2º caderno vozes da classe média

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Segunda edição do Caderno Vozes da Nova Classe Média, referente ao projeto Vozes da Nova Classe Média, lançado em 12 de novembro de 2012.

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Page 1: 2º Caderno Vozes da Classe Média

02Empoderando vidas.Fortalecendo nações.

Page 2: 2º Caderno Vozes da Classe Média
Page 3: 2º Caderno Vozes da Classe Média

Caderno 2Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade

novembro de 2012

Empoderando vidas.Fortalecendo nações.

Empoderando vidas.Fortalecendo nações.

Page 4: 2º Caderno Vozes da Classe Média

Governo Federal

Presidência da República

Secretaria de Assuntos Estratégicos

Esplanada dos Ministérios

Bloco O, 7º, 8º e 9º andares

Brasília – DF / CEP 70052-900

http://www.sae.gov.br

Ministro Moreira Franco

Parceiros

Caixa Econômica Federal

Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD)

Apoio

Confederação Nacional da Indústria (CNI)

Instituto Data Popular

Editores

Diana Grosner (SAE/PR)

Daniela Gomes (PNUD)

Renato Meirelles (Data Popular)

Coordenação e Produção

Alessandra Bortoni Ninis

Redação

Ricardo Paes de Barros (SAE/PR)

Diana Grosner (SAE/PR)

Adriana Mascarenhas (SAE/PR)

Produção estatística

Samuel Franco (IETS)

Andrezza Rosalém (IETS)

José Jorge Gabriel Júnior (SAE/PR)

Karina Bugarin (SAE/PR)

Projeto gráfico / diagramação

Rafael Willadino Braga (SAE/PR)

Empresa Ellite Gráfica

Divulgação

Assessoria de Comunicação (SAE/PR)

Page 5: 2º Caderno Vozes da Classe Média

Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade | 5

Apresentação ........................................................................7

1. Limites ........................................................................................ 11

2. Desigualdade .......................................................................15

3. Heterogeneidade ............................................................23

4. Diversidade ...........................................................................47

5. Colaborador permanente: ...........................................53 Tudo Junto e Misturado A Classe Média e a Diversidade do Povo Brasileiro

Renato Meirelles

6. Colaborador desta edição: ........................................57 “Quando novos personagens entram em cena” Jailson de Souza e Silva

Sumário

Page 6: 2º Caderno Vozes da Classe Média

6 | Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade6 | Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade

Page 7: 2º Caderno Vozes da Classe Média

Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade | 7Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade | 7

Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade

Como ressaltado no primeiro número da série Vozes da Classe Média, ao longo da última

década a classe média brasileira passou de menos de 70 milhões para mais de 100 milhões

de brasileiros. Como resultado dessa incorporação massiva de quase 40 milhões de

pessoas, hoje, se a classe média brasileira fosse um país, ela seria o 12º país mais populoso

do mundo, logo atrás do México (ver Gráfico 1).

10 100 1000

China Índia

Estados Unidos Indonésia

Brasil Paquistão

Nigéria Bangladesh

Russia Japão

Mexico Classe Média Brasileira

Filipinas Vietnã Etiópia

Egito Alemanha

Irã Turquia

Tailândia

(Milhões de pessoas)

Gráfico1: População por país, 2012

Fonte: Banco Mundial - World Development Indicators.

12º

Esse aumento da classe média brasileira é uma das principais consequências do crescimento

com redução no grau de desigualdade que caracterizou o desenvolvimento do país nos

últimos 10 anos. A queda no grau de desigualdade foi particularmente importante, sendo

responsável por cerca de 2/3 da expansão da classe média.

A expansão da classe média foi também caracterizada pela entrada prioritária dos grupos

sociais menos privilegiados que antes estavam nela sub-representados. Como resultado dessa

entrada diferenciada, a classe média brasileira se tornou muito mais heterogênea (por exemplo,

Apresentação

Gráfico1: População por país, 2012

Page 8: 2º Caderno Vozes da Classe Média

8 | Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade

abrigando uma parcela significativa tanto de analfabetos funcionais, como de trabalhadores

com ensino médio completo), como muito mais diversa, com ¾ dos entrantes sendo negros.

O resultado final é uma classe média muito mais representativa dos mais diversos

segmentos da população brasileira. Cada vez mais, a classe média vem se tornando um

retrato do Brasil e, dessa forma, um ambiente ideal tanto para o aprimoramento do

respeito à diversidade, como para o aproveitamento dessa diversidade como um ativo

cultural, social e também econômico.

Por esses motivos, neste segundo número da série Vozes da Classe Média centramos

nossa atenção no trinômio: desigualdade, heterogeneidade e diversidade. Procuramos

documentar, por um lado, a relação desse trinômio com a expansão da classe média

e, por outro, como a própria classe média o percebe, com particular atenção à forma

como a classe média considera e trata a sua própria e crescente diversidade.

Entre o lançamento do primeiro número da série e este segundo número, ocorreu a

divulgação pelo IBGE dos resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios

– PNAD referentes a 2011. Como eles são as informações base para todo o cálculo do

tamanho e características da classe média brasileira, provocaram pequenas revisões em

nossas estimativas para o tamanho e a composição da classe média em 2012. Esse é o

motivo pelo qual, neste número, estimamos que a classe média em 2012 deva representar

52% da população brasileira, contra os 53% estimados no número anterior desta série.

Essa defasagem natural entre o momento de referência e o momento da divulgação das

estatísticas nacionais (decorrente do tempo necessário para coleta e processamento

dessas informações) nos obriga a sempre basear as estimativas para o último ano em

projeções, que vão sendo atualizadas a cada nova divulgação. Assim, enquanto no

número anterior o tamanho da classe média para 2012 foi estimado projetando-o a

partir das últimas informações existentes naquele momento (PNAD-2009), neste

número reestimamos o tamanho e as características da classe média para 2012 a partir

da PNAD-2011. Para isso, extrapolamos a tendência de melhoria na distribuição de

renda brasileira ocorrida ao longo da década 2001-2011.

Page 9: 2º Caderno Vozes da Classe Média

Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade | 9

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10 | Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade

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Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade | 11

Limites de renda definidores da classe média brasileira

Para qualquer distribuição de renda, a definição do que vem a ser a classe média exige

estabelecer limites inferior e superior de renda, de forma que todas as pessoas com renda

familiar per capita dentro de tal intervalo sejam consideradas membros de tal classe. Da

mesma maneira, quem estiver abaixo do corte inferior pertence à classe baixa e acima do

superior pertence à classe alta.

No Brasil, esses limites de renda em valores monetários atuais são R$291 e R$1.019 por

cada pessoa da família ao mês. Isso significa que são considerados membros da classe

baixa aqueles com renda familiar per capita inferior a R$291 ao mês; pertencem à classe

média os que apresentam renda familiar per capita entre R$291 e R$1.019; e acima

de R$1.019, à classe alta. De acordo com essa classificação, hoje, 28% da população

brasileira pertence à classe baixa; 52%, à classe média e 20%, à classe alta.

Mesmo reconhecendo o valor e a utilidade desses limites para avaliar as transformações

históricas pelas quais tem passado a distribuição de renda brasileira, é possível questionar

se esses níveis de renda são mesmo adequados. Isso equivale a indagar se o tamanho da

classe média brasileira deveria ser esse. De forma mais específica, tal raciocínio nos levaria

a questionar se o limite inferior está demasiadamente baixo, incluindo equivocadamente na

classe média pessoas que, na realidade, pertencem à classe baixa (a classe baixa brasileira

deveria ser maior do que é?). Igualmente, podemos questionar se o limite superior não

se encontra artificialmente baixo, jogando para classe alta pessoas que deveriam ser

consideradas membros da classe média (a classe alta brasileira não deveria ser menor?).

Atualmente, o limite inferior, tal como definido, nos dá um contingente de 50 milhões

de brasileiros (28% da população) que pertencem à classe baixa, o que já parece alto,

considerando estimativas clássicas de pobreza no país. Aumentar o limite inferior

implicaria aumentar ainda mais esse contingente. Embora essa seja uma evidência em prol

da adequação do limite inferior atual, alguma evidência internacional pode nos ajudar a

corroborar a argumentação.

1. Limites

Page 12: 2º Caderno Vozes da Classe Média

12 | Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade

O Gráfico 2 mostra a distribuição de pessoas em todo o mundo de acordo com a renda

per capita de sua família. Observamos que mais da metade da população mundial (54%)

vive em famílias com renda per capita inferior a R$291 por mês (critério brasileiro para

definir classe baixa). Aumentar esse limite significa incrementar o número de pessoas no

mundo que vivem no padrão brasileiro de classe baixa, o que parece inverossímil.

As comparações internacionais também trazem luz à avaliação do quão adequado está

o limite superior. Apenas 18% da população mundial vivem em famílias com renda per

capita acima de R$1.019 por mês. Subir esse corte reduziria ainda mais o número de

pessoas no mundo que se enquadram na definição brasileira de classe alta, o que também

parece questionável.

0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

1000

1100

1200

1300

1400

1500

1600

1700

1800

1900

2000

0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 40% 45% 50% 55% 60% 65% 70% 75% 80% 85% 90% 95% 1

Rend

a fa

mili

ar p

er c

apit

a (R

$/m

ês -

2012

)

Gráfico 2: Distribuição de renda no mundo por renda familiar per capita

R$1019 18%

54% R$291

Fonte: Banco Mundial, estimativas produzidas com base em Milanovic, 2011 (The Have and the Have Nots). Valores em R$ de 2012.

Gráfico 2: Distribuição de renda no mundo por renda familiar per capita

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Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade | 13

Page 14: 2º Caderno Vozes da Classe Média

14 | Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade

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Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade | 15

A importância da queda na desigualdade de renda para a expan-são da classe média brasileira

Ao longo da última década, o crescimento na renda das famílias1 brasileiras não foi

neutro. Isso significa que alguns grupos experimentaram maior incremento de renda do

que outros. Os mais favorecidos foram justamente os pobres. O Gráfico 3 mostra que,

no período 2001-2011, enquanto o crescimento na renda dos 10% mais pobres foi de

6,3% ao ano, para os 10% mais ricos não passou de 1,4% ao ano.

