mídia e cultura da paz - principal · 2013-10-03 · roduzir um jornal sobre a mídia e a cultura...

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2 naínteGra

Mídia e Cultura da PazEditorialEditorialEditorialEditorialEditorial

roduzir um jornal sobre a mídia e a cultura da paz foi aproposta dos alunos da 4ª Série Noturna do Curso decomunicação Social – Jornalismo, da Universidade Norte

do Paraná. A edição hoje apresentada é fruto de uma reflexão so-bre a responsabilidade social do jornalista e a formação universitá-ria necessária para que os objetivos mais altos da profissão de jor-nalista sejam alcançados.

Foram muitas as questões tratadas, considerando o Movimen-to da Mídia pela Paz, que está cada vez mais abrangente e quepropõe a discussão das formas de atuação profissional para quehaja uma mudança na situação geral deste mundo globalizado queestá cada dia mais sem direção.

Os jornalistas formados pela Unopar, além das disciplinas téc-nicas, desenvolveram conteúdos humanísticos, baseados sobretu-do na ética, a fim de atender à própria missão da instituição que é ade “promover o desenvolvimento integral do ser humano, sua for-mação profissional e seu crescimento individual e coletivo, dentrodos valores da ética, da solidariedade e da cidadania, bem como ageração de conhecimento educacional e tecnológico, buscando con-solidar-se como centro de referência regional e nacional por meiode ações de excelência em ensino, pesquisa, extensão e pós-gradu-ação, participando ativamente do processo de desenvolvimento re-gional”.

Nós, da Unopar – alunos, professores, coordenadores e admi-nistração - somos otimistas e acreditamos em um mundo melhor.Por isso, está contemplado, no curso, o desenvolvimento dacriatividade e do senso crítico necessários ao atendimento rápido,efetivo e eficaz para as novas demandas mundiais, sob forma devárias linguagens e conteúdos dos problemas cotidianos do cida-dão deste novo século, pelo conhecimento e compreensão de seumodo de pensar e agir. Busca-se, portanto, uma formação queprioriza com a mesma intensidade os aspectos conceituais, filosó-ficos, éticos, sociológicos, e tecnológicos, imprescindíveis às práti-cas da Comunicação pelo Jornalismo.

Temos a certeza de formar profissionais de Jornalismo comcapacidade investigativa, narrativa, expositiva e opinativa, que efe-tivem o registro de fatos comprometidos com a cidadania, usandoadequadamente as linguagens que caracterizam os meios impres-sos, eletrônicos e virtuais, com coerência e sentido de inovação.

Enfim, formar cidadãos, enfatizando seu preparo profissional,sensíveis, abertos e comprometidos com a construção de uma so-

No mundo atual, há confusão de valores e muitas pessoas já não conseguem discernir ocorreto do errado. A mídia tem mostrado um mundo desajustado e por isso é precisolutar por um jornalismo pela paz

ciedade mais humana e justa, capazes de considerar que no centrode suas atividades profissionais está a criatura humana, é um dosnossos propósitos.

Nesta experiência, o primeiro conceito tratado foi o de Paz.Paz para o ser humano como indivíduo e paz para o mundo, doponto de vista coletivo. Na verdade, a Paz é o resultado de váriosfatores sociais, emocionais, econômicos, políticos e para alcançá-lahá necessidade de perseverança e projeto.

A mídia tem mostrado um mundo desajustado. Há confusãode valores. Muitas pessoas já não conseguem discernir o corretodo errado. Temos muitos problemas com o meio ambiente e asegurança é um ideal difícil de ser atingido. Nossas crianças preci-sam de educação, nossos jovens necessitam de orientação e nossosvelhos, de mais amor. A saúde está ameaçada e o Estado pouco fazpara mudar a situação.

Muita gente reclama que a mídia apresenta uma quantidadeimensa de problemas, muitas vezes de forma equivocada e semresponsabilidade. De fato, algumas vezes a mídia extrapola na sele-ção, na linguagem e no enfoque das matérias. Na verdade, refleteuma sociedade que precisa parar e renovar.

Esta é a hora de tomada de decisão. Os jornalistas, de formageral, estão questionando o fazer jornalístico tradicional e seengajando em uma prposta inovadora. É preciso, sim, ter consci-ência de que se pode fazer alguma coisa para mudar a situação.Mudar o mundo talvez seja uma proposta idealista demais, mascomeçar o processo de conscientização da sociedade, a partir daprópria ação jornalística, já é um passo. Queremos uma mídia queconstrói, não uma que simplesmente relate fatos como se nadativesse a ver consigo e com o outro.

Devemos iniciar estabelecendo o diálogo entre os profissionaisda comunicação para refletir sobre os efeitos das mensagens einspirar uma visão apreciativa dos fatos. Os jornalistas que têmesse compromisso com a Paz compreendem que neste momento ahumanidade precisa de um sentido sobre o que é melhor para ofuturo do mundo. E se dispõem a fortalecer o papel da mídia, ex-pandindo consciências, por meio da escolha de conteúdos cons-trutivos, para ampliar a esperança e a capacidade de produzir açõesque promovam a vida.

Nas páginas a seguir, jornalistas expõem sua maneira pessoalde produzir informação comprometida com a melhoria da socie-dade, tendo a Paz.como objetivo final.

