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Autor: Ministério Público Réu: Luiz Fernando Ribas Carli Filho Autos nº 0000183-20.2009.8.16.0006 PP Daniel R. Surdi de Avelar Poder Judiciário 2ª Vara do Tribunal do Júri Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba 1 Vistos e examinados os presentes autos de AÇÃO PENAL PÚBLICA INCONDICIONADA registrada sob nº 0000183-20.2009.8.16.0006, e proposta pelo MINISTÉRIO PÚBLICO em face de LUIZ FERNANDO RIBAS CARLI FILHO. “(...). O político que pratica delito trai a confiança no modo de viver de um povo, comprometendo sobremaneira a cultura nacional. Sua impunidade seria a desilusão de seus eleitores e de todas as pessoas de bem, que passam a duvidar se vale a pena seguir lutando pela liberdade, pela inteireza e crença em seus governantes”. (STF, Pleno, AP 470, Min. Rosa Weber). I. Relatório O MINISTÉRIO PÚBLICO ofereceu denúncia em face de LUIZ FERNANDO RIBAS CARLI FILHO, brasileiro, portador do RG nº 6.990.156- 5/PR e do CPF nº 041.181.029-43, nascido em 17/02/1983, natural de Guarapuava/PR, filho de Luiz Fernando Ribas Carli e Ana Rita Slaviero Guimarães Carli, pronunciado como incurso nas sanções do artigo 121, caput, do Código Penal (por duas vezes) e artigo 307 da Lei 9.503/97 (Código de Trânsito Brasileiro). Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE Validação deste em https://projudi.tjpr.jus.br/projudi/ - Identificador: PJD2S GZHDR 2RCXH PLQ4B PROJUDI - Processo: 0000183-20.2009.8.16.0006 - Ref. mov. 341.1 - Assinado digitalmente por Daniel Ribeiro Surdi de Avelar:10850 01/03/2018: PROFERIDA SENTENÇA CONDENATÓRIA. Arq: sentença condenatória

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Autor: Ministério Público Réu: Luiz Fernando Ribas Carli Filho

Autos nº 0000183-20.2009.8.16.0006

PP Daniel R. Surdi de Avelar

Poder Judiciário 2ª Vara do Tribunal do Júri

Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba

1

Vistos e examinados os presentes autos de AÇÃO

PENAL PÚBLICA INCONDICIONADA registrada sob nº

0000183-20.2009.8.16.0006, e proposta pelo

MINISTÉRIO PÚBLICO em face de LUIZ FERNANDO

RIBAS CARLI FILHO.

“(...). O político que pratica delito trai a confiança no modo de viver de um povo, comprometendo sobremaneira a cultura nacional. Sua impunidade seria a desilusão de seus eleitores e de todas as pessoas de bem, que passam a duvidar se vale a pena seguir lutando pela liberdade, pela inteireza e crença em seus governantes”. (STF, Pleno, AP 470, Min. Rosa Weber).

I. Relatório

O MINISTÉRIO PÚBLICO ofereceu denúncia em face

de LUIZ FERNANDO RIBAS CARLI FILHO, brasileiro, portador do RG nº 6.990.156-

5/PR e do CPF nº 041.181.029-43, nascido em 17/02/1983, natural de

Guarapuava/PR, filho de Luiz Fernando Ribas Carli e Ana Rita Slaviero Guimarães

Carli, pronunciado como incurso nas sanções do artigo 121, caput, do Código Penal

(por duas vezes) e artigo 307 da Lei 9.503/97 (Código de Trânsito Brasileiro).

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01/03/2018: PROFERIDA SENTENÇA CONDENATÓRIA. Arq: sentença condenatória

Autor: Ministério Público Réu: Luiz Fernando Ribas Carli Filho

Autos nº 0000183-20.2009.8.16.0006

PP Daniel R. Surdi de Avelar

Poder Judiciário 2ª Vara do Tribunal do Júri

Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba

2

Na presente sessão, foi o réu submetido a julgamento

com observância das formalidades legais pertinentes.

1º fato - homicídio de Gilmar Rafael Souza Yared

Em votação específica, os Senhores Jurados

reconheceram a materialidade do fato.

Decidiram que o acusado Luiz Fernando Ribas Carli

Filho praticou o fato antes descrito, pois conduzindo o veículo importado Passat

Variant, cor preta, placas ANR-0097, pela Rua Monsenhor Ivo Zanlorenzi, e, nas

proximidades da Rua Paulo Gorski, atingiu o eixo traseiro do veículo Honda Fit LX, cor

prata, placas BEK-9253.

Reconheceram que a conduta do acusado Luiz

Fernando Ribas Carli Filho, provocando a morte da vítima Gilmar Rafael Sousa Yared,

não decorreu de imprudência (concernente no fato de o acusado ter dirigido o seu

veículo acima da velocidade permitida e após a ingestão de bebida alcoólica, agindo,

portanto, culposamente).

Por fim, decidiram não absolver o acusado.

2º fato - homicídio de Carlos Murilo de Almeida

Em votação específica, os Senhores Jurados

reconheceram a materialidade do fato.

Reconheceram que o acusado Luiz Fernando Ribas

Carli Filho praticou o fato antes descrito, pois conduzindo o veículo importado Passat

Variant, cor preta, placas ANR - 0097, pela Rua Monsenhor Ivo Zanlorenzi, e, nas

proximidades da Rua Paulo Gorski, atingiu o eixo traseiro do veículo Honda Fit LX, cor

prata, placas BEK-9253.

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PP Daniel R. Surdi de Avelar

Poder Judiciário 2ª Vara do Tribunal do Júri

Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba

3

Reconheceram que a conduta do acusado Luiz

Fernando Ribas Carli Filho, provocando a morte da vítima Carlos Murilo de Almeida,

não decorreu de imprudência (concernente no fato de o acusado ter dirigido o seu

veículo acima da velocidade permitida e após a ingestão de bebida alcoólica, agindo,

portanto, culposamente).

Por fim, decidiram não absolver o acusado.

3º fato - crime conexo de violação da suspensão da habilitação para dirigir

veículo automotor

Em votação específica, os Senhores Jurados

reconheceram a materialidade do fato.

Reconheceram que o acusado Luiz Fernando Ribas

Carli Filho praticou o fato, por volta das 00h15 do dia 07/05/2009, defronte ao

Restaurante Edvino, saindo dirigindo o veículo importado Passat Variant, cor preta,

placas ANR - 0097, pelas ruas da cidade, violando a sanção administrativa de

suspensão de habilitação para dirigir veículo automotor que lhe havia sido aplicada

devido a dezenas de autuações.

Por fim, decidiram não absolver o acusado.

II. Dispositivo

Ante o exposto, julgo parcialmente procedente a

denúncia para o fim de condenar o réu Luiz Fernando Ribas Carli Filho, já

qualificado, como incurso nas sanções do art. 121, caput, do Código Penal (por duas

vezes), e do art. 307 da Lei nº 9.503/97, bem como ao pagamento das custas

processuais, nos termos do disposto no art. 804 do Código de Processo Penal.

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III - Da aplicação da pena

“(...) julgar não é tarefa de matemáticos nem de computadores, sendo deplorável a (nem sempre incomum) pena-padrão, que elimina as evidentes diversidades entre os réus, seres humanos diferentes por natureza no cotidiano. Igualar os acusados artificialmente, no momento da punição, não poucas vezes por indiferença dos julgadores, por desconhecimento da importância das circunstâncias e condições pessoais ou por mera comodidade é inaceitável, mormente se confrontarmos esse resultado com o princípio constitucional da individualização da pena”1.

Antecipadamente, merece destaque que o

reconhecimento pelo Conselho de Sentença do dolo, seja ele direto, ou, no caso,

eventual, apto para gerir a tipificação e, consequentemente, a competência do Tribunal

do Júri, não tem o condão de impedir, sob o manto do bis in idem, a verificação a

respeito da existência de circunstâncias judiciais desfavoráveis aptas a quantificar o

patamar do risco assumido e embasar a fixação da pena-base acima do mínimo

legal. É, aliás, o que projeta o Superior Tribunal de Justiça, em voto proferido pelo

laureado Min. Félix Fischer:

PENAL. HABEAS CORPUS. ART. 121, CAPUT E ART. 121, CAPUT C/C ART. 14, INCISO II, AMBOS DO CÓDIGO PENAL. DOSIMETRIA DA PENA. FUNDAMENTAÇÃO. ALEGADO BIS IN IDEM. INOCORRÊNCIA. COMPORTAMENTO DAS VÍTIMAS. VERIFICAÇÃO. NECESSIDADE DE DILAÇÃO PROBATÓRIA. INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. I - A via do writ somente se mostra adequada para a análise da dosimetria da pena se não for necessária uma análise aprofundada do conjunto probatório e se se tratar de flagrante ilegalidade (HC n.º 39.030/SP, 5ª Turma, Rel. Min. Arnaldo Esteves, DJU de 11/04/2005). II - Uma vez reconhecida, pelo Conselho de Sentença, a prática de homicídio, na modalidade dolo eventual, não há que

1 NUCCI, Guilherme de Souza. Individualização da pena, 3º. ed., São Paulo: RT, 2009, p. 175.

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se falar em bis in idem quando o órgão julgador, analisando o art. 59, do CP, verifica a existência de circunstâncias judiciais desfavoráveis aptas a embasar a fixação da pena-base acima do mínimo legal. III - No caso em tela, aferir o comportamento das

vítimas demandaria, necessariamente, o amplo revolvimento da matéria fático-probatória, o que é vedado em sede de habeas corpus (Precedentes). Habeas corpus parcialmente conhecido e, nesta parte, denegado. (HC 135.544/SP, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 15/06/2010, DJe 06/09/2010)

A quantificação do patamar do risco assumido, ou seja, a

maximização conscientemente anuída e ratificada durante a ação, deve ser analisada

e sopesada na fase da fixação da pena. Porém, faz-se necessário estabelecer uma

escala de desvalor, impondo-se uma diferenciação dosimétrica entre o dolo direto e,

no caso, o eventual:

“É evidente que, em uma estrutura de desvalor criminal, a atitude de quem age com dolo eventual, embora leviana, não é agressiva e, a despeito de que não haja diferença técnica entre as distintas classes de dolo no que tange à imputação, a mensuração da pena, em função da incidência do princípio de culpabilidade, obrigatoriamente diferenciará entre as classes de dolo.