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

4

4,5

5

5,5

6

6,5

7

Primeiro Segundo Terceiro Quarto Quinto Sexto Sétimo Oitavo Nono Décimo

Taxa

méd

ia a

nual

(%)

Gráfico 3: Taxa de crescimento por décimo da distribuição de renda mensal familiar per capita: Brasil, 2001-2011

Fonte: Estimativas produzidas com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD.

Logo, o país passou por um processo de crescimento inclusivo, que ocorre quando renda

média das famílias aumenta e a desigualdade cai. É possível ocorrer crescimento inclusivo

mesmo quando grupos não pobres perdem renda ao longo do tempo. Basta que os

ganhos dos pobres compensem mais do que as perdas dos ricos. Nesse caso, ainda haverá

1 Em toda a análise aqui apresentada, foi sempre considerada a distribuição da população brasileira de acordo com sua renda familiar per capita mensal.

2. Desigualdade

Gráfico 3: Taxa de crescimento por décimo da distribuição de renda mensal familiar per capita: Brasil, 2001-2011

Page 16: 2º Caderno Vozes da Classe Média

16 | Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade

aumento na renda média da sociedade com ganhos maiores para os mais pobres. Não foi

o que aconteceu no Brasil. No período considerado, todos os grupos ganharam.

Nesse ganha-ganha recente, a classe média foi afetada. Antigas famílias pobres melhoraram

tanto sua renda que deixaram a pobreza e ingressaram na classe média. Da mesma forma,

famílias ora pertencentes à classe média passaram à classe alta. Houve um movimento de

entrada e saída. Qual foi a importância do crescimento geral da renda vis a vis a redução

da desigualdade na definição do tamanho da nova classe média brasileira?

Para responder a essa pergunta será preciso decompor o aumento da classe média em dois

efeitos provenientes de movimentos da distribuição de renda que, embora na prática ocorram

misturados, sua separação possui grande valor analítico. O primeiro deles é o crescimento

uniforme ou balanceado, situação em que todos os grupos de renda melhoram a uma

mesma taxa. Se somarmos a isso as mudanças na desigualdade – definidas como desvios de

crescimento (em relação ao crescimento médio) efetivamente experimentados por cada

grupo – conseguimos recuperar exatamente o que aconteceu nos últimos dez anos.

O exercício aqui consiste, portanto, em simular o que teria acontecido com a classe média

caso a sociedade brasileira tivesse vivido apenas o crescimento balanceado, sem mudanças na

desigualdade. Também se investiga o oposto: o que passaria se apenas a desigualdade tivesse

se alterado.

Note que, com as simulações propostas, o crescimento balanceado por si só é capaz

de aumentar e diminuir o tamanho da classe média, pois inclui segmentos antes

pertencentes ao grupo mais pobre, porém exclui um contingente que passa aos mais

ricos (o que também é bom, evidentemente). Já as reduções na desigualdade (quando

isolada do crescimento, isto é, quando a taxa de crescimento média é igual a zero)

somente aumentam o tamanho da classe média. Basta imaginar que as reduções na

desigualdade são como transferências de grupos mais ricos para os mais pobres,

mantendo-se inalterada a média da distribuição. Nesse caso, os mais pobres podem

se beneficiar e ascender, e os mais ricos podem descer. Na sequência, tais exercícios

são postos em prática, permitindo estimar os impactos desses movimentos sobre o

aumento real no tamanho da classe média brasileira.

Os impactos do crescimento inclusivo sobre o tamanho da classe média

Por ser um grupo intermediário, mudanças no tamanho da classe média são determinadas

por dois fluxos: entrada e saída. A Tabela 1 indica que houve expansão de 14 pontos

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Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade | 17

percentuais no tamanho dessa classe, que deixou de representar 38% da população,

em 2002, e passou a 52%, em 20122. Tal expansão ocorreu porque a entrada de novos

contingentes provenientes da classe baixa foi muito superior à saída para a classe alta. De

fato, o fluxo de entrada foi responsável por 21 pontos percentuais de expansão da classe

média, mas a saída reduziu o grupo em 7 pontos.

Por trás dessa expansão estão os movimentos de crescimento balanceado e redução na

desigualdade de renda. As simulações indicam que, caso apenas reduções no grau de

desigualdade tivessem ocorrido, a classe média se expandiria em 9 pontos percentuais.

Contando com o crescimento balanceado, a classe média se expandiria em apenas 5

pontos percentuais. Portanto, 2/3 do aumento da classe média deve-se à redução no grau

de desigualdade e 1/3 ao crescimento.

Tabela 1: Os impactos do crescimento inclusivo sobre o tamanho da classe média

2 Os resultados para 2012 foram obtidos a partir de uma projeção de informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) acerca de evolução 2001-2011, projetadas a partir de 2011.

2002 2012

12 -1

Fonte: Estimativas produzidas com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).

Apenas redução da desigualdade

Média 38 47 9

Alta 13

Baixa 48 40 -8

Crescimento com redução de

desigualdade Média 38 52 14

-21Baixa 48 28

Alta 13 20 7

Crescimento balanceado

Média 38 43 5

Alta 6

Baixa 48 38 -11

1913

Tabela 1: Os impactos do crescimento inclusivo sobre o tamanho da classe média

Simulações ClasseTamanho (participação na

população - %)

Entrada/Saída(em pontos percentuais)

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18 | Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade

Então isso significa que a queda na desigualdade foi mais importante que o crescimento?

A resposta é não. Afinal, o crescimento gerou outro efeito não computado na

simulação anterior: a saída de pessoas da classe média para a classe alta (que reduz o

tamanho da classe média, mas deve ser contabilizada como um resultado positivo). Se

apenas o crescimento tivesse acontecido (sem reduções no grau de desigualdade), a

classe alta teria se expandido (e a classe média encolhido) em 6 pontos percentuais. Já

se apenas o grau de desigualdade tivesse sido reduzido (sem crescimento na renda), a

classe alta não teria aumentado. Na verdade, teria diminuído ligeiramente em 1 ponto

percentual.

A importância do crescimento para outras características da clas-se média

Outras características da classe média

O tamanho da classe média não é a única característica merecedora de atenção. É relevante

acompanhar o que aconteceu com a participação dessa classe na renda total das famílias,

bem como avaliar a taxa de crescimento na renda média do grupo.

Contudo, para trabalhar com esse último indicador (a renda média do grupo) há de se

ter alguns cuidados. Dado que mudanças na classe média são marcadas por um fluxo

de entrada e saída, constatar que, de um momento para outro a renda média do grupo

se reduziu, não é necessariamente um problema. Por exemplo, se muitos membros da

classe média experimentarem ganhos suficientes para levá-los à classe alta, mesmo que

a renda dos demais membros permaneça inalterada, é bem possível que a média do

grupo caia. Para escapar dessa armadilha, recomenda-se adotar uma definição “relativa”

de classe média3. Isto é, fixar o grupo que pertencia à classe média em 2002 e olhar

para o que aconteceu com esse grupo em 2012. Tal estratégia permite medir de maneira

mais adequada se um dado grupo enriqueceu. Para fazer isso, é necessário conhecer os

valores correspondentes ao pontos de corte mínimo e máximo que delimitam quem fazia

parte da classe média em 2002 e identificar os centésimos de corte (ou, simplesmente,

a posição na distribuição de renda) correspondentes. Em seguida, basta buscar esses

mesmos centésimos na distribuição de 2012. Nesse caso, os pontos de corte em valores

monetários absolutos em 2012 não serão os mesmos de 2002.

3 A análise da evolução do tamanho da classe média foi construída a partir de uma noção absoluta de classe média, em que são fixados os mesmos pontos de corte em valores monetários absolutos para 2002 e 2012. No caso, R$291 e R$1.019.

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Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade | 19

De acordo com a definição relativa de classe média (que considera a posição na distribuição

de renda e não os pontos de corte em valores monetários absolutos), a renda do grupo

cresceu acima da média nacional (veja Tabela 2). Enquanto a taxa média de crescimento

da renda do país foi de 2,9% ao ano, a renda da classe média cresceu a 3,7% ao ano.

Consequentemente, a participação da classe média na renda total das famílias brasileiras

passou de 35% para 37%.

Mas se considerarmos a noção absoluta de classe média (mesmos pontos de corte em

valores monetários absolutos em 2002 e em 2012), veremos que a renda do grupo cresce

muito lentamente, pois incorpora novos membros com renda mais baixa (oriundos da

classe baixa) e perde antigos membros com renda mais alta. O resultado é um cresci-

mento na renda do grupo de apenas a 0,6% ao ano. Consequentemente, embora essa

Tabela 2: Os impactos do crescimento inclusivo sobre outras características da classe média

Brasil (renda em R$/mês) 590 789 2,9%

Classe média absoluta (renda em R$/mês) 532 566 0,6%

Classe média absoluta (participação na renda total) 35% 38% ........

Classe média relativa (renda em R$/mês) 532 767 3,7%

Classe média relativa (participação na renda total) 35% 37% ........

Brasil (renda em R$/mês) 590 789 2,9%

Classe média absoluta (renda em R$/mês) 532 555 0,4%

Classe média absoluta (participação na renda total) 35% 30% ........

Classe média relativa (renda em R$/mês) 532 711 2,9%

Classe média relativa (participação na renda total) 35% 35% ........

Brasil (renda em R$/mês) 590 590 0,0%

Classe média absoluta (renda em R$/mês) 532 536 0,1%

Classe média absoluta (participação na renda total) 35% 43% ........

Classe média relativa (renda em R$/mês) 532 571 0,7%

Classe média relativa (participação na renda total) 35% 37% ........

Fonte: Estimativas produzidas com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).

Crescimento balanceado

Apenas redução da desigualdade

Crescimento com redução de desigualdade

Tabela 2: Os impactos do crescimento inclusivo sobre outras características da classe média

Simulações Taxa anual de crescimento

2002 2012Classes de renda

Page 20: 2º Caderno Vozes da Classe Média

20 | Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade

população tenha aumentado em 15 pontos percentuais, sua participação na renda total

das famílias cresceu apenas 3 pontos percentuais (passou de 35% para 38%).

