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Campus Universitário de Almada Escola Superior de Educação Jean Piaget Maria Manuela de Sousa Reis Alemão Metodologia de trabalho de projeto como estratégia de aprendizagem ativa no jardim de infância Relatório Final Apresentado para a obtenção do Grau de Mestre em Educação Pré-escolar. Mestrado em Educação Pré-escolar Orientador: Doutora Clementina da Conceição Lobato Nogueira Almada, 2017

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Campus Universitário de Almada Escola Superior de Educação Jean Piaget

Maria Manuela de Sousa Reis Alemão

Metodologia de trabalho de projeto como estratégia de aprendizagem ativa

no jardim de infância

Relatório Final

Apresentado para a obtenção do Grau de Mestre em Educação Pré-escolar.

Mestrado em Educação Pré-escolar

Orientador: Doutora Clementina da Conceição Lobato Nogueira

Almada, 2017

I

Declaração de direitos de cópia

Metodologia de Trabalho de Projeto como meio de Aprendizagem no Jardim de

Infância com direitos de copyright em nome de Maria Manuela de Sousa Reis Alemão,

e da Escola Superior de Educação Jean Piaget de Almada / Instituto Piaget. A Escola

Superior de Educação Jean Piaget de Almada têm o direito perpetuo e sem limites

geográficos de arquivar e publicar este Relatório de Prática de Ensino Supervisionada

através de exemplares reproduzidos em papel ou de forma digital, ou por qualquer outro

meio conhecido ou que venha a ser inventado, e de o divulgar através de repositórios

científicos e de admitir a sua cópia e distribuição com objetivos educacionais ou de

investigação, não comerciais, desde que seja dado crédito ao autor e editor.

Almada, 5 de maio de 2017

Assinatura

II

Declaração de autenticidade

O presente trabalho foi realizado por Maria Manuela de Sousa Reis Alemão do Ciclo de

Estudos de Mestrado em Educação Pré-Escolar para a Unidade Curricular

____________________________________________, do ano letivo 2016/2017.

O(s) seu(s) autor(es) declara(m) que:

(i) Todo o conteúdo das páginas que se seguem é de autoria própria, decorrendo do

estudo, investigação e trabalho do(s) seu(s) autores.

(ii) Quaisquer materiais utilizados para produção deste trabalho não colocam em

causa direitos de Propriedade Intelectual de terceiras entidades ou sujeitos.

(iii) Este trabalho, as partes dele, não foi previamente submetido como elemento de

avaliação nesta ou em outra instituição de ensino/formação.

(iv) Foi tomado conhecimento das definições relativas ao regime de avaliação sob o

qual este trabalho será avaliado, pelo que se atesta que o mesmo cumpre as orientações

que lhe foram impostas.

(v) Foi tomado conhecimento que este trabalho deve ser submetido em versão

digital, no espaço especificadamente criado para o efeito, e que essa versão poderá ser

utilizada em atividades de detecção electrónica de plágio, por processos de análise

comparativa com outros trabalhos, no presente e/ou no futuro.

Almada, 5 de Maio de 2017

Assinatura

III

Agradecimentos

Ao longo deste meu percurso académico, vários foram os momentos em que me

interroguei se alcançaria este grande objetivo que sempre idealizei com êxito.

Como tal, importa referir que a concretização desta conquista só foi possível

com a cooperação e o incentivo de um vasto número de pessoas, as quais de uma forma

mais direta ou indireta tiveram um papel fundamental nesta minha realização pessoal e

profissional. A todas elas teço aqui o meu agradecimento.

Assim sendo, quero agradecer primeiramente a todos os docentes (Eselx e

Instituto Piaget) que fizeram parte do meu percurso académico, entre eles à minha

professora e Orientadora de Relatório final Dra. Clementina Nogueira e à Professora

Cristina Gonçalves docente da Unidade Curricular de Prática de Ensino supervisionada

I e II.

Como trabalhadora estudante, não poderia deixar de agradecer à Instituição

onde trabalho, principalmente à Direção e à Coordenadora Pedagógica pela

disponibilidade, apoio e incentivo.

Um reconhecido agradecimento às minhas colegas e amigas de curso, Patrícia

Martins e Ana Isabel Carvalho, que sempre me ajudaram e apoiaram no decorrer do

percurso académico, em especial à Ana Isabel por ter estado ao meu lado durante todo o

percurso final e pelo apoiou que sempre me deu.

É com grande carinho e afeto que agradeço a todas as crianças que me

acompanharam neste trajeto, uma vez que foram elementos fulcrais na partilha de

momentos gratificantes e enriquecedores de aprendizagem e de conhecimento tão

importantes para a minha formação profissional e pessoal.

Não poderia deixar de agradecer à minha família, a qual merece um papel de

destaque pelo carinho e apoio incondicional, estando sempre ao meu lado nesta grande

etapa da minha vida. Obrigada por terem acreditado em mim.

Para terminar, um agradecimento muito especial a uma das pessoas que tem um

lugar incondicional na minha vida, a minha filha. Obrigada por teres sido a

impulsionadora desta aventura que foi voltar a estudar depois de tantos anos. Obrigada

por acreditares em mim e por me fazeres acreditar que era capaz! Agora posso dizer:

CONSEGUIMOS!!!

IV

Resumo

O presente relatório concretiza-se numa análise reflexiva acerca da prática

educativa supervisionada desenvolvida em contexto de jardim-de-infância (JI), dando

primazia à utilização da Metodologia de Trabalho de Projeto (MTP) como estratégia

promotora de uma aprendizagem ativa e significativa. Este objeto de estudo surgiu

durante o período de observação, no qual foi identificada a necessidade de tornar as

crianças agentes ativos na construção de conhecimento. Partindo desta problemática,

desenvolveu-se uma investigação-ação que permitiu perceber de que forma a MTP é um

meio potenciador da participação e da autonomia das crianças durante o processo

ensino-aprendizagem. Após a análise dos resultados recolhidos e baseando-me numa

revisão bibliográfica acerca da temática, foi possível reconhecer esta metodologia como

uma mais-valia na promoção de uma pedagogia participativa com crianças de três anos.

Este estudo permitiu ainda apontar dois possíveis caminhos a seguir futuramente com o

intuito de aprofundar esta temática, nomeadamente a importância do papel da família e

da comunidade na metodologia de trabalho de projeto e a introdução de alguns

princípios da metodologia de trabalho de projeto em contexto de creche, especialmente

no ano de transição para o pré-escolar.

Palavras-chave

Metodologia de Trabalho de Projeto; Aprendizagem Ativa; Jardim-de-Infância;

Autonomia.

V

Abstract

This report is a reflexive analysis of the supervised educational practice

developed in a kindergarten context, giving priority to the use of the Project Work

Methodology as a strategy promoting active and meaningful learning. This object of

study arose during the period of observation, in which the need to make children agents

active in the construction of knowledge was identified. Starting from this problematic,

an action research was developed that allowed to realize how the Project Work

Methodology is a way to enhance the participation and the autonomy of the children

during the teaching-learning process. After analyzing the collected results and based on

a bibliographical review about the theme, it was possible to recognize this methodology

as an added value in the promotion of a participative pedagogy with children of three

years. This study also allowed me to point out two possible ways to follow in the future

in order to deepen this theme, namely the importance of the family and community role

in the project work methodology and the introduction of some principles of the project

work methodology in the context of daycare, especially in the year of transition to

preschool.

Key-words

Project Work Methodology; Active Learning; Kindergarten; Autonomy

VI

ÍNDICE GERAL

INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 1

CAPÍTULO 1 – PRÁTICA PROFISSIONAL EM CONTEXTO DE PRÉ-ESCOLAR . 4

1.1. Contextualização da prática profissional ........................................................... 4

1.2 Caracterização da entidade cooperante .............................................................. 8

1.2.1 Contextualização do meio .............................................................................. 8

1.2.2. Caracterização da Instituição ......................................................................... 8

1.2.3 Contextualização do contexto educativo de sala .......................................... 10

1.2.4 Equipa Educativa.......................................................................................... 11

1.2.5 Contextualização do grupo ........................................................................... 12

1.3 Desenvolvimento da prática profissional e problematização da questão de

partida ......................................................................................................................... 14

CAPÍTULO 2 – ESTUDO EMPÍRICO ......................................................................... 16

2.1. Enquadramento Teórico ....................................................................................... 16

2.2. Definição de conceitos ......................................................................................... 16

2.2.1. Conceito de Aprendizagem Ativa ..................................................................... 16

2.2.2. Conceito de Metodologia de Trabalho de Projeto ............................................ 20

2.2.3. O Domínio do Conhecimento do Mundo em Pré-escolar ................................. 24

2.3. Objeto de estudo .................................................................................................. 26

2.4. Metodologia - Métodos e Procedimentos ............................................................ 26

2.5. Apresentação do processo de implementação da metodologia de projeto ........... 28

2.6. Análise do processo de implementação da metodologia de projeto .................... 41

CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 50

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................... 56

APÊNDICES .................................................................................................................. 60

VII

Índice de Apêndices

APÊNDICE A. Consentimento informado para registo fotográfico e registo

áudio das crianças no contexto de JI

61

APÊNDICE B. Notas de campo

62

APÊNDICE C. Guiões das entrevistas semi-estruturadas

81

APÊNDICE D. Transcrições das entrevistas aplicadas

86

APÊNDICE E. Registo fotográfico das atividades

97

APÊNDICE F. Registo áudio das conversas em grande grupo

103

APÊNDICE G. Tabelas de sistematização das entrevistas

131

APÊNDICE H. Planeamento das três primeiras atividades

134

APÊNDICE I. Esquema inicial do projeto realizado com as crianças

140

APÊNDICE J. Teia do Educador referente ao projeto

141

VIII

Siglas

APEI – Associação de Profissionais de Educação de Infância

IA – Investigação Ação

IPSS – Instituição Particular de Solidariedade Social

JI – Jardim-de-Infância

MTP – Metodologia de Trabalho de Projeto

OCEPE – Orientações Curriculares para a Educação Pré-escolar

PE – Projeto Educativo

PPS – Projeto Pedagógico de Sala

ZDA – Zona de Desenvolvimento Atual

ZDP – Zona de Desenvolvimento Proximal

IX

“O objetivo do ensino não é produzir aprendizagem mas produzir as condições

para aprender” (Malaguzzi citado por Malavasi & Zoccatelli, 2013, p.34)

1

INTRODUÇÃO

O presente relatório materializa-se num olhar reflexivo acerca da prática

educativa supervisionada em JI, apresentando como principal foco a análise

aprofundada do trabalho desenvolvido neste contexto educativo. Como tal, deu-se

especial relevo à problemática identificada, nomeadamente a utilização da Metodologia

de Trabalho de Projeto como estratégia para a implementação de uma pedagogia

participativa. Esta problemática emergiu durante o período de observação, uma vez que

constatei que o grupo de crianças não estava familiarizado com a utilização da MTP.

Este facto levou-me a refletir e consequentemente a apresentar a minha prática

pedagógica com o intuito de introduzir um projeto que fosse ao encontro dos interesses

das crianças e que permitisse ao grupo adquirir novas competências de forma ativa e

integradora. Por outras palavras, partindo desta fragilidade e reconhecendo o impacto

que esta tinha junto do grupo, considerei relevante centrar a minha ação pedagógica em

princípios da pedagogia participativa, nomeadamente através da Metodologia de

Trabalho de Projeto, com a intenção de desenvolver competências tais como a

autonomia e a capacidade de questionamento e reflexão acerca do meio envolvente. Tal

como avança Roldão (citado por Leite & Arez, 2011) “ (…) o conhecimento constrói-

se…do questionamento do real que nos circunda, do perguntar o porquê das coisas…É à

medida que o grau de questionamento e a capacidade de encontrar respostas vai

crescendo, que se vai desenvolvendo a capacidade analítica (…)” (p.65). Já as

Orientações Curriculares para a Educação Pré-Escolar (OCEPE) (ME, 2016) definem

projetos de aprendizagem como sendo um veículo privilegiado para a participação das

crianças no processo de ensino-aprendizagem uma vez que, partindo das suas

curiosidades e interesses, o grupo de crianças participa no planeamento, na articulação

de conteúdos e na avaliação das aprendizagens, contando sempre com o apoio do

educador. Nesta perspetiva é fundamental a fase de observação por parte do adulto,

permitindo conhecer melhor o grupo de crianças e quais os seus interesses e

curiosidades de forma a “observar o que as crianças fazem, dizem e como interagem e

aprendem” (ME, 2016, p.15), constituindo assim uma estratégia fundamental para

recolha de informação. Desta forma, nas primeiras semanas de intervenção, e após umas

atividades por mim sugeridas relacionadas com as sementes, surgiu no seio do grupo a

questão: Será que a semente do feijão cresce muito?. Baseando-me nesta curiosidade

das crianças, estruturei um projeto seguindo a MTP, com o objetivo de inserir no grupo

2

esta forma de trabalhar e de construir novas aprendizagens, através de uma postura de

questionamento e reflexão. Tal como é caraterístico desta metodologia, foi possível

desenvolver um trabalho de carater integrador, possibilitando assim a abordagem de

vários domínios do saber como por exemplo: o conhecimento do mundo; a linguagem

oral e a abordagem à escrita; a matemática e as expressões (motora, plástica e

dramática).

Tendo em consideração a problemática identificada, realizei uma investigação-

ação (Máximo-Esteves, 2008) com o objetivo de perceber de que forma a MTP poderia

ser utilizada como estratégia na promoção de aprendizagens ativas com crianças de

idade pré-escolar (3 anos). Partindo da literatura de referência e dos dados recolhidos a

partir de um conjunto de técnicas e instrumentos, nomeadamente a observação direta

participante com registo de notas de campo; as transcrições das conversas em grande

grupo e das entrevistas à educadora cooperante, à auxiliar da sala e à coordenadora da

instituição, realizou-se uma análise dessa mesma informação através da técnica de

análise de conteúdo e de um a postura reflexiva e autocrítica. Desta análise pude

constatar que o desenvolvimento de um trabalho de projeto com este grupo de crianças

proporcionou o primeiro contacto com esta metodologia, contribuindo para a promoção

de capacidades fundamentais para a autonomia das crianças para que estas se tornem

verdadeiramente atores participantes das suas aprendizagens (Silva, 2005), no entanto,

importa salientar que, devido à curta duração da minha intervenção, assim como à

complexidade das competências a adquirir pelas crianças, tornou-se difícil realizar uma

avaliação do grupo de forma objetiva, sendo necessário um período mais lato para

alcançar resultados mais conclusivos. Para além do contributo que a minha intervenção

teve junto das crianças, de referir também que pude verificar alterações nas estratégias

utilizadas pela educadora cooperante, já que esta, após o término do meu estágio,

iniciou um novo projeto com o grupo, passando assim a seguir metodologias mais

centradas na participação ativa das crianças.

No que concerne à estrutura do trabalho este encontra-se dividido em dois

grandes capítulos, sendo o primeiro referente à Prática Profissional em Contexto Pré-

Escolar onde é feita a contextualização da prática profissional; a caraterização da

entidade cooperante, do meio onde esta se insere, da equipa educativa e do grupo de

crianças. Ainda neste capítulo encontramos o enquadramento do desenvolvimento da

prática profissional assim como a problematização da questão de partida. No capítulo 2,

referente ao estudo empírico é feito um enquadramento teórico acerca do tema da

3

problemática que serviu de ponto de partida para esta investigação nomeadamente no

que se refere à Metodologia de Trabalho de Projeto. Partindo deste enquadramento são

analisados e definidos três conceitos considerados fulcrais para o presente estudo, sendo

eles: Aprendizagem Ativa; Metodologia de Trabalho de Projeto e Domínio do

Conhecimento do Mundo. É também neste capítulo que é apresentado o projeto

desenvolvido e as suas fases, bem como analisados os resultados alcançados. Por fim

constam as considerações finais onde é feita uma reflexão sobre o meu percurso durante

a prática profissional e a sua importância para a construção da minha identidade

enquanto futura profissional na área da educação. O presente trabalho finda-se com as

referências bibliográficas e os apêndices.

4

CAPÍTULO 1 – PRÁTICA PROFISSIONAL EM CONTEXTO DE

PRÉ-ESCOLAR

1.1. Contextualização da prática profissional

De acordo com as OCEPE (ME, 2016) pode considerar-se que a educação pré-

escolar corresponde à “primeira etapa da educação básica no processo de educação ao

longo da vida” (p.5). Tendo em conta as múltiplas perspetivas educacionais que

surgiram nas últimas décadas, a perspetiva pedagógica que orientou a minha prática

segue a linha do Sócio-Construtivismo que considera o papel ativo da criança na

construção do seu próprio conhecimento (Bidarra & Festas, 2005). Baseando-me em

autores de referência desta linha pedagógica, tais como Piaget e Vygotsky, a minha

prática pautou-se por um conjunto de pressupostos que perspetivam a criança enquanto

ser ativo na construção do seu próprio conhecimento, tendo o adulto o importante papel

de mediar a aprendizagem, na medida em que a sua ação deve ser no sentido de apoiar e

incentivar a criança a questionar e refletir sobre o que a rodeia e a tomar iniciativa de

interação com o meio e tudo o que o envolve. Conforme consta no Decreto-Lei n.º

241/2001, de 30 de Agosto, cabe ao educador proporcionar “as necessárias condições de

segurança, de acompanhamento e de bem-estar das crianças” (Decreto-Lei n.º 241/2001,

de 30 de Agosto, s.p.). Segundo este decreto, o educador deve desempenhar um papel

cuidador e securizante no que diz respeito às necessidades básicas das crianças, devendo

também ser um elemento mediador ao longo do percurso de construção de

conhecimentos significativos que tanto contribuem para proporcionar à criança o seu

desenvolvimento global e ajudá-la a inserir-se na sociedade (ME, 2016). Como referem

Hohmann & Weikart (2011) este ato de construir aprendizagens materializa-se num

“processo no qual as crianças agem sobre, e interagem com, o mundo imediato de forma

a construírem um conceito de realidade cada vez mais elaborado” (p.21). Ao mediar as

aprendizagens cabe ao adulto disponibilizar recursos e conceder espaço de ação à

criança para que esta explore o meio com os recursos disponíveis, comece a

compreendê-lo e comece a ser capaz de agir sobre ele, fazendo escolhas, tomando

decisões e, assim, gradualmente, tornando-se mais autónoma (Hohmann & Weikart,

2011). Vygotksy (citado por Folque, 1999) encara o desenvolvimento como sendo

“profundamente cultural e a educação como herança cultural” (p.7), defendendo que a

aprendizagem emerge da interação entre o sujeito e o objeto mas também das interações

5

entre pares ou entre adulto e criança (Folque, 1999). Desta forma, para que a criança

consiga assimilar um conjunto de conhecimentos é fundamental que o adulto, enquanto

mediador, torne a aprendizagem desafiante e também atingível para a criança,

trabalhando desta forma ao nível da Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) (Fino,

2001). Tendo em conta o apresentado até ao momento, é possível afirmar a existência

de uma “distância entre a tarefa mais difícil que a criança consegue fazer sozinha e a

tarefa mais difícil que consegue fazer com o apoio de crianças mais competentes ou de

adultos” (Vygotksy citado por Silva, 2016, p.23); é a esta “distância” que Vygotsky

chama Zona de Desenvolvimento Proximal.

Na minha ação pedagógica foram também tidos em consideração alguns dos

princípios do modelo High-Scope, os quais se integram também na perspetiva

pedagógica seguida. Este modelo que surgiu nos anos sessenta do século passado nos

EUA está enquadrado pela pedagogia de participação (Oliveira-Formosinho &

Formosinho, 2013). O modelo baseia os seus princípios na teoria de Piaget, com

enfoque na premissa de que a criança constrói o seu conhecimento à medida que explora

o meio envolvente e vivencia novas experiências (Hohmann & Weikart, 2011; Oliveira-

Formosinho, 2013). Na abordagem High-Scope as crianças edificam o seu

conhecimento “através do envolvimento activo com pessoas, materiais e ideias”

(Powell, citado por Post & Hohmann, 2003, p.1). Este modelo curricular baseia-se na

construção ativa da realidade através de uma metodologia de aprendizagem pela

descoberta, de resolução de problemas, permitindo que a criança construa as suas

aprendizagens, dê significado às suas experiências e promova a sua confiança e o seu

desenvolvimento (Post & Hohmann, 2003). Como defendem Hohmann e Weikart

(2011), “no processo [planear-fazer-rever], as crianças desenvolvem iniciativa,

interesse, curiosidade, desembaraço, independência e responsabilidade – hábitos de

funcionamento que lhes serão úteis ao longo de toda a vida.” (p.13). O ambiente

educacional deverá ser construído, permitindo deste modo que cada criança faça “…este

movimento de ida e volta entre si própria e o mundo sociocultural envolvente,

construindo o conhecimento pessoal num processo partilhado, assim se enraizando no

coração do conhecimento culturalmente partilhado” (Oliveira-Formosinho, 2013,

p.101). Desta forma, o modelo encara as crianças como “aprendizes ativos” (Post &

Homann, 2003, p.11) que através da interação com o meio e com os outros (adultos e

pares), edifica o conhecimento sobre o mundo que o rodeia. Autores como Post e

6

Homann (2003) advogam que o adulto deverá “compreender que as explorações auto-

motivadas das crianças lhes proporcionam experiências-chaves – uma aprendizagem

que se revela fundamental para o crescimento e desenvolvimento humano saudável”

(p.12).

Intimamente relacionado com a aprendizagem ativa encontra-se a interação

adulto-criança. Este princípio básico do modelo High-Scope reflete a necessidade da

criança em estabelecer uma relação de confiança com o adulto, por forma a sentir-se

segura na exploração do meio envolvente. Assim sendo, o adulto deverá estabelecer

relações positivas e recíprocas com as crianças, encorajando-a nas suas interações

(Post & Homann, 2003).

Para que as interações com as crianças sejam encorajadoras e positivas, é

essencial que o adulto reconheça a importância de observar atentamente as crianças.

Este princípio do modelo High-Scope permite que através da informação recolhida

pela observação das crianças, o educador possa planear atividades estruturadas que

respeitem as necessidades e interesses de cada uma das crianças (Post & Homann,

2003).

Para pôr em prática os princípios pedagógicos que estiveram na base da minha

ação privilegiei a Metodologia de Trabalho de Projeto, a qual se fundamenta na relação

recíproca entre a aprendizagem e os conteúdos, reconhecendo a criança como um dos

principais atores no processo de aprendizagem (Oliveira-Formosinho & Formosinho,

2013), aspeto este mais desenvolvido no Capítulo II. A implementação desta

metodologia veio possibilitar um maior contacto do grupo de crianças com a

comunidade, bem como com as famílias, através das várias atividades desenvolvidas,

potenciando assim uma maior interação e envolvimento dos vários agentes educativos

no processo de aprendizagem.

Para além deste modelo pedagógico considero pertinente referir o papel que as

OCEPE desempenharam durante toda a minha prática pedagógica. Tal como o nome

indica, trata-se de um documento de apoio à equipa educativa, nomeadamente ao

educador de infância, que ajuda a nortear a construção e a gestão do currículo em

contexto de pré-escolar (ME, 2016). Desta forma, este documento foi extremamente

importante durante o meu percurso enquanto estagiária, uma vez que me auxiliou a

traçar objetivos que permitiram proporcionar às crianças a aquisição de competências

nos vários domínios do saber, promovendo assim o seu desenvolvimento holístico.

Acrescento ainda que não posso deixar de constatar e concordar que as OCEPE

7

constituem uma ferramenta fundamental de apoio ao desenvolvimento do trabalho do

educador enquanto profissional da Educação.

No que concerne às questões de ética e deontologia, importa salientar que “em

investigação, a ética consiste nas normas relativas aos procedimentos considerados

correctos e incorrectos por determinado grupo” (Bogdan & Biklen, 1994, p. 75). Os

mesmos autores referem ainda que “as questões éticas assumem diferentes formas

consoante surjam em momentos diferentes do trabalho de campo e do processo de

investigação” (p.78). Assim, para poder desenvolver a minha prática assente numa base

profissional ética e deontológica, norteei o meu estudo pelos princípios apresentados na

Carta de Princípios para uma Ética Profissional (Associação de Profissionais de

Educação de Infância [APEI], s.d.), nomeadamente a competência, ao tentar estar

sempre informada e atualizada relativamente à minha função enquanto educadora; a

responsabilidade, ao estar consciente da importância da minha prática assim como dos

deveres enquanto educadora; a integridade, ao defender os princípios em que acredito;

e, por fim, o respeito por todos os sujeitos envolvidos na minha prática. Estes

princípios levam em linha de conta o compromisso com as crianças, com as famílias,

com a equipa de trabalho, com a comunidade e com a sociedade.

A par destes princípios tive ainda em linha de conta os princípios éticos e

deontológicos no trabalho de investigação com crianças defendidos por Soares (citado

por Tomás, 2011), nomeadamente o respeito pela privacidade e confidencialidade,

relativamente ao registo fotográfico, ao nome da instituição, bem como aos nomes

utilizados para designar os sujeitos educativos (crianças e adultos), tendo optado por

utilizar as iniciais dos nomes próprios de cada um. Tive também em consideração o

princípio dos fundamentos, uma vez que foram tidas em conta as opiniões e decisões

das crianças e adultos envolvidos na investigação, contribuindo para uma análise e

reflexão dos métodos e objetivos da mesma. De realçar que este fundamento diz

respeito à importância de considerar o papel das crianças e dos adultos envolvidos na

investigação para não condicionar o seu desempenho (Tomás, 2011). Considerei

também o princípio da planificação e definição dos objetivos e dos métodos da

investigação, na medida em que os sujeitos educativos foram informados acerca da

investigação a ser realizada, incluindo os objetivos e os métodos. Uma outra

preocupação ainda relacionada com estes princípios teve que ver com o consentimento

informado (Apêndice A), sendo que foi enviado aos encarregados de educação, um

8

documento de autorização respeitante à utilização do registo fotográfico, bem como do

registo áudio das crianças, apenas para efeitos de investigação.

1.2 Caracterização da entidade cooperante

1.2.1 Contextualização do meio A prática profissional supervisionada em contexto de JI, realizou-se numa

Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS) que se encontra situada na

freguesia da Ajuda na zona ocidental de Lisboa. Existem bairros sociais na periferia,

revelando alguns deles graves problemas de ordem social.

Esta Instituição apresenta uma estreita relação com a comunidade envolvente,

visível ao nível das parcerias estabelecidas com diversas entidades, tais como, escolas,

autarquias, Junta de Freguesia, comércio local, entre outros, contando com a sua

colaboração na realização de diversas atividades/projetos.

Existem várias instituições na freguesia da Ajuda nas diferentes áreas

nomeadamente, social (associações, centros sociais e recreativos), saúde (centro de

saúde, farmácias, clínicas de análises), desporto (clubes, grupos e associações

desportivas, campos desportivos), educação (escolas de 1º, 2º e 3º ciclos, jardins de

infância, estabelecimentos de ensino superior, entidades de formação e uma Ludoteca) e

cultura (Arquivos históricos, Museus, Palácios, Bibliotecas). No que respeita à

população residente, a mesma é constituída por famílias portuguesas, de etnia

caucasiana e famílias de etnia cigana.

1.2.2. Caracterização da Instituição

A instituição onde se realizou a prática de ensino supervisionada é uma IPSS

com denominação e caráter de Associação, cujo principal objetivo é a dinamização de

um trabalho coletivo que visa o apoio à população do bairro e da restante freguesia,

através do funcionamento de várias valências e da realização de diferentes atividades.

De acordo com o Projeto Educativo (PE), esta Instituição tem como princípio

essencial desenvolver um trabalho que assenta em valores como a solidariedade, a

entreajuda, o sentido do eu e do outro, a justiça, a amizade e a verdade. Tem como

objetivos responder às necessidades e interesses das crianças e respetivas famílias, com

base nos valores acima mencionados, promover a formação contínua aos quadros de

pessoal, promover o intercâmbio entre instituições, fomentando a troca de experiências

9

pedagógicas, desenvolver reuniões periódicas com a equipa pedagógica, com a equipa

de ajudantes de ação educativa e com a equipa dos serviços gerais, promover encontros

de pais/encarregados de educação (reuniões, festas, comemorações) e fomentar o

espirito de equipa e as relações interpessoais.

No âmbito institucional, os objetivos encontram-se ao nível da intervenção junto

das crianças e respetivas famílias e partem dos valores acima referidos, pressupondo

sempre responder às suas necessidades e interesses. Todo o trabalho desenvolvido nesta

instituição implica uma relação de simbiose concertada de dentro para fora e vice-versa,

valorizando cada indivíduo inserido na comunidade onde habita (família, escola,

comunidade). Foca também o papel fundamental do adulto para as diversas

aprendizagens das crianças, promovendo a sua autonomia, bem como, de participar para

o bem-estar e segurança da criança. De acordo com o PE, a equipa pedagógica e a

comunidade escolar considera necessário dar continuidade aos temas tratados em PE

anteriores, nomeadamente, Educação para a Cidadania (valores) e Multiculturalidade,

dando especial relevo à criança enquanto sujeito ativo do processo educativo, ao

envolvimento das famílias neste mesmo processo e à relação com a comunidade

envolvente. Assim, o PE procura dar ênfase a esta vertente de intervenção partindo do

princípio que o desenvolvimento resulta de um processo de cooperação entre todos

aqueles que o influenciam e nele participam (escola, família e comunidade).

A instituição dispõe de três valências, creche, pré-escolar e terceira idade (centro

de dia/centro de convívio e apoio domiciliário). O estabelecimento em questão

encontra-se a funcionar distribuído por dois edifícios. No edifício sede encontra-se a

valência de pré-escolar, sendo que a valência de creche e terceira idade encontram-se

noutro edifício que dista aproximadamente 1 km.

No espaço interior, no r/c encontra-se a cozinha, a dispensa, o refeitório, o

ginásio/salão de festas, dispensa do material de ginástica, o palco, casa de banho e

vestiário das trabalhadoras, uma casa de banho para adultos e para crianças. Há duas

escadas de acesso ao primeiro andar, uma logo à entrada do lado esquerdo, e outras no

salão/ginásio do lado direito do palco. No 1º andar, encontra-se o Gabinete da Direção,

a Secretaria, Gabinete das Educadoras, três salas de Pré-Escolar (sala 1, sala 2 e sala 3).

Cada uma destas três salas tem no seu interior casa de banho para as crianças. No

exterior, tem um espaço de recreio coberto e um espaço de jardim com árvores e flores,

onde existem também alguns equipamentos lúdicos, mesas, bancos, três escorregas e

uma casinha.

10

1.2.3 Contextualização do contexto educativo de sala

O espaço da sala 1 do pré-escolar está organizado por áreas de interesse que

permite às crianças realizar escolhas e tomar iniciativa, envolvendo-as autonomamente

nas atividades. Tal como afirmam Hohmann e Weikart (2011) “o reconhecimento da

capacidade da criança para fazer escolhas e tomar decisões é um dos princípios

presentes na planificação do espaço” (p.162). Este está dividido em áreas de interesse

bem definidas, estando estas distribuídas em torno da sala, junto às paredes, de forma a

permitir uma fácil e livre circulação das crianças pelo espaço. Para além disso, existe

ainda um espaço dedicado às reuniões em grande grupo.

As áreas de interesse estão equipadas com materiais diversos, organizados de

acordo com as potencialidades de cada área. Estes materiais estão arrumados em

prateleiras ao alcance das crianças e visíveis às mesmas, permitindo que as crianças

tenham a possibilidade de escolher com o que brincar e de manipular os objetos.

As áreas de interesse existentes na sala são as seguintes: área da casa, área da

garagem, área dos blocos, área dos livros, área dos jogos e área da expressão plástica.

Os equipamentos são adequados às idades das crianças, tornando o ambiente seguro e

possibilitando às crianças fazer explorações, representar e resolver problemas,

envolvendo-se assim numa diversidade de brincadeiras.

A área da casa está equipada com mobiliário que representa os móveis de uma

casa, utensílios de cozinha, bonecos e outros objetos do dia-a-dia das crianças que

permitem a estas expressarem-se através do jogo simbólico, desenvolvendo algumas

capacidades e relacionando-se socialmente. A área dos livros está equipada com alguns

livros de histórias arrumados numa estante ao alcance das crianças. Estas podem sentar-

se para “ler” os livros, contactando com eles e com suas imagens. Na área dos blocos e

garagem há blocos de construção grandes, diversos carrinhos, camiões e animais. A área

dos jogos possui jogos de construção e de encaixe. A sala possui quatro mesas

retangulares onde as crianças realizam diversas atividades, livres ou dirigidas.

Os materiais são arrumados sempre no mesmo lugar, pois assim as crianças

sabem onde encontrá-los e depois podem arrumá-los novamente no lugar certo. “Os

objetos e materiais são arrumados sempre nos mesmos locais para que as crianças

possam localizá-los e, consequentemente desenvolvam o sentido de controlo sobre o seu

próprio ambiente.” (Hohmann & Weikart, 2011, p.162).

