mito e hq: as histÓrias em quadrinhos como portal de

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J Graduando: entre o ser e o saber, Feira de Santana, vol. 11, n. 14, p. 89 -104, 2020 ISSN 2236-3335 MITO E HQ: AS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS COMO PORTAL DE ACESSO AOS TEXTOS CLÁSSICOS Larissa Cruz Santos (UFBA) Bacharelado em Letras Clássicas [email protected] Submissão: 15/02/2020. Aprovação: 11/07/2020. Resumo : A mitologia grega é fonte de inúmeras passagens presentes na cultura ocidental, uma inspiração, mesmo após tantos séculos. De maneira semelhante, a narrativa clássica ainda suscita interesse por parte dos leitores e estudiosos. Este trabalho objetiva uma leitura a partir do caráter interdisciplinar das histórias em quadrinhos e o papel da literatura infantojuvenil, temáticas que não tinham muita visibilidade outrora. Com efeito, estes resultados visam, portanto, a demonstrar que histórias em quadrinhos são válidas também como porta de entrada, e objeto de estudos, para o conhecimento da literatura clássica. Foca-se também no conceito de adaptação, pelo ponto de vista de Hutcheon (2013) e Amorim (2005), e na aplicação de uma retextualização, proposta por Marcuschi (2001). Em determinadas aplicações, essas teorias agem como uma ligação entre textos do passado e do presente, ato que se mostra bastante pertinente, havendo, desta forma, um tensionamento entre os gêneros mito e história em quadrinhos. Palavras-chave : História em quadrinhos. Literatura. Mito. Mitologia.

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Page 1: MITO E HQ: AS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS COMO PORTAL DE

J G r a d u a n d o : e n t r e o s e r e o s a b e r , F e i r a d e S a n t a n a , v o l . 1 1 , n . 1 4 , p . 8 9 - 1 0 4 , 2 0 2 0

I S S N 2 2 3 6 - 3 3 3 5

M I T O E H Q : AS H I S T ÓR I AS E M QU AD R I N HOS

C O M O P OR T AL D E A CE S SO A OS T EX T OS

C L ÁS S I C OS

L a r i s s a C r u z S a n t o s ( U F B A )

B a c h a r e l a d o e m L e t r a s C l á s s i c a s

l a r i s s a c r u z s t s @ g m a i l . c o m

S u b m i s s ã o : 1 5 / 0 2 / 2 0 2 0 .

A p r o v a ç ã o : 1 1 / 0 7 / 2 0 2 0 .

R es umo : A m i t o l o g i a g r e g a é f o n t e d e i n úme r a s p as sa g en s

p res en t es na cu l t u r a o c i de n t a l , uma i n sp i r a çã o , mesmo após

t a n t os s écu l os . D e man e i r a s eme l ha n t e , a n a r r a t i v a c l á s s i c a

a i n da sus c i t a i n t e r es s e po r pa r t e dos l e i t o r e s e es t u d i oso s .

E s t e t r a b a l h o o b j e t i v a u m a l e i t u r a a p a r t i r d o c a r á t e r

i n t e r d i s c i p l i n a r d a s h i s t ó r i a s em q u a d r i n h o s e o p a p e l d a

l i t e r a t u r a i n f a n t o j u v e n i l , t e m á t i c a s q u e n ã o t i n h a m m u i t a

v i s i b i l i d a d e o u t r o r a . C om e f e i t o , e s t e s r e s u l t a d o s v i s a m ,

p o r t a n t o , a d em o n s t r a r q u e h i s t ó r i a s em q u a d r i n h o s s ã o

vá l i d a s também como po r t a de en t r a da , e ob j e t o de es t udos ,

pa ra o conhec imento da l i t era tura c l áss i ca . Foca -se também no

conce i t o de adaptação , pe l o pon to de v i s t a de Hut cheon (20 13 )

e Am o r i m ( 2 0 0 5 ) , e n a a p l i c a ç ã o d e um a r e t e x t u a l i z a ç ã o ,

p r o pos t a po r Ma rc usch i ( 200 1 ) . Em d e t e rm i na das ap l i c a çõ es ,

essas teor i as agem como uma l i gação ent re tex tos do passado

e d o p r e s e n t e , a t o q u e s e m o s t r a b a s t a n t e p e r t i n e n t e ,

h av en d o , d es t a f o rma , um t en s i on amen t o e n t r e o s g ên e r os

m i to e h i s tór i a em quadr i nhos .

P a l a v r a s - c h a v e : H i s t ó r i a em q u a d r i n h o s . L i t e r a t u r a . M i t o .

