.150/62: Art 1º. Nos serviços públicos concedidos pelo Governo Federal, assim como nos de natureza estadual e municipal por ele subvencionados ou executados em regime de convênio, nas obras e serviços executados, dirigidos ou fiscalizados por quaisquer repartições federais ou órgãos paraestatais, em todas as compras de materiais por eles feitas, bem como nos respectivos editais de concorrência, contra-tos, ajustes e pedidos de preços será obrigatória a exigência e aplicação dos requisi-tos mínimos de qualidade, utilidade, resistência e segurança usualmente chamados “normas técnicas” e elaboradas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas, nes-ta lei mencionada pela sua sigla “ABNT”.

As principais normas brasileiras editadas pela ABNT para Sistemas de Esgotamento Sanitário são:

• NBR5645-Tubocerâmicoparacanalizações;

• NBR7229-Projeto,construçãoeoperaçãodesistemasdetanquessépticos;

• NBR7362-TubodePVCrígidocomjuntaelástica,coletordeesgoto;

• NBR7367-ProjetoeassentamentodetubulaçõesdePVCrígidoparasistemasdeesgotosanitário;

• NBR7663-Tubodeferrofundidodúctilcentrifugadoparacanalizaçõessobpressão;

Emissário

Page 17: MÓDULO ESPECÍFICO LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE

17

• NBR8409-Conexãocerâmicaparacanalização;

• NBR8889-Tubodeconcretosimples,deseçãocircular,paraesgotosanitário;

• NBR8890-Tubodeconcretoarmadodeseçãocircularparaesgotosanitário;

• NBR9648-Estudosdeconcepçãodesistemasdeesgotosanitário;

• NBR9649-Projetoderedescoletorasdeesgotosanitário;

• NBR9814-Execuçãoderedecoletoradeesgotosanitário;

• NBR9914-Tubosdeaçopontaebolsaparajuntaelástica;

• NBR12207-Projetodeinterceptoresdeesgotosanitário;

• NBR12208-Projetodeestaçõeselevatóriasdeesgotosanitário;

• NBR12209-Projetodeestaçõesdetratamentodeesgotosanitário;

• NBR12266-Projetoeexecuçãodevalasparaassentamentodetubulaçãodeágua,esgotoou

drenagem urbana;

• NBR13133-Execuçãodelevantamentotopográfico;

• NBR13969-Tanquessépticos-unidadesdetratamentocomplementaredisposiçãofinal

dos efluentes líquidos - projeto, construção e operação.

3.3 AS EStAçõES DE tRAtAMENto DE ESGoto

O esgoto sanitário é composto normalmente por 99% de água e apenas cerca de 1% de ma-

terial sólido. De forma simplificada, pode-se dizer que o propósito das Estações de Tratamento de

Esgoto é retirar a maior parte desse material sólido da água, permitindo devolvê-la, mais limpa, à

natureza. São estações que tratam as águas residuais de origem ou característica doméstica, comu-

mente chamadas de esgoto sanitário, cujo efluente líquido, após tratamento, normalmente é lança-

do em um corpo de água (mar, rio, córrego, lagoa etc) e deve atender aos padrões de qualidade e de

lançamento de efluentes, conforme a legislação vigente.

Foto 4 - Vista aérea de uma Estação de Tratamento de Esgoto.

A forma mais utilizada para se medir a quantidade de matéria orgânica no esgoto é a determi-

nação da Demanda Bioquímica de Oxigênio - DBO. Esse parâmetro mede a quantidade de oxigênio

necessária para estabilizar biologicamente a matéria orgânica presente numa amostra, após um de-

terminado tempo (para efeito de comparação, adotam-se 5 dias) e a uma temperatura padrão (20ºC,

para efeito de comparação), sendo conhecido como DBO5.

Page 18: MÓDULO ESPECÍFICO LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE

18

A quantidade de matéria orgânica presente, indicada pelo parâmetro DBO, é importante para

se conhecer o grau de poluição do esgoto, fator necessário para o dimensionamento das estações de

tratamento de esgoto e a medida de sua eficiência. Quanto maior o grau de poluição, maior a DBO e,

paralelamente, à medida que ocorre a estabilização da matéria orgânica, decresce a DBO.

Normalmente a DBO5 do esgoto doméstico varia entre 200 e 500 mg/l, de acordo com a con-

dição de vida dos moradores locais. Além da DBO, há outras formas, menos usadas, para caracterizar

a presença de matéria orgânica: OD - Oxigênio Dissolvido; DQO - Demanda Química de Oxigênio;

COT - Carbono Orgânico Total; e outros.

Os processos de tratamento de esgoto são formados por uma série de operações unitárias, com

eficiências distintas, que são empregadas para remoção de substâncias indesejáveis ou para transfor-

mação dessas substâncias em outras de forma aceitável.

A Tabela 2 indica valores teóricos para a eficiência de diversos sistemas de tratamento, medidos

em função da redução de matéria orgânica (DBO).

Tabela 2 - Eficiência de diversos sistemas de tratamento de esgoto.

Sistema de Tratamento de Esgoto SanitárioEficiência de remoção (%)

DBO

Fossas Sépticas 35 a 60

Fossas Sépticas seguidas de Filtro Anaeróbio 75 a 85

Reatores Anaeróbios de Fluxo Ascendente - UASB 55 a 75

Lodo Ativado Convencional 75 a 95

Lodo Ativado Aeração Prolongada 93 a 98

Reator UASB seguido de Reatores Biológicos 75 a 97

Lagoa Facultativa seguida de Lagoa de Estabilização 75 a 90

Lagoa Aerada seguida de Lagoa de Decantação 70 a 90

Lagoa Anaeróbia seguida de Lagoa Facultativa 70 a 90

Fonte: adaptado de Pedro Além Sobrinho,1999; Marcos Von Sperling, 2005; Eduardo Pacheco Jordão, 2005.

Os itens a seguir procuram abordar de forma clara e prática alguns dos processos e das tecno-

logias de tratamento consagradas no Brasil e no exterior.

3.4 PRoCESSoS DE tRAtAMENto DE ESGoto

A escolha do Processo de Tratamento de Esgoto baseia-se principalmente no nível de eficiência

desejado (consequência da qualidade do efluente final, compatível com a necessidade do corpo

receptor), na área disponível para sua implantação, no custo e na complexidade de implantação e

operação de cada processo, nas condicionantes ambientais relativas à locação da unidade, na produ-

ção e disposição de lodos e na dependência de insumos externos.

O tratamento dos esgotos é usualmente classificado em níveis de eficiência: preliminar, pri-

mário, secundário ou terciário. Estes podem ser complementares em uma ETE, facilitando sua exe-

cução em etapas de eficiência, caso os recursos financeiros disponíveis para sua construção não

sejam suficientes e o enquadramento do corpo receptor permita a utilização de metas interme-

Page 19: MÓDULO ESPECÍFICO LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE

19

diárias. Por exemplo: pode-se construir e operar, primeiramente, a ETE com nível de tratamento

primário e, depois, de acordo com o planejamento, complementar a construção e operação com

o nível secundário ou terciário. É preciso salientar que essa possibilidade deve estar de acordo

com a legislação vigente e ser negociada previamente com o órgão de recursos hídricos e órgão

ambiental, quando da outorga de uso de recursos hídricos e do licenciamento ambiental do em-

preendimento.

O Tratamento preliminar é responsável pela remoção de sólidos grosseiros e areia presentes

no esgoto afluente. Tem como objetivo evitar o acúmulo de sólidos grosseiros e material inerte e

abrasivo nas tubulações e demais unidades da ETE. Sempre que possível, recomenda-se mecani-

zar e automatizar essa etapa, o que alia alta eficiência à continuidade operacional, associadas à

proteção à saúde dos trabalhadores. A mecanização dispensa qualquer contato físico do pessoal

operacional com o esgoto e os detritos afluentes. A concepção de realizar a operação e limpeza

dessas unidades de forma manual aumenta o risco de contato dos empregados com o esgoto,

implicando riscos à saúde.

No Tratamento Preliminar, os sólidos são removidos por processos mecânicos ou físicos. Na

etapa de gradeamento, os sólidos grosseiros são removidos e suas características e dimensões va-

riam de acordo com o espaço livre entre as grades. Sua remoção pode ser manual ou mecanizada.

Esses materiais são removidos do fluxo líquido de forma a evitar entupimentos e obstruções nas

unidades subsequentes. Usualmente são encaminhados para disposição final em aterros sanitários

municipais, sem qualquer tipo de transformação. Os sólidos predominantemente inorgânicos, como

a areia e a terra, são removidos em unidades denominadas desarenadores ou caixas de areia. Esses

sólidos constituídos por siltes, argilas, pequenas pedras e outros materiais inorgânicos sedimentam

a velocidades relativamente altas. Essa característica faz com que as caixas de areia sejam dimensio-

nadas com tempos de retenção pequenos com fim de selecionar o material sedimentado. A areia

removida geralmente é recolhida em caçambas, que são encaminhadas para disposição final em

aterro sanitário.

O Tratamento Primário envolve unidades de tratamento que adotam decantadores primá-

rios, processos exclusivamente de ação física que promovem a sedimentação das partículas em

suspensão, ou lagoas anaeróbias/reatores anaeróbios, que se utilizam das bactérias que proliferam

em ambiente anaeróbio para a decomposição da matéria orgânica presente no esgoto. Vale ressal-

tar que alguns autores classificam as lagoas anaeróbias ou reatores anaeróbios como tratamento

secundário.

O tratamento secundário, por sua vez, destina-se à degradação biológica de compostos carbo-

náceos nos chamados reatores biológicos. Esses reatores são normalmente constituídos por tanques

com grande quantidade de microorganismos aeróbios. De maneira geral, a maioria das estações

construídas alcança apenas o nível de tratamento secundário, pois proporciona um reduzido nível

de poluição por matéria orgânica, podendo, na maioria dos casos, lançar seu efluente diretamente

no corpo receptor.

Page 20: MÓDULO ESPECÍFICO LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE

20

Foto 5 - Reator Biológico (tanque de aeração), uma das unidades que pode compor uma ETE.

O efluente líquido (clarificado, ou seja, após passar por um processo de decantação) do trata-

mento secundário ainda possui altos níveis de nutrientes como nitrogênio e fósforo. A emissão em

excesso destes pode acarretar o fenômeno chamado eutrofização, que proporciona o crescimento

excessivo de algas e cianobactérias. Por causa desse crescimento excessivo, a luz do sol não consegue

penetrar na água e, consequentemente, a maior parte dessas algas acaba morrendo. A decomposi-

ção das algas remove o oxigênio da água, causando a morte biológica do corpo hídrico, incluindo os

peixes. O fenômeno ocorre normalmente em ambiente lêntico, isto é, ambiente que se refere à água

parada, com movimento lento ou estagnado, como lagos, reservatórios, lagoas, açudes etc.

Quando o tratamento secundário não remove nitrogênio e fósforo nos percentuais exigidos

pelo órgão ambiental, utiliza-se o tratamento terciário. A remoção de nitrogênio é normalmente

realizada no processo de lodos ativados. Geralmente, a remoção de fósforo é realizada por meio de

tratamento químico, utilizando-se sulfato de alumínio, cloreto férrico ou outro coagulante.

Considera-se também tratamento terciário aquele que se destina à remoção de organismos

patogênicos, a chamada desinfecção. Sistemas de tratamento que envolvem disposição no solo ou

lagoas de estabilização, em muitos casos, já têm a capacidade de efetuar redução considerável no

número de patogênicos, dispensando, assim, um sistema específico para desinfecção. Nos outros

casos, faz-se necessária a previsão de instalações para a desinfecção, que geralmente é efetuada por

meio do uso do cloro, ozônio e, mais recentemente, radiação ultravioleta.

Após esses esclarecimentos básicos, para o entendimento das diversas etapas de eficiência em

Estações de Tratamento de Esgoto, segue apresentação e descrição sucinta de alguns dos principais

sistemas de tratamento de esgoto sanitário.

• Fossas sépticas: são unidades de tratamento primário de esgoto doméstico nas quais são

feitas a separação e a transformação da matéria sólida contida no esgoto. As fossas sépticas,

Page 21: MÓDULO ESPECÍFICO LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE

21

normalmente utilizadas para domicílios em áreas rurais, atendem a um pequeno número de

habitantes. Esse tipo de fossa nada mais é que um tanque enterrado, que recebe o esgoto,

retém a parte sólida e inicia o processo biológico de purificação do efluente líquido. Reco-

menda-se que esses efluentes sejam filtrados no solo para completar o processo biológico de

purificação e eliminar o risco de contaminação. Para infiltração no solo, normalmente utilizam-

se sumidouros ou valas de infiltração.

• Reator anaeróbio de fluxo ascendente: também conhecido por reator anaeróbio de

manta de lodo e pelas siglas UASB (do inglês Upflow Anaerobic Sludge Blanket), Reator

Anaeróbio de Fluxo Ascendente - RAFA e Reator Anaeróbio de Leito Fixo - RALF. O reator

UASB é uma unidade que pode operar sem necessidade de qualquer equipamento móvel

ou fonte de energia externa. Esse reator possui uma série de compartimentos internos que

possibilitam a instalação de diferentes processos que, agindo em simbiose, determinam o

tratamento resultante. Desses processos podem-se destacar a sedimentação, floculação, es-

tabilização biológica anaeróbia, filtração e separação de fases (sólida e líquida). É gerado no

interior do reator uma manta de lodo formado pelos resíduos da digestão anaeróbia e pela

biomassa anaeróbia ativa que permanece crescendo. Esse manto permanece em suspen-

são e passa a atuar como um biofiltro anaeróbio. O reator UASB resulta em intensa produção

de biogás que, ao se deslocar para a superfície, cria uma turbulência no interior do manto,

auxiliando a mistura do efluente com a biomassa existente. O biogás, quando não utilizado

para outros fins, como aproveitamento energético, deve ser coletado e queimado, de forma

a evitar a possibilidade da propagação de maus odores liberados pelo reator anaeróbio. Os

sólidos mobilizados pela turbulência causada pela liberação do gás são, em grande parte,

retidos no reator pela ação dos coletores de gás, que impedem a passagem dos sólidos

para a região de coleta do efluente e os retornam à câmara de digestão. Os coletores de gás

formam parte da câmara de decantação, última etapa de tratamento no interior do reator

anaeróbio. A decantação permite obter um efluente relativamente isento de sólidos em

suspensão sedimentáveis. O excesso de lodo formado no interior do reator deve ser perio-

dicamente descartado e encaminhado para desidratação. O descarte deve ser controlado

de forma a manter o nível de lodo necessário para o funcionamento normal do reator. O

tratamento preliminar demanda maior eficiência no sistema de gradeamento e desarena-

ção, com vistas a minimizar o acúmulo de sólidos indesejáveis no reator anaeróbio. Faz-se

necessária também a remoção de óleos e gorduras, de forma a reduzir a formação de capas

de escuma na superfície dos reatores UASB.

• Lodo ativado convencional: o processo por lodos ativados foi dos primeiros processos de

tratamento de esgoto que teve seu desenvolvimento baseado no uso de tecnologia e co-

nhecimento científico. Mundialmente consagrado, apresenta elevada eficiência no tocante

à remoção de matéria orgânica e sólidos em suspensão. Nas últimas décadas, tem sido obje-

to de desenvolvimento significativo, possibilitando a remoção de nutrientes, como o nitro-

gênio e fósforo, por via biológica. Sua principal limitação é o elevado grau de mecanização e

o consumo de energia, necessários para a degradação aeróbia da matéria orgânica afluente.

Após a passagem pelo tratamento preliminar, o esgoto é encaminhado ao decantador pri-

mário, onde a parcela sedimentável dos sólidos em suspensão é removida. Esse procedi-

mento reduz a carga orgânica aplicada na etapa aeróbia subsequente, e, por conseguinte,

a demanda por energia. O lodo decantado é recolhido e encaminhado para estabilização em

Page 22: MÓDULO ESPECÍFICO LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE

22

digestores anaeróbios. Na fase seguinte, o afluente é encaminhado ao sistema de lodos ativa-

dos. O principal elemento desse processo é o tanque de reação, conhecido como reator de

lodo ativado ou tanque de aeração. Nesse reator, estabelecem-se as condições ambientais

que permitem o crescimento de biomassa capaz de degradar a matéria orgânica presente

no esgoto bruto. O crescimento da biomassa se deve à presença de substrato (alimento) no

esgoto e à presença de oxigênio (para respiração da biomassa), injetado artificialmente no

meio líquido pela ação de equipamento eletromecânico. O tanque de aeração é alimentado

continuamente com esgoto primário. O regime de mistura completa leva ao arraste da bio-

massa em suspensão juntamente com líquido efluente. A separação sólido / líquido, com a

consequente recuperação da biomassa, é obtida em unidade conhecida como clarificador ou

decantador secundário. A concentração de biomassa no tanque de aeração é assegurada pela

recirculação, via recalque, do lodo decantado no clarificador para o tanque de aeração. O ex-

cesso de lodo ativado é encaminhado para estabilização, com o lodo primário, em digestores

anaeróbios especialmente construídos para esse fim.

