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Módulo de direito empresarial - Rachel Bruno - www.profrachelbruno.net Bibliografia: - Fabio Ulhoa - Ricardo Negrão Direito de empresa 1. Evolução Analisando a figura do empresário, podemos perceber que já tivemos 3 formas de identificação desta figura. A primeira foi através das Corporações de Ofício, que sequer foi vivida pelo Brasil, mas dada sua importância é sempre mencionada na doutrina. O comerciante fazia matrícula na Corporação de ofício e, matriculado, passava a ser considerado comerciante e recebia a proteção das normas que regulavam a atividade de mercancia. Se não fosse matriculado, não tinha qualquer proteção e deveria recorrer ao tribunal comum, à lei comum. Os matriculados, por sua vez, tinham a proteção das Corporações que editavam normas que regulavam a atividade e tb resolviam os eventuais conflitos que surgissem. A crítica que se fazia era que o que caracterizava a condição de comerciante era a matrícula, de modo que se duas pessoas praticassem a mesma atividade, mas uma delas não fosse matriculada, apenas a matriculada era considerada comerciante. Em resposta a essa crítica, o Cód. Napoleônico, passou a considerar comerciante aquele que praticasse determinados atos – atos de comércio. Os atos considerados de comércio vinham listados no próprio Cód. civil francês. Esse segundo momento histórico, foi o que inspirou a edição da legislação brasileira – Cód. Comercial de 1850 (ainda em vigor no que toca ao direito marítimo). Muito embora, mais adequada que as corporações de ofício, a visão trazida pelo Cód. de Napoleão também sofreu críticas por não englobar a setor de serviços, ou seja, os prestadores de serviço se submetiam às regras de direito civil.

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Módulo de direito empresarial- Rachel Bruno -

www.profrachelbruno.netBibliografia:- Fabio Ulhoa- Ricardo Negrão

Direito de empresa

1. Evolução

Analisando a figura do empresário, podemos perceber que já tivemos 3 formas de identificação desta figura. A primeira foi através das Corporações de Ofício, que sequer foi vivida pelo Brasil, mas dada sua importância é sempre mencionada na doutrina.

O comerciante fazia matrícula na Corporação de ofício e, matriculado, passava a ser considerado comerciante e recebia a proteção das normas que regulavam a atividade de mercancia. Se não fosse matriculado, não tinha qualquer proteção e deveria recorrer ao tribunal comum, à lei comum. Os matriculados, por sua vez, tinham a proteção das Corporações que editavam normas que regulavam a atividade e tb resolviam os eventuais conflitos que surgissem.

A crítica que se fazia era que o que caracterizava a condição de comerciante era a matrícula, de modo que se duas pessoas praticassem a mesma atividade, mas uma delas não fosse matriculada, apenas a matriculada era considerada comerciante.

Em resposta a essa crítica, o Cód. Napoleônico, passou a considerar comerciante aquele que praticasse determinados atos – atos de comércio. Os atos considerados de comércio vinham listados no próprio Cód. civil francês.

Esse segundo momento histórico, foi o que inspirou a edição da legislação brasileira – Cód. Comercial de 1850 (ainda em vigor no que toca ao direito marítimo).

Muito embora, mais adequada que as corporações de ofício, a visão trazida pelo Cód. de Napoleão também sofreu críticas por não englobar a setor de serviços, ou seja, os prestadores de serviço se submetiam às regras de direito civil.

A transição do 2º momento para o 3º foi promovida pela Itália, com a unificação do direito civil com o direito de empresa (até então, comercial). A Itália trouxe tb uma nova forma de identificação do comerciante ao substituir a teoria dos atos de comércio pela teoria da empresa.

Pela teoria da empresa, identificava-se o “comerciante” como quem exercia atividade como empresário, sendo empresário quem exercia atividade econômica organizada. O direito empresarial foi a resposta às críticas à teoria dos atos de comércio, pois passou a absorver tb os prestadores de serviço desde que exercessem empresa.

Essa terceira forma de identificação do empresário chegou ao direito brasileiro, expressamente com o CC02, que revogou a 1ª parte do Cód. comercial e passou a regular o direito de empresa, a partir do art. 966.

Empresa é atividade econômica organizada, quem exercesse atividade econômica organizada é empresário.

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2. Empresário

Pelo art. 966 do CC, é empresário quem exercesse profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens ou serviços. O exercpicio da empresa pode se dar por pessoa física ou jurídica. Em se tratando de pessoa física, teremos o empresário individual; sendo pessoa jurídica, teremos a sociedade empresária.

O art. 966, parágrafo único exclui alguns profissionais da caracterização de empresário, ie, ainda que exerçam atividade econômica organizada, não podem ser considerados empresários. São eles: quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda que com concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa.

A atividade econômica é sempre fácil de identificar pois é aquela que visa lucro, mas quando se fala em “organizada” é um pouco mais complicado. A doutrina exige que para que assim se considere a atividade que sejam: i) reunidos fatores de produção, quais sejam, matéria-prima, tecnologia, mão-de-obra (não exige tds, mas a reunião de alguns); ii) diversidade na atividade-fim, configurada pela existência de profissisionais distintos reunidos para que seja alcançada a atividade-fim.

Por exemplo: um médico trabalhando em seu consultório é um profissional autônomo (art. 966). Da mesma forma, uma clínica com 5 médicos, podemos ter uma sociedade, mas tb não é empresa, aqui teremos um exercício uniprofissional da atividade. Já uma clínica que conte com um médico, fisioterapeuta, nutricionista, psicólogo e fonaudiólogo, aqui sim, teremos uma sociedade empresária, pois a atividade de cada um é mais uma dentro de toda essa cadeia, ou seja, há diversidade na atividade-fim.

2.1.Empresário individual

2.1.1. Caracterização

O que caracteriza o empresário individual não é a matrícula em um determinado órgão, mas sim o exercício da empresa. Nesse ponto, poderia se concluir que o empresário não é obrigado inscrever-se em órgão específico, o que não é verdade. A inscrição é obrigatória, mas não é o que caracteriza sua condição.

Assim, aquele que exerce a empresa é empresário individual e se devidamente inscrito, será empresário regular. O não inscrito será empresário, mas será irregular.

2.1.2. Inscrição

Primeiramente, fala-se em inscrição quando estivermos tratando de empresário individual. Quando tratamos de sociedade empresária, de pessoas jurídicas, não se fala em inscrição, mas registro.

O empresário individual requer sua inscrição no órgão competente, quer seja, a Junta Comercial – órgão estadual responsável tanto pela inscrição do empresário individual, quanto do registro da soc. empresária.

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Obs: A Junta comercial trata de todos que exercem empresa e podem ser tb identificadas como Cartório de registro público de empresas.

A junta comercial está subordinada administrativamente ao Governo estadual e tecnicamente ao DNRC – departamento nacional de registro de comércio.

A inscrição é feita na junta, onde deve ser preenchido um formulário ou declaração de firma individual. Não é pra declarar que o empresário já exerce a atividade, mas que ele vai começar a atividade, após a inscrição, ou seja, a inscrição do empresário individual é prévia ao exercício da atividade.

O CC determina as informações que devem ser prestadas à Junta comercial, ie, quais os dados que devem conter o requerimento (art. 968 – nome, nacionalidade, domicílio, estado civil, regime de bens, firma, capital, objeto e sede da empresa).

Por fim, cabe ressaltar que o art. 967 dispõe que a inscrição é obrigatória e anterior ao início da atividade.

2.1.3. Capacidade

O ponto central que o direito empresarial trata, exige para que o sujeito seja capaz de iniciar a empresa. Obviamente que o absolutamente incapaz não pode, enquanto o plenamente capaz, pode, desde que não tenha sido interditado. Já o relativamente incapaz, pode exercer empresa em duas situações: i) se emancipado (art. 5º CC); ii) autorização.

A autorização para exercer empresa é específica, ie, os pais deverão autorizar, na Junta comercial que o relativamente capaz possa exercer empresa.

Autorização Emancipação

- Específica - Genérica (art. 5º)- Revogável - Irrevogável- Regra: patrimônio dos pais responde

subsidiariamente- Regra: patrimônio dos pais não responde

Em resumo, o absolutamente incapaz, os relativamente capazes não emancipados ou não autorizados e os plenamente capazes que foram interditados não podem iniciar a empresa. Contudo, poderão continuar a empresa antes exercida por ele mesmo, por seus pais ou pelo autor da herança, nos termos do art. 974, em observância ao p. da conservação da empresa.

Obs: Vale lembrar que o p. da conservação da empresa visa observar o p. da função social da empresa.

2.1.4. Empresário individual casado

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O regime de bens do empresário individual casado é relevante para o seu exercício de empresa por conta de seus credores.

Assim, sendo casado com o regime da separação total de bens, o patrimônio do cônjuge não empresário não será atingido.

Se o regime for da comunhão universal, o patrimônio do cônjuge não empresário, regra geral, será atingido, pois haverá uma única massa de bens, de modo que todo o patrimônio do casal é alcançado. Há a possibilidade do cônjuge não empresário conseguir resguardar uma parcela do patrimônio, a sua meação, se conseguir provar que parte do patrimônio decorreu do seu esforço, do seu trabalho. O ônus da prova é do cônjuge, pois no regime da comunhão universal presume-se que todo o patrimônio deva ser atingido.

Já no regime da comunhão parcial, a regra é distinta, não há presunção de que todo o patrimonio foi adquirido por esforço comum. As dívidas do empresário inidividual recairão sobre seu patrimônio individual (anterior ao casamento, bens particulares) e, se insuficiente, alcançarão sua meação daquilo que foi adquirido na constância do casamento, por esforço comum. Poderá o credor, contudo, provar que o conjuge não empresário tem bens que não são frutos da sua atividade, mas sim da atividade do cônjuge empresarial.

2.1.5. Responsabilidade patrimonial

Até o advento da lei 12.441-11, o empresário individual respondia com todo seu patrimônio, devendo ser observado o regime de bens, caso casado, para que se soubesse o alcance da sua responsabilidade.

Com a lei 12.441-12, passou-se a admitir que o empresário individual tivesse responsabilidade limitada. A referida lei criou a figura do EIRELI – empresário individual de responsabilidade individual. Tal previsão visava acabar com a formação de sociedades de fachada, formadas com o único fim de afastar a responsabilidade ilimitada do empresário individual.

Com a responsabilidade ilimitada só ficavam excluídos os bens que garantem a dignidade da pessoa humana. Já com a responsabilidade limitada, o empresário individual pode afetar uma parte do seu patrimônio à atividade empresarial, para que só esta seja alcançada. Esta parte deve ser de no mínimo 10 salários mínimos.

2.2.Nome empresarial

É o elemento identificador do empresário individual ou da sociedade empresarial. Está previsto no art. 1155 e seguintes do CC.

O nome empresarial não se confunde com outros elementos como o título do estabelecimento (elemento que identifica o estabelecimento junto ao consumidor; é o letreiro da loja), marca (identifica produto ou serviço).

Nome empresarial é visto na firma individual do empresário, na fatura do cartão de crédito, na CTPS do funcionário da empresa. Pode ser feito através de firma ou de denominação.

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Dois princípios norteiam ao nome empresarial: p. da novidade e p. da veracidade. O p. da novidade se aplica a qualquer modalidade de nome empresarial, firma ou denominação. Já o p. da veracidade se aplica apenas às firmas. Isto pq, toda firma é composta a partir do nome civil do empresário individual ou dos sócios (nas soc. empresárias) para que seja possível sua identificação.

O empresário individual deve adotar sempre a modalidade empresarial firma individual, permitindo-lhe o art. 1156 adicionar uma expressão que melhor o identifique ou a atividade.

A soc. empresária pode adotar firma, quando deverão apor o nome dos sócios que respondem ilimitadamente. Neste caso, teremos a firma social, tb chamada de razão social (expressões sinônimas).

A denominação, por sua vez, se pauta pela criatividade e não precisa ter qualquer relação com a atividade, pois deve obediência apenas ao p. da novidade e não da veracidade. Poderão adotar denominação as sociedades cujos sócios respondem limitadamente. Por exemplo, a S.A., “Cia. Raio de Sol” (art. 1160) – neste caso, “Cia.” deve vir a frente do nome, diferente do art. 1157.

O art. 1160, pu, admite a utilização do nome civil de um fundador, acionista ou até mesmo de alguém sem qq vínculo com a sociedade. “Editora Jorge Amado S.A”

O art. 1158 permite que a soc. ltda. adote tanto firma social ou denominação. Ou seja, o legislador permitiu às ltdas. o direito de escolha, escolha esta que deve ser feita no momento do registro dos atos constitutivos. Para que não haja confusão com os outros tipos societários, o dispositivo exige que ao final seja integrada a expressão “limitada” ou “ltda”, não importando se firma ou denominação.

Na eventualidade da sociedade limitada agir sem adotar a expressão “limitada” em seu nome empresarial, haverá responsabilidade patrimonial ilimitada e solidária daqueles que usarem inadvertidamente o nome empresarial de modo equivocado, nos termos do art. 1158, #3º. Atenção: a responsabilidade não é dos sócios, necessariamente, mas de quem atuou equivocadamente.

O nome empresarial estará no estatuto social ou na declaração de firma individual. Cabe a Junta Comercial a proteção do nome empresarial. Sendo a Junta órgão estadual, em regra, a proteção tem sempre âmbito estadual (art. 1666). Contudo, é possível a extensão da proteção por todo o território nacional, caso feito o registro conforme legislação especial, conforme art. 1166, pu.

O nome empresarial não pode ser objeto de alienação, conforme dispõe o art. 1164. Nem a firma nem a denominação, destacando-se que o legislador optou em não fazer qualquer distinção entre as modalidades. Cabe ressaltar que o p.u. do art. 1664 permite, entretanto, que o adquirente de estabelecimento, por ato entre vivos, possa usar o nome do alienante, precedido do seu próprio, com qualificação de sucessor, quando o contrato assim o permitir.

Na hipótese de falecimento de um dos sócios (ou exclusão ou sua retirada), o art. 1165 veda a possibilidade de manutenção do nome deste na firma social, pois toda firma deve observar o p. da veracidade. Em outras palavras, se não é mais sócio não pode mais figurar o nome na firma.

2.3.Estabelecimento

O título de estabelecimento é o elemento que identifica o estabelecimento junto ao consumidor.

Antes do CC02 adotava-se a expressão “fundo de comércio”, expressão esta que foi abandonada com o advento do CC.

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O art. 1142 e seguintes trata da matéria, sendo que o próprio art. 1142 traz o conceito de estabelecimento: complexo de bens organizado para exercício da empresa. É uma universalidade, conjunto de bens que o empresário reune para exercício da atividade empresarial. Como esse conjunto de bens é reunido pela vontade do empresário, a NJ do estabelecimento é de universalidade de fato. (diferente, pe, a massa falida é uma universalidade de direito, pois só se mantém reunido pela vontade da lei).

O estabelecimento é composto de elementos: corpóreos (materiais ou fungíveis) ou incorpóreos (imateriais ou infungíveis). São corpóreos as máquinas, geladeiras, dentre outros. Os incorpóreos são os que tem mais relevância para o direito, quer sejam, a marcas e patentes, nome empresarial, ponto, título do estabelecimento, know-how, aqueles que não tem existência física, mas tem muita relevância jurídica dada a sua valoração econômica. Há divergência doutrinária, mas há quem englobe entre os elementos incorpóreos, a clientela.

Obs: As marcas e patentes são reguladas pela lei 9279-96 e serão estudadas à frente.

A clientela é o conjunto de pessoas que frequenta o estabelecimento com habitualidade. Há quem sustente ser distinto de freguesia, pois esta não teria o caráter habitual. A melhor doutrina entende que a clientela não integra os elementos do estabelecimento, vez que a clientela é um conjunto de pessoas enquanto o estabelecimento um conjunto de bens.

Obs: Patrimônio é diferente de estabelecimento. Aquele é o conjunto de bens, direitos e obrigações que a pessoa mantém, abrangendendo créditos e débitos, passivo e ativo. Esse é o conjunto de bens que o empresário reune para exercer empresa. O patrimônio contém o estabelecimento. A clientela, assim, faz parte do patrimônio, pois tem valor econômico, mas não integra o estabelecimento.

O know-how é a tecnologia usada para o exercício da empresa. Pode ser um segredo, um método, um modo de fazer alguma coisa que o empresário descobriu ao longo da sua atividade e “conquiste”, atraia a clientela.

Quanto ao ponto, pode-se ter a falsa impressão de que este é o local do estabelecimento. Essa idéia é falsa, pois o ponto é mais que o local, o espaço físico. O ponto é um plus, é uma valorização, é a qualidade que o valor adquire em razão do exercício da empresa. O ponto é protegido pela lei de locações, na medida em que a lei 8245-91 determina que se o locatário desenvolver o ponto e não puder permanecer no local, pq o locador requereu o imóvel, pe, terá direito à indenização pela perda do ponto e, conforme doutrina, da clientela.

Obs: Ponto e local não se confundem, pois um proprietário é dono do local, mas pode não ter ponto. Do mesmo modo, o locatário detém o ponto, mas não é proprietário do imóvel.

O estabelecimento, como conjunto de bens, pode ser objeto de negócio jurídico. Quando se negocia o estabelecimento, não está se vendendo uma filial ou unidade, mas sim o todo. Um empresário

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quem tem uma sede e quatro filiais possui um único estabelecimento, pois este é sempre único. O estabelecimento é uma unidade. O contrato de trespasse tem por objeto a transferência do estabelecimento. Pode ser chamado tb de traspasse ou transpasse. Transpassar significa transferir.

O alienante pode transferir com as dívidas ou sem as dívidas. Se optar em ficar com as dívidas, deve o alienante ter patrimônio para solver suas dívidas, pois do contrário caracterizará fraude contra credores. Para evitar a fraude contra credores, o CC, no art. 1145 exige que o alienante quite todas as dívidas, para eficácia da alienação ou receba o consentimento de todos os credores, expressa ou tacitamente.

Transferido o establecimento, o alienante poderá continuar sendo empresário desde que não faça concorrência com o adquirente nos cinco anos subsequentes, salvo autorização expressa prevista em contrato (art. 1147). Assim, o CC veda a concorrência por cinco anos.

O adquirente responderá pelas dívidas que estivessem regularmente contabilizadas ao tempo da alienação, ie, caso o contrato preveja a transferência do establelecimento e das dívidas, o adquirente só responde pelas dívidas que lhe era possível conhecer. Isto visa evitar que o adquirente tenha surpresas, tendo que responder por dívidas que não foram contabilizadas, nos termos do art. 1146.

Nesse contrato de trespasse, o legislador tb visou proteger o credor, tendo por isso, previsto uma solidariedade entre o alientante e o adquirente, prevista no art. 1146, in fine, e 1149. Se a transferência ocorreu, no primeiro ano subsequente à venda, o credor poderá cobrar de ambos, independente das dívidas terem sido ou não transferidas, caso em que haverá direito de regresso de quem não era responsável.

Em suma, no primeiro ano após a alienação, alienante e adquierente são solidários, respeitado o direito de regresso.

O contrato de trespasse não é o único que pode ser celebrado que tenha por objeto o estabelecimento, como pe, o arrendamento.

Vale lembrar que o nome empresarial integra o estabelecimento e, por isso, com sua transferência, tb será e não há aqui qq problema (o que não pode ser feita é a alienação exclusiva do nome empresarial). Com a transferência do estabelecimento e do nome, resta a questão: pode o adquirente utilizar o nome empresarial? Para responder a questão, necessário diferenciar se o nome é firma ou denominação. Se denominação, o adquirente pode continuar utilizando a mesma denominação. Se firma, o nome deverá ser adequado, obedecendo o p. da veracidade, nos termos do art. 1164, pu, conforme observação supra que se repete: o dispositivo permite que o adquirente de estabelecimento, por ato entre vivos, possa usar o nome do alienante, precedido do seu próprio, com qualificação de sucessor, quando o contrato assim o permitir.

3. Propriedade intelectual

3.1.Marcas A lei 9279-96 é conhecida como lei de propriedade intelectual ou lei de marcas e patentes. Como visto, as marcas e patentes fazem parte dos elementos incorpóreos do estabelecimento.

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Antes de analisarmos o que são marcas e patentes, vale relembrar que estas não se confundem com o título do estabelecimento (letreiro da loja) nem com o nome empresarial – vide comentários anteriores.

A marca é o elemento que identifica produto ou serviço, distinguindo-os de outros produtos e serviços. É elemento identificador. A marca deve ser registrada no INPI – Instituto Nacional de Propriedade Intelectual. Não se confundem com patentes que são concedidas para invenções ou modelos de utilidade.

Enquanto a marca é objeto de registro, as patentes são objetos de concessão. Ambas são objeto de proteção em todo o território nacional.

A marca pode ser classificada como: i) de produto (caneta, códigos, computadores, celulares) ou de serviço (cursos, empresas de transporte, telefonia) e; ii) de indústria, colocada pelo fabricante, ou de comércio, colocada pelo revendedor. Há ainda as marcas de certificação, aquelas que atestam a qualidade de um produto ou serviço, como por exemplo o ISO, INMETRO, ABIC, são os vulgarmente chamados “selos de qualidade”.

O art. 123 da LPI traz ainda a marca coletiva – identifica produtos de um membros de determinada entidade, de certa região, pe.

O INPI pode reconhecer determinadas marcas já registradas como marca de alto renome. Nesta hipótese, há ampliação da proteção dada à marca. Por exemplo a marca DOVE. Há a marca para a linha sabonetes, shampoos, mas tb há a marca de chocolates. O globo, jornal e biscoito. Veja, revista e produto de limpeza. Assim, a proteção foi mantida, pois não há chances de confusão de clientela, pois os seguimentos são distintos.

A marca “Natura”, por sua vez, recebeu do INPI como marca de alto renome, o que impede que qualquer outra marca seja registrada com este nome, ainda que de outro seguimento.

Atenção: Não confundir com marca notoriamente conhecida. Estas não são registradas no Brasil ainda. São aquelas objeto de acordo internacional, do qual o Brasil é signatário, ficando obrigada a proteger a marca em todo o território nacional. Com isso, esta marca não precisa de registro no país.

As marcas estão protegidas por 10 anos, sendo que este prazo é renovável por igual período indefenidamente (art. 133). Por exemplo, Granado. Não há limites para o pedido de renovação, mas cabe ao empresário requerer a renovação.

Obs: A marca é sempre um sinal visual. No Brasil, não existe proteção como marca de sons ou cheiros, apenas de sinais visuais, podem ser estes tridimensionais, desenho, palavra. As marcas sonoras ou olfativas não foram incorporadas.

Sinais sonoros como “plim-plim” da Globo detém proteção, não como marca, mas como “sinal de propaganda”. Nos EUA o ronco do motor da marca Harley-Davidson é protegido como marca sonora.

