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118. Encontrava-se Maria santíssima, na hora em quechegou o anjo Sâo Gabriel, puríssima na alma, perfeitís

 sima no corpo, nobilíssima nos pensamentos, sublime na

 santidade, cheia de graça, toda divimzoda e agradável 

aos olhos de Deus. Deste, modo pôde ser digna Mae sua

t eficaz instrumento para atraí-lo do seio do Pai ao seuvirginal ventre.

 Ela foi o poderoso veiculo de nossa redenção, que lhe

 ficamos devendo por muitos títulos. Merece, portanto, que

todos os povos e gerações (Lc. 1, 48) a bendigam e eter-

namente a louvem.Mística Cidade de Deus - 2*Tomo - Cmp* 10

Podidos ao:

Mosteiro Portaceli94001-970 - Poma Grossa - Paraná

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Impressão e Acabamento:- .

Gráfica Lagoa Dourada

Av Mo ntei ro Loba to, 1265 - Jardim Ca rv alh o

e-maíi: graf 1c al ag oa ^u ol ,co m.b r - Fone/Fax: (42) 322 3-8 259

Ponta Grossa - Paraná. • • • • • . • • • • • . . . • • ' • •:

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Registro; 2vS4.420 Livro: 514 Folha: 80 da Fundação BIBLIOTECA NACIONAL/RJFicha catalográtíca elaborada pela Biblioteca Central - UEPG/Pr.

Agreda, Soror Maria deA27? Mística cidade de Deus (Obra clássica do séc.XVII): 1655-

l6607Soror Maria de Ágreda; tradução de Irmã EdwigesCaleíTi.2.cd. Ponta Grossa, Mosteiro Portaceli, 2000.

4v. II 

Conteúdo : v. 1. Maria no Mistério da Criação, v. 2. Maria noMistério de Cristo, v.3. Maria no Mistério da Redenção.v.4 Maria no Mistério da Igreja

1- Religião. 2- Maria - mãe de Jesus. 3- Maria - Mistérios.

CDD: 232.91

Direitos reservados ao Mosteiro Portaceli

MÍSTICA CIDADE DE DEUS

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SOROR MARIA DE ÁGREDA

MÍSTICACIDADEDE DEUS

(Obra clássica do séc. XVII)

1655 - 1660

VIDA DA VIRGEM MÃE DE DEUS

SEGUNDO TOMO4a Edição

Maria no Mistério de Cristo(na vida ocul ta de Jesus)

Edição brasileira em 4 Tomos

Tradução de Irmã Edvviges Caleffida Ordem da Imaculada Conceição

Mosteiro PortaceliPonta Grossa - Paraná - Brasil

Ano 2011

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MÍSTICAdo: fu Omrapotenc ia V a K f lde, la cfram o 3 H I S T O Ê i D I V I N A ,

cí e J JÍos.Reyuâ»y S o n o r a s ,

n ucítLOUNLARÍASantifíuReJtauraciora^ de, ta culpa.de>Eua,V niecuanera.de»!ag&cia

 jDicfcada.y m"iiiif3uaa eneítos vlürrvosSoJos p°r  mifina €>enor». a lu d x l a u a S o r  &AJOA deIE^SAWefa.mdlg^áHc h e C o n u c n t o d c I A lrrmaruI AcL^Cori-

' ccpc í o n dl c 1 i"Vi 11a a c vlgrc^j5aca. nu cua 1 u»

Primeira pagina do manuscrito original, ate hoje conservadono Mosteiro Concepcionista dc Ágreda — Espanha.

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MÍSTICA CIDADE DE DEUS

MILAGRE DE SUA ONIPOTÊN-

CIA E ABISMO DA GRAÇA.

HISTÓRIA DIVINA E VIDA

DA VIRGEM MÃE DE DEUS, RAI-

NHA E SENHORA NOSSA MARIA

SANTÍSSIMA RESTAURADORA

DA CULPA DE EVA E MEDIANEI-

RA DA GRAÇA.

Ditada e manifestada nestes últi-

mos séculos pela mesma Senhora àsua escrava Soror Maria de Jesus,

humilde Abadessa deste Convento da

Imaculada Conceição da Vila deÁgre-

da, para nova luz do mundo, alegriada Igreja Católica e confiança dos

mortais.

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Ilustrações pelas Irmãs Servas do Espirito Santo.Extraídas da edição alemã, 1954

Capa: "Nossa Senhora da Confiança"Escultura de F. Maria Bernard

Agradecimentos da Tradutora:

- às minhas cô-irmãs que colaboraram naimpressão deste 2o Tomo, com sua fra-

terna e dedicada laboriosidade.

- aos estimados amigos Paulo Schiniegos-ki e sua irmã Beatriz que transcreveram osoriginais em computador e forneceram odisquete.

Direitos reservados ao Mosteiro Portaceli

/ 3 . 9 f  

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INTRODUÇÃO

À SEGUNDA PARTE DA DIVINA HISTÓRIA EVIDA SANTÍSSIMA DE MARIA, MÃE DE DEUS.

 A Escritora consulta a vontade de Deus para continuar a composição da obra.

1. Terminada a primeira parte da Vidasantíssimade Maria Mãe de Deus, ofeao Senhor o pequeno serviço de a ter escrito; para que a corrigisse com a divina lumediante a qual a havia composto, apesar de minha ignorância; e àe me ordencontinuar ou suspender obra tão superior à minha capacidade. A esta proposição,respondeu-me o Senhor: Escreveste bem e nos agradamos com isso. Quero, porém,entendas que para manifestar os altíssimosmistérios encerrados no restant de nossa única e dileta Esposa, Mãe de nosso Unigênito, necessitas de nova e maior disposição. Queremos que morras a tudo quantoé imperfeito e visível, e vivas seguno espírito; que todas as tuas operações e costumes não sejam de criatura terrena m

 sim de anjo, com maior pureza e semelhança com o que irás entender e escrev

Temores da Escritora

2. Por esta resposta doAltíssimo compreendi que me era exigido tão novo mode praticar as virtudes, e tão alta perfeição de vida e costumes que, desconfiando demim mesma, fiquei perturbada e temerosa de empreender negócio tão árduo e 

 para uma criatura terrena. Senti grandes combates entre a carne e o espírito. Este mchamava com interior energia, impelindo-me a procurar a grande disposição que meera pedida, apresentando-me os motivos do maior agrado do Senhor e meu interesse.

 A lei do pecado que sentia em meus membros (Gat 5,17; Rom 7,23), pelo contráriome contradizia e se opunha ã divina luz, criando-me desconfiança e temores deinconstância. Este conflito eraforte rêmora que me detinha e covardia que me ater 

Tal perturbação me fazia mais crível que eu não era idôneapara tratar de coisaselevadas, ainda mais sendo elas tão alheias â condição e ofício de mulheres.

 Resolve não continuar a obra

3. Vencida pelo temor e dificuldade, determinei não prosseguir esta obra, e usar de todos os meios possíveis para conseguí-lo. Percebeu o comum inimigo

I

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Introdução

e covardia, e como suapéssima crueldade se enfurece mais contra os fracos e despro-tegidos, aproveitando a ocasião, assaltou-me com incrível sanha, parecendo-lhe queme achava desamparada de quem me podia livrar de suas mãos. Para disfarçar suamalícia procurava transformar-se em anjo de luz, fingindo-se muito zeloso de minhaalma e acerto. Sob este falso pretexto, lançava-meporfiadamente contínuas se pensamentos. Ponderava-me o perigo de minha condenação, ameaçava-me com

tigos semelhantes ao do primeiro anjo (Is 14, 10), pois representava-me que eudesejara soberhamente compreender, contra a vontade de Deus, o que estava acimade minhasforças.

Oposição dodemônio

4. Propunha-me o exemplo de muitas almas que, professando virtude, tinham sido enganadas por alguma oculta presunção, consentindo nos enganos da serpente.^ 

 Do mesmo modo, esquadrinhar eu os segredos da Majestade divina (Prov 25, 27) só podia resultar de presumida soberba na qual estava metida. Encareceu-me que ostempos presentes eram muito impróprios para estes assuntos. Confirmava-o com scessos de pessoas conhecidas que foram encontradas em engano; com o terror queoutras cobraram para empreender a vida espiritual; com odescrédito que ocasionaqualquer coisa desedificante em mimeamá impressão que teriam os de pouca piedade.Tudo isto eu haveria de experimentar para meu dano, se prosseguisse escrevendo sobretais matérias. Isto prova que a oposição à vida espiritual e a depreciação do mund 

 pelos carismas místicos, vem a ser obra deste mortal inimigo. Para extinguir a devoçã

e piedade cristã em muitos, procura enganar alguns e semeia sua cizânia entre a pura semente do Senhor  (Mat 13, 25), para escurecê-la, deformar-lhe o verdadeiro sentidoe tornar mais difícil o discernimento entre as trevas e a luz. Desta dificuldade não meadmiro, pois é oficio de Deus e de quem participa da verdadeira sabedoria e não se

 governa apenas pela sabedoria terrena.

O perfeito discernimento dosespíritos é raro.

5. Não é fácil na vida mortal discernir entre a verdadeira e a falsa prudência,e às vezes até a boa intenção e o zelo levam o julgamento humano a se enganar, se lhe falta o acordo e luz do alto. Tive ocasião para conhecer isso no que vou dizendo.

Certas pessoas conhecidas e devotas; algumas que por sua piedade me estima-vam desejando meu bem; outras com desprezo e menos afeto; procuraram, ao mesmotempo, afastar-me desta ocupação e até do caminho que trilhava, como se fora esco-lhido por  mim. Não me perturbou pouco o inimigo por meio destas pessoas, porque omedo de algum descrédito que podia produzir aos que comigo praticavam a piedaà minha Ordem religiosa, aos parentes, e em particular ao convento onde vivo, dava-

lhes cuidado e a mim aflição. Inclinava-me muito à segurança que, me parecia, hade gozar seguindo o caminho ordinário das demais religiosas. Confesso que isto sajustava mais à minha vontade, natural inclinação e desejo, e mais ainda à minhatimidez e grandes temores.

 Perplexidade da Escritora

6. Flutuando meu coração entre estas impetuosas ondas, procurei alcançar  

 porto da obediência, que podia me oferecer segurança no mar amargo de minha co fusão. Mas, para que minha tributação fosse maior, aconteceu nessa ocasião estaremtratando na Ordem de investir de cargos superiores a meu prelado epai espiritual. Há

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Introdução

muitos anos que ele dirigia meu espirito, conhecia meu interior e suas dificuldades,e me ordenara que escrevesse tudo que fora combinado, prometendo-me, mediante suadireção, acerto, paz e conforto. Não se realizou o que pretendiam, mas ficando nessaocasião ausente por muitos dias, de tudo se valia o grande dragão (Apoc 12,15) paraderramar contra mim o furioso rio de suas tentações. Deste modo, nesta ocasião comoem outras, trabalhou com malícia extrema, embora inutilmente, para me desviar da

obediência e instrução de meu superior e mestre.

Vexaçôesdiabólicas espirituais e corporais

7. A todas às contradições e tentações que digo e outras muitas que não possoreferir, acrescentou o demônio tirar-me a saúde do corpo, causando-me muitosques, indisposição e descontrolando-me toda. Instilou-me invencível tristeza, pertubou-me acabeça, eparece que desejava obscurecero entendimento, impedira reflexão

debilitar a vontade e trasfegar-me completamente na alma e no corpo. Isto aconteceu porque, no meio desta confusão, cometi algumas faltas e culpas, para mim muito graves,ainda que foram menos demalíciaque de fragilidade humana. Valeu-se delas a serpente

 para destruir-me, mais do qualquer outro meio. Tendo-me cerceado a atividade dasboas operações para me fazer  cair, depois libertou-me e empregou seu furor para quecom maior ponderação eu conhecesse as faltas que cometera. Nisto ajudou-me aindacom ímpias e mui subtis sugestões, querendo me persuadir que tudo quanto haviaacontecido comigo no caminho espiritual que percorro, era falso e mentiroso.

Tentações com falsa aparência de virtude

8. Como esta tentação vinha com tão aparente cor de virtude, resistia-lhe menosdo que às outras, em conseqüência tanto das faltas que cometera como de meus con-tínuos temores e sobressaltos. Não desfalecer inteiramente na esperança do s

 foi singular misericórdia do Senhor. Apesar  disso, encontrei-me tão submergidaconfusão e trevas que, posso dizer, cercaram-me os gemidos da morte, envolveram-meas dores do inferno (SI 17, 5, 6) levando-me à beira do abismo. Resolvi queimar os

manuscritos da primeira parte desta divina história, e não prosseguir a segunda. A esta resolução, inspirada por satanás, ele acrescentou também a sugeme afastar de tudo: que não cuidasse mais de caminho e vida espiritual, não cogitassemais de vida interior nem a tratasse comninguém; deste modo poderia fazer penitêncide meus pecados, aplacando o Senhor irritado comigo.

 Para garantir mais sua dissimulada iniqüidade, propos-me fazer voto de nescrever e assim me livrar do perigo de ser enganada e enganar; que corrigisse minhavida, evitasse imperfeições e abraçasse a penitência.

 Intuitosdiabólicos

9. Com esta máscara de aparente virtude, pretendia o dragão acreditar secondenáveis conselhos e cobrir-se de pele de ovelha, sendo sangrento e carnilobo. Continuou algum tempo neste combate, e estive particularmente quinze dias emtenebrosa noite, sem sossego nem consolo divino ou humano. Sem este, porque me

 faltava o conselho e alívio da obediência; sem aquele, porque o Senhor havia suspen-dido o influxo de seus favores, as inteligências e contínua luz interior.

 Além de tudo, oprimia-me a falta de saúde, e com ela a persuasão de que seaproximava a morte e o perigo de minha condenação. Tudo isto tramava e representavao inimigo.

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Introdução

Os efeitos da ação diabólica traem sua procedência

10. Como, porém, seus sabores são tão amargos e todos acabam em desesperaçâo, apropria turbação que alterava todo o conjunto de minhasfaculdades ehábiadquiridos, me inclinou a não fazer coisa alguma das que me propunha. Valia-me

continuamente do temor que me mantinha crucificada sobre se ofenderia a Deus e perderia sua amizade, por me aplicar, sendo tão ignorante, às coisas divinas das quaisme devia recear.

 Este mesmo temor me fazia duvidar de quanto o astuto dragão me sugeria e,duvidando não lhe dava consentimento. Ajudava-me também o respeito à obediêncique me havia mandado escrever, e resistir e anatematizar quanto de contrario a isso

 sentisse em minhas sugestões e persuasões. ^ 

 Acimadetudo, era a oculta proteção doAltíssimo que me defendia, enao querientregar às feras a alma que no meio de tais tribulações (ao menos com gemidos e

 suspiros) a Ele recorria. Não tenho palavras para encarecer as tentações, combates, desconsolos, des-

 peitos e aflições que nesta batalha padeci. Vi-me em tal estado que, a meujuízo, entreele e o dos condenados, interiormente, não havia outra diferença senão de que ninferno não há redenção, e no outro podia haver.

 A Escritora recorre a Deus eé ouvida

11. Num desses dias, para respirar um pouco, clamei do fundo de meu coraçãodizendo: Ai de mim, que em tal estado cheguei, e ai da alma que nele se encontrar 9Onde irei, se todos os portos de minha salvação estão fechados? Logo me respondeuuma voz forte e suave, em meu interior; Onde queres ir fora de Deus? Senti, nestaresposta, que meu socorro estava preparado no Senhor. Com o alento desta luz comeceia me levantar daquele confuso abatimento em que me via oprimida, sentindo uma  forçaque me afervorava nos desejos e em atos de fé, esperança e caridade. Humilhei-me presença doAltíssimo e, com firme confiança em sua infinita bondade, c

culpas com amarga contrição. Confessei-me delas muitas vezes, e com suspiros dointimo de minha alma, fui em busca de minha antiga luz e verdade. Como a divina

Sabedoria se antecipa a quem a chama (Sab 6,17), saiu-me ao encontro com alegre semblante e serenou a noite de minha confusa e dolorosa tormenta.

Termina a lata espiritual 

12. Amanheceu-me o claro dia que eu desejava, e voltei à posse de minha tran-

qüilidade, gozando adoçurado amor epresença de meu Senhor. Nela conheque tinha para crer, aceitar e reverenciar os benefícios e favores que seu poder braço em mtm operava. Agradeci-lhos quanto pude; compreendi quem sou eu queme Deus e o que pode a criatura sozinha sendo nada, porque nada é o pecado Por outrolado vi quanto pode, se elevada e sustentada peta divina destra que sem dúvida é muito mais do que imagina nossa capacidade terrena.

Vencida pelo conhecimento destas verdades, na presença da luz inaces(grande forte sem engano nem doto), desfazia-se meu coração nessa inteligência emdoces afetos de amor, louvor e agradecimento. Fora ela que me guardara e defendera

%n?JZ m£ ha ,lUZ  " â°J e extiW iss* (*™  % m durante a confusa noite demThastentações. Nesta gratidão apegava-me ao pó, humilhando-me até a terra

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Introdução

 Recebe novas luzes espirituais

13. Para ratificar este beneficio recebi,' em seguida, uma interior exortação, sem ter clara visão de quem procedia. Repreendia severamente minha deslealdade emau proceder e, ao mesmo tempo, comamável majestade admoestava-me, esclarecime, deixando-me corrigida e instruída. Deu-me novas inteligências sobre o bem e

mal, a virtude e o vício, sobre o certo, útil, bom, e do que lhe ê contrário. Moso caminho da eternidade, dando-me notícia dosprincípios, meios efins, do avida eterna e da infeliz miséria e pouco lembrada desdita da eterna perdição.

 Esperança e temor 

14. No profundo conhecimento destes extremos, emudeci e fiquei quase trans-tornada pelo temor e desalento de minha fragilidade e o desejo de conseguir o que não

merecia, por me achar semméritos.A piedade e amisericórdia doAltíssime o temor de perdê-la me afligia. Via a eternaglória e a eterna pena, os dois fins tãoopostos da criatura. Para conseguir um e evitar o outro me pareciam leves todas as

 penas e tormentos do mundo, dopurgatório eaté do inferno. Entendia que a criadispõe, com toda a certeza e segurança, do favor  divino. Não obstante, com a mesluz compreendia que a morte e a vida estão em nossas mãos (Ecli 15, 18) , que nossamalícia ou fraqueza pode inutilizar agraça, e que aárvorepermanece

 por  toda a eternidade onde cair. Aqui desfalecia de dor, cuja amargura transpassavameu coração e minha alma.

 Decisão absoluta pela virtude

15. Aumentou sumamente esta aflição uma enérgicapergunta que o Senhor dirigiu. Achava-me tão aniquilada no conhecimento de minhafraqueza eperigo, epeloquanto ofendera suajustiça, que não me atrevia a levantar os olhos em suaprese

 Naquele aniquilamento, dirigi meus gemidos à suamisericórdia. Respondeu-me dido: Que queres, alma? Que procuras? Qual destes caminhos escolhes? Qual tua reso-lução?

 Estas perguntas foram uma flecha para meu coração, e apesar de saber comcerteza que o Senhor conhecia meu desejo melhor do que eu mesma, a pausa entre a pergunta e a resposta era de incrível dor. Teria preferido que, sepossível, o Seantecipasse e não se mostrasse ignorante do que eu haveria de responder.

 Impelida, porém, por  uma grandeforça, clamei interiormente e disse: Sene Deus todo poderoso, escolho e desejo a senda da virtude, o caminho da eternidadena vida, por onde me guiais. Se nãomereçode vossa  justiça, apelo à vossamiser e apresento em meu favor  os infinitos merecimentos de vosso Filho santíssimo eredentor Jesus Cristo.

 Deus aceita a escolha e apresenta condições

16. Compreendi então que este sumo Juiz lembrou-se da palavra dada à sual&^ja, de conceder quanto se lhe pedisse em nome de seu Unigênito (Jo 16, 23).Segundo meu pobre desejo, n1 Ele e por Ele era concedida minha petição, sob certascondições declaradas por uma voz intelectual, que me disse interiormente: Alma, cria-da pela mão do onipotente Deus, se pretendes ser escolhida para seguir o caminho da

verdadeira luz, e chegar a ser caríssima esposa do Senhor que te chamou, convé  guardes as leis e preceitos do amor que de ti Ele quer.

V

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Introdução

O primeiro será negar efetivamente a ti mesma e a todas tuas inclinações ter-renas, renunciando a todo e qualquer amor do que é transitório; não deves amar  aceitar amor de nenhuma criatura, por mais útil, formosa e agradável que tep De nenhuma conservarás lembrança ou afeição, nem tua vontadedeve

coisa criada, mais do que for  ordenado por teu Senhor e Esposo, para aprática dacaridade bem ordenada, ou enquanto te possam ajudar a amar somente a Ele.

Completa renúncia

17. Quando estiveres cumprido perfeitamente esta negação e renúncia, e  ficar livre e só, afastada de todo o terrestre, deseja o Senhor que, com asas de pomba, elevesvelozmente o vôo a um alto estado, no qual sua dignaçâo quer colocar teu espí 

 para que alipermaneças e tenhas morada. Este grande Senhor é esposo zelosis

(Ex 20, S) e seu amor e ciúmes, fortes como a morte (Cant 13, 6). Deste modo te qu guardar em lugar seguro para dele não saíres, e te afastar de onde não teconvé  para gozares de seus carinhos. Quer também determinar pessoalmente com quem podete comunicar sem receios, e esta leijustíssima deve ser observada pelas Esposastão grande Rei, pois até as do mundo (para seremfiéis) a seguem.

 A nobreza de teu Esposo exige que te mantenhas à altura da dignidade e títuloque d'  Ele recebes, sem atenderes a coisa alguma que seja indigna de teu estado, e tetorne incapaz do adorno que Ele te darápara entrares em seu tálamo.

 Segunda condição

18. Em segundo lugar quer que, diligentemente, te despojes da vileza dos an-drajos de tuas culpas e imperfeições, imundos pelos efeitos do pecado, e repugnantes

 pelas inclinações da natureza. Quer lavar tuas manchas, purificar-te e reformar-tecom sua formosura. Não obstante, nuncadeverásperder de vista as vis e pobres vestede que te despojam, para que a lembrança desse benefíciofaça o nardo da humildade desprender suave perfume para este grande Rei. Jamais esqueças obrigação que deves ao Autor de tua salvação que, com o precioso bálsamo de se

 sangue, quis purificar-te, curar tuas chagas e copiosamente iluminar-te.

Terceira condição. O traje daperfeição espiritual 

19. Depois de tudo isto (acrescentou aquela voz), esquecida de todo o terrestre, para que o sumo Rei cobice tua formosura (SI 44, 11), quer que te adornes com as jóias que se agradou tepreparar: a veste, que tecobrirá inteiramente, serámais

do que a neve, mais refulgente que o diamante, mais resplandecente que o sol, mas tãodelicada que, se te descuidares, facilmente amancharás. Se istoacontecer,des

a teu Esposo, mas se a conservares na pureza que Ele deseja, teus passos serão for-mosíssimos (Cant 7, 1) como os dafilha doPríncipe, e Sua Majestade se teus afetos e ações. Por cinto deste vestido, comunica-te o conhecimento de seupoder divino e o santo temor a fim de que, cingidas tuas inclinações, te ajustares ao seuagrado. As jóias e colar que adornarão o colo de tua humilde submissão, serão as

 pedras da fé, esperança e caridade. Aos altos e eminentes cabelos de teus pensamene divinas inteligências, servirá de diadema a sabedoria e ciência infusa que te comu-nica, e toda a beleza e riqueza das virtudes será o realce que adornará teu traje. sandálias te servirá a solícita diligência em fazer  o mais perfeito, e os l calçado serão a atenção e vigilância que te guardarão do mal. Osanéis qubelas tuas mãos, serão os sete dons do divinoEspírito. O resplendor de teu rosto s

VI

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Introdução

a participação cia divindade que pelo santo amor te iluminará. De tuaparte acresctará* o rubor da confusão por  tê-lo ofendido, e sirva-te de brio, para não voltar aofendê-lo, a comparação entre o grosseiro e desprezível traje que deixastet  co

 formoso que recebes.

0 dote da esposa

20. Já que pelo teupróprio haver ésmiserável e pobrezinha para tã posório, quer oAltíssimo tornar mais  firme este contrato, dando-te pordote os imerecimentos de teu esposo Jesus Cristo, como se existissem para ti só. Faz-te parti-cipante de sua riqueza e tesouros que contém tudo quanto encerram os céus e aTudo é propriedade deste supremo Senhor (Est 13,11) e de tudo serás senhora, comesposa, de tudo usando para Ele mesmo, e para mais amá-lo. No entanto lembra-t 

aima, que para conseguir tão raro beneficio, teu Senhor e Esposo quer que te recolhastoda dentro de ti mesma, sem jamais deixares teu interior, porquanto - aviso-te do perigo - mancharás esta formosura com qualquer pequena imperfeição. Se por  queza a cometeres, levanta-te logo com energia, e chora arrependendo-te de tua pe-quena culpa como se fora a mais grave.

O mundo da vivência espiritual 

21. Para que também tenhas habitação conveniente a tal estado, não quer  t  Esposo restringir  tua morada. Apraz-lhe, pelo contrário, entregar para habitares intermináveis espaços de sua divindade, e aí espaireceres nos imensos camatributos e perfeições. Neles a vista se estende sem encontrar horizonte, a vontade sedeleita sem preocupação e o gosto se sacia sem amargura. Este é o sempre ameno paraíso onde se recreiam as esposas caríssimas de Cristo, onde colhem as flomirra fragrantes e onde se encontra o iodo infinito, por se haver renunciado ao imper-

 feito nada . Aqui habitarás com segurança. Tua convivência e conversaçãoos anjos, tendo-ospor amigos e companheiros, e de sua  freqüente conversação e tracopiarás e imiiarás suas virtudes.

Taisgraças são recebidas pela intercessão de Maria Ssma.

22. Adverte, alma, (continuou a voz) na grandeza deste beneficio. A Mãe de teu Esposo e Rainha dos céus te adota novamente por sua filha, te recebe por discípu se constitui tua Mãe e Mestra. Por sua intercessão recebes tão singularesfavores, osquais te são concedidos para escreveres suasantíssima Vida. Por este motivo receo perdão que não merecias, e te é  concedido o que, se não fora essa missão, nãoreceberias.

Que seria de ti se não fora a Mãe de piedade? Já terias perecido se suaintercessão tefaltasse. Ese, pela divina condescendência, não tivesses sido escolhida

 para escrever estaHistória, pobres e inúteis seriam tuas obras. No entanto, tendo em vista estefim, o eterno Pai te escolhepor suafilha e esposa

de seu Filho unigênito, o Filho te recebe para participares de seus estreitos amplexos,e oEspírito Santo para gozares de suas iluminações.

 A escritura deste contrato e desposório, escrita pelo dedo doAltíssimimpressa no alvo papel  da pureza de Maria santíssima, com a tinta do sangue Cordeiro. O executor  é o Pai eterno, o vínculo que te unirá com Cristo é o divi Espírito, e o fiador serão os méritos do mesmo Jesus Cristo e sua Mãe, pois tu é vil bichinho, nada tens para oferecer, e só te é pedida a vontade.

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Introdução

 A escritora recebe nova ordem para escrever 

23. Até aqui chegou a voz e admoestação que me foi dada. Julgava ser de umanjo, mas não sabia ao certo, porque não o via como noutras vezes. O revelarem-seou encobrirem-se estes favores, depende da disposição da alma que os recebe, como

 sucedeu aos discípulos deEmaús (Luc 24, 16).Outros muitos sucessos se me ofereceram para vencer a oposição da serpente

na composição desta divinaHistória; referi-las agora seria alongar muito. Continueialguns dias em oração pedindo ao Senhor me dirigisse e ensinasse para não errar,expondo-lhe minha insuficiência e retraimento.

 Mandou-me o Senhor que ordenasse minha vida com toda pureza e grande perfeição e continuasse o quecomeçara. A Rainha dos anjos, principalmente, intimome sua vontade muitas vezes com grande doçura e carinho, mandando-me que, como

 filha, lhe obedecesse em escrever sua vida santíssima como havia começad 

 Recorre à obediência

24. A tudo isto, quis ajuntar asegurança da obediência e, sem manifestar o qentendia do Senhor e de sua Mãe santíssima, perguntei ao prelado e confessor o qme ordenava fazer nestamatéria. Respondeu mandando-me, por obediência, que es-crevesse continuando a segunda parte.

Vendo-me obrigada pelo Senhor e pela obediência, voltei àpresença doAlt  simo na oração. Despindo-me de qualquer vontadeprópria, no conhecimento de minha pequenez  e perigo de errar, prostrada ante o divino tribunal, disse ã sua Majestade:Senhor  meu, Senhor meu, o que quereis fazer de mim?

 A esta proposição tive a inteligência do que segue:

 Maria intercedepor sua serva

25. Pareceu-me que a divina luz da beatíssima Trindade me revelava pobr cheia de defeitos e, repreendendo-me por  eles, com severidade me admoestava, dan-do-me altíssima doutrina e salutares instruções para aperfeição da vida. Para istofui

 purificada e iluminada novamente.Conheci que a Mãe dagraça, Maria santíssima, estando presente ao tr 

divindade, intercedia por mim. Com aquele amparo animei minha confiança e valendo-me da clemência de tal Mãe, voltei-me para Ela e disse só estas palavras: MinhaSenhora e meu refúgio, socorrei, como verdadeira Mãe, a pobreza de vossa escrava.

 Pareceu-me que ouvia a minhasúplica, e quefalando com o AItíssimo lhe Senhor  meu a esta inútil e pobre criatura quero receber de novo por filha e adotá-

 para mim (ação de Rainha liberalissima e poderosa).

 Respondeu-lhe, porém, oAltíssimo: Esposa minha, para tão grande favor esse, que alega essa alma de sua parte, pois não o merece, sendo bichinho inútil e

 pobre, ingrata a nossos dons?

 A escritora almeja ser escrava de Maria

26. Oh f incomparável poder da divina palavra! Como explicarei os efeitos me causou esta resposta do Todo-poderoso? Humilhou-me até o meu nada, conheci amiséria da criatura e minhas ingratidões para com Deus, e desfazia-se meu coraçãoentre a dor de minhas culpas e o desejo de conseguir aquela imerecida e grande feli-cidade de ser filha desta soberana Senhora.

VIII

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Introdução

 Recebegraçaspara sua missão

30. Não é possível explicar  o que sente a alma em tais mistérios e ben Este foi de grandes bens para a minha, pois logo se me transmitiu grande perfeiçãode vida e obras, que me faltam termos para explicar conforme entendi.

 Disse-me oAltíssimo que tudo me era concedido por Maria santíssimde escrever sua Vida. Conheci que, confirmando o Eterno Pai este favor, escolhia-me para manifestar os sacramentos de sua Filha; oEspírito Santo com sua influêncialuz, para declarar os ocultos dons de sua Esposa; e o Filho santíssimo me destin

 para revelar osmistérios de sua Mãe, a imaculada Maria. Para me dispor a esta obra, conheci que a beatíssima Trindade iluminav

banhava meu espirito com especial luz da divindade, e que o poder divino me tocavaas faculdades como um pincel e as iluminava com novos hábitos para realizar ato

 perfeitos nestamatéria.

 Deverá imitar Nossa Senhora

31. Mandou-me também oAltíssimo que com todo desvelo procurasse iquanto conseguissem minhas fracasforças, tudo que entendesse e escrevesse sobre asvirtudes heróicas e atos santíssimos da divina Rainha, ajustando minha vimodelo.

 Reconhecendo-me tão inapta como sou para cumprir esta obrigação, a mesmaclementíssima Rainha ofereceu-me novamente seu auxilio e ensino para tudo o q

 Altíssimomandava e me destinava. Pedi a bênção dasantíssima Trindade para a segunda parte desta divina História e entendi que a recebia de cada uma das três Pessoas.

Saindo desta visão, procurei lavar minha alma com os Sacramentos e a contri-ção de minhas culpas e, em nome do Senhor  e da obediência, pus mãos à obra, paraa glória doAltíssimo e de sua Mãe santíssima, a sempre imaculada Virge

 Resumo da segunda parte da obra

32. Esta segunda parte compreende a vida da Rainha, desde o mistério d  Encarnaçâo até a subida de Cristo, Senhor nosso, aos céus, inclusive.Além é oprincipal, contém toda a vida emistérios do mesmo Senhor, com sua paixão e santíssima.

 Aqui só quero advertir que osbenefícios egraças concedidas à Mariasacom oftm deprepará-la aomistério daEncarnaçâo, principiaram desd 

 sua imaculada conceição, porque então, na mente e decreto de Deus, já era Mãe doeterno Verbo.

 Na medida, porém, em que se aproximava o fato daEncarnaçâo, iam cr 

os dons e favores da graça. E, ainda que estespareçam, desde oprincípio,uma mesma espécie e gênero, iam aumentando e crescendo, e eu não tenho termonovos e diferentes, adequados a estes aumentos e novos favores.

 Assim, é necessário em toda esta História, remeter-nos ao infinito poSenhor que, dando muito, lhe fica infinito que dar Por sua vez, a capacidade da alma,e muito mais a da Rainha do céu, tem seu gênero de infinidade para receber cada vez mais, como a Ela aconteceu, até chegar ao cúmulo da santidade e participação dadivindade, como nenhuma outra criatura chegou, nem chegarájamais. O mesmo Se-nhor me ilustre para prosseguir esta obra com seu divino beneplácito.Amém.

X

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SEGUNDA PARTE

da divinahistória da Rainha do céu

MARIA SANTÍSSIMA

Contém osmistérios desde aEncarnaçâem seu virginal seio, até a Ascensão do Senhor ao céu.

TERCEIRO LIVRO

desta divina história e primeiro da segunda parte.

CONTÉM A ALTÍSSIMA DISPOSIÇÃO QUE O TODO-PODEROSOOPEROU EM MARIA SANTÍSSIMA PARA A ENCARNAÇÂO DO VERBO;

O QUE SE REFERE A ESTE MISTÉRIO; O EMINENTÍSSIMO ESTADOEM QUE FICOU A FELIZ MÃE; A VISITAÇÃO A SANTA ISABELE SANTIFICAÇÃO DO BATISTA; A VOLTA À NAZARÉ E UMA

GRANDE BATALHA QUE TRAVOU COM LÚCIFER.

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CAPÍTULO 1

DURANTE NOVE DIAS PRECEDENTES, COMEÇAO ALTÍSSIMO A DISPOR MARIA SANTÍSSIMA PARA

O MISTÉRIO DA ENCARNAÇÂO. DECLARA-SEO QUE SUCEDEU NO PRIMEIRO DIA.

Vida oculta de Maria Santíssima Atração por Maria

1. Estabeleceu o Altíssimo nossaRainha e Senhora em meio aos deveresde esposa de São José e da convivênciasocial, para sua ilibada vida ser  a to-dos exemplo de suma santidade. Encon-trando-se a divina Senhora neste novoestado, planejou tão altamente e or-

ganizou os atos de sua vida com tal sa- bedoria, que foi admirável emulação para a angélica natureza e magistérionunca visto para a humana. Poucos a co-nheciam e menor ainda era o númerodosque com Ela tratavam; estes, mais feli-zes, recebiam divinas influências da-quele céu vivente. Com admirável

 júbilo e peregrinos conceitos, queriam publicar altamente a luz que se lhesacendia no coração, sentindo que a re-cebiam dapresença de Maria puríssima.

 Não ignorava a prudentíssimajRainhaestes efeitos da mão do Altíssimo, masnão era tempo de confiá-los ao mundo,nem sua profundíssima humildade oconsentia. Continuamente pedia aoAltíssimo a escondesse dos homens, eque todos os favores de sua destra

redundassem somente em Seu louvor.Quanto à Ela, permitisse fosse igno-rada e desprezada de todos os mortais,

 para não ficar lesada sua infinita bon-dade.

2. Grande parte destas súplicas desua Esposa eram atendidas pelo Senhor,dispondo por sua providência que a mes-ma luz emudecesse aos que se inclinavama enaltecê-la. Movidos pela virtude divi-na, recolhiam-se e louvavam o Senhor 

 pelo que interiormente sentiam. Com esta

secreta admiração, suspendiam o julga-mento e deixando a criatura voltavam-seao Criador. Muitos, só ao vê-la, abandona-vam o pecado, outros melhoravam a vida,e todos se compunham em sua presença,mediante as celestiais influências quesuas almas recebiam. Em seguida, logo seesqueciam do original que as produzia,

 porque, se conservassem sua imagem elembrança, ninguém conseguiria afastar-

se d'Ela, e se Deus não o impedisse, todosa procurariam ansiosamente.

Suas virtudes antes da Encarnaçâo

3. Nas obras que tais frutos produ-ziam e em aumentar os méritos e graçasdonde tudo procedia, ocupou-se nossa

Rainha, esposa de José, durante seis me-ses e dezessete dias, desde seu desposórioaté a Encarnaçâo do Verbo. Não me possodeter a referir pormenorizadamente os he-róicos atos de suas virtudes interiores e

3

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Terceiro Livro • Capítulo 1

exteriores: caridade, humildade, religião,esmolas, benefícios e outras obras demisericórdia, porque tudo excede à penae à capacidade. O melhor modo de as tra-duzir, é dizer que o Altíssimo encontrouem Maria santíssima a plenitude de seu

agrado e desejo, e a inteira cor-respondência de pura criatura a seu Cria-dor. Vendo esta santidade e mere-cimentos, Deus sentiu-se como que obri-gado (a nosso modo de entender) a apres-surar o passo e a estender o braço de suaonipotência, na realização da maior dasmaravilhas que nem antes nem depois se-ria vista: assumir o Unigênito do Pai carne

humana nas virginais entranhas desta Se-nhora.

Inexplicável a preparação de Mariapara a Encarnaçâo.

4. Para executar esta obra com odecoro digno de Deus, Maria santíssima

foi por Ele preparada de modo especial,durante os nove dias que imediatamente precederam ao mistério. Soltou a corren-teza (SI 45, 5) do rio da divindade, parainundar com seus influxos a esta cidadede Deus, comunicando-lhe tantos dons,graças e favores que, ao conhecê-los,emudeço. Minha baixeza se acovarda paraexplicar o que entendo. A língua, a pena

e todas as faculdades das criaturas são ins-trumentos desproporcionados para reve-lar tão elevados mistérios.

Assim, desejo fique entendido,que quanto aqui se disser, não passa deobscura sombra da menor parte desta ma-ravilha e inexplicável prodígio que nãodeve ser medido com a restrição de nossoslimites, mas com o poder divino que não

os tem.

Primeiro dia das preparações.

5. No primeiro dia desta felicíssi-ma novena, a divina princesa Maria, de- pois de breve descanso, levantou-se àmeia-noite (SI 118,62) à imitação de seu

 pai Davi (pois este era o regulamento quelhe dera o Senhor) e prostrada napresençado Altíssimo começou sua costumada

oração e santos exercícios. Chamaram-naos santos anjos que a assistiam, dizendo-lhe: Esposa de nosso Rei e Senhor, le-vantai-vos que sua Majestade vos chama.Levantou-se com fervoroso afeto, respon-dendo: O Senhor manda que do pó se le-

vante o pó; e dirigindo-se ao Senhor quea chamava: Altíssimo e poderoso Donomeu, que quereis fazer de Mim? A estas

 palavras sua alma santíssima foi transpor-tada em espírito a elevado estado, o maisimediato a Deus e afastado de todo o ter-restre e momentâneo.

Recebe visão abstratíva da divindade.

6. Sentiu que a dispunham comaquelas iluminações e purificações de ou-tras vezes, quando recebia a mais alta vi-são da divindade. Não me detenho areferi-las por tê-las explicado na primeira parte (1). Com isso lhe foi revelada adivindade por visão não intuitiva e sim

abstrativa, mas com tanta clareza e evi-dência que, por esta visão, a Senhora en-tendeu mais sobre aquele objetoincompreensível, do que todos os bem-aventurados que o vêm e gozam intuitiva-mente.

Foi-lhe esta visão mais alta e pro-funda que outras dessa espécie, pois cadadia a Senhora se tornava mais apta para

elas. Umas graças (aproveitadas tão per-feitamente) a dispunham para outras e asrepetidas notícias e visões da divindade atomavam mais forte para atos mais inten-sos a respeito daquele objeto infinito.

Maria pede a vinda doVerbo ao mundo.

7. Nesta visão, conheceu nossa princesa Maria altíssimos segredos da di-vindade e suas perfeições, especialmentesua comunicação ad extra na obra da cria-ção. Viu que esta procedeu da liberal bon-dade de Deus, pois seu ser divino deinfinita glória não tinha necessidade dascriaturas; sem elas era glorioso desde suas

intermináveis eternidades antes da cria-

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Terceiro Livro - Capítulo 1

ção do mundo. Foram comunicados à nos-sa Rainha muitos segredos e sacramentosque não podem nem devem ser manifes-tados a todos, porque Ela foi a única es-colhida (Cant 6,8) para estas delícias do

sumo Rei e Senhor da criação. ConheceuSua Alteza, nesta visão, aquela propensãoda divindade para comunicar-se ad extra,mais do que a têm todos os elementos parao seu próprio centro. Mergulhada e abra-sada na esfera daquele divino fogo, pediuao Pai eterno enviasse ao mundo seu Uni-gênito, dando aos homens seu remédio eà sua mesma divindade e perfeições, a sa-tisfação (a nosso modo de entender) que

desejavam e a realização do que pediam.

late (Cant 4,3) que atraía e cativava seuamor. Para chegar à execução de seus de-sejos, quis preparar de perto o tabernáculoou templo onde queria descer, quandosaísse do seio de seu eterno Pai. Determi-

nou dar à sua amada, que escolhera paraMãe, conhecimento claro de todas asobras ad extra, assim como sua onipotên-cia as formara. Na visão desse dia, mani-festou-lhe tudo o que fez no primeiro dacriação do mundo, como refere o Gênesis.Maria conheceu-as todas com mais cla-reza e compreensão do que se as tivesseante os olhos corporais, porque primeiroas conheceu ern Deus e depois em si mes-mas.

Maria conhece as obras do primeirodia da criação.

8. Eram para o Senhor mui docesestas palavras de sua Esposa, e fita escar-

Exposição desse conhecimento.

9. Entendeu como, no princípio(Gen 1,1a 5), o Senhor criou o céu e aterra, quanto e de que modo esteve vazia

5

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Terceiro Livro - Capítulo 1

e as trevas na face do abismo; como o espí-rito do Senhor era levado sobre as águas,e como pelo divino mandato foi feita a luzcom suas propriedades; e que, separadas,as trevas foram chamadas noite, e à luzdia; em tudo isto passou-se o primeiro dia.

Conheceu o tamanho da terra, sua lon-gitude, latitude e profundidade, suas ca-vernas, inferno, limbo e purgatório comseus habitantes; as regiões, climas, meri-dianos e divisão das quatro partes do mun-do e todos os que as habitam. Viu com amesma clareza os orbes inferiores, o céuempíreo, quando foram criados os anjosno primeiro dia, conhecendo sua natureza,

qualidades, diferenças, jerarquias, ofí-cios, graus e virtudes. Foi-lhe revelada arebeldia dos anjos maus e sua queda comas causas e ocasiões dela (mas sempre lheocultava o Senhor o que se referia a Ela).Entendeu o castigo e efeitos do pecado nosdemônios, conhecendo-os como são emsi mesmos. Ao terminar este favor do pri-meiro dia, manifestou-lhe o Senhor que

Ela era formada daquela baixamatéria ter-restre e da mesma natureza de todos osque se convertem em pó (mas não lhe disseque se converteria nele). Deu-lhe tão altoconhecimento do ser terreno, que a grandeRainha humilhou-se às profundezas donada e, sendo sem culpa, abateu-se maisque todos os filhos de Adão cheios de mi-sérias.

A humildade de Maria deveriacorresponder à sua elevação.

10. Esta visão e seus efeitos eramordenados pelo Altíssimo, a fim de abrir no coração de Maria os profundos alicer-ces exigidos para o edifício que nela que-

ria elevar e iria tocar até à uniãosubstancial e hipostática da divindade.Como a dignidade de Mãe de Deus erasem medida e de certo modo infinita,convinha ter por base uma humildade pro-

 porcionada, embora sem passar os limitesda razão. Chegando ao supremo da virtu-de, tanto se humilhou a bendita entre asmulheres, que a santíssimaTrindade sen-tiu-se como paga e satisfeita, e a nossomodo de entender, obrigada a elevá-la aograu e dignidade eminente entre as cria-

turas e o mais imediato à divindade. Comeste beneplácito lhe disse:

Maria pede a vinda do Salvador.

11. Esposa e pomba rriinha, gran-des são meus desejos de redimir o homemdo pecado, e minha imensa piedade estácomo que constrangida, enquanto nãodesço para salvar o mundo. Pede-me con-tinuamente, com grande afeto, nestes diasa realização destes desej os, e prostrada emminha real presença, não cessem tuas sú-

 plicas e clamores para que realmente des-

ça o Unigênito do Pai, para se unir com anatureza humana. A esta ordem, respon-deu a divina Princesa: Senhor e Deus eter-no, de quem é todo o poder e sabedoria, ea cuja vontade ninguém pode resistir (Est12, 9); quem impede vossa onipotência,quem detém a corrente impetuosa de vos-sa divindade, para não executar vosso be-neplácito em benefício de toda a

linguagem humana? Se, por acaso, amadomeu, sou o obstáculo para beneficio tãoimenso, antes morrer do que resistir a vos-so gosto. Este favor não poderá ser mere-cido por criatura alguma, não espereis,

 pois Dono e Senhor meu, que odesmereçamos sempre mais. Os pecadosdos homens se multiplicam e crescem asofensas contra vós. Como então chegare-mos a merecer o mesmo bem do qual nostornamos cada dia mais indignos? Em Vósmesmo, Senhor, está a razão e motivo denosso remédio: vossa bondade infinita,vossas misericórdias sem número vos ob-rigam. Os gemidos dos profetas e pais devosso povo vos suplicam, os Santos o de-sejam, os pecadores aguardam e todos

 juntos clamam. Se eu, vil bichinho, nãodesmereço vossa dignação com minhas

ingratidões, suplico-vos do íntimo de mi-nha alma, apresseis o passo e realizeisnossa salvação para vossa glória.

Maria reza em posição de cruz.

12. Terminada esta oração, a Prin-

cesa do céu voltou a seu estado ordinárioe natural. De acordo com a ordem do Se-nhor, continuou em todo aquele dia as pe-

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Terceiro Livro - Capítulo 1

tições pela Encarnaçâo do Verbo, e com profundíssima humildade repetiu osexercícios de se prostrar em terra e orar na forma de cruz. O Espírito Santo que aguiava lhe ensinara essa posição que tanto

haveria de comprazer a beatíssima Trin-dade. Como se, do real trono, visse no cor-

 po da futura Mãe do Verbo a pessoacrucificada de Cristo, assim recebia aque-le matutino sacrifício da puríssima Vir-gem, no qual antevia o de seu Filhosantíssimo.

DOUTRINA QUE ME DEU ARAINHA DO CÉU

O conhecimento de Maria sobre acriação.

13. Minha filha, não são os mortaiscapazes de entender as indizíveis coisasque o braço do Onipotente operou emMim, preparando-me para a Encarnaçâodo eterno Verbo. Principalmente duranteos nove dias que precederam mistério tãosublime, foi meu espírito elevado e unidoao ser imutável da divindade. Mergulhounaquele pélago de infinitas perfeições,

 participando de seus eminentes e divinosefeitos, de modo tal que jamais poderá ser cogitado pelo coração humano. A ciênciaque me comunicou sobre as criaturas fa-

zia-me penetrar o íntimo de todas elas,com maior clareza e privilégios que todosos espíritosangélicos, apesar de serem es-tes tão admiráveis no conhecimento dacriação, em seguida ao que têm do Cria-dor. As espécies de tudo que entendi me

 permaneceram fixas,  para depois usar de-las à minha vontade.

A humildade.

14. O que agora desejo de ti é que,atenta ao que Eu fiz com esta ciência, meimites segundo tuas forças e a luz infusaque para isto recebes. Aproveita a ciênciadas criaturas, usando-a como de uma es-cada que eleve ao teu Criador, de maneiraque em todas procures o princípio donde

se originam e o fim para o qual se orde-nam.

Que elas te sirvam de espelho ondese reflete a divindade; sejam recordaçãode sua onipotência e incentivo do amor que Deus de ti deseja. Admira-te, com lou-vor, da grandeza e magnificência do Cria-dor. Em sua presença, humilha-te até o póe nada te seja difícil fazer ou padecer parachegar a ser mansa e humilde de coração.Observa caríssima, como esta virtude foio inabalável fundamento de todas asmaravilhas que o Altíssimo operou emMim. Para que aprecies esta virtude ad-

verte que, assim como entre todas, é tão preciosa, também é delicada. Se faltares aela em algum ponto, não sendo humildeem todos, não o serás verdadeiramente emnenhum. Reconhece o ser terreno e cor-ruptível que tens. Não ignores que o Al-tíssimo, com grande providência, criou ohomem de maneira que seu mesmo ser eformação lhe demonstrasse, e repetida-mente lhe ensinasse, a importante lição da

humildade. Para nunca lhe faltar este ma-gistério, não o formou dematériamais no- bre, e interiormente lhe deixou o peso dosantuário (Ex 30,24).

 Num dos lados dabalança coloqueo ser infinito e eterno do Senhor e no outroo de sua matéria vilíssima, dando a Deuso que é de Deus (Mt 22,21) e a si mesmoo que lhe pertence.

O exemplo de Maria.

15. Para exemplo e instrução dosmortais, fiz perfeitamente este discerni-mento e quero que tu o faças, à rninha imi-tação. Emprega teu cuidado e estudo emser humilde, e agradarás ao Altíssimo e a

Mim, que desejo tua verdadeira perfeição.Que esta se estabeleça sobre os alicercesde teu conhecimento próprio, e quantomais o aprofundares, mais alto e sublimesubirá o edifício da virtude. Tua vontadese unirá mais intimamente à do Senhor,

 porque das alturas do seu trono (SI 112,6)Ele descansa o olhar sobre os humildes daterra.

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Terceiro Livro - Capítulo 4

sapientíssima Virgem era a finalidade pró-xima de todas essas graças, até chegar ahora do seu consentimento e da inefávelmisericórdia do Altíssimo. Continuavanesses dias suas fervorosas súplicas pelavinda do Messias, como lhe ordenara o

Senhor, e lhe dera a conhecer se aproxi-mava o tempo marcado para sua chegada.

DOUTRINA QUE ME DEU ARAINHA DO CÉU

A ordem na qual foi criado o homem

24. Minha filha, pelo que vais co-nhecendo das graças e benefícios que eurecebia para minha preparação à dig-nidade de Mãe de Deus, quero que enten-das a admirável ordem de sua sabedoriana criação do homem. Lembra-te que oCriador o fez do nada, não para servo mascomo rei e senhor de todas as coisas (Gn1, 26), das quais poderia dispor com au-toridade e senhorio. Deveria, entretanto,reconhecer-se obra e imagem de seu Cria-dor, para estar, mais submisso a Ele e maisatento à sua vontade, do que as criaturasà vontade humana, pois assim o exige aordem da razão.

Para que não faltasse ao homem oconhecimento do Criador e dos meios para conhecer e executar sua vontade,deu-lhe além da luz natural outra maior,mais rápida, mais fácil, mais certa, gratui-ta e geral para todos, a luz da fé divina.Por ela conheceria o ser de Deus, suas per-feições e suas obras. Com esta ciência esenhorio ficou o homem bem ordenado,honrado e enriquecido, sem desculpa paranão se dedicar inteiramente à divina von-tade.

Os homens faltam à ordem na qualforam criados

25. A estultice dos mortais, porém,altera esta ordem e destrói esta divina har-

monia. Tendo sido criado para senhor erei das criaturas, delas se faz vil escravo,sujeita-se à sua servidão e desonra a pró-

 pria dignidade. Usa das coisas visíveis,não como senhor prudente, mas como in-ferior indigno. Não se faz superior, pois

se coloca muito abaixo do ínfimo dascriaturas.

Toda esta perversidade se originade não usar as coisas visíveis ao serviçodo Criador, ordenando-as para Ele me-diante a fé. De tudo usa mal, quando so-mente procura saciar as paixões e sentidoscom o deleite das criaturas. Em con-seqüência, detesta as que não lhe ofere-

cem tal proveito.

Liberdade espiritual

26. Tu caríssima, contempla pelafé teu Senhor e Criador e procura copiar em tua alma a imagem de suas divinas per-feições. Não percas o domínio sobre ascriaturas e que nenhuma roube tua liber-dade. Quero que triunfes de todas e nadase interponha entre tua alma e teu Deus.Sujeita-te com alegria, não ao deleite dascriaturas, pois te obscurecem o entendi-mento e enfraquecem a vontade, mas aomolesto e penoso de suas inclemências, padecendo-o com alegre vontade. Assimfiz eu para imitar meu Filho santíssimo,ainda que podia escolher o descanso, nãotendo pecados a reparar.

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CAPÍTULO 3

PROSSEGUE O QUE OALTÍSSIMO CONCEDEU AMARIA SANTÍSSIMA NO TERCEIRO DIA DOS NOVE

QUE PRECEDERAM A ENCARNAÇÂO.

Maria penetra cada vez mais a meiro, manifestou-se-lhe a divindade emdivindade visão abstrativa, como nos outros dias.

Muito rude e desproporcionada é nossa27. Tendo a destra do Onipotente capacidade para entender os aumentos

franqueado a Maria santíssima a entrada que iam recebendo estes dons e graçasem sua divindade, ia enriquecendo eador- acumulados pelo Altíssimo na divinanando, a expensas de seus infinitos atri- Maria. Faltam-me novos termos para po-

 butos, aquele puríssimo espírito e corpo der traduzir apenas um pouco do que mevirginal que escolhera para tabernáculo, foi manifestado.templo e cidade santa onde habitar. Explico-me com dizer que a sabe-Mergulhada no oceano da divindade, a oü- doria e poder divino iam proporcionandovina Senhora distanciava-se cada vez aquela que seria Mãe do Verbo, para que,mais do ser terrestre, transformando-se sendo pura criatura, chegasse a ter quantoem outro celestial e conhecendo novos possível a conveniente semelhança comsacramentos que o Altíssimo lhe ma- as divinas Pessoas,nifestava. Quem melhor entender a distância

Sendo a divindade objeto infinito destes dois extremos, Deus infinito e cria-e voluntário, ainda que o apetite se sacie tura humana limitada, poderámelhor cal-com o que conhece, sempre fica mais para cular os meios necessários para uni-los edesejar e entender. Nenhuma pura criatura proporcioná-los.

chegou, nem chegarájamais, atépnde su- biu Maria santíssima. Penetrou no co-nhecimento de Deus e das criaturas, em Conhecimentos recebidos por Mariagrandes profundidades, mistérios e se- sobre a criaçãogredos. Todas as jerarquias dos anjos e ho-mens juntos, não chegariam à menor  29. Ia reproduzindo a divina Se-

 parcela do que recebeu a Princesa do céu nhora, do original da divindade, novos re- para ser Mãe do Criador. tratos de seus infinitos atributos e

virtudes. Sua beleza ia crescendo com os

retoques, tinturas e luzes que lhe dava oCrescia a semelhança de Maria com a pincel da infinita sabedoria.Divindade Neste terceiro dia, se lhe manifes-

taram as obras do terceiro da criação do28. No terceiro dia, dos nove que mundo. Conheceu como e quando as

vou descrevendo, precedendo as mesmas águas que estavam debaixo do céu se reu- preparações que disse no capítulo pri- niram (Gn 9,13), separando o elemento

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Terceiro Livro - Capítulo 4

concurso de homem), se não se asseme-lhasse ao filho nas suas qualidades huma-nas.

34. Cessando esta visão, preen-cheu Maria santíssima o resto do dia comas orações e súplicas que o Senhor lhe or-denara. Seu crescente fervor feria sempremais o coração do Esposo, de tal sorte que(a nosso modo de entender) já lhe tardavao dia e hora de se ver nos braços de suaamada.

DOUTRINA QUE ME DEU A

RAINHA SANTÍSSIMA

Amor agradecido e doloroso

35. Minha filha caríssima, gran-des foram os favores que o Altíssimo mecomunicou pelas visões de sua divin-dade, nos dias que precederam sua En-carnaçâo em meu seio. Ainda que sua

manifestação não era imediata e clara,sem véu algum, revelava-se de modo al-tíssimo e com efeitos que somente suasabedoria compreende.

Mediante as espécies que me fica-vam, renovava o conhecimento do quevira e elevava meu espírito na conside-ração do procedimento de Deus para comos homens e destes para com Ele. Infla-

mava-se meu coração e partia-se de dor,vendo a inclinação do imenso amor divino pelos homens, e da parte deles o ingratís-simo esquecimento de tão incompreensí-vel bondade. Nesta consideração teriamorrido muitas vezes, se Deus não me for-talecesse e conservasse.

Este sacrifíciode sua Serva foi gra-tíssimo a Deus, que o aceitou com maior agrado do que todos os holocaustos da an-tiga lei, por causa de minha humildade, naqual Ele muito se comprazia. Quando eurealizava estes atos, concedia grandes mi-sericórdias para Mim e meu povo.

Meditar no que devemos a Deus

36. Caríssima, revelo-te estes mis-térios para te animares a me imitar comoteu modelo nestes atos, segundo permiti-rem tuas fracas forças,auxiliadas pela gra-ça. Pondera muito e pesa repetidas vezes,com a luz da fé e da razão, como devemos mortais corresponder a essa imensa piedade e benevolência de Deus em so-corrê-los. A esta verdade, compara o pe-sado e duro coração dos filhos de Adão.Quero que o teu se desfaça e se transformeem afetos de agradecimento ao Senhor, ecompaixão pela infelicidade dos homens.

Asseguro-te, minha filha, que no dia do juízo final, a maior indignação do justo

Juiz será pelo esquecimento que os in-gratíssimos homens tiveram desta ver-dade. Tão grande será a indignação comque os argüirá e tal a confusão dos acusa-dos, que se lançariam no abismo das pe-nas, caso não houvesse ministros paraexecutar ajustiça divina.

Imitar a gratidão da Virgem

37. Para te livrares de tão detestá-vel culpa e te preservares daquele horrívelcastigo, renova a memória dos benefíciosque recebeste daquele amor e clemência,advertindo que te beneficiou mais do que

a muitas gerações. Não penses que tantosfavores e singulares dons te foram dadossó para ti, mas o foram também para teusirmãos, pois a todos se estende a divinamisericórdia. A gratidão que deves ao Se-nhor será primeiro por ti e depois por eles.Visto que és pobre, oferece a vida e méri-tos de meu Filho santíssimo, e com elestudo o que Eu amorosamente sofri paraser agradecida a Deus e lhe oferecer algu-ma compensação pela ingratidão dos mor-tais. Em tudo isto te exercitarás muitasvezes, lembrando-te quais eram meus sen-timentos nos mesmos atos e exercícios.

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Terceiro Livro - Capitulo 4

mesmo tempo, conheceu a má disposiçãodo inundo c quão cegamente se privavamos mortais da participação da divindade.Daqui lhe resultou novo gênero de mar-tírio, entre a dor pela perdição humana eo desejo dc reparar tão lamentável ruína.

Fe/, altíssimas orações, súplicas, ofereci-mentos, sacrifícios, humilhações e herói-cos atos dc amor de Deus e dos homens, para que nenhum, se fosse possível, se perdesse daí cm diante, mas que todosconhecessem, adorassem e amassem a seuCriador e Redentor. Tudo se passou na vi-são da divindade e, como estas petiçõesforam no modo das outras já explicadas,não me alongo em referi-las.

As obras do quarto dia da criação

41. Em seguida, na mesma oca-sião, manifestou-lhe o Senhor as obras doquarto dia da criação (Gn 1,14,17). Co-nheceu a divina princesa Maria quando ecomo foram formados no Armamento os

luminares do céu, para a separação entreo dia e a noite e para marcar as estações,dias e anos. O maior luminar do céu, o sol,foi criado para presidir o dia, e ao mesmotempo foi formado o menor, a lua, parailuminar as trevas da noite. As estrelas fo-ram formadas no oitavo céu, para com sua brilhante luz alegrarem a noite e com suasvárias influências presidirem tanto ao dia

como à noite. Conheceu a matéria destesorbes luminosos, sua forma, qualidades,tamanho, movimentos, e a ordenadadiversidade dos planetas. Soube onúmerodas estrelas e todos os influxos que comu-nicam à terra e a ação que exercem sobreseus seres animados e inanimados.

Poder de Maria sobre os orbes celestes

42. Isto não discorda do que decla-rou o profeta no salmo 146, v. 4, quandodiz que Deus conhece o número das estre-las e as chama pelos seus nomes. Não negaDavi que Deus, com seu poder infinito, pode conceder por graça, a uma criatura,o que Ele possui por natureza. Sendo pos-sível comunicar esta ciência que re-dundaria na maior excelência de Maria,

Senhora nossa, é indubitável que não lhe

haveria de negar este benefício. Outrosmaiores lhe foram concedidos, para ser Rainha das estrelas como das demais cria-turas. Esta graça vinha a ser como conse-qüente ao domínio que lhe deu sobre asvirtudes, influências e operações de todos

os orbes celestes, quando a estes ordenoua Ela obedecerem como à sua Rainha eSenhora.

Obediência dos astros e planetas à

Maria43. Por este preceito que o Senhor 

impôs às criaturas celestes e pelo domínioque sobre elas deu à Maria santíssima, fi-cou a Senhora com tanto poder, que semandasse às estrelas deixarem o lugar queocupavam no céu, imediatamente lhe obe-deceriam para ir onde a Senhora lhes or-denasse. Outro tanto fariam o sol e os

 planetas. Ao império de Maria todos in-

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Terceiro Livro - Capítulo 5

homens, pois somente vossa sabedoria acompreende. Mas todas elas, e outras mui-to maiores, poderão porventura extinguir vossa bondade e amor ou competir comele? Não, Senhormeu, não pode ser assim;a malícia dos mortais não deverá deter 

vossa misericórdia. Sou a mais inútil detoda a linhagem humana, mas em nomedela faço demanda à vossa fidelidade. Éverdade infalível que faltarão o céu e aterra (Is 51, 6), antes que faltem vossas palavras. Já que por vossa boca a destesaos santos profetas e por eles ao mundo,muitas vezes, prometendo-lhes o Reden-tor, como, Deus meu, deixar-se-ão de

cumprir essas promessas garantidas pelavossa infinita sabedoria que não pode seenganar, e pela vossa bondade que ao ho-mem não engana? Para lhes fazer esta pro-messa e oferecer-lhes sua eterna fe-licidade em vosso Verbo humanado, da parte dos mortais não houve merecimen-tos, nem criatura alguma vos pode obrigar a isso. Se este bem pudesse ser merecido,

não ficaria tão exaltada vossa infinita eliberal clemência.

Para Deus fazer-se homem, so-mente em Deus pode ser encontrada a ra-zão. Somente em Vós está a razão e omotivo de nos terdes criado e de nos re- parardes depois de caídos. Para a En-carnaçâo não procureis, meu Deus e Reialtíssimo, mais méritos nem mais razões,

além de vossa misericórdia e da exaltaçãode vossa glória.

Resposta do Altíssimo

51. Verdade é, rninha esposa, res- pondeu o Altíssimo, que por minha bon-dade imensa prometi aos homensvestir-me de sua natureza para habitar 

com eles, e que ninguém pôde merecer esta promessa. Não obstante, desmereceseu cumprimento o ingratíssimo pro-cedimento dos mortais, tão odioso à mi-nha equidade. Quando somente pretendosua felicidade, só encontro a dureza queos levará a perder e desprezar os tesourosde minha graça e glória. Em lugar de fru-tos, me darão espinhos. Aos benefícios,

corresponderão com grandes ofensas, àsminhas liberais misericórdias, comdetestável ingratidão. O cúmulo de todos

estes males será, para eles, a privação derninha visão nos eternos tormentos. Con-sidera, minha amiga, estas verdades escri-tas no segredo de minha sabedoria, e pondera estes grandes mistérios. Para tiestá aberto meu coração, e nele conheces

as razões, de minha justiça.

Maria conhece a predestinação dasalmas

52, Não é possível manifestar osocultos mistérios que Maria santíssimaconheceu no Senhor. N*Ele viu todas ascriaturas presentes, passadas e futuras, a

disposição de suas almas, as obras boas emás que fariam, e o fim que todas teriam.Se não fosse confortada pela virtude divi-na, não teria podido conservar a vida, emconseqüência dos efeitos e sentimentosque esta ciência e visão, de tão recônditosmistérios, nela produziram.

Como, porém, estes milagres egraças eram-lhe concedidos para altos

fins, Deus não se mostrava parcimonioso,mas sim liberalíssimo com a escolhida para Mãe sua.

Desta ciência que recebia direta-mente do ser divino, dimanava-lhe tam- bém o fogo da caridade eterna que ainflamava no amor de Deus e do próximo.Assim continuou suas petições dizendo;

Advoga a causa dos mortais

53. Senhor, Deus eterno, invisívele imortal, confesso vossa justiça, en-grandeço vossas obras, adoro vosso ser in-finito e reverencio vossos juízos. Meucoração se desfaz em afetos de amor, ven-do vossa ilimitada bondade pelos homense a pesada ingratidão deles para convosco.

A todos querei s, meu Deus, dar a vida eter-na. Poucos agradecerão este inestimável benefício, e muitos o perderão por ma-lícia. Se por isso vos desobrigais, Bemmeu, estamos perdidos. Se, com vossaciência divina estais prevendo as culpas emalícia dos homens que tanto vos de-sobrigam, com a mesma ciência vêdesvosso Unigênito humanado, seus atos de

infinito valor e apreço para vossa aceita-ção e que, sem comparação, ultrapassame excedem as ofensas dos pecados. A este

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CAPÍTULO 7

CELEBRA O ALTÍSSIMO NOVO DESPOSÓRIO COM APRINCESA DO CÉU, A FIM DE PREPARÁ-LA PARA AS

BODAS DA ENCARNAÇÂO.

A Encarnaçâo, a maior de todas as

obras divinas70. Grandes sào as obras do Altís-

simo (SI 110, 2), porque todas foram esão feitas com plenitude de ciência e bon-dade, justiça e medida (Sab 11, 21). Ne-nhuma é incompleta, inútil, defeituosa,supérflua e vã: todas são primorosas emagníficas como o Senhor que, segundoa medida de sua vontade, as quis fazer econservar do modo mais conveniente,

 para nelas ser conhecido e glorificado.Fora do mistério da Encarnaçâo, porém,todas as obras de Deus ad extra, ainda quesejam grandes, estupendas e mais admi-ráveis que compreensíveis,não passam de

 pequenina centelha (Ecli 42,23) projeta-da do imenso abismo da divindade.

Somente o inefável sacramento de

Deus fazer-se homem passível e mortal, pode ser chamado obra-prima do infinito poder e sabedoria, aquela que excede, semcomparação, às suas demais obras e ma-ravilhas. Neste mistério, não foi comuni-cada aos homens apenas uma faísca dadivindade, mas todo aquele vulcão deimenso incêndio, que se uniu com in-dissolúvel e eterna aliança, à nossa natu-reza humana e terrena.

A grandeza de Maria foi proporcionadaà dignidade de Mãe de Deus

71. Se esta sagrada maravilha doRei deve ser medida por sua mesma gran-

deza, era conseqüente que a mulher, em

cujo seio tomaria forma de homem, fosse perfeita e adornada de todas suas riquezas.Deveria ter todos os dons e graças possí-veis, com tal plenitude, que nenhum lhefosse incompleto ou defeituoso.

Sendo isto racional e convenienteà grandeza do Onipotente, assim Ele o rea-lizou com Maria santíssima, melhor doque Assuero com a graciosa Ester (Est 2,9), quando quis elevá-la ao trono de suagrandeza.

Preparou o Altíssimo nossa Rai-nha Maria com favores, privilégios e dons

 jamais imaginados pelas criaturas. Quan-do Ela surgiu à vista dos cortezãos destegrande Rei imortal dos séculos (Tim 1,17), todos louvaram o poder divino que,ao escolher uma mulher para Mãe, pôde esoube torná-la digna de o receber por Fi-

lho.

Visão e graças do sétimo dia

72. Chegou o sétimo dia próximoa este mistério e, à mesma hora que nosanteriores, a divina Senhora foi chamadae elevada espiritualmente, com certa dife-rença dos dias precedentes. Neste, foi le-vada corporalmente pelos santos anjos aocéu empíreo, ficando um deles em seu lu-gar, representando-a com corpo aparente.Chegada ao supremo céu, viu a divindadecom visão abstrativa como nos outrosdias, mas sempre com nova e mais intensa

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Terceiro Livro - Capítulo 7

luz e mistérios mais profundos, que aquelaVontade sabe c pode esconder ou revelar.

Ouviu uma voz que saía do tronoreal dizendo: Vem, esposa e pomba esco-lhida, nossa graciosa e amada, que achaste

gra^a a nossos olhos, eleita entre milhares,vem para novamente seres recebida por nossa única Esposa. Para isto, queremoste conferir o omato e fonuosura dignos denossos desejos.

Atitude e humildade da Virgem

73. A estas palavras, a humilíssi-ma entre os humildes abateu-se e aniqui-lou-se na presença do Altíssimo, além dequanto possa compreender a humanacapacidade. Toda entregue ao divino be-neplácito, com aprazível retraimento,respondeu: Aqui está, Senhor, o pó e vilvermezinho, vossa pobre escrava, paraque nela se cumpra vosso maior agrado.Servi-vos do humilde instrumento de

vosso querer, governai-o com vossa des-tra.Mandou o Altíssimo aos serafins,

mais excelentes em dignidade e próximosao trono, que assistissem aquela Mulher.Acompanhados por outros, colocaram-seem forma visível ao pé do trono onde seencontrava Maria santíssima, mais in-flamada no divino amor que todos eles.

Sentimentos dos Anjos

74. Era espetáculo de nova admi-ração e júbilo para todos os espíritos an-gélicos ver naquele lugar, jamais pisado por outros pés, uma humilde donzela, con-sagrada sua Rainha, mais próxima a Deusque todas as demais criaturas. Viam no

céu, tão apreciada e considerada, aquelamulher (Prov 31,10) que o mundo des- prezava por desconhecê-la. Viam o pe-nhor e princípio da elevação da naturezahumana acima dos coros celestiais, e jáestabelecida entre eles.

Oh! que santa e doce inveja pode-ria causar esta peregrina maravilha aos an-tigos cortezãos da celeste Jerusalém! Queconceitos formariam para louvar seu Au-tor! Que afetos de humildade repetiriam,

sujeitando seus elevados entendimentos àvontade e ordenação divina! Reconhece*riam ser justo e santo que Ele elevasse o$humildes e favorecesse a humana hurnii.dade, dando-lhe preferência à angélica.

Maria recebe a graça no mais altograu

75. Estando os moradores do céunesta digna admiração, a santíssima Trin-dade^ nosso modo de entender) conferiaconsigo mesma quão agradável era a seusolhos a princesa Maria. Correspondera

 perfeita e inteiramente aos benefícios edons que lhe foram confiados. Medianteeles havia conquistado a glória que ade-quadamente fazia reverter na do Senhor,e não tinha falta, defeito ou impedimento

 para receber a dignidade de Mãe do Verbo, para a qual fora destinada.

Determinaram as três divinas Pes-soas acrescentar-lhe ainda o supremo grau

de graça e amizade com Deus, grau quenenhuma outra criatura tivera nem teria jamais. Naquele momento conferiram-lhemais graça do que possuíam todas as de-mais criaturas reunidas. Vendo realizadaa suprema santidade, que para Maria idea-ra e concebera sua mente divina, grandefoi por Ela seu agrado e complacência.

A manifestação visível da santidade deMaria

76. Correspondente a esta santida-de, e em testemunho da benevolência comque o Senhor lhe comunicava novas in-fluências de sua divina natureza, mandouque Maria fosse visivelmente ornada deveste e jóias misteriosas, significando os

dons interiores, graças e privilégios quelhe outorgava como Rainha e Esposa. Nãoobstante este omato e desposório lhe te-rem sido concedidos outras vezes (1),como quando foi apresentada no templo,nesta ocasião foram acompanhados de no-vas excelências e admiração, porqueconstituíam a preparação próxima para omilagre da Encarnaçâo.

1 - 1 " parte n° 435

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Terceiro Livro - Capítulo 7

A túnica, símbolo de sua pureza e graça

77. Por ordem divina, os serafinsvestiram Maria santíssima com ampla tú-

nica, símbolo de sua pureza e graça. Erade tão singular alvura e refulgente beleza,que se um só de seus raios luminosos bri-lhasse no mundo, daria maior claridadeque todas as estrelas juntas, mesmo queestas fossem outros tantos sóis. Compa-rada com a sua, a luz que conhecemos pa-

ra compreendia e por tudo se humilhavacom indizível prudência, pedindo o auxí-lio divino para corresponder a tais bene-fícios e favores.

O cinto, símbolo do temor de Deus

78. Colocaram-lhe os serafins so- bre a veste um cinto, símbolo do santo te-mor que lhe era infundido. Riquíssimo,feito de pedras diversas, extremamente

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receria obscuridade. Enquanto era assimvestida pelos serafins, recebeu do Altíssi-mo profiuida inteligência que aquela gra-ça lhe ocasionava a obrigação de cor-responder a Deus com a fidelidade, oamor, e o excelente e o elevado modo de

 praticar tudo quanto compreendia.Somente não lhe era revelada a in-

tenção do Senhor tomar carne em seu seio

virginal. Tudo o mais nossa grande Senho-

refulgentes, que muito o embelezavam.Ao mesmo tempo, foi a divina Princesailiuiiinada pela fonte de luz, em cuja pre-sença se encontrava, para altamente en-tender as razões pelas quais Deus deve ser temido por toda criatura.

Com este dom do temor do Senhor,ficou convenientemente cingida e prepa-rada, como eranecessário a uma pura cria-

tura, que tão familiarmente trataria e

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Terceiro Livro - Capitulo 7

conversaria com o Criador, sendo verda-deira Mãe sua.

Os cabelos, o diadema e as sandálias

79. Em seguida, conheceu que a

ornavam com formosos e longos cabelos,mais brilhantes que o ouro refulgente, pre-sos por rico diadema. Por este omato, lheera concedido que todos seus pensamen-tos, durante toda a vida, fossem elevadose divinos, inflamados em sublime carida-de significada pelo ouro. Ao mesmo tem- po, foram-lhe infundidos novos hábitos desabedoria e ciência claríssima, para que

estes cabelos ficassem graciosamente reu-nidos e presos por  inexplicável partici- pação na ciência e sabedoria do mesmoDeus.

Deram-lhe por sandálias agraçadeque todos seus passos e movimentos fos-sem formosíssimos (Cant 7), dirigidossempre para os mais altos e santos fins daglória do Altíssimo. Prenderam-lhe este

calçado, com especial graça de solicitudee diligência no agir para com Deus e como próximo. Assim sucedeu quando, apres-sadamente (Lc 1,39), foi visitar Santa Isa-

 bel e São João. Deste modo, os passosdesta filha do Príncipe (Cant 7,1) toma-ram-se formosíssimos.

Pulseiras, anéis e colar80. Adornaram-na com pulseiras,

infundindo-lhe nova magnanimidade para grandes obras, pela participação doatributo da magnificência. Assim, sempreaplicava suas mãos (Prov 31,19) em coi-sas árduas. Embelezaram-lhe os dedoscom anéis, novos dons do Espírito Santo,

 para que nas pequenas ações, em coisas

de menor  importância, agisse de modosuperior, com intenções e circunstânciasque as tomavam todas admiráveis e gran-diosas.

Acrescentaram-lhe um colar deinestimáveis e brilhantes pedras precio-sas. Dele pendia um conjunto de três pe-dras mais excelentes, as virtudes da fé,esperança e caridade, correspondentes às

três divinas Pessoas. Por este omato, re-novaram-lhe os hábitos destas nobilíssi-

mas virtudes, confonne deveria exercita.Ias nos mistérios da Encarnaçâo e 1U,denção.

As arrecadas

81. Colocaram-lhe nas orelhas ar*recadas de ouro (Cant 1, 10), salpicadasde prata, preparando seus ouvidos para aembaixada que em breve receberia do san-to arcanjo Gabriel. Foi-lhe dada especialciência, para ouvir com atenção e respon-der discretamente com argumentos

 prudentíssimos e agradáveis à divina von-tade. Do metal sonoro e puro da prata de

sua candura, ressoaria aos ouvidos do Se-nhor, e ficariam gravadas em seu peito di-vino, aquelas esperadas e santas palavras:"Fiat mihi secundum verbum tuum" (Lc1,38).

O ornato de sua túnica

82. Semearam sua veste de cifrasem relevo, semelhantes a bordados de fi-níssimosmatizes e ouro. Algumas diziam:Maria, Mãe de Deus; outras: Maria, Vir-gem e Mãe. Por então, não lhe foram re-velados estes misteriosos dísticos, massomente aos santos Anjos. Os matizeseram os excelentes hábitos de todas asiminentes virtudes e de seus atos cor-respondentes, ultrapassando tudo quanto

têm praticado as criaturas inteligentes.Para complemento de toda esta be-

leza deram-lhe, qual água perfumada para banhar o rosto, muitas iluminações e res- plendores, que a proximidade e partici- pação do infinito ser e perfeições de Deusrefletiam nesta divina Senhora. Convinhaque, para recebê-lo real e verdadeiramen-te em seu ventre virginal, o houvesse re-

cebido por graça, no sumo grau possívela pura criatura.

Impossível explicar a santidade daVirgem

83. Com este adorno e beleza, fi-cou nossa princesa Maria tão encantadorae cativante que o supremo Rei pôde co-

 biçá-la (SI 44, 12). Pelo que em outros

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tos repetia muitas vezes: "Oh! quem pu-dera conseguir o remédio para meus ir-mãos! Oh! quem tirara do seio do Pai oseu Unigênito para o transportar  à nossamortalidade! Oh! quem o obrigara a dar  ànossa natureza aquele ósculo de sua boca

(Cant 1, 1) pedido pela Esposa! Mas,como podemos nós pedir isso, filhos e de-scendentes do malfeitor que cometeu aculpa? Como poderemos atrair aquele quenossos pais afastaram tanto? Oh! amor meu, tomara ver-vos aos peitos (Cant 8,1) de vossa mãe, a natureza! Oh! Luz daluz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro,se descesses (SI 143, 5) inclinando vossos

céus e iluminando os que vivem assen-tados nas trevas (Is 9, 2)! Se apaziguassesvosso Pai e se o soberbo Aman (Est 14,13), nosso inimigo, o demônio, fosse der-ribado por vosso divino braço, o vossoUnigênito! Quem será a medianeira paratirar com a tenaz de ouro do altar celestial(Is 6, 6) aquela brasa da divindade (comoo Serafim de que nos fala o vosso Profeta), para purificar o mundo?

CAPÍTULOS

É ATENDIDA A SÚPLICA QUE NOSSA GRANDE RAINHA

FAZ, DIANTE DO SENHOR, PARA A REALIZAÇÃO DOMISTÉRIO DA ENCARNAÇÃO E DA REDENÇÃO HUMANA.

Maria será Mãe do Verbo emedianeira da redenção dos homens

87. Encontrava-se a divina prince-sa, Maria santíssima, tão cheia de graça e

 beleza, e o coração de Deus tão ferido

(Cant 4, 9) por seus ternos afetos que, por fim, O obrigaram a VOaI"do seio do eternoPai ao tálamo de seu virginal seio. Assimrompeu com aquela prolongada rêmora,que por mais de cinco mil anos o detinhade vir ao mundo.

Como esta nova maravilha deveriase executar com plenitude de sabedoria eequidade, o Senhor a dispos de tal modo,

que a Princesa do céu viesse a ser dignaMãe do Verbo humanado e, ao mesmotempo, eficaz medianeira de sua vinda,muito mais do que Ester o foi do resgatede seu povo (Est 7, 8).

Ardia no coração de Maria santís-sima o fogo que Deus nele acendera, pe-dindo-lhe seln ceSSaI"a salvação para alinhagem humana. Ao mesmo tempo, re-traía-se a humilíssima Senhora, sabendoque, pelo pecado de Adão, estava promul-gada para os mortais sentença de morte eeterna privação da presença de Deus.

Sua amorosa e humilde oração pedindo a Encarnação

88. O amor e a hwnildade trava-

vam divina luta no puríssimo coração deMaria, que com amorosos e humildes afe-

Resposta divina

89. No oitavo dia dos que vou des-crevendo, estava Maria santíssima fa-zendo esta oração, quando, à meia noite,arrebatada em Deus, ouviu-O responder:Vem, minha pomba, esposa escolhida, que

não estás dentro da lei comum (Est 15,13); és isenta do pecado e livre de seus

3S .,

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Terceiro Livro - Capítulo 8

efeitos, desde o instante de tua conceição.Quando te dei o ser, desviei de ti a vara deminhajustiça e aproximei de teu colo a deminha grande clemência, para que não teatingisse o geral edito do pecado. Vem aMim e não desfaleças por humildade e co-nhecimento de tua natureza. Eu levanto aohumilde e encho de riquezas o pobre. Es-tou contigo e rninha liberal misericórdiaser-te-á benigna.

Admiração dos anjos

90. Intelectualmente ouvia estas palavras nossa Rainha e compreendeu queera levada corporalmente ao céu, como nodia precedente, pelos anjos, ficando emseu lugar um dos de sua guarda. Subiu no-vamente à presença do Altíssimo, tão ricados tesouros de sua graça, tão próspera e

tão formosa que, especialmente nesta oca-sião, admirados, diziam entre si os sobe-ranos espíritos, louvando ao Altíssimo:Quem é esta que sobe do deserto, tão ine-

 briada de delícias (Cant 6,9-8,5)? Quemé esta que se apóia em seu amado e o cativa

 para levá-lo consigo à vida terrena? Quemé esta que se levanta como a aurora, maisformosa que a lua, singular como o sol?

Como sobe tão refulgente, da terra mer-gulhada em trevas? Como, sendo de natu-

reza tão frágil, é tão forte e corajosa?Como é tão poderosa, até querer vencer oOnipotente? E como, estando o céu fechado aos filhos de Adão, é franqueado paraesta singular Mulher, sendo ela de suamesma descendência?

O amor de Deus por Maria

91. Recebeu o Altíssimo, em sua presença, a sua eleita e única Esposa, Ma-ria santíssima. Embora não tenha sido povisão intuitiva da divindade, mas só abs-trativa, foi acompanhada de incompará-veis graças de iluminações e purificações,que o Senhor lhe reservara para este dia.

lao divinas foram estas disposi-ções que (a nosso modo de entender) o

 próprio Deus se admirou, apreciando aobra de seu poderoso braço. Como queenamorado por Ela, lhe disse: "Revertere,revertere, Sunamitis, ut intueamur  ten

(Cant 6,12). MinhaperfeitíssimaEsposa,minha pomba e amiga, agradável a meusolhos, volta-te para nós te contemplarmos

e nos deleitarmos em tua formosura. Nãome arrependo de ter criado o homem, ale-gro-me de sua formação, porque tu delenasceste. Vejam meus espíritos celestiais,quão merecidamente quis e quero esco-lher-te por Esposa rriinha e Rainha de to-das minhas criaturas. Conheçam comquanta razão me deleito em teu tálamo,onde meu Unigênito será mais glorifi-

cado, depois da glória que possui em mim.Entendam todos que, se comjustiça repu-diei Eva, a primeira rainha da terra, por causa de sua desobediência, elevo-te à su- prema dignidade mostrando-me poderosoe magníficopara com tua profunda humil-dade.

Os anjos reconhecem Maria por sua

Senhora

92. Este foi o dia de maior júbilo egozo acidental para os anjos, do que qual-quer outro desde a criação. Quando a bea-tíssima Trindade escolheu e declarou suaEsposa e Mãe do Verbo eterno, por Rainhae Senhora de todas as criaturas, os es- píritos celestiais a reconheceram por Su-

 periora e Senhora, entoando maviososhinos de glória e louvor do Senhor.

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CAPÍTULO 9

PREPARAÇÃO FINAL DE MARIA SANTÍSSIMAPARA A ENCARNAÇÂO. CONCEDENDO-LHE

NOVAS GRAÇAS E DONS, O ALTÍSSIMO CONFIRMA-ANO TÍTULO DE RAINHA DE TODA A CRIAÇÃO.

As imensas distâncias vencidas pelaEncarnaçâo

99. No último dos nove dias que oAltíssimo empregara para, mais de perto,

 preparar seu tabernáculo, a fim de santi-ficá-lo com sua vinda (SI 45,5), determi-nou renovar suas maravilhas e multiplicar seus sinais, recapitulando os favores e be-nefícios que até aquele dia comunicara à

 princesa Maria.De tal modo operava nela o Altís-simo que, quando tirava de seu tesourocoisas antigas (Mt 13, 52), sempre lhesacrescentava muitas novas. Esta pro-gressão e maravilhas cabem na distânciaque vai entre a humilhação de Deus fazer-se homem e a exaltação de uma mulher àdignidade de Mãe sua.

Para Deus descer ao extremo de sefazer homem nãopôde nem precisava mu-dar, porque permanecendo imutável em si,

 pôde unir à sua pessoa nossa natureza.Mas, para uma mulher de corpo terreno dar suaprópriasubstância, com a qual Deus seunisse e se fizesse homem, parecia neces-sário vencer distância infinita. Em conse-qüência, a sua mesma proximidade comDeus criaria a medida da distância entreEla e todas as demais criaturas.

Lugar de Maria junto a Deus

100. Chegou, pois, o dia no qualMaria santíssima chegaria à máxima dis-

 posição de proximidade a Deus, para ser Mãe sua. Naquela noite, à mesma silen-ciosa hora, foi chamada pelo Senhor,como se disse das precedentes. Respon-deu a humilde e prudente Rainha: Prepa-rado está meu coração (SI 107,2), Senhor e Rei altíssimo, para que em mim se cum-

 pra o vosso divino beneplácito.Logo foi levada pelos anjos, em

corpo e alma, como nos dias antecedentes,

ao céu empíreo, e colocada na presençado trono real do Altíssimo. Sua Majestadea pôs a seu lado, marcando-lhe o lugar que,

 para sempre, teria em sua presença. Estelugar foi o mais elevado e próximo deDeus, fora do que estava reservado para ahumanidade do Verbo. Excedia, sem me-dida, aos dos demais bem-aventuradosreunidos.

Maria conhece toda a criação emconjunto

101. Daquele lugar, viu a Divinda-de por visão abstrativa, como nas outrasvezes. Ocultando-lhe a dignidade de Mãede Deus, manifestou-lhe o Senhor tão al-

tos e novos mistérios que, por sua profun-didade e por minha ignorância, souincapaz de os explicar. Viu novamente aDivindade, todas as coisas criadas e mui-tas possíveis e futuras. As corpóreas fo-ram-lhe reveladas por espécies sensíveis,como se as tivera presente aos sentidos

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Terceiro Livro - Capitulo 9

exteriores e como se as percebesse comolhos corporais. Conheceu, em con-

 junto, toda a estrutura do universo, queantes havia conhecido em partes, e ascriaturas que nele existem, distinta-

mente, como se as tivera presentes emuma tela. Viu a harmonia, ordem, cone-xão e dependência que todas têm entresi e da vontade divina que as cria, go-verna e conserva, cada qual em seu lugar e ser. Viu os céus e estrelas, os elementoscom seus habitantes, o purgatório, lim-

 bo, inferno, com todos os que viviam na-quelas cavernas.

Os escolhidos, fruto especial daredenção

102. Estando a divina Senhora ab¬sorta na admiração do que o Altíssimo lhe

revelava, correspondendo-lhe com o de¬vido louvor e glória, disse-lhe o Senhor Minha escolhida e minha pomba, todas ascriaturas visíveis que contemplas crieicom tanta diversidade e beleza, e conservocom minha providência, somente pel0

amor que tenho aos homens. De todas asalmas que até agora criei e que até o fideterminei criar, será escolhido um grupo

Estando a Rainha das criaturasem lugar que ultrapassava a todas,inferior somente a Deus, assim também

foi a ciência que recebeu, inferior ape-nas à divina, e superior a tudo o que écriado.

de fiéis. Serão separados e lavados no san-gue do Cordeiro (Apoc 7,14) que tirará os

 pecados do mundo. Estes serão o fruto es-

 pecial da sua redenção e gozarão de seus e¬feitos por meio da nova lei dagraçae sacra-mentos que nela lhes dará seu Reparador.

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Terceiro Livro - Capítulo 9

Por fim, os que perseverarem re-ceberão a participação de minha eternaglória e amizade. Para estes escolhidos, principalmente, criei tantas e tão maravi-

lhosas coisas. Se todos quisessem me ser-vir, adorar e conhecer meu santo nome, deminha parte, para todos e para cada umcriaria tantos tesouros e os ordenaria parasua posse.

que diziam: "Mãe de Deus". Ela, porém,ainda não os compreendeu.

Osespíritos celestes, que os enten-diam, admiravam-se com a magnificência

do Senhor por esta ditosíssima donzela, bendita entre as mulheres, e a reve-renciaram e veneraram por sua legítimaRainha e Senhora de toda a criação.

Maria é coroada rainha

103. Ainda que houvesse criadouma só criatura capaz de minha graça e

glória, tomá-la-ia senhora de toda a cria-ção, porque tudo isto é muito menos quefazê-la participante de minha amizade efelicidade eterna.

Tu, minha Esposa, és minha esco-lhida e achaste graça em meu coração.

Faço-te senhora de todos estes bens, dan-do-te o domínio sobre eles. Se fores espo-sa fiel como desejo, distribui-los-às e osdispensarás a quem nos pedir por tua in-tercessão. Para isto os deposito em tuasmãos.

Consagrando Maria por supremaRainha de toda a criação, a santíssimaTrindade colocou-lhe na cabeça uma co-roa, onde estavam gravados caracteres

Os anjos reconhecem Maria por suaRainha e Senhora

104. Todos estes portentos eram

realizados pelo Altíssimo, segundo aconveniente ordem de sua infinita sabe-doria. Convinha que, antes de assumir came humana no virginal seio desta Se-nhora, os cortezãos deste grande Reireconhecessem e reverenciassem SuaMãe como Rainha e Senhora. Era justoe conveniente à boa ordem, que primeiroDeus a fizesse Rainha e depois Mãe doPríncipe das eternidades, pois quem ha-

via de dar à luz ao Príncipe, necessa-riamente deveria ser Rainha, reco-nhecida pelos vassalos. Não haviainconveniente que os anjos já tivessemconhecimento disso, nem era precisoque lhes fosse oculto.

Para honra da majestade divina, otabemáculo escolhido para morada suadeveria ser preparado e enriquecido comtodas as excelências de dignidade e per-

feição, sublimidade e magnificência quese lhe pudessem comunicar, sem faltar ne-nhuma. Assim, foi pelos anjos reconheci-da e honrada como Rainha e Senhora.

Semelhança entre Maria e o Pai eterno

105. Para rematar sua prodigiosaobra, estendeu o Senhor seu braço pode-roso e, diretamente, renovou o espírito e

 potências desta grande Senhora, dando-lhe novas iluminações, hábitos e qualida-des, cuja grandeza e predicados nãocabem em termos terrestres. Era o últimoretoque e pincelada nesta viva imagem deDeus, para nela e dela ser feita a substân-cia da qual se iria vestir o Verbo eterno,imagem por essência (2Cor 4, 4) do Paieterno e figura de sua substância (Heb 1,4).

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Terceiro Livro - Capítulo 9

Mais do que o de Salomão, ficoueste templo revestido, por dentro e por fora, do ouro puríssimo (3 Reis, 6,30) dadivindade, sem que se pudesse nela vis-lumbrar um átomo sequer de descendenteterrena de Adão. Ficou toda deificada comvisos de divindade, pois tendo o Verbo di-vino que sair do seio do eterno Pai paradescer ao de Maria, preparou-a de modoque houvesse a possível semelhança entrea mãe e o pai.

Prodigiosa humildade de Maria

106. Não me ficam novas razões

 para explicar (como quisera) os efeitosque estes favores produziram no coraçãode nossa grande Rainha e Senhora. Nãosendo capaz de concebê-los a inteligênciahumana, como chegarão as palavras paraexplicá-los?

O que, porém, me causa maior ad-miração, pela luz que me foi concedidasobre tão elevados mistérios, é a hu-

mildade desta divina mulher e a porfia en-tre ela e o poder divino. Raro prodígio emilagre de humildade é ver esta donzela,Maria santíssima, elevada à suprema dig-nidade e santidade depois de Deus, humi-lhando-se e aniquilando-se abaixo detodas as criaturas, sem lhe vir ao pensa-mento de que poderia ser mãe do Messias!E, não apenas isto. Nem sequer se julgoualgo de grande ou acima do que se

considerava (SI 130,1). Não se elevaramseus olhos e seu coração, e quanto maisera exaltada pelos dons do Senhor, tantomais humilde era o sentir de si mesma.Justo foi, certamente, que Deus todo-po-deroso olhasse sua humildade (Lc 1,48)e que por causa desta virtude, todas as ge-rações a chamassem feliz e bem-aventu-rada.

DOUTRINA QUE ME DEU ARAINHA DO CÉU

Amor fiel e desinteressado

107. Minha filha, não é digna es- posa do Altíssimo quem lhe tem amor 

interesseiro e servil. A esposa não o há damar e temer como escrava, nem tampou,co servi-lo pelo salário. Seu amor dever*ser  filial e generoso, exatamente por sabê\Io tão rico e liberal. Foi por amor das alimas, que criou tanta diversidade de ben$visíveis para que sirvam a quem serve aDeus.

Acima de tudo, a esposa deve apre*ciar os tesouros escondidos que Ele pr e.

 para (SI 30, 20), na abundância de suadoçura, para os que o temem. Quero quesejas muito agradecida a teu Senhor e PaiEsposo e Amigo, sabendo quão ricas sâoas almas que por graça chegam a ser ca-

ríssimas e filhas suas. Pai poderoso, pr  parou tantos e tão diversos bens para seusfilhos, disposto a dar tudo para um só, sedeles tiver necessidade. Não tem justifi-cativa o desamor dos homens em meio detantas razões e incentivos, nem desculpa

 para sua ingratidão, pois conhecem e re-cebem sem medida tantos benefícios.

Agradecer a Deus os dons concedidosa Maria

108. Lembra-te, pois, caríssima,que não és estrangeira na casa do Senhor (Ef 2,19), a santa Igreja, mas de sua fa-mília, entre os santos, esposa de Cristo,alimentada com seus favores e carinhos.Já que todos os tesouros e riquezas do es-

 poso pertencem à legítima esposa, con-sidera de quanto és participante e senhora.Goza, pois, de todos, como membro dafamília, e zela por sua honra como filha eesposa tão beneficiada.

Agradece todas as coisas como seo Senhor as houvesse criado somente parati. Ama-o e reverencia-o por ti e pelo pró-

ximo a quem se mostrou tão liberal. Emtudo isto imita, segundo tuas fracas forças,o que entendeste que Eu fazia. Sabe, filha,que me será muito agradável engrandece-res e louvares ao Todo-poderoso com fer-voroso afeto, pelas graças que seu poder me concedeu nesta novena e que superamqualquer humana ponderação.

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CAPÍTULO 10

O ARCANJO SÃO GABRIEL É ENVIADO PELA BEATÍSSIMATRINDADE PARA ANUNCIAR À MARIA SANTÍSSIMA QUE

FORA ESCOLHIDA PARA MÃE DE DEUS.

A Encarnaçâo no plano divino

109. Desde infinitos séculos esta-vam determinados, embora escondidos nosegredo da eterna Sabedoria, o tempo ehora oportunos para ser manifestado nacarne o grande mistério de piedade (Io

Tim 3,16), justificado pelo espírito, pre-gado aos homens, revelado aos anjos e cri-do no mundo. Chegou, pois, a plenitudedos tempos (Gal 4,4) que, apesar de con-ter muitas profecias e promessas, estavamdemasiado vazios. Faltava-lhes a pleni-

tude de Maria santíssima, por cuja vonta-de e consentimento todos os séculosteriam seu complemento: o Verbo huma-nado, passível e redentor. Antes dos sécu-los estava predestinado este mistério(l*Cor 2,7) a ser realizado no tempo, por meio de nossa divina donzela. Achando-se Ela no mundo, não deveria ser adiadaa redenção humana e a vinda do Unigênito

do Pai. Deus já não andaria, provisoria-mente, em tabernáculos (2°Reis 7,6) e ca-sas alheias, mas habitaria definitivamenteem seu templo e casa própria, anteci-

 padamente edifícada e enriquecida a suas próprias expensas (l°Par 22,5), mais doque o templo de Salomão com os tesourosde seu pai Davi.

Chega o tempo para se operar o mistério

110. Na plenitude deste tempo preestabelecido, o Altíssimo determinouenviar seu Filho unigênito ao mundo.Conferindo (a nosso modo de entender efalar) os decretos de sua eternidade, as

 profecias e promessas feitas aos homensdesde o princípio do mundo, com o estadoe santidade a que elevara Maria santíssi-ma, achou tudo concorde para a exaltação

de seu santo nome. Manifestaria aos san-tos anjos a execução de sua eterna vonta-de, e por eles começaria a realizá-la.

Falou Deus ao arcanjo São Gabrielcom a voz ou palavra que lhes intima suasanta vontade. A ordem comum usada por Deus para iluminar seus espíritos é come-çar pelos superiores, os quais, por sua vez,vão transmitindo essa purificação e ilumi-

nação aos inferiores. Assim chega aos úl-timos o que foi revelado aos primeiros.Desta vez, porém, abriu exceção, porqueo arcanjo recebeu diretamente do Senhor a embaixada de que seria investido.

O arcanjo S. GABRIEL é encarregadode anunciar o mistério à Maria

111. Ao primeiro sinal da vontadedivina, São Gabriel atendeu prontamente,como aos pés do trono, para ouvir o ser imutável do Altíssimo. Declarou-lheDeus a mensagem que deveria levar a Ma-ria santíssima, com as próprias palavrasque o anjo deveria empregar. Deste modo,o primeiro autor desta embaixada foi o

 próprioDeus, que a compôs em sua mente

divina. Desta, passaram ao santo arcanjo,que a transmitiu a Maria puríssima. Jun-tamente com essas palavras, revelou o Se-nhor ao santo príncipe Gabriel muitos eocultos sacramentos sobre a Encarnaçâo.

A santíssima Trindade mandou-oanunciar à divina donzela que, entre as

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Terceiro Livro - Capítulo 101

mulheres, tora escolhida para Mie do Ver- bo eterno: que o conceberia em seu vir-gtnal seio, por obra do Espírito Santo,

 permanecendo sempre virgem; e tudo omais que o mensageiro celeste deveriatransmitir à sua grande Rainha e Senhora.

Todos os anjos recebem revelação darealização do mistério

112. Em seguida, declarou o Se-nhor aos demais anjos, que havendo che-gado o tempo da redenção humana,dispunha-se para descer ao mundo sem

mais demora. Todos tinham presenciadoa preparação de Maria santíssima para asuprema dignidade de Mãe sua.

Ouviram os espíritos celestiais avoz de seu Criador e, com incomparávelgozo e ação de graças pelo cumprimentode sua etema e perfeita vontade, cantaramnovos cânticos de louvor, repetindo sem-

 pre aquele hino de Sião: Santo, Santo,

Santo, ó Senhor Deus de Sabbaoth (Is 6,3). Justo e poderoso és Senhor Deus nos-so, que vives nas alturas e olhas aos hu-mildes da terra (SI 112,5). Admiráveis sãotodas as tuas obras, altíssimos os teus

 pensamentos.

São Gabriel arcanjo

113. Com singular alegria, obede-ceu o príncipe Gabriel ao divino mandato,e desceu do supremo céu acompanhado

 por muitos milhares de belíssimos anjosem forma visível. A figura do legado an-gélico era de jovem garbosíssimo, de rara

 beleza. Seu rosto refulgente emitia raiosde esplendor. Semblante grave e majesto-so, passos serenos, gestos de grande com-

 postura, palavras ponderadas e eficazes.Entre severo e aprazível, apresentavamaior deifícação do que os demais que atéaquele dia a Senhora vira naquela forma.Trazia diadema de singular brilho, e suasvestes roçagantes desprendiam re-fulgência fbrta-cor. Engastada no peito,uma cruz belíssima que representava omistério da Encarnaçâo, ao qual se referia

sua embaixada. Todas estas circuns-tâncias despertaram mais a atenção e afetoda prudentíssima Rainha.

Idade de Maria

114. Este celestial exército, comseu chefe São Gabriel, dirigiu o vôo pa»a habitação de Maria santíssima, em Nazaré, cidade da província da Galiléia. M

humilde casa, encaminharam-se para 0seu aposento, estreito quarto, despido dosadornos que os mundanos usam par aencobrir a própria miséria e privação demaiores bens. Tinha a divina Senhoranesta ocasião, catorze anos de idade, seismeses e dezessete dias. Completara anosa oito de setembro, havendo-se passadoos seis meses e dezessete dias até aquele

em que se operou o maior dos mistériosque Deus realizou no mundo.

Retrato físico de Maria

115. O talhe desta divina Rainhaera mais alto que ordinariamente têm asmulheres nesta idade. Corpo de grandeelegância e perfeita proporção. O rosto

oval, gracioso, moreno claro, fronte espa-çosa, sobrancelhas arqueadas. Olhos ver-de escuros, grandes e graves, de indizível

 beleza e encanto. Nariz afilado, boca pe-quena de lábios corados. Nestes dons na-turais era tão bem proporcionada eformosa, como jamais o foi nenhuma cria-tura humana. Contemplá-la causava aomesmo tempo alegria e reverência, afei-

ção e respeito. Atraíao coração e o detinhaem suave veneração. Despertava louvor que emudecia ante tantas graças e per-feições. Produzia divinos e inexplicáveisefeitos. Enchia o coração de celestes in-fluxos e divinos impulsos para Deus.

