modelo geomecânico aplicado à análise de estabilidade de poços

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Mecânica das Rochas para Recursos Naturais e Infraestrutura SBMR 2014 Conferência Especializada ISRM 09-13 Setembro 2014 © CBMR/ABMS e ISRM, 2014 SBMR 2014 Modelo Geomecânico Aplicado à Análise de Estabilidade de Poços Sandra M. Rosero PUC-Rio, Rio de Janeiro, Brasil, [email protected] Sergio A. B. da Fontoura PUC-Rio, Rio de Janeiro, Brasil, [email protected] Vivian R. Marchesi PUC-Rio, Rio de Janeiro, Brasil, [email protected] Clemente J. C. Gonçalves Petrobras, Rio de Janeiro, Brasil, [email protected] RESUMO: As recentes metodologias desenvolvidas pela indústria do petróleo avaliam problemas e eventos de perfuração e integram informações relevantes de poços com modelos geológicos gerados a partir da sísmica para a análise de instabilidade geomecânica. Frente à crescente complexidade dos cenários de exploração, fontes de dados como Boletins Diários de Perfuração (BDP), perfis de poços e parâmetros de perfuração têm sido amplamente identificadas, estudadas e modeladas na literatura, uma vez que as análises de estabilidade convencionais se tornaram insuficientes para determinar as possíveis condições de perfuração de poços. O presente trabalho apresenta um estudo de aplicação da metodologia proposta para avaliar sua eficácia no entendimento do campo e otimização de projetos de poços. A distribuição espacial dos eventos e problemas de perfuração nos modelos geológicos é uma das principais contribuições obtidas após a aplicação da modelagem geomecânica (MEM), pois permite identificar onde, quando, e porque esses problemas de instabilidade tendem a ocorrer. Esses resultados permitiram obter um acelerado conhecimento geomecânico do campo como um todo para minimizar a ocorrência de eventos de perfuração inesperados e diminuir o Tempo Não-Produtivo (TNP). PALAVRAS-CHAVE: Modelo Geomecânico, Estabilidade de poços, Tempo Não-Produtivo. 1 INTRODUÇÃO Maiores dificuldades operacionais tem sido enfrentadas na perfuração de poços de petróleo à medida que os cenários de perfuração têm aumentado seu nível de complexidade. Estas dificuldades têm exigido o desenvolvimento de projetos em condições técnicas e economicamente desafiadoras. Frente a essas novas condições dos campos explorados, as análises de estabilidade convencionais se tornaram insuficientes em função da sua limitação na compreensão de ambientes mais heterogêneos e estruturalmente complexos. Nesse sentido, o trabalho aqui apresentado é desenvolvido no conceito de modelo geomecânico (MEM-Mechanical Earth Model). Este conceito foi apresentado na década dos 90, como um dos resultados práticos do estudo de estabilidade do campo Cusiana (Colômbia) por Plumb et al. (2000). Neste trabalho, se propõe uma metodologia para construir um MEM a partir da análise de problemas e eventos de perfuração relacionados à instabilidade geomecânica, em geral responsáveis pela geração de Tempo Não- Produtivo (TNP) excessivo e elevados custos econômicos. O MEM apresentado integra a análise dos dados de perfuração, isto é, Boletins Diários de Perfuração (BDPs) e perfis de poços, com modelos geológicos gerados a partir da sísmica do campo estudado.

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Page 1: Modelo Geomecânico Aplicado à Análise de Estabilidade de Poços

Mecânica das Rochas para Recursos Naturais e Infraestrutura

SBMR 2014 – Conferência Especializada ISRM 09-13 Setembro 2014

© CBMR/ABMS e ISRM, 2014

SBMR 2014

Modelo Geomecânico Aplicado à Análise de Estabilidade de

Poços

Sandra M. Rosero

PUC-Rio, Rio de Janeiro, Brasil, [email protected]

Sergio A. B. da Fontoura

PUC-Rio, Rio de Janeiro, Brasil, [email protected]

Vivian R. Marchesi

PUC-Rio, Rio de Janeiro, Brasil, [email protected]

Clemente J. C. Gonçalves

Petrobras, Rio de Janeiro, Brasil, [email protected]