Novos impactos

Já vimos que o crescimento inclusivo fez também com que a renda da classe média

definida em termos relativos crescesse mais aceleradamente que a média nacional: 3,7%

ao ano contra 2,9%. Se a expansão do tamanho da classe média se deu primordialmente

pela redução no grau de desigualdade, o contrário ocorre com o crescimento da renda

da classe média definida em termos relativos. Caso o crescimento tivesse ocorrido sem

redução na desigualdade (crescimento balanceado), a renda da classe média “relativa”

teria crescido igual à média nacional (veja Tabela 2). Se a única transformação tivesse

sido a redução no grau de desigualdade, a renda da classe média “relativa” teria crescido

somente 0,7%.

Para explicar o aumento da participação da classe média (definida em termos relativos)

na renda total das famílias (que passou de 35% para 37%), todo o destaque recai sobre

a queda no grau de desigualdade. Note que, na presença do crescimento balanceado, a

participação em 2002 (35%) teria se mantido em 2012.

Considerações finais

Em suma, a redução na desigualdade e o crescimento foram igualmente importantes para

explicar a ascensão da classe média no Brasil entre 2002 e 2012. Essa conclusão exige que

se avaliem, em conjunto, os resultados das simulações que tratam dos impactos sobre

o tamanho das classes média e alta. Se a redução na desigualdade demonstrou ser o

principal fator por trás do aumento da classe média, o crescimento, por sua vez, levou

muita gente da classe média para a classe alta.

Para além do tamanho da classe média, se investigou o papel desses dois fatores no

crescimento da renda média do grupo e na participação do grupo na renda total das

famílias. A importância relativa dos fatores varia. Para explicar o crescimento na renda

média, o crescimento se mostrou mais importante. Para o aumento na participação na

renda total das famílias, a redução na desigualdade foi decisiva.

Page 21: 2º Caderno Vozes da Classe Média

Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade | 21

Page 22: 2º Caderno Vozes da Classe Média

22 | Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade

Page 23: 2º Caderno Vozes da Classe Média

Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade | 23

As novas faces da classe média: quando uma classe se torna qua-se tão heterogênea quanto o Brasil

Nesta seção, apresentamos o perfil daqueles que entraram na classe média nos últimos

10 anos (coluna “Contribuição à expansão” das Tabelas 3, 7 e 8), contrastando também o

retrato para os anos de 2002 e 2012 dos diversos grupos socioeconômicos no Brasil e na

classe média brasileira (Tabelas 3, 7 e 8). Além disso, demonstramos qual a proporção de

pessoas dentro de cada grupo socioeconômico que está na classe média em 2012 e que

estava na classe média em 2002, bem como a expansão líquida da classe média, isto é, o

quanto ela cresceu, dentro de cada grupo (Tabelas 4 e 9)4. Para se ter ideia mais geral do

que aconteceu no Brasil, apresentamos também o tamanho das classes baixa e alta para

os anos de 2002 (Tabelas 5 e 10) e 2012 (Tabelas 6 e 11). Optamos, contudo, por focar a

atenção aos movimentos da classe média.

Igualdade racial na classe média

Na Tabela 3, coluna “Contribuição à expansão“, podemos ver a proporção de negros

e brancos entre os novos entrantes, de 75% e 25%, respectivamente. Isso quer dizer

que, de cada 100 pessoas que entraram na classe média, 75 eram negras e 25, brancas.

A entrada maciça de negros na classe média fez com que a participação desse grupo na

classe média brasileira subisse de 38%, em 2002, para 51%, em 2012.

4 Nos casos em que houve retração da classe média, o valor da expansão aparecerá com sinal negativo.

3. Heterogeneidade

Page 24: 2º Caderno Vozes da Classe Média

24 | Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade

(%)

Brasil Classe Média Brasil Classe Média

Cor

Brancos e amarelos 54 62 25 48 49

Negros 46 38 75 52 51

Região

Norte 6 5 8 7 6

Nordeste 29 17 34 29 23

Sudeste 43 52 36 42 46

Sul 15 19 12 15 16

Centro-Oeste 7 7 11 8 9

Área

Urbana 84 91 86 86 89

Rural 16 9 14 14 11

Nível educacional do chefe

Fundamental incompleto ou sem escolaridade 66 59 64 49 51

Fundamental completo 9 11 8 11 13

Ensino médio completo ou incompleto 17 23 23 28 30

Alguma educação superior 8 6 5 12 7

População em idade ativa

Ocupados 55 59 56 56 58

Desempregados 6 5 1 4 3

Inativos 39 36 43 40 39

População ocupada

Formalização

Formal 44 52 69 56 58

Informal 56 48 31 44 42

Setor de atividaddes

Agrícola 21 12 11 15 12

Outras atividades industriais 1 1 1 1 1

Indústria de transformação 14 17 10 13 14

Construção 7 7 14 9 10

Comércio e reparação 17 20 19 18 19

Alojamento e alimentação 4 4 8 5 6

Transporte, armazenagem e comunicação 5 6 6 6 6

Administração pública 5 5 3 6 5

Educação, saúde e serviços sociais 9 10 4 9 8

Serviços domésticos 7 7 11 7 8

Outros serviços coletivos, sociais e pessoais 4 4 3 4 4

Outras atividades 7 7 9 9 8

Atividades maldefinidas 0 0 0 0 0

Fonte: Estimativas produzidas com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).

Tabela 3: Contribuição dos grupos socioeconômicos no Brasil e para a formação e expansão da classe média

2002 Contribuição à expansão da classe média (2002-2012)

2012

Grupo

Tabela 3: Contribuição dos grupos socioeconômicos no Brasil e para a formação e expansão da classe média

Page 25: 2º Caderno Vozes da Classe Média

Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade | 25

Já a Tabela 4 revela a proporção de negros pertencentes à classe média. Em 2002, apenas

31% dos negros pertenciam a essa classe, enquanto que no Brasil como um todo – somando

negros e brancos – a proporção de pessoas que pertenciam à classe média era de 38%. Em

2012, a proporção de negros pertencentes à classe média subiu para 52%, valor igual à

proporção total de pessoas (negras e brancas) que pertencem a essa classe no Brasil.

(%) (p.p.) (%)

2002 2012

Classe Média Classe Média

Brasil 38 14 52

Cor

Brancos e amarelos 44 8 53

Negros 31 21 52

Região

Norte 31 17 48

Nordeste 22 20 42

Sudeste 46 11 57

Sul 49 9 58

Centro-Oeste 40 17 57

Área

Urbana 42 12 54

Rural 21 21 42

Nível educacional do chefe

Fundamental incompleto ou sem escolaridade 34 19 54

Fundamental completo 49 10 59

Ensino médio completo ou incompleto 53 4 57

Alguma educação superior 27 2 30

População em idade ativa 41 12 53

Ocupados 44 11 55

Desempregados 33 12 44

Inativos 38 13 51

Formalização

Formal 51 6 57

Informal 38 15 52

Setor de atividaddes

Agrícola 25 20 45

Outras atividades industriais 41 7 49

Indústria de transformação 54 9 62

Construção 45 17 62

Comércio e reparação 50 9 59

Alojamento e alimentação 50 13 63

Transporte, armazenagem e comunicação 53 6 58

Administração pública 47 -2 45

Educação, saúde e serviços sociais 47 -1 46

Serviços domésticos 42 23 65

Outros serviços coletivos, sociais e pessoais 48 5 53

Outras atividades 44 4 48

Atividades maldefinidas 31 24 55

Fonte: Estimativas produzidas com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).

Expansão líquida da classe média

(2002-2012)Grupo

Tabela 4: Tamanho e expansão da classe média nos diferentes grupos socieconômicos

População ocupada

Tabela 4: Tamanho e expansão da classe média nos diferentes grupos socieconômicos

Page 26: 2º Caderno Vozes da Classe Média

26 | Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade

Diminuem as desigualdades regionais

Como se pode ver pela Tabela 3, a região que mais colocou novas pessoas na classe média foi

a Sudeste (36% dos entrantes), seguida da Nordeste (34%) e Sul (12%). No entanto, isso

não significa que o crescimento da classe média nessas regiões tenha sido mais expressivo.

Muito do peso entre os entrantes deve-se simplesmente ao fato de que essas regiões são as

que abrigam um maior contingente da população brasileira como um todo (o que pode ser

visto tanto na coluna “2002-Brasil”, como na coluna “2012-Brasil”), naturalmente abrigando

também boa parte dos entrantes à classe média. A participação de um dado grupo entre os

entrantes só pode ser considerada especialmente expressiva, se for superior à proporção

que esse grupo representa no Brasil como um todo.

No caso do Sudeste, a sua participação no Brasil em 2002 era de 43% da população (isto

é, 43% dos brasileiros viviam nessa região naquele ano). Assim sendo, era de se esperar

que um movimento de expansão da classe média no Brasil incluísse uma grande parte de

brasileiros que vivem na região Sudeste.

Já no caso no Nordeste, a proporção de brasileiros que viviam nessa região em 2002 era

de 29%, enquanto que, entre os que entraram na classe média entre 2002 e 2012, 34%

viviam na região. Aqui, sim, a participação do Nordeste entre os novos membros da classe

média pode ser considerada expressiva.

O mesmo contraste ocorre em relação ao Sul e ao Centro-Oeste. No caso do Sul, que

abrigava 15% dos brasileiros em 2012, a participação entre os entrantes se restringiu

a 12%. Ao passo que no Centro-Oeste, que abrigava 7% dos brasileiros em 2002, a

participação de 11% entre os entrantes deve ser considerada muito mais expressiva.

A participação da região Norte entre os entrantes, mesmo sendo a menor das cinco

regiões (8%), deve ser também considerada expressiva, dada a proporção de brasileiros

que viviam na região em 2002, de apenas 6% do total.

Uma outra forma, mais fácil, de ver a importância da expansão da classe média nas

diferentes regiões é olhar para o quanto a classe média cresceu dentro de cada região. Esse

crescimento pode ser visto na coluna “Expansão líquida” da Tabela 4, que corresponde

à diferença entre a proporção de pessoas dentro de cada região que pertencem à classe

média em 2012 e a proporção de pessoas dentro de cada região que pertenciam a essa

classe em 2002.

