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  • Congresso Internacional de Gastronomia Mesa Tendncias 2013 Senac So Paulo |05 a 07 de Novembro de 2013|

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    Congresso Internacional de Gastronomia Mesa Tendncias 2013

    Anais do Congresso Internacional de Gastronomia Mesa

    Tendncias 2013 / Centro Universitrio Senac So Paulo, 05, 06 e

    07 de Novembro de 2013.

    ISSN: 2179-4766

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    CENTRO UNIVERSITRIO SENAC

    Reitor Sidney Zaganin Latorre

    DIRETORIA DE GRADUAO

    Diretor Eduardo Mazzaferro Ehlers

    DIRETORIA DE PS-GRADUAO, EXTENSO e EAD

    Diretor Daniel Garcia Crrea

    COORDENAO DE EVENTOS

    Coordenadora Isabella Limes Lopes Cancado

    COORDENAO INSTITUCIONAL DE PESQUISA

    Coordenadora Luciana Mara Ribeiro Marino

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    SECRETARIA DO MESA TENDNCIAS 2013

    Karina Aparecida Krasauskas

    COMIT CIENTFICO INTERNO

    Prof. M. Ana Marta de Brito Borges Avels de Araujo

    Prof. Ingrid Schmidt-Hebbel Martens

    Prof. Irene Coutinho de Macedo Silva

    Prof. Marcelo Traldi Fonseca

    Prof. Dr. Mnica Bueno Leme

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    SUMRIO

    O sistema culinrio da mandioca na iconografia etnogrfica de Hercule Florence ______ 7

    A gastronomia do cerrado goiano enquanto atrativo turstico-cultural ______________ 13

    A Galinha de Cabidela entre a Sade Pblica e a Tradio Culinria: avaliao dos

    aspectos higinico-sanitrios que colocam em risco a sua continuidade. ____________ 21

    O doce brasileiro como identidade cultural ___________________________________ 27

    A Miscigenao na Gastronomia do Brasil ___________________________________ 41

    Reconstituio de Receitas Italianas Renascentistas Inspiradas em Scappi. _________ 51

    Percepo de estudantes da rea da alimentao na escolha de um restaurante _____ 61

    A Gastronomia Brasileira como universo temtico do Projeto Integrador 2: Estratgia

    pedaggica que auxilia o processo de aprendizagem e fortalece a identidade alimentar 78

    Alimentao no mundo contemporneo: o paradoxo da fome e da abundncia ______ 87

    A contribuio do modernismo para o discurso de formao da culinria brasileira. ___ 94

    Avaliao sensorial de bombom elaborado com chocolate, pinho e quento _______ 100

    Almoo do Crio de Nazar O banquete amaznico __________________________ 108

    Anlise sensorial do brownie: tradio versus contemporaneidade _______________ 115

    Patrimnio cultural londrinense e as referncias de memria gastronmica em uma

    cidade de formao recente _____________________________________________ 124

    Restaurantes Regionais como propulsores da Gastronomia local em Manaus _______ 129

    A Imigrao Italiana no Brasil e a herana alimentar: smbolo de preservao da cultura

    nativa ______________________________________________________________ 140

    Tacos de milho de um clssico: frango com quiabo ___________________________ 148

    Food Design em Gastronomia: a Evoluo de uma idia _______________________ 162

    Hospitalidade no Restaurante Madalosso: comensalidade e sociabilidade __________ 174

    Dinner parties e celebraes de Caras: Quando a refeio ajuda a conquistar e manter o status social ________________________________________________________ 187

    Restaurantes: Da origem na Frana So Paulo - Transformaes de acordo com a

    sociedade ___________________________________________________________ 199

    Histria do Mercado Municipal da Cantareira ________________________________ 213

    A hospitalidade para com os vegetarianos nos restaurantes no vegetarianos ______ 219

    Os Mercados Pblicos e a Gastronomia local: Propostas para o Mercado 18 de Agosto, em

    Garanhuns-PE, ser utilizado como um espao gastronmico, opo de lazer e atrativo

    turstico da cidade ____________________________________________________ 224

    Cervejas catarinenses: sabores, cultura e histria ____________________________ 238

