modelo de formação dos artigos para o tic'2005

16
A ARQUITETURA VISTA ATRAVÉS DA COLEÇÃO DE LIVROS RAROS DA BIBLIOTECA E CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO DO MASP. ZANATTA DE SOUZA, MARIA LUIZA UNIFESP. Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (EFLCH) Programa de Pós-graduação em História da Arte Endereço: Campus Guarulhos Unidade Provisória Rua do Rosário, 382 (antigo 117) Bairro Macedo CEP 07111-080 Guarulhos - SP E-mail: [email protected] RESUMO Este artigo pretende apresentar um rápido olhar sobre a Coleção de Livros de Arquitetura pertencentes ao núcleo de obras raras da Biblioteca e Centro de Documentação do MASP Museu de Arte de São Paulo. Essa coleção de livros resulta da doação feita pelo casal Pietro Maria Bardi e Lina Bo Bardi, por ocasião do 30º aniversário do museu em 1977, para que pudessem suprir as necessidades dos pesquisadores de arte e arquitetura. A constituição deste acervo se confunde com a própria vida de Bardi, já que seu início está associado à sua formação humanista e ao seu amplo interesse pela filosofia, história, literatura, política e sobretudo pelas artes. Pietro Maria Bardi cursou até a 3ª. série primária, mas foi um autodidata e sua elevada cultura está associada justamente aos livros que colecionou ao longo da vida. Foram os livros que lhe deram todo o suporte para executar suas tarefas como jornalista, alimentando seus estudos e interesse pelas artes e pela estética, que lhe resultaram em variadas publicações. A partir do Belvedere Giornale d’ Arte, Bardi teve seu interesse voltado para Arquitetura, iniciando assim, o núcleo de livros sobre o tema, incluindo entre estes, obras raras como tratados de arquitetura pertencentes aos séculos XVI, XVII e XVIII. Na década de 30 publicou o seu famoso Rapporto sull’ Architettura e fundou a revista Quadrante, tendo colaborado com a revista L’ Architecture d’ Aujourd’hui e representado a Itália, no Congrés International d’ Architecture Moderne, em Atenas 1933. Quando chegou a São Paulo em 1947, trouxe consigo uma parte das raridades que havia comprado e exposto, em meio as obras de artes, no Studio d’ arte Palma, em Roma, em maio de 1945. E aqui continuou a comprar livros, para que pudessem auxiliá-lo nas pesquisas sobre as obras que viessem a ser adquiridas pelo museu. Ao longo dos anos organizou exposições didáticas, tendo como objetivo traçar um panorama da História da Arte e de reconstruir por meio de uma técnica expositiva eficiente, a própria noção da evolução da criatividade humana. Bardi imaginava que o museu deveria funcionar como um centro dinâmico onde a arte e a cultura pudessem atrair as pessoas para as exposições periódicas e para os cursos de capacitação promovidos pelo setor educativo (escolas) do museu. Atualmente, a biblioteca do Masp, com seus mais de 60.000 títulos, compreende um dos grandes centros de pesquisa e sua destacada coleção de obras raras (que vai além de 400 títulos) constitui uma das mais ricas em história da arte e arquitetura, sendo uma referência importante para os estudos de História da Arte no Brasil. Através deste breve estudo gostaríamos de dar o devido destaque a esta coleção, além de disponibilizar algumas informações para que possam subsidiar o desenvolvimento de novas investigações sobre alguns dos títulos que aqui encontramos durante nossa pesquisa e que em geral englobam a teoria, o estudo e a análise da iconografia da Arquitetura e da Perspectiva (de domínio dos arquitetos já no

Upload: vuongtram

Post on 07-Jan-2017

217 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Modelo de Formação dos Artigos para o TIC'2005

A ARQUITETURA VISTA ATRAVÉS DA COLEÇÃO DE LIVROS RAROS DA BIBLIOTECA E CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO DO

MASP.

ZANATTA DE SOUZA, MARIA LUIZA

UNIFESP. Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (EFLCH) Programa de Pós-graduação em História da Arte

Endereço: Campus Guarulhos – Unidade Provisória Rua do Rosário, 382 (antigo 117)

Bairro Macedo CEP 07111-080 – Guarulhos - SP

E-mail: [email protected]

