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Mobilidade Econômica e a Ascensão da Classe Média Latino-Americana Visão Geral Francisco H. G. Ferreira, Julian Messina, Jamele Rigolini, Luis-Felipe López-Calva, Maria Ana Lugo e Renos Vakis

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Mobilidade Econômica e a Ascensão da Classe Média

Latino-Americana

Visão Geral

Francisco H. G. Ferreira, Julian Messina,Jamele Rigolini, Luis-Felipe López-Calva,

Maria Ana Lugo e Renos Vakis

Este livreto contém a Visão Geral e o sumário do livro Economic Mobility and the Rise of Latin American Middle

Class [Mobilidade Econômica e a Ascensão da Classe Média Latino-Americana]. Para solicitar cópias do livro,

publicado pelo Banco Mundial, utilize o formulário que está no verso do livreto.

© 2013 International Bank for Reconstruction and Development / The World Bank

1818 H Street NW, Washington DC 20433 EUA

Telefone: 202-473-1000; Internet: www.worldbank.org

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Este trabalho foi produzido pela equipe do Banco Mundial e contou com contribuições externas. Observe que o

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As descobertas, interpretações e conclusões expressas neste trabalho não refletem necessariamente o ponto de

vista do Banco Mundial, da sua Diretoria Executiva ou dos governos que representam. O Banco Mundial não garante

a exatidão dos dados incluídos neste documento. Os limites, cores, denominações e outras informações mostradas

em qualquer mapa neste estudo não implicam em qualquer julgamento da parte do Banco Mundial quanto à situação

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Este trabalho está disponível sob a licença Creative Commons Attribution 3.0 Unported (CC BY 3.0) http://

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distribuir, transmitir e adaptar este estudo, inclusive para finalidades comerciais, sob as seguintes condições:

Atribuições – Cite este trabalho da seguinte forma: Ferreira, Francisco H. G., Julian Messina, Jamele Rigolini, Luis-

Felipe López-Calva, Maria Ana Lugo e Renos Vakis. 2013. Visão geral: mobilidade econômica e a ascensão da

classe média latino-americana. Washington, DC: World Bank. Licença: Creative Commons Attribution CC BY 3.0

Traduções – Se você traduzir este trabalho, inclua esta isenção de responsabilidade juntamente com a atribuição: Esta

tradução não foi criada pelo Banco Mundial e não deve ser considerada como uma versão oficial da instituição. O

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Todas as perguntas sobre direitos e licenças devem ser enviadas para o Office of the Publisher, The World Bank,

1818 H Street NW, Washington, DC 20433, EUA; Fax: 202-522-2625; E-mail: [email protected].

Desenho da capa: Naylor Design

iii

Introdução v

Agradecimentos vii

Abreviações ix

Visão Geral 1

No relatório principal:

Capítulo 1 Introduction (Introdução)

Capítulo 2 Economic Mobility and the Middle Class: Concepts and Measurement (Mobilidade econômica e a classe média: conceitos e mensuração)

Capítulo 3 Mobility across Generations (Mobilidade intergeracional)

Capítulo 4 Mobility within Generations (Mobilidade intrageracional)

Capítulo 5 The Rising Latin American and Caribbean Middle Class (A ascendente classe média latino-americana e caribenha)

Capítulo 6 The Middle Class and the Social Contract in Latin America (A classe média e o contrato social na América Latina)

Sumário

v

Após uma década marcada por um contínuo crescimento – apesar da crise financeira de 2008 e 2009 – e da

redução da desigualdade em muitos países da América Latina e do Caribe (ALC), chegou o momento de avaliar as amplas tendências socioeconômicas da região. A pobreza moderada caiu de um nível superior a 40% em 2000 para menos de 30% em 2010. Esse declínio significa que 50 milhões de latino-americanos escaparam da pobreza durante a década. Mas quais trabalhadores e famílias conseguiram sair da pobreza e quais não puderam? O que aconteceu com aqueles que deixaram a pobreza para trás? Todos eles terão logrado ingressar na crescente classe média da região? Quais são as implicações desse fenômeno para as políticas públicas?

Para responder a essas questões, o relatório Mobilidade Econômica e a Ascensão da Classe Média Latino-Americana analisa uma combinação peculiar de fontes de dados, desde várias pesquisas domiciliares e exames de avaliação de estudantes até enquetes sobre atitudes, opiniões e crenças, com vistas a explicar a transformação social em curso na América Latina neste novo milênio. O estudo propõe uma nova definição da classe média com base na segurança econômica e a aplica à maioria dos países da região. No sentido

Introdução

de compreender o que determina a saída da pobreza, o relatório também examina a mobilidade econômica inter e intrageracional.

O resultado do estudo é um panorama com muitas nuances. Por um lado, embora a mobilidade intergeracional tenha aumentado na maioria dos países latino-americanos e caribenhos, ela continua limitada: os níveis de educação e de renda dos pais ainda exercem uma substancial influência nos resultados de seus filhos e isso parece ser verdadeiro em maior escala do que em outras regiões. Por outro lado, a mobilidade intrageracional foi significativa. Estima-se que pelo menos 40% das famílias da região ascenderam em termos de “classe socioeconômica” entre 1995 e 2010. A maioria dos pobres que prosperou não ingressou diretamente na classe média, mas passou a fazer parte de um grupo inserido entre os pobres e a classe média, que o relatório chama de segmento vulnerável e que agora constitui a mais ampla camada social na região.

Ainda assim, a classe média latino-amer icana cresceu de forma muito substancial: de 100 milhões de pessoas em 2000 passou para cerca de 150 milhões no final da última década. A classe média emergente varia, certamente, em cada país, mas existem vários denominadores comuns.

I n t r o d u ç ã oVi

A população que ingressa na classe média tem um nível educacional mais elevado do que o grupo que é deixado para trás. Existe maior possibilidade dessas pessoas viverem em áreas urbanas e trabalharem no setor formal. È mais provável que as mulheres de classe média tenham menos filhos e participem de forma mais ativa da força de trabalho do que as representantes do sexo feminino nos segmentos pobres ou vulneráveis.

Este relatório certamente estimulará o debate sobre as implicações dessas novas tendências para o funcionamento da economia, as prioridades de políticas e o

desempenho das instituições democráticas. Ao mesmo tempo em que a ALC está agora a caminho de se tornar uma região de renda média, muito ainda resta para ser feito. Os líderes regionais necessitarão continuar a dedicar uma atenção considerável das políticas a um terço dos latino-americanos que continuam pobres, buscando promover a segurança e a prosperidade dos que são vulneráveis.

Hasan TuluyVice-Presidente

Região da América Latina e do Caribe

vii

Este relatório foi elaborado por uma equipe chefiada por Francisco H.G. Ferreira, Julian Messina e Jamele

Rigolini, com a participação de Luis Felipe López-Calva, Maria Ana Lugo e Renos Vakis. Importantes contribuições adicionais partiram de João Pedro Azevedo, Nancy Birdsall, Maurizio Bussolo, Guillermo Cruces, Markus Jäntti, Peter Lanjouw, Norman Loayza, Leonardo Lucchetti, Nora Lustig, Bill Maloney, Eduardo Ortiz, Harry Patrinos, Elizaveta Perova, Miguel Sánchez, Roby Senderowitsch, Florencia Torche e Mariana Viollaz. A equipe contou com o hábil apoio de Manuel Fernández Sierra, Gonzalo Llorente, Nathaly Rivera Casanova e Cynthia van der Werf. A coordenação geral do trabalho coube a Augusto de la Torre, Economista-Chefe da Região da América Latina e do Caribe.