    O Cauim como marcador social feminino indgena no sculo XVI e XVII ___________ 247

    Produo de cerveja caseira um relato de experincia na engenharia ambiental ____ 253

    A Harmonizao de Bebidas dos Pratos Brasileiros da regio vitivinicultora do Rio Grande

    do Sul: um olhar sobre os Vinhos Finos do Brasil _____________________________ 263

    Aceitabilidade sensorial de po francs enriquecido de fibras e com reduo de sdio e

    melhorador __________________________________________________________ 273

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    Instrumento de educao nutricional para amenizar os sintomas causados pelos

    tratamentos do cncer de cabea e pescoo ________________________________ 279

    O Serto e suas influncias no fenmeno do cangao _________________________ 283

    Harmonizao de culinria brasileira com vinhos de VALPOLICELLA VINICOLA SPERI (VNETO - ITLIA) ____________________________________________________ 286

    Tcnicas Gastronmicas para pacientes com Insuficincia Cardaca Crnica ________ 290

    A cozinha tocantinense: buscando sua concepo ____________________________ 294

    Atendimento em Sala e a Satisfao do Cliente ______________________________ 300

    Avaliao Sensorial Discriminativa de Refrigerantes Tipo Cola ___________________ 304

    Recursos para educao alimentar e nutricional em ambientes virtuais ___________ 308

    Proposta gastronmica para pacientes com insuficincia renal crnica ____________ 311

    Elaborao de receita salgada com caroo de jaca (ARTOCARPUS INTEGRIFLIA L.)

    Adicionada de ervas e temperos regionais __________________________________ 314

    Nutrio aliada a Gastronomia no tratamento da sndrome metablica ____________ 316

    Utilizao da castanhola (Terminalia catappa Linn) e avaliao da aceitao sensorial da

    amndoa torrada e salgada _____________________________________________ 319

    Panquecas coloridas ___________________________________________________ 323

    Macarro de cacau ____________________________________________________ 328

    Nutri Vita ____________________________________________________________ 334

    Massa para lasanha e canelone feita de arroz preto ___________________________ 338

    Bolo de cacau sem glten e sem lactose ___________________________________ 343

    Wonder Muffin ________________________________________________________ 347

    Desenvolvimento de produto para aplicao do fruto cambuci___________________ 351

    Nutribeauty Iogurte de frutas vermelhas enriquecido com colgeno e chia _______ 357

    Lanche prtico DI MINUTO ______________________________________________ 361

    Muffin de biomassa da banana verde ______________________________________ 365

    Proposta de cardpio desenvolvida para paciente diabtico rico em fibras solveis e

    substncias antioxidantes _______________________________________________ 370

    Desenvolvimento de receitas modificadas para paciente com Obesidade __________ 376

    Desenvolvimento das receitas com baixo teor de sdio para pacientes com HAS ____ 382

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    O sistema culinrio da mandioca na iconografia etnogrfica de

    Hercule Florence

    Marilia Malzoni1

    Snia Bastos2

    Resumo

    A temtica da presente pesquisa em desenvolvimento versa sobre a

    mandioca como patrimnio cultural e a inscreve em um sistema culinrio, a partir

    de seus artefatos e prticas coletivas associadas ao cultivo, transformao e

    consumo. Este artigo tem como objetivo a anlise da aquarela de Hercule Florence,

    Maloca Apiaks sobre o Rio Arinos (1828), cuja metodologia pauta-se pela

    desconstruo dos seus elementos de composio: planos, linhas, formas, cenrio,

    figuras humanas, indumentria, objetos. Para uni-los novamente e extrair seu

    discurso, sua mensagem, a apresente abordagem apoia-se em Berger (1999).

    Resulta da anlise dos aspectos da linguagem visual, de se usar as imagens como

    palavras, a colagem de imagens anteriormente concebidas, reunidas para

    representar uma determinada organizao social.

    Palavras chave: Artefato; Prtica; Produto; Sistema Culinrio; Mandioca.

