edição nº 259

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9 de abril de 2013 • aNO XXii • N.º 259 • QUiNZeNal GraTUiTO direTOr aNa dUarTe • ediTOres-eXeCUTiVOs aNa mOrais jOrNal UNiVersiTáriO de COimbra acabra @ Mais informações em acabra.net PUBLICIDADE MICRO-CONTO O incerto destino da apresentadora amarílis PÁG. 17 RAFAELA CARVALHO Crato recusa mais uma vez vinda a Coimbra Interpelado pela Associa- ção Académica de Coim- bra, o ministro da Educa- ção e Ciência, Nuno Crato, rejeitou o pedido para que a academia “volte a pe- dir a palavra” no dia 17 de abril. A ação aprovada em Assembleia Magna vai gerar protesto numa con- ferência de imprensa a de- nunciar a recusa insisten- te do ministro em visitar a cidade. PÁG. 5 FESTIVAL SANTOS DA CASA Nascido do Programa Santos da Casa, emitido nos 107.9 da Rádio Universidade de Coimbra, o Festival com o mesmo nome aposta exclusivamente na música portuguesa. Este ano celebra a sua décima quinta edição com uma programação preenchida PÁG. 6 PÁG. 5 PÁG. 4 Perante a recusa de Nuno Crato em visitar os espaços da universi- dade nas comemorações do 17 de Abril de 1969, a Direção-geral da Associação Académica de Coim- bra vai proceder ao comunicado de imprensa da decisão do mes- mo e proceder ao uso da palavra nas aulas. Também uma petição vai correr as faculdades e cantinas “Pelo fim da exclusão no direito à bolsa por motivos familiares” e posteriormente ser apresentada em Assembleia da República. Agenda de ações para Abril FÓRUM AAC 2013 A nova concessão dos bares da As- sociação Académica de Coimbra já está atribuída. A Unicer ganhou o contrato ainda a ser finalizado e o processo promete não ser mui- to longo. Em causa está ainda um patrocínio e licença para a Queima das Fitas e Latada nos próximos cinco anos. O administrador da DG/AAC assegura que um dos ba- res abre até ao fim do mês. Bar dos Jardins abre este mês BAAC

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Edição nº 259

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Page 1: Edição nº 259

9 de abril de 2013 • aNO XXii • N.º 259 • QUiNZeNal GraTUiTOdireTOr aNa dUarTe • ediTOres-eXeCUTiVOs aNa mOrais

jOrNal UNiVersiTáriO de COimbra

acabra

@Mais informações em acabra.net

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micro-contoo incerto destino da apresentadora amarílisPÁG. 17

rafaela carvalho

Crato recusamais uma vez

vinda a CoimbraInterpelado pela Associa-ção Académica de Coim-bra, o ministro da Educa-ção e Ciência, Nuno Crato, rejeitou o pedido para que a academia “volte a pe-dir a palavra” no dia 17

de abril. A ação aprovada em Assembleia Magna vai gerar protesto numa con-ferência de imprensa a de-nunciar a recusa insisten-te do ministro em visitar a cidade. PÁG. 5

FESTIVAL SANTOS DA CASANascido do Programa Santos da Casa, emitido nos 107.9 da Rádio Universidade de Coimbra, o Festival com o mesmo nome aposta exclusivamente na música portuguesa. Este ano celebra a sua décima quinta edição com uma programação preenchidaPÁG. 6

PÁG. 5

PÁG. 4

Perante a recusa de Nuno Crato em visitar os espaços da universi-dade nas comemorações do 17 de Abril de 1969, a Direção-geral da Associação Académica de Coim-bra vai proceder ao comunicado de imprensa da decisão do mes-mo e proceder ao uso da palavra nas aulas. Também uma petição vai correr as faculdades e cantinas “Pelo fim da exclusão no direito à bolsa por motivos familiares” e posteriormente ser apresentada em Assembleia da República.

Agenda de ações para Abril

Fórum aac 2013

A nova concessão dos bares da As-sociação Académica de Coimbra já está atribuída. A Unicer ganhou o contrato ainda a ser finalizado e o processo promete não ser mui-to longo. Em causa está ainda um patrocínio e licença para a Queima das Fitas e Latada nos próximos cinco anos. O administrador da DG/AAC assegura que um dos ba-res abre até ao fim do mês.

Bar dos Jardins abre este mês

Baac

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desTaque

EUSA 2016

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desTaque

EUSA 2016

A Europade olhos postos em Coimbra

apresentada a candidatura à realização dos eusa Games 2016, Coimbra está a preparar-se para ser avaliada. entre requalificações estruturais e financiamentos públicos, os apoios

multiplicam-se. a aaC acredita que a envolvência da cidade e dos estudantes pode ser fator decisivo no resultado a sair a um de junho. Por Liliana Cunha, ana duarte e João Martins

Depois de 2012 em Córdo-va, os European Universi-ties Games (Campeonatos

Europeus de Desporto Universi-tário) seguem, em 2014, para Ro-terdão. Em 2016, Coimbra poderá vir a acolher este evento. Na cor-rida à realização dos jogos estarão também duas cidades da Croácia – Zagreb e Rijeka. As candidatu-ras já foram submetidas e estão agora sujeitas à avaliação pela European University Sports As-sociation (EUSA – Associação Europeia de Desporto Universitá-rio). A visita oficial do executivo da EUSA a Coimbra decorre entre 14 e 17 de abril, e a cidade vence-dora será conhecida a um de ju-nho, na Eslovénia.

Em causa está a avaliação das infraestruturas a ser utilizadas no evento, que vão para além, por exemplo, do Estádio Universitá-rio de Coimbra (EUC). Figueira da Foz e Montemor-o-Velho tam-bém poderão acolher jovens des-portistas de toda a Europa.

Mas a Associação Académica de Coimbra (AAC) não está sozi-nha. O processo de candidatura começa em Coimbra, contudo, é a Federação Académica de Despor-to Universitário (FADU) quem a apresenta – e tal já aconteceu: a 16 e 17 de março, a FADU or-ganizou uma Assembleia Geral (AG) na Madeira, onde estiveram presentes a comitiva executiva da EUSA, a Direção-geral da As-sociação Académica de Coim-bra (DG/AAC), o presidente da Câmara Municipal de Coimbra (CMC), João Paulo Barbosa de Melo, o reitor da Universidade de Coimbra (UC), João Gabriel Silva e os representantes da proposta croata.

Um dos pontos tratados no dos-siê de candidatura foram as mo-dalidades que Coimbra se propõe a acolher. São dez obrigatórias (andebol, voleibol, basquetebol, badmínton, futebol, ténis, futsal, ténis de mesa, voleibol de praia e rugby 7’s) às quais a AAC acrescenta como opcionais o remo e o judo.

Infraestruturas“É evidente que o EUC ca-rece de grandes obras de requalificação”, afirma a vice-reitora para as Relações

Institucionais da UC, Helena Freitas. Apesar de haver o reco-nhecimento de que o EUC não está totalmente equipado para acolher um evento desta magni-tude, a vice-reitora explica que ele poderá vir a ser requalificado, através de financiamentos vin-dos, por exemplo, do Quadro de Referência Estratégica Nacional (QREN). O vice-presidente da DG/AAC, Tiago Martins, reforça que com esta candidatura [aos EUSA Games 2016], há “mais possibilidades de concorrer ao QREN e sermos bem-sucedidos”. Bruno Barracosa, presidente da FADU, admite que as condições

físicas na outra margem do rio não são “condizentes com um evento deste nível”. No entanto, todos estão confiantes de que este fator não será decisivo na avalia-ção.

A requalificação não passa ape-nas pelo EUC. Também algumas residências universitárias e as cantinas estão contempladas neste processo, de forma a es-tarem pre-p a r a d a s para re-ceber o s

estudantes desportistas. Tiago Martins refere que a requalifica-ção das infraestruturas tem como prioridade os espaços “que tive-rem condições mais frágeis”. É o caso das cantinas azuis, da resi-dência polo II 1 ou de outras re-sidências que consigam albergar um maior número de participan-tes.

Pontos fortes e empenho nacionalEmbora as acomodações não es-tejam ainda preparadas, na ver-dade, os apoiantes da candida-tura coimbrã acreditam que isto poderá jogar a seu favor: “o que é valorizado pela EUSA é o legado que esta competição vai trazer à cidade ao modificá-la. Havendo este compromisso e esta vontade de mudar estamos a tentar que este se torne num ponto positi-vo”, assegura o vice-presidente da DG/AAC. Do lado da FADU, Bru-no Barracosa também enuncia que a EUSA “procura deixar uma marca nos lugares onde passa e a requalificação é um ponto a favor de Portugal”.

Ainda o empenho cultural da cidade e o facto de a AAC ser pela terceira vez consecutiva campeã europeia de desporto universi-tário são apontados como pon-

tos importantes. Tiago Martins afirma que na AG na Madeira, a AAC marcou pela

diferença: “rece-ber o prémio

[de campeões] mostra o envolvi-mento das figuras da cidade face a uma candidatura que não o tem”.

O vice-presidente da DG/AAC, considera ser um ponto a favor o facto de ter vários incentivos por parte de outras academias e do governo. “Vemos aqui a envol-vência que se conseguiu ter, com as forças não só da cidade mas com o país”, explica Tiago Mar-tins. Para isso servem de prova as várias cartas de apoio inseridas no livro principal de candidatura e o mote: “It´s all about passion” (“Está tudo relacionado com a paixão”, tradução livre). “Portu-gal goza de uma importante repu-

tação no que toca à organização de eventos de alta competição”, afirma no dossiê de candidatura o primeiro-ministro, Pedro Pas-sos Coelho, recordando a título de exemplo o Euro 2004. Ainda a Secretaria de Estado do Desporto e Juventude também enaltece a capacidade organizativa e fatores

como o clima, a gastronomia e a recetividade da população aos estrangeiros.

Por parte das outras di-reções associativas o apoio

também está assegu-

rado: “A AAC é uma instituição que preenche os requisitos, co-nhecimento e estrutura para pro-videnciar de uma boa forma todos os aspetos relacionados com a organização e operação dos EUSA 2016”, assinala o presidente da Associação Académica de Lisboa, Marcelo Fonseca. A associação de Évora, Beira Interior e Trás-os--Montes e Alto Douro enaltecem que o evento é feito por estudan-tes e para estes.

Financiamento“A candidatura neste momento está a ser suportada maioritaria-mente pela CMC. A AAC não tem despendido custos”, revela Tiago Martins. Também a reitoria tem contribuído, não só a nível finan-ceiro, mas também “a nível logís-tico e pedagógico”, explicita Hele-na Freitas. “Jogos desta dimensão exigem, de facto, um conjunto de compromissos das entidades que podem ter um papel ativo e a UC certamente que terá”, acrescenta a vice-reitora.

As maiores fontes de financia-mento para a realização do evento virão, em parte de apoios púbicos (28,84 por cento do total) e das taxas inscrições dos atletas (48,93 por cento do total).

Comparativamente a Coimbra, Zagreb e Rijeka avançam com o dobro do orçamento, com mais modalidades mas com menos es-tudantes na sua organização. E é aqui que o vice-presidente da DG/

AAC aponta a vantagem da Académica: “aquilo que nos diferencia é que é uma candidatura feita

por estudantes e com o apoio da comunidade estu-

dantil”.Como explica Tiago Martins,

por sua vez, a Croácia apresenta o apoio obrigatório das federa-ções desportivas, o do presidente croata e de dois ministros. Fica de

fora o das associações de estudantes.

Até ao fecho da edição, o Jornal Universitário de

Coimbra – A CABRA ten-tou contactar o presiden-te da CMC, o Secretário de Estado do Desporto e

Juventude e o secretário--geral da EUSA, mas não obte-

ve resposta.

Um dos pontos tratados no dossiê foram as modalidade que Coimbra se propõe a acolher

Comparativamente a Coimbra, Zagreb e Rijeka avança com o dobro do orçamento

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ENSINO SUPERIOR

Estudam e trabalham dentro da comunidade universitária

Precisam de trabalhar ao mes-mo tempo que estudam. E a Universidade de Coimbra

(UC) dá-lhes a possibilidade de o fazerem nos seus espaços. Mas, in-tegrar a comunidade universitária e servi-la em simultâneo tem os seus prós e contras. Cantinas, residên-cias, Teatro Académico de Gil Vicen-te e Biblioteca Geral, entre outros, são as opções disponíveis para os es-tudantes. Ainda assim, encontrá-los nas cantinas, às horas das refeições, é mais frequente.

“Somos estudantes-trabalhadores e estamos a trabalhar para a pró-pria universidade”. É assim que Ana Morais, estudante de Mestrado na Faculdade de Direito da UC, encara a ideia de trabalhar na Sandwich--Bar dos Serviços de Ação Social da UC (SASUC). Precisava de um ‘part--time’ para suportar as despesas, e desde cedo que a ideia de se juntar a outros colegas que também encon-traram esta opção lhe agradou. Ten-do trabalhado antes noutros locais, encontrou nesta oportunidade das Cantinas Amarelas a mais-valia de ser recompensada através de senhas. “Temos a contrapartida de ter de vender as senhas, mas em termos re-muneratórios compensa, nos outros trabalhos não conseguia auferir tan-to”, atesta ao explicar que por hora recebe duas senhas, o que perfaz 4,80 euros. Este valor seria superior se fossem remunerados à hora, uma vez que nesta condição receberiam

menos.

Falta de diálogoDa mesma opinião é Washington Oliveira, que já está na reta final da sua tese de mestrado interdiscipli-nar. Washington já está a trabalhar no setor de alimentação desde se-tembro de 2009. “No início quando comecei era mais difícil porque tinha de explicar a todas as pessoas o por-quê. Agora já estão mais habitua-das”, conta o estudante. No entanto,

Washington revela que há falta de contacto entre funcionários e estu-dantes: “trabalhei num semestre no Polo II e no seguinte as cantinas do Instituto Superior de Engenharia de Coimbra deixaram de ser dos SA-SUC. Os funcionários foram redistri-buídos pelos serviços. Eu, que traba-lhava lá três dias por semana, deixei de ter horário”, lamenta.

A parca comunicação entre os es-tudantes-trabalhadores e a adminis-tração é notória: “esta semana traba-

lhamos e para a outra se for preciso chegamos cá e vai-nos ser dito: es-cusam de vir. Os serviços não comu-nicam connosco”, contesta o estu-dante de mestrado da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC, Bruno Calhegas. O contacto é feito apenas com o encarregado de cada espaço. A esta questão acresce ainda a perda do estatuto que lhes dava acesso à época especial e que perderam. Bru-no e os seus colegas trabalham sem vínculo e sem qualquer benefício la-

boral comum ao trabalhador.

Consequências do fecho de mais serviços“Tendo em conta que somos estu-dantes e temos que encaixar este horário de trabalho com o horário de aulas e exames acaba por ser uma grande vantagem”, explica Ana Morais, ao referir a flexibilidade de que goza neste ‘part-time’ e que vê como “uma vantagem”. Por sua vez, Washington Oliveira classifica esta condição como “tapa-buracos”, uma vez que não há nada fixo e definitivo. Contudo, reconhece que na condição de estudante esta também acaba por ser uma vantagem pois há sempre a possibilidade de trocar com os cole-gas.

