a prática da estabilidade de poços: exemplos do brasil

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Mecânica das Rochas para Recursos Naturais e Infraestrutura SBMR 2014 Conferência Especializada ISRM 09-13 Setembro 2014 © CBMR/ABMS e ISRM, 2014 SBMR 2014 A Prática da Estabilidade de Poços: Exemplos do Brasil Cecília Pinheiro Junqueira PUC-Rio, Rio de Janeiro, Brasil, [email protected] Jociléia Alves Buback PUC-Rio, Rio de Janeiro, Brasil, [email protected] Luciana Teixeira Maciel PUC-Rio, Rio de Janeiro, Brasil, [email protected] Tânia O. Américo Pessôa Andrade PUC-Rio, Rio de Janeiro, Brasil, [email protected] Clemente José de Castro Gonçalves Petrobras, Rio de Janeiro, Brasil, [email protected] Sérgio Augusto Barreto da Fontoura PUC-Rio, Rio de Janeiro, Brasil, [email protected] RESUMO: Diversos problemas relacionados à instabilidade de poço, tais como repasses, drags, prisão de coluna e perdas de circulação, resultam em tempo perdido de sonda e aumentam significativamente o custo total da perfuração. Dentro deste contexto, um dos objetivos mais importantes é a obtenção da faixa segura de peso de fluido de perfuração, de modo a garantir a estabilidade das paredes do poço. Visando balizar o dimensionamento do peso de fluido e otimizar o tempo de perfuração, a PETROBRAS em parceria com o Grupo de Tecnologia e Engenharia de Petróleo (GTEP/PUC-RJ), vem desenvolvendo ao longo dos últimos anos uma ferramenta de simulação SEST©, que permite estimar a janela operacional composta por gradientes de pressão de poros, colapso e fratura. Este trabalho tem por fim apresentar a metodologia desenvolvida e aplicada no cálculo desses gradientes, que se baseia nas leis da Teoria da Elasticidade e na utilização de perfis corridos (sônico compressional e cisalhante, gamma-ray, densidade da formação, resistividade, caliper, etc.), para aplicação de correlações empíricas presentes na literatura de mecânica de rochas e determinação do estado de tensões in situ. Apesar de a janela operacional poder ser obtida diretamente utilizando apenas dados de perfis e correlações, vale ressaltar que não só é possível, mas de grande importância a utilização de informações provenientes de outras fontes (quando disponível) para uma melhor calibração do modelo. Embora raros, resultados de testes de laboratório contendo registro de propriedades mecânicas podem ser utilizados nos cálculos e calibrar correlações existentes. No caso das tensões in situ, resultados de teste de absorção, minifrac e microfraturamento realizados em poços da região tornam o valor da magnitude da tensão horizontal mínima muito próximo da realidade, enquanto perfis de imagem podem revelar a direção das tensões horizontais com base em breakouts e fraturas induzidas. Este texto aborda ainda alguns cenários onde esta metodologia foi testada e aplicada, apresentando resultados operacionais satisfatórios. PALAVRAS-CHAVE: Estabilidade de poços, Perfuração de poços, Janela Operacional.

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Mecânica das Rochas para Recursos Naturais e Infraestrutura

SBMR 2014 – Conferência Especializada ISRM 09-13 Setembro 2014

© CBMR/ABMS e ISRM, 2014

SBMR 2014

A Prática da Estabilidade de Poços: Exemplos do Brasil

Cecília Pinheiro Junqueira

PUC-Rio, Rio de Janeiro, Brasil, [email protected]

Jociléia Alves Buback

PUC-Rio, Rio de Janeiro, Brasil, [email protected]

Luciana Teixeira Maciel

PUC-Rio, Rio de Janeiro, Brasil, [email protected]

Tânia O. Américo Pessôa Andrade

PUC-Rio, Rio de Janeiro, Brasil, [email protected]

Clemente José de Castro Gonçalves

Petrobras, Rio de Janeiro, Brasil, [email protected]

Sérgio Augusto Barreto da Fontoura

PUC-Rio, Rio de Janeiro, Brasil, [email protected]

