1 reflexÕes de montaigne para a vida diÁria de montaigne para a vida... · 2016-01-22 ·...

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1 REFLEXÕES DE MONTAIGNE PARA A VIDA DIÁRIA LIVRO I Luiz Guilherme Marques 2.011

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  • 1

    REFLEXES DE

    MONTAIGNE

    PARA A VIDA

    DIRIA

    LIVRO I

    Luiz Guilherme Marques

    2.011

  • 2

    No sei se me engano, mas posto que por favor especial da

    bondade divina uma orao nos foi prescrita e ditada palavra

    por palavra pela boca de Deus, sempre me pareceu que a ela

    devamos recorrer mais do que o fazemos. Se minha opinio

    pesasse no assunto, ns a diramos no incio e no fim das

    refeies, ao deitar e ao levantar. Em todos os momentos em

    que costume rezar, gostaramos que fosse o Padre Nosso a

    orao de todos os cristos. Pode a Igreja aumentar o nmero

    de oraes e modific-las segundo nossas necessidades e os

    fins que ela visa, e bem sei que o esprito e o fundo so

    sempre os mesmos, essa a orao por excelncia e ela diz

    incontestavelmente tudo o que h para se dizer, convm a

    todas as circunstncias em que nos podemos encontrar e

    portanto justificaria o privilgio de a ter sempre nos lbios o

    povo. a nica orao de que me valho sempre e sempre a

    repito em vez de variar, porquanto nenhuma tanto se gravou

    em minha memria.

    (Michel de Montaigne)

  • 3

    DEDICATRIA

    - a Jaqueline Mara de Almeida Marques e Tereza Cristina de

    Almeida Marques

    - a Maria Geny Barbosa

    - a Marisa Machado Alves dos Santos

    - a Dilma Roussef

    - a Ftima Nancy Andrighi

    - a Reynaldo Ximenes Carneiro

    - a Mitzi da Silva Marques

  • 4

    NDICE

    Introduo

    Notas

    Concluso

  • 5

    INTRODUO

    O presente livro representa uma coletnea aleatria de

    citaes extradas do Livro I dos Ensaios, de Michel de

    Montaigne [1], que comentamos, procurando esclarecer aos

    Leitores atuais a ideologia desse grande filsofo e humanista,

    calcada, sobretudo, nos pensamentos socrtico e cristo, mas

    sempre atual, apesar de ter vivido h mais de quatro sculos atrs.

    Os extratos (aos quais acrescentamos um ttulo para

    identificao) obedecem sequncia da obra segundo a edio de

    1961 da Biblioteca dos Sculos, da Editora Globo, na traduo

    competente de Srgio Milliet, ao final dos quais mencionamos as

    respectivas pginas.

    No entendemos conveniente mudar a sequncia,

    considerando que o filsofo deve ter tido suas razes para adot-

    la, tal qual os produtores de cds musicais programam a sequncia

    das msicas numa lgica que, quase sempre, torna mais agradvel

    o conjunto aos ouvidos do pblico.

    Montaigne foi filsofo, jurista, amante da Cincia e da

    Poesia, e dotado de uma religiosidade prtica e sensibilidade

    esttica notveis. No teria sido casual a sucesso dos temas...

    Nosso trabalho se destina a quem procura bons referenciais

    para ua melhor qualidade de vida, sendo esse o objetivo que

    detectamos na obra montaigniana: ajudar as pessoas a viverem

    bem.

  • 6

    No pretende este estudo ser um panegrico do grande

    humanista, mas sim aproveitar suas reflexes para melhorarmos

    nossa compreenso sobre a grande finalidade do ser humano, que

    aperfeioar-se e melhorar o mundo.

    O prprio Montaigne reconhece que a fonte da Inspirao

    Superior o visitava frequentemente, rendendo-se a ela como um

    homem de f que era e bem intencionado nas coisas que fazia,

    dizia e escrevia.

    Montaigne entendia a Filosofia como a cincia de viver

    bem.

    nessa linha que seguiremos, procurando indicar aos

    prezados Leitores algumas trilhas que ele abre para os viandantes

    da vida.

    Nossa poca, tumultuada e aparentemente avessa reflexo

    filosfica, prioriza os deuses Dinheiro, o Poder e os Objetivos

    Puramente Materiais.

    Todavia, muitas pessoas clamam por socorro s suas

    angstias e decepes, vrias se socorrendo das drogas lcitas ou

    ilcitas, do lazer atordoante e do consumismo, como formas de

    suportar o ato de simplesmente continuar vivendo. A essas todas

    dedicamos esta obra, que pretende ajud-las.

    Tambm pretendemos corrigir um equvoco propalado por

    alguns estudiosos, que lhe divulgam o nome do grande filsofo

    como ligado ao ceticismo rido e descrente das Coisas Divinas,

  • 7

    quando, na verdade, pretendeu sempre colocar a F Religiosa em

    lugar de destaque. Por isso, realamos, logo no incio, sua afeio

    especial ao Pai Nosso e o lugar que essa orao teve na sua vida

    diria.

    Posteriormente, iremos realizar um trabalho idntico com

    relao aos Livros II e III dos Ensaios.

    Agradecemos a Deus a oportunidade de realizar este

    trabalho e desejamos que sua leitura seja til s pessoas que

    necessitam de Esperana e Incentivo.

    O Autor

  • 8

    A HUMILDADE

    Sou eu mesmo a matria deste livro, o que ser talvez

    razo suficiente para que no empregues teus lazeres em

    assunto to ftil e de to mnima importncia. (p. 97)

    Apesar de Montaigne afirmar ser ele prprio objeto da sua

    observao, avanou muito alm dessas fronteiras e procurou

    analisar tudo que lhe pareceu importante para sua vida e a das

    pessoas em geral.

    A humildade, tpica de quem realmente dotado de uma

    viso holstica do mundo e do Conhecimento, o caracterizava,

    reservando-se sempre um posicionamento de quem opina e

    nunca d a ltima palavra sobre os temas que aborda.

    Em inmeros momentos da obra afirma sua insignificncia

    como ser humano, coisa que desagrada aos arrogantes, mas

    realmente sempre faz questo de dizer-se pequenino. Todavia,

    no de se estranhar essa atitude em um socrtico como ele,

    imitando seu mestre, que afirmava: S sei que nada sei, alm

    de um cristo, que via em Jesus Cristo o Modelo Mximo da

    humildade.

    Realmente, no comum encontrar-se nos livros dos

    filsofos tanta afirmao de humildade. Na verdade, costuma-se

    no encontrar nenhuma, sendo essa uma das caractersticas que

    diferencia Montaigne da maioria dos demais filsofos.

  • 9

    Trata-se de um exemplo a ser seguido, pois a humildade

    base para outras tantas virtudes, vindo geralmente acompanhada

    da generosidade, da pacincia, da tolerncia etc.

  • 10

    IMUNIDADE TRISTEZA

    (Da tristeza) Sou dos que menos sentem essa disposio

    de esprito; no a precio nem a valorizo, embora de um

    modo geral, e preconceituosamente, os homens a respeitem

    e estimem. (p. 102)

    A tristeza sintoma de baixa autoestima, defeito que no

    caracteriza as pessoas voltadas para a Fraternidade, esta que o

    fator dinamizador da vida.

    Quem se acha imbudo desse ideal superior no tem espao

    interior para o desnimo, a descrena, o pessimismo e outros

    vcios morais decorrentes do vazio interior.

    Quando ocorrem determinados fatos desagradveis,

    natural a tristeza nos abalar por alguns momentos, pois ningum

    vai ficar sorrindo nas situaes desconfortveis.

    Todavia, o inconveniente as pessoas se deixarem dominar

    por esse sentimento mais do que o tempo suficiente para analisar

    a situao dramtica e super-la.

    H quem cultive a tristeza como se pretendesse ser

    acalentado pelos outros, por insuficincia de fora interior para

    conviver de igual para igual com as pessoas.

    A tristeza sem motivo representa sintoma de doena

    psicolgica, que deve ser tratada com ajuda de psicoterapeutas

    para no se transformar em doena mental crnica.

  • 11

    O AUTOCONHECIMENTO

    Faze aquilo para que s feito e conhece-te a ti mesmo,

    eis um grande preceito amide citado em Plato. (p. 105)

    J se dizia antigamente que prefervel ser um bom

    sapateiro que um mau poeta.

    Quanta gente se ilude com seu potencial pessoal e pretende

    alcanar as estrelas sem ter base para chegar ao galho mais baixo

    de uma rvore.

    Nossos limites so visveis a ns mesmos se no tivermos a

    arrogncia como paradigma.

    Isso no significa subestimar-se, mas sim enxergar-nos com

    clareza no espelho da autoanlise, da auto-observao, sem

    distrorses para mais ou para menos, e investirmos naquilo que

    nossa real vocao.

    Conhecer-se a si mesmo representa analisar-se em

    profundidade, sem exagerar defeitos nem virtudes e trabalhar para

    melhorar-se o quanto possvel.

    Essa ltima lio vem dos tempos socrticos e at hoje ainda

    no foi suficientemente valorizada por grande parte das pessoas,

    que, ao invs disso, procuram aparentar aos olhos alheios, ao

    invs de realmente adquirir as virtudes e qualidades que

    pretendem ter.

    O autoconhecimento uma das realizaes mais importantes

    do ser humano: da decorre seu aperfeioamento intelecto-moral.

  • 12

    Feliz de quem sabe investir nesse tpico em exerccio dirio.

  • 13

    A MORTE COMO FONTE DE TRANSFORMAO

    Tudo nos leva a crer que a morte no o fim ltimo. A

    prpria natureza nos fornece exemplos de misteriosas

    relaes entre o que no mais existe e o que vive ainda.

    (p. 111)

    A morte ainda tratada como acontecimento temvel,

    principalmente porque as religies tradicionais assim tm

    procurado inculcsar na mente das pessoas.

    Montaigne no avanou muito no esclarecimento desse

    tema, mas instigou as pessoas a estudarem melhor o assunto.

    Para quem acredita que existe vida aps o decesso fsico fica

    a certeza de que a transio no o fim, mas apenas o incio de

    uma nova realidade, cabendo aqui um comentrio sobre a crena

    na reencarnao, segundo a qual se alternam periodicamente as

    vivncias no mundo espiritual e no mundo material, visando a

    evoluo infinita dos seres, rumo a Deus.

    Para aqueles que acham que no h vida depois da morte

    fica a ideia de que o enfraquecimento do corpo chega a um ponto

    tal que no se sustenta mais a vida fsica por uma decorrncia

    fatal da Lei da Natureza.

    O objetivo deste estudo no convencer os Prezados

    Leitores da sobrevivncia da alma, mas sim procurar ajud-los a

    viver bem enquanto esto neste mundo material, o que j

    representa uma grande coisa.

  • 14

    Quanto a Montaigne, acreditava na vida aps a morte, coisa

    em que tambm este comentarista tem como certa, sendo, por

    isso, a morte encarada como mera transio no-dolorosa entre

    duas realidades.