• Lodo ativado aeração prolongada: variante do processo de lodos ativados convencio-

nal, normalmente utilizado em unidades de tratamento de pequeno/médio porte, por

se tratar de uma versão mais simples e robusta em termos operacionais. Apresenta, em

contrapartida, o inconveniente de requerer maior consumo de energia externa, elevando

consideravelmente o custo operacional da unidade. A modalidade de lodos ativados por

aeração prolongada prescinde da decantação primária. Após a passagem pelo tratamento

preliminar, o esgoto afluente é lançado diretamente no tanque de aeração. O sistema tem

as mesmas características do processo de lodos ativados convencional, com a diferença que

a “idade do lodo” (tempo de detenção da biomassa) e a concentração de biomassa mantida

no tanque de aeração são significativamente maiores, permitindo a estabilização aeróbia do

lodo no próprio tanque de lodos ativados. A estabilização do lodo no tanque de aeração e

a ausência de decantação primária resultam na dispensa de digestor anaeróbio para estabi-

lização do lodo produzido na planta de tratamento.

• Reator UASB seguido de lodo ativado: combina uma primeira etapa anaeróbia (UASB),

com uma segunda etapa aeróbia, utilizando o tradicional processo de lodos ativados. A

principal consequência da inclusão da etapa anaeróbia é a redução da demanda de ener-

gia elétrica na fase aeróbia, gerando maior economia no custo operacional da planta. O

reator UASB é normalmente utilizado em substituição ao decantador primário, assumindo

também a função de digestor anaeróbio do lodo produzido. O reator UASB, devido à sua

elevada capacidade de remoção de matéria orgânica, permite significativa redução na carga

orgânica afluente ao sistema de lodos ativados.

• Reator UASB seguido de filtro percolador: combina uma primeira etapa anaeróbia (UASB)

com uma etapa aeróbia, através do uso de um filtro percolador, conhecido como “Trickling

Filter” nos países de língua inglesa. O Filtro Percolador, a exemplo do processo de lodos

ativados, foi desenvolvido na primeira metade do século XX, sendo reconhecido no setor

de saneamento como um processo biológico robusto e confiável. Desenvolvimento mais

recente tem-se concentrado na substituição do leito filtrante tradicional, constituído por

pedras de granulometria definida, por meio filtrante sintético, de menor peso e maior área

de superfície por unidade de volume. A utilização de meio filtrante sintético tem permitido

Page 23: MÓDULO ESPECÍFICO LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE

23

a elevação da carga aplicada e da eficiência do processo. Essa unidade permite a filtração

do efluente e sua degradação por via predominantemente aeróbia. O efluente do reator

anaeróbio segue diretamente para o filtro aeróbio, sendo aplicado de forma distribuída em

sua parte superior, resultando em um fluxo descendente em queda livre, por sobre e entre

o meio filtrante. O índice elevado de vazios existentes no meio filtrante leva o líquido des-

cendente a provocar um movimento de circulação de ar no interior do filtro, permitindo

sua oxigenação. A matéria orgânica não degradada no reator anaeróbio será consumida

pela ação de microorganismos aderidos ao material filtrante. O oxigênio necessário para

estabilização da matéria orgânica é transferido da atmosfera para a biomassa por difusão.

O excesso de biomassa que se forma no material filtrante acaba se desprendendo natural-

mente, em consequência do arraste hidráulico, e sai com o efluente sob a forma de sólidos

em suspensão. A separação sólido/líquido do efluente final é realizada em clarificador (de-

cantador), situado a jusante do filtro percolador. O excesso de lodo retirado do clarificador

pode ser encaminhado ao reator anaeróbio, onde será digerido e descartado juntamente

com o lodo gerado no próprio reator UASB.

• Reator UASB seguido de flotação: combina uma primeira etapa anaeróbia (UASB) com uma

etapa físico-química, em tanque de flotação. A flotação é um processo de tecnologia con-

sagrado, em constante desenvolvimento, proporcionando unidades mais compactas e efi-

cientes. A flotação não estabelece nenhum mecanismo biológico de tratamento, tratando-se

basicamente de processo físico-químico de coagulação e floculação. A ação de microbolhas

de ar promove o arraste à superfície dos flocos formados durante a fase de coagulação/flo-

culação para posterior remoção mecânica. As microbolhas são geradas a partir da despressu-

rização de quantidade controlada de líquido supersaturado com ar. O processo de flotação é

tecnicamente sofisticado, exigindo uma série de equipamentos eletromecânicos de operação

delicada, que devem ser constantemente monitorados, de forma a manter o processo nas

condições ótimas de operação. Possui ainda a característica de apresentar consumo elevado

de produto químico e energia elétrica, o que implica uma despesa operacional considerável.

As etapas básicas são as seguintes: sistema de correção de pH; sistema de coagulação e flocu-

lação; câmaras de flotação; e sistema de pressurização.

• Lagoa facultativa seguida de lagoa de estabilização (c/ células de polimento/matura-ção): o processo de lagoas de estabilização vem sendo largamente utilizado no País, devido

aos seus baixos custos de implantação, operação e manutenção. Entretanto, por se tratar

de um sistema natural, esse processo demanda um significativo tempo de retenção e, por

conseguinte, maior extensão de área, o que pode ser um fator limitante para muitos centros

urbanos. O processo está baseado na simbiose entre as algas e bactérias. As algas produzem

oxigênio por meio da fotossíntese, que é utilizado pelas bactérias para decomposição da

matéria orgânica e liberação de nutrientes, utilizados, por sua vez, nas atividades metabóli-

cas das algas. Nas camadas mais profundas, com ausência de oxigênio, a decomposição do

material orgânico é feita por bactérias anaeróbias ou facultativas, resultando na formação

de biogás. Convencionalmente, um sistema de lagoas é formado por uma célula anaeró-

bia, uma célula facultativa e uma célula de polimento/maturação. Entretanto, em face dos

impactos ambientais causados pelas lagoas anaeróbias (odores, escumas e insetos), têm

sido projetados sistemas de lagoas com o esgoto bruto entrando diretamente nas lagoas

Page 24: MÓDULO ESPECÍFICO LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE

24

facultativas, suprimindo, assim, a célula anaeróbia. O processo, entretanto, passa a ocorrer

nas camadas mais profundas da célula facultativa, o que reduz os problemas de odor e

escuma na superfície das lagoas. Para alcançar uma eficiente remoção de microorganismos

patogênicos, é preciso que o efluente das lagoas facultativas permaneça por mais tempo

em uma condição que possibilite sua maior inativação. Nesse caso, a utilização de lagoas de

polimento/maturação, em virtude de sua menor profundidade, possibilita maior eficiência

na inativação de bactérias patogênicas, pela ação dos raios ultravioletas da luz solar, maior

competição pelo alimento e maior tempo de retenção. Em lagoas, retira-se o lodo do fundo

em períodos de cerca de 10 anos. É necessária a impermeabilização do revestimento inter-

no da lagoa com camada de argila, manta de polietileno de alta densidade - PEAD, pintura

asfáltica, ou outros métodos que evitem grandes quantidades de líquidos infiltrados capa-

zes de degradar a qualidade da água do lençol subterrâneo.

• Reator UASB seguido de lagoas aeradas: combina uma primeira etapa anaeróbia (UASB)

com a tecnologia de lagoas aeradas em série, apresentando taxas de aeração decrescentes.

Quando a disponibilidade de área é pequena para implantar o processo de lagoas convencio-

nais, é preciso reduzir a área de construção da lagoa. Nessa condição, a capacidade de geração

de oxigênio pelo processo de fotossíntese não é mais suficiente para estabilizar toda a matéria

orgânica afluente. Assim, a alternativa existente é fornecer oxigênio ao meio líquido através

de aeração mecanizada. Nas lagoas aeradas, o mecanismo de tratamento é completamente

diferente dos sistemas convencionais de lagoas, com um papel secundário das algas no for-

necimento de oxigênio, fornecido basicamente por aeradores de superfície ou por sopradores

de ar comprimido. Nesse processo, ocorre uma suspensão de bactérias heterotróficas, seme-

lhantes às encontradas no processo de lodo ativado, que metabolizam o material orgânico,

chegando até mesmo a nitrificar a amônia. Essas bactérias formam flocos que tendem a sedi-

mentar se não forem mantidos em suspensão pela turbulência induzida pela aeração mecâ-

nica. Dessa maneira, torna-se necessária, na saída do efluente das lagoas aeradas, a utilização

de decantador ou de uma lagoa de decantação para separar a massa bacteriana do efluente

tratado. Entretanto, uma configuração otimizada do processo de lagoas aeradas vem sendo

utilizada com sucesso e compreende a utilização de uma lagoa aerada de mistura completa,

seguida de lagoas aeradas facultativas, com taxas de aeração decrescentes e curtos tempos

de residência. Essa configuração evita a construção de decantadores ou lagoas de decantação

e permite maior estabilidade e eficiência do processo, além de possibilitar a digestão do lodo

na própria lagoa. Também é necessária a impermeabilização do revestimento interno da la-

goa com camada de argila, manta de polietileno de alta densidade - PEAD, pintura asfáltica ou

outros métodos que evitem grandes quantidades de líquidos infiltrados capazes de degradar

a qualidade da água do lençol subterrâneo.

• Lagoa anaeróbia seguida de lagoa facultativa: também conhecida como sistema aus-

traliano, é uma das soluções técnicas mais econômicas quando se dispõe de grandes áreas.

Na primeira lagoa, onde predomina o processo anaeróbio, ocorre a retenção e a digestão

anaeróbia do material sedimentável e, na segunda, com processo aeróbio, onde se atribui

às algas a função da produção e a introdução da maior parte do oxigênio consumido pelas

bactérias, ocorre a degradação dos contaminantes solúveis e contidos em partículas sus-

pensas muito pequenas. Também é necessária a impermeabilização do revestimento inter-

Page 25: MÓDULO ESPECÍFICO LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE

25

no da lagoa com camada de argila, manta de polietileno de alta densidade - PEAD, pintura

asfáltica ou outros métodos que evitem a infiltração para o lençol subterrâneo.

• Lagoa aerada seguida de lagoa de decantação: quando não se dispõe de área suficiente

para a implantação de sistemas de lagoas de estabilização naturais, mas se dispõe ainda

de área considerável, podem-se utilizar sistemas constituídos por lagoa aerada seguida por

lagoa de decantação. Existe a necessidade de efetuar a aeração, na primeira lagoa, empre-

gando-se aeradores superficiais ou sopradores de ar comprimido que injetam ar através

de difusores instalados no fundo da unidade, fato que impacta o custo de operação pelo

aumento no consumo de energia elétrica. Na lagoa aerada, há a produção de lodo biológi-

co, que tem de ser removido antes do lançamento do efluente no corpo receptor. Por esse

motivo, emprega-se uma segunda lagoa, que tem por objetivo a retenção e a digestão do

lodo. Consequentemente, esse lodo tem de ser removido em intervalos regulares e dispos-

to em local adequado. Também é necessária a impermeabilização do revestimento interno

da lagoa com camada de argila, manta de polietileno de alta densidade - PEAD, pintura as-

fáltica ou outros métodos que evitem grandes quantidades de líquidos infiltrados capazes

de degradar a qualidade da água do lençol subterrâneo.

3.5 tRAtAMENto E DISPoSIção FINAL Do LoDo PRoDUzIDo NAS EtEs

Os sólidos retirados no processo de tratamento de esgoto são normalmente denominados

lodos de esgoto. Os lodos contêm a maior parte dos poluentes e patógenos presentes no esgoto

sanitário, o que acarreta a necessidade de, antes de serem devolvidos à natureza, também recebe-

rem um tratamento específico, de forma a não causarem impactos negativos no meio ambiente

ou riscos à população.

A implantação de uma estação de tratamento de esgoto envolve obrigatoriamente o tratamen-

to da fase líquida do esgoto, bem como dos lodos gerados. A fase sólida, a exemplo da fase líquida,

que normalmente tem no corpo receptor a sua disposição final, também é necessária à definição da

disposição final dos lodos gerados.

As principais etapas de tratamento de lodo, normalmente utilizadas antes da disposição final

em uma ETE, são: adensamento ou espessamento, estabilização, condicionamento, desaguamento

ou desidratação e higienização.

O adensamento ou espessamento é um processo físico de concentração de sólidos no lodo

que visam reduzir sua umidade e, em decorrência, seu volume, facilitando as etapas subsequentes

de tratamento do lodo.

A estabilização visa atenuar o inconveniente de maus odores no processamento e na disposi-

ção do lodo. A redução dos odores é alcançada através da remoção de matéria orgânica biodegradá-

vel componente do lodo, o que também acarreta uma redução da massa de sólidos.

O condicionamento é um processo de preparação do lodo através da adição de produtos quí-

micos (coagulantes, polieletrólitos) para aumentar sua aptidão ao desaguamento e melhorar a cap-

tura de sólidos nos sistemas de desidratação do lodo.

A desidratação ou desaguamento objetiva remover água e reduzir ainda mais o volume, pro-

duzindo lodo com comportamento mecânico próximo ao dos sólidos. A desidratação tem impacto

importante nos custos de transporte e destino final, além de influenciar de maneira decisiva o manu-

seio do lodo, já que o comportamento mecânico deste varia com o teor de umidade.

Page 26: MÓDULO ESPECÍFICO LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE

26

Foto 6 - Centrífuga, unidade mecanizada de desaguamento do lodo em uma ETE.

A higienização é uma operação necessária se o destino do lodo for a reciclagem agrícola, já que

os processos de digestão anaeróbia e aeróbia geralmente empregados não reduzem o número de

patógenos a patamares aceitáveis. Para a incineração ou disposição do lodo em aterro sanitário, a

higienização não é necessária.

De maneira geral, o processo de tratamento de esgoto sanitário pode gerar os seguintes subpro-

dutos:

SÓLIDoS Do tRAtAMENto PRELIMINAR:• sólidosgrosseiros(madeiras,panos,plásticosetc);

• sólidospredominantementeinorgânicos(areiaouterra);

LoDoS DE ESGoto:• sólidospredominantementeorgânicos(lodoprimário);

• sólidospredominantementeorgânicosdeorigembiológica(lodosecundário);

• sólidosgeradospelaprecipitaçãoquímica(lodoterciário).

O lodo primário é formado pela separação dos materiais sólidos decantáveis já presentes no

esgoto bruto, que são retirados dos tanques de decantação, sem qualquer processo de estabilização.

Esse lodo tem como principais características o elevado teor de água, a grande concentração de

organismos patogênicos e o elevado percentual de matéria orgânica. O lodo primário é de difícil

desidratação, apresenta alto poder de putrefação, exalando forte odor desagradável. Por conter ele-

vada parcela de matéria orgânica, trata-se de meio adequado para a proliferação de vetores. O lodo

primário representa um considerável risco à saúde publica e ao meio ambiente, por ser bastante

poluente para o solo e os recursos hídricos. Devido a essas características, a disposição final desse

tipo de lodo é extremamente limitada. Normalmente, antes de sua disposição final, faz-se necessária

uma estabilização prévia, que visa à redução do teor de matéria orgânica e da concentração de mi-

croorganismos patogênicos. No processo de estabilização, são reduzidas a atratividade de vetores e

a emissão de maus odores.

Page 27: MÓDULO ESPECÍFICO LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE

27

O lodo secundário é gerado na fase biológica do processo, sendo constituído basicamente por

uma biomassa de microorganismos que se desenvolve às custas da assimilação da matéria orgânica

solúvel presente no esgoto. Dependendo do processo de tratamento, o elevado teor de matéria orgâ-

nica presente no lodo secundário também faz com que esse lodo requeira uma estabilização adicional,

apresentando, para sua disposição final, problemas semelhantes aos descritos para o lodo primário.

Na etapa de estabilização ou digestão, os microorganismos consomem grande parte da maté-

ria orgânica presente, dando ao lodo uma característica mais “mineral”. O lodo resultante da estabi-

lização, o lodo digerido, por sua vez, apresenta melhor capacidade de desidratação, é praticamente

isento de maus odores e possui ainda menor concentração de organismos patogênicos. A disposi-

ção final de lodo estabilizado é bastante facilitada quando comparada a de um lodo não estabilizado,

uma vez que apresenta um impacto poluidor mais reduzido. O lodo estabilizado, quando aplicado

de forma adequada, é um excelente condicionador de solos, permitindo ganhos de produtividade

para a agricultura.

