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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS MICHEL EUSTÁQUIO DANTAS CHAVES SENSORIAMENTO REMOTO E GEOPROCESSAMENTO APLICADOS AO ESTUDO DA EXPANSÃO URBANA E DAS ALTERAÇÕES OCORRIDAS NO USO DA TERRA ENTRE 1986 E 2010 NO MUNICÍPIO DE ALFENAS E TENDÊNCIAS FUTURAS DE EXPANSÃO Alfenas/MG 2011

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS

MICHEL EUSTÁQUIO DANTAS CHAVES

SENSORIAMENTO REMOTO E GEOPROCESSAMENTO APLICADOS AO

ESTUDO DA EXPANSÃO URBANA E DAS ALTERAÇÕES OCORRIDAS NO USO

DA TERRA ENTRE 1986 E 2010 NO MUNICÍPIO DE ALFENAS E TENDÊNCIAS

FUTURAS DE EXPANSÃO

Alfenas/MG

2011

MICHEL EUSTÁQUIO DANTAS CHAVES.

SENSORIAMENTO REMOTO E GEOPROCESSAMENTO APLICADOS AO

ESTUDO DA EXPANSÃO URBANA E DAS ALTERAÇÕES OCORRIDAS NO USO

DA TERRA ENTRE 1986 E 2010 NO MUNICÍPIO DE ALFENAS E TENDÊNCIAS

FUTURAS DE EXPANSÃO

Dissertação apresentada como parte dos

requisitos para obtenção do título de

Bacharel em Geografia pela Universidade

Federal de Alfenas.

Orientadora: Drª Rúbia Gomes Morato.

Alfenas/MG

2011

MICHEL EUSTÁQUIO DANTAS CHAVES.

SENSORIAMENTO REMOTO E GEOPROCESSAMENTO APLICADOS AO

ESTUDO DA EXPANSÃO URBANA E DAS ALTERAÇÕES OCORRIDAS NO USO

DA TERRA ENTRE 1986 E 2010 NO MUNICÍPIO DE ALFENAS E TENDÊNCIAS

FUTURAS DE EXPANSÃO

A Banca examinadora abaixo-assinada

aprova a Dissertação apresentada como

parte dos requisitos para obtenção do título

de Bacharel em Geografia pela Universidade

Federal de Alfenas.

Aprovada em:

Professor 1: Rúbia Gomes Morato

Instituição: Universidade Federal de Alfenas Assinatura:___________________

Professor 2: Fernando Shinji Kawakubo

Instituição: Universidade Federal de Alfenas Assinatura:___________________

Professor 3: Ericson Hideki Hayakawa

Instituição: Universidade Federal de Alfenas Assinatura:___________________

Dedico a Deus, minha Mãe, meu Pai (in

memorian), meu Irmão, meus amigos e

meus professores pelo apoio, compreensão

e confiança na realização deste trabalho e

conclusão deste ciclo da vida.

AGRADECIMENTOS

Aos docentes do curso de Geografia da Universidade Federal de Alfenas pelo

conhecimento transmitido e a oportunidade oferecida.

Em especial, à Professora Drª Rúbia Gomes Morato, minha orientadora durante a

graduação e desenvolvimento do trabalho, pela dedicação, conhecimentos

transmitidos e confiança depositada na realização deste trabalho.

À Coordenação do Curso de Geografia e do Instituto de Ciências da Natureza pela

estrutura acadêmica oferecida.

Aos inseparáveis amigos, uma Família durante a graduação: Bruno, Eduardo,

Guilherme, João Vitor, Rafael, Rodrigo e minha amiga Juliana, minha eterna

gratidão.

“O lucro do nosso estudo é tornarmo-nos melhores e mais sábios.”

(Michel de Montaigne, 1850)

RESUMO No presente estudo foi possível precisar através das geotecnologias, os vetores de crescimento e os eixos de expansão alfenenses, indicando as transformações ocorridas no uso e ocupação da terra. Também foi possível dimensionar as mudanças nos índices de biomassa através do cálculo do NDVI e indicar tendências de expansão para as próximas décadas. Alfenas localiza-se no sul de Minas Gerais, com área de 849,2 km² e 72.535 mil habitantes, segundo os dados do Censo 2010 do IBGE. De 1980 a 2010, sua população dobrou. Apresenta características de um recente crescimento urbano, se destacando pela economia e influência regional. No meio urbano, o direcionamento dos eixos de expansão para o setor oeste do município gerou um grande incremento populacional e de moradias, que avançaram sobre áreas de preservação. A sua área rural também sofre alterações. Já é possível perceber mudanças no uso da terra para a agricultura e a pecuária. Essas alterações marcam o espaço, visto que a região, uma das principais bacias leiteiras do país e uma das principais exportadoras de café, perde um pouco de sua característica com o cultivo de cana-de-açúcar e silvicultura. O procedimento metodológico iniciou-se com a revisão bibliográfica e o levantamento de dados cartográficos sobre a região. As imagens utilizadas, datadas de 04/05/1986 e 02/05/2010, foram obtidas no catálogo de imagens Landsat disponível em (http://www.dgi.inpe.br/CDSR/). A carta topográfica foi obtida em (www.ibge.gov.br). As imagens foram recortadas para a delimitação da área de estudo e foram realizadas a correção geométrica e atmosférica, para colocar as imagens de satélite e a carta topográfica no mesmo plano de coordenadas e minimizar os efeitos causados pelo espalhamento atmosférico na imagem. Em seguida, foi aplicado o aumento linear de contraste e foram geradas as composições coloridas para realçar as diferenças de usos. A partir das composições iniciou-se o processo de classificação das imagens, que é o reconhecimento dos objetos de interesse a partir da delimitação de áreas homogêneas. Foi feita a filtragem para eliminar ruídos detectados na imagem. Algumas áreas foram checadas em campo, devido à possibilidade de respostas em tons e texturas similares para usos diferentes. Os erros foram editados, gerando-se os mapas finais. Como resultados, obteve-se a quantificação da expansão urbana de Alfenas, através do mapeamento do perímetro urbano das datas analisadas. É nítida a expansão para o oeste, principal eixo de crescimento, e o estudo identifica as áreas beneficiadas com a expansão e os vetores deste crescimento. Quanto à questão populacional, houve um incremento de 60,87% no número de habitantes entre 1986 e 2010, devido ao crescimento industrial. Ocorreram mudanças também no uso agrícola da terra, sobretudo a partir de 1980. Há avanço de outros cultivos e abertura de pastos e campos onde prevalecia café. Ocorreram mudanças no índice de biomassa, que aumentou de 1986 até 2010. Por fim, tendências futuras de expansão para as próximas décadas são apresentadas, baseadas no Plano Diretor Municipal e nos atuais eixos de expansão. Conclui-se que Alfenas está em processo de crescimento econômico, populacional e perimetral. Porém, o mesmo traz consigo novos problemas sociais e ambientais, que devem ser estudados. Palavras-chave: Expansão urbana. Alterações no uso da terra. Alfenas.

ABSTRACT

In the present study was possible to identify through the geotechnologies, the vectors of growth and expansion alfenenses axes, indicating the changes occurring in the use and occupation of land. It was also possible to measure changes in rates of biomass by calculating the NDVI trends and indicate expansion in the coming decades. Alfenas is located in southern Minas Gerais, with an area of 849.2 km ² and 72,535,000 inhabitants, according to data from Census 2010 IBGE. From 1980 to 2010, its population doubled. Presents characteristics of a recent urban growth, standing out for its economy and regional influence. In urban areas, the direction of the axis of expansion to the west of the city generated a large increase of population and housing, which advanced on conservation areas. Its rural area also suffers changes. We can already see changes in land use for agriculture and livestock. These changes mark the space, whereas the region, a major dairy basins of the country and one of the leading exporters of coffee, you lose some of its character with the cultivation of sugar cane and forestry. The methodological procedure began with a literature review and survey map data on the region. The images used, dated 04/05/1986 and 02/05/2010, were obtained in the catalog of available Landsat images (http://www.dgi.inpe.br/CDSR/). The topographic map was obtained in (www.ibge.gov.br). The images were cropped to the delimitation of the study area and were performed at atmospheric and geometric correction, to put the satellite images and topographic maps in the same coordinate plane and to minimize the effects caused by atmospheric scattering on the image. Then we applied the linear increase of the contrast and color composites were generated to highlight differences of uses. From the compositions began the process of image classification, which is the recognition of objects of interest from the delineation of homogeneous areas. Filtering was performed to eliminate noise in the detected image. Some areas were checked in the field, due to possible responses in similar tones and textures for different uses. The errors were edited, generating the final maps. The obtained results, the quantification of Alfenas urban sprawl, by mapping the urban perimeter of the dates analyzed. There is a clear expansion to the west, the main axis of growth, and the study identifies the areas benefiting from the expansion and growth of the vectors. On the question of population, there was an increase of 60.87% in population between 1986 and 2010 due to industrial growth. There were also changes in agricultural land use, particularly since 1980. There are other feed crops and pastures and open fields where coffee prevailed. There were changes in the rate of biomass, which increased from 1986 to 2010. Finally, future trends of expansion in the coming decades are presented, based on the Master Plan and the current expansion axis. It is concluded that Alfenas is in the process of economic growth, population, and perimetral. However, it brings with it new social and environmental problems that must be studied. Keywords: urban expansion. Changes in land use. Alfenas.

