mestres fundadores da sociologia

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  • 8/18/2019 Mestres Fundadores Da Sociologia

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    Mestres fundadores da sociologia: Marx, Weber eDurkheim - Paulo Roberto de Almeida

     Antes de me especializar em relações internacionais e política externa do Brasil, eu era professor

    de Sociologia Política (no Instituto Rio Branco, a academia diplomática do Itamarat, e nomestrado em Sociologia da !nB", tendo produzido alguns textos nunca pu#licados, como o $uesegue a$ui a#aixo, datado de % de maio de &'')Paulo Ro#erto de Almeida

    SOCIOLOGIA Origens, contexto histórico, político e social

    Mestres fundadores: Marx, Weer e !ur"hei#

    Su#$rio:*) +rigens da disciplina contexto -ist.rico, político e social de seu surgimento&) !m reformista social Auguste /omte0) !m reformista radical com ares de re1olucionário 2arl 3arx

    ) !m pensador sistemático 4e#er5) !m funcionalista prático 6ur7-eim8) A sociologia no Brasil os mestres da escola paulistaBi#liografia

    %& Origens da disciplina: contexto histórico, político e social de seu surgi#ento

      /omo 1árias outras disciplinas modernas das ci9ncias sociais aplicadas (economia,

    política, direito positi1o, por exemplo", a sociologia nasce no contexto da re1oluç:o industrial na

    ;uropa ocidental, $uando a reflex:o so#re as organizações -umanas, inclusi1e num sentido

    comparati1o entre as sociedades ci1ilizadas < em contraposiç:o = comparaç:o entre estas e as

    sociedades ditas primiti1as, $ue redundará na antropologia ide.logos?, como foram c-amados alguns deles, na passagem doIluminismo para a sociedade capitalista, mo1imento aliás coincidente com a Re1oluç:o

    francesa) Alguns desses pensadores iluministas < entre eles Rousseau e /ondorcet, por exemplo

    < colocam as #ases de um discurso n:o mais simplesmente filos.fico, ou apenas -ist.rico, mas

    de natureza $uase sociográfica so#re as formas de organizaç:o social e as instituições criadas

    pelos -omens para regular as relações entre eles) + contratualismo ingl9s ou o de Rousseau, o

    progresso das luzes na 1is:o desses ide.logos da sociedade ci1il e a e1oluç:o dos meios materiais

    (tecnologia", assim como as funções do ;stado e os modos pelos $uais os -omens entram em

    relações de tra#al-o ou se organizam politicamente constituem alguns dos di1ersos elementos

    conceituais $ue integrar:o, @á no sculo I, essa no1a disciplina $ue seria #atizada pelo

    pensador franc9s Augusto /omte de >sociologia?)  Antes dele, alguns >estatísticos? tin-am começado a coletar dados so#re a 1ida dos

    -omens em sociedade nascimento, morte, tra#al-o, criminalidade, ocupações profissionais etc)

    +utros, preocupados com a amplitude do sofrimento -umano < naturalmente existente ou

    pro1ocado pelos pr.prios -omens < e as desigualdades existentes (algumas aprofundados nessa

    mesma poca", se dedicaram a preconizar grandes pro@etos de reforma das sociedades

    tradicionais, ou em transiç:o para o sistema fa#ril capitalista, em funç:o de pro@etos algo

    ut.picos $ue tam#m se situam nas origens das doutrinas socialistas) ;ntre estes se destaca o

    aristocrata franc9s SaintCSimon $ue, com #ase nesse tipo de 1alor ideal, passa a in1estigar as

    causas da organizaç:o social de sua poca, com 1istas a preconizar mel-orias graduais no

    funcionamento da sociedade)

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    6esse tronco deri1am as diferentes doutrinas socialistas e, no plano do mtodo, as formas de

    interpretar os pro#lemas sociais e e1entuais formas de superáClos)

      ;ssa uma era das re1oluções, como intitulou ;ric Do#s#aEm seu estudo de -ist.ria

    co#rindo essa passagem da antiga sociedade aristocrática e a#solutista para uma outra na $ual

    mais classes passam a ter acesso ao sistema político, em primeiro lugar a #urguesia, mais

    adiante o proletariado) 3as, segundo ele mesmo, a era re1olucionária deu lugar = era do capital,

    t:o #em estudada por 2arl 3arx e seus discípulos, $ue faziam sociologia ainda $ue n:o de forma

    deli#erada ou sistemática) !m desses seguidores, Der#ert 3arcuse, @á no sculo , considerou