A equipe teve a sor te de receber aconselhamento e orientação de quatro proeminentes colegas revisores: François Bourguignon, Gary Fields, Philip Keefer e Ana Revenga, bem como de um grupo de consultores do qual participaram Nancy Birdsall, Louise Cord e James Foster. Embora estejamos gratos pela orientação recebida, esses consultores e revisores não são responsáveis por quaisquer erros, omissões ou interpretações que possam ser encontrados neste documento. Desejamos

Agradecimentos

Este relatório é dedicado à memória de Gonzalo Llorente

expressar o nosso reconhecimento e gratidão pelos comentários de Barbara Bruns, Michael Crawford, Wendy Cunningham, Rafael de Hoyos, Anna Fruttero e Alex Solis.

Gostaríamos de agradecer às pessoas e organizações que promoveram uma série de consultas realizadas na primavera de 2011, entre as quais mas não se limitando, Leonardo Gasparini (CEDLAS), Alejandro Gaviria (Universidade dos Andes), Miguel Jaramillo (GRADE), Eduardo Lora (IDB), Patricio Meller (CIEPLAN), Marcelo Neri (CPS-FGV), Rafael Rofman (Banco Mundial), Isidro Soloaga (El Colegio de México) e Miguel Székely (Instituto Tecnológico de Monterrey). A nossa gratidão vai também para Joan Maria Estebán, Ada Ferrer-i-Carbonnel e Xavi Ramos, que nos receberam no Instituto de Análise Econômica (IAE) de Barcelona, onde foi realizada uma conferência intermediária. A equipe agradece o apoio financeiro do Governo da Espanha no âmbito do programa SFLAC. A programação gráfica, a edição e a produção do livro foram coordenadas pelo Escritório do Editor do Banco Mundial, sob a supervisão de Patricia Katayama, Nora Ridolfi e Dina Towbin.

Por último, mas não menos importante, os nossos agradecimentos a Ruth Delgado, Erika Bazan Lavanda e Jacqueline Larrabure Rivero pelo constante apoio administrativo.

ix

TCR Transferência condicional de renda

ERLP mobilidade como instrumento equalizador de rendas de longo prazo

SESC situação econômica, social e cultural (índice do PISA)

PIB produto interno bruto

CIC curva de incidência de crescimento

MRD movimento de renda direcional

MRND movimento de renda não direcional

km quilômetro(s)

MIO mobilidade independente da origem

OCDE Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico

PISA Programa Internacional de Avaliação de Estudantes

MP movimento posicional

PPC paridade do poder de compra

SEDLAC Banco de Dados Socioeconômicos para a América Latina e o Caribe (do Centro de Estudos Distributivos, Laborais e Sociais (CEDLAS) da Universidade da Prata, na Argentina, e do Banco Mundial)

SERCE Segundo Estudo Regional Comparativo e Explicativo

MC movimento compartilhado

USAID Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional

WDI Indicadores do Desenvolvimento Mundial (World Development Indicators)

Siglas e Abreviações

1

Após décadas de estagnação, o tamanho da classe média na América Latina e no Caribe apresentou

recentemente uma expansão de 50% – de 103 milhões de pessoas em 2003 para 152 milhões (ou seja, 30% da população do continente) em 2009. Durante o mesmo período, enquanto a renda familiar cresceu e a desigualdade diminuiu na maioria dos países, o percentual de pobres caiu de forma significativa: de 44% para 30%. Como resultado, as parcelas representativas da classe média e dos pobres na população latino-americana agora são quase iguais. Esses indicadores apresentam um evidente contraste com a situação que prevaleceu (por um longo período) até cerca de 10 anos atrás, quando o percentual de pobres flutuou em torno de 2,5 vezes o da classe média. Este estudo analisa a natureza, os determinantes e as possíveis consequências desse notável processo de transformação social. (Veja as figuras 1 e 2.)

Por definição, essas grandes mudanças no tamanho e na composição das classes sociais devem implicar, da mesma forma, em uma substancial mobilidade econômica. Um grande número de pessoas que era pobre no final dos anos 1990 agora deixou essa condição. Outras que ainda não faziam parte da classe

média foram incluídas nesse segmento. No entanto, a mobilidade social e econômica não tem o mesmo significado para diversas pessoas ou em diferentes contextos. Este relatório discute os conceitos e documenta fatos sobre a mobilidade intra e intergeracional na América Latina e no Caribe ao longo das duas últimas décadas. Além disso, examina o crescimento da classe média latino-americana nos últimos 10 a 15 anos e estuda o tamanho, a natureza e a composição desse novo grupo social primordial. De modo mais especulativo, questiona como a ascensão da classe média poderá reformular o contrato social da região.

Uma região de renda média em vias de se tornar uma região de classe média

Definir a classe média não é uma questão simples e as escolhas dependem da perspectiva do pesquisador. Os sociólogos e cientistas políticos, por exemplo, definem normalmente a classe média em termos de educação (por exemplo, escolaridade acima do nível médio), ocupação (como de costume, trabalhadores administrativos) ou da propriedade de ativos (entre os quais bens de consumo duráveis básicos ou um imóvel). Por outro lado, os economistas, tendem a se

Visão Geral

V i s ã o G e r a l2

concentrar nos níveis de renda. Este estudo adota uma perspectiva econômica mas, para apresentar uma definição mais robusta e menos arbitrária, apoia a definição baseada na renda no conceito essencial de segurança econômica (ou seja, em uma baixa probabilidade da volta à pobreza). Os limites escolhidos para a renda per capita e a segurança econômica resultaram da análise de dados da América Latina e são portanto amplamente aplicáveis aos países de renda média.

O estudo aplica esta definição de classe média de forma coerente a um abrangente conjunto de pesquisas domiciliares realizadas em toda a América Latina. O relatório apresenta um perfil da nova classe média da região, enfatizando tanto as características objetivas como demografia, educação e ocupação quanto as subjetivas, ou seja, valores e crenças. A análise também questiona como esta classe média interage com a política econômica e social em termos dos antigos programas que contribuíram para o seu crescimento e dos seus pontos de vista e opiniões, assim como do seu crescente peso político nas futuras escolhas de políticas. Como as escolhas de políticas e o crescimento da classe média são determinados de forma conjunta, o estudo documenta com frequência essas correlações. Somente quando as circunstâncias especiais de dados permitem, infere-se os efeitos causais entre os movimentos de políticas e de renda.

O conceito de segurança econômica é fundamental para a nossa abordagem porque uma característica que define a situação da classe média é um certo grau de estabilidade econômica e de resistência a choques. Como nível máximo de insegurança, que pode ser suportado por uma família considerada de classe média, adotamos uma probabilidade de 10% de cair na pobreza em um intervalo de cinco anos (aproximadamente a média em países como a Argentina, a Colômbia e a Costa Rica). Com o objetivo de mapear essa probabilidade para uma faixa de renda familiar, perguntamos – nos países onde os dados adequados estão disponíveis – quais são os níveis de renda que estão normalmente associados a esse grau de insegurança. O

exercício produziu um limite de renda de US$10 por dia segundo a paridade do poder de compra (PPC) convertida pelas taxas de câmbio, que assumimos como o nível inferior de renda familiar per capita para a classe média. (1) O limite superior foi estabelecido em US$50 per capita ao dia, com base principalmente no estudo dos dados da pesquisa. De acordo com esses limites, uma família composta por quatro membros será considerada de classe média se a sua renda anual variar entre US$14.600 e US$73 mil.