RESUMO: Diversos problemas relacionados à instabilidade de poço, tais como repasses, drags,

prisão de coluna e perdas de circulação, resultam em tempo perdido de sonda e aumentam

significativamente o custo total da perfuração. Dentro deste contexto, um dos objetivos mais

importantes é a obtenção da faixa segura de peso de fluido de perfuração, de modo a garantir a

estabilidade das paredes do poço. Visando balizar o dimensionamento do peso de fluido e otimizar

o tempo de perfuração, a PETROBRAS em parceria com o Grupo de Tecnologia e Engenharia de

Petróleo (GTEP/PUC-RJ), vem desenvolvendo ao longo dos últimos anos uma ferramenta de

simulação SEST©, que permite estimar a janela operacional composta por gradientes de pressão de

poros, colapso e fratura. Este trabalho tem por fim apresentar a metodologia desenvolvida e aplicada

no cálculo desses gradientes, que se baseia nas leis da Teoria da Elasticidade e na utilização de

perfis corridos (sônico compressional e cisalhante, gamma-ray, densidade da formação,

resistividade, caliper, etc.), para aplicação de correlações empíricas presentes na literatura de

mecânica de rochas e determinação do estado de tensões in situ. Apesar de a janela operacional

poder ser obtida diretamente utilizando apenas dados de perfis e correlações, vale ressaltar que não

só é possível, mas de grande importância a utilização de informações provenientes de outras fontes

(quando disponível) para uma melhor calibração do modelo. Embora raros, resultados de testes de

laboratório contendo registro de propriedades mecânicas podem ser utilizados nos cálculos e

calibrar correlações existentes. No caso das tensões in situ, resultados de teste de absorção, minifrac

e microfraturamento realizados em poços da região tornam o valor da magnitude da tensão

horizontal mínima muito próximo da realidade, enquanto perfis de imagem podem revelar a direção

das tensões horizontais com base em breakouts e fraturas induzidas. Este texto aborda ainda alguns

cenários onde esta metodologia foi testada e aplicada, apresentando resultados operacionais

satisfatórios.

PALAVRAS-CHAVE: Estabilidade de poços, Perfuração de poços, Janela Operacional.

SBMR 2014

1 INTRODUÇÃO

Para alcançar um determinado reservatório de

interesse, o poço perfurado deve atravessar

diversas formações com diferentes

características. Manter o poço estável durante a

sua perfuração é um desafio que pode poupar

tempo de sonda, reduzindo os custos de

operação.

Além de outras funções importantes, o peso

específico do fluido de perfuração desempenha

um papel fundamental na estabilidade das

paredes do poço. Seu valor deve ser

estabelecido de forma que sejam evitados

influxo de fluido, perda de circulação em

decorrência de fraturas, desmoronamentos da

parede do poço e os demais problemas

geomecânicos acarretados por estes eventos,

como por exemplo, drags, repasses e prisão de

coluna.

A janela operacional, produto final do estudo

de estabilidade, estabelece a faixa segura de

peso específico de fluido onde o poço poderá

ser perfurado sem que ocorram grandes eventos.

Dessa forma, a análise de estabilidade é de

grande relevância durante a perfuração de um

poço de petróleo, pois direciona os profissionais

de operação na escolha do peso específico de

fluido mais adequado durante a perfuração.

Para este estudo é importante obter o maior

volume possível de informações da região,

assim como dos poços já perfurados na área.

Também é fundamental a utilização de um

software que possa reunir todas essas

informações produzindo um resultado de

qualidade. Através do software SEST

desenvolvido pela PETROBRAS em parceria

com o GRUPO DE TECNOLOGIA E

ENGENHARIA DE PETRÓLEO (GTEP/PUC-

RJ) é possível prever um intervalo seguro de

perfuração otimizando tempo e custo

operacional.

A seguir, é indicada a metodologia de

trabalho para um projeto de estabilidade de

poços, definindo todos os passos a serem

seguidos. Ao final, um estudo de caso é

apresentado de modo a exemplificar os

conceitos e a metodologia adotada.