RESUMO Este artigo pretende apresentar um rápido olhar sobre a Coleção de Livros de Arquitetura pertencentes ao núcleo de obras raras da Biblioteca e Centro de Documentação do MASP – Museu de Arte de São Paulo. Essa coleção de livros resulta da doação feita pelo casal Pietro Maria Bardi e Lina Bo Bardi, por ocasião do 30º aniversário do museu em 1977, para que pudessem suprir as necessidades dos pesquisadores de arte e arquitetura. A constituição deste acervo se confunde com a própria vida de Bardi, já que seu início está associado à sua formação humanista e ao seu amplo interesse pela filosofia, história, literatura, política e sobretudo pelas artes. Pietro Maria Bardi cursou até a 3ª. série primária, mas foi um autodidata e sua elevada cultura está associada justamente aos livros que colecionou ao longo da vida. Foram os livros que lhe deram todo o suporte para executar suas tarefas como jornalista, alimentando seus estudos e interesse pelas artes e pela estética, que lhe resultaram em variadas publicações. A partir do Belvedere – Giornale d’ Arte, Bardi teve seu interesse voltado para Arquitetura, iniciando assim, o núcleo de livros sobre o tema, incluindo entre estes, obras raras como tratados de arquitetura pertencentes aos séculos XVI, XVII e XVIII. Na década de 30 publicou o seu famoso Rapporto sull’ Architettura e fundou a revista Quadrante, tendo colaborado com a revista L’ Architecture d’ Aujourd’hui e representado a Itália, no Congrés International d’ Architecture Moderne, em Atenas 1933. Quando chegou a São Paulo em 1947, trouxe consigo uma parte das raridades que havia comprado e exposto, em meio as obras de artes, no Studio d’ arte Palma, em Roma, em maio de 1945. E aqui continuou a comprar livros, para que pudessem auxiliá-lo nas pesquisas sobre as obras que viessem a ser adquiridas pelo museu. Ao longo dos anos organizou exposições didáticas, tendo como objetivo traçar um panorama da História da Arte e de reconstruir por meio de uma técnica expositiva eficiente, a própria noção da evolução da criatividade humana. Bardi imaginava que o museu deveria funcionar como um centro dinâmico onde a arte e a cultura pudessem atrair as pessoas para as exposições periódicas e para os cursos de capacitação promovidos pelo setor educativo (escolas) do museu. Atualmente, a biblioteca do Masp, com seus mais de 60.000 títulos, compreende um dos grandes centros de pesquisa e sua destacada coleção de obras raras (que vai além de 400 títulos) constitui uma das mais ricas em história da arte e arquitetura, sendo uma referência importante para os estudos de História da Arte no Brasil. Através deste breve estudo gostaríamos de dar o devido destaque a esta coleção, além de disponibilizar algumas informações para que possam subsidiar o desenvolvimento de novas investigações sobre alguns dos títulos que aqui encontramos durante nossa pesquisa e que em geral englobam a teoria, o estudo e a análise da iconografia da Arquitetura e da Perspectiva (de domínio dos arquitetos já no

Page 2: Modelo de Formação dos Artigos para o TIC'2005

4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro

período do renascimento) para ampliar assim, o panorama dos textos teóricos conhecidos até o presente.

Palavras-chave: Arquitetura; História; Livros raros; Biblioteca e Centro de Documentação do MASP.

“Efectivamente, preservar para transmitir cualquier elemento del patrimonio cultural requiere como condición

primordial el registro de sus características más esenciales. Sin embargo, el registro de un objeto cultural

requiere también el conocimiento de la naturaleza de ese objeto. Esto es exactamente igual para cualquier objeto

material al que se le reconozca un valor cultural específico, sea una escultura, un cuadro, un documento o un

libro” 1.

As Obras Raras da Biblioteca e Centro de Documentação do MASP –

Museu de Arte de São Paulo.

(Fig. 1)2

Este artigo pretende apresentar um rápido olhar sobre a Coleção de Livros de

Arquitetura pertencentes ao núcleo de obras raras da Biblioteca e Centro de Documentação

do MASP – Museu de Arte de São Paulo. Essa coleção de livros resulta da doação feita pelo

casal Pietro Maria Bardi e Lina Bo Bardi, por ocasião do 30º aniversário do museu em 1977,

para que pudessem suprir as necessidades dos pesquisadores de arte e arquitetura. A

constituição deste acervo se confunde com a própria vida de Bardi, já que seu início está

associado à sua formação humanista e ao seu amplo interesse pela filosofia, história,

literatura, política e sobretudo pelas artes.

Pietro Maria Bardi (1900-1999) cursou até a 3ª. série primária, mas foi um autodidata

e sua elevada cultura está associada justamente aos livros que colecionou ao longo da vida.

Foram os livros (Fig. 1) que lhe deram todo o suporte para executar suas tarefas como

jornalista, alimentando seus estudos e interesse pelas artes e pela estética, que lhe

resultaram em variadas publicações. A partir do Belvedere – Giornale d’ Arte, Bardi teve seu

1García Aguilar, Idalia “Secretos del estante: elementos para la descripción bibliográfica del libro antiguo”,

Universidad Nacional Autónoma de México, 2011, p. 5; conforme

http://132.248.242.3/~publica/archivos/libros/secretos_del_estante.pdf acesso em 4/11/2015. 2 Fig.1 – Foto de livros antigos.

Page 3: Modelo de Formação dos Artigos para o TIC'2005

4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro

interesse voltado para Arquitetura, iniciando assim, o núcleo de livros sobre o tema,

incluindo entre estes, obras raras como Tratados de Arquitetura pertencentes aos séculos

XVI, XVII e XVIII. Na década de 30 publicou o seu famoso Rapporto sull’ Architettura e

fundou a revista Quadrante3, tendo colaborado com a revista L’ Architecture d’ Aujourd’hui e

representado a Itália, no Congrés International d’ Architecture Moderne, em Atenas 1933.

Quando chegou a São Paulo, em 1947, trouxe consigo uma parte das raridades que

havia comprado e exposto, em meio às obras de artes, no Studio d’ arte Palma em Roma,

em maio de 1945. Pietro Maria Bardi4 manteve o hábito de encomendar ao seu livreiro

florentino livros que julgava interessantes, por se tratarem de exemplares raríssimos ou por

apresentarem ligação direta com o acervo do Museu de Arte de São Paulo Assis

Chateaubriand, para que pudessem auxiliá-lo em seus estudos, pesquisas, publicações de

artigos e ao longo dos anos ele foi transferindo alguns exemplares da sua casa ao museu.

Ele organizou exposições didáticas, tendo como objetivo traçar um panorama da História

da Arte e reconstruir por meio de uma técnica expositiva eficiente, a própria noção da

evolução da criatividade humana. Bardi imaginava que o museu deveria funcionar como um

centro dinâmico onde a arte e a cultura pudessem atrair as pessoas para as exposições

periódicas e para os cursos de capacitação promovidos pelo setor educativo (escolas) do

museu. Ele era não apenas um grande colecionador, mas também um bibliófilo que

costumava fazer anotações às margens dos títulos. E apesar de seu comprovado interesse

pela Arquitetura Moderna - elemento central de seu ideário e da sua atividade jornalística e

cultural, especialmente durante os anos em que esteve na Itália - o grande número de

tratados artísticos, encontrados atualmente no acervo da biblioteca do museu, nos fazem

refletir sobre uma genuína atração pelas doutrinas arquitetônicas.