RESUMO: As recentes metodologias desenvolvidas pela indústria do petróleo avaliam problemas e

eventos de perfuração e integram informações relevantes de poços com modelos geológicos gerados

a partir da sísmica para a análise de instabilidade geomecânica. Frente à crescente complexidade

dos cenários de exploração, fontes de dados como Boletins Diários de Perfuração (BDP), perfis de

poços e parâmetros de perfuração têm sido amplamente identificadas, estudadas e modeladas na

literatura, uma vez que as análises de estabilidade convencionais se tornaram insuficientes para

determinar as possíveis condições de perfuração de poços. O presente trabalho apresenta um estudo

de aplicação da metodologia proposta para avaliar sua eficácia no entendimento do campo e

otimização de projetos de poços. A distribuição espacial dos eventos e problemas de perfuração nos

modelos geológicos é uma das principais contribuições obtidas após a aplicação da modelagem

geomecânica (MEM), pois permite identificar onde, quando, e porque esses problemas de

instabilidade tendem a ocorrer. Esses resultados permitiram obter um acelerado conhecimento

geomecânico do campo como um todo para minimizar a ocorrência de eventos de perfuração

inesperados e diminuir o Tempo Não-Produtivo (TNP).

PALAVRAS-CHAVE: Modelo Geomecânico, Estabilidade de poços, Tempo Não-Produtivo.

1 INTRODUÇÃO

Maiores dificuldades operacionais tem sido

enfrentadas na perfuração de poços de petróleo

à medida que os cenários de perfuração têm

aumentado seu nível de complexidade. Estas

dificuldades têm exigido o desenvolvimento de

projetos em condições técnicas e

economicamente desafiadoras. Frente a essas

novas condições dos campos explorados, as

análises de estabilidade convencionais se

tornaram insuficientes em função da sua

limitação na compreensão de ambientes mais

heterogêneos e estruturalmente complexos.

Nesse sentido, o trabalho aqui apresentado é

desenvolvido no conceito de modelo

geomecânico (MEM-Mechanical Earth Model).

Este conceito foi apresentado na década dos 90,

como um dos resultados práticos do estudo de

estabilidade do campo Cusiana (Colômbia) por

Plumb et al. (2000).

Neste trabalho, se propõe uma metodologia

para construir um MEM a partir da análise de

problemas e eventos de perfuração relacionados

à instabilidade geomecânica, em geral

responsáveis pela geração de Tempo Não-

Produtivo (TNP) excessivo e elevados custos

econômicos. O MEM apresentado integra a

análise dos dados de perfuração, isto é, Boletins

Diários de Perfuração (BDPs) e perfis de poços,

com modelos geológicos gerados a partir da

sísmica do campo estudado.

Page 2: Modelo Geomecânico Aplicado à Análise de Estabilidade de Poços

SBMR 2014

2 ORIGEM DO CONCEITO DA

MODELAGEM GEOMECÂNICA (MEM)

No princípio dos anos 90, foi identificada uma

forte instabilidade no Campo Cusiana,

pertencente à Bacia dos Llanos, localizado na

região tectonicamente ativa da Cordilheira

Leste da Colômbia. Grandes quantidades de

cavings, prisões de coluna e repasses intensos

devidos à presença de breakouts, wash-outs e

fechamento foram alguns dos problemas

observados nos poços analisados. A severidade

desses problemas gerou TNP excessivo e custos

extremamente elevados (Plumb et al., 2000;

Last et al., 1995).

Diante das condições adversas de

estabilidade influenciadas pelo ambiente

tectônico e, devido ao limitado conhecimento

geomecânico do campo, uma equipe

interdisciplinar de especialistas foi criada e

encarregada de compilar informações que

auxiliassem na compreensão desses problemas.

Com o tempo, essas informações se

converteram na base de dados básicos para a

construção do MEM (Plumb et al., 2000; Last et

al., 1995).

Como consequência dos bons resultados

obtidos após a aplicação do MEM no campo

Cusiana, a metodologia passou a ser aplicada

em outros campos. Alguns dos benefícios

observados após a aplicação progressiva das

recomendações sugeridas pelo MEM foram a

redução de eventos inesperados de perfuração,

diminuição do TNP e o aprendizado

geomecânico do campo mais rápido.

2.1 Eventos de perfuração e NPT

Segundo Chipindu (2010) citado por Cerqueira

(1997), “problema é qualquer resultado

indesejável de uma atividade ou processo” e

“para qualquer estudo de problemas o mais

importante é saber identificar sua natureza

(tipo) e como se manifesta (sintomas)”.