11

De salientar que nas paredes do interior da sala existem placares onde são

expostos os trabalhos das crianças, recorrendo sempre que necessário às paredes, pois

são também utilizadas como expositores dos trabalhos das mesmas, havendo a

preocupação de os afixar à altura das crianças, de modo a que estas possam ver os seus

próprios trabalhos, identificarem-se neles, valorizarem-nos e sentirem-se valorizadas e

atribuírem-lhes significado (Post & Hohmann, 2003). Apenas as informações para os

adultos são afixadas a uma altura maior. Para além dos trabalhos expostas das crianças e

das informações para os adultos, é possível encontrar exposto numa das paredes da sala

o mapa do tempo.

1.2.4 Equipa Educativa

No que se refere à equipa educativa da Instituição, esta é composta por uma

coordenadora pedagógica, três educadoras de infância, seis auxiliares da ação educativa,

uma técnica de serviço social, uma administrativa, um professor de educação física, três

cozinheiras, um fiel de armazém e quatro auxiliares de serviços gerais.

Após a apresentação dos elementos que compõem este estabelecimento de

ensino e que permitem levar a cabo a sua missão, parece-me pertinente abordar alguns

aspetos relevantes sobre a dinâmica de funcionamento da equipa educativa de uma

forma geral, e mais particularmente direcionada à equipa de sala.

Tendo em conta a estrutura organizacional da Instituição no que diz respeito ao

pessoal docente e não docente, existe entre ambos uma boa relação de colaboração e

cooperação, assente em valores como o diálogo, a entreajuda e o envolvimento por parte

de todos os elementos no processo educativo, os quais são visíveis em várias ações

realizadas na Instituição, tais como: as reuniões que se realizam sobre o projeto

educativo, como sobre outros projetos específicos desenvolvidos e partilhados com

outros parceiros sociais. Estas reuniões de equipa são compostas pela coordenadora e

por uma educadora da equipa educativa de cada sala que tem a responsabilidade de

posteriormente reunir com a respetiva equipa de sala para comunicar o conteúdo das

reuniões e as decisões que foram tomadas. De salientar que me parece igualmente

importante que estas reuniões se estendam também às auxiliares educativas, pois julgo

ser uma mais-valia que todas possam ser ouvidas e envolvidas, para que se sintam parte

integrante do processo educativo, incluindo o pessoal dos serviços gerais, visto que este

setor apoia bastante os momentos de “quebra” de pessoal, passeios realizados ao

exterior e visitas de estudo. É importante que toda a equipa esteja envolvida nas

12

diversas ações a fim de fomentar um ambiente de bem-estar geral, promovendo uma

relação mais próxima de forma a que todos contribuam para a criação e manutenção de

um clima organizacional de satisfação.

Fazendo uma análise mais particular da sala alvo de intervenção, a sala 1 do pré-

escolar dos três anos esta é constituída por dois elementos, uma educadora e uma

auxiliar de educação. Durante o período de observação e intervenção, um dos aspeto a

salientar é sem dúvida a dinâmica da equipa educativa, havendo entre os dois elementos

uma relação estreita baseada em valores democráticos como o diálogo e a cooperação,

onde se torna evidente uma partilha de responsabilidade e poder, uma vez que todos os

elementos expõem as suas opiniões, sejam elas de concordância ou não, tentando chegar

sempre a um consenso. Assim, todas as decisões são tomadas em conjunto e com o

contributo destes dois elementos. Essa partilha é também visível ao nível do controlo do

grupo e na condução de atividades, sendo assim reconhecida pelo grupo a voz ativa de

cada elemento da equipa.

1.2.5 Contextualização do grupo

Cada grupo de crianças é único e o seu funcionamento é influenciado por fatores

como: “as características individuais das crianças que o compõem, o maior ou menor

número de crianças de cada sexo, a diversidade de idades das crianças, a dimensão do

grupo” (ME, 2016, p.26), por isso cabe ao educador conhecer bem estas características

para assim organizar um ambiente educativo que esteja de acordo com as necessidades

de aprendizagem das crianças.

O grupo da Sala 1 do pré-escolar, alvo de intervenção, é composto por um total

de 19 crianças, sete rapazes e 12 raparigas, com três anos. De acordo com os dados

obtidos através das fichas de inscrições e de anamnese das crianças, a maioria delas

frequentou a sala de creche, sendo que entraram seis crianças novas no grupo, das quais

quatro nunca frequentaram uma instituição educativa, estando em casa com a mãe, avós

e restante família. Em linhas gerais, tendo por base o Projeto Pedagógico de Sala (PPS)

(2015/2016),1 bem como a observação direta do grupo durante os vários momentos do

dia, pode afirmar-se que o grupo está bem adaptado, pois as crianças já estão

1 Durante o período de intervenção não foi possível consultar o Projeto Pedagógico de Sala 2016/2017

uma vez que este documento se encontrava ainda em elaboração. Assim, para recolher informações consultou-se o PPS do ano transato (2015/2016).

13

familiarizadas com as rotinas diárias e já não estranham a separação dos familiares

quando estes os deixam na sala. Para este aspeto contribui a existência de uma

integração coesa entre as crianças e a equipa educativa, pautada pelo respeito, afeto,

partilha de autonomia e responsabilização de todos os elementos para a manutenção de

um ambiente agradável de aprendizagem; tais valores foram fundamentais para

estimular e desenvolver o sentido de autonomia no grupo que se revela bastante

elevado, pois todas as crianças já desempenham autonomamente as várias rotinas de

sala, bem como todas as tarefas solicitadas pelo adulto, tais como: escolher

autonomamente a área onde querem brincar, arrumar as respetivas áreas quando

solicitado pelo adulto, entre outros aspetos.

O grupo demonstra ter iniciativa no decorrer da rotina diária, pois já compreende

o que deve fazer no momento a seguir e consegue escolher os brinquedos com que quer

brincar.

Partindo do PPS 2015/2016 e das observações realizadas, o grupo de crianças

revela-se interessado, apesar de ainda não apresentar a capacidade de fazer propostas de

atividades e de colocar questões relativamente ao meio envolvente. Do que pude

observar, as crianças são recetivas aquando das sugestões dos adultos, não mostrando

autonomia e confiança para sugerir uma atividade ou para apresentar as suas dúvidas e

curiosidades. Assim, este grupo de crianças revela uma grande dependência do adulto

no que concerne aos assuntos e domínios trabalhados em sala. Julgo que esta

dificuldade em questionar deve-se ao facto de não estar estabelecido na rotina deste

grupo momentos que propiciem a participação ativa das crianças. As questões e

temáticas trabalhadas são, por norma, predefinidas e apresentadas pelos adultos da sala,

havendo pouco espaço para a voz da criança. Relativamente à capacidade de manter a

atenção e concentração, as crianças conseguem manter-se em atividade durante bastante

tempo, o que facilita um maior estímulo do desenvolvimento das suas competências,

nomeadamente na dinamização de atividades mais estruturadas, bem como durante os

momentos de atividades livres nas áreas pedagógicas. Em termos dos domínios da

aprendizagem (ME, 2016), e no que diz respeito à linguagem, o grupo demonstra uma

boa compreensão dos enunciados orais, sendo as crianças do ponto de vista da produção

já capazes de construir frases mais complexas e de manter um diálogo entre pares e com

os adultos, havendo apenas duas crianças que apesar de já demonstrarem capacidade de

comunicação oral, só agora começaram a construir frases simples. De um modo geral,

todas as crianças possuem um conjunto lexical adequado ao seu escalão etário. Ao nível

14

da matemática, as crianças já vão interiorizando determinados conteúdos deste domínio,

uma vez que revelam compreender que os objetos apresentam características que

permitem comparar, medir e contar. Relativamente ao domínio formação social e

pessoal, esta é na minha opinião a mais privilegiada, mostrando o grupo competências

importantes neste domínio. Ao nível das relações interpessoais verifica-se que as

crianças conseguem estabelecer uma boa interação com os pares, partilhando os

momentos de brincadeira e colaborando uns com os outros na construção do jogo

simbólico, principalmente nas áreas da casa e da garagem. No que se refere à relação

criança-adulto, verifica-se que a criança reconhece o papel do adulto nos vários

elementos da equipa educativa de sala, estabelecendo-se entre ambos uma relação de

respeito, afeto, partilha e cooperação, no entanto, há que salientar a existência de um

pequeno grupo de crianças menos extrovertidas que necessitam mais da mediação por

parte do adulto. Por fim, referir que o grupo de crianças mostra um particular interesse

pela área do Conhecimento do Mundo, facto que poderá denunciar a falta de estímulos e

de oportunidades de aprendizagem. Assim, considero tratar-se de um dos pontos fracos

do grupo, principalmente ao nível das ciências naturais, visto ser pouco trabalhado.

1.3 Desenvolvimento da prática profissional e problematização da questão de

partida

A partir da caraterização do grupo anteriormente apresentada, assim como de

toda a informação recolhida ao longo da prática pedagógica, foram identificadas

algumas fragilidades no grupo que vieram dar corpo à problemática e a todo o trabalho

desenvolvido. Tais fragilidades prendem-se com o facto de as crianças do grupo em

questão terem um reduzido papel ativo na construção do seu conhecimento, sendo

sobretudo recetoras de informação, por sua vez, transmitida pelos adultos da sala,

estando, por isso, pouco familiarizadas com atitudes de questionamento e reflexão face

ao que as rodeia. No decorrer do período de observação foi ainda possível constatar os

escassos ou quase inexistentes momentos de exploração e aprendizagem no âmbito do

conhecimento do mundo, nomeadamente ao nível das ciências naturais, como tal, a

minha prática pedagógica foi desenvolvida com o objetivo de contribuir para o

desenvolvimento de uma postura mais ativa por parte das crianças na construção do

seu conhecimento, despertando nelas a curiosidade e o interesse, estimulando-as a

questionar e pensar sobre o que as rodeia. Para além disso, a minha prática concorreu

15

também para dar mais voz ativa à criança, fomentando a sua liberdade de escolha e

autonomia ao nível das atividades.

Perante a problemática identificada e os objetivos definidos, e considerando os

pressupostos pedagógicos que norteiam a minha prática pedagógica, considerei

pertinente implementar a metodologia de trabalho de projeto com o grupo. Tal justifica-

se também pelo facto da mesma ser potenciadora de aprendizagens ativas, cooperativas

e transdisciplinares, adotando o adulto um papel de mediador dessas mesmas

aprendizagens, em que “o saber é co-construído pelo aluno com a mediação do mestre”

(Altet, 1997, p.29).

De salientar que, na condição de auxiliar de ação educativa, poucas foram as

vezes que vi a metodologia de trabalho de projeto ser implementada, principalmente

com esta faixa etária, tornando-se assim, este um grande desafio para mim, levando ao

surgimento de dúvidas e algumas incertezas. Estas acompanharam-me durante algum

tempo, principalmente no início da minha intervenção, chegando mesmo a sentir uma

forte necessidade de pesquisar sobre a temática e de ouvir a opinião de algumas

docentes e da minha orientadora de estágio, no entanto, por acreditar nos princípios da

pedagogia ativa e, mais concretamente na metodologia de trabalho de projeto,

considerei relevante levar a cabo esta minha intencionalidade, reconhecendo nas

fragilidades do grupo a potencialidade para introduzir uma nova metodologia de

trabalho com estas crianças em particular.

16

CAPÍTULO 2 – ESTUDO EMPÍRICO

2.1. Enquadramento Teórico

“As relações e as interações que a criança estabelece com adultos e com outras crianças,

assim como as experiências que lhe são proporcionadas pelos contextos sociais e físicos

em que vive constituem oportunidades de aprendizagem, que vão contribuir para o seu

desenvolvimento.” (ME, 2016, p.8)

Tendo por base os pressupostos apresentados no Capítulo 1, e partindo da

problemática já referida anteriormente, a minha ação pedagógica assenta no princípio

base de que a criança aprende fazendo, implementando deste modo a Metodologia de

Trabalho de Projeto, sendo esta uma metodologia que estimula as necessidades de

compreensão, ação e realização e onde é dada importância ao papel ativo das crianças

no próprio processo de aprendizagem. Segundo as OCEPE (ME 2016), a curiosidade é

estimulada e alargada na educação pré-escolar, através de oportunidades de contactar

com novas situações que são ao mesmo tempo ocasiões de descoberta e de exploração

do mundo.

Desta forma, e enquadrando melhor o estudo realizado, importa refletir sobre o

conceito de Aprendizagem Ativa, bem como sobre os pressupostos que a Metodologia

de Trabalho de Projeto encerra. Considerei também pertinente apresentar um breve

enquadramento sobre o conceito de Conhecimento do Mundo, uma vez que o trabalho

desenvolvido segundo a MTP teve a sua origem a partir de uma questão acerca deste

domínio do saber.

2.2. Definição de conceitos

2.2.1. Conceito de Aprendizagem Ativa

“A aprendizagem não é resultado do desenvolvimento; a aprendizagem é

desenvolvimento.” (Fosnot, 1999, p.52)

17

O conceito de aprendizagem ativa tem sido ao longo dos anos vastamente

abordado por diversos autores de referência.

O termo “ativa” vem dar uma nova roupagem ao que se entende por

aprendizagem, opondo-se ao estilo de aprendizagem preconizada pelos modelos

pedagógicos tradicionais, cuja tónica é colocada no professor como transmissor de

informação, tendo as crianças um papel passivo em todo o processo (Altet, 1997). Altet

(1997) defende que “…a aprendizagem é assim definida como um processo de

apropriação pessoal do sujeito, um processo significativo que constrói um sentido e um

processo de mudança” (p.30). Já Hohmann e Weikart (2011) advogam que “a

aprendizagem pela acção é definida como a aprendizagem na qual a criança, através da

sua acção sobre os objetos e da sua inter-acção com pessoas, ideias e acontecimentos,

constrói novos entendimentos” (p.22).

Este conceito tem a sua base nas perspetivas construtivistas, onde se destaca a

teoria Piagetiana. A proposta de Piaget relativamente ao processo de aprendizagem é

pautada pela perspetiva construtivista, a qual pressupõe a construção do conhecimento

pelo próprio indivíduo, através da busca do saber no meio envolvente, sendo assim,

fruto da interação entre o sujeito e os elementos presentes no contexto em que se insere

(Ferreiro & Teberosky, 1990). Piaget (citado por Ferreiro & Teberosky, 1990) oferece-

nos então uma conceptualização de aprendizagem enquanto processo ativo de aquisição

do conhecimento, no sentido em que, conforme referem Ferreiro e Teberosky (1990) o

“(…) sujeito (…) procura ativamente compreender o mundo que o rodeia (…)” (p.26),

quer cognitivamente, comparando, excluindo, ordenando, categorizando, comprovando

e formulando hipóteses, quer através da sua “ação efetiva” no meio, com vista à

resolução de problemas e desafios com que se depara derivados da sua interação com o

meio.

Piaget (1983) designou por esquemas o conjunto de ações ou estratégias às quais

um indivíduo recorre mediante determinada situação com que se depara. Por outras

palavras, correspondem aos conhecimentos que o indivíduo possui e que lhe permitem

dar respostas face aos problemas que emanem da sua interação com o meio. Quando os

esquemas de que um indivíduo dispõe não lhe permitem solucionar uma determinada

tarefa dá-se aquilo a que Piaget denominou por conflito cognitivo, isto é, uma

perturbação. Segundo Ferreiro e Teberosky (1990) isto exige que o sujeito modifique os

seus esquemas assimiladores e realize um esforço de acomodação para incorporar novos

esquemas. Perante esta situação, e sendo o indivíduo responsável pela construção do seu

18

próprio conhecimento, este vai mobilizar outros esquemas que possui, relativos a outros

contextos, e averiguar se poderão ser aplicados a essa tarefa, bem como irá proceder à

experimentação de esquemas novos, designando-se este processo por assimilação.

Quando se apercebe que encontrou o esquema que permite dar resposta ao problema,

então dá-se a acomodação, isto é, há uma alteração do esquema anterior, melhorando e

ampliando os esquemas de resolução que culminam na aquisição de conhecimento. Na

posse dos esquemas que servem à resolução dos problemas, o indivíduo encontra-se

assim em equilibração até ser confrontado com um novo conflito cognitivo (Piaget,

1983; Sprinthall & Sprinthall, 1993).

Do ponto de vista pedagógico, cabe então ao Educador/Professor expor os

alunos a conflitos cognitivos, concedendo-lhes ferramentas necessárias para

assimilarem e acomodarem novos esquemas, o que, por sua vez irá permitir que estes

alcancem novamente o equilíbrio, até ao surgimento de um novo conflito (Sprinthall &

Sprinthall, 1993. Isto implica que a criança seja valorizada enquanto agente ativo na

produção do seu próprio conhecimento, isto é, que reflita sobre o que a rodeia, que

coloque questões, procure, apresente e discuta hipóteses de resposta, experimente

soluções, uma vez que “o desenvolvimento cognitivo depende da ação” (Sprinthall &

Sprinthall, 1993, p.113). Todo esse processo de raciocínio e relacionamento de aspetos

devem ser tidos em conta, pois são reveladores do grau de desenvolvimento cognitivo

em que a criança se encontra. De referir, também, que o desenvolvimento cognitivo se

processa em diversos estádios, havendo uma progressão sequencial entre eles que tem

de ser respeitada, pelo que as atividades devem estar adaptadas à idade e ao estádio de

desenvolvimento da criança, para que sejam exequíveis, possíveis de solucionar

mediante as suas capacidades e potencialidades (cognitivas, motoras, sensoriais)

(Sprinthall & Sprinthall, 1993). Para além disso, estas atividades devem emergir de

interesses demonstrados pela criança, pois o seu nível de motivação será tanto maior

quanto mais interessada esta estiver no tema, para tal, é muito produtivo partir de

aspetos da sua própria realidade pois, ao compreender a relação entre o que está a

aprender e o seu contexto, a criança sente-se motivada e envolvida na tarefa e, como

consequência, a aprendizagem torna-se significativa (Sprinthall & Sprinthall, 1993).

A perspetiva construtivista postula que a aprendizagem é construída pelo sujeito

em função da sua interação com o objeto de conhecimento, conforme defende Piaget,

sendo o nível de desenvolvimento da criança um fator determinante para a aquisição de

conhecimento (Folque, 1999). Vygotsky, também percursor do modelo construtivista,

19

veio introduzir algumas diferenças ao nível da conceptualização da aprendizagem.

Segundo este autor, a aprendizagem é fruto, não só da interação entre o sujeito e o

objeto, partilhando neste ponto a tese de Piaget, mas também do contexto histórico-

cultural do sujeito no qual essa interação se processa (Fino, 2001; Folque, 1999), tal

justifica-se visto que “o desenvolvimento se constrói através de práticas sociais, dentro

de parâmetros históricos e culturais.” (Folque, 1999, p.5), sendo assim fundamentais as

interações sociais que se estabelecem entre os pares, ou seja, por um lado, entre o adulto

e a criança e, por outro, entre crianças. Desta forma, Vygotksy (citado por Fino, 2001)

veio defender que a aprendizagem se processa por meio da cooperação entre os vários

agentes de interação. Na sua tese considera dois princípios fundamentais: defende que

os processos psicológicos se constroem a partir dos aspetos sociais, culminando nos

individuais e apresenta a distinção entre Zona de Desenvolvimento Atual (ZDA) e Zona

de Desenvolvimento Proximal. Relativamente ao primeiro princípio Vygotksy diz-nos

que existe um conjunto de conhecimentos anterior à criança, tal como a língua e a

cultura, que é partilhado e que, para que estes conhecimentos sejam transmitidos à

criança tem de haver um adulto que torne este conhecimento compreensível,

desempenhando assim o papel de mediador, para que, posteriormente, esta o internalize,

e passe a ser autónoma e ativa na construção do mesmo. Desta forma, o conhecimento é

transmitido através de um processo interpessoal e passa a intrapsicológico quando a

criança se torna agente ativo na sua construção, apropriando-se dele e transformando-o

(Fino, 2001), processo este que lhe permitirá obter um domínio do sistema de signos do

contexto em que se insere. Já no segundo princípio este autor defende que o conjunto de

conhecimentos que a criança detém e que lhe possibilitam efetuar determinadas tarefas

de forma autónoma, corresponde à ZDA. Já a ZDP diz respeito à:

distância que medeia entre o nível atual de desenvolvimento da criança,

determinado pela sua capacidade de resolver problemas individualmente, e o

nível de desenvolvimento potencial, determinado através da resolução de

problemas sob orientação de adultos ou em colaboração com pares mais capazes

(Fino, 2001, p.5).

Por outras palavras, a ZDP é a diferença entre as ações que a criança consegue

desempenhar sozinha, sem ajuda, e aquelas que cuja produção está ainda dependente do

adulto e/ou dos pares enquanto agentes mediadores. Será, então através de uma

20

aprendizagem cooperativa (entre criança-adulto e criança-pares capazes, sendo o adulto

e pares capazes os agentes mediadores, pois já dominam determinado conhecimento,)

que toda a herança sociocultural, materializada no conhecimento, em sentido lato, irá

transitar da ZDA para a ZDP, correspondendo assim esta transição a uma internalização

do conhecimento e a um consequente domínio dos sistemas de signos, o que, por sua

vez, torna a criança apta para assumir a função de agente mediador para terceiros (Fino,

2001; Yudina, 2009; Oers, 2009).

Tendo em conta o exposto, o processo de aprendizagem deverá ser dinâmico,

despertando maior interesse e curiosidade na criança, tornando-as assim mais ativas na

construção do seu conhecimento. As crianças devem ser encorajadas a terem iniciativa

própria e a expor as suas intenções revelando interesse em encontrar por elas próprias

respostas para as questões que lhes surgem, partilhando com os outros o que vão

descobrindo, sendo o papel do adulto o de apoiar, mostrando o seu verdadeiro interesse

no que as crianças vão referindo e fazendo (Hohmann & Weikart, 2011).

Esta conceção de aprendizagem ativa está intimamente relacionada com a

motivação intrínseca (Marchesi, 2006) da criança de querer descobrir o mundo à sua

volta. Motivação é o impulso para agir em prol de determinado objetivo, sendo

intrínseco quando parte do interesse da própria criança, da sua curiosidade ou satisfação

em aprender determinado conteúdo que considera útil, tirando assim partido da tarefa e

divertindo-se com a realização da mesma (Sprinthall & Sprinthall, 1993). Desta forma,

toda e qualquer tarefa realizada por motivação intrínseca promove uma aprendizagem

significativa, pois a criança desempenha a tarefa para se sentir realizada consigo

própria, empenhando-se e dedicando tempo à mesma, superando com menor esforço os

obstáculos.

2.2.2. Conceito de Metodologia de Trabalho de Projeto

“Um projeto é um processo consciente, integrador de uma estrutura aberta e de um

cenário de aprendizagem significativa … ”

(Miranda Santos, citado por Mendonça, 2002, p.18)

A Metodologia de Trabalho de Projeto emergiu a partir dos princípios

defendidos por John Dewey que advogava que “educar significa desenvolver a

capacidade de pensar e decidir em situações novas e de complexidade crescente”

21

(Mendonça, 2002, p.62). Corroborando da opinião e princípios de Dewey, vários são os

autores que defendem os contributos desta abordagem pedagógica para potenciar o

desenvolvimento harmonioso da criança. Silva (2005) define projeto como “todo o tipo

de introdução de atividades globalizantes no processo de ensino e de aprendizagem”

(p.8). Já Mendonça (2002) afirma que uma das mais-valias desta metodologia prende-se

com o facto de esta possibilitar uma “personalização/autonomização” (p.65) que advém

da escolha e dos interesses dos intervenientes. Também Katz (citado por Mendonça,

2002) nos oferece a sua visão acerca deste conceito, segundo o qual um projeto

materializa-se numa “investigação em profundidade sobre uma situação problemática”

(p.81), sendo esta relevante tanto na ótica do educador, no que concerne às suas

intencionalidades pedagógicas, como na ótica das crianças, de forma de responder aos

seus interesses e motivações. Perrenoud (2001) e Vasconcelos et al. (2011) afirmam que

a metodologia de trabalho de projeto implica a realização de um conjunto de tarefas nas

quais os alunos desempenham um papel ativo, extensível também à tomada de decisões,

cabendo ao docente apenas monitorizar todo o processo. Mendonça (2002) refere-nos

ainda que, durante o processo de aprendizagem é fundamental que o educador “guie,

motive, confronte e sustente a aprendizagem e o desenvolvimento de cada criança

enquanto diferença permanente” (p.77).

Segundo Vasconcelos (2011) o trabalho de projeto “contribui para que as

aprendizagens tenham um significado, sejam portadoras de sentido, envolvendo as

crianças (ou os adultos) na resolução de problemas reais ou na busca de respostas

desconhecidas” (p.9). Já Rangel e Gonçalves (2011) defendem que a metodologia de

trabalho de projeto dá-nos a certeza de desenvolver o trabalho escolar e a aprendizagem

a partir dos interesses, questões e interrogações que os alunos apresentam acerca do

mundo e do meio que os rodeia, envolve os alunos na planificação do trabalho a

realizar, não só a nível concetual mas também funcional. A metodologia do projeto

permite também que o grupo trabalhe com base na cooperação e colaboração e ainda

que sejam mobilizados recursos mais abrangentes de forma a encontrar respostas e uma

compreensão mais ampla do problema. As autoras Castro e Ricardo (2002) referem

ainda que:

O trabalho de projeto é, pois, uma metodologia investigativa centrada na

resolução de problemas. Estes deverão ser pertinentes para quem procura

resolvê-los, deverão constituir ocasião para novas aprendizagens e ter uma

22

ligação à sociedade na qual os alunos vivem. E terão, naturalmente, que ser

realizáveis com o tempo, as pessoas e os recursos disponíveis ou acessíveis.

Trata-se de uma aprendizagem-acção, na qual o processo pode ser tanto – ou

mais – importante do que o produto (p.11)

Vasconcelos et al. (2011) chamam ainda à atenção para o facto do trabalho de

projeto vir intencionalizar determinados processos, como a leitura e a escrita, nos

primeiros anos, e ao recorrer a metodologias de trabalho ativas, impulsionam a criança

para processos de investigação, permitindo-lhe um trabalho continuado na zona de

desenvolvimento proximal, conceito já apresentado anteriormente. Assim, na educação

pré-escolar o trabalho desenvolvido com as crianças deve representar uma extensão da

curiosidade das mesmas, que emerge naturalmente em cada uma delas, em função dos

estímulos a que estas são expostas, proporcionando-lhes momentos de exploração e

descoberta que culminem em situações de aprendizagens prazerosas e significativas

para as mesmas. Posto isto, torna-se fundamental a adoção de estratégias ou abordagens

pedagógicas por parte do educador, que privilegiem o questionamento e reflexão

conjunta com o grupo acerca de determinados assuntos pelos quais demonstram

interesse e curiosidade.

Tendo por base Vasconcelos, et al. (2011), a metodologia de trabalho de projeto

desenvolve-se em quatro fases distintas, nomeadamente: a definição de problema, a

planificação e desenvolvimento do trabalho, a execução e, ainda a avaliação e

divulgação.

No que concerne à definição do problema esta materializa-se na emergência da

problemática, nomeadamente a definição do assunto/temática a aprofundar, partindo

sempre das curiosidades e questões levantadas pelas crianças. Autores como Katz e

Chard (2009) salientam a importância do papel do educador em estar atento às

brincadeiras e comentários das crianças como forma de perceber os seus interesses e

curiosidades. Nesta primeira fase, surge a questão de partida que norteará todo o

processo, levando as crianças em pequeno ou grande grupo a enumerar o que querem

descobrir, o que já sabem acerca da temática, assim como a forma/recursos necessários

para levar a cabo o projeto. Desta forma, o grupo constrói uma teia inicial, devendo o

educador construir também a sua própria teia a partir das sugestões do grupo com o

objetivo de definir as suas intencionalidades pedagógicas relativas a este projeto

(Vasconcelos et al., 2011).

23

Relativamente à planificação e desenvolvimento do trabalho, segunda fase do

projeto, o grupo realiza uma recolha de informação sobre a temática escolhida, com o

intuito de elaborar “mapas conceptuais, teias ou redes como linhas de pesquisa”

(Vasconcelos et al., 2011, p.15), definir “o que se vai fazer, por onde se começa, como

se vai fazer” (Vasconcelos et al., 2011, p.15), assim como dividir as tarefas, planear o

trabalho a ser desenvolvido e inventariar os recursos necessários (Vasconcelos et al.,

2011). Tal como é apontado por Vasconcelos et al., a segunda fase de um trabalho de

projeto define-se pela palavra planeamento, uma vez que é nesta fase que o grupo de

crianças e o educador delineiam e traçam o caminho a seguir nas próximas fases.

Partindo da planificação elaborada na fase anterior, inicia-se a execução do

projeto, durante a qual “as crianças partem para o processo de pesquisa” (Vasconcelos

et al., 2011, p. 16) através de atividades e tarefas de vários domínios com o objetivo

principal de obter resposta às suas questões e curiosidades. Esta fase assenta num

“trabalho de campo” (Katz & Chard, 2009, p.163) com o propósito de responder às

questões levantadas aquando da primeira fase. Deste modo, as crianças vão construindo

conhecimento acerca da temática em estudo, chegando a uma resposta para a pergunta

de partida, desencadeadora do projeto. Após a realização das atividades, as crianças

organizam a informação recolhida, recorrendo a uma vasta panóplia de linguagens

gráficas, nomeadamente, através de desenhos, de fotografias, de textos e até de

construções a três dimensões. Ainda nesta fase, é possível realizar com o grupo de

crianças uma síntese da informação recolhida, como por exemplo, com a elaboração de

gráficos, o que permite às crianças comparar os conhecimentos adquiridos ao longo das

atividades com as ideias apontadas inicialmente. Assim, a teia elaborada na primeira

fase pode sofrer alterações “em diferentes momentos do processo” (Vasconcelos et al.,

2011, p.16) como forma de atualizar a informação e redirecionar o processo.

Já a avaliação e divulgação do projeto define-se como “a fase da socialização do

saber” (Vasconcelos et al., 2011, p.17), uma vez que as crianças comunicam as suas

aprendizagens a terceiros, nomeadamente às suas famílias e aos colegas das outras salas.

Katz e Chard (2009) alertam-nos para a importância destas comunicações pois

permitem que as crianças sintam que pertencem “a uma unidade social mais alargada

dentro da sua escola” (p.186). Estas autoras advogam ainda que esta última fase do

projeto, de partilha de conhecimento, possibilita uma extensão das aprendizagens e

conhecimentos adquiridos ao longo do projeto a outras crianças e adultos, valorizando

assim o processo e as aquisições dos elementos do grupo envolvidos no mesmo. Para

24

Katz e Chard (2009), o objetivo desta comunicação passa por “partilhar com os outros a

evolução da aprendizagem” (p.187), dando espaço à espontaneidade e improvisação.

Partindo da documentação do projeto, ou seja, dos registos e documentos elaborados ao

longo do processo, realiza-se uma avaliação, conjuntamente com as crianças, do

trabalho desenvolvido, da intervenção de todos os elementos envolvidos no projeto, da

qualidade da pesquisa e das competências desenvolvidas (Vasconcelos et al., 2011; Katz

& Chard, 2009).

Importa ainda referir que o processo avaliativo deve ser constante ao longo de

todo o projeto como forma de reajustar o planeamento e ir assim ao encontro da

necessidades e curiosidades do grupo de crianças (Vasconcelos et al., 2011).

2.2.3. O Domínio do Conhecimento do Mundo em Pré-escolar

A “Área do Conhecimento do Mundo – é uma área integradora de

diferentes saberes, onde se procura que a criança adote uma atitude de

questionamento e de procura organizada do saber (…)” (ME, 2016, p.7)

Tal como já foi referido aquando da caraterização das crianças, este grupo

apresentava dificuldade em levantar questões sobre o meio envolvente e em propor

temáticas do seu interesse para serem desenvolvidas e trabalhadas em sala. Desta forma,

e reconhecendo que o domínio do conhecimento do mundo tem as suas raízes nas

curiosidades das crianças e no seu desejo de procurar sentido para o que as rodeia (ME,

2016), considerei pertinente utilizar a metodologia de trabalho de projeto como forma

de potenciar aprendizagens no domínio do conhecimento do mundo. Guedes (2011)

considera que:

o trabalho em projetos é a forma mais eficaz de desenvolver competências

fundamentais para uma verdadeira cultura científica, pois sustenta as

aprendizagens na investigação, na pesquisa, na recolha de dados e seu

tratamento, na elaboração de produtos culturais e na comunicação do processo e

produto final, validando socialmente todo o trabalho (p.5).

A ciência é uma construção humana coletiva da qual participam essencialmente

a curiosidade, a imaginação, a experimentação e exploração, levando as crianças à

25

descoberta do meio envolvente. Segundo Vasconcelos et al. (2011) “a Ciência é, e

oferece às crianças, muito mais do que um corpo sólido de conhecimentos, ela constitui-

se também como uma forma de pensar e descobrir” (p.35).