Nesse diapasão é possível afirmar que o dolo direto de primeiro grau é a forma mais grave de dolo, seguida pelo dolo direto de segundo grau e, finalmente, pelo dolo eventual. Assim, o grau de reprovabilidade dos feitos estará associado às diferentes valorações dolosas para fins de aplicação da pena”2.

Trata-se de entendimento compartilhado por diversos

outros autores, dentre eles, MASSUD:

“De fato, a intensidade do dolo e o grau de culpa são, na maioria das vezes, indicativos seguros para maior reprovação da conduta. Não se pode equiparar, seguindo essa ótica, um homicídio praticado imbuído do elemento

2 BUSATO, Paulo César. Direito penal: parte geral. São Paulo: Atlas, 2013, p. 422.

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volitivo claro e dirigido à obtenção do resultado (dolo direto) com outro em que o agente, embora não quisesse necessariamente o resultado, assumiu o risco de produzi-lo (dolo eventual). Da mesma maneira, no tocante aos crimes culposos, não seria razoável ter por igual a conduta do agente que tinha plena ciência de desprezar o dever de cuidado, mas acreditava poder evitar o resultado (culpa consciente), daquela outra em que o agente simplesmente não observou por distração, esquecimento ou qualquer outro motivo que não tivesse decorrido de sua consciência”3.

Diante disso, considerando que a majoração média da

pena-base admitida pelo Superior Tribunal de Justiça, para cada circunstância

judicial, gira em torno de 1/6 (um sexto) – STJ, 06º. Turma, Resp. n. 1358116/RN, Rel.

Min. Rogério Schietti Cruz, j. 20/09/2016 – entendo que, tratando-se de crime

praticado sob o manto do dolo eventual, tal acréscimo deve ser, no caso concreto,

inferior a 01 (um) ano para cada circunstância judicial.

O Código Penal Brasileiro, em seu Título V, ocupa-se

das penas. Dentro do referido Título, o artigo 32 prevê a existência de três categorias

de pena, que são as “a) privativas de liberdade, com graus diferenciados, que vão

desde a institucionalização total do indivíduo até o seu controle ou limitação fora da

instituição total ou prisão; b) restritiva de direitos; c) de conteúdo patrimonial. ”4 E para

que sejam aplicadas de forma igualitária e uniforme, alguns princípios constitucionais

as regem, conforme explica Guilherme de Souza Nucci:

Princípios da pena: a) princípio da personalidade ou da responsabilidade pessoal: significa que a pena é personalíssima, não podendo passar da pessoa do delinquente (art. 5°, XLV, CF); b) princípio da legalidade: significa que a pena não pode ser aplicada sem prévia cominação legal – nulla poena sine praevia lege (art. 5°, XXXIX, CF); c) princípio da inderrogabilidade: significa

que a pena, uma vez constatada a prática da infração

3 MASSUD, Leonardo. Da pena e sua fixação. Finalidades, circunstâncias judiciais e apontamentos

para o fim do mínimo legal. São Paulo: DPJ Editora, 2009, p. 148/149. 4 ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Manual de direito penal brasileiro: parte geral. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015, p. 696.

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penal, é inderrogável, ou seja, não pode deixar de ser aplicada (consequência da legalidade); d) princípio da proporcionalidade: significa que a pena deve ser proporcional ao crime, devendo guardar equilíbrio entre a

infração praticada e a sanção imposta (art. 5°, XLVI, CF). [...]; e) princípio da individualização da pena: significa que, para cada delinquente, o Estado-juiz deve estabelecer a pena exata e merecida, evitando-se a pena-padrão, nos termos estabelecidos pela Constituição (art. 5°, XLVI). [...]; f) princípio da humanidade: significa

que o Brasil vedou a aplicação de penas insensíveis e dolorosas (art. 5°, XLVII, CF), devendo-se respeitar a integridade física e moral do condenado (art. 5°, XLIX).5 No tocante à individualização da pena, princípio

mencionado no item “e” do fragmento doutrinário acima apresentado, Nucci esclarece:

A individualização da pena desenvolve-se em três etapas distintas. Primeiramente, cabe ao legislador fixar, no momento da elaboração do tipo penal incriminador, as penas mínima e máxima, suficientes e necessárias para a reprovação e prevenção do crime. É a individualização legislativa. Dentro dessa faixa, quando se der a prática da infração penal e sua apuração, atua o juiz, elegendo o montante concreto ao condenado, em todos os seus prismas e efeitos. É a individualização judiciária. Finalmente, cabe ao magistrado responsável pela execução penal determinar o cumprimento individualizado da sanção aplicada. [...] É a individualização executória.6 Na etapa da individualização judicial da pena,

respeitando-se a previsão constitucional da necessidade de motivação das decisões7

5 NUCCI, Guilherme de Souza. Código penal comentado. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2012, p. 330. 6 NUCCI, Guilherme de Souza. Individualização da pena. Rio de Janeiro: Forense, 2014, pp. 30-31. 7 É importante destacar que o “dever de motivação das decisões judiciais é inerente ao Estado Constitucional e constitui verdadeiro banco de prova do direito ao contraditório das partes. Não por acaso a doutrina liga de forma muito especial contraditório, motivação e direito ao processo justo. Sem motivação a decisão judicial perde duas características centrais: a justificação da norma jurisdicional para o caso concreto e a capacidade de orientação de condutas sociais. Perde, em uma palavra, o seu próprio caráter jurisdicional. ” (SARLET, Ingo Wolfgang;

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(art. 93, IX), deve o magistrado operar em três fases, conforme orienta o artigo 68 do

Código Penal: a) fixação da pena-base; b) fixação da pena provisória; c) fixação da

pena definitiva. A “pena-base deve ser encontrada analisando-se as circunstâncias

judiciais do art. 59; a pena provisória, analisando-se as circunstâncias legais, que são

as atenuantes e as agravantes; e, finalmente, chegar-se-á à pena definitiva,

analisando-se as causas de diminuição e de aumento. ”8

Nesse sentido, eis entendimento exposto pelo Supremo

Tribunal Federal:

EMENTA Agravo regimental em recurso ordinário em habeas corpus. Penal. Dosimetria. Pretendida aplicação da atenuante da menor idade (CP, art. 65, I) após o término da terceira fase. Impossibilidade. Literalidade do art. 68 do Código Penal. Precedentes. Regimental não provido. 1. Segundo entendimento da Corte, as circunstâncias atenuantes devem ser analisadas na segunda fase da fixação da pena, sendo descabido “introduzir no artigo 68 do Código Penal mais uma fase. O critério trifásico é revelado pela fixação da pena-base, em seguida a consideração das circunstâncias atenuantes e agravantes e, por último, a encerrar a terceira fase, o cômputo das causas de diminuição e de aumento” (HC nº 74.741/GO, Segunda Turma,

Relator o Ministro Marco Aurélio, DJ de 25/4/97 – grifos nossos). 2. Agravo regimental ao qual se nega provimento. (RHC 137804 AgR, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Segunda Turma, julgado em 31/03/2017, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-087 DIVULG 26-04-2017 PUBLIC 27-04-2017). Sob a orientação desse critério trifásico adotado pela

legislação brasileira, passo a dosar, portanto, a pena do acusado.

1º fato - homicídio de Gilmar Rafael Souza Yared

MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Curso de direito constitucional. São Paulo, Saraiva, 2016, pp. 785-786). 8 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal, parte geral 1. São Paulo, Saraiva, 2014, p 782.

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1.1. Da primeira fase: fixação da pena-base - análise das circunstâncias judiciais

do artigo 59 do Código Penal

A primeira fase da fixação da pena, nos termos do artigo

68 do Código Penal, é a que determina a fixação da pena-base, que, segundo Paulo

César Busato, é “ o produto final de variáveis que individualizam o fato e seu autor,

com vistas à composição de um ponto de partida geral para a pena correspondente às

exigências do princípio de culpabilidade. ”9

Nesta etapa de fixação, deve-se atender aos seguintes

critérios elencados no artigo 59 do Código Penal: culpabilidade, antecedentes, conduta

social, personalidade do agente, motivos, circunstâncias e consequências do crime,

bem como o comportamento da vítima.

a) Culpabilidade

A circunstância judicial da culpabilidade prevista no

artigo 59 do Código Penal não se confunde com a culpabilidade que compõe o

conceito analítico de crime. O “conceito analítico de crime compõe-se de dois núcleos:

de um lado, o injusto, consistente em conduta humana típica e ilícita; de outro, a

culpabilidade. ”10 Esta culpabilidade é o juízo de reprovação que recai sobre o autor de

um fato típico e ilícito. Já a culpabilidade como elemento da fixação da pena-base

compreende o grau da censura da conduta do réu que praticou um fato típico, ilícito e

culpável.

A culpabilidade, é a principal circunstância a ser

analisada na fixação da pena-base, pois, ao tempo que é fonte de um juízo de

9 BUSATO, Paulo César; MAYER, Sílvia Neves. “Pena-base (conceito, fundamentos e limites) ”, In Teoria da pena / Paulo César Busato (coordenador). Curitiba, Juruá, 2014, p. 47 10 GUARANI, Fábio André; GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. “Neurociência, livre-arbítrio e Direito Penal: precipitação científica e alternativas para sustentação da culpabilidade”, in Neurociência e direito penal / Paulo César Busato (organizador). São Paulo: Atlas, 2014, p. 170.

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01/03/2018: PROFERIDA SENTENÇA CONDENATÓRIA. Arq: sentença condenatória

Autor: Ministério Público Réu: Luiz Fernando Ribas Carli Filho

Autos nº 0000183-20.2009.8.16.0006

PP Daniel R. Surdi de Avelar

Poder Judiciário 2ª Vara do Tribunal do Júri

Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba

10

intensidade da reprovação, trata-se de um filtro interpretativo das demais

circunstâncias judiciais:

“Ou seja, o grau de reprovabilidade é o que determina a variável entre as demais circunstâncias. As perguntas a fazer, no momento da fixação da pena-base são: quão reprovável é a atitude do sujeito, em face de seus antecedentes? O quão reprovável é a atitude do sujeito em face das consequências por ela geradas? O quão reprovável é a atitude do sujeito em face do comportamento da vítima? E assim, sucessivamente”11.