    Abstract

    The theme of this research is about developing mandioca as cultural heritage

    and part in a cooking system, from their collective practices and artifacts

    associated with the cultivation, processing and consumption. This article aims to

    analyze the watercolor Hercule Florence, Longhouse Apiak on the Rio Arinos

    (1828), whose methodology is guided by the deconstruction of its compositional

    elements: planes, lines, shapes, scenery, human figures, clothing, objects. To

    unite them again and extract his speech, his message, the present approach is

    based on Berger (1999). Results of analysis of the visual language, to use the

    images as words, collage of images previously designed, assembled to represent

    a particular social organization

    Keywords: Artifact; Practice; Product; Culinary System; Mandioca.

    1 Graduada em Design, Unv. Mackenzie, fez especializao em Museologia MAE USP, Master em Design Domus Academy/University of Walles, e graduao em Gastronomia Senac So Paulo. No momento leciona nos cursos de Design e Gastronomia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, e cursa Mestrado em Hospitalidade na Universidade Anhembi Morumbi.

    2 Bacharel, mestre e doutora em Histria pela Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo. Atualmente professora titular do Mestrado em Hospitalidade da Universidade Anhembi Morumbi, participa do projeto temtico Observatrio das Migraes em So Paulo (NEPO/FAPESP), investigadora do Observatrio da Emigrao (CEPESE/Porto), membro do Grupo de Pesquisa Hospitalidade: Processos e Prticas (UAM) e editora da Revista Hospitalidade.

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    Resumo Expandido

    As escolhas alimentares dos grupos sociais so determinadas por cdigos

    culturais, que estabelecem que certos alimentos so comestveis e outros no.

    Estes cdigos, em parte inconsciente - diz respeito sensibilidade - e em parte

    consciente - diz respeito ao pensamento -; so associados s identidades culturais

    e tnicas. A alimentao reflete as relaes sociais e econmicas, as formas de

    pensamento e hierarquias de valores; ela um fato cultural. Nesse sentido, tanto

    podem ser analisados os aspectos tcnico-econmicos, sociolgicos, ideolgicos e

    ecolgicos (VALERI, 1989). A cozinha e ou culinria, por sua vez, permeiam a vida

    cotidiana e os costumes. Consagrada atravs da literatura, tanto especializada

    como nos romances, essas constituem fontes privilegiadas para o estudo de suas

    mudanas, tanto dos produtos alimentares, evoluo da agricultura, pecuria e

    indstria, como do gosto (REVEL, 1996).

    Associado a esse contexto um dos ingredientes brasileiros caractersticos a

    mandioca, que tem sua origem na bacia do rio Amazonas e foi disseminada pelo

    litoral brasileiro pelos povos de origem Tupi (PINTO E SILVA, 2001). At hoje a

    mandioca e seus derivados tem importncia em nossa dieta e consumida em

    todo no territrio nacional, nas mais diversas formas (LOPES, 2013).

    Constata-se a criao de um sistema culinrio por parte dos ndios brasileiros,

    que desenvolveram a agricultura da mandioca e tambm vrias tecnologias para

    transform-la em produtos como as farinhas, o tucupi e o cauim. Uma prtica, um

    saber fazer, que remete s histrias, memrias e identidades nacionais. As prticas

    so bens culturais imateriais, elas fazem parte das referncias culturais dos

    cidados (LONDRES, 2009). To importante a cultura da mandioca em nossa

    culinria, que integra o Inventrio Nacional de Referncias Culturais (INRC), do

    Ministrio da Cultura, para possvel registro como Patrimnio Cultural Brasileiro

    (NOGUEIRA PINTO, 2006).

    Neste Inventrio, abordam-se os ofcios e modos de fazer da mandioca,

    compreende um sistema culinrio que, todavia, no caso do INRC, no trata os

    artefatos a ela associados quer ao cultivo, colheita e culinria, nem tampouco

    aos objetos associados s prticas de comensalidade das iguarias dela derivadas.