Oração de Maria ao receber aanunciação do anjo

116. Seu traje era humilde, pobree asseado, de cor cinza prateada, compos-to sem vaidade, com suma honestidade emodéstia. Quando se aproximava a em- baixada celeste, que não esperava, encon-trava-se em altíssima contemplação sobreos mistérios que o Senhor realizara comela durante os nove dias anteriores.

Tendo-lhe o Senhor confirmado(como acima dissemos, n°94) que em breve seu Unigênito desceria para tomar 

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Terceiro Livro - Capítulo 11

alguns ocultos sacramentos sucedidos an-tes que o Unigênito do eterno Pai descessedo seu seio.

Fica suposto que entre as divinasPessoas, conforme ensina a fé, não há de-

sigualdade de sabedoria, onipotência e de-mais atributos, como tampouco a podehaver na substância da divina natureza.Sendo iguais na infinita dignidade e per-feição, também o são nas operações cha-madas: "ad extra", porque saem de Deus

 para produzir alguma criatura ou coisatemporal. Estas operações são comuns àstrês divinas Pessoas; são feitas pelas trêsenquanto são um mesmo Deus, com a

mesma sabedoria, entendimento e vonta-de. Assim como o Filho sabe, quer e fazo mesmo que o Pai sabe, quer e faz; tam-

 bém o Espírito Santo sabe, quer e faz omesmo que o Pai e o Filho.

Petições do Verbo a favor dos homens

126. Com esta união inseparável,as três Pessoas realizaram a Encarnaçâonum mesmo ato, embora somente a pessoado Verbo haja assumido a natureza hu-mana, unindo-a a Si hipostaticamente. Por isto, dizemos que o Filho foi enviado peloeterno Pai, de cujo entendimento procede,e que o Pai o enviou por obra do EspíritoSanto, que interveio nesta missão.

Antes de sair do seio do Pai, descer 

dos céus e vir encarnar-se no mundo, a pessoa do Filho fez, naquele divino con-sistório, um pedido: Em nome da humani-dade, à qual iria unir sua Pessoa,apresentou seus merecimentos previstos

 para, mediante eles, ser concedido a todogênero humano a redenção e perdão dos

 pecados, pelos quais satisfaria ajustiça di-vina. Pediu o fiat da santíssima vontadedo Pai que o enviava, aceitando o resgate

 por meio de suas obras, paixão santíssimae dos mistérios que desejava realizar ema nova Igreja e lei da graça.

confiou-lhe sua herança, os escolhidos e predestinados. Por isto, disse Cristo nossoSenhor, por São João (28, 9), que não ti*nham perecido os que o Pai lhe dera, pojsguardara a todos (idem 18,12) exceto Ju¬

das, o filho da perdição. Disse ainda, nou-tra ve/, que ninguém arrebataria de suasmãos, nem de seu Pai, uma só de suas ove-lhas (idem 10,28). O mesmo valeria paratodos os nascidos, se cooperassem paramerecer a eficácia da Redenção, sufi.ciente para todos. Ninguém seriaexcluído

 pela divina misericórdia, se por meio doRedentor a quisesse aceitar.

O Verbo desce do céu

128. Tudo isto (a nosso modo deentender) passava-se no céu, em o tronoda Ssma. Trindade, antes do fiat de Mariasantíssima, como logo direi. No momentodo Unigênito do Pai descer a suas virgi-nais entranhas, abalaram-se os céus e to-

das as criaturas. Por causa de sua uniãoinseparável, as três divinas Pessoas desce-ram com a do Verbo, que seria a única aencarnar. Com o Senhor e Deus dosexércitos, saíram todos os da celestial mi-lícia, cheios de invencível fortaleza e es-

 plendor. Não era necessário abrir caminho, porque a Divindade tudo enchee está em todo o lugar, não podendo ser 

 por nada estorvada. Apesar disto, os céus

materiais, respeitando o seu Criador, fize-rem-lhe reverência e abriram-se os onze(1) com os elementos inferiores. As estre-las renovaram sua luz, a lua, o sol e demais

 planetas apressaram o curso em homena-gem ao seu Criador, e para se acharem pre-sentes à maior de suas obras e maravilhas.

Poucas pessoas perceberam a vindado Verbo ao mundo

129. Não perceberam os mortaisesta comoção e novidade das criaturas,tanto por haver acontecido à noite, como

 porque Deus queria manifestá-la apenasaos anjos. Com nova admiração louva-

127. Aceitou o etemo Pai esta pe- * ram-no, conhecendo tão ocultos como ve-tição e méritos previstos do Verbo, conce-

deu-lhe quanto pedira para os mortais, e í - onze céus ' '

A redenção universal

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Terceiro Livro - Capítulo 11

ncráveis mistérios escondidos aos ho-mens, que estavam longe de tais maravi-lhas e admiráveis benefícios. Por então,somente os anjos estavam incumbidos dedar por eles glória, louvor e veneração aoCriador. Apenas no coração de algunsjus-tos, infundiu o Altíssimo, naquela hora,

 particular moção de extraordináriojúbilo.Sentindo-a, conceberam novos e grandesconceitos do Senhor. Alguns foram inspi-rados, suspeitando que tal novidade seriatalvez efeito da vinda do Messias para sal-var o mundo. Todos, entretanto, guarda-ram silêncio, pois cada qual imaginava ter sido o único a sentir tais novidades e pen-

samentos. Tudo era assim disposto pelo poder divino.

Efeitos na criação no limbo e noinferno

130. Houve renovação e mudançatambémnas demais criaturas. As aves agi-taram-se com cantos e alvoroço ex-

traordinário. As árvores e plantasmelhoraram seus frutos e fragrâncias e to-das as demais criaturas, respectivamente,foram reanimadas com alguma oculta mu-dança. A maior comoção, porém, foi a dosPais e Santos que estavam no limbo. Oarcanjo São Miguel foi enviado para lhestransmitir a feliznotícia que muito os con-solou, deixando-os repletos de júbilo elouvores.

Somente para o inferno houvenovo pesar e dor. Ao descer das alturas oVerbo eterno, sentiram-se osdemônios ar-rastados pela impetuosa força do poder di-vino, como ondas do mar, e precipitadosno fundo daquelas tenebrosas cavernas,sem poderem resistir nem se levantar. De-

 pois que lhes permitiu a vontade divina,saíram e percorreram o mundo, in-vestigando se haveria alguma novidade

 para justificar o que haviam sofrido. Não puderam, contudo, suspeitar a causa, ain-da que tivessem feito alguns conciliábulos

 para descobri-la. O poder divino ocultou-lhes o mistério da Encarnaçâo e o modocomo Maria santíssima concebera o Ver-

 bo, conforme adiante veremos (2). So-

2-n°326 '

mente quando Cristo morreu na Cruz éque souberam, com certeza, que Ele eraDeus e homem verdadeiro, como nessa

 passagem explicaremos.

S. Gabriel na presença de Maria

131. Passo a narrar como o Altís-simo realizou este mistério. Acompa-nhado de inumeráveis- anjos em formahumana visível, de refulgente e incompa-rável beleza, São Gabriel arcanjo, na for-ma que disse no capítulo passado (3),entrou no aposento onde rezava Maria

santíssima. Era quinta-feira, pelas sete ho-rasdatarde,aocairdanoite. Viu-oadivinaPrincesa dos céus e olhou-o com grandemodéstia e retraimento, apenas o necessá-rio para reconhecê-lo. Vendo que era umanjo do Senhor, quis fazer-lhe reverência. Não lho permitiu o santoPríncipe, mas eleé que lhe fez profunda vênia como à Rai-nha e Senhora, em quem adorava os divi-nos mistérios do Criador. Além disso,

estava ciente que, desde esse dia, muda-vam-se os antigos tempos e o costume doshomens adorarem (4) os anjos, como o fezAbraão (Gn 28,2). Elevada a natureza hu-mana, na pessoa do Verbo, à dignidade di-.vina, ficavam os homens adotados por filhos seus e companheiros ou irmãos dosanjos. Assim disse a São João (Apoc 19,10) aquele anjo que também não consen-tiu em ser adorado pelo Evangelista.

Saudação do arcanjo.Perturbação da Virgem.

132. Saudou o santo Arcanjo à suae nossa Rainha, dizendo-lhe: "Ave, cheiadegraça (Lc 1, 28), o Senhor é contigo,bendita és tu entre as mulheres". Per-turbou-se, sem agitação, a mais humilde

das criaturas, ao ouvir esta singular sau-dação do anjo.Duas foram as causas desta pertur-

 bação. Primeira, a profunda humildadecom que se reputava inferior a todos os

3-n°1134 - Aqui como em outras passagens, "adoração" significa

 profunda veneração. Não se confunda com a adoração delatria, devida só a Deus. (Nota da Tradutora)

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Terceiro Livro - Capítulo 11

mortais. Julgar de si tão baixamente e ser zer-vos mãe. O Espírito Santo virá sobr esaudada como bendita entre todas as mu- vós, a força do Altíssimovos fará sombralheres, causou-lhe surpresa. A segunda para de vós nascer o Santo dos santos, qüècausa foi porque, enquanto ouvia e pon- se chamará Filho de Deus. Sabei que vo$-derava interiormente a saudação, recebeu sa prima Isabel (Lc 1,36), em sua velhicedo Senhor inteligência de que a escolhera estéril, também concebeu um filho

 parasuaMãe.Istoaperturboumuitomais, encontrando-se no sexto mês da con» por causa do conceito que de si formara. cepção, porque nada é impossível par a

Por causa desta perturbação o anjo Deus. Quem faz conceber e dar à luz a

 prosseguiu, declarando-lhe a ordem do estéril, pode fazer que vós, Senhora, che-Senhor: "Não temas, Maria, porque gueis a ser Mãe, ficando sempre Virgemachaste graça diante do Senhor  (Lc 1, cem vossa grande pureza ainda mais con-30, 31, 32); conceberás um filho em teu sagrada. Ao Filho que vos nascer, D

 seio, dá-lo-às àluze lheporás o nome de dará o trono de seu pai Davi; e seu rein Jesus; Ele será grande, será chamado Fi- será eterno na casa de Jacó (Lc 1,32). 

lho do Altíssimo". E o mais que disse o ignorais, Senhora, a profecia de Isaias santo Arcanjo. 14) que uma Virgem conceberá e terá umfilho que se chamará Emanuel, que quer 

Maria expõe ao anjo seu compromisso dizer Deus conosco. Esta profecia infalí-de perpétua virgindade vel se cumprirá em vossa pessoa. Conhe-

ceis também o grande mistério da visão133. Entre todas as criaturas, so- de Moisés: a sarça ardente (Ex 3,2) sem

mente nossa prudentíssima e humilde se consumir pelo fogo, significando asRainha foi capaz de avaliar devidamente duas naturezas, divina e humana. Esta não

tão prodigioso sacramento: e porque será aniquilada pela divina, como nãoserácompreendeu sua grandeza, dignamente violada a virginal pureza da Mãe do Mes-se admirou e perturbou. Voltou, porém, sias, que o conceberá e dará à luz. Lem-seu humilde coração ao Senhor que nada brai-vos também, Senhora, da promessalhe podia recusar e, em silêncio, pediu-lhe feita por nosso etemo Deus ao patriarcanova luz e assistência para se orientar em Abraão (Gn 15,16), que depois do cati-tão ingente empreendimento. veiro de sua posteridade no Egito, na quar-

Como disse no capítulo passado ta geração voltariam a esta terra. O(5) ao se realizar este mistério, deixou-a mistério desta promessa consistia em queo Altíssimo no estado comum da fé, espe- nesta quarta geração (6), por vosso

rança e caridade, suspendendo outros gê- intermédio, Deus humanado resgatarianeros de favores e elevações interiores, toda a linguagem humana da tirania do de-que freqüentemente, ou continuamente, mônio.recebia. A escada que Jacó viu em sonhos

 Nestas disposições, respondeu a (Gn 28,13) foi clara figura do caminhoSão Gabriel o que narra São Lucas (1,24): real que o Verbo etemo em carne humanaComo sucederá isto de conceber e ter um abriria para os mortais subirem ao céu, efilho, se não conheço varão, nem o posso os anjos descerem à terra. A esta desceriaconhecer? Ao mesmo tempo, expunha in- o Unigênito do Pai para conviver com os

teriormente ao Senhor o voto de castidade homens e comunicar-lhes os tesouros deque fizera, e o desposório que com Ele sua divindade, concedendo-lhes a partici-celebrara. pação nas virtudes e perfeições de seu ser 

imutável e etemo.Esclarecimento do anjo

134. Respondeu-lhe o príncipeSão Gabriel (Lc 1, 35): Senhora, semconhecer varão é fácil ao poder divino fa-

5-ri» 119

6 • À margem de seu autógrafo, Sor Maria de Jesusacrescentou o seguinte: "O mistério desta quarta geração procede do fato de existirem quatro espécies de geraçõesl1 a de Adão, sem pai nem mãe; 2' a de Eva, sem mâe; 31

a concepção de pai e mãe comum a todos; 4* de mãe sem pai, que é a de Jesus Cristo, nosso Senhor."

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Terceiro Livro - Capitulo 11

Maria reflete na magnitude domistério

135. Com estas e muitas outras ra-zões, procurou o Embaixador celeste des-vanecer  a perturbação de Maria san-tíssima. Seus argumentos se resumiam àfé nas antigas promessas e profecias daEscritura, e no infinito poder do Altíssi-mo. Todavia, como a Senhora excedia aos

 próprios anjos em sabedoria, prudência esantidade, prorrogava a resposta para dá-la com a justeza com que a deu. Foi talcomo convinha ao maior dos mistérios e

sacramentos do poder divino. Ponderouesta grande Senhora que de sua respostadependia o desempenho da santíssimaTrindade no cumprimento de suas pro-messas e profecias, o mais agradável eaceitável sacrifício de quantos lhe haviamsido oferecidos. Dependia a abertura das

 portas do paraíso, a vitória sobre o inferno,a redenção de todo gênero humano. De-

 pendia a satisfação e desagravo dajustiçadivina, a fundação de nova lei da graça, aglória dos homens, o gozo dos anjos, etudo quanto significa a encarnaçâo doUnigênito do Pai, ao tomar forma de servo(Filp 2, 7) em suas virginais entranhas.

Maria teve perfeita consciência do quesignificava a Encarnaçâo

136. Grande maravilha, certamen-te, e digna de nossa admiração, é que todosestes mistérios e os que cada um encerra,fossem pelo Altíssimo confiados às mãosde uma humilde donzela, e que ficassemdependendo do seu fiat.  Não foi sem acer-to que os remeteu à sabedoria e fortalezadesta Mulher forte (Prov 31,11), pois os

tratou com tal magnificência e elevaçãoque não decepcionou a confiança que neladepositou. As obras que ficam em Deusnão necessitam da cooperação de criatu-ras, nem Deus a espera para operar ad in-tra. Diferentes são as obras contingentesad extra, das quais a maior e mais ex-celente foi Deus fazer-se homem. Nãoquis executá-la sem a cooperação de Ma-ria santíssima, dada com livre consenti-

mento. Com Ela e por Ela, colocou estecomplemento a todas as obras que trouxe

à luz, fora de si mesmo. Deste modo, fi-camos devendo este benefício à nossa Re-

 paradoca, a Mãe da sabedoria.

Resposta da Virgem

137. Esta grande Senhora conside-rou profundamente o extenso campo(Prov 31, 16) da dignidade de Mãe deDeus, para comprá-lo com um fiat. Reves-tiu-se de fortaleza (Prov 31,17-18) sobre-humana, experimentou e viu quão boa eraa negociação e comércio com a divindade.

Compreendeu os caminhos de seus ocul-tos favores, adomou-se de fortaleza e for-mosura. Refletiu consigo e com Gabriel,o embaixador celeste, a grandeza de tãosublimes e divinos sacramentos. Plena-mente consciente do que representava aembaixada que recebia, seu puríssimo es-

 pírito foi absorto e elevado em admiração,reverência e intensíssimo amor de Deus.Com a força destes soberanos afetos, e

efeito conatural deles, foi seu castíssimocoração apertado com tal intensidade quedestilou três gotas de sangue puríssimo.Delas se realizou, no órgão natural, a con-cepção do corpo de Cristo, Senhor nosso,

 pela virtude do Espírito Santo. Destemodo, a matéria para a formação da hu-manidade santíssima do Verbo e de nossaredenção, real e verdadeiramente foi ad-ministrada pelo Coração de Maria purís-sima, à força de amor. Ao mesmo tempo,com humildade jamais devidamente en-carecida, inclinando um pouco a cabeça ede mãos postas, pronunciou aquelas pala-vras que foram o princípiode nossa reden-ção: "Eis a escrava do Senhor,faça-se emmim segundo a tua palavra"  (Lc 1, 38).

Opera-se a Encarnaçâo do Filho deDeus

138. Ao pronunciar este "faça-se",tão doce aos ouvidos de Deus e tão feliz

 para nós, num instante realizaram-se qua-tro coisas: primeira, a formação do corposantíssimo de Cristo, Senhor nosso, da-

quelas três gotas de sangue administradas pelo coração de Maria santíssima; segun-

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Terceiro Livro - Capítulo 11

da, a criação da alma santíssima do Se-nhor, criada como as demais; terceira,união da alma ao corpo, compondo-se suahumanidade perfeitíssima; quarta, a di-vindade, na pessoa do Verbo, uniu-se com

a humanidade e num suposto ficou reali-zada aEncarnaçâo e formado Cristo, Deuse homem verdadeiro, Senhor e Redentor nosso. Isto sucedeu a 25 de março, sexta-feira, ao romper da aurora, na mesma horaem que foi formado nosso primeiro paiAdão. Foi no ano de cinco mil, cento enoventa e nove da criação do mundo, con-fonne o cômputo que a Igreja romana, di-

rigida peloEspírito

Santo, consignou noMartirológio.Havendo perguntado, por ordem

da obediência, foi-me declarado que estacontagem é verdadeira e certa. De acordocom isto, o mundo foi criado pelo mês demarço. Sendo todas as obras do Altíssimo

 perfeitas e completas (Dt 32,4), as plantase as árvores saíramde sua mão com frutos,e sempre os teriam sem os perder se o pe-cado não houvesse alterado toda a nature-za, como direi em outro tratado, se for vontade do Senhor. Deixo-o agora, por não pertencer a este.

Cristo no seio de sua Mãe

139. No mesmo instante em que oTodo-poderoso celebrou as núpcias daunião hipostática, no tálamo virginal deMaria santíssima, foi a divina Senhoraelevada à visão beatífica. Na divindadeem que se lhe manifestou, intuitiva e cla-ramente, conheceu altíssimos sacra-mentos de que falarei no capítuloseguinte.

Foi-lhe particularmente revelado osegredo das cifras daquele ornato que re-cebeu, e foi descrito no capítulo 7 (7), etambém as trazidas pelos seus anjos.

O divino infante ia crescendo noútero naturalmente, como os demais ho-mens, alimentado pela substância e san-gue da Mãe santíssima. Estava, todavia,mais livre e isento das imperfeições que

os demais filhos de Adão sofrem nesse es

7 - n° 82; F parte n° 208, 364, 365

tado. Algumas, acidentais, que nào per 

tencem à substância da geração e são efeítos do pecado, não atingiram a Imperatrizdo céu. Também não tinha as imperfeitas

superfluidades, que nas mulheres sào

naturais e comuns, e das quais as criançasse formam, sustentam e desenvolvemFaltando-lhe a matéria da natureza conta-minada das descendentes de Eva, a Se¬nhora administrava-a exercitando atosheróicosde virtudes, especialmente de ca-ridade. Visto que as operações fervorosasda alma e os afetos amorosos alteramnaturalmente os humores e o sangue, adivina Providência encaminhava-as aosustento do divino Infante. Deste modo, ahumanidade de nosso redentor era natu-ralmente alimentada e sua divindade re-creada com a complacência de sublimesvirtudes. Assim, para a formação do corpode Cristo, Maria santíssima administrou,ao Espírito Santo, sangue puro, limpo,como concebido sem pecado, e livre desuas conseqüências. O imperfeito e impu-

ro, com que as outras mães alimentamseus filhos, era na Rainha do céu o mais

 puro, substancial e delicado, comunicadosob a ação de afetos de amor e das demaisvirtudes. Outro tanto acontecia com o ali-mento que a divina Rainha tomava. Sa-

 bendo que, sustentando-se, alimentava aoFilho de Deus e seu, enquanto comia rea-lizava sublimes atos espirituais. Admira-

vam-se os espíritos angélicos, vendoações tão comuns com tão soberanos real-ces de merecimento e agrado para o Se-nhor.

Maria, templo da Ssma. Trindade

140. De posse da maternidade di-vina, ficou esta Senhora com tais privi-légios que, quanto disse até agora e direi

 para a frente, não chega a ser a mínima parte de suas excelências. Impossível ex- plicar com palavra, o que o entendimentonão consegue devidamente conceber, nemos mais doutos e sábios encontrariam ter-mos adequados para traduzir. Os humildesque entendem a arte do amor divino

compreenderão, através de luz infiisa e pelo sabor interior com que se percebemtais sacramentos.

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Terceiro Livro - Capítulo 11

Ficou Maria santíssima transfor-mada em céu, templo e habitação da san-tíssimaTrindade, elevada e deificada pelanova e especial presença da divindade em

seu seio puríssimo. Também sua humildemorada e oratório ficaram consagradoscomo santuários do Senhor. Os espíritoscelestiais, testemunhas desta maravilha,contemplando-a exaltavam o Onipotentecom indizível júbilo e novos cânticos delouvor. Juntamente com a felicíssima MãeO bendiziam, no próprio nome e no dogênero humano que ainda ignorava omaior de seus benefícios e misericórdias.

DOUTRINA DA SANTÍSSIMARAINHA MARIA

Cristo encarnou-se paracada um de nós

141. Minha filha, vejo-te admira-

da, e com razão, por teres conhecido comnova luz o mistério pelo qual a divindadese humilhou a unir-se com a natureza hu-mana, no seio de uma pobre donzela comoeu. Quero, caríssima, que ponderes aten-tamente que Deus se humilhou descendoàs minhas entranhas tanto para ti, quanto

 para mim. O Senhor é infinito em miseri-córdia e seu amor não tem limites. De talmodo atende e assiste qualquer alma que

O recebe, e se recreia com ela, como sefosse a única que criara e somente por elase houvesse feito homem. Por esta razão,deves te considerar sozinha no mundo,

 para agradecer, de todo teu coração, a vin-da do Senhor. Em seguida, lhe darás gra-ças por ter vindo também para os outros.Se, com viva fé entendes e confessas queDeus, infinito em atributos e etemo namajestade, desceu para tomar carne emminhas entranhas; que esse Deus te pro-cura, chama, recreia, acaricia e se dá todoa ti (Gal 2, 20) como se fosses a únicacriatura sua, pondera e considera bem aquanto te obriga tão aoVnirável con-descendência. Transforma esta admiração

em atos de viva fé e amor, pois tudo devesa tal Rei e Senhor que se dignou vir a ti,quando ainda não podias procurá-lo emuito menos possuí-lo.

O homem só se satisfaz com Deus142. Tudo quanto este Senhor te

 pode dar, fora de Si mesmo, te parecerá bastante se considerares as coisas apenashumanamente, sem te elevares às supe-riores. Não deixa de ser verdade que damão de tão eminente Rei, qualquer dádivaé digna de estimação. Se, porém, conhe-ceres a Deus com luz sobrenatural e sou-

 beres que te fez capaz de sua divindade,então verás que se Deus não se der a ti,todo o resto da criação será nada e semvalor. Somente a posse de tal Deus, tãoamoroso eamável, poderoso, rico e suave,te poderá alegrar e sossegar. Pois, sendomfinito, digna-se humilhar-se até tua bai-xeza para elevar-te do pó, enriquecer tua

 pobreza e fazer contigo ofício de pastor, pai, esposo e amigo fidelíssimo.

A verdadeira ciência

143. Atende, pois, minha filha, emteu interior as conseqüências desta ver-dade. Pondera bem o dulcíssimo amor deste grande Rei para contigo: sua fideli-dade, seus carinhos e delicadezas, os be-nefícios que te faz, os trabalhos que teconfia. Acendeu em teu coração a luz dadivina ciência para conheceres a infinitagrandeza de seu ser, o admirável e a vera-cidade de suas obras e de seus mais ocul-tos mistérios, e o não ser das coisasvisíveis.

Esta ciência é o princípio, base efundamento da doutrina que te tenho dado

 para chegares a conhecer o decoro e mag-

nificência com que deves tratar os favorese dons deste Senhor e Deus, teu verdadei-ro bem, luz e guia. Contempla-o comoDeus infinito, ao mesmo tempo amorosoe terrível. Ouve, caríssima, minhas pa-lavras, ensino e direção, que nelas en-contrarás a paz e a luz para teus olhos.

 j 3

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CAPÍTULO 12

OPERAÇÕES REALIZADAS PELA ALMA SANTÍSSIMADE CRISTO SENHOR NOSSO, NO PRIMEIRO INSTANTE

DE SUA CONCEIÇÃO E O QUE ENTÃO REALIZOUSUA MÃE PURÍSSIMA.

Cristo nunca foi só homem144. Para entender melhor as pri-

meiras operações da alína santíssima deCristo, nosso Senhor, supomos o que nocapítulo passado (1) fica declarado:todo o substancial deste divino mistério- formação do corpo, criação e infusãoda alma, união inseparável da humani-

dade com a pessoa do Verbo - realizou-se no mesmo instante. Daqui não se poder dizer que, em algum lapso de tem- po, Cristo tenha sido puro homem. Sem- pre foi homem e Deus verdadeiro, poisquando, pela humanidade, começaria aser homem, já era Deus eterno. Destemodo, nem um instante sequer foi ape-nas homem, mas sim Homem-Deus e

Deus-Homem. Visto que, ao ser natural(sendo operativo) logo se pode seguir aoperação ou atos de suas potências, nomesmo instante em que se executou aEncarnaçâo, a alma santíssima de Cristonosso Senhor foi glori ficada com a visãoe o amor beatífíco. Seu entendimento evontade encontraram imediatamente (anosso modo de entender) a Divindade,

que seu ser natural também encontrara.Uniu-se a ela pela sua substância, e as potências por suas operações per-feitíssimas, ficando todo deificado noser e agir.

l-n°138

Cristo, viador e compreensor,glorioso e passível

145. O admirável deste sacra-mento é que tanta glória, ou melhor, todaa grandeza da Divindade imensa, esti-vesse resumida em tão pequeno epílogo,como um corpozinho no tamanho de

uma abelha ou de uma amêndoa nãomuito grande. Não era maior que isso ocorpo santíssimo de Cristo, Senhor nos-so, quando se realizou a concepção eunião hipostática. Nesta grande peque-nez se encerrava a suma glória e tambéma passibilidade, porque sua humanidadefoi juntamente gloriosa e passível, com-

 preensora e viadora.

Deus, infinito em poder e sabe-doria, pôde estreitar e encolher tanto suadivindade que, sem deixar de ser infini-ta, por novo e admirável modo de pre-sença, ficou encerrada na limitadaesfera de um corpo tão pequeno. Com amesma onipotência fez que a alma san-tíssima de Cristo, nosso Senhor, na partesuperior das mais nobres operações, fos-

se gloriosa e compreensora. E, que todaaquela glória sem medida ficasse comoque represada no vértice da alma, e sus-

 pensos os efeitos que naturalmente de-veria comunicar ao corpo. Deste modo,veio a ser tambémpassível e viador, paratornar possível nossa redenção por suaCruz, paixão e morte.

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Terceiro Livro - Capítulo 12

A humanidade de Cristo tem aplenitude de todas as virtudes e graças

146. Para realizar todas estas ope-rações e as demais que feria a santíssimahumanidade, foram-lhe infundidos, no

mesmo instante de sua concepção, todosos hábitos (Is 11,1) convenientes a suas potências e necessários para os atos e ope-rações, tanto de compreensor como de passível e viador. Assim, teve ciência bea-tífica infusa; graça jusuficante e dons doEspírito Santo que, como disse Isaias, re-

 pousaram em Cristo. Teve todas as virtu-des, exceto a fé e esperança que não se

coadunavam com a visão e posse beari-flca. Se existe alguma virtude que supõeimperfeição em quem a tem, esta não po-dia estar no Santo dos santos, que não pôde cometer pecado (Is 53, 9; 1 Ped 2,22) nem houve dolo em sua boca. Daexcelência e dignidade da ciência e graçadas virtudes e perfeições de Cristo nossoSenhor, não é necessário fazer aqui rela-

ção, porque os santos doutores e mestresde teologia o ensinam largamente. Paramim basta saber que tudo foi tão perfeitoquanto pode realizar o poder divino e ondenão chega a inteligência humana. Estandona mesma fonte, a Divindade (SI 35,10),aquela alma santíssima deveria beber semmedida, como diz Davi (SI 109,7), tendoa plenitude de todas as virtudes e per-

feições.

Primeiros atos de Cristo

147. Deificada e adornada com adivindade e seus dons, a alma santíssimade Cristo nosso Senhor, realizou seus

 primeiros atos na seguinte ordem: primei-ro, viu e conheceu a Divindade intuitiva-

mente, como é em si e como estava unidaà sua humanidade santíssima, e a amoucom sumo amor  beatífico. Em seguidareconheceu o ser da humanidade, inferior ao ser de Deus; humilhou-se pro-fundissimamente, e nesta humildadeagradeceu ao ser imutável de Deus por tê-lo criado, e pelo dom da união hipostáticaque o elevou ao ser de Deus, permanecen-

do homem. Conheceu como sua humani-dade santíssima erapassível, e o plano daRedenção. Ofereceu-se, então, livremen-

te, em sacrifício (SI 39, 8, 9) paradentor do gênero humano e, aceitando òser passível, deu graças ao etemo Pai, ^seu nome e no de todos os homens. Reco.nheceu a estrutura física de sua hu*manidade santíssima, a matéria de qUe

fora formada, e como Maria santíssimalhe administrara à força de caridade eheróicas virtudes. Tomou posse daquelesanto tabernáculo e morada. Agradou-sede sua beleza sublime, e cheio decomplacência adjudicou como sua

 propriedade eterna a alma da mais perfeitae pura das criaturas. Louvou ao etemo Pai

 por tê-la criado com tão excelentes primo-

res de graças e dons e por tê-la isentadoda comum lei do pecado, apesar de ser fi-lha de Adão, cujos descendentes tinhamsido todos atingidos pela culpa (Rom 5,12). Orou pela puríssima Senhora e por São José, pedindo para eles a salvaçãoeterna. Estes e outros atos foram al-tíssimos, porque realizados por homem eDeus verdadeiro. Independente dos que se

referem à visão e amor  beatífico, comqualquer um deles mereceu tanto que seuvalor poderia redimir infinitos mundos, seexistissem.

Valor infinito dos atos de Cristo

148. Apenas o ato de obediência,da santíssima humanidade unida ao Ver-

 bo, em aceitar a passibilidade, e que agló-ria de sua alma não redundasse no corpo,teria sido superabundante para nossa re-denção. Não obstante, o que era su-

 perabundante para nossa salvação, nãosatisfazia o seu imenso amor pelos ho-mens. Este só estaria saciado quando nosamasse até o fim do amor  (Jo 13,1) queera o mesmo fim de sua vida, entregando-a

 por nós com demonstrações e provas doafeto jamais imaginado pelo entendi-mento humano ou angélico. Se, no primei-ro instante de sua entrada no mundo nosenriqueceu tanto: que tesouros, que ri-quezas de merecimentos nos deixaria,quando saiu dele por sua paixão e mortena cruz, depois de trinta e três anos de tra-

 balhos e ações tão divinas? Oh! imenso

amor, caridade sem fim, misericórdia semmedida, piedade liberalíssima! Oh! ingra-tíssimo esquecimento dos mortais, por be-

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Terceiro Livro - Capítulo 12

Com esta promessa voltou do êx-tase, no qual aconteceu tudo o que narrei,tendo sido o êxtase mais admirável queteve. Restituida a seus sentidos, a primeiracoisa que fez foi prostrar-se em terra paraadorar seu Filho santíssimo, Deus e ho-

mem, concebido em seu virginal ventre, pois ainda não o havia feito com os sen-tidos corporais exteriores. Todo ato que

 pôde realizar em obséquio de seu Criador,não o deixou de executar a Mãe pruden-tíssima. Desde a Encarnaçâo, sentiu no-vos efeitos divinos em sua almasantíssima e em todas suas potências in-teriores e exteriores. Apesar de, em toda

sua vida, ter  possuído nobilíssima dis- posição em sua alma e corpo santíssimos,desse dia em diante ficou mais es-

 piritualizada e divinizada, com novosrealces de graça e indisíveis dons.

Gozo e sofrimento do coração deMaria

153. Ninguém pense, entretanto,que tais favores, e sua união com a huma-nidade e divindade de seu Filho san-tíssimo, fossem causa para a Mãe

 puríssima viver sempre em delícias es- pirituais, só gozando sem sofrer. Assimnão foi. A imitação de seu amabilíssimoFilho, na medida que lhe erapossível, estaSenhora vivia gozando e padecendo junta-

mente. Transpassava-lhe o coração a me-mória e elevado conhecimento querecebera sobre os sofrimentos e morte deseu Filho santíssimo. Esta dor era medida

 pela ciência e amor que tal Mãe devia etinha a tal Filho, e freqüentemente desper-tada por sua presença e conversação.

Toda vida de Cristo e de sua Mãesantíssima foi contínuo martírio e exercí-cio de cruz, no padecimento de in-cessantes penalidades e trabalhos. Alémdisso, o sofrimento do candidíssimo eamoroso coração da divina Senhora teveo característico especial de sentir sempreatuais a paixão, tormentos, ignomínias, emorte de seu Filho. Com a dor de trinta etrês anos contínuos, celebrou a tão longavigília de nossa redenção, sozinha, semalívio de criaturas, porque o mistério, só

de seu coração era conhecido.

Afetos de Maria na previsão domistério da Redenção

154. Com este doloroso amor,cheia de amarga doçura, costumava mui-tas vezes contemplar seu Filho santís-

simo, antes e depois do nascimento.Dizia-lhe do íntimo do coração: Senhor de minha alma, Filho amantíssimo de meuseio, porque me fizestes vossa Mãe, coma dolorosa previsão de ter que vos perder,ficando órfa, sem vossa desejável compa-nhia? Apenas tendes corpo para receber a vida, já conheceis a sentença de vossadolorosa morte para resgate dos homens.O primeiro de vossos atos seria su-

 perabundante preço para satisfazer seus pecados. Oxalá com isto se desse por sa-tisfeita ajustiça do eterno Pai, e a morte etormentos ficassem para mim! De meusangue e ser tomastes corpo, sem o qualVós, Deus impassível e imortal, não pode-ríeis sofrer. Pois se eu vos administrei oinstrumento da dor, padeça ,eu tambémconvosco a mesma morte. O desumana

culpa, tão cruel e causa de tantos males, eno entanto mereceste a feliz sorte de ter  por Reparador Aquele que, sendo o sumo bem, até a ri tomou feliz! Òh! querido eamado Filho, quem vos servira de escudo,quem vos defendera dos inimigos! Oh! sefosse vontade do Pai que eu vos livrasseda morte ou morresse em vossa com-

 panhia, para não ficar sem Vós! Agora, porém, não acontecerá o mesmo que aoPatriarca Abraão (Gn 22, 11, 12); há dese executar o que está determinado. Sejafeita a vontade do Senhor.

Estes amorosos suspiros erammuitas vezes repetidos por nossa Rainha,como direi adiante (4). Aceitava-os o eter-no Pai como agradávelsacrifício, e o Filhosantíssimo como doce consolo.

DOUTRINA QUE ME DEU NOSSARAINHA E SENHORA

Culto e reverência a Deus

155. Minha filha,  já que pela fé eluz divina chegaste a conhecer a grandezada divindade e sua inefável dignação em

4-n° 513,601,611,685, etc "

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Terceiro Livro - Capitulo 12

descer do céu para ti e para todos os mor-tais, não recebas estes favores inutilmentee sem fruto. Adora o ser de Deus com pro-funda reverência e louva-o pelo que co-nheces de sua bondade. Não recebas em

vão (2Cor 6,1) a luz e a graça. Sirva-tede exemplo eestímulo o que fez meu Filhosantíssimo, verdadeiro Deus, e eu Mãesua. Reconhecemos nosso ser humano

 porque, enquanto homem, tinha umahumanidade criada, e eu era pura criatura.Humilhamo-nos e exaltamos a divindade,mais do que qualquer criatura possacompreender. Esta reverência e culto de-veras render a Deus em todo tempo e lu-gar, mas principalmente quando recebeso Senhor sacramentado. Neste admirávelsacramento vem e permanecem em ti, por misterioso modo, a divindade e humani¬dade de meu Filho santíssimo. E a mani-festação de sua magnífica liberalidade

 pelos mortais, que pouco nela advertem. Não estimam nem correspondem a tantoamor.

Ingratidão dos filhos da Igreja

156. Sê, pois, reconhecida comtoda a humildade, reverência e culto, queconseguirem tuas forças, pois tudo serámenos do que deves a Deus e do que Ele

merece. Para suprires, no possível, tua in-suficiência, oferecerás o que meu Filhosantíssimo e eu fizemos. Unirás teu es-

 pírito e afetos aos da Igreja triunfante emilitante, e, oferecendo tua própria vida, pedirás que todas as nações cheguem a co-nhecer, confessar e adorar seu verdadeiroDeus, pois para todos se fez homem.Agradece os benefícios que concede a to-

dos: aos que o conhecem, aos que o igno-ram, aos que o confessam e aos que onegam. Acima de tudo, caríssima, querode ti uma coisa muito aceita ao Senhor, e

a mim muito agradável: desejo que, de co.ração, sintas e lamentes a grosseria, ign^rância, negligência e perigo em qUe

incorrem os filhos dos homens; a ingra-tidão dos filhos da Igreja, que receberama luz da fé divina e vivem de coração tãoesquecidos destas obras e benefícios daEncarnaçâo, e até do mesmo Deus, qUe

 parecem se diferenciar dos infiéis apenas por algumas cerimônias e observânciasdoculto externo. Praticam-nas sem alma esentimento do coração e, muitas vezes,

 por elas mais ofendem e provocam a di-vina justiça do que a aplacam.

Gratidão pelas graças divinas

157. Esta ignorância e dureza nas-ce-lhes de não se disporem para adquirir a verdadeira ciência do Altíssimo. Assimmerecem que a divina luz deles se afastee os deixe mergulhados em densas trevas,com que se fazem mais indignos que os próprios infiéis, e merecedores de castigo,sem comparação, muito maior.

Do íntimo do coração, chora e su- plica remédio para esta enonne infeli-cidade de teu próximo. E, para fugires detão formidável perigo, não recuses as gra-ças e favores que recebes nem, sob pre-texto de humildade, os desprezes eesqueças. Lembra-te e medita em teu co-

ração, de quão longe (SI 18, 7) começoua graça do Altíssimo a chamar-te. Con-sidera como te esperou, consolou, escla-receu tuas dúvidas, apaziguou teustemores, dissimulou e perdoou tuas faltas,multiplicou os favores, carinhos e benefí-cios. Asseguro-te, minha filha que, de co-ração, deves confessar que o Altíssimonão fez a mesma coisa com nenhuma outra

geração. Nada valias nem podias, sendomais pobre e inútil que as outras. Seja, pois, tua gratidão maior que a de todas ascriaturas.

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CAPÍTULO 13

ESTADO DE MARIA SANTÍSSIMA DEPOISDA ENCARNAÇÂO DO VERBO DIVINO

EM SEU VIRGINAL SEIO.

Dificuldade para tratar do assunto

158. Quanto mais vou conhecendoos divinos efeitos que a concepção do Ver- bo etemo produziu na Rainha do céu, tantomais dificuldade encontro para continuar esta Obra. Sinto-me submergida em altís-simos mistérios, dispondo apenas de ra-zões e termos de todo desproporcionadosao que entendo.

 Não obstante, sente minha alma tal

suavidade e doçura nesta mesma incapa-cidade, que não me permite arrepender dequanto empreendi. A obediência me en-coraja, e até me constrange, a superar oque para o fraco ânimo de uma mulher seria demasiado, se me faltasse esta segu-rançae apoio para me explicar. Mais aindaem se tratando, neste capítulo, dos dotesda glória que os bem-aventurados gozam

no céu, e que me foram propostos paradeclarar o que entendo sobre o estado noqual ficou a divina imperatriz Maria, de-

 pois que se tomou Mãe de Deus.

Dotes dos bem-aventurados

159. Para chegar ao que pretendo,

considero nos bem-aventurados, duas coi-sas: uma da parte deles, outra da parte deDeus. No Senhor, há de se considerar adivindade clara e manifesta, com todassuas perfeições e atributos, chamado ob-

 jeto beatífico, glória e felicidade objetiva,último fim onde termina e repousa toda

criatura. As operações beatífícas da visãoe amor, e outras que se seguem a estas,

encontram-se nos santos e constituemaquele estado felicíssimo que nem olhosviram, nem ouvidos ouviram, nem podeser concebido pelo pensamento humano(Is 64, 4; 1 Cor 2, 9). Entre os dons eefeitos destaglória fruída  pelos santos, háalguns chamados dotes. São-lhes dadoscomo à Esposa, para o estado do matrimô-nio espiritual que hão de consumar no

gozo da eterna felicidade. Assim como aesposa temporal adquire o domínio e pos-se de seu dote, e o seu usufruto é comumà ela e ao esposo, também na glória estesdotes são dados aos santos como sua pro-

 priedade. O uso deles, porém, é em co-mum com Deus. Enquanto o Senhor seglorifica em seus santos, estes gozam da-queles inefáveis dons, mais ou menos

excelentes segundo os méritos e dignida-de de cada eleito. Os anjos não recebemmais do que os santos da natureza humana

 porque estes são da mesma natureza doEsposo, Cristo nosso bem. O Verbo hu-manado não contraiu com os anjos o des-

 posório (Heb 2,16) que celebrou com anatureza humana, unindo-se com ela na-quele sacramento que o Apóstolo (Ef 5,

32) disse ser grande em Cristo e na Igreja.Como o esposo Cristo, enquanto homem,consta como os demais, de alma e corpo,

 por essa razão os dotes da glória perten-cem à alma e ao corpo. Ambos serãoglorificados na presença de Cristo. Trêsdotes pertencem à alma: visão, compre-

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Terceiro Livro - Capítulo 13

ensão e fruição. Quatro pertencem ao cor- po: claridade, impassibilidade, subtilezae agilidade, os quais são propriamenteefeitos da glória da alma.

Razão de Maria Santíssima participar 

dos dotes da glória

160. De todos estes dotes, tevenossa rainha Maria alguma participaçãonesta vida, especialmente depois daEncamação do Verbo etemo em seu ven-tre virginal. Aos bem-aventurados estesdotes são dados como a compreensores,em penhor e garantia da eterna e inamis-

sível felicidade daquele estado que jamaishá de mudar. Por este motivo, não são con-cedidos aos viadores. Não obstante, à Ma-ria santíssima foram outorgados em certamedida, não como a compreensora, mascomo a viadora; não de modo permanente,mas em certas ocasiões, de passagem, ecom outras diferenças que explicaremos.Para se entender melhor a conveniência

de ser dado à soberana Rainha este rarofavor, advirta-se quanto dissemos no ca- pítulo 7 (1), e o mais, até o capítulo sobrea Encamação. Neles descreve-se a prepa-ração e desposório com que o Altíssimo

 preveniu sua Mãe santíssima paraelevá-laa essa dignidade. No dia em que o divinoVerbo assumiu carne humana em seuvirginal seio, este matrimônio espiritual,

(2) de certo modo, ficou consumado nestadivina Senhora, por intermédio da visão

 beatífíca, tão excelente e sublime, que na-quele dia lhe foi concedida, como fica dito(3) . Para os demais fiéis entretanto, a En-camação constitui um desposório (Os 2,19) que só será consumado na pátria ce-lestial.

Outras justificativas

161. Possuía nossa grande Rainhae Senhora outra disposição para estes pri-vilégios: estava isenta de toda culpa origi-nal e atual, confirmada em graça, comimpecabilidade atual. Nestas condições,tinha capacidade para celebrar este matri-

l - n o 7 0 a t 2 32 - Desposório correspondente ao noivado. Matrimônio,acasamento (Nota da Tradutora)3 - Acima n° 39

mônio em nome da Igreja militante, cot*representante de toda a humanidade e °treando-se n'Ela os merecimentosvistos do Redentor, no momento em qü

se tomou sua Mãe.Aquela visão da divindade, embo*

ra transitória, tomou-a íiadora garantidade que o mesmo prêmio não seria recusa.do a todos os filhos de Adão, se se dispu.sessem para merecê-lo com a graça de seuRedentor. Era também, muito agradávelao divino Verbo humanado, que seuardentíssimo amor  e infinitos mere-cimentos, fossem logo aplicados naquelaque era, ao mesmo tempo, sua Mãe, pri-

meira Esposa e tálamo da divindade; eque o prêmio seguisse ao mérito, em quem!

 para isso não tinha impedimento. Por estes privilégios e favores que Cristo, nosso bem, concedia à sua Mãe santíssima, sa-tisfazia em parte ao amor que lhe dedíica-va, e n'Ela a todos os mortais. Esperar trinta e três anos para manifestar sua di-vindade à sua Mae, era prazo muito longo

ao amor divino. Ainda que outras vezeslhe concedera este favor, (4) nesta ocasiãoda Encamação, foi com diferentes

 propriedades. Eqüivalia à glória recebida pela alma santíssimade seu Filho, emboraa Virgem não a tenha recebido per-manentemente, mas de passagem, o quan-to era possível ao seu estado comum deviadora.

Maria, protótipo dos redimidos e dosglorificados

162. De acordo com isto, no dia emque Maria santíssima tomou posse da realdignidade de Mãe do Verbo etemo, aoconcebê-lo em suas entranhas, e no des- posório que então Deus celebrou com nos-sa natureza, foi-nos dado o direito àredenção. Na consumação deste matri-mônio espiritual, beatificando sua Mãesantíssima, e dando-lhe os dotes daglória,foi-nos prometido o mesmo como recom-

 pensa de nossos merecimentos, em virtu-de dos de seu Filho santíssimo, nossoRedentor. Mas, neste dia de tal modo ele-vou o Senhor sua Mãe acima de toda a

4 - como se disse na primeira parte, n° 333 e 430

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Terceiro Lii

glória dos santos, que todos os anjos e ho-mens, no cume de sua visão e amor bea-tíficos, não chegaram ao desta divinaSenhora. Outro tanto aconteceu com osdotes que da glória da alma redundam nocorpo, porque tudo era correspondente à

sua inocência, santidade e méritos, osquais, por sua vez, correspondiam à digni-dade suprema, entre todas as criaturas, deMãe do Criador.

O dote da visão de Deus

163. Passo a falar dos dotes em

 particular. O prêmio da alma é a clara vi-são beatífica, total desabrochar doconhecimento obscuro da fé dos viado-res. Esta visão foi concedida à Mariasantíssima nas ocasiões e no grau que te-nho descrito e que para a frente direi. (5).Fora desta visão intuitiva, teve outras mui-tas abstrativas da Divindade, como acimase disse (6). Ainda que todas foram de

 passagem, deixavam-lhe no enten-dimento diferentes e mui claras espécies.Por elas gozava de notícia e luz da divin-dade tão elevadas, que não encontro ter-mos para explicá-las. Nisto, esta Senhorafoi singular entre todas as criaturas. Por este modo, compatível com seu estado deviadora, gozava o efeito do dote da visãode Deus. Quando, às vezes, o Senhor selhe ocultava para outros altos fins, e sus-

 pendia-lhe o gozo destas espécies, ficava-lhe só a fé infusa que n'Ela era sobreexcelente e eficacíssima. Desta sorte, por um ou outro modo, jamais perdeu de vistaaquele objeto divino e sumo bem, nemafastou dele os olhos da alma, por um ins-tante sequer. E, durante os nove meses quetrouxe em seu seio o Verbo encarnado, go-zou muito mais da vista e carícias da di-

vindade.

O dote da compreensão

164.0 segundo dote é a compreen-são, que consiste em alcançar  e chegar a

5 - Acima lugar citado n n° 161, e abaixo n° 473,956,

1471, 1523 - 3' pune n° 62, 494, 603,616,654,6856- n°6a 101

o - Capítulo 13

 possuir, inamissivelmente, o fim que pelaesperança buscamos. Em Maria santíssi-ma esta posse e compreensão eramcorrespondentes às visões supraditas:vendo a divindade, apossuía. Quando per-manecia na fé pura, que n'Ela era maior 

que em qualquer pura criatura, assim tam- bém grande e inabalável era sua esperan-ça. Além disto, por parte da criatura, asegurança da posse depende muito da suasantidade e impecabilidade. Neste par-ticular, nossa divina Senhora vinha a ser tão privilegiada, que sendo viadora, suasegurança em possuir a Deus, podia com-

 petir de certo modo, com a segurança da

 posse dos bem-aventurados. Por suaimpecável santidade tinha certeza de ja-mais perder a Deus, ainda que n'Ela, via-dora, a causa desta certeza não era amesma que nos santos da glória. Duranteos meses de sua gravidez gozou desta pos-se de Deus, por vários modos de graçasespeciais e miraculosas, mediante as quaiso Altíssimo se lhe manifestava e se uniaà sua alma puríssima.

O dote da fruição

165. O terceiro dote é a fruição,correspondente à caridade que não se aca-

 bará (1 Cor 13,8), mas será aperfeiçoadana glória. A fruição consiste em amar aosumo Bem possuído. Isto é feito na glória

celeste pela caridade, onde conhecendo-0e possuindo-0 como Ele é em si mesmo,também O ama por Ele mesmo. Embora,enquanto viadores, também amamos aDeus por Ele mesmo, há grande diferençano modo. Agora O amamos com desejo,e não O conhecemos como é em Si, mascomo nos é apresentado por imagensalheias e por enigmas (Idem 13, 1 2 - 1João 3,2). Por esta razão nosso amor nãoé perfeito, não nos dá completo repouso,nem recebemos a plenitude do seu gozo,ainda que o sintamos muito em amar aDeus. Mas na clara visão e posse de Deus,ve-Io-emos como Ele é em Si mesmo,n'Ele mesmo e não por enigmas. Então Oamaremos quanto pudermos e como deveser amado. Fruindo o amor em sua com-

 pleta perfeição (SI 16,15) encontraremos

o repouso, sem nada mais ter para desejar.

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Terceiro Livro - Capítulo 13

O dote da fruição em Maria

166. Este dote em Maria santíssi-ma, de certo modo, teve propriedades su- periores a todos os bem-aventurados. Seuamor ardentíssimo, embora inferior ao de-

les quando não gozava da visão clara dadivindade, foi superior em outras muitasexcelências, mesmo no estado comum deviadora. Ninguém teve ciência divinacomo esta Senhora, para conhecer comoDeus devia ser amado por Si mesmo.Além disso, a esta ciência acrescentava-seas espécies e memória da divindade quevira e gozara em mais alto grau que os

anjos. Como o amor era medido por esteconhecimento, era conseqüente que eleultrapassasse aos bem-aventurados. Oamor destes só tinha a vantagem da posseimediata de Deus e a diferença de se en-contrar consumado sem possibilidade deaumentar. Condescendia o Senhor com a

 profundíssima humildade da Senhora, permitindo-lhe, como viadora, temer comreverência e andar  solícita por não des-gostar seu Amado. Todavia, este amor re-ceoso era perfeitíssimo, por Deus mesmo,e n'Ela causava incomparável gozo e de-leite, na medida da excelência deste afeto.

Dotes do corpo glorioso

167. Os dotes do corpo, resultamdos dotes e glória da alma, e fazem parteda glória acidental dos bem-aventurados.Aperfeiçoam os sentidos e o movimentodos corpos gloriosos, para que no mais possível se assemelhem às almas. Sem im- pedimento da terrena materialidade, fi-cam dispostos a obedecer à vontade dossantos, naquele estado felicíssimo ondeesta vontade não pode ser imperfeita nemcontrária à divina. Para os sentidos são ne-

cessários dois dotes; o dote da claridade para aperfeiçoar a recepção das espéciessensitivas, e o dote da impassibilidade quetorna o corpo invulnerável ao que lhe énocivo ou corruptível. Outros são neces-sários para o movimento: o da agilidadeque faz o corpo superior a resistência desua gravidade; o da subtileza, que vencea resistência dos outros corpos. Com estesdotes, os corpos gloriosos tomam-se lu-minosos, incorruptíveis, ágeis e subtis.

O dote da claridade em Mariasantíssima

168. Durante sua vida mortal, tev

 parte nossa grande Rainha e Senhora, em

todos estes privilégios. O dote da clari.dade dá ao corpo glorioso a capacidadede, ao mesmo tempo, receber e irradiar luz, perdendo sua obscuridade opaca e iir>

 pura para se tomar mais translúcido que

um cristal claríssimo. Quando Maria san-tíssima gozava da clara visão beatífícaseu virginal corpo participava deste

 privilégio, além do quanto pode com- preender o entendimento humano. Passa-das aquelas visões, ficava-lhe certogênero de claridade e pureza que teriacau-sado insólita admiração, se pudesse ser 

 percebida pelos sentidos. Transpareciaum pouco em seu belíssimo rosto, comodirei adiante, especialmente na terceira parte (7). Poucos dos que a viram e trata-vam com Ela percebiam esta claridade, porque o Senhor a encobria para que não

fosse vista sempre nem indiferentemente.Ela, porém, sentia por certos efeitos, o pri-vilégio deste dote oculto para os outros, enão tinha como nós o embaraço da opa-cidade terrena.

Efeitos deste dote em Maria

169. Santa Isabel divisou um pou-co esta claridade quando, ao ver Mariasantíssima, exclamou admirada: Donde amim esta felicidade, que a mãe de meuSenhor venha ter comigo? (Lc 1,43). Nãotinha o mundo capacidade para conhecer este segredo do Rei (Tob 12, 7), nem eratempo oportuno para ser revelado. Apesar disso, o rosto da Senhora era sempre mais brilhante que o das outras criaturas. Todo

seu físico era disposto de modo superior à ordem natural dos demais corpos, dan-do-lhe compleição delicadíssima e espiri-tualizada. Era como um suave cristalanimado que, para o tato, não tinha aspe-reza de carne, mas certa suavidade comode seda muito leve, macia e fina, pois nãoencontro outras comparações para me fa*

7 - Abaixo n° 219, 329.422, 560; e 3o; e 3* parte n° 3.6,4,449, 586, etc

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Terceiro Livro - Capítulo 13

zer entender. Não deve isto parecer muito para a Mãe de Deus, pois o trazia em seuseio, e o havia visto tantas vezes, face aface. Moisés que se comunicara com Deus

no monte (Ex 34, 29,30), em grau muitoinferior ao de Maria santíssima, ao descer trazia o rosto tão resplandecente que oshebreus não podiam fixar nele o olhar. Não há dúvida que, se o Senhor com es- pecial providência, não encobrisse a cla-ridade que a face e o corpo de sua Mãe

O dote da Impassibilidade

170. Aimpassibüidadeproduznocorpo glorioso certa disposição pela qualnenhum agente, a não ser Deus, o podealterar, por mais poderosa que sej a sua for-ça ativa. Deste privilégioparticipou nossaRainha por dois modos: quanto ao tempe-ramento do.corpo e seus humores, porqueos teve com tal peso e medida que não

 podia contrair nem sofrer enfermidades,

 puríssima refletiam, teriam iluminado omundo mais do que mil sóis, e nenhumdos mortais poderia, naturalmente, su-

 portar seus refulgentes esplendores.Mesmo encobertos, transpareciam em

seu divino rosto o suficiente para produ-zir em todos que a vissem, o arreba-tamento que causou em São DionisioAreopagita (8).

8 - S. Dion. In epist, adPaulum - Nessa carta declara oareopagita que vira pessoalmente Maria Santíssima. Talfoi sua impressão que, se a fé cristã nâo lhe houveraensinado a existência de um único Deus, teria tomado aVirgem por uma divindade. (Nota da Tradutora).

nem outras penalidades humanas origina-das do desequilíbrio dos quatro humores.

 Neste ponto era quase impassível. O outromodo foi seu grande domínio sobre todasas criaturas, como acima se disse (9). Ne-

nhuma a ofenderia sem seu consentimen-to. Podemos acrescentar uma terceira participação na impassibilidade, proce-dente da assistência da proteção divi-na equivalente à sua inocência. Se os pri-meiros pais no paraíso tivessem perse-verado najustiça original, teriam gozado

9 - Acima n6 18, 30,43, 56,60

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Terceiro Lh

desteprivilégio,não por virtude intrínsecaou inerente (porque se uma lança os fe-risse poderiam morrer), mas sim por vir-tude da assistência do Senhor que os

 preservaria de serem feridos. Com maio-res títulos, esta proteção era devida à ino-

cência da soberana Maria. Gozava comoSenhora, o que os primeiros pais e seusdescendentes teriam recebido como vas-salos.

Maria não se servia dos dotes que lheimpediriam o sofrimento

171. Não usou destes privilégiosnossa humilde Rainha. Imitando seu Filhosantíssimo, renunciou a eles para merecer e cooperar em nossa redenção e assim pa-deceu mais que os mártires. De seus so-frimentos falaremos em toda esta His-tória, sendo muito mais do que se podecompreender, porque a razão humana nãoconsegue ponderá-los devidamente, nem

as palavras descrevê-los. Advirto, porém,duas coisas: o padecer de nossa Rainhanão tinha relação alguma com culpas pes-soais das quais estava livre. Sofria a amar-gura e a depressão de que estão embebidasnossas penas, lembrando-se de nossos pe-cados e dos sujeitos que os cometem. Por outro lado, Maria santíssima foi fortaleci-da divinamente, na medida de seu arden-tíssimo amor. Naturalmente não poderiasofrer tanto quanto seu amor lhe pedia, e

 por causa do mesmo amor, o Altíssimo lheconcedia essa possibilidade.

O dote da subtileza

172. A subtileza é um privilégio

que liberta o corpo glorioso da densidadede sua matéria quantitativa, e do impedi-mento que isso lhe traz de penetrar-se comoutro semelhante e ocupar o mesmo lugar.O corpo subtilizado do bem-aventuradoassume qualidades do espírito que pode,sem dificuldade, penetrar outro corpoquantitativo e, sem dividi-lo nem afastá-lo, colocar-se no mesmo lugar. Assim

aconteceu com o corpo de Cristo Senhor nosso quando saiu do sepulcro (Mt 28,2),e entrou onde estavam os apóstolos de

-Capítulo 13

 portas fechadas (Jo 20,19), penetrando0

corpos que fechavam aqueles lugarJParticipou deste dote Maria santíssimanão apenas enquanto gozava das viSõeà

 beatíficas, mas também depois, podend0

usar dele à sua vontade. Adiante direm0s

(10) como se serviu desta subtileza, pene.trando outros corpos, em algumas aparj.ções que fez corporalmente durante sua

vida.

O dote da agilidade

173.0 últimodote, a agilidade, co.munica ao corpo glorioso o poder par a

mover-se de um lugar a outro sem inipe.dimento da gravidade terrestre; de um ins-tante a outro, se deslocará a diferenteslugares, ao modo dos espíritos sem corpo,que se movem só pela vontade. Teve Ma-ria santíssima admirável e contínua participação desta agilidade que lhe resultouespecialmente das visões divinas.

 Não sentia no corpo a pesada gra-

vidade terrena dos outros. Caminhavasem a lentidão nossa e, sem dificuldade efadiga, poderia mover-se velozmente. Istoera conseqüente ao estado e propriedadede seu corpo tão espiritualizado e per-feitamente formado. Durante os nove me-ses de sua gravidez, sentiu menos ogravame do corpo, ainda que para sofrer o que convinha, permitia às penalidades

que agissem sobre Ela e a fatigassem. Por estes admiráveis modos e perfeições, pos-suía todos esses privilégios e usava deles.Encontro-me sem palavras para explicar o que me foi manifestado, porque é muitomais de quanto eu disse ou possa dizer.

Pergunta da escritora

174. Rainha do céu e Senhora mi-nha, depois que vossa dignação me adotou

 por filha, empenhastes vossa palavra paraser minha guia e mestra. Confiada em vos-sa bondade, atrevo-me a vos propor a dú-vida seguinte: Vossa alma santíssimachegou a ver e gozar de Deus, diversasvezes, como dispôs sua Majestade altíssi-

ma. Sendo assim, por que não fícast

10 • V parte n° 193, 325.352, 399, 560, 562, 568

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Terceiro Livro - Capítulo 13

estabelecida no estado da bem-aven-turança? E, por que não dizemos que sem-

 pre fostes bem-aventurada, já que em vósnão havia culpa alguma, nem outro óbice

 para o ser, de acordo com a luz que me foidada sobre vossa excelente dignidade esantidade?

Resposta e doutrina da Rainha eSenhora nossa

175. Minha filha caríssima, tua dú-vida procede do amor que me tens, e tua pergunta do que ignoras. Sabe, pois, que

a estabilidade perpétua é uma das condi-ções da perfeita bem-aventurança destina-da aos santos. Se ela fosse só por algumtempo, faltar-lhe-ia o complemento e ade-quação necessária para ser suma e perfeitafelicidade. Por lei comum e ordinária,tampouco é compatível que a criatura sejagloriosa e ao mesmo tempo sujeita a pade-cer, mesmo que não tenha pecado. Se nisto

se abriu exceção para meu Filho san-tíssimo (Jo 1, 18; Tim 6, 16; Jo 6, 46),foi porque, sendo homem e Deus verda-deiro, sua alma santíssima unida hi-

 postaticamente à divindade, não deviacarecer da visão beatífica. Além disso,sendo Redentor do gênero humano não

 poderia padecer e pagar a dívida do peca-do, a pena, se não fosse passível no corpo.Eu, porém, era pura criatura, e não deviagozar permanentemente da visão devidasó a quem era Deus. Por isto, tampouco

 poderia ser chamada sempre bem-aventu-rada, pois o era só de passagem. Nestascondições, era bem que ora gozasse e ora

 padecesse, e mais contínuo era o padecer e merecer que o gozar, ser viadora e nãocompreensora.

Cristo e sua Mãe, exemplos para nós

176. Dispôs o Altíssimo, com justalei, que não se goze na vida mortal os pri-vilégios da vida eterna (Ex 33, 20). En-tra-se na imortalidade passando pelamorte corporal, precedida pelos méritosadquiridos no estado passível da vida ter-

rena. Para todos os fí lhos de Adão, a morteé estipêndio e castigo do pecado, (Rom 6,

23). Neste sentido, Eu não tinha parte namorte, nem nos outros efeitos c castigosdo pecado. Contudo, ordenou o Altíssimoque Eu também entrasse na vida e felici-dade eterna por meio da morte corporal

(Lc 24,26), como o fez meu Filho santís-simo. Nisto não havia inconveniente paraMim, e sim muita conveniência: seguiriao caminho palmilhado por todos, e con-quistaria grandes frutos de méritos e gló-ria através do sofrimento e da morte. Paraos homens serviria de prova que, mortaiscomo eles, meu Filho santíssimo e Eu, suaMãe, éramos verdadeiramente da nature-za humana. Esta certeza tornaria mais efi-

caz o exemplo que deixávamos para oshomens. Poderiam imitar, na carne pas-sível, o que nela tínhamos feito, e tudoredundaria na maior glória e exaltação demeu Filho e minha. Tudo isto se frustrariaem grande parte, se minhas visões da di-vindade fossem contínuas. Não obstante,depois que concebi o Verbo eterno, os be-nefícios e favores que recebi foram maio-res e mais freqüentes,  pois O tinha commais proximidade e maior posse.

Deus deseja comunicar-se com ascriaturas

177. Respondi tuas dúvidas, mas por muito que hajas entendido e esforçado para descrever os privilégios que Eu go-zava na vida mortal, não serápossível queabranjas tudo o que em Mim operava o

 poderoso braço do Altíssimo. E, aindamenos do que entendes, poderás declarar com palavras materiais. Agora, adverte àcontinuação da doutrina que te dei nos ca-

 pítulos precedentes. Fui o modelo que de-ves imitar, para receber a vinda de Deusàs almas e ao mundo, com a reverência,

culto, humildade, gratidão e amor que lhesão devidos. Se tu, e as demais almas, fi-zerem como Eu, o Altíssimovirá para co-municar suas divinas influências, comofez em Mim, embora para ti e os demaissejam inferiores e menos intensas. Se,desde o princípio do uso da razão, a cria-tura começasse a se encaminhar para o Se-nhor, dirigindo seus passos pelas sendas

retas da salvação e vida, o Altíssimo, queama suas obras, lhe viria ao encontro (Sab

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Terceiro Livro - Capítulo 13

6,15) antecipando sua comunicação e fa-vores. Esperar o fim da peregrinação ter-restre para se manifestar a seus amigos,

 parece-lhe prazo muito longo.

A presença e posse doSenhor nesta vida

178. Daqui procede que, por meioda fé, esperança, caridade, e pela freqüên-cia dos sacramentos dignamente recebi-dos, são comunicados às almas muitos edivinos efeitos concedidos por sua bene-volência. Uns pelo modo comum da gra-ça, outros por ordem mais sobrenatural emilagrosa, a cada qual na medida da pró-

 pria disposição e dos fins que o Senhor tem em vista, e que nem sempre se conhe-cem de imediato. Se as almas não puses-sem obstáculo, o amor divino seria tãoliberal com elas, quanto com as que se dis-

 põem. A estas dá maior luz e conhecimen-to de seu ser imutável, com doce e divino

ilapso as transforma em Si e lhes comuni-ca certa participação dabem-aventurança.Deixa-se prender e deleitar por aquele ín-timo abraço que a esposa sentiu quandodisse: Encontrei-o, apeguei-me a Ele e nãoo deixarei mais (Cant 3,4). Desta presen-ça, o Senhor dá muitos penhores e sinais

 para ser possuído no amor de quietudecomo os santos da glória, ainda que seja

 por tempo limitado. Assim liberal é Deus,

nosso Senhor, em remunerar os afetos de

amor e os trabalhos que a criatura aceita para atraí-lo, prendê-lo e não o perder.

Efeitos do amor divino

179. Esta suave violência do amor faz a criatura desfalecer e morrer a tudoque é terrestre, e por isto se diz que o amor é forte como a morte (Cant 8, 6). Estamorte a faz ressurgir para mais intensavida espiritual, e a torna capaz de nova

 participação da bem-aventurança e seusdotes, e ao gozo mais freqüente da sombrae dos doces frutos do sumo Bem que ama(Cant 3, 2). Destas ocultas graças, re-dunda para a parte inferior e animal umgênero de claridade que a purifica das tre-vas espirituais e seus efeitos. Torna-a fortee como que impassível para sofrer tudoquanto repugna à carne e à natureza. Comsubtilí ssima sede apetece todas as dificul-dades e violências que padece o reino doscéus (Mt 11, 12). Toma-se ágil, livre dagravidade terrena, de modo a sentir este

 privilégio até no corpo, de si mesmo tão pesado; com isto, vêm a ser fáceis os tra- balhos que antes lhe pareciam árduos.De todos estes efeitos, minha filha, tensciência e experiência. Se os descrevi eexpliquei, é para que mais te esforces edisponhas para o Altíssimo, agente di-vino e poderoso, encontrar em ti matériadisposta e dócil onde realizar seu bene-

 plácito.

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CAPÍTULO 1 4

PROCEDIME NTOS DE MARIA SATÍSSIMADURANTE O PERÍODO DE SUA GESTAÇÃO E

ALGUNS FATOS DESSE TEMP O.

Maria vive para seu divino Filho

180. No capítulo 12, número 152,ficou dito que nossa Rainha e Senhora,ao sair do êxtase que tivera na concep-ção do Verbo eterno humanado, pros-trou-se em terra e O adorou em seu seio.Esta adoração se lhe tornou contínua por toda a vida. De meia-noite, até a meia-noite seguinte, costumava fazer trezen-tas genuflexões, ou mais, se tinhaoportunidade. Durante os nove meses de

sua divina gravidez foi mais assídua nesta prática. Para desempenhar plenamente asnovas obrigações que lhe sobrevieramcom o novo dom do eterno Pai em seu vir-ginal tálaino, sem faltar às de seu estado,concentrou toda sua atenção no exercíciode fervorosas súplicas, para a guarda dotesouro que o céu lhe confiara. Aplicou no-vamente sua alma santíssima e potências,

 praticando atos de virtudes em grau tão he-róico e sublime, que causava admiraçãoaos próprios anjos.

Consagrou também os demaisatos corporais para obséquio e serviçodo Deus infante que trazia em seu corpovirginal. Comendo, dormindo, traba-lhando ou descansando, sempre tinhaem vista a nutrição de seu amabilíssimoFilho, e por estes atos abrasava-se noamor divino.

Os mil anjos da guarda oferecem-lheseus serviços.

corpórea, os mil anjos que a assistiam, ecom profunda humildade adoraram seu

Rei humanado no seio da Mãe. Re-conheceram-na de novo por Rainha e Se-nhora e, dando-lhe o devido culto ereverência, disseram-lhe: - Eis, Senhora,que vos tornastes a verdadeira arca dotestamento (Heb 9,4), que encerrais o Le-gislador, a lei, e guardais o maná celestial,nosso verdadeiro pão. Aceitai, Rainhanossa, felicitações por vossa dignidade esuma felicidade, pela qual enaltecemos o

Altíssimo, pois com justiça vos escolheu para sua Mãe e tabernáculo. Oferecemo-nos novamente ao vosso serviço e ob-séquio, prontos para vos obedecer comovassalos e servos do supremo Rei onipo-tente, de quem sois verdadeira Mãe. - Esteoferecimento e veneração dos santos an-

 jos tornaram a despertar na Mãe da sabe-doria incomparáveis sentimentos dehumildade, gratidão e amor divino. Aque-le puríssimo coração, onde se encontravaa balança do santuário para dar a todas ascoisas o valor e preço devido, estimougrandemente o ver-se reconhecida e reve-renciada como Senhora e Rainha dosespíritos angélicos. Ainda que, ser Mãedo próprio Rei e Senhor da criação tudoultrapassava, as demonstrações e obsé-quios dos santos anjos manifestavam ain-da mais todos estes benefícios edignidade.

Os anjos auxiliam a Virgem

181. No dia seguinte ao da Encar- 182. Desempenhavam eles estesnação, manifestaram-se-lhe em forma ministérios como executores e ministros

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Terceiro Livro - Capítulo 14

(Heb 1, 14) da vontade do Altíssimo.Quando sua Rainha e Senhora nossa esta-va só, assistiam-na em forma corpórea ea serviam em suas tarefas exteriores; sefazia trabalho manual, administravam-lheo que era necessário. Se, ocasionalmente,na ausência de São José, tomava sozinhaa refeição, eles a serviam como mestres-sala de sua pobre mesa e modestos man-

 jares. Em toda a parte acompanhavam-na,

nado, além desta comunicação ordináriaEla sentia a presença divina por diversosmodos, todos admiráveis e dulcíssimosUmas vezes se lhe revelava por visão abs-trativa, como acima disse (1). Outras via-0

como se encontrava em seu virginal tem- plo, unido hipostaticamente à naturezahumana. Via também a humanidadesantíssima, como que através do cristal deseu puríssimo seio materno, sendo este

servindo-lhe de escolta e ajudavam-na aservir São José. Assim auxiliada, não es-

quecia a divina Senhora de pedir ao Mes-tre dos mestres licença e orientação paratudo o que tinha de fazer. Todos os seusatos eram ordenados e praticados com tal

 plenitude de justeza, que só o Senhor os pode ponderar e compreender.

Visões de Maria durante a gestação

183. Durante o tempo que trouxeem seu ventre santíssimo o Verbo huma-

modo de visão de especial consolo e ale-gria para a grande Rainha. Outras vezesconhecia que da divindade, se refletia nocorpo do Menino Deus, um pouco da gló-ria de sua alma santíssima, comunicando-lhe alguns efeitos da glória da

 bem-aventurança. Esta claridade e luz docorpo natural do Filho refletiam-se naMãe com inefável e divino ilapso.

Este favor a transformava toda

noutro ser, com tais efeitos, que nenhuma1 - Vejam-se os lugares citados na nota de n° 633, l1 parte

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Terceiro Livro - Capítulo 14

capacidade de criatura os pode explicar.Dilate-se o mais elevado julgamento dossupremos serafins, e ficará oprimido por esta glória (Prov 25,27). Esta divina Rai-nha era um céu intelectual e animado, enela se concentrava a grandeza e glória

que os ilimitados céus não podem encerrar nem conter (3o Rs 8, 27).

Trabalho e oração de Maria

184. Estas graças, e outras, alter-navam-se com os exercícios da divinaMãe, segundo a variedade e diferença dosatos que praticava: espirituais, corporais

e manuais, quer servindo a seu esposo SãoJosé, quer beneficiando o próximo. Reu-nidos e ordenados pela sabedoria destadonzela, constituíam harmonia dulcíssi-ma para o Senhor e admirável para os es-

 píritos angélicos. Quando o Altíssimo permitia que a Senhora do mundo ficasseem seu estado mais natural, a força e vio-lência de seu amor causavam-lhe desfale-cimentos. Com toda a verdade, em seu

nome, pode escrever Salomão o que dissea esposa: Socorrei-me com flores porqueestou enferma de amor  (Cant 2, 5). E,acontecia que a ferida penetrante destadulcíssima flecha quase lhe arrebatava avida, se logo o poder do Altíssimo não areconfortasse de modo sobrenatural.

Saudação das aves à Mãe de Deus185. Para lhe dar algum alento sen-

sível, às vezes, por ordem do Senhor vi-nham visitá-lamuitas avezinhas. Como setivessem inteligência, saudavam-na commeneios, cantavam-lhe em conjunto, e es-

 peravam sua bênção antes de se despedi-rem. Aconteceu-lhe isto, principalmente,quando concebeu o Verbo divino, depois

da saudação dos santos anjos, como paraa felicitarem por sua dignidade. Neste dia,a Senhora das criaturas lhes falou, man-dando a diversas espécies de aves que sau-dassem seu Criador, e O louvassem comcânticos, para agradecer o ser e beleza quelhes dera e lhes conservava. Obedeceram-lhe, e em coros cantavam com doce har-monia. Inclinando-se até o solo faziamreverência ao Criador e à sua Mãe que O

trazia no seio. Costumavam, outras vezes,trazer-Ihe flores no bico, depositando-asnas. mãos e esperando que as mandassecantar ou calar, conforme quisesse. Acon-tecia também nas inclemências da atmos-fera, virem avezinhas à procura do abrigode sua divina Senhora. Glorificando aoCriador de tudo, Ela as recebia e susten-tava, afeiçoada por sua inocência.

Devemos ver a Deus em todas ascriaturas

186. Nossa tíbia ignorância nãodeve estranhar tais maravilhas, na aparên-

cia insignificantes e sem importância. Asobras do Excelso são todas grandes e ve-neráveis em seus fins, e grandiosas tam-

 bém as de nossa prudentíssima Rainha,quaisquer que fossem elas. Quem haverátão ignorante ou temerário, em não con-cordar quão digno é para o homem re-conhecer em todas as criaturas a

 participação do ser e das perfeições deDeus? Quem não vê quão justo é procu-

rá-lo, encontrá-lo e enaltecê-lo em todaselas, confessando-o admirável, po-deroso, liberal e santo como o fazia Ma-ria santíssima, sem que houvesse tempo,lugar ou criatura visível que lhe fosseinútil para isso? Como não se confundi-rá nosso ingratíssimo esquecimento?Como não se abrandará nossa dureza?Como não se despertará nosso frio cora-ção, com a censura e o exemplo das cria-turas irracionais?

Só por terem recebido a par-ticipação da vida, louvam a Deus semofendê-lo; e os homens que participam dasua própria imagem e semelhança, comcapacidade para conhecê-lo e gozá-lo, es-quecem-no por não O conhecer; se O co-nhecem não o louvam e recusando-seservi-lo O ofendem. Com nenhum direito

 poderão se preferir aos animais brutos (SI13,21), pois vêm a ser piores que estes.

DOUTRINA DA SANTÍSSIMARAINHA E SENHORA NOSSA

Decoro e reverência no trato com Deus

187. Minha filha,  pela doutrina quete dei até agora, estás preparada para de-

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Terceiro Livro - Capítulo 14

sejar e procurar a ciência divina que muitodesejo que aprendas; entender quão pro-fundo deve ser o decoro e reverência notrato com Deus.

Advirto-te novamente que, entreos mortais, é difícil encontrar-se esta ciên-

cia. Por poucos é ambicionada e seu des-conhecimento lhes traz grandes prejuízose danos. Quando se aproximam para tratar com o Altíssimo, ou para se aplicar ao seuculto e serviço, não o fazem com o devidoconceito de sua infinita grandeza. Não sedespojam das lembranças tenebrosas e damaneira de ser terrena que os faz grossei-ros, carnais, indignos, e sem disposição para o magnífico trato com a soberana di-

vindade. A esta grosseria segue-se outradesordem: ao tratar com o próximo, seentregam sem ordem, nem medida emodo, aos atos sensíveis, perdendo total-mente a lembrança e atenção de seu Cria-dor. Deste modo, com o frenesi de suas

 paixões engolfam-se em tudo o que é ter-restre.

Vida de união com Deus

188. Quero, pois, caríssima, que teafastes deste perigo, e aprendas a ciênciaque tem por objeto o imutável ser de Deuse seus infinitos atributos. De tal modo de-ves conhecê-lo e unir-te a Ele, que nenhu-ma coisa criada se interponha entre teu

espírito e o verdadeiro e sumo Bem. Emtodo tempo, lugar e ocupação, guarda sua presençaprendendo-0 com aquele íntimoabraço de teu coração (Cant 3, 4). Paraisto, lembro-te e ordeno-te que o tratescom magnificência, decoro, respeito e ín-timo temor. Quero que trates com todaatenção e apreço, qualquer coisa referenteao seu culto. Antes de tudo, ao te pores

em sua presença para a oração e prece,despoja-te de todas as reminiscências

sensíveis e terrenas. Visto que a humanafragilidade não pode permanecer sempreno intenso exercício do amor divino, esuas moções, fortes demais para o ser ter*reno, toma algum repouso honesto no qualtambém encontres a Deus. Louva-o na be-

leza dos céus e das estrelas, na variedadedas plantas, no aprazível panorama doscampos, na força dos elementos, e aindamais na angélica natureza e na glória dossantos.

Conforto e repouso em Deus

189. Fica, porém, avisada, semesquecer jamais esta advertência: por ne-nhum sucesso ou sofrimento, procuresalívio ou distração com criaturas huma-nas, e menos ainda do sexo masculino.Com teu temperamento meigo e inclina-do a não penalizar os outros, corres o pe-rigo de te excederes. Passarás os limitesdo lícito e justo para o gosto sensível,

mais do que convém às religiosas, espo-sas de meu Filho santíssimo. Para todasas criaturas humanas há risco neste des-cuido. Largando as rédeas da naturezafrágil, ela não atenderá à razão, à verda-deira luz do espírito. Esquecendo-se detudo, larga-se às cegas, ao ímpeto da pai-xão e esta ao seu deleite. Para evitar estegeral perigo, ordenou-se o encerramento

e retiro das almas consagradas a meu Fi-lho e Senhor. Corta-se pela raiz as oca-siões perigosas e infelizes às religiosasque voluntariamente as procuram e a elasse entregam. Teu repouso, caríssima, e ode tuas irmãs, não deve ser cheio de pe-rigo e mortal veneno. Com empenho, busca-o sempre no interior de teu cora-ção, e no retiro com teu Esposo (SI 40,

15) que é fiel em consolar ao triste e am- parar o atribulado.

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CAPÍTULO 15

MARIA SANTÍSSIMA CONHECE SER VONTADE DOSENHOR QUE ELA VISITE SANTA ISABEL; PEDE

PERMISSÃO A SÃO JOSÉ, SEM NADA LHE MANIFESTAR.

O mistério da visitação e suas razões

190. Pela relação do embaixador celeste, São Gabriel, (Lc 1,36) soube Ma-ria santíssimaque sua prima Isabel, que seconsiderava estéril, concebera e estava nosexto mês da gravidez. Além desta infor-mação, revelou-lhe o Altíssimo, por meiode visões intelectuais, que o miraculoso fi-lho de Santa Isabel seria grande diante do

Senhor (idem 15,17), profeta e precursor do Verbo encarnado. Acrescentou aindaoutros grandesmistérios sobre a santidadee missão de São João. Nesta visão, e emoutras, conheceu também a divina Rainhao beneplácito do Senhor para que fossevisitar sua prima Isabel. Esta, e o filho quetrazia no seio, seriam santificados pela

 presençado Redentor. Deste modo, dispu-nha o Senhor estrear no precursor os efei-tos de sua vinda ao mundo e de seusméritos. Comunicando-lhe o caudal desua divina graça, fá-lo-ia fruto temporãoe antecipado da redenção humana.

Deus ordena que Maria santíssimavisite Santa Isabel

191. Com admirável gozo de seu

espírito, a prudentíssima Virgem deu gra-ças a Deus por este novo mistério, e por-que se dignava fazer aquele favor a seufuturo profeta e precursor, e à sua mãe Isa-

 bel. Oferecendo-se a cumprir a divinavontade, disse ao Senhor: Altíssimo Se-

nhor, princípio e causa de todo o bem, seja

vosso santo nome eternamente glorifica-do, conhecido e louvado por todas as na-ções. Eu, a menor das criaturas, dou-voshumildesgraças pela misericórdia que tãoliberalmente quereis usar com vossa servaIsabel e o filho de seu seio. Se vos aprazinstruir-me no que devo fazer nesta ocor-rência, aqui estou, meu Senhor, preparada

 para obedecer prontamente a vossas divi-nas ordens. - Respondeu-lhe o Altíssimo:

Minha pomba e amiga, escolhida entre ascriaturas, em verdade te digo, que por tuaintercessão e por ter amor, olharei comoPai e Deus liberalíssimo tua prima Isa-

 bel e o filho que dela nascerá. Escolho-o para meu profeta e precursor do Verboem ti feito homem, e os considero meus,

 por estarem ligados a ti. Por  isto, queroque meu e teu Unigênito vá visitar a mãee libertar o filho da prisão do pecado ori-ginal. Antes do tempo comum e ordi-nário dos outros homens (Cant 2, 14),soe aos meus ouvidos a voz de sua palavrae louvores, e com a santificação de suaalma lhe sejam revelados os mistérios daEncarnaçâo e redenção. Para este fim,quero, esposa minha, que visites Isabel,

 pois as três Pessoas divinas escolhemos ofilho dela para grandes obras de nosso

agrado.

Resposta da Virgem

192. A esta ordem do Senhor, res- pondeu a obedientíssima Senhora: Bem

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Terceiro Livro - Capítulo 15

sabeis, Senhor meu, que todo meu coraçãoe meus desejos se inclinam ao vosso divi-no beneplácito, e cumprirei di-ligentemente tudo quanto mandardes àvossa humilde serva. Permiti que peça li-cença a meu esposo José, para fazer estaviagem de acordo com sua vontade e gos-to. Para não me afastar de vosso agrado,durante ela, dirigi-me em todos meus atos,e guiai meus passos (SI 118, 113) para amaior glória de vosso santo nome. Aceitaio sacrifício que faço em deixar o recolhi-mento da solidão para sair em público.Quisera, Rei e Bem de minha alma, ofe-recer-vos mais do que desejo, en-

contrando ocasiões de sofrer por vossoamor tudo quanto fosse de maior agradoe serviço vosso, para assim não ficar frus-trado o afeto de minha alma.

Maria santíssima pede a proteção dosanjos de sua guarda

193. Saindo desta visão, nossagrande Rainha chamou os mil anjos de suaguarda. Aparecendo eles em forma corpó-rea, declarou-lhes a ordem do Altíssimo,e pediu-lhes que naquela viagem a assis-tissem, cuidadosa e diligentemente, paraensiná-la a se desincurnbir daquela obe-diência, do modo mais agradável ao Se-nhor. Pediu-lhes também que aguardassem e defendessem dos perigos, para proceder com perfeição em tudoquanto ocorresse naquele itinerário. Comadmirável submissão, ofereceram-se ossantos príncipes para lhe obedecer e ser-vir. O mesmo costumava fazer em outrasocasiões a Mestra da prudência e humil-dade. Sendo mais sábia e perfeita que osanjos, pelo fato de se encontrar no estadode viadora e ter natureza inferior à an-

gélica, os chamava e consultava, para dar a seus atos a plenitude de perfeição. In-feriores a Ela em santidade, os anjos aguardavam e assi stianre, sob a direção de-les, a Virgem dispunha suas ações huma-nas que,alémdisso, eram governadas peloimpulso do Espírito Santo. Os espíritoscelestiais lhe obedeciam com a presteza efidelidade própria de sua natureza e devi-

das à sua Rainha e Senhora. Entretinhamcom Ela doces colóquios, e alternavam

cânticos de sumo louvor e glória do Altís-simo. Outras vezes, conferiam os sobera-nos mistérios do Verbo encarnado, r j a

união hipostática, da redenção humanados triunfos que obteria e dos frutos e be-nefícios que das obras do Redentor resul-tariam para os mortais. Muito mealongaria se fosse escrever tudo quantome foi manifestado sobre este particular.

A Virgem solicita a permissãode São José

194. Resolveu logo a humilde Es-

 posa solicitar permissão a São José, paraexecutar as ordens do Altíssimo. Sendoem tudo prudentíssima, sem lhe manifes-tar o mandato que recebera, disse-lhe cer-to dia: Meu Senhor e esposo, conheci por luz divina que a dignação do Altíssimofavoreceu minha prima Isabel, mulher deZacarias, concedendo-lhe o filho que elatanto pedia. Espero em sua bondade imen-sa que, sendo minha prima estéril conce-dendo-lhe este singular favor, o Senhor tem em vista sua glória e agrado. Julgoque, em tal ocasião, compete-me a obri-gação de visitá-la e tratar com ela algumascoisas convenientes para seu consolo e bem espiritual. Se isto for de vosso gosto,irei com vossa permissão, mas estou pron-ta a fazer o que julgardes melhor e me or-denardes.

Resposta de S. José

195. Muito agradável a Deus foiesta discreção de Maria santíssima, tãocheia de humilde submissão, digna de suacapacidade para ser depositária dos gran-des segredos do Rei (Tob 12, 7). Por isto

e pela confiança que depositava na fideli-dade desta Senhora, dispôs o Senhor o co-ração de São José, dando-lhe luz para agir de acordo com sua divina vontade. Esta éa recompensa do humilde que pede con-selho (Ecli 32, 24); encontrá-lo aceitadoe seguro. É também conforme ao santo ediscreto zelo, dá-lo com prudência (Ecli32, 22). Com esta orientação, respondeu

o santo esposo à nossa Rainha: Sabeis, mi-nha Senhora e esposa, que meu desejo é

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Terceiro Livro - Capítulo 15

servir-vos com toda minha dedicação,atenção e solicitude. Confio em vossagrande virtude, que vossa retíssima von-tade não se inclinará a coisa alguma quenão seja do maior agrado e glória do Al-tíssimo, como creio ser esta viagem. Paranão causar estranheza em irdes desacom-

 panhada de vosso esposo, irei também,com muito gosto, para vos servir duranteo trajeto. Marcai o dia e iremos juntos.

mou de empréstimo uma humilde mon-taria para levar a bagagem e sua Esposa,a Rainha de toda a criação.

Com estes preparativos, partiramde Nazaré para a Judéia, e no capítulo se-guinte falarei sobre a viagem. Ao sair desua pobre casa, a grande Senhora do mun-do ajoelhou-se aos pés de São José, pedin-do-lhe a bênção, para, em nome doSenhor, começar  a jornada. Retraiu-se o

Preparativos da viagem196. Agradeceu Maria santíssi-

ma o cuidadoso afeto de seu prudenteesposoJosé, e a docilidade com que coo-

 perava com a vontade divina no que sa- bia ser para seu serviço e glória.Determinaram ambos partir logo para acasa de Isabel (Lc 1, 39). Sem demora,

 prepararam o farnel que consistiu em

frutas, pão e alguns peixes. São José to-

Santo perante a rara humildade de sua Es- posa, por ele tantas vezes evidenciada, du-vidando em lhe dar a bênção. A mansidãoe doce insistência de Maria acabaram por vencê-lo e abençoou-a em nome do Altís-simo. Aos primeiros passos, elevou a di-vina Senhora os olhos ao céu e o coraçãoa Deus, para cumprir o divino beneplácito,levando em si o Unigênito do Pai e seu,

 para santificar João no seio de sua mãe

Isabel.

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Terceiro Livro - Capítulo 15

DOUTRINA QUE ME DEU ADIVINA RAINHA E SENHORA

Deus manifesta sua vontade por meios exteriores

197. Minha filha caríssima, muitasvezes te manifesto o amor de meu co-ração, porque tenho grande desejo que elese acenda no teu, e aproveites da doutrinaque te dou. Feliz é a alma a quem o Altís-simo revela sua santa e perfeita vontade!Mais feliz e bem-aventurada aquela que,depois de conhecê-la, a põe em prática.Deus usa de muitos meios para ensinar aosmortais as sendas e caminhos da vida eter-na: os Evangelhos, a sagrada Escritura eoutros livros; sacramentos e preceitos dasanta Igreja; os exemplos dos santos e

 principalmente a doutrina e orientação deseus ministros, a respeito dos quais disseo Senhor: Quem vos ouve a Mim ouve (Lc10,16). Logo, obedecer a eles é obedecer ao mesmo Deus. Quando, por algum des-

tes caminhos, chegares a conhecer a divi-na vontade, quero que com as asas dahumildade e da obediência emrápido vôo,ou até com a velocidade de um raio, este-

 jas pronta para cumprir o divino beneplá-cito.

Manifestação da vontade divina por 

graças interiores

198. Além destes meios de ensino,o Altíssimo dispõe de outros para dirigir as almas, manifestando-lhes sobrenatu-ralmente sua perfeita vontade e reve-lando-lhes muitos sacramentos. Estemodo tem graus muito diversos, e nem to-dos são comuns a todas almas, porque o

Altíssimo distribui sua luz com medida e peso (Sab 11,21). Umas vezes, fala comenergia ao coração e sentidos interiores;noutras corrige; ora admoesta e ensina,ora move o coração a rogá-lo. Há ocasiões

em que expõe claramente o que de$eja para a alma se mover a executá-lo; em Q&tras, costuma mostrar em Si mesmo,comòem claro espelho, grandes mistérios par ao entendimento conhecer e a vontadeamar. De qualquer modo, este grandeDeus e sumo Bem é suavíssimo no man-dar, forte para dar a forçade obedecer,ju$.to em suas ordens, pronto em dispor ascoisas para ser obedecido, e poderoso paravencer os obstáculos ao cumprimento desua vontade santíssima.

Docilidadeà graça

199. Quero, minha filha, sejasmuito atenta para receber esta luz divina, pronta e diligente para executá-la. Paraouvir o Senhor e perceber esta voz tãodelicada e espiritual, é necessário que asfaculdades da alma estejam purificadasda grosseria terrena e que a criatura todaviva segundo o espírito, pois o homemanimal não percebe (ICor 2,14) as coisas

elevadas e divinas. Atende pois ao teu ín-timo (Is 24,16) e esquece o exterior; ouve,minha filha, e inclina o teu ouvido (Is 44,11), desprendida de todo o visível. Paraseres diligente, ama. O amor é fogo e nãosabe protelar seus efeitos quando encon-tra matériapropícia, como quero que sejateu coração, sempre disposto e prepara-do. Quando o Altíssimo te ordenar ou en-

sinar alguma coisa em benefício dasalmas, principalmente para sua salvaçãoeterna, oferece-te com docilidade. Elassão o inestimável preço do sangue doCordeiro (I Ped 1,18,19) e do amor di-vino. Não te embaraces com tua baixezae timidez, mas vence tua covardia. Se pou-co vales e és inútil para tudo, o Altíssimoé rico (Rom 10,12), poderoso, grande, e

 por Si mesmo faz todas as coisas (Is 44,24). Tua prontidão e boa vontade não fi-carão sem recompensa, embora eu desejeque só tenhas em vista o bel-prazer de teuSenhor.

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CAPÍTULO 16

A VIAGEM DE MARIA EM VISITA A SANTA ISABELE SUA CHEGADA NA CASA DE ZACARIAS.

Razões do mistério da Visitação

200. Diz o texto sagrado de S. Lu-cas (1,39): Naqueles dias, levantando-se

Maria santíssima dirigiu-se com muita pressa às montanhas e cidade de Judá.Este levantar-se de nossa divina Rainha eSenhora, não foi apenas a disposição ex-terior em partir de Nazaré, mas significatambém o movimento de seu espírito evontade. Sob o impulso divino, levantou-se interiormente do humilde retiro onde acolocava o conceito que de si fazia. Dos

 pés do Altíssimo, onde aguardava suavontade e beneplácito, levantou-se comoa mais humilde serva que conserva osolhos nas mãos de sua senhora, a esperade suas ordens, como disse Davi (SI 122,2). Levantando-se à voz do Senhor, dirigiuseu amorosíssimo afeto ao cumprimentoda divina vontade que era apressar, semdilação, a santificação do Precursor doVerbo encarnado, como que encarcerado

na prisão do pecado original, no seio deIsabel. Esta era a finalidade daquela felizviagem, e foi em vista disso que a Princesados céus levantou-se e partiu, com a pres-teza e diligência de que fala o evangelistaS. Lucas.

Como se transportaram Maria e José201. Deixando, pois, a casa de seus

 pais (SI 44, 11) e esquecendo seu povo, partiram os castíssimos esposos Maria eJosé, para a casa de Zacarias. Estava elasituada nas montanhas da Judéia, vinte e

sete léguas distante de Nazaré, e grande parte do caminho era difícil e escabroso para tão delicada e jovem donzela. Paratão duro itinerário tinham apenas a como-

didade de um humilde jumentinho. Aindaque estava destinado só para servi-la, amais humilde e modesta das criaturasapeava-se dele muitas vezes e rogava aseu esposo se servisse dele para descansar um pouco, e assim repartirem entre ambosa fadiga e o descanso. Nunca aceitou o

 prudente esposo, mas para condescender de algum modo com os rogos da divina

Senhora, consentia que percorresse al-guns trechos à pé, e quanto sua delicadeza pudesse suportar sem demasiada fadiga.Em seguida, com grande respeito eamabilidade lhe pedia não recusar aquele

 pequeno alívio. Obedecia a celestial Rai-nha e tomava a montar.

Acompanhamento dos anjos

202. Competindo nesta humilda-de, continuavam a caminhada preenchen-do o tempo, sem inutilizar um só instante.Caminhavam sozinhos, sem companhiade criaturas humanas, mas assistidos pe-los mil anjos que guardavam o leito deSalomão (Cant 3, 7), Maria santíssima.Iam em forma visível, servindo a grandeRainha e ao Filho santíssimo que levavano seio, mas apenas Ela os via. Atendendoa eles e a José, caminhava a Mãe da graça,embalsamando os campos e montes coma fragrância suavíssima de sua presença edos divinos louvores nos quais sem inter-rupção, se ocupava. Algumas vezes falava

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Terceiro Livro - Capítulo 16

aos anjos e, com eles alternava cânticossobre os mistérios da divindade e suasobras: a criação e a encamação. Nestesatos, o cândido coração da puríssima Se-nhora abrasava-se sempre mais nos divi-nos afetos. São José colaborava com o

discreto silêncio que guardava, recolhen-do o espírito em alta contemplação, e permitindo à devota Esposa fazer o mes-mo.

Sentimentos de S. José

203. Outras vezes, conversavamsobre o aproveitamento de suas almas, so-

 bre as misericórdias do Senhor, a respeitoda vinda do Messias, das profecias que Oanunciaram aos antigos pais, e de outrosmistérios divinos. José amava ternamentesua Esposa com amor santo e castíssimo,ordenado com especial graça (Cant 2,4)e influência do amor divino. Além deste privilégio, possuía o Santo índole nobilís-sima, cortês e aprazível, que lhe inspirava

 prudentíssima e amorosa solicitude pelagrandeza e santidade de sua divina Esposa, por cujo intermédio reconhecia ter recebi-do aqueles dons do céu. Ia o Santo solícito por Maria perguntando-lhe, freqüente-mente, se estava fatigada e o que podia fa-zer para aliviá-la e servir. No entanto,como a Rainha do céu já levava em seutálamo virginal o divino fogo do Verbohumanado, percebia S. José (ignorando a

causa) novos sentimentos na alma, atravésdas palavras e conversação com sua amadaEsposa. Sentia-se mais inflamado no amor divino, e sobre os mistérios que comenta-vam, nova luz e chama interior que o re-novava e espiritualizava todo. Na medidaem que prosseguiam no caminho e nas ce-lestiais palestras, mais cresciam estes fa-vores dos quais percebia ser  veículo as

 palavras de sua Esposa. Penetravam-lhe ocoração e lhe inflamavam a vontade no di-vino amor.

Discrição de Maria santíssima

204. Tão sensível era esta novida-de que despertou a atenção do discretoJosé. Sabia que tudo lhe vinha através deMaria santíssima e ter-se-ia consolado

com saber a causa. Poderia ter procur a( jsabê-la, mas sua grande modéstia o irruJ!diu de perguntar qualquer coisa. Assimdispôs o Senhor, porque ainda nào er atempo de ser revelado o segredo do R e(Tob 12,7) que se escondia no seio virei!

nal. A divina Princesa conhecia tudo o qUese passava no interior de seu esposo. Em

sua prudência refletia que, forçosamentesua gravidez chegaria a ser notada e nào poderia escondê-la de seu dileto e castís-simo esposo. Por enquanto Ela não sabiacomo Deus iria encaminhar os fatos a res- peito do mistério. Ainda que não receberaordem sua para ocultá-lo, sua divina pru-dência e discrição aconselharam-na quemelhor era guardar reserva sobre um fatoque constituía o maior de todos os misté-rios. Deste modo, o manteve em segredo,sem dizer palavra a S. José nesta ocasião,nem antes na anunciação do Anjo, e aindadepois, na difícil situação quando S. Joséchegou ao conhecimento de sua gravidez.

Apreensões de Maria205. Oh! admirável discrição e so-

 bre-humana prudência! Entregou-se to-talmente a grande Rainha à divina providência, esperando suas disposições.Sentiu, contudo, alguma apreensão pre-vendo a pena que seu esposo sofreria, sem poder  afastá-la ou evitá-la. Aumentava-lhe esta apreensão o amor e solicitude do

Santo em servi-la, atenções que mereciamcorrespondência, enquanto pru-dentemente fosse possível. Fez especialoração ao Senhor, apresentando-lhe seucuidado, desejo e acerto para si e para S.José, nas circunstâncias que os espe-ravam. Para tudo pediu assistência e dire-ção divina. Nesta espera praticou grandese heróicos atos de fé, esperança, caridade, prudência, humildade, paciência e forta-leza, dando plenitude de santidade a tudoo que acontecia, porque fazia o mais per-feito em todas as coisas.

Maria, carruagem do Verbo encarnado

206. Esta viagem foi a primeira pe-

regrinação que o Verbo humanado fez

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Terceiro Livro - Capítulo 16

neste mundo, quatro dias depois de neleter entrado. Seu ardentíssimo amor não pôde esperar mais para começar  a atear ofogo (Lc 12, 49) que vinha nele acender,dando princípio à justificação dos mortaisna pessoa de seu Precursor. Comunicou

esta pressa à sua Mãe santíssima, que, com presteza, levantou-se e foi visitar Isabel(Lc 1, 39). Nesta ocasião, a diviníssimaSenhora serviu de carruagem ao verdadei-ro Salomão, carruagem mais rica, adorna-da e rápida que a do primeiro monarca,com a qual foi por ele comparada em seusCânticos (Cant 3, 9). Deste modo, foiesta jornada, para o Unigênito do Pai, demais glória, júbilo e magnificência. Eraconduzido no tálamo virginal de sua Mãe,onde repousava, gozando de suas amoro-sas delícias. Ela adorava-o, bendizia-o,via-o, falava-lhe e ouvia-o. Cofre destereal tesouro, confidente de tão sublimesacramento, só Ela o venerava e agrade-cia, por si e por toda a linguagem humana,muito mais do que todos os homens e an-

 jos reunidos.

Benefícios de Maria e José ao próximo

207. Nodecurso da viagem que du-rou quatro dias, exercitaram os pere-grinos, Maria santíssima e José, nãoapenas as virtudes que tinham a Deus por objeto e outras interiores, mas também

muitos atos de caridade com o próximo, pois não podiam ficar indiferentes diantedos que necessitavam socorro. Nos pou-sos, nem sempre encontravam o mesmoacolhimento; por algumas pessoas incon-sideradas eram despedidos rusticamente;outros, movidos pela divina graça, os re-cebiam afetuosamente. A ninguém, entre-tanto, negava a Mãe de misericórdia, o

 bem que lhe podia fazer. Observava aten-ciosamente se podia, sem inconveniente,visitar ou se encontrar com pobres, enfer-mos e aflitos, e a todos socorria, consolavaou curava de suas doenças. Não me de-tenho a referir todos os casos ocorridos. Narro apenas a feliz sorte de uma pobredonzela enferma que encontrou nossagrande Rainha no primeiro dia da viagem.

