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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES MICROCRÉDITO COMO FERRAMENTA DE INCLUSÃO SOCIAL NO BRASIL VITOR VALLIM TUPPER 2010 VITOR VALLIM TUPPER

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Page 1: MICROCRÉDITO COMO FERRAMENTA DE INCLUSÃO … · empreendendorismo e os impactos sociais do microcrédito no Brasil. O quarto capítulo está dedicado às análises das dificuldades

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

MICROCRÉDITO COMO FERRAMENTA DE INCLUSÃO SOCIAL NO BRASIL

VITOR VALLIM TUPPER

2010

VITOR VALLIM TUPPER

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MICROCRÉDITO COMO FERRAMENTA DE INCLUSÃO SOCIAL NO BRASIL

ORIENTADOR

ANA CLAUDIA MORRISSY

AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer a toda minha família, principalmente meu pai, minha mãe e minha irmã, que me deram força para superar mais um obstáculo em minha vida.

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SUMÁRIO

PAGINA RESUMO............................................................................................................................. 5 LISTA DE ABREVIATURAS............................................................................................... 6 LISTA DE GRÁFICOS........................................................................................................ 7 LISTA DE TABELAS.......................................................................................................... 7 INTRODUÇÃO................................................................................................................. 8

1- A POBREZA NO BRASIL................................................................................................. 10 1.1 O SURGIMENTO DO GRAMMEN BANK.............................................................. 15 1.2 O MICROCRÉDITO NO BRASIL............................................................................. 17 1.3 ASPÉCTOS LEGAIS...................................................................................................22

2- FORMAS DE ATUAÇÃO DO MICROCRÉDITO NO BRASIL.......................................25 2.1 COOPERATIVAS DE CRÉDITO.............................................................................. 26 2.2 ORGANIZAÇÃO NÃO GOVERNAMENTAL - ONG........................................... 27 2.3 ORGANIZAÇÃO DA SOCIEDADE CIVIL DE INTERESSE PÚBLICO - OSCIP. 28 2.4 SOCIEDADE DE CRÉDITO AO MICROEMPREENDEDOR - SCM.................... 29

3- A VIABILIDADE ECONOMICA DE UM PROGRAMA DE MICROCRÉDITO........... 31 3.1 A QUESTÃO DA SUSTENTABILIDADE............................................................... 31 3.2 EMPREENDENDORISMO NO BRASIL................................................................ 36 3.3 O IMPACTO SOCIAL DO MICROCRÉDITO......................................................... 38

4- AS DIFICULDADES ENCONTRADAS NO SETOR DE MICROCRÉDITO.................42 4.1 PEQUENA PROCURA POR MICROCRÉDITO...................................................... 42 4.2 ASSIMETRIA DE INFORMAÇÃO.......................................................................... 43

5- CONCLUSÃO.....................................................................................................................45

6- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................47

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RESUMO

A pesquisa mostra a importância do Microcrédito Produtivo Orientado para o

desenvolvimento de um país como o Brasil. Analisa o mercado de Microcrédito no Brasil

indicando suas diferentes formas de atuação. Identifica as dificuldades que uma entidade

que oferta Microcrédito enfrenta durante todo o processo, desde sua criação, até mesmo os

problemas com assimetria de informação. Analisa, também, os efeitos perversos que a falta

de uma linha de crédito diferenciado, como o Microcrédito, pode causar a uma população

com elevado grau de empreendedorismo e informalidade como a do Brasil. O microcrédito

não deve ser entendido apenas como uma medida de política econômica, mas também

como de política social, pois deve oferecer acessibilidade para agentes econômicos que

dantes estavam excluídos do mercado financeiro. Esta monografia pretende colocar nas

pautas das discussões a influência do Microcrédito no desenvolvimento do país e na

redução da pobreza, considerando que é uma forma de crédito rápido, sem burocracia e

auto-sustentável. Para população de baixa renda o acesso ao crédito propiciou condições de

cidadania além do desenvolvimento local e regional.

.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

DIEESE - Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada PAD - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios BID - Banco Interamericano de Desenvolvimento UICEF - Fundo das Nações Unidas para a Infância OSCIP - Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público BCB - Banco Central do Brasil IMPO - Instituições de Microcrédito Produtivo Orientado PIB - Produto Interno Bruto AGI - Agente de Intermediação OG’s - Organizações não Governamentais SCM - Sociedade de Crédito ao Microempreendedor SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas SOFTEX - Sociedade Brasileira para Exportação GEM - Monitor Global do Empreendedorismo OU - Organização das Nações Unidas IMF - Instituição de Microfinanças TEM - Ministério do Trabalho e do Emprego

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LISTAS DE GRÁFICOS

Gráfico 1: TAXA DE DESEMPREGO NO ENCERRAMENTO ANUAL (%). Gráfico 2: QUANTIDADES DE COOPERATIVAS 2000-2008.

LISTAS DE TABELAS

Tabela 1 Composição da Cesta Básica Nacional - Dieese Produto x Quantidade x Preço Tabela 2 Resultados Consolidados Anuais Tabela 3 Expansão do Crédito e do Microcrédito Produtivo Orientado no Brasil Tabela 4 Resumo das Informações

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INTRODUÇÃO

As dificuldades encontradas pela sociedade brasileira em decorrência do aumento

do desemprego nos últimos anos e a migração de trabalhadores com carteira assinada para o

setor informal da economia têm exigido o desenvolvimento de mecanismos que permitam o

acesso ao credito popular a essa camada da população. Dentre as estratégias adotadas pelo

Estado está na promoção do microcrédito voltado à geração de emprego e renda de forma

solidária e ao combate às desigualdades sociais.

O microcrédito tornou-se popular a partir de 1976 em Bangladesh onde muitas

famílias que trabalhavam por conta própria, eram artesãos, marceneiros, artífices, e para

desenvolverem seus ofícios precisavam de dinheiro para adquirir a matéria-prima. Os

bancos locais não ofereciam créditos pequenos a pessoas sem renda comprovada, sendo os

agiotas a única forma de captar recursos, porém a juros exorbitantes.

Hoje, a idéia do Grameen Bank é disseminada em vários países, conhecida como

Microcrédito, tendo se tornado um instrumento bastante eficaz de combate à pobreza e de

inclusão social. Além disso, pratica a solidariedade e consciência comunitária, já que o

agente de crédito atua geralmente como conselheiro, consultor, educador e fiscal. Este

agente na maioria das vezes, pertence à comunidade e isso facilita o seu trabalho na seleção

dos micros empreendedores e na formação dos grupos solidários. Nele está o diferencial em

relação aos bancos, pois o agente de crédito vai até os clientes.

Já são diversos os programas de microcrédito no Brasil que vem obtendo sucesso e

um crescimento constante emprestando pequenos recursos com juros baixos a

microempresários na maioria das vezes empresas sem registro algum e profissionais por

conta própria, alcançando um nível surpreendente de inadimplência igual a zero.

A presente monografia tem por objetivo analisar o microcrédito, como forma de

diminuir as desigualdades sociais e verificar em que extensão o Microcrédito como

programa social, gera emprego e renda para a população com poucos recursos financeiros,

e quais suas influências no desenvolvimento econômico brasileiro.

A expectativa é que, a partir dos resultados desta pesquisa as instituições financeiras

possam conhecer e explorar uma oportunidade de mercado no Microcrédito inserindo este

produto em suas cestas de negócios. Os pontos de venda estão aumentando com grande

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velocidade nos últimos anos, mas a procura por Microcrédito nas novas instituições ainda é

escassa se comparada com outros tipos de empréstimos.

No primeiro capítulo apresentamos algumas abordagens conceituais sobre pobreza

assim como a forma de mensuração. Ainda neste capítulo é apresentada uma análise geral

sobre o assunto: entre as discussões destaca-se o surgimento do Grammen Bank e um breve

histórico do microcrédito no Brasil assim como os aspectos legais pertinentes incluindo as

disposições constitucionais. No segundo capítulo são apresentadas às diversas formas que

uma instituição financeira pública ou privada pode ofertar o Microcrédito.

O terceiro capítulo é analisado a viabilidade econômica do programa de

microcrédito assim como algumas ressalvas sobre a sustentabilidade dos programas, o

empreendendorismo e os impactos sociais do microcrédito no Brasil.

O quarto capítulo está dedicado às análises das dificuldades encontradas pelas

entidades que oferecem o Microcrédito. Dentre essas dificuldades estão: a possível

explicação da pequena demanda e a questão da assimetria de informação.

Finalmente abordamos a experiência brasileira sobre o microcrédito abordando as

várias instituições que atuam na área assim como as opiniões de estudiosos sobre o tema.

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1 A POBREZA NO BRASIL

A palavra “pobre” veio do Latin pauper e originalmente refere-se a terrenos

agrícolas que não produziam o desejado. Existem várias definições quanto ao sentido da

palavra pobreza. Ela pode ser entendida como carência material envolvendo as

necessidades da vida quotidiana, como carência social entendida como exclusão social,

saúde, nutrição e moradia, insegurança e risco, bem como falta de voz e de poder. Por fim a

nível econômico pela falta de rendimento ou riqueza.

Contudo, o sentido da pobreza é feita de conceitos que mudam ao longo do tempo,

de acordo a necessidade de cada sociedade. A pobreza, evidentemente, não pode ser

definida de forma única e universal, contudo, podemos afirmar que a pobreza refere-se a

situações de carência em que os indivíduos não conseguem manter um padrão mínimo de

vida condizente com as referências socialmente estabelecidas em cada contexto histórico.

