1 reflexÕes de montaigne para a vida diÁria de montaigne para a vida... · 2016-01-22 ·...
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REFLEXES DE
MONTAIGNE
PARA A VIDA
DIRIA
LIVRO I
Luiz Guilherme Marques
2.011
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No sei se me engano, mas posto que por favor especial da
bondade divina uma orao nos foi prescrita e ditada palavra
por palavra pela boca de Deus, sempre me pareceu que a ela
devamos recorrer mais do que o fazemos. Se minha opinio
pesasse no assunto, ns a diramos no incio e no fim das
refeies, ao deitar e ao levantar. Em todos os momentos em
que costume rezar, gostaramos que fosse o Padre Nosso a
orao de todos os cristos. Pode a Igreja aumentar o nmero
de oraes e modific-las segundo nossas necessidades e os
fins que ela visa, e bem sei que o esprito e o fundo so
sempre os mesmos, essa a orao por excelncia e ela diz
incontestavelmente tudo o que h para se dizer, convm a
todas as circunstncias em que nos podemos encontrar e
portanto justificaria o privilgio de a ter sempre nos lbios o
povo. a nica orao de que me valho sempre e sempre a
repito em vez de variar, porquanto nenhuma tanto se gravou
em minha memria.
(Michel de Montaigne)
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DEDICATRIA
- a Jaqueline Mara de Almeida Marques e Tereza Cristina de
Almeida Marques
- a Maria Geny Barbosa
- a Marisa Machado Alves dos Santos
- a Dilma Roussef
- a Ftima Nancy Andrighi
- a Reynaldo Ximenes Carneiro
- a Mitzi da Silva Marques
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NDICE
Introduo
Notas
Concluso
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INTRODUO
O presente livro representa uma coletnea aleatria de
citaes extradas do Livro I dos Ensaios, de Michel de
Montaigne [1], que comentamos, procurando esclarecer aos
Leitores atuais a ideologia desse grande filsofo e humanista,
calcada, sobretudo, nos pensamentos socrtico e cristo, mas
sempre atual, apesar de ter vivido h mais de quatro sculos atrs.
Os extratos (aos quais acrescentamos um ttulo para
identificao) obedecem sequncia da obra segundo a edio de
1961 da Biblioteca dos Sculos, da Editora Globo, na traduo
competente de Srgio Milliet, ao final dos quais mencionamos as
respectivas pginas.
No entendemos conveniente mudar a sequncia,
considerando que o filsofo deve ter tido suas razes para adot-
la, tal qual os produtores de cds musicais programam a sequncia
das msicas numa lgica que, quase sempre, torna mais agradvel
o conjunto aos ouvidos do pblico.
Montaigne foi filsofo, jurista, amante da Cincia e da
Poesia, e dotado de uma religiosidade prtica e sensibilidade
esttica notveis. No teria sido casual a sucesso dos temas...
Nosso trabalho se destina a quem procura bons referenciais
para ua melhor qualidade de vida, sendo esse o objetivo que
detectamos na obra montaigniana: ajudar as pessoas a viverem
bem.
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No pretende este estudo ser um panegrico do grande
humanista, mas sim aproveitar suas reflexes para melhorarmos
nossa compreenso sobre a grande finalidade do ser humano, que
aperfeioar-se e melhorar o mundo.
O prprio Montaigne reconhece que a fonte da Inspirao
Superior o visitava frequentemente, rendendo-se a ela como um
homem de f que era e bem intencionado nas coisas que fazia,
dizia e escrevia.
Montaigne entendia a Filosofia como a cincia de viver
bem.
nessa linha que seguiremos, procurando indicar aos
prezados Leitores algumas trilhas que ele abre para os viandantes
da vida.
Nossa poca, tumultuada e aparentemente avessa reflexo
filosfica, prioriza os deuses Dinheiro, o Poder e os Objetivos
Puramente Materiais.
Todavia, muitas pessoas clamam por socorro s suas
angstias e decepes, vrias se socorrendo das drogas lcitas ou
ilcitas, do lazer atordoante e do consumismo, como formas de
suportar o ato de simplesmente continuar vivendo. A essas todas
dedicamos esta obra, que pretende ajud-las.
Tambm pretendemos corrigir um equvoco propalado por
alguns estudiosos, que lhe divulgam o nome do grande filsofo
como ligado ao ceticismo rido e descrente das Coisas Divinas,
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quando, na verdade, pretendeu sempre colocar a F Religiosa em
lugar de destaque. Por isso, realamos, logo no incio, sua afeio
especial ao Pai Nosso e o lugar que essa orao teve na sua vida
diria.
Posteriormente, iremos realizar um trabalho idntico com
relao aos Livros II e III dos Ensaios.
Agradecemos a Deus a oportunidade de realizar este
trabalho e desejamos que sua leitura seja til s pessoas que
necessitam de Esperana e Incentivo.
O Autor
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A HUMILDADE
Sou eu mesmo a matria deste livro, o que ser talvez
razo suficiente para que no empregues teus lazeres em
assunto to ftil e de to mnima importncia. (p. 97)
Apesar de Montaigne afirmar ser ele prprio objeto da sua
observao, avanou muito alm dessas fronteiras e procurou
analisar tudo que lhe pareceu importante para sua vida e a das
pessoas em geral.
A humildade, tpica de quem realmente dotado de uma
viso holstica do mundo e do Conhecimento, o caracterizava,
reservando-se sempre um posicionamento de quem opina e
nunca d a ltima palavra sobre os temas que aborda.
Em inmeros momentos da obra afirma sua insignificncia
como ser humano, coisa que desagrada aos arrogantes, mas
realmente sempre faz questo de dizer-se pequenino. Todavia,
no de se estranhar essa atitude em um socrtico como ele,
imitando seu mestre, que afirmava: S sei que nada sei, alm
de um cristo, que via em Jesus Cristo o Modelo Mximo da
humildade.
Realmente, no comum encontrar-se nos livros dos
filsofos tanta afirmao de humildade. Na verdade, costuma-se
no encontrar nenhuma, sendo essa uma das caractersticas que
diferencia Montaigne da maioria dos demais filsofos.
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Trata-se de um exemplo a ser seguido, pois a humildade
base para outras tantas virtudes, vindo geralmente acompanhada
da generosidade, da pacincia, da tolerncia etc.
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IMUNIDADE TRISTEZA
(Da tristeza) Sou dos que menos sentem essa disposio
de esprito; no a precio nem a valorizo, embora de um
modo geral, e preconceituosamente, os homens a respeitem
e estimem. (p. 102)
A tristeza sintoma de baixa autoestima, defeito que no
caracteriza as pessoas voltadas para a Fraternidade, esta que o
fator dinamizador da vida.
Quem se acha imbudo desse ideal superior no tem espao
interior para o desnimo, a descrena, o pessimismo e outros
vcios morais decorrentes do vazio interior.
Quando ocorrem determinados fatos desagradveis,
natural a tristeza nos abalar por alguns momentos, pois ningum
vai ficar sorrindo nas situaes desconfortveis.
Todavia, o inconveniente as pessoas se deixarem dominar
por esse sentimento mais do que o tempo suficiente para analisar
a situao dramtica e super-la.
H quem cultive a tristeza como se pretendesse ser
acalentado pelos outros, por insuficincia de fora interior para
conviver de igual para igual com as pessoas.
A tristeza sem motivo representa sintoma de doena
psicolgica, que deve ser tratada com ajuda de psicoterapeutas
para no se transformar em doena mental crnica.
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O AUTOCONHECIMENTO
Faze aquilo para que s feito e conhece-te a ti mesmo,
eis um grande preceito amide citado em Plato. (p. 105)
J se dizia antigamente que prefervel ser um bom
sapateiro que um mau poeta.
Quanta gente se ilude com seu potencial pessoal e pretende
alcanar as estrelas sem ter base para chegar ao galho mais baixo
de uma rvore.
Nossos limites so visveis a ns mesmos se no tivermos a
arrogncia como paradigma.
Isso no significa subestimar-se, mas sim enxergar-nos com
clareza no espelho da autoanlise, da auto-observao, sem
distrorses para mais ou para menos, e investirmos naquilo que
nossa real vocao.
Conhecer-se a si mesmo representa analisar-se em
profundidade, sem exagerar defeitos nem virtudes e trabalhar para
melhorar-se o quanto possvel.
Essa ltima lio vem dos tempos socrticos e at hoje ainda
no foi suficientemente valorizada por grande parte das pessoas,
que, ao invs disso, procuram aparentar aos olhos alheios, ao
invs de realmente adquirir as virtudes e qualidades que
pretendem ter.
O autoconhecimento uma das realizaes mais importantes
do ser humano: da decorre seu aperfeioamento intelecto-moral.
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Feliz de quem sabe investir nesse tpico em exerccio dirio.
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A MORTE COMO FONTE DE TRANSFORMAO
Tudo nos leva a crer que a morte no o fim ltimo. A
prpria natureza nos fornece exemplos de misteriosas
relaes entre o que no mais existe e o que vive ainda.
(p. 111)
A morte ainda tratada como acontecimento temvel,
principalmente porque as religies tradicionais assim tm
procurado inculcsar na mente das pessoas.
Montaigne no avanou muito no esclarecimento desse
tema, mas instigou as pessoas a estudarem melhor o assunto.
Para quem acredita que existe vida aps o decesso fsico fica
a certeza de que a transio no o fim, mas apenas o incio de
uma nova realidade, cabendo aqui um comentrio sobre a crena
na reencarnao, segundo a qual se alternam periodicamente as
vivncias no mundo espiritual e no mundo material, visando a
evoluo infinita dos seres, rumo a Deus.
Para aqueles que acham que no h vida depois da morte
fica a ideia de que o enfraquecimento do corpo chega a um ponto
tal que no se sustenta mais a vida fsica por uma decorrncia
fatal da Lei da Natureza.
O objetivo deste estudo no convencer os Prezados
Leitores da sobrevivncia da alma, mas sim procurar ajud-los a
viver bem enquanto esto neste mundo material, o que j
representa uma grande coisa.
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Quanto a Montaigne, acreditava na vida aps a morte, coisa
em que tambm este comentarista tem como certa, sendo, por
isso, a morte encarada como mera transio no-dolorosa entre
duas realidades.
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UM CORAO GENEROSO
Quanto a mim, confio facilmente nos outros, mas no
confiaria se viessem a supor tratar-se de um ato de
fraqueza ou covardia e no por ser eu franco e acreditar
na lealdade de meu adversrio. (p. 116)
No acreditar em tudo que os outros afirmam medida de
bom senso, mas, por outro lado, enxergar em todas as atitudes
alheias a m-fe e o dolo transformar a vida num verdadeiro
inferno, onde se vem inimigos por toda parte.