Viu-a, movendo-se de ternura e compai-xão pelo seu estado que era gravíssimo.

Usando o poder de Senhora das criaturas,ordenou à febre que deixasse aquela mu-lher, e ao seu organismo que voltasse aoestado normal. A esta ordem e pela doce

 presença de Maria santíssima, instanta-neamente ficou a doente curada de sua en-

fermidade corporal e aperfeiçoada noespírito. Foi progredindo, chegando a ser  perfeita e santa, pois lhe ficaram in-timamente gravados na memória e no co-ração a lembrança e o amor da autora desua felicidade, apesar de não ter visto maisa divina Senhora, nem se ter divulgado omilagre.

A cidade de Judá

208. Continuando sua caminhadachegaram, no quarto dia da viagem, Mariasantíssima e seu esposo José à cidade deJudá, onde residiam Isabel e Zacarias.Este era o nome próprio e particular da-quele lugar onde, naquela ocasião, viviamos pais de São João, como especificou oevangelista São Lucas, chamando-a Judá(Lc 1,39). Os expositores do Evangelhocomumente acreditaram que este nomenão pertencia à cidade onde viviam Isabele Zacarias, mas sim à província que sechamava Judá ou Judéia. Pela mesma ra-zão, chamam-se montanhas da Judéia osmontes que da parte austral de Jerusalémdescem para o meio-dia. Não obstante esta

opinião, a mim foi manifestado que a ci-dade é que se chamavaJudá, e que o Evan-gelista a nomeou por seu próprio nome. Arazão dos expositores terem atribuído estenome à província, é porque após algunsanos da morte de Cristo, Senhor nosso,aquela cidade arruinou-se. Como os ex-

 positores não tiveram conhecimento damemória de tal cidade, entenderam que

 por Judá, São Lucas referia-se à provínciae não ao lugar. Daqui resultou a diversi-dade de opiniões sobre a cidade em quesucedeu a visita de Maria SSma. à SantaIsabel.

Desaparecimento da cidade de Judá

209. Visto que a obediência me or-

denou explicar mais exatamente este pon-to, pela surpresa que pode causar, e tendo

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Terceiro Livro - Capítulo 16

feito o que sobre isto me foi ordenado,digo que a casa de Zacarias e Isabel, ondesucedeu a Visitação, foi no mesmo lugar onde agora são venerados estes mistériosdivinos pelos fiéis e peregrinos que vãoou residem nos santos lugares da Pales-

tina. Apesar da cidade de Judá, onde seencontrava a casa de Zacarias haver se ar-ruinado, não permitiu o Senhor que desa-

 parecesse a memória de tão veneráveislugares onde se realizaram tantos misté-rios, consagrados pela presença de Mariasantíssima, de Cristo, Senhor nosso, doBatista e seus santos pais.

Por luz divina e certa tradição, edi-

ficaram os antigos fiéis aquelas igrejas erestauraram os lugares santos para reno-var a memória de tão admiráveis misté-rios. Deste modo, viemos a gozar o benefício de venerá-los e adorá-los, con-fessando a fé católicanos mesmos lugaressagrados de nossa redenção.

Pretensão do demônio em destruir ossantos lugares

210. Para maior clareza, advirta-seque na morte de Cristo Senhor nosso, odemônio acabou de ter certeza, que Eleera Deus e Redentor dos homens. Conce-

 beu incrível furor  e pretendeu apagar suamemória, como diz Jeremias (11, 19) da

terra dos viventes, e assim também a desua Mãe santíssima. Para o conseguir,uma vez contribuiu para que a santa Cruzfosse escondida e soterrada; outra, que fi-casse prisioneira na Pérsia. Com a mesmaintenção, procurou que fossem destruídosmuitos dos santos lugares. Daqui resultouas diversas trasiadações da santa casa deLoreto, pelos anjos, pois o dragão que per-

seguia esta divina Senhora (Apoc 12,13)tinha convencido aos moradores do lugar a destruir aquele sagrado oratório, onde serealizou o altíssimo mistério da Encama-ção. Por esta mesma astúcia do inimigo,foi arruinada a antiga cidade de Judá, tanto

 pela negligência de seus moradores que aforam abandonando, como por outrosacontecimentos adversos. Apesar de tudo,

não permitiu o Senhor que se arruinassetotalmente a casa de Zacarias, em vistados sacramentos que ali se efetuaram.

Afirmação da existência de Judá

211. Distanciava-se esta cidadevinte e sete léguas de Nazaré, e apro^madamente duas léguas de Jerusalém

 para o lado onde nasce a torrente de Soreç

nas montanhas da Judéia. Depois do nas*cimento de São João (Mt 11,16), voltandoMaria Ssma. e José paraNazaré, teve San¬ta Isabel revelação divina que grande ca*lamidade iria brevemente atingir a$crianças de Belém e sua comarca. Aindaque esta revelação fosse geral, sem maisclareza ou especificação, moveu a mãe deSão João a retirar-se com Zacarias, seumarido, para Hebron, a oito léguas maisou menos, de Jerusalém. Sendo nobres eabastados, tinham casas e propriedades,não somente em Judá e Hebron, mas tam- bém em outros lugares. Quando Mariasantíssima e José, fugiram de Herodes ese dirigiram ao Egito (Mt 11,14), algunsmeses após o nascimento do Verbo e doBatista, Isabel e Zacarias encontravam-seem Hebron. Zacarias faleceu quatro me-ses depois do nascimento de Cristo, Se-nhor nosso, dez depois do nascimento deseu filho João. Isto agora me parece sufi-ciente para esclarecer a dúvida: a casa davisitação não estava em Jerusalém, nemem Belém, nem em Hebron, e sim na ci-dade chamada Judá. Assim o entendi coma luz do Senhor, como entendo os demaismistérios desta divina História. O mesmome foi repetido pelo santo Anjo, tendo-mea obediência ordenado que lhe perguntas-se outra vez.

Chegada à casa de Sta. Isabel

212. Nesta cidade de Judá e na

casa de Zacarias, chegaram Maria santís-sima e José. O santo esposo foi um poucona frente e saudou os moradores: O Se-nhor esteja convosco e encha vossas al-mas de sua divina graça. Santa Isabel jáos esperava porque o Senhor lhe revelaraque Maria de Nazaré, sua prima, estava acaminho para visitá-la. Por esta visão co-nhecera que a divina Senhora era muito

agradável aos olhos do Altíssimo, não po-rém o mistério de ser Mãe de Deus. Istosó lhe foi revelado quando ambas se cum-

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Terceiro Lh

nrimeníaram a sós. Saiu logo Isabel comalguns familiares para receber Maria san-tíssima que, sendo mais humilde e maisnova em idade, a saudou primeiro dizen-

do: O Senhor esteja convosco, minha que-rida prima.- O mesmo Senhor, respondeuIsabel, vos recompense por ter vindo medar este prazer. Depois desta saudação en-traram, e retirando-se as duas primas asós,aconteceu o que direi nocapítulo seguinte.

DOUTRINA QUE ME DEU NOSSARAINHA E SENHORA

A obediência e seus frutos

213. Minha filha, quando a criaturafaz digno apreço das boas obras e da obe-diência ao Senhor que as ordena para suaglória, sente muita facilidade para prati-cá-las, grande e suave doçurano empreen-dê-las e diligente presteza emcontinuá-las. Estes efeitos provam que

são legítimas eúteis. Mas, não pode a almafazer esta experiência se não estiver muitosubmissa ao Senhor, com desejo de co-nhecer sua divina vontade, ouvi-la comalegria e executá-la prontamente. Esque-ça a própria inclinação e comodismo,como servo fiel que só quer a vontade deseu Senhor e não a própria. Este é o fru-tuoso modo com que todas as criaturas de-vem obedecer a Deus e muito mais as

religiosas que assim lhe prometeram. Parao conseguires perfeitamente, nota, ca-ríssima, com que estima Davi fala em mui-tos lugares sobre os preceitos do Senhor (SI 118-18-16-32 etc); de suas palavras,de suas justificações e dos efeitos que nele

 produziram e que ainda agora produzemnas almas. Confessa o Profeta que os pre-ceitos do Senhor faz sábios (S\ 18,8), quealegram o coração do homem (idem 9),

que iluminam os olhos da alma e para os pés são luz claríssima (SI 118,105); quesão mais doces que o mel (SI 18,11), mais

Capítulo 16

desejáveis e estimáveis que o ouro e as pedras mais preciosas.

Esta prontidão em obedecer à di-vina vontade e sua lei tomou Davi confor-

me ao coração de Deus (1 Rs 13, 14). Ecom tais predicados que o Senhor desejaseus servos e amigos.

Compaixão e amor do próximo

214. Pratica, pois, minha filha,com toda a estima, as obras de virtude e perfeição que sabes serem do beneplácitode teu Senhor. A nenhuma desprezes, nem

te oponhas, nem deixes de a empreender  por maior que seja a dificuldade que apre-sentarem às tuas inclinações e fraqueza.Confia no Senhor, aplica-te à execução,que logo seu poder  vencerá todas asdificuldades e depressa sentirás a feliz ex-

 periência de quão leve é o peso do Senhor e suave o seu jugo (Mt 11,30). Ele não seenganou quando o disse, como quer supor a dureza e desconfiança dos tíbios e negli-

gentes que recriminam esta verdade. De-sejo também que, imitando minha perfeição, advirtas a graça que me con-cedeu a dignação divina, ao me dar ternis-sima piedade e afeição pelas criaturas,obras suas, participantes de sua bondade.Com este sentimento desejava consolar,aliviar e encorajar todas as almas e comnatural compaixão procurava-lhes todo

 bem espiritual e corporal. A ninguém de-

sejava mal, por grande pecador que fosse;a estes com ainda mais força se inclinavameu compassivo coração, para lhes alcan-çar  a eterna salvação. Daqui me resultoua pena pela aflição que meu esposo Joséiria sentir, quando me visse no estado degravidez, pois a ele eu devia mais obriga-ções que aos outros. Sentia esta suavecompaixão particularmente pelos aflitose enfermos, e para todos procurava con-

seguir algum alívio. Quero que nisto meimites, usando prudentemente desta vir-tude, como vês em mim.

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CAPÍTULO 17

A SAUDAÇÃO DA RAINHA DO CÉU A SANTA ISABELE A SANTIFICAÇÃO DE SÃO JOÃO,

Privilégios de São João Batista

215. Ao chegar Maria santíssima

à casa de Zacarias, Santa Isabel se en-contrava no sexto mês de gravidez, do fu-turo Precursor de Cristo, nosso bem. Ocorpo do menino João era naturalmentemuito perfeito, mais do que em outrascrianças, tanto por causa de sua milagrosaconcepção de mãe estéril, como porqueDeus lhe destinara a maior santidade entretodos os nascidos (Mt 11,11). Mas, por 

enquanto, sua alma ainda se achava nastrevas do pecado contraído em Adãocomo os demais filhos deste pai comumdo gênero humano. Por lei geral, não po-dem os mortais receber a luz da graça(Rom 5,12) antes de vir à luz do sol destemundo. Por isto, depois do primeiro pe-cado que se contrai com a natureza, o ven-tre materno vem a servir, por assim dizer,de cárcere para todos nós que nos torna-mosréus em nosso pai Adão. A seu grandeProfeta e Precursor determinou Cristo,senhor nosso, antecipar-lhe a luz da graçae justificação aos seis meses de sua con-cepção em Santa Isabel, para que sua san-tidade fosse privilegiada, assim como oseria sua missão de Precursor e Batista.

A santificação do Precursor 

216. Depois dos primeiros cumpri-mentos, retiraram-se Maria santíssima eSanta Isabel a sós, como disse no fim do

capítulopassado (1). (A mãe dagraça sau-dou (Lc 1, 40) novamente sua prima, di-zendo-lhe: Deus te salve, primacaríssima,e sua divina luz te comuniquegraçae vida.

À voz de Maria santíssima ficou Santa Isa- bel repleta do Espírito Santo (Lc 1,41), einteriormente tão iluminada, que num mo-mento conheceu altíssimos mistérios. Es-tes efeitos, e os percebido pelo meninoJoão em seu seio, originaram-se da pre-sença do Verbo humanado no tálamo deMaria. Servindo-se da voz de sua Mãe,começou a usar do poder que lhe dera o

Pai eterno para salvar (Mt 9,6), e justificar as almas. Exercendo este poder como ho-mem, aquele corpozinho concebido háoito dias (coisa maravilhosa), se pôs noseio materno em posição humilde de sú-

 plica e orou ao Pai pedindo e obtendo daSantíssima Trindade a justificação de seufuturo Precursor.

Oração de Cristo por São João

217. São João, no seio materno, foia terceira pessoa por quem nosso Reden-tor orou particular e especialmente, estan-do Ele também no seio de Mariasantíssima. Ela foi a primeira por quemagradeceu, pediu e orou ao Pai. Em segun-do lugar foi São José, como dissemos nocapítulo 12 (2), e o terceiro a gozar de tantafelicidade e de tais privilégios foi SãoJoão. Apresentou Cristo, Senhor nosso,ao eterno Pai seus méritos, paixão e

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Terceiro Livro - Capítulo 17

demais que ali podia praticar. Desde aque-le momento, começou a merecer e a cres-cer na santidade, sem perdê-la jamais,nem deixar de praticá-la com todo o vigor 

da graça.

Revelações recebidas por Santa Isabel

219. Conheceu, então, Santa Isa- bel o mistério da Encamação, a santi-ficação de seu filho e a razão destamaravilha. Conheceu também a dignida-de e virginal pureza de Maria santíssima. Nesta ocasião, estando a divina Rainha

absorta na visão destes mistérios e da di-vindade de seu Filho santíssimo, ficoutoda divinizada, cheia da luz e claridadedos dotes divinos de que participava. Viu-a Santa Isabel nessa majestade, e comoatravés de uma redoma de vidro puríssi-mo, o Verbo humanado como em íiteirade vivo e luminoso cristal. Todos estesefeitos foram produzidos através da vozde Maria santíssima, tão doce como fortee poderosa aos ouvidos do Altíssimo.Toda esta virtude era como participaçãodo poder daquela outra palavra (Lc 1,38):

 Fiat mihi secundum verbum tuum, com aqual atraiu o eterno Verbo do peito do Pai para sua mente e seio virginal.

Elogios de Santa Isabel à Mariasantíssima

220. Arrebatada Santa Isabel peloque sentia e reconhecia sobre tão admi-ráveis sacramentos, encheu-se de júbilono Espírito Santo. Olhou para a Rainha domundo e a Quem n'Ela via, e em alta voz

 prorrompeu naquelas palavras referidas por São Lucas (1,42-45). "Bendita és en-tre as mulheres e bendito o fruto de teuventre. Donde me vem a felicidade de ser 

visitada pela Mãe de meu Senhor? Assimque tua saudação chegou a meus ouvidos,exultou de alegria a criança em meu seio.Bem-aventurada és porque acreditaste, eem ti se cumprirão perfeitamente todas ascoisas que o Senhor te disse". Nestas pa-lavras proféticas, resumiu Santa Isabelgrandes excelências de Maria santíssima,conhecendo com divina luz o que o poder divino n'Ela fizera, fazia no presente e fa-ria no futuro. Tudo conheceu e entendeu

o menino João que percebia as palavrasde sua mãe, iluminada através da santifi-cação do filho. Por ambos, exaltou ela Ma-ria santíssima, como instrumento de sua

felicidade, e a quem ele ainda não podia, por sua própria boca, louvar e bendizer.

O Cântico de Maria

221. Às palavras de louvor de San-ta Isabel, respondeu nossa grande Rainhae Mestra da sabedoria e humildade, reme-tendo-as ao seu próprio Autor, e com sua-víssima voz entoou o cântico Magnificatreferido por São Lucas (1,47-57): Minhaalma engrandece ao Senhor, e meu espí-rito se alegra em Deus meu salvador: por-que olhou para a humildade de sua serva,e por isso todas as gerações me chamarão

 bem-aventurada. Fez em Mim grandescoisas o Poderoso cujo nome é Santo. Suamisericórdia se estende de geração em ge-ração sobre todos os que o temem. Mani-festou a força de seu braço, destruiu ossoberbos. Encheu de bens aos que temfome, e os ricos deixou sem nada. Reer-gueu seu servo Israel lembrado de sua mi-sericórdia, conforme prometeu a Abraãoe a seus filhos  por todos os séculos.

Comentário do Magnificat: a Deustoda a glória

222. Sendo a primeira a ouvir este cântico, foi também Santa Isabel a

 primeira a entendê-lo e a interpretá-locom inteligência infusa. Compreendeugrandes mistérios nele encerrados pelaAutora em tão resumidas frases (Lc 1,47). O espírito de Maria santíssima exal-tou ao Senhor pela excelência de seu ser infinito. A Ele referiu toda a glória e lou-

vor (I Tim 17-Apoc 1, 8), como princí- pio e fim de tudo o que existe,confessando que só em Deus (II Cor 10, 17), deve-se gloriar e se alegrar qualquer criatura, pois somente n'Eleestá todo seu bem e salvação (Lc 1,48).Confessou também a equidade e mag-nificência do Altíssimo em olhar aoshumildes (SI 137, 6), e ne les colocar abundantemente seu espírito e divino

amor: e quão vantajoso é que os mor-

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Terceiro Livro - Capítulo 17

tais ponderem que, por esta humildade,Ela mereceu que todas as nações a cha-massem bem-aventurada. Com Ela ob-terão esta mesma felicidade todos oshumildes, cada qual na própriamedida.(1, 49). Numa só palavra declarou to-das as misericórdias, favores e donsque operou n'Ela o Todo-poderosocujo nome é santo e admirável: cha-mou-as grandes coisas, porque ne-nhuma foi pequena para a imensacapacidade da grande Rainha e Se-nhora.

Exaltação dos humildes, humilhaçãodos soberbos

223. Da plenitude de Maria san-tíssima transbordam as misericórdias doAltíssimo para todo o gênero humano.Ela foi a porta do céu por onde todas sederramaram, e pela qual devemos entrar à participação da divindade. Por istoconfessou que a misericórdiado Senhor,

 por Ela, se estenderia a todas as geraçõese se comunicaria aos que o temem (Lc1,50). Assim como as misericórdias in-finitas elevam os humildes e procuramaos que o temem, assim também o po-deroso braço de sua justiça dissipa (Lc1, 51), e destrói aos soberbos nos pen-samentos de seus corações, derruba-osde seu trono (Lc 1, 52) para neles colo-car os pobres e humildes. Esta justiça doSenhor estreou-se gloriosa e admi-

ravelmente no chefe dos soberbos, Lu-cifer, (Is 14 Apoc 12) e em seussequazes. O braço do Altíssimo os dissi-

 pou e derrubou (por que eles mesmos se precipitaram) daquele elevado lugar eassento da natureza e da graça que pos-suíam segundo a primeira intenção damente e do amor de Deus, pelo qual de-seja que todos se salvem (ITim 2, 4).Sua queda lhes proveio de intenciona-

rem subir (Is 14, 13) onde não podiamnem deviam. Nesta arrogância choca-ram-se contra os justos e insondáveis

 juízos do Senhor que os dissipou e der-rubou (Apoc 12,8). No lugar deles fo-ram colocados os humildes, por intermédio de Maria Santíssima, mãee reservatório das antigas misericór-dias.

A riqueza dos pobres espirituais, aindigência dos ricos de orgulho

224. Por esta mesma razão diz adivina Senhora que Deus enriqueceu aos

 pobres (Lc 1, 53) enchendo-os abundan-

temente de seus tesouros de graça e glória.Aos ricos da própria estima, e dos bensque o mundo considera riqueza e felici-dade, a estes o Altíssimo despediu e des-

 pede vazios d'Ele e da verdade que nào pode caber em corações abarrotados dementira e falácia. Recebeu a seu servo efilho Israel (Lc 1,54) lembrando-se de suamisericórdia. Ensinou-lhe onde está a pru-dência (Bar 3,14), a verdade e o enten-dimento: onde a longa vida e seu sustento,a luz dos olhos e a paz. A ele ensinou ocaminho da prudência (Bar 3, 37), asocultas sendas da sabedoria e disciplina,que foram escondidas aos príncipes dasgentes, nem foram conhecidas pelos po-derosos (Bar  11, 16, 2) que dominam osanimais da terra, se entretém e divertemcom as aves do céu e amontoam tesourosde ouro e prata. Não a receberam os filhosde Agar e habitantes de Temam que sãoos sábios e os prudentes segundo estemundo. Concede-a o Altíssimo aos filhosda luz (Gal 3,7) e de Abraão, pela fé, (Lc1, 55) esperança e obediência. Assim o

 prometera a ele e à sua posteridade e ge-ração espiritual, pelo bendito e feliz frutodo virginal ventre de Maria santíssima.

Comparação com uma passagem de Isaias

225. Ao ouvir a Rainha das cria-turas, compreendeu Santa Isabel estesocultos mistérios. Não apenas o que pos-so explicar, entendeu a feliz matrona,mas muitos outros e maiores mistériosque meu entendimento não alcança.Tampouco quero alongar-me em tudo o

que me foi declarado, pois prolongariademasiado esta explicação. As doces edivinas palavras destas duas santas e

 prudentes senhoras, Maria puríssima eSanta Isabel, lembraram-me os dois sera-fins que Isaias viu junto ao trono do Al-tíssimo (Is 10, 2, 3) alternando aqueledivino cântico sempre novo, Santo, Santo, Santo, cobrindo com duas asas a ca

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Terceiro Livro - Capítulo 17

 beça, com duas os pés e voando com ou-tras duas. Claro está que o ardente amor destas Senhoras excedia ao de todos osserafins, e só Maria santíssima amava

mais que todos eles. Neste divino incên-dio abrasavam-se, estendendo as asas docoração para o comunicarem misterio-samente e para voar à mais elevada in-teligência dos mistérios do Altíssimo.Com outras duas asas de rara sabedoriacobriam a cabeça, porque ambas propu-seram guardar em segredo, por toda avida, o sacramento do Rei (Tob 12, 7), esubmeteram seus entendimentos paracrer com docilidade, sem altivez nemcuriosidade. Cobriam também os pés doSenhor e os delas com asas de serafins,mantendo-se humildes e alheias à pró-

 pria estima na presença de tanta majes-tade. Encerrando Maria santíssima emseu virginal seio o Deus de majestade,com razão e toda a verdade diremos quecobria o trono onde se assentava o Se-nhor.

A amizade entre Maria e Isabel

226. Ao deixar seu retiro, SantaIsabel ofereceu-se como escrava à Rainhado céu, e pôs à sua disposição sua casa efamília para servi-la. Pediu-lhe aceitar,

 para repousar e se recolher, um aposentoque ela usava como oratório, por estar 

mais retirado e ser mais cômodo para isso.A divina Princesa aceitou agradecida edestinou o aposento para orar e dormir, enele ninguém entrou a não ser as duas pri-mas. No mais, ofereceu-se para servir eassistir Santa Isabel como serva, pois

 para isto viera visitá-la. Oh! que doce ami-zade, tão íntima e sincera, unida pelo maisforte vínculo do amor divino! E admirávelcomo o Senhor manifestou o grande mis-tério de sua Encarnaçâo a três mulheres,antes que a qualquer outra criatura huma-na. A primeira foi Sant'Ana, como ficoudito em seu lugar (3). A segunda, sua Filhae Mãe do Verbo, Maria santíssima. A ter-ceira, Santa Isabel e seu filho, que por seencontrar ainda no seio materno não seconsidera pessoa dela distinta. Isto confir 

3- 1" parte, n° 184

ma o que disse São Paulo (I Cor% 25): oque é estulto segundo Deus, é mais sábioque os homens.

Volta de São José a Nazaré

227. Depois de permaneceremgrande espaço de tempo a sós, entrada jáa noite, Maria santíssima e Isabel saíramdo aposento. A Rainha encontrou-se entãocom Zacarias, ainda mudo, e lhe pediu a bênção como a sacerdote do Senhor. Ape-sar de sentir grande compaixão por seu

estado, a Senhora nâo procurou sua cura.Apenas fez oração por ele, porque sabia omistério encerrado naquela provação.Santa Isabel que já conhecia a felicidadedo castíssimo esposo José, por ele aindaignorada, tratou-o com grande reverênciae estima. Depois de três dias de estada nacasa de Zacarias, o Santo pediu permissãoà sua divina Esposa para voltar à Nazaré,deixando-a para assistir Sta. Isabel em seu

estado de gestação. Despediu-se, ficandocombinado que viria buscar a Rainhaquando ela o avisasse. Santa Isabel ofe-receu-lhe alguns presentes para levar paracasa. Aceitou algumas coisas, mais por atenção à insistência da santa, porque erahomem cheio de Deus, não apenas amanteda pobreza, mas de coração magnânimo edesprendido. Voltou à Nazaré no ju-mentinho que trouxera. Em casa, na au-

sência de sua Esposa, foi servido por uma parenta vizinha que costumava trazer defora as coisas que Maria santíssima ne-cessitava.

DOUTRINA QUE ME DEU ARAINHA, SENHORA NOSSA

Valor da graça228. Minha filha, para que em teu

coração mais se acenda a chama do cons-tante desejo de alcançar a graça e amizadede Deus, faço questão que conheças a dig-nidade, excelência e felicidade de umaalma quando chega a receber essa formo-sura. E tão admirável e de tanto valor, quenão poderás compreender, ainda que eu temanifeste; mais impossível ainda será ex-

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Terceiro Livro - Capitulo 17

 plicá-la com tuas palavras. Considera oSenhor, contempla-o com a divina luz querecebes, e nela conhecerás que para Deusé maior glória justificar uma só alma, doque haver criado todo o orbe do céu e daterra com as perfeiçÕes que encerram. Se,

 por estas maravilhas criadas (Rom 1,20)que, em grande parte, as criaturas perce- bem através dos sentidos, chegam ao co-nhecimento do poder e grandeza de Deus,que diriam e que pensariam se vissem,com os olhos da alma, o quanto vale e im-

 porta a formosura da graça em tantas cria-turas capazes de a receber?

Beleza da graça, fealdade do pecado

229. Nào há termos e palavras decomparação para dar idéia do que em si éa participação de Deus e suas perfeições,contidas na graçasantifícante. Muito pou-co é chamá-la mais pura e branca do quea neve, mais refulgente do que o sol, mais

rica do que o ouro e as pedras preciosas,mais amável e agradável que todos os de-leites, prazeres e gozos, mais formosa quetudo quanto possa imaginar o desejo dascriaturas. Por outro lado, pensa na fealda-de do pecado, para que o contraste te su-gira mais clara idéia da graça: nem astrevas, nem a putrefação, nem o mais he-diondo e repugnante chega a comparar-secom ele e seu mau odor. Grande percepçãodisto tiveram os mártires e santos (Heb11,36-37), que para conseguir a beleza dagraça e evitar cair na infeliz mina do pe-cado, não temeram o fogo, os cutelos, asferas, os tormentos, os cárceres, as igno-

mínias, as penas, as dores, nem a mesmmorte, nem o prolongado padecer até ei *Tudo isto pesa menos e não chega ao vaide um só grau de graça que uma alm°aainda que seja a mais desprezada pei1

mundo, pode obter e fazer crescer. Tud°isto é ignorado pelos homens que só estimam e ambicionam a fugaz e aparente

 beleza das criaturas, considerando vil edesprezível o que não a tem.

Esforço para não perder e paraaumentar a graça

230. Agora entenderás algo do fa-

vor que o Verbo humanado concedeu a seu precursor João no seio de sua mãe. Por tê-lo compreendido é que ele saltou deale-gria e júbilo. Conhecerás também quantodeves fazer e padecer para conseguir a fe-licidade da graça; para nào perder tãoapreciável beleza, nem manchá-la comculpa alguma por leve que seja, nem re-tardá-la com qualquer imperfeição. Dese-

 jo que, à imitação de minhas relações comminha prima Isabel, não aceites nem dêsentrada a amizades humanas. Trata so-mente com quem pode e deve falar do Al-tíssimo e seus mistérios, e possa te ensinar o verdadeiro caminho de seu divino bene-

 plácito. Ainda que tenhas muito trabalhoe preocupação, não deixes, nem esqueçasos exercícios espirituais e o regulamentoda vida perfeita. Tudo se há de observar,não só quando haja comodidade, mas tam-

 bém na contradição, dificuldade e ocu- pações, pois a natureza imperfeitaserve-se de qualquer pretexto para se rela-xar.

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CAPITULO 18

MODO DE VIDA QUE MARIA SSMA. SEGUIU NA CASADE ZACARIAS, E ALGUNS FATOS COM SANTA ISABEL.

Maria pede orientação a Deus para distribuir seu tempo

As ocupações espirituaise corporais de Maria

231. As principais finalidades davisitação já estavam realizadas: a santi-ficação do Precursor São João, e o apro-fundamento espiritual de Santa Isabel

 pelas novas graças recebidas nessa oca-sião.

Depois disso, determinou a grandeRainha ordenar suas ocupações na casa de

Zacarias, pois não podiam ser iguais àsque tinha na sua. Para agir em tudo sob adireção do Espírito divino, recolheu-se e

 prostrou-se na presença do Altíssimo. Pe-diu-lhe, segundo costumava, a orientasseno que devia fazer durante sua permanên-cia na casa de seus servos Isabel e Zaca-rias, a fim de lhe ser agradável em tudo ecumprir exatamente seu beneplácito. Ou-viu o Senhor sua oração e respondeu-lhe:

Esposa e pomba minha, Eu governareituas ações e dirigirei teus passos para meumaior agrado e serviço, e te avisarei o diaem quedeverásvoltarpara casa. Euquantoestiveres na de minha serva Isabel convi-verás com ela, e continuarás teus exercí-cios e orações pela salvação dos homens.Impede que Eu descarregue sobre eles mi-nha justiça, por causa das incessantesofensas que multiplicam contra minha bondade. Ao fazer este pedido me ofere-cerás, por eles, Aquele que trazes no seio:o Cordeiro sem mancha (1 Ped 1,19) quetira os pecados do mundo (Jo 1,29). Estasserão tuas atuais ocupações.

232. De acordo com estas ordensdo Altíssimo, a Princesa dos céus distri- buiu seu tempo na casa de Isabel. Levan-tava-se à meia-noite, como sempre fazia, para se entregar à contínua contemplaçãodos mistérios divinos dando, quer ao sonocomo à vigília, o que perfeitíssima e pro- porcionadamente exigia seu físico.  Nestes

exercícios sempre recebia novas graças,iluminações, elevações e carícias doAltíssimo. Teve naqueles três meses mui-tas visões da Divindade, mais freqüente-mente pelo modo abstrativo. Ainda maisassídua era a visão da santíssima huma-nidade do Verbo e sua união hipostática,cujo altar e oratório era o virginal tálamo.Via como ia crescendo o sagrado corpo,e esta visão, como os mistérios que se lhe

manifestavam no imenso campo da divin-dade e de seu poder, faziam crescer tam- bém o espírito desta grande Senhora.Muitas vezes teria desfalecido e morri-do vitima do incêndio de seu amor e ar-dente afeto, se não fosse confortada pelavirtude do Senhor. Sem interromper es-tes invisíveis ofícios, prestava-se a to-dos os que se ofereciam para o serviçoe consolo de sua prima Santa Isabel.

Sem lhes dar um momento sequer a maisdo que a caridade reclamava, voltavalogo a seu retiro e solidão, onde commaior liberdade expandia seu espírito na presença do Senhor.

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Terceiro Livro - Capítulo 18

Peço-vos isto com maisjustiça, porque sevós, Senhora, quereis praticar a humilda-de, eu devo dar o culto e reverência a meuDeus e Senhor que se encontra em vossoseio, e vos confere dignidade merecedorade toda honra e reverência-Replicava a

 prudentíssima Virgem. Meu Filho e meuSenhor não me escolheu por Mãe, paraque me venerassem como a Senhora. Seureino não é deste mundo (Jo 18,36); nãoveio a ele para ser servido, mas para servir (Mt 20,8), sofrer e ensinar aos mortais aobedecer e a se humilhar (Mt 11,29), re- provando o fausto e soberba. Quando sua

Majestadealtíssima me ensina isso, e quer ser o opróbrio dos homens (SI 21, 7),como Eu, que sou sua escrava e não me-reço sequer estar entre as criaturas, ireiconsentir em ser servida pelas que são suaimagem e semelhança (Gn 1, 27)?

Razões apresentadas por Santa Isabel

235. Insistia Santa Isabel: Senhorae amparo meu, isto será para quem ignorao sacramento em vós encerrado, Eu, po-rém, que sem o merecer, recebi do Senhor este conhecimento, serei muito repreensí-vel em sua presença, se não lhe der a ve-neração que lhe devo, como a Deus, e aVós como sua Mãe. E justo que sirva aambos como serva a seus senhores. - Res-

 pondeu Maria santíssima: Minha irmã eamiga, esta reverência que deveis e dese-

 jais dar, é devida ao Senhor que trago emMim, nosso Salvador, verdadeiro e sumoBem. A Mim, porém, que sou pura cria-tura, e entre elas um pobre bichinho, olhaio que sou por Mim mesma, ainda que ado-reis o Criador que escolheu minha pobre-za para sua morada. Na luz da verdadedareis a Deus o que se lhe deve, e a Mimo que me toca, que é servir e estar abaixode todos. Peço-vos isto para meu consoloe pelo mesmo Senhor que levo em meuseio.

Maria triunfa. Isabel manda comhumildade

236. Nestas virtuosas contendas passavam alguns momentos Maria e Isa-

 bel. Contudo, a divina sabedoria de nossa

Rainha tomava-a tão engenhosa em ma-téria de humildade e obediência, que sem-

 pre vencia, encontrando meios ecaminhos para obedecer e ser mandada.Assim o fez com Santa Isabel todo o tem-

 po que estiveram juntas. Isso era de talmodo que ambas tratavam, com a respec-tiva magnificência o mistério que o Se-nhor confiara a Maria santíssima, Mãe eSenhora das virtudes, e à sua prima SantaIsabel, matrona prudentíssima cheia daluz divina do Espírito Santo. Nesta luz de-terminava como proceder com a Mãe deDeus, dando-lhe prazer e obedecendo-lhe

no que podia, reverenciando, ao mesmotempo, sua dignidade e n'Ela ao Criador.Propôs em seu coração que, se ordenassealguma coisa à Mãe de Deus, seria parasatisfazer-lhe a vontade. Quando istoacontecia, pedia licença e perdão ao Se-nhor, e nunca mandava coisa alguma or-denando com autoridade, mas pedindo. Sóno que servia para aliviar a Rainha, comono comer e dormir, usava de mais liber-

dade. Pediu-lhe também que lhe fizesseuns trabalhos manuais, que nunca usou,mas guardou com veneração.

Maria, serva humilíssima

237. Por este modo, conseguiaMaria santíssima praticar a doutrina queo Verbo humanado vinha ensinar. Formado Pai eterno (Heb 1, 3), figura de suasubstância e Deus verdadeiro de Deus ver-dadeiro, humilhou-se tomando a forma eofício de servo. Mãe de Deus, Rainha detoda a criação, superior em excelência edignidade a todas as criaturas, esta Senho-ra foi sempre humilde serva da menor de-las. Jamais aceitou serviço ou obséquiocomo se lhe fora devido, nem se en-

vaideceu ou deixou de fazer humilíssimo juízo de si. Que dirá aqui nossa execrável presunção e soberba? Cheios de abominá-veis culpas, somos tão insensatos que comdetestável loucura julgamos que o mundotodo nos deva servir e venerar. E, quandoisso nos recusam, nos irritamos e esque-cemos de usar o pouco juízo que nossas

 paixões ainda nos deixaram. Toda esta di-vina História é espelho de humildade e

condenação de nossa soberba. Não me

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Terceiro Livro - Capitulo 18

compete o oficio de ensinar e conigir, masde ser instruída e governada. Por isto, rogoe suplico a todos os fiéis, filhos da luz, que ponhamos este exemplo diante dos olhos, para nos humilharmos em sua presença.

Julgamento de Deus e dos

homens sobre a humildade

238. Não seria difícil para o Se-nhor, evitar à sua Mãe santíssima tantosexcessos de humildade e os atos com quea praticava. Poderia exaltá-la ante as cria-turas, ordenando que fosse aclamada,honrada e respeitada por todas, com as de-monstrações que o mundo sabe oferecer àqueles que quer honrar e louvar (Est 6,10), como fez Assuero a Mardoqueu. Sea questão fosse deixada ao critério dos ho-mens, estes ordenariam que a mulhermaissanta que todos os bem-aventurados docéu, que trazia no seio o Criador dos mes-mos anjos e céus, fosse sempre guardadaseparada, e venerada por todos. Parece-lhes-ia indigno que se ocupasse em coisashumildes e servis, e que em vez de tudoordenar se submetesse a qualquer autori-dade. Até aqui chega a humana sabedoria,

se assim se pode chamar tão estreita vi-são. Na verdadeira ciência dos Santos, po-rém, não cabe este engano. Ela participada sabedoria infinita do Criador que dá o

 justo nome e valor às honras e não trocaa sorte das criaturas. Muito recusaria e

 pouco daria o Altíssimo à sua queridaMãe, nesta vida, se a tivesse privado dasações de profundíssima humildade, e lheconcedera o aplauso exterior dos homens.Muito teria perdido o mundo, se lhe tives-se faltado esta escola para se instruir, eeste exemplo para humilhar e confundir sua soberba.

Graças recebidas por Santa Isabel

239. Muito beneficiada foi SantaIsabel pelo Senhor, desde o dia em queo teve por hóspede de sua casa, no seio

de sua Virgem Mãe. Com a familiar convivência da divina Rainha, e as pa-lestras que entretinham sobre o mistérioda Encarnação, ia a grande matrona cre-scendo em todo gênero de santidade,

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como quem a bebia em sua própria fon-te .. Algumas vezes, merecia ver Mariasantíssima em oração, arrebatada e ele-vada do solo, toda repleta de divinos res- plendores e formosura. Não teria podidosuportar-lhe a presença nem ver-lhe orosto, se não fosse fortalecida pela vir-tude divina. Nestas ocasiões e noutrasem que, sem ser vista, contemplava Ma-ria santíssima, prostrava-se de joelhosem sua presença, e adorava o Verbo en-carnado no templo do virginal ventre da

 bem-aventurada Mãe. Todos os misté-rios que conheceu, pela divina luz e pelotrato com a grande Rainha, guardou-osSanta 'Isabel em seu coração, como de-

 positária fidelíssima, e secretária muitodiscreta de quanto lhe haviam confiado.Somente com seu filho João e com Zaca-rias, no tempo que este viveu depois donascimento do filho, pode Santa Isabelconferir algo do mistério que eles tam-

 bém haviam conhecido. Em todos os pontos, foi mulher forte, sábia e muitosanta.

DOUJRINA QUE ME DEU A

SANTISSIMA RAINHA MARIA

Humildade e sabedoria

240. Minha filha: os beneficios doAltíssimo e o conhecimento de seus divi-nos mistérios, produzem nas almas aten-tas particular inclinação para a humildade,Com eficaz energia esta virtude as atrai,

semelhante à rapidez e a gravidade comque o fogo e a pedra são arrastados paraseu centro natural. Isto faz a verdadeiraluz que coloca a criatura no claro conhe-cimento de si, refere as graças à origemdonde vem todo o dom perfeito. (Tgo 1,17), e estabelece cada coisa em seu devidolugar. Esta é a .retíssima ordem da boa ra-zão que 8 presunção dos mortais perturbae quase destrói. Por isto, a soberba, e ocoração por ela dominado, não é capaz de

apetecer nem suportar o desprezo: não to-lera quem lhe seja superior, não tem pazcom os iguais, e tudo atropela por se con-siderar ˙ nico e acima de todos. O coraçãohumilde, porém, tanto mais se abate quan-

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Terceiro Livro - Capitulo 18

to maiores são as graças que recebe. Delasnasce-lhe ambição e ardente afã, para, emsua quietude, se aniquilar e procurar o ˙ l-timo lugar. Sente-se constrangido quandonão é tido por inferior a todos, ou quandolhe falta a humilhação.

Maria, modelo de humildade

241. Em Mim aprenderás, caríssi-ma, a verdadeira prática desta doutrina. Nenhum dos favores que Deus me conce-deu foi pequeno. Meu coração, entretanto,nunca se exaltou presunçosamente (SI130, 1), nem soube cobiçar senão o abai-xamento e o ˙ ltimo lugar entre as criatu-ras. Nisto, desejo muito que me imites, e

que tua solicitude esteja em ser menor quetodos, em ser mandada e reputada por in˙ -til. Na presença do Senhor e dos homens,hás de te julgar menos que o pó da terra.

 Não podes negar que jamais houve al-guém tão beneficiada como tu, e que me-nos o haja merecido. Como então, poderás saldar esta grande dívida, se nãote humilhares a todos, e mais que todosos filhos de Adão, e se não conceberes

reta e afetuosa estima da humildade?Bom é obedecer a teus prelados e mes-tres, e assim o deves fazer sempre. De tiquero, porém, que te adiantes mais eobedeças ao menor, em tudo o que nãofor culpável, assim como obedecerias aomaior superior. E minha vontade que se-

 jas muito aplicada nisso, assim como Euera.

Humildade com oss˙ ditos e nas ofensas

242. Apenas com tuas s˙ ditas mo-derarás esta sujeição para que, conhe-cendo teu desejo de obedecer, não pretendam alguma vez que faças o que não

convém. Contudo, sem que elas percam asubmissão poderás ganhar muito, dando-lhes o exemplo de condescender sempreque seja justo, sem derrogar a autoridadede prelada. Qualquer contrariedade ouofensa feita somente a ti, recebe-a comgrande apreço, sem abrir teus lábios parate queixares. As faltas contra Deus, repre-ende-as sem misturar tua causa com ad'Ele. Jamais deverás encontrar razão

 para te defenderes, e sempre para defender a honra de Deus. Mas, tanto para umacomo para outra, não te deves deixar levar 

 por desordenada irritação e contrariedade.Também quero que uses grande prudênciaem as graças do Senhor, porque o segredodo Rei (Tob 12, 7) não deve ser leviana-mente revelado, nem os homens carnais(1 Cor 2,14) são capazes e dignos de co-nhecer os mistérios do Espírito Santo. Emtudo segue meu exemplo, pois desejas ser 

minha filha querida. Obedecendo-me oconseguirás, e empenharás o Todo-pode-roso a fortalecer e guiar teus passos parao que de ti desejar. Não lhe resistas, masdispõe e prepara teu coração para, suavee prontamente, obedecer à luz de sua gra-ça. Esta não seja vã em ti, (2 Cor 6, 1),mas coopera com ela diligentemente etuas ações sejam cheias de perfeição.

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CAPÍTULO 19

COLOQUIOS DE MARIA SANTÍSSIMACOM OS ANJOS E COM SANTA ISABEL

Maria santíssima,céu e sacrário de Deus

243. A plenitude da sabedoria, da

graça e a imensa capacidade de Maria san-tíssima não podiam deixar sem proveitoqualquer tempo, lugar e ocasião. Tudo en-chia de perfeição praticando, em todotempo e ocasião, o mais santo e excelenteda virtude.

Peregrina em qualquer parte destaterra, sua verdadeira habitação estava nocéu. Ela própria era o céu intelectual mais

glorioso para Deus, o templo vivo em queEle habitava. Sempre trazia consigo seuoratório e sacrário, e nisto não lhe faziadiferença estar em sua casa ou na de sua

 prima. Nenhum lugar, tempo ou ocu- pação podia estorvá-la. A tudo era supe-rior, e nada lhe impedia permanecer incessantemente na presença e sob aação do amor. Nas ocasiões oportunas

tratava com as criaturas o que pediam ascircunstâncias, e o que a prudentíssimaSenhora via que convinha dar à cada coi-sa. Visto que nestes três meses de per-manência na casa de Zacarias suaconversação mais contínua era comSanta Isabel e com os santos anjos desua guarda, direi neste capítulo algo so-

 bre estes colóquios e outras coisas que

sucedeu com sua santa prima.

Colóquios da Virgem com os anjos

244. Nos tempos livres em que seencontrava só, nossa divina Princesa pas-sava muitos momentos abstraída e eleva-

da nas contemplações e visões divinas.Durante elas, ou depois, costumava con-ferir com seus santos anjos os mistérios esegredos de seu amoroso coração. Certo

dia, logo após sua chegada à casa de Zaca-rias, disse-lhes: Espíritos celestiais, meuscustódios e companheiros, embaixadoresdo Altíssimo e reflexos de sua divindade,vinde e confortai meu coração preso e fe-rido por seu divino amor. Está aflito por sua pequenez, incapaz de chegar até ondeo levam seus desejos, e de corresponder devidamente à dívida que reconhece ter.

Vinde, príncipes soberanos, louvai comi-go o admirável nome do Senhor, e exalte-mo-lo por seus desígnios e santíssimasobras. Ajudai este pobre bichinho a ben-dizer o Criador que se dignou olhar pie-dosamente para esta pequenez. Falemosdas maravilhas de Meu Esposo; discor-ramos sobre a formosura de meu Senhor e Filho amantíssimo; desafogue-se este

coração, achando a quem confiar seus ín-timos suspiros, a vós, amigos e compa-nheiros meus, conhecedores de meussegredos e do tesouro que o Altíssimo de-

 positou na estreiteza deste vazo frágil elimitado. Grandes são estes sacramentos:divinos e admiráveis estes mistérios. Ain-da que os contemple com suave afeto, suasoberana grandeza me aniquila, sua pro-

fundidade me afoga, e a própria força demeu amor me oprime e me fortalece. Ja-mais se satisfaz meu ardente coração: nãoconsegue completo repouso, porque meusdesejos vão além do que posso fazer e mi-nha obrigação é maior do que posso dese-

 jar. Queixo-me de mim mesma porque não

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Terceiro Livro - Capítulo 19

faço o que desejo, nem desejo tudo o quedevo, e sempre me sinto vencida e insufi-ciente para a retribuição. Soberanos se-rafins, ouvi minhas amorosas ânsias:estou enferma de amor (Cant 2,5): mos-trai-me em vosso íntimo os reflexos da

formosura de meu Senhor reverberadosem vós, para que os resplendores de sualuz e os vestígios de sua beleza mante-nham a vida que desfalece por seu amor.

Resposta dos Anjos

245. Mãe de nosso Criador e Se-nhora nossa, respondiam-lhes os santos

anjos. Vós tendes a verdadeira posse doTodo-poderoso e Sumo bem: a Ele estaisunida com o estreito laço de verdadeiraEsposa e Mãe. Possui-o e gozai-o eterna-mente. Sois esposa e Mãe do Deus deamor, e se em Vós está a causa única efonte da vida, ninguémestá com Ela comovós, Rainha e Senhora nossa. Mas, nãoespereis que vosso abrasado amor encon-

tre repouso. A condição e estado de via-dora não permite agora que vossos afetoscheguem ao termo e sejam privados decrescer e de adquirir maiores méritos e co-roa. Vossa obrigação excede a tudo quantose possa imaginar, mas irá sendo sempremaior e jamais vosso amor, ainda que tãoardente, poderá ser à medida de seu ob-

 je to, pois este é etemo e nas perfeições

infinito. Sempre sereis ditosamente ven-cida por sua grandeza, pois ninguém, forad'Ele mesmo, o pode compreender e amar o quanto deve ser amado. Vós, Senhora,sempre encontrareis n'Ele o que mais de-sejar e o que mais amar. Isto constituigrandeza para Ele e glória para nós.

Em Maria jamais se

apagará o fogo do amor 

246. Neste colóquio, inflamava-secada vez mais o fogo do amor divino nocoração de Maria santíssima. Nela cum-

 priu-se exatamente a ordem do Senhor naantiga lei: que, em seu tabernáculo e altar ardesse continuamente o fogo do holo-causto, para ser perpétuo (Lev 6,12*13),

devendo o sacerdote alimentá-lo. Isto exe-cutou-se em Maria santíssima onde seencontravam o tabernáculo, o altar e o

sumo e novo sacerdote Cristo Senhor nso. Ele alimentava este divino incênd'°S

o fazia crescer todos os dias com os fa°eres, benefícios e influxos de sua divinH°*

de. De sua parte, a excelsa Senhocontribuía com suas obras, a cujo j?

comparável valor vinham juntar-se novdons do Senhor, aumentando sua santid^de e graça. Desde que esta Senhora entro*no mundo, foi o altar onde se acendeu ofogo do amor divino, para jamais se extin.guir por toda a eternidade em Deus.

 perpétuo e contínuo foi e será o fogo destevivo santuário.

Maria prevê os sofrimentos de Cristo

247. Outras vezes conversava comos santos anjos que se lhe manifestavamem forma humana, conforme expliqueiem diversos lugares (1). O assunto quemais freqüentemente tratavam era o dosmistérios do Verbo humanado. A profun-

didade com que discorria sobre eles, ci-tando as Escrituras e os Profetas, causavaadmiração aos mesmos anjos. Em certaocasião, conferindo com Eles estes vene-ráveis sacramentos, disse-lhes: Meussenhores, servos e amigos do Altíssimo,ferido está meu coração e transpassado dedolorosas setas, considerando o que demeu Filho santíssimo falam as Escrituras

(Gn 22,2; Num 21,8; SI 21; Dan 9,26),e o que nelas deixaram escrito Isaias (23,2), Jeremias (11,17 e seg) sobre as acer-

 bíssimas dores e tormentos que o esperam.Salomão diz: (Sab 2,20) que o condena-rão a ignominioso gênero de morte. Sem-

 pre falam os Profetas, de modoimpressionante, sobre a paixão e morteque Ele sofrerá. Oh! se fora sua vontade

que eu vivesse então, para me entregar amorte no lugar do Autor de minha vida!Contrista-se meu espírito, meditando emmeu coração estas verdades infalíveis, e

 pensando que meu Bem e Senhor deixarameu seio para padecer. Oh! se houvessealguém para o guardar e defender de seusinimigos! Dizei-me, príncipes soberanos,com que obras ou por que meios obrigareiao Etemo Pai para voltar contra rnirn o

1 - I1 parte n° 329,421, 761 e nesta, n° 181, 202, etc

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Terceiro Livro - Capítulo 19

rigor de sua justiça, e poupe o inocenteaue não pode ter culpa? Sei, porém, que

 para satisfazer a Deus infinito, ofendido pelos homens, exigem-se obras de Deus-

Homem. Mas, com o primeiro de seusatos, meu Filho santíssimo já mereceumais do que toda a linguagem humana

 pode perder por suas ofensas. Pois, se istoé suficiente, dizei-me: seria possível Eumorrer para evitar sua morte? Não se agas-tará com meus humildes desejos, nem lhedesgostarão minhas angústias. Mas, queestou a dizer e onde me leva a pena e oafeto? Pois, em tudo quero que se cumpra

a vontade divina à qual estou entregue.

Resposta dos anjos

248. Estes e outros semelhantescolóquios mantinha Maria santíssimacom os anjos, principalmente durante suagravidez. Com grande reverência, os divi-

nos espíritos respondiam às suas ansieda-des. Confortavam-na relembrando-lhe osmistérios que Elajá conhecia, apresentan-do-lhe as razões e conveniências da mortede Cristo, Senhor nosso, para resgate dogênero humano (Tito 2,14; João 12,31;14,13), para vencer e despojar a tiraniado demônio e para a glória do etemo Paie exaltação do altíssimo Senhor seu Filho.Tantos e tão elevadas foram as relações

desta grande Rainha com seus Anjos, queé impossível à língua humana referir-los,nem temos capacidade para os perceber nesta vida. No gozo de Deus veremos oque agora não compreendemos. Pelo pou-co que deixo dito, pode nossa piedadeconjecturar muito mais.

Colóquios entre Maria e Isabel

249. Santa Isabel era também mui-to ilustrada nas sagradas Escrituras, e des-de a hora da Visitação aumentou-se-lhemuito esta capacidade. Nossa Rainha con-feria com a santa matrona os mistérios queela conhecia. Pela doutrina de Maria san-tíssima foi ainda mais instruída e por in-tercessão dela, recebeu grandes favores edons do céu. Muitas vezes admirava-secom ver e ouvir a profunda sabedoria daMãe de Deus, e novamente a bendizia di-

zendo-lhe: Bendita sejais entre todas asmulheres, minha senhora e Mãe de meuSenhor, (Lc 1,42) e todos os povos conhe-çam e exaltem vossa dignidade. Sois feli-

císsimapeloriquíssimo tesouro que levaisem vosso virginal ventre. Dou-vos humil-des e afetuosos parabéns pelo gozo quesentireis em vosso espírito, quando o solde justiça estiver em vossos braços e sealimentar de vosso virginal leite. Lem-

 brai-vos então, Senhora minha de vossaserva, e oferecei-me a vosso Filho santís-simo, meu Deus verdadeiro na carne hu-mana, para que receba meu coração em

sacrifício. Oh! quem merecera assistir-vos e servir-vos! Se não mereço esta feli-cidade, goze a de levardes meu coraçãoem vosso peito, pois tenho motivo paratemer que ele fique partido quando meseparar de Vós - Outros suaves afetos deterníssimo amor manifestava Santa Isabelquando estava na companhia de Mariasantíssima. A prudentíssima Senhora,com suas divinas e eficazes razões, a con-solava e confortava.

A tão excelentes e soberanos atos,entremeava outros muitos de humildade,servindo não só à sua prima, como aindaàs criadas da casa. Quando tinha ocasião,varria a casa, e sempre o oratório que lheservia de aposento. Auxiliava as criadas alavar os pratos e fazia outras coisas de pro-funda humildade. Não se estranhe o fato

de eu particularizar ações tão pequenas: asantidade de nossa Rainha as toma gran-des para nosso ensino e para que, diantede seu exemplo, se desvaneça nossa so-

 berba e se abata nossa vilania. QuandoSanta Isabel sabia destes trabalhos humil-des feitos pela Mãe da piedade, ficava sen-tida e os procurava impedir. Por isto, adivina Senhora, quanto possível, os faziasem sua prima saber.

Consulta da Escritora

250. Rainha, Senhora dos céus eda terra, amparo e advogada nossa, nãoduvido que sois mestra de toda santidadee perfeição. Mas, admirada com vossa hu-mildade, atrevo-me, minha Mãe, a vos pe-dir esclarecimento sobre o seguinte:Sabieis que em vosso seio virginal encon-trava-se o Unigênito do Pai, e querieis agir 

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Terceiro Livro - Capítulo 19

em tudo como digna Mãe sua. Como en-tão, se humilhava vossa grandeza a tãorústicas ações, como varrer o chão e ou-tras? Por reverência a vosso Filho santís-simo não vos podieis delas dispensar, semque faltasseis à virtude? Desejo, Senhora,

saber qual era vosso parecer.RESPOSTA E DOUTRINA DA

RAINHA DO CÉU

 Nada impede servir, amar e adorar a Deus

251. Minha filha,  para responderá

tua dúvida, além do que já escreveste nocapítulo precedente, deves advertir quenenhum trabalho ou ato exterior, em ma-téria de virtude, por mais humilde queseja, pode ser impedimento, se for bemordenado, para se dar culto, reverência elouvor ao Criador de todas as coisas. Estasvirtudes não se excluem umas às outras.São compatíveis nas criaturas, e mais ain-da em Mim que sempre tive presente aosumo Bem, sem perdê-lo de vista por qual-quer motivo que fosse. Deste modo, ado-rava-o e respeitava-o em todas as ações,dirigindo-as sempre à sua maior glória.O Senhor que fez e ordenou todas as coi-sas, a nenhuma despreza, nem tampoucoé ofendido pelas coisas ínfimas. A almaque o amar deveras não se embaraça defazer coisas humildes em sua presença,

 pois todas se encaminham a Ele, como ao princípio e fim de toda criatura. Na terranão é possível viver sem estas ações hu-mildes e outras inseparáveis da frágilcondição e conservação da natureza. Por isto, é necessário entender bem esta dou-trina, para saber agir nesse caso. Se, acu-dindo a estas ações e necessidades, nãose pensasse no Criador, far-se-iam muitas

e longas interrupções na prática das vir-tudes, nos méritos, e no exercício dos atosinteriores. Isto é falta e defeito repreen-sível, pouco notado pelas criaturas ter-renas.

Excelência da humildade ede seus atos

252. Por esta doutrina deves regu-

lar tuas ações terrenas, quaisquer qUe

 jam, para não perderes um tempo queSe"mais se recupera. Comendo (1 ç0r 

31), trabalhando, descansando, donnin(?'ou velando, em qualquer tempo, lugar ocupação: adora, reverencia, evêa teusC

nhor grande e poderoso que tudo enche6"conserva (Mt 11, 29). Agora quero §1entendas o seguinte: a Mim, o que rnaimovia e excitava a praticar atos de huirtiUdade, era a consideração da humildade dçmeu Filho santíssimo. Com sua doutrinae exemplo vinha ensinar ao mundo estavirtude, para destruir a soberba dos ho-mens, e arrancar esta semente que Lucifer com o primeiro pecado, semeou entre osmortais. Concedeu-me o Senhor tão altoconhecimento do quanto esta virtude lheagrada, que para fazer um só ato dos quetens referido como varrer o chão ou beijar os pés de um pobre, eu padeceria os maio-res tormentos do mundo. Não encontrarás

 palavras para traduzir este meu afeto e aexcelência e nobreza da humildade. EmDeus conhecerás e entenderás o que nào

 podes explicar.

A humildade exterior procede dainterior 

253. Grava esta doutrina em teucoração e guarda-a para norma de tua vida.Exercitando-te sempre em tudo o que é

desprezado pela vaidade humana, des- preza-a tu por execrável e odiosa aos olhosdo Altíssimo. Neste proceder humilde, se-

 jam teus pensamentos sempre nobilíssi-mos e tua conversação nos céus (Filip 3,20), e com os espíritos angélicos. Trata econversa com eles, e te darão nova luz so-

 bre a Divindade e os mistérios de Cristo,meu Filho santíssimo.

Tuas conversações com as criatu-ras sejam tais, que delas recebas maior fer-vor e incitamento à humildade e ao amor divino. Põe-te, em teu íntimo, no últimolugar entre todas as criaturas, e quandochegar ocasião e tempo para exercitar osatos de humildade, estarás disposta paraisso. Serás Senhora de tuas paixões, se emteu próprio conceito te tens pela menor,

mais frágil e inútil das criaturas.

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CAPÍTULO 20

ALGUNS SINGULARES FAVORES FEITOS POR MARIA SANTÍSSIMA, NA CASA DE ZACARIAS,

A DETERMINADAS PESSOAS.

O amor de Deus gera o do próximo

254. É sabido que, por natureza,o amor é industrioso e ativo como o fogoquando encontra matéria em que se in-flamar. Ainda mais o é o fogo do amor espiritual que, se não tem onde agir, vaià procura disso. Aos amantes de Cristo,este amor foi mestre que lhes ensinoutantas indústrias e artes que não lhes

 permitiu ficar ociosos. Não sendocego nem insensato, conhece bem os

 predicados de seu nobilíssimo objeto.Só tem zelos de que todos o não amem,e por isto, sem ciúmes nem inveja, pro-cura a quem se comunicar. Comparan-do com o amor que Maria santíssimatem a Deus, o das demais criaturas,ainda das mais fervorosas e santas, é

sempre limitado. Pois, se nelas, elecriou tão admirável e intenso zelo pe-las almas, quanto não faria esta Rainhaem beneficio do próximo? Era a Mãe doamor divino (Ecle 24, 24), e trazia emsi o próprio fogo, vivo e verdadeiro, quevinha se acender no mundo (Lc 12, 40).Em toda esta divina História verão osmortais quanto devem a esta Senhora.Impossível seria referir todos os casos

 particulares e favores que dispensou àsalmas. Não obstante para, mediante al-guns, se conjecturar os demais, direineste capítulo algo do que acontecianesta matéria, estando a Rainha na casade sua prima Santa Isabel.

A criada pecadora255. Havia naquela casa uma cria-da de péssimas inclinações, agitada, detemperamento iracundo, acostumada a ju-rar e maldizer. Com estes vícios, e outrasdesordens que fazia às escondidas de seus

 patrões, estava tão entregue ao demônioque este tirano facilmente a movia a qual-quer  miséria e desacerto. Fazia catorzeanos que muitos demônios a escoltavam,sem deixá-la um momento para não per-derem a presa. Somente quando ela se en-contrava na presença da Senhora do céu,Maria santíssima, retiravam-se os inimi-gos. Como disse outras vezes (1), a virtudede nossa Rainha os atonnentava, e aindamais naquela ocasião em que levava novirginal relicário o poderoso Senhor eDeus das virtudes. Retirando-se aqueles

cruéis algozes, a criada ficava livre dosmaus efeitos de sua companhia. Por outra parte, aamávelpresença e trato com a Rai-nha ia-lhe obtendo novas graças. Come-çou a mulher a inclinar-se e afeiçoar-semuito à sua Reparadora. Procurava assis-ti-la afetuosamente; oferecia-se a servi-la, e reservava todo o tempo que podia,

 para ficar  onde estava a Senhora, contem- plando-a com reverência, pois ao lado desuas depravadas inclinações tinha uma

 boa qualidade: certa compaixão pelos hu-mildes e necessitados, e natural piedade

 para lhes fazer bem.

1-I'parte n° 285,691,695,697

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Terceiro Livro - Capítulo 20

Maria lhe obtém a conversão

256. A divina Princesa que conhe-cia as inclinações daquela mulher, o esta-do de sua consciência, o perigo da

 perdição de sua alma e a malícia dosdemônios contra ela, volveu-lhe seus mi-sericordiosos olhos com piedade e afetode mãe. Conheceu Maria santíssima queaquela sujeição aos demônios era justa

 pena dos pecados daquela mulher. Apesar 

de sua dignidade. Humilde e agradterminou a vida santamente. Cci

Conversão de outra mulher 

257. Não era de melhor índoleesta criada, outra mulher vizinha da cIP*

de Zacarias. Costumava freqüentá-lconversar com os familiares de Santa I e

 bel. Vivia desonestamente, e tendo pe&^ bido a chegada de nossa grande Rainh

disso, rezou por ela, e alcançou-lhe per-dão, remédio e salvação. Com o poder deque dispunha, ordenou aos demônios quedeixassem livre aquela criatura e não vol-tassem amaltratá-la. Não podendo resistir ao império de nossa grande Rainha, ren-deram-se e cheios de medo fugiram, igno-rando a causa daquele poder de Mariasantíssima. Com indignado espanto, per-guntavam-se; Quem é esta mulher quetem tão extraordinário império sobrenós?

Donde lhe vem tão singular poder para fa-zer tudo o que quer? E conceberam novoódio e sanha contra Aquela que lhe esma-gava a cabeça (Gn 3,15). A feliz pecado-ra, porém, ficou livre de suas unhas. Mariasantíssima a admoestou, corrigiu e lhe en-sinou o caminho da salvação e a transfor-mou noutra mulher, de bom coração ecorreto procedimento. Nesta nova vida

 perseverou até a morte, reconhecendo quetudo lhe viera das mãos de nossa Rainha,ainda que não haja penetrado o mistério

àquela cidade, sua compostura e recato,

disse com leviana curiosidade: Quemseráesta forasteira que veio ser nossa hóspedee vizinha, com tanta beatice? Com o de-sejo vão e curioso de bisbilhotar novida-des, como tais pessoas costumam ter,

 procurou ver, que tal seria a cara e o trajeda divina Senhora. Esta intenção era vã eimpertinente, mas não o foi no resultado.Por ter olhado, embora só por curiosidade,a Mãe da pureza virginal, recebeu em tro-

ca a feliz mulher, a virtude da castidade,ficando livre dos hábitos e inclinaçõessensuais. Retirou-se para chorar doloro-samente sua má vida, e depois pediu paraver e falar com a Mãe dagraça. Recebeu-aa Senhora para confirmá-la na conversão,

 pois sabia que o sucesso procedia daquelaGraça que levava em seu seio.

Sabia que esta é que justifica e faz

santos, e em sua virtude é que agia a Ad-vogada dos pecadores. Atendeu a peniten-te com piedade matemal, aconselhou-a e

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Terceiro Livro - Capítulo 20

instruiu-a na virtude. Com isto deixou-aanimada e disposta para perseverar.

Proceder de Maria em relaçãoaos justos e aos réprobos

258. Por este modo, realizou nossagrande Senhora muitas coisas, e grandenúmero de admiráveis conversões, aindaque sempre em silêncio e segredo. Toda afamília de Isabel e Zacarias foi santificadanaconvivênciacomEla.Aosqueeramjus-tos, aperfeiçooucom novos dons e favores.Aos que o não eram, sua intercessão osjus-tificou e esclareceu. Todos se entregarama seu reverenciai amor, e à porfia lhe obe-deciam e a tinham por Mãe, amparo e con-solo em todas necessidades. Para isto

 bastava sua presença e poucas palavras,ainda que nunca recusava as necessárias

 para tais casos. Como penetrava o íntimodos corações, e conhecia o estado da cons-ciência de cada qual, aplicava-lhes oremé-dio mais eficaz. Algumas vezes, mani-

festava-lhe o Senhor, quais eram, entre as pessoas que via, os escolhidos e os répro- bos. Um e outros suscitavam em seu co-ração, admiráveis atos de perfeitíssimavirtude. Sobre os justos e predestinadosderramava muitas bênçãos, como agorafaz do céu. Por eles felicitava ao Senhor elhe pedia os conservasse em sua graça eamizade, fazendo para isto incomparáveis

diligências e rogativas.Quando via alguém em pecado,

clamava do fundo d'alma pela sua justifi-cação, e ordinariamente o conseguia. Sefosse alguém do número dos réprobos,chorava amargamente e se humilhava na

 presença do Altíssimo, pela perda daquelaimagem e obra de sua divindade. Para queoutros não se condenassem fazia profun-

das orações, oferecimentos e hu-milhações. Toda ela era uma chama deamor divino que jamais sossegava, se nãofizesse grandes coisas.

DOUTRINA QUE ME DEU ARAINHA E SENHORA

Conservar a graça divina, e obtê-la para outros

259. Minha querida filha, em tornode dois pontos como de dois pólos, deve

mover-se a harmonia de tuas potências ede tua solicitude: permanecer na amizadee graça do Altíssimo, e procurar o mesmo

 para outras almas. Nisto consista toda tuavida e trabalho. Para conseguir tão altos

fins, se for necessário, quero que não tefurtes a trabalho e diligência alguma. Su- plica ao Senhor, oferece-te a sofrer até amorte, e padece realmente o que seapresentar e tuas forças forem capazes. Ateu sexo não convém, para solicitar o bemdas almas, fazer demonstrações extraor-dinárias diante das criaturas, mas procurae aplica prudentemente todos os meiosocultos e mais eficazes que conheces. Seés minha filha e esposa de meu Filhosantíssimo, considera que o patrimônio denossa casa são as criaturas racionais. Ten-do-as criado e chamado para Si, comprou-as como ricas  prendas com o preço de suavida (1 Cor 6,20), de sua morte e de seu próprio sangue, porque tinham se perdido pela desobediência (1 Ped 1,19).

Zelo pela salvação das almas

260. Quando o Senhor te enviar al-guma alma necessitada, dando-te conhe-cimento de seu estado, trabalha fielmente

 pela sua salvação. Chora e clama, com ín-timo e fervoroso desejo, para alcançar deDeus oremédio de tanto mal e perigo. Não

 poupes meio algum, divino ou humano,

 para conseguir a salvação e a vida da almaque te for confiada. Com a prudência e mo-deração que tenho te ensinado, não te re-traias a admoestar e rogar como enten-deres que convém, e em segredo trabalha

 por  beneficiá-la. Quero também que,quando for necessário, ordenes aos demô-nios, com todo o império, em nome do oni- potente Deus e do meu, que se retirem dasalmas que vires dominadas por eles. Pas-sando-se isto em segredo, bem podes mu-dar tua timidez em ousadia. Lembra-te queo Senhor te ofereceu e oferecerá ocasiãoem que poderás praticar esta doutrina (Fi-Hp 4,13). Não aesqueças nem a inutilizes,

 porqueestás obrigada a cuidar dopatrimô-nio da casa de teu Pai, e não deves sossegar enquanto não empregares nisso toda a di-ligência. Não temas, tudopoderásnaquele

que te conforta (Prov 31,17). O poder di-vino dar-te-á força para grandes coisas.

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Terceiro Livro - Capítulo 21

 jada do grande bem que agora desfruto.Ao Senhor não é impossível, se for tam-

 bém vossa vontade, conceder-meafelici-dade de vos servir e não me separar de vóso resto de minha vida. Se, para ir à vossacasa houver dificuldade, mais fácil será

fícardes na minha. Chamaremos vossosanto esposoJosé, para que ambos vivamnela como senhores a quem servirei comtodo oafetodemeu desejo. Aindaquenãomereço o que peço, vos suplico não des- prezeis minhahumildepetição,pois o Al-tíssimo com seus favores já tem excedidomeus méritos e desejos.

Resposta de Maria Santíssima

263. Com amável satisfação ouviuMaria santíssima a proposta de sua prima,e respondeu-lhe: Caríssima amiga de mi-nha alma, vosso santo e piedoso afeto se-rão aceitos pelo Altíssimo, e vossosdesejos agradáveis a seus olhos. De co-ração os agradeço, mas toda nossa solici-tude deve estar em conhecer a vontadedivina e a ela submeter a nossa com inteirasubmissão. Se esta é a obrigação de todos,

 bem sabeis, amiga minha, que eu lhe devomais que ninguém, pois com o poder deseu braço (Lc 1, 51-48), me levantou do

 pó, e com imensa piedade olhou minha baixeza. Apresentaremos ao Senhor vos-so desejo, e aquilo que ordenar, isso fare-

mos. A meu esposo José também devoobedecer, e sem sua ordem e disposiçãonão posso, caríssima, escolher minhasocupações, lugar e casa para viver. E justoque obedeçamos (Ef  5, 22) aos que sãonossos superiores.

Santa Isabel pede à Maria que fiqueaté o nascimento de São João

264. A estas tão justas razões daPrincesa do céu, sujeitou Santa Isabel seu

 parecer e vontade, e com humilde docili-dade lhe disse: Senhora, quero obedecer à vossa vontade e venerar vossa doutrina.Apenas vos represento de novo o íntimoamor de meu coração pronto para vos ser-vir. E, se o que propus não é confonne à

vontade divina e não o posso obter, pelomenos se for possível, desejo, minha Rai-

nha, que não me deixeis antes do nmento do filho que trago em meu ^

 Neste, ele conheceu e adorou seu R torno vosso. Goze então de suapres

e luz, antes do que de qualquer outra eS^tura. Receba vossa bênção para conw

os passos de sua vida (Prov 16,9) na

eçar 

sença daquele que os há de guiar retarn ^te. Quero que Vós, a Mãe da gr aen%apresenteis meu filho a seu Criador  eJh'alcanceis de sua bondade imensa aseverança daquela graça recebida Per-

Por meio de vossa dulcíssima voz, qUan( jsem merecer a ouviu. Permiti-me, p0^meu amparo, ver meu filho em vossos bra*

ços, onde há de se reclinar o próprio Deusque formou e conserva o céu e a terra (Is

42, 5). Não diminua nem se restrinja, por 

minhas culpas, a grandeza de vossa ma-ternal piedade. Não me recuseis este con-solo, e a meu filho tão grande felicidadeque, como mãe solicito e desejo, emboranão a mereça.

Ambas pedem a Deus o conhecimentode sua vontade

265. Não quis Maria santíssima re-cusar este pedido. Ofereceu-se para pedir ao Senhor o cumprimento de seu desejo,encarregou sua prima de orar para co-nhecera divina vontade. Com este acordo,as duas mães dos melhores filhos que nas-ceram neste mundo, retiraram-se ao ora-tório da divina Princesa, e recolhidas emoração apresentaram ao Altíssimo suassúplicas. Num êxtase, conheceu Mariasantíssima com nova luz, o mistério, vidae méritos do precursor São João, e o querealizaria (Mt 3, 3; Mc 1, 3; Lc 3,4; Jo1, 23) preparando com sua pregação oscaminhos dos corações humanos, para re-

ceber seu Redentor e Mestre. Destes gran-des sacramentos foi revelado a SantaIsabel apenas o que convinha que ela en-tendesse. Conheceu também a Senhora, agrande santidade de Santa Isabel e que suamorte seria em breve, precedida pela deZacarias.

O amor de nossa piedosa Mãe pelasua prima, levou-a a apresentá-la ao Se-

nhor pedindo-lhe a assistisse na morte.Expos-lhe também o que solicitara a res-

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Terceiro Livro-Capítulo 21

 peito do nascimento de seu filho. Quantoa ficar na casa de Zacarias, nada disse a

 prudentíssima Virgem. Pela divina ciên-cia que possuía, viu logo não ser conve-niente, nem vontade do Altíssimo quevivesse sempre na casa da prima, confor-

me esta desejava.

Resposta divina

266. A esta petições respondeu oSenhor: Minha esposa e minha pomba,

sima não a deixasse antes do parto. Foi-lhetambém revelado que isto seria em breve,e outras coisas de grande consolo paraseus cuidados.

Maria fica com Isabel até acircuncisão de S. João

267. Voltou Maria santíssima doêxtase, e terminada a oração, conferiramas duas mães como já se aproximava o

 parto de Santa Isabel, de acordo com o

minha vontade é que faças companhia econsoles minha serva Isabel, pois seu par-to já está muito próximo, faltando apenasoito dias. Depois que houverem circunci-dado seu filho, voltarás para casa com teuesposo José. Depois que meu servo Joãonascer mo apresentareis, e será para Mimagradável sacrifício. E, continua, amigaminha, a me solicitar a eterna salvação dasalmas. Santa Isabel que estava a rezar coma Rainha do céu e terra, suplicava ao Se-nhor ordenar à sua Esposa e Mãe santís-

aviso que o Senhor dera a ambas. Comardente desejo de sua felicidade, pergun-tou logo a santa matrona à nossa Rainha:Suplico-vos, Senhora, dizei-me se mere-cerei o bem que pedi, de vos ter junto amim até meu parto, já tão próximo. Res- pondeu a Virgem Mãe: Minha prima, oAltíssimo atendeu nossas preces, e dig-nou-se mandar-me satisfazer vosso desejoe ficar  convosco nessa ocasião. Esperarei,

não só o nascimento de vosso filho, mastambém que ele seja circuncidado segun-

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CAPÍTULO 22

O NASCIMENTO DO PRECURSOR DE CRISTO;ATOS DA SOBERANA SENHORA, MARIA SANTÍSSIMA,

NESSA OCASIÃO.

 Nascimento de João Batista

270. Chegou a hora de surgir nomundo o astro (Jo 5,35) que anunciava oclaro sol de justiça e o desejado dia da leida graça. Era tempo oportuno que viesseà luz o grande profeta, e mais que profeta,Joào. Prepararia os corações (1) e mostra-ria com o dedo o Cordeiro que salvaria esantificaria o mundo. Antes que deixasseo seio materno, manifestou o Senhor ao

abençoado menino que se aproximava ahora de seu nascimento, para começar  a

 pregação dos mortais sob a luz comum atodos. Dispunha o infante de perfeito usoda razão, el ev ado com a ciência infusa querecebera da presença do Verbo encarnado.Por ela compreendeu que iria aportar auma terra maldita (Gn 3, 17), cheia de

 perigosos espinhos: que iria colocar os pés

num mundo cheio de laços e semeado demaldades, ond e muito s naufragavam e pe-reciam.

Sentimentos do Precursor 

271. Entre este conhecimento e aordem divina e natural de nascer, estava ogrande menino como perplexo. De um

lado, percebia que haviam chegado ao ter-mo as causas naturais que concorreram

 para a formação e desenvolvimento do seucorpo, e a própria natureza o compelia anascer e a deixar o claustro materno. A

1 - Lc 1,76, 7, 26; í, 17; Jo 1,29

força da natureza unia-se a vontade ex- pressa do Senhor que assim o ordenava.

Por outro lado, ponderava os riscos da pe-rigosa carreira da vida mort al , e entre otemor  e a obediência, detinha-se commedo, e movia-se com prontidão. Quiseraresistir, sem deixar de obedecer, e diziaconsigo: Onde irei, se vou cair no perigode perder a Deus? Como me entregarei àconvivência dos mortais onde tantos seobscurecem, perdem o sentido e o cami-

nho da vida? No seio de minha mãe en-contro-me em trevas, mas fora deleacharei outras de maior perigo. Desde querecebi a luz da razão senti-me oprimido, porém mais me aflige a expansão e liber-dade dos mortais. Apesar de tudo, vamos,Senhor, ao mundo, que cumprir vossavontade é sempre o melhor.

Se em vosso serviço, ó Rei altíssi-

mo, minha vida e potências puderem seempregar, só isto me tomará fácil sair àluz e aceitar a peregrinação terrestre. Dai-me, Senhor, vossa bênção para entrar nomundo.

Deus abençoa o Precursor 

272. Com esta súplica, mereceu o

Precursor de Cristo, receber novamente,no momento de nascer a bênção e a graçade Deu s, assim o ent ende u o feliz m en in o:sentiu em sua mente a presença de Deus,e compreendeu que era por Ele enviado

 para grandes coisas em seu serviço, paracuja realização prometia sua graça. Antes

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Terceiro Livro - Capitulo 22

de narrar o felicíssimo parto de Santa Isa- bel, para ajustar o tempo em que sucedeu,com o texto dos santos Evangelistas, ad-virto que a gestação desta admirável con-cepção, durou nove meses, menos novedias. Em virtude do milagre que conferiufecundidade à mãe estéril, o concebidodesenvolveu-se nesse prazo e chegou aoestado de nascer. Quando São Gabriel dis-se a Maria santíssima (Lc 1, 36) que sua

 prima Isabel estava grávida de seis meses,deve-se entender que esse tempo não es-tava terminado, porque lhe faltavam de

oito a nove dias. Acima, Eu disse também(2), que no quarto dia da Encarnaçâo doVerbo a divina Senhora partiu para visitar Santa Isabel. Por não ter ido imediatamen-te, é que São Lucas (1,39) diz que Mariasantíssima foi "naqueles dias" comdiligência às montanhas. Além disso,como fica dito no número 207, a viagem

levou quatro dias.2 - n° 206 " '

Data do nascimento de João Batista

273. Advirto também que, quand0

o mesmo Evangelista (Lc 1, 56) diz qUe

Maria santíssima esteve três meses nacasa de santa Isabel, faltavam apenas doi$ou três dias para se completarem, p0is 0

texto do Evangelho foi exato em tudo. Deacordo com esta contagem, é forçoso qUe

Maria santíssima, Senhora nossa, se en¬contrasse não só no nascimento de SàoJoão, como também em sua circuncisàoquando lhe impuseram o misteriosonome, confonne direi adiante. Oito diasdepois da Encarnaçâo do Verbo, chegou Nossa Senhora com S. José na casa de Za-carias a dois de Abril pela tarde, conformea contagem de nossos meses solares.Acrescentando-se três meses a partir detrês de Abril, chegamos a primeiro de Ju-lho inclusive, que vem a ser o oitavo diada natividade de São João, o mesmo desua circuncisão. No dia seguinte, pela ma-nhã voltou Maria santíssima a Nazaré.Ainda que o Evangelista São Lucas (1,

56,57) refere a volta de nossa Rainha parasua casa antes de narrar o parto de SantaIsabel, a volta de Maria não foi antes, massim depois. O texto sagrado antecipou anarração da viagem da divina Rainha paraterminar o que lhe dizia respeito e prosse-guir a história do nascimento do Precur-sor, sem interromper novamente o fim desua exposição. Assim me foi dado a en-

tender para o escrever.

 Nascimento do Precursor 

274. Aproximando-se, pois, omomento do esperado parto, sentiu San-

ta Isabel, por efeito da natureza e da obe-diência do infante, que este se moviacomo para se erguer. Quando lhe sobre-vieram as dores, mais leves do queordinariamente nas outras mães, Isabelmandou avisar à princesa Maria. Não achamou para assisti-la pessoalmente,

 pois a reverência pela dignidade de Ma-ria pelo fruto que levava em seu seio, a

deteve para não pedir o que não lhe pa-recia decente. Não foi a Senhora pes-soalmente, mas enviou-lhe as mantilhas

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Terceiro Livro - Capítulo 22

e faixas que fizera para envolver o fe-liz recém-nascido. Nasceu o meninomuito perfeito e robusto, manifestandoa pureza da alma na do corpo, pois nãoteve tantas impurezas como as demaiscrianças

Envolveram-no nas mantilhas quemais eram grandes e veneráveis relíquias.Depois de Santa Isabel já estar composta,Maria santíssima, por ordem do Senhor,saiu de seu oratório e foi visitar e dar os parabéns a mãe e filho.

Maria oferece

o recém-nascido a Deus

275. Tomou a Rainha ao recém-nascido em seus braços, à pedido de suamãe. e ofereceu-o como oblação ao eter-no Pai que a recebeu com agrado e comoas primicias das obras do Verbo encar-nado e execução de seus divinos decre-tos. O menino, felicíssimo e cheio do

Espírito Santo, conheceu sua legítimaRainha e Senhora. Fez-lhe reverência,não só interior como também exterior-mente, com leve inclinação de cabeça.Adorou novamente o Verbo divino feitohomem no tálamo de sua Mãe puríssima,donde se lhe revelou com especialíssimaluz. Conhecendo também os benefíciosque, entre os mortais, recebera, fez o re-conhecido infante muitos atos deagradecimento, amor, humildade e ve-neração a Deus-homem e à sua VirgemMãe. A divina Senhora ao oferecê-lo aoEterno Pai, fez por ele esta oração: Al-tíssimo Senhor e Pai nosso, recebei novosso serviço as estréias e primeiro frutode vosso Filho santíssimo e meu Senhor.Santifícou-o resgatou-o do poder e efei-tos do pecado e dos vossos antigos ini-

migos. Recebei este sacrifício matutinoe infundi-lhe, com vossa santa bênção,vosso divino Espírito, para que seja fieldispensador do mistério para o qual odestinais, para honra vossa e de vossoUnigênito. Esta oração foi em tudo efi-ciente, e nossa Rainha conheceu comoo Altíssimo enriquecia ao menino esco-lhido e destinado para seu precursor. Ele

também sentiu em seu espírito o efeitode tão admirável graça.

O Precursor recém-nascido nos braços de Maria

276. Enquanto a grande Rainha eSenhora do universo teve em seus braçoso menino João, permaneceu em êxtase por alguns momentos. Durante eles fez a ora-ção e oferecimento do menino, mantendo-o reclinado em seu peito, onde logo sereclinaria o Unigênito do Pai e seu. Estafoi a singularíssima prerrogativa eexcelência do grande Precursor que ne-nhum outro dos santos pôde gozar. Não émuito que o anjo o chamasse grande (Lc

1, 15) na presença do Senhor, pois antesde nascer o visitou e santifícou; nascido,foi colocado no trono da graça, estreandoos braços que sustentariam o próprio Ho-mem-Deus. Deste modo, o Batista foi oca-sião para despertar na Mãe santíssima odesejo de nele receber seu Filho e Senhor,e nesta lembrança foi presenteado com de-liciosos carinhos. Conheceu Santa Isabel

estes divinos sacramentos porque o Se-nhor lhes revelava, enquanto contempla-va seu miraculoso filho nos braçosdaquela que lhe era mais Mãe do que ela própria. A Santa Isabel ele devia o ser danatureza, e à Maria puríssima o ser de tãoexcelente graça. Tudo isto criava suavís-sima consonância no coração das duasmães e do menino que também com-

 preendia tãoveneráveismistérios. Com os pequenos gestos de seus tenros membros,manifestava o júbilo de seu espírito e seaconchegava à divina Senhora para rece-

 ber seus carinhos e nào deixá-la. Acari-nhava-o a divina Senhora, mas com tantamajestade e moderação que jamais o bei-

 jou, como tal idade costuma permitir. Re-servou seus castíssimos lábios intactos

 para seu Filho santíssimo. Tampouco fi-

xou o rosto do menino, porque punha todaa atenção na santidade de sua alma, eolhou-o apenas para conhecê-lo. Tal era a

 prudência e modéstia da grande Rainhado céu.

Divulgação do nascimento do Batista

277. A notícia do nascimento deJoão divulgou-se rapidamente, como dizSão Lucas (1,58), e toda a parentela e vi-

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Terceiro Livro

zinhança vieram felicitar Zacarias e SantaIsabel. Além de sua família ser rica, nobree estimada em toda a região, a santidadede ambos tinha cativado o coração dequantos os conheciam. Durante tantos

anos tinham-nos visto sem filhos, e sa- biam que Isabel era estéril e de avançadaidade. Estas razões aumentaram em todosa surpresa, admiração e alegria, não duvi-dando que aquele filho, o era mais do mi-lagre do que da natureza. O santosacerdote Zacarias continuava mudo,impossibilitado de expandir seu júbilo, porque ainda não chegara a hora em quetão misteriosamente se lhe soltaria a lín-

gua. Não deixava, porém, de manifestar, por sinais, seu gozo interior, e oferecia aoAltíssimo afetuosos louvores e repetidasgraças pelo tão raro favor em que não acre-ditara, mas agora via realizado.

DOUTRINA QUE ME DEU ARAINHA E SENHORA DO CÉU

Antagonismo entre Deus e o mundo

278. Nâo te admires, filha caríssi-ma, de que meu servo João encontrassedificuldade e temesse entrar no mundo.Mais do que o amam os ignorantes filhosdo século, aborrecem-no e temem seus pe-rigos os sábios iluminados pela ciência di-vina e luz do alto. Isto possuía, em

eminente grau, aquele que nasceu para precursor de meu Filho santíssimo, e da-quele conhecimento procedia o seu re-ceio. Foi-lhe útil, pois quem melhor conhece e detesta o mundo, com mais se-gurança navega suas encapeladas ondas e profundo golfo. Com tanta aversão à terracomeçou o feliz menino sua carreira mor-tal, que jamais deu tréguas à essa ini-mizade. Não fez as pazes (3) com a carne,

nem aceitou suas venenosas lisonjas. Nãoempregou seus sentidos na vaidade, nem pôs nela seus olhos. Nesta firmeza em seopor ao mundo e a tudo o que é dele, deua vida pelajustiça. O cidadão da verdadeiraJerusalém não pode se confederar comBabilônia, nem é compatível pedir e estar na graça do Altíssimo e ao mesmo tempoentreter amizade com seus declarados ini-

3 - Mc 4,17 e seg.; Tgo 4,4; Mt 6,24; Ecli 24

Capítulo 22

migos. Ninguém pode servir a dois senlires contrários, nem unir a luz com as h°vas (2 Cor 6,14), Cristo e Belial. e'

Evitar o contágio do espírito mundan0

279. Guarda-te, caríssima, mais rjque do fogo, dos que vivem nas trevas °são amadores do mundo, por que a sabe.doria dos filhos do século (Rom 8,7) icarnal e diabólica, e seus caminhos terie- brosos conduzem à morte. Quando f 0r necessário trazer alguém para a verdadei¬ra vida da alma, ainda que para isto devasoferecer a de teu corpo, sempre conservesa paz de teu interior. Três são os lugar es

em que desejo que vivas com tua mentee se alguma vez o Senhor te mandar acudir as necessidades das criaturas, não retiresa atenção desse refugio. Quem vive numcastelo rodeado de inimigos, sai à portasóquando isso for inevitável. Aí dispõe o queconvém, com tanta cautela, que mais aten-de ao caminho para voltar a se esconder,

do que aos negócios de fora, sempre cui-dadoso e sobressaltado pelo perigo.De igual modo deves proceder, se

quiseres viver com segurança pois nâo te-nhas dúvida: rodeiam-te cruéis inimigosmais venenosos que áspides e basiliscos.

O recolhimento preserva das quedas

280. Os lugares de tua morada de-vem ser a divindade do Altíssimo, a hu-manidade de meu Filho santíssimo e o teuinterior, Na divindade hás de viver comoa pérola na concha e o peixe no mar, e emseus intermináveis espaços dilatarás teusafetos e desejos. A humanidade santíssi-ma será muro para te defender, e seu co-ração aberto o tálamo para te reclinares edescansares à sombra de suas asas (SI 16,8). Encontrarás pacífica e íntima alegriano testemunho da consciência (2 Cor li12), e se a conservares pura, ela te facili-tará o doce e amigável trato com teu Es- poso. Para tudo isto, muito te ajudará orecolhimento exterior, e assim é de meugosto e vontade que permaneças na tribu-na ou na cela e somente a deixes obrigada pela obediência ou caridade. Vou revelar-

te este segredo: há demônios, incumbidos por Lúcifer, de aguardarem os religiosos

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Terceiro Liv

e religiosas quando saem do recolhimen-to, para investi-los e combatê-los com ten-tações a fim de os derrubar. Não entramfacilmente nas celas, porque ali não há

tanta ocasião de falar, ver e usar mal dossentidos, pelos quais ordinariamente fa-zem presas que devoram como lobos car-niceiros. O retiro dos religiosos osatormenta. Detestam-no, porque duvidamvencê-los enquanto não os surpreendementretidos no perigo das conversações.

Tática diabólica contra as almas

281. Em geral, é certo que os demô-nios não têm poder sobre as almas, en-quanto elas não lhes derem entrada e selhes sujeitarem por alguma culpa mortalou venial. O pecado mortal dá ao demônioexpresso direito para induzir a alma acometer outros. O venial, enfraquecendoas forças da alma, aumenta as do inimigo para tentá-la. As imperfeições diminuemo mérito, retardam o progresso para a vir-

tude mais perfeita, e isto também anima oadversário. Quando vê que a alma tolera a própria tibieza, ou se põe leviana no perigode ociosa negligência e esquecimento deseu mal, então a astuta serpente a espreitae rodeia para agredi-la com seu mortal ve-neno. Como à ingênua avezinha, a vai le-vando distraída, até fazê-la cair em algumdos muitos laços que anna para esse fim.

- Capitulo 22

Loucura dos imprudentes

282. Admira-te, pois minha filha,do que a respeito conheces mediante a

divina luz, e lamenta com íntima dor aruína de tantas almas entorpecidas por este perigoso sono. Vivem obscurecidas

 por suas paixões e depravadas incl ina-ções, descuidadas dos perigos, insen-síveis ao mal, imprevidentes nasocasiões. Em vez de evitá-las temendo-as, procuram-nas com cega ignorância.Seguem desenfreadamente suas trans-viadas inclinações para o deleite, não re-

freiam sua paixões e desejos, nem ad-vertem onde põem os pés, atirando-se aqualquer perigo e precipício. Inumerá-veis são os inimigos, insaciável sua dia- bólica astúcia, sem tréguas sua vigi-lância, sem descuido sua atividade.

Que muito se, de semelhantes, ou para melhordizer, de tão dissemelhantesinimigos, sigam para os viventes tão ir-reparáveis danos? Que admira se, sendoinfinito o número dos néscios (Ecle 15)e incontáveis os réprobos, o demônio seensoberbeça com tantos triunfos que lhedão os mortais, à custa da própria e tre-menda perdição? Guarde-te o Deus eter-no de tanta infelicidade. Chora ecompadece-te da de teus irmãos, e su- plica sempre, enquanto for  possível, asua salvação.

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São João Batista

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CAPÍTULO 23

INSTRUÇÕES DE MARIA SANTÍSSIMA À SANTA ISABEL.CIRCUNCISAO DO BATISTA E PROFECIA DE ZACARIAS.

Santa Isabel pede orientação à Mariasantíssima.

283. Após o nascimento do Precur-

sor de Cristo era inevitável a volta de Ma-ria santíssima para Nazaré. A sábia e

 prudente Santa Isabel procurava consolar-se na conformidade com as divinas dispo-sições, mas ainda assim desejavacompensar de algum modo sua soledade,querendo ficar com alguns ensinamentosda Mãe da sabedoria. Nesta intenção, dis-se-lhe: Minha Senhora e Mãe de meu

Criador, vejo que vos preparais para partir e deixar-me na solidão, sem vossa amável presença, amparo e proteção. Suplico-vos, minha prima, que na vossa ausênciamereça eu ficar com algumas instruçõesque me ajudem a orientar todos meus atos

 para o maior agrado do Altíssimo. Emvosso virginal seio tendes o mestre queemenda os sábios (Sab 7, 15) e a mesmafonte da luz, e por ele vindes comunicá-laa todos. Concedei à vossa serva algum dosseus raios, refletidos em vosso puríssimoespírito, para que o meu seja esclarecidoe guiado pelas sendas retas da justiça, atéchegar a ver o Deus dos deuses em Siâo.

Maria satisfaz o pedido de sua prima

284. Estas palavras de Santa Isabelcomoveram Maria santíssima. Com ternacompaixão, deu à sua prima celestiais ins-truções para se governar durante o poucotempo que lhe restava de vida. O Altíssi-mo cuidaria de seu filho, e a Rainha tam-

 bém rogaria por ele a Deus . Ainda que nãoé possível referir tudo o que a divina Se-nhora advertiu e aconselhou à santa Isa-

 bel, dessas afetuosas palestras de

despedida, direi alguma coisa como mefoi manifestado, ou como conseguiremmeus limitados termos. Disse Maria san-tíssima: Minha prima e amiga, o Senhor nos escolheu para suas obras e altíssimossacramentos, sobre os quais se dignoucomunicar-vos tanta luz, revelando-vosmeu coração. Nele vos levo para apres en-tar-vos ante sua grandeza. Não me esque-

cerei da humilde atenção que tives tes pelamais inútil das criaturas. Espero que demeu Filho e Senhor recebais copiosa re-compensa.

Exortação ao amor de Deuse desapego das criaturas

285. Elevai sempre vossa mente eespírito às alturas e, com a luz da graçaque tendes, não percais de vista o ser deDeus imutável, etemo e infinito. L emb rai -vos da imensa bondade com que se di gnoucriar do nada as criaturas, para elevá-las àsua glória e enriquecê-las de seus dons(Ecli 22,17). Esta dívida, comum a todasas criaturas, tornou-se maior para nós,quando a misericórdia do Altíssimo nosagraciou mais intensamente com essa luz

e conhecimento. Cabe-nos fazer mais queos outros, até compensar, com nossoagradecimento, a cega ingratidão dosmortais que, por isso, estão mais distantesde conhecer e glorificar seu Criador. Estedeve ser nosso ofício, desembaraçando o

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Terceiro Livro - Capítulo 23

coração, para que desprendido e livre ca-minhe para seu ditoso fim. Para isto, mi-nha amiga, recomendo-vos muitoapartar-vos das coisas terrenas, mesmodas que possuis, para que livre dos impe-dimentos da terra, vos ergais aos divinos

chamamentos. A espera da vinda do Se-nhor (Lc 12,36) possais, quando Ele che-gar, responder com alegria e sem adolorosa violência que a alma sente, quan-do chega o momento de se separar do cor- po e de tudo o mais que ama com apego.Agora, no tempo de sofrer  e conquistar a

coroa, procuremos merecê-la e caminhar com rapidez, para chegar à íntima uniãocom nosso verdadeiro e sumo Bem.

Exortação sobre os deveresde esposa e mãe

286. A Zacarias, vosso marido e

superior, durante o tempo que viver Dcurai com particular docilidade, obed°cer-lhe, amá-lo e servi-lo. Òferee*sempre ao Senhor o vosso miraculoso filho. Por Deus e para Deus, podeis amá-l'como mãe, porque será profeta (Mal 4 c°

1,17; Jo 1,7), e com zelo de Elias qüçLco Altíssimo lhe dará, defenderá sua leisua honra, procurando a exaltação de seusanto nome. Meu Filho santíssimo que 0

escolheu para precursor e embaixador desua vinda e doutrina, o beneficiará comoa seu favorito. Enche-lo-á dos dons de suadestra. (Jo 3, 29; Lc 1,15; Mt 11,9), fá.lo-á grande e admirável entre os homens

e manifestará ao mundo sua grandeza esantidade.

Exortação sobre os deveres com o próximo

287. Procurai, com ardente zelo,que por todos de vossa família seja te-mido, venerado e reverenciado o santo

nome de nosso Deus e Senhor deAbraão, Isac e Jacó (Tob 4, 7-8). Alémdisto, fazei grande empenho em bene-ficiar os pobres e necessitados, o quan-to for  possível. Enriquecei-os com os bens temporais que generosamente vosconcedeu o Altíssimo, e com a mesmaliberalidade distribui-os aos necessita-dos (2 Cor  8,14). Estes bens são maisdeles que vossos, pois somos todos fi-

lhos do Pai que está nos céus, de Quemé toda a criação. Não é razão que estePai tão rico queira um filho na abun-dância excessiva e seu irmão pobre edesamparado. Esta caridade vos farámuito agradável ao Deus imortal dasmisericórdias. A este respeito, con-tinuai a fazer o que costumais e o quefordes inspirada, pois Zacarias o deixa

à vossa disposição, e assim podeis ser liberal. As provações que o Senhor vosenviar, sirvam para vos fortificar  a es- perança. Com as criaturas sereis benig-na, mansa, humilde, aprazível, muito paciente, e espiritualmente alegre,mesmo com aquelas que servirem deinstrumento para exercício de vossavirtude e conquista de méritos. Pelosaltíssimos mistérios que o Senhor vos

revelou, bendizei-o eternamente e su-

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Terceiro Livro-Capítulo 23

 plicai-lhe com incessante amor e zelo, asalvação das almas. Por Mim, rogareis àsuagrandeza,megoverneedirijaparaEudispensar, dignamente e com seu agrado,o sacramento que a tão humilde e pobre'serva confiou sua imensa bondade. Avisai

meu Esposo para me vir buscar, e nesteínterim preparai a circuncisão de vossomenino (Lc 1,13) e ponde-lhe o nome deJoão, porque lhe foi dado pelo Altíssimo,senda essa sua imutável vontade.

Agradecimento de Santa Isabel

288. Estas exortações de Maria

santíssima, com outras palavras de vidaeterna que disse, produziram no coraçãode Santa Isabel efeitos tão divinos que, por momentos arrebataram a santa matrona,deixando-a absorta e emudecida pela for-ça do Espírito que a iluminava, instruía eelevava nos pensamentos de tão celestialdoutrina. Através das palavras de suaMãe, o Altíssimo vivifícava e renovava o

coração de sua serva. Quando pôde conter suas lágrimas, disse: Senhora minha,soberana de toda a criação, entre a dor e aconsolação, não sei o que dizer. Ouvi vos-sas palavras do íntimo de meu coração, eali nascem outras que não posso traduzir.Meus afetos dirão o que minha língua não

 pode expressar. Ao Todo-poderoso reme-to a paga de quanto me proporcionais, Eleque é o remunerador do que nós, pobres,recebemos. Somente vos peço, já que soistodo meu amparo e causa de meu bem, mealcanceis graça e força para praticar vossadoutrina, e suportar a falta de vossa com-

 panhia que me será muito dolorosa.

A circuncisão do Batista

289. Em seguida, trataram da cir-cuncisão do menino de Isabel (Lc 1, 59),

 porque se aproximava o dia detenninado pela lei. Confonne o uso dos judeus, es- pecialmente dos nobres, reuniram-se nacasa de Zacarias muitos parentes econhecidos. Conferiram entre si qual onome a dar ao infante, pois davam grandeimportância ao assunto. A escolha donome dos filhos era muito estudada e dis-cutida entre eles. Além deste costume, a

ocasião era extraordinária, pela situaçãode Zacarias e Santa Isabel, e porque todosreconheciam que o fato de ter concebidosendo anciã e estéril, supunha algum gran-de mistério.

Zacarias continuava mudo, e as-sim foi necessário que sua mulher presi-disse aquela assembléia. Todos tinhamgrande conceito e veneração por ela, masdepois da visita e da longa convivênciacom a Rainha do céu, estava tão renovadana santidade, que os parentes e vizinhosnotaram a mudança. Seu semblante irra-diava uma espécie de esplendor que ins-

 pirava admiração e respeito. Percebia-se

nela o reflexo dos raios da Divindade, daqual tão próxima vivia.

Discussão sobre o nome do Batista

290. Nesta reunião esteve presentea divina Senhora, Maria santíssima. SantaIsabel lhe pedira com instância, e conse-

guiu seu assentimento, usando de certa au-toridade muito reverente e humilde.Obedeceu a grande Senhora, mas obtendo

 primeiro do Altíssimo que não a fizessenotada, nem revelasse coisa alguma dosocultos favores que lhe pudessem atrair aplausos e veneração. Conseguiu o que

 pedia a humilíssima entre todos os humil-des. Como o mundo deixa na sombra aos

que não se exibem com ostentação, nãohouve quem reparasse nela com particular atenção. Apenas Isabel a olhava com in-terior e exterior veneração, sabendo que,

 por sua direção, aquelaassembléia chega-ria à feliz conclusão. Desejavam dar aomenino o nome do pai, Zacarias. A pru-dente mãe, porém, assistida pela Mestrasantíssima, disse: Meu filho deverá sechamar João(Lc 1,62-63). Replicaram os

 parentes que ninguém de sua linhagem ti-vera tal nome, porque sempre faziamgrande estima dos nomes dos mais ilustresantecessores, para incitar à sua imitação.Santa Isabel, entretanto, insistiu que o me-nino chamar-se-ia João.

Zacarias recupera a fala

291. Ainda que Zacarias estivessemudo, perguntaram-lhe os parentes, por 

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Terceiro Livro - Capítulo 23

* rdia: o próprio Filho do eterno Pai descec° visitar seu povo. Fez-se Irmão da na-tureza humana; Mestre na doutrina eexemplo; Redentor, por sua vida, paixão

morte. Conheceu, então, Zacarias aunião das duas naturezas na pessoa do

Verbo, e com luz sobrenatural viu estegrande mistério já realizado no virginaltálamode Mariasantíssima (Lc 1,69). En-tendeu ainda a exaltação da humanidadedo Verbo pelo triunfo de Cristo, Deus eHomem, dando salvação eterna ao gênerohumano, conforme as promessas feitas aDavi, seu pai e ascendente. (2 Rs 7,12;SI 131,11). Esta promessa fora anunciadadesde o princípio do mundo pelas profe-cias (Lc 1,70) dos santos profetas. Desdea criação, começou Deus a preparar a na-tureza e a graça para sua vinda ao mundo,e desde Adão, orientou todas as suas obras

 para este feliz desfecho.

filhos adotivos, poderíamos servir a Deus(Lc 1, 74) sem temor de nossos inimigosvencidos e subjugados por nosso Re-dentor (Gal 4, 5).