Jornal

Especial JEspecial JEspecial JEspecial JEspecial Jornalistas pela Pazornalistas pela Pazornalistas pela Pazornalistas pela Pazornalistas pela Paz

Ano 5 - Nº 13 - julho-2008

Publicação dos alunos da 4ª Série

Noturna do Curso de

Comunicação Social – Jornalismo,

da UNOPAR – Universidade

Norte do Paraná

ChancelerChancelerChancelerChancelerChanceler

Marco Antônio Laffranchi

ReitoraReitoraReitoraReitoraReitora

Elisabeth Bueno Laffranchi

Vice-ReitoraVice-ReitoraVice-ReitoraVice-ReitoraVice-Reitora

Wilma Jandre Melo

Pró-Reitor de Ensino e ExtensãoPró-Reitor de Ensino e ExtensãoPró-Reitor de Ensino e ExtensãoPró-Reitor de Ensino e ExtensãoPró-Reitor de Ensino e Extensão

Hélio Navarro

DirDirDirDirDiretor do CCETetor do CCETetor do CCETetor do CCETetor do CCET

Fábio Renan Durand

CoorCoorCoorCoorCoordenadora do Cursodenadora do Cursodenadora do Cursodenadora do Cursodenadora do Curso

de Comde Comde Comde Comde Comunicação Socialunicação Socialunicação Socialunicação Socialunicação Social

Leange Severo Alves

EQUIPE EDITEQUIPE EDITEQUIPE EDITEQUIPE EDITEQUIPE EDITORIALORIALORIALORIALORIAL

PrPrPrPrProfofofofofessoressoressoressoressores Responsáves Responsáves Responsáves Responsáves Responsáveis:eis:eis:eis:eis:

Érika Pelegrino (MTb 2910) e

Lauriano Benazzi (MTb 4847)

PrPrPrPrProjeto gráfojeto gráfojeto gráfojeto gráfojeto gráficoicoicoicoico,,,,, diagramação diagramação diagramação diagramação diagramação,,,,,

editoração eletrônicaeditoração eletrônicaeditoração eletrônicaeditoração eletrônicaeditoração eletrônica

Lauriano Benazzi

Talita Martinuci e

Paulo Sérgio de Pietro Guimarães

Pauta,Pauta,Pauta,Pauta,Pauta, Repor Repor Repor Repor Reportagem e Ediçãotagem e Ediçãotagem e Ediçãotagem e Ediçãotagem e Edição

Antônio Henrique Galhasce,

Denise do Carmo Vicente,

Felipe da Silva Montoya,

Fernanda Rodrigues Bordin,

Joilson Borges Demuner Filho,

Josemara Aparecida de Jesus Lisboa,

Maeva Moreira Alves de Moraes,

Manoela Armanhi Souza,

Mariana Haga Fontanini,

Nadel Godoy da Silva Ribeiro,

Patrícia Gabriel Ricci,

Priscila França da Silva,

Talita Francinne Martinuci e

Thatiane Aparecida Rodrigues Pereira

ImprImprImprImprImpressãoessãoessãoessãoessão

Jornal de Londrina

TiragemTiragemTiragemTiragemTiragem

1000 exemplares

CorCorCorCorCorrrrrrespondênciaespondênciaespondênciaespondênciaespondência

UNOPAR – Universidade Norte

do Paraná – Campus CCET

Rua Tietê 1208 – Jardim Tabapuã

CEP 86025-230 – Londrina – PR

CoorCoorCoorCoorCoordenação de Jdenação de Jdenação de Jdenação de Jdenação de Jornalismoornalismoornalismoornalismoornalismo

(43) 3371-7484

e-mail: comunicação.social@unopar,br

Home-page: WWW.unopar.br

uando uma pessoa começa a cur-sar jornalismo, o que ela mais es-cuta na universidade é que umadas funções do jornalista é a de

transmitir informações necessárias para a soci-edade para que essas colaborem com uma me-lhor convivência entre as pessoas, ajudando-asa construir o respeito pelo ser humano e ummundo melhor.

Mas as teorias estudadas nem sempre en-contram respaldo na prática. A grande mídia,algumas vezes, transforma a notícia num gran-de espetáculo, esquecendo-se de que deveria in-formar a sociedade com responsabilidade.

Usar o jornalismo para contribuir na cons-trução da paz pode ser uma maneira de mudara sociedade, já que o jornalista tem o papel deser um agente transformador. Para isso, o pro-fissional tem que procurar atuar de acordo comos seus princípios, mesmo que tenha de ir con-tra a linha editorial e comercial do veículo emque trabalha.

O produto final do jornalismo pela paz sãomensagens que carregam um conteúdo notici-oso que ajudam as pessoas a viverem melhor.Os fatos são os mesmos, mas podem ser noti-ciados com um enfoque mais positivo, evitan-do sensacionalismo. Para isso, há necessidadeque o jornalista seja formado para ser um in-térprete da realidade, sempre respaldado peloconceito de verdade, pois esse é um fator in-dispensável para garantir a democracia.

Esta é uma das justificativas da necessida-de de formação superior para o exercício daprofissão de jornalista. A discussão fica naquestão do “diploma”, mas o que importa sãoos quatro anos de discussões sobre a mídia e asociedade e as formas de atuação social maisrelevantes.

Como auxiliar nessa construção da paz paraa sociedade? Basta lembrar da perspectiva daética que indica os caminhos da justiça, da so-lidariedade e da busca pelo bem comum. Paraos jornalistas, o caminho passa pela formação

universitária, aplicando as diversas disciplinasna vida profissional.

É interessante salientar que os que usam daprofissão para ajudar na construção diária dapaz se tornam jornalistas com credibilidade.Esses jornalistas mostram ao público que usamsua profissão para passar notícias com trans-parência, interpretando fatos segundo valoresdeterminados pela cultura de cada povo.

Um dos exemplos da postura jornalísticapela paz é referente à conscientização das pes-soas e das nações em relação à conservação domeio ambiente. Muitas outras situações pode-riam esclarecer como trabalhar de forma pró-ativa, mas o importante é que fique para todosnós, alunos de jornalismo e jornalistas, que essaprofissão oferece condições de contribuir coma formação de uma sociedade mais justa e de-mocrática, o que vai se traduzir em paz.

Jornalismo pela Paz,ArArArArArtigtigtigtigtigooooo

Joilson Demuner

uma tarefa para poucos

Neide DuarNeide DuarNeide DuarNeide DuarNeide Duartetetetete

principal preocupação da jornalista da RedeGlobo, Neide Duarte, no seu exercício diárioé o de fazer um trabalho a favor da vida.