    $ue o surgimento da teoria social se faz so# o signo da negati1idade, isto , o fato de tentar

    superar o con@unto de contradições sociais negando o con@unto de relações sociais existentes em

    fa1or de formas superiores de organizaç:o social, o $ue re1ela a contri#uiç:o do -egelianismo

    para a configuraç:o doutrinal dessa disciplina)

      !ma análise mais sistemática desses pro#lemas sociais será proposta tanto por

    pensadores franceses, como o @á citado /omte, como ingleses, entre os $uais se destaca Der#ert

    Spencer, adepto do e1olucionismo e da seleç:o natural = la 6arEin) F nessa poca $ue a

    sociologia deixa de lado os aspectos morais e filos.ficos para penetrar em um campo mais

    >científico?, com estudos $uantitati1os so#re as sociedades -umanas) 3as a influ9ncia da

    >#iologia social? so#re essa disciplina ainda muito forte, pois a sociedade pensada como um

    corpo orgGnico, cu@os >mem#ros? (os -omens" precisam cumprir certas funções para o maior

     #enefício do todo) A intenç:o seria o de construir a >paz social?, algo 1iolentamente negado por

    3arx e seus seguidores, $ue 19em no princípio da luta de classes o motor da -ist.ria)

    Hessa tradiç:o, a sociologia aparece de fato como a ci9ncia da luta de classes, mas os

    psic.logos sociais, so#retudo franceses (como usta1e Je Bon", #uscam corrigir essa 1is:o pela

    análise dos comportamentos -umanos e das formas de socia#ilidade) A fus:o desses diferentes

    ramos das ci9ncias sociais, inclusi1e o da -ist.ria e o da economia, irá resultar numa das mais

    importantes o#ras @á efetuados so#re o pensamento e o mtodo da sociologia a do pensador

    alem:o 3ax 4e#er) Kindo da tradiç:o da escola -ist.rica alem:, mas tam#m influenciado pelo

    marxismo ($ue ele procurará contestar", 4e#er deixa um importante legado $ue será

    recuperado por praticamente todos os sociol.gos do sculo ,a começar pelos funcionalistas e

    pelos comparatistas) /om 4e#er a sociologia emerge, realmente, como disciplina completa e

    dotada de mtodos rigorosos, para ser1ir, n:o mais uma causa política < reformista ou

    re1olucionária, como tin-a sido o caso at ent:o < mas um o#@eti1o de análise científica da

    sociedade)

    '& (# refor#ista social: Auguste Co#te

      Auguste /omte se 1angloria1a de ter li#ertado a análise da sociedade de suas origens

    filos.ficas, dandoCl-e status de ci9ncia, ou de >filosofia positi1a?, como ele preferia dizer) ;le 19

    essa passagem da religi:o para a metafísica e daí para a ci9ncia positi1a como um mo1imento

    ascensional, em direç:o de mais ordem e mais progresso para o -omem em sociedade) ;le

    tam#m um reformista social, mas pretende $ue seu tra#al-o corresponde = 1erdadeira

    ess9ncia da sociedade moderna, enfim li#erta das n1oas do misticismo feudal e da metafísica

    dos antigos)

      /omte era um 1erdadeiro continuador de SaintCSimon, pois $ue tam#m 1ia na

    tecnocracia e na re1oluç:o industrial os sinais precursores de uma no1a sociedade) ;le foi, aliás,

    o in1entor da pala1ra >sociologie?, $ue ele descre1ia como o estudo científico da sociedade) ;m

    sua poca, esta1am na moda os estudos administrati1os, as >en$u9tes? sociais, so#re as doenças

    -umanas, as causas da mortalidade, a 1ida dos tra#al-adores, as raizes da criminalidade e

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    muitos outros pro#lemas >sociais?, $ue eram medidos, comparados, colocados em progress:o)

    Segundo Ramond Aron ( Etapas do Pensamento Sociológico", no entanto, estatísticos e

    >in1estigadores sociais? como Luetelet e Je Pla fizeram mais pelos progressos práticos da

    sociologia do $ue as elocu#rações algo >metafísicas? de /omte) ;le pr.prio fazia pouco uso

    dessas no1os mtodos de in1estigaç:o social, preferindo fundar a sua doutrina com roupagens

    prescriti1as, mais at do $ue simplesmente interpretati1as) ;m outros termos, /omte pretendia

    estar no centro n:o apenas de uma no1a maneira de interpretar a sociedade, como igualmente

    de transformáCla em seus pr.prios fundamentos)

      A despeito de seus esforços < $ue no final de seus dias mais pareciam aos do fundador de

    uma no1a religi:o do $ue de uma no1a ci9ncia < /omte n:o fez muitos discípulos, a n:o ser na

    pr.pria Mrança e em alguns países latinos, entre os $uais o Brasil) + mo1imento repu#licano

     #rasileiro, em suas 1árias 1ertentes, mas so#retudo no castil-ismo gaNc-o, -erdou 1árias lições

    do pai fundador da sociologia, a começar pelo #inOmio $ue foi entronizado na no1a #andeira,

    >ordem e progresso?)