295. Compreendeu como o Altís-simo ordenou que, por estes meios, alcan-

çássemos a salvação (Lc 1, 71) da graçae vida eterna que nossos inimigos, osmaus anjos, perderam por sua soberba e

 pertinaz desobediência. Precipitados, por isso, no abismo, os tronos a eles destina-dos foram transferidos aos mortais que

 praticassem a obediência que eles recusa-ram. Desde essa ocasião, tiveram os ho-mens que sofrer da antiga serpente (Ap12,17) o ódio e inimizade que ela conce-

 bera contra o próprio Deus, em cuja mentedivina nossa existência já estava prevista

 por sua eterna e santa vontade. Apesar denossos primeiros pais, Adão e Eva, terem

 perdido sua amizade e graça, Ele os reer-gueu (Lc 1, 72) e os colocou em lugar (Sab 10, 2) e estado de esperança, e nãoos abandonou nem castigou, como aos an-

 jos rebeldes. Para garantir sua mise-

ricórdia aos descendentes de Adão, dispôstodos os vaticínios e figuras do AntigoTestamento, o qual havia de confirmar erealizar em o Novo pela vinda do Reden-tor. Para fortificar esta esperança, prome-teu, com juramento, a nosso pai Abraão

» i f  azê"'° de s e u P o v o ( G n

*ji | 6, 18) e pai da fé. Certificados doadmirável dom de seu Filho feito homemPara nos reengendrar na liberdade de seus

296. Para entendermos o que a vin-da do Verbo eterno nos conquistara, paraservir ao Altíssimo na liberdade, explica:foi a justiça e santidade (Lc 1, 75) comque renovou o mundo e fundou sua novalei da graça, por todos os séculos e paracada um dos filhos da Igreja. Nela, todos

 poderiam viver em santidade e justiça.Conhecendo Zacarias que em seu filhoJoão começaria a realização dos mistériosque a luz divina lhe revelava, voltou-se

 para ele (Lc 1,76) e, felicitando-o, profe-tizou sua santidade, dignidade e ofício, di-zendo: E tu, menino, te chamarás profetado Altíssimo; irás diante de sua face (suadivindade), preparando-lhe os caminhos,anunciando a seu povo (Lc 1,77) a vindade seu Redentor. Por tua pregação recebe-rão os judeus conhecimento de sua eterna

salvação, Cristo nosso Senhor (Mc 1, 4),o prometido Messias. Preparem-se a rece- bê-lo com o batismo de penitência e re-missão dos pecados, e saibam que Ele virá

 perdoar os seus e os de todo o mundo (Jo1,29). A isto foi movido pelas entranhasde sua misericórdia (Lc 1, 78), e não por nossos merecimentos (Tit 3, 5). Por ela,dignou-se visitar-nos descendo do sêio deseu eterno Pai para iluminar (Lc 1,79) os

que, ignorando a verdade por tão longosséculos, estiveram, e no presente estão,sentados nas trevas e sombras da eternamorte; e para guiar os seus e nossos passosno caminho da verdadeira paz que espe-ramos.

297. Através da divina revelação,

todos estes mistérios foram entendidos por Zacarias com grande plenitude e pro-fundidade e encerrados em sua profecia.Alguns dos presentes que o ouviram, fo-ram também iluminados com os raios daluz do Altíssimo, conhecendo que já che-gara o tempo do Messias e cumprimentodas antigas profecias. Diante de tantas ma-ravilhas e prodígios, perguntavam admi-rados (Lc 1, 66): que virá a ser este

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Terceiro Livro - Capit ulo 23

menino, sobre o qual a mão do Senhor_semanifesta tão poderosa e admirável? Foio menino circuncidado e lhe puseram onome de João que pai e mãe, miraculosa-mente, haviam proposto. Cumpriram tudoo mais que a lei ordenava, divulgando-se

 pelas montanhas da Judéia (Lc 1,65) es-ses maravilhosos acontecimentos.

Pergunta da escritora

298. Rainha e Senhora de toda acriação, admirada destas maravilhosasobras que, por vossa intervenção, operouDeus em vossos servos Isabel, João e Za-

carias, considero os diversos modos em- pregados pela divina Providência e vossaexímia discrição. Para o filho e amãe, vos-sa dulcíssima palavra serviu de ins-trumento para serem santificados com a plenitude do Espírito Santo, e isso foi rea-lizado secretamente. Para Zacarias recu- perar  a fala e ser  também iluminado,interveio apenas vossa oração e ordem

oculta, e o fato foi conhecido peloscircunstantes que viram a graça do Senhor no santo sacerdote. Ignoro a razão destes

 prodígios, e apresento à vossa benevolên-cia minha ignorância, para me esclarecer-des, já que sois minha mestra.

RESPOSTA E DOUTRINA DARAINHA E SENHORA DO MUNDO.

Os mistérios divinos são manifestadosem tempos e por modos diversos

299. Minha filha, por dois motivosos divinos efeitos que meu Filho san-tíssimo operou, por meu intermédio, emSão João e em sua mãe Isabel foram ocul-tos, enquanto em Zacarias se manifesta-ram. Isabel, minha serva, ergueu a voz elouvou claramente ao Verbo encarnadoem meu seio, e a Mim sua Mãe. Convinhaque, por então, nào fosse manifestado tãoclaramente aquele mistério, nem minhadignidade. A vinda do Messias deveria serevelar por outros meios mais convenien-tes. Por outro lado, nem todos os coraçõesestavam dispostos como o de Isabel para

receber tão nova e preciosa semente, nemacolheriam tão elevados sacramentos com

a devida veneração. A mais distmanifestar o que então convinha ^ ^apropriado o sacerdote Zacarias' p a,Tla'ssa de sua dignidade, o princípio d a ? ^ria recebida com mais aceitação do Ü*Se"Santa Isabel e na presença do m a r i d ^

que ela disse ficou reservado para °' ^oportuno. Não obstante, as p a l a v r a ^ 0

Senhor levarem sua força intrínsecaS ^meio mais propício e acomodado ^ignorantes e pouco iniciados nos xn^ %rios divinos, serem estes apresentai pelo sacerdote. 0s

Dignidade dos sacerdotes

300. Era também convenienteacreditar e honrar a dignidade do sacerdo¬te (SI 104,15) tão estimada pelo Altíssi-mo. Quando Ele encontra em seusministros a devida disposição, sempre osengrandece, comunicando-lhes se u espí-rito, para que o mundo os venere como a

seus prediletos e ungidos. Neles, as mara-vilhas do Senhor não correm tanto risco por mais que se manifestem. Se cor-respondessem à sua dignidade, suas obrasentre as demais criaturas seriam de sera-fins e seu semblante de anjo.

A face lhes resplandeceria comoa de Moisés (Ex 34,29) quando saiu da presença e diálogo com o Senhor. Se nào

chegarem a tanto, pelo menos devem vi-ver entre os demais homens de maneiraa se fazerem respeitar e venerar depoisde Deus. Desejo, caríssima, que saibasquanto o Altíssimo está indignado atual-mente com o mundo, pelas ofensas que,entre outras, recebe sobre este ponto,quer dos sacerdotes, quer dos leigos.Dos sacerdotes, porque esquecidos desua altíssima dignidade, a ultrajam com

seu proceder vulgar, desprezível, desen-volto, e às vezes escandaloso, dandomau exemplo ao mundo com o ne-gligente descaso da própria santifíca-çào. Dos leigos, porque são temeráriose atrevidos com a pessoa dos cristos doSenhor. Ainda que estes sejam imperfei*tos e de proceder pouco louvável, os lei'gos os devem respeitar e reverenciar,

 por estarem na terra em lugar de Cristo,meu Filho santíssimo.

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Terceiro Livro-Capitulo 23

Re s peito de Maria pelos sacerdotes

301. Esta veneração pelo sacerdo-te levou-me a proceder com Zacarias demodo diferente do que com Isabel, aindaqUe o Altíssimo tivesse ordenado que Eu

fosse o canal para lhes comunicar seu di-vino Espírito _ A Isabel saudei, de tal modo, que

em minha voz transparecia certa auto-ridade para subjugar o pecado original deseu filho, que deveria ser apagado por meio de minha palavra, e em seguida dei-xar  filho e mãe cheios do Espírito Santo.Como Eu não contraíra o pecado original,

mas dele fui isenta, tive naquela ocasiãosobre ele poder e domínio como Senhoraque dele triunfara (Gn 3, 5) por preser-vação do Altíssimo. Não tinha a condiçãode escrava do pecado, como todos os fi-lhos de Adão (Rom 5,12) que nele peca-ram. Para libertar meu servo João daservidão e cadeias do pecado, quis o Se-nhor que Eu imperasse como quem jamaislhe estivera sujeita. A Zacarias, não sau-dei com este modo de autoridade, mas re-zei por ele, guardando-lhe a reverênciaexigida pelo decoro de sua dignidade e demeu recato. Mesmo o ordenar mental esecretamente à sua língua que se desatas-se, nunca o faria se o Altíssimo não meordenara. Deu-me também a entender queà pessoa do sacerdote não ficava bemaquele defeito da mudez, pois todas suas

faculdades devem estar expeditas e pre- paradas para o serviço e louvor do Senhor.Sobre o respeito devido aos sacerdotes, tedirei mais em outra ocasião. Por ora, bastaisso para esclarecimento de tua dúvida.

Procurar conselho e fugir da lisonja

302. Quanto à doutrina para ti,

seja que, ao tratares com qualquer pes-soa, seja superior ou inferior, com todas

 procures te instruir no caminho da vir-tude e da vida eterna. Nisto imitarás oque fez comigo minha serva Isabel. Pedea todos, com o devido modo e prudência,que te ensinem e orientem. Por esta

humildade, às vezes, dispõe o Senhor aooa direção e acerto concedendo sua luzdivina; assim fará contigo se procederescom reta intenção e zelo pela virtude. Pro-cura também expulsar de ti e não aceitar 

nenhuma espécie nem aparência de Iison- jas de criaturas, e das conversações ondeas podes ouvir. Elas fascinam, obscure-cem a luz, pervertem a razão inadvertida,lao ciumento é o Senhor com as almasque muito ama, que delas se retira no mes-mo instante que aceitam louvores huma-nos e se comprazem em suas lisonjas (Sab4,12), pois esta leviandade as torna indig-nas de seus favores. Não é possível sub-

sistir numa alma a adulação do mundo eos carinhos do Altíssimo que sãoverdadeiros, santos, puros e estáveis. Eles

 produzem humildade, purificam, tran-qüilizam e iluminam o coração. Ao con-trário, as carícias e lisonjas das criaturassão vãs, (SI 1115,11; Jo 8,44) inconstan-tes, falazes, impuras e mentirosas, saídasda boca daqueles que, ou enganam ou são

enganados. E. tudo o que é mentira é obrado inimigo.

Resistir às adulações do mundo

303. Teu Esposo, minha filha ca-ríssima, não quer que teus ouvidos se apli-quem a ouvir e admitir falsas invençõesterrenas nem que sejam manchados pelasadulações do mundo. Por isto, quero queos feches para todos estes venenosos en-ganos e os defendas, com forte custódia,

 para nem perceberes tais coisas. Se o Se-nhor se compraz em falar-te ao coração,razão será que para ouvir suas carícias eatender a seu amor, te faças insensível,surda e morta para as coisas da terra quedevem ser tormento para ti. Lembra que

lhe deves grande fidelidade, e que todo oinferno, valendo-se de teu temperamentoafetuoso, quer pervertê-lo, tornando-osuave para as criaturas e ingrato para oDeus eterno. Vigia e cuida de lhe resistir forte (1 Ped 5,9) na fé de teu amado Se-nhor e Esposo.

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CAPÍTULO 24

VOLTA DE MARIA SANTÍSSIMA PARA NAZARÉ.

SãoJosé é avisado da volta de Maria

304. Para acompanhar Maria san-

tíssima de volta à Nazaré, chamou SantaIsabel o felicíssimo esposo São José. Che-gando este à casa de Zacarias foi recebidocom incomparável devoção e reverência

 pelo venerando casal. Agora, tambémZa-carias era conhecedor de que o grande Pa-triarca tornara-se depositário dossacramentos e tesouros do céu, embora o

 próprioJosé ainda o ignorasse. Recebeu-osua Esposa com humilde e prudente ale-

gria, e ajoelhando-se pediu a bênção comocostumava e perdão por não o ter servidonaqueles três meses que permanecera comsua prima Isabel. Verdade é que nisto nãohavia cometido falta nem imperfeição;

 pelo contrário, cumprira a vontade divinacom grande agrado e beneplácito do Se-nhor e permissão de seu Esposo. Apesar disso, com aquela cortês e carinhosa hu-mildade, aprudentíssimaSenhora quis, dealgum modo, dar a São José o consolo deque fora privado durante sua ausência.Respondeu-lhe São José que, só por vê-la,

 já ficava aliviado da pena que sofrerá comsua falta. Depois de descansar alguns dias,dispuseram-se a partir.

Despedida de Maria a Zacarias

305. Foi despedir-se a PrincesaMana do sacerdote Zacarias. IlustradoSM «ência do Senhor, conhecendo aa,gmdade de sua Virgem Mãe, felou-lhe

Zacarias com suma reverência, como aosacrário vivo da divindade e humanidadedo Verbo eterno. Senhora minha-disse-lhe- louvai e bendizei eternamente a vosso

Criador que se dignou, por sua infinita mi-sericórdia, escolher-vos entre todas ascriaturas para Mãe sua, depositária únicade todos seus grandes bens e sacramentos.Lembrai-vos de mim, vosso servo, para

 pedir a vosso Deus e Senhor, me leve em paz deste desterro à segurança do verda-deiro bem que esperamos. Por Vós, me-reça ser digno de chegar a ver sua divinaface que é a glória dos santos. Lembrai-

vos também, Senhora, de rninha família,especialmente de meu filho João, e rogaiao Altíssimo por todo vosso povo.

Benção de Zacarias à Mariasantíssima

306. A grande Senhora pôs-se de joelhos diante do sacerdote e com profun-da humildade pediu-lhe que aabençoasse.Esquivava-se Zacarias suplicando e di-zendo que a Ela competia abençoá-lo.

 Ninguém, entretanto, podia vencer em hu-mildade quem era mestra e Mãe desta vir-tude e de toda santidade. Deste modo,viu-se Zacarias obrigado a lhe dar sua bên-ção.

Inspirado por divina luz e usando

expressões da sagrada Escritura, lhe disse:A destra do verdadeiro Deus todo-pode-roso te assista sempre e te livre de todomal (SI 120,7,5): recebas a graça de suaeficaz proteção e sejas repleta do orvalho

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Terceiro Livro - Capitulo 24

24 12) Serás Senhora de teus irmãos e os

filhos de tua mãe se ajoelharão em tua pre-sença. Quem te exaltar e bendizer (Gn 27,29) será bendito e engrandecido, e o quenão te bendizer e louvar será maldito. Co-nheçam em ti o Deus das nações (Jdt li,

31) e por ti seja glori ficado o nome doDeus altíssimo de Jacó.

Simeão recebe a primeira notíciasobre o Messias

307. Em agradecimento desta pro-fética bênção, Maria santíssima beijou amão do sacerdote Zacarias, e lhe pediu perdão pelo que pudesse ter faltado duran-te a permanência em sua casa. Muito seenterneceu o santo ancião com a despedi-

da e as palavras da mais pura e amável dascriaturas, e guardou em seu íntimo o se-gredo dos mistérios que lhe haviam sidorevelados na presença de Maria santís-sima. Apenas uma vez, encontrando-senum grupo de sacerdotes que costuma-vam se reunir no templo, deixou transpa-recer alguma coisa. Sendo felicitado peloscolegas pelo nascimento de seu filho, e

 por haver tenninado a provação de suamudez, movido pela força do espírito, dis-se: Creio, com firmeza infalível, que o Al-tíssimo nos visitou, e já enviou ao mundoo Messias prometido para a redenção deseu povo. Ao ouvir estas palavras, o santosacerdote Simeão que estava presente, foitomado de viva emoção espiritual e excla-mou: Não pennitais, Senhor Deus de Is-rael que vosso servo deixe este vale de

lágrimas, antes de ver vossa salvação e oRedentor de vosso povo: Destas palavras

 procederam as que, mais tarde, disse notemplo (Lc 1 desde o v. 28) quando rece- beu em seus braços o menino Deus na ce-rimônia da apresentação, como diremosadiante (1). Desde aquela primeira oca-sião, foi-lhe sempre crescendo o desejo dever o Verbo divino encarnado.

Despedidas de Santa Isabel

308. Deixando Zacarias to*cionado, foi Mana, Senhora noss ^m°*dir-se de sua prima santa I s£ i ^coração feminino, mais terno e ^

 parente sua, tendo gozado tantosd^1,

suave convivência com a Màe da » da

recebido tantas graças do Senhor  e

mediação, não era muito fosse v f 8

 pela dor, ao ver ausentar-se a causa de

*

da Senhora do céu e terra a quernãmaT

tos bens recebidos, e a presençaVerança de receber muitos outros. PartiaíTo coração da santa matrona ao despedir*5

1 - N° 599

mais que a própria vida. Afogavam-lhe * palavras as lágrimas e os soluços vindosdo fundo do coração. A sereníssima Rai-nha, superior aos movimentos das paixõesnaturais, conservava-se com amávelgravidade e inteiro domínio de si Disse àSanta Isabel: - Prima e amiga minha, nàovos aflijais tanto por minha partida, pois

a caridade do Altíssimo, na qual verdadei-ramente vos amo, nào conhece separaçãonem distância de tempo e lugar. N' Ele vosvejo e sempre vos terei presente, e Vostambém sempre me encontrareis no Se-nhor. Curto é o tempo em que ficamos cor- poralmente separadas, pois os dia s da vidahumana são tão breves (Jo 14,5). Vencen-do com a divina graça, nossos inimigos, bem depressa nos veremos felizes na ce-

lestial Jerusalém, onde não há dor, nem pranto (Apoc 21 , 4) nem separação. En-quanto o esperamos caríssima, tereis to-dos os bens no Senhor, e a Mim tambémencontrareis n'Ele. Que Ele pennaneçaem vosso coração e vos conforte. Nàocontinuou suas razões nossa prudentís-sima Rainha, para não prolongar o prantode Isabel. Ajoelhando-se,pedm-lhe a bên-

ção e perdão pela moléstia que sua com- panhia lhe poderia ter dado, e insistiu atéque Isabel a abençoou. A santa matrona, por sua vez, suplicou que a divina Senhoralhe retribuísse com outra bênção. Para nàolhe recusar esta consolação, deu-lha Ma-ria santíssima.

Despedidas do Batista

309. Foi a Rainha também ver omenino João. Recebeu-o nos braços e

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Terceiro Livro - Capítulo 24

çâo de joelhos a seu esposo, como em taisocasiões costumava. Tendo-a ele dado,

 puseram-se a caminho.

DOUTRINA DA RAINHA MARIASANTÍSSIMA

A alma perfeita deve ser disponível

311. Minha filha, a ditosa alma aquem Deus escolhe para sua intimidade ealta perfeição, deve ter o coração sempre

 preparado (Ecli 2, 20) e disponível paratudo o que o Senhor quer dispor e fazer com ela. Sem resistência, prontamente

deve executá-lo. Assim procedi quando oAltíssimo ordenou-me sair de casa e dei-xar meu querido recolhimento para ir à deminha serva Isabel. Do mesmo modo meordenou de lá voltar. Tudo executei com

 pronta alegria. Ainda que de Isabel e suafamília recebi tantos benefícios, e fossegrande o meu amor e benevolência por eles, ao conhecer a vontade de Deus, re-nunciei a todo o desejo próprio, sem dei-xar de lhes ser agradecida. Fazendo o queera compatível com a caridade e compai-xão, deixei tudo mais, para obedecer pron-tamente às divinas ordens.

O desprendimento é condição para o perfeito amor 

312. Minha filha caríssima, como procurarias esta verdadeira e perfeita re-signação, se conhecesses todo seu valor,quanto é agradável aos olhos do Senhor eútil e proveitosa para a alma! Trabalha,

 pois por adquiri-la, imitando-me, comotantas vezes te convido e procuro persua-dir. O maior impedimento para chegar a

este grau de perfeição é admitir afetos ouinclinações particulares a coisas terrenas, porque estas tomam a alma indigna de ser escolhida para o Senhor nela ter suas de-licias e lhe manifestar sua vontade. Mes-mo quando a conhece, a alma éembaraçada pelo amor vil que dedica aoutras coisas, e este apego lhe impede a

 prontidão e alegria com que deve obede-

cerão gosto do Senhor. Reconhece, minhafilha, este perigo, e não admitas em teu

coração afeto algum particular. Desejo-temuito perfeita e sábia nesta arte do amor divino, de tal modo que tua obediênciaseja de anjo e teu amor de serafim.

Quero que sejas assim em todastuas ações, pois a isto te obriga meu amor e a ciência e luz com que és instruída.

Renúncia, obediência, veneração pelossacerdotes, cumprimento do dever 

313. Não quero dizer que hás deser insensível, pois isto é naturalmente im-

 possível à criatura. Mas, quando te acon-tecer qualquer adversidade, ou te faltar oque te parece útil, necessário ou apetecí-vel, então com alegre conformidade aban-dona-te ao Senhor. Faze-lhe um sacrifíciode louvor por se cumprir em ti sua santavontade, preocupando-te somente com o beneplácito de sua divina disposição.

Lembrando-te que tudo o mais é

momentâneo, achar-te-ás disposta parafacilmente te venceres, e todas as ocasiõeste servirão para te humilhares sob (1 Ped5,6) a mão do Senhor. Advirto-te tambéma me imitares no respeito e veneração pe-los sacerdotes. Ao falares e despedir-tedeles, pede-lhes sempre a bênção. O mes-mo farás com o Altíssimo ao começaresqualquer coisa. Com os superiores mos-tra-te sempre dócil e obediente. Às mulhe-res que vierem te pedir conselho, se foremcasadas, admoesta-as para serem obe-dientes a seus maridos, (Tit 2,5) dóceis e pacíficas na família, recolhidas em casa.cuidadosas no cumprimento de suas obri-gações. Contudo, nâo se afoguem, nem seentreguem completamente às preocupa-ções, com pretexto de necessidade. Maislhes valerá a bondade e liberalidade do Al-tíssimo, do que sua demasiada atividade. Nos acontecimentos de minha vida duran-te essa época, encontrarás para isso ver-dadeiro exemplo e doutrina. Aliás, todaminha vida o é para as almas agirem com

 perfeição em qualquer estado de vida. Por isto, não te dou advertências para cada umem particular.

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CAPÍTULO 25

VIAGEM DE MARIA SANTÍSSIMA AO VOLTAR DA CASA DE ZACARIAS PARA NAZARÉ.

 jVlaria, o peregrino tabernáculo doSenhor 

314. Para voltar da cidade de Judá

à Nazaré, Maria santíssima, animado ta- bernáculo (Apoc 21,3) do Deus vivo, tor-nou a percorrer as montanhas da Judéiaem companhia de seu fiel esposo José.

 Não referem os Evangelistas a pressa comque fez esta viagem, como diz São Lucasda primeira (Lc 1,39), na qual havia es-

 pecial mistério. Mas, também na volta à Nazaré, caminhou a Princesa do céu com

grande presteza para os sucessos que a es- peravam em seu lar. Todas as peregri-nações desta divina Senhora forammística demonstração de seus progressosespirituais e interiores. Era o verdadeirotabernáculo do Senhor (1 Par 17, 5) quenunca repousava definitivamente na pere-grinação da vida mortal. Progredindo to-dos os dias, de alto estado de sabedoria e

graçapara outro mais elevado, sempre ca-minhava, e sempre era única e peregrinaneste caminho para a terra prometida (Nm7,89). Transportava consigo o verdadeiro

 propiciatório e, ao mesmo tempo em quecontinuamente crescia nos próprios dons,solicitava e adquiria a salvação para nós.

A Virgem não quis ser isenta do

sacrifício

315. Gastaram nesta jornada, nos-sa grande Rainha e S. José, outros quatro*as, como na vinda que descrevi no ca-

 pitulo 16 n° 207.0 modo como a fizeram,as dlvm*s palestras que entretinham du-

rante o caminho, foram da mesma formacomo lá disse, e não é necessário repetir.

 Nas competições de humildade, semprevencia nossa Rainha, salvo quando seu

santo Esposo interpunha sua autoridade.Ainda assim vencia, pois submeter-seobediente, vinha a ser maior humildade.Estando no terceiro mês da gestação, ca-minhava mais atenta e cuidadosa. Não quesua gravidez lhe fosse onerosa, pelo con-trário, era-lhe suavíssimo repouso. Mas,

 prudente e solícita Mãe, cuidava muito dotesouro que contemplava em seu seio,

acompanhando o natural desenvolvi-mento do corpo santíssimo de seu Filho. Não obstante, algumas vezes se fatigavacom a caminhada e o calor, porque não sevalia dos privilégios de Rainha e Senhora

 para evitar o sofrimento. Desejava sentir o cansaço e os incômodos, para ser emtudo mestra de perfeição e fiel retrato deseu Filho santíssimo.

Apreensões de Maria

316. Sendo sua gravidez, por parteda natureza, tão perfeita, e sua pessoa ele-gantíssima e sem defeito algum, começa-vam a aparecer os primeiros indícios deseu estado. Reconhecia a discretíssimaEsposa que seria impossível passar des-

 percebida, por muito tempo, ao seu cas-tíssimo e fiel Esposo. Esta consideraçãoaumentava-lhe a ternura e compaixão por ele, prevendo o sobressalto que breve-mente sofreria, e que lhe quisera evitar, sefosse vontade divina. O Senhor, porém,não lhe respondeu a este cuidado, porque

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Terceiro Livro - Capítulo 25

dispunha os acontecimentos por meiosmais oportunos, para glória sua e méritosde São José e de sua Virgem Mãe. Apesar disso, em segredo, a grande Senhora pediaa Deus que preparasse o coração do santoEsposo com a paciência e sabedoria de

que iria necessitar; que o assistisse comsua graça, para que nas circunstâncias queo esperavam, procedesse segundo o bene-

 plácito e agrado da vontade divina. Nãoduvidava que ele sofreria grande desgostoao vê-la grávida.

aconteceu chegarem algumas pessoas deoutro lugarejo. Iam à cidade santa, levan¬do uma jovem enferma em busca de recursos para tratamento da saúdeIgnoravam a natureza e a causa de suaenfermidades. Fora aquela mulher muito

virtuosa. Vendo-a o demônio tão adianta*da na virtude, investiu contra ela, comosempre o faz contra os amigos de Deus einimigos seus. Perseguindo-a, fê-la cair em algumas culpas, e para levá-la de umabismo a outro, tentou-a com falsas üu-

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Benefícios operados pela caridade daVirgem

317. Prosseguindo a viagem, rea-lizou a Senhora do mundo algumas obrasadmiráveis, ainda que sempre de modo

oculto. Num lugar próximo de Jerusalém,no mesmo pouso em que se alojaram,

soes de desconfiança e com desordenadodesgosto da própria desonra. Perturban-do-lhe assim o espírito, conseguiu o dra-gãoentrarnaaflitamulherepossuí-lacornmuitos outros demônios. Já disse, na pri-meira parte (1), que o infernal dragão

1 -n° 132 ~~

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Terceiro Livro - Capítulo 25

heu grande ira contra todas as mu-conC lVirtuosas, depois que viu no céuIh Ia mulher vestida do sol (Apoc 12,8 cuia descendência pertencem as de¬l)>a a seguem, como se colige do ca-^ j L doze do Apocalipse. Por causa

ódio, sentia-se muito ufano (Apoc12 desde o v. 13) com a posse do corpoalma daquela aflita mulher a quem tira*

^izava cruelmente.

Cura de uma possessa

318. Viu nossa divina Princesaaquela doente e conheceu-lhe a enfermi-

dade que os outros ignoravam. Movidapor sua materna! misericórdia, orou pe-dindo a seu Filho lhe desse saúde de corpoe alma- Conhecendo que a vontade divinase inclinava à clemência, usou o poder de

 j^nha, e mandou aos demônios que saís-sem imediatamente daquela mulher; quea deixassem livre sem voltar a molestá-lae se retirassem aos abismos, sua legítima

residência. Este mandato de nossa grandeRainha e Senhora não foi vocal mas ape-nas mental. Sentiram-no os imundos es-

 píritos, e foi tão poderoso que ins-tantaneamente, Lúcifere seus comparsas,saíram daquele corpo e se lançaram nastrevas infernais. Ficou a feliz mulher li- bertada e atônita com tão inesperado su-cesso. Seu coração encheu-se de afeto

 pelapuríssima e santíssima Senhora. Sen-tiu por Ela especial veneração e afeto quelhe obtiveram outras duas graças: a íntimacontrição de seus pecados, e a libertaçãodos maus efeitos e vestígios que lhe ha-viam deixado no corpo aqueles injustos

 possuidores. Reconheceu que aquela di-vina forasteira que, para sua grande feli-cidade, encontrara no caminho, tinha

 parte no bem que recebera do céu. Diri-

giu-lhe a palavra, e respondendo-lhe nos-sa Rainha tocou-lhe o coração, e não só aexortou ao bem, como também lhe alcan-çou aperseverança nele. Os parentes queacompanhavam a enferma viram o mila-

mas o atribuíram á promessa que iamcumprindo de levá-la ao templo de Je-rusalém e ali oferecer alguma esmola. As-SUL° 2eram» louvando a Deus, mas sem

^ber quem havia sido o instrumento da¬quele favor.

Conversão de um pecador.Chegada à Nazaré

319. Grande e furiosa foi a pertur- bação de Lúcifer, vendo-se expulso e de-

salojado daquela mulher, apenas com omandato de Maria santíssima. Admirado,raivoso e indignado dizia: Quem é estamulherzinha que nos ordena e nos dominacom tamanha força? Que novidade é esta,e como poderá suportá-la minha soberba?Convém não deixar isto passar, e cuide-mos de a aniquilar. Como no capítulo se-guinte falarei mais sobre este ponto,

deixo-o agora. Chegaram nossos divinosviajantes a outra pousada, cujo dono erahomem de mau gênio e costumes. Para co-meço de sua felicidade, dispôs Deus querecebesse Maria santíssima e seu esposoJosé com ânimo benévolo e piedoso.Prodigalizou-lhes mais cortesia e aten-ções do que costumava fazer aos outroshóspedes. Para que a recompensa fosse

mais generosa, a grande Rainha conheceuo estado corrompido da consciência deseu hospedeiro. Rezou por ele, e deixou-lhe o fruto desta oração como pagamentoda hospedagem: a justificação de suaalma, a vida corrigida e até os bens ma-teriais melhorados, pois Deus os aumen-tou dai em diante, por causa do pequeno

 beneficio prestado aos dois soberanoshóspedes. Outras muitas maravilhas rea-lizou a Mãe da graça nessa viagem, por-que suas emissões (Cant 4, 13) eramdivinas e tudo santificava nas almas bemdispostas. Chegados à Nazaré, a Princesado céu limpou e arrumou sua casa, au-xiliada pelos santos anjos que, nestas hu-mildes tarefas, sempre a acompanhavam,como êmulos de sua humildade e zelososde sua veneração e culto. São José desem-

 penhava seu trabalho ordinário para sus-tentar a Esposa e Ela não decepcionava ocoração do Santo. Cingia-se de nova for-taleza para os mistérios que aguardava, eempregava suas mãos em coisas árduas(Prov 31,11-17-19). Em seu interior  go-zava da visão contínua do tesouro que tra-zia no seio, e de incomparáveis favores,delícias e consolos. Conquistava gran-

diosos méritos e a indizível complacênciade Deus.

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Terceiro Livro - Capilulo 25

DOUTRINA QUE ME DEU ARAINHA DO CEU

Exercícios da vida espiritual

320. Minha filha, as almas fiéisque conhecem a Deus pela luz da fé e sãofilhas da Igreja, não deviam fazer diferen-ça de tempo, lugar ou ocupação, para exer-citar essa virtude e as demais que, com afé, lhes foram infundidas. Deus está pre-sente em todas as coisas e as enche comseu ser infinito (Jer 23,24). Em qualquer lugar e ocasião pode-se praticar a fé paraconhecê-lo em espírito e verdade (Jo 4,22-23). Na vida natural, após a criação

 pela qual se recebe o princípio do ser fí-sico, segue-se a conservação. A vida e arespiração não admitem interrupção.Também a nutrição e o crescimento não podem cessar enquanto não chegam aotermo. De igual modo, a criatura racional,depois de ser gerada pela fé e pela graça,não devia jamais interromper o desenvol-vimento desta vida espiritual. Cumpre ali-mentá-la com obras vivas (Tgo 2,26) emtodo tempo e lugar, pelo exercício da fé,esperança e amor. Por causa do esqueci-mento e descuido nisto, os homens em ge-ral, e os próprios filhos da Igreja, vêm ater a vida da fé como se não a tivessem, porque a deixam morrer e perdem a cari-dade. São estes que receberam em vão (SI23, 4) esta nova alma, como diz David,

 porque não usam dela, como se a não ti-vessem recebido.

Presença de Deus, zelo pelas almas

321. Desejo, caríssima, que em tua

vida espiritual não haja intervalos e va-zios como não os tem a natural. Devesexercitar a vida da graça e operar  comos dons do Altíssimo, orando, amando,louvando, crendo, esperando e adorando

este Senhor, em espírito e verdade (J04,23), continuamente, sem diferença detempo, ocupações ou lugar. Ele está pre-sente em tudo, e quer ser amado e servi-do por todas as criaturas racionais.Quando vierem a ti almas esquecidasdestas verdades, com outras culpas ouoprimidas pelo demônio, encarrego-tede pedires por elas, com viva fé e con-

fiança. Se o Senhor não atender sempre

como desejas e elas querem, fá-lo-á deoutro modo, ocultamente, e tu lhe terasdado gosto, trabalhando como filha e es-

 posa fiel. Se em tudo procederes confor-me Ele quiser, asseguro-te que teconcederá muitos privilégios de esposa,

 para o bem das almas. Atende ao que eufazia quando via almas sem a graça doSenhor, e o cuidado e zelo com que tra-

 balhava por todas, e em particular  poralgumas. À minha imitação, e para em- penhar-me, quando o Altíssimo te ma-nifestar o estado de algumas almas, ouelas te revelarem, trabalha e reza porelas, aconselha-as com prudência, hu-mildade e recato, O Todo-poderoso nàoquer que trabalhes com ruído, nem queo resultado de teus esforços apareça,mas se conserve oculto. Nisto leva emconsideração tua vontade e natural

retraimento e dispõe para ti o mais se-guro. Deverás pedir por todas as almas,mas com mais empenho por aquelas queconheceres ser da vontade de Deus que

 peças por elas.

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C A P I T U L O 2 6

CONCILIÁBULO DOS DEMÔNIOS NOINFERNO CONTRA MARIA SANTÍSSIMA

Investigação dos demônios

322. No momento em que se rea-lizou a Encarnaçâo, - como disse acima,

capitulo 11 , número 140, - Lúcifer e todoo inferno sentiram a força do pjoder do Al-tíssimo que os lançou no mais profundodas cavernas infernais. Oprimidos, ali per-maneceram alguns dias, até que o Senhor,com sua admirável providência, permitiuque saíssem daquela opressão cuja causaignoravam. Levantou-se o grande dragão,e saiu para rodear a terra, investigando por 

toda ela, se haveria alguma novidade a queatribuir o que lhe sucedera. Não quis o so- berbo príncipe das trevas confiar este cui-dado só a seus aliados, mas acom-

 panhou-os percorrendo todo o orbe. Comsuma astúcia e malignidade, andou inqui-rindo e espreitando, por diversos modos,

 para apurar o que desejava. Nesta diligên-cia gastou três meses, no fim dos quaisvoltou ao inferno, tão ignorante da verda-de como dele sairá. Não devia, por então,entender tão divinos mistérios. Sua tene-

 brosa maldade não gozaria de seus admi-ráveis efeitos, nem por eles glorificariaseu benfeitor e Criador, como nós a quemse destinou a Redenção.

Bem sabeis, súditos meus, que desde queDeus destruiu nosso poder e nos expulsoude sua casa, tenho empregado grande so-licitude para me vingar e destruir o seu

 poder. E, ainda que a Ele não posso atingir,não tenho perdido tempo, nem ocasião,

 para conquistar ao meu domínio os ho-mens que Ele ama. Com meu poder povoeimeu reino (Jo 41,25) e tenho muitos po-vos e nações que me seguem e obedecem(Lc 4, 6). Todos os dias ganho inumerá-veis almas, afastando-as do conhecimentoe obediência a Deus, para não chegarem

a gozar o que nós perdemos.Hei de trazê-las a estas penas eter-nas que padecemos, pois seguiram meuscaminhos e minha doutrina. Nelas vinga-rei o ódio que concebi contra seu Criador.Todo o referido, porém, me parece pouco,e sinto-me sobressaltado por esta novi-dade que acabamos de sofrer. Desde quenos precipitaram do céu, nunca sucedeucoisa como esta, nem tão grande forçaoprimiu e aniquilou as minhas e vossasforças, como estamos verificando. Esteefeito tão novo e extraordinário, sem dú-vida, tem novas causas, e por vosso abati-mento, sinto grande temor dé que nossoimpério haja se arruinado.

Temores de Lúcifer

323. Confuso e angustiado, o ini-migo de Deus não sabia a que atribuir suanova desdita, e para resolver o caso con-vocou todas as quadrilhas infernais, semfaltar um só demônio. Presidindo o con-cuiábulo, lhes expôs esta ponderação:

O ódio de Lúcifer contra Maria

324. Este negócio exige particular atenção. Meu furor  está firme e a ira deminha vingança insatisfeita. Saí e rodeeitodo o orbe, fiz com grande cuidado o re-conhecimento de todos seus moradores enada encontrei de notável. Observei e per-

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Terceiro Livro - Capítulo 26

segui as mulheres virtuosas da espécie da-quela nossa inimiga que vimos no céu, tal-vez a encontrasse entre elas. Não vejoindícios de que haja nascido, pois em ne-nhuma encontro as condições que, me pa-rece, deve ter a Mãe do Messias. Umadonzela de grandes virtudes que eu temiae persegui no templo, já está casada. As-sim, não pode ser aquela que procuramos,

 porque Isaias disse que Ela seria virgem(Is 7, 14). Apesar disso, a temo e odeio

teriosos ou nascem de meu desprezo p 0r 

essa mulherzinha. Vou, porém, prestar mais atenção, porque nestes dias, duas ve-zes nos ordenou e não pudemos resistir aoimpério e valor com que nos expulsou da-quelas pessoas de que nos havíamos apos-

sado. Isto é sério, e só pelas provas quedeu nestas ocasiões, merece minha indig-nação. Estou resolvido a persegui-la e der-rotá-la. Com todas vossas forças e malíciaajudai-me, e quem se distinguir nesta vi-

 porque é possível que, sendo tão virtuosa,dela venha a nascer a Mãe do Messias oualgum grande profeta. Até agora não a pude vencer em coisa alguma, e de suavida entendo menos do que das outras.Sempre me tem resistido invencivel-mente. Facilmente dela me esqueço, e

quando me lembro não lhe posso aproxi-mar muito. Não acabo de compreender seesta dificuldade e esquecimento são mis-

tória, receberá grandes prêmios do meugrande poder.

Combate entre Maria e os demônios

325. A infernal canalha que, aten-

ta, ouvia Lúcifer, louvou e aprovou suasdecisões. Disseram-lhe que não se pertur- basse, pois, por causa daquela mulher nãoseriam prejudicados e menos ainda perdi-

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Terceiro Livro - Capítulo 26

dos os seus triunfos, pois seu poder estavatãa Duiante e se estendia em quase todo omundo (Ef 2, 2; Jo 14, 30). Foram logocogitando os meios que usariam para per-seguir Maria santíssima. Consideravam

apenas suas singulares virtudes e santi-dade, e não sua condição de Mãe do Verbohumanado, dignidade e mistério que osdemônios ainda ignoravam, como disseacima (l). Deste conciliábulo, seguiu-se

 prolongado combate entre a divina Prin-cesa, Lúcifer e seus rninistros de maldade,a fim de que muitas vezes Ela esmagasseacabeça (Gn 3,15) deste dragão infernal.Grande e singular foi esta batalha na vida

da grande S enhora, mas travou outra aindamaior depois que seu Filho santíssimo su- biu aos céus. Desta última falarei na ter-ceira parte (2) desta História.

Muito misteriosa foi esta peleja, porque então Lúcifer já sabia que Ela eraMãe de Deus. Sobre este sucesso, falouSão João no capítulo doze do Apocalipse,como direi em seu lugar.

Dúvida dos demônios

326. Admirável foi a providênciado Altíssimo no ordenamento dosincomparáveis mistérios da Encamação,assim como agora o é no governo da Igrejacatólica. Não há dúvida, que convinha aesta forte e suave providência esconder muitas coisas aos demônios. Indignos de

conhecer estes mistérios, como disse aci-ma (3), estes inimigos devem manifestar o poder divino permanecendo subjugadosa ele. Alémdisto, quando ignoram os fatosque Deus lhes oculta, transcorre mais sua-vemente a ordem da Igreja e a realizaçãodos mistérios divinos. A excessiva ira dia-

 bólica é assim melhor contida, quandoDeus não lhe quer rjermitir a ação diabó-lica Ainda que sempre o podia e pode re-

 primir  o Altíssimo usa o modo maisconveniente à sua infinita bondade. Por esta razão, ocultou a estes inimigos a dig-nidade de Maria santíssima, a origem

 jniraculosa de sua gravidez, como tam- bém sua integridade virginal antes e de-

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2- ^45184573- n°318

 pois do parto. O fato dela se ter desposadoencobria, muito naturalmente, seus

 privilégios. Não tiveram também conheci-

mento certo da divindade de Cristo Se-

nhor nosso, anão ser na hora de sua morte.A partir desse momento, é que entende-ram muitos mistérios da Redenção, queantes os alucinaram. Se, então os tivessemcompreendido, teriam procurado impedir a sua morte, como disse o Apóstolo (1 Cor 2,8), antes do que incitar os judeus a lhatomarem tão cruel, como adiante narrare-mos (4). Teriam procurado impedir a Re-denção, revelando ao mundo que Cristoera verdadeiro Deus. Por isto, quando SãoPedro assim o compreendeu e declarou(Mt 16,20) o Senhor ordenou a ele, e aosdemais apóstolos, que não o dissessem aninguém. Os milagres operados peloSalvador, a expulsão dos demônios dos

 possessos, levavam os maus espíritos,como refere S. Lucas (Lc 4,28; 8,34,35),a suspeitar que era o Messias, chamando-0

Filho de Deus altíssimo, o que o Senhor não consentia que dissessem. Tampoucoo afirmavam com certeza, porque ao ve-rem Cristo, Senhor nosso, pobre, despre-zado e sujeito à fadiga, logo se desva-neciam suas suposições.

Cegos pela soberba, nunca pude-ram penetrar o mistério da humildade doSalvador.

Perplexidade diabólica

327. Se, quando ainda desconheciasua dignidade de Mãe de Deus esta perse-guição preparada por Lúcifer contra Ma-ria foi terrível,mais cruel seria a outra quelhe moveu quando já sabia quem era Ela.Se nesta ocasião, de que vou falando, ativesse conhecido como aquela mulher que vira no céu, vestida de sol (Apoc 12,1), destinada a lhe esmagar a cabeça (Gn3,15), ter-se-ia enfurecido de tal modo, ase transformar todo em raios decólera. Se,considerando-a apenas mulher santa e

 perfeita, indignaram-se tanto, é indubitável que conhecendo sua excelência, te-riam o quanto lhes fossepossível, alteradotoda a natureza para a perseguir e aniqui-

4 - Abaixo n° 1228,1251, 1259,1273

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Terceiro Livro - Capítulo 26

liu O tliiiKfto c Mciiri aliados sentiam-se perplexo*: HC , por um lado desconheciamo oculto misléno da d i v i n a Senhora, por o n l i o , (*Hpciimcnlavaii i sua poderosa vir-ludc C extrema santidade Confusos, an-davam obxcivjindo c conjecturando entre

eles quem Kcria a(|ucla mulher, contraquem sim» lorça» eram tâo fracas? Seria poi ventura, aquela que entre as criaturaso c u p a r i a a mail proeminente posição?

Iiúclttt mio compreende a sabedoriadivina

328. Alguns respondiam achar im-

 possível ser aquela mulher a Mãe do Mes-sias esperado pelos lieis. Além de ter marido, eram ambos pobres, humildes e

 pouco aplaudidos no mundo. Não se exi- biam com milagres e prodígios, nem pro-curavam ser estimados e temidos peloshomens. Sendo Lúcifer, e seus ministros,tão soberbos, não podiam se persuadir ser compatível a grandeza c dignidade deMãe dc Deus com tão grande desprezo desi mesma e rara humildade. O que a ele,muito menor cm excelência, tanto haviarepugnado, julgavam que de modo algumo Poderoso escolheria para Si.

Finalmente, acabou enganado pela própria arrogância e pretenciosa soberbaque são os mais tenebrosos vícios para ce-gar o entendimento e precipitar a von-tade. Por isto, disse Salomão (Sab 2,21),que a própria malícia os cegou e não com-

 preenderam que o Verbo eterno escolheriatais meios, justamente para destruir suaarrogância e altivez. Os pensamentos des-te dragão se distanciam dos juízos do al-tíssimo Senhor (Is 55, 9) mais do que océu da terra. Julgava que Deus desceria aomundo para o vencer, com grande aparatoe ruidosa ostentação; que humilharia com

seu poder aos soberbos, e a muitos prínci- pes e monarcas que o demônio perverteraantes da vinda de Cristo nosso Senhor.Mostravam-se estes homens tão cheios desoberba e presunção, que pareciam ter 

 perdido o juízo e a lembrança de seremterrenos e mortais. Tudo isto media Lú-cifer por sua própria cabeça. Parecia-lheque, em sua vinda, Deus procederia do

mesmo modo que ele, quando com ódio efuror ataca as obras de nosso Senhor.

Deus age ao contrário dos demônio

329. Deus, porém, q u e é infí .sabedoria, fez tudo ao contráriodo qu * a

gou Lúcifer. Veio vencê-lo, nâo a Ju'*com sua onipotência, mas com hum?Sas

de, mansidão, obediência e pureza Fsão as armas de sua milícia (2 Cor Io!?e não a ostentação, fausto e vaidade m ^dana sustentadas pelas riquezas terre ^Veio oculto, sem aparato. Escolheu

 pobre. Tudo quanto o mundo aprecia v £desestimar, para ensinar a ciência da VS°com doutrina e exemplo. Com isto 3

demônio foi enganado e vencido pei0°meios que mais o oprimem e atormentam

Esforços de Lúcifer para vencer Maria

330. Ignorando todos estes misté-rios, andou Lúcifer alguns dias sondandoe examinando a condição natural de Ma-ria: sua compleição, temperamento, in-

clinação, a serenidade de seus atos tãocheios de equilíbrio, pois este exterior nãolhe era escondido. Percebeu e verificouque tal conjunto de perfeições constituíamuralha invencível para seus ataques.Voltou a consultar os demônios, expondo-lhes a dificuldade que sentia para tentar aquela mulher. A empresa era muito sé-ria. Fabricaram todos, grandes e diferen-tes máquinas de tentações para atacá-la,auxiliando-se mutuamente nessa batalha.

 Nos capítulos seguintes falarei sobre aexecução desses projetos e do gloriosotriunfo obtido pela soberana Princesa so-

 bre todos estes inimigos e seus danadose malignos conselhos forjados na iniqüi-dade.

DOUTRINA DA RAINHA DO CÉUMARIA SANTÍSSIMA

331. Minha filha, quero que tenhasmuita advertência e atenção, para não se-res dominada pela ignorância e trevas, quecomumente, obscurecem os mortais es-quecidos da eterna salvação. Não consi-deram o perigo que correm, na incessante

 perseguição que os demônios movem

 para perdê-los. Dormem os homens, des-cansam, e se descuidam, como se não •*

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Terceiro Livro - Capítulo 26

,eSsem inimigos fortes e vigilantes. Estertinendo descuido tem duas causas: pri-^ira, estarem os homens tão entregues

ao que é terrestre (1 Cor 2,14), animal esensível, que não sabem sentir outras fe-

ridas senão as que lhes tocam nos sentidoscorporais. Tudo o mais que é interior, pen-sam que não os atinge.

A segunda é porque os príncipesdas trevas são invisíveis (Ef 6, 12) einatingíveis pelos sentidos. Como os ho-mens carnais não os tocam, nem os vêemnem os sentem, esquecem-se de os temer,quando por essa mesma razão é que deve-

riam estar mais atentos e acautelados. Osinimigos invisíveis são mais atentos e des-tros para atacar traiçoeiramente. O perigoé tanto maior, quanto menos percebido, eas feridas tanto mais mortais, quanto me-nos sensíveis e perceptíveis.

Sanha diabólica contra os homens

332. Ouve filha, as verdades maisimportantes para a etema e verdadeiravida. Atende a meus conselhos, praticaminha doutrina, recebe minhas admoes-tações, porque se te entregares ao descui-do eu me calarei. Adverte, pois, o que atéagora não compreendeste a respeito des-tes inimigos. Faço-te saber que nenhumentendimento e língua humana ou angéli-ca, podem explicar a ira (Apoc 12,12) e

furibunda sanha que Lúcifer e seus demô-nios concebem contra os mortais, por se-rem estes imagens de Deus, comcapacidade para d'Ele gozarem eterna-mente. Só o Senhor compreende a iniqüi-dade e malvadeza daquele coraçãosoberbo e rebelado contra sua adoração esanto nome. Se seu divino poder não con-tivesse estes inimigos, num momento des-truiriam o mundo, e melhor do quedragões, feras e leões famintos, chaci-nariam todos os homens. O Pai das mise-ricórdias, porém, como terníssimo Pai,contém essa ira e guarda nos braços seusfílhinhos, para não serem vítimas do furor desses lobos infernais.

Loucura dos que se entregam àPerdição

333 - Agora, considera com a pon-

deração de que és capaz, se há dor paramais se lamentar, do que ver tantos ho-mens cegos e esquecidos de tal perigo.Uns, por leviandade e insignificantes mo-tivos, ou por um deleite momentâneo; ou-tros, por negligência ou por apetitesdesordenados; todos se atiram, volunta-riamente, do abrigo onde os guarda o Al-tíssimo, às furiosas mãos de tão ímpios ecruéis inimigos. E isto, não para que du-rante uma hora, um dia, um mês ou umano, neles executem o seu furor, mas sim

 para que b façam eternamente com indi-zíveis tormentos. Minha filha, teme ao ver 

tão horrenda e formidável estultice dosmortais impenitentes. Admira-te de queos fiéis, sabendo tudo isso pela fé, hajam perdido ojuízo, e o demônio os mantenhatão loucos e cegos no meio da luz da ver-dadeira fé católica que, nem enxergam,nem conhecem, nem fogem do perigo.

Vigilância para não cair 334. Para mais o temeres e dele te

guardares, fica sabendo que este dragãote observa e vigia desde a hora em quefoste criada e nasceste no mundo. Semdescansar, te rodeia noite e dia, esperandoocasião para te atacar. Observa tuas in-clinações naturais e até as graças que re-cebes do Senhor, para fazer-te guerra com

tuas próprias armas. Estuda com outrosdemônios como te perder, e promete prê-mios aos que nisto mais trabalharem. Comeste fim,  pesam teus atos com grande cui-dado, medem teus passos, e todos traba-lham para forjar  laços e perigos em tudoquanto empreendes. Quero que vejas to-das estas verdades no Senhor, onde conhe-cerás sua importância. Mede-as depois,

 pela tua própria experiência, e nesta com-

 paraçãoentenderás se é razoável dormiresentre tantos perigos.

Ainda que a todos os nascidos éimportante este cuidado, por especiais ra-zões, mais do que a ninguém, o é para ti. Não as mostro todas agora, mas nem por isto duvides que te convém viver alerta evigilantíssima. Basta lembrares de teutemperamento sensível e frágil, do qual se

aproveitarão teus inimigos para te comba-terem.

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CAPÍTULO 27

MARIA SSMA. E PREVENIDA PELO SENHOR PARAOS COMBATES COM LÚCIFER. PRINCÍPIO

DAS PERSEGUIÇÕES DO DRAGÃO.

Oração de Cristo a favor de sua Mãe

335. Humanando-se no seio daVirgem Maria e consagrando-a mãe sua,estava o Verbo eterno atento para defender seu tabernáculo, o mais estimável entretodas as criaturas. Conhecia as intençõesde Lúcifer, não apenas com a sabedoriaincriada de sua divindade, mas tambémcom a ciência criada que possuía enquantoHomem. Para revestir de nova fortaleza a

invencível Senhora, contra a louca ousa-dia daquele altivo dragão e suas quadri-lhas, a humanidade santíssimapôs-se em pé no tabernáculo virginal, em posição dequem toma defesa e se atira indignadacontra os príncipes das trevas. Fez oraçãoao Pai eterno, pedindo-lhe renovasse osfavores e graças de sua Mãe e a fortale-cesse para esmagar a cabeça da antiga ser-

 pente. Assim, humilhado e dominado por uma mulher, fracassariam seus projetos,enfraqueceriam suas forças, e a Rainhadas alturas sairia vitoriosa e triunfante doinferno, para glória de Deus e dela tam-

 bém.

O demônio começa a se opor àredenção

336. Concedeu e decretou a beatís-sima Trindade tudo quanto pediu Cristo,Senhor nosso. Em seguida, recebeu a Vir-gem Mãe inefável visão do Filho que tra-zia no seio. Nesta manifestação lhe foicomunicada abundantíssima plenitude de

 bens, graças e indizíveis dons, e com novasabedoria conheceu altíssimos e ocultosmistérios que não posso explicar. Em par-ticular, entendeu que Lúcifer  forjava in-solentes planos contra a glória do Senhor,e que a arrogância deste inimigo pretendiatragar as águas puras do Jordão (Job 40,18). Dando o Altíssimo estas notícias àMaria, disse-lhe: Esposa e pomba minha,é tão insaciável o sedento furor do dragãoinfernal contra meu nome e os que o ado-

ram, que pretende exterminar a todos semexceção. Com formidável ousadia e pre-sunção, deseja apagar meu nome da terrados viventes.

Quero minha amada, que tomes adefesa de minha causa e honra, pelejandoem meu nome, contra este cruel inimigo.Contigo estarei durante a batalha, poisencontro-me em teu seio. Quero, antes

de nascer no mundo, que pela minha for-ça os destruas e humilhes. Estão per-suadidos que se aproxima a redençãodos homens, e por isto antes que Eu che-gue, desejam a perdição de todas as al-mas que estão no mundo, sem excluir nenhuma. A tua fidelidade e amor con-fio esta vitória. Combaterás em meunome, e Eu em Ti, contra este dragão e

antiga serpente (Apoc 12,9).

Deus quer vencer o demônio atravésde Maria

337. Este aviso do Senhor e a no-tícia de tão ocultos sacramentos, produ-

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Terceiro Livro - Capítulo 27

zirain no coração da divina Mãe tais efei-tos, que não encontro palavras para mani-festar o que entendo. Sabendo ser vontadede seu Filho santíssimo que defendesse ahonra do Altíssimo, Ela inflamou-se no

seu divino amor e vestiu-se de invencívelfortaleza. Se cada demônio fosse um in-ferno inteiro, com a fúria e malícia de to-dos reunidos, não passariam de insi-gnificantes formigas contra a incompará-vel força de nossa capitã. Aniquilaria a to-dos, com a menor de suas virtudes e deseu zelo pela glória e honra do Senhor.Determinou este nosso divino Protetor,que sua Mãe santíssima seria a triunfante

vencedora do inferno. Aniquilaria a arro-gante soberba de seus inimigos, que tantose apressavam para perder o mundo antesque lhe chegasse a redenção. A nós, osmortais, ficaria a obrigação de sermosreconhecidos, não só ao inestimável amor de seu Filho santíssimo, mas também ànossa divina reparadora e defensora.Afrontou estes inimigos, deteve-os, der-rotou-os, e os manteve subjugados, para

não serem obstáculo à linhagem humanade receber seu Redentor.

Ingratidão dos homens

338. Oh! insensível e tardo cora-ção dos filhos dos homens! Como nãoconsideramos tão admiráveis benefícios?Quem é o homem, ó Rei altíssimo,, paraassim o estimares e favoreceres? A tua

 própria Mãe expões à batalha e à luta paranos defender? Quem jamais ouviu seme-lhante coisa? Quem poderia imaginar talindústria e intensidade de amor? Ondeestá nosso juízo? Quem nos privou do bom uso da razão? Quem nos levou a taldureza de coração e a tão censurável in-gratidão? Como não se confundem os ho-

mens, tão amantes e zelosos da própriahonra, ao cometer tal vilania e detestávelingratidão, com©esquecimentodesta obri-gação? Verdadeira nobreza e honra seria

 para os mortais, filhos de Adão, agrade-cê-la e pagá-la ainda com a própria vida.

Maria oferece-se para o combate

339. Ofereceu-se a obediente Mãe, para este combate contra Lúcifer, pela

honra de seu Filho santíssimo, seu e nossoDeus. À ordem que lhe era dada, res-

 pondeu: - Altíssimo Senhor e bem meude cuja infinita bondade recebi o ser, a gra-ça e a luz. Sou toda vossa, e vós Senh0r 

vos dignastes ser meu Filho. Fazei de vos-sa serva o que for da maior glória e agradovosso. Se vós, Senhor, estais em Mim eEu em vós, quem terá poder sobre a vossavontade? Serei instrumento de vosso bra-ço invencível. Dai-me vossa fortaleza,vinde comigo, e combatamos o inferno!lutando com o dragão e todos seus aliados!Enquanto a divina Rainha fazia esta ora-ção, saiu Lúcifer de seus conciliábulos,

tão arrogante e soberbo contra Ela, que detodas as demais almas, de cuja perdiçãoestá sedento, reputava por coisa de muito poucoapreço. Se se pudesse conhecer estefuror, tal como era, entenderíamos bem oque disse Deus ao santo Jó (Jo 41, 18); para o maligno o ferro é palha e o bronze pau podre. Assim era a raiva deste dragãocontra Maria santíssima. Agora, não é me-

nor, na devida proporção, contra as almas.A mais santa, invicta e forte, sua arrogân-cia despreza como a uma folha seca. Quefará dos pecadores que, semelhantes a ca-nas ocas e podres, não lhe resistem? (Ef 6,16). Somente a fé viva e a humildadede coração constituem armas infalíveis

 para gloriosamente o vencer.

A legião da soberba

340. Para iniciar a batalha, Lúcifer veio acompanhado pelas sete legiões eseus chefes que, ao cair do céu (Ap 12,3),organizara para tentar os homens aos sete

 pecados capitais. A cada um destes seteesquadrões confiou a luta contra a imacu-lada Princesa, recomendando-lhes empre-

gar toda coragem. Encontrava-se ainvencível Senhora em oração, quando

 permitiu o Senhor que entrasse a primeiralegião para tentá-la de soberba, o especialatributo destes inimigos.

Para dispor as paixões e inclina-ções naturais, alterando os humores do cor-

 po, conforme o modo comum de tentar asoutras almas, procuraram aproximar-se

da divina Senhora. Julgavam que Ela seriacomo as demais criaturas, de paixões des-

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Terceiro Livro - Capítulo 27

controladas pela culpa, mas não puderamchegar a Ela. Sentiam a irresistível forçac irradiação de sua santidade que os ator-mentava mais do que o fogo que sofriam.Só olhar para Maria santíssima os trans-

 passava de agudíssima dor. Apesar disso,tão desmedida e furiosa era sua raiva, quesuportavam o tormento, porfiando e for-cejando por se aproximarem com o inten-to de atacá-la.

Maria imaculada é inatingível àtentação

341. Maria santíssima, mulher e pura criatura, sozinha e contra o grandenúmero de demônios, era mais terrível doque muitos exércitos bem ordenados(Cant 6). Apresentavam-se os inimigoscom iniquíssimas fabulações (SI 118,85).Para nos ensinar a vence-los, a soberanaPrincesa não se moveu, não alterou sequer o semblante e sua cor. Não fez caso deles,nem lhes deu maior atenção do que se fos-

sem débeis formigas. Com invicto e mag¬nânimo coração os desprezou, porque estaguerra travada com armas de virtudes, nãodeve ser feita com espalhafato e barulho,mas sim com serenidade, sossego, paz in-terior e modéstia exterior. Tampouco pu-deram alterá-la mediante as paixões eapetites que, em nossa Rainha, estavam

 perfeitamente subordinados à razão e esta

a Deus. A harmonia de suas potências nãofora alterada pelo golpe do primeiro peca-do, como aos demais filhos de Adão. Por isto, as flechas destes inimigos eram decrianças, como disse David (SI 63, 8), eseus disparos, tiros sem pólvora. Só eramfortes contra eles próprios, pois sua impo-tência lhes redundava em vivo tormento.Ignoravam ajustiçaoriginal de Maria san-tíssima, e em conseqüência acreditavamque a poderiam atacar com tentações co-muns. Contudo, da majestade de seu sem-

 blante e de sua constância, verificavam odesprezo em que os tinha, e que a atingiammuito pouco. Na verdade, não a atingiamabsolutamente. Como diz o Evangelistano Apocalipse (12,16), e deixei descritona primeira parte (1), a terra ajudou a mu-lher vestida de sol, quando o dragão lan-

^-nü129e!30

çou contra ela as impetuosas águas dastentações. O corpo terreno desta Senhoranão estava ferido em suas potências e pai-xões, como os demais envolvidos no pe-cado.

Aparições diabólicas

342. Assumiram estes demôniosfiguras corpóreas terríveis e assustadoras.Uivando e berrando, fingiam grandes es-trondos, tremores de terra e da casa, comose ameaçasse desabar, e outros desatinossemelhantes, para perturbar, assustar e al-terar a Princesa do mundo. Dar-se-iam por vitoriosos se conseguissem apenas isso eretirá-la da oração. O inexpugnável e ge-neroso coração de Maria santíssima, po-rém, não se alterou de forma alguma. E

 preciso saber que, para travar este comba-te, o Senhor deixou sua Mãe santíssimano estado comum da fé e de suas outrasvirtudes. Suspendeu o influxo de outrosfavores que Ela costumava continua-

mente receber fora dessas ocasiões.Assim ordenou o Altíssimo, paraque o triunfo de sua Mãe fosse mais glo-rioso e excelente, além de outras razõesque Ele tem no modo de proceder com asalmas. Seus desígnios e modo de agir comelas são inexcrutáveis e ocultos (Rom 11,33). Quem como Deus que vive nas altu-ras (SI 112, 5) e olha os humildes no céue na terra? Com estas palavras eliminavade sua presença aqueles espantalhos.

Tentações de soberba

343. Trocaram a pele estes lobosfamintos, e vestiram a de ovelha. Demonstros hediondos, transformaram-seem anjos de luz, muito resplandecentes eformosos. Aproximando-se da divina Se-nhora, disseram: venceste, venceste, és

 poderosa, viemos servir-te e recompensar teu invencível valor. Com estas mentiro-sas lisonjas rodearam-na oferecendo-lheseu favor. A prudentíssima Senhora, po-rém, recolheu os sentidos, elevou o espí-rito (Tren 3,28) e, por meio das virtudes

infiisas, adorou o Senhor em espírito e ver-dade (Jo 4, 23).

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Terceiro Livro

Desprezando as ciladas daquelaslínguas iníquas e mentirosas (Ecli 51,3),disse a seu Filho santíssimo: Senhor e for-taleza minha, luz da luz verdadeira, só emvosso auxílio está toda minha confiança ea exaltação do vosso santo nome. A todos

os que o contradizem, anatematizo, abor-reço e detesto. Persistiam os obradores damaldade em propor falsas insânias à Mes-tra da ciência, e com fingidos louvoresenaltecer acima das estrelas a quem se hu-milhava mais do que as ínfimas criaturas.Disseram-lhe que desejavam distingui-laentre as mulheres, e lhe fazer singularís-simo privilégio: em nome do Senhor, elesa escolheriam para Mãe do Messias, e suasantidade elevar-se-ia acima dos pa-triarcas e profetas.

Procedimento da Virgem

344.0 autor deste enredo foi opró- prio Lúcifer, e por aqui, outras almas po-dem conjecturar sua malícia. Para aRainha do céu, porém, era ridículo ofere-cer-lhe o que já possuía. No fim, eles éque ficavam enganados, não apenas por oferecer o que nem sabiam, nem podiamdar, mas também por ignorar os sacra-mentos do Rei do céu encerrados na bem-aventurada mulher que perseguiam.Apesar disso, grande foi a iniqüidade dodragão, porque sabia que não poderia

cumprir o que estava prometendo. Quis, porém, sondar se nossa divina Senhora oera, ou se daria algum indício de o saber. Não ignorou a prudência de Maria santís-sima esta duplicidade de Lúcifer, e des-

 prezando-a manteve admirável seve-ridade e domínio. Durante as falsas adu-lações, continuou sua oração. Prostrando-se e declarando-se a mais desprezível das

criaturas, até do que o pó que pisava. Comesta humildade e oração, degolou a pre-sunçosa soberba de Lúcifer, durante todoo tempo que durou a tentação. Quanto aomais que nela sucedeu, a sagacidade dosdemônios, sua crueldade e as mentirosasfabulações que intentaram, não me parececonveniente referir. O que ficou dito basta para nosso ensinamento, porque nem tudose pode confiar à ignorância de criaturasterrenas e frágeis.

Capítulo 27

Tentação de avareza

345. Desanimados e vencidos osinimigos da primeira legião, chegaram osda segunda para tentar de avareza à mais pobre do mundo. Ofereceram-lhe grandes

riquezas, prata, ouro, jóias preciosas. E para que não parecessem apenas promes-sas abstratas, mostraram-lhe muitas des-sas coisas, ainda que só aparentes.Conheciam que os sentidos têm muita for-ça para incitar a vontade ao deleite. A estailusão acrescentaram outras muitas enga-nosas razões, dizendo-lhe que Deus lheenviava tudo aquilo para ser distribuídoaos pobres. Como a Senhora nada dissoaceitasse, mudaram de tática e lhe dis-seram que, sendo tão santa, era coisa in-

 justa viver em tanta pobreza. Era maisrazoável que Ela fosse dona daquelas ri-quezas, em vez de pertencerem a outrosmaus e pecadores. Deixar pobres os jus-tos, e ricos aos maus e inimigos, seria in-

 justiça e desordem da providência divina.

Reação da Virgem

346. Em vão se lança a rede diz osábio (Prov 1, 17), diante das alígerasaves. Isto era realidade em todas as tenta-ções lançadas contra nossa soberana Prin-cesa. Nesta, da avareza, porém, ainda maisestulta era a malícia da serpente, pois ati-rava a rede das coisas terrenas e tão vis con-tra a fenix da pobreza que elevara o vôoacima dos próprios serafins. Ainda que, plena de sabedoria divina, nunca a pruden-tíssimaSenhora sepôs a arrazoar com seusinimigos. Assim se deve proceder, poiseles combatem a verdade evidente, e nãose darão por convencidos, ainda que a co-nheçam. Por isto, usou Maria santíssimade algumas palavras da Escritura, pronun-

ciando-as com severa humildade. Disseaquelas do salmo 118: "escolhi por rique-zas e herança guardar tuas leis e testemu-nhos, meu Senhor". Acrescentou outras,louvando e bendizendo ao Altíssimo, comação degraçaspor tê-la criado, conservadoe por continuar asustentá-la sem Ela o me-recer. Por este modo, tão cheio de sabedo-ria, venceu e confundiu a segunda tentação

que só deixou atormentados e confusos osobradores da maldade.

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Terceiro Livro - Capítulo 27

Terceira legião: tentação da luxúria

347. Chegou a terceira legião, che-fiada pelo imundo príncipe que tenta a fra-queza da carne. Esforçaram-se mais do

que os outros, porque encontraram maior dificuldade para fazer alguma coisa dasque desejavam. Deste modo, conseguirammenos, se é que pode haver diferença en-tre elas. Experimentaram lançar-lhe feiassugestões e representações, forjando ou-tras indizíveis monstruosidades. Tudo, porém, permaneceu no ar, porque quandoa puríssima Virgem reconheceu de que

espécie era esse vício, recolheu-se toda in-teriormente e deixou suspenso o uso dossentidos sem ato algum deles. Assim, nãoos pode tocar sugestão alguma, nem ima-gens entrar no seu pensamento, pois nadachegou a suas potências. Interiormente,com fervorosa vontade, renovou muitasvezes seu voto de castidade na presençado Senhor. Nesta ocasião, conquistoumais méritos que todas as virgens queexistiram ou existirão no mundo. Nestamatéria, deu-lhe o Todo-poderoso tal vir-tude que, mais forte e rapidamente queuma explosão, eram os inimigos expulsos,quando tencionavam tocar a pureza deMaria santíssima com alguma tentação.

Quarta legião: tentação da ira348. A quarta legião e tentação foi

contra a mansidão e paciência, procu-rando incitar à ira a mansíssima pomba.Esta tentação foi mais molesta, porque osinimigos convulsionaram toda a casa.Quebraram tudo quanto havia nela, de talmodo, que pudesse irritar à mansíssimaSenhora, mas os santos anjos logo puse-ram tudo em ordem. Vencidos nisso, osdemônios se revestiram da figura de al-gumas mulheres conhecidas da sere-níssimaprincesa. Dirigiram-se a Ela commaior indignação e furor do que se o fos-sem na realidade, e disseram-lhe exorbi-tantes contumélias, atrevendo-se aameaçá-la e a lhe tirar de casa algumascoisas das mais necessárias. Todas estasmaquinações, porém, eram inúteis, poisMariasantíssimaos conhecia. Totalmente

abstraída, sem se mover ou alterar, commajestade de Rainha os desprezava, semse impressionar com nenhum de seus ges-tos ou ações.

Vendo-se desprezados, suspeita-ram os malignos espíritos de que estavam

sendo descobertos, e usaram de outro ins-trumento. Escolheram certa mulher de gê-nio acomodado a seu intento. Inci-taram-na contra a Princesa do céu, comartediabólica: assumiu odemônio a formade outra sua amiga, e lhe disse que a Mariade José a havia desonrado em sua ausên-cia, falando dela muitas coisas erradas,coisas inventadas pelo demônio.

Ataques do demônio e reação deMaria.

349. Enganada aquela mulher,muito propensa à ira, dirigiu-se furiosa ànossa mansíssima cordeira Maria santís-

sima, e lhe atirou em rosto execráveis in- júrias e vitupérios. A Virgem deixou-aderramar toda a raiva, e depois lhe disse

 palavras tão humildes e doces, que lheabrandou o coração e a mudou completa-mente. Quando se acalmou, consolou-asossegou-a e a admoestou que se guardas-se do demônio. Como era pobre, deu-lhealguma esmola e a despediu em paz. Destemodo, desvaneceu-se esta intriga, comooutras muitas fabricadas por Lúcifer, o paida mentira, tanto para irritar amansíssimaSenhora, como também para procurar desacreditá-la.

O Altíssimo,porém, preveniu a de-fesa da honra de sua Mãe santíssima, por meio de suaprópria perfeição, humildadee paciência, de modo que o demônio ja-mais pode desacreditá-la em coisa algu-ma. Com todos Ela procedia, tão mansa esabiamente, que a multidão de enredosque o dragão forjava, se desfaziam e fica-vam sem efeito. A impassível mansidãoque, neste gênero de tentações, conservoua soberana Senhora, admirou os anjos. Os

 próprios demônios se admiraram, aindaque de outro modo, por ver uma criaturahumana, e mulher, proceder daquele

modo, porque jamais tinham encontradooutra semelhante.

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Terceiro Livro - Capítulo 27

Quinta legião: tentação da gula.

350. Entrou a quinta legião paratentar à gula. Não disse, a antiga serpenteà nossa Rainha, que das pedras fizesse pão(Mt 4, 3), como depois diria a seu Filho

santíssimo, porque não a vira fazer mila-gres tão grandes.Tentou-a, porém, à gula como à

 primeira mulher (Gn 1 em diante). Puse-ram-lhe na frente deliciosos pratos cujaaparência lhe despertasse o apetite. Pro-curaram alterar-lhe os humores naturais

 para sentir alguma fome fitícia, e com ou-tras sugestões cansaram-se em lhe atrair 

a atenção para o que lhe ofereciam. Todasestas diligências, porém, foram vãs e semnenhum resultado, porque de todas estascoisas materiais e terrenas estava o eleva-do coração de nossa Princesa e Senhoratão distante como o céu da terra. Tampou-co aplicou seus sentidos nas gulodices,nem as percebeu. Com isto ela ia anulandoo que fizera nossa Mãe Eva que, descui-dada e sem atender ao perigo, pôs olhosna beleza da árvore da ciência e de seusaboroso fruto. A esta imprudência se-guiu-se estender a mão e comer, dando

 princípio ao nosso mal. Não agiu assimMaria Santíssima. Fechou e abstraiu ossentidos, ainda que não corresse o mesmo

 perigo que Eva. Deste modo, esta foi ven-cida para nossa perdição, enquanto a gran-de Rainha saiu vencedora pra nossoremédio e resgate.

Sexta legião: tentação de inveja.

351. Vendo o despeito das antece-dentes legiões derrotadas, chegou bastan-

te intimidada, a sexta tentação de inveja.Embora não conhecessem toda perfeiçãocom que agia a Mãe da santidade, sentiam,entretanto, suainvencível força,e vendo-atão inabalável desanimaram de poder der-rubá-la em algum de seus depravados in-tentos. Com tudo isso, o implacável ódiodo dragão, e sua nunca assás conhecidasoberba, não desistiam. Fabricaram novos

ardis para provocar Àquela, que tantoamava Deus e ao próximo, a invejar nosoutros, o que Ela já possuía, ou o que des-

 prezava como inútil e perigoso. Fizeram.Ihe uma descrição muito longa de bens ègraças naturais que outros possuíam, di-zendo-lhe que a Ela Deus recusara. È , Seos dons sobrenaturais lhe fossem mais co- biçáveis, referiam-lhe grandes favores e benefícios que a destra do Todo poderosocomunicara a outros, e a Ela não. Como poderiam estas mentirosas invenções em- baraçar quem era Mãe de todas as graçase dons do céu?

Todas as criaturas, por muito be-neficiadas que fossem, ficavam muitoabaixo da grandeza de ser Mãe do Autor da graça. Além disto, por esta mesma gra-

ça que Deus lhe comunicara, mais o fogoda caridade que ardia em seu coração,desejava com vivas ânsias que a destra doAltíssimo a todos enriquecesse e favore-cesse liberalmente. Como a inveja encon-traria lugar onde abundava a caridade?(ICor 13,4). Mas, não desistiam os cruéisinimigos. Apresentaram à divina Rainhaa aparente felicidade de outros que, comriquezas e bens de fortuna, tinham-se por ditosos nesta vida e triunfavam no mundo.Moveram diversas pessoas a irem dizer-lhe como se sentiam felizes por serem ri-cas e de boa posição, como se esta falsafelicidade dos mortais não fosse tantas ve-zes reprovada pela sagrada Escritura (2).Esta mesma ciência e doutrina a Rainhado céu e seu Filho santíssimo vinham,com o exemplo, ensinar ao mundo.

As riquezas de Maria

352. A estas pessoas que assim sedirigiam à nossa divina Mestra, ela asaconselhava a usarem bem dos dons e ri-

quezas temporais e a agradece-las ao seuDoador. Ela mesma dava graças, suprindoa ordinária falta de gratidão nos homens.Humilíssima, julgava-se indigna do me-nor benefício do Altíssimo. Na verdade,

 porém, sua dignidade e santidade eminen-tíssima afirmavam, o que, em seu nome,disseram os profetas: "Comigo estão asriquezas (Prov 8,19), aglória, os tesou-

ros e a justiça. Meu fruto é melhor quea

2 - SI 48; Ecle 5,9; Jer 17,11; Mat 19,24; 1 Tim 6,9 et<T

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Terceiro Livro - Capítulo 27

0rat<*> o ouro, e as pedras mais preciosas.Fm tnim está toda a graça do caminho•Ecli 24,25) e da verdade, e toda a espe-rança da vida e da virtude."

Com esta excelência e supe-

rioridade vencia seus inimigos, deixando-os atônitos e confusos. Viam que, ondeempregavam todas suas forças e astúcia,menos conseguiam e mais derrotadossaiam.

Tentação do vício da preguiça

353. Não obstante, continuaram naporfi a até chegar na sétima tentação, a pre-guiça. Pretenderam insuflá-la em Mariasantíssima, despertando-lhe alguma in-disposição corporal, moleza, cansaço etristeza. Esta última é ardil pouco notado,graças à qual, o pecado da preguiça con-segue impedir em muitas almas, o adian-tamento na virtude. Acrescentaram mássugestões de que, estando cansada, adias-se alguns exercícios para quando estives-

se mais bem disposta. Não é esta a menorastúcia com que nos engana, e nós não apercebemos, nem sabemos repeli-laAlémde toda esta malícia, procuraram es-torvar os exercícios da santíssima Senho-ra por meio de criaturas humanas.Impeliram-nas a irem procurá-la em tem-pos inoportunos, obrigando-a retardar al-guma de suas tantas ocupações que

tinham horas marcadas. A prudente ediligentíssima Senhora, porém, desfaziatodas as maquinações com sua sabedoriae solicitude. Jamais o inimigo conseguiuimpedir-lhe alguma coisa, nem estorvá-la de tudo fazer com plenitude de per-feição. Ficaram os inimigos deses-perados e enfiaquecidos, e Lúcifer fu-rioso contra si e contra eles. Re-cuperando, porém, sua danada soberba,determinaram atacar todos juntos, comodirei no capítulo seguinte.

DOUTRINA QUE ME DEU ARAINHA MARIA SANTÍSSIMA.

Ao demônio, despreza-se

354. Minha filha, resumiste breve-mente a prolongada batalha das tentações

que sofri. Do que escreveste e do mais queconheceste, quero que tires as regras edoutrinas para resistir ao inferno e vencê-lo. Para tanto, o melhor modo de combateré  desprezar o demônio, considerando-o

inimigo do altíssimo Deus, e como tal,sem temor santo, sem esperança de bemalgum, desesperado da salvação, obstina-do em sua desgraça e sem arrependimentode sua maldade. Nesta indubitável verda-de enfrenta-o, mostrando-te superior,magnânima e inabalável, tratando-o comodesprezador da honra e culto de Deus. Sa-bendo que defendes tão justa causa (Ecli4,33), não te deves acovardar. Com cora-gem e valentia, opõe-te a ele, resistindo-lhe em tudo quanto intentar, como seestivesses ao lado do próprio Deus, emcujo nome pelejas.

Não há dúvida, o Senhor assiste aquem legitimamente combate. Tu te en-contras em lugar e estado de esperança,destinada à glória eterna, se trabalharescom fidelidade por teu Deus e Senhor.

Com o demônio não se discute

355. Considera, pois, que osdemô-nios aborrecem com implacável ódio oque tu amas e desejas: a honra de Deus etua felicidade eterna. Querem privar-te da-quilo que eles não podem recuperar. O de-

môniojá está reprovado por Deus. Quantoa ti, oferece sua graça, virtude e fortalezapara vencer ao inimigo teu e d'Ele, e paraconseguires o feliz fim do eterno des-canso, se trabalhares fielmente e guarda-res os mandamentos do Senhor. Ainda queseja grande aarrogância desse dragão, suafraqueza é maior (Is 16,6) e em presençado poder divino não passa de fragilíssiátomo. Como, porém, por sua engenhosa

astúcia e malícia excede muito aos mor-tais (Jo 41,24), não convém à alma entrarem palestra e raciocínios com ele, seja vi-sível ou invisivelmente. De sua tenebrosainteligência, como de um forno chamejan-te, saem trevas e confusão, que obscure-cem o juízo dos mortais. Se o escutam,enche-os de enganos e trevas, para quenão conheçam nem a verdade e beleza davirtude, nem a fealdade de suas venenosasfraudes. Acabam por não saber dis-

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Terceiro Livro - Capítulo 28

tinguir o precioso do vil (Jer  15, 19), avida da morte, a verdade da mentira, e por fim caem nas mãos deste ímpio e crueldragão.

Resistência às tentações

356. Nas tentações, seja para ti re-gra absoluta não prestar atenção ao que te

 propõem, nem ouvir nem arrazoar nisso.Se puderes desvencilhar-te e ficar alheia,de modo que nem percebas sua maldade,isto será mais seguro. Para o conseguires

 previne-te com muita antecedência. O de-mônio sempre manda em sua frente al-

guma prevenção para abrir a entrada aseus enganos, principalmente com as al-mas cuja resistência teme, se primeiro nãofacilitar o ataque. Costuma começar  por tristeza, desânimo, ou outro motivo quedesvia e distrai a alma da atenção e afeto

 pelo Senhor. Em seguida, apresenta o ve-neno em recipiente de ouro, para não cau-sar tanto horror. No momento que

 perceber em ti algum destes sinais, queroque com asas de pomba levantes o vôo efiijas ao abrigo do Altíssimo (SI 54,7-8),chamando-o em teu socorro e apresentan-do-lhe os méritos de meu Filho santíssi-mo. Deves também recorrer à rninha

 proteção de Mãe e Mestra, a dos anjos, principalmente os de tua devoção. Fecha prontamente teus sentidos e julga-te morta para eles, ou como alma da outra vida,onde não chega a jurisdição da serpente edo tirano exator. Exercita-te mais aindanos atos das virtudes contrárias aos víciosque ele te propõe, especialmente a fé, es-

 perança e amor. Estas virtudes expulsamo temor e covardia (Jo 4, 18) que en-fraquecem a resistência da vontade.

Às tentações, opor as virtudes

357. Somente em Deus deves pro-curar as razões para vencer Lúcifer. Nãoconferencies com este inimigo, para quenão te encha de fascinações confusas.Considera coisa indigna, além de perigo-sa, ouvir e discutir com o inimigo teu ed'Aquele a quem amas. Mostra-te supe-

rior e magnânima contra ele e oferece-teà prática das virtudes para sempre. Satis-feita com este tesouro, afasta-te do ini-

migo. A maior habilidade dos filh0s ,Deus nesta batalha é fugir para lonoe

demônio é soberbo, sente o despr ^quando desejava que o ouvissem, conff°do em sua arrogância e embustes. Da

lhe nasce a teimosia para que lhe d2?alguma atenção. Sendo mentiroso e

 podendo se apoiar na força da verdade r / 0

não diz, põe a confiança em ser molesto *em vestir o engano com aparência de berÜe de verdade. Enquanto este ministromaldade não se vê desprezado, não acredita que foi conhecido, e como importunamosca volta a atacar pelo lado que lhe pa.rece mais fraco e próximo da corrupção

Tentações através das criaturas

358. Não menos avisada deverásser, quando teu inimigo se valer contra tide outras criaturas, como o fará por meiode um destes dois caminhos: ou incli-nando-os a ti com exagerada afeição, ou pelo contrário, com aversão.

Quando conheceres que te tratamcom desordenado afeto, guarda a mesmaregra que em fugir do demônio, com estadiferença que a ele detestarás, enquantoàs demais criaturas deves considerar como obras do Senhor, não lhes negandoo que, por Deus e por si, lhes é devido.Em te retirares, porém, olha-os comoinimigos. Para o que Deus quer de ti, de

acordo com teu estado, fará as vezes dodemônio quem quiser te desviar do Se-nhor e do que lhe deves. Se, pelo contrario,te perseguirem com aversão, retribue comamor e mansidão, rezando do íntimo doteu coração pelos que te odeiam e te per-seguem (Mt 5,44). Se for necessário apla-car a ira de alguém com palavras mansas,ou esclarecer algum equivoco a favor daverdade, o farás. Não seja isto para tejus-rificares, mas para sossegar teus irmãos e

 promover seu bem e sua paz interior e ex-terior. Deste modo vencerás ao mesmotempo, a ti mesma e aos que te desesti-marem. Para conseguir isto é preciso cor-tar os vícios capitais pelas raízes earrancá-las completamente, morrendo aosmovimentos do apetite donde eles brotam.Estes vícios capitais são a matéria das ten-

tações que o demônio semeia nas paixõese apetites desordenados e imortificados.

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CAPÍTULO 28

CONTINUA LÚCIFER E SUAS SETE LEGIÕESA TENTAR MARIA SANTÍSSIMA. VENCIDO,

E ESMAGADA A CABEÇA DO DRAGÃO.

0 ódio do demônio por Jesus e Maria Novos ataques do demônio

359. Se o príncipe das trevas pu-desse desistir de sua maldade, as vitóriasque sobre ele obtivera a Rainha do céu,teriam destruído e humilhado aquela des-medida soberba. Como, porém, sempre seergue contra Deus (SI 73,23), e nunca sesacia de sua malícia, apesar de vencidonão se submete. Refugia-se nas chamasde seu inextinguível furor, ao ser derro-

tado e tão arrasado por uma humilde e de-licada mulher, quando ele e seus ministrosinfernais tinham derrubado tantos homensfortes e varonis mulheres.

Por disposição divina chegou a sa- ber o inimigo que Maria santíssima estavagrávida. Entendeu que era de um meninoapenas, porque a divindade e outros seusmistérios lhe permaneceram ocultos. Per-suadiram-se de que não era o Messias pro-metido, pois não passava de simplescriatura como os demais homens. Este en-gano os persuadiu também que Maria san-tíssimo não era Mãe do Verbo, aquelessantíssimos Filho e Mãe que lhe es-magariam a cabeça (Gn 3, 15). Apesar disso, julgaram que, de mulher tão forte einvencível, nasceria algum varão de san-tidade insigne. Nesta previsão, o grande

dragão concebeu contra o fruto de Mariasantíssima, aquele ódio que São João es-creveu no capítulo 12 do Apocalipse (aquem me referi outras vezes: (1)), espe-rando devorá-lo quando Ele nascesse.

1 - Io livro n° 105

360. Sentiu Lúcifer  uma forçaoculta que o oprimia, quando olhava aque-le menino encerrado no seio da Mãe san-tíssima. Em sua presença sentia-se en-fraquecido e como atado. Isto o enfureciae maquinava todos os meios que podia

 para destruir aquele Filho de quem tantosuspeitava, e aquela Mãe tão forte noscombates. Apareceu à divina Senhora por 

muitos modos tomando figuras assustado-ras: touro enfurecido, dragão horrendo,que tentavam aproximar-se dela sem oconseguir. Atacava e sentia-se repelido,sem saber como e por quem. Forcejavacomo fera amarrada e dava espantosos

 bramidos que, se Deus não os ocultasseaterrorizariam o mundo e muitos morre-riam de susto. Lançava pela boca fogo efumaça de enxofre com espumas. Tudo

isto via e ouvia a divina Princesa Maria,sem alterar-se nem se mover, como setudo não passasse de um mosquito. O de-mônio causou outras alterações pelo ven-to, na terra e na casa, convulcionandotudo, mas nem com isto perdeu Maria san-tíssima a tranqüilidade e calma interior eexterior. Sempre se manteve invicta e su-

 perior a tudo.

O gerador dos erros e heresias

361. Sentindo-se Lúcifer  tão ven-cido, abriu a imundíssima boca e sua men-tirosa e contaminada língua soltou arepresa de sua maldade. Declarou na pre-

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Terceiro Livro - Capítulo 28

• que sua vinda se retardava por causaÜos pecados do mundo (4). Para impedi-laompletamente, pretendeu aumentar essa

 barreira, multiplicando mais erros e cui-as entre os mortais. Esta iníqua soberba

foi contundida pelo Senhor, através de suaIvlãe santíssima e dos gloriosos triunfosaue Ela alcançou. Depois que o Homem-Deus nasceu e por nós morreu, pretendeuo dragão impedir e malograr o fruto de seusangue e o efeito de nossa Redenção. Paraisto começou a forjar e semear os errosque, depois dos Apóstolos, afligiram eafligem a santa Igreja. A vitória contraesta maldade infernal, Cristo nosso Se-

nhor remeteu-a também à sua Mãe santís-sima, porque só Ela a pode merecer. Por Ela se extinguiu a idolatria mediante a pre-gação do Evangelho. Outras seitas anti-gas, como a de Ario, Nestório, Pelágio eoutros, foram debeladas por Ela e o auxí-lio do esforço e solicitude dos Reis,Príncipes, Padres e Doutores da santaIgreja. Como duvidar, portanto, que omesmo aconteceria agora? Se, com ar-dente zelo, os príncipes católicos, ecle-siásticos e leigos, fizessem o esforço quelhes cabe, ajudando por assim dizer, estadivina Senhora, não deixaria Ela de pro-tegê-los e tomá-los felicíssimos nestavida e na outra, e extinguiria todas as he-resias do mundo.

Para este fim é que o Senhor enri-queceu sua Igreja e os reinos e monarquias

católicas. Não fosse para isto, melhor seriaideixá-las pobres. Não era conveniente fa-zer tudo por milagre, mas pelos meios na-turais de que podiam se valer e adquirir 

 pelas riquezas. Se cumprem ou não estaobrigação, não cabe a mim julgar. Só metoca dizer o que o Senhor me deu a conhe-cer: tornar-se-âo injustos possuidores dostítulos honrosos, e do poder supremo que

lhes confere a Igreja, se não a ajudam edefendem, se não procuram com suas ri-quezas impedir que se,perca o sangue deCristo, nosso Senhor. É nisto que os prín-cipes cristãos se diferenciam dos prínci-

 pes infleis.

4 - como insinuei no capítulo passado n° 336

Deus vence o demônio por meio deMaria

365. Voltando a meu assunto, digoque o Altíssimo, com a previsão de sua

ciência infinita, conheceu a iniqüidade doinfernal dragão. Viu que, se este executas-se os planos de sua indignação contra aIgreja, semeando os erros que fabricara,enganaria muitos fiéis e arrastaria com suacauda (Apoc 12, 4) as estrelas deste céumilitante, os justos. Isto provocaria a jus-tiça divina e o fruto da Redenção ficariaquase perdido Com imensa piedade, de-terminou o Senhor acudir este dano que

ameaçava o mundo. Para tudo dispor commaior equidade e glória de seu nome, or-denou que Maria santíssima o empenhas-se, porque sóEla era digna dos privilégios,dons e prerrogativas com os quais deveriavencer o inferno. Só esta eminentíssimaSenhora era capaz de empresa tão árdua,e de vencer o coração do próprio Deus,com sua santidade, pureza, méritos e ora-ção. Resultava na maior exaltação da vir-tude divina que, eternamente, fossemanifesto que vencera a Lúcifer e seus se-quazes por meio de uma pura criatura emulher, como por meio de outra mulher ele derrubara o gênero humano. Para estefim, não havia outra mais idônea que suaMãe, a quem a Igreja e todo o mundo fi-cassem devendo estagraça. Por estas e ou-tras razões que conheceremos em Deus,

colocou o Senhor a espada de seu poder na mão de nossa vitoriosa Capitã, para quedegolasse o infernal dragão. Este poder 

 jamais lhe seria retirado, para com ele de-fender e amparar, do céu, a Igreja militantenos trabalhos e necessidades que encon-trasse nos tempos futuros.

Poder de Maria contra o demônio366. Persistindo, pois, Lúcifer em

sua infeliz contenda, como disse atrás,acompanhado de suas quadrilhas infer-nais em forma visível, a sereníssima Vir-gem jamais voltou para eles a vista, nemlhes deu atenção, ainda que os ouvia, por-que assim convinha. Como não se podeimpedir de téchar os ouvidos do mesmomodo que os olhos, procurava que não

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Terceiro Livro - Capítulo 28

chegasse ao seu interior o sentido do quediziam. Tampouco lhes disse palavra anão ser ordenar-lhes, às vezes, que calas-sem as blasfêmias. Este mandato era tãoeficiente que os obrigava a colar a bocano solo, enquanto que a divina Senhora

entoava grandes cânticos de louvor e gló-ria ao Altíssimo. Só com seu falar a Deuse protestar as divinas verdades, sentiam-se os demônios tão atormentados, que semordiam mutuamente como lobos carni-ceiros ou cães raivosos. Qualquer ato daImperatriz Maria era para eles uma flechade fogo, e qualquer de suas palavras umraio que os abrasava com maior tormentodo que o inferno. Não é isto exagero, poiso dragão e seus sequazes pretenderam fu-gir da presença de Maria santíssima queos confundia e atormentava. O Senhor,

 porém, com oculta força os detinha. Que-ria engrandecer o glorioso triunfo de suaMãe e Esposa, e mais humilhare aniquilar a soberba de Lúcifer. Para este fim, orde-nou que os próprios demônios se humi-lhassem a pedir à divina Senhora que os

despedisse e os expulsasse de sua pre-sença para onde Ela quisesse. Imperiosa-mente Ela os enviou ao inferno, ondeficaram algum tempo, enquanto a grandetriunfadora permaneceu toda absorta nosdivinos louvores e ação de graças.

 Novos ataques do demônio

367. Quando o Senhor deu permis-são para Lúcifer se levantar, este voltou à

 batalha, tomando por instrumento uns vi-zinhos da casa de São José. Semeou entreeles, e suas mulheres, uma diabólicacizâ-nia de discórdias por causa de interessestemporais. Tomando a forma de uma pes-soa conhecida de todos, disse-lhes que nãose inquietassem mutuamente, porque aculpada daquela desavença era Maria deJosé. A mulher representada pelo demô-nio era de crédito e autoridade, e assim os

 persuadiu melhor. Não permitiu o Senhor que a reputação de sua Mãe santíssimafosse ofendida em matéria grave. Nãoobstante permitiu que nesta ocasião, parasua glória e maior coroa, fosse exercitada

 por essas pessoas enganadas.

De comum acordo foram à casa deSão José, e na presença do santo Esposo

chamaram Maria santíssima e lhe disseram asperamente que as perturbava emsuas casas e não as deixava viver em n¬A inocentíssimaSenhora sentiu um pojr*este sucesso, por causa da pena deJosé que já estava reparando nos indício

de sua gravidez. Apesar disso, sábia e pru-dente, procurou superar a provação corrihumildade, paciência e viva fé. Nào sedesculpou nem alegou sua inocênci a.} ju.milhou-se e, com doçura pediu àquelasiludidas vizinhas que, se as ofendera emalguma coisa, a perdoassem e se acalmas-sem. Com palavras cheias de suavidade eciência, as esclareceu e apaziguou, fazen-do-as entender que ninguém tinha culpaSatisfeitas e edificadas com a humildadede suas respostas, voltaram em paz parasuas casas, enquanto o demônio fugiu, nào

 podendo suportar tanta santidade e celestesabedoria.

Começa a perplexidade de São José

368. São José ficou tristonho e pensativo e começou a se preocupar,como direi adiante (5). O demônio, po-rém, que ignorava o principal motivo datristeza de São José quis aproveitar a oca-sião, pois não perde nenhuma, para in-quietar. Conjecturou qual seria a causa;algum desgosto com sua Esposa, ou por se ver pobre e com tão pouca renda? Usoua ambas o demônio, ainda que se enga-nando. Enviou algumas sugestões de des-

 peito a São José, para que se desgostassecom sua pobreza e a levasse com im-

 paciência e tristeza. Representou-lhe tam- bém que Maria, sua esposa, em vez detrabalhar, estava muito tempo no recolhi-mento e na oração, o que, para gente tão

 pobre era muito ócio e descuido. SãoJosé,

entretanto, tão perfeito, reto e magnânimode coração, facilmente desprezou e afas-tou de si estas sugestões. Só a preocupaçãoíntima que lhe suscitara a gravidez de suaEsposa, bastava para afogar quaisquer ou-tras, se as tivera. Deixando-o o Senhor nestes receios, o aliviou da tentação dodemônio, a pedido de Maria santíssima.Atenta a quanto se passava no coração de

5 - n° 375 a 394

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Terceiro Livro - Capítulo 28

migo. Ó Maria, és cheia de graça e de to-das as perfeições! - Ficou a divina Senhoracheia de alegria, louvando ao Autor detodo o bem e referindo-lhe tudo o que re-cebia.

Voltou depois a se ocupar com a

situação de seu Esposo, como direi nocapítulo seguinte.

DOUTRINA QUE ME DEU A MESMARAINHA E SENHORA NOSSA.

O poder da filiação divina

372. Minha filha, a reserva que a

alma guarda para não se pôr a discorrer com os inimigos invisíveis, não a impedeordenar-lhes, em nome do Altíssimo, comfirme autoridade, que se afastem e con-fundam.

Assim quero que procedas, nasocasiões em que te perseguirem. Não exis-te arma tão poderosa contra a malícia dodragão, como se mostrar a criatura humana

destemida e superior na fé e confiança defilha do verdadeiro Pai que está nos céus(Mt 6,9). E d* Ele que se recebe aquelacon-fíança e força contra o demônio. A razãodistoéporque, depois que caiu do céu, todoo empenho de Lúcifer é desviar as almasde seu Criador e semear cizânia (Mt 13,25) e separação entre o Pai celeste e os fi-lhos adotivos, entre a esposa e o Esposo

das almas. Quando conhece que algumaestá unida ao seu Criador, e émembro vivode Cristo, assanha-se para persegui-la comfuriosa raiva. Invejoso, emprega suamalí-cia e mentira para destrui-la.

Como, porém, vê que isso lhe é im- possível, porque a proteção do Altíssimo(Si 17,3) é verdadeiro e inexpugnável re-fugio para as almas, desfalece em seus es-

forços e sente-se oprimido com indizíveltormento. E, se a esposa querida, com sa- bedoria e autoridade o despreza, não háformiga nem verme mais fraco do que estegigante soberbo.

As lutas provam o amor

373. Com a verdade desta doutri-

na, deves te animar e fortalecer quando oTodo-poderoso ordenar que a tribulaçãote assalte e te cerque as dores da morte (SI

17,5), em grandes tentações como as qUe

Eu sofri. Esta é a melhor ocasião par a 0

Esposo fazer experiência da fidelidade daverdadeira esposa. O amor não deve secontentar em produzir apenas afetos, semoutros frutos. Só o desejo, que nada custa

à alma, não é prova suficiente do amor eda estima que consagra ao bem que dizapreciar e amar.

A fortaleza e constância no pade-cer tribulações com grande e magnânimocoração, são testemunhos do verdadeiroamor. Se tu desejas tanto dar alguma provadele e agradar o teu Esposo, a maior seráestá: quanto mais aflita e sem recursos hu-

manos te encontrares, mostra-te, então,mais invencível e confiante em teu Deuse Senhor. Se for necessário, espera contraa esperança (Rom 4,18), pois não dormenem cochila aquele que se chama o am-

 paro de Israel (SI 120,4). Quando chegar a hora oportuna, ordenará ao mar e aosventos (Mt 8,26) e se fará a tranqüilidade.

Resistir desde o princípio

374. Deves, minha filha, ser muitoadvertida no princípio das tentações. Hágrande perigo, se a alma começa logo a se

 perturbar com elas, e solta a rédeas às pai-xões concupicível e irascível que obscu-recem e ofuscam a luz da razão. Se odemônio percebe esta alteração e que le-

vanta tão grande poeira e tempestade nas potências, adquire maior alento. Em suacrueldade tão implacável e insaciável,acrescenta fogo a mais fogo. Enfúrece-secada vez mais, julgando que a alma nãotem quem a defenda (SI 70,11) e arranquede suas mãos. Aumentando a tentação,cresce também o perigo de não poder re-sistir ao mais forte, quem começou a serender desde o começo. De tudo isto teadvirto, para temeres os riscos dos primei-ros descuidos. Nunca facilites em coisatão importante. Em qualquer tentação,

 persevera na calma de tuas ações, conti-nuando interiormente o doce e devotoconvívio com o Senhor. Com o próximo,não alteres a suavidade, caridade e pru-dente brandura que deves usar. Previne-tecom a oração e a morri fie ação de tuas pai-xões, contra a desordem que o inimigo ne-las quer incutir.

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QUARTO LIVRO

desta divinahistória e segundo da segundaparte.

CONTÉM OS RECEIOS DE SÃO JOSÉ AO CONHECER A GRAVIDEZ DEMARIA SANTÍSSIMA - O NASCIMENTO DE CRISTO NOSSO SENHOR -SUA CIRCUNCISÃO - ADORAÇÃO DOS REIS MAGOS - APRESENTAÇÃODO MENINO JESUS NO TEMPLO - FUGA PARA O EGITO - MORTE DOS

INOCENTES E VOLTA A NAZARÉ.

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Quarto Livro - Capítulo I

era seu coração. Sua grande prudênciaavaliava quão dolorosa seria a infâmia

 própria e de sua Esposa, se tivessem quesofrê-la.

A terceira causa que mais afligiao santo Esposo era o risco de entregar a

Esposa, se fosse reconhecida culpadadesse crime para ser apedrejada. Pela lei(Lev 20,10; Dt 22,28), era este o castigodas adúlteras. Estas considerações pu-nha o coração de São José sobre pontasde aço, ferindo-o de uma pena, ou demuitas reunidas. Não encontrava, nomomento, outro alívio senão a confian-ça que depositava em sua Esposa. En-tretanto, todos os sinais testemunhavama nunca esperada novidade e não se ofe-

recia ao santo homem explicação satis-fatória. Como não se atrevia a confiar sua dolorosa aflição a pessoa alguma,via-se cercado pelas dores da morte (SI

17, 5), e sentia, por experiência, que ociúme é implacável como o inferno(Cant 8, 6).