    Nesse sentido, salienta-se que o sistema culinrio da mandioca compreende uma

    cadeia de produo, ou seja, artefatos, prticas e produtos. A anlise dessa cadeia

    apoia-se nas teorias do objeto como suporte de informao (MENEZES, 1980), do

    comportamento material humano (LEROI-GOURHAN, 2002) e do objeto inserido

    em sistema (BAUDRILLARD, 2012). Os elementos tambm so analisados quanto

    aos aspectos forma, funo e simbologia (BURDEK, 2006; NORMAN, 2008;

    PIGNATARI, 2004).

    Portanto este artigo objetiva contribuir para a compreenso do

    comportamento material do homem (LEROI-GOURHAN, 2002) relativo ao Sistema

    Culinrio da Mandioca no Brasil. Este sistema concebido partir do ingrediente,

    considera a mitologia de sua origem e tem como base os trs elementos da cadeia

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    de produo: artefatos, prticas e produtos. Para sua elaborao foram

    consideradas fontes bibliogrficas (PINTO E SILVA, 2001; CASCUDO, 1988) e

    iconogrficas de trs artistas viajantes europeus, que em pocas diferentes, a

    convite de soberanos ou exploradores estrangeiros retrataram a fauna, flora e

    populao do pas: Albert Heckhout (1610-1666), Jean Baptiste Debret (1768-

    1848) e Hercule Florence (1804-1879). O presente artigo privilegia a aquarela de

    Hercule Florence3, Maloca Apiaks sobre o Rio Arinos (1828), cuja metodologia de

    anlise pauta-se pela desconstruo dos seus elementos de composio: planos,

    linhas, formas, cenrio, figuras humanas, indumentria, objetos. Para uni-los

    novamente e extrair seu discurso, sua mensagem a apresente abordagem apoia-

    se em Berger (1999). Resulta da anlise dos aspectos da linguagem visual, de se

    usar as imagens como palavras.

    Essa obra pintada em 1828, quando de sua passagem pelo estado do Mato

    Grosso, hoje se encontra na Academia de Cincias da Rssia, Moscou. Florence

    tem a caracterstica de sempre trabalhar com rigor documental, quando retrata a

    natureza, os tipos de diferentes naes indgenas, costumes, logradouros e

    edificaes. Florence no se deixa levar pela imagem rousseauniana do bom

    selvagem, suas imagens so realistas, ele no monta nem idealiza a paisagem,

    usa o trao puro e a cor discreta para retratar o mundo tal como se apresenta, em

    sua implantao espacial e natural. Mas ao mesmo tempo so imagens

    cuidadosamente construdas segundo as regras da perspectiva tradicional, so

    simples e sofisticadas, revelam a essncia do assunto (KOSSOY, 2004).

    Pelo rigor cientfico e ao mesmo tempo grande lirismo, conferido pelo trao

    puro e cores discretas, que foi escolhida a obra. A claridade e o calor do lugar

    so sugeridos, acrescentam-se os corpos nus dos indgenas, integrados e

    vontade; ao mesmo tempo em que a escolha das figuras e a composio revelam

    papeis e prticas sociais.

    A arte tradicional europeia, de 1400 1900, trabalhava com a conveno da

    perspectiva, ou seja com a busca da representao da realidade; e colocava o

    olhar humano no centro. Estas obras eram construdas em etapas: primeiro os

    estudos, desenhos das figuras humanas e de sua composio espacial, para

    atravs deles se compor o desenho do quadro. Dividindo o espao compositivo -

    em planos nos sentidos horizontal, vertical e de profundidade - e construindo nele

    um tipo de equilbrio, atravs das linhas e dos volumes de tal forma que criasse

    um percurso especfico para o olhar humano, que se sintetizasse em um discurso.

    E este discurso constitudo pode ser fragmentado, por exemplo, atravs de vrias

    leituras diferentes da imagem; detalhes da paisagem, da indumentria, das

    figuras. A obra em questo foi construda dentro das convenes da perspectiva,

    figuras humanas previamente desenhadas (estudos) constituram os planos;

    3 Desenhista, pintor, fotgrafo, tipgrafo, litgrafo e inventor, Hercule Florence chegou ao Brasil em 1824 e integrou a Expedio Langsdorff (1821 1829), na qualidade de desenhista. Percorreu os atuais Estados de So Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rondnia, Amazonas e Par. Fonte: http://www.itaucultural.org.br/aplicExternas/enciclopedia_ic/index.cfm?fuseaction=artistas_biografia&cd_verbete=2048&cd_item=1&cd_idioma=28555. Acesso 26/06/2013.