Mesmo o lodo digerido possui ainda uma característica negativa que é a presença residual de

microorganismos patógenos. Essa característica implica que, na manipulação e aplicação do produ-

to, seja necessária a observação de uma série de cuidados com relação à higiene do trabalhador. Essa

contaminação residual pode gerar a necessidade, dependendo da disposição final que se pretende

implementar, de submeter o lodo estabilizado a uma etapa complementar de tratamento, para redu-

ção dos patógenos. Essa etapa adicional de tratamento visa eliminar as restrições para sua manipula-

ção e destinação final. Esse processo complementar é denominado de higienização.

O terceiro tipo de lodo que pode ser produzido em uma estação de tratamento de esgoto é

o lodo químico. Esse tipo é resultante da precipitação e aglomeração química dos sólidos remanes-

centes na fase líquida do tratamento. A precipitação é obtida através da adição de sais metálicos ou

cal ao esgoto. Geralmente apresentam baixo teor de matéria orgânica e, por conseguinte, menores

riscos de produção de odores desagradáveis. São produzidos apenas em estações de tratamento que

utilizam produtos químicos em alguma etapa do processo de tratamento.

Como já mencionado, a concentração de matéria orgânica e de nutrientes remanescentes no

lodo é a principal qualificação para o seu uso agrícola. Essas características possibilitam um aumento

na capacidade de retenção de água pelo solo, que, associada à presença de nutrientes, como o nitro-

gênio e o fósforo, e ainda em menor concentração, o potássio, fazem do lodo um excelente condicio-

nador de solo, com elevado conceito entre os agricultores da região do cerrado brasileiro.

Os teores de nitrogênio e fósforo contidos no lodo suprem parte da demanda do solo por

nutrientes, reduzindo a despesa do agricultor com adubos minerais. Entretanto, nos lodos apenas

estabilizados, a presença de microorganismos patogênicos restringe sua aplicação a culturas espe-

cíficas, não devendo ser utilizado em culturas em que os alimentos possam ser ingeridos crus, como

no caso das hortaliças.

Em estações de tratamento de esgoto que promovem a estabilização adequada do lodo, o produto

final não representa mais atração para vetores, não libera odores indesejáveis de forma ofensiva e apre-

senta a concentração de microorganismos patogênicos inferior a 2 milhões de coliformes fecais/grama

de sólidos totais. Essas características fazem com que esse tipo de lodo possa ser utilizado em um grande

número de aplicações agrícolas, bastando a observação de alguns cuidados básicos em sua aplicação e

manipulação, semelhantes aos que já devem ser normalmente praticados na atividade agrícola.

A escolha da melhor alternativa de disposição final de lodos de esgoto é uma tarefa complexa,

que demanda a avaliação integrada dos vários fatores relacionados, de ordem técnica, social, am-

Page 28: MÓDULO ESPECÍFICO LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE

28

biental e econômica. Qualquer que seja a alternativa de destinação desse material, ela deve ser esco-

lhida dentre aquelas que favoreçam a disposição de forma econômica, ambientalmente aceitável e

segura em termos de saúde pública.

A Figura seguinte mostra as possíveis formas de disposição adequada de lodos de esgoto. Res-

salta-se que a aplicação no solo é a alternativa que melhor se enquadra no conceito de desenvolvi-

mento sustentável integrado, pois o lodo passa a ter uma função de promotor do desenvolvimento

socioeconômico da região.

Disposição em incinerador: alternativa de alto custo de implantação e operação, recomenda-

da apenas para ETEs de grande porte. Nesse processo, todo o lodo produzido é incinerado, deixando

como resíduo final apenas uma pequena quantidade de cinzas inertes, que deverão ser encaminha-

das para aterro sanitário. Deverá atender, no mínimo, às seguintes exigências: tratar adequadamente

de todos os gases de escape produzidos na unidade; não produzir poeira ou odores ofensivos e

tampouco gerar gases poluentes ao meio ambiente ou que contribuam para o efeito estufa; e não

produzir efluentes líquidos que não possam ser lançados nas redes públicas de coleta de esgoto,

com qualidade equivalente ao esgoto doméstico, ou, no caso da inexistência das redes de coleta de

esgoto, que não possam ser lançados em corpo receptor, com o padrão de qualidade exigido pelo

órgão ambiental.

Disposição em aterro sanitário: na disposição do lodo em aterro sanitário, não existe qual-

quer preocupação quanto à sua reutilização. Nessa alternativa, a concentração de patógenos tem

importância secundária, adquirindo relevância apenas o teor de sólidos do lodo, por seu efeito direto

no volume, na consistência e na capacidade de produzir chorume do material disposto no aterro.

Pode ser previsto um aterro sanitário exclusivo para recebimento dos lodos, da areia e dos detritos

grosseiros do gradeamento, com capacidade de armazenamento para todo o período de projeto da

ETE. Também permite-se sua codisposição em aterro sanitário, já que o lodo de esgoto é classificado

como resíduo não perigoso. O principal inconveniente dessa alternativa de disposição é a redução

da vida útil do aterro, caso a quantidade de lodo disposta seja significativa.

Disposição com aplicação no solo: uma das alternativas é a incorporação controlada do lodo

no solo em áreas pré-determinadas para seu recebimento. Nessa alternativa, cada área utilizada per-

manece isolada durante um período de aproximadamente dois anos, a partir do recebimento do

lodo. Após esse período, a área pode ser novamente utilizada na agricultura, aproveitando a matéria

orgânica e os nutrientes incorporados durante a aplicação do lodo. Também pode-se utilizar a reci-

clagem agrícola, promovendo a incorporação de nutrientes e a estruturação do solo. As principais

limitações para utilização dessa rota de disposição estão associadas aos riscos de contaminação do

solo com metais pesados, compostos orgânicos persistentes e agentes patogênicos e a contamina-

Page 29: MÓDULO ESPECÍFICO LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE

29

ção das águas superficiais e subsuperficiais a partir da lixiviação do fósforo e nitrogênio presentes no

lodo. No Brasil, a Resolução nº 375 do CONAMA, de 2006, define critérios e procedimentos para o uso

agrícola de lodos de esgoto gerados em estações de tratamento de esgoto sanitário.

3.6 PARâMEtRoS BáSICoS DE PRojEto

A concepção de um sistema completo de esgotamento sanitário deve priorizar a otimização

das diversas unidades que o compõem, requerendo uma estimativa realista das contribuições e car-

gas que efetivamente irão contribuir para cada unidade de coleta, transporte e tratamento.

A seguir são apresentados os principais parâmetros de projetos a serem utilizados no dimensio-

namento do sistema de tratamento de esgoto.

Consumo médio per capita de água potável - a contribuição de esgoto depende normal-

mente do abastecimento de água. É um parâmetro extremamente variável entre diferentes localida-

des, dependendo de diversos fatores, dentre os quais se destacam: hábitos higiênicos e culturais da

comunidade; quantidade de micromedição do sistema de abastecimento; instalações e equipamen-

tos hidrossanitários dos imóveis; controles exercidos sobre o consumo; valor da taxa ou tarifa; abun-

dância ou escassez de mananciais; regularidade do abastecimento; temperatura média da região;

renda familiar; entre outros. Segundo dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento

- SNIS, em 2007 a média nacional foi de 150 l/hab.dia.

Coeficiente de retorno – a estimativa do esgoto produzido deve levar em consideração a pro-

jeção do coeficiente de retorno para a água consumida. O valor tradicional, preconizado pela ABNT, é

de 0,8. Esse valor pode ser conservador frente à realidade observada e ser reduzido mediante estudo

específico sobre esse coeficiente.

Vazão de infiltração – conforme preconiza a NBR 9649, que normaliza o projeto de redes co-

letoras de esgoto sanitário, a vazão de infiltração deve ser considerada a partir de uma taxa de con-

tribuição de infiltração que depende de condições locais, podendo variar de um mínimo de 0,05 l/s.

km até um máximo de 1 l/s.km.

Contribuições per capita de Demanda Bioquímica de oxigênio - DBo – a produção ‘per

capita de matéria orgânica é um dos mais importantes parâmetros de projeto em uma estação de

tratamento de esgoto. Seu valor vai influenciar diretamente no porte das unidades de processo da

futura estação, determinando também a demanda de oxigênio que deverá ser suprida, no caso da

utilização de processos aeróbios.

Contribuições per capita de Sólidos Suspensos - SS – A produção per capita de sólidos em

suspensão é um dos parâmetros de projeto que definem o balanço de sólidos na estação de tra-

tamento de esgoto. Seu valor tem influência direta na quantidade de lodo a ser produzida na ETE,

determinando a dimensão das unidades relacionadas ao processo de coleta, estabilização e desa-

guamento do lodo produzido.

Contribuição per capita de nutrientes – a produção per capita de nutrientes, na maioria das

ETEs, não é fator determinante no dimensionamento das unidades de tratamento, aplicando-se ape-

nas nos casos em que o corpo receptor é sensível a esse tipo de poluente.

Horizonte de projeto – normalmente, para Estações de Tratamento de Esgoto, o horizonte de

projeto considerado é de 20 anos, iniciando-se no ano previsto para entrada em operação da ETE.

População atendida – a previsão do crescimento populacional na bacia de drenagem a ser

atendida define um dos principais parâmetros de projeto para o dimensionamento de sistemas

de esgotamento sanitário. A projeção adequada da população assegura a otimização dos recursos

Page 30: MÓDULO ESPECÍFICO LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE

30

a serem empregados bem como o bom desempenho operacional do sistema de tratamento im-

plantado. As projeções demográficas devem refletir as diversas hipóteses de crescimento que se

podem vislumbrar para a cidade, enfatizando principalmente as séries históricas (exemplo: dados

censitários produzidos pelo IBGE), incorporando ainda as tendências gerais que se vêm verificando

no País como um todo e principalmente procurando projetar a influência da posição geográfica do

Município, fator determinante que pode influenciar sobremaneira o comportamento da dinâmica

populacional da cidade.

A Tabela 3 apresenta o resumo dos principais parâmetros de projeto normalmente utilizados.

Tabela 3 - Valores usuais para os principais parâmetros de projeto.

Parâmetro Valor

Consumo per capita de água (q): 80 a 250 l/hab.dia

Coeficiente de retorno (C): 0,80

Taxa de infiltração: (sistema de coleta) 0,05 a 1,00 l/s. km

Horizonte de projeto 20 anos

Contribuição per capita - DBO5 54 g/hab. dia

Fonte: adaptado de SNIS, 2007, NBR ABNT e Eduardo Pacheco Jordão, 2005.

3.7 IMPACtoS Do LANçAMENto DE ESGoto NoS CoRPoS DE áGUA

Uma carga poluidora atinge um curso de água de duas formas basicamente:

Fontes pontuais – a carga poluidora atinge o corpo hídrico em um ponto específico. Elas in-

cluem a descarga de estações de tratamento, tributários, galerias de águas pluviais e outras tubula-

ções ou canais onde poluentes são ou podem ser descarregados.

Fontes não pontuais ou difusas – a carga de poluição chega ao corpo hídrico de maneira dis-

persa ao longo de parte de sua extensão. Essa carga é resultante do runoff da bacia de drenagem ou

do afloramento das águas subterrâneas. A deposição atmosférica dos poluentes do ar também é en-

quadrada nessa categoria. As características hidrológicas da bacia, o grau de atividade industrial e as

formas de uso do solo são fatores determinantes da magnitude da carga oriunda de fontes difusas.

A poluição causada por fontes não pontuais é mobilizada primariamente durante as precipi-

tações pluviométricas. Consequentemente, a carga poluidora é irregular, em contraste com as car-

gas contínuas oriundas das fontes pontuais. Isso não significa, entretanto, que os impactos adversos

oriundos de fontes difusas não sejam, em certas circunstâncias, contínuos. Como exemplo podemos

citar os efeitos adversos causados por poluentes depositados no sedimento que perduram por longo

período após o encerramento das chuvas.

Nutrientes como fósforo e nitrogênio, patógenos, pesticidas, herbicidas e sólidos sedimentáveis

são apontados como os principais poluentes oriundos de fontes não pontuais. Cada um pode, isola-

damente ou em conjunto, provocar alterações adversas no ecossistema aquático, com grave reflexo

para a saúde humana.

Page 31: MÓDULO ESPECÍFICO LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE

31

Os maiores impactos das fontes pontuais são sentidos no período de estiagem, quando a vazão

reduzida do rio limita sua capacidade de diluição. As alterações causadas pelas fontes difusas, por

sua vez, são mais sentidas durante o período de chuvas, quando ocorre o carreamento de grande

quantidade de poluentes por meio do escoamento superficial.

Quando uma carga poluidora atinge um curso de água, esta passa por processos físicos e bio-

químicos que alteram as suas condições de montante. O primeiro processo é o de mistura e disper-

são, observado a uma distância relativamente curta do ponto de descarga. O segundo é o de reação

e decomposição, em que os materiais biodegradáveis são decompostos por bactérias. Na presença

de oxigênio dissolvido, esses materiais são convertidos em CO2, NO3, PO4 e H2O, promovendo a es-

tabilização da matéria orgânica presente na carga poluidora. Segue-se a zona de recuperação, onde

parte significativa da matéria orgânica foi oxidada e as condições de oxigenação retornam gradati-

vamente aos patamares iniciais.

Em continuidade, as algas assimilam os nutrientes inorgânicos como fósforo e nitrogênio du-

rante a fotossíntese, reduzindo a concentração desses elementos na massa líquida. A biomassa algal

retorna à forma de nutrientes inorgânicos após sua morte.

O impacto do lançamento de uma carga poluidora no corpo receptor é função da magnitude

da descarga e da capacidade de assimilação do curso de água. Esta última depende de características

específicas, como vazão, velocidade, profundidade e da qualidade da água a montante.

O lançamento de materiais biodegradáveis em um curso de água tem como resultado a redu-

ção do oxigênio dissolvido presente, que ocorre em duas etapas. A primeira é resultado da própria

diluição, que pode ser expressa pelo balanço de massa no ponto de mistura, conforme mostrado na

equação seguinte:

re

rreem QQ

CQCQC+

⋅+⋅=

onde: Cm = concentração no ponto de mistura Ce = concentração do lançamento

Qe = vazão do lançamento Cr = concentração do curso de água

Qr = vazão do curso de água

A segunda deve-se à ação de microorganismos decompositores aquáticos, que passam a con-

sumir a matéria orgânica lançada, utilizando o oxigênio dissolvido na água. O consumo de oxigênio

dissolvido é proporcional à carga despejada, podendo chegar a inviabilizar a vida naquele corpo

hídrico. Por outro lado, todo curso de água possui condições naturais de recuperar o seu equilíbrio,

o que chamamos autodepuração.

3.8 SoLUçõES No âMBIto Do MINIStéRIo Do MEIo AMBIENtE - MMA PARA o AUMENto Do íNDICE DE tRAtAMENto DE ESGoto

Capacidade de Suporte do Corpo Receptor

A modelagem do curso de água tem como função precípua determinar a capacidade de auto-

depuração e a carga poluente assimilável pelo corpo hídrico, por meio de modelo de simulação de

qualidade da água.

Page 32: MÓDULO ESPECÍFICO LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE

32

As coleções de águas do País são classificadas segundo seus usos preponderantes em cinco

classes, de acordo com a Resolução CONAMA 357/05. Para cada classe, são estabelecidas as caracte-

rísticas e concentrações limites de poluentes, as quais retratam as condições de qualidade das águas

para cada uso específico.

Para elaboração do estudo de autodepuração de um curso de água, é necessária a definição da

vazão crítica e dos parâmetros de qualidade do corpo receptor que dependem de séries históricas

e do levantamento das outorgas existentes ao longo do trecho analisado. O fato é que, no Brasil,

existem poucas estações de amostragem nos cursos de água capazes de subsidiar os estudos de

autodepuração.

Está em discussão, na Câmara Técnica de Integração de Procedimentos, Ações de Outorga e

Ações Reguladoras - CTPOAR do Conselho Nacional de Recursos Hídricos - CNRH, proposta de re-

solução que dispõe sobre procedimentos gerais para manifestação prévia e outorga de direito de

uso de recursos hídricos para fins de diluição de efluentes em corpos de água superficiais. Essa

resolução trata, entre outras questões, de referências básicas na análise dos pedidos de outorga,

como a capacidade do corpo hídrico receptor quanto à diluição ou à autodepuração de parâmetros

de qualidade adotados pela autoridade outorgante e seus efeitos sobre a taxa de oxigênio dissolvido

no corpo hídrico.

Enquadramento dos Corpos de água

Um dos maiores entraves no processo de Licenciamento Ambiental de Estações de Tratamen-

to de Esgoto é a falta de enquadramento dos corpos receptores dos seus efluentes. Na falta desse

importante instrumento, a maioria dos Estados adota a classe 2 da Resolução CONAMA nº 357/2005

como meta de qualidade para os corpos de água. O estabelecimento dessa classe como única meta

do corpo receptor não permite que o empreendedor, na maioria dos casos, construa a Estação em

etapas de eficiência, o que poderia reduzir o custo inicial de sua implantação.

