ensaio michel de montaigne covardia1

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  • 8/3/2019 Ensaio Michel de Montaigne Covardia1

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    ENSAIOS-11 321

    CAPITULO XXVIIA covardia me da crueldade

    Ouvi dizer muitas vezes que a covardia - da crueldade e observei por experinciauma falsa e perversa coragem, impreg-de maus sentimentos e de inumanidade,e a certa fraqueza de alma bem feminina.gente cruel ter a lgrima fcil a propsito deinsignificantesoexandre, tirano de Feres, no podia assis- o teatro, representao de tragdias, de. que seus sditos o vissem enternecer-seas desgraas de Hcuba ou Andrmaca,que impiedosamente mandava todos ostorturar tanta gente com requintes de_e dade. No ser por pusilanimidade queindivduos passam assim de um extremoo tro? A valentia, que se exerce somentea o que lhe resiste, "s se compraz emlar um touro quando este se defende 488",o golpe se v o inimigo sua merc; mas:- i1animidade, no tendo figurado neste pri-- ato e querendo participar da festa, entracena no segundo, o do massacre e do san-s carnificinas que se seguem s vit -so obra em geral das massas incons-e dos que se ocupam das bagagens; e ofaz que presenciemos tantas e incrveisades nas guerras de que participa o povoIaio de a canalha, acostumada ao assass- se tornar cruel pelo hbito de chafurdar no_ e e esquartejar cadveres a seus ps, no. outra concepo de valentia: "o lobo, o. os animais menos nobres encarniam-sea os agonizantes 489"; assim os ces pol-rasgam com os dentes, em casa, as pelesimais selvagens que no ousariam ata-pleno campo. Por ue em nossa pocautas sempre acarretam a morte? Pormeamos pelo fim, quando nossos paisam suas vinganas? J de incio s fala-em matar. Que significa isso se noum ignora que h mais bravura emo inimigo do que em o exterminar; maisar a ceder do que em o matar. Ade-audio.Oridio.

    mais, nossa vingana assim bem mais com-pleta, pois seu objetivo sobretudo provocar oressentimento do inimigo; por isso mesmo noatacamos um bicho ou uma pedra que nosferem, incapazes que so de compreender umrevide. Ora, matar um homem p-lo a salvode nossas ofensas. Da a observao de Bias aum indivduo mau: "sei que mais cedo ou maistarde pagars, mas receio no o ver"; e tinhapena dos habitantes de Orcmeno por se verifi-car tarde demais a punio do traidor Licisco,pois j no havia ento nenhum sobreviventeinteressado em assistir ao castigo. Lamentvel a vingana quando privada dos meios defazer sofrer a vtima e alegrar o vingador. "Hde arrepender-se", dizemos, mas uma baa depistola na cabea far que se arrependa? Aocontrrio, como que nos desafia, caindo; nemmesmo nos censura o gesto, o que est longedo arrependimento. Prestamos-lhe em suma omelhor servio, o de uma morte rpida e indo-lor. Temos de nos esconder, 'fugir justia,enquanto ele descansa. Mat-lo impede apenasque nos ofenda de novo no futuro, mas no nosvinga da ofensa recebida; h nisso mais temorque bravura, mais previdncia que vontade decastigar. evidente que assim renunciamos aofim real da vingana e prejudicamos nossareputao; demonstramos to-somente o re-ceio de que, vivo, renove o insulto. No con-tra ele que agimos, em nosso beneficio.No reino de Narsinga, essa maneira de agirno nos seria de nenhuma utilidade. Nesse pasos homens de guerra e os artesos resolvemsuas divergncias a golpes de espada. O reino recusa a ningum o direito de se bater;assiste mesmo aos duelos quando ocorrementre pessoas de certa condio social, ofere-cendo uma corrente de ouro ao vencedor. Masquem quer que ambicione a corrente podemedir-se com o dono, de modo que este, porter vencido de uma feita, v aumentar o nme-ro de seus contendores.Se imaginssemos ser sempre superiores aoinimigo em coragem e poder rnaltrat-lo von-tade, lamentaramos imenso que nos escapasse