Ler a LPI – muito cobrada em provas objetivas. Visitar site do INPI.

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3.2. Patentes

Concedidas aos titulares de invenção e modelos de utilidade. Invenção é criação, enquanto o modelo de utilidade é o aperfeiçoamento de uma invenção. Por exemplo, a cafeteira elétrica é uma invenção, o dispositivo chamado “corta pingo” é modelo de utilidade, pois aprimora a invenção. O telefone fixo é uma invenção, o telefone sem fio é modelo de utilidade. Contudo, o celular não é modelo de utilidade do telefone fixo, pois são tecnologias distintas. O celular é invenção e os aparelhos com câmera, rádio, tv, touchscreem são modelos de utilidade.

A concessão de patente tem procedimento administrativo próprio. Para concessão, o titular fará o depósito do requerimento no INPI. O pedido será analisado juntamente com os documentos anexados exigidos na lei e o pode ser feito tanto por pessoa física quanto jurídica. Ao final poderá ser concedida ou não, mas uma vez concedida produz efeitos ex-nunc e ex-tunc, para proteger o titular durante o período do procedimento administrativo.

A patente tem prazo de vigência de 20 anos para invenção e de 15 anos para os modelos de utilidade. Este prazo começa a correr a partir da data do depósito do pedido de concessão. Se o procedimento administrativo demorar muito, a própria lei garante um prazo ao titular para sua exploração, sendo este prazo de 10 anos para a invenção e de 7 anos para o modelo de utilidade, ambos a contar da concessão (art. 40, caput e parágrafo único).

Os prazos de vigência não se renovam. Findo o prazo, caem em domínio público.

4. Sociedades empresárias

Sociedade é uma reunião de pessoas para exercício de uma atividade, necessariamente, econômica. Se a atividade não é econômica, esta reunião não será uma sociedade, poderá ser uma associação.

O art. 981 do CC dispõe que celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados.

Essa atividade será sempre econômica e poderá ser também organizada. Quando a sociedade exercer atividade econômica e organizada, estará exercendo empresa, sendo então uma sociedade empresária. Nos termos do CC, quando não for empresária, a sociedade é, por exclusão, simples (art. 982).

Sendo empresária, seu órgão de registro é a Junta Comercial (se tiver atividade em mais de um estado, deverá registrar-se nas juntas de cada um dos estados). Se sociedade simples, o registro será no Cartório de Registro Civil das Pessoas Jurídicas (as associações e fundações tb se registram neste).

Obs: A lei 8934-94 trata do DNRC e Juntas Comerciais.

4.1.Sociedade unipessoal

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As sociedades empresárias, conforme art. 981, exige uma reunião de duas ou mais pessoas, regra geral. Contudo, é possível que a sociedade empresária seja unipessoal tanto desde o seu início ou supervenientemente.

A unipessoalidade originária (constituída com único sócio) pode ocorrer em uma única hipótese, prevista no art. 251 da LSA, quando tivermos a subsidiária integral constituída por um único acionista que é uma sociedade brasileira – Art. 251. A companhia pode ser constituída, mediante escritura pública, tendo como único acionista sociedade brasileira.

Já a unipessoalidade superveniente pode ocorrer em qualquer sociedade. Uma sociedade que foi constituída com dois sócios e um se retirou. Outra formada por 10 sócios e que uns morreram, outros se reitiraram ou foram excluídos.

No caso da unipessoalidade originária, esta unipessoalidade poderá durar pelo tempo que a sociedade assim desejar. Já a superveniente, só poderá permanecer com único sócio no período previsto em lei, findo o qual deverá ter constituído o número mínimo de sócios (quer sejam, dois), pois do contrário a sociedade será dissolvida.

No caso das sociedades do CC, o prazo máximo é de 180 dias (art. 1033, IV).

5. Locação empresarial

A regra é que as sociedades sejam plurais e podem representar NJ em nome próprio, ie, não precisa ser em nome dos sócios, pois detém personalidade jurídica, titularidade negocial.

Um dos NJ que podem ser celebrados pela sociedade empresária é a locação empresarial.O contrato de locação para exercício da empresa está prevista na lei de locações (L8245-91), a

partir do art. 51. No contrato, o locatário pode ser empresário individual ou sociedade empresária.O tratamento dispensado pela lei de locações visa proteger dois institutos importantes para o

empresário: o ponto e a clientela. O ponto pode ser desenvolvido pelo locatário e a clientela conquistada por ele. O ponto funciona como incremento ao valor do imóvel, pois com a atividade ali desenvolvida, acaba por valorizar o imóvel.

Por tal razão, ponto e clientela recebem proteção pela lei de locações, em especial, quando trata da ação renovatória (art. 51). A ação renovatória visa renovar compulsoriamente o contrato de locação. Compulsoriamente, significa que será independente da vontade do locador, quando preenchidos os requisitos previstos no art. 51: i) quando o contrato for escrito e com prazo determinado; ii) o prazo mínimo do contrato a renovar ou a soma dos prazos ininterruptos seja de cinco anos; iii) locatário esteja exercendo sua atividade no mesmo ramo pelo prazo mínimo e ininterrupto de 3 anos.

Obs: o art. 51, #5º prevê prazo decadencial para aquele que não propor a renovatória no prazo de um ano, no máximo, e 6 meses, no mínimo, anteriores ao fim do prazo previsto no contrato.

6. Shopping center – locação

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O contrato de locação no âmbito do shopping center, tb está previsto na lei de locações, e, via de regra, não apresenta grandes diferenças quanto aos demais contratos, salvo no tocante às obrigações do locatário que são mais rígidas. Isso se dá pq ele tem um ambiente que é favorável à sua atividade, à sua atuação e esse ambiente foi criado, foi propiciado pelo locador (o shopping).

É contrato escrito, com cláusulas de locação normais, sendo que o aluguel, em geral, é mais caro que o “preço de mercado”, vez que o shopping reune uma grande variedade de ramos de atividades e serviços, o que faz dele mais atrativo ao consumidor e, consequentemente, mais lucrativo ao locatário-empresário. Esse preço fica ainda mais caro conforme a localização do shopping center.

O shopping tem estabelecimento próprio, com seus elementos incorpóreos (nome, marca, título do estabelecimento, pe)e corpóreos (banheiros, lixeiras, bancos...). Não se pode confundir, portanto, o shopping center com as empresas que atuam nele, através do contrato de locação.

Se há um shopping center com 10 lojistas, temos um shopping com 10 contratos de locação.

7. Contratos mercantis

7.1.Leasing (arrendamento mercantil)

É um contrato que reune elementos de outros contratos, pois reune elementos de locação, compra e venda e financiamento.

O leasing tem duas partes – arrendador e arrendatário – e tem como objeto bem fungível ou atés mesmo infungível, mas a regra é bem fungível.

O arrendador (ou arrendante), em geral proprietário, transfere a posse e uso do bem ao arrendatário, que passa a ter obrigação de pagar às parcelas previstas em contrato. Ao fim do contrato, surgem opções ao arrendatário. O contrato de leasing se caracteriza pelas opções ao fim do contrato disponíveis ao arrendatário. Ou seja, o contrato de leasing é aquele pelo qual o arrendatário “aluga” o bem do arrendador, e ao fim do contrato terá três opções: i) compra pelo valor residual (VRG); ii) renovação do contrato; iii) devolução do bem.

O arrendador tem deveres, funções no contrato: comprar o bem; disponibilizar; receber a contraprestação e respeitar a decisão do arrendatário ao fim do contrato. Por outro lado, pagar as prestações e conservar o bem são deveres do arrendatário, que detém ainda ao final o direito de escolha.

VRG é o valor residual garantido, que corresponde à antecipação do valor residual. Ie, ao invés de deixar o valor residual para ser quitado ao final, faz-se um cálculo desse valor no momento da contratação para que o arrendatário dilua tal valor nas parcelas – essa cobrança antecipada é admitida pelo STJ, mas é válido destacar que, mesmo que o arrendatário tenha optado por diluir o VRG nas parcelas, ao final continua tendo a opção de devolver o bem. Ou seja, a antecipação do VRG não implica em escolha antecipada pela compra ao final do contrato, cabendo, nessa hipótese, a restituição do VRG.

Se no decorrer do contrato ocorrer inadimplemento ou, ao final, a renovação do contrato, a devolução do bem, o valor correspondente ao VRG deve ser restituído ao devedor de forma simples, pois não caracteriza cobrança indevida (foi opção do arrendatário).

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No caso da antecipação do VRG, é fundamental que o arrendatário saiba, mês a mês, quanto está sendo pago a título de leasing e a título de antecipação de VRG. Deve ser discriminado, inclusive, para que seja possível ao arrendatário saber quanto foi pago de VRG

São espécies de contrato de leasing: i) leasing financeiro (regra geral); ii) leasing operacional; iii) leasing back ou leasing de retorno.

O leasing financeiro é o mais comum. É aquele celebrado por instituição financeira. A instituição não é a titular do bem, a proprietária. Ela compra o bem e arrenda ao contratante. O arrendatário escolhe o bem, “informa” à instituição, que irá adquiri-lo para que seja possível arrendá-lo. Ao final, ao arrendatário tb é disponibilizadas as opções de compra, renovação ou devolução.

O leasing operacional é diferente pq o arrendatário não compra o bem, pois ele já possui o bem para ser “alugado” e ainda oferece assistência técnica do bem, o que torna o operacional mais interessante que o financeiro. A instituição financeira não pode oferecer essa possibilidade, pois não é a titular do bem, diferente do operacional, em que o contrato é celebrado com o fabricante (por exemplo, a empresa Xerox).

O leasing back, por sua vez, caracteriza-se pelo arrendador adquirir o bem na propriedade do arrendatário, ie, ele compra do arrendatário e, depois, “aluga” para ele. O bem sequer sai do lugar. O proprietário procura uma instituição para comprar o bem e, em sequencia, arrendá-lo ao “antigo proprietário”. Ao final do contrato, o bem poderá até mesmo voltar a sua propriedade (ou renovar ou devolver tb).___________________________________

Observação complementar: Thiago Carapetcov:Muito cuidado deve ser tomado no tocante à NJ do contrato de leasing, pois em que pese se

visualizar facilmente uma locação, uma compra e venda ou um financiamento, não há qualquer um deles. Não há locação, pois ao fim de um contrato de locação não há essa opção de compra pelo valor residual. Do mesmo modo, apesar de visualizar-se a compra e venda ou o financiamento, ao fim do leasing pode acontecer do arrendatário optar por devolver, logo, a compra e venda não se consumaria. Por isso, diz-se que a NJ do leasing é híbrida.

Ao final do contrato, se o valor mínimo for R$1,00, ainda assim não há que se falar em compra, se não for essa a a opção do arrendatário. Continuará sendo leasing com as opções de devolução, renovação.

No tocante ao leasing de veículo, a responsabilidade por multas, acidentes é do arrendatário, possuidor direto. Contudo, quanto ao IPVA, o STJ entende que trata-se de obrigação propter-rem e, por isso, responsabilidade do arrendador.

Quanto ao inadimplemento do leasing, a primeira coisa a ser destacada é a Súmula 369 do STJ. O devedor deve ser notificado e ser requerida a devolução do bem, antes da distribuição da ação de reintegração de posse. Na reintegração deverão ser cumulados os pedidos de devolução, restituição do bem, rescisão do contrato, além das parcelas vencidas. Mas quanto às parcelas vincendas, o STJ entende que sua cobrança é abusiva! Pode ser pedido também cláusula penal, considerando os prejuízos presumíveis, além de prejuízos gerais.

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A cláusula penal não pode ser cumulada com prejuízos, em regra, pois seria pedido dúplice, mas pode ser feita uma distinção. A cláusula penal engloba a desvalorização do bem, a perda de um contrato que seria celebrado e não foi por conta do inadimplemento, ie, são os prejuízos presumíveis. Contudo, os prejuízos não presumíveis, os gerais, ie, superdesvalorização do bem, a destruição do bem pelo arrendatário.

O contrato se encerra pela vontade das partes, decurso do tempo e pelo inadimplemento-falência (cuidado! Não é simplesmente faliu: encerra-se o contrato). No caso de falência, dependerá do administrador. Pode acabar ou não. Pe, faltam duas parcelas para finalizar o leasing com opção de compra. O administrador pode optar por concluir o contrato, comprar o bem que vale 20 milhões, para após vendê-lo e quitar as dívidas com os credores.

Obs: Legislação aplicável: Lei 6099, Res. do BC 2309 e tratando-se de leasing de veículos lei 11649.__________________________________

7.2.Factoring

Modalidade contratual muito utilizada pelos empresários que se valem (aceitam, utilizam) de títulos de crédito com vencimentos futuros a fim de obter o valor desses títulos.

Os empresários que detém esses títulos podem negociá-los através do contrato de desconto bancário ou de factoring. Naquele, a instituição financeira participa, obrigatoriamente, e o empresário, ao transferir os títulos para a instituição, se torna devedor solidário, se torna garantidor do título.

Na factoring, a situação é distinta. O empresário não negocia necessariamente com uma instituição financeira. Aquele que vai factorizar o titulo, que vai recebê-los para negociar é uma uma PJ regularmente estabelecida, uma sociedade empresária, que irá adquirir o título, antecipando seu valor. O valor antecipado não é o valor integral, pq paga um valor menor que o previsto no título (é como a sociedade lucra).

O factorizado não responde pelo pagamento do título em caso de inadimplemento, ou seja, caso o título não seja pago, o factorizador não pode cobrar de quem lhe transferiu. O factorizado não é garantidor.

Comparando o desconto bancário e o factoring, pode ser mais interessane o factoring por que o factorizado não se torna garantidor. Contudo, como o risco é maior, o factorizador paga menos, um valor bem inferior ao do titulo. Por isso, para o empresário, vai depender da situação. Com os títulos em que há “certeza” no pagamento, é válido o desconto bancário, mas se não há essa certeza (cheque de um cliente), aí o factoring se torna mais interessante.

7.3.Franquia (franchising)

Contrato regulado pela lei 8955-94 (é uma lei pequena, é muito válida a leitura, pois são 11 artigos no total, sendo que apenas 8 tratam da matéria, destacando-se o art. 2º.).

O art. 2º da lei visa trazer um conceito do contrato de franquia. No contrato há duas partes: o franqueador, titular da marca, do título do estabelecimento, que o franqueado pretende utilizar. Assim,

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as partes (franqueador e franqueado) celebram um contrato que permita ao franqueado usar alguns elementos do estabelecimento do franqueador. O exemplo mais comum é para usar a marca – Mc Donald’s, Bob’s. Mas pode ocorrer tb a transferência do know-how, da tecnologia, até mesmo transferência da forma de organização, da administração – first class, por exemplo.

Art. 2º Franquia empresarial é o sistema pelo qual um franqueador cede ao franqueado o direito de uso de marca ou patente, associado ao direito de distribuição exclusiva ou semi-exclusiva de produtos ou serviços e, eventualmente, também ao direito de uso de tecnologia de implantação e administração de negócio ou sistema operacional desenvolvidos ou detidos pelo franqueador, mediante remuneração direta ou indireta, sem que, no entanto, fique caracterizado vínculo empregatício.

A franchising é celebrada entre empresários. Na franquia, o nome empresarial jamais é transferido. O título do estabelecimento será – China

in box – mas na NF quando constar o nome empresarial aparecerá João Alves Alimentícia, nome do franqueado e seu respectivo CNPJ.

Outro ponto relevante, antes da assinatura do contrato, é necessário que o franqueador transfira ou entregue ao franqueado um pré-contrato chamado de circular de oferta de franquia (COF). Essa circular é um documento que já traz as cláusulas mais importantes do contrato e os requisitos que o franqueado deve ter.

Art. 3º Sempre que o franqueador tiver interesse na implantação de sistema de franquia empresarial, deverá fornecer ao interessado em tornar-se franqueado uma circular de oferta de franquia, por escrito e em linguagem clara e acessível, contendo obrigatoriamente as seguintes informações:

O art. 4º da lei prevê ainda que a circular deve ser entregue ao franqueado no mínimo 10 dias antes da assinatura do contrato.

7.4.Alienação fiduciária em garantia

Tem sua origem no direito romano. Introduzida no Brasil, a partir do Dec 911-69, decreto sobre mercado de capitais, mas hoje é tratada ainda nos arts. 1361 a 1368 do Cód. Civil. O art. 1368 do CC admite ainda legislação especial. Implica na tranferência da propriedade do bem para garantir o cumprimento de uma outra obrigação que, em geral, envolve esse mesmo bem. Nesse contrato há duas partes: o alienante-fiduciante, aquele que transfere o bem para garantir o cumprimento da obrigação, e o proprietário- fiduciário, aquele que adquire o bem só como garantia.

Imagine que A quer adquirir um automóvel, mas não tem o dinheiro para comprá-lo. A, então, adquire o bem e o transfere a um banco como garantia do pagamento. Na verdade, o banco paga o valor do carro e depois A, que detém a posse do bem, irá pagando as parcelas, como garantia de que A vai pagar as parcelas, o banco consta como proprietária fiduciária no DUT. A propriedade do banco é

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resolúvel, pois essa propriedade só se mantém enquanto A é devedora. Ao final, quitadas as parcelas, é dada baixa na alienação e a propriedade transfere-se, sem garantia, para A, alienante-fiduciante.

Esse contrato não precisa ter como objeto o mesmo bem, objeto do contrato anterior. Se A adquiriu um carro, que foi pago pelo pago, a garantia da alienação não precisa ser o carro. Admite-se que a alienação fiduciária tenha por objeto bem distinto do que fo adquirido.

Se o devedor parar de pagar a instituição financeira, ele que só tem a posse e uso, vez que a propriedade já foi transferida ao banco, a instituição pode ajuizar uma ação de busca e apreensão diante do inadimplemento.

________________________________

Observação complementar:Esse contrato tem como objeto fomentar o consumo.Quanto ao conceito, a visão do prof. Marco Aurélio, afirma que a alienação em garantia é um

direito real de garantia na qual o devedor, chamado devedor fiduciante, aliena um bem ao credor fiduciário para fins de garantia, repassando a propriedade resolúvel e a posse indireta do bem, ficando o devedor com a posse direta. Com a quitação integral da dívida, o devedor torna-se proprietário.

O art. 1364 e 1366 prevêem, respectivamente, que se “sobrar” o valor deve ser restituído ao devedor; e, no caso do art. 1366, faltando, o devedor continua sendo devedor.

Pela teoria do inadimplemento mínimo ou adimplemento substancial, o devedor deixa de pagar o mínimo, nesse caso, o bem já é mais dele do que credor, então não seria justo que ele perdesse o bem. Não há um número mínimo de parcelas a justificar a sua aplicação, depende do interpretação do juiz. Essa teoria é doutrinária e jurisprudencial então depende do caso concreto.

Outra distinção relevante envolve o negócio fiduciário e o negócio simulado. No primeiro, o caminho aparenta ser tortuoso, mas o negócio é lícito, enquanto o segundo, o caminho é tortuoso, confuso, mas a conclusão do negócio também é tortuosa, pretende-se prejudicar alguém.

Todas os pontos analisados aplicam-se tanto a bens móveis quanto imóveis, salvo a sub-rogação que só se aplica aos móveis. Contudo, há outros pontos que são referentes apenas ao bens imóveis.

Primeiramente, há uma lei específica a lei 9514. Outro ponto, não foi definido na lei quais seriam esses bens imóveis, então englobaria todo e qualquer bem imóvel, em visão ampla. (faltou uma distinção).

Pode o devedor alugar o bem imóvel (relembrando: propriedade resolúvel e posse direta) ? Pode, art. 14 da lei, mas desde que ele deixe claro que não é o proprietário, que ele está envolvido em uma alienação fiduciária em garantia. Isso pq, se ele não tem a propriedade, tanto ele quanto o locatário podem ser “despejados”. O locatário não faz idéia de que depende de alguém que não locador, por isso necessário que se vislumbre que o bem é objeto de alienação.__________________________________

8. Sociedades do Código Civil

8.1.Classificação

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Como já vimos, as sociedades podem ser simples ou empresárias, conforme seu objeto. Outra classificação prevista no CC define as sociedades, conforme a aquisição de personalidade, como não personificadas (sociedade em comum – 986 a 990 e sociedade em conta de participação) e personificadas (simples, em nome coletivo, comandita simples e limitada, além da S.A e cooperativas).

As sociedades que se organizam por contrato social, são sociedades contratuais, enquanto as que se organizam por estatuto, são institucionais. De acordo com a responsabilidade dos sócios, as sociedades podem ser limitadas (ltda. e S.A), ilimitadas (soc. em nome coletivo ou soc. em comum) ou mistas (comandita simples ou por ações).

Por fim, quanto a nacionalidade, as sociedades são nacionais ou estrangeiras. O interessante aqui é saber o que a sociedade deve apresentar para ser nacional (sede no Brasil e se organizar conforme as leis brasileiras) – está previsto no CC. Quanto às estrangeiras, como não tem sede no país, para funcionar aqui, depende de autorização, via decreto, do presidente (Chefe do executivo).

8.1.1. Atos constitutivos

Ato que constitui a sociedade. É um contrato que pode ser contrato social ou estatuto.De acordo com o art. 981 CC, toda sociedade se organiza através de um ato constitutivo e, de

acordo com o tipo societário, poderá ser por contrato social ou estatuto.As sociedades institucionais, ou seja, as que adotam estatuto, dividem seu capital social por

ações, como é o caso da S.A. Já as sociedades contraturais, organizadas por contrato, das que estão previstas no CC, destaca-se a sociedade limitada.

9. Sociedades em espécie

9.1.Sociedades despersonificadas

Sociedade não personificada é a sociedade sem personalidade jurídica, mas isso não é sinônimo de sociedade necessariamente de sociedade irregular, visto que, pe, a sociedade em conta de participação é despersonificada em razão da lei que determina que a sociedade não poderá adquirir personalidade jurídica.

São exemplos a sociedade em comum e a sociedade em conta de participação.

9.1.1. Sociedade em comum

Prevista no CC dos arts. 986 a 990, a sociedade em comum é uma sociedade despersonificada. Sua característica fundamental é que ela deveria ter adquirido personalidade jurídica, mas não adquiriu, ie, o seu ato constitutivo deveria ter sido levado a registro e não foi ou, ainda que tenha sido levado a registro, foi fora do prazo e não produziu tal efeito. É uma sociedade irregular pela ausência de registro.

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Na verdade, ela não é um tipo societário desejado pelos sócios, mas sim uma consequencia jurídica (pela ausência de registro). Essa consequencia é que os sócios respondem pessoalmente, com seu próprio patrimônio, dada a ausência de personalidade jurídica. Assim, os sócios tem responsabilidade solidária e ilimitada.