M i t o l og i a .

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G r a d u a n d o : e n t r e o s e r e o s a b e r , F e i r a d e S a n t a n a , v o l . 1 1 , n . 1 4 , p . 8 9 - 1 0 4 , 2 0 2 0 J

A b s t r a c t : G r e e k m y t h o l o g y i s t h e s o u r c e o f n u m e r o u s

r e f e r ences i n Wes t e rn cu l t u r e ; i t i s a n i n sp i r a t i o n , even a f t e r

s o many cent ur i es . S im i l a r l y , t he c l ass i c na r r a t i v e s t i l l a rouses

t h e i n t e r e s t o f r e a d e r s a n d s c h o l a r s . T h i s w o r k a i m s t o

ana l yze the i n t er d i s c i p l i na r y cha rac te r of com ic books and t he

r o l e of ch i l d ren and you th l i t e ra t u re ; themes tha t d i d no t have

much v i s i b i l i t y i n t h e p as t . I n d e ed , t h e r es u l t s i n d i c a t e t h a t

c om i c bo o ks a r e t h e g a t ewa y a nd o b j e c t o f s t ud i es f o r t h e

k n ow l e dg e o f c l a s s i c a l l i t e r a t u r e . Th e s t u dy f o cu s es o n t h e

c o n c e p t o f a d a p t a t i o n , f r om H u t c h e o n ( 2 0 1 3 ) a n d Am o r i m

( 2005 ) , a nd on t he app l i c a t i o n o f a r e t ex t ua l i z a t i on , p r oposed

by Marcusch i ( 200 1 ) . In ce r ta i n app l i ca t i ons , t hese theor i es a ct

a s a l i n k b e t w e e n t e x t s f r o m t h e p a s t a n d t h e p r e s e n t ,

show ing a re l a t i on between both genres : myth and com ic book .

Keywords : Com ic book . L i t era ture . Myth . Mytho l ogy .

1 I N T RO D U Ç Ã O

Os l egados de i xados pe l a Ant i gu i dade Grega man i fes tam -

se de mane i ra d iversa . Se ja a t ravés da c i ênc i a , cu l t u ra , a rqu i -

t e tura ou re l i g i ão , essas soc i edades ances t ra is func i onam como

um p i l a r pa ra a contemporane i dade . As fontes h i s tór i cas i nd i -

cam que mu i t as dessas soc i edades , de a l guma mane i ra , possu -

em reg i s t ros acerca de suas o r i gens e de seu passado –

mu i t as das vezes com h i s tór i as envo lvendo deuses e heró i s ,

mas também com monumentos e ves t í g i os a rqueo l óg i cos .

O ato de contar h is tór ias é tão ant igo quanto à própr ia

ex is tência da humanidade. Aponta-se que, in i c ia lmente, não hav ia

uma dis t inção entre o que rea lmente acontecia e os atos

re la tados nas h is tór ias (mi tos) . Desta forma, a m i to log ia funcio na

como um agrupamento para essa col eção de mi tos que i ntentam

expl icar as or igens do universo e de d iversos outros fenômenos

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pertencentes à cul tura de determinada sociedade. A m i to log ia

está entre laçada à l i teratura , às crenças e ao est i lo de v ida de

um grupo; e, até hoje, a lguns povos a inda carregam essa cul tura

proveniente dos mi tos de sua comunidade para o d ia a d ia .

A busca por uma or i gem exa ta desses m i tos é i nev i táve l ,

e é i negáve l o dese jo de d i ferenc i a r o que é rea l e o que é

i nventado , mas essa ta refa se torna pra t i camente imposs íve l .

Os m i tos , em pr i nc í p i o , eram t ransm i t i dos de mane i ra ora l , o

que tornou o seu reg i s t ro escr i t o d ivergente de um autor para

out ro , e d i f i cu l t a o encont ro de um re l a to ver í d i co . A l ém d i sso ,

Foucau l t ( 1 996 ) j á nos ens i na que não ex i s tem verdades ,

apenas d i scursos . A ex i s tênc i a de ma i s de uma versão para a

mesma nar ra t i va é a l go prev i s to , por tan to .