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    322 MONTAIGNEcomo o faz morrendo. Queremos vencer, masantes com a certeza do eXI ao u de ummodo honroso; buscamos o resultado e no aglll\ '- smio Plio cometeu erro semelhante,pouco desculpvel em um homem de honra.Escrevera uma diatribe contra Planco e aguar-dava a morte deste para a publicar. Em vez decorrer o risco do ressentimento que ia provo-car, era como se desafiasse um cego com ges-tos indecorosos ou um surdo com palavrasofensivas, ou ainda como se violentasse umapessoa desfalecida. Da lhe dizerem que "cabiaaos gnomos lutar contra os mortos". Quemaguarda a morte de um autor para criticar-lhe Obra demonstra que fraco e vil. Comuni-caram a Aristteles que Igum falara maldele: "Que faa mais ainda, respondeu, que meaoite conquanto eu no esteja presente."Nossos pais contentavam-se com responder injria com um desmentido, e a um desmen-tido com pancadas, e assim por diante; erambastante valentes para no temer o adversriovivo; ns, trememos de pavor enquanto ovemos em p. Nossa conduta atual leva-nos abuscar a morte de quem ofendemos da mesmaforma que buscamos a de quem nos ofende.Igualmente, por covardia, introduzimos o h-bito de nos fazer acompanhar de dois, trs eat quatro companheiros. Outrora tais encon-tros eram duelos, hoje so verdadeiras bata-lhas. Quem primeiro inventou esse mtodo,receava ficar entregue a si mesmo: "todosdesconfiavam de si" e, em verdade, diante doperigo a companhia reconforta e encoraja.Outrora, s se recorria a terceiros como teste-munhas de que no haveria atos de desleal-dade, mas pouco a pouco tornou-se comumparticiparem do duelo as testemunhas, poisquem convidado no pode decentemente per-manecer simples espectador, de medo que o ta-chem de covarde ou insensvel. Alm do queh de inquo e desonesto em pedir auxlio paradefender a prpria honra, e apoiar-se na forae na desteridade de outrem, acho desvantajosopara um homem de bem, e seguro de si, ligarsua sorte de outros. J corre cada qual riscossuficientes por si mesmo, sem que os precisecorrer por outros; e j tem bastante trabalhopara assegurar sua prpria coragem na defesade sua vida sem arriscar coisa de to grandevalor em benefcio de terceiros. Pois, efetiva-mente, a menos de se haver convencionadoregra diversa, no caso de se eliminar um segun-do, achamo-nos com dois adversrios pelafrente. evidente que se trata de um abuso,como o ser atacar com es ada perfeita aquem s tenha um pedao da sua ou_ guemintato jogar-se contra um ferido~mas se tais