Desse modo, a abordagem conceitual da pobreza absoluta requer que possamos,

inicialmente, construir uma medida invariante no tempo das condições de vida dos

indivíduos em uma sociedade. A noção de linha de pobreza equivale a essa medida, pois

pretende ser o parâmetro que permite, a uma sociedade específica, considerar como pobres

todos aqueles indivíduos que se encontrem abaixo do seu valor.

Neste trabalho consideramos a pobreza na forma simplificada de insuficiência de

renda, isto é, há pobreza apenas na medida em que existem famílias vivendo com renda

familiar per capita inferior ao nível mínimo necessário para que possam satisfazer suas

necessidades mais básicas. A magnitude da pobreza está diretamente relacionada ao número

de pessoas vivendo em famílias com renda per capita abaixo da linha de pobreza e à

distância da renda per capita de cada família pobre em relação à linha de pobreza.

A estimação da linha da pobreza depende de um indicador de pobreza relativa ou

absoluta. O primeiro refere-se à posição da família ou do indivíduo em relação ao conjunto

da sociedade. As famílias ou os indivíduos com renda inferior a este valor seriam

considerados pobres. A pobreza relativa ocorre quando um indivíduo ou uma família tem

renda mínima necessária para subsistirem, mas não possuem os meios necessários para

viver de acordo com a área onde estão inseridos como também com pessoas com status

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social comparável.1

A pobreza relativa como medida possui a vantagem de levar em conta aspectos

distributivos entre os indivíduos, mas em contrapartida possui a desvantagem de mudar

todas as vezes que distribuição de renda se altera ocasionando na imprecisão em saber se a

variação na pobreza ocorre pela variação do nível de renda dos indivíduos ou famílias ou se

decorre da mudança do valor de referência.

Já a linha de pobreza absoluta equivale a um valor fixo que independe da sua

posição na distribuição da renda, proporcionando claramente a medição da pobreza entre

grupos sociais ao longo do tempo através de estimativas de cestas de bens de consumo.2

Tabela 1

Composição da Cesta Básica Nacional - Dieese Produto x Quantidade x Preço Rio de Janeiro Março/2009

Fonte: Dieese - Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio - Econômicos

1 CRESPO, Antônio Pedro Albernaz. GUROVITZ, Elaine. A pobreza como um fenômeno multidimencional: RAE - Eletrônica. São Paulo: Fundação Getúlio Vargas.2002.p.4 2 Ibid.,p.5.

Produtos Quantidades Março de 2008 R$

Março de 2009 R$

Carne 6 kg 53,58 63,24 Leite 7,5 l 14,25 15,15 Feijão 4,5 kg 17,60 17,28 Arroz 3 kg 5,82 7,17 Farinha 1,5 kg 3,56 3,15 Batata 6 kg 8,70 10,56 Tomate 9 kg 26,28 17,37 Pão 6 kg 35,76 39,30 Café 600 g 7,08 6,74 Banana 7,5 dz 22,95 18,53 Açúcar 3 kg 3,57 4,98 Óleo 900 ml 3,51 2,88 Manteiga 750 g 12,00 12,28 Total da Cesta 214,66 218,63

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A composição, dos principais grupos alimentícios foi definida pelo Decreto -lei 399,

de 30 de abril de 1938, que é a única legislação sobre o assunto em vigor no país e que

rever os produtos e as quantidades ideais que um trabalhador deve consumir em um mês. O

Dieese acompanha mensalmente o poder de compra do salário mínimo e calcula a jornada

de trabalho necessária para aquisição do conjunto de alimentos essenciais.

Para efeito estatístico, os estudiosos chegaram a uma definição da linha da

indigência (ou miséria) são os indivíduos que não conseguem ganhar o bastante para

garantir a mais básica das necessidades, a alimentação.

Segundo dados do IPEA, estudo sobre desigualdade e pobreza no Brasil feito entre

1995 e 1999, estima-se que 14,5% da população brasileira vivia em famílias com renda

abaixo da linha de indigência, e 34,1% com renda inferior à linha de pobreza. O relatório

do IPEA indica que mesmo com esses números, comparado com outros países, o Brasil não

deve ser considerado um país pobre, pois está entre aqueles que integram o terço dos mais

ricos do mundo. Sua população pobre representa 30% da população total, quando na

verdade, deveria representar apenas 8%, indicando grave problema de distribuição e

concentração de renda (BARROS, HENRIQUES e MENDONÇA, 2001, p. 8).

Apesar de uma melhoria nos resultados da PNAD 2004, relacionados ao acesso a

bens e serviços, aumento na esperança de vida, declínio da mortalidade infantil enfim, não

houve uma evolução nos indicadores de pobreza e de indigência.

Dependentes do nível e da distribuição da renda, e medidos a partir das chamadas

linhas de pobreza e de indigência, esses indicadores têm suscitado interesse crescente da

sociedade a cada divulgação da PNAD. Isso porque, pelo menos em termos do objetivo a

alcançar, a sociedade brasileira dá sinais de priorizar a garantia do atendimento das

necessidades básicas de todos os cidadãos, o que significa eliminar a pobreza absoluta.

Embora estreitamente dependentes da conjuntura econômica – e neste sentido, o forte

crescimento do PIB em 2004 teve efeitos positivos sobre os níveis de emprego e renda das

famílias –, os indicadores de pobreza e indigência vêm sendo favoravelmente afetados

pelas políticas públicas relativas a aposentadorias e pensões, assim como pelos novos

mecanismos de transferência de renda focalizadas nos mais pobres.

O ano de 2008 foi para o Brasil muito significativo em vários aspectos. Do ponto de

vista estritamente econômico, houve diversos avanços. Entretanto, com o agravamento da

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crise nos países centrais, diversos indicadores econômicos retrocederam e fizeram terminar

o ano aquém do esperado.

Apesar da crise, a taxa de desemprego no país recuou para 6,8% em dezembro,

segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A

taxa é a menor desde o início da Pesquisa Mensal de Emprego e Desemprego, em 2002

conforme o gráfico 1.

GRÁFICO 1

TAXA DE DESEMPREGO O ECERRAMETO AUAL %

7,4

8,48,3

9,6

10,910,5

6,00

7,00

8,00

9,00

10,00

11,00

12,00

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

A taxa de dezembro representa um recuo de 0,8 ponto percentual em relação ao mês

anterior, e de 0,6 ponto frente a dezembro de 2007, quando ficou em 7,4% - a menor taxa

para um mês de dezembro até então.

Na média anual, a taxa de desemprego de 2008 foi estimada em 7,9%, também a

menor na série histórica do IBGE. Apesar da taxa menor, os dados do IBGE não

contradizem os do Ministério do Trabalho, que apontou perda de 654 mil empregos formais

em dezembro: segundo a pesquisa divulgada nesta quinta, o número de empregados com

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carteira assinada no setor privado diminuiu 0,4% no mês. Na ponta contrária, o número de

empregados sem carteira assinada cresceu 0,5%, enquanto o de trabalhadores por conta

própria teve alta de 0,4% em dezembro.

De acordo com o estudo citado, é possível notar que um problema agravante do

Brasil não está necessariamente na falta de recursos, mas em sua má distribuição.

Nas últimas décadas a má distribuição de renda tem permanecido estável, o que nos

faz refletir sobre a necessidade de criar formas de combater à pobreza e dentre as

estratégias adotadas pelo Estado, como alternativa a geração de novas oportunidades de

emprego e renda, está o estímulo ao microcrédito.

Segundo Paul Singer (SINGER, 1999, p. 130), a acumulação proporcionada pelo

setor autônomo vem sendo considerada, tanto no Brasil como no mundo, a grande

esperança para absorver produtivamente, o contingente humano que vem sendo expulso das

empresas capitalistas, pelo aumento da produtividade e pela globalização. Neste sentido, a

acumulação autônoma pode contar com a contribuição do governo, na destinação de

recursos para esse setor, do setor capitalista de produção, pelo seu interesse no crescimento

da produção autônoma como comprador de seus serviços, visto que grandes empresas têm

terceirizado parte de suas atividades, despedindo os empregados que as executavam e

passando a comprar os produtos ou serviços de produtores autônomos ou cooperativas,

além de pequenas empresas.

As estratégias de redução da pobreza podem reduzir a vulnerabilidade das famílias

pobres, mediante uma série de medidas capazes de reduzir a volatilidade, habilitar os

pobres a gerir seus próprios riscos e fortalecer o mercado e as instituições públicas em

matéria de gestão de riscos. Uma forma de minimizar esses riscos seria o conjunto de

recursos dos pobres: humanos, naturais, físicos, financeiros e sociais. O incentivo às

instituições que ajudam os pobres a gerir seus riscos, também contribuí para habilitá-los a

se dedicar a atividades de maior risco e maior rendimento, capazes de extraí-los da pobreza.

A melhoria das instituições de gestão de risco deveria ser uma característica

permanente das estratégias de redução da pobreza.

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1.1 O SURGIMENTO DO GRAMMEN BANK O que a bibliografia especializada convencionou denominar microcrédito alude a experiências de concessão de pequeníssimos financiamentos reembolsáveis, com base em juros positivos, destinados a pessoas pobres, que sobrevivem, precariamente, no setor informal de trabalho. Segundo Barone (2002 p.14),

[...] microcrédito é a concessão de empréstimos de baixo valor a pequenos empreendedores informais e microempresas sem acesso ao sistema financeiro tradicional, principalmente por não terem como oferecer garantias reais. É um crédito destinado à produção (capital de giro e investimento) e é concedido com o uso de metodologia específica

Microcrédito é a concessão de empréstimos de baixo valor (em alguns países em

torno de US$50 a US$5000, e no Brasil podem variar de R$500R$ e R$1000) a pequenos

empreendedores informais e microempresas sem acesso ao sistema financeiro tradicional,

principalmente por não terem como oferecer garantias reais e por demandarem baixos

montantes. É um crédito destinado à produção (capital de giro e investimento) e é

concedido com o uso de metodologia específica.

