modelo de formação dos artigos para o tic'2005
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A ARQUITETURA VISTA ATRAVÉS DA COLEÇÃO DE LIVROS RAROS DA BIBLIOTECA E CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO DO
MASP.
ZANATTA DE SOUZA, MARIA LUIZA
UNIFESP. Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (EFLCH) Programa de Pós-graduação em História da Arte
Endereço: Campus Guarulhos – Unidade Provisória Rua do Rosário, 382 (antigo 117)
Bairro Macedo CEP 07111-080 – Guarulhos - SP
E-mail: [email protected]
RESUMO Este artigo pretende apresentar um rápido olhar sobre a Coleção de Livros de Arquitetura pertencentes ao núcleo de obras raras da Biblioteca e Centro de Documentação do MASP – Museu de Arte de São Paulo. Essa coleção de livros resulta da doação feita pelo casal Pietro Maria Bardi e Lina Bo Bardi, por ocasião do 30º aniversário do museu em 1977, para que pudessem suprir as necessidades dos pesquisadores de arte e arquitetura. A constituição deste acervo se confunde com a própria vida de Bardi, já que seu início está associado à sua formação humanista e ao seu amplo interesse pela filosofia, história, literatura, política e sobretudo pelas artes. Pietro Maria Bardi cursou até a 3ª. série primária, mas foi um autodidata e sua elevada cultura está associada justamente aos livros que colecionou ao longo da vida. Foram os livros que lhe deram todo o suporte para executar suas tarefas como jornalista, alimentando seus estudos e interesse pelas artes e pela estética, que lhe resultaram em variadas publicações. A partir do Belvedere – Giornale d’ Arte, Bardi teve seu interesse voltado para Arquitetura, iniciando assim, o núcleo de livros sobre o tema, incluindo entre estes, obras raras como tratados de arquitetura pertencentes aos séculos XVI, XVII e XVIII. Na década de 30 publicou o seu famoso Rapporto sull’ Architettura e fundou a revista Quadrante, tendo colaborado com a revista L’ Architecture d’ Aujourd’hui e representado a Itália, no Congrés International d’ Architecture Moderne, em Atenas 1933. Quando chegou a São Paulo em 1947, trouxe consigo uma parte das raridades que havia comprado e exposto, em meio as obras de artes, no Studio d’ arte Palma, em Roma, em maio de 1945. E aqui continuou a comprar livros, para que pudessem auxiliá-lo nas pesquisas sobre as obras que viessem a ser adquiridas pelo museu. Ao longo dos anos organizou exposições didáticas, tendo como objetivo traçar um panorama da História da Arte e de reconstruir por meio de uma técnica expositiva eficiente, a própria noção da evolução da criatividade humana. Bardi imaginava que o museu deveria funcionar como um centro dinâmico onde a arte e a cultura pudessem atrair as pessoas para as exposições periódicas e para os cursos de capacitação promovidos pelo setor educativo (escolas) do museu. Atualmente, a biblioteca do Masp, com seus mais de 60.000 títulos, compreende um dos grandes centros de pesquisa e sua destacada coleção de obras raras (que vai além de 400 títulos) constitui uma das mais ricas em história da arte e arquitetura, sendo uma referência importante para os estudos de História da Arte no Brasil. Através deste breve estudo gostaríamos de dar o devido destaque a esta coleção, além de disponibilizar algumas informações para que possam subsidiar o desenvolvimento de novas investigações sobre alguns dos títulos que aqui encontramos durante nossa pesquisa e que em geral englobam a teoria, o estudo e a análise da iconografia da Arquitetura e da Perspectiva (de domínio dos arquitetos já no
4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro
período do renascimento) para ampliar assim, o panorama dos textos teóricos conhecidos até o presente.
Palavras-chave: Arquitetura; História; Livros raros; Biblioteca e Centro de Documentação do MASP.
“Efectivamente, preservar para transmitir cualquier elemento del patrimonio cultural requiere como condición
primordial el registro de sus características más esenciales. Sin embargo, el registro de un objeto cultural
requiere también el conocimiento de la naturaleza de ese objeto. Esto es exactamente igual para cualquier objeto
material al que se le reconozca un valor cultural específico, sea una escultura, un cuadro, un documento o un
libro” 1.
As Obras Raras da Biblioteca e Centro de Documentação do MASP –
Museu de Arte de São Paulo.
(Fig. 1)2
Este artigo pretende apresentar um rápido olhar sobre a Coleção de Livros de
Arquitetura pertencentes ao núcleo de obras raras da Biblioteca e Centro de Documentação
do MASP – Museu de Arte de São Paulo. Essa coleção de livros resulta da doação feita pelo
casal Pietro Maria Bardi e Lina Bo Bardi, por ocasião do 30º aniversário do museu em 1977,
para que pudessem suprir as necessidades dos pesquisadores de arte e arquitetura. A
constituição deste acervo se confunde com a própria vida de Bardi, já que seu início está
associado à sua formação humanista e ao seu amplo interesse pela filosofia, história,
literatura, política e sobretudo pelas artes.