Para que isso seja realizado, Neide diz quese preocupa em mostrar o que está aconte-

cendo, apenas isso. Explicou que em casos de morte,tragédia ou de um desastre isso também aparecerá e serámostrado, podendo parecer sensacionalismo, mas nãoé, pois a tragédia também faz parte da vida. Para a jorna-lista o que não faz parte é a “forçada de barra” de “de-núncias”, coisas muitas vezes sem significado, mas quesão tratadas como uma grande notícia.

A rotina diária de mais de 30 anos de estrada comojornalista faz com que Neide trabalhe muito a questãoda imagem. Segundo ela, nem tudo o que é forte e trági-co é sensacionalista. É preciso saber separar as coisas.“A tragédia é sensacional por ela mesma, ninguém pre-cisa aumentar seu tamanho, ela já tem a sua própria di-mensão. O jornalista nessa hora não tem como não falardaquele assunto que nos atinge a todos enquanto socie-dade”, disse Neide que acrescentou que a televisão émuito acusada de sensacionalista. Basta mostrar uma cenaou entrevistar uma pessoa envolvida na tragédia e já évista dessa maneira.

No ponto de vista da repórter, um jornalista nunca

A afirmação é da jornalista da Rede Globo NeideDuarte, que busca em sua profissão como jornalistafazer matérias a favor da vida

Procuro fazerum trabalho afavor da vida”

deve esconder nada, afinal ele não tem o direito de esco-lher o que será mostrado. Para ela, o jornalista é o inter-mediário entre os dois mundos e não cabe a ele julgar oque é bom ou ruim numa reportagem. “Eu procuromostrar o que vejo, isso quer dizer, com o meu olhar.Foiassim que eu vi determinado assunto. O jornalismo,embora muitos não queiram, é uma coisa muito subjeti-va”, disse.

Para Neide as palavras também são fundamentais naconstrução de um bom texto. “Procuro nunca chamarninguém de bandido, não vejo lucro nisso, pelo contrá-rio, a pessoa assim chamada pode se sentir ‘o mocinhodas avessas’, o contrário do herói, e pode inclusive serestimulante para crianças que conhecem o bandido’”,explicou.

Tantos anos de experiência na área jornalística fize-ram com que Neide chegasse à conclusão de que nãoexiste lado positivo ou negativo, mas sim a realidade queela enxerga naquele determinado momento. Porém, nin-guém gosta de ficar o tempo todo só falando em guerrase tragédias. “Mesmo em conflitos como esses existemmomentos em que os soldados se divertem, riem unsdos outros, enfim, antes de qualquer dor, de qualquerdrama, somos primeiro pessoas que riem, que choram,contam seus dramas, suas alegrias e seus sonhos”.

Neide passou por vários veículos de comunicação,como a Folha de São Paulo e TV Cultura, o que resultouem mais de dez prêmios jornalísticos, entre eles oVladimir Hersog, Líbero Badaró e Mídia pela Paz. Atu-almente, é repórter especial da Rede Globo de São Pau-lo, onde disse não ter sofrido nenhum tipo de pressãona realização das suas matérias por não explorar o ladosensacionalista.

A jornalista disse achar que existe essa visão porquehá muito sensacionalismo em vários programas de tele-visão, que muitas vezes na falta de ter o que mostraracabe valendo “tudo”. Mas explicou que, por outro lado,existe a demanda do público. Citou o exemplo do casoIsabela, acontecimento com o qual ninguém se confor-mou até hoje. “O caso nos atingiu em cheio, não tínha-mos como escapar, independente da mídia falar sobre ocaso ou não. Queríamos notícias novas a todo momen-to, queríamos ver aquelas pessoas, se elas eram iguais anós”, explicou.

Para Neide, o compromisso com a paz evitaria tan-tas questões sobre violência. “Acho que é uma roda-viva,quanto mais notícias violentas, mais violência teremospor aí”, finalizou.

A responsabilidadetransformadorados jornalistas

Gelson NegrãoGelson NegrãoGelson NegrãoGelson NegrãoGelson Negrão

jornalista Gelson Negrão, quechefiou o departamento de jor-nalismo da TV Tarobá de Lon-

drina e atualmente é coordenador de jor-nalismo da Rede Massa, disse que a cul-tura da paz vem para aprimorar os pro-fissionais para uma boa comunicação. Umgrande problema é como os veículos es-tão utilizando a mídia. Londrina, porexemplo, possui uma determinada quan-tidade de programas policiais exibidosdiariamente e alguns deles optam pelolado sensacionalista da matéria, exploran-do o submundo do crime, de uma manei-ra, equivocada.

Para Negrão, essa programaçãojornalística, ‘no show da notícia’, do pon-to de vista policial, criou o hábito das

pessoas consumirem um conteúdo cho-cante. Este fato se deve primeiramenteporque é da cultura humana a curiosida-de de ver, observar e expiar a desgraçaalheia. E segundo, porque os própriosveículos de comunicação impuseram paraas pessoas este tipo de informação. “Ojornalismo tem que ter um perfil diferen-te, fazer um noticiário policial emitindoconceitos e opiniões. Se posicionar maisfirmemente no sentido de cobrar da au-toridade, do aparelho estatal”, comentou

“É impossível falar de cultura de pazsem fazer referência a estes programas, aeste tipo de conteúdo, especificadamentena televisão. Buscamos um foco de noti-ciar, contar e relatar os fatos. Semtripudiar, sem potencializar. Procuramos

fazer o ‘jornalismo policial’, porque temosbuscado não só a notícia, mas os seus efei-tos. Tentamos aprofundar o debate, anotícia que está por trás da desgraça”,disse Negrão.

Mais que procurar a inovação nomodo de apresentar a notícia, ocomunicador deve buscar a mudança nacultura dos cidadãos. Não apenas na pers-pectiva do noticiário policial, mas tambémvoltada para política, economia, saúde,infra-estrutura, habitação, para área deeducação, transportes. Ele disse que se osprofissionais de comunicação exploraremo que está além da notícia policial, esta-rão contribuindo, ainda que de uma ma-neira bem pequena e discreta, para cons-trução de uma cultura de paz.