O início da história do microcrédito remonta ao século XIX. A Europa desse século

experimentou o surgimento de cooperativas de crédito com o objetivo de ajudar populações

de baixa renda a poupar e conseguir o crédito. Uma importante transformação se deu na

década de 1970, em Bangladesh, constituindo o caso mais famoso da utilização do

microcrédito no combate à pobreza. Um professor de Economia da Universidade de

Chittagong percebeu que as teorias econômicas estudadas nas aulas não garantiam uma

resposta adequada aos diversos problemas enfrentados na realidade, principalmente

relacionados à pobreza em que se encontravam centenas de pessoas ao redor da própria

universidade. Constatando a dificuldade que as pessoas pobres tinham no recurso ao crédito

bancário no seu país extremamente empobrecido, cria então o Banco Grameen em junho de

1976 e desenvolve o conceito de microcrédito para ajudar as pessoas mais pobres e que

devido à inexistência de garantias, tinham dificuldade em obter empréstimos bancários.

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A experiência mostra que as mulheres são melhores pagadoras do que os homens e

mais responsáveis em investir a renda com a família e não para uso pessoal (YUNUS,

2001). Um dos fatores que faz das mulheres melhores pagadoras é que elas permanecem

mais tempo em casa, de modo que os agentes de crédito consigam encontrá-las com maior

facilidade. Além disso, os empréstimos são cedidos conforme as garantias de pagamento,

dadas pelo próprio grupo, sendo que inicialmente empresta-se para duas pessoas, e quando

estas pagarem, outras duas receberão, e finalmente, quando estas novas pessoas concluírem

seu pagamento, a última pessoa recebe. Outra característica dos empréstimos é que só são

efetivamente realizados com a contrapartida de uma poupança compulsória no valor de 5%

do empréstimo recolhido em uma conta de poupança, para cobrir eventuais problemas de

pagamento do grupo (FACHINI, 2005).

No Grameen, os custos administrativos médios são altos por causa da magnitude

(baixa) dos empréstimos médios (TONETO & GREMAUD, 2000). Outro fator a ser

destacado é que o Grameen apresenta uma taxa de inadimplência relativamente alta por

não seguir o cálculo de inadimplência padrão, realizado pela indústria microfinanceira

mundial. Essa diferença no cálculo gera diversas críticas a respeito de sua saúde financeira.

O banco apresenta condições deficientes de sustentabilidade, apesar de ter elevado

alcance e grande eficiência. Isso pode ser explicado pelo pagamento de metade dos

empréstimos realizados pelo Grameen que se demonstraram atrasados por mais de um ano

em 1999. Em 1999, 19% de todos os empréstimos do banco estavam inadimplentes, apesar

da melhoria de vida dos clientes do banco (FACHINI, 2005).

O impacto do microcrédito na população de Bangladesh fez com que o modelo

proposto pelo Banco Grameen começasse a se espalhar para o mundo todo. O continente

asiático e o sul-americano têm grande representatividade sobre os programas de

microcrédito do mundo.

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1.2 O MICROCRÉDITO NO BRASIL

O Brasil possui, a princípio, as características necessárias para uma indústria de

microfinanças, pois mantêm instituições com experiência em microfinanciamento, uma

ampla base de clientes em potencial e um setor bancário que tem tradicionalmente ignorado

as micro e pequenas empresas.

A história do microcrédito no Brasil inicia-se em 1973 com a criação do programa

UNO e que envolvia a participação de entidades empresariais de Pernambuco e da Bahia. A

UNO foi criada para desenvolver um programa de crédito e capacitação para

microempreendimentos populares, particularmente no setor informal. Tratava-se de uma

associação civil, sem fins lucrativos.

Ao longo de quase uma década, a UNO desenvolveu uma base técnica de análise de

crédito adaptada ao microempreendedor de baixa renda formou profissionais com este novo

perfil e financiou alguns milhares de microempreendimentos em diversos municípios de

Pernambuco e da Bahia. Introduziu uma metodologia de microcrédito focalizada em um

público sem garantias reais e sem acesso a crédito bancário e outros serviços, como

capacitação e assistência técnica. A UNO destaca-se por seu ineditismo, como uma

experiência que se constituiu na principal referência para a expansão desses programas na

América Latina. Sua estrutura, sua metodologia já apresentavam algumas características

que só viriam a se consolidar, também em outros continentes, a partir dos anos 80

(SILVEIRA, 2001).

A estrutura inaugurada pela UNO foi retomada, incorporando novos elementos na

concepção e na metodologia. O maior programa de microcrédito brasileiro é o

CrediAmigo, que é também um dos maiores da América Latina. Ele havia, até dezembro de

2001, realizado 599,8 mil operações no valor de R$ 440 milhões. Sua inclusão leva a um

aumento de 110,23% no total de operações de microcrédito no Brasil, constituindo o maior

programa de microcrédito do país (BID, 2000).

Em 1989, o Banco da Mulher/Seção- Bahia, com apoio do Fundo das Nações

Unidas para a infância/UNICEF e do BID, inaugurou seu programa de microcrédito

utilizando a metodologia de Grupos Solidários. Inicialmente, o Banco atendia apenas ao

público feminino, tendo, posteriormente, incorporado também a clientela masculina.

Atualmente, o Banco da Mulher forma uma rede com representação nos estados do

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Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Amazonas, Minas Gerais e Rio de Janeiro, além

da Bahia. O Banco é filiado ao Women’s World Banking, que mantém filiados em diversos

países. Até setembro de 2001, o Banco da Mulher concedeu cerca de 9 mil créditos

totalizando, aproximadamente, R$6,7 milhões.

O Vivacred foi criado em outubro de 1996, por iniciativa do Movimento Viva Rio,

com o objetivo de conceder crédito aos microempreendimentos de propriedade de pessoas

de baixa renda das comunidades carentes do Rio de Janeiro.

O CrediAmigo é o programa de microcrédito do Banco do Nordeste. Criado em

1998, tem por objetivo oferecer crédito aos pequenos empreendedores de baixa renda da

região Nordeste, norte de Minas Gerais e Espírito Santo. É o único programa de

microcrédito de atendimento direto implementado por banco estatal. O CrediAmigo

trabalha com a metodologia de Grupos Solidários e, concomitantemente à concessão do

crédito, oferece capacitação gerencial para os tomadores. Toda a operacionalização do

programa, incluindo os Assessores de Crédito, é realizada de forma autônoma das

atividades do Banco. Até 31/12/2001, o Credi- Amigo realizou 599,8 mil operações no

valor total de R$440 milhões, constituindo o maior programa de microcrédito do País.

As concepções a respeito da utilização do microcrédito também são assuntos de

debates. Um grupo de pessoas lideradas por D. Pearl e M. Phillips tece duras críticas aos

resultados encontrados na utilização desses empréstimos de baixo valor, afirmando que os

ganhos não compensam as perdas. Segundo eles, o microcrédito apenas alivia a pobreza,

não a eliminando, ao passo que os custos administrativos e de transação tornam-se cada vez

mais caros à medida que as pessoas muito pobres vão sendo atendidas, comprometendo

seriamente a saúde financeira da empresa, repercutindo em índices deficientes de

sustentabilidade.

Contrapondo-se às pessoas que privilegiam a sustentabilidade, um outro grupo,

encabeçado por Yunus, acredita na função (impacto) social que pode ser gerada com o

programa de microcrédito. Para eles, esses programas possibilitam que pessoas carentes,

que não conseguem obter recursos junto a instituições tradicionais de crédito, possam

exercer algumas atividades produtivas e refletindo desta forma em uma menor discrepância

social existente nas camadas e na eliminação desse aspecto da degradação humana. Para

Yunus, quando uma pessoa, que nunca havia conseguido dinheiro emprestado, paga a

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primeira prestação, sua felicidade é imensa, pois ela provou ser capaz de ganhar o

suficiente para saldar sua dívida. Ela percebe, assim, que vale mais do que as pessoas

pensavam.

Além desse debate, há um outro envolvendo visões antagônicas que analisam as

mesmas questões: o fato do sistema bancário formal não conseguir atender a população

carente eficientemente, a questão das finanças informais que constituem um entrave na

propagação das cooperativas de crédito, e a indagação sobre o impacto das cooperativas

sobre a redução da pobreza.

O acesso ao sistema bancário formal tem um custo e torna preferível o recurso

sistemático às modalidades informais de prestação de serviços financeiros. Quanto mais

pobres as famílias e as regiões em que vivem, menos os bancos fazem parte dos círculos

sociais de proximidade nos quais se apóiam os indivíduos em sua reprodução social

(ABRAMOVAY, 2004).

Segundo Abramovay, os mais pobres só conseguem reproduzir-se porque se apóiam na

força das finanças informais. Mais que um setor, as finanças informais são a própria rede de

relações sociais de que dependem os indivíduos e as famílias.

Essa visão entra em choque com a defendida por alguns pesquisadores que acreditam que a

distância entre o sistema bancário formal e a grande massa da população seria explicada

pela falta de demanda de serviços financeiros por parte daqueles que mal conseguem

preencher as necessidades básicas de sua sobrevivência.

