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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DE SERGIPE EXCELENTÍSSIMO (a) SENHOR (a) JUIZ (a) FEDERAL DA ____ VARA DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DE SERGIPE O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, pelo Procurador da República adiante assinado, com atuação no Ofício do Consumidor e do Patrimônio Público, vem perante Vossa Excelência, com fulcro nos artigos 5º, XXXII, 127 e 129, inciso III, da Constituição Federal de 1988, nos artigos 5º, inciso VI, artigo 6º, inciso VII, alínea "c" e 39, inciso III, da Lei Complementar nº 75/93 e artigo 1º da Lei nº 7347/85 e nos artigos 6º e 82, inciso I, da Lei nº 8.078/90, ajuizar a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA contra CAIXA ECONÔMICA FEDERAL – (CEF), instituição financeira constituída sob a forma de empresa pública, com sede no Setor Bancário Sul, Quadra 4, lotes 13/4, em Brasília – DF, CGC/MF 00.360.305/0001-04, representada por seu Escritório de Negócios SERGIPE, com sede na Rua João Pessoa, 357, 4º andar – Centro, em Aracaju/SE; ____________________________________________________________________________________________________________ Av. Beira Mar, 1064, Praia Treze de Julho, Aracaju-SE, 49020-010 PABX: (0xx79)246-1810 - FAX: (0xx79)246-3689

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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DE SERGIPE

EXCELENTÍSSIMO (a) SENHOR (a) JUIZ (a) FEDERAL DA ____ VARA DA

SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DE SERGIPE

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, pelo Procurador da

República adiante assinado, com atuação no Ofício do Consumidor e do Patrimônio

Público, vem perante Vossa Excelência, com fulcro nos artigos 5º, XXXII, 127 e 129,

inciso III, da Constituição Federal de 1988, nos artigos 5º, inciso VI, artigo 6º, inciso

VII, alínea "c" e 39, inciso III, da Lei Complementar nº 75/93 e artigo 1º da Lei nº

7347/85 e nos artigos 6º e 82, inciso I, da Lei nº 8.078/90, ajuizar a presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA

contra

CAIXA ECONÔMICA FEDERAL – (CEF), instituição

financeira constituída sob a forma de empresa pública, com sede no Setor Bancário

Sul, Quadra 4, lotes 13/4, em Brasília – DF, CGC/MF 00.360.305/0001-04,

representada por seu Escritório de Negócios SERGIPE, com sede na Rua João Pessoa,

357, 4º andar – Centro, em Aracaju/SE;

____________________________________________________________________________________________________________Av. Beira Mar, 1064, Praia Treze de Julho, Aracaju-SE, 49020-010

PABX: (0xx79)246-1810 - FAX: (0xx79)246-3689

CONSTRUTORA CELI LTDA, empresa de construção civil,

inscrita no CNPJ sob nº 13.031.257/0001-52, com sede na Av. General Calazans, nº

862 – Bairro Industrial, também nesta Capital;

CAIXA SEGURADORA S/A – (Caixa Seguros), pessoa

jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob o nº 34.020.354/0010-00, com sede na

Rua Dr. José Peroba, nº 349, térreo, Ed. Empresarial Costa Azul, Bairro Stiep,

Salvador-BA;

COMPANHIA DE SEGUROS ALIANÇA DA BAHIA,

inscrita no CNPJ sob o nº 15.144.017/0001-90, com sede na Rua Pinto Martins, nº 11,

Edf. Comendador Pedreira, Comércio, Salvador/BA,

pelos fundamentos fáticos e jurídicos a seguir expostos:

1. OBJETIVO DA AÇÃO

A presente ação busca defender a coletividade de consumidores

mutuários da Caixa Econômica Federal (CEF), em especial os moradores do Edifício

Pedra Azul, do Condomínio Residencial Parque Diamante, tendo em vista a sua

demolição parcial, em decorrência da constatação de perigo de desabamento

ocasionado por vício de construção. Na hipótese, a primeira demandada, Caixa

Econômica Federal, faltou com o dever de fiscalização e acompanhamento da obra, a

Construtora CELI com a obrigação contratual e ética de executar serviços de boa

qualidade e a Caixa Seguros, através da Companhia de Seguros Aliança da Bahia, não

procedeu à restauração imediata e ressarcimentos devidos, motivos pelos quais os

moradores acabaram sendo desrespeitados tanto como consumidores quanto como

cidadãos, provocando assim a intervenção do Ministério Público Federal para

equilibrar esta desigual relação de consumo.

____________________________________________________________________________________________________________2Av. Beira Mar, 1064, Praia Treze de Julho, Aracaju-SE, 49020-010

PABX: (0xx79)246-1810 - FAX: (0xx79)246-3689

2. LEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

O Ministério Público, elevado à categoria de Instituição

permanente e indispensável à função jurisdicional do Estado, nos termos do art. 127 da

Constituição de 1988, tem como funções precípuas a defesa da ordem jurídica, do

regime democrático, dos interesses sociais e individuais indisponíveis.