A biblioteca do MASP possui atualmente cerca de 68400 exemplares entre livros,

catálogos, revistas, boletins e raridades. Sua coleção de obras raras faz parte do núcleo

inicial doado pelo casal, Pietro Maria e Lina Bo Bardi, em 1977, por ocasião do 30º

aniversário do museu, sendo uma das mais ricas na área de História da Arte e da

Arquitetura existentes no Brasil, onde se inclui mais de quatrocentos e cinquenta títulos5.

3 Quadrante, revista de arquitetura e cultura editada em Milão entre maio de 1933 e outubro de 1936, fundada e

dirigida por P.M. Bardi e Massimo Bontempeli. Ela firmou-se como principal veículo de divulgação da arquitetura

racionalista italiana, na qual projetos de Giuseppe Terragni, BBPR, entre outros, foram reproduzidos ao lado dos

grandes arquitetos europeus como Le Corbusier, Walter Gropius e Mies van der Rohe. 4 “[ ... a arte é uma só, não tem limites de tempo, não tem limites de espaço]”, BARDI, Pietro M. Pequena História

da Arte: introdução aos estudos das artes plásticas. São Paulo, Ed. Melhoramentos, 1993, p. 84 5 BARDI, Pietro Maria. História do MASP. São Paulo: Instituto Quadrante, 1992, p.22-23.

Page 4: Modelo de Formação dos Artigos para o TIC'2005

4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro

Estas obras denominadas raras e pouco conhecidas do público6 (devido ao restrito acesso

em função do seu altíssimo valor e sua raridade) exigiram por parte da biblioteca do MASP

um tratamento especial em função da necessidade de catalogação dos volumes, e também

sua conservação. Neste sentido, em 2005 foi desenvolvido um projeto em parceria com a

Fundação Vitae7 que permitiu o restauro de algumas obras, a organização e um melhor

acondicionamento do acervo, resultando na elaboração de um cadastramento dos títulos em

um banco de dados local8, com acesso online, facilitando a pesquisa e a localização através

da internet dos títulos pertencentes ao acervo (Fig. 2).

Fig.29

6 Em muitos desses livros podem ser encontrados sinais deixados pelos proprietários que indicam a quem

pertencia ou a quem interessava o tema, como marcas de leitura, assinaturas, dedicatórias e carimbos. 7O projeto ‘Organização e conservação de 400 obras raras da Coleção de Obras Raras da Biblioteca do Museu

de Arte de São Paulo’, aprovado pela Fundação Vitae em abril de 2005, implementado entre maio de 2005 e abril

de 2006, teve como objetivo a organização do acervo de obras raras através do processamento técnico, do

cadastramento no banco de dados local e o catálogo on-line disponível na Internet e a preservação através da

higienização, acondicionamento, encadernação, restauro e/ou reparos dessa coleção. 8Este projeto dividiu o acervo em obras raras e especiais, sendo que as obras raras foram classificadas seguindo

basicamente três grandes critérios:

I) A data mais antiga da publicação, publicação em outros países até 1850 e publicação no Brasil até 1900;

II) Características físicas do documento, isto é, publicações de luxo ou de tiragens limitadas e ilustrações originais

independente da datação.

III) Número de exemplares, obras com poucos exemplares existentes ou conhecidos.

As obras consideradas especiais compreendem publicações com número reduzido de exemplares ou pouco

divulgadas no Brasil, obras em grande formato ou muito pequenas, aquelas com material adicional ou

suplementar, contendo ilustrações de grande qualidade (artística ou de impressão) ou com encadernação

especial, tiragens históricas que datam do período inicial de cada movimento artístico. Além disso, também foram

consideradas especiais àquelas que estão ou estiveram relacionadas à história do Museu ou à história de seus

fundadores, trabalhos com dedicatórias importantes, um marco para a instituição. 9 Fig. 2 – Foto do site do MASP: catalogo da biblioteca acessível em www.masp.art.br.

Page 5: Modelo de Formação dos Artigos para o TIC'2005

4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro

Através de nossas pesquisas de mestrado em 2006 e doutorado em 2011 tivemos

acesso a esta biblioteca, verificando a existência de livros raros e importantíssimos, no que

se refere a produção, apreciação e a avaliação das obras de Arte e Arquitetura. A partir de

2014, com desenvolvimento de nossa pesquisa de Pós-doutorado, passamos a analisar com

maior cuidado, um pequeno conjunto de obras, previamente selecionadas, buscando

confirmar sua autenticidade, relevância para o estudo da arquitetura e da teoria artística e

“unicidade” devido a presença de anotações marginais, feitas por antigos proprietários

(tornando esses livros ainda mais raros).

Graças a este trabalho inicial realizado pela biblioteca do MASP, bem como a exposição

de algumas das obras importantes, ao longo dos últimos anos10, foi possível identificar a

existência de um número expressivo de exemplares bastante raros, cujo estudo e análise

pormenorizada permitirá a elaboração de um catálogo especializado sobre o assunto.

Através de um portal pretendemos disponibilizar aos pesquisadores de Arte e, sobretudo da

Arquitetura, informações que sirvam de subsidio ao desenvolvimento de novas

investigações sobre o conteúdo destes títulos, de modo a ampliar o panorama dos textos

teóricos conhecidos, que em sua maioria referenciam as preceptivas arquitetônicas e a

tratadística da arte11.