“Agora com o encerramento [pro-visório das Amarelas], fomos indire-tamente afetados porque perdemos horas”, lamenta Bruno. Também Washington evoca esta consequên-cia ao referir ainda que as pessoas acabam por aparecer menos, aglo-merando-se num só local. “Cada vez mais a tendência é fechar serviços e tentarem concentrar tudo num sí-tio”, crítica o estudante.

O Jornal Universitário de Coimbra A CABRA tentou contactar o chefe do setor de alimentação dos SASUC, Luís Lavrador, que não prestou de-clarações por falta de autorização do administrador dos serviços de ação social. Ainda assim, mostrou-se dis-ponível para falar futuramente.

Bar dos Jardins da AAC abre ainda este mêsA nova concessão dos bares da AAC já estáfechada. A empresa de distribuição Unicer é a responsável e está na calha a cedência ao clube noturno NB

A Associação Académica de Coimbra (AAC), depois de termina-do o contrato com o bar In Tocha que administrava o bar dos jardins e bar interior, chegou a acordo para ceder os espaços à empresa de distribuição de bebidas Unicer. Nos próximos cinco anos, o abas-tecimento de bebidas para os dois bares, na Queima das Fitas, na Fes-ta das Latas e ainda a garantia de um patrocínio exclusivo pertence à empresa e à entidade que vá gerir

o bar.“Para que garantíssemos que não

acontecesse o mesmo que no úl-timo contrato, uma das maneiras que arranjámos seria a garantia de que não iriam haver faltas relativas ao pagamento”, afirma o adminis-trador da Direção-geral da Associa-ção Académica de Coimbra (DG/AAC), Rui Brandão, em resposta ao incumprimento verificado pelo bar In Tocha. Desta forma existe no novo contrato uma bancária de seis meses de rendas. A cláusula é acionada a partir do momento em que haja um incumprimento de pa-gamento.

A data relativa à abertura está para breve. Rui Brandão assume que, no mínimo, um dos bares abrirá ainda este mês: “ não sei se vai ser possível, mas provavelmen-te por essa altura, um deles, pelo menos”. A responsabilidade de escolher quem gere o bar é da dis-tribuidora que já endereçou uma

proposta ao clube noturno NB, mas esta ainda se encontra em processo de análise. No que toca a números, esta pareceu ser a proposta mais vantajosa para a DG/AAC, segun-do Rui Brandão. “Auferimos ape-nas propostas de contrato de duas empresas: a Central de Cervejas e a Unicer, que em concurso, mediante a melhor proposta escolhemos”, ex-plica o administrador da DG/AAC.

No que diz respeito a valores resultantes do acordo, a DG/AAC também encaixa uma grande verba com o contrato, já que se incluem as concessões das noites do Parque: “estamos a falar de um aumento entre 40 a 60 por cento, do que se fizessemos concursos isolados para todos os pontos”, assevera Rui Brandão.

“Conseguimos ter um aumento, pela garantia de um patrocínio que não existia anteriormente”, explica o admnistrador. Há, no entanto, contrapartidas para com as sec-

ções da casa e núcleos. O patrocí-nio acordado faz com que qualquer pedido da casa tenha de ser feito à entidade “em termos de obrigato-riedade”. “Não são obrigados a uti-lizar a marca, mas também não po-dem usar alguma concorrente, em termos publicitários. Em termos de compra do produto, é apenas um direito de preferência”, expõe Rui Brandão. O administrador avi-sa ainda que, atempadamente, se informarão as contrapartidas aos organismos.

Quanto à abertura dos bares no período noturno, que se encontra encerrado desde agosto do ano passado, o processo irá dentro de algum tempo a julgamento, já que a providência cautelar interposta pela DG/AAC foi revogada: “vamos ter audiência do julgamento para ver em que moldes fica a questão do horário, mas esperamos que seja possível estar aberto até às quatro da manhã”, atesta Brandão.

Liliana Cunha

Rafaela CaRvalho

O Sandwich-Bar é o local onde mais estudantes trabalham

Joel SaRaIva

A necessidade de trabalhar para suportar os encargos dos estudos tem sido mais evidente. Em regime parcial, a UC tem essa possibilidade em alguns dos espaços. A grande flexibilidade de horários é vista como uma vantagem, apesar de originar também a falta de vínculo. Por Liliana Cunha e Ana Morais

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ENSINO SUPERIOR

fórum aac 2013

Ação Social e política do país definem ações a desenvolverA discussão no Fórum AAC pautou-se pela necessidade em ultrapassar os desafios do financiamento e da ação social face à iminência de cortes no ensino superior. Uma petição contra a discriminação na atribuição de bolsas e o uso da palavra nas comemorações da crise académica de 1969 são ações a desenvolver. Por Liliana Cunha e Ana Francisco

A Ação Social Escolar (ASE) esteve no centro do debate do Fórum AAC. A

decorrer durante o último fim de semana, o espaço reuniu os vá-rios organismos da Direção-ge-ral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC), especifica-mente os núcleos e a administra-ção. A discussão serviu para de-linear as ações a desenvolver ao longo dos próximos meses, tendo como foco a situação política na-cional instável. “Muita coisa mu-dou nestes últimos dias”, salienta o presidente da DG/AAC, Ricar-do Morgado. Apesar do chumbo de algumas normas do Orça-mento do Estado pelo Tribunal Constitucional, há a ameaça do agravamento dos cortes sobre a educação. É também este fator que justificou, segundo Ricardo Morgado, a urgência da reunião com o reitor da Universidade de Coimbra (UC), João Gabriel Sil-va, que se realizou ontem.

“Queremos que o reitor se pro-nuncie”, explica o presidente da DG/AAC. A necessidade de rea-valiação das formas de financia-mento interno do ensino supe-rior (ES) foram referidas como prioridade num contexto hostil para a ASE. Algumas das opções da universidade foram também postas em perspetiva, nomea-damente a possibilidade de um aumento da propina. “O facto de a UC passar por dificuldades não pode ser motivo para aumentar a conta do lado dos estudantes”, informa a direção geral da acadé-mica de Coimbra em comunica-do, reforçando a vontade em não deixar que a propina seja atuali-zada para os cerca de 1070 euros, devido à inflação.

Vai estar esta semana a circu-lar uma petição nos espaços da UC que contesta a retirada de bolsa àqueles que não tiverem a sua situação tributária regulari-zada – “sabemos que os núme-ros, pelo menos na UC, são mais elevados [150 indeferidos] ”, de-clara a coordenadora-geral da Área Política da DG/AAC, Leila Campos. A ideia não é nova, já que é “uma petição que vem de trás, do movimento associativo nacional”, contextualiza a coor-denadora-geral. O ministério da Educação e Ciência declarou em relatório que o número total de bolsas indeferidas por este mo-tivo mantém-se nos 800, mas os

dirigentes duvidam.

Discussão prolongadaA discussão de ordem políti-ca prolongou-se até domingo, atrasando o programa de ativi-dades. “Foi importante para es-treitar relações entre DG/AAC e núcleos de estudantes”, conta o

coordenador-geral dos Núcleos, Tiago Matos. Algumas conclu-sões ainda ficam por considerar já que os responsáveis deixam o anúncio das mesmas para a pró-xima Assembleia Magna (AM), amanhã,10.

A decisão expressa por uma moção na última AM em trazer

o ministro da Educação e Ciên-cia, Nuno Crato, a visitar os es-paços da universidade no dia 17 de abril foi descartada. O convite enviado ao ministério “foi recu-sado”, revela Ricardo Morgado. “Vamos tomar agora as restantes diligências”, afirma o presiden-te, referindo-se à consequente conferência de imprensa que foi aprovada em AM.

Empenho/ “sistemaregressivo”“Os núcleos fizeram muitas ques-tões e estavam empenhados”, garante Leila Campos. A vonta-de em concertar ações no Fórum AAC passou também por avaliar as queixas recorrentes do estu-dante carenciado. A qualidade da comida servida nos Serviços de Ação Social da Universidade de Coimbra (SASUC) foi abordada – “a qualidade tem decrescido e vamos tentar ajudar os SASUC “, adianta a coordenadora-geral da

Área Política.As saídas profissionais e as

suas estratégias de acesso para o acompanhamento aos licencia-dos, bem como a pedagogia (Pro-cesso de Bolonha, ECTS’s e Regi-me Jurídico das Instituições de Ensino Superior) foram outros dos temas abordados no debate e formação.

O Fórum AAC de 2013 reafir-mou, assim, a preocupação em fazer da ASE prioridade face aos desafios económicos. O facto de a iniciativa ter sido em Coimbra revelou-se produtivo, sendo que se gastou menos, mas tal não fez com que deixasse de haver dispersão entre os dirigentes. A Magna de amanhã está assim re-servada para apresentar as reso-luções e aprofundar novas ações a desenvolver. Continuam pen-dentes mais cortes na educação dado o chumbo de 1300 mil mi-lhões de euros no Tribunal Cons-titucional.

ana francisco

O Fórum AAC 2013 foi no Departamento de Informártica da Faculdade de Ciências da UC

Para as próximas duas semanas, a DG/AAC propõe o desenvolvimento das seguintes ações:

9 e 10 de abrilPetição “Pelo fim da exclusão no direito à bolsa por motivos familiares” nas

faculdades e cantinas

10 de abril Assembleia Magna

11 de abril - Entrega da Petição da Assembleia de RepúblicaComunicado à imprensa

17 de abril - 44 anos da Crise Académica de 1969Pedir a palavra nas aulas

ConClusõEs APREsEntADAs

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CULTURA

culturaporcá Há 15 anos a passar

a música “da rádio para o palco”Festival ‘Santos da Casa’ chega a 2013 com a sua déci-ma quinta edição. Uma longevidade que acompanha a evolução da música portuguesa. A edição deste ano conta com oito concertos e o lançamento em Coimbra do livro “Bookstage – Nos Bastidores do Rock Português”. Por Joel Saraiva, Daniel Alves da Silva e Filipe Teixeira

“Era uma vez dois senho-res que faziam um pro-grama que se chamava

‘Santos da Casa’ e que depois pas-sou-lhes pela cabeça, quando a rá-dio fez 13 anos, concretizarem um Festival». Assim começa a história do Festival Santos da Casa, na voz de Nuno Ávila, que juntamente com Fausto da Silva são os mentores do evento.

Quando o festival era apenas uma ideia, como explica Fausto da Silva, surgiu a premissa: “passar a música da rádio para o palco”. As bandas que se escutavam às 19 horas no programa radiofónico “Santos da Casa” dedicado exclusivamente à música portuguesa, na Rádio Uni-versidade de Coimbra (RUC), pas-saram a ter presença em concertos integrados no festival homónimo.

Ao longo destas 15 edições, pi-saram o palco inúmeras bandas e projetos cuja diversidade musical converge num só conceito: a divul-gação “ao máximo”da música por-tuguesa em palcos conimbricenses, asseveram os também autores do programa Santos da Casa. O festival ofereceu desta forma um palco que permitiu a Coimbra receber diver-sas bandas em ascensão a tocarem pela primeira vez sob os holofotes da cidade. Nestes primórdios, o car-taz consistiu na atuação de projec-

tos oriundos da região de Coimbra, tendo a primeiro edição contado com bandas comoTu Metes Nojo, Tédio Boys ou Squeeze Theeze Ple-eze.

Passaram pelos diversos palcos do festival, nomes e projectos como Sam The Kid, Dead Combo, Loto, Linda Martini, Paus, A Naifa, B Fa-chada, Anaquim. A multiplicidade de estilos musicais resulta numa das particularidades do festival: a sua itinerância e a adaptação de cada projeto a um espaço na cida-de. Esta adaptação pode até criar um ambiente mais acolhedor entre bandas e público, como no concer-to de Luís Salgado, mais conhecido como Stereoboy, que salienta o cor-redor da RUC como sendo, “local ideal” para um concerto pequeno e “intimista”.

A exibição de Linda Martini na Fnac Coimbra permitiu a primeira “enchente” do espaço aquando da actuação da banda, conta Nuno Ávi-la. O baterista da banda, Hélio Mo-rais, salienta que foi uma“surpresa”. “Nunca tínhamos saído de Lisboa”, refere, tendo percebido nesse con-certo que havia “mais gente a gostar da banda”.

Além dos concertos, o festival procura abordar a música portu-guesa de formas variadas. A organi-zação trouxe em edições anteriores

conversas com músicos bem como a projeção de documentários. A pre-sente edição do festival vai contar com a apresentação, em Coimbra, do livro intitulado “Bookstage - Nos Bastidores do Rock Português”, em que dois jornalistas conversam com “sete monstrosdo rock”, estando já confirmada a presença de João Grande (dos Taxi), entre outros convidados.

A importância do festivalPara Stereoboy, o festival é “impul-sionador da música portuguesa” e “propulsor de projetos que se en-contram ainda afastados do atual panorama musical português”. Na perspectiva do líder dos Anaquim, José Rebola, o “festival tem impor-tância”, ao continuar a “apostar anualmente na mostra das bandas portuguesas”. Foi em 2008 que o projecto de José Rebola se mostrou em palco pela primeira vez, inte-grado na programação do Festival Santos da Casa.“Olhando para trás, foi uma estreia repleta de simbolis-mo”, confessa Rebola. Assinalando o papel da RUC na carreira musical da banda, o músico considera que “acabou por ser uma honra e um privilégio” estrear com um “concer-to tão simbólico”, no Salão Brazil.

A presente edição conta com um concerto único, que nasce do desa-

fio lançado por Nuno Ávila a duas bandas de Coimbra. Surge assim “Somewhere in Between”, espec-táculo que une os Birds are Indie aos AJigsaw, que “acaba por ser um concerto único no Festival Santos da Casa”, criado em exclusivo para o festival. Assim define um dos ele-mentos da banda, Jorri, que assu-me a importância deste espetáculo por decorrer no festival ligado ao programa onde a música de ambas as bandas “começou a passar na rá-dio pela primeira vez”. O artista re-fere o “momento único” que será o concerto,“tanto para quem nos esti-ver a ver, como para nós, músicos”.