Page 27: 2º Caderno Vozes da Classe Média

Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade | 27

Como se pode ver, a região Nordeste foi aquela que apresentou maior expansão de sua

classe média (20 pontos percentuais), seguida das regiões Norte, Centro-Oeste (ambas

com 17 pontos percentuais), Sudeste e Sul (com expansão de 11 e 9 pontos percentuais

respectivamente).

O aumento da classe média no Nordeste fez com que a proporção de pessoas nessa

classe, nessa região, passasse de 22%, em 2002, para 42%, em 2012. No entanto,

apesar da expressiva expansão da classe média no Nordeste, essa região é a que tem a

menor proporção da população na classe média: apenas 42% dos nordestinos brasileiros

pertencem à classe média, enquanto que, no Brasil como um todo, 52% pertencem a essa

classe. A expansão de 17 pontos percentuais da classe média na região Norte fez com que

a proporção de pessoas nessa classe subisse de 31%, em 2002, para 48%, em 2012. Ainda

aquém da proporção total de brasileiros na classe média, mas já bem mais próxima desse

número. Se em 2002 a distância em relação à proporção de brasileiros vivendo na classe

média era na região Nordeste de 16 pontos percentuais (38% - 22% = 16 p.p.) e na região

Norte de 7 pontos percentuais (38% - 31% = 7 p.p.), em 2002, a distância em relação ao

Brasil cai para 10 pontos percentuais no Nordeste (52% - 42% = 10 p.p.) e para 4 pontos

percentuais no Norte (52% - 48% = 4 p.p.).

Nas demais regiões, a proporção de pessoas que pertencem à classe média é superior à

proporção da população brasileira como um todo pertencente à classe média. Destaque

para a região Centro-Oeste que, com uma expansão líquida de 17 pontos percentuais, viu

sua classe média crescer de 40%, em 2002, para 57%, em 2012, igualando-se à região

Sudeste (que também possui 57% de sua população na classe média), e aproximando-se

da região Sul (que possui 58% de seus habitantes nessa classe). O desempenho da região

Centro-Oeste é ainda mais impressionante quando se considera a distância que ela estava

das regiões Sudeste e Sul em 2002.

Diminuição das desigualdades urbano/rural

Dado o elevado contingente de brasileiros vivendo em área urbana (84% da população em

2002 e 86% em 2012), é natural que a maior parte da classe média também se concentre

nessa área. No entanto, é possível saber se a desigualdade urbano/rural está diminuindo ou

não, olhando para a expansão da classe média dentro de cada uma dessas áreas.

A Tabela 4 indica um expressivo aumento da classe média no meio rural: em 2002, apenas

21% das pessoas que aí viviam pertenciam à classe média; em 2012, já são 42% dos brasileiros

Page 28: 2º Caderno Vozes da Classe Média

28 | Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade

vivendo na área rural que pertencem a essa classe. Esses dados são bastante animadores,

sinalizando uma ruptura da relação histórica entre área rural e pobreza. Os bons resultados

da área rural podem também ser vistos nas Tabelas 5 e 6: a proporção de pessoas na área

rural que pertenciam à classe baixa, média e alta em 2002 eram, respectivamente, de 77%,

21% e 2%, e, em 2012, correspondem a 52%, 42% e 6%.

Classe média e nível educacional

Sem dúvida, a melhora de renda no Brasil atingiu pessoas de todos os níveis educacionais.

Como se pode ver na Tabela 4, o contingente de pessoas com ensino fundamental

incompleto ou sem escolaridade que pertenciam à classe média era, em 2002, inferior

ao contingente de brasileiros que pertenciam à classe média naquele ano (34% contra

38%). Já em 2012, após uma expansão líquida de 19 pontos percentuais, o contingente

de pessoas com esse nível educacional que pertencem à classe média chega a 54%,

acima da proporção de brasileiros que pertencem a essa classe (52% do total)5.

Os grupos de nível educacional que tiveram menor expansão líquida de suas classes

médias referem-se ao do ensino médio e do ensino superior. Isso se deve, contudo, a

fatores distintos. No caso do ensino médio completo ou incompleto, grande parte dessa

população já pertencia à classe média em 2002 (53%). No caso do ensino superior, a

maior parte das pessoas pertence à classe alta e não à classe média.

A classe média e o mercado de trabalho

De cada 100 trabalhadores que entraram na classe média, 69% ocupavam postos formais, o

que elevou a contribuição dos trabalhadores formais para a classe média de 52%, em 2002,

para 58%, em 2012 (Tabela 3). Já a proporção dos trabalhadores formais que pertencem

à classe média passou de 51%, em 2002, para 57%, em 2012, enquanto que, dentre a

população em idade ativa no Brasil, o contingente que pertencia à classe média representava

apenas 41%, em 2002 e, em 2012, representava 53% (Tabela 4). Isso revela uma forte

representação da classe média entre os trabalhadores formais.

Há que se ressaltar, também, que não foram apenas os trabalhadores formais que se

beneficiaram do crescimento recente do país. Em 2002, 38% dos trabalhadores informais

pertenciam à classe média e, após uma expansão líquida de 15 pontos percentuais, 52%

dos trabalhadores informais já pertencem a essa classe.

5 As diferenças entre 2002 e 2012 não são exatas em função de arredondamentos.

Page 29: 2º Caderno Vozes da Classe Média

Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade | 29

A classe média e os setores de atividade econômica

Como se pode ver na Tabela 3, os setores que mais contribuíram para a expansão da

classe média foram o de comércio e o de serviços que, somados, chegam a 36% do

total dos entrantes da classe média, seguidos do setor industrial (incluindo a indústria da

construção), que abrangeu 25% dos entrantes. Em sequência, vêm os setores agrícolas e

de serviços domésticos, ambos representando 11% dos novos entrantes.

Já na Tabela 4, é possível verificar em que setores a proporção de pessoas que pertencem

à classe média cresceu. Embora o setor de serviços domésticos tenha contribuído

menos para a composição da classe média como um todo (11%, como afirmado no

parágrafo anterior), foi nesse setor que o número de pessoas que pertencem à classe

média mais cresceu: após uma expansão líquida de 23 pontos percentuais, a proporção

de trabalhadores domésticos que pertencem a essa classe subiu de 42%, em 2002, para

65%, em 2012.

Dentre as diversas atividades que compõem o segmento industrial, o que mais viu sua

parcela correspondente à classe média crescer foi o da construção que, após expansão

líquida de 17 pontos percentuais, elevou a proporção desses trabalhadores pertencentes

à classe média de 45%, em 2002, para 62%, em 2012.

Destaque também há de ser feito para o setor agrícola, que demonstrou seu dinamismo ao

conseguir elevar o contingente de trabalhadores do setor pertencentes à classe média de

25%, em 2002, para 45%, em 2002: uma expansão líquida de 20 pontos percentuais, uma

das maiores dentre os diversos setores de atividades econômicas. Esse resultado se mostra

coerente com a expansão da classe média dentre os habitantes da área rural.

Page 30: 2º Caderno Vozes da Classe Média

30 | Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade

(%)

Baixa Média Alta

Brasil 48 38 13

Cor

Brancos e amarelos 35 44 20

Negros 63 31 6

Região

Norte 61 31 8

Nordeste 73 22 5

Sudeste 36 46 18

Sul 35 49 16

Centro-Oeste 45 40 16

Área

Urbana 43 42 15

Rural 77 21 2

Nível educacional do chefe

Fundamental incompleto ou sem escolaridade 61 34 4

Fundamental completo 39 49 12

Ensino médio completo ou incompleto 24 53 23

Alguma educação superior 3 27 70

População em idade ativa 44 41 15

Ocupados 39 44 17

Desempregados 60 33 7

Inativos 49 38 13

39 44 17

Formalização

Formal 23 51 26

Informal 52 38 10

Setor de atividaddes

Agrícola 71 25 3

Outras atividades industriais 33 41 26

Indústria de transformação 29 54 17

Construção 47 45 8

Comércio e reparação 31 50 19

Alojamento e alimentação 36 50 14

Transporte, armazenagem e comunicação 26 53 21

Administração pública 20 47 33

Educação, saúde e serviços sociais 17 47 35

Serviços domésticos 55 42 3

Outros serviços coletivos, sociais e pessoais 31 48 21

Outras atividades 16 44 39

Atividades maldefinidas 61 31 8

Fonte: Estimativas produzidas com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).

GrupoClasse

População ocupada

Tabela 5: Distribuição por classes segundo os diferentes grupos socioeconômicos, 2002

Tabela 5: Distribuição por classes segundo os diferentes grupos socioeconômicos, 2002

Page 31: 2º Caderno Vozes da Classe Média

Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade | 31

(%)

Baixa Média Alta

Brasil 28 52 20

Cor

Brancos e amarelos 19 53 29

Negros 36 52 12

Região

Norte 39 48 13

Nordeste 49 42 9

Sudeste 18 57 25

Sul 15 58 28

Centro-Oeste 19 57 24

Área

Urbana 24 54 22

Rural 52 42 6

Nível educacional do chefe

Fundamental incompleto ou sem escolaridade 38 54 8

Fundamental completo 26 59 15

Ensino médio completo ou incompleto 20 57 23

Alguma educação superior 5 30 65

População em idade ativa 25 53 22

Ocupados 18 55 27

Desempregados 47 44 9

Inativos 33 51 17

18 55 27

Formalização

Formal 9 57 34

Informal 29 52 19

Setor de atividaddes

Agrícola 46 45 9

Outras atividades industriais 10 49 41

Indústria de transformação 11 62 27

Construção 22 62 16

Comércio e reparação 13 59 27

Alojamento e alimentação 16 63 21

Transporte, armazenagem e comunicação 12 58 30

Administração pública 9 45 46

Educação, saúde e serviços sociais 6 46 48

Serviços domésticos 26 65 9

Outros serviços coletivos, sociais e pessoais 12 53 35

Outras atividades 7 48 46

Atividades maldefinidas 30 55 15

Fonte: Estimativas produzidas com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).