Nesta moldura, a presente comunicação tem por objetivo apresentar uma pequena

mostra dos Livros de Arquitetura que fazem parte da coleção de tratados artísticos -

publicados entre séculos XVI e XVIII - pertencentes ao núcleo de obras raras e especiais da

Biblioteca e Centro de Documentação do Museu de Arte de São Paulo, com o intuito de dar

o devido destaque a este conjunto, na esperança de que num futuro próximo estes títulos

possam ser digitalizados e se tornem matéria prima para o desenvolvimento de novas

reflexões e de estudos ainda mais aprofundados.

10

“Arte Italiana do MASP na Casa Fiat” – 08/fevereiro a 09/ abril de 2006 in

http://www.casafiatdecultura.com.br/admin/catalogos/arte_italiana.pdf , acesso 04/06/2014. 11

Os tratados de arte começaram a moldar as ideias sobre a arte, o artista e a obra de arte existentes desde

meados do século XV e XVI.

Page 6: Modelo de Formação dos Artigos para o TIC'2005

4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro

“De Architectura”, Vitrúvio, século I a.C. entre os livros do MASP.

(Fig. 3 e 4)12

A exposição intitulada “Roma e os Raros” realizada em 2012 - tendo a curadoria de

Denis Molino e Ivani Di Grazia Costa13 e o propósito de divulgar alguns dos livros da

Biblioteca e Centro de Documentação do MASP, textos pouco acessíveis ao grande público

- resgatou a presença do célebre “L’ Architettura di Marco Vitruvio Pollione”, uma 2ª. edição

napolitana ricamente ilustrada, de 1790 [1758], de Berardo Gagliani, o único tratado de

arquitetura que nos chega da chamada Antiguidade Clássica, escrito no longínquo I séc.

a.C..

Naquela ocasião, a apresentação da obra vinculava-se ao conhecido estudo feito por

Leonardo da Vinci (c.1487), da imagem do “Homem Vitruviano”, baseando-se na passagem

do Livro III, Capitulo I, em que o escritor estabelece um paralelo entre as proporções do

corpo humano e a arquitetura: “...Pois nenhum templo poderá ter esse sistema sem

conveniente equilíbrio e proporção e se não tiver uma rigorosa disposição como os

membros de um homem bem configurado” in MACIEL [2000: p.109].

Mas a verdadeira importância adquirida pelo tratado de Vitrúvio, a partir do

Renascimento, através de seus inúmeros tradutores e exegetas, que nele vislumbraram a

possibilidade de uma aprendizagem teórica da arquitetura, só pode ser confirmada, a partir

de uma rápida busca no banco de dados local desta biblioteca (Fig.2), onde se verificam

mais de dez autores a se ocupar dos ensinamentos presentes nos De Architectura libri

decem (Dez Livros sobre a Arquitetura).

12

Imagens fornecidas pela Biblioteca e Centro de Documentação para uso exclusivo desta pesquisa do volume

do MASP – LR LG. 13

Diretora da Biblioteca e Centro de Documentação do MASP a quem muito agradecemos pela autorização e

liberação das obras raras.

Page 7: Modelo de Formação dos Artigos para o TIC'2005

4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro

(Fig. 5 e 6)14

A começar pelo “Decem libros M.Vitruvii Pollionis De Architectura Annotationes: cum

indici bus graeco & latino locupletissimis” de Guillaume Philandrier (1505-1563), uma edição

latina, impressa em Roma em 1544, que não traz imagens, mas recebe novas edições pelo

mesmo autor (1552 e 1558), tornando-se uma referência para traduções sucessivas ao

italiano como a de Galiani [1758], ou ao francês como a de Claude Perrault [1673].

(Fig.7 e 8)15

14

Imagens fornecidas pela Biblioteca e Centro de Documentação para uso exclusivo desta pesquisa do volume

do MASP – III 2 LR150.

Page 8: Modelo de Formação dos Artigos para o TIC'2005

4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro

A versão ao italiano do conhecido “Les dix livres d’ architecture de Vitruve, corrigés et

traduits nouvellement en français”, preparada por Claude Perrault (1613-1688), por

encomenda feita pela Academia Real de Arquitetura Francesa, em 1671, publicada em Paris

[1673], buscava estabelecer uma doutrina global da arquitetura que permitisse explicar a

eclosão da arquitetura francesa sob Luís XIV (r.1643-1715), mantendo nas suas linhas mais

gerais, a ideia de tradição16. Em função da obra de Vitrúvio corresponder ao único exemplar

remanescente da Antiguidade que havia chegado aos nossos dias mas, que por suas

inumeráveis cópias, mantinha inúmeros pontos obscuros e enigmáticos, fez com que a

Academia solicitasse a Perrault que fizesse uma tradução, acrescentando sempre que

necessário, comentários pormenorizados.

Apesar do resultado ter ficado muito aquém das expectativas de seus

patrocinadores, causando maiores discussões, a obra foi reeditada em 1684 e traduzida ao

italiano em 1747, pelo jornalista e impressor veneziano “Giambattista” [Giovanni Battista]

Albrizzi (1698-1777) que publicou vários livros ilustrados e mapas, tendo o patrocínio de

Jacopo Campelli17. Este volume em especial é motivo de grande interesse, seja pelas

diferenças apresentadas em relação ao exemplar francês de 1673, seja pelas cuidadosas

anotações acrescentadas as margens do exemplar do MASP III 4 LR 345.