Pietro Maria Bardi (1900-1999) cursou até a 3ª. série primária, mas foi um autodidata
e sua elevada cultura está associada justamente aos livros que colecionou ao longo da vida.
Foram os livros (Fig. 1) que lhe deram todo o suporte para executar suas tarefas como
jornalista, alimentando seus estudos e interesse pelas artes e pela estética, que lhe
resultaram em variadas publicações. A partir do Belvedere – Giornale d’ Arte, Bardi teve seu
1García Aguilar, Idalia “Secretos del estante: elementos para la descripción bibliográfica del libro antiguo”,
Universidad Nacional Autónoma de México, 2011, p. 5; conforme
http://132.248.242.3/~publica/archivos/libros/secretos_del_estante.pdf acesso em 4/11/2015. 2 Fig.1 – Foto de livros antigos.
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interesse voltado para Arquitetura, iniciando assim, o núcleo de livros sobre o tema,
incluindo entre estes, obras raras como Tratados de Arquitetura pertencentes aos séculos
XVI, XVII e XVIII. Na década de 30 publicou o seu famoso Rapporto sull’ Architettura e
fundou a revista Quadrante3, tendo colaborado com a revista L’ Architecture d’ Aujourd’hui e
representado a Itália, no Congrés International d’ Architecture Moderne, em Atenas 1933.
Quando chegou a São Paulo, em 1947, trouxe consigo uma parte das raridades que
havia comprado e exposto, em meio às obras de artes, no Studio d’ arte Palma em Roma,
em maio de 1945. Pietro Maria Bardi4 manteve o hábito de encomendar ao seu livreiro
florentino livros que julgava interessantes, por se tratarem de exemplares raríssimos ou por
apresentarem ligação direta com o acervo do Museu de Arte de São Paulo Assis
Chateaubriand, para que pudessem auxiliá-lo em seus estudos, pesquisas, publicações de
artigos e ao longo dos anos ele foi transferindo alguns exemplares da sua casa ao museu.
Ele organizou exposições didáticas, tendo como objetivo traçar um panorama da História
da Arte e reconstruir por meio de uma técnica expositiva eficiente, a própria noção da
evolução da criatividade humana. Bardi imaginava que o museu deveria funcionar como um
centro dinâmico onde a arte e a cultura pudessem atrair as pessoas para as exposições
periódicas e para os cursos de capacitação promovidos pelo setor educativo (escolas) do
museu. Ele era não apenas um grande colecionador, mas também um bibliófilo que
costumava fazer anotações às margens dos títulos. E apesar de seu comprovado interesse
pela Arquitetura Moderna - elemento central de seu ideário e da sua atividade jornalística e
cultural, especialmente durante os anos em que esteve na Itália - o grande número de
tratados artísticos, encontrados atualmente no acervo da biblioteca do museu, nos fazem
refletir sobre uma genuína atração pelas doutrinas arquitetônicas.
A biblioteca do MASP possui atualmente cerca de 68400 exemplares entre livros,
catálogos, revistas, boletins e raridades. Sua coleção de obras raras faz parte do núcleo
inicial doado pelo casal, Pietro Maria e Lina Bo Bardi, em 1977, por ocasião do 30º
aniversário do museu, sendo uma das mais ricas na área de História da Arte e da
Arquitetura existentes no Brasil, onde se inclui mais de quatrocentos e cinquenta títulos5.
3 Quadrante, revista de arquitetura e cultura editada em Milão entre maio de 1933 e outubro de 1936, fundada e
dirigida por P.M. Bardi e Massimo Bontempeli. Ela firmou-se como principal veículo de divulgação da arquitetura
racionalista italiana, na qual projetos de Giuseppe Terragni, BBPR, entre outros, foram reproduzidos ao lado dos
grandes arquitetos europeus como Le Corbusier, Walter Gropius e Mies van der Rohe. 4 “[ ... a arte é uma só, não tem limites de tempo, não tem limites de espaço]”, BARDI, Pietro M. Pequena História
da Arte: introdução aos estudos das artes plásticas. São Paulo, Ed. Melhoramentos, 1993, p. 84 5 BARDI, Pietro Maria. História do MASP. São Paulo: Instituto Quadrante, 1992, p.22-23.
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Estas obras denominadas raras e pouco conhecidas do público6 (devido ao restrito acesso
em função do seu altíssimo valor e sua raridade) exigiram por parte da biblioteca do MASP
um tratamento especial em função da necessidade de catalogação dos volumes, e também
sua conservação. Neste sentido, em 2005 foi desenvolvido um projeto em parceria com a
Fundação Vitae7 que permitiu o restauro de algumas obras, a organização e um melhor
acondicionamento do acervo, resultando na elaboração de um cadastramento dos títulos em
um banco de dados local8, com acesso online, facilitando a pesquisa e a localização através
da internet dos títulos pertencentes ao acervo (Fig. 2).