    vantagens so obtidas em combate, lcitas sefazem. A disparidade e a desigualdade somen-te antes do duelo so objeto de ponderao;quanto ao resto, h que confiar na sorte; sesomos trs contra trs, ou se dois compa-nheiros morrem e os trs adversrios se unemcontra o ltimo, no h como protestar, domesmo modo que na guerra no cabe protestocontra quem auxilia o companheiro atacandoo adversrio com o qual se degladia.Quando grupos se enfrentam como ocorreuquando o Duque de Orlans desafiou o rei daInglaterra propondo-lhe que lutassem cemcontra cem; ou como fizeram os argianos emnmero de trezentos contra trezentos lacede-mnios; ou ainda os trs Horcios contra ostrs Curicios, considera-se o conjunto dogrupo como um s homem e onde quer queajam coletivamente, imprevisveis so as pro-babilidades, imputando-se ao acaso, em gran-de parte, o resultado.Tenho exemplos domsticos de semelhantescasos. Meu irmo, Sr. de Matecoulon, foi con-vidado em Roma a servir de segundo a umfidalgo que no conhecia e fora desafiado poroutro. E aconteceu-lhe ter que se defrontarcom algum que era seu vizinho e que eleconhecia melhor. Quisera que se condenassemtais leis de honra que to amide vo deencontro razo! Depois de liquidar seuadversrio, teve meu irmo que correr emauxlio do companheiro, o que no podia dei-xar de fazer, pois como ficaria impassvelenquanto o combate continuava indeciso? Deque houvera servido sua colaborao? A cor-tesia que cumpre demonstrar ao adversrio emm situao, no h como levar em contaquando se o segundo de outra pessoa, poisfora injusto ento abandon-Ia. E meu irmos se livrou da priso na Itlia graas a umaimediata e calorosa interveno de nossomonarca. Estranho povo, o nosso! No noscontentamos com a reputao que se espalhapelo mundo, de nossos vcios e loucuras,vamos ainda comprov-Ia no. estrangeiro.Coloquem-se trs franceses no Deserto daLbia, no passar um ms sem que se ponhama brigar. Dir-se-ia que essas viagens longn-quas fazem parte de um plano concebido paradar aos estrangeiros o espetculo de nossastragdias e um pretexto para que zombem dens. Vamos aprender a esgrima na Itlia e apomos em prtica com perigo de vida antes desaber lidar com uma espada, quando deve-ramos primeiramente conhecer a teoria:"Mseras primcias de uma coragem juvenil,funesto aprendizado de uma guerra .iminen-te490."490 Virglio.

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    ENSAIOS-lI 323Bem sei que se trata de uma arte muito tilem seu objetivo. Tito Lvio conta-nos que naEspanha, em um duelo entre dois prncipes, omais velho, com sua habilidade e tcnica, ven-ceu facilmente o mais jovem, muito mais vigo-

    roso. uma arte que, como observei, amplia avalentia de alguns, mas no se poder tax-Iade coragem, porquanto decorre da destreza eno uma qualidade em si. A honra no com-bate consiste em apelar para o carter e nopara a habilidade. Por isso um , de meus ami-gos, muito forte na esgrima, escolhia, quandotinha que defender a honra, as armas que nolhe dessem vantagem, pois no queria que atri-bussem sua vitria sua superioridade maisdo que ao seu valor real. Na minha infncia anobreza considerava degradante a reputaode perito em tal arte. Esta s se exercia, alis,s escondidas, como oficio de duvidosa lealda-de, mal adequado coragem verdadeira enatural: "No querem esquivar, nem bloquear,nem recuar; a destreza no conta; no h fin-tas, golpes retos ou oblquos; sua clera notolera a arte. Escutai o choque terrvel dasespadas, ferro contra ferro; no recuam um spasso, seus ps permanecem imveis e suasmos no param nunca: golpes de ponta cer-tos, e de lmina em cheio 491."Os exerccios de arcabuzes e de arco, os tor-

    neios, as justas e as batalhas simuladas consti-tuam o passatempo de-nossos pais; o da esgri-ma tanto menos nobre quanto visa apenas aum objetivo individual e ensina a matarmo-nosem desobedincia s leis e justia. Por isso,de todos os pontos de vista desastroso. Maisdigno e melhor seria praticar os exercciossuscetveis de assegurar a execuo da lei esalvaguardar a nossa independncia e a nossaglria.O Cnsul Pblio Rtilo foi o primeiro aensinar o soldado a manejar suas armas comhabilidade e cincia; juntou .assim a arte coragem, no em vista de dissenes pessoaismas com o fim de defender o povo romano.Era pois uma esgrima popular e civil. Alm doexemplo de Csar, recomendando aos seus queferissem principalmente no rosto os soldadosde Pompeu, numerosos outros chefes introdu-ziram, segundo as necessidades do momento,modificaes nas formas das armas e no modode empreg-Ias na defesa e no ataque.