Rabelo (2008) considerou que os eventos

podem ser tratados como anormalidades, pois

podem evidenciar a ocorrência de problemas

geomecânicos. Repasses realizados com

frequência e arrastes elevados da coluna de

perfuração são alguns exemplos destes

problemas.

Na literatura, os eventos e problemas de

perfuração têm sido amplamente identificados,

estudados e modelados. Chipindu (2010),

Rabelo (2008), Miura et al. (2009) e Tavares

(2006) são alguns dos autores que

desenvolveram metodologias para identificar,

descrever, classificar e tratar eventos e

problemas de instabilidade a partir de dados de

perfuração.

Miura et al. (2009) propõem classificação

por ocorrências em: dificuldade de avanço

(DA), dificuldade de manobra (DM) e prisão

(P). Tavares (2006) propôs classificação do

agente causador em: fluido de perfuração,

geometria do poço, características da formação

e parâmetros mecânicos. Rabelo (2008)

classificou fatores associados a causas de

natureza geomecânica. Chipindu (2010)

analisou o comportamento de alguns parâmetros

mecânicos e hidráulicos associados com

informações como litologia, tectonismo e outras

causas operacionais que auxiliam na sua

identificação.

Em geral, esses tipos de problema têm

impactos no tempo de perfuração e

consequências econômicas elevadas. Esse

tempo extra não programado é chamado de

(TNP). Moazzeni et al. (2010) conceitua como

TNP o “tempo no qual a perfuração cessa ou a

taxa de penetração é muito baixa”.

2.2 Casos históricos da aplicação do MEM

para a análise de estabilidade de poços

Uma das aplicações do MEM é a previsão mais

acurada da estabilidade de poços, que ajude a

reduzir os riscos de perfuração.

Fontana et al. (2007) observaram problemas

de instabilidade de poço, semelhantes aos

ocorridos em Cusiana, em um campo localizado

na Bacia Austral no Sul da Argentina. Nesta

locação foi observada a formação de cavings

em folhelhos microfraturados, que acarretou

prisão de coluna e arrastes elevados, tendo

como consequência um TNP igual a 25% do

tempo de perfuração originalmente programado.

O MEM aplicado a este campo permitiu

compreender as causas e os mecanismos da

instabilidade e sugerir três estratégias de

Page 3: Modelo Geomecânico Aplicado à Análise de Estabilidade de Poços

SBMR 2014

mitigação: diminuição do peso do fluido de

perfuração, utilização de aditivos inibidores no

fluido de perfuração e, modificação dos

componentes da coluna de perfuração. Na

Figura 1, pode-se observar considerável

melhora no controle de caliper em poço na

Bacia Austral após a aplicação do MEM.

Figura 1. Acompanhamento do perfil caliper para a

avaliação da integridade das paredes dos poços

(Modificada de Fontana et al., 2007).

Araujo et al. (2009) estenderam a aplicação

do MEM a poços de gás na bacia de Neuquén,

Argentina. Esse MEM foi construído usando

perfis do poço, dentre eles o de imagem,

informações dos BDPs, medidas de pressão de

poros e resultados de testes de micro

fraturamento.

Na Figura 2(a) é ilustrado o gráfico de

profundidade versus tempo de perfuração do

poço X (Pré-MEM). Operações de repasses e

pescaria foram necessários para mitigar

problemas de fechamento do poço e prisões de

coluna. Estes problemas ocorreram em função

de uso de fluido de perfuração com peso

insuficiente. O perfil caliper apresentou uma

boa correlação em profundidade com os

problemas observados. Figura 2(b) é ilustrado o

gráfico de profundidade versus tempo de

perfuração do poço Y (Pós-MEM). Partindo-se

das recomendações do MEM criado para o

campo foi possível perfurar o poço com peso de

fluido ajustado e poucos eventos de fechamento

de poço, prisão de coluna e influxo de gás

foram registrados. Como consequência das

melhorias implantadas houve redução

significativa no TNP.

Figura 2. (a) Experiência de perfuração do poço X Pré-

MEM (Modificada de Araujo et al., 2009). (b)

Experiência de perfuração do poço Y Pós-MEM

(Modificada de Araujo et al., 2009).

3 METODOLOGIA PROPOSTA

A Figura 3 ilustra a metodologia proposta neste

trabalho para a construção do MEM. A mesma é

estruturada em três etapas: auditoria dos poços

de correlação, retroanálise e modelagem.

