octavio paz, mídia e revolução sandinista

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Artigo sobre a postura da mídia durante o processo de revolução sandinista na Nicarágua nos anos 80.

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  • Octavio Paz, Mdia e Revoluo Sandinista

    Priscila Ribeiro Dorella*

    Resumo:

    A Revoluo Sandinista produziu intensos debates entre os intelectuaislatino-americanos em relao s possibilidades da esquerda armadaconquistar o poder e estabelecer um sistema poltico democrtico.Seguramente, o Mxico acompanhou de perto os acontecimentos polticosna Nicargua e gerou ricas contribuies para as reflexes sobre osmovimentos revolucionrios. O poeta e ensasta mexicano Octavio Paz foium dos intelectuais a se manifestar intensamente sobre as temticaspolticas desse perodo. Por meio da anlise de alguns de seus ensaios e desua insero nos meios de comunicao de massa, esse artigo busca novaspossibilidades de compreenso do escritor em questo, como tambm dasdiscusses em torno da Revoluo Sandinista.Palavras-chave: Meios de Comunicao de Massa, Octavio Paz, RevoluoSandinista.

    Abstract:

    The Sandinista Revolution produced intense discussions among the LatinAmerican intellectuals towards the possibilities of the left army conqueststhe power and establishes a democratic politic system. Definitely, Mexicoclosely followed the political events in Nicaragua and brought richcontributions to the reflexions of the revolution movements. The Mexicanpoet and essayist, Octavio Paz, was one of the intellectuals who intenselymanifested on the subject of the political thematic from the referred period.Through the analysis of some of his essays in addition to the analysis of hisinsertion in the mass media, this article search for new possibilities ofcomprehension of the referred writer as well as of the debates towards theSandinista Revolution.

    Keywords: Mass Media, Octavio Paz, Sandinista Revolution.

    * Doutoranda em Histria da Amrica na Universidade Federal de Minas Gerais Apoio Fapemig. E-mail: [email protected] ou [email protected]

  • Priscila Ribeiro Dorella

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    Blanco

    me miro en lo que miro es mi creacin esto que veo

    como entrar por mis ojos la percepcin es concepcin

    en un ojo ms lmpido agua de pensamientos

    me mira lo que miro soy la creacin de lo que veo

    Octavio Paz

    Trecho do Poema 1967

    O desenvolvimento dos meios de comunicao (imprensa escrita,

    rdio, cinema, televiso etc), ao longo do sculo XX, acarretou

    transformaes substantivas na formao e na atuao dos intelectuais.

    Entre outras coisas, o conhecimento produzido pelos intelectuais, que, em

    grande parte, era direcionado a um pblico especfico, fosse ele acadmico,

    poltico ou escolarizado, passa a ser difundido, cada vez mais, para um

    pblico mais amplo. Nesse sentido, houve uma inegvel democratizao

    do conhecimento produzida pelos meios de comunicao de massa. Muito

    j se falou que a cultura do fim do sculo XX foi completamente estruturada

    na esfera audiovisual.

    Certamente, o processo de redemocratizao poltica, na Amrica

    Latina, contribuiu com o crescimento vertiginoso da indstria das

    comunicaes, que teve como uma de suas conseqncias a transformao

    significativa do mundo das idias e da funo pblica dos intelectuais. De

    acordo com Beatriz Sarlo, se antes os intelectuais expressavam suas idias

    e competiam entre si, sobretudo, dentro dos meios escritos, nas ltimas

    dcadas os intelectuais estabeleceram tambm as suas idias nos meios

    de comunicao de massa, que um espao aonde essas idias no so as

    nicas e nem sequer as mais prestigiosas (SARLO, 2002).

    Octavio Paz (1914-1998) foi um dos mais proeminentes escritores

    latino-americanos que coadunou sua produo literria a uma constante

    reflexo sobre as questes sociais do seu tempo. Poeta atuou como ensasta,

    professor, tradutor, jornalista e crtico de arte. Estudou no Mxico e Estados

    Unidos e foi diplomata na Frana e ndia, o que lhe propiciou uma viso

    diferenciada sobre os conflitos latino-americanos. Compreendido como

  • Histria Social, n. 17, segundo semestre de 2009 179

    Octavio Paz, Mdia e Revoluo Sandinista

    um dos mais importantes intelectuais, ganhador do Premio Nobel de

    Literatura em 1990, produziu, tambm, obras de carter poltico que foram

    julgadas como extremamente polmicas. Somado a isso, expressou suas

    idias polticas e literrias em centros acadmicos, jornais, revistas, rdios

    e programas de televiso para informar, criticar e narrar os conflitos do

    mundo contemporneo.

    Os seus ensaios polticos so importantes contribuies para

    pensarmos, entre outras questes, sobre intelectuais, democracia,

    revoluo e mdia na Amrica Latina. Na primeira parte desse artigo,

    discutiremos a viso de Octavio Paz sobre as relaes entre esses conceitos

    destacados acima. Selecionamos alguns dos seus mais expressivos ensaios,

    como El pacto verbal (1980); Televisin: cultura y diversidad (1979) e

    Democracia: lo absoluto y lo relativo (1992). Posteriormente, analisaremos

    algumas polmicas intelectuais criadas em torno da sua insero nos meios

    televisivos, sobretudo a que ocorreu em 1984, ano em que foi premiado na

    Feira Mundial do Livro, em Frankfurt, por sua obra literria. O seu ensaio,

    proferido em razo do prmio, foi intitulado El dilogo y el rudo (1984).

    Esse ensaio, que apresenta uma anlise crtica dos desdobramentos da

    Revoluo Sandinista (1979), foi lido e transmitido para o Mxico pela

    emissora Televisa, ocasionando em grandes protestos no pas. Era o

    momento da primeira eleio democrtica nicaragense, aps a revoluo.

    Modernidade, Intelectuais e Mdia

    De acordo com Octavio Paz, a modernidade foi um acontecimento

    histrico irreversvel que redimensionou o tempo das sociedades e

    propiciou uma ruptura com a tradio, atravs da crtica.1 Essa ruptura no

    1 El espritu crtico es la gran conquista de la edad moderna. Nuestra civilizacin seha fundado precisamente sobre la nocin de crtica: nada hay sagrado o intocablepara el pensamiento excepto la libertad de pensar. Un pensamiento que renunciaa la crtica de si mismo, no es pensamiento. Sin crtica, es decir, sin rigor y sinexperimentacin, no hay ciencia: sin ella tampouco hay arte ni literatura. En nuestrotiempo, creacin e crtica son una y la misma cosa. PAZ, Octavio. Apud: PONIATOWSKA,1999: 202.