Em tom de confidência, Fausto da Silva, um dos organizadores do festival pronuncia-se também so-bre o desconhecimento do público acerca da programação musical proporcionada. Ainda assim, o festival consegue afirmar-se como o ponto de passagem da nova mú-sica portuguesa. “Se calhar se não formos nós, não vêm cá” ou então “vêm daqui a um ano ou dois”. Mas foi o Santos da Casa que os trouxe primeiro. “Eles estiveram em Coim-bra e tu não os foste ver”, remata. Há 15 edições que é assim.

foto gentilmente cedida por nuno ávila

11 a 13ABR

“Manhã” - GEFaC

TeaTroTCSB • 21h306€ C/DesConTos

festival santos da casa

12 e 13“a EstalajadEira” – artistas Unidos

ABR

TeaTroOMT • 21h30

10€ C/DeSCOnTOS

15ABR

“BEstas do sUl sElvaGEM”

CinemaTAGV • 21h304€ C/DesConTos

18ABR

“vontadE dE tEr vontadE”

DançaTAGV • 21h307€ C/DesConTos

18ABR

“soMEwhErE in BEtwEEn” a jiGsaw & Birds arE indiE

músiCaCOnSerVATóriO • 21h305€

até 19ABR

“nasCEntE – rios E rios dE histórias”

exposiçãoCasa Da esCriTa

enTraDa livre

23ABR

“ÁGUa Fria” E “GUErra Civil”Cinema AMSCAV • 21h301€ C/DeSCOnTOS

26 e 27ABR

“360” - sEMana CUltUral da UC

TeaTroTaGv

15h00 e 21h307€ C/ DesConTos

24ABR

“CorsaGE”

músiCaSAlãO BrAzil • 22h30sem informação De preço

até 30ABR

“CoiMBra E as MUltidõEs”

exposiçãoGaleria Torre arnaDo

enTraDa livre

Por Daniel Alves da Silva

acabra.netReportagem na íntegra em @

foto gentilmente cedida por adriana boiça silva

foto gentilmente cedida por nuno ávila

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desporTo

publicidade

Seniores femininas chamadas à Seleção Nacional de HóqueiTrês atletas da equipa sénior feminina da secção de patinagem receberam nova convocatória para o estágio 1 da seleção nacional de hóquei em patins

As atletas Carolina Gonçalves, Ana Rita Reis e Ana Catarina Fer-reira receberam a convocatória para o primeiro centro de treinos da Seleção Nacional de Hóquei fe-minino, em seniores, a decorrer na vila do Luso, entre os dias 15 e 17 de abril.

“É com muita satisfação que en-caramos que atletas nossas sejam recrutadas para a seleção nacio-nal”, revela o presidente da Secção de Patinagem da Associação Aca-démica de Coimbra (SP/AAC), Rui Freire. Segundo o mesmo, esta é já a segunda convocatória que, pelo menos, duas das atletas agora con-vocadas conquistam. “A Ana Cata-rina e a Carolina já representaram a seleção e são apostas ganhas”, afirma Rui Freire, que não esque-ce a terceira convocada deste ano (Ana Rita Reis) e que considera ser “uma excelente atleta e uma exce-lente guarda-redes”. Expressa o de-sejo de que as três possam integrar o grupo de dez finalistas que vão formar a seleção nacional oficial, a competir no Campeonato Europeu deste ano.

Para as atletas, esta foi uma no-tícia recebida com grande entusias-mo. Carolina Gonçalves, que joga na posição de avançada, revela que ficou satisfeita com a notícia e que

representa uma continuidade do trabalho que a equipa tem vindo a desenvolver ao longo dos dois últi-mos anos. “Mostra o bom trabalho do que se tem vindo a fazer na Aca-démica, tanto pelos treinadores, como pelos dirigentes e também pelas minhas colegas de equipa”, confessa.

“Fiquei surpreendida, não se fa-lava em nada do Europeu”, confes-sa, por sua vez, Ana Rita Reis, tam-bém jogadora avançada da equipa sénior. Apesar de também estar satisfeita com a chamada, tenta ser realista ao afirmar que a equipa

ainda pode vir a sofrer várias altea-ções, dado que este é apenas o pri-meiro estágio. “Agora é observação, para ver como é que estamos e de que forma respondemos ao treino que eles [seleção nacional] fazem. Depois são seriadas dez pessoas. No meu caso, que sou guarda-re-des, vão três, e só passarão duas”, explicita a jogadora. Ana Catarina Ferreira partilha da mesma opi-nião: “não sei que equipa vai ficar, mas com as jogadoras que temos penso que podemos ficar bem clas-sificadas”.

A convocatória exerce um gran-

de impacto para a equipa, para a secção, mas, acima de tudo, para as atletas. “A maior concretização a nível de desporto é ser chama-da à seleção. É ver concretizar os sonhos de toda a gente: para mim, para os meus pais, para a equipa, para a direção, para a secção e para a Académica. Senti-me honrada”, reconhece Ana Rita Reis. O presi-dente da SP/AAC atesta que, apesar de serem um clube universitário, sempre apostaram muito na for-mação dos mais jovens. Diz ser “um esforço que a Académica sempre fez na formação” dos seus atletas.

AAC vs. SLB2-2 foi o resultado do jogo dispu-tado entre a equipa sénior femini-na da Académica e o Sport Lisboa e Benfica. Rui Freire reconhece o bom trabalho das atletas durante a partida e afirma que o jogo deixou “um ligeiro cheirinho de injusti-ça”. “Estávamos a poucos minutos do fim e o Benfica lá empatou”, la-menta. A equipa da Secção de Pati-nagem tem vindo a fazer uma boa época, segundo o seu presidente, e já estão na fase final do campeona-to nacional com boas perspetivas de futuro.

Carolina Gonçalves, Ana Catarina Ferreira e Ana Rita Reis são as três convocadas de Coimbra para a Seleção Nacional de Hóquei

Ana DuarteCarolina Varela

d.R.

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cidade

Tendo em vista o atual pa-norama relativo à crise eco-nómica, que tem conduzido

ao aumento do preço da gasolina, surge a oportunidade de criar con-dições de integração e promoção de meios de transporte alternativos, não poluentes e menos dispendio-sos. Assim, ser encarada como uma cidade ciclável é um dos desafios que Coimbra está a tentar a supe-rar. No entanto, o relevo aciden-tado da cidade é colocado como o principal obstáculo por todos aque-les que gostariam de optar pela bi-cicleta como meio de transporte habitual.

Criados em janeiro deste ano, os grupos Coimbr’a’Pedal e Peda-ladas por Coimbra surgem com a intenção de popularizar a prática do ciclismo. Apresentar percursos, organizar eventos e reunir poten-ciais ciclistas para discutir ideias que viabilizem o melhor aprovei-tamento dos espaços urbanos são algumas das atividades propostas.

O movimento Coimbr’a’Pedal, fundado pela engenheira civil Inês Frade e o seu grupo, nasceu a par-tir de debates do Improve Coimbra, um encontro entre pessoas que se propõe a resolver problemas da ci-dade. “Começámos a discutir como melhorar o estacionamento”, lem-bra a engenheira, “mas defendi que, se apreciarmos as ruas, vemos que estão cheias de carros e o que se deveria tentar fazer era com que as pessoas mudassem os hábitos de mobilidade”.

Dessa forma, o principal obje-

tivo do grupo tornou-se mostrar a toda gente que, apesar dos declives acentuados, Coimbra tem capaci-dade de acolher a bicicleta para via-gens diárias. Inês Frade faz questão de lembrar que “Coimbra não é só a subida da Avenida Sá da Bandeira, tem toda uma zona muito plana, como é o caso da Solum e da zona da Baixa”.

O Coimbr’a’Pedal não ignora o facto de Coimbra não estar adap-tada ao ciclismo, mas defende uma ação a longo prazo. “Só se ganhar-mos massa é que teremos expres-são, porque se duas ou três pessoas chegarem à Câmara Municipal de Coimbra (CMC) e pedirem qual-quer coisa, não acontece nada”, enfatiza a engenheira. Para atingir essa massa o grupo conta com duas plataformas digitais, uma página no Facebook e um site, onde se empenha na divulgação de percur-sos fáceis para uso diário e na de-monstração das vantagens do uso da bicicleta para o ciclista e para a cidade.

Já o Pedaladas por Coimbra sur-giu como um projeto pessoal do ciclista João Pires, que começou a publicitar os seus trajetos num blogue. “Já andava de bicicleta há uns três ou quatro anos e não en-contrava grande companhia”, lem-bra. Hoje, o grupo ainda é pequeno, mas encontra-se pelo menos uma vez por semana e costuma per-correr as localidades de Penacova e Cantanhede, normalmente aos fins-de-semana.

Para além dessas iniciativas cole-

tivas, há também aqueles que, por conta própria, elegeram a bicicleta como meio de transporte habitual. É caso do estudante de mobilidade de Engenharia Informática, Sérgio Andrade, que desde que chegou a Coimbra, há seis meses, utiliza a bicicleta como meio de transporte para se deslocar até à universidade. “Tive dificuldade em subir as ladei-ras, mas foi só no início. A princi-

pal vantagem de andar de bicicleta é chegar mais rápido aos lugares, sem precisar de pagar mais por isso”, revela o estudante a respeito dos benefícios que o levaram a op-tar por esse meio de transporte.

Infraestrutura – Comoresolver?É notável que há uma série de in-fraestruturas indispensáveis à pra-

tica do ciclismo que estão a faltar em Coimbra e esse é um dos aspe-tos que mais afasta as pessoas de usarem a bicicleta habitualmente. “Dos passeios que vemos nas ci-dades, muitos não respeitam as regras de dimensionamento. A ci-dade não está pensada para a bici-cleta”, exemplifica Inês Frade.

O coordenador do Pedaladas por Coimbra ressalta que uma das me-didas básicas que poderia ser toma-da, assim como já ocorre em alguns países, é a complementação da mobilidade ciclável pelo transporte público, com a colocação de supor-tes nos autocarros para o encaixe das bicicletas. “Nas vias prioritá-rias dos autocarros poderia haver linhas e sinais a dizer que também ali poderiam circular ciclistas. A nível de infraestruturas, deveria haver balneários ou qualquer tipo de coberto para bicicletas”, com-plementa ainda o coordenador.

Lançado em 2008 pela CMC, o projeto de construção de uma ciclo-via entre Coimbra e a Figueira da Foz, com passagem por Montemor--o-Velho, encontra-se suspenso. Como foi adiantado pelo Expres-so em outubro de 2012, as obras encontram-se suspensas devido à falta de financiamento, as quais se-riam executadas com um custo de cerca de seis milhões de euros, a 85 por cento por verbas do Quadro de Referência Estratégica Nacional e os restantes 15 por cento divididos pelas autarquias de Coimbra, Mon-temor-o-Velho e Figueira da Foz.

com João Valadão

O número de grupos dedicados ao ciclismo está a aumentar em Coimbra. No entanto, a cidade ainda carece de infraestruturas de apoio

Coimbrauma cidade ciclável?

Hoje, a bicicleta tem vindo a conquistar o seu espaço como uma alternativa ao transporte particular e um complemento ao transporte público em percursos curtos. Neste contexto, está a crescer o número de grupos que visam promover a mobilidade ciclável em coimbra. Por camila correia e anna charlotte Reis

rafaela carvalho

rafaela carvalho

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ciência & Tecnologia

Desleixo e falta de investimento perpetuam focos de tuberculoseentre aparelhos médicos e documentos históricos, a exposição “luta contra a Tuberculose” conta a história da doença que matou milhares de pessoas e que ainda sobrevive

O número 17 da Rua Castro Ma-toso abriga uma coleção de apon-tamentos e utensílios históricos re-ferentes à tuberculose, nunca antes divulgados ao público. Cedida pela Fundação Bissaya Barreto à Funda-ção Portuguesa do Pulmão (FPP), a casa dá espaço à primeira exposição da FPP em Coimbra, que se prolon-ga até 30 de junho.

Com o ‘slogan’ “Stop TB in My Lifetime” (“Acabar com a Tubercu-lose na minha geração”, tradução livre), a FPP pretende dar maior luz ao problema de tuberculose em Portugal e no mundo. A primeira exposição da delegação de Coimbra “centra-se na temática da tubercu-lose, hoje em dia considerada uma vergonha internacional”, determi-na o delegado distrital da FPP de Coimbra, João Rui de Almeida.

O delegado refere que “zonas como a África, a Ásia e a Euro-pa de Leste têm problemas mui-to graves”, facto que as afasta do positivo decréscimo anual de 6,4 por cento que se têm registado em Portugal. No entanto, o país ainda está aquém dos números aponta-dos pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para países de baixa incidência – 20 casos por 100 mil

habitantes.As peças expostas retratam al-

guns dos momentos mais relevantes na história da luta contra a doença, que em 1860 matava entre 12 mil a 15 mil pessoas por ano. Nebulizado-res antigos, estetoscópios, um apa-relho do pneumotórax, um carro de desinfeção pública e selos de pro-moção da luta contra a tuberculose são alguns dos apontamentos que figuram o espaço da casa onde está patente a exposição. Os artigos ex-postos chegam de vários pontos do país. O Hospital da Universidade de Coimbra, o Hospital dos Covões, a Faculdade de Medicina da Univer-sidade de Coimbra, o Instituto de Higiene e Medicina Social, o Museu da Ciência, a Sociedade Portuguesa de Pneumologia de Lisboa e algu-mas coleções particulares cederam

algum do seu espólio à mostra.

A doença e o doenteNos dias que correm, a tuberculose continua muito associada a meios onde a pobreza, a degradação e a promiscuidade imperam e as de-fesas imunitárias se ressentem. O contágio é o principal fator de propagação da doença. João Rui de Almeida alerta para a gravidade da “existência de pessoas que sa-bem estar infetadas e não tomam as devidas precauções, criando um perigo para a saúde pública”. A ne-cessidade de uma consciencializa-ção para os sintomas da doença é uma das prerrogativas que os rege. “A pessoa sente-se mais fraca, ema-grece, tem falta de apetite, apresen-ta uma febrícula que se mantem durante dias e uma tosse persisten-

te”, pormenoriza o presidente da delegação.

Nos últimos anos, “a tuberculose encontrou um aliado explosivo – o HIV”, alerta o delegado. O mesmo adverte que o número de pessoas infetadas com o vírus da Sida a con-traírem tuberculose “é muito ele-vado”, fator preocupante, uma vez que destrói o sistema imunitário do paciente, tornando-o completa-mente suscetível.

“As pessoas desmontaram os sa-natórios, quase que desapareceu a estrutura, mas anda aí um resto que nos envergonha”, lamenta o presi-dente, que atribui a culpa da não extinção da doença a algum “deslei-xo das pessoas”.

O presidente enfatiza algumas das questões que mais prejudicam a erradicação da doença. “Um tra-

tamento hoje demora cerca de seis meses, os medicamentos usados são os mesmos de há muitos anos, está-se a criar resistência aos anti-bióticos e os laboratórios interna-cionais deixaram de estudar estas moléculas porque não lhes dá ren-dimentos”, alerta João Rui de Al-meida.

O delegado acredita que “se houver um maior investimento de todos os países na pesquisa de no-vos antibióticos, novos métodos de diagnóstico e novas formas de tra-tamento, tudo é capaz de se resol-ver”. A exposição, que pode ser vi-sitada, de forma gratuita, mediante marcação, tem como mote reavivar a memória de todos para um pro-blema que manchou o passado, continua a afetar o presente e cuja extinção é urgente.

Em 1882, Robert Koch - prémio Nobel da medicina - identifica o bacilo da tuberculose

Ian Ezerin Joel Saraiva

Carolina Varela

Cirurgia cardiotorácica – um balanço de 25 anoso centro de cirurgia cardiotorácica de coimbra comemora um quarto de século. em continuidade com o trabalho desenvolvido, abre as portas ao balanço dos últimos anos

Com um volume crescente de atividade, o Centro de Cirurgia Cardiotorácica de Coimbra (CCC) celebra 25 anos. Hoje, sem lista de espera, o centro opera cerca de 1850 pacientes por ano e conta

com uma taxa de mortalidade in-ferior a um por cento.

O diretor e cirurgião do Centro, Manuel Antunes, orgulha-se dos números: “não há nenhum Cen-tro, entre corações e pulmões, na Península Ibérica, que ultra-passe 1500 pacientes operados”. “Os dois tipos de cirurgia que se fazem mais frequentemente são a cirurgia da revascularização co-ronária e as cirurgias valvulares - essas duas preenchem três quar-tos da nossa atividade”, ressalta.