2 METODOLOGIA DE TRABALHO

2.1 Coleta de Dados

A previsão da janela operacional para o projeto

de um poço é baseada no estudo dos poços já

perfurados no campo de interesse e que

possuem características semelhantes ao poço de

projeto. Portanto, para que o resultado esteja o

mais próximo possível da realidade é necessário

que as análises de estabilidade dos poços de

correlação estejam bem calibradas. Por sua vez,

a acurácia dessas análises depende da

disponibilidade de dados e da qualidade com

que os mesmos foram coletados.

Para o poço de correlação, o primeiro passo é

buscar informações gerais, como por exemplo,

lâmina d’água, profundidades das sapatas,

diâmetro dos revestimentos, locação,

profundidades de início e fim da perfuração,

dados de tomadas pressão (RFTs), resultados de

testes de absorção e de testes geomecânicos em

testemunhos, entre outros. Dados de geologia,

são igualmente importantes, não só para

entender o comportamento dos perfis e da

janela operacional no próprio poço, como

também para correlacionar as informações dos

poços perfurados com o projeto.

Além desses dados, o perfil de tempo de

trânsito da onda compressional (DTC) é

imprescindível para análise de estabilidade

realizada no SEST. A partir dele são calculados

parâmetros importantes para obtenção da janela

operacional, como por exemplo, resistência à

compressão, coesão, ângulo de atrito, entre

outros. O ideal é utilizar os parâmetros de

resistência obtidos em laboratório, mas na falta

dessas informações, a partir de correlações,

desenvolvidas in house ou retiradas da

literatura, é possível obtê-los com o perfil DTC.

Ainda, os perfis de tempo de trânsito da onda

cisalhante, de gamma-ray, caliper e densidade

da formação também são necessários para este

estudo. Perfis de imagem ou de caliper

orientado nem sempre são corridos nos poços,

mas são de grande importância, pois a partir da

análise destes perfis pode-se verificar se

ocorreram breakouts. Além disso, com o perfil

de imagem pode-se identificar as fraturas

induzidas durante a perfuração. Diante destas

SBMR 2014

informações é possível estimar a direção das

tensões horizontais e calibrar a relação entre as

magnitudes destas tensões.

O Boletim Diário de Perfuração e o Relatório

de Fluido de Perfuração são essenciais para

complementar a análise e aprimorar o modelo.

No primeiro documento pode-se identificar os

problemas com possíveis causas geomecânicas

ocorridos na perfuração do poço. O segundo

traz o registro do peso específico, tipo e dos

componentes do fluido e também do ECD

(Equivalent Circulating Density) utilizado

durante a perfuração. Com estas informações

pode-se calibrar a janela operacional obtida para

os poços de correlação tornando o modelo mais

confiável para ser utilizado no projeto.

No poço de projeto são necessários,

basicamente, os dados de litologia prevista,

unidades crono e litoestratigráficas, trajetória,

poços de correlação, localização e pressões

esperadas (depleções e sobrepressões). Os perfis

utilizados na análise de estabilidade do projeto

são adaptados dos perfis dos poços de

correlação.

O entendimento da geologia estrutural, a

visão 3D com seções sísmicas e mapeamento de

falhas podem explicar determinados

comportamentos observados durante a

perfuração de poços, aprimorando o modelo.

As informações utilizadas nos estudos estão

disponíveis em bancos de dados internos da

Petrobras.

2.2 Software Utilizado

O software SEST© utilizado na previsão de

estabilidade de poços foi desenvolvido com o

objetivo de avaliar uma faixa segura de peso

específico de fluido de perfuração por meio da

janela operacional - gradientes de pressão de

poros, colapso e fratura.

Através da importação de dados disponíveis

o programa permite ao profissional definir as

informações que lhe serão úteis para o

desenvolvimento do estudo, possibilitando a

utilização dos módulos de cálculo que

determinarão como resultado final a janela

operacional.

Nesse programa são utilizados 6 módulos.

No primeiro tem-se os perfis necessários a

análise, os demais módulos resultam na

sobrecarga, na pressão de poros, nas

propriedades mecânicas e no estado de tensões

previsto para o local onde ocorrerá a perfuração.