  • Priscila Ribeiro Dorella

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    foi apenas um movimento de negao, mas tambm de reinveno da

    realidade. A conseqncia dessa nova conjuntura histrica denominada

    modernidade foi, entre outros fatores, o de possibilitar o exerccio da

    diferena e da liberdade humana. A sua forma mais adequada de governo

    seria a democracia, que, apesar das possveis imperfeies desse sistema

    poltico, o nico capaz de evitar os abusos e as arbitrariedades do poder

    pessoal. Baseado na obra de Claude Lefort, o poeta compreende

    a democracia como uma inveno poltica capaz de questionar as suas

    prprias instituies sociais e encontrar novas possibilidades histricas,

    portanto o sistema mais apropriado modernidade (LEFORT, 1981).

    Vale pontuar que a democracia, para Paz, no se define somente

    pelas eleies livres. Apesar da legitimidade dos governos ocorrer atravs

    do voto livre, secreto e universal preciso que haja outras condies para

    que um regime merea ser chamado de democrtico como, por exemplo,

    vigncia de liberdades, direitos individuais e coletivos, pluralismo, enfim,

    respeito s pessoas e s minorias (PAZ, 1993). Nessa direo, possvel

    compreender como sua postura poltica est intimamente conectada noo

    de que a poltica a arte de se comunicar, ou seja, atravs da palavra,

    inventar um mundo plural, um mundo democrtico. o pacto verbal e no

    o pacto social que fundamenta, para o poeta, a sociedade.

    La sociedad humana comienza cuando los hombres empiezan ahablar entre ellos, cualquiera que haya sido la ndole y lacomplejidad de esa conversasin: gestos y exclamaciones o, segnhipteses ms verosmiles, lenguajes que esencialmente no diferende los nuestros (PAZ, 1993, vol. 10: 659).

    Essa concepo em relao ao modo de se fazer poltica no teve, a seu

    ver, grande impacto na sua gerao, uma vez que foi uma gerao que acreditou

    na prtica revolucionria, e no na prtica democrtica, como a grande

    possibilidade poltica de realizao social. certo que a revoluo impunha

    limites liberdade de expresso e, dessa maneira, nutria certo desprezo pelos

    valores democrticos. Segundo o socilogo mexicano Jaime Snchez Susarrey,

  • Histria Social, n. 17, segundo semestre de 2009 181

    Octavio Paz, Mdia e Revoluo Sandinista

    para um revolucionrio marxista a supresso da liberdade legtima em prol

    da justia e da igualdade social. (SANCHZ SUSARREY, 1993: 23).

    A idia moderna de revoluo, ao longo dos ltimos sculos, se

    apresentou, para o poeta, como um acontecimento absoluto, que

    disseminou a crena de que os homens dominariam inteiramente suas

    instituies e concordariam em conjunto com suas atividades e seus fins.

    Entretanto, as experincias revolucionrias, em boa medida, demonstraram,

    a ele, a constituio de regimes burocratizados e autoritrios.

    A Idade Moderna muda a velha relao entre religio e poltica: naconquista da Amrica, a poltica vive em funo da religio, uminstrumento da idia religiosa; na Revoluo Francesa, a polticatransforma-se em religio. Mais exatamente: a revoluo confiscao sentimento do sagrado. A religio revolucionria no foi outracoisa alm da religio civil de Rousseau, convertida em paixo ecorpo poltico. Seu Cristo foi um ente metade abstrato e metadereal: o povo (mais tarde seria o proletariado) (PAZ, 1993, vol. 09).

    A defesa desses valores democrticos na Amrica Latina o fez um

    escritor dissonante em relao ao contexto latino-americano de Guerra

    Fria, em que os intelectuais se aproximavam, em grande medida, das

    concepes de esquerda (trotskistas, maostas, leninistas etc), menos afeita

    aos valores democrticos do que ao autoritarismo e luta armada.

    (CASTAEDA, 1994). Paz acreditava que a poltica moderna no poderia ser

    vivenciada como um dogma revolucionrio porque no levaria salvao e

    sim intolerncia e, at mesmo, guerra. A poltica deveria, ento, propiciar

    condies para a existncia da diversidade e da contradio social atravs

    da comunicao. Como afirma: A guerra nace de la incomunicacin y busca

    substituir la comunicacin plural por una comunicacin nica: la palavra del

    vencedor (PAZ, 1993, vol. 10: 661).

    Aps o advento da Revoluo Cubana, a conquista da palavra era

    uma disputa na Amrica Latina, preponderantemente, ideolgica, o que,

    para Paz, era por definio belicosa e avessa a qualquer possibilidade de

    existncia pacfica e at mesmo democrtica. Ele conquistou a palavra, assim

    como outros escritores de sua gerao, no s pelo seu extraordinrio

  • Priscila Ribeiro Dorella

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    trabalho literrio, mas tambm pela sua habilidosa insero nos meios de

    comunicao de massa. Considerava a participao nesses meios como uma

    possibilidade democrtica para o desenvolvimento comunicativo

    diversificado, imaginativo, pluralizado e crtico.

    Octavio Paz tinha uma conscincia afiada no s dos danos

    provocados nos meios de comunicao pela censura estatal, como tambm

    pela publicidade e pelo poder do mercado nas mdias. A transformao

    das idias, das opinies e das pessoas em notcias e em produtos

    comerciais massificados era um desafio, segundo ele, a ser vencido por

    uma filosofia poltica democrtica que levasse em considerao tanto o

    legado do liberalismo como o do comunismo (PAZ, 1993, vol. 9).

    Logo, era fundamental, para o poeta, pensar sobre os modos de

    utilizao e de insero nos meios de comunicao, pois estes deveriam

    corresponder, para serem democrticos, a um repertrio amplo de

    conhecimentos produzidos em cada sociedade. essencial dizer que suas

    anlises a esse respeito expressam um desejo otimista de mudana, o que

    para alguns poderia ser traduzido como um desejo ingnuo, ao assinalar

    algumas possibilidades de atuao dos e nos meios de comunicao de

    massa. Veja como exemplo, a sua viso sobre a televiso:

    La televisin puede ser el instrumento del Csar en turno y asconvertise en un medio de incomunicacin. O puede ser plural,diversa, popular en el verdadero sentido de la palabra. Entoncesser un autntico mdio de comunicacin nacional y universal.Hace aos MacLuhan dijo que la televisin comenzaba el periododel global village, la aldea universal, idntica en todas partes.Creo justamente lo contrario. La historia va por otro camino: lacivilizacin que viene ser dilogo de culturas nacionales o no habrcivilizacin. Si la uniformidad reinase, todos tendramos la mismacara, mscara de la muerte. Pero yo creo lo contrario: creo en ladiversidad que es pluralidad que es vida (PAZ, 1993, vol.10: 658).