Ainda que US$10 por dia (ou US$3.650 por pessoa ao ano) talvez não seja um requisito muito exigente para uma família ser enquadrada na classe média, esse nível corresponde ao 68º percentil da distribuição de renda na América Latina em 2009. Segundo a nossa definição, 68% da população da região – mais de dois terços – viviam abaixo dos padrões de renda da classe média em 2009. Por certo, nem todas essas pessoas eram pobres. Se usarmos US$4 por dia como uma linha de pobreza moderada para a região, como faz normalmente o Banco Mundial, esses 68 % estão divididos em 30,5% de população pobre (US$0 a US$4 por dia) e 37,5% de pessoas situadas entre a pobreza e a classe média (US$4 a US$10 por dia). Este segundo grupo representa um segmento da população que está em risco de cair na pobreza, com uma probabilidade estimada em 10%.

Acima do segmento vulnerável, cerca de 30% dos latino-americanos estão na classe média (US$10 a US$50 por dia) e 2% se situam nos estamentos de renda alta (mais de US$50 por dia), a quem nos referiremos como os ricos ou a elite. A Figura 1, que se baseia em pesquisas domiciliares harmonizadas de 15 países da América Latina e do Caribe (que compreendem 86% da população da região e representam 500 milhões de pessoas), mostra a distribuição de renda do continente e indica os três principais limites de renda per capita adotados na nossa análise: a linha de pobreza de US$4 por dia, o limite inferior para a classe média de US$10 por dia e o superior de US$50 por dia. (2)

V i s ã o G e r a l 3

Esta é uma reedição independente da seção Visão Geral de um estudo mais longo realizado pelos mesmos autores, publicado como o principal relatório para 2012 da Região da América Latina e do Caribe do Banco Mundial. A análise que apoia as conclusões resumidas neste documento é descrita em mais detalhe no relatório completo, no qual o leitor encontrará referências para todas as questões metodológicas. Da mesma forma, como seria impossível contemplar toda a literatura especializada neste curto resumo, a maior parte das referências bibliográficas pode ser encontrada no relatório principal.

A Figura 1 mostra um dos principais resultados deste estudo: se for adotada uma definição de classe média com base no conceito de segurança econômica – validado por autopercepções – assim como um padrão

de linha de pobreza moderada, então haverá quatro e não três classes na América Latina e no Caribe. Situado entre os pobres e a classe média, existe um extenso grupo de pessoas que parece sobreviver bastante bem de modo a não ser incluído entre os pobres, mas que não conta com a segurança econômica que seria necessária para fazer parte da classe média. Esse grupo pode ser denominado de várias formas como, por exemplo, os quase-pobres ou a classe média baixa. Segundo a nossa definição de classe média, como essas famílias têm uma grande probabilidade de passar por períodos de pobreza no futuro, chamamos esses segmentos de “vulneráveis”.

Como a Figura 1 mostra, essa classe vulnerável abrange a famíl ia latino-americana modal – o núcleo familiar cuja renda é observada com a maior frequência na distribuição. Além disso, como ilustra a Figura 2, esta é a maior classe na região, constituída por 38% da população. Como a pobreza diminuiu e a classe média aumentou – para cerca de 30% da população, cada uma, durante a década passada – o tipo de família latino-americana mais comum se caracteriza pela vulnerabilidade.

No entanto, sem dúvida a dinâmica apresentada na Figura 2 é, de modo geral, muito estimulante. Ser um continente onde os vulneráveis constituem o maior segmento da população é muito menos atraente do que do que se apresentar como uma região de classe média mas, evidentemente, isto é ainda muito melhor do que ser um continente predominantemente pobre. Além disso, a situação atual na região é tão recente quanto inédita – ela é resultante de um processo de transformação iniciado em torno de 2003, no qual a mobilidade social ascendente ocorreu em ritmo notável. Como mostra a Figura 2, antes de 2005 a pobreza ainda era a condição que mais prevalecia na nossa classificação em quatro níveis.

Em um sentido quase mecânico, essa transformação ref lete o crescimento econômico e a redução da desigualdade na América Latina e no Caribe nesse período. O produto interno bruto (PIB) per capita aumentou em taxas anuais de

FiGUra 1 a distribuição de renda na américa Latina e no Caribe, 2009

4a 10b 50c 100d

.04

.02

.03

.01

0

Dens

idad

e

Renda per capita diária em US$ (PPC)

Fonte: Cálculos do autor usando os indicadores do Banco de Dados Socio-econômicos para a América Latina e o Caribe (SEDLAC).Nota: PPC = Paridade do poder de compra. Os países são: Argentina, Bolívia (2008), Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, República Dominicana, Equador, El Salvador, Honduras, México (2010), Panamá, Paraguai, Peru e Uruguai.a. US$4 = Linha de pobreza moderada na América Latina e no Caribe.b. US$10 = Limite inferior da renda diária da classe média latino-ameri-cana.c. US$50 = Limite superior da renda diária da classe média latino-americana.

V i s ã o G e r a l4

(com o restante, em cada caso, associado às mudanças na desigualdade). No entanto, como mostra a Figura 3, a média oculta uma variação significativa entre os países latino-americanos nessas decomposições: na Argentina e no Brasil, por exemplo, a queda na desigualdade de renda contribuiu de forma substancial para a expansão da classe média. (3)

a mobilidade ascendente intergeracional foi notável

Em um sentido mais profundo, o aumento da classe média da região também reflete uma substancial mobilidade econômica ascendente. O crescimento da renda média e as mudanças na desigualdade nos últimos 15 anos – utilizados na Figura 3 para explicar o a expansão da classe média – são em si estatísticas agregadas que resumem basicamente as transformações no bem-estar dos indivíduos e das famílias. Por trás dessas decomposições contábeis, estão as verdadeiras trajetórias individuais que geralmente implicam em discrepâncias significativas na distribuição da renda. Em qualquer ano, algumas famílias ganham mais do que anteriormente, enquanto outras recebem menos. Subjacentes às mudanças líquidas no tamanho de cada classe socioeconômica mostrada na Figura 2, existem fluxos brutos maiores, com muitas famílias em trajetória ascendente e outras em situação descendente.

Para esclarecer essas dinâmicas, adotamos uma medida de mobilidade econômica no âmbito de uma geração (mobilidade intrageracional) que resume o movimento de renda (direcional). Basicamente, essa medida de renda direcional capta a taxa média de crescimento da receita familiar.(4) Esse índice de mobilidade, que é bem conhecido na literatura especializada, pode ser decomposto em “ganhadores” e “perdedores”, bem como segundo a classe social original de cada família. Essa decomposição permite que várias versões da medida sejam expressas em termos de matrizes de transição, como na Tabela 1. Levando em conta que os dados

FiGUra 2 Tendências da classe média, da vulnerabilidade e da pobreza na américa Latina e no Caribe, 1995–2009

1995 2000 2005 2010

50

45

40

35

25

20

30

15

10

5

0

Perce

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l da p

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ação

Pobres (US$0 a US$4 por dia) Vulneráveis (US$4 a US$10 por dia) Classe média (US$10 a US$50 por dia)

Fonte: Cálculos do autor usando os indicadores do Banco de Dados Socioeconômicos para a América Latina e o Caribe (SEDLAC).Nota: PPC = Paridade do poder de compra. Os países são: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, República Dominicana, El Salvador, Equador, Guatemala, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, Uruguai e República Bolivariana da Venezuela. As linhas de pobreza e as rendas são expressas em US$ PPC por dia em 2005.