Os mestres indianos aconselham a enxergar em cada criatura
ua manifestao de Deus. Realmente, salvo motivo justo, no se
deve ver nas pessoas inimigos, que nos espreitem para nos fazer
mal.
A Vida nos devolve em paz ou inquietao o que damos a
ela em paz ou inquietao: assim mesmo em relao maioria
das pessoas.
No que se consagre a ingenuidade e a entrega da nossa
intimidade a estranhos, mas a justa medida entre a confiana
irrestrita e a desconfiana contumaz.
Saber viver um aprendizado constante, onde vamos
aumentando o nmero de amigos medida que trabalhamos pelo
bem comum, sem precipitao nem cautela doentia.
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FAZER O MELHOR ENQUANTO TEMPO
Na medida de minhas foras, procurarei evitar de nada
dizer aps a morte que no haja dito em vida, e
abertamente. (p. 119)
Tudo que se entende dever falar ou fazer deve s-lo para
produzir efeito enquanto h utilidade. Aguardar o futuro para
iniciar alguma obra til representa correr o risco de ficar tudo s
na inteno.
A transparncia deve ser valorizada, sempre informada
pela inteno de ajudar e nunca com o fito de agredir ou denegrir
pessoas ou instituies.
O vcio de aguardar-se o futuro para comear alguma
realizao til uma das piores opes de vida. Diz o ditado:
Nunca deixe para amanh o que pode ser feito hoje. Trata-se de
ua medida muito sbia.
Dizem os sbios indianos que o importante o aqui e
agora, significando que o momento presente o importante e o
local onde estamos deve ser o palco da nossa atuao. Adiar
realizaes ou program-las demais para o futuro fazem com que
o futuro chegue vazio.
Jesus Cristo dizia do po nosso de cada dia, no
mencionando o po do dia seguinte. Talbm dizia que a cada
dia basta o seu cuidado.
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O presente deve ser vivido com densidade, que o futuro
representar o que fizermos do presente.
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A F NA AMIZADE
Prezo a amizade acima de tudo. (p. 120)
H quem diga que os amigos so muito poucos, havendo,
em seu lugar, muita hipocrisia e esprito interesseiro.
Todavia, se que h poucos amigos do peito, os h muitos
amigos, dependendo, claro, da boa-vontade e simpatia com que
so tratados.
A melhor frmula para se conquistar amizades estar o
mais possvel aberto convivncia sem maiores formalidades.
Voltaire dizia que: Um amigo vale mais que cem
sacerdotes. Realmente, as pessoas valem no meio social pelo
nmero de bons amigos que conquistaram.
H situaes em que um amigo consegue mais em nosso
favor do que se tivermos muito dinheiro ou poder.
Aristteles afirmava que: Para haver amizade necessrio
que as pessoas estejam no mesmo nvel intelecto-moral e social,
mas essa afirmativa no corresponde realidade, pois o que vale
o grau de dedicao existente entre eles.
Algum j disse que: O melhor na amizade no poder
contar com o amigo, mas saber que se pode contar com ele.
Na Roma Antiga dizia-se: Quando conquistares novos
amigos no te esqueas dos antigos.
A amizade um dos sentimentos mais nobres no ser
humano e preenche-nos a vida de felicidade.
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A CAPACIDADE DE RESUMIR
... a conciso do meu falar... (p. 121)
A conciso no falar deve ser entendida como a capacidade
de escrever de forma resumida, apesar de clara. Falar pouco
mau sinal, que geralmente entendido como desinteresse pelas
pessoas.
Saber escrever resumidade, mas com clareza, uma das
maiores virtudes do escritor.
A prolixidade cansa quem l.
Hoje em dia no h mais espao para os textos longos
demais.
As pessoas querem obter o mximo de informaes em
textos curtos.
A simplicidade das palavras tambm importante, pois o
objetivo dos textos escritos ser compreendido pelos leitores.
A linguagem da Informtica veio contribuir para a conciso
atravs dos smbolos, que substituem palavras e frases.
O saudosismo uma das piores coisas na arte da
comunicao.
Monteiro Lobato propunha que se escrevesse como se fala,
o que, de uma forma diferente, se vem fazendo, com a
simplificao das regras gramaticais e da ortografia.
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Dever chegar uma poca em que se utilizem poucos
smbolos para se expresso muitas ideiais.
A conciso uma virtude, que, as novas geraes vm
ajudando a melhorar, apesar da estranheza que causam aos
velhos.
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O HBITO DA VERDADE
Mentir um vcio odioso. (p. 122)
A mentira demonstra desconfiana em si mesmo e nas
outras pessoas, sintoma de baixa autoestima, que deve ser tratada,
de preferncia com auxlio de profissionais da Psicologia.
No representa mero vcio fcil de ser superado, mas
sintoma, mitas vezes, de medos recalcados, insegurana, traumas
etc.
Francisco Cndido Xavier dizia: Nunca joguei a verdade na
cara das pessoas, significando que no agredia as pessoas com as
verdades cocantes.
Ser amigo da verdade no significa enxovalhar a dignidade
alheia com afirmaes ofensivas, mas sim procurar sempre pautar
sua prpria conduta pela coerncia com os princpios tico-
morais.
Quanto a pretender fazer o papel de censor da vida alheia
trata-se de um defeito moral grave, resultado da arrogncia ou
algum outro desvio psicolgico, que deve ser tratado e nunca tido
como virtude.
As afirmaes de Montaigne refletem sua preocupao com
seu autoaperfeioamento e no alguma inteno de interferir na
vida alheia.
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CONFIANA NA INSPIRAO
O acaso meu senhor: a oportunidade, a companhia, o
prprio fogo das minhas palavras atuam sobre meu
esprito que produz ento muito mais do que quando com
ele me isolo, o consulto e o obrigo a trabalhar. Da
valerem mais minhas palavras do que meus escritos... (p.
126)
Escrever trabalhos acadmicos exige disciplina e vontade
firme de levar um estudo at o final. Todavia, nem sempre
representam grande contribuio ao Conhecimento.
O acaso aqui pode ser interpretado como a Inspirao,
fonte de grandes obras, tanto na Filosofia, quanto na Cincia, na
Arte e na Religio: quem se dedica a qualquer dessas reas
entende o significado da Inspirao.
Alguns a atribuem a Deus, outros a seres espirituais e assim
por diante, mas que ela palpvel o mesmo.
Montaigne deixava que suas ideias flussem ao acaso, mas,
como estava sempre voltado para a autoanlise sincera, sem
nenhuma inteno de ludibriar a prpria conscincia, a fonte da
Inspirao o inundava de pensamentos saudveis, que ele
transcrevia para o papel e lhe serviam de temas de refexo para
seu autoaprimoramento.
A boa-f o melhor condutor da Inspirao Superior,
enquanto que a malcia, o egosmo e a falsidade entopem o
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canal que nos liga Divindade, impedindo que ideias superiores
nos cheguem mente.
Alguns conseguem estar sempre inspirados, enquanto outros
lutam com as ideias, que lhe embaralham a mente mal
intencionada.
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COMO SE PROCESSA A INSPIRAO
O demnio familiar de Scrates [2] consistia
provavelmente em certas inspiraes que se apresentavam
a ele sem passar pela razo. Em alma to pura quanto
sua, feita por inteiro de sabedoria e virtude, de crer-se
que, embora ousadas e admissveis, tais inspiraes eram
sempre importantes e dignas de se ouvirem. No h quem
no sinta em si mesmo por vezes semelhante obsesso de
uma ideia brusca, veemente e fortuita. Cabe a cada um de
ns dar-lhe ou no certa consistncia, a respeito do que
manda a prudncia qual fazemos ouvidos moucos, tive-as
eu prprio, carecedoras de razo mas violentamente
persuasivas, ou ao contrrio (como era o caso de
Scrates), e a elas me abandonei com tamanha felicidade
que quase poderia atribuir-lhes uma origem divina. (p.
129)
Ainda a Inspirao, que Montaigne confirma,
principalmente no final da sua citao...
Quanto a Scrates, afirmava que seres espirituais
conversavam com ele e lhe transmitiam grandes ensinamentos.
Alis, assim fizeram muitos outros grandes homens e mulheres,
inclusive religiosos das mais variadas correntes, dentre os quais
catlicos, categorizados como santos e santas.
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Scrates nunca teve receio de afirmar qualquer fato em que
acreditasse, inclusive esse do seu contato permanente com seus
orientadores que habitavam o mundo dos espritos.
Montaigne, parece, no quis arrostar as iras da Igreja
Catlica, o que aconteceria caso aderisse explicitamente tese
da comunicabilidade entre vivos e mortos, principalmente pelo
fato da disputa violenta que estava acontecendo entre catlicos e
protestantes, tudo sob os olhos atentos e cruis do Tribunal do
Santo Ofcio, que j tinha mandado para a fogueira centenas de
livres-pensadores que ousaram contraditar seus dogmas.
O importante, nesta passagem de Montaigne, sua
afirmao na crena da origem superior, divina, de suas
inspiraes, pois que era um homem de boa-f e boa ndole,
voltado para o Bem.
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A OPO PELA SIMPLICIDADE
Libertando-me, quanto a mim, o mais possvel de
quaisquer atitudes cerimoniosas... (p. 131)
A mentalidade cerimoniosa um dos maiores empecilhos
para a aquisio e manuteno da amizade, alm de representar
uma complicao em qualquer rea em que se apresente.
As pessoas realmente superiores so avessas mentalidade
cerimoniosa. Os pedantes que a valorizam...
Mesmo sendo nobre de nascimento, procurava desvencilhar-
se da arrogncia da maioria dos da sua classe social.
A vida desvestida dessas frioleiras passa a fluir de forma
muito mais agradvel, porque as pessoas so essencialmente
iguais, premidas pelas mesmas necessidades bsicas, no havendo
razo para distanciamentos nem ideia de falsa superioridade.
A forma direta e simples de convivncia entre as pessoas
traduz maturidade e esprito democrtico.
Alis, os modelos que Montagne adotava: Jesus Cristo e
Scrates, nunca foram a favor de qualquer cerimnia que fosse.
