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MODELO DE PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO PARA AGRICULTURA FAMILIAR COLETIVA Renato Luiz Sproesser 1 ; Dario de Oliveira Lima Filho 1 ; Reginaldo de Oliveira Vilanova 1 ; Patrícia Campeão 1 1 Departamento de Economia e Administração, Unidade 10, Av. Senador Filinto Müller, Vila Ipiranga. –- Caixa Postal 549, 79070-900 Campo Grande, MS. E- mails: [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected] RESUMO O modelo de reforma agrária brasileira tem sido amplamente discutido e, mesmo com os avanços obtidos nestes últimos anos, carece ainda de melhor reflexão conceitual e principalmente de ferramentas de gestão para sua consolidação. As dúvidas levantadas quanto à viabilização sócio-econômica da agricultura familiar podem ser minimizadas ao adotar-se um modelo de planejamento adequado às atividades desenvolvidas, as quais são baseadas, quase que em sua totalidade, na agricultura familiar. Assim, este trabalho apresenta um Modelo de Planejamento Estratégico para Agricultura Familiar Coletiva que objetiva viabilizar o empreendimento das famílias, por meio do atendimento de fatores condicionantes e do cumprimento de um conjunto de etapas integrantes do modelo. A importância do trabalho proposto é, então, compreendida como uma contribuição para a busca de soluções no que se refere ao desenvolvimento da agricultura familiar. Palavras-chave: Agricultura familiar, Desenvolvimento agrícola, Reforma agrária. 1. INTRODUÇÃO 1.1 A Reforma Agrária no Brasil No Brasil, a luta pela reforma agrária é recente, quando comparada aos movimentos sociais que, no início do século XX, democratizaram e viabilizaram o acesso à propriedade da terra e mudaram a face da Europa, o que contribuiu para acelerar os avanços sociais daquele continente, moldado, em grande parte, pelo enfrentamento da questão agrária 1 , havendo assim a promoção justa da distribuição de terra e o fomento de políticas de apoio à agricultura familiar 2 (TEÓFILO & MENDONÇA, 2001). O Brasil, historicamente, optou pelo não enfrentamento dessa questão. Verifica-se que, na Primeira República ou República Velha (1889-1930), a economia brasileira era 1 PAULILLO (2001) enfatiza que é necessário diferenciar conceitualmente a questão agrária da questão agrícola. A primeira refere-se à problemática de como produzir e de que forma ocorrerá a produção agrícola. A segunda procura responder o que, quanto e onde produzir. 2 Quanto à conceituação e especificidades da agricultura familiar, diversos autores podem ser consultados, entre eles Veiga (1991), Bramoway (1992), e Wilkinson (1996).

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MODELO DE PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO PARA AGRICULTURA

FAMILIAR COLETIVA

Renato Luiz Sproesser1; Dario de Oliveira Lima Filho1; Reginaldo de Oliveira Vilanova1; Patrícia Campeão1

1Departamento de Economia e Administração, Unidade 10, Av. Senador Filinto Müller, Vila Ipiranga. –- Caixa Postal 549, 79070-900 Campo Grande, MS. E-mails: [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]

RESUMO

O modelo de reforma agrária brasileira tem sido amplamente discutido e, mesmo com os avanços obtidos nestes últimos anos, carece ainda de melhor reflexão conceitual e principalmente de ferramentas de gestão para sua consolidação. As dúvidas levantadas quanto à viabilização sócio-econômica da agricultura familiar podem ser minimizadas ao adotar-se um modelo de planejamento adequado às atividades desenvolvidas, as quais são baseadas, quase que em sua totalidade, na agricultura familiar. Assim, este trabalho apresenta um Modelo de Planejamento Estratégico para Agricultura Familiar Coletiva que objetiva viabilizar o empreendimento das famílias, por meio do atendimento de fatores condicionantes e do cumprimento de um conjunto de etapas integrantes do modelo. A importância do trabalho proposto é, então, compreendida como uma contribuição para a busca de soluções no que se refere ao desenvolvimento da agricultura familiar. Palavras-chave: Agricultura familiar, Desenvolvimento agrícola, Reforma agrária.

1. INTRODUÇÃO

1.1 A Reforma Agrária no Brasil No Brasil, a luta pela reforma agrária é recente, quando comparada aos

movimentos sociais que, no início do século XX, democratizaram e viabilizaram o acesso à propriedade da terra e mudaram a face da Europa, o que contribuiu para acelerar os avanços sociais daquele continente, moldado, em grande parte, pelo enfrentamento da questão agrária1, havendo assim a promoção justa da distribuição de terra e o fomento de políticas de apoio à agricultura familiar2 (TEÓFILO & MENDONÇA, 2001).

O Brasil, historicamente, optou pelo não enfrentamento dessa questão. Verifica-se que, na Primeira República ou República Velha (1889-1930), a economia brasileira era

1 PAULILLO (2001) enfatiza que é necessário diferenciar conceitualmente a questão agrária da questão agrícola. A primeira refere-se à problemática de como produzir e de que forma ocorrerá a produção agrícola. A segunda procura responder o que, quanto e onde produzir. 2 Quanto à conceituação e especificidades da agricultura familiar, diversos autores podem ser consultados, entre eles Veiga (1991), Bramoway (1992), e Wilkinson (1996).

agroexportadora, tendo o café como principal gerador de divisas. Neste período, grandes áreas foram incorporadas ao processo produtivo, o número de propriedades e de proprietários aumentou em relação às décadas anteriores, o que já era um avanço para época; entretanto a estrutura fundiária manteve-se estática (PAULILLO, 2001). Esta evolução teve a participação dos imigrantes europeus e japoneses, que passaram a desempenhar papel relevante para a agricultura da época.