Cumpre destacar que a defesa do consumidor é obrigação do

Estado, elevado pela Carta Magna ao nível de direito e garantia fundamental, conforme

se constata da redação do inciso XXXII, do artigo 5.° do Texto Constitucional, abaixo

transcrito, in verbis:

“Art. 5.º (...) XXXII – O Estado promoverá, na forma da lei, a

defesa do consumidor;” (grifou-se)

No caso versado nos autos, a defesa do consumidor está sendo

efetuada pelo Ministério Público Federal, tanto por dever constitucional como legal,

em face das disposições do artigo 129, inciso III, da Constituição Federal, dos artigos

5º, 6º e 39 da Lei Complementar nº 75/93, do artigo 1º da Lei nº 7347/85 e, também

dos artigos 6º e 82, inciso I, da Lei nº 8078/90.

Este Órgão do Ministério Público Federal vem perante esse

respeitável Juízo defender os interesses dos mutuários da Caixa Econômica Federal em

face dessa mesma instituição financeira, que são, por conseguinte, segurados da Caixa

Seguradora S/A, como é o caso dos moradores do Edifício Pedra Azul, no Condomínio

Residencial Parque Diamante.

O liame existente entre os moradores, substituídos na presente

lide pelo Ministério Público Federal, e os requeridos, baseia-se na relação de consumo

concretizada em face da construção do imóvel pela Construtora CELI LTDA e

financiado pela Caixa Econômica Federal.____________________________________________________________________________________________________________3

Av. Beira Mar, 1064, Praia Treze de Julho, Aracaju-SE, 49020-010PABX: (0xx79)246-1810 - FAX: (0xx79)246-3689

Assim, ao firmar contrato de mútuo com a CEF, o adquirente,

por força de normatização dessa instituição financeira, no caso de possíveis danos

físicos ao imóvel, é segurado pela Caixa Seguradora S/A, que terceirizou o serviço

para a Companhia de Seguros Aliança da Bahia.

Com efeito, estabelece o art. 3º da Lei 8078/90, in verbis:

“Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou

privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes

despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção,

montagem, criação, construção, transformação, importação,

exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou

prestação de serviços.

§ 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de

consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza

bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes

das relações de caráter trabalhista.”

A jurisprudência pátria tem firmado entendimento no sentido da

legitimidade ativa do Ministério Público para a propositura de ações visando à defesa

de interesses individuais homogêneos em relações de consumo, bem como da

legitimidade de instituições financeiras para figurarem no pólo passivo como

fornecedoras, conforme se extrai do julgado do Tribunal Regional Federal da 3ª

Região, no AC 03007950-9/94, Decisão de 05/12/1995, DJ 31/01/96:

“ADMINISTRATIVO E PROCESSO CIVIL. AÇÃO CIVIL

PÚBLICA, LEGITIMIDADE, MINISTÉRIO PÚBLICO

FEDERAL, REBATE DA COBERTURA DO PROAGRO.1. O Banco Central do Brasil é Administrador do PROAGRO,

sendo que seus recursos são geridos e liberados pela autarquia.____________________________________________________________________________________________________________4

Av. Beira Mar, 1064, Praia Treze de Julho, Aracaju-SE, 49020-010PABX: (0xx79)246-1810 - FAX: (0xx79)246-3689

Nessa qualidade, o BACEN é parte legítima para figurar no pólo

passivo de relação processual.2. Omissis;3. O Ministério Público Federal é parte legítima, como substituto

processual, para promover a Ação Civil Pública, relativamente a

defesa dos direitos e interesses difusos, coletivos e individuais

homogêneos, estes últimos restritos a danos decorrentes de

relações de consumo (artigo 81, parágrafo único, inciso III e 91

da Lei nº 8078/90). Em casos excepcionais, mesmo na ausência

de autorização legal, o Ministério Público Federal pode atuar

como substituto processual, na defesa de interesses individuais

homogêneos que tenham significação social relevante (art. 127,

da Constituição Federal).4. O Ministério Público Federal tem legitimidade para a

propositura da presente Ação Civil Pública, como substituto

processual dos produtores, titulares de interesses individual

homogêneo, na qualidade de consumidores do Serviço

Securitário do PRODAGRO.”