O enquadramento busca “assegurar às águas qualidade compatível com os usos mais exi-

gentes a que forem destinadas” e “diminuir os custos de combate à poluição das águas, mediante

ações preventivas permanentes” (Art. 9º da Lei 9.433/1997). O enquadramento é referência para

os demais instrumentos de gestão de recursos hídricos (outorga, cobrança, planos de bacia) e

instrumentos de gestão ambiental (licenciamento, monitoramento), sendo, portanto, um impor-

tante elo entre o Sistema Nacional de Recursos Hídricos - SINGREH e o Sistema Nacional de Meio

Ambiente - SISNAMA.

Mais que uma simples classificação, o enquadramento deve ser visto como um instrumento de

planejamento baseado nos níveis de qualidade que deveriam possuir ou serem mantidos nos corpos

de água para atender as necessidades estabelecidas nesse pacto.

Na situação atual do enquadramento no Brasil, temos alguns corpos de água em bacias esta-

duais e federais enquadrados que utilizam a Resolução CONAMA nº 20/86 ou a Portaria do Ministé-

rio do Interior nº 13/76, mas nenhum corpo de água enquadrado conforme a legislação vigente, a

Resolução CONAMA nº 357/2005, que dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes

ambientais para o seu enquadramento.

A definição das metas (intermediárias e final) de qualidade dos corpos de água é a base para se

determinar a eficiência de tratamento dos efluentes de sistemas de esgotamento sanitário. A pos-

Page 33: MÓDULO ESPECÍFICO LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE

33

sibilidade de utilização de metas progressivas para o corpo receptor, antes do seu enquadramento

definitivo, permitindo, assim, o uso das etapas de eficiência de tratamento para licenciamento das

Estações de Tratamento de Esgoto, está prevista na Resolução CNRH nº 91, de 05/11/2008. Para

tanto, o órgão de meio ambiente competente deve articular-se com a autoridade outorgante para

que esta possa definir, de forma transitória, o enquadramento do corpo de água. Essa possibilidade

consta do art. 15 da Resolução CNRH nº 91, de 05/11/2008, que dispõe sobre procedimentos gerais

para o enquadramento dos corpos de água superficiais e subterrâneos.

Art. 15. Na outorga de direito de uso de recursos hídricos, na cobrança pelo uso da água, no licenciamento ambiental, bem como na aplicação dos demais instrumentos da gestão de recursos hídricos e de meio ambiente que tenham o enquadramento como referência para sua aplicação, deverão ser conside-rados, nos corpos de água superficiais ainda não enquadrados, os padrões de qualidade da classe correspondente aos usos preponderantes mais restritivos existentes no respectivo corpo de água.

§ 1º Caberá à autoridade outorgante, em articulação com o órgão de meio ambiente, definir, por meio de ato próprio, a classe correspondente a ser ado-tada, de forma transitória, para aplicação dos instrumentos previstos no caput, em função dos usos preponderantes mais restritivos existentes no respectivo corpo de água.

Foto 7 - Barragem de Brazlândia - DF.

Page 34: MÓDULO ESPECÍFICO LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE

4. RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS

Page 35: MÓDULO ESPECÍFICO LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE

35

Normalmente os autores utilizam indistintamente os termos “lixo” e “resíduos sólidos” para ca-

racterizar o material sólido ou semissólido indesejável que necessita ser removido por recipiente

adequado. A Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT, na Norma Brasileira - NBR 10.004, de-

fine Resíduos Sólidos como resíduos nos estados sólido e semissólido que resultam de atividades de

origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição. Ficam incluídos

nessa definição os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em equi-

pamentos e instalações de controle de poluição, bem como determinados líquidos cujas particula-

ridades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos de água ou exijam

para isso soluções técnica e economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível.

São várias as maneiras de se classificarem os resíduos sólidos, em função da origem e de sua

possível degradabilidade. A ABNT elaborou e vinculou a NBR 10.004 às NBRs 10.005, 10.006 e 10.007,

criando um conjunto de critérios e ensaios para classificação dos resíduos sólidos que podem ser

enquadrados em uma das seguintes classes:

a) Resíduos classe I - Perigosos: são aqueles que, em função de suas características intrínsecas

de inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade ou patogenicidade, apresentam riscos à

saúde pública pelo aumento da mortalidade ou da morbidade ou, ainda, provocam efeitos adversos

ao meio ambiente quando manuseados ou dispostos de forma inadequada. Exemplo: solventes usa-

dos, borra ácida de processos de refino de óleos, resíduos de tintas e outros.

b) Resíduos classe II - Não Perigosos: subdividem-se em:

b1) Classe II A - não-inertes: são os resíduos que podem apresentar características de combus-

tibilidade, biodegradabilidade ou solubilidade, com possibilidade de acarretar riscos à saúde ou ao

meio ambiente, não se enquadrando nas classificações de resíduos classe I - Perigosos ou de resíduos

classe II B - Inertes, nos termos desta Norma. Os resíduos classe II A – não inertes podem ter proprie-

dades tais como: biodegradabilidade, combustibilidade ou solubilidade em água. Estão incluídos

nessa classe os papéis, o papelão, a matéria vegetal e outros;

b2) Resíduos classe II B - inertes: são aqueles que, por suas características intrínsecas, não

oferecem riscos à saúde e ao meio ambiente e que, quando amostrados de forma representativa,

segundo a norma NBR 10.007, e submetidos a um contato dinâmico e estático com água destilada

ou desionizada, à temperatura ambiente, conforme teste segundo a NBR 10.006, não têm nenhum

de seus constituintes solubilizados a concentrações superiores aos padrões de potabilidade de água,

excetuando-se aspecto, cor, turbidez, dureza e sabor, conforme anexo G da NBR 10.004. São as ro-

chas, tijolos, vidros e certos plásticos e borrachas que não são decompostos facilmente.

4.1 LIMPEzA URBANA E MANEjo DE RESíDUoS SÓLIDoS URBANoS

A Lei de Saneamento, nº 11.445/07, define limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos como

sendo o conjunto de atividades, infraestruturas e instalações operacionais de coleta, transporte,

transbordo, tratamento e destino final do lixo doméstico e do lixo originário da varrição e limpeza de

logradouros e vias públicas.

A seguir é apresentado breve detalhamento das principais etapas do serviço de limpeza urbana

e manejo de resíduos sólidos urbanos:

a) Limpeza de logradouros públicos: um dos mais graves problemas do acúmulo de lixo nas

ruas é o entupimento dos aparelhos que compõem o sistema de drenagem de águas pluviais. Em

termos de segurança, manter as ruas limpas previne danos a veículos, causados por impedimentos

Page 36: MÓDULO ESPECÍFICO LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE

36

ao tráfego, como galhadas e objetos cortantes, reduz o risco de derrapagens de veículos devido à

poeira e à terra e diminui a possibilidade de incêndios por causa de folhas e capim secos. Sobre os

aspectos estéticos, a limpeza de logradouros públicos é forte colaboradora nas políticas e ações de

incremento da imagem das cidades. Ruas limpas previnem doenças resultantes da proliferação de

vetores em depósitos de lixo nas ruas ou em terrenos baldios e evitam danos à saúde resultantes de

poeira em contato com os olhos, os ouvidos, o nariz e a garganta.

b) Coleta e transporte: significa recolher o lixo acondicionado por quem o produz para en-

caminhá-lo, mediante transporte adequado, a uma possível estação de transferência (transbordo),

tratamento ou disposição final. Nessa etapa, o intervalo entre as coletas e sua regularidade são im-

portantes atributos do serviço.

c) Estação de transferência ou de transbordo: são unidades instaladas próximas ao centro

de massa de geração de resíduos, quando necessário, para que os caminhões de coleta, após cheios,

façam a descarga e retornem rapidamente para complementar o roteiro de coleta. O transporte para

o aterro sanitário dos resíduos descarregados nas estações de transbordo é feito por veículos de

maior porte, com carga de pelo menos três vezes a de um caminhão de coleta, reduzindo o custo

unitário de transporte.

d) tratamento dos resíduos sólidos urbanos: procedimentos destinados a reduzir a quanti-

dade ou o potencial poluidor dos resíduos sólidos, transformando-os em material inerte ou biologi-

camente estável. Entre as alternativas de tratamento, a reciclagem é aquela que desperta o maior inte-

resse na população, principalmente por seu forte apelo ambiental. Os principais benefícios ambientais

da reciclagem dos materiais existentes no lixo são: a economia de matérias-primas não-renováveis; a

economia de energia nos processos produtivos; e o aumento da vida útil dos aterros sanitários. Entre

os processos que envolvem a reciclagem com segregação na fonte geradora, podem ser destacados: a

coleta seletiva, os pontos de entrega voluntária - PEV; e a cooperativa de catadores. Outra importante

alternativa de tratamento é a compostagem, processo natural de decomposição biológica de materiais

orgânicos, de origem animal e vegetal, pela ação de microorganismos. Para os resíduos da construção

civil, o processo de tratamento normalmente utilizado é a segregação (limpeza), seguida de trituração

e reutilização na própria indústria da construção civil. Outros resíduos, como pilhas, baterias, lâmpadas

fluorescentes e pneus, devem ter tratamento e destinação final específica para resíduos industriais.

e) Destinação final de resíduos sólidos urbanos: entre as diversas formas de destinação final

de Resíduos Sólidos Urbanos - RSU ambientalmente adequadas, destacamos a incineração, a diges-

tão anaeróbia e o aterro sanitário. Cabe lembrar que algumas formas de disposição utilizadas pela

maioria dos Municípios brasileiros, como lixões (disposição a céu aberto) e aterros controlados, são

consideradas inadequadas sob o ponto de vista ambiental, poluindo tanto o solo, quanto o ar e as

águas subterrâneas e superficiais. No Brasil, a forma recomendada, na grande maioria dos casos, para

se dar destino final aos resíduos sólidos é o aterro sanitário.

4.2. NoRMAS téCNICAS ESPECíFICAS

Os parâmetros e as faixas de recomendação para o dimensionamento de unidades componen-

tes de um projeto de resíduos sólidos estão disponíveis nas normas brasileiras editadas pela ABNT,

listadas a seguir:

• NBR8.419-ApresentaçãodeprojetosdeaterrossanitáriosdeResíduosSólidosUrbanos-

RSU;

Page 37: MÓDULO ESPECÍFICO LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE

37

• NBR8.849–ApresentaçãodeprojetosdeaterrossanitáriosdeRSU;

• NBR10.004-ResíduosSólidos–Classificação;

• NBR10.005-Lixiviaçãoderesíduossólidos;

• NBR10.006-Solubilizaçãoderesíduossólidos;

• NBR10.007-Amostragemderesíduossólidos;

• NBR10.664-Águas-determinaçãoderesíduos(Sólidos)-MétodoGravimétrico;

• NBR11.174-ArmazenamentoderesíduosclasseII;

• NBR12.235-Armazenamentoderesíduossólidosperigosos;

• NBR12.807-Resíduosdesistemasdesaúde–terminologia;

• NBR12.808-Resíduosdesistemasdesaúde–classificação;

• NBR12.809-Manuseioderesíduosdeserviçosdesaúde;

• NBR12.810-Coletaderesíduosdesistemasdesaúde;

• NBR12.980-Coleta,varriçãoeacondicionamentoderesíduossólidosurbanos;

• NBR12.988-Líquidoslivres–verificaçãoemamostras;

• NBR13.221-Procedimentoparatransportederesíduos;

• NBR13.332-Coletor-compactadorderesíduossólidoseseusprincipaiscomponentes-ter-

minologia;

• NBR13.333-Caçamba,estacionáriade0,8m3;1,2m3;e1,6m3paracoletaderesíduossóli-

dos por coletores-compactadores de carregamento traseiro;

• NBR13.334-Contentormetálicoparacoletaderesíduossólidosporcoletores-compacta-

dores;

• NBR13.463-Coletaderesíduossólidos;

• NBR13.896-ProjetosdeAterrosderesíduosnãoperigosos–critériosdeprojeto,constru-

ção e operação.

4.3 oS AtERRoS SANItáRIoS DE RSU

Segundo definição da ABNT, o Aterro Sanitário de RSU é uma técnica de disposição no solo

que não causa danos à saúde pública e à segurança, minimizando os impactos ambientais, e que

utiliza princípios de engenharia para confinar os resíduos sólidos à menor área possível e reduzi-los

ao menor volume permissível, cobrindo-os com uma camada de terra na conclusão de cada jornada

de trabalho ou a intervalos menores, se necessário.

Foto 8 - Aterro Sanitário: à frente, células exauridas e, ao fundo, célula em operação.

Page 38: MÓDULO ESPECÍFICO LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE

38

É considerado uma das técnicas mais eficientes e seguras de destinação de resíduos sólidos,

pois permite um controle eficiente e seguro do processo e quase sempre apresenta a melhor relação

custo-benefício. Pode receber e acomodar vários tipos de resíduos, em diferentes quantidades, e é

adaptável a qualquer tipo de comunidade, independentemente do tamanho.

O aterro sanitário comporta-se como um reator dinâmico porque produz, através de reações

químicas e biológicas, emissões como o biogás de aterro, efluentes líquidos, como os lixiviados, e

resíduos mineralizados (húmus) a partir da decomposição da matéria orgânica.

A norma da ABNT NBR 8.419 descreve as diretrizes técnicas dos elementos essenciais aos proje-

tos de aterros, tais como impermeabilização da base e impermeabilização superior, monitoramento

ambiental e geotécnico, sistema de drenagem de lixiviados e de gases, exigência de células especiais

para resíduos de serviços de saúde, apresentação do manual de operação do aterro e definição de

qual será o uso futuro da área do aterro após o encerramento das atividades. De acordo com essa

Norma, o projeto de um aterro sanitário deve ser obrigatoriamente constituído de memorial descri-

tivo, memorial técnico, apresentação da estimativa de custos e do cronograma, plantas e desenhos

técnicos.

O projeto de concepção de um aterro sanitário passa por várias etapas. A primeira refere-se aos

estudos preliminares, que consistem na caracterização do Município e na elaboração de um diag-

nóstico do gerenciamento de resíduos sólidos no local. Esses estudos visam a levantar informações

sobre a geração per capita de resíduos sólidos gerados no Município, a composição gravimétrica e os

serviços de limpeza executados.

A composição gravimétrica traduz o percentual de cada componente em relação ao peso total

da amostra de lixo analisada. Os componentes mais comuns da composição gravimétrica são: maté-

ria orgânica, papel, papelão, plástico rígido, plástico maleável, pet, metal ferroso, metal não-ferroso,

alumínio, vidro claro, vidro escuro, madeira, borracha, couro, pano/trapos, ossos, cerâmica e agrega-

do fino.

A segunda etapa consiste na escolha da área adequada para a instalação, considerada a partir de

critérios técnicos, ambientais, operacionais e sociais. A área escolhida deve ser caracterizada através

de levantamentos topográficos, geológicos, geotécnicos, climatológicos e relativos ao uso de água e

solo. Na concepção do projeto, devem ser apresentadas a escolha e a justificativa da escolha de cada

um dos vários elementos que compõem um aterro sanitário, como a drenagem das águas superfi-

ciais, a impermeabilização da camada superior e inferior, a drenagem e o tratamento dos lixiviados e

gases, bem como o plano de monitoramento para avaliar o impacto causado pela obra, os métodos

de operação do aterro e as sugestões de uso futuro da área após encerramento das atividades.

De uma maneira geral, recomenda-se que as áreas de aterros encerrados sejam transformadas

em jardins, parques, praças esportivas e áreas de lazer. Caso haja intenção de construir edificações,

devem-se tomar precauções especiais com relação aos recalques (afundamentos do solo) diferen-

ciais que a área do aterro sofre devido à compressão das camadas superiores e da decomposição da

matéria orgânica.

A seleção da área para a construção do aterro sanitário é um grande passo para o sucesso do

empreendimento, pois diminui custos, evitando gastos desnecessários com infraestrutura, impedi-

mentos legais e oposição popular. É comum construir-se o aterro sanitário em uma área contígua ao

antigo lixão, desde que este não esteja situado em locais de risco ou restrição ambiental.

É importante observar os critérios que abrangem questões técnicas, econômicas, sociais e po-

líticas. Os critérios técnicos são impostos pela norma da ABNT NBR 13.896 e pela legislação federal,

Page 39: MÓDULO ESPECÍFICO LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE

39

estadual e municipal. Esses condicionantes abordam desde questões ambientais, como o limite de

distância de corpos hídricos e a profundidade do lençol freático, até aspectos relativos ao uso e à ocu-

pação do solo, como o limite da distância de centros urbanos, a distância de aeroportos etc. Os crité-

rios econômicos dizem respeito aos custos relacionados à aquisição do terreno, à distância do centro

atendido, à manutenção do sistema de drenagem e ao investimento em construção. Finalmente, os

critérios políticos e sociais abordam a aceitação da população à construção do aterro, o acesso à área

através de vias com baixa densidade e a distância dos núcleos urbanos de baixa renda.