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A SUPERIORIDADE DA ALMA SOBRE O CORPO
O que faz com que to impacientemente suportemos a dor
que no estamos habituados a procurar em nossa alma
nossa principal satisfao; no contamos suficientemente
com ela, que a nica e soberana senhora de nossa
condio neste mundo. [...] a alma, sob formas diversas e
variadas e segundo o estado em que se acha, submete a si
sensaes do corpo e outros acidentes. Da a necessidade
de estud-la, e acordar nela seus meios de ao que so
todo-poderosos. [...] A alma tira partido de tudo
indiferentemente: erro e sonho servem-lhe tanto quanto a
realidade, para nos proteger e satisfazer. fcil verificar
que nosso estado de esprito que excita em ns a dor e a
volpia... (p. 139)
Aqui esto muitos ensinamentos em poucas linhas, que
poderiam ser desdobrados em verdadeiros tratados, mas, como
so evidentes por si mesmos, sua leitura e releitura podem
esclarecer sem gerar nenhuma dvida.
Todavia, vamos fazer alguns comentrios mnimos.
Na verdade, somos uma alma habitando um corpo. Nossa
essncia espiritual. Controlamos o corpo com mais firmeza ou
fraqueza de acordo com nossa elevao espiritual.
Sabe-se de faquires indianos que suportam dores intensas e
situaes extremas de desconforto fsico com base no seu domnio
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sobre o corpo. Esses so casos raros para nossa mentalidade
ocidental, voltada demais para a valorizao do corpo em
detrimento da alma.
Todavia, mesmo sendo ocidentais, portanto despreparados
para esse tipo de esforo, no devemos inverter a ordem dos
valores, entendendo que o corpo valha mais que o esprito.
O corpo deve ser cuidado com os recursos mdicos e
teraputicos em geral, mas no considerado como nossa realidade
mais importante.
Montaigne aconselhava a estudarmos a ns mesmos mais
pelo que somos (espritos) do que corpo.
Assim fazendo, estaremos realizando o autoconhecimento
socrtico.
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A HONESTIDADE NOS NEGCIOS
Sinto naturalmente algum prazer em pagar o que devo,
como se me desfizesse de um fardo incmodo, imagem da
servido. Por outro lado, satisfaz-me fazer algo justo e que
contente a outros. (p. 144)
No todo mundo que sente satisfao em pagar o que
deve, sendo menor ainda o nmero dos que pensam em contentar
os outros, de verdade.
A honestidade uma virtude que comporta algumas
consideraes.
A inteno de lucrar acima do razovel pode viver
disfarada de mil maneiras, dentre as quais a demora em quitar
alguma dvida.
Montaigne se preocupava no s em desvencilhar-se da
cobrana consciencial, que o obrigava a pagar logo o que devia,
como tambm queria poder fazer felizes as pessoas, o que
realizava de variadas formas.
Importante na nossa vida contribuir para a felicidade
alheia.
Mesmo que as pessoas no se dem conta de que nossa
contribuio as ajudou, ou sequer se preocupem em agradecer-nos
os favores, a felicidade habitar intensamente em ns.
Quem faz o Bem o mais beneficiado.
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A FINALIDADE CONSTRUTIVA DE CADA COISA
Todas as coisas dependem da maneira por que so
encaradas: o estudo motivo de tormento para o
preguioso; o beberro sofre sem o vinho; a frugalidade
um suplcio para o comilo; o exerccio uma tortura para
o delicado ocioso, etc. As coisas no so nem dolorosas
nem difceis em si. Para julgar de sua elevao e grandeza
necessrio uma alma com essas qualidades, sem o que
lhes atribuiramos nossos prprios defeitos. (p. 148)
Cada um enxerga as pessoas e os fatos de acordo com suas
prprias lentes. O que para uns parece bom e agradvel, para
outros pode ser tido como nocivo e insuportvel.
Julgar as pessoas uma das mais ingratas tarefas e que
devemos evitar, sob pena de condenarmos todos que pensam
diferente de ns e absolvermos nossos iguais, gerando injustias.
Somente quem alcanou muito Amor consegue enxergar
holisticamente e, coisa interessante, esses no julgam e, muito
menos, condenam...
Cada pessoa tem um nvel de compreenso, visa
determinados objetivos, pensa da forma que sua capacidade
permite, mas todas contribuem, de alguma forma, mesmo sem o
saberem, para a melhoria do connunto.
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Algumas procuram fazer o mal, mas, mesmo assim, servem
de alerta para outras e terminam por ser teis, como o veneno em
doses corretas importante como remdio.
difcil entender tanta diferena entre as pessoas, mas Deus
sabe a finalidade de cada situao e faz tudo convergir para o
Progresso.
Nossa capacidade de compreenso limitada, mas a Mente
Divina a tudo abarca e trabalha para o Progresso Geral.
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NUNCA SE DESGOVERNAR PELO MEDO
O medo a coisa de que mais medo tenho no mundo. Ele
ultrapassa, pelos incidentes agudos que provoca, qualquer
outra espcie de acidente. (p. 155)
O medo retrata nosso estado de desconhecimento de alguma
coisa. Quem tem medo insciente, despreparado,
desconhecedor.
H quem tenha medo de muita coisa que no deveria
inspirar medo. Pode representar um problema psicolgico, que
deve ser tratado com a ajuda de psicoterapeutas.
natural que se tenha medo de situaes perigosas, mas a
emoo deve passar pelo crivo da razo, sob pena de viver-se
intimidado por quimeras e situaes de gravidade mnima.
importante que se eduquem as crianas em contato com a
realidade, para que se habituem a enfrentar com a naturalidade
possvel as situaes de risco que ocorrero, certamente.
Muitas vezes vem-se adultos despreparados para enfrentar
os riscos normais da vida, porque seus pais os superprotegeram
durante a infncia.
A vida apresenta situaes imprevisveis, mas devemos estar
preparados para todas elas, inclusive para a mais temida delas,
que a morte, uma vez que todos estamos sujeitos a ela.
Morrer no deve ser objeto de pavor, mas sim da certeza de
que passaremos por esse estado, que nos levar desta realidade
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material para outra, onde continuaremos vivos, sob outras leis e
referenciais. Afinal, aqui tambm se aplica a afirmativa de
Lavoisier: Na Natureza nada se perde, nada se cria, tudo se
transforma.
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APRENDER A VIVER BEM
A vida em si no um bem nem um mal. Torna-se bem ou
mal segundo o que dela fazeis. (p. 168)
Cada um vive conforme seus prprios valores. Na verdade, a
maioria simplesmente, sem o saber, repete os padres familiares,
avanando muito pouco em termos de melhoria de paradigmas.
Simplesmente repetir vcios familiares no faz ningum
caminhar no rumo da Felicidade.
importante estarmos sempre repensando nossos modelos e
abandonando aqueles que no condizem com o Melhor.
Por isso o autoconhecimento importante, uma vez que nos
faz sempre verificar se estamos andando em crculos ou
estamos realmente nos tornando pessoas melhores no sentido
intelecto-moral.
Jesus Cristo disse: Onde o homem tiver seu tesouro a
estar o seu corao. Nossos objetivos so o retrato da nossa
individualidade: quem pretende o dinheiro pelo dinheiro
usurrio; quem procura o poder pelo poder ambicioso; quem
pretende o gozo sem limites desregrado; mas quem sabe dosar
todas as tendncias em benefcio prprio e da coletividade
aprendeu a cincia de bem viver.
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VIVER PLENAMENTE
Qualquer que seja a durao de vossa vida, ela
completa. Sua utilidade no reside na durao e sim no
emprego que lhe dais. H quem viveu muito e no viveu.
Meditai sobre isso enquanto o podeis fazer, pois depende
de vs, e no do nmero de anos, terdes vivido bastante.
(p. 169)
O contedo da vida depende de como vivemos cada minuto
da existncia.
A vida simplesmente empurrada com a barriga uma das
piores opes que podemos adotar.
A utilidade deve ser medida na diviso exata entre nossos
interesses e os da coletividade, ou seja, se nosso progresso
beneficia o meio onde vivemos, todos nossos muitos ou poucos
anos de vida representaro tudo, o mximo.
Algum j falou que melhor viver plenamente a viver
longamente, sendo o caso mais tpico o do prprio Jesus Cristo,
que no precisou mais do que 33 anos para traar um novo
paradigma para a humanidade.
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A FORA DO PENSAMENTO
Uma imaginao fortemente preocupada com um
acontecimento pode provoc-lo, dizem os clrigos. (p.
171)
O pensamento a mais importante fora do Universo. As
pessoas que tm desenvolvida essa potncia adquirem condies
excepcionais de melhorar sua qualidade de vida e influenciar
positivamente o meio onde vivem.
No entanto, para quem adverso a este assunto no adianta
relacionarem-se experincias cientficas, testemunhos e
confirmaes, que o resultado ser pura perda de tempo.
Na Rssia e nos Estados Unidos utilizam-se algumas
pessoas dotadas de poderes paranormais com finalidades militares
e policiais. Aos interessados em conhecer melhor tais informes
basta procurar a literatura especializada.
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AUTOANLISE SINCERA
...quem se analise a si mesmo, ver no fundo do corao
que a maioria de seus desejos s nascem e se alimentam
em detrimento de outrem. (p. 180)
Apesar de tentarmos esconder nossas pequenas e grandes
maldades, a verdade que agrada-nos saborear a desgraa
alheia...
A ideia de competio reminiscncia atvica do instinto
animal, retrato do atraso tico-moral que ainda nos caracteriza.
Esforar-se por superar esse atavismo representa uma luta
importante portas a dentro da nossa prpria conscincia.
Feliz de quem compete apenas consigo prprio, trabalhando
por ser hoje melhor do que foi ontem e amanh melhor do que
hoje.
Quem compete com os outros se esquece frequentemente de
melhorar a si prprio.
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38
O ENSINO DAS VIRTUDES S CRIANAS
preciso ensinar cuidadosamente as crianas a odiar os
vcios para os quais mostram inclinao; preciso realar
a seus olhos a fealdade natural do ato, no somente a fim
de que no o pratiquem mas tambm que os aborream do
fundo do corao; em suma, para que a simples ideia lhes
cause horror, qualquer que seja a sua feio. (p. 182)
H pais e mes que, mesmo indiretamente, incentivam os
piores defeitos morais nos seus filhos. Alguns so
desencaminhados com discursos diretos e outros com seus maus
exemplos.
No futuro, os prprios pais e mes costumam ser vtimas dos
defeitos que incentivaram nos filhos.
A melhor e mais convincente forma de ensinar as virtudes
pelo exemplo.
Os defeitos morais podem ser englobados em trs: orgulho,
egosmo e vaidade, sendo o primeiro o amor-prprio levado a
extremos, o segundo a incapacidade de renunciar em favor dos
outros e o terceiro o desejo de estar sempre em evidncia.
As crianas tendem a ser egostas, devendo-se
gradativamente esclarec-las para que, na fase adulta, no
transformem em pessoas imaturas e egocntricas, incapazes de
enxergar os outros e a coletividade. Infelizmente, h muitos
casos desse tipo, fruto de defeituosa educao na infncia.