Antes de ent ra r na d i scussão acerca de mane i ras a tua is

– uma em espec í f i co , os quadr i nhos – de d i fund i r e propagar

as h i s tór i as c l áss i cas , é prec i so aponta r que a impor tânc ia

ex i s ten te em rev i s i ta r os c l áss i cos g i ra em torno des tes serem

h i s tór i as , como bem nos ens i na Í t a l o Ca lv i no ( 1 993 , p . 1 1 ) , em

seu Para que l er os c l áss i cos? , que nunca term ina ram de d i zer

aqu i l o que t i nham para d i zer . A l ém d i sso , os m i tos chegam “ [ . . . ]

a té nós t razendo cons i go as mar cas das l e i tu ras que precede-

ram a nossa e a t rás de s i os t raços que de i xa ram na cu l t u ra

ou nas cu l t u ras que a t ravessaram [ . . . ] ” (CALVINO , 1 993 , p . 1 1 ) .

Em out ras pa lav ras , conhecer t a i s h i s tór i as é uma mane i ra de

conhecer cu l t u ras anter i o res (a exemp lo de seus cos tumes e

l i nguagens ) , e , i n t r í nseco a i sso , seu modo de pensar e ver o

mundo.

Em Como e por que l er os c l áss i cos un iversa i s desde

cedo? , Ana Mar i a Machado (2002, p . 1 2 ) t ambém argumenta

acerca da impor tânc i a de se l er h i s tór ias c l áss i cas e defende

que out ras formas de acesso a esses tex tos se jam vá l i das :

“ [ . . . ] não é necessár i o que essa p r ime i ra l e i t ura se ja um mergu -

l ho nos tex tos or i g i na i s . Ta lvez se ja a té dese jáve l que não o

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se ja , dependendo da i dade e da ma tur i dade do l e i t o r . Mas cre i o

que o que deve se procura r prop i c i a r é a opor tun i dade de um

pr ime i ro encont ro . ”

As h i s tór i as em quadr i nhos , por exemp lo , se man i fes tam

como uma a l t erna t iva contemporânea e não canôn i ca para a

l e i t u ra de h i s tór i as c l áss i cas . Os quadr i nhos , em gera l , se

apresentam como t i r i nhas , mangás , graph i c nove l s , g i b i s etc . , e ,

mu i t as vezes , a tuam como o pr ime i ro contato exper i enc i a l da

cr i ança com a l e i t u ra . At ravés desse encont ro , há a poss i b i l i -

dade de ex i s t i r uma aprox imação com “ os c láss i cos ” .

É constan te a d i scussão sobre a impos i ção , por par te da

esco l a , da l e i t u ra de a l guns tex tos , pe l o fa to de l es serem

compreend idos pe l a i ns t i t u i ção como ar ra i gadamente assoc i a -

dos à erud i ção , à “cu l t u ra ” , e , por esse mot ivo , serem impres -

c i nd íve i s para a educação das cr i anças e dos jovens . D i scute -

se a i nda sobre como ta i s tex tos t rad i c i ona i s são apresentados

à comun idade esco l a r e qua l função e l es exercem sobre essa

mesma comun idade . A lguns compreendem, como Machado

(2002 ) , que o pr ime i ro conta to não deve ocor rer com a obra

“or i g i na l ” , mas com uma versão menos densa de l a (uma adap -

tação ) . E , ass im , a l e i t u ra de ta i s l i v ros na i n fânc i a , ou na

ado l escênc i a , faz com que e l es se tornem “ [ . . . ] par te i nd i ssoc i -

áve l da bagagem cu l t u ra l e a fe t i va que seu l e i t o r i n corporou

pe l a v i da a fora , a judando-o a ser quem fo i . ” (MACHADO, 2002 ,

p . 1 1 ) .

Apesar de se reconhecer a impor tânc i a de t a i s l e i t u ras

para formação das cr i anças e dos ado l escentes , t ambém se

compreende e se c r i t i ca o fa to de a esco l a , ma jor i t a r i amente ,

e l eger e l eg i t imar como i nd i spensáve is t ex tos oc i denta is , como

os tex tos m í t i cos , a par t i r de uma i de i a e l i t i s t a e hegemôn ica

de cânone . O propós i t o des te t raba l ho cons i s te em d i scut i r o

pape l dos quadr i nhos como um ob je to vá l i do para perpetua r os

c l áss i cos un iversa is de mane i ra d i ferenc i ada , r econhecendo , no

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entan to , que , pa ra a l ém dos m i tos , ex i s tem out ros tex tos

também mu i t o impor tan tes para a formação das cr i anças e

jovens .

2 O PO D E R D O M I T O

O m i to , que vem da pa l av ra grega mythos , cor responde a

uma nar ra t iva t rad i c i ona l . De acordo com M i rcea E l i ade ( 1 972 , p .