A fase da auditoria de dados é a primeira

etapa a ser realizada. Nela, a revisão do

histórico da perfuração objetiva identificar e

pré-classificar os eventos e problemas de

perfuração relacionados à instabilidade

geomecânica dos poços analisados.

Na fase da retroanálise individual, e quando

possível coletiva, uma primeira avaliação do

comportamento geomecânico é obtida.

Inicialmente, como peça fundamental de

qualquer análise geomecânica da análise Post

Mortem, a reconstrução do histórico de

perfuração é registrada em gráficos de

Page 4: Modelo Geomecânico Aplicado à Análise de Estabilidade de Poços

SBMR 2014

profundidade versus tempo. Nesse gráfico, os

eventos e problemas de instabilidade

identificados são apresentados em função da

profundidade perfurada, atividades no poço,

fluido de perfuração entre outros (conforme a

Figura 2(a) e Figura 2(b)). Ao lado deste gráfico

é plotado o perfil de caliper visando facilitar a

avaliação da condição das paredes dos poços

através da identificação das zonas de

instabilidade geradas pelos mecanismos de

ruptura. Assim, valida-se a interpretação da

análise geomecânica. Nesse gráfico, nem

sempre é apresentado de forma rigorosa o

tempo programado de perfuração, pois o efeito

do TNP também se vê nele refletido.

Figura 3. Etapas da metodologia proposta para a

construção do MEM.

Outro gráfico de profundidade com relação

à inclinação do poço é construído para mapear

os eventos e problemas de instabilidade em

função da trajetória do poço. O objetivo é

avaliar a possível influência do ganho do ângulo

do poço como um possível fator de

instabilidade.

Diagramas de Pareto podem ser usados em

cada poço para estimar quantitativamente a

frequência da ocorrência dos problemas

analisados. Essa análise permite identificar as

anormalidades mais recorrentes e detectar os

problemas mais críticos. A partir desses

resultados, uma análise coletiva também é

recomendada, com o intuito de avaliar se esses

problemas críticos ocorrem de forma simultânea

em todos os poços ou se são casos isolados.

Sugere-se o estudo do TNP em gráficos de

“pizza” ou circular. Consideram-se TNP apenas

o tempo gerado pelos eventos e problemas de

instabilidade. No primeiro gráfico, analisa-se a

distribuição do tempo gasto, em termos de

horas acumuladas, das principais atividades da

perfuração. No entanto, dado que ele representa

implicitamente tanto o tempo operacional (TO)

quanto o TNP, é construído um segundo gráfico

que determina a proporção de cada um deles.

Um terceiro gráfico é também elaborado para

representar de forma detalhada a distribuição

desses TNP por atividade de perfuração.

Findas as análises dos BDPs, dados de perfis

dos poços analisados e correlações disponíveis

na literatura são usados para determinar as

condições de estabilidade. Esta análise pode ser

realizada usando o simulador SEST©

(criado

pelo Grupo de Tecnologia e Engenharia de

Petróleo – GTEP/PUC-RIO em conjunto com a

PETROBRAS). Essa análise visa a obtenção da

janela operacional para o peso do fluido de

perfuração contemplando pressão de poros,

tensões in situ e gradientes de colapsos e

fratura. Problemas e eventos de instabilidade

também são usados para calibrar e validar as

interpretações das análises de estabilidade.

Na fase da modelagem tridimensional, o

estudo é realizado através de software de

modelagem, para integrar espacialmente os

eventos de instabilidade com modelos

geológicos gerados a partir da sísmica do

campo, com o objetivo de aprimorar o

conhecimento geomecânico do mesmo.

A área da modelagem deve ser delimitada

em função de horizontes estratigráficos e

entorno do campo, de forma a cobrir

espacialmente as informações analisadas (topo:

fundo do mar; base: embasamento ou limite

inferior do reservatório). Contemplando a

possibilidade da interconexão espacial dos

eventos e problemas de instabilidade,

horizontes lito-estratigráficos foram traçados

para identificar as denominadas "zonas de

instabilidade”. Em função dessas zonas e de sua

correlação com os perfis, parâmetros de

perfuração e coluna litológica dos poços

Page 5: Modelo Geomecânico Aplicado à Análise de Estabilidade de Poços

SBMR 2014

analisados, se pretende avaliar onde, quando, e

por que esses problemas de instabilidade

tendem a ocorrer. Na Figura 4, tomada da

literatura, se apresenta este procedimento.