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39
HONESTIDADE ESPONTNEA
Sinto-me sempre e espontaneamente impelido a hostilizar
a trapaa por mais insignificante que seja o passatempo a
que me dedique. (p. 183)
Trapacear significa exercitar a astcia, forma equivalente,
em primitivismo, violncia.
Os animais so dotados, geralmente, de violncia e astcia,
que utilizam quando necessrio.
Ns, humanos, no devemos imitar os irmos dos reinos
inferiores da Natureza.
A lealdade a face oposta da astcia, representando uma das
mais importantes virtudes, apangio dos homens e mulheres
superiores.
Diz um ditado que: Pelo dedo se conhece o gigante. Por
algumas atitudes aparentemente insignificantes pode-se avaliar a
ndole das pessoas. O trapaceiro e o desonesto costumam usar de
expedientes escusos at nas brincadeiras mais inocentes.
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40
TER CONVICES PRPRIAS MAS NO
GUERREAR A SOCIEDADE
O sbio precisa concentrar-se e deixar a seu esprito toda
liberdade e faculdade de julgar as coisas com serenidade,
mas quanto ao aspecto exterior delas cabe-lhe conformar-
se sem discrepncia com as maneiras geralmente aceitas.
(p. 191)
O fato de verificarmos na vida social certos costumes e
hbitos um tanto tolos no deve nos levar ao confronto direto com
eles, se no so prejudiciais. Caso contrrio, estaremos em
conflito permanente com as regras sociais, o que lamentvel.
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41
ESPRITO PBLICO
A opinio pblica nada tem a ver com o nosso pensamento,
mas o resto, nossas aes, nosso trabalho, nossas fortunas,
e nossa prpria vida, cumpre-nos coloc-lo a servio da
coletividade e submet-lo sua aprovao. (p. 191)
Montaigne defendia a ideia de que as pessoas devem ter
esprito pblico quando dizia que se devem colocar a servio da
coletividade nossas aes, nosso trabalho, nossas fortunas, e
nossa prpria vida.
Esse ideal funcionou como germinador da
Fraternidade, que, no sculo XIX, iria se somar aos da Liberdade
e Igualdade da Revoluo Francesa.
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42
A INSTRUO SEM BOM-SENSO E SEM VIRTUDES
Em verdade, os cuidados e despesas de nossos pais visam
apenas encher-nos a cabea de cincia; de bom-senso e
virtude no se fala. (p. 205)
Infelizmente, ainda hoje prevalece essa mentalidade dos
pais, muito mais preocupados em dotar seus filhos de um diploma
universitrio, na maioria dos casos, e, se possvel, de uma herana
vultosa, do que prepar-los como homens e mulheres de bem, ou
sejam, pessoas que vo desempenhar um papel conscientemente
til na sociedade, trabalhando para o progresso das pessoas e das
instituies.
Essa viso mercantilista e egocntrica causadora de todos
os males sociais, pois as pessoas em geral no so ensinadas, no
lar, a ser cidads no sentido melhor da palavra.
Montaigne preconizava a importncia do bom-senso e das
virtudes sobre a mera instruo, o que representa uma verdade
inquestionvel, pois h muita gente instruda sem um mnimo de
senso e quase nenhuma virtude.
A sociedade patrimonialista cria verdadeiros monstrengos
humanos, que sugam o sangue do povo e no enxergam a no ser
o prprio umbigo.
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43
A MEMORIZAO SEM RACIOCNIO
Cuidamos das opinies e do saber alheios e pronto;
preciso torn-los nossos. [...] Que adianta ter a barriga
cheia de comida se no a digerimos? Se no a
assimilamos, no nos fortalece e faz crescer! (p. 207)
As escolas, desde os primeiros anos, at formao
universitria, ainda tm como foco muito mais transmitir
informaes prontas e acabadas do que despertar nos estudantes o
esprito de pesquisa.
Normalmente, somos repositrios de dados, que muito bem
poderiam estar arquivados nos computadores e bibliotecas, ao
invs de investigadores nas reas que escolhemos.
Trata-se de um erro grave da Pedagogia reinante, apesar dos
tericos da rea pregarem diferentemente.
Os professores, normalmente mal remunerados,
desinteressam-se em dar o melhor de si, que seria ensinar
despertando a curiosidade dos alunos ao invs de repassar-lhes
dados estereotipados mas teis apenas como exerccio da
memria.
Aprender a raciocinar muito mais importante que decorar
informaes, pois na vida profissional os casos atpicos fazem
parte do dia-a-dia. Quem no sabe improvisar no tem muita
chance na vida real.
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44
A capacidade de encontrar solues deveria ser objeto do
aprendizado desde o comeo da vida escolar.
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45
UM JUIZ INSATISFEITO COM A JUSTIA
Prouvera a Deus que para o bem de nossa justia fossem
os nossos tribunais to ricos de bom-senso e de
conscincia quanto de cincia. Infelizmente, no
aprendemos a viver, mas a discutir. (p. 209)
Montaigne foi magistrado por alguns anos e acabou
renunciando ao cargo por se sentir como um peixe fora da gua
no ambiente forense.
Sua afirmativa contundente, mas, infelizmente, ainda
traduz a realidade, atualmente graas a concursos mal idealizados,
onde se prioriza o conhecimento tcnico-jurdico em detrimento
da avaliao vocacional. Os resultados so desastrosos...
Bom-senso no se aprende na escola, nem conscincia reta.
Quanto a viver bem igualmente. Discutir se aprende nas
universidades, o que leva ao agravamento de muitos problemas
jurdicos, que deveriam ser abordados com mentalidade
conciliadora.
Felizmente, inicia-se uma Era Nova no Judicirio.
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46
O APRENDIZADO PRTICO
A propsito, perguntou-se a Argesilau [3] que deviam, na
sua opinio, as crianas aprender, ao que ele respondeu: o
que tero de fazer quando crescerem. (p. 211)
O estudo sempre importante, todavia, mais do que ele, os
alunos devem ser ensinados que esto sendo preparados para o
trabalho, quando forem adultos.
Impregna-se, atualmente, a ideia subliminar na mente dos
jovens de que o trabalho um nus que se deve adiar ao mximo.
Mas quem no se prepara para a vida laborativa tende a
tornar-se um peso morto na sociedade, desajustado no meio onde
vive.
O Conhecimento deve ser sempre direcionado para a
utilidade, isso, porm, sem significar que somente a formiga
tenha valor, enquanto que a cigarra deva morrer de fome e frio.
Tanto uma quanto outra devem envidar esforos para a
melhoria da qualidade de vida de todos.
Nosso crebro como uma estante com capacidade pr-
estabelecida: se ali colocamos papis inteis, no haver espao
para os documentos realmente importantes. Tambm chega uma
fase da vida, numa idade mais avanada, em que menos se
absorve de informaes. Ento, o que ali est armazenado, seja
til ou intil, no pode ser retirado para dar lugar a outros dados.
Trata-se de escolher como usar as prateleiras...
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47
Infelizmente, as escolas e professores costumam no levar
em conta essa realidade como deveriam...
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A LEITURA DE BONS AUTORES
No me enfronhei em nenhum livro slido seno nos de
Plutarco [4] e Sneca [5] ... (p. 213)
Sempre til termos autores preferidos, que funcionam
como mestres a quem, de uma forma ou de outra, imitamos.
A guru indiana Amma afirma que devemos procurar nosso
mestre, significando com isso que o bom caminho seguirmos os
nossos Maiores, ao invs de estarmos a reinventar a roda a todo
momento.
Isso, todavia, no significa escravido mental, mas sim
termos algumas referncias importantes para a vida.
H quem leia sem selecionar realmente aqueles que detm
qualificao para falar com autoridade.
Saber escolher os bons autores uma virtude.
Montaigne tinha dois autores preferidos, no que tinha razo,
pois h quem escreva com pouca qualidade nas informaes que
repassa ou sem maiores compromissos com a tica.
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49
A EDUCAO INFANTIL
... a maior e mais importante dificuldade da cincia
humana parece residir no que concerne instruo e
educao da criana. O mesmo acontece na agricultura: o
que precede semeadura certo e fcil; e tambm plantar.
Mas depois de brotar o que se plantou, difceis e variadas
so as maneiras de trat-lo. Assim os homens: pouco custa
seme-los, mas depois de nascidos, educ-los e instru-los
tarefa complexa, trabalhosa e temvel. O que se revela de
suas tendncias to tnue e obscuro nos primeiros anos,
e as promessas to incertas e enganadoras que se faz
difcil assentar um juzo seguro. (p. 216)
Na verdade, Deus Pai e Me de cada criatura. Somos
apenas orientadores, de m ou razovel qualidade, muitas vezes
bem intencionados, mas sem nenhuma garantia de que nosso
trabalho ser bem sucedido.
O fato de fazermos o melhor j deve nos tranquilizar a
conscincia.
O futuro dos nossos filhos pertence a eles e supervisionado
por Deus.
No devemos procurar proteg-los de mais nem de menos,
pois, em ambos os casos estaremos prejudicando-lhes o
desenvolvimento. A medida justa ditada pelo Amor verdadeiro,
que no significa necessariamente concordar com eles em tudo.
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50
O dever de educar moralmente os filhos dos pais e no
devemos nos omitirmos nesse ponto, pois a educao moral
mais importante que a instruo.
Um cidado instrudo, mas moralmente descredenciado,
representa uma bomba relgio ambulante, capaz de implodir
uma coletividade inteira e a si prprio, enquanto que uma pessoa
de bem sempre um elemento til em qualquer atividade que
desempenhe, independente do seu grau de instruo.
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51
A MAIUTICA SOCRTICA
... para um rapaz que mais desejaramos honesto do que
sbio, seria til que se escolhesse um guia com cabea bem
formada mais do que exageradamente cheia e que, embora
se exigissem as duas coisas, tivesse melhores costumes e
inteligncia do que cincia. Mais ainda: que exercesse
suas funes de maneira nova. [...] ... desde logo, segundo
a inteligncia da criana, comeasse a indicar-lhe o
caminho, fazendo-lhe provar as coisas, e as escolher e
discernir por si prprio, indicado-lhe por vezes o caminho
certo ou lho permitindo escolher. No quero que fale
sozinho e sim que deixe tambm o discpulo falar por seu
turno. Scrates, e posteriormente Argelisau, obrigavam os
discpulos a falarem primeiro e somente depois falavam
eles prprios. [...] Quanto aos que, segundo o costume,
encarregados de instruir vrios espritos naturalmente
diferentes uns dos outros pela inteligncia e pelo
temperamento, a todos ministram igual lio e disciplina,
no de estranhar que dificilmente encontrem em uma
multido de crianas somente duas ou trs que tirem do
ensino o devido fruto. (p. 217)
Maria Montessori [6] foi uma das mais importantes
expresses da Pedagogia, apesar de ser mdica por formao. Ela
praticava o que Montaigne preconizou sculos antes.