20 ) , o m i to possu i r i a d i versas , e i nd i spensáve i s , funções , como ,

por exemp lo : “ [ . . . ] e l e expr ime , ena l t ece e cod i f i ca a crença ;

sa lvaguarda e impõe os pr i nc í p i os mora i s ; garante a e f i các i a do

r i t ua l e of erece r egras prá t i cas para a or i en tação do homem. ”

E , a par t i r d i sso , Wa l t er Burker t ( 1 99 1 , p . 1 5 ) aponta que a “ [ . . . ]

mi to l og i a des i gna tan to a co l eção e s i s tema de m i tos de um

povo, como a c i ênc i a que se ocupa do seu s i gn i f i cado. ”

Na Ant i gu i dade , o m i to t ransm i t ia ens i namentos e cos tu -

mes à comun idade da época , ao mesmo tempo em que , naque -

l as h i s tór i as fan tás t i cas , ex i s t i a uma função soc i a l . Ta i s nar ra t i -

vas eram de ext rema impor tânc i a (BURKERT, 1 99 1 ) , po i s assoc i -

a r as suas or i gens às de f i guras m í t i cas , nomeando os seus

antepassados , era essenc ia l pa ra as fam í l i as , uma vez que l hes

des tacava o própr i o pres t í g i o , espec i a lmente em uma soc i edade

como a da Gréc i a , em que se p regava a v i r t ude , do grego

a reté . Impor ta exp l i c i t a r que essa ta l “v i r t ude grega” não

possu i a mesma concepção contemporânea da pa l av ra . Pa ra a

soc i edade grega a rca i ca , a v i r t ude es tava ent re l açada à

conqu i s ta de fama e g l ó r i a , à rea l i zação de grandes fe i t os

hero i cos (como saquear c i dades ou par t ic i pa r de grandes

guer ras ) pa ra , fu turamente , ser personagem de h i s tór i as na

voz de poetas .

Ressa l t a-se que a usua l conotação de m i to , r efer i ndo -se

à fábu l a , l enda , i nvenção , f i cção etc . , é descar tada nessa

aná l ise , v i s to que o sent i do aqu i empregado é o de m i to como

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um “ [ . . . ] re l a to de um acontec imento ocor r i do no t empo pr imor -

d i a l , med i an te a i n tervenção de entes sobrena tu -

ra i s . ” (BRANDÃO, 1 987 , p . 184 ) . Des ta forma , o m i to nar ra even-

tos que ocor reram em tempos pr imord i a is , quando a presença

de c r i a turas ext raord i ná r ias (a exemp lo de deuses e sem ideu -

ses ) era comum e pass íve l de ex i s t i r em ta l rea l i dade .

In i c i a lmente , a conservação e t ransm issão dos saberes se

mant i nham , como a f i rma Jean-P i er re Vernant ( 2006 , p . 1 5 ) , “ [ . . . ]

med i an te uma t rad i ção puramente ora l exerc i da boca a boca ,

em cada l a r , sobretudo a t ravés das mu lheres [ . . . ] ” . E , a l ém

dessa ex i s tênc i a dent ro do l a r , fo i t ambém a t ravés da voz dos

poetas que essas nar ra t ivas foram perpetuadas – em ce l ebra-

ções , em eventos , nas ruas etc . Esses poetas se enca i xavam

nas ca tegor i as de aedos ou rapsodos , compos i t o res e rec i t a -

dores de poes i a , respect i vamente . Em out ras pa l av ras :

Ouve - se o c an to d o s p o e t as [ . . . ] , j á n ão em p a r t i c u l a r ,

n um qu ad ro í n t imo , mas em púb l i c o . [ . . . ] N ão se t r a t a ,

p a r a o s o uv i n t e s , d e um s imp l e s d i v er t imen t o p esso a l

[ . . . ] , mas d e uma ve rd ad e i r a i n s t i t u i ç ão q u e se r ve d e

memó r i a so c i a l , d e i n s t r umen to d e co n se rv ação e

comun i c ação d o sab e r , c u j o p ap e l é d ec i s i v o .

( VERNANT , 2 006 , p . 1 6 - 1 7 ) .

A m i to l og i a grega chegou a té nós , pr i nc i pa lmente , a t ravés

das obras de a r te e da l i t era tura . E , por se t ra ta r de ob je tos

com mane i ras de reprodução d i ferenc i adas , obv i amente , i sso

resu l t ou em mane i ras d i ferenc i adas de t ransm i t i r uma mesma

h i s tór i a . De fato , a m i t o l og i a se const i t u i u dev ido às var i ações .

