projeto empreendedorismo juvenil e microcrédito

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1 PROJETO EMPREENDEDORISMO JUVENIL e MICROCRÉDITO

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Sistematização do projeto desenvolvido em parceria com o Citi, de 2006 a junho de 2009, que beneficiou 722 jovens com idade entre 18 e 24 anos, por meio de processo formativo que incluiu oficinas, debates, palestras, consultoria e a concessão de microcrédito para o desenvolvimento de um pequeno empreendimento.

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Page 1: Projeto Empreendedorismo Juvenil e Microcrédito

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PROJETO EMPREENDEDORISMO JUVENIL e MICROCRÉDITO

Page 2: Projeto Empreendedorismo Juvenil e Microcrédito

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PROJETO EMPREENDEDORISMO JUVENIL e MICROCRÉDITO

Page 3: Projeto Empreendedorismo Juvenil e Microcrédito

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PROJETO EMPREENDEDORISMO JUVENIL e MICROCRÉDITO

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Conselheiro honorário: Fernando henrique Cardoso

Conselho de AdministrAçãoPresidente: synésio Batista da CostaVice-Presidente: Carlos Antonio tilkiansecretária: regina helena scripilliti Velloso

membros: Albert Alcouloumbre Júnior, Antônio Carlos ronca, Antonio delfim netto, Beatriz sverner, Bento José Gonçalves Alcoforado, Boris tabacof, daniel trevisan, david John Currer mor-ley, eduardo José Bernini, Fernando machado terni, João nagano Júnior, José Carlos Grubisich, José eduardo Planas Pañella, José roberto nicolau, lourival Kiçula, maria ignês r. de souza Bierrenbach, nelson Fazenda, oscar Pilnik, Paulo saab, roberto oliveira de lima, therezinha Fram e Vitor Gonçalo seravalli

Conselho FisCAlmembros: Audir Queixa Giovanni, Charles Kapaz, Geraldo Zinato, João Carlos ebert, márcio Ponzini e mauro Antonio ré

Conselho ConsultiVoPresidente: Jorge BroideVice-presidente: miriam debieux rosa membros: Antônio Carlos Gomes da Costa, Araceli martins elman, dalmo de Abreu dallari, edda Bomtempo, Geraldo di Giovanni, isa Guará, João Benedicto de Azevedo marques, lélio Bentes Corrêa, leoberto narciso Brancher, lídia izecson de Carvalho, magnólia Gripp Bastos, mara Cardeal, maria Cecília C. Aranha lima, maria Cecília Ziliotto, maria de lourdes trassi teixeira, maria machado malta Campos, marlova Jovchelovitch noleto, melanie Farkas, munir Cury, norma Jorge Kyriakos, oris de oliveira, Percival Caropreso, rachel Gevertz, rosa lúcia moyses, rubens naves, silvia Gomara daffre, tatiana Belinky e Vital didonet

seCretAriA exeCutiVAGerente de desenvolvimento de Programas: denise maria CesarioGerente de desenvolvimento institucional: Victor Alcântara da Graçaequipe: Andreza Adami, Fernanda de matos Casqueira, hellen Ferreira Barbosa, lívia Ache nolla, michelly lima Antunes, moacir merlucci, renata Alencar Viola, renata santiago Gonçalves Pes-soa, renato Alves, tatiana de Jesus Pardo, tatiana m. Viana da silva

AssessoriA de mArKetinGCoordenadora: sílvia troncon rosaequipe: Ana Claudia Pereira, Besaliel salvino de souza, Camila Cristina Conti, Cristiane rodrigues, Felipe martins dantas Pereira, Fernanda Pereira Bochembuzo, Gláucia Buscariolo, hélio José Perazzolo, ivone Aparecida da silva, Jacqueline rezende Queiroz, Kátia Gama do nascimento, marina Biagioli manoel, milene de oliveira sousa silva, renan dos santos Gomes, tatiana Cristina molini, tatiana Pereira rodrigues

núCleo de teCnoloGiA dA inFormAçãoequipe: Bruno Gouveia schoola, daniela maria Fonseca, danieli Giovanini do Carmo leite, diego Azevedo do nascimento, Fabiana de lima loures, Janaine Aparecida Ferreira de sá, Vânia Ferreira silva santos

núCleo AdministrAtiVo-FinAnCeiroequipe: Alain Joseph moujaes, Alice sampietri Creoruska, André luiz de Araújo, Fernanda de Fátima da silva, Gisele Correa, luis enrique tavares Júnior, maria do Carmo neves dos reis, maria dolores de oliveira, Paulo rogério Pires, shirlen Aparecida de lima

áreAsdireito à educaçãoCoordenadora: roseni Aparecida dos santos reigotaequipe: Amélia isabeth Bampi Paines, Arlete Felício Graciano Fernandes, Gregório dos reis Filho, hérica Aires do Prado, nelma dos santos silva, Priscila silva dos santos, renata sanches martinelli direito à Proteção especialCoordenadora: daniela resende Florioequipe: Andréia lavelli, márcia Cristina Pereira da silva thomazinho, marília Correia dos santos, marisa Cedro de oliveira, Pablo Finottidireito à Proteção integralCoordenadora: Andrea santoro silveira equipe: Bárbara Accioly Cotrin de Carvalho, daniela Queiroz lino, domiciano de souza, elaine Cristina rodrigues Barros, Gerson lopes Alves, letícia souto maior, lilyan regina somazz reis Amorim, regilene Caiafá de melo nunes

Esta publicação é o resultado da sistematização da experiência do Projeto Empreendedorismo Juvenil e Microcrédito, iniciativa desenvolvida pela Fundação Abrinq em parceria com o Citi

Sistematização e texto: Arlete Felício Graciano Fernandes Edição de texto: Ricardo Marques Revisão de texto e projeto gráfico: pris_hlodan mídia impressa

PAtRocinAdoR MAStERciti: Anthony Mcneill inghan e Vanessa cuzziol Pinsky

coMitê ExEcutiVoFundação Abrinq: Maria do carmo Krehan e Arlete Felício Graciano Fernandesciti: Vanessa cuzziol Pinsky e camila BellenzaniAshoka Empreendedores Sociais: olívia MartinSEBRAE-SP: Emerson Moraes Vieira e Marcos Evandro GaliniAssociação de Formação e Reeducação Lua nova: Raquel Barrosincubadora de cooperativas Populares da uSP: Sandra Rufino

PARcEiRoS inStitucionAiS Prefeitura de Guarulhos - Secretaria Municipal do Meio Ambiente

Prefeitura de Santana de Parnaíba - Secretaria Municipal do Emprego e desenvolvimento Econômico

Prefeitura de São Paulo - Secretaria Municipal de trabalho - centro de Apoio ao trabalhador Luz

instituto dom Bosco - Sede Luz - São Paulo

centro de Profissionalização do Adolescente - cPA - São Paulo

Aprendiz comgás - São Paulo

instituto novos Saberes de Guarulhos

São Paulo confia - crédito Popular Solidário

Projeto tesourinha - São Paulo

Fundação centro de Educação do trabalhador Prof. Florestan Fernandes - diadema

Associação cultural comunitária Pró Morato - Francisco Morato

organização Social Lua nova - Sorocaba

SESt-SEnAt - unidade São Vicente

instituto consciência pela cidadania de Santos

centro camará de Pesquisa e Apoio à infância e Adolescência de São Vicente

Associação comunidade de Mãos dadas - Santos

oficinas Querô - Santos

instituto Arte no dique - Santos

Projeto Educacional de conscientização e orientação - PRoEco - Santos

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Apresentação ............................................................................. 7

Juventude(s) em cena ................................................................. 8

Empreendedorismo juvenil ........................................................ 11

o Projeto Empreendedorismo Juvenil e Microcrédito ................. 13

o perfil do jovem no projeto ........................................................ 16

o processo formativo .................................................................. 19

A operação de microcrédito ........................................................ 29

Aprendizagens e recomendações ............................................... 33

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A Fundação Abrinq, em defesa dos direitos de crianças e adolescentes no Brasil, tem como visão uma sociedade justa e responsável pela proteção e pelo pleno desenvolvimento de suas crianças e adolescentes.

o campo da educação requer um olhar ampliado sobre a preparação do jovem para o mundo do trabalho, como resposta à forte aspiração da população dessa faixa etária por ocupação e renda, associadas à formação profissional. nessa perspectiva, e ante as tantas dificuldades que limitam o acesso dos jovens ao mercado de trabalho, surge como alternativa viável e consistente a promoção de medidas de apoio e estímulo às iniciativas de autossustentação econômica, baseadas em ações empreendedoras.

Entre 2006 e 2009, em parceria com o citi, a Fundação Abrinq concentrou esforços na implantação do Projeto Empreendedorismo Juvenil e Microcrédito (PEJM), por meio de uma metodologia capaz de estimular iniciativas empreendedoras e lideranças jovens, com o objetivo de apoiar e fortalecer alternativas de trabalho e renda.

Além do repasse de microcrédito, as estratégias conduzidas se instituíram por meio de um processo associado de formação e experimentação na gestão de negócios, como forma de apoiar o jovem empreendedor durante o primeiro ano de implantação de seu negócio, a fim de favorecer a construção de sua trajetória e de sua autonomia e do fortalecimento do seu projeto profissional.

o trabalho contou com a participação de vários parceiros, que se uniram em prol da formação dos jovens envolvidos, da construção de conhecimentos e da análise das ações que se encontram sistematizadas nesta publicação.

Ao apresentar referências e reflexões a respeito da metodologia utilizada e das possibilidades de atuação entre os jovens empreendedores, a Fundação Abrinq e seus parceiros não pretendem apresentar “modelos de intervenção”. A presente publicação, além de assegurar o registro da memória da experiência desenvolvida, se destina a estabelecer um diálogo com outros cenários e, a partir daí, construir aprendizagens que possam contribuir com projetos e iniciativas locais dedicadas ao empreendedorismo e a processos de inclusão de jovens no mundo do trabalho.

SYnESio BAtiStA dE coStAPRESidEntE dA FundAção ABRinQ

APresentAçãoProjeto Empreendedorismo Juvenil e Microcrédito - Jovens empreendendo suas ideias

Page 7: Projeto Empreendedorismo Juvenil e Microcrédito

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JuVentude(s) em CenA

Em um entendimento mais amplo, ser jovem no Brasil contemporâneo é estar

imerso, por opção e por origem, em uma multiplicidade de identidades,

posições e vivências. Daí a importância do reconhecimento da existência

de diversas juventudes no país, compondo um complexo mosaico de

experiências que precisam ser valorizadas no sentido de

promover os direitos dos jovens.

(Conjuve, 2006:5)

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o jovem é uma pessoa em desenvolvimento, e a juventude envolve aspectos que vão além do biológico, caracterizando-se como uma fase de experimentação, escolhas e inserção no mundo adulto. Planejar algo para os jovens implica considerá-los autores e atores de sua história, num contexto de manifestações heterogêneas marcadas por diferentes grupos e segmentos.

em relação à diversidade e à complexidade do tema, a partir de uma resolução da Assembleia Geral das nações unidas, em 1985, convencionou-se adotar a faixa etária de 15 a 24 anos para caracterizar a juventude, o que representa 18% da população brasileira.

Falar em juventude, especialmente em áreas com desigualdades socioeconômicas, envolve preocupações decorrentes de problemas como violência, drogas, desemprego, baixo desempenho escolar, distorção idade-série e processos de exclusão que comprometem o pleno exercício da cidadania e a conquista de projetos de vida.

o relatório 2007 do Banco mundial enfatiza o papel do jovem como sujeito capaz de dar sentido para seu desenvolvimento, e o Conjuve1 destaca que a necessidade de “vir a ser” não deve se sobrepor às necessidades do “aqui agora”, com pluralidade e diversidades culturais e sociais, em que as políticas “de”, “para”, e “com” a juventude devem considerar as seguintes dimensões:

educação, trabalho, cultura e tecnologia da informação; meio ambiente, saúde, esporte e lazer; valorização da diversidade e do respeito aos direitos humanos.

“A juventude é tradicionalmente considerada como uma fase de preparação para uma vida adulta futura, reduzindo-se as ações voltadas aos jovens unicamente à preocupação com sua escolarização. Mas a vivência juvenil na contemporaneidade tem se mostrado mais complexa, combinando processos formativos com processos de experimentação e construção de trajetórias que incluem a inserção no mundo do trabalho, a definição de identidades, a vivência da sexualidade, da sociabilidade, do lazer, da fruição e da criação cultural e da participação social. O que se ressalta nessa perspectiva é a importância de se considerar a perda da linearidade e de um padrão único na transição para a vida adulta, com possibilidades de trajetórias juvenis intermitentes e reversíveis.” (Conjuve, 2006: 20).