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52
Aconselha-se a leitura de suas obras e o contato com sua
Pedagogia.
Muita gente trabalha no Magistrio como bico, tomando o
lugar dos verdadeiramente vocacionados, estes ltimos que
dedicam todas as suas energias para o desenvolvimento dos
alunos.
Despertar a inteligncia dos alunos um dom que somente
os verdadeiros mestres detm, caracterizados que so por um
carisma e um dom especiais.
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53
O DESENVOLVIMENTO DO RACIOCNIO DA
CRIANA
Tudo se submeter ao exame da criana e nada se lhe
enfiar na cabea por simples autoridade e crdito. [...]
Apresentem-se-lhe todos em sua diversidade e que ele
escolha se puder. E se no o puder fique na dvida, pois s
os loucos tm certeza absoluta em sua opinio. (p. 218)
Ensinar uma cincia de que poucos tm o domnio, apesar
do grande nmero de professores e pais.
Infelizmente, muitas pessoas tm filhos sem a mnima
maturidade para assumir a paternidade e a maternidade e muitos
professores escolhem a profisso sem Amor verdadeiro ao ser
humano, requisito bsico para ensinar com real proveito.
Sem Amor pouco se consegue, nessas reas e em todas as
outras.
A Pedagogia uma cincia que mereceria maior
aprofundamento.
Os professores deveriam ser melhor recrutados e melhor
remunerados.
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ORIENTAES PRTICAS AOS EDUCADORES
Saber de cor no saber: conservar o que se entregou
memria para guardar. [...] Triste cincia a cincia
puramente livresca! [...] ... a visita a pases estrangeiros...
para observar os costumes e o esprito dessas naes e
para limar e polir nosso crebro ao contato dos outros.
Gostaria que fizessem a criana viajar desde pequena e em
primeiro lugar pelos pases vizinhos cuja lngua se afasta
mais da nossa... (p. 219)
So essas algumas das muitas indicaes que Montaigne
apresenta, que colhemos quase ao acaso.
A criatividade de quem ensina deve ser quase ilimitada,
nunca se devendo simplesmente repetir modelos, por mero
comodismo.
Falhando a formao inicial, difcil recuperar-se a etapa
mal vivida.
Alis, afirma-se, com razo, que as informaes decisivas
so as primeiras, enquanto que as posteriores so meras
complementaes, muitas delas sem utilidade.
Viajar deve fazer parte da formao da criana, aprender
pelo menos um idioma estrangeiro igualmente.
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55
O VALOR DA EDUCAO FSICA
... quem quiser fazer do menino um homem no o deve
poupar na juventude nem deixar de infringir amide os
preceitos dos mdicos: que viva ao ar livre e no meio dos
perigos. No basta fortalecer-lhe a alma, preciso
tambm desenvolver-lhe os msculos. [...] preciso
acostumar o jovem fadiga e aspereza dos exerccios a
fim de que se prepare para o que comportam de penoso as
dores fsicas, a luxao, as clicas, os cautrios,... (p.
220)
Mente s em corpo so a regra.
O que se pode acrescentar que, atualmente, tambm as
meninas devem ser conduzidas s atividades esportivas e ao
trabalho braal compatvel, uma vez que a prpria Medicina
assim recomenda.
Infelizmente, ingressando na faixa dos quarenta anos,
homens e mulheres costumam afastar-se totalmente das atividades
esportivas ou braais, tornando-se velhos precocemente.
As atividades fsicas planejadas so recomendveis at o
ltimo dia de vida, com orientao de profissionais competentes.
Montaigne aprendeu com seu pai, que era um atleta
destacado, a valorizar as atividades fsicas at o final da vida.
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56
O UNIVERSALISMO
Perguntaram a Scrates de onde ele era e ele no
respondeu: de Atenas, mas: do mundo. Para ele, cuja
inteligncia mais vasta e aberta que a de outrem abarcava
o universo e dele fazia sua cidade, o objeto de sua afeio
era o gnero humano; e no agia como ns que apenas
olhamos em torno de ns. (p. 223)
Temos de aprender a enxergar em cada pessoa um filho de
Deus, olhando-a nos olhos, no como potencial inimigo, mas
como nosso igual em todos os sentidos, mesmo que nos
diferenciem a qualidade do vesturio e da moradia.
No deve haver divises entre ns e as demais pessoas.
Por pensar e agir assim e unicamente por isso Scrates
foi considerado o mais sbio do seu tempo.
Na fase atual da Civilizao irracional qualquer tipo de
discriminao.
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57
A OBSERVAO ISENTA CONDUZ HUMILDADE
A infinita diversidade de costumes, seitas, juzos e
opinies, leis ensina-nos a apreciar sadiamente os nossos,
a reconhecer suas imperfeies e fraquezas naturais, o que
j no pouco. Tantas revolues nos diferentes pases,
tantas mudanas nos destinos pblicos, induzem-nos a no
encarar como extraordinrios os nossos. Tantos nomes,
tantas vitrias e conquistas enterradas no esquecimento
tornam ridcula a esperana de eternizar o nosso nome
pela captura de dez archeiros e de uma piolheira
conhecida to somente pelos que dela se assenhorearam.
[...] Nossa vida, dizia Pitgoras, assemelha-se grande e
populosa assembleia dos jogos olmpicos. Uns se
exercitam para conquistar a glria; outros levam uma
mercadoria para vender e ganhar. Outros, e no so os
piores, nada querem seno ver o porqu e o como de cada
coisa e ser espectadores da vida dos outros para assim
julgarem e regularem a sua. (pp. 223-224)
A clareza das reflexes acima dispensa qualquer
comentrio. Aconselhamos apenas sua leitura e releitura com
calma, sem pressa, procurando saborear esse manjar dos anjos...
Todavia, podemos acrescentar que a observao atenta da
nossa prpria biografia e dos nossos heris mostra que quase
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58
todos somos esttuas de ps de barro. Orgulhar-se demais
esquecer-se de olhar-se no espelho da conscincia...
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59
A ESSNCIA DA FILOSOFIA
Mas o ofcio da filosofia serenar as tempestades da
alma e ensinar a rir da fome e da febre, no mediante um
epiciclo imaginrio qualquer, mas por meio de razes
naturais e slidas. Tem por fim a virtude, a qual no est,
como quer a Escolstica, colocada no cimo de algum
monte alcantilado, abrupto e inacessvel. Os que dela se
aproximaram afirmam-na ao contrrio, alojada em bela
plancie, frtil e florida, de onde se descortinam todas as
coisas. Pode-se ir at l em se conhecendo o local, por
caminhos ensombrados, cobertos de relva e suavemente
floridos, sem esforo e por uma subida fcil e lisa como a
da abbada celeste. Por no terem frequentado essa
virtude suprema, bela, triunfante, amorosa, to deliciosa
quanto corajosa, inimiga declarada e inconcilivel do mau
humor, do desprazer, do temor e do constrangimento, e
que tem por guia a natureza e por companheiros a
felicidade e a volpia, foi por no a frequentarem que, na
sua ignorncia a julgaram tola, triste, disputadora,
aborrecida, ameaadora e a colocaram sobre um rochedo
afastado, dentro do mato, a fim de espantar as gentes como
um fantasma. (p. 226)
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60
A arrogncia de muitos pseudofilsofos fez com que as
pessoas em geral tomassem verdadeira birra da expresso
Filosofia.
Na verdade, filosofar era natural em pessoas como
Montaigne, Francisco de Assis, Gandhi, Madre Teresa de Calcut
etc. porque amam a humanidade.
Os filsofos negativistas representam verdadeiras anomalias
nessa rea do Conhecimento que deve conduzir a Deus e
Felicidade.
H filsofos que mais parecem matemticos do que
estudiosos da cincia de viver bem, mas esses so interessantes
apenas para quem gosta de raciocinar por diletantismo e sem
cpntribuio alguma para a melhoria da qualidade de vida.
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61
A VERDADE CONVENCE PELA LGICA
Scrates, seu adepto favorito, propositadamente recusou-
se a imp-la pela fora, e passou a contar com a
simplicidade e a brandura para faz-la vencedora. (p.
227)
Ensinar exige Amor. Impor as lies pela violncia significa
despreparo de quem se prope a ser mestre.
Scrates era brando e simples e seus adeptos conseguiam
assimilar tudo que ele lhes dizia.
A simplicidade o dom dos evoludos. A brandura a
emanao dos generosos.
Complexidade e rudeza so vcios que desmerecem
respectivamente a inteligncia e a tica.
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A FILOSOFIA A CINCIA DE VIVER BEM
... a filosofia a cincia que nos ensina a viver... (p.
228)
A Filosofia a cincia de viver bem.
Dispensvel qualquer comentrio.
Quem pretender estabelecer uma polmica sobre o que seja
viver bem no entendeu o mnimo do que seja a Vida.
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63
VIVER BEM UMA ARTE
... a maior de todas as artes: a de bem viver. (p. 231)
No importa que se denomine o viver bem como arte,
cincia ou qualquer outra coisa: o importante que se procure a
qualidade de vida mais prxima do Ideal, com o mximo de
requisitos que o bom senso recomenda.
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PENSAR BEM PARA BEM EXPRIMIR-SE
Acredito, e Scrates o diz formalmente, que quem tem no
esprito uma ideia clara e precisa sempre a pode exprimir,
quer de um modo quer de outro, por mmica at, se for
mudo: no falham palavras para o que se concebe bem.
(p. 233)
A multiplicao e a facilitao das formas de comunicao
so das coisas mais significativas que se pode realizar, sendo
exemplos conhecidos a linguagem dos cones dos programas de
computador, o Esperanto, o idioma Braille e a linguagem gestual
dos surdos-mudos.
O importante que as pessoas pensem com clareza e se
expressem com objetividade.
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A MODERAO E A PRUDNCIA
Aprecio os caracteres moderados e prudentes... (p. 254)
Moderao e prudncia no se confundem com frieza e falta
de sensibilidade. O idealismo exige ponderao para produzir
resultados excelentes e todas as realizaes importantes devem
ser muito bem pensadas.
Ser moderado no ser extremista, procurando as solues
que no arrasem o que est construdo, mas o aperfeioe.
Ser prudente acautelar-se contra sua prpria
impetuosidade, que pode provocar danos irreparveis.