Quando questionamos a quem eram dirigidos os tratados de arquitetura, percebemos

que estavam destinados a um público bastante variado, não sendo apenas direcionados aos

arquitetos, mas aspiravam instaurar uma eficiente comunicação entre o artista-arquiteto, o

cliente e o público. O tratado, como expressão literária da teoria arquitetônica moderna, se

apresenta em meio às cortes do Renascimento. Ele é a ponte e o lugar de encontro entre os

interesses do soberano, da nobreza, da burguesia, dos artistas e dos humanistas. Desta

maneira, os tratados surgidos durante o primeiro Renascimento na corte dos príncipes

italianos não foram obra do acaso, mas aspiravam à emancipação do artista como

intelectual que tem seu espaço demarcado, no interior das cortes, ao lado de poetas, sábios

e não mais se apresentavam como meros artesãos ou artífices.

Em Florença, Siena, Nápoles, Urbino, Ferrara a reflexão e discussão sobre as artes

e a arquitetura pode ser comprovada pelo surgimento dos primeiros escritos de Leon

Battista Alberti (1404-1472), Filarete (1400-1469), Francesco di Giorgio Martini (1439-1502)

15

Estas imagens foram gentilmente fornecidas pela Biblioteca e Centro de Documentação do Museu de Arte de

São Paulo, para uso exclusivo de nossa pesquisa realizada, janeiro de 2015 do exemplar MASP III 4 LR 345. 16

“Teoria da arquitetura – do renascimento aos nossos dias, 117 tratados apresentados em 89 estudos”; Itália:

Taschen, 2003; p.248.

Page 9: Modelo de Formação dos Artigos para o TIC'2005

4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro

entre outros. Há que se lembrar que os tratados de arquitetura são livros por meio dos quais

o arquiteto se tornava uma pessoa pública. Verifica-se uma relação de dependência

reciproca entre príncipe e o arquiteto; onde o primeiro dispõe dos meios necessários para

construir enquanto o segundo detém a capacidade técnica de transformar o edifício e a

cidade no símbolo representativo da sua grandeza. Sendo assim, o autor de um tratado

procurará dedicar sua obra a um soberano ou personagem importante que irá lhe oferecer

sua proteção ou seu patrocínio. E desta maneira, conclui-se que mais do que qualquer outra

disciplina artística a Arquitetura estava profundamente implicada no processo político da

sociedade e ligada ao exercício do poder.

“L’Architectura” de Leon Battista Alberti (1404-1472);

Edição em Veneza, de Francesco Francheschi, 1565.

Quando Leon Battista Alberti (1404-1472) escreveu o De re aedificatória (c.1442-

1452) ou “L’’Architettura”, como verificamos na edição italiana encontrada no MASP, um

tratado sobre a arte de construir, já havia terminado De Pictura em 1435 e o De Statua

em1438. Alberti debruçara-se sobre as três artes – pintura, escultura e arquitetura - quando

estas ainda não eram associadas as artes liberales e ao fazer isso ele propõe que sejam

igualadas às demais artes liberais; isto é, Geometria, Poética, Retórica e a Música. Com

esta(s) obra(s) Alberti deixa claro que os arquitetos podiam e deviam escrever e que sua

arte requeria formulação e inteligibilidade.

17

Jacopo Campelli foi um nobre da cidade de Belluno no norte da Itália, homem de grande erudição que revela

grande interesse e conhecimento das artes, com o patrocínio desta obra considerada uma referência no estudo

da história da arquitetura.

Page 10: Modelo de Formação dos Artigos para o TIC'2005

4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro

Fig.918

Leon Battista ALBERTI , 1404-1472, L'Architettura di Leonbatista Alberti; tradotta in lingua fiorentina

da Cosimo Bartoli...; con la aggiunta de' disegni. In Venetia: Apresso Francesco Franceschi, Sanese,

1565.

Na verdade, trata-se de um projeto intelectual bastante ambicioso, resultante das

reflexões teóricas sobre a arquitetura promovidas nas cortes italianas que vão além do

Quatrocentos. Ele escreveu em latim, renunciando ao uso de imagens e inicialmente o De re

Aedificatoria era lido nas cortes entre os humanistas até que fosse impresso em 1485, e

traduzido em 1565, por Cosimo Bàrtoli (1505-1572) que lhe acrescentou as imagens19. Em

seu tratado, De re aedificatória, apresentado na forma manuscrita ao papa Nicolau V em

145220, Alberti expõe suas reflexões sobre o papel do arquiteto e a função da Arquitetura.

Nesta ocasião o Papa havia começado a reconstrução da nova Basílica de São Pedro e

teve que interromper a reforma a conselho de Alberti, porque ameaçava ruina.

Ele organizou sua obra em dez livros escritos em latim, assim como fizera Vitrúvio,

mas do ponto de vista da sua essência são muito diferentes. No primeiro livro ele trata da

18

Imagem fornecida pela Biblioteca e Centro de Documentação para uso exclusivo desta pesquisa do volume do

MASP –LR 005. 19

Do ponto de vista historiográfico, é importante notar que os tratados de Alberti sobre as artes são traduzidos

para o vernáculo e publicados com grande sucesso nos mesmos anos das duas edições das Vidas, dado que faz

do humanista uma espécie de contemporâneo do escritor de Arezzo. A primeira tradução do De Pictura, por

Ludovico Domenichi, citado por Vasari, data de 1547, e Alberti criou um novo estatuto para arquitetura que foi

interpretado por ele de maneira exemplar: “...architetto io dichiarerò colui che con regola sicura e metodo

esemplare sappia sia disegnare con la mente e con l‟animo, sai realizzare concretamente fabbriche di ogni sorte

che grazie alla movimentazione di gravi e l‟unione e l‟assemblaggio di corpi, risultino elegantissimamente adatte

alle funzioni più nobili dell‟uomo” De re edificatoria, II, XIII, 9 ( citado por. Orlandi-Portoghesi, 1966). 20

