barbara cartland - casamento em nova york (coleção barbara cartland 259)

86
Casamento em Nova York The Unknow Heart Barbara Cartland Herdeira da maior fortuna dos Estados Unidos, Virgínia tinha tudo ara ser uma das moças mais invejadas do mundo. Por ser feia e gorda, porém, era desdenhada por todos. Sua mãe, dama esnobe e autoritária, não lhe dedicava amor nem carinho. A rica senhora, desejosa de um título de nobreza, para se impor ainda mais às amigas, chegou ao cúmulo de "vender" a filha a um duque inglês, dando-lhe em troca um dote de sete milhões de dólares. Virgínia foi obrigada, então, a casar-se com um homem desprezível, ambicioso e falido! Digitalização: Dores Cunha. Correção: Edith Suli Formatação: Projeto Revisoras

Upload: barbara-abreu

Post on 05-Sep-2015

348 views

Category:

Documents


36 download

DESCRIPTION

romance

TRANSCRIPT

  • Casamento em Nova York The Unknow Heart

    Barbara Cartland

    Herdeira da maior fortuna dos Estados Unidos, Virgnia tinha tudo ara ser uma

    das moas mais invejadas do mundo. Por ser feia e gorda, porm, era desdenhada por

    todos. Sua me, dama esnobe e autoritria, no lhe dedicava amor nem carinho. A rica

    senhora, desejosa de um ttulo de nobreza, para se impor ainda mais s amigas, chegou ao

    cmulo de "vender" a filha a um duque ingls, dando-lhe em troca um dote de sete

    milhes de dlares. Virgnia foi obrigada, ento, a casar-se com um homem desprezvel,

    ambicioso e falido!

    Digitalizao: Dores Cunha.

    Correo: Edith Suli

    Formatao: Projeto Revisoras

  • Barbara Cartland - Casamento em Nova Iorque (Coleo Barbara Cartland 259)

    2

    Ttulo: Casamento em Nova York

    Autor: Barbara Cartland.

    Ttulo original: The Unknow Heart.

    Dados da edio: Nova Cultural, So Paulo, 1990.

    Gnero: romance.

    Digitalizao: Dores Cunha.

    Correco: Edith Suli.

    Estado da obra: corrigida.

    Numerao de pgina: rodap.

    Esta obra foi digitalizada sem fins comerciais e destina-se unicamente leitura de pessoas

    portadoras de deficincia visual. Por fora da lei de direitos de autor, este ficheiro no

    pode ser distribudo para outros fins, no todo ou em parte, ainda que gratuitamente.

    BARBARA CARTLAND

    Casamento em Nova York

    Ttulo original: The Unknow Heart

    Copyright: (c) Barbara Cartland 1969

    Traduo: Carmita Andrade

    Copyright para a lngua portuguesa: 1990

    EDITORA NOVA CULTURAL LTDA.

    Av. Brigadeiro Faria Lima, 2000 3 andar

    CEP 01452 So Paulo SP Brasil

    Caixa Postal 2372

    Esta obra foi composta na Editora Nova Cultural Ltda

    Impressa na Artes Grficas Parmetro Lida.

  • Barbara Cartland - Casamento em Nova Iorque (Coleo Barbara Cartland 259)

    3

    CAPTULO I

    1902

    No vou me casar com um homem que nem conheo, mame! No vou, no vou,

    no vou! No pode me obrigar!

    Virgnia Stuyvesant Clay, voc vai fazer o que eu mandar! replicou uma voz

    spera.

    A sra. Clay levantou-se com impacincia, andou pela enorme sala decorada com

    exagero, e encarou a filha.

    Sabe o que est dizendo, menina? Recusa casar-se com um ingls que muito

    breve ser duque! Um duque! Ouviu bem? H apenas vinte e seis duques na Inglaterra, e

    voc ser duquesa. Isso dar uma lio sra. Astor que me olha por baixo, como se eu

    fosse uma "ningum". O dia que eu vir voc saindo da igreja como futura duquesa acho

    que vou morrer de alegria!

    Mas, mame, ele nem me conhece! queixou-se Virgnia.

    Que tem isso a ver com o caso? Estamos em 1902, verdade, no comeo de um

    novo sculo, mas na Europa casamentos ainda so arranjados pelos pais dos noivos, e do

    certo.

    Voc sabe, mame, que o marqus quer se casar comigo por dinheiro, nada mais.

    Que modo ridculo de falar, Virgnia respondeu a me.

    A duquesa velha amiga minha. H mais ou menos dez anos seu pai e eu a

    conhecemos numa viagem Europa, e ela amavelmente nos convidou para um baile em

    seu castelo.

    E vocs pagaram a entrada interrompeu-a Virgnia.

    Isso no vem ao caso. Foi um baile de caridade, e nunca escondi. Continuei

    ajudando-a em suas obras sociais e ela sempre se mostrou muito grata a mim.

    Gosta de seu dinheiro, mame!

    Mantemos correspondncia regularmente, mando-lhe presentes pelo Natal e ela

    agradece. Escreveu-me perguntando se eu tinha uma filha na idade de casar. Ento, senti-

    me recompensada pelos milhares de dlares que lhe tenho enviado ano aps ano. Agora

    comeam a ser pagos os dividendos.

    Mas eu no desejo ser esses dividendos, mame. E, embora a duquesa seja

    encantadora, voc nem conhece o filho dela.

    Vi fotografias e me parece um rapaz muito simptico. No um menino, fez

    vinte e oito anos j. Um homem, Virgnia. Um homem para cuidar de voc e de toda essa

    incalculvel fortuna que seu pai lhe deixou.

    Oh, mame, vamos entrar nesse assunto outra vez? Voc rica, muito rica, e a

    razo de papai ter deixado seu dinheiro dividido igualmente entre ns duas no importa.

    Quanto a mim, pode ficar com tudo. A, s quero ver se esse marqus ainda vai se

    interessar por mim.

    Virgnia, voc a criatura mais ingrata do mundo! Tem a oportunidade de

    realizar o sonho de todas as moas, casando-se com um dos homens mais importantes da

  • Barbara Cartland - Casamento em Nova Iorque (Coleo Barbara Cartland 259)

    4

    Inglaterra; na verdade, do mundo! Pode imaginar o que suas amigas diro? Pense em

    Millie, em Nancy, em Gloriana. Vo ficar verdes de inveja! Voc ser convidada para ir ao

    Buckingham Palace, jantar com o novo rei e a rainha. Usar uma coroa na cabea.

    Uma tiara, mame!

    Bem, uma tiara ento. E eu providenciarei para que no casamento use a maior e

    mais preciosa tiara existente na Inglaterra. J pensou nas notcias dos jornais?

    No me casarei com um homem que nem conheo insistiu Virgnia com

    firmeza.

    Vai fazer o que eu mandar! Ser em breve uma duquesa!

    No tenho o menor desejo de ser duquesa, mame; no entende isso? E a vida

    mudou muito ultimamente, mame; no se d mais valor a esse negcio de nobreza.

    Mudou, mas s no fato de que mais ingleses vm aos Estados Unidos, e mais

    americanos milionrios viajam para a Europa. Seu tio dizia um dia desses que pensa at

    em investir nosso dinheiro na construo de transatlnticos.

    Quer dizer que ficaremos ainda mais ricas. Mas, para qu?

    Para qu? Pare de falar sobre dinheiro com esse desprezo, Virgnia. Devia ser

    grata pelo fato de termos tanto!

    Impossvel ser grata, se por esse motivo eu tiver de me casar com um homem

    que nunca vi, e cujo nico interesse em mim so meus dlares!

    Olhe, Virgnia, no bem assim. Como j lhe disse, a duquesa e eu ficamos

    muito amigas, e ela sugeriu que um casamento do filho dela com minha filha seria o

    coroamento de nossa antiga amizade. Que poderia ser mais encantador e prtico que essa

    ideia? Quanto voc vai lhe pagar pelo privilgio de minha entrada na aristocracia

    britnica?

    No responderei a essa pergunta, Virgnia! Soa mal nos lbios de uma jovem

    como voc. Deixe essa parte do negcio comigo e com seu tio.

    Quero saber quanto, mame.

    No lhe direi!

    Ento posso adivinhar. A duquesa exige uma soma considervel exclusiva para

    ela. No ficaria contente apenas com meu dinheiro, que seu filho controlar. Ouvi o tio

    falar qualquer coisa sobre isso com voc, mas calou-se assim que eu entrei na sala.

    Quanto?

    J lhe disse que no de sua conta!

    de minha conta. Eu serei a sacrificada nesse altar do esnobismo!

    Observaes sarcsticas nunca sero favorveis a voc, na sociedade britnica

    preveniu-a a sra. Clay. No sei por que no hei de ter uma filha boazinha, obediente,

    como a filha dos Belmont, que vem aqui s vezes.

    Ela vem aqui porque voc insiste. No minha amiga. Bella Belmont a moa

    mais tonta que existe no mundo.

    No obstante, bonita, amvel, fcil de ser conduzida. tudo que eu pediria a

    Deus para uma filha.

    E voc s conseguiu a mim, pobre mame!

    Sim, s voc repetiu a sra. Clay. E se casar com o marqus de Camberford

    nem que eu tenha de arrast-la aos berros at o altar. Chega de falarmos sobre o assunto, e

    vamos ao enxoval. Temos muito pouco tempo, pois o marqus chegar nos Estados

  • Barbara Cartland - Casamento em Nova Iorque (Coleo Barbara Cartland 259)

    5

    Unidos em trs semanas.

    Nesse caso, espere que ele chegue, mame, para eu dar uma resposta.

    Absolutamente, no! protestou a sra. Clay.

    Por que no?

    No h tempo. Ele chega no dia vinte e nove de abril e vocs se casaro no dia

    trinta.

    Nos casaremos no dia seguinte? Impossvel, mame! Como ele ousou sugerir

    isso? E como voc pde aceitar?

    Virgnia jogou-se no sof, e ps a mo na cabea.

    Que h, Virgnia? perguntou-lhe a me. uma de suas dores de cabea?

    Sinto-me mal. O ltimo remdio que o mdico receitou me deixa pior que antes.

    Ele acha que voc est anmica, e quer que se fortalea mais. Tomou o copo de

    vinho s onze horas?

    S um pouco, no consegui tomar o copo inteiro.

    Mas, Virgnia, o mdico disse que o vinho tinto faz bem para o sangue. Que tal

    um copo de xerez antes do almoo?

    No, no, no quero nada protestou Virgnia. No tenho tampouco

    vontade de comer, com essa dor de cabea.

    Precisa comer, Virgnia. O chef fez uma sobremesa especial para voc. E um po-

    de-l para o ch.

    No desejo nada, mame. S em pensar em comida me d nuseas.

    Tem de ficar mais corada antes de o marqus chegar, Virgnia.

    Oua, mame, no podemos continuar discutindo o mesmo assunto por trs

    semanas. No vou me casar com esse tal de ingls, futuro duque ou no, e ningum me

    persuadir a agir em contrrio.

    Muito bem, Virgnia, se assim, tenho outros planos.

    Tem? Oh, mame, por que me tortura tanto? Sabe que no quero me casar. Quais

    so os outros planos?

    J decidi. Se no se portar como uma moa normal, no a considero mais minha

    filha. Vou mand-la para a casa de sua tia Louise.

    Tia Louise! Mas...tia Louise uma freira! Ela dirige um Instituto Correcional para

    moas.

    Exatamente! E onde voc vai morar at os vinte e cinco anos de idade. Porque,

    embora seu pai lhe tenha deixado muito dinheiro, ele me nomeou sua tutora.

    Mas, mame, diga que no est falando srio!

    Estou! Voc pode ser minha nica filha, e eu talvez a tenha mimado muito; mas

    no vai destruir todos os sonhos que sempre tive de ser um dia a rainha da sociedade de

    Nova York. Voc far um casamento brilhante ou ir morar com sua tia. Escolha! minha

    ltima palavra.