    Como vemos, suas reflexes sobre a modernidade se desdobram no

    somente em uma viso democrtica da poltica, mas tambm em uma viso

    democrtica da cultura. Ou seja, o apreo pela diversidade e pela pluralidade

    expressa uma compreenso ampla do conceito de cultura. Em seu ensaio

  • Histria Social, n. 17, segundo semestre de 2009 183

    Octavio Paz, Mdia e Revoluo Sandinista

    intitulado Televisin: cultura y diversidad, apresentado no Segundo Encontro

    Internacional de Comunicaes, patrocinado pela Televisa, na cidade de

    Acapulco, em 1979, o escritor se prope a pensar a televiso como cultura.

    Alm de discutir sobre o seu entendimento das ideologias, liberais e

    marxistas, a esse respeito.

    De acordo com Octavio Paz, no decorrer do sculo XX, a crena no

    progresso e na unificao cultural do mundo foi um projeto ideolgico tanto

    marxista como liberal. Os marxistas pensavam que o agente da unificao

    seria o proletariado internacional que aboliria as fronteiras e as distintas

    culturas nacionais. Os liberais, por sua vez, acreditavam que o jogo da

    empresa e do mercado, tanto como uma influncia benfica da cincia e da

    tcnica, atenuariam, ao menos, as diferenas culturais, religiosas e

    lingsticas. A questo que o poeta observa, baseado no filosofo grego

    Cornelius Castoriadis, que essas ideologias naturalizaram determinadas

    formas de viver em sociedade impedindo os indivduos de participarem do

    poder e construrem democraticamente suas prprias experincias sociais,

    polticas e culturais. Assim, nessas ideologias modernas escapam uma

    dimenso crtica fundamental: a imaginao criativa, que seria a noo da

    capacidad que la sociedad tiene de producir imgenes y, despus, creer en

    aquello mismo que imagina. Todos los grandes proyectos de la historia

    humana son obras de la imaginacin, encarnada en actos de los hombres.

    Mais adiante, afirma:

    Justamente porque la sociedad produce sin csar imgenes, puedeproducir smbolos, vehculos de transmisn de diferentessignificados. Dentro del sistema de signos y smbolos que es todacultura, los hombres tienen nombres; son signos dentro de unsistema de signos pero signos que producen signos. El hombre nosolo se sirve del lenguaje: es lenguaje productor de lenguajes.La sociedad no es una masa indiferenciada sino una complejaestructura o, ms bien, un sistema de estructuras. Cada parte, cadaelemento clases, grupos, indivduos est en relacin con otros(PAZ, 1993, vol. 10: 652).

    Discordando de MacLuhan, Paz situa a sua viso sobre os meios de

    comunicao de massa e, posteriormente, sobre o conceito de cultura. De

  • Priscila Ribeiro Dorella

    184

    acordo com MacLuhan, os meios de comunicao de massa se constituem

    como uma outra linguagem, o que quer dizer que cada meio (escrita, rdio,

    cinema, televiso etc.) possui um sentido prprio e igual.

    A televiso, por exemplo, difere do cinema quanto mediao comque capta e transmite o visvel. A cmara de TV como o microfoneem relao voz. O filme no possui tal imediao de captao etransmisso. medida que comeamos a examinar o carterinevitavelmente cognitivo dos vrios meios, logo superamos asperturbaes advindas das preocupaes exclusivas com qualquerforma de comunicao (MACLUHAN, 1978: 151).

    Essa interpretao descabida, para o poeta, uma vez que considera

    os meios de comunicao no como uma linguagem e sim como meios

    onde flui todo tipo de linguagem. A televiso pode ser entendida

    metaforicamente como gramtica, morfologia e sintaxe, mas no pode ser

    entendida como semntica porque emite somente signos portadores de

    sentidos e no sentidos diretos. A audincia invisvel de uma mesa

    redonda televisionada formada por um grupo de intelectuais pode produzir

    mltiplas leituras. Ou mesmo, as personalidades massivas que aparecem

    na televiso, no cinema e/ou no rdio podem gerar muitos debates. Como

    observa: Todos assistem ao papa, a atriz famosa, ao grande boxeador, ao

    ditador turco, ao prmio Nobel e ao assassino clebre, mas cada um l isso

    de uma forma (PAZ, 1993, vol. 10: 663). As imagens se universalizam. Livros,

    peridicos, rdio, cinema e televiso se espalham pelo mundo. O pblico

    plural e apto ao dilogo entre diversas culturas. Todos assistem televiso,

    mas a interpretao no unvoca.

    Os meios de comunicao de massa possuem, assim, segundo o

    escritor, uma forma vinculada sociedade a que pertencem e so

    constitudos por relaes histricas de comunicao, como podemos

    observar adiante: La discusin poltica en la plaza pblica corresponde a la

    democracia ateniense, la homilia desde el plpito a la liturgia catlica, la mesa

    redonda televisionada a la sociedad contempornea (Idem, 1993, vol.10: 662).

    Octavio Paz chama a ateno para o fato de artistas, contistas, autores

    de teatro, poetas, intelectuais mexicanos no compreenderem, em boa

  • Histria Social, n. 17, segundo semestre de 2009 185

    Octavio Paz, Mdia e Revoluo Sandinista

    medida, os meios de comunicao como possibilidade de recriao e

    reinveno das tradies na sociedade moderna, possivelmente por

    associarem esses meios a uma expresso cultural inferiorizada.

    Intelectuais, como o filsofo mexicano Gabriel Zaid, acreditam, ainda, que

    as caractersticas das manifestaes intelectuais no so a oratria

    parlamentar, a teatralidade do discurso, o sermo, a ctedra, a mesa redonda

    ou as entrevistas por rdio e televiso, mas as manifestaes escritas (ZAID,

    1990, No 168: 21). J Paz, defende que a palavra oral a grande expresso

    da democracia moderna, uma vez que possibilita a troca de experincias

    atravs do dilogo (PAZ, 1993, vol. 10: 657).

    O poeta atuou nos meios de comunicao no s concedendo

    entrevistas, mas tambm apresentando programas culturais. Uma das mais

    ricas experincias interativas do escritor com as mdias foi a construo do

    poema Blanco e a apresentao deste na mdia. Idealizado como um

    poema-pelcula, ele procurou formular uma poesia em que o sentido sonoro

    e escrito estivessem hipoteticamente projetados em uma tela de cinema

    ou de televiso, propiciando, entre outros efeitos, a sensao de

    movimento.