O primeiro grupo apóia-se na idéia de que é um equívoco se considerar que a

demanda de serviços financeiros das famílias vivendo próximo à linha de pobreza se reduz

ao crédito e que os bancos são o melhor caminho para sua concessão. O crédito

‘”exprime, ao mesmo tempo, uma forma de dominação social, mas

também é um ativo, um meio do qual dispõe a família na obtenção do

que necessita para reproduzir-se. São relações estáveis, previsíveis e

que se inserem dentro de um horizonte social relativamente

conhecido pelos atores. A tentativa de sua supressão intempestiva

pode ser extremamente destrutiva para os que dela dependem: tanto

mais quanto maior for sua pobreza” (ABRAMOVAY, 2004:45).

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Daí à distância em relação ao setor bancário formal: embora estas populações

costumem pagar o que tomam emprestados e o banco pudesse lucrar emprestando-lhes

recursos, o negócio simplesmente não pode acontecer. Estes pequenos empréstimos e as

formas de garantia a eles associadas supõem um tipo de relação social incompatível com a

impessoalidade envolvida nos contratos bancários.

E é exatamente essa a força das finanças informais. A grande virtude do crédito

informal é a facilidade de seu acesso e a redução na assimetria de informação que lhe é

subjacente. Essa redução se dá pela existência de laços sociais entre os indivíduos que

podem ser de igualdade, de subordinação e até de exploração, revelando o amplo domínio

da reciprocidade nas sociedades contemporâneas; e de laços financeiros que constituem

uma rede de relações de proximidade entre as pessoas, diferente da frieza impessoal da

noção de serviços bancários formais (ABRAMOVAY, 2004). A força das finanças informais

pode ser observada na existência no Brasil, ao final de 2002, de um fosso entre os 115

milhões de eleitores e as 66 milhões de contas bancárias. A essa imagem que se dá a

chamada exclusão financeira.

É nesse entrave que surge a figura da cooperativa de crédito como possível

solucionadora de problemas das famílias na luta contra a pobreza. Seu sucesso depende da

existência de um conjunto de organizações que vão contribuir para alterar o ambiente

institucional, para que as populações vivendo próximo à linha de pobreza possam escolher

os atores sociais aos quais vão vincular suas atividades. Além disso, uma de suas funções

básicas é baratear a chegada de recursos e facilitar o acesso a programas governamentais

voltados à geração de renda para esta população.

Alguns críticos minimizam a importância das cooperativas de crédito, afirmando

que a solução para as populações vivendo próximo à linha de pobreza é oferecer-lhes

crédito produtivo, então isso pode ser feito por meio de instituições bancárias ou por meio

de organizações de microcrédito. Bancos ou serviços especializados de microcrédito

poderiam ser eficientes, portanto, na oferta daquilo de que populações vivendo próximo à

linha de pobreza mais necessitam. Construir organizações financeiras voltadas à oferta de

um amplo leque de serviços seria um passo posterior, quando os pobres já tivessem renda

suficiente para desfrutar destes serviços (ABRAMOVAY, 2004).

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Essa visão é combatida por alguns autores como R. Abramovay e R. Magalhães que

acreditam que o crédito no âmbito de uma organização de finanças de proximidade, não

pode ser pensado sob o ângulo estritamente produtivo. Isso não quer dizer que o reembolso

dos recursos emprestados seja o único critério com base no qual a utilidade social de seu

uso será avaliada. Muitas pessoas recorrem ao crédito na melhoria da educação de seus

filhos, na reforma e construção de moradias. A saúde financeira

“de uma cooperativa de crédito é condição necessária, mas, nem de

longe, suficiente, para o cumprimento de suas funções sociais junto

ao público vivendo próximo à linha de pobreza” (ABRAMOVAY,

2004:53)

Para eles quando se integra o crédito a um conjunto variado de necessidades de

serviços financeiros das famílias, as organizações voltadas a esta finalidade podem tornar-

se economicamente sustentáveis, isto é, podem basear sua existência na força localizada

que recebem da adesão de seus participantes.

Eles finalizam argumentando que as cooperativas podem contribuir para a redução

da pobreza e da vulnerabilidade das famílias vivendo próximo à linha de pobreza

oferecendo-lhes serviços que correspondam a suas reais necessidades, mas também

contribuindo para ampliar o círculo de relações sociais destas famílias além daquele a que

estão atualmente restritas. Contrariamente aos bancos a vocação das cooperativas é fazer

desta oferta um meio de fortalecer o tecido econômico local e os horizontes de inserção

social dos indivíduos a que o sistema bancário muito dificilmente abre as portas.

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1.3 ASPÉCTOS LEGAIS Segundo Alves e Soares (2006) embora a atividade de microcrédito exista no Brasil desde

1973, a lei 9790/1999 marca o inicio de grandes mudanças no setor, pois abriu para a ONG

de microcrédito a possibilidade de atuar qualificada como Oscip (Organizações da

Sociedade Civil de Interesse Público), permitindo a ampliação de sua capacidade operativa

mediante o acesso a recursos públicos.

O art. 1º da resolução 3.109 do BCB (2003) estabelece em 24 de julho de 2003, pela

primeira vez a destinação de parcela dos depósitos à vista para operações de microcrédito:

Art. 1º Estabelecer que os bancos múltiplos com carteira comercial, os

bancos comerciais, a Caixa Econômica Federal, bem como as cooperativas

de crédito de pequenos empresários, microempresários ou

microempreendedores e as cooperativas de crédito de livre admissão de

associados, devem observar as seguintes condições na realização de

operações de microfinanças destinadas à população de baixa renda e a

microempreendedores, de que trata a Medida Provisória 122, de 25 de junho

de 2003:

I - o valor das operações deve corresponder a, no mínimo, 2% (dois por

cento) dos saldos dos depósitos à vista captados pela instituição, observado

que nos meses de agosto e setembro de 2003 o percentual mínimo é de 1%

(um por cento);

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A resolução 3.310 do BCB (2005) em 31 de agosto de 2005 revoga a resolução

3.109 do Banco Central, e traz algumas alterações para a realização de operações de

microcrédito pelos bancos, o art. 1º da resolução 3.310 do Banco Central estabelece que:

Art. 1º Estabelecer que os bancos múltiplos com carteira comercial, os

bancos comerciais e a Caixa Econômica Federal devem manter aplicados em

operações de microcrédito destinadas à população de baixa renda e a

microempreendedores, valor correspondente a, no mínimo, 2% (dois por

cento) dos saldos dos depósitos à vista captados pela instituição.

Já no art. 3º da mesma resolução 3.310 do BCB (2005) estabelece as condições com

que serão realizadas essas operações de microcrédito, como taxa de juros, valor do crédito,

o prazo da operação e o valor da taxa de abertura de crédito:

Art. 3º As operações de microcrédito devem observar ainda as seguintes condições, vedada

a cobrança de quaisquer outras taxas ou despesas:

I - as taxas de juros efetivas não podem exceder:

a) 2% a.m. (dois por cento ao mês); e

b) 4% a.m. (quatro por cento ao mês) nas operações de microcrédito

produtivo orientado concedidas em conformidade com o art. 4º;

II - o valor do crédito não pode ser superior a:

a) R$600,00 (seiscentos reais), quando se tratar das pessoas físicas referidas

no art. 2º, incisos I e III;

b) R$1.500,00 (mil e quinhentos reais), quando se tratar de

microempreendedores referidos no art. 2º, inciso II;

c) R$5.000,00 (cinco mil reais), quando se tratar de microcrédito produtivo

orientado concedido em conformidade com o art. 4º;

III - o prazo da operação não pode ser inferior a 120 dias;

IV - o valor da taxa de abertura de crédito não pode ultrapassar os seguintes

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percentuais do valor do crédito concedido:

a) até 2% (dois por cento), quando se tratar de pessoas físicas referidas no

art. 2º, incisos I e III;

b) até 4% (quatro por cento), quando se tratar de pessoas físicas ou jurídicas

referidas no art. 2º, inciso II;

c) até 1% (um por cento) nas operações até 30 dias, até 2% (dois por cento)

de 31 a 119 dias e até 3% (três por cento) nas de prazo igual ou superior a

120 dias, quando se tratar de operações de microcrédito produtivo orientado,

concedidas em conformidade com o art. 4º.

De acordo com Abramovay, Bittencourt e Magalhães (2005) caso as instituições

financeiras não apliquem ou repassem para outras instituições os 2% dos depósitos à vista

destinados a operações de microcrédito para a população de baixa renda, os bancos devem

recolher compulsoriamente os recursos ao Banco Central sem remuneração.

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2- FORMAS DE ATUAÇÃO DO MICROCRÉDITO NO BRASIL

Para fazer parte do Programa, as organizações se habilitam na qualidade de Instituições de

Microcrédito Produtivo Orientado (IMPO), ou de Agente de Intermediação (AGI). As

primeiras são responsáveis pelo atendimento ao microempreendedor, oferecendo-lhe

crédito e orientação. E as AGIs financiam a atuação das Instituições.

Ao Ministério do Trabalho e Emprego compete a função de Coordenação do

Programa Nacional. A Coordenação do Programa de Microcrédito atua, portanto,

propiciando as condições para a habilitação de IMPO e AGI e para a difusão de

informações sobre o microcrédito produtivo orientado. Além disso, a Coordenação

promove eventos e reuniões setoriais propiciando a interação entre as IMPO e os agentes

financeiros, estudos setoriais, propostas gerenciais e normativas e ainda planos de

intervenção que produzam tanto o fortalecimento institucional das IMPO, quanto à

ampliação do número de microempreendedores atendidos com o microcrédito produtivo

orientado no país e sua qualificação, especialmente assegurando a priorização daqueles

mais pobres.