    )& (# refor#ista radical co# ares de re*olucion$rio: +arl Marx

      al1ez 3arx n:o ti1esse plena consci9ncia de >fazer sociologia?, mas toda sua o#ra, ainda

    na interpretaç:o de 1ários mestres, como Ramond Aron, #asicamente uma sociologia

    con1ertida em princípio dinGmico da -ist.ria) ApoiandoCse na tradiç:o filos.fica alem:

    < so#retudo na dialtica de Degel < e nos -istoriadores franceses, 3arx conce#ia a -ist.ria em

    termos de luta de classes e de re1oluç:o) Para 3arx, as lutas de classes eram o 1erdadeiro

    >motor da -ist.ria?, como ele escre1eu nos primeiros textos filos.ficos e no  Manifesto do

     Partido Comunista, em cola#oraç:o com seu amigo de toda a 1ida, Mriedric- ;ngels)

      3arx, entretanto, su#ordina a política, isto , a luta pela tomada do poder, = economia, @á

    $ue ele atri#uía as lutas de classes = situaç:o de dominaç:o pro1ocada pelas forças econOmicas

    predominantes na sociedade) A política seria uma espcie de superestrutura @urídica, ao passo

    $ue a infraCestrutura material era formada pelas forças materiais, das $uais as mais importantes

    eram as forças produti1as, isto , econOmicas) Segundo o progresso destas, ocorria uma

    mudança nas relações de produç:o, ou se@a, entre os principais agentes econOmicos dominantes

    em casa poca (sen-or e escra1o, sen-or feudal e ser1o, #urgueses e proletários") ;m certos

    trec-os de sua o#ra, o ;stado moderno aparece como um mero ap9ndice do capital, em outros

    textos pode existir uma certa independ9ncia do político (como na análise do #onapartismo")

      oda a o#ra de 3arx está fortemente impregnada de filosofia da -ist.ria e de sociologia,

    mesmo se n:o de forma explícita) ;m todo caso, todo o aparel-o conceitual da sociologia

    contemporGnea @á está presente na o#ra de 3arx e nela tem raízes indisfarçá1eis) Hoções como

    aparel-o de ;stado, luta de classes, dominaç:o política, exploraç:o econOmica, infraC e

    superestrutura e muitas outras, for@adas ou transformadas por 3arx, fazem parte do

    instrumental analítico da sociologia contemporGnea e foram consagradas at no 1oca#ulário

     @ornalístico) 3ais at do $ue no tra#al-o propriamente intelectual, noções como as de

    >re1oluç:o? e de >luta de classes? penetraram nos mo1imentos sociais, sindicais e políticos e

    marcaram profundamente o caráter de nossa poca, pelo menos at uma data relati1amente

    recente) 3esmo o tra#al-o de soci.logos n:o comprometidos com a c-amada >ruptura? com a

    sociedade de classes, como podem ter sido as ati1idades didáticas e de escritores como 3ax

     4e#er e Ramond Aron, foi profundamente marcado pelas propostas políticas e pelos sistemas

    interpretati1os oferecidos por 3arx ao longo de sua o#ra) ;sses autores, entre muitos outros,

    construiram suas o#ras respecti1as num diálogo = distGncia, e at num certo confronto, tal1ez

    in1oluntário, com a som#ra gigantesca de 3arx)

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      ;sse recon-ecimento pN#lico em torno da grandiosidade da o#ra de 3arx n:o sem

