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& ensino jurídico educação em direitos humanos entre hierarquias sociais e redes de poder do mundo do direito Luciana Lombas Belmonte Amaral

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direitos humanosentre hierarquias sociais e redes

de poder do mundo do direito

Luciana Lombas Belmonte Amaral

A pesquisa qualitativa realizada por Luciana e apresentada nesta obra configura um trabalho rico e exemplar constituído por en-trevistas semiestruturadas com diferentes atores do campo do ensino jurídico, grupo focal com estudantes, além de primoroso exercício da observação partic-ipante e cuidadosas anotações feitas em seu diário de campo. A escolha de nomes florais para de-nominar seus personagens dá ao livro um tom poético e cativante.Este é um livro que desperta o leitor para questões relevantes no campo do ensino do direi-to e abre o horizonte pedagógi-co para o caminho de uma for-mação jurídica mais receptiva à interpelação emancipadora da educação em direitos humanos.

Nair Heloisa Bicalho de Sousa e José Geraldo de Sousa Junior

Ao escrever as minhas primei-ras linhas da pesquisa, vislum-brava fronteiras imaginárias que delimitavam conhecimen-tos e experiências no curso de direito e fora dele. A investi-gação do mundo empírico, en-tretanto, conduziu-me para horizontes mais amplos. Ins-tigou-me incessantemente a olhar para além dos muros da universidade. A partir das rep-resentações sociais dos es-tudantes de direito, as flores de minha pesquisa de campo, foi revelado um emaranhado de redes de saber e poder que envolvem diferentes níveis hi-erárquicos, sujeitos e institu-ições em torno de determina-dos discursos e práticas soci-ais. As visões de mundo sobre a formação jurídica e os sig-nificados do direito e dos di-reitos humanos transitam em teias, sendo o ensino jurídi-co mais uma instância social a sedimentar o controverso “mundo do direito”.

A autora.

ISBN 978-65-80444-98-4

Doutoranda em Sociologia pela Universidade de Brasília (UnB). Mestra em Direitos Hu-manos e Cidadania pela Uni-versidade de Brasília (UnB). Formação complementar em Direitos Humanos pelo Insti-tuto Joaquín Herrera Flores (Universidad Pablo de Ola-vide, Sevilha/ Espanha). Es-pecialista em Direito Proces-sual pela Universidade do Sul de Santa Catarina (UniSul) e em Prestação Jurisdicional pelo Instituto dos Magistra-dos do Distrito Federal (Im-ag-DF). Formada em Direito pelo Centro Universitário de Brasília (UniCeub). Pesquisa-dora do Grupo de Pesquisa Educação, Direitos Humanos, Mediação e Movimentos So-ciais (CNPQ) e do Núcleo de Estudos para a Paz e os Direi-tos Humanos (Nep/UnB). Pro-fessora universitária.

Luciana Lombas Belmonte Amaral

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Luciana Lombas Belmonte Amaral

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Catalogação na Publicação (CIP)Ficha catalográfica

BELMONTE AMARAL, Luciana Lombas.Ensino jurídico e educação em direitos humanos: entre hierarquias sociais

e redes de poder do mundo do direito -- Belo Horizonte: Editora D’Plácido, 2019.398 p.

ISBN: 978-65-80444-98-4

1. Direito. 2. Direitos Humanos. I. Título.

CDD340 CDU342.7

Plácido Arraes

Tales Leon de Marco

Bárbara Rodrigues

Letícia Robini(Imagem via Pexels)

Bárbara Rodrigues

Editor Chefe

Editor

Produtora Editorial

Capa, projeto gráfico

Diagramação

Todos os direitos reservados.

Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida, por quaisquer meios, sem a autorização prévia do Grupo D’Plácido.

W W W . E D I T O R A D P L A C I D O . C O M . B R

Belo HorizonteAv. Brasil, 1843,

Savassi, Belo Horizonte, MGTel.: 31 3261 2801

CEP 30140-007

São PauloAv. Paulista, 2444, 8º andar, cj 82Bela Vista – São Paulo, SPCEP 01310-933

Copyright © 2019, D’Plácido Editora.Copyright © 2019, Luciana Lombas Belmonte Amaral.

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“O ser humano é a um só tempo físico, biológico, psíquico, cultural, social, histórico. Esta unidade complexa da natureza humana é totalmente desintegrada na educação por meio das disciplinas, tendo-se tornado impos-

sível aprender o que significa ser humano. É preciso restaurá-la, de modo que cada um, onde quer que se encontre, tome conhecimento e consciência, ao mesmo tempo, de sua identidade complexa e de sua identidade comum a todos os outros humanos. Desse modo, a condição humana deveria ser o

objeto essencial de todo o ensino” (Edgar Morin, Os sete saberes necessá-rios à educação do futuro, 2000).