As instituições de microcrédito existem no Brasil há muitos anos e está se

desenvolvendo muito rápido nos últimos anos, estima-se que hoje existam no Brasil mais

de 10 mil instituições especializadas (ALVES E SOARES, 2004, p. 8).

Suas primeiras expressões foram as cooperativas de crédito. Em seguida, surgiram

as Organizações não Governamentais – ONG’s que, em sua maioria, tinha na oferta de

pequenos créditos, um de seus objetivos. Atualmente existem outras formas de entidades

financeiras que ofertarem o Microcrédito. Entre elas estão as Oscips, as SCMs, bancos

comerciais públicos e privados e fundos institucionais, e as ONGs que ainda continuam

crescendo (ALVES E SOARES, 2004, p. 7, 11 - 12).

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2.1 COOPERATIVAS DE CRÉDITO Cooperativas de crédito são instituições financeiras constituídas sob a forma de

sociedade cooperativa, tendo por objeto a prestação de serviços financeiros aos associados,

como concessão de crédito, captação de depósitos à vista e a prazo, cheques, prestação de

serviços de cobrança, de custódia, de recebimentos e pagamentos por conta de terceiros sob

convênio com instituições financeiras públicas e privadas e de correspondente no País,

além de outras operações específicas e atribuições estabelecidas na legislação em vigor.

Elas também podem funcionar em escala menor, como por exemplo, dentro das empresas,

quando os funcionários proporcionam empréstimos a baixo custo entre si, eliminando assim

intermediários (SANDRONI, 2005, p. 190).

No Brasil as cooperativas são de estrema importância para a população, pois

funcionam como um veículo de acesso a produtos que anteriormente não era possível. Elas

são regulamentadas pela Lei 5.764/71 (ALVES E SOARES, 2004, p.12).

Nos últimos anos o número de cooperativas vem aumentando (ver gráfico 1), mas é

importante ressaltar que a prática do cooperativismo exige um nível de consciência coletiva

difícil de germinar. A qualidade das pessoas que se envolvem nesse projeto, é que assegura

que ele avance e se desenvolva de forma contínua. (ALVES E SOARES, 2004, p. 12).

Gráfico 2

Quantidade de Cooperativas 2000-2008

1.3111.379

1.430 1.454 1.436 1.439 1.450 1.461 1.462

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Cooperativas

Fonte: Banco Central do Brasil

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2.2 ORGANIZAÇÃO NÃO GOVERNAMENTAL - ONG As OG’s (Organizações não governamentais) são organizações formadas pela

sociedade civil sem fins lucrativos e que tem como missão a resolução de algum problema

da sociedade, seja ele econômico, racial, ambiental, e etc., ou ainda a reivindicação de

direitos e melhorias e fiscalização do poder público.

“ONGs são um tipo particular de organização que não dependem nem econômica nem

institucionalmente do Estado, que se dedicam de promoção social, educação, comunicação

e investigação/experimentação, sem fins de lucro, e cujo objetivo final é a melhoria da

qualidade de vida dos setores mais oprimidos” (MONTENEGRO, 1994, p. 10).”

Também chamado “terceiro setor”, embora essa definição não seja muito clara, as

organizações sem fins lucrativos são particulares ou públicas, desde que não tenham como

principal objetivo a geração de lucros e, que se houver geração de lucros, estes sejam

destinados para o fim a que se dedica a organização não podendo este ser repassado aos

proprietários ou diretores da organização. Esse é o conceito de uma ONG, o principal ponto

que a diferencia de outras instituições que oferecem o Microcrédito é o fato de não

possuírem fins lucrativos de acordo com a Lei da Usura, que não permite que seus juros

sejam superiores a 12% a.a.

As organizações da sociedade civil são uma forma de suprimir as falhas do governo

com relação à assistência e resolução dos problemas sociais, ambientais e até mesmo

econômicos podendo também auxilia-lo na resolução desses problemas embora isso seja

uma característica um tanto quanto negativa, pois expressa o distanciamento do governo

com relação às suas responsabilidades para com a sociedade. As organizações têm ainda a

capacidade de despertar o civismo e a cooperação social nos seus participantes.

Constituindo uma forte ferramenta de mobilização social, as organizações da sociedade

civil contribuem para a manutenção da democracia uma vez que possibilita a manifestação

dos interesses das minorias. Comprovadamente, qualquer pessoa que integre alguma

organização civil possui maior consciência política e é mais participativa nas questões que

envolvem decisões públicas e/ou afetem a sociedade como um todo mesmo que o fim de tal

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organização não seja político.

No Brasil, as organizações não governamentais sem fins lucrativos ganham força à

partir do processo de redemocratização política que se deu após o período da Ditadura

Militar (1964-1985). Mas foi a partir da década de 90 que surgiram as principais

organizações não governamentais no país como o Instituto Ethos (1998) e a Rede de Ong’s

da Mata Atlântica (1992) que reúne cerca de 312 instituições em 16 estados.

Somente em 1994, após a estabilização Macroeconômica, iniciou-se o interesse dos

governos municipais e estaduais em apoiar a criação de ONGs especializadas em

Microcrédito. E em 1996 o BNDES começou a apoiar o fortalecimento das organizações já

existentes através do Programa de Crédito Produtivo Popular (BARONE, LIMA, DANTAS

E REZENDE, 2002, p. 8).

2.3 ORGANIZAÇÃO DA SOCIEDADE CIVIL DE INTERESSE PÚBLICO - OSCIP OSCIP é uma organização de direito privado sem fins lucrativos reconhecida

pelo Ministério da Justiça. Diferente de uma ONG a OSCIP não estará sujeita à Lei de

Usura e pode assim praticar taxas de juro de mercado, a Lei que segue é a de nº 9.790/99

(SEBRAE, 2005, p. 1).

“A Lei 9.790, de 23 de março de 1999, dispõe sobre a qualidade de pessoas

jurídicas de direito privado sem fins lucrativos como Organizações da Sociedade Civil de

interesse Público (OSCIP), e institui e disciplina o Termo Parceria” (FERRAREZI E

REZEDDE, 2000, p. 25).

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A Lei é mais conhecida como “a nova lei do Terceiro Setor”, pois visa o

crescimento do mesmo, ou fortalecer a sociedade civil, ou investir no Capital Social.

Para se qualificar como uma OSCIP é preciso: ser pessoa jurídica; não ter fins lucrativos;

atender aos objetivos sociais e às normas estatuárias previstas na Lei; apresentar as cópias

devidas de todos os documentos que são exigidos (FERRAREZI E REZENDE, 2000, p. 13

e 36).

De acordo as definições dadas, é possível entender que as OSCIPs possuem uma

definição muito parecida com a de ONG, mas com algumas diferenças básicas, que podem

se resumir pelo fato de que as OSCIPs são criadas por iniciativa privada e que podem

celebrar os chamados termos de parceria, definidos por Ferrarezi e Rezende (2000, p. 43)

como um instrumento jurídico criado para a realização dessas, unicamente entre o Poder

Público e a OSCIP para o fomento e execução de projetos.

2.4 SOCIEDADE DE CRÉDITO AO MICROEMPREENDEDOR - SCM SCM é uma sociedade de Crédito ao Microempreendedor, e precisa ser constituída

por uma pessoa jurídica de direito privado, com fins lucrativos, que é a característica de

maior distinção entre as SCMs, e outras instituições de Microcrédito, como a ONG ou

OSCIP. Ela pode então ser uma sociedade de responsabilidade limitada, Ltda, ou uma

companhia fechada S/A (SEBRAE, 2005, p. 1).

As SCM´s foram regulamentadas primeiramente pelo conselho Monetário Nacional

conforme Resolução 2.627/1999, devido à grande pressão do segmento no mercado, que

procurava novas fontes de financiamento. Em 2001 essa resolução foi revogada e

aperfeiçoada pela Resolução 2.874, conforme mostrado no quadro nº 2 (ALVES E

SOARES, 2004, p. 31). Outra diferença nítida dessa instituição com as ONGs é o fato de

que não está sujeita à Lei Usura, podendo assim praticar e definir suas próprias taxas de

juros, e não necessariamente os 12% a.a. como prescreve a Lei, podem usufruir as taxas de

mercado (SEBRAE, 2005, p. 1).

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A regulação das SCMs é feita através da Lei Federal nº 10.194/01 e pelo Conselho

Monetário Nacional. De acordo com regulação algumas condições e 19 requisitos na

criação de uma SCM são: equiparar SCM à instituição financeira; ter como objetivo social

exclusivo à concessão de financiamentos produtivos a pessoas físicas e microempresas; ter

sua constituição, organização em funcionamento disciplinados pelo Conselho Monetário

Nacional; sujeitar-se à fiscalização do Banco Central; estar impedida de captar, sob

qualquer forma, recursos junto ao publico, bem como emitir títulos e valores mobiliários

destinados à colocação e oferta publicas (BARONE, LIMA, REZENDE E DANTAS, 2002,

p. 25).

O ambiente Brasileiro atual é propício para a constituição de SCMs em bancos e

instituições financeiras, apesar de haver pouca demanda, essa “exploração” seria importante

para as instituições. Uma das vantagens, além da inclusão de um novo produto e todo bem

estar que essa inclusão possa gerar para a instituição, é a imagem observada pelo cliente,

pois como vimos no decorrer da discussão o Microcrédito é considerado por muitos como

um programa social que gera renda e novos empregos (ALVES E SOARES, 2004, p. 33).