O último módulo reúne todas essas informações

originando uma previsão do comportamento do

poço diante da perfuração, determinando uma

faixa segura de peso específico de fluido. O

software permite que sejam feitas análises

determinística e probabilística. Abaixo, Figura

1, é apresentado o esquema utilizado para a

realização do estudo dos poços.

Figura 1. Fluxograma para análises determinística e

probabilística.

Os modelos pseudo-poroelástico,

poroelástico, químico-poroelástico, termo-

poroelástico e termo-químico-poroelástico

também estão disponíveis para análise no

software.

Vários poços foram projetados e analisados

através desse programa e têm apresentado bons

resultados.

2.3 Pressão de Poros

Para obtenção do gradiente de pressão de poros

utiliza-se o método de Eaton (1968) através do

perfil DTC. Esta metodologia leva em

consideração apenas o mecanismo de

subcompactação onde a porosidade e o tempo

de trânsito compressional estão intimamente

ligados à pressão da formação. Dessa forma, a

pressão de poros é estimada pela Equação 1:

EXP

obs

normal

NSSpDTC

DTCGGGG

(1)

Onde:

GP = gradiente de pressão de poros (lb/gal)

GS = gradiente de sobrecarga (lb/gal)

SBMR 2014

GN = gradiente de pressão de poros da área

(lb/gal)

DTCnormal = tempo de trânsito da onda

compressional para o trend de compactação

normal (s/pé)

DTCobs = tempo de trânsito da onda

compressional observado (s/pé)

EXP = expoente de Eaton

Uma outra forma de determinar o gradiente

de pressão de poros proposta por Eaton é

através dos perfis resistividade e densidade.

Na ausência de perfil DTC, tanto para poços

de correlação quanto para de projeto, o

gradiente de pressão de poros pode ser estimado

a partir da velocidade intervalar proveniente da

sísmica.

Em casos de mecanismos diferentes de

geração de pressão de poros anormalmente

altas, que não se caracterizam como

subcompactação, um estudo específico é

desenvolvido por especialistas em pressão de

poros e utilizado na análise de estabilidade.

2.4 Propriedades Mecânicas

As propriedades mecânicas das rochas também

são necessárias para a obtenção do resultado

final. Parâmetros elásticos e de resistência

podem ser obtidos por meio de ensaios

geomecânicos. Em função da disponibilidade de

testemunhos, estes testes são geralmente

realizados em rocha reservatório. Assim, para as

rochas capeadoras, via de regra, esta informação

está ausente. As propriedades mecânicas das

rochas são melhor representadas por meio da

realização de testes geomecânicos e sempre que

possível os mesmos são realizados. Quando não

há resultados desses testes para um poço, as

propriedades de deformabilidade e resistência

são estimadas por meio do uso de correlações

empíricas e perfis elétricos corridos no poço. Na

literatura são encontradas diversas correlações

empíricas para estas propriedades em diversas

litologias. Vale ressaltar que a maior parte das

correlações foram obtidas utilizando dados do

Mar do Norte ou do Golfo do México, portanto,

nem sempre se aplicam bem aos campos

brasileiros. Por isso a necessidade de utilizar

correlações obtidas internamente.

Dos três parâmetros de resistência da rocha –

coesão, resistência à compressão simples e

ângulo de atrito interno - somente há a

necessidade do conhecimento de dois deles,

pois a Equação 2 - envoltória de Mohr-

Coulomb - os correlaciona.

24tan**2

fCUCS

(2)

Onde:

UCS – resistência à compressão simples

C – coesão

f – ângulo de atrito

Como afirmado anteriormente, a estimativa

dos parâmetros de resistência pode ser feita via

teste geomecânico ou, alternativamente,

utilizando-se correlações empíricas/perfis. Para

o caso de arenitos e folhelhos, a correlação do

programa MecPro™ (Fjær et al. 1992) pode ser

usada para estimar UCS. Já para carbonatos, a

aplicação da correlação de Militzer & Stoll

(1973) tem levado a resultados satisfatórios para

UCS.