Preceptivas Arquitetônicas, São Paulo: Annablume, 2015, p.40

Page 11: Modelo de Formação dos Artigos para o TIC'2005

4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro

Lineamenta, isto é, as partes constitutivas de um edifício qualquer (aborda: o meio

ambiente, o terreno, o plano, as paredes, o telhado e as aberturas). No segundo livro analisa

os materiais. No terceiro livro trata dos aspectos relativos a solidez (firmitas). No quarto e

quinto livros aborda as Obras Gerais e as Obras Particulares, concentrando-se sobre a ideia

dos diferentes tipos de edifícios. E dos Livros Sexto ao Nono Alberti trabalha sobre os

diferentes elementos que conferem a beleza (venustas) ao edifício. No decimo Livro ele

escreve sobre o Restauro das Obras, refletindo sobre as técnicas de conservação dos

edifícios existentes.

A tradução do tratado de arquitetura de Alberti, De re aedificatoria, assinada por

Cosimo Bàrtoli (1503-1572) foi publicada em 1550, no mesmo ano e pelo mesmo editor de

“Le Vite de' più eccellenti pittori scultori e architettori” (Florença 1550 e 1568) trazendo o

acréscimo das ilustrações que a versão original não possuía. Membro ativo da Academia

Florentina da qual foi cônsul e censor, Bártoli foi importante colaborador de Giorgio Vasari

(1511-1574), tanto na revisão das duas edições das Vite, quanto na elaboração dos

programas iconográficos para a decoração do Palazzo Vecchio. O sucesso do texto (De re

aedificatória) cujo desenho do frontispício foi atribuído a Giorgio Vasari, se deve ao fato de

ter se tornado mais acessível (pela tradução e ilustrações) resultando na tiragem de duas

novas edições em 1565. Em 1568, contemporaneamente à publicação da segunda edição

das Vite, Cosimo Bártoli editou em Veneza “De pittura” e “De Statua”, reunindo-os em um

mesmo volume, junto de outros textos do Alberti.

A edição existente no MASP LR 005 apresentada ao público brasileiro, durante a

exposição sobre a “Arte Italiana” promovida pela Casa FIAT de Cultura em Minas Gerais –

2006, junto a variados exemplares artísticos: pinturas, esculturas, gravuras, maiólicas,

destaca, como se comprova em seu catálogo, dentre um pequeno grupo dos raros da

biblioteca, o exemplar albertiano. Neste exemplar onde encontramos o ex libris de Anton

Tommaso Volpi [arquiteto ?] verificam-se as anotações marginais em italiano, por quase

todo o texto que aparece ora grifado, ora com uma indicação de chamada de atenção ou

“destaque” (com a presença de pequena mão), em pontos variados.

Ainda nesta mesma exposição de Arte Italiana, pudemos encontrar a preciosa edição

1ª dos “Ragionamenti”, isto é, os “Discursos”, da “Giuntina” publicada (postumamente) em

1588, escrito pelo pintor e arquiteto Giorgio Vasari (1511-1574), que faz parte no catalogo

do MASP II 2 LR067. Ainda muito jovem Vasari entrou para o círculo dos Médici, como

companheiro de brincadeiras e de estudos dos futuros cardeal Ippolito (1511-1535) e duque

Alessandro (1512-1537), assistindo à crise e a dispersão daquela sociedade promovida pelo

Saque de Roma em 1527, pode acompanhar as tentativas de reconstitui-la no final do

Page 12: Modelo de Formação dos Artigos para o TIC'2005

4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro

pontificado de Clemente VII e a restauração paralela implementada pelos Médici em

Florença. Trata-se de um momento em que a civilização florentina conquistara Roma e por

certo tempo assumia ambições universais, que podem ser percebidas na obra das Vite de

Vasari21 ou nas palavras de seu último editor: “[..por sua pena, e não por seu pincel,

continua entre os maiores temperamentos do nosso Cinquecento]22”. O exemplar do MASP23

II 2 LR067 retrata em sua folha de rosto as seguintes informações:

Fig.1024

Ragionamenti//DEL SIG. CAVALIERE// GIORGIO VASARI//

PITTORE ET ARCHITETTO// ARETINO // SOPRA LE INVENTIONI DA LUI DIPINTE IN

FIRENZE NEL PALAZZO DI LORO ALTEZZE SERENISSIME; con lo i lustríssimo

eccellentissimo signor don Francesco Medici al lora príncipe di Firenze; insieme con la

inventione dela pittura da lui cominciata nella cupola; com due tavole, una delle cose

più notabili; l ’altra dell i uomini i l lustri, che sono ritratt i e nominati in quest’ opera. In

Firenze: Apresso Fil ippo Giunti, MDLXXXVIII, // “Con licenza, e privilegio”

Na realidade refere-se aos:

21

O próprio autor escreveu no final da obra qual era o seu objetivo: [Empenhei-me com toda diligencia possível

para verificar as coisas duvidosas, com vários cotejos, e registrar na vida de cada um dos artistas aquilo que

tivesse feito...valendo-me dos registros e dos escritos de pessoas dignas de fé, além do parecer e dos conselhos

dos artistas mais antigos que tivessem notícias das obras, como se tivessem visto sua feitura]”. Vidas dos

artistas. Giorgio Vasari “, tradução baseada na edição de 1550; São Paulo: MARTINS FONTES, 2011, p.741. 22

Vasari storiografo e artista : atti del Congresso internazionale nel IV centenario della morte, Arezzo-Firenze, 2-

8 settembre 1974, p.XI. 23

Esta obra participou da exposição na biblioteca do MASP intitulada “TRATADOS DE ARTE NA BIBLIOTECA

DO MASP: A RENASCENÇA E SEU LEGADO”, entre 07 e 10/2011. 24

Imagens fornecidas pela Biblioteca e Centro de Documentação para uso exclusivo desta pesquisa do volume

do MASP – II 2 LR067.