Compartilha do mesmo entendimento o renomado doutrinador

Nelson Nery Júnior, cuja lição segue transcrita:

“Como é função institucional do Ministério Público a defesa dos

interesses sociais (art. 127, caput, CF), essa atribuição dada pelo

art. 82 do CDC obedece ao disposto no art. 129, n. IX, da CF,

pois a defesa coletiva do consumidor, no que tange a qualquer

espécie de seus direitos (difusos, coletivos ou individuais

homogêneos) é, ex vi, de interesse social no ajuizamento de

ações coletivas. Consulta aos interesses de toda a sociedade, o

fato de ajuizar-se uma demanda apenas, cujo objetivo seja

solucionar conflitos coletivos (coletivos strictu sensu ou

individuais homogêneos) ou difusos. Assim, a simples____________________________________________________________________________________________________________5

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circunstância de a lei haver criado uma ação coletiva, o seu

exercício já é de interesse social, independentemente do direito

material nela discutido. (...) Pode o Ministério Público ajuizar

qualquer demanda coletiva, na defesa de qualquer direito que

possa ser defendido por meio de ação coletiva (difuso, coletivo

ou individual homogêneo).” ( O Ministério Público e as Ações

Coletivas, in MILARÉ, Edis. Ação Civil Pública. Lei 7.347/85 –

Reminiscências e Reflexões após dez anos de aplicação. São

Paulo: RT, 1995).

A presente Ação Civil Pública visa a defender os interesses

individuais homogêneos dos consumidores, mutuários da Caixa Econômica Federal,

que tiveram seus imóveis destruídos e, até a presente data, em decorrência da mora na

execução dos serviços de recuperação do prédio, sofrem as conseqüências deste fato.

Com isso, resta comprovada a legitimidade ativa do Ministério

Público Federal para a propositura da presente Ação Civil Pública, sendo competente a

Seção Judiciária da Justiça Federal no Estado de Sergipe para processar e julgar o

feito, pois a demanda envolve diretamente a Caixa Econômica Federal, empresa

pública federal, cujo foro federal decorre do art. 109, inciso I, da Constituição Federal.

3. DOS FATOS

Através de representação perante esta Procuradoria da República

em Sergipe que deu origem ao Procedimento Administrativo 1.35.000.000509/2002-51

anexo, as Senhoras Franci de Brito Rangel e Maria de Fátima Carvalho Silva Maia,

proprietárias de apartamentos no Condomínio Residencial Parque Diamante,

denunciaram a ocorrência problemas de segurança na estrutura física dos seus imóveis,

no Edifício Pedra Azul, construído pela empresa Celi Ltda, e que teve como órgão

financiador a Caixa Econômica Federal.

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Relataram a angústia de todos os moradores do Edifício Pedra

Azul, bem como de todos os que vivem naquele Condomínio, em vista do total descaso

das autoridades, que deixaram as vítimas em situação de total impotência e desamparo,

não somente em face de sua condição de inferioridade ante o fornecedor, como

também pelos frágeis instrumentos de defesa de que dispõem, situação esta provocada

por negligência, imprudência e imperícia dos responsáveis, ora demandados.

De fato, constatou-se através das informações coligidas aos autos

do procedimento que instrui a presente ação, que as primeiras rachaduras no Edifício

Pedra Azul surgiram no ano de 1999, o que fez com que moradores do aludido prédio

recorressem à Defesa Civil do Estado para a elaboração de um laudo técnico, a fim de

averiguar a real situação do imóvel.

Em junho de 1999 a Defesa Civil emitiu relatório de vistoria de

análise de salubridade e aspectos de segurança física da edificação, constatando a falha

estrutural do prédio, comprometendo a segurança daquele imóvel. Assim, as

declarantes se dirigiram à Caixa Econômica Federal, onde expuseram o problema ao

gerente do setor de habitação, que prometeu uma vistoria no prédio através da Caixa

Seguros, Empresa Seguradora da CEF.

Em que pese a urgência e relevância do problema, somente em

novembro de 2001 a vistoria foi efetivada pelo departamento de engenharia da CEF,

concluindo que o problema tratava-se de vício de construção e também que o prédio

estava em situação de risco de desabamento (fls. 14 do procedimento administrativo).

Essa constatação foi posteriormente ratificada pela Caixa Seguros através do Laudo de

Vistoria Especial - LVE (fls. 24/27).

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Já em junho de 2002 a Caixa Seguros enviou comunicado aos

moradores do prédio avariado para que desocupassem o prédio no período de 30 dias,

o que foi atendido imediatamente pelos moradores, procedendo-se à entrega das chaves

dos imóveis pelos proprietários/mutuários.

Nada obstante, a mora dos responsáveis pela recuperação do

prédio persistiu por mais um mês após a entrega das chaves dos imóveis para a Caixa

Seguros, que, através da Cia. de Seguros Aliança da Bahia, contratou a empresa

CARVAN Engenharia Ltda. para a prestação dos serviços de recuperação. Com a obra

já iniciada detectou-se ainda que as fissuras no edifício aumentaram, motivo pelo qual

os moradores acionaram mais uma vez a Defesa Civil e, ainda, o CREA, a EMURB, o

Corpo de Bombeiros, o Ministério do Trabalho e os veículos de comunicação social,

denunciando os fatos e o descaso na condução do problema pelas pessoas responsáveis

pela reparação do imóvel.