    Filopmen proibiu a luta, exerccio em queera excelente, porque o necessrio treinamentoera incompatvel com os princpios da disci-plina militar, pelos quais, a seu ver, deviam serformados os homens de honra e nos quais'" Tasso.

    cumpria que empregassem o seu tempo. Pare-ce-me tambm que essa desteridade que se pro-cura dar ao corpo, na nova escola, essas fintas,paradas e respostas, em lugar de teis, soprejudiciais na guerra. Verifiquei mesmo queno se achava conveniente que um jovem desa-fiado para um duelo de espada e punhal seapresentasse em costume de guerra, comoinconveniente seria que se propusesse bater-sede capa e espada. E de se notar que Lachez,em Plato, referindo-se ao ensino da esgrimatal qual o praticamos, diz nunca ter visto essaescola produzir um grande homem de guerra, eque o eram menos ainda os mestres, o quenossa experincia confirma. Alis no hnenhuma relao entre talentos de ordem todiversa. Na educao que Plato prev para osjovens de sua Repblica, probe os exercciosde pugilismo, introduzidos por mico e Epeu,bem como os de luta, que recomendavamAnteu e Crcion, pois achava que no toma-vam a juventude apta para o combate. Eis-me,porm, longe de meu assunto.O Imperador Maurcio, advertido por so-nhos e prognsticos que um certo Focas, sol-dado desconhecido, deveria assassin-Io, inda-gou de seu genro Filipe quem era esseindivduo. Tendo-lhe respondido Filipe, entreoutras coisas, que se tratava de um pusilnimee um covarde, deduziu o imperador que deviater inclinao para o crime e a crueldade.O que toma os tiranos to sanguinrios apreocupao com a prpria segurana. Acovardia que trazem no corao no Ihes suge-re outras medidas de salvaguarda seno exter-minar os que os podem ofender, mulheresinclusive, incapazes de um arranho: "tudoabate porque tudo teme492". As primeiras Irueldades cometem-se espontaneamente;delas nasce o temor de uma justa vingana, oque provoca toda uma teoria de novas cruelda-des: Filipe, rei da Macednia, que tantas difi-culdades teve com Roma, sentindo-se inquietocom as numerosas mortes que ordenara e nopodendo dominar o medo que lhe inspiravamtodas as famlias por ele ofendidas em diversaspocas, resolveu apoderar-se dos filhos detodos os que mandara matar a fim de assegu-rar sua prpria tranqilidade, desfazendo-sedeles uns aps outros.

    Os bons assuntos agitam-se em qualquerlugar. Eu, que mais me preocupo com o alcan-ce e o interesse de meus comentrios do quecom a ordem e a lgica da apresentao, nohesito em incluir aqui uma bela histria, pois,quando valem realmente a pena, arrasto-as atpelos cabelos . 2 Cludio.

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    324 MONTAIGNEEntre as vtimas de Filipe, figurava um talHerdico, prncipe da Tesslia; posteriormentemandara ele executar os dois genros de Her-dico, os quais deixaram vivas Teoxena eArco, cada qual com uma criana. Teoxena,embora muito solicitada, no quis tornar acasar-se. Arco desposou Prio, muito conside-rado entre os nios e do qual teve numerososfilhos, todos pequenos ainda quando veio afalecer. Teoxena, instigada pelo amor maternalque dedicava aos sobrinhos, casou com Prio,a fim de melhor cuidar das crianas. Foi quan-do se publicou o edito do rei determinando quelhe fossem entregues os filhos dos que conde-nara. Teoxena, me corajosa, desconfiando dacrueldade de Filipe, e temerosa das violnciasde seus apaniguados, ousou declarar que mata-ria os jovens com suas prprias mos se fora-