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À minha filha Luiza, por todos os momentos de amor, alegrias, cuidados recíprocos, mas também naqueles em que estive ausente. Minha

pequenina, que esteve comigo desde os primeiros momentos de minhas reflexões. Ainda em meu ventre, compartilhava comigo as alegrias, ansieda-

des, dúvidas e inquietações sobre duas experiências grandiosas vividas ao mesmo tempo: ser mãe e ser pesquisadora. Trouxe leveza quando foi preciso;

com seu sorriso, palavras novas e cantigas, iluminou os dias que pareciam ser mais difíceis.

Ao meu esposo Alberto, meu companheiro de vida. Por todo amor, incentivo, entusiasmo e parceria vivenciados na última década. Adiante, vis-lumbro muitos outros anos de felicidades, trocas de conhecimentos e apren-

dizados. Sou grata por ter seu amor e admirada pelo parceiro, pai e defensor de direitos humanos que se torna a cada dia. Seu apoio e compreensão

foram fundamentais para me manter firme neste percurso.

À minha mãe Maria Luiza, por ser o meu exemplo de mulher, mãe e filha. Desde sempre, enche-me de orgulho por sua capacidade in-telectual, atitude e garra ao superar os momentos mais difíceis, aprimo-

rando-se em tudo que faz. Por seu amor, apoio e dedicação, cumpro esta jornada certa de que o primeiro passo foi incentivado ao vê-la

ser o que é: uma grande mulher.

Ao meu irmão Leonardo, pelo carinho, compreensão e entusiasmo em nossa caminhada trintenária de laços de sangue e de coração e pela relação

de amizade e de admiração que temos fortalecido a cada ano.

Ao meu sobrinho Gustavo, pelos dias de alegrias que vivenciamos juntos e por todos os beijinhos e abraços carinhosos recebidos.

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Agradecimentos

Agradeço à minha professora e orientadora Dra. Nair Heloisa Bicalho de Sousa pelos inestimáveis aprendizados e incentivos que, fe-lizmente, perduram ao término do meu ciclo no mestrado. Seu carinho e amizade foram essenciais para prosseguir nessa trajetória desafiadora, que é ser mãe, estudante, professora e pesquisadora. As ideias sobre edu-cação em direitos humanos que busco desenvolver neste trabalho são fortalecidas a partir de nossa convivência nas aulas, em nossos encontros de orientação e de grupos de pesquisa, mas também nos momentos em que fogem ao contexto exclusivamente universitário. Para além das reflexões teóricas que aprendi, essa experiência me proporcionou compreender a importância do afeto na educação e da necessidade de nos comprometermos com a defesa do Estado democrático brasileiro, consolidado numa cultura de paz e de direitos humanos.

Às professoras, aos professores e aos colegas de mestrado do Pro-grama de Pós-Graduação em Direitos Humanos e Cidadania da Uni-versidade de Brasília (UnB), pela vivência durante todo esse percurso, sobretudo, pela descoberta do pensamento plural e multidisciplinar e do despertar para uma atuação comprometida e aguerrida quanto aos direitos humanos. Em especial, agradeço ao professor Dr. José Geraldo de Sousa Junior pelos incentivos e conhecimentos em sua disciplina “Direito Achado na Rua” (UnB, 2015), bem como em todos os outros momentos de reflexão em minha banca de defesa, nos seminários da Unb e em atividades não circunscritas à sala de aula. À colega Rachel Otoni, com quem dividi as alegrias, angústias e desafios da materni-dade, da pós-graduação, das experiências como professoras-estudantes e da escrita acadêmica afetuosa, além de ser grande companheira nas

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conversas sobre o contexto político-social, a educação e os direitos humanos no Brasil.

Às professoras Dras. Maria Stela Grossi Porto e Mariza Veloso Motta Santos, pelos conhecimentos na disciplina de ‘Sociologia das Representações Sociais’, realizada no Programa de Pós-graduação em Sociologia da UnB (2016) no período do meu mestrado, e pelas valiosas sugestões de leitura, que auxiliaram substancialmente o apro-fundamento de minhas reflexões ao longo da pesquisa, culminando, em seguida, no meu desejo em prosseguir minha trajetória acadêmica de doutoramento nesse Programa de Pós-graduação. A oportunidade de cursar essa disciplina com as professoras foi decisiva para aguçar o meu interesse quanto à Sociologia, bem como para traçar meus próximos passos acadêmicos.