Para que este processo flua, Negrãoexplica que também é necessário que to-dos os interessados, tanto os meios decomunicação quanto o telespectador, ou-vinte e leitor, tenham mentes abertas, quenão estejam voltados pela defensiva daquestão. Devem participar de todo pro-cesso, discutir seus problemas, envolven-do de uma maneira ou outra, para queesta cultura aconteça em outrosparâmetros, dentro de uma comunidade,no voto, escolhendo representantes quetenham base intelectual necessária para apaz.

“Acho que o debate tem que começardentro da academia. Devemos instigar odebate nesta questão, com engajamento,compromisso e responsabilidade. Temosum longo caminho pela frente, pois al-guém já começou esta cultura”, finalizou.

naínteGra 3 Josemara Lisboa

Nadel Godoy e Priscila França

O peso da notícia édado pela própria notícia

MarMarMarMarMarta Orta Orta Orta Orta Ortegategategategatega

ormada em jornalismo pela UniversidadeEstadual de Londrina em 1987, MartaOrtega já trabalhou em diversos veículos decomunicação, tanto impressos como TV. Há

três anos é repórter da Folha de Londrina e háquatro meses é repórter da TV Tarobá.. A profis-sional que vive o dia-a-dia da imprensa procurapassar a informação de forma clara, objetiva e ba-seada no que realmente está acontecendo, tentan-do ser o mais fiel possível à informação.

A repórter que prioriza a ética na informaçãocomenta que sempre procurou trabalhar desta for-ma e que na faculdade teve uma boa base com osprofessores. “De uma forma bem simples, apren-di que o jornalista vai contar o que está vendo,buscando todos os lados da informação, cercan-do a notícia para que ela fique o mais completapossível”.

Todos os assuntos têm que ser tratados com muito cuidado pelos jornalistas. Até um tema que parece simples, pode setornar sensacionalista, dependendo da conotação dada pelo profissional

Segundo Marta, os profissionais de comunica-ção devem se policiar todos os dias. “Muitas vezesa gente pega um tema que nos empolga e semquerer, exageramos na informação, por isso todocuidado é pouco”, disse. Ela ainda lembra o cui-dado que deve se tomar com as palavras, já que, sedistorcidas, darão outra conotação. “Sempre é pre-ciso ler e reler o texto, ver se tudo está claro antesde publicar.”

Ela concorda que as empresas jornalísticas fa-zem uma pressão para mostrar o lado mórbidoem função da questão financeira, já que a tragédiavende mais jornal e dá mais audiência nos progra-mas de TV. “Acho que se mostrássemos mais olado positivo, as pessoas também se interessari-am”, disse Marta.

De acordo com ela, é fundamental o jornalis-mo que tem a construção pela paz. E a imprensa

jornalista Flávia Lippi sem-pre teve a linha de pensa-mento de que a comunicaçãodeveria ser passada de umaforma diferente. Desta ma-

neira, buscou uma nova maneira de vei-cular a noticia, ajudando a criar o “Re-pórter Eco”, programa voltado ao meioambiente e qualidade de vida, que estáno ar há quase dezessete anos. “O pro-grama não faz denuncias, só apresenta so-luções”, descreve a jornalista.

Para a apresentadora, a mensagemtransmitida deve conscientizar as pesso-as para que possam rever suas posturas ese reorganizar diante da sociedade. “Domesmo modo que a mídia ruim influen-cia as pessoas, elas se espelham naquilo equerem fazer igual, a comunicação dobem pode fazer o mesmo papel.”

Os programas com perfis parecido como “Repórter Eco” são ignorados pela gran-de mídia. Para que este tipo de comunica-ção chegue à comunicação de massa, Lippientende que é preciso que os profissionaiscomecem a enxergar o ser humano não comuma mercadoria, um produto de venda rá-pida.

Preocupada com questões sociais, Flá-via Lippi participa de organizações be-neficentes, além de projetos e campanhaspara esse fim. Uma das instituições que ajornalista participou é o Imagens e Vo-zes de Esperança (IVE), que tem comoprincípio transmitir notícias e mensagenspositivas. “O Imagens e Vozes de Espe-rança tem para o mercado uma comuni-cação limpa, sem agressividade, contes-tando uma mídia muito antiga, que é atradicional, que a gente faz”. Sobre o por-

quê de apoiar o IVE, a jornalista co-menta que para ela a exploração do serhumano é o pior caminho para a mídia.

Quando questionada sobre o códi-go de ética do jornalismo somado aoque o IVE estabelece aos profissionaisde jornalismo, Lippi é enfática: “O có-digo de ética que rege o bom jornalistaé o código de ética que rezaria a pró-pria cartilha da vida dele, é aquilo que apessoa já é”. A intenção da jornalista,bem como de outros comunicadoresenvolvidos neste projeto, é relativa aotipo de comunicação, tentando mostrarhistórias negativas com um ponto devista de quem quer resolvê-las,conscientizando a sociedade para queexista menos violência.

Thatiane Rodrigues

Jornalismo comoforma de conscientização

Flávia LippiFlávia LippiFlávia LippiFlávia LippiFlávia Lippi

4 naínteGra

deveria aproveitar a tradição dos jornais, da TV,do rádio e a abrangência da internet, para divulgaressa questão, com matérias positivas. “Tem muitagente por aí fazendo coisas boas, simples, que po-deriam fazer tanta diferença na vida de todos.” ParaMarta, em Londrina, vários profissionais são cons-cientes em relação à forma de divulgar os fatos,mas alguns ainda fazem questão de colocar um tomsensacionalista nas matérias. Ela afirma que essa éuma realidade que vai mudando aos poucos, como amadurecimento do profissional que é sério eque deseja, realmente, informar de forma correta.

A jornalista participou da Conferência Pela Paz queaconteceu em Londrina, produzindo material para oveiculo em que trabalha e acredita que, aos poucos,com muita insistência, aparecerão os resultados.