2,2% entre 2000 e 2010 e um pouco mais rápido no período crucial de 2003 a 2009. Embora estes não sejam os percentuais de crescimento do Leste Asiático, representam uma melhoria substancial no desempenho anterior da região: - 0,2% por ano na década de 1980 e 1,2% nos anos 1990. Enquanto nessas décadas anteriores a desigualdade se mantinha estável ou em alta, os anos 2000 testemunharam o declínio das disparidades de renda em 12 dos 15 países para os quais havia dados disponíveis (como será analisado em mais detalhe no capítulo 1).

Ambos os fatores – renda mais elevada e menor desigualdade – contribuíram para a redução da pobreza e a expansão da classe média. No entanto, em termos estatísticos, o crescimento econômico (aumento da renda média per capita) desempenhou um papel muito maior e foi responsável por 66% da redução da pobreza e por 74% do crescimento da classe média nos anos 2000

V i s ã o G e r a l 5

pertinentes aos mesmos indivíduos (ou seja dados em painel) durante longos períodos de tempo estão raramente disponíveis na região, a mobilidade de renda direcional foi estimada usando painéis sintéticos e apresentamos aqui medidas de mobilidade conservadoras (ou seja, referentes ao limite inferior).5

A Tabela 1 apresenta um resumo da mobilidade econômica intrageracional no período de c. 1995-2010 para a América

Latina como um todo. Os dados são representativos de 18 países da região. Cada célula mostra a proporção de toda a população que iniciou na linha de “origem” da classe socioeconômica em 1995 e terminou na coluna “destino” da classe em 2010. Por exemplo, a primeira linha informa que, entre 45,7% da população que era pobre em 1995, menos da metade (22, %) se manteve pobre em 2010, enquanto o restante ascendeu para

FiGUra 3 Os componentes do crescimento e da redistribuição do crescimento da classe média na américa Latina e no Caribe, 1995–2010

20

10

0

–10

Varia

ção n

a cla

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édia

(pon

tos p

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US$10 a US$50 por dia

Redistribuição CrescimentoPaíse

s latin

o-americanos

República Dominica

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Países la

tino-america

nos

não ponderadosArgentin

aBrasil

Chile

Colômbia

Equador

Honduras

PanamáPeru

El SalvadorMéxico

Paraguai

Uruguai

Costa Rica

Fonte: Azevedo e Sanfelice (2012) usando os indicadores do Banco de Dados Socioeconômicos para a América Latina e o Caribe (SEDLAC).Nota: PPC = Paridade do poder de compra. A renda per capita da classe média é expressa em US$ PPC por dia em 2005.

TabeLa 1 Mobilidade intrageracional na américa Latina nos últimos 15 anos, c. 1995–2010 (percentual da população)

Destino (c.2010)

TotalPobres Vulnerables Clase media

Origem (c. 1995)

Pobres 22.5 21.0 2.2 45.7

Vulneráveis 0 .9 14.3 18.2 33.4

Classe médiaª 0 .1 0 .5 20.3 20.9

Total 23.4 35.9 40.7 100.0

Fonte: Cálculos do autor usando os indicadores do Banco de Dados Socioeconômicos para a América Latina e o Caribe (SEDLAC).Nota: “Pobres” = Indivíduos com renda per capita diária abaixo de US$4. “Vulneráveis” = Indivíduos com renda per capita diária de US$4 a US$10. “Classe média” = Indivíduos com renda per capita diária acima de US$10. As linhas de pobreza e a renda são expressas em US$ PPC por dia em 2005. PPC = Paridade do poder de compra. A tabela mostra estimativas de mobilidade no limite inferior. Os resultados são médias ponderadas para 18 países latino-americanos e caribenhos usando estimativas nacionais de população do último período disponível (conforme o detalhamento nas notas da Tabela 4.1 do Capítulo 4). A linha inferior não corresponde aos números usados acima para descrever a Figura 1 por causa das diferenças nas amostras nos países e nos anos. Além disso, a Tabela 1 reúne a classe média e a elite em uma única camada social.

V i s ã o G e r a l6

o segmento vulnerável (21%) e uma parcela subtancialmente menor saltou direto para a classe média (2,2%). De forma análoga, entre os 33,4% da população que iniciou vulnerável em 1995, mais da metade (18,2%) ascendeu e ingressou na classe média.(6)

A Tabela 1 revela um grau surpreendente de mobilidade de renda na América Latina. Os percentuais de população ao longo da diagonal principal representam os que “permaneceram”: as pessoas cujo movimento de renda, ascendente ou descendente, nesse período foi insuficiente para que cruzassem o limite entre as classes. Como esses percentuais somam 57,1%, podemos concluir que pelo menos 43% de todos os latino-americanos mudaram de classe social entre meados dos anos 1990 e o final da década de 2000, e que a maior parte desse movimento foi ascendente. De fato, apenas 2% da população passou por uma transição de classe descendente (embora este também seja um limite inferior).

Como seria de se esperar, uma grande parte do movimento das classes foi gradual: a maioria das pessoas que “ascenderam” passaram da pobreza para a vulnerabilidade ou da vulnerabilidade para a classe média; poucas saltaram diretamente da pobreza para a classe média durante esses 15 anos. As histórias sobre a trajetória da pobreza à riqueza captam a imaginação precisamente porque são, na realidade, bastante raras – mesmo em um contexto de grande mobilidade como na América Latina durante a década de 2000.

Naturalmente, essas estatísticas médias escondem mais uma vez uma significativa variação, tanto no contexto nacional quanto internacional. A amplitude da mobilidade econômica registrada pela nossa medida do movimento de renda direcional foi muito maior no Brasil e no Chile, por exemplo, do que na Guatemala ou no Paraguai. Houve também uma variação em termos do local onde estava ocorrendo à distribuição da mobilidade social, associada com frequência ao nível inicial da renda per capita do país: enquanto a maior parte da mobilidade no Equador e no Peru foi gerada por pessoas de

origem pobre, na Argentina e no Uruguai – países com uma renda per capital inicial mais elevada – a maior parte dessa transição foi proveniente de grupos que eram vulneráveis.

Na maioria dos países latino-americanos, as famílias tiveram mais probabilidade de vivenciar uma mobilidade ascendente quando o chefe da família possuía um maior grau de escolaridade no ano inicial. As chances de ingressar na classe média, em particular, eram maiores para as pessoas com nível superior. Ter um emprego formal e viver em uma área urbana se tornaram bons indicadores da mobilidade ascendente. A migração rural-urbana também foi associada a maiores perspectivas de movimento ascendente e ainda mais às transições de saída da pobreza do que de entrada na classe média.