Cezar Roberto Bitencourt enuncia a culpabilidade

prevista no artigo 59 do Código Penal como limite de pena, uma vez que ela está afeta

à dosimetria da reprimenda e não à configuração do crime:

A culpabilidade, aqui, funciona como elemento de determinação ou de medição da pena. Nessa acepção, a culpabilidade funciona não como fundamento da pena, mas como limite desta, impedindo que a pena seja imposta além da medida prevista pela própria ideia de

culpabilidade, aliada, é claro, a outros critérios, como importância do bem jurídico, fins preventivos etc. Por isso, constitui rematado equívoco, frequentemente cometido no cotidiano forense, quando, na dosagem da pena, afirma-se que “o agente agiu com culpabilidade, pois tinha a consciência da ilicitude do que fazia”. Ora, essa acepção de culpabilidade funciona como fundamento de pena, isto é, como característica negativa da conduta proibida, e já deve ter sido objeto de análise juntamente com a tipicidade e a antijuridicidade, concluindo-se pela condenação. Presume-se que esse juízo tenha sido positivo, caso contrário nem se teria

chegado à condenação, onde a culpabilidade tem função limitadora da pena e não fundamentadora. Na verdade, impõe-se que se examine aqui a maior ou menor censurabilidade do comportamento do agente, a maior ou menor reprovabilidade da conduta praticada, não se esquecendo, porém, a realidade concreta em que ocorreu, especialmente a maior ou menor exigibilidade de outra conduta. 12

11 BUSATO, Paulo César. Direito penal: parte geral. São Paulo: Atlas, 2013, p. 877. 12 BITENCOURT, Cezar Roberto, op. cit., p. 773.

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01/03/2018: PROFERIDA SENTENÇA CONDENATÓRIA. Arq: sentença condenatória

Autor: Ministério Público Réu: Luiz Fernando Ribas Carli Filho

Autos nº 0000183-20.2009.8.16.0006

PP Daniel R. Surdi de Avelar

Poder Judiciário 2ª Vara do Tribunal do Júri

Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba

11

É importante ressaltar que a avaliação da culpabilidade

importa o exame das suas condições pessoais do acusado, bem como a avaliação da

situação em ocorreu a ação delitiva (modus operandi)13, consoante entendimento do

Tribunal de Justiça do Estado do Paraná:

PENAL. APELAÇÃO-CRIME. FURTO. ART. 155, CAPUT DO CP. CONDENAÇÃO. PENA. INSURGÊNCIA DO MINISTÉRIO PÚBLICO. IMPROCEDÊNCIA. PENA READEQUADA DE OFÍCIO. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. 1. Não há que se confundir culpabilidade como fundamento da pena com culpabilidade como medida da pena. Aquela está compreendida na estrutura tripartida do conceito de crime (tipicidade + antijuridicidade + culpabilidade). Esta diz respeito ao contexto em que praticado o crime e observadas as condições pessoais do réu, a fim de se verificar se ele detinha maiores condições de se comportar de forma diversa. O fato de o sujeito ter "consciência do

caráter ilícito de sua conduta" diz respeito à culpabilidade como fundamento da pena, e não se presta a uma maior exasperação de sua pena. (...) (grifei) (TJPR. Apelação nº 823823-7. Rel. Carlos Henrique Licheski Klein. 4ª Câmara Criminal. Julgamento: 12/04/2012).

13 O Superior Tribunal de Justiça firmou o entendimento segundo o qual a culpabilidade pode ser considerada desfavorável ao acusado tendo em vista o modus operandi da empreitada delitiva: “PENAL E PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO ESPECIAL. NÃO CONHECIMENTO DO WRIT. CRIME DE ROUBO MAJORADO. DOSIMETRIA DA PENA. PLEITO DE REDUÇÃO DA PENA-BASE. CULPABILIDADE. PREPARAÇÃO PRÉVIA. ESPECIAL REPROVABILIDADE EVIDENCIADA. CIRCUNSTÂNCIAS DO DELITO VALORADAS NEGATIVAMENTE COM BASE NO MODUS OPERANDI. DISPARO DE ARMA DE FOGO. FUNDAMENTO VÁLIDO. [...] HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO. ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO. [...] 2. Mostra-se válido o aumento da pena-base pela culpabilidade do agente, considerada elevada, por decorrer, o delito praticado, de uma prévia preparação e determinação, denotando o profundo dolo na sua realização, evidenciando especial reprovabilidade. Precedentes. 3. Legítima a consideração das circunstâncias do delito pelo modus operandi empregado na prática do delito, em que os agentes chegaram até a efetuar disparo de arma de fogo na via pública, fatos que desbordam do caminho razoavelmente utilizado para o crime de roubo, configurando justificativa válida para o desvalor. Precedentes. [...]. (HC 199.609/SP, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 23/06/2015, DJe 03/08/2015).

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Autor: Ministério Público Réu: Luiz Fernando Ribas Carli Filho

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12

Noutra oportunidade, em formação colegiada diversa, o

Tribunal deste Estado, no mesmo sentido, consignou:

APELAÇÃO CRIMINAL. HOMICÍDIO QUALIFICADO. DOSIMETRIA DA PENA. CULPABILIDADE E CIRCUNSTÂNCIAS CONSIDERADAS DESFAVORÁVEIS. FUNDAMENTAÇÃO ADEQUADA, COM BASE EM ELEMENTOS CONTIDOS NOS AUTOS SEGUNDO OS QUAIS O DELITO MERECERIA MAIOR REPROVAÇÃO. PENA BASE FIXADA ACIMA DO

MÍNIMO LEGAL. PRESENÇA DE MAIS DE UMA QUALIFICADORA. UMA UTILIZADA PARA QUALIFICAR O CRIME E DEMAIS CONFIGURAM AGRAVANTES OU CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS NEGATIVAS. POSSIBILIDADE DE RECONHECIMENTO DA ATENUANTE DA CONFISSÃO ESPONTÂNEA QUALIFICADA (SÚM.545,STJ). PENA DIMINUÍDA. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. (TJPR - 1ª C.Criminal - AC - 1525576-6 - Curitiba - Rel.: Naor R. de Macedo Neto - Unânime - - J. 16.06.2016)

Em harmonia a esse entendimento, eis o que aduz

Guilherme de Souza Nucci:

No mais, quando se encontra no momento de fixar a pena, o julgador leva em conta a culpabilidade em sentido lato, ou seja, a reprovação social que o crime e o autor do fato merecem. Exige-se do juiz a avaliação da censura ao crime destinada – o que, aliás, demonstra não incidir esse juízo somente sobre o autor, mas também sobre o que ele cometeu –, justamente para norteá-lo na fixação da sanção penal merecida. Frisando que culpabilidade incide tanto sobre o fato, quanto sobre o seu autor, estão as posições de Miguel Reale Júnior, René Ariel Dotti, Ricardo Antunes Andreucci e Sérgio Marcos de Moraes Pitombo.14

Ressalta-se que a valoração dos fatores pessoais do

acusado não implica a adoção de um direito penal de autor.

É que a culpabilidade, por ser um juízo de censura que

recai sobre o autor do fato, tal como a culpabilidade que integra o conceito analítico de

14 NUCCI, Guilherme de Souza, op. cit., 2014, p. 158.

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13

crime, demanda uma valoração acerca das condições pessoais do acusado, de suas

aptidões e atividade laboral, de modo a se atender ao princípio da individualização da

pena, porém, com a devida cautela para se evitar eventual bis in idem, ou incorrer-se

no risco de se adotar o direito penal de autor.

O grau de reprovabilidade da conduta é elevado. O

acusado, como bem pontuou o Min. Rogério Schietti Cruz quando do voto-vista

proferido no AgRg no REsp. n. 739.762/PR, foi “insistentemente advertido para não

dirigir”15, porém, “deixou o banco de carona de outro veículo e, sem ouvir os apelos

dos que o acompanhavam, optou por realizar ações subsequentes (...) que tornaram

provável o acidente de trânsito”.

Em momento imediatamente anterior ao acidente,

enquanto dirigia seu veículo em velocidade incompatível com a via urbana, o acusado

fazia uso do seu aparelho celular (mov. 5.33), fato que torna a ação de dirigir ainda

mais perigosa, constituindo, inclusive, infração autônoma de trânsito (CTB, art. 252).

Trata-se de pessoa experiente, esclarecida e culta, eis

que exercia, na época dos fatos, a função de Deputado Estadual, contribuindo para a

elaboração de leis para o povo paranaense. A ação praticada pelo agente, além de

constituir crime, constitui ato contrário à ética e ao decoro parlamentar (art. 271, XIII,

do Regimento Interno da Alep). Não podemos esquecer que:

“Os agentes políticos exercem o poder, estando reservada à classe política a criação do sistema normativo. Exatamente por isso deles é exigível comportamento adequado à lei com maior severidade. Ninguém mais do que o responsável pela criação da regra penal, com todo o drama que ela comporta, se encontra atrelado à sua normatização. O político que cria a lei penal para desacatá-la trai o sentido de poder que o cargo lhe proporciona. Portanto, quando ele fere a lei penal infringe não só o seu dever de cidadão, mas o poder que ostenta e que lhe foi atribuído pelo povo. Trai a confiança no sistema, servindo de um exemplo para a

15 P. 43 da decisão acima referida.

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14

criminalidade e inspirando a impunidade”.(STF, AP 470, Min. Rosa Weber).