Durante a década de 1930 até o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, não houve avanços significativos na questão agrária, que começou a ser discutida enfaticamente a partir de 1945, pois passou a ser considerada como uma barreira ao desenvolvimento do país. No final dos anos 50 e início dos 60, os debates ampliaram-se com a participação popular. As chamadas reformas de base, dentre as quais a agrária, eram consideradas essenciais pelo governo para o desenvolvimento econômico e social do país.

Durante o regime militar brasileiro (1964-1984), a reforma agrária foi indicada como uma das prioridades. Entretanto, em vez de promover a reforma agrária, esse regime incentivou o desenvolvimento agrícola por meio da modernização do latifúndio e do crédito rural fortemente subsidiado e abundante para grandes produtores.

Na década de 70, os governos militares implantaram uma política de desenvolvimento agrícola para a modernização do campo, por meio da qual o Brasil conheceu uma intensa transformação em sua agricultura até 1985. Com a industrialização da agricultura e da agroindustrialização nacional, o Brasil obteve ganhos consideráveis de produção e produtividade a partir desta década, principalmente nos setores que apresentavam vantagens comparativas no mercado agrícola mundial. Assim, a questão agrária não foi enfatizada, pois “acreditava-se que o crescimento produtivo da agricultura nacional resolveria os principais problemas econômicos do país” (PAULILLO, 2001). Entretanto esse crescimento beneficiou apenas grandes proprietários rurais praticantes da monocultura exportadora e empresas de comercialização agrícola.

As prioridades adotadas pelo Governo Federal, principalmente até meados 999dos anos 80, não contemplaram a agricultura familiar, mas apenas grandes propriedades baseadas no modelo patronal de produção, corroborando para o agravamento das desigualdades sociais presenciado no Brasil até hoje.

Dessa forma, foram poucos os avanços notados na questão agrária, e, somente, a partir de meados da década de 1990, esta questão é inserida, pelo governo federal, no contexto da busca de alternativas políticas que atenuassem a grande disparidade da realidade socioeconômica da agricultura brasileira (PAULILLO, 2001).

Entre os anos de 1950 e 1980, a produção agrícola cresceu a uma taxa extraordinária de 4,5% ao ano, a área cultivada expandiu-se a 1,5% ao ano, mas o emprego agrícola cresceu em apenas 0,7% ao ano (BINSWANGER et al; 2001). Nesse período, as grandes fazendas demitiram a maioria de seus colonos e trabalhadores, muitos dos quais migraram para favelas urbanas, ou terminaram como trabalhadores sazonais não-qualificados, em condições informais. Um caminho de crescimento alternativo, baseado em fazendas familiares menores poderia ter trazido oportunidades de emprego rural e autoemprego para muitas dessas pessoas e ter absorvido, de forma proveitosa, uma parcela substancial da população em rápido crescimento (BINSWANGER et al., 2001).

TEÓFILO & MENDONÇA (2001) apontam que a “vitória da posição conservadora liberal levou ao que se denomina ‘a modernização conservadora do campo

brasileiro’, fonte de agravamento das desigualdades sociais e de elevados níveis de pobreza rural e urbana”.

A partir da década de 90, os trabalhadores rurais foram inseridos nas discussões sobre a questão agrária, uma vez que, até então, estes não tinham sido contemplados nas discussões travadas entre os diversos atores do cenário nacional. Os trabalhadores do campo, por meio de sua própria organização, obtiveram força política e articularam-se o suficiente para conquistar seu espaço nos poderes constituídos (COMPARATO, 2001).

A partir de 1994, a reforma agrária tornou-se uma política compensatória, ou seja, a implantação de assentamentos rurais era realizada de acordo com a territorialização da luta pela terra e, também, com a regularização das terras de posseiros nas áreas de fronteira da Amazônia.

Entretanto, mesmo com os avanços implementados, este modelo de reforma agrária não possibilita condições de desenvolvimento para a sociedade formada a partir dos assentamentos, uma vez que, isoladamente, grande parte das famílias não consegue tornar economicamente viável o seu empreendimento e cria uma dependência viciosa das políticas públicas assistencialistas destinadas a ampará- las.

1.2. Agricultura Familiar

A agricultura familiar é uma forma de produção presente no mundo todo. No

Brasil é o maior segmento em número de estabelecimentos agrícolas e tem significativa importância econômica em diversas cadeias produtivas. É mais do que necessário, então, reconhecer a importância econômica e social dos agricultores que se dedicam a esse tipo de produção para o processo de desenvolvimento regional e nacional (SILVESTRO, 2001). Entretanto, diversas regiões do país não incluíram este segmento incluído de forma definitiva em suas políticas de apoio ao desenvolvimento rural.

Assim, o país deixou de colher os benefícios decorrentes de tal ação. Estes benefícios estariam relacionados ao sucesso econômico do país, de acordo com VEIGA (1991) apud SILVESTRO et al. (2001).

Segundo SILVESTRO et al. (2001), ao reconhecer e estimular esta forma de produção agrícola, os países desenvolvidos, além de garantir a segurança alimentar, possibilitaram o nascimento entre os agricultores, de uma classe média forte que contribuiu decisivamente para criar um mercado interno dinâmico capaz de impulsionar o desenvolvimento destes países.

Deste modo, a agricultura familiar está diretamente relacionada ao desenvolvimento do país, já que acarreta o crescimento econômico, como verificou-se nos países desenvolvidos, e possui a capacidade de organizar socialmente determinadas regiões, por tratar-se de uma alternativa na construção de espaços para o homem do campo.