Após nova vistoria, restou constatado o risco de desabamento

com conseqüências graves, inclusive para os prédios vizinhos, fazendo com que os

órgãos responsáveis procedessem à demolição parcial do edifício. É de ressaltar-se

que logo após a demolição, devido à falta de vigilância por parte da empresa

contratada CARVAN e pela Caixa Seguros, foram furtados diversos pertences que

ainda guarneciam os imóveis dos moradores, conforme se constata do Boletim de

Ocorrência de fls. 08/09.

Com os apartamentos destruídos, os moradores foram obrigados

a pagar aluguéis e despesas com seu deslocamento para outra moradia, a maioria deles

sem as mínimas condições financeiras, trazendo transtornos de caráter econômico,

emocional e moral.

Em resposta a esta Procuradoria, a CEF alegou que poucos

imóveis ainda possuíam financiamento, sendo somente estes os apartamentos

segurados pela Caixa, complementando que nenhuma das reclamantes tem

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financiamento ativo, mas que terão os seus imóveis recuperados. Aduziu que só serão

indenizáveis os encargos mensais devidos pelo segurado quando for constatada a

necessidade de desocupação do imóvel e informou que os imóveis serão devolvidos ao

fim da obra com todos os pertences que nele se encontravam no momento da

desocupação, devendo a mesma ser finalizada 08 (oito) meses após o seu início.

Através de reunião realizada nesta Procuradoria com a Caixa

Econômica Federal, a Companhia de Seguros Aliança da Bahia (terceirizada da Caixa

Seguros), Carvan Engenharia Ltda. e a Construtora Celi Ltda., em 3 de dezembro de

2002, definiu-se que a entrega do prédio seria até 31/05/2003. Além disso, a

Construtora Carvan, sob a responsabilidade da Cia. de Seguros Aliança da Bahia,

incumbiu-se no pagamento de R$ 300,00 (trezentos reais) por mês para cada um dos

16 apartamentos, de 1º de fevereiro do corrente até a entrega do prédio, a título de

indenização de aluguel, conforme expediente da Caixa Seguros, de 11/12/2002,

constante às fls. 207/208.

Apesar disso, até a presente data os serviços de restauração

do Edifício Pedra Azul não foram concluídos, ocasionando um maior prejuízo aos

seus moradores, tendo em vista despesas com novos contratos de locação para um

período indeterminado, gerando multas contratuais, sendo desnecessário citar aqui

outros prejuízos de ordem material e moral decorrentes da mora causada pelas

empresas demandadas.

Como se não bastasse, alguns moradores que fazem jus às

indenizações dos aluguéis já vieram a esta Procuradoria informar que os pagamentos

são feitos com atraso quase todos os meses, inclusive no último mês de junho,

informação esta confirmada pelos Ofícios nºs 0241/GITER/AJ e SS/135/2003 (fls. 239

e 241 do procedimento).

4. DO DIREITO

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4.1. DA RESPONSABILIDADE DA CEF

Através da lei 4.380/64 foi instituído o Sistema Financeiro da

Habitação, com o objetivo de facilitar e promover a construção e a aquisição da casa

própria ou moradia, especialmente pelas classes de menor renda da população (art. 8°

da referida lei).

Dada a sua pertinência na solução dos fatos trazidos à apreciação

desse Juízo, dois aspectos merecem ser enfocados nesse sistema. Primeiramente, há

que se ressaltar a congregação de órgãos públicos e privados, todos com um só

objetivo macro, que é o de prestar um serviço ao cidadão de menor renda, fornecendo-

lhe habitação.

O extinto Banco Nacional de Habitação, através do Decreto-Lei

nº 2.291/86 foi incorporado pela Caixa Econômica Federal que, conseqüentemente,

incorporou as atribuições daquele, passando a encabeçar o Sistema e competindo-lhe,

de acordo com os arts. 17 e 18, da Lei n. 4.380/64 (antes atribuições do extinto BNH),

orientar, disciplinar e controlar o sistema financeiro da habitação (art. 17, inciso I, da

Lei 4.380/64).

Assim, a Caixa Econômica Federal obrigatoriamente deverá

realizar controle sobre o sistema financeiro de habitação que, por força do dispositivo

legal em destaque, obviamente se estende às pessoas jurídicas de direito privado

que incorporam e constroem os imóveis que serão, posteriormente, fornecidos ao

consumidor pela própria Caixa Econômica Federal.