Page 13: Modelo de Formação dos Artigos para o TIC'2005

4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro

Discursos25

//do Senhor Cavalheiro// Giorgio Vasari//

Pintor e arquiteto//de Arezzo // sobre as invenções por ele pintadas em

Florença no Palácio de Vossa Alteza Sereníssima; com o

Ilustríssimo e excelentíssimo senhor D. Francesco de Médici26

agora príncipe de

Florença, juntamente com as invenções em pintura por ele começadas na cúpula; com

duas pranchas, uma das coisas mais notáveis; e outra dos homens ilustres que são

retratados e nomeados nesta obra. Em Florença. Impresso por Fil ippo Giunti,1588.

Com Licença e privilegio.

Este texto descreve cuidadosamente os ciclos de pinturas dos dois maiores

apartamentos do Palazzo Vecchio, decorados por Giorgio Vasari (c.1555-1558), o

Appartamento degli Elementi e o Appartamento di Leão X, que foram comissionados por

Cósimo I de Médici27. A publicação desta obra aconteceu 20 anos após da 2ª edição das

Vidas de Vasari (1568), e ainda depois da instituição da Academia do Desenho em Florença

em 1563, que teve entre seus objetivos, o de conferir certa autonomia artística e profissional

aos artistas e ao mesmo tempo reafirmar um maior status e importância junto a sociedade

italiana. Giorgio Vasari - o jovem (1562-1625) procurava através desta publicação

póstuma28, se colocar como um herdeiro do tio Giorgio Vasari, julgando-se com isso,

merecedor de certa importância, digno e capaz de se integrar aos debates teórico-artísticos

da sua época.

25

Trata-se neste caso de um gênero literário conhecido por diálogos, um pratica bastante comum desde o século

XV que colocava o artista (Giorgio Vasari) em estreita relação com o príncipe. Dividido em jornadas ou etapas de

trabalho, o texto revela as habilidades deste artista ao decorar diferentes Salas do Palazzo Vecchio, iniciadas em

1554, em Florença e ao mesmo tempo a Cúpula da Catedral de Santa Maria del Fiore, servindo de propaganda

para as importantes atividades artísticas realizadas por ele nesta cidade, no final do século XVI. 26

Francesco de Médici foi o Grão-Duque da Toscana, entre 1574 e 1587 e a academia por ele presidida

consagrou a aliança entre o novo poder e as antigas corporações. 27

Ver informações no MARE – Museu para Arte e Educação, no site:

http://www.mare.art.br/detalhe.asp?idobra=2023, acesso 04/11/2015. 28

Obra praticamente sem imagens, ilustrada apenas pelas capitulares maiúsculas e pelo retrato do pintor Giorgio

Vasari, que retoma a iconografia presente na edição das Vidas, tanto na edição de Lorenzo Torrentino de março

de 1550, quanto a de Filippo Giunti de 9 de janeiro de 1568; no entanto, devemos lembrar da pratica de

representar junto a sepultura dos homens ilustres, as efigies ou retratos; no caso da obra vasariana este tipo de

imagem funcionava como elemento introdutor dos artistas biografados.

Page 14: Modelo de Formação dos Artigos para o TIC'2005

4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro

MANUALE DI ARCHITETTURA/ di GIOVANNI BRANCA/

CORRETO ED ACRESCIUTO, In Modena, 1789, PRESSO la Societá

Tipografica, Con Aprovazione [5°. edição] .

Fig.1129.

Trata-se do “Manual de Arquitetura/ corregido com acréscimos à 1ª edição,

Modena 1629”, uma obra atribuída ao engenheiro arquiteto italiano nascido em Sant’

Angelo em Lizzola e falecido em Loreto, 1675. Ativo em 1616, nos trabalhos do santuário da

Santa Casa de Loreto, construiu ainda quatro bastiões com muralhas, em formato

pentagonal (1620). Branca (1571-1645) escreveu este Manuale di Architettura, Ascoli, 1629,

publicado em Roma em duas ocasiões 1718 e 1772, quando recebe o apêndice contendo

trinta e duas inserções que tratam da retificação dos rios, além de uma parte teórica sobre a

turbina à vapor30.

Logo no prefácio adverte–se o leitor sobre a reimpressão do texto, em função da sua

importância e apresentam-se algumas notas biográficas do autor: nascido em S. Angelo di

Pésaro, em 1571, foi por muitos anos arquiteto nesta Casa de Loreto tendo recebido a

Cidadania Romana. Publicou pela primeira vez este manual em 1629, mas acrescentaram-

lhe um apêndice sobre a reparação dos rios e a 2ª edição foi impressa em Roma, em 1718.

Esta, por sua vez, se repete na integra, em 1757, e finalmente na mesma cidade em 1772

(4ª. ed.); um trabalho realizado por Leonardo de Vegni que lhe acrescentou um longo

prefacio com as devidas correções e melhoramentos. Neste caso, o mérito da edição deve

ser atribuído ao editor e não propriamente ao autor. Esta edição encontrada no MASP III 1

29

Imagens fornecidas pela Biblioteca e Centro de Documentação para uso exclusivo desta pesquisa do volume

do MASP – III 1 LR 030. 30

ThB s.v.; Schlosser, ed. 1964, p.625; F. da Morrovalle, Loreto nell’ arte, Genova, 1965, p.51;EUA ind s.v.) in

PORTOGHESE, Paolo “Dizionario enciclopedico di architettura e urbanistica”, Roma: Instituto Editoriale Romano,

1968-1969, V.1, o.413.