Particularmente no caso do setor agropecuário, verifica-se a predominância de estabelecimentos de pequeno porte. Do total de 4,8 milhões de estabelecimentos agropecuários existentes no Brasil em 2002, 49,4% possuíam até 10 ha., 39,4% possuíam entre 10 e 100ha. e apenas 1% possuíam acima de 1000ha (CAMPEÃO, 2004).

Os agricultores familiares3 representavam em 2000, 85,2% do total de estabelecimentos rurais brasileiros, ocupando 30,5% da área total e sendo responsáveis por 23,6% do Valor Bruto da Produção total da pecuária de corte, 52,1% da pecuária de leite, 58,5% dos suínos e 39,9% das aves e ovos produzidos, totalizando 37,9% do Valor Bruto da Produção Agropecuária Nacional. No entanto, receberam apenas 25,3% do financiamento destinado ao setor agrícola (INCRA, 2000).

Segundo BAIARDI (1999), a agricultura familiar no Brasil pode ser subdivideda em cinco categorias:

Tipo A – tecnificado, mercantil, “farmerizado”, predominante no Cerrado; Tipo B – integrado verticalmente em cadeias agro- industriais e mais recentemente

em perímetros irrigados; Tipo C – agricultura familiar tipicamente colonial ligada à produção de produtos

in natura; Tipo D – agricultura familiar semi-mercantil (sem relação com a imigração

européia não ibérica), predominante no Nordeste (NE) e no Sudeste (SE); Tipo E – agricultura familiar de gênese semelhante ao Tipo D, caracterizada pela

marginalização do processo econômico e pela falta de horizontes. Os processos de modernização da agricultura acabaram contribuindo para a

grande diversidade da agricultura familiar brasileira, o que exige uma classificação das formas possíveis desse tipo de produção, como a sugerida pelo Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar - PRONAF 4 (tabela 1.1).

TABELA 1.1 Classificação da agricultura familiar segundo o PRONAF

Assentados da reforma agrária Grupo A Grupo

B

Trabalho familiar é a base da exploração do estabelecimento. Renda bruta anual de até R$1.500,00.

Grupo

C

Trabalho familiar predominante, com recurso eventual ao trabalho assalariado. Renda bruta anual familiar entre R$1.500,00 e R$10.000,00.

Proprietários, posseiros, arrendatários, parceiros ou concessionários da reforma agrária.

Residem na propriedade ou em aglomerado urbano ou rural.

Área de até 04 módulos fiscais

Grupo

D

Trabalho familiar predominante, com até 02 empregados permanentes e recurso eventual ao trabalho de terceiros. Renda bruta anual familiar entre R$10.000,00 e R$30.000,00.

Fonte: MDA/SAF - Plano de Safra 2001/2002 apud ROCHA & CERQUEIRA (2003) Segundo ROCHA & CERQUEIRA (2002), tradicionalmente a política agrícola

brasileira sempre teve como foco as grandes e médias propriedades capitalistas. O resultado foi uma crescente marginalização dos pequenos agricultores familiares, reproduzindo um padrão de desenvolvimento rural bastante excludente e desigual.

O processo de modernização da agricultura brasileira gerou o agravamento da chamada “questão agrária”. Os problemas sociais no campo não só permaneceram, mas 3 A metodologia utilizada nesse estudo considerou como familiares os estabelecimentos que atendiam, simultaneamente, às seguintes condições: a direção dos trabalhos do estabelecimento era exercida pelo proprietário/produtor; e o trabalho familiar era superior ao trabalho contratado. 4 Criado em 1996, através do decreto nº 1.946, o PRONAF tem como objetivo promover o desenvolvimento sustentável dos agricultores familiares, aumentando sua capacidade produtiva, gerando empregos e melhorando sua renda.

também aumentaram, refletindo-se no aprofundamento das desigualdades sociais e no aumento da pobreza nas áreas rurais, com reflexos nos grandes centros urbanos (CAMPEÃO, 2004)..

O acirramento das questões sociais no país, o aumento dos conflitos no campo, as reivindicações dos movimentos sociais são alguns fatores que colocaram no centro do debate rural a necessidade de repensar a política agrícola e reconhecer a importância dos produtores familiares, tanto em termos socioeconômicos quanto ambientais (CAMPEÃO, op. cit.).

Segundo ROCHA & CERQUEIRA (2003), a agricultura patronal é, reconhecidamente, um fator de expulsão da mão-de-obra no campo; em contrapartida, os estabelecimentos familiares são os principais responsáveis pela geração de postos de trabalho no meio rural brasileiro, respondendo por 76,9% do pessoal ocupado. Tradicionalmente policultora, a produção familiar está mais próxima da sustentabilidade ecológica, buscando a diversificação de culturas e o aproveitamento, ao máximo, dos recursos da propriedade.

O fortalecimento das empresas agropecuárias de pequeno porte surge, também, como uma alternativa à inclusão social e à diminuição das disparidades sócio-econômicas entre territórios. De fato, regiões com maior número de estabelecimentos ligados à agricultura familiar, apresentam valores de produção inferiores ao de regiões com estabelecimentos de maior porte, além de usufruírem de menores índices de financiamento. A tabela 1.2 ilustra esses valores.