Entretanto, em que pese responderem pessoalmente, os sócios disponibilizam do benefício de ordem previsto no art. 1024 do CC – Os bens particulares dos sócios não podem seer executados por dívidas da sociedade, senão depois de executados os bens sociais. Ou seja, deve ser esgotado primeiramente o patrimônio da sociedade, para depois ser alcançado o patrimônio pessoal dos sócios.

O art. 990, contudo, exclui desse benefício de ordem, quem contratou em nome da sociedade, ie, quem atua como se administrador fosse, aquele que seria administrador se o ato tivesse sido levado a registro. Isto pq a “culpa” pela sociedade não ter personalidade é dele e ele, ciente de que a sociedade é despersonificada, ainda assim, contrata em nome dela, como se personificada fosse, por isso a lei prevê uma consequencia mais severa para ele.

Obs: Atenção aos art. 986 e 990

9.1.2. Sociedade em conta de participação

Está prevista nos arts. 991 a 996 e, diferente da sociedade em comum, a sociedade em conta de participação não é irregular, pois é despersonificada por determinação da lei, vide art. 993 do CC. É uma sociedade que só existe entre os sócios, não há registro dos atos. Em geral, é uma sociedade de curta duração e, por isso, não é registrada – via de regra, é constituída para celebrar alguns (às vezes só um) NJs específico e, após se desconstitui. “Os terceiros não sabem que a sociedade existe”.

A sociedade em conta de participação é chamada sociedade pq o Cód. assim o quis, pois não adquire personalidade (art. 993) e, assim, não tem nome empresarial, CNPJ, título de estabelecimento, sede e tampouco pode falir. Nessa forma de sociedade não exerce empresa.

Essa forma é muito adotada na construção civil. Ocorre da seguinte forma: o contrato de sociedade é celebrado entre a construtora e um investidor para a construção de um prédio residencial. Este último faz investimentos de 20% do valor total do empreendimento e este percentual corresponde a sua participação nos lucros obtidos pela construtora.

Assim, quando o terceiro for até a construtora para comprar uma das unidades, o contrato celebrado de compra e venda é firmado entre o terceiro e a construtora. Esta responderá perante o terceiro ilimitadamente pela entrega do imóvel. O investidor, por sua vez, tem responsabilidade limitada aqueles 20%, que correspondem ao valor que se comprometeu a entregar à construtora.

A construtora é sócio ostensivo, ou seja, aquele que negocia com terceiros, mas negocia em nome próprio, por isso responde pessoalmente. O investidor é o sócio participante (já chamado de sócio oculto, mas essa expressão não é mais utilizada!!!!). Como dito, é o sócio ostensivo quem se obriga perante terceiros. O sócio participante, por sua vez, obriga-se exclusivamente perante o ostensivo no limite de sua participação prevista em contrato (no exemplo, 20%).

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No caso da construção civil, podem ser celebrados vários contratos para formação de várias sociedades em conta de participação, todos ao mesmo tempo. Por exemplo, entre a construtora e o proprietário do terreno em que será construído o prédio (o proprietário reveberia um percentual sobre o valor das unidades vendidas), a construtora e instituições financeiras, a construtora e fornecedores de materiais de construção.

Conforme expressamente disposto no CC, essa forma societária só produz efeitos entre os sócios e, ainda que estes optem por levar o contrato a registro, não adquirirá personalidade jurídica.

9.2.Sociedades personificadas

Muito embora não se possa afirmar que toda sociedade despersonificada é irregular, por força do art. 993 do CC, pode-se dizer sem dúvidas que toda sociedade personificada é regular. Estão previstas no CC a partir do art. 997.

9.2.1. Sociedade em nome coletivo

Tratada no Cód. Civil a partir do art. 1039, a sociedade em nome coletivo caracteriza-se por só admitir como sócios pessoas físicas que respondem solidária e ilimitadamente, sempre observado o benefício de ordem do art. 1024, ou seja, a responsabilidade é também subsidiária, pois só pode alcançar o patrimônio pessoal, quando esgotado o da sociedade.

Por conta dessa forma de responsabilidade prevista para os sócios é que se exige que seja formada apenas por pessoas físicas. Da mesma forma, só pode adotar firma social, pois deverá constar no nome empresarial o nome dos sócios (de todos ou de alguns seguido pela expressão “e cia.”).

Quanto ao administrador, na sociedade em nome coletivo, só pode figurar como administrador quem é sócio. Quem é melhor para administrar essa sociedade senão quem tem essa forma tão “grave” de responsabilidade.

9.2.2. Sociedade em comandita simples

Tratada nos arts. 1045 a 1052. É uma sociedade mista, pois formada por dois grupos de sócios que respondem ilimitadamente e sócios que respondem pelo valor da sua cota.

O caput do art. 1045 divide os sócios em comanditados, aqueles que respondem solidária, ilimitada e subsidiariamente, e em comanditários, aqueles que respondem limitadamente ao valor das suas cotas.

Para ser sócio comanditado, apenas pessoa física, vez que responde pessoalmente, mas para ser comanditário, pode ser pessoa física ou jurídica.

A sociedade em comandita simples só pode adotar firma social (ou razão social), pois tem que trazer o nome dos sócios que respondem pessoalmente. Ou seja, deve ser adotada firma social como nome empresarial, a ser formada pelo nome dos sócios comanditados.

Por fim, destaca-se que só pode ser administrador o sócio comanditado, pois quem responde ilimitadamente.

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9.2.3. Sociedade limitada

- Visão geral e fundamentação legal

Está inserida no contexto do direito societário e é de grande destaque dentro da matéria, dada sua relevância na prática.

É hoje totalmente regida pelo CC a partir do art. 1052, valendo de plano destacar que nas omissões do Cód., aplicam-se às ltdas, as regras da sociedade simples, nos termos do art. 1053. Ou seja, o capítulo da sociedade simples se aplica subsidiariamente às ltdas, quando omisso o CC.

Nem por isso se deve concluir que as ltdas são sociedades simples. Na verdade, as ltdas. podem ser tanto simples quanto empresárias, conforme seu funcionamento ou contrato social.

Outro ponto que deve ser esclarecido é que o pu do art. 1053 permite que sejam aplicadas à ltda. as regras da S.A (lei 6404), desde que haja previsão expressa no contrato social. Tal aplicação subsidiária tb só é admitida se omisso o Cód. Civil. Se a lei da S.A tb for omissa, a questão deverá ser resolvida através do CC no tocante às regras da sociedade simples. Em outras palavras, a previsão contratual de aplicação subsidiária da Lei de S.A, não veda a aplicação das regras da soc. simples, mas apenas posterga sua aplicação – o CC é lei geral.

- Contrato social

É uma sociedade contratual, vez que se rege por contrato. O contrato social é um acordo de vontades entre os sócios, cujas regras estão previstas na lei. O que deve estar previsto e especificado está na lei, mas não no capítulo das ltdas, mas no art. 997 (vide art. 1054). O art. 997 (incisos) traz as chamadas cláusulas essenciais, ie, as cláusulas que devem constar obrigatoriamente no contrato, admitindo ainda as cláusulas acidentais, aquelas estipuladas pelas partes. São cláusulas essenciais:

I - nome, nacionalidade, estado civil, profissão e residência dos sócios, se pessoas naturais, e a firma ou a denominação, nacionalidade e sede dos sócios, se jurídicas;

II - denominação, objeto, sede e prazo da sociedade;III - capital da sociedade, expresso em moeda corrente, podendo compreender

qualquer espécie de bens, suscetíveis de avaliação pecuniária;IV - a quota de cada sócio no capital social, e o modo de realizá-la;V - as prestações a que se obriga o sócio, cuja contribuição consista em serviços;VI - as pessoas naturais incumbidas da administração da sociedade, e seus poderes e

atribuições;VII - a participação de cada sócio nos lucros e nas perdas;VIII - se os sócios respondem, ou não, subsidiariamente, pelas obrigações sociais.

Atenção:

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- Da leitura do inc. I, percebe-se que podem ser sócios na ltda. tanto pessoas físicas, quanto pessoas jurídicas. - Em que pese o inc. II falar em “denominação”, a ltda. pode adotar tanto firma quanto denominação, nos termos do art. 1158, caput. Caso adotada firma, deve ser observado o #1º do art. que dispõe como deverá ser formada. Se adotada denominação, o #2º prevê sua forma de composição.

Art. 1.158. Pode a sociedade limitada adotar firma ou denominação, integradas pela palavra final "limitada" ou a sua abreviatura.

§ 1o A firma será composta com o nome de um ou mais sócios, desde que pessoas físicas, de modo indicativo da relação social.

§ 2o A denominação deve designar o objeto da sociedade, sendo permitido nela figurar o nome de um ou mais sócios.

§ 3o A omissão da palavra "limitada" determina a responsabilidade solidária e ilimitada dos administradores que assim empregarem a firma ou a denominação da sociedade.

- O Capital social é o somatório da contruibuição de todos os sócios. Após o início das atividades, a sociedade obterá lucro e contrairá dívidas, que integrarão o patrimônio que é mais amplo. Não se pode confundir. O capital social deve constar do contrato social e refletir a verdade – se não corresponder, a sociedade estará cometendo uma ilegalidade.

O capital social é relevante por ter duas funções: i) interna: serve de base para cálculo do lucro dos sócios, que receberão conforme suas contruibuições; ii) externa: garantia para terceiros que contratam com a sociedade, pois o valor previsto em contrato como capital social existe, pois já integralizado ou deverá ser integralizado pelos sócios.

- Cotas

O inc. IV do CC, trata das cotas sociais. A cota é a menor fração em que se divide o capital social, mas cada cota é indivisível (art. 1056).

Cada sócio adquirirá quantas cotas quiser. Se três pessoas titularizarem a mesma cota, essa “divisão” é fictícia, pois ela é indivisível, serve apenas como uma forma de dividir o lucro entre os titulares.

O inc. IV do art. 997 diz que no contrato social deverá constar a cota de cada sócio e forma que ela será realizada, ie, como o sócio irá pagá-la. Quando o sócio se compromete com determinada quantidade de cotas, temos que o sócio subscreveu um número x de cotas (ato de subscrição).

O sócio subscreve uma cota e ao “realizá-la”, diz-se que o sócio integralizou as cotas. Se pagar metade das cotas que se comprometeu, as cotas ainda não foram integralizadas. Só se fala em integralização quando as cotas são totalmente “quitadas”. O sócio que não integraliza as cotas é chamado sócio remisso.

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Obs: Anteção: o inc. V do art. 997 admite que o sócio contribua para o capital social com serviços. Contudo, tal previsão não se aplica às ltdas, visto que o art. 1055, #2º veda expressamente o sócio contruibua para o capital social com serviços.

Quando todos os sócios integralizam suas cotas, o capital social da empresa está integralizado.

As cotas fazem parte do patrimônio do sócio e, por isso, o sócio pode transferir as suas cotas, em tese, para quem ele quiser. Contudo, essa cessão de cotas pode não ser livre, vez que possível a previsão no contrato social de limites à cessão. Caso o contrato social seja omisso, deverão ser observadas as disposições do art. 1057.

A sociedade ltda. pode ser de capital ou de pessoas. Sendo, sociedade de pessoas, pode haver limitação à cessão das cotas. O contrato pode, pe, impor que a cessão só seja possível após aprovação dos demais sócios.

Art. 1.057. Na omissão do contrato, o sócio pode ceder sua quota, total ou parcialmente, a quem seja sócio, independentemente de audiência dos outros, ou a estranho, se não houver oposição de titulares de mais de um quarto do capital social.

Parágrafo único. A cessão terá eficácia quanto à sociedade e terceiros, inclusive para os fins do parágrafo único do art. 1.003, a partir da averbação do respectivo instrumento, subscrito pelos sócios anuentes.

Obs: o Art. 1003 trata da eficácia da cessão, da averbação e alteração do contrato social

Art. 1.003. A cessão total ou parcial de quota, sem a correspondente modificação do contrato social com o consentimento dos demais sócios, não terá eficácia quanto a estes e à sociedade. Parágrafo único. Até dois anos depois de averbada a modificação do contrato, responde o cedente solidariamente com o cessionário, perante a sociedade e terceiros, pelas obrigações que tinha como sócio.

As cotas da sociedade ltda. são passíveis de penhora, estando prevista tal hipótese no CPC (art. 655, VI do CPC), tanto tratando-se de sociedade de pessoas ou de capital. Será cabível a penhora das cotas, quando houver dívida pessoal do sócio.

É mister lembrar que em algumas sociedades, o vínculo existente entre os sócios é muito forte, não se admitindo a participação de terceiros, completamente estranhos à sociedade. Por tal razão, na hipótese de penhora das cotas, o juízo que determinar a penhora, deverá expedir ofício à sociedade, dando aos demais sócios o direito de preferência, ie, permitindo que estes tenham a oportunidade de adquirir tais cotas, evitando que terceiros venham a participar da sociedade. O direito de preferência dos sócios está previsto no art. 685-A, #4º do CPC.

§ 4o No caso de penhora de quota, procedida por exeqüente alheio à sociedade, esta será intimada, assegurando preferência aos sócios.

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- Sócios – Quem pode ser e responsabilidade

Via de regra, qualquer pessoa pode ser sócio. É diferente das regras para ser empresário individual, pq o sócio não irá exercer empresa, necessariamente, sendo, na verdade, um investidor.

Como visto, cada sócio irá subscrever determinado número de cotas e deverá realizá-las. Quando todos os sócios integralizarem suas respectivas cotas, o capital social tb estará integralizado.

Contudo, pode ocorrer de algum sócio não integralizar suas cotas, sócio remisso. Nessa hipótese, vale a pergunta: a mora do sócio remisso é ex re ou ex persona , ie, ele está em mora a partir do vencimento da obrigação ou apenas após ser notificado da sua mora? Nos termos do art. 1004, é ex persona, pois prevê o prazo de 30 dias após a notificação para que seja configurada a mora.

Ainda no tocante ao sócio remisso, destaca-se que enquanto o capital sócio não for integralizado, a responsabilidade dos demais sócios é aumentada, tornando-se solidária até que o capital seja integralizado. Integralizado o capital social, a responsabilidade de cada sócio é limitada ao valor das suas próprias cotas. Nesse sentido, art. 1.052 do CC:

Art. 1.052. Na sociedade limitada, a responsabilidade de cada sócio é restrita ao valor de suas quotas, mas todos respondem solidariamente pela integralização do capital social.

- Desconsideração da personalidade jurídica

Também chamada de disregard é aplicável a qualquer sociedade empresária regularmente constituída.

A desconsideração nada mais é que o afastamento temporário da personalidade jurídica da sociedade para que o sócio fraudador pode ser patrimonialmente responsabilizado. Ou seja, a responsabilidade que em princípio recairia sobre a sociedade, vai recair sobre o sócio que usou a personalidade jurídica da sociedade em seu proveito.

Obs: A desconsideração é um instituto que é aplicado só para as sociedades empresárias, regularmente constituídas. Só PJ regulares. Não se aplica a empresário individual.

A desconsideração está prevista no art. 50 do CC e visa, dentre outras finalidades, conservar, preservar a empresa. Isto pq ao desconsiderar a personalidade, afasta-se a responsabilidade da empresa, atribuindo ao sócio fraudador.

Para que haja desconsideração é necessário processo judicial, ie, deve ser requerida ao juízo tanto nos autos de uma ação específica, como objeto da ação, ou como pedido incidental, num processo de falência, por exemplo.

Uma vez requerida a desconsideração, deverá ser verificado o abuso, desvio de finalidade para que seja possível decretar a desconsideração e seja possível atingir o patrimônio do fraudador na mesma medida do prejuízo que ele causou à sociedade.

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Nesse sentido, importante verificar que existem três formas de aplicação da desconsideração da personalidade jurídica: i) desconsideração maior (teoria maior); ii) desconsideração menor (teoria menor); iii) desconsideração invertida.

i) Desconsideração maior: é a regra. Prevista no art. 50 do CC. Exige a prova da fraude, ou seja, a desconsideração é aplicada quando houver prova da fraude ou do abuso ou da confusão patrimonial (sócio-sociedade).

ii) Desconsideração menor: Está prevista no art. 28 do CDC, na lei do CADE e na L9605-98 (crimes ambientais). A jurisprudência admite a aplicação da teoria menor quando estivermos diante de uma relação consumerista ou ambiental. Na teoria menor é desnecessário a prova do abuso, fraude ou confusão, bastando apenas o inadimplemento patrimonial. Exige o prejuízo configurado e o nexo causal entre tal prejuízo e a conduta do sócio ou administrador. Na justiça do trabalho, tb se admite a aplicação da teoria menor.

Obs: No tocante ao CDC, cabe destacar que o #5º do art. 28 deveria ter sido vetado, contudo, por equívoco, o veto foi do #1º. Assim, o STJ passou a dizer que o #5º é uma norma autônoma em relação ao art. 28.

iii) Desconsideração invertida: não tem previsão legal, mas é admitida pela doutrina e jurisprudência. Nessa modalidade, não se afasta a personalidade jurídica da empresa para atingir o patrimônio do sócio, mas sim, afasta o patrimônio do fraudador para atingir o da sociedade. Imagine que um sócio, ao adquirir bens pessoais, põe tudo no nome da sociedade, visando esconder seu patrimônio de eventuais credores, como se não tivesse patrimônio pessoal nenhum. Nesse caso, afasta-se o sócio para atingir o patrimônio da sociedade que, na verdade seria do sócio. A desconsideração inversa visa evitar a fraude contra credores e tb fraude na partilha. O STJ reconhece a possibilidade de decretação da desconsideração invertida em juízo de família.

Gera discussão na jurisprudência se, caso haja uma ação de desconsideração, se nesta mesma ação já pode ser invadido o patrimônio do fraudador, ie, decretada a desconsideração já pode ser invadido na mesma ação os bens pessoais do sócio? Há quem não admita, pois este fraudador não teve chance de se defender, pois não fez parte do processo. Contudo, a maioria hoje admite tal hipótese, desde que seja garantido ao fraudador o direito de defesa.

- Administração da Ltda.

Para ser adminsitrador da ltda., tem que ser pessoa física, conforme se extrai da inteligência do art. 997, VI – “as pessoas naturais incumbidas da administração da sociedade, e seus poderes e atribuições”.

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Da leitura do dispositivo concluimos tb que tanto a sociedade pode apresentar um único administrador ou mais de um, hipótese em que a responsabilidade dos administradores será solidária.

O administrador não é representante da sociedade, mas sim a sociedade presente (prsentante da sociedade). Ele é escolhido para agir em nome da sociedade, não como seu representante.

Obs: Não se usa mais a expressão sócio-gerente, em especial, pq hj não se exige mais que o administrador seja sócio.

Essa adminstração deve ser exercida da melhor maneira possível, ie, sempre no interesse da sociedade. O administrador pode contratar outras pessoas, ele tem poderes para agir sem consultar os sócios, contudo, em algumas situações essa liberdade de atuação estará limitada, pois será necessária a deliberação dos sócios. Tais situações estão elencadas no art. 1071 do CC, que segue:

Art. 1.071. Dependem da deliberação dos sócios, além de outras matérias indicadas na lei ou no contrato:

I - a aprovação das contas da administração;II - a designação dos administradores, quando feita em ato separado;III - a destituição dos administradores;IV - o modo de sua remuneração, quando não estabelecido no contrato;V - a modificação do contrato social;VI - a incorporação, a fusão e a dissolução da sociedade, ou a cessação do estado de

liquidação;VII - a nomeação e destituição dos liquidantes e o julgamento das suas contas;VIII - o pedido de concordata.

O art. 1072 caput dispõe que o administrador deverá convocar assembléia ou reunião para que os sócios deliberem sobre os assuntos elencados no art. 1071.

Obs: A reunião em assembléia é obrigatória quando o número de sócios for superior a 10 (art. 1072, #1º). Será convocada reunião quando a sociedade contar com até 10 sócios. A diferença entre elas e quanto a formalidade. A assembléia exige publicação em jornal do edital de convocação, pelo menos três vezes, intervalo previsto em lei, deve ser lavrada ata, há quórum específico, dentre outras formalidades.

O art. 1071 deve ser conjugado com o art. 1076, que prevê o quórum para cada um dos assuntos que devem ser submetidos à deliberação.

Assunto Quórum- Inc. I: a aprovação das contas da administração - Maioria dos presentes- Inc. II: a designação dos administradores, quando feita em ato separado

- Votos de mais da metade do capital social

- Inc. III: a destituição dos administradores - Votos de mais da metade do capital social

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- Inc. IV: o modo de sua remuneração, quando não estabelecido no contrato;

- Votos de mais da metade do capital social

- Inc. V: a modificação do contrato social; - Votos de no mínimo três quartos do capital social - Inc. VI: a incorporação, a fusão e a dissolução da sociedade, ou a cessação do estado de liquidação;

- Votos de no mínimo três quartos do capital social

- Inc. VII: a nomeação e destituição dos liquidantes e o julgamento das suas contas

- Maioria dos presentes

- Inc. VIII: o pedido de concordata. - Votos de mais da metade do capital social

Vale lembrar que o contrato social pode trazer quórum maior que o previsto em lei, aumentando a proteção. O administrador deve ter seus poderes e atribuições previstos no contrato social, ou seja, devem ser elencados no contrato social. Não se exigindo grande detalhamento. Toda vez que atua dentro daquilo que previsto no contrato, estará agindo em nome da sociedade. Uma vez que exceda seus poderes e atribuições, não estará agindo como se fosse a sociedade, estará agindo em seu nome, alterando sua responsabilidade.

Pode acontecer do contrato social ser omisso e não trazer os poderes e atribuições do administrador. Nesse caso, o art. 1015 dispõe que o administrador pode praticar todos os atos pertinentes à gestão da sociedade. O problema é que eventualmente tal atuação poderá ser duvidosa, o que dificulta a responsabilização do administração. O administrador de um restaurante pode comprar bebidas e alimentos, mas se ele comprar cimento já não se terá certeza que havia necessidade de uma obra no local. Por isso é mais seguro obedecer o art. 997, VI.

Quando atua dentro de seus poderes, atua em nome da sociedade e esta responderá pelos atos praticados. Ultrapassando, excedendo seus poderes, não atua em nome da sociedade e quem responderá por tais atos será o próprio administrador com seu patrimônio pessoal. Essa responsabilidade do administrador poderá ser direta e poderá ser subsidiária.

Nas hipóteses previstas no art. 1015, pu, incisos, o administrador responderá diretamente perante terceiros, pois terá praticado os chamados atos ultra vires:

Parágrafo único. O excesso por parte dos administradores somente pode ser oposto a terceiros se ocorrer pelo menos uma das seguintes hipóteses:

I - se a limitação de poderes estiver inscrita ou averbada no registro próprio da sociedade;

II - provando-se que era conhecida do terceiro;III - tratando-se de operação evidentemente estranha aos negócios da sociedade.