    A poesia uma arte verbal que pode ser escrita, fala, imagem sonora

    e visual. Octavio Paz procurou incorporar nessa arte, inspirado na televiso

    e no cinema, um elemento totalmente novo: o movimento. Props construir

    signos que se movem: um ballet de signos. Dessa forma, ele ressalta as

    possibilidades de relacionar a arte e os meios de comunicao de massa

    porque a arte permite recobrar a capacidade de dizer no, retomar a crtica

    de nossas sociedades satisfeitas e adormecidas, despertar as conscincias

    anestesiadas pela publicidade (PAZ, 1993, vol. 9). Ele tambm reconhece

    que h um cansao das vanguardas, da idia do novo, da ruptura, mas atenta

    para a arte marginal como possibilidade crtica de aprimoramento dos meios

    de comunicao de massa.

    Segundo Martn-Barbero, em seu livro Os exerccios do ver:

    hegemonia audiovisual e fico televisiva, os mandarins da cultura seguiam

    perguntando se a televiso podia ser considerada cultura, mas a noo de

    cultura que foi sendo modificada pelo desenvolvimento tecnolgico.

  • Priscila Ribeiro Dorella

    186

    Octavio Paz foi certamente produto e produtor intelectual dessa

    transformao cultural na Amrica Latina, ao levar em considerao no s

    a amplitude do conceito de cultura como tambm as possibilidades de

    mesclas entre o culto, o popular e o massivo.

    La alta cultura es elitista y reaccionaria; la cultura popular esespontnea y creadora. Lo curioso es que, en Mxico, los apstoles de la cultura popular son intelectuales minoritarios, miembros decerradas confradas y devotos de ceremonias en las catacumbas.En todas las sociedades hay un saber especializado y, por lo tanto,hay tcnicas y lenguajes especializados. Esse saber y esos lenguajesminoritarios coexisten con las creencias e ideas colectivas.[...] Eltelogo [alta cultura] y el simple creyente [cultura popular]pertenecen a la misma cultura. Y del mismo modo: aunque solounos cuantos conocen los principios cientficos que rigen sufuncionamiento, todos omos la radio y vemos la televisin (PAZ,1993, vol 10: 658).

    Como observamos, em linhas gerais, o pensamento moderno de

    Octavio Paz esteve intimamente vinculado defesa da democracia cultural

    e poltica, o que torna, de certa forma, compreensvel tanto a sua postura

    incisiva com relao aos desdobramentos, violentos e autoritrios, dos

    processos revolucionrios na Amrica Latina, durante a Guerra Fria, quanto

    as polmicas que o associaram ao imperialismo e ao neo-liberalismo.

    Um outro lado polmico, do mesmo lado

    Octavio Paz se inseriu em diversos momentos nos meios de

    comunicao de massa. Algumas de suas mais expressivas aparies na

    mdia foram produzidas pela emissora mexicana de telecomunicaes

    Televisa. Em 1976, Paz comeou a colaborar com comentrios semanais para

    24 Horas, tele-jornal este considerado tendencioso e conservador. A partir

    da, com o diretor de televiso Hctor Tajonar, contribuiu, segundo o

    jornalista Jaime Septin (SEPTIN, 1998), com as famosas entrevistas

    denominadas Conversaciones con Octavio Paz (19 programas em 1984) e

    com o documentrio, que o lanou definitivamente ao grande pblico,

  • Histria Social, n. 17, segundo semestre de 2009 187

    Octavio Paz, Mdia e Revoluo Sandinista

    Mxico en la obra de Octavio Paz (6 programas em 1989). Alm disso,

    organizou um congresso, em 1990, transmitido ao vivo pelo canal fechado

    da Televisa, intitulado El siglo XX: la experincia de la libertad.

    A sua postura diante dos meios de comunicao provocou uma

    grande polmica intelectual em torno da sua imagem. Alguns intelectuais

    mexicanos como Enrique Krauze, Miguel Len-Portilla, Ramn Xirau e Jos

    de la Colina louvaram a sua conduta e, inclusive, participaram de alguns

    programas de Octavio Paz. O escritor lvaro Mutis considerou as

    apresentaes do poeta um espetculo inesquecvel. Para o ento diretor

    do Fundo de Cultura Econmica Garca Terrs, os programas do poeta

    converteram os meios de comunicao em uma verdadeira tribuna civil da

    sociedade, por permitir ao cidado, com autoridade intelectual, a exposio

    crtica de suas idias (MORAES & CAMPBELL, 1984: 46).

    Segundo Septin, a antiga amizade de Octavio Paz com um dos donos

    da Televisa, Emilio Azcrraga Milmo, e com o seu assessor, Jacobo Zabluras,

    possibilitou a sua apario nos meios de comunicao. Como um poeta

    comprometido com a liberdade e a crtica, era capaz de fechar os olhos para

    as medidas conservadoras e inescrupulosas da Televisa? Essa foi uma das

    questes levantadas por parte da intelectualidade mexicana, mais

    especificamente por parte da esquerda mexicana que logo o associou aos

    interesses imperialistas da direita. Veja a exemplo, a viso de Martinez

    Verdugo, um dos lderes do Partido Comunista Mexicano, em 1990: A

    Octavio Paz ya se le olvid el 68 y otros perodos de los que habl de manera

    crtica y justa. Ahora h dado un viraje a una posicin retrgrada de derecha,

    de dogmatismo muy primitivo (ZAMARRA, 1990). No mesmo ano, o crtico

    Igncio Taibo publica um artigo denominado Televisa ha comprado una figura

    mundial, defendendo a idia de que Octavio Paz tinha trs personalidades

    diferentes: o admirado poeta, o ensasta instigante e o lder da nova direita

    mexicana. Ligado aos interesses da emissora Televisa, o poeta estava sujeito

    a sua manipulao e era, por isso, merecedor de grande repdio (TAIBO,

    1990: 43).

    A Televisa um canal de TV mexicano que, apesar de atuar com capital

    privado, se desenvolveu estreitamente vinculado aos interesses do governo

  • Priscila Ribeiro Dorella

    188

    unipartidrio o PRI: Partido Revolucionrio Institucional. Seguramente, o

    sucesso de Octavio Paz na mdia estava relacionado s aspiraes da Televisa,

    uma vez que possua uma grande habilidade comunicativa, exaltava os

    valores democrticos, expressava, cada vez mais, suas afinidades em

    relao ao liberalismo e realizava severas crticas aos regimes das esquerdas

    (Cuba, Nicargua, Europa do Leste etc).

    importante mencionar tambm que nos anos de 1960, ocorreu no

    Mxico a ampliao das universidades, o aumento do nmero de leitores e

    o acirramento de crticas de esquerda ao governo da poca (PRI). Desse

    modo, a Televisa, empresa privada, com funes pblicas e fins lucrativos,

    teve que criar, de acordo com o jornalista mexicano Humberto Musachio,

    alternativas elaboradas de entretenimento cultural para conquistar o novo

    pblico. Muitos escritores, como Juan Jos Arreola e Octavio Paz, foram

    chamados pela emissora com a promessa de poderem criar uma ponte com os

    telespectadores e garantirem, assim, a sua sobrevivncia (MUSACCHIO, 1989).