Perplexidade do santo

378. Queria refletir a sós, e a dor impedia-lhe o raciocínio. Se o pen-

samento desejava seguir a linha das sus- peitas tudo se desvanecia como o gelo sob

o sol, ou como a fumaça pelo vento, ao selembrar da indiscutível santidade de suarecatada e prudente Esposa. Se queria cor-tar a afeição de seu castíssimo amor não

 podia, porque sempre a considerava dignade ser amada. A verdade, ainda que oculta,

tinha mais força para atrair, do que o apa-rente engano de infidelidade para o afas-tar. Não era possível quebrar aquelevínculo fortalecido com fiadores tão abo-nados como a verdade, razão e justiça.Abrir-se com sua divina Esposa não acha-va conveniente, nem o permitia aquela se-riedade divinamente humilde e inalterávelque n'Ela se ostentava. Ainda que via amudançade seu físico, o proceder tão puroe santo não correspondia ao descuido deque se pudera presumir. Tal culpa não seajustava com tanta pureza equanimidade,discrição, santidade e todas as graças reu-nidas que, cada dia, cresciam mais em Ma-ria santíssima.

Oração de São José

379. De suas penas, apelou o santoesposo José para o tribunal do Senhor, por meio da oração. Pondo-se em sua presen-ça, disse: Altíssimo Senhor e Deus etemo,não são ocultos à vossa divina presençameus desejos e gemidos.

Encontro-me em combate comviolentas ondas (SI 37, 11) que, atravésdos sentidos feriram meu coração. Eu o

entreguei com toda confiança à Esposaque recebi de vossa mão. Confiei em suagrande santidade (Prov 31,11); e os sinaisque nela vejo me enchem de dor e medode ver frustradas minhas esperanças. Nin-guém, que até hoje a conheceu, pode du-vidar de seu recato e excelentes virtudes,mas tampouco se pode negar que estágrá-vida. Julgar que foi infiel e vos ofendeu,

será temeridade em vista de tão peregrina pureza e santidade. Negar o que a vista meassegura, é impossível, mas não o serámorrer pela força desta dor, se aqui nãoestiver escondido um mistério que nãocompreendo. A razão a desculpa, os sen-tidos a condenam. Ela me esconde a causada gravidez que vejo. Que hei de fazer?Em nosso desposório concordamos mu-

tuamente no voto de castidade que ambos prometemos para vossa glória. Se fosse

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Quarto Livro - Capítulo 1

 possível que houvesse violado esta pro-messa, eu defenderia vossa honra e por vosso amor renunciaria à minha. Como,

 porém, poderia Ela conservar tal pureza e

santidade em tudo mais, se houvesse co-metido tão grave delito? E, como, sendotão santa e prudente me esconde este su-cesso? Suspendo o juízo e me detenho,ignorando a causa do que vejo. Derramoem vossa presença (SI 141, 3) meu aflitoespírito, ó Deus de Abraão, Isaac e Jacó,recebei minhas lágrimas como sacrifícioaceitável, e se minhas culpas mereceramvossa indignação, obrigai-vos Senhor devossa própria clemência e benignidade enão desprezeis tão vivas penas. Não julgoque Maria vos ofendeu, mas sendo eu seuesposo, tampouco posso presumir algummistério de que não sou digno. Governaimeu entendimento e coração com vossadivina luz, para que eu conheça e executeo mais aceito a vosso beneplácito.

Sofrimento: preparação para a graça

380. José perseverou nesta oração,com muitos outros afetos c súplicas. Ape-sar de haver pensado que na gravidez deMaria Santíssima encerrava-se algummistério que ele ignorava, não podia ter disso certeza. Não tinha maiores provasdas que se lhe ofereciam, para o presumir e se libertar da suspeita de haver culpa na-quela gravidez, não obstante todo o respei-to pela santidade da divina Senhora. Destemodo, não lhe veio o pensamento de queEla podia ser a Mãe do Messias. Algumasvezes suspendia as dúvidas; outras vezesa evidência as reforçava. Flutuava, arras-tado por impetuosas ondas de um lado parao outro: em seguida, como náufrago ven-cido, costumava quedar-se em penosaimobilidade; não se determinava a crer nem em uma, nem em outra coisa, para

vencer a dúvida, aquietar o coração e agir com a certeza de alguma delas. Este grandesofrimento de São José é evidente provade sua incomparável prudência e santida-de. Essa provação tomou-o idôneo para asingular graça que Deus lhe preparava.

Atitude da Virgem

381. Quanto se passava, em segre-

do, no coração de São José, era conhecido pela Princesa do céu que tudo via pelaciência e luz divina que possuía. Aindaque seu santíssimo coração se enchia de

ternura e compaixão pelo que seu Espososofria, não lhe dizia palavra sobre isso.Servia-o, porém com grande submissão ecuidado, enquanto o homem de Deus, aobservava com a ansiedade que jamais ho-mem algum sentiu. Servindo-o à mesa eem outras ocupações domésticas, a grandeSenhora (ainda que sua gravidez não lhedava incômodo algum) fazia alguns mo-vimentos e tomava posições que a torna-

vam mais visível. São José tudo notava emais se certificava da verdade, para maior aflição de sua alma. Não obstante ser san-to e reto, desde que se desposara com Ma-ria santíssima, deixava-se respeitar eservir por Ela, mantendo a autoridade dechefe, ainda que temperada com rara hu-mildade e prudência. Enquanto ignorou omistério da pessoa de sua Esposa, julgouque devia mostrar-se superior com a con-

veniente moderação. Não queria discor-dar dos antigos Pais e Patriarcas a quemas mulheres eram obedientes e submissas.Teria razão para proceder assim, se Mariasantíssima, Senhora nossa, fosse como asdemais mulheres. Mas apesar de tão dife-rente, não houve jamais alguma tão obe-diente, humilde e submissa ao marido,quanto o foi a eminentíssima Rainha a seuEsposo. Servia-o com incomparável res- peito e pontualidade. Sabendo da in-quietação que o preocupava a respeito desua gravidez, nem por isso deixou de fazer todas as suas obrigações, nem procuroudissimular ou esconder o seu estado. Estesrodeios, artifícios e duplicidade não seharmonizavam com sua sinceridade ecandidez angélica, nem com a ge-nerosidade e grandeza de seu nobilíssimocoração.

Maria não se justifica

382. Bem pudera a grande Senhoraalegar a seu favor a verdade de sua abso-luta inocência. Poderia recorrer ao teste-munho de sua prima Santa Isabel eZacarias, pois se São José suspeitasse desua inocência, atribuiria sua culpa àquelesmeses em que estivera ausente. Por esta

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todos os que, nas diversas épocas e ida-des serão predestinados. Com infalívelforça de sua infinita sabedoria e bon-dade, vai dispondo e encaminhando to-dos os bens que lhes convém, para

finalmente ser conseguido o que paraeles determinou.

Deixar-se governar por Deus

385. Por isto, é tão importante àcriatura racional deixar-se dirigir pelamão do Senhor, entregando-se totalmenteàs suas disposições divinas. Os homensmortais ignoram os próprios caminhos(Ecle 7,1) e onde irão acabar. Em sua in-sipiência não podem, só por si, escolhê-los sem grande temeridade e perigo de se

 perderem. Mas, quando se entregam detodo o coração à providência do Altíssi-mo, reconhecendo-o como Pai, de quemsão filhos e criaturas, Ele se constitui seu

 protetor, amparo e governador. Fá-lo com

tanto amor, que deseja que a terra e o céuconheçampertencer-lhe o oficio de gover-nar aos seus, e àqueles que se lhe entregamcom confiança. Se Deus fosse capaz desofrer, ou sentir ciúmes pelos homens, osteria de que outra criatura tomasse parteno cuidado das almas, e de que estas pro-curassem o que necessitam em alguémfora do mesmo Senhor que toma isso por sua conta (Sab 10,13). Não poderiam os

homens ignorar esta verdade, se consi-derassem o que entre eles mesmos faz um pai por seus filhos, um esposo por sua es- posa, um amigo pelo outro, um príncipe pelo favorito a quem ama e quer honrar.

Tudo isto nada é em comparaçãodo amor de Deus pelos seus, e do que quer e pode fazer por eles.

Providência especial pelas almas fiéis

386. Ainda que, em geral, os ho-mens creiam nesta verdade, ninguém pode compreender qual é o amor divino eseus particulares efeitos, pelas almas quetotalmente se submetem e entregam à sua

vontade. Mesmo o que tu compreendes,não é possível nem conveniente ma-nifestar, mas não o percas de vista. Diz oSenhor (3) que não se perderá um cabelode seus escolhidos, porque a todos tem

contado.Ele guia seus passos para a vida eos desvia da morte; atende a suas obras,corrige seus defeitos com amor; adianta-se a seus desejos, antecipa-se em seus cui-dados, defende-os nos perigos, consola-osna serenidade, conforta-os nos combates,assiste-os nas tribulações, preserva-os doerro com sua sabedoria; santifica-os comsua bondade; fortalece-os com seu poder.Sendo infinito, nada pode resistir (Est 13,9; SI 113,3) nem impedir sua vontade; fazo que pode, pode tudo o que quer, e quer dar-se todo ao justo que está em sua graçae somente nele confia. Oxalá alguém pu-desse ponderar quais e quantos bens der-rama num coração assim disposto pararecebê-los!

Resignação total387. Se tu, minha amiga, queres

que eu te alcance esta felicidade, imita-mecom verdadeiro cuidado, e desde hoje em-

 prega-o todo em conseguir verdadeira re-signação à providência divina. Se teenviar tribulações, penas ou trabalhos, re-cebe-os eabraça-os com serenidade de co-ração, calma de espírito, paciência, viva

fé e esperança na bondade do Altíssimoque sempre te dará o mais seguro e con-veniente para tua salvação. Não escolhascoisa alguma, que Deus sabe e conheceteus caminhos. Confia em teu Pai e Es-

 poso celestial que, com amor  fidelíssimote protege e ampara. Considera minhasações que não te são escondidas. Adverteque, fora dos sofrimentos de meu Filhosantíssimo, o maior que padeci em minha

vida foi o das tribulações de meu esposoJosé, e de suas penas na ocasião que estásdescrevendo.

3 - Lc 20, 18,11 ,7; SI 36,23; Prov 3, 12; Sab 6,14; 5 ,17; Cant 8, 5; SI 26, 3; SI 90, 15

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CAPÍTULO 2

CRESCEM OS RECEIOS DE SAO JOSE. RESOLVEDEIXAR SUA ESPOSA E RECORRE À ORAÇÃO.

Grande sofrimento de São José

388. Naquela tempestade de in-quietações, o retíssimo e prudente coraçãode São José procurava, por vezes, respirar e cobrar alento, refletindo a sós e procu-rando por em dúvida a gravidez de suaEsposa. Cada dia que passava, porém, o

 progresso da gravidez maior certeza delalhe trazia, e o Santo não encontrava outraexplicação a que recorrer, pois da dúvida

 passava à maior certeza. O adiantamentodo estado da divina Princesa a tornava ain-da mais cativante e isenta de qualquer achaque.

De todo o modo, aumentava sua perfeição na beleza, saúde e agilidade, etudo se transformava em razões de maior suspeitas e maiores atrativos do castís-simo amor deJosé. Não podia afastar estessentimentos que, ao mesmo tempo, o as-saltavam como vagas que se entrechoca-vam. De tal maneira, o abateram, quechegou a persuadir-se completamente daevidência. Seu espírito se conformavacom a vontade de Deus, mas a fraquezada carne sentiu a imensa dor da alma quechegou ao auge e não encontrou mais ne-nhum conforto para sua tristeza. As forçasdo corpo declinaram, e ainda que não che-

gou a ser enfermidade, tornou-se abatidoe macilento. Seu rosto cobriu-se com a profunda tristeza e melancolia que o afli-gia. Como sofria a sós, sem procurar o alí-vio do desabafo, (como ordinariamentefazem os outros homens) a tribulação do

Santo se tornava mais dura e mais irrepa-rável pelos caminhos normais.

Silêncio de Maria

389. O coração de Maria santíssi-ma sofria igualmente mas, ainda que fossemuito grande sua dor, a capacidade de seumagnânimo espírito também era maior,lao generoso ânimo diminuia-lhe o pesodas próprias penas; não porém c cuidado

que lhe davam as de São José, seu esposo.Por isto, propôs interessar-se mais por elee cuidar de sua saúde e bem estar. A

 prudentíssima Rainha, contudo, conside-rava lei inquebrantável agir sempre com plenitude de sabedoria e perfeição. Emvirtude desta convicção, continuava a si-lenciar a verdade do mistério que não ti-nha ordem para revelar. Apesar de ser, por este meio, a única que poderia sossegar seu esposo José, não o fez para respeitar e guardar o sacramento (Tob 12,7) do Reicelestial. O que dependia de si, fazia quan-to lhe era possível: interessava-se por suasaúde, perguntando-lhe o que desejavaque Ela fizesse para o servir e aliviar daindisposição que tanto o abatia. Rogava-lhe que tomasse algum repouso, pois era

 justo acudir à necessidade e reparar as for-

ças do corpo para depois trabalhar peloSenhor. Observava São José tudo quantosua divina Esposa fazia. Ponderando, con-sigo mesmo, naquela virtude e discriçãoe sentindo a santa influência de seu tratoe presença, pensava: Como épossível que

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Quarto Livro - Capítulo 2

tério que ignora,poderás lhe falar com cla-reza tudo o que realizei em Ti, não sendomais necessário, daqui em diante, queguardes silêncio sobre isso. Enche-lo-eide meu espírito e o instruirei como proce-

der nestes mistérios. Ele te ajudará nelese te assistirá em tudo o que te acontecer. -Com esta promessa de Deus ficou Mariasantíssima confortada e consolada, dandohumildes graças ao Senhor que, com tãoadmirável ordem (Sab 11, 21), dispunhatodas as coisas com medida e peso. Pois,além do consolo em ficar livre daquela

 preocupação, conheceu a grande Senhora

quão útil fora para seu esposo José ter so-frido aquela tribulação que provou e dila-tou seu espírito, para as grandes coisas quelhe seriam confiadas.

São José decide partir 

393. Neste ínterim, continuavaSãoJosé a revolver suas dúvidas, havendo

 passado já dois meses nessa tribulação.

Sentiu-se vencido pela dificuldade e dis-se: Não encontro para minha dor, meiomais oportuno do que ir-me embora. Con-fesso que minha Esposa é perfeitíssima enada vejo nela que não prove sua san-tidade, mas afinal estágrávida e não com-

 preendo este mistério. Não quero ofender sua virtude entregando-a à justiça da lei;mas tampouco posso esperar o desfechodo parto. Partirei logo e me abandonareià providência do Senhor - Resolveu partir naquela noite. Para a viagem preparou um

 pequeno fardo de roupas. Recebera algumdinheiro por trabalhos que fizera, e comesta bagagem se dispôs a partir pela meianoite. Seja, porém, pela especial circuns-tância, seja pelo costume, ao se recolher fez esta oração ao Senhor: Altíssimo eetemo Deus de nossos pais Abraão, Isaac

eJacó, verdadeiro e único amparo dos po- bres e aflitos, émanifesta à vossa clemên-cia a dor e angústia de meu coração;conheceis também, Senhor, apesar de mi-nha indignidade, que sou inocente de suacausa, e a infâmia e perigo que me ameaçao estado de minha Esposa. Nâo a julgoadúltera porque conheço suas grandesvirtudes e perfeiçoes, mas vejo sem dú-vida, que está grávida. Ignoro o modo e

a causa do fato, mas não encontro saída

 para me sossegar. Resolvo, como menor mal, retirar-me para onde ninguém meconheça e entregue à vossa providênciaterminarei minha vida num deserto. Nãome desampareis, Senhor meu e Deus eter-

no, pois só desejo vossa maior honra e ser-viço.

Sofrimento e virtudes de José e Maria

394. Prostrou-se em terra e fezvoto de oferecer ao templo de Jerusalém

 parte do dinheiro que levava para a via-gem, para que Deus amparasse e defen-desse sua Esposa Maria das calúnias doshomens e a livrasse de todo mal. Tanta eraa retidão do homem de Deus e o apreçoque fazia da divina Senhora. Depois destaoração recolheu-se para dormir um pouco,antes de sair à meia noite às escondidasde sua Esposa. Durante o sono aconteceu-lhe o que direi no capítulo seguinte. Agrande Princesa do céu, segura da divina

 palavra, do seu retiro via tudo o que SãoJosé fazia e preparava, pois o Todo-pode-roso lhe concedia essa visão. Conhecendoo voto que por Ela fizera, sua bagagem e

 pecúlio tão pobre, cheia de ternura e com- paixão rezou novamente por ele, e comação de graças louvou ao Senhor em suasobras e na ordem com que as dispõe acimade todo pensamento dos homens. Permitiuo Senhor que Maria santíssima e São Joséchegassem ao extremo da aflição paraque, além dosméritos que adquiriam nestelongo martírio, fosse depois o benefícioda consolação divina mais admirável e es-timável. A grande Senhora estava inaba-lável na fé e esperança de que o Altíssimointerviria oportunamente, e por isto silen-ciava o sacramento do Rei (Tob 12,7) quenão tinha permissão para revelar. Apesar 

de tudo, a resolução de São José a afligiumuitíssimo, porque se lhe representou osgrandes inconvenientes de ficar só, semarrimo e companhia que a amparasse econfortasse pela ordem comum e natural.

 Não pretendia receber tudo por modo mi-lagroso e sobrenatural. Todas estas

 preocupações não a impediram, porém, deexercitar virtudes tão excelentes como: amagnanimidade, tolerando as aflições,

suspeitas e decisões de São José; a pru-

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CAPÍTULO 3

O ANJO DO SENHOR FALA A SÃO JOSÉ, EM SONHOS,E LHE DECLARA O MISTÉRIODA ENCARNAÇÂO.

RESULTADO DESTA EMBAIXADA.

O ciúme e seus efeitos

397. A dor do zelo é tão vigilantedespertador que, muitas vezes, mais doque despertar, tira o repouso e o sono dequem o sofre. Ninguém padeceu este malquanto SãoJosé, não obstante ser verdade,que ninguém teria menos motivo paraisso, se na ocasião soubesse do que se tra-tava. Dotado de grande ciência e luz, pe-netrava a santidade e os inestimáveis

dotes de sua divina Esposa. Conhecendo, por esta ciência, as razões que o obriga-vam a renunciar à posse de tanto bem,forçosamente mais sentia a dor de o dei-xar. Por esta razão, o sofrimento de SãoJosé excedeu nesta matéria, tudo quanto

 padeceram outros homens, pois nenhum pôde conhecer, estimar e fazer maior con-ceito do que perdia. Não obstante, houve

grande diferença entre o zelo deste fielservo, e dos demais que costumam pade-cer este trabalho. Os ciúmes acrescentamao veemente e ardoroso amor, uma grandeapreensão de não perder o que ama. A esteafeto, por natural conseqüência, segue-seo sentimento de o perder ou imaginar quealguém o possa tirar. Esta dor é co-mumente chamada zelo ou ciúme. Nas

 pessoas que têm paixões desordenadas, por falta de prudência e outras virtudes,tal dor costuma produzir ímpetos de ira einveja, contra a própria pessoa amada oucontra o rival que disputa a correspon-dência do amor, seja este bem ou mal or-denado. Levantam-se as tempestades de

imaginações e suspeitas temerárias gera-

das pelas mesmas paixões. Daqui se origi-nam as veleidades de querer e odiar, deamar e se desinteressar. A paixão irascívele a concupiscível andam emcontínua luta,sem haver raciocínio e prudência que assujeite e domine, porque esta espécie dedoença obscurece o entendimento, per-verte a razão e repele a prudência.

Tal amor, tal zelo

398. Em São José não houve nem pôde haver estas desordens viciosas, nãosó por sua insigne santidade, como tam-

 bém pela de sua Esposa. Não via n'Elaculpa para o indignar, nem presumiu oSanto que Ela houvesse dado o amor a al-gum outro, de quem sentir inveja ou afas-

tar com ira. O zelo de São José, nagrandeza de seu amor, constituiu apenasna dúvidade sua Esposa não lhe haver cor-respondido a afeição. Não encontrava ex- plicação para vencer esta dúvida, em vistados indícios contrários que pareciam evi-dentes. Não foi necessária maior certeza

 para que sua dor fosse veemente, porqueem prenda tão própria como Esposa, justo

é não admitir concorrente. Para lhe des- pertar o zelo, bastav a que o amor veemen-te e casto que enchia o coração do Santose visse ameaçado pelo menor indício deinfidelidade, e pela previsão de perder omais perfeito, formoso e amável objeto deseu entendimento e vontade. Quando o

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Quar.oLivro-C.pi.ulo3

São José não viu o Anjo com es- pécies imaginárias, só ouviu a voz interior e nela compreendeu o mistério. Das pala-vras que lhe foram ditas se deduz que SãoJosé, na intenção, já deixara Maria santís-sima, pois o Anjo lhe mandou que "sem

temor a recebesse".

Arrependimento e oração de São José

403. Despertou São José, cientedo mistério revelado e de que sua Esposaera Mãe verdadeira do próprio Deus. En-tre o gozo de sua felicidade e não esperadasorte e do arrependimento do que havia

feito, prostrou-se em terra, e com outrahumilde perturbação, temeroso e alegreao mesmo tempo, fezheróicos atos de hu-mildade e reconhecimento. Deu graças aoSenhor pelo mistério que lhe revelara, e

 por ter sido escolhido para esposo de suaMãe, da qual não merecia ser escravo.Com esta certeza e atos de virtude, tran-qüilizou-se o espírito de São José e se dis-

 pôs para receber novos efeitos do EspíritoSanto.A dúvida e perturbação que sofreu

aprofundaram-lhe a humildade que devia possuir, para ser o guarda dos mais altosdesígnios do Senhor. A lembrança destacrise serviu-lhe de instrução durante todaa vida. Terminada esta oração a Deus, co-meçou o santo homem a repreender-se, di-

zendo consigo: oh! minha Esposa, divinae mansíssima pomba, escolhida pelo Al-tíssimo para morada e Mãe sua! Comoeste indigno escravo teve a ousadia de du-vidar de tua fidelidade? Como o pó e cinza

 permitiu ser servido pela Rainha do céu eterra, Senhora de toda a criação? Comonão beijei o solo tocado por teus pés?Como não me entreguei todo a servir-tede joelhos? Como levantei meus olhos emtua presença, como me atreverei a estar em tua presença e a abrir meus lábios parate falar? Senhor, Deus eterno, dai-me gra-ça e força para lhe pedir que me perdoe, einclinai seu coração a usar demisericórdiae a não desprezar a este contrito servo,como o mereço. Ai de mim! Cheia de luze graça, encerrando em Si o Autor da luz,lhe seriam conhecidos todos meus pensa-

mentos! Tendo eu me resolvido deixá-la,atrevimento será aparecer diante de seus

olhos! Reconheçomeu grosseiro procedi-mento e grave engano: pois, diante de tan-ta santidade, admiti indignos pen-samentos e dúvidas da fidelíssima corres-

 pondência que eu nem merecia. E^ se parameu castigo, permitisse vossajustiça que

eu executasse minha errada resolução?Qual seria agora, minha infelicidade?Eternamente agradecerei, altíssimo Se-nhor, tão incomparável benefício. Conce-dei-me, Rei poderosíssimo, dar-vosalguma digna retribuição. Irei à minha Se-nhora e Esposa, confiado na doçura de suaclemência e prostrado a seus pés lhe pe-direi perdão, para que por Ela, vós meu

Senhor e Deus eterno, me olheis como Paie perdoeis meu desacerto.

São José aguarda o encontro comMaria

404. Assim transformado e feliz,saiu o santo Esposo de seu pobre aposen-

to, completamente outro do que quandon'ele entrara. Como a Rainha do céu aindase encontrava recolhida, não quis desper-tá-la (Cant 2,7) da doçurade sua contem-

 plação, até que Ela quisesse. Nesteínterim, o homem de Deus desmanchou o

 pequeno fardo que preparara, derramandocopiosas lágrimas e com sentimentosabsolutamente contrários do que quando

o havia arrumado.Começando a venerar sua Espo-sa, preparou a casa limpando o chão queseus sagrados pés haviam de pisar, e fa-zendo outras coisinhas que costumavadeixar à divina Senhora, quando aindanão conhecia sua dignidade. Resolveumudar de estilo no procedimento a seurespeito: ele faria o ofício de servo, e Ela

de senhora. Sobre isto, desde aquele dia,tiveram os dois afetuosas contendas so- bre quem deveria servir e se mostrar mais humilde.

Tudo o que se passava em São Joséera conhecido pela Rainha dos céus, semque pensamento e movimento algum lhefosse oculto. Ao chegar a hora, aproxi-mou-se o santo do aposento de Maria san-

tíssima que o esperava com a mansidão,gosto e agrado que direi no capítulo se-guinte.

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DOLTmiNA QUE ME DEU A DIVINASENHORA MARIA SANTÍSSIMA

 Necessidade da paz da alma

405. Minha filha, do que entendes-te neste capítulo, podes tirar um aprazívelmotivo para louvar o Senhor, ao conhecer a ordem admirável de sua sabedoria(IReis 2,6) no afligir e no consolar a seusservos e escolhidos. Sapiente e piedo-síssimo, fá-Ios sair tanto de uma como deoutra situação, com maiores méritos e gló-ria. Além desta advertência, quero que re-cebas outra muito importante para a íntimaunião que o Altíssimo deseja manter con-

tigo: deves procurar, com toda atenção,conservar-te sempre em tranqüilidade e paz interior. Não consintas em nenhuma perturbação que te possa atrapalhar ou fa-zer perder esta paz, por nenhum sucessodesta vida mortal. Sirva-te de exemplo oque aconteceu a meu Esposo José na oca-sião que descre veste. Não quer oAltíssimoque a criatura se perturbe com a tribulação,

mas sim que por ela adquira méritos; quenão desanime, mas quefaçaexperiência dequanto pode com a graça.

Os fortes vendavais das tentaçõescostumam atirar a alma ao porto de maior 

 paz e conhecimento de Deus, e da mesma perturbação pode a criatura tirar conhe-cimento de si e humildade. Não obstante,se não recupera a tranqüilidade e sossego

interior, não está disposta para que o Se-nhor a chame, visite e eleve até suas carí-cias. Deus não vem no torvelinho (3Rs 19,12), nem os raios daquele supremo sol de

 justiça são percebidos, enquanto não hajaserenidade na alma.

Harmonia nas faculdades espirituais

406. Se esta falta de sossego impe-

de tanto o íntimo trato com o Altíssimo,claro está que as culpas são maior óbice

 para se alcançar  este grande beneficio.Quero que atendas muito a esta doutrina,e não penses ter direito de usar tuas po-tências em desacordo com ela. Já que tan-

tas vezes ofendeste ao Senhor, clama por sua misericórdia, chora e purifica-te sem- pre mais. Adverte que, sob pena de te con-denares por infiel, tens obrigação deguardar tua alma e conservá-la para eternamorada do Todo-poderoso (ICor 3,16),

 pura, limpa e serena para seu Dono pos-suí-la e dignamente nela habitar. A ordemde tuas potências e sentidos devem formar 

suavíssima e delicada harmonia como deinstrumentos musicais. Quanto mais o fo-rem, tanto maior é o perigo de se desafi-narem, e por esta razão o cuidado há deser maior emguardá-los e conservá-los in-tactos de todo o terrestre. Basta o ar infec-to das coisas mundanas para alterar aharmonia, perturbar e infeccionar as po-tências assim consagradas a Deus. Traba-lha, pois,e vive cuidadosa com domíniosobre tuas potências. Se alguma vez te al-terares perturbando esta ordem, procuraatender à divina luzrecebendo-a sem con-fusão nem receios e praticando com ela omais puro e perfeito. Para isto, mostro-tehoje o exemplo de meu santo Esposo José,que sem tardança nem suspeitas deu cré-dito ao santo Anjo, e imediatamente com

 pronta obediência, fez o que lhe foi man-

dado. Deste modo mereceu ser elevado agrandes recompensas e dignidade. Semter culpa no que fez, muito se humilhou,só por se haver perturbado, e com tantofundamento, ainda que só aparente. Con-sidera, pois, tu que não passas de um pobrevermezinho, quanto deves te apegar ao pó,chorando tuas culpas e negligências, atéque o Altíssimo volte a te olhar como Pai

e Esposo.

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escrava do Altíssimo era justo aguardar sua vontade santa e perfeita. Calei, não

 porque não vos estimo como a meu senhor e esposo. Sempre serei vossa fiel serva ecorrespondo a vossos desejos e santos afe-tos. O que, porém, vos peço do fundo docoração, pelo Senhor que trago em Mim,é que em nosso convívio não mudeis oestilo que usastes até agora. O Senhor nãome fez Mãe sua para ser servida como se-nhora neste mundo, mas para ser serva detodos, e de Vós escrava, obediente à vossavontade. Este é, senhor, meu oficio, e foradele viverei aflita e sem consolo. Justo éque me deis esse consolo, pois assim o

ordenou o Altíssimo, dando-me vossa proteção e solicitude para estar protegidaà vossa sombra, e com vossa ajuda possacriar o fruto de meu seio, o meu Deus eSenhor.

Com estas razões e outras cheiasde suavidade, Maria santíssima consoloue sossegou São José, e o fez levantar-sedo solo para continuarem a cuidar do quefosse necessário. Como a divina Senhoranão estava apenas cheia doEspíritoSanto,mas ainda trazia consigo o Verbo divinodo qual, com o Pai, procede o Espírito,operou com especial modo a ilustração deSão José. Recebeu o Santo grande pleni-tude das divinas influências, e todo reno-vado no fervor de espírito, disse:

Cânticos de São José e de Maria

410. Bendita sois, senhora, entretodas as mulheres, feliz e bem-aventuradaem todas as nações e gerações. Seja enal-tecido, com louvor etemo, o Criador docéu e terra, porque das alturas de seu tronoreal vos olhou e escolheu para sua habita-ção, e em vós cumpriu todas as antigas

 promessas que fez a nossos Pais e Profe-tas. Todas as gerações O bendigam, por-que com nenhuma se exaltou tanto comoo fez em vossa humildade, e comigo, omais vil dos viventes, dignando-se esco-lher-me para servo vosso.

Estas palavras e bênçãos, São Joséas pronunciou pela iluminação doEspíritodivino, ao modo como Santa Isabel res-

 pondeu à saudação de nossa Rainha e Se-nhora. A luz e ciência que o santíssimo

Esposo recebeu foi admirável, como con-vinha para sua dignidade e ministério.

A divina Senhora ouvindo as pala-vras do Santo, respondeu com o cânticodo Magnificat, repetindo-o como à SantaIsabel, e acrescentando outros novos. Ao

cantá-los foi toda inflamada e transporta-da em altíssimo êxtase: elevou-se da terracercada por um globo de refulgente luz, eficou toda transformada e como revestidacom os dotes da glória.

As grandezas de São José

411. À vista de tão divino quadro,ficou São José admirado e cheio de in-comparável alegria, porque nunca vira suaabençoada esposa com semelhante glóriae eminente excelência. Conheceu-a, en-tão, com grande clareza: foi-lhe manifes-tada, ao mesmo tempo, a íntegra purezada Princesa do céu e omistério de sua dig-nidade; viu em seu virginal seio a huma-nidade santíssima do Menino Deus e a

união das duas naturezas na pessoa doVerbo. Com profunda humildade e reve-rência o adorou e reconheceu por seuverdadeiro Redentor, e com heróicos atosde amor a Ele se ofereceu.

Olhou-o o Senhor com benignida-de e clemência como a nenhuma outracriatura, pois o aceitou e lhe deu o nomede pai adotivo. Para estar à altura de tão

sublime título, lhe deu a plenitude de ciên-cia e dons celestiais, como a piedade cristã pode e deve presumir.

 Não me detenho a falar sobre omuito que me foi mostrado a respeito dasexcelências de São José, porque então se-ria mister alongar-me além do que exigea finalidade desta História.

Maria, causa da santidade de José

412. Não morrer ou desfalecer  pelo zelo de sua amada Esposa, foi provada grandeza de espírito de SãoJosé e claroindício de sua insigne santidade. Maior admiração, porém, é que não fosse esma-

gado pelo inesperado gozo que recebeuquando a verdade se lhe revelou.

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Quarto Livro

tade e ordem da Mãe de piedade que, tan-tas e tão repetidas vezes, me intimou.

DOUTRINA DA DIVINA RAINHAE SENHORA NOSSA

Humildade obediente

414. Minha filha. Desejando quecomponhas tua vida pelo espelho da mi-nha, e para que meus atos sejam o modelodos teus, declaro-te nesta História, nãoapenas os mistérios que deixas escrito,mas outros muitos que não podes mani-

festar. Todos hão de ser gravados nas tá- buas de teu coração, e por isto quero telembrar da lição pela qual deves aprender a ciência da vida eterna, e assim cumproo magistério de mestra. Sê pronta em obe-decer e executar como submissa e solícitadiscípula. Sirva-te agora, de exemplo ohumilde cuidado e desvelo de meu esposoSão José, a submissão e apreço que fez dadivina luz e sua orientação. Por achar seucoração preparado e bem disposto paracumprir com presteza a vontade divina,ela o transformou com tanta plenitude degraça como convinha para o ministérioque o Altíssimo lhe destinava. Seja, pois,o conhecimento de tuas culpas motivo para humilhar-te com sujeição e não, com pretexto de indignidade, impedir o Senhor servir-se de ti para o que quiser.

Falta de caridade fraterna

415. Nesta ocasião, quero te mani-festar uma justa queixa e grave indignaçãodo Altíssimo contra os mortais. Entende-rás melhor com a divina luz, e o exemploda humildade e mansidão que usei com

meu esposo José. Esta queixa do Senhor e minha é a desumana perversidade doshomens em se tratarem uns aos outros semcaridade e humildade.

Este proceder implica três pecadosque desobrigam muito ao Altíssimo e aMim de usar misericórdia com eles:

Io - Sabem os homens que todossão filhos de um mesmo Pai (1) que está

1 - Lc 64 ,8 ; At 17,26; Mt 6, av. 25; SI 127, 3

Capitulo 4

no céu, obras de sua mão, formados damesma natureza, conservados gratuita¬mente, vivificados por sua providência,criados à igual mesa dos divinos mistériose sacramentos, especialmente o do seu

 próprio corpo e sangue. Tudo isto esque-cem e põe de lado, ao surgir um leviano eterreno interesse. Como irracionais, alte-ram-se uns contra os outros, fomentamdiscórdias, rixas, traições, murmuraçõese até ímpias e desumanas vinganças emortais ódios.

2o - Quando, por humana fra-gilidade e pouca mortificação, tentados

 pelo demônio, caem em alguma destas

culpas, não procuram logo eliminá-las pela mútua reconciliação (Mt 18, 35),como irmãos na presença do justo juiz.Deste modo, de pai de misericórdia, o fa-zem severo e rigoroso juiz de seus peca-dos, pois nenhum irrita mais sua justiçado que o ódio e a vingança.

3o - O terceiro pecado que muitoo indigna é quando alguém, desejando

reconciliar-se com seu irmão, não éaceito por aquele que se julga ofendido.Este exige mais satisfação do que aquelaque contenta o Senhor, e da qual ele mes-mo quer se valer diante de Deus (Mt 32,33). Todos querem, quando contritos ehumilhados, ser atendidos e perdoados por Deus, que é sempre o mais ofendi-do. No entanto, os que são pó e cinza

 pedem vingança contra o irmão, e nãose dão por satisfeitos com o que o Se-nhor se contenta para perdoá-los.

O mais grave pecado

416. De todos os pecados cometi-dos pelos filhos da Igreja, nenhum é maisdetestável aos olhos do Altíssimo do que

este. Assimentenderás em Deus e na forçaque pôs em sua divina lei mandando per-doar ao irmão ainda que este os ofendasetecentas vezes (Mt 18,22). Mesmo que,em cada dia o faça muitas vezes, se mos-trar arrependimento, manda o Senhor queo ofendido lhe perdoe outras tantas vezes,sem limite (Lc 17,4). E contra quem nãoo fizer impõe terríveis penas, por que es-

candaliza os outros, como se colige da-quela sua ameaça: n Âi do escandaloso

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Quarto Livro - Capítulo 4

(Mt  18, 1), e daquele por quem vier es-cândalo! Melhor lhe fora cair no fundodo mar com pesada mó de moinho aopes-coço!" (Lc 17, 2). Estas palavras repre-sentam a dificuldade para remediar estes

 pecados, como a teria quemcaísse no mar com uma roda de moinho ao pescoço. In-dica também o castigo que terá no profun-do das penas eternas. Por isto, é sãoconselho para os fiéis o que mandou meuFilho santíssimo: Antes arrancar os pró-

 prios olhos (Mt 18,8 - 9) e cortar as mãos,do que escandalizar aos pequenos com es-tes pecados.

Rigor do mandamento novo

417. Oh! Minha filha caríssima,quanto deves chorar com lágrimas de san-gue a fealdade e os danos deste pecado!Ele contrista o Espírito Santo (Ef 4, 30),dá soberbos triunfos ao demônio, tornamonstruosas as criaturas racionais, e lhesapaga a imagem de seu Pai celestial! Quecoisamais feia, mais descabida e horrendaver um homem feito da terra, que de simesmo só possui corrupção e vermes, er-guer-se contra seu semelhante com tantasoberba e arrogância! Nãoencontraráspa-lavras com que ponderar esta maldade e

 persuadir aos mortais temê-la e se guardar 

da ira do Senhor (Mt 3, 7). Quanto a ti,caríssima, protege teu coração deste con-tágio, e grava nele, para escutá-la, doutri-na tão útil e proveitosa.

Emudece e põe sentinela (SI 140,3 - 4 ) forte em todas as tuas potências esentidos, para observar rigorosamente acaridade com as criaturas, obras do Altís-simo.

Dá a Mim esta alegria, pois te que-ro perfeitíssima em tão excelente virtude.Imponho-a a ti com rigoroso preceitomeu, para jamais pensares, falares, ou fa¬zeres coisa alguma em ofensa do teu pró-ximo. Também não consintas, sendo

 possível, por título algum, que em tua pre-sença tuas súditas o façam nem qualquer outra pessoa. Reflete, caríssima, no que te

 peço, porque esta é a ciência mais divinae a menos entendida pelos mortais. Sirva-te de singular e eficaz remédio para tuas

 paixões, e de exemplo para te compelir,minha humildade e mansidão. Eram efei-tos do sincero amor com que amava nãosó a meu Esposo, mas a todos os filhos demeu Senhor e Pai celestial, estimando-oscomo redimidos e comprados por tão alto

 preço (Pe 1,18; 1 Cor 6, 20). Com ver-

dade e fidelidade, com delicadeza e cari-dade adverte tuas religiosas do seguinte:A divina Majestade ofende-se grave-mente com todos os que não observameste mandamento que meu Filho chamounovo e seu (2); mas sua indignação é in-comparavelmente maior com os religio-sos que o transgridem. Devendo ser osfilhos perfeitos de seu Pai, Mestre desta

virtude, quando a destroem como os mun-danos, tomam-se mais odiosos do que es-ses.

2-Jo 15, 12; 13, 34; Mt 5,48

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CAPÍTULO 5

SÃO JOSÉ QUER SE CONSTITUIR REVERENTESERVO DE MARIA SANTÍSSIMA. REAÇÃO DA

VIRGEM E PROCEDER DE AMBOS.

José e a dignidade da Virgem

418. Depois que lhe foi revelado omistério da Encarnaçâo e a dignidade deMaria, o fidelíssimo José concebeu tãoelevado conceito de sua Esposa, que setransformou em novo homem, apesar de,até aí, ter sido muito santo e perfeito. To-mou a resolução de mudar de estilo e usar de maior reverência no convívio com adivina Senhora.

Isto estava de acordo com a sabe-doria do Santo e era devido à excelênciade sua Esposa. Mediante a divina luz, SãoJosé compreendeu que, enquanto ela eraa Senhora do céu e terra, ele não passavade servo.

Para satisfazer seu afeto e obriga-ção, honrando e venerando àquela que sa-

 bia ser Mãe do mesmo Deus, quando lhefalava a sós, ou quando lhe passava emsua frente, fazia-lhe genuflexão com gran-de reverência. Não queria consentir queEla o servisse, nem se ocupasse em outrostrabalhos humildes como, limpar a casa,os pratos e outros trabalhos semelhantes.Ele os faria, para Ela não descer da digni-dade de Rainha.

Competições de humildade

419. A divina Senhora, porém, queentre todos os humildes foi humilíssima,e por ninguém podia ser vencida na hu-mildade, dispôs as coisas de tal modo, asempre levar a palma nas virtudes.

Pediu a SãoJosé que não lhe fizes-

se aquela reverência de genufletir em sua presença. Aquela veneração era devida aoSenhor que levava em seu seio, mas en-quanto assim se encontrava, não se pode-ria distinguir entre a pessoa de Cristo e adela.

Persuadiu-se o Santo e fez o gostoda Rainha do céu. Só quando Ela não per-cebia, dava aquele culto ao Senhor e a Ela,

Mãe que O levava em suas entranhas. Acada qual, respectivamente como lhes eradevido.

A respeito dos demais trabalhoscaseiros, tiveram humildes contendas.São José não podia se convencer em dei-xar a grande Senhora desempenhá-los,e procurava tomar-lhe a dianteira. Outrotanto fazia a divina Esposa, quanto lheera possível. Enquanto, porém, Ela semantinha recolhida, São José aproveita-va e ia prevenindo tudo que podia. Destemodo frustrava-lhe os desejos de conti-nuar o ofício de serva, e como tal de seincumbir de todos os afazeres domésti-cos. Sentida, recorreu a divina Senhoraa Deus, e com humildes queixas lhe su-

 plicou obrigar seu Esposo a não lhe im- pedir o exercício da humildade que Elatanto desejava.

Como esta virtude é tão poderosano tribunal divino, ao qual tem entradafranca (Ecli 35,21), não há súplica acom-

 panhada por ela que seja pequena, pois atodas torna grandes e inclina à clemênciao ser imutável de Deus.

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CAPITULO 6

PALESTRAS ENTRE MARIA SANTÍSSIMA EJOSE SOBRE COISAS DIVINAS, E OUTROS

ACONTECIMENTOSADMIRÁVEIS.

Maria e José lêem a Sagrada Escritura

428. Antes de São José ter conhe-cimento do mistério da Encamação, cos-tumava a Princesa do céu ler-lhe, emmomentos oportunos, trechos da SagradaEscritura, em particular os Salmos e Pro-fetas. A Mestra sapientíssima os explica-va, e o Santo que também possuía ca-

 pacidade para compreender, fazia-lhemuitas perguntas, admirando-se agrada-velmente pelas divinas respostas de suaEsposa.

Assim, alternavam-se em bendizer e louvar o Senhor.

Depois que o abençoado Santo foiiluminado pelanotíciado grande mistério,então nossa Rainha falava-lhe como ao es-colhido para cooperador nas admiráveisobras de nossa redenção.

Com maior clareza e liberdadeconferiam entre si as profecias e divinosoráculos da concepção do Verbo em MãeVirgem, de seu nascimento, criação e san-tíssima vida.

Tudo lhe explicava a Senhora, eiam prevendo o que deveriam fazer quan-do chegasse o dia tão desejado do nasci-mento do Menino. Ela o receberia em seus

 braços, o alimentaria com seu virginal lei-te, e o santo Esposo seria entre todos osmortais, partícipe desta suma felicidade.

Só da paixão e morte do Senhor, edo que sobre elas escreveram Isaias e Je-remias (Is 53,7; Jer 11,19), falava menos.

Pareceu à prudentíssima Rainha,que não devia afligir o afetuoso e sensível

coração de seu Esposo, antecipando estamemória, e dando-lhe maiores informa-ções das que, naquela época, presumiamsobre o aparecimento e a vida do Messias.

A prudentíssima Virgem quisaguardar que o Senhor mesmo as mani-festasse a São José, ou lhe fizesse conhe-cer sua divina vontade.

O Messias quis humildade e pobreza

429. Estas doces palestras infla-mavam o fidelíssimo e ditoso São Joséque, com lágrimas de alegria, dizia à suadivina Esposa: - E possível, Senhora mi-nha, que hei de ver meu Deus e Redentor em vossos castíssimos braços, e neles Oadorarei? Ouvi-lo-ei e o tocarei, e meusolhos verão sua divina face, e meu suor 

terá a felicidade de se empregar em seuserviço e sustento?Viverá conosco, comeremos à sua

mesa, conversaremos com Ele? Donde mevirá tão grande felicidade que ninguém

 pode merecer? Ah! Quem tivera ricos palácios para o receber e muitos tesouros para lhe ofertar!

Respondia-lhe a soberana Rainha:

- Meu Senhor e Esposo, é bem que vossosolícito afeto deseje fazer o mais possívelem obséquiode nosso Criador. Este grandeDeuse Senhor nosso, porém, não quer vir ao mundo no meio de riquezas e de os-tensiva majestade temporal. De nenhuma

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Quarto Livro

destas coi sas necessita (SI 15,2), nem paraisso desceria do céu à terra. Vem só parasalvar o mundo e guiar os homens pelosretos caminhos da vida eterna (Jo 10» 10),

 por meio da humildade e pobreza. Nelasquer nascer, viver e morrer para expelir dos corações mortais a pesada cobiça eorgulho que lhes impede a felicidade. Por esta razão escolheu nosso pobre e humildelar, e não nos deseja ricos dos bens aparen-tes, falazes e transitórios que são vaidadedas vaidades e aflição de espírito (Ecli 1,14); oprimem e obscurecem o entendi-mento para conhecer e penetrar a luz.

Colaboração entre Maria e José

430. Outras vezes pedia o santo à puríssima Senhora que o instruísse sobreos predicados e exercícios das virtudes,

 principalmente do amor de Deus. Queriasaber como tratar o Altíssimo feito ho-mem, e não vir a ser reprovado como servo

inútil, incapaz de servi-lo.A Rainha e mestra das virtudes

condescendia com estes pedidos, falavasobre as virtudes e o modo de as praticar com plenitude de perfeição. Nestas ins-truções procedia com tão rara discrição ehumildade que, sendo mestra, não o pa-recia, nem de seu próprio Esposo. Dava aessas conferências a forma de palestras,

ora dirigindo-se ao Senhor, ora fazendo perguntas a São José e instruindo-o atra-vés de suas respostas. Em tudo guardava

 profundíssima humildade, sem que um sóde seus gestos fosse contrário a essa vir-tude.

Alternavam estas palestras e ou-tras leituras da Sagrada Escritura com otrabalho manual de que não podiam se dis-

 pensar. A amabilíssima Senhora com- padecia-se em ver São José afadigar-setanto. Esta compreensão já servia de gran-de consolo ao Santo, mas além deste, usu-fruía São José o de sua doutrina celestial.Atento a esta, trabalhava mais com as vir-tudes do que com as mãos.

A mansíssima pomba, com pru-dência de Virgem sapientíssima, lhe mi-

nistrava este divino alimento, falando-lhesobre o grande mérito do trabalho.

Capítulo 6

 Na própria estima considerava-seindigna de que seu Esposo a sustentassecom seu trabalho. Esta consideração aconservava sempre humilhada, devedoraa São José, cujo amparo recebia comogrande esmola e liberal favor.

Todas estas razões levavam-na a seconsiderar como a criatura mais inútil daterra.

 Não podia ajudar o santo Esposono seu oficio, desproporcionado às forçasde mulher, e ainda menos à modéstia ecompostura da divina Rainha. Apesar dis-so, no que se ajustava a estas virtudes, aju-dava-o como humilde servente. Seunobilíssimo coração, e sua discreta humil-dade, não podiam deixar de serem gratose serviçais a São José.

Os pássaros visitam Nossa Senhora

431. Entre outras coisas milagro-sas e visíveis que São José presenciou du-

rante as palestras com Maria santíssima,aconteceu um dia, na época de sua gravi-dez, virem muitas aves, de diversas espé-cies, festejar à Rainha e Senhora dascriaturas. Rodeavam-na como em coro elhe cantavam com admirável harmonia,sendo milagre tanto a melodia, como a vi-sita à sua divina Senhora.

 Nunca São José vira tal maravilha,

e cheio de admiração e alegria, disse à suasoberana Esposa: E possível, Senhora mi-nha, que estas simples criaturas irracio-nais cumpram suas obrigações melhor doque eu? Se elas vos reconhecem, serveme reverenciam o quanto lhes é possivel, érazão que me permitais fazer o que devo

 por justiça.Respondeu-lhe a prudentíssima

Virgem: Meu Senhor, na ação destas ave-zinhas do céu, seu Criador nos oferecejus-to motivo para nós, que o conhecemos,empregarmos todas nossas forças e potên-cias em seu louvor. Elas O veneram emmeu seio, mas Eu sou criatura e por istonão me é devida veneração, nem é justoque a aceite. Devo, porém, procurar quetodos louvem o Altíssimo porque olhou

sua serva (Lc 1,48) e me enriqueceu comos tesouros de sua divindade.

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feliz esposo José, muitas vezes era teste-munha desses prodígios.

Os anjos socorriam.Maria e José

433. Por ministério dos santos an-

 jos eram também socorridos em certasocasiões, por modo admirável. Antes dereferir um dos muitos milagres que elesoperaram a favor de Maria santíssima eSão José, deve-se lembrar que a fé e a li-

 beralidade do Santo eram tão grandes, quenunca lhe passou pelo coração sentimentoalgum de cobiça ou de qualquer ansieda-de. Tanto ele, como sua divina Esposa, ja-mais estipulavam o preço de seustrabalhos, nem diziam : "Isto vale tanto,ou me deveis tanto por isto".

Faziam os trabalhos, não por inte-resse, mas por obediência ou caridade dequem lhos encomendava. Deixavam àvontade dos donos pagar-lhes o que qui-sessem, e recebiam a retribuição, não tan-to como pagamento, mas como ofertagratuita. Tal era a santidade e perfeição

que São José aprendia na celeste escolade seu lar.

Em conseqüência deste sistema, e porque nem sempre lhe pagavam os traba-lhos, chegavam a carecer mesmo da ali-mentação, até que o Senhor os provia.

Aconteceu um dia que, chegada ahora da refeição, nada tinham para comer.Para agradecer ao Senhor esta privação e

esperar que lhes abrisse sua divina mão(SI 144,16), permaneceram em oração até bem tarde. Neste ínterim os santos anjoslhes prepararam a refeição. Puseram-na àmesa, com frutas, pão alvíssimo, peixes,e principalmente uma espécie de guisadoou conserva de admirável sabor e substân-cia.

Alguns dos anjos foram chamar 

sua Rainha e outros a São José.Saíram de seu retiro, e vendo aque-

le presente do céu, com fervor e lágrimas,agradeceram ao Altíssimo, comeram e en-toaram grandiosos cânticos de louvor.

Os cânticos de Maria santíssima

434. Outros numerosos casos se-melhantes passavam-se, muito freqüente-

mente com Maria santíssima e seu Espo-so. Encontrando-se a sós, sem testemu-nhas de quem ocultar estas maravilhas,não lhas regateava o Senhor, pois eram osdispenseiros da maior de suas maravilhas.

Apenas advirto que, quando digoque a divina Senhora faziacânticos de lou-vor sozinha, ou com S. José e os Anjos,sempre se entenda que eram cânticos no-vos semelhantes ao de Ana, mãe de Sa-muel (1), aos de Moisés, Ezequias e outros

 profetas, quando recebiam algum grande benefício do Senhor.

Se tivessem sido escritos os com- postos pela Rainha do céu, encheriam ex-tenso volume que constituiria admiração

 para o mundo.

DOUTRINA QUE ME DEU A MESMARAINHA E SENHORA NOSSA.

A cobiça

435. Minha queridíssima filha,quero que muitas vezes se renove em ti a

ciência do Senhor, e recebas a ciência devoz (Sab 1, 7) para conheceres, e conhe-cerem os mortais amadores da mentira (SI4,3), o perigoso engano e falsa apreciaçãoque fazem das coisas temporais e visíveis.Quem há entre os homens que não estejaenvolvido na fascinação da monstruosacobiça (Sab 4,12)? Em geral, todos põema confiança no ouro e nos bens temporais,

e para aumentá-los empregam todo o cui-dado das forças humanas. Neste afã gas-tam a vida e o tempo que lhes foi dado

 para merecerem a felicidade e descansoetemo. De tal modo se entregam a este

 penoso labirinto e solicitude, como se des-conhecessem a Deus e sua providência. Não se lembram de lhe pedir e esperá-lode sua mão. Assim tudo perdem, porque

o esperam (SI 48,7) da solicitude menti-rosa em que apoiam o resultado de seusdesejos terrenos. Esta cega cobiça é a raizde todos os males (ITim 6,10) porque oSenhor, indignado de tanta perversidade,em castigo deixa que os mortais se entre-guem a tão feia e servil escravidão. A co-

1 - lRs 2,1 e seg. Deut. 32,1 e seg. Ex 15,1; Is 12,38,10 e seg

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 biça cega-lhes o entendimento e endurecea vontade e, por fim, o Altíssimo delesafasta o olhar como de objetos detestáveis.

 Nega-lhes sua paternal proteção, o quevem a ser a máxima infelicidade da vidahumana.

A cobiça humana e a providênciadivina

436. Verdadeé que dos olhos do S e-nhor ninguém pode se esconder (SI 138).Quando, porém, os prevaricadores e ini-migos de sua lei assim o constrangem, detal modo retira deles a amorosa vista e

atenção de sua providência, que acabam por ficar entregues ao próprio desejo (SI80,13). Não conseguem os efeitos do pa-ternal cuidado que o Senhor dispensaàqueles que n'Ele põem toda a confiança(SI 48, 7). Os que a põem na própria so-licitude e no ouro que tocam e sentem, co-lhem o efeito daquilo que esperam. Adistância, porém, que existe entre o ser di-

vino e o poder infinito, da fraqueza e li-mitação dos mortais, é a mesma entre osefeitos da cobiça humana e os da provi-dência do Altíssimo (SI 17,31; 32,18; 9,17) que se constitui amparo e proteção doshumildes que nele confiam. A estes olhacom amor e carinho, alegra-se com eles,guarda-os em seu coração e atende a todosos seus desejos e cuidados. Meu santo es-

 posoJosé e Eu éramos pobres e, de vez emquando, passávamos grande necessidade.

 Nenhuma, entretanto, foi capaz deintroduzir em nosso coração o contágio daavareza e cobiça. Cuidávamos apenas daglória do Altíssimo e nos entregávamos aseu fidelíssimo e amoroso cuidado. Comoentendeste e escreveste, tanto se agradoudisto que, pelos mais diversos modos,remediava nossa pobreza, ao ponto de

mandar os espíritos angélicos que o assis-tem, prover e preparar nossa refeição.

Trabalhar e confiar 

437. Não quero dizer com isto, que

os mortais se entreguem à ociosidade enegligência. É justo que todos trabalhem(SI 48, 7) e não o fazer é também víciomuito repreensível. Nem o lazer, nem a

 preocupação devem ser desordenados,nem a criatura há de colocar sua confiança

naprópria solicitude (Luc 8,14; Prov 30,8; Ecli 2,11). Esta não deve afogar, nemser impedimento ao amor divino. Nãoqueira mais do que basta para viver comtemperança, nem se persuada que para oconseguir lhe faltará a providência doCriador. E, quando esta parecer tardar, nãose aflija nem desconfie. De igual modo,quem goza de fartura não confie nela (Ecli

31, 8), nem se entregue à ociosidade, es-quecendo que é homem sujeito à pena dotrabalho.

Assim, tanto a abundância comoa pobreza se hão de atribuir a Deus, parausá-las santa e ordenadamente para aglória do Criador e governador de tudo.Se os homens se guiassem por esta ciên-cia, a ninguém faltaria a assistência do

Senhor como de verdadeiro Pai. Não se-ria prejudicial a necessidade para o po- bre, nem a prosperidade para o rico. Deti, minha filha, quero aprática desta dou-trina. Ainda que por meio de ti dou-a atodos, deves ensiná-la especialmente atuas súditas, para que não se perturbemnem percam a confiança nas necessida-des que padecerem. Não sejam desor-denadamente solícitas pela comida e

 pela roupa (Mt 6, 25), mas confiem noAltíssimo e se entreguem à sua provi-dência. Se elas corresponderem ao seuamor, garanto-lhes que jamais lhes fal-tará o necessário. Admoesta-as tambéma que suas conversações (IPed 1, 15)sejam sobre as coisas santas e divinasem louvor e glória do Senhor. Terão ma-téria na doutrina de seus mestres, nas Sa-

gradas Escrituras e outros livros santos.Deste modo, sua conversação esteja noscéus (Fil 3,20) com o Altíssimo, comigoque sou sua Mãe e prelada, e com os an-

 jos, para se assemelharem a eles noamor.

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C A P I T U L O 7

MARIA SANTÍSSIMA PREPARA O ENXOVALPARA O MENINO DEUS, COM ARDENTÍSSIMO

DESEJO DE O VER NASCIDO.

Maria consulta São José,e ambos a Deus

438. Já ia bastante adiantada a di-vina gravidez da Mãe do eterno Verbo,Maria santíssima. Sendo necessário pre-venir as roupinhas e o mais para o deseja-do parto, quis proceder em tudo comcelestial prudência. Nada dispôs sem a

vontade e ordem do Senhor e de seu santoEsposo, para agir em tudo como servaobediente e fidelíssima.

 Não obstante aquilo ser oficio sóde mãe, e mãe singular de seu Filho san-tíssimo sem cooperação de qualquer cria-tura, não o quis fazer sem falar com seusanto Esposo, a quem disse: Meu senhor,

 já é tempo de preparar as coisas necessá-

rias para o nascimento de meu Filho san-tíssimo. Ainda que sua Majestade infinitaquer ser tratado como os filhos dos ho-mens, humilhando-se a sofrer suas pena-lidades - de nossa parte, é justo que nocuidado e serviço de sua infância, mostre-mos que o reconhecemos por nosso Deus,verdadeiro Rei e Senhor. Se me permitis,começarei a preparar as faixas e manti lhas

 para o receber e criar. Tenho um tecidoque fiei e servirápara os primeiros panos.Vós, senhor, procurareis outro de lã, leve,macia, de cor discreta, para as mantinhas.Mais tarde far-lhe-ei uma túnica tecida,sem costura, de acordo com sua idade. E,

 para em tudo acertarmos, façamos es-

 pecial oração, pedindo à Sua Alteza nos

guiar, e manifestar sua divina vontade, demodo a procedermos conforme seu maior agrado.

Resposta divina

439. Esposa e Senhora minha - res-

 pondeu SãoJosé - se com o sangue de meucoração forapossível servir a meu Senhor e Deus, fazendo o que me ordenais, sen-tir-me-ia feliz em derramá-lo em atrocís-simos tormentos. Na falta disto, quisera

 possuir grandes riquezas e brocados paravos servir nesta ocasião. Disponde o quefor conveniente, que em tudo quero vosobedecer como vosso servo.

Fizeram oração, e a cada um em particular, o Altíssimo respondeu por igual voz, repetindo o mesmo que em ou-tras muitas vezes havia manifestado à so-

 berana Senhora. Disse sua Majestade aEla e a São José: Desci do céu à terra paraexaltar a humildade e humilhar a soberba;

 para desprezar as riquezas, destruir a vai-dade e estabelecer a verdade, fazendo dig-no apreço dos trabalhos. Por isto, é minha

vontade que na humanidade que assumi,me trateis exteriormente como se fosse fi-lho de ambos, e interiormente me reco-nhecereis por Filho de meu eterno Pai,com a veneração e amor que me são de-vidos como Homem-Deus.

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Quarto Livro

Maria começa o enxovaldo Menino Jesus

440. Por esta divina voz, Mariasantíssima e São José foram coiifirmados

na sabedoria com que deviam proceder nacriação do Menino Deus. Entre sicombinaram o mais elevado e perfeito es-tilo, já visto em puras criaturas, dereverenciá-lo como a seu verdadeiro Deusinfinito. Ao mesmo tempo, aos olhos domundo, tratá-lo como se fora filho de am- bos, pois assim pensariam os homens etambém o queria o mesmo Senhor.

Com tanta plenitude cumprirameste acordo que foram admiração para océu, e adiante falarei mais sobre isso.

Determinaram também que, no

âmbito de sua pobreza, era justo fazer emobséquio do Menino Deus o quanto lhesfossepossível, sem exceder nem faltar. As-sim, o segredo do Rei (Tob 12,7) ficariaescondido sob o véu da humilde pobreza,e o inflamado amor de ambos não ficariaocioso no que pudessem exercitá-lo.

Em troca de alguns trabalhos ma-nuais, São José comprou duas telas de lã,

como sua Esposa dissera: uma branca eoutra mais lilás do que cinzenta, e ambas

Capitulo 7

as maiores que pôde encontrar. Delas cor-tou a divina Rainha as primeiras manti-nhas para seu Filho santíssimo, e do panoque Ela fiara e tecera, cortou as camisi-nhas e lençoisinhos para o envolver. Este pano era muito delicado como saído de

tais mãos, e o começara a fazer desde queviera morar com São José, com intençãode o oferecer no templo. Comutou-se estafinalidade por outra muito melhor, mas as-sim mesmo, feitas as roupinhas do Me-nino Deus, levou o que sobrou, comooferenda, ao santo templo de Jerusalém.

Todos estes preparativos e a roupanecessária para o divino nascimento, fê-las a grande Senhora por suas própriasmãos. Coseu-as sempre de joelhos, comlágrimas de incomparável devoção. SãoJosé procurou flores, ervas e outras coisasaromáticas, e a diligente Mãe fez água

 perfumada, melhor do que feita por Anjos,e com ela orvalhou as faixas consagradas

 para a hóstia e sacrifício que esperava.Dobrou-as e arrumou-as numa caixa quedepois levou consigo a Belém, como direi

adiante.

Jesus, o verdadeiro templo daDivindade

441. Todas estas ações da princesado céu, Maria santíssima, se hão de enten-der, não despidas e sem alma como as re-firo, mas sim vestidas de formosura (SI

95, 6), cheias de santidade e magnificên-cia e com a máxima perfeição que a inteli-gência humana seja capaz de presumir.

Mãe da sabedoria (2Mac 2, 9) eRainha das virtudes, tratava magnifica-mente as obras da sabedoria divina, e as-sim oferecia o sacrificio da dedicação donovo templo do Deus vivo na humanidadesantíssima de seu Filho que havia de nas-

cer no mundo. Mais do que todo o restodas criaturas, conhecia a soberana Senho-ra a grandeza do mistério de Deus se fazer homem e vir ao mundo.

 Não incrédula mas admirada, comardente amor e veneração, repetia muitasvezes o que dizia Salomão ao construir otemplo (2Par 6, 18): Será possível queDeus habite na terra entre os homens? Se

todo o céu, e os céus dos céus são insufi-cientes para O conter, quanto mais o sera

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infinita bondade, e eu pó e cinza? Comoousarei falar e permanecer em vossa divi-na presença?

Pequena entre as demais filhas deAdão, vós que me escolhestes, Senhor detodo o meu ser, dirigi minhas ações, guiai

meus desejos inflamai meus afetos, paraque acerte vos agradar em tudo.Se sais de meu seio ao mundo para

sofrer afrontas e morrer pelo gênero hu-mano, que farei se não morrer convosco enão vos acompanhar no sacrifício, poissois meu ser e minha vida?

Tire a minha vida a causa e motivoque há de tirar a vossa, pois tão unidasestão. Para remir o mundo e milhares demundos bastará muito menos que vossamorte. Morra eu por vós, sofra vossasignomínias, e vós, com vosso amor e luz,santificai o mundo e iluminai as trevas dosmortais.

E, se não é possível revogar o de-creto do etemo Pai, para que seja a reden-ção copiosa (SI 129, 7; Ef 2, 4) e fiquesatisfeita vossa excessiva caridade, rece-

 bei meus afetos e tenha Eu parte em todosos trabalhos de vossa vida, pois sois meuFilho e Senhor.

Maria imitava os atos de Jesus

444. A diversidade destes e de ou-tros carinhosos afetos tomavam a Rainhados céus formosíssima aos olhos do Prín-

cipe das eternidades (Est 2, 9) oculto notálamo de seu virginal seio. Ela os formu-lava de acordo com os daquela santíssimae deificada humanidade que via para imi-tar.

 Naquela sagrada prisão, às vezes oMenino Deus punha-se de joelhos paraorar ao Pai, outras em forma de cruz comoensaiando-se para ela. Dali, como agora

do supremo céu, via e conhecia com aciência de sua alma santíssima tudo o queagora conhece. Criatura alguma, presente,

 passada ou futura, lhe foi oculta, com to-dos seus pensamentos e movimentos. Detodas cuidava como Mestre e Redentor.

Todos estes mistérios eram mani-festados à sua divina Mãe que, paracorresponder a esta ciência, estava cheia

de graças, e dons celestiais. Agia em tudocom tão alta perfeição e santidade que não

há palavras para a humana capacidade po-der explicar.

Se nossa razão não está pervertida,e nosso coração não for de pedra in-sensível e dura, não será possível que àvista e ao toque de tão eficazes como ad-

miráveis obras, não se sinta ferido de amo-rosa dor e humilde gratidão.

DOUTRINA QUE ME DEU ASANTÍSSIMA RAINHA MARIA

Irreverência pelo sagrado

445. Minha filha, quero que por este capítulo fiques advertida sobre o de-coro com que se hão de tratar as coisasconsagradas e dedicadas ao culto divino.Ao mesmo tempo fique repreendida a ir-reverência com que os próprios ministrosdo Senhor o ofendem por este descuido.

 Não desprezem, nem esqueçam o desgos-to que Deus sente por eles, por causa dagrosseira descortesia e ingratidão comque tratam os ornamentos e coisas sagra-

das que ordinariamente manuseiam sematenção nem respeito algum. Muito maior é a indignação do Altíssimo pelos queusam e consomem o fruto e estipêndio deseu preciosíssimo sangue em vaidades,coisas profanas e menos decentes. Procu-ram para seu conforto e comodidade omais precioso e estimável, enquanto parao culto e honra do Altíssimo empregam o

mais grosseiro, desprezível e sem valor.Quando isto acontece, principalmentecom os panos que tocam o corpo e sanguede meu Filho santíssimo, como são os cor-

 porais e purificadores, quero fazer-teciente que os santos anjos que assistem aoeminente e altíssimo sacrifício da missa,ficam como que corridos de vergonha.Desviam os olhos de semelhantes minis-tros e se admiram de que o Todo-poderosomostre tanta paciência com eles, dissimu-lando sua ousadia e desacato. Embora nãosejam todos assim, é a maiorparte. Poucossão os que se distinguem em demonstrar zelo pelo culto divino e em tratar ex-teriormente as coisas sagradas com maisrespeito. Mesmo estes, não são todos queassim procedem com reta intenção e pelareverência devida, mas por vaidade e ou-

tros fins terrenos. Em suma, são raros os

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CAPÍTULO 8

• •

O EDITO DO IMPERADOR CÉSAR  AUGUSTO PARARECENSEAR O IMPÉRIO. O QUE FEZ SÃO JOSE.

O edito de César Augusto

448. Estava determinado pela von-

tade imutável do Altíssimo, que o Unigê-nito do Pai nascesse em Belém (Miq 5,2). Em virtude deste decreto, assim o pro-fetizaram santos e antigos Profetas (Jer 30,9; Ez 34,24) muito antes de se realizar,

 porque a decisão absoluta da vontade deDeus é sempre infalível. Faltarão os céuse a terra (Mt 24, 35), antes que falte seucumprimento, pois ninguém a pode impe-

dir (Est 13, 9).Dispôs o Senhor a execução desseimutável decreto por meio de um edito pu-

 blicado pelo imperador romanoCésar Au-gusto, como refere São Lucas (2, 1), or-denando o recenseamento de todo o orbe.Estendia-se então o império romano àmaior parte da terra conhecida, pelo queintitulavam-se senhores do mundo, nãofazendo caso do resto.

Este recenseamento valia por umadeclaração de vassalagem ao Imperador e

 para lhe pagar certo tributo como a senhor temporal. Para este fim, cada um ia inscre-ver-se no registro público de sua própriacidade (Lc 2,3).

Chegou este edito a Nazaré e foiouvido por São José, estando fora de casa.Voltou para ela aflito e entristecido, refe-

rindo à Esposa o que se passava.A prudentíssima Virgem lhe res- pondeu: Não se preocupe, meu senhor eesposo, com o edito do imperador destemundo, pois todos nossos interesses cor-rem por conta do Senhor e Rei do céu e

da terra, e sua providência nos assistirá egovernará em qualquer  circunstância(Ecli 17, 28). Confiemos n'Ele e não se-

remos decepcionados.

Preocupação de São José

449. Estava Maria santíssimainstruída de todos os mistérios de seuFilho santíssimo. Conhecia as profeciase seu cumprimento, e que o Unigênito

do Pai e seu deveria nascer emBelém

como pobre e peregrino. Todavia, nadarevelava a São José, pois sem ordem doSenhor não manifestava seu segredo. Oque não lhe era mandado dizer, calavacom admirável prudência, não obstanteo desejo de consolar seu fidelíssimo esanto esposo José. Queria submeter-seao seu governo e obediência, e não pro-ceder como prudente e sábia consigo

mesma (Prov 3, 7), em desacordo como conselho do Sábio.

Trataram logo do que deveriam fa-zer, pois já se aproximava o parto da di-vina Senhora. Disse-lhe São José: Rainhado céu e terra, minha senhora, se não ten-des diferente ordem do Altíssimo parece-me forçoso ir cumprir este edito doImperador. Ainda que bastaria ir sozinho,

 porque isto incumbe aos chefes de família,não me atreverei a vos deixar sem minhaassistência. Tampouco poderia viver semvossa presença; não terei um momento desossego, e não épossível que meu coraçãose tranqüilize sem vos ver.

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Quarto Livro * Capitulo 8

Para irdes comigo à nossa cidadede Belém, onde devemos cumprir a ordemdo Imperador, vejo que vosso divino partoestá muito próximo, e por minha grande

 pobreza temo vos colocar em evidentepe-rigo. Se o parto sobreviesse no caminho,com descomodidade, sem eu nada poder fazer, seria para mim enorme desconsolo.Este cuidado me aflige. Rogo-vos, Senho-ra minha, o apresenteis ao Altíssimo, e lhesupliqueis ouça meus desejos de não meseparar de vossa companhia.

Deus ordena que Maria acompanheSão José a Belém

450. Obedeceu a humilde Esposa

à ordem de São José, e ainda que nãoignorava a vontade divina, não quis omi-tir este ato de pura obediência, como sú-dita extremamente dócil. Apresentou aoSenhor a vontade e desejo de seu fide-líssimo Esposo, e obteve esta resposta:Amiga e pomba minha, obedece a meuservo José no que te propôs e deseja.Acompanha-o na viagem. Eu estarei

contigo e te assistirei com meu paternalamor e proteção nas tribulações que por 

Mim sofrerás; ainda que serão grandes,meu poder as fará reverter em tua glória.Teus passos serão formosos aos meusolhos (Cant 7,1); não temas e parte, por-que esta é minha vontade.

O Senhor logo mandou - à vista da

divina Mãe - aos santos anjos de sua guar-da, com novo preceito, que a servissemnaquela viagem com especial assistênciae cuidadosa solicitude, segundo os mag-níficos e misteriosos sucessos que nelaocorreriam. Além dos mil anjos que ordi-nariamente a guardavam, mandou o Se-nhor outros nove mil para assistirem suaRainha e Senhora, de modo que seria

acompanhada pelos dez mil anjos desdeque se pusesse em viagem.Assim o fizeram todos, como fíde-

líssimosministros do Senhor, e a serviramcomo direi adiante.

A grande Rainha foi preparadacom nova luz divina, na qual conheceu no-vos mistérios sobre as provações que so-freria após o nascimento do Menino Deusa perseguição de Herodes (Mt 2,16) e ou-tras tribulações que sobreviriam.

Para tudo ofereceu seu coração preparado (SI 107, 2) e não perturbado,agradecendo ao Senhor por tudo o quecom Ela fazia e dispunha.

Alegria e solicitude de São José

451, Voltou a grande Rainha docéu e deu a São José a resposta do Al-tíssimo: era sua vontade que Ela obede-cesse e o acompanhasse a Belém.

Encheu-se o Santo de alegria econsolação, e reconhecendo este grandefavor, deu graças ao Senhor com atos de

 profunda humildade e reverência.Disse à sua Esposa: Senhora mi-

nha e causa de minha alegria e felicidade,só me resta sentir nesta viagem os traba-lhos que nela padecereis, por eu não ter recursos para vos levar com a comodidadeque eu quisera vos proporcionar nesta pe-regrinação. Mas em Belém encontrare-mos amigos e conhecidos de nossafamília. Espero que nos receberão com ca-rinho, e então repousareis da fadiga do ca-

minho, se Deus o pemütir, assim como eu,vosso servo, o desejo.

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O santo Esposo realmente assim odesejava, mas o Senhor tinha disposto oque então ele ignorava. Quando, depois,viu que não se realizavam suas esperan-ças, maior amargura e pena sofreu, como

se verá. Não revelou Maria Santíssima aJosé o que no Senhor havia previsto sobreo mistério de seu divino parto, e que nãoaconteceria o que ele pensava. Pelo con-trário, animando-o, lhe disse: Meu Senhor e esposo, irei com muito prazer em vossacompanhia, e faremos a viagem como po- bres em nome do Altíssimo, pois Sua Al-teza não despreza a pobreza que veio

 procurar com tanto amor. Contando comsua proteção (SI 17,31; SI 54, 23) e am- paro nos trabalhos e necessidades, ponha-mos nele a nossa confiança. Vós, meuSenhor, deixai por sua conta todos vossoscuidados.

Preparativos da viagem

452. Marcaram o dia da partida eo santo Esposo, com diligência, andou por 

 Nazaré à procura de um animalzinho paralevar a Senhora do mundo. Não foi fácilencontrá-lo por causa dos muitos viajan-tes que partiam para diferentes cidades,com o mesmo fim de cumprir o edito doImperador.

Depois de muitas diligências e pe-noso cuidado, achou um humilde ju-mentinho que poderíamos chamar felizentre todos os animais irracionais. Não sótransportou a Rainha da criação, e com Elao Rei dos reis e Senhor dos senhores, mastambém esteve presente ao nascimento doMenino (Is 1,3), e rendeu a seu Criador a homenagem que os homens lhe nega-ram, como adiante se dirá.

Prepararam o necessário para aviagem de cinco dias, e a equipagem dosdivinos caminhantes era a mesma da pri-meira viagem que fizeram à casa de Zaca-rias, como disse acima (1).

Levaram apenas pão, frutas e al-guns peixes, sua costumeira alimenta-ção.

Como a Virgem santíssima tinha

conhecimento de que tardariam muito avoltar para casa, não só levou consigo as

faixas e panos preparados para seu divinoFilho, mas também, com discrição, dispôstudo de acordo com os desígnios do Se-nhor e os acontecimentos que Ela espera-va. Deixaram sua casa aos cuidados de

alguém até que pudessem voltar.

Partida para Belém

453. Chegou o dia e a hora de par-tir para Belém. O fidelíssimo e ditosoJosé, que tratava sua soberana Esposacom suma reverência, andava comovigilante e cuidadoso servo, indagando

e procurando em que lhe dar gosto e ser-vir. Pediu-lhe, com grande carinho, queo advertisse de quanto desejasse paraseu agrado, descanso e comodidade, e

 para dar prazer ao Senhor que levava emseu virginal seio.

Agradeceu a humilde Rainha ossantos desejos de seu Esposo, e reme-tendo-os à glória e obséquio de seu Filho

Santíssimo, consolou-o e encorajou-o para os trabalhos do caminho, asseguran-do-lhe do agrado que sentia o Senhor pelasua solicitude.

Quanto a eles deveriam receber com paz e alegria de coração as penalida-des que, em virtude de sua pobreza, en-contrariam na viagem.

Para começá-la, pôs-se de joe-

lhos a Imperatriz das alturas e pediu a bênção de São José. O homem de Deusse escusou de lhe dar e fez muita difi-culdade, em consideração da dignidadeda Esposa, cuja humildade acabou por vencê-lo. Abençoou-a José com grandetemor e reverência, e em seguida, comabundantes lágrimas, prostrado em ter-ra, lhe pediu o oferecesse novamente aseu Filho santíssimo, alcançando-lhe o

 perdão e a divina graça.Assim preparados, partiram de

 Nazaré para Belém, em meio do inverno,o que tomava a viagem mais penosa e des-confortável. A Mãe da vida, porém, que alevava em seu seio, atendia somente a seusdivinos afetos e colóquios, contem-

 plando-o em seu tálamo virginal, imitan-do seus atos, e dando-lhe maior agrado e

glória que todo o resto das criaturas reu-nidas.

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CAPITULO 9

VIAGEM DE MARIA SANTÍSSIMA DE NAZARÉ A BELÉM,EM COMPANHIA DE SEU SANTO ESPOSO JOSÉ

E DOS ANJOS QUE A ASSISTIAM.

O séquito angélico de Maria e José

456. A sós, partiram de Nazaré para Belém Maria puríssima e o gloriosoSão José, como pobres e humildes pere-grinos aos olhos do mundo, sem que ne-nhum dos mortais lhes desse maior consideração e estima do que costumam

conceder à pobreza e à humildade. No entanto - oh! admiráveis mis-térios do Altíssimo, escondidos aos sober-

 bos e imperscrutáveis à prudência carnal! Não caminhavam sozinhos, pobres e des- prezados, mas simprósperos, ricos e mag-níficos. Eram o objeto mais digno doetemo Pai e de seu amor imenso, o maisestimável a seus olhos. Levavam consigoo tesouro do céu e da mesma divindade,venerados por toda a corte dos cidadãoscelestes. As criaturas insensíveis reco-nheciam a viva e verdadeira arca do testa-mento (Jos 3,16), mais do que as águasdo Jordão quando, cortesmente, se abri-ram para dar franca passagem a ela e aosque a seguiam. Iam acompanhados pelosdez mil anjos de que falei acima, (1), de-signados por Deus para servirem a Filho

e Mãe durante a viagem. Iam estes esqua-drões em forma humana, visível para a di-vina Senhora. Mais refulgentes quemuitos sóis, faziam-lhe escolta, Ela ia nomeio de todos, mais guardada e protegida

1 -n°450 * "

do que o leito de Salomão, rodeado pelossessenta valentíssimos de Israel armadosde espadas (Cant 3, 7). Além destes dezmil anjos, assistiam muitos outros quedesciam e subiam aos céus, trazendo e le-vando mensagens entre o etemo Pai, seuFilho Unigênito humanado e sua Mãe san-tíssima.

Proteção dos anjos a Maria e José

457. Com este real aparato, invisí-vel aos mortais, caminhavam Maria san-tíssimae SãoJosé, seguros de que não lhesofenderia os pés a pedra da tribulação (SI40, 12), porque o Senhor mandara seusanjos que os levassem nas mãos de suacustódia e proteção.

Cumpriram esta ordem os fidelís-simos ministros, servindo como vassalosà sua grande Rainha. Com admiração, lou-vor e gozo viam numa pura criatura reu-nidas tantas perfeições, sacramentos,grandezas e tesouros da Divindade, e comtal dignidade que excedia à sua própriacapacidade angélica.

Entoavam novos cânticos ao Se-

nhor, enquanto contemplavam o sumo Reida glória repousando em seu reclinatóriode ouro (Cant 3, 9). A divina Mãe era acarruagem viva e incorruptível; espigafértil da terra prometida (Lev 23,10) queencerrava o grão vivo; rica embarcação demercador  (Prov 31, 14) levando-o para

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nascer na casa do pão, a fim de um diamorrer na terra (Jo 12,24) e ser multipli-cado no céu.

A viagem durou cinco dias. Por causa do estado da Virgem Mãe, seu Es-

 poso conduzia-a devagar. Para a soberana

Rainha não houve noite nesta viagem. Emalguns dias em que caminhavam partedela, projetavam os anjos tão granderesplendor como se todas as luminárias docéu estivessem juntas ao meio dia, na suamaior atividade e na mais clara transpa-rência atmosférica.

 Naquelas horas noturnas gozavaSãoJosé desta visão angélica. Formava-se

então um coral celeste, no qual a grandeSenhora e seu Esposo alternavam com ossoberanos espíritos, admiráveis cânticose hinos de louvor, transfonnando aquelescampos em novos céus. Gozou a Rainha,durante toda a viagem, da visão e fulgor de seus ministros e vassalos, mantendocom eles dulcíssimos colóquios interio-res.

Vicissítudes da viagem

458. Com estes admiráveis favorese consolações, mesclava o Senhor algu-mas penalidades e incômodos que ocor-riam na viagem de sua divina Mãe. Sendomuitos os viajantes que se deslocavam por causa do edito imperial, a aglomeraçãonos pousos era muito penosa e incômoda

 para o recato emodéstia dapuríssima Vir-gem Mãe e seu Esposo. Pobres e reserva-dos, eram menos atendidos que outros, ecom isto lhes cabia maior descomodidadedo que aos mais ricos. O mundo, julgando

 pela aparência, geralmente distribui seusfavores ao revés, fazendo acepção de pes-soas.

Muitas vezes, ouviam nossos san-

tos peregrinos palavras ásperas, nas pou-sadas onde chegavam cansados, e dealgumas eram despedidos como genteinútil e sem consideração. Outras vezesinstalavam a Senhora do céu e terra numcanto de vestíbulo, quando não lhe recu-savam até isso.

 Neste caso, retirava-se com seuEsposo a outros lugares mais humildes e

menos aceitos pela estima do mundo. Masem qualquer lugar, por  desprezível que

fosse, encontravam-se acompanhados pela corte dos cidadãos do céu. Rodeavamseu supremo Rei e soberana Rainha, cer-cando-os como de um impenetrável muro,com que o tálamo de Salomão ficava emsegurança, defendido dos temores notur-

nos (Can t3,7). O fidelíssimo EsposoJosévendo a Senhora dos céus tão bem guar-dada por seus exércitos angélicos, descan-sava e dormia, pois Ela também cuidavadisso para aliviá-lo da fadiga do caminho.Enquanto ele repousava, Ela permaneciaem colóquios com os dez mil anjos que aassistiam.

O capítulo 3o

dos Cânticos459. No seu livro dos Cânticos,

descreveu Salomão grandes mistérios daRainha do céu, sob diversas metáforas ealegorias. No capítulo terceiro, porém, fa-lou mais expressamente do que se passoucom a divina Mãe na gestação de seu Filhosantíssimo, e desta sua viagem antes do

 parto. Nesta circunstância cumpriu-se àletra tudo o que ali se diz do leito de Sa-lomão, de sua carruagem e reclinatório deouro, da sua guarda formada pelos fortís-simos de Israel que gozam da visão divina,e tudo o mais contido naquela profecia.

Bastou-me começar  a entendê-lanas poucas frases que deixo indicadas,

 para me arrebatar de admiração pelo mis-tério da sabedoria infinita, nestes fatos tãoveneráveis para as criaturas. Quem have-rá, entre os mortais, tão endurecido quenão se lhe comova o coração? Ou tão so-

 berbo que não se confunda? Ou tão indi-ferente que não se admire da maravilharesultante de tão distantes e contráriosextremos?

Deus infinito, e ao mesmo tempoverdadeiramente escondido e encerradono tálamo virginal de uma delicada don-zela, cheia de formosura e graça, inocente,

 pura, suave, doce, amável aos olhos deDeus e dos homens, mais do que tudoquanto o Senhor criou e jamais criará!

Esta grande Senhora, possuidorado tesouro da divindade, desprezada, so-fredora, desestimada e repelida pela cegaignorância e soberba mundana!

Por outro lado, nos lugares maisdesprezíveis, amada pela beatíssimaTrin-

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mos. Ninguém os recebeu, e por muitos fo-ram despedidos com grosseria e desprezo.Prosseguiram a honestíssima Rainha e seuEsposo, batendo de casa em casa e de portaem porta, entre o tumulto da multidão.

 Não ignorava a Senhora que os co-rações e as casas dos homens estariam fe-chados para eles. Não obstante, por obedecer a São José, quis sofrer aquelevexame. Para seu recato, estado e idade,o sacrifício daquela andança foi mais pe-noso do que não encontrar hospedagem.

Passando pela casa do registro pú- blico inscreveram-se, pagaram o fisco e amoeda do tributo real, e assim ficaram li-vres desta preocupação e de precisar vol-tar ao registro.

ííosseguiram em busca de pouso,e havendo procurado em mais de cin-qüenta casas, em nenhuma foram acolhi-dos. Admiravam-se os espíritosangélicosdos altíssimosmistérios do Senhor, da pa-ciência e mansidão de sua virgem Mãe, eda insensível dureza dos homens. Nestaadmiração bendiziam ao Altíssimo emsuas obras e ocultos desígnios que, desdeaquele dia, exaltava a tantaglória a humil-dade e pobreza desprezadas pelos mortais.

Dirigem-se para a Gruta

463. Eram nove da noite quando o

fidelíssimo José, cheio de amargura e ín-

tima dor, voltou-se para sua prudentíssimaEsposa, e lhe disse: Minha dulcíssima Se-nhora, meu coração desfalece de dor ven-do que não vos posso acomodar não sócomo Vós mereceis e meu afeto deseja,mas nem com o abrigo e descanso que,raras vezes ou nunca se recusa ainda aomais pobre e desprezado do mundo. Semdúvida há mistério nesta permissão docéu, que não se movam os corações doshomens para nos receberem em suas ca-sas. Lembro-me, Senhora, que fora dosmuros da cidade existe uma gruta que cos-tuma servir de albergue aos pastores e seugado. Vamos até lá, e se, por felicidade,estiver desocupada, tereis algum amparo

do céu quando nos falta o da terra.Respondeu-lhe a prudentíssimaVirgem: Meu esposo e Senhor, não se afli-

 ja vosso piedosíssimo coração por não serealizarem os ardentíssimos desejos devosso afeto pelo Senhor. Já que o tenhoem minhas entranhas, suplico-vos, por seuamor, que lhe agradeçamos suas disposi-ções. O lugar de que me falais será muito

de acordo com meu desejo. Mudem-sevossas lágrimas em alegria pelo amor e posse da pobreza, que é o rico e inestimá-vel tesouro de meu Filho santíssimo (Mc10,21; 2 Cor 8,9).

Ele vem dos céus procurá-lo, pre- paremo-lo com júbilo da alma, pois a mi-nha não tem outro consolo, e o mesmo

 possa eu receber de vós. Vamos contentesonde o Senhor nos conduz.

Os anjos encaminharam os divinosEsposos para lá, servindo-lhes de lumino-sas tochas, e chegando à gruta encontra-ram-na desocupada.

Cheios de celestial consolo, louva-ram ao Senhor por este beneficio, e acon-teceu o que direi no capítulo seguinte.

DOUTRINA QUE ME DEU A RAINHADO CEU MARIA SANTÍSSIMA

Desprezo das vaidades

464. Minha caríssima filha, seteu coração é sensível e dócil ao Senhor,os mistérios divinos que entendeste edescreveste, serão capazes de despertar em ti doces e amorosos afetos pelo Au-tor de tantas maravilhas. Por amor d'Ele

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quero que, desde hoje, faças novo egrande apreço em te veres esquecida edesprezada pelo mundo.

Dize-me, amiga, se em troca des-te esquecimento e menosprezo aceito de

 boa vontade, Deus inclina para ti o olhar 

e a força de seu amor suavíssimo, por-que não comprarás tão barato o que é de preço infinito? Que te darão os homensquando mais te estimarem e aplaudi-rem? E que perderás por desprezá-los? Não é tudo mentira (SI 4 ,3 ; Sab 5,9) evaidade?

 Não é uma sombra fugaz que sedesvanece entre as mãos dos que lutam

 por apanhá-la? Quando tudo tivesses nastuas nada farias em desprezá-lo. Conside-ra bem quanto menos farás em recusá-lo

 para ganhar o amor de Deus, o meu e o deseus anjos. De coração, renuncia a tudo,caríssima. Se o mundo não te desprezar tanto como deves desejar, despreza-o tu aele. Permanece livre, desembaraçada esolitária, para gozar da companhia dosumo Bem, receber com plenitude os

felicíssimos efeitos de seu amor, e poder corresponder-lhe com liberdade.

O caminho direto para Deus

465. Meu Filho santíssimo é tãofiel amante das almas, que me constituiuMestra e modelo vivo para lhes ensinar oamor da humildade e o eficaz desprezo da

vaidade e soberba. Foi também pennissãosua que para Si, Deus e homem, e paraMim, sua serva e Mãe, faltasse abrigo eacolhimento entre os homens.

Queria, por este desamparo, dar motivo para que depois as almas amantese afetuosas lhe oferecessem hospedageme assim se visse obrigado, por tal fineza,a vir pennanecer com elas.

Também procurou soledade e po- breza, não porque tivesse necessidadedestes meios para praticar as virtudes emgrau perfeitíssimo, mas sim para ensinar aos mortais que este é o caminho mais cur-to e seguro para chegar às alturas do amor divino e união com Deus.

A imitação de Cristo e Maria

466. Bem sabes, caríssima, que ésincessantemente instruída e admoestadacom a luz do alto para, esquecendo a terrae as coisas visíveis, te cingires de fortaleza

(Prov 3 1 J 7) a fim de me imitar, copiandoconforme tuas forças, os atos e virtudesque de minha vida te manifesto. Esta é a

 primeira finalidade da ciência que recebes para escreve-la: teres em mim modelo edele te valeres para ordenar tua vida eobras do modo como Eu imitava as de meudulcíssimo Filho. O temor que este pre-ceito te causou, por imaginá-lo superior 

às tuas forças, deves moderá-lo e cobrar ânimo com o que diz meu Filho santíssimo pelo Evangelista S. Mateus (5, 48): Sede perfeitos como é perfeito vosso Pai celes-tial - Esta vontade do Altíssimo, propostaà sua santa Igreja, não é impossível a seusfilhos. Se de sua parte se dispõem, a nin-guém negará a graça de alcançar a seme-lhança com o Pai celeste, porque isto lhesfoi merecido por meu Filho santíssimo.

O ingrato esquecimento, porém, eo desprezo que os homens fazem de suaredenção é o que lhes impede conseguir eficazmente seus frutos.

Zelo por si e pelo próximo

467. De ti, particularmente, minhafilha, quero esta perfeição e convido-te

 para ela por meio da suave lei de amor, aoqual encaminho minha doutrina. Ponderacom a divina luz, a obrigação que te con-fio e trabalha para corresponder a ela com

 prudência de filha solícita e fiel. Não teembarace nenhuma dificuldade e traba-lho, nem omitas virtude ou ato de perfei-ção por  árduo que seja. Nem te devescontentar em solicitar a própria salvação

e amizade com Deus. Se quiseres ser per-feita à minha imitação, e praticar o queensina o Evangelho, deves procurar a sal-vação de outras almas e a exaltação dosanto nome de meu Filho. Em suas mãos

 poderosas sê instrumento para coisasgrandes e de seu maior agrado e glória.

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CAPÍTULO 10

CRISTO NASCE DA VIRGEM MARIAEM BELÉM DA JUDÉIA.

A gruta, primeiro templo de Cristo naterra

468.0 palácio que o supremo Reidos reis e Senhor dos senhores tinha pre-

 parado para hospedar no mundo seu eter-no Filho feito homem, para o bem doshomens, era a mais pobre e humilde chou-

 pana ou gruta. Ali Maria e José se retira-ram, despedidos das hospedadas e danatural piedade dos mesmos homens,como ficou descrito no capítulo passado.

Era este lugar tão desprezível que,estando a cidade de Belém repleta de fo-rasteiros e com insuficiente alojamento,ninguém se dignou procurá-lo e muitomenos nele se abrigar. Realmente, ele sóconvinha e ficava  bem aos mestres da hu-mildade e pobreza, Cristo, nosso bem, esua Mãe puríssima. Através dos aconteci-mentos, reservou-o para Eles a sabedoria

do etemo Pai. Ornado com a desnudez,solidão e pobreza, consagrou-o primeirotemplo da luz (Mal 4,2; SI 111,4) e casado verdadeiro sol de justiça. Para os retosde coração, nasceria da cândida auroraMaria, no meio das trevas da noite, sím-

 bolo das do pecado que cobriam o mundotodo.

Maria e José agradecem a Deus

469. Entraram Maria Ssma, e Joséneste alojamento. Com o resplendor dosdez mil anjos que os acompanhavam pu-

deram facilmente ver que era pobre e de-socupado, como o desejavam.

Com grande consolação e lágrimasde alegria, os dois santos Peregrinos ajoe-lharam-se louvando o Senhor e dando-lhegraças por aquele beneficio que, não ig-noravam, era disposto pelos ocultos de-sígnios da eterna Sabedoria.

Este grandemistério foi mais com- preendido pela divina princesa Maria, pois ao santificar com seus pés aquela fe-licíssima choupanazinha, sentiu grande

 júbilo interior que a elevou e vivificoutoda.Pediu ao Senhor recompensasse

generosamente a todos os moradores dacidade que, despedindo-a de suas casas,lhe proporcionaram tanto bem como na-quela humilde cabana a esperava.

Era formada de pedras naturais etoscas sem nenhum acabamento, de tal

modo que os homens julgaram-na conve-niente apenas para estábulo de animais. Oeterno Pai, entretanto, a destinara paraabrigo e morada de seu próprio Filho.

Os anjos montam guarda real

470. Os espíritos angélicos queguardavam sua Rainha e Senhora, orde-naram-se na forma de esquadrões, comofazendo guarda ao palácio real. Na formacorpórea e humana em que vinham, eramvistos tambémpelo santo esposoJosé. Eraconveniente que, naquela ocasião, paraaliviar sua pena ele gozasse desse favor,

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vendo tão adornado e aformoseado comas riquezas do céu aquele pobre alojamen-to. Alémde se consolar, seu coração deviaser elevado para os acontecimentos que oSenhor preparara para aquela noite, emtão abjeto lugar.

A grande Rainha e Imperatriz docéu, já informada do mistério que se rea-lizaria, resolveu limpar com suasprópriasmãos aquela gruta, que logo serviria detrono real e sagrado propiciatório. Queriaque não faltasse a Ela aquele exercício dehumildade, e nem a seu Filho unigênito oculto e reverência que, em tal ocasião, era

 possível oferecer-lhe como adorno de seutemplo.

Maria, José e os anjos limpam a gruta

471.0 santo esposo José, atento àmajestade de sua divina Esposa, e que Ela parecia esquecer por amor da humildade,suplicou-lhe não se encarregasse daqueleoficio que a ele pertencia. Adiantando-se,

começou a limpar o chão e os cantos dagruta, ainda que nem por isso deixou de oacompanhar a humilde Senhora.

Estando os santos anjos em formahumana visível, pareceu, a nosso modo deentender, que ficaram envergonhados denão participar naquela tão devota porfiade humildade. Imediatamente, em santacompetição, ajudaram, ou para melhor di-

zer, em brevíssimo tempo limparam todaa gruta, deixando-a em ordem e cheia defragrância.

São José acendeu fogo com o dis- positivo que para isso trazia, e porque es-tava muito frio, aproximaram-se dele parase aquecer um pouco.

Com incomparável alegria es- piritual cearam do pobre farnel que leva-vam. A Rainha do céu e terra nada teriacomido, se nâo fosse para obedecer a SãoJosé, pois aproximando-se o divino parto,achava-se toda absorta no mistério.

Êxtase de São José

472. Depois de comer deram gra-ças ao Senhor, como costumavam, e fica-ram por momentos conversando sobre os

mistérios do Verbo encarnado.

Sentindo a prudentíssima Virgemque se aproximava o feliz nascimento, ro-gou a seu esposo José que se recolhesse para dormir e descansar um pouco, pois anoite já ia bastante adiantada. Obedeceuo santo homem à sua Esposa, pedindo-lhe

que fizesse o mesmo. Para tanto, com asroupas que traziam, arrumou a manje-doura bastante ampla que se encontravano chão da gruta e servia aos animais quelá se recolhiam.

Deixando Maria Ssma. acomoda-da nesse leito, retirou-se São José para umcanto da choupana, onde se pôs em ora-ção. Foi logo visitado pelo divino Espíritoe arrebatado por uma forçaextraordinária

e suavíssima. Elevado em altíssimo êxta-se, foi-lhe mostrado tudo o que, naquelanoite, aconteceu na ditosa gruta, e só vol-tou a seus sentidos quando o chamou adivina Esposa. Este foi o sono de São Joséali na gruta, mais sublime e feliz do que ode Adão no paraíso (Gen 2,21).

Êxtase de Maria santíssima

473. No lugar onde se encontravafoi a Rainha das criaturas movida por in-tensa atração do Altíssimo, com eficaz edoce transformação, que a elevou acimade toda a criação. Sentindo novos efeitosdo poder divino, entrou num dos êxtasesmais raros e admiráveis de sua vida san-tíssima. Gradualmente foi sendo elevada

 pelo Altíssimo, com as luzes e disposi-ções, que noutras ocasiões descrevi, parachegar à clara visão da divindade.

Assim preparada, se lhe correu acortina e viu intuitivamente o próprioDeus, com tantaglória e plenitude de ciên-cia, que todo o entendimento angélico ehumano não o pode explicar nem adequa-damente compreender.

Foi-lhe renovada a notícia dosmistérios da divindade e humanidadesantíssima de seu Filho, que recebera emoutras visões, e novamente lhe forammanifestados outros segredos encerradosno inexausto arquivo do peito divino.

 Não tenho suficientes e adequadostermos para manifestar o que destes sacra-mentos conheci na luz divina. Sua abun-dância e riqueza me tomam pobre derazões.

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Quarto Livro

Precedentes do nascimento de Cristo

474, Declarou o Altíssimo à suaVirgem Mãe que chegara o momento dedeixar seu virginal seio e aparecer nomundo, e o modo como isso seria realiza-

do. Conheceu a prudentíssima Senho-ra nesta visão, as razões e fins altíssimosde tão admiráveis obras, tanto da parte doSenhor, como do que se referia às criatu-ras, para as quais se ordenavam.

Prostrou-se ante o trono real da di-vindade, dando-lhe a glória, a magni-ficência, a ação de graças e louvores, que

Ela e todas as criaturas deviam a Deus, por misericórdia e dignação tão inefáveisde seu imenso amor.

Ao mesmo tempo, pediu nova luze graça para dignamente servir e educar oVerbo humanado que receberianosbraçose alimentaria com seu virginal leite.

Fez a divina Mãe esta súplica com profundíssima humildade, como quementendia a grandeza de tão novo sacra-

mento: criar e tratar como mãe a Deus fei-to homem. Julgava-se indigna de tal ofi-cio, para cujo cumprimento seriam insu-ficientes os supremos serafins.

Prudente e humildemente o pensa-va e pesava a Mãe da Sabedoria (Ecli 24,24): e porque se humilhou até o pó (Lc 1,48) e se aniquilou na presença do Al-tíssimo, foi por Ele elevada e confirmada

no título de Mãe sua.Ordenou-lhe que, como legítima everdadeira Mãe, exercitasse esse ofício eministério; que o tratasse como a Filho doetemo Pai e juntamente Filho de suas en-tranhas.

Tudo isto pôde ser confiado a talMãe. Mais, não posso explicar com pala-vras.

Nascimento de Cristo

475. Esteve Maria santíssima nes-te rapto e visão beatífica mais de uma horaimediata a seu divino parto. Ao mesmotempo que dele voltava percebeu e viu queo corpo do Menino Deus movia-se em seuvirginal seio, para deixar aquele sagrado

tálamo onde permanecera nove meses.

-Capítulo 10

Este movimento do Menino não produziu dores à Virgem Mãe, comoacontece às demais filhas de Adão e Evaem seus partos (Gn 3,16). Pelo contrário,transportou-a de júbilo incomparável,causando em sua alma e virginal corpo

efeitos tão divinos e elevados que ultra- passam a todo pensamento criado.Corporalmente, tomou-se tão

espiritualizada, formosa e refulgente quenão parecia criatura humana e terrena. Orosto desprendia raios de luz como belís-simo e rosado sol; sua expressão era gra-ve, de admirável majestade e inflamadode ardente amor.

Estava ajoelhada na manjedoura,os olhos elevados para o céu, as mãos jun-tas sobre.o peito, o espírito absorto na di-vindade, toda deificada. Nesta posição, notermo de seu êxtase, e aeminentíssimaSe-nhora deu ao mundo o Unigênito do Pai(Lc 2,7)e seu, nosso Salvador Jesus, Deuse homem verdadeiro.

Era a meia-noite de um domingo,no ano 5.199 desde a criação do mundo,

como ensina a Igreja romana. Este côm- puto é certo e verdadeiro, conforme mefoi declarado.

476. Outras circunstâncias e particularidades deste divinissimo parto,todos os fiéis  podem supô-las miraculo-sas. Como não tiveram outras testemu-

nhas além da Rainha do céu e dos anjos,não se podem conhecer todas em particu-lar, salvo as que Deus mesmo revelou àsua Igreja em comum, ou a determinadas

 pessoas, por diversos modos.Estas revelações diferem um pou-

co entre si.O assuntoéaltíssimo e em tudo ve-

nerável. Por isto, expus aos superiores queme governam o que conheci sobre estesmistérios para os escrever. Ordenou-me,então, a obediência que os consultasse no-vamente na divina luz, e pedisse à Impe-ratriz do céu, minha mãe e mestra, e aossantos anjos que me assistem, esclareces-sem algumas dúvidas que me ocorreram,sobre pormenores que convinham ser explicados, para mais clara exposição do

 parto sacratíssimo de Maria, Mãe de Je-

sus, nosso Redentor.