Conforme consta das Orientações Curriculares para a Educação Pré-escolar

(ME, 2016) as ciências naturais são um dos domínios do saber contemplado na área de

conhecimento do mundo. Este domínio deixa antever a importância da exploração e

compreensão de aspetos da realidade através de abordagens que promovam “nas

crianças uma atitude científica e experimental” (ME, 2016, p.89).

Autores como Martins et al. (2009) referem que a literacia científica, no sentido

de educar para as ciências, deve ser promovida logo na educação pré-escolar. Essa

importância advém do facto de as crianças em idade pré-escolar formularem as suas

próprias explicações para determinados acontecimentos, explicações essas que podem

não corresponder à realidade dos factos, mas que são reveladoras da capacidade

reflexiva sobre a realidade, mostrando assim as crianças pensamento crítico.

Desta forma, torna-se pertinente introduzir nesta faixa etária (dos 3 aos 6 anos) o

conceito de trabalho experimental, em contexto pré-escolar, e os procedimentos

associados, nomeadamente o estabelecimento de previsões, que se irão materializar nas

ideias que a criança tem sobre algo; a observação; o registo e a discussão das

conclusões, onde é feito uma comparação entre as previsões iniciais que a criança

formulou e as conclusões a que chegou no final da atividade experimental (Martins et

al., 2009). Martins et al. (2009) afirmam mesmo que “a utilização de uma linguagem

científica adequada com crianças pequenas pode influenciar o desenvolvimento de

conceitos científicos” (p.13), cabendo ao educador promover momentos de partilha e

interação entre as crianças, ajudando-as assim a “compreender alguns conceitos

científicos elementares e pensar criticamente” (p.13).

Assim, na educação pré-escolar o trabalho desenvolvido deve representar uma

extensão das curiosidades que emergem naturalmente em cada criança em função dos

estímulos a que esta é exposta, proporcionando-lhe momentos de exploração e

descoberta que culminem em situações de aprendizagens prazerosas e significativas.

Quando uma criança formula perguntas é porque se começa a interessar e porque se

quer envolver na compreensão do mundo que a rodeia e na aprendizagem sendo por isso

fundamental continuar a fomentar esse desejo de querer saber cada vez mais (Martins et

al., 2009; ME, 2016).

26

Após apresentar estes três conceitos – Aprendizagem Ativa, Metodologia de

Trabalho de Projeto e Conhecimento do Mundo – é possível estabelecer uma simbiose

entre eles uma vez que as temáticas dos projetos surgem das vivências que as crianças

têm no meio que as envolve e, tal como nos diz Vasconcelos (citado por Mendonça,

2002), que lhes possibilita questionar e colocar problemas cruciais para o

desenvolvimento do espírito científico, competência fundamental no domínio do

Conhecimento do Mundo.

2.3. Objeto de estudo

Considerando as fragilidades do grupo descritas no capítulo 1 o objeto de estudo

desta investigação materializou-se na implementação da metodologia de trabalho de

projeto como estratégia para estimular no grupo uma participação mais ativa em todo o

processo de desenvolvimento e aprendizagem. Conforme referem Katz e Chard (2009),

“o trabalho de projeto acentua a participação ativa das crianças no planeamento,

desenvolvimento e avaliação do seu próprio trabalho” (p.5), favorecendo também o

desenvolvimento de competências sociais, nomeadamente, a iniciativa, a capacidade de

liderança e de fazer escolhas, assim como a partilha de responsabilidades.

2.4. Metodologia - Métodos e Procedimentos

O trabalho desenvolvido com o grupo de crianças teve por base uma

metodologia centrada numa investigação qualitativa de caráter descritivo. Ao utilizar

esta metodologia, o investigador aborda o contexto educativo de uma forma mais

pormenorizada, estando muito mais atento e interessado em compreender os

fenómenos que nele ocorrem, assim como quais os significados que estes têm para os

intervenientes (Bogdan & Biklen, 1994).

O investigador que utiliza esta metodologia vai questionando

permanentemente os sujeitos de investigação, procurando perceber de que forma é

que estes vivenciam as experiências, o modo como as interpretam, assim como de

que forma perspetivam o mundo social, permitindo-lhe com esta abordagem ter em

conta as experiências do ponto de vista do informador, analisando os dados de

forma indutiva (Bogdan & Biklen, 1994). De acordo com Lessard-Hébert (citado por

Tomás, 2011) a metodologia qualitativa permite “uma maior aproximação e

27

colaboração entre o investigador e os indivíduos que desenvolvem o trabalho no

terreno” (p. 147).

O tipo de estudo desenvolvido insere-se numa perspetiva de investigação-ação

(IA), sendo esta uma forma de investigação social, tratando-se de um “processo

dinâmico, interativo e aberto aos emergentes reajustes” (Máximo-Esteves, 2008,

p.82). Assim, e tendo em conta o tema do estudo, a investigação-ação enquanto

método, permite ao educador refletir acerca da sua prática, contribuindo, deste modo,

não só para a resolução de problemas, mas também para uma melhoria da mesma

(Máximo-Esteves, 2008, p.82).

Segundo Coutinho et al. (2009), “o essencial na IA é a exploração reflexiva que

o professor faz da sua prática, contribuindo dessa forma não só para a resolução de

problemas como também (e principalmente) para a planificação e introdução de

alterações nessa mesma prática” (p.360). Os mesmos autores consideram ainda que a

investigação-ação “pode ser descrita como uma família de metodologias de investigação

que incluem simultaneamente acção (ou mudança) e investigação (ou compreensão) ao

mesmo tempo, utilizando um processo cíclico ou em espiral, que alterna entre acção e

reflexão crítica” (p.360).

No que respeita às técnicas e instrumentos de recolha de dados, serão utilizados:

a observação direta participante, tratando-se de um instrumento normalmente utilizado

na investigação qualitativa, em que por um lado o investigador vai-se tornando

participante, tendo acesso aos sujeitos, bem como integrando-se no terreno e, por outro

lado, a observação acaba por ser mais concreta e focada nas questões fulcrais para a

problemática da investigação (Flick, 2005); o registo de notas de campo (Apêndice B),

sendo esta uma forma que o investigador tem de registar, através da escrita, as

interações entre os sujeitos no contexto em que ocorrem (Máximo-Esteves, 2008). As

notas de campo não são mais do que “o relato escrito daquilo que o investigador ouve,

vê, experiencia e pensa no decurso da recolha e reflectindo sobre os dados de um estudo

qualitativo” (Bogdan & Biklen, 1994, p. 150); a entrevista semi-estruturada (guiões no

Apêndice C; transcrições das mesmas no Apêndice D), sendo “utilizada para recolher

dados descritivos na linguagem do próprio sujeito, permitindo ao investigador

desenvolver intuitivamente uma ideia sobre a maneira como os sujeitos interpretam

aspectos do mundo” (Bogdan & Biklen, 1994, p.134); registo fotográfico (Apêndice E)

das atividades desenvolvidas, permitindo ilustrar momentos de ação dos sujeitos que

poderão ser analisadas posteriormente (Máximo-Esteves, 2008); registo áudio dos

28

momentos em grande grupo e respetivas transcrições (Apêndice F), captando de uma

forma integral a conversação entre os sujeitos e o investigador (Máximo-Esteves, 2008).

Os dados recolhidos foram posteriormente alvo de análise qualitativa, mais

especificamente, no que diz respeito às notas de campo e aos registos áudio, sendo estes

dados “ricos em pormenores descritivos relativamente a pessoas, locais e conversas, e

de complexo tratamento estatístico (Bogdan & Biklen, 1994, p. 16).

Relativamente às entrevistas aplicadas importa apresentar alguns dados

pertinentes. Como está patente nos guiões (Apêndice C), as entrevistas tiveram como

principais objetivos: recolher informação que permitisse perceber de que forma a

educadora cooperante perceciona a metodologia de trabalho de projeto e de que forma a

aplica na sua prática pedagógica; recolher informação que permitisse perceber o que a

auxiliar de sala conhece acerca da metodologia de trabalho de projeto e de que forma

define o seu papel na aplicação dessa mesma metodologia e ainda recolher informação

que permitisse perceber de que forma a responsável pelo projeto pedagógico da

instituição, neste caso a coordenadora, perceciona a metodologia de trabalho de projeto

e de que forma esta metodologia se enquadra nos princípios da instituição. No que diz

respeito aos procedimentos de aplicação, de salientar que as entrevistas foram aplicadas

em três dias consecutivos (15, 16 e 17 de março), sempre no período da tarde e na sala

de reuniões da instituição. De ressalvar que as entrevistas foram aplicadas

individualmente, ou seja no momento de aplicação deste instrumento de recolha de

dados só estavam presentes o entrevistado e o entrevistador de forma de não existir

influência/contaminação das respostas. De acrescentar ainda que as entrevistas duraram

em média 10 minutos, tendo sido feito uma gravação áudio com o consentimento dos

entrevistados. De forma de facilitar a análise do conteúdo das entrevistas foram

elaboradas tabelas que sintetizam das principais ideias abordadas por cada uma das

entrevistadas (Apêndice G).

2.5. Apresentação do processo de implementação da metodologia de projeto

Este projeto foi desenvolvido com um grupo de crianças de idade pré-escolar,

mais concretamente na faixa etária dos três anos, pertencentes a uma IPSS da freguesia

da Ajuda, em Lisboa.

Tal como já foi referido aquando da caraterização das crianças, este grupo

apresentava dificuldade em questionar sobre o meio envolvente e em propor temáticas

29

do seu interesse para serem desenvolvidas e trabalhadas em sala. Assim, tendo este

aspeto em consideração, tal como a falta de momentos para abordar temáticas

relacionadas com o Conhecimento do Mundo, toda a prática desenvolvida teve como

finalidade familiarizar o grupo com metodologias ativas de construção de

conhecimento, recorrendo para tal à metodologia de trabalho de projeto. Pretendeu-se

com esta investigação-ação estimular nas crianças uma atitude mais participativa e

autónoma ao longo do seu processo de desenvolvimento, fomentando momentos de

rotina e atividades que valorizassem a voz das crianças e a sua liberdade de escolha.

Durante o período de observação foi visível que o grupo em questão estava

habituado a trabalhar por temas pré-definidos e propostos pela educadora cooperante.

Partindo então daquilo que era familiar para as crianças, e tendo em consideração o

tema que estavam no momento a trabalhar (frutos do outono), assim como a sugestão da

educadora em trabalhar a alimentação, optei por iniciar a minha prática pedagógica

propondo atividades no âmbito da alimentação, mais especificamente acerca das

leguminosas. Apesar de não me identificar com o desenvolvimento de trabalhos por

temas, tal opção justifica-se com o facto de autores como Katz e Chard (2009)

alertarem-nos para a possibilidade de surgirem perguntas e curiosidades sobre um

determinado tema que podem vir a desencadear um trabalho de projeto ou seja, estas

autoras advogam que a partir de “um assunto muito vasto ou de um conceito

abrangente” (Katz & Chard, 2009, p.6) pode surgir uma oportunidade de implementar e

desenvolver um trabalho de projeto.

Tal como é possível verificar na nota de campo (NC) apresentada de seguida,

durante a refeição do almoço surgiram comentários entre alguns elementos do grupo

que considerei pertinentes e indutores de um possível trabalho de projeto.

Aquando da chegada do conduto, as crianças fizeram alguns comentários que

prenderam a minha atenção:

- Go: Não gosto disto!(começando a separar as ervilhas dos outros alimentos)

- Lv: São bolinhas!

- Fa e Va: São ervilhas!

- Ge: Não, bolinhas!

- Fa: São bolinhas, mas são ervilhas!

- Lv: Não, são bolinhas! (disse insistindo)

- Va: Sim, mas chama-se ervilhas, não é Nela? (reforçou convicta e certa do que

dizia)

- Estagiária: Sim Va são ervilhas. Go já provaste? Prova, é bom!

30

- Lv: Tu gostas das bolinhas?

- Estagiária: Gosto! As ervilhas fazem muito bem, fazem ficarmos muito

fortes!

- Fa: Pois é Nela, eu gosto muito de ervilhas!

(NC do dia 24 de outubro de 2016)

Assim, inicialmente, partindo de um comentário de algumas crianças durante o

almoço acerca das ervilhas, considerei pertinente sugerir ao grupo atividades

relacionadas com esta leguminosa, tais como: manipulação e exploração de ervilhas e

vagens de ervilha, exploração de outras leguminosas (feijão, grão, favas e lentilhas),

proporcionando a comparação entre as diferentes leguminosas, e posteriormente

construção de germinadores de ervilhas. Depois desta exploração, e através dos

seguintes enunciados das crianças, percebi que o seu interesse estava direcionado para

uma leguminosa em particular, o feijão, pelo que considerei pertinente questionar o

grupo sobre as curiosidades que tinham relativamente ao feijão e desta forma, dar início

a um projeto.

-Estagiária: Lembram-se do que é que estivemos a fazer aqui na sala quando

esteve cá a professora da Nela no outro dia? Quem é que se lembra o que é que

fizemos?

-Crianças: Eu sei!

-Estagiária: O quê?

-So: Eu sei, feijões!

-Ma: Os feijões!

-Estagiária: Feijões?

-Va: Sim, feijões vermelhos!

-Estagiária: Feijões vermelhos? Vocês lembram-se da história que estivemos a

ver?

-Crianças: Sim!

-Estagiária: Então digam lá o que é que contava a história?

-Ra: Da princesa!

-Estagiária: E da… (as crianças ficaram caladas e voltei a ajudar), da princesa e

da…

-Ma e So: Ervilha!

-Fa: Eu sei Nela, era a história da princesa e da ervilha! (todas as crianças

ficaram contentes, mostrando que se estavam a lembrar da história).

-Estagiária: Muito bem, os meninos lembram-se da história e gostaram da

história?

(Transcrição áudio de 10 de novembro 2016)

31

Assim, partindo de um tema abrangente como a alimentação, a minha ação

pedagógica teve nesta fase como principal objetivo suscitar curiosidade nas crianças que

as levassem a questionar e a iniciar um papel mais ativo na construção das suas

aprendizagens.

Estando atenta ao interesse que as crianças foram manifestando relativamente ao

feijão considerei relevante propor ao grupo desenvolver um projeto sobre esta

leguminosa, como forma de responder à sua curiosidade e motivação. Autores como

Katz e Chard (2009) definem a metodologia de trabalho de projeto como sendo “um

estudo aprofundado de um determinado tema” (p.3) por parte de uma ou de um grupo de

crianças, com o principal objetivo de encontrar respostas às questões que as crianças

levantaram autonomamente ou com a mediação do adulto.

Lançado o desafio para desenvolvermos um projeto acerca do feijão, questionei

o grupo sobre o que queriam saber acerca desta leguminosa no entanto, considero

pertinente referir que foi necessário apresentar um papel ativo na mediação do processo

até à formulação da questão de partida, uma vez que as crianças, apesar de mostrarem

interesse na semente do feijão, não verbalizavam autonomamente o que queriam

realmente saber acerca desta leguminosa, sendo mesmo necessário questionar e instigar

o grupo várias vezes. Tal é possível verificar na NC do dia 16 de novembro 2016:

- Estagiária: Quando estivemos a falar da história da Princesa e da ervilha os

meninos estavam sempre a falar do feijão. A Fa até falou na história do João pé

de feijão…então o que é que querem saber sobre o feijão?

- Fa: Se ele cresce muito como o pé de feijão (da história)!

- Va: Se fica muito grande!

- Estagiária: Então o que é que vocês acham que temos que fazer para ver se ele

cresce?

- So: Pôr no frasquinho!

- Fa: Sim temos que pôr no frasquinho para ele crescer!

- Estagiária: O So e a Fa dizem que temos que o pôr no germinador para ele

crescer não é?

- Fa: É!

- So; Sim!

- Ma: Para crescer muito!

(…)

- Estagiária: E os outros meninos também acham que se pusermos o feijão no

germinador como fizemos com a ervilha ele também vai crescer como a ervilha?

- Bo: Cresce muito como a ervilha!

32

- Crianças: Sim!

- Va: Vamos pôr Nela?

- Estagiária: Eu também acho que é uma boa ideia Va…vamos fazer a

experiência, vamos pôr a semente do feijão no germinador e ver o que acontece,

acham boa ideia?

Após conversar com o grupo, e partindo de uma atividade desenvolvida

anteriormente, nomeadamente a germinação da ervilha, as crianças sugeriram fazer o

mesmo à semente do feijão para verificar se esta se desenvolvia da mesma forma da

ervilha. É neste ponto que surge a questão de partida para o projeto - Será que o feijão

cresce muito? - dando início assim à primeira fase do projeto. Segundo Katz e Chard

(2009) alguns projetos surgem quando o educador sugere uma temática ou quando

define o assunto a estudar conjuntamente com o grupo de crianças. Nesta fase dos

projetos o educador deve apresentar um papel ativo ajudando as crianças a elaborar

“uma perspectiva comum sobre o tema e a formularem um conjunto de questões que

serão o fio condutor da sua investigação” (Katz & Chard, 2009, p.102). Estas autoras

dizem-nos ainda que o educador, durante esta primeira fase, deve ajudar as crianças a

encontrar uma direção para a sua investigação, contribuindo com opiniões e sugestões.

Apesar do tema da alimentação ter sido sugerido pela educadora cooperante,

considero importante referir que foi desde logo uma das minhas intencionalidades

educativas proporcionar momentos de exploração e descoberta de assuntos do domínio

do Conhecimento do Mundo, uma vez que, durante o período de observação, constatei

que esta área do saber não era muito trabalhada com este grupo de crianças. Desta

forma, propus-me a desenvolver com o grupo um conjunto de atividades sob a temática

da semente do feijão, atividades essas muitas vezes revestidas de um carater mais

científico. A escolha da temática a desenvolver, na minha perspetiva, foi de extrema

pertinência pois, não só, permitiu-me dar resposta a uma curiosidade do grupo, como,

para além disso, veio colmatar a falta de momentos de exploração de aspetos ligados à

área do conhecimento do mundo. A acrescentar ao já referido, salienta-se ainda o seu

caráter globalizante, isto é, a potencialidade de integração curricular que esta temática

nos oferece, permitindo desenvolver atividades nas mais diversas áreas do

conhecimento, desde as expressões, com especial relevo para a expressão corporal

através da qual partilhamos novas aprendizagens; passando pela língua portuguesa, com

a aquisição de novo léxico; e pela matemática, principalmente no que diz respeito à

33

classificação e noções de medida; contribuindo assim para a criação de momentos de

aprendizagem complementares, integradas e significativas para as crianças.

Definido o tópico do projeto, demos início à segunda fase - Planeamento e

desenvolvimento do trabalho – de forma a sistematizar os conhecimentos que as

crianças já tinham sobre a temática assim como as questões que queriam esclarecer e

aprofundar. Para tal, realizámos em grande grupo o levantamento do que já sabiam,

principalmente conhecimento relacionado com o feijão enquanto alimento utilizado na

nossa alimentação. Quanto ao que queriam saber, as crianças formularam questões

relacionadas com a semente do feijão propriamente dita, nomeadamente a germinação

do feijão e as características e variedade de feijões. De referir que as questões

apresentadas pelas crianças vieram justificar a importância das atividades desenvolvidas

numa fase pré-projeto e sugeridas pelo adulto (Apêndice H), uma vez que estas

possibilitaram o surgimento de dúvidas e curiosidades por parte do grupo. Desta forma,

as atividades desenvolvidas inicialmente serviram de indutor ao surgimento do projeto

“Será que a semente do feijão cresce muito?”. Durante esta fase foi feito ainda o

levantamento dos recursos a utilizar para dar resposta às questões colocadas pelas

crianças. No que concerne aos recursos, as crianças não foram tão participativas, tendo

somente referido que iam perguntar à educadora cooperante e aos pais. Como tal, foi

necessária a minha mediação para que as crianças referissem outros recursos, tais como

os livros. De salientar que foi efetuado com o grupo um registo escrito, em forma de

esquema, com o intuito de sistematizar a informação referida pelas crianças assim como

de servir de guião durante o desenvolvimento do projeto (Apêndice I).

Autores como Mendonça (2002) apresentam a emergência de um projeto

dividida em dois polos, nomeadamente num primeiro momento o polo subjetivo,

intimamente relacionado com o levantamento das potencialidades das crianças

participantes e dos seus interesses, ou seja, da “energia motora do projeto” (Mendonça,

2002, p. 83). Já num segundo momento surge o polo objetivo, relacionado com o que é

externo à força motriz do projeto, como por exemplo as competências a serem

trabalhadas e os recursos necessários para colocar o estudo em prática. É neste momento

que a teia do adulto ganha forma, devendo ser um documento orientador que ajuda o

educador a refletir acerca da sua prática e das suas intenções educativas.

Para me ajudar a estabelecer futuros caminhos, elaborei uma teia (Apêndice J) a

partir das ideias das crianças, definindo os principais domínios a trabalhar ao longo do

projeto nomeadamente, Conhecimento do Mundo, Matemática, Linguagem e

34

Expressões (Plástica, Dramática e Motora). Para tal, foi essencial perceber “o potencial”

pedagógico (Formosinho & Costa, 2011, p. 87) que esta temática apresentava para

proporcionar aprendizagens significativas e ativas, relevantes para o desenvolvimento

holístico da criança. Ao construir a teia do adulto tive a preocupação de contemplar as

necessidades e as potencialidades do grupo de crianças, ampliando desta forma a teia

das crianças, através de atividades que permitiam enriquecer as aprendizagens deste

grupo. Na construção deste esquema, deve estar patente a integração da

intencionalidade educativa do educador com os interesses e motivações das crianças

(Mendonça, 2002).

Refletindo acerca do meu papel durante estas duas fases do projeto, considero

importante referir que como este grupo de crianças não estava familiarizado com a

metodologia de trabalho de projeto, foi fundamental proporcionar momentos de

conversa e de partilha de saberes, onde foi possível dar voz a cada uma das crianças e

também “convidar todas a ouvirem-se e a ouvir os outros” (Formosinho & Costa, 2011,

p.87). Como adulto responsável foi essencial escutar as crianças e recolher informação

para reconhecer os interesses dos elementos do grupo. A introdução destes momentos

de conversa faz com que as crianças partilhem “ideias, pensamentos, experiências entre

pares e com a educadora” (Formosinho & Costa, 2011, p. 87), possibilitando assim que

surja no grupo uma “motivação partilhada” (Formosinho & Costa, 2011, p. 87)

essencial numa pedagogia em participação. É neste aspeto que a utilização da

metodologia de trabalho de projeto ganha relevo, já que reconhece a criança como ator

do processo ensino-aprendizagem com legitimidade e credibilidade, que participa

ativamente na construção do conhecimento, através de uma aprendizagem significativa

(Formosinho & Costa, 2011). Autores como Formosinho e Costa (2011) advogam que:

É, ainda, em participação, e pela participação, que a criança aprende a exercer os

seus direitos e deveres como ser social. A apropriação do saber, a reconstrução

ou reinvenção do significado, só são possíveis numa aprendizagem que faz do

sujeito ator, agente com capacidade e direito a pesquisar, pensar por si mesmo

num processo de cooperação com os seus pares (p.72).

Durante estas primeiras duas fases do projeto as minhas dificuldades prenderam-

se principalmente com o facto de as crianças não questionarem acerca do meio que as

rodeias, apresentando por isso uma postura mais passiva. Desta forma, uma das minhas

35

intencionalidades pedagógicas focou-se em dar voz às crianças e envolvê-las mais na

construção das suas aprendizagens. Para tal privilegiei uma postura de mediadora e, por

vezes, até mesmo de indutora de situações que promovessem o interesse das crianças e

assim a sua participação na construção das aprendizagens. Como o projeto da semente

do feijão foi o primeiro contacto que este grupo de crianças teve com a metodologia de

trabalho de projeto, já era expectável que apresentassem esta dificuldade de questionar e

refletir sobre as situações, uma vez que estavam habituados a estar dependentes do

adulto na condução de todo o processo de aprendizagem. Assim, este projeto foi o início

da construção da autonomia destas crianças no que se refere ao papel que elas

desempenham na construção das suas aprendizagens. Tal como nos refere Mendonça

(2002), a realização de um projeto envolve responsabilidade e autonomia dos atores

nele envolvidos, já que “estes são agentes do seu desenvolvimento e aprendizagem”

(p.24), tendo a “capacidade de decidir e de influenciar o seu caminhar” (p.24).

Definida a temática a estudar assim como a construção da teia das crianças e do

adulto, deu-se início à fase de execução do projeto, colocando em prática um conjunto

de atividades com o objetivo principal de dar resposta às questões das crianças.

Durante esta fase do projeto, salienta-se a participação das famílias na

realização/preparação de algumas atividades. Reconhecendo a importância da relação

entre os vários atores envolvidos no processo educativo (Hohmann & Weikart, 2011),

procurei envolver as famílias e a comunidade em alguns momentos do projeto, uma vez

que reconheço que a utilização da metodologia de trabalho de projeto privilegia o

intercâmbio e a participação destes vários elementos. Formosinho e Costa (2011)

referem-nos que na pedagogia-em-participação, onde se inclui a metodologia de

trabalho de projeto, o envolvimento parental dá-se essencialmente no foco das

aprendizagens, sendo para tal necessário promover a “colaboração sistemática com os

pais” (p.97). Já Mendonça (2002) alerta-nos para a importância de “construir uma

verdadeira parceria com as famílias e a comunidade”, partindo das caraterísticas e das

forças de cada família como indutor para uma real participação no processo de ensino-

aprendizagem. Autores como Poisson e Sarrasin (citado por Mendonça, 2002) dizem-

nos ainda que “a participação dos pais, seja qual for a forma que tome, é uma

contribuição” (p.89), cabendo ao educador compreender que, por mais singela e simples

que seja a participação de determinada família, deve ser sempre valorizada e encarada

como indispensável para as aprendizagens das crianças. Assim, ao promover e valorizar

a participação parental e comunitária no contexto educativo estamos a estreitar laços

36

entre os vários níveis ecológicos em que a criança está inserida como também a

fomentar o sentimento de pertença nestes dois contextos (Formosinho & Costa, 2011).

De referir que ao longo do processo de elaboração do projeto pudemos contar

com a colaboração das famílias em quatro momentos nomeadamente na pesquisa de

informação acerca da germinação do feijão; na pesquisa de receitas de bolos que

tivessem o feijão como ingrediente principal, tendo sido estes dois momentos sugeridos

por mim. Já por iniciativa das próprias famílias houve a colaboração de dois avós, tendo

um colaborado na confeção do bolo de feijão e o outro nas questões e planeamento

relacionado com a plantação do feijoeiro na horta da escola. Na primeira abordagem às

famílias - pedido de pesquisa de informação acerca da germinação do feijão - a adesão

não foi muito expressiva, uma vez que poucas foram as crianças que efetuaram a

recolha de informação. Já na segunda abordagem às famílias – pedido de receitas -

houve um maior envolvimento, tendo a grande maioria participado com pelo menos

uma receita. De salientar que à medida que o projeto ia avançando foi possível verificar

um maior envolvimento das famílias, muitas vezes espontâneo e revelador do

entusiasmo que as crianças revelavam pelo projeto. Mendonça (2002) diz-nos que um

educador que reconheça a importância de estabelecer uma parceria com o contexto

familiar deve apresentar como uma das suas intencionalidades educativas a abertura de

“vias de comunicação” (p.89), com o objetivo principal de estreitar as relações entre

estes dois níveis ecológicas das crianças. Para além das famílias foi possível envolver

também a comunidade especificamente através da atividade de visita ao mercado. Com

esta atividade as crianças tiveram oportunidade de estabelecer uma relação de pertença

com pessoas externas ao contexto educativo assim como obter respostas a algumas das

suas questões relacionadas com o projeto inicialmente levantadas.

Outro ponto que considero relevante abordar nesta fase do projeto prende-se

com o desenvolvimento da autonomia das crianças. Tal como já foi referido

anteriormente, este grupo revelou inicialmente pouca iniciativa e capacidade de

questionar aspetos do seu meio envolvente, sendo necessário por isso uma participação

por parte do adulto mais marcada, no entanto, durante a terceira fase do projeto, foi

notório verificar que as crianças já se apresentavam mais autónomas nas atividades e

aprendizagens, participando mais vezes e com maior confiança. Esta autonomia

verifica-se nos excertos da transcrição áudio referente à atividade “formação de

conjuntos com os feijões” realizada dia 4 de janeiro de 2017:

37

-Fa: Oh Nela esses são os feijões fraques!

-Estagiária: Feijão-frade, boa Francisca já sabes o nome desse feijão!

-Ma: E também os outros feijões tinham o nome …manteiga, como a manteiga!

-Lv: Oh Nela e como é que era o nome daquele de pessoa?

-Estagiária: Será o feijão catarino?

-Lv: Sim é esse o catarino!

(…)

-Estagiária: Muito bem estão a por os feijões juntinhos!

-Lo: Vou pôr estes pretos Nela?

-Estagiária: Sim põe mais Lo!

-Va: Nela eu vou por estes, como é que é o nome que disse a Fr?

-Estagiária: Feijão-frade Va!

(…)

-Estagiária: Que conjunto estás a fazer Bo?

-Bo: O conjunto dos feijões pequeninos todos a seguir!

-Estagiária: Muito bem Bo, conta com a Nela!

-Bo: 1, 2, 3, 4, 5,

-Estagiária: Boa, cinco feijões pretos, cinco feijões-frade…. Muito bem!

-Estagiária: Então agora vamos colar e pintar com o pincel, escolhe a cor!

-Bo: Verde! Vou fazer o conjunto com o verde!

Vários são os autores que defendem o papel relevante que a MTP tem no

desenvolvimento da autonomia, uma vez que se trata de uma metodologia potenciadora

do desenvolvimento desta capacidade. Segundo as OCEPE (ME, 2016) as crianças que

têm uma maior participação no processo de ensino aprendizagem integram “um

conjunto de experiências, saberes e processos” (p.38) que lhes possibilita encontrar

soluções e respostas às situações problemas que vão surgindo, estando desta forma a

incrementar a autonomia. Silva (2005) acrescenta ainda que o exercício de autonomia,

promovido pela metodologia de trabalho de projeto, emerge da “real participação de

todos os intervenientes” (p.5), devendo ser consideradas as ideias e visões de todos os

envolvidos. Esta mesma autora alerta-nos ainda para o facto de ser necessário que as

crianças apresentem competências para alterar uma situação e/ou resolver um problema.

Considerando as dificuldades por mim sentidas em implementar um projeto junto deste

grupo, cedo percebi que era fundamental proporcionar às crianças situações/momentos

que contribuíssem para a aquisição dessas mesmas competências, fundamentais para

uma participação ativa. Para tal, tive a preocupação de fomentar conversas em grande

grupo, onde as crianças pudessem falar e ser ouvidas, participando assim na vida do

38

grupo e passando a ter um lugar de destaque. Apresento de seguida o excerto de uma

dessas conversas:

-Estagiária: Então nós temos estado a fazer muitas coisas no projeto do feijão, o

que é que nós já fizemos?

-Va: Fizemos muitas, muitas coisas Nela!

-Estagiária: O que é que nós fizemos?

-Bo: Fomos ao mercado!

-Is: Fomos ver se havia lá os feijões!

-Fa: E fomos comprar feijões!

-Ma: Mas vendem-se muitas coisas no mercado!

-To: A minha mãe vende pão!”Me: “E vendem peixe, mas cheira mal!

-Lv: Também vendem fruta e hortaliça!

(…)

-Estagiária: Mais coisas que já fizemos sobre o feijão?

-Lo: Fomos plantar os feijões à horta

-Ma: Sim foi na terra, fizemos um buraco e pusemos lá o feijão!

-Va: Plantámos os feijoeiros!

-So: E pusemos água!

-Estagiária: Muito bem! E o que é que fizemos mais?

-Fa: Ouvimos a história do pé de feijão!

-Is: E pintamos o pé de feijão!

-Bo: Era muito grande!

(…)

-Fa: Nela eu tenho essa história na minha casa e a minha mãe conta-me!

-Estagiária: Muito bem Fa! Olhem mais coisas que fizemos no nosso projeto?

-Va: Também colámos as fotografias do mercado no papel grande!

-Ma: E colámos as da horta e tu escreveste!

(NC do dia 28 de dezembro de 2016)

Estes momentos em grande grupo foram essenciais para a promoção de valores

democráticos (participação e cooperação) assim como para iniciar o sentido de

responsabilidade pelas decisões tomadas. Deste modo, ao utilizar a MTP estamos a

promover a partilha de poder entre todos os intervenientes do processo educativo, uma

vez que as crianças têm a oportunidade de realizar escolhas e ter voz nas decisões

inerentes a esse mesmo projeto, “assumindo progressivamente as suas

responsabilidades” (ME, 2016, p.40). Hohmann e Weikart (2011) alertam para a

importância de respeitar o tempo que as crianças necessitam para tomar as suas

decisões, já que só assim estamos a permitir que cada criança participe efetivamente no

39

seu desenvolvimento social e pessoal. Com o exposto até ao momento é possível referir

que o desenvolvimento da autonomia não se confina apenas à “organização social do

grupo” (ME, 2016, p.40), estando também patente em todo o processo de aprendizagem,

nomeadamente nos momentos de escolhas e nos momentos de planeamento e avaliação

das aprendizagens (ME, 2016; Silva, 2005).

