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INFLUÊNCIA DO PROBIÓTICO DURANTE ALEVINAGEM DO ASTYANAX BIMACULATUS Marian Felisberto BITENCOURT 1 , Andressa Vieira DE MORAES 2 , Leandro Marcolino VIEIRA 3 , Marina de Oliveira PEREIRA 4 , Adolfo JATOBÁ 5 . 1 – Bolsista 054/2015 IFC – Campus Araquari, 2,3,4 – Discentes Medicina Veterinária, 5 – Orientador IFC-Campus Araquari. Introdução O lambari do rabo-amarelo (Astyanax bimaculatus), também conhecido como lambari tambiú, é um peixe de 10 a 12 cm de comprimento, serve como espécie forrageira, possui rápido ciclo de vida, rusticidade e alta produtividade. Aceita facilmente comida natural, bem como a alimentação artificial, suporta altas densidades de estocagem acima de 6 peixes.L -1 , sugerindo uma boa adaptação aos sistemas de produção intensiva. (Jatobá & Silva, 2015). A intensificação do cultivo, condições de estresse e circunstâncias ambientais, podem levar a problemas relacionados a doenças que atingem principalmente as formas mais jovens como larvas e alevinos. Agentes antimicrobianos atuam no controle contra doenças. No entanto, a utilização desenfreada de antibióticos leva ao aumento da pressão de seleção de comunidades microbianas, resultando em resistência por parte de bactérias patogênicas (Gastalho & Ramos, 2014). Uma alternativa para a antibióticoterapia é o uso de probiótico. Jatobá & Mouriño (2015) constataram melhora nos parâmetros de desempenho, tais como o aumento no ganho de peso, biomassa, eficiência alimentar aparente e produtividade. Neste cenário, o uso de probióticos surge com uma alternativa para a redução das perdas na produção de alevinos. Esta pesquisa teve como objetivo avaliar o desempenho zootécnico dos alevinos do lambari do rabo amarelo (Astyanax bimaculatus) alimentados com dietas suplementadas com probiótico (Lactobacillus sp.) e seu efeito na microbiota do trato digestório do hospedeiro. Material e Métodos

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Page 1: MICTI - 2016 - Marian PROBIÓTICO ALEVINAGEM …eventos.ifc.edu.br/wp-content/uploads/sites/5/2014/08...1 – Bolsista 054/2015 IFC – Campus Araquari, 2,3,4 – Discentes Medicina

INFLUÊNCIA DO PROBIÓTICO DURANTE ALEVINAGEM DO ASTYANAX

BIMACULATUS

Marian Felisberto BITENCOURT1, Andressa Vieira DE MORAES2, Leandro Marcolino VIEIRA3, Marina de Oliveira PEREIRA4, Adolfo JATOBÁ5. 1 – Bolsista 054/2015 IFC – Campus Araquari, 2,3,4 – Discentes Medicina Veterinária, 5 – Orientador IFC-Campus Araquari.

Introdução

O lambari do rabo-amarelo (Astyanax bimaculatus), também conhecido como

lambari tambiú, é um peixe de 10 a 12 cm de comprimento, serve como espécie

forrageira, possui rápido ciclo de vida, rusticidade e alta produtividade. Aceita

facilmente comida natural, bem como a alimentação artificial, suporta altas densidades

de estocagem acima de 6 peixes.L-1, sugerindo uma boa adaptação aos sistemas de

produção intensiva. (Jatobá & Silva, 2015).

A intensificação do cultivo, condições de estresse e circunstâncias ambientais,

podem levar a problemas relacionados a doenças que atingem principalmente as formas

mais jovens como larvas e alevinos. Agentes antimicrobianos atuam no controle contra

doenças. No entanto, a utilização desenfreada de antibióticos leva ao aumento da

pressão de seleção de comunidades microbianas, resultando em resistência por parte de

bactérias patogênicas (Gastalho & Ramos, 2014).

Uma alternativa para a antibióticoterapia é o uso de probiótico. Jatobá &

Mouriño (2015) constataram melhora nos parâmetros de desempenho, tais como o

aumento no ganho de peso, biomassa, eficiência alimentar aparente e produtividade.

Neste cenário, o uso de probióticos surge com uma alternativa para a redução das perdas

na produção de alevinos.

Esta pesquisa teve como objetivo avaliar o desempenho zootécnico dos

alevinos do lambari do rabo amarelo (Astyanax bimaculatus) alimentados com dietas

suplementadas com probiótico (Lactobacillus sp.) e seu efeito na microbiota do trato

digestório do hospedeiro.

Material e Métodos

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O estudo foi realizado no Laboratório de Aquicultura (LAQ), Instituto Federal

Catarinense (IFC), campus Araquari, sob o protocolo de número 0118/2015 do comitê

de ética no uso de animais da mesma instituição.