TABELA 1.2 - Participação das regiões no número de estabelecimentos, área, valor bruto da produção e financiamento total destinado aos agricultores familiares (em %)

Região Estabelecimentos Área VBP Financiamento Nordeste 49,7 31,6 16,7 14,3 Centro-Oeste 3,9 12,7 6,2 10,0 Norte 9,2 20,3 7,5 5,4 Sudeste 15,3 17,4 22,3 15,3 Sul 21,9 18,0 47,3 55,0 Brasil 100,0 100,0 100,0 100,0 Fonte: ROCHA & CERQUEIRA (2003)

O fortalecimento da agricultura familiar vem sendo alvo de ações institucionais

em diversos âmbitos, como a iniciativa do Ministério da Ciência & Tecnologia (MCT)/Conselho Nacional de Pesquisa(CNPq) em contribuir na busca de alternativas tecnológicas adaptadas às escalas e às possibilidades da produção de pequeno porte. Essa ação envolve o desenvolvimento de conhecimento capaz de viabilizar processos de gestão, de organização da produção, de adequação do aparato normativo (ambiente institucional), de promoção da diferenciação de produtos, visando a criação de oportunidades de inserção competitiva dos produtores rurais de economia familiar (MCT/CNPq, 2001).

De fato, pequenas e médias empresas agropecuárias e agroindustriais encontram diferentes obstáculos para competir num campo concorrencial cada vez mais acirrado e diante de um mercado consumidor mais exigente na aquisição de produtos com qualidade e com uma boa relação custo-benefício. As dificuldades de acesso à informação, principalmente em relação ao conhecimento de mercado, a falta de infra-estrutura de armazenagem ou estocagem, de técnicas de acondicionamento e de

conservação de matérias-primas, e a falta de sensibilização das empresas ao conceito de qualidade face às exigências dos consumidores, são alguns dos principais obstáculos encontrados pelas pequenas e médias empresas (MENDONÇA et al., 1997).

Por conseguinte, formas alternativas de organização de sistemas produtivos têm sido buscadas com o objetivo de promover maior inserção social e um desenvolvimento econômico duradouro, reduzindo as dependências de fatores externos.

Entretanto, os resultados obtidos na agricultura familiar brasileira demonstram, ainda, a necessidade de modelo de gestão que a torne sócio e economicamente viável e que garanta a competitividade da economia local.

2. JUSTIFICATIVA Tais aspectos levam a crer que o atual modelo de desenvolvimento e sua

conseqüente base técnica devem sofrer modificações. Assim, a proposta de um modelo de planejamento para a agricultura familiar coletiva, surgiria como uma resposta ao modelo vigente, que ameaça a conservação e a reprodução dos recursos naturais e apresenta uma situação de insustentabilidade política e social, decorrente da desigualdade na distribuição da riqueza e da qualidade de vida (HUEBRA, 2002).

Para ser sustentável, o modelo para a agricultura familiar deve elevar as oportunidades sociais, a viabilidade e competitividade da economia local. Campeão & SPROESSER (2000), ao abordarem os conceitos e definições de desenvolvimento regional e competitividade, atentam que os estudos atuais sobre desenvolvimento regional têm suas ações direcionadas para a formação de áreas compostas por redes de empresas, as quais estão focalizadas em um determinado setor produtivo. Estas aglomerações são denominadas clusters, distritos industriais e agropolos, no caso de setores agroindustriais.

O papel do governo é fundamental para a sustentabilidade do modelo, uma vez que o governo influencia os determinantes do sistema, ou seja, crédito agrícola, infra-estrutura, entre outros, e pode ser influenciado, no que se refere às políticas governamentais. Assim, e considerando-se a competitividade dinâmica da economia brasileira, “o estabelecimento de políticas públicas e privadas passa a ser uma tarefa mais complexa e abrangente” (CAMPEÃO & SPROESSER, 2000).

A agricultura familiar coletiva representa uma maneira de organização social e de ocupação do espaço geográfico pelo homem do campo, mas ainda carece de um modelo de gestão adequado às atividades desenvolvidas. A questão colocada é a busca da competitividade nessas propriedades, que não têm os mesmos benefícios das grandes propriedades baseadas na agricultura patronal, normalmente associados à produção em escala e maior possibilidade de obtenção de crédito e meios de comercialização da produção. Acima de tudo, os assentamentos são resultados da reforma agrária, que normalmente está associada a interesses distintos entre grupos sociais diversos.

MEDEIROS (1999) questiona “quanto à possibilidade de viabilização sócio-econômica dessas unidades de produção agrícola, tendo em vista as dificuldades atuais vividas por pequenos e médios proprietários rurais, decorrentes do estágio atual e das tendências em curso no agronegócio em escala internacional, no qual aparecem na ordem do dia: especialização na produção, redução nas margens de lucro o que requer necessariamente aumento de escala, segmentação de mercados, qualidade, padrão sanitário, rastreabilidade, sistemas de integração com barreiras à entrada, tolerância tecnológica mínima, etc.”

A consolidação de um modelo de gestão para a agricultura familiar coletiva permitirá que os atores sociais inseridos nessa discussão possam potencializar os recursos naturais de que dispõem, e garantirá a melhoria de vida das comunidades formadas pelos assentados.

Os primeiros projetos com o objetivo de ajudar na gestão deste tipo de empreendimento foram elaborados pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA). Inicialmente, esses projetos não contemplavam a participação ativa das famílias, que eram informados após a conclusão do mesmo. Atualmente, os projetos são elaborados com mais detalhes e realizados predominantemente in loco, por meio de técnicas em que a participação das famílias é mais efetiva, o que os torna mais envolvidos com o projeto (INCRA, 2002).

O Plano de Desenvolvimento do Assentamento (PDA), discorre, basicamente, sobre a estrutura organizacional do assentamento, serviços de apoio e beneficiamento da produção, créditos recebidos e a receber, sistemas produtivos, tipificação dos produtos, ocupação de mão-de-obra e relação de trabalho, renda, comercialização e abastecimento, políticas públicas, infra-estrutura, serviços sociais básicos (educação, saúde, saneamento e transporte).