A última fase da metodologia de trabalho de projeto apresenta duas etapas

distintas: a divulgação e a avaliação. No que à divulgação diz respeito, esta consiste na

comunicação das aprendizagens efetuadas ao longo do projeto, partilhando-as com

terceiros, como por exemplo, com crianças de outras salas e/ou com os respetivos pais.

É o momento de pôr em comum os novos saberes que foram sendo construídos, ou seja,

é a “socialização do saber” (Vasconcelos et al., 2011, p.17). Após a divulgação do

projeto seguiu-se a etapa da avaliação, neste caso de caráter qualitativo, tendo por base

os objetivos do projeto. De referir que esta última etapa apresentou algumas lacunas

face ao que seria expectável de acordo com os autores de referência. Após reflexão, uma

das principais lacunas identificadas neste projeto prendeu-se com a pouca participação

ativa das crianças, nomeadamente por ter sido o adulto a construir os vários passos

implicados para a elaboração do teatro que o grupo escolheu como forma de divulgação.

Desde o início da minha prática profissional, assumi-me como uma defensora e

praticante de pedagogias participativas, que apresentam como principal objetivo o

envolvimento da criança na construção das suas aprendizagens, fazendo desta um dos

principais atores do processo ensino-aprendizagem (Oliveira-Formosinho &

Formosinho, 2013). Tal é comprovado com o facto de ter introduzido no grupo a

metodologia de trabalho de projeto com o desenvolvimento do projeto acerca dos

feijões. De uma forma geral, considero que consegui introduzir esta metodologia e

desenvolver com o grupo de crianças um trabalho bastante interessante e produtivo,

respeitando sempre a premissa de que “a motivação para a aprendizagem sustenta-se no

interesse intrínseco da tarefa e nas motivações intrínsecas das crianças (Oliveira-

Formosinho & Formosinho, 2013, p.28), no entanto, tenho plena consciência de que

esta fase do projeto, a divulgação, não se enquadrou numa pedagogia participativa, já

que grande parte do trabalho foi desenvolvido por mim, nomeadamente no que diz

respeito à construção dos adereços e do cenário. Considero pertinente referir que esta

fase do projeto é bastante importante para todas as crianças pois, conforme refere Katz e

Chard (2009), o facto de as crianças irem comunicar aos demais descobertas que

fizeram contribui para intensificar o sentimento de pertença a “uma unidade social mais

40

alargada dentro da sua escola” (p.186), para além de contribuir também para o

desenvolvimento de relações de cooperação e entreajuda no seio do seu grupo de sala

para um fim comum, neste caso estimuladas a partir da expressão dramática. Reforço

ainda que esta fase de divulgação é extremamente importante pois constitui uma

oportunidade para “as crianças representarem e partilharem a sua experiência com os

outros” (Katz & Chard, 2009, p.187), partilhando assim a sua evolução da

aprendizagem. O que esteve na base desta questão foi o facto da educadora cooperante

ter insistido para que a divulgação fosse feita através de uma peça de teatro, associado

ainda ao pouco tempo que restava para terminar a minha prática pedagógica, pelo que

acabei por enveredar por uma metodologia mais tradicional, onde o adulto apresenta um

papel de destaque no processo de ensino-aprendizagem. Consciente da minha função

como estagiária, respeitei a decisão da educadora cooperante apesar de estar convicta de

que a participação das crianças nesta atividade estaria comprometida devido ao fator

tempo. Julgo que a dramatização da peça de teatro teria sido uma ótima forma de

divulgar o projeto se tivéssemos tempo para desenvolver com as crianças, de forma

ativa, uma atividade tão complexa como esta.

No que respeita à etapa da avaliação do projeto, esta também não cumpriu todas

as fases uma vez que, pelo facto de esta metodologia ser completamente nova para este

grupo de crianças, a avaliação foi feita de forma mais superficial, materializando-se

numa conversa de grande grupo sobre as várias atividades realizadas ao longo de todo o

projeto, procurando saber quais as que mais gostaram. Esta conversa teve como

finalidade colocar as crianças a refletir sobre todo o processo de desenvolvimento deste

projeto. Durante esta conversa em grande grupo teria sido benéfico apresentar um

conjunto de questões que ajudassem as crianças a consciencializarem-se das

aprendizagens alcançadas e assim participarem mais ativamente no processo de

avaliação do projeto. As questões orientadoras para este momento de avaliação

poderiam ter sido: “O que aprendeste com o projeto do feijão?”; “O que foi mais

difícil?”; e “O que gostarias de ter feito?”. Um aspeto que daqui se conclui é que, num

próximo projeto a ser desenvolvido com o grupo, a avaliação seria um aspeto a

melhorar significativamente, devendo ser uma das preocupações do adulto.

No que diz respeito à avaliação feita pelo adulto, ressalva-se o facto de ter sido

um processo contínuo ao longo do projeto, facto que permitiu reunir um conjunto de

informação a partir da aplicação de diversas técnicas e instrumentos, tais como: as

reflexões e registos de avaliação de cada atividade; os registos das notas de campo; a

41

informação de retorno dada por algumas famílias relativamente aos comentários das

crianças em casa sobre o projeto e a elaboração dos cartazes. De acrescentar ainda que

deveria ter aplicado um questionário às famílias promovendo desta forma a sua

participação no momento de avaliação do projeto. Neste mesmo questionário poderiam

constar questões como: “Que importância atribui ao projeto Será que a semente do

feijão cresce muito?” para a aquisição de novas aprendizagens por parte do/a seu/sua

filho/a?; “Com que frequência o/a seu/sua filho/a referiu no contexto familiar aspetos

relacionados com o projeto?”; “Considera que o projeto possibilitou a participação e o

envolvimento das famílias?”; entre outras.

No que concerne aos objetivos traçados na ótica do educador, é possível afirmar

que foram alcançados, uma vez que se promoveu a aquisição de competências e

conteúdos na área do conhecimento do mundo, principalmente no que se refere às

ciências naturais (germinação, semente do feijão e suas caraterísticas) através de um

processo baseado na exploração, na atitude científica e no pensamento crítico. Para além

deste objetivo, foi também alcançada a intencionalidade de promover no grupo atitudes

questionadoras face à realidade, através da implementação da MTP como forma de

aprendizagem ativa.

Do exposto, e tendo em conta que a investigação se baseou no projeto

desenvolvido, farei uma análise sobre a forma como decorreu esta investigação.

2.6. Análise do processo de implementação da metodologia de projeto

Tal como foi referido anteriormente, a minha prática pedagógica concorreu para

o alcance de dois grandes objetivos, nomeadamente contribuir para o desenvolvimento

de uma postura mais ativa por parte das crianças na construção do seu conhecimento,

despertando nelas a curiosidade e o interesse, estimulando-as a questionar e pensar

sobre o que as rodeia e, dar mais voz ativa à criança, fomentando a sua liberdade de

escolha e autonomia ao nível das atividades. Partindo da informação recolhida através

da aplicação de um leque de instrumentos e técnicas, tais como o registo das notas de

campo, as gravações áudio das conversas em grande grupo, os registo fotográfico e as

entrevistas aplicadas à educadora cooperante, à auxiliar de sala e à coordenadora

pedagógica da instituição, será feita uma análise e discussão dos resultados como forma

de perceber se os objetivos traçados para este projeto foram alcançados e assim

compreender melhor a problemática em estudo.

42

Relativamente ao primeiro objetivo foi possível verificar que ao longo do projeto

sobre a semente do feijão as crianças foram revelando uma postura mais interveniente e

participativa, começando a colocar questões sobre a temática em estudo. Apesar de

inicialmente o grupo estar muito dependente do adulto para propor e realizar as

atividades, com o desenvolvimento do projeto algumas crianças começaram a ficar mais

despertas para o papel que desempenhavam na construção dos novos saberes, passando

o adulto a ter um papel mais à retaguarda, conduzindo e gerindo o grupo com o intuito

de auxiliar as crianças nas suas descobertas. A atividade de observação e registo do

crescimento das sementes da ervilha e do feijão foi um bom exemplo do despertar das

crianças para a participação ativa no processo de aprendizagem:

-Lv: Temos que ver se já cresceu muito!

-Va: Cresceu até ao alto…cresceu até aqui! (fez o gesto com as mãos tentando

mostrar o crescimento do feijão)

-Bo: Eu acho que cresceu!

-Va: Cresceu, cresceu mesmo!

-Estagiária: Então temos que…( fui interrompida pela Fa)

-Fa: Temos que ir observar Nela e tens que escrever se cresceu muito!

-Estagiária: Vou buscar os frascos, esperem só um bocadinho, os germinadores,

chama-se germinadores!

-Fa: É Nela, germinadores!

(…)

-Va: Oh my god!

-Estagiária: Oh my god Vitória (ahahahah) olhem só como elas cresceram,

cresceram muito. Então…

-Va: São tantos germinadores… 3, 4, 5, 8, 9, 10…

(…)

-Va: Cresceu muito alto, até saiu do germinador!

-Fa: E tem duas folhinhas verdes!

-Estagiária: Está tão linda a ervilhinha, a vossa ervilha cresceu muito! Agora

vamos ver o feijão.

-Fa: Oh Nela não cresceu!

-Va: Pois não cresceu mesmo, pois não?

-Estagiária: Observem bem, estão a ver ali ao pé do feijão, o que é que está a

acontecer?

-Va: Está ali um bocadinho!

-Fa: Tá a crescer pouco!

(Transcrição áudio de 28 de novembro 2016)

43

Algumas foram as situações em que o grupo revelou uma maior participação e

poder de questionamento, nomeadamente na visita de estudo ao mercado local. Nesta

atividade, um grupo específico de cinco crianças, todas do género feminino, propuseram

algumas das possíveis questões a colocar à vendedora do mercado. Isto é possível de

verificar pela transcrição do registo áudio apresentado a seguir:

-Estagiária: Digam bom-dia! (mas as crianças continuavam fascinadas com o

facto de finalmente terem encontrado o feijão).

-Sr: Feijão!

-Vendedora: Olá, sim é feijão-verde! (todos as crianças querem mexer no feijão,

ao que a vendedora se mostrou recetiva).

-Sr: Feijão-verde!

-Estagiária: Esperem lá, têm que ir uns de cada vez, não podemos ir todos ao

mesmo tempo! (dividi o grupo em pequenos grupos, pois o espaço era pequeno).

-Algumas crianças: Feijão!

-Vendedora: Que alegria, feijão, podem mexer!

(…)

-Vendedora: É o feijão manteiga!

-Lv: Feijão manteiga?

-Vendedora: Sim é o nome deste feijão! Aqui está cru, tem que ir para a panela

para cozer!

-Va: E aquele como é que se chama?

-Vendedora: Este é o feijão catarino, tem o nome de uma pessoa, e é

redondinho!

-Fa: Olha senhora aquele tem duas cores!

-Vendedora: Pois é, tem duas cores, e que cores são tu sabes?

-Fa: É branco e preto!

-Vendedora: É o feijão-frade!

-Ma: Este é igual ao nosso que está a crescer no germinador?

-Vendedora: Está a crescer?

-Estagiária: A Ma está a perguntar se este é o feijão está a crescer nos

germinadores! (expliquei sucintamente à vendedora do que é que a Ma estava a

falar)

(Transcrição áudio de 8 de dezembro 2016)

Esta atividade de visita ao mercado promoveu também um momento em que as

crianças tiveram voz e liberdade de escolha assim como o contacto com a comunidade

local, estreitando relações de comunicação. É fundamental que durante todo o processo

ensino-aprendizagem exista liberdade que leve a criança a “exprimir-se e criar sem

44

quaisquer inibições (Sousa, 2003, p.122), incentivando assim a naturalidade e a

espontaneidade de cada elemento do grupo. Em educação, o conceito de liberdade

ganha forma ao permitir que a criança tenha “a liberdade de iniciativa, a liberdade de

opção na escolha das atividades, no uso do material, na expressão e na criatividade”

(Sousa, 2003, p.123), no entanto, é de salientar que essa mesma liberdade culmina não

só na capacidade de escolha mas principalmente na capacidade de se responsabilizar

pelas suas decisões e ações (Sousa, 2003; ME, 2016). Assim, e conforme é referido nas

OCEPE (ME, 2016), é fulcral existir em contexto de pré-escolar partilha de poder entre

os adultos e as crianças, fomentando desta forma a construção da autonomia baseada

numa “organização social participada em que as regras, elaboradas e negociadas entre

todos, são compreendidas pelo grupo, que se compromete a aceitá-las, permitindo uma

progressiva autorregulação do comportamento” (p.40). É através desta participação

ativa que se iniciam e constroem valores importantes para o desenvolvimento social da

criança, nomeadamente democráticos, de cooperação e de justiça (ME, 2016).

Para além da atividade de visita ao mercado houve mais duas atividades que

proporcionaram momentos importantes para o desenvolvimento social entre elas: a

atividade da escolha da receita e a atividade da escolha das personagens para a peça de

teatro. Nestas duas atividades estiveram patentes principalmente os valores

democráticos, através dos quais as crianças puderam apresentar a sua escolha, tendo

desta forma voz ativa neste processo.

Intimamente relacionado com os conceitos de participação e liberdade de

escolha encontram-se os conceitos de autonomia e iniciativa. O conceito de autonomia é

definido como sendo a capacidade que a criança apresenta “de independência e de

exploração” (Brickman & Taylor, 1991, p.16). Esta competência é essencial para que a

criança desenvolva a consciência de si mesmo enquanto ser individual, com capacidade

de fazer escolhas e capaz “realizar coisas para si própria”(Brickman & Taylor, 1991,

p.16). Já o conceito de iniciativa prende-se com a capacidade de a criança iniciar e

terminar uma tarefa, realizando uma avaliação da situação segundo a sua maturação e

desenvolvimento. Para que a criança possa desenvolver esta competência é fulcral que o

educador a encoraje a descrever as suas ideias e intenções para que posteriormente

possa colocá-las em prática com o auxílio do educador (Brickman & Taylor, 1991).

Consciente da importância do desenvolvimento destas duas competências, durante a

minha prática pedagógica, tive o cuidado de promover vários momentos de conversa em

grande grupo com os principais objetivos de dar voz às crianças e de as ouvir,

45

permitindo assim que apresentassem uma participação ativa no processo de

aprendizagem e consequentemente desenvolvessem competências como a autonomia,

tão importantes para o seu desenvolvimento holístico. Com o projeto Será que a

semente do feijão cresce muito? vários foram os momentos de conversa em grande

grupo. Inicialmente, e como já foi referido, este grupo de crianças revelava pouca

iniciativa e autonomia, necessitando da intervenção sistemática por parte do adulto. Para

contornar esta dificuldade foi necessário adequar a minha participação às necessidades

iniciais das crianças, de modo a ajudá-las “a melhor aprender, a ter êxito” (Altet, 1997,

p.53), fomentando o desenvolvimento da autonomia. À medida que as crianças foram

mostrando mais iniciativa e autonomia durante estes momentos de conversa fui

reduzindo progressivamente a minha mediação para que as crianças pudessem alcançar

a sua autonomia e assim desenvolverem sozinhas as suas competências (Altet, 1997).

De salientar que ao longo do projeto um grupo específico de cinco raparigas se mostrou

mais participativo e ativo nestes momentos de partilha. Este facto levou-me a estar mais

atenta às crianças que se envolviam menos nos debates e conversas, instigando-as com

perguntas e pedidos de comentários para que tivessem uma participação mais ativa.

Considerando este facto em alguns momentos da minha prática questionei-me se todos

os elementos do grupo estariam envolvidos e interessados no projeto, no entanto, após

refletir e analisar a informação recolhida, percebi que mesmo as crianças menos

participativas estavam motivadas e entusiasmadas com o projeto porque apesar de não

revelarem a capacidade de questionar e propor ideias mostravam-se muito interessadas

em participar nas atividades, chegando mesmo a alargar o projeto para o contexto

familiar, relatando e comentando com a família o que se estava a fazer no momento

relativo ao projeto. Esta situação é patente na nota de campo do dia 5 de dezembro

2017, onde uma das crianças menos participativa nos momentos de conversa em grande

grupo transporta o projeto dos feijões para o contexto familiar:

(Em conversa de grande grupo)

-Estagiária: Sabem onde é que o Sr foi este fim-de-semana, e o que é que ele

esteve a fazer com o avô?

-Crianças: Não!

-Estagiária: Queres contar aos amigos Sr?

-Sr: Alentejo!

-Estagiária: Foste ao Alentejo e o que é que fizeste?

- Sr: O avô eu a pôr feijão na terra!

46

-Estagiária: Plantaram feijão?

-Sr: Sim! (um sim com um grande sorriso)

-Estagiária: Olhem o Sr esteve a trabalhar no projeto do feijão, com o avô no

Alentejo, olha Sr, contaste lá em casa o que estamos a fazer sobre o nosso

projeto do feijão?

-Sr: Sim, o feijão no frasco!

-Estagiária: Queres mostrar as fotografias que tiraste no Alentejo aos amigos? E

depois queres ir colar as fotografias com a Nela na cartolina e vamos escrever o

que o avô disse sobre o feijão, queres?

-Sr: Sim! (levantou-se imediatamente e começou a mostrar as fotografias).

(NC do dia 5 de dezembro de 2016)

De salientar que, tendo em consideração a bibliografia de referência, estes

momentos de conversa em grande grupo são fundamentais para o desenvolvimento da

linguagem mas principalmente do pensamento, estando estes dois conceitos

intimamente relacionados. Autores como Hillebrand (citado por Hetzer, 1959) definem

esta relação como sendo simbiótica, uma vez que o desenvolvimento da linguagem

implica sempre “uma transformação e um progresso da atividade mental da criança”

(p.132), assim como a evolução ao nível da linguagem reflete “um aperfeiçoamento do

pensamento” (p.132). Piaget (1983) refere-nos ainda que, sendo a linguagem uma

função simbólica é possível afirmar que o pensamento antecede a linguagem, cabendo a

esta última o papel de “transformá-lo profundamente, ajudando-o a atingir as suas

formas de equilíbrio por uma esquematização mais avançada e uma abstração mais

móvel” (p.124). Este mesmo autor (citado por Hetzer, 1959) diz-nos ainda que é através

da linguagem que se inicia o processo de Socialização do Pensamento uma vez que a

linguagem apresenta-se principalmente como uma função comunicativa e também

representativa. É a necessidade que a criança tem em comunicar com os outros que

torna compreensível “as suas experiências mentais e afetivas” (Hetzer, 1959). Desta

forma, estes momentos de conversa e diálogos possibilitam ao adulto perceber as

“estruturas racionais” (Piaget, 1983, p.118) utilizadas pelas crianças.

Debruçando-me agora nas entrevistas aplicadas à educadora cooperante, à

auxiliar de sala e à coordenadora da instituição, importa analisar alguma informação que

considero pertinente para esta investigação. Como já foi anteriormente referido,

utilizou-se a entrevista como técnica de recolha de informação junto dos elementos da

equipa educativa e posteriormente realizou-se uma análise do conteúdo dos dados

47

recolhidos para perceber de que forma a MTP era percecionada por cada um destes

adultos envolvidos no processo de ensino-aprendizagem.

Tal como é possível constatar na entrevista, a educadora cooperante apresenta-se

como conhecedora e utilizadora da MTP, reconhecendo que esta metodologia permite a

aquisição de conhecimento e o desenvolvimento da autonomia e do pensamento crítico.

No entender desta entrevistada, ao utilizar a MTP estamos a promover a criança

enquanto ator ativo no processo de aprendizagem, cabendo ao adulto, neste caso o

educador, apresentar um papel dinamizador e moderador do processo de aprendizagem.

A educadora cooperante afirma mesmo que “a criança assume um papel ativo na

sua aprendizagem, pesquisando informações, formulando hipóteses, planeando as

atividades e construindo todo o projeto de acordo com os seus interesses e intenções”

(Apêndice D, p.87). Relativamente à idade das crianças, a entrevistada refere que não há

uma idade específica para trabalhar segundo os princípios da MTP, considerando que “é

perfeitamente possível construir projetos simples com crianças bem pequenas (…) até

mesmo com bebés” (Apêndice D, p.87). No que concerne à participação da família, a

educadora cooperante reconhece que a MTP traz benefícios para a relação escola-

família.

Já na entrevista à auxiliar de sala, é possível verificar que este elemento da

equipa educativa assume nunca ter trabalhado com a MTP e que só teve contacto com

esta metodologia aquando da realização do projeto “Será que a semente do feijão cresce

muito?”. Esta entrevistada afirma que considerou “muito interessante” (Apêndice D,

p.90) trabalhar com a Metodologia de Trabalho de Projeto porque o grupo de crianças

mostrou-se empenhado e muito interessado, tendo aprendido bastante. A auxiliar de sala

refere ainda que gostaria de continuar a trabalhar segundo esta metodologia.

Por fim, da informação retirada da entrevista à coordenadora da instituição,

salienta-se o facto de esta identificar a MTP como uma “mais-valia para o

desenvolvimento e aprendizagem das crianças” (Apêndice D, p.86). A entrevistada

refere também que as crianças, através da MTP, surgem como sujeitos ativos, sendo

“elas próprias instrumentos de aprendizagem no processo” (Apêndice D, p.91). Na

opinião da entrevistada, o educador deve apresentar-se como mediador durante o

processo de aprendizagem. No que diz respeito à idade das crianças, a coordenadora da

instituição salienta não haver uma idade específica para trabalhar por projetos, sendo

sempre possível utilizar a MTP, “desde que o educador tenha realmente a consciência

da fase de desenvolvimento em que a criança está” (Apêndice D, p.93). No que

48

concerne à participação parental, e tal como refere para o papel da criança, a

entrevistada perceciona a família como sendo um instrumento importante no processo

de ensino-aprendizagem. Respondendo à questão 5 da entrevista, a coordenadora da

instituição aponta os pontos fortes e fracos subjacentes à utilização da MTP. Nos pontos

fortes elenca o facto de permitir atingir as metas curriculares, tendo como ponto de

partida os interesses das crianças. Já nos pontos fracos aponta a dificuldade em gerir a

dinâmica de sala. Refere que esta dificuldade está patente durante o processo na gestão

do trabalho de sala e “ não no processo em si” (Apêndice D, p.95). Para terminar, esta

entrevistada refere que a MTP se enquadra nos princípios da instituição, entre eles: a

entreajuda, o trabalho em equipa e a liberdade de expressão. No entanto, e apesar de a

MTP se enquadrar nos princípios defendidos pela instituição educativa, a coordenadora

salienta o facto de esta metodologia não ser tão utilizada como gostaria. Para contrariar

esta tendência, a entrevistada afirma que trabalha para “que seja esta a metodologia (…)

mais praticada e mais acreditada” (Apêndice D, p.96).

Analisando agora as respostas às entrevistas, é possível constatar que as três

entrevistadas (educadora cooperante, auxiliar de sala e coordenadora da instituição)

reconhecem a MTP como uma forma potenciadora de aprendizagens, chegando mesmo

a educadora cooperante e a coordenadora a acrescentar o facto de esta metodologia

reconhecer a criança como sujeito ativo durante o processo de ensino-aprendizagem

assim como promover o envolvimento da família no contexto educativo. No que diz

respeito à idade das crianças, tanto a educadora cooperante como a coordenadora da

instituição afirmam que, na sua opinião, não existe uma idade específica para iniciar a

prática desta metodologia, referindo ambas ser possível trabalhar com crianças em idade

de creche através da MTP. No entanto, considero importante referir que, partindo da

informação recolhida no período de observação de JI e até mesmo no estágio de creche

(prática pedagógica realizada com o mesmo grupo de crianças e equipa educativa),

posso afirmar que este grupo de crianças não estava familiarizado com esta metodologia

participativa. Tal também é corroborado pela informação facultada na entrevista pela

auxiliar de sala que assume nunca ter tido contacto com MTP. De salientar que apesar

de a educadora cooperante e a coordenadora da instituição serem conhecedoras da MTP

assim como das suas vantagens, não utilizam esta metodologia na prática pedagógica

principalmente no que diz respeito a crianças de idade precoce.

Apesar de não ter sido um dos meus objetivos principais, vim a constatar após o

término do meu estágio curricular que a educadora cooperante deu continuidade à

49

implementação da MTP com a realização de um projeto com as crianças sobre casas.

Para além da educadora cooperante, uma outra educadora da instituição começou a

desenvolver com um grupo de crianças de 4 anos um projeto acerca da plantação do

feijoeiro. Considerando esta informação, posso verificar que a minha intervenção teve

repercussões no seio da instituição, levando algumas educadoras a utilizarem

pedagogias participativas. Isto revela o impacto que o projeto Será que a semente do

feijão cresce muito? teve junto das crianças assim como dos adultos da instituição. Na

minha opinião, este facto veio validar o sucesso da minha prática pedagógica que,

apesar de apresentar algumas lacunas, conseguiu abrir a porta a uma possível alteração

nas pedagogias utilizadas na instituição.

50

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste último capítulo apresento uma reflexão acerca do contributo da minha

prática pedagógica para a construção da minha identidade profissional assim como

possíveis caminhos a seguir tendo como ponto de partida a temática abordada neste

relatório final.

Terminada a prática pedagógica, muitas foram as aprendizagens que efetuei ao

longo deste percurso, sendo todas extremamente importantes para o desempenho do

meu papel enquanto futura educadora, contudo, gostaria de salientar que a metodologia

de trabalho de projeto foi bastante significativa e que se concretizou na descoberta de

que pode ser aplicável em grupos de crianças que estão a iniciar a valência de pré-

escolar. Esta é, efetivamente, uma metodologia que permite construir um conjunto de

aprendizagens significativas, encadeadas e integradas em diversos campos do saber. Ao

utilizar esta metodologia como estratégia para fomentar uma pedagogia participativa, as

crianças são instigadas a ter controlo sobre as suas aprendizagens, através do

reconhecimento das suas capacidades e competências, assim como da seleção das

temáticas/assuntos a estudar. Desta forma, “através da experiência que vão adquirindo,

as crianças tornam-se especialistas na sua própria aprendizagem” (Katz & Chard, 2009,

p.22).

Para mim, enquanto futura educadora, a promoção da metodologia de trabalho

de projeto junto deste grupo específico de crianças constituiu também um momento

bastante importante na medida em que me permitiu transpor para a prática as

aprendizagens efetuadas ao longo da minha formação académica. Apesar de já ter

utilizado esta metodologia de trabalho, nomeadamente no estágio da licenciatura em

Educação Básica, pude agora utilizar na íntegra as fases da metodologia de trabalho de

projeto, tendo por isso sentido dificuldades durante este processo, dificuldades essas

superadas através da constante reflexão sobre as dúvidas que iam surgindo.

Inicialmente senti alguma dificuldade em colocar-me no papel de aluna

estagiária na instituição onde exerço as minhas funções profissionais, mesmo sendo

com outro grupo de crianças, contudo, assim que iniciei a minha intervenção fui

estabelecendo uma ligação mais próxima com as crianças e interagindo cada vez mais,

construindo uma relação com base na confiança e no respeito que se transformou num

vínculo mais estreito e demarcado. Relativamente às relações estabelecidas, considero

importante referir que o facto de ter acompanhado este grupo de crianças no estágio em

51

contexto de creche, facilitou bastante a minha integração tanto com as crianças como

com as famílias, uma vez que não era um elemento totalmente estranho, existindo já

uma relação de confiança. A base de toda e qualquer aprendizagem para crianças desta

faixa etária está intimamente relacionada com a questão de proporcionar um ambiente

securizante em que se estabeleçam relações de confiança entre a criança e o adulto. É a

partir deste sentimento de confiança que a criança inicia a sua exploração do mundo,

adquirindo conhecimento de si e dos outros através de uma aprendizagem ativa (Post &

Hohmann, 2003). Durante a minha prática profissional fui percebendo o quão é

importante estar disponível física e emocionalmente para as crianças, ganhando assim

uma maior consciencialização da importância da minha ação. Desta forma comprovei

que para a realização e concretização de um bom trabalho enquanto educadora é

fundamental que se estabeleçam relações fortes e facilitadoras com as crianças e

respetivas famílias. Partindo desta relação de confiança e de pertença, cabe ao educador

proporcionar contextos que façam parte da realidade da criança e que sejam do interesse

da mesma, tornando a sua aprendizagem rica e significativa. O educador deve

desempenhar um papel de mediador de novas aprendizagens pelo que procurei seguir

esse papel na perspetiva de favorecer a construção de novos saberes, encorajando a

criança a questionar sobre aspetos do meio envolvente.

Ao longo das diferentes atividades desenvolvidas na minha intervenção, assente

na temática “Será que a semente do feijão cresce muito?” tentei sempre de alguma

forma que a implementação deste projeto fizesse a ponte com os objetivos da educadora

cooperante, no entanto, foi um desafio encontrar um equilíbrio entre os meus princípios

e os da educadora cooperante, uma vez que tentei sempre respeitar as suas ideias sem

descurar os meus ideais, principalmente no que se refere à participação ativa das

crianças no processo de ensino-aprendizagem. A pedagogia de participação, onde está

incluída a metodologia de trabalho de projeto, fundamenta-se na relação recíproca entre

a aprendizagem e os conteúdos, reconhecendo a criança como um dos principais atores

no processo e nos resultados das aprendizagens (Oliveira-Formosinho & Formosinho,

2013). Por acreditar e defender os princípios da MTP percebi que só fazia sentido

basear a minha prática durante este estágio naquilo em que acreditava, mesmo que isso

significasse acordar com a educadora cooperante um caminho que contemplasse as

intencionalidades de ambas. Hohmann e Weikart (2011) advogam que é fulcral que os

membros de uma equipa pedagógica revelem interesse em “aprofundar a compreensão

que têm, quer do currículo, quer de cada criança individual, de forma a poderem

52

oferecer um contexto que seja, simultaneamente consistente com os seus objetivos e

crenças na área da educação” (p.129). Apesar de não fazer parte da equipa de sala

considerei importante existir uma pareceria ente mim e todos os elementos da equipa,

uma vez que, durante aproximadamente quatro meses, fiz parte daquele grupo,

apresentando em alguns momentos um papel mais interativo e de relevo. De salientar

que em alguns momentos não foi possível privilegiar uma aprendizagem ativa,

nomeadamente na fase de divulgação e avaliação do projeto onde, em algumas

situações, o adulto apresentou um papel de maior destaque na preparação e elaboração

das atividades, coadunando-se assim mais com a pedagogia tradicional.

Outra temática que considero importante referir, e que esteve muito presente

durante a minha prática, prende-se com o facto de o domínio do Conhecimento do

Mundo ser pouco trabalhado com este grupo de crianças. Esta área do saber carateriza-

se por ser abrangente, permitindo uma grande envolvência entre a criança, o meio

envolvente e a comunidade, principalmente no que se relaciona com a introdução de

atividades exploratórias e desafiadoras com cariz mais científico, promovendo desta

forma uma aprendizagem ativa. Ao verificar a falta de momentos de exploração no

domínio das ciências, percebi que deveria incluir nas minhas intencionalidades a

promoção de atividades no âmbito das ciências naturais, no entanto, e já durante a

minha prática, questionei-me se não estaria a ficar muito centrada neste objetivo,

negligenciando as outras áreas do saber. Segundo as OCEPE (2016), a área do

conhecimento do mundo, devido à sua abrangência, proporciona a integração de saberes

de outros domínios. Como no início do projeto as atividades eram essencialmente de

cariz científico, surgiram-me algumas dúvidas se estaria a conseguir promover este

caráter integrador tão caraterístico do domínio do Conhecimento do Mundo e da MTP.

Foi neste momento que realizei uma análise profunda à teia do projeto, com o intuito de

perceber que caminhos estava a traçar e se estava a conseguir cumprir os meus

objetivos. Percebi então que, para o sucesso do projeto, era essencial que as primeiras

atividades fossem do domínio das ciências, para que posteriormente fosse possível

abordar outras áreas do saber. De salientar que, ao longo do projeto, foram surgindo

curiosidades por parte das crianças que as encaminharam para aprendizagens de outras

áreas que não as ciências.

Debruçando-me agora nas conclusões retiradas deste projeto, considero

relevante referir o facto de ter promovido junto deste grupo de crianças de três anos a

utilização de metodologias de pedagogia de participação como é o caso da metodologia

53

de trabalho de projeto. A confirmação de que tinha sido vantajoso para o grupo o

primeiro contacto com a MTP foi surgindo ao longo do processo através do interesse

que as crianças iam demostrando e pela forma como estas se envolviam e se tornavam

mais autónomas ao longo do projeto. O grupo aderiu com interesse e entusiasmo na

realização das atividades propostas, tornando-se um grupo muito mais ativo,

interessado, curioso e participativo, apresentando uma vontade enorme de descobrir e

explorar o meio envolvente, começando a colocar com mais frequência questões

interessantes e pertinentes, desenvolvendo assim as suas capacidades e competências.