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3- A VIABILIDADE ECONOMICA DE UM PROGRAMA DE MICROCRÉDITO

O princípio central de microcrédito é empréstimo aos pobres sem garantia.O

microcrédito é baseado na opinião que o desejo dos pobres melhorar suas circunstâncias

fará lhes a empreendedores bem sucedidos capaz de pagar fora seus empréstimos. Estes

empréstimos não devem ser tratados como a caridade; é esperado serem quitados.

Considerando este o princípio central, as empresas de microfinanças seguem algumas

estratégias que lhe asseguram a viabilidade econômica dos programas de microcrédito:

3.1 A QUESTÃO DA SUSTENTABILIDADE

Considerando este o princípio central, as empresas de microfinanças seguem

algumas estratégias que lhe asseguram a viabilidade econômica dos programas de

microcrédito:

1. Empreste aos pequenos grupos de pessoas.

A responsabilidade comum alivia a necessidade para a garantia porque diversos

membros de um grupo são mais prováveis controlar um débito do que um indivíduo. O

empréstimo aos grupos reduz a necessidade para que uma instituição monitore os

devedores porque cada membro do grupo tem um interesse investido em pagar fora o

empréstimo e monitorará os outros membros. Adicionalmente, os grupos são mais

prováveis financiar projetos bem sucedidos porque os membros do grupo podem

fornecer o conselho para resolver problemas de negócio.

2. Dar preferência a mulheres.

A experiência global do microcrédito mostrou que as mulheres são mais prováveis

reembolsar seus empréstimos do que homens e embora os homens fossem mais

prováveis gastar empréstimos nse, mulheres é mais provável financiar a melhoria de

seus negócios.

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3. Utilização de uma política graduada dos empréstimos.

Porque os devedores faltam uma história de crédito de que uma instituição pode avaliar

o risco de defeito, uma política graduada do empréstimo é exigida. Os devedores

começam com os empréstimos pequenos. Em cima do reembolso, os devedores

qualificam para os maiores empréstimos que podem ser removidos por uns períodos de

tempo mais longos.

4. Foco na produtividade e na qualidade de controle.

As origens, o processamento e as coleções de empréstimo devem ser aerodinâmicos e

controlados firmemente com planeamento, previsão e programa eficientes de

capacidade. Com tais quantidades e volume alto de empréstimo pequeno, as instituições

não podem ter recursos para nenhum desperdício.

Há algumas discussões quanto a sustentabilidade e ao alcance da parcela menos

atingida pelo setor financeiro. Para algumas pessoas alcançar a sustentabilidade é um

objetivo secundário levando-se em conta que um aumento na carteira de empréstimos

aumenta os recursos da IMF (Instituição de Microfinanças) e reduz os custos. Outros

consideram que há um trade-off entre a sustentabilidade e o alcance dos mais pobres

podendo inibir a instituição de alcançar os mais pobres, já que o custo fixo de empréstimos

pequenos é maior do que nos empréstimos em larga escala.

Verifica-se também que os empréstimos vão aumentando de valor no decorrer das

renovações, já que a confiança da instituição no pagamento aumenta também. Dessa forma,

há ganhos de escala.

Segundo pesquisas do Ministério do Trabalho e do Emprego(TEM) desde sua

criação, em abril de 2005, o Programa de Microcrédito registra um total acumulado de 3,7

milhões de operações de microcrédito, com a concessão de R$ 4,34 bilhões.

Comparativamente ao ano de 2005, quando da criação do Programa, a quantidade de

operações de Microcrédito Produtivo Orientado teve um crescimento de 101,6% de 2005

para 2008, sobre a base 100/2005, quando foram realizadas 1,274 milhão de novas

operações de microcrédito. Por sua vez, o valor de crédito concedido para o Microcrédito

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Produtivo Orientado cresceu 200% de 2005 para 2008, chegando ao final do ano passado

com a concessão de R$ 1,8 bilhão de reais, conforme demonstra a tabela 2.

Tabela 2 Resultados Consolidados Anuais

Ano Operações de Microcrédito (em unidades)

Índice3 Valor Concedido4 (em R$ 1,00)

Indice5

2005

632.106

100,00

602.340.000,00

100,00

2006

828.847

131,12

831.815.600,78

138,10

2007

962.942

152,34

1.100.375.829,94

182,68

2008

1.274.296

201,60

1.807.071.717,91

300,01

Acumulado 3.698.708 4.341.603.148,63

Fonte Elaboração própria Fonte: PNMPO, 2009.

O número de operações de crédito expandiu-se em 32,26% na comparação

2008/2007, enquanto o volume financeiro teve expansão de 64,22% no mesmo período. A

rede de microcrédito movimentou, desde a criação do Programa, um volume superior a R$

4,3 bilhões.

O crescimento dos valores de crédito concedido no microcrédito produtivo

orientado é elevado. O montante triplicou no período, sobre a base 100/2005, alcançando

uma expansão de 200,01% entre 2008 e 2005. Comparado com a continuada expansão do

crédito na economia brasileira, no mesmo período, o crescimento do microcrédito

produtivo orientado foi superior, como demonstra a tabela 3.

3 Índice da Quantidade de Operações de Microcrédito Produtivo Orientado. Ano Base 2005 = 100,00.

4 Valores Nominais.

5 Índice do Volume de Crédito Concedido para o Microcrédito Produtivo Orientado. Ano Base 2005 = 100,00.

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Tabela 3 Expansão do Crédito e do Microcrédito Produtivo Orientado no Brasil

Ano Volume de crédito6 (em milhões de Reais)

Índice

Valor do Microcrédito concedido7 (em R$ 1,00)

Índice

2005 632.738 100,00 602.340.000,00 100,00 2006 735.718 116,28 831.815.600,78 138,10 2007 867.840 137,16 1.100.375.829,94 204,45 2008 1.227.402 193,98 1.807.071.717,91 300,01

Fontes: Banco Central, 2009 e PNMPO, 2009.

Para resolver o problema de aumento de custos-fixos com novas instalações e

aumento de funcionários, há o que se denomina de planejamento estratégico, que ocorre no

prazo de cinco anos. Avalia-se o desempenho da instituição financeira e estipulam-se metas

(formação de clientes, produtos de empréstimos, quantidade emprestada por período,

salários e comissões, imobilização de poupança, entre outros), além de utilizar modelos

financeiros para calcular a taxa de juros utilizada para conseguir a sustentabilidade e cobrir

os gastos durante esse período estipulado, que no caso seria de cinco anos.

Um índice que indica a lucratividade no setor de microcrédito é o Retorno sobre o

Patrimônio quer é calculado dividindo-se a receita líquida, excluindo-se quaisquer

subvenções ou doações, pelo patrimônio médio. Esse índice se analisado apenas em um

único ano pode não representar bem a lucratividade da instituição já que pode ser

manipulado. O setor de microfinanças contém diferentes índices, variando muito em

relação ao mercado, competitivo ou de monopólio, em que atua a instituição.

As ONGs apresentaram retornos melhores, o que pode ser parcialmente explicado

pelas diferenças nos ajustes de provisão e mercado mais competitivo em que atuam as IMFs

regulamentadas. Outro índice de lucratividade é o Retorno sobre os Ativos. Ele é

semelhante ao retorno do Patrimônio, mudando apenas o denominador que passa a ser a

6 Volume Total do Crédito no Brasil, Recursos Livres e Direcionados. 7 Valores não deflacionados.

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média dos ativos. Esse índice mede a qualidade com que a instituição usa seus ativos. As

ONGs geralmente também têm esse índice mais alto, pois, por terem uma baixa

alavancagem, precisam ter retorno altos sobre os seus ativos para se financiar.

O Rendimento da Carteira é também uma medida de lucratividade. Ele é calculado

dividindo-se a receita financeira de caixa (todas as receitas geradas pela carteira de

empréstimos, mas não juros acrescidos) pela carteira bruta média. Indicando dessa forma, o

que a instituição recebeu de juros à vista de seus clientes e sua habilidade de gerar receita.

O Rendimento da Carteira é uma forma fácil de calcular os juros reais recebidos pelas

IMFs. A medida que o setor de microfinanças cresce e aumenta a competição, esses

retornos diminuem. Mas o aumento da eficiência permite que lucros cada vez maiores

sejam gerados apesar dos rendimentos sobre a carteira baixos. Os dados do setor sugerem,

segundo MicroRate e BID (2002), que o rendimento da carteira é influenciado

principalmente pela competição e pelas taxas de juros cobradas dos clientes.

A carteira ativa de microcrédito produtivo orientado em 31/12/2008 totalizava o montante

de R$ 708.168.212,65. Em relação à carteira ativa do final de 2007 (R$ 522,2 milhões),

este número revela uma expansão de 35,59%.

Tabela 4 Resumo das Informações

Descrição Quantidades Descrição Quantidades

1 Número Total de Operações de Crédito 1.274.296

2 Volume Total de Crédito em Novas Operações

R$ 1.807.071.717,91

3 Valor Médio do Crédito Concedido

R$ 1.418,09

4 Carteira Ativa em 31/12/2008

R$ 708.168.212,65

5 Número de Clientes Ativos em 31/12/2008

640.448

6 Média da Carteira Ativa em 31/12/2008

R$ 1.105,74

Fonte Elaboração propia Fonte: PNMPO, 2009

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No Brasil, a Lei do Microcrédito foi criada em agosto de 2003, obrigando os bancos

a empregarem 2% dos depósitos à vista para o microcrédito com juros tabelados entre 2% e

4% ao mês. No entanto, os bancos brasileiros alegam que o microcrédito é uma operação

complexa, de extremo varejo, que envolve alto risco de inadimplência e cujos valores

transacionados são muito baixos para cobrir os custos administrativos de atender a

clientela”. (Folha de S.Paulo, 31/12/2007).