    Paz, ao se inserir nesses meios, se tornou uma celebridade, cujas

    atividades pblicas e privadas eram relatadas e discutidas regularmente.

    Para o jornalista Septin, o poeta inaugurou no Mxico

    un modalidad hoy en boga del gran artista que se expone a losmedios electrnicos y que habla sin demasiadas complacncias aun pblico acostumbrado al chisporroteo gutural, al pramo ver-bal de las telenovelas (SEPTEN, 1998).

    A diferena de Paz com os artistas que Paz era um intelectual e

    nunca um intelectual no Mxico adquiriu tanto poder poltico (VILES

    FABILA, 1998). O estatuto de celebridade contribuiu para dar maior

    visibilidade, fama, notoriedade a Octavio Paz, mas no necessariamente

    propiciou uma maior e melhor leitura de sua obra. O historiador mexicano

    Hctor Aguilar Camn assegurou, em entrevista ao Canal 22, no ano de 1998,

    que o poeta mais debatido no Mxico do que realmente lido.

    Esse fato est relacionado, segundo Guy Debord, s sociedades

    massificadas do mundo contemporneo, que tornaram a cultura objeto de

    mercadoria e entretenimento. A leitura e a reflexo foram colocadas em

  • Histria Social, n. 17, segundo semestre de 2009 189

    Octavio Paz, Mdia e Revoluo Sandinista

    segundo plano, uma vez que os acontecimentos so considerados efmeros

    e se acumulam como espetculos. Octavio Paz tinha uma profunda

    conscincia desse fenmeno. Em 1994, ao discutir sobre a Revoluo

    Zapatista, afirmava:

    Pero la civilizacin del espetculo es cruel. Los espectadores notienen memoria; por esto tampoco tiene remordimientos niverdadera conciencia. Viven prendidos a la novedad, no importacul sea con tal de que sea nueva. Olvidan pronto y pasan sinpestaear de las enscenas de muerte y destruicin de la guerra delGolfo Prsico a las curvas, contorciones y trmulos de Madona yde Michael Jackson. Los comandantes y los obispos estn llamadosa sufrir la misma suerte; tambin a ellos les aguarda el Gran Botezo,annimo y universal, que es el Apocalipsis y el Juicio Final de lasociedad del espectculo (PAZ, 2002, vol.2: 546).

    No entanto, essa mudana de sensibilidade produzida pelos meios

    de comunicao de massa no impediu o autor de acreditar, como

    observamos ao longo do texto, que as suas manifestaes pblicas contra

    os regimes autoritrios de esquerda e a favor da democracia poltica e cultural

    eram manifestaes vlidas e legtimas. Para Sanchez Sussurey,2 as crticas

    de Octavio Paz ao PRI, na mdia, foram, observaes fundamentais para as

    reformas polticas democrticas do Estado burocrtico mexicano. A

    historiadora Alicia Correa Perez aponta tambm que a transmisso dos

    encontros culturais de Paz, na Televisa, deu a volta ao mundo, sendo, em

    parte, o meio em que o Mxico se tornou conhecido por outros pases

    (CORREA PEREZ, 1998: 59).

    Em um artigo publicado recentemente por Mario Vargas Llosa, La

    civilizacin del espetculo, o escritor avalia que a civilizao ocidental

    produziu o fim de um personagem poltico que desempenhou um papel

    importante na vida das naes o intelectual. Desde a Grcia, esse

    personagem contribuiu com uma ativa participao e criao da vida pblica,

    2 Entrevista concedida emissora Televisa para o programa Octavio Paz: el hechicerode la palavra, realizado em comemorao aos dez anos de morte do poeta Octavio Paz,05/08. Disponvel no site da Televisa, www.televisa.mx . Acessado em: 16/02/2009.

  • Priscila Ribeiro Dorella

    190

    tanto em debates religiosos como polticos. Hoje em dia, o intelectual sumiu

    dos debates pblicos. certo que alguns ainda firmam manifestos, enviam

    cartas aos jornais e se envolvem em polmicas, mas nada disso produz uma

    profunda repercusso na marcha da sociedade, cujos assuntos econmicos,

    institucionais e inclusive culturais so decididos pelo poder poltico,

    administrativo e econmico. Os intelectuais, para Vargas Llosa, s brilham

    por sua ausncia e s interessam se segue o jogo da moda. Uma das

    hipteses do autor para entender essa transformao o fato de haver um

    culto s imagens e, ao mesmo tempo, um empobrecimento das idias como

    fora motora da vida cultural (VARGAS LLOSA, 2009: 16).

    bastante discutvel a interpretao de Vargas Llosa sobre o papel

    do intelectual no mundo contemporneo, principalmente quando

    pensamos nos impactos produzidos, nos ltimos tempos, por intelectuais

    como Noam Chomsky. No entanto, se h realmente um empobrecimento

    das idias na vida cultural contempornea, a recepo aos discursos

    intelectuais pode soar no s desinteressante e desnecessria como

    tambm pedante. Octavio Paz foi certamente nomeado com esse adjetivo,

    mas foi, ao mesmo tempo, um dos nicos ou talvez ltimos humanistas a se

    inserir nos meios de comunicao, na Amrica Latina, logrando o estatuto,

    segundo Nstor Garca Canclini, de protagonista da comunicao massiva

    durante o processo de redemocratizao na Amrica Latina (GARCA CANCLINI,

    1998). De acordo com o jornalista Ren Aviles Fabila: Nunca en Mxico un

    hombre de letras acumul tanto poder poltico (AVILES FABILA, 1998).

    Vale dizer que apesar de Octavio Paz defender a independncia

    crtica em relao ao Estado e a Mdia, foi irresistvel a tentao de usufruir

    o imenso poder que essas instituies conferem e que a sociedade tambm

    reconhece. Como afirma o cientista poltico Jorge C. Castaeda:

    Octavio Paz foi membro do servio diplomtico durante muitosanos, at pedir demisso, em 1968, como protesto pelo massacrede Tlatelolco. Em 1986, ao completar aniversrio, aceitou umahomenagem oficial feita pelo governo De La Madrid; mais tarde,Carlos Salinas de Gotari cortejou-o astutamente, e Paz tornou-seum defensor to incondicional do novo regime autoritrio do PRIcomo havia sido crtico do regime antigo.