O m i to , como já fo i ass i na l ado, v ive em var i an tes de s i

mesmo , e é na tura l que se ja ass im . En t re tan to , a l gumas

versões de determ inado m i to são ma i s conhec i das do que

out ras . É poss íve l que , dado o imenso pres t í g i o da poes i a , a

var ian te apresentada por um grande poeta ao púb l i co tornava -

se um m i to canôn i co , ocas i onando no esquecimento das dema i s

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var ian tes , t a lvez a r t i s t i camente menos e f i cazes , mas , nem por

i sso , menos impor tan tes (BRANDÃO, 1987 ) .

Dev i do ao predom ín i o da t rad i ção ora l na ant i gu i dade

c l áss i ca , mu i t os m i tos se perderam ao l ongo do tempo e nunca

chegaram ao nosso conhec imento . Até ho je pesqu isadores

t raba l ham em busca de fontes para es tudos des tes tex tos , em

acervos ant i gos e escavações. Mu i t os dos tex tos encont rados

a i nda não t i veram opor tun i dade de receber uma t radução para

l í nguas modernas . Contudo , mu i t os de l es ex i s tem como

f ragmentos – pouqu í ss imos ex i s tem de mane i ra comp le ta – e

es tão cont i dos na B i b l i o t eca , um acervo que da ta da própr i a

Ant i gu i dade e é a t r i bu í do a Apo lodoro (BRANDÃO, 1987 ) .

Pertencente a uma categor ia de l i t eratura mundia lmente

conhecida como c láss ica – dev ido ao seu teor ancestra l – , a

mi to log ia grega é “ [ . . . ] reconhecida como um tesouro da huma-

nidade [ . . . ] ” (MACHADO, 2002, p . 26) . É uma fonte inesgotável de

saber , e, provavelmente, a que ma is marcou a cu l tura ocidenta l .

3 H I S T Ó R I A S E M Q U A D R I N HO S E A D A P T A Ç Õ E S

H i s tor i camente , os quadr i nhos es tão associ ados “ [ . . . ] a

nar rações breves ou a ep i sód i os de cur ta duração [ . . . ] ” (E ISNER ,

1 999 , p . 1 38 ) . Des ta forma , por mu i t o tempo, supôs -se que os

l e i t o res des te gênero buscavam i n formação a t ravés de uma

“ t ransm issão v i sua l i ns tan tânea ” . Ass im , a imagem da l e i t u ra de

quadr i nhos se tornou assoc i ada às cr i anças , e , a par t i r d i s to ,

adu l t os que l i am o ma ter i a l eram cons i derados pouco i n te l i gen -

tes (E ISNER , 1 999 ) .

Em uma ent rev is t a conced ida pe l o professor Wa ldom i ro

Vergue i ro , da Un ivers i dade de São Pau l o (USP ) , a Lar issa

Lopes (20 17 ) , d i scu te-se brevemente sobre o pape l das h i s tó -

r i as em quadr i nhos na soc i edade . De acordo com o p rofessor ,

que l ec i ona na Esco l a de Comun icações e Ar tes (ECA) da USP ,

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as h i s tór ias em quadr i nhos são capazes de serem ut i l i zadas

para d iversas nar ra t ivas ou f i na l i dades , se j a aux i l i ando na a l fa -

bet i zação de cr i anças , se j a abordando t emas densos de forma

ma is humana .

Pa ra W i l l E i sner ( 1 999 , p . 8 ) , “ [ . . . ] a conf i guração gera l da

rev i s ta de quadr i nhos apresenta uma sobrepos i ção de pa l av ra

e imagem, e , ass im , é prec i so que o l e i t o r exe rça as suas

hab i l i dades i n terpreta t ivas v i sua is e verba i s . ” Dessa forma ,

en tende-se que :

Se ve i o d o s p r imór d i o s e con t i n u a mode rn a a t é h o j e ,

a l i n gu agem do s q u ad r in ho s n ão p od e se r con s i d e rad a

a r t e menor , c omo h á mu i t o t empo v i n h a sen do t axad a .

Su a h i s t ó r i a n o s con t a o q u an to e l a e s t á i n se r i d a n o

es t ímu l o à l e i t u r a e ao d esenvo l v imen to d e o u t r as

l i n gu ag en s qu e v i e r am d epo i s . ( LOVETRO , 2 0 1 1 , p . 1 1 ) .

A l i t era tura e a m i to l og i a compar t i l ham e conv ivem em um

mesmo un iverso. A m i to l og i a faz par te da h i s tór i a da l i t era tura ,

a f i na l , desde o canto dos poetas na Ant i gu i dade , a m i t o l og i a

es tava l á , nessas h i s tór i as contadas e recontadas para o

povo. Não é à toa que essa fo i uma mane i ra pe l a qua l a m i t o -

l og i a sobrev iveu e chegou às c iv i l i zações pos ter i o res .