Não obstante, essas ferramentas são insuficientes para se elaborar um modelo de planificação para agricultura familiar coletiva, pois não abordam itens importantes tais como: estudo de mercado, avaliação técnico-econômica, sistema de gestão, gestão ambiental, entre outros.

Desse modo, os trabalhos realizados anteriormente contribuíram para o aperfeiçoamento dos modelos atuais. A metodologia que será apresentada a seguir é importante porque reúne os elementos necessários para elaborar um modelo conceitual de desenvolvimento da agricultura familiar coletiva que pode ser aplicado, e para mostrar resultados em um período relativamente curto de tempo. O momento atual é o mais adequado para a implantação do modelo, principalmente pela postura do governo Federal em incentivar este tipo de atividade.

Justifica-se, pois, a importância do estudo proposto, compreendida como uma contribuição para a busca de soluções no que se refere à gestão da agricultura familiar coletiva, bem como para a questão social vigente no campo.

3. OBJETIVOS

3.1 Objetivo Geral • Apresentar e discutir um Modelo de Planejamento Estratégico para Agricultura Familiar Coletiva, enfocando a criação de um sistema mais competitivo de produção, organizado e estruturado com base nos valores tidos como essenciais para a agricultura familiar coletiva. 3.2 Objetivos Específicos • identificar os fatores críticos de sucesso para a competitividade dos assentamentos analisados; • criar referências técnicas, econômicas, sociais e agroecológicas que permitam elaborar um modelo de planejamento compatível com a realidade dos assentados;

• realizar uma compilação das variáveis apontados na teoria que impactam o desenvolvimento sustentável dos assentamentos.

4. MÉTODO

O método utilizado foi a pesquisa bibliográfica de textos mais recentes sobre o

assunto e a análise de dados secundários disponíveis nos órgãos públicos – dos governos estaduais, do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), Universidades, entre outros.

A amostragem adotada nesta pesquisa foi não probabilística e intencional. De acordo com SELLTIZ et al. (1974), “a suposição básica da amostra intencional é de que, com um bom julgamento e uma estratégia adequada, podem ser escolhidos os casos a serem incluídos e, assim, chegar a amostras que sejam satisfatórias para as necessidades da pesquisa”.

Dessa forma, foram, então, selecionados inicialmente 04 estudos realizados em assentamentos, apresentados a seguir.

5. ESTUDOS DE CASOS EM ASSENTAMENTOS RURAIS

• Assentamentos rurais em áreas de cerrado – o caso do projeto Penha –

Tocantins (TO) Este estudo foi desenvolvido por José Pereira da Silva durante o período de 1996

a 1997, quando esteve como pesquisador visitante no CNPq na Universidade do Tocantins – UNITINS, período em que acompanhou os trabalhos de pesquisa e extensão no assentamento.

O estudo procurou analisar o projeto do assentamento Penha, localizado no município de Peixe (TO), implantado em área desapropriada pelo INCRA em 1986. Cerca de 500 famílias, possuindo entre 60 e 600 hectares de terras, vivem da atividade agropecuária em solos com características de cerrado e adotam tecnologia tradicional.

Constatou-se que após mais de uma década a situação sócio-econômica dos assentados não tinha melhorado significativamente, devido, basicamente, ao enfoque

teórico apresentado no Projeto, distante da realidade dos assentados, bem como às condições do solo – predominantemente pobre, lixiviados e arenosos que representam 90% da superfície e sujeitos a alagamento parcial em 40% do total – e a malogradas tentativas de comercialização dos produtos por meio de associações, predominando a intermediação de compradores e caminhoneiros que ditam os preços e o prazo de pagamento dos produtos.

• Os assentamentos rurais e seu impacto nas economias locais: o caso do

município de Abelardo Luz – Santa Catarina (SC) O estudo desenvolvido por REYDON et. al (1998) é uma tentativa inicial de

complementar os trabalhos existentes sobre a viabilidade econômica dos assentamentos, mostrando justamente a interface dinâmico que estes estabelecem com os agentes econômicos externos, configurando multiplicadores de emprego e renda.

O autor adota como parâmetro em seu trabalho uma pesquisa elaborada pela comissão internacional para a paz e alimentação, coordenada por M.S. Swaminathan. Neste trabalho apresenta-se um “mix” de estratégias visando incrementar o emprego e a produção de alimentos na Índia, utilizando a agricultura como motor de crescimento por meio da aceleração da produção comercial para o mercado interno, da agroindústria e das exportações.

• Os Impactos Regionais da Reforma Agrária: Um Estudo Sobre Áreas

Selecionadas O estudo buscou captar os processos de mudança provocados pelos assentamentos

de reforma agrária no ambiente no qual se inserem, uma vez que, um crescente número de pesquisas e estudos sobre assentamentos rurais no Brasil estavam voltados basicamente para o diagnóstico das suas condições internas, origens e trajetórias dos assentados e análise das políticas direcionadas ao setor (HEREDIA et al, 2001).

Procurou-se, ao longo do estudo, desenvolver uma análise voltada à mensuração e qualificação desses efeitos e mudanças (internas aos assentamentos ou externas a eles), buscando construir indicadores e relações que refletissem o significado dessas experiências a partir, basicamente, da comparação entre as situações atual e anterior dos assentados (tanto em termos objetivos como subjetivos), bem como entre as condições sócio-econômicas existentes no assentamento e aquelas verificadas no seu entorno.