     @ustificati1a, por mais $ue se possa fazer críticas < $ue foram feitas at em sua poca, por

    economistas como Qo-n Stuart 3ill e, pouco depois, por Kilfredo Pareto < =s colocações

    marxistas a respeito do poder político, da 1iol9ncia como >parteira da -ist.ria?, da necessária

    superaç:o do poder #urgu9s pela ditadura do proletariado e de outras propostas desse mesmo

    teor) Moi 3arx $uem pretendeu >re1olucionar? < stricto et lato sensi  < o mundo #urgu9s de sua

    poca, fundando um outro tipo de sociedade $ue de1eria terminar por a#olir o ;stado e toda

    dominaç:o de classe) Idia certamente generosa, e idealista, essa, $ue no entanto se c-ocou com

    toda a realidade da dominaç:o pura e simples) Antes de ser de classe, o poder simplesmente

    poder, dos mais capazes, dos mais fortes, ou dos mais preparados a exerc9Clo, sendo $ue o poder

    de classe te1e muito poucas manifestações concretas na -ist.ria) ;sse idealismo marxista, de

    aspirar a uma redenç:o da dominaç:o política atra1s de uma classe pretendidamente uni1ersal,

    $ue de1eria ser o proletiariado, re1ela o $uanto de -egelianismo 3arx ainda conser1ou na

    ela#oraç:o de sua interpretaç:o sociol.gica da -ist.ria, como re1elado na excelente análise da

    tradiç:o inaugurada por ele feita por Der#ert 3arcuse (em Razão e Revolução")

      Hesse sentido, a re1oluç:o assume na o#ra de 3arx um caráter $uase mítico, tal1ez

    messiGnico e prometico a redenç:o da -umanidade se faria pela ruptura re1olucionária,

    protagonizada pela classe oprimida) ;sse culto esttico das re1oluções seria recuperado por

    discípulos $ue 1i1iam em situações de autoritarismo radical, ou de autocracia direta, como

    ocorreu no caso da RNssia) 3as @á n:o foi seguido pelos líderes operários reformistas da ;uropa

    ocidental, $ue n:o 1iam muitas 1antagens na luta re1olucionária, preferindo o reformismo

    gradual)

      A #em da 1erdade, $uando se examinam alguns textos de 3arx e sua pr.pria aç:o no

    mo1imento operário de sua poca, podeCse constatar $ue ele foi mais reformista do $ue

    re1olucionário, aconsel-ando os operários a lutarem por con$uistas graduais $ue mel-orassem

    sua 1ida cotidiana, at $ue as >condições o#@eti1as? < a contradiç:o entre as >forças produti1as?

    capitalistas e as >relações de produç:o? do sistema fa#ril, $uase coleti1o < pudessem oferecer

    uma c-ance real de passagem de um sistema social a outro) Qá no pr.prio  Manifesto, ele

    recomenda uma srie de dez reformas parciais tocando o tra#al-o, a educaç:o, a reforma agrária

    e os tri#utos, ao passo $ue na >crítica ao Programa de ot-a? (do partido socialCdemocrata

    alem:o" ele recomenda a acumulaç:o de forças antes do enfrentamento final com a #urguesia)

    3esmo no auge das >lutas de classe? da /omuna de Paris, em **, 3arx n:o entretem muitas

    ilusões $uanto = possi#ilidade de um 1erdadeiro poder operário na aus9ncia da$uelas condições

    o#@eti1as $ue sua análise econOmica pretendeu >demonstrar?)

      !m outro aspecto foi mais importante tanto na o#ra de 3arx como no destino ulterior do

    mo1imento socialista $ue ele a@udou a fundar a recusa do mercado como elemento mediador

    das relações sociais e das pr.prias realidades econOmicas) 3arx tin-a uma concepç:o

    extremamente negati1a a respeito do mercado, terreno no $ual ele 1ia a predominGncia dos mais

    fortes e a espoliaç:o dos mais fracos) ;sse tipo de reaç:o foi pro1a1elmente despertada pela sua

    análise < $ue está presente em seus primeiros escritos e na sua o#ra máxima, O Capital  < do

    fenOmeno do fec-amento das terras pN#licas aos camponeses po#res, o $ue fez surgir a grande

    propriedade de um lado e a m:oCdeCo#ra disponí1el para o sistema manufatureiro de outro)

    ;ssa 1is:o se prolongou na análise do sistema fa#ril, para a $ual contri#uiu seu amigo ;ngels,

    ele mesmo dono ou administrador de fá#ricas de tecidos na Inglaterrra o mercado o terreno

    pri1ilegiado da exploraç:o do proletariado, da despossess:o mais completa da$ueles $ue s.

    tin-am sua força de tra#al-o para 1ender e por isso se tornam dependentes, escra1os modernos,

    do grande capital)