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO..................................................................................................9

2. REVISÃO DA LITERATURA..........................................................................14

3. OBJETIVOS....................................................................................................18

4. MATERIAIS E MÉTODOS.............................................................................18

5. RESULTADOS................................................................................................25

5.1 Tendências futuras de expansão para as próximas

décadas................................................................................................34

5.2 Modelização gráfica de Alfenas através da coremática de

Brunet.............................................................................................................39

6. DISCUSSÕES.................................................................................................42

7. CONCLUSÕES...............................................................................................44

9

INTRODUÇÃO

O processo de urbanização brasileiro ocorreu historicamente de forma

desordenada e mal planejada. Com a expansão das cidades, principalmente após

1970, (onde o país passa a ser mais urbano que rural em termos populacionais),

houve um crescimento urbano que provocou a ocupação inadequada dos solos por

toda a extensão do país. E as cidades continuam expandindo sua área urbana e

alterando o uso de suas terras. Em Alfenas não é diferente.

O ambiente urbano torna-se, cada vez mais, o local onde residem as pessoas

e são desenvolvidas as atividades humanas, especialmente nos setores secundário

(atividades de transformação) e terciário (comércio e serviços). Em 2000, o censo

demográfico apontava que 81,2% dos brasileiros residiam nas cidades.

A expansão urbana apresenta características que evidenciam diferentes

épocas, através das marcas visíveis na paisagem, na arquitetura, no zoneamento e

no fluxo viário. Estudar a mobilidade espacial urbana e os componentes do contexto

de Alfenas oferece subsídios para um planejamento urbano de qualidade.

Alfenas é um município do sul de Minas Gerais com área de 849,2 km² e

72.535 mil habitantes, segundo os dados do Censo 2010 do IBGE. Em 30 anos, a

população da cidade aumentou significativamente, praticamente o dobro.

O município apresenta características de um recente crescimento urbano,

principalmente a partir da década de 1980. E este crescimento tem ocorrido de

forma desordenada, devido à falta de planejamento adequado que abre brechas

para o avanço populacional sobre áreas inadequadas.

A sua área rural também vem sofrendo alterações ao longo do tempo. Já se

percebe através do mapeamento, algumas transformações quanto ao uso da terra

para a agricultura e a pecuária. E essas alterações são cada vez mais marcantes a

nível local e regional, e serão comprovadas no trabalho, visto que a região é uma

das principais bacias leiteiras do país e uma das principais exportadoras de café

brasileiras.

Logo, a substituição de usos dessa terra faz com que a identidade regional e

as iconografias sejam alteradas. Onde se via café, hoje se vê cana-de-açúcar e

10

silvicultura, mais rentáveis e de produção mais dinâmica e menos dependente das

condições atmosféricas.

Ao longo do tempo Alfenas está se transformando em uma das principais

cidades do Sul de Minas Gerais, pelo seu crescimento econômico e pela influência

exercida sobre as outras cidades que a circundam. E este crescimento desperta

interesse da academia, se tornando atraente para a pesquisa científica deste

fenômeno.

É um município que vem expandindo suas fronteiras urbanas mais

precisamente de meados da década de 1980 para cá, com a expansão dos setores

industriais e do comércio.

Estes setores estão atrelados à localização geograficamente estratégica de

Alfenas, próxima a rodovias importantes no cenário nacional, como a Fernão Dias

(BR 381) o que em um primeiro momento atrai diversas empresas que buscam se

dispersar dos grandes centros saturados, mas que não pretendem se afastar tanto

dos mesmos.

Assim, as cidades sul - mineiras têm atraído maior diversidade de empresas

provenientes do estado de São Paulo, para onde há ligações diretas pelas rodovias,

se tornando ponto de fluxo facilitado para grandes centros, como Belo Horizonte,

Triângulo Mineiro, São Paulo (capital e interior) e Rio de Janeiro justamente por sua

localização que facilita o escoamento de produtos e materiais.

Também contribui e muito para a expansão de Alfenas a forte vocação

universitária. Alfenas conta com duas grandes universidades, a Universidade

Federal de Alfenas-MG (UNIFAL-MG) e a Universidade José do Rosário Vellano

(UNIFENAS). Estas duas universidades recebem números bastante expressivos de

estudantes, fator que incrementa a questão populacional e de assentamentos no

município.

Com estes fatores, Alfenas está em um processo de expansão bastante

interessante, que ao longo das últimas duas décadas a fez saltar de cidade pequena

para cidade média. Esta expansão de certa forma está sendo mal planejada.

11

Assim, são necessários estudos científicos que identifiquem e compreendam

a engrenagem do processo de crescimento no meio urbano e as transformações

ocorridas no meio rural ao longo do tempo, para servirem de base para a gestão e

planejamento urbano e rural municipal em prol da sociedade.

Para realizar estudos relacionados à expansão urbana e alterações no uso da

terra, as geotecnologias cada vez mais se apresentam como ferramentas

importantes. Uma característica importante é o acompanhamento constante, em

função da periodicidade da passagem do satélite.

Jensen concluía em 1983, que, naquele momento eram significativos os

trabalhos bem sucedidos sobre áreas urbanas de diversas direções principalmente

através da análise de dados Landsat. Hoje em dia, já são ferramentas evoluídas e

consolidadas, cada vez mais difundidas e representativas em várias áreas do

conhecimento.

No presente estudo elas precisam quais os vetores de crescimento e os eixos

de expansão alfenenses e indicam quais as transformações ocorridas no uso e

ocupação da terra, como na agricultura. Além disso, proporcionam o efetivo

conhecimento da área de estudo, mapeando o crescimento e as alterações nas

áreas urbanas ou mostrando as metamorfoses ocorridas no espaço rural brasileiro.

De acordo com Fonseca (2000), o grande interesse do uso destas

geotecnologias advém de sua temporalidade da informação juntamente com seu

relativo baixo custo, quando se busca informações de uso e cobertura do solo, já

que a paisagem é mudada constantemente pela ação do homem.

Jensen (2000) define o sensoriamento remoto como a arte e a ciência da

obtenção de informação sobre um objeto sem contato físico direto com o mesmo, o

classificando como a tecnologia científica que pode ser utilizada para medir e

monitorar importantes características biofísicas e atividades humanas.

O geoprocessamento, outra geotecnologia utilizada, é o processamento

informatizado de dados georreferenciados. Utiliza programas de computador que

permitem o uso de informações cartográficas (mapas, cartas topográficas e plantas) e

informações a que se possa associar coordenadas desses mapas, cartas ou plantas.

12

Pode ser utilizado para diversas aplicações, como o mapeamento da expansão urbana,

objeto central deste estudo.

Esta metamorfose urbana se torna atraente para os estudos geográficos,

visando analisar e determinar as diferenças quantitativas e também qualitativas

dentro da área urbana de Alfenas neste período de 1986 até 2010.

O procedimento metodológico ocorreu em ambiente SIG. As ferramentas

computacionais para geoprocessamento, chamadas de Sistemas de Informação

Geográfica, permitem realizar análises complexas, ao integrar dados de diversas fontes

e ao criar bancos de dados georreferenciados. Tornam ainda possível automatizar a

produção de documentos cartográficos.