Felipe Montoya

Flávia Lippi, jornalista da TV Cultura, procura passar um ângulo positivo mesmo emmensagens ruins, pois além de conscientizar ajuda na melhoria da sociedade

A violência está banalizadaLuka MoraesLuka MoraesLuka MoraesLuka MoraesLuka Moraes

ias atrás, a agência de notí-cias France Presse enviouum texto para a redação daFolha de Londrina que fa-

lava sobre um jovem que havia sido con-denado no Japão por matar pessoas e pra-ticar o canibalismo. Ao ler essa matéria,Maria Lúcia Kiataque, entendeu que parapublicá-la não seria necessário colocardetalhes da prática do canibalismo. “Te-nho a preocupação de evitar o excesso ea riqueza de detalhes que em minha opi-nião são desnecessários mesmo com a vi-olência tão banalizada”.

Luka Moraes começou a trabalhar em1985, como repórter de televisão, depoispassou para o impresso, e está há 11 anostrabalhando como editora no jornal Fo-lha de Londrina. Nesse período, amadu-receu a forma de pensar, pois quandocomeçou a fazer reportagens o jornalis-mo praticado era diferente dos dias atu-

Para que fotos e textos não sejam usados de maneira negativa, a editora Luka Moraesprocura, junto com os repórteres, trabalhar de maneira humanizada

ais. Não existia o Estatuto da Criança edo Adolescente nem entidades que es-clarecessem sobre a forma correta de tra-tamento a ser utilizada.

Para a editora, o sensacionalismo seresume em falta de respeito ao ser hu-mano, falta de ética e falta de compro-misso com a sociedade. Luka diz que aimprensa precisa noticiar acidentes e tra-gédias, porém é contra a constante ex-ploração do sensacionalismo. “Respon-sabilizar a mídia exclusivamente não se-ria justo já que, se o público não buscas-se esse tipo de informação, a mídia comesse foco não existiria.” Ela explica quea concorrência entre as empresas para verquem avança na cobertura ajuda a agra-var esse tipo de ação.

O jornalista, ao lidar com palavras eimagens, precisa retratar a realidade daforma mais verdadeira possível. “Nossopapel não é o de julgar, nem de promo-

ver polêmicas desnecessárias, mas de le-var a reflexões que possibilitem a buscade solução”. O respeito e a preocupaçãocom as pessoas são fundamentais noexercício de qualquer profissão, princi-palmente no jornalismo, porém esse cui-dado deve fazer parte da formação devalores de cada um, acredita Luka.

Já que uma mesma cena pode sermostrada de vários ângulos, e tanto ostextos quanto as fotos podem ser usadasde forma negativa, a editora costuma tra-balhar em conjunto com seus repórterespara que tenham um olhar mais cuida-doso, atento à humanização dos fatos.

Luka acredita que o jornalismo pelapaz pode mobilizara sociedade para queaconteça essa mudança, “Eu entendo apaz como resultado do equilíbrio, emtodas as áreas”.

Mariana Haga

A ética faz parte da pessoaGuilherme BorgesGuilherme BorgesGuilherme BorgesGuilherme BorgesGuilherme Borges

asos como o da Tanatopraxia, cujos funci-onários da Acesf - Administração de Ce-mitérios e Serviços Funerários de Londri-na - ofereciam indevidamente a técnica de

conservação de cadáveres para familiares de pessoasfalecidas, é um exemplo de escândalo que os jornalis-tas precisam cobrir em seu trabalho diário. Porém, oassunto requer cuidado especial para não se tornarmórbido ou apelativo.

O radialista e professor da Unopar, GuilhermeBorges, ao cobrir o caso, ao invés de falar sobre o queera feito com os corpos, preferiu focar nas pessoasque foram exploradas. “O fato em si já é trágico e opúblico consegue reconhecer”, explicou. Para ele,existe tragédia no mundo e a questão é saber não ex-plorar isso, Guilherme faz parte do jornalismo pró-vida, que busca passar informação correta sem preci-sar apelar para o sensacionalismo.

Entretanto, essa postura assumida por ele é es-quecida na imprensa, muitas vezes por culpa da cor-reria diária. Alguns jornalistas recebem a pauta e nãotêm tempo para pensar no assunto, outras vezes issoocorre pela própria índole dos jornalistas. Porisso, Guilherme acredita que é preciso que a ética façaparte da pessoa, pois o trabalho refletirá sua conduta.“Na hora de escrever acho que o jornalista que nãoquer explorar com sensacionalismo consegue passara mesma informação.”

O jornalista opta por alguns cuidados na hora de

Para o jornalista Guilherme Borges, na correria das redaçõesos jornalistas não têm tempo de refletir sobre o enfoque correto para a matéria

naínteGra 5

produzir seus textos, especialmente quando tratade crianças, escolhendo termos corretos - ao invés deusar a expressão ”menor infrator”, ele opta por “ado-lescente em conflito com a lei “, para que a informa-ção noticiada não atrapalhe no desenvolvimento des-ses adolescentes. Outra preocupação está naforma como ele lê a notícia, escolhendo a entonaçãoadequada, já que o ouvinte utilizará apenas sua imagi-nação para lembrar do fato, não tendo a chance deouvi-la novamente.

Muitos acreditam que as empresas de comunica-ção pressionam os jornalistas em algumas matérias,porém isso nunca aconteceu com ele. “Em três anosde redação nunca sofri nenhuma pressão, nem depúblico e nem de patrão.”

O que o jornalista deve sempre fazer é passar ainformação verdadeira, aquela que faz parte do mun-do real e não do mundo ideal. Guilherme acreditaque só desta forma é que as coisas poderão mudar.Para ele, a exploração sensacionalista acontece prin-cipalmente quando quem está produzindo a matériaé um jornalista sem formação superior. E para queisso diminua na imprensa, ele espera que os recém-formados, vindos de uma escola de jornalismo quetenha ênfase na cidadania e na educação, possam co-locar na prática o que foi aprendido na sala de aula.