  • 15

    UM CORAO GENEROSO

    Quanto a mim, confio facilmente nos outros, mas no

    confiaria se viessem a supor tratar-se de um ato de

    fraqueza ou covardia e no por ser eu franco e acreditar

    na lealdade de meu adversrio. (p. 116)

    No acreditar em tudo que os outros afirmam medida de

    bom senso, mas, por outro lado, enxergar em todas as atitudes

    alheias a m-fe e o dolo transformar a vida num verdadeiro

    inferno, onde se vem inimigos por toda parte.

    Os mestres indianos aconselham a enxergar em cada criatura

    ua manifestao de Deus. Realmente, salvo motivo justo, no se

    deve ver nas pessoas inimigos, que nos espreitem para nos fazer

    mal.

    A Vida nos devolve em paz ou inquietao o que damos a

    ela em paz ou inquietao: assim mesmo em relao maioria

    das pessoas.

    No que se consagre a ingenuidade e a entrega da nossa

    intimidade a estranhos, mas a justa medida entre a confiana

    irrestrita e a desconfiana contumaz.

    Saber viver um aprendizado constante, onde vamos

    aumentando o nmero de amigos medida que trabalhamos pelo

    bem comum, sem precipitao nem cautela doentia.

  • 16

    FAZER O MELHOR ENQUANTO TEMPO

    Na medida de minhas foras, procurarei evitar de nada

    dizer aps a morte que no haja dito em vida, e

    abertamente. (p. 119)

    Tudo que se entende dever falar ou fazer deve s-lo para

    produzir efeito enquanto h utilidade. Aguardar o futuro para

    iniciar alguma obra til representa correr o risco de ficar tudo s

    na inteno.

    A transparncia deve ser valorizada, sempre informada

    pela inteno de ajudar e nunca com o fito de agredir ou denegrir

    pessoas ou instituies.

    O vcio de aguardar-se o futuro para comear alguma

    realizao til uma das piores opes de vida. Diz o ditado:

    Nunca deixe para amanh o que pode ser feito hoje. Trata-se de

    ua medida muito sbia.

    Dizem os sbios indianos que o importante o aqui e

    agora, significando que o momento presente o importante e o

    local onde estamos deve ser o palco da nossa atuao. Adiar

    realizaes ou program-las demais para o futuro fazem com que

    o futuro chegue vazio.

    Jesus Cristo dizia do po nosso de cada dia, no

    mencionando o po do dia seguinte. Talbm dizia que a cada

    dia basta o seu cuidado.

  • 17

    O presente deve ser vivido com densidade, que o futuro

    representar o que fizermos do presente.

  • 18

    A F NA AMIZADE

    Prezo a amizade acima de tudo. (p. 120)

    H quem diga que os amigos so muito poucos, havendo,

    em seu lugar, muita hipocrisia e esprito interesseiro.

    Todavia, se que h poucos amigos do peito, os h muitos

    amigos, dependendo, claro, da boa-vontade e simpatia com que

    so tratados.

    A melhor frmula para se conquistar amizades estar o

    mais possvel aberto convivncia sem maiores formalidades.

    Voltaire dizia que: Um amigo vale mais que cem

    sacerdotes. Realmente, as pessoas valem no meio social pelo

    nmero de bons amigos que conquistaram.

    H situaes em que um amigo consegue mais em nosso

    favor do que se tivermos muito dinheiro ou poder.

    Aristteles afirmava que: Para haver amizade necessrio

    que as pessoas estejam no mesmo nvel intelecto-moral e social,

    mas essa afirmativa no corresponde realidade, pois o que vale

    o grau de dedicao existente entre eles.

    Algum j disse que: O melhor na amizade no poder

    contar com o amigo, mas saber que se pode contar com ele.

    Na Roma Antiga dizia-se: Quando conquistares novos

    amigos no te esqueas dos antigos.

    A amizade um dos sentimentos mais nobres no ser

    humano e preenche-nos a vida de felicidade.

  • 19

    A CAPACIDADE DE RESUMIR

    ... a conciso do meu falar... (p. 121)

    A conciso no falar deve ser entendida como a capacidade

    de escrever de forma resumida, apesar de clara. Falar pouco

    mau sinal, que geralmente entendido como desinteresse pelas

    pessoas.

    Saber escrever resumidade, mas com clareza, uma das

    maiores virtudes do escritor.

    A prolixidade cansa quem l.

    Hoje em dia no h mais espao para os textos longos

    demais.

    As pessoas querem obter o mximo de informaes em

    textos curtos.

    A simplicidade das palavras tambm importante, pois o

    objetivo dos textos escritos ser compreendido pelos leitores.

    A linguagem da Informtica veio contribuir para a conciso

    atravs dos smbolos, que substituem palavras e frases.

    O saudosismo uma das piores coisas na arte da

    comunicao.

    Monteiro Lobato propunha que se escrevesse como se fala,

    o que, de uma forma diferente, se vem fazendo, com a

    simplificao das regras gramaticais e da ortografia.

  • 20

    Dever chegar uma poca em que se utilizem poucos

    smbolos para se expresso muitas ideiais.

    A conciso uma virtude, que, as novas geraes vm

    ajudando a melhorar, apesar da estranheza que causam aos

    velhos.

  • 21

    O HBITO DA VERDADE

    Mentir um vcio odioso. (p. 122)

    A mentira demonstra desconfiana em si mesmo e nas

    outras pessoas, sintoma de baixa autoestima, que deve ser tratada,

    de preferncia com auxlio de profissionais da Psicologia.

    No representa mero vcio fcil de ser superado, mas

    sintoma, mitas vezes, de medos recalcados, insegurana, traumas

    etc.

    Francisco Cndido Xavier dizia: Nunca joguei a verdade na

    cara das pessoas, significando que no agredia as pessoas com as

    verdades cocantes.

    Ser amigo da verdade no significa enxovalhar a dignidade

    alheia com afirmaes ofensivas, mas sim procurar sempre pautar

    sua prpria conduta pela coerncia com os princpios tico-

    morais.

    Quanto a pretender fazer o papel de censor da vida alheia

    trata-se de um defeito moral grave, resultado da arrogncia ou

    algum outro desvio psicolgico, que deve ser tratado e nunca tido

    como virtude.

    As afirmaes de Montaigne refletem sua preocupao com

    seu autoaperfeioamento e no alguma inteno de interferir na

    vida alheia.

  • 22

    CONFIANA NA INSPIRAO

    O acaso meu senhor: a oportunidade, a companhia, o

    prprio fogo das minhas palavras atuam sobre meu

    esprito que produz ento muito mais do que quando com

    ele me isolo, o consulto e o obrigo a trabalhar. Da

    valerem mais minhas palavras do que meus escritos... (p.

    126)

    Escrever trabalhos acadmicos exige disciplina e vontade

    firme de levar um estudo at o final. Todavia, nem sempre

    representam grande contribuio ao Conhecimento.

    O acaso aqui pode ser interpretado como a Inspirao,

    fonte de grandes obras, tanto na Filosofia, quanto na Cincia, na

    Arte e na Religio: quem se dedica a qualquer dessas reas

    entende o significado da Inspirao.

    Alguns a atribuem a Deus, outros a seres espirituais e assim

    por diante, mas que ela palpvel o mesmo.

    Montaigne deixava que suas ideias flussem ao acaso, mas,

    como estava sempre voltado para a autoanlise sincera, sem

    nenhuma inteno de ludibriar a prpria conscincia, a fonte da

    Inspirao o inundava de pensamentos saudveis, que ele

    transcrevia para o papel e lhe serviam de temas de refexo para

    seu autoaprimoramento.

    A boa-f o melhor condutor da Inspirao Superior,

    enquanto que a malcia, o egosmo e a falsidade entopem o

  • 23

    canal que nos liga Divindade, impedindo que ideias superiores

    nos cheguem mente.

    Alguns conseguem estar sempre inspirados, enquanto outros

    lutam com as ideias, que lhe embaralham a mente mal

    intencionada.

  • 24

    COMO SE PROCESSA A INSPIRAO

    O demnio familiar de Scrates [2] consistia

    provavelmente em certas inspiraes que se apresentavam

    a ele sem passar pela razo. Em alma to pura quanto

    sua, feita por inteiro de sabedoria e virtude, de crer-se

    que, embora ousadas e admissveis, tais inspiraes eram

    sempre importantes e dignas de se ouvirem. No h quem

    no sinta em si mesmo por vezes semelhante obsesso de

    uma ideia brusca, veemente e fortuita. Cabe a cada um de

    ns dar-lhe ou no certa consistncia, a respeito do que

    manda a prudncia qual fazemos ouvidos moucos, tive-as

    eu prprio, carecedoras de razo mas violentamente

    persuasivas, ou ao contrrio (como era o caso de

    Scrates), e a elas me abandonei com tamanha felicidade

    que quase poderia atribuir-lhes uma origem divina. (p.

    129)

    Ainda a Inspirao, que Montaigne confirma,

    principalmente no final da sua citao...

    Quanto a Scrates, afirmava que seres espirituais

    conversavam com ele e lhe transmitiam grandes ensinamentos.

    Alis, assim fizeram muitos outros grandes homens e mulheres,

    inclusive religiosos das mais variadas correntes, dentre os quais

    catlicos, categorizados como santos e santas.

  • 25

    Scrates nunca teve receio de afirmar qualquer fato em que

    acreditasse, inclusive esse do seu contato permanente com seus

    orientadores que habitavam o mundo dos espritos.

    Montaigne, parece, no quis arrostar as iras da Igreja

    Catlica, o que aconteceria caso aderisse explicitamente tese

    da comunicabilidade entre vivos e mortos, principalmente pelo

    fato da disputa violenta que estava acontecendo entre catlicos e

    protestantes, tudo sob os olhos atentos e cruis do Tribunal do

    Santo Ofcio, que j tinha mandado para a fogueira centenas de

    livres-pensadores que ousaram contraditar seus dogmas.

    O importante, nesta passagem de Montaigne, sua

    afirmao na crena da origem superior, divina, de suas

    inspiraes, pois que era um homem de boa-f e boa ndole,

    voltado para o Bem.

  • 26

    A OPO PELA SIMPLICIDADE

    Libertando-me, quanto a mim, o mais possvel de

    quaisquer atitudes cerimoniosas... (p. 131)

    A mentalidade cerimoniosa um dos maiores empecilhos

    para a aquisio e manuteno da amizade, alm de representar

    uma complicao em qualquer rea em que se apresente.

    As pessoas realmente superiores so avessas mentalidade

    cerimoniosa. Os pedantes que a valorizam...

    Mesmo sendo nobre de nascimento, procurava desvencilhar-

    se da arrogncia da maioria dos da sua classe social.

    A vida desvestida dessas frioleiras passa a fluir de forma

    muito mais agradvel, porque as pessoas so essencialmente

    iguais, premidas pelas mesmas necessidades bsicas, no havendo

    razo para distanciamentos nem ideia de falsa superioridade.

    A forma direta e simples de convivncia entre as pessoas

    traduz maturidade e esprito democrtico.

    Alis, os modelos que Montagne adotava: Jesus Cristo e

    Scrates, nunca foram a favor de qualquer cerimnia que fosse.