Com os resultados obtidos é possível precisar quais as áreas beneficiadas

com a expansão, os vetores de crescimento e os eixos de expansão da cidade, bem

como as edificações que transformaram o espaço urbano de Alfenas ao longo deste

período, atuando como vetores de expansão. Esta é a aplicabilidade do projeto:

compreender a transformações espaciais ocorridas em Alfenas através das

geotecnologias e subsidiar ações futuras na área estudada.

E frente a este quadro, cabe ao geógrafo aliar seus conhecimentos ao

sentimento de contribuição para o avanço social, de forma holística, visando também

preservar o meio ambiente. Dar retorno à sociedade. O geógrafo deve se expressar

através de pesquisas e estudos que possam servir de subsídios úteis para os órgãos

públicos detentores do poder sobre o espaço físico. Estes devem agir de forma

planejada, proporcionando avanço para toda a sociedade em todos os quesitos.

13

FIGURA 1: Localização da área de estudo.

Alfenas é um município localizado no sul de Minas Gerais que de certa forma está

próximo de grandes centros e inserido na principal região economicamente ativa do

Brasil.

14

REVISÃO DA LITERATURA

A revisão bibliográfica foi parte fundamental do procedimento metodológico.

Foi possível identificar nos estudos de outros autores técnicas e metodologias

eficazes, que corroboraram o ideal proposto nos objetivos do projeto.

O processo de ocupação urbana em um determinado espaço deve levar em

consideração diversos fatores, de cunho físico e social. Os fatores físicos regem o

comportamento e a resposta do componente ambiental frente à ocupação urbana.

Já os fatores sociais, se referem, principalmente, à relação entre o crescimento

populacional e a disponibilidade de espaços adequados para sua instalação, assim

como a relação entre nível social e padrão de assentamentos construídos (BASTOS

et al, 2003; GUERRA & CUNHA, 2005).

O Sensoriamento Remoto é a utilização de sensores para aquisição de

informações sobre objetos ou fenômenos sem que haja contato direto entre eles,

sendo os sensores equipamentos capazes de coletar energia proveniente do objeto,

convertê-la em sinal passível de ser registrado e apresentá-lo em forma adequada à

extração de informações. INPE (2006). E neste trabalho utilizou-se de técnicas de

sensoriamento remoto.

Rossini & Foresti (1998), retrataram em seu estudo sobre a expansão urbana

de Limeira as utilidades e funcionalidades das técnicas de sensoriamento e

geoprocessamento nesse tipo de análise, delimitando as manchas urbanas e

sobrepondo-as para a quantificação exata da expansão, além de checarem em

campo as dúvidas geradas durante a interpretação das imagens de satélite.

Para o mapeamento das áreas de expansão urbana, utilizaram imagens do

satélite SPOT na escala 1:50.000, garantindo boa precisão no processo de

delimitação e análise das tendências de crescimento e da estruturação do espaço

urbano.

E o uso de recursos do geoprocessamento, representados pelo AutoCAD e

pelo SIG IDRISI, foi eficaz na elaboração dos mapas e na avaliação qualitativa e

quantitativa do crescimento urbano, pela rapidez no acesso, manipulação e análise

da informação geográfica.

15

Polidoro & Neto (2009) em seu estudo sobre a análise da evolução da

mancha urbana da cidade de Londrina no Paraná apresentaram uma metodologia

bastante interessante, simples e eficaz utilizando as técnicas de sensoriamento

remoto como ferramentas para análise.

Criaram dois mosaicos. Um para o ano de 1985 e outro para o ano de 2000, a

partir de imagens do satélite LANDSAT 5, sensor TM com as bandas 3, 4 e 5

datadas de 18/06/1984 e 13/05/2000, e de mapas temáticos que possibilitaram o

recorte dos mosaicos pelo polígono do perímetro, elaborados pelo Instituto.

Para o tratamento das imagens, feito no software ERDAS Imagine 9.1

selecionou-se as bandas 3, 4 e 5 do satélite LANDSAT sensor TM e em seguida

com as combinações das pseudo-cores 5R3G4B pôde-se obter os dois mosaicos

nos diferentes períodos de analise, que resultaram nas imagens finais.

Morato et al (2003), apresenta uma metodologia detalhada do procedimento

de confecção de uma carta de uso da terra e pela utilização de fotografia aéreas

como materiais de análise em seu estudo da expansão urbana de Embu-SP.

Utilizaram fotografias aéreas em composições coloridas multitemporais

(CCMT) para analisar a expansão urbana. Um aspecto importante é o número de

fotografias utilizadas. Para uma área relativamente pequena (4.4 km2), as CCMT de

fotografias aéreas em escala aproximada de 1:25 000 mostraram-se eficientes.

Entretanto, para áreas maiores, como todo o município de Embu (com

aproximadamente 68 km2), o uso das CCMT é considerado inviável, pela dificuldade

em realizar um bom registro geométrico, pois desvios na trajetória do vôo podem

deixar algumas áreas apenas nas extremidades, gerando erros irreparáveis ao

mapeamento.

Concluíram que as CCMT são adequadas para o monitoramento da expansão

urbana em áreas pouco extensas na franja rural-urbana e também para acompanhar

o desenvolvimento na cobertura vegetal em áreas urbanas, e não adequadas para a

detecção de mudanças nas edificações em áreas urbanizadas.

Estes foram alguns estudos utilizados como base. Voltando a este projeto,

para a composição RGB, foi utilizada a metodologia proposta por Foresti (1987) que

16

considerou as bandas 5, 3 e 4 (azul, verde e vermelho) as melhores bandas para o

estudo do uso do solo e expansão urbana.

As composições coloridas geraram duas imagens onde se pode verificar a

distinção da mancha urbana no período de análise, visualizando-se além da

expansão da mancha no sentido oeste, as transformações ocorridas no uso da terra.

Chao et al (1998) utilizou fotografias aéreas pancromáticas de 1956, na

escala 1:62.000 (Aero Service Corporation), bem como imagens XS SPOT de 27 de

julho de 1987 e TMLandsat, de 5 de agosto de 1996, ambas em CD-ROM.

Interpretaram as fotografias aéreas em estereoscópio, a partir das características

tonais e texturais, bem como pelo contexto das informações.

Foram determinadas 7 classes de ocupação do solo, uma a menos do que o

presente estudo. Os processamentos adotados seguiram essencialmente duas

linhas: o reconhecimento automático de padrões, através de classificação por

máxima verossimilhança (MaxVer) e o realce das imagens para posterior

interpretação cognitiva, próximo com o que foi feito neste estudo.

Nesta última foram feitas composições coloridas com diferentes realces de

contraste por manipulação de histogramas de níveis de cinza e filtragens isotrópicas

por convolução (sempre com adição de originais), bem como aplicados índices de

vegetação normalizados ou não, antecedidos de correção atmosférica pelo método

do pixel escuro de Chaves (1975). A partir, principalmente, das composições

coloridas falsa-cor (SPOT3/2/1 em RGB) e dos índices simples de vegetação e com

apoio da imagem classificada foi gerado um Mapa de Ocupação do Terreno em

1987.

Para as imagens Landsat TM foram utilizados os mesmos procedimentos,

testando-se, pela presença de maior número de bandas espectrais, outras

composições coloridas falsa-cor e em cores naturais, tendo a composição TM4/3/2

(RGB), semelhante à adotada para a imagem SPOT, permitido mais fácil e acurada

interpretação para a elaboração do Mapa de Ocupação do Terreno em 1996.

Landau et al (2011), em seu estudo sobre a expansão urbana do município de

Sete Lagoas, analisa a evolução baseado na comparação entre as áreas urbanas

17

ocupadas em 1949, 1965, 1972, 1989, 2000 e 2010. A partir da interpretação visual

de imagens georreferenciadas (UTM Zona 23 Sul, Datum: WGS84) digitalizaram o

contorno da cidade em cada época. A digitalização referente a 1949 foi baseada em

fotografia aérea da cidade referente a essa na época. Para digitalização das

informações relativas a 1965 foi considerada a área urbana representada na carta

topográfica, escala 1: 100.000 (IBGE, 1976), baseada em informações extraídas de

fotografias áreas de 1965.