A pesquisa foi realizada nas regiões do país com elevada concentração de projetos de assentamento e alta densidade de famílias assentadas por unidade territorial, pressupondo que este procedimento traria maior possibilidade de apreensão dos processos de mudança em curso. Estas regiões passaram a ser denominadas manchas; o critério para a definição dos seus limites foi a existência de um conjunto de municípios vizinhos com concentração relativamente elevada de assentamentos, tanto em número de projetos, quanto em número de famílias e em área ocupada, e com uma dinâmica histórica, econômica, social e organizativa comum. • AGROPOLO: uma proposta de modelo conceitual baseada na caracterização

de suas dimensões fundamentais. A pesquisa foi realizada pelos professores do Departamento de Economia e

Administração da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) no Assentamento Itamarati – maior assentamento da história da reforma agrária do Brasil.

As dúvidas levantadas quanto à viabilização sócio-econômica desta unidade de produção poderiam, segundo os pesquisadores, ser eliminadas ao adotar-se um modelo de agropolo, por meio de políticas regionais de desenvolvimento baseadas no agronegócio.

O estudo investigou as dimensões que permitem a proposição de um modelo de desenvolvimento de agropolos no Estado de Mato Grosso do Sul, enfocando a criação de um sistema mais competitivo de produção, organizado e estruturado com base nos valores tidos como essenciais para os assentados.

Para tanto, foi utilizada a metodologia Rapid Rural Appraisal (RRA), que é particularmente útil na análise de problemas complexos, especialmente aqueles em que o “fator pessoa” é preponderante.

6. APRESENTAÇÃO DO MODELO DE PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO PARA AGRICULTURA FAMILIAR COLETIVA

O Modelo de Planejamento Estratégico para Agricultura Familiar Coletiva

engloba elementos de suma importância para o diagnóstico das necessidades do assentamento, tais como: estudo de mercado, caracterização da infra-estrutura sócio-econômica local e regional, ale da avaliação técnico-econômica, do sistema de gestão, da gestão ambiental, entre outros. Porém, antes da descrição do modelo, serão apresentados os condicionantes da aplicação do mesmo. 6.1 Condicionantes do Modelo

Para a implantação do Modelo são necessários alguns pré-requisitos que

condicionam sua implantação e constituem-se em fatores macro-econômicos, mercadológicos, sócio-culturais, ambientais, tecnológicos e organizacionais. 6.1.1 Fatores Macroeconômicos

O conjunto de políticas macroeconômicas (fiscal, cambial, monetária, salarial) e

seus instrumentos de intervenção (taxa de juros, taxa de câmbio, volume de crédito, incentivo à exportação, tarifas e impostos) impactam o processo de desenvolvimento setorial - a atividade agrícola de um modo geral, e da agricultura familiar em especial (HADDAD, 1998).

Os impactos afetam os custos operacionais, custos de estocagem, custo de transporte, acesso ao insumo, investimentos, escolha de tecnologia, oferta de energia, receitas operacionais, quotas de exportação, entre outras (HADDAD, 1998). Não obstante a agricultura familiar tem uma dependência de determinados instrumentos de intervenção maior que as grandes propriedades. Por exemplo, o crédito público

subsidiado que, de acordo com uma meta de política fiscal que implique superávit primário elevado, pode eliminar ou reduzir o crédito subsidiado aos assentados.

Portanto o governo utiliza-se desses instrumentos de intervenção para equilibrar o setor primário, ou seja, para conceder crédito suficiente à agricultura familiar, incentivar a exportação de grandes produtores, regular o abastecimento interno, enfim, criar condições de competitividade para a agricultura familiar e para o grande produtor rural, concomitantemente.

6.1.2 Fatores Mercadológicos O assentamento, enquanto organização, deve posicionar-se para, de um lado ouvir

o mercado, e de outro, questionar a capacidade de atender a esse mercado. O esforço para tal atendimento está relacionado não com a área individual, mas com a área coletiva, a qual se supõe produzir excedentes destinados à comercialização. Para isso, é necessário conhecer o mercado, tornar esse produto competitivo em termos de qualidade e custo, definir a área de comercialização – cidade, micro-região ou estado.

Assim sendo, não é suficiente saber produzir; é preciso saber o que produzir, quando produzir e para quem produzir. E isso somente será possível se houver um estudo que aponte as necessidades do mercado consumidor em relação ao produto que se julga poder produzir e comercializar.

É por meio do estudo de mercado que se conhece a demanda e o processo de comercialização vigentes num determinado segmento. Esse estudo irá nortear o sucesso ou fracasso, identificar as oportunidades que o mercado oferece, quem são os competidores, qual o nível de competitividade, o que procuram e como são feitas as parcerias, e auxiliará fortemente na tomada de decisão. 6.1.3 Fatores Sócio-culturais

Os fatores sócio-culturais estão relacionados ao nível de escolaridade dos

assentados, suas origens – do campo ou da cidade – história de vida, a maneira de encarar o mundo e o papel que nele desempenha, bem como, valores, crenças coletivas, e expressões artísticas. Assim, é importante observar que a estrutura produtiva e as relações de produção no campo serão determinadas pela sociedade e geradas a partir do Modelo implantado.

Portanto a implantação do Modelo exige a condução de um estudo junto aos assentados, o qual aborde as variáveis relevantes que permita um conhecimento profundo dos assentados e respectivas famílias, sob o ponto de vista sócio-cultural.

6.1.4 Fatores Ambientais A utilização intensiva da terra pelo homem, sem uma preocupação quanto à

adubação correta, recuperação do solo e rotação do cultivo, acarretou o atual estágio de degradação, além da destruição da mata ciliar e do assoreamento dos rios. Tal utilização deve ser uma preocupação constante dos assentados, uma vez que dispõem de um pequeno pedaço de terra para sua produção.