A juventude de hoje, diz o Conjuve, é composta por várias juventudes, e é com elas que deve dialogar qualquer ação ou intervenção socioeducativa, sempre com respeito às diferentes histórias, contextos, jeitos, figurinos, gostos, dores, alegrias, músicas, ritmos e caminhos.

no âmbito do Projeto empreendedorismo Juvenil e microcrédito, a população alvo de seus objetivos se volta para o grupo etário de 18 a 24 anos de idade e estabelece um recorte nos dados referentes à juventude em que os jovens pertencentes a essa faixa etária representam 12,5% da população brasileira, com cerca de 24 milhões de indivíduos.

Alguns dados relevantes revelam o cenário do jovem, focalizando o binômio educação e trabalho.

dados demográficos da população juvenil (15 a 24 anos)

17,97%

82,03% Fonte: IBGE-PNAD/2007

População geral - 189 milhões

População juvenil - 34 milhões

1. O Conselho Nacional da Juventude (Conjuve) é um órgão de caráter consultivo criado no Brasil em fevereiro de 2005, que prevê a participação de 20 conselheiros representantes do poder público e 40 da sociedade civil. Seus principais objetivos são assessorar a Secretaria Nacional da Juventude (SNJ) para a formulação de diretrizes pelos governos, promover estudos e pesquisas acerca da realidade socioeconômica juvenil e, sobretudo, contribuir para assegurar que a política nacional de juventude do governo federal seja conduzida com ênfase nos direitos e nas capacidades dos jovens e na ampliação da participação cidadã.

Atividade grupal

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educação Conforme aponta a pesquisa iBGe/2008, a vivência escolar dos jovens ainda é foco de grandes desafios, já que, por pressuposto, essa fase etária deveria ser enriquecida pela participação em espaços e atividades educacionais, como forma de fortalecer os projetos futuros da vida adulta. dados apontam que uma minoria frequenta a escola.

no desdobramento dos dados desse gráfico, verifica-se que os 69% de jovens que não estão estudando, na maioria das vezes, têm reduzidas as expectativas e as perspectivas de projetos de vida, o que, geralmente, se intensifica com a elevação da idade. A percentagem de jovens que interrompe os estudos ou se encontra em defasagem entre a idade e a série se inicia antes dos 18 anos e, quase sempre, repercute em outros processos de inserção social.

segundo dados da PnAd/2007, cerca de 82% dos jovens de 15 ou 17 anos que estudam e deveriam estar na etapa pré-universitária encontram-se em defasagem idade-série; 44% cursam o ensino fundamental e apenas 48% estão no ensino médio.

Já no grupo de jovens de 18 a 24 anos, a média de anos de estudos em 2007 subiu para 9,1, o que indica que os jovens nessa faixa etária conseguem ingressar no ensino médio, mas logo abandonam os estudos, forçados por outras demandas.

o gráfico da PnAd/2005 especifica a distribuição percentual dos jovens dessa faixa etária que estudam, no estado de são Paulo, e que, em linhas gerais, se manteve até a pesquisa de 2007.

em 2004, foi divulgado um perfil da juventude brasileira elaborado pelo instituto Cidadania2 a partir de pesquisa com jovens de 15 a 24 anos. entre os indicadores verificados, constatou-se que 65% dos jovens apontaram as questões de educação e cultura como as de maior interesse. Contudo, a motivação para as atividades de educação foi citada por somente 37% dos jovens como essencial para uma futura inserção ocupacional no sistema econômico.

A maioria dos jovens considera a escola importante, mas não atribuem a ela a garantia de emprego. no entanto, mesmo aqueles que abandonaram a escola consideram que sem escolaridade as possibilidades de inserção ficam mais comprometidas.

estudos que serviram de base para a elaboração dos Índices de desenvolvimento Juvenil da unesco – idJ/2003, parte do relatório de desenvolvimento Juvenil da entidade, apontam que a conciliação das demandas de trabalho e estudo é um desafio para os jovens e que o atraso educacional compromete o acesso ao mercado de trabalho, à renda digna e à saúde.

Percebe-se que, na trajetória escolar dos jovens, apesar da expansão do número de anos de estudo e do acesso mais amplo à escola, a distorção idade-série permanece e geralmente os jovens da faixa superior de idade pertencentes às famílias de baixa renda ficaram mais alijados da possibilidade de prosseguir os estudos.

Cerca de 14 milhões de jovens de 15 a 24 anos, no Brasil, podem ser considerados pobres, pois vivem em famílias com renda familiar per capita de até meio salário mínimo, e isso pode indicar que o baixo rendimento leva os jovens ao trabalho, em detrimento da continuação dos estudos. Apesar de não ser o único fator envolvido, a situação de pobreza pode explicar o abandono da escola.

dados da PnAd/2007 apontam ainda que 56% dos jovens entre 18 e 24 anos abandonaram os estudos para trabalhar e 19% dos que estudam conciliam a vivência escolar com atividades laborais e de geração de renda.

A resposta às demandas desse universo não pode se restringir à inserção dos jovens em atividades produtivas. É preciso também dar sentido ao contexto escolar, que não é visto como um espaço significante para grande parte dos jovens, o que impõe desafios para proporcionar qualidade e sentido à escola e ao ambiente educacional.

distribuição da situação escolar dos jovens entre 18 a 24 anos

69%Fonte: IBGE- Síntese de Indicadores Sociais 2008

31%

Jovens que estudam

Jovens que não estudam

distribuição percentual, por nível de ensino frequentado, dos jovens entre 18 e 24 anos no estado de São Paulo

52% Ensino fundamental

Ensino médio

Ensino superior

outras formações

Fonte: IBGE-PNAD/2005

13%

5%

30%

trabalho e estudo entre os jovens de 18 a 24 anos

14% Só estuda

trabalha e estuda

Só trabalha

nem trabalha nem estuda

Fonte: PNAD/2007

12%

56%

18%

2. A íntegra da pesquisa está disponível no site www.programajuventude.org.br.

Atividade grupal

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trabalho Ainda no Perfil da Juventude/2004, foi observado que, na escala de valores e de expectativas referentes às “melhores coisas de ser jovem”, os itens diretamente associados a “poder trabalhar” e “obter independência financeira” corresponderam a menos de 20% do total. ou seja, apenas um entre cinco entrevistados associou espontaneamente esse tipo de valor às melhores coisas de ser jovem. os demais identificaram as “coisas boas” com atividades não relacionadas ao trabalho e à independência financeira e revelaram aspectos quase opostos a trabalho e renda quando aludiram a “não ter preocupações/responsabilidades” e a “aproveitar a vida/viver com alegria” como o melhor de ser jovem. Quando indagados sobre “as piores coisas de ser jovem”, o tema trabalho-renda corroborou a ideia anterior: apenas um em cada cinco jovens citou a preocupação com a ausência de trabalho e renda, alegando como preocupações mais importantes aspectos relacionados à liberdade e aos riscos sociais.

É interessante perceber na pesquisa que, quando os jovens foram convidados a elencar por ordem de importância até três problemas que mais os preocupavam, o binômio trabalho e renda não prevaleceu nas respostas. há uma aparente distorção entre as expectativas e as preocupações declaradas pelos jovens, pois mesmo aqueles que não estavam procurando ocupação ou emprego revelaram ansiedade em relação a essas questões. É possível concluir, portanto, que a visão de futuro que os jovens trazem consigo é demarcada por dificuldades, e não, necessariamente, uma demanda transposta automaticamente.

o jovem que vê como problema a necessidade de encontrar um emprego ou uma atividade profissional não está declarando que a melhor forma de eliminar essa preocupação é a imediata obtenção de um emprego. essa preocupação foi manifestada com mais intensidade na faixa entre 20 e 24 anos (51%).

de qualquer maneira, os desafios quanto à inserção no trabalho são consideráveis, pois 64% dos jovens estão fora do mercado profissional, seja por opção, seja por falta de oportunidade.

A maioria dos jovens que trabalha ou já trabalhou (68%) tem ou teve um emprego sem registro, confirmando a situação de subemprego a que muitos estão sujeitos. isso aponta para uma reflexão quanto à qualidade da educação disponível, que não vem sendo suficiente para desenvolver competências e habilidades mais complexas e próprias da competitividade do mercado de trabalho, deixando a oferta concentrada em contextos de trabalho pouco estruturados – além, evidentemente, de refletir o alto nível de informalidade do universo empresarial brasileiro.

Ainda são restritas as oportunidades para os jovens no mercado de trabalho, e dados da PnAd revelam que 35,6% dos brasileiros de 18 a 24 anos estavam desempregados em 2007. de cada duas pessoas da população economicamente ativa (PeA) que estão desempregadas, uma tem menos de 24 anos de idade.

dos jovens que estão empregados, 43% têm carteira assinada, o que indica uma razoável formalização dos postos de trabalho, na comparação com os dados de 2006. Contudo, é importante destacar que uma ampla parcela de jovens na faixa de 18 a 24 anos (56%) ainda se encontra em ocupações nem sempre estruturadas, sem carteira assinada, em trabalho doméstico, voluntário, sem remuneração ou por conta própria.

A renda precária, as condições de trabalho inadequadas e pouco projetivas e a formação e a qualificação educacional comprometidas revelam e reforçam a necessidade de políticas públicas capazes de fortalecer os projetos profissionais de jovens. o incentivo ao empreendedorismo se destaca, portanto, como alternativa relevante.

A crença de que o mercado pode resolver sozinho, o problema do desemprego juvenil é falsa. também é falsa a noção de que basta a qualificação para tornar o jovem competitivo. sem mistificar o negócio próprio como solução exclusiva para o desemprego juvenil, a criação de formas de associativismos de jovens como estratégia coletiva de geração de renda e de acesso ao mundo do trabalho e da produção representa, sem dúvida, uma alternativa de organização e proatividade nessa faixa etária.

A disseminação da cultura empreendedora se torna cada vez mais relevante, na tentativa de ampliar a possibilidade de obtenção de habilidades técnicas específicas desenvolvidas em outros contextos de educação formal e profissionalizante.

Vivência dos jovens no mundo do trabalho

8%

Está trabalhando

nunca trabalhou nem procura trabalho

nunca trabalhou mas está procurando trabalho

Já trabalhou e está desempregado

Fonte: pesquisa Instituto Cidadania -perfil da juventude/2004

32%

36%

24%

Posição na ocupação dos jovens de 18 a 24 anos

10%

Empregado com carteira assinada

Empregado sem carteira assinada

trabalhador doméstico com/sem carteira assinada

trabalhador de produção para o próprio consumo e uso

trabalhador por conta própria

Empregador

trabalhador não remunerado

Fonte: PNAD/2007

44%

9%1%

2%

6%

28%

Page 11: Projeto Empreendedorismo Juvenil e Microcrédito

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emPreendedorismo JuVenil

Uma das alternativas de geração de renda para os jovens é o apoio à abertura

de pequenos negócios. Estimular o empreendedorismo significa

potencializar as alternativas de inserção dos jovens no universo do trabalho. Com a

cultura empreendedora incorporada as suas buscas, o jovem terá mais condições

de identificar e realizar seus projetos profissionais, educacionais e sociais.

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na busca de soluções capazes de incorporar a juventude no mundo profissional, é preciso identificar novas alternativas de geração de renda e trabalho. A abertura de pequenos negócios se torna, nesse contexto, uma possibilidade concreta e objetiva, tanto para jovens como para muitos adultos.

no Brasil, nos últimos anos, o tratamento diferenciado aos empreendimentos de pequeno porte tem sido objeto de políticas públicas de amplo alcance, como a promulgação da lei Geral das micro e Pequenas empresas, em 2007, a oferta de microcrédito, a orientação contínua para a gestão do negócio e, recentemente, a vigência, a partir de 1º de julho de 2009, da figura jurídica do microempreendedor individual (mei), que permite a formalização, sem burocracia e com imposto baixo, de empresas com faturamento anual até r$ 36 mil.

É importante diferenciar empreendedorismo por oportunidades e empreendedorismo por necessidade. em relação ao empreendedorismo por oportunidade, o Brasil detém a décima posição no mundo, mas quando se trata de empreendedorismo por necessidade, o país ocupa a quinta posição. o brasileiro, em geral, é motivado a empreender não pela percepção de uma oportunidade ou de um nicho de mercado atraente, e sim pela necessidade de sobrevivência e pela escassez de emprego formal. Contudo, 68% dos jovens empreendem por oportunidade e 32% por necessidade, o que indica melhor qualificação de quem, com pouca idade, decide abrir uma empresa. A pesquisa Global entrepreneurship monitor3 – Gem 2008 – mostra que o jovem empreendedor por necessidade tem renda concentrada na faixa de um a três salários mínimos e nível de escolaridade de cinco a onze anos. esses jovens empreendedores atuam, principalmente, na prestação de serviços ao consumidor (70%), em segmentos como comércio e alimentação, seguindo-se o setor de transformação (30%), em atividades industriais e de manufatura.