    Mas isso impossvel sussurrou Virgnia, assustada.

    Sabe muito bem que quando decido uma coisa vou at o fim. Fui eu quem fez de

    seu pai um milionrio! E minha palavra um ultimato, Virgnia. No vou titubear em

    cumprir essa ameaa.

    No posso... acreditar gaguejou Virgnia. No posso acreditar que voc...

    minha me... me faa tal ameaa.

  • Barbara Cartland - Casamento em Nova Iorque (Coleo Barbara Cartland 259)

    6

    Vai me agradecer quando ficar mais velha. Agora, prometa-me que se casar

    com o marqus e que ir Europa com ele como sua esposa legtima.

    No posso prometer, mame! Como possvel me unir a um homem que deseja

    apenas meu dinheiro? vou me casar um dia, sim, mas com algum que me ame, e que eu

    ame.

    A sra. Clay deitou a cabea para trs e deu uma sonora gargalhada.

    Algum que a ame! repetiu ela num tom sarcstico. Acha isso possvel? to

    idiota a ponto de imaginar que um homem a amar? Venha c!

    A sra. Clay agarrou a filha pelo brao e arrastou-a at junto do espelho pendurado

    na parede, entre as duas janelas da sala.

    Veja! D uma olhada em sua aparncia! disse ela cruelmente. E diga se um

    homem se casar com voc por outro motivo que no seu dinheiro! Olhe! Olhe-se bem no

    espelho!

    Quase hipnotizada, Virgnia fez o que lhe foi ordenado. Enxergou-se ao lado da

    me, esta magra, esbelta, com a cintura fina acentuada pelo elegante vestido. Um colar

    brilhava em seu longo pescoo. Enfim, l estava uma linda mulher que chamaria ateno

    em qualquer grupo social.

    A, Virgnia se viu: pequena, mal chegando aos ombros da me, e obesa. Uma

    figura grotesca! Seus olhos quase desapareciam devido ao rosto muito gordo, e vrias

    papadas lhe escondiam o pescoo. As mos que ela levou ao rosto eram vermelhas e

    disformes, Virgnia no tinha cintura, e seus quadris faziam trs vezes os da me. Os

    cabelos sem brilho tinham cor indefinida.

    Ela no conseguiu articular uma s palavra. E a me disse num tom de desprezo:

    Agora entende do que eu falava?

    Sei... Sou horrvel! Mas os mdicos prometeram que eu emagreceria. Apenas

    sinto-me muito doente!

    Promessas! Promessas! Todos garantiram que voc ficaria elegante, que sararia.

    Questo de tempo, afirmavam eles. Gastei milhares de dlares nos ltimos cinco anos com

    sua sade. H ainda uma pequena esperana de que emagrea com o casamento. Milagres

    s vezes acontecem!

    Talvez o marqus desista de se casar quando me vir.

    Isso eu no acredito, Virgnia!

    Por que?

    Porque, minha cara, voc lhe ser entregue envolta em fitas de ouro. Ele precisa

    desesperadamente de dinheiro.

    Quanto vai lhe dar?

    Quer mesmo saber? No prefere crer em sonhos de amor? No prefere que o

    prncipe encantado desa pela chamin e se apaixone por voc primeira vista? Mas,

    pensando bem, minha filha, melhor que saiba a verdade! Qualquer que seja sua

    aparncia, no vai rastejando para a aristocracia inglesa. Cada um receber sua parte, e a

    verdade

    lhe dar autoconfiana.

    Bem, e qual a verdade? perguntou Virgnia. Quanto vai dar a ele?

    Sete milhes de dlares. Um bom presente para qualquer noivo receber junto

    com sua tmida noivinha. E agora, chega de histeria. Vai se casar no dia trinta de abril.

  • Barbara Cartland - Casamento em Nova Iorque (Coleo Barbara Cartland 259)

    7

    Caso contrrio, ir morar com tia Louise, e anunciarei ao mundo que voc viver num

    convento pelos prximos sete anos.

    Virgnia no respondeu. A sra. Clay observou-a por minutos e depois sussurrou, na

    esperana de que a filha no a escutasse:

    Meu Deus! Que mal fiz eu para merecer isso? Uma filha desobediente e feia!

    Nos dias subsequentes Virgnia mal tomou conhecimento do que se passava em

    redor dela.

    Mdicos visitavam-na diariamente e mudavam sua dieta a cada vinte e quatro

    horas. Ela era forada a ingerir pratos nutritivos e doces de todos os tipos, apesar de estar

    gorda.

    Bebia sangue de boi para combater a anemia. O creme de leite era levado a Nova

    York de New Jersey, puro, e no contaminado pelo ar da cidade. Legumes e frutas vinham

    das fazendas dos Clay localizadas no sul. Virgnia s tomava champanhe francs, xerez da

    Espanha, caviar da Rssia, pat de Strasbourg. E comia tudo, para no criar caso com a

    me e os mdicos. Ficava horas experimentando vestidos, chegando s vezes exausto.

    Somente quando sozinha no quarto pensava num meio de escapar daquilo tudo.

    Mas reconhecia ser impossvel. Sentia-se cansada, doente, fraca, at para se levantar da

    cama pela manh.

    Tinha amide a impresso de que uma voz dentro de si dizia. "Voc gorda e

    intil! Gorda e tola! Gorda e feia! O marqus vai se casar por dinheiro!"

    E Virgnia tinha vises: enxergava pilhas de ouro, brilhando, que enchiam seu

    quarto, chegando ao teto, cobrindo-a toda.

    Francamente, Virgnia a me lhe disse um dia voc parece estar bbada.

    Preciso falar com o dr. Hausell para no lhe dar mais remdios contendo narcticos.

    Porm Virgnia sabia que no eram os remdios que a faziam assim, mesmo porque

    ela jogava fora mais da metade deles. Ela tentava era fugir da realidade, agindo como uma

    autmata.

    O marqus chega amanh ela ouviu a me dizer, e no reagiu; nem mesmo

    mostrou surpresa.

    Virgnia desistira h muito de preocupar-se com o futuro marido. Sentia-se, no

    obstante, muito infeliz. "Ele vai se casar por dinheiro! Ele quer seu dinheiro!" aquela voz

    interior repetia incessantemente.

    Ouro! ouro! ouro! Virgnia tinha a sensao de que sua comida era ouro puro, e o

    champanhe que bebia possua gotinhas de ouro lquido.

    A sra. Clay preparou uma enorme recepo para a noite da chegada do marqus.

    A cerimnia do casamento teria lugar no salo que se assemelhava a um jardim de

    orqudeas brancas. Nas salas de recepo, porm, as flores tinham uma cor mais alegre:

    rosa. Virgnia usaria um vestido cor-de-rosa, e na cabea uma tiara de botes de rosa.

    Dias aps a recepo, no se falava em outra coisa em Nova York. Infelizmente, o

    marqus no comparecera. Houve um atraso do navio que s chegou na madrugada do

    dia seguinte. A cerimnia de casamento propriamente dita teve de ser adiada.

    Virgnia se perguntava que tipo de mentiras sua me dissera duquesa. com

    certeza no revelara nada sobre sua aparncia. Ela olhava-se no espelho e achava-se cada

    dia mais gorda.

    "Talvez tivesse sido melhor ter ido casa de tia Louise", dizia ela a si mesma. "Oh,

  • Barbara Cartland - Casamento em Nova Iorque (Coleo Barbara Cartland 259)

    8

    Deus, como gostaria de morrer! Oh, Deus, como gostaria de estar morta!"

    Mas continuava muito viva e era o centro das atividades da casa. Sua me foi a

    primeira a entrar no quarto para comunicar-lhe a chegada do marqus. Abriu as cortinas e

    chamou a empregada.

    Recebi um recado do seu noivo disse ela com satisfao.

    Ele escreveu assim que chegou em Nova York, pedindo desculpas pelo atraso do

    navio. Pobre homem, como se fosse culpa dele. Mas, talvez tenha sido melhor assim.

    Vocs s se encontraro no altar.

    Como Virgnia no falasse nada, a sra. Clay continuou:

    O dia est lindo! O sol brilha no cu e agora lamento no ter planejado a

    cerimnia na igreja de St. Thomas. Mas nosso salo aconchegante! Levante-se, Virgnia.

    No comece a vida de casada deixando seu marido esperar; nada irrita mais um homem.

    No me sinto bem gemeu Virgnia.

    nervoso, voc sabe disso. Beba um pouco de leite e, antes da cerimnia, tome

    uma taa de champanhe.

    No quero champanhe. Me d enjoo.

    Bem, mas tem de tomar alguma coisa. Que foi que o mdico receitou?

    Virgnia considerou intil responder. No ignorava que as ordens do mdico eram

    quase sempre contrariadas pela me, que possua suas prprias ideias quanto a nutrio.

    Beba caf ordenou a sra. Clay. Mandei trazer um bule para o quarto. Eu

    mesma acho que no poderei aguentar tudo isso sem pelo menos uma dzia de xcaras.

    Chegando o caf, a sra. Clay encheu uma grande xcara para Virgnia, adicionou

    vrias colheres de acar, explicando:

    Acar d energia.

    Acelera meu corao replicou Virgnia. Francamente, prefiro no tomar

    caf.

    Pelo amor de Deus, Virgnia. Precisa discutir sempre? Beba esse caf, sei que lhe

    far bem. E vista-se depressa.

    Virgnia achou mais fcil obedecer que protestar. Tomou um banho quente e, logo

    aps, ficou to atordoada que necessitou sentar-se por cinco minutos antes de se enxugar.

    A cabeleireira chegou. O vu foi arrumado em sua cabea, preso por uma tiara de

    diamantes to grande que, ao se olhar no espelho, Virgnia achou-se ridcula.

    Isso o que eu chamaria de coroa, e no tiara exclamou a sra. Clay com

    satisfao, entrando no quarto da filha a fim de supervisionar tudo. No me pergunte

    quanto custou; seu pai teria um enfarte se soubesse, pobre homem. Ele no admitia gastar

    dinheiro em jias, preferia t-lo sempre nas mos.

    linda essa tiara! mentiu Virgnia.

    meu presente de casamento para voc, querida. Achei que gostaria. E, aps

    uma pausa, acrescentou: Mandei um convite sra. Astor para a recepo de ontem, mas

    ela no compareceu e nem se desculpou. Deve estar ausente da cidade. Imaginei que no

    resistiria tentao de conhecer o marqus! um lindo homem, Virgnia!

    Voc j o viu, mame?

    Se j o vi? Ele apareceu aqui s nove horas da manh, cheio de desculpas. um

    rapaz muito atraente. Voc a moa mais feliz que pisou este solo dos Estados Unidos. Se

    eu fosse vinte e cinco anos mais jovem, no seria voc, Virgnia, quem se casaria com ele!

  • Barbara Cartland - Casamento em Nova Iorque (Coleo Barbara Cartland 259)

    9

    A sra. Clay sorriu. E Virgnia, sem corresponder ao sorriso, perguntou:

    Voc j lhe deu o dinheiro?

    No seja vulgar, Virgnia. Se quiser que seu casamento resulte num sucesso,

    jamais mencione o dinheiro a seu marido. Eu no deveria ter revelado isso a voc mas,

    nunca soube guardar segredos. Prometa-me, Virgnia, que se comportar como uma lady,

    deixando o assunto das finanas a cargo de seu marido.

    No tenho outra escolha, de qualquer jeito. Como sabe, papai deixou meu

    dinheiro sob a superviso de minha tutora e, em me casando, meu marido cuidar dele at

    que eu tenha vinte e cinco anos de idade. Espero que o bondoso marqus, se eu suplicar,

    me d alguma coisa para os alfinetes.

    Virgnia, no tolero que fale dessa maneira rude, sarcstica! O marqus um dos

    homens mais encantadores que j conheci. Toda Nova York ficar louca por ele. As moas

    daqui invejaro voc na certa. Agora, acalme-se, e lembre-se de que devem ser

    considerados os dois lados do negcio. Ele, tambm, talvez preferisse casar-se por amor.