População ocupada

GrupoClasse

Tabela 6: Distribuição por classes segundo os diferentes grupos socioeconômicos, 2012

Tabela 6: Distribuição por classes segundo os diferentes grupos socioeconômicos, 2012

Page 32: 2º Caderno Vozes da Classe Média

32 | Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade

A classe média nos estados brasileiros

Apresentamos, nas Tabelas 7 a 11, um resumo da evolução da classe média nas diferentes

regiões e estados do Brasil. A Tabela 7 apresenta o peso de cada estado na composição

total do Brasil, na composição da classe média, para os anos de 2002 e 2012, bem como

a contribuição de cada estado para os entrantes da classe média brasileira. A Tabela 8

apresenta os mesmos números, mas com relação a cada região. Dessa maneira, é possível

observar o peso de cada estado para a composição da sua região, para a classe média da

sua região, bem como a sua contribuição para o total de entrantes na classe média da sua

região. A Tabela 9 apresenta o tamanho da classe média em 2002 e 2012, bem como a

expansão dessa classe em cada um dos estados brasileiros.

Finalmente, as Tabelas 10 e 11 apresentam o tamanho das três classes em cada estado e

região brasileira, para os anos de 2002 e 2012 respectivamente.

Como se pode ver na coluna “Expansão líquida” da Tabela 9, as regiões Norte, Nordeste

e Centro-Oeste tiveram expansão líquida da classe média superior à média brasileira.

Page 33: 2º Caderno Vozes da Classe Média

Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade | 33

(%)

Brasil Classe Média Brasil Classe Média

Norte 6 5 8 7 6

Acre 0,2 0,2 0,5 0,3 0,3

Amapá 0,3 0,2 0,3 0,3 0,3

Amazonas 1,4 1,1 1,5 1,4 1,3

Pará 2,6 2,1 3,6 2,9 2,6

Rondônia 0,6 0,6 0,8 0,6 0,7

Roraima 0,2 0,1 0,4 0,2 0,2

Tocantins 0,7 0,5 1,2 0,8 0,7

Nordeste 29 17 34 29 23

Alagoas 1,7 0,8 1,9 1,7 1,2

Bahia 7,8 4,6 9,0 7,3 6,2

Ceará 4,5 2,5 6,4 4,7 3,9

Maranhão 3,5 1,7 3,7 3,6 2,4

Paraíba 2,1 1,2 2,7 2,1 1,7

Pernambuco 4,6 2,7 5,9 4,5 3,8

Piauí 1,7 1,0 2,3 1,7 1,4

Rio Grande do Norte 1,7 1,2 2,0 1,8 1,4

Sergipe 1,1 0,8 1,3 1,2 1,0

Sudeste 43 52 36 42 46

Espírito Santo 1,9 1,8 2,4 1,9 2,0

Minas Gerais 10,7 11,0 12,8 10,5 11,6

Rio de Janeiro 8,5 10,8 3,3 7,9 8,2

São Paulo 22,0 28,2 16,0 21,6 24,0

Sul 15 19 12 15 16

Paraná 5,7 6,9 5,5 5,7 6,4

Rio Grande do Sul 6,0 7,5 3,9 5,7 6,3

Santa Catarina 3,3 4,9 1,5 3,4 3,7

Centro-Oeste 7 7 11 8 9

Distrito Federal 1,3 1,2 1,4 1,4 1,3

Goiás 3,1 3,3 4,9 3,4 3,9

Mato Grosso 1,6 1,6 2,7 1,7 1,9

Mato Grosso do Sul 1,3 1,4 1,9 1,4 1,6

Fonte: Estimativas produzidas com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).

Tabela 7: Contribuição dos estados e regiões para o Brasil e para a formação e expansão da classe média no Brasil

2002 Contribuição à expansão da classe média (2002-2012)

2012

Localidade

Tabela 7: Contribuição dos estados e regiões para o Brasil e para a formação e expansão da classe média no Brasil

Page 34: 2º Caderno Vozes da Classe Média

34 | Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade

Tabela 8: Contribuição dos estados para as suas regiões e para a formação e expansão da classe média em sua respectiva região

(%)

Região Classe Média Região Classe Média

Norte

Acre 4 4 6 5 5

Amapá 5 5 4 5 4

Amazonas 23 23 18 21 21

Pará 44 43 43 44 43

Rondônia 10 13 9 9 11

Roraima 3 2 5 3 3

Tocantins 12 10 15 12 12

Nordeste

Alagoas 6 5 5 6 5

Bahia 27 28 26 26 27

Ceará 16 15 18 17 17

Maranhão 12 10 11 13 11

Paraíba 7 7 8 7 8

Pernambuco 16 16 17 16 17

Piauí 6 6 7 6 6

Rio Grande do Norte 6 7 6 6 6

Sergipe 4 5 4 4 4

Sudeste

Espírito Santo 4 4 7 4 4

Minas Gerais 25 21 37 25 25

Rio de Janeiro 20 21 10 19 18

São Paulo 51 54 46 52 52

Sul

Paraná 38 36 50 38 39

Rio Grande do Sul 40 39 36 39 38

Santa Catarina 22 25 14 23 23

Centro-Oeste

Distrito Federal 18 16 13 18 15

Goiás 43 45 45 43 45

Mato Grosso 22 21 25 22 22

Mato Grosso do Sul 18 18 18 18 18

Fonte: Estimativas produzidas com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).

Tabela 8: Contribuição dos estados para as suas regiões e para a formação e expansão da classe média em sua respectiva região

Localidade

2002 Contribuição à expansão da classe média (2002-2012)

2012

Page 35: 2º Caderno Vozes da Classe Média

Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade | 35

Tabela 9: Tamanho e expansão da classe média nos diferentes estados e regiões do Brasil

(%) (p.p.) (%)

2002 2012

Classe Média Classe Média

Brasil 38 14 52

Norte 31 17 48

Acre 32 15 48

Amapá 31 11 42

Amazonas 32 15 47

Pará 31 16 47

Rondônia 42 15 56

Roraima 28 22 50

Tocantins 25 24 49

Nordeste 22 20 42

Alagoas 18 20 37

Bahia 23 21 44

Ceará 22 21 43

Maranhão 19 16 35

Paraíba 23 21 44

Pernambuco 23 22 44

Piauí 21 21 43

Rio Grande do Norte 26 16 42

Sergipe 28 16 44

Sudeste 46 11 57

Espírito Santo 37 20 57

Minas Gerais 39 18 58

Rio de Janeiro 49 6 55

São Paulo 49 9 58

Sul 49 9 58

Paraná 46 13 59

Rio Grande do Sul 48 9 57

Santa Catarina 56 0 57

Centro-Oeste 40 17 57

Distrito Federal 36 11 47

Goiás 41 18 60

Mato Grosso 38 21 59

Mato Grosso do Sul 41 18 58

Fonte: Estimativas produzidas com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).

Tabela 9: Tamanho e expansão da classe média nos diferentes estados e regiões do Brasil

LocalidadeExpansão líquida da classe média

(2002-2012)

Page 36: 2º Caderno Vozes da Classe Média

36 | Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade

Dos estados que compõem a região Norte, apenas o Amapá apresentou expansão

líquida da classe média (11 pontos percentuais) abaixo da média brasileira (14 pontos

percentuais). Os maiores destaques ficaram para os estados de Roraima (22 pontos

percentuais) e Tocantins (24 pontos percentuais), que eram justamente aqueles que

possuíam as menores classes médias da região em 2002: em Roraima, apenas 28 % da

população pertenciam à classe média; no Tocantins, a proporção de pessoas vivendo nessa

classe era de 25 %. Após a expansão, esses dois estados passaram a ter uma classe média

de, respectivamente, 50 % e 49 % da população estadual, ultrapassando todos os demais

estados da região, com exceção de Rondônia.

Como já mencionado, a região Nordeste foi a que apresentou a maior expansão líquida da

classe média no país (20 pontos percentuais). Além disso, todos os seus estados apresentaram

expansão acima da média brasileira. Como os estados dessa região eram os que tinham os

menores tamanhos de classe média no ano de 2002, a expressiva expansão dessa classe

contribuiu para a diminuição das disparidades regionais no Brasil.

Na região Sudeste, os estados que mais viram suas classes médias crescerem foram os do Espírito

Santo (20 pontos percentuais) e Minas Gerais (18 pontos percentuais), que eram aqueles que

tinham a menor proporção de pessoas vivendo nessa classe em 2002. A classe média nesses

estados cresceu acima da média do Brasil, mas como a expansão nos estados do Rio de Janeiro

e de São Paulo cresceram bem abaixo da média para o Brasil, a expansão média da região ficou

bem abaixo da média brasileira. Mas atenção, isso não quer dizer que esses estados apresentaram

piora na sua situação econômica. Ocorre que ambos já detinham uma classe média muito

expressiva em 2002, além de terem apresentado expansão de sua classe alta.

Movimento semelhante ocorre na região Sul, em que o estado que mais viu sua classe média

crescer (Paraná, com expansão líquida de 13 pontos percentuais) foi o que tinha a menor

classe média em 2002. Agora, é o estado que apresenta a maior classe média da região.

Mas, novamente, isso não quer dizer que esteja em melhor situação que os demais estados.

Em Santa Catarina, por exemplo, o contingente de pessoas que saíram da classe baixa e

entraram na classe média foi semelhante ao das que saíram da classe média para a classe alta,

fazendo com que esse estado não apresentasse expansão líquida da classe média, mas que as

suas classes baixa e alta passassem de 27 % e 16 %, em 2002, para 11 % e 32 %, em 2012,

respectivamente (Tabelas 10 e 11).

Na região Centro-Oeste, com exceção do DF, todos os estados apresentaram expansão

líquida da classe média acima do Brasil. O maior destaque ficou para o estado do Mato

Grosso, que com expansão de 21 pontos percentuais viu sua classe média crescer de 38 %, em

Page 37: 2º Caderno Vozes da Classe Média

Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade | 37

2002, para 59%, em 2012. Os estados de Goiás e Mato Grosso do Sul tiveram desempenho

bastante semelhantes.6 De novo, esses resultados não indicam piora do Distrito Federal, que

viu sua classe baixa cair de 34%, em 2002, para 16%, em 2012, e sua classe alta subir de

30% para 37% entre os mesmos anos (Tabelas 10 e 11).

6 Na Tabela 9, os estados de Goiás e Mato Grosso do Sul partem de classe média de mesmo tamanho, apresen-tam a mesma expansão líquida, mas têm resultados finais, em 2012, diferentes. Isso ocorre tão somente em função dos arredondamentos para cima e para baixo.