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      ;sse tipo de preconceito contra o mercado iria influenciar poderosamente o pensamento

    de discípulos marxistas, e at a prática da$ueles $ue primeiro c-egaram ao poder os

     #olc-e1i$ues russos) Sua recusa radical do mercado conduziu, pro1a1elmente, o socialismo para

    camin-os in1iá1eis e insustentá1eis, como pode ser pro1ado, a posteriori, pela experi9ncia

    c-inesa de modernizaç:o, $ue pretende com#inar a >ditadura do proletariado? (na 1erdade do

    partido Nnico" com um regime de mercado $ue assegure um mínimo de eficácia ao sistema

    produti1o)

      + $ue restou do pensamento marxista, ademais dessa enorme contri#uiç:o = sociologia

    contemporGnea, foi essa 1is:o -umanista da >li#ertaç:o do -omem? das agruras da exploraç:o

    capitalista e da dominaç:o política de classe (feudal, em alguns casos, #urguesa em outros") Lue

    ele ten-a se e$ui1ocado em 1árias predições < como a da crescente polarizaç:o social na

    sociedade capitalista e o aprofundamento da misria operária < n:o eliminou o atrati1o de seu

    pensamento para uma classe específica de >tra#al-adores? os intelectuais, ou seus modernos

    representantes, os acad9micos e uni1ersitários) Ramond Aron, por exemplo, passou grande

    parte de sua 1ida nesse >diálogo? com os intelectuais marxistas < a começar por QeanCPaul

    Sartre < e nunca deixou de criticar suas ilusões romGnticas, mas com muito pouca eficácia, digaC

    se de passagem, en$uanto o socialismo persistiu en$uanto sistema social alternati1o)

    & (# pensador siste#$tico: Weer

      3ax 4e#er começou sua carreira pelo estudo e a prática do direito, no final do sculo

    I, mas logo en1eredou pela filosofia da -ist.ria e pelo estudo comparado das religiões) Sua

    tese de doutoramento foi so#re a -ist.ria das compan-ias de comrcio da Idade 3dia, o $ue o

    fez de#ruçarCse nas inNmeras conexões entre -ist.ria econOmica e direito) Jogo em segudo, sua

    -a#ilitaç:o se deu numa tese so#re as instituições agrárias da antiguidade, o $ue despertou a

    admiraç:o do grande -istoriador alem:o dessa poca, -eodor 3ommsen (introduç:o de Dans

    ert- e /) 4rig-t 3ills aos Ensaios de Sociologia, de 3ax 4e#er")

      4e#er te1e uma carreira essencialmente acad9mica, entrecortada por pro#lemas

    psí$uicos e muitas 1iagens fora da Aleman-a, mas a partir do início do sculo ele dá início a

    uma produç:o sistemática de estudo comparado das religiões e so#re a estrutura da sociedade

    capitalista, $ue ele examinou tanto pelo lado da racionalidade econOmica como pela 1ertente da

    administraç:o #urocrática) Ainda $ue admirador do sistema político alem:o e da sua efici9ncia

    econOmica, ele tam#m colocou seu país em contraste com a Amrica democrática, concluindo

    pelo #om desempen-o das associações li1res entre os -omens e o 1igor da ino1aç:o tcnica

    numa sociedade a#erta) ;le colocou essas situações em contraste com os pro#lemas da

    sociedade russa, con1ulsionada por re1oluções e incapaz de se reformar)

      Sua 1iagem aos ;stados !nidos permitiuCl-e recol-er material suplementar para seu

    estudo @á iniciado so#re a influ9ncia do fator religioso na e1oluç:o da sociedade, o $ue resultou

    em sua o#ra mais con-ecida A Ética Protestante e o Esprito do Capitalismo) 3uita pol9mica se

    deu em torno das principais teses dessa o#ra, $ue no entanto n:o era apresentada por 4e#er

    como indicati1a de uma correlaç:o causal entre o protestantismo e o capitalismo, mas t:o

    somente como re1eladora de certas afinidades eleti1as entre certos comportamentos religiosos,

    presentes em algumas seitas protestantes, e formas de organizaç:o social $ue tendiam a

    fa1orecer o referido espírito capitalista (frugalidade, predestinaç:o, n:o re@eiç:o do sucesso

    material, n:o a1ers:o ao lucro, como na tradiç:o cat.lica, mas tam#m a separaç:o dos assuntos

    religiosos da conduç:o do ;stado")

      Participando ati1amente dos tra#al-os de uma associaç:o de ci9ncias sociais, a partir de