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Quarto Livro - Capitulo 10

O milagre que seria preciso paraconservar esta membrana sagrada fora doseio da Mãe, foi melhor operado perma-necendo nele.

O corpo glorioso do Menino Deus

479. Nasceu, pois, o Menino Deusdo tálamo virginal, só, sem qualquer outracoisa material e corporal, glorioso etransfigurado. A sabedoria infinita orde-nou que a glória da alma santíssima se co-municasse ao corpo do Menino Deus nomomento de nascer, participando dos do-tes da glória, como aconteceu mais tardeno Tabor (Mt 17, 2) na presença dos trêsapóstolos.

 Não teria sido necessário este pro-dígio para atravessar o claustro maternodeixando-o ileso em sua virginal integri-dade. Sem estes dotes, poderia Deus fazer outros milagres para o Menino nascer dei-xando virgem a Mãe. Assim o dizem ossantos (2) que não conheceram outro mis-tério.

Foi vontade divina, porém, que a beatíssima Mãe visse, pela primeira vez,a seu Filho homem-Deus, com o corpoglorioso, para dois fins:  primeiro, para quea visão daquele objeto divino despertassena prudente Mãe a altíssima reverênciacom que devia tratar seu filho, Deus e Ho-mem verdadeiro. Não obstante, já ter sidoinstruídanisso, ordenou o Senhor que, por esse meio sensível, lhe fosse infundida

nova graça correspondente à experiênciaque recebia da divina excelência, majes-tade e grandeza de seu dulcíssimo Filho.

A segunda finalidade dessa maravi-lha, foi para recompensar a fidelidade e san-tidade da divina Mãe. Seus puríssimos ecastíssimos olhos, por amor de seu Filhosantíssimo, se haviam fechado para tudo oque era terrestre. Mereciam vê-lo, logo ao

nascer, com tanta glória, recebendo aquelegozo e prêmio de sua lealdade e delicadeza.

Primeiro colóquio entre Filho e Mãe

480. O sagrado Evangelista SãoLucas diz (Lc 2,7) que a Virgem Mãe ha-vendo dado a luz a seu filho  primogênito,

2 - S. Tomas, Summa III, q 28a. 2 ad2 - Nota da Escritora

envolveu-o em panos e o reclinou num presépio.

 Não declara quem o colocou emsuas mãos, porque isto não pertencia a seuintento. Foram ministros deste gesto os

doispríncipes soberanos São Miguel e SãoGabriel. Assistindo ao mistério em formacorpórea, no momento em que o Verbohumanado transpôs o claustro materno eveio à luz, em devida distância, o recebe-ram em suas mãos com incomparável re-verência. Em seguida, no modo como osacerdote mostra ao povo a sagrada hóstia

 para que a adore, os dois celestiais minis-tros apresentaram aos olhos da divina Mãe

o seu Filho glorioso e refulgente.Tudo se passou em breves instan-tes. No momento em que os santos Anjosapresentaram o Menino Deus à sua Mãe,olharam-se Filho e Mãe, ferindo Ela o co-ração do doce Menino, e ficando ao mes-mo tempo transformada n'Ele.

Das mãos dos santos Anjos, disseo Príncipe celestial à sua feliz Mãe: Mãe,assemelha-te a Mim. Pelo ser humano que

me deste quero, desde hoje, dar-te outroser de graça mais elevado que, sendo de pura criatura, assemelhe-se, por imitação perfeita, ao meu que sou Deus e homem,

* Respondeu a prudentíssima Mãe:Atrai-me após ti, e correremos ao odor deteus perfumes (Cant 1, 3). Aqui se cum-

 priram muitos dos ocultos mistérios dosCânticos. Entre o Menino Deus e sua Vir-gem Mãe se passaram muitos dos divinosdiálogos ali referidos, como: Meu amadoé para mim, eu sou para ele, e ele se volta

 para mim. Oh! Como és formosa, minhaamiga, teus olhos são como os da pomba!Oh! Como és belo meu dileto! (Cant 2,16; 7,10; 1,14 -15).

Outros muitos sacramentos entãose realizaram, mas para referi-los seria ne-cessário alongar este capítulomais do que

é preciso.

Diálogo com o Eterno Pai

481. Ao mesmo tempo que ouviuas palavras de seu Filho diletíssimo, foramà Maria santíssima revelados os atos inte-riores da alma santíssima unida à divinda-de, para que imitando-os se assemelhasse

a Ele.

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Quarto Livro - Capítulo 10

Esta graça foi a maior que a fide-líssima e ditosa Mãe recebeu de seu Filho,homem e Deus verdadeiro. Não só por ter sido contínua, durante toda a vida dele,mas tambémporque foi o modelo vivo por onde Ela copiou a sua, com a maior seme-lhança possível entre uma pura criatura eCristo, homem e Deus verdadeiro.

Sentiu a divina Senhora apresençada Santíssima Trindade, e ouviu a voz doEterno Pai, dizendo: Este é meu Filhoamado de quem recebo grande agrado ecomplacência (Mt 17,5).

A prudentíssima Mãe, toda divini-

zada entre tão sublimes sacramentos, res- pondeu: Etemo Pai e Deus Altíssimo,Senhor e Criador do universo, dai-menovamente vossa bênção e permissão,

 para com ela receber em meus braços odesejado das nações (Ag 2,8); e ensinai-me a cumprir vossa divina vontade no mi-nistério de mãe, ainda que indigna, e deescrava fiel.

Ouviu uma voz que lhe dizia: Re-

cebe a teu unigênito Filho, imita-o, cria-oe lembra que mo hás de sacrificar quandoEu te pedir. Alimenta-o como mãe e ve-nera-o como a teu verdadeiro Deus.

Respondeu a divina Mãe: Aquiestá a obra de vossas divinas mãos; ador-nai-me com vossa divina graça para quevosso Filho e meu Deus me aceite por suaescrava. Dai-me a suficiência de vossogrande poder a fim de que Eu acerte emseu serviço. Não seja ousadia que a hu-milde criatura tenha em suas mãos e ali-mente com seu leite a seu próprio Senhor e Criador.

Oração de Maria

482. Terminados estes colóquiostão cheios de divinos mistérios, o Menino

Deus interrompeu o milagre, ou voltou acontinuar aquele que suspendia os dotesda glória de seu corpo santíssimo, ficandorepresados só na alma, e se mostrou semeles, em seu ser natural e passível.

Sua Mãe puríssima, com profundahumildade e reverência o adorou, na po-sição de joelhos como estava, e o recebeudas mãos dos santos anjos. Tendo-o nassuas lhe disse: Dulcíssimo amor meu, luzde meus olhos e vida de minha alma; sede

 benvindo ao mundo, sol de justiça (Mal4,2), para desterrar as trevas do pecado eda morte. Deus verdadeiro de Deus ver-dadeiro, redimi a vossos servos e toda acarne veja quem lhe traz a salvação (Is 92; SI 33, 23; Is 40, 5; 52, 10). Recebeivossa escrava para vosso obséquio e suprirninha insuficiência para vos servir. Fazei-me, Filho meu, tal como quereis que euseja para vós.

Em seguida, ofereceu a prudentís-sima Mãe seu Unigênito ao Eterno Pai,dizendo: Altíssimo Criador de todo o uni-verso, aquiestáo altar e o sacrifícioaceitá-

vel a vossos olhos (Mal 3, 4). Desdeagora, Senhor meu, olhai a raça humanacom misericórdia, e quando merecermosvossa indignação, aplacai-vos com vossoFilho e meu. Descanse ajustiçae exalte-sevossa misericórdia, pois para tanto vestiuo Verbo divino a semelhança da carne do

 pecado (Rom 8,3), e se fez irmão dos mor-tais (Filp 2,7) e pecadores.

Por este título reconheço-os por 

meus filhos, e do fundo do coração vos peço por eles. Vós, Senhor poderoso, mefizestes, sem o merecer, Mãe do vossoUnigênito, pois esta dignidade ultrapassatodos os merecimentos das criaturas. Decerto modo, porém, devo aos homens acausa de minha incomparável felicidade,

 pois é para eles que sou Mãe do Verbohumanado passível e Redentor de todos. Não lhes recusarei meu amor, cuidado esolicitude por sua salvação. Recebei, eter-no Deus, meus desejos e súplicas para oque é de vosso mesmo agrado e vontade.

Convite de Maria aos homens

483. Dirigiu-se também a Mãe demisericórdia a todos os mortais, dizendo-lhes: Consolem-se os aflitos, alegrem-se

os tristes, ergam-se os caídos, tranqüi-lizem-se os angustiados, ressuscitem osmortos, gozem os justos, alegrem-se ossantos, recebam novo júbilo os espíritoscelestiais, confortem-se os Profetas e Pa-triarcas do Limbo e todas as gerações lou-vem e exaltem ao Senhor que renovousuas maravilhas.

Vinde, vinde, pobres, chegai semtemor, pequenos, pois em minhas mãosestá transformado em manso cordeiro

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Quarto Livro - Capítulo 10

Aquele que é chamado leão; o poderoso -fraco; e o invencível - entregue. Vinde àvida, aproximai-vos da salvação e do re-

 pouso eterno, que para todos o tenho, ser-vos-á dado gratuitamente e sem ciúmes.

 Não sejais duros e insensíveis de coração,filhos dos homens! E vós, doce bem deminha alma, permite-me receber dé vósaquele ósculo desejado por todas ascriaturas. - Com isto a felicíssima Mãeaplicou seus divinos e castíssimos lábiosao Menino Deus que, como seu Filho ver-dadeiro, esperava essas ternas e amorosascarícias. (3)

Adoração e cântico dos anjos

484. Seus braços serviram de altar e sacrário onde os dez mil anjos, em formahumana, adoraram seu Criador feito ho-

mem. Como a Santíssima Trindade as-sistia por especial modo ao nascimento doVerbo encarnado, ficou o céu como que de-serto de seus moradores. Toda aquelacorteinvisível transladou-se à felizgruta de Be-lém, e também adorou (Filip 2, 7) a seuCriador vestido de novo e peregrino traje.

3 - As frases acima são de Is. 61,1 - 3; Mt H .5; SI 95;

Il ; ls9, 2; SI71, 17, Ecli 36,6; 1x4 , 18; Is 16, 1; 21,8;55, l;Sab 7, 13;Cant 1, 1)

Em seu louvor entoaram os anjosaquele novo cântico: Glória a Deus nasalturas, e paz na terra aos homens de boavontade (Lc 2, 14). Com doce e sonoraharmonia o repetiam, admirados com arealização de tantos prodígios e com a in-dizível prudência, graça, humildade e be-leza de uma tenra jovem de quinze anos,depositária e digna ministra de tais e tan-tos sacramentos.

Adoração de São José

485. Já era tempo que a prudentís-sima e advertida Senhora chamasse a seufidelíssimo esposo São José. Como aci

disse (4), encontrava-se em divino êxtase,onde conheceu, por revelação, todos osmistérios do sagrado parto naquela noitecelebrados.

Convinha, todavia, que tambémcom os sentidos corporais visse, tratas-se, adorasse e reverenciasse o Verbo hu-manado, antes que qualquer outro mor-tal. Entre todos, ele era o único esco-

lhido para fiel despenseiro de tão altosacramento.Mediante vontade de sua divina

Esposa, voltou do êxtase, e restituído aseus sentidos, foi o primeiro que viu o Me-nino Deus nosbraços de sua Virgem Mãe,reclinado em seu sagrado regaço.

Ali o adorou com lágrimas e pro-fundíssima humildade. Beijou-lhe os pés

com tal gozo e admiração que teria perdidoa vida, se a virtude Divina não a conservara.Perderia também os sentidos, se naquelaocasião não fora necessário usar deles.

Depois que São José adorou o Me-nino, a prudentíssima Mãe pediu licençaa seu Filho para se assentar, pois até aquelemomento estivera de joelhos. Dando-lheSão José as faixas e panos que trouxeram,envolveu-o (Lc 2,7) com a incomparávelreverência, devoção e alinho.

Assim envolto em panos e faixas,com divina sabedoria a Mãe o deitou no

 presépio, como diz o Evangelista São Lu-cas (2,7). Sobre uma pedra arrumou algu-mas palhas e capim, para acomodar oDeus homem no primeiro leito que Eleteve na terra, fora dos braços de sua Mãe.

4 - n° 472

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Quarto Livro - Capítulo 10

Por vontade Divina, acorreu logo,daqueles campos, um boi que entrou noestábulo e se reuniu ao jumentinho que aRainha havia trazido. Ela lhes ordenouque, no modo que pudessem, com reve-rência reconhecessem e adorassem a seuCriador. Obedeceram os humildes ani-mais, prostraram-se diante do Menino ecom seu bafejar deram-lhe o calor e obsé-quio que os homens lhe recusaram.

Deste modo, Deus feito homemfoi visto envolto em panos, reclinadonum presépio entre dois animais. Cum-

 priu-se milagrosamente a profecia (Is 1,3) que o boi conheceu seu dono, e o ju-

mento o presépio de seu senhor, Israel, porém não o conheceu, nem seu povoteve inteligência.

DOUTRINA DA RAINHAMARIA SANTÍSSIMA.

Frutos da meditação do presépio486. Minha filha, se os mortais ti-

vessem o coração livre e são juízo paraconsiderar dignamente este grande sacra-mento de piedade que o Altíssimo operou

 por eles, sua lembrança teria força parareduzi-los ao caminho da vida e rende-losao amor de seu Criador e Redentor. Sendoos homens capazes de razão, se dela usas-

sem com a dignidade e liberdade que de-vem, quem seria tão insensível eendurecido para não se enternecer à vistade seu Deus humanado e humilhado? Nas-cendo pobre, desprezado, desconhecido,num presépio entre animais irracionais,abrigado apenas pela mãe pobre e repelida

 pela estultaarrogância do mundo? Na pre-sença de tão alta sabedoria e mistério,

quem se atrevera amar a vaidade e soberbaque o Criador do céu e terra condena comseu exemplo? Tampouco poderá aborre-cer a humildade, pobreza e despojamentoque o mesmo Senhor amou e escolheu

 para Si, ensinando o verdadeiro caminhoda vida eterna. Poucos são os que se detêma considerar esta verdade e exemplo. Por causa desta feia ingratidão, também são

 poucos os que recebem o fruto de tão gran-des sacramentos.

A Comunhão faz Cristonascer na alma

487. Se a dignação de meu Filhose mostrou tão liberal contigo, na ciênciae luz tão clara que te deu sobre estes ad-

miráveisbenefícios feitos à linhagem hu-mana, considera bem caríssima, comodeves aproveitar a luz que recebes. Para

 bem corresponderes a tais graças, exorto-te novamente a esquecer e perder de vistatodas as coisas da terra. Não aceites domundo senão o que pode te afastar eesconder dele e de seus moradores.

Com o coração vazio de qualquer 

afeição terrestre, dispõe-te para nele cele- brar os mistérios da pobreza, humildade eamor de teu Deus encarnado.

Do meu exemplo aprende a reve-rência, temor e respeito com que deves tra-tá-lo, conforme Eu o fazia quando o tinhaem meus braços. Praticarás esta doutrinaquando o receberes em teu peito no vene-rável sacramento da Eucaristia que con-tém o mesmo Deus e homem verdadeiro

que de mim nasceu. Neste sacramento orecebes e o tens tão próximo e dentro deti, com a mesma realidade com que Eu otinha e tratava, embora por outro modo.

Imitação de Cristo

488. Nesta reverência e temor san-to quero que ponhas todo cuidado. Ad-

verte também que entrando o sacramentoem teu peito, te fala o mesmo que disse aMim naquelas palavras: "Assemelha-te a

 Mim", confonne escreveste. Descer docéu à terra, nascer em pobreza e humilda-de, nela viver e morrer com tão raro exem-

 plo de desprezo pelo mundo e seusenganos; dar-te conhecimento destasobras, distinguindo-te com tão elevada e

 profunda inteligência, tudo isto há de ser  para ti uma pregação viva que deves ouvir com íntima atenção de tua alma e gravar em teu coração. Com discernimento, faz

 pessoais os benefícios comuns. Entendeque meu Senhor e Filho santíssimo quer que os agradeças e recebas, como se por ti somente (Gal 7,20) tivesse descido docéu, para te redimir e realizar todas as ma-ravilhas e doutrina que deixou em sua san-ta Igreja.

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CAPÍTULO 11

OS SANTOS ANJOS ANUNCIAM O NASCIMENTODO SALVADOR EM DIVERSAS PARTES. ADORAÇÃO

DOS PASTORES.

O nascimento de Cristo éanunciado ao Limbo

489. Havendo celebrado os corte-zãos do céu, na choupana de Belém, o nas-cimento de seu Deus humanado, nossoRedentor, foram logo enviados alguns de-les a diversas partes, para anunciar a feliznotícia aos que, segundo a divina vontade,estavam preparados para recebê-la.

O príncipe São Miguel dirigiu-seaos santos Pais do limbo e lhes participouque o Unigênito do Pai etemo já nascerafeito homem, e se encontrava no mundo,num presépio entre animais, manso e hu-milde como eles haviam profetizado. Fa-lou, em particular, aos santos Joaquim eAna, conforme lhe ordenara a ditosa Mãe.Deu-lhes a boa-nova de que ela já tinha

nos braços o desejado das nações, o pre-nunciado por todos os patriarcas e Profe-tas (1).

Foi o dia de maior consolo e alegriano prolongado exílio daquela grande con-gregação de justos e santos. Reconhecen-do o verdadeiro Homem-Deus por autor da salvação eterna, fizeram novos cânti-cos em seu louvor, dando-lhe culto e ado-

ração.Por  intermédio do celeste embai-

xador, São Joaquim e Sant'Ana pediramà sua santíssima filha Maria que, em nome

1 - Is 7,14; 1,4; 9, 7; Miq 5, 2; Jer 23, 6; Ez 34, 10 - 23;Dan 9, 24; Ag 2, 8; At 10,43; Jo 5, 39

de ambos, reverenciasse ao Menino Deus, bendito fruto de seu virginal seio (Lc 1,42). Assim o fez imediatamente a grandeRainha do mundo, ouvindo, com grandealegria, tudo o que o Santo Príncipe lhereferiu sobre os Pais do Limbo.

Participação à Santa Isabel e JoãoBatista

490. Outro anjo dos que guarda-vam e assistiam à divina Mãe, foi enviadoà santa Isabel e seu filho João. Ao recebe-rem a notícia do nascimento do Redentor,a prudente matrona e seu filho, ainda quetão pequenino, prostraram-se em terra, eadoraram a seu Deus humanado em espí-rito e verdade (Jo 4, 23).

O menino, já consagrado para seu

 precursor, foi interiormente renovadocom espírito mais inflamado que o deElias. Estes mistérios produziram aos pró-

 prios anjos nova admiração e louvor.São João e sua mãe também pedi-

ram à nossa Rainha, por meio dos anjos,que em nome de ambos adorasse seu Filhosantíssimo e os oferecesse novamente

 para seu serviço. A Rainha celeste logo

lhes satisfez o pedido.

Santa Isabel envia presentes à sagradafamília

491. Santa Isabel enviou pronta-mente a Belém, à feliz Mãe do Menino

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Deus, um portador com presentes: algumdinheiro, roupas e outras coisas para oabrigo do recém-nascido, de sua pobreMãe e Esposo. O mensageiro foi com aordem de que só visitasse à sua prima e aJosé, e trouxesse notícias certas de suasaúde e precisões.

 Não teve este homem maior co-nhecimento do mistério. Viu apenas oexterior, mas admirado e tocado por umaforça divina voltou interiormente muda-do. Com admirável júbilo, narrou à SantaIsabel a pobreza e amabilidade de sua pri-ma, do Menino, de José, e os efeitos quesentiu ao vê-los. Esta sincera relação

 produziu outros admiráveis no bem dis- posto coração da piedosa matrona. Se nãointerviesse a vontade divina, ter-lhe-iasido impossível resistir ao desejo de ir vi-sitar a Virgem Mãe e o Menino Deus re-cém-nascido.

Das coisas que lhes enviou, a Rai-nha ficou com uma parte para acudir a po- breza em que se encontravam, e o maisdistribuiu pelos pobres. Não quis privar-se da companhia destes, nos dias em que

 permaneceu na gruta do nascimento.

Os Reis magos recebem revelação donascimento de Cristo

492. Outros anjos foram participar as mesmas notícias a Zacarias, a Simeão,à profetisa Ana, e a alguns outros justos eSantos a quem pôde ser confiado o novomistério de nossa Redenção. Encontran-do-os o Senhor dignamente preparados

 para recebê-lo com louvor e fruto, parecia justo não se lhes ocultar o benefício con-cedido ao gênero humano.

Embora, nem todos os justos daterra conheceram então o mistério, todos

sentiram divinas moções na hora em quenasceu o Salvador do mundo. Todos osque se acharam em graça, sentiram inte-riormente novo e sobrenaturaljúbilo, ape-sar de ignorar a causa.

Estas mutações não se operaram sónos anjos e justos, mas também nas cria-turas insensíveis, pois todas as influênciasdos planetas se renovaram e melhoraram:

o sol apressou muito o seu curso; as estre-las deram maior brilho; e para os Reis ma-

gos formou-se naquela noite a milagrosaestrela (Mt 2,2) que os conduziu a Belém.Muitas árvores floresceram e outras de-ram frutos. Alguns templos pagãos desa- baram, ídolos ruíram e os demônios queneles estavam puseram-se em fuga.

Para estes e outros milagres pre-

senciados pelo mundo naquele dia, os ho-mens atribuíram diferentes causas, nãoatinando com a verdade. Só entre os justoshouve muitos que, com inspiração divina,suspeitaram e acreditaram que Deus vieraao mundo, ainda que certeza ninguém ateve, a não ser aqueles a quem Ele mesmorevelou.

Entre estes estiveram os três Reis

magos, a quem foram enviados outros an- jos dentre os custódios da Rainha. Nosrespectivos lugares do Oriente onde se en-contravam, a cada um em particular, reve-laram os anjos por voz interior, que oRedentor da linhagem humana nasceraem pobreza e humildade.

Com esta revelação lhes foram in-fundidos novos desejos de o irem procurar e adorar. Em seguida viram a mencionadaestrela que os guiou a Belém, como direiadiante.

Revelação aos pastores

493, Entre todos os favorecidos fo-ram muito felizes os pastores (Lc 2,8) da-

quela região que, acordados, guardavamseus rebanhos na mesma hora do nasci-mento. Velavam naquele honesto trabalhoaceito das mãos de Deus; pobres , hu-mildes e desprezados pelo mundo; justos,simples de coração, eram dos que entre o

 povo de Israel esperavam e desejavam fer-vorosamente a vinda do Messias, dela fa-lando freqüentemente.

Tinham maior semelhança com oAutor da vida, na medida em que mais dis-tantes se achavam do fausto, vaidade, os-tentação mundana e sua diabólica astúcia.Em suas nobres qualidades re-

 presentavam o bom Pastor ( Jo 10,14) dasalmas, que vinha reconhecer suas ovelhase ser por elas reconhecido.

Por se encontrarem em tão boas

disposições mereceram ser convidados pelo próprio Senhor, como primícias dos

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Quarto Livro - Capítulo 11

Santos. Foram os primeiros, dentre osmortais, a receberem a revelação do eter-no Verbo humanado, e a lhe darem louvor,obséquio e adoração.

Foi-lhes enviado o arcanjo São

Gabriel (Lc 2, 9) que lhes apareceu emforma humana, visível, com grande res- plendor de puríssima luz.

Cântico dos anjos

494. Repentinamente, viram-se os pastores rodeados de celestial resplendor,e pouco habituados a tais revelações, en-

cheram-se de grande medo com a visãodo anjo.

Animou-os o santo Príncipe: Nãotenhais medo (Lc 10, 11 - 12), bons ho-mens. Anuncio-vos uma grande alegria:Hoje nasceu para vós o Salvador, CristoSenhor, na cidade de Davi. Por sinal destaverdade, achareis o menino envolto em

 panos num presépio.

A estas palavras do Anjo, sobre-veio de improviso grande multidão da ce-lestial milícia (Lc 13,14) que, com docee harmoniosa voz, louvaram aoAltíssimo,cantando: Glória a Deus nas alturas e pazna terra aos homens de boa vontade. E,repetindo este divino cântico tão novo nomundo, foram desaparecendo os santosanjos.

Tudo isto sucedeu na quarta vigília

da noite. Com esta visão angélica, ficaramos humildes e ditosos pastores cheios deluz divina, abrasados de fervor, e ansiosos

 pela felicidade de ver, pelos olhos, o mis-tério altíssimo que já haviam percebido

 pelo ouvido.

Os pastores no presépio

495. Aos olhos humanos, os sinaisdados pelo santo Anjo, não pareciam mui-to de acordo com a grandeza do recém-nascido. Estar num presépio, envolto emhumildes e pobre panos, não seriam indí-cios para conhecer a majestade real, se nãoa contemplassem na divina luz com a qualforam iluminados e instruídos. Por es-tarem despidos da arrogância da sabedo-ria mundana, puderam rapidamente ser instruídos na divina.

Discutindo entre si o que cada qual pensava da surpreendente noticia, resol-veram ir, sem tardar, a Belém para ver o

 prodígio que o Senhor lhes havia par-ticipado.

Partiram logo, sem demora, e en-trando na choupana, encontraram, comodiz o evangelista São Lucas (2,16), Maria,José e o Menino reclinado no presépio.Vendo tudo isso, conheceram a verdadedo que lhes haviam dito sobre o Menino(Lc 2,19). A esta experiência visual, se-guiu-se uma iluminação interior, porquequando os pastores pousaram os olhos noVerbo Humanado, o divino Menino, com

o rosto resplandecente, também os olhou.Seus raios luminosos feriram o coraçãosimples daqueles pobres e felizes homens,e a graça divina os renovou em novo ser de graça e santidade. Foram elevados,cheios de ciência divina sobre os mistériosaltíssimos da Encarnaçâo e Redenção dogênero humano.

Adoração dos pastores

496. Prostraram-se por terra e ado-raram ao Verbo humanado, não já comohomens rústicos e ignorantes, mas comosábios e prudentes.

Louvaram-no, confessaram-no e oexaltaram por verdadeiro Deus e homem,Reparador e Redentor da linhagem hu-

mana. A divina Mãe do Deus Infante es-tava atenta a quanto diziam e faziam os pastores, quer interior, quer exteriormen-te, pois penetrava o íntimo de seus co-rações. Com altíssima sabedoria e

 prudência, guardava todas estas coisas emseu peito, conferindo-as com os mistériosque nele guardava e com as santas Escri-

turas e profecias.Sendo Ela, nessa ocasião, órgão doEspírito Santo e língua do Infante, falouaos pastores, os instruiu e exortou à

 perseverança no amor divino e serviço doAltíssimo. A seu modo, eles também lhefizeram perguntas e disseram muitas coi-sas dos mistérios que haviam conhecido.

Ficaram na gruta desde o momentoque amanheceu até depois de meio-dia.

Deu-lhes de comer, nossa grande Rainha

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Quarto Livro

e os despediu cheios degraçae consolaçãocelestial.

Os pastores publicam o nascimento deCristo

497. Nos dias em que Maria san-tíssima, o Menino e São José permanece-ram na gruta, estes pastores voltaramalgumas vezes a visitá-los, trazendo-lhesalguns presentes, conforme lhes rjermitiaa sua pobreza.

Diz o evangelista São Lucas (2,18) que aqueles que ouviram os pastoresnarrar o que tinha visto, se admiraram. Isto

aconteceu só depois que a Rainha, o Me-nino e São José, deixaram Belém. Assimo dispôs a divina Sabedoria, impedindo os

 pastores de o publicarem antes. Nem todos os que os ouviram lhes

deram crédito. Tomaram-nos por genterústica e ignorante, quando, pelo contrá-rio, foram santos e cheios de ciência divi-na até a morte.

Herodes foi um dos que acredita-

ram, não por fé ou piedade santa, mas pelo péssimo temor mundano de perder o rei-no. Entre os meninos que ele mandou ma-tar, alguns eram filhos destes santoshomens que mereceram também essagrande felicidade, e os ofereceram comalegria ao martírio que desejavam sofrer 

 pelo Senhor que já conheciam.

DOUTRINA DA RAINHA DO CÉUMARIA SANTÍSSIMA

Esquecimento dos mistérios daredenção

498. Tao repreensível quão fre-qüente é o esquecimento e poucaadvertência dos mortais pelas obras de seuRedentor, tendo elas sido tão misteriosas,

cheias de amor, misericórdia e en-sinamentos para eles. Tu foste chamada edistinguida com ciência e luz para não in-correr nesta perigosa ignorância e grosse-ria. Quero que nos mistérios queescreveste agora, atendas e ponderes o ar-dente amor de meu Filho santíssimo emcomunicar-se aos homens, logo que nas-ceu no mundo, para sem demora faze-los

 participantes do fruto e da alegria de sua

Capitulo 11

vinda. Não reconhecem os homens estadívida, porque são poucos os quecompreendem quanto devem a tão sin-gularesbenefícios, assim como foi peque-no o número dos que viram o Verbo

humanado ao nascer e lhe agradeceram avinda. Ignoram, porém, a causa de sua in-feliz cegueira que não procedeu, nem pro-cede do Senhor e de seu amor, mas simdos pecados e más disposição dos ho-mens. Se este mau estado não desmere-cesse e não servisse de impedimento, atodos ou a muitos seria concedida a mes-ma luz que foi dada aos justos, aos pasto-res e aos Reis. Tendo sido tão poucos,

entenderás quão infeliz era o estado domundo quando o Verbo nele nasceu, e odesditoso de agora. Apesar de possuir maior conhecimento, tem tão pouca lem- brança para a devida correspondência.

Falta de fervor na Igreja

499. Reflete, agora, na indisposi-ção dos mortais atualmente, quando a luz

do Evangelho se encontra tão clara e con-firmada com as maravilhas que Deus temoperado em sua Igreja. Apesar de tudoisso, são tão poucos os perfeitos que sequerem dispor para maior participaçãodos frutos da Redenção. E, não obstante,ser tão vasto o número dos néscios (Ecle1» 15) e tao desmedidos os vícios, pensamalguns que são muitos os perfeitos, só por 

não os ver tão atrevidos contra Deus. Nãosão tantos como se pensa, e muito menosdo que deveriam ser, quando Deus é tãoofendido pelos infiéis, e tão desejoso decomunicar os tesouros de suagraça à santaIgreja, pelos méritos de seu Unigênito fei-to Homem. Adverte, pois,caríssima, aquete obriga a notícia tão clara que recebesdestas verdades.

Vive atenta, cuidadosa e solícita para corresponder a quem tanto te benefi-cia. Não percas oportunidade, lugar e oca-sião de praticar o mais santo e perfeito queconheceres, pois com menos não cumpri-rás tua obrigação. Vê que te admoesto,mando e constranjo a não receberes emvão (2Cor 6, 1) favor tão singular. Nãoguardes ociosa a graça e a luz, mas agecom plenitude de perfeição e agradeci-

mento.

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CAPÍTULO 12

O DEMÔNIO E O MISTÉRIO DO NASCIMENTO DECRISTO. OUTROS FATOS ATÉ A CIRCUNCISÃO.

A malícia do demônio

500. Ditosa e felicíssima para to-dos os mortais, foi a vinda do Verbo etemo

humanado ao mundo, o quanto dependiado mesmo Senhor. Veio para dar vida eluz a todos nós que estávamos nas trevas(Lc 1» 79) e sombras da morte.

Só os prescitos e incrédulos trope-çaram, ferindo-se nesta pedra angular (Rom 9,33; Mt 21,44; Ped 2,8), encon-trando aruínaonde podiam e deviam achar a ressurreição e a vida eterna; isto não foi

culpa da pedra mas sim de quem a tomou pedra de escândalo, chocando-se nela.Só para o inferno foi terrível a na-

tividade do Menino Deus, o forte e inven-cível que vinha despojar de seu tiranodomínio (Lc 11,21) àquele forte da men-tira (SI 23,8; Jo 12,31) que, armado, guar-dava há tanto tempo sua fortaleza com

 pacífica, porém, injusta posse. Foi justoque se ocultasse o mistério da vinda doVerbo, para derribar este príncipe do mun-do e das trevas. Não só era indigno, por suamalícia, de conhecer os mistérios da sa-

 bedoria infinita (Sab 2, 21 - 24; Rom 5,12); como também convinha à divinaProvidência permitir que aprópria malíciadeste inimigo o cegasse, pois com elaintroduzira no mundo a cegueira da culpa,derrubando toda a raça humana, pela que-

da de Adão.

Coisas que o demônio não conheceu

501. Por esta disposição divina,ocultaram-se a Lúcifer  e seus ministros

muitas coi sas que normalmente teriam po-dido saber, tanto sobre a Natividade doVerbo, como no decurso de sua vida san-tíssima, como nesta História sérá forçoso

repetir algumas vezes.Se conhecesse, com evidência, queCristo era Deus verdadeiro, é certo quenão lhe procuraria a morte (ICor 2, 8),antes tê-la-ia impedido, como direi me-lhor em seu lugar.

Do mistério da Natividade, só co-nheceu que Maria santíssima, dera à luzum filho, na pobreza de uma gruta aban-

donada, por não ter encontrado outro abri-go e hospedagem. Depois conheceu aCircuncisão do Menino e outras coisasque, suposta sua soberba, mais podiam lheesconder, do que revelar a verdade.

 Não conheceu o modo do nasci-mento, nem que a feliz Mãe permaneceuvirgem, nem que o era antes. Não viu asembaixadas dos anjos aos pastores, nãoouviu o que disseram, nem a adoração que

 prestaram ao Menino Deus. Não viu a es-trela miraculosa dos Magos, nem soube acausa de sua vinda. Ainda que os viu fazer viagem, julgou que era por outras finali-dades temporais. Percebeu as mudançashavidas nos elementos, astros e planetas,mas não chegou a compreender sua causa.

De igual modo se lhe ocultou o mo-tivo do encontro dos Magos com Herodes,

da vinda dos Reis à gruta, da adoração e presentes que ofereceram.Conheceu e ajudou o furor de He-

rodes contra os meninos, mas não enten-deu sua depravada intenção, e assimestimulou sua crueldade.

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e nestas preces empregava a maior partedo tempo em que esteve na gruta.

Sendo aquele lugar tão desacomo-dado e exposto às inclemências da atmos-fera, tinha a grande Senhora grandecuidado em abrigar seu delicado e querido

Infante. Além das faixas costumeiras, ha-via trazido um cobertorzinho para oagasalhar. Cobrindo-o com ele, levava-ocontinuamente no sagrado tabernáculo deseus braços, a não ser quando o dava a SãoJosé. Quis que seu Esposo a ajudasse nisso

 para lhe dar a felicidade de servir a Deushumanado no ofício de pai.

Maria dá o Menino a São José

505. A primeira vez que o santoEsposo recebeu o Menino Deus nos bra-ços, disse-lhe Maria santíssima: Esposo eamparo meu, recebei em vossos braços oCriador do céu e da terra e gozai de suaamável companhia e doçura; e tenha meuSenhor e Deus sua delícias (Prov 8,31)em vosso carinho. Tomai o tesouro doetemo Pai e participai do benefício da li-

nhagem humana.Falando interiormente com o Me-nino Deus, lhe disse: Dulcíssimo amor deminha alma e luz de meus olhos, descansainos braços de vosso servo e amigo José,meu esposo; tende com ele vosso prazer e por ele esquecei minhas rudezas. Sintomuito ficar sem Vós um só instante, masa quem merece, quero comunicar sem in-

veja (Sab 7, 13) o bem que verda-deiramente recebo.

O fidelíssimo Esposo, compreen-dendo sua nova felicidade, humilhou-seaté a terra, e respondeu: Senhora e Rainhado mundo, minha esposa, como eu, in-

digno, me atreverei a ter em meus braçoso mesmo Deus em cuja presença trememas colunas do céu (Job 26,11)? Como estevil bichinho terá coragem de aceitar tãoinsigne favor? Sou pó e cinza (Gn 18,27),mas vós, Senhora, supri minha insufi-ciência e pedi à sua Alteza me olhe comclemência e me disponha com sua graça.

Culto de Maria eJosé ao Menino Deus

506. Entre o desejo de receber oMenino Deus e o temor reverenciai que odetinha, fez o santo Esposo heróicos atosde amor, fé, humildade e profunda reve-rência. Cheio de emoção, de joelhos, orecebeu das mãos da Mãe santíssima, der-ramando copiosas e doces lágrimas de ale-gria tão singular quanto o benefício quegozava.

O Menino Deus o olhou com sem- blante carinhoso e ao mesmo tempo o re-novou interiormente com tão divinosefeitos, que é impossível explicar com

 palavras. Fez o santo Esposo novos cân-ticos de louvor por se encontrar enrique-cido com tão magníficos favores. Depoisde seu espírito ter gozado, por algum tem-

 po, os dulcíssimos efeitos de ter nas mãoso mesmo Senhor, que nas suas sustenta os

céus e a terra (Is 40,12; 48,13), o devol-veu à feliz Mãe, estando ambos de joelhos.Era com esta reverência que sempre o da-vam e recebiam um do outro. Antes de otomarem, faziam três genuflexões, beijan-do a terra, com heróicos atos de humilda-de, culto e reverência.

Maria e os anjos servem aoMenino Deus

507. Quando a divina Mãe julgouque já era tempo de o aleitar, com humildereverência pediu licença a seu Filho. Se bem que o devia alimentar como a Filhoe homem verdadeiro, olhava-o juntamen-

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Quarto Livro - Capitulo 12

te como verdadeiro Deus e Senhor, conhe-cendo a distância do ser infinito e divinoao de pura criatura como era Ela. Na pru-dentíssima Virgem esta ciência era impe-cável, sem falha nem interrupção, demodo que jamais cometeu inadvertência.

Sempre atendia a tudo, compreendendo e praticando plenamente o mais elevado e perfeito.

Assim, cuidava de alimentar, ser-vir e guardar o seu Menino Deus, não cominquieta solicitude, mas com incessanteatenção, reverência e prudência. Causavaadmiração aos próprios anjos, cuja ciêncianão chegava a compreender as heróicas

obras de uma jovenzinha.Como sempre a assistiam corpo-ralmente, desde que chegaram à gruta donascimento, serviam-na em todas as coi-sas necessárias ao cuidado do MeninoDeus e d'Ela.

Todos estes mistérios são de talmodo comovedores, admiráveis, e dignosde nossa atenção e memória, que não po-

demos negar quão censurável é nossagrosseria em esquecê-los. Como somosinimigos de nós mesmos, privando-nos desua lembrança e dos divinos efeitos que

 produzem nos filhos fiéis e agradecidos!

O sono de Maria

tes dois Arcanjos lhe pediram que, en-quanto trabalhava São José, ou com elecomia, lhes desse o Menino. Deixava-osentão nas Mãos dos anjos, cumprindo-seadmiravelmente o que disse David, (SI 90,12): Em suas mãos te levarão, etc.

A diligente Mãe, por guardar seuFilho santíssimo, não dormia até que Elea mandou dormir e descansar. Em recom-

 pensa de sua solicitude, deu-lhe uma es- pécie de sono ainda mais miraculoso. Atéesta ocasião, ao mesmo tempo que dor-mia, seu coração velava, não in-terrompendo a contemplação divina.Desde esse dia, acrescentou o Senhor ou-

tro milagre: enquanto a Senhora dormia,tinha força nos braços para sustentar oMenino, como se velasse. Contemplava-ocom o entendimento como se o visse comos olhos corporais, conhecendo inte-lectualmente tudo o que Ela e o Meninofaziam. Com este prodígio realizou-se oque diz os Cânticos (Cant 5, 7): Durmomas meu coração vela.

Consolos de São José

509. Os cânticos de louvor e glóriado Senhor que nossa celestial Rainha faziaao Menino, alternando com os santos an-

 jos e também com seu esposo José, não os posso explicar com meus limitados ter-mos. Só sobre isto haveria muito que es-crever, pois eram muito freqüentes.

Seu conhecimento, porém, está re-servado para especial gozo dos escolhi-dos.

 Neste ponto, foi privilegiado e fe-liz, entre todos os mortais, o fidelíssiSão José que muitas vezes os entendia edeles participava.

Além deste favor, sua pru-dentíssima Esposa lhe proporcionava ou-tro de singular apreço e consolo para suaalma: falando com ele a respeito do Meni-no, nomeava-o nosso filho (Lc 2,48), não

 porque fosse filho natural de São José,quem o era unicamente do etemo Pai e daVirgem Mãe; mas porque, no julgamentodos homens, erareputado por  filho deJosé.

Este favor e privilégiodo Santo erade incomparável gozo e estima para ele, e

 por este motivo a divina Senhora gostavade o dizer.

508. Pela inteligência que me foi

dada sobre a veneração com que Mariasantíssima, o glorioso São José e os corosangélicos tratavam ao Menino Deus hu-manado, eu poderia alongar muito estadescrição. Embora não o faça, quero con-fessar que, no meio desta luz, sinto-me en-vergonhada e repreendida, vendo a poucaveneração com que ousadamente tenhotratado com Deus até agora. As muitasculpas que nisto tenho cometido me apa-recem claramente.

 Na assistência e serviço da Rainha,todos os santos anjos que a acompa-nhavam estiveram em forma humana vi-sível, desde o nascimento até a fuga parao Egito, como adiante direi.

O cuidado da humilde e amorosaMãe por seu Menino Deus era tão inces-sante que, só para tomar algum alimentoo deixava nos braços de São José, ou nosdos santospríncipesMiguel e Gabriel. Es-

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Discrição de Maria

515. Isto não contradiz o que deixoescrito no primeiro tomo, segundo livro,

capítulo dez, que Maria santíssima nadafazia sem pedir a licença e o parecer doSenhor. Este recurso para reconhecer obe-neplácito divino não consistia em pergun-tar e esperar resposta por meio derevelaçãoextraordinária, pois nisto, comofica dito, era reservada e prudentíssima, esó em casos raros as pedia.

Sem pretender revelações, con-sultava a luz habitual e sobrenatural do

Espírito Santo que a governava e guiavaem todas suas ações. Elevando o olhar in-terior, conhecia nessa luz a maior perfei-ção e santidade para fazer todas as coisase ações comuns.

E verdade que a Rainha do céu ti-nha especiais razões e direito para pedir aDeus o conhecimento de sua vontade por qualquer modo. Sendo, porém, a grandeSenhora modelo e norma de santidade ediscrição, não se valia deste caminho, sal-vo nos casos que convinha.

 Nos demais, regia-se praticando àletra o que disse David (SI 122,2): Comoos olhos da escrava estão nas mãos de suaSenhora, assim estão os meus olhos nasdo Senhor, até que nos envie sua miseri-córdia.

Todavia, na Senhora do mundo,esta luz ordinária era maior que a de todosos mortais reunidos. Nesta luz, pedia ocumprimento da vontade divina.

Meditação de Maria

516.0 mistério da Circuncisão era particular e único e pedia especial ex- plicação do Senhor, que a prudente Mãe

esperava oportunamente. Enquanto isso,dialogava interiormente com a lei, dizen-do: Oh! Lei, como regra geral és justa esanta, porémmuito dura para meu coraçãose hás de ferir a quem é sua vida e senhor verdadeiro! Que sejas rigorosa para lim-

 par da culpa quem a tem, é justo; mas queexecutes tua severidade em quem não pôde ter delito (Heb 7, 26 - 27), pareceexcesso de rigor, se não te desculpasse o

seu amor! Oh! se aprouvesse a meu Ama-

do dispensar-se desta pena! Como a recu-sará, porém, quem vêm procurá-las, abra-çar-se com a cruz e cumprir e aperfeiçoar alei? Oh! cruel instrumento, se golpeasses

minha própria vida e não a quem ma deu!Oh! meu Filho, doce amor e luz de minhaalma, como é possível que tão logo derra-meis o sangue que vale mais que o céu ea terra? Minha amorosa pena me inclinaa evitar a vós, e vos dispensar da lei geralque, como seu autor, não vos atinge, mas,o desejo de a cumprir obriga-me a entre-gar-vos a seu rigor, se vós, vida minha,não a comutardes fazendo que eu a pade-

ça. O ser humano que tendes de Adão, fuieu que vô-lo dei, mas sem mácula de cul- pa, pois para isso, vossa onipotência isen-tou-me da lei comum de contrai-la.

Pela geração eterna de Filho doetemo Pai e figura de sua substância vosdistanciais infinitamente do pecado. Pois,como, Senhor meu, quereis vos sujeitar àlei de seuremédio? Já vejo, meu Filho que,Mestre e Redentor dos homens, confir-

mais o ensino com vosso exemplo, e nistonão faltareis no mínimo.Oh! Pai etemo, se é possível perca

o cutelo agora o seu rigor, e a carne suasensibilidade! Que a dor seja para este vil

 bichinho. Cumpra a lei com vosso uni-gênito Filho e só eu sinta a dolorosa pena.

Oh! cruel e desumana culpa, quetão cedo fazes experimentar tua amarguraa quem não te pôde cometer! Oh! filhosde Adão, aborrecei e temei o pecado que,

 para o apagar, o mesmo Deus e Senhor necessita sofrer e derramar sangue!

Maria consulta a Deus

517. Esta dor da piedosa Mãe mes-clava-se com a alegria de ver nascido e ter 

nos braços o Unigênito do Pai, e assim passaram os dias até a Circuncisão. Seucastíssimo esposo José a acompanhava,

 porque só com ele falou sobre o mistério,e com poucas palavras, pois ambos fica-vam invadidos pela compaixão e pelas lá-grimas.

Antes de chegar o oitavo dia donascimento, pôs-se a prudentíssima Rai-nha napresença do Senhor e lhe expôs sua

dúvida, dizendo: Altíssimo Rei, Pai de

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meu Senhor (Ef 5, 2) aqui está vossa es-crava trazendo nas mãos a verdadeirahós-tia do sacrifício. Meus gemidos (SI 37,10)e sua causa não são ocultos à vossasabedoria. Conheça Eu, Senhor, vosso di-

vino beneplácito, a respeito do que devofazer com vosso Filho e meu para cumprir a lei. E, se sofrendo em seu lugar possoresgatar meu dulcíssimo Menino e Deusverdadeiro, pronto está meu coração (SI56, 8), como também para entregá-lo sefor vossa vontade circuncidá-lo.

Resposta do Altíssimo

518. Respondeu-lhe o Altíssimo:Minha filha e minha pomba, não se aflijateu coração por entregar teu filho ao cuteloe à dor da Circuncisão; enviei-o ao mundo

 para encerrar à lei de Moisés, cumprindo-a inteiramente (Mt 5,17). A veste huma-na, que tu lhe deste, como mãe natural,deve ser rasgada pela ferida de sua carnee de tua alma. Sua honratambémseráatin-

gida, pois sendo meu filho (SI 2, 7) por natureza e eterna geração, imagem de mi-nha substância (Heb 1, 3) com a mesmaglória e majestade; entrego-o à lei e sacra-mento que tira o pecado (Jo 10,30), semrevelar aos homens que não o pode ter (2Cor2,21).

Já sabes, rninha filha, que para estee outros maiores trabalhos hás de me en-

tregar o teu e meu Unigênito. Deixa, pois,que derrame seu sangue e me ofereça as primícias da salvação dos homens.

Maria oferece seu Filho

519. Conformou-se a divina Se-nhora, como cooperadora de nossa salva-ção, com esta determinação do etemo Pai,

com tanta plenitude de santidade que nãocabe em razões humanas.

Prontamente, com submissa obe-diência e ardentíssimo amor, ofereceu seuFilho unigênito, dizendo: Senhor e Deusaltíssimo, ofereço a vítima e hóstia (Ef 5,2) de vosso aceitável sacrifício, de todomeu coração, ainda que cheio de compai-xão e dor de que os homens hajam ofen-

dido vossa bondade imensa, de tal modo

que seja necessária a reparação de uma pessoa divina. Bendigo-vos eternamente por olhardes a criatura com tão infinitoamor que, para seu remédio, não perdoais(Rom 8,32) a vosso próprio Filho.

Eu, que por vossa dignação sousua Mãe, devo mais do que todos os mor-tais e outras criaturas estar sujeita a vos-so beneplácito, e assim vos entrego omansíssimo Cordeiro (Jo 1,29) que por sua inocência há de tirar os pecados domundo.

Se, porém, for possível, modere-seo rigor  deste cutelo para meu doce Meni-no, e sinta-o meu peito, pois tendes poder 

 para fazer esta comutação.

Parecer de São José520. Depois desta oração, e sem

manifestar o que nela havia entendido,Maria santíssima preveniu São José, comrara prudência e afáveis razões para

 preparar a Circuncisão (Lc 2,21) do Me-nino Deus.Como a pedir-lhe o parecer, disse

que, chegando o tempo marcado pela Lei(Gn 17,12) para a Circuncisão do divinoInfante, parecia obrigatório cumpri-la,

 pois não tinham ordem para fazer o con-trário.

Sendo ambos mais devedores ao

Altíssimo do que todas as criaturas juntas,deviam ser mais pontuais na observânciade seus preceitos, e mais prontos em pa-decer por seu amor. Seria retribuição detão imensa dívida, permanecerem depen-dentes de seu divino beneplácito em tudoo que se referia ao serviço de seu Filhosantíssimo.

A estas reflexões respondeu o san-to Esposo, com suma veneração e sabedo-ria, que se conformaria totalmente com amanifestação da divina vontade na lei co-mum. O Verbo humanado, enquanto Deusnão estava sujeito à Lei. Mas, vestido dahumanidade, sendo em tudo Mestre per-feitíssimo e Redentor, gostaria de se asse-melhar aos demais homens na suaobservância.

Em seguida, perguntou à sua divi-

na Esposa como seria feita a Circuncisão.

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Preparativos da Circuncisão

521. Respondeu Maria santíssimaque, sendo a lei cumprida no essencial,quanto ao modo poderia ser como nos ou-tros meninos que se circuncidavam. Ela,

 porém, não devia entregá-lo a outra pes-soa, mas o conservaria nos braços.E, como a compleição e natural de-

licadeza do Menino seria a causa para sen-tir a dor mais do que os outros, deveriam

 prevenir o curativo que se costumava apli-car em tal caso. Além disso, pediu a Joséque procurasse um pequeno vasilhame decristal ou vidro para receber a sagrada re-

líquia da Circuncisão e guarda-la consigo.Enquanto isso, a solícita Mãe pre- parou panos onde recolher o sangue quecomeçaria a se derramar em preço de nos-so resgate. Nem uma gota deveria se per-dernem, por então, cair em terra. Estandotudo preparado, a divina Senhora disse aSão José que avisasse o sacerdote, pedin-do-lhe que viesse à gruta e por suas mãoscircuncidasse o menino, como ministromais apropriado e digno de tão grande eoculto mistério.

O nome de Jesus

522. A respeito do nome que de-veriam dar ao Menino Deus na Circunci-são, disse São José à Maria santíssima:

Minha Senhora, quando o Anjo do Altís-simo me revelou este grande mistério, or-denou-me também que a vosso sagradoFilho déssemos o nome de Jesus.

Respondeu a Virgem Mãe: O mes-mo nome declarou a Mim quando se en-carnou em meu seio. Sabendo-o pelo

 próprio Altíssimo e por seus ministros, osanjos, é justo que com humilde reverência

veneremos os ocultos e imperscrutáveisdesígnios de sua infinita sabedoria em es-colher este nome, e o imponhamos a meuFilho e Senhor. Assim o diremos ao sa-cerdote para que o inscreva no registro dosdemais meninos circuncisos.

Os anjos e o nome de Jesus

523. Estando a grande Senhora docéu e São José neste colóquio, desceram

das alturas inumeráveis anjos em formahumana, de vestes brancas e refulgentescom ornamentações encarnadas, todos deadmirável beleza.

Traziam palmas nas mãos e coroasna cabeça, cada qual mais luminosa que

muitos sóis. Todo visível e formoso da na-tureza, comparado à beleza destes santos príncipes, mais parece fealdade.

O que, porém, mais sobressaia emsua formosura, era o nome de Jesus quetraziam gravado no peito, em letras comode metal translúcido. O brilho que se des-

 prendia deste nome, em cada um dos an- jos, era maior que a luz natural de todoseles reunidos. Esta múltipla e intensa re-fulgência era tão singular e extraordináriaque não se pode explicar com palavras,nem sequer imaginar.

Colocaram-se em dois coros, defrente para seu Rei e Senhor nos virginais

 braços da feliz Mãe. Os chefes desse exér-cito eram os dois grandes príncipes SãoMiguel e São Gabriel revestidos de maior 

 brilho que os demais. Ambos traziam nasmãos o nome santíssimo de Jesus escritocom letras maiores, numa espécie de car-taz de incomparável resplendor e beleza.

São Miguel e São Gabriel

524. Apresentaram-se os dois

 príncipes à sua Rainha e cada qual por suavez, lhe disseram: Senhora, este é o nomede vosso Filho (Mt 1,21) que, ab-aeterno(desde toda a eternidade) está gravado namente de Deus, dado pela santíssimaTrin-dade a vosso Unigênito e Senhor nosso,com o poder de salvar a linhagem humana.Foi lhe dado o trono de David, reinará cas-tigando seus inimigos, e vitorioso os

humilhará até colocá-los por escabelo deseus pés. Julgando com equidade, elevaráseus amigos até aglória de sua destra, masà custa de sofrimento e sangue. Agora oderramará com esse nome pois significaSalvador e Redentor. Serão as primíciasdo que há de padecer em obediência aoeterno Pai.

 Nós, ministros e espíritos do Altís-

simo, que aqui viemos, fomos destinados pela divina Trindade para servir ao Uni-gênito do Pai e vosso. Estaremos pre-

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Quarto Livro-

sentes a todos os mistérios e sacramentosda lei da graça, acompanhando-o e ser-vindo-o até que suba triunfante à celestialJerusalém, quando abrir suas portas ao gê-nero humano. E, ali gozaremos especialglória acidental, mais do que os outros

 bem-aventurados nào distinguidos por esta feliz missão.

Tudo isto foi visto e ouvido peloditoso esposo São José com a Rainha docéu. A compreensão, porém, não foi igualem ambos, porque a Mãe da sabedoria en-tendeu e penetrou altíssimos mistérios daRedenção. Embora São José tenha conhe-cido muitos deles, não foi quanto sua di-vina Esposa. Contudo, ambos foramrepletos de júbilo e admiração, e com no-vos cânticos glorificaram ao Senhor.

O mais que se passou com eles, emoutros diversos e admiráveis sucessos,não é possível descreve-los com palavras,nem existem termos adequados para ma-nifestar meu conceito.

DOUTRINA QUE ME DEU MARIASANTÍSSIMA SENHORA NOSSA.

O trato com as criaturas e com Deus

525. Minha filha, quero renovar em ti a doutrina e luz que recebeste, paratratar com suma reverência a teu Senhor e Esposo. Na medida em que as almas re-cebem mais particulares e extraordináriosfavores, devem crescer na humildade e te-mor reverenciai. Por lhes faltar esta ciên-cia, há almas que se fazem indignas einaptas para grandes favores. Outras queos recebem, chegam a incorrer em perigo-sa e rude grosseria que ofende muito aoSenhor. Da doce e amorosa suavidadecom que sua divina condescendência mui-tas vezes as recreia e acaricia, costumam

tomar uma espécie de ousadia, ou presun-çosa ingenuidade, no tratar a majestadeinfinita sem a devida reverência. Com vãcuriosidade se põem a perguntar e inves-tigar, por caminhos sobrenaturais, o queexcede seu entendimento e não lhes con-vém saber. Este atrevimento lhes nasce de

 julgar e praticar com ignorância terrena otrato familiar com o Altíssimo. Parece-

lhes que pode ser ao modo que as criaturashumanas costumam usar com seus iguais.

Amor e respeito são inseparáveis

526. Muito se engana a alma comesta idéia, medindo a reverência e respeitoque se deve à Majestade infinita com afamiliaridade e nivelamento que o amor 

humano produz entre os mortais. Nas cria-turas racionais a natureza é igual, aindaque sejam diversas as condições. O amor e a amizade íntima podem esquecer estasdiferenças e proceder segundo o modo dotrato amigável humano. O amor divino, porém, nunca deve esquecer a inestimávelexcelência do objeto divino. Assim comoo amor se refere à bondade infinita, e por 

isto nada tem para o limitar, assim a re-verência considera a majestade do ser di-vino. Como em Deus são inseparáveis a

 bondade e a majestade, também na cria-tura o amor não se deve apartar da reve-rência. A luz da fé sempre deve ir à frente para manifestar ao amante a essência doObjeto que ama. Esta fé despertará e ali-mentará o temor reverenciai, dará peso emedida aos afetos indiscretos que o amor cego e imprudente costuma criar, quandonão se lembra da excelência e supe-rioridade do amado.

Curiosidade reprovável

527. Quando a criatura tem cora-ção generoso e estáhabituada ao exercícioda ciência do temor santo e reverenciai,não corre o perigo de se esquecer da reve-rência devida ao Altíssimo, mesmo quesejam grandes e freqüentes os favores quedele recebe. Não se entrega inadvertida-mente aos gostos espirituais, nem por eles

 perde a prudente atenção à Majestade su- prema. Quanto mais a ama e conhece, tan-to mais a respeita e reverencia, e com estas

almas o Senhor trata como um amigo comoutro (Ex 33,11). Seja, pois, regra invio-lável para ti, minha filha, que quando go-zares dos mais estreitos abraços e mimosdo Altíssimo, sejas tanto mais atenta emrespeitar a grandeza de seu ser infinito eimutável, para juntamente exaltá-lo eamá-lo. Com esta ciência conhecerás eapreciarásmelhor o benefício que recebes

e não incorrerás no perigo e audácia dosque levianamente querem, em qualquer 

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sucesso, pequeno ou grande, inquirir e sa- ber os segredos do Senhor. Pretendem quesua prudentíssima providência se abaixea satisfazer  à vã curiosidade, fruto de al-guma paixão e desordem. Não são movi-das pelo santo zelo e amor, mas sim por 

sentimentos humanos e repreensíveis.

Circunspecção espiritual

528. A este respeito, lembra a dis-crição com que Eu procedia e me detinhanas dúvidas, apesar de que nenhuma cria-tura quanto eu poderia encontrar graça aos

olhos do Senhor. Sendo isto assim, tendoem meus braços o próprio Deus, como suaverdadeira Mãe, nunca me atrevi a pedir-lhe revelar-me, por modo extraordinário,coisa alguma, quer para sabê-la, quer paraaliviar-me de alguma pena ou por quais-quer outros fins humanos. Tudo isto é im-

 perfeição natural, curiosidade vã e vícioreprovável, e semelhantes defeitos não

 podiam caber em mim. Quando, porém,via-me obrigada para a glória do Senhor,ou em circunstâncias inevitáveis, pedia li-cença a Deus para lhe propor meu desejo.Ainda que se mostrava sempre mui pro-

 pício, perguntando-me com carinho o quedesejava de sua misericórdia, Eu me ani-quilava humilhando-me até o pó e apenas

 pedia que me ensinasse o mais aceito eagradável a seus olhos.

Perigo da curiosidade espiritual

529. Grava, minha filha, em teu co-ração este ensinamento, e jamais procu-res, com desejo desordenado e curioso,inquirir nem saber coisa alguma superior 

à razão humana. Além do Senhor não res-

 ponder a tal insipiência que o desgosta, odemônioestámuito atento a este vício das

 pessoas que cultivam vida espiritual.Como, ordinariamente, é ele o autor destaviciosa curiosidade, e a desperta com suaastúcia, com ela mesma costuma respon-

der-lhes, transfigurado em anjo de luz(2Cor 11,14) e enganando os imperfeitose incautos. Mesmo que estas perguntasfossem suscitadas apenas pela natureza einclinação, não devem ser levadas emconta. Em coisa tão elevada como é o con-vívio com o Senhor, o ditame e a razãonão devem se guiar pelos apetites e pai-xões. A natureza infecta e depravada pelo

 pecado ficou muito desordenada e tem im- pulsos sem controle e medida. Não éjustosegui-los e governar-se por eles. Tampou-co se deve recorrer às divinas revelações

 para se aliviar nas penas e trabalhos.A esposa de Cristo, e seu verdadei-

ro servo, não devem usar de seus favores para fugir da cruz, mas sim paraprocurá-lae carregá-la com o Senhor (Mt 16, 24) e

 permanecer naquela que sua divina dispo-sição lhe der. Tudo isto quero eu de ti, como retraimento do temor, inclinando-te aeste extremo para fugir de seu contrário.Desde hoje, quero que purifiques mais tuaintenção e faças tudo por amor (Fil 1,9),o mais perfeito dos fins. O amor não temmedida, e assim quero que ames ex-cessivamente e temas com moderação o

quanto basta para não transgredir a lei doAltíssimo e ordenar retamente todos osteus atos, interiores e exteriores. Nisto sêatenta e diligente, ainda que te custe muitosofrimento, como o que eu padeci na cir-cuncisão de meu Filho santíssimo A eleme submeti, porque na santa lei (Gn17,12) estava declarada a vontade do Se-nhor, a quem em tudo e por tudo devemosobedecer.

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CAPITULO 14

O MENINO DEUS É CIRCUNCIDADOE RECEBE O NOME DE JESUS.

O ministro da circuncisão

530. A cidade de Belém possuíasinagoga, como outras cidades de Israel(Jdt 6, 21; At 13, 15), onde o povo sereunia para orar (e por isto se chamavatambém casa de oração), e igualmente

 para ouvir alei de Moisés. Esta era lida eexplicada por um sacerdote, do púlpito,em voz alta para o povo entender seus

 preceitos. Nestas sinagogas particulares

não se ofereciam sacrifícios, pois esteseram reservados ao templo de Jerusalém,a não ser que Deus ordenasse outra coisa.Segundo consta do Deuteronômio (5, 6),Deus não deixou ao povo essa liberdade,

 para lhes evitar o perigo da idolatria.O sacerdote, mestre e ministro da

lei, costumava ser  também o da cir-cuncisão. Nenhum preceito impunha esta

obrigação, porque qualquer um podia cir-cuncidar, mesmo não sendo sacerdote. Aespecial devoção das mães é que acredi-tava evitar a seus meninos riscos e peri-gos, quando circuncidados pelos sacer-dotes.

 Não por temor, mas pela dignidadedo Menino, quis nossa grande Rainha queo ministro de sua circuncisão fosse o sa-cerdote que se encontrava em Belém e,

 para este fim, São José foi chamá-lo.

O sacerdote de Belém

531. Veio o sacerdote à gruta donascimento, onde o esperava o Verbo hu-

manado nos braços de sua Virgem Mãe.

Com o sacerdote vieram outros doisministros, que costumavam ajudá-lo noministério da circuncisão.

A rusticidade do local admirou edesgostou um pouco o sacerdote. A prudentíssima Rainha, porém, recebeu-ocom tal modéstia e afabilidade que trans-formou seu desagrado em devoção. Semconhecer a causa, foi tomado de respeito,reverência e admiração pela honestíssima

compostura e majestade da Senhora.Quando pousou os olhos no semblante daMãe e do Menino, sentiu no coração gran-de ternura e devoção, admirando-se doque via entre tanta pobreza e em tão hu-milde e desprezível lugar. Ao entrar emcontato com a carne deificada do Deus in-fante, foi todo renovado com uma ocultavirtude que o transformou e santificou.

Deu-lhe novo ser de graça, com que veioa ser santo e muito agradável ao altíssimoSenhor.

Maria, altar do sacrifício

532. Para fazer a circuncisão coma reverência exterior possível naquele lu-gar, São José acendeu duas velas de cera.O sacerdote disse à virgem Mãe que seafastasse um pouco e entregasse o Meninoaos ministros, para que a vista do sacrifí-cio não a afligisse. Esta ordem causou al-guma dúvida à grande Senhora: pelahumildade, inclinava-se a obedecer ao sa-cerdote, enquanto o amor e reverência a

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Quarto Livro - Capítulo 14

seu l Inigènito lhe solicitavam que perma-necesse com Ele. Para não faltar a ne-nhuma destas virtudes, pediu aosacerdote, com humilde submissão, per-mitisse a Ela assistir ao sacramento da cir-

cuncisão. Venerava-o e se sentia comânimo de sustentar seu Filho nos braços, pois ali não havia comodidade para dei-xá-lo e afastar-se. Somente lhe suplicavafizesse a circuncisão com a possível pie-dade, em vista da delicadeza do Menino.O sacerdote prontificou-se a isso e perini-tiu que a Mãe sustentasse o Menino emsua mãos. Deste modo, Ela foi o sagradoaltar, onde começaram a se realizar as rea-

lidade figuradas nos antigos sacrifícios(Hb 9, 6). Ofereceu em seus braços estenovo e matutino sacrifício, com todas ascondições para ser aceito ao etemo Pai.

As três ofertas do Menino Jesus

533. A divina Mãe descobriu oMenino dos panos em que estava envoltoe tirou do peito uma toalha aquecida comseu calor, pois o frio era rigoroso. Susten-tou o Menino sobre esta toalha, para nelarecolher a relíquia e o sangue da cir-

cuncisão. O sacerdote circuncidou o Me-nino, Deus e homem verdadeiro que, comimensa caridade, fez ao etemo Pai trêsofertas de tanto valor, que cada uma erasuficiente para a redenção de mil mundos.

A primeira foi aceitar forma de pe-cador (Filp 2, 7), sendo inocente e Filhodo Deus vivo, recebendo o sacramento(2Cor 5,21) que era aplicado para purifi-car do pecado original, e sujeitando-se àlei que não o atingia. A segunda, foi a dor que sentiu, como verdadeiro homem. Aterceira, o amor ardentíssimo com que co-meçara derramar seu sangue pela reden-ção do gênero humano, agradecendo ao

Pai que lhe dera forma humana, na qual podia sofrer por sua glória e exaltação.

As lágrimas de Jesus e Maria

534. O Pai aceitou esta oração esacrifício de Jesus, nosso bem, e começou(a nosso modo de entender) a se dar por satisfeiro e paga a dívida da linhagem hu-mana. O Verbo ofereceu estas primícias

de seu sangue (ICor 2,14) em penhor deque o daria todo, ao consumar a redenção, pagando a dívida dos filhos de Adão.

A Mãe santíssima via todos estesatos interiores de seu Unigênito. Com pro-funda sabedoria compreendia o mistérioe acompanhava os atos de seu Filho e Se-nhor, na respectiva medida e modo que aEla competia. Chorou o Menino Deuscomo verdadeiro homem. A dor foi agu-díssima, assim pela sensibilidade de suacompleição, como pela crueza da faca de pedra. A causa de suas lágrimas, porém,não foi tanto a dor natural, como a ciênciasobrenatural com que via a dureza dosmortais. Mais insensíveis e duros que a pedra, resistem a seu benigníssimo amor e à chama que vinha acender (Lc 12,49)nos corações dos seguidores da fé.

Chorou também a tema e amorosaMãe, como cândida ovelha que une o ba-lido ao do seu inocente cordeiro. Com re-cíproco amor e compaixão, Eleaconchegou-se à Mãe que carinhosamen-te o reclinou sobre seu peito. Recolheu asagrada relíquia e sangue e no momentoa entregou a São José, para cuidar do Me-nino Deus e o envolver novamente nos pa-nos. O sacerdote estranhou um pouco as

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Quarto Liv

lágrimas da Mãe. Ignorando o mistério, julgou que a beleza do Menino é que po-deria ter causado tanta amargura e dor na-quela que o havia dado à luz.

A santidade de Maria

535. Em todos estes sucessos foi aRainha do céu tão prudente, atenta e mag-nânima, que admirou os coros angélicose deu sumo prazer ao Criador. Em tudoresplandeceu a divina sabedoria que aguiava, dando a cada ato a plenitude da perfeição, como se fosse o único a prati-car. Foi corajosa para ficar com o Menino

na circuncisão, cuidadosa para recolher arelíquia, compassiva para sentir e chorar com Ele, amorosa para acariciá-lo, dili-gente para abrigá-lo, fervorosa para imitar seus atos interiores, e sempre religiosa

 para o tratar com suma reverência. Todosestes atos não se estorvavam mutuamente,nem a intensidade de uns diminuía a dosoutros.

Admirável espetáculo numa jo-vem de quinze anos que, para os anjos,servia de singular ensinamento e nova ad-miração. Perguntou o sacerdote que nomeiam dar ao Menino circuncidado. A gran-de Senhora, sempre atenta em respeitar seu esposo, pediu-lhe que o dissesse. SãoJosé, com veneração, voltou-se para Ela,dando-lhe a entender que saisse de sua

 boca tão doce nome. Por disposição deDeus, ambos disseram ao mesmo tempo:Jesus é o seu nome (Lc 2,21). - Estão de

 pleno acordo os pais - ajuntou o sacerdote- e grande é o nome que dão ao Menino.E o escreveu no registro. Ao escrevê-losentiu grande emoção que o obrigou aderramar muitas lágrimas. Admirado peloque sentia, disse: Tende grande cuidado

em sua criação e dizei-me em que possoacudir  a vossas necessidades. MariaSsma. e São José agradeceram-lhe humil-demente e ofertaram-lhe as velas e maisalgumas coisas, com que o sacerdote seretirou.

Maria e José celebram a circuncisão

536. Maria Ssma, e São José, fi-cando a sós com o Menino Jesus, celebra-

- Capítulo 14

ram o mistério da circuncisão, co-mentando-o com afetuosas lágrimas ecânticos que fizeram ao nome de Jesus. Oconhecimento deste fatos, assim como deoutrosprodígios que tenho escrito, é reser-vado para a glória acidental dos Santos. A

 prudentíssima Mãe curou o ferimento doMenino Deus com os remédios usados

 para o caso. Durante todo o tempo dacura, não o deixou de seus braços um mo-mento sequer, tanto de dia como de noite. Não é possível à compreensão e capaci-dade humana explicar o cuidadoso amor da divina Mãe. Nela, a afeição natural foimaior do que a de qualquer mãe por seus

filhos, e o amor sobrenatural excedia aode todos os anjos e santos reunidos. Suareverência e culto não tem comparaçãocom qualquer coisa criada. Estas eram asdelícias que o Verbo humanado (Prov 8,31) desejava ter com os filhos dos ho-mens. Entre as dores, seu amoroso cora-ção gozava o conforto proporcionado pelaeminente santidade de sua virgem Mãe.

Só Ela o agradava mais do que to-dos os mortais e O repousava com seuamor. Apesar disto, a humilde Rainha pro-curava aliviá-lo por todos os meios ao seualcance. Pediu aos santos anjos que ali as-sistiam, tocassem e cantassem a seu Deushumanado, pequenino e sofredor. Obede-ceram à sua Rainha e Senhora, e com vozsensível entoaram-lhe, com celestial har-

monia, os mesmos cânticos que Ela e SãoJosé haviam composto em louvor do sua-ve nome de Jesus.

Música dos anjos

537. Com esta música tão mavio-sa, em cuja comparação a dos homens não

 passaria de confuso e desagradável baru-

lho, entretinha a divina Senhora a seuamabilíssimo Filho. A harmonia, porém,das heróicas virtudes que em sua almasantíssima formavam esplêndido coral,era muito maior conforto para Ele, comoo disse nos Cânticos (7,1).

Duro é o coração humano, maisque tardo e pesado para conhecer eagradecer tão veneráveis sacramentos, or-

denados para sua eterna salvação, peloimenso amor de seu Criador e Redentor.Oh! doce bem e vida de minha alma, que

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Quarto Livro

má retribuição te damos pelas finezas deteu amor eterno! Oh! caridade sem ter-mos nem limites, pois não te extingues(Cant 8,7) com as muitas águas de nossasingratidões tão desleais e grosseiras! Não

 pôde a bondade e santidade por essência

descer mais por nosso amor, nem fazer maior  fineza do que tomar a forma de pe-cador (Flp 2, 7) e, sendo a inocência, re-ceber o remédio da culpa que não o podiatocar (2Cor 5,21). Se os homens despre-zam este exemplo, e esquecem este bene-fício, como se atrevem a dizer que têm

 juízo? Como presumem e se gloriam desábios, prudentes e entendidos? Se não tecomovem, homem ingrato, tais obras de

Deus, seria prudência afligir-te e chorar tão lastimável estultice e dureza, pois nemo fogo do amor divino derrete o gelo deteu coração.

DOUTRINA DA SANTÍSSIMARAINHA MARIA SENHORA NOSSA

Memória e gratidão

538. Minha filha, quero que consi-deres, com atenção, o favor que recebesconhecendo o cuidado, solicitude e amo-rosa devoção com que eu servia meu san-tíssimo e querido Filho, nos mistérios queescreveste. OAltíssimo te concede esta luztão especial, não apenas para saboreares ogozo que dela sentes, mastambémpara meimitar em tudo como fiel serva. Assimcomo és distinguida pelo conhecimentodos mistérios de meu Filho, sê também nagratidão por suas obras. Considera, pois,caríssima, quão mal é correspondido pelosmortai s o amor de seuFilho, eatépelosjus-tos é esquecido e pouco agradecido. Toma

 por tua conta, o quanto for possível a tuasfracas forças, compensar este agravoamando-o, agradecendo-lhe e servindo-o

 por ti e por todos os que não o fazem. Paraisto deves ser pronta como os anjos, fervo-rosa no zelo, fiel nas ocasiões. Em todosos pontos deves morrer às coisas da terra,

Capítulo 14

quebrando as prisões das inclinações hu-manas e iibertando-te para elevar o vôoonde o Senhor te chama.

Esquecimento e ingratidão

539. Não ignoras, minha filha, asuaveeficácia que tem a vivamemóriadasobras que meu Filho santíssimo realizou

 pelos homens. Ainda que muito podes tevaler desta luz para seres grata, contudo, para mais temer  o perigo do es-quecimento, advirto-te que os bem-aven-turados no céu, conhecendo na luz divinaestes mistérios, admiram-se de os teremmeditado tão pouco quando eram viado-res. Se pudessem sofrer alguma pena, las-timariam profundamente a tardança edescuido que tiveram em apreciar as obrasda Redenção e imitação de Cristo. Os an-

 jos e santos, com ponderação desconheci-da pelos mortais, admiram-se dacrueldade destes, contra si próprios e con-tra seu Criador Salvador. Não sentemcompaixão, tanto do que o Senhor pade-

ceu como do que eles mesmos hão de pa-decer. Quando, com irremediávelamargura, os réprobos conhecerem seudescaso tremendo (Sab 5» 4 e seg) e quenão consideraram as obras de Cristo seuRedentor, esta confusão e remorso lhesserá pena intolerável. Só este remorso serácastigo jamais pensado, quando virem acopiosa Redenção (SI 129,7) que despre-

zaram. Ouve, minha filha, (SI 144,11) einclina teu ouvido a meus conselhos edoutrina de vida eterna. Expulsa de tuas

 potências qualquer imagem e afeto decriatura e converte toda tua mente e cora-ção aos mistérios e benefícios da Reden-ção. Entrega-te toda a eles; medita-os,reflete sobre eles, pondera-os, agradece-os como se só tu existisses e eles fossemsó para ti (Gal 2,20) e para cada um doshomens em particular. Neles acharás avida, a verdade e o caminho da eternidadeno qual não poderás errar, e onde encon-trarás a luz e a paz (Bar 3,14).

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CAPÍTULO 15

MARIA SANTÍSSIMA PERMANECE COM OMENINO DEUS NA GRUTA, DESDE O NASCIMENTO

ATÉ A VINDA DOS REIS.

São José pensa em deixar a gruta

540. Pela ciência infiisa da Sa-grada Escritura (SI 71,10; Is 60, 6) quenossa grande Rainha possuía, e por ele-vadas e divinas revelações, Ela. sabiaque os Reis Magos do Oriente viriam re-conhecer e adorar seu Filho santíssimo,

 por verdadeiro Deus. Além disso, tiveraconhecimento mais próximo desse mis-tério, quando o anjo levou aos Magos anotícia do nascimento do Verbo huma-nado, como ficou dito no capítulo II, n°492.

São José não estava ao par dessemistério, porque não recebera dele re-velação, nem a prudentíssima Esposa ohavia informado.

Em tudo era sábia e aguardava aatuação da vontade divina e suas dispo-

sições suaves (Sab 8,1) e oportunas.Celebrada a circuncisão, o santo

Esposo propôs à Senhora do céu que lhe parecia necessário deixar aquele lugar tão rústico e pobre, pela descomodidadede abrigar ao Menino Deus e a Ela tam-

 bém.Em Belém já se encontraria pouso

onde pudessem se recolher, até o tempo

de fazer a apresentação do Menino notemplo de Jerusalém.

O fidelíssimo Esposo fez esta pro- posta, cuidadoso de não deixar faltar aoMenino e à sua Mãe o conforto que dese-

 java lhes proporcionar, mas tudo submetiaà vontade de sua divina Esposa.

Os anjos participam a vinda dos Reis

541. Sem lhe revelar o mistério,respondeu a humilde Rainha: Meu senhor e Esposo, estou pronta para vos obedecer e vos seguir, com muito gosto, aonde qui-serdes. Fazei como vos parecer melhor.

Sentia a divina Senhora certa afei-ção pela gruta, tanto pela humildade e po-

 breza do lugar, como por ter sido con-sagrada pelos mistérios do Verbo huma-nado: o nascimento, a circuncisão e dosReis que esperava, embora não soubessequando viriam.

Piedoso era este afeto, cheio de de-vota veneração. Apesar disso, lhe antepôsa obediência a seu Esposo e se conformoua ele, para em tudo ser exemplo e modelode altíssima perfeição.

Esta submissão pôs São José em

maior dúvida e cuidado, pois desejavaque sua Esposa determinasse o que de-via fazer.

Estando ambos a tratar disso, o Se-nhor resolveu-lhes a dúvida por meio dosarcanjos São Miguel e São Gabriel que,corporalmente, assistiam ao serviço deseu Deus e Senhor e da grande Rainha.

Disseram eles: A vontade divina

ordenou que, neste mesmo lugar, o Verbodivino humanado seja adorado pelos trêsReis da terra (SI 71,10; Is 60, 6) que doOriente vêm em busca do Rei do céu. Fazdias que estão em viagem, porque logoque foram avisados do nascimento puse-ram-se a caminho, e em breve chegarão

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dignas e ponderadas que não cabem emnossa tosca linguagem. Tudo o que possoexpressar, resulta muito diferente do queme foi manifestado.

Dizia-lhe: Oh! Amor meu, doce

vida de minha alma, quem sois vós e quemsou Eu? Que desejais fazer de mim, abai-xando tanto vossa grandeza para favore-cer o inútil pó? Que fará vossa escrava,

 por vosso amor e por tudo quanto vosdeve? Que vos retribuirei, por tudo queme haveis dado? (SI 115, 12). Meu ser,minha vida, potências e sentidos; meusdesejos e anseios tudo é vosso.

Confortai a esta serva, Mãe vossa, para que não desfaleça com os desejos devos servir, vendo-se tão incapaz, e que nãomorre por vos amar! Oh! que limitada éa capacidade humana! Que insignificanteseu poder! Que insuficientes os afetos,

 pois não podem chegar a satisfazer, comequidade, a vosso amor!

E justo, porém, que a vitória sem- pre seja vossa, em ser magnífico e mise-

ricordioso com vossas criaturas, cantandotriunfos de amor. A nós cumpre nos ren-dermos agradecidos, e nos declarar ven-cidos por vosso poder.

Ficaremos humilhados e apega-dos ao pó, enquanto vossa grandeza seráexaltada e enaltecida por todas as eter-nidades.

Às vezes, a divina Senhora conhe-cia, na ciência de seu Filho Santíssimo, asalmas que, no decurso da lei da graça,iriam se distinguir no amor divino, asobras que iriam empreender e os martíriosque sofreriam à imitação do Senhor. Estaciência inflamava-a em aspirações tão for-

tes de amor, que o martírio de desejo daRainha superava os de todos os mártiresque corporalmente os sofreriam.

Acontecia-lhe o que disse o Espo-so nos Cânticos (8,6): A ânsia do amor éforte como a morte e dura como o inferno.A estes afetos que a amorosa Mãe sentiade morrer porque não morria, respondia oFilho santíssimo com as palavras que ali

se referem (Cant 8, 6): Põe-me por seloem teu coração e em teu braço, - dando-lheao mesmo tempo a compreensão e o efeitodessas palavras.

Por este divino martírio, MariaSantíssima foi mártir  antes de todos osmártires. Entre estes lírios e açucenas(Cant 2,16 - 17) apascentava-se o man-síssimo cordeiro Jesus, enquanto o dia dagraça ia despontando e as sombras da leiantiga iam declinando.

O leite da virgem Mãe

548, Enquanto recebeu o virginal peito de sua Mãe santíssima, o MeninoDeus não se alimentou de outra coisa, anão ser do leite materno. Era este suave esubstancial, como elaborado em organis-mo puro, perfeito e de funcionamento exa-tíssimo na medida e qualidade, semdesordens e desigualdades. Não houvecorpo e saúde semelhante ao de Maria, eseu sagrado leite, ainda que fosse guar-dado por muito tempo não se corrompia,graças às suas naturais qualidades. Por 

especial privilégio, nunca se alteraria,como acontece com o das outras mulhe-

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Quarto Livro - Capítulo 15

Sempre tive essa atenção, masdepois que O concebi em meu seio ja-mais o perdi de vista, nem fui lenta noamor que então me foi comunicado. Nãodescansava meu coração no ardor demais lhe agradar, até que unida e absortana participação daquele sumo Bem e úl-timo fim, repousava por momentoscomo em meu centro. Logo, porém, vol-tava à minha continua solicitude, comoquem prossegue seu caminho, sem pa-rar no que não o ajuda, mas retarda seudesejo.

Tao longe estava meu coração dese apegar a qualquer coisa da terra e seguir a inclinação sensível que, neste ponto, vi-via como se não fosse da comum naturezaterrena. Se as demais criaturas não se li-

 bertam das paixões, ou não as vencem nograu que lhes é possível, não se queixem

da natureza, mas sim da própria vontade.Mais poderia a fraca natureza queixar-sedelas, pois, podendo com o domínio darazão, regê-la e orientá-la, não o fazem.Deixam-na seguir suas desordens e a aju-dam nisso com a vontade livre procu-rando, com a inteligência, mais objetos,

 perigos e ocasiões em que se perca. Por estes precipícios que a vida natural podeoferecer, advirto-te minha caríssima, anão apetecer nem procurar coisa algumavisível, ainda que te pareça necessária emuito justa. Tudo o que usas por necessi-dade, a cela, o vestuário, a alimentação eo mais. seja por obediência, com licençados prelados, porque o Senhor o quer e Euo aprovo para usares de tudo a serviço doTodo-poderoso. Por tantos testes como osque te indiquei, há de passar tudo o quefizeres.

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Quarto Lvr 

sonhos, na mesma hora, ao Mago do qualcada um era custódio.

Esta é a ordem comum das revela-ções angélicas: passarem do Senhor às al-mas, através dos anjos.

Muito copiosa e clara foi esta ilus-tração sobre o mistério da Encamação,feita aos Reis. Foram informados que oRei dos judeus havia nascido, Deus e ho-mem verdadeiro, o Messias e Redentor es-

 perado, prometido pelas Escrituras e profecias (1) e como sinal para o encon-trar, lhes seria mostrada a estrela profeti-zada por Balaão.

Entenderam também, cada um dos

três Reis, que o mesmo aviso era dado aosdois outros, e que tal prodígio e favor nãodevia ser negligenciado, mas cumpria-lhes atender ao que a luz divina lhes ins-

 pirava. Sentiram-se elevados e invadidos por grande amor e desejo de conhecer aDeus feito homem, de adorá-lo por seuCriador e Redentor e de servi-lo com amais alta perfeição.

Para tanto, muito os ajudaram as

excelentes virtudes morais que haviamadquirido, e com as quais se achavam bemdispostos para receber a luz divina.

Os Magos preparam a viagem

555* Despertando do sono, duranteo qual receberam esta revelação, os Ma-gos prostraram-se no solo e, apegados ao

 pó, adoraram em espírito ao ser imutávelde Deus. Exaltaram sua infinita bondadee misericórdia por ter o Verbo divino to-mado carne humana de uma Virgem (Is 7,14; 35, 4), a fim de redimir o mundo etrazer a eterna salvação aos homens.

Impelidos pelo mesmo espírito, re-solveram partir sem demora à Judéia em

 busca do Menino Deus para o adorar. Pre- pararam os três dons para lhe oferecer:ouro, incenso e mirra em igual quantida-de. Em tudo eram misteriosamente ins-

 pirados e sem se haverem comunicado,tomaram as mesmas decisões e fizeram osmesmos preparativos.

A fim de partir o mais depressa possível, no mesmo dia prepararam os ca-melos, criados e bagagens necessáriasl - G n 3,10; 28 ,1 4- 2 hrs 7,13 - I s 9 ,6 - J r  23, 5 - Ez34,23-Nm 24,17 etc

Capitulo 16

 para a viagem. Não se preocuparam como que o povo pensaria de tal novidade;nem que iam a reino estrangeiro sem oaparato de praxe, com insuficiente in-dicação do lugar e de outras informações

 para encontrar e conhecer o Menino. Comfervoroso amor e ardente zelo, resolveram

 partir assim mesmo e logo.

A estrela

556. Neste Ínterim, o santo anjoenviado de Belém aos reis, formou da ma-téria do ar uma estrela fulgurante, aindaque menor que as do firmamento. Perma-

neceu na altura necessária para a finalida-de de sua formação, e na região aéreaguiaria os santos reis até a gruta do Meni-no Deus.

Sua claridade era nova e diferenteda do sol e das outras estrelas. De luz be-líssima, à noite brilhava como tocha cla-ríssima, e de dia, mesmo ao esplendor dsol, podia ser vista.

Ao sair de casa, cada um dos reis

viu a estrela (Mt 2,2), por que se encon-trava em posição e altitude que os três, emdiferentes lugares, puderam vê-la. Diri-gindo-se pela estrela, logo se encontrarame quando se reuniram, ela desceu conside-ravelmente na região do ar, de modo quegozavam mais de perto de sua refulgência.Juntos, conferiram as revelações que ha-viam recebido, suas resoluções e viram

que todos tinham o mesmo propósito. Esta palestra aumentou-lhes o entusiasmo, de-voção e desejos de adorar ao Menino Deusrecém-nascido. Encheram-se de ad-miração e enaltecendo o Todo-poderosoem suas obras e sublimes mistérios.

Chegada a Jerusalém

557. Prosseguiram os Magos a via-gem, guiados pela estrela, e sem perdê-lade vista chegaram a Jerusalém. Tanto por este motivo, como porque aquela grandecidade era a metrópole dos judeus, suspei-taram que ali deveria ter nascido seu le-gítimo e verdadeiro Rei.

Entraram na cidade e foram publi-camente perguntando (Mt 1,2): Onde estáo Rei dos judeus que nasceu? Vimos noOriente sua estrela e viemos adorá-lo.

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Quarto Livro-Capítulo 16

Chegou esta novidade aos ouvidosde Herodes que, naquelaépoca, ainda queinjustamente, reinava na judéia e residiaemJerusalém. Ao ouvir que nascera outrorei mais legítimo, o iníquomonarca se per-

turbou muito, e toda Jerusalém se inquie-tou; uns por lisonja, outros por temor danovidade.

Segundo refere São Mateus (2,3 -5), Herodes reuniu os príncipes dos sa-cerdotes e escribas e lhes perguntou ondedeveria nascer o Cristo que esperavam,conforme suas escrituras e profecias.

Responderam-lhe que, de acordocom o vaticínio do profeta Miquéias (5,

secretamente os reis magos (Mt 2,7 - 8), para informar-se do tempo em que tinhamvisto a estrela pregoeira do nascimento doMenino.

Respondendo-lhe eles com since-

ridade, remeteu-os a Belém, dizendo comdissimuladamalícia: Ide, informai-vos doMenino, e tendo-o encontrado avisai-me,

 para que eu também o vá adorar.Partiram os Magos, ficando o hi-

 pócrita rei inseguro e desgostoso com osindícios tão claros do nascimento do legí-timo Senhor dos judeus.

Poderia sossegar-se com o pensa-mento de que, tão logo, um meninorecém-

2), nasceria em Belém, pois deixara es-crito que dela sairia o chefe que ia reger o povo de Israel.

O rei Herodes

558. Informado Herodes do lugar do nascimento do novo Rei de Israel e me-ditando, desde já, liquidá-lo traiçoeira-mente, despediu os sacerdotes e chamou

nascido não iria privá-lo de sua grandeza.Tão frágil e ilusória, porém, é a prospe-ridade humana que uma criancinha a der-ruba, e uma ameaça, ainda que longínqua,a abala. E, só o pensamento disso tira-lhetodo o gosto e alegria.

Os Magos chegam a Belém

559. Ao sair de Jerusalém, os Ma-

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Quarto Livro • Capítulo 16

gos avistaram novamente a estrela que de-saparecera ao ali entrarem (Mt 9). Se-guindo sua luz chegaram a Belém, na gru-ta do nascimento. Ali a estrela desceu, en-trou, pousou sobre a cabeça do MeninoJesus iluminando-o com seu brilho, em se-

guida, se desintegrou na matéria de quehavia sido formada e desapareceu.Fora nossa grande Rainha avisada

 pelo Senhor da vinda dos três reis. Quandose aproximavam da gruta, Ela avisou SãoJosé, pedindo-lhe que não saísse e perma-necesse ao seu lado.

O texto do santo Evangelho não re-fere este pormenor, como outros tantos

que passaram em silêncio, mas é certo queSão José esteve presente quando os reisadoraram o infante Jesus.

 Não era necessário acautelar-sedisso, porque os Magos vinham instruídosde que a Mãe do recém-nascido era Vir-gem e Ele Deus verdadeiro e não filho deSão José. Deus não traria os reis para oadorarem (Is 7,14; 9,6) sem estarem sufi-

cientemente catequizados. Não deveriamerrar em coisa tão importante, julgando-o por filho de José e de Mãe não virgem. Detudo vinham instruídos, com altíssimacompreensão do que pertencia a tão mag-níficos e sublimes sacramentos.

Chegada dos Magos à gruta

560. Com o Menino Deus nos bra-

ços, esperava a divina Mãe a chegada dos piedosos reis. A incomparável modéstia e beleza de seu rosto iluminado, irradiavasobre-humana majestade no meio daquelahumilde pobreza exterior. O Menino esta-va muito mais refulgente e desprendia talluminosidade que transformou a gruta em

 brilhante céu.Os três reis entraram (Mt 2,11) e à

vista de Filho e Mãe quedaram-se longa-mente suspensos e admirados. Prostra-ram-se em terra e nesta posição adoraramo Infante, reconhecendo-o por verdadeiroDeus e homem, reparador da 1 inhagem hu-mana. Na visão e presença do amabilís-simo Jesus, foram de novo ilustrados inte-riormente pelo poder divino. Viram tam-

 bém a multidão de anjos que, como servose ministros do grande Rei dos reis (Heb 1,14; Apoc 19,16) e Senhor dos senhores, oassistiam com temor e reverência.

Levantaram-se os visitantes e feli-citaram a sua e nossa Rainha por ser Mãedo Filho do eterno Pai, e a reverenciaramde joelhos.

Pediram-lhe a mão para beijar,como costumavam fazer às rainhas em

suas terras. A prudentíssima Senhora, po-rém, retirou a sua e ofereceu a do Redentor do mundo, dizendo: Meu espírito se alegrano Senhor e minha alma o bendiz porque,entre todas as nações, vos escolheu e cha-mou, para que com vossos olhos contem- pleis o Verbo feito homem, o que muitosreis e profetas (Lc 10, 24) desejaram enão alcançaram. Exaltemos e bendigamos

seu nome pelas misericórdias que derra-ma sobre seu povo. Beijemos a terra quesantifíca com sua real presença.

Humildade dos Magos

561. A estas palavras de Mariasantíssima, os três reis humilharam-se no-vamente adorando o Infante Jesus, e re-conhecendo a grande graça de lhes haver 

nascido tão cedo o sol de justiça (Mal 4,2; Lc 1, 78) para iluminar suas trevas.Depois disso, falaram com São

José, felicitando-o por ser esposo da Mãedo próprio Deus.

Compadeceram-se da pobreza emque se encontravam, admirando-se de queos maiores mistérios do céu e da terra es-tivessem por ela velados.

Tendo assim passado três horas, osreis pediram licença à Maria santíssima para ir à cidade arranjar hospedagem, poisna gruta não havia lugar para se alojarem.

Algumas pessoas os seguiam, massó os Magos receberam os efeitos de luze graça. Os outros só viam o exterior, asituação pobre e desprezível da Mãe e deseu Esposo; ainda que se admiraram da

novidade, não conheceram o mistério.Despediram-se os reis. Maria eJosé com o Menino, ficaram glorificandoa Deus com novos cânticosde louvor, por-que seu nome começava a ser conhecido(SI 85,9) e adorado pelas nações.

DOUTRINA QUE ME DEU ARAINHA DO CÉU

Cada qual colhe o que semeia562. Minha filha, os sucessos con-

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Com sua vida, seu exemplo, e pelanotícia que deram do Salvador do mundo,converteram grande número de almas aoconhecimento de Deus e ao caminho dasalvação. Depois, cheios de dias e mere-cimentos, terminaram sua carreira em

santidade ejustiça, sendo beneficiados, namorte, pela Mãe de misericórdia.Tendo os reis partido, ficaram a di-

vina Senhora e São José louvando as ma-ravilhas do Altíssimocom novos cânticos.Percorriam as sagradas Escrituras (1) e as

 profecias dos Patriarcas e verificavamcomo se iam cumprindo no infante Jesus.

A Mãe prudentíssima, que pene-

trava profundamente estes altíssimos sa-cramentos, tudo guardava e meditava emseu coração (Lc 2,19; SI 85,9).

Os santos anjos que assistiam a es-tes mistérios, felicitaram sua Rainha, por seu Filho santíssimo, Deus humanado, ser conhecido e adorado pelos homens.

Cantaram novos cânticos, exaltan-do-o pelasmisericórdias que concedia aos

homens.DOUTRINA QUE ME DEU A RAINHA

DO CÉU, MARIA SANTÍSSIMA

Riqueza e pobreza

571. Minha filha, valiosos foramos dons oferecidos pelos Reis a meu Filhosantíssimo, porém, maior foi o amor com

que os davam e o mistério que sig-nificavam. Por estes motivos foram muitoaceitos e agradáveis ao Senhor. O mesmoquero que lhe ofereças, agradecendo-lhe

 por te fazer pobre no estado e profissão.Asseguro-te, amiga, que não há para o Al-tíssimo oferenda ou dom mais precioso doque a pobreza voluntária. São muito pou-cos os que hoje no mundo usam bem das

riquezas temporais e as oferecem a seuDeus e Senhor, com a generosidade eamor dos santos reis. O grande númerodos pobres do Senhor o experimentam

 bem e são a prova de quão cruel e avarenta

1 - SI 71, 18; Is 60, 6; Km 24 ,17 ; Tob 13,14

se tornou a natureza humana. Existindotantos necessitados, são tão poucos os so-corridos pelos ricos. Esta impiedade tãodescortês dos homens ofende aos anjos econtrista o Espírito Santo, vendo a nobre-za das almas tão decaída, a servir com suasenergias e faculdades à torpe cobiça dodinheiro (Ecle 10,20). Como se as rique-zas tivessem sido criadas só para eles,apoderam-se delas e as recusam aos po-

 bres, seus irmãos da mesma carne e natu-reza. Negam dá-las ao próprio Deus queas criou, sendo quem as conserva e podedá-las e tirá-las como quiser (lRs 2,7). Omais lamentável é que, podendo os ricos

comprar a vida eterna (Lc 16, 9) com asriquezas, com elas mesmas granjeiam sua perdição, como homens insensatos e es-tultos.

Ouro, incenso e mirra

572. Este dano é geral entre os fi-lhos de Adão. Por isto, é tão excelente esegura a voluntária pobreza. E, quando,nela se partilha o pouco com o pobre, sefaz grande oferenda ao Senhor de todos.Tu podes fazê-la dando parte de teu sus-tento ao pobre e desejando socorrer a to-dos se, com teu trabalho e suor, fosse possível. Tua contínua oferta, porém, de-vem ser os atos de amor que são o ouro; aoração contínua que é o incenso; e a pa-ciência nos trabalhos, e a verdadeira mor-

tificação em tudo, que é a mirra. O quefizeres pelo Senhor, oferece-o com fervo-roso afeto e prontidão, sem tibieza e te-mor, porque as obras remissas ou mortasnão são sacrifícioaceitável aos seus olhos.Para oferecer incessantemente estes donsde teus próprios atos, é mister que a fé ea luz divina estejam sempre acesas em teucoração. São elas que te apresentam o ob-

 jeto que deves louvar, enaltecer, e o estí-mulo de amor que sempre deves aoAltíssimo.

 Não cesses este suave exercíciotão próprio das esposas do Senhor, poiseste título significa amor e compromissode contínua afeição.

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CAPÍTULO 1 8

MARIA E JOSÉ DISTRIBUEM OS DONS DOS REIS MAGOS.PERMANECEM EM BELÉM ATÉ A APRESENTAÇÃO

DO MENINO JESUS NO TEMPLO.

Maria e José distribuema oferta dos magos

573. Havendo partido os três reismagos, e celebrado na gruta o grande mis-tério da adoração do infante Jesus, não ha-via mais o que esperar naquele pobre esagrado lugar. A prudente Mãe disse a SãoJosé: Meu senhor e esposo, esta oferta queos reis deixaram a nosso Menino Deus nãodeve ficar sem destino, mas deve ser em-

 pregada em seu serviço, no que for de sua

vontade. Eu nadamereço, mesmo das coi-sas temporais; disponde de tudo como coi-sa de meu Filho e vossa. Respondeu ofidelíssimo esposo, com sua habitual hu-mildade e cortesia, que Ela distribuísseconforme sua vontade. Insistiu a Virgem:Meu senhor, se por humildade quereis vosescusar, fazei-o por caridade com os po-

 bres que pedem a parte que lhes cabe. Temdireito às coisas que seu Pai celestial criou

 para seu sustento.Combinaram ambos distribuir os

dons em três partes: O incenso, mirra e parte do ouro seriam levados ao templo deJerusalém; outra parte ofereceriam ao sa-cerdote que circuncidou o Menino, paraempregá-la para si e para a sinagoga quehavia em Belém; a terceira parte seria dis-tribuída aos pobres. Assim fizeram, com

liberal e fervoroso coração.

Maria e José resolvem deixar a gruta

574. Para saírem da gruta, ordenouo Todo-poderoso que uma pobre, honrada

e piedosa mulher fosse algumas vezes vi-sitar nossa Rainha, pois morava numacasa junto aos muros da cidade, não

longe daquele sagrado lugar. Esta de-vota mulher, sabendo da vinda dos reise ignorando o que haviam feito, foi nodia seguinte falar com Maria Ssma.Perguntou-lhe se sabia o que se passa-va a respeito de uns reis magos, vindosde longe à procura do Messias. Apro-veitando a oportunidade e conhecendoa boa índole da mulher, Maria instruiu-

a na fé, sem lhe revelar o segredo do Rei(Tob 12, 7) escondido n'Ela e no encan-tador Menino que levava em seus divinos

 braços. Deu-lhe também um pouco doouro destinado aos pobres. Com estes

 benefícios, a sorte da feliz mulher ficoumelhorada em todos os sentidos. Afei-çoada à sua Mestra e benfeitora, ofere-ceu-lhe sua casa que, sendo pobre, era bem apropriada para hospedar os ar-tífices e fundadores da santa pobreza.Insistiu muito a pobre mulher, vendo adescomodidade da gruta onde se encon-trava a sagrada Família. Não desprezouo oferecimento a Rainha, e com interes-se respondeu à mulher que a avisaria doque resolvesse. Falando com São José arespeito, resolveram ir à casa da devotamulher e esperar ali até a Purificação e

Apresentação no templo. O que mais con-tribuiu para esta decisão foi a proximidadeda gruta do nascimento, como também

 porque muita gente começava a afluir ali,atraída pelo rumor que se ia espalhando arespeito da visita dos reis.

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Quarto Livro - Capítulo 18

Devoção à Terra Santa

575. Por necessidade, ainda quecom sentimento, Maria Ssma., São Josée o Menino deixaram a gruta. Foram

hospedar-se na casa da feliz mulher, queos recebeu com grande caridade e lhesofereceu a melhor parte de sua habi-tação. Acompanharam-nos todos os an-

 jos, ministros do Altíssimo, na formahumana em que sempre os assistiam.Iam e voltavam com a divina Mãe e seu

o sangue e os pés do Senhor e de sua MãeSsma., e com as obras de nossa redenção.Se tanto não fosse possível, não há des-culpa de, pelo menos, contribuírem para

o decoro daqueles misteriosos lugares,com toda diligência e fé. Quem tem estavirtude transportará grandes montes (Mt17,19; Mc 9,22), pois tudo é possível aoque crê. Foi-me dado a entender que apie-dosa devoção e veneração à Terra Santa éum dos meios mais eficazes para o es-

esposo, quando visitavam a gruta. Além

disso, quando o Menino e sua Mãe saí-ram de lá, Deus colocou, como no paraí-so (Gn 3, 24), um dos anjos paraguardá-la. Ali sempre permanece atéagora, com uma espada, e nunca maisentrou nenhum animal naquele lugar santo. £, se o santo anjo não impede aentrada dos infleis, em cujo poder se en-contra aquele e os outros santos lugares

(1), é pelosjuízos do Altíssimo, que dei-xa os homens agirem, para os fins de suasabedoria ejustiça. Não seriam necessá-rios milagres, se os príncipes cristãos ti-vessem fervoroso zelo da honra e glóriade Cristo. Procurariam a restauração da-queles santos lugares, consagrados com

1 - No século XVIII, época da Escritora, os lugares santosestavam sob a dominação dos muçulmanos. Atualmente asituação é diversa.

tabelecimento e conservação das monar-

quias católicas. Estas nâo podem negar que poupar muitos gastos excessivos e su- pérfluos para serem empregados em tão piedosa empresa, seria grato a Deus e aoshomens, nem precisaria aduzir ex-traordinárias razões para justificar taisdespesas.