No caso concreto, portanto, vislumbro a existência de 3

(três) vetoriais negativas, fundamentadas em elementos que extrapolam os inerentes

ao tipo penal imputado, demonstrando, assim, especial reprovabilidade da conduta.

b) Antecedentes

Neste tópico, devem ser avaliadas as anotações na folha

de antecedentes, representativas de condenações, com trânsito em julgado, que já

não sirvam para gerar reincidência16 ou que possam com esta conviver. Tais

anotações devem ainda ser relacionadas a fatos anteriores aos analisados nos

autos17, em homenagem ao princípio da presunção da não-culpabilidade, ainda que o

trânsito em julgado seja posterior18. Ademais, consoante o teor da Súmula 444 do

Superior Tribunal de Justiça19, inquéritos policiais e processos criminais em

andamento não podem ser considerados para elevação da pena-base. Nesse sentido:

16 A respeito da distinção entre os antecedentes e a reincidência do acusado, eis o posicionamento do Superior Tribunal de Justiça: “PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. USO DE DOCUMENTO FALSO. PENA-BASE ACIMA DO MÍNIMO LEGAL. MAUS ANTECEDENTES. SÚMULA 83/STJ. AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO. 1. Este Superior Tribunal de Justiça tem posicionamento consolidado no sentido de que condenações criminais anteriores com mais de cinco anos de extinção da pena, embora não tenha o condão de gerar reincidência, podem ser sopesadas, no momento da fixação da pena-base, para dosar a reprimenda, a título de maus antecedentes (Precedentes). [...] (AgRg no AREsp 1041716/RS, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em 09/05/2017, DJe 12/05/2017). 17 “[...] 3. Condenações definitivas, porém por fatos posteriores não configuram maus antecedentes, não podendo, pois, ser utilizadas em desfavor do paciente para exasperar a pena-base [...]. ” (HC 350.239/SP, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 22/11/2016, DJe 06/12/2016). 18 “[...] III - A condenação por crime anterior, com trânsito em julgado posterior à prática delitiva em apuração, justifica a valoração negativa da circunstância judicial dos antecedentes, lastreando a exasperação da pena-base (precedentes)”. (HC 382.312/RS, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 07/03/2017, DJe 21/03/2017). 19 “É vedada a utilização de inquéritos policiais e ações penais em curso para agravar a pena-base. ”

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15

[...] não se devem levar em conta inquéritos arquivados, processos com absolvição ou em andamento, feitos prescritos (pretensão punitiva), entre outros fatores transitórios ou concluídos positivamente para o réu, como causa de majoração da reprimenda. Ilustrando, se o acusado foi absolvido, como poderia gerar essa absolvição o aumento de sua pena num processo futuro? Seria evidente lesão ao princípio constitucional da presunção de inocência.20

O acusado não registra antecedentes criminais.

c) Conduta Social

Entende-se por conduta social “o papel do réu na

comunidade, inserido no contexto da família, do trabalho, da escola, da vizinhança

etc”21 e “sua interação com o sistema penal, os registros policiais e judiciais que não

configuram antecedentes, que inegavelmente fazem parte da vida do condenado22”.

Diante disso, “[h]á que se levar em consideração que um indivíduo pode ter ou não

uma conduta social reprovável, independentemente de qualquer indicativo de ter ou

não já sido responsabilizado penalmente”23, pois ela está atrelada a aspectos

extrapenais24.

No caso em análise, o elevado número de infrações de

trânsito praticadas pelo acusado - ao todo, 22 (vinte e duas) infrações por excesso de

velocidade (mov. 3.6, p. 40/45) - aliado ao fato de que inclusive já havia sido notificado

pelo DETRAN-PR a entregar a sua CNH para cumprir a sanção de suspensão do

direito de dirigir, autorizam concluir que a sua conduta social não é adequada (STJ,

AgRg no Resp 1.217.998-SC).

20 NUCCI, Guilherme de Souza, op. cit., 2012, pp. 425-426. 21 NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal Comentado, 13ª edição, Revista dos Tribunais, 2013, p. 432. 22 BUSATO, Paulo César. Direito penal: parte geral. São Paulo: Atlas, 2013, p. 880. 23 PRADO, Luiz Regis. Tratado de Direito Penal Brasileiro: Parte Geral: volume 3, Consequências

Jurídicas do Delito. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2014. p. 59 24 STF, 02 Turma, RHC 130132, Relator(a): Min. TEORI ZAVASCKI, Segunda Turma, julgado em

10/05/2016, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-106 DIVULG 23-05-2016 PUBLIC 24-05-2016.

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16

d) Personalidade

A personalidade, para fins de fixação de pena-base,

deve ser compreendida como o conjunto de características exclusivas do indivíduo.

O termo personalidade deriva de persona, que significa

máscara, referindo-se às máscaras utilizadas pelos atores nos dramas gregos, buscando dar significado aos papéis que representavam. Atualmente, continua refletindo os papéis que todos desempenham na vida em sociedade. Trata-se do conjunto de caracteres exclusivos de uma pessoa, parte herdada, parte adquirida. [...] São exemplos de elementos de personalidade, que se pode buscar na análise do modo de ser do autor da infração penal: a) aspectos positivos: bondade, alegria, persistência, responsabilidade nos afazeres, franqueza, honestidade, coragem, calma, paciência, amabilidade, maturidade, sensibilidade, bom-humor, compreensão, simpatia; tolerância, especialmente à liberdade de ação, expressão e opinião alheias; b) aspectos negativos: agressividade, preguiça, frieza emocional, insensibilidade acentuada, emotividade desequilibrada, passionalidade exacerbada, maldade, irresponsabilidade no cumprimento das obrigações, distração, inquietude, esnobismo, ambição desenfreada, insinceridade, covardia, desonestidade, imaturidade, impaciência, individualismo exagerado, hostilidade no trato, soberba, inveja, intolerância, xenofobia, racismo, homofobia, perversidade. Naturalmente, muitos esses fatores, quando isoladamente considerados ou mesmo quando não repercutem no desrespeito ao direito de terceiros, devem ser concebidos como frutos da liberdade de ser e de se expressar do indivíduo. Porém, ao cometer um crime, especialmente se a característica negativa de sua personalidade for o móvel propulsor – como a inveja incontrolável ou o desejo de praticar maldade – deve ser levada em conta para o estabelecimento da pena. 25

25 NUCCI, Guilherme de Souza, op. cit., 2014, pp. 172-173.

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17

Não havendo nos autos elementos suficientes para

se analisar a personalidade do acusado, a presente circunstância não pode ser

considerada na fixação da pena-base.

e) Motivos

Os motivos do crime representam os antecedentes

psíquicos da vontade do agente, os precedentes causais da ocorrência do crime, ou,

noutras palavras, a origem do impulso delitivo. Para Cezar Roberto Bitencourt, os

motivos “constituem a fonte propulsora da vontade criminosa. ”26

Para a fixação da pena-base, o juiz deve também sopesar os motivos do crime, isto é, as razões próximas e remotas que levaram o agente a praticar o delito. Nesse sentido, são mais reprováveis, por exemplo, os crimes que tenham como motivação a inveja, o ódio gratuito, a ambição desmedida, a lascívia etc. contrariamente, são menos censuráveis os crimes que tenham uma motivação nobre, como a defesa da própria honra injustamente ofendida, a fé, o amor etc. Por certo que tais motivos não deverão ser considerados como circunstâncias judiciais quando já fizerem parte da definição do próprio tipo penal ou já constituírem circunstância atenuante, agravante ou qualificadora (ne bis in idem).

Exatamente por isso não podem ser tomadas em consideração as motivações inerentes à própria infração penal e, pois, já valoradas por ocasião da tipificação, como v. g., a “libido exacerbada” ou a “falta de pudor” nos crimes sexuais; a “ganância”, a “ambição” ou o “ganho fácil”, nos crimes patrimoniais ou tráfico de droga; o desprezo à pessoa humana, nos crimes contra a vida etc.27

No caso em epígrafe, extrai-se da denúncia que o

acusado, conduzindo seu veículo pela Rua Monsenhor Ivo Zanlorenzi, nas

26 BITENCOURT, Cezar Roberto, op. cit., loc. cit. 27 QUEIROZ, Paulo. Direito penal: Parte geral. Editora Lumen Juris. Rio de Janeiro, 2008, p. 338.

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01/03/2018: PROFERIDA SENTENÇA CONDENATÓRIA. Arq: sentença condenatória

Autor: Ministério Público Réu: Luiz Fernando Ribas Carli Filho

Autos nº 0000183-20.2009.8.16.0006

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18

proximidades da esquina da Rua Paulo Gorski, persistiu no seu intento de

satisfazer seu egocentrismo e continuou acelerando seu possante veículo (....).

A satisfação do egocentrismo imputada ao acusado,

neste particular, não pode ser considerada em seu desfavor - sob pena de bis in

idem - uma vez que se trata de elemento integrante do dolo eventual.

f) Circunstâncias

As circunstâncias do crime são “aqueles elementos

meramente acessórios, que não integram o crime, mas influem sobre sua gravidade,

deixando inalterada sua essência. ”28 Segundo Guilherme de Souza Nucci:

São os elementos acidentais não participantes da estrutura do tipo, embora envolvendo o delito. Quando expressamente gravadas na lei, as circunstâncias são chamadas de legais (agravantes e atenuantes, por

exemplo). Quando genericamente previstas, devendo ser formadas pela análise e pelo discernimento do juiz, são chamadas de judiciais. Um crime pode ser praticado, por

exemplo, em local ermo para dificultar a sua descoberta e a apuração do culpado, constituindo circunstância gravosa. Trata-se de elemento residual, ou seja, quando não prevista a circunstância como qualificadora/causa de aumento ou privilégio/causa de diminuição, pode o juiz considerá-la como como circunstância judicial.29

O acusado, valendo-se de um veículo de grande

motorização, optou por desenvolver uma velocidade extremamente excessiva

(de 161 a 173 Km/h, 168% a 188% superior à regulamentada - conforme

considerações finais do laudo acostado ao mov. 5.39), em plena via urbana, em

um aclive e no período noturno, circunstâncias que o impossibilitavam de ter

uma perfeita visão do que e de quantas pessoas poderiam se encontrar adiante.

28 COSTA Jr., Paulo José da. Curso de direito penal. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 247. 29 NUCCI, Guilherme de Souza, op. cit., 2014, pp. 188-189.

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Poder Judiciário 2ª Vara do Tribunal do Júri

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19

O excesso de velocidade caracterizador do dolo

eventual poderia, em tese, restar caracterizado por qualquer velocidade –

mesmo em grau mínimo - superior à máxima permitida para a via. Porém, no

caso concreto, restou devidamente provado pela perícia oficial que a velocidade

desenvolvida pelo acusado era compatível com autódromos ou outras pistas de

corrida, ou seja, totalmente inconciliável com uma via urbana, onde a máxima

permitida seria de 60 Km/h.