Alguns autores definem a pedagogia de participação como sendo “uma pedagogia do

diálogo e da compreensão interpessoal” (Altet, 1997, p.53) que direciona a criança a

uma “pedagogia de autonomia” (Altet, 1997, p.53). Deste modo, confirmei, através da

minha prática educativa, uma das principais vantagens em utilizar a metodologia de

trabalho de projeto, nomeadamente no que se refere ao respeito pelo carater curioso e

explorador das crianças. Somente através de uma motivação intrínseca, a criança estará

envolvida nas aprendizagens, sendo o principal construtor do seu saber (Oliveira-

Formosinho & Formosinho, 2013). Ao longo da minha prática tomei consciência de que

devemos incentivar, estimular e motivar as crianças, envolvendo-as nas experiências de

aprendizagem para que estas possam participar e empenhar-se mais na realização das

tarefas, dando-lhes tempo para que livremente aprendam a escolher e a tomar decisões.

Conforme referem as OCEPE (ME, 2016) é importante que as crianças se apropriem do

espaço e do tempo vivenciados em contexto de pré-escolar de modo a construir, de

forma gradual e progressiva, a sua autonomia, aprendendo a fazer escolhas, a tomar

decisões e a justificar/argumentar essas mesmas escolhas.

Durante este estudo empírico surgiram dois assuntos relacionados com a

temática em análise que, na minha opinião, poderão ser propostas para futuras

investigações, nomeadamente a importância do papel da família e da comunidade na

metodologia de trabalho de projeto e a introdução de alguns princípios da metodologia

de trabalho de projeto em contexto de creche, especialmente no ano de transição para o

pré-escolar. Relativamente ao primeiro assunto, abordado superficialmente neste

relatório, considero ser de extrema pertinência perceber de que forma a metodologia de

projeto fomenta a participação das famílias e da comunidade no contexto educativo.

Mendonça (2002) alerta-nos para importância de “proporcionar lugar no universo

socioeducativo da criança e das instituições para cada actor: criança, educadores, pais,

elementos da comunidade (…)” (p.92) . Ou seja, é fulcral que durante o processo de

54

ensino-aprendizagem os vários agentes envolvidos sejam reconhecidos como entidades

com forças essenciais para uma aprendizagem participativa e significativa. Já no que

concerne ao segundo assunto, e tendo também em conta o meu estágio em creche,

considero de extrema importância estudar aprofundadamente de que forma as crianças

em idade de creche podem contactar com os princípios basilares da MTP e assim

familiarizarem-se com esta metodologia, apresentando-se mais autónomas na sua

utilização em contexto de pré-escolar. Apesar de alguns autores, nomeadamente Katz e

Chard (2009), nos alertarem para o facto de esta metodologia ser aplicável

principalmente com crianças a partir dos três anos, julgo que seria interessante perceber

que competências devem ser estimuladas em crianças de creche para facilitar a

implementação de trabalhos de projeto aquando da entrada no jardim-de-infância.

Do exposto até ao momento, e na posse do conhecimento que detenho hoje

advindo das experiências da prática pedagógica, considero que a minha identidade

profissional se fundamenta nos seguintes valores: autonomia, participação, liberdade,

respeito, partilha, cooperação e comunicação. Ao considerar estes sete pilares, é

possível promover um ambiente que permite que a criança se desenvolva como um ser

capaz, com voz e participação ativa no meio onde está inserida, construindo desta forma

as bases essenciais para a formação de cidadãos responsáveis e pró-ativos. Conforme

refere Green (citado por Oliveira-Formosinho, 2013) “há sempre um momento na

infância em que se abre a porta que deixa entrar o futuro” (s.p). Assim sendo, durante

estes períodos de prática pedagógica, tive como principal intencionalidade privilegiar

modelos pedagógicos de participação pois, tal como tenho vindo a afirmar ao longo

deste trabalho, reconheço a importância de a criança apresentar um papel ativo na

construção das suas aprendizagens, tendo uma voz ativa no processo de ensino-

aprendizagem (Oliveira-Formosinho & Formosinho, 2013).

De referir ainda que durante o estágio e a elaboração deste relatório vários foram

os momentos de inquietação que, apesar de ansiogénicos, foram extremamente ricos,

pois levaram-me a realizar uma pesquisa quase constante, nomeadamente a bibliografia

de referência, com o objetivo de adquirir novas competências e amadurecer alguns dos

meus conhecimentos. Através deste processo percebi a importância da reflexão e da

constante procura por novos saberes para a qualidade e sucesso da prática profissional.

Na sequência do que tem vindo a ser referido o processo de construção da identidade

profissional do educador baseia-se num cariz mutável, já que o profissional se encontra

“historicamente situado” (Moreira, 2010, p.22). Por outras palavras, o educador vai

55

construindo a sua identidade profissional inserido na prática e no contexto educativo,

consciente de que se trata de um processo evolutivo e repleto de significados sociais

(Moreira, 2010). Desta forma, é importante que o educador se envolva “em experiências

pedagógicas que lhes propiciam a aquisição ou melhoria dos seus conhecimentos,

competências e disposições para uma melhor intervenção no campo profissional”

(Moreira, 2010, p.23) e assim promover uma alteração na sua prática docente.

56

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Legislação

Decreto-Lei nº 241/2001 de 30 de Agosto. Diário da República. Ministério da

Educação, Lisboa.

60

APÊNDICES

61

APÊNDICE A. Consentimento Informado para registo fotográfico e

registo áudio das crianças no contexto de JI

Caros encarregados de educação,

Como é do vosso conhecimento, estou a realizar o meu estágio de educação pré-

escolar na sala 1, pelo que venho por este meio solicitar a vossa autorização para

fotografar o seu educando durante as atividades que irei realizar e recolher gravações

dos diálogos realizados entre os educandos. As fotografias e gravações serão

utilizadas exclusivamente para efeitos do relatório final de Mestrado tendo sempre a

preocupação de garantir toda a confidencialidade necessária para preservar o

anonimato de cada criança.

Agradeço a vossa compreensão.

Cumprimentos,

A Estagiária

_____________________________

Autorizo

Não Autorizo

O Encarregado de Educação

_________________________________

62

APÊNDICE B. Notas de campo

Dia 10 de outubro

Descrição Observações

Primeiro dia de intervenção, sou recebida pela educadora cooperante, a qual faz o

mesmo horário que eu (das 8h às 16h), e por uma auxiliar da instituição que faz o

acolhimento das crianças a partir 7h30). O acolhimento de todas as crianças do pré-

escolar é realizado na sala 1 (sala do grupo de crianças com que vou intervir). À medida

que vão chegando as crianças sentam-se ao lado de outro colega partilhando o mesmo

jogo ou vão buscar outro para fazer. Às 8h30 chega outra educadora, e às 9h os grupos

de crianças são distribuídos pelas respetivas salas. As crianças da sala 1 mantêm-se na

sala a brincar nos jogos ou na garagem. Às 9h30 a educadora cooperante solicita às

crianças que comecem a arrumar os jogos para que se desloquem ao salão da instituição

a fim, de iniciarem a aula de Educação Física com o professor Luís. Esta é uma rotina de

todas as segundas feiras, à qual já todos estão bem adaptados, pois, as crianças já

estabeleceram uma relação prévia. O grupo fica atento às instruções do professor, exceto

algumas crianças que estão mais irrequietas e menos atentas, tendo o professor que

chamar a sua atenção das mesmas diversas vezes. A educadora cooperante começou a

conversar comigo explicando-me que este é o único dia em que as crianças vêm mais

cedo por causa da aula de ginástica, pois apesar do acolhimento ser realizado a partir das

7h30m, o grupo de crianças só está praticamente todo reunido por volta das 9h30m, no

entanto, algumas crianças chegam mesmo perto das 10h. Após terminar a aula de

educação física as crianças sobem à sua sala e vão-se sentando no espaço já pré definido

pela educadora para dar início à reunião em grande grupo. Seguidamente cantam o bom

dia para todos e ainda o bom dia individual a cada criança e aos adultos pela ordem que

estas escolhem. Aproveitando o momento a educadora cooperante começa a explicar às

crianças o que estou ali a fazer, questionando as crianças se sabem quem eu sou o que é

que achavam que estava a fazer ali na sala? Crianças: “É a Nela!” (responderam as

crianças quase em simultâneo). Ma: “É a Nela, ela veio brincar com a gente e contar

Geralmente, as crianças neste dia

ficam sempre mais excitadas,

talvez pelo facto de ser o dia de

educação física ou por virem do

fim-de-semana.

63

histórias!”. Sa: “Ela veio ver as nossas coisas”. Seguidamente a educadora começou a

falar do Outono questionando as crianças sobre o que sabiam, referindo que iam realizar

uma atividade no dia seguinte sobre os frutos do outono, sugerindo de seguida que

fossem brincar para as áreas, finalizando assim a reunião. A Educadora cooperante

solicita às crianças para que comecem a arrumar as áreas onde estiveram a brincar para

iniciar a rotina da higiene antes do almoço, sugerindo que se vão sentando à medida que

vão arrumando. Durante a rotina da higiene, as crianças estão sentadas e algumas delas

vão começando a cantar com o apoio da educadora, o que faz com que quase que

instantaneamente todos comecem a cantar. Após a rotina da higiene, cada criança vai-se

sentando até que todos tenham terminado, posteriormente a pedido da educadora

cooperante as crianças levantam-se e arrumam as cadeiras, formando uma fila para irem

para o refeitório almoçar, sendo que, dois elementos do grupo fazem birra e não vão de

imediato para a fila porque a mesa deles não foi a primeira. Há chegada ao refeitório,

onde já se encontra um grupo de crianças mais novas a almoçar, estas sentam-se nos

lugares já marcados, sendo servida a sopa e de seguida o conduto. Após a refeição do

almoço (12h30) as crianças fazem a higiene e vão descansar.

64

Dia 12 de

outubro

Descrição Observações

Acolhimento realizado pela educadora cooperante, por mim e por outra auxiliar da sala

(esta entra às 7h30 conforme já foi referido na primeira nota de campo).À medida que

vão chegando as crianças sentam-se e vão buscar um jogo para fazer, ou vão para a área

da garagem e dos blocos. A Educadora solícita às crianças que comecem a arrumar os

jogos para dar início à reunião de grupo o grupo sentado em posição de meia-lua para

que todos se vejam uns aos outros. A educadora espera que todos façam silêncio para

assim darem início à reunião já habitual (rotina), começando por dizer bom dia, há qual

respondem também com o bom dia, começando de imediato a cantar a canção do bom

dia. Seguidamente a Educadora cooperante pergunta querem comer uma bolacha, ao que

a maioria das crianças responde afirmativamente “sim!”. Após comerem a bolacha, a

educadora solicita a uma das crianças (ao seu critério) para mudar a figura do mapa do

tempo, caso este se tenha alterado. Durante esta rotina, chega a Fa com um saco na mão

com fruta dentro e muito espontaneamente diz: “ trouxe romãs e diospiros que são do

outono e é para comermos!” Dirigiu-se primeiro aos colegas e a seguir dá o saco à

educadora cooperante. A Educadora aceita o saco e diz: “ Fa, vamos mostrar aos amigos

mas só podemos provar ao almoço, porque agora vamos trabalhar com outras frutas do

outono. A Fa aceita a decisão da educadora e senta-se ao lado da colega. A educadora

abre uma caixa plástica que tem consigo, e tira de dentro desta, um cacho de uvas e

pergunta às crianças se conhecem aquela fruta. A maioria das crianças respondeu que

eram uvas. Em seguida tira de dentro da caixa uma maçã vermelha e volta a perguntar de

que fruta se trata, ao que as crianças respondem: “maçã!”. A educadora pergunta de que

cor é a maçã e a maioria das crianças responde que é vermelho. De novo a educadora tira

outra maçã de dentro da caixa e volta a perguntar às crianças que fruta é aquela e

algumas crianças ficam caladas, mostrando alguma hesitação em responder, a Va

responde: “também é uma maçã!”. A educadora confirma e reforça que sim, que é uma

maçã mas que é de outra cor e se sabem de que cor é. As crianças não identificam a cor,

ao que a educadora começa por dizer que é uma maçã verde. Posteriormente a educadora

Alguma persistência por parte da

educadora cooperante, para que as

crianças se mantenham sentadas e

atentas.

65

pergunta às crianças se querem provar aquelas frutas, ao que as crianças respondem:

“sim!”. A educadora começa a dar um bago de uva a cada criança, e quase todas

aceitaram e comeram, seguidamente parte pedaços de maçã e dá às crianças para

comerem. Após este momento de exploração da fruta a educadora solicita às crianças

que vão brincar ara as áreas. Próximo da hora de almoço a educadora cooperante solicita

às crianças para que comecem a arrumar as áreas onde estiveram a brincar para iniciar a

rotina da higiene antes do almoço, sugerindo que se vão sentando à medida que vão

arrumando. Durante a rotina da higiene, as crianças estão sentadas e algumas delas vão

começando a cantar com o apoio da educadora, o que faz com que quase que

instantaneamente todos comecem a cantar. Após a rotina da higiene, cada criança vai-se

sentando até que todos tenham terminado, posteriormente a pedido da educadora

cooperante as crianças levantam-se e arrumam as cadeiras, formando uma fila para irem

para o refeitório almoçar. Há chegada ao refeitório, onde já se encontra um grupo de

crianças mais novas a almoçar, estas sentam-se nos lugares já marcados, sendo servida a

sopa e de seguida o conduto. Após a refeição do almoço (12h30) as crianças fazem a

higiene e vão descansar.

66

Dia 14 de

outubro

Descrição Observações

Tal como já vem sendo habitual a rotina de acolhimento correu normalmente, as crianças

vão chegando e sentam-se a fazer um jogo. Às 9h30 a educadora cooperante pede às

crianças que comecem a arrumar e que se sentem no local já definido para dar início à

reunião de grupo. A educadora cooperante começa por dizer bom dia, ao que as crianças

também respondem com o bom dia, começando imediatamente a cantar a canção do bom

dia. Seguidamente a Educadora cooperante pergunta se querem comer uma bolacha, ao

que a maioria das crianças responde afirmativamente que sim. Após comerem a bolacha,

a educadora cooperante solicita a uma das crianças (ao seu critério) para mudar a figura

do mapa do tempo, caso este se tenha alterado. Posteriormente a educadora cooperante

questiona as crianças se querem observar e provar nozes e a romã que a Fa tinha trazido,

sugerindo que se levantassem e que se fossem sentar nas cadeiras à volta da mesa

grande. A educadora cooperante começa por mostrar a romã às crianças, perguntando-

lhes se conhecem aquele fruto do outono e se querem provar, ao que a maioria das

crianças responde que sim. A educadora começa a dar uns bagos de romã a cada criança,

e a grande maioria aceita e come. Ma: “são pequeninas e vermelhas!” So: “é bom!”Lv:

“é vermelha e tem uma coroa como as rainhas!”. Seguidamente, e depois de ter mostrado

as nozes ao grupo a educadora cooperante começa por distribuir pelas crianças o miolo

da noz para que provem. A grande maioria das crianças gostou do fruto, no entanto,

quatro elementos do grupo provaram mas não gostaram. Após este momento de

exploração da fruta, a educadora cooperante solicita às crianças que vão brincar para as

áreas, pois já estavam a ficar um pouco impacientes. Seguidamente, foi chamando uma

criança de cada vez para irem pintar o desenho da romã com guaches. Próximo da hora

de almoço a educadora cooperante solicita às crianças que comecem a arrumar as áreas

onde estiveram a brincar, sugerindo que se sentem após terem arrumado. Durante a

rotina da higiene, as crianças estão sentadas e com o apoio da educadora, começam a

cantar. Após a rotina da higiene, cada criança vai-se sentando até que todos tenham

terminado. Posteriormente a pedido da educadora cooperante as crianças levantam-se e

O Sr e a Ca estiveram a maior

parte do tempo a interromper os

diálogos dos colegas e da

educadora, o que acaba por

prejudicar o raciocínio de algumas

crianças, interrompendo várias

vezes a reunião de grupo.

67

arrumam as cadeiras, formando uma fila para irem para o refeitório almoçar, sendo que,

dois elementos do grupo fazem birra e não vão de imediato para a fila. Há chegada ao

refeitório, onde já se encontra um grupo de crianças mais novas a almoçar, estas sentam-

se nos lugares já marcados, sendo servida a sopa e de seguida o conduto. Após a refeição

do almoço (12h30) as crianças fazem a higiene e vão descansar.

68

Dia 24 de

outubro

Descrição Observações

Após o acolhimento e durante a reunião de grupo, a educadora cooperante questiona as

crianças se estas se recordam qual a estação do ano em que estávamos, referindo alguns

aspetos que ajudassem as crianças a lembrarem-se, sugerindo às crianças que se

lembrassem e que fossem nomeando algumas características próprias desta estação do

ano. Bo: “está um bocadinho de vento!” Ma: “às vezes chove!” Va: “faz frio!” ao que a

educadora cooperante solicita às crianças que observem a imagem do outono que se

encontra exposta ao lado do mapa do tempo, para que estas se recordem do nome desta

estação do ano “outono”. Como as crianças não conseguem identificar, a educadora

cooperante opta por mostrar imagens de folhas do outono, questionando as crianças

sobre as cores que estas tinham, e se tinham trazido folhas do outono conforme tinha

pedido no dia anterior, as crianças abanam a cabeça manifestando o “não”. A educadora

cooperante continua a questionar as cores das folhas e a maioria das crianças reconhece

o castanho, verde e amarelo, mas cor de laranja dizem que é cor-de-rosa. Seguidamente a

educadora cooperante sugere às crianças se querem ir pintar uma folha, Ma: “com

pintura?” Educadora cooperante: não com lápis!” a educadora solicita, à Ma, à Va, à Is

e à Lv que vão para a mesa de trabalho para começarem a pintar, sugerindo às outras

crianças que vão brincar para as áreas. Após a rotina da Higiene as crianças dirigem-se

ao refeitório acompanhadas pela educadora cooperante, pela auxiliar e por mim. Quando

chegam ao refeitório as crianças sentam-se nos lugares já habituais, e a pedido de

algumas das crianças sentei-me perto delas, da Fa, da Va, da Lv do Go e do Ge,

apoiando-as sempre que se justificava, a Fa e o Gu principalmente a comerem a sopa.

Aquando da chegada do conduto, as crianças fizeram alguns comentários que prenderam

a minha atenção, aproveitando o momento para registar os seus comentários. Go: não

gosto disto!” (começando a separar dos outros alimentos) Lv: são bolinhas!” Fa e Va:

são ervilhas!” Ge: não, bolinhas!” Fa: são bolinhas, mas são ervilhas!” Lv: não, são

bolinhas!” (disse insistindo) Va: sim, mas chama-se ervilhas, não é Nela?” (reforçou

convicta e certa do que dizia) Estagiária: sim Va são ervilhas, Go já provaste? Prova, é

O So e a Ca, são duas das crianças

mais novas no grupo, que ainda

estão em fase de adaptação.

69

bom!” Lv: tu gostas das bolinhas?” Estagiária: gosto, as ervilhas fazem muito bem,

fazem ficarmos muito fortes!” Fa: pois é Nela, eu gosto muito de ervilhas!” Foi

interessante ouvir as crianças a instigarem-se umas às outras e a questionarem sobre

aquele alimento, o que me fez refletir, surgindo a partir desta curiosidade das crianças

uma possível problemática para desenvolver um projeto sobre esta leguminosa. Após a

refeição do almoço (12h30) as crianças fazem a higiene e vão descansar.

70

Dia 5 de

dezembro

Descrição Observações

Após terminar a aula de educação física com o professor Luís, as crianças dirigem-se

para a sala e começam a sentar-se no espaço já pré definido pela educadora. Em

simultâneo com a auxiliar e a educadora cooperante começo a vestir as batas às crianças.

Consecutivamente, e como já vem sendo habitual, solicito ao grupo de crianças dar

início há reunião de grupo, começando por dar o bom dia a todos, sendo correspondido

por todas as crianças. Seguidamente, pergunto se querem cantar a canção do bom dia, ao

que todas as crianças contentes respondem que “Sim”. Posteriormente, começo por

perguntar como foi o fim-de-semana e o que fizeram, aproveitando para referir que um

amigo tinha feito anos. Estagiária: “Sabem quem fez anos este fim-de-semana?”

Crianças: “Foi a Lv!” Estagiária: “Fizeram uma festa, queres contar-nos como foi a tua

festa?” A Lv conta aos amigos os presentes que tinha recebido e que o bolo era das

princesas. Propus então ao grupo que lhe cantássemos os parabéns e após cantarmos os

parabéns, a educadora cooperante chamou a atenção das crianças para o facto de alguns

colegas virem a fazer birra. Educadora cooperante: “Agora eu quero saber porque é

que os meninos vêm a fazer birra para a escola?” Algumas crianças: “eu não!” (dizem

ao mesmo tempo). Fa: “É porque eles querem a mãe. Ma: “São bebés!” Educadora

cooperante: “Mas já não são bebés, já são crescidos e sabem que a mãe vem buscar os

meninos, não quero mais birras, ouviram Va e So?” Retomei de novo a conversa em

grande grupo para chamar a atenção das crianças sobre o fim-de-semana do Sr,

(Conversei com a mãe quando, esta o trouxe à escola e que me relatou onde ele tinha ido

e o que tinha estado a fazer). Estagiária: “Sabem onde é que o Sr foi este fim-de-

semana, e o que é que ele esteve a fazer com o avô?” Crianças: “Não!” Estagiária:

“Queres contar aos amigos Sr?” Sr: “Alentejo!” Estagiária: “Foste ao Alentejo e o que é

que fizeste?” Sr: O avô eu a pôr feijão na terra!” Estagiária: “Plantaram feijão?” Sr:

“Sim!” (um sim com um grande sorriso) Estagiária: “olhem o Sr esteve a trabalhar no

projeto do feijão, com o avô no Alentejo! Sr: contaste lá em casa o que estamos a fazer

sobre o nosso projeto do feijão?” Sr: “Sim, o feijão no frasco!” Estagiária: “Queres

Neste dia as crianças têm o tempo muito reduzido para a reunião de grupo, devido à aula de educação física.

O Sr só agora começou a construir

frases curtas, apesar de ser uma

criança pouco participativa é

muito interessado.

71

mostrar as fotografias que tiraste no Alentejo aos amigos? Olha e a seguir queres ir colar

as fotografias com a Nela na cartolina e vamos escrever o que o avô disse sobre o feijão,

queres?” Sr: “Sim!” (levantou-se imediatamente e começou a mostrar as fotografias).

Após este grande momento, quer para o Sr, quer para as outas crianças, solicitei ao grupo

para irem brincar para as áreas. às crianças. Próximo da hora do almoço solicitei às

crianças que começassem a arrumar e que se sentassem para dar início à rotina de

higiene. Durante a rotina da higiene, as crianças pedem-me para cantar uma canção, e

logo todos começam a cantar. Após a rotina da higiene, cada criança vai-se sentando até

que todos tenham terminado, ao meu pedido as crianças levantam-se e arrumam as

cadeiras, formando uma fila para irem para o refeitório almoçar. Há chegada ao

refeitório, onde já se encontra um grupo de crianças mais novas a almoçar, estas sentam-

se nos lugares já marcados, sendo servida a sopa e de seguida o conduto. Após a refeição

do almoço (12h30) as crianças fazem a higiene e vão descansar.

72

Dia 21 de

dezembro

Descrição Observações

Acolhimento realizado pela educadora cooperante, por mim e por outra auxiliar da sala

(esta entra às 7h30 conforme já foi referido na primeira nota de campo).À medida que

vão chegando as crianças sentam-se e vão buscar um jogo para fazer, ou vão para a área

da garagem e dos blocos. Já na reunião de grande grupo, após terem cantado o bom dia

terem comido a bolacha aproveito o momento para relembrar que o avô do To tinha dito

sobre os feijões que estavam nos germinadoras, que estes não podiam continuar mais

tempo nos germinadores, referindo que estava na altura de serem plantados noutro lado

pois precisavam de um espaço diferente para continuarem a crescer. Começo então por

questionar o grupo se sabem onde é que podemos ir plantar o feijão. Estagiária: “onde é

que acham que podemos ir plantar o feijão?” Va: “no chão!” Estagiária: “no chão? Que

chão Va, como este?” Va: “não, lá fora!” Estagiária: “como é que é o chão lá fora?”

Ma: “na terra!” Fa: “naquela do jardim Nela!” Estagiária: “muito bem, é no chão com

terra como aquela do jardim.” Lv: “pois podemos plantar no jardim!” Estagiária: “olha

mas nós temos uma horta, uma horta como aquela do Sr, quando ele vai para o Alentejo

com o avô! Olhem lá para as fotos do Sr com o avô a plantar o feijão (as crianças

observaram as fotografias), vocês não conhecem a nossa horta?” Crianças: “não!”. .”

Va: “tem terra Nela?” Estagiária: “tem Va, tem muita terra e já tem outras coisas

plantadas!” Va: “o quê?” Estagiária: “uma árvore de limões, um limoeiro! Couves … e

outras coisas que os meninos vão ver! Estagiária: vamos então conhecer a nossa horta e

plantar os nossos feijões e as nossas ervilhas? “Crianças: “siiimmm!” (respondem muito

entusiasmadas). Estagiária: “Olhem, a Nela como viu que podia começar a chover já

levou os germinadores e os materiais para a horta, vamos levantar-nos devagarinho e

venham todos atrás da Nela!”. (sugiro então às crianças que se levantem e que me sigam

até à horta, onde já se encontra tudo preparado para plantarem). Já no exterior da

73

instituição as crianças expectantes observam ao seu redor tentando reconhecer o espaço e

descobrindo a horta. Já na horta, as crianças manifestam satisfação e alegria, peço para

que oiçam, explicando que não podem plantar todos ao mesmo tempo e que vou chamar

dois meninos de cada vez para plantar o feijão e a ervilha e os outros meninos ficam a

observar como se faz. Depois de explorarem o espaço e plantarem os feijões e as

ervilhas, sugeri às crianças se queriam brincar no jardim, ao que todas responderam

contentes que sim. Próximo da hora do almoço solicitei às crianças para irmos para a

sala para dar início à rotina da higiene. Após a rotina da higiene, formam uma fila para

irem almoçar. Há chegada ao refeitório, onde já se encontra um grupo de crianças mais

novas a almoçar, estas sentam-se nos lugares já marcados. Após a refeição do almoço

(12h30) as crianças fazem a higiene e vão descansar.

74

Dia 18 de

novembro

Descrição Observações

Acolhimento realizado pela educadora cooperante, por mim e por outra auxiliar da

sala (esta entra às 7h30 conforme já foi referido na primeira nota de campo).À medida

que vão chegando as crianças sentam-se e vão buscar um jogo para fazer, ou vão para a

área da garagem e dos blocos. Solícito às crianças que comecem a arrumar os jogos

para dar início à reunião (rotina), começando por dizer bom dia, há qual respondem

também com o bom dia. Seguidamente, sugiro às crianças que cantem a canção do bom

dia, após terminarem de cantar a canção do bom dia pergunto se querem comer uma

bolacha, ao que a maioria das crianças responde afirmativamente “sim!”. Começo por

questionar o grupo Estagiária: “ quando estivemos a falar da história da Princesa e a

ervilha, os meninos estavam sempre a falar do feijão, a Fa até falou na história do João

pé de feijão, então o que é que querem saber sobre o feijão?” Fa: se ele cresce muito

como o pé de feijão!” Va: “se fica muito grande!” Estagiária: “então o que é que

vocês acham que temos que fazer para ver se ele cresce?” So: “por no frasquinho!” Fa:

“sim temos que por no frasquinho, pra ele crescer!” Estagiária: “ o So e a Fa dizem

que temos que por no germinador para ele crescer não é?” Fa: “é!” So; sim!” Ma: “

para crescer muito!” Ra: “ficar grande!” So: “vai crescer muito, muito, muito!” (vai

levantando os baços) Estagiária: “e os outros meninos também acham que se

pusermos o feijão no germinador como fizemos com a ervilha ele também vai crescer

como a ervilha?” Bo: “cresce muito como a ervilha!” Crianças: “sim!” Estagiária: “?”

Crianças: “siiimmm!” Va: “vamos pôr Nela?” Estagiária: “ eu também acho que é

uma boa ideia Va, vamos fazer a experiência, vamos pôr a semente do feijão no

germinador e ver o que acontece, acham boa ideia?” Ma: “ eu acho uma boa ideia!”

Lo: “eu também!” Va: “ ele vai crescer muito, até à nossa sala!” Estagiária: “então

isso quer dizer que ele vai crescer mais que a ervilha? Ís: “ (diz que sim com o

75

movimento da cabeça) ” Estagiária: “Ra, achas que o feijão vai crescer ou não?” Ra:

“sim!” To: “vai ficar muito grande!” Estagiária: “acham que sim, que cresce?”

Crianças: “sim!” Estagiária: “ então para a semana a Nela traz os materiais todos para

construirmos os germinadores, sim?” Crianças: “siiimmm!”. Estagiária: “agora

podem ir brincar para as áreas (a grande maioria das crianças começou logo a levantar-

se, ao que solicitei que esperassem para ouvirem o que ainda tinha para dizer), e depois

do fim-de-semana vamos falar sobre outras coisas que gostavam de saber e de fazer

sobre o feijão, querem?” Crianças: “siiimmm!” Próximo da hora do almoço solícito ao

grupo que comecem a arrumar as áreas para irmos almoçar. Após a rotina da higiene, o

grupo forma uma fila para ir almoçar. Há chegada ao refeitório, onde já se encontra um

grupo de crianças mais novas a almoçar, estas sentam-se nos lugares já marcados,

sendo servida a sopa e de seguida o conduto. Após a refeição do almoço (12h30) as

crianças fazem a higiene e vão descansar.

76

Dia 23 de

novembro

Descrição Observações

Solícito às crianças que comecem a arrumar os jogos, pois, hoje temos uma coisa importante

para fazer e a nossa reunião vai ser mais pequena para não perdermos muito tempo. Após a

rotina do bom dia começo por questionar o grupo se estão recordados do que tínhamos

falado sobre o feijão. Estagiária: “lembram-se de terem dito à Nela que gostavam de

fazer uma experiência com o feijão, para saberem se ele…” Fa: se o feijão cresce

muito!” Bo: se cresce!” So: se cresce muito como a ervilha!” Va: “ vai crescer até ao

céu!” Estagiária: “acham que vai crescer muito, La tu também achas que sim? (abana

com a cabeça como um sim) A La também acha que sim!” O Je também acha que vai

crescer. Vamos ver, vamos montar os germinadores, os meninos vão pôr lá o feijão

dentro e vamos ver daqui por uns dias se o feijão está a crescer ou não, combinado?

Crianças: sim! Estagiária: “ então primeiro temos fazer o quê? Pôr o feijão dentro

do…” Is: “frasco!” Va: “do germinador!” Estagiária: “Do germinador, mas hoje são os

meninos que vão construir o germinador sozinhos, a Nela ajuda mas são os meninos que

vão pôr o cartão canelado à volta do germinador, vão colocar o algodão dentro do

germinador, depois vão colocar os feijões e no fim vão pôr a água. Agora vão brincar

para as áreas e depois a Nela chama dois meninos de cada vez e esses dois meninos vêm

montar o seu germinador, está bem?” Crianças: “sim!” (alguns elementos do grupo

ficaram menos satisfeitos, pois queriam ir já fazer a atividade) Estagiária: “podem ir

brincar para as áreas que a Nela já chama dois meninos!” As crianças estavam muito

envolvidas na atividade mostrando muito interesse, participando em todos os passos da

construção do germinador. Os restantes elementos do grupo que já não tiveram

oportunidade de construir o germinador, ficaram um pouco tristes e aborrecidos, mas

após conversar com eles mostraram compreender, pois expliquei-lhes que já estava na

hora do almoço e que também iam construir o germinador deles no dia seguinte. Solícito

ao grupo que comecem a arrumar as áreas para irmos almoçar. Durante a rotina da higiene,

as crianças estão sentadas a cantar. Após a rotina da higiene, cada criança vai-se sentando até

que todos tenham terminado a mesma, seguidamente formam uma fila para irem almoçar. Há

chegada ao refeitório, onde já se encontra um grupo de crianças mais novas a almoçar, estas

A La é uma menina muito tímida e

muito envergonhada (de etnia

cigana).

77

sentam-se nos lugares já marcados, sendo servida a sopa e de seguida o conduto. Após a refeição

do almoço (12h30) as crianças fazem a higiene e vão descansar.