Ao professor Dr. Luis Roberto Cardoso de Oliveira, pelos apren-dizados na disciplina “Antropologia Jurídica/Antropologia do Direito” do Programa de Pós-graduação em Antropologia Social da UnB (2017), que cursei como aluna especial e que contribuíram para revisitar, sob diferente enfoque, a minha pesquisa, na época, recém finalizada. A vi-vência em suas aulas possibilitou conhecer a importância da perspectiva antropológica no direito, refinar o meu olhar sobre a etnografia na pesquisa, bem como valorizar a postura ética do cientista social.

Aos professores Drs. Alexandre Bernardino Costa e José Humber-to de Góes Junior pelas preciosas sugestões ao meu trabalho durante a banca de qualificação e da defesa de dissertação, auxiliando-me na reflexão sobre o ensino jurídico brasileiro e os desafios à educação em direitos humanos no contexto universitário.

Às professoras e aos professores com que tive a honra de conviver ao longo de toda a minha trajetória acadêmica, seja na Universidade de Brasília (UnB), seja noutras instituições de ensino e que, apesar de não serem nominalmente mencionados neste trabalho, fizeram parte da construção do meu ser, contribuindo, cada um à sua maneira, para o meu processo de descobertas e de amadurecimento pessoal e profissional.

À Casa Anne Frank (Anne Frank Huis, Países Baixos, Amsterdã) e, em especial, à Joelke Offringa, presidente do Instituto Plataforma Brasil (IPB) e representante da instituição no Brasil, e a todos os profissionais e estudantes envolvidos na elaboração e na realização dos projetos educativos em direitos humanos entre os anos de 2013 e 2015, seja nas atividades referentes à exposição “Brasil e Holanda, Paz e Justiça” (2013/2014), exibida em diferentes cidades brasileiras, seja quanto aos

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projetos internacionais Free2Choose e Free2Choose_Create desenvolvidos em Brasília (2015). Sem dúvida, essas experiências foram essenciais para reforçar a minha trajetória na linha de defesa dos direitos humanos pela via educativa.

À instituição privada de ensino superior em que realizei a pes-quisa de campo, representada pelas/os funcionárias/os, professoras/es e coordenador do curso de direito. Sou grata pela atenção e recepti-vidade, aspectos que foram fundamentais para o desenvolvimento da investigação de campo. De maneira especial, agradeço a todas e todos estudantes que, gentis e atenciosas/os, dividiram comigo um pouco de suas experiências de vida dentro da universidade e fora dela. Neste trabalho, as paixões, dilemas e angústias desses estudantes, confidenciadas nos momentos da entrevista e dos bate-papos informais, constituíram pedras de toque do percurso analítico desta pesquisa, numa tentativa de preservar a complexidade das diferentes dimensões que constituem esses sujeitos e que não poderiam ser negligenciadas: são jovens mulheres e homens, estudantes, filhos, netas, estagiárias e estagiários de direito, integrados numa cybercultura das redes sociais digitais.

Ao Instituto de Educação Superior de Brasília (IESB), instituição em que tenho a oportunidade de me aprimorar como professora jun-tamente com estudantes, professoras/es e funcionárias/os dedicadas/os. À Coordenação do Curso de Direito pelo compromisso e valorização do tripé da educação, o ensino, a pesquisa e a extensão universitária.

Por fim, de maneira destacada e muito especial, agradeço a todas e todos estudantes com quem vivenciei a alegria de estar em sala de aula e os desafios de aprender a ser professora, pessoas que também foram cruciais para a germinação de meu processo de transformação pessoal como cidadã e profissional do direito. Durante toda essa jornada, pude compartilhar ideias e dúvidas sobre conteúdos e práticas jurídicas, além de dialogarmos sobre diferentes contextos de nosso país. A experiência da sala de aula e dos encontros de orientação com estudantes do curso de direito é a força motriz que me mobiliza à reflexão crítica, ao debruçar sobre os estudos quanto ao ensino jurídico brasileiro e, principalmente, ao meu desejo de contribuir para ampliar os horizontes de pensamento e de atuação no di-reito, voltados à transformação social e à valorização dos direitos humanos.

A todas e todos estudantes que (ainda) não tive a oportunidade de conhecer, mas que fortalecem em nós, professoras e cidadãs, o sentido de perseverar e o ânimo para seguir em frente em busca de uma sociedade brasileira mais justa: meu carinho, respeito e admiração.