Além disso, é necessário que se aquilate a relevância social da

questão moradia, sendo por isso que o Governo Federal, na sua função de formulador

da política de habitação, normatizador, fiscalizador e orientador do Sistema Financeiro

Habitacional, não pode se omitir na solução dos problemas daí decorrentes. ____________________________________________________________________________________________________________10

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Portanto, existe uma obrigação social do Estado enquanto

ordenador de todo esse Sistema, que é financiado por recursos públicos, daí

decorrendo duas obrigações fundamentais para os órgãos públicos dele integrantes: o

de fiscalizar a correta aplicação dos recursos públicos e o de cumprir com a sua função

social. Veda-se, na verdade, o abandono governamental do mutuário-consumidor,

relegando-o à própria sorte, seja por ser mutuário, encontrando-se na cadeia final do

sistema habitacional, que tem as características acima alinhadas, seja porque ele é

verdadeiramente um consumidor, que merece a proteção legal.

A Caixa Econômica Federal, por meio das operações relativas ao

Sistema Financeiro de Habitação firma contratos inicialmente com as empresas de

engenharia, responsáveis pela execução de projetos previamente aprovados pela

assessoria de Engenharia daquela empresa pública, transferindo ao patrimônio

daquelas o montante necessário à execução da obra.

Devido ao próprio instrumento contratual, a CEF é dotada de

poderes que, em razão da atividade administrativa desempenhada, transformam-se em

deveres pertinentes à fiscalização da execução do projeto previamente aprovado. Esta

fiscalização não se restringe apenas às medições feitas no decorrer da obra, mas

diz respeito, num mesmo patamar, à constatação da utilização do material

acordado e aprovado para a construção, bem como os possíveis vícios de

construção apresentados durante sua execução.

O Colendo STJ entende que “A CEF deve figurar no processo

em que se discute defeitos de construção, financiada com recursos do sistema

financeiro de habitação, pois lhe compete fiscalizar, apontar as irregularidades e

determinar as respectivas correções à empresa encarregada da obra”. Decisão

esta proferida no AG 96.01.34137-4/PI, Rel. Juiz Jamil Rosa de Jesus, 3a Turma,

Dec. 13.11.1998, DJ 26.02.1999).

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Desse modo, a Caixa Econômica Federal tinha o poder-dever de

fiscalizar a obra executada pela CONSTRUTORA CELI LTDA, tendo sido,

contudo, negligente, não detectando tal defeito de construção porque simplesmente não

cumpriu com a sua obrigação legal e contratual.

O art. 186 do Código Civil Brasileiro em vigor dispõe que

“aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar

direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”.

O mesmo diploma legal obriga o causador do ato ilícito a repará-

lo, conforme se depreende do artigo 927, pois “Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e

187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.”

Assim sendo, a CEF tinha o dever de fiscalizar a execução da

obra e especificação de materiais, o que não foi feito por pura e estrita negligência,

vindo a dar causa aos danos sofridos pelos moradores do Edifício em questão sendo,

portanto, obrigada a repará-los, por imposição legal.

Ademais, conforme Maria Helena Diniz (Curso de Direito Civil

Brasileiro), o ato ilícito que causa prejuízo a outrem cria o dever de reparar a lesão, in

verbis:

“O ato ilícito é o praticado culposamente em desacordo com a

norma jurídica destinada a proteger interesses alheios; é o que

viola direito subjetivo individual, causando prejuízo a outrem,

criando o dever de reparar tal lesão. Para que se configure o

ilícito será imprescindível um dano oriundo de atividade culposa

(...) É de ordem pública o princípio que obriga o autor do ato

ilícito a se responsabilizar pelo prejuízo que causou,

indenizando-o”( 7º. Volume, 9ª ed., São Paulo: Saraiva, 1995)

____________________________________________________________________________________________________________12

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O CDC, em seu art. 14, impõe a responsabilidade objetiva do

fornecedor pelo dano causado por serviços defeituosos, litteris:

“Art. 14. O fornecedor de serviços responde independentemente

da existência de culpa pela reparação dos danos causados aos

consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços,

bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre

sua fruição e riscos.”

Tendo em vista a natureza jurídica da Caixa Econômica Federal

de empresa pública, aliado ao entendimento de que o Sistema Financeiro de Habitação

é um serviço público, em face do aspecto social que representa a moradia a milhares de

famílias que dele se beneficiam, subsiste ainda mais a responsabilidade objetiva da

CEF de ressarcir aos mutuários lesados pela sua prática abusiva, conforme o art. 37,

§6º, da Constituição Federal, que estabelece:

“Art. 37. (...)