Em todos os países latino-americanos e caribenhos, houve uma clara associação entre o crescimento mais rápido do PIB e a maior mobilidade de renda – o que não surpreende levando-se em conta os nossos comentários anteriores sobre o crescimento econômico como principal determinante da expansão da classe média. De modo geral, a mobilidade econômica também estava correlacionada aos gastos com saúde e educação. É interessante notar que não foi encontrada nenhuma correlação entre a mobilidade e o total dos investimentos em proteção social, mas quando esses gastos foram desagregados por tipo, a mobilidade revelou estar vinculada às medidas de programas direcionados e progressivos de proteção social, entre os quais as transferências condicionais de renda. Embora a amplitude do ingresso na classe média estivesse correlacionada de modo positivo com os aumentos da participação feminina na força de trabalho, isto não se verificou na mobilidade para fora da pobreza. Todas essas correlações são, por certo, meramente descritivas. Com base nas evidências apresentadas neste relatório, as variáveis em questão não devem ser interpretadas como causas da mobilidade.

V i s ã o G e r a l 7

a mobilidade intergeracional continua lenta

As evidências acima não sugerem que a sociedade latino-americana se caracterize por uma alta mobilidade em todos os sentidos da palavra. Como observamos anteriormente, a mobilidade tem vários significados em diferentes contextos e um desses conceitos importantes – especialmente no âmbito intergeracional – é o da “independência da origem”. Uma medida de mobilidade como a independência da origem atinge o seu nível máximo quando as informações sobre o período original, ou inicial, não servem para prever a posição terminal (ou final). A medida diminui quando a correlação entre as posições inicial e final aumenta. No presente contexto, a dependência da origem refere-se ao grau em que as condições familiares e socioeconômicas nas quais uma pessoa nasceu determinam a sua futura classe socioeconômica e de renda. Um indicador mais alto de independência da origem supõe uma maior mobilidade intergeracional.

Como esta análise sugere, quando o conceito de mobilidade como independência da origem é aplicado a um contexto intergeracional, ele está estreitamente relacionado à noção de igualdade de oportunidades. A igualdade de oportunidades é predominantemente compreendida agora como uma situação hipotética na qual circunstâncias predeterminadas como raça, gênero, local de nascimento ou situação familiar não têm nenhum efeito sobre as realizações de uma pessoa durante a sua vida. A mobilidade perfeita, no sentido da independência da origem, tem o mesmo significado quando se examina apenas uma variável circunstancial, como a escolaridade dos pais. (7)

A principal mensagem deste relatório a esse respeito é que, infelizmente, apesar dos substanciais movimentos ascendentes intrageracionais, a mobilidade intergeracional continua limitada na América Latina. Como os dados sobre a renda dos pais de adultos que trabalham hoje são impossíveis de obter

FiGUra 4 associação entre a formação educacional dos pais e o nível de escolaridade dos filhos em países selecionados

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EgitoBélgica Suíça

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Nicarágua

Peru

Fonte: Cálculos do autor usando dados de Hertz et al. 2007.Nota: As barras representam o impacto de um desvio padrão relativo aos anos de escolaridade dos pais sobre os anos de aprendizado dos filhos. O impacto é apresentado como uma média das coortes que nasceram entre 1930 e 1980.

V i s ã o G e r a l8

(e difíceis de serem estimados) em relação a um grande número de países da região, a maior parte da nossa análise da mobilidade intergeracional – ou da sua ausência – se baseia no nível educacional (medido pelos anos de escolaridade) e no desempenho educacional (medido pelas notas nos exames padronizados). Em particular, investigamos em que medida o grau de educação dos pais parece determinar o nível de escolaridade (ou de desempenho) de uma pessoa. Um modo de fazer essa comparação entre países é avaliar o efeito de um desvio padrão dos anos de formação dos pais sobre os anos de aprendizado de seus filhos. Segundo essa mensuração, como mostra a Figura 4, existe uma maior persistência intergeracional – ou seja, muito menos mobilidade – nos países latino-americanos (como o Brasil, Equador, Panamá e Peru) do que na maioria das outras nações – ricas ou pobres – para as quais havia dados disponíveis.

Um panorama semelhante, embora menos marcante, surge se for considerado o efeito

do contexto parental (avaliado por um índice da situação socioeconômica) no desempenho dos alunos, medido pelas notas nos exames padronizados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes, mostrado na Figura 5.8 A maioria dos países latino-americanos para os quais há disponibilidade de dados pertinentes também aparece mais à direita na distribuição dessa estimativa de impacto, sugerindo que o contexto familiar é um maior determinante do aprendizado estudantil na América Latina do que em outras regiões. No entanto, há uma variação mais acentuada nessas estimativas do que nos indicadores de escolarização mostrados na Figura 4: no México, por exemplo, a situação dos pais parece estar muito menos estreitamente associada às notas no exame do PISA do que em outros países latino-americanos ou em várias nações de outras regiões. Contudo, é importante destacar que a maioria dos países latino-americanos apresenta não apenas uma menor mobilidade intergeracional em termos de desempenho educacional mas também níveis muito baixos de aprendizado dos alunos – uma combinação lamentável que deixa claramente um grande espaço para intervenções de políticas nessa área.

Há também algumas evidências dos mecanismos que causam a persistência intergeracional do desempenho educacional. Em particular, parece que a seleção – o processo pelo qual os filhos de famílias mais favorecidas se concentram nas mesmas escolas, das quais as crianças de núcleos familiares menos privilegiados são excluídas – é um componente mais importante da imobilidade intergeracional na América Latina do que em outras regiões. A seleção é importante na América Latina devido aos efeitos dos pares comuns e porque as escolas para onde vão os alunos ricos são muito melhores do que as frequentadas pelos pobres, em termos de administração e prestação de contas, assim como em relação à infraestrutura física e qualidade do ensino. Além disso, certamente, o contexto parental também afeta os resultados do aprendizado dos alunos, decorrentes da melhor nutrição, exposição a um vocabulário mais rico,

FiGUra 5 relação entre as notas médias nos exames do PiSa e a mobilidade intergeracional em 65 países, 2009

10300

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Efeito do histórico socioeonômico nas notas do exame de leitura

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EUA

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Fonte: Dados do PISA 2009.Nota: PISA = Programa Internacional de Avaliação de Estudantes. O efeito do contexto socio-econômico nas notas dos exames de leitura é calculado usando o índice do PISA de situação econômica, social e cultural. A linha horizontal representa a nota média da amostra no exame. A linha vertical representa o efeito médio da situação socioeconômica na amostra.

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diferenças no estímulo cognitivo, recursos materiais em casa, etc.

Existe espaço para esperar que esses níveis extremamente baixos de mobilidade intergeracional na América Latina – ou seja, altos níveis de desigualdade de oportunidades – estejam começando a mudar. A mobilidade intergeracional em relação ao nível de escolaridade parece ter aumentado ao longo da última década ou um pouco mais na maior parte da região. A Figura 6 mostra as estimativas do efeito de um desvio padrão do nível educacional dos pais na defasagem escolar dos filhos (a diferença entre a maior série que uma criança pode frequentar em circunstâncias normais e a última ou a série atual em que ela está) em 1995 e 2009. As barras vermelhas mostram que as diferenças são positivas e substanciais na maioria dos países da América Latina, sugerindo uma

tendência geral mais positiva. Embora esse panorama seja estimulante, o resultado se restringe ao grau de escolarização. Não existem evidências claras de melhorias semelhantes no desempenho educacional e, por isso, não há espaço para complacência.