Fig.29
6 Em muitos desses livros podem ser encontrados sinais deixados pelos proprietários que indicam a quem
pertencia ou a quem interessava o tema, como marcas de leitura, assinaturas, dedicatórias e carimbos. 7O projeto ‘Organização e conservação de 400 obras raras da Coleção de Obras Raras da Biblioteca do Museu
de Arte de São Paulo’, aprovado pela Fundação Vitae em abril de 2005, implementado entre maio de 2005 e abril
de 2006, teve como objetivo a organização do acervo de obras raras através do processamento técnico, do
cadastramento no banco de dados local e o catálogo on-line disponível na Internet e a preservação através da
higienização, acondicionamento, encadernação, restauro e/ou reparos dessa coleção. 8Este projeto dividiu o acervo em obras raras e especiais, sendo que as obras raras foram classificadas seguindo
basicamente três grandes critérios:
I) A data mais antiga da publicação, publicação em outros países até 1850 e publicação no Brasil até 1900;
II) Características físicas do documento, isto é, publicações de luxo ou de tiragens limitadas e ilustrações originais
independente da datação.
III) Número de exemplares, obras com poucos exemplares existentes ou conhecidos.
As obras consideradas especiais compreendem publicações com número reduzido de exemplares ou pouco
divulgadas no Brasil, obras em grande formato ou muito pequenas, aquelas com material adicional ou
suplementar, contendo ilustrações de grande qualidade (artística ou de impressão) ou com encadernação
especial, tiragens históricas que datam do período inicial de cada movimento artístico. Além disso, também foram
consideradas especiais àquelas que estão ou estiveram relacionadas à história do Museu ou à história de seus
fundadores, trabalhos com dedicatórias importantes, um marco para a instituição. 9 Fig. 2 – Foto do site do MASP: catalogo da biblioteca acessível em www.masp.art.br.
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Através de nossas pesquisas de mestrado em 2006 e doutorado em 2011 tivemos
acesso a esta biblioteca, verificando a existência de livros raros e importantíssimos, no que
se refere a produção, apreciação e a avaliação das obras de Arte e Arquitetura. A partir de
2014, com desenvolvimento de nossa pesquisa de Pós-doutorado, passamos a analisar com
maior cuidado, um pequeno conjunto de obras, previamente selecionadas, buscando
confirmar sua autenticidade, relevância para o estudo da arquitetura e da teoria artística e
“unicidade” devido a presença de anotações marginais, feitas por antigos proprietários
(tornando esses livros ainda mais raros).
Graças a este trabalho inicial realizado pela biblioteca do MASP, bem como a exposição
de algumas das obras importantes, ao longo dos últimos anos10, foi possível identificar a
existência de um número expressivo de exemplares bastante raros, cujo estudo e análise
pormenorizada permitirá a elaboração de um catálogo especializado sobre o assunto.
Através de um portal pretendemos disponibilizar aos pesquisadores de Arte e, sobretudo da
Arquitetura, informações que sirvam de subsidio ao desenvolvimento de novas
investigações sobre o conteúdo destes títulos, de modo a ampliar o panorama dos textos
teóricos conhecidos, que em sua maioria referenciam as preceptivas arquitetônicas e a
tratadística da arte11.
Nesta moldura, a presente comunicação tem por objetivo apresentar uma pequena
mostra dos Livros de Arquitetura que fazem parte da coleção de tratados artísticos -
publicados entre séculos XVI e XVIII - pertencentes ao núcleo de obras raras e especiais da
Biblioteca e Centro de Documentação do Museu de Arte de São Paulo, com o intuito de dar
o devido destaque a este conjunto, na esperança de que num futuro próximo estes títulos
possam ser digitalizados e se tornem matéria prima para o desenvolvimento de novas
reflexões e de estudos ainda mais aprofundados.
10
“Arte Italiana do MASP na Casa Fiat” – 08/fevereiro a 09/ abril de 2006 in
http://www.casafiatdecultura.com.br/admin/catalogos/arte_italiana.pdf , acesso 04/06/2014. 11
Os tratados de arte começaram a moldar as ideias sobre a arte, o artista e a obra de arte existentes desde
meados do século XV e XVI.
4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro
“De Architectura”, Vitrúvio, século I a.C. entre os livros do MASP.
(Fig. 3 e 4)12
A exposição intitulada “Roma e os Raros” realizada em 2012 - tendo a curadoria de
Denis Molino e Ivani Di Grazia Costa13 e o propósito de divulgar alguns dos livros da
Biblioteca e Centro de Documentação do MASP, textos pouco acessíveis ao grande público
- resgatou a presença do célebre “L’ Architettura di Marco Vitruvio Pollione”, uma 2ª. edição
napolitana ricamente ilustrada, de 1790 [1758], de Berardo Gagliani, o único tratado de
arquitetura que nos chega da chamada Antiguidade Clássica, escrito no longínquo I séc.
a.C..
Naquela ocasião, a apresentação da obra vinculava-se ao conhecido estudo feito por
Leonardo da Vinci (c.1487), da imagem do “Homem Vitruviano”, baseando-se na passagem
do Livro III, Capitulo I, em que o escritor estabelece um paralelo entre as proporções do
corpo humano e a arquitetura: “...Pois nenhum templo poderá ter esse sistema sem
conveniente equilíbrio e proporção e se não tiver uma rigorosa disposição como os
membros de um homem bem configurado” in MACIEL [2000: p.109].