  • Histria Social, n. 17, segundo semestre de 2009 191

    Octavio Paz, Mdia e Revoluo Sandinista

    A dificuldade latente do poeta em manter um distanciamento crtico

    tambm conseqncia do seu prprio poder intelectual. Foi o processo

    de democratizao poltica e cultural na Amrica Latina que gerou o

    enfrentamento de indivduos especialmente preparados, como os

    intelectuais, com outros que, independente de seus saberes, so iguais

    por definio. essa contradio da modernidade democrtica, a de uma

    igualdade poltica que contradiz as hierarquias, tambm modernas, do

    prestgio, do saber, do mrito, transformando o cenrio onde se julgava o

    conflito (SARLO, 2002: 27).

    Uma polmica miditica sobre a Revoluo Sandinista

    El da 11 de octubre ms de 5000 personas tomaron las calles de laCiudad de Mxico y demandando la muerte del poeta marcharoncon pacartas hasta la embajada de los Estados Unidos. Entre lamultitud destacaban unos diez personajes que vestan boina ycamisa militar. Con ese pobre atuendo, que no se puede llamaruniforme, y con ovimientos y consignas queran evocar la imagenrevolucionaria de Ernesto Che Guevara. Aunque tambin haba unoque vestido con andrajos caminaba buscando tropezar de continuoemitiendo sonidos vagos; cargaba sobre su cabeza un gran monigotede dos metros de altura y cabeza cuadrada, con el logotipo de Televisa,que representaba a Octavio Paz. Tras hora y media de porras a lossandinistas y mueras al imperialismo norte-americano, la genteform un gran crculo alrededor del monigote. Mientras ste baadoen gasolina y elevado sobre un grosero palo, se repeta en coroesta frase que, lejos de ser una consigna poltica, pareca ms unconjunto cantado en derredor de un totem mtico: Reagan rapaz, tuamigo es Octavio Paz (VIZCANO, 1993: 26) [nossos grifos].

    Em 1984, foi realizada a primeira eleio democrtica nicaragense,

    aps a Revoluo Sandinista (1979), resultando na vitria dos prprios

    sandinistas. No mesmo ano, Octavio Paz ganhou, em Frankfurt, o Prmio

    Literrio pela Paz da Associao de Editores e Livreiros Alemes. O ensaio,

    proferido em razo da premiao, foi intitulado El dilogo y el rudo (PAZ,

    1984, pp. 4-7). A emissora mexicana Televisa transmitiu o discurso pelo

  • Priscila Ribeiro Dorella

    192

    jornal 24 Horas causando uma grande comoo no Mxico, por esse

    polemizar acerca dos desdobramentos da Revoluo Sandinista.

    No polmico ensaio El dilogo y el rudo, Paz afirma que a idia de

    revoluo foi compreendida, no mundo moderno, como uma utopia, capaz

    de romper com o mundo estabelecido e construir um outro,

    esperanosamente melhor, e, ao mesmo tempo, igual ao tempo original.

    Essa discutvel ambivalncia do sentido revolucionrio no est

    desvinculada do reconhecimento sobre a importncia do Estado na

    sociedade. No entanto, para o poeta, o nico Estado capaz de criar condies

    de convivncia pacfica o Estado republicano democrtico, uma vez que

    ele garante a liberdade de expresso crtica e plural. Assim, o problema do

    movimento revolucionrio seria o de possibilitar a criao de Estados

    autoritrios e violentos em nome da paz.

    O caso da Nicargua bastante emblemtico para Octavio Paz. A

    Revoluo Sandinista se tornou legtima por derrubar um governo autoritrio

    e corrupto em nome da constituio de um governo democrtico. Porm,

    comenta em 1984: Los actos del rgimen sandinista muestran su voluntad

    de instalar en Nicargua una dictadura burocrtico-militar segn el modelo

    de La Habana. As se ha desnaturalizado el sentido original del movimiento

    revolucionario (PAZ, 1984: 6).

    Essa postura bastante questionvel sobre a Nicargua Sandinista,

    pois havia, naquele momento, um sistema poltico pluripartidarista e uma

    economia mista (muitos capitalistas ainda conservavam suas

    propriedades!), substantivamente diferente do regime comunista

    autoritrio da Cuba Castrista (LWY, 2006: 56). Dessa forma, a sua viso

    poderia ser interpretada como tendenciosa, precipitada e, at mesmo,

    inconseqente. Segundo Snchez Susarrey, a resposta da esquerda

    mexicana ao discurso do poeta foi escandalosa e revelava no um episdio

    isolado, mas uma boa mostra do estado de nimo, daqueles tempos de

    Guerra Fria, na Amrica Latina. Uma parte significativa da imprensa e dos

    intelectuais associava as suas declaraes ao pensamento de direita

    (democracia sem adjetivos, liberalismo econmico e poltica aliada aos

  • Histria Social, n. 17, segundo semestre de 2009 193

    Octavio Paz, Mdia e Revoluo Sandinista

    interesses imperialistas) que era, claramente, incompatvel com o

    nacionalismo revolucionrio (SANCHZ SUSARREY, 1989: 64).

    Paz reconhece que a compreenso desse processo revolucionrio

    no era simples. Diversos fatores, como o caudilhismo e o imperialismo

    estadunidense, provocaram problemas sociais, econmicos e polticos na

    Nicargua, conduzindo o pas a ditaduras e democracias caticas. Ainda

    sim, ele insiste na idia de que a implementao de um governo

    revolucionrio autoritrio no criaria condies para uma sociedade

    melhor. O poeta aponta a falta de liberdade de expresso dos jornalistas

    nicaragenses s vsperas da primeira eleio ps-revolucionria e cita,

    como exemplo, a censura dos sandinistas ao jornal La Prensa. No obstante,

    importante recordar que a Nicargua estava em guerra civil, com o governo

    da FSLN sendo atacado militarmente pelos contra-sandinistas, apoiados e

    sustentados pelo governo dos EUA. Nesses anos de 1980, o tema da

    interveno dos Estados Unidos na Amrica Central e a crise econmica,

    tomaram conta dos principais debates na Amrica Latina. Poucos foram os

    intelectuais que realizaram oposio declarada, como foi o caso de Octavio

    Paz, Nicargua Sandinista (CASTAEDA, 1993).