    A sra. Clay retirou-se do quarto e bateu a porta com fora. Virgnia ps a mo na

    cabea. Como sempre, nas discusses com a me, perdia. Nas brigas com o marido, a sra.

    Clay tinha tambm a ltima palavra, magoando-o muitas vezes.

    O corao de Virgnia pulsava violentamente. Ela sentia falta de ar e pediu criada

    que abrisse a janela.

    O tempo fora estava agradvel. Mas Virgnia duvidava que teria foras para

    atravessar o enorme salo repleto de gente, pelo brao do tio.

    Enfim, ficou pronta. O vestido, com babados e mais babados de renda de Bruxelas,

    seria lindo em outra mulher menos gorda. O vu caa-lhe pelas costas, e a tiara brilhava.

    Diante do espelho, Virgnia comparou-se a uma rvore de Natal.

    Deu uma gargalhada, nervosa. Nesse instante, bateram na porta. Um lacaio entrou

    trazendo uma taa de champanhe numa salva de prata.

    Com os cumprimentos da senhora sua me, miss Virgnia declarou ele.

    A moa tomou um gole.

    Desejo-lhe felicidades, miss disse o empregado, de libr nova, cabeleira

    empoada, e luvas brancas.

    Obrigada agradeceu Virgnia.

    Est pronta, Virgnia? o tio gritou do corredor. Todos a esperam l

    embaixo.

    Estou, tio.

    Foi ao encontro dele e notou um ar de admirao em sua face. Mas era pela tiara...!

    Espere um minuto, miss falou uma das criadas. Esqueceu de pr o vu no

    rosto.

    Obrigada sussurrou Virgnia.

    Ela sentiu-se ainda mais sufocada, e seu corao batia mais forte.

    "So meus nervos", pensou.

    Ela ps a mo enluvada no brao do tio, e apanhou o buque de lrios do vale. Os

    dois desceram vagarosamente as escadas.

    O som da msica suave sumia ao tagarelar de centenas de vozes. Cada passo

    representou enorme esforo para Virgnia, que tinha a impresso de ser arrastada pelo tio.

    Levantou os olhos e enxergou o bispo. A um lado dele estava sua me, triunfante; no outro

  • Barbara Cartland - Casamento em Nova Iorque (Coleo Barbara Cartland 259)

    10

    lado havia um homem.

    Virgnia no supusera que o marqus fosse to alto, de ombros to largos, e to

    moreno. Sempre imaginara que os ingleses tivessem tez clara. E, a me tinha razo, era o

    homem mais atraente que j vira.

    Ela apertou com mais fora o brao do tio, que perguntou:

    Voc est bem, Virgnia?

    Estou, tio.

    Chegaram ao altar. Ela ficou diante do bispo e o marqus a seu lado. A cerimnia

    teve incio.

    A senhorita aceita este homem como seu marido, na riqueza e na pobreza, na

    sade e na doena?

    E, com voz que parecia vir de muito longe, Virgnia disse:

    Sim, aceito.

    Feita a mesma pergunta pelo bispo ao marqus, ele respondeu com firmeza, num

    sotaque bem britnico:

    Sim.

    A cerimnia terminava. Algum levantou o vu do rosto de Virgnia. O marqus

    conduziu-a para a outra sala, onde fora arrumado o bufe com um bolo gigantesco de cinco

    camadas.

    Virgnia tropeava no vestido, e no conseguia fitar o marqus. Tinha conscincia

    da proximidade dele, e sabia-o tenso.

    A me no parava de conversar ao lado dos dois.

    Por aqui, marqus dizia ela. Oh, no, devo cham-lo de Sebastian, no

    acha? Que nome maravilhoso! Sebastian e Virgnia combinam bem! Espero que tenham

    gostado da cerimnia religiosa. O bispo de Nova York um homem encantador. velho

    amigo meu, e s poderia casar vocs, mais ningum.

    Aproximavam-se da sala de recepo.

    Uma taa de champanhe antes! a sra. Clay foi logo dizendo. Em seguida,

    recebero os convidados e cortaro o bolo. Todos os nossos amigos esto ansiosos por

    conhec-lo, marqus... quer dizer, Sebastian, voc a visita mais importante de Nova York

    no momento.

    Champanhe! Champanhe! ordenava a sra. Clay aos lacaios. Uma taa para

    voc, Sebastian! Uma para Virgnia. Espero que sejam felizes para sempre.

    Obrigado, sra. Clay, muito amvel declarou o marqus com voz grave e

    controlada.

    Virou-se para Virgnia e o encarava pela primeira vez. Ela viu nos olhos do marido,

    no o desprezo que esperava, mas uma quase indiferena.

    sua sade, Virgnia disse ele.

    Virgnia achou que a sala girava em torno dela; o bolo de camadas inclinava-se.

    No, no era um bolo, mas dinheiro, ouro, ouro resplandecente! Caa em cima dela,

    roubando-lhe o equilbrio...

    Virgnia no resistiu ao peso do ouro que a cobria. Ouviu algum gritar, e sups

    que fosse sua me.

  • Barbara Cartland - Casamento em Nova Iorque (Coleo Barbara Cartland 259)

    11

    CAPTULO II

    Pssaros cantavam. Virgnia escutava-os tentando identific-los. Anos atrs sabia o

    nome de cada um deles.

    Bem devagar, com esforo, abriu os olhos. Uma nuvem de borboletas vermelhas,

    brancas e amarelas movia-se no cu azul, e ela teve uma sensao de xtase, de pura

    felicidade. Subitamente, um rosto apareceu entre ela e o cu, e uma voz, suave e satisfeita,

    exclamou:

    Acordada! Virgnia, voc acordou!

    Virgnia queria falar, porm sua garganta estava paralisada. Mas, em breve,

    sussurrou:

    Quem a senhora?

    Sou sua tia, Virgnia, a tia Ella May! Lembra-se de mim?

    Lembro...

    Virgnia fechou os olhos e caiu no sono de novo.

    Horas mais tarde, ou talvez dias, recobrou a conscincia mais uma vez. Os pssaros

    estavam silenciosos, mas as borboletas permaneciam l.

    Um brao forte ergueu-a e ps um copo entre seus lbios.

    Beba, Virgnia vai fazer-lhe bem. Era a tia.

    Virgnia bebeu alguns goles de um lquido delicioso.

    Onde... estou? Ela quis saber.

    Em minha casa replicou a tia. Cuido de voc.

    Tia... Ella May. Recordo-me... agora; minha enfermeira? Estive... doente?

    Sim, querida. Muito doente.

    Que houve comigo?

    No vamos falar sobre isso agora. Descanse. Daqui a pouco lhe darei outra coisa

    para beber.

    Quero... j. Tenho muita sede insistiu Virgnia.

    A tia satisfez-lhe o pedido. Assim que terminou de beber, Virgnia murmurou:

    Mel!

    Sim, mel com agrio, aipo, e outros vegetais.

    H quanto tempo estou aqui?

    H muito tempo.

    Tento... rememorar os fatos. Eu ca... Foi um acidente?

    No se preocupe com isso agora pediu a tia. Durma.

    Tenho a impresso de que dormi por muito tempo... muito tempo gaguejou

    Virgnia, adormecendo em seguida.

    Acordou noite. As cortinas estavam fechadas; cortinas de cor alegre, de chintz,

    bonitas, mas modestas. O quarto era pequeno, de teto baixo, e achas queimavam na

    lareira.

    A tia aproximou-se dela.

  • Barbara Cartland - Casamento em Nova Iorque (Coleo Barbara Cartland 259)

    12

    Gostaria de tomar uma sopa?

    Sim, tia.

    Virgnia achou que a sopa era ainda mais deliciosa que mel. Sentia-se menos

    cansada.

    Estou contente... em v-la, Tia Ella May. Pensei muitas vezes na senhora, que

    nunca nos visitou em Nova York.

    verdade, Virgnia.

    Alguns incidentes voltaram mente de Virgnia. Enxergava seu pai furioso, a me

    igualmente, portas batendo, e tia Ella May saindo da casa com lgrimas nos olhos, mas

    com bastante determinao.

    Eu... me lembro observou Virgnia em voz alta. A senhora foi embora... para

    sempre.

    verdade... Casei-me contra a vontade da famlia. Mas sua me insistiu que eu

    fosse ao seu casamento.

    Meu... casamento...

    E Virgnia disse em voz baixa: "O bolo... Caiu em cima de mim. Era de ouro... A

    minha cabea doa. Devia ter sido o peso... da tiara..."

    Quando voc caiu acrescentou tia Ella May sua ridcula tiara rolou pelo

    cho.

    Mame... chamava-a de coroa comentou Virgnia, e as duas mulheres riram

    muito.

    Mame! repetiu Virgnia. Deve ter se irritado muito por eu estar... doente.

    Como permitiu que viesse para c?

    Falaremos sobre o caso em outra ocasio.

    No, agora! Quero saber. Ela est zangada, no est?

    No pretendia aborrec-la, Virgnia. Mas sua me no est zangada porque...

    morreu!

    Morreu! Nunca pensei... que mame pudesse morrer. Ela era to forte, to...

    indestrutvel! Por isso estou aqui?

    , querida.

    Seguiram-se mil perguntas, mil sentenas interrompidas. As respostas suaves por

    parte da tia eram cuidadosas a fim de no chocar Virgnia, de no tirar-lhe o sono. Mas ela

    estava to curiosa que, vinte quatro horas aps ter recobrado a conscincia, descobriu

    tudo.

    Depois de seu colapso relatou a tia sua me teve uma tremenda crise de

    nervos e de frustrao. Achou que voc fingia estar doente para evitar encontrar-se com os

    convidados. Irritou-se ao ver a tiara no cho, e irritou-se mais ainda ao deparar com a

    dificuldade de erguer voc do solo.

    Continue, tia murmurou Virgnia.

    Enfim, voc foi carregada para outra sala. Sua me berrava, dizendo que as

    comemoraes tinham de prosseguir. E falou: "Virgnia se unir a ns logo que se sentir

    melhor! Mas algum precisa ficar com ela". Foi ento que eu disse: "Eu fico". Sua me

    aceitou logo a sugesto. Deixou-me na sala, saiu e fechou a porta. Mas, quando observei

    voc mais detalhadamente, vi que no se recuperaria to cedo.

    Oh, tia Ella May, que tragdia!

  • Barbara Cartland - Casamento em Nova Iorque (Coleo Barbara Cartland 259)

    13

    Os mdicos que foram v-la deram uma srie de nomes sua doena

    continuou a tia. Mas acho que posso explic-la em termos simples. Por anos voc foi

    alimentada com todo o tipo de substncias prejudiciais a seu organismo. Acar, creme de

    leite, pats, vinho etc. Os mdicos e sua me transformaram um corpo saudvel numa

    monstruosidade. No apenas seu corao no poderia aguentar tamanho peso, como as

    toxinas invadiram seu crebro. Isso, em combinao com a infelicidade suscitada por seu

    casamento, provocou em voc o que ns aqui no campo chamamos de febre-cerebral.

    Febre-cerebral? gritou Virgnia. Quer dizer que fiquei louca?

    Em estado de delrio. S falava sobre dinheiro o tempo todo.

    Achei que montanhas de ouro caam sobre mim, e faziam-me perder o equilbrio.

    Lembro-me bem disso. O bolo tombou tambm.

    O horrvel bolo branco cheio de acar! exclamou a tia com um sorriso.

    E eu no voltei sala de recepo! Mame deve ter ficado furiosa!

    To furiosa, que noite teve um derrame fatal.

    Oh, no! Pobre mame! Devo ter-lhe causado um grande desapontamento.

    Acho que sim, Virgnia.