Maria prepara-se para a apresentação576. Permaneceu Maria puríssima

e seu Filho naquela casa próxima da grutaaté o dia em que, de acordo com a lei, de-veria se apresentar purificada ao templocom o seu Primogênito. A mais santa dascriaturas quis se dispor dignamente paraeste mistério, com fervorosos desejos deapresentar ao etemo Pai, no templo, seu

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Quarto Livro - Capitulo 18

infante Jesus. Juntamente com Ele, queriaapresentar-se adornada com grandesobras, que a tomassem digna hóstia e ofe-renda para o Altíssimo. Nesta intenção,fez a divina Senhora naqueles dias até o

da Purificação, tais e tão heróicos atos deamor e de todas as virtudes, que línguahumana nem angélica podem explicar.Muito menos o poderá uma mulher detodo inútil e ignorante. A piedade e devo-ção cristã fará sentir estes mistérios, àque-les que se dispuserem à sua contemplaçãoe veneração. Por alguns favores maisinteligíveis, recebidos pela Virgem Mãe,

 poder-se-ão deduzir e imaginar outros que

nào cabem em palavras.

Convívio entre o Menino Jesusesua Mãe

577.0 infante Jesus falou com suaamorosa Mãe, com voz inteligível, desdeque nasceu quando lhe disse: Imita-me,Esposa minha, e assemelha-te a Mim -

conforme escrevi em seu lugar, no capítu-lo 10. Falava com perfeita dicção, masapenas quando estava a sós com a divinaMãe. O santo esposo José nunca o ouviufalar antes de um ano, quando então o Me-nino falou a ele. A divina Senhora tam-

 pouco lhe revelou este favor, porqueentendeu que era só para Ela. As palavrasdo Menino Deus eram cheias de majesta-de, digna de sua grandeza; traziam a efi-

cácia de seu poder divino, e estavam àaltura de sua verdadeira Mãe, a mais pura,santa, sábia e prudente das criaturas. Asvezes dizia: Minha querida pomba, minhaMãe caríssima (Cant 2,10; 7,6). Nestescolóquios amorosos, descritos pelos Cân-ticos de Salomão, e em outros mais ínti-mos e contínuos, viviam Filho e Mãesantíssimos. Os favores recebidos pela di-

vina Princesa, as palavras de carinho e do-çura que ouviu, ultrapassaram ao dosCânticos de Salomão e a todas as que fo-ram dftas ou pensadas por todas as almas

 justas e santas, desde o princípio até o fimdo mundo. Nestes amáveis mistérios,muitas vezes o infante repetia aquelas pa-lavras: Minha pomba e minha Mãe, as-semelha-te a Mim. Sendo palavras de vidae virtude infinita, recebidas com a ciência

divina que Maria santíssima tinha dos atos

interiores da alma de seu Filho unigênito- nào há língua que possa explicar, nem

 pensamento que chegue a perceber, osefeitos que essas íntimas influências pro-duziam no cândido e inflamado coração

da Mãe daquele Filho que era Homem eDeus.

Prerrogativas de Maria

578. Entre as mais elevadas prerro-gativas de Maria puríssima, a primeira éser Mãe de Deus, fundamento das demais.A segunda, ser concebida sem pecado. Aterceira, gozar durante esta vida muitas ve-zes, de passagem, a visão beatífica. Aquarta que gozava continuamente, era ver com claridade a alma santíssima de seu Fi-lho e todos os seus atos, para imitá-los.Era-lhe como um espelho claro e puríssi-mo no qual se olhava constantemente,adornando-se com as preciosas jóias da-quela alma santíssima, que copiava em simesma. Via-a unida ao Verbo divino a

quem, com profunda humildade, se reco-nhecia inferior quanto à humanidade. Co-nhecia com visão claríssima seus atos deagradecimento e louvor por ter sido criadado nada, como as demais almas, e pelosdons e favores que, mais do que todas, re-cebera enquanto criatura, especialmente

 por sua natureza humana ter sido sublima-da à união inseparável com a Divindade.A divina Mãe entendia assúpl icas, orações

e pedidos incessantes que o Filho apresen-tava ao etemo Pai pela raça humana e que,em tudo quanto fazia, ia preparando e rea-lizando sua Redenção e doutrina, comoúnico Reparador e mestre de vida eterna.

Maria, perfeita discípula de Cristo

579. Estes atos da santíssima hu-

manidade de Cristo, nosso bem, eram re- produzidos pela Mãe puríssima. Em todaesta Históriahaverá muito que dizer sobretão grande mistério. Este exemplar estevesempre ante seus olhos, e por ele modeloutodas suas ações e operações, desde a En-camação e Nascimento de seu Filho.Como industriosa abelha foi compondo ofavo dulctssimo, no qual o Verbo huma-nado encontrava suas delícias. Descendo

do céu para ser nosso Redentor e Mestre.

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Quarto Livro - Capítulo 18

quis que sua Mae santíssima, de quem re-cebeu o ser humano, participasse por al-tíssimo e singular modo, dos frutos daredenção. Ela seria a única e singular dis-cípula em quem imprimiria ao vivo suadoutrina, formando-a tão semelhante a Si

mesmo, quanto era possível em pura cria-tura. Por estes favores e desígnios do Ver- bo humanado, se há de coligir a grandezados atos de sua Mãe Ssma., e as delíciasque sentia em seus braços. Neles, e em seu

 peito, reclinava-se como em leito florido(Cant 1,15) o verdadeiro Esposo.

Maria, primeira catequista

580. Durante os dias que a Rainhasantíssima permaneceu em Belém até aPurificação, vieram algumas pessoas vi-sitá-la. Quase todas eram das mais pobres.Umas, por causa das esmolas que d'Elarecebiam; outras por terem sabido que osmagos tinham estado na gruta. Todas co-mentavam a novidade, e falavam da vinda

do Messias. Naqueles dias (não sem dis- posição divina) falava-se muito, entre os judeus, que chegara o tempo de seu apa-recimento no mundo. Estas conversas da-vam à Mãe prudentíssimamuitas ocasiões

 para agir de modo grandioso. Tanto emguardar no coração para meditar (Lc 2,19) tudo o que via e ouvia, como também

 para encaminhar muitas almas ao conhe-

cimento de Deus econfirmá-las na fé. Ins-truía-as nas virtudes, esclarecia-as sobreos mistérios do Messias que esperavam elibertava-as da grande ignorância em queestavam, como gente rústica e de poucacapacidade para as coisas divinas. Nestamatéria, contavam-lhe tantas invenções ehistórias de mulheres, que o santo e sin-gelo esposo José costumava sorrir e se ad-

mirar das respostas cheias de sabedoria eeficácia com que a grande Senhora ins-truía a todos; da paciência com que os tole-rava, da profunda humildade e docegravidade com que os levava ao conheci-mento da verdade e da luz. Deixava a to-dos satisfeitos, consolados e instruídos dequanto precisavam, porque dirigia-lhes

 palavras de vida eterna (Jo 6,68) que lhes penetrava o coração, afervorando-os eanimando-os.

DOUTRINA DA RAINHA DO CÉUMARIA SSMA. SENHORA NOSSA

Desapropriação

581. Minha filha, na clara visão daluz divina recebi, mais do que todas ascriaturas, o conhecimento do baixo preçoe estimação que os bens e riquezas da terratêm diante do Altíssimo. Por isto, foi pe-noso e cansativo à minha santa liberdade,ver-me onerada com os tesouros que osreis ofereceram a meu Filho santíssimo.Como em todas minhas obras, porém, de-veria resplandecer a humildade e obediên-cia, não quis me apropriar nem dispor deles por minha vontade pessoal, senão

 pela de meu esposo José. Assim procedi,como se fosse sua serva e como se nadativesse com aqueles bens temporais. Paravós, criaturas fracas, é feio e perigosoapropriar-vos de qualquer bem terreno,tanto de coisas materiais como de honra, porque nisso entra a cobiça, ambição e vã

ostentação.

Acautelar-se da cobiça

582. Quis dizer-te tudo isto, carís-sima, para que em todas as matérias fiquesinstruída a não aceitar, nem te apropriaresde ofertas e honras mundanas, como sealgo te fosse devido, ainda menos quando

as recebes de pessoas de posição. Guardatua liberdade interior e não faças osten-tação do que nada vale, nem pode te jus-tificar diante de Deus. Se receberes algum

 presente, não digas: Deram-me ou trouxe-ram-me isto, mas sim: O Senhor envia isto

 para a comunidade, e rezem por quem foiinstrumento de sua misericórdia. Nomeiao ofertante para que rezem por suas inten-

ções em particular, e não se frustre o fim para o qual a esmola foi oferecida. Não asrecebas pessoalmente, pois poderia dar ocasião à cobiça, mas deixa às oficiais dis-so encarregadas. Se, pelo oficio de prela-da, for necessário que as recebas, depoisque estiver dentro do convento entrega-asa quem compete, para ser  distribuída àcomunidade. Procede sempre com des-

 prendimento, mostrando que não pões teuafeto nessas coisas. Não obstante, deves

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Quarto Livro - Capítulo 18

agradecer ao Altíssimo e a quem te bene-ficiou, e reconhecer que nada mereces. Oque trouxerem às demais religiosas, agra-dece como superiora, e com solicitudecuida logo que se aplique à comunidade,sem tomar coisa alguma para ri. Nem

olhes com curiosidade o que vem ao con-vento, para que não se deleitem os senti-dos, nem se inclinem a apetecê-los e adesejar que te façam tais benefícios.A na-tureza, frágil e cheia de paixões, incorrefreqüentemente em muitos defeitos quenão se consideram bastante. Nada se podefiar da natureza contaminada, que semprequer mais do que tem, nunca diz basta, equanto mais recebe mais sede tem de re-

ceber.

Cautelas na vida interior 

583. Ainda mais atenta quero quesejas no trato íntimo e freqüente com oSenhor por incessante amor, reverência elouvor. Nisto, minha filha, quero que tra-

 balhes com todas tuas forças, que apliques

tuas potências e sentidos sem interrupção,com solicitude e cuidado. Sem este empe-nho, a parte inferior que agrava a alma(Sab 9,15) forçosamente a derruba, dis-trai e precipita, fazendo-a perder de vistao sumo Bem. Este amoroso convívio como Senhor é tão delicado, que se perde ape-nas por dar atenção em ouvir as fabul açõesdo inimigo. Por isto, ele insiste tanto paraser ouvido, pois sabe que o castigo de oterem escutado será esconder-se (Cant 5,6) à alma o objeto de seu amor. Assim,aquela que ignorou sua formosura (Cant1, 7; 5, 7) vai atrás das pegadas de seusdescuidos, privada da suavidade divina.

Quando, mau grado seu, experimenta ador de seu mal e quer voltar a encontrá-la,nem sempre a acha (Cant 3,1 - 2), nemlhe é restituída. Aqui, o demônio que aenganou lhe oferece outros deleites tão vise diferentes daqueles a que seu gosto inte-rior estava acostumado, que a alma se en-che de tristeza, perturbação, desânimo,tibieza e fastio, ficando em perigosa con-fusão.

Por Maria a Jesus

584. Desta verdade tens tu, carís-sima, alguma experiência, por tua negli-gência e lentidão em crer nos benefíciosdo Senhor. Já é tempo que sejas prudenteem teu mscernimento e perseverante emconservar o fogo do santuário (Lev 6,12),sem perder de vista um momento o mesmoobjeto a que eu sempre estive atenta, comtodas as forças de minha alma e potências.Verdade é que há grande distância entreti, vil bichinho, e o que em Mim desejoque imites; nem podes gozar do bem ver-

dadeiro tão imediato como Eu o tinha etampouco agir nas mesmas condições queEu. No entanto, já que te ensino e mani-festo o que Eu fazia, imitando a meu Filhosantíssimo, podes, segundo tuas forças,imitar a Mim, entendendo que o vês por outro prisma. Eu olhava-O através de suahumanidade santíssima, e tu através deminha alma e pessoa. Se o Todo-poderosoa todos chama (Mt 11,28) e convida a esta

alta perfeição, se a quiserem seguir, con-sidera tu o que deves fazer por ela, poistão larga e poderosa se mostra contigo adestra do Altíssimo para te atrair (Cant 1,3) após Si.

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 Nasc imento de Jesus - des enho das Benedi tinas de Cockfosters

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CAPÍTULO 19

MARIA E JOSÉ VÃO A JERUSALÉM PARA APRESENTAR OMENINO JESUS NO TEMPLO, EM CUMPRIMENTO DA LEI.

A lei da Purificação

585. Já estava terminando o prazo

dos quarenta dias em que, conforme a lei(Lc 12» 4), a mulher que dava à luz eraconsiderada impura. Depois desses qua-renta dias de purificação, apresentava-seao templo. Para observar estalei, e aomes-mo tempo a outra do Êxodo (13,12) emque Deus ordenava lhe fossem oferecidosos primogênitos, a Mãe da mesma purezaquis ir a Jerusalém. Ali apresentar-se-iano templo com o Unigênito do eterno Paie seu, e seria purificada como as outrasmães.

 No que lhe dizia respeito, não tevedúvida alguma em obedecer a estas leiscomo qualquer mãe. Não ignorava suainocência e pureza da qual, desde a Encar-naçâo do Verbo, teve certeza, como tam-

 bém que não contraíra o pecado original,comum a todos os mortais. Não esqueciaque concebera por obra do Espírito Santo(Lc 1,15) e dera à luz sem dor, permane-cendo sempre virgem e mais pura que osol. Não obstante, sua prudência não du-vidava submeter-se à lei comum, impelida

 pelo contínuo e ardente desejo de seu co-ração a se humilhar e apegar-se ao pó.

A lei da Apresentação

586. Quanto à apresentação de seuFilho santíssimo pôde ter alguma incerte-za, como aconteceu na circuncisão, por-que sabia que Ele era Deus verdadeiro e

estava acima das leis que Ele mesmo de-cretara. Foi, porém, informada da vontadedo Senhor por luz divina e pelos atos da

alma santíssima do Verbo humanado. Nesta luz viu os desejos d'Ele em se ofe-recer como hóstia viva (Ef 5,2) ao eternoPai. Com esta oferenda queria agradecer-lhe a formação de seu corpo puríssimo ea criação de sua alma santíssima, destina-dos ao sacrifício que ofereceria pela raçahumana e salvação dos mortais. Estes atosforam sempre atuais na humanidade san-tíssima do Verbo, não só como compreen-sor, conformando-se com a vontadedivina, mas também como viador e Re-dentor.

Apesar disto quis, observando alei, fazer esta oferenda ao Pai no seu santotemplo (Deut 12,5), onde todos o adora-vam e enalteciam, como em casa de ora-ção, expiação e sacrifício.

Partida para Jerusalém

587. A grande Senhora com seu es- poso organizaram a viagem, para estar emJerusalém no dia marcado pela lei. Preve-nindo o necessário, despediram-se da pie-dosa mulher  que os hospedara.Deixaram-na cheia de bênçãos celestes,cujos frutos colheu copiosamente, em-

 bora ignorasse o mistério de seus divinoshóspedes.A sagrada Famíliadirigiu-se à gru-

ta do nascimento, para dali começar a via-gem com uma última veneração àquelesacrário humilde, mas tão rico de feli-

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Quarto Livro - Capítulo 19

cidade ainda desconhecida. Maria entre-gou o Menino Jesus a São José, para se

 prostrar em terra e adorar o solo, testemu-nha de tão veneráveis mistérios. Haven-do-o feito, com incomparável devoção eternura, disse a seu esposo: Senhor, dai-

me a bênção para esta viagem, como sem- pre me dais quando saio de vossa casa.Peço-vos também permissão para fazê-laa pé e descalça, pois levarei em meus bra-ços a hóstia que será oferecida ao eternoPai. Este ato é misterioso, e desejo fazê-lo,o quanto me for possível, nas condiçõesque sua grandeza exige.

Usava nossa Rainha, pormodéstia,um calçado que lhe cobria os pés e quaselhe servia de meias. Era de fibra vegetal,como usavam os pobres, semelhante aocânhamo, trabalhado e tecido toscamente,mas forte, limpo e em ordem.

Obediência de Maria

588. São José pediu-lhe que se le-vantasse, pois ela estava de joelhos, e lhe

respondeu: O altíssimo Filho do etemoPai, que tenho em meu braços, vos dê sua

 bênção. Ide feliz, à pé, levando-o em vos-sos braços, mas não descalça, porque otempo não o permite. O Altíssimoaceitaráo desejo que Ele próprio vos inspirou.Com grande respeito, usava SãoJosé a au-toridade de superior com Maria Ssma.,

 para não privá-la do prazer que a grande

Rainha experimentava em se humilhar eobedecer. Como o santo esposo tambémassim fazia por obedecer, humilhando-see mortifícando-se emmandá-la, ambos vi-nham a ser obedientes e humildes. Não

 permitiu que fosse descalça a Jerusalém, porque temia que o frio lhe prejudicassea saúde. Ele não estava a par da admirávelconstituição do perfeitíssimo corpo virgi-

nal, nem de outros privilégios com que adivina destra o havia dotado.

A obediente Rainha não replicou,e obedeceu à ordem do santo esposo. Parareceber das mãos dele o Menino Jesus,

 prostrou-se em terra, deu-lhe graças e oadorou pelo beneficio que, naquela sagra-da gruta, havia concedido a Ela e a todo ogênero humano. Pediu ao Senhor conser-

vasse aquele sacrário venerado entre oscatólicos,e recomendou-o de novo ao san-

to Anjo destinado a guardá-lo. Vestiu omanto de viagem, e recebeu em seus bra-ços o tesouro do céu. Reclinou-o em seu

 peito virginal, cobrindo-o com grande cui-dado para o defender do mau tempo inver-nal.

Procissão admirável

589. Partiram da gruta, pedindoambos a bênção do Menino Deus, que adeu visivelmente. São José acomodou no

 jumentinho a caixa das roupinhas do di-vino Infante, e a parte dos presentes dosreis, que reservavam para oferecer no tem-

 plo. Assim se ordenou de Belém a Jerusa-lém a mais solene procissão, jamais vistano templo. Acompanhando o Príncipe daseternidades, Jesus, a Rainha sua Mãe comJosé seu esposo, iam os dez mil anjos quehaviam assistido os mistérios operados nagruta, e ainda outros muitos anjos que ti-nham descido do céu, trazendo o santo eamável nome de Jesus na circuncisão. To-dos estes celestes cortezãos iam em forma

humana visível, tão formosos e refulgen-tes que em comparação de sua beleza,todo o precioso e deleitável do mundo

 pareceria menos que barro e escória com- parados com ouro finíssimo.

Quando o sol era ardente faziam-lhe sombra, e as noites transformavam emdias claríssimos. A divina Rainha e seuesposo José gozavam de sua vista e cele-

 bravam com eles o mistério da apresen-tação do Menino Deus ao templo.Cantando-lhe novos e sublimes hinos delouvor, caminharam as duas léguas de Be-lém a Jerusalém.

Rigor da temperatura

590. Naquela ocasião, o que não

seria sem determinação divina, o frio e ageada, não perdoando a seu próprio Cria-dor humanado, afligia o tenro Menino.Tremendo como verdadeiro homem, cho-rava nos braços de sua amorosa Mãe, quemais sofria no coração pela compaixão eamor, do que no corpo pela intempérie. A

 poderosa Imperatriz dirigiu-se aos ele-mentos, e como Senhora deles repreen-

deu-os com santa indignação, por ofenderem seu Criador. Ordenou-lhes que

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Quarto Livro - Capitulo 19mm ^ u y w .Wjpu ujffay1"'*'

moderassem seu rigor com o MeninoDeus, mas não com Ela. Obedeceram oselementos à ordem de sua legítima e ver-dadeira Senhora: o ar frio tomou-se bran-da e aquecida viração para o infante,enquanto para a Mãe continuou em suarigorosa temperatura. Deste modo, Elasentia o frio, mas seu meigo Filho ficavaabrigado, como em outras ocasiões tenhodito, e repetirei adiante. Voltou-se tam-

 bém contra o pecado, Aquela que não ocontraiu dizendo: O monstruosa culpa, to-talmente desumana, pois para teuremédioé necessário que o próprio Criador sejaafligido pelas criaturas às quais deu e con-

serva a existência! Monstro horrendo, ésa ofensa a Deus e a destruição das criatu-ras; transforma-as em abominaçao e lhesarrebatas a maior felicidade que consisteem serem amigas de Deus. O filhos doshomens, até quando sereis de coração duro,amando a vaidade e a mentira (SI 4, 3)?

 Não sejaistão ingratos para com o al-tíssimo Deus, e tão cruéis convosco mes-mos. Abri os olhos e vede vosso perigo. Não desprezeis os preceitos de vosso Paicelestial, nem esqueçais (Prov 1, 8) osensinamentos da Mãe que vos gerou pelacaridade. Tomando o Unigênito do Paicarne humana em minhas entranhas, mefez Mãe de toda a natureza. Como tal vosamo, e se fosse vontade do Altíssimo queeu sofresse todas as penajMjué existemdesde Adão até agora, aceitá-las-ia com

gosto, pela vossa salvação, se me fosse possível.

Revelação a Simeão e Ana

591. Enquanto a divina Senhora eseu Menino Deus dirigiam-se para Jeru-salém, aconteceu que o sumo sacerdoteSimeão, iluminado pelo Espírito Santo foi

ali e recebeu a revelação de que o Verbohumanado, nos braços de sua Mãe, vinhaapresentar-se no Templo. A santa viúvaAna teve a mesma revelação, sabendotambém que vinham acompanhados doesposo José, com desconforto e pobreza.Conferindo os dois santos esta revelação,chamaram o mordomo do Templo que ad-ministrava as coisas temporais; Informan-

do-o sobre os viajantes, mandaram-no à porta que dava para a estrada de Belém, a

fim de os receber e hospedar em sua casa,com toda benevolência e caridade. Assimo fez o mordomo, o que muito confortoua Rainha e seu esposo, pois vinham preo-cupados em achar hospedaria conveniente

a seu divino Infante. Deixando-os em suacasa, o feliz hospedeiro foi participar aosumo sacerdote tudo o que se passara.

Pobreza e humildade

592. Naquela tarde, antes de serecolherem, combinaram Maria e José oque deviam fazer. A prudentíssima Se-nhora foi de parecer que José levasse ao

Templo, na mesma tarde, os dons dos reis, para oferecê-los sem dar na vista, comodevem ser feitas, as esmolas e ofertas. Aovoltar, o santo esposo traria as duas rolas(Lc 2,24) que, no outro dia, ofereceriam

 publicamente com o Menino Jesus. Joséconcordou. Levou a mirra, o incenso e oouro e, sendo forasteiro e desconhecido,não foi notado como o ofertante de tãogrande esmola. Teria podido, com aquele

haver, comprar o cordeiro (Lev 12,6) queos mais abastados ofereciam com os pri-mogênitos. Não o fez, porque estaria emdesacordo com a aparência humilde e po-

 bre da Mãe, Filho e esposo, ofereceremricas ofertas publicamente. Não convinhase afastarem da pobreza (Mt 8,20) e hu-mildade, ainda que fosse com motivo pie-doso e honesto. A Mãe da Sabedoria foi,

em tudo, mestra de perfeição, e seu Filhosantíssimomestre da pobreza em que nas-ceu, viveu e morreu.

Simeão e Ana

593. Conforme disse São Lucas,era Simeão homem justo, temente a Deus

e esperava a consolação de Israel (Lc 2,25 - 27). O Espírito Santo que estava nele,lhe revelara que não morreria sem antesver o Cristo do Senhor. Movido pelo Es- pírito Santo veio ao Templo. Alémdo que já entendera, foi naquela noite novamenteilustrado pela divina luz. Nela conheceu,com maior clareza, os mistérios da Encar-naçâo e Redenção humana: - Que em Ma-ria S sma. se haviam cumprido as profeciasde Isaias (7,14; 11,1), de que uma Virgem

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conceberia e teria um filho; que da varade José desabrocharia uma flor, Cristo, etudo o mais destas e de outras profecias.Recebeu luz muito clara sobre a união dasduas naturezas na Pessoa do Verbo, e dosmistérios da Paixão e Morte do Redentor.

Com a inteligência de coisas tão sublimes,ficou o santo homem todo elevado e fervo-roso, com desejos de ver o Redentor domundo. Como já recebera notícia de queviria apresentar-se ao Pai, Simeão foi nodia seguinte ao Templo (Lc 2,27) levadoem espírito, quer dizer, pela força da divi-na luz. No capítulo seguinte direi o queaconteceu.

Ana, santa mulher,também teve namesma noite a revelação de muitos dessesmistérios. Grande foi a alegria de seu es-

 pírito porque, como disse na primeira par-te desta História (1), ela havia sido mestrade nossa Rainha, quando esta viveu noTemplo. Diz o Evangelista (Lc 2,37) queAna nâo se afastava do Templo, servindodia e noite, com orações e jejuns; que era

 profetiza, filha de Fanuel, da tribo deAser; que vivera sete anos com seu marido(Lc 2,36), já contava oitenta e quatro anosde idade, e falou profeticamente do Me-nino Deus, como se verá.

DOUTRINA QUEME DEU A RAINHA DO CÉU

Amor fervoroso594. Minha filha, uma dasmisérias

que toma pouco felizes, ou de todo infeliz,as almas é se contentarem em praticar asvirtudes com negligência e sem fervor,como se fossem coisa de pouca importân-cia e casual. Por esta ignorância e mesqui-nhez de coração,. são poucas as quechegam ao íntimo trato e amizade com o

Senhor, o que só se alcança com amor fer-voroso. Chama-se fervente ou fervoroso porque, semelhante à água que ferve nofogo, assim este amor com a suave vio-lência do divino incêndio do Espírito San-to, eleva a alma acima de si mesma, desuas obras e de toda a criação. Amando,mais se acende, e do mesmo amor lhe nas-ce insaciável desejo, pelo qual não só des

1 -1 'par te n° 423 * "~

 preza e esquece as coisas terrenas, mastudo quanto é bom ainda não chega a sa-tisfazê-la. E, como o coração humano,quando não consegue o que muito ama|mais se inflama no desejo de o alcançar 

 por novos meios, assim se a alma tem fer-

vente caridade, sempre acha o que desejar e fazer pelo amado, e tudo quanto faz lhe parece pouco. Deste modo, procura e pro-gride da boa à perfeita (Rom 12, 2) von-tade, e desta à de maior conformidade como Senhor, até chegar à perfeitíssima e ín-tima união e transformação em Deus.

Progressos do amor 595. Daqui entenderás, caríssima,

a razão por que eu desejava ir descalça aoTemplo, para ali apresentar meu Filhosantíssimo e cumprir a lei da Purificação.Dava a meus atos a plenitude possivel de

 perfeição, pela força do amor, que sempreme pedia o mais perfeito e agradável aoSenhor. A isto era movida pela fervorosaânsia de praticar as virtudes no mais per-feito grau. Trabalha por imitar, com todadiligência, o que vês em Mim, porque teadvirto, minha amiga: esta maneira deamar e de agir é o que o Altíssimo estádesejando e esperando (Cant 2,9) por trásdas cancelas (2), como falou à esposa. Elefica a olhá-la como faz todas as coisas, tão

 próximo, que medeia apenas uma grade

 para ela gozar de sua visão. Atraído e ena-morado, acompanha as almas que assimo amam e servem, enquanto se desvia dastíbias e negligentes, ou as açode apenascom uma comum e geral providência. As-

 pira tu, sempre o mais perfeito e puro dasvirtudes. Nelas, estuda e inventa semprenovos modos e indústrias de amar, demodo que todas tuas forças e potências

interiores e exteriores estejam continua-mente ocupadas no mais elevado e exce-lente, para o prazer do Senhor.

Comunica e submete todos estesdesejos à obediência e conselho de teumestre e pai espiritual, para fazer o queele mandar, porque isto é o principal emais seguro.

2 - Cancela: Porta gradeada. A grade é sugestiva figura defé, a um tempo clara e obscura. (Nota da Tradutora)

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CAPÍTULO 20

A APRESENTAÇÃO DO MENINO JESUS NO TEMPLO.

Razões da apresentação de Jesus

596. Pela razão de ser criada, a hu-manidade santíssima de Cristo era pro-

 priedade do eterno Pai, como as demaiscriaturas. Por especial modo e direito, per-tencia-lhe também em virtude da união hi-

 postática com a pessoa do Verbo, geradade sua mesma substância, seu Filho uni-gênito, verdadeiro Deus de Deus ver-dadeiro. Apesar de tudo isto, determinouo Pai que seu Filho lhe fosse apresentadono templo, tanto pelo mistério como para

cumprir sua santa lei, estabelecida em vis-ta de Cristo nosso Senhor (Rom 10,4).Fôra ordenado aos judeus a consa-

gração dos primogênitos (Ex 13, 2; Heb1, 6), na expectativa daquele que seria o

 primogênito do Pai etemo e da VirgemMãe. A nosso modo de entender, Deus

 procedeu como acontece entre os homensque gostam de repetir o que lhes agrada e

compraz. Ainda que o Pai, com infinitasabedoria, tudo sabia e conhecia, sentiagosto na oferenda do Verbo humanadoque, por tantos títulos, lhe pertencia.

Oração de Maria

597. A Mãe da vida, Maria Ssma.,conhecia esta vontade do etemo Pai, que

era a mesma de seu Filho santíssimo, en-quanto Deus igual ao Pai. Conhecia tam- bém a vontade da humanidade de seuUnigênito, cuja alma e operações via in-teiramente confonne à vontade do Pai.Com esta ciência, a grande Princesa pas-sou em divinos colóquios aquela noite em

que chegaram em Jerusalém, antes daapresentação. Dirigindo-se ao Pai, dizia:Senhor e Deus altíssimo, Pai de meu Se-nhor, festivo será para o céu e a terra este

dia, no qual vos ofereço, em vosso sagradotemplo, a hóstia viva, o tesouro de vossamesma divindade. Preciosa é a oblação,Senhor e Deus meu, e por ela bem podeisfranquear vossas misericórdias ao gênerohumano; perdoai aos pecadores que des-viaram os retos caminhos; consolai aostristes; socorrei os necessitados; enri-quecei aos pobres; favorecei os desampa-

rados; alumiai os cegos; guiai os trans-viados. É o que vos peço ao vos oferecer vosso Unigênito e também meu Filho, por vossa dignação e clemência. Vós mo des-tes Deus, eu vô-lo apresento Deus e Ho-mem juntamente. A oferta é de valor infinito, e o que peço é de muito menor valor. Volto .enriquecida a vosso templosanto, donde saí pobre. Minha alma vosexaltará eternamente, porque vossa destradivina se mostrou poderosa e liberal paracomigo.

Chegada ao templo

598. Pela manhã, - para que o soldivino aparecesse ao mundo nos braçosda puríssima aurora - a divina Senhora,

tomando as rolinhas e duas velas, envol-veu o infante Jesus, e com o santo esposoJosé saíram em direção ao templo.

Ordenou-se a procissão dos santosanjos que tinham vindo de Belém, na mes-ma forma corpórea e belíssima, como dis-se acima. Desta vez, estes santos espíritos

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entoavam ao Menino Deus melodiososcânticos, com suavíssima e hannoniosamúsica que só Maria ouvia. Além dos dezmil que iam nesta forma, desceram do céuoutros inumeráveis. Unidos aos que leva-vam o dístico do santo nome de Jesus,

acompanharam o Verbo divino feito ho-mem em sua Apresentação. Estes anjosiam sem forma corpórea, em sua próprianatureza espiritual, e só a divina Princesaos podia ver.

Chegando à porta do templo, sen-tiu a feliz Mãe novos e altíssimos efeitosinteriores de suave devoção. Prosseguiuaté o lugar das outras mães. Inclinou-se

(Jo 4, 23) e de joelhos adorou o Senhor,em espírito e verdade, em seu santo tem- plo, apresentando-se com seu Filho nos braços, ante suaaltíssima emagníficaMa- jestade. Logo se manifestou, em visãointelectual, a santíssima Trindade. Ouviua voz do Pai que dizia: Este é meu Filho

 bem-amado, em quem tenho rninha com- placência (Mt 17,5). Só Maria puríssimaouviu esta voz, mas o feliz São José sentiu

suave influência do Espírito que o encheude gozo e luz divina.

Cântico de Simeão

599, O sumo sacerdote Simeão,conduzido também pelo Espírito Santo,como foi dito no capítulo precedente, en-trou no templo (Lc 2,27). Dirigindo-se ao

lugar onde se encontrava a Rainha com oinfante Jesus nos braços, viu Filho e Mãeenvoltos em resplendor e glória. Era estesacerdote avançado em anos e muito ve-nerando. Igualmente a profetisa Ana que,como diz o Evangelho, veio ali à mesmahora (Lc 2,38), e viu a Mãe com o Filho

 banhados de admirável e divina luz.Cheios de alegria celeste, aproximaram-

se da Rainha do céu, e o sacerdote recebeudas mãos dela o Menino Jesus (Lc 2,28).Tendo-o nas suas, levantou os olhos aocéu, ofereceu-o ao etemo Pai e proferiuaquele cântico cheio de mistérios (Lc 2,29- 32): Agora, Senhor, deixa teu servo

 partir em paz, segundo a tua palavra; por-que os meus olhos já viram aquele que éa tua salvação; aquele que enviaste diante

de todos os povos; luz para revelação dasnações e glória de Israel teu povo. Foi

como se dissesse: Agora, Senhor, solta-me e deixa-me ir em paz, libertado dascadeias deste corpo mortal, onde me pren-dia a esperança de tua promessa e o desejode ver teu Unigênito feito carne. Já gozode paz segura e verdadeira, pois meus

olhos viram a tua salvação, teu Filho uni-gênito feito homem. Vem unido à nossanatureza para dar-lhe a salvação eterna,decretada antes dos séculos no segredo detua divina sabedoria e misericórdia infini-ta. Já, Senhor, o preparaste e o pusestediante dos mortais, à luz do mundo. Todosdele poderão gozar, se o quiserem, e re-ceber d'Ele a salvação e a luz que ilumi-nará todo homem no universo; porque Eleé a luz que se há de revelar às nações paraglória de Israel, teu povo escolhido.

Testemunho de Ana

600. Maria Ssma. e José ouviramo cântico de Simeão, admirando-se do quedizia, e com tanto espírito. Nesta passa-gem o Evangelista (Lc 2, 33) chama-os pais do menino Deus, porque o fato suce-deu em público, e essa era a opinião do povo. Dirigindo-se atentamente à Mãesantíssima do infante Jesus, prosseguiuSimeão: Adverti, Senhora, que este Me-nino foi posto para ruína e salvação demuitos em Israel, e como alvo de grandescontradições; vossa alma, toda d'Ele, serátranspassada por uma espada, para que semanifestem os pensamentos de muitos co-rações (Lc 2,33 - 34).

Até aqui falou Simeão. Sendo sa-cerdote, abençoou os felizes Pais do Me-nino. A profetisa Anatambém reconheceuo Verbo humanado (Lc 2,38), e com luzdo Espírito Santo falou de seus mistériosaos que esperavam a redenção de Israel.Deste modo, os dois santos anciãos deram público testemunho da chegada do Mes-sias para redimir seu povo.

Os mistérios encerrados na profecia de Simeão

601. Quando o sacerdote Simeão pronunciava as palavras proféticas da paixão e morte do Senhor, subentendi-das nas expressões de "espada" e "sinalde contradição", o Menino inclinou a ca-

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Quarto Livro - Capítulo 20

tância e magnanimidade de coração, es-tando preparada para receber o prósperoe o adverso, o doce e o amargo com igualsemblante. Oh! caríssima, que estreito emesquinho é o coração humano para acei-tar o penoso e contrário a suas terrenas

inclinações! Como se rebela com os tra- balhos! Com que impaciência os recebe!Como julga insuportável tudo o que seopõe a seu gosto! E como se esquece queseu Mestre e Senhor os sofreu antes (1 Ped2, 21), os valorizou e santificou em Simesmo! E grande vergonha e presunçãoterem os fiéis aversão ao sofrimento, de- pois que meu Filho padeceu por eles, poisantes de haver morrido, muitos santos,sem o terem visto, abraçaram a cruz só

 pela esperança de que nela padeceria oCristo. Se em todos é tão feia esta falta decorrespondência, pondera bem, caríssi-ma, quanto o seria em ti. Tu te mostrasansiosa por alcançar a amizade e graça doAltíssimo e merecer o título de esposa eamiga sua, sendo toda para Ele e Ele parati. Anelas também ser rninha discípula e

ter-me como tua mestra, seguindo-me eimitando-me como filha fiel à sua mãe(Mt 7,21). Este desejo não há de consistir só em afetos e palavras, dizendo muitasvezes: Senhor, Senhor, e ao chegar a oca-sião de beber o cálice e carregar a cruz dostrabalhos, contristar-te, afligir-te e fugir das penas. São estas que provam a since-ridade do coração afeiçoado e amoroso.

Fortaleza na adversidade

604. Proceder assim, seria negar com as obras o que protestas com promes-sas, e desviar-te do caminho da vida eter-na. Não podes seguir a Cristo se nãoabraças a cruz (Mc 8,34), e por outro ca-minho tampouco me acharás. Se as cria-

turas te faltam, se a tentação te ameaça, sea tribulação te aflige e as dores da morte(SI 17,5) te cercam, por nenhuma destascoisas te deves perturbar e se mostrar co-varde. A meu Filho santíssimo e a mim,muito desagrada que inutilizes sua po-derosa graça para defender-te, desperdi-çando-a e recebendo-a em vão. Alémdisto, darás grande triunfo ao demônio,

que muito se gloria de perturbar e sujeitar a quem se diz discípula de Cristo e minhaSe começares a fraquejar  no pouco, virá ate vencer no muito. Confia, pois, na pro-teção do Altíssimo e lembra-te que estás por rninha conta. Com esta fé, quando che-

gar a tribulação, responde corajosamente:O Senhor é minha luz e salvação, a quemtemerei? (SI 26,1). E meu protetor, porque

andarei flutuando? Tenho Mãe, Mestra,Rainha e Senhora que me ampara e cui-dará de rriinha aflição.

Frutos do sacrifício

605. Nesta segurança, procuraconservar a paz interior e não me percasde vista, imitando meu proceder e se-guindo minhas pegadas. Lembra a dor quetranspassou meu coração nas profecias deSimeão. Nesta pena permaneci sem mealterar, apesar de que a alma e o coraçãoforam transpassados de dor. Em tudoachava motivo para glorificar e reveren-ciar sua admirável sabedoria. Se com ale-gre e sereno coração se aceitam os tra- balhos e penas transitórias, elas espiri-tualizam a criatura, elevam-na e lhe co-municam divina ciência da escola doRedentor, escondida aos habitantes daBabilônia, amadores da vaidade (Mt 11,25). Quero também que me imites no res-

 peito pelos sacerdotes e ministros do Se-nhor, pois agora são investidos de maior 

excelência e dignidade que na antiga lei,depois que o Verbo divino se uniu à natu-reza humana e se fez sacerdote etemo, se-gundo a ordem de Melquisedeque (SI 109,4). Ouve sua doutrina e ensinamento, di-manados do Senhor em cujo lugar estão.Adverte o poder e autoridade que lhesconfere o Evangelho, dizendo: Quem vosouve a mim ouve, e quem vos obedece a

mim obedece (Lc 10,16). Pratica o mais perfeito, como te ensinarão. Tua contínuamemória seja meditar o que padeceu meuFilho santíssimo, de tal maneira que tuaalma participe de suas dores e te causemtal desgosto e amargura pelas alegrias ter-renas, que esqueças e afastes todas as coi-sas visíveis (Mt 19, 27), para seguir oAutor da vida eterna.

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sa serva. Anima-se, porém, meu coraçãoe se alegra, porque tem para oferecer àvossa grandeza quem é um convosco namesma substância (Jo 10, 30), igual namajestade, perfeições e atributos; é a ge-ração de vosso entendimento, a imagemde vosso mesmo ser, a plenitude de vossacomplacência, vosso Filho unigênito e di-letíssimo. E esta, eterno Pai e Deus al-tíssimo, a dádiva que vos ofereço, ahóstiaque vos trago, certa de que a aceitareis.Tendo-o recebido Deus, devolvo-o Deuse homem (Jo 11; Col 1, 15; Mt 17, 5).

 Não tenho, Senhor, nem terão as demais

das misericórdias. Com Ele e por Ele peço que perdoeis aos pecadores, que der-rameis sobre araçahumana vossas antigasmisericórdias e renoveis novos prodígiosna realização de vossas maravilhas (Ecli36,6). Eis o leão de Judá transformado em

cordeiro, para tirar os pecados do mundo(Ap 5, 5; Jo 1, 29). Ele é o tesouro devossa divindade.

Deus concede a Maria grandes privilégios

608. Estas e outras semelhantesorações e súplicas, fez a Mãe de piedade

e misericórdia nos primeiros dias da no-vena que começou a fazer no templo. Atodas respondeu o eterno Pai aceitando-ascom a oferenda de seu Unigênito. Re-cebia-as como agradável sacrifício, ena-morando-se sempre mais da pureza de suaFilha única e dileta, em cuja santidade secomprazia.

Em retorno destas súplicas, conce-deu-lhe o Senhor grandes e novos privi-légios: Tudo quanto pedisse para seusdevotos, até o fim do mundo, Ela o obteria;os grandes pecadores, que se valessem desua intercessão, encontrariam a salvação,na lei evangélica e nova Igreja de Cristo,seu Filho santíssimo; seria sua coopera-dora e Mestra, principalmente depois daAscensão de Jesus ao céu; Ela ficaria seuamparo e o instrumento do poder divino,

como direi na terceira parte desta História(1). Outros muitos favores e mistérioscomunicou o Altissimo à divina Mãe, nes-sa ocasião, os quais não podem ser mani-festados com meus limitados termos.

criaturas, outra coisa mais que dar, nem Novos sofrimentosvossa Majestade outro dom mais precioso

que lhes pedir. É tão grande que basta para 609. Ao chegar o quinto dia depoiscompensar tudo o que tenho recebido. Em da Apresentação, estando a divina Senho-seu nome e no meu, ofereço-o e apresen- ra no templo com seu Menino Deus nosto-o à vossa grandeza. Sendo Mãe de vos- braços, revelou-se-lhe a Divindade, aindaso Unigênito e tendo-lhe dado carne que não intuitivamente. Foi toda elevadahumana, tornei-o innão dos mortais. Ele e cheia do Espírito Santo. Embora já oquis ser seu Redentor, a Mim cabe iíi- possuísse, como Deus é infinito em poder terceder por eles, tomar sua causa por mi- e riqueza, nunca dá tanto que não fiquenha conta e suplicar seu remédio. ainda o que dar às criaturas.

Ofereço-o, pois, de todo meu co-ração, a Vós, Pai de meu Unigênito e Deus i . n° 29

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Quarto Livro

 Nesta visão abstrativa quis o Altís-simo preparar sua Esposa para os traba-lhos que a esperavam. Confortou-a,dizendo-lhe: Esposa e pomba minha, tuasintenções e desejos são gratos a meus

olhos, e neles sempre me deleito. Não po-des, contudo, prosseguir os nove dias dadevoção que começaste, pois quero que

 padeças, por meu amor, de outro modo.Para criar teu Filho e salvar sua vida, dei-xarás teu lar e tua pátria e irás com Ele eJosé, teu esposo, para o Egito. Lá fícarás

até que Eu ordene outra coisa, porque He-rodes planeja a morte do Menino. A via-gem será longa, trabalhosa e de muitasincomodidades. Padece-as por Mim, e Eusempre estarei contigo.

Aceitação de Maria

610. Qualquer outra santidade oufé poderia se perturbar (como tem acon-

tecido com incrédulos), vendo o Deus po-deroso fugir de um homem mísero eterreno, e que para salvar a sua vida hu-mana se afastasse, como se tivesse medo

e não fosse Deus.

A prudentíssima e obediente Mae,todavia, não replicou nem duvidou; nãose perturbou, nem se alterou com a impen-

sada novidade. Respondeu: Senhoredonomeu aqui está vossa serva, de coração

Capítulo 21

 preparado para morrer por vosso amor, sefor necessário. Disponde de Mim confor-me quiserdes. Apenas peço à vossa bon-dade imensa, que não olhando meusdeméritos e ingratidão, não permitais que

meu Filho e Senhor seja afligido, mas ostrabalhos sejam só para Mim, pois os devo padecer.

Respondeu-lhe o Senhor que, naviagem, obedecesse em tudo a São José.Com isto, saiu da visão durante a qual não

 perdera o uso dos sentidos, pois tinha nos braçoso Menino Jesus. Só a parte superior da alma foi elevada, mas dela redundaramefeitos nos sentidos, deixando-os

espiritualizados, indicando que a alma es-tava mais no que amava, do que onde ani-mava.

O anjo avisa São Josépara fugir ao Egito

611. Apesar de tudo, o incompará-vel amor da grande Rainha pelo seu Filhosantíssimo, enterneceu-lhe o materno e

compassivo coração. Considerando os so-frimentos que, na visão, havia previsto para o Menino Deus, saiu do templo a cho-rar, mas sem revelar a seu esposo a causade sua dor. O santo julgou que o motivoera a profecia de Simeão, mas como aamava tanto, e era de temperamento solí-cito e carinhoso, perturbou-se um pouco,vendo a Esposa tão chorosa e aflita, e quenão lhe dizia a causa de sua tristeza. Esta

 perturbação foi uma razão, entre outras, para que o anjo lhe falasse em sonhos,como acontecera na gravidez da Rainha.

 Naquela mesma noite, estando São Joséadormecido, o mesmo anjo lhe apareceuem sonhos, dizendo-lhe o que refere SãoMateus (2,13): Levanta-te, toma o Meni-no e sua Mãe, e foge para o Egito. Ali fíca-rás até eu te avisar novamente, pois

Herodes procura o Menino para lhe tirar a vida.

 No mesmo instante levantou-se osanto esposo, cheio de apreensão e dor, efoi prevenir sua amantíssima Esposa.Aproximando-se donde Ela se encontravarecolhida, disse-lhe: Senhora minha, évontade do Altíssimo que estejamos afli-tos. Seu santo anjo me falou que SuaMajestade ordena fugirmos para o Egito

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com o Menino, porque Herodes pretendetirar-lhe a vida. Animai-vos, Senhora,

 para estesacrifício, e dizei-me o que possofazer para vosso conforto, pois minha vida

 pertence ao serviço de nosso querido Me-nino.

Maria desperta o Menino Jesus

612. Esposo e Senhor meu - res- pondeu a Rainha - se da mão liberal doAltíssimo recebemos tantos bens de gra-ça, é razão que, com alegria, recebamosos trabalhos temporais (Jó 2,10; 17, 3).Levaremos conosco o Criador do céu e

terra. Se Ele nos colocou tão junto a si,que mão terá o poder de nos fazer mal,ainda que seja a de Herodes? (Jó 27, 3).

 Não pode ser desterro onde levamos todonosso bem, o sumo bem, o tesouro do céu,nosso Senhor, nosso guia e verdadeira luz;Ele énosso descanso, nossaherança e nos-sapátria. Com sua companhia temos tudo,cumpramos sua vontade. Aproximaram-se Maria e José do berço do Menino Jesusadormecido. A divina Mãe descobriu-omas não o despertou, lembrando-sedaquelas ternas e sentidas palavras de suaamada: - Foge, meu querido, sê como oveadinho e o cabrito pelos montes aromá-ticos. Vem, meu amado, saiamos fora, va-mos viver nas vilas (Cant 7,11; 8, 14).Meu doce amor - acrescentou a amorosaMãe - cordeiro mansíssimo, vosso poder 

não é limitado pelo dos reis da terra, masquereis encobri-lo por amor dos mesmoshomens. Quem dos mortais pode pensar,

 bem meu, que vos tirará a vida, pois vosso poder aniquila o deles? Se vós a dais atodos, porque vô-la tirar? (Jo 10,10). Seos procurais para lhes dar a vida eterna,como querem vos dar a morte? Mas quemcompreenderá os ocultos segredos de vos-

sa Providência? (Rom 11, 34). Senhor eluz de rninha alma, permiti-me vos des- pertar, pois enquanto dormis, vosso cora-ção vela (Cant 5, 2).

Partida da Sagrada Família

613. Algumas razões semelhantesa estas, disse também São José. A divina

Mãe, de joelhos, despertou e tomou nos braços o divino Infante. Ele, para mais en-

ternecê-la e mostrar-se verdadeiro ho-mem, chorou um pouco, mas lofío se ca-lou. Oh! maravilhas do Altíssimo emcoisas, por nosso fraco juízo, considera-das sem importância! Maria e José pe-diram a bênção ao Menino, e este a deu

visivelmente. Ajuntando suas pobresroupinhas na caixa em que as tinha tra-zido, partiram sem demora, um pouco de-

 pois de meia-noite. Levaram o jumen-tinho, no qual a Rainha viera de Nazaré,e apressadamente caminharam para o Egi-to, como direi no capítulo seguinte.

Concordância dos Evangelhos

de S. Mateus eS. Lucas614, Para concluir este capítulo,

foi-me dada a entender a concordânciaen-tre os evangelistas São Mateus e São Lu-cas, sobre este mistério. Como os quatroevangelistas escreveram com a assistên-cia e luz doEspírito Santo, cada qual sabiao que os outros três escreviam, ou deixa-

vam de escrever. Daqui procede que, por divina vontade, determinadas partes e fa-tos da vida de Cristo, Senhor nosso, e dahistória evangélica foram escritas por to-dos. Em outras passagens, uns escreviamo que outros omitiam, como consta doEvangelho de São João e dos demais.

São Mateus escreveu a adoraçãodos Reis e a fuga para o Egito (2,1 e seg.)que não foi escrito por São Lucas. Esteescreveu a Circuncisão, a Apresentação ePurificação (2, 22 e seg.), omitidas por São Mateus. Deste modo, São Mateus nar-ra a despedida dos Reis magos e logo emseguida conta que o anjo falou a São José

 para fugirem ao Egito (Mt 2,13), sem sereferir à Apresentação. Disto, porém, nãose conclui que não tenham antes apresen-tado o Menino Deus, pois é certo que as-

sim aconteceu, conforme a narração deSão Lucas (2,22 e seg.). De igual modo,em seguida à Apresentação, São Lucas es-creve que foram para Nazaré (2,39). Nem

 por isto se colige que não hajam fugido para o Egito. É indubitável que foram, deacordo com a descrição de São Mateus,embora omitida por São Lucas, que nemantes nem depois falou sobre a foga, por-

que já estava escrita por São Mateus (2,14).

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Quarto Livro - Capítulo 21

Esta aconteceu logo depois daApresentação, sem que Maria eJosé tives-sem voltado antes à Nazaré. Como SãoLucas não ia narrar a fuga, para continuar o fio de sua história, era forçoso referiremseguida à Apresentação a volta a Nazaré.

Dizendo que, terminado o que ordenava alei, voltaram à Galiléia, não negou que fo-ram ao Egito; apenas omitiu o fato e con-tinuou a narração. Do mesmo texto de SãoLucas (2,39) se colige que a ida a Nazaréfoi depois da volta do Egito, porque dizque o Menino crescia em sabedoria e gra-ça (Lc 2,40). Isto não podia ser dito antesde terminada a primeira infância, mas só

depois dela, quando nos meninos começaa se revelar o uso da razão, época que paraJesus correspondeu à volta do Egito.

A liberdade humana e o mal

615. Também me foi dado a enten-der, quão estulto tem sido o escândalo dos

infiéis e incrédulos que começaram a tro- peçar nesta pedra angular (lPed 2, 8),Cristo nosso bem, desde sua infância, por vê-lo fugir ao Egito para se defender deHerodes, como se isto fora falta de poder e não mistério para fins mais elevados doque apenas defender sua vida da crueldadede um homem pecador. Para aquietar oânimo bem disposto, bastaria lembrar o

que diz o Evangelista: Que se havia decumprir a profecia de Oséias, que diz emnome do Pai eterno: Do Egito chamei meuFilho (Mt 2, 15; Os 11, 1). Os fins queteve para lá O enviar são muito misterio-sos, e sobre isto falarei alguma coisa

adiante (2).

Mesmo prescindindo de que todas

as obras do Verbo humanado foramadmiráveis e cheias de mistérios,ninguémque tenha são juízo pode redargüir ou ig-norar a suave providência com que Deusgoverna as causas segundas, deixando avontade humana agir segundo sua li-

 berdade (Ecli 15, 14). Por esta razão, enão por falta de poder, permite no mundotantas injúrias, ofensas, idolatrias, here-

sias e outros pecados que não são menoresque o de Herodes. Consentiu no de Judas

2-n°641

e no dos que, pessoalmente, maltratarame crucificaram o Senhor. Claro está queteria podido impedir tudo isso, mas não ofez. Não só para realizar a Redenção, mas

 porque operou este bem para nós, deixan-do os homens agirem com a liberdade da

 própria vontade. Não lhes recusou agraçae auxílios que convinham à sua divinaProvidência, para que eles praticassem o

 bem. Se quisessem, teriam usado a liber-dade para o bem, assim como a emprega-ram para o mal.

Milagres não estão na ordem normal

616. Com esta mesma suavidadede sua providência, dá tempo e espera aconversão dos pecadores, como fez comHerodes. Se Deus usasse de seu poder ab-soluto, e fizesse grandes milagres paraevitar os efeitos das causas segundas, aordem da natureza seria alterada, e de cer-to modo se contradiria, pois Ele é o Autor tanto da natureza como da graça. Por este

motivo, os milagres são raros, e só paraquando existem razões especiais. Deus re-servou-os a tempos oportunos, para ma-nifestar seu poder e para que se conheçaque é o Autor de tudo, sem dependênciadas coisas a que deu o ser e dá a conser-vação. Tampouco se deve admirar queconsentisse na morte dos meninos inocen-tes, degolados por Herodes (Mt 2, 16).

 Não foi conveniente defendê-los por meiode milagres, pois aquela morte lhes con-quistou a vida eterna com abundante prê-mio. Esta vale, sem comparação, mais doque a vida temporal que se há de pospor e, se preciso for, perder por aquela. Se to-dos aqueles meninos vivessem e morres-sem de morte natural, talvez nem todos sesalvariam. As obras do Senhor são justas

e santas em tudo, ainda que, de imediato,não compreendamos as razões de suaequidade. Compreenderemos em Deus,quando O virmos face a face.

DOUTRINA QUE ME DEU ARAINHA DO CÉU, MARIA SSMA.

Gratidão e humildade

617. Minha filha, entre as coisasque, para tua instrução, deves advertir 

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neste capítulo, a primeira seja a humildegratidão pelos benefícios que recebes, jáque sem o mereceres és tão privilegiada eenriquecida com o que meu Filho e Eufazemos contigo. Muitas vezes Eu repetiao verso de Davi: Que retribuirei ao Senhor 

 por tudo o que me tem dado? (SI 115,12).Este sentimento de gratidão inclinava-mea humilhar-me até o pó, julgando-me inú-til entre todas as criaturas. Sabendo tu queEu procedia assim, não obstante ser ver-dadeira Mãe de Deus, pondera bem qualserá tua obrigação quando, com tanta ver-dade, te deves reconhecer indigna e des-merecedora do que recebes, pobre para oagradecer e pagar. Deves suprir esta insu-ficiência de tua miséria e fraqueza, ofere-cendo ao eterno Pai a hóstia de seuUnigênito humanado, especialmentequando o recebes sacramentado em teu peito. Nisto também imitarás a Davi, quedepois de perguntar o que daria ao Senhor  pelos favores que d'Ele recebera res- pondia: Tomarei o cálice da salvação einvocarei o nome do Senhor (SI 115,13).

Deves operar a salvação (Filip 2,12) fa-zendo o que a ela conduz: retribuindo como perfeito proceder, invocando o nome doSenhor (SI 73, 12), oferecendo-lhe seuUnigênito. Ele é que operou a virtude e asalvação, Ele que a mereceu e pôde ser digna retribuição de tudo quanto o gênerohumano e tu, particularmente, recebestesde sua poderosa mão. Eu lhe dei formahumana para conviver com os homens(Bar 3, 38) e ser como que propriedadede todos. Por sua vez, Ele se pôs sob asespécies de pão e vinho (Jo 6,57) para sedar mais em particular a cada um. As al-mas podem com ele se alegrar como coisa

sua, e oferecê-lo ao Pai, suprindo por estaoblação o que, sem ela, não lhe poderiamdar. E o Altíssimo se satisfaz com ela, poisnão pode querer nem pedir às criaturas ou-tra coisa que lhe seja mais aceitável.

Generosidade no sacrifício

618. Depois desta oblação, lhe émuito aceitável a que as almas lhe ofe-recem, ao abraçar e tolerar, com igualdadede ânimo, os trabalhos e adversidades davida mortal (SI 87, 16). Desta doutrina,meu Filho santíssimo e Eu fomos mestreseminentes. Desde que o concebi em meu

seio, Ele começou a ensiná-la, pois logocomeçamos a peregrinar e sofrer. Quandonasceu, sofremos a perseguição e o exílioa que nos obrigou Herodes, e o sofrimento

 perdurou até o Senhor morrer na cruz. De- pois disto Eu trabalhei até o fim de minhavida, como ao descrevê-la irás conhecen-do. Já que tanto padecemos pela salvaçãodas criaturas, quero que nos imites nestaconformidade, como esposa sua e filhaminha. Padece com generoso coração etrabalha em aumentar para o Senhor o pa-trimônio das almas, que lhe é tão precioso por tê-lo comprado com sua vida e sangue. Nunca regateies trabalho, dificuldade,amargura ou dores (ICor 6, 20), se comisso puderes ganhar para Deus algumaalma, ajudá-la a sair do pecado e melhorar a conduta. Não te amedronte o fato de se-

res tão inútil e pobre, ou que teu desejo etrabalho tem tão pouco resultado. Tu nãosabes como o aceita o Altíssimo e se sa-tisfaz com ele. Pelo menos, deves traba-lhar com dedicação e nào comer ociosa o pão em sua casa (Prov 31,27) .

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CAPITULO 22•

JESUS, MARIA E JOSÉ PARTEM PARAO EGITO ACOMPANHADOS PELOS ANJOS

E CHEGAM À CIDADE DE GAZA.

Partida de Jerusalém Maria deseja venerar a gruta

619. Saíram de Jerusalém paraseu desterro nossos santos peregrinos,ocultos pela obscuridade e silêncio danoite, mas cheios de cuidado pela pren-da do céu que levavam consigo à terraestranha e para eles desconhecida. Se

 bem, a fé e a esperança os confortassem- pois não podia haver mais firmes e ele-

vadas do que as de nossa Rainha e seufiel esposo - não lhes evitava o sofrimen-to, pelo grande amor que tinham ao in-fante Jesus. Além disso, não sabiam oque poderia acontecer durante tão longaviagem, nem quando terminaria. Comoseriam recebidos no Egito? Teriam alirecursos para criar o Menino? E, desde

 já, não faltariam penalidades para levá-

lo tão longe. Apreensões e receios assal-taram o coração dos amantíssimos pais,ao partir tão apressadamente de sua pou-sada. Consolaram-se, porém, com a as-sistência dos espíritos celestes; os dezmil, de que falamos acima, apareceramem forma humana visível, com sua be-leza e resplendor. Transformaram a noi-te em claríssimo dia para os divinoscaminhantes, e ao saírem das portas dascidades, humilharam-se e adoraram oVerbo humanado nos braços de sua Vir-gem Mãe. Animaram-na, oferecendo-se

 para servi-la, e dizendo-lhe que a guia-riam no caminho, por onde fosse a von-tade do Senhor.

620. Ao coração aflito, qualquer alívio parece estimável e este, por ser grande, confortou muito nossa Rainha eseu esposo José. Com grande energia co-meçaram sua caminhada, saindo de Jeru-salém pela porta e estrada que ia para

 Nazaré. A divina Mãe sentiu algum desejode chegar à gruta do Nascimento, para ve-nerar aquele sagrado lugar e o presépio, o

 primeiro pouso de seu Filho santíssimonomundo. Os santos anjos, porém, respon-deram-lhe ao pensamento, antes d'Ela omanifestar, dizendo-lhe: Rainha e Senho-ra nossa, Mãe de nosso Criador, convémapressar a viagem e prosseguir o caminho,sem desviá-lo. A partida dos Reis magos,sem voltar a Jerusalém; as palavras do sa-cerdote Simeão e de Ana, causaram im-

 pressão no povo e alguns começaram adizer que sois a Mãe do Messias; outrosque tendes notícias d'Ele; e outros, quevosso Filho é profeta. A respeito dos Reis,que vos visitaram em Belém, correm mui-tos boatos, e Herodes anda informado detudo. Mandou que vos procurem e istoserá feito com extrema diligência. Por estemotivo, o Altíssimo vos ordenou partir ànoite e com toda a pressa.

Apressam a viagem

621. Obedeceu a Rainha do céu àvontade do Todo-poderoso, expressa por 

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Qua

seus ministros, os santos anjos. De passa-gem, fez reverência ao sagrado lugar donascimento de seu Unigênito, renovandoa lembrança dos mistérios que ali se ha-viam realizado, e dos favores que entãorecebera. O santo anjo que guardava a gru-

ta, veio-lhe ao encontro em forma visível;adorou o Verbo humanado nos braços dadivina Mãe, o que lhe deu novo consolo ealegria. Viu o anjo e com ele falou. Incli-nou-se também o afeto da piedosa Senho-ra a passar por Hebron, pois se desviavamuito pouco da direção em que caminha-va, e naquela ocasião lá se encontrava sua

Quarto Livro - Capítulo 22uk>22

nossa viagem, e para pôr em seguro seumenino João, porque a crueldade de He-rodes não os poupará.

Maria avisa Santa Isabel

622. A Rainha do céu tinha conhe-cimento da intenção de Herodes para de-golar os meninos, embora não a tivessemanifestado. O que neste passo muito meadmira é a humildade e obediência de Ma-ria Ssma., tão rara e atenta a tudo: não sóobedeceu a São José no que ele ordenava,

 prima e amiga Santa Isabel, com seu filhoJoão. São José, porém, mais preocupadoe receoso, quis evitar também este desvioe retardamento, e disse à divina Esposa: -

Senhora rninha, acho muito importantenão nos atrasarmos nem um momento,mas sim nos apressarmos o mais possível,

 para nos afastarmos do perigo. Convém, portanto, que não passemos por Hebron,onde nos procurarão mais facilmente doque em outra parte. - Seja como quereis -respondeu a humilde Rainha. Permiti-me,então, pedir a um destes espíritos celestes,

ir avisar minha prima Isabel do motivo de

mas tambémno que dizia respeito somen-te a Ela, em mandar o anjo a Santa Isabel. Não quis fazer isso sem a vontade eobediência de seu esposo, ainda que podia

comunicar-se e ordenar ao anjo mental-mente.Confesso minha confusão e negli-

gência, pois na fonte puríssima das águasque contemplo, não sacio minha sede,nem me aproveito da luz e exemplo quen'Ela me é apresentado. Exemplo vivo,forte, suave e doce para atrair e obrigar atodos a renunciar sua própria e imperfeita

vontade.

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Quarto Livro - Capítulo 22

Com permissão de seu esposo,nossa grande Mestra enviou um dos

 principais anjos que os assistiam, para le-var à Santa Isabel notícia do que se pas-sava. Superior aos anjos, nesta ocasiãoinformou mentalmente a seu mensageiroo que deveria dizer à santa matrona e aomenino João.

Santa Isabel auxilia a sagrada Família

623. Foi o santo anjo à feliz e ben-dita Isabel e, conforme as ordens de suaRainha, informou-a de tudo o que convi-nha. Contou-lhe como a Mãe do Senhor ia com seu Filho, fugindo para o Egito da

 perseguição de Herodes que o procurava para tirar-lhe a vida; disse-lhe que asse-gurasse a vida de João e o escondesse; de-clarou-lhe ainda outros mistérios doVerbo humanado, como lhe ordenara a di-vina Mãe.

Encheu-se Santa Isabel de admira-ção e gozo por esta embaixada, e per-guntou ao santo anjo se alcançaria os

viajantes no caminho, para adorar o infan-te Jesus e ver sua ditosa Mãe. O santo anjodesvaneceu-lhe a esperança, dizendo queseu Rei e Senhor e sua feliz Mãe já esta-vam longe de Hebron, e não convinha re-tardá-los. A Santa, sentida e cheia deternura, enviou muitas lembranças paraFilho e Mãe, e o mensageiro voltou coma resposta à Rainha. Sem tardar, Santa Isa-

 bel despachou um portador, com toda dili-gência, ao encalço dos divinos cami-nhantes. Enviou-lhes dinheiro, víveres e

 pano para roupinhas do Menino, preve-nindo as necessidades que iriam encontrar em terra desconhecida. Alcançou-os o

 portador na cidade de Gaza, que dista deJerusalém, mais ou menos, vinte horas decaminhada. Encontra-se às margens do rio

Besor, na estrada que vai da Palestina parao Egito, não longe do mar Mediterrâneo.

A sagrada Família descansa em Gaza

624. Em Gaza, descansaram doisdias, pois São José fatigara-se bastante,como também o jumentinho que conduziaa Rainha. Dali despediram o criado de

Santa Isabel. José o advertiu que não dis-sesse a ninguém onde os havia encon-

trado. Com maior cuidado, preveniu Deusesse pengo: tirou da memória daquele ho-mem o que São José lhe recomendou ca-lar, e só se lembrou da resposta que deviadar a Santa Isabel.

Com o presente recebido, Maria

Ssma. preparou um banquete aos pobres, pois, sendo sua Mãe, não os podia es-quecer. Com os tecidos fez uma coberti-nha para agasalhar o Menino Deus, e paraSão José outra capa apropriada para a via-gem e o tempo. Preveniu ainda outras coi-sas que podiam levar em sua pobre

 bagagem. O que a prudentíssima Senhora podia fazer com sua previdência e traba-lho, para o sustento de seu Filho e SãoJosé, não pretendia obter por milagres.Agia de acordo com a ordem natural e co-mum, até onde chegavam suas possibi-lidades.

Durante os dias que permanece-ram naquela cidade, Maria Ssma. operoualguns prodígios, para não a deixar semgrandes bens. Livrou dois enfermos do pe-rigo de morte, dando-lhes saúde; curou

uma paralítica; nas almas de muitos que aviram e com Ela falaram, comunicou san-tas influências para conhecerem a Deus emudarem de vida. Todos sentiram grandesimpulsos de louvar ao Criador, mas a nin-guém revelou sua pátria e a razão de suaviagem. Se isto, mais a notícia de seus mi-lagres ficassem conhecidos, poderiaacontecer que as diligências de Herodesos descobrissem.

Maria contempla a divindadede seu Filho

625. Para manifestar o que me foidado a conhecer sobre os atos praticados

 pelo infante Jesus e sua Virgem Mãe du-

rante a viagem, faltam-me dignas palavrase ainda mais a devoção e peso que pedemtão admiráveis e ocultos sacramentos.

Os braços de Maria puríssimasempre serviam de delicioso leito ao novoe verdadeiro rei Salomão (Cant 3, 7).Contemplando Ela os segredos daquelahumanidade e alma santíssima, aconteciaàs vezes alternarem Mãe e Filho doces co-

lóquios e cânticos de louvor. Ele come-çava, e ambos prosseguiam exaltando o

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Quarto Livro - Capitulo 22

infinito ser de Deus, com seus atributos e perfeições. Para isto, dava sua Majestadeà Mãe Rainha nova luz e visões intelec-tuais. Por elas conhecia o mistério al-tíssimo da unidade de essência da trindadedas Pessoas; as operações ad-intra da ge-

ração do Verbo engendrado por obra doentendimento, e o Espírito Santo inspira-do por obra da vontade. Não há ali suces-são de antes ou depois; tudo é atual naeternidade, embora nós o descrevamos se-gundo nosso modo de conhecer, pela du-ração sucessiva do tempo. Entendiatambém a grande Senhora como as trêsPessoas se compreendem reciprocamentecom um mesmo entender, e como conhe-cem a pessoa do Verbo unida à hu-manidade, e os efeitos que nela resultamda união com a divindade.

Mar ia contempla a Humanidade deseu Filho

626. Com esta ciência elevada,descia da divindade à humanidade.Compunha novos cânticos em louvor eagradecimento à divindade, por haver criado aquela humanidade santíssimacom alma e corpo perfeitíssimos: a almacheia de sabedoria, graça e dons do Es-

 pírito Santo na maior plenitude e abun-dância possíveis; o corpo puríssimo, decompleição e proporções perfeitas emsumo grau. Em seguida, contemplava osexcelentes e heróicos atos de suas po-tências. Reproduzia-os pela imitação, e

 passava a bendizê-lo e dar-lhe graças por tê-la feito Mãe sua, concebida sem pecado, escolhida entre milhares, exal-tada e enriquecida corri todos os favorese dons de sua destra poderosa, cabíveis

em pura criatura. Na exaltação e glóriadestes e de outros sacramentos neles en-cerrados, Filho e Mãe falavam o que não

 pode ser traduzido por  língua de anjo,nem pode ser cogitado por pensamentode nenhuma criatura. A tudo atendia adivina Senhora, sem faltar ao cuidadode abrigar o Menino, dar-lhe o leite trêsvezes ao dia e de afagá-lo como Mãe,

mais amorosa e solícita do que todas asmães reunidas.

Colóquios entre Mãe e Filho

627. Outras vezes lhe dizia: Meuquerido Filho, dai-me licença para vos perguntar e manifestar meu desejo, aindaque vós, Senhor meu, o conheceis. Para

eu ter o consolo de ouvir vossas palavras,dizei-me, vida de minha alma e luz demeus olhos, se vos cansa a viagem e sevos afligem as inclemências da atmosfera.Que posso fazer para vos servir e aliviar de vossas penas? Respondeu o MeninoDeus: - Os sacrifícios, minhaMãe, e o can-sar-me por amor de meu Pai eterno e doshomens, a quem venho ensinar e redimir,

se me tornam fáceis e muito agradáveis, emais ainda em vossa companhia.Algumas vezes o Menino chorava,

com serena gravidade de adulto. Aflita, aamorosa Mãe logo procurava o motivo econtemplando o íntimo de seu Filho,entendia que eram lágrimas de amor ecompaixão, pela salvação dos homens e

 pelas suas ingratidões. Acompanhava-onessa dor e pranto, como compassiva rola,e como piedosa Mãe o afagava e beijavacom incomparável reverência. O felizJosé, muitas vezes participava nestes di-vinos mistérios e sua luz aliviava-lhe ocansaço do caminho. Outras vezes falavacom sua Esposa, perguntando-lhe comose sentia, e se desejava alguma coisa parasi ou para o Menino. Aproximando-sedeste, beijava-lhe os pés adorando-o, e al-

gumas vezes tomava-o nos braços. Comestas doces consolações, o grande Patriar-ca se confortava dos incômodos da ca-minhada. Sua divina Esposa o encorajava,atendendo a tudo com magnânimo cora-ção. Sua vida interior não se embaraçavacom o cuidado das coisas visíveis, nemestas impediam seus elevados pensa-mentos e freqüentes afetos, porque em

tudo era perfeitíssima.

DOUTRINA DA DIVINAMÃE E SENHORA

Rezar pelos que nos perseguem

628. Minha caríssima filha, paraexercitares, como quero de ti, a ciência eimitação do que escreveste, sirvam-te deexemplo os afetos que a luz divina produ-

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Quarto Livro-Capítulo 22

zia em mim, quando via meu Filho santís-simo sujeitar-se voluntariamente ao furor desumano dos maus. Assim aconteceucom Herodes, na ocasião em que tivemosque fugir de sua ira, e mais tarde aos bru-tais ministros dos pontífices e magistra-dos. Em todas as obras do Altíssimoresplandece sua grandeza, bondade e sa-

 bedoria infinita. O que, porém, mais ad-mirava meu entendimento, era quandoconhecia ao mesmo tempo, com luz altís-sima, o ser de Deus na pessoa do Verbounida à humanidade, e que meu Filho san-tíssimo era o Deus eterno, poderoso, infi-nito, criador e conservador de tudo. Deledependia a vida e o ser daquele iníquo reie, no entanto, a humanidade santíssima

 pedia e rogava ao Pai para que desse, aomesmo tempo, inspirações, auxílios emuitos bens ao seu perseguidor. Sendo-lhe tão fácil castigá-lo, não só não o fez,mas com súplicas alcançou que não fosse

 punido quanto merecia sua malícia. Nãoobstante haver-se finalmente perdido,como reprovado e obstinado, recebeu me-nor pena que lhe dariam, se meu Filho san-tíssimo não tivesse rogado por ele. Quantoaqui se encerra de incomparável miseri-córdia e mansidão de meu Filho santís-simo, Eu procurei imitar, pois meensinava com obras o que depoisadmoestaria com exemplo, palavras eprá-

tica do amor aos inimigos (Mt 5, 44; Lc23,34). Quando eu via que escondia e dis-simulava seu poder infinito e, sendo leãoinvencível (Is 5,29), se abandonava comocordeiro humilde e mansíssimo (Jer 11,

19) ao furor de lobos carniceiros, meu co-ração se desfazia (SI 72,26) e minhas for-ças desfaleciam pelo desejo de amá-lo,imitá-lo e segui-lo em seu amor, caridade,

 paciência e mansidão.

Exemplo de Cristo e Maria

629. Proponho-te este exemplo,

 para o teres sempre presente e entenderescomo e até onde deves sofrer, perdoar eamar a quem te ofender, pois nem tu nemas demais criaturas são inocentes; pelocontrário, tendes muitas e graves culpas

 para merecer tais ofensas. Se, por meiodas perseguições consegues o grande bemdesta imitação, que razão haverápara nãoas apreciares por grande felicidade? E

 porque não amarás a quem te proporciona praticar a suma perfeição? Não serás agra-decida a este favor, julgando teu benfeitor e não inimigo, a quem te dá oportunidadedo que tanto te importa? Com o exemploque te foi proposto, não terás desculpa denisto faltar, pois a divina luz te permitecontemplá-lo, entender e penetrar comose fosse presente.

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Fuga para o Egito

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CAPÍTULO 23

JESUS, MARIA E JOSÉ PROSSEGUEM A VIAGEMDE GAZA ATÉ HELIÓPOLIS,NO EGITO.

A sagrada Família parte deGaza para Heliópoüs

630. Em Gaza permaneceram nos-sos peregrinos três dias e, desta cidade,

 partiram para o Egito. Deixando os po-voados da Palestina, adentraram-se peloarenoso deserto de Bersabé, tendo que

 percorrer sessenta léguas, ou mais, em re-gião desabitada, até chegar na cidade deHeliópolis, agora Cairo, do Egito. Nestedeserto andaram alguns dias em cami-

nhadas mais curtas, tanto pela dificuldadede se locomoverem em terreno tão areno-so, como por falta de abrigo e sustento.Entre os muitos fatos que lhes ocorreramnesta solidão, referirei alguns, e por estesse fará idéia dos outros, não sendo precisofalar de todos. Para se entender o muitoque Maria, José e o infante Jesus padece-ram nessa viagem, deve-se saber que o Al-

tíssimo não lhes evitou as penalidadesdesse desterro. A divina Senhora padecia-as com serenidade, mas apesar de não per-der a paz, muito sofreu. O mesmo se digade seu fidelíssimo esposo. Ambos supor-taram, fisicamente, muitas incomo-rüdades. Maiores, porém, foram as docoração: Maria sofrendo por seu Filho eSão José, e este pelo Menino e pela Espo-sa, sem meios de os poder remediar.

A travessia do deserto

631. Nas sessenta léguas daqueledeserto desabitado, era forçoso passar asnoites ao relento. Era inverno, no mês de

fevereiro, pois começaram a viagem seisdias depois da Purificação, conforme sedisse no capítulopassado, (1). Na primeira

noite que passaram naqueles descampa-dos, o único recurso que encontraram foiencostar-se na falda de um montícolo. ARainha do céu, com seu Menino nos bra-ços, sentou-se no chão, descansaram um

 pouco e cearam o que tinham trazido deGaza. A Imperatriz do céu amamentou seuFilhinho que, com aprazível semblante,consolou a Mãe e seu esposo. SãoJosé, com

sua capa e uns paus, improvisou uma pe-quena e humilde tenda de campo, paraabri-gar do sereno o Verbo divino e Maria S sma.

 Nessa noite, os dez mil anjos que,admirados, assistiam aos santos peregri-nos, formaram corpo de guarda a seu Rei eRainha. Em formahumanaevisível, rodea-ram-nos numcírculo. ViuagrandeSenhoraque seu Filhosantíssimooferecia ao eterno

Pai aquele sofrimento e desamparo, por Si, pela divina Mãe e por São José. Acompa-nhou-o a Rainha nessa oração e noutrosatos, amaior parte danoite. O Menino Deusdormiu um pouco em seus braços,mas Ela

 permaneceu em colóquios com o Altíssi-mo e seus anjos. São José recostou-se nochão, com a cabeça sobre a pequena caixada pobre roupa que levavam.

Falta de alimento

632. No dia seguinte prosseguiramo caminho, mas logo veio a terminar o far-

1 - Acima nros. 609,613

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nel de pào e algumas frutas que traziam.A Senhora do céu e terra, e ainda mais seusanto esposo, chegaram à extremanecessidade de padecer fome. Num dos

 primeiros dias, ao chegar às nove da noite,ainda não tinham tomado nenhum alimen-

to, depois do cansaço da caminhada,quando a natureza mais necessitava de serestaurar. Como era humanamente impos-sível acudir esta necessidade, a divina Se-

Senhor e Pai meu, olhai vosso Unigênitoe concedei-me com que alimentar sua vidanatural, e também a de meu esposo, par aque ele sirva a Vossa Majestade, e Eu àvossa Palavra (Jo 1, 14) encarnada pelasalvação humana.

Tempestade e proteção dos anjos

633. Para que estes clamores da

nhora dirigiu-se ao Altíssimo dizendo:Deus eterno, grande e poderoso, dou-vosgraças e vos bendigo pelas magníficasobras de vosso beneplácito. Sem que o te-nha merecido, só por vossa benignidade,destes-me o ser e a vida, e me tendesconservado e elevado, sendo Eupó e inútilcriatura. Por todos estes benefícios, não

vos dei digna retribuição. Como pedirei para mim o que não posso retribuir? Mas,

amorosa Mãe procedessem de maior tribu-lação, permitiu o Altíssimo aos elementosque a afligissem, além da fome, cansaço edesamparo. Desabou um temporal comchuva e vento, que os cegava e fatigavamuito. A piedosa Mãe se afligia mais pelocuidado de seu Menino Deus, tão delicadoe tenro, que ainda não contava cinqüenta

dias. Cobriu-o e abrigou-o o quanto pôde,mas não pôde evitar que, como verdadeiro

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Quarto Livro - Capítulo 23

homem, ele sentisse a inclemência da at-mosfera. Pôs-se a chorar e tintar de frio,comoofariaqualquercriança.Usando, en-tão, o poder de Rainha das criaturas, a so-lícita Mãe ordenou aos elementos que nãoofendessem seu Criador. Que lhe servis-

sem de abrigo e refrigério, enquanto comEla podiam continuar seu rigor.Assim aconteceu, como nas outras

vezes que acima relatei (2), por ocasiãodo nascimento e da viagem a Jerusalém.Logo o vento se amainou e cessou a bor-rasca, deixando de atingir Filho e Mãe.Em recompensa deste amoroso cuidado,o Menino Jesus mandou os anjos que abri-gassem à sua Mãe amantíssima e lhe ser-

vissem de cortina para a abrigar do rigor da atmosfera. Imediatamente obedecerame formando um globo de resplendor muitodenso e extremamente belo, nele encerra-ram seu Deus humanado, à Mãe e seu es-

 poso. Ficaram assim mais guarnecidos eabrigados do que se estivessem nos ricos

 palácios e com os agasalhos dos grandesdo mundo. Desta milagrosa proteção go-

zaram outras vezes naquele deserto.

Manjares milagrosos

634. Faltava-lhes, entretanto, a co-mida, e com humanos meios era impossí-vel prover essa necessidade. Deixou-os oSenhor chegar a esse extremo, mas aten-

dendo às justas súplicas de sua Esposa, osacudiu por mãos dos anjos. Trouxeram-lhes pão suavíssimo, belas e maduras fru-tas, e um dulcíssimo licor. Serviram-nose depois, todos juntos, entoaram cânticosde ação de graças, louvando ao Senhor que dá alimento a toda criatura (SI 135,25) em tempo oportuno, para que os po-

 bres comam e fiquem saciados (SI 21,27),

 pois os olhos e esperança deles repousamsobre sua real providência e prodigalidade(SI 144, 15). Estes foram os delicadosmanjares da mesa do S enhor, com os quaisEle regalou seus três peregrinos, no deser-to de Bersabé (3Rs 19,3 - 6). Neste mes-mo deserto, Elias, fugindo de Jezabel, foiconfortado com o pão subcinerício, quelhe trouxe o anjo do Senhor, a fim de poder 

2-n°543, 544,590

chegar até o monte Horeb. Mas, nem este pão, nem o que antes, milagrosamente, lhefora servido, com carne, pelos corvos, demanhã e à tarde, junto à torrente de Carith;nem o manácaído do céu para os israelitas(Ex 16,13; SI 77, 24 - 25), ainda que foi

chamado pão dos anjos; nem as codorni-zes a eles trazidas pelo vento áfrico (Ex13, 26); nem o pavilhão de nuvem (Nm10, 34) com que eram refrigerados; - ne-nhum destes alimentos e favores se podemcomparar com tudo o que fez o Senhor,nesta viagem, pelo seu Unigênito huma-nado e por sua divina Mãe e esposo.

Estes benefícios não eram para ali-mentar um profeta e um povo ingrato, massim para sustentar ao próprio Deus feitohomem e à sua verdadeira Mãe. Tinha afinalidade de conservar a vida natural, daqual dependia a vida eterna de toda a raçahumana. Se este manjar divino era deacordo com a excelência dos convidados,o agradecimento também correspondia àgrandeza dobenefício. - Para que tudo fos-se mais oportuno, sempre permitia o Se-nhor que a necessidade chegasse aoextremo e exigisse o socorro do céu.

Deus não desampara seus filhos

635. Alegrem-se com este exem- plo os pobres, não se desanimem os fa-mintos e tenham esperança os desam-

 parados. Ninguém se queixe da divinaProvidência, por aflito e necessitado quese encontre. Quando o Senhor faltou aquem n'Ele espera (SI 17, 31)? Quandovirou seu paternal rosto a seus filhos  po-

 bres e sofredores? Somos irmãos de seuUnigênito humanado (Rom 8,29), filhose herdeiros (idem v. 17) de seus bens, etambém filhos de sua Mãe piedosíssima.

Ó filhos de Deus e de Maria Ssma., comodesconfiais de tais pais em vossa pobreza?Porque recusais a eles essa glória, e a vóso direito de que vos alimentem e socor-ram? Ide, ide com humildade e confiança,que os olhos de vosso Pai vos olham (SI10, 5), seus ouvidos ouvem o clamor devossa necessidade, e as mãos desta Senho-ra estão estendidas para o pobre (Prov 31,20) e abertas ao necessitado. E vós, ricosdo mundo, porque confiais apenas em

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vossas riquezas incertas (ITim 6,17» 9,10), com perigo de perder a fé e comprar,à vista, gravíssimos cuidados e dores,como vos ameaça o Apóstolo? Em vossacobiça, não vos mostrais nem vos consi-derais filhos de Deus e de sua Mãe. Ao

contrário, negais essa filiação pelas vos-sas obras e vos reputais filhos bastardosde outros pais. O filho legítimo só confiano cuidado e amor de seus verdadeiros pais. Ofende-los-ia se pusesse sua espe-rança em outros estranhos, quanto maisnos inimigos! Na divina luz vejo esta ver-dade que a caridade me obriga a dizer.

A homenagem das aves

636,0 Altíssimo Pai não cuidavasó de alimentar nossos peregrinos, mastambém de recreá-los sensivelmente paralhes aliviar o sacrifício da caminhada e a

 prolongada solidão. Algumas vezes,quando a divina Mãe sentava-se no solo

 para descansar com seu Menino Deus,acontecia que vinham das montanhasnumerosas aves, como em outra ocasiãoeu disse (3). Recreavam-na com a varie-dade de suas plumagens e com a sua-vidade de seus gorjeios, enquanto pou-savam nos ombros e nas mãos da Senhora,alegrando-se com Ela. A prudentíssimaRainha as acolhia e convidava a reconhe-

cerem seu Criador, entoando-Ihe cânticosde reverência e agradecimento por tê-lascriado tão belas, vestidas de plumas, po-dendo gozar do ar e da terra, cujos frutoslhes serviam de alimento e conservaçãoda vida. Obedeciam as aves, com meneiose alegre canto. Mais doce e sonora para oMenino Jesus era a voz da amorosa Mãeque o louvava, bendizia-o e reconhecia

 por seu Deus, seu Filho e Autor de todasas maravilhas. Nestes colóquios, tãocheios de suavidade, participavam tam-

 bém os santos anjos, alternando com agrande Senhora e as singelas avezinhas.O conjunto produzia uma harmonia maisespiritual do que sensível, e de admirávelsintonia para a criatura racional.

3-1^185

Colóquios entre Mãe e Filho

637. Outras vezes a divina Prince-sa conversava com o Menino e lhe dizia:Amor meu e luz de minha alma, como po-derei aliviar vosso cansaço? Que farei

 para vos tornar menos penoso este cami-nho tão árduo? Como quisera vos levar,não em meusbraçosmas em meu coração'como em macio leito onde não sentísseisdesconforto! Respondia o doce Jesus: Mi-nha Mãe querida, vou muito bem em vos-sos braços, descansado em vosso peito,deliciado com vossos afetos e acariciado

 por vossas palavras.

 Noutras ocasiões, Filho e Mãemantinham, interiormente, colóquios tãoelevados e divinos que não cabem emnos-sas palavras. O santo esposo José partici-

 pava em muitos destes mistérios econsolações. Com isto o caminho se lhetomava fácil, esquecendo sua fadiga. Sen-tia a suavidade edoçuradaquelapresença,ainda que não sabia nem ouvia o Meninofalar com a Mãe. Este privilégio era so-

mente para Ela, conforme eu disse acima(4). Deste modo, prosseguiam nossos exi-lados a viagem para o Egito.

DOUTRINA DA RAINHA DO CÉU,MARIA SSMA., SENHORA NOSSA

A confiança gera o amor 

638. Minha filha, assim como os queconhecem o Senhor sabem esperar n'Ele(SI 9,11), os que não esperam em sua bon-dade e amor imenso não o conhecem per-feitamente. A falta de fé e esperançasegue-se a falta do amor. Em conse-qüência, amam aquilo em que confiamcom alto conceito e estimação (Mt 6,21).

 Neste erro consiste todo dano e ruína dosmortais, pois da bondade infinita que lhesdeu e conserva a existência fazem tão bai-xo conceito que não sabem pôr em Deustoda sua confiança. Faltando-lhes esta,falta-lhes também o amor a Deus. Põem-no nas criaturas, apreciando nelas o queapetecem: o poder, as riquezas, o fausto ea vaidade. Poderiam os fiéis corrigir este

4-n<>577

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Quarto Livro - Capítulo 23

engano, mediante a fé e esperança infii-sas, porém deixam-nas mortas e inativase sem usá-las rebaixam-se à coisas vis.Uns esperam nas riquezas, se as tem (SI51, 9; Ecle 5, 9; Prov 28, 8). Outros ascobiçam, se não as possuem. Há os que as

 procuram por caminhos e meios perver-sos, e os que confiam nos poderosos (SI145, 3), bajulando-os com lisonjas eaplausos. Assim, vem a ser mui poucos osque ficam para merecer a cuidadosa provi-dência do Senhor, confiando n'Ele, tén-do-o por Pai que vela pelos filhos,alimenta-os e conserva-os sem desampa-rar a nenhum na necessidade.

Bajulação e cobiça

639. Este engano tenebroso deu aomundo tantos amadores e o encheu de ava-reza e concupiscência, contra a vontade egosto do Criador. Fez os homens desa-tinarem naquilo que desejam, ou pelo me-nos deviam desejar. Todos afirmam que

desejam as riquezas e bens temporais para prover suas necessidades, e falam assim porque não deveriam querer senão isso. Na realidade, porém, muitos mentem, porque apetecem não o necessário mas osupérfluo, não para servir à natural preci-são, mas para satisfazer a soberba do mun-do. E, quando desejassem apenas aquiloque realmente necessitam, seria desatino

 pôr a confiança nas criaturas e não emDeus que, com inefável providência, aço-de até aos filhos dos corvos (SI 146, 9),como se seus grasnidos fossem clamoresdirigidos ao Criador. Com esta segurança,não tive o que temer em meu desterro e

 prolongada peregrinação e, porque con-fiava no Senhor, sua providência acudiano momento do aperto. Tu, minha filha,que conheces esta grande providência,não te aflijas demasiado nas necessidades.

 Não faltes a tuas obrigações para procurar os meios de socorrê-las, não confies emdiligências humanas, nem em criaturas.

Tendo feito o que te compete, o meio efi-caz é confiar no Senhor, sem te alterar ou

 perturbar. Espera com paciência, pois ain-da que tarde um pouco, o socorro semprechegará no tempo mais conveniente eoportuno (SI 144,15), quando melhor se

manifeste o patemal amor do Senhor. As-sim sucedeu comigo e meu esposo, emnossa necessidade e pobreza.

Avareza

640. Os que não sofrem com pa-ciência e não querem padecer necessida-

de; os que recorrem a cisternas rachadas(Jer 2, 13), confiando na mentira e nos poderosos; os que não se satisfazem como moderado e apetecem, com ardente co-

 biça, o que não lhes é necessário para avida; os que tenazmente guardam o quetem para que não lhes falte, negando aos pobres a esmola que lhes é devida - todosestes podem temer, com razão, que lhes

faltará aquilo que não podem pretender daProvidência divina, se ela fosse tão escas-sa em dar, como eles em esperar dela e emajudar, por seu amor, ao necessitado. Overdadeiro Pai que está nos céus faz nas-cer o sol sobre os justos e injustos (Mt 5,45), manda a chuva para os bons e maus,e açode a todos dando-lhes vida e alimen-to. Os benefícios são comuns a bons emaus, mas dar maiores bens temporais auns e recusá-los a outros não é regra doamor que Deus lhes tem, porque para seusescolhidos e predestinados prefere a po-

 breza (Tg 2, 5). Isto para que adquirammaiores merecimentos e recompensa, enão se enredem no amor dos bens tempo-rais, pois são poucos os que sabem usá-los

 bem e possui-los sem desordenada cobiça. Não havia este perigo para Mim e meuFilho santíssimo e, não obstante, quis oSenhor, pelo exemplo, ensinar aos ho-mens esta divina ciência, da qual dependea vida eterna.

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CAPITULO 24

JESUS, MARIA E JOSÉ CHEGAM À CIDADEDE HELIÓPOLISNO EGITO, E OS PRODÍGIOS

QUE ENTÃO ACONTECERAM.

Chegada ao Egito Idolatria no Egito

641. Já aludi acima (1) que a fugado Verbo humanado teve outros mistériose mais altos fins, do que apenas escapar de Herodes e defender-se de sua cruelda-de. O fato serviu de ocasião para o Senhor ir ao Egito e aí operar os prodígios vatici-nados pelos antigos Profetas (Ez 30,13;

Os 11,1; Is 19,4), principalmente Isaias.Disse este que o Senhor, sobre uma levenuvem, entraria no Egito; ante sua face seabalariam os ídolos desse país; o coraçãodos egípcios se perturbaria, e outras coisascontidas naquela profecia, e que suce-deram na época do nascimento de Cristo,nosso Senhor.

Omitindo o que não pertence ameu intento, digo que Jesus, Maria e José,

 prosseguindo a peregrinação no modo quefica descrito, chegaram às terras do Egito.Guiados pelos anjos, por ordem do Se-nhor, antes de se estabelecerem em Helió-

 polis, fizeram algumas voltas por outrosmuitos lugares, onde o Senhor queria rea-lizar prodígios ebenefícios a favor do Egi-to. Por este motivo, gastaram mais decinqüenta dias nessas caminhadas e, des-de Belém ou de Jerusalém, percorrerammais de duzentas léguas. Por outro cami-nho mais direto, não teria sido necessáriocaminhar tanto até chegar a seu novo do-micílio.

1 -n°615

642. Eram os egípcios muito dadosà idolatria e às superstições que a acom-

 panham, e até os pequenos lugares da-quele país se encontravam cheios deídolos. Para muitos destes, havia templosonde se estabeleciam diversos demônios.Os infelizes moradores vinham adorá-los,com sacrifícios e cerimônias inspiradas

 pelos mesmos demônios. Estes davamrespostas e oráculos às perguntas e con-sultas que aquela gente, estulta e su-

 persticiosa, seguia cegamente. Com estesenganos, viviam tão iludidos e presos àadoração do demônio que era necessárioo braço forte do Senhor (Lc 1, 51; Is 51,9), o Verbo feito homem, para libertar aquele povo desamparado e tirá-lo daopressão em que Lúcifer  os mantinha,opressão mais dura e perigosa do que aque os próprios egípcios tinham impostoao povo de Deus (Ex 1,11). Para vencer o demônio, para iluminar os que viviamna região e sombras da morte (Lc 1,79) e para que aquele povo visse a grande luz,descrita por Isaias (9,2), determinou o Al-tíssimo que o sol de justiça, Cristo (Ml 4»2), após alguns dias de seu nascimento,aparecesse no Egito nos braços de suafelicíssima Mãe. Por este motivo foi pe-regrinando e rodeando a terra, a fim declareá-la toda com a virtude de sua divinaluz.

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Os templos dos ídolos não resistem à presença de Cristo

643, Chegaram, pois, o infante Je-sus com sua Mãe e São José, às povoaçõesdo Egito. Quando nelas entrava o Menino

Deus, nos braços de sua Mãe, elevava osolhos ao céu e, de mãos juntas, rezava aoPai pela salvação daqueles habitantes es-cravizados ao demônio. Usando de seureal poder divino, expulsava os que esta-vam nos ídolos e os precipitava ao abismo.Semelhantes aos raios quando faíscamnas nuvens, fugiam descendo até o maisfundo das tenebrosas cavernas infernais

força do poder divino, não sabiam donde partia aquela virtude.

Maria instrui os pagãos

644. Tão inesperada novidade es-

 pantava os pagãos. Entre os mais sábiosexistia certa tradição, desde o tempo emque Jeremias esteve no Egito (Jer 43, 8 -13), de que um Rei dos judeus viria a este

 país, e então seriam destruídos os templosdos ídolos do Egito. Desta vinda, porém,o povo nada sabia e os sábios também ig-noravam como iria acontecer. O medo e aconfusão assaltou a todos, e o temor e a

(Lc 10» 18). Ao mesmo tempo, com gran-de fragor caiam os ídolos, desmoronavamos templos e se destruíam os altares daidolatria. A divina Senhora sabia a proce-dência da causa de tão prodigiosos efeitose acompanhava as orações do Filho, emtudo cooperando com Ele na salvação hu-mana. São José também conhecia queeram obras do Verbo feito homem, e com

santa admiração o bendizia e louvava. Osdemônios, porém, apesar de sentirem a

 perturbação era geral, conforme profeti-zara Isaias (Is 9, 1). Indagavam uns aosoutros o motivo de tal ocorrência, e algunsse dirigiam à nossa grande Rainha e a SãoJosé. Curiosos por ver os forasteiros, fa-lavam-lhes da ruína dos templos e dosdeuses que adoravam. Aproveitando aoportunidade, a Mãe da sabedoria come-çou a instruir aqueles povos, dando-lhes

notícias do verdadeiro Deus. Ensinou-lhes que só Ele era Deus, Criador do céu

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Quarto Livro

e da terra (Ecli 1, 8; Is 37, 16), o únicoque devia ser adorado e reconhecido comoDeus (Deut 6,13). Os outros deuses eramfalsos e mentirosos (Bar 6, 44) e não sedistinguiam da madeira, do barro ou dometal de que eram feitos; não tinham

olhos, ouvidos nem poder algum. Seus fa- bricantes, assim como os fizeram,  podiamdestruí-los, e qualquer homem era maisnobre e tinha mais poder do que eles. Asrespostas que davam eram dos demôniosque neles estavam, mentirosos, enganado-res, sem verdadeiro poder, porque só Deusé verdadeiro.

A Virgem curava doenças eexpulsava demônios

645. Como a divina Senhora eratão suave e doce em suas palavras, e estastão vivas e eficazes; como seu semblanteera tão aprazível e amável, e o efeito desuas instruções tão salutar - a fama dos

 peregrinos se divulgava e, nos lugares em

que chegavam, acorria muita gente paravê-los e ouvi-los. Como, ao mesmo tempoque atuava a oração do Verbo humanado

 para lhes obter grandes auxílios, sucediaa ruína dos ídolos, era incrível a comoçãodo povo. Os corações transformavam-se,convertendo-se ao conhecimento do ver-dadeiro Deus e fazendo penitência dos

 pecados, sem saber donde e por que meioslhes vinha este bem.

Prosseguiram Jesus e Maria por muitos povoados do Egito, operando estes

 prodígios e outros muitos. Expulsavam osdemônios, não só dos ídolos, mas tambémde muitos corpos dos quais se haviamapossado. Curavam muitos enfermos degraves e perigosas enfermidades. Ilu-minavam os corações, e a divina Senhoracom São José ensinavam o caminho daverdade e da vida eterna. Com estes bene-fícios temporais, e outros que tanto atraemo povo ignorante e terreno, muitos tinhamoportunidade de ouvir ensinamento e dou-trina para a vida e salvação de suas almas.

Tradições da passagem de Maria eJesus pelo Egito

646. Chegaram à cidade de Her-mópolis, na direção da Tebaida que, por 

Capítulo 24

alguns, é chamada cidade de Mercúrio.Havia ali muitos ídolos e poderosos de-mônios. Um deles vivia numa árvore à en-trada da cidade. Por ser a árvore muitogrande e bela, os moradores vizinhos

começaram a venerá-la e o demônio apro-veitou a ocasião para usurpar aquela ado-ração, ali se instalando. Quando avistou oVerbo humanado fugiu, precipitando-senos abismos, e a árvore, agradecida, incli-nou-se até o solo. Até as criaturas in-sensíveis testificaram quão tirano é odomínio desse inimigo. O milagre dasárvores se inclinarem aconteceu outrasvezes, no caminho por onde passava seu

Criador, ainda que não haja ficado memó-ria de todos. Este prodígio da árvore deHermópolis foi lembrado por muitos sé-culos, porque suas folhas e frutos adqui-riram propriedades para curar diversasenfermidades. Alguns autores (Nicéforo,Sozômeno, Brocardo) escreveram sobreeste milagre, como também de outro, en-tre os muitos que se deram naquelas cida-

des, por onde passaram, ou habitaram, oVerbo encarnado e sua Mãe Ssma. Trata-se de uma fonte próxima ao Cairo; dela, adivina Senhora tirou água para beberem e

 para lavar as roupinhas do Menino Jesus.Tudo isto foi verdadeiro, e até agora per-manece a tradição e veneração daquelasmaravilhas, não só entre os fiéis que visi-tam os lugares Santos, mas também entreos próprios infiéis. Até estes, de vez em

quando, recebem favores temporais queDeus concede, ou para melhor justificar sua causa com eles, ou para conservar aquela memória. Iguais tradições existemem outros lugares onde Jesus e Maria es-tiveram e operaram grandes prodígios.

 Não é, porém, necessário fazer aqui men-ção delas, porque sua principal residência,enquanto estiveram no Egito, foi a cidade

de Heliópolis. Não foi sem mistério quese chamou cidade do sol. Agora é chama-da Grande Cairo.

Imenso amor pelas almas

647. Escrevendo estas maravilhas,admirada, perguntei à Rainha do céu por-que havia percorrido com o Menino Deus

tantas terras e lugares desconhecidos. Pa-recia-me que isto teria sido causa de au-

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mentarem muito seus trabalhos e pena-lidades.

Respondeu-me: Não te admires deque meu Filho santíssimo e Eutivéssemosviajado para conquistar tantas almas. Por uma só, se fosse necessário, teríamos ro-

deado todo o mundo, se não houvesse ou-tro recurso.Realmente, se nos parece muito o

que fizeram pela salvação humana, é por-que ignoramos o imenso amor com quenos amaram e também porque não os sa-

 bemos amar à altura do quanto lhes deve-mos.

Surpresa de Lúcifer 648. No inferno, a novidade de se-

rem lá precipitados tantos demônios, por estranha força que não conheciam, alteroumuito a Lúcifer. Abrasado no fogo de seufuror, percorreu o mundo para investigar a causa de tão novos sucessos. Andou por todo o Egito e passou nos lugares ondehaviam desabado os templos e altares comseus ídolos. Chegou a Heliópolis, que eraa cidade maior, e onde havia sido maisnotável a destruição de seu império. Comgrande atenção a examinou, procurandosaber que espécie de gente lá havia. Nãoencontrou outra novidade, além da chega-da de Maria Ssma. àquela terra. Ao Me-nino Jesus não deu nenhuma importância,

 porque não o conhecia e o julgava uma

criança qualquer. Como tantas vezes tinhasido vencido pelas virtudes e santidade daVirgem Mãe, sentiu novos receios. Apesar de lhe parecer que tão grandes façanhasnão poderiam partir de uma mulher, resol-veu persegui-la novamente, com oauxíliode seus ministros de maldade.