    *%', 4e#er estimulou os estudos sistemáticos so#re grupos sociais, desde ligas esporti1as, a

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    seitas religiosas e partidos políticos) 6atam desta poca seus estudos $ue depois (creio $ue

    postumamente" seriam reunidos no 1olume Economia e Sociedade) rataCse, pro1a1elmente de

    sua o#ra mais importante, do ponto de 1ista da sociologia, muito em#ora ele ten-a ela#orado,

    igualmente, tra#al-os so#re a metodologia das ci9ncias sociais $ue ainda -o@e possuem 1alidade

    para uma reflex:o so#re o estatuto da sociologia no con@unto das disciplinas científicas) Moi nas

    di1ersas partes de Economia e Sociedade $ue 4e#er aprofundou sua análise sistemática do

    poder e da #urocracia, assim como so#re esses instrumentos analíticos $ue foram por ele

    c-amados de >tiposCideais?, isto , estruturas ar$uetípicas de um determinado fenOmeno social

    $ue recol-e elementos da realidade em suas definições mais generalizantes e puramente

    a#stratas)

      Ainda $ue expressos de maneira a#strata, os tiposCideais poderiam referirCse a elementos

    -ist.ricos concretos e particulares, como por exemplo a racionalidade ocidental (em oposiç:o a

     1alores das ci1ilizações do +riente", ou a cidadeC;stado moderna, ou ainda o pr.prio

    capitalismo, tal como ele se desen1ol1eu na ;uropa ocidental e foi transplantado para a

     Amrica) 3ais rele1ante ainda, e at -o@e usados na ci9ncia política, sua designaç:o dos tiposC

    ideais de dominaç:o política, como sendo de natureza carismática, tradicional ou racional) S:o

    refer9ncias importantes na literatura sociol.gica contemporGnea, ainda $ue poucos autores se

    dedi$uem a ino1ar a partir desses conceitos, preferindo usáClos como tr9s tipos opostos ou

    excludentes (em alguns casos sucessi1os" de dominaç:o política, $uando eles poderiam tal1ez

    ser com#inados para explicar toda a complexidade das sociedades concretas)

     4e#er possui muitos outros escritos, de natureza política, de reflex:o so#re a prática da

    política, assim como so#re os regimes políticos contemporGneos na Aleman-a e na RNssia, mas

    seu legado principal de1e ser considerado essencialmente como um pensador da teoria

    sociol.gica em suas formulações analíticas < por ele designada como Kerte-en, ou compreens:o

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    encontrados no ;stado moderno, isto , a racionalidade das estruturas #urocráticas de $ual$uer

    go1erno moderno e dos sistemas de administraç:o das grandes empresas) +nde 3arx 19 luta de

    classes para a superaç:o do capitalismo, 4e#er 19 a crescente afirmaç:o da #urocracia racional,

    ao ponto de constituir uma 1erdadeira >gaiola de ferro? #urocrática, $ue aprisiona atores

    pri1ados e agentes pN#licos numa teia de relações sociais $ue n:o tem nada da$uele caráter de

    oposiç:o política irredutí1el idealizada e tam#m dese@ada por 3arx) ;m lugar da ditadura do

    proletariado, 4e#er 1ia uma perigosa ditadura do funcionário pN#lico se aproximando) ;le n:o

    deixa1a, contudo, de recon-ecer a racionalidade e a efici9ncia desse tipo de dominaç:o)

      !m pensador #rasileiro, Qos uil-erme 3er$uior, ino1ou nesse particular, propondo em

    seu li1ro Rousseau and !e"er# t$o studies in t%e t%eor& of legitimac&  (n:o traduzido ou

    pu#licado no Brasil, ao $ue sai#a" uma -ip.tese da dominaç:o carismáticoCracional, $ue seria

    representada pelo tipo de dominaç:o exercida pelo Partido /omunista da exC!ni:o So1itica)

    H:o con-eço, entretanto, outras formulações #rasileiras retiradas de 4e#er, em relaç:o, por

    exemplo, ao exercício populista de poder no Brasil, $ue com#ina elementos tradicionais e

    carismáticos de dominaç:o)

     

    -& (# funcionalista pr$tico: !ur"hei#

      Fmile 6ur7-eim o primeiro grande soci.logo sistemático do sculo , tendo

    formulado as #ases da análise social com um rigor pr.ximo do >cientismo?, ent:o em 1igor na

    academia) Seu pe$ueno e con-ecido li1ro, As Regras do M'todo Sociológico, permaneceu, e

    tal1ez ainda permaneça, como uma das leituras o#rigat.rias de todos os cursos de ci9ncias

    sociais no Brasil e em muitos outros países) 3as ele começou sua carreira acad9mica com uma

    tese de doutoramento $ue está na #ase da reflex:o so#re a 1ida em sociedade A (ivisão Social 

    do )ra"al%o)