    Mame nunca me amou. E, quando se referia a ter-me mimado, isso apenas

    significava que me enchia de presentes que em geral no me interessavam. Nunca tive

    permisso para fazer uma coisa de que gostasse. Sei que vou choc-la, tia Ella May, mas

    no posso sofrer com a morte de mame. Ela sempre me sufocou, sem me dar esperanas

    de salvao.

    No devemos falar mal dos mortos, querida. Mas concordo que mesmo a melhor

    amiga dela considerava-a uma mulher difcil. Fez de seu pai um milionrio, porm ele

    sucumbiu tenso do trabalho.

    E o que aconteceu... com o marqus?

    Foi a nica pessoa a conservar a cabea no lugar quando sua me teve o

    derrame. Voc estava doente num quarto, sua me em outro, e todo mundo dando

    palpites o mais absurdos possvel. Ningum fazia nada. Advogados e testamenteiros, um

    monte de homens apareceu como num toque de mgica para organizar tudo. Mas eu logo

    conversei com seu marido pedindo-lhe permisso para traz-la para c comigo. Disse-lhe

    quem eu era, que tinha prtica de enfermagem, e ele concordou imediatamente.

    Por isso vim sua casa. Ele ficou... zangado?

    No, zangado, no. Apenas triste... com franqueza, Virgnia, gostei muito dele.

    Eu o odeio! Ainda o odeio! Agora que mame morreu, no preciso viver mais ao

    lado dele, preciso?

    Falaremos sobre isso depois.

    No, quero falar j. Veja, tia Ella May, mame forou-me a casar com um

    desconhecido, somente por vaidade. Queria competir com a sra. Astor, e nada do que eu

    pudesse dizer alteraria sua deciso.

    Voc poderia ter recusado, no acha, Virgnia?

    Recusei e mame ameaou me enviar para a casa de tia Louise onde eu ficaria at

    os vinte e cinco anos de idade.

    Na casa da tia Louise? Isso seria cruel demais.

    Como v, no tive outra escolha continuou Virgnia. precisei obedecer. Mas

    odeio aquele homem. Nunca mais quero pr meus olhos nele.

  • Barbara Cartland - Casamento em Nova Iorque (Coleo Barbara Cartland 259)

    14

    No fale assim, Virgnia, no pense no assunto agora, h tempo para isso. Voc

    esteve doente e tem de ser cuidadosa para se recuperar. No se preocupe com coisa

    alguma. Tudo sair bem no fim, eu lhe prometo.

    Por segundos Virgnia ficou tensa, mas depois acrescentou, rindo:

    Ele tambm deve me odiar. No sabia nada sobre minha aparncia at o instante

    em que me viu no altar. Acho que lhe dei o maior choque da vida! Uma noiva gorducha

    com aquela horrvel tiara!

    Virgnia, admiro-a muito! Aprecio qualquer pessoa que consiga rir de si mesma!

    No sou to idiota a ponto de no reconhecer meus pontos fracos. Mame me fez

    tomar caf e champanhe a manh inteira, meu rosto estava quente e vermelho. Oh, tia Ella

    May, por que nasci to feia? Mame era to bonita, e papai atraente, no verdade?

    Sim, formavam um belo casal concordou a tia. Mas, estar voc preparada

    para outro choque?

    Que foi agora, tia?

    Espere um minuto. vou ajud-la a sentar-se na cama. Feche os olhos. Ao abri-los,

    ter uma surpresa, porm boa.

    Mesmo? Vai entrar algum aqui?

    Confie em mim e feche os olhos.

    Ella May foi buscar um espelho e o ps diante da sobrinha, dizendo:

    Abra os olhos agora.

    Virgnia viu-se frente a frente com uma estranha. Imaginou estar sonhando, ou...

    louca. No espelho enxergou uma imagem desconhecida: a de uma moa de sua idade, de

    olhos grandes e face oval. Os malares acentuavam-se um pouco no rosto magro. Porm,

    cabelos brancos, sem vida, caam-lhe pelas costas.

    Durante muito tempo Virgnia olhou para o espelho, e enfim perguntou:

    Sou... eu?

    voc. A tia sorriu. Seu pobre corpo permanecia escondido pela gordura

    que desfigurava o que deveria ser jovem, lindo e gracioso.

    Virgnia cobriu o rosto com as mos.

    Veja meus dedos disse ela , e meus braos. Oh, tia Ella May, jamais me

    reconheceria. Mas que houve com meus cabelos?

    A febre cerebral s vezes faz isso. Porm a cor deles voltar quando ficar mais

    forte. Como v, Virgnia, voc uma moa bonita!

    Bonita, eu! Mal posso acreditar!

    Virgnia continuava apreciando, com enorme prazer, seus olhos cinzentos com

    reflexos violeta, seus longos clios! E o rosto de um oval perfeito, o nariz pequeno, as

    sobrancelhas arqueadas, a testa, eram atributos de grande beleza, sem dvida.

    No posso acreditar! repetiu ela, e comeou a chorar. Alis, pela primeira vez

    desde que recuperou a sade.

    A tia retirou o espelho e fez Virgnia deitar-se.

    No... posso... acreditar sussurrava ela entre lgrimas.

    No posso... acreditar.

    Mas verdade. Agora, querida, durma. Se ficar nervosa, vou me arrepender de

    ter mostrado sua imagem no espelho.

    Considero dormir perda de tempo queixou-se ela. Tenho tanto a planejar.

  • Barbara Cartland - Casamento em Nova Iorque (Coleo Barbara Cartland 259)

    15

    Mas adormeceu enfim.

    Duas semanas mais tarde Virgnia passeou no jardim e sentou-se no terrao,

    enquanto a tia debulhava ervilhas para o almoo.

    Fui at o parque e no estou nada cansada declarou Virgnia com prazer.

    Mas no exagere, querida...

    Sinto-me to leve que tenho a sensao de que o vento vai me levar para o topo

    das rvores.

    Est leve, talvez magra demais. Temos frango no almoo. Se no comer bastante

    a mandarei de volta para a cama.

    A senhora no seria to cruel! Tenho muito a conversar sobre meu futuro, sobre

    meu casamento.

    Ia entrar nesse assunto hoje mesmo observou a tia. Recebi uma carta de seu

    marido esta manh.

    Uma carta do marqus?

    Sim. Agora ele duque, e voc uma duquesa!

    a ltima coisa que desejo ser na vida. No quero voltar para ele.

    Seu marido tem sido muito atencioso. Escreve todos os meses para saber de voc.

    Por que se preocupa? J tem o dinheiro que mame lhe deu para casar-se

    comigo; e minha fortuna tambm, se quiser. No estou interessada em coisa alguma, ele

    pode ficar com tudo!

    Esse outro assunto que pretendo abordar com voc. Com a morte de sua me,

    tornou-se uma das mulheres mais ricas dos Estados Unidos, Virgnia.

    No me interessa. No quero nada mais do que tenho aqui. A tia riu muito.

    Voc no se sentiria feliz por muito tempo neste lugar ermo.

    Acha?

    Acho. Eu gosto daqui porque foi meu ninho de amor. Quando me casei, seu pai

    expulsou-me da famlia. Meu marido e eu ramos muito pobres, mas felizes.

    Oh, tia Ella May! Ele ainda vive?

    No. Morreu h dois anos. uma das razes pela qual fiquei contente em poder

    cuidar de voc. Sofria muita solido. No tivemos filhos, e voc foi como uma filha para

    mim, todos esses meses que morou aqui, dependendo exclusivamente de mim.

    Todos esse meses! Quantos meses?

    Um ano e dois meses replicou a tia.

    Um ano e dois meses?! No imaginava que fosse tanto tempo!

    Claro, voc esteve inconsciente. E uma das maiores satisfaes de minha vida

    ver voc como est hoje.

    Virgnia olhou para o vestido de algodo que usava, da tia, desbotado e um tanto

    grande para ela.

    bom que tenha uma roupa para me emprestar. Mas, uma condio vou tornar

    bem clara, tia Ella May. Quero ficar aqui, se a senhora permitir, porm pagarei minha

    estada. a nica coisa para que meu dinheiro til.

    No aceito seu dinheiro replicou a tia prontamente. De forma alguma.

    Disse a seu pai, quando ele me baniu da famlia, que eu me defenderia sozinha e nunca lhe

    pediria um centavo sequer. Cumpri minha promessa, e no vou quebr-la agora, nem por

    voc.

  • Barbara Cartland - Casamento em Nova Iorque (Coleo Barbara Cartland 259)

    16

    Quer dizer que pagou minhas despesas todas nestes meses?

    Voc no foi dispendiosa, Virgnia. E, se no teve o conforto de uma casa de

    sade cara, ao menos eu a trouxe de volta vida, do meu jeito.

    O melhor jeito do mundo. E no se preocupe, tia Ella May. Se um dia eu sair

    daqui, continuarei com os bons hbitos alimentares que a senhora incutiu em mim. O

    nico acar que consumirei ser o mel produzido pelas abelhas.

    Voc a melhor propaganda de meus mtodos. Agora est bonita e forte. O

    mundo l fora a espera, e quando se sentir com mais coragem, ter de enfrent-lo.

    Por que razo?

    A primeira seu marido.

    No quero v-lo! Nunca mais quero v-lo!

    Tem medo dele, Virgnia?

    No, medo no, mas desprezo-o. um caa-dotes, um homem que aceita

    dinheiro para se casar com uma mulher que nem conhece.

    Isso soa mal, concordo. Mas tenho de ser honesta, Virgnia, e confessar que

    gostei dele. Conservou-se calmo e srio quando todos gritavam. Na hora que sua me

    caiu, levou-a para cama, chamou um mdico, deu ordens aos empregados, e ningum

    ousou desobedec-lo. Admiro um homem assim. Ele me fez lembrar de Clement, meu

    marido.

    No me interessa quem ele a fez lembrar. Preciso livrar-me do marqus... quer

    dizer, do duque.

    Um divrcio no coisa fcil aqui nos Estados Unidos, e muito menos na

    Inglaterra.

    Mas ele tambm pode no me querer mais! exclamou; Virgnia.

    Isso cabe a seu marido decidir. As cartas que escreve so amveis. Pergunta

    sempre se h algo que possa fazer. Suponho, Virgnia, que devo comunicar-lhe que voc

    est boa.

    No! No! No faa isso! Entendeu, tia Ella May? No faa isso. Ele pode vir me

    visitar e eu no aguentaria v-lo.

    No h pressa, mas ele ter de saber tudo, mais cedo ou mais tarde. Por que ele

    ter de saber?

    Porque, a menos que voc se esconda aqui pelo resto da vida, muitas pessoas

    tomaro conhecimento de seu estado atual.

    Que pessoas? No tenho amigos!

    E a imprensa? Quando voc se sentir melhor, lhe mostrarei uma infinidade de

    jornais que guardei, com fotografias de seu casamento, com notcias sobre sua doena. A

    noiva de um marqus no podia deixar de ocupar as manchetes dos peridicos, por

    semanas. A morte de sua me acrescentou sensacionalismo ao drama.

    Oh, tia Ella May. Que posso fazer ento?

    Precisa vencer essa barreira. Veja, Virgnia, voc nunca resolveu nada por si

    mesma. Sua me jamais o permitiu e, embora ela fosse uma mulher prepotente, acho que

    voc submeteu-se demais. bem estranha tal atitude numa moa americana. Tem de

    encetar essa batalha, e vencer esse bicho-papo criado por voc: o medo das pessoas.

    Afinal, so todas iguais a voc, seus coraes batem no peito tambm, sangram quando se

    ferem, e sofrem apreenses, medos, preocupaes, tristezas.

  • Barbara Cartland - Casamento em Nova Iorque (Coleo Barbara Cartland 259)

    17

    Que quer que eu faa, tia?

    Isso voc quem vai resolver.

    Acha que eu devo pedir a meu marido que venha me ver?

    Penso que muito breve teremos de lhe dizer que voc sarou. Vai ser divertido

    observar a cara dele quando a vir, uma mulher bem diferente daquela com quem se casou.