Por sua vez, o jovem empreendedor por oportunidade se diferencia por dispor de renda maior (36% ganham até três salários mínimos e 34%, de três a seis salários) e mais escolaridade – 25% cursam ou já terminaram o nível superior. em geral, iniciam seus negócios com atividades com grau mais alto de especialização, devido ao nível maior de qualificação e renda. os jovens empreendedores por oportunidade também buscam com mais intensidade os serviços de orientação empresarial (19%), uma vez que a atividade em que atuam requer qualificação e formação.

Como a renda de grande parcela dos jovens é precária, o empreendedorismo no Brasil, nessa faixa etária, é motivado principalmente pela necessidade de sobrevivência. não há trabalho para todos e prevalece a necessidade premente de geração de renda. nem sempre os negócios ou empreendimentos se sustentam, pois faltam habilidades básicas de gestão, o que compromete substancialmente o sucesso do negócio.

segundo pesquisa do seBrAe-sP, 27% das empresas paulistas encerram as atividades em seu primeiro ano de vida. esse dado deve ser ponderado, considerando que grande parte das pessoas que decidem empreender permanece na informalidade, não sendo computadas na pesquisa do seBrAe-sP, que considera apenas as empresas formalizadas.

o fato é que os jovens brasileiros estão empreendendo mais, como revela a pesquisa Gem 2008. do total de empreendedores brasileiros (14,6 milhões), 25% são jovens, o que coloca o país em terceiro lugar no ranking mundial, atrás apenas do irã (29%) e da Jamaica (28%).

isso não significa que o empreendedorismo resolve toda a demanda. Contudo, é preciso que a ideia de desenvolver novas formas de geração de renda, além de emprego convencional, seja levada para o jovem desde o ciclo básico até a universidade. o jovem deve ser ensinado, desde cedo, a conviver com o risco, a pensar

grande e a ter autoestima, coragem, confiança e capacidade para gerir sua própria vida. Abrir um pequeno negócio deve ser objeto de realização pessoal, e não uma decorrência da falta de opção.

A pesquisa Gem-2008 aponta as principais razões para a alta taxa de mortalidade dos pequenos negócios: comportamento empreendedor pouco desenvolvido, falta de planejamento, gestão deficiente do negócio, insuficiência de políticas de apoio, conjuntura econômica pouco favorável, ausência de análise do mercado e pouco conhecimento da atividade escolhida. esses fatores são relevantes também para os empreendimentos informais. em vista disso, transformar o empreendedorismo por necessidade de sobrevivência em oportunidades de negócios é o grande desafio que se coloca para a sociedade, a fim de instrumentalizar os jovens a superar os desafios da geração de renda. Fica evidente que a instrumentalização rumo à cultura empreendedora é um elemento importante para o desenvolvimento de competências que favoreçam a manutenção de renda adequada, seja em negócios próprios, seja em um emprego convencional.

“O emprego dos anos 90 tem um novo conceito: a empregabilidade, conjunto de conhecimentos, habilidades, comportamentos e relações que tornam o profissional necessário não apenas para uma, mas para toda e qualquer organização. Hoje, mais importante do que apenas obter um emprego é tornar-se empregável, manter-se competitivo em um mercado em mutação. Preparar-se, inclusive para várias carreiras e diferentes trabalhos – às vezes, até simultâneos.” (MTB/Sefor, 1995: 12).

segundo a organização das nações unidas (onu) e o seBrAe, alguns comportamentos caracterizam o empreendedor de sucesso e devem ser estimulados:

busca de oportunidades e iniciativa; persistência; disposição para correr riscos calculados; exigência de qualidade e eficiência; comprometimento; busca de informações; estabelecimento de metas; planejamento e monitoramento sistemáticos; persuasão e rede de contatos; independência e autoconfiança.

na era da informação e do conhecimento, surge a emergência de um novo paradigma para o processo de educação, para que as pessoas tenham um desenvolvimento equilibrado de habilidades básicas, específicas e de gestão.

As habilidades básicas duram a vida inteira e possibilitam a construção de ferramentas funcionais para os desafios do cotidiano: a leitura, a escrita, a expressão oral e a capacidade de resolver problemas, de planejar, de criar e de se relacionar com o outro de forma produtiva e ética.

As habilidades específicas estão condenadas a um ciclo de vida cada vez mais curto, pois as formas de participação nos processos de produção se modificam a cada inovação tecnológica e exigem atualização e formação permanente.

As habilidades de gestão têm duração média, uma vez que as formas de organização do trabalham mudam tão rapidamente quanto às tecnologias. essas habilidades passam por três aspectos: autogestão, cogestão e heterogestão.

desenvolver essas habilidades é um dos desafios na formação de jovens em prol da empregabilidade.

3. Pesquisa realizada desde 2000 pelo Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBQP). Os estudos do GEM abrangem 50 países e se destinam a buscar informações a respeito do empreendedorismo no mundo.

Page 13: Projeto Empreendedorismo Juvenil e Microcrédito

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o ProJeto emPreendedorismo JuVenil e miCroCrÉdito

A Fundação Abrinq e o Citi firmaram parceria para promover a formação

em empreendedorismo juvenil e em obtenção de microcrédito

para jovens que têm ideias empreendedoras que possam resultar em

um negócio.

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o projeto foi desenvolvido de 2006 a junho de 2009 e beneficiou 722 jovens entre 18 e 24 anos, por meio de um processo composto por formação inicial e formação continuada durante o primeiro ano de implantação do negócio, a fim de possibilitar o acompanhamento individualizado para a solução das dificuldades e dos desafios.

sob a ótica do protagonismo e com caráter prioritariamente educativo, as ações do Projeto empreendedorismo Juvenil e microcrédito adotaram como estratégia a formação inicial e a formação continuada (acompanhamento específico e técnico, cursos e oficinas temáticas) e o repasse de microcrédito, a fim de favorecer a construção da trajetória do jovem empreendedor em busca de autonomia e de fortalecimento de seu projeto profissional.

o objetivo do projeto de fortalecer iniciativas de geração de trabalho e renda para jovens entre 18 e 24 anos de idade teve suas bases de intervenções prioritariamente educativas.

A metodologia se desenvolve em um processo de formação para além do repasse de microcrédito ou de intervenções voltadas para os negócios.

os espaços de formação permitiram a análise, por parte dos jovens, dos riscos e das potencialidades do mundo dos negócios e de seu projeto de vida, de modo a estimular o desenvolvimento de uma perspectiva de futuro e de um novo patamar de inserção social.

Processos educativos que envolvem a juventude requerem o estímulo ao protagonismo, pois se trata de uma fase repleta de busca de respostas, de sonhos, de desejos, de enfrentamentos, de escolhas e de projeções.

em relação ao jovem que o projeto quer formar, emerge a ideia de uma pessoa autônoma e proativa, solidária, competente e participativa, o que remete diretamente ao conceito de protagonismo e de empreendedorismo juvenil.

educar para o protagonismo não se restringe a transmitir informações e conhecimento. A abordagem dos conceitos teóricos, somada aos dados da realidade e das experiências de vida dos jovens, foi a base do conhecimento construído no projeto.

A atuação com os jovens, a partir do que eles sentem e percebem de sua realidade, é contrária a qualquer tipo de paternalismo ou assistencialismo. trata-se de um método pedagógico que se baseia num conjunto de vivências, cujo foco é a criação de espaços e condições que propiciem o ato de empreender. mas o que significa de fato empreender? no senso comum, o conceito está associado à criação de um negócio privado, mas o termo “empreendedor” pode ser mais profundo. surgiu na França por volta dos séculos xVii e xViii e significa “aquele que se compromete com um trabalho ou com uma atividade específica e significante”.

o processo de instrumentalização de gestores de pequenos empreendimentos passa pela formação técnico-gerencial e pelo apoio à análise e à gestão dos cenários em que se instalam os empreendimentos, como uma experiência que contribui para seu desenvolvimento e para a construção ou o fortalecimento de um projeto de vida. empreender ideias é transformá-las em oportunidade, e é nesse espaço que o processo formativo se instalou.

A meta era atender 720 jovens, e foi realizado um processo seletivo que contemplou diferentes contextos e locais de abrangência, a fim de favorecer o apoio a jovens de 18 a 24 anos que quisessem montar ou fortalecer um negócio em andamento. o processo seletivo estava aberto a jovens que já tinham um negócio, tinham uma ideia para montar um negócio ou não tinham uma ideia clara mas queriam abrir um negócio.

o projeto abrangeu a região metropolitana de são Paulo e cidades próximas, como Guarulhos, diadema, santana de Parnaíba, sorocaba, santos e são Vicente, conforme o mapa abaixo.

Fonte: www.googlemaps.com.br

desde 2006, primeiro ano de implantação do projeto, houve a participação e a colaboração de várias organizações sociais, parceiras em outros programas da Fundação Abrinq, entre as quais a rede nossas Crianças4. também foram articulados espaços e organizações que atuavam com jovens nas regiões de abrangência do projeto e que abordam temáticas relativas à geração de renda, à empregabilidade e ao empreendedorismo juvenil, como escolas técnicas, unidades do sistema s, universidades, entidades sociais, centros de juventude e secretarias municipais de trabalho e emprego.

o foco de recrutamento entre jovens ligados às instituições de formação em geral ocorreu porque se avaliou que esse segmento já apresenta comportamento favorável à vida empreendedora, pela prévia participação em projetos ou programas de formação complementar e, estimulados pelas ações socioeducativas, poderiam aproveitar melhor uma oportunidade de fomento de suas ideias ou de iniciativas para a geração de renda.

Com esse conceito, o recrutamento se realizou em diversos espaços de participação juvenil, por meio da mobilização de lideranças locais e de reuniões de explanação do projeto dirigidas aos jovens interessados, no intuito de esclarecer e propiciar acesso a todos os potenciais empreendedores.

4. A Rede Nossas Crianças foi criada pela Fundação Abrinq em 1999 com a missão de mobilizar, articular e capacitar organizações sociais de atendimento direto a crianças e adolescentes, para que influenciem as políticas nas áreas da infância, adolescência e juventude, e tenham uma ação transformadora da situação de vulnerabilidade social desta população.

SÃO PAULO

GUARULHOSSANTANA

DE PARNAÍBA

SOROCABA

DIADEMA

SÃO VICENTE SANTOS

Page 15: Projeto Empreendedorismo Juvenil e Microcrédito

15

As metas de atendimento do projeto foram as seguintes, entre 2006 e 2008:

As inscrições foram feitas por meio do site da Fundação Abrinq. Cada jovem, a partir do preenchimento de um formulário de inscrição, foi avaliado pela equipe técnica da Fundação Abrinq, a fim de verificar a estrutura da ideia ou do negócio proposto e, assim, definir a participação no projeto. Ano a ano, cresceu o número de inscritos no projeto, e as metas iniciais foram superadas. Porém, ficou entendido que esse excedente faria parte do processo inicial da formação inicial, uma vez que somente nas primeiras aulas é que os jovens definiriam a efetiva participação.

deu-se, então, o processo de formação inicial, para a elaboração de um plano de negócio – um roteiro com todos os caminhos a serem percorridos para a criação e a manutenção de um empreendimento. essa etapa de formação foi realizada em um período aproximado de três meses, com turmas compostas por 30 jovens, em média, e em espaços cedidos por organizações parceiras5.

todos os participantes da formação inicial tiveram a oportunidade de dar continuidade ao processo formativo, por meio da formação continuada que ocorria num período médio de seis a oito meses, em atividades como encontros e oficinas temáticas e consultorias técnicas com profissionais voluntários do Citi.

Além disso, alguns jovens, no final da formação inicial, poderiam pleitear o acesso a um empréstimo de r$ 500,00 a r$ 1.500,00, desde que tivessem seus planos de negócio aprovados pelo Comitê executivo do projeto. o Comitê executivo reuniu representantes da Fundação Abrinq, do Citi, da incubadora de Cooperativas Populares da usP, da Ashoka empreendedores sociais, do instituto Polis e do seBrAe-sP, com a responsabilidade de acompanhar a implantação e o desenvolvimento do projeto e avaliar os planos de negócio com viabilidade de acesso ao microcrédito.

o acompanhamento dos negócios e dos jovens que acessaram o microcrédito se deu pela operadora de crédito contratada, por meio de um agente de crédito que tinha como tarefa principal orientar e apoiar os jovens durante o período de parcelamento do empréstimo projetado no plano de negócio.