78

Dia 28 de

dezembro

Descrição Observações

Após o momento de reunião de grupo para cantar o bom dia, dá-se início a uma conversa

sobre o trabalho do projeto do feijão, relembrando assim, o que tínhamos feito até ao

momento e decidir o que iriamos fazer a seguir. Estagiária: “Então nós temos estado a

fazer muitas coisas no projeto do feijão, o que é que nós já fizemos?” Va: “Fizemos

muitas, muitas coisas Nela!” Estagiária: “ O que é que nós fizemos? Bo: “ Fomos ao

mercado!” Is: “Fomos ver se havia lá os feijões!” Fa: “ E fomos comprar feijões!”Ma:

“Mas vendem-se muitas coisas no mercado!”To: “A minha mãe vende pão!”Me: “E

vendem peixe, mas cheira mal!” Lv: “ Também vendem fruta e hortaliça!” Estagiária:

“sim, vendem-se muitas coisas lá no mercado, e afinal também vendiam feijões, não

vendiam?” Crianças: “siiimmm!” Estagiária:” Mais coisas que já fizemos sobre o

feijão? Lo: “Fomos plantar os feijões à horta” Ma: “Sim foi na terra, fizemos um buraco

e pusemos lá o feijão”! Va: “Plantámos os feijoeiros!” So: “E pusemos água!”

Estagiária: “muito bem! E o que é que fizemos mais?” Fa: “Ouvimos a história do pé de

feijão!” Is: “E pintamos o pé de feijão!” Bo: “Era muito grande!” Fa: “E também

colámos a nossa fotografia!”: “muito bem! E gostaram da história?” Crianças:

“siiimmm!” Fa: “Nela eu tenho essa história na minha casa e a minha mãe conta-me!”

Estagiária: “Muito bem Fa! Olhem mais coisas que fizemos no nosso projeto?” Va:

“Também colámos as fotografias do mercado no papel grande!” Ma: “E colámos as da

horta e tu escreveste!” Estagiária: “Muito bem, a Nela escreveu nos cartazes, ao pé das

fotografias o que vocês disseram!” Após o momento de brincadeira livre nas diversas

áreas, seguiu-se a rotina de higiene, as crianças vão-se sentando até que todos tenham

terminado e seguidamente solicito que se levantam e arrumem as cadeiras, formando

uma fila para irem para o refeitório almoçar. Após a refeição do almoço (12h30) as

crianças fazem a higiene e vão descansar.

79

Dia 9 de

janeiro

Descrição Observações

Hoje, comecei por questionar o grupo se comiam feijão em casa e como é que o comiam.

Estagiária: “ como é que os meninos comem o feijão lá em casa Lv: “na sopa!”

Estagiária: “na sopa, e mais?”.Bo: “também no arroz!”. So: eu também como no

arroz!”. Seguidamente a grande maioria do grupo diz “eu também!”( querendo falar

todos ao mesmo tempo). Solicito às crianças para que falem um de cada vez, para ir

escrevendo no caderno o que eles vão dizendo. Estagiária: “estou a ver que os meninos

gostam muito de feijão, não gostam?” Crianças: “sim”! Va: “a minha mãe faz outro

com feijão!” Estagiária: “diz Va, a mãe faz o quê com o feijão?” Va: “comer, mas é

outro!” “Estagiária: “ não sabes o nome do comer que a mãe faz com feijão? Não faz

mal, depois perguntas à mãe e dizes para nós sabermos!” Estagiária: “que acham de

irmos pesquisar receitas que sejam feitas… confecionadas com feijão?” Ma responde:

“eu também tenho feijões!”. Estagiária: “sim Ma, mas o que a Nela quer saber é se os

meninos gostavam de saber se há outras comidas que também sejam cozinhadas com

feijão?” a Ma olha para mim prestando muita atenção e interesse, e continuei a conversa

dizendo: Estagiária: mas para isso temos que ir saber, temos que ir investigar, o que é

que vocês acham?” Crianças: “sim!” Estagiária: “acham que era uma boa ideia se

pedíssemos aos pais dos meninos que trouxessem uma receita com feijão, para nós

depois fazermos aqui na sala?”. “Ra: vou pedir à mãe!”. Ma: “vou pedir à mãe e ao

pai!”. Va “: eu vou pedir à minha avó!”. Estagiária: “então a Nela vai escrever, vai

pedir à vossa família para trazer uma receita com feijão e depois quando tivermos as

receitas todas escolhemos uma para cozinharmos aqui na escola, acham uma boa

ideia?!”.Todos: “sim!”. Estagiária: “depois combinamos o dia para confecionar a

receita escolhida, agora os meninos querem ir brincar, não é?”. Todos: “sim!”

Estagiária: “podem levantar-se, devagarinho, e vão brincar para as áreas!”. Perto da

hora de almoço solicito às crianças para que comecem a arrumar as áreas onde estiveram

a brincar para iniciar a rotina da higiene antes do almoço, sugerindo que se vão sentando

à medida que vão arrumando. Após a rotina da higiene, cada criança vai-se sentando até

80

que todos tenham terminado, formando uma fila para irem para o refeitório almoçar. Há

chegada ao refeitório, onde já se encontra um grupo de crianças mais novas a almoçar,

estas sentam-se nos lugares já marcados, sendo servida a sopa e de seguida o conduto.

Após a refeição do almoço (12h30) as crianças fazem a higiene e vão descansar.

81

APÊNDICE C. Guião das entrevistas semi-estruturadas

C1.

Guião da entrevista à Educadora Cooperante

Entrevista à Educadora Cooperante

Data de realização da Entrevista:

Hora:

Duração:

Local:

Autorização de gravação: Sim Não

1. Género: Masculino Feminino

2. Idade: 20/25 26/30 31/35 36/40 Mais de 40

3. Formação Académica:

Questão 1: No papel de educadora de sala, de que forma perceciona a metodologia de

trabalho de projeto enquanto ferramenta pedagógica?

Questão 2: Qual o papel da criança na implementação desta metodologia? E o do

Adulto?

.

Questão 3: Há uma idade específica para começar a trabalhar por projetos?

Objetivos da entrevista – Recolher informação que permita perceber de que forma a

educadora cooperante perceciona a metodologia de trabalho de projeto e de que forma a

aplica na sua prática pedagógica.

82

Questão 4: Considera que esta metodologia traz benefícios para a relação escola-

família? De que forma? De que forma é que esta metodologia pode potenciar a

envolvência/participação da família e da comunidade no contexto pedagógico?

Questão 5: Indique alguns pontos fortes/fracos da metodologia de trabalho de projeto.

Questão 6: Utiliza esta metodologia em contexto de prática pedagógica? Se sim, como

a implementa?

Questão 7: Que dificuldades se colocam à implementação desta metodologia? Como as

supera?

Agradeço a sua disponibilidade e participação.

83

C2.

Guião da Entrevista à Auxiliar de Ação Educativa de Sala

Entrevista à auxiliar de ação educativa de sala

Data de realização da Entrevista:

Hora:

Duração:

Local:

Autorização de gravação: Sim Não

4. Género: Masculino Feminino

5. Idade: 20/25 26/30 31/35 36/40 Mais de 40

6. Formação Académica:

Questão 1: No papel de auxiliar educativa, o que conhece da metodologia de trabalho

de projeto enquanto ferramenta pedagógica?

Questão 2: Costuma trabalhar em sala com a metodologia de trabalho de projeto?

Qustão 3: Qual o seu papel no desenvolvimento em sala desta metodologia? Identifica-

se com a forma de trabalhar implícita nesta metodologia? Justifique?

Agradeço a sua disponibilidade e participação.

Objetivo da entrevista – Recolher informação que permita perceber o que a auxiliar de

sala conhece acerca da metodologia de trabalho de projeto e de que forma define o seu

papel na aplicação dessa mesma metodologia.

84

C3.

Guião da Entrevista à Coordenadora Pedagógica

Entrevista à coordenadora da instituição

Data de realização da Entrevista:

Hora:

Duração:

Local:

Autorização de gravação: Sim Não

1. Género: Masculino Feminino

2. Idade: 20/25 26/30 31/35 36/40 Mais de 40

3. Formação Académica: Licenciatura em Educação de Infância

Questão 1: No papel de coordenadora, de que forma perceciona a metodologia de

trabalho de projeto enquanto ferramenta pedagógica?

Questão 2: Qual o papel da criança na implementação desta metodologia? E o do

Adulto?

Questão 3: Há uma idade específica para começar a trabalhar por projetos?

Questão 4: Considera que esta metodologia traz benefícios para a relação escola-

família? De que forma? De que forma é que esta metodologia pode potenciar a

envolvência/participação da família e da comunidade no contexto pedagógico?

Objetivos da entrevista -Recolher informação que permita perceber de que

forma a responsável pelo projeto pedagógico da instituição, neste caso a coordenadora,

perceciona a metodologia de trabalho de projeto e de que forma esta metodologia se

enquadra nos princípios da instituição.

85

Questão 5: Indique alguns pontos fortes/fracos da metodologia de trabalho de projeto.

Questão 6 - De que forma os fundamentos da metodologia de trabalho de projeto se

enquadram nos princípios pedagógicos da instituição?

Agradeço a sua disponibilidade e participação.

86

APÊNDICE D. Transcrições das entrevistas aplicadas

D1.

Transcrição da entrevista à Educadora Cooperante

Entrevista à Educadora Cooperante

Data de realização da Entrevista: 15/03/2017

Hora: 16h30

Duração: 11 minutos

Local: Gabinete Direção

Autorização de gravação: Sim x Não

7. Género: Masculino Feminino x

8. Idade: 20/25 26/30 31/35 x 36/40 Mais de 40

9. Formação Académica: Licenciatura em Educação de Infância

Entrevistador: No papel de educadora de sala, de que forma perceciona a metodologia

de trabalho de projeto enquanto ferramenta pedagógica?

Educadora Cooperante: Como uma excelente forma de adquirir conhecimento e

desenvolver capacidades, autonomia, criatividade, pensamento critico, saber fazer e

saber ser, ou seja, como uma mais-valia para o desenvolvimento e aprendizagem das

crianças.

Entrevistador: Qual o papel da criança na implementação desta metodologia? E o do

Adulto?

Objetivos da entrevista – Recolher informação que permita perceber de que forma a

educadora cooperante perceciona a metodologia de trabalho de projeto e de que forma a

aplica na sua prática pedagógica.

87

Educadora Cooperante: A criança assume um papel ativo na sua aprendizagem,

pesquisando informações, formulando hipóteses, planeando as atividades e construindo

todo o projeto de acordo com os seus interesses e intenções. Ao adulto cabe dinamizar

as atividades, incentivando e apoiando os interesses das crianças, sendo o moderador

das conversas e facilitador dos recursos necessários.

Entrevistador: Há uma idade específica para começar a trabalhar por projetos?

Educadora Cooperante: Penso que não … as crianças conseguem manifestar os seus

interesses mesmo antes de saberem falar. É perfeitamente possível construir projetos

simples com crianças bem pequenas e … se … tivermos a colaboração e envolvimento

dos pais aí então pode-se fazer grandes projetos …projetos que envolvam toda a família,

até mesmo com bebés.

Entrevistador: Considera que esta metodologia traz benefícios para a relação escola-

família? De que forma? De que forma é que esta metodologia pode potenciar a

envolvência/participação da família e da comunidade no contexto pedagógico?

Educadora Cooperante: Com certeza! Pois … quanto mais as crianças envolvem-se

num projeto, mais envolvem também as suas famílias. As crianças fazem perguntas,

procuram informações … documentação e fazem atividades relacionadas com o projeto

no seio da família … motivando os pais a envolverem-se. O mesmo acontece na

comunidade, quando se procura pessoas e órgãos competentes na busca de determinada

informação ou conhecimento. Cabe ao educador incentivar e proporcionar meios para

envolver todos estes agentes.

Entrevistador: Indique alguns pontos fortes/fracos da metodologia de trabalho de

projeto.

Educadora Cooperante: Pontos fortes são muitos … desenvolver a autonomia, a

criatividade, o pensamento crítico … o saber ouvir, o saber falar e o saber respeitar os

outros e as opiniões diferentes … o trabalho em equipa, o saber fazer e como fazer,

partilhar … o envolvimento das famílias e a inserção na comunidade…

Os postos fracos … sinceramente não os vejo! Talvez o facto de se estudar um assunto

ao pormenor, acabe-se não estudando muitos outros assuntos, mas … como qualidade é

melhor que quantidade e … o processo é muito mais importante … se calhar não é um

ponto fraco!

Entrevistador: Utiliza esta metodologia em contexto de prática pedagógica? Se sim,

como a implementa?

88

Educadora Cooperante: Sim! Procuro estar atenta aos interesses que as crianças

manifestam no seu dia-a-dia, quando identifico este interesse procuro trazer uma

história, ou objetos relacionados com os interesses … a partir daí é só ouvir o que as

crianças fazem ou dizem e o que elas sabem sobre o assunto … o que elas gostariam de

saber … e incentivá-las a procurar respostas e a pensar sobre elas. Planeia-se as

atividades de acordo com o que as crianças querem saber e fazer … procurando

abranger todas as áreas do desenvolvimento … conteúdos, a família, a escola e a

comunidade.

Entrevistador: Que dificuldades se colocam à implementação desta metodologia?

Como as supera?

Educadora Cooperante: As dificuldades surgem mais frequentemente na recolha de

informações e … na colaboração e envolvimento dos pais. Eu consigo superá-las

trazendo materiais e recursos para que as crianças explorem e pesquisem. Quanto aos

pais … são motivados a participarem pelas crianças e pelos produtos que são expostos

na sala e pela apresentação dos projetos nas reuniões de pais.

89

D2.

Transcrição da Entrevista à Auxiliar de Ação Educativa de Sala

Entrevista à auxiliar de ação educativa de sala

Data de realização da Entrevista: 16/03/2017

Hora: 14h

Duração: 4 minutos

Local: Gabinete da Direção

Autorização de gravação: Sim x Não

10. Género: Masculino Feminino x

11. Idade: 20/25 26/30 31/35 36/40 x Mais de 40

12. Formação Académica: 8º Ano

Entrevistador: No papel de auxiliar educativa, o que conhece da metodologia de

trabalho de projeto enquanto ferramenta pedagógica?

Auxiliar: Para mim a metodologia de trabalho é muito importante, gostei imenso de

trabalhar porque acho que eles aprenderam bastante … perceberam … por palavras mais

simples o que era esta metodologia, pronto … gostei de trabalhar com eles desta forma

… achei que eles estavam muito empenhados, estavam pronto muito interessados e acho

que esta metodologia é importante, na minha opinião, claro.

Entrevistador: Costuma trabalhar em sala com a metodologia de trabalho de projeto?

Objetivo da entrevista – Recolher informação que permita perceber o que a auxiliar de

sala conhece acerca da metodologia de trabalho de projeto e de que forma define o seu

papel na aplicação dessa mesma metodologia.

90

Auxiliar: Não! É assim, eu pronto conheci esta metodologia agora, nunca tinha

trabalhado desta forma e pronto, acho … achei muito interessante e gostei imenso …

mas não, nunca, nunca tinha trabalhado, não conhecia.

Entrevistador: Qual o seu papel no desenvolvimento em sala desta metodologia?

Auxiliar: É assim, o meu papel é ajudar naquilo que me é proposto … se me, pronto

tudo o que a educadora, a estagiária me pede para auxiliar, para ajudar eu ajudo, se

também alguma criança tiver pronto, alguma pergunta e que eu possa ajudar pronto

também ajudo no que puder.

Entrevistador: Identifica-se com a forma de trabalhar implícita nesta metodologia?

Justifique?

Auxiliar: Sim, neste momento já me identifico, pois eu não conhecia e neste momento

já conheço e como gostei imenso, acho que futuramente vou gostar de continuar a

trabalhar assim, como foi a primeira vez que eu trabalhei com … que fiz este trabalho

com uma educadora e com uma estagiária, gostei, gostei imenso.

91

D3.

Transcrição da Entrevista à Coordenadora Pedagógica

Entrevista à coordenadora da instituição

Data de realização da Entrevista:

Hora:16h

Duração: 17minutos

Local: Gabinete da direção

Autorização de gravação: Sim x Não

4. Género: Masculino Feminino x

5. Idade: 20/25 26/30 31/35 36/40 x Mais de 40

6. Formação Académica: Licenciatura em Educação de Infância

Questão nº1: No papel de coordenadora, de que forma perceciona a metodologia de

trabalho de projeto enquanto ferramenta pedagógica?

Bom, para já tenho alguma dificuldade de distanciar a visão da parte da coordenadora

em relação a essa questão e da educadora porque acho que não me faz muito sentido.

Mas enquanto coordenadora e educadora prefiro ver assim não é, mas o que eu acho é

que é uma mais-valia total no trabalho que se faz, isto porquê, para mim das ferramentas

que eu conheço e que eu estudei é a ferramenta que eu defendo e que acho que deve ser

utilizada, isto porquê, porque quanto a mim é a metodologia de trabalho que faz com as

crianças sejam elas próprias instrumentos de aprendizagem no processo que se está a

Objetivos da entrevista -Recolher informação que permita perceber de que

forma a responsável pelo projeto pedagógico da instituição, neste caso a coordenadora,

perceciona a metodologia de trabalho de projeto e de que forma esta metodologia se

enquadra nos princípios da instituição.

92

desenvolver, ou seja, não chega lá a educadora e lança a educadora o tema do projeto e

vamos sim à procura de um tema que seja do interesse das crianças e desenvolver um

projeto e depois as crianças são elas próprias que andam com o projeto para a frente e o

educador acaba por ter ali um papel de mediador daquele processo. Enquanto escola,

enquanto instituição voltando isto aqui para a parte da coordenadora, da coordenação,

acho que de facto se for um trabalho bem feito e se a educadora souber de facto

documentar o trabalho de projeto, se esse trabalho for aparecendo nos placards da sala

para os pais poderem ver e se depois for portanto arquivado também de uma forma que

possa servir de avaliação e de instrumento também para poder ser mostrado numa

reunião de pais, ou seja, é também uma mais valia muito grande porque os pais vão

conseguir perceber o valor que tem esta metodologia e isto é um trabalho também muito

importante da educadora porque à partida se a gente faz um trabalho a partir da

metodologia de projeto e se não trabalhamos também isto com os pais eles podem não

entender o que é que as crianças estão a aprender porque têm muito estereotipado que

aprender é chegar lá e depositar o conhecimento que foi como eles aprenderam

provavelmente, porque sabemos que nos ciclos a seguir é assim que aprendemos,

infelizmente e então há também que fazer esse trabalho. De facto é uma mais valia saber

que temos uma escola em que as educadoras de pré escolar trabalham com a

metodologia de trabalho de projeto mas tendo sempre em conta que se não se trabalhar

isso com os pais e se não se mostrar aos pais o que é a metodologia de projeto pode não

ser uma boa imagem para a escola porque os pais podem não entender logo à partida o

trabalho que se faz.

Questão nº2: Qual o papel da criança na implementação desta metodologia? E o do

Adulto?

A criança é o principal interveniente, a criança tem que ser o sujeito cem por cento ativo

daquele processo todo, desde o dia que chegamos à conclusão que vamos trabalhar

aquele projeto até à planificação do projeto e execução do projeto. Temos sempre que

ter, o educador tem sempre que ter em conta que a criança é o sujeito ativo. O educador

por sua vez é a pessoa que está ali a fazer a mediação daquele processo, porque é claro

que a criança consoante a idade que tenha e a fase do desenvolvimento em que está vai

perceber e percebe isso e encara isso muito bem que precisa da ajuda do adulto, ainda

para fazer determinado tipo de coisas, se a criança ainda não sabe escrever nós somos o

instrumento que escreve, fazemos texto livre com a criança a criança diz: Olha eu quero

93

que ponhas isso aí no meu desenho e eles sabem que nós somos o instrumento de escrita

porque eles ainda não conseguem copiar. Se estivermos na sala dos 5 anos, se calhar já

nós fazemos a parte que eles querem escrever e eles já querem copiar com a letra deles.

Portanto temos que ver com que crianças estamos a trabalhar, o que é que eles já

conseguem fazer e tentar mediar o menos possível, isto na minha perspetiva. Ter sempre

em mente eles sujeito ativo sempre e nós à retaguarda e eles perceberem que embora a

gente esteja à retaguarda somos o elemento que somos uma ferramenta importante

também no projeto, porque eles vão acabar por perceber o nosso papel ali no projeto que

é este, ficando à retaguarda.

Questão nº3: Há uma idade específica para começar a trabalhar por projetos?

Não, não há. Eu já vi trabalho de projeto feito na creche com bebés de 1 ano. Nunca fiz

porque na instituição onde trabalho não temos crianças dessa idade mas eu já vi e

funciona e acho que é possível fazer desde que o educador tenha realmente a

consciência da fase de desenvolvimento em que a criança está. O que é certo, é que é

possível fazê-lo, é possível fazê-lo na creche, portanto acho que sim, não tem que ser

propriamente com o pré-escolar que se trabalhe esta metodologia acho que é possível

fazê-lo mais cedo.

Questão nº4: Considera que esta metodologia traz benefícios para a relação escola-

família? De que forma? De que forma é que esta metodologia pode potenciar a

envolvência/participação da família e da comunidade no contexto pedagógico?

Pronto é assim, os benefícios para a relação escola-família podem começar logo pela

preocupação que a educadora tem em fazer entender os benefícios que tem esta

metodologia, como é que ela funciona. Isto às vezes não tem que ser feito de uma forma

muito formal, é ao fim ao cabo as famílias virem à sala e darmos 2 minutos do nosso

tempo para chamar a atenção para um projeto que se inicia que já está no placard e

falarmos um bocadinho ali sobre o que estamos a fazer, depois acho que há logo desde

inicio também ter que termos a preocupação das crianças, da importância das crianças

levarem para casa o que estão a fazer na sala, hoje começámos a estudar isto, estamos a

fazer este trabalho. Claro que se estivermos a falar de crianças de 3 anos mais uma vez

se calhar eles vão para casa dizer que estive a ver feijões que estive a ver uma banana,

mas pronto vai dependendo. Depois, acho que começa aí, começa com a preocupação

que a educadora tem de chegar às famílias para explicar a metodologia e essa

94

preocupação vai fazer com que haja mais contacto com a família e que se comece a

estreitar algum relacionamento, depois potenciar a envolvência e participação da família

ao longo do projeto acho que se criam sempre situações muito propicias a que isto

aconteça porquê? Porque se estamos a investigar, se temos crianças que estão a

investigar, se eles estiverem a pensar a quem é que vão perguntar determinado tipo de

coisa, a família deles é sempre um instrumento que eles se vão lembrar para perguntar

alguma coisa e então há que também potenciar essa parte, é um trabalho que, é uma

metodologia que quanto a mim é fácil envolver aqui a questão da família no projeto

porque basta que as crianças questionem e queiram levar coisas para casa e voltar a

trazer de casa e isto vai surgindo de forma natural ao longo do processo. E na mesma

coisa com a comunidade e no contexto pedagógico não è?, com a comunidade mais

alargada, comunidade escolar e mesmo comunidade da freguesia por exemplo onde a

escola está inserida e aqui no contexto institucional pois depois é importante que as

crianças também vão percebendo como é que termina o projeto não é? e as crianças

quando começam a perceber, as crianças fazem um projeto, dois projetos três projetos e

quando vão trabalhando nesta metodologia eles começam a perceber o que é que é o fim

do projeto não é? O fim do projeto é quando eles chegam às questões que queriam e vai-

lhes dar um grande prazer irem à comunidade escolar ou irem até uma escola vizinha ou

até chamarem, irem dez minutos à reunião de pais e falarem sobre o projeto e então isso

é, digamos que isso é a cereja no topo do bolo as crianças irem comunicar aos outros ou

por comunicação ou por teatro da forma que eles entenderem o que é que foi aquele

projeto e isso também, portanto envolver aqui a parte da comunidade seja ela a escolar

ou a nível de freguesia ou a comunidade institucional eu acho que também é uma coisa

que ao longo do projeto flui, portanto faz parte.

Questão nº5: Indique alguns pontos fortes/fracos da metodologia de trabalho de

projeto.

Eu acho que há mais pontos fortes sem dúvida nenhuma, se não entendesse assim eu

tentava trabalhar com outra metodologia, de qualquer forma há pontos fracos, há coisas

que a mim na prática me preocupam, acho que há sempre uma grande preocupação da

educadora em tentarmos ali, digamos que dosear e perceber que crianças é que estão a

trabalhar naquele projeto, se temos uma turma inteira a trabalhar no projeto se há uma

parte do grupo que não se interessa por aquele projeto e essa quanto a mim é uma

preocupação e é uma dificuldade, porque depois surgem dificuldades de gerirmos uma

95

manhã que se esteja a trabalhar no trabalho de projeto e trabalhar com o outro grupo que

não está a trabalhar naquele projeto. Eu isto para mim acho que é um ponto fraco, acho

que é uma das dificuldades que se encontra no processo, não no processo em si, mas na

gestão do trabalho da sala, pode ser uma dificuldade, pode ser também uma dificuldade

quando toda a turma quer trabalhar no mesmo projeto porque pode ser difícil gerir um

grupo inteiro a trabalhar no mesmo projeto é claro que temos que arranjar solução não

é? E estratégias e divide-se a turma em grupos e cada grupo vai fazer a sua tarefa é claro

há estratégias mas nem sempre é fácil, não é fácil. Acho que é uma dificuldade. Pontos

fortes são muitos, não é? Os pontos fortes em relação à educação pré-escolar pronto

falando mais na educação pré-escolar uma vez que na educação pré-escolar temos

documentos orientadores que não temos na creche não é? Neste momento temos metas,

temos objetivos temos mais do que objetivos, temos um programa a cumprir e então o

que é que acontece, um grande ponto forte desta metodologia é exatamente o educador

conseguir atingir metas curriculares não é? Trabalhar as orientações curriculares, atingir

aquelas metas curriculares, atingir mais a miúdo os objetivos que tem para a sua sala

naquele ano letivo ou naquele período ou naquele mês ou naquela semana, através de

uma metodologia que deixa que o trabalho seja feito sempre com o interesse das

crianças, é a partir do interesse da criança que nós chegamos ao objetivo que temos para

cumprir e não ao contrário não é? Que o contrário é o tal depositar conhecimentos que

quanto a mim é um a metodologia que não funciona muito menos nesta idade.

Questão nº6 - De que forma os fundamentos da metodologia de trabalho de projeto se

enquadram nos princípios pedagógicos da instituição?

Enquadram-se em vários pontos, não é? Enquadram-se na nossa forma de estar

enquanto docentes, enquanto educadores, acho que é o primeiro princípio, acho que há

uma maneira de estar enquanto docente, entra-se numa sala com uma educadora que

desenvolva o trabalho com uma metodologia de projeto e percebe-se o que é se faz ali,

está ali fundamentado ao fim ao cabo a cara, os princípios pedagógicos da instituição.

Estes princípios da instituição estão inscritos no nosso projeto educativo, não é? E

pronto, faz-se sempre um esforço para que haja sintonia e que todas as educadoras

trabalham para o mesmo e da mesma forma embora isso às vezes não aconteça. De

qualquer forma, acho que esta metodologia de trabalho também se enquadra nos

princípios da instituição nas questões da solidariedade, da entreajuda, do trabalho de

equipa, da liberdade de expressão…Portanto todos estes pontos que nós defendemos

96

enquanto instituição são pontos que estão nesta metodologia, a entreajuda, o trabalho de

equipa portanto todos estes pontos também se trabalham nesta metodologia e acabam

por estar enquadrados nos princípios pedagógicos da instituição. Gostava de poder dizer

que somos uma instituição que trabalhamos a cem por cento com a metodologia de

projeto mas não posso dizer porque não é verdade, de qualquer forma enquanto

coordenadora tento que seja esta a metodologia pronto que seja mais praticada e mais

acreditada e pronto de uma forma geral gosto que os pais percebam que se trabalha com

esta metodologia aqui na instituição embora tenha consciência que não é a cem por

cento. Mas penso que nestes pontos que se percebe onde é que se encontram nos nossos

princípios pedagógicos aqui da instituição, fundamentalmente os que eu referi. Penso

que sim.

Agradeço a sua disponibilidade e participação.

97

APÊNDICE E. Registo fotográfico das atividades

E1.

Registo fotográfico da atividade de Exploração Sensorial

E2.

Registo fotográfico da atividade Exploração de leguminosas através dos sentidos

98

E3.

Registo fotográfico Montagem dos germinadores das sementes de ervilha

E4.

Registo fotográfico da atividade Observação e registo do crescimento da ervilha

E5.

Registo fotográfico da atividade Montagem dos germinadores da semente do Feijão

99

E6.

Registo fotográfico da atividade Observação e registo do crescimento da ervilha e do

feijão

E7.

Registo fotográfico da atividade Leitura da história João e o pé de feijão e Pintura de pé

de feijão com recurso à técnica de esponjar

E8.

Registo fotográfico da atividade da visita ao Mercado da Boa-Hora

100

E9.

Registo fotográfico da atividade de elaboração do cartaz sobre a visita ao mercado da

Boa-hora

E10.

Registo fotográfico da atividade Plantar o feijão na horta

101

E11.

Registo fotográfico da atividade de exploração dos diferentes tipos de feijão

E12.

Registo fotográfico da atividade de sessão de expressão corporal

E13.

Registo fotográfico da atividade de construção de adereços para peça de teatro

102

E14.

Registo fotográfico da atividade de confeção do bolo de feijão

E15.

Registo fotográfico da atividade de peça de teatro da história do João e o pé de Feijão

103

APÊNDICE F. Transcrições dos registos áudio das conversas em

grande grupo

Dia 21 de outubro

Educadora cooperante: E hoje é dia de alegria porque amanhã é sábado e depois de

amanhã é domingo e nós ficamos onde?

Crianças: Em casa!

Educadora cooperante: Em casa, sábado e domingo ficamos em casa, dois dias, para

descansar não é? Podemos descansar, podemos brincar, podemos passear não é? E a

escola está fechada. Depois na 2ª feira voltamos à escola outra vez. Pois é. E como é

que está o tempo hoje?

Crianças: Sol!

Estagiária: Olhem lá para a janela, está muito sol? Não, não, hoje não está muito sol,

hoje o sol está escondido!

Educadora cooperante: Pois, hoje o sol está escondido, está muito fraquinho, não está

aparecendo e está escondido onde?

Crianças: Nas nuvens!

Educadora cooperante: Nas nuvens, pois é muito bem Maria, porque há muitas nuvens

no céu e as nuvens todas juntas escondem o sol, e ele não aparece.

Estagiária: Está escondido!

Educadora cooperante: Pois é, está escondido nas nuvens. Então o que é que nós

vamos por na nossa janelinha?

Crianças: Nuvens!

Educadora cooperante: Ah! Nuvens muito bem, não é sol, vamos por as nuvens na

nossa janelinha. Então a Lv vai lá buscar a nuvem.

To: Está o sol!

Educadora cooperante: Pois está lá o sol de ontem e agora a Lv vai tirar o sol e por a

nuvem que é hoje.

Estagiária: Muito bem!

Educadora cooperante: Fecha a janelinha. Muito bem, com a nuvem a janelinha fica

fechada, a janelinha só abre com o sol não é? Obrigada Lv. Vamos cantar a janelinha?

104

Crianças: (cantam todos)

Educadora cooperante: Chiuuu! Vamos cantar a nossa canção do outono?

Crianças: Sim!

Educadora cooperante: Ouviste Nela como eles estão todos hoje muito bem

comportadinhos? Assim a Nela fica muito contente.

Estagiária: Estou muito contente!

Educadora cooperante: A Nela vem para aqui para ver como vocês estão. A ver se

vocês se comportam bem, se ouvem o que falamos nas reuniões, se vocês sabem

responder às perguntas que a Juju faz, se vocês sabem brincar. A Nela vem aqui ver

tudo, ver o que os meninos sabem fazer, ver como é que se portam.

Estagiária: É verdade!

Educadora cooperante: Não é? E a Nela vai ficar muito contente de os meninos se

portarem todos bem.

Estagiária: Muito contente, feliz, muito feliz!”

Educadora cooperante: Não é Ma? Mas sabe Nela tem aqui meninos que ás vezes

deixam a gente um bocado triste.

Estagiária: Ai é? Porquê?

Educadora cooperante: É, porque olhe a Ln está na reunião a prestar atenção a tudo

menos o que estamos a falar, o To é outro, a Juju está a falar e ele está ali a bater no

amigo que está doente, achas normal Nela?

Estagiária:Oh, o amigo está doente não se bate.

Educadora cooperante: Não se bate aos amigos pois não? Então não estou a perceber

porque é que o To está sempre a bater aos amigos.

Estagiária: Depois os amigos ficam tristes.

Educadora cooperante: E depois ele brinca sozinho, ninguém quer brincar com ele

porque ele faz mal aos outros. Sabe a Ma e o Je às vezes, também estão ali no disparate,

não é? O Sr, o So também não é muito bom, está sempre a falar. Então Nela quer fazer

alguma coisa com os meninos?