Mas a verdadeira importância adquirida pelo tratado de Vitrúvio, a partir do
Renascimento, através de seus inúmeros tradutores e exegetas, que nele vislumbraram a
possibilidade de uma aprendizagem teórica da arquitetura, só pode ser confirmada, a partir
de uma rápida busca no banco de dados local desta biblioteca (Fig.2), onde se verificam
mais de dez autores a se ocupar dos ensinamentos presentes nos De Architectura libri
decem (Dez Livros sobre a Arquitetura).
12
Imagens fornecidas pela Biblioteca e Centro de Documentação para uso exclusivo desta pesquisa do volume
do MASP – LR LG. 13
Diretora da Biblioteca e Centro de Documentação do MASP a quem muito agradecemos pela autorização e
liberação das obras raras.
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(Fig. 5 e 6)14
A começar pelo “Decem libros M.Vitruvii Pollionis De Architectura Annotationes: cum
indici bus graeco & latino locupletissimis” de Guillaume Philandrier (1505-1563), uma edição
latina, impressa em Roma em 1544, que não traz imagens, mas recebe novas edições pelo
mesmo autor (1552 e 1558), tornando-se uma referência para traduções sucessivas ao
italiano como a de Galiani [1758], ou ao francês como a de Claude Perrault [1673].
(Fig.7 e 8)15
14
Imagens fornecidas pela Biblioteca e Centro de Documentação para uso exclusivo desta pesquisa do volume
do MASP – III 2 LR150.
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A versão ao italiano do conhecido “Les dix livres d’ architecture de Vitruve, corrigés et
traduits nouvellement en français”, preparada por Claude Perrault (1613-1688), por
encomenda feita pela Academia Real de Arquitetura Francesa, em 1671, publicada em Paris
[1673], buscava estabelecer uma doutrina global da arquitetura que permitisse explicar a
eclosão da arquitetura francesa sob Luís XIV (r.1643-1715), mantendo nas suas linhas mais
gerais, a ideia de tradição16. Em função da obra de Vitrúvio corresponder ao único exemplar
remanescente da Antiguidade que havia chegado aos nossos dias mas, que por suas
inumeráveis cópias, mantinha inúmeros pontos obscuros e enigmáticos, fez com que a
Academia solicitasse a Perrault que fizesse uma tradução, acrescentando sempre que
necessário, comentários pormenorizados.
Apesar do resultado ter ficado muito aquém das expectativas de seus
patrocinadores, causando maiores discussões, a obra foi reeditada em 1684 e traduzida ao
italiano em 1747, pelo jornalista e impressor veneziano “Giambattista” [Giovanni Battista]
Albrizzi (1698-1777) que publicou vários livros ilustrados e mapas, tendo o patrocínio de
Jacopo Campelli17. Este volume em especial é motivo de grande interesse, seja pelas
diferenças apresentadas em relação ao exemplar francês de 1673, seja pelas cuidadosas
anotações acrescentadas as margens do exemplar do MASP III 4 LR 345.
Quando questionamos a quem eram dirigidos os tratados de arquitetura, percebemos
que estavam destinados a um público bastante variado, não sendo apenas direcionados aos
arquitetos, mas aspiravam instaurar uma eficiente comunicação entre o artista-arquiteto, o
cliente e o público. O tratado, como expressão literária da teoria arquitetônica moderna, se
apresenta em meio às cortes do Renascimento. Ele é a ponte e o lugar de encontro entre os
interesses do soberano, da nobreza, da burguesia, dos artistas e dos humanistas. Desta
maneira, os tratados surgidos durante o primeiro Renascimento na corte dos príncipes
italianos não foram obra do acaso, mas aspiravam à emancipação do artista como
intelectual que tem seu espaço demarcado, no interior das cortes, ao lado de poetas, sábios
e não mais se apresentavam como meros artesãos ou artífices.
Em Florença, Siena, Nápoles, Urbino, Ferrara a reflexão e discussão sobre as artes
e a arquitetura pode ser comprovada pelo surgimento dos primeiros escritos de Leon
Battista Alberti (1404-1472), Filarete (1400-1469), Francesco di Giorgio Martini (1439-1502)
15
Estas imagens foram gentilmente fornecidas pela Biblioteca e Centro de Documentação do Museu de Arte de
São Paulo, para uso exclusivo de nossa pesquisa realizada, janeiro de 2015 do exemplar MASP III 4 LR 345. 16
“Teoria da arquitetura – do renascimento aos nossos dias, 117 tratados apresentados em 89 estudos”; Itália:
Taschen, 2003; p.248.