Quadro de atendimento do projeto

111

Meta

inscritos

Participantes

90

330

103

450

338300

428

281

2006 2007 2008

5. Para a realização do projeto com as 25 turmas, foram utilizadas salas de aulas das seguintes instituições: Instituto Dom Bosco (SP), Centro de Profissionalização do Adolescente (SP), Aprendiz Comgás (SP), Centro de Apoio ao Trabalhador – Luz da Secretaria Municipal do trabalho de São Paulo, Fundação Centro de Educação do Trabalhador Professor Florestan Fernandes (Diadema), Associação Cultural Comunitária Pró-Morato (Francisco Morato), Organização Lua Nova (Sorocaba), Centro de Referência do Trabalhador da Secretaria Municipal do Emprego e Desenvolvimento Econômico e Social de Santana de Parnaíba, Centro de Educação Ambiental - Jardim City Las Vegas da Secretaria Municipal do Meio Ambiente de Guarulhos, Unidade do SEST- SENAT de São Vicente, Instituto Consciência pela Cidadania de Santos, Centro Camará de Pesquisa e Apoio à Infância e Adolescência de São Vicente.

Apresentação do Plano de Negócios

Page 16: Projeto Empreendedorismo Juvenil e Microcrédito

16

o PerFil do JoVem no ProJeto

Os jovens que participaram do projeto foram definidos a partir do processo

seletivo, o que se configurou como um primeiro desafio. Desde o início houve

dificuldade para recrutar e localizar jovens com projetos de empreendedorismo e

cultura empreendedora. Muitos jovens já tinham experiência em geração de renda e

em atividades autônomas e temporárias, pela própria exclusão do mercado

formal de trabalho. Porém, outros depositavam uma expectativa imediata

de inserção no mercado de trabalho a partir do projeto, o que não era

objeto dessa iniciativa.

Page 17: Projeto Empreendedorismo Juvenil e Microcrédito

17

Apesar do espírito empreendedor presente em muitos jovens, da força de vontade e do desejo de abrir um negócio próprio, um número muito reduzido de inscritos no projeto possuía clareza em relação à ideia ou ao negócio a ser criado, demonstrando grande distância da possibilidade de concretização imediata de um negócio próprio.

surgiu então, já no processo de recrutamento dos jovens, um diagnóstico que reforçava os dados do cenário da juventude: a opção pelo negócio próprio nem sempre corresponde a uma visão de oportunidade para seus projetos de vida profissional, mas uma necessidade de geração de renda que o mercado formal não oferece de imediato.

Depoimentos de jovens no encontro de integração da formação inicial

“Eu não sei o que vou montar, mas sei que posso trabalhar e ter meu negócio próprio para ajudar minha família, pois emprego não tem mesmo.”

“Eu já tentei várias coisas para ter uma oportunidade de emprego, e acredito que aqui poderei aprender a ser um empresário e, assim, ter sucesso.”

“Eu quero montar um salão de cabeleireiro, e vou fazer vários cursos para conseguir isso. Nunca trabalhei com isso, mas vou aprender.”

dos 989 jovens inscritos, apenas 14% já estavam envolvidos em um negócio em andamento, e a grande maioria, cerca de 86%, se inscreveu no projeto apenas com a ideia ou a intenção de montar um empreendimento, sem, necessariamente, ter tido alguma experiência no ramo de atividade apontado. Para essa maioria, a visão de um negócio se apresentava de forma ainda inconsistente e motivada pela necessidade de geração de renda ou pela possibilidade de mais uma capacitação para inserção no mercado de trabalho.

houve uma distribuição bem diversificada quanto aos ramos de atividades entre os jovens inscritos: 30% estavam ligados à área de prestação de serviços (informática, cabeleireiro, manicure, construção, reciclagem etc.), 23% à área de alimentação (salgados, lanches, marmitex, bolos, chocolates, doces etc.), 22% à área de arte e comunicação (websites, ilustração gráfica, artesanato, informática, teatro, música, dança etc.), 17% à área de moda (roupas, calçados, bolsas, bijuterias etc.) e 8% à área de entretenimento e lazer (bufês, eventos, festas, recreação etc.).

de acordo com as respostas às questões contidas no formulário de inscrição, relativas à vivência na área do negócio (experiência específica, cursos relacionados aos produtos ou serviços, conhecimento e habilidades já desenvolvidos na área), a grande maioria demonstrou pouco conhecimento do nicho de mercado apontado. A ideia derivava do fato de o jovem considerá-la uma opção de renda, independentemente do conhecimento ou das experiências relacionadas aos produtos ou serviços relativos ao empreendimento.

Além da dificuldade de encontrar jovens com ideias já delineadas a respeito da opção profissional indicada, o processo seletivo revelou dados significativos.

em relação ao gênero dos inscritos, houve equilíbrio – apenas uma ligeira predominância feminina. isso demonstra que a questão de geração de renda não se diferencia entre os jovens dos sexos masculino e feminino.

Ramo de negócios dos jovens inscritos

23%

Prestação de serviços

Alimentação

Arte/comunicação/cultura

calçados e vestuários

Esportes, entretenimento e lazer

Fonte: dados consolidados do sistema de banco de dados da Fundação Abrinq – campo inscrição PEJM

17%

29%

23%

8%

distribuição do sexo entre os participantes

Masculino

Feminino

Fonte: dados consolidados do sistema de banco de dados da Fundação Abrinq – campo inscrição PEJM

52% 48%

Ramo de negócios dos jovens inscritos

tem ideia de montar um negócio

tem um negócio montado

Fonte: dados consolidados do sistema de banco de dados da Fundação Abrinq - campo inscrição PEJM

14%

86%

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18

Quanto à faixa etária, houve uma concentração de jovens entre 18 e 21 anos (69%), confirmando que, logo no início da maioridade, os mais jovens têm mais disponibilidade e ainda investem em espaços de formação para a inserção no mundo do trabalho. os mais velhos acabam se envolvendo em atividades paralelas ao processo formativo, pela necessidade de geração de renda, que muitas vezes é desvinculada de um projeto de vida profissional. outra hipótese a se considerar é que uma grande maioria desses jovens foi encaminhada por organizações sociais que interromperam o atendimento a partir da chegada à maioridade, o que gerou a demanda absorvida pelo projeto.

A grande maioria dos jovens envolvidos no projeto possui nível de escolaridade diferenciado em relação aos índices gerais dessa faixa etária, com ensino médio ou em universidade (67%). esse dado é significativo e levanta a hipótese de que os jovens que possuem interesse ou vivência em ações empreendedoras possuem um perfil mais elevado de inclusão e permanência no sistema educacional. se essa relação for determinante, um projeto de estímulo ao empreendedorismo juvenil com foco em negócios dificilmente atingirá jovens que se encontram em níveis de exclusão social e educacional.

outro aspecto relativo à escolaridade que chama atenção é o baixo índice de jovens oriundos de cursos profissionalizantes, apesar da hipótese inicial de que esses espaços educacionais gerariam profissionais especializados com possibilidade mais concreta de geração de renda por meio do negócio próprio.

dos inscritos, 56% não estavam empregados, o que corresponde ao perfil geral dos jovens nessa faixa etária e representa um desafio para a sociedade brasileira.

mesmo os jovens que trabalhavam demonstraram que não possuíam fortes perspectivas voltadas para seus projetos de vida, pois desenvolviam atividades de baixa complexidade, temporárias e com pouca projeção de futuro.

muitos atuam em atividades informais e de pouco envolvimento com suas demandas e seus anseios pessoais e profissionais, devido à necessidade imediata de ocupação e geração de renda. A renda média dos que trabalham é baixa – entre menos de um salário mínimo (7%), entre um e dois salários (74%) e uns poucos que ganham acima disso (19%).

distribuição etária entre os participantes

18 anos

19 anos

20 anos

21 anos

22 anos

23 anos

24 anosFonte: dados consolidados do sistema de banco de dados da Fundação Abrinq – campo inscrição PEJM

11%

9%

13%

12%

16%

22%

17%

distribuição da escolaridade dos participantes

Ensino médio cursando ou incompleto

Ensino superior cursando ou incompleto

Ensino fundamental cursando ou incompleto

Ensino fundamental completo

Ensino médio completo

Ensino superior completo

Profissionalizante incompleto ou cursando

Profissionalizante completoFonte: dados consolidados do sistema de banco de dados da Fundação Abrinq – campo inscrição PEJM

5%5%

11%

4%4%

25%

5% 41%

Situação de trabalho dos participantes

trabalha

não trabalha

Fonte: dados consolidados do sistema de banco de dados da Fundação Abrinq – campo inscrição PEJM

44%

56%

tipo de ocupação dos jovens que trabalham

27%

outros - não discriminado

Prestação de serviços

Produção/venda artigos e acessórios

Área administrativa

comércio

Fonte: dados consolidados do sistema de banco de dados da Fundação Abrinq – campo inscrição PEJM

11%18%

31%

13%

Renda média dos participantes que trabalham

43%

de 2 a 4 salários mínimos

de 1 a 2 salários mínimos

1 salário mínimo

Menos de 1 salário mínimo

Sem rendimentos

Fonte: dados consolidados do sistema de banco de dados da Fundação Abrinq – campo inscrição PEJM

19%5%

31%

2%

Page 19: Projeto Empreendedorismo Juvenil e Microcrédito

19

o ProCesso FormAtiVo

Como eixo condutor do PEJM, a metodologia formativa dos jovens participantes

foi estabelecida de forma complementar e congruente pelo

período de um ano, nas fases de formação inicial e formação continuada,

detalhadas a seguir.

Page 20: Projeto Empreendedorismo Juvenil e Microcrédito

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Formação inicialA formação inicial é um dos pontos centrais do projeto, pois se trata da primeira ação com os jovens aprovados no processo seletivo. o objetivo era desenvolver competências e aprendizagens que pudessem favorecer o acesso à cultura empreendedora, de modo a proporcionar meios para manter a boa gestão dos empreendimentos, por meio da elaboração do plano de negócio.

os encontros de formação foram conduzidos por profissionais especializados em empreendedorismo e em elaboração de plano de negócio, contratados para esse fim a partir das diretrizes metodológicas da equipe técnica da Fundação Abrinq6.

A construção das diretrizes metodológicas do processo formativo ocorreu ao longo de três anos, consolidando-se em três eixos:

cultura empreendedora; análise do mercado e do mundo dos negócios; elaboração do plano de negócio.

A estrutura proposta permitiu que todos os jovens tivessem a oportunidade de refletir acerca dos conteúdos propostos e exercitar a elaboração do plano de negócio. Contudo, com essa divisão de etapas, foi possível dar mais atenção à complexidade de um plano de negócio para os jovens que estão no momento de iniciar um empreendimento e, assim, ter resultados mais efetivos.

desAFios e desCoBertAs na inscrição, esperava-se que os jovens já tivessem algum negócio ou pelo menos uma ideia clara do empreendimento a ser montado. Contudo, essa expectativa não se concretizou de forma representativa no grupo, conforme se percebeu no momento da seleção.

nas turmas montadas para o desenvolvimento da formação havia expectativas e situações distintas: jovens que buscavam um espaço para concretizar o “sonho do emprego formal”; outros que buscavam um certificado para enriquecer o currículo; jovens que, encaminhados pela organização ou por entidades comunitárias, estavam “ocupando o tempo” ou “participando de mais um projeto”; alguns com negócio já em andamento ou com ideias inovadoras para a montagem de um negócio; os que buscavam desenvolvimento pessoal; os que queriam entender o que vem a ser empreendedorismo; jovens que queriam pertencer a um grupo; jovens curiosos; outros interessados em alternativas de geração de renda, mas que não estavam qualificados para a montagem imediata de um empreendimento; jovens que queriam uma oportunidade diferente para se inserir no mercado do trabalho, entre outras manifestações.

A diversidade estava presente na história de vida de cada um deles. em grupo, mergulharam nas dinâmicas e construíram novas narrativas, seja como candidatos a empreendedores, seja em busca de um bom emprego.

muitos possuíam demandas e expectativas genéricas em relação ao mundo do trabalho, e a ideia de gerir um negócio estava muito distante de suas realidades e demandas.

Ante tanta diversidade, as aprendizagens deveriam passar, necessariamente, pelo fortalecimento do projeto de vida, e o desenvolvimento da cultura empreendedora adquiriu peso importante no processo formativo. o trabalho com ênfase nos conteúdos de elaboração de um plano de negócio com um grupo tão heterogêneo demandou ajustes no programa de formação, de modo que tanto a didática vivencial como os conteúdos e conceitos pudessem ser compreendidos. no primeiro momento, o foco da formação se voltou para a análise da economia brasileira, do mercado e do mundo dos negócios e muitos jovens puderam desenvolver novos conceitos e entender melhor os mecanismos que regem a economia global.

Depoimentos de jovens da turma de 2006

“Nunca pensei que a economia tivesse tanto a ver com o sucesso ou o fracasso de um negócio. Hoje, eu vejo que montar um negócio tem relação com tudo, e não só com a minha rua.”