Figura 4. Correlação dos horizontes litológicos entre

poços. (Tomada de Pereira de Lima, 2005).

Ao usar dados de sísmica do campo, uma

melhor interpretação das zonas de instabilidade

identificadas pode ser obtida, em função da

análise do comportamento entre os poços. Na

Figura 5 é apresentado um esquema geral para a

construção tridimensional do MEM combinando

os perfis de poços com os horizontes geológicos

e sísmicos.

Figura 5. Etapas da construção do modelo 3D (Tomada

de Sayers et al., 2006).

4 CASO DE ESTUDO E ANÁLISE DE

RESULTADOS

A metodologia proposta foi utilizada na análise

de quatro poços: P-001, P-002 e P-003, e P-004.

Os primeiros três poços são verticais e o quarto

é direcional. Para esta análise foram compilados

dados dos BDPs e perfis dos quatro poços. A

litologia dos poços analisados é composta,

basicamente, por intercalações de folhelhos,

marga e argilito, sendo o reservatório um

arenito.

Os BDPs foram analisados, identificando-se

ocorrência com relevância para a análise de

instabilidades mecânicas de poços. As

ocorrências foram classificadas em dois grupos:

eventos anormais (repasses, topadas e arrastes)

e problemas (fechamento e alargamento de

poço e operações de pescaria).

Em cada poço analisado, realizou-se a

reconstrução do histórico da perfuração em

gráficos de profundidade versus tempo de

perfuração. Nesses gráficos, foram

correlacionados os eventos e problemas de

instabilidade, com a coluna litológica, trajetória,

fluido de perfuração e perfil de caliper.

Observou-se que a maioria desses eventos e

problemas ocorreu em sequências de folhelho.

Na Figura 6, apresenta-se o histórico da

perfuração do poço direcional P-004, no qual

foi identificada a maioria dos problemas

observados que causaram o maior TNP.

Figura 6. Correlação da litologia, trajetória, perfil caliper

e gráfico de profundidade versus tempo de perfuração do

poço P-004.

Na Figura 7, apresenta-se o mapeamento

desses problemas ao longo da trajetória do poço

P-004. Identificaram-se zonas de instabilidade

em que mais de um tipo de problema ocorrem

de forma simultânea. Além disso, observou-se

que a uma inclinação pequena do poço, esses

problemas começam a aparecer. Dessa forma,

verificou-se a influência do ganho do ângulo do

poço como um possível fator de instabilidade.

Diagramas de Pareto foram construídos para

Page 6: Modelo Geomecânico Aplicado à Análise de Estabilidade de Poços

SBMR 2014

cada poço analisado. Na Figura 8, apresentam-

se os eventos de instabilidade que ocorreram no

poço P-004. Os repasses foram as operações

com mais frequência e foram realizados para

condicionar o poço em função da ocorrência de

fechamentos. Na Figura 9, uma análise coletiva

também foi realizada comparando os resultados

dos poços analisados. Como esperado, os

repasses foram as operações realizadas com

maior frequência.

Figura 7. Problemas de instabilidade ao longo da

trajetória do poço P-004.

Figura 8. Diagrama de Pareto poço P-004.

Figura 9. Diagrama de Pareto poços analisados. Análise

coletiva.

Dos resultados obtidos da análise do TNP nos

poços analisados, observou-se na maioria dos

casos, que a maior contribuição para o TNP

corresponde especificamente à ocorrência de

eventos de repasse e arrastes da coluna. Na

Figura 10, apresenta-se a análise do TNP do

poço P-004.

Figura 10. (a) Atividades principais do poço P-004. (b)

Discriminação do TO e do TNP do poço. (c) Detalhe dos

eventos de instabilidade que contribuem no TNP.

Realizada a análise dos dados contidos nos

BDPs, foram usados os perfis de caliper, tempo

de trânsito e gamma ray, assim como, as

correlações disponíveis na literatura para iniciar

as análises de estabilidade dos poços estudados.

A partir dos perfis de densidade e tempo de

trânsito, os gradientes de sobrecarga e de

pressão de poros foram estimados. Não houve

indícios de possíveis zonas anormalmente

pressurizadas. As propriedades mecânicas das

rochas foram estimadas usando as correlações

da literatura, em função dos perfis de tempo de

trânsito compressional e cisalhante.