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entre outros. Há que se lembrar que os tratados de arquitetura são livros por meio dos quais
o arquiteto se tornava uma pessoa pública. Verifica-se uma relação de dependência
reciproca entre príncipe e o arquiteto; onde o primeiro dispõe dos meios necessários para
construir enquanto o segundo detém a capacidade técnica de transformar o edifício e a
cidade no símbolo representativo da sua grandeza. Sendo assim, o autor de um tratado
procurará dedicar sua obra a um soberano ou personagem importante que irá lhe oferecer
sua proteção ou seu patrocínio. E desta maneira, conclui-se que mais do que qualquer outra
disciplina artística a Arquitetura estava profundamente implicada no processo político da
sociedade e ligada ao exercício do poder.
“L’Architectura” de Leon Battista Alberti (1404-1472);
Edição em Veneza, de Francesco Francheschi, 1565.
Quando Leon Battista Alberti (1404-1472) escreveu o De re aedificatória (c.1442-
1452) ou “L’’Architettura”, como verificamos na edição italiana encontrada no MASP, um
tratado sobre a arte de construir, já havia terminado De Pictura em 1435 e o De Statua
em1438. Alberti debruçara-se sobre as três artes – pintura, escultura e arquitetura - quando
estas ainda não eram associadas as artes liberales e ao fazer isso ele propõe que sejam
igualadas às demais artes liberais; isto é, Geometria, Poética, Retórica e a Música. Com
esta(s) obra(s) Alberti deixa claro que os arquitetos podiam e deviam escrever e que sua
arte requeria formulação e inteligibilidade.
17
Jacopo Campelli foi um nobre da cidade de Belluno no norte da Itália, homem de grande erudição que revela
grande interesse e conhecimento das artes, com o patrocínio desta obra considerada uma referência no estudo
da história da arquitetura.
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Fig.918
Leon Battista ALBERTI , 1404-1472, L'Architettura di Leonbatista Alberti; tradotta in lingua fiorentina
da Cosimo Bartoli...; con la aggiunta de' disegni. In Venetia: Apresso Francesco Franceschi, Sanese,
1565.
Na verdade, trata-se de um projeto intelectual bastante ambicioso, resultante das
reflexões teóricas sobre a arquitetura promovidas nas cortes italianas que vão além do
Quatrocentos. Ele escreveu em latim, renunciando ao uso de imagens e inicialmente o De re
Aedificatoria era lido nas cortes entre os humanistas até que fosse impresso em 1485, e
traduzido em 1565, por Cosimo Bàrtoli (1505-1572) que lhe acrescentou as imagens19. Em
seu tratado, De re aedificatória, apresentado na forma manuscrita ao papa Nicolau V em
145220, Alberti expõe suas reflexões sobre o papel do arquiteto e a função da Arquitetura.
Nesta ocasião o Papa havia começado a reconstrução da nova Basílica de São Pedro e
teve que interromper a reforma a conselho de Alberti, porque ameaçava ruina.
Ele organizou sua obra em dez livros escritos em latim, assim como fizera Vitrúvio,
mas do ponto de vista da sua essência são muito diferentes. No primeiro livro ele trata da
18
Imagem fornecida pela Biblioteca e Centro de Documentação para uso exclusivo desta pesquisa do volume do
MASP –LR 005. 19
Do ponto de vista historiográfico, é importante notar que os tratados de Alberti sobre as artes são traduzidos
para o vernáculo e publicados com grande sucesso nos mesmos anos das duas edições das Vidas, dado que faz
do humanista uma espécie de contemporâneo do escritor de Arezzo. A primeira tradução do De Pictura, por
Ludovico Domenichi, citado por Vasari, data de 1547, e Alberti criou um novo estatuto para arquitetura que foi
interpretado por ele de maneira exemplar: “...architetto io dichiarerò colui che con regola sicura e metodo
esemplare sappia sia disegnare con la mente e con l‟animo, sai realizzare concretamente fabbriche di ogni sorte
che grazie alla movimentazione di gravi e l‟unione e l‟assemblaggio di corpi, risultino elegantissimamente adatte
alle funzioni più nobili dell‟uomo” De re edificatoria, II, XIII, 9 ( citado por. Orlandi-Portoghesi, 1966). 20
Preceptivas Arquitetônicas, São Paulo: Annablume, 2015, p.40
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Lineamenta, isto é, as partes constitutivas de um edifício qualquer (aborda: o meio
ambiente, o terreno, o plano, as paredes, o telhado e as aberturas). No segundo livro analisa
os materiais. No terceiro livro trata dos aspectos relativos a solidez (firmitas). No quarto e
quinto livros aborda as Obras Gerais e as Obras Particulares, concentrando-se sobre a ideia
dos diferentes tipos de edifícios. E dos Livros Sexto ao Nono Alberti trabalha sobre os
diferentes elementos que conferem a beleza (venustas) ao edifício. No decimo Livro ele
escreve sobre o Restauro das Obras, refletindo sobre as técnicas de conservação dos
edifícios existentes.