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    temos uma colagem de imagens anteriores, que foram reunidas aqui em uma

    composio determinada, para representar uma organizao social: em primeiro

    plano, partir da esquerda (leitura ocidental) duas figuras de guerreiros, com suas

    mulheres atrs; o pag com meninas, e finalizando a farinha de mandioca, tendo

    ao fundo sua pilagem.

    Figura 1 Aquarela Maloca dos Apiaks sobre o Rio Arinos, Hercule Florence

    (1828)

    Fonte: http://www.bb.com.br/docs/pub/inst/dwn/Langsdorff.pdf. Acesso

    26/06/2013.

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    Referncias

    BERGER, John. Modos de Ver. Orig. 1972. Lisboa: Edies 70, 1999.

    BAUDRILLARD, Jean. O sistema dos objetos; traduo Zulmira Ribeiro Tavares.

    Srie Debates. So Paulo:Editora Perspectiva, 2012.

    BURDEK, Bernhard E. Histria, teoria e prtica do design de produtos; traduo

    Fred Van Camp. So Paulo: Edgard Blucher, 2006.

    CASCUDO, Lus da Cmara. Dicionrio do folclore brasileiro. So Paulo: Editora da

    Universidade de So Paulo, 1988.

    DEBRET, Jean Baptiste. Biografia e obras disponvel em

    http://www.itaucultural.org.br/aplicExternas/enciclopedia_IC/index.cfm?fuseacti

    on=artistas_biografia&cd_verbete=670&cd_idioma=28555. Acesso 26/06/2013.

    ECKHOUT, Albert. Biografia e obras disponvel em

    http://www.itaucultural.org.br/aplicExternas/enciclopedia_IC/index.cfm?fuseacti

    on=artistas_obras&acao=mais&inicio=9&cont_acao=2&cd_verbete=70. Acesso

    26/06/2013.

    FLORENCE, Hercules. Biografia e obras disponvel em

    http://www.itaucultural.org.br/aplicExternas/enciclopedia_ic/index.cfm?fuseactio

    n=artistas_biografia&cd_verbete=2048&cd_item=1&cd_idioma=28555. Acesso

    26/06/2013.

    KOSSOY, Boris. Hrcules Florence, da imagem pictrica imagem tcnica: anos

    decisivos. Professor titular do departamento de Jornalismo e Editorao da escola

    de Comunicaes e Artes da Universidade de So Paulo. Conferncia apresentada

    no VII Colquio Brasil-Frana de Cincias da Comunicao. 2004

    LEROI-GOURHAN, Andr Leroi. O gesto e a palavra. Volume I Tcnica e

    Linguagem. Volume II Memria e Ritmo. Original 1964 e 1965. Lisboa: Editora 70,

    1990 e 2002.

    LONDRES, Ceclia. Inventrio de Referncias Culturais do Bom Retiro. Instituto do

    Patrimnio Histrico e Artstico Nacional (IPHAN), 9* Superintendncia Regional,

    So Paulo. SP. (2009).

    LOPES, Dias J.A. A raiz do Brasil. Revista Gosto online disponvel em

    http://revistagosto.uol.com.br/portal/materia/mandioca/mandioca-materia-

    template.aspx. Acesso em 21/04/2013.

    MENEZES, Ulpiano Bezerra de. O Objeto material como documento. Aula

    ministrada no curso Patrimnio Cultural: polticas e perspectivas,

    IAB/CONDEPHAAT, 1980.

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    NOGUEIRA PINTO, Maria Dina. Sabores e Saberes da Casa de Man: a mandioca

    nos sistemas culinrios. Revista do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional, n*

    32, p 281-301, (2006).

    NORMAN, Donald. O design emocional. So Paulo: Rocco, 2008.