Mariana Haga

6 naínteGra

“Tem que haver reflexão”Amélia GonzalesAmélia GonzalesAmélia GonzalesAmélia GonzalesAmélia Gonzales

solução para um trabalho não sensaciona-lista está em pensar, em refletir”. A afirma-ção é da jornalista Amélia Gonzalez. Seutrabalho é considerado como um trabalho

pró-vida, o que a deixa muito feliz e realizada,Há mais de 20 anos no jornal O Globo, Amélia co-

ordena atualmente a Razão Social, um segmento compublicação mensal no jornal, que destaca projetos soci-ais da iniciativa privada. “O que eu faço é uma revistaque fala sobre a responsabilidade social corporativa, ummovimento que enfatiza o papel do cidadão.”

Em seus textos, Amélia tem determinados cuida-dos, mas conta que isso não é algo apenas dela. São ospadrões do manual de redação seguidos, na maioria dasvezes, pelos veículos de comunicação.

Hoje as pessoas têm a idéia de que nos veículos da

grande imprensa não é possível trabalhar de uma for-ma que não seja a direcionada para a questão comerci-al. Amélia discordou dessa pré-conceituação.

A jornalista explicou que grandes jornais como OGlobo, que atingem o grande público, têm que ter umalinguagem mais direta, a linguagem que o público estáquerendo ouvir. Mas ao mesmo tempo ele possui seg-mentos que convidam o leitor a refletir, como a RazãoSocial. Outro exemplo citado dessas diversidades é ocaderno MAIS da Folha de São Paulo, que para Améliaé um convite à reflexão. “Como poderia ter cadernoscomo estes dentro de grandes jornais se os mesmo fos-sem voltados apenas ao sensacionalismo”?,questiona.

Amélia afirmou que a sensação que tem é que, deuns tempos para cá, começou a formar-se na cabeça doleitor uma necessidade de ver as coisas de forma rápi-

da. Isso talvez por conta da globalização Essainstantaneidade de informação faz com que os textossejam enxugados, às vezes cortando informações quepossibilitariam reflexão sobre o assunto.

Na visão dela, um grande erro está em se pensarque há apenas dois lados, o positivo e o negativo. Naverdade há uma multiplicidade e diversidade de lados.“O importante é olhar por um ângulo bastante amplo ediverso, mas isso dá trabalho”, disse.

Para a jornalista, a maneira de mudar a mídia estáem refletir. “Nós, jornalistas, precisamos parar um poucopara pensar. Ver exatamente o que estamos querendocom a matéria e o que estamos querendo ouvir. Isso fazparte de uma nova mídia, que venha depois desse qua-dro que estamos vivendo”, finalizou.

Nadel Godoy

“Precisamos parar um pouco para pensar. ver exatamente o que estamos querendocom a matéria e o que estamos querendo ouvir.”

Wilson SanchesWilson SanchesWilson SanchesWilson SanchesWilson Sanches

ma das perguntas que se faz quando o assunto é violência ejornalismo é se a mídia, especialmente a televisão, expõe emexcesso alguns fatos. O sociólogo Wilson Sanches, professor

da Unopar, analisa que as imagens de violência geram raiva, curiosidade,mexem com a emoção do público e assim prendem sua atenção.

Para Sanches, o jornalismo tem a obrigação de mostrar o que estáacontecendo na sociedade, porque esse é o papel: informar. No entanto,ele acredita que alguns aspectos do fato são mostrados exageradamente.“Quando se fala que morreram tantas pessoas em um tiroteio, isso éuma informação útil para se medir a violência na cidade. Agora, quandomostra o corpo caído no chão, extrapola a questão da notícia e vai parauma espécie de interesse mórbido”, avalia.

Segundo ele, este comportamento da mídia pode gerar reaçõesantagônicas no público: repulsa diante de cenas fortes e banalizaçãoda violência. “Ao ver essas cenas com tanta freqüência você acabaachando normal.

A linguagem da TV tem como característica básica envolver o

“As pessoas que assistem TV são enfeitiçadas e envolvidas pelo sentimento equalquer tipo de imagem que gere isso será bem aproveitada”.

“Imagens mexem com emoção”

telespectador mexendo com sua emoção. “A TV não se restringe adar informação. Tem que ser passional, afetivo, para que o públiconão se desprenda daquele programa para ver outra coisa. Então, nointuito de noticiar isso é que talvez extrapole na questão da imagem”,argumenta.

Segundo Sanches, cada vez que a pessoa vê cenas de violência pelaTV é gerada mais comoção, porque esta mídia tem a possibilidade,mais do que a palavra, de gerar algum tipo de sentimento. ”Acreditoque o público esteja atrás de sentimento, não propriamente da ima-gem da desgraça. Se for uma imagem de alguma coisa boa tambémenvolta de algum plano sentimental ele também vai querer assistir

O sociólogo destaca que a mídia através do jornalista desempe-nha o papel de cobrar os órgãos públicos e chamar a sociedade paraencontrar novas alternativas para seus problemas. “A mídia tem quefazer esse elo entre a sociedade civil e a sociedade política”, pondera.

Manoela Armanhi

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Correspondente da PazCrônicaCrônicaCrônicaCrônicaCrônica

m mais uma manhã cinzenta de domingo eume sento para tomar café. Folheio os jornais euma matéria me chama atenção. Por que umamatéria dentre tantas sobre mais um conflitome chama atenção? Não sei, mas os números

ali expostos me deixam perplexa. Mais uma vez o serhumano vira estatística, muitas vezes em uma guerraque não lhe pertencia.

Neste domingo não vou trabalhar, mas penso cadavez mais em meu trabalho. Como jornalista estou acos-tumada a encarar situações como esta. Porém a cadadia fico mais intrigada perguntando-me se haveria umamaneira de escrever sobre esses fatos de maneira dife-rente. Como escrever sobre guerra sendo de paz?

Dou uma olhada na internet e vejo que não sou aúnica a pensar em um jornalismo pela paz. E não é dehoje que jornalistas tentam mudar sua realidade, sem fa-zer o polianismo ou matérias superficiais. Este start queme deu, já passou pela cabeça de muitas outras pessoas.