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Sumário

Apresentação 17

Prefácio 21

Lista de abreviaturas e siglas 27

Minhas memórias de estudante e professora iniciante 29

1. Introdução 41

2. A universidade, o ensino jurídico e o direito 612.1 O que é a universidade? Os saberes privilegiados e o poder 622.2 Retrospectiva crítica dos cursos de direito no Brasil 712.3 A chamada “crise” do ensino jurídico brasileiro: crise para quem? 792.4 O ciclo vicioso entre o ensino jurídico e os

significados limitadores do direito 82

3. Os direitos humanos e a educação em direitos humanos 89

3.1 O imaginário oficializado dos especialistas e os desafios aos direitos humanos na contemporaneidade 903.1.1 Limitações da Declaração Universal de Direitos Humanos: por

uma acepção não hegemônica de direitos humanos 90

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3.1.2 O imaginário oficializado e a ênfase no viés normativo pós-violatório dos direitos humanos 97

3.1.3 Trajetórias possíveis a partir das reflexões de David Sánchez Rubio: a revalorização do contexto sócio-histórico, a emancipação e as sentimentalidades 101

3.2 Educação em direitos humanos: os fundamentos teóricos e as políticas públicas nacionais que apontam para a necessária formação do estudante de direito 1043.2.1 As premissas teóricas da educação em direitos humanos:

uma pedagogia crítica para a construção de sujeitos pluridimensionais 105

3.2.2 Os delineamentos normativos e as políticas públicas nacionais sobre a educação em direitos humanos 110

4. As representações sociais: o contexto histórico, os delineamentos teóricos e os desafios na pesquisa de campo 117

4.1 As representações em Durkheim: origens, aproximações e distanciamentos em relação à teoria de Moscovici 120

4.2 A história das Representações sociais desde Moscovici, as contribuições teóricas em Jodelet e outras reflexões contemporâneas sobre o tema 126

4.3 As representações sociais como aporte teórico-metodológico da pesquisa: reflexões sobre alguns de seus desafios, os necessários recortes e a questão da complexidade 133

4.4 Aproximações teóricas entre as representações sociais e o pensamento foucaultiano: possibilidades para a compreensão do mundo empírico 144

5. O campo: o caminho metodológico percorrido e a apresentação da análise dos dados empíricos 153

5.1 A pesquisa qualitativa: a sua importância para a pesquisa social e a adequação ao estudo das representações sociais 154

5.2 A observação participante, as notas do diário de campo e outras técnicas de coleta de dados 156

5.3 A delimitação do campo de estudo 1605.4 Escolha metodológica e objeto de estudo 1625.5 Os aspectos éticos da pesquisa 165

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5.6 O processo analítico desta pesquisa: organização de dados, transcrição e análise de conteúdo 167

5.7 Relatos da primeira experiência como pesquisadora: algumas impressões do campus, o relacionamento com os porteiros e outros 171

5.8 Conhecendo os estudantes, os professores e as aulas de algumas disciplinas do 9º e 10º semestre do curso de direito 1765.8.1 As flores que encontrei no campo 183

5.8.1.1 Jacinto 1845.8.1.2 Anis 1875.8.1.3 Lisianto 1925.8.1.4 Amarílis 1965.8.1.5 Caliandra 2005.8.1.6 Jasmim 2065.8.1.7 Flor de Lótus 2115.8.1.8 Sálvia, Clívia, Vinca, Lupino e Lírio 219

5.8.2 Entrevista com o coordenador do curso de direito 2265.8.3 Entrevista com a professora de direitos humanos 2325.8.4 Entrevista com a professora

de direito da criança e do adolescente 2375.8.5 Vivências em algumas aulas do 9º e 10º

semestres do curso de direito 2445.9 A análise da pesquisa de campo 251

5.9.1 A primeira etapa: as representações sociais dos estudantes de direito sobre a formação universitária 252

5.9.1.1 Para além dos muros da universidade: a família, as redes sociais digitais e os estágios na formação universitária do estudante 252

5.9.1.2 “O mundo do direito”: o rompimento com o senso comum, um status social e o poder do saber jurídico 302

5.9.1.3 “Vixe, essa daí é uma pergunta que eu ainda... o que que é direito?”: Direito como organização social e regulação normativa 318

5.9.1.4 “O professor sabe, o estudante não sabe nada. É um aluno”: A hierarquia dos professores e o medo dos estudantes 334

5.9.1.5 Direitos humanos: os sentidos de inerência, de impotência dos estudantes e as falhas do ensino jurídico 342

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5.9.2 A segunda etapa: que desafios à educação em direitos humanos no curso de direito despontam a partir das representações sociais? 352