Cento e sessenta alevinos de lambaris do rabo amarelo (peso médio 0,37 g)

foram distribuídos em oito tanques de 22 litros de polietileno (n = 20.tanque-1) ligado a

um sistema de recirculação com um filtro de cartucho e a temperatura constante (26-27

°C). As unidades experimentais foram divididas em dois tratamentos: peixes

alimentados com ração enriquecida com bactérias ácido láctica (Lactobacillus sp.) e

peixes alimentados com dieta controle (sem suplementação). Os peixes foram

alimentados quatro vezes ao dia, com 10% da biomassa por duas semanas, 7,5% da

biomassa na terceira semana e 5% da biomassa nas duas últimas, totalizando 39 dias.

Durante a experiência, o oxigênio dissolvido e temperatura foram aferidos duas vezes

por dia. O pH, amônia e nitratos dissolvidos totais foram medidas uma vez por semana e

as biometrias semanalmente.

O alimento comercial, inicialmente consistiu de ração em pó (níveis de garantia

do fabricante: proteína bruta 55%, Grupo Guabi, Brasil). A ração foi pulverizada com a

bactéria ácido láctica previamente cultivada em soro de leite (30 mg/kg), água destilada

e açúcar (20 mg/kg). O líquido probiótico foi incubado durante 24 h a 35 °C, a uma

concentração de 1 x 1011 UFC ml-1 e taxa de 100 ml kg-1 ração. A alimentação

pulverizada foi incubada durante 24 h a 35 °C em um recipiente hermeticamente selado.

Em seguida, a alimentação foi seca durante 24 h a 35 °C. A ração controle foi

pulverizada com o líquido controle esterilizado. Na terceira semana a ração em pó foi

substituída pela ração extrusada de um milímetro (níveis de garantia do fabricante:

proteína bruta 45%, Grupo Guabi, Brasil). A ração agora era pipetada com a bactéria

ácido láctica selecionadas, bem como a dieta controle logo antes de ofertar a

alimentação aos peixes.

Após 24 horas de jejum, os peixes foram anestesiados com óleo de cravo (1%)

e sacrificados por concussão craniana. Um pool do trato digestivo de cinco peixes de

cada unidade experimental foi coletado em condições estéreis, macerado em solução

salina estéril 0,65% NaCl, homogeneizado, e diluído em série 1:10. As amostras de cada

diluição foram cultivadas em Plate Count Agar (PCA), Tiossulfato Citrato Bile Sais

Sacarose (TCBS), Cetrimide Agar, Baird Parker Agar (BPA) e MRS Agar. Placas de

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MRS foram incubadas durante 48 h a 30 °C, e as demais foram incubadas durante 24 h

a mesma temperatura para contagens bacterianas viáveis. Foram avaliados peso médio

final, ganho de peso, o ganho de peso semanal, a taxa de sobrevivência, o eficiência

alimentar aparente, e produtividade.

Para análise estatística, os valores das análises microbiológicas foram

convertidos para log(x + 1), e submetidos a um teste de "t". Todos os testes foram

submetidos a 5% de significância.

Resultados e discussão

As análises microbiológicas de lambaris alimentados com a dieta suplementada

com probiótico demonstraram que a contagem de bactérias heterotróficas totais,

Staphylococcus sp., E Vibrio sp. foi menor do que no grupo controle. A contagem das

bactérias heterotróficas totais do lambaris alimentados com a dieta de probiótico

resultou em 5,37 unidades formadoras de colônia (UFC) por g de aparelho digestivo

contra 6,77 no grupo controle. A contagem de Staphylococcus sp. resultou em 2,89

contra 5,75 UFC por g de aparelho digestivo. Já as contagens de Vibrio sp. foram de

2,31 contra 5,06 CFU por g de aparelho digestivo. A bactéria Pseudomonas sp. também

demonstrou contagens mais baixas, 2,50 contra 3,04 unidades formadoras de colônia

(UFC), porém sem diferença estatística (Tabela 1). Relatou-se a ausência de bactérias

ácido láticas na análise microbiológica, isto pode estar relacionado provavelmente ao

tamanho do trato digestivo do animal. Além disso, o período de jejum pode ter reduzido

a população destas bactérias para níveis não quantificáveis pela metodologia escolhida. Tabela 1. Análises microbiológicas do trato intestinal (UFC por g de trato) do lambari do rabo amarelo (A. bimaculatus) alimentado com dieta suplementada com probióticos ou não. * Indica diferenças significativas. ND = não detectável.