Essa vontade pela paz não quer dizer que a partirde agora só vou escrever sobre coisas bonitinhas e flo-

ridas. Esses pensamentos rodam minha cabeça e fico apensar o que irei fazer para começar a mudar meu jeitode fazer jornalismo.

Minha filha que ainda estava dormindo acorda e vêminha cara de indagação. Como explicar a uma criançaas tormentas de uma cabeça adulta? Penso no que mi-nha filha vê comigo na TV. Os jornais que tanto assistoe que insisto serem fundamentais para a construção desua formação, mostram os conflitos exatamente damaneira que me incomoda.

Lembro que também sou parte desses formadoresde opinião e eu nem faço minha parte. No jornal, quantasvezes poderia fazer a diferença mas não o fiz. Não so-mente por não saber como, mas também por falta decoragem de confrontar e ser a diferente da história.

Quero fazer a diferença, mas como? Sempre aprendique o que vende jornal é tragédia, o pinga sangue, oesdrúxulo. Mas que dualidade. A função do jornalista nãoé a ajudar na construção de um mundo melhor? Se todosos profissionais assumissem essa função não estaríamoscontribuindo para um mundo de paz e não guerra?

Se começássemos a mudar o jornalismo hoje, omundo poderia ser melhor daqui a alguns anos? Achoque sim, na verdade tenho certeza. Olho mais uma vezpara minha pequena filha. Ela sempre diz que quer sercomo eu. Qual a imagem de jornalista que passo paraela? A jornalista que faz a diferença ou aquela que sesoma à multidão de mãos que registram nossa história,cada vez mais triste.

Não posso mudar o que fiz ontem. Entretanto, te-nho como mudar o que farei a partir de amanhã. Dia27 de outubro se comemora o dia do jornalista pelapaz. Será que alguém sabia disso? Será que alguém jácalculou a sua própria importância para a construçãoda paz?

Muitos jornalistas já morreram em meio a guerras,muitos jornalistas têm o sonho de ser correspondentede guerra. Mas por que não ser o correspondente dapaz, de um futuro melhor e mais justo?

Patrícia ZaninPatrícia ZaninPatrícia ZaninPatrícia ZaninPatrícia Zanin

ma jornalista que conseguever a notícia onde muitosnão vêem e ainda tira coisaspositivas do trágico. Esta é

Patrícia Zanin, jornalista da RádioUniversidade FM, que sempre buscao lado humano do fato que noticia.Dar voz para aqueles que raramentetêm espaço na mídia é um exercíciodiário desta jornalista, que acaba co-laborando para a construção da pazpela mídia.

Em 2006, a jornalista produziuuma série de reportagens com a par-ticipação de jovens do Educandáriode Londrina, dando voz aos meninos.Em maio do ano passado, voltou àinstituição depois de um conflito eouviu os jovens que não participaram.Desde então, a jornalista se preocupacada vez mais com a situação das cri-anças e adolescentes no Brasil e coma forma como são retratados na mídia.

Seu trabalho está sendo reconhe-cido. Em 2007 foi convidada pelaAgência de Notícias dos Direitos daInfância (Andi) para representar oBrasil em um encontro de capacitação

“As tragédias fazem parte da vida, não tem como deixar deinformá-las. O desafio é mostrar o lado positivo. Mesmo nocaos ele existe.”

Um olharhumanistasobre a notícia

para jornalistas da América Latina,promovido pela Federação Internaci-onal de Jornalistas (FIJ), em Caracas,na Venezuela.

Patrícia procura sempre ouvir ooutro, respeitar as críticas e pontuar oque está sendo feito. Para ela, este éum exercício constante, além da abor-dagem de todos os ângulos da notí-cia, sempre a partir da história das pes-soas. Em casos de tragédias, por exem-plo, ela busca não focar apenas a mor-te. Patrícia quer ouvir aqueles que so-breviveram, que ficaram. “Quem fi-cou está fazendo o que para recons-truir sua história? Um dos desafios étentar mostrar também lados positi-vos, mesmo no caos, pois eles exis-tem”, afirma.

As tragédias são inevitáveis e osprofissionais da imprensa de certa for-ma têm a obrigação de informá-las. Aquestão é como informar. Patrícia sa-lienta que essa é a pergunta que todosdevem fazer e a resposta talvez sejabuscar formas mais construtivas derevelá-las.

Ela cita o caso Isabella (garota as-

permanentemente essa conduta porisso vê na Conferência Municipal pelaPaz, realizada em Londrina, um ins-trumento importante. “A discussão dojornalismo pela construção da pazdeve mobilizar, num primeiro mo-mento, aqueles que já estão disponí-veis para as novas práticas, os que jáestão sensibilizados para a discussãomais construtiva”, finaliza.

Thatiane Rodrigues

Talita Martinuci

sassinada supostamente pelo pai e ma-drasta) que a impactou recentementecom detalhes explorados à exaustão.“Acredito que são detalhes desneces-sários e que não contribuem paranada. Pelo contrário, na minha opi-nião eles servem para deprimir.” A re-ação da jornalista foi deixar de assistire ler as notícias relacionadas ao caso.A maneira que encontrou para semanter informada sobre o assunto foiler o que os analistas diziam.

Ela reconhece que é difícil adotar

Londrina discute mídia pela pazAna Lúcia OlivAna Lúcia OlivAna Lúcia OlivAna Lúcia OlivAna Lúcia Oliveira de Castreira de Castreira de Castreira de Castreira de Castrooooo

Movimento pela Paz surgiu na década de 90 e reuniu cerca de 200 pessoas da mídia, artes ecírculos acadêmicos em New York. Um mês depois do evento, foi lançado no Brasil na cidadede São Paulo o IVE (Imagens e Vozes de Esperança), porém o primeiro diálogo nacional acon-teceu em 2001 na cidade do Rio de Janeiro. Entre os convidados estavam jornalistas conceitu-

ados, contando com a parceria da Unesco.Desde então o movimento tem como objetivo desenvolver e fortalecer uma cultura de paz e não-

violência, buscando atingir profissionais da área de comunicação, conscientizar as pessoas sobre o papel damídia e discutir seu efeito na sociedade. Londrina entrou neste movimento, de forma mais atuante, a partirde 28 de maio, quando foi realizada a Conferência da Educação pela Paz, com o tema “Palavras e Imagensque Criam o Mundo”. Na ocasião foi discutido de que forma os veículos de comunicação podem serinstrumentos de mudança na vida da sociedade que busca educação e paz.