Considerações finais 367

Referências 375

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Apresentação

A obra “Ensino Jurídico e Educação em Direitos Humanos: entre hierarquias sociais e redes de poder do mundo do direito”, de autoria de Luciana Lombas Belmonte Amaral, realça-se pela contemporaneidade do tema abordado. O século XXI tem se notabilizado por inúmeras in-certezas em relação ao futuro da humanidade. A persistência de intensos conflitos políticos em níveis nacional e internacional, o acirramento dos confrontos armados e as recorrentes manifestações de intolerância que se proliferam por toda parte não deixam dúvidas quanto à importância de profundas reflexões sobre os Direitos Humanos. Contudo, mais do que os esforços dispendidos por organismos e entidades nacionais e supranacionais, torna-se cada vez mais necessária a participação crítica da sociedade civil, visando à preservação das liberdades e direitos fun-damentais do cidadão.

Além das crises mundiais que resvalam seus efeitos sobre o contexto brasileiro, o país tem experimentado forte polarização em sua sociedade, sobretudo em decorrência da conjuntura política que se estabelecera nos últimos anos. Atrelada aos sucessivos episódios que vem colocando à prova a competência institucional do poder público, persiste a des-crença de boa parte população em relação à capacidade de atuação do Estado para garantia das liberdades e dos direitos sociais básicos, como o acesso à educação, saúde, segurança, moradia, entre outros.

Tal como enfatizado na Declaração Universal de Direitos Humanos instituída pela Organização das Nações Unidas em 1948, a promoção dos direitos e liberdades deve ser realizada por meio do ensino e da educação, cabendo às instituições educacionais proporcionar a ampla divulgação e o entendimento dos seus preceitos. Do mesmo modo, é

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imprescindível que a importância do conhecimento em Direitos Hu-manos saia do plano das contemplações para as ações concretas, possi-bilitando a apropriação dos seus efeitos pela sociedade. Nesse sentido, o ensino jurídico tem um importante papel a cumprir ao estimular a reflexão acurada sobre o tema, conferindo uma formação mais crítica e humanista do futuro profissional do Direito.

Dentro dessa perspectiva, este trabalho tem a oferecer relevante contribuição. O estudo levanta a preocupação sobre a formação edu-cacional recebida pelo futuro profissional, na expectativa de que, igual-mente as habilidades e os ensinamentos de natureza legal e normativa adquiridos, os estudantes sejam conscientizados de seu papel em relação aos problemas sociais existentes no país e no mundo. Seus objetivos são investigar os desafios à educação em Direitos Humanos no ensino jurídico, tendo como ponto de partida teórico-metodológico a análise das representações sociais dos discentes sobre a formação universitária adquirida durante a realização do curso de Direito.

Nesse intento, o esforço intelectual da autora se destaca pela singularidade de apoiar sua análise em uma matriz multidisciplinar de conhecimentos, congregando contribuições de expoentes da Antro-pologia, Sociologia, Psicologia, Educação e Direito, para compreen-der, em detalhe, as várias dimensões do seu objeto de pesquisa. Além de contar com cuidadosa retrospectiva sobre a criação dos cursos de Direito no Brasil e com instigante discussão sobre o papel do ensino jurídico na formação do profissional em Direito e a importância da educação em Direitos Humanos no conteúdo curricular, o trabalho é enriquecido por conhecimentos cuja abordagem teórica contempla as relações entre saber e poder, redes de poder, representações sociais, entre outros aspectos.

Outra notável singularidade diz respeito à escolha do universo da pesquisa. A autora dá primazia por estudar graduandos oriundos do ensino superior privado, pertencentes a uma instituição situada no Distrito Federal. O recorte definido não apenas se justifica pela escassez de estudos sobre o sistema privado de educação superior do país, mas também pela expressiva preponderância de cursos de Direito promovidos por seus estabelecimentos. Cabe ainda ressaltar que, no desenvolvimento do trabalho de campo a participação dos sujeitos da pesquisa foi orientada mediante técnicas de observação participante, grupo focal e entrevistas, as quais foram de fundamental importância para a apreensão qualitativa das informações.

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Ao findar a minha breve explanação sobre esta obra, gostaria de expressar o meu contentamento por apresentá-la e, com muita satisfação, convidar o leitor a conhecê-la, na certeza de que o seu conteúdo poderá instigar reflexões sobre o tema e oferecer inspiração para futuros estudos.

Brasília, maio de 2019.