    PIGNATARI, Dcio. Semitica da Arte e da Arquitetura. Cotia: Ateli Editorial,

    2004.

    PINTO E SILVA, Paula. Entre Tampas e Panelas: por uma Etnografia da Cozinha do

    Brasil. Dissertao de Mestrado apresentada ao Departamento de Antropologia da

    Faculdade de Filosofia, letras e Cincias Humanas da Universidade de So Paulo.

    Orientadora Profa. Dra. Lilia Schwarcz. So Paulo, 2001.

    REVEL, Jean-Franois. Um banquete de palavras. So Paulo: Companhia das

    Letras, 1996.

    VALERI, Rene. Alimentao. Homo Domesticao/Cultura Material. Einaudi.

    Lisboa: Imprensa Nacional/Casa da Moeda, v. 6, 1989.

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    A GASTRONOMIA DO CERRADO GOIANO ENQUANTO ATRATIVO

    TURSTICO-CULTURAL

    Gabriela Sant ana Borges

    RESUMO

    O cerrado rico em frutos de sabores exticos e marcantes. E no s o pequi

    e a guariroba. H muitas geraes mexe com o paladar e tambm com os instintos

    mais primitivos dos povos locais e de colonizadores. Mas em Gois, maior rea do

    Bioma no Brasil, a nica explorao a de devastao, quase no sobrando espao

    para os estudos e investimentos em melhorias e cultivos conscientes das

    potencialidades naturais. Contudo, a utilizao destes ingredientes na gastronomia

    local enriqueceria a culinria goiana e faria do Estado uma referncia em sabores

    para todo o Brasil. E mais, atrairia turistas interessados em conhecer as delcias

    regionais. Para tentar entender o que falta para que isso vire realidade nos

    restaurantes e nos investimentos governamentais e particulares na tentativa de

    atrelar o turismo e a gastronomia, foi proposto este estudo.

    Palavras-chaves: Gastronomia; Turismo; Cerrado; Culinria Goiana.

    1 INTRODUO

    A pesquisa em questo, com valorizao das caractersticas regionais, busca

    mostrar o que o Bioma Cerrado representa para a Culinria Goiana e como o

    turismo pode estar atrelado ao tema. sabido que a culinria com personalidade

    definida desperta no pblico o interesse por conhecer alguma localidade. Contudo,

    temos a seguinte pergunta: possvel unir a culinria tpica goiana, os frutos do

    Cerrado e o turismo?

    O Cerrado passa, h muitas dcadas, por um profundo processo de

    degradao e falta de cuidados, e algumas espcies de frutos, por exemplo, no

    so mais encontradas. Mas para que a Culinria Tpica Goiana mantenha suas

    origens e se consolide como um atrativo turstico a natureza precisa estar em

    harmonia.

    Dentro do assunto escolhido fez-se uma delimitao do tema: A Gastronomia

    do Cerrado Goiano enquanto Atrativo Turstico-Cultural. O objetivo mostrar como

    a gastronomia, ou culinria goiana, se encontra atualmente. Os restaurantes locais

    pouco se valem dos ingredientes disponveis. A diversidade do cerrado acaba

    limitada ao pequi e a guariroba e, algumas vezes, castanha-de-baru.

    A justificativa da escolha do tema est no descaso da populao com a origem

    da culinria goiana e tambm com o bioma da regio. Alguns restaurantes, que se

    intitulam como tpicos, no buscam utilizar em suas preparaes a diversidade dos

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    frutos. Assim, a populao jovem no tem contato com a riqueza que o Estado de

    Gois ainda oferece e acaba comendo s o que vem de fora.

    O objetivo geral da pesquisa conhecer a importncia da gastronomia ligada

    ao cerrado e buscar unir a sua biodiversidade, com a culinria e turismo.

    A pesquisa ampla, com dados bibliogrficos, amostragens em campo, por

    meio de questionrios, e tambm em uma empresa do segmento de frutos do

    cerrado, que comercializa sorvetes e picols durante todo o ano, com diversidade

    de sabores.

    A metodologia do tipo qualitativa, com o objetivo de obter um conhecimento

    mais profundo sobre os frutos do cerrado. O questionrio tinha como principal

    ponto saber o que os entrevistados consideravam como prato tpico goiano.