Nas demais hipóteses, o adminsitrador responde subsidiariamente, ie, o terceiro aciona a sociedade que terá direito de regresso em face do administrador, prevalecendo a teoria da aparência – o administrador atua como se fosse a sociedade. Ainda que tenha excedido, para o terceiro, aparentemente, era em nome da sociedade que atuava.

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Por fim, vale lembrar que a escolhja do administrador é ato dos sócios, que deverão reunir-se, em reunião ou assembléia, para votar e o quórum deve ser de mais da metade do capital social (não é dos sócios!!!!).

Obs: O art. 1061 e 1063, #1º trazem exceção ao quórum do art. 1076, II (mais da metade do capital social). Assim sendo:

Administrador Nomeação Destituição- sócio Art. 1071, II c.c art. 1076, II (mais

da 1/2 do capital social). (Regra)

- Para destituição do adm-sócio, exige-se 2 /3 do capital social, no mínimo, salvo diposição diversa. Art. 1063, #1º.

- não sócio - Depende de unanimidade dos sócios, se sem capital social integralizado; se integralizado, depende de 2 /3 (art. 1061)

Art, 1071, III c.c 1076, II (mais da metade do capital social). (Regra)

Os quóruns diferenciados estão previstos para nomeação de quem não é sócio, já que não tem qualquer vínculo com a sociedade, e para destituição do adm-sócio, pois tem vínculo.

- Resolução da sociedade

Não se deve confundir resolução com dissolução. A sociedade se resolve em relação a um sócio apenas em decorrência de: i) morte; ii) expulsão; iii) retirada.

A matéria é tratada a partir do art. 1028 do CC.No caso de morte, o “procedimento” na ltda. é distinto da S.A, pois nesta há transferÊncia

automática das cotas aos herdeiros, enquanto na ltda., a transferência é de acordo com o previsto no art. 1028. Assim, com a morte do sócio deve a cota ser liquidada, ie, transformar a cota em dinheiro, apurando seu valor e, aí sim, o valor da cota será entregue ao herdeiro ou depositado nos autos do inventário. Essa é a regra, mas o próprio art. 1028 admite exceções, quer sejam: i) se o contrato dispuser diferentemente; ii) se os sócios remanescentes optarem pela dissolução da sociedade; iii) se, por acordo com os herdeiros, regular-se a substituição do sócio falecido.

Também haverá liquidação da cota nos casos de expulsão ou retirada. Ou seja, em todos A retirada, também chamada de direito de recesso, é o direito que o sócio tem de sair da

sociedade quando bem entender. No entanto, o exercício desse direito deve observar algumas regras, previstas no art. 1029 - Além dos casos previstos na lei ou no contrato, qualquer sócio pode retirar-se da sociedade; se de prazo indeterminado, mediante notificação aos demais sócios, com antecedência mínima de sessenta dias; se de prazo determinado, provando judicialmente justa causa.

Fácil observar que, tratando-se de sociedade com prazo determinado, necessário que o sócio interponha ação de retirada apresentando justo motivo para sua retirada. Cabe, assim, ao juiz decidir se a retirada é cabível, justificada ou não. Nos casos de prazo indeterminado, deve haver notificação dos demais sócios com prazo mínimo de 60 dias.

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No caso da exclusão, há quem chame de expulsão, mas aquela é a expressão adotada pelo CC. A exclusão do sócio pode se dar por dois motivos: i) art. 1004, por ser sócio remisso; ii) art. 1030, por falta grave no cumprimento de suas obrigações ou por incapacidade superveniente. No caso do art. 1030, o sócio só poderá ser excluído por decisão judicial – através da ação de exclusão de sócio, proposta por maioria dos sócios.

O art. 1031 dispõe que, no caso de exclusão de sócio, a liquidação da sua cota é de acordo com a situação patrimonial da sociedade no momento da exclusão, que é apurada através de um balanço especial (ou balanço de determinação). Esse balanço é assim chamado pois visa apenas a liquidação da cota.

Obs: Sendo o sócio excluído por ser remisso, terá direito a ter o valor pago (ainda que não integralizado) restituído.

Obs2: No caso de morte, o depósito do valor apurado deve ser feito nos autos do inventário quando houver. Para evitar o pagamento a pessoa errada ou a apenas um dos herdeiros.

Por fim, destaca-se que a morte, exclusão ou retirada da sociedade, não afasta a responsabilidade do sócio (ou herdeiros) perdura por mais dois anos, nos termos do art. 1032 - A retirada, exclusão ou morte do sócio, não o exime, ou a seus herdeiros, da responsabilidade pelas obrigações sociais anteriores, até dois anos após averbada a resolução da sociedade; nem nos dois primeiros casos, pelas posteriores e em igual prazo, enquanto não se requerer a averbação.

- Encerramento da sociedade limitada

A dissolução, liquidação e partilha correspondem ao fim da personlidade jurídica da sociedade.A dissolução está nos arts. 1033 a 1038. Já a liquidação é tratada do art. 1102 e 1112 e, nestes

mesmos dispositivos, encontraremos a partilha. São assuntos estudados em sequência, pois os três envolvem o procedimento de encerramento da sociedade, isto é, começa com a dissolução, passa pela liquidação até a partilha.

A dissolução é a primeira etapa e corresponde a verificação dos motivos que levaram ao encerramento da sociedade. O art. 1033 traz várias hipóteses que justificarão o encerramento da sociedade, mas o contrato social pode prever outras hipóteses (art. 1035). O art. 1034, por sua vez, traz as hipóteses de dissolução judicial, de modo que, obrigatoriamente, será necessária uma ação judicial para a dissolução, enquanto o art. 1033 pode ser através de um procedimento administrativo, extrajudicial.

Vale lembrar que nada impede que nas hipóteses do art. 1033, a decisão seja judicial, caso não haja consenso entre os sócios.

Verificado o motivo, deve a sociedade eleger quem atuará nas etapas seguintes (art. 1036) – liquidação e partilha, pois não necessariamente deverá ser o administrador (pode ser!), podendo ser até mesmo pessoa estranha à sociedade (art. 1038).

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Conforme art. 1071, VII, a nomeação e destituição do liquidante cabe aos sócios por deliberação da maioria dos presentes. Investido o liquidante, a sociedade deixa de praticar empresa, deixa de praticar negócios que possam comprometer sua dissolução e entra na fase de liquidação.

Para proteger eventuais terceiros que queiram negociar com a sociedade, a sociedade em liquidação deverá valer-se em todos atos, documentos e publicações utilizar a firma ou denominação social sempre seguida da “cláusula” “em liquidação” – art. 1103, pu, CC.

O liquidante cuida basicamente de realizar o ativo e pagar o passivo, ie, transformar tudo que a sociedade tem (bens, créditos) em dinheiro, possibilitando o pagamento de todos os débitos. Se a sociedade verificar que o passivo não será suficiente para realizar o ativo, a sociedade será insolvente e o caminho não é liquidação, mas falência, ou no mínimo recuperação. A liquidação é procedimento que só pode ser adotada por sociedades solventes. As regras de liquidação do passivo são as mesmas do direito das obrigações.

Realizado o passivo, havendo valores remanescentes, ie, sobrando dinheiro dos bens liquidados, passa-se a etapa seguinte – a partilha do que sobrou entre os sócios (art. 1108). A partilha é sempre proporcional à participação no capital social, ie, o liquidante ao partilhar o remanescente considerará o número das cotas no total. Por exemplo: ao fim da liquidação, sobrou R$20.000,00, se há 1000 cotas, cada uma vale R$20,00. Multiplicando-se o valor da cota (R$20,00) pela quantidade de cotas que cada sócio tem, chegaremos ao valor que cabe a cada um – A tem 400 cotas, B tem 350 cotas e C tem 250 cotas, A receberá R$8.000,00, B receberá R$7.000,00 e C receberá R$5.000,00.

Obs: A partilha não põe fim à sociedade (nem a liquidação, nem a dissolução) ainda. Mesmo após a partilha, a sociedade conserva sua personalidade jurídica. O pagamento do liquidante não é feito no momento de realização do passivo, pois este só pode receber quando suas contas forem aprovadas, então pode, deve o liquidante reservar o valor que corresponde ao seu pagamento, para levantar após a partilha e aprovação das contas. Na verdade, o liquidante após a partilha deverá convocar os sócios para uma assembléia (não pode ser reunião, pois necessária ata), quando vai expor suas contas, mostrar por quanto vendeu os bens, como pagou as dívidas, como chegou ao remanescente, para que os sócios aprovem ou não as contas do liquidante.

O art. 1071, VII dispõe que cabe deliberação, por maioria dos presentes, para julgamentos das contas do liquidantes. Se não forem aprovadas, ele poderá ser responsabilizado civilmente por tais contas. Por outro lado, se aprovadas, da assembléia lavra-se uma ata que deverá ser averbada na Junta Comercial, quando então será extinta a personalidade jurídica da sociedade, haverá a baixa do registro na Junta. Assim, o que encerra de fato a personalidade jurídica da sociedade é a averbação da ata em que aprovadas as contas do liquidante (art. 1109 do CC).

9.2.4. Sociedades anônimas

- Observações iniciais

Reguladas pela lei 6404-76, mas cabe aplicação subsidiária do CC. A lei das S.A não cuida apenas deste tipo societário, regulando também a sociedade em comandita por ações (são pouco cobradas).

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Atenção: A lei 6404 é a lei das S.A, ie, lei da sociedade por ações e não lei da sociedade anônima (cuidado com essa pegadinha em provas!!!!!).

São, junto às ltdas, os tipos societários mais importantes. As sociedades anônimas tem como característica principal sociedades institucionais, logo organizam-se por estatuto (não contrato social) e é sempre sociedade empresária – regra prevista tanto na lei 6404, quanto no CC (art. 982, pu). Aqui deve-se atentar, pois a S.A. não é empresária pela atividade que exerça, mas por expressa previsão legal. Assim, ainda que não excerça atividade econômica nunca será sociedade simples. Será sempre sociedade empresária, independentemente do seu objeto.

Exemplo: 5 dentistas reunem-se em sociedade e constituem-se sob a forma de S.A. Pela atividade, pela ausência de pluralidade, poderia se imaginar tratar de soc. simples, mas pela adoção de S.A é soc. empresária.

- Nome empresarialAs sociedades anônimas também são chamadas de Cia. e será identificada pelo seu nome

empresarial que deverá adotar denominação (art. 1160, CC) – observando o p. da novidade e não se aplica o p. da veracidade que só se aplica às firmas.

Pode-se inventar o nome fantasia livremente, mas deve trazer o objeto social acompanhando esse nome fantasia (raio de sol moda praia S.A), além da designação S.A ou a expressão “Cia.” ou “Companhia”, sendo que a designação S.A pode vir no meio, início ou ao fim do nome – Petrobras S.A. Já se adotada “Cia.” está deve vir obrigatoriamente no início – Cia. Vale do Rio Doce. Aqui vale lembrar que a obrigatoriedade de informar o objeto social veio com o CC02, por isso a Vale não traz seu objeto.

Obs: Pode trazer o nome civil de alguém, como forma de homenagem, pe, mas ainda assim não é firma social, continuará sendo denominação.

- Estatuto social

Como dito, se constitui por estatuto e não por contrato.No estatuto, constará o capital social que é dividido em ações e não em cotas. As ações são

subscritas pelos interessados que se tornarão acionistas.

Obs: Sócio é gênero, existe em qq sociedade. Acionista e cotista são espécie. Todo acionista e cotista são sócios, mas nem todo sócio é acionista, pois pode ser cotista.

Para que o sócio se torne acionista deve adquirir ações, mas não é o pagamento que o torna acionista, mas a subscrição. Assim, ainda que sócio remisso, continuará sendo acionista. A subscrição e a integralização não se confundem.

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No momento em que subscreve as ações, elas passam a integrar o patrimônio do acionista, devendo, pe, declarar a titularidade dessas ações em seu IR. As ações, por integrarem o patrimônio do acionista, são passíveis de penhora, sem preferência da sociedade.

As ações são bens móveis e podem ser transferidas, negociadas livremente, dadas em garantia, é possível pender direito real, só não admitem o fracionamento. A ação é bem móvel indivisível. Falecendo um acionista com apenas uma ação e cinco herdeiros, a ação ficará em condomínio, podendo a ação ter mais de um titular, mas sem admitir sua fração.

As ações podem ser deixadas em testamento ou, sem este, transferidas automaticamente aos herdeiros.

Isso deixa claro que as sociedades anônimas são sempre de capital, nunca de pessoas.

- Classificação

As sociedades anônimas são institucionais, de capital, empresária, mas há classificações que são específicas da S.A., por exemplo, cia. de capital aberto ou capital fechado. Esta não admite oferta de ações ao público, enquanto aquela admite sua negociação (art. 4º da lei).

Outra classificação é quanto a forma de subscrição: subscrição pública (ou forma sucessiva) ou subscrição particular (ou forma simultânea).

Para que a S.A se constitua, deve todo o capital social estar subscrito por pelo menos dois sócios (legislação anterior exigia sete sócios), que podem ser pessoa física ou jurídica, todo o capital social já deve ter um titular, salvo na hipótese da sociedade unipessoal – é a subsidiária integral (art. 251 da LSA – a sociedade se constitui com um único sócio que é obrigatoriamente uma socieade brasileira). A sociedade nasce unipessoal – unipessoalidade originária.

O sócio ao subscrever determinada quantidade de ações, deve informar a forma como irá integralizar as ações. Se optar por subscrever e integralizar à vista, no mesmo ato não há risco para a sociedade dele tornar-se remisso, risco existente se optar por integralizar “à prazo”. Destaca-se que optanto por integralizar parceladamente, deverá obrigatoriamente pagar 10 % do que for subscrito à vista (art. 82 LSA).

Não confundir subscrição, integralização e tb realização. Realizar é pagar uma parte. Integralizar pagar tudo e a subscrever é adquirir.

A subscrição pública ou sucessiva caracteriza-se pela oferta das ações ao público em geral, hipótese em que é necessário não só a observância da regra do capital social estar todo subscrito e pelo menos 10% realizado, como também a autorização da CVM para negociação das ações. Toda cia. que se constitui por subscrição pública depende de autorização da CVM para negociação pública das ações. Esses valores deverão ficar depositados no BB, ou instituição financeira equivalente, até que o processo de constituição da cia. termine (aquisição de personalidade jurídica), cujo prazo máximo é de seis meses (se findo os 6 meses não tiver encerrado o processo de constituição, os valores realizados deverão ser devolvidos aos acionistas.

A CVM autoriza a oferta pública e também fiscaliza os atos. Quando a constituição é por subscrição pública, essa cia. deve obter autorizaçãoo da CVM e a oferta pública deverá ser por intermédio de uma instituição fincanceira, que é quem atrai o público investidor muitas vezes. Os

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interessados analisarão o prospecto e, se quiserem tornar-se acionistas, assinarão o termo de subscrição – que é título executivo extrajudicial. Se o acionista tornar-se remisso, o título poderá ser levado a juízo para execução.

Subscritas todo o capital social, com pagamento mínimo de 10 % de cada subscritor, os fundadores convocarão uma assembléia de constituição. A assembleia de constituição visa basicamente a aprovação do estatuto (que ainda é um projeto) e o preenchimento dos órgãos da cia – conselhos de administração, conselho fiscal – para que seja possível então lavrar a ata que, juntamente com o estatuto, deverão ser levadas a registro para aquisição da personalidade jurídica da S.A.

A cia. constituída por subscrição pública e ao adquirir personalidade passa a ser cia. aberta.A outra forma é a subscrição particular que não conta com oferta pública, mas sim, com os

fundadores convidando algumas pessoas que interessando-se subscreverão as cotas, aprovarão o estatuto, tudo no mesmo ato. Ou seja, é um procedimento mais simples, sendo por isso subscrição particular ou forma simultânea. A constituição é mais fácil, pois tem menos acionistas, não se exigindo assembléia (não é proibida, pode ser feita assembléia).

Como não há negociação com o público, essa cia. será fechada, não dependendo de autorização da CVM.

A negociação pública da cia. aberta, com autorização da CVM, é realizada no chamado mercado de valores mobiliários, expressão que siginifica negociação com o público, que compreende duas espécies de negociação: na bolsa de valores e no mercado de balcão.

A bolsa de valores é uma sociedade ou pessoa jurídica que se ocupa dessa oferta de ações, dessa intermediação de negociação. A bolsa de valores só atua no mercado secundário, que é aquele onde há compra e venda de ações de titularidade de um acionista pro outro, não há aquisição “originária” da ação (A que tem uma ação vende pra B que tb tem ações). O mercado primário é aquele em que há subscrição é a primeira “aquisição” da ação, ie, diretamente da sociedade que está se constituindo para o primeiro subscritor. Essa negociação do mercado primário não pode acontecer na bolsa de valores, mas tão somente no mercado de balcão – este correponde a qualquer negociação feita fora da bolsa de valores, na qual podem atuar corretores autônomos ou sociedades empresárias que se ocupam dessa intermediação – desde que autorizadas.

Mercado de balcão deve ser intermediado por um profissional autorizado, sempre! Sem este não será possível a realização da negociação. O mercado de balcão atua tanto no mercado primário quanto no secundário. A distinção está apenas na bolsa de valores que só pode atuar no secundário.

Para atuar na bolsa de valores exige-se uma autorização especial da CVM, ou seja, td cia. aberta, simplesmente por ser aberta já está autorizada a atuar no mercado de balcão, mas para atuar tb na bolsa dependem de autorização. Podemos ter cias. abertas que só atuam no mercado de balcão, pois não tem autorização para atuar na bolsa de valores.

A subscrição pode ser então pública ou particular, se pública, nasceu a cia. aberta, se particular, nasceu a cia. fechada.

Assim, a sociedade se constitui quando o estatuto é levado a registro no órgão competente (Junta Comercial), nesse momento a sociedade adquire a personalidade jurídica. Mas o modo de composição, de negociação dos valores mobiliários é que ditará se a cia. é aberta ou fechada.

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- Valores mobiliários

Os valores mobiliários são os papéis emitidos pela cia., possuem valor econômico e podem ser negociados. Os valores mobiliários podem ser ações, debêntures, partes beneficiárias e bônus de subscrição. Não são os únicos papéis que podem ser emitidos pela cia., são apenas os mais importantes por terem previsão legal.

i) Ações: as ações tem natureza de bem móvel, indivisível, integram o patrimônio do acionista, podendo ser penhoradas, dadas em garantia, como já visto. As ações podem ou não se materializar, diferentemente das cotas. Para que as ações se materializem a S.A. deve emitir um “certificado de ações”. O importante aqui é sabr que quando a Cia. decide materializar as ações, esse certificado é um meio de segurança para a própria sociedade – ele detalha quais ações, quantas – e a fim de evitar falsificação apresenta marca d’água, marca holográfica e, exatamente por isso leva um tempo pra ficar pronto.

Nesse ponto, cabe a pergunta: durante o tempo que o certificado leva para ser emitido, como é possível comprovar a titularidade da ação? Através de um documento que materializa as ações antes do certificado ser emitido chamado “cautela de ações”. A cautela é, obviamente, um documento provisório e tem validade até a emissão do certificado. É o documento que materializa as ações antes que o certificado seja emitido.

As ações podem ter vários valores. Fábio Ulhoa faz a comparação com o imóvel. Um imóvel pode ter vários valores – de mercado, venal – tal qual as ações.

Um primeiro valor é o valor nominal que é obtido facilmente através de operação aritmética, uma vez que o estatuto da Cia. deve prever o valor do capital social. Assim, se o estatuto diz que o capital é de R$100.000,00 e que a sociedade deve ter 100.000 ações, logo o valor nominal é de 1,00, pois é obtido pela simples divisão do valor capital social pela quantidade de ações. Pode constar ou não no certificado de ações. Atenção: toda ação tem valor nominal, não é pq não consta no certificado que ela não tem. Basta dividir para saber.

Valor patrimonial, por sua vez, é a aquele que representa todo o patrimônio da sociedade. Quando a sociedade tem lucro, seu patrimônio é aumentado e as ações vão valorizando. O capital social não é alterado, o valor nominal das ações é o mesmo, mas com a valorização do patrimônio, há alteração do valor patrimonial das ações. Este é obtido pela divisão do patrimônio líquido pelo número de ações. Além disso, se a cia. for aberta, ainda há outro valor – valor de mercado das ações. Esse não é objeto de conta aritmética, pois cada negociação leva a um valor distinto, pois é influenciado por fatores externos, projeção econômica da empresa, política monetária nacional e até internacional.

As ações são os valores mobiliários mais importantes, de maior destaque e isso por dois motivos: i) as ações são obrigatórias, vez que toda SA tem que dividir seu capital social em ações; ii) além disso, as ações tornam seu titular parte integrante da Cia.

Por fim, vale lembrar que estão previstas no art. 11 e seguintes da lei de SA.

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ii) Debêntures: São papéis que tornam seu titular, o debenturista, credor da Cia. São títulos representativos de empréstimos da SA. Quando a SA necessita de fluxo de caixa, contrai empréstimos através das debêntures.

As debêntures podem ser resgatáveis em dinheiro ou em ações. Estas últimas fazem com que o titular, ao fim do prazo, possa subscrever as ações. Já as resgatáveis em dinheiro fazem com que o debenturista, retorne com o valor emprestado ao seu patrimônio de forma valorizada.

Quer sejam resgatáveis em dinheiro ou conversíveis em ações, o debenturista recebe o certificado de debenturista, em que constará o tipo de debêntures adquiridas, forma de resgate, valor, além dos direitos e deveres de ambas as partes.

As debêntures podem ou não oferecer garantia ao ebenturista. Isso é importante, pois se não for paga, o credor poderá cobrá-las. Se não for feito o pagamento, o certificado de debêntures é um título executivo, pode ser executado.

Contudo, se decretada a falência da SA, conforme haja ou não garantia, diferente será a situação do credor no quadro geral de credores. Na verdade, são quatro modalidades, conforme o art. 58 da LSA, sendo duas com garantia e duas sem: debêntures com garantia real, com privilégio especial, quirografárias e subordinadas.

As com garantia real, fazem do debunturista credor com garantia real; com privilégio, credor com privilégio especial, além do credor quirografário (comum, sem garantia) e o credor subordinado. Este último é credor sub-quirografário, vez que está só receberá após o pagamento de todos os outros. Ou seja, a debênture subordinada está subordinada ao pagamento de todos os demais credores – receberá por último.