A elaboração dos mapas temáticos referentes aos anos entre 1972 e 2010 foi

baseada na interpretação de imagens de satélites Landsat: imagem 218-74/

Landsat-4 MSS de 8/set/1972 (resolução espacial = 57 m), imagem 218-74/ Landsat-

5 TM de 4/jun/1989 (resolução espacial = 30 m), imagem 218-73/ Landsat 7 ETM +

Pan de 23/abr/2000 (resolução espacial = 15 m) e imagem 218-73/ Landsat 5 TM de

23/abr/2010 (resolução espacial = 30 m) (USGS, 2010). Para a elaboração do mapa

temático referente a 1989 foram ainda consideradas fotografias aéreas obtidas

nesse ano pela CEMIG.

Para a avaliação da expansão urbana consideraram a variação da área da

“mancha urbana” principal da cidade. Para a elaboração do trabalho foram utilizados

os sistemas de informações geográficas GVSig, MapWindow e ArcGis.

Para finalizar, compararam o aumento da área urbana ocupada com o

crescimento populacional urbano nas últimas décadas, considerando informações de

censos populacionais realizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística –

IBGE.

18

OBJETIVOS

Gerais

Os objetivos gerais do projeto foram mapear o crescimento urbano da cidade

de Alfenas apontando tendências futuras de expansão, bem como mapear as

alterações ocorridas no uso da terra em seu meio rural.

Específicos

Os objetivos específicos foram elaborar mapas do ano de 1986 e de 2010 que

identifiquem:

- o crescimento do perímetro urbano da cidade de Alfenas;

- as alterações no uso da terra na área rural de Alfenas;

- as alterações no índice de biomassa, através do NDVI;

- os eixos de expansão do município,

- fazer uma previsão futura da metamorfose urbana para a próxima década com

base na expansão territorial da mancha urbana e no controle dos vazios urbanos do

município.

MATERIAIS E MÉTODOS

Primeiramente foi feita a revisão bibliográfica sobre o tema e o levantamento

de dados cartográficos sobre a região, cruciais para o desenvolvimento do projeto.

As imagens da área de estudo, oriundas do mapeamento do satélite Landsat

TM 5, foram obtidas gratuitamente através do sítio na internet do Departamento de

Sensoriamento Remoto do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE),

(http://www.dgi.inpe.br/CDSR/). São datadas de 04/05/1986 e 02/05/2010. A carta

topográfica da área de estudo foi obtida no site do IBGE, (www.ibge.gov.br).

19

FIGURA 2: Exemplo de imagem de satélite utilizada. No caso, uma Imagem Landsat

5 TM Órbita 219, Ponto 075 para o ano de 2010. Fonte: INPE.

As imagens foram importadas para o software Ilwis 3.4 para a execução do

trabalho. Elas foram recortadas para a delimitação da área de estudo e foram

realizadas as rotinas de correção geométrica e atmosférica, para eliminar ruídos e

colocar as imagens de satélite e a carta topográfica no mesmo plano de

coordenadas.

A correção geométrica da imagem foi feita pelo fato de que as imagens

geradas pelo INPE não são georreferenciadas, necessitando serem corrigidas

geometricamente através de sua compatibilização a um plano cartográfico ou a outra

imagem já georreferenciada, a partir da identificação de pontos de controle tanto na

imagem quanto na base. Assim, foi possível colocar no mesmo plano, as imagens de

satélite e a carta topográfica, atribuindo assim, coordenadas UTM às imagens. Após

o término desse processo, as imagens foram reamostradas.

A correção atmosférica pelo método DOS de Chaves, objetivou minimizar os

efeitos causados pelo espalhamento atmosférico na imagem. Ou seja, mesmo em

20

áreas com radiância zero ou próximo a isso, o sensor registra uma pequena

quantidade de sinal causado pela interação com as partículas atmosféricas, este é o

erro que deve ser corrigido com este processo, identificando os valores no

histograma e subtraindo-os em cada banda.

Em seguida, foi aplicado o aumento linear de contraste, que redistribui

linearmente o valor dos pixels, e foram geradas as composições coloridas para

realçar as diferenças de usos. Elas foram geradas com os filtros RGB (Red, Green e

Blue), para permitir a identificação dos objetos da imagem.

FIGURA 3: Exemplo de composição colorida criada. No caso, a composição RGB

543 utilizada para o ano de 2010.

A partir das composições iniciou-se o processo de classificação das imagens,

que consiste no reconhecimento dos objetos de interesse para pesquisa a partir da

delimitação de áreas homogêneas adotando-se um conjunto de métodos de

classificação de padrões. Para a classificação das imagens, foram adotados

21

inicialmente dois algoritmos classificatórios: O classificador por máxima

verossimilhança (MAXVER) e o classificador por Distância Mínima.

FIGURA 4: Imagens já recortadas e prontas para a classificação: à esquerda,

Alfenas em 1986 e à direita, Alfenas em 2010.

O classificador que se mostrou mais adequado e mais útil para as análises foi

o MAXVER pelo nível de detalhamento com que trata os pixels e o realce maior da

área urbana, foco central das análises. Posterior à classificação foi utilizado o filtro

Majority com o propósito de suavizar os resultados da classificação. Este filtro

seleciona os pixels predominantes na cena em uma janela de 5x5, incorporando os

menos predominantes. As classes utilizadas foram: área urbana, água, pastagem,

solo exposto, café, cana-de-açúcar e eucalipto.

Após o processo de classificação, foi feita a filtragem para a eliminação de

possíveis ruídos. Concluídos os procedimentos, foram feitas as correções

necessárias nas imagens, principalmente no que diz respeito ao uso da terra, ao

reconhecimento das culturas no espaço rural da cidade. Este procedimento foi feito

manualmente, com o mapa já convertido do formato matricial para o vetorial.

Posteriormente, as áreas foram checadas em campo, devido à possibilidade de

respostas em tons e texturas similares para usos diferentes.

Os erros encontrados foram editados, gerando-se os mapas finais. E isto

ocorreu dentro do próprio SIG, através da edição dos mapas de polígonos criados

22

para as duas datas. Áreas onde havia dúvida quanto ao uso, foram checadas em

campo. E, nos casos onde havia de fato ambigüidade, houve a correção, adotando o

uso verificado em campo.

Esta edição ocorreu por existirem áreas onde o uso da terra estabelecido pelo

software não era condizente com a realidade. Por exemplo, em áreas onde é notório

o uso da terra para plantio de café, e o classificador acusara mata ou eucalipto.

Embora o classificador utilizado seja eficiente, alguns alvos podem ser confundidos,

devido ao seu comportamento em relação ao espectro eletromagnético.

Baseado no conhecimento do local e em visitas a campo em áreas onde

havia dúvida, algumas mudanças ocorreram, editando os locais específicos dentro

do mapa de polígonos do ano de 2010.

Como os arquivos vetoriais estruturam-se em pontos, linhas e polígonos

reproduzidos digitalmente por meio da vetorização de arquivos, erros e

inconsistências são bastante comuns (Fitz, 2008). Verificou-se então a existência de

erros, como: Dead end: quando o segmento não se conecta com o outro segmento,

Interseção sem Nó: quando o segmento sobrepõe outro sem um nó, Digitalização

dupla: quando o mesmo segmento é digitalizado duas vezes e Self Overlap: quando

um segmento cruza a si mesmo.

Foi feita a eliminação de linhas inacabadas, conectando os nós para maior

consistência do resultado elaborado, e eliminação das intersecções duplicidades e

cruzamentos encontrados. Com as correções feitas, as classificações finais de uso e

ocupação da terra para os anos de 1986 e 2010 foram geradas.

FIGURA 5: Imagens já classificadas: à esquerda, a de 1986 e à direita a de 2010.

23

A última etapa foi a criação de um layout com as informações necessárias a um

mapa, como legenda, norte, escala gráfica, título e adição da grade de coordenadas.

Estes dados foram manipulados em Sistema de Informações Geográficas

para a confecção dos produtos finais. A função destes sistemas é integrar as

informações obtidas por sensoriamento remoto aos outros dados espacialmente

distribuídos. Assim, permitem criar um modelo do mundo real ao integrarem dados

de natureza diversa, voltados para uma aplicação em particular.