    ;le re@eita1a as explicações de tipo indi1idual ou psicol.gico para expor um fenOmeno #ásico da

     1ida em sociedade, $ue a da crescente integraç:o entre os atores sociais, a despeito mesmo do

    declínio dos 1alores religiosos e dos laços de solidariedade (típicos das comunidades menores")

     A di1is:o social do tra#al-o, no entanto, n:o apenas encontrada nas sociedades complexas ela

     @á existe nas sociedades primiti1as, mas assume a$ui a forma de di1is:o sexual do tra#al-o) 3as

    na sociedade moderna, com seu regime fa#ril, $ue a di1is:o se aperfeiçoa em alto grau, com

     #ase na especializaç:o profissional) 6ur7-eim n:o deixa de traçar um paralelo entre essa

    e1oluç:o e a diferenciaç:o nos organismos, para formas cada 1ez mais complexas) Has

    sociedades, ele 19 a passagem da solidariedade mec:nica, típica dos estágios mais elementares

    da 1ida em sociedade, para a solidariedade orgGnica, mais estruturada e denotando formas

    superiores de coes:o social)

    ;sse tipo de análise reencontrada no estudo de 6ur7-eim so#re o suicídio, $ue explora

    os casos patol.gicos de anomia, mas ele ainda a$ui tende a enfatizar mais a aç:o dos fatores

    sociais do $ue psisol.gicos na determinaç:o dos casos de suicídio) ;le c-ega a determinar tr9s

    tipos de suicídio egoista, altruista e anOmico, sendo $ue as taxas relati1as dependem da idade e

    do sexo e 1ariam conforme as religiões (ele encontrou uma maior incid9ncia nos indi1íduos

    protestantes do $ue nos cat.licos")

      Sua outra grande o#ra, As *ormas Elementares da +ida Religiosa, n:o necessariamente

    se ocupa da antropologia das religiões primiti1as, mas sim < de acordo com o princípio @á

    esta#elecido nas Regras do M'todo Sociológico, de $ue os fatos sociais de1em ser considerados

    como >coisas? < das formas mais elementares do culto religioso, $ue ele exemplifica pelo

    totemismo (ele seleciona como estudo de caso o totemismo australiano") As principais

    categorias utilizadas por ele nessa análise s:o as de sagrado e profano, $ue ele recupera de

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    Mustel de /oulanges) /omo na análise da di1is:o social do tra#al-o, o $ue está em causa mais o

    coleti1o social, do $ue o indi1íduo no plano psicol.gico (1er Ant-on iddens, Capitalismo e

     Moderna )eoria Social , p) *85")

      A o#ra de 6ur7-eim continuou a marcar e a influenciar as teorias sociol.gicas modernas,

    tal1ez mais pelo lado do mtodo do $ue pela 1ertente de suas interpretações, $ue podem ter sido

    influenciadas pela poca, com sua forte 9nfase na organicidade, na anomia e na patologia e nos

    princípios morais e 1alores religiosos)

    .& A sociologia no /rasil: os #estres da escola paulista

      A formaç:o da sociologia no Brasil tam#m este1e fortemente impregnada de cientismo e

    de organicismo, como enfatizado, por exemplo, na o#ra de Sil1io Romero (um racista confesso,

    mas conforme aos padrões da poca" e de ;uclides da /un-a, este um dos primeiros autores a

    propor uma interpretaç:o social, psicol.gica e moral ao grande pro#lema $ue ele examinou

    como >espectador participante? o conflito de /anudos, $ue ele explica pelo primiti1ismo

    religioso de populações despro1idas de $ual$uer sentimento moral mais ele1ado, mas no $ual

    tam#m 19 as raízes sociais de um drama maior, $ue poderia ser traduzido em termos de

    >anomia dur7-eimniana? (mas ;uclides n:o faz esse tipo de análise")

      + grande denunciador desse tipo de interpretaç:o pretendidamente científica da

    realidade #rasileira, mas $ue se encontra1a ei1ada de racismo >científico?, será 3anoel Bonfim,