Maria Luiza de Santana LombasDoutora em Sociologia e mestre em Educação pela Universida-de de Brasília (UnB). Foi editora chefe da Revista Brasileira de Pós-Graduação - RBPG (2014-2017) e atuou na coordenação de programas de bolsas de estudos no exterior (1999 - 2010),

enquanto analista sênior em Ciência e Tecnologia pela Coorde-nação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). 

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Prefác io

A longa e amistosa convivência com Luciana foi um tempo de aprendizado e troca de saberes. Dedicada, competente e criativa, ela sempre nos surpreendeu com seu interesse arguto nas questões da edu-cação em direitos humanos. Docente por vocação, se sentia instigada pelas perguntas dos alunos e as descobertas feitas nas leituras teóricas.

O interesse pela educação em direitos humanos no ensino jurídico nasceu neste cotidiano de trabalho comprometido com este tema e de-safiado para confrontar-se com práticas docentes conservadoras e indivi-dualistas. Assim, ela parte da discussão teórica entre universidade, ensino jurídico e direito, com destaque para o pensamento de Foucault (1998) e suas reflexões acerca da relação entre saber e poder e o questionamento do sistema de ensino que integra uma postura de controle e exclusão dos sujeitos (1996). Enfatiza o papel da educação crítica (APPLE; AU; GANDIN, 2011) e incorpora a proposta de Giroux (2010) em prol de um ensino superior de caráter democrático, social e cultural.

Luciana elabora uma revisão crítica dos cursos de direito no Bra-sil no período imperial (BASTOS 1978; 2000 e COSTA 1992), com ênfase no bacharelismo, que se estende às oligarquias e burocracias estatais, e em 1964 se configura como um instrumento articulador do golpe civil-militar. Este bacharelismo, respalda um ensino jurídico positivista, tecnicista e dogmático que aliena o jurista da sua realidade social, ao retirar a compreensão do direito como instrumento de justiça e mudança social (SOUSA JR, 2015 e GOES JR, 2010). Neste debate, refere-se à articulação entre direito e direitos humanos feita por Lyra Filho (1982) e à proposta de Aguiar (2004), no sentido de o ensino jurídico manter um compromisso com a construção da democracia.

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No segundo campo de análise, articula direitos humanos e educação em direitos humanos. Neste aspecto, critica os limites dos documentos normativos de direitos humanos, à medida em que sustentam valores e interesses de grupos hegemônicos (COMPARATO, 2003 e SAN-TOS 2006) e orienta seu olhar para os fundamentos sócio-históricos (GALLARDO, 2014) e as experiências vividas pelos diferentes atores, denominada por Sánchez Rubio (2014) de “noção sinestésica” dos direitos humanos.

Na esfera da educação em direitos humanos, Luciana contextualiza os diversos documentos normativos existentes desde 1993, delineando a importância da formação de sujeitos de direitos pluridimensionais, construídos a partir da alteridade e da democracia (MAGENDZO, 2006; CARBONARI 2007; SOUSA JR 2015) e dotados de valores específicos integrantes dos direitos humanos. Incorpora ainda as con-tribuições de Candau e Sacavino (2000) que ressaltam a constituição de sujeitos com um perfil crítico, consciente e democratizante.

Escolhe o campo das representações sociais como suporte teó-rico-metodológico da sua investigação, ao tratar das representações individuais e coletivas de Durkheim (1970; 1996) e das representações sociais de Moscovici (2003) e Jodelet (2001), essas últimas compostas por definições compartilhadas por um determinado grupo social que lhe dão sentido e são orientadoras de suas práticas sociais.

A pesquisa qualitativa realizada por Luciana e apresentada neste livro configura um trabalho rico e exemplar constituído por entrevistas semiestruturadas com diferentes atores do campo do ensino jurídico, grupo focal com estudantes, além de primoroso exercício da observação participante e cuidadosas anotações feitas em seu diário de campo. A escolha de nomes florais para denominar seus personagens dá ao livro um tom poético e cativante.

Os resultados obtidos neste trabalho de investigação rigoroso e criativo são bastante instigantes. Em primeiro lugar, a formação universitária dos estudantes surge articulada com as suas experiências vivenciadas em outros espaços sociais, combinando uma multiplicidade de níveis e redes que estão presentes nas suas representações, criando vínculos entre instituições, sujeitos, discursos, saberes e práticas sociais (FOUCAULT 1996 e 1998).