A exemplo de UCS, o ângulo de atrito

interno também pode ser estimado por testes

geomecânicos ou por correlações

empíricas/perfis, que não são tão abundantes

quanto as de UCS. Dentre elas podem ser

citadas as de Plumb (1994) e Lal (1999).

Quando não é possível estimar o valor do

ângulo de atrito, este é assumido como

constante, normalmente próximo a 30º.

2.5 Tensões In Situ

Para a determinação do estado de tensões in

situ, assume-se a hipótese simplificadora que o

plano horizontal é um plano principal, ou seja, a

tensão vertical é uma tensão principal e as

outras duas tensões principais são horizontais

como pode ser observado na Figura 2. SuperfSuperfííciecie

Pro

fun

did

ad

eP

rofu

nd

ida

de

SuperfSuperfííciecie

Pro

fun

did

ad

eP

rofu

nd

ida

de vv

HH

hh

Figura 2. Tensões in situ atuando em um elemento de

rocha.

SBMR 2014

2.5.1 Tensão vertical (v)

Para estimativa de v, supõe-se que em

determinado ponto da subsuperfície ela é igual

ao peso das camadas acima dele. A tensão

vertical total é então expressa pela Equação 3.

Para uma mesma profundidade em uma locação

offshore sabe-se que quanto maior a lâmina

d’água, menor será o gradiente de sobrecarga e,

consequentemente, menor o gradiente de fratura

da formação. A densidade de cada camada é

obtida do perfil ou através correlações.

i

n

biwwov DD = 0

422,1 (3)

Onde:

ov – tensão de sobrecarga (psi)

bi – densidade de cada camada (g/cm3)

w – densidade da água do mar (g/cm3)

Dw – lâmina d’água (m)

Di – intervalos de profundidade (m)

2.5.2 Tensões horizontais – magnitude

Para estimar as magnitudes das tensões

horizontais, são assumidas algumas hipóteses:

Bacia relaxada: considerando a rocha

como material poro-elástico linear,

compactação em condições de

deformações laterais nulas, utilizando a

lei de Hooke generalizada. Com esta

hipótese mostra-se que as tensões

horizontais principais apresentam a

mesma magnitude e são definidas pela

relação:

,v

,H

,h

- 1 = =

(4)

Onde:

’h – tensão principal efetiva horizontal menor

’H – tensão principal efetiva horizontal maior

’v – tensão principal efetiva vertical

– coeficiente de Poisson

Bacia tectonicamente ativa: utilizando

dados do campo que comprovem que a

bacia não é relaxada.

2.5.2.1 Tensão horizontal mínima (h)

Para estimar a magnitude de h, são utilizados

dados de Leakoff Test (LOT), Formation

Integrity Test (FIT), Extended Leakoff Test

(XLOT), fraturamento hidráulico, Step Rate

Test (SRT), ASRT (Anelastic Strain Recovery

Test), sendo o primeiro o mais comum. A

Figura 3 apresenta um gráfico típico de uma

operação de fraturamento.

(after Gaarenstroom et al., 1993)volume

(after Gaarenstroom et al., 1993)volume

Figura 3. Gráfico típico de operação de fraturamento

hidraúlico.

Subtraindo o peso da lâmina d’água, é

possível plotar os dados de LOT em função do

soterramento e obter uma curva de tendência,

assumindo no fundo do mar valor igual a zero.

O que se observa muitas vezes são testes

realizados em uma mesma formação e poços

diferentes com resultados incoerentes, como

FIT maior que LOT, mostrando que as tensões

variam com a locação dos poços ou os testes

sofreram alguma influência operacional.

2.5.2.2 Tensão horizontal máxima (H)

É possível obter a magnitude da máxima tensão

horizontal apenas indiretamente, por meio de

equações do estado de tensões do modelo

escolhido. Na maioria dos casos estudados, as

tensões horizontais são consideradas iguais

(H=h), exceto quando há evidência de

anisotropia mostrada em teste de fraturamento

e/ou observação de feições de breakouts.