A par t i r da remode l agem e cons tante mudança que

ocor re na l i t era tura , pr i nc i pa lmente a par t i r da forma de se

conta r h i s tór ias (novas ou ve l has ) , não é espantoso que os

m i tos a i nda pers i s tam e ex i s t am em formas de se l er contem -

poraneamente . Uma f er ramenta ú t i l pa ra essa pe rpetuação é a

retex tua l i zação . Pa ra Marcusch i ( 200 1 ) , a r e tex tua l i zação de um

tex to-base pode ser rea l i zada a par t i r de qua t ro mane i ras : da

fa l a pa ra a escr i t a , da fa l a pa ra a fa l a , da escr i t a pa ra a escr i -

t a e da escr i t a pa ra a ora l i dade .

O processo de adaptação de a l gumas h i s tór i as da t rad i -

ção c l áss i ca para d i a l ogar com as novas gerações – não

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necessar iamente c r i anças , mas os l e i t o res de rev i s tas em

quadr i nhos de d iversas i dades – é apontado como i n i c i a t iva

per t i nen te por Machado (2002 , p . 1 5 ) , quando escreve : “O

pr ime i ro conta to com um c l áss i co , na i n fânc i a e ado l escênc i a ,

não prec i sa ser com o or i g i na l . ” E , na rea l i dade , ra ramente ,

como já menc ionado, o pr ime i ro conta to ocor re dessa mane i ra ,

mas s im por me io das adaptações .

De acordo com Amor im (2005 , p . 1 1 9 ) , “ [ . . . ] a adaptação

das obras c l áss i cas das l i t era turas nac i ona l e mund i a l é um

tema que desper ta po l êm ica e d iv i de op i n i ões ” , uma vez que a

pa l av ra adaptação pode ser assoc i ada a enr i quec imento e a

empobrec imento de um ob je to . A adaptação confere determ ina -

da l i berdade para que o autor possa mod i f i ca r ( i nser i r ou ret i -

ra r ) deta l hes do tex to adaptado ; e a i nda :

[ . . . ] a ad ap t ação se r i a um conce i t o amp lo q u e ab a r c a -

r i a a s ma i s d i v e r sas f o rmas d e l i n gu ag em , como h i s t ó -

r i a em q u ad r in ho s , ad ap t açõ es c i n ema to g r á f i c as e

t e l e v i s i v as , d esenho s an imado s , au d i o - boo ks e o s

t r ab a l h o s conh ec i do s como “ h i s t ó r i a s r e co n t ad as ” o u

“ ad ap t açõ es ” l i t e r á r i a s em fo rma n a r r a t i v a . ( AMOR IM ,

2005 , p . 1 1 9 ) .

O ju l gamento de va l or que reca i sobre esse es t i l o se

torna preconce i t uoso quando , au toma t i camente , uma obra é

des i gnada como i n fer i o r por se t ra ta r de uma adaptação –

mu i t as vezes , por não possu i r uma l i nguagem tão r ebuscada

quanto a obra-base . Contudo , nem todos pensam ass im . A

autora Ne l l y Coe l ho , por exemp lo , segundo Lauro Amor im

(2005) , é uma entus ias ta da adaptação dos c l áss i cos , e defen -

de a adaptação de contos de fadas , t ex tos dramá t i cos , t ex tos

nar ra t ivos , obras contemporâneas , es t range i ras e nac i ona i s .

Pa ra e l a , “ [ . . . ] as adaptações re forçam o cará ter un iversa l

dessas obras , poss ib i l i t ando sua d ivu l gação em me io ao púb l i co

ma is j ovem . ” (AMORIM , 2005 , p . 1 20 ) .

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É impor tan te ressa l ta r que é necessár ia uma pesqu i sa

r i gorosa por par te do autor/adaptador para que ha ja o máx imo

de concordânc i a em re l ação a uma ten ta t i va de f i de l i dade à

obra-base , t raba l hando em harmon ia com as i novações da

nova nar ra t iva , ass im como não se deve d im inu i r o pape l

desempenhado pe l as adaptações em a t i ng i r uma nova gama de

l e i t o res que , d i f i c i lmente , t er i a acesso a t ravés da obra -base .