  • 27

    A SUPERIORIDADE DA ALMA SOBRE O CORPO

    O que faz com que to impacientemente suportemos a dor

    que no estamos habituados a procurar em nossa alma

    nossa principal satisfao; no contamos suficientemente

    com ela, que a nica e soberana senhora de nossa

    condio neste mundo. [...] a alma, sob formas diversas e

    variadas e segundo o estado em que se acha, submete a si

    sensaes do corpo e outros acidentes. Da a necessidade

    de estud-la, e acordar nela seus meios de ao que so

    todo-poderosos. [...] A alma tira partido de tudo

    indiferentemente: erro e sonho servem-lhe tanto quanto a

    realidade, para nos proteger e satisfazer. fcil verificar

    que nosso estado de esprito que excita em ns a dor e a

    volpia... (p. 139)

    Aqui esto muitos ensinamentos em poucas linhas, que

    poderiam ser desdobrados em verdadeiros tratados, mas, como

    so evidentes por si mesmos, sua leitura e releitura podem

    esclarecer sem gerar nenhuma dvida.

    Todavia, vamos fazer alguns comentrios mnimos.

    Na verdade, somos uma alma habitando um corpo. Nossa

    essncia espiritual. Controlamos o corpo com mais firmeza ou

    fraqueza de acordo com nossa elevao espiritual.

    Sabe-se de faquires indianos que suportam dores intensas e

    situaes extremas de desconforto fsico com base no seu domnio

  • 28

    sobre o corpo. Esses so casos raros para nossa mentalidade

    ocidental, voltada demais para a valorizao do corpo em

    detrimento da alma.

    Todavia, mesmo sendo ocidentais, portanto despreparados

    para esse tipo de esforo, no devemos inverter a ordem dos

    valores, entendendo que o corpo valha mais que o esprito.

    O corpo deve ser cuidado com os recursos mdicos e

    teraputicos em geral, mas no considerado como nossa realidade

    mais importante.

    Montaigne aconselhava a estudarmos a ns mesmos mais

    pelo que somos (espritos) do que corpo.

    Assim fazendo, estaremos realizando o autoconhecimento

    socrtico.

  • 29

    A HONESTIDADE NOS NEGCIOS

    Sinto naturalmente algum prazer em pagar o que devo,

    como se me desfizesse de um fardo incmodo, imagem da

    servido. Por outro lado, satisfaz-me fazer algo justo e que

    contente a outros. (p. 144)

    No todo mundo que sente satisfao em pagar o que

    deve, sendo menor ainda o nmero dos que pensam em contentar

    os outros, de verdade.

    A honestidade uma virtude que comporta algumas

    consideraes.

    A inteno de lucrar acima do razovel pode viver

    disfarada de mil maneiras, dentre as quais a demora em quitar

    alguma dvida.

    Montaigne se preocupava no s em desvencilhar-se da

    cobrana consciencial, que o obrigava a pagar logo o que devia,

    como tambm queria poder fazer felizes as pessoas, o que

    realizava de variadas formas.

    Importante na nossa vida contribuir para a felicidade

    alheia.

    Mesmo que as pessoas no se dem conta de que nossa

    contribuio as ajudou, ou sequer se preocupem em agradecer-nos

    os favores, a felicidade habitar intensamente em ns.

    Quem faz o Bem o mais beneficiado.

  • 30

    A FINALIDADE CONSTRUTIVA DE CADA COISA

    Todas as coisas dependem da maneira por que so

    encaradas: o estudo motivo de tormento para o

    preguioso; o beberro sofre sem o vinho; a frugalidade

    um suplcio para o comilo; o exerccio uma tortura para

    o delicado ocioso, etc. As coisas no so nem dolorosas

    nem difceis em si. Para julgar de sua elevao e grandeza

    necessrio uma alma com essas qualidades, sem o que

    lhes atribuiramos nossos prprios defeitos. (p. 148)

    Cada um enxerga as pessoas e os fatos de acordo com suas

    prprias lentes. O que para uns parece bom e agradvel, para

    outros pode ser tido como nocivo e insuportvel.

    Julgar as pessoas uma das mais ingratas tarefas e que

    devemos evitar, sob pena de condenarmos todos que pensam

    diferente de ns e absolvermos nossos iguais, gerando injustias.

    Somente quem alcanou muito Amor consegue enxergar

    holisticamente e, coisa interessante, esses no julgam e, muito

    menos, condenam...

    Cada pessoa tem um nvel de compreenso, visa

    determinados objetivos, pensa da forma que sua capacidade

    permite, mas todas contribuem, de alguma forma, mesmo sem o

    saberem, para a melhoria do connunto.

  • 31

    Algumas procuram fazer o mal, mas, mesmo assim, servem

    de alerta para outras e terminam por ser teis, como o veneno em

    doses corretas importante como remdio.

    difcil entender tanta diferena entre as pessoas, mas Deus

    sabe a finalidade de cada situao e faz tudo convergir para o

    Progresso.

    Nossa capacidade de compreenso limitada, mas a Mente

    Divina a tudo abarca e trabalha para o Progresso Geral.

  • 32

    NUNCA SE DESGOVERNAR PELO MEDO

    O medo a coisa de que mais medo tenho no mundo. Ele

    ultrapassa, pelos incidentes agudos que provoca, qualquer

    outra espcie de acidente. (p. 155)

    O medo retrata nosso estado de desconhecimento de alguma

    coisa. Quem tem medo insciente, despreparado,

    desconhecedor.

    H quem tenha medo de muita coisa que no deveria

    inspirar medo. Pode representar um problema psicolgico, que

    deve ser tratado com a ajuda de psicoterapeutas.

    natural que se tenha medo de situaes perigosas, mas a

    emoo deve passar pelo crivo da razo, sob pena de viver-se

    intimidado por quimeras e situaes de gravidade mnima.

    importante que se eduquem as crianas em contato com a

    realidade, para que se habituem a enfrentar com a naturalidade

    possvel as situaes de risco que ocorrero, certamente.

    Muitas vezes vem-se adultos despreparados para enfrentar

    os riscos normais da vida, porque seus pais os superprotegeram

    durante a infncia.

    A vida apresenta situaes imprevisveis, mas devemos estar

    preparados para todas elas, inclusive para a mais temida delas,

    que a morte, uma vez que todos estamos sujeitos a ela.

    Morrer no deve ser objeto de pavor, mas sim da certeza de

    que passaremos por esse estado, que nos levar desta realidade

  • 33

    material para outra, onde continuaremos vivos, sob outras leis e

    referenciais. Afinal, aqui tambm se aplica a afirmativa de

    Lavoisier: Na Natureza nada se perde, nada se cria, tudo se

    transforma.

  • 34

    APRENDER A VIVER BEM

    A vida em si no um bem nem um mal. Torna-se bem ou

    mal segundo o que dela fazeis. (p. 168)

    Cada um vive conforme seus prprios valores. Na verdade, a

    maioria simplesmente, sem o saber, repete os padres familiares,

    avanando muito pouco em termos de melhoria de paradigmas.

    Simplesmente repetir vcios familiares no faz ningum

    caminhar no rumo da Felicidade.

    importante estarmos sempre repensando nossos modelos e

    abandonando aqueles que no condizem com o Melhor.

    Por isso o autoconhecimento importante, uma vez que nos

    faz sempre verificar se estamos andando em crculos ou

    estamos realmente nos tornando pessoas melhores no sentido

    intelecto-moral.

    Jesus Cristo disse: Onde o homem tiver seu tesouro a

    estar o seu corao. Nossos objetivos so o retrato da nossa

    individualidade: quem pretende o dinheiro pelo dinheiro

    usurrio; quem procura o poder pelo poder ambicioso; quem

    pretende o gozo sem limites desregrado; mas quem sabe dosar

    todas as tendncias em benefcio prprio e da coletividade

    aprendeu a cincia de bem viver.

  • 35

    VIVER PLENAMENTE

    Qualquer que seja a durao de vossa vida, ela

    completa. Sua utilidade no reside na durao e sim no

    emprego que lhe dais. H quem viveu muito e no viveu.

    Meditai sobre isso enquanto o podeis fazer, pois depende

    de vs, e no do nmero de anos, terdes vivido bastante.

    (p. 169)

    O contedo da vida depende de como vivemos cada minuto

    da existncia.

    A vida simplesmente empurrada com a barriga uma das

    piores opes que podemos adotar.

    A utilidade deve ser medida na diviso exata entre nossos

    interesses e os da coletividade, ou seja, se nosso progresso

    beneficia o meio onde vivemos, todos nossos muitos ou poucos

    anos de vida representaro tudo, o mximo.

    Algum j falou que melhor viver plenamente a viver

    longamente, sendo o caso mais tpico o do prprio Jesus Cristo,

    que no precisou mais do que 33 anos para traar um novo

    paradigma para a humanidade.

  • 36

    A FORA DO PENSAMENTO

    Uma imaginao fortemente preocupada com um

    acontecimento pode provoc-lo, dizem os clrigos. (p.

    171)

    O pensamento a mais importante fora do Universo. As

    pessoas que tm desenvolvida essa potncia adquirem condies

    excepcionais de melhorar sua qualidade de vida e influenciar

    positivamente o meio onde vivem.

    No entanto, para quem adverso a este assunto no adianta

    relacionarem-se experincias cientficas, testemunhos e

    confirmaes, que o resultado ser pura perda de tempo.

    Na Rssia e nos Estados Unidos utilizam-se algumas

    pessoas dotadas de poderes paranormais com finalidades militares

    e policiais. Aos interessados em conhecer melhor tais informes

    basta procurar a literatura especializada.

  • 37

    AUTOANLISE SINCERA

    ...quem se analise a si mesmo, ver no fundo do corao

    que a maioria de seus desejos s nascem e se alimentam

    em detrimento de outrem. (p. 180)

    Apesar de tentarmos esconder nossas pequenas e grandes

    maldades, a verdade que agrada-nos saborear a desgraa

    alheia...

    A ideia de competio reminiscncia atvica do instinto

    animal, retrato do atraso tico-moral que ainda nos caracteriza.

    Esforar-se por superar esse atavismo representa uma luta

    importante portas a dentro da nossa prpria conscincia.

    Feliz de quem compete apenas consigo prprio, trabalhando

    por ser hoje melhor do que foi ontem e amanh melhor do que

    hoje.

    Quem compete com os outros se esquece frequentemente de

    melhorar a si prprio.

  • 38

    O ENSINO DAS VIRTUDES S CRIANAS

    preciso ensinar cuidadosamente as crianas a odiar os

    vcios para os quais mostram inclinao; preciso realar

    a seus olhos a fealdade natural do ato, no somente a fim

    de que no o pratiquem mas tambm que os aborream do

    fundo do corao; em suma, para que a simples ideia lhes

    cause horror, qualquer que seja a sua feio. (p. 182)

    H pais e mes que, mesmo indiretamente, incentivam os

    piores defeitos morais nos seus filhos. Alguns so

    desencaminhados com discursos diretos e outros com seus maus

    exemplos.

    No futuro, os prprios pais e mes costumam ser vtimas dos

    defeitos que incentivaram nos filhos.

    A melhor e mais convincente forma de ensinar as virtudes

    pelo exemplo.

    Os defeitos morais podem ser englobados em trs: orgulho,

    egosmo e vaidade, sendo o primeiro o amor-prprio levado a

    extremos, o segundo a incapacidade de renunciar em favor dos

    outros e o terceiro o desejo de estar sempre em evidncia.