“Antes de participar dessas aulas e do projeto, eu nunca tive interesse de ler ou escutar uma notícia que não fosse de futebol. Hoje, quando ouço a palavra economia, vejo que ela está no meu cotidiano e não pertence somente àqueles caras da TV.”

Foi significativa a presença de jovens que participaram do projeto por necessidade de formação, e não por localizar uma oportunidade específica de empreender.

Depoimentos de jovens durante a formação inicial

“O curso está me dando oportunidade de aprimorar minha percepção das atitudes que devemos ter em qualquer negócio ou trabalho. Percebi que precisamos saber o momento certo de abrir um negócio ou buscar outras oportunidades. É um mundo novo para eu me posicionar na minha vida.”

“Estar nesse projeto me ajuda a ver que ser empreendedor é mais do que ter um negócio, e como podemos usar essas capacidades no nosso cotidiano e em nossas relações.”

“O curso me estimulou a despertar um lado que ainda não tinha percebido: ser empreendedor. Abrir os olhos, ficar atento às oportunidades e às atitudes necessárias em minha vida. O curso vem me despertando uma nova visão desse mundo que ainda não conhecia.”

“Entrei aqui com um sonho, e depois de todas essas discussões e atividades vejo metas para minha vida. Sinto-me diferente, e a prova disso é que passei no vestibular e fiz matrícula para cursar uma faculdade em prol de minha carreira.”

Depoimentos de jovens ao fim da formação inicial

“Eu pude ver que não devo montar um negócio agora, pois antes tenho muitas coisas para organizar. Aprendi a analisar, e hoje vejo que recuar não é problema. Ser empreendedor é também ver de forma clara o melhor momento para dar um passo.”

“Com essas reflexões, eu enxerguei coisas que não imaginava e vi o quanto é importante planejar a vida, e não só um negócio.”

6. Em 2006, a formação foi conduzida pelo Núcleo de Economia Solidária da USP (NESOL) e, em 2007 e 2008, pela Consultoria Latina.

Page 21: Projeto Empreendedorismo Juvenil e Microcrédito

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Ao longo dos três anos, a discussão a respeito de empreendedorismo e o estímulo à cultura empreendedora se mostrou como uma necessidade temática relevante para o posicionamento dos jovens, com relação à construção de seus projetos. A criação de empreendimentos passou a ser vista como um dos resultados a se considerar no projeto, e não mais o único.

A cultura empreendedora pressupõe uma análise dos riscos e das oportunidades de projetos e ideias. despertar no jovem a opção pelo empreendedorismo requer, sobretudo, conhecer a importância das escolhas a partir dessa análise.

Baseado nessa premissa, a formação buscou fortalecer ou formar o comportamento empreendedor desses jovens, a fim de dar condições para que pudessem definir e identificar os desafios, as oportunidades e os riscos envolvidos.

A elaboração do roteiro do Plano de negócios se deu de forma transversal durante a formação inicial, por representar vários aspectos de análise do negócio, e proporcionou o entendimento da lógica e de seus elementos específicos.

Contudo, ao longo dos dois primeiros anos de desenvolvimento da formação inicial, observou-se que, a partir de um determinado estágio do processo, alguns jovens não conseguiam acompanhar os conteúdos. na medida em que os conteúdos ligados ao detalhamento do plano de negócio iam se intensificando, houve uma considerável evasão. das 25 turmas montadas para atender os jovens no período de três anos, 31% não concluíram a formação inicial. As desistências se concentraram nestes motivos: tinham outras ocupações concomitantes de formação ou de geração de renda, não se identificaram com os conteúdos abordados ou manifestavam expectativas mais imediatas de obtenção de renda ou de inserção no mercado de trabalho.

A elaboração detalhada do plano de negócio requer habilidades e motivações que geralmente estavam presentes somente nos jovens com visão clara de suas metas ou com negócios em andamento. essa parcela possuía habilidades básicas e específicas já desenvolvidas e pôde, no projeto, adquirir ou aprimorar conhecimentos de gestão, o que não ocorreu com aqueles cuja expectativa estava mais voltada para a inserção no mercado de trabalho ou para obter renda rapidamente.

A partir dessa constatação, foram definidos dois grandes perfis de jovens que participariam do projeto:

jovem do perfil 1 - tem um negócio em andamento ou uma ideia ou intenção imediata de montar um negócio;

jovem do perfil 2 - não tem uma ideia clara do que quer montar e busca no projeto mais formação e qualificação para sua inserção no mundo do trabalho, ou quer se aproximar da cultura empreendedora.

o projeto, em sua concepção original, não foi criado para os jovens do perfil 2, mas, por causa da diversidade do público participante, acabou absorvendo tal demanda naturalmente e buscou adaptar os conteúdos formativos. o processo mostrou que a elaboração de planos de negócio requer um mergulho detalhado no cenário do empreendimento a ser implantado – o que nem todos conseguiram.

A construção de um plano de negócio é consequência de uma análise profunda do que se quer, de modelos de negócios, da demanda do consumidor, dos resultados financeiros pretendidos e de como se inserir num mercado em intensas transformações. no projeto, foi adotado o seguinte roteiro:

descrição do negócio - atividade, objetivo, estágio de funcionamento, estrutura física e recursos existentes, estrutura da gestão, local, tipo de experiência ou de conhecimento da área do negócio;

Características e análise do mercado - consumidor, concorrente e fornecedor; estudo dos produtos ou serviços oferecidos - descrição, projeção de preços,

principais características; Política de preços e revisão de vendas - por produto e consolidada,

mensal e anual; estratégias utilizadas para divulgação do negócio e captação de clientes; investimentos necessários – já realizados e a realizar; Projeção de custos e despesas fixas mensais e anuais; Projeção de custos e despesas variáveis mensais e anuais; margem de contribuição de cada produto; Consolidação – custos e despesas variáveis e margem de contribuição; Índice de margem de contribuição da empresa; Projeção de vendas ou serviços e do ponto de equilíbrio; Projeção do empréstimo de microcrédito e sua justificativa; Projeção de resultados; Projeção do fluxo de caixa.

Planejar negócios é uma forma de organizar ações, perceber oportunidades de mercado, dimensionar demandas por produtos e serviços. Portanto, a capacidade de analisar o mercado e dimensionar uma demanda por produtos ou serviços é parâmetro inicial de qualquer negócio. É imprescindível uma avaliação que mostre quem são os concorrentes, os preços praticados no segmento, o tamanho do mercado, o público, os custos e as despesas.

Com base nos resultados apresentados pelos jovens quanto à elaboração do plano de negócio, os conteúdos da formação inicial foram ajustados para propiciar aprendizagens básicas aos dois perfis de jovens que participaram do projeto e permitir o aprofundamento do plano ainda na formação inicial para os jovens já próximos de implantar seus negócios.

Maquete construída para Análise de mercado na formação inicial

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os critérios para o jovem participar da segunda etapa foram estes: frequência nos encontros da primeira etapa, clareza e domínio do negócio a ser implantado e perspectivas estruturais demonstradas no processo de planejamento.

As análises financeiras de qualquer negócio, pequeno ou grande, são muitas vezes consequência da capacidade de uma empresa vender ou produzir. determinar a margem de contribuição, o ponto de equilíbrio, a necessidade de capital de giro, o uso do crédito, os investimentos fixos, o fluxo de caixa, o regime tributário, a taxa de retorno, a lucratividade e a rentabilidade dos negócios foi o alvo prioritário na segunda etapa da formação inicial.

nesse sentido, os jovens considerados aptos a esse aprofundamento puderam mergulhar nesse cenário e determinar, em um roteiro escrito, se o negócio é viável ou não, por meio da análise da relação fundamental de um empreendimento: custo-volume-lucro.

A divisão da formação inicial em duas etapas se mostrou positiva, por permitir o atendimento da diversidade de jovens que buscavam espaços de inclusão no projeto. o foco da formação inicial se concentrou no comportamento empreendedor e na elaboração de um plano de negócio. mas, nesse processo, é preciso conectar os jovens com o mundo do trabalho, de acordo com a perspectiva histórica e o contexto social no qual estão inseridos.

resultAdos e APrendiZAGensA análise comparativa das habilidades verificadas no início do processo formativo (marco zero) e no final do processo permitiu constatar que, de maneira geral, houve um desenvolvimento significativo, como o entendimento e o reconhecimento das características empreendedoras, das habilidades para a vida e para o mundo do trabalho (comunicação, trabalho em grupo, análise de cenários, comprometimento, estabelecimento de metas, busca de oportunidades etc.), o entendimento da dimensão e da complexidade do mundo empresarial e a compreensão do plano de negócio, entre outras.

no que se refere aos conhecimentos a respeito do comportamento empreendedor e do mundo do trabalho, também houve evolução e ampliação de conhecimentos de forma significativa no final da formação inicial.

Etapa de formação, para todos os jovens selecionados pelo projeto.

Etapa 1 – Estímulo à cultura empreendedora

módulo 1 - introdução ao curso. reconhecimento das habilidades e competências para o empreendedorismo. mudança de paradigma para o comportamento empreendedor. Fundamentos conceituais.

módulo 2 - Ambiente de negócios. Análise das tendências de mercado. dimensionamento do mercado (consumidor, fornecedor e concorrente). Visão de futuro e do negócio. oportunidades e riscos dos negócios. estratégias comerciais necessárias. redes de contatos.

módulo 3 - entendimento da estrutura de um negócio e dos elementos básicos de um roteiro de plano de negócio. reconhecimento dos aspectos financeiros de um negócio. estabelecimento de metas. definição compartilhada para continuidade na etapa 2.

Carga horária total: 40 horas

Etapa de formação voltada aos jovens que demonstrarem clareza e habilidades para a implementação de um Negócio

Etapa II - Elaboração do Plano de Negócios módulo 4 - Análise e elaboração detalhada de um plano de negócio. Cálculos, projeções, estruturação de produto/serviço, modelagem de negócios, previsão de vendas e analise financeira específica do negócio.

módulo 5 - Análise de viabilidade, estrutura necessária e possível/uso do microcrédito no negócio.

Carga horária total: 30 horas

Com o programa assim disposto, houve a valorização e o reconhecimento das aprendizagens voltadas para a cultura empreendedora, assim como a identificação das habilidades e potencialidades reais de implantação de um empreendimento, para o efetivo detalhamento do plano de negócio.

Depoimentos de jovens sobre o plano de negócio

“Elaborar o plano de negócio é uma atividade muito importante, principalmente porque ele apresenta concretamente as possibilidades do negócio, sem rodeios. Ou é ou não é. Quando colocamos no papel as ideias e fazemos contas e projeções é que a coisa aparece mesmo. Com o plano podemos ter um norte de tudo o que falta em nosso negócio.”

“Com a construção do plano de negócio eu vi que preciso controlar o meu próprio dinheiro, meus custos, minhas ambições. Tenho que planejar mais tudo em minha vida.”

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Considerando os aspectos diretamente ligados aos negócios, percebeu-se que grande parte dos jovens iniciou o curso com conhecimentos e habilidades insuficientes para a opção empreendedora. durante o curso, puderam compreender vários aspectos da área empresarial, a fim de apoiar decisões a serem tomadas na análise do empreendimento.

dos 498 jovens que concluíram a etapa de formação inicial, 64% conseguiram elaborar e compor os elementos do plano de negócio, entendendo sua lógica e sua importância para a consolidação de um empreendimento. desse modo, a elaboração genérica do negócio passou a ser vista como uma aprendizagem importante para todos os jovens participantes, por se tratar de uma aproximação com a complexidade do ambiente empresarial e por ser uma ferramenta de planejamento importante.

tabela comparativa das aprendizagens dos jovens na formação inicial

mArCo Zero mArCo FinAl nível de habilidade nível de habilidade

Aspectos avaliados insatisfatório satisfatório muito satisfatório insatisfatório satisfatório muito satisfatório

utilização de redes de contatos e parcerias 72% 24% 4% 27% 59% 14%

Capacidade de correr riscos calculados 78% 18% 4% 11% 42% 47%

Administração de demandas e tarefas 66% 28% 6% 14% 48% 38%

estabelecimento e concretização de metas 63% 30% 7% 12% 46% 42%

Planejamento dos elementos de uma tarefa 71% 26% 3% 8% 52% 40%

Capacidade de expressar de forma clara a opinião (verbalmente) 52% 37% 11% 13% 47% 40%

Capacidade de expressar de forma clara a opinião (por escrito) 57% 33% 10% 8% 49% 43%

Capacidade de trabalhar em grupo 27% 49% 24% 4% 37% 59%

Fonte: dados referentes à tabulação da avaliação inicial (marco zero) e avaliação final da formação inicial - amostragem de 15%

tabela comparativa da aprendizagem dos jovens na formação inicial

mArCo Zero mArCo FinAl nível de habilidade nível de habilidade

Aspectos avaliados insatisfatório satisfatório muito satisfatório insatisfatório satisfatório muito satisfatório

Percepção do mundo dos negócios 65% 31% 4% 12% 55% 33%

Conhecimentos e técnicas para atuar nos negócios 62% 32% 6% 8% 68% 24%

Análise dos pontos fracos e fortes do negócio 73% 23% 4% 7% 55% 38%

entendimento da situação social e econômica do país 71% 23% 6% 12% 61% 27%

Compreensão das tendências de mercado 69% 28% 3% 7% 65% 28%

elaboração do plano de negócio 77% 23% 0% 13% 59% 28%

estabelecimento de estratégia comercial 81% 19% 0% 24% 56% 20%

Análise dos custos do empreendimento 72% 23% 5% 4% 56% 40%

realização de pesquisa de campos sobre custos 80% 20% 0% 8% 45% 47%

Formação de preço de venda 69% 28% 3% 11% 49% 40%

Fluxo de caixa 84% 16% 0% 11% 49% 40%

Conhecimento de crédito financeiro 76% 20% 4% 13% 59% 28%

Fonte: dados referentes à tabulação da avaliação inicial (marco zero) e avaliação final da formação inicial - amostragem de 15%

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Comentário de jovens sobre as aprendizagens da formação inicial

“Aprendi muitas coisas aqui: a ter iniciativa, a ser persistente, a ouvir mais e arriscar de forma calculada, e sei que vou usar isso na minha vida. Mas eu não me considero pronta para assumir a responsabilidade de ter um negócio próprio.”