Qual é a probabilidade dessas medidas da (ba ixa) mobi l idade educac iona l intergeracional implicarem de forma semelhante em uma limitada mobilidade de renda entre as gerações? Embora não tenhamos realizado uma análise original das transições de renda intergeracionais para este relatório, a literatura especializada sugere que a América Latina também é uma região de baixa mobilidade intergeracional em termos de renda e esse fator está paralelamente associado aos níveis (ainda) elevados de desigualdade de renda na região. Essa relação é corroborada na Figura 7 – que reproduz

FiGUra 6 impacto do contexto parental na defasagem educacional de alunos com 15 anos na américa Latina, 1995–2009

–1.00

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c. 1995 c. 2009 c. 2009 – c. 1995

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República Dominica

naBolívia

Argentina

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Chile

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Colômbia

VenezuelaMéxico

Nicarágua

Costa Rica

Uruguai

Panamá

Fonte: Indicadores do Banco de Dados Socioeconômicos para a América Latina e o Caribe (SEDLAC).Nota: A “defasagem educacional” é definida como a diferença entre os anos potenciais de educação em uma determinada idade e os anos de aprendizado efetivamente concluídos. As barras de cor verde e laranja representam a redução esperada na defasagem escolar associada a um desvio padrão do nível educacional dos pais em 1995 e 2009, respectiva-mente. A barra vermelha mostra a diferença entre as duas barras. As outras covariáveis na regressão são o sexo do aluno, a moradia em uma área urbana e os efeitos fixos do país. A estimativa de impacto da educação parental na defasagem educacional é sempre diferente de zero em termos estatísticos e o mesmo ocorre com as diferenças entre 1995 e 2009.

V i s ã o G e r a l10

uma associação positiva bem conhecida: quanto maior for a desigualdade de renda (medida pelo coeficiente de Gini), mais elevada será a imobilidade intergeracional.

Em suma, os persistentes baixos níveis de mobilidade intergeracional da região contrastam com o recente aumento acentuado da mobilidade intrageracional. O panorama geral da mobilidade econômica na América Latina é portanto desigual. A mobilidade entre as gerações – no sentido de que os resultados pessoais são independentes do contexto familiar e da origem social – continua a ser um objetivo difícil de alcançar. Em termos intergeracionais, a América Latina não é uma sociedade móvel e os sinais de que a região está apresentando um pouco mais de mobilidade são provisórios e, até agora, muito limitados ao grau de escolaridade. Este cenário é coerente com o que se sabe sobre o alto grau de desigualdade de oportunidades que continua a caracterizar a região.

Uma fotografia da classe média latino-americana

Quais são as principais características desta classe média emergente? Quais são as

similaridades encontradas entre os países? Os seus pontos de vista e opiniões são diferentes dos de outros grupos sociais? A nossa análise sugere, talvez de forma surpreendente, que a crescente classe média latino-americana, embora compartilhe algumas características objetivas comuns na região, apresenta muito menos semelhanças em seus valores subjetivos e crenças. Em primeiro lugar, examinemos as características objetivas comuns: em todos os países latino-americanos, os chefes de família da classe média têm muito mais anos de escolaridade do que os dos segmentos pobres ou vulneráveis, porém menos anos de aprendizado do que os ricos (Figura 8). As famílias de classe média são mais urbanizadas do que os grupos mais desfavorecidos. Além disso, o emprego formal parece ser um sinal distintivo da classe média na América Latina; o trabalhador de classe média está normalmente empregado no setor formal ao invés de ser autônomo, desempregado ou empregador. Por outro lado, os pobres e vulneráveis dependem com mais frequência do trabalho autônomo (ou estão desempregados), enquanto os ricos são com mais frequência empregadores e, em alguns países, trabalhadores por conta própria.

Em termos de setor de at iv idade econômica, os trabalhadores da classe média são encontrados com frequência no segmento de serviços como saúde, educação e os serviços públicos, mas os empregos industriais são mais frequentes entre a classe média (e os vulneráveis) do que entre os pobres ou os ricos. Não há evidências de que a classe média seja excessivamente dependente ou empregada pelo setor público.

Na maioria dos países latino-americanos para os quais existem dados, o emprego no setor público foi mais frequente entre os ricos do que entre a classe média (embora o México e o Peru sejam exceções). O setor público empregou acima de um quarto dos trabalhadores de classe média em apenas um país: Honduras. Portanto, parece que são imprecisas as imagens populares da classe média como sendo composta de intrépidos empresários (que começam suas pequenas empresas e avançam com

FiGUra 7 associação entre desigualdade de renda e imobilidade intergeracional

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Desigualdade (Índice de Gini)

CanadáAustrália

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SuéciaFinlândia

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Nova Zelândia

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SuíçaEstados Unidos

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Fonte: Corak 2012.

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os seus próprios esforços) ou burocratas preguiçosos (confortavelmente dependentes de um salário do governo). Normalmente, o trabalhador latino-americano de classe média é um funcionário do setor de serviços razoavelmente educado e formalmente empregado por uma empresa privada situada em uma área urbana.

A dinâmica e a demografia familiar fornecem, talvez, os traços mais interessantes do perfil da classe média latino-americana. Entre 1992 e 2009, o tamanho médio de uma família de classe média na América Latina caiu de 3,3 para 2,9 pessoas. Isto se compara com as médias de 4,1 e 3,4 membros, respectivamente, em toda a população. De modo geral, as famílias de classe média têm menos filhos e as mulheres participam com mais frequência da força de trabalho: 73% das mulheres de classe média com idades entre 25 e 65 anos em toda a América Latina estão empregadas ou à procura de trabalho, em comparação com a média de 62% da população regional. Os seus filhos estão normalmente na escola: quase todas as crianças de classe média entre 6 e 12 anos estudam, da mesma forma que cerca de três quartos dos jovens de 13 a 18 anos.

Em suma, apesar de haver evidentes variações no perfil da classe média em todos os países, as semelhanças predominam: esse segmento social apresenta um conjunto de padrões demográficos e socioeconômicos distintivos que estão presentes em quase todas as nações latino-americanas. Isto poderia significar que a classe média também compartilha sistematicamente opiniões e crenças sobre a sociedade que podem ser consideradas diferentes das de outros grupos? A nossa pesquisa sugere que este não é o caso.

Uma análise dos valores e das crenças da classe média usando pesquisas de opinião mostra que as características do país são responsáveis por uma parcela muito maior das mudanças nos valores do que o atributo de classe propriamente dito. Em particular, não há nenhuma forte evidência de que a classe média seja uma exceção em termos de valores e crenças. De fato, os entrevistados de classe média em geral têm maior

probabilidade do que as suas contrapartes mais pobres de acreditar nas instituições do seu país (entre as quais o governo, os partidos políticos e a polícia) e de demonstrar mais fé na meritocracia das suas sociedades, e menos possibilidade de perceber a violência política como legítima. No entanto, a maioria dessas associações reflete apenas as correlações positivas com a renda e a educação em vez de algo que esteja relacionado especificamente à situação da classe média. Além disso, em conjunto, a renda e o contexto de classe social são responsáveis somente por uma pequena parcela da variação total nos valores.

Esta realidade contrastante pode ser descrita em poucas palavras da seguinte maneira: quando se trata de características socioeconômicas e demográficas, uma pessoa de classe média no Peru tem mais em comum com um indivíduo de classe média no México

FiGUra 8 Média de anos de escolaridade (25 a 65 anos) em países latino-americanos selecionados, por classe de renda, c. 2009

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naMéxicoChile

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Pobres Vulneráveis Classe média Classe alta

Fonte: Birdsall 2012.Nota: “Pobres” = Indivíduos com renda per capita diária inferior a US$4. “Vulneráveis” = Indivíduos com renda per capita diária de US$4 a US$10. “Classe média” = Indivíduos com renda per capita diária de US$10 a US$50. “Classe alta” = Indivíduos com renda per capita diária superior a US$50. As linhas de pobreza e a renda são expressas em US$ PPC por dia em 2005. PPC= Paridade do poder de compra.