Estagiária: O que é que os meninos querem fazer?

Crianças: Uma canção!

Estagiária: Uma canção? Que canção é que os meninos querem?

Crianças: Do sapo!

Estagiária: Do sapo? Do sapo que não lava o pé? Hum… será que a Nela sabe essa

canção? E se a Nela não souber, os meninos ajudam a Nela?

105

Crianças: Sim!

Estagiária: Ajudam? É? Então vá lá, vamos lá cantar, (cantam todos).A Nela cantou

bem a canção, cantou?

Crianças: Sim!

Estagiária: Cantou?

Educadora cooperante: Palmas para a Nela.

Estagiária: Outra canção para ensinarem à Nela, cantem lá!

Crianças: A da aranha!

Estagiária: A da aranha? (a Lv começa a cantar sozinha)

Estagiária: Então só a Lv é que está a cantar? (começam todos a cantar). Então, e agora

querem aprender uma nova? É a do pirilampo! (Pirilampo onde é que estás, vejo a luz

quero-te agarrar, pirilampo se te apanhar, quero ver a luz a brilhar).

Estagiária: Querem cantar outra vez?

Crianças: Sim!

Educadora cooperante: Sim, temos que aprender! (as crianças começam a tentar

acompanhar).

Estagiária: Muito bem! É linda não é? A Nela sabe uma muito gira do girassol.

Crianças: Canta!

Estagiária: Vou ver se consigo cantar, não sei se consigo cantar toda! Deixa lá ver se a

Nela se lembra. (Se um girassol ao por do sol parece sorrir, pois fica com a certeza que

a noite está para vir. Olha o girassol diz adeus ao sol, sorri tu também que a noite é

bem bonita e o girassol que o diga…).

Educadora cooperante: É muito gira esta canção do girassol, gostaram? Vamos

aprender esta canção? A Nela vai ensinar esta canção do girassol aos meninos para

aprendermos todos.

Estagiária: E também sei uma muito gira que fazemos uma brincadeira, a Nela agora

vai só cantar e outro dia cantamos e fazemos os movimentos da canção, pode ser?

Crianças: Sim!

Estagiária: Onde está o gato dentro do sapato, anda atrás do pato, oh caiu no pote…

oh caiu no pote! Anda no jardim, à volta do pudim, dó ri só fá mi. Gostaram desta?

Crianças: Siiimmm!

Estagiária: Esta canção é muito gira para os meninos brincarem, mas depois quando já

souberem a canção. Está bem? Pode ser?

Crianças: Sim!

106

Estagiária: Mais canções giras… e a da borboleta? Vocês já sabem, cantámos o ano

passado, quando os meninos eram mais pequeninos, se calhar já não se lembram. Vou

ajudar os meninos a lembrarem-se (começo a cantar e vou fazendo os gestos para

relembrar as crianças que pousa em cima do nosso nariz, da cabeça, do joelho…)

Crianças: Sim! (começam a acompanhar)

Educadora cooperante: Ah estava-me a esquecer uma coisa, sabiam que uma menina

nesta sala que trouxe uma coisa que a Juju pediu, quem é que se lembra o que é que a

Juju pediu para trazer?

Bo: Folhas!

Educadora cooperante: Folhas, que a Juju disse para os meninos quando fossem na

rua a andar verem as folhinhas no chão para trazer para mostrar para os amigos.

Estagiária: Quem foi que trouxe Juju?

Educadora cooperante: Houve uma menina que se lembrou, que ia na rua a passear e

trouxe as folhinhas do outono para mostrar…quem é que foi que trouxe?

Crianças: Eu, eu, eu!

Is: Fui eu, foi na escola da minha prima que apanhei!

Estagiária: Foste tu Is?

Educadora cooperante: Foi a Is, sim senhora!

Estagiária: Apanhaste na escola da tua prima? Tinha lá muitas folhas?

Educadora cooperante: Queres mostrar aos amigos Is? Anda lá mostrar aos amigos.

São de que cor?

Is: Castanhas!

Estagiária: Castanhas, muito bem!

Educadora cooperante: Olhem lá, mostra todas, elas estão assim meio amassadas

porque estavam no chão, pois elas estavam no chão e a Is andou a apanhar e então

ficaram assim amassadas. Olha que tantas que a Is trouxe.

Estagiária: Tantas folhinhas!

Educadora cooperante: Todas castanhas não são? Essas são todas castanhas.

Estagiária: São pequeninas!

Educadora cooperante: Pois é, tem umas pequeninas, olha lá esta que a Is trouxe! Aí a

Is trouxe umas folhas pequeninas do outono.

Estagiária: Olhem, há folhas que são muito pequeninas, depois há outras que são um

bocadinho maiores e depois há outras muito grandes, não é?

Crianças: Sim!

107

Estagiária: Ah o vento levou a folha para ao pé dos meninos, querem ver? (pego numa

folha e começo a soprar). Olha a Nela vai por outra folha a voar para os meninos, quem

é que quer apanhar? Olha esta… esta é para o Bo, vamos ver se vai para o Bo. São

muito lindas as folhinhas que a Is trouxe, olhem lá…que lindas! Quem é que consegue

por a folha a voar? Soprem lá com força, agora são os meninos que vão fazer a folha

voar para a Nela. Boa Bo! Viram a folha do Bo a voar. Ai que lindos! Eles já

conseguem por a folha a voar. Têm que soprar com muita força! Olhem como o Bo faz!

Dia 11 de novembro

Estagiária: Lembram-se do que é que estivemos a fazer aqui na sala quando esteve cá a

professora da Nela no outro dia, quem é que se lembra o que é que fizemos?

Crianças: Eu sei!

Estagiária: O quê?

So: Eu sei, feijões!

Ma: Os feijões!

Estagiária: Feijões?

Va: Sim, feijões vermelhos!

Estagiária: Feijões vermelhos? Vocês lembram-se da história que estivemos a ver?

Crianças: Sim!

Estagiária: Então contem lá o que é que contava a história?

Ra: Da princesa!

Estagiária: E a… (as crianças ficaram caladas e voltei a ajudar), da princesa e a…

Ma e So: Ervilha!

Fa: Eu sei Nela, era a história da princesa e da ervilha!

Estagiária: Muito bem, os meninos lembram-se da história e gostaram da história?

Crianças: Sim!

Estagiária: E depois dos meninos verem a história da Princesa e a ervilha, o que é que

nós fomos fazer?

Va: Ham, ham!

Estagiária: Depois de verem a história fomos fazer outra coisa! Quem é que se lembra

do que fizemos?

Fa: Eu sei, fomos para ali para aquela mesinha e ver coisas!

Estagiária: Ver coisas, e que coisas eram essas?

108

Lv: Feijões!

Estagiária: Não foi feijões, foi aquilo que o So e a Ma disseram há pouco quando

falaram da história, o que era?

Va: A ervilha!

Estagiária: Muito bem, a ervilha! Então nós fomos todos para aquela mesa, a nela

mostrou as sementes das ervilhas aos meninos e o que é que fizemos a seguir, onde é

que pusemos as ervilhas?

Va: No… no frasquinho!

Estagiária: No frasquinho, no germinador! Muito bem Va, e os outros meninos já se

estão a lembrar?

Crianças: Sim!

Estagiária: E para que é que pusemos as ervilhas no frasco…no germinador?

Ma: Para crescer!

Bo: Vão crescer!

Fa: O papel ficou muito molhado!

Estagiária: Porque é que o papel ficou molhado?

To: A água!

Estagiária: Porque pusemos a água dentro do frasco, muito bem To, e lembram-se o

que é que a Nela disse aos meninos, se achavam que a ervilha ia ficar na mesma ou não,

o que é que ia acontecer?

Lv: Ficar grande!

Va: E ficar muito alta!

Ma: Ia crescer!

Fa: “Ia crescer muito!

Estagiária: Porquê? Porque é que ia crescer muito, quem é que sabe?

Va: Porque nós íamos por muita água!

Estagiária: “Va, muito bem, porque punhamos muita água! E vocês acham que as

ervilhas cresceram ou não? Vamos ver se cresceram?

Crianças: Sim!

So: A minha cresceu! (respondeu com muita convicção)

Is: A minha também!

Estagiária: O So e Is dizem que a deles cresceu e os outros meninos, também acham

que cresceu?

Va: E a minha também!

109

Fa: A minha também!

Ra: E a minha!

Estagiária: Então agora já ficámos a pensar, não é, estamos todos a pensar, cresceu ou

não cresceu?

Crianças: Cresceeeuuu!

Estagiária: Cresceu! Os meninos dizem que cresceu, então nós temos que ir…

Va e Fa: Ver!

Estagiária: Muito bem Va e Fa, temos que ir ver se ela cresceu se ficou grande!

Fa: Se ficou grande iii… porque se ela podia ser um pé de feijão e o João ia a subir!

Estagiária: Sim Fa em vez da ervilha podia ser um feijão, pois era!

Fa: “E crescia muito, muito o pé de feijão e…até o João subia até lá acima!

Estagiária: Mas olha Fa podemos falar sobre isso noutro dia? É porque alguns

amiguinhos já estão cansados, já estamos aqui à muito tempo e querem ir brincar para as

áreas, pode ser Fa?

Fa: Sim Nela pode ser!

Estagiária: Então a Nela vai pôr ali em cima daquela mesa os germinadores das ervilha,

para os meninos irem observar, o que é observar?

Lv: É ver a ervilha!

Estagiária: É ver a ervilha, muito bem Lv!

Estagiária: Então vamos observar se a ervilha cresceu como os meninos estão a dizer!

Lo: Tá bem!

Ra: Cresceeeuuu!

Estagiária: Temos que ir ver, nós ainda não vimos, já passaram alguns dias e ainda não

fomos ver se ela cresceu!

Fa: Eu vi Nela!

Estagiária: A Fa foi ver, muito bem! Mas todos os meninos têm que ver para dizerem

à Nela o que veem, o que observam. A Nela vai escrever aqui no caderno e na segunda-

feira, vamos observar outra vez a ervilha e vamos fazer uma tabela com as vossas

fotografias, para escrevermos lá os registos, aquilo que os meninos dizem. O que é que

vocês acham? É uma boa ideia?

Crianças: Sim!

Estagiária: Então agora os meninos vão brincar para as áreas, e a Nela vai chamar os

dois meninos pertencentes a cada germinador das ervilhas para observarem e dizerem à

Nela o que observam para a Nela escrever!

110

Dia 14 de novembro

Com as crianças sentadas no chão em grande grupo e durante a reunião da manhã,

começo por questiona-las se já tinham observado a germinação da semente da ervilha.

Estagiária: Vou buscar os frascos! Os frascos são os germinadores, e o que é que

vamos ver nos germinadores?

Crianças: As ervilhas!

Va: As ervilhas a crescer!

Estagiária: Muito bem Va as ervilhas a crescer! Então vou buscar os germinadores para

os meninos verem. (Aproveito para chamar a atenção do grupo e pergunto quais são

meninos que não estão hoje). Quem são os amigos que não estão cá?

Fa: A Da!

Estagiária: E mais quem?

Sa: A Ma!”

Va: O Lo!

Estagiária: Faltam alguns amigos hoje, mas temos de ver o que aconteceu com a

semente da ervilha, vamos ver os germinadores. Então vamos começar por este

germinador, de quem é?

Va e Fa: É meu!

Estagiária: Muito bem é da Fa e da Va. Então venham ver o que é que está a acontecer

à ervilha que semearam!

Va: Não sei!

Estagiária: Não sabes? Sabes sim, olha bem, o que é que está a acontecer à ervilha!

Va: Não sei!

Fa: Eu sei, é a ervilha que vai crescendo!

Estagiária: Muito bem, é a semente da ervilha que está a crescer, olhem bem, já tem ali

qualquer coisa a nascer!

Fa: É uma planta!

Va: Está molhado! (o cartão canelado à volta do frasco está molhado).

Estagiária: Sim Va, está molhado porque ainda tem a água que vocês puseram para

alimentar a sementinha da ervilha!

Va: Olha, está ali uma folha!

Estagiária: É a planta da semente da ervilha a nascer e começa a nascer folhas!

111

Fa: Ela cresceu!

Estagiária: Muito bem, agora vão-se sentar novamente no vosso lugar para a Nela

chamar outros amigos, para verem também o germinador deles!

Estagiária: Go e To venham cá ver o que aconteceu à semente da vossa ervilha, digam

lá o que aconteceu?

To: Tem água!

Estagiária: Sim tem água e mais, e isto o que é?

Go: É folhas!

Estagiária: Pois e´! A vossa ervilha também já tem folhas, está a crescer muito não

acham?

To e Go: Sim!

Estagiária: Segurem no germinador para verem melhor. Está a crescer!

Estagiária: Agora podem ir para o vosso lugar e vem cá a Ra e a Lv, venham ver a

vossa ervilha, olha, parece que também já está a crescer!

Ra: E ali também!

La: Também ali!

Estagiária: Pois é, já está a nascer a plantina, acham que cresceu muito ou pouco?

Va e Ra: Muito!

Estagiária: Agora é a vez do So e da Ca, venham ver, olhem como cresceu, (observam

muito curiosas e com muita atenção), então cresceu ou não cresceu?

Sa: Está quase partida!

Estagiária: Tens razão So, aquela está quase partida (um dos rebentes da ervilha partiu-

se) mas aqueles não!

Sa: Cresceram muito!

Estagiária: Pois cresceram. Agora pode vir a La, o Lo não veio à escola, vem tu La,

vem ver!

La: Está a crescer!

Estagiária: Pois está La! Agora é a Ma e Aa, venham ver a vossa semente da ervilha!

Ma: Mas ainda está pequenina! (a semente tinha desenvolvido muito pouco)

Estagiária: Tens razão Ma, cresceu pouquinho mas está a crescer, não está?

(muito atentas e observadoras a Fa e a Va comentaram)

Fa: Oh Nela, ela está a crescer!

Va: Pois! Estão todas a crescer!

112

Estagiária: Muito bem Fa e Va, mas agora deixem as vossas amigas falar, este

germinador é o delas. Agora é a vez do Sr e do Bo, venham cá! Venham ver se a

semente da vossa ervilha cresceu muito ou cresceu pouco!

Bo: Está a crescer muito!

Estagiária: Pois é, está a crescer muito! Gostaram de ver as vossas ervilhas a

crescerem, a semente das ervilhas cresceram muito, não acham?

Crianças: Sim!

Estagiária: Então agora não nos podemos esquecer de por água, todas as semanas

temos que ver se elas continuam a crescer, e os meninos vão dizer à Nela o que está a

acontecer. Se estão a crescer muito ou pouco, se têm mais folhinhas, muitas ou poucas,

está bem? Combinado?

Crianças: Sim!

Dia 16 de novembro

Estagiária: Como os meninos andam sempre a falar nos feijões a Nela pensou se os

meninos não queriam saber mais coisas sobre o feijão, o que é que acham, querem?

Crianças: Siiimmm!

Estagiária: Então vamos saber coisas sobre o feijão, como é que pudemos saber isso,

onde é que vocês acham que podemos procurar, a quem é que pudemos perguntar?

Va: À Nela!

Lv e Bo: À Juju!

Estagiária: A quem mais pudemos perguntar? Por exemplo lá em casa, a quem?

Ma: À mãe!

Va: Ao pai e à mãe!

Lv: E à avó!

Estagiária: E podem perguntar mais a quem, sem ser ao pai e à mãe? (As restantes

crianças na sua maioria, repetem ao pai e à mãe)

Estagiária: Vocês querem saber muitas coisas sobre os feijões, não querem? Então sem

ser ao pai e à mãe, à avó, à Juju e à Nela, onde é que nós podemos saber mais coisas

sobre os feijões? (apontei para a área dos livros)

Bo: Nos livros!

Estagiária: Pode lá estar escrito coisas sobre os feijões! Então podemos ir ver nos

livros e perguntar também ao pai e à mãe, à avó, a quem vocês quiserem!

113

Lv: À tia!

Ln: Ao tio!

Estagiária: A todos, a toda a família!

Crianças: Siiimmm!

Estagiária: Diz lá Lv!

Lv: Eu tenho feijões lá em casa!

Estagiária: Tens feijões em casa?

Bo: Também eu!

So: Eu também!

Crianças: Eu também!

Estagiária: Quem mais é que tem feijões em casa?

Ma: Eu também tenho feijões!

Estagiária: Vocês comem feijões? E gostam de comer feijões?

Crianças: Sim!

Estagiária: quem é que cozinha os feijões lá em casa?

Ra: A mãe!

Ma: A mãe!

Va: E o pai também faz!

Estagiária: Então vocês gostavam de saber coisas sobre o feijão?

Crianças: Sim!

Estagiária: Então o que é que querem saber sobre o feijão, o que é que os meninos

gostavam de saber sobre o feijão? (Como as crianças não respondiam, fiz a pergunta de

outra forma)

Estagiária: Que é que gostavam de fazer com o feijão?

Va: Comer!

Estagiária: Gostavam de comer feijão, e mais, o que é que gostavam de fazer?

Va: O feijão come-se na sopa!

Estagiária: O feijão come-se na sopa, muito bem Va, come-se na sopa, verdade! E

outras coisas gostavam de saber sobre o feijão? Então não querem saber mais coisas

sobre o feijão?

Crianças: Sim!

Estagiária: Então o que é que gostavam de saber sobre o feijão? Será que é todo igual?

É grande, ou é pequenino? Será que o feijão é todo da mesma cor? Sabem de que cor é

que é o feijão?

114

Crianças: Não!

Estagiária: Então vocês não se lembram da outra vez que a Nela trouxe os feijões,

vocês viram, pensem lá bem! Só têm uma cor ou têm outras cores?

Va: Só tem uma cor!

Estagiária: Só têm uma cor diz a Va. e vocês acham que existem feijões diferentes ou

existe só um feijão? São iguais ou são diferentes?

Ma: São… diferentes!

Bo: São grandes!

Is: Não, o feijão é pequenino!

Estagiária: Então temos que saber se é grande ou é pequeno?

Lv: Não, são iguais!

Estagiária: São diferentes diz a Lv, então não são todos iguais! E será que têm cores

diferentes?

Crianças: Não!

Estagiária: Então são todos da mesma cor?

Va: São todos da mesma cor! (muito expressiva, responde pausadamente)

Estagiária: Olhem uma coisa que a Nela vos vai dizer, tentem lembrar-se dos feijões

que a Nela trouxe e que pusemos em cima da mesa, eram todos da mesma cor os

feijões? Lembrem-se lá!

Crianças: Sim!

Ma: Eram vermelhos!

Estagiária: Vermelhos, só vermelhos? Não havia feijões de outra cor?

Va: Não!

So: Amarelos?

Estagiária: Então temos que ir saber se os feijões são todos da mesma cor ou não, o que

é que vocês acham? Querem saber se os feijões são todos da mesma cor?

Crianças: Sim!

Estagiária: Então e como é que nós vamos saber se os feijões são todos da mesma cor?

Va: Eu não sei, mas eu não sei!

Estagiária: Olhem, acham que também há histórias de feijões? Gostavam de ouvir

histórias sobre os feijões?

Crianças: Sim! (muito contentes)

115

Estagiária: Então depois temos que ir procurar ali na nossa biblioteca se há lá alguma

história sobre os feijões. Agora a Nela vai escrever noutra folha de papel o que é que os

meninos já sabem sobre os feijões, o que ainda querem saber e onde vamos procurar.

Estagiária: E onde é que nós podemos comprar os feijões? Sabem onde é que se

compram os feijões?

Va: Eu não sei!

Estagiária: Não sabem onde é que se compram os feijões para por na sopa?

Va: Compramos!

Estagiária: E vamos comprar aonde?

Va: Vamos… vamos comprar no supermercado!

Estagiária: Ao supermercado, muito bem!

Va: Para nós comermos!

Estagiária: Acham que no supermercado há muitos feijões?

Crianças:Sim!

Estagiária: “Acham que só se vende no supermercado ou noutro lugar? Querem saber

outros sítios onde se vendem feijões? E se os feijões são todos iguais, ou se há feijões

diferentes, e se são de cores diferentes?

Estagiária: Vocês disseram à Nela que gostavam de fazer uma coisa com os feijões

para ver se eles crescem muito como a ervilha?

Fa: Por no….

Va: No frasquinho!

So: Não, é outro, é…

Estagiária: Eu ajudo, é uma palavra um bocadinho difícil, ger…

Ma: Germinador!

Estagiária: Boa Ma! Digam lá todos, germinador.

Crianças: Germinador! (a grande maioria das crianças conseguiu verbalizar bem a

palavra germinador)

Estagiária: Vocês querem semear a semente do feijão para ver se ele cresce muito?

Então querem fazer um projeto sobre o feijão?

Crianças: Siiimmmm!

Dia 28 de novembro

116

Estagiária: Então vá, o que é que nós vamos fazer hoje? Temos coisas importantes para

fazer. Atrás da Ma e da Va está o quê?

Lv: Está o mapa da ervilha e do feijão! (diz com um ar de que é óbvio)

Estagiária: Muito bem Lv! E o que é que nós temos que ir fazer?

Lv: Temos que ver se já cresceu muito!

Va: Cresceu até ao alto…cresceu até aqui! (fez o gesto com as mãos tentando mostrar o

crescimento do feijão)

Bo: Eu acho que cresceu!

Va: Cresceu, cresceu mesmo!

Estagiária: Então temos que… (fui interrompida pela Fa)

Fa: Temos que ir observar Nela e tens que escrever se cresceu muito!

Estagiária: Vou buscar os frascos, esperem só um bocadinho, os germinadores, chama-

se germinadores!

Fa: É Nela, germinadores!

Estagiária: Germinadores, muito bem! A sementinha da ervilha e do feijão estão dentro

dos germinadores. Ai meu deus que as ervilhas cresceram tanto! Estão aqui umas que já

estão a sair para fora do frasco, olhem!

Educadora cooperante: Viu Va, disseste que tinham crescido até ali e cresceu mesmo,

cresceram até fora do frasco!

Ma: E já tem folhas, está mesmo a crescer!

Estagiária: E tem folhas Ma, não é? Olha lá que folhinhas tão lindas que a ervilhinha

tem!

Va: Oh my god!

Estagiária: Oh my god Vitória (ahahahah) olhem só como elas cresceram, cresceram

muito. Então…”

Va: São tantos germinadores… 3, 4, 5, 8, 9, 10…

Estagiária: São tantos germinadores, vamos lá contar quantos são. 1, 2, 3, 4 , 5 ,6 ,7 ,8

oito germinadores! (a grande maioria das crianças acompanhou a contagem). Olha! E

tem folhinhas que já saíram para fora do germinador mas outras que não saíram, ainda

estão lá dentro.

Bo: Aquela tem duas!

Lo: E aquela tem quatro!

Lv: Já estão muito grandes, estão a crescer muito!

117

Estagiária: Já vamos observar, umas têm as folhinhas para fora as outras ainda têm as

folhinhas lá dentro. A Nela vai escrever o que os meninos dizem sobre o que está a

acontecer à ervilha e ao feijão que está dentro do germinador e depois vão colar as

fotografias que a Nela esteve a tirar há bocado para nós pormos ali na tabela para verem

como cresceram as vossas ervilhas e os vossos feijões!

Crianças: Siiimmm!

Estagiária: Então vá, a Nela vai chamando os meninos, agora podem vir a Is e o Sr!

Qual é o vosso germinador Is e Sr? Digam lá o que é que aconteceu para a Nela

escrever!

Is: Está grande e já tem folhas!

Estagiária: Está grande…e mais? E as folhas são de que cor?

Is: São verdes!

Estagiária: São verdes, Sr anda cá ver. O que é que aconteceu Sr?

Sr: Cresceu!

Estagiária: Cresceu, muito bem Sr! E o feijão, acham que cresceu?

Is: Não, ainda está pequenino!

Estagiária: Não cresceu como a ervilha, mas cresceu u bocadinho olha ali! (as crianças

ficaram um pouco desanimadas, pois perceberam que o feijão relativamente à ervilha

não tinha crescido).

Estagiária: Agora vão brincar para a Nela chamar outros amigos. Agora To e o Go

vejam, olhem o que é que vocês acham, estão grandes?

To: Ali está uma coisa!

Estagiária: Ali o que é que ela tem? Sabes o que é aquilo? É a raiz da ervilha. A Nela

vai escrever aqui que o To está a reparar numa coisa muito importante, a ervilha tem

uma coisa que é a raiz.

Go: Está crescida!

Estagiária: Está crescida, muito bem Go, e o feijão cresceu?

Go e To: Não!

Estagiária: Olhem bem!

To: Só um bocadinho!

Go: Sim!

Estagiária: Podem ir brincar. Agora vem a Ca e a Ma. Ca olha a tua, ah…está tão

grande! Olha Ma até já está cá fora. Ma o que é que aconteceu, Ca diz o que é que

aconteceu. Diz lá Ma o que é que aconteceu?

118

Ma: A ervilha já cresceu e saiu para fora do frasquinho!

Estagiária: Saiu para fora do germinador muito bem, e o feijão?

Ma: O feijão não cresceu, eu não vejo!

Estagiária: Cresceu, olha lá, cresceu pouco, ele está a crescer mais devagar!

Ma: Mas tá pequenino cresceu um bocadinho só!

Estagiária: Agora vem o So a amiga que semeou a ervilha e o feijão contigo não está

cá!

So: É a Aa!

Estagiária: Sim a Aa, mas ela não está cá, tens que dizer sozinho. Então o que é que

aconteceu?

So: Cresceu, cresceu muito a ervilha, cresceu mais, mais, mais, mais!

Estagiária: Cresceu muito, e o que é isto aqui?

So: São as folhas!

Estagiária: Folhas pois é, e tem muitas ou poucas? (o So começou a contar quantas

folhas tinha)

So: Uma, duas, três, quatro. Quatro!

Estagiária: Olha e o feijão cresceu?

So: Cresceu pouco, não cresceu muito!

Estagiária: Tens razão So mas o feijão nós só pusemos no germinador depois da

ervilha, não foi!

So: Sim!

Estagiária: Agora vem a Fa e a Va. Olhem! O que é que aconteceu à vossa ervilha?

Fa: Cresceu muitoooo!

Va: Cresceu muito alto, até saiu do germinador!

Fa: E tem duas folhinhas verdes!

Estagiária: Está tão linda a ervilhinha, a vossa ervilha cresceu muito também! Agora

vamos ver o feijão.

Fa: Oh Nela não cresceu!

Va: Pois não cresceu mesmo, pois não?

Estagiária: Observem bem, estão a ver ali ao pé do feijão, o que é que está a

acontecer?

Va: Está ali um bocadinho!

Fa: Tá a crescer pouco!

119

Estagiária: Mas vai crescer mais, eu acho que também vai crescer muito, depois da

próxima vez vamos ver se cresceu mais ou não! Agora digam à Ra e a Lv para virem

elas!

Lv: Ainda não está cá fora!

Estagiária: Ainda não está cá fora, diz a Lv, mas vai ficar, não fiques triste que ela vai

crescer mais e vai sair para fora do germinador e o feijão também, uns crescem mais e

outros não. Mas cresceu não cresceu?

Lv : Está escondida!

Estagiária: Está escondida, diz muito bem a Lv, atrás da fotografia! Muito malandrecas

estas sementinhas! Ra, o que é que tu achas?

Ra: Está a crescer pouco!

Estagiária: Agora é a vez da La e o Lo. O Lo também não está, por isso é só a La! O

que é que aconteceu à tua ervilha? Cresceu? Cresceu pouco ou cresceu muito?

La: Muito, está muito grande!

Estagiária: Pronto agora que nós já estivemos a observar as nossas ervilhas e os nossos

feijões e que já fizemos o registo, quem é que sabe o que é que é o registo?

Bo: Eu sei!

Estagiária: É o quê?

Bo: É escrever!

Estagiária: E escrever o quê? A Nela estava a escrever o quê?

Bo: Coisas da ervilha e do feijão!

Estagiária: Escrever o que os meninos disseram sobre a ervilha e sobre o feijão.

Algumas ainda não estão a cresceram muito, mas há outras que já estão a crescer muito

não estão? Sabem porque é que será que algumas estão a crescer e as outras não estão a

crescer muito?

Va: Porque não pusemos muita água!

Estagiária: A Va diz que foi porque nós não pusemos muita água, será?

Va: Sim foi Nela!

Fa: Oh Nela?

Estagiária: Diz Fa!

Fa: Não podemos por muita água se não elas morrem!

Estagiária: A Fa está a dizer uma coisa muito importante. Nós também não podemos

pôr muita água nas plantas.

120

Dia 8 de dezembro

Estagiária: A Lv diz que os feijões se vendem no supermercado! E a Va também já

tinha dito que era no supermercado, não foi?

Va: Pois é no supermercado!

Estagiária: Os meninos foram pesquisar e a Nela também foi pesquisar, e o que é que

nós descobrimos? Que os feijões também se vendem no mercado, quem é que sabe o

que é o mercado?

Ma: Eu já fui ao mercado, é onde vendem fruta!

Estagiária: Muito bem Ma, mas também se vendem outros alimentos!

Ma: Sim! (ficou com ar pensativo tentando lembrar-se)

Estagiária: E os outros meninos já foram a algum mercado?

Ra: Eu!

Estagiária: O que é que se vende lá no mercado?

Ra: Vende-se muitas coisas!

Ma: Também se vende peixe!

Estagiária: Muito bem e mais, o que é que se vende mais no mercado?

Lv: Também se vende frango!

Ma: E feijões!

Ra: Feijões, ervilhas e favas!

Estagiária: Mais coisas que se vendem no mercado?

Va: Os feijões Nela!

Estagiária: Sim, acham que também se vende lá feijão? Temos de ir lá procurar não

acham?

Crianças: Sim!

Estagiária: Então hoje vamos ao mercado e assim os outros meninos que não sabem o

que é o mercado, que não conhecem, vão ver como é, e o que se vende lá e vamos

procurar os feijões, vamos ver se vendem lá feijões. Quando lá chegarmos a quem é que

nós vamos perguntar se vendem lá feijão?

Ma: Às senhoras!

Lv: E aos senhores!

Estagiária: E vamos perguntar o quê às senhoras e aos senhores?

Va: Onde é que estão a vender os feijões?

121

Estagiária: Muito bem Va! A Nela vai escrever aqui no caderno para não nos

esquecermos, vamos perguntar se vendem lá feijões. E mais, o que é que podemos

perguntar mais?

Sa: E se vendem pão!

Estagiária: Sim, mas se houver feijões o que é que podemos perguntar mais,

perguntamos à senhora ou ao senhor o quê?

Lv: E para darmos dinheiro!

Estagiária: Há, se nos pode vender feijões, é isso Lv, damos dinheiro para comprar

feijões?

Lv: Sim podemos comprar!

Estagiária: Muito bem. Então vamos todos ao mercado ver se vendem feijão, e os

meninos vão ver muitas coisas, têm que ir com muita atenção e vão sempre ao pé da

Nela, da Juju e da Nanda, têm que estar sempre ao pé de nós está bem?

Crianças: Está bem!

Estagiária: Quando lá chegarmos vamos procurar, vamos ver se vendem lá feijões, e

quem encontrar onde se vendem os feijões, diz está aqui, combinado?

Crianças: Sim!

Estagiária: Já sabem que vamos andar um bocadinho e vamos a pé até ao mercado, vai

ser giro, vai ser muito divertido, mas não se esqueçam que temos que ir todos juntos

com muita atenção!

Após chegarmos ao mercado, a grande maioria das crianças mostrou admiração e

curiosidade quando viu o espaço e tudo o que nele se vendia. Votei a reforçar que

andássemos sempre juntos (que não largassem o par e que, ficassem sempre ao pé da

Nela, da Juju e da Nanda). Assim que viram a banca dos produtos hortícolas, algumas

crianças dirigiram-se logo ao lugar onde se encontrava o feijão-verde, gritando feijão! (a

vendedora aproximou-se e dirigiu-se às crianças).

Estagiária: Digam bom-dia! (mas as crianças continuavam fascinadas com o facto de

finalmente terem encontrado o feijão).

Sr: Feijão!

Vendedora: Olá, sim é feijão-verde! (todos as crianças querem mexer no feijão, ao que

a vendedora se mostrou recetiva).

Sr: Feijão-verde!

122

Estagiária: Esperem lá, têm que ir uns de cada vez, não podemos ir todos ao mesmo

tempo! (dividi o grupo em pequenos grupos, pois o espaço era pequeno).

Algumas crianças: Feijão!

Vendedora: Que alegria, feijão, podem mexer!

Estagiária: Com cuidado, não podem mexer com muita força, é para verem e sentirem!

Vendedora: Este é feijão branco, feijão branco, isto é grão, este é feijão encarnado para

fazer sopa, feijoada… querem ver o frade? O frade é mais pequenino, tem duas cores,

olhem ara aqui para a minha mão que eu vou-vos mostrar!

Estagiária: Olhem ali na mão da senhora, olhem! (chamei a atenção das crianças para

ouvirem a explicação da senhora)

Vendedora: Olhem aqui, tem duas cores, preto aqui e aqui branco!