Alguns pontos fundamentais devem ser observados na escolha da área:

• oaterronãodeveserexecutadoemáreassujeitasainundações,emperíododerecorrência

de 100 anos;

• entreasuperfícieinferiordoaterroeomaisaltoníveldolençolfreático,devehaveruma

camada natural de espessura mínima de 1,50 m de solo insaturado;

• oaterrodeveser instaladoemumaáreaondehajapredominânciadematerialdebaixa

permeabilidade, com coeficiente de permeabilidade (k) inferior a 5x10-5 cm/s;

• oaterrosópodeserconstruídoemáreapermitida,conforme legislação localdeusodo

solo;

• deve-seatentarparaaproximidadedeaeroportoseaeródromos.

Dentre os vários RSU gerados, são normalmente encaminhados para a disposição em aterros

sob responsabilidade do poder municipal os resíduos de origem domiciliar ou aqueles com caracte-

rísticas similares, como os comerciais e os resíduos da limpeza pública. Alguns resíduos dos serviços

de saúde também podem ser encaminhados ao aterro sanitário desde que submetidos a prévio

tratamento que objetive a redução da carga microbiana, conforme resolução CONAMA nº 358, de

29 de abril de 2005.

4.4. ELEMENtoS DE PRojEto

O projeto de um aterro sanitário deve prever a instalação de elementos para captação, arma-

zenamento e tratamento dos lixiviados e biogás, além de sistemas de impermeabilização superior e

inferior. Esses elementos são de fundamental importância, pois, quando bem executados e monito-

rados, tornam a obra segura e ambientalmente correta, com reflexos diretos na melhoria da qualida-

de de vida da população do entorno do aterro.

• SistemadedrenagemdaságuassuperficiaisTem a função de evitar a entrada de água de escoamento superficial no aterro. Além de aumen-

tar o volume de lixiviados, a infiltração das águas superficiais pode causar instabilidade na massa de

resíduos, pelas poro-pressões induzidas, e instabilidade do terreno, pela ocorrência de erosão.

• SistemadeimpermeabilizaçãodefundoedelateraisA impermeabilização da fundação e das laterais do aterro tem a função de proteger e impedir

a percolação do chorume para o subsolo e aquíferos existentes. No Brasil, a exigência mínima para a

contenção de lixiviados não-perigosos é de que as camadas de fundo e laterais consistam de uma

camada simples, podendo ser argila compactada, geomembranas de polietileno de alta densidade

- PEAD ou outro método que apresente baixa permeabilidade, com coeficiente (k) inferior a 5x10-5

cm/s.

• SistemadedrenagemdoslixiviadosO lixiviado, também chamado de chorume ou percolado, é originado de várias fontes: da umi-

dade natural dos resíduos que podem reter líquidos através da absorção capilar; de fontes externas,

Page 40: MÓDULO ESPECÍFICO LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE

40

como águas de chuvas, superficiais e de mananciais subterrâneos, de água de constituição da maté-

ria orgânica e das bactérias que expelem enzimas que dissolvem a matéria orgânica para a formação

de líquidos. A composição, quantidade e produção dos lixiviados dependem de uma série de fatores,

como condições climáticas, temperatura, umidade, pH, composição, densidade dos resíduos, forma

de disposição e idade dos resíduos.

Os lixiviados apresentam grande concentração de substâncias sólidas e alto teor de matéria

orgânica. Esses líquidos, quando percolam através do substrato inferior do aterro sem que antes te-

nham passado por um processo de tratamento, podem contaminar os lençóis de água subterrâneos.

Por essa razão, um sistema eficiente de drenagem é importante para evitar a acumulação de lixivia-

dos dentro do aterro. A drenagem dos lixiviados pode ser executada através de uma rede de drenos

internos – geralmente constituídos de tubos perfurados preenchidos com brita, com conformação

similar a uma “espinha de peixe” – que levam o chorume drenado para um sistema de tratamento.

• SistemadetratamentodelixiviadosOs lixiviados são considerados um problema do ponto de vista do tratamento, uma vez que

são altamente contaminantes e sua qualidade e quantidade se modificam, com o passar do tempo,

em um mesmo aterro. A legislação ambiental exige tratamento adequado para o lançamento dos

lixiviados e, normalmente, para atender os padrões estabelecidos, é necessária uma combinação de

diferentes métodos.

Foto 9 - Estação de tratamento do chorume.

A DBO do lixiviado normalmente é cerca de 30 a 150 vezes maior que a do esgoto doméstico,

cujo valor oscila entre 200 mg/l e 500 mg/l. O chorume pode ser tratado na própria área do aterro,

exigindo a instalação de Estação de Tratamento própria. Os mais usuais processos de tratamento são:

tratamentos biológicos aeróbios ou anaeróbios (lodos ativados, lagoas, filtros biológicos) e os trata-

mentos por processos físico-químicos (diluição, filtração, coagulação, floculação, precipitação, sedi-

mentação, adsorção, troca iônica, oxidação química). Os tratamentos biológicos e físico-químicos

podem ser combinados. No caso de haver necessidade de melhoria na qualidade final do efluente,

Page 41: MÓDULO ESPECÍFICO LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE

41

admite-se o uso de tecnologias mais sofisticadas para o polimento do efluente, como é o caso da

nanofiltração.

O chorume também pode ser recirculado para o interior da massa de resíduos (com o objetivo

de manter o grau de umidade necessário ao processo de decomposição dos resíduos orgânicos),

ou, ainda, pode ser lançado na rede pública de esgotamento sanitário, desde que a Estação de Trata-

mento de Esgoto suporte a carga adicional representada pelo chorume sem prejudicar seu processo

de tratamento.

• SistemadedrenagemdosgasesO material orgânico contido no lixo confinado no aterro sanitário sofre processo de decompo-

sição, predominantemente anaeróbio, gerando gás composto basicamente de Metano - CH4 (45 a

60%) e Dióxido de Carbono - CO2 (40 a 60%), normalmente denominado biogás.

O biogás pode infiltrar-se no subsolo e atingir fossas, redes de esgoto e até edificações. Sendo

o metano inflamável e passível de explosão espontânea, o controle da geração e migração desse

biogás deve ser feito por meio de uma rede de drenagem.

Os drenos são compostos, na maioria dos casos, por uma coluna de tubos perfurados de con-

creto armado envoltos por uma camada de brita ou rachão, que é fixada à coluna de tubos através

de uma tela metálica.

• Cobertura intermediária e finalO processo diário de cobertura de terra tem a função de eliminar a proliferação de vetores, dimi-

nuir a taxa de formação de lixiviados, reduzir a exalação de odores e impedir a saída descontrolada do

biogás. A cobertura diária é realizada ao final de cada jornada de trabalho; a cobertura intermediária

é necessária naqueles locais onde a superfície de disposição ficará inativa por mais tempo, aguardan-

do, por exemplo, a conclusão de um determinado patamar, para, então, dar início ao seguinte; e a

cobertura final tem por objetivo evitar a infiltração de águas pluviais – o que resultaria em aumento

do volume de lixiviado – e o vazamento dos gases gerados na degradação da matéria orgânica para

a atmosfera. A cobertura final também favorece a recuperação final da área e o crescimento de ve-

getação.

A cobertura final pode ser de diferentes tipos: camada homogênea de argila, ou mistura de

argila e material granulado, argila com diferentes geossintéticos, solos orgânicos, lamas e lodos de es-

tação de tratamentos de água e esgotos, entre outros. No Brasil, a grande maioria dos aterros possui

cobertura com camada homogênea de argila compactada. A vegetação é um elemento que deve

sempre estar associado à superfície das camadas, independentemente do sistema adotado, para

evitar problemas de erosão e contração do solo.

• ComponentescomplementaresAlém desses dispositivos, os aterros sanitários devem conter outros componentes que são con-

siderados básicos, como cerca para impedir a entrada de pessoas e animais, vias de acesso interno

transitáveis, guarita ou outro dispositivo para o controle da entrada de veículos e sistema de controle

de quantidade e de tipo de resíduo.

Recomenda-se também a instalação de cinturão verde ao redor do aterro, escritório para o

desenvolvimento de atividade administrativa, oficina de manutenção e guarda de equipamentos,

sistema de comunicação interna e externa, iluminação para operação noturna, banheiros, refeitório,

identificação do local e acesso às frentes de aterramento.

Page 42: MÓDULO ESPECÍFICO LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE

42

4.5. MoNItoRAMENto

O monitoramento do aterro deve ser realizado tanto durante a sua operação quanto após

o encerramento das atividades, para garantir a preservação do meio ambiente, a salubridade da po-

pulação do entorno e a segurança da obra, bem como a estabilidade do maciço e a integridade dos

sistemas de drenagem de lixiviados e gases. O sistema é composto de monitoramento ambiental e

geotécnico, descritos a seguir:

MonitoramentoAmbientalDeve ser realizado de forma a atender aos órgãos de controle ambiental e à legislação vigente:

• controledaságuassuperficiaisatravésdeanálisesfísico-químicasebacteriológicasempon-

tos determinados tecnicamente, a montante e a jusante do aterro;

• monitoramentodaságuassubterrâneas–instalaçãodepoços,amontanteeajusanteno

sentido do fluxo do escoamento preferencial do lençol freático;

• estaçãopluviométrica–grandesaterros;

• controledaqualidadedochorumeapósotratamento,atravésdeanálisesfísico-químicas

para caracterização do chorume;

• controledadescargadelíquidoslixiviadosnosistemadetratamento.

MonitoramentoGeotécnico:• inspeçãovisual–indíciosdeerosãoetrincasefissurasnacamadadecoberturaouqualquer

outro sinal do movimento da massa de resíduos;

• deslocamentosverticaisehorizontais–marcossuperficiaiseinclinômetro;

• medidasdepressõesdegaseselíquidosnointeriordomaciço–piezômetros.

4.6. REMEDIAção DE LIxõES

O lixão é a forma inadequada de dispor os resíduos sólidos urbanos sobre o solo, sem nenhuma

impermeabilização, sem sistema de drenagem de lixiviados e de gases e sem cobertura diária do lixo,

causando impactos à saúde pública e ao meio ambiente. É comum encontrar nos lixões vetores de

doenças e outros animais. Nesses locais também é frequente a presença de pessoas excluídas socio-

economicamente, inclusive idosos e crianças, trabalhando como catadores, em condições precárias

e insalubres.

Foto 10 - Situação de um lixão com presença de catadores.

Page 43: MÓDULO ESPECÍFICO LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE

43

A Resolução CONAMA nº 404, de 11/11/2008, que estabelece critérios e diretrizes para o licen-

ciamento ambiental de aterro sanitário de pequeno porte de resíduos sólidos urbanos, determina

que devem ser apresentados o projeto e o plano de encerramento, recuperação e monitoramento

da área degradada pelo lixão para o licenciamento ambiental do aterro sanitário. A remediação do

lixão significa propiciar segurança à população do entorno, melhoria da qualidade dos solos e das

águas superficiais e subterrâneas e minimização dos riscos à saúde pública, garantindo harmonia

entre o meio ambiente e a população local.

Muitas vezes os lixões são instalados em áreas completamente inadequadas; em alguns casos,

porém, apesar de a disposição dos resíduos ser feita sem o emprego de critérios técnicos de enge-

nharia, as áreas apresentam boas características para a implantação de um aterro sanitário. Nessas

situações, pode-se avaliar a possibilidade de aproveitamento do local para a construção do aterro

sanitário, desde que se promova antes um programa de recuperação ambiental do lixão.

As ações corretivas para as áreas degradadas por lixões que encerraram as atividades de vaza-

douros de resíduos são descritas a seguir.

Recomendaçõesgerais:• delimitaçãodaárea,quedevesercercadacompletamenteparaimpediraentradadeani-

mais e pessoas;

• realizaçãodesondagensparadefiniraespessuradacamadadelixoaolongodaáreadegra-

dada;

• limpezadaáreadedomínio;

• movimentaçãoeconformaçãodamassadelixo:ostaludesdevemficarcomdeclividadede

1:3 (V:H);

• coberturafinaldosresíduosexpostoscomumacamadadeargilade0,50mdeespessurae

uma camada de solo vegetal de 0,60 m de espessura sobre a camada de argila;

• promoçãodoplantiodeespéciesnativasderaízescurtas,preferencialmentegramíneas.

Recomendaçõesparaocontroledoslixiviados,dosgasesedaságuassuperficiais:• construçãodevaletasparaadrenagemsuperficialdaságuaspluviaisedolixiviadodamas-

sa de lixo ao pé dos taludes em toda a área;

• execuçãodeumoumaispoçosverticaisparadrenagemdegases;

• aproveitamentodosfurosdesondagenseimplantaçãodepoçosdemonitoramento(sen-

do, no mínimo, dois a montante do lixão recuperado e dois a jusante);

• instalaçãodepoços amontante e a jusantedo lixãopara averiguaçãodaqualidadeda

água;

• monitoramentodaságuassuperficiais.

Recomendaçõesdecarátersocial:• promoçãodocadastramentodoscatadores,deformaaconheceroperfildecadaum;

• incentivoàformaçãodecooperativasdecatadores;

• estudoeimplantaçãodealternativasdeempregoerendaparaoscatadores,retirando-os

da frente de trabalho irregular e insalubre.

4.7. CRItéRIoS BáSICoS DE PRojEto

Vale lembrar que a concepção de um projeto deve priorizar sua otimização, requerendo uma esti-

mativa realista das quantidades, contribuições e cargas que efetivamente irão contribuir para o aterro.

Page 44: MÓDULO ESPECÍFICO LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE

44

A seguir são apresentados os principais critérios básicos a serem utilizados para o projeto de

aterro sanitário.

Geraçãoper capitaderesíduos - relaciona a quantidade de resíduos urbanos gerada diaria-

mente e o número de habitantes de determinada região. Muitos técnicos consideram de 0,5 a 0,8kg/

hab./dia como a faixa de variação média para o Brasil. Cabe ressaltar que a geração per capita não

está relacionada somente ao lixo domiciliar (doméstico + comercial), mas, sim, a todos os resíduos

urbanos (domiciliar + público + entulho, podendo até incluir os resíduos de serviços de saúde). Na

ausência de dados mais precisos, a geração per capita pode ser estimada pela tabela seguinte.

PopulaçãoUrbanadaCidade(hab) Geraçãoper capitasugerida(kg/hab/dia)

Até 30 mil 0,50

De 30 mil a 500 mil 0,50 a 0,80

De 500 mil a 5 milhões 0,80 a 1,00

Acima de 5 milhões Acima de 1,00

Populaçãoatendida - a previsão do crescimento populacional a ser atendida define um dos

principais parâmetros de projeto para o dimensionamento do aterro sanitário. A projeção adequada

da população assegura a otimização dos recursos a serem empregados. As projeções demográficas

devem refletir as diversas hipóteses de crescimento que se pode vislumbrar para a cidade, enfatizan-

do principalmente as séries históricas (exemplo: dados censitários produzidos pelo Instituto Brasileiro

de Geografia e Estatística – IBGE), incorporando ainda as tendências gerais que se vêm verificando

no País como um todo e principalmente procurando projetar a influência da posição geográfica do

Município, fator determinante que pode influenciar sobremaneira o comportamento da dinâmica

populacional da cidade.

Horizontedeprojeto - para Aterros Sanitários, normalmente o horizonte de projeto conside-

rado deve ser igual ou superior a 15 anos.

Composiçãogravimétrica - define o percentual de cada componente em relação ao peso

total da amostra de lixo analisada. Os componentes mais comuns são: matéria orgânica, papel, pape-

lão, plástico rígido, plástico maleável, pet, metal ferroso, metal não-ferroso, alumínio, vidro claro, vidro

escuro, madeira, borracha, couro, pano/trapos, ossos, cerâmica e agregado fino.

Localizaçãodaáreadoaterro - recomenda-se uma distância do centro atendido menor do

que 20 km, inexistência de aglomerados populacionais (sede municipal, distritos e povoados) a me-

nos de 1 km e uma distância maior do que 200 metros em relação a corpos de água superficiais.

4.8. SoLUçõES No âMBIto Do MINIStéRIo Do MEIo AMBIENtE - MMA PARA o AUMENto Do íNDICE DE tRAtAMENto E DISPoSIção ADEqUADA PARA oS RESíDUoS SÓLIDoS URBANoS

SustentabilidadedosaterrossanitáriosA simples construção das instalações de tratamento infelizmente não tem garantido que o ser-

viço seja prestado à população. É preocupante a quantidade de aterros sanitários financiados pelo

Governo Federal que, depois de implantados, transformam-se em lixões ou são abandonados, resul-

tando em desperdício de recursos e prejuízos sociais e ambientais. Por exemplo, dados de maio de

Page 45: MÓDULO ESPECÍFICO LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE

45

2009 mostram que, dos 82 convênios da SRHU (originalmente da antiga Secretaria da Qualidade Am-

biental nos Assentamentos Humanos - SQA do MMA) para construção de aterros sanitários firmados

entre 2000 e 2008, 44 estão em Tomada de Contas Especial e apenas 8 foram aprovados. Do restante,

28 estão em fase de análise e 2 estão em vigência.