Por essa perspectiva, pode se concluir que os debenturistas vão preferir sempre ter garantia real, mas não e isso por dois motivos: i) a Cia. não é obrigada a emitir as quatro modalidades, cabendo a sociedade decidir quantas e quais irá emitir; ii) ademais, quanto mais garantia for dada, menos a cia. irá remunerar, ou seja, quanto maior o risco, maior o resgate; mais garantia, menor resgate.

Previstas a partir do art. 52 e seguintes.

iii) Partes beneficiárias: Papéis que conferem ao titular o direito a participar dos lucros da cia. O titular não é acionista, não é sócio. As partes beneficiárias têm prazo e são resgatáveis apenas em caso de lucro. São eventuais e temporárias.

iv) Bônus de subscrição: garantem direito de preferência em caso de aumento do capital social (art. 75, LSA). Só estarão presentes nas chamadas cias. de capital autorizado, que são SA que já possuem autorização no estatuto para aumento futuro do capital. São essas que podem emitir os bônus de subscrição. Quem os adquire, adquire o direito a subscrever as ações quando emitidas, bastando apresentar o papel na Cia.

Não se trata de obrigação, mas um direito à subscrever, direito de preferência que pode ou não ser exercido. Cabe a cia. decidir se emitirá ou não o bônus.

- Responsabilidade do acionista

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O acionista ao subscrever as ações, tem o dever de integralizá-las. Na SA, o acionista só responde pelas ações por ele subscritas sem qq responsabilidade sobre as ações não subscritas pelos demais acionistas – diferente da ltda.

Como dito, o acionista responde pelo valor das ações que ele subscreveu, ainda que não realizadas. Mas se subscritas e não realizadas, torna-se acionista remisso, em mora, devedor da Cia. Essas ações não realizadas podem ser levadas a venda na bolsa de valores ou cabe ainda execução do acionista remisso.

Além desse principal dever, o acionista tem tb direitos – de natureza patrimonial e não patrimonial (ou pessoal). Como direito patrimonial, consta participar dos dividendos, receber os dividendos. Aqui é válido lembrar a diferença entre lucro e dividendo. Lucro é o resultado do investimento da Cia, enquanto o dividendo é a parte do lucro que cabe a cada acionista, de acordo com o número de ações que cada acionista titularizar.

Tem tb o direito a participar do fracionamento, recebendo no caso da liquidação da sociedade.Como direitos não patriomoniais: direito de voz na assembléia, direito a voto, direito a se

candidatar.Outro direito que o acionista tem é o direito de se agrupar, ou seja, celebrar o chamado acordo

de acionistas. O acordo de acionistas tem natureza contratual e através dele os acionistas pactuam para celebrar determinado comportamento, uma obrigação de fazer, que, em geral, é votar em determinado sentido. É interessante, em especial, para acionistas minoritários que, sozinhos, praticamente não tem voz, mas juntos podem conseguir mudanças pretendidas.

O acordo de acionistas é título executivo judicial, podendo, assim, ser objeto de execução para forçar a manifestação do sócio.

- Órgãos da cia.

Os órgãos da cia são tratados melhor dentro das SA, vez que as demais sociedades possuem formas mais simples. Não quer dizer que as demais não possam ter tais órgãos. As ltdas. podem ter conselho fiscal, a assembléia em determinadas questões é obrigatória.

Já na SA, os órgãos estão previstos em lei, mas o rol não é taxativo. Outros podem ser criados pela Cia. mas, caso criados, não podem usurpar as funções previstas para os órgãos previstos em lei.

i) Assembléia: é o órgão mais importante da Cia. e tem por finalidade deliberar os assuntos de interesse da cia. Deliberar aqui significa votar. Assembléia não se confunde com reunião, esta não possui formalidades, enquanto a assembléia possui.

A assembleia exige edital de convocação, pelo menos três vezes, com intervalos previstos em lei. Necessário quórum de instalação – aquele necessário para constituição da assembléia. Caso observado, será instalada a assembléia, e serão colocados em pauta os assuntos previstos em edital. Após necessário novo quórum – quórum de deliberação. Ao fim da assembléia, deve ser lavrada ata, em que constará todos os atos praticados.

A assembléia busca determinado comportamento, ie, ela visa descobrir o que a cia. quer ou não quer que seja feito. Em outras palavras, a assembleia se assemelha ao legislativo – discussão e votação,

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porém a assembléia não executa, não realiza o que foi aprovado. Quem executa o que foi aprovado pelo legislativo, é o executivo. Do msm modo, numa SA, a assembléia é o legislativo e a diretoria executa.

ii) Diretoria: A diretoria implementa, executa aquilo que já foi decidido pela assembléia. É órgão de execução. Tanto assembléia como diretoria são órgãos obrigatórios. São os órgãos mínimos para funcionamento da Cia. Os demais órgãos não são obrigatórios.

A diretoria se assemelha ao administrador da ltda. e é órgão da Cia. A diretoria é órgão composto, possui mais de um diretor e seus membros não precisam ser acionistas, devendo, contudo, morar no país (obrigatoriamente).

iii) Conselho de administração: atua em conjunto com a diretoria, é órgão de administração, mas não é obrigatório. Se não houver conselho, a diretoria será o único órgão de administração.

O conselho é órgão colegiado e formado por, no mínimo, 3 membros que devem ser acionistas (todos). Cabe destacar que, em regra, o mínimo de acionistas para constituição de uma SA são 2. Exige-se apenas duas pessoas para subscrição das ações. Contudo, se nessa SA constituída com 2 sócios, for decidido formar um conselho de administração, será necessário – obrigatório – que haja mais um sócio, pois o conselho é formado obrigatoriamente por 3 acionistas.

Obs: Atenção: Em regra, o conselho não é obrigatório. Entretanto, há três casos em que será obrigatória sua formação. São eles: i) cias. abertas – td SA aberta deve ter conselho de administração; ii) cias. de capital autorizado; iii) sociedades de economia mista.

iv) Conselho fiscal: Tal qual o conselho de administração, tb não é obrigatório. Tanto ltda. qto a SA podem ter, se quiserem, conselho fiscal. A ele cabe a fiscalização do funcionamento da sociedade.

Obs: Atenção: O conselho fiscal é obrigatório nas sociedades de economia mista. Ou seja, na sociedade de economia mista todos os órgãos são obrigatórios!!!!!!!!!!!!

- Dissolução da Cia.

A partir do art. 206 da LSA – Ler!!!!!Mesmas observações qto à Ltdas. – vide tópico supra

- Modificações societárias: transformação, fusão, incorporação, cisão

Embora previstas na LSA, art. 220 e seguintes, aplicam-se a todos os tipos societários.Por sua vez, no CC estão previstas no CC no art. 1113 e seguintes. Atenção: O CC não trata da cisão em seus dispositivos, muito embora, no título do capítulo

conste a “cisão” como umas das formas de modificação societária. Assim, vale aqui fazer remissão ao art. 229 da LSA, que será aplicado subsidiariamente a todos os tipos societários dada a omissão do legislador no CC.

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i) Transformação: é a modificação societária que tem por objetivo modificar o tipo societário; é a modificação que visa alterar a forma da sociedade, ie, transformar uma ltda. em SA. Vale destacar: qualquer sociedade pode ser transformada em qualquer outro tipo, não há limitação, restrição.

A transformação pode implicar em mudança na responsabilidade do sócio de ilimitada para limitada, por exemplo. Por conta dessa possibilidade é muito comum ser questionado em provas o quórum necessário para transformação. Nos termos do art. 1114 do CC, o quórum para transformação é de unanimidade dos sócios, isto porque a transformação pode alterar a responsabilidade dos sócios. Contudo, se já houver previsão no estatuto de que a sociedade dentro de determinado prazo será transformada em outro tipo societário, não se exigirá aprovação dos sócios, não haverá votação, pois já foi deliberado dada sua previsão no estatuto. Nessa hipótese, é garantida ao sócio o direito de retirada.

Quando uma SA abre ou fecha seu capital, ie, passando de cia. aberta para fechada ou de fechada para aberta, não se fala aqui em transformação, pois não há nesse caso transformação de tipo societário.

Outro ponto relevante dentro da transformação é que ela só produz efeitos prospectivos (ex nunc) e, nunca retroativos (ex tunc), devendo serem respeitados todos os contratos firmados pela socidade antes da transformação.

Por exemplo: uma sociedade em nome coletivo transformada em ltda. Naquela o sócio responde ilimitadamente, de modo que os NJ celebrados antes da transformação continuarão seguindo essa responsabilidade, enquanto os celebrados após a sociedade não alcançarão o patrimônio particular do sócio.

Por fim, vale destacar que temos apenas uma sociedade que se transforma em outra, enquanto as demais formas de modificação envolvem pelo menos duas sociedades.

ii) Incorporação, fusão e cisão: Disposições comuns: Exige-se um documento escrito que servirá de base, chamado da protocolo, projeto ou plano, seguido do tipo de modificação que se pretenda fazer. Por exemplo, “projeto de fusão” é um documento escrito que determina como a fusão irá ocorrer, que deverá ser votado tanto na incorporadora quanto na incorporada.

Outra regra comum é a fiscalização por um órgão que irá proteger o público em comum, contra fusões, incorporações que possam gerar cartéis, monopólios comerciais, domínios de mercado que prejudicam o público consumerista. Esse órgão fiscalizador é o CADE.

Por fim, a última regra comum é quanto ao quórum necessário: três quartos do capital social.

iii) Incorporação: Absorção de uma empresa por outra. A incorporadora absorve a incorporada, de modo que todos os direitos, créditos, deveres e débitos da incorporada são absorvidos pela incorporadora, extinguindo aquela.

iv) Fusão: A fusão distingue-se da incorporação pois nessa duas, ou mais sociedades, se juntam, se unem e se extinguem para formar uma nova. Na incorporação há uma absorção, uma das envolvidas desaparece, mas a outra persiste e até mais forte. A nova sociedade que surgir objeto da fusão tb será

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sucessora das sociedades anteriores em todos os direito e obrigações, respondendo pelo passivo e usufruindo do ativo.

v) Cisão: Esta, por sua vez, implica no fracionamento da sociedade. Pode haver uma cisão parcial, quando a sociedade se fraciona, de modo que a cindida continua existindo, ainda que menor; já na cisão total há o fracionamento completo da sociedade. A cindida aqui desaparece, criando novas sociedades.

Seja na total, seja na parcial as novas sociedades sucedem em todos os direitos e obrigações da cindida, só que de modo proporcional à cisão.

Títulos de crédito

1. Noções Gerais

- Histórico Antigamente o crédito era concedido verbalmente, se baseando na confiança entre as partes, o

que gerava uma forte insegurança em caso de inadimplemento (dificuldade de prova, falta de documentos, testemunhas). Nesse cenário, o próprio comerciante se viu forçado (interessado) em criar outros meios de concessão de crédito, documentando a relação. Foram criadas, então, cartas concessivas de crédito/declarações de crédito, estas com uma série de formalidades a serem observadas. Com o tempo esses documentos foram diminuindo, tornando-se mais enxutos, mas mantiveram sua essência – documentar, comprovar a relação - e viraram os títulos de crédito que conhecemos hoje.

- Conceito Título do crédito é o crédito coisificado (Pontes de Miranda). É a materialização do crédito. Título de crédito é sinônimo de cártula e cambial.

Art. 887. O título de crédito, documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele contido, somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei.

O artigo 887 do CC/02 traz o conceito de títulos de crédito, este inspirado no conceito de

Vivanti, ainda que com uma profunda diferença. Vivanti afirmava que título de crédito é o documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele mencionado. Nota-se que o CC/02 utiliza a expressão "contido" em vez de "mencionado", o que é criticado pela doutrina. De fato, o crédito não esta contido no título, até porque o crédito é anterior ao título. Tanto que com a perda do título se perde apenas a facilidade de se exigir o crédito, mas a pessoa continua credor, podendo ajuizar ação de cobrança.

- Legislação Aplicável Os principiais títulos são: letra de câmbio, nota promissória, duplicata e cheque. Os dois

primeiros são regulados pelo Dec. 57663/66, norma chamada de "LUG" (lei uniforme de Genebra, fruto

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de um acordo internacional). No que se refere ao cheque, atualmente temos a Lei 7367/85. A Lei de Duplicatas é a Lei 5474/68, norma que influenciou o uso deste título em outros países. Norma de suma importância é a lei para protesto de títulos de crédito, a Lei 9492/97, diploma aplicável ao protesto de qualquer título de crédito. O Código Civil é a lei geral e tem uma capítulo dedicado aos títulos de crédito. Este capítulo é importante, mas cabe lembrar que é uma normal geral, devendo ser aplicado apenas quando a lei específica for omissa. Ex.: o art. 887 do CC/02 define o título de crédito. Ex. 2: o art. 889, p.3º traz a possibilidade de títulos de crédito virtuais.

Obs.: Antes da lei do cheque acima citada tínhamos o Decreto 57.595/66, que era chamada de Lei Uniforme do Cheque (LUC). Tal norma foi revogada tacitamente, ainda que ainda esteja presente na maioria dos Códigos – Atenção a isso!!!!!!!!!!!

2. Características

A primeira característica importante é que os títulos são documentos escritos. Claro que em virtude dos títulos virtuais esta característica foi mitigada, mas o importante é que os títulos se materializem de alguma forma.

Outra característica é que eles são documentos de apresentação/resgate, até porque ele precisa ser apresentado para o seu resgate. Tanto é que a prova de quitação é a "posse" do título pelo emissor.

Conforme art. 585, I do CPC, os títulos de crédito tem natureza de títulos executivos extrajudiciais, permitindo ajuizamento de uma ação de execução em caso de inadimplemento.

Ademais, as cártulas são documentos formais, e para se manter a força executiva elas precisam preencher os requisitos legais, obedecer as formalidades previstas. A ausência de um dos requisitos acarreta vício de forma ao título, retirando sua força executiva.

Obs: Cada lei traz requisitos especificos dos títulos de crédito.

3. Atributos

Parte da doutrina divide característica e atributos, enquanto outros o tratam de maneira uniforme. De fato, não faz a menor diferença, o importante é saber o conteúdo. A doutrina traz três atributos que seriam as principais características das cambiais: circulabilidade, executoriedade e negociabilidade.

a. Circulabilidade: é a possibilidade do título ser transferido. Esta transferência pode se dar por um endosso (assinatura no verso) ou por cessão de crédito (tradição). Cabe lembrar que a cessão de crédito é um instituto genérico, motivo pelo qual vem previsto no CC/02.

b. Executoriedade: possibilidade dos títulos de crédito servirem como base para a ação de execução, uma vez que tem natureza de título executivo extrajudicial.

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c. Negociabilidade: o título pode ser negociado antes do vencimento. Claro que o devedor não é obrigado a pagar antes do vencimento, mas o portador pode negociar o título com um terceiro ("vende" o título). Esta negociabilidade pode ocorrer através de desconto bancário ou pela factoring (fatorização).

O desconto bancário é uma negociação feita apenas por instituição financeira, esta que cobra um valor pela operação ("desconto" pelo adiantamento e risco). O antigo portador que endossou o título ao banco acaba sendo o garantidor do pagamento (co-obrigado). Já o factoring pode ser realizado por qualquer sociedade empresária regularmente constituída, e aquele que transfere o título não assume o risco pelo inadimplemento, pela obrigação.

4. Classificação

As classificações mais importantes são quanto a estrutura, modelo, forma de emissão e forma de circulação. No que se refere a estrutura, o título pode ser uma promessa de pagamento ou por ordem de pagamento. No primeiro caso, a estrutura do título é bem simples, constando apenas o devedor e o credor. Já na ordem de pagamento temos uma pessoa que dá a ordem de pagamento (sacador), outra que recebe a ordem (sacado) e um terceiro que recebe o valor ordenado (beneficiário/tomador). A ordem de pagamento é um pouco mais complexa que a promessa de pagamento. O cheque é um exemplo de ordem de pagamento.

No que se refere ao modelo, os títulos podem ser modelo livre ou de modelo vinculado. Todo os títulos tem que preencher os requisitos legais, mas a "diagramação"/estrutura pode ser livre ou vinculada.Quando de modelo livre, o preenchimento dos requisitos é livre, já nos modelos vinculados, como o cheque, há uma estrutura expressa a ser observada e preenchida. Quanto a forma de emissão, os títulos podem ser abstratos o causais. O título abstrato é aquele que pode ser emitido por qualquer motivo, podendo ser emitido até por motivos ilícitos (por exemplo, emitir um cheque pra pagar dívida de jogo). Já o título causal é aquele cuja causa de emissão está prevista em lei, como exemplo, a duplicata, conhecimento. Quanto a forma de circulação, o título pode circular por endosso ou por cessão de crédito. No primeiro caso temos a assinatura no verso do título. No segundo caso temos a simples tradição da cártula. Quando o nome do credor constar no título, o mesmo deverá assinar para autorizar a transferência do crédito. Quando o título estiver "ao portador" ele poderá circular por simples cessão de crédito.

Obs.: A regra da circularidade pode ser excepcionada por lei, havendo a necessidade de que tal impedimento venha previsto no título. Sendo assim, o título pode ser "à ordem", ou "não à ordem". Aquele pode circular livremente, sem necessidade que esta expressão conste no título, por endosso ou por cessão de crédito. Esse, por sua vez, é aquele que impede a circulação do título, mas para tal, a expressão “não à ordem” deve constar expressamente no título. Em geral, quando circula por cessão de crédito, está ao portador, e quando por endosso, está nominativo.

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5. Princípios

Como dito, o artigo 887 do CC trouxe o conceito de títulos de crédito inspirado no conceito de Vivanti. Contudo, Vivanti afirmava que título de crédito é o documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele mencionado, enquanto o CC se vale da expressão "contido" em vez de "mencionado", o que é criticado pela doutrina. De fato, o crédito não esta contido no título, até porque o crédito é anterior ao título. Tanto que com a perda do título se perde apenas a facilidade de se exigir o crédito, mas a pessoa continua credor, podendo ajuizar ação de cobrança. Os princípios estão presentes no próprio conceito do art. 887 do CC. Conforme princípio da cartularidade, o título precisa ser apresentado para que o direito executivo seja perfaça. Conforme caput do art. 887, é documento necessário, daí a cartularidade. Os títulos virtuais vem mitigando este princípio. O princípio da literalidade é a vinculação, pelo credor e devedor, às informações contidas no título. Os direitos e deveres são pautados pelas informações que estão no título. O negócio jurídico que deu origem ao título pode não estar fielmente representando na cambial. Neste caso, para a ação de execução vale o que está no título, mas para a ação de cobrança vale o próprio negócio jurídico. O formalismo é a necessidade do título de crédito preencher os requisito legais sob pena de não produzir efeito de título de crédito. O título com vício de forma perde o atributo da executoriedade, motivo pelo qual não vale como título executivo, cabendo apenas o ajuizamento da ação monitória.

Obs.: Título prescrito também perde a executoriedade, cabendo apenas a ação monitória. Ex.: súm, 229 do STJ.

O princípio da autonomia se divide em abstração e inoponibilidade da exceções pessoais em face de terceiros de boa-fé. A autonomia é a independência entres todos os negócios jurídicos que fizeram o título nascer ou circular. Os motivos que fazem o título nascer ou circular são independentes.

A abstração é subprincípio da autonomia. De acordo com a abstração, o título se desvincula do negócio jurídico que deu origem a ele ao ser endossado. A doutrina afirma que “o endosso purifica o título”, ou seja, quando o título circula por endosso, eventuais vícios do negócio jurídico que lhe deu origem, não o contaminam.

Atenção: Se o título circula por cessão de crédito, ele não abstrai, não há autonomia. Sendo assim, enquanto o título não circular o vício do negócio jurídico pode ser alegado, como

seria o vício do produto. Contudo, se o título circular o devedor não poderá alegar vício do produto para se abster de pagar. Outro subprincípio do p. da autonomia é a inoponibilidade. A inoponibilidade das exceções pessoais em face de terceiros de boa-fé significa que as defesas relacionadas ao negócio jurídico não podem ser alegadas em face de terceiro de boa-fé. Na prática, havendo o endosso do título, no momento da cobrança do devedor, ele não pode opor defesa relacionada ao NJ para deixar de pagar o credor de boa-fé. (A não pode se recusar a pagar a E, pq a TV que comprou de B não funciona – inoponibilidade ao credor de boa-fé). Este subprincípio vem expressamente previsto no art. 17 da LUG.

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6. Institutos Análogos

6.1. Aceite

O sacador dá uma ordem para que o sacado pague o beneficiário. Ocorre que o sacador não tem negocio jurídico com o beneficiário, e não pode ficar a mercê da vontade do sacador. Por isso temos o instituto do aceite, matéria de direito cambial, onde o sacado expressa a sua concordância e se vincula a aquela obrigação cambial (a obrigação não é civil). Sendo assim, cabe ao beneficiário quando receber a letra de câmbio apresenta-lá junto ao sacado para que este aceite o encargo, ou seja, a apresentação para aceite é uma faculdade do beneficiário. O aceite é dado com a assinatura do sacado na frente do título. O aceite pode até ser dado no verso do título, mas como qualquer assinatura dada no local "errado", deve ficar claro e expresso que aquilo é um aceite (ou seja, não basta assinar, tem que especificar que está aceitando... “aceito”, “pagarei”... seguido pela assinatura).. Não há prazo para esta apresentação, mas em tese deve ocorrer antes do vencimento, já que o título vencido é apresentado direto para pagamento independente de aceite (influencia em quem vai pagar). Sendo assim, o título a vista não contem aceite, já que ele vence com a sua própria apresentação. Ex.: o cheque, por ser ordem de pagamento a vista, não precisa de aceite.

Obs.: o título sem aceite continua sendo válido e exigível.

Nota-se, portanto, que o aceite não é requisito essencial para a letra de câmbio, sendo um ato facultativo do sacado. O sacado não é obrigado a se vincular por título de crédito, mas isso não o exime de pagar a sua dívida junto ao sacador. O sacado, se não estiver certo do aceite, pode pedir um prazo para "pensar", o que seria o chamado de “prazo de respiro”, onde o sacado solicita que o título seja reapresentado no dia seguinte (não são 24h, ie, não há prazo de 24h na LUG, a lei fala apenas em “apresentação no dia seguinte”). Portanto temos três situações distintas: a) título com aceite; b) ausência de aceite pela sua falta; c) ausência de aceite por recusa.

a) Com aceite: Uma vez aceito o título o sacado passa a ser chamado de aceitante. O aceitante passa a ser o devedor principal do título (a ele deve ser apresentado o título para pagamento) e obrigado direto (aquele que paga independente do protesto do título). O sacador passa a ser co-devedor e obrigado indireto (o título deve ser protestado antes de cobrança), sendo um garantidor do título de crédito. Sendo assim, com o protesto por falta de pagamento na falta de pagamento, o beneficiário pode ajuizar ação contra os dois, estes que respondem solidariamente.