O SIG utilizado foi o holandês ILWIS 3.4, desenvolvido pelo ITC da

HOLANDA, que é um software eficaz e de fácil manipulação, sendo utilizado em

quase todo o trabalho. E o sensor usado foi o Thematic Mapper (TM) a bordo do

satélite Landsat 5. Ele recobre o globo terrestre a cada 16 dias e a menor área por

ele imageada é de 30x30m.

Em relação aos cálculos do índice de biomassa, foi utilizada a técnica de

redução da dimensionalidade dos dados mais utilizada para a caracterização da

cobertura vegetal, o Normalized Difference Vegetation Index (NDVI).

O NDVI foi proposto por Rouse et al (1973) para monitorar a vegetação

utilizando dados do Landsat-MSS. Atualmente existe uma grande variedade de

índices de vegetação, muitos deles derivados do NDVI.

O NDVI tem sido extensivamente utilizado pelo fato de fornecer informações

importantes que são bem correlacionados com parâmetros biofísicos, como a

biomassa e o Índice de Área Foliar. Além de realçar a vegetação, este índice detém

a habilidade de minimizar os efeitos topográficos.

A base conceitual do NDVI se apóia no comportamento espectral da

vegetação nos canais do vermelho e infravermelho próximo. No canal vermelho a

vegetação saudável apresenta elevado coeficiente de absorção da energia em

função da absorção pelos pigmentos presentes nas folhas. No infravermelho

próximo a radiação interage com a estrutura foliar. À medida que a planta se

desenvolve, observa-se um incremento da reflexão. Para calcular o NDVI a seguinte

formula é aplicada:

24

As imagens foram obtidas após os cálculos:

FIGURA 6: Imagens classificadas referentes aos índices de biomassa, obtidos após

os cálculos de NDVI.

Fluxograma dos procedimentos metodológicos:

FIGURA 7: Fluxograma dos procedimentos metodológicos.

25

RESULTADOS

A utilização de imagens Landsat 5 sensor TM foi eficaz no mapeamento da

expansão urbana. Foram adquiridas junto ao Instituto Nacional de Pesquisas

Espaciais (INPE). E como dito antes, para a geração das composições coloridas

para as duas datas, utilizou-se as bandas 5, 4 e 3, pois segundo Foresti (2005) estas

bandas são melhores para estudos do uso do solo.

Foresti & Hamburguer (1991), julgam ser fundamental a elaboração de

sistemas de identificação de classes de uso do solo urbano, bem como o

desenvolvimento de técnicas destinadas à obtenção e manutenção destas

informações para que se processe o efetivo conhecimento do ambiente urbano.

As análises dos mapas de expansão urbana que foram elaborados, assim

como as observações efetuadas em campo, permitiram tecer algumas

considerações a respeito do crescimento urbano alfenense durante o período

considerado, principalmente no que diz respeito a esse crescimento.

Como resultados finais, gerados a partir do processamento das imagens no

software Ilwis 3.4, obteve-se a quantificação da expansão urbana de Alfenas,

através do mapeamento da mancha urbana das duas datas escolhidas para a

análise. Fica claro o crescimento da cidade para sua zona oeste, o que faz com que

esta zona seja o principal eixo de expansão da cidade em termos de edificações e

de população.

Também é notório o número de edificações construídas nas proximidades das

Universidades do município, destinadas principalmente para locação. São os casos

dos bairros Vila Teixeira, Parque das Nações e Jardim São Carlos II.

Territorialmente falando, podemos perceber que o perímetro urbano alfenense

começou a se expandir após a construção do Distrito Industrial do município, em

1991, principalmente no sentido Oeste, mais próximo do empreendimento. Assim,

áreas de inundação, de vale e de encosta foram tomadas por edificações, como no

caso dos bairros Vila Godoy, Jardim Boa Esperança, Jardim Alvorada, Recreio Vale

do Sol, Jardim São Paulo e Pinheirinho em direção oeste, e Jardim Primavera I e II,

Santos Reis, Jardim Aeroporto e Chapada em direção leste.

26

Vejamos no mapa, a expansão do perímetro urbano de Alfenas:

FIGURA 8: Expansão urbana de Alfenas.

Nota-se a expansão perimetral do município. Especialmente nos sentidos Oeste,

Noroeste e Norte.

27

Quanto à questão populacional, podemos perceber significativo aumento de

habitantes no município. E isto se comprova pelos dados do Censo e pelas

estimativas obtidas em conjunto com a Prefeitura para o ano de 1986. De acordo

com o Censo de 1980, Alfenas possuía 38.270 habitantes. Já no levantamento em

1990, o número de habitantes passou para 52.700 habitantes, aumentando cerca de

37% durante a década de 1980.

Para o ano de 1986, uma estimativa obtida com a Prefeitura foi tomada como

base. Nela, o município de Alfenas se encontrava com 44.632 habitantes. Em 2010,

Alfenas se encontrava com 73.322 habitantes, segundo dados do Censo do mesmo

ano. Com estes dados, podemos concluir que o incremento populacional entre 1986

e 2010 quantitativamente foi de 60,87%. Crescimento ocorrido principalmente com o

crescimento industrial da cidade, que em 1990 já tinha um Distrito Industrial.

Através da coleta de dados secundários, foi possível constatar que a

instalação de indústrias no município exerceu forte influência no crescimento

populacional do município, pois influenciou a instalação de novos assentamentos

urbanos e, consequentemente, a expansão significativa da malha urbana neste

período.

FIGURA 9: Aumento populacional em Alfenas. Nota-se que praticamente dobrou o número de habitantes do município em um período de 30 anos.

Agora, os mapas criados para representar o uso da terra em 1986 e em 2010.

Merece destaque a transformação ocorrida nos usos e a evolução da mancha

urbana municipal:

1 2 3 4 5

População 38.270 44.632 52.700 66.910 72.535

Ano 1980 1986 1991 2000 2010

0

20000

40000

60000

80000

Hab

itan

tes

Aumento populacional em Alfenas 1980-2010

28

FIGURA 10: O uso da terra e cobertura vegetal em Alfenas/MG no ano de 1986.

29

FIGURA 11: O uso da terra e cobertura vegetal em Alfenas/MG no ano de 2010.

30

FIGURA 12: Comparação entre os usos da terra e cobertura vegetal.

Houve uma alteração significativa quanto ao uso da terra na região estudada.

Culturas como a cana-de-açúcar e o eucalipto aumentaram, bem como as áreas

destinadas à pastagem e até mesmo as áreas de solo exposto. Em contrapartida as

áreas de mata nativa e de plantio de café diminuíram significativamente. Este

fenômeno pode ser comprovado analisando os gráficos a seguir, que foram

confeccionados utilizando-se os dados obtidos pelo software Ilwis 3.4 com respeito

às áreas destinadas a cada uso da terra:

FIGURA 13: Gráficos representando as alterações ocorridas no uso da terra entre

1986 e 2010.

31

FIGURA 14: O NDVI para o ano de 1986.

32

FIGURA 15: O NDVI para o ano de 2010.

33

Figura 16: Comparação entre os NDVI de 1986 e 2010. Há grande diferença de

biomassa entre as duas datas, e isto é visível apenas pela expressão mais

amarelada da primeira imagem em relação à segunda. A expressão mais verde da

segunda imagem, a de 2010, indica maior índice de biomassa detectado pelo

procedimento do NDVI.

34

Tendências futuras de expansão para as próximas décadas

Com base no histórico de avanço perimetral do município, nas perspectivas

presentes do Plano Diretor Municipal, nas entrevistas feitas com representantes do

Poder Público Municipal e no direcionamento atual dos vetores de expansão

municipais no momento atual, foi possível identificar quais as áreas prioritárias de

expansão do município. Aquelas que logo serão incorporadas ao perímetro urbano

de Alfenas.

Historicamente falando, entre 1980 a 1989, a cidade passou por uma grande

transformação, intensificando o crescimento periférico motivado principalmente pela

ampliação da Fundação de Ensino Superior de Alfenas, que obteve o status de

Universidade de Alfenas, Unifenas em 1989. A população urbana que era, em 1980,

próxima de 32 mil habitantes ultrapassou os 47 mil habitantes no final da década,

fora a população flutuante, que chegou a contabilizar mais de 10 mil estudantes.