    Eu o odeio e desprezo. Desmaiei, tia, porque durante trs semanas no consegui

    dormir. At fiz uma pequena imagem de um homem, com cera, e espetei alfinetes nela,

    dizendo: "Morra! Morra!" Minha governanta contou-me que os ndios faziam isso para

    quem odiavam. Mas ele no morreu... casou-se comigo.

    Virgnia deu um soluo e continuou:

    A senhora pode ter vontade de rir, sabendo como eu era feia. Mas costumava

    sonhar que um dia me apaixonaria por algum. Esperava encontrar um homem que me

    amasse apesar de meu aspecto, e no quisesse apenas meu dinheiro.

    Oh, pobre menina! sussurou a tia.

    Eu ia ficando cada vez mais feia, mas no parava de sonhar. Quando me deitava

    noite, imaginava uma histria na qual eu era sempre a herona, e o heri se apaixonaria

    por mim sem saber quem eu era. s vezes encontrava-me com ele por acaso num parque,

    outras vezes numa loja. Depois, quando caa em mim e lembrava de minha feira, fingia

    que meu heri era cego. Lia para ele por piedade, e ele apaixonava-se por minha voz.

    Enfim, casvamos e vivamos felizes porque nos amvamos.

    Oh, Virgnia! Se ao menos eu tivesse sabido disso! Depois de uma pausa, a tia

    acrescentou: No teria adiantado nada, pois sua me no permitiria que eu me

    aproximasse de voc.

    Pensando bem agora, acho que vivi mais de sonhos que de realidade. Contudo,

    tia Ella May, eu procurava melhorar intelectualmente. Estudava muito quando no sofria

    minhas horrveis enxaquecas. Lia bastante, pois queria ao menos merecer um homem pela

    minha cultura.

    E conseguiu muito nesse terreno, Virgnia. Voc uma moa inteligente.

    Espero que sim. Pode rir, mas sei toda a histria dos Estados Unidos e da Gr-

    Bretanha; e muito sobre a Frana.

    A cultura nunca perdida, Virgnia.

    Agora pode compreender, tia, que a ideia de casar-me com um homem que me

    queria s por dinheiro foi como viver num inferno. Isso traa tudo aquilo em que

    acreditava, meus sonhos, minhas ambies, coisas que fizeram parte de minha vida nos

    ltimos cinco anos.

    Virgnia ajoelhou-se diante da tia e suplicou:

    Ajude-me, tia Ella May! Ajude-me a me livrar dele! Agora talvez eu possa

    encontrar o homem de meus sonhos. Mas antes preciso me livrar desse caa-dotes. Por

    favor, ajude-me!

    Ella May olhou para aquele rosto ansioso, voltado para ela. "Virgnia linda!",

    pensou. "No lhe vai ser difcil achar um homem; dzias se apaixonaro por ela. Mas

    sempre ter dvidas se a sua pessoa ou o dinheiro que amam."

    Ajude-me suplicava Virgnia, seus olhos cor de violeta num apelo

    desesperador.

    Vou ajudar voc, Virgnia, mas agora deixe-me cuidar do almoo. Precisamos

  • Barbara Cartland - Casamento em Nova Iorque (Coleo Barbara Cartland 259)

    18

    estar bem alimentadas para atacar um problema dessa envergadura.

    Oh, tia Ella May, tinha certeza de que a senhora no me abandonaria.

    Tudo bem, Virgnia, mas no vai ser tarefa fcil.

    Escreva para o duque, tia. Diga-lhe que quero um divrcio e que ele pode ficar

    com o dinheiro que quiser, contanto que me d liberdade.

    No tinha planejado escrever-lhe para falar isso disse a tia indo para a

    cozinha.

    No tinha?

    Para comeo de conversa, um homem colocado diante desse dilema vir aqui

    assim que receber minha carta. o que deseja?

    Claro que no! No, no, tia Ella May! Diga-lhe que se ele vier aos Estados

    Unidos no lhe darei nem um centavo.

    Isso no vai funcionar.

    Ento, que podemos fazer?

    Tive uma ideia, Virgnia. Pensei nisso uma noite destas, mas depois disse a mim

    mesma: "No, Virgnia no vai aceitar. Ela no tem suficiente fibra, nem determinao".

    Claro que tenho insistiu Virgnia. Do que se trata?

    Decidi no tocar no assunto to j. Mas, vamos a ele. Minha ideia implica em

    algum com bastante determinao e ousadia. Honestamente, Virgnia, mesmo gostando

    de voc como gosto, no a considero qualificada para meu plano.

    Tia Ella May, a senhora me ofende! Tenho todas essas qualidades; que nunca

    me deram chance de us-las. D-me uma oportunidade e garanto que no falharei.

    Prometo!

    Muito bem, Virgnia. vou lhe relatar meu plano. Mas, calma! Sei que no gostar

    dele. Voc deve ir imediatamente para a Inglaterra...

    CAPTULO III

    Virgnia atravessou o convs, e foi ficar na popa do navio, apreciando o suave mar

    azul, agitado apenas pelo rastro deixado pelo barco, e pelas gaivotas com seus pios

    plangentes. Muitas pessoas observavam a moa elegante, bonita, de linda cabeleira

    prateada com reflexos de ouro.

    Homens a admiravam, porm Virgnia no lhes dava ateno. Permanecia imersa

    em seus pensamentos, perdida num mundo irreal.

    Fora difcil a tia Ella May convenc-la a ir Inglaterra.

    Que outra opo voc tem? a tia lhe perguntara. Quer que eu escreva ao

    duque? Prefere que ele venha aqui?

    No! No pode lhe escrever pedindo que ele me conceda o divrcio, sem vir

    aqui?

    Ele nunca aceitar um divrcio. Conheo os aristocratas britnicos, so muito

  • Barbara Cartland - Casamento em Nova Iorque (Coleo Barbara Cartland 259)

    19

    orgulhosos e detestam escndalos. H muitas coisas que ns, americanos, chamamos de

    imoral no comportamento deles. Mas na Inglaterra maridos no abandonam esposas, e

    vice-versa, embora comportem-se de maneira repreensvel na vida privada. Em

    pblico, mantm a dignidade.

    Hipcritas! falou Virgnia, indignada.

    De certo modo, verdade.

    Mas, tia Ella May, como a senhora sabe disso? Morou l?

    Quando me tornei enfermeira, nossa famlia era muito pobre. Consegui um

    emprego para cuidar do sr. Vanderbilt. Ele viajava frequentemente, e eu junto. Fomos

    Inglaterra e nos hospedamos em manses de vrios nobres, incluindo a sua.

    A minha?

    Sim. Ficamos no castelo Ryll. Claro que seu marido, o duque atual, no passava

    de um meninozinho. Mas os pais dele viviam como verdadeiros aristocratas. Eu no

    gostava da duquesa.

    A senhora conversava com eles?

    No! Via-os a distncia e ouvia comentrios acerca dos dois. As vezes estava

    presente quando falavam com o sr. Vanderbilt. Gostaria que voc, Virgnia, testemunhasse

    o tipo de vida que est recusando usufruir.

    A senhora pode me enxergar nessa espcie de sociedade? indagou Virgnia rindo

    muito.

    Francamente, posso. Voc linda, educada e os ingleses apreciam beleza e

    educao numa mulher.

    Aps refletir alguns minutos, Virgnia concordou em ir Inglaterra.

    Aceito sua ideia, tia Ella May, mas com uma condio. Irei sob nome falso, e

    ningum saber quem sou eu.

    Li muitos romances, Virgnia, mas sua proposta me parece uma aventura ainda

    mais interessante que qualquer livro que li. Pessoa alguma reconhecer voc. O duque viu

    somente uma moa gorda, disforme, e jamais a associar mulher bonita que visita o

    castelo Ryll por motivos outros que no o de esposa dele.

    Que sugere que eu deva ser?

    Voc me disse que se interessava por histria. Que tal se eu pedir a ele o grande

    favor de hospedar uma amiga minha, uma jovem que quer estudar a histria da Inglaterra,

    e por isso fazer pesquisas na magnfica biblioteca do castelo Ryll?

    Que ideia sensacional, tia!

    Vi essa biblioteca s uma vez, quando o sr. Vanderbilt me pediu para apanhar

    um livro para ele. Fiquei deslumbrada. a biblioteca mais completa que conheo.

    Acha que o duque vai concordar em ter uma pessoa a mais no castelo?

    Querida, no far nenhuma diferena se mandarmos um exrcito para l. O

    castelo Ryll enorme. H centenas, milhares de empregados trabalhando na casa, nas

    estrebarias, nas fazendas, nas florestas. Eles tm sua prpria cervejaria e carpintaria.

    Lembro-me de ter levado o sr. Vanderbilt para visit-las, em sua cadeira de rodas, porque

    ele se interessava muito por tudo.

    O sr. Vanderbilt no podia andar?

    Oh, no! Era muito velho e doente. Contratou-me por que eu era forte e jovem.

    "Gosto de gente moa a meu redor", ele costumava dizer. "Me do um pouco de sua

  • Barbara Cartland - Casamento em Nova Iorque (Coleo Barbara Cartland 259)

    20

    juventude." Ella May fez uma pausa, talvez pensando em seus verdes anos, e

    continuou:

    Nada do que existe nos Estados Unidos se assemelha Inglaterra. Mas no

    critique os ingleses, eles tm suas qualidades e defeitos, e h l uma vida social de

    ostentao que, embora artificial, fascinante!

    Fale-me mais sobre a Inglaterra, tia Ella May. Foi a muitas festas?

    No, claro que no. Eu era apenas uma enfermeira. Mas gostava de espiar as

    recepes quando o prncipe e a princesa de Gales compareciam aos jantares. As senhoras

    de vestidos decotados e cheias de jias assemelhavam-se a lindos cisnes exibindo-se pelo

    recinto. Os homens usavam mil condecoraes. Eu tinha vontade de entrar no salo,

    danar as valsas vienenses e flertar com os rapazes.

    Tia Ella May, a senhora me surpreende!

    Minha querida, fui muito romntica, do contrrio no teria me casado com seu

    tio. Necessitei de muita coragem para enfrentar a famlia a rejeitar os atrativos que seu pai

    me ofereceu para eu desistir do casamento.

    A senhora teve mais coragem do que eu!

    No se culpe. Voc estava doente, muito doente.

    O dr. Fraser disse que a senhora salvou-me a vida observou Virgnia.

    Acho que se os doutores de Nova York a tivessem tratado daquela maneira louca

    deles, voc teria morrido. Eu os culpo por sua doena em grande parte, e o resto foi falha

    de sua me.

    Mame fez o melhor que pde, do ponto de vista dela, penso.

    Desculpe, Virgnia, mas temos falado sempre com franqueza uma com a outra, e

    jamais menti para voc. Sua me era uma mulher egosta, forou-a a cometer o maior erro

    que uma moa poderia fazer: casar-se sem amor. No quero que caia em outro erro agora.

    Considera um erro separar-me do duque?

    Acho que deve fazer o que lhe parecer melhor.

    Naturalmente quero me divorciar. Espera que eu permanea casada com um

    caador de dotes? Um homem que me comprou como se eu estivesse no mercado? Ele

    vendeu seu ttulo e mame no levou em considerao meus sentimentos.

    Acha que ela contou ao marqus que voc no concordava com o casamento?

    perguntou a tia.

    Virgnia hesitou antes de responder:

    Penso... que no.

    Nesse caso, como sabe que ele no se casou acreditando, com toda a sinceridade,

    que voc queria um ttulo tanto quanto ele queria o dinheiro? Talvez isso seja errado, seja

    contra o que ns consideramos um comportamento decente; mas como negcio, no

    houve nada de errado da parte dele.

    No havia pensado nas coisas sob esse aspecto admitiu Virgnia.