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do que com um cidadão mais pobre no Peru; quanto aos valores e aspirações, a mesma pessoa de classe média no Peru tem mais em comum com um cidadão pobre no Peru do que com um indivíduo de classe média no México.

a classe média e o contrato social

Quais são, se houverem, as implicações de uma crescente classe média com as seguintes características – urbana, melhor educada, em grande parte empregada no setor privado e com crenças e opiniões amplamente alinhadas com as dos cidadãos mais pobres e menos escolarizados – para a política social e econômica? Especificamente, o crescimento da classe média latino-americana poderá significar mudanças no contrato social fragmentado da região?

Na sua acepção mais ampla, um “contrato social” é a combinação de medidas implícitas e explícitas que determinam o que cada grupo aporta e recebe do Estado. Em termos estilizados, o contrato social da América Latina na segunda metade do século XX se caracterizou por um Estado pequeno, para o qual a elite (e a pequena classe média a ela agregada) contribuiu com o pagamento de impostos baixos e do qual recebeu grandes vantagens por meio de um conjunto “truncado” de benefícios pecuniários como aposentadorias, verbas rescisórias e assemelhados, aos quais apenas os trabalhadores do setor formal têm direito. (9) Restou uma quantia limitada para oferecer serviços públicos de alta qualidade nas áreas de educação, saúde, infraestrutura e segurança, por exemplo. Portanto, os serviços públicos nesses setores foram em geral de baixa qualidade; enquanto a grande maioria da população (pobre e vulnerável) não tinha opção, os ricos e a pequena classe média abandonaram o sistema e optaram por alternativas privadas. A essência desse contrato (implícito) foi simples: as classes média e alta não foram solicitadas a pagar muito nem esperaram tanto dos serviços públicos. Os pobres também pagaram pouco

e tiveram um retorno proporcionalmente limitado em termos de benefícios públicos.

Uma manifestação desse contrato social foi um Estado que era normalmente pequeno bem como direcionado para o fornecimento de pagamentos previdenciários do setor formal às pessoas mais abastadas. Até hoje, com exceção da Argentina e do Brasil, a região se caracteriza por receitas fiscais relativamente baixas. A receita fiscal total média em 2010 foi de 20,4% do PIB na América Latina, em relação a 33,7% nos países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), por exemplo. (10) Além disso, a composição dessas receitas fiscais tendeu a favorecer os impostos indiretos (sobre vendas) e as contribuições para a previdência social, em comparação com os impostos de renda e de propriedade, o que levou a um sistema que não é particularmente progressivo.

Quanto aos benefícios, a classe média e a elite participaram de forma desproporcional do sistema de previdência social (como, por exemplo, aposentadoria por idade ou incapacidade, proteção do desemprego, verbas indenizatórias e seguro de saúde). No entanto, esses segmentos sociais tenderam a abandonar especialmente os serviços públicos de saúde e educação. Ao invés disso, as classes alta e média na América Latina recorreram com frequência a alternativas privadas para obter esse atendimento. Essa tendência de se excluir dos serviços se estendeu até mesmo àqueles cuja provisão pública é uma norma incontestável, como o de eletricidade: em alguns países latino-americanos, ainda é observado um crescimento da propriedade privada de geradores de eletricidade resultante do aumento da renda familiar. O mesmo se aplica à segurança pública – em vários países da região não é incomum encontrar condomínios fechados com segurança privada.

No entanto, e s se panorama não se manteve estático. Nos últimos 10 a 20 anos – e, em particular, após os processos de redemocratização em muitos países da América Latina – o equilíbrio político começou a mudar, mesmo que

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gradualmente. A disseminação dos benefícios previdenciários não contributivos para pessoas idosas, os esquemas de seguro de saúde e o crescimento das transferências condicionais de renda significou que as transferências redistributivas estatais agora alcançam os pobres em uma medida desconhecida há 20 anos na maior parte da região. Ao mesmo tempo, na maioria das nações da região, a amplitude dos benefícios pecuniários para os pobres não correspondeu a uma volta da classe média aos serviços públicos de saúde e educação. O “estado de bem-estar” da América Latina pode se tornar menos “truncado”, mas o seu contrato social se mantém fragmentado.

É natural questionar se a América Latina poderá continuar com a sua recente promoção de “crescimento com equidade” (ou pelo menos de redução da desigualdade) fundamentada em um contrato social tão fragmentado, que gera de forma inerente menos oportunidades para a maior parte da população. Seja na Europa Ocidental do pós-guerra ou na China pós-revolucionária, na Coréia do Sul após a reforma agrária ou nos Estados Unidos durante o New Deal, o progresso socioeconômico exigiu com frequência uma combinação de liberdade econômica com uma base sólida de educação, saúde e infraestrutura pública. É quase certo que a maioria dos países latino-americanos e caribenhos necessitará de reformas adicionais em seus contratos sociais para que os seus Estados possam criar essa base e manter o crescimento.

Mas o crescimento da classe média documentado nesse estudo pode facilitar essas reformas? Ou, ao invés disso, irá consolidar a opção pelos serviços privados, reduzindo ainda mais a sua vontade de contribuir para o erário público, com o objetivo de gerar oportunidades para as pessoas que continuam pobres? Em certo sentido, enquanto a América Latina evolui para uma estrutura social mais madura, com uma classe média maior e mais reivindicante, a região se encontra em uma encruzilhada: ela romperá (ainda mais) com o contrato social fragmentado, herdado de seu passado

colonial, e continuará a buscar uma maior paridade de oportunidades ou vai adotar com muito mais ênfase um modelo perverso no qual a classe média não utiliza os serviços públicos e conta consigo mesma?

Este estudo não responde a essas grandes questões, mas apenas as propõe, porque elas são uma consequência natural das tendências recentes na mobilidade econômica e no tamanho da classe média. Essas tendências combinam as boas notícias do recente crescimento da renda e da diminuição da pobreza com a realidade da mobilidade intergeracional limitada e da persistente desigualdade de oportunidades. No entanto, o estudo sugere que a classe média pode não se tornar automaticamente o muito esperado agente catalítico das reformas. Resta saber se e como a nova classe média contribuirá para o fortalecimento do contrato social da região e, sem dúvida, esse tema será objeto de muitas pesquisas no futuro. Não obstante, o relatório enfatiza três áreas nas quais as reformas podem ajudar na obtenção de apoio da classe média para um contrato social mais justo e legítimo:

• Incorporação mais explícita da meta de oportunidades iguais nas políticas públicas. Esse fator é essencial para garantir que a classe média sinta que vive em uma sociedade em que o esforço vale a pena e o mérito é recompensado, ao contrário daquela estabelecida em favor de grupos privilegiados. Também é importante expandir o acesso das pessoas que continuam pobres ou vulneráveis aos bons empregos e às fontes estáveis de renda. Embora essa iniciativa exija reformas em uma ampla gama de setores, este relatório enfatiza a necessidade de melhorar a qualidade da educação pública, desde o desenvolvimento das habilidades cognitivas e sociais durante a primeira infância até melhores faculdades e universidades. Por sua vez, uma maior igualdade de oportunidades aumenta a eficiência econômica, contribuindo assim para o tratamento do persistente problema do baixo crescimento da América Latina e melhorando as condições para que o setor privado regional possa gerar empregos

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mais qualificados e estáveis para todas as classes sociais.