Segundo o médico, o CCC tem “um sistema de gestão diferente do habitual nos serviços clínicos”. Manuel Antunes adianta que o centro prima por um serviço ba-seado no trabalho em equipa, no “controlo completo que o diretor assume de todas as coisas” e na exclusividade dos médicos, que

“trabalham cerca de 80 horas se-manais”.

O modelo de trabalho no Centro afasta-se da burocracia excessiva: “quando o diretor e o administra-dor decidem adquirir qualquer coisa ou contratar alguém, desde que esteja contratualizado e que haja orçamento para isso, não ne-cessitam de andar de administra-dor em administrador”, explica o diretor Manuel Antunes.

A equipa geral do Centro é formada por cerca de 115 pesso-as, das quais vinte são médicos. Do conjunto não se contam só portugueses, há dois médicos de origem espanhola. A presen-ça internacional também pode ser percebida entre os pacientes. “Recebemos, com frequência, doentes de Espanha. Alguns ser-viços hispânicos enviam doentes

especialmente para a cirurgia conservadora da válvula mitral, que é uma das marcas do servi-ço”, destaca o diretor.

Manuel Antunes nota que “a população do país está a diminuir e o número de doentes globais em cirurgia torácica não está a au-mentar”. O “aumento de experi-ência e refinamento dos métodos do Centro”, salientados por Ma-nuel Antunes, são também o fator que aponta para o baixo índice de mortalidade.

A atividade do centro iniciou-se em 1988 “praticamente do nada”, lembra o diretor. Em meio ano o Centro conseguiu superar os nú-meros dos nove anos anteriores, com um registo de 250 operações, em oposição às 183 feitas durante quase uma década anterior.

com Carolina Varela

Camila CorreiaIan Ezerin

carolina varela

carolina varela

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biTcoin

O sistema bancário, um dos pilares no qual se assentou a génese da sociedade capi-

talista, apresenta alguns sintomas de alarme, sendo cada vez mais evidentes os sinais de desconfiança das pessoas no setor, como demon-stra o atual caos financeiro que ameaça propagar-se pela Europa. A crise do euro, que para muitos era apenas um problema regional grego, provou que os problemas de um estado são transversais e se expandem a toda a comunidade europeia – sendo o mais recente exemplo a crise dos bancos no Chipre.

Essa perda de confiança no setor financeiro é referida pelo econo-mista e investigador do Centro de Estudos Sociais (CES), Nuno Teles, que assume “perceber a motivação que está por detrás” destes sistemas monetários alternativos. A bitcoin [ver caixa] é uma dessas moedas. A forma como esta é apresentada, refere ainda Nuno Teles, “descen-tralizada, ‘peer-to-peer’, pode ser muito atraente” pelo seu conceito e a pela sua facilidade de uso. Nas

últimas semanas foi notório um grande ‘buzz’ à volta desta moeda virtual, em parte justificada pela novidade que é, e como explica o investigador do CES, deu origem a que “em 2013 o valor [da bitcoin] tenha aumentado 600 por cento”.

A bitcoin, nascida na internet, não tem limites quanto ao alcance da sua potencial utilização. Para o gestor da Loja Bitcoin Portugal, Pedro Fernandes, “com este sis-tema qualquer pessoa do mundo pode criar uma conta para receber dinheiro e enviar, não há mesmos limites”. Essa grande facilidade, reiterada pelo gestor, baseia-se no facto de não ser necessário nome ou registo. “É um processo imediato”, acrescenta. Quanto às motivações de outros utilizadores, Pedro Fer-nandes não ignora que algumas se baseiam em reações anti-governos ou anti-bancos, apesar de a sua “onda” ser apenas “a facilidade de pagamentos pela internet”.

A moeda é apontada por muitos como uma alternativa aos paga-mentos em negócios virtuais. Para o diretor técnico da PM-AKORDE-

ON Editora - uma das lojas em Portugal a aceitar pagamentos em bitcoins -, Rui Santos, foram as vantagens de “eliminação de inter-mediários e da necessidade de con-fiança em terceiros” exigidas pelos tradicionais métodos eletrónicos de pagamento. Rui Santos teve conhecimento do funcionamento da bitcoin “ao procurar na nternet por métodos de pagamento sem re-strições e de baixo custo”.

Extração e especulação“A inspiração do ouro é muito clara”. Quem o diz é o investiga-dor Nuno Teles para explicar que a produção da moeda é feita de forma semelhante ao que acontece com a extração do ouro. É necessário eq-uipamento próprio bem como hor-as de procura para obter este metal precioso. Paralelamente, dado que a moeda é produzida através da ca-pacidade de computação, existem também alguns custos associados à necessidade de uma elevada ca-pacidade de processamento, bem como de eletricidade e, claro, tem-po.

Teoricamente, a bitcoin é uma alternativa de valor às moedas con-vencionais porque não há nenhum banco central a controlar a emis-são da moeda. Mas o ritmo da nova moeda que entra faz com que o val-or da moeda seja sobretudo deter-minado pela procura e pela oferta da mesma, o que, para Nuno Teles, “traz grandes problemas”. O facto de ser somente um mercado que determina o valor da moeda, de forma livre, faz com que “a sua vol-atilidade seja muito maior”, critica.

Tanto Pedro Fernandes como Rui Santos não se dedicam ao ‘mining’ de bitcoins - processo de obtenção de bitcoins a partir das capacidades do computador para a resolução de problemas matemáti-cos que surgem na rede –, mas sim à compra e venda desse ouro virtual. Poderá assim a bitcoin transformar-se num produto de especulação?

O risco de “bolha”Existem diferentes visões que poderão responder a esta pergun-ta. Se, por um lado, a especulação

pode resultar numa valorização do valor da moeda, o inverso tam-bém pode acontecer, pois torna-se problemática a existência de especulação “sem ter uma eco-nomia forte por trás”, reconhece Pedro Fernandes como um “bo-cado problemático”. Ainda assim, para o gestor da Bitcoin Portugal existe economia real a sustentar esta moeda virtual, já que existem empresas a aceitar pagamentos de bens reais neste sistema mon-etário.

Contudo, há o risco de “bolha” especulativa e até de ‘crash’, isto se a bitcoin registar um decréscimo abrupto no seu valor. Por sua vez, Nuno Teles apresenta uma análise mais apreensiva ao referir que o objetivo da bitcoin “não é não haver especulação”. Para o economista, a única garantia dada é que a massa monetária é sempre a mesma, o que origina uma total liberdade de mercado. “Se houver muita procura o valor cresce, se a procura colapsar ele desce”, esclarece o in-vestigador, que não concorda que esta regulação do valor monetário

Apesar de ser uma moeda virtual, a bitcoin tem também uma representação física que presenta o código que dá acesso à conta de cada utilizador. O ‘buzz’ mediático à volta desta moeda tem impulsionado o seu valor

O negócio

Em tempos de descrédito na economia tradicional, ressurge a velha ideia das moedas privadas, que se alia aos desenvolvimentos tecnológicos e impulsiona o desenvolvi-

mento de sistemas monetários virtuais e independentes de regulação. o sucesso da bitcoin é oexemplo mais recente.

contudo, inicia-se a discussão: será esta moeda viável? Por Ana Morais e Daniel Alves da Silva

do ouro virtual

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biTcoin

Apesar de ser uma moeda virtual, a bitcoin tem também uma representação física que presenta o código que dá acesso à conta de cada utilizador. O ‘buzz’ mediático à volta desta moeda tem impulsionado o seu valor

pelo próprio mercado seja “por na-tureza justo”.

Do lado oposto está Rui Santos. Para o empresário, a bitcoin “mu-dou o dinheiro”, sendo uma “ex-periência única e revolucionária de costumes, políticas e perceções económicas e monetárias”. Embo-ra admita que a bitcoin ainda não seja muito utilizada em compras, Rui Santos refere que muitas moe-das deverão ter sido compradas “como investimento”. Justifica-se com os dados recentes da sua loja, que permite também a compra de bitcoins, onde se registou um “au-mento exponencial” desses pedi-dos nos últimos dois meses.

Regulação procura-sePara evitar o rebentar de uma eventual bolha especulativa urge procurar soluções. Confrontado com esse problema, Pedro Fer-nandes propõe a “quem goste de bitcoin”, àqueles que imaginem uma boa alternativa a pagamentos na internet, que não a estejam ap-enas a comprar, mas “a participar na economia”: recebendo paga-

mentos, utilizando-a como recom-pensa pela partilha de conteúdos, aceitando a moeda “como método alternativo” de trocas comerciais.

Para Nuno Teles, o princípio da bitcoin “não é para estar ao serviço da economia”. Encontra-se im-plícita nesse sistema uma crítica à emissão desmedida de moeda dos sistemas fiduciários – onde se utiliza uma moeda baseada na confiança, em que os estados e os bancos centrais manipulam a quantidade de moeda que existe em circulação – como é o caso do euro ou do dólar. Neste sentido, existe um sentimento “anti-estatal e anti-intervenção pública”, asse-vera o economista. Assim sendo, a ideia da bitcoin pode ser consid-erada “anarco-capitalista”, em que é “o mercado a determinar tudo”, sem qualquer tipo de intervenção estatal. Porém, o investigador é cé-tico quanto à perda do monopólio estatal e dos bancos centrais na emissão de moeda, já que acredita que “os estados nunca deixarão que esse poder seja colocado em causa”, e os estados têm o poder de

regular este tipo de mercado alter-nativo.

Pedro Fernandes, com a loja a funcionar desde 1 de fevereiro, queixa-se da falta de regulamen-tação destes sistemas. Tendo con-tactado o Banco de Portugal no dia 10 de janeiro para obter esclareci-mentos legais sobre a bitcoin, ain-da não obteve qualquer resposta. Ainda assim, pede, “é bom haver alguma regulação”.

O período da história capitalista em que houve mais estabilidade fi-nanceira e crescimento económico, segundo o economista, foi na época em que as moedas eram “mais reg-uladas”, no período de pós-guerra. Nuno Teles percebe a perda de confiança no setor financeiro, con-tudo considera que a alternativa “não é privatizar tudo”, mas sim “democratizar as esferas dos ban-cos centrais”. Referindo-se aos bancos centrais, indica que estes “devem ser escrutinados e estar de-pendentes do poder democrático” criticando a sua independência que tem conduzido à falta de confiança no setor financeiro.

Apesar de ser um processo que começou a ser discutido em 2008, só em 2009 a bitcoin foi oficialmente lançada para a rede. O sistema que funciona de forma descentralizada, isto é, num sistema em que os computadores estão ligados diretamente uns aos outros, e a própria rede gera automaticamente moeda a partir do nada, foi criado pela mão de alguém com o pseudónimo de Satoshi Nakamoto.

A produção da bitcoin é proporcional ao poder de computação e o seu valor é guardado em ficheiros existentes na rede. O protocolo de funciona-mento funciona de forma semelhante ao bittorrent, onde cada ponto transmite transacções e verifica se estas são válidas antes de as retransmitir. O processo de validação e confirmação da transacção dá-se em poucos segundos. A sua emissão é feita automaticamente, sem qualquer tipo de intervenção humana.

As unidades bitcoin são criadas a ritmo previsível, que diminui para metade a cada 4 anos, estando o seu número máximo limitado a 21 milhões, isto é, quando este valor for atingido a sua emissão pára. Neste momento são criadas 25 unidades bitcoin de dez em dez minutos. Sendo que as bitcoins emitidas até à data se encontram próximas da metade de todas as bitcoins que serão disponibilizadas até 2140, se a rede se mantiver em funcionamento até lá. Contudo, o crescimento do número de moedas tende a diminuir, e segundo algumas projecções, em 2017 se terão gerado três quartos do valor máximo de bitcoins.

Devido á dificuldade de obtenção da moeda - dada a exigência de recursos necessários para a resolver os problemas matemáticos que originam uma bit-coin -, existe um mercado de compra e venda dessa moeda virtual em ‘sites’ criados para o efeito, num regime semelhante aos sistemas de investimento na Bolsa.

Para o membro do Conselho de Administração da Bitcoin Foundation, Jon Matonis, a legitimidade da moeda conquista-se “através do mercado livre e aberto”, acrescentando que este “não é um instrumento que exige legitimida-de regulamentar com o intuito de ganhar aceitação e adoção”. Ainda assim, Jon Matoins acredita numa “adoção generalizada” da moeda virtual.

A géNeSe DA BitCOiN, uMA MOeDA eM exPANSãO

d.r.

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país

Sistema político português (des)adequado à realidade atualNovas formas de pensar a organização política são cada vez mais uma hipótese. O descrédito por parte dos cidadãosno modelo atual é cada vez mais evidente

Ao longo de três décadas de de-mocracia, a relação entre o povo português e o sistema político que os governa é cada vez mais dis-tante. “Há um desfasamento entre o sistema político e os cidadãos”, afirma o professor de Filosofia Polí-tica no Instituto de Línguas e Ciên-cias Humanas da Universidade do Minho, João Cardoso Rosas. Esse desfasamento reflete-se na crítica à classe política em geral, aos parti-dos políticos e na adesão às formas de participação política informais não enquadradas por outras forças organizadas, como as manifesta-ções apartidárias.

O fosso entre o sistema político e os cidadãos é explicado por ra-zões de ordem histórica. “O nos-so sistema político é resultado da forma como a transição política se passou”, afirma o professor do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa (IEP-UCP), Manuel Braga da Cruz, numa referência ao período poste-rior ao 25 de Abril de 1974 marca-do pela inexistência de consensu-alidade em termos de organização politica. O também sociólogo do IEP-UCP reitera ainda que “uma revisão constitucional nessa maté-

ria seria positiva, pois a nossa cons-tituição é resultado dessa transição política”.

Ciclos uninominais implicam riscosAs propostas de reforma do siste-ma eleitoral poderão porventura surgir como solução para esse pro-blema. No entanto, relembra Car-doso Rosas, esta reforma “não vai resolver todos os problemas, nem toda a insatisfação dos cidadãos ”, mas a necessidade de esta se con-cretizar mantém-se. Semelhante opinião é defendida pelo politólogo José Bourdain, que acredita que “o sistema eleitoral português é pro-fundamente injusto, deixando de fora muitos cidadãos, que efetiva-mente vão votar e cujo voto acaba por não contar para nada”. Porém, mostra-se cético quanto à adoção de círculos uninominais (em que se exerce o direito de voto num só candidato), salientando o risco dos “deputados saltarem de partido em partido durante uma legislatura consoante as negociações políticas que são feitas”. O ceticismo em re-lação a esta opção é partilhado por João Cardoso Rosas, que relembra que “o sistema eleitoral maioritário com círculos uninominais favorece os grandes partidos e desfavorece os pequenos partidos em geral”.