    Por essa razo, voc deve ir Inglaterra e ver tudo com seus prprios olhos. A

    duquesa conseguiu centenas de dlares para obras de caridade. Por falar nisso, os

    advogados mandaram para c a correspondncia de sua me, para que eu mostrasse tudo

    a voc quando melhorasse. Foi fornecido duquesa dinheiro para crianas doentes;

    animais abandonados; habitantes de favelas; reformas de igrejas; e at para auxlio aos

    pescadores. Surpreende-me ver uma pessoa pedindo ajuda em outro pas para caridades

  • Barbara Cartland - Casamento em Nova Iorque (Coleo Barbara Cartland 259)

    21

    nacionais. Mas sua me nunca disse "no" aos pedidos da duquesa.

    Mame jamais recusaria o que quer que fosse a uma duquesa Virgnia riu.

    evidente. E imagino que seu dinheiro continue sendo usado para as mesmas

    causas.

    O qu?

    O duque pode dispor de sua fortuna como bem entender.

    Assim sendo observou Virgnia, preciso ver como meu dinheiro est sendo

    gasto.

    exatamente o que quero que voc faa concordou a tia.

    E as duas mulheres comearam a providenciar o necessrio para a viagem. Foram a

    Nova York a fim de comprar roupas para Virgnia, que se deliciou em poder escolher tudo

    que gostava.

    Magra agora, qualquer vestido lhe ficava bem. Ela comprou vrios de chifon, com

    corpete justo, bolero elegante, saia rodada e angua de seda. Cuidou, no obstante, de no

    exagerar.

    Como estudante, no posso apresentar-me sofisticada demais comentou ela.

    Tia Ella May no respondeu, mas concluiu que qualquer roupa que Virgnia usasse

    a enfeitaria.

    Penso que cresci um pouco observou Virgnia diante do espelho de uma loja.

    Precisamente seis centmetros. comum acontecer isso quando se fica de cama

    por muito tempo.

    Virgnia no podia ainda crer que mudara tanto. Seus cabelos, devido ao contato

    com o sol, perderam aquele aspecto opaco. Tinham um toque dourado, como o sol ao

    amanhecer.

    Cada dia tia Ella May a instrua sobre a etiqueta da Inglaterra

    Por exemplo, a senhora mais importante presente ao jantar sempre a primeira a

    se retirar da sala, e as outras a seguem por ordem do status que possuem.

    E supondo que a pessoa no saiba de seu status?

    Ento, fica em ltimo lugar replicou a tia rindo. melhor ser humilde que

    pretensiosa.

    Havia tanto a aprender que Virgnia resolveu ser ela mesma.

    Todos sabem que sou americana disse. Alm do mais, em minha posio

    de estudante de histria, no tomarei parte nas grandes recepes.

    Contudo, no instante de partir, Virgnia estava amedrontada.

    No quero ir, tia. Mudei de ideia. Deixe-me ficar com a senhora.

    Covarde! caoou a tia. Voc nem parece americana.

    Por que devo ir Inglaterra, e ser dependente de pessoas que odeio e desprezo?

    No seja dependente delas. Levante a cabea sempre, menina. Lembro-me de

    quando voc caiu do pnei aos oito anos de idade. Seu pai tentou consol-la, e voc

    insistiu:

    "Quero montar de novo. Esse animal no vai me vencer, nem mesmo que me d

    uma dzia de coices".

    Falei mesmo isso, tia?

    Falou. Fiquei to impressionada que disse a mim mesma: "Ningum jamais

    subjugar essa menina".

  • Barbara Cartland - Casamento em Nova Iorque (Coleo Barbara Cartland 259)

    22

    E a senhora acha que vou vencer agora? Bem, no tenho vergonha de lhe dizer

    que estou com medo.

    Vai perder o medo ao chegar l consolou-a a tia. Lembre-se de que ser

    uma pessoa pouco importante, no vai ser notada. Os ingleses em geral pensam que nos

    Estados Unidos s h ndios e milionrios. Eles ignoram a existncia de gente normal,

    comum, entre essas duas categorias.

    E eu perteno a esse grupo.

    Mas no perca nada aconselhou-a a tia. Quero, na sua volta, saber de tudo,

    detalhe por detalhe. Oh, Virgnia, se eu fosse mais jovem iria com voc.

    Por que no vai, jovem ou no?

    E quem cuida de meus animais? De minhas galinhas, vacas, de meu jardim?

    No, tenho trabalho demais para vagabundear! Ficarei muito contente aqui, esperando por

    voc.

    E eu ficarei muito contente ao voltar.

    Ella May acompanhou a sobrinha a bordo, e despediu-se dizendo:

    Cuide-se, minha querida. Peo a Deus que eu tenha acertado em envi-la para

    essa aventura.

    Ainda estou em tempo de desistir.

    E que vamos fazer com os vestidos lindos que comprou? protestou a tia rindo.

    Foram adquiridos com uma finalidade especial, e seria uma pena no us-los.

    Que desculpa absurda, tia Ella May! E, muito obrigada pelas flores.

    Mandei algumas para a sra. Winchester, em seu nome, Virgnia. Portanto, no se

    espante quando ela agradecer.

    A sra. Winchester viaja na cabine ao lado da minha?

    No. Est na outra extremidade do corredor. No se esquea, Virgnia, de pagar

    as contas dela, sendo possvel. A sra. Winchester no est em boas condies financeiras.

    Porm, se vai me servir de dama de companhia, no seria justo que fosse paga

    pelo servio?

    No acha estranho uma simples estudante ter dinheiro para pagar, alm de sua

    passagem, as despesas de uma dama de companhia?

    Sempre esqueo do papel que represento.

    Procure lembrar-se, Virgnia, para no estragar tudo.

    Sou Virgnia Langholme, estudante de histria, a caminho da Inglaterra! Um dia

    vou escrever um livro sobre minha aventura.

    Voc a estudante de histria mais bonita que j existiu nos Estados Unidos.

    Ainda acho errado conservar meu nome.

    Oh, j falamos sobre isso antes. Como possvel que o duque ligue o nome

    Virgnia Langholme ao da esposa, que ele acredita estar em coma? H milhares de

    Virgnias nos Estados Unidos. E, no se esquea de que a imagem que o duque tem de

    voc das fotografias dos jornais.

    Detesto pensar nisso, tia. Aquela montanha de carne jogada no cho!

    Bem, no se agite. Seu marido no a reconhecer em milhes de anos. Seria

    interessante, todavia, contar ao duque, antes de voc voltar para casa, quem realmente ,

    s para ver a cara dele.

    Jamais farei isso! gritou Virgnia. Oua, tia Ella May, ser uma viagem

  • Barbara Cartland - Casamento em Nova Iorque (Coleo Barbara Cartland 259)

    23

    exploratria. Nada de dramaticidade, e no espere pelo final feliz.

    No? replicou a tia num tom enigmtico. Ingleses, em geral, so muito

    atraentes.

    Quando ficar livre, vou eu mesma procurar um americano simptico, como tio

    Clement, para me casar. Quero morar numa pequena fazenda e esquecer que sou rica.

    Neste navio, pelo que posso ver dentre os passageiros, no encontrar esse tal

    homem.

    Acho que no concordou Virgnia.

    De fato, os viajantes eram todos homens de negcios, pouco interessantes, que

    passavam o tempo no bar contando piadas.

    A sra. Winchester, que seria a companheira de viagem de Virgnia, falava demais e

    gostava de ouvir o som da prpria voz. Mas, para alvio de Virgnia, ela sentiu-se mal

    assim que o navio zarpou, e recolheu-se cabine. O mar esteve agitado nos dois primeiros

    dias, mas melhorou logo aps. O assunto da conversa de todos a bordo consistia num s: o

    tempo.

    Sempre achei que agosto o melhor ms para se viajar os passageiros no

    paravam de dizer.

    Ao se cumprimentarem, trocavam invariavelmente palavras como:

    Que lindo dia!

    No mesmo? Que sol radioso!

    Duas ou trs pessoas tentaram aproximar-se de Virgnia, perguntando sobre o

    tempo. Mas ela mais que depressa dava mostras de querer ficar sozinha. Havia tanta coisa

    em que desejava pensar...

    Sarar de sua prolongada doena fora o mesmo que renascer. Era como se, durante

    os longos meses em que permanecera inconsciente, tivesse voltado ao ventre materno e

    nascido outra vez, num mundo inteiramente novo, num mundo que no possua nada em

    comum com o que conhecera antes.

    No seu ntimo, sentia um certo alvio por se ver livre. "Estou livre! Estou livre!" no

    cessava de repetir a si mesma; livre do jugo da me; livre, no momento, das

    responsabilidades e preocupaes que sua fortuna lhe causavam; livre da ansiedade acerca

    do futuro. O navio era um veculo que a transportava do "ontem" para o "amanh"; e ela

    deixava para trs os dias tristes do passado.

    Quando a costa da Inglaterra apareceu vista, Virgnia sentiu-se como uma

    conquistadora, e no teve mais medo. Estava sozinha, mas no solitria. Pela primeira vez

    em sua vida ningum lhe dava ordens.

    Ao pisar em solo europeu, achou at que poderia sumir sem que pessoa alguma

    soubesse de seu paradeiro. Poderia ir da Inglaterra Frana, ou, se quisesse, voltar aos

    Estados Unidos!

    Correu para sua cabine e fez as malas. Encontrou-se com a sra. Winchester, ainda

    plida e com ar doentio.

    Oh, miss Langholme disse ela, procurava pela senhorita a fim de me

    desculpar. Senti-me to mal o tempo todo que no pude fazer-lhe companhia. O mdico

    de bordo disse nunca ter visto um paciente sofrer tanto! Detesto viagens por mar, miss

    Langholme, e prefiro nadar de volta aos Estados Unidos.

    Por favor, sra. Winchester, no se preocupe. Fui bastante capaz de cuidar de mim

  • Barbara Cartland - Casamento em Nova Iorque (Coleo Barbara Cartland 259)

    24

    mesma.

    E agora, na Inglaterra, vai estar bem, no mesmo? H algum esperando-a no

    porto?

    Sim, sim. No se preocupe repetiu Virgnia. E no precisa comentar com tia

    Ella May sobre seu sofrimento a bordo.

    Ento, vamos guardar segredo entre ns duas. Porm, em Londres, v visitar-

    me. Aqui est meu endereo acrescentou ela dando a Virgnia um pedao de papel.

    Meu marido e eu teremos prazer em receb-la. Nossa casa pequena, mas h um quarto

    de hspedes no sto. Espero que no se importe de dormir l.

    Claro que no. muito amvel, sra. Winchester. E muito obrigada por tudo.

    Falhei lamentavelmente em minha inteno de lhe servir de companhia.

    Desculpe.

    A sra. Winchester comeava mais uma vez com a mesma cantilena, e Virgnia no

    via a hora de se ver livre dela. Chamou o comissrio de bordo para carregar sua bagagem,

    j com as etiquetas: "Miss Virgnia Langholme. Destino: Castelo Ryll, Kent."

    Virgnia, na verdade, no contava com algum esperando-a. Mas, no cais, um

    senhor idoso, de chapu-coco, foi ao seu encontro e perguntou:

    Miss Virgnia Langholme?

    Sim, sou eu.

    Sua Graa, o duque de Merrill, pediu-me para escolt-la at o trem. A carruagem

    nos aguarda, e os carregadores j transportaram sua bagagem.

    Virgnia foi conduzida a uma luxuosa carruagem que a levou estao ferroviria.

    Espero que faa boa viagem disse o homem, acomodando-a num vago de

    primeira classe, dirigindo-se em seguida para o de segunda classe.

    Obrigada agradeceu Virgnia.

    A seus ps estava uma cesta de piquenique com pat, pedaos de codorna e uma

    asa de frango. Para sobremesa havia profiteroles recheadas de creme, trs tipos de queijo,

    biscoitos, e uma profuso de frutas: enormes pssegos, uva moscatel, pras descascadas;

    para beber, gua fresca e uma garrafa de caf enrolada em flanela.

    "Acho que uma amostra do que vou ter no castelo", pensou Virgnia. "Ficarei

    logo gorda como h um ano."