A tradução do tratado de arquitetura de Alberti, De re aedificatoria, assinada por
Cosimo Bàrtoli (1503-1572) foi publicada em 1550, no mesmo ano e pelo mesmo editor de
“Le Vite de' più eccellenti pittori scultori e architettori” (Florença 1550 e 1568) trazendo o
acréscimo das ilustrações que a versão original não possuía. Membro ativo da Academia
Florentina da qual foi cônsul e censor, Bártoli foi importante colaborador de Giorgio Vasari
(1511-1574), tanto na revisão das duas edições das Vite, quanto na elaboração dos
programas iconográficos para a decoração do Palazzo Vecchio. O sucesso do texto (De re
aedificatória) cujo desenho do frontispício foi atribuído a Giorgio Vasari, se deve ao fato de
ter se tornado mais acessível (pela tradução e ilustrações) resultando na tiragem de duas
novas edições em 1565. Em 1568, contemporaneamente à publicação da segunda edição
das Vite, Cosimo Bártoli editou em Veneza “De pittura” e “De Statua”, reunindo-os em um
mesmo volume, junto de outros textos do Alberti.
A edição existente no MASP LR 005 apresentada ao público brasileiro, durante a
exposição sobre a “Arte Italiana” promovida pela Casa FIAT de Cultura em Minas Gerais –
2006, junto a variados exemplares artísticos: pinturas, esculturas, gravuras, maiólicas,
destaca, como se comprova em seu catálogo, dentre um pequeno grupo dos raros da
biblioteca, o exemplar albertiano. Neste exemplar onde encontramos o ex libris de Anton
Tommaso Volpi [arquiteto ?] verificam-se as anotações marginais em italiano, por quase
todo o texto que aparece ora grifado, ora com uma indicação de chamada de atenção ou
“destaque” (com a presença de pequena mão), em pontos variados.
Ainda nesta mesma exposição de Arte Italiana, pudemos encontrar a preciosa edição
1ª dos “Ragionamenti”, isto é, os “Discursos”, da “Giuntina” publicada (postumamente) em
1588, escrito pelo pintor e arquiteto Giorgio Vasari (1511-1574), que faz parte no catalogo
do MASP II 2 LR067. Ainda muito jovem Vasari entrou para o círculo dos Médici, como
companheiro de brincadeiras e de estudos dos futuros cardeal Ippolito (1511-1535) e duque
Alessandro (1512-1537), assistindo à crise e a dispersão daquela sociedade promovida pelo
Saque de Roma em 1527, pode acompanhar as tentativas de reconstitui-la no final do
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pontificado de Clemente VII e a restauração paralela implementada pelos Médici em
Florença. Trata-se de um momento em que a civilização florentina conquistara Roma e por
certo tempo assumia ambições universais, que podem ser percebidas na obra das Vite de
Vasari21 ou nas palavras de seu último editor: “[..por sua pena, e não por seu pincel,
continua entre os maiores temperamentos do nosso Cinquecento]22”. O exemplar do MASP23
II 2 LR067 retrata em sua folha de rosto as seguintes informações:
Fig.1024
Ragionamenti//DEL SIG. CAVALIERE// GIORGIO VASARI//
PITTORE ET ARCHITETTO// ARETINO // SOPRA LE INVENTIONI DA LUI DIPINTE IN
FIRENZE NEL PALAZZO DI LORO ALTEZZE SERENISSIME; con lo i lustríssimo
eccellentissimo signor don Francesco Medici al lora príncipe di Firenze; insieme con la
inventione dela pittura da lui cominciata nella cupola; com due tavole, una delle cose
più notabili; l ’altra dell i uomini i l lustri, che sono ritratt i e nominati in quest’ opera. In
Firenze: Apresso Fil ippo Giunti, MDLXXXVIII, // “Con licenza, e privilegio”
Na realidade refere-se aos:
21
O próprio autor escreveu no final da obra qual era o seu objetivo: [Empenhei-me com toda diligencia possível
para verificar as coisas duvidosas, com vários cotejos, e registrar na vida de cada um dos artistas aquilo que
tivesse feito...valendo-me dos registros e dos escritos de pessoas dignas de fé, além do parecer e dos conselhos
dos artistas mais antigos que tivessem notícias das obras, como se tivessem visto sua feitura]”. Vidas dos
artistas. Giorgio Vasari “, tradução baseada na edição de 1550; São Paulo: MARTINS FONTES, 2011, p.741. 22
Vasari storiografo e artista : atti del Congresso internazionale nel IV centenario della morte, Arezzo-Firenze, 2-
8 settembre 1974, p.XI. 23
Esta obra participou da exposição na biblioteca do MASP intitulada “TRATADOS DE ARTE NA BIBLIOTECA
DO MASP: A RENASCENÇA E SEU LEGADO”, entre 07 e 10/2011. 24
Imagens fornecidas pela Biblioteca e Centro de Documentação para uso exclusivo desta pesquisa do volume
do MASP – II 2 LR067.
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Discursos25
//do Senhor Cavalheiro// Giorgio Vasari//
Pintor e arquiteto//de Arezzo // sobre as invenções por ele pintadas em
Florença no Palácio de Vossa Alteza Sereníssima; com o
Ilustríssimo e excelentíssimo senhor D. Francesco de Médici26
agora príncipe de
Florença, juntamente com as invenções em pintura por ele começadas na cúpula; com
duas pranchas, uma das coisas mais notáveis; e outra dos homens ilustres que são
retratados e nomeados nesta obra. Em Florença. Impresso por Fil ippo Giunti,1588.
