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AÇÕES EDUCATIVAS PARA CONSCIENTIZAÇÃO DA POPULAÇÃO DE JOINVILLE/SC ACERCA DOS CONCEITOS DE BEM-ESTAR ANIMAL Autores: Alberto G. EVANGELISTA ¹*; Anna C. R. SANTOS¹; Isabelle C. THOMSEN¹; Gabriel S. PACHECO²; Karine N. BORTOLI²; Raquel RYBANDT²; Erica P. MARSON³ Identificação autores: ¹Acadêmicos de Medicina Veterinária, IFC-Campus Araquari; ²Técnicos Administrativos em Educação, IFC-Campus Araquari; ³Professora EBTT, Médica Veterinária, Orientadora, IFC-Campus Araquari. *Bolsista de Extensão, Edital 17/2015. Introdução Pelo senso comum moral, grande parte da população cuida de seus animais, tratando-os com responsabilidade e respeito. Porém, muitos casos de maus tratos aos animais, incluindo o abandono, ainda são registrados. No Brasil, denúncias de maus tratos são legitimadas pela Lei Federal n° 9605 de 1998 (Lei de Crimes Ambientais); pelo artigo 32 do Código Penal e, desde 2007 tramita na esfera federal o projeto de lei n° 215/2007 que institui o Código Federal de Bem-Estar Animal (CFBEA). Muitos indivíduos porém, não reconhecem os benefícios mútuos experimentados nas interações humano-animal, desconhecendo a existência do âmbito jurídico responsável pelo bem- estar dos animais, por possuir valores éticos de uma época em que os animais eram vistos como irracionais, agindo somente por instinto (Vieira, 2008). Não existem dados oficiais que revelam o número de animais abandonados, um tipo de maus-tratos, em Joinville, porém, são frequentes os relatos desses casos (A Notícia, 2016), o que reflete a expressiva quantidade de animais vivendo hoje em lares temporários de protetores animais ou em instituições não governamentais (ONGs) existentes na cidade. Segundo Bachtold (Comunicação pessoal, 2015), responsável por uma das maiores ONGs de Joinville, “ainda enfrentamos uma realidade de mais animais entrando do que saindo, sem contar os casos de devolução de animais que já haviam sido adotados, ou ainda serem novamente abandonados”, o que evidencia a falta de conscientização da população acerca do abandono e da guarda responsável. O desconhecimento dos conceitos de bem-estar animal (BEA) por parte da população coloca em risco as medidas criadas para assegurar condições mínimas de vida aos animais, pois indivíduos desinformados e não conscientes são potenciais infratores. Para Barbosa et al. (2014), a educação ambiental é eficaz para sensibilização referente ao BEA, por envolver o público e inseri-lo em um novo ambiente.

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AÇÕES EDUCATIVAS PARA CONSCIENTIZAÇÃO DA POPULAÇÃO DEJOINVILLE/SC ACERCA DOS CONCEITOS DE BEM-ESTAR ANIMAL

Autores: Alberto G. EVANGELISTA¹*; Anna C. R. SANTOS¹; Isabelle C. THOMSEN¹; Gabriel S. PACHECO²;Karine N. BORTOLI²; Raquel RYBANDT²; Erica P. MARSON³Identificação autores: ¹Acadêmicos de Medicina Veterinária, IFC-Campus Araquari; ²Técnicos Administrativos emEducação, IFC-Campus Araquari; ³Professora EBTT, Médica Veterinária, Orientadora, IFC-Campus Araquari.*Bolsista de Extensão, Edital 17/2015.

Introdução

Pelo senso comum moral, grande parte da população cuida de seus animais,

tratando-os com responsabilidade e respeito. Porém, muitos casos de maus tratos aos

animais, incluindo o abandono, ainda são registrados. No Brasil, denúncias de maus

tratos são legitimadas pela Lei Federal n° 9605 de 1998 (Lei de Crimes Ambientais);

pelo artigo 32 do Código Penal e, desde 2007 tramita na esfera federal o projeto de lei

n° 215/2007 que institui o Código Federal de Bem-Estar Animal (CFBEA). Muitos

indivíduos porém, não reconhecem os benefícios mútuos experimentados nas interações

humano-animal, desconhecendo a existência do âmbito jurídico responsável pelo bem-

estar dos animais, por possuir valores éticos de uma época em que os animais eram

vistos como irracionais, agindo somente por instinto (Vieira, 2008).