Vale destacar, para cobrar o aceitante, não é necessário protesto do título. Basta apresentar o título ou ajuizar ação de execução diretamente. Contudo, para cobrar do sacador, coobrigado indireto, exige-se protesto.

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b) Ausência de aceite pela sua falta: Ocorre quando não se consegue uma manifestação de vontade válida do sacado, ou por não ter sido encontrado ou por não ser mais capaz. A ausência de aceite não vincula o sacado de nenhuma maneira. O sacador fica como devedor principal (a ele deve ser apresentado para pagamento), mas permanece como obrigado indireto (tem que ser protestado), ou seja, o beneficiário deve protestar o título para cobrar o mesmo em face do sacador na data do vencimento. O cartório vai atestar a ausência de aceite.

c) Recusa de aceite: Ocorre quando o sacado manifesta a sua vontade em não se vincular ao título. Neste caso temos um vencimento antecipado do título, sendo o sacador o devedor principal e obrigado indireto. Sendo assim, o beneficiário protesta o título e cobra imediatamente do sacador.

Obs.: o protesto é para trazer segurança ao sacador, que apenas assim pode ter certeza (questão de prova) que não houve o aceite. O protesto é ato formal praticado em cartório e faz prova da recusa do aceite.

O aceite pode ser tb parcial. Ie, há o aceite, mas o sacado aceita apenas uma parte (título de R$10.000, mas só há aceite de R$6.000,00). O aceite parcial tb é chamado aceite limitativo e não pode ser confundido com o aceite modificativo.

Este aceite limitativo ocorre quando o sacado se vincula ao pagamento de apenas uma parte do título. O aceite parcial deve vir expresso na letra de câmbio. Temos ao mesmo tempo um aceite e uma recusa, motivo pelo qual temos uma mescla das situações acima, ou seja, o sacador fica como devedor principal (vinculado pela parte que aceitou) de uma parte e co-obrigado de outra (vencimento antecipado de apenas uma parte do título).

Obs.: Esta situação não se confunde com aceite modificativo – aquele que ocorre com a alteração de um dos aspectos do título, alteração de cláusulas do título e, por isso, e é tratado como uma recusa de aceite (não se pode alterar cláusulas do título).

Vale lembrar que a súmula 387 STF permite que o portador de boa-fé complete o título emitido com omissões – Súm. 387: A cambial emitida ou aceita com omissões, ou em branco, pode ser completada pelo credor de boa-fé antes da cobrança ou do protesto.

Por fim, destaca-se que a LUG permite o cancelamento do aceite, mas apenas no caso do arrependimento ocorrer antes da devolução do título ao beneficiário (essa situação é “rara” pois é preciso que o sacado aceite e se arrependa no mesmo momento).

Obs: O aceite é instituto visto apenas em ordens de pagamento - letras de cambio e duplicatas. Não é possível em cheques, pois este é ordem de pagamento à vista. Até mesmo a letra de câmbio e a duplicata não admitirão aceite se forem à vista.

6.2. Endosso

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A forma do endosso é escrita, e o seu local adequado é no verso do título (endosso – “em torso” no torso, atrás). É possível a assinatura para fins de endosso na frente do título, mas deve se expressar que aquilo é um endosso, pois pode ser confundido com aceite (que é na frente). Quem faz o endosso é chamado de endossante, e o destinatário é chamado de endossatário. Necessariamente o primeiro endossante é o beneficiário, já que ele é o primeiro a "ter" o título. Quem endossa transfere o crédito e não é mais credor, mas apenas o garantidor do título (co-obrigado). Quem endossa torna-se garantidor do pagamento do título, ou seja, se o devedor principal não paga, o credor pode cobrar do endossante. Mas como o endossante também é obrigado indireto, há a necessidade do protesto do título. Aquele que paga como coobrigado se sub-roga nos direitos de credor e tem direito de regresso (cobra de quem vem atras dele na cadeia). O endosso tem o chamado o efeito purificador. Quando o título é endossado ele se desvincula de eventuais vícios das relações jurídicas anteriores (princípio da autonomia).

Obs.: O chamado endosso próprio (regular/translativo) é a regra, onde quem endossa transfere a posse do título e o crédito.

O endosso é "em branco" (geral) quando o endossante não identifica o endossatário, tornando a letra de câmbio em título ao portador que pode ser transferido posteriormente até por mera tradição (cessão). Há o endosso "em preto" (especial), quando se identifica o endossatário, e apenas este pode receber o pagamento. O próprio endossatário pode transformar o endosso em branco em endosso em preto, bastando completar o endosso com o seu nome. Importante distinguir o endosso da cessão. O primeiro é um instituto específico do direito cambial e se dá através da assinatura no verso e entrega. Já a cessão de crédito é instituto de direito civil que se perfaz pela simples tradição. Como quem endossa assina o título e se identifica, ele garante o pagamento. De outro lado, como quem cede o título não se identifica, este cedente não garante o pagamento.

Por isso, podemos afirmar que após endosso em branco, podemos ter outro endosso ou uma cessão. Por outro lado, após o endosso em preto, só podemos ter outro endosso (que poderá ser em branco ou em preto). O art. 15 da LUG traz o endosso sem garantia. Esta é uma forma de transferência que faz com que o endossante não garanta o pagamento do título, nem do endosso realizado por ele e nem de eventuais transferências posteriores. Neste caso o endossante deve deixar claro que não irá garantir o pagamento ("endosso sem garantia"). Situação diferente é a da cláusula proibitiva de novos endossos, tb prevista no mesmo art. 15 da LUG, mas que não pode ser confundida com o endosso sem garantia. Cláusula proibitiva de novos endosso é um nome muito ruim dado ao caso em que o endossante não garante o pagamento em caso de novo endosso. Neste caso não se proíbe a realização de um novo endosso, mas se determina apenas que o endossante garanta apenas o pagamento para o endossatário dele, e para que havendo novos endossos ele não figure como garantidor.

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Art. 15 - O endossante, salvo cláusula em contrário, é garante tanto da aceitação como do pagamento da letra.

O endossante pode proibir um novo endosso, e, neste caso, não garante o pagamento as pessoas a quem a letra for posteriormente endossada.

O endosso impróprio (irregular ou não translativo) é aquele em que há a transferência física do título, mas não há transferência do crédito. Qual a finalidade do endosso impróprio se não há transferência do crédito? A finalidade do endosso impróprio é para fins de cobrança (endosso mandato) ou para fins de garantia (endosso caução/pignoratício).

O endosso mandato ocorre quando o credor transfere o título para alguém que irá fazer a cobrança por ele, ou seja, só há a transferência dos poderes de cobrança. O endosso caução ocorre para que o valor do título sirva como garantia para o cumprimento de uma outra obrigação. Havendo o cumprimento desta segunda obrigação o endossatário deve devolver o título, e se houver o inadimplemento, o endossatário (detentor do título) se torna credor do título, podendo cobrar o valor do sacado. O endosso caução tb é chamado de endosso pignoratício.

Art. 18 - Quando o endosso contém a menção "valor a cobrar" (valeur en recouvremente), "para cobrança" (pour encaissement), "Por procuração" (par procuration), ou qualquer outra menção que implique um simples mandato, o portador pode exercer todos os direitos emergentes da letra, mas só pode endossá-la na qualidade de procurador. Os co-obrigados, neste caso, só podem invocar contra o portador as exceções que eram oponíveis ao endossante. O mandato que resulta de um endosso por procuração não se extingue por morte ou sobrevinda incapacidade legal do mandatário.

Art. 19 - Quando o endosso contém a menção "valor em garantia", "valor em penhor" ou qualquer outra menção que implique uma caução, o portador pode exercer todos os direitos emergentes da letra, mas um endosso feito por ele só vale como endosso a título de procuração. Os co-obrigados não podem invocar contra o portador as exceções fundadas sobre as relações pessoais deles com o endossante, a menos que o portador, ao receber a letra, tenha procedido conscientemente em detrimento do devedor.

Obs.: como no endosso há a tradição do título, ele não pode ser dado de forma parcial (art. 12 da LUG).Art. 12. (...) O endosso parcial é nulo.

Obs 2: O endosso se aplica a todos os títulos de crédito.

6.3. Vencimento e Pagamento

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Vencimento é o momento a partir do qual o valor do título torna-se exigível. O vencimento ordinário é aquele que esta previsto no título, que foi acordado, enquanto o extraordinário não vem previsto no título, decorrendo da recusa do aceite (vencimento antecipado). O art. 33 da LUG estabelece as quatro modalidades de vencimento ordinário: i) a vista; ii) data certa; iii) certo termo de data e; iv) termo de vista.

No caso do título a vista, o título é pagável à apresentação e o credor tem até um ano para apresentá-lo (art. 34). O título com data certa é quando consta no título uma data posterior para pagamento, como um dia específico, ou até um feriado (pagamento: Natal de 2012). O vencimento com certo termo de data é um espaço de tempo contado desde a data de emissão (pagamento: 6 meses da data/ mantém o dia e muda o mês). Já o certo termo de vista é um espaço de tempo que começa a ser contado do aceite (vencimento: 6 meses da vista). Neste caso, se houve a falta de aceite, o título deve ser protestado, e o e spaço de tempo que correria a partir do aceite passa a contar do protesto. Se houver a recusa do aceite o título deve ser protestado e haverá o vencimento antecipado.

Obs.: A diretriz para saber se o título já venceu ou não é sempre o local do pagamento, ainda que outro fuso ou outro calendário. Se o local do pagamento é o Japão temos que considerar o fuso horário de lá!

Obs.2: O vencimento com data certa e com certo tempo de data são vencimentos determinados. O vencimento a vista e com certo termo de vista são vencimentos indeterminados.

Art. 34 - A letra à vista é pagável a apresentação. Deve ser apresentada a pagamento dentro do prazo de um ano, a contar da sua data. O sacador pode reduzir este prazo ou estipular um outro mais longo. Estes prazos podem ser encurtados pelos endossantes. O sacador pode estipular que uma letra pagável à vista não deverá ser apresentada a pagamento antes de uma certa data. Nesse caso, o prazo para a apresentação conta-se dessa data. Art. 35 - O vencimento de uma letra a certo termo de vista determina-se, quer pela data do aceite, quer pela do protesto. Na falta de protesto, o aceite não datado entende-se, no que respeita ao aceitante, como tendo sido dado no último dia do prazo para a apresentação ao aceite. Art. 36 - O vencimento de uma letra sacada a um ou mais meses de data ou de vista será na data correspondente do mês em que o pagamento se deve efetuar. Na falta de data correspondente o vencimento será no último dia desse mês.

Quando a letra é sacada a um ou mais meses e meio de data ou de vista, contam-se primeiro os meses inteiros.

Se o vencimento for fixado para o princípio, meado ou fim do mês, entende-se que a letra será vencível no primeiro, no dia quinze, ou no último dia desse mês.

As expressões "oito dias" ou "quinze dias" entendem-se não como uma ou duas semanas, mas como um prazo de oito ou quinze dias efetivos.

A expressão "meio mês" indica um prazo de quinze dias. Art. 37 - Quando uma letra é pagável num dia fixo num lugar em que o calendário é diferente do lugar de emissão, a data do vencimento é considerada como fixada segundo o calendário do lugar de pagamento.

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Quando uma letra sacada entre duas praças que em calendários diferentes e pagável a certo termo de vista, o dia da emissão é referido ao dia correspondentemente do calendário do lugar de pagamento, para o efeito da determinação da data do vencimento.

Os prazos de apresentação das letras são calculados segundo as regras da alínea precedente.

Estas regras não se aplicam se uma cláusula da letra, ou até o simples enunciado do título, indicar que houve intenção de adotar regras diferentes.

O pagamento é o ato no qual serão extintas uma, algumas ou todas relações jurídicas do título, a depender de quem paga, isto porque pode haver a ação de regresso do garantidor contra os endossantes anteriores.

6.4. Aval

O aval é um instituto tipicamente cambial, se aplicando a todos os títulos de crédito.

AVAL FIANÇA

Pessoal Pessoal

Apenas títulos de crédito – direito cambial Direito Civil

Declaração unilateral manifestada no próprio título

Contrato que pode ser diferente da obrigação garantida.

Autônomo Acessório

Todos são devedores solidários (não há subordinação; não benefício de ordem)

Há benéfico de ordem

O aval é garantia que vem dada na frente do título. O aceite tb é na frente, mas tem local próprio. O aval tb pode ser dado no verso, mas para não ser confundido com o endosso, deve se especificar que trata-se de aval. Qualquer pessoa pode ser avalista, sendo o favorecido chamado de avalizado. O aval, assim como o endosso, pode ser dado "em branco" ou em "em preto". Sendo dado em branco, o avalista não especifica quem ele está garantindo, entende-se que ele foi dado em favor do sacador. O aval tem duas característica fundamentais: autonomia e a equivalência. A primeira é a sua autonomia, o que significa que qualquer vicio nas relações anteriores não vão influenciar no aval, ou seja, ainda que haja um vício na relação do avalizado com o credor do título, este pode cobrar diretamente do avalista. A segunda característica é a equivalência, sendo o avalista enquadrado na mesma categoria que o seu avalizado, ou seja, se o endossante é co-obrigado o seu avalista também é.

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No caso do aval simultâneo temos mais de uma avalista para o mesmo avalizado. Neste caso não ha relação cambial entre os avalistas, motivo pelo qual um avalista não pode cobrar regressivamente o valor total de outro avalista, mas apenas do seu avalizado e endossantes antes dele. Como os avalistas são co-devedores, civilmente pode um avalista cobrar apenas a cota-parte do outro.

Já no aval sucessivo temos o avalista de um outro avalista, ou seja, um garantidor de um outro garantidor. Estes avalistas tem relação cambial, sendo certo que o avalista pode cobrar regressivamente dos outros avalistas.

Obs.: Pode haver aval parcial.

Art. 30 - O pagamento de uma letra pode ser no todo ou em parte garantido por aval. Esta garantia é dada por um terceiro ou mesmo por um signatário da letra.

Art. 31 - O aval é escrito na própria letra ou numa folha anexa. Exprime-se pelas palavras "bom para aval" ou por qualquer fórmula

equivalente; e assinado pelo dador do aval. O aval considera-se como resultante da simples assinatura do dador aposta na

face anterior da letra, salvo se se trata das assinaturas do sacado ou do sacador. O aval deve indicar a pessoa por quem se dá. Na falta de indicação entender-se-

á ser pelo sacador.Art. 32 - O dador de aval é responsável da mesma maneira que a pessoa por ele afiançada.

A sua obrigação mantém-se, mesmo no caso de a obrigação que ele garantiu ser nula por qualquer razão que não seja um vicio de forma.

Se o dador de aval paga a letra, fica sub-rogado nos direitos emergentes da letracontra a pessoa a favor de quem foi dado o aval e contra os obrigados para com esta em virtude da letra.

6.5. Protesto

Todos os títulos podem ser protestados. Além de estar regulado na LUG, vem também previsto na lei 9294/97. O protesto é um ato cartorário, formal e solene, dotado de fé pública, pelo qual o cartório declara a ausência de aceite ou de pagamento. Cuidado com a redação do art. 1º da lei de protesto. Ele é mto criticado, pois o protesto não é só para provar o inadimplemento.

O cartório competente é aquele do local designado para o pagamento. O local do pagamento determina também o local da execução judicial do título. O protesto garante o direito de ação em face dos obrigados indiretos. O protesto é obrigatório para o exercicio do direito de ação em face dos obrigados indiretos. O aceitante e o emitente são obrigados diretos, sendo o protesto facultativo. Já os endossantes e o sacador de ordem de pagamento são obrigados indiretos, sendo necessário o protesto.

Obs.: Protestado o título o beneficiário pode cobrar de qualquer um, não havendo benefício de ordem.

O prazo para protesto depende de cada título.

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Com o protesto do título, apenas o devedor principal figura como devedor. Apenas se negativa o devedor principal em caso de não pagamento, não em caso de ausência de aceite, pois nesse caso o protesto é facultativo. Notificado o devedor principal, este pode oferecer resposta através de medida cautelar de sustação de protesto a ser apresentado em juízo, tentando suspender o prazo para a lavratura do protesto pelo cartório. Se a medida cautelar não for procedente e o auto do protesto for lavrado, o interessado deve ajuizar ação para anular/cancelar o protesto, ou fazer o mesmo pela via administrativa.

Aula 7.1 (começar)7. Espécies de título

7.1. Nota Promissória

A nota promissória é regulada pela LUG (arts. 75 a 78). A nota promissória é uma promessa de pagamento através da qual o devedor se compromete em pagar o credor determinada quantia em determinado tempo. O devedor é quem emite a nota, também chamado de promitente. O credor é quem recebe a promessa de pagamento, também chamado de promissário.

Art. 75 - A nota promissória contém:1 - Denominação "Nota Promissória" inserta no próprio texto do título e expressa na língua empregada para a redação desse título;2 - A promessa pura e simples de pagar uma quantia determinada;3 - A época do pagamento;4 - A indicação do lugar em que se deve efetuar o pagamento;5 - O nome da pessoa a quem ou a ordem de quem deve ser paga;6 - A indicação da data em que e do lugar onde a nota promissória é passada; 7 - A assinatura de quem passa a nota promissória (subscritor).Art. 76 - O título em que faltar algum dos requisitos indicados no artigo anterior não produzirá efeito como nota promissória, salvo nos casos determinados das alíneas seguintes.A nota promissória em que não se indique a época do pagamento será consideradapagável à vista.

Na falta de indicação especial, o lugar onde o título foi passado considera-se como sendo o lugar do pagamento e, ao mesmo tempo, o lugar do domicílio do subscritor da nota promissória.

A nota promissória que não contenha indicação do lugar onde foi passada considera- se como tendo-o sido no lugar designado ao lado do nome do subscritor.

A nota promissória tem os seus requisitos. O art. 75 traz os requisitos externos, aqueles do próprio título. Na falta de um desses requisitos o título perde a executoriedade.

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Importante destacar que o art. 76 traz uma ressalva, já que pode ser utilizado para suprir a falta de determinados requisitos externos. Neste cenário, a doutrina divide os requisitos externos em supríveis e essenciais. Aqueles são os que a própria lei estabelece uma consequencia para sua ausência, são os requisitos do art. 76. Os que não são supríveis, são essenciais. Estão previstos no art. 75, mas que não são supríveis pelo art. 76 (por exclusão).

Obs.: Já os chamados requisitos internos são relativos ao negócio jurídico que deu origem ao título, tais como agente capaz, objeto lícito, etc.

Como se trata de um título de modelo livre, a nota promissória não tem grandes formalidades quanto a sua estrutura.

7.2. Letra de Câmbio

A letra de câmbio foi o primeiro título criado. A letra de câmbio tem origem na lettera de câmbio, que era uma carta utilizada pelos comerciantes para fazer o câmbio entre as moedas dos feudos.

Criação/Saque A expressão criação é genérica, podendo designar tanto a emissão como o saque. Emissão é a

palavra utilizada para promessas de pagamento, enquanto saque é utilizada para ordens de pagamento. "A" é credor de "B". "A" é devedor de "C". Neste cenário, o devedor dá a ordem de que o seu devedor pague o seu credor, ou seja, A manda que B pague C. Sendo assim, "A" é o sacador (a criação de uma ordem de pagamento é um saque, se quem criou foi A, ele é o sacador), B é o sacado (pq recebeu a ordema ser cumprida) e C o beneficiário (ou tomador – é aquele que se beneficia) da letra de câmbio. Nada impede que as figuras de sacador e beneficiário se confundam. Na prática isto não ocorre, ate porque é inútil, mas pode cair em prova. Sendo assim, na prática a letra de câmbio pode ser criada com base em um único negócio jurídico.

Classificação A letra de câmbio é ordem de pagamento de modelo livre, podendo ser criado de forma abstrata e de circulação "à ordem".

Requisitos Os requisitos vem previsto no art. 1º da LUG. Aqui também temos os requisitos externos, extrínsecos, versam sobre o título em si. Não se confundem com os requisitos intrínsecos ou internos que estão ligados ao negócio jurídico em si. Assim como na nota promissória, no artigo seguinte temos a distinção entre os requisitos supríveis e essenciais, ie, o que não é suprível, é essencial.

Art. 1º - A letra contém:

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1 - A palavra "letra" inserta no próprio texto do título é expressa na língua empregadapara a redação desse título;2 - O mandato puro e simples de pagar uma quantia determinada;3 - O nome daquele que deve pagar (sacado);4 - A época do pagamento;5 - A indicação do lugar em que se deve efetuar o pagamento;6 - O nome da pessoa a quem ou a ordem de quem deve ser paga; 7 - A indicação da data em que, e do lugar onde a letra é passada; 8 - A assinatura de quem passa a letra (sacador).Art. 2o - O escrito em que faltar algum dos requisitos indicados no artigo anterior não produzirá efeito como letra, salvo nos casos determinados nas alíneas seguintes:A letra em que se não indique a época do pagamento entende-se pagável à vista.Na falta de indicação especial, a lugar designado ao lado do nome do sacado considera-se como sendo o lugar do pagamento e, ao mesmo tempo, o lugar do domicílio do sacado.A letra sem indicação do lugar onde foi passada considera-se como tendo-o sido no lugar designado, ao lado do nome do sacador.

Obs.: Tanto na LC como na NP houve um aprimoramento por parte da jurisprudência no que se refere aos requisitos. Conforme a súmula 387 do STF mesmo que no título tenha um vicio de forma essencial, o credor de boa fé pode sanar as omissões. Vale para qualquer título e visa manter a executividade do mesmo.

Súm. 387: A cambial emitida ou aceita com omissões, ou em branco, pode ser completada pelo credor de boa-fé antes da cobrança ou do protesto.

7.3. Cheque

O cheque é ordem de pagamento, havendo um sacador, um sacado e um beneficiário. No cheque o sacador é o correntista, o sacado é o banco e beneficiário o portador do cheque. Ainda que seja uma ordem de pagamento, o cheque nao admite aceite, uma vez que consiste numa ordem de pagamento a vista. O seu modelo é vinculado, tendo um padrão uniformizado pelo Banco Central. A sua forma de emissão é abstrata, podendo ser emitido por qualquer motivo, inclusive ilícito. O cheque pode ser endossado, sendo classificado como um título à ordem.

Obs.: pode se proibir o endosso do cheque. Cheque Pós-datado Quando se afirma que o cheque é pagamento a vista, se leva em conta a posição do sacado. Sendo assim, nao importa a data que sacador e beneficiário acertaram, o relevante é que assim que o cheque for apresentado junto a instituição financeira esta deve efetuar o pagamento a vista.