    As crianas tendem a ser egostas, devendo-se

    gradativamente esclarec-las para que, na fase adulta, no

    transformem em pessoas imaturas e egocntricas, incapazes de

    enxergar os outros e a coletividade. Infelizmente, h muitos

    casos desse tipo, fruto de defeituosa educao na infncia.

  • 39

    HONESTIDADE ESPONTNEA

    Sinto-me sempre e espontaneamente impelido a hostilizar

    a trapaa por mais insignificante que seja o passatempo a

    que me dedique. (p. 183)

    Trapacear significa exercitar a astcia, forma equivalente,

    em primitivismo, violncia.

    Os animais so dotados, geralmente, de violncia e astcia,

    que utilizam quando necessrio.

    Ns, humanos, no devemos imitar os irmos dos reinos

    inferiores da Natureza.

    A lealdade a face oposta da astcia, representando uma das

    mais importantes virtudes, apangio dos homens e mulheres

    superiores.

    Diz um ditado que: Pelo dedo se conhece o gigante. Por

    algumas atitudes aparentemente insignificantes pode-se avaliar a

    ndole das pessoas. O trapaceiro e o desonesto costumam usar de

    expedientes escusos at nas brincadeiras mais inocentes.

  • 40

    TER CONVICES PRPRIAS MAS NO

    GUERREAR A SOCIEDADE

    O sbio precisa concentrar-se e deixar a seu esprito toda

    liberdade e faculdade de julgar as coisas com serenidade,

    mas quanto ao aspecto exterior delas cabe-lhe conformar-

    se sem discrepncia com as maneiras geralmente aceitas.

    (p. 191)

    O fato de verificarmos na vida social certos costumes e

    hbitos um tanto tolos no deve nos levar ao confronto direto com

    eles, se no so prejudiciais. Caso contrrio, estaremos em

    conflito permanente com as regras sociais, o que lamentvel.

  • 41

    ESPRITO PBLICO

    A opinio pblica nada tem a ver com o nosso pensamento,

    mas o resto, nossas aes, nosso trabalho, nossas fortunas,

    e nossa prpria vida, cumpre-nos coloc-lo a servio da

    coletividade e submet-lo sua aprovao. (p. 191)

    Montaigne defendia a ideia de que as pessoas devem ter

    esprito pblico quando dizia que se devem colocar a servio da

    coletividade nossas aes, nosso trabalho, nossas fortunas, e

    nossa prpria vida.

    Esse ideal funcionou como germinador da

    Fraternidade, que, no sculo XIX, iria se somar aos da Liberdade

    e Igualdade da Revoluo Francesa.

  • 42

    A INSTRUO SEM BOM-SENSO E SEM VIRTUDES

    Em verdade, os cuidados e despesas de nossos pais visam

    apenas encher-nos a cabea de cincia; de bom-senso e

    virtude no se fala. (p. 205)

    Infelizmente, ainda hoje prevalece essa mentalidade dos

    pais, muito mais preocupados em dotar seus filhos de um diploma

    universitrio, na maioria dos casos, e, se possvel, de uma herana

    vultosa, do que prepar-los como homens e mulheres de bem, ou

    sejam, pessoas que vo desempenhar um papel conscientemente

    til na sociedade, trabalhando para o progresso das pessoas e das

    instituies.

    Essa viso mercantilista e egocntrica causadora de todos

    os males sociais, pois as pessoas em geral no so ensinadas, no

    lar, a ser cidads no sentido melhor da palavra.

    Montaigne preconizava a importncia do bom-senso e das

    virtudes sobre a mera instruo, o que representa uma verdade

    inquestionvel, pois h muita gente instruda sem um mnimo de

    senso e quase nenhuma virtude.

    A sociedade patrimonialista cria verdadeiros monstrengos

    humanos, que sugam o sangue do povo e no enxergam a no ser

    o prprio umbigo.

  • 43

    A MEMORIZAO SEM RACIOCNIO

    Cuidamos das opinies e do saber alheios e pronto;

    preciso torn-los nossos. [...] Que adianta ter a barriga

    cheia de comida se no a digerimos? Se no a

    assimilamos, no nos fortalece e faz crescer! (p. 207)

    As escolas, desde os primeiros anos, at formao

    universitria, ainda tm como foco muito mais transmitir

    informaes prontas e acabadas do que despertar nos estudantes o

    esprito de pesquisa.

    Normalmente, somos repositrios de dados, que muito bem

    poderiam estar arquivados nos computadores e bibliotecas, ao

    invs de investigadores nas reas que escolhemos.

    Trata-se de um erro grave da Pedagogia reinante, apesar dos

    tericos da rea pregarem diferentemente.

    Os professores, normalmente mal remunerados,

    desinteressam-se em dar o melhor de si, que seria ensinar

    despertando a curiosidade dos alunos ao invs de repassar-lhes

    dados estereotipados mas teis apenas como exerccio da

    memria.

    Aprender a raciocinar muito mais importante que decorar

    informaes, pois na vida profissional os casos atpicos fazem

    parte do dia-a-dia. Quem no sabe improvisar no tem muita

    chance na vida real.

  • 44

    A capacidade de encontrar solues deveria ser objeto do

    aprendizado desde o comeo da vida escolar.

  • 45

    UM JUIZ INSATISFEITO COM A JUSTIA

    Prouvera a Deus que para o bem de nossa justia fossem

    os nossos tribunais to ricos de bom-senso e de

    conscincia quanto de cincia. Infelizmente, no

    aprendemos a viver, mas a discutir. (p. 209)

    Montaigne foi magistrado por alguns anos e acabou

    renunciando ao cargo por se sentir como um peixe fora da gua

    no ambiente forense.

    Sua afirmativa contundente, mas, infelizmente, ainda

    traduz a realidade, atualmente graas a concursos mal idealizados,

    onde se prioriza o conhecimento tcnico-jurdico em detrimento

    da avaliao vocacional. Os resultados so desastrosos...

    Bom-senso no se aprende na escola, nem conscincia reta.

    Quanto a viver bem igualmente. Discutir se aprende nas

    universidades, o que leva ao agravamento de muitos problemas

    jurdicos, que deveriam ser abordados com mentalidade

    conciliadora.

    Felizmente, inicia-se uma Era Nova no Judicirio.

  • 46

    O APRENDIZADO PRTICO

    A propsito, perguntou-se a Argesilau [3] que deviam, na

    sua opinio, as crianas aprender, ao que ele respondeu: o

    que tero de fazer quando crescerem. (p. 211)

    O estudo sempre importante, todavia, mais do que ele, os

    alunos devem ser ensinados que esto sendo preparados para o

    trabalho, quando forem adultos.

    Impregna-se, atualmente, a ideia subliminar na mente dos

    jovens de que o trabalho um nus que se deve adiar ao mximo.

    Mas quem no se prepara para a vida laborativa tende a

    tornar-se um peso morto na sociedade, desajustado no meio onde

    vive.

    O Conhecimento deve ser sempre direcionado para a

    utilidade, isso, porm, sem significar que somente a formiga

    tenha valor, enquanto que a cigarra deva morrer de fome e frio.

    Tanto uma quanto outra devem envidar esforos para a

    melhoria da qualidade de vida de todos.

    Nosso crebro como uma estante com capacidade pr-

    estabelecida: se ali colocamos papis inteis, no haver espao

    para os documentos realmente importantes. Tambm chega uma

    fase da vida, numa idade mais avanada, em que menos se

    absorve de informaes. Ento, o que ali est armazenado, seja

    til ou intil, no pode ser retirado para dar lugar a outros dados.

    Trata-se de escolher como usar as prateleiras...

  • 47

    Infelizmente, as escolas e professores costumam no levar

    em conta essa realidade como deveriam...

  • 48

    A LEITURA DE BONS AUTORES

    No me enfronhei em nenhum livro slido seno nos de

    Plutarco [4] e Sneca [5] ... (p. 213)

    Sempre til termos autores preferidos, que funcionam

    como mestres a quem, de uma forma ou de outra, imitamos.

    A guru indiana Amma afirma que devemos procurar nosso

    mestre, significando com isso que o bom caminho seguirmos os

    nossos Maiores, ao invs de estarmos a reinventar a roda a todo

    momento.

    Isso, todavia, no significa escravido mental, mas sim

    termos algumas referncias importantes para a vida.

    H quem leia sem selecionar realmente aqueles que detm

    qualificao para falar com autoridade.

    Saber escolher os bons autores uma virtude.

    Montaigne tinha dois autores preferidos, no que tinha razo,

    pois h quem escreva com pouca qualidade nas informaes que

    repassa ou sem maiores compromissos com a tica.

  • 49

    A EDUCAO INFANTIL

    ... a maior e mais importante dificuldade da cincia

    humana parece residir no que concerne instruo e

    educao da criana. O mesmo acontece na agricultura: o

    que precede semeadura certo e fcil; e tambm plantar.

    Mas depois de brotar o que se plantou, difceis e variadas

    so as maneiras de trat-lo. Assim os homens: pouco custa

    seme-los, mas depois de nascidos, educ-los e instru-los

    tarefa complexa, trabalhosa e temvel. O que se revela de

    suas tendncias to tnue e obscuro nos primeiros anos,

    e as promessas to incertas e enganadoras que se faz

    difcil assentar um juzo seguro. (p. 216)

    Na verdade, Deus Pai e Me de cada criatura. Somos

    apenas orientadores, de m ou razovel qualidade, muitas vezes

    bem intencionados, mas sem nenhuma garantia de que nosso

    trabalho ser bem sucedido.

    O fato de fazermos o melhor j deve nos tranquilizar a

    conscincia.

    O futuro dos nossos filhos pertence a eles e supervisionado

    por Deus.

    No devemos procurar proteg-los de mais nem de menos,

    pois, em ambos os casos estaremos prejudicando-lhes o

    desenvolvimento. A medida justa ditada pelo Amor verdadeiro,

    que no significa necessariamente concordar com eles em tudo.

  • 50

    O dever de educar moralmente os filhos dos pais e no

    devemos nos omitirmos nesse ponto, pois a educao moral

    mais importante que a instruo.

    Um cidado instrudo, mas moralmente descredenciado,

    representa uma bomba relgio ambulante, capaz de implodir

    uma coletividade inteira e a si prprio, enquanto que uma pessoa

    de bem sempre um elemento til em qualquer atividade que

    desempenhe, independente do seu grau de instruo.

  • 51

    A MAIUTICA SOCRTICA

    ... para um rapaz que mais desejaramos honesto do que

    sbio, seria til que se escolhesse um guia com cabea bem

    formada mais do que exageradamente cheia e que, embora

    se exigissem as duas coisas, tivesse melhores costumes e

    inteligncia do que cincia. Mais ainda: que exercesse

    suas funes de maneira nova. [...] ... desde logo, segundo

    a inteligncia da criana, comeasse a indicar-lhe o

    caminho, fazendo-lhe provar as coisas, e as escolher e

    discernir por si prprio, indicado-lhe por vezes o caminho

    certo ou lho permitindo escolher. No quero que fale

    sozinho e sim que deixe tambm o discpulo falar por seu

    turno. Scrates, e posteriormente Argelisau, obrigavam os

    discpulos a falarem primeiro e somente depois falavam

    eles prprios. [...] Quanto aos que, segundo o costume,

    encarregados de instruir vrios espritos naturalmente

    diferentes uns dos outros pela inteligncia e pelo

    temperamento, a todos ministram igual lio e disciplina,

    no de estranhar que dificilmente encontrem em uma

    multido de crianas somente duas ou trs que tirem do

    ensino o devido fruto. (p. 217)

    Maria Montessori [6] foi uma das mais importantes

    expresses da Pedagogia, apesar de ser mdica por formao. Ela

    praticava o que Montaigne preconizou sculos antes.