“Entendi quais atitudes devo ter na minha vida e sei quais eu devo aprimorar daqui para a frente. Essa é minha meta. Não me sinto preparada para um negócio nem tenho clareza se quero isso pra mim.”

“Fazendo todas essas análises, eu entendo agora o que é um negócio e vejo que posso ser empreendedor.”

Foram elaborados 317 planos de negócio, nos mais diversificados setores: produtora de vídeo, filmagem de festas, promoção de eventos, fornecimento de doces e salgados para festas, animação e decoração de festas, som e iluminação, design de moda, aulas de música e dança, salão de beleza, teatro educativo, indústria e comércio de tijolos ecológicos, confecção e venda de acessórios de moda, indústria e comércio de móveis artesanais, confecção e comércio de roupas, criação de websites, ateliê de bolsas e acessórios, adereços para cachorros, telefonia Voip, lan house, jogos eletrônicos, estúdio de arte e grafite, produção e comércio de chocolate, bolos e doces artesanais, borracharia, reciclagem de lixo, produção e comércio de bijuterias, velas artesanais, prestação de serviços em edificações, fitness, oficina de tunagem, oficina mecânica e funilaria, entre outras opções.

dos jovens que elaboraram o plano de negócio ao longo dos três anos de projeto, apenas cerca de 30% (95 participantes) dominavam o ramo de atividade a que se propuseram ou tinham conhecimento anterior do mercado e das oportunidades do setor, e esse aspecto foi determinante para o detalhamento do plano na formação inicial e na formação continuada.

esse índice, num primeiro momento, é baixo em relação ao número de jovens atendidos e ao total dos que concluíram a formação inicial. Contudo, a maioria dos participantes não tinha noção da complexidade de um negócio, e ao se debruçar nesse cenário pôde entender e opinar a respeito dessa alternativa profissional.

Ramo de negócios dos Planos elaborados

comércio

Moda e vestuário

Alimentação

comunicação/design/tic

Entretenimento e festas

Arte/educação/cultura

Estética e beleza

Prestação de serviços

Artesanato

9%

5%

12%

10%

11%

14%

6%

15%

A opção de montar um negócio pela necessidade de geração de renda não se mostrou suficiente o bastante para que os jovens se tornassem empresários, e o processo formativo demonstrou que essa opção só era mantida por aqueles que, de alguma forma, podiam transformar essa necessidade em oportunidade e, dessa forma, utilizar a aprendizagem em benefício do empreendimento.

não cabe a um projeto definir o que o jovem deve buscar. Cabe proporcionar espaços de escolhas calculadas. Quando se determinou o atendimento específico na segunda etapa, voltou-se ao perfil esperado na origem do projeto. são jovens com ideias inovadoras, com negócios já em funcionamento e com sonhos possíveis que, por meio do espaço formativo, puderam redirecionar suas buscas e demandas. Por outro lado, os jovens que não participaram da segunda etapa ou da formação inicial da primeira puderam verificar e desenvolver uma nova narrativa para a vida empreendedora em outros contextos.

Depoimento de um negócio apoiado pelo PEJM, composto por seis jovens participantes, oriundos das “Oficinas Querô”, que formam jovens da comunidade na área de cinema e vídeo, em Santos.

“Participar do Projeto Empreendedorismo Juvenil e Microcrédito foi uma experiência muito rica para nós, sócios da produtora Querô Filmes, pois além de conseguir o empréstimo, conseguimos fazer uma análise aprofundada do nosso negócio e com isso levantar e planejar os principais passos para alcançar os resultados que buscamos.”sócia e produtora-executiva da Produtora Querô

18%

Dinâmica formação inicial

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Formação continuadadurante a formação inicial, foram abordados conteúdos e processos de desenvolvimento de projetos e empreendimentos juvenis. Compreendendo a necessidade de consolidar as aprendizagens e aprofundar os conhecimentos necessários para o fortalecimento dos projetos, ao término da formação inicial os jovens puderam opinar a respeito da participação na formação continuada.

A formação continuada tem o objetivo de oferecer apoio para o fortalecimento das perspectivas apresentadas no momento da formação inicial e dos planos de negócio.

o público-alvo dessa etapa era composto de jovens que, na formação inicial, manifestaram interesse e disponibilidade em prosseguir no processo formativo, com planos de negócio elaborados ou que consideravam esse espaço importante para a conclusão de seus projetos ou para manter a rede de contatos com os demais participantes.

o período da formação continuada se baseou nos mesmos princípios metodológicos adotados na primeira fase de intervenção, a fim de ampliar o repertório dos participantes e construir conhecimento por meio da articulação entre teoria e prática. no fim da formação inicial, cada jovem participou de uma avaliação de interesse e pertinência quanto à inserção no processo de formação continuada, a fim de mapear suas demandas e necessidades. essa avaliação foi feita pelos educadores, com base na participação dos jovens nas atividades, nas demandas apontadas pelo grupo, no interesse individual em aprofundar conhecimentos e na disponibilidade em participar das ações propostas para a formação continuada.

Baseado na diversidade de perfil e na aspiração de cada um, o processo de formação continuada envolveu diversas formas de apoio, como reuniões e oficinas temáticas, consultoria técnica e gerencial, acompanhamento dos jovens que acessaram o microcrédito e cursos complementares.

nessa fase, o atendimento passou a ser personalizado, de acordo com as necessidades específicas e o perfil dos jovens envolvidos. houve também a abordagem de temáticas típicas e recorrentes no empreendedorismo, por meio de oficinas, consultorias e da própria operação do microcrédito.

Encontros e oficinas temáticas

desAFios e desCoBertAs desde a origem do projeto, considerou-se importante a existência de um espaço de reflexão e formação coletiva, a troca de experiências e a criação de redes de contato entre os jovens. Assim, instituíram-se reuniões para a abordagem de temas ligados ao desenvolvimento do negócio e dos projetos profissionais dos participantes.

os encontros foram programados para se tornarem um espaço de reuniões mensais ou quinzenais em que se abordassem temas ligados ao desenvolvimento do negócio e ao fortalecimento mútuo dos empreendimentos em funcionamento ou em implantação. Além disso, objetivava-se atrair os demais jovens que ainda não haviam se definido pela organização de um empreendimento e para a discussão das alternativas de inserção no mundo do trabalho, sobretudo de forma autônoma.

A participação nas oficinas temáticas foi facultativa. nesse sentido, o plano de atividades para a abordagem dos conteúdos buscou a apropriação de conhecimentos, independentemente da presença nos demais encontros. os jovens que participaram de um número maior de encontros puderam complementar aprendizagens direcionadas para seus negócios e suas necessidades.

Ao longo dos três anos do projeto, realizaram-se encontros na capital de são Paulo, em sorocaba e na Baixada santista, e no fim da formação inicial, durante um período de quatro a seis meses.

levando-se em conta os temas relevantes apontados pelos jovens durante a formação inicial, a equipe técnica da Fundação Abrinq coordenou os encontros de formação continuada e contou com a participação de profissionais especializados.

Análise do Plano de Negócio

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Por meio dessa iniciativa, houve um intercâmbio de experiências entre os jovens. A socialização dos êxitos e das dificuldades enfrentadas, na medida em que incentivava a um novo planejamento e à reorganização dos caminhos a serem percorridos, trouxe novas alternativas e aprendizagens. Com a abordagem desses conteúdos, os jovens puderam instituir a prática de rever seus planos constantemente.

Apesar de a maioria entender a importância dessa etapa do projeto, uma parcela considerável alegou indisponibilidade para frequentar os encontros, por se vincular a outras rotinas, cursos ou atividades.

pontos-de-venda e promoções/propaganda

temAs oBJetiVo

mercado 1 - “os 4 Ps”: produtos/serviços, preço, discutir com os participantes a importância de se atualizar continuamente sobre o mercado, a fim de criar estratégias para manter a competitividade da empresa

mercado 2 - entrega do produto ou serviço ao mercado discutir questões de logística, qualidade de processos de fabricação, equipe de funcionários e parceiros

Comunicação empresarial Analisar os processos de comunicação no contexto empresarial e o marketing conceitual

Comunicação com o mercado 1 instrumentalizar processos de comunicação dos empreendimentos, ferramentas de marketing e plano de marketing

Comunicação com o mercado 2 orientar a respeito das principais formas de uma empresa informar ao mercado sua existência, seus produtos, seus propósitos, marca, patentes, logotipos etc

Formalização de negócios 1 Analisar os procedimentos burocráticos e fiscais para a abertura de um negócio; mitos e verdades

Formalização de negócios 2 orientar a respeito das possibilidades e dos requisitos burocráticos e tributários de um negócio

Administração financeira 1 Aprofundar a gestão financeira do negócio, analisar os principais conceitos e atualizar as projeções, conhecer fluxo de caixa, ponto de equilíbrio, margem de contribuição, custos fixos e variáveis, projeção de preços, produtos e vendas etc.

Administração financeira 2 Aprofundar os aspectos financeiros do negócio a partir dos seus principais conceitos, ajustar os números Administração geral da rotina Analisar com profundidade os aspectos administrativos e funcionais do negócio e sua rotina, gestão de processos

microcrédito Analisar a história do microcrédito no Brasil e sua importância para o projeto

Projeto de vida Consolidar a importância dos projetos para a autonomia dos jovens participantes

network reforçar a importância da rede de relações e da busca de oportunidades no empreendedorismo

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resultAdos e APrendiZAGensuma aprendizagem significativa foi a constatação de que os encontros de formação continuada deveriam ser estruturados de forma similar à formação inicial, por um período de tempo mais concentrado, para não comprometer os demais compromissos dos jovens e proporcionar aprendizagens tão importantes quanto as que compuseram a formação inicial.

Além de abordar temas específicos, os encontros de formação continuada seguiram uma rotina capaz de assegurar tanto o aprofundamento dos conteúdos como a oferta de um espaço de troca dos processos vividos pelos participantes em seus planos e projetos.

Além da discussão dos temas específicos, houve o estímulo à criação de redes de relacionamento entre os jovens, como mais uma oportunidade gerada dentro do grupo, uma vez que existiam atividades e negócios complementares: produção de eventos, som e filmagem, decoração de festas, fornecimento de alimentação em festas, recreação infantil etc. esse caráter associativo foi estimulado, mas a ideia de formação de rede e de comportamento coletivo ficou comprometida pela dificuldade da presença contínua nos encontros e por não se estabelecerem as conexões necessárias ao funcionamento de uma rede.

os jovens que elaboraram os planos de negócio e demonstraram familiaridade e conhecimento com o ramo escolhido participaram mais intensamente das oficinas temáticas, por julgarem que esse espaço podia aprofundar aspectos relativos à gestão e fortalecer as estratégias de negócio.

Ao longo dos três anos, registrou-se a participação de 151 jovens, o que corresponde a 48% dos que elaboraram o plano de negócio e a 30% dos que concluíram a formação inicial.

Depoimento de jovens a respeito da oficina de formação continuada

“Cada oficina foi muito boa, pois aprendi muito. No começo eu tinha muitas dúvidas, fui caminhando e hoje vejo coisas que nem sonhava ver no meu negócio. As oficinas complementaram meus conhecimentos, e vejo que preciso buscar muito mais aprendizado para o meu negócio, continuamente.”

“A oficina de comunicação me ajudou muito a conhecer ainda mais o mercado e como trabalhar nele. Pude participar de várias oficinas, e em cada uma delas peguei novas dicas que a cada dia tento usar no meu negócio”.