Análise Microbiológica Tratamento Significância

Controle Probiótico Bactéria Heterotrófica totais 6,77 ± 1,06* 5,37 ± 0,64 0,039

Staphylococcus sp. 5,75 ± 0,82* 2,89 ± 1,09 0,040

Vibrio sp. 5,06 ± 1,35* 2,31 ± 0,89 0,014

Pseudomonas sp. 3,04 ± 1,41 2,50 ± 1,61 0,304

BAL (Bactéria Ácido Lática) ND ND -

As mudanças na microbiota pelo Lactobacillus spp. levaram a uma redução

significativa no número de bactérias. Esta redução pode ser considerada devido a uma

provável manipulação da histo-arquitetura do intestino que conduz a uma melhor

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utilização de nutrientes e consequentemente, um aumento da imunidade. Os alevinos de

tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus) alimentados com dietas suplementadas com

Lactobacillus plantarum, também demonstraram alterações em sua microbiota, e

inferior contagem de bactérias para Vibrio harveyi, V. anguillarum, Enterococcus sp., V.

alginolyticus, Micrococcus luteos e Escherichia coli (Jatobá & Mouriño, 2015).

A avaliação dos índices zootécnicos no final do ensaio revelou uma melhoria

da taxa de sobrevivência dos alevinos de lambaris alimentados com dieta suplementado

com Lactobacillus spp. (Tabela 2). A diferença da sobrevivência entre lambaris

alimentados com ração suplementada com probiótico e o grupo controle foi de 88,25

contra 68,75%, respectivamente. Esta diferença pode ser devido a atuação do probiótico

como promotor da saúde da microbiota intestinal do peixe e suas alterações benéficas,

que aumentam a resposta imune elevando a sua resistência (Nayak, 2010). Outros

parâmetros, tais como a média do peso final, o ganho de peso; ganho de peso semanal;

eficiência alimentar aparente e o rendimento não apresentaram diferenças estatísticas

entre os tratamentos (Tabela 2). No entanto, uma maior taxa de sobrevivência na cultura

do A. bimaculatus tratado sobre o grupo de controle mostra que o probiótico é um

suplemento notável quando se trata de produção de alevinos. Nesta fase da vida a

sobrevivência torna-se um dos parâmetros mais importantes devido a sua

comercialização. Alevinos são vendidos em grupos de mil, ao invés de peso em

quilogramas. Portanto, ao aumentar as taxas de sobrevivência, garante-se que os

produtores tenham uma maior oferta para esta espécie. Tabela 2. Índices zootécnicos do lambari do rabo amarelo (A. bimaculatus) alimentado com dieta suplementada com probióticos ou não. * Indica diferenças significativas. GPS: ganho de peso semanal .

Índice Zootécnico Tratamento Significância Controle Probiótico

Peso médio final (g) 3,21 ± 0,35 2,73 ± 0,42 0,066

Ganho de peso (g) 2,51 ± 0,35 2,51 ± 0,19 0,075

GPS (g.semana-1) 0,57 ± 0,04 0,50 ± 0,04 0,075

Sobrevivência (%) 68,75 ± 16,52 88,25 ± 4,72* 0,031

Eficiência alimentar aparente 0,74 ± 0,17 0,73 ± 0,12 0,200

Produtividade (kg.m-3) 1,92 ± 0,10 2,21 ± 0,25 0,070

Os resultados dos parâmetros de qualidade de água não divergiram entre os

tratamentos e estão são adequados para a espécie. Não foi detectada a presença de

Lactobacillus spp. na água das unidades experimentais dos peixes alimentados com

dieta suplementada com probiótico ou não. Este fato demonstra que, apesar de os peixes

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terem compartilhado um único sistema de filtro, as bactérias não interferiram no

tratamento controle.

Conclusão Os resultados demonstram o potencial de dietas suplementadas com

Lactobacillus spp. em induzir alterações na flora intestinal e aumentar as taxas de

sobrevivência no lambari do rabo amarelo.

Referências

GASTALHO, S.; SILVA, G.; RAMOS, F. Uso de antibióticos em aquacultura e

resistência bacteriana: impacto em saúde pública. Acta Farmacêutica Portuguesa 3.1

29-45, 2014.

JATOBÁ, A.; MOURIÑO, J. L. P. Lactobacillus plantarum effect on intestinal tract of

Oreochromis niloticus fingerlings. Ciência Animal Brasileira, v. 16, n. 1, p. 45-53,

2015.

JATOBÁ, A.; SILVA, B. C. Stocking density in the juvenile production of two

characins species in a recirculating system. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária

e Zootecnia, v. 67, n. 5, p. 1469-1474, 2015.

NAYAK, S. Probiotics and immunity: a fish perspective. Fish Shellfish Immunol 29:2 e

14, 2010.

ROTLLANT, J.; TORT, L. Cortisol and glucose responses after acute stress by net

handling in the sparid red porgy previously subjected to crowding stress. J Fish Biol,

51: 21–28, 1997.

STRANGE, R. J. Acclimation temperature influences cortisol and glucose

concentrations in stressed channel catfish. Transactions of the American Fisheries

Society 109.3, 298-303, 1980.