Outro recurso indispensável, e que por isso deve ser tratado com a mesma responsabilidade, é a água. A disponibilidade deste recurso na superfície ou no subsolo é essencial para o assentamento. Por conseguinte a utilização da água – captação,

tratamento, esgotamento – além dos agrotóxicos usados na lavoura os quais, com a chuva, correm para os rios, deve ser motivo de um controle rigoroso pelos órgãos ambientais. Atualmente, o fator ambiental tem ganhado muita importância nas organizações, caracterizado por uma legislação ambiental cada vez mais rigorosa e pela adoção do conceito de responsabilidade social, o que não poderia ser diferente, posto que o homem está causando danos quase que irreparáveis ao meio-ambiente.

6.1.5 Fatores Tecnológicos A tecnologia envolve a soma de todos os conhecimentos acumulados a respeito de

como fazer as coisas, tais como: inovações tecnológicas, novas técnicas e aplicações,

desenvolvimento e aperfeiçoamento de máquinas e equipamentos, biotecnologia, ferramentas gerenciais, entre outras. Sem dúvida, a tecnologia é o fator de maior relevância para as empresas agropecuárias que buscam altos índices de produtividade e utilizam-se desse fator para bater seus recordes de produção a cada ano.

Os fatores tecnológicos determinam a competitividade no campo, uma vez que estão associadas à preservação, renovação, escala e melhoria das vantagens competitivas dinâmicas. Dessa forma, a capacidade tecnológica, ou seja, a vantagem competitiva obtida através do uso de tecnologia, está relacionada a vantagens de custos que são reflexos da produtividade dos fatores de produção, capital humano, dentre outras variáveis.

Entretanto, essa tecnologia está mais presente nas empresas agropecuárias, ou seja, nas grandes propriedades rurais altamente tecnificadas. Segundo NEVES (2000), “isto não significa, contudo, que a pequena produção não possa ser competitiva. Em primeiro lugar, podem-se selecionar, para propriedades de menor porte, atividades mais compatíveis à pequena escala, tais como : frutas, olerícolas e atividades de turismo rural. Buscam-se a diversificação das fontes de renda e a produção de parte da subsistência. Em segundo lugar, há de se promover um processo de cooperação estratégica entre pequenas propriedades, de forma a se reduzirem custos ligados às atividades de marketing, finanças e controle da produção”.

6.1.6 Fatores Organizacionais

As organizações estão inseridas em um ambiente dinâmico, ou seja, elas mudam e evoluem com seus ambientes. Compõe o ambiente organizacional do assentamento, os clientes, fornecedores, concorrentes, instituições públicas e privadas, o próprio assentado, além de todos os outros fatores condicionantes acima apontados.

Enquanto, o assentamento, deve ter ferramentas que permitam um planejamento, organização, como ato de organizar-se, controle e tomada de decisão. Entretanto a organização, por si só, não pode garantir o sucesso do assentamento; há a necessidade conjunta de todos os fatores. Cabe à organização a gestão desses fatores para permitir a sobrevivência do assentamento. Por exemplo, arranjos organizacionais que salientam o coletivo são mais indicados para pequenas propriedades e, portanto, para assentados. 6.2 Descrição do Modelo

Diante da abrangência e diversificação dos estudos necessários, dividiu-se o

Modelo em módulos para que se possa otimizar a distribuição dos recursos existentes (principalmente, os recursos humanos e financeiros), melhor gerir e controlar o andamento das tarefas realizadas e gerar resultados parciais e corrigir possíveis desvios e/ou erros no projeto.

Assim, os módulos foram divididos em "Valores Fundamentais do Desenvolvimento Coletivo Sustentável", "Estudo de Mercado", "Caracterização da Infra-estrutura Sócio-econômica Local", "Caracterização da Infra-estrutura Sócio-econômica Regional" e "Macroestratégias" que inclui os módulos “Infra-estrutura Social”, “Plano de Produção Agrícola”, “Plano de Produção Não-Agrícola”, “Projetos

Estruturais de Produção”, “Gestão Ambiental”, “Avaliação Técnico-econômica - Simulação” e “Sistema de Gestão”. A organização do Modelo é apresentada na figura 1.

Figura 1. Estrutura do Modelo de Planejamento estratégico da Agricultura Familiar Coletiva.

O módulo "Valores Fundamentais do Desenvolvimento Coletivo Sustentável" trabalha a questão de valores de grupo, visão de futuro/aspirações e objetivos dos assentados por meio das lideranças de cada movimento social. Esta etapa é fundamental para o desenvolvimento de um planejamento estratégico que, além de participativo, deve ser desenvolvido com as lideranças dos movimentos e respaldado pelos assentados.

O módulo “Estudos de Mercado” propõe-se a identificar oportunidades mercadológicas para produtos agrícolas e agroindustriais, os quais devem ser previamente selecionados por especialistas que componham uma lista de produtos preferenciais para a pesquisa, mas não se limitando somente à lista. Deve ser obtido através de analise de dados secundários e primários, derivados dos principais centros de comercialização em nível local, regional e nacional.

Já o módulo “Caracterização da Infra-Estrutura Sócio-econômica Regional” procura conhecer as características sociais, econômicas e de infra-estrutura dos municípios vizinhos do assentamento visando a melhor inseri- lo na região e verificar potencialidades, oportunidades e ameaças, baseadas nas condições existentes na micro-região ao redor do assentamento. Estas informações serão levantadas a partir da análise de dados secundários (IBGE, Prefeituras, Governos Estaduais, e outros).