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66
O VALOR MORAL
O valor de um homem, e a estima que nos inspira,
medem-se pelo seu carter e fora de vontade. A valentia
no decorre do vigor fsico e sim da firmeza de nimo e da
coragem... (p. 266)
Mohandas K. Gandhi foi um dos homens de melhor carter,
grande fora de vontade, valentia, firmeza de nimo e coragem,
apesar de fisicamente desprivilegiado. Por trs dessas qualidades
todas, todavia, trazia o Amor Universal, que lhe inspirava todas as
atitudes, apoiando as reivindicaes dos seus patrcios, mas
recusando-se a odiar os ingleses.
Hoje em dia privilegia-se em excesso o aprimoramento da
musculatura nas academias de ginstica, mas pouco se tem
trabalhado no autoconhecimento, que representa uma ginstica
tico-moral, de excelentes resultados para o equilbrio
psicolgico.
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COMBATER O BOM COMBATE
A verdadeira vitria reside na maneira por que
combatemos e no no resultado final. E no consiste a
honra em vencer mas em combater. (p. 267)
Gandhi continua sendo o exemplo do combatente fiel ao seu
lema de no-violncia, nunca se permitindo revidar as violncias
infligidas pelos ingleses quando reivindicava em favor dos seus
patrcios indianos.
O resultado da luta pelas Grandes Causas normalmente d
frutos a longo prazo. A precipitao ou a utilizao de meios
escusos lanam sujidades nessas conquistas. Foi o que ocorreu,
por exemplo, com a Revoluo Francesa, que gerou problemas
graves para o futuro, uma vez que, ao invs de limitar-se
evoluo social e poltica, desbordou para a violncia e os abusos.
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68
AS DESIGUALDADES SOCIAIS
Em segundo lugar observaram que h entre ns gente
bem alimentada, gozando as comodidades da vida,
enquanto metade de homens emagrecidos, esfaimados,
miserveis mendigam s portas dos outros (em sua
linguagem metafrica a tais infelizes chamam metades);
e acham extraordinrio que essas metades de homens
suportem tanta injustia sem se revoltarem e incendiarem
as casas dos demais. (p. 268)
Neste trecho Montaigne reproduz as afirmaes de trs
indgenas levados a conversar com o rei Carlos IX da Frana.
Verifica-se que a gritante desigualdade social uma criao
do mundo civilizado, no existindo entre os ndios, que
chamamos de incivilizados, brbaros, primitivos.
Montaigne foi um grande entusiasta e divulgador da Cultura
Indgena em pleno sculo XVI, quando recm descoberto o Novo
Mundo.
Sua crtica ao modelo social injusto se faz sutil, como si
acontecer nos seus escritos, onde a polidez predomina e nunca se
encontram agresses verbais a pretexto de indignao.
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69
ESPRITO DEMOCRTICO
No cometo esse erro to comum de julgar os outros por
mim. Acredito de bom grado que o que est nos outros
possa divergir essencialmente daquilo que est em mim.
No obrigo ningum a agir como ajo e concebo mil e uma
maneiras diferentes de viver... (p. 278)
A mentalidade aberta e democrtica simboliza justamente
uma das mais importantes conquistas de um ser humano. Adotar a
si prprio como modelo para os outros representa arrogncia e
pobreza de viso. Afinal, somos apenas mais um na multido de
bilhes de habitantes do planeta.
Com ua mentalidade avessa a julgar as pessoas, Montaigne
incompatibilizou-se com o cargo de juiz e, por isso, exonerou-se e
passou a dedicar-se a colocar no papel suas reflexes sobre os
temas que entendia teis a si prprio e aos outros.
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70
OS PRDROMOS DOS IDEAIS DE LIBERDADE E
IGUALDADE
No imponho a outrem nem meu modo de vida nem meus
princpios; encaro-o tal qual , sem estabelecer
comparaes. (p. 279)
Julgar-se modelo para os outros quanto aos modos de ser e
pensar ignorar as prprias limitaes. Comparar pessoas,
julgando-lhes os mritos e demritos sinal de arrogncia
perigosa.
Somente quem ama muito tem condies de avaliar as
pessoas e situaes e procede sempre com amor, portanto,
atinando com as solues corretas, mas essa uma qualificao
que se adquire com muito tempo de dedicao ao aprimoramento
interior.
Parece at que os ideais de Liberdade e Igualdade, que
compuseram a bandeira dos revolucionrios de 1789, nasceram da
alma dos Ensaios de Montaigne.
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71
A SENSIBILIDADE PARA O BELO
Desde a infncia, a poesia produziu em mim o efeito de
me penetrar e comover profundamente... (p. 281)
Deve ser muita rida e dura a vida de quem apenas
formiga e nada tem de cigarra...
Sensibilizar-se com a Arte um dom das almas elevadas.
A Poesia uma das modalidades artsticas mais
aprimoradas, pois exige o domnio de um idioma e o senso
esttico na escolha das palavras mais harmoniosas.
Voltaire dizia que: Quando um prncipe ama a Poesia j
existe uma esperana.
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72
O RECONHECIMENTO DA TENDNCIA
HIPOCRISIA
Sem dvida nossas aes, em sua maioria, so mscara e
artifcio... (p. 282)
A desconfiana que vigora no relacionamento social nos
leva a usar mscaras e artifcios.
O grande problema moldarmos nossa fisionomia psquica
s mscaras e artifcios, perdendo nossas melhores qualidades
morais em troca dos interesses materiais...
O reconhecimento sincero dos prprios defeitos j
representa um grande comeo na procura pela melhoria tico-
moral.
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73
A SUPERAO DO RADICALISMO
... tudo pode ser encarado de diferentes lados e
apresentar aspectos diversos. (p. 284)
A viso holstica dos problemas, pessoas e situaes meta
que devemos tentar alcanar, a fim de encontrarmos as solues
mais prximas da ideal.
Quem analisa tudo sob sua prpria tica aplica a todo
mundo o famoso leito de Procusto, que consistiria em fazer as
pessoas deitarem naquela famosa cama: quem era de maior
estatura e lhe ultrapassava o limite tinha as pernas cortadas na
quantidade que sobrava e quem era mais baixo, sendo menor que
o leito, era esticado at alcanar-lhe o comprimento, ou seja,
uns e outros costumavam morrer nessa operao...
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74
ENFRENTAR OS FANTASMAS INTERIORES
A ambio, a avareza, a indeciso, o medo, a
concupiscncia no nos abandonam to-somente porque
mudamos de lugar. (p. 285)
Enfrentar nossos fantasmas interiores de primordial
importncia, para no estarmos sempre sujeitos a crises quando
surgem os problemas.
Vencer os defeitos e adquirir virtudes dependem do trabalho
de autoanlise, lembrada em vrios pontos deste estudo.
Carregamos conosco nosso cabedal de problemas e
solues, que dependem da nossa conduta e preferncia.
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75
AS FASES DA VIDA
Diz Scrates que os jovens devem instruir-se; os homens
feitos procurar agir acertadamente; os velhos abandonar
toda ocupao civil ou militar e viver para sua ideia, sem
obrigaes precisas. (p. 289)
Trata-se da sequncia da vida. Feliz de quem se adequa
ordem natural das coisas.
A instruo das crianas, adolescentes e jovens deve visar
prepar-los para o trabalho e no inculcar-lhes na mente (como
hoje acontece) a ideia de que o trabalho desagradvel e s deve
ser tolerado pela recompensa financeira. Deve-se insculpir no
esprito juvenil o prazer de trabalhar e ser til.
A vida produtiva do adulto deve ser extendida at onde ele
apresente condies fsicas e intelectuais de ser til, no se
aposentando precocemente. Tambm no se deve excluir os
idosos do mercado de trabalho. clebre o caso de Oscar
Niemeyer, que continua trabalhando aos 102 anos.
Os idosos devem dedicar-se ao que lhes apetecer, de
preferncia ao que lhes seja realmente til e ao voluntariado em
entidades filantrpicas.
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76
O CONFORTO NO SIGNIFICA FUTILIDADE
No considero o filsofo Argesilau menos digno, s
porque usava baixela de ouro e prata, de acordo com sua
fortuna; estimo-o mais por t-la usado com moderao e
liberalidade do que se dela se houvesse desfeito. (p. 289)
Ser rico ou pobre no o mais importante, tanto quanto ser
intelectual ou dotado de pouca instruo, se tudo encarado com
bom senso e generosidade.
Afinal, tudo vale a pena se a alma no pequena.
Santo Toms de Aquino dizia: Para se exercer as virtudes
necessrio algum conforto. A limpeza, o bom gosto, algum
conforto, em resumo, sempre ajudam a gente a sentir-se bem.
O luxo exagerado que pode amolentar a alma.
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77
O DESPRENDIMENTO INTERIOR PELOS BENS
MATERIAIS
A minha tendncia no me induz a valorizar minhas
propriedades... (p. 290)
Pode-se entender que Montaigne quis dizer que no
supervalorizava as riquezas. Dar s riquezas uma finalidade til
para si e para os outros o que importa.
O apego s riquezas independe de algum ser rico ou pobre,
pois h ricos desprendidos e pobres apegados aos bens materiais.
O que conta o sentimento ntimo.
H pessoas que no se apegam aos bens materiais, mas so
egostas com relao prpria cultura, tornando-se igualmente
usurrios.
Tudo deve circular e servir a muita gente e no ficar
trancafiado nos cofres do egosmo.
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78
A JUSTA MEDIDA NOS PRAZERES
... sempre o prazer excessivo, que o homem aufere da
satisfao do que mais aprecia, que o perde, seja ele
avarento, voluptuoso ou ambicioso. (p. 291)
O problema no est no uso dos bens da vida, mas sim no
seu abuso.
hipcrisa quem diz abominar os prazeres sadios,
pretendendo viver de renncias extremadas, pois eles fazem parte
da vida humana e funcionam como alvio ao estresse, alm de
incentivo para as lutas dirias. Todavia, saber dos-los uma arte
e s fazem bem quando sorvidos na justa medida.
O mal o descontrole, o abuso, a entrega desregrada, em
detrimento principalmente do respeito dignidade alheia.
Usufruir de prazeres custa do sofrimento alheio representa um
crime grave frente prpria conscincia.
Algum alegrar-se com prazeres nocivos (como as drogas, o
alcoolismo, a sexolatria etc.) representa um desvio psicolgico,
que deve ser tratado com a ajuda de psicoterapeutas e mdicos
especialistas.