Um outro componente importante a ser considerado é a questão relativa aos custos de implan-

tação e manutenção. Os investimentos necessários à implantação de um aterro de médio ou grande

porte (para mais de 100 mil pessoas) situam-se na faixa de R$ 20 a R$ 30 por habitante, respectiva-

mente, 10% a 20% do custo per capita de uma estação de tratamento de esgoto. É, portanto, uma

obra de custo de implantação baixo. Contudo, estima-se que o valor de três anos de operação de

um aterro sanitário é equivalente ao seu valor de implantação. Portanto, comparados com os inves-

timentos iniciais, os custos operacionais do aterro são relativamente elevados, o que, de certo modo,

explica o abandono de muitos aterros após a implantação.

Diante de um orçamento restrito, como ocorre em vários Municípios, o sistema de limpeza

urbana não hesita em relegar a disposição final para o segundo plano, dando prioridade à coleta e à

limpeza pública, por se tratar de uma operação totalmente visível aos olhos da população que, con-

sequentemente, pressiona o Município para a melhoria de sua qualidade. Ao se dar uma destinação

final inadequada aos resíduos, poucas pessoas serão diretamente incomodadas, fato este que não

gerará pressão por parte da população.

Estudo realizado em 2002 pelo MMA apontou a necessidade de se investirem cerca de R$ 10

bilhões para implantação de aterros sanitários. Entretanto, há convicção no meio técnico da área de

resíduos sólidos de que, se o País dispusesse desses recursos, seria temerário aplicá-los, pois a imensa

maioria seria perdida pela ineficiência de gestão. Por isso, existe a necessidade de buscar formas de

associações dos Municípios, especialmente em relação aos serviços de tratamento e destino final

dos resíduos sólidos, com o objetivo de dar escala aos empreendimentos e de compartilhar recursos

humanos, materiais e financeiros. O surgimento da Lei 11.107, de 2005, gerou estabilidade aos con-

sórcios, possibilitando a formação de uma autarquia pública entre seus entes. Também favoreceu a

intervenção dos Estados no processo de gestão de resíduos sólidos, com o aporte de conhecimento

técnico mais diversificado. Além disso, a presença do Estado permite que esse processo se dê de

maneira ordenada, articulado com o planejamento do desenvolvimento regional, evitando a pulve-

rização de soluções isoladas.

O Ministério do Meio Ambiente está promovendo a implantação de Consórcios Públicos de

Municípios a fim de viabilizar, em escala, a sustentabilidade de empreendimentos destinados ao

tratamento e à destinação final adequados dos resíduos sólidos. Até 2008, 14 convênios foram feitos

com os Estados para estudos de regionalização, com o objetivo de apontar quais seriam os possíveis

Consórcios de Municípios, e 13 Consórcios de Municípios estão sendo viabilizados na Bacia do São

Francisco e Parnaíba para a gestão integrada dos resíduos sólidos urbanos oriundos da população da

região, no que diz respeito ao tratamento, à disposição final e ao manejo dos Resíduos da Construção

e Demolição - RCD.

Destaca-se também a Resolução CONAMA nº 404, de 11/11/2008, que revoga a Resolução CO-

NAMA nº 308/02 e estabelece critérios e diretrizes para o licenciamento ambiental de aterro sanitário

de pequeno porte de resíduos sólidos urbanos, com o intuito de simplificar o procedimento de

licenciamento ambiental para aterros sanitários com disposição diária de até 20 t (vinte toneladas)

de resíduos sólidos urbanos.

Page 46: MÓDULO ESPECÍFICO LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE

46

O Ministério do Meio Ambiente também tem atuado nos trabalhos da Comissão de Estudos da

ABNT para elaborar a norma brasileira de aterros sanitários de pequeno porte (diretrizes para locali-

zação, implantação e operação). A maior parte dos Municípios brasileiros tem pequena população

e, em razão das dimensões continentais do País, apresenta contextos ambientais bem diversificados.

Nesses Municípios, ou associações de Municípios, sempre que as condições físicas o permitam, em

razão das pequenas quantidades e das características dos resíduos gerados diariamente, é possível

a implantação de sistemas de disposição final simples, sem prejuízo do controle de impactos am-

bientais e sanitários. A NBR 13.896 de 1997 trata, de forma abrangente, dos aterros de resíduos não

perigosos, enfatizando, no entanto, prescrições normativas para instalações de grande porte, bem

mais caras e complexas do que aquelas consideradas adequadas para pequenos Municípios. De for-

ma complementar, essa nova norma pretende oferecer as prescrições para a localização, o projeto

e a operação de sistemas de disposição final simples e definir os condicionantes físicos locais que

permitam sua adoção.

ColetaSeletivaA implantação da Coleta Seletiva no Brasil ainda é incipiente. São poucos os Municípios que

já a implantaram, como reconhecível nos dados da Pesquisa Nacional de Saneamento Básico, do

IBGE, mas dados mais recentes mostram que esse número vem-se ampliando. Para traçar um breve

cenário da situação atual da Coleta Seletiva no Brasil, pode-se dizer que 7% dos Municípios têm pro-

gramas de coleta seletiva (CEMPRE, 2008).

Embora o número de Municípios seja, ainda, relativamente pequeno, são os maiores que ado-

tam essa prática. De tal forma que estes representam aproximadamente 14% da população. Isso quer

dizer que 405 Municípios, com 26 milhões de habitantes, praticam a Coleta Seletiva. Entretanto, na

maioria dos casos, as soluções adotadas ainda são bastante onerosas. O custo médio da Coleta Sele-

tiva tem sido cinco vezes maior que o da coleta convencional.

Diferentes formas de operação da Coleta Seletiva podem trazer também resultados bastante

diferenciados com relação aos custos da atividade e, como consequência, à extensão da parcela dos

resíduos que podem ser objeto dessa ação. Pode-se dizer que as principais dificuldades encontradas

pela grande maioria dos Municípios são as seguintes: informalidade do processo - não há institucio-

nalização; carência de soluções de engenharia com visão social; alto custo do processo na fase de

coleta.

Diferentemente do que ocorre com a destinação tradicional de resíduos, a implantação da Co-

leta Seletiva cria um fluxo de recursos na economia local, pelo menos de duas formas: rendimento

dos catadores envolvidos na operação, que se transforma em consumo local, e geração adicional de

tributos, derivadas desse aumento de consumo.

O modelo de Coleta Seletiva de baixo custo tem como um dos elementos centrais a incorpo-

ração de forma eficiente e perene de catadores, que já atuam na maioria das cidades, numa política

pública planejada. Quando não há catadores, é possível envolver a população menos favorecida,

gerando trabalho e renda. A base legal que possibilita essa inserção é a seguinte alteração na Lei de

Licitações feita pela Lei do Saneamento (11.445/07):Art. 57. O inciso XXVII do Art. 24 da Lei 8.666 passa a vigorar com a seguinte redação:Art. 24. É dispensável a licitação:..............

Page 47: MÓDULO ESPECÍFICO LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE

47

XXVII – na contratação da coleta, processamento e comercialização de resídu-os sólidos urbanos recicláveis ou reutilizáveis, em áreas com sistema de coleta seletiva de lixo, efetuados por associações ou cooperativas formadas exclusi-vamente por pessoas físicas de baixa renda reconhecidas pelo poder público como catadores de materiais recicláveis, com o uso de equipamentos compatí-veis com as normas técnicas, ambientais e de saúde pública.

Para que essa inserção seja realizada, a legislação define que os catadores deverão estar as-

sociados. Nessa condição, poderão ser contratados e receber remuneração, com base no trabalho

realizado, de maneira análoga ao que ocorre com as empresas que realizam a coleta dos resíduos

domiciliares.

Diversos Municípios estão ampliando Programas de Coleta Seletiva ancorados nessa determi-

nação legal. A implantação desse modelo de Coleta Seletiva implica uma transformação profunda

na forma de entender e gerenciar essa atividade: a cidade é dividida em setores e a realização da

coleta passa a ser uma obrigação contratual por parte da cooperativa ou associação contratada para

a realização do serviço.

Os aspectos mais importantes deste modelo são:

a) EstruturaçãodacidadeemSetoresdeColetaSeletiva: setorizada a área de interven-

ção, deverão ser envolvidos os diversos agentes públicos e, principalmente, os agentes de saúde,

de controle de vetores e vigilância sanitária (Programa de Saúde da Família, Programa de Combate à

Dengue e outros).

b) Envolvimentoplanejadoruaporrua,moradiapormoradia: os catadores se respon-

sabilizam pela cobertura sistemática dos setores sob sua responsabilidade, utilizando equipamentos

de coleta e transporte simplificados. A acumulação dos materiais se realiza em instalações ou pátios

no centro da região setorizada ou, ainda, nos Pontos de Entrega Voluntária (PEVs), destinados aos

resíduos da construção civil e resíduos volumosos.

c) Combinaçãoadequadadacoletacapilaredotransporteconcentrado: é com a com-

binação adequada do transporte feito pelos catadores e por caminhões que se obtém o menor custo

de transporte por tonelada, uma vez que o custo de um caminhão em operação é relativamente alto,

somente se justificando quando a massa dos resíduos transportados for suficientemente concentrada.

d) Apoioaoscatadoresemsuacapacidadedeconcentrarcargaeusodecaminhõesapenasparaotransportedecargasconcentradas: o momento de operação dos caminhões

deve ser bem equacionado, sob o risco de fazer viagens mais caras do que o valor do material trans-

portado. Se a coleta seletiva ficar cara, ela não se expande e não se estabiliza.

e) Incentivoàorganizaçãodoscatadores:para maximizar o resultado na venda dos mate-

riais, é fundamental a organização das cooperativas na região, para uma venda coletiva. A obtenção

dos melhores preços é favorecida pela acumulação dos materiais, de modo a obter volumes e fluxos

relativamente estáveis que possam ser comercializados diretamente à industria, para o que é funda-

mental o apoio da Administração Pública para capacitação na gestão do negócio.

Page 48: MÓDULO ESPECÍFICO LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE

5. CONTEXTUALIZAÇÃO DO LICENCIAMENTO AMBIENTAL PARA O SANEAMENTO BÁSICO

Page 49: MÓDULO ESPECÍFICO LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE

49

A Constituição Federal (CF) promulgada em 1988 definiu em seu art. 225 que “todos têm direito

ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade

de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes

e futuras gerações”. Ao mesmo tempo, a CF remete a titularidade dos serviços de saneamento aos

Municípios e estabelece um novo arranjo federativo, ao elevar os Municípios ao status de entes da

federação, ao lado da União, dos Estados e do Distrito Federal. Esse pacto federativo tem viabiliza-

do novas oportunidades e parcerias entre as esferas de governo, melhoria na gestão e prestação dos

serviços e maior controle social. Em contrapartida, esse modelo tem demonstrado a necessidade de

planejamento e coordenação para a adequada implementação das políticas públicas.

As políticas públicas, de forma geral, existem para melhorar a qualidade de vida da população.

O conceito de qualidade de vida é amplo e deve incorporar diversas dimensões, como acesso à edu-

cação, aos serviços de saúde, saneamento e qualidade ambiental. Em particular, a qualidade e a uni-

versalização dos serviços de saneamento - abastecimento de água, esgotamento sanitário, limpeza

urbana e manejo de resíduos sólidos, drenagem e manejo de águas pluviais urbanas - são essenciais

para a garantia da saúde pública e a proteção e qualidade ambiental.

Sabe-se também que o processo de desenvolvimento e urbanização do País criou nas últi-

mas décadas mais e maiores cidades em todo o território, sem, entretanto, garantir previamente

a prestação de serviços essenciais. Tais fatos, somados ao processo de exclusão social, foram res-

ponsáveis por grandes espaços urbanos criados na informalidade, muitas vezes em áreas de risco

e em áreas ambientalmente vulneráveis, resultando em grande degradação ambiental. Reverter tal

processo e garantir a universalização dos serviços essenciais é um enorme desafio para o País e para

a sociedade.

Nesse sentido, a Política Nacional de Meio Ambiente - instituída pela Lei Federal no 6.938/81,

estabeleceu, como um dos seus instrumentos, o licenciamento ambiental para “... a construção, insta-

lação, ampliação e funcionamento de estabelecimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais,

considerados efetiva ou potencialmente poluidores, bem como os capazes, sob qualquer forma, de causar

degradação ambiental ...”. A Lei 6.938/81, além de estabelecer instrumentos de gestão ambiental, ins-

tituiu o Sistema Nacional de Meio Ambiente – SISNAMA e o Conselho Nacional de Meio Ambiente

– CONAMA, instância deliberativa do Sistema no âmbito federal, o qual, por sua vez, vem buscan-

do regulamentar o processo de licenciamento ambiental das atividades passíveis de licenciamen-

to, apoiado pela estruturação dos Sistemas Estaduais e Municipais de Meio Ambiente e respectivos

Conselhos.

Mais recentemente, a promulgação da Lei Federal no 11.445/2007 definiu diretrizes nacionais

para os serviços de abastecimento de água, esgotamento sanitário, limpeza urbana e manejo dos

resíduos sólidos, drenagem e manejo das águas pluviais urbanas. Entre os princípios que norteiam a

lei, destaca-se o que define que esses serviços devem ser prestados à população de forma adequada

à proteção da saúde pública e do meio ambiente e que a política de saneamento deve se articular

com as demais políticas, como as de meio ambiente, de recursos hídricos e de saúde, derivando em

ações práticas e objetivas, como o planejamento e o licenciamento ambiental das atividades.

Cabe destacar que parte significativa dos serviços de saneamento está condicionada ao aten-

dimento dos instrumentos da política de recursos hídricos, como o enquadramento dos corpos de

água, a outorga do direito de uso ou a cobrança pelo uso da água. Assim, para além dos mecanismos

previstos no processo de licenciamento ambiental, merece destaque o papel de integração de pro-

cedimentos a ser alcançado particularmente nos órgãos de meio ambiente e recursos hídricos.

Page 50: MÓDULO ESPECÍFICO LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE

6. PRINCIPAIS ASPECTOS DO LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE PROJETOS DE SANEAMENTO

Page 51: MÓDULO ESPECÍFICO LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE

51

6.1. ASPECtoS LEGAIS

O licenciamento ambiental é regido, de forma geral, pelas resoluções do CONAMA no 01/86 e

no 237/97. A Resolução CONAMA no 01/86 define critérios e diretrizes para a avaliação de impacto

ambiental. Em seu artigo 2º, estabelece a obrigatoriedade do Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e

respectivo Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) para, dentre outras, obras hidráulicas para explo-

ração de recursos hídricos, bem como aterros sanitários, processamento e destino final de resíduos

tóxicos ou perigosos, enquanto a Resolução CONAMA no 237/97 dispõe sobre procedimentos, crité-

rios e competências para a realização do licenciamento ambiental nos três níveis de governo, com

base na abrangência dos impactos. No Anexo I dessa resolução, são listadas atividades passíveis do

licenciamento ambiental, tais como:Obras Civis: ...barragens e diques, canais para drenagem, retificação de cursos de água, •transposição de bacias hidrográficas, ...Serviços de Utilidade: estações de tratamento de água, interceptores, emissários, estação •elevatória e de tratamento de esgotos, tratamento e destinação de resíduos industriais (lí-quidos e gasosos), tratamento/disposição de resíduos especiais, tratamento e destinação de resíduos sólidos urbanos, inclusive aqueles provenientes de fossas, recuperação de áreas contaminadas ou degradadas.

Outras resoluções também tratam do licenciamento ambiental. A Resolução CONAMA nº 05,

de 15/06/1988, dispõe sobre o licenciamento de obras de saneamento2. E, em função da natureza,

características e peculiaridades de determinadas atividades desse setor, foram editadas resoluções

específicas3, como a Resolução CONAMA nº 334/03, que dispõe sobre os procedimentos de licencia-

mento ambiental de estabelecimentos destinados ao recebimento de embalagens vazias de agrotó-

xicos; a Resolução nº 377, de 09/10/2006, que dispõe sobre licenciamento ambiental simplificado de

Sistemas de Esgotamento Sanitário, e a Resolução nº 404/08, que estabelece critérios e diretrizes para

o licenciamento ambiental de aterro sanitário de pequeno porte de resíduos sólidos urbanos.

No entanto, outras resoluções do CONAMA estabelecem procedimentos e padrões que devem

ser observados na elaboração de projetos do setor de saneamento e nos processos de licenciamento

ambiental.

De acordo com a Resolução nº 237/97, pode-se afirmar que cabe ao órgão licenciador federal

- o IBAMA - o licenciamento de atividades de significativo impacto ambiental de âmbito nacional

ou regional; ao órgão ambiental dos Estados – OEMAs – ou do Distrito Federal4 compete o licencia-

mento de atividades localizadas em mais de um Município; e ao órgão ambiental dos Municípios

compete o licenciamento de atividades de impacto local. A resolução estabelece também que os

empreendimentos e as atividades serão licenciados em uma única esfera de competência.