O módulo “Caracterização Sócio-econômica Local” busca conhecer características sócio-econômicas de cada um dos movimentos sociais inseridos no assentamento. Este módulo revela a realidade dos assentados, na qual freqüentemente são identificados problemas financeiros devido a não existência de gestão no seu

MMAACCRROO EESSTTRRAATTÉÉGGIIAASS

CCAARRAACCTTEERRIIZZAAÇÇÃÃOO DDAA IINNFFRRAA--EESSTTRRUUTTUURRAA SSÓÓCCIIOO--

EECCOO NNÔÔMMIICCAA RREEGGIIOO NNAALL

PPLLAANNOO DDEE PPRROODDUÇÃO AGRÍCOLA

SSIISSTTEEMMAA DDEE GGEESSTTÃÃOO

PROJETOS ESTRUTU -

RANTES DE PRODUÇÃO

GGEESSTTÃÃOO AAMMBBIIEENN--

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EECCOONNÔÔMMIICCAA

VVAALLOO RREESS FFUUNNDDAAMMEENNTTAAIISS DDOO DDEESSEENNVVOO LLVVIIMMEENNTTOO

CCOOLLEETTIIVVOO SSUUSSTTEENNTTÁÁVVEELL

IINNFFRRAA-- EESSTTRRUUTTUURRAA

SSOOCCIIAALL

PPLLAANNOO DDEE PPRROODDUÇÃO

NÃO-AGRÍCOLA

CCAARRAACCTTEERRIIZZAAÇÇÃÃOO DDAA IINNFFRRAA--EESSTTRRUUTTUURRAA SSÓÓCCIIOO--

EECCOO NNÔÔMMIICCAA LLOOCCAALL

ESTUDO DE MERCADO

negócio, níveis de escolaridade e saúde precários, entre outros. As características sócio-econômicas devem ser obtidas nas entrevistas junto aos assentados.

O módulo “Infra-estrutura Social” busca identificar os elementos mínimos para a sobrevivência de pessoas que vivem em sociedade, tais como, habitação, água e esgotamento sanitário, energia elétrica, educação, saúde, sistema viário, segurança publica, lazer, cultura e esporte. Resultará na elaboração de projetos desenvolvidos de forma participativa.

O “Plano de Produção” é o módulo que tem como objetivo levantar as opções estratégicas de produção do assentamento, e auxiliar na definição dos produtos, qual a tecnologia de produção a ser utilizada, o manejo e correção do solo, a tecnologia de produção e mudas, os insumos necessários, a rotação de culturas, e o manejo dessas culturas. É elaborado a partir de pesquisas exploratórias qualitativa (entrevistas, workshops) e quantitativa (questionários).

O “Plano de Produção Não-Agrícola” trabalha as potencialidades dos assentados em relação ao turismo, principalmente o eco-turismo, que é um recurso não aproveitado ou pouco explorado. Este tipo de produção tem ganhado espaço progressivo e positivo na receitas das propriedades rurais, segundo o INCRA. Não obstante, a sustentabilidade ambiental que será obtida por meio da educação ambiental o que é fundamental para a exploração do turismo.

No módulo “Projetos Estruturantes de Produção” procede-se à análise e elaboração de projetos estratégicos de produção adequados para o desenvolvimento do Assentamento, tendo como resultado a criação de uma carteira de projetos estruturantes dos sistemas produtivos coletivos. Este módulo refere-se, basicamente, à elaboração de projetos de agregação de valor ao sistema produtivo, por exemplo, a irrigação coletiva e agroindustrialização. Devem ser elaborados com base nos estudos de mercado, valores e caracterização da infra-estrutura sócio-econômica regional, de forma participativa.

O módulo “Gestão Ambiental”, coloca em evidência as questões que devem ser tratada para a melhoria da qualidade de vida dessas famílias. Deve ser elaborado a partir de reuniões dos assentados com o grupo de gestores ambientais de formação multidisciplinar, com base nos princípios da Biodiversidade, Educação Ambiental, Legislação e Licenciamento Ambiental, Recursos Florestais e Hídricos.

O módulo “Avaliação Técnico-econômica” objetiva mensurar a renda dos assentados para cada opção de produção indicada no projeto estruturante. Deve ser desenvolvido com o uso de simulações e diversos tipos de análises financeiras.

Por fim, o módulo “Sistema de Gestão” deve definir a forma ou modelo pelo qual se dará a organização administrativa do Assentamento, a hierarquização, a forma jurídica, as formas de participação dos órgãos públicos, dentre outras questões relevantes. Deve contar com intensa participação dos assentados para sua elaboração, estudos de casos e dados secundários, sobretudo, pesquisa bibliográfica.

7. CONCLUSÃO O modelo apresentado evidencia alguns elementos essenciais à sustentabilidade da

agricultura familiar coletiva, sem negligenciar as questões sócio-culturais. O modelo é claramente orientado para o mercado, entendendo-se que a compreensão deste é fator fundamental para a viabilidade da agricultura familiar coletiva, bem como dos assentamentos no Brasil.

Os fatores sócio-culturais, tanto da região de implantação do empreendimento, como dos agricultores familiares e assentados, contribuem também para a definição do plano de produção e da inserção deste no mercado.

A infraestrutura necessária, tanto ao sistema produtivo, como a uma condição de vida de melhor qualidade para as famílias, também é considerada.

Além disso, a implantação da agricultura familiar coletiva e assentamentos depende do atendimento de outros condicionantes – fatores macroeconômicos, ambientais, tecnológicos e organizacionais, os quais são devidamente considerados pelo modelo.

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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