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Estrutura No cheque deve vir o seu valor tanto em numeral como por extenso. As duas informações deves coincidir, mas havendo alguma discrepância deve prevalecer o valor por extenso. Quando o local de pagamento e o local de emissão coincidirem (mesmo município) se diz que o cheque é da mesma praça. Esta questão é relevante para fins de prazo. A assinatura no cheque deve ser do próprio correntista (ou mandatário com poderes especiais). Sendo caso de conta conjunta com cláusula conjuntiva, todos os correntistas devem assinar para que o cheque seja válido. Sendo caso de conta conjunta com clausula disjuntiva o cheque vale com a assinatura de qualquer um dos correntistas. A assinatura nao precisa ser de próprio punho, sendo certo que a Lei do Cheque permite a assinatura por chancela mecânica (carimbo ou impressão).

Obs.: o cheque de pessoa jurídica é geralmente assinado por um administrador.

Modalidades Nos temos quatro modalidades de cheque: a) administrativo; b) visado; c) cruzado; d) credito em conta.

a) administrativo (art. 9º, III): no cheque administrativo o sacador e o sacado são a mesma pessoa, ou seja, o banco emite um cheque contra ele mesmo. O cheque administrativo é um cheque do banco, como se o correntista tivesse comprado esse cheque do banco para utiliza-lo na preço, o que traz mais segurança no comercio.

b)Visado (art. 7º) - um cheque "normal" que recebe um visto do gerente do banco. O gerente verifica se a pessoa tem dinheiro na conta para garantir o cheque e bloqueia tal valor. Com esse valor bloqueado o gerente da o visto no cheque. Este visto tem um prazo que perdura apenas no prazo de apresentação do título.c) Cruzado (art. 44) - a pessoa cruza o cheque para evitar que ele seja apresentado direto ao caixa. Com o cheque cruzado a pessoa só pode endossar o cheque ou então apresentar para depósito, nunca para pagamento. O cheque cruzado é representado por dois traços paralelos que atravessam o cheque, geralmente feitos no canto superior esquerdo. Esta regra configura o cruzamento em branco, ou seja, o cheque pode ser apresentado em qualquer banco e agência. Contudo, se dentro dos traços paralelos a pessoa escrever o nome ou número da agencia, o título só poderá ser apresentado naquela agência.d) Para crédito em conta (art. 46) - A expressão "para crédito em conta" em conta deve vir na frente (esquerda transversal) do próprio cheque. Com isto o cheque só pode ser depositado em conta. A diferença para o cheque cruzado é que este pode também ser endossado, o que não é possível com o cheque em crédito em conta.Obs.: o cheque cruzado, nominativo e com cláusula não a ordem também não pode ser e endossado.Prazos - Em primeiro plano, quanto ao prazo de apresentação, se o cheque for da mesma praça ele dece ser apresentado em 30 dias, e se o cheque for de praça diferente ele deve ser apresentado em 60 dias.

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Mesmo depois do prazo de apresentação o cheque pode ser apresentado junto ao Banco. Isto nao faz com que o prazo de apresentação seja inútil, uma vez que o prazo de prescrição tem como termo inicial justamente o fim do prazo de apresentação. Ademais, ele é bem importante para o cheque visado, já que o visto só tem validade durante o prazo de apresentação.De fato, o prazo prescricional pode ter vários termos iniciais a depender do caso. Se o cheque jamais tiver sido apresentado, o seu termo inicial é o fim do prazo de apresentação. Contudo, se o cheque for apresentado e devolvido, o prazo prescricional tem como marco inicial a data da devolução do cheque.De acordo com art. 59 da Lei do Cheque, o prazo prescricional do cheque é de 6 meses (repete o dia e muda o mês). Prescrito o cheque ele perde a sua executoriedade, sendo apenas um documento escrito. Para ele ser cobrado ele nao pode ser apresentado ao banco, devendo ser ajuizada uma ação monitória. O prazo da ação monitoria é o prazo de uma ação ordinária, prevista pelo CC, e começa a contar do inadimplemento.Obs.: título com vícios também enseja a ação monitória.Ademais, no caso específico do cheque, o art. 61 da Lei do Cheque traz a chamada ação de locupletamento. O prazo para esta ação é de 2 ano a contar da prescrição do título.Conforme o art. 62, nada impede que o interessado ajuíze a ação civil (cobrança). De fato, este artigo diz respeito às ações que o interessado tem por base nao o título, mas sim o negócio jurídico.Sustação e Revogação - vem previstos nos arts. 35 e 36 da Lei do Cheque. Os dois institutos tem como finalidade evitar o pagamento do título, mas os dois tem algumas diferenças sensíveis.

SUSTAÇÃO / OPOSIÇÃO REVOGAÇÃO / CONTRAORDEM

Produz efeitos imediatos Produz efeitos após o prazo de apresentação

Pode ser cancelada Caráter definitivo

Conta Conjunta - a conta conjunta comporta até 3 correntistas juntos. Para efeitos jurídicos, nao faz diferença a questão de 1º titular e 2º titular, sendo relevante apenas para o Banco. Cabe lembrar que a conta conjunta nao se confunde com a própria clausula conjuntiva já vista acima.A questão relevante na conta conjunta é se há solidariedade entre estes correntistas. Na maioria das vezes o contrato de conta-corrente traz uma clausula de solidariedade. Sendo assim, eventuais débitos podem ser cobrados de qualquer um dos correntistas.Importante notar que a solidariedade aqui estabelecida é apenas entre o Banco e os correntistas, isto em virtude do acordo entre as partes. O portador do cheque nao tem nenhuma cláusula de solidariedade com os correntistas, ou seja, em eventual inadimplemento do título, o beneficiário não poderá se beneficiar desta solidariedade e deve protestar o título apenas contra aquele que emitiu o cheque. O mesmo ocorre em caso de execução judicial, onde o polo passivo será composto apenas por aquele que emitiu o cheque, e nao por aqueles que compõe a conta conjunta.Assinatura Falsa - temos uma lacuna na lei acerca do tema, cabendo a jurisprudência resolver tais problemas.O banco tem a obrigação de verificar a assinatura do sacador. Sendo uma assinatura falsa grosseira, o banco que vai arcar com o problema se concordar em pagar o cheque.

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Situação distinta é a do falso assemelhado. Os Tribunais Superiores, que no início afirmavam pela culpa concorrente, agora defendem que como o banco aufere todos o bônus da atividade desenvolvida, nao seria correto tentar dividir os prejuízos com o consumidor. Sendo assim, mesmo no caso de assinatura falsa assemelhada o Banco responde pelo valor pago no cheque.Crime - emitir cheque sem fundo ou frustar o pagamento do cheque sao considerados crime de estelionato pelo Código Penal. No primeiro caso, o momento consumativo do crime é a frustração do pagamento, ou seja, na devolução do cheque. Na frustração de pagamentoAdemais, tal crime apenas se configura através de conduta dolosa. O juízo competente para a ação penal é aquele do local do pagamento. O pagamento do cheque antes do recebimento da denúncia obsta a ação penal.

6 - DuplicataClassificação - a duplicata vem regulada pela Lei 5474/68. Trata-se de uma ordem de pagamento de modelo vinculado (CMN) e de emissão causal. Estas causas de emissão vem previstas no art. 1º e 20 da Lei: compra e venda a prazo, ou prestação de serviço.Obs.: a duplicata segue a regra de ser um título à ordem.Características - a duplicata é um título genuinamente brasileiro, sendo verdadeiramente criado pela Lei 5474/68. Foi criada como um título tipicamente empresarial, podendo ser emitido apenas por empresários.A duplicata é um título de aceite obrigatório. A duplicata decorre de uma relação jurídica empresarial (compra e venda a prazo ou prestação de serviço), motivo pelo qual o devedor/sacado não pode se abster de aceitar o título se recebeu a prestação corretamente.Obs.: existem algumas situações onde o aceite pode nao ser dado, estas previamente estabelecidas pelo art. 8º da Lei.Na duplicata temos a hipótese de protesto por falta de devolução.Criação e Emissão - o vendedor deve faturar a sua venda, documento este que comprova que houve o negócio jurídico. Esta fatura, documento de emissão obrigatório, que pode justificar a criação da duplicata. Dai surge o próprio nome duplicata, porque ela sempre se origina de uma fatura (a duplicata é o espelho da fatura). O vendedor ira extrair da fatura uma duplicada, sendo portanto o sacador. O comprador (ex.: Ponto Frio), aquele que recebeu o bem/serviço será o sacado. Nesta criação, a princípio, o beneficiário se confunde o sacador, já que aquele que vende que deve receber o dinheiro. Como o título nasce para circulação, este sacador/beneficiário poderá endossar o título, situação onde teremos novos beneficiários.Com a emissão da duplicata o sacador deve escritura-lá no livro de registro de duplicatas. Sendo assim, temos aqui um livro obrigatório especial (apenas para aqueles que emitem duplicata).Conforme o art. 2 ds Lei, o negócio jurídico só pode ser documentado por uma duplicata. Esta norma só se aplica ao credor, sendo certo que ele só pode emitir uma duplicata para documentar o negócio, mas nada impede que o devedor use outro título para adimplir a negociação. Nota-se que o art. 2º visa afastar o uso da letra de câmbio.

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Remessa e Devolução - Sempre que a duplicata for emitida ela deve ir e voltar do devedor. O sacador envia a duplicata para que o devedor aceite o título. O sacador deve aceitar e devolver o título ao sacador.Caso ocorra algum problema no negócio jurídico, o devedor pode validamente nao aceitar o título. Neste caso o sacador não irá pagar o título, mas também nao receberá a compra/serviço. Ex.: divergência no preço, ou mercadoria quebrada.De fato, na duplicata o aceite pode ser ordinário, presumido ou por indicação. O primeiro é aquele comum, já devidamente estudado. O aceite por indicação (art. 7º) decorre de uma assinatura em outro documento, onde o sacado retém a duplicada e envia um outro documento com o seu aceite ao sacador (exceção ao princípio da cartularidade e literalidade). Com esse aceite por indicação o sacado evita que o título circule através do endosso. Já o aceite presumido tem caráter residual, estando presente em qualquer outra hipótese, já que o aceite é obrigatório. Se nao há o aceite ordinário, ou o aceite por indicação, ou nenhum motivo legal que justifique a nao aceitação, o aceite pelo sacado é presumido. Sendo assim, o aceite presumido decorre da ausência de motivo justo/legal para a nao aceitação, o que depende de prova (protesto). Se o aceite é presumido o protesto é obrigatório. Havendo a perda ou o extravio do título, o art, 22 prevê a possibilidade da emissão de uma triplicata, que seria uma espécie de 2ª via da duplicata. Protesto - o protesto da duplicata é feito no cartório de protesto de títulos e documentos do local designado para pagamento. O cartório inicia a procedimento administrativo para verificar o ocorrido. Confirmando que nao há justo motivo para a nao aceitação, o protesto é lavrado e o sacado se vincula ao título ainda que nao tenha aceitado expressamente.O prazo para protesto da duplicata é de 30 dias do vencimento da duplicata.Em se tratando de duplicata, além do protesto por falta de pagamento e por falta de aceite, temos ainda o protesto por falta de devolução. O protesto por falta de pagamento acarreta para o sacado a negativação do seu nome. Esta negativação é apenas do devedor principal, e nao dos endossantes. No protesto pro falta de aceite se exige o título sem assinatura do sacado, para que o cartório certifique a falta deste aceite (aceite presumido). O protesto por falta de devolução vai ocorrer quando o título for remetido mas nao foi devolvido. Seria uma retenção indevida da duplicata. O livro de registro de duplicatas tem papel fundamental neste protesto, já que dele que se tiram as informações necessárias a este protesto.Obs.: o protesto por falta de devolução também é chamado de protesto por indicação.Cobrança - o art. 15 traz a cobrança da duplicada vencida e nao paga. De fato, aqui nao temos nenhuma peculiaridade, devendo a duplicata ser executada através da ação de execução. Cabe lembrar que a duplicata preencher todos os requisitos legais e que não esteja prescrita.Obs.: na duplicata nao existem requisitos supríveis, sendo todos os seus requisitos essenciais.Para o beneficiário do título (um endossatário, por exemplo) cobrar de qualquer um dos co-devedores (sacador, sacado e endossantes) ele deve protestar o título. Se nao houver o protesto ele só pode cobrar do sacado. Lembre-se: em caso de aceite presumido o protesto é obrigatório.Prescrição - do inadimplemento começa a correr o prazo prescricional. O art. 18 traz os três possíveis prazos prescricionais.

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A regra é o prazo de 3 anos contados do vencimento do título. Este prazo é o da propositura da ação em face do sacado, o devedor principal. O prazo para o ajuizamento da ação em face dos co-devedores é de apenas um ano contado do protesto do título (até porque contra eles o protesto é origatório). A acao de regresso do co-devedor contra o devedor principal é de um ano a contar do pagamento feito por ele efetuado.Crime - o art. 172 do CP traz o crime de emissão de duplicada simulada. A lei de duplicas, em seu art. 26, menciona o mesmo crime, só que esta desatualizado (o novo tipo penal foi ampliado).

Art. 172 - Emitir fatura, duplicata ou nota de venda que não corresponda à mercadoria vendida, em quantidade ou qualidade, ou ao serviço prestado.Pena - detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrerá aquêle que falsificar ou adulterar a escrituração do Livro de Registro de Duplicatas.

Nao se pode confundir a duplicada simulada com a simulada fria. Esta ocorre quando se emite uma duplicata sem um negocio jurídico prévio que lhe dê origem. Neste caso nao temos crime de duplicata simulada, mas sim crime de estelionato.

FALÊNCIA

1 – Lei 11.101/05Visão Geral – A Lei 11.101 trata da falência e recuperação de empresas (substituição a concordata). O antigo Decreto-Lei 7661/45 tinha por objetivo liquidar a empresa em crise, enquanto a nova disposição legal tem por escopo a preservação/recuperação da empresa, sendo que a falência propriamente dita será a última ratio. Neste cenário a Lei. 11.101/05 é tratada pela doutrina como Lei de Recuperação de Empresas.Obs.: A recuperação, seja judicial ou extrajudicial, será sempre anterior a falência, ao contrário da concordata que podia ser preventiva ou suspensiva.A LRE só se aplica a quem exerça empresa, sendo certo que aqueles que não exercem empresa se submetem apenas a insolvência civil (CPC). Esta maior proteção aos empresários ocorre como decorrência do princípio da preservação da empresa, uma vez que ela tem uma função social a cumprir. Cabe lembrar que empresa pode ser exercida tanto por pessoa física (empresário individual) como por pessoa jurídica (sociedades empresárias).De qualquer sorte, o art. 2º da LRE ainda afasta algumas sociedades empresárias que ficam excluídas da incidência dessa lei.

Art. 2o Esta Lei não se aplica a:

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I – empresa pública e sociedade de economia mista;

II – instituição financeira pública ou privada, cooperativa de crédito, consórcio, entidade de previdência complementar, sociedade operadora de plano de assistência à saúde, sociedade seguradora, sociedade de capitalização e outras entidades legalmente equiparadas às anteriores.

O inciso I traz o que a doutrina chama de exclusão total, enquanto o inciso II seria a exclusão parcial. Sendo assim, para a doutrina empresarial nenhuma estatal poderia falir, independente do objeto que esteja desenvolvendo. Cabe destacar que doutrina administrativista (CABM) afirma que esta vedação seria apenas às estatais prestadoras de serviço público, sendo certo que as estatais exploradoras de atividade econômica poderia falir normalmente, até em virtude do art. 173, §1 da CF. Já no que se refere a exclusão parcial, a doutrina afirma que esses empresários tem uma lei especial que regulamenta as suas atividades, e estes diplomas especiais que devem informar se tais entidades podem se submeter a LRE. prever a que regras de falência estas entidades devem se submeter.Ao final da LRE temos o capítulo de “Disposições Transitórias” que traz as normas que regulam as falências e concordatas pendentes durante a publicação da lei nova. De fato, muito embora o art. 200 tenha revogado a lei anterior, em virtude do art. 192 temos a ultratividade do DL para os processos de falência e concordata ajuizados anteriormente ao início da vigência da LRE (apenas no procedimento que se encontra).Obs.: Concordata preventiva que seguiu com base na lei antiga que não foi cumprida, a falência a ser decretada pelo juiz deve seguir a lei nova. O mesmo ocorre com a falência requerida na lei antiga e decretada na lei nova.Obs.: Na lei nova a falência podia ser suspensa pela concordata suspensiva. O art. 192,§1 veda a concessão da concordata suspensiva, ainda que a falência esteja ocorrendo conforme a lei antiga.Conforme o art. 3º, o juízo competente é aquele do principal estabelecimento do devedor. O principal estabelecimento não é sinônimo de sede, uma vez que o “principal estabelecimento” deve ser determinado por questões práticas, e não por questões formais. No caso de sociedade estrangeira que teve autorização para constituir filial no Brasil, o juízo competente para fins desta lei também é o local do principal estabelecimento do devedor.

Art. 3o É competente para homologar o plano de recuperação extrajudicial, deferir a recuperação judicial ou decretar a falência o juízo do local do principal estabelecimento do devedor ou da filial de empresa que tenha sede fora do Brasil.

O art. 5º traz os créditos não exigíveis, valores que não poderão ser pleiteados na LRE, ou seja, os credores não poderão se habilitar na falência ou recuperação.

Art. 5o Não são exigíveis do devedor, na recuperação judicial ou na falência:

I – as obrigações a título gratuito;

II – as despesas que os credores fizerem para tomar parte na recuperação judicial ou na falência, salvo as custas judiciais decorrentes de litígio com o devedor.

As obrigações a título gratuito não poderão ser exigidos. Isto porque o devedor já está com dificuldade econômica de cumprir as obrigações onerosas (se não forem cumpridas encarretam enriquecimento sem causa), e seria injusto lhe exigir cumprimento de obrigações que não tenham uma contraprestação

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ao devedor. Também não podem ser cobradas as despesas que os credores fizeram para se habilitar na falência ou recuperação (ex.: honorários advocatícios), havendo uma verdadeira socialização dos riscos onde cada credor deve arcar com a sua própria despesa, aumentando a chance do devedor ter condições de pagar todos os credores. A única exceção a esta socialização dos riscos diz respeito ao credor ter uma outra ação em face do devedor (massa falida), e as custas deste outro processo em que o devedor for o réu/condenado podem sim ser cobradas.O Ministério Público pode participar nos processos de recuperação/falência como autor ou como fiscal da lei. A situação mais comum do MP como autor diz respeito diz respeito aos crimes falimentares, e existem uma séria de situações onde o MP atua como custus legis. Esta atuação como fiscal da lei pode ser obrigatória ou facultativa, isto a depender da situação e do diploma legal.Obs.: Pelo rigor da lei, o MP só se manifesta após a decretação da falência, mas na prática o MP participa opinando pela decretação ou não.A LRE prevê três órgãos auxiliares do juízo durante a falência e recuperação judicial: a) Administrador Judical; b) Assembléia Geral de Credores e c) Comitê de Credores.

A. É o antigo síndico (falência) ou comissário (concordata). As funções desse administrador judicial pode variar conforme seja caso de falência ou recuperação judicial. No caso da falência, como o antigo administrador é afastado, o administrador judicial acaba gerindo a empresa. De outro lado, no caso de recuperação judicial o administrador não irá administrar propriamente a empresa, lhe cabendo mais uma função fiscalizatória do plano de recuperação. O administrador judicial deve ser escolhido pelo juízo competente, e deve ser uma pessoa qualificada e de confiança deste. Esta nomeação deve ocorrer ou na decretação da falência ou no deferimento da recuperação. Com a nomeação o administrador deve assinar o termo de compromisso, este que irá lhe investir nos poderes de administrador. O administrador é credor extraconcursal, ou seja, os seus honorários serão pagos antes dos credores, sendo garantido que ele irá receber. Cabe observar que o art. 30 traz algumas pessoas que são impedidas de figurar como administrador judicial. Pode haver a destituição do administrador (ou até membro do comitê), uma punição aquele que não cumpriu as funções determinadas. Aquele que foi destituído fica impedido de exercer a função por 5 anos, e não fará jus a remuneração (não precisa devolver se recebeu alguma coisa). Diferente é o caso de substituição, onde não temos uma punição, mas apenas o desinteresse do administrador em continuar (recebe proporcionalmente).

B. A Assembleia Geral de Credores foi criada para que os credores (todos eles) também participassem da direção da massa falida/em recuperação, consistindo em um órgão obrigatório. Esta assembleia tem pontos em comum com as outras assembleias, como a sua convocação. Nas votações ali realizadas o peso de cada credor é proporcional ao crédito de cada credor. Ainda que todos tenham o direito de voto, nem todos tem direito de voz, este só concedido a algum. O art. 35 traz os motivos pelos quais o juiz deve convocar a Assembleia, ainda que tal rol seja exemplificativo (“outros assuntos de interesse dos credores”). Convocada a Assembleia, o administrador judicial (Aquele que preside) deve verificar se está presente o quórum de instalação para o início dos debates conforme previsão do art. 37,§2 (mais da metade de crédito

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de cada classe). Para a aprovação de determinado deve ser respeitado o quórum de aprovação, este previsto no art. 42 (mais da metade dos valores totais presentes na assembleia).

C. O Comitê de Credores é órgão auxiliar facultativo do juízo de falência/recuperação judicial, sendo mais presente apenas nos grandes processos falimentares. O Comitê é um órgão representativo, já que é composto por um integrante de cada classe de credores (mais dois sumplentes). Se uma determinada classe não quiser eleger um representante não tem problema, podendo o Comitê funcionar apenas com uma ou duas classes. Este órgão, assim como a Assembléia, não é remunerado.A principal função deste órgão é fiscalizatória, isto nos termos do art. 27, até porque o outro órgão fiscalizador (administrador) não é credor. Os mesmos impedimentos para integrar o Comitê são os mesmos do administrador judicial.