Conciliábulo no inferno

649. Voltou logo ao inferno econvocando um conciliábulo com os

 príncipes das trevas, contou-lhes a ruínados ídolos e templos do Egito. Ao saíremdeles, os demônios tinham sido ex- pulsos com tanta rapidez, confusão e pena que não perceberam o que aconte-

cera aos ídolos e lugares que abando-navam. Lúcifer  informou-os de tudo o

que se passara e de que seu império es-tava se destruindo em todo Egito. Dis-se-lhes que não encontrava, nemcompreendia a causa de tal ruína. Na-quela terra havia encontrado apenasaquela Mulher, sua inimiga. Assim ele

denominava Maria Ssma. Ainda que sa- bia ser sua virtude muito notável, não podia presumir que tivesse tanto poder,como naquela ocasião haviam experi-mentado. Não obstante, resolvera fazer-Ihe nova guerra, e que todos se preparassem para ela. Responderam osministros de Lúcifer  que estavam pron-tos para lhe obedecer. Como consolo deseu desesperado furor, prometeram-lhea vitória, como se suas forças igualas-sem à sua arrogância (Is 16, 6).

O demônio é detido

650. Saíram do inferno muitas le-giões e, reunidas, se dirigiram ao Egito,onde se encontrava a Rainha dos céus. Pa-recia-lhes que se a vencessem, só com estetriunfo compensavam sua perda e recupe-ravam tudo quanto, naquele miserável rei-no, lhes arrebatara o poder de Deus, dequem suspeitavam ser instrumento MariaSsma. Pretenderam aproximar-se paratentá-la, confonne seus planos diabólicosmas, coisa maravilhosa: não puderamchegar além de dois mil passos à distância

d'Ela. Detinha-os, ocultamente, a virtudedivina que reconheciam sair da mesmaSenhora. Ainda que Lúcifer  e os demaisforcejavam e porfiavam, eram enfraque-cidos e detidos, como em fortes prisõesque os atonnentavam. Era-lhes impos-sível avançar até onde se encontrava a in-victa Rainha que tudo presenciava, pelo poder do próprio Deus em seus braços.

Como Lúciferpersistia, foi repentinamen-te lançado às profundezas, com todos seusesquadrões de maldade. Esta opressão ederrota produziu grande tormento e cui-dado ao dragão. E, como nos dias após aEncarnaçâo lhe havia acontecido o mes-mo, diversas vezes, começou a suspeitar de que o Messias viera ao mundo. O mis-tério, porém, lhe estava oculto. Como eleo esperava muito ostensivo e ruidoso, fi-cava sempre em dúvida, equivocado,

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Quarto Livro - Capítulo 24

cheio de furor  e raiva que o atormentava.Consumia-se na procura da causa de seumal estar, mas quanto mais arrazoava, me-nos a encontrava.

DOUTRINA DA RAINHA DO CÉU

MARIA SSMA.

Alegrar-se com as perfeições divinas

651. Minha filha, inestimável é oconsolo das almas fiéis e amigas de meuFilho santíssimo quando, com fé viva,consideram que servem um Senhor que éo Deus dos deuses, o Senhor dos senhores,

Aquele que tem o império, o poder, o do-mínio sobre toda a criação, Aquele quereina e triunfa de seus inimigos.

 Nesta verdade se deleita o enten-dimento, se recreia a memória, goza avontade. Todas as faculdades da alma de-vota se entregam, sem receio, à suavidade

 produzida por tão nobres operações, aocontemplar aquele Ser de bondade, santi-dade e poder infinito (ITim 6, 15 - 16)

que de ninguém tem necessidade (2Mac14, 35) e de cuja vontade (Apoc 4, 11)depende toda a criação. Oh! quantos bens

 perdem as criaturas que, esquecidas de suafelicidade, empregam sua alma e todo otempo da vida em atender ao visível!

Com a ciência e luz que tens, Eudesejaria, minha filha, que te libertassesdeste perigo e que teu entendimento e me-

mória sempre se ocupassem com a verda-de do Ser divino. Mergulha neste mar interminável, repetindo continuamente:Quem como nosso Deus que habita nas

alturas, e do céu olha aos humildes da ter-ra? (SI 112, 5). Quem, como o Todo-po-deroso que não depende de ninguém,Aquele que humilha aos soberbos e der-ruba os que o mundo cego chama podero-sos? Aquele que vence o demônio e o

subjuga até aos abismos?

Colaborar para os triunfos de Deus

652. Para mais dilatar teu coraçãonestas verdades, e por elas obter maior su-

 perioridade sobre os inimigos do Altíssi-mo e teus, quero que me imites, na medida

que te for possível. Como Eu, gloria-te pe-las vitórias e triunfos de seu poderoso bra-ço, e procura ter alguma parte nos que Elequer sempre obter sobre este cruel dragão.

 Não é possível à língua de criatura, aindaque seja de serafins, explicar o que minhaalma sentia, quando via meu Filho santís-simo, de meus braços, realizar tantas ma-ravilhas contra seus inimigos. Sendo afavor daquelas almas cegas e sob a tirania

do erro, crescia e se propagava a exaltaçãodo nome do Altíssimo, por meio de seuUnigênito humanado. Com este júbilo,minha alma enaltecia o Senhor, e com meuFilho santíssimo fazia novos cânticos delouvor, como Mãe santíssima sua e Espo-sa do divino Espírito.

Tu és filha da santa Igreja e esposade meu Filho, favorecida por sua graça; é

 justo que sejas diligente e zelosa emconquistar-lhe esta glória e exaltação, pe-lejando contra seus inimigos, obtendotriunfos para teu Esposo.

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CAPÍTULO 25

JESUS, MARIA E JOSÉ SE ESTABELECEMNA CIDADE DE HELIÓPOLIS.

Diferentes opiniões sobre o assunto

653. Em muitos lugares do Egito,conservou-se memória dos prodígiosque neles operou o Verbo humanado.Isto deu ocasião a diversos Santos escre-verem que os desterrados estiveram emcertas cidades, enquanto outros autoresafirmaram que estiveram em outras. To-

dos podem dizer a verdade, falando dasdiferentes ocasiões em que permanece-ram, ora em Hermópolis, ora em Mênfís,na Babilônia do Egito, ou em Mataria.Passaram, realmente, não só nestas ci-dades, como também em outras. O queentendi é que, tendo-as percorrido,chegaram a Heliópolis, e ali se estabe-leceram. Os santos anjos que os guia-vam, disseram à divina Rainha e a São

José que deveriam parar naquela cidade.Além da ruína dos ídolos e de seus tem-

 plos acontecida à sua chegada, determi-nara o S enhor operar  aí outrasmaravilhas para sua glória e resgate demuitas almas. Aos moradores daquelacidade - segundo o feliz prognóstico deseu nome, cidade do sol - iria despontar o Sol dejustiça (Mal 4,2) com mais co-

 piosa graça para os iluminar. Com esteaviso, ali se fixaram. São José procurouuma casa, oferecendo o justo pagamen-to, e o Senhor dispôs que a encontrasse:uma casa humilde e pobre, mas acomo-dada, e um pouco retirada da cidade,conforme desejava a Rainha do céu.

A Sagrada Família

em sua nova residência

654. Encontrado domicílio em He-liópolis, ali permaneceram. Assim que adivina Senhora entrou na casa, com seuFilho santíssimo e seu esposo José, pros-trou-se em terra beijando-a com profundahumildade e afetuosa gratidão. Deu gra-ças ao Altíssimo por haver achado aqueledescanso, depois de tão penosa e prolon-gada peregrinação. Agradeceu também àterra e aos elementos por sustentá-la, pois,em sua incomparável humildade, semprese julgava indigna de tudo o que recebia.Adorou o Ser imutável de Deus, naquelelugar, dirigindo a seu culto e reverência,tudo quanto ali teria de fazer. Inte-riormente, ofereceu-lhe em sacrifíciosuas potências e sentidos, prontifícando-

se a sofrer, com alegria, quantos trabalhosfosse servido a Deus enviar-lhe naqueledesterro. Em sua prudência os previa eafetuosamente os aceitava. Apreciavaseu valor na luz da ciência divina, pelaqual conhecera que, além de serem bemaceitos no tribunal divino, seu Filho san-tíssimo os considerava por herança e te-souro riquíssimo. Depois desta sublimeelevação espiritual, desceu ao humanomister de limpar e arrumar a pobre ca-sinha, com a ajuda dos santos anjos, e pe-dindo emprestado até o utensílio com quelimpá-la.

Sentiram-se nossos forasteiros bem acomodados entre as pobres paredes

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Quarto Livro-Capítulo 25

da casa, mas faltava-lhes tudo o mais: ali-mento e objetos necessários à vida.

Como já se encontravam em lugar  povoado, não receberam mais o miracu-loso alimento com que, no deserto, eramsocorridos pelos anjos. Aqui remeteu-oso Senhor à mesa dos mais pobres, a esmolamendigada.

Chegando a fome, São José saiu para pedi-la por amor de Deus.

Com tal exemplo, não se queixemos pobres em suas aflições, nem se enver-gonhem de remediá-la por este meio,quando não houver outro. Vejam que tão

SãoJosé pediu de esmola, até que com seutrabalho começou a ter algum recurso.

Assim que pôde, fez uma tarimba para o repouso da Mãe e um berço para oFilho. Quanto a ele, o santo Esposo, nãotinha outro leito mais que a terra nua. Acasa ainda não tinha móveis, até que comseu suor adquiriu os indispensáveis paraos três viverem.

 Não quero passar em silêncio o queme foi dado a conhecer: em tão extrema pobreza e necessidade, Maria e José não pensaram em sua casa de Nazaré, nos pa-rentes e amigos, nem nos presentes dos

cedo foi praticada amendicânciapara sus-tentar a vida do próprio Senhor de toda acriação, que se comprometeu desde já a

 pagá-la centuplicadamente (Mt 19,29) eà vista.

Pobreza e desapego

655, Nos três primeiros dias que passaram em Heliópolis (como tambémem outros lugares do Egito) não teve aRainha do céu, para Si e para seu Unigê-nito, outra alimentação, a não ser a que

Reis que distribuíram em vez de os guar-dar. Nada disto alegaram, nem se queixa-ram de se encontrar em tanto desamparo,fazendo comparações com o passado ecriando temores para o futuro. Em tudo seconservavam inalteráveis, alegres e sere-nos, entregues à divina Providência.

Oh! mesquinhez de nossos infleiscorações! Que de ansiedades tão inquietase penosas costumam sofrer, ao se verem na pobreza ou com alguma necessidade!Logo nos lamentamos que perdemos opor-

tunidades; que poderíamos ter prevenidoou arranjado este ou aquele recurso; que se

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Quarto Livro - Capitulo 25

tivéssemos feito isto ou aquilo, não nosencontraríamos neste ou naquele apuro.

Todas estas tristezas são vãs eestultíssimas, pois nada remedeiam.

Seria bom não termos dado motivoàs dificuldades com nossas culpas, poismuitas vezes são com estas que as atraí-mos. Geralmente, porém, sentimos o pre-

 juízo temporal e não o pecado que nô-lomereceu.

Somos tardos e estultos de coração(Lc 24, 25; ICor 2,14) para perceber ascoisas espirituais de nossa justificação ecrescimento na graça, mas sensíveis, ter-renos e animosos para entregar-nos às coi-sas terrenas e seus cuidados.

Severa é a repreensão de nossosExilados à nossa grosseria e materialismo.

Maria ajuda São José

656. A prudentíssima Senhora eseu Esposo acomodaram-se alegremente,embora sós e privados de todas coisas tem-

 porais, na pobre casinha que encontraram.Constava ela de três aposentos.Um consagrado como templo ou sacrário para o Menino Jesus e sua Mãe. Ali colo-caram a tarimba e o berço sem coberta al-guma, até que depois de alguns dias, como trabalho do santo Esposo e a piedade dealgumas devotas mulheres que se afeiçoa-ram à Rainha, conseguiram a roupa para

os três se agasalharem.Outro aposento foi destinado ao

santo Esposo, onde dormia e rezava. O ter-ceiro lhe servia de oficina onde de-sempenhava seu oficio.

Vendo a grande Senhora a extrema pobreza em que se encontravam, e que otrabalho de São José tinha que ser maior 

 para se sustentarem em lugar onde nãoeram conhecidos, resolveu ajudá-lo e ali-viá-lo no que pudesse.

Procurou trabalhos manuais por intermédio daquelas piedosas mulheresque começaram a freqüentar  sua casa,atraídas por sua modéstia e suavidade.

Como tudo quanto saia de suasmãos era tão perfeito, logo se espalhou afama de seus trabalhos, nunca lhe faltandoserviço para ganhar o sustento de seu Fi-lho, Deus e homem Verdadeiro.

Cooperar com a Providência divina

657. Para ganhar todo o necessário para comer, para São José se vestir, paramobiliar a casa, ainda que pobremente,

 pagar seus aluguéis, pareceu bem à nossa

Rainha gastar todo o dia no trabalho e ve-lar toda a noite nos exercícios espirituais. Não tomou esta resolução por al-

guma cobiça, nem tampouco porque du-rante o dia deixasse um momento acontemplação, pois sempre se encontravanela e na presença do Menino Deus, comotantas vezes tenho dito e ainda repetirei.

Algumas horas, porém, que em- pregava durante o dia em exercícios espe-ciais, quis transladá-las para a noite, a fimde trabalhar mais.

 Não pretendia que Deus operassemilagres para o que, com sua diligência etrabalho, podia conseguir. Em tais casos,

 pedir milagres seria mais comodismo doque necessidade.

Pedia a prudentíssima Rainha aoeterno Pai que, por sua misericórdia os

 provesse donecessário para alimentar seuFilho unigênito, mas ao mesmo tempo tra- balhava. E, como quem não confia em sie naprópria diligência, trabalhando, pediao que por esse meio o Senhor concede àsdemais criaturas.

Ordem do dia da Virgem Mãe

658. Muito se agradou o MeninoDeus desta prudência de sua Mãe e de suaconformidade em tão grande pobreza. Emrecompensa desta fidelidade, quis aliviá-laum pouco do trabalho. Certo dia, do ber-ço, assim lhe falou: Minha mãe, queroorganizar a ordem de vossa vida e trabalhocorporal.

A divina Mãe pôs-se logo de joe-

lhos, e respondeu: dulcíssimo amor meu,dono de todo meu ser, exalto-vos e voslouvo por que condescendentes com meudesejo e pensamento. Que vossa divinavontade dirija meus passos (SI 118,133),oriente minhas obras segundo vosso be-neplácito e disponha minhas tarefas paracada hora do dia, de acordo com vosso

 prazer. Já que vossa deidade se humanoue vossa grandeza se dignou condescender com meu desejos, falai luz de meus olhos,

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que vossa serva ouve (IRs 3,10). Disse oSenhor: Minha Mãe caríssima, ao come-çar a noite (9 horas) dormireis e descan-sareis um pouco. De meia noite até oamanhecer, fareis vossos exercícios decontemplação comigo, e falaremos commeu eterno Pai.

Em seguida, preparai o necessário para vossa refeição e de José. Depois mealimentareis e me levareis nos braços atéa hora de tércia (8 da manhã); então meentregareis a vosso Esposo para que des-canse de seu trabalho. Enquanto isso, fi-careis recolhida até a hora de lhe servir acomida, depois da qual voltareis ao traba-lho.

Como aqui não tendes a sagradaEscritura, cuja leitura vos confortava, le-reis em minha ciência a doutrina de vidaetema, para me seguirdes em tudo com

 perfeita imitação. Rezai sempre ao eternoPai pelos pecadores.

Colóquios entre Maria e Jesus

659. Observou este horário Mariasantíssima todo o tempo em que esteve noEgito.

Aleitava o Menino Deus três vezes por dia, como desde seu nascimento, poisse Ele determinou que o alimentasse umavez, também não proibiu que o fizessemais vezes.

Quando a divina Mãe fazia seus

trabalhos manuais, permanecia sempre na presença do Menino Jesus e de joelhos.Era freqüente entre seus colóquios, o Reiem seu berço e a Rainha em seu trabalho,comporem misteriosos cânticos de lou-vor.

Se tivessem ficado escritos, seriammais numerosos que todos os salmos, cân-ticos e o mais que se tem escrito na Igreja.

 Não há dúvida que o Menino Deus, atra-vés de sua humanidade e de sua Mãe san-tíssima, falaria com maior elevação doque por meio de Davi, Moisés, Maria suairmã, Ana e todos os Profetas.

Estes cânticos sempre deixavam adivina Mãe renovada, repleta de novoamor pela divindade e de ardentes anseios

 pela união com o seu ser imutável. Só Ela

era a fênix que renascia desse incêndio ea águia real que podia fitar o sol, tão de

frente e de perto, como nenhuma outracriatura.

Entre todas, Elaeraaúnicaquenãoapresentava o óbice do pecado, seus efei-tos, paixões e apetites. Livre do gravameterreno da natureza, voava após seu ama-do, elevava-se aos cumes e não parava até

chegar ao seu centro, a divindade.Tendo sempre diante dos olhos o

caminho e a luz (Jo 16,6; 8,12), o Verboencarnado; com o desejo sempre orienta-do para o ser imutáveldo Altíssimo, corriafervorosa para Ele. Encontrava-se mais nofim do que nos meios, mais onde amavado que onde animava.

O sono do Menino Deus

660. Algumas vezes o MeninoDeus adormecia napresençada felizMãe,e então se realizava o que disse: Durmo,mas meu coração vela (Cant 5,2).

Para Maria, o corpo santíssimo deseu Filho era como um cristal puríssimo

e claro, através do qual ela via e penetravao íntimo de sua alma deificada e suas ope-rações (Sab 7,26). Olhando-se e tomandoa se olhar naquele espelho imaculado, adivina Senhora sentia especial consolo emcontemplar a atividade da parte superior da alma santíssima de seu Filho, ocupadaem atosheróicos de viador e compreensor,enquanto seus sentidos dormiam com tan-

ta tranqüilidade e encanto. E tudo se ope-rava, subsistindo a união hipostática dahumanidade com a divindade.

Para falar sobre os amorosos sen-timentos, inflamadas elevações eheróicosatos da Rainha do céu nestas ocasiões,nossas palavras seriam insuficientes e sóofenderiam o assunto. Supram-nas a fé eo coração.

As refeições da Sagrada Família

661. Quando chegava o momentode São José receber o consolo de carregar o infante Jesus, dizia-lhe a divina Mãe:Filho e Senhor meu, olhai vosso fiel servocom amor de filho e pai, e tende vossas

delícias na pureza de sua alma tão simplese agradável aos vossos olhos.

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Quarto Livro - Capítulo 25

Dirigia-se, então, ao Santo dizen-do: Recebei, meu Esposo, em vossos bra-ços o Senhor que sustenta na mão todosos orbes do céu e terra (Is 40,12) que criousó por sua bondade. Aliviai vossocansaçocom aquele que é a glória de toda a cria-

ção. Com profunda humildade, o Santoagradecia este favor, e costumava per-guntar à sua Esposa se poderia tomar aliberdade de acariciar o Menino. Concor-dando Ela, recreava-se com o Menino, eeste alívio fazia-o esquecer a fadiga do tra- balho e qualquer sacrifício se lhe tornavafácil e agradável.

Sempre que Maria santíssima eSão José comiam estavam com o Menino.Tendo servido à mesa, a divina Rainha orecebia nos braços e enquanto comiamcom grande compostura o alimento docorpo, dava à sua alma puríssima outromais agradável e substancial, reveren-ciando-o, adorando-o e amando-o comoDeus eterno.

Sustentando o Menino em seus braços, afagava-o com carinho de afe-tuosa mãe a seu querido filho.

 Não é possível ponderar a atençãocom que desempenhava ambos ofícios: decriatura para seu Criador, considerandosua divindade, Filho do eterno Pai, Rei eSenhor dos senhores (Apoc 19,16), Cria-dor e conservador de todo o universo; ede Mãe para seu filho, servindo-o e crian-

do-o como verdadeiro homem. Nestes dois extremos, abrasava-setoda em atos heróicos de admiração, lou-vor e profundo amor.

Quanto ao mais que faziam os doisEsposos, só posso dizer que constituíamadmiração para os anjos, agindo com ple-nitude de santidade e complacência do Se-nhor.

DOUTRINA DA RAINHA DO CÉUMARIA SANTÍSSIMA

Sofrer com paz e alegria

662. Minha filha, sendo verdadeque cheguei ao Egito com meu Esposo e

Filho santíssimo, onde não conhecíamos

nem amigos nem parentes, em terra dereligião estranha, sem abrigo, amparonem socorro humano para sustentar umFilho que tanto amava: bem se pode com-

 preender a tribulação que padecemos, pois permitia o Senhor que esta aflição nosatingisse.

 Não pode caber em consideraçãohumana a paciência com que sofremos enem os anjos são capazes de avaliar a re-compensa que o Altíssimo me concedeu pelo amor e conformidade com que tudolevei, melhor do que se estivesse na maior  prosperidade. Verdade é que muito medoíaver meu Esposo em tanta necessidade

e apuro, mas nesta mesma pena bendiziao Senhor com alegria de a padecer. Nestanobilíssima paciência e serenidade de âni-mo quero, minha filha, que me imites nasocasiões em que te puser o Senhor, e sai- bas atender ao interior e exterior com pru-dência, dando a cada qual o que deves pelaação e contemplação, sem que uma impe-ça a outra.

 Não pretender milagres

663, Quando faltar a tuas súditas onecessário para a vida, trabalha em o pro-curar devidamente. Deixa alguma vez, a

 própria quietude, pois por esse motivo,não é perde-la. Muitas vezes já te advertia não perderes a presença de Deus por ne-

nhuma ocupação pois, com sua divina luzegraça, tudo podes fazer sem perturbação,se fores cuidadosa. Quando, por meios hu-manos se pode conseguir devidamente oque é preciso, não se devem esperar mila-gres, nem se dispensar do trabalho, com oargumento que Deus proverá e acudirá so- brenaturalmente. Deus concorre com osmeios suaves, nonnais e convenientes, e

o trabalho é meio oportuno para o corposervir com a alma, fazer sacrifício ao Se-nhor e adquirir merecimentos na formaque pode. Trabalhando, a criatura racional pode louvar a Deus e adorá-lo em espíritoe verdade (Jo 4,23). Para procederes as-sim, ordena todas tuas ações pela vontadedivina; pesa-as na balança do santuário,fitando atentamente a divina luz que te in-

funde o Todo-poderoso.

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CAPÍTULO 26

m PRODÍGIOS QUE MARIA SANTÍSSIMA,SAO JOSE E O INFANTE JESUS REALIZARAM

EM HELIÓPOLIS NO EGITO.

Maria, nuvem fecunda de santidade

664. Disse Isaias que o Senhor en-traria no Egito sobre uma leve nuvem (Is19,1), para aí operar maravilhas. Chamounuvem à Mãe santíssima, ou segundo ou-tros, à humanidade que dela tomou.

 Não há dúvida que, com esta me-táfora, quis significar que por meio destanuvem divina, havia de fertilizar e fecun-dar a terra estéril do coração de seus ha-

 bitantes. Daí em diante produziriam

novos frutos de santidade e conhecimentode Deus, como aconteceu depois que nelaentrou esta nuvem celestial.

Propagou-se no Egito a fé do ver-dadeiro Deus, destruiu-se a idolatria,abriu-se caminho para a vida eterna atéentão fechado pelo demônio. Quando aíchegou o Verbo Humanado, quase não ha-via quem conhecesse a verdadeira divin-

dade. Alguns tinham tido este conheci-mento, pelo contato com os hebreus queali residiam (4Rs 17, 24), mas mistura-vam-lhe grandes erros, superstições e cul-tos ao demônio, como em outra épocahaviam feito osbabilônios emigrados paraa S amaria.

Depois que o Sol de justiça ilumi-

nou o Egito, e que Mariasantíssima, a levenuvem sem peso de qualquer culpa, a fer-tilizou, essa terra se tornou tão fecunda emsantidade e graça que produziu copiosofruto durante muitos séculos. Provaram-no os santos e solitários tão numerosos,

que fizeram aqueles montes destilar o mel(Joel 3,18) dulcíssimo da santidade e per-

feição cristã.Àpostolado de Maria

665. Para proporcionar este favor aos egípcios, o Senhor estabeleceu resi-dência na cidade de Heliópolis, como jádissemos.

Era esta cidade bastante povoada,repleta de ídolos, templos e altares do de-

mônio. Ao entrar nela o Senhor, todos de-sabaram com grande fragor. A inesperadanovidade apavorou os habitantes e produ-ziu grande perturbação e movimento emtoda a cidade (Is 19,1).

Aturdidos, fora de si e também cu-riosos de ver os forasteiros recém-chega-dos, foram muitos homens c mulheresfalar com nossa grande Rainha e com o

glorioso São José.A divina Mãe conhecedora do mis-tério e da vontade do Altíssimo atendeu atodos. Falou-lhes ao coração, prudente,sábia e docemente, deixando-os admira-dos com sua incomparável simpatia, es-clarecidos com a altíssima doutrina quelhes ensinava e com a verdade para dei-xarem seus erros.

Curou, de passagem, alguns enfer-mos entre os que iam procurá-la, e assimos auxiliava e consolava de todos os mo-dos.

Estes milagres foram-se divulgan-do de tal maneira que, dentro de pouco

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Quarto Livro - Capítulo 26

tempo, acorreu muita gente procurando adivina forasteira. A prudentíssima Se-nhora viu-se obrigada a pedir ao seu Filhosantíssimo lhe ordenasse o que desejavaque Ela fizesse àquelas pessoas.

O Menino Deus lhe respondeu que

os informasse da verdade e conhecimentoda divindade, que lhes ensinasse a cultuá-lo e a maneira de saírem do pecado.

Maria instrui os pagãos

666. Nossa celestial Princesa exer-

Sempre que a divina Senhora ou-via e respondia aos que vinhamprocurá-latomava nos braços o infante Jesus, autor daquela graça e de todas as que recebiamos pecadores. Falava com todos e a cadaum, conforme a capacidade que tinham

 para entender a doutrina da vida eterna.Deu-lhes conhecimento e luz so- bre a divindade e que Deus era um só eimpossível haver muitos deuses. Ensinou-lhes os artigos e verdades sobre a divin-dade e a criação do mundo, e lhes declaroucomo o próprio Deus o haveria de redimir.Ensinou-lhes os mandamentos do Decá-

ceu este oficio de pregadora e mestra dosegípcios, como instrumento de seu Filho

santíssimo que comunicava virtude àssuas palavras.

Tanto foi o fruto  produzido naque-las almas, que seriam necessários muitoslivros para referir as maravilhas que entãosucederam, e as almas que se converteramà verdade, durante os sete anos que

 permaneceram naquela província, dei-xando-a santificada e repleta de bênçãos

de doçura (SI 20,4).

logo, que são a própria lei natural; o modocomo deviam adorar e cultuar a Deus; e

que deviam aguardar a Redenção do gê-nero humano.

Obras de caridade

667. Explicou-lhes a existência dedemônios, inimigos do verdadeiro Deus edos homens e esclareceu as idéias erradasque tinham sobre seus ídolos. As respostas

que eles davam eram falsas, feíssimos os

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Quarto Livro

 pecados a que os induziam e provocavam por irem consultá-los; e como, depois,ocultamente os tentavam com sugestões esensações desordenadas.

Apesar da Senhora do céu ser tão pura e isenta de qualquer imperfeição,

 para a glória do Altíssimo e salvação da-quelas almas, não se dedignava de os dis-suadir dos pecados impuros e torpíssimosem que todo o Egito estava atolado.

Revelou-lhes que o Reparador detantos males, o vencedor do demônio, o

 prometido pelas Escrituras já tinha vindo,embora não lhes dissesse que o levava nos braços.

Para melhor aceitarem toda estadoutrina e se afeiçoarem à verdade, con-firmava-a com grandes milagres, curandotodo gênero de enfermidades e libertandoendemoninhados vindos de diversos luga-res.

Algumas vezes, ia pessoalmenteaos hospitais e ali faziaadmiráveis benefí-cios aos enfermos.

Em toda parte consolava os tristes,aliviava os aflitos, socorria os ne-cessitados. A todos atraía com suaveamor, admoestava com aprazível severi-dade e os empenhava com seus favores.

Recato de Maria

668. Na cura dos enfermos e cha-gados, a divina Senhora ficou em dúvida

entre dois sentimentos: A caridade que aimpelia curar as chagas com as própriasmãos, e o recato para não tocar em nin-guém.

Para que satisfizesse a ambos,convenientemente, disse-lhe seu Filhosantíssimo, que aos homens curasse ape-nas com palavras e advertências, enquan-to as mulheres poderia curar com as mãos,

tocando e limpando-lhes as chagas.Assim o fez dai em diante, exerci-tando os ofícios de mãe e enfermeira, atéque depois de dois anos, São José tambémcomeçou a curar os doentes, conforme di-rei.

Das mulheres, porém, a Rainhacuidava mais, com admirável caridade.Sendo a mesma pureza, tão delicada e li-

vre de doenças e suas conseqüências, cu-rava as chagas por ulceradas que fossem

Capítulo 26

e lhes punha as ataduras necessárias.Compadecia-se como se sofresse os malesde cada doente.

Acontecia, às vezes, que paracurá-las, pedia licença a seu Filho santíssimo

 para de seus braços recliná-io no berço(Mt 25,40). Assim, a caritativa e humildeSenhora, por outro modo, continuava a es-tar com o Senhor dos pobres.

 Nestas ações, coisa admirável, amodestíssimaSenhora jamais fitava o ros-to de ninguém, fosse homem ou mulher.Ainda que a chaga se encontrasse nele, eratão extremo seu recato que, pela fisiono-mia jamais poderia conhecer alguém. Co-

nhecia-os por outro modo, pela luzinterior.

São José, mestre e taumaturgo

669. O clima quente do Egito, asmuitas desordens morais daquela míseragente, eram causa de freqüentes e gravesdoenças naquela terra. Em alguns dosanos em que ali estiveram o Menino Jesuse sua Mãe santíssima, grassou a peste emHeliópolis e noutros lugares.

Por este motivo, e pela fama deseus milagres, vinha muita gente de todoopaísprocurá-los, voltando sãos no corpoe na alma.

Para que a graça do Senhor se der-

ramasse sobre eles com maior abundân-cia, e a piedosa Mãe tivesse auxiliar nasmisericórdias que praticava como instru-mento vivo de seu Unigênito, acedeu o Se-nhor ao pedido da divina Senhora,determinando que São José também sededicasse ao ensino e à cura dos enfermos.

Para este fim, alcançou-lhe a Se-nhora nova luz interior e a graça de comu-

nicar saúde. No terceiro ano em que se encon-travam no Egito, começouo santo Esposoa exercer esses dons do céu. Catequizavae curava os homens, e a grande Senhoraàs mulheres.

Com estes benefícios tão contí-nuos, com a graça e eficácia derramadanos lábios de nossa Rainha (SI 44,3), eraincrível o bem que faziam, pela afeiçãoque despertavam em todos, cativados por 

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suamodéstiaeatraídos pela virtude de suasantidade.

Ofereciam-lhes muitas ofertas e presentes, mas a Senhora jamais aceitouou guardou alguma coisa para si.

Sempre se sustentavam com seutrabalho e o de São José.

Se, às vezes, aceitava alguma dá-diva por atenção a quem a fazia, logo dis-tribuía tudo aos pobres e necessitados.

Só para este fim e consolo de seusdevotos, aceitava suas dádivas, e mesmoa esses, as retribuía com algum trabalhode suas mãos.

Destasextraordinárias obras pode-se coligir quais e quantas teriam sido asque fizeram no Egito, durante os sete anosque estiveram em Heliópolis. Impossívelcalcular seu número ou descrever cadauma.

DOUTRINA QUE ME DEU A RAINHADO CEU MARIA SANTÍSSIMA

Cooperar para o bem do próximo670. Minha filha, ficaste admirada

ao conhecer as obras de misericórdia queEu pratiquei no Egito, acudindo a curar 

 pobres e enfermos de tantas doenças, paralhes dar saúde ao corpo e à alma. Enten-derás que isso não contradizia meu recatoe inclinação para o retiro, se pensares noimenso amor com que meu Filho san-

tíssimo, logo depois de nascer, quis ir àquele país, estrear em seus moradores ofogo da caridade que ardia em seu coração

 pela salvação dos mortais. Comunicou-me e fez-me instrumento desta caridade ede seu poder, sem os quais não me atreve-ria, de própria iniciativa, a tantas obras.Sempre me inclinava a não falar nem ter contato com ninguém, mas a vontade de

meu Filho e Senhor era meu regime emtudo. De ti, minha amiga, quero que imi-tando-me, trabalhes no bem e salvação do próximo, com a perfeição e condições queeu trabalhava. Não procures as ocasiões porque o Senhor as enviará, salvo se hou-ver grande necessidade de tomares a ini-ciativa. De qualquer modo, trabalha,admoesta e esclarece com a luz que tensaos que puderes.

 Não procedas como quem assumeoficio de mestra, mas como quem consolae se compadece das dificuldades dos ir-mãos e quer aprender com eles a paciên-cia, usando de muita humildade, prudentereserva e caridade.

Obras de misericórdiacorporais e espirituais

671. A tuas súditas admoesta, cor-rige e governa, animando-as à maior vir-tude e agrado do Senhor. Depois de praticares a perfeição, o melhor que podesfazer é ensiná-la aos outros, encorajando-

os segundo tuas forças e a graça que rece- beste. Para aqueles a quem não podesfalar, reza e suplica incessantemente por sua salvação, e assim estenderás a todosa caridade. Como não podes servir aos en-fermos de fora, compensa servindo as detua casa, acudindo pessoalmente a seu ali-vio e asseio. Não te julgues superior a taltrabalho por causa de teu ofício de Prela-da, pois por ele és mãe e o deves mostrar 

no cuidado e amor por todas. De resto,sempre te hás de considerar a menor. Or-dinariamente, o mundo emprega no servi-ço dos enfennos os mais pobres edesprezados porque, ignorante, não co-nhece a grandeza deste ministério. Por isso, dou a ti, como à mais pobre e últimade todas, o oficio de enfermeira, para oexercitares e seres semelhante a Mim.

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CAPÍTULO 27

HERODES MANDA MATAR OS INOCENTES. MARIA TEMCONHECIMENTO DO FATO. SÃO JOÃO FOI ESCONDIDO.

Herodes procura a sagrada Família

672. Deixemos agora no Egito oinfante Jesus com sua Mãe santíssima eSão José, santifícando aquele reino comsua presença e demais benefícios que aJudéia não mereceu.

Voltemos a saber no que deu a dia- bólica astúcia e hipocrisia de Herodes.Aguardou o iníquo rei a volta dos Magos,e a relação que lhe fariam de haverem en-

contrado e adorado o novo e recém-nas-cido Rei dos Judeus. Mandaria, então,tirar-lhe a vida, mas foi logrado.

Enganado por sua própria astúcia,esperou alguns dias pela volta dos Reisorientais. Quando viu que tardavam, ocuidado de sua ambição obrigou-o a per-guntar por eles.

Soube que os Magos tinham esta-

do em Belém com Maria e José e que, to-mando outro caminho, já estariam forados limites da Palestina. Foi informadotambém do que acontecera no templo.

Consultou novamente alguns dou-tores da lei e todos concordaram sobre oque as Escrituras diziam de Belém. Peloque ali havia se passado, mandouinvestigadores para encontrarem nossa

Rainha com seu divino Infante e o glorio-so São José.O Senhor, porém, que os mandara

sair de noite de Jerusalém, providencioutambém para que ninguém percebesse afuga, nem encontrasse rastro algum deles.

Sem poder descobri-los, os servosde Herodes lhe responderam que não se

encontrava tal homem, mulher e menino

em toda a terra.A matança dos inocentes

673. Herodes inflamou-se de in-dignação (Mt 2, 16), sem sossegar ummo-mento, a procura de um meio para se livrar da ameaça daquele novo Rei.

O demônio, vendo-o disposto paraqualquer maldade, lançou-lhe ao pensa-

mento toda espécie de sugestões. A guisade consolação propos-lhe que, usando deseu real poder, mandasse degolar todos osmeninos daquela comarca que não pas-sassem de dois anos.

Entre eles, infalivelmente se en-contraria o Rei dos judeus que havia nas-cido dentro daquele prazo.

Alegrou-se o tirano com esta idéia

que jamais surgira a outro bárbaro e acei-tou-a, sem o temor e horror que tão cruentaação poderia causar a qualquer homem ra-cional.

Refletindo como executá-la parasatisfação de sua ira, chamou algumas tro-

 pas de soldados. Dando-lhes como chefesaos de sua maior confiança ordenou-lhes,sob graves penas que degolassem todos

os meninos até dois anos de idade, en-contrados em Belém e sua comarca.Como o mandou Herodes, assim

foi executado. Toda a terra encheu-se deconfusão, pranto e lágrimas dos pais e pa-rentes dos inocentes condenados à morte,sem que ninguémpudesse se opor e reme-diar.

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Privilégios concedidos aos inocentes

674, Esta ímpia ordem de Herodesfoi dada aos seis meses do nascimento denosso Redentor.

 No dia em que começou a ser exe-cutada, estava nossa grande Rainha comseu Filho santíssimo nos braços. Contem-

 plando sua alma, conheceu nela, como emclaro espelho, tudo o que se passava emBelém, melhor do que se estivesse presen-te aos clamores dos meninos e de seuspais.

Viu a divina Senhora, como seu Fi-lho santíssimo pedia ao etemo Pai pelos

 pais e mães dos inocentes, oferecendo os

 pequenos mártires como primícias de suamorte. (Apoc 14, 4). Como eram sacrifi-

cados no lugar do Redentor, pedia que lhesfosse dado uso da razão para que, cons-ciente e livremente, oferecessem a vida eaceitassem a morte pelaglória do Senhor.Suplicou também que os recompensasse

com o prêmio e coroa de mártires.Tudo lhe concedeu o Pai eterno. Nossa Rainha que tudo presenciava emseu Filho unigênito, acompanhou-o e imi-tou-o no oferecimento e oração que fazia.Participou também na dor e compaixãodos pais dos meninos mártires, e foi a ver-dadeira e primeira Raquel a chorar pelosfilhos de Belém e seus (Jer 31,15). Ne-

nhuma outra mãe soube chorá-los quanto

Ela, porque nenhuma soube ser mãe comoo era nossa Rainha e Senhora.

Santa Isabel esconde seu filho João

675. Por então, a Virgem não tinhaconhecimento do que Santa Isabel fizera para esconder seu filho João, conforme oaviso que a Rainha lhe dera pelo anjo, ao

 partir de Jerusalém para o Egito (1). Não duvidava que se cumpririam

todos os mistérios que, de seu ofício de precursor, havia conhecido por divina luz.Apesar disso, não sabia as dificuldadesque mãe e filho teriam passado por causa

da crueldade de Herodes, nem por quemeios dela se teriam defendido. Não se atreveu a prudente Mãe in-

dagar a seu Filho santíssimo, pela reve-rência com que tratava estas revelações.Com humildade e paciência se humilhavae retraia.

Seu Filho, porém, lhe satisfez o piedoso e compassivo desejo. Declarou-lhe como Zacarias, pai de São João, mor-rera quatro meses depois de seu virginal parto, quase três depois que haviam saídode Jerusalém. Santa Isabel, viúva, não ti-nha outra companhia senão a de seu filhoJoão. Com ele vivia solitária, retirada emlugar isolado.

Avisada pelo anjo, vendo a cruel-dade que Herodes começara a executar,resolvera fugir ao deserto com seu filho,

habitando entre os animais para se defen-der da perseguição de Herodes. Tomaraesta resolução, inspirada e aprovada peloAltíssimo. Encontrava-se escondidanuma gruta onde, com sacrifício e descon-forto, sustentava-se com seu menino João.

Maria socorre Santa Isabel eSão João no deserto

676. Conheceu também a divinaSenhora que, depois de três anos SantaIsabel morreriano Senhor. João fícarianaquele lugar deserto levando vida angélicae solitária, e não sairia dai até que o Altís-simo lhe ordenasse ir pregar penitênciacomo seu precursor.

1 -n°623,cap. 22

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Todos estes mistérios o infante Je-sus manifestou à sua Mãe santíssima, comoutros ocultos e profundos favores rece-

 bidos por Isabel e seu filho naquele deser-to. Recebeu essas comunicações no modocomo conhecera a morte dos inocentes.

Esta notícia deixou a divina Rai-nha cheia de gozo e compaixão. Gozo, por saber que o menino João e sua mãe es-tavam salvos; compaixão, pelo que so-friam naquela solidão. Pediu licença a seuFilho santíssimo para dali cuidar deles, edesde esse momento, com permissão doSenhor, mandava os anjos que a serviamvisitá-los freqüentemente. Pelos mesmos

remetia-lhes alguns alimentos, sendo esteo maior conforto que mãe e filho solitáriostiveram naquele ermo.

Através dos anjos manteve comeles, do Egito, contínua e oculta comuni-cação.

Ao chegar a hora da morte de SantaIsabel, enviou muitos de seus anjos paraa assistirem, e ajudarem seu menino João

que então contava quatro anos. Auxiliado por eles sepultou sua falecida mãe naqueledeserto.

Dai em diante, todos os dias, a Rai-nha mandou comida para São João, até elechegar à idade de poder se sustentar por si com ervas, raízes e mel silvestre (Mc 1,6) (2), vivendo em tão admirável abstinên-cia, como se dirá adiante.

Maria e o martírio dos inocentes

677. Nem língua, nem pensamentode criaturas, podem calcular os méritos eaumentos de santidade e graça que Mariasantíssima acumulava com tais atos, por-que sempre agia com prudência mais doque angélica.

Despertou-lhe grande admiração,ternura e louvor ao Todo-poderoso, quan-do Ela e seu Filho santíssimo fizeram sú-

 plicas ao etemo Pai pelos meninosinocentes. Conheceu quão liberal foi a di-vina Providência com eles.

Como se estivera presente, a Se-nhora conheceu o grande número dos quemorreram, cuja idade variava de oito dias

a dois anos. A todos foi concedido o uso

2 - abaixo n° 943

da razão e altíssimo conhecimento infusodo ser divino, perfeita caridade, fé e es- perança. Com tal graça, fizeram heróicosatos de fé, culto e reverência a Deus, amor e compaixão de seus pais. Pediram por eles que, em recompensa de sua dor, lhes

desse o Senhor luz e graça para procura-rem os bens eternos.Aceitavam o martírio de livre von-

tade, e não se modificando a fraqueza deseu físico infantil, sentiam-no mais, o queaumentava seu mérito.

Multidão de anjos os assistiam eos levavam ao limbo ou seio de Abraão.Sua presença alegrou os santos Pais, pois

lhes confirmaram a esperança de sua bre-ve libertação.Estas graças foram efeito das peti-

ções do Menino Deus e das orações deMaria santíssima.

Ao conhecer estes prodígios, ab-sorta em amor, disse: Louvai, meninos, aoSenhor (SI 112, 1); e acompanhando-oslouvou ao Autor de tão magníficas obras,dignas de sua bondade e onipotência.

Somente Maria puríssima as co-nhecia e tratava com a sabedoria e apre-ciação que mereciam, porque só Ela eraquem, sem semelhante, sendo tãopróximaa Deus, conheceu e possuiu a perfeição dahumildade.

Mãe da pureza, inocência e santi-dade, humilhou-se mais (SI 115,12)doque

todas as criaturas já profundamente humi-lhadas pelas próprias culpas. Só Mariasantíssima, entre todas as criaturas, conse-guiu este gênero de humildade unida aosmais elevados favores e dons que jamaisreceberam todas as outras reunidas.

Só Ela compreendeu perfeitamen-te que a criatura não pode retribuir adequadamente os benefícios que recebe,

e ainda menos ao amor infinito de Deusonde se originam. Humilhando-se a divi-na Senhora com esta ciência, media por ela seu amor, gratidão e humildade. Tudofazia com a plenitude possível a uma puracriatura, e dava digna retribuição, co-nhecendo não haver outro modo para acriatura agradecer a Deus.

Esclarecimentos da Escritora

678. No fim deste capítulo queroadvertir que, em muitas coisas que vou es-

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crevendo, consta-me haver grande di-versidade de opiniões entre os santos Pa-dres e outros autores.

Por exemplo: o tempo em que He-rodes executou a cruel matança dos ino-

centes; se foram os recém-nascidos, ou osque tinham alguns dias, ou os que não pas-savam de dois anos, e outras dúvidas emque não me detenho, por não ser neces-sário ao meu objetivo.

Escrevo apenas o que me vão en-sinando e ditando, ou o que, às vezes, meé ordenado perguntar para melhor compor esta divina História. Não convinha in-troduzir controvérsias nas coisas que es-

crevo, porque conforme já disse (3),entendi que o Senhor queria que eu escre-vesse toda esta obra sem conjecturas, massó com a verdade que a divina luz me en-sinaria.

Julgar se o que escrevo concordacom a verdade da Escritura e com a ma-

 jestade e grandeza do assunto que trato, ese as coisas têm entre si conveniente co-nexão: tudo isto remeto à doutrina de

meus mestres e prelados e ao juízo dossábios e devotos.A diversidade de opiniões é quase

inevitável entre os que escrevem. Uns se-guem estes autores, outros aos que melhor os satisfazem entre os antigos.

Fora das históriascanônicas, tantouns como outros se baseiam em supo-sições ou em autores duvidosos, e eu não

 poderia escrever por esta ordem, porquesou mulher ignorante.

DOUTRINA DA RAINHA DO CÉUMARIA SANTÍSSIMA

Ódio e crueldade

679. Minha filha, neste capítulo,quero que te sirva como doutrina a pena e

o escarmento com que o escreveste. A pena, por ver que a criatura nobre criada por Deus à sua imagem e semelhança (Sab2,23), com tão excelentes dotes como co-nhecer a Deus, amá-lo e ser capaz de vê-lo

e goza-lo eternamente, se esqueça tantodesta dignidade e se deixe aviltar e rebai-xar a brutais ehorríveis apetites como der-ramar o sangue inocente de quem não

 poderia fazer injúria a ninguém.

Esta compaixão te há de obrigar a prantear a ruína de tantas almas, prin-cipalmente no século em que vives. Igualambição à de Herodes tem acendidocruéis inimizades e ódios entre os filhosda Igreja. Inumeráveis almas se perdem,e o sangue de meu Filho santíssimo, der-ramado por seu preço e resgate (Ef 1, 7),se perde. Chora amargamente esta infeli-cidade.

Tirania das paixões consentidas

680. Por outro lado, sirva-te de li-ção, e pondera o que pode uma paixãocega acolhida pela concupiscência. Quan-do se apodera do coração, abrasa-o nofogo da concupiscência se alcança seu de-sejo, ou no da ira se não o pode conseguir.Teme, minha filha, este perigo não só pelo

que aconteceu a Herodes, mas também pelo que vês a toda a hora, em outras pes-soas.

Toma muito cuidado em não teafeiçoares a coisa alguma, por pequenaque te pareça, pois para atear grande in-cêndio basta pequenina faísca. Nesta ma-téria de mortificação das inclinações, terepito muitas vezes a mesma doutrina e oirei repetindo no que ainda falta. A maior dificuldade da virtude está em morrer atodo o deleitável e sensível.

 Não poderás ser nas mãos do Se-nhor o instrumento que Ele quer, se nãoapagares de tuas faculdades até a imagemdas criaturas, para não encontrarem entra-da em tua vontade.

Para ti quero que seja lei rigorosa:tudo o que tem ser, fora de Deus, de seus

anjos e santos, seja para ti como se nãoexistisse. Esta há de ser tua profissão, e

 para isto o Senhor te revela seus segredose te convida a seu trato íntimo e familiar.O mesmo convite te faço Eu, para só vi-veres em Deus, e fora d'Ele nada deseja-res.

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CAPÍTULO 28

O MENINO JESUS COMPLETA UM ANO DE IDADE,FALA A SÃO JOSÉ E COMEÇA A ANDAR. MARIA

CELEBRA O DIA DA ENCARNAÇÂO E DO NATAL.

O Menino Jesus começa

a falar com S. José681. Ao completar um ano de ida-

de, o menino Jesus determinou quebrar osilêncio e falar em voz clara ao fidelíssimoJosé que lhe fazia o oficio de cuidadoso

 pai, assim como falara com a divina Mãedesde que nascera, conforme escrevi aci-ma (1).

Estavam os santos Esposos falan-

do sobre o ser infinito de Deus, da bonda-de e do tão excessivo amor com queenviara do céu seu Unigênito (Jo 3,16)

 para Mestre e Redentor dos homens (Is55, 4), dando-lhe forma humana (Filp 2,7) em que convivesse com eles (Bar 3,38) tolerando as penalidades da natureza

 pecadora. Nesta ocasião, encontrava-se o

Menino Deus nos braços de sua Mãe. De-les fazendo sua primeira cátedra de mes-tre, com voz inteligível, falou a São José:Pai, vim do céu à terra (Jo 18,34) para ser a luz do mundo (idem 8,12) e resgatá-lodas trevas do pecado (Is 9,2). Vim procu-rar e conhecer minhas ovelhas como bom

 pastor  (Jo 10, 14), dar-lhes pastagens ealimento de vida eterna (Idem 6,69), ensi-

nar-lhes o caminho para ela (Ibid 10,4) eabrir as portas (SI 23,7) que por seus pe-cados estavam fechadas. Quero que sejaisdos filhos da luz (Jo 12,36) pois a tendestão perto.

1 - capítulo 18, n° 577

O amor paterno de São José682. Estas palavras do infante Je-

sus, cheias de vida e de eficácia divina,infundiram no coração do patriarca SãoJosé novo amor, reverência e alegria.

Ajoelhou-se aos pés do MeninoDeus com profundíssima humildade, eagradeceu-lhe porque a primeira palavraque o ouviu pronunciar foi chamá-lo como nome de Pai.

Com muitas lágrimas, pediu quesua divina luz o iluminasse e conduzisseao cumprimento de sua perfeita vontade,ensinando-o a ser agradecido aos in-comparáveis benefícios que recebia desua generosa mão.

Os pais que muito amam seus fi-lhos, sentem grande consolo e alegriaquando neles descobrem algum sinal

 prenunciador de que serão sábios ou no-táveis nas virtudes. Mesmo que não o se- jam, costumam encarecer muito asinfantilidades que seus filhos fazem ou di-zem, fruto do temo amor pelos seus pe-queninos.

Ainda que São José não era pai na-tural do Menino Deus, mas sim putativo,o amor que lhe dedicava excedia, sem me-dida, ao que os pais naturais poderiam ter a seixs filhos.  Nele a graça, e mesmo a na-tureza, foram mais fortes que em outros pais e ainda que em todos juntos.

Por este amor e apreço que sentiaem ser pai nutri cio do Menino Jesus, deve-se medir o júbilo de sua alma puríssima

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ouvindo-se chamar pai do Filho do pró- prio Deus e Pai etemo.

Além disto, via-o tão belo, cheiode graça, começando a falar com tão ele-

vada doutrina e sabedoria.Pobreza do Menino Deus

683. Durante o primeiro ano doMenino Deus, sua carinhosa Mãe o haviaconservado envolto em faixas e mantilhasconforme costumam ficar as outras crian-ças. Não quis Ele ser diferente, para pro-

var sua verdadeira humanidadee seu amor  pelos mortais, pelos quais sofria aquela

mortifícação que poderia ter evitado.Julgou a Mãe prudentíssimaque jáera tempo de lhe tirar as faixas e pô-lo de

 pé. De joelhos, junto ao berço do MeninoDeus, disse-lhe: meu Filho, doce amor deminha alma e meu Senhor, como vossaescrava quero sempre vos agradar. Já fi-castes muito tempo oprimido pelas faixas,mostrando tãogrande amor peloshomens.Já será tempo que mudeis de traje. Dizei-me, Senhor, que farei para começardes aandar?

A pobreza de Cristo

684. Minha Mãe, respondeu o in-fante Jesus, pelo amor que tenho às almasque criei e venho redimir, não me parece-ram penosas as faixas de minha infância, pois em minha idade adulta serei atado,

 preso e entregue a meus inimigos que me

darão a morte (Mt 20,18). Se esta lem- brançaé doce para Mim, por ser a vontadede meu Etemo Pai (Heb 10,7), tudo o maisme será fácil.

Minha veste neste mundoserá ape-nas uma, pois dele só quero o necessário para me cobrir. Ainda que tudo quanto écriadoémeu (SI 23,1), pois dei-lhe a exis-tência, tudo entrego aos homens para quemais me devam. Ensinar-lhes-ei tambémcomo, pelo meu exemplo e por meu amor,deverão renunciar e desprezar a tudo o queé supérfluo para a vida natural.

Vestir-me-eis, minha Mãe, uma tú-

nica talar (2), de cor comum e simples. Sóesta usarei e irá crescendo comigo.Quando morrer, será sorteada (SI

21,19), porque até ela não ficará à minhadisposição, mas sim para os outros. Os ho-mens verão que Eu quis nascer e viver po-

 bre, despojado das coisas visíveis eterrenas que oprimem e obscurecem o co-ração humano.

 No momento em que fui concebi-

do em vosso virginal seio, fiz este aban-dono e renúncia de quanto o mundocontém, apesar de tudo ser meu (Jo 3,35),

 pela união de minha natureza humana à pessoadivina. Não usei de outro poder so- bre as coisas visíveis, senão para oferecer tudo a meu etemo Pai, renunciando-o por seu amor  e aceitando apenas o indis-

 pensável para a vida natural que depoisdarei pelos homens (Jo 10,15).

Com este exemplo, quero repreen-der e ensinar o mundo a não desprezar a pobreza e sim a amá-la. Se Eu, que sou oSenhor de tudo, a tudo renuncio e afasto,será confusão para os que me conhecerem

 pela fé, cobiçar o que Eu ensinei a despre-zar.

Sentimentos da Virgem Mãe

685. Estas palavras do MeninoDeus produziram na divina Mãe admiráveis e diferentes sentimentos: o pensa-mento da morte e prisão de seu Filho san-tíssimo transpassou-lhe o cândido e com- passivo coração, enquanto a doutrina eexemplo de tão extrema pobreza e des- pojamento incitou-a novamente à sua imi-tação.2 - túnica talar - longa até o tornozelo (talão). Nota da

Tradutora.

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O imenso amor pelos mortais in-flamou-a também, para agradecer ao Se-nhor, em nome de todos, com heróicosatos de muitas virtudes.

Contudo, vendo que o Menino Je-sus pedia tão pouco, disse-lhe: Filho e Se-

nhor meu, vossa Mãe não terá coração para, em idade tão tenra, vos colocar des-calço no chão. Aceitai, amor meu, alguma proteção para os pés. Sei também que aveste que me pedis, sem usar por baixooutra mais fina, háde magoar muito vossodelicado corpo. O infante Jesus res- pondeu: minha Mãe, aceito para os pés,algum calçado pobre até chegar o tempode minha pregação que, então, farei des-calço. Quanto àtúnica interior não a querousar porque é estímulo da carne e de mui-tos vícios para os homens. Com meuexemplo quero ensinar muitos a não a usa-rem por meu amor e imitação.(3)

Maria confecciona a túnica esandálias do Menino

686. A celestial Rainha se dispôsa cumprir logo a vontade de seu san-tíssimo Filho. Procurou lã natural, semtingir, e a fiou  bem fina com suas própriasmãos. Teceu uma pequena túnica toda in-teira sem costura, do modo como se fazcom agulha (4). Mais propriamente se pa-recia com o que chamam "terliz" (5) por-que tinha o relevo de um cordãozinho e

não era como pano liso.Teceu-a num tearzinho como ostrabalhos que chamam "ponto", numa só

 peça, misteriosamente inconsútil (Jo 19,

Essa túnica teve duas coisas mila-grosas: saiu uniforme, sem rugas, e pelavontade e piedade da divina Senhora, a

3 - A lã fiada e tecida pelosmétodos primitivos do tempode Jesus, resultava um tecido grosso e áspero.Compreende-se que usá-lo sobre a pele, vinha ser nfio pouca mortifieaçâo. Uma roupa interior mais fina e maciaabrandaria muito, ou mesmo neutralizaria de todo essaaspereza. Exemplo dessa austeridade temos em JoãoBatista que se vestia de pele de camelo (Mc 1,6), e queJesus apresentou como um dos sinais da santidade doBatista. "Que fostcs ver no deserto? Um homem vestido deroupas delicadas? Os que vestem roupas preciosas, evivem entre delicias sao os que vivem nos palácios dos reis(Lc 7,25)". Para transpor o ensinamento de Jesus à nossaépoca, dir-se-ia: usar roupa de baixo de tecido grosseiro.

4 - Seria talvez um trabalho semelhante ao crochê, tricô oumalha.5 - Terliz; Unho grosseiro.

cor natural da lã mudou-se num belo roxo prateado e fúrta-cor. Não se podia dizer seera roxa, prateada ou cinzenta, mas apre-sentava matizes dessas diversas cores.

De fio forte fez também umas san-dálias no estilo de alparcatas. Fez ainda

uma túnica mais curta para lhe servir decalções (6). No capítulo seguinte direi o que

aconteceu ao vestir o infante Jesus.

Maria celebrava os mistérios de Cristo

687. Quando se encontravam noEgito, completou-se o primeiro aniversá-rio dos mistérios da Encamação e Nativi-dade do Verbo divino.

Desde o primeiro ano, a celestialRainha começou a celebrar esses dias fes-tivos para Ela, como também os dos de-mais mistérios que depois foram suce-dendo. Guardou este costume durante todaa vida, como se verá na terceira parte (7).

Para celebrar a Encamação, come-çava nove dias antes com muitas de-

voções. Correspondiam aos nove que precederam esse mistério, durante osquais foi preparada com tão admiráveisfavores, como fica dito no princípio destasegunda parte.

 No dia aniversário da Anunciaçãoe Encamação, convidava aos santos anjosdo céu mais os de sua guarda, para a aju-darem a celebrar esses magníficos misté-

rios e a tributar dignas graças aoAltíssimo.Prostrada em terra, na forma de

cruz, pedia ao Menino Jesus louvar por Ela, ao etemo Pai; que lhe agradecesse osfavores feitos a Ela, e o concedido ao gê-nero humano dando-lhe seu Unigênito (Jo3,16). Fazia o mesmo no aniversário deseu virginal parto. Nestes dias, a divina

Senhora era muito agraciada pelo Altís-simo, porque renovava a contínuamemó-ria e gratidão por mistérios tão sublimes.

Tinha compreendido que muitocompraria ao etemo Pai o penoso sacrifí-cio que fazia quando se prostrava em terra,na forma de cruz, como antecipada me-mória de que nesta haveria de ser cravado

6 - No original: panos de honestidade. (Nota da Tradutora)7-n°642eseg.

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Quarto Livro-Capítulo 28

seu divino Cordeiro. Por isto, em todas asfestividades praticava este exercício, pe-dindo se aplacasse a divina justiça, e so-licitando misericórdia para os pecadores.

Inflamada no fogo da caridade le-vantava-se e terminava a celebração da

festa com admiráveis cânticos que al-ternava com os santos anjos. Estes diziamsuas partes, em coro de celestial e sonoramúsica. A Rainha respondia, mais doce-mente para os ouvidos de Deus (Cant 2,14) do que todos os coros dos supremosserafins e bem-aventurados.

Seu canto era-lhe aceitável, por-que ressoava o eco de suas excelentes vir-

tudes, e subia até o consistório daSantíssima Trindade e tribunal do Deuseterno.

DOUTRINA QUE ME DEU ARAINHA E SENHORA DO CÉU

Espírito de pobreza

688. Minha filha, nem tua capaci-

dade, nem a de todas as criaturas juntas,são capazes de compreender perfei-tamente qual foi o espírito de pobreza demeu Filho santíssimo e como o ensinou aMim. Pelo que te manifestei, podes co-nhecer muito da excelência desta virtudetão amada por seu Autor e Mestre (Sab11,25), e quanto detestou ovício da cobi-ça. Não podia o Criador odiar as mesmas

coisas a que deu o ser, mas conheceu, comsua imensa sabedoria, o incomensurável prejuízo que os mortais sofriam por causada avareza e desordenada cobiça das coi-sas visíveis. Este insano amor perderia amaior parte da natureza humana, e deacordo com o conhecimento que teve donúmero dos que se perderiam pelo vícioda avareza e cobiça, assim foi a aversão

que nutriu por esse vício.

Pobreza, fundamento da Igreja

689. Para acudir a este dano e lhe prevenir algum antídoto e remédio, es-colheu meu Filho santíssimo a pobreza, ea ensinou por palavras e pelo exemplo de

tão admirável despojamento. Se os mor-tais não se aproveitassem desta medi-cação, o médico teria justificado sua

causa, uma vez que lhes ofereceu a saúdee o remédio. Esta mesma doutrina Eu ensi-nei e pratiquei durante minha vida, e sobreela a Igreja foi edificada pelos Apóstolos.O mesmo fizeram e ensinaram os Patriar-cas e Santos que a tem reformado e sus-

tentam. Todos amaram a pobreza comomeio essencial da santidade e des- prezaram as riquezas, incentivos de todoos males e raiz dos vícios (ITim 6,10).

Quero que ames e procures esta pobreza com todo empenho. Elaé o omatodas Esposas de meu Filho dulcíssimo, equando nelas não a encontra, asseguro-tecaríssima, que as desconhece e repudia

 por estranhas e monstruosamente disse-melhantes a Ele. De fato, não há propor-ção entre a esposa rica e cheia de coisassupérfluas, com o Esposo paupérrimo etotalmente despojado. Em tanta desigual-dade não pode haver amor recíproco.

Pobreza e gratidão

690. Se, como filha legítima, que-res imitar-me perfeitamente o quanto pu-deres, como é tua obrigação, claro está queEu, pobre, não te reconhecerei por  filha senão o fores, nem amarei em ti o que nãoquis para Mim.

Também te advirto a não esquece-res os benefícios que do Altíssimo recebes

tão generosamente. Senão fores mui aten-ta e agradecida, com o peso e lentidão danatureza virás facilmente a cair noesquecimento e grosseria. Cada dia, re-lembra isto muitas vezes, dando sempregraças ao Senhor com amor e humildade.Entre todos os benefícios é estimável oter-te chamado, esperado, suportado, per-doado tuas faltas e, não obstante tudo isto,

ter multiplicado seus freqüentes favores.Esta lembrança produzirá em teu coraçãodoces impulsos de amor e energia para tra-

 balhar com dedicação. No Senhor encon-trarás graça e novas recompensas porqueEle sente grande complacência pelo cora-ção fiel e agradecido. Ao contrário, ofen-de-se grandemente de que seus benefíciosnão sejam estimados e agradecidos. Fa-

zendo-os com plenitude de amor, desejaser correspondido com dedicação leal eafetuosa.

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CAPÍTULO 29

A MÃE SANTÍSSIMA VESTE E CALÇA O INFANTE JESUS.ATOS DO MESMO SENHOR NESSA IDADE.

Maria veste o Menino Deus

691. Para vestir o Menino Deuscom a pequena túnica que tecera e com asoutras peças e sandálias que fizera comsuas próprias mãos, a prudentíssima Se-nhorapôs-se de joelhos napresençade seuquerido Filho, e lhe falou deste modo: Se-nhor  altíssimo, Criador dos céus e daterra, Eu desejara vestir-vos, se fosse pos-sível, de acordo com a dignidade de vossa

divina pessoa. Quisera também, ter podi-do fazer a veste que vos trago, com o san-gue de meu coração; julgo, porém, que vosagradará por ser pobre e humilde. Perdoai,Senhor meu, as faltas, recebei o afeto des-te inútil pó e cinza e dai-me licença paravos vestir.

Aceitou o infante Jesus o obséquiode sua Mãe puríssima que logo o vestiu,calçou e pôs em pé.

A túnica serviu-lhe perfeitamente,apesar de não terem sido tiradas as medi-das antes de fazer. Chegavaaté os pés, massem arrastar, e as mangas cobriam-lhe me-tade das mãos.

O decote era redondo, sem abertu-ra, ajustado ao pescoço. Apesar disso, adivina Mãe vestiu-a pela cabeça do Me-nino. Não precisou abrir a peça porque a

veste obedecia-lhe e se acomodava gra-ciosamente segundo sua vontade.

Jesus nunca a despiu, até quandoos verdugos o desnudaram para açoitá-loe depois crucificar. Ela foi crescendo como sagrado corpo, o mesmo acontecendo

com as sandálias e demais peças que lhe

 pôs a cuidadosa Mãe. Nada se gastou, nem envelheceuem trinta e dois anos. A túnica não perdeua cor e brilho com que saiu das mãos daSenhora, e muito menos se manchou ousujou. A veste que o Redentor do mundodepôs para lavar os pés dos Apóstolos (Jo13, 4) era um manto que levava sobre osombros. Fora feito também pela Virgemdepois que voltaram para Nazaré. Foi cre-

scendo como a túnica e era de sua mesmacor, um pouco mais escura, e tecido como mesmo ponto.

O Menino Jesus começa a andar 

692.0 Menino, Senhor das eterni-dades, que desde seu nascimento havia es-tado envolto em panos e ordinariamente

nos braços de sua Mãe santíssima, ficouem pé. Era belíssimo, mais do que todosos filhos dos homens (SI 44,3).

Admiraram-se os Anjos de ter es-colhido tão humilde e pobre trage, Aqueleque veste os céus de luz e os campos deformosura.

Começou a andar perfeitamente na presença de seus Pais. Para os estranhos

dissimulou um pouco este prodígio, equando chegavam pessoas de fora a Rai-nha o recebia nos braços.

Incomparável foi ojúbiloda divinaSenhora e do santo EsposoJosé vendo seuMenino andar, e com tão rara beleza.

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Quarto Livro - Capítulo 30

Até um ano e meio recebeu o leitede sua Mãe puríssima.

Depois comeu sempre pouco, tan-to na quantidade como na qualidade.

A princípio, sua comida eramumas sopinhas de frutas ou peixe, tempe-

radas com azeite. Enquanto foi crescendodava-lhe a Virgem Mãe três refeições,como antes o seu leite: Pela manhã, àtarde e à noite.

O Menino jamais lhe pediu, mas aamorosa Mãe, com rara advertência, cui-dava de lhe dar alimento no devido tempo,

oratório de sua Mãe, e aí ficar por algumtempo. Aprudentíssima Senhora desejavasaber qual seria a vontade de seu Filhosantíssimo: se estar só ou ficar  com Ela.

Respondeu o Senhor ao seu pensa-mento, e lhe disse: Entrai, minha mãe, e fi-

cai sempre comigo para me imitar e copiar minhas ações. Quero que em vós se cum-

 pra e seja gravada a mais elevada perfeiçãoque Eu tinha desejado para as almas.

Se elas não houvessem resistido àminha primeira vontade (Tim 2, 4), se-riam repletas de santidade e receberiam

até que, já crescido, comia nas mesmashoras que os divinos Esposos, e não mais.Assim procedeu até a idade perfeita, con-forme falarei adiante.

Quando comia com os Pais, estessempre esperavam que o divino Meninodesse a bênção no começo da refeição e aação de graças no fim.

Maria recebeu o que todos os outrosperderam

693. Depois que o infante Jesus principiou a andar,começoua retirar-se ao

copiosíssimos dons. Como entretanto,toda a linhagem humana se tomou inidô-

nea para isso, quero que em Vós unica-mente, se cumpra totalmente meu

 beneplácito. Em vossa alma serão depo-sitados os tesouros e bens que as demaiscriaturas perderam. Atende, pois, às mi-nhas ações para nelas me imitar.

Maria, discípula de Cristo

694. Por este mandato, a divina Se-nhora constituiu-se novamente discípula

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Quarto Livro - Capítulo 29

de seu Filho santíssimo. Desde esse mo-mento, passaram-se entre ambos tantos etão ocultos mistérios, que não é possíveldescreve-los e só serão conhecidos naeternidade.

O Menino Deus, muitas vezes, prostrava-se no solo, outras ficava ele-vado da terra em posição de cruz, e sempreorava ao Pai pela salvação dos mortais.Em tudo era acompanhado e imitado por sua querida Mãe que via, não só os atosexteriores corporais de seu amado Filho,mas também as operações interiores desua alma santíssima.

Sobre esta ciência e conhecimento

de Maria puríssima, falei algumas vezesnesta História (1), e será forçoso repetir ainda, porque foi a luz e modelo por ondecopiou aprópria santidade. Esteprivilégiofoi tão singular  graça que não pode ser compreendido nem explicado por todas ascriaturas reunidas.

 Nem sempre gozava a grande Se-nhora da visão da divindade, mas semprea teve da humanidade e alma santíssima

de seu Filho e de todos os seus atos. Por especial modo contemplava os efeitos re-sultantes das uniões hipostática e beatífí-ca. Ainda que, em substância, nem semprevia a glória e a união, era-lhe permanentea visão dos atos interiores com que a hu-manidade reverenciava, enaltecia e ama-va a divindade a que estava unida. Estefavor foi singular prerrogativa para a Vir-gem Mãe.

A oração do Menino Deus

695. Acontecia em muitas dessasocasiões, que o infante Jesus chorava esuava sangue na presença de sua Mãe san-tíssima; pois isto aconteceu muitas vezes,antes de sua agonia no horto. A divina Se-nhora limpava-lhe o rosto e no seu interior 

via a causa daquela angústia: a perdiçãodos réprobos, ingratos aos benefícios deseu Criador e Redentor, perdendo-se nelesas obras do poder e da infinita bondade doSenhor.

 Noutras vezes, sua feliz Mãe en-contrava-o todo refulgente de luz, com osanjos a lhe cantarem suaves harmonias de

1-acima n° 481, 534, 546

louvor, enquanto o etemo Pai se compraziaem seu único e dileto Filho (Mt 17, 5).

Estes prodígios começaram quan-do o Menino Deus completou um ano ecomeçou a andar. Apenas Maria santíssi-

ma foi testemunha deles, pois deviam ser depositados só no coração (Lc 2,19) da-quela que era a única e escolhida por seuFilho e Criador.

Os atos de amor, gratidão, louvore reverência com que acompanhava o Me-nino Jesus; as súplicas que fazia pelo gê-nero humano; tudo excede minhacapacidade para dizer o que conheço. As-sim, remeto-me à fé e piedade cristã.

Jesus honra sua Mãe

696.0 Menino Jesus ia crescendo,com admiração e agrado de todos os queo conheciam (Cant 6,18). Aos seis anoscomeçou a sair de casa, algumas vezes,

 para ir aos hospitais, onde visitava os en-fennos e necessitados, consolando-os emseus sofrimentos.

Em Heliópolis era bastante conhe-cido. A força de sua divindade e santidadeatraia os corações, e muitas pessoas lheofereciam dádivas. Por razões que suaciência conhecia, recusava algumas, ou-tras aceitava e distribuía pelos pobres.

Suas palavras cheias de sabedoria,seu porte modestíssimo e grave desperta-va admiração, e muitos iam felicitar seusPais por possuírem tal Filho.

Embora o mundo ignorasse osmistérios e dignidade de Filho e Mãe, oSenhor do mundo dava ocasião para suaMãe santíssima ser honrada. N'Ele e por Ele era venerada, o quanto era possívelentão, sem conhecerem os homens a razão

 particular de lhes dar maior reverência.

O Menino Jesus e as crianças

697. Muitos meninos de Heliópo-lis aproximavam-se do infante Jesus,como costuma acontecer aos da mesmaidade e semelhança exterior.

Como neles, a ingenuidade não iainvestigar e julgar se era mais do que ho-mem, e não tendo malícia que lhes impe-disse a luz, o Mestre da verdade dava-a

como lhes convinha. Infonnava-os da

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existência da divindade e das virtudes,instruía-os no caminho da vida eterna,mais do que aos adultos. Sendo suas pa-lavras vivas e eficazes (Heb 4,12), atraia-os, imprirnindo-as em seus corações, etodos os que tiveram esta felicidade, fo-

ram grandes santos. Com a passagem dotempo deram o fruto daquela celestial se-mente (Lc 8,8) tão cedo semeada em suasalmas.

Reverência de Maria pelo Menino Jesus

698. A divina Mãe tinha conheci-mento destas aaVniráveis obras. Quando

seu Filho santíssimo voltava de cumprir avontade de seu eterno Pai (Jo 4,38 - 39),cuidando das ovelhas que lhe confiara, es-tando ambos a sós, a Rainha dos anjos

 prostrava-se em terra para lhe agradecer os benefícios que fazia aos pequenos ino-centes que não o conheciam por seu Deusverdadeiro. Em seguida beijava-lhe os péscomo ao sumo Pontíficedoscéus e da terra(Heb 4,14). O mesmo fazia quando o Me-nino saia de casa, e Jesus, com agrado e benevolência filial mandava-a erguer-sedo solo.

A Mãe pedia-lhe também a bênção para tudo quanto fazia. Jamais perdia oca-sião de exercitar todos os atos de virtudecom o afeto e a força da graça. A esta ja-mais deixou ociosa, mas empregava-a

 plenamente fazendo-a crescer.

A grande Senhora procuravameios e modos para praticar a humildade:adorava ao Verbo humanado com genu-flexões profundas, amorosas prostraçõese outras reverências cheias de santidade e

 prudência. Punha em tudo tanta sabedoria,que causava admiração aos próprios anjosque a assistiam.

Alternando divinos louvores, di-

ziam uns aos outros: quem é esta criaturaque flui tantas delícias (Cant 8, 5) paranosso Criador e seu Filho? Tão advertidae sábia em dar honra e reverência ao Al-tíssimo, que na atenção e presteza nos ul-trapassa a todos com incomparável afeto?

Jesus Deus e Homem

699. Depois que o admirável e for-moso Menino começou a andar, mostrava

maior gravidade no trato e conversaçãocom seus Pais, do que quando menor.Cessaram os afagos mais carinhosos, ain-da que sempre tinham sido na medida queacima disse.

De seu semblante transparecia tan-

ta majestade de sua oculta deidade que, senão o amenizasse com certa suavidade eagrado, muitas vezes causaria tão grandetemor reverenciai que não se atreviam alhe falar.

Sua presença produzia na divinaMãe e também em São José, eficazes edivinos efeitos nos quais manifestava-se, tanto a força da divindade e seu po-

der, como a benignidade de piedo-síssimo Pai.Com esta grave majestade tratava

a divina Mãe como filho, e a São Josécomo a quem tinha o ofício de Pai; destemodo obedecia-lhes (Lc 2,51) como filhohumilíssimo a seus pais.

Com infinita sabedoria, conciliavaa severidade com a obediência a ma-

 jestade com a humildade, a gravidade di-vina com a afabilidade humana. Dava acada virtude o que lhe competia, sem quese confundissem, e sem que a grandezaexcluísse a simplicidade.

A celestial Senhora eraatentíssimaa todos estes mistérios e só Ela penetravadignamente, quanto era possível à puracriatura, os atos de seu Filho santíssimo eo modo como com sua imensa sabedoria

os praticava.Seria intentar o impossível querer,

com palavras, explicar os efeitos que tudoisso produzia em seu puríssimo espírito,e como imitava seu querido Filho, repro-duzindo em si mesma a viva imagem desua inefável santidade.

 Não se pode contar as almas queconverteram e salvaram em Heliópolis e

no resto do Egito; os enfermos curados;os prodígios que operaram em sete anosque ali residiram.

Assim feliz para o Egito foi a culpade Herodes e tanta é a força da bondade esabedoria infinitas, que dirige os própriosmales e pecados, deles tirando grandes

 bens. Se num lugar o recusam e fecham a porta para suas misericórdias, bate em ou-

tras e faz que lhas abram e dêem entrada(Job 34,24).

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Quarto Livro

As muitas águas de nossas culpase ingratidões (Cant 8,7) não conseguemextinguir sua ardente caridade e a propen-são que sente para beneficiar a linhagemhumana.

DOUTRINA QUE ME DEU A RAINHADOS CEUS, MARIA SANTÍSSIMA.

A copiosa Redenção

700. Minha filha, desde o primeiromandato que recebeste para escrever estaHistória de rninha vida, conheceste que,entre outras finalidades, desejava o senhor 

revelar ao mundo quanto os mortais, tãoinsensíveis e esquecidos, devem ao seu di-vino amor e ao meu. Verdade é que tudose resume e manifesta em os ter amadoatémorrer por eles na cruz (Jo 3,16), o ápicea que pôde chegar o efeito de sua imensacaridade. A muitos ingratíssimos, porém,causa fastio a lembrança deste benefício.Para estes, e para todos os mais, seria novoincentivo conhecer um pouco do que o Se-nhor fez por eles durante trinta e três anos,

 pois qualquer uma de suas obras foi deinfinito preço e merece agradecimentoetemo.

A Mim, o poder divino constituiu por testemunha de tudo, e asseguro-te, ca-ríssima, que desde o primeiro instante emque foi concebidr/no meu seio, não des-

cansou nem cessou de clamar ao Pai, su- plicando-lhe a salvação dos homens.Desde aquela ocasião abraçou a cruz (Heb10, 5) não só pelo afeto, mas tambémefetivamente, no modo que lhe era possí-vel, usando a posição de crucificado.Prosseguiu estes exercíciosno decorrer detoda sua vida. Neles O imitei, acompa-nhando-0 nos atos e petições pelos ho-

mens, em seguida ao primeiro desses atos

Capítulo 29

que foi o agradecimento pelos dons de suahumanidade santíssima.

 No juízo não haverá misericórdia

701. Saibam agora os mortais queEu, testemunha e cooperadora em sua sal-

vação, sê-lo-ei também no dia do juízo,no qual a causa de Deus será plenamente

 justificada. Então, justissimamente nega-rei minha intercessão aos que des- prezaram, e estultamente esqueceram,tantos e tão suficientes favores e benefí-cios, frutos do divino amor de meu Filhosantíssimo e do meu. Que resposta, quedesculpa alegarão, tendo sido tão avisa-

dos, advertidos e instruídos na verdade?Como os ingratos e obstinados hão de es- perar misericórdia de um Deusjustíssimoque lhes deu tempo abundante e propício,no qual os convidou, chamou, esperou e

 beneficiou com imensos favores que elesinutilizaram e perderam para seguir a vai-dade? Teme, minha filha, esta cegueira e

 perigo, o maior que possa existir. Revive,

em tua memória, as obras de meu Filhosantíssimo e as minhas e com todo fervor as imita. Continua os exercícios na cruz,com licença da obediência, para nelesatualizar o que deves imitar e agradecer.

Adverte que meu Filho e Senhor  poderia, sem padecer tanto, redimir o gê-nero humano, mas por causa de seu imen-so amor pelas almas quis aumentar suas

 penas. Para corresponder devidamente atal dignação, as criaturas não devemcontentar-se com pouco, como o fazemordinariamente por infeliz ignorância.Quanto a ti, acrescenta uma virtude e sa-crifício a outros, para satisfazer tua obri-gação e acompanhar ao Senhor e a Mimno que trabalhamos no mundo. Oferecetudo pelas almas, apresentando ao Pai emunião com os merecimentos do seu Filho.

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CAPÍTULO 30

JESUS, MARIA E JOSÉ VOLTAM DOEGITO POR VONTADE DO ALTÍSSIMO.

O Pai eterno ordena a voltade seu Filho do Egito

702. O Menino Jesus ainda se en-contrava no Egito ao completar sete anosde idade. Era este o prazo que a eternaSabedoria destinara para aquele miste-rioso exílio, e, para se cumprirem as pro-fecias, devia voltar a Nazaré.

O eterno Pai intimou sua vontadeà humanidade de seu Filho santíssimonum dia em que, com a divina Mãe, faziaseus exercícios de oração. No espelho da-quela alma deifícada Ela conheceu comoaceitou a vontade do Pai para cumpri-la.O mesmo fez a grande Senhora, ainda queno Egito já tinha mais conhecidos e devo-tos do que em Nazaré.

Filho e Mãe nada disseram a SãoJosé sobre aquela ordem recebida do céu,mas naquela noite um anjo do Senhor lhefalou em sonhos, como diz São Mateus (2,

19). Avisou-o que tomasse o Menino e suaMãe e voltasse à terra de Israel, pois He-rodes, e os que procuravam matar o Me-nino, já tinham morrido.

Tanto desejava o Altíssimo a boaordem de todas as coisas criadas que, sen-do o Menino Jesus, Deus verdadeiro e suaMãe tão superior em santidade a SãoJosé,não quis que a iniciativa da viagem à Ga-

liléia partisse do Filho ou da Mãe santís-sima, mas tudo remeteu a São José que,naquela divina família, tinha o oficio dechefe.

Quis dar exemplo e provar aosmortais que é do agrado de Deus que todas

as coisas se organizem pela ordem naturalestabelecida por sua providência. Osinferiores e súditos em seu corpo místico,

ainda que sejam mais excelentes nas vir-tudes e outras qualidades, deverão obede-cer e submeter-se aos seus superiores por ofício.

A sagrada Famíliaobedece prontamente

703. Foi logo São José participar ao infante e a sua Mãe puríssima o man-dato do Senhor, e ambos responderam quefosse cumprida a vontade do Pai celestial.

Sem demora dispuseram-se para aviagem. Distribuíram pelos pobres os poucos objetos que tinham em casa. OMenino Deus encarregou-se disso, poismuitas vezes a divina Mãe dava-lhe asofertas para levar aos necessitados, co-nhecendo que o Menino, como Deus de

misericórdias, queria fazer as esmolas por suas próprias mãos (Mt 25,40).Quando a Mãe santíssima dava-

lhe estas esmolas, punha-se de joelhos edizia: tomai, Filho e Senhor meu, o quedesejais para repartir com os pobres, nos-sos amigos e vossos irmãos.

Aquela feliz casa ficou santifícadae consagrada em templo pelo sumo sacer-

dote Jesus que nela habitou sete anos. Nela passaram a viver umas pessoas dasmais devotas e piedosas de Heliópolis.Sua santidade e virtudes lhes merecerama felicidade que ainda não conheciam, em-

 bora, pelo que haviam visto e experimen-

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Quarto Uvro-Capitulo 30

tado, se julgassem afortunados de viver onde seus devotos forasteiros haviam per-manecido tantos anos. Esta piedade e de-voção lhes foi paga com abundante luz eauxílios para conseguirem a felicidadeeterna.

Partida de Jesus, Maria e José

704. Partiram de Heliópolis para aPalestina com o mesmo acompanhamentodos anjos, como na vinda.

A grande Rainha montava um bur-rico com o Menino Deus ao seu lado, eSão José caminhava à pé perto da Mãe e

Antes de entrarem na região desa- bitada, passaram por alguns lugares doEgito, e em todos foram derramando gra-ças e benefícios.

Os prodígios que tinham operadoaté então, já não eram tão ocultos, e suanotícia chegara a todo aquele território.Por causa desta fama vieram muitos afli-tos e necessitados em busca de cura, e to-dos a recebiam na alma e no corpo.Curaram muitos doentes e expulsarammultidões de demônios. Estes não sabiamquem os lançava nos abismos, ainda quesentiam a virtude divina que os oprimia,enquanto aos homens fazia tantos bens.

A despedida dos amigos e conhe-cidos foi muito dolorosa para todos os que

 perdiam tão grandes benfeitores. Com in-críveis lágrimas e soluços despediam-se

deles, confessando que perdiam todo seuconsolo, amparo e remédio de suas ne-cessidades.

Pelo amor que os egípcios tinhamaos três, seria muito difícil que os deixas-sem sair de Heliópolis, sem a intervençãodo poder divino.

Em seus corações sentiam descer a noite de suas misérias, com a ausênciado sol que os iluminava e consolava (Jo1,9).

Efeitos da presença deJesus, Maria e José

705. Não me detenho a referir os pormenores desta viagem de volta, poisnão é necessário, nem seria possível semalongar demais esta História. Basta dizer que todos os que se aproximaram de Jesus,Maria eJosé com alguma devoção, saíramde sua presença mais ou menos esclareci-dos na verdade, socorridos pela graça etocados pelo divino amor. Sentiam umasecreta força que os inclinava a seguir o

 bem, a deixar o caminho da morte e pro-curar o da vida.

.Vinham ao Filho atraídos pelo Pai(Jo6,44; 14,6); voltavam ao Pai enviados

 pelo Filho, com a divina luz que fazia bri-

lhar em seus entendimentos (Jo 1,9) paraconhecerem a divindade do Pai. Aindaque também a possuísse em Si, emboranão fosse tempo de se revelar, sempre eem todo tempo estava em ação aquele di-vino fogo que viera acender no mundo (Lc12,49).

Chegada à Palestina706. Cumpridos no Egito os mis-

térios determinados pela divina vontade,nossos divinos peregrinos deixaram aque-le país repleto de milagres e prodígios.Saíram da região habitada e entraram nosdesertos por onde tinham vindo.

Sofreram trabalhos semelhantesaos que sucederam quando vieram daPalestina, pois o Senhor permitia que so-

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Quarto Livro - Capítulo 30

 breviesse a necessidade e tribulação paraoferecer o remédio oportuno (SI 144,15).

 Nesses apuros, enviava-lhes o ne-cessário pelos santos anjos. Algumas ve-zes, como na primeira viagem (1); noutrasera o Menino Jesus que lhes ordenava tra-

zerem alimentos para sua Mãe santíssimae seu Esposo. Para que este gozasse maisdesse favor, ouvia a ordem que dava aosministros angélicos e via como obede-ciam prontamente e o que traziam. Comisto, se animava e consolava o santo Pa-triarca na pena de não ter o sustento ne-cessário para o Rei e Rainha dos céus.

 Noutras ocasiões, o Menino Deususava de seu poder divino e fazia um pe-daço de pão multiplicar-se na quantidadenecessária. O mais desta viagem passou-secomo falei nocapítulo 22 da primeira parte, pelo que não julgo necessário repetir.

Ao chegar nas fronteiras da Pales-tina, o cuidadoso Esposo teve notícia deque Arquelau sucedera Herodes, seu pai,no reino da Judéia (Mt 2, 22). Temendoque, com o reino, tivesse herdado o ódio

 pelo infante Jesus, desviou o caminho.Sem subir a Jerusalém, nem pisar na Ju-déia, atravessou a terra da tribo de Dan eIssacar em direção à Galiléia inferior,caminhando pela costa do mar Me-diterrâneo e deixando Jerusalém à direita.

Chegada à Nazaré

707. Dirigiram-se à Nazaré, suaterra, pois o Menino deveria ser chamado

 Nazareno (Mt 2,23). Ali encontraram suaantiga e pobre casa aos cuidados daquelasanta mulher, prima de São José em ter-ceiro grau. Como disse no terceiro livro,capítulo 17, n° 227, era a mesma que oservira, enquanto nossa Rainha esteve au-sente, na casa de Santa Isabel. Quando

 partiram ao Egito, antes de sair da Judéia,o santo Esposo escrevera-lhe recomen-dando-lhe cuidar da casa e do que nelahavia deixado.

Encontraram tudo em muita or-dem, e a prima que os recebeu com grandealegria pelo amor que dedicava à nossagrande Rainha, embora não conhecessesua dignidade.

1 -N° 534

Entrou a divina Senhora com seuFilho santíssimo e seu Esposo José. Pros-trou-se em terra, adorou o Senhor, dando-lhe graças por tê-los trazido em paz, livresda crueldade de Herodes, defendidos dos

 perigos de seu desterro e de tão longas e

cansativas caminhadas; acima de tudo detrazer seu Filho santíssimo tão crescido echeio de graça e virtude (Lc 2, 40).

O trabalho de São José

708. A divina Mãe organizou logosua vida e exercícios pelas disposições doMenino Deus. Não quer dizer que durantea viagem tenha descuidado coisa alguma,

 pois a prudentíssima Senhora constante-mente imitava as ações perfeitíssimas deseu Filho santíssimo. Estando, porém, naquietude de sua casa, poderia fazer muitascoisas, que fora dela não era possível, ain-da que, em qualquer parte seu principalexercício era colaborar com seu Filho san-tíssimo na salvação das almas, missão a

eles confiada pelo etemo Pai.Para esta altíssima finalidade, or-

denou nossa Rainha seus exercícios juntocom o Redentor, e neles se ocupou, comoveremos no decorrer desta parte.

O santo esposo José também dis- pôs o que se referia ao seu trabalho paraganhar o sustento do Menino Deus, de suaMãe e dele próprio.

Tanta foi a felicidade deste santoPatriarca que, se para os demais filhos deAdão, trabalhar, ganhar o sustento com osuor do rosto (Gn 3,16) foi pena e castigo,- para São José foi bênção e consolo semigual ser escolhido para, com seu trabalhoe suor alimentar opróprio Deus e sua Mãea quem pertencia o céu, a terra e tudoquanto contém (Est 13,10 - 11).

Gratidão e humildade da Senhora

709. A Rainha dos anjos tomoupor sua conta agradecer a solicitude de SãoJosé. Retribuía-lhe com seu serviço, cui-dava de sua frugal alimentação e bem estar com incomparável atenção, cuidado, gra-tidão e benevolência.

Era-lhe obediente em tudo, humil-de na própria estima, como se fôra serva

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e não esposa, e acima de tudo Mãe do mes-mo Criador e Senhor de tudo. Julgava-seindigna de tudo o que existia e da própriaterra que a sustentava, pois achava que, por justiça, tudo lhe devia faltar.

 No conhecimento de ter sido cria-

da do nada, sem ter podido obrigar a Deus para este favor, nem depois para qualquer outro, conforme julgava, fundamentoutão rara humildade. Sempre vivia apegadaao pó e mais aniquilada que ele em sua

 própria estimação.Qualquer benefício, por pequeno

que fosse, com admirável sabedoria, agra-decia ao Senhor como primeira origem e

causa de todo o bem, e às criaturas comoinstrumentos de seu poder e bondade. Auns agradecia por lhe fazer benefícios; aoutros porque lhos negavam; a outros por-que a suportavam. A todos se reconheciadevedora, enchendo-os de bênçãos de do-çura.

Colocava-se aos pés de todos, pro-curando meios, artifícios, idéias e indús-trias para não perder oportunidade alguma

de praticar o mais santo, perfeito elevadodas virtudes, com admiração dos anjos,agrado e beneplácito do Altíssimo.

DOUTRINA QUE ME DEU ARAINHA DO CÉU

Espírito de fé710. Minha filha, nos sucessos que

Deus dispôs para mim, mandando-me peregrinar de uns lugares para outros,nunca se perturbou meu coração, nem secontristou meu espírito, porque sempre otive preparado para cumprir em tudo avontade divina. Às vezes, o Senhor medava conhecimento das altíssimas razõesde suas obras, mas não era sempre no prin-cípio, para que Eu mais padecesse. A sub-missão da criatura não deve procurar outras justificações além da autoridade edisposições do Criador. Este conhecimen-

to é suficiente para as almas que aprende-ram a comprazer o Senhor.

 Não fazem distinção entre suces-sos prósperos e adversos e não seguem osentimento daspróprias inclinações. Que-ro que progridas nesta sabedoria. Imitan-

do-me, e pelo que deves a meu Filhosantíssimo, recebe o próspero e o adversoda vida mortal com igual semblante e se-renidade de ânimo. Que o adverso não tecontriste e o próspero não te desvaneçaem vã alegria; vê apenas que tudo é orde-nado pelo beneplácito do Altíssimo.

Despredimento e paz

711. A vida humana é tecida comdiversidade de sucessos: uns agradáveis,outros penosos; uns que desgostam, ou-tros que se desejam. Sendo a criatura decoração limitado e estreito, daqui lhe nas-ce a diferença com que se inclina aos ex-tremos de aceitar com demasiado gosto oque ama e deseja, e se desconsolar e en-tristecer com o que aborrece e não deseja.Estas mudanças e vai-e-vens fazem peri-gar todas ou muitas virtudes. O amor de-sordenado por alguma coisa que nãoconsegue move logo a apetecer outras, procurando com novos desejos compen-sar a pena das que não obteve. Se as con-segue se embriaga e descontrola no gostode ter o que apetecia. Com tais veleidadesdesliza para maiores desordens de dife-

rentes movimentos e paixões. Adverte, pois, caríssima, este perigo e corta-o pelaraiz conservando livre o teu coração.Atende somente à divina Providência semo deixar prender-se ao que apeteces e tedá gosto, nem se contrariar com o que tefor penoso. Alegra-te e deleita-te somentena vontade de teu Senhor. Não te agitemos desejos, nem te acovardem os temoresde qualquer sucesso. As ocupaçõesexteriores não sejam impedimento nemdistração para teus santos exercícios, emuito menos o respeito humano. Em tudorecorda como Eu fazia e, afetuosa e deli-gente segue minhas pegadas.

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ÍNDICE

2a PARTE

CONTEM OS MISTÉRIOS DESDE A ENCARNAÇÂO

DO VERBO DIVINO EM SEU VIRGINAL SEIO,ATÉ A ASCENÇÃO AO CÉU.

T E R C E I R O L I V R O•

Contém a altíssima disposição que o Todo-Poderoso operou em Maria Ssma. para aEncarnaçâo do Verbo; o que se refere a este mistério; o eminentíssimo estado em queficou a feliz Mãe; a visitação a Sta. Isabel e santifícação do Batista; a volta a Nazaré euma grande batalha que travou com Lúcifer.

CAPÍTULOS PAG.

Introdução I a X

CAPÍTULO 1 N°S

Durante nove dias precedentes, começa o Altíssimo a dispor Maria Ssma. para o mistério da Encarnaçâo. Declara-se oque sucedeu no primeiro dia 001 a 015 3

CAPÍTULO 2Contínua o Senhor o segundo dia de preparação deMaria Ssma. para a Encarnaçâo do Verbo 16 a 26 9

CAPÍTULO 3

Prossegue sobre o que o Altíssimo concedeu à Maria Ssma.

no terceiro dia dos nove que precederam a Encarnaçâo 27 a 37 13CAPITULO 4Graças concedidas pelo Altíssimo à Maria Ssma. no

quarto dia da novena 38 a 46 17

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CAPÍTULOS N°S PAG.CAPITULO 5

Manifesta o Altíssimo à Maria Ssma. os mistérios e obrasdo quinto dia da criação. Sua Alteza pede novamentea Encarnaçâo do Verbo 47 a 58 21

CAPÍTULO 6

O Altíssimo manifesta à Maria, Senhora nossa, as obras dosexto dia da criação e outros mistérios 59 a 69 25

CAPÍTULO 7

Celebra o Altíssimo novo desposório com a Princesa do céu,

a fim de prepará-la para as bodas da Encamação 70 a 86 29

CAPÍTULO 8E atendida a súplica que nossa grade Rainha faz, diante doSenhor, para a realização do mistério da Encamação e

da Redenção humana 87 a 98 35

CAPÍTULO 9Preparação final de Maria Ssma. para a Encamação.Concedendo-lhe novas graças e dons, o Altíssimo confinna-ano título de Rainha de toda a criação 99 a 108 39

CAPÍTULO 10

O arcanjo S. Gabriel é enviado pela beatíssima Trindade paraanunciar à Maria Ssma. que fora escolhida para Mãe de Deus . 109 a 122 43

CAPÍTULO 11Maria Ssma. recebe a anunciação do Anjo. Realiza-se omistério da Encamação 123 a 143 47

CAPÍTULO 12Operações realizadas pela alma santíssima de Cristo, Senhor nosso, no primeiro instante de sua conceição, e o que entãorealizou sua Mãe puríssima 144 a 157 55

CAPÍTULO 13Estado de Maria Ssma. depois da Encamação do Verbodivino em seu virginal seio 158 a 179 61

CAPÍTULO 14Procedimento de Maria Ssma. durante o período de suagestação e alguns fatos desse tempo 180 a 189 69

CAPÍTULO 15Maria ssma. conhece ser vontade do Senhor que ela visiteSta. Isabel pede permissão a S. José, sem nada lhe manifestar  . 190 a 199 73

CAPÍTULO 16Viagem de Maria em visita a Sta. Isabel e sua chegada

à casa de Zacarias „ 200 a 214 77

2

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CAPÍTULOS N o S p A

CAPÍTULO 17A saudação da Rainha do céu a Sta. Isabel e a

santifícação de S. João 215 a 230 83

CAPÍTULO 18Modo de vida que Maria Ssma. seguiu na casa de Zacariase alguns fetos com Sta. Isabel 231 a 242 89

CAPÍTULO 19

Colóquios de Maria Ssma. com os anjos e com Sta. Isabel 243 a 253 95

CAPÍTULO 20

Alguns singulares favores feitos por Maria Ssma., na casade Zacarias, a determinadas pessoas 254 a 260 99

CAPÍTULO 21Sta. Isabel pede à Rainha do céu que espere

o nascimento de João 261 a 269 103

CAPÍTULO 22O nascimento do Precursor de Cristo. Atos da soberana

Senhora, Maria Ssma. nessa ocasião 270 a 282 107

CAPÍTULO 23Instruções de Maria Ssma. à Sta Isabel. Circuncisão do

Batista e profecia de Zacarias 283 a 303 . . . . 113

CAPITULO 24

Volta de Maria Ssma. para Nazaré 304 a 313 121

CAPÍTULO 25Viagem de Maria Ssma. ao voltar da casa deZacarias pra Nazaré 314 a 321 125

CAPÍTULO 26

Conciliábulo dos demônios no inferno contra Maria Ssma. ... 322 a 334 129

CAPITULO 27Maria Ssma. é prevenida pelo Senhor para os combatescom Lúcifer. Princípio das perseguições do dragão 335 a 358 135

CAPÍTULO 28Continua Lúcifer e suas sete legiões a tentar Maria Ssma..

Vencido é esmagada a cabeça do dragão 359 a 374 143

3

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QUARTO LIVRO

Contém os receios de S. José ao conhecer a gravidez de Maria ssma. - O nascimentode Cristo, nosso Senhor - Sua circuncisão - Adoração dos Reis magos - Apresentaçãodo Menino Jesus no templo - Fuga para o Egito - Morte dos inocentes e volta a Nazaré.

CAPÍTULOS N°S PAGCAPÍTULO 1S. José nota a gravidez de sua Esposa, a virgem Maria e

entra em grande perplexidade, pois não tivera parte nela 375 a 387 151

CAPÍTULO 2

Crescem os receios de S. José. Resolve deixar sua esposa

e recorre à oração 388 a 396 . . . . 157CAPÍTULO 3

O anjo do Senhor fala a S. José, em sonhos, e lhe declara

o mistério da Encarnaçâo. O que resulta desta embaixada 397 a 406 161

CAPÍTULO 4S. José pede perdão a Maria Ssma. sua esposa, e a divina

Senhora o consola com grande prudência 407 a 417 167CAPÍTULO 5

S. José quer se constituir reverente servo de Maria Ssma.

Reação da Virgem e proceder de ambos 418 a 427 173

CAPÍTULO 6Palestras entre Maria Ssma. sobre coisas divinas e outrosacontecimentos admiráveis , 428 a 437 179

CAPÍTULO 7Maria Ssma. prepara o enxoval para o Menino Deus, comardentíssimo desejo de o ver nascido 438 a 447 185

CAPÍTULO 8O edito do imperador César Augusto para recensear oImpério. O que fez S. José 448 a 455 191

CAPÍTULO 9Viagem de Maria Ssma. de Nazaré a Belém, em com-

 panhia de seu santo esposo José, e dos anjos que a assistiam... 456 a 467 195

CAPÍTULO 10Cristo nasce da Virgem Maria, em Belém da Judéia 468 a 488 201

CAPÍTULO 11Os santos anjos anunciam o nascimento do Salvador em

diversas partes. Adoração dos pastores 489 a 499 209

CAPÍTULO 12O demônio e o mistério do nascimento de Cristo.

Outros fatos até a circuncisão 500 a 512 . . . . 2134

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CAPÍTULOS N°S PAG.

CAPÍTULO 13Maria Ssma. conhece ser vontade de Deus a circuncisãode seu Unigênito Filho. Trata do assunto com S. José. Vem

do céu o ssmo. nome de Jesus 513 a 529 219CAPÍTULO 14

O Menino Deus é circuncidado e recebe o nome de Jesus 530 a 539 225CAPÍTULO 15

Maria Ssma. permanece com o Menino Deus na gruta,

desde o nascimento até a vinda dos Reis 540 a 551 229

CAPÍTULO 16Vinda dos três Reis magos do oriente para adorar 

o Verbo encarnado 552 a 564 235CAPÍTULO 17

Segunda adoração dos Reis. Oferecem os seus presentee voltam a suas terras 565 a 572 . . . . 241

CAPÍTULO 18Maria e José distribuem os dons dos Reis magos.Permanecem em Belém até a apresentação domenino Jesus no Templo 573 a 584 245

CAPÍTULO 19Maria e José vão a Jerusalém para apresentar o MeninoJesus no Templo, em cumprimento da Lei 585 a 595 251

CAPÍTULO 20

A apresentação do Menino Jesus no Templo 596 a 605 255

CAPÍTULO 21Deus previne Maria Ssma. para a fuga ao Egito, e o

anjo comunica a S, José 606 a 618 259

CAPÍTULO 22Jesus, Maria e José partem para o Egito acompanhados

 pelos anjos e chegam à cidade de Gaza 619 a 629 265

CAPÍTULO 23Jesus, Maria e José prosseguem a viagem de Gaza

até Heliópolis no Egito 630 a 640 . . . . 271

CAPÍTULO 24Jesus, Maria e José chegam à cidade de Heliópolis no

Egito! e os prodígios que então acontecem 641 a 652 277

CAPÍTULO 25

Jesus, Maria e José se estabelecem na cidade de Heliópolis. .. 653 a 663 . . . . 2835