Embora a lista de competências atribuídas ao chefe de Estado pela Constituição da República Portu-guesa seja reduzida, a possibilidade de instituir um regime presidencial é afastada por Braga da Cruz, que não considera que fosse uma deci-são acertada, apontando o desfa-samento “entre a legitimidade da figura presidencial, que é enorme, e os seus poderes”. Afia, ainda, como

solução a “diminuição desta legiti-midade, através da revisão do regi-me eleitoral do Presidente da Repú-blica, que passaria a ser eleito por sufrágio indireto”. Posição próxima é a adotada pelo professor do Insti-tuto de Ciências Sociais e Políticas da Universidade Técnica de Lisboa, José Adelino Maltez, que afirma que “o Presidente da República não precisa de ter os poderes aumen-tados”, e acrescenta que “devemos continuar a ter o primado do parla-mento sobre o presidente”.

À parte das consequências que poderiam resultar da instituição deste regime, a possível implemen-tação desta forma de governo não seria desprovida de riscos. “Um re-gime presidencial poderia rapida-

mente evoluir para um regime não democrático”, relembra o professor da Universidade do Minho, embora admita a possibilidade de “um pre-sidente eleito com poder executivo fortalecer a relação entre si e os eleitores”.

Porém, Adelino Maltez reforça que se trata de “um problema de cultura política que não pode ser resolvido através de reformas legis-lativas”. O papel dos partidos polí-ticos mostra-se essencial neste con-texto, defendendo o professor do IEP-UCP que “é fundamental que estes se ancorem mais na socieda-de, pois estão a fazer mal a media-ção entre a sociedade e o Estado”.

com António Cardoso

Pedro Martins

Acesso a cuidados médicos cada vez mais moderadoas taxas moderadoras constituem uma forma de manter os serviços saúde ativos. O condicionamento do acesso à saúde exponencia o crescimento do setor privado

A implementação do novo regime de taxas moderadoras no Serviço Nacional de Saúde (SNS) surgiu como uma das medidas de auste-ridade do Estado, que perante o contexto de crise económica, pre-tendeu reduzir os gastos em todos os serviços públicos. A forma de fi-nanciamento e gestão da saúde em Portugal é hoje cada vez mais posta em causa no que à sua qualidade e manutenção dos serviços diz respei-to.

Embora estas taxas constituam uma forma de equilibrar o orça-mento público para saúde, um dos objetivos primordiais é moderar o acesso da população a esses serviços de assistência médica. No entanto, como é sabido, “estas taxas não têm moderado e não têm constituído razão para moderar o acesso dos utentes, e também não são fonte de financiamento”, afirma o diretor do Centro de Cirurgia Cardiotorácica dos Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC), Manuel Antunes.

Nas palavras da investigadora do Instituto de História Contem-porânea da Universidade Nova de Lisboa (IHC-UNL), Raquel Vare-la, “apesar de se designarem taxas, tratam-se mais de um imposto e são totalmente injustas à luz do traba-lhador que paga todas as funções do Estado”. Opinião que é semelhante à do coordenador regional da zona centro do Sindicato dos Enfermei-ros Portugueses (SEP), Paulo Ana-

cleto, que não concebe a existência dessas taxas no contexto de Estado Social. “Os portugueses pagam im-postos, por isso deveria-se financiar a saúde, a educação, a assistência social, a justiça, que são os pilares essenciais de qualquer economia em qualquer país”, enfatiza.

Apesar da aplicação das taxas moderadoras em Portugal não ser algo atual, o agravamento das me-didas de austeridade levam a um consequente aumento dos preços, conduzindo, então, a uma redução considerável de pessoas a procura-rem assistência médica. “Hoje há uma menor acessibilidade provoca-da pelo aumento do valor das taxas moderadoras e de outros compo-nentes da saúde”, ressalva o enfer-meiro Paulo Anacleto. A limitação do acesso aos serviços médicos faz parte de uma descaracterização progressiva do SNS. “Este gover-no já deu provas de que as pessoas mais idosas não devem ter cuidados

de saúde, as pessoas com doenças crónicas , ou seja, aquilo que o go-verno acha que não é mão de obra produtiva pode ser eliminada.”, cri-tica a investigadora do IHC-UNL.

No entanto, e apesar do orçamen-to do Ministério da Saúde constituir cerca de 15 a 16 por cento do orça-mento global do Estado, esses cus-tos aumentam em média 5 a 6 por cento por ano. O diretor do Centro de Cirurgia dos HUC acredita que “pensar a gerência de um serviço básico como a saúde pelo Estado pa-rece ser uma possibilidade distante atualmente”. Consequentemente, o serviço público de saúde é cada vez mais taxado e as clinicas e hospitais privados parecem cada vez mais beneficiados. “Os seguros em Por-tugal aumentaram em progressão geométrica, portanto o SNS é cada vez mais subfinanciado para que o setor privado floresça em grande medida”, destaca o Paulo Anacleto.

com António Cardoso

Anna Charlotte Reis

Razões históricas explicam o fosso entre o sistema político e os cidadãos

d.r.

carolina varela

“Um regime presidencial poderia rapidamente evoluir para um regime não democrático”

Page 13: Edição nº 259

Numa era na qual se pen-sava que as atenções dos Estados Unidos da Amé-

rica (EUA) se encontravam con-centradas no Pacífico, o início das negociações para a celebração da Parceria Transatlântica de Comér-cio e Investimento (PTCI), a 13 de fevereiro de 2013, veio demonstrar que a importância da UE na agen-da norte-americana se mantem. Como maior destino para o inves-timento norte-americano e seu principal parceiro comercial, a UE

conserva a sua posição de maior potência comercial mundial ao in-tegrar a maior zona de comércio livre do mundo, cujas transações poderão contabilizar mais de 50 por cento do Produto Interno Bru-to mundial.

O apoio dos principais líderes europeus a este projeto não se fez tardar, embora o presidente da República Francesa, François Hollande, se tenha mostrado rece-oso quanto ao acordo. Porém, a re-ação entre os dois parceiros tran-satlânticos não é similar. “Durão Barroso fez deste possível acordo uma enorme festa em Estrasbur-go, ao passo que Obama falou dela apenas numa frase no discurso so-bre o estado da União”, relembra o eurodeputado independente, Rui

Tavares. Contudo, esta divergência de vontades é desvalorizada pelo Conselheiro Político e Económi-co da Embaixada de Portugal nos EUA, Gabriel Escobar, que frisa que se tratou de “uma decisão con-junta do Comissário Europeu do Comércio, do presidente dos EUA, do presidente do Conselho Euro-peu e do presidente da Comissão Europeia de colocar as negociações em marcha”.

As expectativas relativamente às consequências deste acordo não

têm gerado consenso. “A abertu-ra a um potencial de crescimento económico e de criação de empre-go dos dois lados do Atlântico” é apontada pela eurodeputada so-cialista, Ana Gomes, como sendo uma vantagem significativa. To-davia, as fragilidades que algumas economias europeias demonstram no contexto de crise criam algum receio em relação à concorrência dos produtos norte-americanos que vierem a entrar no mercado europeu. Contudo, Rui Tavares relembra que “os problemas que estamos a viver agora são euro-peus, criados por europeus e que poderiam ser resolvidos por euro-peus”, embora admita «o risco de estarmos a entrar numa zona de livre comércio que rapidamente

se torna numa “zona de comércio injusto”».

Envolvimento de lobbies nas negociaçõesUma das consequências apon-tadas incide sobre a regulação económica. As diferenças entre as legislações regulatórias euro-peias e norte-americana têm sido apontadas ao longo das últimas décadas como um dos entraves principais para a entrada de pro-dutos norte-americanos. Esta si-

tuação é especialmente visível no setor agro-alimentar, descrito pela eurodeputada como “o setor que vai oferecer maior resistência ao acordo”. Esta resistência levanta suspeitas relativamente ao envol-vimento do ‘lobby’ da indústria agro-alimentar norte-americana, que muitos suspeitam estar por de-trás do início das negociações, de forma a baixar as barreiras de en-trada no mercado europeu. Essas mesmas alegações são recusadas por Gabriel Escobar, que afirma que “os EUA têm sido muito trans-parentes em relação à vontade de avançar nas negociações”.

As suspeitas têm gerado oposi-ção ao acordo por parte de diver-sas associações de defesa do con-sumidor europeias, que temem

que os consumidores venham a ser prejudicados pela entrada dos produtos norte-americanos, cujo preço é mais baixo, em consequên-cia da flexibilidade da regulação desse setor nos EUA. As críticas ao acordo não se circunscrevem ao se-tor agroalimentar. A possibilidade de homogeneização da legislação sobre propriedade intelectual tem gerado oposição por parte de ati-vistas pela proteção de dados, que temem que esta venha a evoluir no sentido de facilitar o comércio de

dados pessoais, algo que acontece nos EUA. O mesmo acontece rela-tivamente ao setor informático e à indústria cinematográfica, cujos interesses em proteger os seus produtos no mercado europeu são conhecidos.

Acordo tem efeitos geopolíticosOs efeitos não se cingem ao cam-po económico. Em termos geo-políticos, “a criação desta área de comércio livre representa um fator de estabilidade da ordem interna-cional”, afirma o investigador do Instituto Português de Relações Internacionais, Carlos Gaspar. O crescimento económico oriundo deste acordo é apontado como uma vantagem económica em rela-

ção à China, que tem sido a maior concorrente dos dois países na úl-tima década. Ana Gomes relembra a “concorrência desleal por parte da China”, referindo “o efeito dis-ciplinador que este acordo terá nas relações comerciais”. Esta postura defensiva é desvalorizada por Rui Tavares. “As interdependências são muito grandes. Acho que am-bos vão agir muito discretamente, de forma a não pôr a China em causa”, afirma o eurodeputado.

A possibilidade de uma integra-

ção mais aprofundada no espaço transatlântico tem sido proposta pelos intervenientes. Num relató-rio oficial elaborado pelo grupo de trabalho euro-americano para o emprego e crescimento, este acor-do deverá ser elaborado de forma a evoluir com o tempo, abolindo progressivamente as barreiras ao comércio e ao investimento e criando mecanismos que permi-tam um aprofundamento da inte-gração. Todavia, a direção na qual esse processo irá evoluir é deixada em aberto. Como afirma o eurode-putado, “não deve haver qualquer rigidez de princípio”, não deixando de reiterar que “a Europa deve es-tar na linha da frente nessas maté-rias”.

com António Cardoso

9 de abril de 2013 | Terça-feira | a cabra | 13

mundo

O negócio de Bruxelas e Washingtonnegociações de acordo de comércio livre transatlântico recentram a união Europeia (uE) no panorama internacional. o envolvimento de grupos de interesse provoca resistência ao acordo. A possibilidade de concretização do acordo abre a porta para uma integração mais profunda. Por Pedro martins

ilustração por joão pedro fonseca

Page 14: Edição nº 259

Mata-os suavemente”

14 | a cabra | 9 de abril de 2013 | Terça-feira

arTesc

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“”

Oz: Grande e Poderoso

De

Sam Raimi

Com

JameS FRanco

michelle WilliamS

Rachel WeiSz

2013

Oz: o grande e bomcrítica de Manuel robiM

É natural e inevitável que seja traçado um paralelismo – ou antes, uma linha de conti-

nuidade – entre “Oz: The Great and Powerful” e “The Wizard of Oz”, o clássico de 1939 escrito por Lyman Frank Baum. Afinal de contas, e ape-sar de a Disney não admitir oficial-mente que se trata de uma prequela desse tão aclamado filme, “Oz: The Great and Powerful” conta a história do “grande e poderoso” feiticeiro de Oz, como ele chegou lá e que cami-nho percorreu para se tornar, uma vez mais, um grande e poderoso fei-ticeiro.

Oscar Diggs, interpretado por Ja-mes Franco, é conhecido no mundo do espectáculo como Oz, mas na verdade não passa de um ilusionis-ta egocêntrico e mulherengo, per-tencente a um circo ambulante que actua pelo Kansas. Estas suas carac-terísticas tornam-se evidentes du-rante a pequena introdução a preto e branco que Sam Raimi nos ofere-ce. Oz, pelo meio de confusões com mulheres e maridos de mulheres,

acaba por ter de fugir num balão de ar quente enquanto um tornado se movimentava e ia destruindo tudo o que aparecia. À semelhança de Do-rothy Gale em “The Wizard of Oz”, o ilusionista acaba por aterrar numa terra de paisagens deslumbrantes e recheada de criaturas mágicas e flo-res do tamanho de automóveis: este lugar é Oz. Acaba por ser uma rapa-riga tímida (Mila Kunis, no papel de Theodora, uma bruxa pacífica) que, ao encontrá-lo assim que ele cai do céu, o informa da grande profecia daquele lugar: um dia chegaria um homem vindo do céu, com o mesmo nome daquela terra, que libertaria todo o povo dos grandes males que ali convergem – neste caso, da mal-vada bruxa, Wicked Witch – para de-pois se tornar rei.

Apesar de não ser brilhante, Ja-mes Franco cumpre no seu papel, acrescentando uma personalidade misteriosa a um homem aparente-mente pouco profundo e muito ego-ísta. Rachel Weisz como bruxa Eva-nora, irmã de Theodora, e Michelle

Williams como Glinda, a bruxa boa, acrescentam seriedade e leveza, respectivamente, conseguindo unir um argumento que não vai muito para além daquilo que pode. Ainda acompanhando Oz nesta jornada encontramos Finley, um fiel maca-co voador com a voz de Zach Braff e também um outro elemento que me impressionou pelo alcance emocio-nal gigantesco que acrescenta. Falo da pequena boneca de loiça, que ga-nha vida através da voz de Joey King.

Poderia ser irónico que Oz tenha sido apelidado de grande e poderoso, tendo em conta que se trata de um ilusionista do início do século que, munido de truques que iludem os espectadores, leva-os a acreditar que a magia é real. Mas é exactamente esse o ponto-chave deste filme: cren-ça. Oz não é um feiticeiro, é um ilu-sionista, e o verdadeiro desafio deste homem que “não quer ser bom, mas sim ser grande” é conseguir a crença da sua audiência. E a sua audiência desta vez é o povo desesperado de Oz.

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Outono de 2008. Início da crise financeira nos Es-tados Unidos e colapso

da banca com os resultados que hoje são conhecidos. Esta cons-titui a ação secundária que serve de pano de fundo na narrativa de uma outra crise. Enquanto Bush e Obama discursam e tentam en-contrar soluções, Jackie Cogan (Brad Pitt) – um emotivo assas-sino a soldo – tenta encontrar os responsáveis pelo assalto a uma casa de jogo, propriedade de ele-mentos do crime organizado de um obscuro subúrbio de Nova Orleães. Depois da ocorrência, o negócio do jogo ilegal vê-se aba-lado na sua fiabilidade. A tarefa de encontrar aqui pontos de con-tacto entre a ação principal e se-cundária torna-se fácil: após um

assalto que origina uma crise, há um sentimento generalizado de que é preciso responsabilizar alguém e levá-lo à justiça (inde-pendentemente do seu grau de culpa e do modelo em que esta é apresentada).

O realizador Andrew Domi-nik conta ainda com poucos trabalhos no currículo: apenas duas longas-metragens antes de chegar a “Mata-os Suavemen-te”, sendo que, na sua estrutu-ra essencial, há similaridades entre este filme e o anterior, “O Assassínio de Jesse James pelo Cobarde Robert Ford”. Se o ‘trailer’ promete fartas cenas de pancadaria e violência ‘à la’ Hollywood, estas apenas consu-mem alguns minutos à hora e meia, fazendo basear a película

nos diálogos e relações entre per-sonagens de moral questionável. Os efeitos especiais, ainda que escassos, pecam por algum exa-gero, fazendo com que algumas cenas fiquem mais folclóricas que esteticamente agradáveis.