Em segundo plano, a convivência familiar cotidiana é apontada pelos professores e o coordenador do curso como um desafio para a potencialidade criativa e a formação crítica dos estudantes. É neste

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cotidiano que partilham crenças, valores e ideias sobre direito, justiça e direitos humanos no contexto da conjuntura política brasileira. Nesses debates, há posturas em oposição gerando tensões entre os atores sociais, em especial no que se refere a questões de direitos humanos defendidas por estudantes do sexo feminino.

As redes sociais digitais, principalmente o Facebook, constituem um canal participativo e democrático de avaliação do perfil da didática e metodologias utilizadas pelos professores. Neste espaço, os estudantes compartilham seus medos, ideias e valores acerca da formação univer-sitária. O medo da reprovação e a retaliação a determinados professo-res se contrapõem à imagem do “bom professor”, dotado de postura envolvente e de diálogo com os estudantes.

O campo de estágio, obrigatório ou não, se revelou na pesquisa como uma maneira redutora de aprender o direito, limitado à aplicação da lei e à separação entre questões emocionais e profissionais. O curso de direito define um saber jurídico que demarca um terreno dividido entre dois mundos: o “mundo do direito” e o “mundo dos outros”. O primeiro é supervalorizado em prejuízo de outros conhecimentos e configura a ideia de um status social diferenciado que é reforçado pelas opiniões de familiares, amigos e da própria instituição de ensino. Reconhecem para si atributos de riqueza, inteligência e prosperidade e se curvam diante de profissionais da área com cargos hierarquicamente superiores. No cerne desta postura está a dissociação entre direito e filosofia, sociologia e história, o que recai na ênfase do direito-norma, pautado no tecnicismo jurídico.

Quanto à compreensão dos direitos humanos, estes aparecem vinculados às ideias de inerência e/ou às normas jurídicas, com desta-que para o direito à vida e à liberdade. Houve queixa generalizada dos estudantes em relação ao aprendizado ocorrido na disciplina optativa de direitos humanos e poucos se consideraram responsáveis pela proteção dos direitos humanos.

Com um modelo conservador e individualista predominante no curso de direito, a formação humanística e crítica dos estudantes acaba prejudicada. Neste contexto, Luciana aponta com precisão os inúmeros desafios que se apresentam à educação em direitos humanos no ensino do direito. Destaca a influência da família, das redes sociais digitais, das videoaulas expositivas e dos estágios não-obrigatórios como fatores de esvaziamento da função formativa do ensino jurídico. Eles são consti-tutivos de redes e níveis que articulam saber, poder, discursos e práticas

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sociais transversais ao ensino jurídico e dão significado ao “mundo do direito” em contraponto ao “mundo dos outros”.

Esses grandes desafios da educação em direitos humanos no ensino jurídico bloqueiam a formação de sujeitos de direitos pluridimensionais, participativos e críticos, capazes de ouvir o outro e de se sensibilizar e acolher as diferenças. A presença do dogmatismo, positivismo, legalismo e tecnicismo no ensino do direito, restringe as possibilidades de abertura dos estudantes para uma formação crítica, capaz de promover, defender, difundir e reparar violações aos direitos humanos.

O livro de Luciana Lombas Belmonte Amaral contribui, pois, para equacionar os termos de uma questão desafiadora. Como formar juristas aptos à condução das iniciativas capazes de liberar as energias emancipatórias que nossa sociedade está a demandar?

Os sinais atualmente lançados exibem tremendos retrocessos epistemológicos, pedagógicos e políticos, com movimentos de clara intervenção (até aqui contidos, com as salvaguardas constitucionais, pelo Supremo Tribunal Federal, em face a ataques à autonomia das universidades e à liberdade de ensinar), e também em operações hostis à vocação crítica e livre da educação em geral (leis de mordaças, escola sem partido), que já feriram gravemente a própria Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), no tocante a fundamentos como flexibilida-de curricular, interdisciplinaridade e redução dos elementos reflexivos do manejo pedagógico. É certo porém, que na Revisão das Diretrizes Curriculares do Curso de Direito (Parecer n. 635/2018, homologado pelo Ministro da Educação no início deste ano de 2019), apreende-se um vínculo não rompido como o movimento crítico e plural instaurado em 1994, com a Portaria n. 1886, conferido em 2004, com a Resolução n.9, guardando fidelidade a esses elementos estruturantes de uma orientação curricular, ainda que acessíveis a indicações de mais detida qualificação (conferir, nessa direção, o texto de Horácio Wanderlei Rodrigues que integra o volume 8 da Coleção Caminhos Metodológicos do Direito, coordenada pelos professores Fabrício Veiga Costa, Ivan Dias da Motta e Sérgio Henriques Zandona Freitas, Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Direito: Análise do Parecer CNE/ N. 635/2018.