(%)

Baixa Média Alta

Brasil 48 38 13

Norte 61 31 8

Acre 55 32 13

Amapá 60 31 9

Amazonas 61 32 7

Pará 61 31 8

Rondônia 47 42 12

Roraima 64 28 8

Tocantins 69 25 6

Nordeste 73 22 5

Alagoas 79 18 4

Bahia 72 23 5

Ceará 73 22 6

Maranhão 78 19 3

Paraíba 72 23 6

Pernambuco 71 23 7

Piauí 74 21 4

Rio Grande do Norte 67 26 7

Sergipe 65 28 7

Sudeste 36 46 18

Espírito Santo 49 37 14

Minas Gerais 49 39 11

Rio de Janeiro 32 49 19

São Paulo 30 49 21

Sul 35 49 16

Paraná 39 46 15

Rio Grande do Sul 35 48 17

Santa Catarina 27 56 16

Centro-Oeste 45 40 16

Distrito Federal 34 36 30

Goiás 47 41 12

Mato Grosso 48 38 13

Mato Grosso do Sul 46 41 14

Fonte: Estimativas produzidas com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).

Classe

Tabela 10: Tamanho das classes nos diferentes estados e regiões do Brasil, 2002

Localidade

Tabela 10: Tamanho das classes nos diferentes estados e regiões do Brasil, 2002

Page 38: 2º Caderno Vozes da Classe Média

38 | Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade

(%)

Baixa Média Alta

Brasil 28 52 20

Norte 39 48 13

Acre 38 48 14

Amapá 44 42 14

Amazonas 41 47 12

Pará 42 47 11

Rondônia 23 56 20

Roraima 29 50 22

Tocantins 38 49 14

Nordeste 49 42 9

Alagoas 57 37 6

Bahia 46 44 10

Ceará 48 43 9

Maranhão 59 35 6

Paraíba 45 44 11

Pernambuco 47 44 8

Piauí 50 43 7

Rio Grande do Norte 45 42 13

Sergipe 44 44 12

Sudeste 18 57 25

Espírito Santo 22 57 22

Minas Gerais 24 58 18

Rio de Janeiro 21 55 24

São Paulo 14 58 28

Sul 15 58 28

Paraná 15 59 26

Rio Grande do Sul 17 57 26

Santa Catarina 11 57 32

Centro-Oeste 19 57 24

Distrito Federal 16 47 37

Goiás 20 60 20

Mato Grosso 19 59 22

Mato Grosso do Sul 19 58 23

Fonte: Estimativas produzidas com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).

Classe

Tabela 11: Tamanho das classes nos diferentes estados e regiões do Brasil, 2012

Localidade

Tabela 11: Tamanho das classes nos diferentes estados e regiões do Brasil, 2012

Page 39: 2º Caderno Vozes da Classe Média

Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade | 39

Balanço geral

A seguir, apresentamos uma série de gráficos que revelam a diminuição das desigualdades

no Brasil pela ótica dos movimentos de expansão da classe média. Nos Gráficos 4, 5 e 6

apresentamos o contraste do tamanho da classe média em 2002 com o seu tamanho em

2012. A reta de 45o que divide os gráficos ao meio indica os pontos em que o tamanho

da classe média em 2002 é igual ao tamanho dessa classe em 2012. Dessa forma, todos

os pontos que estão acima dessa reta indicam que o tamanho da classe média em 2012

é superior ao tamanho da classe média em 2002. E quanto mais distante da reta estiver o

ponto, maior foi o crescimento da classe média. A distância entre o ponto e a reta de 45o

corresponde exatamente à expansão líquida apresentada nas Tabelas 4 e 6.

Como se pode ver no Gráfico 4, os maiores destaques ficaram para os grupos que

representam a população negra, a área rural, as pessoas com nível fundamental incompleto ou

sem escolaridade e os ocupados informais. Pode-se ver, também, que esses eram os grupos

que tinham menor tamanho da classe média em 2002. A maior expansão da classe média

nesses grupos aproximou-os dos demais e da média brasileira, diminuindo as desigualdades

socioeconômicas no Brasil. Convém ressaltar a exceção do grupo de pessoas com nível

superior, que apresenta reduzida classe média em 2002 e também em 2012. Como referido

anteriormente, isso ocorre em função de uma maior concentração da classe alta nesse grupo.

Classe média brasileira

Brancos e amarelos Negros

Área urbana

Área rural

Fundamental incompleto ou sem escolaridade

Fundamental completo Ensino médio completo

ou incompleto

Alguma educação superior

Ocupados formais

Ocupados informais

20

25

30

35

40

45

50

55

60

65

20 25 30 35 40 45 50 55 60 65

Tamanho da classe média em 2002 (%)

Gráfico 4: Comparação entre o tamanho da classe média brasileira nos diferentes grupos socioeconômicos, 2002 e 2012

Tam

anho

da

clas

se m

édia

em 2

012

(%)

45°

Fonte: Estimativas produzidas com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).

Gráfico 4: Comparação entre o tamanho da classe média brasileira nos diferentes grupos socioeconômicos, 2002 e 2012

Page 40: 2º Caderno Vozes da Classe Média

40 | Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade

O Gráfico 5 apresenta os resultados referentes aos diferentes setores de atividade

econômica. Os destaques ficaram para o setor agrícola e atividades mal definidas, que

também apresentavam em 2002 tamanho da classe média inferior às demais. As grandes

exceções ficam para os setores da administração pública e de educação, saúde e serviços

sociais, que em 2012 exibem classes médias de tamanho inferior ao de 2002. Essa retração

na classe média, porém, não significa uma piora no tempo: na administração pública o

tamanho da classe baixa caiu de 20 % para 9% enquanto que o da classe alta subiu de 33 %

para 46 %; no setor de educação, saúde e serviços sociais a classe baixa caiu de 17 % para

6 %, ao passo que a classe alta subiu de 35 % para 48% (Tabelas 5 e 6).

O Gráfico 6 apresenta os resultados dos estados e regiões brasileiras. Como mencionado,

as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste foram as que tiveram maior crescimento da

classe média, sendo, ainda, as que apresentavam, em 2002, os menores tamanhos dessa

classe.

Classe média brasileira

Agrícola

Outras atividades industriais

Indústria de transformação

Construção Comércio e reparação

Alojamento e alimentação

Transporte, armazenagem e comunicação

Administração pública

Educação, saúde e serviços sociais

Serviços domésticos

Outros serviços coletivos, sociais e pessoais

Outras atividades

Atividades maldefinidas

25

30

35

40

45

50

55

60

65

70

25 30 35 40 45 50 55 60 65 70

Tamanho da classe média em 2002 (%)

Gráfico 5: Comparação entre o tamanho da classe média brasileira por setor de atividade econômica, 2002 e 2012

Tam

anho

da

clas

se m

édia

em

201

2 (%

)

45°

Fonte: Estimativas produzidas com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).

Gráfico 5: Comparação entre o tamanho da classe média brasileira por setor de atividade econômica, 2002 e 2012

Page 41: 2º Caderno Vozes da Classe Média

Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade | 41

Brasil

Norte AC

AP

AM

PA

RO

RR TO

Nordeste BA

CE PB

PE PI

RN

SE

Sudeste ES MG

RJ

Sul

SP

PR

RS SC Centro-Oeste

DF

GO MT

MS

20

22

24

26

28

30

32

34

36

38

40

42

44

46

48

50

52

54

56

58

60

62

64

20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40 42 44 46 48 50 52 54 56 58 60 62 64

Tamanho da classe média em 2002 (%)

Gráfico 6: Comparação entre o tamanho da classe média por estado e região do Brasil, 2002 e 2012

Tam

anho

da

clas

sem

édia

em

201

2 (%

)

45°

Fonte: Estimativas produzidas com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).

Para melhor visualização do que ocorreu nos estados brasileiros, que são muito numerosos, construímos o Gráfico 7, que demonstra a expansão líquida da classe média em contraste com o seu tamanho em 2002. Como se pode ver pela linha de tendência, quanto menor era o tamanho da classe média em 2002, maior foi a expansão dessa classe entre os anos de 2002 e 2012.

Brasil

Norte

AC

AP

AM

PA

RO

RR

TO

Nordeste

BA CE PB

PE PI

RN

SE

Sudeste

ES MG

RJ

Sul SP

PR

RS

SC

Centro-Oeste

DF

GO

MT

MS

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

22

24

20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40 42 44 46 48 50 52 54 56 58 60

Tamanho da classe média em 2002 (%)

Gráfico 7: Expansão líquida e tamanho da classe média dentro de cada estado e região do Brasil

Expa

nsão

líqui

da d

a cl

asse

méd

ia e

ntre

200

2 e

2012

Fonte: Estimativas produzidas com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).

Gráfico 6: Comparação entre o tamanho da classe média por estado e região do Brasil, 2002 e 2012

Gráfico 7: Expansão líquida e tamanho da classe média dentro de cada estado e região do Brasil

Page 42: 2º Caderno Vozes da Classe Média

42 | Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade

Em suma, de maneira geral os grupos socioeconômicos que mais cresceram na classe

média foram aqueles que tinham menor representação nesse segmento em 2002. Assim,

em 2012, temos uma classe média mais equilibrada, com maior representatividade de cada

um dos diferentes grupos socioeconômicos brasileiros e, portanto, quase tão heterogênea

quanto o Brasil.

Uma maneira mais direta de observar a crescente heterogeneidade na classe média e,

consequentemente, a crescente igualdade entre os diversos grupos socioeconômicos

que compõem o país, é por meio do chamado índice de dissimilaridade. Quanto mais

perto de zero o valor do índice, mais igualitário é aquele grupo. Apresentamos também

a sua variação percentual entre os anos de 2002 e 2012. O sinal negativo indica queda, o

positivo, aumento.