  • 52

    Aconselha-se a leitura de suas obras e o contato com sua

    Pedagogia.

    Muita gente trabalha no Magistrio como bico, tomando o

    lugar dos verdadeiramente vocacionados, estes ltimos que

    dedicam todas as suas energias para o desenvolvimento dos

    alunos.

    Despertar a inteligncia dos alunos um dom que somente

    os verdadeiros mestres detm, caracterizados que so por um

    carisma e um dom especiais.

  • 53

    O DESENVOLVIMENTO DO RACIOCNIO DA

    CRIANA

    Tudo se submeter ao exame da criana e nada se lhe

    enfiar na cabea por simples autoridade e crdito. [...]

    Apresentem-se-lhe todos em sua diversidade e que ele

    escolha se puder. E se no o puder fique na dvida, pois s

    os loucos tm certeza absoluta em sua opinio. (p. 218)

    Ensinar uma cincia de que poucos tm o domnio, apesar

    do grande nmero de professores e pais.

    Infelizmente, muitas pessoas tm filhos sem a mnima

    maturidade para assumir a paternidade e a maternidade e muitos

    professores escolhem a profisso sem Amor verdadeiro ao ser

    humano, requisito bsico para ensinar com real proveito.

    Sem Amor pouco se consegue, nessas reas e em todas as

    outras.

    A Pedagogia uma cincia que mereceria maior

    aprofundamento.

    Os professores deveriam ser melhor recrutados e melhor

    remunerados.

  • 54

    ORIENTAES PRTICAS AOS EDUCADORES

    Saber de cor no saber: conservar o que se entregou

    memria para guardar. [...] Triste cincia a cincia

    puramente livresca! [...] ... a visita a pases estrangeiros...

    para observar os costumes e o esprito dessas naes e

    para limar e polir nosso crebro ao contato dos outros.

    Gostaria que fizessem a criana viajar desde pequena e em

    primeiro lugar pelos pases vizinhos cuja lngua se afasta

    mais da nossa... (p. 219)

    So essas algumas das muitas indicaes que Montaigne

    apresenta, que colhemos quase ao acaso.

    A criatividade de quem ensina deve ser quase ilimitada,

    nunca se devendo simplesmente repetir modelos, por mero

    comodismo.

    Falhando a formao inicial, difcil recuperar-se a etapa

    mal vivida.

    Alis, afirma-se, com razo, que as informaes decisivas

    so as primeiras, enquanto que as posteriores so meras

    complementaes, muitas delas sem utilidade.

    Viajar deve fazer parte da formao da criana, aprender

    pelo menos um idioma estrangeiro igualmente.

  • 55

    O VALOR DA EDUCAO FSICA

    ... quem quiser fazer do menino um homem no o deve

    poupar na juventude nem deixar de infringir amide os

    preceitos dos mdicos: que viva ao ar livre e no meio dos

    perigos. No basta fortalecer-lhe a alma, preciso

    tambm desenvolver-lhe os msculos. [...] preciso

    acostumar o jovem fadiga e aspereza dos exerccios a

    fim de que se prepare para o que comportam de penoso as

    dores fsicas, a luxao, as clicas, os cautrios,... (p.

    220)

    Mente s em corpo so a regra.

    O que se pode acrescentar que, atualmente, tambm as

    meninas devem ser conduzidas s atividades esportivas e ao

    trabalho braal compatvel, uma vez que a prpria Medicina

    assim recomenda.

    Infelizmente, ingressando na faixa dos quarenta anos,

    homens e mulheres costumam afastar-se totalmente das atividades

    esportivas ou braais, tornando-se velhos precocemente.

    As atividades fsicas planejadas so recomendveis at o

    ltimo dia de vida, com orientao de profissionais competentes.

    Montaigne aprendeu com seu pai, que era um atleta

    destacado, a valorizar as atividades fsicas at o final da vida.

  • 56

    O UNIVERSALISMO

    Perguntaram a Scrates de onde ele era e ele no

    respondeu: de Atenas, mas: do mundo. Para ele, cuja

    inteligncia mais vasta e aberta que a de outrem abarcava

    o universo e dele fazia sua cidade, o objeto de sua afeio

    era o gnero humano; e no agia como ns que apenas

    olhamos em torno de ns. (p. 223)

    Temos de aprender a enxergar em cada pessoa um filho de

    Deus, olhando-a nos olhos, no como potencial inimigo, mas

    como nosso igual em todos os sentidos, mesmo que nos

    diferenciem a qualidade do vesturio e da moradia.

    No deve haver divises entre ns e as demais pessoas.

    Por pensar e agir assim e unicamente por isso Scrates

    foi considerado o mais sbio do seu tempo.

    Na fase atual da Civilizao irracional qualquer tipo de

    discriminao.

  • 57

    A OBSERVAO ISENTA CONDUZ HUMILDADE

    A infinita diversidade de costumes, seitas, juzos e

    opinies, leis ensina-nos a apreciar sadiamente os nossos,

    a reconhecer suas imperfeies e fraquezas naturais, o que

    j no pouco. Tantas revolues nos diferentes pases,

    tantas mudanas nos destinos pblicos, induzem-nos a no

    encarar como extraordinrios os nossos. Tantos nomes,

    tantas vitrias e conquistas enterradas no esquecimento

    tornam ridcula a esperana de eternizar o nosso nome

    pela captura de dez archeiros e de uma piolheira

    conhecida to somente pelos que dela se assenhorearam.

    [...] Nossa vida, dizia Pitgoras, assemelha-se grande e

    populosa assembleia dos jogos olmpicos. Uns se

    exercitam para conquistar a glria; outros levam uma

    mercadoria para vender e ganhar. Outros, e no so os

    piores, nada querem seno ver o porqu e o como de cada

    coisa e ser espectadores da vida dos outros para assim

    julgarem e regularem a sua. (pp. 223-224)

    A clareza das reflexes acima dispensa qualquer

    comentrio. Aconselhamos apenas sua leitura e releitura com

    calma, sem pressa, procurando saborear esse manjar dos anjos...

    Todavia, podemos acrescentar que a observao atenta da

    nossa prpria biografia e dos nossos heris mostra que quase

  • 58

    todos somos esttuas de ps de barro. Orgulhar-se demais

    esquecer-se de olhar-se no espelho da conscincia...

  • 59

    A ESSNCIA DA FILOSOFIA

    Mas o ofcio da filosofia serenar as tempestades da

    alma e ensinar a rir da fome e da febre, no mediante um

    epiciclo imaginrio qualquer, mas por meio de razes

    naturais e slidas. Tem por fim a virtude, a qual no est,

    como quer a Escolstica, colocada no cimo de algum

    monte alcantilado, abrupto e inacessvel. Os que dela se

    aproximaram afirmam-na ao contrrio, alojada em bela

    plancie, frtil e florida, de onde se descortinam todas as

    coisas. Pode-se ir at l em se conhecendo o local, por

    caminhos ensombrados, cobertos de relva e suavemente

    floridos, sem esforo e por uma subida fcil e lisa como a

    da abbada celeste. Por no terem frequentado essa

    virtude suprema, bela, triunfante, amorosa, to deliciosa

    quanto corajosa, inimiga declarada e inconcilivel do mau

    humor, do desprazer, do temor e do constrangimento, e

    que tem por guia a natureza e por companheiros a

    felicidade e a volpia, foi por no a frequentarem que, na

    sua ignorncia a julgaram tola, triste, disputadora,

    aborrecida, ameaadora e a colocaram sobre um rochedo

    afastado, dentro do mato, a fim de espantar as gentes como

    um fantasma. (p. 226)

  • 60

    A arrogncia de muitos pseudofilsofos fez com que as

    pessoas em geral tomassem verdadeira birra da expresso

    Filosofia.

    Na verdade, filosofar era natural em pessoas como

    Montaigne, Francisco de Assis, Gandhi, Madre Teresa de Calcut

    etc. porque amam a humanidade.

    Os filsofos negativistas representam verdadeiras anomalias

    nessa rea do Conhecimento que deve conduzir a Deus e

    Felicidade.

    H filsofos que mais parecem matemticos do que

    estudiosos da cincia de viver bem, mas esses so interessantes

    apenas para quem gosta de raciocinar por diletantismo e sem

    cpntribuio alguma para a melhoria da qualidade de vida.

  • 61

    A VERDADE CONVENCE PELA LGICA

    Scrates, seu adepto favorito, propositadamente recusou-

    se a imp-la pela fora, e passou a contar com a

    simplicidade e a brandura para faz-la vencedora. (p.

    227)

    Ensinar exige Amor. Impor as lies pela violncia significa

    despreparo de quem se prope a ser mestre.

    Scrates era brando e simples e seus adeptos conseguiam

    assimilar tudo que ele lhes dizia.

    A simplicidade o dom dos evoludos. A brandura a

    emanao dos generosos.

    Complexidade e rudeza so vcios que desmerecem

    respectivamente a inteligncia e a tica.

  • 62

    A FILOSOFIA A CINCIA DE VIVER BEM

    ... a filosofia a cincia que nos ensina a viver... (p.

    228)

    A Filosofia a cincia de viver bem.

    Dispensvel qualquer comentrio.

    Quem pretender estabelecer uma polmica sobre o que seja

    viver bem no entendeu o mnimo do que seja a Vida.

  • 63

    VIVER BEM UMA ARTE

    ... a maior de todas as artes: a de bem viver. (p. 231)

    No importa que se denomine o viver bem como arte,

    cincia ou qualquer outra coisa: o importante que se procure a

    qualidade de vida mais prxima do Ideal, com o mximo de

    requisitos que o bom senso recomenda.

  • 64

    PENSAR BEM PARA BEM EXPRIMIR-SE

    Acredito, e Scrates o diz formalmente, que quem tem no

    esprito uma ideia clara e precisa sempre a pode exprimir,

    quer de um modo quer de outro, por mmica at, se for

    mudo: no falham palavras para o que se concebe bem.

    (p. 233)

    A multiplicao e a facilitao das formas de comunicao

    so das coisas mais significativas que se pode realizar, sendo

    exemplos conhecidos a linguagem dos cones dos programas de

    computador, o Esperanto, o idioma Braille e a linguagem gestual

    dos surdos-mudos.

    O importante que as pessoas pensem com clareza e se

    expressem com objetividade.

  • 65

    A MODERAO E A PRUDNCIA

    Aprecio os caracteres moderados e prudentes... (p. 254)

    Moderao e prudncia no se confundem com frieza e falta

    de sensibilidade. O idealismo exige ponderao para produzir

    resultados excelentes e todas as realizaes importantes devem

    ser muito bem pensadas.