Outrossim, por residir no bairro Ecoville, nesta

Capital, e precisar se deslocar para a Assembleia Legislativa do Estado do

Paraná, o acusado tinha pleno conhecimento da via urbana que trafegava, do

seu aclive e da curva acentuada que ainda se projeta a partir do cruzamento

entre as Ruas Ivo Zanlorenzi e Paulo Gorski.

Não obstante a isso, constato que muitas das

circunstâncias acima delineadas foram utilizadas na imputação constante da

denúncia para tipificar o crime de homicídio com dolo eventual.

Nessa toada, objetivando evitar um odioso bis in

idem, deixo de reconhecer essas circunstâncias para majorar a pena-base.

g) Consequências

As consequências do delito, para fins de fixação de

pena-base, afiguram-se como o dano, causado a vítima ou a terceiros, que ultrapassa

o resultado do próprio tipo penal praticado.

Não se confundem com a consequência natural tipificadora do ilícito praticado. É um grande equívoco afirmar – no crime de homicídio, por exemplo – que as consequências foram graves porque a vítima morreu. Ora, a morte da vítima é resultado natural, sem o qual não haveria o homicídio. Agora, podem ser consideradas graves as consequências, porque a vítima, arrimo de família, deixou ao desamparo quatro filhos menores, cuja mãe não possui qualificação profissional, por exemplo. Importa, é verdade, analisar a maior ou menor

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danosidade decorrente da ação delituosa praticada ou o maior ou menor alarma social provocado, isto é, a maior ou menor irradiação de resultados, não necessariamente típicos, do crime.30

No presente caso, trata-se da morte de um jovem

em tenra idade, de forma trágica, que teve sua cabeça “arrancada” com o

impacto dos veículos, em que houve a inversão da ordem natural da vida, vale

dizer, de pais que perdem um filho.

Tamanhos foram os reflexos negativos da morte

trágica de Gilmar, que sua mãe, Christiane Yared, levantou uma bandeira de

educação no trânsito e organizou diversos eventos nesse sentido, culminando

inclusive com palestras para motoristas que perdem a Carteira Nacional de

Habilitação (CNH), reconhecimento como porta-voz para um trânsito mais

seguro e fundação do Instituto Paz no Trânsito, voltado para ações educativas,

conscientização e apoio a pessoas que perderam familiares no trânsito.

Não há dúvida que o sofrimento pela perda do jovem

filho destoa das próprias e inerentes ao delito. Portanto, desfavorável a presente

circunstância judicial.

h) Comportamento da vítima

Deve também o magistrado aferir o comportamento da

vítima, verificando se ela facilitou ou contribuiu para que o acusado executasse sua

ação criminosa ou não praticou qualquer ato neste sentido a justificar sua reação.

Segundo Mirabete, “o comportamento da vítima, embora não justifique o crime, diminui

a censurabilidade da conduta do autor do ilícito, implicando no abrandamento de

pena”31.

A participação da vítima pode consubstanciar-se em qualquer cooperação, consciente ou inconsciente, direta ou indireta, atual, recente ou remota, para prática do fato

30 BITENCOURT, Cezar Roberto, op. cit., loc. cit. 31 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Manual de direito penal. 7ª ed., São Paulo: Ed. Atlas, p. 292.

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típico. Pode consubstanciar-se ainda na cooperação apenas para qualificar ou agravar o delito. A provocação é a participação por excelência; direta e acompanhada de agressão, em certas condições, chega a compor em prol do agente a justificativa da legítima defesa.32 Analisa-se, aqui, o modo de agir da vítima que pode

contribuir à prática do crime. Segundo Miguel Reale Júnior, René Ariel Dotti, Ricardo

Andreucci e Sérgio Pitombo, “o comportamento da vítima constitui inovação com vistas

a atender aos estudos de vitimologia, pois algumas vezes o ofendido, sem incorrer em

injusta provocação, nem por isso deixa de acirrar ânimos; outras vezes estimula a

prática do delito (...)”.33

No presente caso, a vítima não contribuiu para a

prática da infração penal.

PENA-BASE

Analisando-se todas as circunstâncias previstas no artigo

59 do Código Penal, especialmente a culpabilidade, conduta social e

consequências, entendo ser necessária e suficiente para a reprovação e prevenção

do fato típico a fixação da pena-base em 08 (oito) anos de reclusão34.

Esclareço que para cada circunstância judicial

desfavorável restou fixado um aumento igualitário de 08 (oito) meses.

32 MOURA BITTENCOURT, Edgard de. Vítima: vitimologia, a dupla penal delinquente-vítima, participação da vítima no crime, contribuição da jurisprudência brasileira para a nova doutrina. São Paulo: Editora Universitária de Direito LTDA, 1971, p. 83. 33 REALE JÚNIOR, Miguel, et alii. “Penas e medidas de segurança no novo Código. ” In: NUCCI, Guilherme de Souza. Individualização da Pena. Rio de Janeiro: Forense, 2014, p. 191. 34 “[...] 2. Não há nulidade na decisão pela qual fixada a pena-base com fundamentação idônea. É inexigível a fundamentação exaustiva das circunstâncias judiciais consideradas, porquanto a sentença deve ser lida na totalidade. Precedentes. 3. O recurso ordinário em habeas corpus não se presta para ponderar, em concreto, a suficiência das circunstâncias judiciais invocadas pelas instâncias antecedentes para a majoração da pena. Precedentes. 4. Recurso ao qual se nega provimento.” (RHC 123092, Relator (a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Segunda Turma, julgado em 04/11/2014, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-224 DIVULG 13-11-2014 PUBLIC 14-11-2014).

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22

1.2. Da segunda fase: análise das circunstâncias legais

Em seu interrogatório, na primeira fase do sumário da

culpa, o acusado não negou a autoria delitiva.

Ressaltou apenas que não se recordava do acidente, e

sim de ter se retirado do restaurante Edvino e acordado no hospital.

Ao final do ato, chegou a enfatizar que “jamais gostaria

que seu caminho encontrasse o dos meninos nessa fatalidade” e que “não gostaria de

ter feito essa tragédia, causado essa fatalidade para a família Yared, para ambas as

famílias, que perderam os seus filhos”.

Durante seu interrogatório em plenário, o acusado narrou

que bebeu e dirigiu, mas, quando especificamente questionado pela acusação se

havia trafegado em alta velocidade, repetiu a alegação anterior e aduziu que não se

lembrava dos fatos.

Destarte, tendo em vista que, quando especificamente

indagado acerca dos fatos e suas circunstâncias, o acusado afirmou e ratificou que

“não se lembra”, “não se recorda”, e só lembra de ter deixado o Restaurante Edvino e

de ter acordado no hospital, deixo de considerar a atenuante da confissão

(qualificada), prevista no art. 65, III, d, do Código Penal.

Igualmente inexistem outras circunstâncias legais e incidir

no presente caso.

1.3. Da terceira fase: análise das causas de aumento e diminuição de pena

Não há causas de aumento ou de diminuição de pena a

incidir no presente caso.

2º fato - homicídio de Carlos Murilo de Almeida

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23

Valho-me das considerações doutrinárias e

jurisprudenciais realizadas anteriormente e passo à fixação da pena.

2.1. Da primeira fase: fixação da pena-base - análise das circunstâncias judiciais

do artigo 59 do Código Penal

a) Culpabilidade

O grau de reprovabilidade da conduta é elevado. O

acusado, como bem pontuou o Min. Rogério Schietti Cruz quando do voto-vista

proferido no AgRg no REsp. n. 739.762/PR, foi “insistentemente advertido para não

dirigir”35, porém, “deixou o banco de carona de outro veículo e, sem ouvir os apelos

dos que o acompanhavam, optou por realizar ações subsequentes (...) que tornaram

provável o acidente de trânsito”.

Em momento imediatamente anterior ao acidente,

enquanto dirigia seu veículo em velocidade incompatível com a via urbana, o acusado

fazia uso do seu aparelho celular (mov. 5.33), fato que torna a ação de dirigir ainda

mais perigosa, constituindo, inclusive, infração autônoma de trânsito (CTB, art. 252).

Trata-se de pessoa experiente, esclarecida e culta, eis

que exercia, na época dos fatos, a função de Deputado Estadual, contribuindo para a

elaboração de leis para o povo paranaense. A ação praticada pelo agente, além de

constituir crime, constitui ato contrário à ética e ao decoro parlamentar (art. 271, XIII,

do Regimento Interno da Alep). Não podemos esquecer que:

“Os agentes políticos exercem o poder, estando reservada à classe política a criação do sistema normativo. Exatamente por isso deles é exigível comportamento adequado à lei com maior severidade. Ninguém mais do que o responsável pela criação da regra penal, com todo o drama que ela comporta, se

35 P. 43 da decisão acima referida.

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24

encontra atrelado à sua normatização. O político que cria a lei penal para desacatá-la trai o sentido de poder que o cargo lhe proporciona. Portanto, quando ele fere a lei penal infringe não só o seu dever de cidadão, mas o poder que ostenta e que lhe foi atribuído pelo povo. Trai a confiança no sistema, servindo de um exemplo para a criminalidade e inspirando a impunidade”.(STF, AP 470, Min. Rosa Weber).

No caso concreto, portanto, vislumbro a existência de 3

(três) vetoriais negativas, fundamentadas em elementos que extrapolam os inerentes

ao tipo penal imputado, demonstrando, assim, especial reprovabilidade da conduta.

b) Antecedentes

O acusado não registra antecedentes criminais.

c) Conduta Social

No caso em análise, o elevado número de infrações de

trânsito praticadas pelo acusado - ao todo, de 22 (vinte e duas) infrações por excesso

de velocidade (mov. 3.6, p. 40/45) - aliado ao fato de que inclusive já havia sido

notificado pelo DETRAN-PR a entregar a sua CNH para cumprir a sanção de

suspensão do direito de dirigir, autorizam concluir que a sua conduta social não é

adequada (AgRg no Resp 1.217.998-SC).

d) Personalidade

Não havendo nos autos elementos suficientes para se

analisar a personalidade do acusado, a presente circunstância não pode ser

considerada na fixação da pena-base.