    Antes mesmo do discurso de Frankfurt, o poeta j havia se

    comprometido em divulgar na revista Vuelta3 a censura sandinista ao maior

    jornal nicaraguense, La Prensa. Desde 1981, a revista publicava os artigos

    produzidos pelos jornalistas do La Prensa e censurados pelo governo

    sandinista. Segundo os editores nicaragenses Pablo Antonio Cuadra y

    Pedro J. Chamorro Barrios:

    La Prensa sigue un trayecto marcado por el pensamiento y losideales de su director mrtir Pedro Chamorro, que podemos definir,ante la actualidad revolucionria, como democrtica, pluralista,plenamente partidria de un profundo cambio social que beneficieal pueblo, pero basados en princpios cristianos, respectuoso dela libertad y de la dignidad de la persona humana y realizado conoriginalidad nicaraguense y no segn esquemas marxistas-leninistas. (ANTONIO CUADRA & CHAMORRO BARRIOS, 1981: 55).

    3 A revista Vuelta foi fundada e dirigida por Octavio Paz (1976-1998).

  • Priscila Ribeiro Dorella

    194

    Sabemos que a Revoluo Sandinista teve, inicialmente, um carter

    pluralista reunindo marxistas, social-democratas, democratas cristos e

    conservadores pr-empresariais, o que contribuiu para obteno de um

    amplo apoio internacional. Nesse caso, o jornal La Prensa, apesar de apoiar

    a Revoluo Sandinista, respondia aos interesses conservadores. Para o

    jornal La Prensa, no eram os valores democrticos que estavam

    efetivamente em jogo e, sim, a necessidade de eliminar os sandinistas por

    estes agirem segundo esquemas marxistas. A defesa da democracia se

    apresentava, muitas vezes, como um discurso vazio. Somado a isso, a FSNL,

    por exemplo, no seguiu fielmente as diretrizes dos Partidos Comunistas e

    nunca foi fiel s polticas da URSS, at porque, nos anos de 1980, a URSS

    vivia um perodo de reformas sob a liderana de Gobarchev (LWY, 2006).

    Por outro lado, os sandinistas desejavam excluir o jornal La Prensa

    do jogo poltico, como afirma o Telogo da Libertao o padre Ernesto

    Cardenal,4 porque estavam envolvidos com os interesses da CIA e com a

    administrao Ronald Reagan (ANTONIO CUADRA, 1985: 53). O jornal La

    Prensa representava parte da elite conservadora (Igreja, Partidos

    Conservadores e Confederao de Empresrios). O apoio dessa elite s

    polticas estadunidenses gerou grande desgaste para o Governo Sandinista,

    que chegou a gastar mais de 40% do oramento do prprio Estado para

    conter os avanos militarizados da oposio (CASTAEDA, 1993).

    certo que a Guerra Fria levou a definio de posicionamentos

    polticos e propiciou disputas ideolgicas acirradas na Amrica Latina. No

    entanto, essas disputas eram extremamente complexas e controversas.

    Para a historiadora mexicana Lucrecia Lozano, preciso levar em

    considerao a peculiaridade da experincia revolucionria na Nicargua,

    uma vez que a revoluo foi democraticamente institucionalizada nas

    eleies de 1984.

    4 Ernesto Cardenal foi um dos mais importantes representantes da Teologia daLibertao na Nicargua e atuou, tambm, como ministro da Cultura do governoSandinista. (SADER, 2007)

  • Histria Social, n. 17, segundo semestre de 2009 195

    Octavio Paz, Mdia e Revoluo Sandinista

    A diferencia, sin embargo, de otras experiencias histricas, laselecciones en Nicargua cobran un sentido particular: no son, comousualmente ocorre en las democracias liberales representativas,un ejercicio peridico atravs del cual se mden los ndices delconsenso poltico, sino que, por el contrario, expresan el encuentroentre la legitimidad de la revolucin con su institucionalizacinjurdica. [...] La realizacin de las elecciones de noviembre de 1984se enmarca en este rico y complejo proceso y sus resultadosexpresan la opcin histrica del pueblo nicaraguense ser dueode su propio destino y recorrer el camino trazado por Sandino y losmiles de patriotas cados en la lucha por la justicia, la libertad y laindependencia nacional (LOZANO, 1985: 323).

    Contrariamente a Lozano, Octavio Paz, questiona justamente a

    legitimidade democrtica das eleies devido s medidas autoritrias,

    repressoras e agressivas dos sandinistas. A sua posio poltica oposta,

    at mesmo, ao governo do PRI, que apoiou e reconheceu as eleies de

    1984. De acordo com Michael Lwy, de fato as eleies foram reconhecidas

    internacionalmente como livres e democrticas. Os erros autoritrios foram

    progressivamente corrigidos, embora continuasse a predominar um estilo

    vertical de liderana poltica (LWY, 2006: 56).

    Vale mencionar, mais detalhadamente, que os movimentos

    guerrilheiros na Amrica Central (Guatemala, Nicargua e El Salvador)

    ressurgiram, nos anos de 1960 e 1970, influenciados pela Revoluo Cubana

    e mobilizados por uma profunda crise econmica. O xito da Revoluo

    Sandinista, em 1979, alm de inspirar outros pases da Amrica Central, trazia

    em seu bojo o apreo pela democracia representativa, pela economia mista e

    por poltica externa independente. Porm, de acordo com o cientista poltico

    Emir Sader, a revoluo enfrentou srios problemas com a contra-ofensiva do

    governo Reagan. Os esforos dos sandinistas, no enfrentamento militar com a

    oposio armada pelo governo dos EUA, resultaram em graves problemas

    econmicos e milhares de mortos. (SADER, 2007: 505).

    Como afirmamos, o discurso de Octavio Paz pela defesa da

    democracia era, para parte da esquerda mexicana, vinculado aos interesses

    da poltica externa da era Reagan. No obstante, o discurso democrtico foi

    sendo incorporado pelo pensamento poltico e intelectual latino-americano,

  • Priscila Ribeiro Dorella

    196

    a partir dos anos de 1980, tanto pela direita como pela esquerda. A questo

    que democracia, naquele perodo, no era, ainda, claramente vista como

    a melhor opo poltica na Amrica Latina. De acordo com o escritor

    mexicano Ruy Snchez:

    En varios pases latino-americanos Per, Bolvia, Honduras, Brasil,Uruguay y Argentina los gobiernos militares han tenido que cedersu lugar a gobiernos civiles, marcando un retorno a democracia,que se ha convertido en pesadilla de los generales. Ahora pareceque no solamente los generales aborrecen y temen a la democracia:un sector de izquierda tambin la ataca (RUY SANCHEZ, 1984: 53).

    A eleio nicaragense no apenas criou intensas polmicas pela

    atuao violenta da esquerda e da direita, mas tambm gerou debates com

    relao s possibilidades efetivas da revoluo implementar um sistema

    poltico democrtico na regio. Seguramente, era preciso reconstruir uma

    prtica poltica democrtica para aquela sociedade civil debilitada pelas

    experincias ditatoriais.