2 – Recuperação

Visão Geral – A recuperação se divide em recuperação judicial (comum e especial) e recuperação extrajudicial. A recuperação judicial é a base das outras espécies, tanto que mais artigos, sendo eles aplicados também a outras espécies de recuperação. O objetivo da recuperação é fazer com que a atividade econômica organizada não pare de ser desenvolvida, uma vez que ela tem uma função social a ser preservada.Os legitimados na recuperação independente da modalidade da recuperação. Não temos legitimados passivos, mas apenas os ativos, uma vez que se trata de processo de jurisdição voluntária. O empresário individual pode normalmente pleitear a sua recuperação judicial. Quanto a sociedade empresária, o legitimado a requerer é o administrador, mas este precisa da concordância expressa dos sócios. Sendo assim se exige que a petição inicial venha acompanhada da ata da assembleia que elege o administrador, atos constitutivos da PJ e ato da assembleia que deu poderes ao administrador a requerer a recuperação. O art. 48 ainda traz outros legitimados a requerer a recuperação. Esta poderá ser requerida pelo cônjuge sobrevivente, herdeiros do devedor, inventariante ou sócio remanescente.Para requerer a recuperação devem ser observados certos requisitos previstos no art. 48. Inicialmente o empresário deve estar em situação regular há mais de 2 anos. O segundo requisito é não ser falido, notando o caráter preventivo da recuperação judiciar (pode já ter falido, mas deve estar com tais obrigações extintas). O terceiro requisito é não ter obtido a concessão de recuperação judicial nos 5 últimos anos/ recuperação extrajudicial nos 2 últimos anos/ recuperação especial nos últimos 8 anos, já que tal instituto não pode ser utilizado como “cheque especial”. O quarto requisito é não ter sido condenado por crime falimentar, salvo reabilitação criminal (art. 181,§1 – 5 anos depois do cumprimento da pena). Obs.: o empresário que não preencher o primeiro requisito por não desenvolver a atividade por mais dois anos, ainda que sempre tenha sido regular, também não pode pedir a recuperação.Recuperação Judicial – esta espécie é a mais ampla, uma vez que o seu plano de recuperação pode abranger todos os seus credores. Inicialmente deve se destacar que o procedimento desta espécie não é totalmente judicial, ainda que seja preponderantemente judicial.

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Observando a legitimidade e os requisitos já estudados, o processo de recuperação judicial deve se iniciar com a própria petição inicial, esta que deve ser instruída com os documentos elencados no art. 51. O juízo competente recebendo a inicial deve analisar os requisitos de admissibilidade (empresa, requisitos, documentos) e seguir as ordens do art. 52:

Art. 52. Estando em termos a documentação exigida no art. 51 desta Lei, o juiz deferirá o processamento da recuperação judicial e, no mesmo ato:

I – nomeará o administrador judicial, observado o disposto no art. 21 desta Lei;

II – determinará a dispensa da apresentação de certidões negativas para que o devedor exerça suas atividades, exceto para contratação com o Poder Público ou para recebimento de benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, observando o disposto no art. 69 desta Lei;

III – ordenará a suspensão de todas as ações ou execuções contra o devedor, na forma do art. 6o desta Lei, permanecendo os respectivos autos no juízo onde se processam, ressalvadas as ações previstas nos §§ 1o, 2o e 7o do art. 6o desta Lei e as relativas a créditos excetuados na forma dos §§ 3o e 4o do art. 49 desta Lei;

IV – determinará ao devedor a apresentação de contas demonstrativas mensais enquanto perdurar a recuperação judicial, sob pena de destituição de seus administradores;

V – ordenará a intimação do Ministério Público e a comunicação por carta às Fazendas Públicas Federal e de todos os Estados e Municípios em que o devedor tiver estabelecimento.

Com o deferimento do processo de recuperação judicial começa a se computar o prazo para a habilitação dos credores e apresentação do plano de recuperação. A habilitação (art. 7º ao20) deve ocorrer no prazo de 15 dias contados da publicação do edital. Esta habilitação deve ocorrer perante o administrador judicial (conforme o edital) através de simples redação (não precisa de advogado) nos termos do art. 9º. Pode ainda haver a habilitação retardatária (ou extemporânea), esta que deve ser recebida pelo juízo e não pelo administrador, o que lhe gera custos advocatícios e o novo habilitado pega o processo no estado em que se encontra.O administrador judicial, com base nos documentos, fará relatório no prazo de 45 dias sobre a lista dos habilitados. Publicada esta lista permite-se que o credor, administrador ou MP possa impugnar a habilitação do outro no prazo de 10 dias. Com a consolidação da lista elaborada temos a sua homologação como Quadro Geral de Credores, sendo certo que os créditos impugnados serão autuados em separado (incidentes processuais – art. 11).Enquanto os credores estiverem se habilitando, o empresário deve ir elaborando o seu plano de recuperação na forma do art. 50. O prazo para a apresentação do plano é de 60 dias contados da decisão que defere o processamento da recuperação, isto sob pena de falência.Com a homologação do Quadro de Credores e apresentação do Plano de Recuperação, os habilitados podem impugnar algum aspecto do referido planejamento. Tendo havido objeção ao plano, o juiz deve convocar a Assembléia Geral de Credores, onde pode haver a modificação, aprovação ou rejeição do plano. A modificação do plano não pode ser feita unilateralmente pelos credores, dependendo de concordância do plano (nova votação após a alteração feita pelo empresário). Havendo a rejeição do

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plano o juiz deve decretar a falência do empresário, ou, observado o art. 58, §1, conceder a recuperação judicial mesmo sem a aprovação da Assembléia (“cram down”). Com a aprovação do plano (expressa na Assembléia ou tácita for ausência de objeção) os autos serão conclusos para que o juiz análise o mérito do pedido contido na inical.A análise do juiz não é no tocante ao plano, mas sim um juízo de legalidade de todo o procedimento e requisitos necessários. Sendo observado todo o processo legal, o juiz deve deferir a recuperar judicial para o início do cumprimento do plano de recuperação. De outro lado, em caso de incongruência com a lei, o juiz deve julgar o pedido de recuperação judicial improcedente. Com o deferimento da recuperação o juiz não deve encerrar o processo, cabendo ao empresário comprovar durante os dois primeiros anos que vem cumprindo o plano. Havendo o descumprimento do plano o juiz convola esta recuperação em falência. Passados os dois anos com o cumprimento do plano o juiz encerra o processo. O encerramento não significa que o empresário já esteja recuperado, já que o plano pode ser maior do que 2 anos. Nesta situação, a recuperação judicial continuará sendo cumprindo até o seu fim, mas agora de forma extrajudicial. Durante esta fase extrajudicial, se o empresário descumprir o plano de recuperação, o interessado pode executar o plano (título executivo judicial) ou requerer a falência. Obs.: com o descumprimento é possível que um credor venha a requerer a falência enquanto o outro entre com a execução. Apenas no caso de efetiva decretação de falência que a execução será suspensa para que os credores exequentes possam se habilitar no processo de falência.Recuperação Extrajudicial – nesta espécie nem todos os créditos são abrangidos, como os créditos tributários e trabalhistas. Muitos aspectos da recuperação judicial são extensíveis a esta espécie de recuperação, tais como os objetivos, os legitimados e os requisitos. Esta modalidade tem grande parte do seu procedimento fora do âmbito judicial, ainda que a sua homologação se dê de forma judicial. Em princípio, o empresário optaria por esta modalidade por ser mais rápida, mais barata, e suas dívidas poderem ser abrangidas por esta modalidade (estão afastados os créditos trabalhistas, tributários e aquelas também afastados da rec. Judicial).Obs.: Rec. Extrajudicial X Acordo privado – a rec. Extrajudicial tem uma fase judicial que é a homologação, motivo pelo qual é titulo executivo.O empresário interessado deve elaborar o seu plano de recuperação da mesma maneira que faria na recuperação judicial (art. 50). Tal plano deve ser apresentado aos credores, e para sua aprovação é necessário um quórum de aprovação maior de 3/5 dos créditos de cada classe abrangida pelo plano (art. 163). Havendo a unanimidade na aprovação a homologação do plano é mais simples (não precisa dos documentos do art. 163) devendo ser observado o art. 162. Com a aprovação do plano, este deve ser levado a juízo para a sua homologação (e não deferimento). O juiz não é chamado a se manifestar sobre o plano em si, mas apenas se foram observados os requisitos legais (art. 164).Obs.: Não tendo sido aprovado o plano o empresário deve elaborar novo plano, sendo incorreta a assertiva que afirma que deverá ser decretada a falência pelo juiz, até porque ainda estamos na esfera extrajudicial.O plano é executado extrajudicialmente. Havendo o seu descumprimento, o credor pode ou requerer a falência ou executar judicialmente (de forma singular) o plano.

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Recuperação Especial – é a menos abrangente de todas, só abrangendo os créditos quirografários. Esta espécie de recuperação judicial é destinada a microempresas e empresas de pequeno porte, ressaltando que trata-se de modalidade facultativa, nada impedindo que tais PJs optem pela recuperação judicial comum ou a extrajudicial. O interessado deve observar os requisitos já analisados na recuperação judicial comum. Apenas os créditos quirografários (ex.: fornecedores) poderão ser abrangidos pelo plano de recuperação, sendo certo que as demais dívidas deverão ser pagas como se nada tivesse acontecido (ex.: dívidas trabalhistas e tributárias).No plano de recuperação especial, o empresário não pode se valer de todas as possibilidades do art. 50. Conforme o art. 71, o plano de recuperação abrangerá apenas os créditos quirografários, sendo que estes devem ser pagos em até 36 parcelas sucessivas com juros de 12% ao ano. De fato temos um verdadeiro “plano de pagamento” que deve ser iniciado em até 180 dias contados da distribuição do pedido de recuperação.A recuperação especial não tem a Assembléia Geral de Credores, bastando que o plano siga os parâmetros da lei. Não obstante, havendo objeção da mais da metade dos créditos quirografários, o juiz deve analisar tais objeções para decidir pelo deferimento do plano ou não.Convolação da Recuperação em Falência – está convolação pode ocorrer na recuperação judicial comum ou na especial. O art. 73 traz hipóteses onde o juiz deverá converter a recuperação em falência. Note-se que nas hipóteses de convolação o processo de falência é iniciado diretamente na fase falimentar, não havendo a fase pré-falimentar.Obs.: Em regra, o processo de falência tem duas fases. A fase pré-falimentar tem natureza cognitiva onde se verifica se de fato é caso de falência, enquanto a fase falimentar tem natureza executiva buscando-se a satisfação dos credores.

3 – FalênciaRequerimento – é o que dá início ao processo de falência. Esta ação pode ser de jurisdição contenciosa, quando o credor ver requerer a falência do devedor, ou de jurisdição voluntária (autofalência) onde o próprio empresário requer a sua falência. Cabe destacar que mesmo na autofalência há a fase pré-falimentar.O requerimento da falência é uma petição inicial. O juízo competente para o requerimento da falência é o juízo do local do principal estabelecimento do devedor, assim como ocorre na recuperação judicial. O polo passivo será ocupado pelo empresário ou sociedade empresária. Já a legitimidade ativa está tratada no art. 97. A falência pode ser requerida pelo próprio empresário, pelo seu cônjuge sobrevivente/herdeiro/inventariante (requer a falência do espólio – o inventário fica suspenso), por um dos sócios da sociedade (para os sócios de resp. ilimitada) ou por qualquer credor (se empresário, deve estar irregular). O fundamento do pedido deve ser o art. 94:

Art. 94. Será decretada a falência do devedor que:

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I – sem relevante razão de direito, não paga, no vencimento, obrigação líquida materializada em título ou títulos executivos protestados cuja soma ultrapasse o equivalente a 40 (quarenta) salários-mínimos na data do pedido de falência;

Trata-se da falência por impontualidade. Note que se exige a ausência de uma relevante razão de direito para o não pagamento (art. 96). Tal dívida deve estar fundada em título executivo (judicial ou extrajudicial – deve juntar o orginal) que tenha sido protestado (cambial ou especial) cujo valor seja maior ou igual a 40 salários mínimos.

II – executado por qualquer quantia líquida, não paga, não deposita e não nomeia à penhora bens suficientes dentro do prazo legal;

Trata-se do pedido de falência em virtude de execução frustrada. Isto significa que o empresário foi regularmente citado, mas no período correspondente não se manifestou. Para fins de prova de execução frustrada, o autor deve juntar a inicial certidão do cartório onde corre a execução atestando a situação processual.

III – pratica qualquer dos seguintes atos, exceto se fizer parte de plano de recuperação judicial:

a) procede à liquidação precipitada de seus ativos ou lança mão de meio ruinoso ou fraudulento para realizar pagamentos;

b) realiza ou, por atos inequívocos, tenta realizar, com o objetivo de retardar pagamentos ou fraudar credores, negócio simulado ou alienação de parte ou da totalidade de seu ativo a terceiro, credor ou não;

c) transfere estabelecimento a terceiro, credor ou não, sem o consentimento de todos os credores e sem ficar com bens suficientes para solver seu passivo;

d) simula a transferência de seu principal estabelecimento com o objetivo de burlar a legislação ou a fiscalização ou para prejudicar credor;

e) dá ou reforça garantia a credor por dívida contraída anteriormente sem ficar com bens livres e desembaraçados suficientes para saldar seu passivo;

f) ausenta-se sem deixar representante habilitado e com recursos suficientes para pagar os credores, abandona estabelecimento ou tenta ocultar-se de seu domicílio, do local de sua sede ou de seu principal estabelecimento;

g) deixa de cumprir, no prazo estabelecido, obrigação assumida no plano de recuperação judicial.

São os chamados de atos de falência (nomenclatura antiga) ou atos de fraude contra credor. O rol aqui trazido é meramente exemplificativo, cabendo ao credor explicitar a fraude cometida pelo devedor. A prova destas hipóteses é casuística, devendo ser levado em consideração cada caso concreto. Observa-se que este é o único caso onde a instrução probatória vai ocorrer durante a fase pré-falimentar (94, §5), ao contrário das outras hipóteses onde o autor já deve trazer a prova.

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Recebendo a petição inicial, o juízo competente vai determinar que o empresário seja citado (na forma do CPC) para que possa contestar o pedido 10 dias. Com a contestação o devedor rebater as alegações autorais. Neste caso, ou o juiz decreta a falência do réu, ou, concordando com as suas argumentações, pode julgar improcedente o pedido (a dívida já foi paga).De fato, a contestação não é a única forma que o empresário tem para afastar a decretação de falência. Nos termos do art. 95, dentro desse prazo de 10 dias o empresário pode pleitear ainda a recuperação judicial (pode até fazer os dois: contestar e pedir a recuperação). Este pedido de recuperação é chamado pela doutrina de recuperação incidental, uma vez que temos um verdadeiro procedimento incidental.Ademais, nos casos de falência do inciso I ou II, no prazo de contestação o devedor pode efetuar o chamado depósito elisivo (art. 98. p.ú.) impedindo que a falência seja decretada. Com o depósito (não é pagamento‼) o devedor demonstra que tem a quantia para garantir o crédito, e justifica o porquê de não ter efetuado o pagamento. Neste cenário, caso o devedor esteja correto, o mesmo pode levantar a quantia (título prescrito, por exemplo), e caso a justificativa não seja suficiente, o depósito é convertido em pagamento para o credor (pedido procedente, mas a falência não é decretada).Obs.: se o réu só contestar e está não for “suficiente” ele pode ter a sua falência decretada. Se ele contestar e efetuar o depósito elisivo, ele não corre o risco de ir a falência, já que na pior das hipóteses o depósito é convertido em pagamento.Obs.: se o réu efetua o depósito elisivo, mas não contesta, o devedor está concordando com a cobrança, e apenas neste caso o depósito é um pagamento.Passado esse prazo de 10 dias para a manifestação do réu, inicia-se a fase de instrução probatória na forma do CPC. O MP deve se manifestar quanto ao pedido de falência. Se não for caso de recuperação judicial ou não tiver sido efetuado o depósito elesivo, o juiz deve decretar a falência, sendo encerrada a fase pré-falimentar.Obs.: se a falência foi pedida, mas julgada improcedente, teremos apenas a fase pré-falimentar. Se havia uma recuperação, e esta foi convolada em falência, teremos apenas a fase falimentar.Decretação da Falência e seus Efeitos – A decretação pode ocorrer com a convolação da recuperação em falência, ou em virtude de um processo pré-falimentar. A decretação de falência tem natureza constitutiva, levando o empresário a um status jurídico novo que irá perdurar até que o falido seja “reabilitado”. Muitos entendiam que a decretação da falência teria natureza de decisão interlocutória, já que não encerrava o processo. Hoje a doutrina majoritária defende a natureza de sentença desta decisão (art. 99), uma vez que há a análise do mérito do pedido inicial, que é a decretação da falência (a fase falimentar é apenas satisfativa).O art. 99 determina que com a decretação da falência o juiz deve nomear um administrador judicial para atuar junto a massa falida. A massa falida, de acordo com a doutrina, se divide em massa falida positiva (ativo da empresa) e massa falida negativa (passivo). A massa falida nada mais é do que o conjunto de bens que o empresário deixou (já que é afastado) e tem natureza de universalidade de direito.A decretação de falência tem o efeito de impossibilitar (inabilitação empresarial) que aquele empresário individual continue a exercer empresa, ou, sendo caso de sociedade empresária, a decretação da falência extingue a pessoa jurídica (e obviamente não exerce amis empresa).

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Um segundo efeito da decretação da falência é a quebra do sigilo de correspondência, já que o administrador que irá receber e abrir a correspondência da massa falida. Outro efeito interessante é a restrição a liberdade de locomação, tendo em vista que o falido é auxiliar do juízo e não pode se ausentar da comarca durante o processo falimentar (no caso de sociedade empresária, esta que foi extinta, o antigo administrador dela que não pode se ausentar). Caso haja a necessidade de se ausentar da comarca, o interessado deve informar ao juízo.Um quarto efeito é a perda da posse e da administração dos bens. A propriedade do bem continua com o empresário até a sua liquidação, mas a administração deste fica sob a tutela do administrador.A decretação de falência também gera efeitos em relação as obrigações assumidas pelo devedor (art. 115 e ss). Cabe ao administrador judicial analisar o contrato e concluir pela continuação ou não do contrato, a depender dos benefícios ou prejuízos da massa falida.A regra é que com a decretação da falência a empresa pare. Não obstante, excepcionalmente, pode haver a continuação provisória do exercício das atividades, como no caso de existência de alimentos perecíveis (art. 99, XI).Fase Falimentar – A fase falimentar é “dirigida” pelo administrador judicial, este que irá gerir a massa falida. Os bens devem ser arrecadados (vendidos) e tal quantia será utilizada para o pagamento do quadro geral de credores. Sendo assim, a fase falimentar nada mais é que a realização do ativo e pagamento do passivo.Assinado o termo de compromisso, a arrecadação dos bens é o primeiro ato do administrador para a realização do ativo. A arrecadação consiste em três atos concomitantes: inventário dos bens, avaliação e a retirada dos bens da posse do falido. Cabe destacar que até os bens que não estejam na posse do falido (emprestados por ele), bem como aqueles que sejam apenas de posse dele (emprestados a ele), serão arrecadados pelo administrador judicial. Caso seja arrecadado bem de terceira pessoa, este prejudicado que de deve entrar com uma ação incidental de restituição do bem (art. 85). De outro lado, a massa falida pode ajuizar uma ação revocatória para trazer de volta um bem que não deveria ter saído da massa falida (art. 129 ou 130).A revocatória do art. 129 (também chamada de ação declaratória de ineficácia) diz respeito alguns atos ineficazes praticados “dentro de um espaço de tempo“ pelo empresário, sendo certo que nos casos ali elencados a fraude é absolutamente presumida. Já no art. 130 nós não temos a ineficácia, mas sim a revogação dos atos pelo empresário prestes a falir, sendo que neste caso deve ser comprovado o conluio fraudulento.Com a arrecadação dos bens os mesmos já podem ser vendidos, mas o pagamento aos credores depende da homologação do quadro geral de credores (na lei anterior a própria venda dependia da consolidação do quadro geral de credores). O objeto da alienação segue ao arrematante sem qualquer ônus. A modalidade de vendas (pregão, leilão) deve ser escolhida pelo próprio administrador. O ideal é que a massa falida seja vendida toda de uma vez, em vez de vender filial por filial, lote por lote, ou bem por bem (art. 140). Com a venda dos bens arrecadados, temos o fim da “fase” de realização do ativo.Agora na fase do pagamento dos credores, devemos observar inicialmente os art. 150 e 151. O art. 150 prevê que tão logo tenha dinheiro em caixa, o administrador já pode imediatamente pagar antecipadamente (sem habilitação dos credores) eventuais despesas indispensáveis ao exercício das

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atividades inerentes ao próprio processo. O art. 151 traz a possibilidade de adiantamento do pagamento de verbas trabalhistas de baixo valor.Respeitado estes dois artigos, o próprio passo é pagar os credores da própria massa, os chamados créditos extraconcursais previstos no art. 84 (também pode ser pago antes da homologação do quadro geral de credores). Entre os incisos deste artigo há uma ordem de preferência, e só passa-se ao próximo credor após ter sido pago integralmente a categoria anterior. Contudo, dentre aqueles que foram incluídos na mesma categoria/inciso devem receber de forma isonômica (princípio da pars conditio creditorum).Após terem sido pagos os créditos extraconcursais, passa-se ao pagamento dos credores habilitados no quadro geral de credores que foi homologado pelo juízo. A habilitação dos credores do falido se dá na mesma maneira que na recuperação judicial, porém o resultado da habilitação no processo de falência é diferente, porque aqui há uma ordem de preferência legal prevista no art. 83. Ocorre que na falência presume-se a insolvência, motivo pelo qual uma ordem de recebimento é necessária, ao contrário do que ocorre na recuperação, onde se presume que o empresário vai conseguir pagar todo mundo.Como dito, o art. 83 traz a ordem a ser obedecida no pagamento dos credores do falido. Importante estudar os incisos e seus paragráfos.Havendo alguma sobra após o pagamento de todo mundo, o saldo deve ser devolvido ao falido (art. 153). De outro lado, faltando dinheiro para efetuar todos os pagamentos, a última classe a receber receberá de forma rateada, e as classes seguintes não receberão. Neste caso o processo deve ser encerrado, já que não há como o resto do passivo ser pago.Com o encerramento deste processo, cabe ao administrar elaborar a sua prestação de contas, nos termos do art. 154. Prestadas as contas, deve ser apresentado o relatório final, um resumo dos principais acontecimentos do processo. Com este relatório o juiz pode encerrar o processo de falência, o administrador pode levantar a 2ª parte do seu pagamento (a 1ª parte foi paga no momento do crédito extraconcursal, e a 2ª parte tinha ficado retida).O encerramento do processo não extingue os créditos que não foram pagos. Com o fim do processo falimentar o prazo prescricional destas obrigações não cumpridas volta a correr contra os credores. O prazo prescricional vai ser de 5 anos se o falido não foi condenado a crime falimentar, e de 10 se tiver sido condenado.Com o fim do processo falimentar e a prescrição/pagamento da dívidas pendentes, o falido pode requerer a sua reabilitação, que nada mais é que uma sentença declaratória da extinção de suas obrigações a ser dada pelo juízo falimentar. Apenas com esta reabilitação que o empresário individual pode voltar a exercer empresa. A sociedade não pode requerer a sua reabilitação, já que foi extinta durante o processo falimentar. Questão interessante é a do sócio de responsabilidade ilimitada, este que também tem interesse em requerer a sua habilitação, mas não para voltar a exercer empresa, mas sim pra não comprometer os bens que venham a ser adquiridos.