Nas Tabela 12 apresentamos a evolução do índice de dissimilaridade na classe média dos

diversos grupos entre os anos de 2002 e 2012. Como se pode ver, em todos eles o

índice diminui de valor, aproximando-se de zero. O grupo que mais conseguiu alcançar

igualdade interna na classe média foi aquele correspondente a cor, caso em que o índice

de dissimilaridade caiu 94% em 10 anos. Em seguida, as maiores evoluções se deram na

diminuição da dicotomia formal/informal e urbano/rural (com quedas respectivas de 71%

e 61% nos índices de dissimilaridade). As desigualdades na classe média entre as regiões

brasileiras também diminuíram bastante, com queda de 53% na dissimilaridade.

2002 2012

Cor 8,6 0,5 -94%Região 13,2 6,1 -53%Área 7,2 2,8 -61%Nível educacional do chefe 9,0 5,1 -43%População em idade ativa (Ocupados/Desempregados/Inativ 3,9 2,3 -39%Formais/Informais 7,8 2,3 -71%Setor de atividaddes 9,1 6,5 -29%

Fonte: Estimativas produzidas com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).

Tabela 12: Índice de dissimilaridade na classe média, por grupo socioeconômico no Brasil

GrupoVariação

percentual (2002-2012)

Índice de Dissimilaridade

Tabela 12: Índice de dissimilaridade na classe média, por grupo socioeconômico no Brasil

Page 43: 2º Caderno Vozes da Classe Média

Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade | 43

2002 2012

Norte 3,4 2,0 -42%Nordeste 3,5 2,8 -21%Sudeste 4,5 0,9 -80%Sul 3,4 0,7 -81%Centro-Oeste 2,3 3,2 42%

Fonte: Estimativas produzidas com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).

Tabela 13: Índice de dissimilaridade na classe média, por região em relação aos seus respectivos estados

GrupoÍndice de Dissimilaridade Variação

percentual (2002-2012)

Na Tabela 13 apresentamos o índice de dissimilaridade na classe média para cada região.

Assim, podemos ver se a desigualdade no interior da classe média entre os estados dentro

de cada região diminuiu entre os anos de 2002 e 2012. Com exceção da região Centro-

Oeste, em todas as regiões o índice de dissimilaridade na classe média apresentou queda,

em especial, nas regiões Sudeste, Sul (80% e 81%). Dessa forma, se o crescimento médio

da classe média nessas regiões não foi muito expressivo (como se pôde ver na Tabela 4),

o crescimento substancialmente maior nos estados em que a classe média era menor em

2002 contribuiu para que a classe média dessas regiões se tornassem as mais igualitárias.

A desigualdade também diminuiu nas regiões Norte (42%) e Nordeste (21%), mas como

houve muita variação na expansão da classe média entre os estados dessas regiões (uns

expandiram consideravelmente mais do que outros), bem como estados que já tinham um

tamanho da classe média em 2002 relativamente maior também apresentaram expansão

expressiva dessa classe, a redução na dissimilaridade foi mais limitada.

Finalmente, não apenas a classe média se tornou mais igualitária – com maior

representatividade dos diversos grupos e estados – entre os anos de 2002 e 2012, ela

também é a classe de renda que apresenta maior igualdade dentre as três (baixa, média

e alta). Nas Tabelas 14 e 15 apresentamos o índice de dissimilaridade para as três classes.

Como se pode ver, tanto em relação a todos os diferentes grupos analisados (Tabela 14),

como em relação à igualdade entre os estados dentro de cada região (Tabela 15), a classe

média é a que apresenta sempre o menor valor do índice de dissimilaridade. Portanto, se

tivéssemos que escolher uma classe para representar a grande heterogeneidade brasileira,

a resposta seria, sem dúvida, a classe média.

Tabela 13: Índice de dissimilaridade na classe média, por região em relação aos seus respectivos estados

Page 44: 2º Caderno Vozes da Classe Média

44 | Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade

Classe Baixa

Classe Média

Classe Alta

Cor 16,0 0,5 21,1Região 24,3 6,1 18,0Área 11,8 2,8 9,3Nível educacional do chefe 18,2 5,1 31,5População em idade ativa (Ocupados/Desempregados/Inativo 15,8 2,3 12,3Formais/Informais 27,5 2,3 13,5Setor de atividaddes 27,8 6,5 19,1

Fonte: Estimativas produzidas com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).

Tabela 14: Índice de dissimilaridade nas 3 classes de renda, por grupo socioeconômico no Brasil, 2012

GrupoÍndice de Dissimilaridade

Classe Baixa

Classe Média

Classe Alta

Norte 5,0 2,0 7,8Nordeste 3,7 2,8 8,6Sudeste 12,5 0,9 7,4Sul 6,2 0,7 3,9Centro-Oeste 2,6 3,2 9,5

Fonte: Estimativas produzidas com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).

Tabela 15: Índice de dissimilaridade nas 3 classes de renda, por região em relação aos seus respectivos

GrupoÍndice de Dissimilaridade

Tabela 14: Índice de dissimilaridade nas 3 classes de renda, por grupo socioeconômico no Brasil, 2012

Tabela 15: Índice de dissimilaridade nas 3 classes de renda, por região em relação aos seus respectivos estados, 2012

Page 45: 2º Caderno Vozes da Classe Média

Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade | 45

Page 46: 2º Caderno Vozes da Classe Média

46 | Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade

Page 47: 2º Caderno Vozes da Classe Média

Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade | 47

Sobre o grau de tolerância e respeito à diversidade

O quanto uma pessoa aceita valores e comportamentos diferentes dos seus é algo que

está no coração de um regime verdadeiramente democrático e de relações sociais mais

positivas e construtivas. Nessa parte, entenderemos que tal tipo de abertura denota grau

de tolerância ou respeito à diversidade.

O grau de tolerância é algo que pode ser ensinado a crianças e adultos. Portanto, é maleável,

além de fortemente relacionado ao ambiente socioeconômico e cultural. Por outro

lado, pode ser também determinante para o sucesso socioeconômico de um indivíduo,

no sentido de que é possível que pessoas mais abertas tenham melhores resultados no

trabalho, tenham mais amigos, mais facilidade no relacionamento amoroso etc. Embora

seja difícil estabelecer a direção dessa causalidade (se grau de tolerância afeta ou é afetado

pelo ambiente socioeconômico), nesse estudo são apresentadas estimativas da incidência

de tolerância por classe de renda.

Para tanto, utiliza-se a pesquisa Data Popular – Tendências, coletada pelo Instituto

Datapopular em 2012. Foram entrevistadas 5.182 pessoas, com 14 anos ou mais de idade,

em todo território nacional, exceto as zonas rurais.

São doze itens considerados, sendo que cada um é um questionamento ao entrevistado

sobre “se ele gosta de pessoas com determinada característica” que pode ser alvo de

preconceito ou discriminação. Para facilitar a análise, agrupamos tais características em

três categorias: (a) inatas e básicas (inclui raça, religião e estado conjugal); (b) sexualidade

(inclui orientação sexual, casamento entre pessoas com grande diferença de idade, vaidade

entre homens e sensualidade de mulheres) e (c) ilegalidade questionada por parte da

sociedade (uso de drogas e prática de aborto).

A Tabela 16 apresenta o percentual que declarou “não gostar de pessoas com determinada

característica” para cada uma das três classes de renda (alta, média e baixa). Considerou-

se que um percentual inferior a 5% denota alta tolerância; entre 5% e 15%, média

tolerância e superior a 15%, intolerância

4. Diversidade

Page 48: 2º Caderno Vozes da Classe Média

48 | Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade

Difer

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(p.p.

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Difer

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(p.p.

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Fonte

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Page 49: 2º Caderno Vozes da Classe Média

Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade | 49

Análises

Panorama geral: o que a sociedade não tolera?

Conforme revela a Tabela 16, de uma maneira geral, a intolerância maior no Brasil está

associada a comportamentos que são ilegais, embora tenham ilegalidade contestada por

parte da sociedade. 58% dos respondentes declararam não gostar de pessoas que utilizam

drogas e 37% não gostam de pessoas que fizeram aborto. Com relação a quem já usou

drogas no passado (porém não usa mais no presente), a intolerância é de 18%.

Para as demais características, apenas uma é também intolerável (superior a 15%): a falta

de crença em Deus. 36% não gostam de pessoas descrentes.

Há tolerância moderada no que tange à sexualidade. Os percentuais nesse grupo de

características variam de 8% de intolerância com relação a mulheres sensuais a 11%

contra homens que se dizem vaidosos (usam cremes, se depilam etc.).

A maior aceitação parece ser com relação às características inatas ou básicas, como raça,

ter religião diferente e mães solteiras (sempre abaixo de 3,5%).

Intolerância e classe de renda

Entre as doze características investigadas, dez têm aceitação crescente com a renda, isto

é, a classe média declara ser mais tolerante que a classe baixa (para dez características),

porém menos tolerante que a classe alta (para onze características). Em apenas um caso

o grau de intolerância é maior na classe média que nas duas outras: o homossexualismo.

Dependendo da característica, a classe média pode ter perfil mais próximo ao da classe baixa

ou alta. Para analisar esse perfil, utilizamos apenas as distâncias nos percentuais de cada classe.

No que é mais “intolerável” para a sociedade como um todo, que são os comportamentos

ilegais ou a falta de crença em Deus, a classe média está mais próxima da classe baixa: é mais

avessa! Contudo, para o que é moderadamente tolerado (sexualidade), o perfil da classe média

é mais semelhante ao da classe alta (que é mais aberta), exceto pelo homossexualismo.

Não só o grau de tolerância da classe média está mais próximo ao da classe baixa para o

que é ilegal ou a descrença em Deus, mas também o ranking que a classe média faz das

características mais toleradas desse bloco é idêntico ao da classe baixa e um pouco distinto

do que pensa a classe alta. Por exemplo, as classes baixa e média toleram mais pessoas

que fizeram aborto do que quem não acredita em Deus. Para a classe alta, é o contrário.

Page 50: 2º Caderno Vozes da Classe Média

50 | Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade

Para o que é medianamente tolerado, a classe média se assemelha à classe alta por

proximidade dos percentuais e também ranking das características. As classes média e alta

aceitam menos a vaidade masculina e o homossexualismo do que a classe baixa. Por outro

lado, são mais abertas para casamentos de pessoas com muita diferença de idade.

É interessante dizer que para as características inatas e básicas, as quais são as mais

toleradas, o grau de concordância entre as classes é pleno. As diferenças percentuais

entre as classes são pequenas e a ordenação das características é exatamente a mesma.