O professor Paul Singer, secretário nacional de Economia Solidária, reconhece que

este não é um segmento que deve ser administrado pela rede bancária convencional. ‘Banco

existe para dar crédito para quem tem crédito. Microcrédito é para quem não tem crédito e

isso é coisa para especialistas, para as Organizações da Sociedade Civil de Interesse

Público (Oscips) e para as cooperativas de crédito.’

O diretor-superintendente para microcrédito do Sebrae, José Luiz Ricca, entende

que falta coordenação nacional. Observa que existem muitas iniciativas desse tipo no

Brasil, mas estão muito isoladas, cada uma atuando do seu jeito. Para ele, além de

integração, falta definição de mecanismos que facilitem o acesso à informação.

3.2 EMPREENDENDORISMO NO BRASIL Segundo o dicionário mais consultado da Língua Portuguesa no País, de Aurélio

Buarque de Hollanda, empreender é “deliberar-se a praticar, propor-se, tentar (empresa

laboriosa e difícil)”. Empreendedor “é aquele que empreende, ativo, arrojado, cometedor”.

Com as mudanças históricas, o empreendedor ganhou novos conceitos, na verdade,

são definições sob outros ângulos de visão sobre o mesmo tema, conforme Britto e Wever

(2003, p. 17), “uma das primeiras definições da palavra empreendedor, foi elaborada no

início do século XIX pelo economista francês J. B. Say, como aquele que “transfere

recursos econômicos de um setor de produtividade mais baixa para um setor de

produtividade mais elevada e de maior rendimento””.

Existe a concepção do empreendedor nato, aquele que nasce com as características

necessárias para empreender com sucesso. No entanto, como se trata de um ser social,

influenciado pelo meio que em que vive, a formação empreendedora pode acontecer por

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influência familiar, estudo, formação e prática. Segundo Dornelas (2001), o

empreendedorismo ganhou força no Brasil somente a partir da década 1990, com a abertura

da economia que propiciou a criação de entidades como SEBRAE (Serviço Brasileiro de

Apoio às Micro e Pequenas Empresas) e SOFTEX (Sociedade Brasileira para Exportação

de Software). Antes desse momento o termo empreendedor era praticamente desconhecido

e a criação de pequenas empresas era limitado, em função do ambiente político e

econômico nada propício do país.

O SEBRAE é amplamente difundido entre os pequenos empresários brasileiros,

com finalidade de informar e dar suporte necessário para a abertura de uma empresa, bem

como acompanhar através de consultorias seu andamento, solucionando pequenos

problemas do negócio. Este órgão está de certa forma, implantando a cultura

empreendedora nas universidades brasileiras, ao promover em parceria com outros países, o

Desafio SEBRAE, uma competição entre acadêmicos de várias nacionalidades, que têm

como tarefa, administrar uma empresa virtual.

Segundo o relatório Global Monitor (GEM) - Monitor Global do

Empreendedorismo, organizado pela Babson College, EUA, e London School of Business,

Inglaterra, e realizado em 29 países, apontou os seguintes resultados para o Brasil em 2001

(BRITTO; WEVER, 2003, p.20 e 21):

• O Brasil possui um nível relativamente alto de atividade empreendedora: a cada 100 adultos, 14,2 são empreendedores, colocando-o em quinto lugar do mundo. No entanto, 41% deles estão envolvidos por necessidade e não por oportunidade; • As mulheres brasileiras são bastante empreendedoras: a produção é de 38%, a maior entre os 29 países participantes do levantamento; • A intervenção governamental possui duas facetas: tem diminuído, mas ainda se manifesta como um fardo burocrático; • A disponibilidade de capital no Brasil se ampliou. Mas muitos empreendedores brasileiros ainda percebem o capital como algo difícil e custoso de se obter. Para piorar, os programas de fi-nanciamento existentes não são bem divulgados; • O tamanho do país e suas diversidades regionais exigem programas descentralizados. As dife-renças regionais de cultura e infra-estrutura também exigem uma abordagem localizada do capital de investimento e dos programas de treinamento; • Infra-estrutura precária e pouca disponibilidade de mão-de-obra qualificada têm impedido a proliferação de programas de incubação de novos negócios fora os centros urbanos; Portanto, percebe-se que o empreendendorismo pode ser alimentado por ações

governamentais, sobretudo pelo estímulo ao microcrédito orientado que democratiza o

acesso ao crédito, fundamental para a vida moderna, da qual grande parte dos brasileiros

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está excluída. A disponibilidade de crédito para empreendedores de baixa renda, capazes de

transformá-lo em riquezas para eles próprios e para o País, faz do microcrédito parte

importante das políticas de desenvolvimento. O Poder Público vem atuando com programas

voltados diretamente para o tomador de microcrédito, por meio de bancos oficiais com

carteiras especializadas, a exemplo do programa CrediAmigo do Banco do Nordeste, ou

através de programas conhecidos como “Bancos do Povo”, que trabalham majoritariamente

com recursos orçamentários.

3.3 O IMPACTO SOCIAL DO MICROCRÉDITO O microcrédito é apontado como uma importante ferramenta para a redução da

pobreza no mundo, embora de difícil mensuração, é reconhecidamente positivo resultando

em melhores condições habitacionais, de saúde e alimentar para as famílias usuárias e

principalmente pela contribuição para o resgate da cidadania dos tomadores, com o

respectivo fortalecimento da dignidade, a elevação da auto-estima e a inclusão em

patamares de educação e consumo superiores. Atualmente, o microcrédito é concedido no

Brasil de várias formas, por meio do Poder Público, da sociedade civil e da iniciativa

privada, apresentando diferentes desenhos institucionais.

Segundo Paul Singer (SEBRAE, 2005, p. 20) o Microcrédito deve sim, ser visto

como uma ferramenta fundamental de combate à pobreza no Brasil, um país de

desigualdades. Mas para isso, a população mais carente precisa conhecer o Microcrédito,

saber o que é, e quais as formas que ele pode ser tomado.

O relatório da 59ª assembléia Geral da ONU afirma que o impacto do Microcrédito

e das Microfinanças na redução da pobreza foi avaliado através de diversas dimensões,

entre elas estão a melhora da renda, trabalho e consumo das famílias, e redução da

vulnerabilidade às crises econômicas e sociais (COELHO, 2004, p. 37).

Isso demonstra que o Microcrédito Produtivo Orientado está sim envolvido na

inclusão social da população brasileira. Fazer com que todas as classes sociais tenham

acesso ao crédito e alguma chance, por menor que seja, de se inserir no mercado de

trabalho brasileiro, sendo como assalariado ou como autônomo melhora a situação da

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economia do país. O ponto chave para a possibilidade de desenvolvimento dos clientes é a

orientação realizada pelos assessores de crédito.

“O microcrédito nada tem a ver com caridade. Equivale a

reconhecer que as pessoas pobres são a solução, não o problema.”

Kofi Annan, ex-secretário Geral da ONU

Num trabalho de revisão extensiva da literatura sobre microcrédito e seus impactos

sociais em várias regiões do mundo, Passos et al (2002) afirma conclusivamente que:

“Uma das principais lições do microcrédito está na demonstração

de que os pobres – e, em algumas experiências, a parcela

efetivamente mais pobre de uma determinada região – podem se

tornar clientes regulares de serviços bancários e, ao mesmo tempo,

valerem-se desses serviços para a superação da pobreza.”(Passos et

al, p. 41)

Ainda na gestão de Fernando Henrique Cardoso à frente do governo federal, o

Programa Comunidade Solidária trouxe, no Brasil, o microcrédito para a mesa de

discussão, na figura de uma alternativa estratégica de combate à pobreza, ao tempo em que

se adotaram medidas no sentido de estimular sua discussão e seu desenvolvimento. O

Comunidade Solidária elaborou um manual de introdução ao microcrédito, no qual coloca

que:

“O impacto social do microcrédito, embora de difícil mensuração, é

reconhecidamente positivo, resultando em melhores condições

habitacionais, de saúde e alimentar para as famílias usuárias. Além

disso, contribui para o resgate da cidadania dos tomadores, com o

respectivo fortalecimento da dignidade, a elevação da auto-estima e

a inclusão em patamares de educação e consumo superiores.”

(Barone et al, 2002, p. 11).

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Um aspecto importante a respeito dos impactos sociais do microcrédito diz respeito

à importante questão da focalização nos mais pobres. O sucesso do microcrédito no

combate à pobreza exige que os programas desenvolvidos pelas IMF sejam desenhados de

forma a atingir os mais pobres (Passos et al, 2002; M. Valente, 2002; Yunus, 2000; 2002;

Paiva e Galiza, 2002).

Alguns modelos de focalização de sucesso constantes da literatura destacam as

seguintes medidas: empréstimos a famílias chefiadas por mulheres (preferencialmente

viúvas e divorciadas), famílias da área rural que sejam funcionalmente sem-terra, famílias

cuja renda familiar esteja abaixo de um certo mínimo estabelecido ou que apresentem

déficits alimentares crônicos. No entanto, mesmo um desenho adequado não garante a

perfeita focalização.