Com Licença e privilegio.
Este texto descreve cuidadosamente os ciclos de pinturas dos dois maiores
apartamentos do Palazzo Vecchio, decorados por Giorgio Vasari (c.1555-1558), o
Appartamento degli Elementi e o Appartamento di Leão X, que foram comissionados por
Cósimo I de Médici27. A publicação desta obra aconteceu 20 anos após da 2ª edição das
Vidas de Vasari (1568), e ainda depois da instituição da Academia do Desenho em Florença
em 1563, que teve entre seus objetivos, o de conferir certa autonomia artística e profissional
aos artistas e ao mesmo tempo reafirmar um maior status e importância junto a sociedade
italiana. Giorgio Vasari - o jovem (1562-1625) procurava através desta publicação
póstuma28, se colocar como um herdeiro do tio Giorgio Vasari, julgando-se com isso,
merecedor de certa importância, digno e capaz de se integrar aos debates teórico-artísticos
da sua época.
25
Trata-se neste caso de um gênero literário conhecido por diálogos, um pratica bastante comum desde o século
XV que colocava o artista (Giorgio Vasari) em estreita relação com o príncipe. Dividido em jornadas ou etapas de
trabalho, o texto revela as habilidades deste artista ao decorar diferentes Salas do Palazzo Vecchio, iniciadas em
1554, em Florença e ao mesmo tempo a Cúpula da Catedral de Santa Maria del Fiore, servindo de propaganda
para as importantes atividades artísticas realizadas por ele nesta cidade, no final do século XVI. 26
Francesco de Médici foi o Grão-Duque da Toscana, entre 1574 e 1587 e a academia por ele presidida
consagrou a aliança entre o novo poder e as antigas corporações. 27
Ver informações no MARE – Museu para Arte e Educação, no site:
http://www.mare.art.br/detalhe.asp?idobra=2023, acesso 04/11/2015. 28
Obra praticamente sem imagens, ilustrada apenas pelas capitulares maiúsculas e pelo retrato do pintor Giorgio
Vasari, que retoma a iconografia presente na edição das Vidas, tanto na edição de Lorenzo Torrentino de março
de 1550, quanto a de Filippo Giunti de 9 de janeiro de 1568; no entanto, devemos lembrar da pratica de
representar junto a sepultura dos homens ilustres, as efigies ou retratos; no caso da obra vasariana este tipo de
imagem funcionava como elemento introdutor dos artistas biografados.
4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro
MANUALE DI ARCHITETTURA/ di GIOVANNI BRANCA/
CORRETO ED ACRESCIUTO, In Modena, 1789, PRESSO la Societá
Tipografica, Con Aprovazione [5°. edição] .
Fig.1129.
Trata-se do “Manual de Arquitetura/ corregido com acréscimos à 1ª edição,
Modena 1629”, uma obra atribuída ao engenheiro arquiteto italiano nascido em Sant’
Angelo em Lizzola e falecido em Loreto, 1675. Ativo em 1616, nos trabalhos do santuário da
Santa Casa de Loreto, construiu ainda quatro bastiões com muralhas, em formato
pentagonal (1620). Branca (1571-1645) escreveu este Manuale di Architettura, Ascoli, 1629,
publicado em Roma em duas ocasiões 1718 e 1772, quando recebe o apêndice contendo
trinta e duas inserções que tratam da retificação dos rios, além de uma parte teórica sobre a
turbina à vapor30.
Logo no prefácio adverte–se o leitor sobre a reimpressão do texto, em função da sua
importância e apresentam-se algumas notas biográficas do autor: nascido em S. Angelo di
Pésaro, em 1571, foi por muitos anos arquiteto nesta Casa de Loreto tendo recebido a
Cidadania Romana. Publicou pela primeira vez este manual em 1629, mas acrescentaram-
lhe um apêndice sobre a reparação dos rios e a 2ª edição foi impressa em Roma, em 1718.
Esta, por sua vez, se repete na integra, em 1757, e finalmente na mesma cidade em 1772
(4ª. ed.); um trabalho realizado por Leonardo de Vegni que lhe acrescentou um longo
prefacio com as devidas correções e melhoramentos. Neste caso, o mérito da edição deve
ser atribuído ao editor e não propriamente ao autor. Esta edição encontrada no MASP III 1
29
Imagens fornecidas pela Biblioteca e Centro de Documentação para uso exclusivo desta pesquisa do volume
do MASP – III 1 LR 030. 30
ThB s.v.; Schlosser, ed. 1964, p.625; F. da Morrovalle, Loreto nell’ arte, Genova, 1965, p.51;EUA ind s.v.) in
PORTOGHESE, Paolo “Dizionario enciclopedico di architettura e urbanistica”, Roma: Instituto Editoriale Romano,
1968-1969, V.1, o.413.