A maioria dos empreendimentos, incluindo os de saneamento, é licenciada pelos Estados, o

que gera uma sobrecarga nos órgãos estaduais de licenciamento ambiental. Tal fato decorre de duas

situações: (i) a indefinição das tipologias de empreendimentos e atividades consideradas de impacto

2 obras de Sistemas de Abastecimento de água (obras de captação cuja vazão seja acima de 20% da vazão mínima da fonte de abasteci-mento, no ponto de captação, e que modifiquem as condições físicas e/ou bióticas dos corpos de água). Sistemas de Esgotos Sanitários (obras de coletores troncos; interceptores; elevatórias; estações de tratamento; emissários; e disposição final). Sistemas de Drenagem (obras de lançamento de efluentes de sistemas de microdrenagem; obras de canais, dragagem e retificação em sistemas de macrodrenagem). Sistemas de Limpeza Urbana (obras de unidades de transferência, tratamento e disposição final de resíduos sólidos de origem doméstica, pública e industrial; atividades e obras de coleta, transporte, tratamento e disposição final de resíduos sólidos de origem hospitalar).

3 Ver relação de Resoluções do CONAMA no Anexo I.

4 No Distrito Federal, não se aplica o critério “em mais de um Município”, sendo o órgão ambiental responsável pelo licenciamento de todos os empreendimento e atividades que não são de competência do IBAMA.

Page 52: MÓDULO ESPECÍFICO LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE

52

local, cuja competência para exercer o licenciamento é dos Municípios; e (ii) a inexistência, na maioria

dos Municípios, da necessária estrutura prevista no art. 20 da Resolução CONAMA nº 237/97 para

assumirem de fato a gestão ambiental5.

Contribui ainda para essa situação a permanência de questionamentos quanto à competên-

cia originária dos Municípios para realizar o licenciamento ambiental, gerando disputas jurídicas ou

ações propostas pelo Ministério Público. No entanto, expectativas para superar esses questionamen-

tos, bem como para dar maior celeridade aos processos de licenciamento estão na regulamentação

do art. 23 da Constituição Federal, que prevê Lei Complementar para fixar normas visando à coo-

peração entre União, Estados e Municípios. Tal regulamentação permitirá definir mais claramente a

cooperação entre os diversos entes federados, bem como atribuir ao Município a competência para

os empreendimentos de impacto local e aos Estados e Distrito Federal os casos que não forem de

competência da União.

6.1.1. A LEI DE CRIMES AMBIENtAIS E o LICENCIAMENto AMBIENtAL

A Lei nº 9.605/98 - Lei de Crimes Ambientais - caracteriza como crime ambiental a constru-

ção, reforma, ampliação, instalação ou operação de empreendimentos e atividades potencialmente

poluidores sem licença ou autorização dos órgãos ambientais ou, ainda, contrariando as normas

legais e regulamentares, ficando os infratores sujeitos às sanções penais e administrativas. Também

caberá ao infrator poluidor indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente ou a terceiros.

Ressalta-se que a autoridade competente que deixar de tomar as medidas para impedir tais práticas

também incorre em crime ambiental.

6.2. ASPECtoS PRoCESSUAIS6

O processo de licenciamento é conduzido de acordo com os procedimentos estabelecidos

pelos órgãos ambientais licenciadores, que devem ser compatíveis com as resoluções do CONAMA.

Para determinadas atividades ou empreendimentos, os procedimentos, os prazos e as exigências

podem ser diferenciados. Portanto, o empreendedor, público ou privado, deve procurar o órgão am-

biental competente – IBAMA, OEMA ou Prefeitura, para se informar sobre os procedimentos para

o licenciamento daquele empreendimento pretendido, apresentando ao órgão as características e

especificações do empreendimento e da localização pretendida.

O Estudo Ambiental, como subsídio ao processo de licenciamento, será definido pelo órgão

ambiental competente, que fornecerá ao empreendedor o Termo de Referência estabelecendo o

conteúdo mínimo que o mesmo deve contemplar. Esse Estudo, que deve ser elaborado por equipe

multidisciplinar do quadro técnico do empreendedor ou consultoria por ele contratada, será um dos

documentos necessários para a solicitação da Licença Prévia – LP. Requerida a LP, cabe ao interessado

dar a devida publicidade, de acordo com as normas vigentes. A fase de LP dar-se-á de acordo com

os procedimentos estabelecidos para o tipo de empreendimento e será finalizada com a emissão de

parecer técnico conclusivo. Concluindo pela viabilidade ambiental do empreendimento, é concedi-

da a licença, com as respectivas condicionantes – restrições, medidas mitigadoras e programas de

monitoramento.

5 Art. 20. Os entes federados, para exercerem suas competências licenciatórias, deverão ter implementados os Conselhos de Meio Ambiente, com caráter deliberativo e participação social e, ainda, possuir em seus quadros ou a sua disposição profissionais legalmente habilitados.

6 Ver Anexo II - Licenciamento Ambiental de Obras de Saneamento - Passo a Passo.

Page 53: MÓDULO ESPECÍFICO LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE

53

A partir da obtenção da Licença Prévia – LP, o empreendedor elabora o projeto básico, deta-

lhando o projeto de engenharia e os programas ambientais, contemplando as medidas mitigadoras

solicitadas na Licença Prévia, de forma a assegurar a viabilidade ambiental do empreendimento. Na

sequência, o empreendedor solicita a Licença de Instalação – LI. Somente após a concessão da LI é

que poderão ser iniciadas as obras, que deverão ser concomitantes com a implementação dos pro-

gramas ambientais aprovados.

O início de obras sem a licença de instalação, como já mencionado, é considerado crime am-

biental (art. 60 da Lei nº 9605/98), devendo o órgão ambiental aplicar as sanções e penalidades ao

infrator e também, no caso de obras financiadas pelo setor público, poderá ocorrer interrupção do

repasse dos recursos financeiros.

Concluídas as obras e a implementação das medidas mitigadoras e programas ambientais, o

empreendedor solicita a Licença de Operação – LO. Após análise da solicitação, subsidiada também

por realização de vistoria ao local, o órgão licenciador elaborará parecer técnico sobre a viabilidade

da concessão da LO. Ao conceder a LO, o órgão ambiental estabelece as condicionantes e os progra-

mas de monitoramento que deverão ser implementados pelo empreendedor durante a vigência da

mesma. O não atendimento de condicionantes de licenças ambientais pode ser motivo de suspen-

são ou cancelamento das mesmas.

Não se deve esquecer que o licenciamento ambiental deve, também, observar as demais nor-

mas legais, fazendo-se, aqui, um destaque para a Resolução CNRH nº 65/06.

6.3. REGULARIzAção DE EMPREENDIMENtoS Não LICENCIADoS

A regularização do licenciamento ambiental foi prevista em legislação para aqueles empreendi-

mentos e atividades que já estavam em operação quando da instituição do instrumento da Política

Nacional de Meio Ambiente, “Licenciamento ambiental”, pela Lei nº 6.938/81. Para a regularização

dessas situações, é firmado um Termo de Compromisso, no qual se estabelecem as exigências defi-

nidas pelo órgão licenciador competente e as obrigações do empreendedor relativas às necessárias

correções de cunho ambiental.

6.3.1. REGULARIzAção FUNDIáRIA SUStENtáVEL

É comum encontrar conflito entre o direito à moradia e o direito ambiental. Tal conflito deve

ser superado para que se avance na construção de cidades sustentáveis do ponto de vista social

e ambiental. O processo de regularização fundiária sustentável, instrumento previsto na Resolução

CONAMA nº 369/2006, busca regulamentar os casos excepcionais de utilidade pública, interesse so-

cial ou de baixo impacto ambiental em que é possível a autorização para intervenção em Áreas de

Preservação Permanente - APPs, conforme definido pela Lei nº 4.771/65. Dentre as possibilidades,

a regularização fundiária foi reconhecida como uma atividade de interesse social, estabelecendo

procedimentos para autorização de intervenção em Áreas de Preservação Permanente, de forma a

garantir a melhoria das condições ambientais da área da ocupação a ser regularizada, bem como das

condições de habitabilidade de seus moradores.

Fica patente que as intervenções para execução de serviços de saneamento em áreas ambien-

talmente frágeis ou protegidas, como as APPs em áreas urbanas, devem ser devidamente articuladas

com as intervenções urbanísticas e o planejamento das cidades.

Page 54: MÓDULO ESPECÍFICO LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE

7. ENTENDENDO AS RESOLUÇÕES CONAMA qUE TRATAM ESPECIFICAMENTE DO LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE OBRAS DE SANEAMENTO

Page 55: MÓDULO ESPECÍFICO LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE

55

7.1. RESoLUção CoNAMA Nº 5, DE 15 DE jUNHo DE 1988

A Resolução CONAMA nº 5, de 15 de junho de 1988, dispõe sobre o licenciamento ambiental

de obras de saneamento, estabelecendo que as obras dos sistemas de abastecimento de água, de

esgotos sanitários, de drenagem e de limpeza urbana ficam sujeitas ao licenciamento ambiental. Es-

tabelece, ainda, que as obras de ampliação também estão sujeitas ao licenciamento ambiental e que

os critérios e padrões para o licenciamento serão fixados pelo órgão ambiental competente.

Para proceder ao licenciamento ambiental dessas obras, é necessário observar o art. 2o da Reso-

lução CONAMA nº 001/86, que estabelece a exigência de elaboração de estudo de impacto ambien-

tal e respectivo relatório de impacto ambiental – EIA/RIMA para as atividades modificadoras do meio

ambiente, como: troncos coletores e emissários de esgotos sanitários; obras hidráulicas para fins de

saneamento; aterros sanitários, processamento e destino final de resíduos tóxicos ou perigosos.

No entanto, a Resolução CONAMA nº 237/97, em seu art. 12, estabelece que o órgão ambiental com-

petente poderá definir procedimentos específicos para as licenças ambientais, observadas a natureza, as

características e as peculiaridades da atividade ou do empreendimento, bem como procedimentos sim-

plificados para as atividades e os empreendimentos de pequeno potencial de impacto ambiental. Esses

procedimentos deverão ser aprovados pelos respectivos Conselhos de Meio Ambiente.

A seguir apresentam-se alguns exemplos de procedimentos simplificados para atividades/em-

preendimentos de saneamento:

Exemplos de isenção ou processo simplificado de licenciamento ambiental para obras de saneamento

Empreendimentos/atividadesdeSaneamento

TipodeLicenciamentoAmbiental Estado

Interceptores, emissários, eleva-tórias e reversão de esgoto com vazão máxima prevista entre 200 e 500 l/s

Autorização Ambiental de Funcionamento. Em alguns casos, o órgão ambiental pode julgar necessário o licenciamento de empreendimentos enquadrados na classe 1 (considerados de pequeno porte e pequeno ou médio potencial poluidor geral). Minas Gerais

Tratamento de esgoto sanitário com vazão média prevista menor que 50 l/s

Autorização Ambiental de Funcionamento. Em alguns casos, o órgão ambiental pode julgar necessário o licenciamento de empreendimentos enquadrados na classe 1 (considerados de pequeno porte e pequeno ou médio potencial poluidor geral).

Estação elevatóriaDispensa de Licenciamento Ambiental. Em alguns casos, o órgão ambiental poderá julgar necessário o licenciamento dessa atividade.

Espírito Santo

Coletor tronco e/ou tubulação de recalque de esgoto com vazão inferior a 200 l/s

Dispensa de Licenciamento Ambiental. Em alguns casos, o órgão ambiental poderá julgar necessário o licenciamento dessa atividade.

Redes coletoras de esgotoDispensa de Licenciamento Ambiental. Em alguns casos, o órgão ambiental poderá julgar necessário o licenciamento dessa atividade.

Interceptores, emissários, eleva-tórias e reversão de esgoto com vazão máxima prevista entre 500 e 1000 l/s

Autorização Ambiental de Funcionamento. Em alguns casos, o órgão ambiental pode julgar necessário o licenciamento de empreendimentos enquadrados na classe 2 (considerados de médio porte e pequeno potencial poluidor geral).

Minas Gerais

Page 56: MÓDULO ESPECÍFICO LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE

56

Exemplos de isenção ou processo simplificado de licenciamento ambiental para obras de saneamento

Empreendimentos/atividadesdeSaneamento

TipodeLicenciamentoAmbiental Estado

Rede coletora de esgotos a ser executada pela SANEPAR

Autorização Ambiental Paraná

Readequação e/ou modificação de sistemas de controle de resíduos líquidos industriais

Autorização Ambiental Alagoas

Autorização Ambiental Pernambuco

Readequação e/ou modificação de sistemas de controle e/ou dis-posição (incineração) de resíduos sólidos industriais e hospitalares

Autorização Ambiental

Triagem de materiais e resíduos urbanos

TCRA – Termo de Compromisso e Responsabilidade Ambiental

Bahia

Tratamento e/ou disposição final de resíduos de serviços urbanos com quantidade operada inferior a 15 t/dia

Autorização Ambiental de Funcionamento. Em alguns casos, o órgão ambiental pode julgar necessário o licenciamento de empreendimentos enquadrados na classe 1 (considerados de pequeno porte e pequeno ou médio potencial poluidor geral).

Minas Gerais

Tratamento, inclusive térmico, e disposição final de resíduos dos serviços de saúde (Grupo A – infec-tantes ou biológicos) com quanti-dade operada inferior a 5 t/dia

Autorização Ambiental de Funcionamento. Em alguns casos, o órgão ambiental pode julgar necessário o licenciamento de empreendimentos enquadrados na classe 1 (considerados de pequeno porte e pequeno ou médio potencial poluidor geral).

Minas Gerais

7.2. RESoLUção CoNAMA Nº 377, DE 9 DE oUtUBRo DE 2006

A Resolução CONAMA no 377, de 9 de outubro de 2006, considerando os termos do art. 12 da

Resolução no 237/97, dispõe sobre licenciamento ambiental simplificado de Sistemas de Esgotamen-

to Sanitário, mais especificamente de unidades de transporte e de tratamento de esgoto sanitário de

pequeno e médio porte. No entanto, a mesma estabelece que os procedimentos simplificados não

se aplicam às unidades situadas em áreas declaradas pelo órgão competente como ambientalmente

sensíveis.

A resolução considera os seguintes conceitos7:

I - unidades de transporte de esgoto de pequeno porte: interceptores, emissários e respec-

tivas estações elevatórias de esgoto com vazão nominal de projeto menor ou igual a 200 l/s;

II - unidades de tratamento de esgoto de pequeno porte: estação de tratamento de esgoto

com vazão nominal de projeto menor ou igual a 50 l/s ou com capacidade para atendimento até

30.000 habitantes, a critério do órgão ambiental competente;

III - unidades de transporte de esgoto de médio porte: interceptores, emissários e estações

elevatórias de esgoto com vazão nominal de projeto maior do que 200 l/s e menor ou igual a 1.000 l/s;

IV - unidades de tratamento de esgoto de médio porte: estação de tratamento de esgoto com

vazão nominal de projeto maior que 50 l/s e menor ou igual a 400 l/s ou com capacidade para aten-

dimento superior a 30.000 e inferior a 250.000 habitantes, a critério do órgão ambiental competente;

V - sistema de esgotamento sanitário: as unidades de coleta, transporte e tratamento de esgoto sanitário;

7 Os órgãos ambientais definirão os critérios para o enquadramento de sistemas de esgotamento sanitário de pequeno e médio porte, de acordo com os parâmetros de vazão nominal ou população atendida (Art. 5º).

Page 57: MÓDULO ESPECÍFICO LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE

57

Ao solicitar a licença ambiental para unidades de médio porte, o empreendedor deverá apre-

sentar ao órgão licenciador um estudo ambiental que contemple no mínimo:

I - informações gerais;

II - dados do responsável técnico;

III - descrição do projeto;

IV - informações sobre a área do projeto;

V - caracterização da vegetação;

VI - caracterização dos recursos hídricos;

VII - caracterização do meio socioeconômico;

VIII - plano de monitoramento da unidade e do corpo receptor; e

IX - medidas mitigadoras e compensatórias.

No entanto, anteriormente à elaboração do estudo, o empreendedor deve procurar o órgão

ambiental que o orientará quanto à licença a ser requerida e emitirá o Termo de Referência norteador

da elaboração do Estudo Ambiental necessário, que deve considerar a alternativa de projeto, seus

impactos ambientais específicos e a localização proposta para o empreendimento.

As licenças prévia e de instalação poderão ser requeridas e, a critério do órgão ambien-

tal, expedidas concomitantemente.