Através da teoria do Polígono de Tensões

(Zoback et al, 2003) é possível realizar análises

e estimar estados de tensões que levariam a um

determinado regime de falhas.

SBMR 2014

2.5.3 Tensões horizontais – direção

Para determinar a direção das tensões

horizontais são realizadas análises de perfis de

imagem (breakouts e fraturas induzidas –

Figura 4), caliper orientado (de quatro ou seis

braços), Velocidade Anisotrópica (Velan),

ASRT (Anelastic Strain Recovery Test),

Testemunho Orientado e Anisotropia Acústica,

sendo os dois primeiros os mais comuns.

1800

Breakout

1800

Fratura

Induzida

(a) (b) (c)

Figura 4. (a) Breakout, (b) Fratura Induzida e (c)

Direções das Tensões Horizontais (Rocha e Azevedo,

2009).

Alternativamente, por meio da Teoria de

Inversão de LOT de Aadnoy & Bratli (1994)

pode-se também estimar magnitudes e direções

de tensão.

2.6 Janela Operacional

Para a estimativa da janela operacional de

perfuração, a prática é adotar o modelo elástico,

fluido não penetrante e critério de ruptura de

Mohr-Coulomb. São utilizadas análises

poroelásticas com condição de fluido penetrante

quando estão disponíveis as propriedades físico-

químicas da rocha e do fluido de perfuração

como, por exemplo, coeficiente de reflexão e de

inchamento de folhelhos. A Petrobras em

parceria com a PUC desenvolveu equipamentos

para determinar tais parâmetros.

Há outros critérios de ruptura disponíveis na

literatura tais como Lade-Ewy (1999), Druker-

Prager Interno (McLean & Addis 1990),

Druker-Prager Centrado (McLean & Addis

1990) e Druker-Prager Externo (McLean &

Addis 1990) entretanto, esses critérios exigem

dados de entrada que nem sempre estão

disponíveis e são menos conservadores que o

critério de Mohr-Coulomb.

2.6.1 Tensões ao redor do poço

Hipóteses básicas:

Rocha contínua, elástica, homogênea e

isotrópica;

Poço cilíndrico com eixo vertical ou

inclinado;

Uma das tensões principais deve atuar na

direção vertical;

Existe uma pressão no fluido de

formação;

É válido o princípio das tensões efetivas

como enunciado por Terzaghi (1943) e

validado para rochas através dos

trabalhos de Skempton (1960) e Nur &

Byerlee (1971).

A seguir na Figura 5 são apresentadas as

tensões ao redor do poço para a situação mais

utilizada no desenvolvimentos das análises de

estabilidade de poço. As Figuras 6a e 6b

indicam o comportamento das tensões para o

colapso inferior e para a fratura superior que

contribuem na determinação da janela

operacional.

x

y

q

Figura 5. Tensões ao redor do poço considerando fluido

não penetrante.

PpT

q

0 Ppr

'

(a) (b)

Figura 6. (a) Ruptura por Colapso Inferior (Critério de

Mohr-Coulomb) e (b) Esquema de estado de tensões para

fratura superior.

SBMR 2014

3 ESTUDO DE CASO

O estudo de caso apresentado consiste na

previsão de estabilidade de um poço direcional

a ser perfurado no Campo Alfa da Bacia de

Campos, em lâmina d’água superior a 1000m,

com profundidade final maior que 2500m. O

reservatório principal é de arenito e foram

analisados 02 poços de correlação, Poço A e

Poço B. Estas análises não levam em

consideração a possibilidade de reativação de

falhas.

3.1 Trajetória Direcional

Na Figura 7 é apresentada a trajetória direcional

do poço de Projeto.

Figura 7. Trajetória direcional do poço de Projeto.

3.2 Estimativa de Pressão de Poros

Com base nas medidas de pressão realizadas em

poços da área, utilizando o método de Eaton

(1968) através do perfil sônico, concluiu-se que

a pressão de poros tanto nos poços de

correlação quanto no poço de Projeto é normal

(<9.1lb/gal.). As curvas apresentadas a seguir

(Figura 8) foram recebidas de uma equipe

especializada em pressão de poros e utilizadas

nas análises.