“Foi muito importante saber mais sobre a legalização de empresas, e com certeza isso vai me ajudar muito quando eu for abrir meu negócio. Sei o que é necessário para abrir, e no momento certo vou atrás com mais clareza.”

“Nas oficinas eu relembrei e revi vários pontos que não tinha entendido com clareza no início. As fichas vão caindo aos poucos, e é bom esse vai e volta, pois ter um negócio é isso mesmo. Aprendemos mais a cada oficina.” “Revi muitas coisas e conheci conteúdos novos que eu precisava muito, como formalização de empresas, criação de marcas etc. Posso até não usar agora, mas um dia eu sei que vou usar.”

“A formação continuada foi e continuará sendo muito importante para nós, pois a cada oficina vimos que precisamos saber mais ainda. Adquirimos conhecimentos e somos chamados a buscar mais ainda. Para o meu empreendimento, os assuntos abordados esclareceram e indicaram caminhos importantes que já fiz e que devo seguir, além de me ajudar a tomar decisões.”

“Ao falar de empresa, o assunto nos faz lembrar dinheiro, mas para obtermos esse resultado temos que passar por um caminho que muitos desistem no meio, por visualizarem a burocracia e não o sucesso. Adquiri conhecimentos hoje que me deram uma nova visão de como lidar com o mercado e como ter uma boa administração do dia a dia...”

Análise financeira

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Consultoria técnico-gerencial Além da possibilidade de participar dos encontros e das oficinas temáticas, o projeto ofereceu um espaço de assessoria individual aos jovens com negócios em andamento e que manifestaram, no fim da formação inicial, demandas especificas para o aprimoramento de seus empreendimentos.

essas consultorias foram realizadas por profissionais voluntários do Citi em áreas como marketing, vendas, gestão de processos administrativos e gestão financeira. tinham como objetivo oferecer assessoria para ampliação de conhecimentos e da instrumentalização técnico-gerencial dos empreendimentos, a partir das necessidades diagnosticadas na formação inicial.

A indicação de jovens para a consultoria se baseava nos seguintes aspectos: planos de negócio elaborados e considerados viáveis para implantação

ou fortalecimento; motivação, disponibilidade e interesse em participar da consultoria; capacidade e conhecimento técnico básico para o desenvolvimento da

ação proposta no empreendimento.

A partir da análise da indicação de jovens para consultoria e da definição dos voluntários interessados, foi desenvolvido um programa de formação, com carga de 12 horas, e elaborado um manual de orientação, a fim de subsidiar as ações dos profissionais ao longo no processo, abordando os seguintes temas:

estrutura geral do Projeto empreendedorismo Juvenil e microcrédito - metas e objetivos, fluxos, parceiros, propostas e intervenções;

pressupostos norteadores do projeto - concepção de protagonismo e empreendedorismo juvenil, concepção que subsidia a metodologia de formação dos jovens, o papel e o lugar do educador ou consultor;

perfil dos jovens que participaram da consultoria - demandas de formação e estágio dos negócios;

orientação geral da ação da consultoria - conteúdos abordados, espaços e formas de intervenção, momentos da consultoria, planejamento e avaliação das ações, compromissos e cuidados. Posteriormente, os consultores receberam material com informações sobre o empreendimento e um diagnóstico inicial das demandas a serem abordadas durante a consultoria.

em seguida, ocorreu um encontro de integração entre os jovens e os consultores, a fim de que pudessem se conhecer e estabelecer as bases da consultoria. depois desse primeiro contato, cada dupla (jovem e consultor) elaborou um cronograma de encontros, seguindo-se a implantação do processo de consultoria.

desAFios e desCoBertAs o tempo de consultoria foi proposto para um período máximo de três meses, conforme a demanda específica. em alguns casos, esse período pôde ser redimensionado e prorrogado, de acordo com a necessidade ou a disponibilidade dos jovens e dos profissionais. A realização da consultoria ocorreu em reuniões presenciais (pelo menos quinzenalmente) e contato virtual (semanal), conforme o combinado entre os participantes.

um total de 61 jovens oriundos da formação inicial foi indicado para a consultoria, o que correspondeu a 28% dos que concluíram a formação inicial. esse índice foi considerado baixo, justamente pelo fato desse universo não corresponder aos jovens que efetivamente tinham mais proximidade com a concretização de seus planos de negócio.

A intensa demanda de trabalho ou estudo dos voluntários e dos jovens e a dificuldade na realização de reuniões presenciais foram alguns dos fatores que dificultaram o estabelecimento de um vínculo mais consistente e, consequentemente, a continuidade da consultoria.

A maioria dos jovens indicados demonstrou interesse e compromisso e viu na consultoria uma oportunidade de aprimoramento e fortalecimento profissional; contudo, somente 13% dos encaminhados conseguiram concluir o processo de consultoria.

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A oPerAção de miCroCrÉdito

Historicamente, o microcrédito nasceu da necessidade de se criar uma alternativa

de crédito para as pessoas físicas e jurídicas, dos setores formais ou informais, que

não têm acesso ao sistema bancário convencional e desejam montar, ampliar

ou obter capital de giro para um negócio de pequeno porte.

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trata-se de uma estratégia para a inclusão econômica e social das populações empreendedoras mais pobres, geralmente desempenhando atividade informal. A ideia do microcrédito surgiu como um instrumento de combate às desigualdades sociais – por isso é considerada menos uma questão financeira e muito mais uma questão social.

o sistema bancário convencional desenvolveu uma técnica incompatível com o modelo específico do microcrédito, que demanda o reconhecimento de diferentes realidades, contextos e maneiras de lidar com necessidades locais. em geral, essa visão de distribuição de valores de cunho social ficou restrita às organizações não governamentais, às entidades sem fins lucrativos e aos bancos comunitários.

o microcrédito representa uma filosofia de mudança, um instrumento de emancipação socioeconômica e cultural dos setores menos favorecidos da população e um mecanismo de desenvolvimento local, envolvendo iniciativas como compras coletivas, formação de cooperativas e associações e cadeias produtivas locais.

entre 1846 e 1976, muitas manifestações pontuais e isoladas de microcrédito ocorreram no mundo, porém o marco que popularizou o conceito foi a experiência desenvolvida em Bangladesh pelo professor muhamad Yunus com pequenos empreendedores das aldeias próximas à universidade onde lecionava, reféns dos agiotas. A iniciativa estimulou experiências semelhantes no mundo inteiro e chegou à América latina na década de 80, no Peru, no Chile e na Bolívia.

no Brasil, a primeira experiência de microcrédito data de 1973, e de lá para cá houve iniciativas na área, particularmente no âmbito governamental, com o apoio do Bndes do seBrAe e de outros órgãos e entidades. um marco legal foi a lei nº 9.790/99, que reconheceu as instituições não governamentais especializadas em microcrédito como organizações da sociedade civil de interesse público (osCiP).

o microcrédito é baseado na análise socioeconômica do interessado, e pesa, principalmente, a avaliação subjetiva de suas intenções e de suas potencialidades, feita pelo agente de crédito, figura central no acompanhamento da gestão do empreendimento.

no Projeto empreendedorismo Juvenil e microcrédito, a concessão de microcrédito se baseou no potencial da microempresa, a partir da capacidade empreendedora dos jovens envolvidos e da análise de viabilidade das ideias e propostas apresentadas no plano de negócio.

A criação de um negócio próprio e o acesso a um empréstimo devem representar para o jovem de baixa renda uma experiência que contribua decisivamente para o seu desenvolvimento. Por isso, a questão do microcrédito foi avaliada no contexto de um espaço educativo e complementar, para o fortalecimento dos negócios envolvidos.

A partir desse conceito, a análise do microcrédito foi inserida no processo formativo dos jovens desde a etapa inicial do projeto, a fim de que os participantes pudessem avaliar suas implicações e, a partir daí, definir a pertinência de solicitação de um empréstimo. Com essa reflexão presente no momento da elaboração do plano de negócio, os jovens eram convidados a analisar a real necessidade de solicitar o crédito, com base em estudos financeiros e estruturais do negócio. mais uma vez, o plano de negócio foi a referência.

os pedidos de concessão de microcrédito variaram de r$ 500,00 a r$ 1.500,00, geralmente para a aquisição de equipamentos, matéria-prima e capital de giro. A solicitação era projetada no plano de negócio, a fim de demonstrar sua necessidade para o fortalecimento do empreendimento e sua viabilidade. Ponto de equilíbrio antes do microcrédito Período de referência Primeiro trimestreCustos e despesas fixas sem o microcrédito r$ 4.930,00Índice médio de margem de contribuição 57,61%Ponto de equilíbrio r$ 8.557,38menor previsão de faturamento r$ 10.400,00

Ponto de equilíbrio antes do microcrédito Período de referência segundo trimestreCustos e despesas fixas com o microcrédito r$ 5.188,82Índice médio de margem de contribuição 57,61%Ponto de equilíbrio r$ 9.006,63menor previsão de faturamento r$ 25.250,00

Fonte: trecho de uma das análises projetadas no plano de negócio elaborada por um dos jovens

Análise da ideia

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desAFios e desCoBertAs os planos de negócio dos jovens que concluíram a formação inicial e demonstraram consistência em suas projeções e especificações foram submetidos a uma análise do Comitê executivo. os jovens apresentaram os principais aspectos do negócio, como descrição geral do empreendimento, público-alvo, produtos e serviços, avaliação de concorrentes e fornecedores, análise financeira e os diferenciais do negócio, e a partir daí surgiram os argumentos para justificar o empréstimo.

o pagamento do empréstimo deveria ocorrer em seis parcelas, com carência de três meses, após o repasse, para ampliar o tempo de montagem do negócio e início do faturamento.

o repasse do microcrédito como ação pedagógica do projeto tinha como pressuposto a experimentação e o conhecimento dos aspectos ligados à gestão dos compromissos financeiros, em que os resultados poderiam servir de indicadores de aprendizagens de gestão financeira e análise do empreendimento no mercado. os jovens que acessassem o microcrédito não poderiam receber um novo empréstimo no projeto, e os empreendimentos que apresentassem uma gestão financeira positiva, com quitação do microcrédito, poderiam ser alvo de orientação e apoio na busca de outras formas de acesso a microcrédito.

A operação do microcrédito foi feita por uma organização não governamental contratada para esse fim7, que tinha como função gerir todos os repasses aprovados e realizar o acompanhamento contínuo do empreendimento. os jovens

que acessaram o microcrédito tiveram o acompanhamento e a consultoria de um agente de crédito por todo o período de parcelamento da dívida. Além disso, para cada empréstimo repassado, a operadora de crédito firmou um contrato e termos de cumprimento do pagamento das parcelas e compromissos. Como o projeto tinha caráter educativo, os jovens que receberam os empréstimos mantinham um compromisso com a operadora, sem consequências jurídicas no caso de inadimplência.

A função da operação do crédito e do agente de crédito se sustentou na ideia de uma incubadora aberta, por meio de visitas periódicas e da assistência contínua aos empreendimentos envolvidos, a fim de se buscarem estratégias de superação de obstáculos e de fortalecimento dos projetos.

Planilha de fluxo de caixa do plano de negócio (em R$)

descrição mês 01 mês 02 mês 03 mês 04 mês 05 mês 06 mês 07 mês 08 mês 09 mês 10

saldo inicial (si) 0,00 1.061,55 8.114,43 17.586,93 26.945,11 36.446,84 44.076,25 50.149,98 55.561,40 61.952,19

entrAdAs

1. Vendas previstas 10.400,00 20.800,00 25.000,00 25.250,00 25.500,00 22.250,00 19.550,00 18.400,00 20.100,00 24.750,00

2. diversos 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

(A) total de entradas 10.400,00 20.800,00 25.000,00 25.250,00 25.500,00 22.250,00 19.550,00 18.400,00 20.100,00 24.750,00

sAÍdAs

1. Custos e despesas fixas 4.930,00 4.930,00 4.930,00 4.930,00 4.930,00 4.930,00 4.930,00 4.930,00 4.930,00 4.930,00

2. Custos e despesas variáveis 4.408,45 8.817,12 10.597,50 10.703,00 10.809,45 9.431,77 8.287,45 7.799,76 8.520,39 10.491,52

3. empréstimo do microcrédito 0,00 0,00 0,00 258,82 258,82 258,82 258,82 258,82 258,82 0,00

4. diversos 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

(B)total de saídas 9.338,45 13.747,12 15.527,50 15.891,82 15.998,27 14.620,59 13.476,27 12.988,58 13.709,21 15.421,52

(si + A) - B = saldo Final 1.061,55 8.114,43 17.586,93 26.945,11 36.446,84 44.076,25 50.149,98 55.561,40 61.952,19 71.280,67

Fonte: dados referentes à tabulação da avaliação inicial (marco zero) e avaliação final da formação inicial - amostragem de 15%

7. A operadora de crédito foi a Ação Comunitária Paroquial Jardim Colonial, por meio do Centro de Profissionalização de Adolescentes Padre José Bello dos Santos.