    $ue nas primeiras tr9s dcadas do sculo realiza um o#ra de interpretaç:o -ist.rica e

    sociol.gica so#re a formaç:o da nacionalidade #rasileira (e latinoCamericana" $ue infelizmente

    passou desperce#ida durante e no imediato seguimento de sua ati1idade pN#lica (ainda assim,

    um contemporGneo n:o deixa1a de registrar >a grande o#ra de sociologia #rasileira de 3anoel

    BonfimT?U 1er Bonfim, O ,rasil -ação, p) 0'") Hessa poca, em especial nos anos *%&',

    esta1am em 1oga análises relati1amente pessimistas da formaç:o e do >caráter? do #rasileiro,

    como exemplificado na o#ra de Paulo Prado, por exemplo)

      +s grandes eixos de interpretaç:o do Brasil moderno seriam dados pelas o#ras de um

    antrop.logo, il#erto Mrere, um #ac-arel em direito con1ertido em -istoriador autoCdidata,

    /aio Prado QNnior, e um -istoriador, Srgio Buar$ue de Dolanda) ;m#ora de $ualidade e escopo

    muito diferentes, Casa .rande e Senzala, Evolução Poltica do ,rasil  (am#os de *%00" e Razes

    do ,rasil  (de *%08" constituem marcos fundadores de uma ci9ncia social fundada na pes$uisa

    de fontes e na interpretaç:o dos grandes mo1imentos sociais, -umanos, econOmicos e políticos

    $ue esti1eram na origem da formaç:o da nacionalidade, e n:o mais como simples extrapolações

    da realidade #rasileira a partir de modelos analíticos extraídos de uma outra realidade)

      Moi precisamente nos anos *%0' $ue a disciplina >sociologia? introduzida nos currículos

    dos cursos preparat.rios para o ingresso no ciclo superior de estudos e tam#m nessa poca

    (*%00" $ue surge a ;scola Paulista de Sociologia, seguida um ano depois pela Maculdade de

    Milosofia, /i9ncias e Jetras da !ni1ersidade de S:o Paulo (+rac Hogueira, >A Sociologia no

    Brasil?, p) *%0") Hesta Nltima, o grande introdutor de 6ur7-eim para os alunos #rasileiros foi

    Mernando de Aze1edo, muito em#ora 1ários mestres franceses ten-am se sucedido nas matrias

    de ci9ncias sociais (antropologia e sociologia", como Paulo Ar#ousse Bastide, Roger Bastide,

    /laude J1CStrauss, e tam#m Mernand Braudel (este na -ist.ria") Ho Rio de Qaneiro atuou

     Anísio eixeira e o franc9s Qac$ues Jam#ert)

      As primeiras turmas de formandos esti1eram na origem de uma concepç:o propriamente

     #rasileira de ci9ncia social, sendo de se distinguir paulistas como Mlorestan Mernandes, Antonio

    /Gndido de 3ello e Souza e 6ante 3oreira Jeite (entre muitos outros", ao passo $ue no Rio de

    Qaneiro se forma1am Al#erto uerreiro Ramos e Juiz de Aguiar /osta Pinto (Hogueira, op) cit),

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    p) *%") A partir dos anos 0', e so#retudo nas duas dcadas seguintes se forma uma 1erdadeira

    comunidade de soci.logos no Brasil, com importantes estudos conduzidos pelos discípulos dos

    primeiros mestres $ue marcariam o pensamento social #rasileiro (so#retudo no estudo das

    raças e sua >integraç:o = sociedade de classes?, para seguir o título de uma das o#ras do grande

    mestre Mlorestan Mernandes") 6entre esses discípulos podem ser citados 3aria Isaura Pereira de

    Lueir.s, 6uglas eixeira 3onteiro, +cta1io Ianni (recentemente falecido", Mernando Denri$ue

    /ardoso, Mrancisco 4effort, Quarez Ru#ens Brand:o Jopes, 3arialice 3encarini Morac-i

    (falecida -á muitos anos", a#riel /o-n e muitos outros)/iliografia AR+H, Ramond  /es Étapes de la Pens'e Sociologi0ue (Paris allimard, *%'"U consultadana ediç:o americana Main Currents in Sociological )%oug%t  (HeE Vor7 Penguin Boo7s, *%8,& 1osl"

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    3AR, 2arl Oeuvres4 Economie 3 et 33 (Paris allimard *%8 et *%8%"3;RL!I+R, Q)) Rousseau and !e"er# t$o studies in t%e t%eor& of legitimac& (Jondon Routledge

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     4rig-t 3ills"