Figura 8. Curvas de pressão de poros para os poços A, B

e Projeto.

3.3 Estimativa de Tensão Horizontal Mínima

Para a estimativa da tensão horizontal mínima

foram considerados os LOTs realizados no

Bloco 1 do Campo Alfa, como apresentado na

Figura 9.

Figura 9. Localização dos poços A, B e Projeto.

A Tabela 1 apresenta os testes de absorção

realizados nos poços A e B indicados como

correlação.

Tabela 1. LOTs utilizados para estimar h.

Na retroanálise e na previsão de estabilidade do

poço de Projeto utilizou-se uma curva da tensão

horizontal mínima (h) obtida a partir dos LOTs

dos poços de correlação A e B.

3.4 Direção das Tensões Horizontais

Foram analisados perfis de imagem, resultados

de ASR e caliper orientado de alguns poços da

área e o azimute da tensão horizontal máxima

obtido foi de 95°. Com base nesses resultados,

as análises foram realizadas assumindo o

azimute citado e H=1.1h.

3.5 Retroanálise dos Poços de Correlação

Os dois poços sugeridos como correlação

possuem coluna litológica e perfis semelhantes

conforme Figura 10. O Poço A foi utilizado

como correlação por estar mais próximo da

locação de Projeto.

SBMR 2014

(a) (b)

Figura 10. (a) Densidade x Soterramento e (b) DTC x

Soterramento.

3.5.1 Poço A

O poço A possui as seguintes características:

trajetória vertical, lâmina d’água superior a

1000m e profundidade final aproximada de

3000m.

A perfuração deste poço ocorreu sem

problemas significativos. Foram observados

apenas alguns drags na fase de 8 ½”. Tais drags

ocorreram em uma região de arenitos que

aparecem intercalados a folhelhos e calcilutitos.

Tais arenitos são friáveis (inconsolidados) e

podem desmoronar durante a perfuração,

gerando batentes de folhelhos e calcilutitos,

assim como excesso de areia no anular. Os

drags identificados podem estar relacionados a

esses fatores. Observou-se também que o peso

específico de fluido utilizado encontra-se

ligeiramente abaixo ou muito próximo do

colapso inferior nesses pontos, o que pode ter

provocado ruptura da formação por

cisalhamento causando os drags.

Nas Figuras 11 e 12 são apresentados,

respectivamente, os perfis corridos no poço A e

a janela opercaional obtida.

Figura 11. Perfis corridos no poço A.

Figura 12. Janela operacional obtida para o para poço A.

3.5.2 Poço B

O poço B possui as seguintes características:

trajetória vertical, lâmina d’água de

aproximadamente 1000m e profundidade final

superior a 3500m.

Foram observados drags, repasses, topadas,

ameaça e prisão de coluna durante a perfuração,

principalmente nas fases de 12 ¼” e 8 ½”. A

maior parte desses problemas também ocorreu

na profundidade dos arenitos inconsolidados

intercalados a folhelhos e margas. Os problemas

observados podem estar relacionados a esses

eventos.

Nas Figuras 13 e 14 são apresentados,

respectivamente, os perfis corridos no poço B e

a janela operacional obtida.

Figura 13. Perfis corridos no poço B.

SBMR 2014

Figura 14. Janela operacional obtida para o para poço B.

3.5.3 Poço de Projeto

Com base nas informações do poço A fez-se a

previsão da janela operacional do poço de

Projeto como é apresentada na Figura 15.

Figura 15. Janela Operacional – previsão para o poço de

Projeto.

Também foi realizada uma análise da

influência do azimute do poço e da anisotropia

das tensões horizontais no gradiente de fratura.

A Figura 16 indica o comportamento do

gradiente de fratura em função desses

parâmetros.