    2 METODOLOGIA

    Na pesquisa qualitativa, o entrevistado foi o fundador da empresa Frutos do

    Brasil, inicialmente chamada de Frutos do Cerrado, Clvis Jos de Almeida. Goiano,

    de Lago de Patos, no municpio de Goiatuba, de origem simples, se diz um

    apaixonado pelo Brasil e principalmente pelo cerrado. Um nacionalista acima de

    tudo, defensor do cerrado.

    Na pesquisa quantitativa, o local da aplicao foi loja Frutos do Brasil,

    localizada na Praa Tamandar, nos dias 12 e 19 de maio de 2012, no perodo das

    16 horas s 20 horas. A escolha dessa loja se deu pelo fato de aos sbados

    realizarem nas proximidades a Feira da Lua fazendo o movimento crescer na

    regio. Foram aplicados 85 questionrios aos clientes da loja, com autorizao da

    direo da empresa.

    3 ANLISE DOS RESULTADOS DA PESQUISA QUALITATIVA

    Clvis Jos de Almeida, natural de Lago dos Patos, municpio de Goiatuba, no

    Estado de Gois, fundou h dezesseis anos a empresa Frutos do Brasil. Apaixonado

    pelo Cerrado, sempre teve o interesse de trabalhar com picols e sorvetes de

    diferentes sabores, principalmente com os frutos do cerrado goiano. Hoje em dia,

    a empresa do senhor Clvis est consolidada e possui diversas filiais espalhadas

    pelo Brasil. Segue abaixo entrevista realizada com o senhor Clvis.

    De acordo com Clovis, a regio do cerrado mais prspera em frutos o norte

    de Gois, principalmente nos municpios de Padre Bernardo, Alto Paraso,

    Niquelndia e Colinas. As regies que se encontram mais devastadas so as

    cidades de Rio Verde e Jata, que antigamente era conhecida como Dama do

    Cerrado. Nesses locais o cerrado foi substitudo por plantaes de milho, algodo,

    soja e cana. As frutas mais fceis e comuns de se encontrar hoje em dia no cerrado

    o murici e a mangaba. Ele afirma que no so mais encontradas a curriola e a

    gabiroba.

    O Cerrado, segundo o entrevistado, protegido nas regies do Parque

    Nacional das Emas (prximo a Jata), Chapada dos Veadeiros, Jalapo (TO), Xingu

    (MT) e Vale do So Francisco (MG e BA). Nessas regies, impossvel a colheita

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    de qualquer fruto. Clvis faz um contrato com as fazendas para que essas faam

    a entrega dos frutos na data combinada. A colheita pode ser feita por ele e sua

    equipe ou pelo prprio fazendeiro.

    O empresrio relatou que o acesso aos frutos muitas vezes difcil. Todos os

    frutos tm a poca certa de colheita. A grande dificuldade do cerrado que devido

    s queimadas o solo fica imprprio para plantio depois de trs ou quatro anos.

    Uma maneira de conservar os frutos manter a polpa em temperatura de -

    28C, e assim elas duram de oito a dez anos. O caj-manga e o cajuzinho so

    conservados por dois anos apenas, pois eles escurecem. O fundador da empresa

    disse que h cinco anos era bem mais fcil a colheita dos frutos, pois eram

    encontrados em grande quantidade.

    No incio do negcio, a divulgao dos picols e sorvetes foi natural, o pblico

    aceitou bem a novidade e havia muita curiosidade, conta Clvis. As pessoas mais

    antigas conheciam os frutos, se emocionavam com o encontro de um sabor que

    havia ficado apenas na lembrana e com isso apresentavam a novidade aos mais

    novos.

    Clovis Almeida ainda explica que eles possuem trs fbricas. A sede em

    Goinia, e a partir de l sai distribuio para Uberlndia (MG) e Limeira (SP).

    Hoje a empresa reconhecida no Brasil inteiro e no mundo. As exportaes

    comearo em breve, primeiramente para Alemanha e EUA.