4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro
LR 030 se propõe ser ainda mais útil e melhorada, tendo sido dirigida pelo senhor Giuseppe
Soli, o valoroso e renomado Diretor da Escola de Belas Artes, aberta na cidade de Modena
pelo Sereníssimo Duque Ercole III (Fig. 12). Ela incorpora elementos da arquitetura, comuns
aos antigos tratados, escritos em consonância com a obra de Vitrúvio.
Fig. 1231.
Desconhecemos a existência de exemplares iguais aos do MASP no Brasil, eles
foram apenas localizados em coleções especiais de bibliotecas do exterior. Da mesma
forma não foram encontrados estudos sobre a obra deste italiano que ficou conhecido por
ter sido um dos precursores na criação da turbina à vapor e sobre ele se voltaram outros
estudiosos 32.
Apesar do estado bastante frágil, o volume “brasileiro” mantém a encadernação
original em papel trapo, ainda que lhe faltem algumas ilustrações - das XXXVIII távolas
apresentadas faltam 3 pranchas. Por se tratar de um manual de arquitetura suas imagens
abordam assuntos variados como: o detalhamento as peças um telhado de madeira
(tesouras e vigas) [TAV.II]; o desenho de figuras geométricas [TAV. XXIII]; detalhes
construtivos de uma coluna Jônica [TAV XI]; detalhe do escoramento de Pontes [ TAV. N 6 e
N 7], etc. Certamente um estudo mais extenso sobre o artista e a obra, ou sobre os
revisores do texto poderia explicar o motivo das sucessivas tiragens e quem sabe o
verdadeiro alcance dos seus conteúdos, pouco conhecidos no país.
31
Imagens fornecidas pela Biblioteca e Centro de Documentação para uso exclusivo desta pesquisa do volume
do MASP – III 1 LR 030. 32
Le machine: volume nuovo et di molto artificio da fare effetti maraviglio si tanto spirituali quanto di animale operatione arichito di bellissime figure con le dichiarationi a ciascuna di esse in lingua volgare et latina. Del Sig. Giovanni Branca, Cittadino Romano. In Roma, 1629.
4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro
Considerações Finais:
“[Cada libro me ha mostrado un universo de posibilidades de estudio y ha dejado la sensación de falta
de un guía más aventajado en este territorio de conocimiento, que estuviese ahí siempre que se le
necesitara]33
”.
Para concluir esta rápida explanação sobre a Arquitetura vista a partir da coleção de
livros raros da Biblioteca do MASP, esperamos ter minimamente demonstrado a variedade e
riqueza dos títulos e um pouco do seu potencial, seja pela particularidade de cada uma das
obras ou pela perspectiva do desenvolvimento de novas pesquisas.
Recordemos que a formulação de tratados de arte não nasceu no século XV e XVI,
na Idade Média existia a produção de textos voltados aos artistas. Entretanto, aquilo que
diferencia os tratados do Renascimento de seus precedentes é a maior ênfase dada aos
aspectos teóricos, ou seja, o tratado deixa de se assemelhar a um receituário que dá conta
dos processos e dos procedimentos práticos para instaurar um espaço de reflexão sobre a
atividade artística criativa. E um momento em que o artista-arquiteto se conscientiza de suas
atribuições e ambiciona promover a reflexão e transmitir seus conhecimentos e ideias a
partir dos livros.
No caso da Arquitetura, seu estudo sistemático teve início com a retomada do De
Architectura libri decem de Vitrúvio que define primeiramente a Arquitetura como scientia e
em seguida, elenca todos os conhecimentos necessários e próprios à formação do arquiteto
(geometria, geografia, aritmética, musica, filosofia, história, retorica, noções de medicina e
astrologia). Com Alberti se percebe a atualização e desenvolvimento de novos conceitos
para que transmitam certas noções estéticas, técnicas e profissionais. E a partir de Vitrúvio
e de Alberti, seu primeiro intérprete, serão desenvolvidos os tratados da Arquitetura
posteriores.
Como bem colocou certa vez Pietro Maria Bardi, “...a arte não tem limites de tempo,
nem de espaço” e por isso nossa ideia é a de que, ao serem revisitados, estes títulos
possam suscitar novas discussões e interpretações, de modo a permitir novas
experimentações no campo teórico e artístico. Além disso há que se atentar para este
patrimônio que nos foi legado e que merece todo nosso respeito e cuidado34.
33
García Aguilar, Idalia “Secretos del estante: elementos para la descripción bibliográfica del libro antiguo”, Universidad Nacional Autónoma de México, 2011, p.2. 34
[Este registro de bienes culturales —cualquiera que sea su naturaleza— presupone a su vez un reconocimiento de que el objeto requiere tutela y protección por parte de instituciones especiales creadas para hacerse cargo de esa responsabilidad. Por norma general es el Estado quien crea, reconoce y deposita en las instituciones esta importante competencia patrimonial. Resulta evidente que para salvaguardar adecuadamente una herencia cultural se requiere antes de la elaboración de registros normalizados que permitan identificar a cada uno de los objetos del patrimonio cultural]. Idem, p.47.