Yunus (2002) analisa a possibilidade da utilização de programas de renda mínima,

desde que estes sejam implementados de forma estritamente temporária. Por fim, ainda na

questão conceitual, é importante enfatizar a possibilidade de autosustentabilidade dos

programas de microcrédito enquanto mecanismos de combate à pobreza e de exclusão

social. As microfinanças rompem com as tradicionais ações assistencialistas que precisam

de recursos a fundo perdido para combater a pobreza, muitas vezes sem impactos

duradouros ou de longo prazo sobre o público-alvo. Na realidade, o microcrédito apenas

democratiza as oportunidades na sociedade, mas ao impor a necessidade de sucesso dos

empreendimentos produtivos dos beneficiados, acaba por se constituir em solução ativa e

autosustentável de combate a pobreza. Os pobres e excluídos sociais não precisam de

caridade, mas sim de oportunidade.

O microcrédito permite a redução da pobreza e da exclusão social, pois aumenta a

disponibilidade de ativos produtivos à disposição dos pobres e excluídos sociais. Da

mesma forma que a educação e o capital humano constituem importantes ativos produtivos

no combate a pobreza, o acesso ao crédito também se mostra como importante aliado nessa

missão. Também cabe salientar que, dado o baixo ou inexistente estoque de capital do

público-alvo, normalmente o eventual investimento realizado com o microcrédito gera alto

ganho de produtividade, havendo, nesse caso, compatibilidade entre eficiência econômica e

equidade distributiva.

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Além disso, mesmo em operações de crédito mais simples o microcrédito permite

incremento da renda, pois, mesmo as taxas de juros sendo elevadas, pelo menos no caso da

oferta por parte de instituições privadas ainda são, em geral, inferiores aquelas praticadas

pelos agiotas.

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4- AS DIFICULDADES ENCONTRADAS NO SETOR DE MICROCRÉDITO:

A atividade de microcrédito ainda é muito recente no Brasil e como a maioria das

organizações ainda está em processo de consolidação, sua penetração no mercado ainda não

é muito grande e esta ampliação de mercado depende de alguns fatores considerados neste

trabalho como problemas a serem enfrentados pelos setores ofertantes de microcrédito.

Destacamos neste trabalho a pequena procura por microcrédito e a questão da assimetria de

informação como entraves a expansão deste segmento no Brasil.

4.1 PEQUENA PROCURA POR MICROCRÉDITO

Em 1997, apenas 10% das pequenas e médias empresas paulistas contavam com crédito

tradicional, sendo que 3% em bancos públicos e 7% em bancos privados. Porém, a

demanda potencial por empréstimos bancários nesse período era de 60% das 300 mil

empresas do setor. Esses dados se referem somente à amostra de empresas formais do setor

(SANTOS, 2002, p. 1).

A maior parte da carteira de Microcrédito é preenchida por clientes informais. Se

nem mesmo os clientes potenciais formais estão contando com o crédito, quanto menos os

informais. Para esses, a dificuldade nesse quesito é muito maior do que para uma empresa

devidamente regularizada.

“O principal entrave para o acesso das microempresas ao crédito

bancário formal tradicional não são os juros bancários, pois elas,

via de regra, arcam com juros ainda mais altos. Ou seja, para eles o

acesso ao crédito bancário representaria uma redução dos custos

financeiros. Juros subsidiados não são, portanto, uma condição

necessária para atender a demanda por Microcrédito” (SADTOS,

2002, p. 4).

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As instituições de Microfinanças são pouco conhecidas pela população. Em

entrevista feita na cidade de São Paulo, foi possível constatar que pouquíssimas pessoas já

haviam ouvido falar sobre alguma instituição que oferece Microcrédito. O mesmo estudo

mostra que em Recife existe um grau maior de conhecimento sobre o assunto, embora

ainda insuficiente (BRUSKY E FORTUNA, op. cit. 2002, p. 1).

Segundo o Serviço Brasileiro de Apoio à Pequena Empresa (Sebrae), o

desconhecimento, medo de endividamento e a falta de costume no trato com instituições

financeiras são responsáveis para a baixa procura ao microcrédito produtivo orientado. O

fato das IMFs – Instituições de Microfinanças não serem conhecidas dificulta muito seu

relacionamento com o cliente, por que muitas vezes são relacionadas e confundidas com

outras instituições financeiras que depende de um avalista como garantia, e esse precisa

mostrar documentos e comprovantes para se tornar avalista. Esta exigência se transforma

em uma grande dificuldade para o público potencial ir procurar recursos nas instituições de

microcrédito. Para a melhoria desse segmento é preciso que a IMF tenha uma imagem

própria, boa e diferenciada.

4.2 ASSIMETRIA DE INFORMAÇÃO

Parte-se da hipótese de que no mercado de crédito há uma forte assimetria de

informação e, em decorrência disso, surgem dois problemas: o de seleção adversa e o de

risco moral.

A seleção adversa tem sua origem na impossibilidade de conhecer informações,

valores e crenças que sustentam as decisões dos agentes econômicos; o risco moral, por sua

vez, tem na sua origem a impossibilidade de conhecer o comportamento de um agente

econômico na situação ex-post à contratação. Em decorrência desses problemas decorrentes

da assimetria de informação, o mercado de crédito torna-se extremamente conservador, e

passa a exigir garantias reais e a impor altas taxas de juros aos tomadores de crédito, o que

inviabiliza uma série de investimentos (produtivos), dada a impossibilidade de apresentar

garantias reais e de saldar as altas taxas de juros frente a uma taxa de retorno do

investimento relativamente baixa pretendidas pelos tomadores de crédito.

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Há algum tempo, o uso de empréstimos em grupo representa outra importante

inovação nas IMSFs. As pessoas mais pobres não dispõem de garantias tradicionalmente

demandadas pelo sistema bancário, mas podem formar grupos onde cada membro recebe

determinado valor e oferece garantia para o empréstimo dos demais. Como os grupos se

formam espontaneamente, espera-se certo nível de relacionamento entre os tomadores, ou

seja, estes se conhecem e isso reduz o grau de assimetria de informação esperado. As

relações entre os membros criam o chamado "capital social" (Coleman, 1998), que,

simultaneamente, é utilizado como garantia para obtenção do crédito e reduz o custo de

transação associado à obtenção e análise da informação. Além disso, no crédito em grupo, o

fato dos tomadores se conhecerem e avalizarem uns aos outros acaba sendo obstáculo para

que se ofereça um crédito "muito grande", sem correspondência com a expectativa de fluxo

de caixa dos tomadores. Muitas instituições de microcrédito adotam uma frequência

semanal ou quinzenal de pagamento justamente porque o ciclo de caixa de diversas

atividades de comércio e serviços informais é bastante curto. Pagamentos semanais

regulares permitem detectar rapidamente maus pagadores, abrindo espaço para intervenção

dos agentes de crédito e, no caso de empréstimos em grupo, dos pares.

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CONCLUSÃO

O grande problema do Brasil, não é a pobreza e sim a má distribuição de renda entre

a população, por isso, esse deve ser o foco dos programas sociais, encontrar uma forma de

realocar os recursos financeiros entre a população de alta e baixa renda do país. A má

distribuição de renda e o crescente avanço do desemprego no Brasil fazem com que muitas

pessoas, busquem oportunidades no empreendedorismo.

O Brasil é um país com elevado grau de empreendedorismo, seja pelas

características natas de cada cidadão ou pela escassa oferta de empregos formais, contudo

não consegue suprir a demanda, resultante de todas as modalidades de recursos necessários

para dar-lhe materialidade e, portanto, gerar mais empregos e renda para a sociedade.

Oportunidades existem, mas a exploração do segmento de crédito à população mais

carente da sociedade brasileira ainda é muito pequena.

É com o microcrédito que surge a oportunidade dos pequenos empreendedores. Por

possuir características voltadas apenas para a população de baixa renda, consegue por

muitas vezes suprir as necessidades dos micro e pequenos empreendedores. A vantagem do

microcrédito não é para ser vista na diferença entre a taxa de juros cobrada no crédito

tradicional, porque as instituições também precisam da autosustentabilidade, mas a

vantagem do microcrédito está na diminuição da burocracia e na redução do custo de

transação e oportunidade para o pequeno demandante, fazendo com que o pequeno

empreendedor não necessite se deslocar do seu trabalho para o banco. No processo de

transação do microcrédito, o agente de crédito vai ao encontro do cliente, evitando assim o

custo de oportunidade e reduzindo o custo de transação.

Sendo o microcrédito uma ferramenta de desenvolvimento é necessário que este seja

economicamente viável, deve se ter disciplina tanto por parte de quem empresta, como por

parte do tomador. A instituição precisa ser auto-sustentável e eficiente em seu serviço. Os

programas devem orientar o tomador do empréstimo e este por sua vez, necessita fazer um

bom planejamento e dirigir sua própria vida, criando condições para o pagamento de sua

dívida junto à instituição. O microcrédito não é uma caridade, ou um programa paternalista

que mantém o pobre amarrado à miséria, o empréstimo tem que ser pago devidamente, pois

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o dinheiro vai ser usado para novos empréstimos, e novas oportunidades de crescimento e

redução da pobreza.

Ademais através da experiência brasileira verificamos que existe um mercado de

operações de baixo valor que cresce anualmente e com pequenas taxas de inadimplência

mas inexiste uma codificação na legislação brasileira específica para o tema.

O microcrédito é de suma importância para o desenvolvimento econômico e social

do país, por isso é necessário massificar seus programas para que possua condições de

atender a demanda existente. À medida que o microcrédito for se tornando favorável aos

micro empreendimentos, estaremos caminhando para o equilíbrio entre a oferta e demanda

e promovendo não apenas o crescimento mas o desenvolvimento da economia do nosso

país.

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