    Ela serviu-se da asa do frango e de algumas frutas. Tomou apenas gua, deixando o

    caf intato.

    "Estou muito nervosa para comer", disse a si mesma, e comeou a contar as horas

    at a chegada a Ryll.

    Chegaram numa pequena plataforma onde estava escrito: "Para o Castelo Ryll,

    somente".

    Carregadores levaram sua bagagem a uma luxuosa carruagem. Os arreios de prata

    dos cavalos brilhavam ao sol da tarde, e na boleia havia o cocheiro e um cavalario.

    O mesmo homem de chapu-coco que a esperara no cais estendeu-lhe a mo,

    despedindo-se.

    No vai comigo? perguntou-lhe Virgnia.

    Oh, no, miss. J cumpri minha tarefa.

    Ento, at logo. E muito obrigada.

    Foi um prazer servi-la, miss.

  • Barbara Cartland - Casamento em Nova Iorque (Coleo Barbara Cartland 259)

    25

    "Bem", pensou Virgnia acomodando-se no assento estofado. "Se Sua Graa trata

    assim uma simples estudante, como trataria uma duquesa?"

    Ela sorriu. Havia algo de fascinante em penetrar incgnita no que ela chamava de "a

    toca do leo".

    Em poucos minutos chegaram no castelo Ryll. Havia enormes carvalhos ladeando o

    porto. As torres eram to grandes que no pareciam pertencer a uma residncia

    particular. Pombas sobrevoavam os telhados. Jardins e matas circundavam o majestoso

    edifcio.

    No lago nadavam cisnes brancos e pretos, e grande nmero de patos.

    Que lindo! sussurrou Virgnia. Estou encantada! Desceu da carruagem cuja

    porta foi aberta por um criado de libr.

    Quando comeou a subir as escadas do castelo, saam pela porta da frente,

    escorraados por algum, dois homens. Atrs deles vinha um cavalheiro alto, moreno,

    gritando furiosamente:

    Saiam daqui! Se os encontrar de novo nesta casa, toro-lhes o pescoo. Ouviram

    bem?

    Mas... a duquesa... nos pediu um dos homens gaguejava, o rosto plido de

    medo.

    O que a duquesa pediu ou no pediu no me interessa. Obedeam minhas

    ordens. Saiam e nunca mais voltem! Se no fizerem o que estou mandando, pior para

    vocs. Agora, vo!

    Havia tanta fria naquele tom de voz que os dois homens correram; um deles quase

    caiu ao descer os degraus para o ptio.

    Virgnia ficou paralisada, imvel, no sabendo o que fazer. O homem furioso

    desapareceu logo, e um mordomo, de cabelos grisalhos, surgiu porta.

    Miss Virgnia Langholme, creio? Venha por aqui, senhorita, por favor.

    Que... houve com aqueles homens? ela perguntou ao mordomo.

    Este apenas explicou:

    Sua Graa est furioso hoje.

    Furioso?! repetiu Virgnia. No cabia a ela criticar o anfitrio.

    Embora ele fosse seu marido...

    CAPTULO IV

    Um lacaio, de mais de um metro e oitenta de altura, majestoso em sua libr verde e

    prateada, acompanhou Virgnia ao segundo andar.

    Veio dos Estados Unidos, miss? indagou ele, gentilmente.

    Vim. Aportei em Southampton esta manh.

    Tenho muita curiosidade acerca dos Estados Unidos. Nunca pensei que

    houvesse gente como a senhorita por l. Achei que o pas todo era habitado por ndios e

  • Barbara Cartland - Casamento em Nova Iorque (Coleo Barbara Cartland 259)

    26

    milionrios.

    Ele riu da prpria piada e Virgnia concluiu que, por ser ela uma estudante

    americana, podia ser tratada com informalidade, No se aborrecia por isso, apenas

    divertia-se. E, quando uma criada foi ajud-la a desfazer as malas, conversou com a

    mesma despreocupao.

    Espero que goste daqui, miss. diferente dos Estados Unidos, isso eu garanto.

    Por que tem tanta certeza?

    Oh, bem, porque os americanos no so como ns. E desconfio que suas casas

    no sejam como este castelo, nem mesmo a dos milionrios.

    verdade. Temos casas grandes, mas so exatamente assim. Virgnia

    impressionou-se com a beleza do interior do castelo. A enorme escadaria em curva, de

    carvalho, possua entalhes magnficos. Os quadros das paredes eram todos de artistas

    famosos, no apenas da escola inglesa, como do renascimento italiano e do holands.

    Ficou encantada ao reconhecer um famoso Van Dyck que vira num livro de arte.

    Seu quarto era confortvel e atraente, embora pequeno. O banheiro ficava no fim de

    um longo corredor. Virgnia ficou por muito tempo olhando pela janela para o lago abaixo,

    e para as enormes e centenrias rvores do parque.

    No centro do lago uma pequena ilha onde fora construdo um templo grego. Ela

    queria explorar tudo: os canteiros de rosas, as matas a distncia, e os estbulos que se

    localizavam na ala oeste do castelo.

    Tudo era to fascinante que Virgnia, por instantes, esqueceu-se da razo de sua

    visita Inglaterra. Ansiava por penetrar num mundo do qual conhecia muito pouco, e que

    se apresentava cheio de surpresas.

    Trocou de roupa. Ps um vestido de musseline florida, simples porm elegante,

    comprado numa loja da Quinta Avenida.

    A musseline branca, com pequenas flores estampadas, fazia-a muito jovem e ao

    mesmo tempo atraente. Seus cabelos prateados, presos na nuca, eram to cheios de vida

    que lhe emolduravam a face como uma aurola de elegncia clssica.

    Algum bateu porta.

    Entre! falou Virgnia.

    Uma senhora de meia-idade, usando pincen e um costume de sarja branca,

    apresentou-se:

    Sou Marjorie Marshbanks, secretria de Sua Graa a duqueza. Precisa de alguma

    coisa?

    De nada, muito obrigada. Meu nome Virgnia Langholme, e tenho sido bem

    tratada desde que desembarquei.

    Fazemos o possvel para pr nossos hspedes vontade. Acho que a senhorita

    adoraria tomar uma xcara de ch agora. Quer descer comigo? Vou lhe mostrar onde fica a

    saleta, e depois a levarei para se encontrar com sua Graa a duquesa.

    Virgnia pegou a bolsa, pesada e um tanto grande para ser carregada pela casa; mas

    no queria deix-la no quarto antes de encontrar um lugar seguro, pois tinha considervel

    quantia de dinheiro.

    claro tia Ella May dissera antes da viagem que voc pode enviar seu

    dinheiro por intermdio do banco, mas isso foraria explicaes. Acho que o melhor

    levar uma boa quantia com voc. Se precisar de mais, escreva-me que eu providenciarei a

  • Barbara Cartland - Casamento em Nova Iorque (Coleo Barbara Cartland 259)

    27

    remessa atravs de seus advogados.

    No quero que eles saibam onde estou.

    Tomarei cuidado para que isso no acontea. Mesmo agora, tirei o dinheiro de

    que voc vai precisar de minha conta, e no da sua.

    No far falta para a senhora, tia?

    Claro que no. Se eu necessitar de alguma coisa, direi que para voc. Mas,

    nesse meio tempo, terei a satisfao de financi-la, querida. Uma pobre viva de um

    fazendeiro sem sucesso na vida, emprestando dinheiro sobrinha milionria... Imagine!

    Quando eu voltar, comprarei para a senhora a fazenda mais linda dos Estados

    Unidos.

    No quero nada disso. No me mudaria daqui nem que fosse para o palcio do

    x da Prsia. E o mais estranho que tenho tudo que desejo, ainda que ningum acredite.

    No h nada mais que voc me possa dar, Virgnia, alm de seu amor.

    Isso a senhora j tem. Virgnia beijou a face da tia. toda famlia agora, sabe

    disso, pai, me, irmos, primos e tios. Se existir outro parente meu, no quero v-lo. A

    senhora tudo que desejo ter.

    Fico com vontade de chorar quando voc fala dessa maneira replicou a tia Ella

    May, com lgrimas nos olhos.

    Virgnia, ao pegar a bolsa para descer com a secretria, decidiu tomar mais cuidado

    com o dinheiro da tia do que queria com seu prprio.

    "Espero que haja em meu quarto uma gaveta com chave", pensou. "Porei tudo em

    vrios envelopes a fim de no despertar suspeitas."

    Marjorie Marshbanks tagarelava alegremente.

    Tenho muito prazer em conhec-la, miss. Sempre desejei ser bibliotecria, mas

    nunca tive tempo de estudar. A duquesa me ocupa o tempo todo, principalmente quando

    h festas no castelo. Membros da realeza se hospedam aqui com suas damas de

    companhia, valetes, empregados e cocheiros, o que requer enorme trabalho para acomod-

    los.

    E a senhora organiza tudo?

    Claro! A duquesa confia plenamente em mim. Quantas vezes ela me disse:

    No sei o que faria sem voc, Marshy.

    Este castelo to grande, exige muito trabalho! observou Virgnia.

    Os empregados esto aqui h anos, e conhecem bem suas obrigaes. Mas so os

    hspedes que causam dificuldades. Oh, minha cara, se soubesse o problema que

    acomod-los nos lugares certos!

    Ela riu ao ver que Virgnia no entendia a aluso. Por isso explicou:

    Depois que voc morar na Inglaterra algum tempo, vai ver que existe na

    sociedade uma coisa que se chama "tato". Por exemplo, um rapaz charmoso enamora-se de

    uma moa tambm charmosa; ento, poderia resultar numa tragdia pr o rapaz num

    andar e a moa no outro.

    Quer dizer... Virgnia comeou a falar.

    Quer dizer isso mesmo que estou dizendo interps miss Marshbanks.

    Claro, esse tipo de gafe no acontece no castelo Ryll, porque a duquesa e eu tentamos

    evitar.

    As duas chegavam saleta, mobiliada com um piano, um confortvel sof, e vrias

  • Barbara Cartland - Casamento em Nova Iorque (Coleo Barbara Cartland 259)

    28

    poltronas.

    Meu escritrio fica em cima, perto dos aposentos da duquesa explicou miss

    Marshbanks. Mas aqui que eu descanso quando tenho tempo, e onde tomo minhas

    refeies. A mesa fica perto da janela, e agradvel apreciar os jardins num dia de sol.

    Deve ser um grande prazer almoar aqui concordou Virgnia.

    E a comida boa. Muito boa. No como em certas casas onde a secretria mal

    alimentada. No aguentaria esse tratamento. O chef sabe de minhas preferncias, e a

    senhorita tem de me dizer das suas.

    Como muito pouco replicou Virgnia.

    Pode-se ver. Precisa engordar. Eu tenho orgulho de meu peso.

    E sente-se bem assim? indagou Virgnia que achava miss Marshbanks quase

    obesa.

    Minha querida miss Langholme, o mais importante ter sade. Sem mim, este

    lugar seria um caos. A duquesa no passa de um beb no que se refere a finanas, ao

    cuidado da casa, e organizao de centenas de pequenos itens. Eu sou a alma desta casa,

    como a senhorita ver em breve.

    Um lacaio trouxe a bandeja com o ch. Havia diferentes tipos de pes e bolos.

    Deve estar faminta aps a longa viagem comentou miss Marshbanks. No

    faa cerimnia e coma.

    Virgnia serviu-se de um pedao de po com manteiga apenas. Porm miss

    Marshbanks experimentou de tudo, e Virgnia surpreendeu-se por ela no ser ainda mais

    gorda.

    No est com frio? indagou a secretria. Seu vestido muito leve para

    nosso clima. Espero que tenha trazido roupas mais quentes. No outono a temperatura

    cai consideravelmente.

    Sim, eu trouxe roupas quentes, mas no vou ficar aqui por muito tempo.

    No? miss Marshbanks ergueu as sobrancelhas. A duquesa disse que a

    senhorita iria trabalhar numa pesquisa muito importante.