§6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado

prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que

seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o

direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou

culpa”

Por isso, mesmo que não configurada a culpa da Caixa

Econômica Federal na atual situação em que se encontra o imóvel e o perigo à vida dos

moradores do prédio em tela, ainda assim subsiste o seu dever de indenizar, em face da

responsabilidade objetiva do fornecedor de serviços, baseada no Código de Defesa do

Consumidor e na responsabilidade objetiva dos prestadores de serviço público, com

fundamento Constitucional.

____________________________________________________________________________________________________________13

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4.2. DA RESPONSABILIDADE DA CELI

Consumidor é todo aquele que no mercado de consumo adquire

bens como destinatário final e fornecedor é o responsável pela colocação de produtos à

disposição do consumidor. A relação de consumo, no caso dos autos, dá-se pelo

binômio fornecedor (Construtora CELI Ltda) - consumidores (destinatário final do

serviço prestado – proprietários).

O art. 4º, II, “c” do CDC dispõe que os serviços prestados devem

prezar “pela garantia dos produtos e serviços com padrões adequados de qualidade,

segurança, durabilidade e desempenho”, sendo “as empresas, concessionárias,

permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento”, obrigadas a

fornecer serviços adequados, eficientes e seguros (art. 22), sob pena de serem

compelidas ao cumprimento e à reparação dos danos causados (art. 22, parágrafo

único).

Já em seu art. 12, o Código de Defesa do Consumidor obriga a

construtora, com responsabilidade objetiva, ao ressarcimento do dano causado pela

construção viciada, conforme transcrito abaixo:

“Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou

estrangeiro, e o importador, respondem, independentemente da

existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos

consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação,

construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou

acondicionamento de seus produtos, bem como por informações

insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos.”

____________________________________________________________________________________________________________14

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A vistoria feita pelo departamento de engenharia da CEF, em

novembro de 2001, concluiu que o problema do Edifício Pedra Azul tratava-se de vício

de construção e o prédio estava com risco de desabamento (fls. 14 do procedimento

administrativo). Essa constatação foi ratificada pela Caixa Seguros através do Laudo

de Vistoria Especial - LVE (fls. 24/27) que, no seu primeiro item descreve:

“Ameaça de desmoronamento, caracterizada por fissuras e

trincas generalizadas nas paredes da edificação, em disposições

horizontais, verticais e diagonais, com profundidades que

atravessam o emboço e que se encontram ativas devido as cargas

que se transladam as fundações apresentarem-se desiguais e/ou o

solo no qual foi construído a edificação ser heterogêneo,

configurando, assim, ‘vício de construção’ como causa do

sinistro.” (grifou-se)

A construtora CELI, em defesa apresentada às fls. 208/211, tenta

esquivar-se da responsabilidade, sob a alegação que só responde pela solidez e

segurança da obra no prazo prescricional de 05 (cinco) anos, invocando o art. 618 do

Código Civil em vigor, correspondente ao art. 1245 do Código de 1916.

Todavia, o prazo qüinqüenal previsto não é de prescrição, mas de

garantia, sendo o prazo prescricional de 20 (vinte) anos, contado somente a partir do

conhecimento do vício. Assim, tem-se o período de cinco anos desde a entrega da obra

e mais vinte para a ação, a partir da data do defeito.

Este é o entendimento da jurisprudência, conforme julgados

abaixo transcritos:

EMPREITADA DE CONSTRUÇÃO DE EDIFICIO EM

CONDOMINIO. APLICAÇÃO DO ARTIGO 1.245 DO____________________________________________________________________________________________________________15

Av. Beira Mar, 1064, Praia Treze de Julho, Aracaju-SE, 49020-010PABX: (0xx79)246-1810 - FAX: (0xx79)246-3689

CODIGO CIVIL. GARANTIA QUINQUENAL. PRAZO

PRESCRICIONAL VINTENARIO. O art. 1.245 do Código

Civil - prazo qüinqüenal de garantia - deve ser interpretado e

aplicado tendo em vista as realidades da construção civil nos

tempos atuais. Defeitos decorrentes do mau adimplemento do

contrato de construção, e prejudiciais a utilização das unidades

de moradia, não constituem vícios redibitórios, e sua reparação

pode ser exigida no prazo vintenário. Não incidência do art. 178,

parágrafo 5.°, IV, do Código Civil aos casos em que o defeito na

coisa imóvel não se caracteriza como vicio redibitório. Recurso

especial conhecido pela alínea 'c', mas não provido. (STJ - RESP

32676. Proc.: 199300055712 – SP, QUARTA TURMA.

09/08/1993. DJ 16/05/1994 PÁG.:11772, Relator ATHOS

CARNEIRO).

E ainda:

EDIFICIO DE APARTAMENTOS. DEFEITOS.

RESPONSABILIDADE DO CONSTRUTOR.

PRESCRIÇÃO. Não se tratando de vícios redibitórios, a

reparação dos danos pode ser reclamada no prazo vintenário.