Participaram do evento a jornalista Ana Lúcia Oliveira de Castro coordenadora do projeto IVE e opresidente da ONG Londrina Pazeando, Luiz Cláudio Galhardi. A jornalista mostrou, por meio de umadinâmica de grupo, o que cada pessoa tem de bom que possa ser usado para promover a paz. Ana Lúciaconversou com a reportagem do Na Íntegra. Confira a entrevista.

A cultura de paz e não violência surgiu com o intuito de promover um diálogo internacional sobre oimpacto de mensagens e imagens publicadas pela imprensa

Denise Vicente

naínteGra 8

Na Íntegra: Como a mídia - através da TV, rádio, revista,jornal e internet - pode ajudar para que cresça essa cultura depaz e para que se alcance mudanças signigicativas?

Ana Lúcia: Primeiro, todas as pessoas que trabalham namídia precisam se conscientizar do seu impacto na sociedade.Para isso, precisamos mostrar o que está funcionando, comoa população está se mobilizando para fazer coisas que dãocerto. Então certamente a gente estará construindo uma cul-tura de paz.

Na Íntegra: Já existem experiências que mostram essapossibilidade?

Ana Lúcia: Existe no mundo todo, mas eu quero citar sóum exemplo aqui no Brasil. O jornalista André Trigueiro de-pois que começou a participar do IVE. que é um projetomundial da mídia mais construtiva, cresceu enormemente noseu trabalho na área de jornalismo. Inclusive criou o progra-ma Cidades e Soluções, que está sendo nacionalmente veicu-lado e tem pessoas se inspirando naquilo que ele está fazendo.

Na Íntegra: A mídia insiste no modelo atual de noticiarprincipalmente o lado ruim das coisas?

Ana Lúcia: Sim, por estarem acostumados a fazer isso.Então essa é uma questão meio que de preguiça, do tipo “éisso que eu sei fazer, é isso que eu estou habituado a fazer e eufaço”. Para mudar precisa de coragem, precisa enfrentar umsistema estabelecido que já está viciado. Eu vejo falta de von-tade de criar mais, de ousar mais.

Na Íntegra: Como é que se muda este conceito?Ana Lúcia: A nossa proposta é fazer esses diálogos, que

são encontros em que as pessoas descobrem o seu potencial esonham com aquilo que desejam, projetam as possibilidades echegam ao destino que é a realização completa.

Na Íntegra: Como está esse projeto no Rio de Janeiro?Ana Lúcia: O que nós temos feito lá é basicamente para o

pessoal da mídia. Vários profissionais conhecidos estão comuma postura bem diferenciada.. Então pensarmos: É possível!

De acordo com informações do site do IVE, www.ive.org.br.Os diálogos realizados no Brasil já atingiram mais de 1.900 pro-fissionais, incluindo jornalistas, relações públicas, publicitários,estudantes, artistas, músicos, fotógrafos, escritores, designers,profissionais de marketing, empresários, educadores, jovens, vo-luntários de projetos sociais e pessoas interessadas em ser agentesna criação de um mundo melhor.

Jornalistas lutam contrao sensacionalismo

Silvana LeãoSilvana LeãoSilvana LeãoSilvana LeãoSilvana Leão

É com cuidado constante que se consegue dar um tratamento ético para a notícia.Muita coisa precisa ser feita para que os profissionais acordem para essa necessidade

ornalistas, veículos de comunicação e empresas responsa-velmente sociais devem colaborar com a luta contra a vio-lência, seja ela urbana, rural, ambiental, social, política, físi-ca ou mental. Os profissionais devem sempre tomar cuida-do para que suas mensagens e imagens não explorem osensacionalismo e alimentem ainda mais essa demanda de

informações exageradas.A jornalista Silvana Leão, formada pela Universidade Esta-

dual de Londrina (UEL), que trabalha na Folha de Londrina,procura priorizar a ética em relação à informação. É com cuida-do constante que se consegue dar um tratamento ético para anotícia, respeitando as pessoas, tentando despir totalmente anotícia de preconceito, ouvir todos os envolvidos e tentaraprofundar o assunto, fazendo uma análise das causas e conse-qüências com isenção.

Silvana diz que na hora de pontuar uma matéria, ela procuramostrar o lado humano e não somente o trágico. “Procurar formasconstrutivas de revelar os fatos é a melhor maneira de fugir doexagero excessivo, pois há várias histórias acontecendo em qual-quer lugar do mundo e de tudo que acontece temos que saberescolher o que vale a pena contar e o que pode ser descartado”.

O sensacionalismo talvez seja a ferramenta mais antiga paraaumentar as venda de produtos de comunicação e, na maioriadas vezes, implica em uma opção editorial para alcançar o ibopedesejado. Para Silvana, a melhor forma de vencer essa barreira étentar sempre procurar o meio termo na hora de escrever amatéria. “Não devemos amenizar a informação ao ponto denão dar a notícia, mas saber escolher a melhor maneira de rela-tar os fatos. Não existe a necessidade de explorar uma tragédiase a noticia já é trágica” comenta.

Como redatora, Silvana percebe que alguns dos jornalistasestão preocupados com o que escrevem e têm a consciência defazer um jornalismo pela paz, um movimento pró-vida. Ficafeliz em saber que as universidades de comunicação, promo-vem a reflexão entre seus alunos sobre o jornalismo pela paz.“Isso daqui a alguns anos vai ter um bom reflexo no mercadode trabalho.” Mas, no seu ponto de vista, muita coisa precisaser feita para que os profissionais acordem para essa necessida-de, que é urgente, revertendo esse processo de violência queesta se agravando no mundo.

Fernanda Bordin