Af i na l , L i nda Hutcheon (20 13 , p . 1 28 ) a f i rma que “ [ . . . ] a mot i va-

ção econôm ica a f eta todos os es tág i os do processo de adap -

tação . ”

Em suma , cabe aponta r que re l e i t u ra e adaptação são

termos que cam inham, na ma ior i a dos casos , em un i ão . A

adaptação , no campo da l i t e ra tura , se por ta como a t ranspos i -

ção de uma obra l i t e rá r i a pa ra out ro gênero – no caso des te

t raba l ho , o gênero m i to é t ranspos to para o gênero h i s tór ia em

quadr i nhos . E nesse ent reme io , a re l e i t u ra a tua como a r e i n ter -

pretação de uma obra j á ex i s ten te ; como o própr i o nome e l uc i -

da , se t ra ta de “ re l er ” , l e r novamente . Re l e i t u ra não é uma

cóp i a , do mesmo modo que adaptação também não o é .

Um exemp lo d i sso ocor re com a h i s tór i a em quadr i nhos

Os doze t raba l hos da Môn i ca ( 2008 ) , de Maur í c i o de Souza, a

qua l começa s i t uando o l e i t o r sobre quem fo i Hér cu l es e que a

sua ma ior façanha fo i rea l i za r doze ta refas “ d i f i c í l imas ” – como

aponta a F i gura 1 . Contudo , no ta -se que na breve “ i n t rodução”

ao heró i , exc l uem-se determ inados eventos do m i to , como por

exemp lo , a l oucura acomet i da por e l e e a mor te de sua fam í l i a .

Uma poss íve l exp l i cação para o apagamento desses acontec i -

mentos cons i s te no fa to de que , por ser des t i nada , pr imar ia -

mente , aos l e i t o res i n fan t i s , a adaptação se adequa ao púb l i co

e exc l u i determ inadas s i t uações .

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F i g u r a 1 - Quem fo i H ér cu l e s?

F on t e : MAUR IC IO APRESENTA N º 1 ( 2 008 ) .

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A nar ra t iva ma i s conhec i da sobre a mot i vação de Hércu -

l es , ao rea l i za r os doze t raba l hos , a mando do re i Eur i s teu ,

t ra ta-se de redenção pessoa l do heró i . Acred i t a -se que a

deusa Hera l he provocou um acesso de l oucura e , n i sso , e l e

ma tou esposa e f i l hos . O p r ime i ro a ser a tacado por Hércu l es

fo i seu sobr i nho Io l au , f i l ho de Í f i c l es , que consegu iu escapar .

O mesmo não ocor reu com Mégara , esposa de Hércu l es , e os

f i l hos , que foram a t i rados ao fogo .

Ao recupera r a san i dade , o heró i se i so l ou por mu i t os

d i as , ev i tando conta to com qua l quer cr i a tura v iva . Mas , após

es ta r pur i f i cado , e l e se d i r i g i u a té o orácu l o de De l fos e

recebeu a profec i a da p i t on i sa de que e l e dever i a i r a té T i r i n to ,

serv i r ao r e i Eur i s teu e r ea l i za r qua l quer t raba l ho que e l e

ped i sse po i s , após esses anos de serv i ço , e l e obter i a a imor -

ta l i dade . Hércu l es detes tava ter de serv i r a um homem que

cons i derava mu i t o i n fer i o r a e l e , mas , ao mesmo tempo , t em ia

opor-se à vontade de Zeus . Seu sobr i nho Io l au se co l ocou à

d i spos i ção como seu aur i ga (condutor de car ro ) e escude i ro

para a judá- l o na rea l i zação dos t raba l hos (GRAVES , 20 17 ) .

Na h i s tór i a em quadr i nhos , passadas a i n t rodução i n i c i a l e

a contex tua l i zação do l e i t o r pa ra com o m i to , a adaptação se

i n i c i a com o surg imento da personagem Môn ica no un iverso da

Gréc i a Ant i ga . E l a é apresentada como f i l ha de Hércu l es –

recurso u t i l i zado como ponte ent re o m i to e a i nserção do

un iverso da Turma da Môn i ca (e , pos ter i ormente , de out ros

personagens do quadr i n i s ta Maur i c i o de Sousa ) na adaptação ,

como aponta a F i gura 2 .

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F i g u r a 2 - A i n t ro du ção de Môn i c a n a ad ap t ação

F on t e : MAUR IC IO APRESENTA N º 1 ( 2 008 ) .

4 C O N S I D E RA Ç Õ E S F I N A I S

A Gréc i a Ant i ga é uma fonte de es tudos i nesgotáve l .

Apesar de haver um i n teresse deveras exaus t i vo sobre o

tema , sempre ex i s tem novos o l ha res e novas nuances a serem

captadas pe l o pesqu i sador . Af i na l , v i a j a r por nar ra t i vas que ,

vez ou out ra , t ornam-se momentaneamente esquec i das pe l o

grande púb l i co é uma i nvest i da demas i ado i n teressante para

ser fe i t a – a té mesmo como forma de compara r o passado e o

presente .