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25

e) Motivos

No caso em epígrafe, extrai-se da denúncia que o

acusado, conduzindo seu veículo pela Rua Monsenhor Ivo Zanlorenzi, nas

proximidades da esquina da Rua Paulo Gorski, persistiu no seu intento de satisfazer

seu egocentrismo e continuou acelerando seu possante veículo (....).

A satisfação do egocentrismo imputada ao acusado,

neste particular, não pode ser considerada em seu desfavor, sob pena de bis in idem,

uma vez que se trata de elemento integrante do dolo eventual.

f) Circunstâncias

O acusado, valendo-se de um veículo de grande

motorização, optou por desenvolver uma velocidade extremamente excessiva (de 161

a 173 Km/h, 168% a 188% superior à regulamentada - conforme considerações finais

do laudo acostado ao mov. 5.39), em plena via urbana, em um aclive e no período

noturno, circunstâncias que o impossibilitavam de ter uma perfeita visão do que e de

quantas pessoas poderiam se encontrar adiante.

O excesso de velocidade caracterizador do dolo eventual

poderia, em tese, restar caracterizado por qualquer velocidade – mesmo em grau

mínimo - superior à máxima permitida para a via. Porém, no caso concreto, restou

devidamente provado pela perícia oficial que a velocidade desenvolvida pelo acusado

era compatível com autódromos ou outras pistas de corrida, ou seja, totalmente

inconciliável com uma via urbana, onde a máxima permitida seria de 60 Km/h.

Outrossim, por residir no bairro Ecoville, nesta Capital, e

precisar se deslocar para a Assembleia Legislativa do Estado do Paraná, o acusado

tinha pleno conhecimento da via urbana que trafegava, do seu aclive e da curva

acentuada que ainda se projeta a partir do cruzamento entre as Ruas Ivo Zanlorenzi e

Paulo Gorski.

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26

Não obstante a isso, constato que muitas das

circunstâncias acima delineadas foram utilizadas na imputação constante da denúncia

para tipificar o crime de homicídio com dolo eventual.

Nessa toada, objetivando evitar um odioso bis in

idem, deixo de reconhecer essas circunstâncias para majorar a pena-base.

g) Consequências

No presente caso, trata-se da morte de um jovem em

tenra idade, de forma trágica, em que houve a inversão da ordem natural da vida, vale

dizer, de pais que perdem um filho.

Não há dúvida que o sofrimento pela perda do jovem

filho destoa das próprias e inerentes ao delito. Portanto, desfavorável a presente

circunstância judicial.

h) Comportamento da vítima

A vítima não contribuiu para a prática da infração penal.

PENA-BASE

Analisando-se todas as circunstâncias previstas no artigo

59 do Código Penal, especialmente a culpabilidade, conduta social e

consequências do crime, entendo ser necessária e suficiente para a reprovação e

prevenção do fato típico a fixação da pena-base em 07 anos e 10 meses de reclusão.

Esclareço que restou fixado um aumento igualitário de 08

(oito) meses para a culpabilidade e conduta social.

Já para as consequências do crime, o aumento foi de 06

(seis) meses.

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01/03/2018: PROFERIDA SENTENÇA CONDENATÓRIA. Arq: sentença condenatória

Autor: Ministério Público Réu: Luiz Fernando Ribas Carli Filho

Autos nº 0000183-20.2009.8.16.0006

PP Daniel R. Surdi de Avelar

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27

2.2. Da segunda fase: análise das circunstâncias legais

Em seu interrogatório, na primeira fase do sumário da

culpa, o acusado não negou a autoria delitiva.

Ressaltou apenas que não se recordava do acidente, e

sim de ter se retirado do restaurante Edvino e acordado no hospital.

Ao final do ato, chegou a enfatizar que “jamais gostaria

que seu caminho encontrasse o dos meninos nessa fatalidade” e que “não gostaria de

ter feito essa tragédia, causado essa fatalidade para a família Yared, para ambas as

famílias, que perderam os seus filhos”.

Durante seu interrogatório em plenário, o acusado narrou

que bebeu e dirigiu, mas, quando especificamente questionado pela acusação se

havia trafegado em alta velocidade, repetiu a alegação anterior e aduziu que não se

lembrava dos fatos.

Destarte, tendo em vista que, quando especificamente

indagado acerca dos fatos e suas circunstâncias, o acusado afirmou e ratificou que

“não se lembra”, “não se recorda”, e só lembra de ter deixado o Restaurante Edvino e

de ter acordado no hospital, deixo de considerar a atenuante da confissão

(qualificada), prevista no art. 65, III, d, do Código Penal.

Igualmente inexistem outras circunstâncias legais e incidir

no presente caso.

2.3. Da terceira fase: análise das causas de aumento e diminuição de pena

Também não há incidência de qualquer hipótese de

aumento ou de diminuição de pena.

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3º fato - crime conexo de violação da suspensão da habilitação para dirigir

veículo automotor

Valho-me das considerações doutrinárias e

jurisprudenciais realizadas anteriormente e passo à fixação da pena.

3.1. Da primeira fase: fixação da pena-base – análise das circunstâncias judiciais

do artigo 59 do Código Penal

a) Culpabilidade

Trata-se de pessoa experiente, esclarecida e culta, eis

que exercia, na época dos fatos, a função de Deputado Estadual, contribuindo para a

elaboração de leis para o povo paranaense. A ação praticada pelo agente, além de

constituir crime, constitui ato contrário à ética e ao decoro parlamentar (art. 271, XIII,

do Regimento Interno da Alep). Não podemos esquecer que:

“Os agentes políticos exercem o poder, estando reservada à classe política a criação do sistema normativo. Exatamente por isso deles é exigível comportamento adequado à lei com maior severidade. Ninguém mais do que o responsável pela criação da regra penal, com todo o drama que ela comporta, se encontra atrelado à sua normatização. O político que cria a lei penal para desacatá-la trai o sentido de poder que o cargo lhe proporciona. Portanto, quando ele fere a lei penal infringe não só o seu dever de cidadão, mas o poder que ostenta e que lhe foi atribuído pelo povo. Trai a confiança no sistema, servindo de um exemplo para a criminalidade e inspirando a impunidade”.(STF, AP 470, Min. Rosa Weber).

No caso concreto, portanto, vislumbro a existência de 3

(três) vetoriais negativas, fundamentadas em elementos que extrapolam os inerentes

ao tipo penal imputado, demonstrando, assim, especial reprovabilidade da conduta.

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b) Antecedentes

O acusado não registra antecedentes criminais.

c) Conduta social

No caso em análise, o elevado número de infrações de

trânsito praticadas pelo acusado - ao todo, de 22 (vinte e duas) infrações por excesso

de velocidade (mov. 3.6, p. 40/45) - aliado ao fato de que inclusive já havia sido

notificado pelo DETRAN-PR a entregar a sua CNH para cumprir a sanção de

suspensão do direito de dirigir, autorizam concluir que a sua conduta social não é

adequada (AgRg no Resp 1.217.998-SC).

d) Personalidade

Não havendo nos autos elementos suficientes para se

analisar a personalidade do acusado, a presente circunstância não pode ser

considerada na fixação da pena-base.

e) Motivos

Os motivos do crime não interferem na fixação da pena-

base.

f) Circunstâncias

As circunstâncias do crime são próprias do tipo penal.

g) Consequências

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No presente caso, as consequências do crime não

autorizam a elevação da pena base.

h) Comportamento da vítima

A vítima não contribuiu para a prática da infração penal.

PENA-BASE

Analisando-se todas as circunstâncias previstas no artigo

59 do Código Penal, especialmente a culpabilidade e a conduta social, entendo ser

necessária e suficiente para a reprovação e prevenção do fato típico a fixação da

pena-base em 08 meses de detenção36.

3.2. Da segunda fase: análise das circunstâncias legais

Não há circunstâncias legis a incidir no presente caso.

3.3. Da terceira fase: análise das causas de aumento e diminuição de pena

Não há incidência de qualquer hipótese de aumento ou

de diminuição de pena.

36 “[...] 2. Não há nulidade na decisão pela qual fixada a pena-base com fundamentação idônea. É inexigível a fundamentação exaustiva das circunstâncias judiciais consideradas, porquanto a sentença deve ser lida na totalidade. Precedentes. 3. O recurso ordinário em habeas corpus não se presta para ponderar, em concreto, a suficiência das circunstâncias judiciais invocadas pelas instâncias antecedentes para a majoração da pena. Precedentes. 4. Recurso ao qual se nega provimento. ” (RHC 123092, Relator (a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Segunda Turma, julgado em 04/11/2014, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-224 DIVULG 13-11-2014 PUBLIC 14-11-2014).

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31

3.4. Da pena de multa

No presente caso, a pena de multa há que ser fixada

acima do mínimo legal, em face da estrita necessidade de equiparação da sanção

pecuniária à pena privativa de liberdade.

Cumpre ressaltar que o cálculo da pena de multa deve

seguir o mesmo entendimento do modelo trifásico de aplicação da pena disposto no

artigo 68 do Código Penal, conforme entendimento do autor Rogério Greco: “(...) o

artigo 68, que prevê o critério trifásico de aplicação da pena, servirá de norte para o

julgador a fim de que possa encontrar o total de dias-multa que será aplicada ao

sentenciado”37.

Destarte, fixo ao acusado 140 dias-multa.

O valor da multa deverá ser atualizado monetariamente

(IGPM) à partir do valor do salário mínimo vigente à época dos fatos.

Ainda, resta fundamentar o valor de cada dia-multa.

Neste diapasão, deve-se analisar o contido no artigo 60,

do CP e sopesar o entendimento da doutrina majoritária, o qual indica que a

capacidade econômica do réu deve ser levada em conta.

Dessa feita, considerada a elevada capacidade

econômica do acusado, fixo o valor de cada dia-multa em 3 (três) salários mínimos

regionais do Paraná.

O valor da multa deverá ser atualizado monetariamente

(IGPM) à partir do valor do salário mínimo vigente à época dos fatos.

Segundo NUCCI,

“(...) é perfeitamente natural que se atualize a multa, para que ela não decresça o seu montante, ligado à desvalorização da moeda, deixando de ter caráter aflitivo e tornando-se, até mesmo, inexequível, a partir da data fato. Nem se diga que está havendo ‘retroatividade’ indevida, pois a correção monetária não é pena, mas

37 GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: Parte geral. v.1. Rio de Janeiro: Impetus, 2006. p. 589

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32

simplesmente atualização do valor da moeda”. (Op. cit. p. 356).