Não existem dados oficiais que revelam o número de animais abandonados, um

tipo de maus-tratos, em Joinville, porém, são frequentes os relatos desses casos (A

Notícia, 2016), o que reflete a expressiva quantidade de animais vivendo hoje em lares

temporários de protetores animais ou em instituições não governamentais (ONGs)

existentes na cidade. Segundo Bachtold (Comunicação pessoal, 2015), responsável por

uma das maiores ONGs de Joinville, “ainda enfrentamos uma realidade de mais

animais entrando do que saindo, sem contar os casos de devolução de animais que já

haviam sido adotados, ou ainda serem novamente abandonados”, o que evidencia a

falta de conscientização da população acerca do abandono e da guarda responsável.

O desconhecimento dos conceitos de bem-estar animal (BEA) por parte da

população coloca em risco as medidas criadas para assegurar condições mínimas de

vida aos animais, pois indivíduos desinformados e não conscientes são potenciais

infratores. Para Barbosa et al. (2014), a educação ambiental é eficaz para sensibilização

referente ao BEA, por envolver o público e inseri-lo em um novo ambiente.

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Nesse contexto, este projeto buscou trabalhar com a população da cidade de

Joinville, SC, por meio de ações físicas, socializando noções sobre qualidade de vida,

bem-estar e guarda responsável de animais de forma promover a conscientização e a

apropriação de conhecimento por parte dos indivíduos acerca da causa animal.

Material e Métodos

Durante um período de 12 meses, de março de 2015 a março de 2016, foram

planejadas e executadas ações vinculadas ao “Projeto Adoção IFC”. Páginas criadas nas

redes sociais Facebook® (www.facebook.com/AdocaoAnimalIFC) e Blogger®

(adocaoanimal-ifc.blogspot.com.br) foram utilizadas para apresentar conceitos sobre

BEA, guarda responsável e cuidados gerais para com os animais.

Para atingir a população fora do ambiente da internet, foram organizadas as

“Feiras de adoção do Projeto Adoção IFC”, nas quais a população de Joinville foi

convidada, por meio das redes sociais supracitadas, a visitarem a ONG Abrigo Animal,

parceira na realização deste projeto (Figura 1). Essa visita tinha como objetivo trazer as

pessoas ao local criar empatia com os animais abandonados, e despertar o interesse pela

adoção, o que se vislumbra mais difícil nos ambientes virtuais. Além das feiras, a

equipe foi convidada, em dois momentos, a participar de programas televisivos (Figura

2), levando os conceitos de BEA para discussão a uma grande massa.

Figura 1. Adoções realizadas durante

a 1º Feira do Projeto Adoção Animal-

IFC. Fonte: Acervo pessoal.

Figura 2. Entrevista concedida à RIC

TV Record. Fonte: Acervo Pessoal.

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Com o apoio do Shopping Mueller de Joinville foi organizada uma ação

denominada “Descarte de Cão e Gato”. Esta ação envolveu a presença de dois

contentores (lixeiras), contendo a identificação externa de “Animal”, remetendo a

simbologia de material reciclável. Dentro das lixeiras foi acoplado um dispositivo

sonoro que emitia vocalizações sonoras de cães, fazendo analogia a um animal preso

dentro delas, com o intuito incitar a curiosidade das pessoas que circulavam no local.

Com o estímulo provocado pelo som, as pessoas acabavam por abrir a lixeira, a fim de

verificar o que tinha acontecido e em busca do animal preso dentro dela. No seu

interior, as pessoas tinham acesso à folders e flyers explicativos acerca do Projeto

Adoção Animal IFC e da instituição parceira, além de dezenas de fotos de animais que

vivem abrigados no Abrigo Animal, que atualmente são mais de 500 deles (Figura 3).

Figura 3. Conteúdo do contentor na ação “Descarte de Cão e Gato”. Fonte: Acervopessoal.

No momento da abertura do contentor, um integrante da equipe realizou uma

abordagem, para apresentar conceitos referentes ao crescimento do abandono de

animais em Joinville, da legislação vigente acerca do BEA, da guarda responsável, etc.