Uma poss íve l mot i vação para esse eterno r etorno é o

dese jo de a t i ng i r ou t ros tempos h i s tór i cos – uma caracter í s t i ca

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do ser contemporâneo , nunca sac i ado com o t empo presente e

necess i t ando de v i s l umbres de out rora . Deste modo , compre -

ende-se que os m i tos gregos serão passados ad i an te , como

sempre foram.

As h i s tór ias em quadr i nhos , por sua vez , vêm conqu i s -

tando espaço nos es tudos l i t erá r i os acadêm icos . Peter Hunt

( 20 10 ) aponta que os l i v ros para cr i ança t i veram e têm grande

i n f l uênc i a soc i a l e educac i ona l . Des te modo , es tudar a l i t e ra tura

i n fan t i l é t ão impor tan te quanto qua l quer out ro gênero l i t erá r i o

ex i s ten te . T raçando um para l e l o ent re as l i t e ra turas em

ques tão , a m i t o l og i a exerceu , de cer ta forma , na Gréc i a Ant i ga ,

o mesmo pape l soc i a l e educac i ona l – a tuando no modo de se r

e v iver grego . Em consegu in te , é poss íve l que as h i s tór i as em

quadr i nhos , ass im como os l i v ros i n fan t i s , desempenhem o

mesmo pape l , v i s to que ambos compar t i l ham, em sua ma ior i a ,

de um mesmo púb l i co l e i t o r .

O t ens i onamento propos to no t raba l ho , nes te caso ent re

m i to e h i s tór i a em quadr i nhos , se mos t ra como um fa tor

bas tan te per t i nen te no es tudo contemporâneo de l i t era tura . Os

doze t raba l hos da Môn i ca ( 2008 ) se encont ra com o m i to d ’Os

doze t raba l hos de Hércu l es para compar t i l ha r e expand i r um

un iverso que é fon te de l e i t u ras e re l e i t u ras desde a Ant i gu i -

dade . E , com o passar dos anos , “ a h i s tór i a em quadr i nhos

cont i nua a crescer como forma vá l i da de l e i t u ra ” (E ISNER , 1 999 ,

p . 7 ) , como pode ser notado a par t i r des ta e de out ras

pesqu i sas rea l i zadas nos ú l t imos anos . O teor i n terd i sc i p l i na r

presente nos es tudos envo lvendo h i s tór i as em quadr i nhos

expande os me ios nos qua is esse ob je to pode ser u t i l i zado .

Observar o uso de um ob je to e um campo de es tudos –

h i s tór i as em quadr i nhos e sua cont r i bu i ção para a formação de

l e i t o res , por exemp lo – , e nota r que esse mesmo ob je to pode

ser es tudado por uma nova ópt i ca – h i s tór i as em quadr i nhos e

a adaptação como por ta de ent rada para a l i t era tura c l áss i ca - ,

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é dar um novo fô l ego para essa temá t ica . E , sobretudo ,

demons t ra r que a l e i t u ra da t rad i ção c l áss i ca não es tá sendo

descar tada , mu i t o pe l o cont rá r i o , e l a é v i s ta como uma opção ,

e não somente a ún i ca opção .

R E F E R Ê N C I A S

AMORIM, Lauro Ma ia . Tradução e adaptação : encruz i l hadas da

t ex tua l i dade em A l i ce no Pa ís das Marav i l has , de Lew is Car ro l ,

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BRANDÃO, Jun i t o de Souza . M i t o l og ia grega : vo l ume I I I .

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BURKERT , Wa l t er . M i t o e m i to l og ia . Tradução de Mar ia He l ena

da Rocha . L i sboa : Ed . 70 , 199 1 .

CALVINO, Í ta l o . Por que l er os c l áss i cos . Tradução de N i l son

Mou l i n . São Pau l o : Companh i a das Let ras , 1993 .

E ISNER , Wi l l . Quadr i nhos e a r te sequenc ia l . Tradução de Lu í s

Car l os Borges . 3 . ed . São Pau l o , SP : Mar t i ns Fontes , 1 999 .

EL IADE, M i rcea . M i t o e rea l i dade . Tradução de Po l a C ive l l i . São

Pau lo : Perspect i va , 1972 .

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GRAVES , Rober t . Os m i tos gregos : vo lumes 1 e 2 . Tradução de

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Tradução de Joana Angé l i ca D ’Av i l a Me lo . São Pau l o : WMF

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