3.5. Da pena final para o delito previsto no art. 307, CTB

Fixo ao acusado Luiz Fernando Ribas Carli Filho a pena

de 08 meses de detenção, com nova imposição adicional de idêntico prazo de

suspensão do direito de dirigir, bem como 140 dias-multa, sendo cada dia-multa

equivalente a 3 (três) salários mínimos regionais do Paraná.

3.6. Da prescrição retroativa - delito previsto no art. 307 do CTB

De qualquer sorte, em que pese a procedência da

denúncia em relação ao delito de violação à suspensão da habilitação para

dirigir veículo automotor (CTB, art. 307), é certo também que a pretensão

punitiva estatal resta prescrita, quando considerada a pena em concreto ora

aplicada (prescrição retroativa).

O art. 61 do CPP dispõe que “em qualquer fase do

processo, o juiz, ao reconhecer extinta a punibilidade, deverá declará-la de ofício”.

Neste particular, constato que o acusado foi condenado a

uma pena de 8 (oito) meses de detenção, e, assim, a pretensão punitiva estatal

prescreve em 2 anos, a teor do que dispõe o art. 109, inciso VI (redação da época do

fato), c/c art. 110, §1º, ambos do Código Penal.

Entre a data da publicação do acórdão que confirmou

parcialmente a decisão de pronúncia (março de 2014 - mov. 23.12) e a presente

sentença, decorreu lapso temporal superior a 2 (dois) anos.

Nesse sentido, é certo que a pretensão punitiva estatal

está prescrita (prescrição retroativa).

Ante o exposto, julgo extinta a punibilidade do

acusado Luiz Fernando Ribas Carli Filho, já qualificado, quanto à imputação do

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33

delito previsto no art. 307 da Lei nº 9.503/97, o que faço com fundamento no art.

107, inciso IV, c/c art. 109, inciso VI, ambos do Código Penal.

4. Do concurso formal de crimes

Em relação aos 2 (dois) homicídios versados nos

presentes autos, deve incidir a hipótese do concurso formal, eis que, mediante uma só

ação, o acusado praticou 2 (dois) resultados típicos, devendo ser aplicada a mais

grave das penas cabíveis e aumentada.

O Colendo Superior Tribunal de Justiça, por sua vez, já

firmou entendimento no sentido de que o aumento da pena decorrente do concurso

formal próprio é calculada com base no número de infrações penais cometidas,

aplicando-se a fração de aumento de 1/6 pela prática de 2 (duas) infrações.

Destaco:

PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO PRÓPRIO. INADEQUAÇÃO. ROUBO MAJORADO. DOSIMETRIA. PENA-BASE ACIMA DO MÍNIMO LEGAL. CONSEQUÊNCIAS DO CRIME. ACENTUADO ABALO PSICOLÓGICO CAUSADO ÀS VÍTIMAS. QUANTUM DE AUMENTO PELA AGRAVANTE DO ART. 61, II, "H", DO CP. PROPORCIONALIDADE. EXASPERAÇÃO PELA INCIDÊNCIA DAS DUAS MAJORANTES DO CRIME DE ROUBO. JUSTIFICAÇÃO CONCRETA. VIOLAÇÃO DA SÚMULA 443/STJ NÃO EVIDENCIADA. INCREMENTO EXCESSIVO PELO CONCURSO FORMAL PRÓPRIO. WRIT NÃO CONHECIDO. ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO. 1. Esta Corte e o Supremo Tribunal Federal pacificaram orientação no sentido de que não cabe habeas corpus substitutivo do recurso legalmente previsto para a hipótese, impondo-se o não conhecimento da impetração, salvo quando constatada a existência de flagrante ilegalidade no ato judicial impugnado. 2. A individualização da pena é submetida aos elementos de convicção judiciais acerca das circunstâncias do crime, cabendo às Cortes Superiores apenas o controle da legalidade e da constitucionalidade dos critérios empregados, a fim de evitar eventuais arbitrariedades. Dessarte, salvo flagrante ilegalidade, o reexame das circunstâncias judiciais e os critérios concretos de individualização da pena mostram-se inadequados à estreita via do writ, pois exigiriam revolvimento probatório. 3. As consequências do crime consistem no

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conjunto de efeitos danosos provocados pelo crime. No caso em tela, essa circunstância mostrou-se de extrema gravidade, porquanto além de não ter sido recuperado o objeto do roubo, a ação criminosa gerou trauma às vítimas, o que as levou a mudar de residência, sendo que o abalo psicológico experimentado por uma das ofendidas ocasionou a necessidade de largo período de tratamento. 4. A aplicação de circunstâncias atenuantes ou agravantes, isoladamente, enseja a incidência da fração paradigma de 1/6 para o devido ajuste da pena na segunda fase. Ressalte-se que as agravantes ou atenuantes não necessariamente incidirão sobre a pena-base, somente ocorrendo se esta for maior ou igual ao intervalo de pena em abstrato do preceito secundário, caso contrário, malgrado haja pena concreta dosada, sob pena de as agravantes tornarem-se menos gravosas e as atuantes menos benéficas do que as meras circunstâncias judiciais da primeira etapa, o que subverteria o sistema hierárquico da dosimetria trifásica. 5. As instâncias ordinárias fundamentaram concretamente a exasperação da pena em 3/8 na terceira fase da dosimetria, sem que reste evidenciada violação da Súmula 443/STJ. Em verdade, as circunstâncias concretas do delito, praticado mediante o emprego de arma de fogo e um canivete, em concurso de três agentes, denota a necessidade de maior resposta penal, em atendimento ao princípio da individualização da pena e, portanto, não se infere ilegalidade no aumento superior a 1/3 pela incidência das duas majorantes do crime de roubo. 6. O concurso formal próprio ou perfeito (CP, art. 70, primeira parte) foi criado com intuito de favorecer o réu nas hipóteses de pluralidade de resultados não derivados de desígnios autônomos, afastando-se, pois, os rigores do concurso material (CP, art. 69). Nesse diapasão, o parágrafo único do art. 70 do Código Penal impõe o

afastamento da regra da exasperação, se esta se mostrar prejudicial ao réu, em comparação com o cúmulo material. 7. Nos termos da jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça, o aumento da pena decorrente do concurso formal próprio é calculada com base no número de infrações penais cometidas, que concretizará a fração de aumento abstratamente prevista (1/6 a 1/2), exasperando-se a pena do crime de maior reprimenda. Nesses termos, aplica-se a fração de aumento de 1/6 pela prática de 2 infrações; 1/5, para 3 infrações; 1/4 para 4 infrações; 1/3 para 5 infrações e 1/2 para 6 ou mais infrações. Nesse passo, tratando-se de duas infrações praticadas em concurso formal próprio, deve incidir o aumento na fração de 1/6. 8. Habeas corpus não

conhecido. Ordem concedida, de ofício, para reduzir a pena definitiva do paciente WALLACE RIBEIRO para 9 anos e 8 meses de reclusão e aquelas impostas aos

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pacientes MARCOS VINICIUS SOARES RIBEIRO e FELIPE JUVENCIO DA SILVA para 8 anos e 7 dias de reclusão, mantendo-se, no mais, o teor do decreto condenatório. (HC 379811, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em 26/09/2017, DJe 06/10/2017).

Desta forma, e considerando que sobrevieram 2 (dois)

resultados típicos, deve ser aplicada a pena do crime mais grave (homicídio de Gilmar

Rafael Souza Yared), aumentada de 1/6 (um sexto), restando a reprimenda fixada

em 9 (nove) anos e 4 (quatro) meses de reclusão.

5. Da pena definitiva

Fixo ao acusado Luiz Fernando Ribas Carli Filho a

pena definitiva de 9 (nove) anos e 4 (quatro) meses de reclusão.

6. Da detração penal e do regime inicial de cumprimento de pena

O acusado Luiz Fernando Ribas Carli Filho respondeu

ao presente feito em liberdade, de modo que, nos termos do disposto pelo artigo 33,

§2º, alínea “a”, do CP, e observada a regra inserta no artigo 387, §2°, do CPP38, fixo

para o início de cumprimento da pena privativa de liberdade o regime fechado.

7. Da substituição das penas privativas de liberdade por restritivas de direitos

38 § 2o O tempo de prisão provisória, de prisão administrativa ou de internação, no Brasil ou no estrangeiro, será computado para fins de determinação do regime inicial de pena privativa de liberdade.

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PROJUDI - Processo: 0000183-20.2009.8.16.0006 - Ref. mov. 341.1 - Assinado digitalmente por Daniel Ribeiro Surdi de Avelar:10850

01/03/2018: PROFERIDA SENTENÇA CONDENATÓRIA. Arq: sentença condenatória

Autor: Ministério Público Réu: Luiz Fernando Ribas Carli Filho

Autos nº 0000183-20.2009.8.16.0006

PP Daniel R. Surdi de Avelar

Poder Judiciário 2ª Vara do Tribunal do Júri

Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba

36

Impossível a substituição da pena conforme art. 44, inciso

I, do Código Penal, eis que a pena privativa de liberdade imposta é superior a quatro

anos e se trata de crimes praticados com violência.

8. Da suspensão condicional da pena

Não é possível a concessão aos réus do benefício da

suspensão condicional da pena, nos termos do art. 77, caput, do Código Penal.

9. Dos efeitos da condenação (art. 91 e 92 do CP)

9.1. Do dever de indenizar

A teor do art. 91, inc. I, do CP, a obrigação de indenizar o

dano causado pelo crime é efeito automático da sentença penal condenatória.

De outro lado, dispõe o art. 387, inciso IV, do CPP, que o

juiz, ao proferir sentença condenatória, fixará valor mínimo para reparação dos danos

causados pela infração, considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido.

Ocorre que no presente caso não houve a apuração de

eventuais danos no curso da instrução criminal. Ademais, a fixação de indenização

pressupõe a prévia manifestação do acusado sobre os danos propriamente ditos - a

fim de se evitar cerceamento de defesa - o que também não ocorreu39.