A obra de Luciana vem, portanto, em momento muito oportuno, para figurar entre as indicações derivadas de balanços empíricos para o aprofundamento das promessas ainda não realizadas das diretrizes curri-culares inauguradas com a Portaria 1186/94. A sua instigante pesquisa, conforme afirma a própria autora, destaca o “percurso formativo, no qual

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se deve semear reflexões críticas dos estudantes de direito para que possam iden-tificar, nas naturalizações que se imbricam aos discursos do ‘mundo do direito’, o abismo que nos separa de nossas missões como cidadãos e profissionais das carreiras jurídicas para a transformação social”.

Este é um livro que desperta o leitor para questões relevantes no campo do ensino do direito e abre o horizonte pedagógico para o caminho de uma formação jurídica mais receptiva à interpelação emancipadora da educação em direitos humanos.

Nair Heloisa Bicalho de SousaCoordenadora do Núcleo de Estudos para a Paz e Direitos Hu-

manos / CEAM / Universidade de Brasília.Professora do Programa de Pós-Graduação em Direitos Huma-

nos e Cidadania / CEAM / Universidade de Brasília (UnB).

José Geraldo de Sousa JuniorProfessor da Faculdade de Direito e do Programa de Pós-Gra-

duação em Direitos Humanos e Cidadania / CEAM / UnB. Foi Reitor da UnB (2008-2012). Integrou as Comissões de Ensino Jurídico do MEC e do Conselho Federal da OAB. Coordena o

Projeto O Direito Achado na Rua. É coautor, com Antônio Escri-vão Filho, do livro Para um debate teórico-conceitual e político sobre os

direitos humanos, publicado pela Editora D´Plácido em 2016.

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&ensino

jurídicoeducação em

direitos humanosentre hierarquias sociais e redes

de poder do mundo do direito

Luciana Lombas Belmonte Amaral

A pesquisa qualitativa realizada por Luciana e apresentada nesta obra configura um trabalho rico e exemplar constituído por en-trevistas semiestruturadas com diferentes atores do campo do ensino jurídico, grupo focal com estudantes, além de primoroso exercício da observação partic-ipante e cuidadosas anotações feitas em seu diário de campo. A escolha de nomes florais para de-nominar seus personagens dá ao livro um tom poético e cativante.Este é um livro que desperta o leitor para questões relevantes no campo do ensino do direi-to e abre o horizonte pedagógi-co para o caminho de uma for-mação jurídica mais receptiva à interpelação emancipadora da educação em direitos humanos.

Nair Heloisa Bicalho de Sousa e José Geraldo de Sousa Junior

Ao escrever as minhas primei-ras linhas da pesquisa, vislum-brava fronteiras imaginárias que delimitavam conhecimen-tos e experiências no curso de direito e fora dele. A investi-gação do mundo empírico, en-tretanto, conduziu-me para horizontes mais amplos. Ins-tigou-me incessantemente a olhar para além dos muros da universidade. A partir das rep-resentações sociais dos es-tudantes de direito, as flores de minha pesquisa de campo, foi revelado um emaranhado de redes de saber e poder que envolvem diferentes níveis hi-erárquicos, sujeitos e institu-ições em torno de determina-dos discursos e práticas soci-ais. As visões de mundo sobre a formação jurídica e os sig-nificados do direito e dos di-reitos humanos transitam em teias, sendo o ensino jurídi-co mais uma instância social a sedimentar o controverso “mundo do direito”.

A autora.

ISBN 978-65-80444-98-4

Doutoranda em Sociologia pela Universidade de Brasília (UnB). Mestra em Direitos Hu-manos e Cidadania pela Uni-versidade de Brasília (UnB). Formação complementar em Direitos Humanos pelo Insti-tuto Joaquín Herrera Flores (Universidad Pablo de Ola-vide, Sevilha/ Espanha). Es-pecialista em Direito Proces-sual pela Universidade do Sul de Santa Catarina (UniSul) e em Prestação Jurisdicional pelo Instituto dos Magistra-dos do Distrito Federal (Im-ag-DF). Formada em Direito pelo Centro Universitário de Brasília (UniCeub). Pesquisa-dora do Grupo de Pesquisa Educação, Direitos Humanos, Mediação e Movimentos So-ciais (CNPQ) e do Núcleo de Estudos para a Paz e os Direi-tos Humanos (Nep/UnB). Pro-fessora universitária.

Luciana Lombas Belmonte Amaral

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