Apresentação ao comitê

Análise da ideia

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resultAdos e APrendiZAGens durante os três anos de atendimento, foram concedidos crédito para 41 jovens envolvidos em 33 empreendimentos. esse índice representa 13% do total de planos elaborados e 43% dos jovens que efetivamente mantinham negócios em andamento ou estavam em via de implantação.

esse dado surpreendeu, pois se esperava que um número maior de jovens se interessasse pelo empréstimo. Quando indagados sobre a falta de interesse em solicitar o crédito, a maioria dos jovens disse que não buscava apoio financeiro, mas tinha interesse na formação oferecida.

dos jovens que acessaram o microcrédito, cerca de 50% quitaram os débitos, conseguiram implantar seus negócios e cumpriram os compromissos e as projeções relativas ao empréstimo, manifestando alguma dificuldade na gestão financeira, superada com o acompanhamento do agente de crédito.

os jovens que não conseguiram quitar o empréstimo, na quase totalidade, não implantaram o plano de negócio e tiveram dificuldade em lidar com os desafios do empreendimento. outro aspecto relevante é que a maioria partiu para outras atividades paralelas de geração de renda e deixou de atuar no negócio por falta de tempo, de motivação ou de crença na ideia projetada no momento da formação inicial. no que diz respeito à inadimplência, houve esforço no sentido de favorecer o pagamento, uma vez que esse dado estaria diretamente ligado à sustentabilidade financeira dos empreendimentos envolvidos.

o efetivo acompanhamento do agente de crédito foi um desafio durante a operação do microcrédito. A supervisão dos empreendimentos foi concebida para ser realizada pelo agente de crédito nos próprios locais onde funcionavam os negócios, uma vez que se entendia que, assim, seriam facilitados os processos de reflexão e análise de seus avanços e dificuldades. Contudo, como muitos jovens não implantaram o projeto e se afastaram dos compromissos e das projeções do plano de negócios, a intervenção do agente de crédito ficou comprometida, por ser encarada como uma ação de cobrança, sem capacidade de estabelecer um vínculo que pudesse ser visto como apoio às necessidades da grande maioria dos jovens empreendedores.

Avaliou-se que o agente de crédito deve ser capaz de assessorar a implantação do plano de negócio, com conhecimento técnico e gerencial da operação de crédito e de seu papel como facilitador na busca de alternativas. isso exige um comportamento também empreendedor do agente, que, portanto, deve conhecer os conteúdos abordados no processo formativo. também se avaliou que o processo de formação e a operação de crédito devem estar no mesmo espaço pedagógico, de forma que o jovem possa entender esse acompanhamento como mais uma referência de apoio e de superação das dificuldades no universo empreendedor.

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APrendiZAGens e reComendAções

A experiência aqui sistematizada destaca algumas aprendizagens que podem ser

transpostas para outras iniciativas que veem o empreendedorismo juvenil

e o microcrédito como alternativa de geração de renda para os jovens

brasileiros.

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Processo seletivo o primeiro ponto de destaque nessa reflexão está relacionado ao perfil dos jovens a serem apoiados em um projeto de empreendedorismo. Considerando resultados mais específicos e efetivos voltados para o fortalecimento de um negócio próprio, o projeto demonstrou que o processo seletivo deve ser mais criterioso, a fim de garantir a participação de jovens que já estejam aptos a potencializar sua capacidade empreendedora e a desenvolver habilidades de gestão empresarial. Para essa parcela, o processo seletivo pôde evidenciar o envolvimento com o negócio pretendido e, a partir daí, nortear e favorecer um diagnóstico dos esforços metodológicos a serem abordados no processo formativo, para a gestão e a estruturação do negócio pretendido.

Para os jovens que tinham somente a intenção de montar uma empresa, mas não possuíam comportamento empreendedor, análise crítica e habilidades básicas de cálculos para a elaboração do plano de negócio, o processo seletivo ampliou os critérios, a fim de acolher a demanda de formação em cultura empreendedora, o que inicialmente não era previsto como requisito de participação.

nesse sentido, os itens investigados no momento da inscrição, a respeito dos aspectos estruturais do negócio ou da ideia, da experiência e da clareza relativa ao negócio e das motivações e iniciativas já realizadas, tiveram de ser relativizados na análise do processo seletivo, com resultados parciais em relação às metas projetadas inicialmente. Por outro lado, a inclusão desse perfil no processo seletivo permitiu a participação de vários jovens que puderam, ao longo do processo, explorar os conhecimentos ligados ao mundo dos negócios e fortalecer as habilidades para a vida, de modo geral.

Assim, para que o processo seletivo seja fiel a seus propósitos educacionais, é preciso definir critérios que incluam jovens de diferentes perfis, para permitir o desenvolvimento e a apropriação de alguns comportamentos empreendedores como uma etapa específica do processo formativo.

Processo formativo o planejamento de um projeto de empreendedorismo juvenil requer, necessariamente, a criação de ambientes de aprendizagem favoráveis ao estímulo à cultura empreendedora e ao apoio a pequenos empreendimentos juvenis.

É importante destacar que a cultura empreendedora não está incorporada nos espaços formativos dos jovens. Por isso, um projeto que se disponha a promover esse comportamento deve considerar que o conceito de empreendedorismo precisa ter papel de destaque logo no início do processo formativo.

Com ou sem experiência em negócio, os jovens brasileiros demandam espaços de formação que possam fomentar a cultura empreendedora em seus projetos de vida e em sua busca profissional. uma proposta formativa que possibilite o despertar da cultura empreendedora pode, portanto, favorecer a visualização dos caminhos e comportamentos a serem adotados na concretização de projetos almejados pelos jovens, inclusive com o desenvolvimento de habilidades de gestão.

os processos formativos que estimulem o empreendedorismo como cultura a ser adotada são significativos, inclusive para os jovens que ainda não pensaram em abrir um negócio próprio e estão mais suscetíveis a oportunidades de emprego formal. o fortalecimento de habilidades de gestão e de espírito empreendedor pode ser transposto a muitas outras experiências profissionais e de carreira.

Ficou evidente no projeto que, em relação aos jovens que têm uma ideia clara de seus objetivos e possuem habilidades que podem se transformar em meios de geração de renda, essa capacidade agrega valor a sua postura como gestores de um empreendimento e permite aprofundar um plano de negócio. essa parcela de jovens conseguiu manter o projeto de montar uma empresa, detalhou suas intenções, deu sentido ao plano de negócio e fortaleceu as características empreendedoras anteriormente despertadas: persistência, busca de soluções criativas sem abandonar o foco de suas ambições, qualificação específica em um produto ou serviço, visão de oportunidade, disposição de assumir riscos calculados, autonomia e capacidade de administrar um empreendimento por conta própria.

o desafio é fazer com que, no seu cotidiano, o jovem possa enxergar o empreendedorismo como uma cultura de mudança capaz de facilitar a conquista de suas demandas e necessidades. e, ainda, que tais resultados possam ser claramente observados no período pós-formação.

nesse sentido, os encontros de formação continuada, por meio de reuniões e oficinas temáticas, representaram espaços significativos para a aprendizagem dos jovens envolvidos, pois refletiram um mapeamento das demandas do grupo. Contudo, sua estruturação deve manter uma rotina e uma carga horária complementar à formação inicial, mas não de forma facultativa, por ser um espaço igualmente importante para os jovens participantes.

destaca-se, ainda, a importância de um espaço de interlocução e alinhamento contínuo que possa se tornar um eixo condutor do processo formativo, a fim de que as ações a serem implantadas em prol dos projetos juvenis possam ser congruentes e complementares ao longo do processo.

. ..os itens investigados no momento da

inscrição sobre os pontos estruturais do negócio ou

da ideia, sobre a experiência e clareza do negócio, sobre as

motivações e iniciativas já realizadas dentro da ideia ou do

negócio, tiveram que ser relativizados na análise do processo

seletivo e surtiu resultados parciais em relação às metas

projetadas inicialmente.

o desafio é que, no seu cotidiano, o jovem possa

enxergar o empreendedorismo como uma cultura de

mudança capaz de facilitar a conquista de suas demandas.

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Apoio aos empreendimentos Além da ação direta de formação dos jovens, deve-se destacar que o projeto promoveu processos de mobilização e articulação local que reforçaram a importância dessa estratégia de potencialização dos empreendimentos. estabeleceu parcerias e redes de apoio com secretarias municipais, organizações sociais, unidades locais do seBrAe-sP e centros de qualificação profissional. Contou também com colaboradores locais nas cidades de santana de Parnaíba, Guarulhos e santos, que, além de contribuir com a divulgação e a montagem das turmas, sinalizaram interesse em apoiar os empreendimentos criados no projeto.

desse modo, reafirma-se a importância da criação de redes de apoio locais e da participação de diferentes setores da comunidade, para que os projetos e os planos de negócio possam se tornar sustentáveis. entende-se que os projetos de formação de jovens empreendedores devem ter como estratégia o fomento regional de redes de apoio capazes de gerar formações complementares, acesso ao microcrédito e a incubadoras de empresas, associativismo, parcerias e outras formas de fortalecimento que envolvam o jovem empreendedor e os demais atores de sua localidade.

em um eixo condutor que se torne base do processo formativo dos jovens, entende-se que o acompanhamento do jovem deve persistir depois da formação inicial, em ações contínuas de apoio aos projetos envolvidos e como uma “incubação aberta” que permita a reflexão a respeito dos desafios do cotidiano de um empreendimento e o mapeamento das intervenções formativas.

A ação da operação de crédito para jovens empreendedores é mais um desafio que se coloca em projetos como esse. A forma como a operação de microcrédito se instala pode influir diretamente no avanço dos empreendimentos. Por isso é necessário que a organização que assuma a operação do microcrédito tenha um perfil adequado, com experiência acumulada em empreendimentos juvenis, a fim de garantir o pressuposto educacional da ação.

Como a grande maioria dos jovens iniciou os empreendimentos por necessidade ou por uma oportunidade emergente, a experiência empresarial no projeto se deu efetivamente no período pós-formação inicial; no caso dos que acessaram o microcrédito, consolidou-se durante o acompanhamento do agente de crédito.

desse modo, reafirma-se a necessidade de se inserir as questões da operação do microcrédito desde o inicio da participação do jovem no projeto, para favorecer reflexões compartilhadas entre o jovem e o agente de crédito no processo de formação inicial, na análise do negócio e na própria opção pelo pedido de microcrédito. É importante que haja uma conexão entre o que é apreendido nos espaços de formação inicial e continuada e a operação do microcrédito.

A parceria entre o jovem e o agente de crédito pode contribuir para o alinhamento das demandas e dos desafios a serem superados no acompanhamento do negócio, a fim de fomentar o comportamento empreendedor, ampliar os conhecimentos técnicos e gerenciais dos negócios e subsidiar o assessoramento e a implantação dos planos de negócios dos jovens atendidos.

As demandas de geração de renda e do mundo do trabalho precisam ser entendidas como inerentes à juventude, pelas pressões sociais e econômicas que ocorrem nessa faixa etária. nesse contexto, todo o processo formativo e de acompanhamento deve considerar essa realidade e propiciar reflexão para a análise de conciliação entre as duas demandas, a fim de que seja problematizada a viabilidade do negócio na realidade do jovem e a consequente concessão do microcrédito.

uma das questões que se confirmaram no projeto é a mudança de paradigma do jovem desempregado para o jovem com potenciais a serem aprimorados por meio de um processo educativo que fortaleça suas buscas e seus projetos. não bastam programas que ofereçam oportunidades aos jovens no campo da empregabilidade. o que mais importa é o investimento em trajetórias capazes de permitir uma visão prospectiva em relação a seus projetos, sejam ou não voltados para um negócio próprio.

na sociedade do conhecimento, o Projeto empreendedorismo Juvenil e microcrédito confirma a necessidade de incorporar a cultura empreendedora como tema nos espaços formativos da adolescência e da juventude, como um instrumento de conhecimentos básicos e habilidades para a vida. É uma forma de compartilhar com o jovem a responsabilidade pela sua inclusão no mundo do trabalho e, ao mesmo tempo, aparelhá-lo para tomar decisões e perceber alternativas de escolha e análise. É permitir que ele se situe num mundo sem empregos, em que o conhecimento é o patrimônio mais relevante, com o qual consiga fazer a diferença com criatividade e proatividade, no trabalho e na vida.

É uma forma de compartilhar com o jovem

a responsabilidade pela sua inclusão no mundo

do trabalho e, ao mesmo tempo, aparelhá-lo

para tomar decisões e perceber

alternativas de escolha e análise.

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