Após a explanação, foi aplicado um questionário a 86 pessoas interessadas. Todos os

entrevistados assinaram o “Termo de Autorização para uso de Imagem Pessoal”,

ficando cientes de que a filmagem do momento da abertura do contentor e abordagem,

além de suas respostas ao questionário, ficariam disponíveis para serem trabalhadas e

divulgadas pela equipe do projeto em publicações posteriores. A aplicação do

questionário foi empregada no intuito de mensurar o quão efetivo foram os meios

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utilizados para a divulgação física (feiras, televisão) e o quão informada estava a

população acerca da causa animal.

Resultados e discussão

A Tabela 1 reúne as respostas dos 86 entrevistados ao questionário aplicado.

Tabela 1. Respostas dos entrevistados ao questionário acerca dos conhecimentos sobre

a causa animal

Perguntas Sim Não Nãoresponderam

1) Você conhece ou já ouviu falar do Abrigo Animal de Joinville?

60 24 2

2) Você alguma vez já adotou um cão ou um gato?

72 14 0

3) Se fosse para você adotar um animal, você adotaria por meio das mídias digitais?

44 40 2

4) Você sabia que abandonar um animal é um crime previsto por lei?

10 72 4

Fonte: Os autores.

Observando-se as respostas obtidas, constata-se que aproximadamente 70% das

pessoas conhecem o Abrigo Animal, mostrando que o projeto pode ter influenciado

positivamente no aumento da visibilidade da ONG e do trabalho que executa. Pode-se

perceber também que 84% dos entrevistados admitiram que já adotaram alguma vez um

animal, o que leva a crer que a preocupação com a causa do abandono e com a

qualidade de vida dos animais em situação de rua está bem presente na maioria da

população. Porém, um fato de grande importância a ser ressaltado é o desconhecimento

por muitas pessoas da existência de legislações brasileiras que regulamentam e

protegem os animais das situações de maus tratos.

Percebe-se que, embora exista uma legislação, seu teor não se encontra

amplamente difundido. Por isso, considerando a presença de um significativo número

de casos de maus tratos contra animais (incluindo o abandono), é imprescindível que a

população não somente seja conscientizada e sensibilizada à causa animal, mas também

informada quanto a existência de punições aos transgressores, com medidas para

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responsabilizar suas atitudes em respeito à conduta ética e ao equilíbrio das interações

humano-animal.

Conclusão

Através da análise da abordagem metodológica em que o projeto se inseriu,

conclui-se que as redes sociais Facebook® e Blogger®, embora atinjam uma grande

esfera da população, não garantem, sozinhas, a apropriação efetiva do conhecimento

seguida por mudança de opinião e de conduta. Porém, quando aliadas às ações físicas

bem planejadas e executadas junto ao público, conquistam a atenção de uma grande

massa participativa. No que concerne à causa animal, o projeto Adoção Animal IFC

conclui que a aplicação de medidas educativas de caráter informativo e conscientizador

de forma ininterrupta, são necessárias para que homens e animais coexistam em respeito

e harmonia, reafirmando seus verdadeiros papéis na sociedade em prol da qualidade de

vida e do bem-estar mútuo.

Referências

Abrigo Animal. Quem somos? Disponível em: <www.abrigoanimal.org.br/site/quem-

somos>. Acesso em: 04 out. 2016.

A Notícia. Abondono de animais é caso frequente nos bairros da periferia de Joinville

[2015]. Disponível em:

<http://anoticia.clicrbs.com.br/sc/geral/noticia/2015/12/abandono-de-animais-e-caso-

frequente-nos-bairros-da-periferia-de-joinville-4935570.html>. Acesso em 04 out. 2016.

BARBOSA, L. et al. Educação Ambiental pelo bem-estar e saúde animal nas

instituições de ensino básico da vila florestal em Lagoa Seca/PB. In: Congresso

Nacional de Educação, Campina Grande, 2014 Anais... Campina Grande: CONEDU,

2014.

VIEIRA, A. Controle populacional de cães e gatos: Aspectos técnicos e operacionais.

Ciência Veterinária Tropical, Recife-PE, v. 11, suplemento 1, p.102-105, abril, 2008.