A cidade não possuía estrutura e oferta de habitações para atender ao

crescimento da demanda por moradias. O grande número de estudantes, com maior

poder aquisitivo, inflacionou o mercado imobiliário, valorizando o aluguel das

propriedades localizadas no centro em direção à região sul, onde se localiza o

campus da Universidade de Alfenas. A população de baixa renda, não conseguindo

pagar os altos valores, foi forçada a morar nas regiões periféricas à norte e oeste do

município.

A região norte, foi parcelada com terrenos de dimensões entre 125 a 250m²,

conformando um grande bolsão de pobreza. Na região oeste, principal vetor de

expansão de Alfenas, houve uma peculiaridade: a implementação do Conjunto

Habitacional Francelino Pereira (Pinheirinho). Distante da área central, sendo a

ligação na época era feita por uma avenida não pavimentada, que atravessava um

grande vazio urbano. Esse empreendimento é o retrato da política habitacional

excludente realizada no município, que penalizou os moradores do conjunto, para

valorizar glebas particulares por onde passou a infra-estrutura urbana de ligação

com a nova área.

A cidade ainda recebeu um Distrito Industrial, que se localiza na parte

noroeste do município. Esse empreendimento foi implantado com a intenção de

35

atrair investidores e criar empregos no município. No entanto a sua ocupação foi

demorada por falta de complementação da infra-estrutura. No início, somente

metade da área recebeu pavimentação e redes de infra-estrutura (coleta de esgoto,

abastecimento de água, águas pluviais, e energia elétrica).

O resultado do crescimento desordenado provocou diversas modificações no

meio físico, com um grande impacto nos fundos de vale, principalmente. Os

loteamentos periféricos foram alavancados sem infra-estrutura adequada,

aumentando o escoamento superficial de água pluvial e os processos erosivos. A

falta de tratamento dos terrenos de fundo de vale intensificou o processo de

degradação ambiental e paisagístico dessas áreas.

Já na década de 1990, a cidade ocupou os vazios urbanos valorizados que se

formaram no período anterior. Nessa fase, diversos investimentos na construção civil

foram realizados para atender a demanda por imóveis de aluguel, destinados

principalmente para os estudantes.

A grande maioria dos investidores não considerou preocupações com a

qualidade das edificações, ocupando o máximo o terreno, com moradia sem

ventilação e iluminação adequadas.

Em paralelo, o número de novos loteamentos também era grande e foram

realizados com pouca preocupação urbanística. O sistema viário não era

hierarquizado, as vias não tinham continuidade, as áreas públicas eram insuficientes

e localizadas nas piores áreas, sendo as obras de pavimentação e infra-estrutura de

baixa qualidade.

As diretrizes do Plano Diretor de 1992 foram divididas em quatro

macroestruturas (físico territoriais, social, econômica e institucional), elaboradas a

partir de amplos estudos e análises da situação vigente no município. Apenas a lei

de Parcelamento do solo e o Código Tributário foram revistos, ficando uma lacuna

em relação aos outros instrumentos legais necessários para efetivação das

diretrizes.

Houve um aumento da arrecadação com a atualização dos valores das taxas,

impostos e lucros eventuais, um melhor controle do parcelamento do solo, com as

36

exigências de execução de infra-estrutura (pavimentação, abastecimento d’água,

coleta de esgoto, água pluvial, energia elétrica, iluminação pública e arborização

urbana) e a destinação de 40% da gleba para área pública. Continuaram, porém,

sem planejamento o controle dos vetores de crescimento, o uso e ocupação do solo

e a hierarquia viária. E isto provocou crescimento desordenado em algumas áreas,

especialmente no setor oeste do município.

Já a partir de 2000, Alfenas apresentou um processo de retração do mercado

imobiliário, apesar de ainda receber investimentos com a construção de novos

loteamentos e habitações. Cresceu o número habitações ociosas com o aumento da

oferta de moradias e a estabilização do número de estudantes na cidade. Soma-se a

esse fator a situação econômica do país (alta das taxas de juro e do valor do dólar) e

a crise no preço do café, que é importante para a economia da região.

Nessa nova conjuntura o preço do aluguel passa a ter um valor real em

relação ao que é oferecido, pois anteriormente o preço cobrado era inflacionado,

sustentado na escassez de imóveis. Atualmente um dos principais problemas em

Alfenas é o grande número de lotes vagos, o que explica a tentativa incessante do

Poder Público de eliminá-los.

Deve-se levar em conta que o problema de áreas ociosas na cidade de

Alfenas é antigo, a densidade de ocupação é historicamente baixa. Analisando os

Censos do IBGE (1950, 1960, 1970, 1980, 1991 e 2000) e os dados da área

urbanizada em cada período chega-se à média de densidade bruta em torno de 40

habitantes por hectare, que é considerada baixa. Nas últimas décadas tem-se uma

leve tendência de aumento da densidade, porém nada significante.

O aumento da área urbanizada acompanhou o crescimento populacional. A

taxa de crescimento anual, no período de 1950 a 2000, demonstra que ambos

tiveram um comportamento muito próximo. O aumento um pouco maior da

população ainda não é suficiente para promover a ocupação do grande número de

lotes vagos.

A baixa densidade de ocupação traz altos custos para manutenção da

infraestrutura e serviços urbanos. Essa é uma característica marcante do município,

37

que, desde a ocupação do Jardim São Carlos, na década de 1950, possui lotes

vagos à espera de valorização, como parte da lógica imobiliária do município.

O crescimento urbano que se deu a partir da área central, estendeu-se até as

nascentes e avança ao longo dos cursos d’água. A urbanização intensificou o

processo de degradação dos mesmos e das suas margens, que já ocorria com as

atividades agropecuárias.

A área urbana de Alfenas é composta por diversos vales, com córregos e

nascentes que, historicamente, têm sofrido processo de degradação. O estudo da

evolução urbana é interessante para se entender como se deram as alterações

físicoespaciais dos ambientes fluviais.

A ocupação do perímetro possui um horizonte ainda distante. Com uma área

de 33,1km² a ser explorada dentro das leis ambientais e das características

geomorfológicas do município, comportaria, descontando os 40% destinados a áreas

públicas, uma ocupação de 19,9km² com lotes particulares, possibilitando mais de

58 mil lotes de 337m². Portanto, as glebas urbanizáveis, com infra-estrutura

implantada, poderiam receber mais 230 mil habitantes, atendendo, até 2055, o

crescimento da população urbana.

Em outras palavras, a área urbana alfenense pode crescer bastante nas

próximas décadas, pelo fato de existirem condições que possibilitariam a ocorrência

deste processo. Embora a expectativa inicial seja conter os vazios urbanos, a

tendência é que novos bairros surjam e o perímetro urbano aumente

significativamente em curto prazo.

Dado esse contexto histórico, percebe-se que atualmente, existem ao redor

do município, alguns arruamentos e estruturas em processo de consolidação que

representam futuros bairros e condomínios do município, áreas de expansão.

Destaca-se principalmente a edificação do novo campus da Universidade Federal de

Alfenas – UNIFAL-MG, que manterá o setor Oeste do município como o principal

vetor de expansão do município, atraindo comércios, serviços e pessoas.

Outras áreas que fatalmente na próxima década serão incorporadas ao

perímetro urbano, estão localizadas em vermelho na figura a seguir. É possível notar

que as principais áreas se encontram próximas ao Distrito Industrial e ao novo

38

campus da UNIFAL-MG, caso do Residencial Vale Verde, do Conjunto Habitacional

entregue pela Prefeitura próximo aos bairros Pinheirinho e Recreio Vale do Sol.

FIGURA 17: Áreas de iminente incorporação ao perímetro urbano de Alfenas

39

Modelização gráfica de Alfenas através da coremática de Brunet

Como resultado final, também foi criada uma representação do atual

momento do município de Alfenas, baseada no método da coremática ou

modelização gráfica proposto por BRUNET (1980).

Segundo Théry (2004), o modelo gráfico detecta as estruturas elementares do

espaço e reconstrói as lógicas de sua constituição. Trata-se de um processo

dedutivo de análise e síntese que representa as estruturas elementares (e fortes) do

espaço. Apresenta não só as localizações, como também as configurações

espaciais, as interações, as combinações e as contingências locais,

representando uma abordagem simplificada do espaço geográfico.