    Ser moderado no ser extremista, procurando as solues

    que no arrasem o que est construdo, mas o aperfeioe.

    Ser prudente acautelar-se contra sua prpria

    impetuosidade, que pode provocar danos irreparveis.

  • 66

    O VALOR MORAL

    O valor de um homem, e a estima que nos inspira,

    medem-se pelo seu carter e fora de vontade. A valentia

    no decorre do vigor fsico e sim da firmeza de nimo e da

    coragem... (p. 266)

    Mohandas K. Gandhi foi um dos homens de melhor carter,

    grande fora de vontade, valentia, firmeza de nimo e coragem,

    apesar de fisicamente desprivilegiado. Por trs dessas qualidades

    todas, todavia, trazia o Amor Universal, que lhe inspirava todas as

    atitudes, apoiando as reivindicaes dos seus patrcios, mas

    recusando-se a odiar os ingleses.

    Hoje em dia privilegia-se em excesso o aprimoramento da

    musculatura nas academias de ginstica, mas pouco se tem

    trabalhado no autoconhecimento, que representa uma ginstica

    tico-moral, de excelentes resultados para o equilbrio

    psicolgico.

  • 67

    COMBATER O BOM COMBATE

    A verdadeira vitria reside na maneira por que

    combatemos e no no resultado final. E no consiste a

    honra em vencer mas em combater. (p. 267)

    Gandhi continua sendo o exemplo do combatente fiel ao seu

    lema de no-violncia, nunca se permitindo revidar as violncias

    infligidas pelos ingleses quando reivindicava em favor dos seus

    patrcios indianos.

    O resultado da luta pelas Grandes Causas normalmente d

    frutos a longo prazo. A precipitao ou a utilizao de meios

    escusos lanam sujidades nessas conquistas. Foi o que ocorreu,

    por exemplo, com a Revoluo Francesa, que gerou problemas

    graves para o futuro, uma vez que, ao invs de limitar-se

    evoluo social e poltica, desbordou para a violncia e os abusos.

  • 68

    AS DESIGUALDADES SOCIAIS

    Em segundo lugar observaram que h entre ns gente

    bem alimentada, gozando as comodidades da vida,

    enquanto metade de homens emagrecidos, esfaimados,

    miserveis mendigam s portas dos outros (em sua

    linguagem metafrica a tais infelizes chamam metades);

    e acham extraordinrio que essas metades de homens

    suportem tanta injustia sem se revoltarem e incendiarem

    as casas dos demais. (p. 268)

    Neste trecho Montaigne reproduz as afirmaes de trs

    indgenas levados a conversar com o rei Carlos IX da Frana.

    Verifica-se que a gritante desigualdade social uma criao

    do mundo civilizado, no existindo entre os ndios, que

    chamamos de incivilizados, brbaros, primitivos.

    Montaigne foi um grande entusiasta e divulgador da Cultura

    Indgena em pleno sculo XVI, quando recm descoberto o Novo

    Mundo.

    Sua crtica ao modelo social injusto se faz sutil, como si

    acontecer nos seus escritos, onde a polidez predomina e nunca se

    encontram agresses verbais a pretexto de indignao.

  • 69

    ESPRITO DEMOCRTICO

    No cometo esse erro to comum de julgar os outros por

    mim. Acredito de bom grado que o que est nos outros

    possa divergir essencialmente daquilo que est em mim.

    No obrigo ningum a agir como ajo e concebo mil e uma

    maneiras diferentes de viver... (p. 278)

    A mentalidade aberta e democrtica simboliza justamente

    uma das mais importantes conquistas de um ser humano. Adotar a

    si prprio como modelo para os outros representa arrogncia e

    pobreza de viso. Afinal, somos apenas mais um na multido de

    bilhes de habitantes do planeta.

    Com ua mentalidade avessa a julgar as pessoas, Montaigne

    incompatibilizou-se com o cargo de juiz e, por isso, exonerou-se e

    passou a dedicar-se a colocar no papel suas reflexes sobre os

    temas que entendia teis a si prprio e aos outros.

  • 70

    OS PRDROMOS DOS IDEAIS DE LIBERDADE E

    IGUALDADE

    No imponho a outrem nem meu modo de vida nem meus

    princpios; encaro-o tal qual , sem estabelecer

    comparaes. (p. 279)

    Julgar-se modelo para os outros quanto aos modos de ser e

    pensar ignorar as prprias limitaes. Comparar pessoas,

    julgando-lhes os mritos e demritos sinal de arrogncia

    perigosa.

    Somente quem ama muito tem condies de avaliar as

    pessoas e situaes e procede sempre com amor, portanto,

    atinando com as solues corretas, mas essa uma qualificao

    que se adquire com muito tempo de dedicao ao aprimoramento

    interior.

    Parece at que os ideais de Liberdade e Igualdade, que

    compuseram a bandeira dos revolucionrios de 1789, nasceram da

    alma dos Ensaios de Montaigne.

  • 71

    A SENSIBILIDADE PARA O BELO

    Desde a infncia, a poesia produziu em mim o efeito de

    me penetrar e comover profundamente... (p. 281)

    Deve ser muita rida e dura a vida de quem apenas

    formiga e nada tem de cigarra...

    Sensibilizar-se com a Arte um dom das almas elevadas.

    A Poesia uma das modalidades artsticas mais

    aprimoradas, pois exige o domnio de um idioma e o senso

    esttico na escolha das palavras mais harmoniosas.

    Voltaire dizia que: Quando um prncipe ama a Poesia j

    existe uma esperana.

  • 72

    O RECONHECIMENTO DA TENDNCIA

    HIPOCRISIA

    Sem dvida nossas aes, em sua maioria, so mscara e

    artifcio... (p. 282)

    A desconfiana que vigora no relacionamento social nos

    leva a usar mscaras e artifcios.

    O grande problema moldarmos nossa fisionomia psquica

    s mscaras e artifcios, perdendo nossas melhores qualidades

    morais em troca dos interesses materiais...

    O reconhecimento sincero dos prprios defeitos j

    representa um grande comeo na procura pela melhoria tico-

    moral.

  • 73

    A SUPERAO DO RADICALISMO

    ... tudo pode ser encarado de diferentes lados e

    apresentar aspectos diversos. (p. 284)

    A viso holstica dos problemas, pessoas e situaes meta

    que devemos tentar alcanar, a fim de encontrarmos as solues

    mais prximas da ideal.

    Quem analisa tudo sob sua prpria tica aplica a todo

    mundo o famoso leito de Procusto, que consistiria em fazer as

    pessoas deitarem naquela famosa cama: quem era de maior

    estatura e lhe ultrapassava o limite tinha as pernas cortadas na

    quantidade que sobrava e quem era mais baixo, sendo menor que

    o leito, era esticado at alcanar-lhe o comprimento, ou seja,

    uns e outros costumavam morrer nessa operao...

  • 74

    ENFRENTAR OS FANTASMAS INTERIORES

    A ambio, a avareza, a indeciso, o medo, a

    concupiscncia no nos abandonam to-somente porque

    mudamos de lugar. (p. 285)

    Enfrentar nossos fantasmas interiores de primordial

    importncia, para no estarmos sempre sujeitos a crises quando

    surgem os problemas.

    Vencer os defeitos e adquirir virtudes dependem do trabalho

    de autoanlise, lembrada em vrios pontos deste estudo.

    Carregamos conosco nosso cabedal de problemas e

    solues, que dependem da nossa conduta e preferncia.

  • 75

    AS FASES DA VIDA

    Diz Scrates que os jovens devem instruir-se; os homens

    feitos procurar agir acertadamente; os velhos abandonar

    toda ocupao civil ou militar e viver para sua ideia, sem

    obrigaes precisas. (p. 289)

    Trata-se da sequncia da vida. Feliz de quem se adequa

    ordem natural das coisas.

    A instruo das crianas, adolescentes e jovens deve visar

    prepar-los para o trabalho e no inculcar-lhes na mente (como

    hoje acontece) a ideia de que o trabalho desagradvel e s deve

    ser tolerado pela recompensa financeira. Deve-se insculpir no

    esprito juvenil o prazer de trabalhar e ser til.

    A vida produtiva do adulto deve ser extendida at onde ele

    apresente condies fsicas e intelectuais de ser til, no se

    aposentando precocemente. Tambm no se deve excluir os

    idosos do mercado de trabalho. clebre o caso de Oscar

    Niemeyer, que continua trabalhando aos 102 anos.

    Os idosos devem dedicar-se ao que lhes apetecer, de

    preferncia ao que lhes seja realmente til e ao voluntariado em

    entidades filantrpicas.

  • 76

    O CONFORTO NO SIGNIFICA FUTILIDADE

    No considero o filsofo Argesilau menos digno, s

    porque usava baixela de ouro e prata, de acordo com sua

    fortuna; estimo-o mais por t-la usado com moderao e

    liberalidade do que se dela se houvesse desfeito. (p. 289)

    Ser rico ou pobre no o mais importante, tanto quanto ser

    intelectual ou dotado de pouca instruo, se tudo encarado com

    bom senso e generosidade.

    Afinal, tudo vale a pena se a alma no pequena.

    Santo Toms de Aquino dizia: Para se exercer as virtudes

    necessrio algum conforto. A limpeza, o bom gosto, algum

    conforto, em resumo, sempre ajudam a gente a sentir-se bem.

    O luxo exagerado que pode amolentar a alma.

  • 77

    O DESPRENDIMENTO INTERIOR PELOS BENS

    MATERIAIS

    A minha tendncia no me induz a valorizar minhas

    propriedades... (p. 290)

    Pode-se entender que Montaigne quis dizer que no

    supervalorizava as riquezas. Dar s riquezas uma finalidade til

    para si e para os outros o que importa.

    O apego s riquezas independe de algum ser rico ou pobre,

    pois h ricos desprendidos e pobres apegados aos bens materiais.

    O que conta o sentimento ntimo.

    H pessoas que no se apegam aos bens materiais, mas so

    egostas com relao prpria cultura, tornando-se igualmente

    usurrios.

    Tudo deve circular e servir a muita gente e no ficar

    trancafiado nos cofres do egosmo.

  • 78

    A JUSTA MEDIDA NOS PRAZERES

    ... sempre o prazer excessivo, que o homem aufere da

    satisfao do que mais aprecia, que o perde, seja ele

    avarento, voluptuoso ou ambicioso. (p. 291)

    O problema no est no uso dos bens da vida, mas sim no

    seu abuso.

    hipcrisa quem diz abominar os prazeres sadios,

    pretendendo viver de renncias extremadas, pois eles fazem parte

    da vida humana e funcionam como alvio ao estresse, alm de

    incentivo para as lutas dirias. Todavia, saber dos-los uma arte

    e s fazem bem quando sorvidos na justa medida.

    O mal o descontrole, o abuso, a entrega desregrada, em

    detrimento principalmente do respeito dignidade alheia.

    Usufruir de prazeres custa do sofrimento alheio representa um

    crime grave frente prpria conscincia.