A tensão vertical foi a primeira a ser

determinada. As tensões horizontais foram

estimadas considerando, a partir da teoria de

elasticidade, a bacia como relaxada. O cálculo

foi realizado em função do coeficiente de

Poisson que estabelece a relação entre a tensão

vertical e a horizontal menor igual a maior.

Caso disponíveis, dados de LOT (Leakoff test)

Page 7: Modelo Geomecânico Aplicado à Análise de Estabilidade de Poços

SBMR 2014

podem ser usados para estimar a tensão

horizontal mínima. Na Figura 11, observa-se a

que a tensão horizontal mínima estimada em

função do coeficiente de Poisson se aproxima

bastante da estimativa através do LOT

registrado no poço P-004. Define-se assim, o

limite superior da janela operacional.

Por último, obteve-se a determinação dos

gradientes de colapso e fratura. Esses gradientes

representam os limites de estabilidade em

função dos mecanismos de ruptura, por

cisalhamento ou fratura nas paredes dos poços.

Em função do maior valor entre os

gradientes de colapso inferior e pressão de

poros e da tensão horizontal mínima, foi

definida a janela operacional para determinar o

intervalo possível da variação do peso de fluido

de perfuração de forma a manter a integridade

do poço. Os eventos e problemas observados

também são integrados para validar as

interpretações das análises de estabilidade. Na

Figura 11, a janela operacional obtida para o

poço P-004 mostra arrombamentos

consideráveis no perfil caliper causados

possivelmente ao fato de que o gradiente de

colapso inferior se apresenta maior que o peso

do fluido de perfuração.

Figura 11. Módulo de Gradientes – Janela Operacional do

poço P-004.

Utilizando o simulador PETREL©

, os

eventos e problemas observados foram

integrados ao modelo geológico. Horizontes

estratigráficos foram traçados em função da

correlação desses problemas com os perfis dos

poços e a coluna litológica para identificar as

possíveis zonas de instabilidade. Na Figura 12,

mostra-se a correlação entre os arrombamentos,

repasses e arrastes no poço P-004 com os perfis

e a coluna litológica nos outros poços a partir

dos horizontes estratigráficos.

Figura 12. Correlação entre os repasses e arrastes com a

coluna litológica nos poços do estudo de caso a partir dos

horizontes estratigráficos

Na Figura 13(a), apresenta-se a distribuição

espacial dos arrombamentos assim como as

superfícies de fundo do mar e base de modelo

como limites geométricos superior e inferior do

modelo. Na Figura 13(b), apresentam-se as

zonas de instabilidade delimitadas entre os

horizontes traçados em função dos

arrombamentos.

Uma vez obtidos os resultados da

modelagem geomecânica, foi possível

identificar uma zona comum de instabilidade

em que um ou vários problemas ocorrem de

maneira simultânea. Essa foi a contribuição

mais importante da análise realizada, cujas

lições aprendidas podem ser incorporadas nas

operações de novos projetos com o fim de

mitigar os riscos operacionais inesperados,

garantindo a redução do TNP.

Figura 13. (a) e (b). Representação tridimensional dos

arrombamentos nos poços do estudo de caso (Coordenadas

ficticias).

Page 8: Modelo Geomecânico Aplicado à Análise de Estabilidade de Poços

SBMR 2014

5 CONCLUSÕES

Com base nas análises apresentadas, concluiu-

se que uma das maiores contribuições às

análises de estabilidade convencionais é a

modelagem tridimensional do campo de estudo

através do MEM. Esta metodologia permite que

os eventos e problemas de instabilidade sejam

correlacionados, validados e sintetizados com

informações geológicas, geofísicas e estruturais

através de uma distribuição espacial,

destacando onde, quando, e por que eses

problemas de instabilidade na formação tendem

a ocorrer.

Em geral, poucos eventos de perfuração

inesperados, a diminuição do TNP e o acelerado

aprendizado geomecânico do campo, são alguns

dos benefícios observados após a aplicação

progressiva das recomendações sugeridas pelo

MEM para melhorar as condições de

estabilidade dos poços.

AGRADECIMENTOS

À CAPES pela concessão da bolsa de estudos.

Ao GTEP/PUC-RIO pelo apoio financeiro e

pelas condições de infraestrutura oferecidas

para o desenvolvimento deste trabalho de

mestrado. À PETROBRAS pela disponibilidade

dos dados analisados. À SCHLUMBERGER

pela disponibilidade do software PETREL©

.

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