Estagiária: Venham agora outros meninos ver o feijão! (solicitei ao grupo que saísse

para que outro grupo pudesse observar)

Vendedora: Pode mexer, pode mexer, mexe, mexe!

Estagiária: Olhem vamos perguntar coisas sobre os feijões, quem quer perguntar?

Crianças: Eu!

Va: Tantos feijões, estes não são iguais? Aqueles são mais pequeninos!

Estagiária: Va põe lá a tua mão para sentires! (tocou e mexeu, rindo com satisfação)

Ma: Estes são grandes e são brancos!

Vendedora: São brancos, é! Estes são brancos, chama-se feijão branco! Olhem este, é

mais bonito!

Estagiária: Olhem, olhem aquele, olhem aquele que a senhora tem na mão!

Vendedora: É o feijão manteiga!

Lv: Feijão manteiga?

Vendedora: Sim é o nome deste feijão! Aqui está cru, tem que ir para a panela para

cozer!

Va: E aquele como é que se chama?

Vendedora: Este é o feijão catarino, tem o nome de uma pessoa, e é redondinho!

Fa: Olha senhora aquele tem duas cores!

Vendedora: Pois é, tem duas cores, e que cores são tu sabes?

Fa: É branco e preto!

Vendedora: É o feijão-frade!

Ma: Este é igual ao nosso que está a crescer no germinador?

Vendedora: Está a crescer?

123

Estagiária: A Ma está a perguntar se este é o feijão está a crescer nos germinadores!

(expliquei sucintamente à vendedora do que se tratava)

Fa: Está a crescer muito, mas, mas o feijão!

Estagiária: Diz Fa! Diz… diz Fa!

Fa: É, é igual ao que nós plantámos, que eram feijõezinhos secos!

Estagiária: Nós semeámos os feijõezinhos secos, muito bem Fa, ouviram o que a Fa

está a dizer, estes feijões também estão secos!

Fa: Sim, mas ainda está pequeno!

Estagiária: Sim Fa, mas está a crescer! Olhem não querem fazer mais perguntas à

senhora?

Lv: Podemos comprar feijões?

Vendedora: Sim claro que podem comprar feijões!

Ma: Vende os outros feijões?

Vendedora: Sim, vendo todos os feijões!

Nela: Agora vamos todos para ali para ao pé da Juju e e da Nanda e dos amigos, que a

senhora também vem connosco, venham vá, venham cá todos! (após todas as crianças

terem explorado os diferentes tipos de feijão, sugeri ao grupo que comprássemos

feijões) olha, escutem lá, o que é que vocês acham, vamos comprar uns feijões para

vermos e para brincarmos lá na sala?

Crianças: Sim!

Estagiária: Olhem, os meninos diziam que eles eram todos encarnados, mas não são

todos encarnados, pois não?

Fa: Não, não… são pretos, brancos e …muitas cores!

Estagiária: Há pretos, há brancos, então vamos levar para observarmos melhor. Vem

comigo o Bo, a Ma, o So e a Lv comprar os feijões à senhora! (a vendedora ofereceu

um pouco de cada qualidade de feijão) terminada a visita ao mercado, regressamos à

instituição.

Dia 4 de janeiro

Estagiária: Então hoje vamos observar os feijões que a senhora do mercado nos deu,

vamos ver se os feijões são diferentes. Então vamos observar as diferenças dos feijões,

sim porque os meninos já sabem que há muitos feijões mas que são diferentes!

Bo: Alguns são mais pequeninos!

Estagiária: Alguns são pequeninos diz o Bo!

124

Va: Mas também são grandes e outros é que são pequeninos!

To: Pequeninos!

Estagiária: O To também diz que são pequeninos, vocês viram lá no mercado, e será

que os feijões são todos da mesma cor?

Va: Não, alguns são encarnados e outros são brancos e grandes e os outros brancos

pequeninos tinham preto também!

Fa: Oh Nela esses são os feijões fraques!

Estagiária: Feijão-frade, boa Fa já sabes o nome desse feijão!

Ma: E também os outros feijões tinham o nome …manteiga, como a manteiga!

Lv: Oh Nela e como é que era o nome daquele de pessoa?

Estagiária: Será o feijão catarino?

Lv: Sim é esse o catarino!

Estagiária: Então agora já sabemos que há feijões diferentes, não é?

To: Pois é!

Is: Há muitos feijões e com cores diferentes!

Bo: E são maiores e mais pequeninos!

Estagiária: Então hoje vamos ver as diferenças dos feijões, os meninos vão brincar para

as áreas e a Nela vai chamar dois meninos de cada vez para verem as diferenças dos

feijões e os meninos vão separar os feijões e vão juntar os que são grandes…maiores, e

os que são pequenos, vão fazer conjuntos de feijões! O que é que vocês acham, querem

fazer isso?

Crianças: Sim!

(com os materiais já prontos chamei as primeiras crianças para iniciarem a atividade, a

Va e o Lo que começaram logo a separar os feijões, mas separavam poucos de cada vez,

sugeri que podiam por mais feijões para fazerem conjuntos maiores)

Estagiária: Muito bem estão a por os feijões juntinhos!

Lo: Vou pôr estes pretos Nela?

Estagiária: Sim põe mais Lo!

Va: Nela eu vou por estes, como é que é o nome que disse a Fr?

Estagiária: Feijão-frade Va!

Ra: Toma Nela, eu apanhei estava no chão! (tinham caído alguns feijões no chão e a Ra

que estava ansiosa por fazer a atividade estava ali por perto)

Estagiária: Obrigada Ra! Olha, podes ir brincar que a Nela a seguir chama-te!

125

Ra: Mas eu posso ficar aqui a ver posso? Nela mais! (continuava a apanhar os feijões

que caiam ao chão)

Estagiária: Podes ficar Ra e obrigada!

Va: Olha Nela, ainda tem poucos, vou pôr mais este bocadinho?

(o Lo continua a por feijões mas poucos de cada vez, tentando perceber quando é que já

são suficientes)

Estagiária: Põe mais Lo, põe mais um bocadinho daqueles?

Lo : Sim!

Estagiária: Lo esses são de que cor?

Lo: São pretos!

Estagiária: São pretos, muito bem Lo! Va e estes de que cor são?

Va: São brancos e tem ali preto! (com uma expressão de que é obvio, que era uma

pergunta desnecessária)

Estagiária: São brancos mas também têm preto, e ainda te lembras como é que se

chama?

Va: Feijão-frade, chama-se feijão-frade! (com um ar muito expressivo)

Estagiária: Então agora vamos colar os feijões e depois vocês escolhem a cor da tinta

que querem para fazer uma bola à volta do vosso conjunto dos feijões pequenos, o que é

que acham?

Lo: sim!

Va: Acho uma boa ideia Nela!

(entretanto veio a Ra, a Da e a Is fazer a atividade)

Estagiária: Então diz lá Ra, porque é que estes feijões ficaram todos aqui dentro desta

bola, porquê?”

Ra: Porque são os pequeninos!

Estagiária: Muito bem Ra, ficaram todos ali, porque é o conjunto dos feijões

pequeninos!

Ra: Sim é o conjunto dos pequeninos!

Estagiária: Então agora estas meninas vão fazer outro conjunto?

Is: Dos feijões grandes!

Estagiária: Muito bem Is, o conjunto dos feijões grandes. Da e La vamos fazer o

conjunto dos feijões grandes?

Ra: Sim, os grandes são muitos não são Nela?

Da: (abana com a cabeça que sim)

126

Estagiária: É verdade, são mais que os pequenos! Então vá, podem começar a separar

os feijões grandes e a colar! Is, podes por mais, põe aqui, porque os grandes têm que

ficar todos aqui neste conjunto!

Ra: Estes são vermelhos Nela?

Estagiária: Sim esses são vermelhos Ra!

Is: E estes são castanhos, não são Nela?

Estagiária: Muito bem já sabem as cores! Da e esses de que cor são?

Da: brancos!

Estagiária: Brancos, muito bem Da!

Estagiária: Então todos os que estão aqui são todos maiores e de cores diferentes?

Is e Ra: Sim!

Da: (abana com a cabeça como um sim)

Estagiária: Então agora escolham a cor da tinta que querem para fazer uma bola à volta

do vosso conjunto dos feijões grandes.

Is, Ra e Da: Sim!

Estagiária: Podem vir mais três meninos, a Fa, o Bo e a Ln!

Fa: Posso pôr estes Nela?

Estagiária: Podes Fa, então vão fazer um conjunto de feijões…

Fa: Grandes, pode ser, pode Nela?

Estagiária: Sim Fa podem fazer também o conjunto dos feijões grandes! Ln, esses

feijões são grandes?

Ln: Sim! (um sim muito tímido)

Estagiária: Podes por esses todos ai Ln, muito bem! Então este conjunto de feijões

grandes tem feijões…

Ln: Brancos!

Fa: E estes são castanhos e aqueles são…tem outras cores!

Estagiária: É o feijão catarino que tem manchas cor-de-rosa e…

Fa: Branco e mais um bocadinho outra cor!

(o Bo estava a contar os feijões pequenos e a pôr em fila, de cinco em cinco, fazendo

um conjunto com noção de número)

Estagiária: Que conjunto estás a fazer Bo?

Bo: O conjunto dos feijões pequeninos todos a seguir!

Estagiária: Muito bem Bo, conta com a Nela!

Bo: 1, 2, 3, 4, 5!

127

Estagiária: Boa, cinco feijões pretos, cinco feijões-frade…. Muito bem!

Estagiária: Então agora vamos colar e pintar com o pincel, escolhe a cor!

Bo: Verde! Vou fazer o conjunto com verde!

Estagiária: Estes conjuntos dos feijões estão a ficar muito bem-feitos, vocês já estão a

ficar muito crescidos!

Fa: Oh Nela nós já somos grandes e sabemos fazer muitas coisas bem!

Bo: Amanhã vamos fazer outro trabalho dos feijões?

Estagiária: Podemos fazer, mas temos que pensar o que é que queremos fazer,

podemos combinar amanhã na reunião, pode ser?

Fa: É Nela eu acho uma boa ideia!

Estagiária: Agora vou chamar outros amigos para virem fazer outro conjunto, pode vir

a Me, o Je e o Sr!

Dia 13 de janeiro

Fa: Nela eu acho que podíamos fazer o teatro do pé de feijão!

Estagiária: Que boa ideia Fa! O que é que acham da ideia da Fa, querem fazer o teatro

da história do João pé de feijão?

Crianças: Siiimmm!

Estagiária: Então temos que ouvir outra vez a história e ver quais são as personagens

para escolherem qual é que vocês querem representar, combinado?

Crianças: Sim!

Estagiária: Gostaram de ouvir outra vez a história?

Crianças: Siiimmm!

Estagiária: Olhem uma coisa, o que é que vocês acham de convidarmos os amigos da

sala 2 e da sala 3 para verem o teatro?

Fa: Olha Nela, podíamos fazer o teatro do pé de feijão no palco e os pais tiravam

fotografias!

Va: Eu acho uma boa ideia Nela, podíamos também convidar os pais!

Estagiária: Desta vez não vamos poder convidar os pais, porque já não temos muito

tempo para ensaiar e tínhamos que avisar os pais para eles avisarem no trabalho deles.

Fa: Está bem Nela!

Estagiária: Então vá, vamos começar já a trabalhar! A Nela vai preparar os convites

para vocês fazerem e irem levar aos amigos da sala 2 e da sala 3.”

Va: Nela eu quero fazer o convite!

128

Ma: Eu também quero!

Fa: Olha Nela, eu quero fazer mas posso, posso… ir levar os convites aos meninos?

Crianças: Eu também!

Estagiária: Primeiro vamos ver quem são as personagens da história para ver o que é

que cada menino vai ser e depois todos os meninos vão fazer o convite.

So: Eu, eu quero ser o João do pé de feijão!

Estagiária: O So quer ser o João. E a mãe do João, quem é que quer ser?

Va: Eu, eu quero ser a mãe do João!

Estagiária: Olhem há meninos que vão ser as personagens principais e outros vão ser

os animais da quinta do João, pode ser?

Fa: Sim Nela pode ser!

Estagiária: O senhor dos feijões, quem é que quer ser?

Lo: Eu quero!

Estagiária: O Lo vai ser o senhor! Quem quer ser o gigante?

Sr: Eu!

Estagiária: E a mulher do gigante, quem é que quer ser? (ficaram todos calados e então

sugeri que fosse a Ma porque é uma criança muito expressiva) Queres ser tu Ma? Sabes

a mulher do gigante é que ajuda o João a esconder-se!

Ma: É, eu sou a giganta!

Estagiária: Agora vamos ver quem vão ser os animais.

Fa: Oh Nela, eu quero ser a galinha dos ovos douro!

To: E eu quero ser a ovelha!

Lv: Eu também quero ser uma ovelha, posso ser?

Estagiária: Sim Lv podem ser duas ovelhas!

Ra: Eu quero ser a vaca!

Estagiária: Esperem, devagarinho um de cada vez se não a Nela não consegue ouvir os

meninos todos ao mesmo tempo, e a Nela tem que escrever aqui no caderno a

personagem de cada menino. Ln o que é que queres ser?

Ln: Galinha!

Estagiária: A Lv quer ser outra galinha, sim pode haver mais galinhas na quinta do

João!

Ge:Eu quero ser o cão!

Estagiária: Então e porquinhos quem é que quer ser?

Aa: (põe o dedo no ar muito tímida)

129

La: E eu!

Estagiária: E a Ca o que é que vai ser?

Ca: Gato!

Estagiária: Estamos a esquecer-nos de uma coisa muito importante, ainda falta saber

quem é que quer ser o pé de feijão?

Is: Eu, eu, eu! (muito contente pondo o dedo no ar)

Estagiária: Então já sabem que personagens vão ser! Agora temos que pensar como é

que vamos fazer as roupas para vestirmos no dia do teatro.

Fa: A galinha tem que ter penas para fazer assim…cócórócócó” (e começa a imitar a

galinha)

So: Temos que ter feijões!

Va: E aquilo para cortar o pé de feijão!

Estagiária: O machado! Pois é os meninos têm razão, temos que ver o que é que vamos

precisar para fazer o teatro, a Nela vai escrever no caderno o que é que precisamos.

Então temos que fazer os feijões, a porta do armário, as roupas da mãe do João e da

mulher do gigante e…

Ma: Temos que fazer muitas coisas, não é Nela?

Va: E temos que ensaiar para dizer as coisas!

Estagiária: Ainda temos tempo para ensaiar um bocadinho se vocês quiserem, querem

ensaiar um bocadinho?

Crianças: Siiimmm!

Estagiária: Já me estava a esquecer, ainda falta combinarmos outra coisa!

Lv: O que é Nela? (ficaram todos calados na expetativa do que eu ia dizer)

Fa: Oh Nela diz o que é?

Estagiária: Eu acho que era uma boa ideia no dia do teatro explicarmos aos amigos o

que fizemos sobre o nosso projeto do feijão, o que é que vocês acham?

Fa: Eu acho uma boa ideia, eu explico aos meninos!

Estagiária: Ok, então depois combinamos isso, agora vamos ensaiar?

Crianças: Siiimmm! (começaram logo a pôr-se em pé à espera que os orientasse, todos

muito entusiasmados)

Dia 16 de janeiro

Estagiária: Oiçam lá uma coisa importante que a Nela tem para falar com os meninos.

Ma: Perguntas!

130

Estagiária: Não é perguntas… é perguntas também, muito bem, perguntas. Nem todos

os meninos trouxeram a receita… que nós tínhamos falado para fazer aqui na escola!

Fa: Não, eu trouxe!

Estagiária: “Ah, a Fa trouxe!

Fa: Eu trouxe as coisas que a minha avó me deu!

Estagiária: Mais quem é que trouxe receitas?

To: Eu!

Fr: Tu não trouxeste nada To!

Sr: Eu!

Estagiária: O Sr também trouxe!

Va: Eu não trouxe nada!

Fa: Sim trouxeste que eu estava a ver!

Estagiária: A Fa tem razão Va, tu também trouxeste, só que já não te lembras?

Va: (abana com a cabeça que não com um ar aborrecido)

Estagiária: A Aa também trouxe!

Crianças: Eu também, eu também, eu também… (todos diziam que tinham trazido).

Ra: Eu também trouxe hoje!

Estagiária: A Ra também já trouxe hoje, a Ra também trouxe!

Crianças: Eu, eu, eu…

Estagiária: Não os outros meninos não trouxeram ainda! Então nós vamos ter que

escolher uma das receitas. Então olhem o Sr trouxe uma receita que esteve a ver com a

mãe que é… uma tarte de feijão, uma tarte de feijão, ummmm!

Ra: A minha avó também disse isso!

Estagiária: Espera, a avó investigou outra receita, já vamos ver! A Ra trouxe…

Fa: E a minha avó trouxe um bolo de feijão!

Estagiária: A avó da Fa mandou duas receitas, uma é um bolo de feijão e a outra é

arroz de feijão!

Fa: E a minha avó é cozinheira!

Estagiária: É verdade, sabem uma coisa a avó da Fa já foi nossa cozinheira, era ela

que fazia a comida para os outros meninos! O que é que vocês acham de convidarmos a

avá da Fa para vir cá à escola fazer o bolo connosco?

Crianças: Siiimmm!

Fa: Oh Nela eu digo à minha avó para vir cá fazer o bolo!

131

APÊNDICE G. Guião das entrevistas semi-estruturadas

G1.

Tabela 1

Sistematização das respostas à entrevista realizada à educadora cooperante

Nota. Realização própria

Questões Respostas

1 - De que forma

perceciona a

metodologia de trabalho

de projeto enquanto

ferramenta pedagógica?

Forma de adquirir conhecimento e desenvolver capacidades tais como: autonomia,

criatividade, pensamento critico, saber fazer e saber ser

2 - Qual o papel da

criança na

implementação desta

metodologia? E o do

Adulto?

Criança - Papel ativo na sua aprendizagem sustentado pelos seus interesses e

intenções.

Adulto – Dinamizador das atividades e moderador do processo

3 - Há uma idade

específica para começar

a trabalhar por projetos?

Não há idade específica para trabalhar por projeto. Possibilidade de realizar

projetos simples com crianças de idades precoces

4 - Considera que esta

metodologia traz

benefícios para a relação

escola-família? De que

forma? De que forma é

que esta metodologia

pode potenciar a

envolvência/participação

da família e da

comunidade no contexto

pedagógico?

A MTP traz benefícios para a relação escola-família e escola-comunidade. São as

próprias crianças que motivam e envolvem as famílias.

5 - Indique alguns

pontos fortes/fracos da

metodologia de trabalho

de projeto.

Pontos fortes: desenvolver a autonomia, a criatividade, o pensamento crítico … o

saber ouvir, o saber falar e o saber respeitar os outros e as opiniões diferentes … o

trabalho em equipa, o saber fazer e como fazer, partilhar … o envolvimento das

famílias e a inserção na comunidade.

Os postos fracos: Não identifica pontos fracos na MTP

6 -Utiliza esta

metodologia em

contexto de prática

pedagógica? Se sim,

como a implementa?

Utiliza esta metodologia. Procura estar atenta aos interesses que as crianças

manifestam no seu dia-a-dia e incentivá-las a pensar e a procurar respostas. O

educador planeia as atividades partindo destes interesses com a preocupação de

abranger todas as áreas do desenvolvimento; conteúdos e intervenientes (família,

escola e a comunidade).

7 - Que dificuldades se

colocam à

implementação desta

metodologia? Como as

supera?

Dificuldades ao nível da recolha de informação e no envolvimento parental. No que

se refere à recolha de informação, estas dificuldades são superadas com materiais e

recursos para que as crianças explorem e pesquisem. Já no que concerne às

famílias, estas são motivadas a participar pelas crianças e pelos produtos que são

expostos na sala e pela apresentação dos projetos nas reuniões de pais.

132

G2.

Tabela 2

Sistematização das respostas à entrevista realizada à auxiliar de sala

Nota. Realização própria

Questões Respostas

1 - No papel de auxiliar

educativa, o que conhece

da metodologia de

trabalho de projeto

enquanto ferramenta

pedagógica?

Metodologia de trabalho muito importante porque as crianças aprendem bastante.

2 - Costuma trabalhar

em sala com a

metodologia de trabalho

de projeto?

Não costuma trabalhar com esta metodologia. O projeto Será que a semente dos

feijões cresce muito? foi o primeiro contacto com MTP.

3 - Qual o seu papel no

desenvolvimento em

sala desta metodologia?

Papel de ajudar no que é solicitado, tanto pela educadora como pelas crianças.

4 - Identifica-se com a

forma de trabalhar

implícita nesta

metodologia? Justifique?

Identifica-se com os princípios da MTP e gostaria de continuar a desenvolver

projetos com as crianças.

133

G3.

Tabela 3

Sistematização das respostas à entrevista realizada à coordenadora pedagógica

Nota. Realização própria

Questões Respostas

1 - No papel de

coordenadora, de que

forma perceciona a

metodologia de trabalho

de projeto enquanto

ferramenta pedagógica?

Considera a MTP como uma mais-valia no trabalho que se faz porque permite que

as crianças sejam elas próprias instrumentos de aprendizagem no processo assim

como mostrar às famílias a importância destes tipos de metodologias ativas. Esta

metodologia ao ser implementada e utilizada deve contribuir para as famílias

perceberem que as crianças também adquirem conhecimento.

2 - Qual o papel da

criança na

implementação desta

metodologia? E o do

Adulto?

Criança - Principal interveniente de todo o processo e sujeito ativo. Adulto –Mediador do processo tendo sempre em consideração as idades das

crianças

3 - Há uma idade

específica para começar

a trabalhar por projetos?

Não há idade específica para trabalhar por projeto. É possível aplicar a MTP em

contexto de creche desde que o educador tenha consciência da fase de

desenvolvimento em que a criança está.

4 - Considera que esta

metodologia traz

benefícios para a relação

escola-família? De que

forma? De que forma é

que esta metodologia

pode potenciar a

envolvência/participação

da família e da

comunidade no contexto

pedagógico?

Os benefícios da utilização da MTP começam com a intencionalidade do educador

em fazer entender às famílias esta metodologia, como é que ela funciona, assim

como as suas vantagens. A MTP perceciona a família como sendo um instrumento

e facilita o seu envolvimento assim como o da comunidade alargada

5 - Indique alguns

pontos fortes/fracos da

metodologia de trabalho

de projeto.

Pontos fortes: A MTP proporciona que o educador consiga atingir as metas

curriculares, partindo do interesse da criança.

Os postos fracos: perceber que crianças estão envolvidas no projeto. Este ponto

fraco pode ser entendido também como uma dificuldade sentida pelo educador em

gerir a dinâmica de sala.

6 - De que forma os

fundamentos da

metodologia de trabalho

de projeto se enquadram

nos princípios

pedagógicos da

instituição?

A MTP enquadra-se nos princípios da instituição nas questões da solidariedade, da

entreajuda, do trabalho de equipa, da liberdade de expressão assim como na nossa

forma de estar dos educadores. Apesar de esta metodologia se enquadrar nos

princípios da instituição, a coordenadora gostaria que a MTP fosse mais utilizada.

134

APÊNDICE H. Planeamento das três primeiras atividades

Escola Superior de Educação Jean Piaget

Aluno Estagiário: Maria Manuela de Sousa Reis Alemão Curso: Mestrado em Pré-Escolar Ano: Turma: Nº: 53311

Orientador Cooperante: Juliana Canhoto Orientador de Estágio: Ana Lúcia Rodrigues Bahia

Instituição Cooperante: Associação de atividades Sociais do Bairro 2 de Maio

Data: 03/11/2016 Idade(s): 3 anos

Atividade: Exploração Sensorial Conteúdos: Conhecimento do Mundo - Contacto com vários tipos de sementes

Intencionalidades Educativas

Objetivos Específicos

Local Duração Estratégias Recursos Avaliação

Indicadores Instrumentos

- Proporcionar o contacto com vários tipos de sementes; - Dar primazia ao tacto como forma de exploração do meio envovente;

A criança deve: - apropriar-se das principais características das sementes através do toque; -identificar algumas diferenças entre os vários tipos de sementes.

Sala de

atividades

30 min

Preparação prévia da atividade (realizada pela estagiária): seleção das 10 sementes e montagem dos sacos, contendo cada um aproximadamente 100gr de um tipo de semente. Os 10 sacos serão apresentados às crianças fechados e dentro de uma caixa de madeira. Com as crianças organizadas em grande grupo e sentadas no chão em meia-lua, mostro a caixa com os 10 sacos de sementes, questionando as mesmas sobre o que poderá estar dentro sacos. Sugiro então que cada criança introduza a mão dentro de 3 dos sacos (ervilhas, feijão e grão, tendo sido estes escolhidos por mim), sem ver o que está lá dentro, e que diga o que acha que é. Após todas as crianças terem contactado com o conteúdo de cada um destes 3 sacos, mostro o que contem cada um, nomeando cada uma das sementes. Já na mesa de trabalho, possibilito ao grupo o contacto com as sementes dos 10 sacos, espalhando as

Recursos materiais: - Caixa de madeira; sacos de tecido opaco; vários tipos de sementes (ervilhas, favas, grão, lentilhas e diferentes tipos de feijão); Recursos humanos: - Estagiária - Educadora Cooperante

A criança: -verbaliza algumas características dos vários tipos de sementes; -verbaliza algumas diferenças entre os vários tipos de sementes;

Observação Direta (Registo da grelha de observação) Registo fotográfico

135

mesmas pela mesa e deixando-os explora-las livremente. Durante esta exploração, questiono as crianças para as principais características das sementes e instigo-as a identificar as diferenças entre as sementes (cor, tamanho e forma)

136

Escola Superior de Educação Jean Piaget

Aluno Estagiário: Maria Manuela de Sousa Reis Alemão Curso: Mestrado em Pré-Escolar Ano: Turma: Nº: 53311

Orientador Cooperante: Juliana Canhoto Orientador de Estágio: Ana Lúcia Rodrigues Bahia

Instituição Cooperante: Associação de atividades Sociais do Bairro 2 de Maio

Data: 04/11/2016 Idade(s): 3 anos

Atividade: Exploração de leguminosas através dos sentidos Conteúdos: Conhecimento do mundo – Exploração de diferentes tipos de leguminosas

Intencionalidades

Educativas

Objetivos

Específicos Local Duração Estratégias Recursos

Avaliação

Indicadores Instrumentos

- Promover o

contacto com

leguminosas naturais

e cozinhadas;

- Dar primazia ao

tacto e ao paladar

como forma de

exploração do meio

envolvente;

- Aumentar o léxico;

A criança deve:

- manipular as

leguminosas com

e sem vagem;

- explorar

algumas das

características

das leguminosas

(alimentos)

através do tato e

do paladar;

- reconhecer

palavras

relacionadas

com as

leguminosas;

Sala de

atividades

30 min Preparação prévia da atividade (realizada

pela estagiária): Pesquisa de imagens reais de

algumas leguminosas com e sem vagem.

Impressão dessas mesmas imagens com

respetiva colagem em cartolina. Compra de

leguminosas cozinhadas e enlatadas assim

como de ervilhas e feijão frescos em vagem.

Em grande grupo, e durante a reunião da

manhã, mostro imagens de diversas

leguminosas (com vagem e sem vagem) e

pergunto às crianças se sabem o que é. Após

estas responderem, nomeio cada uma das

leguminosas presentes nas imagens.

Seguidamente, mostro às crianças as ervilha e

os feijões com vagem, dando um exemplar a

cada criança. Sugiro então que os

descasquem e os abram para que possam

observar o que está lá dentro.

Posteriormente, questiono as crianças se

Recursos

materiais:

- Imagens reais

de leguminosas

(ver foto em

anexo);

- Leguminosas

frescas

(ervilhas tortas,

feijão de

debulhar;

- Leguminosas

cozidas

enlatadas

(favas, ervilhas,

grão e feijão

A criança:

-manipula

livremente as

leguminosas com e

sem vagem;

- verbaliza algumas

das características

das leguminosas

após a manipulação

e degustação das

mesmas;

- reconhece as

palavras leguminosas

e vagem.

Observação Direta

(Registo da grelha

de observação)

Registo fotográfico

137

querem provar algumas leguminosas

cozinhadas, colocando-as em taças. Antes de

iniciar a prova, sugiro ao grupo que cada

criança prove as leguminosas passando a taça

ao colega que se encontra ao seu lado.

Durante este processo, instigo os elementos

do grupo a participar com comentários acerca

da degustação das leguminosas, fomentando

assim o diálogo.

manteiga,

frade,

encarnado,

catarino, preto)

(ver foto em

anexo);

- Taças de

plástico

Recursos

humanos:

- Estagiária

- Educadora

Cooperante

138

Escola Superior de Educação Jean Piaget

Aluno Estagiário: Maria Manuela de Sousa Reis Alemão Curso: Mestrado em Pré-Escolar Ano: Turma: Nº: 53311

Orientador Cooperante: Juliana Canhoto Orientador de Estágio: Ana Lúcia Rodrigues Bahia

Instituição Cooperante: Associação de atividades Sociais do Bairro 2 de Maio

Data: 08/11/2016 Idade(s): 3 anos

Atividade: Montagem dos germinadores das sementes de ervilha Conteúdos: Conhecimento do Mundo – Germinação da semente da ervilha

Intencionalidades

Educativas

Objetivos

Específicos Local Duração Estratégias Recursos

Avaliação

Indicadores Instrumentos

- Promover a intrudução de

novo vocabulário (semente,

leguminosa e ervilha);

-Contribuir para o

conhecimento acerca da

germinação da ervilha;

- Estimular o trabalho em

grande e pequeno grupo;

A criança deve:

- associar as

palavras

leguminosa e

semente aos

conceitos;

- utilizar a

palavra ervilha

para se referir a

esta leguminosa;

- manusear o

germinador,

colocando a

ervilha no local

indicado

- participar na

conversa em

grande grupo

com questões e

ideias;

Sala de

atividades

30 min Preparação prévia da atividade

(realizada pela estagiária): Pesquisa

na internet (youtube) da história A

princesa e a ervilha. Montagem do

equipamento audiovisual na sala. Pré-

montagem dos germinadores

(colocação do cartão canelado e do

algodão dentro dos frascos).

A estagiária apresenta a história A

princesa e a ervilha com recurso a um

filme animado retirado da internet.

Após a visualização do mesmo, são

introduzidas algumas questões sobre os

principais acontecimentos narrados na

história. De seguida, a estagiária instiga

as crianças a descobrir como é que

cresce a planta da ervilha. Em grande

grupo, e já na mesa de trabalho, a

estagiária apresenta os materiais a

serem utilizados assim como os

procedimentos para a montagem dos

germinadores. Já com os germinadores

montados (pela estagiária), e as

crianças organizadas em pares,

Recursos

materiais:

- Projetor,

computador, tela,

filme animado da

história A

princesa e a

ervilha (retirado

da internet);

- Germinadores

(frascos de vidro

transparentes,

cartão canelado,

algodão, ervilhas,

água);

Recursos

humanos:

- Estagiária

- Educadora

Cooperante

- Auxiliar

A criança:

- reconhece o

significado das novas

palavras apresentadas

(leguminosa e

semente);

- utiliza a palavra

ervilha em vez de

bolinhas para se

referir a esta

leguminosa;

- coloca a ervilha no

frasco, entre o vidro e

o cartão canelado;

- participa na

conversa,

expressando as suas

ideias e lançando

questões;

- respeita a divisão

Observação

Direta

(Registo da

grelha de

observação)

Registo

fotográfico

139

- cooperar na

divisão de tarefas

em pequeno

grupo.

colocam a ervilha no frasco. Antes de

regarem a ervilha, a estagiária

questiona as crianças acerca do que é

necessário para que a ervilha cresça

(água e luminosidade). Em grande

grupo, são definidas as tarefas

seguintes, como por exemplo a

observação do crescimento da ervilha

assim como a rega quando necessária.

de tarefas

previamente

definidas em

pequeno grupo.

140

APÊNDICE I. Esquema inicial do projeto realizado com as crianças

141

Semente

Germinação

Plantação

Tabelas de

dupla entrada

Exprimir com

movimentos

corporais a

germinação da

semente do feijão

Noções de

medida

APÊNDICE J. Teia do Educador referente ao projeto Será que a semente do feijão cresce muito?

Será que a semente

do feijão cresce muito?

Exploração das

caraterísticas do feijão

Classificação dos

feijões e formação de

conjuntos

Exploração de espaços

da comunidade e da

instituição educativa

Construção

de

cartazes

Recorte

e colagem

Vocabulário relativo às

áreas das ciências

naturais

Processo de germinação

Plantação da planta do feijão na

horta

Receitas de culinária

Leitura da história João

e o pé de feijão

Dramatização da

história João e o pé de

feijão

Técnica de esponjar

Legenda:

Conhecimento do Mundo

Matemática

Linguagem Oral e Abordagem à escrita

Expressões (plástica, dramática e motora)