Precedentes do STJ. Não acolhimento das preliminares

suscitadas em contestação. Decisão proferida quando do

saneamento da causa mantida. recurso especial não conhecido.

(STJ - RESP 23672 Proc.: 199200150675 – PR, QUARTA

TURMA. 13/06/1995 - DJ 23/10/1995 PÁG.: 35674, Relator:

BARROS MONTEIRO).

Assim, como os defeitos determinados são derivados da má

qualidade dos serviços, bem como de vícios dos materiais empregados na

construção, não ocorreu a prescrição, já que o problema foi conhecido em 1999, tendo____________________________________________________________________________________________________________16

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sido realizada vistoria em 15 de junho do mesmo ano (fls. 31 do procedimento anexo),

cabendo à Construtora CELI a reparação dos danos.

4.3. RESPONSABILIDADE DA CAIXA SEGUROS E DA COM PANHIA DE

SEGUROS ALIANÇA DA BAHIA

Dispõe o art. 757 do Código Civil Brasileiro que, quanto ao

prejuízo decorrente do sinistro previsto no contrato, a responsabilidade é da sociedade

seguradora, conforme dispõe textualmente: “Pelo contrato de seguro, o segurador se

obriga, mediante o pagamento do prêmio, a garantir interesse legítimo do segurado,

relativo a pessoa ou a coisa, contra riscos predeterminados.”

A SASSE, Companhia Nacional de Seguros Gerais foi fundada

em 1967 e sua denominação, a partir de 1998, foi modificada para SASSE Caixa

Seguros. Em 2000, passou a se chamar Caixa Seguradora S/A, que é sua a atual

denominação. Com o nome de fantasia de “Caixa Seguros”, a Caixa Seguradora S/A é

a seguradora oficial de todos os financiamentos da Caixa Econômica Federal, atuando

em diversos tipos de contratos de seguros.

A Caixa Seguros possui uma vasta rede de empresas

terceirizadas – que recebem a comissão relativa ao seguro que acompanham, dentre as

quais encontra-se a Companhia de Seguros Aliança da Bahia, contratada para

acompanhamento do Seguro do Edifício Pedra Azul, tendo por obrigação atender aos

segurados e executar quaisquer serviços decorrentes do contrato de seguros.

Através do Ofício SS/DFI-108/2003 (fls. 231/232), a Companhia

de Seguros Aliança da Bahia, em nome da Caixa Seguros, informa que a supervisão,

controle e acompanhamento das obras cabe:

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“2.1 – Na fase de Construção:

a) A Engenharia do Estipulante (entidade

financiadora da construção) acompanhar

as obras de construção do imóvel;

b) A Engenharia da Seguradora, nos

casos de sinistros cobertos pela

Apólice do SFH – que se enquadra em

Responsabilidade Civil do Construtor –

RCC.

2.2 – Imóveis Construídos:

A engenharia da Seguradora até o término da recuperação

da obra no imóvel sinistrado.”

Assim, sendo da Seguradora a responsabilidade de supervisão,

controle e acompanhamento, também recai sobre si o ônus de pagamento dos aluguéis

dos moradores durante o período de restauração, o que vem ocorrendo, porém de

forma irregular, com diversos atrasos nas mensalidades. Além disso, o atraso no

término da obra está ocasionando um maior prejuízo aos moradores, tendo em vista

despesas com novos contratos locatícios para um período indeterminado, gerando

multas contratuais que deverão ser indenizadas.

Na ocorrência de sinistro que impossibilite a utilização do imóvel

pelos moradores, a jurisprudência pátria tem se posicionado no sentido de que cabe à

Seguradora, inclusive, o pagamento dos aluguéis, conforme decisão do TJSC, 2ª CCv,

Acv 41.690, j. 27/06/95, rel. Des. Gaspar Rubik, DJSC, 16/05/96, p. 7, in litteris:

INDENIZAÇÃO. DANOS CAUSADOS POR ENCHENTE.

SEGURO HABITACIONAL. BENEFICIÁRIOS QUE SE

OPUSERAM A REPAROS INICIAIS POR CONSIDERÁ-

LOS INSUFICIENTES. RECUSA QUE SE JUSTIFICA.____________________________________________________________________________________________________________18

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RESPONSABILIDADE DA SEGURADORA PELA

AMPLIAÇÃO POSTERIOR DOS DANOS EM

DECORRÊNCIA DE NOVO E IGUAL SINISTRO. Não se

dispondo a reparar devidamente os danos causados a imóvel

segurado atingido por enchente, é justa a recusa do segurado em

impedir a realização de consertos insuficientes ou incompletos

para repor aquele em condições de perfeita segurança e

habitabilidade. Sua recusa, em tal hipótese, não afasta o dever de

indenizar da seguradora que responde, inclusive, pela ampliação

dos danos provocados por nova e igual catástrofe. Aluguéis

despendidos pelos beneficiários. Ônus da seguradora. Os

aluguéis despendidos pelos beneficiários, em virtude de

impossibilidade material de utilizarem sua residência, devem ser

ressarcidos pela seguradora. A indenização devida pelo

descumprimento da cláusula de seguro deve ser a mais ampla

possível e abranger todos os danos causados”