Para Andrey Borges de Mendonça40, em situações

excepcionais, devidamente justificadas, poderá ocorrer de o magistrado não ter

elementos suficientes para fixar o valor da indenização, sequer em seu mínimo legal,

exatamente como no caso dos presentes autos.

39 STJ, REsp 1176708/RS, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR; TJPR Ap. Crime 0717826-9 e 0648523-4. 40 MENDONÇA, Andrey Borges de. Nova Reforma do Código de Processo Penal. São Paulo: Método, 2008. p. 242.

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01/03/2018: PROFERIDA SENTENÇA CONDENATÓRIA. Arq: sentença condenatória

Autor: Ministério Público Réu: Luiz Fernando Ribas Carli Filho

Autos nº 0000183-20.2009.8.16.0006

PP Daniel R. Surdi de Avelar

Poder Judiciário 2ª Vara do Tribunal do Júri

Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba

37

Nessa toada, deixo de fixar valor mínimo para reparação

dos prejuízos causados pela prática da infração penal.

9.2. Dos efeitos secundários específicos

Não há efeitos secundários específicos da condenação,

eis que não se verificam as hipóteses do art. 92, do Código Penal, no presente caso.

IV - Do direito de apelar em liberdade e a fixação da medida cautelar de

comparecimento mensal em Juízo

Recentemente, a 1ª Turma do STF, a partir de

divergência aberta com o voto do ministro Luís Roberto Barroso, avançou para afirmar

que “a prisão de réu condenado por decisão do Tribunal do Júri, ainda que sujeita a

recurso, não viola o princípio constitucional da presunção de inocência ou não

culpabilidade” (HC 118.770, Rel. Min. Marco Aurélio, redator do acórdão Min. Luís

Roberto Barroso, j. 07/03/2017).

Para o ministro Barroso:

“(...) a presunção de inocência é princípio (e não regra) e, como tal, pode ser aplicada com maior ou menor intensidade, quando ponderada com outros princípios ou bens jurídicos constitucionais colidentes. No caso específico da condenação pelo Tribunal do Júri, na medida em que a responsabilidade penal do réu já foi assentada soberanamente pelo Júri, e o Tribunal não pode substituir-se aos jurados na apreciação de fatos e provas (CF/1988, artigo 5º, XXXVIII, c), o princípio da presunção de inocência adquire menor peso ao ser ponderado com o interesse constitucional na efetividade da lei penal, em prol dos bens jurídicos que ela visa resguardar (CF/1988, artigos 5º, caput e LXXVIII e 144). Assim, interpretação que interdite a prisão como consequência da condenação pelo Tribunal do Júri representa proteção insatisfatória de direitos fundamentais, como a vida, a dignidade humana e a integridade física e moral das pessoas”.

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01/03/2018: PROFERIDA SENTENÇA CONDENATÓRIA. Arq: sentença condenatória

Autor: Ministério Público Réu: Luiz Fernando Ribas Carli Filho

Autos nº 0000183-20.2009.8.16.0006

PP Daniel R. Surdi de Avelar

Poder Judiciário 2ª Vara do Tribunal do Júri

Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba

38

Porém, o mesmo STF já teve a oportunidade de destacar

que a soberania dos veredictos não é sinônimo de uma intangibilidade jurídico-

processual.

Nesse sentido, é de rigor o voto do Min. Moreira Alves:

“A soberania dos veredictos do Júri — não obstante a sua extração constitucional — ostenta valor meramente relativo, pois as manifestações decisórias emanadas do Conselho de Sentença não se revestem de intangibilidade jurídico-processual. A competência do Tribunal do Júri, embora definida no texto da Lei Fundamental da República, não confere a esse órgão especial da Justiça comum o exercício de um poder incontrastável e ilimitado. As decisões que dele emanam expõem-se, em consequência, ao controle recursal do próprio Poder Judiciário, a cujos Tribunais compete pronunciar-se sobre a regularidade dos veredictos. A apelabilidade das decisões emanadas do Júri, nas hipóteses de conflito evidente com a prova dos autos, não ofende o postulado constitucional que assegura a soberania dos veredictos desse Tribunal Popular” (HC 68.658, rel. min. Celso de Mello, 1ª Turma, j. 6/8/1991)”.

No mesmo sentido: HC 70.193, rel. min. Celso de Mello,

1ª Turma, j. 21/09/1993.

É a mesma conclusão de parcela considerável da

doutrina:

“A soberania dos veredictos do Júri — não obstante a sua extração constitucional — ostenta valor “Fosse absoluta a soberania, não se justificaria o Tribunal de apelação determinar um novo julgamento” (GIACOMOLLI, Nereu José. O Devido Processo Penal: abordagem conforme a CF e o Pacto de São José da Costa Rica. 3ª ed. São Paulo: Atlas, 2016, p. 458). “A possibilidade de revisão [das decisões do Júri] justifica-se pela estrutura do Estado Democrático, em que inexistem atividades de poder estatal ‘absolutas’”, concluindo que “Ao não se admitir a revisão dos veredictos (numa imperfeita visualização do primado constitucional), estar-se-ia instituindo uma função estatal

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39

sem controle, impensável no sistema do Estado de Direito”. (CHOUKR, Fauzi Hassan. Código de Processo Penal: comentários consolidados e crítica jurisprudencial. 6ª ed. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 1118.)

Outrossim, trata-se de entendimento consagrado perante

a 1ª Câmara Criminal do TJPR, órgão competente para julgar, dentre outras matérias,

os crimes dolosos contra a vida. Ilustro:

HABEAS CORPUS - ART. 121, CAPUT, DO CP - JÚRI - CONDENAÇÃO - DETERMINAÇÃO DE INÍCIO IMEDIATO DO CUMPRIMENTO DA PENA E NEGADO DIREITO DE RECORRER EM LIBERDADE - ALEGAÇÃO DE QUE FOI FEITO USO DE PRECEDENTES INAPLICÁVEIS PARA FUNDAMENTAÇÃO DA EXECUÇÃO PROVISÓRIA DA PENA - ASSISTE RAZÃO AO IMPETRANTE - HC Nº 126.292, DO STF POSSIBILITA A EXECUÇÃO PROVISÓRIA DA PENA DESDE QUE HAJA CONFIRMAÇÃO DA SENTENÇA PENAL CONDENATÓRIA EM SEGUNDO GRAU DE JURISDIÇÃO E NÃO APENAS CONDENAÇÃO PELO TRIBUNAL DO JÚRI - ALEGAÇÃO DE QUE A R.

SENTENÇA CARECE DE FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA QUANTO A MANUTENÇÃO DA Corpus Crime nº 1.650.773-6 fl. 2PRISÃO PREVENTIVA DO PACIENTE - OCORRÊNCIA - NECESSIDADE DE GARANTIR A APLICAÇÃO DA LEI PENAL, ENTRETANTO, MAIS ADEQUADA A SUBSTITUIÇÃO DA CONSTRIÇÃO CAUTELAR POR MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS DA PRISÃO - CONSTRANGIMENTO ILEGAL CARACTERIZADO - ORDEM CONHECIDA E CONCEDIDA, CONFIRMANDO-SE A LIMINAR. (TJPR - 1ª C.Criminal - HCC - 1650773-6 - Curitiba - Rel.: Benjamim Acacio de Moura e Costa - Unânime - J. 14.12.2017).

De outro giro, é correto afirmar que a decisão

condenatória proferida pelo Tribunal do Júri fere com maior intensidade o princípio da

presunção da inocência do acusado, diante do seu grau de estabilidade e pelas

escassas possibilidades recursais.

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40

O recurso de apelação, por exemplo, meio impugnativo

próprio para questionar as decisões do conselho de sentença, apenas pode ser

admitido em hipóteses restritas - por isso, chamada de “apelação vinculada” – e o

mérito da decisão leiga não pode ser revisto diretamente pela justiça togada.

Compete ao magistrado zelar cautelarmente pela correta

aplicação da lei penal, a qual, diante da sentença condenatória lavrada após a decisão

proferida pelo Tribunal do Júri, encontra-se em iminente estágio de ebulição e

concretização.

Nessa toada, uma vez que o réu foi condenado a uma

pena de 9 (nove) anos e 4 (quatro) meses de reclusão, em regime inicial fechado, a

fixação de uma cautelar diversa da prisão mostra-se razoável, proporcional e

compatível com a futura sanção a ser executada, caso a pena seja confirmada pelo

Tribunal de Justiça do Estado do Paraná.

O fato do réu ter sido sempre localizado no endereço

constante dos autos para ser intimado, não ter praticado outras infrações penais e

possuir ocupação lícita, não interfere no raciocínio que ora se expõe, uma vez que, a

partir de agora, ostenta uma sentença condenatória em seu desfavor a ser cumprida -

caso mantida - em regime inicial fechado, sendo natural que, em futuro próximo,

encontre estímulos para se furtar à aplicação da lei penal.

Diante disso, decreto em seu desfavor a medida

cautelar prevista no art. 319, I, do CPP, com a obrigação de comparecimento

mensal em juízo para informar e justificar suas atividades.

Expeça-se carta precatória para a comarca de

Guarapuava/PR, a fim de dar início ao cumprimento da medida de

comparecimento mensal, cuja data e horário poderão ser definidos por aquele

Juízo, solicitando-se, também, o envio de relatório mensal acerca do

cumprimento da medida.

Fica desde já o acusado advertido quanto à

possibilidade de decretação de sua prisão preventiva em caso de

descumprimento da medida, conforme disposto no art. 282, §4º do Código de

Processo Penal.

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41

V - Disposições finais

Comuniquem-se os familiares das vítimas, nos termos do

art. 201, § 2º, do CPP, observando-se o disposto no item 6.13.1.2 do Código de

Normas.

Após o trânsito em julgado:

a) procedam-se às comunicações necessárias, inclusive

ao Tribunal Regional Eleitoral;

b) calculem-se as custas, intimando-se o réu para

pagamento no prazo de 10 (dez) dias;

c) expeça guia para a execução da reprimenda imposta

(LEP, art. 105);

d) cumpra-se as demais determinações pertinentes do

Código de Normas da Egrégia Corregedoria Geral de Justiça;

Dou a presente sentença por publicada, ficando as partes

desde já intimadas. Registre-se.

Curitiba, 28 de fevereiro de 2018.

DANIEL R. SURDI DE AVELAR

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