    Algum alegrar-se com prazeres nocivos (como as drogas, o

    alcoolismo, a sexolatria etc.) representa um desvio psicolgico,

    que deve ser tratado com a ajuda de psicoterapeutas e mdicos

    especialistas.

  • 79

    CADA PESSOA VALE POR SEUS MRITOS

    INTELECTO-MORAIS

    necessrio julgar o homem em si e no pelos seus

    adornos. (p. 301)

    O pior no tratar com deferncia especial os que esto bem

    situados socialmente, mas sim tratar mal os que no gozam dos

    privilgios do Poder e do Dinheiro.

    A discriminao contra pessoas uma das mais graves

    ofensas Democracia e Igualdade.

    Atuamente supervalorizam-se as pessoas pelo dinheiro que

    possuem, dando-se destaque a verdadeiras nulidades, em

    detrimento de gente de grandes mritos, que a Mdia no faz

    questo de destacar.

    A Mdia a grande responsvel pelo endeusamento de

    muitos mitos humanos, pessoas desarvoradas, que acabam

    influenciando, pelos maus exemplos, crianas, adolescentes e

    jovens ingnuos.

  • 80

    CADA UM DEVE SER RESPONSVEL PELA

    PRPRIA FELICIDADE

    O sbio o asteso da prpria felicidade. (p. 302)

    Quando Montaigne se refere a sbio no trata do nvel de

    instruo e sim da capacidade maior ou menor de cada um se

    adequar cincia (ou arte) de viver bem.

    Cada pessoa interiormente feliz ou infeliz conforme suas

    atitudes e forma de pensar.

    No h quem consiga implantar a felicidade no interior de

    outrem, podendo-se, no mximo, ajudar nessa conquista.

    Quanto felicidade exterior um mito da sociedade

    patrimonialista, a qual se esboroa ao primeiro contratempo.

  • 81

    SOMOS TODOS SUJEITOS A ALTOS E BAIXOS

    Esse homem no passa afinal de um homem. Se no tiver

    valor prprio no lho dar o imprio do mundo. (p. 303)

    Aqui est a diferena entre o ser e o ter.

    A sociedade patrimonialista endeusa aqueles que tm,

    muitos deles incapacitados para suportar o ar rarefeito das grandes

    alturas...

    Quem sabe contornar as pequenas e grandes

    dificuldades e se faz exemplo para as pessoas, como Gandhi e

    outros.

  • 82

    O DESTAQUE DAS VIRTUDES

    Anacrsis de opinio que o Estado mais feliz seria

    aquele em que, dadas as condies iguais de tudo e de

    todos, a preeminncia se medisse pela virtude e fosse o

    vcio relegado para o ltimo lugar. (p. 307)

    Montaigne preconizava a igualdade de tudo e de todos, o

    que, para concretizar-se, depende da iniciativa de cada cidado.

    A prevalncia da virtude sobre o dinheiro e a astcia

    tambm depende de cada cidado.

    Se verdade que as pessoas realmente superiores pela

    evoluo tico-moral no recebem o destaque da Mdia, so, por

    outro lado, premiadas pelo respeito e amizade de muita gente.

    Foram os casos de Francisco Cdido Xavier, Irm Dulce, Dom

    Helder Cmara etc. etc.

  • 83

    AS LEIS DE PEGAM E AS LEIS QUE NO PEGAM

    Nenhuma lei tem valor efetivo, fora daquelas a que Deus

    deu uma durao tal que ningum lhes conhece a origem

    nem as viu diferentes. (p. 309)

    Trata-se do Direito Natural, ou seja, aquelas regras

    espontneas na conscincia de todas as pessoas: essas so eternas.

    O legislador, algumas vezes, procura atender ao interesse de

    grupos dominantes e edita leis contrrias ao interesse pblico,

    mas essas leis no pegam. S pegam aquelas que vo de

    encontro Justia verdadeira, ou seja, que correspondem s Leis

    Divinas.

  • 84

    AS PESSOAS DEVEM TER NOMES EXPRESSIVOS

    Scrates considera que dar belos nomes a seus filhos

    um cuidado que os pais no devem esquecer. (p. 313)

    Trata-se de uma recomendao que nem todo mundo segue,

    por exemplo, quando quer homenagear algum, portador de nome

    nem to belo, s custas dos filhos...

    Os nomes de mau gosto costumam estigmatizar muitas

    pessoas, humilhando-as no meio social, ao invs de causar-lhes

    satisfao.

    Carregar um nome desse tipo representa uma verdadeira

    cruz pregada nos ombros para sempre.

  • 85

    ALERTA CONTRA O RADICALISMO

    De qualquer coisa fcil falar: pr ou contra, diz

    Homero com muita razo. (p. 317)

    Por isso que no devemos achar que nossa interpretao

    a nica correta.

    Tambm serve esta observao para aqueles que defendem

    cada hora um ponto de vista diferente, os quais perdem a

    credibilidade, parecendo mercadores da palavra.

  • 86

    IMUNIZAR-SE CONTRA O MEDO

    ... nada to contagioso quanto o medo... (p. 321)

    Prudncia necessria mas no o medo, que impede muitas

    iniciativas nobres e necessrias ao Progresso.

    Para ser bom e til ao meio social necessria muita

    coragem.

    H pessoas que disseminam o pnico atravs de notcias

    alarmantes, gerando insegurana.

    A Mdia atual costuma prestar esse tipo de desservio

    sociedade.

    Francisco Cndido Xavier dizia: Cada um responsvel

    pelas imagens que cria na mente do semelhante. Trata-se de um

    alerta vigoroso para cada um de ns.

  • 87

    NO SOMOS TO RACIONAIS COMO JULGAMOS

    SER

    Raciocinamos ao acaso e inconsideradamente, diz o

    Timeu de Plato, porque, como ns mesmos, a nossa

    razo grandemente influenciada pelo acaso. (p. 322)

    Realmente, no somos to racionais e no temos tanto

    autocontrole como gostaramos.

    Aqui cabem algumas indagaes da Psicologia, cincia que

    somente surgiria alguns sculos depois de Montaigne.

    Os mecanismos da mente so surpreendentes mas no

    incompreensveis para quem procura o autoconhecimento.

  • 88

    PELO DEDO SE CONHECE O GIGANTE

    Qualquer ato nosso revela o que somos. (p. 333)

    Mais indagaes a serem respondidas pela Psicologia.

    Nossos pensamentos, sentimentos e atitudes so o nosso

    retrato interior.

    Por isso, devemos analisar-nos, conhecer-nos,

    aperfeioarmo-nos, sublimando as deficincias e aperfeioando as

    virtudes.

    O que no se justifica estarmos sempre a repetir os

    mesmos erros, que, normalmente, assimilamos dos nossos

    ancestrais.

  • 89

    SOMOS TRANSPARENTES

    Todo pormenor da existncia do homem, toda ocupao a

    que se entregue, o revelam e o mostram com suas

    qualidades e defeitos. (p. 334)

    Mais Psicologia.

    Mesmo que tentemos disfarar nossas falhas, as pessoas as

    detectam. Portanto, a soluo mesmo a autoanlise e o esforo

    por super-las.

    O autoconhecimento o caminho.

  • 90

    A AUTOANLISE CONDUZ HUMILDADE

    Penso que h em ns mais vaidade do que infelicidade,

    mais tolice do que malcia, mais vazio do que maldade,

    mais vileza do que misria. (p. 335)

    Parece que Montaigne, realmente, foi um dos precursores da

    Psicologia.

    Carregamos no nosso ntimo muita vaidade, tolice e falta de

    metas. So algumas das nossas limitaes, pelas quais no

    devemos, todavia, nos crucificar, mas tentar melhorar, sabendo

    tambm nos autoperdoar.

    Os erros cometidos devem ser tratados por ns como alertas

    para o futuro, e no como cruzes eternas. O autperdo

    imprescindvel.

    Vai e no peques mais, aconselhou Jesus.

  • 91

    O VALOR DO PAI NOSSO

    No sei se me engano, mas posto que por favor especial

    da bondade divina uma orao nos foi prescrita e ditada

    palavra por palavra pela boca de Deus, sempre me

    pareceu que a ela devamos recorrer mais do que o

    fazemos. Se minha opinio pesasse no assunto, ns a

    diramos no incio e no fim das refeies, ao deitar e ao

    levantar. Em todos os momentos em que costume rezar,

    gostaramos que fosse o Pai Nosso a orao de todos os

    cristos. Pode a Igreja aumentar o nmero de oraes e

    modific-las segundo nossas necessidades e os fins que ela

    visa, e bem sei que o esprito e o fundo so sempre os

    mesmos, essa a orao por excelncia e ela diz

    incontestavelmente tudo o que h para se dizer, convm a

    todas as circunstncias em que nos podemos encontrar e

    portanto justificaria o privilgio de a ter sempre nos lbios

    o povo. a nica orao de que me valho sempre e sempre

    a repito em vez de variar, porquanto nenhuma tanto se

    gravou em minha memria.

    (pp. 344/345)

    O Pai Nosso, realmente, engloba tudo que essencial na

    vida humana.

    Rezemo-lo sempre.

  • 92

    COMEAR A TRABALHAR CEDO

    ... no se deveria dar tanta importncia ao ano do nosso

    nascimento, nem nos deixar tanto tempo entregues

    ociosidade ou presos ao aprendizado. (p. 354)

    A Pedagogia atual tem, indiretamente, contribudo para a

    infantilizao dos jovens, que retardam o momento de comear a

    trabalhar.

    Antes de iniciarmos nossa vida de trabalho somos meras

    crianas fora da poca.

    Trata-se de um erro grave, que precisa ser corrigido, sob

    pena de manuteno da pobreza, da irresponsabilidade e,

    indiretamente, da prpria criminalidade.

  • 93

    NOTAS

    [1] http://pt.wikipedia.org/wiki/Michel_de_Montaigne

    Michel Eyquem de Montaigne (Saint-Michel-de-

    Montaigne, 28 de fevereiro de 1533 Saint-Michel-de-

    Montaigne, 13 de setembro de 1592) foi um escritor e

    ensaista francs, considerado por muitos como o inventor

    do ensaio pessoal. Nas suas obras e, mais especificamente

    nos seus "Ensaios", analisou as instituies, as opinies e

    os costumes, debruando-se sobre os dogmas da sua poca

    e tomando a generalidade da humanidade como objecto de

    estudo. considerado um cptico e humanista.

    Montaigne comeou a sua educao com o seu pai. Este

    tinha um esprito por um lado vigilante e metdico e por

    outro aberto s novidades. Aps estes estudos enveredou

    pelo Direito. Exerceu a funo de magistrado primeiro em

    Prigoux (de 1554 a 1570) depois em Bordus onde travou

    profunda amizade com La Boetie.

    Retirou-se para o seu castelo quando tinha 34 anos para se

    dedicar ao estudo e reflexo. Levou nove anos para

    redigir os dois primeiros livros dos Essais. Depois viajou

    por toda a Europa durante dois anos (1580-1581). Faz o

    relato desta viagem no livro Journal de Voyage, que s foi

    publicado pela primeira vez em 1774.