Ademais, o Edifício Pedra Azul passou por uma série de vistorias

que constataram a necessidade de sua demolição e, depois de demolido, o início das

obras de restauração não foi imediato, causando um maior transtorno que, somado à

falta de vigilância e fiscalização dos escombros, deu margem à ocorrência de furtos

dos pertences dos moradores, como demonstram os boletins de ocorrências de fls. 08 e

09 do procedimento administrativo, sendo necessária, ainda, indenização dos prejuízos

causados por essa falta de fiscalização.

5. DA TUTELA ANTECIPADA

O artigo 12 da Lei de Ação Civil Pública – Lei nº 7.347/85 –

estabelece a possibilidade de antecipação de tutela, nos casos de possibilidade de dano

irreparável ao direito em conflito, decorrente da natural morosidade na solução da lide.

____________________________________________________________________________________________________________19

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O art. 273 do CPC prevê dois pressupostos básicos que

legitimam a tutela antecipatória, quais sejam, a verossimilhança da alegação e fundado

receio de dano irreparável ou de difícil reparação.

No presente caso, a verossimilhança reside na abusividade

cometida pelas rés que, faltando com os seus deveres de fiscalização, execução,

prestação de serviços de boa qualidade, ressarcimento de prejuízos, restauração do

imóvel, cumprimento do prazo determinado etc, estão em total discrepância com o

ordenamento jurídico vigente.

Restam violados, com essa conduta, consoante fartamente

demonstrado, diversos dispositivos do Código de Defesa do Consumidor, do Código

Civil e da Lei 4.380/64 que dispõem sobre as obrigações do fornecedor, da empresa

construtora e da seguradora, bem como o dever de fiscalização a entidade que

financiou a obra.

De outra parte, o receio de dano irreparável justifica-se pela

natureza do direito em questão. Tratando-se de interesse público, não podem os

consumidores/moradores, por um período de tempo indeterminado, estarem

financeiramente à disposição das empresas que têm a obrigação de restaurar o imóvel o

mais rápido possível.

6. DOS PEDIDOS

Por tudo o quanto acima se expôs o Ministério Público Federal

requer, liminarmente e inaudiatur et altera pars seja determinado o pagamento dos

aluguéis a todos os moradores do edifício, independentemente de serem ou não

mutuários da CEF, em valor estipulado em R$ 300,00 (trezentos reais), valor já aceito

anteriormente em acordo firmado neste Ministério Público Federal entre as rés e os

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moradores do prédio, até o último dia útil de cada mês, impondo-se multa diária no

caso de descumprimento, no valor de R$ 10.000,00.

No mérito, requer o Ministério Público Federal:

a) Seja confirmada integralmente a liminar acima requerida;

b) Sejam condenadas as rés, solidariamente, a reconstruírem o

edifício parcialmente demolido;

c) Sejam condenadas as rés a indenizarem todos os moradores,

independentemente de serem ou não mutuários da CEF, e,

portanto, segurados, por todos os meses em que estiveram

privados do uso dos seus respectivos imóveis, ou seja, desde

a sua retirada do prédio até a reocupação dos imóveis em

condições perfeitas de habitabilidade;

d) Sejam condenadas as rés ao ressarcimento de todas as

despesas com mudanças dos moradores, uma vez que

decorrentes da exigência de saírem do prédio, a serem

apuradas em liquidação;

e) Sejam condenadas ao ressarcimento das multas e juros pagos

pelos moradores em decorrência dos atrasos no pagamento

dos aluguéis pelas rés e ao pagamento das custas e despesas

processuais.

Requer a citação da CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, da

CONSTRUTORA CELI LTDA, da CAIXA SEGURADORA S/A e da COMPANHIA

DE SEGUROS ALIANÇA DA BAHIA nos endereços constantes nesta inicial para,

querendo, contestarem a presente ação e acompanharem-na em todos os seus trâmites

até o seu julgamento final.

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Estes são os termos em que o Ministério Público Federal, dando

à causa o valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais), protesta pela produção de provas por

todos os meios em direito admitidos e pede deferimento, com expresso requerimento

de concessão do direito de inversão do ônus da prova a favor do consumidor, nos

termos do artigo 6º, inciso VIII do CDC.

Aracaju, 10 de julho de 2003.

João Bosco Araújo Fontes Júnior Procurador da República

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