• Implementação de uma segunda geração de reformas no sistema de proteção social, abrangendo a assistência e o seguro social. Embora as melhorias acima mencionadas na assistência social direcionada durante os últimos 10 a 15 anos tenham contribuído em grande parte para as reduções observadas na pobreza e na desigualdade de renda, a sua expansão não foi integrada de modo adequado ao sistema geral de proteção social e isto levou a novos desafios quanto à eficiência e à equidade. Cada vez mais a classe média deve pagar por serviços que são oferecidos gratuitamente a outras pessoas. Um sistema dual de proteção social com base na assistência dirigida aos pobres e no seguro (subsidiado) para a classe média também pode ser adaptado de forma insuficiente a uma grande população vulnerável, que não é pobre nem de classe média, e cuja vulnerabilidade aumentará se o ambiente externo se tornar menos favorável do que no passado. Chegou o momento de iniciar uma segunda geração de reformas da proteção social, em que a fragmentação será superada de modo a aumentar a equidade, a solidariedade e a inclusão social.

• Rompimento do ciclo vicioso de baixa tributação e de má qualidade dos serviços públicos que leva as classes média e alta a abandonar o sistema. Embora haja alguma margem para melhorar a qualidade dos serviços públicos no âmbito das dotações orçamentais atuais, representará um desafio fazer isso sem o fortalecimento da base de receitas, que permanece baixa praticamente em todos os países exceto na Argentina e no Brasil. Será importante para o sucesso de qualquer reforma melhorar a percepção da equidade tributária e da eficácia redistributiva do gasto público. A classe média não aceitará contribuir para o aperfeiçoamento do contrato social se os

bens que tanto valoriza (como a proteção dos direitos civis e os serviços de educação, segurança e saúde) forem fornecidos de modo inadequado pelo Estado e se não perceber que os ricos contribuem de forma equitativa para o contrato social.

Durante a maior parte da década de 2000, o marco de políticas da América Latina permitiu que muitos países se beneficiassem de um ambiente externo positivo para começar uma transição surpreendente para uma sociedade de classe média. Isso criou enormes expectativas, que correm o risco de se transformar em frustração, se essa transição for interrompida. No entanto, a região não pode contar com a permanência de um ambiente externo tão favorável quanto no passado recente para obter novos ganhos sociais e econômicos. Assim, será necessário um esforço de políticas muito maior para consolidar e aprofundar o processo de mobilidade ascendente e torná-lo mais resistente a possíveis choques adversos. No final, o ônus recairá principalmente sobre os líderes políticos e as instituições democráticas da região, porque são eles que enfrentam o desafio de modernizar o seu contrato social.

Notas1. Este limite inferior de renda foi validado de

forma independente por uma abordagem alternativa, baseada na consciência de pertencer a uma classe social, e aplicado em separado a cinco países: Brasil, Chile, Colômbia, México e Peru. Os detalhes metodológicos de ambas as abordagens estão documentados no Capítulo 2 do relatório completo e nas referências nele contidas.

2. Como é de conhecimento geral, as pesquisas domiciliares que servem de base para a Figura 1 têm normalmente problemas de compatibilidade e de informação que não as tornam representativas da cauda superior da distribuição. Por isso, fomos prudentes ao analisar os “ricos” na nossa amostra.

3. Conforme detalhamos no Capítulo 5, essas decomposições referem-se ao período de 1995 a 2010.

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4. Como é atribuído o mesmo peso a cada taxa de crescimento familiar, a média das taxas não é a mesma que o crescimento na renda média. Esta última é ponderada pela renda, enquanto que a anterior usa pesos populacionais.

5. A nossa medida da mobilidade direcional é aplicada a um conjunto de “painéis sintéticos” construídos a partir de repetidas pesquisas domiciliares transversais na região. Um aviso importante é que os procedimentos estatísticos usados para construir esses painéis sintéticos podem gerar apenas estimativas dos limites superior e inferior da mobilidade ao invés de indicadores exatos. A maior parte da análise neste relatório se baseia nas estimativas do limite inferior, que oferecem um panorama conservador da mobilidade em qualquer direção. Em nossos resultados, portanto, a mobilidade ascendente e a descendente têm ambas a probabilidade de serem subestimadas.

6. A linha inferior não corresponde aos números usados acima para descrever a Figura 1 por causa das diferenças nas amostras em ambos os países e nos anos mencionados. Além disso, a Tabela 1 reúne a classe média e a elite em uma única camada social. Apesar das diferenças nas amostras, o panorama geral é coerente com a análise transversal descrita anteriormente.

7. Os conceitos de igualdade e de desigualdade de oportunidades são cada vez mais importantes para o trabalho do Banco Mundial na América Latina. Veja, por exemplo, o relatório World Development Report 20 06: Equity and Development (World Bank 2006), o estudo regional Measuring Inequality of Opportunities in Latin America and the Caribbean (Barros et al. 2009) e as referências nesses dois volumes.

8. O Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA) da OCDE produz um conjunto de pesquisas escolares que aplicam exames de desempenho cognitivo idênticos em amostras de estudantes de vários países, bem como coletam informações razoavelmente comparativas sobre as famílias dos alunos e as escolas que eles frequentam.

9. A captura dos sistemas de previdência social da América Latina pelos trabalhadores do setor formal em grande parte abastados, excluindo a maioria dos pobres do continente, foi descrita como um “estado de bem-estar truncado” em um relatório regional anterior

desta série, Inequality in Latin America:

Breaking with History? (de Ferranti et al. 2004).

10.Em 2010, a receita fiscal total do Brasil representou 33,6% do PIB, enquanto na Argentina esse percentual foi de 33,3%.

bibliografia

Azevedo, Joao P. e Viviane Sanfelice. 2012. “The Rise of the Middle Class in Latin America.” Draft, World Bank, Washington, DC.

Barros, Ricardo, Francisco H. G. Ferreira, José Molinas e Jaime Saavedra. 2009. Measuring

Inequality of Opportunities in Latin America

and the Caribbean. Washington, DC: World Bank.

Birdsall, Nancy. 2012. “A Note on the Middle Class in Latin America.” Unpublished manuscript, Center for Global Development, Washington, DC.

Corak, Miles. No prelo. “Inequality from Generation to Generation: The United States in Comparison.” In The Economics of

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21st Century, ed. Robert Rycroft. ABC-CLIO.De Ferranti, David, Francisco H. G. Ferreira,

Guillermo E. Perry e Michael Walton. 2004. Inequality in Latin America: Breaking with

History? Washington, DC: World Bank.Hertz, Tom, Tamara Jayasundera, Patrizio

Piraino, Sibel Selcuk, Nicole Smith e Alina Verashchagina. 2007. “The Inheritance of Educational Inequality: International Comparisons and Fifty-Year Trends.” The

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7 (2).SEDLAC (Socio-Economic Database for Latin

America and the Caribbean). 2011. Database of the Center for Distributive, Labor and Social Studies, Argentina, and World Bank, Washington, DC. http://sedlac.econo.unlp .edu.ar/eng/.

World Bank. 2006. World Development Report

2006: Equity and Development. Washington, DC: World Bank.

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