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Saint-Michel-de-Montaignehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Saint-Michel-de-Montaignehttp://pt.wikipedia.org/wiki/28_de_fevereirohttp://pt.wikipedia.org/wiki/1533http://pt.wikipedia.org/wiki/13_de_setembrohttp://pt.wikipedia.org/wiki/1592http://pt.wikipedia.org/wiki/Fran%C3%A7ahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Ensaiohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Dogmahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Cepticismohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Humanismohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Educa%C3%A7%C3%A3ohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Direitohttp://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=P%C3%A9rigoux&action=edit&redlink=1http://pt.wikipedia.org/wiki/1554http://pt.wikipedia.org/wiki/1570http://pt.wikipedia.org/wiki/Bord%C3%A9ushttp://pt.wikipedia.org/wiki/La_Boetiehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Castelohttp://pt.wikipedia.org/wiki/1580http://pt.wikipedia.org/wiki/1581http://pt.wikipedia.org/wiki/1774

  • 94

    Foi presidente da Cmara em Bordus durante quatro

    anos. Depois, regressou ao seu castelo e continuou a

    corrigir e a escrever os Essais, tendo em vista o estilo

    parisiense de exposio doutrinria. Os seus Ensaios

    compreendem trs volumes (trs livros). Os seus Ensaios

    vieram a pblico em trs verses: Os dois primeiros em

    1580 e 1588. Na edio de 1588, aparece o terceiro

    volume. Em 1595, publica-se uma edio pstuma destes

    trs livros com novos acrescentos.

    Os Essais so um auto-retrato. O auto-retrato de um

    homem, mais do que o auto-retrato do filsofo. Montaigne

    apresenta-se-nos em toda a sua complexidade e variedade

    humanas. Procura tambm encontrar em si o que

    singular. Mas ao fazer esse estudo de auto-observao

    acabou por observar tambm o Homem no seu todo. Por

    isso, no nos de espantar que neles ocorram reflexes

    tanto sobre os temas mais clssicos e elevados ao lado de

    pensamentos sobre a flatulncia. Montaigne assim um

    livre pensador, um pensador sobre o Humano, sobre as

    suas diversidades e caractersticas. E um pensador que

    se dedica aos temas que mais lhe apetecem, vai pensando

    ao sabor dos seus interesses e caprichos.

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Presidentehttp://pt.wikipedia.org/wiki/P%C3%BAblicohttp://pt.wikipedia.org/wiki/1580http://pt.wikipedia.org/wiki/1588http://pt.wikipedia.org/wiki/1595http://pt.wikipedia.org/wiki/Flatul%C3%AAncia

  • 95

    Se por um lado se interessa sobremaneira pela

    Antiguidade Clssica, esta no totalmente passadista ou

    saudosista. O que lhe interessa nos autores antigos,

    especialmente os latinos mas tambm gregos, encontrar

    mximas e reflexes que o ajudem na sua vida diria e na

    sua auto-descoberta. Montaigne tenta assim compreender-

    se, atravs da introspeco, e tenta assim compreender os

    Homens.

    Montaigne no tem um sistema. No um moralista nem

    um doutrinador. Mas no sendo moralista, no tendo um

    sistema de conduta, uma moral com princpios rgidos,

    um pensador tico. Procura indagar o que est certo ou

    errado na conduta humana. Prope-se mais estudar pelos

    seus ensaios certos assuntos do que dar respostas. No

    fundo, Montaigne est naquele grupo de pensadores que

    esto a perguntar em vez de responder e na sua incerteza

    em dar respostas que surge um certo cepticismo em

    Montaigne. Como no est interessado em dar respostas

    apriorsticas tem uma certa reserva em relao a

    misticismos e crenas. de notar um certo alheamento em

    relao ao Cristianismo e s lutas de religio que se

    viviam em Frana. Embora no deixe de refletir em

    assuntos como a destruio das novas ndias pelos

    Espanhis. Ou seja, as suas reflexes visam os clssicos e

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Sistemahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Moralistahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Doutrinadorhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Cepticismohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Cristianismo

  • 96

    a sua prpria contemporaneidade. Tanto fala de um

    episdio de Cipio como fala de algum acontecimento do

    seu sculo como fala de um qualquer seu episdio

    domstico.

    Registre-se que Michel foi tio pelo lado materno de Santa

    Joana de Lestonnac.

    [2] http://pt.wikipedia.org/wiki/Socrates

    Scrates (em grego antigo: , transl. Skrts;

    469399 a.C.) foi um filsofo ateniense, um dos mais

    importantes cones da tradio filosfica ocidental, e um

    dos fundadores da atual Filosofia Ocidental. As fontes

    mais importantes de informaes sobre Scrates so

    Plato, Xenofonte e Aristteles (Alguns historiadores

    afirmam s se poder falar de Scrates como um

    personagem de Plato, por ele nunca ter deixado nada

    escrito de sua prpria autoria.). Os dilogos de Plato

    retratam Scrates como mestre que se recusa a ter

    discpulos, e um homem piedoso que foi executado por

    impiedade. Scrates no valorizava os prazeres dos

    sentidos, todavia se escalava o belo entre as maiores

    virtudes, junto ao bom e ao justo. Dedicava-se ao parto

    das idias (Maiutica) dos cidados de Atenas, mas era

    indiferente em relao a seus prprios filhos.

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Santa_Joana_de_Lestonnachttp://pt.wikipedia.org/wiki/Santa_Joana_de_Lestonnachttp://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADngua_grega_antigahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Translitera%C3%A7%C3%A3ohttp://pt.wikipedia.org/wiki/469_a.C.http://pt.wikipedia.org/wiki/399_a.C.http://pt.wikipedia.org/wiki/Filosofiahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Atenashttp://pt.wikipedia.org/wiki/Ocidentehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Plat%C3%A3ohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Xenofontehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Arist%C3%B3teleshttp://pt.wikipedia.org/wiki/Mai%C3%AAuticahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Atenas

  • 97

    O julgamento e a execuo de Scrates so eventos

    centrais da obra de Plato (Apologia e Crton). Scrates

    admitiu que poderia ter evitado sua condenao (beber o

    veneno chamado cicuta) se tivesse desistido da vida justa.

    Mesmo depois de sua condenao, ele poderia ter evitado

    sua morte se tivesse escapado com a ajuda de amigos. A

    razo para sua cooperao com a justia da plis e com

    seus prprios valores mostra uma valiosa faceta de sua

    filosofia, em especial aquela que descrita nos dilogos

    com Crton.

    Detalhes sobre a vida de Scrates derivam de trs fontes

    contemporneas: os dilogos de Plato, as peas de

    Aristfanes e os dilogos de Xenofonte. No h evidncia

    de que Scrates tenha ele mesmo publicado alguma obra.

    As obras de Aristfanes retratam Scrates como um

    personagem cmico e sua representao no deve ser

    levada ao p da letra.

    Scrates casou-se com Xntipe, que era bem mais jovem

    que ele, e teve trs filhos: Lamprocles, Sophroniscus e

    Menexenus. Seu amigo Crton criticou-o por ter

    abandonado seus filhos quando ele se recusou a tentar

    escapar antes de sua execuo, mostrando que ele (assim

    como seus outros discpulos), parece no ter entendido a

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Apologiahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Cr%C3%ADtonhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Cicutahttp://pt.wikipedia.org/wiki/P%C3%B3lishttp://pt.wikipedia.org/wiki/Cr%C3%ADtonhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Plat%C3%A3ohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Arist%C3%B3faneshttp://pt.wikipedia.org/wiki/Xenofontehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Arist%C3%B3faneshttp://pt.wikipedia.org/wiki/X%C3%A2ntipe

  • 98

    mensagem que Scrates tenta passar sobre a morte

    (dilogo Fdon), antes de ser executado.

    No se sabe ao certo qual o trabalho de Scrates, se que

    ele teve outro alm da Filosofia. De acordo com algumas

    fontes, Scrates aprendeu a profisso de oleiro com seu

    pai. Na obra de Xenofonte, Scrates aparece declarando

    que se dedicava quilo que ele considerava a arte ou

    ocupao mais importante: maiutica, o parto das idias.

    A maiutica socrtica funcionava a partir de dois

    momentos essenciais: um primeiro em que Scrates levava

    os seus interlocutores a pr em causa as suas prprias

    concepes e teorias acerca de algum assunto; e um

    segundo momento em que conduzia os interlocutores a

    uma nova perspectiva acerca do tema em abordagem. Da

    que a maiutica consistisse num autntico parto de ideias

    pois, mediante o questionamento dos seus interlocutores,

    Scrates levava-os a colocar em causa os seus

    "preconceitos" acerca de determinado assunto,

    conduzindo-os a novas ideias acerca do tema em

    discusso.

    Plato afirma que Scrates no recebia pagamento por

    suas aulas. Sua pobreza era prova de que no era um

    sofista.

    http://pt.wikipedia.org/wiki/F%C3%A9donhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Xenofontehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Mai%C3%AAuticahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Sofista

  • 99

    Vrias fontes, inclusive os dilogos de Plato, mencionam

    que Scrates tinha servido ao exrcito em vrias batalhas.

    Na Apologia, Scrates compara seu perodo no servio

    militar a seus problemas no tribunal, e diz que qualquer

    pessoa no jri que imagine que ele deveria se retirar da

    filosofia deveria tambm imaginar que os soldados

    devessem bater em retirada quando era provvel que

    pudessem morrer em uma batalha.

    Algumas curiosidades: Scrates costumava caminhar

    descalo e no tinha o hbito de tomar banho. Em certas

    ocasies, parava o que quer que estivesse fazendo, ficando

    imvel por horas, meditando sobre algum problema. Certa

    vez o fez descalo sobre a neve, segundo os escritos de

    Plato, o que demonstra o carter lendrio da figura

    Socrtica. Cludio Eliano lista Scrates como um dos

    grandes homens que gostavam de brincar com crianas:

    uma vez, Alcibades surpreendeu Scrates brincando com

    seu filho Lamprocles.

    O mtodo socrtico consiste em uma tcnica de

    investigao filosfica feita em dilogo que consiste em o

    professor conduzir o aluno a um processo de reflexo e

    descoberta dos prprios valores. Para isso ele faz uso de

    perguntas simples e quase ingnuas que tm por objetivo,

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Plat%C3%A3ohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Cl%C3%A1udio_Elianohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Alcib%C3%ADades

  • 100

    em primeiro lugar, revelar as contradies presentes na

    atual forma de pensar do aluno, normalmente baseadas em

    valores e preconceitos da sociedade, e auxili-lo assim a

    redefinir tais valores, aprendendendo a pensar por si

    mesmo.

    Tal tcnica deve seu nome "socrtico" a Scrates, o

    filsofo grego do sculo V a.C., que teria sido o primeiro a

    utiliz-la. O filsofo no deixou nenhuma obra escrita, mas

    seus dilogos nos foram transmitidos por seu discpulo

    Plato. Nesses textos Scrates, utilizando um discurso

    caracterizado pela maiutica (levar ou induzir uma pessoa,

    por ela prpria, ou seja, por seu prprio raciocnio, ao

    conhecimento ou soluo de sua dvida) e pela ironia,

    levava o seu interlocutor a entrar em contradio,

    tentando depois lev-lo a chegar concluso de que o seu

    conhecimento limitado. No entanto, Aspasia referida

    por Scrates como uma das mais importan