Dominik vai buscar outra vez Brad Pitt para fazer um filme com um ritmo notável sem pre-cisar de recorrer constantemen-te aos espirros de sangue. Já para desempenhar os principais papéis de mafiosos e criminosos, a escolha torna-se demasiado óbvia, com James Gandolfini, Ray Liotta e Vicent Curatola muito colados a este tipo de per-sonagens. Não foi um êxito, nem será um clássico, mas constitui um eficaz instrumento de entre-tenimento. caMilo soldado

De

andReW dominik

eDitora

PRiSvideo

2013

entretém-me suavemente

filme

Artigo disponível na:

Page 15: Edição nº 259

9 de abril de 2013 | Terça-feira | a cabra | 15

feiTas

ouvir ler

jogar

“A memória é o essencial, visto que a literatura está feita de sonhos e os sonhos

fazem-se combinando recordações”. A frase de Jorge Luís Borges encaixa na premissa de Leopoldo Brizuela para o livro “Numa mesma noite”. Por entre uma narrativa com influências do seu conterrâneo Borges, o escritor argenti-no reconstrói as memórias (suas e co-lectivas) à volta da ditadura argentina e da sua convivência com o presente.

O livro, galardoado com o prémio Al-faguara em 2012 (um dos mais impor-tantes prémios literários de língua es-panhola), dialoga entre o 2010 e 1976, em duas histórias distantes no tempo e na situação política vivida, mas uni-das por circunstâncias incrivelmente semelhantes. A personagem principal, Leonardo Bazán, é quem narra as duas histórias por ele testemunhadas. Dois assaltos à casa dos vizinhos, dois tem-pos, mas uma situação colectiva seme-lhante, um silêncio idêntico, movido por clandestinidades e suspeitas.

Leonardo Bazán, para além das ini-ciais do seu nome serem as mesmas que as de Leopoldo Brizuela, também ele é escritor e também ele era adoles-cente aquando da ditadura militar na Argentina. Com laivos autobiográficos claramente assumidos, esta é tam-bém uma viagem do próprio escritor argentino à sua infância. Uma tenta-tiva de, através da literatura, como a

personagem principal também o faz, questionar as suas memórias e de ob-servar como estas se ligam ao presente – uma prática recorrente nos escrito-res da sua geração que cada vez mais se voltam para o período da ditadura argentina.

Como num balancé, vamos saltan-do entre 76 e 2010, nas memórias de Bazán, ajudada por outras vozes e perspectivas de personagens que sur-gem para compreendermos esses dois assaltos movidos em mistério. Cria-se o suspense, com o leitor à procura de um desfecho que una os dois assaltos, e entre ele o que mais se encontra é medo. A cobardia está sempre pre-sente na narrativa de Bazán - o medo como figura central.

Contudo, se o olhar do narrador sobre 76 nos assombra, o retratar do presente desilude. É a parte da histó-ria que menos densidade tem, onde se pedia mais crítica, e menos devaneios existenciais do escritor, de Brizuela e de Bazán, agarrando-se demasiado à literatura e ao processo criativo, do que propriamente à desconstrução da sociedade argentina contemporânea.

“Numa mesma noite”, apesar das críticas aqui lançadas, faz-nos também olhar para o nosso contexto, onde mo-mentos contemporâneos cada vez mais se assemelham a outros tempos e von-tades…

Existe na vastidão da cultura ci-nematográfica e televisiva nor-te-americana um chavão cuja

origem se perdeu algures na repetição contínua de si próprio e que se tra-duz à letra em algo como “nunca leves uma espada para uma luta de pisto-las”. “Metal Gear Rising: Revengeance” (MGR:R) é denegação desta premissa básica. Esqueça-se qualquer lógica bá-sica de combate. Uma espada – que mais parece uma qualquer peça caída do último modelo da Lamborghini – é mais do que suficiente para fazer a frente a dois parentes afastados de um AT-ST, quatro soldados e um puma metalizado, com uma moto-serra presa à cauda, e lança-chamas e mísseis em tudo quanto é parte do corpo. Afinal, é de ‘cyborgs’ que falamos.

Em boa verdade, esqueça-se toda a lógica da mais recente fase da colec-ção, que conta já com dez capítulos. Em “MGR:R”, a furtividade e o tacticismo do movimento estão longes de ser o primordial, ante a espectacularidade e o dinamismo em que a acção se desen-rola. Em pequenos trechos de alucinan-tes combates, onde a destreza de mo-vimento e a necessidade de percepção lesta têm de imperar, a plasticidade das cores e a banda sonora electro/j-pop/rock/por aí fora compõem um rama-lhete capaz de fazer corar o fã mais in-

condicional de “DDR”. “MGR:R” é um jogo de arcada por excelência, onde até os combates são classificados numa es-cala de ‘A’ a ‘S’.

Há uns tempos, logo após o anúncio de “Assassin’s Creed 4” (AC), discutia--se algures nos meandros da internet a longevidade cronológica da série e um hipotético argumento para um episódio no futuro. “Metal Gear Rising: Reven-geance” oferece pistas para uma – má – má sequela de “AC”. Muito forçada-mente, e sobretudo desastradamente, estão lá as marcas do ‘parkour’ que ca-racteriza toda a série dos assassinos. E, entre Ezio e Ratonhnhaké:ton, o modo de luta de Raiden não traz grandes no-vidades.

Sobra-nos, porém, o consolo de per-ceber que “MGR:R” nunca poderá ser uma premonição de um “AC” futuro, na certeza de que seria impossível à Ubi-soft desenvolver um enredo tão básico como o do novo Metal Gear, onde as fa-las se resumem a um diálogo digno de “Silent Jay and Bob”.

Restam-nos também duas certezas: a de a diversão que decorre de ver a quan-tos minúsculos pedaços conseguimos reduzir o cenário, com a ajuda da kata-na, resultaria numa missão adicional, e a de que “MGR:R”, apesar de tudo, não é um jogo para doentes cardíacos.

Numa mesma noite”

joão miraNda

joão Gaspar

Bagaço, ovos moles & diplexil”

É de pouco interesse o signi-ficado de AVC. É tão pro-vável que seja Aveiro City

como Acidente Vascular Cerebral. Um pouco à semelhança do que acontece no EP “Bagaço, Ovos Moles & Diplexil”, AVC vai sendo diferente de faixa para faixa, com apenas quatro denominadores co-muns: DJ Profail, Haka, Spasm e Sarcasmo.

Este quarteto não vem de agora e apesar de pertencerem à nova es-cola de MCs, dada a sua tenra ida-de, são já todos parte integrante do catálogo da No Karma Records: Haka e DJ Profail com a “Mixtape Sixteen”, Spasm com o EP “Ema” e Sarcasmo com o EP “Noites Cal-mas, Dias Felizes”. Um leque de edições que vai tendo como pano de fundo a Ria de Aveiro.

Em “Bagaço, Ovos Moles & Di-plexil”, damos de cara com seis faixas totalmente novas onde, não só os MCs, como também os pro-dutores se apresentam numa for-

ma bastante assinalável. Nomes como MCF, Metamorfiko, Zim, Deloise ou Sam The Kid, garantem que no melhor pano só cai a nódoa se os MCs trouxerem vinho. Sim, vinho! Fala-se de tudo: mulheres, decadência, vontades, loucura, bebedeiras, incertezas...

Tudo isto abordado muitas vezes em tom de brincadeira, mas sempre com um descaramento e uma dose de brutalidade lírica poucas vezes ouvida no RAP português. Quem sabe se não é do bagaço?

A exaltação do ego é de resto a característica mais vincada deste grupo que jura e acredita a pés juntos no tema “havece” que “AVC é do c***lho!” e que de tudo farão para “vencer no meio do azeite”.

No meio da ironia tão característica, afirmam ainda, na ‘press--release’, que “AVC é, sem sombra de dúvida, a pior coisa a sair de Aveiro a seguir ao Paulo Portas”. Talvez por isso seja gratuito, apenas pago para quem quiser contribuir em nokarmarecords.com.

“Bagaço, Ovos Moles e Diplexil” poderia perfeitamente ser a receita de uma terapia de choque de um qualquer curandeiro aveirense. Psicologicamente é a vacina contra o tédio, quanto aos efeitos físicos, esses permanecem no segredo de AVC.

Brilhantina contemporânea

De

AVC

eDitora

No KArmA reCords

2013

Carlos Braz

De

LeopoLdo BrizueLA

eDitora

ALfAguArA

2013

a memóriaimbuída no presente

Plataforma DisPoníveis

ps3, XBoX 360

eDitora

KojimA studios/pLAtiNum

2013

e, no meio disto tudo, onde anda o snake?

Artigos disponíveis na:

guerra das cabras

A evitar

Fraco

Podia ser pior

Vale a pena

A Cabra aconselha

A Cabra d’Ouro

metal Gear rising: revengeance - Xbox 360”“

““

Page 16: Edição nº 259

Portugal em águas, Prosa e Poesia

Abrem-se as portas, os espetadores não se sentam nas cadeiras da pla-teia. Sobem todos ao palco para formar um clima imersivo e intimista. A cortina fecha-se e o cenário já pronto tem cadeiras que, juntas, formam a letra U, e ao centro das cadeiras uma mesa com areia repleta de cartas com poemas. O público senta-se e aprecia o escurecer da sala e o retornar das luzes que convidam a atriz para o centro. Começa a peça.

No Dia Mundial da Poesia, o Teatro Académico de Gil Vicente prestou a sua homenagem através da obra de conceção e interpretação de Neusa Dias, “Portugal em Prosa e Poesia”. Muito bem desenvolvida, a repre-sentação permeia o tema “água” do início ao fim. Os textos e os poemas escolhidos são interpretados com maestria pela atriz. A trilha sonora, uti-lizada para auxiliar no tom e ritmo da peça, também foi escolhida a dedo.

A peça torna-se uma homenagem a Portugal, uma vez que a autora assume a interpretação dos textos, dando vida a diversos portugueses e portuguesas mencionados em textos de Raúl Brandão, José Gomes Fer-reira, Vitorino Nemésio, entre outros. Além disso, a grande capacidade da artista de transportar o público para lugares distantes fez com que a apresentação acabasse por ser um passeio turístico num barco à vela para os inúmeros estrangeiros que estavam presentes naquela noite do dia 21 de março.

Durante os 50 minutos de apresentação, a atriz possui um olhar fun-do e transmite a verdadeira importância da arte para o tempo presente. Como a mesma descreve na carta de apresentação da obra, citando Anto-nin Artaud, “a arte tem o dever social de abrigar o coração da sua época”. Neusa Dias representou o dever brilhantemente, trazendo à poesia uma brisa do mar que jamais conheceu.

Por Caroline Pinheiro

16 | a cabra | 9 de abril de 2013 | Terça-feira

solTasuma ideia para o ensino superiorcriTic’arTe

João Ramalho-SantoS • InveStIgadoR do CentRo de neuRoCIênCIaS e BIologIa CelulaR

A InvestIgAção enquAnto PIlAr de excelêncIA unIversItárIA

“Integrar os alunos o mais possível (e o mais cedo possível) na atividade

produtiva relacionada com a Universidade, e nomeadamente na investigação de excelência, deve ser um objetivo primordial do ensino. O que se apren-de hoje não é estático nem imutável; trata-se, em parte, de conhecimento trabalhado por antigos alunos, que os atuais ino-varão para gerações futuras. Seja investigação básica, seja aplicada; feita em laboratórios, escritórios, institutos, clínicas, bibliotecas, comunidades, campos, empresas. Em todas as Faculdades, em to-das as áreas. É incrível que alunos de outras instituições estejam por vezes mais infor-mados sobre oque se faz em Coimbrado que os seus pró-prios estudantes (e sei que o mesmo se passa noutras Univer-sidades). Para tal é preciso sa-ber identificar (e promover) a Excelência, não apenas presu-mir que tudo é igualmente bom; ou que há cursos de primeira e de segunda.

Não há uma métrica única que meça a Excelência em todas as áreas do conhecimento, mas to-das as áreas têm mecanismos ca-pazes de a identificar. A Demo-cracia menoriza-se quando se demite de avaliar e, pior, quando avalia sem respeitar diferenças. É preciso também pensar a longo prazo: a qualidade do ensino não passa apenas pela conclusão de cursos e preenchi-mento atempado de inquéritos e formulários; mas pelo impacto e

produtividade dos formandos a cinco, dez anos. Desse ponto de vista um erro tem sido a tentação de eliminar diversidade na for-mação, “fidelizando” alunos com Mestrados que são extensões de Licenciaturas, e Doutoramentos que apenas prolongam Mestra-dos. A que acresce a cegueira de considerar todos os alunos de igual modo, em mais um exemplo de democracia colectivista mal aplicada, que nivela por baixo. Os alunos de Doutoramento, sobretudo esses, têm de ser vistos como trabalhadores, porque de facto são dos ele-mentos mais produtivos da Universidade. A inflexibilidade de prazos e as propinas (elevadas) no Terceiro Ciclo são contrapro-ducentes e injustas, porquanto a qualidade necessita de tempo. Não se pode pedir Excelência com rigidez, nem (ape-nas) com docen-tes cada vez mais sobrecarregados.

O que nos leva à ne-cessidade imperiosa de integrar de modo mais consequente e menos en-vergonhado investigado-res dos vários Centros ligados à Universida-de no seu dia-a-dia; e participar na dignifi-cação da profissão (porque disso se trata) de Investi-gador Bolseiro. Não pode ser algo tolera-do com

desconfiança: com a sua experi-ência e qualidade estes elementos são uma clara mais-valia, dada a incapacidade orçamental para contratar novos docentes é a única via para alguma renovação. Claro que será necessário cumprir as devidas minudências ju-rídicas e pormenores buro-cráticos (ou mudá-los). Mas a Universidade tem de tomar medidas que evitem ostraci-zar colaboradores úteis, bem como mitigar as que tendem a transformar docentes em funcionários, e, no limite, em polícias e delatores, promovendo indiretamente a mediocridade e o cinzentismo apático.

Para terminar a era útil, recom-pensar os mais produtivos, mais até do que castigar a preguiça in-competente. Mas reconhecer,

com eficácia e sem com-plexos, a diferença en-

tre uma coisa e outra,e tomar medidas concretas que não se resumam a

“slogans” inconsequen-tes , ser ia um

b o m p r i -m e i r o

passo.

porTaria

AACTestemunhos e outras curiosas histórias de Francisco linhares

pelos caminhos de sanTiago

Sempre me considerei um representante da Associação Académica de Coimbra (AAC) no Caminho de Santiago. É uma rota milenar, percorrida por muita gente, e quando saio de Coimbra levo sempre alguns emblemas da AAC para ir deixando.

A Associação participa em muitas atividades culturais e desportivas e geralmente não participo em nenhum delas. A única coisa em que sinto que posso ser representante da Associação é realmente ali. Geralmente levo sempre um casaco, bonés e emblemas nas mochilas da AAC.

No dia em que deixei o símbolo da AAC na Cruz de Ferro – um dos lugares mais emblemáticos do Caminho -, passou um grande grupo de ciclistas portugueses por nós, de Elvas, e disse--lhes “eu sou de Coimbra” e eles disseram-me “passámos na Cruz de Ferro e estava lá um símbolo da Associação”. Nem queriam acreditar que tinha sido eu.

Fiz o primeiro Caminho em 2004 e depois já fiz mais seis vezes. O mais engraçado aconteceu-me em 2004. Quando cheguei a Santiago, uma das coisas que me surpreendeu foi encontrar na praça do Obradoiro muitos estudantes trajados, que abordam os peregrinos e oferecem-se para ser os cicerones na visita. Pensei logo: se um grupo de estudantes de Coimbra trajados se dirigisse aos turistas, não só se promoviam a eles próprios e à cidade, como também ganhavam um dinheirinho para eles.

Depois desse ano, não sei se em 2006 ou em 2007, estava aqui a trabalhar e a Tuna de Santiago veio a Coimbra participar num encontro de tunas. Numa dessas noites do Festuna, quem é que me vem aqui parar ao banco em frente à entrada? Exatamente um dos estudantes da Tuna, completamente bêbedo. Queria comprar cigarros e alguém lhe disse para ir à Associação e pedir ao senhor Francisco para o deixar comprar tabaco. Ele não me pediu nada, pensava que estava mal disposto e fui perguntar o que se passava. Disse-me que era galego, que estava um pouco ‘borracho’ e que queria tabaco. Disse-lhe: “olha, vai à máquina e tira”.

Quando me disse que era de Santiago, ficámos ali a conversar os dois a fazer tempo que abrisse o Troica para eu o levar para comer qualquer coisa e ficar melhor. Conclusão: ajudei-o e estive ali a conversar com ele sobre Santiago. Ficou-me tão grato e disse-me “Francisco, quando fores a Santiago procura por nós!”. E acabou por acontecer.

Para aí uns dois ou três anos depois, estou eu sentado no chão, completamente roto, acabadinho de chegar e começo a ouvir “Francisco no lo posso crer”. Começo a olhar para o lado e era exatamente o mesmo gajo a quem eu tinha vendido tabaco. Começou a gritar “Coimbra, briosa!”, foi buscar a tuna e fizeram-nos uma serenata impressionante, linda!

Eu explico a toda a gente o que é a AAC e todos eles se admiram pelo facto de a AAC me dar trabalho. Sobretudo quem conhece o grande grau de deficiência que tenho e aquilo que sofro admira-se como é que tenho paciência para trabalhar, em vez de estar internado e como é que a AAC me dá esta possibilidade.

Senti-me um privilegiado imenso por pertencer à AAC. O meu trabalho na Associação conseguiu reconhecer-me tão longe! Trabalhar na AAC, para além de ser o meu ganha-pão, também me dá uma certa notoriedade porque me torna conhecido em todo o lado.

Entrevista por Carolina Varela

d.r.

d.r.

Page 17: Edição nº 259

9 de abril de 2013 | Terça-feira | a cabra | 17

solTas

No outro dia, ouvi um fula-no todo pintas – daqueles que usam a barba cuida-

dosamente por fazer e uma ma-linha a tiracolo – proferir a alto e bom som: “sabes, Vanda, já não conseguia viver sem o meu iPho-ne”.

Enquanto resistia à súbita von-tade de fazer o amigo da Vanda engolir o seu querido telemóvel - aplicação por aplicação - cheguei à conclusão que o meu grau de qua-dradice é por demais elevado. Até porque não se tratava de um tele-móvel, não senhor, tratava-se de um iPhone e com certeza existem aplicações que tornam a sua diges-tão uma brincadeira de crianças.

Bem sei, caros leitores, que tam-bém vocês cederam ao chamamen-to da tecnologia. É natural que o façam. Bem sei que me olham do cimo da vossa torre de marfim e si-licone, enfeitada com imponentes bustos de Steve Jobs e dizem: irra maiscágajo burro oublá, a falar mal dos iPhones. Isto de certeza

que ele não tem um. De facto, acertaram. Provavel-

mente não serei o mais brilhante dos quadrúpedes. E também não tenho um iPhone. Em tempos, po-rém, já tive uma dessas coisas a que chamam um telefone esperto até que o perdi em laringe alheia.

Da curta experiência, retirei o gosto em andar com o mundo no bolso. Há que reconhecer todas as coisas boas que ter o mundo num buraco das calças acarreta. Desde logo, parecendo que não, o mundo é uma coisa volumosa, dá por isso sempre jeito alojá-lo perto da pú-bis de forma a impressionar o sexo oposto.

Não me tomem por anti-tecno-lógico fundamentalista. Não quero que voltemos às cavernas, aos tem-pos em que amigar apenas queria dizer reduzir a migas os miolos do gajo da gruta vizinha. Simples-mente, preocupo-me com o rumo deste mundo que, ao andar no bolso de toda a gente, não anda na cabeça de ninguém. E, agora que

penso nisso, a referência à caverna não é descabida, assim nos lem-bremos da de Platão. Pseudo do…, dizem vocês agora, possivelmente com razão.

Também pseudo é o facto de, na verdade, me estar borrifando para o mundo que, por sua vez, diga-se de passagem, se evacua com gosto

na minha bela tola. O que realmen-te me preocupa nestas coisas dos telefones i e dos telefones espertos é a forma como vieram mudar a minha vida, ainda que não possua tais bugigangas.

Lembro com saudade as arden-tes discussões em mesas de plásti-co vermelho, nas quais se debatia

quem marcou o segundo golo do Benfica-Copenhaga de 2005. Re-cordo com nostalgia as apostas ao fim de dez finos, sabendo que o re-sultado era o que menos importa-va, antes nos seduzia a retórica de um sofista com os copos. Só porque sim. Altercações que que se pro-longavam durante horas, como se de tal celeuma dependesse o futuro da humanidade. Mas tás parvo? Algum dia o Super-Pai é de 2000?

Com três toques se muda o mun-do, ou com três toques se consulta aquele que temos na púbis, são as tais discussões infrutíferas findas à nascença. Poderão dizer-me que ganhamos anos de vida a evitar tais trivialidades. Talvez, caro lei-tor pragmático, talvez. Contudo, e poderá não ser menos verdade, se calhar perdemos anos de vida a contemplar tanto rectângulo bri-lhante. *Por escolha do autor este texto não segue as regras do novo Acor-do Ortográfico da Língua Portu-guesa.

enTre a arregaça e o calhabéPor bacharel Jorge gabriel

o mundo é uma coisa que brilha, vibra e às vezes Parece um Pénis grande

o incerTo desTino da aPresenTadora amarÍlisPor mário de carvalho micro-conTo

Teria sido um fugaz tremor de terra, ou apenas um pico de luz. O certo é que o tele-

visor estremeceu, pareceu oscilar e, a meio da sarabanda de efeitos dum espectáculo cheio de cor e sons, deu um estalo e apagou-se. Nesse ins-tante a Apresentadora Amarilis foi projectada para a sala do senhor Gomes Raimundo com alguma for-ça. Valeu-lhe a espessura da carpe-te e o braço dum sofá a ampará-la. Mas faltava-lhe um sapato.

No dia seguinte o senhor Rai-mundo levou a apresentadora à te-levisão e pediu explicações.

--Não aceitamos devoluções -- disseram-lhe ao balcão. --Para mais, com um sapato a menos…

-- Eu sei lá se o sapato era da casa? Se calhar os sapatos eram propriedade da senhora…

-- Seja como for, é uma questão

de princípio…

O senhor Raimundo disse que deixava ali a senhora e que lhe fizes-sem o que quisessem. Mas o homem abespinhou-se: «Não deixa, não senhor». «Deixo!» «Não deixa». E seguiu-se uma contenda verbal, até que apareceram os seguranças e o Senhor Raimundo e a Apresenta-dora Amarílis foram postos na rua. Havia muito trânsito. O senhor Rai-mundo disse então à mulher, após

raciocinar um bocado:

--Vai desculpar, mas assim sem sapato, não dá. Não tenho pachorra para carregar consigo outra vez às costas de volta a casa. Quando mui-to posso levá-la até um contentor e fica para ali. Pode ser que alguém lhe pegue.

A Apresentadora anuiu, que re-médio. E ainda lá está. Um bocadi-nho de lado.

Jornalista, escritor, dramaturgo, argumentista e advogado portu-guês, teve uma trajetória de luta contra o regime salazarista que o levou à prisão e, inclusive, ao exí-lio na Suécia. Lisboeta, nasceu a 25 de setembro de 1944 e teve a prisão do seu pai pela PIDE como um marco que o levaria a resistir desde jovem ao regime vigente - ideologia que o levou à prisão,em 1971, por catorze meses. Retor-nando a Portugal após da revo-lução de Abril de 1974, teve sua estreia com o volume antológico “Mar”, publicando no ano seguin-te (1982) o seu primeiro livro. A bagagem cultural, as experiências vividas e os conhecimentos adqui-ridos sobre a língua portuguesa tornaram Mário de Carvalho um escritor versátil, merecedor de distintos prémios. Dentre eles os Grandes Prémios de Romance, Conto e Teatro da Associação Portuguesa de Escritores, o pré-mio Pen-clube e o Prémio Inter-nacional Pégas.Com inúmeras publicações, o ritmo do autor é intenso e diversificado. O domínio do idioma e o seu estilo de escrita refletem a versatilidade e ponten-cialidade de um dos principais es-critores da atualidade.

Caroline Pinheiro

MáRIO DE CARvALhO

69 AnOSilustração por joão pedro fonseca

d.r.

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18 | a cabra | 9 de abril de 2013 | Terça-feira

opinião

CróniCa da aCtual Família PortuguesaTiago Lorga gomes *

A velha. A velha está exausta. Mi-serável e sem onde cair morta, a vi-úva apresenta-se sempre de negro, essência do presente que vive e do futuro que se avizinha, chorando durante longas horas o auge da vida que lhe escorre por entre os dedos. Vive sem ambições nem encantos, dominada pelo medo de perder o pouco que tem, da ruína súbita e da vergonha da dívida. Outrora traba-lhadora e serviçal, a velha está debi-litada, frágil e no fim da vida. Os seus olhos perderam o brilho de outros tempos, realçado pela abundância de que dispunha e para a qual tanto se esforçara, espelham agora uma alma enferma e atormentada com o mal que já desaba, condenando-a a uma existência angustiante e sim-ples, sem sonhos, à espera pela mor-te que espreita no sopro do tempo, sentindo um enorme temor pelos seus filhos e netos. A velha sofre e faz previsões do futuro, acidificando ainda mais o seu coração dilacerado pela miséria e pelo desespero.

Os filhos da velha. Os filhos da velha vivem infelizes. Desesperam tal como a mãe, debatendo-se para ganhar o pão diário que já apresenta sombra de escassear, coisa que ou-trora não acontecia, no tempo em que existia capital, fartura e fun-dos. Irritados e enraivecidos com as condições que a vida lhes reservara, trocando o luxo de antigamente pela escassez actual: da falta de emprego

às dívidas acumuladas sem o me-nor dos remorsos; se celebram os filhos da velha como amaldiçoados, descontentes e a clamar por justiça. Saem às ruas, o poder nas mãos do povo, entoando canções e motes in-surgentes, desafiando a supremacia da velha que está falida, esgotada, exausta, que nada mais tem para oferecer, nada mais tem para dar, para reservar e para pagar; da velha nada mais virá. Os filhos da velha vi-vem tempos difíceis, lutando contra o sistema que os quer cativos e obe-dientes, de cabeça submissa, cinto apertado, aprumados dentro do possível, para transmitir a ideia e a noção de ordem dentro do caos que assola a família. Desesperam com a falta de trabalho, os salários baixos, os preços cada vez mais altos, as obrigações e as dívidas, as despesas e os gastos necessários. Cortam em tudo porque têm de o fazer, igual-mente derramando lágrimas pelo apogeu perdido que tanto conforto e qualidade trouxera, derrotado pelo desenrolar das economias e das na-ções.

Os netos da velha. Os netos da velha não vivem, deixam correr o tempo. Alienados da situação actual, só alguns é que sentem o que se pas-sa. A maioria contesta os cortes nas rotinas diárias, a escassez de fun-dos que os filhos da velha lhes dão, a perda do poder de compra e dos luxos de antigamente. Resignados

e centrados em si, os netos da velha só querem ser deixados fora do tur-bilhão, é problema dos outros, eles que o resolvam; há-de solucionar--se, dê-se-lhes tempo; não nos afec-ta. Aí é que os netos da velha assi-nam a sentença, deixando a crise e a miséria correr pelos lares da família, preocupados com eles, nas suas ex-centricidades e hábitos. Continuam a fazer por fazer, a mandar fazer, a fazer na errada expectativa de sur-presa e novidade, agarrados a um futuro utópico, irrealista, boémio, centrado no estrangeiro, mundo de oportunidades; para fugir da velha que já está mais morta que viva, e dos filhos da velha endividados, an-tes que a coisa dê para o torto e nin-guém consiga sustentar ninguém, vivendo todos do nada material, sa-bendo que do nada não se faz vida; desertando da pátria que os criou e que se afunda lentamente.

A velha chora, sem reservas nem espólio para deixar, pelo futuro que se aproxima, pacientemen-te aguardando na enferma espera pela morte. Os filhos da velha vi-vem obcecados com o que ela irá deixar de herança, suplicando-lhe e ameaçando-a para lhes dar meio de sustento, a vida está adversa, os tempos difíceis e de nada valem as medidas austeras; crendo piamen-te que será a velha que os irá livrar de todo o mal, desconhecendo que nada lhes será deixado. Os netos da

velha estão pouco preocupados, se é que o assunto lhes suscita alguma emoção, idealizando sonhos mara-vilhosamente ricos e esplendorosos, ignorando que disso não passarão.

Abram a cova, tragam a mortalha. A velha está morta, quer dizer, ainda respira e mexe, mas não vale a pena sustentar, a herança não cresce de dia para dia, mas a dívida e o gas-to sim. Enterre-se a velha, mas não sem antes lhe pedir uma derradeira vez pelo fundo que hipoteticamente guardava, a salvação para o descala-bro, a chave que iria abrir os cofres da abundância, o elixir da pleni-tude e da riqueza. A velha cerra os olhos; está efectivamente morta. Os filhos aguardam com impaciência as benesses que a miserável deixa para trás. Esboçam feições de puro terror, observando que nada ficara. Estão condenados.

No enterro, a família da velha abraça-se, junta-se e sabe que ficará unida nesta luta contra a adversi-dade financeira, a crise, a fome e a miséria, a falta de emprego e a incer-teza. No céu, a velha sorri e abençoa os filhos e os netos, reservando-lhes um futuro incerto e que por eles será moldado e ditado, à custa do suor e do sacrifício. Apenas o tempo o dirá, pensaria ela. Muito se engana, a ve-lha. A família o fará.

*Estudante da Faculdade de Medi-cina da Universidade de Coimbra

os filhos da velha vivem tempos difíceis, lutando contra o sistema que os quer cativos e obedientes, de cabeça submissa, cinto apertado,aprumados dentro do possível, para transmitir a ideia e a noção de ordem dentro do caos que assola a família

CiênCia e CriminalístiCa, uma visão Para o hojeJosecLer aLair *

Há alguns anos que uma enor-me quantidade de tecnologias no-vas está sendo introduzida e utili-zada por parte das forças policiais em todo o mundo. Esses novos avanços tecnológicos estão a levar técnicas de investigação criminal a níveis jamais sonhados pela so-ciedade. Até o século passado, o mundo do crime era perfeitamen-te vinculado ao campo do Direito, em todos os lugares do mundo os artigos que eram elencados em todos os códigos, quer sejam eles penais, civis, constitucionais, elei-torais, trabalhistas e até mesmo o código canónico traziam permis-sões e/ou proibições que mostra--nos uma leitura direta sobre formas de prevenção a um ato cri-minoso e, se preciso, a punição em caso de cometimento de delitos.

A criminalística, ciência auxiliar do Direito, encarregou-se de con-duzir as investigações, os inquéri-tos, cuidando de trazer à baila as provas que forem precisas para atribuir a um agente, a execução de atos delituosos que poderiam levá-lo ou não a ser culpado por

isto. Quando era preciso sair do mundo jurídico para conseguir a resolução de crime contra a vida, recorria-se à medicina legal. Sher-lock Holmes exemplifica-nos mui-to bem essa ideia de que no mun-do do crime, o direito e a medicina devem andar equiparados.

Mas a “evolução humana” deu--se segundo a teoria de Charles Darwin e infelizmente, junto com o homem as diversas modalida-des de crimes também se foram evoluindo. Atualmente um su-jeito com índole criminosa pode utilizar-se perfeitamente de ferra-mentas e aparatos que o permite cometer delitos sem que ele tenha saído da sua residência. Como exemplo temos os crimes ciberné-ticos e outros mais como os crimes de peculato, de extorsão, lavagem de dinheiro, falsificação de docu-mentos e/ou assinaturas, violação moral, sexual e a pedofilia. Face a essas muitas mudanças o mundo jurídico tem de acompanhar essas modalidades de crimes e a crimi-nalística da mesma forma preci-sa estar á frente para encontrar

meios de desvendá-los, provar sua atuação e finalmente punir o agen-te, ou até mesmo utilizar-se de ideias no estilo Michel Foucault, filósofo francês no seu livro “Vi-giar e Punir” publicado em 1975. Mas as ferramentas que o direito e a medicina usaram durante muito tempo tornam-se pequenas para a descoberta desses crimes contem-porâneos.

Como o desenrolar de novas metodologias aplicadas ao mundo da criminalidade e a facilidade de conhecimento (tendo em vista que a educação hoje é acessível a todos que busquem ser conhecedores de algum tema e ou de alguma ma-téria específica), torna-se então justo do ponto de vista elucidativo que é perseguido pela criminalís-tica que seja criado um caminho onde as novas ciências possam interagir, juntando assim conhe-cimentos técnicos para auxiliarem na elucidação dos crimes de uma forma ampla. Dessa forma temos um enorme campo de atuação onde podem ser chamados sempre que preciso profissionais das mais

diversas áreas como a Psicologia, a Botânica, a Química, a Física, as Mecânica, a Antropologia e outras mais com a finalidade de trazerem para o mundo jurídico e para o campo da criminalística uma “luz” que outrora não era enxergada.

Os jovens profissionais que en-tram todos os anos no mercado de trabalho esquecem-se ou não são conhecedores de que há um enorme campo aberto para atua-ção das mais diversas áreas den-tro do mundo criminalístico, um mundo novo com possibilidades de ascensão e renome no mercado e poucos são os jovens que se inte-ressam em enveredar por este que promete ser um fascinante mun-do. Cada vez faz-se mais necessá-rios termos pessoas capacitadas para utilizarem suas ciências de forma a contribuir para que como em toda fórmula, a justiça seja fei-ta de forma empírica, nos modelos probatórios e não nos moldes filo-sóficos.

*Perito judicial, pós-graduando em Ciências Forenses

atualmente um sujeito com índole criminosa pode utilizar-seperfeitamente de ferramentas eaparatos que o permite cometer delitos sem que ele tenha saído da sua residência

Cartas à diretora

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opinião

Secção de Jornalismo,Associação Académica de Coimbra,Rua Padre António Vieira,3000 - CoimbraTel. 239410437 e-mail: [email protected]

Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA Depósito Legal nº183245/02 Registo ICS nº116759Diretora Ana Duarte Editora-Executiva Ana Morais Editores Rafaela Carvalho (Fotografia), Liliana Cunha (Ensino Su-perior), Daniel Alves da Silva (Cultura), João Valadão (Cidade), Carolina Varela (Ciência & Tecnologia), António Cardoso (País & Mundo) Paginação António Cardoso, Rafaela Carvalho Redação Ana Francisco, Bárbara Sousa, Beatriz Barroca, Daniela Proença, Ian Ezerin, João Martins, Joel Saraiva, Pedro Martins, Tiago Rodrigues Colaborou nesta edição Anna Charlotte Reis, Daniela Gonçalves, Camila Correia, Caroline Pinheiro, Dalila He, Sara Silva Fotografia Ana Maria Coelho, Ana Morais, Caroline Pinheiro, Daniela Proença, Daniel Alves da Silva, Inês Balreira, Inês Valadão, Rafaela Carvalho, Sara Silva Ilustra-ção Carolina Campos, Joana Cunha, João Pedro Fonseca, Tiago Dinis Colaboradores permanentes António Matos Silva, Bruno Cabral, Camila Borges, Camilo Soldado, Carlos Braz, Catarina Gomes, Fábio Rodrigues, Filipe Furtado, Inês Amado da Silva, Inês Balreira, João Gaspar, João Miranda, João Ribeiro, João Terêncio, José Miguel Pereira, José Miguel Silva, Luís Luzio, Lourenço Carvalho, Manuel Robim, Rui Craveirinha, Tiago Mota Publicidade António Cardoso - 914647047 Impres-são FIG - Indústrias Gráficas, S.A.; Telefone. 239 499 922, Fax: 239 499 981, e-mail: [email protected] Tiragem 4000 exemplares Produção Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra Propriedade Associação Académica de Coimbra Agradecimentos Reitoria da Universidade de Coimbra, Adriana Bebiano, João Rasteiro, Francisco Linhares

Cartas à Diretora eDitorial

Exma. Sra. Diretora,

No dia 19 de março de 2013, o Jornal de que V/ Exa. é Diretora publicou uma entrevista/crónica com o funcionário da AAC, Fran-cisco Linhares, que contém um conjunto de factos falsos e incor-retos, que atingem a minha repu-tação e bom nome, pelo que, nos termos da Lei, vejo-me forçado a solicitar a publicação, na próxima Edição do jornal Universitário de Coimbra “A Cabra”, do seguinte:

DIREITO DE RESPOSTA E RETIFICAÇÃO

1. No dia 19 de março de 2013, o Jornal “A Cabra” publicou uma entrevista ao funcionário da AAC, Francisco Linhares, que contém um conjunto de factos falsos, ofensivos e que põem em causa o meu bom nome e imagem.

2. Contrariamente ao referido nessa entrevista, a empresa “In-Tocha” iniciou a sua atividade na AAC em 2006 e não em 2008 (ano este em que presidi à Direção-ge-ral da Associação Académica de Coimbra).

3. Nunca qualquer funcionário reportou à DG/AAC 2008 ter sido vítima de ameaças ou agressões por parte de elementos da empre-sa de segurança ou de quaisquer pessoas ligadas ao concessionário do bar.

4. A DG/AAC a que presidi não foi a única a instaurar um pro-cesso disciplinar ao referido fun-cionário, com fundamento em

incumprimento dos seus deveres profissionais.

5. No ano de 2008, Francisco Linhares foi efetivamente alvo de um processo disciplinar motivado por um vasto conjunto de razões, nomeadamente: (i) atrasos repe-tidos e injustificados no início de turno; (ii) faltas não justificadas ao trabalho; (iii) regresso tardio de férias, sem qualquer justifica-ção.

6. Apesar de estas e outras con-dutas do funcionário consubstan-ciarem, no nosso entendimento, justa causa de despedimento, ti-vemos em conta a sua condição física e as dificuldades que repeti-damente invocava, para não efeti-varmos o despedimento por factos que, naturalmente, apenas ao pró-prio podiam ser imputados.

7. É falso que alguma vez o Magnífico Reitor ou o Diretor dos Serviços de Ação Social da Uni-versidade de Coimbra tenham abordado o signatário sobre este assunto.

8. A ação da DG/AAC 2008 sempre foi no sentido de defender os superiores interesses dos estu-dantes e da AAC e não o interesse de alguém em particular, seja es-tudante, funcionário, instituição pública ou privada.

9. Lamento profundamente que Francisco Linhares tenha aproveitado uma entrevista, sem exercício prévio do contraditório, para proferir afirmações falsas e que colocam em causa o meu bom nome, bem como o de todos os que integraram a DG/AAC 2008.

10. Consequentemente, aguardo que, em tempo útil e através deste jornal ou de outra publicação com idêntica tiragem e abrangência, Francisco Linhares se retrate e assuma inequivocamente a falsi-dade das afirmações que proferiu, sob pena de ter que recorrer aos mecanismos adequados para re-por a verdade dos factos.

*Presidente da Direcção-Geral da Associação Académica de Coim-bra no ano letivo 2007/2008

exerCíCio Do Direito De resposta e De retifiCação

A atividade de congregação entre os núcleos e a Direção-geral da Associação Académica de Coimbra dará sempre que falar. Este ano deixam-se as conclusões serem limadas em Assembleia Magna.

Em má altura chegou o anúncio do primeiro-ministro a explicar a fábula dos cortes nos setores basilares da economia e do bem-estar social. Sig-nificou que as academias ainda têm mais que suar ou simplesmente de-senhar ações que não saem do círculo do inglês para ver. A discussão no Fórum AAC durou horas mas, como sempre, os trabalhos foram demora-dos porque houve quem não chegasse a tempo. A dispersão lembrada por Ricardo Morgado como fator disuasor para o Fórum cá aconteceu, mas muito por conta da sua pessoa. No segundo dia de trabalhos marcado para começar às 14h, apenas se iniciou às 17h com a chegada do presiden-te. Consta que o debate do dia anterior durou até de manhã, foi animado, e por isso eram precisos afinar os retoques para a tarde. Não os houve, o programa inverteu-se e todos os núcleos esperaram por aquele que nos representa.

Apesar da decisão tardia, o Fórum AAC ganhou em ser em Coimbra. No entanto, há coisas que se dão que nem abonam a favor de um local ou de outro. Repetem-se as manhas não importa a localização. Resolveu-se adotar uma petição que já tinha sido proposta por outros e o pedido da palavra nas aulas para simbolizar o 17 de Abril ,já que Nuno Crato recu-sou mais uma vez vir a Coimbra.

O cidadão português é caracterizado por não refletir sobre a for-ma como nos organizamos em tudo na vida, e a organização do sistema político não é exceção. Consequentemente, a forma como

esse sistema funciona transmite aos cidadãos uma imagem negativa do poder judicial, da Assembleia da República, do Governo e do Presidente da República. Não é tanto o sistema político em si mas a forma como o é organizado, acima de tudo por não ter mecanismos que sejam capazes de eliminar a compra de poder ou a corrupção.

O descrédito nas instituições leva a uma falta de confiança e de espe-rança nas forças internas em encontrarem uma solução, com base numa reflexão realista e inteligente e conducente de decisões compatíveis com o real e eficaz funcionamento da democracia. O sistema parlamentar de partidos que temos não se mostra compatível e já deu sobejas provas das suas incapacidades. Há que encontrar um sistema político alternativo que verdadeiramente tenha em conta os interesses legítimos dos cidadãos.

No entanto, para tal exige-se uma verdadeira consciência da sociedade civil para a problemática contrariando o divórcio cada vez maior entre os cidadãos e o sistema político. Um divórcio que é real e tem sido agravado ao longo dos últimos anos. Novos estilos, uma nova dinâmica e uma nova noção de cidadania são aspetos fundamentais para que exista um neces-sário gradualismo reformista.

Por António Cardoso e Liliana Cunha

Repetem-se as manhas não importa a lo calização. Resolveu-se adotar uma petição que já tinha sido proposta por outros e o pedido da palavra nas aulas para simbolizar o 17 de Abril

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AndRé OliveiRA*

Cartas à diretorapodem ser

enviadas para

[email protected]

falta CapaCiDaDe De organizar

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publicidade

public

ida

de

Uma imagem vale mais qUe mil palavras por paUlo Batistella

É difícil escrever sobre uma fo-tografia que nos diga algo. Tanto quanto reconhecê-la numa socie-dade imagética e exibicionista. Imagens é o que mais temos, per-cepções é o mais difícil. Para ver e sentir algo novo, é preciso sair da zona de conforto.

Viajar para Marrocos foi uma das melhores coisas que já fiz na vida, e fazer essa foto também, visto que não tenho grandes habilida-des como fotógrafo, nem um vasto repertório fotográfico. O retrato do sorriso miúdo, envolto em teci-dos marroquinos, retoma um novo mundo, que me descobriu e ainda me assusta.

Mas, tal como intitulado, se uma imagem vale mais do que mil pala-vras, para que esse breve comentá-rio? Também não sei. Pela preguiça, nem teria feito. Contudo, precisava de ressaltar que uma boa imagem, também vale mais que mil.

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O Centro de Cirurgia Cardioto-rácica dos CHUC, coordenado por Manuel Antunes, celebra 25 anos de sucesso na prática cirúrgica. Com uma taxa de mortalidade inferior a um por cento e uma média de 1850 operações por ano, o centro realiza toda a atividade com base no traba-lho de equipa, num controlo com-pleto pelo diretor e na exclusividade de todos os médicos. A inexistência de lista de espera está na base dos valores atingidos, atirando o centro para o topo da Península Ibérica. Três quartos do trabalho preconi-zado pela equipa, de cerca de 115 pessoas, centra-se em cirurgias de revascularização coronária e cirur-gias valvulares.C.V.

A Direção-geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC) conseguiu à primeira vis-ta uma boa solução para os seus bares e a garantia de um bom encaixe financeiro. Assegurou para se precaver uma cláusula que, em caso de incumprimento, tem a garantia de seis meses de renda assegurada. No entanto, o contrato com a Unicer escon-de uma contrapartida que ainda dará que falar pelos organismos da casa – o direito de preferência por esta empresa no que toca ao patrocínio corta a possibilida-de de procurar outras formas de concessão, limitando a decisão ponderada e livre.D.A.S.

O sistema político português não se adequa à realidade política atu-al. Ao fim de 39 anos de democra-cia, o povo português não se sente identificado com a classe política que o representa. Nesta “partido-cracia” disfarçada de democracia, os cidadãos têm sido tratados como peças no jogo de interesses dos líderes políticos. Ignorando a constituição pela qual se deveria guiar, o poder político guia o nos-so país num caminho em direção a um beco sem saída. O povo as-siste, imóvel, sem reagir, e assim se mantem, passando Portugal de um Estado de direito ao “Estado a que chegamos”, nas palavras de Salgueiro Maia.P.M.

Centro de Cirurgia Cardiotorácica DG/AAC Sistema Político

Português

jornal universitário de coimbra

acabra.netMais informação disponível em

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