A coremática foi apresentada como metodologia de análise geográfica e de

modelização das organizações espaciais por Brunet no ano de 1980. Ele considerou

o fato de que as sociedades humanas organizam seu espaço, sendo essa uma das

condições necessárias à sua reprodução enquanto sociedade. O espaço seria ao

mesmo tempo, meio (incluindo o meio natural) e parte das sociedades. Para o autor,

a organização espacial é um fato geográfico entre vários outros, porém não esgota a

análise da realidade geográfica. A organização espacial não se confunde com a

região, pois apresenta somente um de seus componentes, a sua estrutura

horizontal.

Essa metodologia baseia-se no princípio que “uma organização espacial é

uma estrutura e tem uma estrutura”. Esse princípio carrega um duplo significado,

pois entende que a organização espacial é uma estrutura enquanto construção

humana; e tem uma estrutura enquanto construção intelectual do pesquisador. “A

estrutura tem uma função que é facilitar o funcionamento da sociedade e permitir

sua reprodução” (BRUNET, 1980, p. 254).

Segundo Brunet et al. (1993, p. 105) a definição de corema se resume em

“estrutura elementar do espaço geográfico”, que se “representa por um modelo

gráfico” (Brunet, 1986, p. 2). A palavra deriva do grego, choré, que significa espaço,

região (BRUNET, 1997, p. 198).

Coremática seria, então, a “gramática dos coremas; ciência (ou arte) do

tratamento dos coremas e da interpretação das estruturas espaciais pelo

40

reconhecimento e pela composição dos coremas” (Brunet et al., 1993, p. 105).

Brunet (1980, p. 258) afirma que existem situações e mecanismos fundamentais que

criam arranjos espaciais elementares e não se trata, somente, dos elementos

concretos, mas de “situações”, isto é, de abstrações, como por exemplo, uma

organização areolar ou um gradiente.

Brunet coloca em seu estudo que a coremática não se trata da superposição

dos elementos concretos que compõem o espaço, como ruas, escolas, campos

cultivados, mas na possibilidade em destacar da organização espacial, os arranjos e

as “situações” que carregam seu significado enquanto espaço geográfico, isto é,

enquanto um espaço criado por uma sociedade e para seu funcionamento. Para

isso, é preciso identificar as “estruturas elementares que são as formas fortes”, mas

acredita que seria melhor guardar como aparece nos dicionários, “a ideia de forma

como aparência, manifestação exterior dos fenômenos e a ideia de estrutura em

suas relações internas” (BRUNET, 1980, p. 254).

Para Brunet (1997, p. 189) uma das questões fundamentais em Geografia

seria descrever e compreender as configurações espaciais, isto é, “a maneira que as

sociedades criam, planejam e organizam o espaço”.

Construir um modelo leva o pesquisador a extrair da realidade características

ou relações importantes e representá-las de maneira simplificada. Para Haggett e

Chorley (1975, p. 4) a construção de modelos “implica numa altitude altamente

seletiva quanto às informações”.

Brunet (1980) também afirma que “um modelo é sempre uma simplificação da

realidade” ou a visão que temos dessa realidade. O objetivo dessa simplificação é

operacional e engloba a ação, a previsão e a explicação. Afirma que “um modelo é,

portanto, um constructo e uma representação” (BRUNET, 1980, p. 254).

Baseado nestes conceitos e em trabalhos que se utilizam da modelização

gráfica, uma representação primária foi feita para o município de Alfenas, levando-se

em conta as características principais e as estruturas elementares presentes no

espaço do município.

41

42

DISCUSSÕES

Analisando os resultados, fica clara a expansão ocorrida do município de

Alfenas, no espaço-tempo tomado como base, que foi de 1986 a 2010, tanto em

população quanto em área total, em perímetro urbano. Fica claro também que esta

expansão se deu principalmente em direção a oeste e noroeste do município, setor

que contém alguns dos bairros (ou áreas municipais residenciais, visto que o próprio

Plano Diretor alfenense diz que o município não tem bairros) mais populosos do

município, como o Pinheirinho, o Distrito Industrial e o Jardim Boa Esperança.

Este crescimento populacional e esta expansão para determinados setores da

cidade denota uma demanda maior de políticas públicas por parte da Prefeitura

nessas áreas. É necessário ao Poder Municipal intervir para que estas áreas se

insiram devidamente no ciclo econômico da cidade e contenham infraestrutura

adequada para comportar a demanda de moradias e habitantes.

Em Alfenas, especificamente, é fundamental que se diminua o número de

vazios urbanos e a especulação imobiliária que ocorre no município. Em entrevista

com o prefeito Luiz Antônio da Silva e com Rogério Ramos do Prado, um dos

coordenadores e formuladores do Plano Local de Habitação de Interesse Social

(PLHIS), foi possível traçar o eixo central da diretriz urbanística na cidade.

Segundo ambos, Alfenas adota uma nova concepção na localização das

moradias populares. Os programas habitacionais são construídos nos chamados

“espaços vazios” da cidade afastando a velha prática de isolamento da população

carente em bairros afastados do aglomerado urbano.

A nova diretriz urbanística segue uma orientação do Estatuto da Cidade,

aprovado em 1991, com base na Constituição Federal de 1988, fator modificador da

orientação dos planos de crescimento das cidades brasileiras.

Nos últimos anos foram construídos pequenos conjuntos habitacionais em

bairros, que já possuem infraestrutura, como Vista Grande Jardim Primavera, Jardim

São Carlos e no próprio Residencial Alvorada. E com a entrega dos 240

apartamentos, a Prefeitura soma 443 unidades de moradias entregues desde 2005.

43

Entende-se que a noção mais imediata e intuitiva é a necessidade de

construir novas moradias para a solução de problemas sociais e específicos de

habitação detectados em certo momento.

As habitações inadequadas não proporcionam condições desejáveis de

habitação, o que não implica, contudo, necessidade de construção de novas

unidades.

São classificados os domicílios carentes de infraestrutura, necessidade de

reformas, com adensamento excessivo de moradores, com problemas de natureza

fundiária, cobertura inadequada, sem unidade sanitária domiciliar exclusiva ou em

alto grau de depreciação.

Quanto ao potencial de adensamento da área contida no perímetro urbano,

ressalta-se que 47,25% dos lotes existentes encontram se desocupados,

implantados em áreas servidas de infraestrutura.

Nesse sentido, podemos perceber que a função social é contemplada em

Alfenas, mas não para todos. Ainda existem falhas marcantes que impedem o bem

coletivo, determinando que muitas pessoas fiquem sem moradia, enquanto que

existem muitos vazios urbanos que contemplariam tal demanda.

E estudos nessa perspectiva de investigação crítica podem ser úteis para o

Poder Público direcionar as ações de forma adequada, visando o bem social.

Outro viés dos resultados que merece entrar em discussão é a substituição

das culturas agrícolas, fenômeno que vem ocorrendo mais fortemente desde a

década de 1980. Nota-se claramente o exponencial avanço da cana-de-açúcar, da

silvicultura, (plantio de eucaliptos) e das áreas destinadas à pastagem.

Economicamente falando, estes usos apresentam no atual momento, mais

resultados em termos de lucro para os produtores. Tanto o plantio de cana-de-

açúcar, quanto o de eucaliptos e a criação de gado (principalmente pela produção

de leite, visto que o sul de Minas é uma das principais bacias leiteiras do Brasil)

representam mais retorno econômico do que o tradicional café da região.

Já do ponto de vista ecológico e ambiental, esta metamorfose acarreta novos

impactos ambientais, já que se altera todo o balanço ecológico do local. Novas

44

culturas trazem consigo novos impactos, que alteram o equilíbrio das espécies

animais e vegetais presentes no local.

CONCLUSÕES

No Brasil, o processo acelerado da urbanização tem provocado impactos

negativos ao meio ambiente e à qualidade de vida da população. As técnicas de

sensoriamento remoto contribuem efetivamente na análise e elaboração de um

diagnóstico que subsidie o planejamento do uso do solo das áreas urbanas. O

advento do sensoriamento remoto como ferramenta para produção de mapas é

fundamental para análises deste tipo. E possibilitam fundamentos para realização de

importantes ações sobre o espaço.

As geotecnologias têm se tornado cada vez mais reconhecidas enquanto

ferramentas que disponibilizam instrumentos capazes de otimizar processos e

procedimentos de planejamento, gestão e monitoramento.