Síntese

Raça, outra religião e ser mãe solteira são características amplamente aceitas e todos

parecem estar de acordo com isso. O que parece ser mais intolerável para a sociedade

brasileira é a prática do aborto, a descrença em Deus e, em primeiro lugar, o uso de

drogas. Os mais intolerantes são os membros da classe baixa, sendo que o padrão da

classe média quanto a essas características é similar. Nesse aspecto, uma diferença de

valores relevante entre as classes baixa e média, de um lado, e a alta de outro, é que as

duas primeiras colocam a descrença a Deus como mais intolerável do que a prática do

aborto e para a classe alta é o contrário.

Para o que é medianamente tolerado, a classe média fica mais próxima da alta, e comparadas

com a classe baixa, mostram mais problemas em lidar com o homossexualismo e a vaidade

masculina.

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TUDO JUNTO E MISTURADOA CLASSE MÉDIA E A DIVERSIDADE DO POVO BRASILEIRO

RENATO MEIRELLES - Sócio diretor do Data Popular, Instituto de

pesquisa pioneiro no estudo do brasileiro emergente. Comunicólogo e

escritor, já coordenou mais de 400 estudos sobre o consumidor da classe

média brasileira

Já virou senso comum falar sobre a miscigenação da população brasileira. Um povo que

mistura em sua cultura traços negros e indígenas com a herança dos colonizadores europeus.

Esse caldeirão étnico, que contribui para dar visibilidade ao Brasil, foi por ao menos dois

séculos apontado como um obstáculo para o desenvolvimento do país. Mas esse quadro

começa a criar novas nuances, impulsionado também por meio do crescimento de uma

classe média que leva consigo uma parcela cada vez menos homogênea da população.

Difícil definir uma típica família brasileira. Encontrar um rosto que identifique um todo

dentro desta diversidade então, é quase impossível. Somos pardos nipônicos, negros com

olhos de mel e loiros com vastas cabeleiras crespas, que contradizem qualquer estereótipo

pré-definido e tornam o nosso passaporte um dos mais desejáveis para falsificadores. No

entanto, muitas vezes essa mistura acaba por encobrir preconceitos e desigualdades que

sempre estiveram presentes em nossa história. Ainda hoje, temos muito mais negros entre

a população mais pobre e muito mais brancos na elite econômica do Brasil. A boa notícia é

que como a classe media é fruto direto da redução das desigualdades, tem na diversidade

étnica regional uma de suas maiores características. E isso faz toda a diferença. A ascensão

dessa camada social amplia as possibilidades de, enfim, reduzirmos um conjunto de

preconceitos que insistem em permanecer em nossa cultura.

Com o crescimento da classe média através da redução das desigualdades históricas de

gênero, cor da pele e desenvolvimento regional surgiu uma demanda econômica de inserir

no cenário de consumo novos protagonistas. As telenovelas, até então acostumadas a

colocar o negro numa posição servil aos brancos agora colocam-no em posição de destaque

5. Colaborador permanente

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em suas produções. São protagonistas que fogem do padrão desgastado e irreal do padrão

étnico europeu, fazendo um resgate às origens e criando identificação com o público das

classes emergentes. Até mesmo o padrão de beleza que fazia com que mulheres negras

muitas vezes fossem caracterizadas com signos comuns a mulheres brancas, alisando os

cabelos crespos e adotando tons neutros, que não contrastavam com seu tom de pele,

mudou.

Não preciso dizer aqui que racismo e preconceito ocorrem em todas as classes sociais

e portanto nunca serão resolvidos com a simples melhora do poder aquisitivo ou dos

níveis educacionais. Mas o fato é que se o país estava acostumado a somar ao preconceito

étnico a discriminação financeira, com o avanço da classe média, começamos a caminhar

num sentido de quebra de um paradigma, conservado por centenas de anos mesmo após

a abolição da escravatura. A valorização da etnia é conquistada através da melhora da

autoestima. São milhões de pessoas que viram sua vida melhorar com a estabilidade da

economia e o surgimento de uma gama de empregos formais que antes, ou eram privilégios

apenas de uma elite branca, ou até mesmo inexistiam. Pouco a pouco começamos a

encontrar negros brasileiros ocupando cargos de prestígio e frequentando lugares que

eram restritos apenas aos brancos detentores de uma renda que passava distante de suas

possibilidades. Para eles, sobravam os empregos de menor remuneração.

Negros que viviam marginalizados, agora aparecem com destaque num universo, onde

a cor e a tradição atravessam as fronteiras sociais, ressaltando a verdadeira beleza

nacional, antes vista somente com preconceito. São essas características, verde-amarelas

heterogêneas, que fazem do nosso povo tão especial, com aspectos tão peculiares. No

entanto, não devemos nos esquecer do mérito das lutas empreendidas pelos movimentos

sociais de afirmação da identidade negra, nem das políticas públicas de inclusão que

pouco a pouco se fortalecem desde a redemocratização. As mudanças que ocorrem

hoje ainda não são suficientes para colocar um ponto final no preconceito cotidiano de

muitos brasileiros. Em muitos estabelecimentos comerciais, apesar de não acontecerem

casos explícitos de discriminação racial, que seriam punidas pela lei, os negros ainda são

obrigados a lidar com situações desagradáveis, decorrentes de mau atendimento.

O acesso ao crédito e a descoberta de um universo de consumo possibilitou aos negros

e brancos da classe média, uma ascensão econômica que embora esbarre em alguns

valores arcaicos adquiridos pela elite, começa a ganhar fôlego e, finalmente, encontrar

o seu lugar. A educação foi um destes lugares, pois ele passou a ter acesso não apenas

aos bens de consumo, mas a universidade. Com isso, pode investir na educação do filho

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e percebe agora a oportunidade de fugir de um ciclo vicioso. Hoje, é possível ver nas

universidades, em cursos de diferentes áreas do conhecimento um corpo de alunos cada

vez mais heterogêneo. Com a ampliação da escolaridade, elevação da renda e melhor

acesso aos postos de trabalho, a população negra foi a que apresentou os maiores índices

de mobilidade socioeconômica dos últimos anos.

A classe média atual é a mistura brasileira que não se restringe apenas a cor da pele,

mas também se sustenta pelos valores. A tradição carnavalesca dos festejos populares

e a alegria das cores primárias fundem-se com a garra daquele que veio de baixo e

precisou juntar forças para não desistir e seguir em frente. Agora, com a oportunidade

de crescimento, este cidadão multicores, antes encolhido perante a desigualdade social,

encontra ferramentas e munições para lidar com as diferenças enraizadas. Prova que o

que antes era visto como fraqueza, hoje torna-se sinônimo de força. Sobram exemplos

de brasileiros que superaram as dificuldades educacionais, as barreiras étnicas e regionais

e acabam servindo de inspiração para outros brasileiros que estão vencendo na vida sem

ter que abrir mão de seus valores, de sua cultura e de sua origem.

Este avanço ainda está longe de ser uma conquista definitiva, pois não bastam apenas

mudanças na renda, é preciso mudar a ideologia que está enraizada na cabeça das pessoas.

No então é inegável a constatação que o crescimento da economia tem forçado diversos

setores da sociedade a serem mais tolerantes e menos preconceituosos. Viva a diversidade

da classe média brasileira

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“Quando novos personagens entram em cena”

Jailson de Souza e Silva, Professor da Faculdade de Educação da

Universidade Federal Fluminense – UFF-RJ e Diretor do Observatório de

Favelas do Rio de Janeiro.

O título acima é de um livro do pesquisador Eder Sader, lançado em 1988. À época,

o autor buscava identificar os novos grupos sociais que ocupavam a cena econômica e

política do Brasil a partir da década de 70. Sua grande expressão eram os trabalhadores da

indústria de transformação, com destaque para os metalúrgicos do ABC.

O grande mérito da Secretaria de Assuntos Estratégicos ao discutir a emergência de

uma “nova classe média” no Brasil é visibilizar e construir uma análise sistemática de um

processo socioeconômico e cultural mobilizado por um grupo que tem provocado um

forte impacto no país e deverá fazê-lo com maior intensidade nos próximos anos.

O que assistimos é, acima de tudo, à emergência dos trabalhadores, principalmente

negros, no cenário nacional. Eles ampliam o seu poder de consumo, fortalecem a sua

capacidade de influenciar as tendências políticas, os padrões culturais e educacionais. Os

recentes sucessos de produções televisivas, como as novelas baseadas no que seriam as

vivências cotidianas desse grupo, são um exemplo desse processo; a menor influência, no

caso do Rio de Janeiro, dos moradores das áreas nobres da cidade no processo eleitoral

é outra demonstração dessas transformações; a ampliação do acesso ao ensino superior

também revela essa dinâmica.

Interessa-me, de forma especial, o impacto que esse fenômeno de ampliação da renda

dos trabalhadores vem provocando na juventude e, em especial, nas periferias e favelas.

Com efeito, em vários centros metropolitanos brasileiros, uma parcela significativa dos

moradores desses territórios tem ingressado nas classes médias. Isso tem provocado um

forte impacto no processo de valorização imobiliária desses espaços, ampliado a oferta de

produtos de variadas ordens e fortalecido seu dinamismo econômico.

6. Colaborador desta edição

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Acima de tudo, o aumento da escolarização das populações dessas áreas, a maior

consciência sobre suas demandas e maior capacidade de verbalizá-las, a criação de novas

linguagens artísticas e a ampliação do repertório sociocultural geram a criação de um novo

ser social. Esse ser, que no caso do Rio de Janeiro chamamos de um “Novo Carioca”, amplia

sua mobilidade na cidade. Ela representa muito mais do que a capacidade de circulação

física. Essa mobilidade é social, econômica, educacional e, principalmente, simbólica.

Esse “novo” carioca, paulista, gaúcho, baiano (...) revela a capacidade de se apropriar dos

territórios urbanos de maneira autônoma, coletiva, com alto grau de criatividade e poder

de realização. E, nesse processo, consciente ou não, eles vão criando novas cidades, novos

cidadãos, de um novo país.

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60 | Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade02Empoderando vidas.

Fortalecendo nações.