    da a perd-Ios. Prio, apavorado com seme-lhantes palavras, prometeu-lhe rapt-Ios elev-!os para Atenas onde os deixaria com pes-soas de sua confiana. Aproveitando a oportu-nidade da festa anual que se celebrava emhonra de Enias, assim procedeu. Assistiudurante o dia s cerimnias, tomou parte nobanquete pblico, e, noite, embarcou em umnavio que j se achava pronto para zarpar.Mas os ventos eram desfavorveis. E, achan-do-se ainda no dia seguinte vista das costas,deram-lhe caa os guardas do porto. Estavamsendo quase alcanados e Prio estimulava osmarinheiros a se apressarem quando Teoxena,excitada pelo seu amor e seu desejo de vingan-a, preparou armas e veneno, entregando-osaos jovens e dizendo: "Vamos, meus filhos, amorte agora o nico meio de defender vossaliberdade; os deuses nos julgaro em sua santajustia; nestas espadas e nestas taas cheiasest a vossa liberdade; tende coragem. Tu,filho, que s o mais velho, toma esta lminapara morreres de morte nobre." Acossados deum lado por to intrpida conselheira e dooutro peles inimigos, precipitaram-se elessobre as armas a seu alcance e semimortosforam jogados ao mar. Teoxena, orgulhosa porter gloriosamente assegurado a liberdade dosfilhos, abraou ento o marido e disse:"Sigamos o mesmo caminho, amigo, escolha-mos a mesma sepultura". E estreitamente uni-dos mergulharam nas guas, voltando o barcoao porto sem os seus senhores.Os tiranos esforavam-se por prolongar amorte que infligiam, com o duplo objetivo dematar o adversrio e fazer-lhe sentir os efeitosde sua clera. ueriam ue os inimigos.noperecessem ra.Qidamente e Ihes Ql:rmitissernsaborear a vingana, Era-lhes dificil consegui-10, pois as torturas excessivas no durammuito. Se duravam, no lhes pareciam sufi-

    cientemente dolorosas. Da os engenhosossuplcios da antiguidade, alguns dos quaisainda conservamos.Tudo o que ultrapassa a morte pura e sim-ples se me afigura cruel. Nossa justia nopode esperar que se amedronte ante a mortepelo fogo ou a tortura, e deixe de cometer cri-mes, quem os comete apesar da amea daforca e da decapitao. Ademais, suspeito qUI;estejamos instigando ao desespero aqueles aquem infligimos tais suplcios, pois em que es-tado de alma pode achar-se um homem quepermanece vinte e quatro horas sobre urnaroda, membros partidos, ou pregado a umacruz como outrora? Conta Jos que, duranteas guerras dos romanos na Judia, deparou emcerto lugar com trs judeus crucificados; eramseus amigos e conseguiu que os agraciassemao fim de trs dias. Dois morreram.Calcndilo, que deixou memrias dignas def acerca dos acontecimentos de seu tempo,conta que o Imperador Maom aplicava noraro esse horrvel suplcio de cortar os homensem dois com um s golpe de cimitarra dado nomeio do corpo, acima das ancas, o que faziaque morressem, por assim dizer, de duas mor-tes concomitantes. Viam-se os dois pedaosainda com vida agitarem-se durante muitotempo sob a ao da dor. No creio entretantoque esse suplcio devesse provocar grandessofrimentos. Nem sempre os mais horrveisso os mais dolorosos e acho muito mais atrozo que, segundo outros historiadores, tiveramde suportar alguns senhores que o mesmoMaom mandou esfolar vivos, ordenando, comrequintes de crueldade, que a operao fosseconduzida de modo a prolongar-se por quinzedias.Creso mandou prender um fidalgo, favoritode seu irmo Pantaleo, e conduzir a uma ofi-cina de pisoeiro onde foi raspado e escardu-ado at morrer. Jorge Sechel, chefe dessescamponeses da Ponia que a pretexto de reali-zar uma cruzada tantos estragos praticaram,foi vencido em um combate pelo voivoda deTransilvnia, Durante trs dias permaneceunu, amarrado a um cavalete e exposto aos tor-neios que inventavam os espectadores. En-quanto isso, vrios outros prisioneiros eramsubmetidos a rigoroso jejum. Depois do que, eestando ele ainda vivo, deram de beber seusangue a seu irmo querido, para o qual nocessava Sechel de implorar graa, assumindotoda a responsabilidade dos sucessos. Emseguida, ofereceram sua carne a vinte de seuschefes prediletos, os quais lha arrancaram adentadas. Finalmente, em morrendo, coze-ram-lhe as entranhas e os restos e distriburamaos seus companheiros.