    O prprio Mxico, ao passar por graves crises econmicas, nos anos

    de 1980, foi obrigado, segundo o historiador Barry Carr, a repensar o Estado

    burocrtico e o papel violento das guerrilhas. Com Miguel De Marid, o pas

    conteve a luta armada e optou por reformas democrticas liberais (CARR,

    2000). Para Aguilar Camn, a esquerda mexicana, ao longo do sculo XX,

    tendeu, mesmo assim, a acreditar na violncia revolucionria como

    componente constitutivo de legtima transformao nacional. De acordo

    com o autor, devemos notar o que representa a Revoluo Mexicana na

    histria do pas, em que lderes violentos como Pancho Villa so oficialmente

    reconhecidos e celebrados pelos seus gestos fundadores. No Mxico, a

    violncia revolucionria de esquerda a boa violncia que segue, ainda, no

    imaginrio poltico mexicano, com os seus adeptos e os seus heris. Pancho

    Villa, Che Guevara, Sandino, Subcomandante Marcos (AGUILAR CAMM, 2008).

    A relao de Octavio Paz com a esquerda mexicana se tornou, ao longo

    do tempo, cada vez mais problemtica. No entanto, o poeta contundente ao

    esclarecer a necessidade de dilogo com essa vertente ideolgica.

  • Histria Social, n. 17, segundo semestre de 2009 197

    Octavio Paz, Mdia e Revoluo Sandinista

    Siempre cre y creo que mi interlocutor natural era el intelectual llamadode izquierda. Vengo del pensamiento llamado de izquierda. Fue algo muy importanteen mi formacin. No s ahora [...] lo nico que s es que mi dilogo a veces midiscusin es con ellos. No tengo mucho lo que hacer con los otros (PERALTA, 1996:45).

    O historiador mexicano Arnaldo Cordva descorda do poeta ao afirmar

    que ele no queria discutir efetivamente com a esquerda.

    Tenia [Octavio Paz] un concepto de izquierda muy prpio y muyconveniente: para l era el conjunto de los seguidores de lo PartidoComunista Sovitico, de Castro o de Mao. No saba que haba unpensamiento de izquierda, marxista, que era diferente. Esepensamiento a l no le interesaba. Queria un enemigo a modo y erase lo que estaba restando. Probablemente le habra encantadoque Leonid Brejnev o Fidel Castro se dirigieran a l y lo invitarn apolemizar como l queria, probablemente en la Plaza Roja o en laPlaza de la Revolucin. Cuando Paz se converti en estrella de latelevisin con sus magnficos y muy ilustrativos programas jamsabri las puertas a una polmica como l deca que quera con laizquierda (CORDOVA, 2007).

    A explicao da indignao, de parte da esquerda mexicana, causada

    pelas palavras de Octavio Paz possui vrios lados, um dos principais foi s

    suas aparies na Televisa. O diretor de televiso Tajonar, afirma que grande

    parte da comoo social causada pelos discursos de Octavio Paz, em 1984,

    na mdia, foi gerada pelo lugar e pela maneira como foi transmitido. A

    imagem do poeta atravs da Televisa adquiriu, no Mxico, um sentido muito

    questionvel por estar associado a uma empresa de posicionamento poltico

    conservador. (TAJONAR, 1998: 4).

    O j citado Aguilar Camn diretor da revista Nexos, principal revista

    de oposio ao poeta, endossa a viso de Tajonar, ao escrever que o principal

    responsvel pelos protestos foi a forma beligerante que a Televisa

    transmitiu o discurso de Paz, restringido-o a paisagem centro-americana. O

    discurso El dilogo y el rudo, segundo Aguilar Camn, ficou mais bem

    conhecido, vrias semanas depois, dos protestos contra o poeta, o que, por

    outro lado, no exclui, para ele, a crtica sobre a tendncia do poeta em

  • Priscila Ribeiro Dorella

    198

    omitir dados, nos seus ensaios, que encobriam os seus preconceitos e

    intenes. (AGUILAR CAMN, 1998: 71).

    Jorge Castaeda, pontua, de modo distinto dos autores citados

    acima, que o discurso de Octavio Paz foi transmitido na ntegra pela Televisa

    e foi primeira vez que se conjugou a onda direitista da intelectualidade

    europia, do qual o poeta era, na viso dele, um adepto, com os meios de

    comunicao de massa para atacar a Nicargua. Nesse caso, o poder desigual

    dos estadunidenses frente aos sandinistas no foi levado, devidamente,

    em considerao por Paz e pela Televisa. Para Castaeda, a projeo que

    Octavio Paz alcanou, com o seu discurso, foi inigualvel em comparao

    com a imprensa escrita, o que resultou, conseqentemente, na indignao

    da esquerda revolucionria e na diminuio do apoio da opinio pblica

    mexicana em relao Revoluo Sandinista, justamente no momento que

    a revoluo mais precisava (CASTAEDA, 1984; 40).

    O prprio Paz, ao se defender dessas crticas, dizia que nunca foi a

    favor da interveno dos EUA na Amrica Central, e sim da existncia de

    condies polticas verdadeiramente democrticas. O discurso em Frankfurt

    ressalta que os problemas na Nicargua foram anteriores invaso norte-

    americana e que os sandinistas poderiam transformar o pas em uma

    ditadura burocrtica militar, assim como se tornou Cuba. Sobre o dio

    manifestado pela esquerda em relao as suas declaraes, Paz pontua: No

    slo han isolado ciertas frases mas del contexto sino que se desfiguraron ms

    palabras o se me atribuyeron cosas que yo no dije (RUY SANCHZ, 1984: 46).

    O fato que mesmo as posies polticas mais apuradas dos

    intelectuais eram matizadas, durante a Guerra Fria, em interpretaes

    binrias (capitalismo x comunismo; revoluo x democracia; direita x

    esquerda). Ainda sim, o acirrado debate intelectual, imperdovel quanto

    s ingenuidades ideolgicas, foi um elemento fundamental para o

    ressurgimento da sociedade civil latino-americana e o desencanto dos

    movimentos revolucionrios. Analisar como as idias de um clebre

    intelectual mexicano sobre a Revoluo Sandinista foram sendo debatidas,

    deformadas, (re)construdas e polemizadas, entre outros meios, atravs da

    transmisso televisiva durante o processo de redemocratizao dos

  • Histria Social, n. 17, segundo semestre de 2009 199

    Octavio Paz, Mdia e Revoluo Sandinista

    pases latino-americanos foi um dos objetivos desse artigo. Dessa

    maneira, percebemos como a histria contempornea das lutas polticas e

    sociais da Amrica Latina devem ser relacionadas e compreendidas, muitas

    vezes, vinculadas aos meios de comunicao de massa e ao discurso

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