Page 15: Modelo de Formação dos Artigos para o TIC'2005

4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro

LR 030 se propõe ser ainda mais útil e melhorada, tendo sido dirigida pelo senhor Giuseppe

Soli, o valoroso e renomado Diretor da Escola de Belas Artes, aberta na cidade de Modena

pelo Sereníssimo Duque Ercole III (Fig. 12). Ela incorpora elementos da arquitetura, comuns

aos antigos tratados, escritos em consonância com a obra de Vitrúvio.

Fig. 1231.

Desconhecemos a existência de exemplares iguais aos do MASP no Brasil, eles

foram apenas localizados em coleções especiais de bibliotecas do exterior. Da mesma

forma não foram encontrados estudos sobre a obra deste italiano que ficou conhecido por

ter sido um dos precursores na criação da turbina à vapor e sobre ele se voltaram outros

estudiosos 32.

Apesar do estado bastante frágil, o volume “brasileiro” mantém a encadernação

original em papel trapo, ainda que lhe faltem algumas ilustrações - das XXXVIII távolas

apresentadas faltam 3 pranchas. Por se tratar de um manual de arquitetura suas imagens

abordam assuntos variados como: o detalhamento as peças um telhado de madeira

(tesouras e vigas) [TAV.II]; o desenho de figuras geométricas [TAV. XXIII]; detalhes

construtivos de uma coluna Jônica [TAV XI]; detalhe do escoramento de Pontes [ TAV. N 6 e

N 7], etc. Certamente um estudo mais extenso sobre o artista e a obra, ou sobre os

revisores do texto poderia explicar o motivo das sucessivas tiragens e quem sabe o

verdadeiro alcance dos seus conteúdos, pouco conhecidos no país.

31

Imagens fornecidas pela Biblioteca e Centro de Documentação para uso exclusivo desta pesquisa do volume

do MASP – III 1 LR 030. 32

Le machine: volume nuovo et di molto artificio da fare effetti maraviglio si tanto spirituali quanto di animale operatione arichito di bellissime figure con le dichiarationi a ciascuna di esse in lingua volgare et latina. Del Sig. Giovanni Branca, Cittadino Romano. In Roma, 1629.

Page 16: Modelo de Formação dos Artigos para o TIC'2005

4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro

Considerações Finais:

“[Cada libro me ha mostrado un universo de posibilidades de estudio y ha dejado la sensación de falta

de un guía más aventajado en este territorio de conocimiento, que estuviese ahí siempre que se le

necesitara]33

”.

Para concluir esta rápida explanação sobre a Arquitetura vista a partir da coleção de

livros raros da Biblioteca do MASP, esperamos ter minimamente demonstrado a variedade e

riqueza dos títulos e um pouco do seu potencial, seja pela particularidade de cada uma das

obras ou pela perspectiva do desenvolvimento de novas pesquisas.

Recordemos que a formulação de tratados de arte não nasceu no século XV e XVI,

na Idade Média existia a produção de textos voltados aos artistas. Entretanto, aquilo que

diferencia os tratados do Renascimento de seus precedentes é a maior ênfase dada aos

aspectos teóricos, ou seja, o tratado deixa de se assemelhar a um receituário que dá conta

dos processos e dos procedimentos práticos para instaurar um espaço de reflexão sobre a

atividade artística criativa. E um momento em que o artista-arquiteto se conscientiza de suas

atribuições e ambiciona promover a reflexão e transmitir seus conhecimentos e ideias a

partir dos livros.

No caso da Arquitetura, seu estudo sistemático teve início com a retomada do De

Architectura libri decem de Vitrúvio que define primeiramente a Arquitetura como scientia e

em seguida, elenca todos os conhecimentos necessários e próprios à formação do arquiteto

(geometria, geografia, aritmética, musica, filosofia, história, retorica, noções de medicina e

astrologia). Com Alberti se percebe a atualização e desenvolvimento de novos conceitos

para que transmitam certas noções estéticas, técnicas e profissionais. E a partir de Vitrúvio

e de Alberti, seu primeiro intérprete, serão desenvolvidos os tratados da Arquitetura

posteriores.

Como bem colocou certa vez Pietro Maria Bardi, “...a arte não tem limites de tempo,

nem de espaço” e por isso nossa ideia é a de que, ao serem revisitados, estes títulos

possam suscitar novas discussões e interpretações, de modo a permitir novas

experimentações no campo teórico e artístico. Além disso há que se atentar para este

patrimônio que nos foi legado e que merece todo nosso respeito e cuidado34.

33

García Aguilar, Idalia “Secretos del estante: elementos para la descripción bibliográfica del libro antiguo”, Universidad Nacional Autónoma de México, 2011, p.2. 34

[Este registro de bienes culturales —cualquiera que sea su naturaleza— presupone a su vez un reconocimiento de que el objeto requiere tutela y protección por parte de instituciones especiales creadas para hacerse cargo de esa responsabilidad. Por norma general es el Estado quien crea, reconoce y deposita en las instituciones esta importante competencia patrimonial. Resulta evidente que para salvaguardar adecuadamente una herencia cultural se requiere antes de la elaboración de registros normalizados que permitan identificar a cada uno de los objetos del patrimonio cultural]. Idem, p.47.