As técnicas de geoprocessamento são consideradas como plataformas de

apoio a planejamentos, em torno dos quais tomadores de decisão irão concentrar

seus esforços. Isso minimiza a maioria dos riscos de fracassos em planejamento

ambiental, que se devem ao fato deste se basear em um conjunto de ações que não

representam a realidade por falta de eficiência na integração das informações.

Ferraz (1997) menciona que o planejamento não se limita ao tempo presente, e para

tanto o futuro da cidade deve ter seus contornos claramente definidos.

Uma dificuldade do planejamento urbano frente à intensa urbanização nas

últimas décadas está relacionada à falta de informações referentes ao

monitoramento contínuo do espaço urbano no âmbito espacial e temporal,

instrumento para analisar tendências de crescimento e alterações ocorridas com o

processo de expansão e também para compreender a estrutura urbana (ROSSINI &

FORESTI, 1998).

A tecnologia de Sensoriamento Remoto tem sido usada com freqüência na

aquisição de informações destinadas ao monitoramento das cidades devido à visão

45

sinóptica e periodicidade de obtenção de dados; assim como os Sistemas de

Informação Geográfica (SIG) por permitirem maior rapidez no acesso à informação.

Os SIG têm a função de integrar as informações obtidas por sensoriamento

remoto aos outros dados espacialmente distribuídos. Permitem criar modelos da

realidade ao integrarem dados de natureza diversa, voltados para uma aplicação em

particular. Barredo (1996) sugere que, atualmente, a alta diversificação da

informação espacial e o grande volume de dados espaciais gerados pelo

sensoriamento remoto tornam os SIG uma potente ferramenta de gestão desses

dados.

O SIG utilizado neste projeto foi o ILWIS 3.4, criado na Holanda e é de fácil

manipulação e grande eficácia nos comandos. É distribuído gratuitamente, tendo

sido bastante usado em projetos desenvolvidos ao redor do mundo.

Aliado ao SIG, a checagem em campo foi fundamental para que o

mapeamento representasse a realidade o mais fielmente possível, por considerar

que os SIG’s ao interpretarem uma imagem de satélite podem identificar alguns

elementos que não sejam o que aparentam, e isso depende do período e das

condições climáticas em que a imagem foi capturada.

Diversos autores já discutiram a importância do Sensoriamento Remoto para

aquisição de informações sobre os espaços urbanos. Com o surgimento das

imagens de alta resolução, as geotecnologias passaram a contribuir de maneira

mais efetiva com fornecimento de dados para atualização das bases e SIG, para

estudos que tivessem como objetivo o planejamento e gestão das áreas intra-

urbanas e rurais/agrícolas.

Através delas, foi possível efetuar análises precisas dos mapas de expansão

urbana que foram elaborados, assim como as observações efetuadas em campo,

permitiram tecer algumas considerações a respeito do crescimento urbano alfenense

durante o período considerado.

Analisando os resultados, fica clara a expansão ocorrida do município de

Alfenas, no espaço-tempo tomado como base, que foi de 1986 a 2010, tanto em

população quanto em área total, em perímetro urbano. Nota-se também que esta

46

expansão se deu principalmente em direção a oeste e noroeste do município, setor

que contém alguns dos bairros (ou áreas municipais residenciais, visto que o próprio

Plano Diretor alfenense diz que o município não tem bairros) mais populosos do

município, como o Pinheirinho, o Distrito Industrial e o Jardim Boa Esperança.

Este crescimento populacional e esta expansão para determinados setores da

cidade denota uma demanda maior de políticas públicas por parte da Prefeitura

nessas áreas. É necessário ao Poder Municipal intervir para que estas áreas se

insiram devidamente no ciclo econômico da cidade e contenham infraestrutura

adequada para comportar a demanda de moradias e habitantes.

Em Alfenas, especificamente, é fundamental que se diminua o número de

vazios urbanos e a especulação imobiliária que ocorre no município. Em entrevista

com o prefeito Luiz Antônio da Silva e com Rogério Ramos do Prado, um dos

coordenadores e formuladores do Plano Local de Habitação de Interesse Social

(PLHIS), foi possível traçar o eixo central da diretriz urbanística na cidade.

Segundo ambos, Alfenas adota uma nova concepção na localização das

moradias populares. Os programas habitacionais são construídos nos chamados

“espaços vazios” da cidade afastando a velha prática de isolamento da população

carente em bairros afastados do aglomerado urbano.

A nova diretriz urbanística segue uma orientação do Estatuto da Cidade,

aprovado em 1991, com base na Constituição Federal de 1988, fator modificador da

orientação dos planos de crescimento das cidades brasileiras.

Nos últimos anos foram construídos pequenos conjuntos habitacionais como

Vista Grande Jardim Primavera, Jardim São Carlos e no próprio Residencial

Alvorada. E com a entrega dos 240 apartamentos, a Prefeitura soma 443 unidades

de moradias entregues desde 2005.

Entende-se que a noção mais imediata e intuitiva é a necessidade de

construir novas moradias para a solução de problemas sociais e específicos de

habitação detectados em certo momento. As habitações inadequadas não

proporcionam condições desejáveis de habitação, o que não implica, contudo,

necessidade de construção de novas unidades.

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São classificados os domicílios carentes de infraestrutura, necessidade de

reformas, com adensamento excessivo de moradores, com problemas de natureza

fundiária, cobertura inadequada, sem unidade sanitária domiciliar exclusiva ou em

alto grau de depreciação.

Quanto ao potencial de adensamento da área contida no perímetro urbano,

ressalta-se que 47,25% dos lotes existentes encontram se desocupados,

implantados em áreas servidas de infraestrutura, segundo levantamentos feitos pela

Fundação de Ensino e Tecnologia de Alfenas (FETA).

Nesse sentido, podemos perceber que a função social é contemplada em

Alfenas, mas não para todos. Ainda existem falhas marcantes que impedem o bem

coletivo, determinando que muitas pessoas fiquem sem moradia, enquanto que

existem muitos vazios urbanos que contemplariam tal demanda.

Outro viés dos resultados que merece entrar em discussão é a substituição

das culturas agrícolas, fenômeno que vem ocorrendo mais fortemente desde a

década de 1980. Nota-se claramente o exponencial avanço da cana-de-açúcar, da

silvicultura e das áreas destinadas à pastagem.

Economicamente falando, estes usos apresentam no atual momento, mais

resultados em termos de lucro para os produtores. Tanto o plantio de cana-de-

açúcar, quanto o de eucaliptos e a criação de gado (principalmente pela produção

de leite, visto que o sul de Minas é uma das principais bacias leiteiras do Brasil)

representam mais retorno econômico do que o tradicional café da região.

Já do ponto de vista ecológico e ambiental, esta metamorfose acarreta novos

impactos ambientais, já que se altera todo o balanço ecológico do local. Novas

culturas trazem consigo novos impactos, que alteram o equilíbrio das espécies

animais e vegetais presentes no local.

A alteração no uso da terra na região do entorno da área urbana alfenense é

notável. Ocorreram mudanças com relação ao uso agrícola da terra sobretudo a

partir de 1980. Há avanço de outros cultivos e abertura de pastos e campos onde

prevalecia café.

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Conclui-se que a cidade de Alfenas está em franco processo de crescimento,

econômico, populacional e perimetral. Sua evolução dentro deste período a fez

assumir papéis de cidade média e a transformou em uma das principais da região,

sendo um dos principais elos entre as pequenas e as grandes cidades.

Indiscutivelmente, seu papel a nível regional vem sendo cada vez mais destacável.

Porém esse crescimento traz consigo novos problemas sociais e ambientais,

e estudos a respeito desta metamorfose são úteis para ajudar a entendê-los e a

direcionar políticas públicas que os findem ou ao menos os amenizem.

O perímetro urbano municipal obteve um incremento significativo no período

de 1986 a 2010, fenômeno este que pode ser atribuído, em grande parte, a

intensificação na instalação de indústrias no município, provocando o crescimento

populacional urbano. Em função disto, é indispensável que haja um maior controle

quanto à aprovação de novos loteamentos no município, pois estes carecem de

áreas adequadas para tal fim. Direcionar com precisão os eixos de expansão.

O trabalho, portanto, contribui de forma satisfatória para subsidiar futuras

pesquisas na área de analises urbanas utilizando-se das técnicas de sensoriamento

remoto, podendo atender positivamente aos objetivos das pesquisas.

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