    Vou concordou Virgnia. Mas penso que no permanecerei por longo

    tempo num s lugar.

    Bem, agora melhor irmos ter com Sua Graa. Ela sempre descansa a esta hora.

    Deve estar no quarto.

    As duas mulheres foram ao segundo andar. Virgnia s queria encontrar tempo

    para apreciar cada quarto, cada pea do mobilirio.

    Miss Marshbanks bateu numa porta. Ela e Virgnia entraram num grande quarto;

    havia sobre as mesas vasos cheios de flores de estufa e inumerveis objetos de prata. Sobre

    belas estantes grande quantidade de bibels de porcelana de Dresden e tanto as poltronas

    como o sof possuam infinidades de almofadas de todos os formatos e cores.

    A duquesa repousava num sof-cama perto da janela. A primeira impresso de

    Virgnia foi de que ela era mais jovem do que pensara. Porm, ao chegar perto, notou que

    fora uma iluso; a face da duquesa estava empoada e os lbios pintados. Vestia uma tnica

    transparente, lils, de chifon pregueado, cheia de fitas e rendas. Usava um colar de prolas

    de trs voltas, brincos e pulseiras de diamantes.

    O que h, Marshy? indagou a duquesa com voz petulante.

    Trouxe miss Virgnia Langholme para conhec-la, Vossa Graa. Lembra-se de

  • Barbara Cartland - Casamento em Nova Iorque (Coleo Barbara Cartland 259)

    29

    que ela era esperada para hoje, dos Estados Unidos?

    Oh, sim, verdade!

    A duquesa estendeu a mo para Virgnia.

    Foi muita bondade sua receber-me em sua casa, duquesa...

    Ficamos encantados com sua visita, no foi mesmo, Marshy? Nossa vasta

    biblioteca permanece vazia ano inteiro, e acho que ningum folheia um livro que seja.

    No diga isso, Vossa Graa! protestou miss Marshbanks. Eu leio alguns

    livros s vezes.

    Bobagem! No acredito! Aqueles livros no so nada interessantes. Voc prefere

    assuntos romnticos, e seu quarto est repleto desses livros.

    Oh, Vossa Graa! No diga isso!

    E agora, v embora, Marshy. Quero conversar com miss Langholme a ss.

    Preciso saber de meus amigos l dos Estados Unidos disse a duquesa, e miss

    Marshbanks retirou-se relutantemente do quarto.

    Em seguida, dirigindo-se a Virgnia, a duquesa pediu:

    Fale-me sobre seu pas. Tenho muitos amigos l, e tive uma amiga em particular,

    que ajudava em minhas obras sociais sempre que eu lhe pedia. Chamava-se sra.

    Stuyvesant Clay. Conheceu-a, por acaso?

    Antes que Virgnia pudesse arranjar um meio de mentir convincentemente, a

    duquesa continuou:

    No, claro que no. Ela morava em Nova York e era rica, muito rica mesmo.

    Sinto falta dela! A senhorita rica, miss Langholme?

    De novo, Virgnia no teve tempo de dar uma resposta, porque a duquesa

    prosseguiu.

    Como haveria de ser rica? Meu filho disse que era uma estudante ou coisa

    parecida. que sempre penso que os americanos so ricos. Porm, diga-me uma coisa, no

    havia dois cavalheiros na estao quando a senhorita desembarcou?

    No, havia apenas um replicou Virgnia.

    No entendo. Tinha encontro marcado com eles esta tarde. No apareceram at

    agora.

    Virgnia refletiu se devia ou no mencionar o drama que presenciara ao chegar ao

    castelo, mas a duquesa falou:

    Se a senhorita fosse rica, poderia me ajudar agora. H uma coisa... uma coisa

    muito importante para a qual necessito de dinheiro.

    Muito dinheiro? perguntou Virgnia.

    Muito! A duquesa suspirou. Contudo, um pouco tambm serviria. Pode me

    ajudar? Detesto pedir-lhe esse favor, porm at cinco libras viriam a calhar.

    Virgnia ficou atnita ante to estranho pedido, mas disse:

    Acho que... cinco libras... posso lhe dar.

    Pode? Ento, d-me agora, por favor.

    Virgnia abriu a bolsa. Por sorte, escondera a maior parte do dinheiro num

    compartimento separado. Ela trocara seus dlares aos poucos, no navio. Pegou cinco libras

    de ouro e passou-as s mos da duquesa.

    Obrigada! Muito obrigada, querida! muito bondosa! Esse dinheiro vai me

    ajudar bastante!

  • Barbara Cartland - Casamento em Nova Iorque (Coleo Barbara Cartland 259)

    30

    Vossa Graa disse que a sra. Stuyvesant Clay costumava contribuir para suas

    caridades?

    Minhas... minhas... caridades? Oh, sim, naturalmente! replicou a duquesa.

    uma pena que tenha morrido. Na verdade...

    Ela ia falar mais quando a porta se abriu e o duque entrou. Agora Virgnia podia

    v-lo bem, e constatou que era, de fato, muito atraente. Porm, tinha uma expresso de ira

    no rosto ao se aproximar da me.

    Oh, Sebastian, enfim voc veio me ver! exclamou a duquesa.

    Demorei-me, eu sei respondeu o duque. Voc esperava dois homens, me?

    A duquesa corou ao replicar:

    Sim, esperava. Sabe o que houve com eles?

    Disse-lhes que, se voltassem aqui, eu lhes torceria o pescoo.

    Mandou-os embora? gritou a duquesa.

    Mandei-os. Sabe muito bem, me, que no possui nada que possa ser vendido.

    Eu ia apenas mostrar-lhes duas de minhas coisas declarou a duquesa guisa

    de desculpa.

    So por acaso suas jias? No tem mais nenhuma que lhe pertena, so todas do

    patrimnio da famlia. J disps do que era s seu, h anos.

    O que no entendo, Sebastian, por que voc mandou embora pessoas que

    vieram me ver, sem me consultar.

    Sinto muito, me. E ainda disse a Matthews que se ele permitir a entrada desse

    tipo de gente no castelo, ser despedido.

    Despedido? Matthews trabalha conosco h quase quarenta anos! Voc deve estar

    louco! Realmente, Sebastian, est exorbitando de seus poderes. No sou uma criana, e

    nem uma louca para ser tratada dessa maneira.

    Trato-a com todo o respeito e considerao, mas no permitirei que venda as

    jias da famlia para alimentar seu vcio do jogo, noite aps noite. E, por que precisar de

    tanto dinheiro? Prometeu-me que no faria apostas altas!

    E no fao. No sou idiota, menino! Mas pare de falar de assuntos pessoais e

    deixe-me apresent-lo nossa hspede dos Estados Unidos.

    O duque fitou Virgnia e sua expresso mudou imediatamente.

    Desculpe-me disse ele , no percebi que havia uma pessoa estranha no

    quarto. Julguei que se tratasse de miss Marshbanks.

    Ela no se parece nada com Marshy, parece? interrompeu a duquesa.

    uma moa linda e espero que goste de trabalhar aqui na nossa biblioteca.

    O duque estendeu a mo a Virgnia.

    Espero tambm, como disse minha me, que goste de trabalhar aqui. Um

    sorriso transformou-lhe o semblante totalmente.

    Sei que vai ser interessante replicou Virgnia, tentando no se mostrar tmida

    e nem embaraada.

    Havia qualquer coisa de artificial em tocar a mo do homem com que se casara,

    percebendo que ele a olhava com admirao, sorrindo amigavelmente.

    Desculpe por minha indelicadeza acrescentou ele. Permita-me agora que a

    acompanhe biblioteca?

    muita bondade sua sussurrou ela, um pouco intimidada.

  • Barbara Cartland - Casamento em Nova Iorque (Coleo Barbara Cartland 259)

    31

    Boa ideia aprovou a duquesa. Preciso descansar. No fique zangado

    comigo, Sebastian. No fiz nada de errado.

    Apenas porque cheguei a tempo de impedir replicou o duque com rudeza.

    Ele deu um suspiro e foi abrir a porta para Virgnia. Os dois desceram as escadas

    em silncio. No hall, o duque comeou a explicar a Virgnia a histria do castelo,

    construdo na poca dos normandos, e aumentado durante o reinado de Henrique VIII.

    Parte do castelo incendiara-se no sculo XVIII, e o velho duque, pai de Sebastian, gastara

    um bom dinheiro adicionando uma nova ala trinta anos atrs.

    um pot-pourri de cada gerao terminou o duque. Foi o rei Carlos quem

    investiu sir Thomas Ryll para os servios da coroa. Tornamo-nos condes no reinado da

    rainha Anne e de George IV.

    Interessante declarou Virgnia, notando, pelo entusiasmo do duque, que a

    famlia significava muito para ele.

    Na biblioteca, o duque disse a Virgnia:

    Aqui esto os tesouros mais inestimveis de toda casa.

    Virgnia soubera, pela tia, que a biblioteca era linda, mas nunca imaginou que fosse

    to grande. Havia livros do cho ao teto abobadado, com figuras de deuses do Olimpo. As

    janelas altas tinham vitrais coloridos por onde penetravam os raios solares, lanando no

    cho um verdadeiro caleidoscpio. Uma escada em caracol conduzia galeria, um tipo de

    mezanino. Os livros eram todos encadernados em couro, forrando as paredes por

    completo.

    fantstico! exclamou Virgnia batendo palmas.

    Achei que essa seria sua opinio disse o duque. Cada vez que entro aqui,

    me emociono com a grandiosidade do local. Vai gostar de trabalhar nesta biblioteca.

    Aquela pode ser sua escrivaninha. Acrescentou ele, apontando para uma mesa no meio

    da sala. Espero que encontre tudo o que precise.

    Encontrarei com certeza replicou Virgnia.

    Porm, aps haver mostrado a biblioteca, o duque no se retirou. Apoiou-se no

    consolo da lareira e disse:

    Voc no se parece nada com o que eu esperava. Virgnia corou.

    O que Vossa Graa esperava?

    Uma jovem sem beleza, antiptica e cheia de espinhas.

    Oh, que maldoso! exclamou Virgnia.

    Bem, retiro as espinhas.

    Nem sempre uma pessoa mostra no fsico como por dentro

    Virgnia sorriu.

    Voc fala como se quisesse insinuar alguma coisa replicou o duque.

    Virgnia desviou o olhar.

    "Ele mais observador do que eu pensei. Preciso tomar cuidado."

    Falava de um modo geral disse ela em voz alta.

    Espero que algumas vezes encontre tempo para conversar comigo pediu o

    duque. No h muitas pessoas atualmente que lem, em especial entre mulheres jovens.

    Talvez Vossa Graa tenha tido pouca sorte entre suas conhecidas aventou

    Virgnia.

    possvel, e mais uma razo para querer conversar com voc.

  • Barbara Cartland - Casamento em Nova Iorque (Coleo Barbara Cartland 259)

    32

    Desculpe, mas... Temo estar ocupada demais. Tenho tanto a fazer em to pouco

    tempo!

    Por que essa pressa? Enquanto estiver aqui, vai desejar conhecer a Inglaterra,

    no vai? um lugar lindo! No pode deixar de ver os locais histricos de Londres!

    Duvido que tenha tempo para tanto.

    Todo o mundo tem pressa hoje em dia. O duque suspirou. E acho que se

    perde muito com essa pressa. Muito breve teremos centenas desses novos veculos, os

    automveis, rasgando as estradas, levantando ondas de poeira, e no dando s pessoas a

    oportunidade de apreciar as belezas da paisagem.

    O duque foi at uma das janelas e abriu-a.

    Venha aqui ordenou a Virgnia.

    Ela obedeceu e viu uma longa alia de pinheiros que se estendia at uma fonte que

    jorrava suas guas para o cu. E, mais adiante, arbustos se confundiam com o horizonte

    nublado, onde o sol do acaso incidia sobre a floresta negra.

    muito lin