JANELA

OPERACIONAL

Azimute do poço

praticamente

alinhado com a

direção de Sh

(1850)

Azimute do poço

variando para a

direção de SH (950)

JANELA

OPERACIONAL

Azimute do poço

praticamente

alinhado com a

direção de Sh

(1850)

Azimute do poço

variando para a

direção de SH (950)

Figura 16. Comportamento do gradiente de fratura em

função do azimute do poço e da anisotropia das tensões.

As Figuras 17, 18 e 19 indicam o valor do

gradiente de fratura conforme os valores de

geometria, tensões in situ e gradientes do poço.

Figura 17. Azimute x Inclinação (gradiente de fratura) –

situação para poço vertical.

Figura 18. Azimute x Inclinação (gradiente de fratura) –

situação para poço direcional.

SBMR 2014

Figura 19. Azimute x Inclinação (gradiente de fratura) –

situação para poço horizontal.

3.6 Análise Probabilística no Reservatório

3.6.1 Resultados da análise estatística

No reservatório dos poços A e B realizou-se

uma análise estatística para as propriedades

mecânicas indicadas na Figura 20 onde os

resultados obtidos são apresentados.

Resistência à Compressão Simples (psi)

Resistência à Tração (psi) Coesão (psi)

Coeficiente de Poisson

Figura 20. Resultados da análise estatística para o

reservatório.

3.6.2 Resultados da análise probabilística

Foram consideradas tensões horizontais

diferentes (H=1.1h), profundidade vertical

média do reservatório, poço horizontal, azimute

do poço de 128.21° e ângulo de breakout de

30°. Levou-se também em consideração

propriedades mecânicas da rocha como coesão,

coeficiente de Poisson, resistência à tração,

ângulo de atrito e coeficiente de Biot. A rocha

foi considerada impermeável.

Os resultados obtidos na análise

prababilística são apresentados a seguir na

Figura 21.

Ex.: Se perfurar com MW = 11lb/gal, a probabilidade

de haver ruptura por colapso inferior é de 90%.

Ex.: Se perfurar com MW = 11.3lb/gal, a probabilidade

de haver ruptura por colapso inferior é de 10%.Colapso Inferior

Colapso Superior

Fratura Superior

Tensões in situ

com DP=5%

Tensões in situ

com DP=1%

Figura 21. Resultado do cálculo probabilístico.

A análise determinística no SEST apresentou

valor médio de 10.0lb/gal para o colapso

inferior no reservatório. Esta análise leva em

consideração intercalações de arenito, folhelho,

marga e calcilutito.

Já a análise probabilística considerando

apenas arenito no reservatório mostrou que para

11.0lb/gal as chances de ruptura por colapso

inferior são próximas de 90%. Entretanto, com

uma densidade de 11.3lb/gal, as chances

diminuem para aproximadamente 10%.

A diferença do colapso inferior estimado nas

duas análises deve-se, principalmente, a dois

fatores. Primeiro, o modelo de análise

considerado no estudo determínistico não é

totalmente representado no modelo

probabilístico. Segundo, para análise

probabilística, são consideradas somente as

caractéristcas do arenito, que neste caso,

apresentam-se menos resitente elevando o valor

do colpaso inferior estimado.

Com a análise do modelo probabilístico,

pode-se avaliar o risco de colapso da formação

para um determinado peso de fluido, auxiliando

na tomada decisões. No exemplo apresentado,

uma mudança de 0.3lb/gal no peso de fluido

diminui significativamente o risco de ocorrer

colapso inferior.

4 CONCLUSÃO

De acordo com os resultados obtidos,

considerando o meio contínuo e as hipóteses do

modelo aplicado, é possível perfurar segundo a

janela operacional prevista na Figura 22 onde

limite inferior é o maior valor entre as curvas de

pressão de poros e colapso inferior e o limite

superior é a curva de tensão horizontal mínima.

SBMR 2014

Se o meio for fraturado, recomenda-se

perfurar com o peso específico de fluido o mais

próximo possível do gradiente de pressão de

poros para evitar perdas de circulação e ruptura

das paredes do poço (deslocamento dos blocos

de rocha) pela infiltração do fluido de

perfuração nas fraturas.

AGRADECIMENTOS

À Petrobras por permitir e financiar a realização

deste estudo.

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