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79
CADA PESSOA VALE POR SEUS MRITOS
INTELECTO-MORAIS
necessrio julgar o homem em si e no pelos seus
adornos. (p. 301)
O pior no tratar com deferncia especial os que esto bem
situados socialmente, mas sim tratar mal os que no gozam dos
privilgios do Poder e do Dinheiro.
A discriminao contra pessoas uma das mais graves
ofensas Democracia e Igualdade.
Atuamente supervalorizam-se as pessoas pelo dinheiro que
possuem, dando-se destaque a verdadeiras nulidades, em
detrimento de gente de grandes mritos, que a Mdia no faz
questo de destacar.
A Mdia a grande responsvel pelo endeusamento de
muitos mitos humanos, pessoas desarvoradas, que acabam
influenciando, pelos maus exemplos, crianas, adolescentes e
jovens ingnuos.
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80
CADA UM DEVE SER RESPONSVEL PELA
PRPRIA FELICIDADE
O sbio o asteso da prpria felicidade. (p. 302)
Quando Montaigne se refere a sbio no trata do nvel de
instruo e sim da capacidade maior ou menor de cada um se
adequar cincia (ou arte) de viver bem.
Cada pessoa interiormente feliz ou infeliz conforme suas
atitudes e forma de pensar.
No h quem consiga implantar a felicidade no interior de
outrem, podendo-se, no mximo, ajudar nessa conquista.
Quanto felicidade exterior um mito da sociedade
patrimonialista, a qual se esboroa ao primeiro contratempo.
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81
SOMOS TODOS SUJEITOS A ALTOS E BAIXOS
Esse homem no passa afinal de um homem. Se no tiver
valor prprio no lho dar o imprio do mundo. (p. 303)
Aqui est a diferena entre o ser e o ter.
A sociedade patrimonialista endeusa aqueles que tm,
muitos deles incapacitados para suportar o ar rarefeito das grandes
alturas...
Quem sabe contornar as pequenas e grandes
dificuldades e se faz exemplo para as pessoas, como Gandhi e
outros.
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82
O DESTAQUE DAS VIRTUDES
Anacrsis de opinio que o Estado mais feliz seria
aquele em que, dadas as condies iguais de tudo e de
todos, a preeminncia se medisse pela virtude e fosse o
vcio relegado para o ltimo lugar. (p. 307)
Montaigne preconizava a igualdade de tudo e de todos, o
que, para concretizar-se, depende da iniciativa de cada cidado.
A prevalncia da virtude sobre o dinheiro e a astcia
tambm depende de cada cidado.
Se verdade que as pessoas realmente superiores pela
evoluo tico-moral no recebem o destaque da Mdia, so, por
outro lado, premiadas pelo respeito e amizade de muita gente.
Foram os casos de Francisco Cdido Xavier, Irm Dulce, Dom
Helder Cmara etc. etc.
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83
AS LEIS DE PEGAM E AS LEIS QUE NO PEGAM
Nenhuma lei tem valor efetivo, fora daquelas a que Deus
deu uma durao tal que ningum lhes conhece a origem
nem as viu diferentes. (p. 309)
Trata-se do Direito Natural, ou seja, aquelas regras
espontneas na conscincia de todas as pessoas: essas so eternas.
O legislador, algumas vezes, procura atender ao interesse de
grupos dominantes e edita leis contrrias ao interesse pblico,
mas essas leis no pegam. S pegam aquelas que vo de
encontro Justia verdadeira, ou seja, que correspondem s Leis
Divinas.
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84
AS PESSOAS DEVEM TER NOMES EXPRESSIVOS
Scrates considera que dar belos nomes a seus filhos
um cuidado que os pais no devem esquecer. (p. 313)
Trata-se de uma recomendao que nem todo mundo segue,
por exemplo, quando quer homenagear algum, portador de nome
nem to belo, s custas dos filhos...
Os nomes de mau gosto costumam estigmatizar muitas
pessoas, humilhando-as no meio social, ao invs de causar-lhes
satisfao.
Carregar um nome desse tipo representa uma verdadeira
cruz pregada nos ombros para sempre.
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85
ALERTA CONTRA O RADICALISMO
De qualquer coisa fcil falar: pr ou contra, diz
Homero com muita razo. (p. 317)
Por isso que no devemos achar que nossa interpretao
a nica correta.
Tambm serve esta observao para aqueles que defendem
cada hora um ponto de vista diferente, os quais perdem a
credibilidade, parecendo mercadores da palavra.
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86
IMUNIZAR-SE CONTRA O MEDO
... nada to contagioso quanto o medo... (p. 321)
Prudncia necessria mas no o medo, que impede muitas
iniciativas nobres e necessrias ao Progresso.
Para ser bom e til ao meio social necessria muita
coragem.
H pessoas que disseminam o pnico atravs de notcias
alarmantes, gerando insegurana.
A Mdia atual costuma prestar esse tipo de desservio
sociedade.
Francisco Cndido Xavier dizia: Cada um responsvel
pelas imagens que cria na mente do semelhante. Trata-se de um
alerta vigoroso para cada um de ns.
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87
NO SOMOS TO RACIONAIS COMO JULGAMOS
SER
Raciocinamos ao acaso e inconsideradamente, diz o
Timeu de Plato, porque, como ns mesmos, a nossa
razo grandemente influenciada pelo acaso. (p. 322)
Realmente, no somos to racionais e no temos tanto
autocontrole como gostaramos.
Aqui cabem algumas indagaes da Psicologia, cincia que
somente surgiria alguns sculos depois de Montaigne.
Os mecanismos da mente so surpreendentes mas no
incompreensveis para quem procura o autoconhecimento.
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88
PELO DEDO SE CONHECE O GIGANTE
Qualquer ato nosso revela o que somos. (p. 333)
Mais indagaes a serem respondidas pela Psicologia.
Nossos pensamentos, sentimentos e atitudes so o nosso
retrato interior.
Por isso, devemos analisar-nos, conhecer-nos,
aperfeioarmo-nos, sublimando as deficincias e aperfeioando as
virtudes.
O que no se justifica estarmos sempre a repetir os
mesmos erros, que, normalmente, assimilamos dos nossos
ancestrais.
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89
SOMOS TRANSPARENTES
Todo pormenor da existncia do homem, toda ocupao a
que se entregue, o revelam e o mostram com suas
qualidades e defeitos. (p. 334)
Mais Psicologia.
Mesmo que tentemos disfarar nossas falhas, as pessoas as
detectam. Portanto, a soluo mesmo a autoanlise e o esforo
por super-las.
O autoconhecimento o caminho.
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90
A AUTOANLISE CONDUZ HUMILDADE
Penso que h em ns mais vaidade do que infelicidade,
mais tolice do que malcia, mais vazio do que maldade,
mais vileza do que misria. (p. 335)
Parece que Montaigne, realmente, foi um dos precursores da
Psicologia.
Carregamos no nosso ntimo muita vaidade, tolice e falta de
metas. So algumas das nossas limitaes, pelas quais no
devemos, todavia, nos crucificar, mas tentar melhorar, sabendo
tambm nos autoperdoar.
Os erros cometidos devem ser tratados por ns como alertas
para o futuro, e no como cruzes eternas. O autperdo
imprescindvel.
Vai e no peques mais, aconselhou Jesus.
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91
O VALOR DO PAI NOSSO
No sei se me engano, mas posto que por favor especial
da bondade divina uma orao nos foi prescrita e ditada
palavra por palavra pela boca de Deus, sempre me
pareceu que a ela devamos recorrer mais do que o
fazemos. Se minha opinio pesasse no assunto, ns a
diramos no incio e no fim das refeies, ao deitar e ao
levantar. Em todos os momentos em que costume rezar,
gostaramos que fosse o Pai Nosso a orao de todos os
cristos. Pode a Igreja aumentar o nmero de oraes e
modific-las segundo nossas necessidades e os fins que ela
visa, e bem sei que o esprito e o fundo so sempre os
mesmos, essa a orao por excelncia e ela diz
incontestavelmente tudo o que h para se dizer, convm a
todas as circunstncias em que nos podemos encontrar e
portanto justificaria o privilgio de a ter sempre nos lbios
o povo. a nica orao de que me valho sempre e sempre
a repito em vez de variar, porquanto nenhuma tanto se
gravou em minha memria.
(pp. 344/345)
O Pai Nosso, realmente, engloba tudo que essencial na
vida humana.
Rezemo-lo sempre.
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92
COMEAR A TRABALHAR CEDO
... no se deveria dar tanta importncia ao ano do nosso
nascimento, nem nos deixar tanto tempo entregues
ociosidade ou presos ao aprendizado. (p. 354)
A Pedagogia atual tem, indiretamente, contribudo para a
infantilizao dos jovens, que retardam o momento de comear a
trabalhar.
Antes de iniciarmos nossa vida de trabalho somos meras
crianas fora da poca.
Trata-se de um erro grave, que precisa ser corrigido, sob
pena de manuteno da pobreza, da irresponsabilidade e,
indiretamente, da prpria criminalidade.
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93
NOTAS
[1] http://pt.wikipedia.org/wiki/Michel_de_Montaigne
Michel Eyquem de Montaigne (Saint-Michel-de-
Montaigne, 28 de fevereiro de 1533 Saint-Michel-de-
Montaigne, 13 de setembro de 1592) foi um escritor e
ensaista francs, considerado por muitos como o inventor
do ensaio pessoal. Nas suas obras e, mais especificamente
nos seus "Ensaios", analisou as instituies, as opinies e
os costumes, debruando-se sobre os dogmas da sua poca
e tomando a generalidade da humanidade como objecto de
estudo. considerado um cptico e humanista.
Montaigne comeou a sua educao com o seu pai. Este
tinha um esprito por um lado vigilante e metdico e por
outro aberto s novidades. Aps estes estudos enveredou
pelo Direito. Exerceu a funo de magistrado primeiro em
Prigoux (de 1554 a 1570) depois em Bordus onde travou
profunda amizade com La Boetie.