Asunidadesdetransporteedetratamentodeesgotodepequenoporte, ressalvadas as

situadas em áreas ambientalmente sensíveis, ficam sujeitas, tão somente, à LIO ou ao ato administra-

tivo equivalente, desde que regulamentados pelo Conselho Estadual do Meio Ambiente.

Licença Ambiental Única de Instalação e Operação - LIO ou Ato Administrativoequivalente:ato administrativo único que autoriza a implantação e operação de empre-

endimento. O prazo máximo para a emissão será de 30 dias a partir da data do protocolo de

recebimento do pedido.

E, para a LIO ou ato administrativo, o empreendedor deverá apresentar os seguintes itens:

I - informações gerais sobre o projeto e outras informações consideradas relevantes pelo órgão

ambiental competente;

II - declaração de responsabilidade civil e a respectiva Anotação de Responsabilidade Técnica

- ART;

III - autorização para supressão de vegetação, quando for o caso;

IV - outorga de direito de uso de recursos hídricos para lançamento de efluentes;

V - localização em conformidade com instrumento de ordenamento territorial do Município ou

do Distrito Federal.

Vale destacar aqui os prazosmáximos8 estabelecidos pela resolução:

I - noventa dias para Licença Prévia;

II - noventa dias para Licença Prévia e de Instalação;

III - noventa dias para Licença de Instalação; e

IV - sessenta dias para Licença de Operação.

8 A contagem dos prazos de que trata este artigo será interrompida na data de solicitação dos documentos, dos dados e das informações complementares, reiniciando-se a partir da data do seu recebimento.

A suspensão do prazo de análise será de até trinta dias, podendo ser prorrogado pelo órgão ambiental, mediante solicitação fundamentada do empreendedor.

A não apresentação dos estudos complementares solicitados no prazo previsto no § 3° acarretará o arquivamento do processo de licencia-mento.

Page 58: MÓDULO ESPECÍFICO LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE

58

7.3. RESoLUção CoNAMA No 404, DE 11 DE NoVEMBRo DE 2008

A Resolução CONAMA no 404, de 11 de novembro de 2008, considerando os termos do art. 12

da Resolução no 237/97, estabelecequeosprocedimentosde licenciamentoambientaldeaterrossanitáriosdepequenoportesejamrealizadosdeformasimplificada.

A resolução considera aterrosanitáriodepequenoporteaquele comdisposiçãodiáriadeaté20t (vinte toneladas) de resíduos sólidos urbanos, limitado a uma única unidade por sede

municipal ou distrital.

Esse valor de disposição diária – 20 t/dia - dependendo dos hábitos e do sistema de

gestão, pode equivaler, na média, a uma população de 30 mil habitantes.

Nesses aterros sanitários, é admitida a disposição final de resíduos sólidos domiciliares, de re-

síduos de serviços de limpeza urbana, de resíduos de serviços de saúde, bem como de resíduos

sólidos provenientes de pequenos estabelecimentos comerciais, industriais e de prestação de ser-

viços, desde que não sejam perigosos, conforme definido em legislação específica, e que tenham

características similares aos gerados em domicílios, bem como aos resíduos de serviços de saúde que

não requeram tratamento prévio à disposição final, conforme RDC ANVISA 306/2004 e Resolução

CONAMA no 358/2005.

Observação: para cidades que recebem população flutuante ou sazonal, como cida-

des turísticas, em que o volume de resíduos sólidos urbanos excede 20 t/dia, o empreende-

dor deve ser orientado no sentido de elaborar o projeto de forma a contemplar as medidas

de controle adicionais para a operação do aterro.

Para esse tipo de empreendimento, não será exigida a apresentação de EIA/RIMA, a não ser

que o órgão ambiental competente verifique que o aterro proposto é potencialmente causador de

significativa degradação do meio ambiente.

No entanto, deverão ser exigidas, no mínimo, as seguintes condições, critérios e diretrizes:

I - vias de acesso ao local com boas condições de tráfego ao longo de todo o ano, mesmo no

período de chuvas intensas;

II - respeito às distâncias mínimas estabelecidas na legislação ambiental e nas normas técnicas;

III - respeito às distâncias mínimas estabelecidas na legislação ambiental relativas a áreas de pre-

servação permanente, Unidades de Conservação, ecossistemas frágeis e recursos hídricos

subterrâneos e superficiais;

IV - uso de áreas com características hidrogeológicas, geográficas e geotécnicas adequadas ao

uso pretendido, comprovadas por meio de estudos específicos;

V - uso de áreas que atendam a legislação municipal de Uso e Ocupação do Solo, desde que

atendido o disposto nos arts. 5o e 10o da Resolução CONAMA nº 237, de 19 de dezembro de

1997, com preferência para aquelas antropizadas e com potencial mínimo de incorporação

à zona urbana da sede, dos distritos ou dos povoados e de baixa valorização imobiliária;

VI - uso de áreas que garantam a implantação de empreendimentos com vida útil superior

a 15 anos;

Page 59: MÓDULO ESPECÍFICO LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE

59

VII – impossibilidade de utilização de áreas consideradas de risco, como as suscetíveis a ero-

sões, salvo após a realização de intervenções técnicas capazes de garantir a estabilidade

do terreno;

VIII - impossibilidade de uso de áreas ambientalmente sensíveis e de vulnerabilidade ambiental,

como as sujeitas a inundações;

IX - descrição da população beneficiada e caracterização qualitativa e quantitativa dos resíduos

a serem dispostos no aterro;

X - capacidade operacional proposta para o empreendimento;

XI - caracterização do local;

XII - métodos para a prevenção e minimização dos impactos ambientais;

XIII - plano de operação, acompanhamento e controle;

XIV - apresentação dos estudos ambientais, incluindo projeto do aterro proposto, acompanha-

dos de anotação de responsabilidade técnica;

XV - apresentação de programa de educação ambiental participativo que priorize a não gera-

ção de resíduos e estimule a coleta seletiva, baseado nos princípios da redução, reutilização

e reciclagem de resíduos sólidos urbanos, a ser executado concomitantemente à implan-

tação do aterro;

XVI - apresentação de projeto de encerramento, recuperação e monitoramento da área degra-

dada pelo(s) antigo(s) lixão(ões) e proposição de uso futuro da área, com seu respectivo

cronograma de execução;

XVII - plano de encerramento, recuperação, monitoramento e uso futuro previsto para a área do

aterro sanitário a ser licenciado;

XVIII - apresentação de plano de gestão integrada municipal ou regional de resíduos sólidos

urbanos ou de saneamento básico, quando existente, ou compromisso de elaboração nos

termos da Lei Federal no 11.445/2007.

O órgão ambiental competente poderá definir procedimentos complementares, que de-

verão ser aprovados pelo respectivo Conselho de Meio Ambiente. Nesse sentido, poderão ser

estabelecidas normas específicas nas quais a LP possa ser emitida concomitantemente à LI, por

exemplo.

Os órgãos competentes poderão estabelecer modelos simplificados de publicação

dos pedidos de licenciamento, de sua renovação e concessão, a ser feita em jornal oficial,

bem como em periódico regional ou local de grande circulação9.

9 Resolução CONAMA nº 281, de 12 de julho de 2001.

Page 60: MÓDULO ESPECÍFICO LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Page 61: MÓDULO ESPECÍFICO LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE

61

ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). NormasBrasileiras. Brasil.

BIDONE, F. R. A. Conceitosbásicosderesíduossólidos. São Paulo: EESC-USP, 1999.

CONAMA (CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE). ResoluçõesdoConama. BRASIL.

CNRH (Conselho Nacional de Recursos Hídricos). ConjuntodeNormasLegais. Brasil.

JORDÃO, E. P. Tratamentodeesgotosdomésticos. Rio de Janeiro: Abes, 2005.

LUDUVICE, M. L. Tecnologia e Perspectiva para o Futuro. In: ANAIS DO SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE TRATAMENTO E DISPOSIÇÃO DE ESGOTOS SANITÁRIOS. Brasília: Caesb, 1996.

MESQUITA JUNIOR, J. M. de. Gestãointegradaderesíduossólidos. Rio de Janeiro: Ibam, 2007. 40 p. (Mecanismo de desenvolvimento limpo aplicado a resíduos sólidos).

METCALF & EDDY. Wastewaterengineering: treatment, disposal and reuse. EUA, 2005.

PINTO, T. de P. Elementosparaaorganizaçãodacoletaseletivaeprojetodosgalpõesdetriagem. MMA/Ministério das Cidades, 2008.

PROSAB (Programa de Pesquisa em Saneamento Básico). Tratamentodeesgotos sanitáriosporprocessoanaeróbioedisposiçãocontroladanosolo. Rio de Janeiro: Abes, 1999.

SNIS (Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento). Diagnósticodosserviçosdeáguaeesgotos2007 – Programa de Modernização do Setor Saneamento – PMSS. Brasília: MMA, 2009.

TSUTIYA, M. T. Coletaetransportedeesgotosanitário. São Paulo: USP, 1999.

USEPA (Environmental Protection Agency). TechnicalGuidanceManualforDevelopingTotalMaximumDailyLoads–Book2: Streams and Rivers. EUA, 1997.

VAN ELK, A. G. H. P. Reduçãodeemissõesnadisposiçãofinal. Rio de Janeiro: Ibam, 2007. 40 p. (Mecanismo de desenvolvimento limpo aplicado a resíduos sólidos)

VON SPERLING, M. Introdução à qualidade das águas e ao tratamento de esgotos. Belo Horizonte: Desa/UFMG, 2005.

VON SPERLING, M. Lododeesgotos: tratamento e disposição final. Belo Horizonte: Desa/UFMG, 2001.

Page 62: MÓDULO ESPECÍFICO LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE

ANEXO I

Page 63: MÓDULO ESPECÍFICO LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE

63

LIStA DE RESoLUçõES qUE qUE SE RELACIoNAM CoM oS SERVIçoS DE SANEAMENto BáSICo

RESoLUçõES CoNAMA

Resoluçãonº404,de11/11/2008: Revoga a Resolução CONAMA nº 308/02 e estabelece

critérios e diretrizes para o licenciamento ambiental de aterro sanitário de pequeno porte de resídu-

os sólidos urbanos.

Resoluçãonº401,de04/11/2008: Estabelece os limites máximos de chumbo, cádmio e

mercúrio para pilhas e baterias comercializadas no território nacional e os critérios e padrões para o

seu gerenciamento ambientalmente adequado, e dá outras providências.

Resolução nº 397, de 03/04/2008 : Altera o inciso II do § 4o e a Tabela X do § 5o, ambos do

art. 34 da Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA no 357, de 2005, que dispõe

sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem

como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes.

Resolução nº 380, de 31/10/2006 : Altera o Anexo I da Resolução n0 375/06.

Resolução nº 377, de 09/10/2006 : Dispõe sobre licenciamento ambiental simplificado de

Sistemas de Esgotamento Sanitário.

Resolução nº 375, de 29/08/2006 : Define critérios e procedimentos, para o uso agrícola

de lodos de esgoto gerados em estações de tratamento de esgoto sanitário e seus produtos deriva-

dos, e dá outras providências.

Resolução nº 370, de 06/04/2006 : Prorroga o prazo para complementação das condições e

padrões de lançamento de efluentes, previsto no art. 44 da Resolução no 357, de 17 de março de 2005.

Resolução nº 369, de 28/03/2006 : Dispõe sobre os casos excepcionais, de utilidade pú-

blica, interesse social ou baixo impacto ambiental, que possibilitam a intervenção ou supressão de

vegetação em Área de Preservação Permanente - APP.

Resolução nº 358, de 29/04/2005 : Dispõe sobre o tratamento e a disposição final dos resí-

duos dos serviços de saúde e dá outras providências.

Resolução nº 357, de 17/03/2005 : Dispõe sobre a classificação dos corpos de água e di-

retrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de

lançamento de efluentes, e dá outras providências.

Resolução nº 348, de 16/08/2004 : Altera a Resolução CONAMA no 307, de 5 de julho de

2002, incluindo o amianto na classe de resíduos perigosos.

Resolução nº 334, de 03/04/2003 : Dispõe sobre os procedimentos de licenciamento am-

biental de estabelecimentos destinados ao recebimento de embalagens vazias de agrotóxicos.

Resolução nº 316, de 29/10/2002 : Dispõe sobre procedimentos e critérios para o funcio-

namento de sistemas de tratamento térmico de resíduos.

Resolução nº 313, de 29/10/2002 : Dispõe sobre o Inventário Nacional de Resíduos Sóli-

dos Industriais.

Page 64: MÓDULO ESPECÍFICO LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE

64

Resolução nº 307, de 05/07/2002 : Estabelece diretrizes, critérios e procedimentos para a

gestão dos resíduos da construção civil.

Resolução nº 301, de 21/03/2002 : Altera dispositivos da Resolução nº 258, de 26 de agos-

to de 1999, que dispõe sobre Pneumáticos.

Resolução nº 281, de 12/07/2001 : Dispõe sobre modelos de publicação de pedidos de

licenciamento.

Resolução nº 275, de 25/04/2001 : Estabelece o código de cores para os diferentes tipos

de resíduos, a ser adotado na identificação de coletores e transportadores, bem como nas campa-

nhas informativas para a coleta seletiva.

Resolução nº 264, de 26/08/1999 : Licenciamento de fornos rotativos de produção de

clínquer para atividades de co-processamento de resíduos.

Resolução nº 258, de 26/08/1999: Determina que as empresas fabricantes e as importa-

doras de pneumáticos ficam obrigadas a coletar e dar destinação final ambientalmente adequada

aos pneus inservíveis.

Resolução nº 235, de 07/01/1998 : Altera o anexo 10 da Resolução CONAMA nº 23, de 12

de dezembro de 1996.

Resolução nº 244, de 16/10/1998 : Exclui item do anexo 10 da Resolução CONAMA nº 23,

de 12 de dezembro de 1996.

Resolução nº 237, de 19/12/1997 : Dispõe sobre a revisão e complementação dos proce-

dimentos e critérios utilizados para o licenciamento ambiental.

Resolução nº 23, de 12/12/1996 : Dispõe sobre as definições e o tratamento a ser dado

aos resíduos perigosos, conforme as normas adotadas pela Convenção da Basiléia sobre o Controle

de Movimentos Transfronteiriços de Resíduos Perigosos e seu Depósito.

Resolução nº 5, de 05/08/1993 : Dispõe sobre o gerenciamento de resíduos sólidos ge-

rados nos portos, aeroportos, terminais ferroviários e rodoviários.

Resolução nº 2, de 22/08/1991 : Dispõe sobre o tratamento a ser dado às cargas dete-

rioradas, contaminadas ou fora de especificações.

Resolução nº 6, de 19/09/1991 : Dispõe sobre o tratamento dos resíduos sólidos prove-

nientes de estabelecimentos de saúde, portos e aeroportos.

Resolução nº 5, de 15/06/1988 : Dispõe sobre o licenciamento de obras de saneamento.

Resolução nº 9, de 03/12/1987 : Dispõe sobre a realização de Audiências Públicas no

processo de licenciamento ambiental.

Resolução nº 6, de 24/01/1986 : Dispõe sobre a aprovação de modelos para publicação

de pedidos de licenciamento.

Resolução nº 1, de 23/01/1986 : Dispõe sobre critérios básicos e diretrizes gerais para a

avaliação de impacto ambiental.

Page 65: MÓDULO ESPECÍFICO LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE

65

RESoLUçõES CNRH

Resolução nº 92, de 05/11/2008 : Estabelece critérios e procedimentos gerais para prote-

ção e conservação das águas subterrâneas no território brasileiro.

Resolução nº 91, de 05/11/2008 : Dispõe sobre procedimentos gerais para o enquadra-

mento dos corpos de água superficiais e subterrâneos.

Resolução nº 65, de 07/12/2006 : Estabelece diretrizes de articulação dos procedimentos

para obtenção da outorga de direito de uso de recursos hídricos com os procedimentos de licencia-

mento ambiental.

Resolução nº 54, de 28/11/2005 : Estabelece modalidades, diretrizes e critérios gerais

para a prática de reúso direto não potável de água.

Resolução nº 48, de 21/03/2005 : Estabelece critérios gerais para a cobrança pelo uso

dos recursos hídricos.

Resolução nº 37, de 26/03/2004 : Estabelece diretrizes para a outorga de recursos hídri-

cos para a implantação de barragens em corpos de água de domínio dos Estados, do Distrito Federal

ou da União.

Resolução nº 16, de 08/05/2001 : Estabelece critérios gerais para a outorga de direito de

uso de recursos hídricos.

Page 66: MÓDULO ESPECÍFICO LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE

ANEXO II

Page 67: MÓDULO ESPECÍFICO LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE

67

* Opção prevista na Resolução CONAMA nº 404/2008, podendo, inclusive, contemplar procedimentos simplificados (art. 5º).

** Resolução no 377/06 - Dispõe sobre licenciamento ambiental simplificado de Sistemas de Esgotamento Sanitário.

Page 68: MÓDULO ESPECÍFICO LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE