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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS COLÉGIO DE PROCURADORES DE JUSTIÇA ATA DA SEGUNDA SESSÃO ORDINÁRIA DO ANO DE 2010 Aos vinte e dois dias do mês de fevereiro do ano de dois mil e dez (22/02/2010), às 14h30m, na sala de reuniões do Colégio de Procuradores de Justiça, identificada sob o n.º 201, localizada no edifício sede do Ministério Público, situado à Av. B, c/ Rua 23, qd. A, lts. 15/24, Setor Jardim Goiás, nesta Capital, reuniu-se ordinariamente o Colégio de Procuradores de Justiça, com a abertura do excelentíssimo senhor doutor Fernando Braga Viggiano, Subprocurador-geral de justiça para assuntos administrativos, com a presença de 24 (vinte e quatro) de seus membros, sendo eles: dr. Pedro Tavares Filho, dra. Luzia Vilela Ribeiro, dr. Nilo Mendes Guimarães, dr. Eliseu José Taveira Vieira, dr. Paulo Maurício Serrano Neves, dra. Maria da Conceição Rodrigues dos Santos, dra. Maria José Perillo Fleury, dra. Eliane Ferreira Fávaro, dr. Aylton Flávio Vechi, dr. Alciomar Aguinaldo Leão, dr. Waldir Lara Cardoso, dr. Rodolfo Pereira Lima Jr, dra. Eliete Sousa Fonseca Suavinha, dra. Analice Borges Stefan, dra. Márcia de Oliveira Santos, dra. Laura Maria Ferreira Bueno, dr. Osvaldo Nascente Borges, dra. Orlandina Brito Pereira, dr. José Eduardo Veiga Braga, dra. Ruth Pereira Gomes, dr. Benedito Torres Neto, dr. José Carlos Mendonça, dr. Paulo Sérgio Prata Rezende, dr. Pedro Alexandre da Rocha Coelho e dr. Abraão Júnior Miranda Coelho. Os doutores Marcos de Abreu e Silva, Regina Helena Viana, Dilene Carneiro Freire, Edison Miguel da Silva Jr estão em gozo de férias. Justificaram as ausências: dra. Ana Cristina Ribeiro Peternella França reunião no Conselho Nacional do Ministério Público-CNMP, dr. Leonidas Bueno Brito, acompanhando a neta em exames médicos; dr. Altamir Rodrigues Vieira Júnior por motivos de trabalho; dr. Wellington de Oliveira Costa, licença médica; dra. Zoélia Antunes Vieira licença médica; dra. Ivana Farina Navarrete Pena, convocação para comparecimento no Conselho Nacional do Ministério Público – CNMP, perante a Comissão Disciplinar e de Controle do Sistema Carcerário. Observada a ordem dos trabalhos determinada no artigo 25 do Regimento Interno do Colégio de Procuradores de Justiça, registra-se: (I) conferência de quorum e instalação da sessão; (II) votação, aprovação e assinatura da ata da sessão anterior; (III) não houve comunicações do Presidente do Colegiado; (IV) não houve comunicações do Corregedor- Geral; (V) não houve comunicações do Ouvidor-Geral; (VI) não houve comunicação pelos outros Membros (VII) leitura da ordem do dia, discussão e julgamento das matérias seguintes. Ato contínuo presidiu a ATA DA SEGUNDA SESSÃO ORDINÁRIA DO COLÉGIO DE PROCURADORES DE JUSTIÇA - 2010 1

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS COLÉGIO DE PROCURADORES DE JUSTIÇA

ATA DA SEGUNDA SESSÃO ORDINÁRIA DO ANO DE 2010

Aos vinte e dois dias do mês de fevereiro do ano de dois mil e dez (22/02/2010), às 14h30m, na sala de reuniões do Colégio de Procuradores de Justiça, identificada sob o n.º 201, localizada no edifício sede do Ministério Público, situado à Av. B, c/ Rua 23, qd. A, lts. 15/24, Setor Jardim Goiás, nesta Capital, reuniu-se ordinariamente o Colégio de Procuradores de Justiça, com a abertura do excelentíssimo senhor doutor Fernando Braga Viggiano, Subprocurador-geral de justiça para assuntos administrativos, com a presença de 24 (vinte e quatro) de seus membros, sendo eles: dr. Pedro Tavares Filho, dra. Luzia Vilela Ribeiro, dr. Nilo Mendes Guimarães, dr. Eliseu José Taveira Vieira, dr. Paulo Maurício Serrano Neves, dra. Maria da Conceição Rodrigues dos Santos, dra. Maria José Perillo Fleury, dra. Eliane Ferreira Fávaro, dr. Aylton Flávio Vechi, dr. Alciomar Aguinaldo Leão, dr. Waldir Lara Cardoso, dr. Rodolfo Pereira Lima Jr, dra. Eliete Sousa Fonseca Suavinha, dra. Analice Borges Stefan, dra. Márcia de Oliveira Santos, dra. Laura Maria Ferreira Bueno, dr. Osvaldo Nascente Borges, dra. Orlandina Brito Pereira, dr. José Eduardo Veiga Braga, dra. Ruth Pereira Gomes, dr. Benedito Torres Neto, dr. José Carlos Mendonça, dr. Paulo Sérgio Prata Rezende, dr. Pedro Alexandre da Rocha Coelho e dr. Abraão Júnior Miranda Coelho. Os doutores Marcos de Abreu e Silva, Regina Helena Viana, Dilene Carneiro Freire, Edison Miguel da Silva Jr estão em gozo de férias. Justificaram as ausências: dra. Ana Cristina Ribeiro Peternella França reunião no Conselho Nacional do Ministério Público-CNMP, dr. Leonidas Bueno Brito, acompanhando a neta em exames médicos; dr. Altamir Rodrigues Vieira Júnior por motivos de trabalho; dr. Wellington de Oliveira Costa, licença médica; dra. Zoélia Antunes Vieira licença médica; dra. Ivana Farina Navarrete Pena, convocação para comparecimento no Conselho Nacional do Ministério Público – CNMP, perante a Comissão Disciplinar e de Controle do Sistema Carcerário. Observada a ordem dos trabalhos determinada no artigo 25 do Regimento Interno do Colégio de Procuradores de Justiça, registra-se: (I) conferência de quorum e instalação da sessão; (II) votação, aprovação e assinatura da ata da sessão anterior; (III) não houve comunicações do Presidente do Colegiado; (IV) não houve comunicações do Corregedor-Geral; (V) não houve comunicações do Ouvidor-Geral; (VI) não houve comunicação pelos outros Membros (VII) leitura da ordem do dia, discussão e julgamento das matérias seguintes. Ato contínuo presidiu a ATA DA SEGUNDA SESSÃO ORDINÁRIA DO COLÉGIO DE PROCURADORES DE JUSTIÇA - 2010

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sessão a dra. Luzia Vilela Ribeiro procuradora de justiça mais antiga no cargo em exercício, dado o impedimento do procurador de justiça dr. Pedro Tavares Filho relator do recurso a ser julgado. PROCESSO Nº 2008000100036632 (Processo Sindicância nº 92359/2006) – Assunto: Recurso – Requerente: Rodaney Ferreira Gandra Júnior. Relator: dr. Pedro Tavares Filho. Presidência: dra. Luzia Vilela Ribeiro. Na nona sessão ordinária (28/09/2009) o Relator dr. Pedro Tavares Filho votou pelo conhecimento e improvimento do recurso. Acompanharam o relator os doutores Leonidas Bueno Brito e Altamir Rodrigues Vieira Júnior. Houve pedido de vista pelos doutores Eliseu José Taveira Vieira, Paulo Maurício Serrano Neves, sendo-lhes deferida vista em conjunto, nos termos do artigo 31, parág. 2º, RICP. Os demais procuradores de justiça aguardavam o pedido de vista. Não votaram por suspeição ou impedimento, os doutores Ana Cristina Ribeiro Peternella França, Eliane Ferreira Fávaro e José Eduardo Veiga Braga. Os doutores José Carlos Mendonça e Paulo Sérgio Prata Rezende não votaram por motivos de foro íntimo. Na sequência, observou-se o procedimento previsto no RICP (arts. 126 ss.). Dada a palavra o dr. Eliseu José Taveira Vieira proferiu o voto nos seguintes termos: “Preclaros Procuradores de Justiça, Trata-se de Sindicância instaurada pela Corregedoria Geral do Ministério Público do Estado de Goiás, por intermédio da Portaria nº 003/2007, destinada a apurar condutas que implicariam em faltas funcionais contrárias ao disposto pelo art. 91, inc. II, da Lei Complementar Estadual nº 25/1998, atribuídas ao Promotor de Justiça RODANEY FERREIRA GANDRA JÚNIOR, sob a justificativa de que em 18/junho/2006, por volta das 19:00 horas, após assistirem ao jogo da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de futebol, o Sindicado e outras pessoas encontravam-se no bar PIT STOP, situado na Avenida 136, Jardim Goiás, nesta Capital, ingerindo bebidas alcoólicas, quando SÔNIA HELENA PECLAT DE PAULA e VIVIANE NERY COELHO SEABRA resolveram sair do local e na tentativa de adentrar à Av. Marginal Botafogo, naquelas proximidades, o veículo conduzido por SÕNIA (Celta vermelho, placas KES-6892) abalroou a traseira do veiculo conduzido por MARCOS ANTÔNIO MACIEL LEMOS (Corsa vermelho, placas JTB-7073), tendo o acidente de trânsito ocasionado um entrevero entre os respectivos condutores. Recebendo ligação telefônica feita por VIVIANE, que noticiava ter sido SÔNIA agredida fisicamente e tido a bolsa subtraída por MARCOS ANTÔNIO durante o embate entre ambos, o Sindicado dirigiu-se imediatamente ao local, acompanhado de VLADIMIR NERI RIBEIRO. Ali chegando, ambos integraram a confusão já estabelecida, culminando por entrarem em vias de fato com MARCOS ATA DA SEGUNDA SESSÃO ORDINÁRIA DO COLÉGIO DE PROCURADORES DE JUSTIÇA - 2010

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ANTÔNIO que, ao final, restou atingido por golpes desferidos em seu abdômen e pescoço por um canivete empunhado pelo Sindicado, o que resultou em lesões corporais. Em seguida, o Sindicado contatou seu filho LEONARDO BEZERRA DE LIMA GANDRA, que naquela data se encontrava em serviço na Rádio Patrulha, como Soldado da Polícia Militar do Estado do Estado de Goiás, narrando-lhe o ocorrido, tendo este chegado ao local em viatura policial militar, prestando auxílio ao Sindicado, que foi então retirado dali. Ato contínuo, LEONARDO GANDRA, retornando ao local do acidente automobilístico, juntamente com outros policiais militares presentes na ocorrência, teria efetuado disparos de arma de fogo contra MARCOS ANTÔNIO, causando-lhe outras lesões corporais. Por isso, LEONARDO GANDRA foi detido pelo efetivo policial militar presente, que o encaminhou à sede da Corregedoria Geral da PM/GO, localizada nas imediações do Parque Mutirama, Setor Central, nesta Capital, para as providências pertinentes. Ciente da prisão de seu filho LEONARDO GANDRA, o Sindicado então seguiu para as dependências da Corregedoria Geral da PM/GO e após áspera discussão com o respectivo Comando Policial Militar presente, recebeu voz de prisão, para em seguida ser imobilizado e algemado. Antes de dirigir-se àquela Corporação Militar, teria contatado RONY CÉSAR PEREIRA DOS SANTOS, Assessor Jurídico da 64ª Promotoria de Justiça desta Capital, da qual o Sindicado é titular, com o intuito de que o mesmo, na condição de Advogado, exercesse a defesa de LEONARDO GANDRA perante a PM/GO, impelindo-o a exercer atividade profissional para a qual haveria vedação legal. Depois de algemado, o Sindicado foi colocado em viatura policial militar e encaminhado ao 8º Distrito Policial desta Capital, onde foi lavrado Boletim de Ocorrência pela autoridade policial, sendo em seguida submetido a exame de corpo de delito e finalmente liberado. Considerando que os fatos narrados indicariam possível violação, por várias vezes, do dever funcional consignado no art. 91, inc. II, da Lei Complementar nº 25/1998, a CGMP instaurou a presente Sindicância, procedendo a devida instrução, com oitiva do Sindicado, de testemunhas, juntada de exames periciais, transcrições do procedimento policial, alegações finais subscritas por Advogado constituído e Relatório Conclusivo, no qual repudia as condutas atribuídas ao Sindicado, e por isso sugeriu imposição da pena de Suspensão por 90 dias, nos termos do art. 198, inc. I, da LC nº 25/1998.Acolhendo as conclusões da CGMP, o Procurador-Geral de Justiça impôs a pena de Suspensão, todavia reduzindo-a para 60 dias. Irresignado com a sanção administrativa imposta, o Sindicado interpôs Recurso Administrativo perante este egrégio ATA DA SEGUNDA SESSÃO ORDINÁRIA DO COLÉGIO DE PROCURADORES DE JUSTIÇA - 2010

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Colégio de Procuradores de Justiça, nos termos do art. 5º, inc. LV, da Constituição Federal c/c art. 12, inc. XI, alínea “a”, do Regimento Interno deste CPJ, arguindo, preliminarmente, as seguintes nulidades do procedimento: inobservância do prazo decadencial para conclusão da Sindicância; ocorrência de bis in idem entre o presente procedimento administrativo e a ação penal também instaurada; nulidade da Portaria instauradora da Sindicância, por ausência de individualização da conduta e sua adequada previsão legal sancionadora, além de excessivo número de testemunhas arroladas e ausência de fundamentação da penalidade aplicada. No mérito, o Sindicado-Recorrente sustenta ter agido em legítima defesa própria e de terceiros, pois ao chegar ao local onde já havia ocorrido o mencionado acidente de trânsito, acompanhado de seu amigo VLADIMIR NERI RIBEIRO, constatou que MARCOS ANTÔNIO MACIEL LEMOS já havia agredido fisicamente e subtraído a bolsa de SÕNIA HELENA PECLAT DE PAULA, evadindo-se dali em seguida, para retornar logo depois em companhia de outras pessoas e motoqueiros. Aduz que MARCOS ANTÔNIO e seus acompanhantes motorizados já chegaram ao local desferindo murros em VLADIMIR e SÕNIA, também confrontando e agredindo o Sindicado-Recorrente, o que o fez correr até seu veículo, onde encontrou um canivete, com o qual buscou repelir as injustas agressões sofridas por si e por seus amigos, culminando por ferir MARCOS ANTÔNIO, causando-lhe lesões corporais. Com a chegada de viaturas da PM/GO ao local da briga, o Sindicado-Recorrente foi retirado dali por seu filho LEONARDO GANDRA, que na ocasião servia como Soldado da Rádio Patrulha, indo para o apartamento de VLADIMIR. Logo em seguida, recebeu telefonema celular confirmando a notícia da prisão de seu filho LEONARDO GANDRA, que ao retornar ao local da briga anterior, com a intenção de capturar MARCOS ANTÔNIO, juntamente com outros policiais militares, o teria alvejado com disparos de arma de fogo, causando-lhe lesões corporais. Argumenta que a imputação de que teve conduta imprópria perante a Corregedoria Geral da PM/GO deveu-se à sua resistência em ser ali imobilizado e algemado, o que seria legalmente vedado, pois pretendia apenas obter notícias sobre a prisão disciplinar de seu filho. Entretanto, terminou detido também e encaminhado ao 8º DP, de onde foi liberado após a chegada do Procurador-Geral de Justiça e representantes da Associação Goiana do Ministério Público. O Sindicado-Recorrente afirma que o exercício da Advocacia pelo Assessor de Promotoria RONY CESAR PEREIRA DOS SANTOS, na defesa de seu filho LEONARDO GANDRA junto à Corregedoria Geral da PM/GO, não constituía irregularidade funcional, ATA DA SEGUNDA SESSÃO ORDINÁRIA DO COLÉGIO DE PROCURADORES DE JUSTIÇA - 2010

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ante a ausência de regulamentação administrativa ou vedação legal para tal desiderato à época dos fatos. Destaca também que não estava no exercício de suas funções ministeriais naquela ocasião, um dia de domingo, não incidindo em práticas que pudessem constituir infrações funcionais, pois as condutas impróprias que lhe são imputadas decorreram de causas fortuitas, passíveis de fugir ao controle de qualquer pessoa. Para arrematar suas razões, o Sindicado-Recorrente repudia a cobertura jornalística dos fatos narrados junto à mídia como fator de motivação para imposição da sanção administrativa recorrida, bem como sua desproporcionalidade, pois os 60 dias de suspensão é obstáculo para o pagamento dos subsídios que aufere no Ministério Público, que constituem sua única fonte de subsistência, com repercussão no adimplemento de várias pensões alimentícias que suporta, bem como futura concessão de férias, licenças-prêmio e aposentadoria. Ao final, o Sindicado-Recorrente formulou pedido de arquivamento sumário da Sindicância, com o reconhecimento da inocorrência de conduta imprópria capaz de violar o art. 91, inc. II, da LC nº 25/1998, ou, alternativamente, pela aplicação de sanção administrativa mais branda, condizente com os fatos, sugerindo a de Advertência. Neste egrégio CPJ, foram os autos distribuídos e relatados pelo Procurador de Justiça PEDRO TAVARES FILHO, que na respectiva sessão de julgamento conheceu do Recurso Administrativo interposto, mas o desproveu, mantendo a pena de Suspensão aplicada. Naquela sessão, solicitei vistas dos autos, que me foram encaminhados para análise e manifestação. É o relatório, em síntese. Recurso Administrativo é tempestivo e adequadamente interposto, encontrando-se apto a ser conhecido. De início, necessário analisar, em sede de arguições preliminares, a ocorrência do lapso decadencial para conclusão da Sindicância, instaurada pela Portaria nº 003/2007-CGMP, vez que, conforme alega o Sindicado-Recorrente, seus motivos ensejadores são os mesmos constantes na Portaria nº 005, de 10/outubro/2006, que instaurou o Processo Administrativo Disciplinar nº 92359/2006, trancado neste egrégio CPJ, por contrariedade ao devido processo legal. Entretanto, o trancamento do mencionando Processo Administrativo Disciplinar restou desconstituído pelo Pleno do Conselho Nacional do Ministério Público – Corregedoria Nacional em 17/setembro/2007, que também vulnerou o conteúdo do art. 12, inc. XXXII, do RICPJMPGO, que, assim, não constitui fator impeditivo para instauração do procedimento administrativo adequado à apuração de possível falta funcional, no caso a Sindicância, que comporta prorrogação de prazo para sua conclusão, conforme disposto pelo art. 219 da LC nº 25/1998. No tocante à alegação recursal ATA DA SEGUNDA SESSÃO ORDINÁRIA DO COLÉGIO DE PROCURADORES DE JUSTIÇA - 2010

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de impossibilidade de instauração do presente Procedimento Administrativo simultaneamente à Ação Penal já proposta, entendo-a impertinente, já que o deslinde da questão na esfera administrativa não colide com o julgamento a ser proferido na esfera penal, preservada a autonomia administrativa para se avaliar o cometimento de infração disciplinar, distinta da infração penal, sendo os fatos notórios e de autoria comprovada. É pacífica a orientação doutrinária e jurisprudencial no sentido de que a investigação disciplinar, decorrente de conduta funcional incompatível com o cargo, independe do julgamento dos mesmos fatos tidos como infração penal na órbita judicial, o que pode eventualmente merecer, inclusive, tipificação diversa, ou mesmo veredictos diferentes. Por outro lado, a ausência de previsão legal sancionadora no bojo da Portaria nº 003/2007 não se afigura, já que a CGMP consignou que a conduta a ser sindicada decorreria de afronta aos parâmetros dispostos pelo art. 91, inc. II, da LC nº 25/1998, que, igualmente, foi acolhida e serviu de lastro para a fundamentação da pena aplicada pelo Procurador-Geral de Justiça, sobre os quais o Sindicado-Recorrente pôde posterior e livremente exercer o direito constitucional à ampla defesa e ao contraditório. De igual modo, entendo que as testemunhas inquiridas em nada contribuíram para prejudicar o exercício da defesa, restando escorreita sua contribuição à obtenção da verdade real perseguida no presente feito. Assim, hei por bem afastar as preliminares arguidas e adentrar no mérito da questão, onde, afinal, entendo residir seu deslinde. Com efeito, entendo que a imposição da pena disciplinar de Suspensão por 60 dias, decorrente da conduta imprópria atribuída ao Sindicado-Recorrente por ocasião do acidente de trânsito que originou toda a questão, colide com a intransponível excludente de antijuridicidade da legítima defesa própria e de terceiros, louvando minha convicção no conteúdo dos depoimentos das pessoas diretamente envolvidas. Deveras, das provas obtidas na presente Sindicância, tem-se das declarações prestadas pelo próprio Sindicado-Recorrente RODANEY FERREIRA GANDRA JÚNIOR o seguinte:“Que quer asseverar também que o fato em apuração ocorreu em um dia de domingo, no qual o declarante não estava no exercício de suas funções, logo após ter assistido a um jogo do Brasil pela Copa do Mundo de 2006 (…); Que quer asseverar também que em quase quatorze anos de exercício da função ministerial, jamais provoquei qualquer fato que maculasse a minha conduta funcional ou pessoal; (…) o desdobramento do evento culminou em atitudes do Sindicado, que se consubstancia, sem sombra de dúvidas, em legítima defesa própria e legítima defesa de terceiros (…); Que assistiu o jogo da seleção brasileira na Copa do Mundo da Alemanha, ATA DA SEGUNDA SESSÃO ORDINÁRIA DO COLÉGIO DE PROCURADORES DE JUSTIÇA - 2010

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realizado no dia 18/06/2006, na Associação Goiana do Ministério Público – AGMP, estando acompanhado de seu filho LEONARDO, sua nora KARLA, seu filho RODANEY NETO e vários colegas do Ministério Público e ainda, IRIS, seu amigo, e a namorada do mesmo de nome VIVIANE, acompanhados de outras pessoas; Que não se recorda bem, mas acredita que trinta ou sessenta minutos após o término do jogo, a convite de VLADIMIR, foi com ele e VIVIANE para o bar chamado PIT STOP, que fizeram o trajeto da AGMP até o bar cada um em seu próprio veículo; Que antes de entrarem uma amiga de VIVIANE, que se não se engana chama-se SÔNIA; Que a razão de ficarem aguardando a chegada de SÔNIA é porque ela ou VIVIANE tinham o convite cortesia para a entrada no bar; Que permaneceram no bar PIT STOP em torno de uma hora; (…) Que alguns minutos depois que VIVIANE e SÔNIA saíram, recebeu em seu celular um telefonema de VIVIANE, bastante nervosa e pediu para falar com VLADIMIR; (…) Que nessa hora VIVIANE falou para o declarante que SÔNIA havia sido assaltada e que o assaltante a espancou e levou a bolsa de SÔNIA; (…) Que o declarante e VLADIMIR se dirigiram para o local indicado, cada um em seu próprio veículo; (…) Que quando chegaram no local indicado por VIVIANE, esta estava em pé ao lado do carro de SÔNIA e ambas muito nervosas; Que SÔNIA só falava assim: “eles me bateram muito, eles levaram minha bolsa”, só repetia isso; Que o carro de VIVIANE estava estacionado imediatamente atrás do carro de SÔNIA, e ambas estavam sozinhas, cada uma em seu veículo; (…) Que o declarante, nessa hora, por meio de seu celular, ligou para o celular de seu filho LEONARDO, policial militar, que estava de serviço na Rádio Patrulha; Que o declarante falou para seu filho anunciar no rádio da sua viatura, avisando que teve um assalto próximo à Marginal Botafogo e o assaltante evadiu do local, num Corsa vinho ou vermelho (…); Que enquanto falava com seu filho por celular, ouviu o VLADIMIR dizer é esse carro que está encostado aqui na Marginal Botafogo (…); Que no momento que o assaltante estacionou na Marginal Botafogo, o declarante estava junto com SÔNIA, VLADIMIR e VIVIANE (…); Que VLADIMIR começou a discutir com o assaltante e entram em vias de fato; Que o assaltante deu um murro no rosto de VLADIMIR; (…) Que o declarante foi ao encontro dos dois para fazer cessar aquela briga; Que enquanto brigavam, VLADIMIR caía e levantava; Que o declarante continuava insistindo para que parassem e o assaltante foi para cima do declarante, esmurrando-o, tendo o declarante caído ao chão; (…) Que aí o declarante só viu que chegou um monte de gente, motoqueiros, não sabendo dizer quantos (…) Que quando viu essas pessoas saiu correndo para o seu ATA DA SEGUNDA SESSÃO ORDINÁRIA DO COLÉGIO DE PROCURADORES DE JUSTIÇA - 2010

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carro; Que logo que chegou esse povo que se juntou ao assaltante, foram vários para cima de VLADIMIR, esmurrando-o, chutando-o; Que foi para seu carro em busca de qualquer objeto que pudesse usar em sua defesa e de VLADIMIR; Que o declarante encontrou um canivete e foi com o mesmo nas mãos, ao encontro dos agressores gritando todo o tempo para com isso; Que ao chegar próximo dos agressores, o assaltante inicialmente identificado e outras pessoas vieram ao encontro de declarante; Que o declarante falava não vem não, para com isso; Que algumas pessoas começaram a rodear o declarante e o assaltante veio em direção ao declarante para esmurrá-lo; Que o declarante, diante das tentativas de ser golpeado pelo assaltante, se afastava e dizia para ele não vem não; Que o declarante a todo instante fazia gestos laterais com o canivete, com o objetivo de intimidá-lo para que se afastasse do declarante; Que essa situação foi muito rápida, pois enquanto tentava se defender fazendo os gestos com o canivete e o assaltante ia em sua direção, chegou o carro da polícia, com a sirene ligada e giroflex ligado; Que nessa hora foi um corre-corre danado, pessoas correndo para todos os lados; Que essa primeira viatura que chegou não era a viatura em que estava trabalhando seu filho; Que logo em seguida chegaram outras viaturas, inclusive uma da ROTAM; (…) Que quando o filho do declarante chegou no local e o viu machucado e VLADIMIR sangrando muito, colocou-os na viatura e levou-os para um posto de gasolina em frente ao bar PIT STOP; Que o declarante não voltou mais ao local em que ocorreram os fatos que ora narrou; (…) Que no posto de gasolina, utilizando um papel toalha, tentou limpar o rosto de VLADIMIR para limpar o sangue e, depois de mais calmos, foram cada um em seu veículo para o apartamento de VLADIMIR; Que conversaram a respeito do ocorrido e, passados mais ou menos uns trinta minutos, seu celular chamou e quando viu no bina o número do celular de seu filho, ainda falou para VIVIANE e o VLADIMIR que devia ser alguma coisa relacionada ao ocorrido (…); Que quando atendeu a ligação, o seu filho lhe disse que foi preso; (…) Que seu filho lhe informou que estava dentro de uma viatura da PM, comandada pelo Capitão, se dirigindo para a Corregedoria da Polícia; (…) Que nessa hora o declarante falou para VIVIANE e VLADIMIR que ia na Corregedoria da PM ver o que se passava com seu filho; Que VIVIANE se prontificou a acompanhar o declarante e, antes de se dirigirem à Corregedoria da PM, passaram na casa do declarante para que pudesse trocar de roupa; (…) Que chegando na Corregedoria da PM, o declarante, na portaria se identificou como Promotor de Justiça, e foi permitida sua entrada (…); Que assim que desceu do carro, percebeu que sua nora, KARLA, que ATA DA SEGUNDA SESSÃO ORDINÁRIA DO COLÉGIO DE PROCURADORES DE JUSTIÇA - 2010

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também é policial militar, vinha ao seu encontro; Que perguntou a sua nora o que estava acontecendo, e ela lhe respondeu que não sabia e só sabia dizer que estavam prendendo o LEONARDO; Que sua nora lhe disse que o assaltante correu e que LEONARDO teve que dar tiros, mas que foi tudo muito confuso e outros policiais também atiraram e correram atrás do assaltante; Que o Advogado que o declarante contatou foi o Dr. RONI CÉSAR, o qual chegou na Corregedoria logo em seguida; (…) Que o declarante disse ao Capitão que para prender deveria dizer o porquê, tendo o mesmo dito que não interessa, eu prendo quem eu quiser; Que o declarante insistiu com o Capitão que se ele estava prendendo teria que dizer o motivo da prisão em flagrante e tornou a ouvir do mesmo que ele prendia quem ele quisesse; Que nessa conversa com o Capitão, o Dr. RONI CÉSAR interpelou-o que teria de dizer a razão da prisão; Que também para o Dr. RONI CÉSAR o Capitão falou que não tinha que dar satisfação, mesmo o Dr. RONI tendo se apresentado como advogado de LEONARDO; (…) Que mesmo assim o declarante insistia com o Capitão FERNANDES para dizer o motivo da prisão de seu filho; Que de repente apareceu o Major ALBERTO e ele simplesmente disse: “algema o promotor”; (…) Que RONI tentou interceder e disse que o Promotor estava ali para saber da prisão do filho dele e não tinha motivo para ser algemado (…) e o Major mantinha a determinação para algemá-lo; (…) Que nessa hora juntou um monte de policiais em cima do declarante, que tentou resistir à algemação, mas sabe que caiu no chão ou foi derrubado, e mesmo assim tentava reagir, até que percebeu que seu pulso esquerdo já havia sido algemado e, mesmo tentava reagir, até no chão resistia para que o outro pulso não fosse algemado; Que só parou de usar de força para resistir quando um dos policiais aplicou-lhe uma “gravata” (…); Que o declarante entrou numa viatura e do lado direito o Dr. RONI; Que o declarante foi levado para o 8º Distrito Policial; Que chegou no Distrito um policial militar tirou as algemas do declarante e junto com o Dr. RONI ficou em uma sala aguardando (...); Que da sala onde estava o declarante era possível avistar por uma janela a rua e a frente da Delegacia (…); Que pôde ver que juntou um tanto de motoqueiros na porta da Delegacia (…); Que esses motoqueiros ficaram olhando e insultando o declarante; (…) Que o declarante saiu da Delegacia escoltado, a seu pedido, pelo Major ALBERTO, em razão do número de motoqueiros na porta da Delegacia; Que o declarante foi para o IML (…), se submeteu a exame de corpo de delito e, em seguida, foi para sua casa“ (fls. 688/704). O depoimento prestado por SÔNIA HELENA PECLAT DE PAULA à CGMP contém a seguinte narrativa dos fatos: “Disse ser vítima no dia dos fatos; (...) Que ATA DA SEGUNDA SESSÃO ORDINÁRIA DO COLÉGIO DE PROCURADORES DE JUSTIÇA - 2010

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assistiu ao jogo do Brasil na Copa da Alemanha, realizado no dia 18/06/2006, na casa de seus pais; Que após o término do jogo foi encontrar um casal de amigos no bar PIT STOP; (...) Que quando saíram do PIT STOP, a declarante dirigindo seu veículo Celta vermelho, placas KES-6802 (...); Que a declarante descendo a Rua 136, errou a entrada e foi pela rua onde aconteceram os fatos, objeto da presente investigação; (...) Que tinha um carro parado na frente, aguardando o trânsito da Marginal e a declarante parou seu veículo atrás; Que como a descida é íngreme, a declarante encostou seu veículo no carro que estava na sua frente; Que o condutor do veículo e sua esposa desceram e vieram até o carro da declarante, que também desceu de seu veículo; (...) Que ambos os motoristas foram verificar os estragos ocorridos nos veículos e a esposa do condutor do carro da frente já dizia para a declarante que ela teria que pagar o estrago e aquele homem indagava como e quando ia fazê-lo; (...) Que a declarante tinha o seu celular no bolso da frente da calça que foi visto pelo homem, e no quente da discussão ele lhe disse para pagar com o seu celular; (...) Que a declarante disse para o homem que não iria dar seu celular e perguntou se ele estava louco, e nessa hora ele lhe deu dois safanões; Que a declarante usava uma bolsa de capim dourado, e quando recebeu o safanão, sua bolsa foi para frente e ele puxou-a, rompendo a alça; Que o homem saiu com a bolsa e foi para o carro dele, e fugiu do local; Que a declarante gritou: “fui roubada, fui roubada” e entrou para o seu carro e disparou a chorar; Que VIVIANE já estava gritando com o celular na mão e nessa hora VLADIMIR chegou tendo sido chamado por VIVIANE, ocasião em que ela lhe relatou o ocorrido e informou para seu primo o número da placa do Corsa do homem que levou sua bolsa; Que nisso VLADIMIR perguntou para VIVIANE se o Corsa não era aquele que estava chegando ali; Que nessa hora, o homem desceu do carro, com sua bolsa na mão e VLADIMIR disse ao mesmo se além de agredir ele roubava; Que nessa hora o homem deu um murro na boca de VLADIMIR, e a declarante foi defender VLADIMIR e recebeu um murro na cabeça; Que a declarante com o murro caiu; Que a declarante levantou-se e recebeu um murro da mulher do homem; Que com o murro caiu de novo; (...) Que a partir do segundo murro a declarante não viu mais nada; (...) Que gritou para todo mundo que tinha sido roubada; Que viu o VLADIMIR levar um murro do MARCOS e foi quando pulou em cima e também levou um murro do MARCOS; Que foi submetida a exame de corpo de delito; Que a declarante ficou com escoriações e pequenos cortes nas costas e no rosto” (fls. 844/847).Já VIVIANE NERY COELHO SEABRA, também presente no local do acidente de trânsito que originou a ATA DA SEGUNDA SESSÃO ORDINÁRIA DO COLÉGIO DE PROCURADORES DE JUSTIÇA - 2010

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quizila, prestou o seguinte depoimento:“Disse ser prima de VLADIMIR NERY RIBEIRO, vítima de agressões no dia dos fatos; Que a declarante assistiu o jogo do Brasil na Copa da Alemanha, realizado no dia 18/06/2006, n sede da AGMP (...); Que o Dr. RODANEY também assistiu o jogo na AGMP (...); Que após o término do jogo, chamada por sua amiga SÔNIA, foi para um bar chamado PIT STOP, na Av. 136, nas proximidades do Flamboyant; (...) Que a declarante chamou seu primo para ir para o PIT STOP e seu primo chamou RODANEY e cada um foi em seu próprio veículo; (...) Que por volta de 19:30 ou 20:00 horas, do mesmo dia, a declarante quis ir embora e SÔNIA também, e seguiram pela rua onde aconteceu o problema pouco depois; (...); Que no final da rua a declarante percebeu parado na rampa que dá acesso para a Marginal Botafogo, um carro vermelho e sua amiga SÔNIA parou logo atrás, porque queria entrar na Marginal; (...) Que a declarante, logo em seguida, viu o motorista do carro vermelho colocar a cabeça para fora e também SÔNIA e os dois começaram a discutir; (...) Que o motorista do carro e também a mulher que o acompanhava desceram e foram até o carro de SÔNIA, permanecendo do lado da porta do motorista; Que SÕNIA também abriu a porta e desceu do carro; Que nessa hora a declarante desesperou e gritou que ia chamar a polícia; (...) Que o condutor do veículo vermelho ao voltar para o local onde estava o seu carro e o de SÕNIA, juntamente com sua mulher, começaram a agredir SÔNIA; Que ligou para seu primo VLADIMIR (...); Que o celular de seu primo estava desligado (...) e em seguida ligou para o RODANEY; Que quando RODANEY atendeu o telefone a declarante disse a ele que sua amiga estava sendo espancada e pediu a ele que fosse para lá; Que a declarante viu quando o homem e a mulher empurraram sua amiga que caiu dentro do seu próprio carro, e nessa hora, desceu para lá e SÔNIA lhe disse que aquele homem tinha roubado sua bolsa, oportunidade em que a declarante gritou para o homem: “você roubou a bolsa dela, devolve”, e mesmo assim o homem não devolveu a bolsa, e colocou seu carro em marcha, acelerando e foi embora pela Marginal; Que a declarante não viu mais o carro do homem; Que logo em seguida, quando o homem já tinha saído daquele local, chegaram seu primo VLADIMIR e RODANEY e nessa hora a declarante disse para seu primo: “Vla, roubaram a bolsa da SÔNIA”; Que SÔNIA estava dentro do seu carro e chorando; Que tão logo contou para seu primo, o homem reapareceu, voltando pela Marginal e parou o carro na própria Marginal; Que o homem saiu de dentro do carro, bem nervoso, com a bolsa na mão, a qual tinha a alça arrebentada, e nessa hora VLADIMIR disse para ele o seguinte: “além de mulher, você ainda roubou ATA DA SEGUNDA SESSÃO ORDINÁRIA DO COLÉGIO DE PROCURADORES DE JUSTIÇA - 2010

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a bolsa”; (...) Que na mesma hora o homem deu um murro na boca de VLADIMIR, que cortou e sangrou; Que na hora que o homem deu o murro em seu primo, a declarante ouviu o barulho de muitas motos chegando e vários motoqueiros desceram para o barranco, todos de preto; Que a declarante ficou com medo de apanhar e ficou parada; Que alguns desses homens foram para cima de VLADIMIR; Que nessa hora chegou a polícia, mas deu tempo de VLADIMIR apanhar bastante e SÔNIA também; Que VLADIMIR e SÔNIA fizeram exames de lesões corporais; Que com a chegada da polícia acabou a briga; (...) que a declarante falou para os policiais “esses caras aqui estão batendo no meu primo”; Que só a declarante não apanhou; (...) Que quando a polícia chegou, acalmando a situação, a declarante viu o homem que assaltou sua amiga levantar a blusa e dizer que tinha sido esfaqueado; Que a declarante soube que entre os policiais estava o filho do RODANEY, pessoa que a declarante já viu na AGMP; Que a declarante saiu daquele local e foi para a casa de seu primo esperar; Que não demorou muito chegaram seu primo VLADIMIR e o RODANEY; Que na casa de VLADIMIR, enquanto a declarante fazia curativos nele, o celular do RODANEY tocou e, quando terminou a ligação, ele falou para a declarante e VLADIMIR que seu filho estava sendo preso no quartel; Que RODANEY quis ir para lá, mas antes, a declarante, que dirigiu o veículo do mesmo, porque ele estava muito nervoso, levou-o em sua residência para trocar de roupas; Que em seguida, a declarante levou o RODANEY para o quartel perto do Mutirama; (...) Que SÔNIA se machucou muito em razão das agressões; Que se recorda que haviam umas dez pessoas no local; Que todos chegaram batendo em VLADIMIR e SÕNIA; Que MARCOS ANTÔNIO e sua esposa agrediram SÔNIA com murros; (...) Que quando o Dr. RODANEY chegou na Marginal, local da confusão, o MARCOS ANTÔNIO estava vindo com a bolsa na mão em direção a eles” (fls. 857/862).Do depoimento prestado por VLADIMIR NERI RIBEIRO, também presente no local do acidente de trânsito, extrai-se textualmente:“Que assistiu ao jogo do Brasil na Copa da Alemanha, realizado no dia 18/06/2006, na AGMP; (...) Que saíram da AGMP direto para o PIT STOP (...) a SÔNIA já estava lá; (...) Que no PIT STOP o declarante e seus amigos beberam cervejas; Que na AGMP também tomaram cervejas; Que tempo depois SÔNIA decidiu ir embora e VIVIANE a acompanhou; Que tão logo saíram, o RODANEY falou para o declarante que sua prima VIVIANE tinha ligado e que precisavam de ir lá porque tinha acontecido alguma coisa; Que cada um pegou seu veículo e se dirigiram para o local indicado por VIVIANE; Que chegando no local, estacionaram os veículos e viram o carro de ATA DA SEGUNDA SESSÃO ORDINÁRIA DO COLÉGIO DE PROCURADORES DE JUSTIÇA - 2010

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SÔNIA (...); Que o declarante e RODANEY desceram dos carros correndo e viram a SÔNIA e VIVIANE chorando e desesperadas; Que o declarante perguntou o que aconteceu e VIVIANE disse que um homem havia batido em SÔNIA e roubado a bolsa do local e tinha fugido; Que imediatamente o declarante viu o carro indicado por VIVIANE e disse: “então ele voltou, olha o carro ali estacionado”; Que quando o declarante percebeu o homem tinha descido do carro, com a bolsa na mão e foi em direção dele, que estava junto com SÔNIA, VIVIANE e RODANEY: (...) Que assim que o homem chegou perto o declarante disse para ele: “além de bater nas meninas, você rouba”; Que nessa hora o homem lhe deu um murro na boca; (...) Que assim que o declarante levou um murro na boca avistou um homem de preto que apareceu de repente; Que quando olhou eram os motoboys, chegaram uns duzentos de uma vez; Que na hora que os motoboys chegaram, SÔNIA e VIVIANE gritavam desesperadas para eles pararem de bater no declarante; Que o declarante caiu no chão e recebeu pontapés e murros; Que nessa hora a Polícia Militar chegou e mandou o declarante e RODANEY entrarem no carro da PM; Que o policial que o socorreu é filho do RODANEY; Que os policiais levaram o declarante e o RODANEY num posto de gasolina em frente ao PIT STOP e voltaram imediatamente para o local da ocorrência para buscarem o carro do declarante e do RODANEY, os quais lhes foram entregues no próprio posto de gasolina; Que do posto de gasolina, o declarante e RODANEY foram à casa do declarante; Que para sua casa também foi VIVIANE; Que VIVIANE fez curativos no declarante; Que enquanto estavam em sua casa, RODANEY recebeu um telefonema e assim que desligou o celular, falou para o declarante e VIVIANE que o filho dele estava preso e que ele ia lá no quartel; Que VIVIANE disse a RODANEY que iria com ele e o declarante não sabe quem foi dirigindo; Que o declarante ouviu RODANEY dizer a VIVIANE que antes ia passar em sua casa; (...) Que o declarante fez exames de lesões corporais por requisição do Ministério Público; Que todos os motoqueiros agrediram o declarante e que só pararam de agredi-lo quando a polícia chegou” (fls. 838/843).O depoimento de MARCOS ANTÔNIO MACIEL LEMOS contém a seguinte versão dos fatos:“Que o declarante dirigia um Corsa vermelho de sua propriedade, placas JTD 7073, de Goiânia, e manobrava para alcançar a Marginal Botafogo (...); Que quando parou para observar o trânsito para entrar na Marginal, uma mulher dirigindo um veículo Celta vermelho buzinou para ele, tendo o declarante dito para a mesma ter calma porque estava passando carro; Que em seguida sentiu que essa mulher bateu em seu carro: Que desengatou o carro e desceu para conversar com ela; Que ATA DA SEGUNDA SESSÃO ORDINÁRIA DO COLÉGIO DE PROCURADORES DE JUSTIÇA - 2010

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quando falou para essa mulher que tinha batido em seu carro, ela lhe disse: “calma moço vou pagar, vou pagar”; Que essa mulher disse essas palavras aos gritos; (...) Que o declarante disse para a mulher que não podia sair dali porque ela havia batido em seu carro e tinha que resolver o prejuízo; Que nesse momento a mulher que bateu em seu veículo desceu do carro e dirigiu-se até o declarante e pegou-o pelo colarinho chamando-o de burro e dizendo que estava demorando demais; Que o declarante estava observando seu carro e quando percebeu chegaram dois homens, que já começaram a agredi-lo com tapas e empurrou-o, tendo o declarante caído no chão; Que tentou sair deles e usou dos meios que tinha para se defender, e inclusive tentava se soltar dos mesmos; Que um desses homens, que posteriormente o declarante ficou sabendo que é Promotor de Justiça, disse que ia “apagá-lo” e se dirigiu para as proximidades da moça que dirigia o carro preto, voltando com um objeto cortante; Que o declarante entende como um canivete; Que quando o Promotor voltou o declarante ainda se debatia com outro homem, tentando se ver livre das agressões daquele homem; Que o Promotor voltou a agredi-lo e quando percebeu estava furado na barriga; (...) Que sua esposa vendo as agressões que sofria, foi em busca de socorro e nessa hora em que percebeu que estava ferido, chegou a mesma e mais dois cunhados do declarante; Que não se lembra da interferência de seus cunhados para conter os homens; Que diante do pedido de seus cunhados para que soltasse, eles pararam de agredir o declarante; Que em seguida chegou a viatura da polícia militar (...); Que não ouviu nenhuma das mulheres relatarem para o Promotor de Justiça que ele teria tentado roubá-las; (...) Que não recebeu nenhuma ajuda dos agressores, mas que está entrando com uma ação de indenização contra o Estado de Goiás; (...) Que a profissão que exerce, motoqueiro, não pode ainda exercê-la” (fls. 792/796). Já ANA PAULA GONÇALVES DE SOUZA declarou o seguinte: “Que é companheira de MARCOS ANTÔNIO MACIEL LEMOS há sete anos; (...) Que no dia 18 de junho de 2006, por volta das 18:00 horas, a declarante e MARCOS ANTÔNIO estavam no veículo Corsa, de cor vermelha, de propriedade de MARCOS ANTÔNIO; Que quando MARCOS ANTÔNIO estava manobrando o carro, uma mulher conduzindo um veículo Celta, na cor vermelha, bateu na traseira do veículo de MARCOS ANTÔNIO: Que a mulher que bateu na traseira do veículo e uma outra que vinha atrás, conduzindo um carro de cor preta, desceram dos seus veículos e foram até MARCOS ANTÔNIO, que também já tinha descido do veículo e começaram a discutir; Que a mulher que bateu na traseira de MARCOS ANTÔNIO, ao chegar perto dele, pegou-o pelo colarinho e começou a ATA DA SEGUNDA SESSÃO ORDINÁRIA DO COLÉGIO DE PROCURADORES DE JUSTIÇA - 2010

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agredi-lo dizendo que ele era burro e não sabia dirigir; Que a mulher que agredia MARCOS ANTÔNIO dizia para a outra mulher ligar para a polícia; Que a mulher que estava no carro preto fez uma ligação pelo celular, (...) e logo em seguida chegaram ao local, a pé, dois homens; Que um desses homens conforme a depoente tomou conhecimento na delegacia é o Promotor de Justiça RODANEY; Que o outro homem a declarante também viu na delegacia com o olho roxo e mostrada a fotografia anexa a declarante reconheceu como sendo a pessoa que estava junto com o Promotor; Que o Promotor tinha nas mãos um objeto cortante pequeno que a declarante pensa ser um estilete e gritava para MARCOS ANTÔNIO: “vem grandão”; (...) Que nesse momento olhou e viu que o homem que agrediu seu esposo fazia gestos com a mão, dando a entender que era para ninguém se aproximar dele” (fls. 797/801).As declarações de DOUGLAS MATIAS DA SILVA ficaram assim consignadas:“Testemunha não compromissada na forma da lei em razão de ser concunhado da vítima MARCOS ANTÔNIO MACIEL DE JESUS; (...) Que no início da noite do dia 18 de junho de 2006, estava em sua residência assistindo televisão em companhia de sua esposa, quando lá chegou ANA PAULA, irmã de sua esposa, bastante assustada e pediu-lhe que fosse com ele na Marginal Botafogo imediatamente, porque seu marido, MARCOS ANTÔNIO estava sendo agredido por dois homens naquele local; (...) Que o objeto utilizado pelo Promotor é parecido com um estilete ou punhal podendo afirmar que era um objeto cortante: (...) Que o declarante entrou no meio da confusão para separar e o Promotor disse para ele: “não vem não, senão eu te furo também”; Que o declarante não sabe porque o Promotor foi chamado no local da batida, pois segundo soube elas disseram para MARCOS ANTÔNIO que iam chamar a polícia; (...) Que quando chegou ao local viu o tumulto e somente percebeu que MARCOS ANTÔNIO estava ferido quando observou um canivete ou punhal nas mãos do Dr. RODANEY; (...) Que na época dos fatos já era mensageiro, ou seja, entrega revistas, jornais, etc.; (...) Que chegou a entrar em vias de fato para defender o MARCOS ANTÔNIO (...); Que até o momento em que esteve no local do fato, estavam apenas as pessoas envolvidas no acidente de trânsito que originou a briga: (...) Que acredita que na época dos fatos MARCOS ANTÔNIO já era motoboy há mais de 4 (quatro) anos e que MARCOS ANTÔNIO era cooperado da COOPMEGO; (...) Que jamais MARCOS ANTÔNIO tentaria roubar alguém, pois além de ser bastante trabalhador, trabalhava em dois períodos, durante o dia na COOPMEGO e a noite entregava pizzas (...); Que afirma que na porta da Delegacia de Polícia estavam vários motoqueiros, amigos de MARCOS ANTÔNIO” (fls. ATA DA SEGUNDA SESSÃO ORDINÁRIA DO COLÉGIO DE PROCURADORES DE JUSTIÇA - 2010

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710/716).Por seu turno, as declarações de LEONARDO BEZERRA DE LIMA GANDRA ficaram assim dispostas:“Aos costumes, disse ser filho do Dr. RODANEY (…); Que no dia 18 de julho de 2006 o declarante estava de serviço e foi chamado para dar apoio para outra viatura da PM; Que durante o deslocamento recebeu uma ligação telefônica de seu pai que queria passar as características de um veículo, cujo motorista havia se evadido do local e era autor de um roubo; Que deslocou-se para a Marginal Botafogo e encontrou ali um tumulto generalizado; Que quando chegou já haviam duas viaturas e ao deparar com seu pai e o VLADIMIR, os viu já bastante machucados; Que o declarante pediu autorização ao seu comandante para que pudesse socorrer o seu pai e o VLADIMIR; Que colocou seu pai e o VLADIMIR na viatura e deslocou para o Hospital de Urgências; Que seu pai entendeu que não era necessário ir para o HUGO e o deixou com o VLADIMIR em um posto de gasolina próximo ao local do fato (…); Que voltou ao local do fato para informar aos policiais o que realmente estava acontecendo (…); Que no momento em que chegou ao local dos fatos, viu alguns motoqueiros ali; (…) Que da segunda vez que retornou ao local dos fatos, o MARCOS ANTÔNIO estava lá; Que MARCOS ANTÔNIO já estava na condição de detido e apresentava a roupa suja de sangue; Que presenciou o fato envolvendo o seu pai, o Capitão FERNANDES e o Major ALBERTO na Corregedoria da PM; Que já estava na condição de preso, tendo em vista que recebeu voz de prisão do Capitão FERNANDES, a mando do Major ALBERTO, no Hospital de Urgências quando colhia dados para terminar a ocorrência, porque o declarante foi quem deu voz de prisão para o MARCOS ANTÔNIO; Que já na condição de preso fez uma ligação para o seu pai, para que arrumasse um Advogado para o declarante; Que seu pai falou que ia até a Corregedoria da PM; Que na Corregedoria o Major ALBERTO informou ao seu pai que o declarante não estava preso e que havia sido conduzido apenas para esclarecimentos; Que logo em seguida, o Capitão FERNANDES interveio e corrigiu o Major ALBERTO e disse que o declarante estava preso sim, e o fez de forma bastante alterada e grosseira; Que seu pai não foi grosseiro em momento algum com os policiais, apenas ficou irritado quando foram prendê-lo, pois já havia se identificado aos policiais, mostrando sua carteira funcional de Promotor de Justiça; (…) Que seis policiais algemaram o seu pai (…); Que o seu pai no momento em que foi algemado foi derrubado no chão pelos policiais; (…) Que sabe que seu pai foi conduzido em uma viatura; (…) Que quando chegou na Marginal Botafogo pela segunda vez, tinha uma mulher que gritava que tinha sido assaltada e roubada sua bolsa; Que a mulher estava ATA DA SEGUNDA SESSÃO ORDINÁRIA DO COLÉGIO DE PROCURADORES DE JUSTIÇA - 2010

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machucada na face e pedia providência da PM e apontou o autor do roubo como sendo MARCOS ANTÔNIO; Que nesse momento o declarante deu voz de prisão para MARCOS ANTÕNIO; (…) Que durante o transcorrer da ocorrência na Marginal Botafogo, o MARCOS ANTÔNIO evadiu-se e foram disparados vários tiros pelos policiais militares; Que participaram da perseguição a pé a MARCOS ANTÔNIO mais ou menos uns oito policiais militares; (…) Que o declarante foi autuado em flagrante delito na Corregedoria da PM e encaminhado ao presídio militar, por lesão corporal grave com emprego de arma de fogo, contra MARCOS ANTÔNIO; Que somente o declarante foi autuado em flagrante; (…) Que seu pai não desacatou os policiais militares” (fls. 868/872)Do depoimento de VÂNIA DA GUIA MARTINS DOS SANTOS, Delegada de Polícia do 8º Distrito Policial, tem-se o seguinte:“Que a declarante tomou conhecimento dos fatos a partir do momento em que o Dr. RODANEY foi apresentado pela Polícia Militar na delegacia; (...) Que o Dr. RODANEY, que não foi ouvido, chegou a dizer para a declarante que tudo ocorreu porque uma das mulheres tinha tido sua bolsa roubada” (fls. 95/96).O depoimento de ALBERTO LACERDA DE FARIA, Major da Polícia Militar do Estado de Goiás, contém as seguintes informações:“Que o declarante no dia 18/junho/2006, era o superior de dia e tomou conhecimento por meio de seu motorista, por volta das 19:20 horas, que ouviu no rádio da viatura que tinha uma ocorrência envolvendo um Promotor de Justiça; Que embora não tivesse o dever de atender a ocorrência, recordou de uma outra situação envolvendo Promotor, que inclusive foi morto, e tomando conhecimento do endereço para lá se dirigiu com seu motorista; Que o declarante foi acompanhado por uma viatura da ROTAM que estava no mesmo quartel que o declarante; Que chegando no local verificou a presença de várias viaturas da Polícia Militar e policiais militares, além de populares; Que inicialmente procurou se inteirar da situação e soube pelas pessoas que estavam no local que tinha acontecido uma discussão por causa de uma batida de carro, sendo que pode verificar a existência de uma Corsa vermelho, estacionado na Marginal, logo em seguida da entrada improvisada por motoristas para acesso à Marginal Botafogo; (...) Que o Tenente BATISTA, Comandante das viaturas da ROTAM, confirmou ao declarante que todo aquele episódio foi originado por acidente de trânsito; Que o Tenente BATISTA noticiou ao declarante que pouco tempo antes encontrou com Soldado GANDRA e Promotor de Justiça, que ocupavam uma viatura da PM, e o soldado lhe relatou que o pai tinha sido vítima de assalto, naquelas imediações, e que tinha baleado o assaltante e que seu pai, para se defender, tinha esfaqueado o autor da tentativa de ATA DA SEGUNDA SESSÃO ORDINÁRIA DO COLÉGIO DE PROCURADORES DE JUSTIÇA - 2010

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assalto; (...) Que o declarante telefonou para o Capitão FERNANDES, supervisor do serviço da área da Capital e determinou-lhe que localizasse o Soldado GANDRA e conduzisse para a Corregedoria da PM; Que o declarante já estava na Corregedoria da PM quando o Soldado GANDRA chegou escoltado pelo Capitão FERNANDES (...); Que passado um tempo, o declarante ouviu gritos do lado de fora da sala que ocupava e foi até lá ver o que se passava; Que nessa hora viu o Promotor gesticulando e esbravejando com o Capitão FERNANDES, militar responsável pela prisão do Soldado, podendo ouvir que indagava e censurava o Capitão pela prisão; (...) Que o declarante advertiu o Promotor para se acalmar, porque se permanecesse daquela forma seria obrigado a algemá-lo; Que como o Promotor permaneceu alterado e apontava o dedo em riste para os policiais, com a intenção de impedir ocorrência grave, determinou que fosse algemado; (...) Que o Promotor não desacatou o declarante e não o ofendeu, bem assim não utilizou de nenhum palavrão para com ele; Que o declarante pensa que com ação do Promotor na Corregedoria a PM, criticando o trabalho que estava sendo desenvolvido em relação ao caso, era para desmoralizar a Polícia Militar; (...) Que o declarante permaneceu no 8º Distrito Policial até o fim, e, inclusive, a pedido do Doutor BENEDITO TORRES, fez a escolta de uma Ecosport preta, na qual o Promotor foi levado para o IML; Que esse pedido do Doutor BENEDITO foi em razão de receio pela presença de motoboys na porta do distrito; (...) Que pela percepção do declarante e, inclusive, em conversa que teve com os motoboys, a presença dos mesmos ali era com receio de não dar em nada, ou como disse um deles “de acabar em pizza”; Que os motoboys queriam chamar a imprensa como meio de exigir a investigação do caso” (fls. 86/89).De RAIMUNDO FERNANDES FILHO, Capitão da Polícia Militar do Estado de Goiás, tem-se o seguinte depoimento:“Que no início da noite do dia 18/06/2006, o declarante recebeu um telefonema do Major ALBERTO determinando ao declarante que comparecesse na Marginal Botafogo, (...) incumbindo-lhe de procurar o Soldado GANDRA e encaminha-lo à Corregedoria; (...) Que passado mais ou menos meia hora que estavam na Corregedoria da PM, chegaram várias pessoas, uma delas o Promotor de Justiça RODANEY ; Que o Promotor na companhia de um cidadão, que se dizia Advogado; Que tanto o Promotor como o Advogado já chegaram bastante exaltados e o Promotor indagava se o filho dele estava preso, tendo o declarante informado a ele que o Soldado GANDRA estava ali na condição de detido, para averiguação dos fatos; Que o Soldado GANDRA se dirigiu ao pai e ele se abraçaram e o Promotor deixou claro que iria tirar o filho de lá de qualquer jeito; Que nessa hora o ATA DA SEGUNDA SESSÃO ORDINÁRIA DO COLÉGIO DE PROCURADORES DE JUSTIÇA - 2010

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Major ALBERTO determinou a condução do Soldado GANDRA novamente para a Corregedoria e o Promotor ficou mais nervoso ainda com a situação; (...) Que o Major ALBERTO tentou de todas as formas fazer com que o Promotor se acalmasse e não conseguiu; Que diante da situação, que só piorava, o Major ALBERTO determinou que o Promotor fosse algemado; Que não foi fácil algemar o Promotor, tendo sido necessário o concurso de vários policiais; (...) Que o Promotor de Justiça esbravejava com todo mundo pela prisão do filho e chegou a chamar o declarante de “capitãozinho”; Que o Promotor alegava o tempo todo que a prisão de seu filho era ilegal” (fls. 166/167).Tem-se do depoimento de PAULO CÉSAR MESSIAS DE BRITO, Policial Militar, as seguintes informações:“Que no dia 18/06/2006, depois de solicitado, estava em deslocamento, pela Marginal Botafogo, para dar apoio a uma viatura do Batalhão de Trânsito, numa ocorrência de acidente de trânsito, nas proximidades do CEPAL do Setor Sul; (...) Que no percurso, nas proximidades da Rua 88, deparou com pessoas pedindo socorro; Que posteriormente identificou uma das pessoas como o Promotor de Justiça, pai do Soldado GANDRA; (...) Que enquanto estava no local, uma mulher mostrou para o declarante uma bolsa com a alça arrebentada, dizendo que o rapaz ferido é quem tinha assaltado ela” (fls. 183/184).O depoimento de DEUSDETE FERREIRA RÉGIS VALENTE, Policial Militar, traz aos autos as seguintes informações:“Que no dia 18/06/2006, por volta de 19:00 horas, (…) deslocavam pela Marginal no sentido da Av. Jamel Cecílio para a Rua 88, pois foram chamados para apoiar uma viatura do trânsito que se encontrava na Av. B, Jardim Goiás; Que nas proximidade da Marginal com a Av. E depararam com um tumulto de pessoas; Que não sabe precisar o número de pessoas, mas sabe dizer que estavam o Promotor, duas mulheres, o MARCOS, a mulher do MARCOS e pessoas que moram nas imediações; Que quando chegou ao local avistou um carro, salvo engano um Corsa, estacionado próximo à saída improvisada para a Marginal; que mal pararam a viatura vieram várias pessoas ao encontro do declarante e seu companheiro de trabalho, inclusive o Promotor de Justiça, relatando ocorrência de assalto; Que uma moça lhe mostrou uma bolsa com a alça arrebentada, (...) dizendo que foi MARCOS quem tentou rouba-la” (fls. 283/284).Às fls. 431/437, encontra-se o Laudo de Exame de Corpo de Delito oriundo do Instituto Médico Legal, datado de 21/junho/2006, apenas 3 (três) dias após os fatos narrados, realizado na pessoa de SÔNIA HELENA PECLAT DE PAULA, onde se atesta que a mesma sofreu agressões físicas, causando-lhe lesões corporais provocadas por ação contundente, acarretando equimoses no rosto e outras partes do corpo. ATA DA SEGUNDA SESSÃO ORDINÁRIA DO COLÉGIO DE PROCURADORES DE JUSTIÇA - 2010

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Igualmente, às fls. 438/442, o Laudo de Exame de Corpo de Delito realizado na pessoa de VLADIMIR NERI RIBEIRO, datado de 20/junho/2006, apenas 2 (dois) após o evento danoso, contém a justificativa de que o mesmo foi “agredido por vários motoqueiros”, o que causou-lhe diversas escoriações, ferida corto-contusa e equimoses no rosto e outras partes do corpo, atestando as ofensas à integridade corporal declaradas nos depoimentos testemunhais prestados. Estão nos autos as cópias de 3 (três) Representações Penais e Notícia Crime, respectivamente ajuizadas por SÔNIA HELENA PECLAT DE PAULA (fls. 447/451), VLADIMIR NERI RIBEIRO (fls. 452/454) e pelo Sindicado-Recorrente (fls. 455/458), esta última datada de 21/junho/2006, apenas 3 (três) dias após o evento danoso, todas ajuizadas em desfavor de MARCOS ANTÔNIO MACIEL LEMOS, imputando-lhe a prática das infrações penais mencionadas. Pelos depoimentos testemunhais e provas materiais coligidas, resta então esclarecido que, após a colisão dos veículos, houve discussão entre SÔNIA e MARCOS ANTÔNIO, que acompanhado de sua companheira ANA PAULA, iniciaram agressões com o desiderato de “resolver o prejuízo” ali mesmo, tendo subtraído a bolsa daquela e evadido imediatamente, retirando o veículo Corsa vermelho do exato local onde aconteceu o abalroamento, havendo declaração expressa nesse sentido. De consequência, data vênia, rejeito a tese de que as provas testemunhais coligidas em benefício da defesa do Sindicado-Recorrente tenham sido adredemente preparadas, pois elas definitivamente não destoam com a dinâmica dos fatos informados pelos demais depoimentos testemunhais transcritos nos autos, inclusive aqueles destinadas a lastrear a imputação acusatória, pelo que não entendo correto desqualificá-las, ao contrário. Ademais, as provas testemunhais coligidas são robustecidas pelas provas materiais consignadas pelos laudos periciais que atestam as lesões sofridas pelo Sindicado-Recorrente, por SÔNIA e por VLADIMIR. Por outro lado, a responsabilidade decorrente dos fatos atribuídos ao Sindicado-Recorrente é pelo mesmo admitida, ele não as nega, assim como a autoria das lesões contra MARCOS ANTÔNIO, de resto materialmente confirmadas pelo Laudo Pericial de fls. 312/315 dos autos, mas insiste que sua conduta encontra-se resguardada pela excludente de ilicitude da legítima defesa, que se afigura patente pelo lastro probatório obtido. Pela narrativa dos depoimentos testemunhais, não há plausibilidade jurídica em desqualificar somente os depoimentos prestados pelas pessoas que acompanhavam o Sindicado-Recorrente naquela ocasião, pois a dinâmica dos fatos apresentada pelas testemunhas de defesa e pelas demais, nas diversas inquirições constantes dos autos, não contém distorções ATA DA SEGUNDA SESSÃO ORDINÁRIA DO COLÉGIO DE PROCURADORES DE JUSTIÇA - 2010

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significativas que pudessem comprometer sua veracidade. É de se ressaltar, inclusive, que o precioso lastro probatório, testemunhal e material, instruído pela presente Sindicância, foi obtido com estrita obediência ao princípio constitucional do devido processo legal e da ampla defesa, mediante escorreita atuação investigativa da douta CGMP. No entanto, atrevo-me a discordar da gravidade atribuída pelo Relatório Conclusivo à conduta atribuída ao Sindicado-Recorrente por ocasião do acidente de trânsito que deu causa à quizila, bem como com a consequente imposição da penalidade administrativa, ora recorrida. Restou-me convincente a presença da excludente de ilicitude da legítima defesa de terceiros, tendo o Sindicado-Recorrente agido nos limites dos elementos objetivos e subjetivos verificados, pois usou dos meios necessários para defender-se de agressões injustas praticadas inicialmente contra seus amigos, e depois, contra si mesmo. Pela definição legal, entende-se por legítima defesa “quem usando dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.”Com a devida vênia, em entendimento diverso ao concluído nesta Sindicância, não consigo vislumbrar outra dinâmica lógica sobre os fatos verificados naquele domingo, senão o descrito pelo Sindicado-Recorrente, cujas declarações merecem crédito, e pelas testemunhas, todas coerentes. Na data do fato, o Sindicado-Recorrente estava em um bar próximo do local onde ocorreu o acidente de trânsito, juntamente com VLADIMIR, tendo recebido uma ligação celular de VIVIANE, logo após a pessoa de MARCOS ANTÔNIO MACIEL LEMOS e sua companheira ANA PAULA GONÇAVES DE SOUZA já terem se evadido dali, não sem antes iniciar agressão física contra a pessoa de SÔNIA, a fim de “resolver o prejuízo” decorrente do abalroamento, subtraindo-lhe a bolsa. Todos os desdobramentos adiante verificados decorrem de tal constatação. Há provas convergentes que atestam que as vias de fato tiveram início somente após o retorno de MARCOS ANTÔNIO ao local do acidente de trânsito, acompanhado de motoqueiros, ali perpetrando agressões físicas contra as pessoas de SÔNIA e VLADIMIR, o que motivou a compreensível interferência do Sindicado-Recorrente, que entrou na briga para auxiliar seus amigos, agindo em legítima defesa de terceiros, além de resguardar sua própria integridade física, diante do comportamento hostil demonstrado pela ação de seus agressores, de resto demonstrada pelos laudos periciais que atestam as lesões corporais sofridas. Pelas provas materiais, que guardam liame lógico com os depoimentos testemunhais, confirmado ficou que SÔNIA foi mesmo esmurrada, bem como VLADIMIR, ambos sofrendo lesões corporais incompatíveis com a ATA DA SEGUNDA SESSÃO ORDINÁRIA DO COLÉGIO DE PROCURADORES DE JUSTIÇA - 2010

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trivialidade sugerida nos depoimentos da suposta vítima e de sua companheira. Outrossim, pelos depoimentos prestados por MARCOS ANTÔNIO e sua companheira ANA PAULA à CGMP, se observam divergências sutis entre as respectivas versões, havendo afirmação expressa de que SÔNIA, logo após a colisão, teria pedido “calma ao moço”, pois iria pagar os estragos, ao passo que MARCOS ANTÔNIO insistiu em “resolver o prejuízo” ali mesmo. Não é razoável a versão de que SÔNIA tenha pedido calma ao seu agressor se este não estivesse muito nervoso, ou ainda, de que tenha pedido calma aos gritos, o que se revelaria um paradoxo. Além disso, os danos materiais advindos da colisão automobilística, demonstrados pelo Laudo de Exame Pericial à fl. 270, referem-se exclusivamente ao veículo pertencente a MARCOS ANTÔNIO, tendo sido de pequena intensidade, o que não justificaria sua versão de que uma mulher, após um acidente de trânsito, sem nenhum motivo aparente, agarraria um homem tido como “grandão” pelo colarinho, que insistia em “resolver o prejuízo” ali mesmo, pedindo-lhe calma, pois iria pagar, e isso tudo aos gritos. Definitivamente, entendo que esta é uma versão muito frágil dos fatos, não conseguindo eximir MARCOS ANTÔNIO da responsabilidade por ter dado causa ao ocorrido. Também não é convincente a versão adversa de que o Sindicado-Recorrente e VLADIMIR tenham chegado ao local e, ato contínuo, também sem nenhum motivo aparente, tenham iniciado a contenda, pois conforme reiteradamente confirmado, MARCOS ANTÔNIO já não estava mais ali, retirou seu veículo do exato local do abalroamento, mesmo tendo dito que imediatamente após ter seu veículo abalroado, o desengatou e dele desceu, tendo retornando logo depois, acompanhado de motoqueiros, já partindo agressivamente rumo a VLADIMIR, SÔNIA e o Sindicado-Recorrente. Com efeito, a dinâmica dos acontecimentos, sugerida por MARCOS ANTÔNIO e ANA PAULA, não é congruente, de que teria sido o Sindicado-Recorrente quem iniciou as agressões e, em seguida, tenha saído do embate e buscado o canivete em seu carro para atentar contra MARCOS ANTÔNIO, que estaria lutando com VLADIMIR. Aliás, a presença adjacente de outros motoqueiros, que teriam ido ao local em auxílio a MARCOS ANTÔNIO, ganha relevo nesse ínterim, quando ANA PAULA afirma que o Sindicado-Recorrente brandia o instrumento, “dando a entender que não era para ninguém se aproximar dele”, o que indica a presença de mais pessoas no local, além dos contendores, o que foi também informado pelos demais depoimentos testemunhais coligidos. Por óbvio, ilações não cabem em procedimento desta gravidade, mas naquele contexto sutilmente sugerido pela referida depoente, somente poderiam ATA DA SEGUNDA SESSÃO ORDINÁRIA DO COLÉGIO DE PROCURADORES DE JUSTIÇA - 2010

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pretender se aproximar do Sindicado-Recorrente outras pessoas que objetivassem atentar contra sua integridade física, o que foi legitimamente repelido. Consta do depoimento do próprio MARCOS ANTÔNIO, prestado à CGMP, que sua companheira ANA PAULA saiu do local para trazer dois cunhados, sendo que um deles, DOUGLAS, cuja profissão também é de mensageiro, admitiu também ter entrado em vias de fato “para defender MARCOS ANTÔNIO”, o que confirma a tese sustentada pela defesa do Sindicado-Recorrente. A aparentemente controversa presença dos motoqueiros, colegas de profissão de MARCOS ANTÔNIO, como partícipes adjacentes do avento danoso, inclusive, foi novamente confirmada pelo depoimento do próprio DOUGLAS MATIAS DA SILVA e do Major PM ALBERTO LACERDA DE FARIA, que admitiram que os motoqueiros estavam também nas imediações do 8º DP, aguardando o desenrolar dos acontecimentos, sabe-se lá com que intenções. Entendo que restou suficientemente demonstrado, pelo conjunto de provas testemunhais e materiais coligidas, que o Sindicato-Recorrente agiu contra a pessoa de MARCOS ANTÔNIO com o restrito intuito de cessar as agressões perpetradas contra seus amigos e contra si mesmo, envolvendo-se no entrevero involuntariamente, em nada agindo para que tais fatos danosos tivessem início. O instrumento utilizado, de pequeno porte, conforme descreveu ANA PAULA, um canivete que se encontrava guardado em seu carro e que só foi buscado após a contenda ter se generalizado, é indicativo convincente a comprovar que o Sindicado-Recorrente não teve intenção deliberada de atentar contra a integridade física de MARCOS ANTÔNIO, tendo reagido em defesa contra agressão atual e injusta, que estava em curso contra si e contra terceiros, utilizando-se moderadamente dos meios disponíveis naquela ocasião. A legítima defesa, ou autodefesa, é o reconhecimento pelo ordenamento jurídico de que uma agressão injusta não pode prevalecer, numa situação de fato, sobre os atos necessários e inadiáveis na defesa de direitos, sendo, pois, uma reação defensiva. É incontroverso que, na reação, o agente deve utilizar moderadamente os meios necessários para repelir a agressão atual e injusta. Porém, não se pode olvidar que “meio necessário” é aquele de que dispõe o agente no momento em que rechaça a agressão, podendo, como assinala a doutrina de JÚLIO FABRINI MIRABETE, “ser até mesmo desproporcional com o utilizado no ataque, desde que seja o único à sua disposição no momento”, pois a legítima defesa “é uma reação humana e não se pode medi-la com um transferidor, milimetricamente, quanto à proporcionalidade de defesa ao ataque sofrido pelo sujeito. Aquele que se defende não pode raciocinar friamente e pesar com perfeito e incomensurável critério essa ATA DA SEGUNDA SESSÃO ORDINÁRIA DO COLÉGIO DE PROCURADORES DE JUSTIÇA - 2010

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proporcionalidade, pois no estado emocional em que se encontra não pode dispor de reflexão precisa para exercer sua defesa em equivalência completa com a agressão. Não se deve fazer, portanto, rígido confronto entre o mal sofrido e o mal causado pela reação, que pode ser sensivelmente superior ao primeiro, sem que por isso seja excluída a justificativa, e sim entre os meios defensivos que o agredido tinha à sua disposição e os meios empregados, devendo a reação ser aquilatada tendo em vista as circunstâncias do caso, a personalidade do agressor, o meio ambiente etc. A defesa exercita-se desde a simples atitude de não permitir a lesão até a ofensiva violenta, dependendo das circunstâncias do fato, em razão do bem jurídico defendido e do tipo de crime em que a repulsa se enquadraria” (Manual de Direito Penal, v. 1, p. 185). A doutrina de MIRABETE pontifica ainda que “verificando nos autos que há prova da existência do fato e da autoria, o juiz pode absolver sumariamente o acusado se estiver convencido de que agiu ele ao abrigo de uma causa excludente de antijuridicidade ou da culpabilidade” (Processo Penal, Ed. Atlas, 9ª ed., 1999, p. 496). Prima facie, é oportuno esclarecer que não há como impedir a aplicação subsidiária dos princípios e normas do Direito Penal ao procedimento administrativo recorrido, tendo em vista que o Direito Administrativo Disciplinar é apenas mais uma das condições jurídicas de manifestação do jus puniendi do Estado. As garantias penais cumprem papel importante no direito sancionatório, incluindo o disciplinar, pois exteriorizam muitas garantias aos acusados, para estabelecer a certeza na repreensão contra prática de ilícito administrativo previsto em lei. Acerca do tema, abstrai-se da basilar e cristalina lição doutrinária do incomparável NELSON HUNGRIA as seguintes luzes:“A ilicitude é uma só, do mesmo modo que um só, na essência, é o dever jurídico. Dizia BENTHAM que as leis são divididas apenas por comodidade de distribuição: todas podiam ser, por sua identidade substancial, dispostas ‘sobre um mesmo plano, sobre um só mapa-mundi’. Assim, não há como falar-se de um ilícito administrativo ontologicamente distinto de um ilícito penal. A separação entre um e outro atende apenas a critérios de conveniência ou de oportunidade, afeiçoados à medida do interesse da sociedade e do Estado, variável no tempo e no espaço. Conforme acentua BELING, a única diferença que pode ser reconhecida entre as duas espécies de ilicitude é de quantidade ou de grau, está na maior ou menor gravidade ou imoralidade de uma em cotejo com a outra. O ilícito administrativo é um minus em relação ao ilícito penal. Pretender justificar um discrime pela diversidade qualitativa ou essencial entre ambos, será persistir no que KUKULA justamente chama de ‘estéril ATA DA SEGUNDA SESSÃO ORDINÁRIA DO COLÉGIO DE PROCURADORES DE JUSTIÇA - 2010

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especulação’, idêntica à demonstração da quadratura do círculo” (Ilícito Administrativo e Ilícito Penal. Seleção Histórica da RDA - Matérias Doutrinárias Publicadas em Números Antigos de 1 a 150, RJ: 1945/1995, Fundação Getúlio Vargas, p. 15).Por seu turno, os juristas SÉRGIO FERRAZ e ADILSON ABREU DALLARI ensinam que “na seara dos processos administrativos pertinentes à aplicação de sanções, não deve o agente decisório deixar de levar em consideração a rica trama principiológica do Direito Penal. Cabendo-lhe, em suma, levantar as pontes conceituais antes por nós exaltadas, a fim de evitar que o processo realize não a justiça, mas a suma injustiça” (Processo Administrativo, 1ª ed., Malheiros, 2003, p. 154).Corroborando tais entendimentos, o baluarte HELY LOPES MEIRELLES pontifica:“O processo punitivo poderá ser realizado por um só representante da Administração ou por Comissão (...). Nesses procedimentos são adotáveis, subsidiariamente, os preceitos do processo penal comum, quando não conflitantes com as normas administrativas pertinentes” (Direito Administrativo Brasileiro, 27ª ed, p. 661).Também sobre o assunto, por oportuno, utilizo-me do seguinte lineamento jurisprudencial oriundo do colendo Superior Tribunal de Justiça:Ementa: “ADMINISTRATIVO. SUNAB. DELEGADA Nº 4. INCIDÊNCIA NA VENDA DE CONFECÇÕES FINAS. INFRAÇÕES CONTINUADAS. 1. Omissis. 2. A punição administrativa guarda evidente afinidade, estrutural e teleológica, com a sanção penal. É correto, pois, observar-se em sua aplicação, o principio consagrado no art. 71 do Código Penal. 3. Na imposição de penalidades administrativas, deve-se tomar como infração continuada, a série de ilícitos da mesma natureza, apurados em uma só autuação” (STJ, 1ª Turma, rel. Min. Humberto Gomes de Barros, REsp 19560/RJ, DJ de 18/10/1993, p. 21.841). Desse modo, não há como negar a efetiva influência do Direito Penal constitucionalizado no procedimento administrativo sancionatório, devendo o administrador público, quando investido do poder disciplinar, primar pelo cumprimento da regular investigação, por meio de uma apuração justa da conduta infracional praticada pelo servidor público. Comprovado que os fatos praticados pelo servidor encontram-se resguardados pela excludente de ilicitude da legítima defesa, nem mesmo há que se falar em ilícito administrativo. Nessa mesma linha de interpretação, utilizando-se da analogia, obtém-se dos seguintes julgados tais premissas:Ementa: “PROCESSO CIVIL POR AVOCAÇÃO. APURAR CONDUTA DE POLICIAL CIVIL. INEXISTÊNCIA DE CRIME. CONDUTA PRATICADA EM LEGÍTIMA DEFESA E NO CUMPRIMENTO DE SUAS FUNÇÕES. 1. A sindicância administrativa ATA DA SEGUNDA SESSÃO ORDINÁRIA DO COLÉGIO DE PROCURADORES DE JUSTIÇA - 2010

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disciplinar em curso foi instaurada para apurar conduta de Policial Civil C.I.N. 2. No dia 06/maio/2005 no município de Satuba o Policial Civil C.I.N. foi vítima de um assalto e reagindo, disparou alguns tiros que atingiram fatalmente um dos assaltantes, A.A.O. 3. Sua conduta, além de moral e profissionalmente correta, encontra-se amparada nas excludentes do art. 25, II e III, do Código Penal, não existindo crime” (Conselho Estadual de Segurança Pública-AL, Processo de Avocação 004/2008, rel. Cons. Carlos Alberto Barbosa, DJ de 23/02/2008).Ementa: “RECURSO EX OFFICIO. ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA. LEGÍTIMA DEFESA PRÓPRIA E DE TERCEIRO. Presentes os requisitos do art. 25 do CPB, configura-se a excludente da legítima defesa própria e de terceiro, impondo-se a decretação da absolvição sumária. Recurso improvido por unanimidade” (TJGO, 1ª Câm. Crim., Recurso Ex Officio nº 7600-1/223, rel. Desor. Huygens Bandeira de Melo, j. 26/11/2002, DJ 27/03/2003).Ementa: “RECURSO EX OFFICIO. ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA. LEGÍTIMA DEFESA DE TERCEIRO. Presentes os pressupostos da legítima defesa de terceiro, em favor do acusado, embora responsável e tenha participado de fato típico, impõe-se sua absolvição sumária, posto que amparado pela excludente da punibilidade. Absolvição mantida, à inteligência do art. 411 do CPP. Recurso improvido por unanimidade” (TJGO, 2ª Câm. Crim., Recurso Ex Officio nº 8994-8/223, rel. Desor. José Lenar de Melo Bandeira, j. 25/05/2006, DJ 08/06/2006).Ementa: “RECURSO DE OFÍCIO. ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA. ART. 411 DO CPP. REEXAME NECESSÁRIO. LEGÍTIMA DEFESA CABALMENTE CONFIGURADA. CONFIRMAÇÃO DA SENTENÇA ABSOLUTÓRIA. Restando cabalmente comprovado que agiu o agente, moderadamente repelindo uma agressão injusta e atual, com o animus defendendi, imperioso é o reconhecimento da excludente de ilicitude da legítima defesa” (TJMG, 5ª Câm. Crim., Recurso de Ofício nº 1.0045.03.001339-0/001, rel. Desor. Pedro Vergara, j. 09/09/2008, DJ 22/09/2008).Ementa: “LESÃO CORPORAL SEGUIDA DE MORTE. CONDENAÇÃO. ALEGAÇÃO DE LEGÍTIMA DEFESA. PROVA. ANÁLISE. EXCLUDENTE DEMONSTRADA. ABSOLVIÇÃO DECRETADA. Tratando-se de legítima defesa, não se exige rigor matemático na proporcionalidade do revide à agressão injusta, pois no calor do embate e no estado emocional em que se encontra, não se concebe que disponha o agredido de reflexão precisa, capaz de ajustar a sua reação em equivalência completa com o ataque” (TJMG, 2ª Câm. Crim., Apelação nº 1.0459.04.018577-7/001, rel. Desor. Herculano Rodrigues, j. 09/09/2007, DJ 04/09/2007).Vem da doutrina de JOSÉ CRETELLA JÚNIOR a indicação de que o termo sindicância reveste-se de ATA DA SEGUNDA SESSÃO ORDINÁRIA DO COLÉGIO DE PROCURADORES DE JUSTIÇA - 2010

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significado tendente a “mostrar, fazer ver”, consistente em “operação cuja finalidade é trazer à tona, fazer ver, revelar ou mostrar algo, que se acha oculto”, consignando ainda a Sindicância como “meio sumário de que se utiliza a Administração do Brasil para, sigilosa ou publicamente, com indiciados ou não, proceder à apuração de ocorrências anômalas no serviço público, as quais, confirmadas, fornecerão elementos concretos para a mediata abertura de processo administrativo contra o funcionário público responsável” (Tratado de Direito Administrativo, RJ, Forense, 1969, v. 6, p. 153). Já DIÓGENES GASPARINI afirma que “a sindicância é processo sumário de elucidação de irregularidades no serviço público. (...) Não apurados os fatos irregulares ou, ainda que estes tenham sido apurados, não se chegou à sua autoria, promove-se o arquivamento da sindicância” (Direito Administrativo, 7ª ed., SP, Saraiva, 2002, p. 819).É certo que na análise dos fatos apurados no decorrer da Sindicância, a douta CGMP teve plena liberdade para aferir as provas coligidas no decorrer da instrução, o que HELY LOPES MEIRELLES denomina de “verdade material: o princípio da verdade material, também denominado da liberdade na prova, autoriza a Administração a valer-se de qualquer prova lícita de que a autoridade processante ou julgadora tenha conhecimento, desde que a faça trasladar para o processo. É a busca da verdade material em contraste com a verdade formal. Enquanto nos processos judiciais o juiz deve cingir-se às provas indicadas no devido tempo pelas partes, no processo administrativo a autoridade processante ou julgadora pode, até o julgamento final, conhecer de novas provas, ainda que produzidas em outro processo ou decorrentes de fatos supervenientes que comprovem as alegações em tela” (Direito Administrativo Brasileiro, 27ª ed., SP, Malheiros, 2002, p. 656). Assim, pelos fundamentos jurídicos alinhados, diversamente do Relatório Conclusivo elaborado pela CGMP, que não acolheu a tese da legítima defesa exercida pelo Sindicado-Recorrente, entendo que as imputações desabonadoras foram eficientemente rebatidas pelas provas coligidas, que atestaram a ocorrência da excludente da legítima defesa, emergindo convincente a verdade real dos fatos apurados, conferindo suficiente certeza ao lastro probatório testemunhal e material obtido em benefício da defesa, suficientemente coerente para ilidir a rigorosa sanção administrativa recorrida. Na fundamentação da gravíssima sanção administrativa disposta pela CGMP e acolhida pelo Procurador-Geral de Justiça, houve exclusivo destaque para as imputações desabonadoras atribuídas ao Sindicado-Recorrente, enquanto a indispensável mitigação decorrente das provas juntadas em benefício de sua defesa, confrontadas ATA DA SEGUNDA SESSÃO ORDINÁRIA DO COLÉGIO DE PROCURADORES DE JUSTIÇA - 2010

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com as provas adversas, restaram sem qualquer efeito plausível para inocentá-lo. De modo diverso, ao analisar as provas produzidas nesta Sindicância, me convenço de que a alegação de legítima defesa própria e de terceiros tem procedência, pois estão presentes os requisitos objetivos e subjetivos da agressão injusta, a reação, a atualidade de ambas, os meios necessários e a moderação, o que enseja o reconhecimento da excludente de antijuridicidade alegada. Nesse aspecto, inclusive, tenho que a conduta pessoal do Sindicado-Recorrente, que repeliu injusta agressão, não deve repercutir negativamente no âmbito de sua função pública, pois não houve transgressão disciplinar no exercício da atuação ministerial que justifique o rigor com que a pena de suspensão foi aplicada. Outrossim, a constatação de que momentos antes dos fatos, o Sindicado-Recorrente estava ingerido cervejas na AGMP e em bar próximo ao ocorrido se revela como de menor importância na apuração de sua conduta, não podendo ser critério para justificar a pena disciplinar aplicada, pois ingerir cervejas não é ilegal, era um domingo festivo de jogos da Copa do Mundo de Futebol, no qual vários associados da Associação Goiana do Ministério Público estavam reunidos com idêntica finalidade diletante, não havia expediente ministerial naquela data, usufruíam todos do direito elementar ao descanso e ao lazer, não poderia supor que seria chamado para socorrer as amigas, nem tampouco que seria alvo das injustas agressões sofridas e legitimamente repelidas, pelo que a imprevisibilidade de tais fatores afasta o rigor estabelecido pelo art. 91, inc. II, da LC nº 25/1998, que serviu de lastro para imposição da pena disciplinar, ora recorrida. É da doutrina de CARLOS S. DE BARROS JÚNIOR o entendimento de que “os fatos praticados na vida particular do servidor só poderão ser computados para fins de punição na órbita disciplinar quando afetarem gravemente a consideração do infrator e abalarem o exercício funcional, pautando-se o exame segundo o meio, os costumes vigentes no meio social, o grau de reprovação da conduta e sobretudo a publicidade e o escândalo decorrentes da má atitude, tendo em vista que as instituições são julgadas por seus integrantes, mas afiança que não se pode invadir a esfera da intimidade do funcionário” (Do Poder Disciplinar da Administração Pública, SP, Ed. RT, 1972, p. 24).No mesmo sentido, tem-se o seguinte julgado oriundo do colendo Superior Tribunal de Justiça:menta: “ADMINISTRATIVO. RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR. INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA TIPIFICADA NO ART. 303, INCISO LVI DA LEI N.º 10.460/88. AUSÊNCIA DA ELEMENTAR DO TIPO "EM SERVIÇO". NULIDADE DO DECRETO DEMISSÓRIO. DIREITO ATA DA SEGUNDA SESSÃO ORDINÁRIA DO COLÉGIO DE PROCURADORES DE JUSTIÇA - 2010

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LÍQUIDO E CERTO. 1. In casu, em nenhum momento restou efetivamente evidenciado que o Recorrente estivesse no exercício de seu mister ("em serviço"). Isso porque, uma vez que os fatos se deram em local diverso do ambiente do trabalho, ainda que próximo, como consta do Relatório Final, somente seria cabível a imputação acaso ficasse demonstrado que o Recorrente estava, ao menos, no cumprimento das atribuições do cargo no momento do ocorrido, o que não ocorrera na espécie. 2. O fato de cuidar-se a vítima de funcionário público, colega de serviço do Recorrente, e de existir uma animosidade entre eles em razão do serviço, segundo consta dos autos, não se mostra suficiente para tipificar o ilícito administrativo. 3. No campo do direito disciplinar, assim como ocorre na esfera penal, interpretações ampliativas ou analógicas não são, de espécie alguma, admitidas, sob pena de incorrer-se em ofensa direta ao princípio da reserva legal. 4. Ressalte-se que a utilização de analogias ou de interpretações ampliativas, em matéria de punição disciplinar, longe de conferir ao administrado uma acusação transparente, pública, e legalmente justa, afronta o princípio da tipicidade, corolário do princípio da legalidade, segundo as máximas: nullum crimen nulla poena sine lege stricta e nullum crimen nulla poena sine lege certa, postura incompatível com o Estado Democrático de Direito. 5. Recurso conhecido e parcialmente provido para anular a pena demissória aplicada ao Recorrente.” (STJ, 5ª Turma, rel. Min. Laurita Vaz, RMS 16264/GO, DJ de 02/05/2006, p. 339). Assim, o fato gerador para abertura da Sindicância ou mesmo para justificar a imposição da pena administrativa é a ciência da irregularidade no serviço público, não se estendendo a fatos da vida privada, sem qualquer relação ou repercussão no exercício da vida pública. Logo, aspectos da vida pessoal do Sindicado-Recorrente, sem qualquer relação com a Administração Pública, não podem constituir motivo para imposição da pena disciplinar recorrida, vez que os fatos danosos experimentados ocorreram fora da relação laboral. A imposição da pena de Suspensão por 60 dias das funções de seu cargo implica em reprimenda administrativa desproporcional aos fatos apurados e, por via reflexa, impõe severos gravames, com evidente repercussão vexatória e constrangedora, seja no âmbito profissional, social ou familiar. Com a suspensão e a consequente perda dos subsídios no respectivo período, conforme alega em suas razões recursais, o Sindicado-Recorrente, além da própria subsistência, terá comprometido também o pagamento de pensões alimentícias mensais, a impossibilidade de usufruir o benefício da licença-prêmio, nos termos do art. 108, § 3º, alínea “a”, da LC nº 25/1998, bem como evidentes e danosas consequências na evolução de sua carreira e ATA DA SEGUNDA SESSÃO ORDINÁRIA DO COLÉGIO DE PROCURADORES DE JUSTIÇA - 2010

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aposentadoria. Deveras, entendo que qualquer reprimenda disciplinar às condutas imputadas ao Sindicado-Recorrente deve ser admitida, somente, no tocante à sua posterior exaltação emocional nas dependências da Corregedoria da PM/GO, para onde seu filho LEONARDO BEZERRA DE LIMA GANDRA, na condição de policial militar, foi levado detido para as indispensáveis averiguações. Mesmo que certamente tenha sido tomado por natural comoção, própria de tais circunstâncias, é de se ressaltar que o Sindicado-Recorrente, no afã passional de demonstrar sua irresignação com a prisão disciplinar do filho, que entendia ser ilegal, excedeu os limites da razoabilidade, pois haviam meios jurídicos mais apropriados para o exercício da defesa daquele. É de se considerar que, desde o desenlace do acidente de trânsito que culminou com sua participação nos eventos, até seu deslocamento às dependências da Corregedoria da PM/GO, onde se identificou como Promotor de Justiça na entrada, houve tempo razoável para que o Sindicado-Recorrente, além de trocar suas roupas, pudesse serenar seus ânimos, sendo desabonadora sua incursão nos limites da competência correicional privativa que se instalava no âmbito da Polícia Militar do Estado de Goiás, destinada a aferir a conduta funcional do Soldado LEONARDO GANDRA no desfecho do acidente de trânsito. Mesmo se fazendo acompanhar de Advogado naquela ocasião, a inócua exaltação de ânimos do Sindicado-Recorrente nas dependências da Corregedoria da PM/GO, além de em nada contribuir para a liberação pretendida, caracterizou intromissão indevida na ação correcional que se desenvolvia na esfera de competência exclusiva daquela Corporação Militar, na qual o Sindicado-Recorrente, mesmo considerando-a ilegal, não deveria ter interferido ostensivamente como fez. Entendo que foi a partir da ingerência do Sindicado-Recorrente junto à Corregedoria-Geral da PM/GO que se registraram todos os indesejáveis desdobramentos que culminaram com os gravames contra suas prerrogativas ministeriais, como sua imobilização para ser algemado e conduzido ao 8º DP em viatura policial militar. Com a devida vênia, considero tal conduta repreensível, pois depôs contra seu cargo e a Instituição a que pertence, considerada a harmonia e comunhão de finalidades institucionais que deve permear a convivência entre integrantes do Ministério Público e da Polícia Militar, preferencialmente. Entretanto, a pena disciplinar de Suspensão por 60 dias também se revela desproporcional com a conduta imprópria constatada nas dependências da Corregedoria da PM/GO, levando-se em conta que o Sindicado-Recorrente não possui registro funcional de outras condutas antecedentes que possam autorizar a imposição de sanção funcional tão severa, que desconsiderou a gradação numerus clausus disposta pelo art. ATA DA SEGUNDA SESSÃO ORDINÁRIA DO COLÉGIO DE PROCURADORES DE JUSTIÇA - 2010

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194 da LC nº 25/1998, cuja imputação deverá levar em conta os antecedentes do infrator, as circunstâncias em que a conduta inadequada foi cometida e os efeitos que dela resultaram ao serviço ou à dignidade da Instituição. Conforme bem salientado pela douta CGMP na conclusão da Sindicância, na doutrina de JOSÉ ARMANDO COSTA tem-se expresso que “o princípio da proporcionalidade radica o seu conteúdo segundo o qual deve a sanção disciplinar guardar adequação à falta cometida. (…) Infere-se, pois, que as sanções disciplinares, para que se definam como legais e legítimas, deverão ser impostas em direta sintonia com o princípio da proporcionalidade, o qual orienta no sentido de que deve haver uma necessária correspondência entre a transgressão cometida e a pena a ser imposta” (Teoria e Prática do Processo Administrativo Disciplinar, 5ª ed., Ed. Brasília Jurídica, p. 66).Pela dicção do art. 198 da LC nº 25/1998, a pena de Suspensão será aplicada ao infrator já punido com pena de Censura ou cuja gravidade da infração justificar, de pronto, recomende a pena de Suspensão. Já que entendo que a transgressão disciplinar atribuída ao Sindicado-Recorrente limita-se à impropriedade de sua conduta nas dependências da Corregedoria da PM/GO, é de se concluir que a severidade da pena disciplinar de Suspensão, atribuída pelo Procurador-Geral de Justiça, ultrapassa os limites da proporcionalidade que a lei recomenda. Assim, entendo pertinente acolher as razões recursais que pugnam pela desproporcionalidade da pena de Suspensão por 60 dias aplicada, levando-se em conta a gravidade da conduta do Sindicado-Recorrente nas dependências da Corregedoria da PM/GO, assim como a inexistência de registros funcionais antecedentes em seu desfavor, o que, afinal, revela-se mais condizente com a imposição da pena disciplinar mais branda. Quanto à contratação do Dr. RONY CÉSAR PEREIRA DOS SANTOS, Assessor da Promotoria de Justiça da qual o Sindicado-Recorrente é titular, para exercer a função de Advogado de LEONARDO GANDRA naquela ocasião, não há motivo para que persista como justificativa para a imposição de penalidade disciplinar, pois o impedimento de servidores do Ministério Público Estadual exercerem a Advocacia somente teve publicidade após os fatos imputados, através do Ofício-Circular nº 058/2006-GP, de 19/setembro/2006, originário do Conselho Federal da OAB (fls. 443/446), além de ser considerado pelo Conselho Nacional do Ministério Público somente em sessão de 10/março/2007, também após a ocorrência dos fatos danosos apurados na presente Sindicância. Finalmente, entendo que a repercussão dos fatos na mídia não pode ser fator preponderante para imposição da pena disciplinar, já que embora seja meio difusor indispensável da sociedade ATA DA SEGUNDA SESSÃO ORDINÁRIA DO COLÉGIO DE PROCURADORES DE JUSTIÇA - 2010

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moderna, é sabido que os meios de comunicação e informação de massa contém caráter mercantil, com evidente interesse em reproduzir notícias que causem impacto, mesmo sem que tenham tido prévia e detalhada apuração, o que, evidentemente, proporciona aumento nas vendas. Apurada a verdade real dos fatos, tal repercussão midiática se revela inócua para os fins a que se destina a presente Sindicância. Ante o exposto, discordando do voto proferido pelo preclaro Procurador de Justiça-Relator, conheço e provejo parcialmente o Recurso Administrativo interposto pelo Promotor de Justiça RODANEY FERREIRA GANDRA JÚNIOR, a fim de admitir a excludente de ilicitude da legítima defesa suscitada para ilidir a prática dos fatos danosos ocorridos em 18/junho/2006, mantendo somente a reprimenda disciplinar à conduta verificada nas dependências da Corregedoria da Polícia Militar do Estado de Goiás, para a qual aplico a pena definitiva de Advertência, nos termos do art. 194, inc. I, da Lei Complementar nº 25/1998”. ELISEU JOSÉ TAVEIRA VIEIRA-Procurador de Justiça. Em seguida foi dada a palavraao dr. Paulo Maurício Serrano Neves que acompanhou o voto-vista do Dr. Eliseu José Taveira Vieira e ao dr. Waldir Lara Cardoso proferiu o voto nos seguintes termos: “Sédulos Procuradores, Trata-se de recurso interposto pelo Promotor de Justiça Rodaney Ferreira Gandra Júnior em razão da pena aplicada em seu desfavor devido a prática de falta funcional, apurada por meio da sindicância, instaurada pela Portaria nº 003, de 21 de junho de 2007.Oitiva do recorrente e das demais testemunhas às fls. 663/862. Alegações finais apresentadas pelo recorrente por meio de defensor constituído. O Órgão Sindicante proferiu relatório conclusivo, pugnando pela imposição de pena de suspensão por 90 (noventa) dias, nos termos do art. 198, I, da Lei Complementar nº 25/98. O Procurador-Geral de Justiça acolheu como razão de decidir a manifestação da Corregedoria-Geral, contudo, reduziu a pena de suspensão para 60 (sessenta) dias. Irresignado, o recorrente suscita, preliminarmente, nulidades no procedimento e no mérito, pleiteia sua absolvição pelo fato de ter agido em legítima defesa própria e de terceiros. Alega ainda que não estava no exercício de suas atribuições funcionais, vez que o fato ocorreu em um domingo de descanso. Remetidos ao Colégio de Procuradores de Justiça, a pedido, a mim vieram os autos com vistas. HIALINO FOI O RELATÓRIO. AGORA, SEM TIR-TE NEM GUAR-TE, MANA A RAZÃO DE SER. De início, importante trazer à baila a inteligência do art. 91, II, da Lei Complementar nº 25, de 06 de julho de 1998, dispositivo que fundamentou a Portaria nº 003/2007, que assim retrata os deveres do membro do Ministério Público: “Art. 91 - São ATA DA SEGUNDA SESSÃO ORDINÁRIA DO COLÉGIO DE PROCURADORES DE JUSTIÇA - 2010

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deveres do membro do Ministério Público, além de outros previstos em lei: (...) II - manter conduta ilibada e irrepreensível na vida pública e particular, guardando decoro pessoal; A leitura literal do art. 91, II, da Lei Complementar nº 25/98 apresenta um teor rígido, o qual se afasta do subjetivismo dos termos “conduta ilibada e irrepreensível”. Afinal, não há como cerrar os olhos para as múltiplas interpretações que uma conduta pode apresentar. Afinal, o que é ilibado? O que é irrepreensível? Ilibado – Não tocado; sem mancha; puro; reabilitado. Irrepreensível – Que não merece repreensão; perfeito; correto; delicado. (Dicionário Aurélio Buarque do Holanda Ferreira) É de simples monta que o homem, ser imperfeito, não se encaixa em qualquer uma das características acima expostas. Pelo contrário, o ser humano é marcado por atitudes imperfeitas, indelicadas, incorretas, com manchas. Imaginemos a hipótese de um Promotor de Justiça que ao chegar em casa, depara-se com um criminoso tentando estuprar sua filha e em um ato repentino, saca-se de sua arma e o mata. Neste caso, cometeu um crime de homicídio. Nada obstante, considerando que a excludente de antijuricidade prevista no art. 23, II, do Código Penal, não se aplica somente aos demais cidadãos, mas também ao Promotor de Justiça, conclui-se que sua conduta apesar de grave, homicídio doloso, ensejaria na esfera judicial, o arquivamento imediato do procedimento investigatório. Indaga-se: para o Promotor citado no exemplo acima exposto restaria algum resíduo na esfera administrativa suficiente para aplicar-lhe a pena de suspensão por 90 (noventa) dias? Haveria tipicidade na legislação complementar nº 25/98 de maneira residual? Não! O art. 91, II, da Lei Complementar nº 25/98, teria o alcance suficiente para aplicar-lhe de chofre a pena de suspensão por 90 (noventa) dias sem, contudo, esperar que sua conduta fosse analisada na esfera judicial? A independência das esferas penal, civil, administrativa tão alardeada pelos doutrinadores precisa ser interpretada também a contrario sensu, pois nem toda conduta tida como criminosa, ilícito penal, encontra tipicidade administrativa. Exemplo: o crime de homicídio. Essa ausência de tipicidade administrativa em casos desse jaez foi proposital pela Administração ao longo dos anos, pois determinadas condutas só podem ser avaliadas na esfera penal, passando pelo crivo do processo judicial. Daí resulta os casos em que havendo concorrência entre a tipicidade administrativa e a tipicidade penal, o ilícito penal absorve o ilícito administrativo. Se a Administração fosse avaliar o caso com a mesma ótica do Poder Judiciário, instalaria dois Poderes Judiciários, pois o teria que analisar de acordo com regras processuais penais, perdendo sua essência de esfera administrativa. Por isso, utilizo-me da brilhante ATA DA SEGUNDA SESSÃO ORDINÁRIA DO COLÉGIO DE PROCURADORES DE JUSTIÇA - 2010

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lição de Arthur Schopenhauer: “Toda verdade passa por três etapas: primeiro, ela é ridicularizada. Depois, é violentamente antagonizada. Por último, é aceita universalmente como auto-evidente”. Ao meu sentir, o presente Promotor de Justiça, que sempre cumpriu suas atribuições funcionais de forma satisfatória, não perderá sua conduta ilibada por um único ato, enquanto não for julgado e condenado pelo Poder Judiciário. Entre as vedações expressas na Lei Complementar nº 25/98 aos membros do Ministério Público do Estado de Goiás, não há qualquer hipótese que se remeta ao caso em estudo. Por outro prisma, o referido diploma legal assim aborda a penalidade de suspensão ora aplicada ao recorrente, em seu art. 198: “Art. 198 - A pena de suspensão será aplicada no caso de: I - infrator que, já punido com censura, vier a praticar outra infração disciplinar que o torne passível da mesma pena ou se a gravidade da infração justificar, desde logo, a aplicação da pena de suspensão; II - violação de vedação prevista no artigo 91, desta lei, com exceção do exercício da advocacia, em face do disposto no inciso II, de seu artigo 185. Parágrafo único - Enquanto perdurar, a suspensão acarretará a perda dos direitos e vantagens decorrentes do exercício do cargo, não podendo ter início durante as férias ou licenças do infrator”. In casu, joeirando os documentos empilastrados ao procedimento administrativo, vislumbro na portaria nº 003/2007, a ausência de tipicidade administrativa que justifique a instauração da sindicância. Ora, o art. 91, II, da Lei Complementar nº 25/98, não pode ser considerado uma previsão legal sancionadora, pois não vincula qualquer punição expressa pela sua inobservância, não se tratando de proibição, mas simples dever. Seguindo referida linha de raciocínio, como muito bem delineado pela Ministra do Superior Tribunal de Justiça, Laurita Vaz, no julgamento do RMS 16264/Go, 5ª Turma, DJ de 02/05/2006, p. 339, “no campo do direito disciplinar, assim como ocorre na esfera penal, interpretações ampliativas ou analógicas não são, de espécie alguma, admitidas, sob pena de incorrer-se em ofensa direta ao princípio da reserva legal”. Ademais, não se pode permitir que a discricionariedade do legislador viole o princípio da legalidade, ferindo os direitos fundamentais do membro ao se pautar em conceitos indeterminados, como ocorre no caso em tablatura. Importante mencionar que não consta no procedimento administrativo qualquer tipificação administrativa específica que tenha sido praticada pelo Promotor de Justiça, tendo a portaria sido fundamentada no art. 91, II, da Lei Complementar nº 25/98, o qual apresenta um conceito vago e indeterminado. Isso constato não apenas com o objetivo de combater penalidades arbitrárias e sem quaisquer previsões legais, mas por primar ATA DA SEGUNDA SESSÃO ORDINÁRIA DO COLÉGIO DE PROCURADORES DE JUSTIÇA - 2010

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pelo cumprimento do princípio da legalidade, fundamento essencial que o poder disciplinar da administração pública não tem o condão de afastar. Neste sentido, mais uma vez, peço vênia para transcrever interessantíssimo excerto do acórdão referente ao julgamento do RMS 16264/Go, de relatoria da Ministra Laurita Vaz, ao citar lição do exímio Ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, em sede da obra Direitos Fundamentais e Controle de Constitucionalidade – Estudos de Direito Constitucional: “(...) o princípio da segurança jurídica, elemento fundamental do Estado de Direito, exige que as normas restritivas sejam dotadas de clareza e precisão, permitindo que o eventual atingido possa identificar a nova situação jurídica e as consequências que dela decorrem. Portanto, clareza e determinação significam cognoscibilidade dos propósitos do legislador”. (MENDES, Gilmar Ferreira, Direitos Fundamentais e Controle de Constitucionalidade – Estudos de Direito Constitucional, Celso Bastos Editor, São Paulo, 1999) Sob outro ângulo, nítido se mostra que a interpretação ampliativa de matéria de punição de cunho disciplinar impede a realização de uma acusação transparente e justa, afrontando o princípio da tipicidade, corolário do princípio da legalidade. Na doutrina, elucidativas são as lições de Sérgio Ferraz e Adilson Abreu Dallari: "Ressalta-se que no processo administrativo o direito de defesa não é um imperativo apenas de justiça mas, sim, também de eficácia, na medida em que assegura melhor conhecimento dos fatos, contribui para o aprimoramento da Administração e dá garantias de uma decisão mais justa. Por isso, como decorrência do princípio do devido processo legal, devem ser proporcionados ao acusado todos os meios usuais de defesa, além de se lhe possibilitar conhecer com precisão todos os fatos inerentes ao que lhe é imputado, bem como as disposições legais aplicáveis e os meios de defesa admissíveis." (Processo Administrativo. São Paulo: Malheiros, 2007, p. 166) De acordo com Guilherme de Souza Nucci, em sua obra Manual de Direito Penal, Parte Geral, 3ª edição, Ed. Revista dos Tribunais, São Paulo, 2007, p. 86, a tipicidade, adequação dos fatos concretos ao modelo legal previsto na norma penal, é a elaboração científica do princípio no contexto do direito penal. No âmbito administrativo, acerca da aplicação das penas disciplinares aos servidores, o princípio da tipicidade ensina que: "O princípio da tipicidade das infrações administrativas decorre, genericamente, do princípio da legalidade, vale dizer, da garantia de que 'ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei' (art. 5º, II, CF/88), sendo que a Administração Pública, ademais, está submetida à exigência de legalidade administrativa (art. 37, caput, CF/88), o que ATA DA SEGUNDA SESSÃO ORDINÁRIA DO COLÉGIO DE PROCURADORES DE JUSTIÇA - 2010

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implica necessária tipicidade permissiva para elaborar modelos de condutas proibidas e sancioná-los. Além disso, a garantia de que as infrações estejam previamente tipificadas em normas sancionadoras integra, por certo, o devido processo legal da atividade sancionatória do Estado (art. 5º, LIV, CF/88), visto que sem a tipificação do comportamento proibido resulta violada a segurança jurídica da pessoa humana, que se expõe ao risco de proibições arbitrárias e dissonantes dos comandos legais." (Fábio Medina Osório. Direito administrativo sancionador. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000, p. 207/208.) Evidente, portanto, a falta de tipificação da conduta de forma clara e objetiva no presente caso, o que viola os ditames do art. 213, da Lei Complementar nº 25/98, que assim reza: “Art. 213 - A portaria de instauração deve conter a qualificação do sindicado, a exposição dos fatos imputados e a previsão legal sancionadora, e será instruída com os elementos de prova existentes”. Diz Marçal Justen Filho: "É usual que a lei preveja um elenco de sanções, indicando os pressupostos de aplicação daquelas que configuram a punição mais severa. Nesse caso, cabe à autoridade administrativa uma competência discricionária, orientada pelo princípio da proporcionalidade, para adequar a punição à gravidade da conduta. O que se afigura inconstitucional é a ausência de previsão da sanção por lei ou a inexistência de padrões delimitadores de sua aplicação" (destaques apostos). Por conseguinte, razão assiste ao Promotor de Justiça ao suscitar a nulidade da Portaria nº 003/2007 por ausência de tipificação da conduta, posto que tanto o art. 91, II, quanto o art. 198, da Lei Complementar nº 25/98, não apontam padrões delimitadores da aplicação da suspensão de forma clara e objetiva. Averberam Sérgio Ferraz e Adilson Abreu Dallari, em sede do artigo jurídico “A acusação no processo administrativo disciplinar deve ser circunstanciada, objetiva, direta e ter previsão em um tipo legal”, elaborado por Mauro Roberto Gomes de Mattos, em 11.2007, extraído do site jus navegandi: "Em primeiro lugar, impõem-se bradar em altas vozes: não há sanção administrativa admissível sem prévia capitulação legal (lei em senso estrito). Nem é preciso, no particular, recorrer ao inciso XXXIX, do art. 5º da Constituição Federal, assim evitando a polêmica. Com aqueles que pretendem a aplicabilidade desse comando exclusivamente ao crime (também em sentido estrito); bastará nos afinarmos ao inciso II do mesmo art. 5º, consagrador do princípio da legalidade, marca fundamental da atividade administrativa de qualquer natureza. (...) Decorrência inafastável das precedentes considerações estampa-se na inaceitação, de nossa parte, da afirmação, até aqui correntia, de não existir no direito ATA DA SEGUNDA SESSÃO ORDINÁRIA DO COLÉGIO DE PROCURADORES DE JUSTIÇA - 2010

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administrativo, a exigência da tipicidade. Ou seja, em suas atuações sancionatórias bastaria à Administração referir, abertamente, o fato punível, dispensando-se do enquadramento normativo correspondente. Não há como compatibilizar tal afirmação com as garantias constitucionais da ampla defesa e do contraditório, desde 1988 expressamente conferidas também ao processo administrativo." –[Parênteses no original; grifo nosso]-Em perfeita sintonia com tais princípios, o Colendo Superior vem assentando, em casos substancialmente análogos: “ADMINISTRATIVO. RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR. INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA TIPIFICADA NO ART. 303, INCISO LVI DA LEI N.º 10.460/88. AUSÊNCIA DA ELEMENTAR DO TIPO "EM SERVIÇO". NULIDADE DO DECRETO DEMISSÓRIO. DIREITO LÍQUIDO E CERTO. 1. In casu, em nenhum momento restou efetivamente evidenciado que o Recorrente estivesse no exercício de seu mister ("em serviço"). Isso porque, uma vez que os fatos se deram em local diverso do ambiente do trabalho, ainda que próximo, como consta do Relatório Final, somente seria cabível a imputação acaso ficasse demonstrado que o Recorrente estava, ao menos, no cumprimento das atribuições do cargo no momento do ocorrido, o que não ocorrera na espécie. 2. O fato de cuidar-se a vítima de funcionário público, colega de serviço do Recorrente, e de existir uma animosidade entre eles em razão do serviço, segundo consta dos autos, não se mostra suficiente para tipificar o ilícito administrativo. 3. No campo do direito disciplinar, assim como ocorre na esfera penal, interpretações ampliativas ou analógicas não são, de espécie alguma, admitidas, sob pena de incorrer-se em ofensa direta ao princípio da reserva legal. 4. Ressalte-se que a utilização de analogias ou de interpretações ampliativas, em matéria de punição disciplinar, longe de conferir ao administrado uma acusação transparente, pública, e legalmente justa, afronta o princípio da tipicidade, corolário do princípio da legalidade, segundo as máximas: nullum crimen nulla poena sine lege stricta e nullum crimen nulla poena sine lege certa, postura incompatível com o Estado Democrático de Direito. 5. Recurso conhecido e parcialmente provido para anular a pena demissória aplicada ao Recorrente”. (STJ, RMS 16264/Go, Recurso Ordinário em Mandado de Segurança nº 2003/0060165-4, Rel.ª Min. Laurita Vaz, Órgão Julgador T5- Quinta Turma, Data do Julgamento 21/03/2006, Data da Publicação DJ 02/05/2006, p. 339) Neste sentido, manifesta-se o Egrégio Tribunal de Justiça de Minas Gerais: “PÚBLICO - PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR. PENA DE DEMISSÃO. FALTAS INJUSTIFICADAS. ATA DA SEGUNDA SESSÃO ORDINÁRIA DO COLÉGIO DE PROCURADORES DE JUSTIÇA - 2010

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PORTARIA. AUSÊNCIA DE DESCRIÇÃO E TIPIFICAÇÃO DA CONDUTA. AUSÊNCIA DE NOTIFICAÇÃO DO ACUSADO PARA APRESENTAR PROVA TESTEMUNHAL. DEVIDO PROCESSO LEGAL. INSUFICIÊNCIA DE PROVAS. PREJUÍZO CONFIGURADO. PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA AMPLA DEFESA. VIOLAÇÃO. NULIDADE. PEDIDO DE REINTEGRAÇÃO. ACOLHIMENTO. APELAÇÃO PROVIDA. A completa omissão na especificação dos atos investigados na Portaria de abertura do Processo Administrativo disciplinar não cumpre o papel de dar ciência ao investigado das imputações feitas contra si, impossibilitando o exercício do amplo direito de defesa. Ausência de notificação do servidor, que impossibilitou o exercício do direito de produção de prova testemunhal necessária”. (TJMG, APELAÇÃO CÍVEL N° 1.0155.04.006783-9/002, Rel. Des.Fernando Bráulio, Data do julgamento 20/11/2008, Data da publicação 15/01/2009) Sedimenta o Excelso Supremo Tribunal Federal: MANDADO DE SEGURANÇA. PORTARIA INAUGURAL. PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR. INÉPCIA. NULIDADE. 1. A portaria inaugural, no processo administrativo, deve explicitar os atos ilícitos atribuídos ao acusado, sob pena de nulidade, por inépcia, sem prejuízo do oferecimento de outra, revestida das formalidades legais, pois ninguém pode defender-se eficazmente sem pleno conhecimento das acusações que lhe são imputadas. 2. No processo administrativo disciplinar cumpre sejam assegurados o contraditório, a ampla defesa e observado a garantia constitucional do devido processo legal. 3. Segurança concedida. (MS 5.316/DF, Rel. Ministro FERNANDO GONÇALVES, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 14.10.1998, DJ 03.11.1998 p. 12). Isto posto, voto pelo CONHECIMENTO E PROVIMENTO do recurso, face a ausência de tipicidade da conduta do Promotor de Justiça Rodaney Ferreira Gandra Júnior descrita na Portaria nº 003/2007”. Concluída a leitura dos votos proferidos, passou-se a fase de julgamento. Acompanharam o relator: dra. Márcia de Oliveira Santos e dra. Laura Maria Ferreira Bueno. Acompanharam o relator do voto-vista do dr. Eliseu josé Taveira Vieira: dr. Nilo Mendes Guimarães, dr. Paulo Maurício Serrano Neves, dra. Maria da Conceição Rodrigues dos Santos, dra. Maria José Perillo Fleury, dr. Aylton Flávio Vechi, dra. Eliete Sousa Fonseca Suavinha, dra. Analice Borges Stefan, dra. Orlandina Brito Pereira, dra. Ruth Pereira Gomes, dr. Benedito Torres Neto, dr. Pedro Alexandre da Rocha Coelho e dr. Abraão Júnior Miranda Coelho. Acompanhou o relator do voto-vista do dr. Waldir Lara Cardoso: dr. Alciomar Aguinaldo Leão. O dr. Rodolfo votou pela absolvição sendo acompanhado pelo dr. Osvaldo Nascente Borges. Por ATA DA SEGUNDA SESSÃO ORDINÁRIA DO COLÉGIO DE PROCURADORES DE JUSTIÇA - 2010

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maioria o colegiado acompanhou o voto-vista divergente do dr. Eliseu José Taveira Vieira. Nos termos do Art. 11, § 3º, do RICP: Voto do dr. Rodolfo Pereira Lima Júnior “Primeiramente há que consignar a violação ao devido processo legal, com repercussão no princípio da ampla defesa e contraditório, pois estes princípios constitucionais necessitam de concretude, de efetividade, o que, in casu, não ocorreu no momento em que se confundiu a figura do julgador com a do acusador. Com efeito, é impossível se admitir como válida a decisão, onde se exige o requisito da imparcialidade do julgador mesmo em se tratando de processo administrativo, efetuada pela mesma autoridade que acusa criminalmente a pessoa sindicada. Resta, portanto, caracterizada a ofensa ao devido processo legal. Mas como o instituto da legítima defesa afasta todo tipo de ilícito, seja administrativo, civil ou penal, sobreponho a questão processual, analiso a ocorrência da alegada excludente e concluo pela sua ocorrência. Realmente, somente da análise do depoimento da esposa da vítima já se pode extrair que o sindicado não teve uma atitude ativa, mas sim passiva, defensiva, ao dizer: “vem grandão (...) fazia gestos com a mão, dando a entender que era para ninguém se aproximar dele”. Quanto ao fato de seu assessor ser acionado na função advogado, acompanho o voto proferido pelo Procurador de Justiça Eliseu José Taveira Vieira. Divirjo do Sr. relator e do voto vista para absolver o sindicado da pena de advertência no evento ocorrido nas dependências da Polícia Militar. Ora, se em um primeiro momento se pudesse repreender a exaltação do sindicado, não se pode olvidar que esta atitude já sofreu reprimenda, inclusive em excesso, pois foi ele indevidamente algemado, sem que tivesse tido atitude que se enquadrasse no permisso da súmula vinculante do STF a este respeito. Não houve tentativa e muito menos agressão física aos Policiais Militares, de modo que, caberia ao major isolá-lo em algum cômodo no local e acionar o Procurador-Geral de Justiça. Jamais humilha-lo como o foi. Por isso tenho que possível infração administrativa, se houve, ficou absorvida pela humilhação e agressão sofrida. Assim, voto pela absolvição do sindicado, não sem antes também pontuar outra nulidade no que concerne ao quantum da pena de suspensão aplicada ao sindicado, haja vista que esta carece de um mínimo de fundamentação, de um raciocínio lógico e jurídico, exteriorizador, dos dos motivos que levaram o julgador a estabelecer 60 (sessenta) dias de suspensão. Porque não 90 (noventa), 80 (oitenta), 10 (dez), etc?”. A dra. Analice Borges Stefan ausentou-se da sala de reuniões às 17h15m por motivos de trabalho. PROCESSO Nº 2009000100077794 (Processo Sindicância nº 2009000100013227) – Assunto: Recurso – Requerente: ATA DA SEGUNDA SESSÃO ORDINÁRIA DO COLÉGIO DE PROCURADORES DE JUSTIÇA - 2010

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Marcelo André de Azevedo. Relator: dra. Márcia de Oliveira Santos. Presidência: dr. Pedro Tavares Filho. Após a leitura do relatório pela relatora, o Presidente em exercício do Colegiado concedeu 15 (quinze) minutos ao recorrente para apresentar defesa de mérito. Fazendo uso da palavra, pelo prazo de quinze minutos, o promotor de justiça dr. Marcelo André de Azevedo, relatou os fatos que deram origem à denúncia formulada em seu desfavor e teceu considerações relativas ao recurso interposto. Encerrada a fase de sustentação oral, a relatora proferiu voto nos seguintes termos: “Voto pelo provimento do presente recurso para absolver o recorrente Marcelo André de Azevedo da pena de advertência que lhe foi aplicada.” Dando sequência ao julgamento votaram acompanhando a relatora: dra. Luzia Vilela Ribeiro, dr. Nilo Mendes Guimarães, dr. Eliseu José Taveira, dr. Paulo Maurício Serrano Neves, dra. Maria José Perillo Fleury, dra. Eliane Ferreira Fávaro, dr. Aylton Flávio Vechi, dr. Alciomar Aguinaldo Leão, dr. Waldir Lara Cardoso, dr. Rodolfo Pereira Lima Júnior, dra. Eliete Sousa fonseca Suavinha, dra. Laura Maria Ferreira Bueno, dr. Osvaldo Nascente Borges, dra. Dra. Orlandina Brito Pereira, dra. Ruth Pereira Gomes, dr. Benedito Torres Neto, dr. José Carlos Mendonça, dr. Pedro Alexandre da Coelho e dr. Abraão Júnior Miranda Coelho. Por unanimidade de votos acompanharam a relatora. PROCESSO Nº 2009011700068911 – Assunto: Solicitação instalação da 2ª Promotoria de Justiça de Nerópolis- Requerente: Elaini Cristina Alves Pires Trevisan. O Colégio de Procuradores de Justiça, por unanimidade, deliberou pelo encaminhamento do procedimento ao Procurador-Geral de Justiça para os fins da lei, haja vista que carece aos requerentes legitimidade para propor fixação de atribuição, nos termos da LC 25/98. PROCESSO Nº 2009000100081915 – Assunto: minuta de resolução com definição das atribuições da Promotoria de Justiça Regional Ecológica Móvel - Requerente: Procuradoria-Geral de Justiça. Por falta de quorum legal, o procedimento não foi apreciado. ELEIÇÃO PARA SECRETÁRIO DO COLÉGIO DE PROCURADORES DE JUSTIÇA. BIÊNIO 2010-2012 (ART. 8º, §1º). O Presidente perguntou se havia algum candidato para assumir os trabalhos da secretaria, sendo eleito por aclamação o dr. Edison Miguel da Silva Jr. A formação das COMISSÕES PERMANENTES PREVISTAS NO ART. 4º DO REGIMENTO INTERNO DO COLÉGIO DE PROCURADORES ficou designada para próxima sessão ordinária. Nada mais havendo, a Presidência declarou encerrada a sessão, lavrando-se a presente ata que é assinada por mim, Pedro Alexandre da Rocha Coelho, Secretário nomeado somente para esta sessão em virtude

ATA DA SEGUNDA SESSÃO ORDINÁRIA DO COLÉGIO DE PROCURADORES DE JUSTIÇA - 2010 40

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das férias do Procurador de Justiça escolhido em votação nesta data, pela Presidência e demais Membros do Colegiado.

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