Retirou-se para o seu castelo quando tinha 34 anos para se
dedicar ao estudo e reflexo. Levou nove anos para
redigir os dois primeiros livros dos Essais. Depois viajou
por toda a Europa durante dois anos (1580-1581). Faz o
relato desta viagem no livro Journal de Voyage, que s foi
publicado pela primeira vez em 1774.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Saint-Michel-de-Montaignehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Saint-Michel-de-Montaignehttp://pt.wikipedia.org/wiki/28_de_fevereirohttp://pt.wikipedia.org/wiki/1533http://pt.wikipedia.org/wiki/13_de_setembrohttp://pt.wikipedia.org/wiki/1592http://pt.wikipedia.org/wiki/Fran%C3%A7ahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Ensaiohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Dogmahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Cepticismohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Humanismohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Educa%C3%A7%C3%A3ohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Direitohttp://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=P%C3%A9rigoux&action=edit&redlink=1http://pt.wikipedia.org/wiki/1554http://pt.wikipedia.org/wiki/1570http://pt.wikipedia.org/wiki/Bord%C3%A9ushttp://pt.wikipedia.org/wiki/La_Boetiehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Castelohttp://pt.wikipedia.org/wiki/1580http://pt.wikipedia.org/wiki/1581http://pt.wikipedia.org/wiki/1774
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94
Foi presidente da Cmara em Bordus durante quatro
anos. Depois, regressou ao seu castelo e continuou a
corrigir e a escrever os Essais, tendo em vista o estilo
parisiense de exposio doutrinria. Os seus Ensaios
compreendem trs volumes (trs livros). Os seus Ensaios
vieram a pblico em trs verses: Os dois primeiros em
1580 e 1588. Na edio de 1588, aparece o terceiro
volume. Em 1595, publica-se uma edio pstuma destes
trs livros com novos acrescentos.
Os Essais so um auto-retrato. O auto-retrato de um
homem, mais do que o auto-retrato do filsofo. Montaigne
apresenta-se-nos em toda a sua complexidade e variedade
humanas. Procura tambm encontrar em si o que
singular. Mas ao fazer esse estudo de auto-observao
acabou por observar tambm o Homem no seu todo. Por
isso, no nos de espantar que neles ocorram reflexes
tanto sobre os temas mais clssicos e elevados ao lado de
pensamentos sobre a flatulncia. Montaigne assim um
livre pensador, um pensador sobre o Humano, sobre as
suas diversidades e caractersticas. E um pensador que
se dedica aos temas que mais lhe apetecem, vai pensando
ao sabor dos seus interesses e caprichos.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Presidentehttp://pt.wikipedia.org/wiki/P%C3%BAblicohttp://pt.wikipedia.org/wiki/1580http://pt.wikipedia.org/wiki/1588http://pt.wikipedia.org/wiki/1595http://pt.wikipedia.org/wiki/Flatul%C3%AAncia
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95
Se por um lado se interessa sobremaneira pela
Antiguidade Clssica, esta no totalmente passadista ou
saudosista. O que lhe interessa nos autores antigos,
especialmente os latinos mas tambm gregos, encontrar
mximas e reflexes que o ajudem na sua vida diria e na
sua auto-descoberta. Montaigne tenta assim compreender-
se, atravs da introspeco, e tenta assim compreender os
Homens.
Montaigne no tem um sistema. No um moralista nem
um doutrinador. Mas no sendo moralista, no tendo um
sistema de conduta, uma moral com princpios rgidos,
um pensador tico. Procura indagar o que est certo ou
errado na conduta humana. Prope-se mais estudar pelos
seus ensaios certos assuntos do que dar respostas. No
fundo, Montaigne est naquele grupo de pensadores que
esto a perguntar em vez de responder e na sua incerteza
em dar respostas que surge um certo cepticismo em
Montaigne. Como no est interessado em dar respostas
apriorsticas tem uma certa reserva em relao a
misticismos e crenas. de notar um certo alheamento em
relao ao Cristianismo e s lutas de religio que se
viviam em Frana. Embora no deixe de refletir em
assuntos como a destruio das novas ndias pelos
Espanhis. Ou seja, as suas reflexes visam os clssicos e
http://pt.wikipedia.org/wiki/Sistemahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Moralistahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Doutrinadorhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Cepticismohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Cristianismo
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96
a sua prpria contemporaneidade. Tanto fala de um
episdio de Cipio como fala de algum acontecimento do
seu sculo como fala de um qualquer seu episdio
domstico.
Registre-se que Michel foi tio pelo lado materno de Santa
Joana de Lestonnac.
[2] http://pt.wikipedia.org/wiki/Socrates
Scrates (em grego antigo: , transl. Skrts;
469399 a.C.) foi um filsofo ateniense, um dos mais
importantes cones da tradio filosfica ocidental, e um
dos fundadores da atual Filosofia Ocidental. As fontes
mais importantes de informaes sobre Scrates so
Plato, Xenofonte e Aristteles (Alguns historiadores
afirmam s se poder falar de Scrates como um
personagem de Plato, por ele nunca ter deixado nada
escrito de sua prpria autoria.). Os dilogos de Plato
retratam Scrates como mestre que se recusa a ter
discpulos, e um homem piedoso que foi executado por
impiedade. Scrates no valorizava os prazeres dos
sentidos, todavia se escalava o belo entre as maiores
virtudes, junto ao bom e ao justo. Dedicava-se ao parto
das idias (Maiutica) dos cidados de Atenas, mas era
indiferente em relao a seus prprios filhos.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Santa_Joana_de_Lestonnachttp://pt.wikipedia.org/wiki/Santa_Joana_de_Lestonnachttp://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADngua_grega_antigahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Translitera%C3%A7%C3%A3ohttp://pt.wikipedia.org/wiki/469_a.C.http://pt.wikipedia.org/wiki/399_a.C.http://pt.wikipedia.org/wiki/Filosofiahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Atenashttp://pt.wikipedia.org/wiki/Ocidentehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Plat%C3%A3ohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Xenofontehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Arist%C3%B3teleshttp://pt.wikipedia.org/wiki/Mai%C3%AAuticahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Atenas
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97
O julgamento e a execuo de Scrates so eventos
centrais da obra de Plato (Apologia e Crton). Scrates
admitiu que poderia ter evitado sua condenao (beber o
veneno chamado cicuta) se tivesse desistido da vida justa.
Mesmo depois de sua condenao, ele poderia ter evitado
sua morte se tivesse escapado com a ajuda de amigos. A
razo para sua cooperao com a justia da plis e com
seus prprios valores mostra uma valiosa faceta de sua
filosofia, em especial aquela que descrita nos dilogos
com Crton.
Detalhes sobre a vida de Scrates derivam de trs fontes
contemporneas: os dilogos de Plato, as peas de
Aristfanes e os dilogos de Xenofonte. No h evidncia
de que Scrates tenha ele mesmo publicado alguma obra.
As obras de Aristfanes retratam Scrates como um
personagem cmico e sua representao no deve ser
levada ao p da letra.
Scrates casou-se com Xntipe, que era bem mais jovem
que ele, e teve trs filhos: Lamprocles, Sophroniscus e
Menexenus. Seu amigo Crton criticou-o por ter
abandonado seus filhos quando ele se recusou a tentar
escapar antes de sua execuo, mostrando que ele (assim
como seus outros discpulos), parece no ter entendido a
http://pt.wikipedia.org/wiki/Apologiahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Cr%C3%ADtonhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Cicutahttp://pt.wikipedia.org/wiki/P%C3%B3lishttp://pt.wikipedia.org/wiki/Cr%C3%ADtonhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Plat%C3%A3ohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Arist%C3%B3faneshttp://pt.wikipedia.org/wiki/Xenofontehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Arist%C3%B3faneshttp://pt.wikipedia.org/wiki/X%C3%A2ntipe
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98
mensagem que Scrates tenta passar sobre a morte
(dilogo Fdon), antes de ser executado.
No se sabe ao certo qual o trabalho de Scrates, se que
ele teve outro alm da Filosofia. De acordo com algumas
fontes, Scrates aprendeu a profisso de oleiro com seu
pai. Na obra de Xenofonte, Scrates aparece declarando
que se dedicava quilo que ele considerava a arte ou
ocupao mais importante: maiutica, o parto das idias.
A maiutica socrtica funcionava a partir de dois
momentos essenciais: um primeiro em que Scrates levava
os seus interlocutores a pr em causa as suas prprias
concepes e teorias acerca de algum assunto; e um
segundo momento em que conduzia os interlocutores a
uma nova perspectiva acerca do tema em abordagem. Da
que a maiutica consistisse num autntico parto de ideias
pois, mediante o questionamento dos seus interlocutores,
Scrates levava-os a colocar em causa os seus
"preconceitos" acerca de determinado assunto,
conduzindo-os a novas ideias acerca do tema em
discusso.
Plato afirma que Scrates no recebia pagamento por
suas aulas. Sua pobreza era prova de que no era um
sofista.
http://pt.wikipedia.org/wiki/F%C3%A9donhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Xenofontehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Mai%C3%AAuticahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Sofista
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99
Vrias fontes, inclusive os dilogos de Plato, mencionam
que Scrates tinha servido ao exrcito em vrias batalhas.
Na Apologia, Scrates compara seu perodo no servio
militar a seus problemas no tribunal, e diz que qualquer
pessoa no jri que imagine que ele deveria se retirar da
filosofia deveria tambm imaginar que os soldados
devessem bater em retirada quando era provvel que
pudessem morrer em uma batalha.
Algumas curiosidades: Scrates costumava caminhar
descalo e no tinha o hbito de tomar banho. Em certas
ocasies, parava o que quer que estivesse fazendo, ficando
imvel por horas, meditando sobre algum problema. Certa
vez o fez descalo sobre a neve, segundo os escritos de
Plato, o que demonstra o carter lendrio da figura
Socrtica. Cludio Eliano lista Scrates como um dos
grandes homens que gostavam de brincar com crianas:
uma vez, Alcibades surpreendeu Scrates brincando com
seu filho Lamprocles.
O mtodo socrtico consiste em uma tcnica de
investigao filosfica feita em dilogo que consiste em o
professor conduzir o aluno a um processo de reflexo e
descoberta dos prprios valores. Para isso ele faz uso de
perguntas simples e quase ingnuas que tm por objetivo,
http://pt.wikipedia.org/wiki/Plat%C3%A3ohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Cl%C3%A1udio_Elianohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Alcib%C3%ADades
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100
em primeiro lugar, revelar as contradies presentes na
atual forma de pensar do aluno, normalmente baseadas em
valores e preconceitos da sociedade, e auxili-lo assim a
redefinir tais valores, aprendendendo a pensar por si
mesmo.
Tal tcnica deve seu nome "socrtico" a Scrates, o
filsofo grego do sculo V a.C., que teria sido o primeiro a
utiliz-la. O filsofo no deixou nenhuma obra escrita, mas
seus dilogos nos foram transmitidos por seu discpulo
Plato. Nesses textos Scrates, utilizando um discurso
caracterizado pela maiutica (levar ou induzir uma pessoa,
por ela prpria, ou seja, por seu prprio raciocnio, ao
conhecimento ou soluo de sua dvida) e pela ironia,
levava o seu interlocutor a entrar em contradio,
tentando depois lev-lo a chegar concluso de que o seu
conhecimento limitado. No entanto, Aspasia referida
por Scrates como uma das mais importan