    3.1 DADOS DA PESQUISA QUANTITATIVA

    Grfico I. Sexo dos entrevistados, Faixa etria e Residncia

    Fonte: BORGES, Gabriela Sant Ana.

    1900ral

    1900ral1900ral

    1900ral

    1900ral

    1900ral

    1900ral

    Homens Mulheres 21 a 40 41 a 60 Acima de 60 Goiania Ap. de Goinia

    SEXO FAIXA ETRIA RESIDNCIA

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    Grfico II. Restaurante que mais frequenta

    Fonte: BORGES, Gabriela Sant Ana.

    Grfico III. Ir a restaurante um momento de:

    Fonte: BORGES, Gabriela Sant Ana.

    Grfico IV. Pratos tpicos goianos

    Fonte: BORGES, Gabriela Sant Ana.

    1900ral

    1900ral 1900ral

    1900ral

    1900ral

    1900ral

    Churrascaria Lanchonete/Padaria

    Fast food Comida tpicaregional

    Comidavegetariana

    Sem preferncia

    RESTAURANTE QUE MAIS FREQUENTA

    1900ral1900ral

    1900ral

    1900ral 1900ral

    Lazer Novas experincias Sagrado para asrefeies

    Indiferente Outro

    IR A RESTAURANTE MOMENTO DE

    1900ral

    1900ral

    1900ral 1900ral1900ral

    1900ral 1900ral

    Arroz compequi

    Frango comguariroba

    Pamonha Galinhada Empado Doces emcalda

    Peixe na telha

    PRATOS TPICOS GOIANOS

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    Grfico V. A comida goiana tem influncias de algum Estado?

    Fonte: BORGES, Gabriela Sant Ana.

    Grfico VI. Restaurante tpico de comida goiana

    Fonte: BORGES, Gabriela Sant Ana.

    Grfico VII. Apresenta a culinria goiana a parentes e amigos de outros

    Estados?

    Fonte: BORGES, Gabriela Sant Ana.

    1900ral

    1900ral

    1900ral

    1900ral 1900ral 1900ral

    Sim No Minas Gerais So Paulo Tocantins Mato Grosso

    A COMIDA GOIANA TEMINFLUNCIA DE ALGUM ESTADO

    DE QUAL ESTADO

    1900ral

    1900ral1900ral

    1900ral 1900ral1900ral 1900ral

    Cho Nativo Cabaa de mel Fogo caipira BananaMenina

    Brioso eManhoso

    Tucunar nachapa

    No sabe

    RESTAURANTE TPICO DE COMIDA GOIANA

    1900ral

    1900ral

    Sim No

    APRESENTA CULINARIA GOIANA A PARENTES E AMIGOS DE OUTROS ESTADOS

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    CONSIDERAES FINAIS

    Ao iniciar uma pesquisa, pode se constatar que pensar em alimentao

    complexo. E ao discutir o Cerrado goiano, a pesquisa ganha desdobramentos ainda

    mais variados. No entanto, buscou-se focar na falta de identidade da culinria

    tpica goiana, na utilizao dos frutos do Cerrado junto alimentao da populao

    local, e por fim, na integrao desses dois contextos com o turismo.

    Foi possvel observar, em todas as pesquisas realizadas, que o Cerrado em

    um curto intervalo de cinco anos tem tido uma diminuio significativa da colheita

    dos frutos. E que a populao da cidade de Goinia no tem contato direto com

    esses frutos nas preparaes domsticas e nem em restaurantes.

    Pelos estudos apresentados, a sociedade absorveu superficialmente o

    contexto da histria. As receitas de origem mineira ou paulista, trazidas pelos

    bandeirantes colonizadores, so tidas como goianas. poca, adaptaram algumas

    receitas, incrementaram outras, mas de certa forma deixaram as origens se

    perderem aos poucos, culminando no momento atual, onde os jovens no

    conhecem os frutos do cerrado, as preparaes originais e, os que viveram em um

    Cerrado mais farto e abundante no encontram mais seus frutos preferidos.

    Com isso, pergunta problema citada no incio do artigo pode ser agora

    respondida, sendo mostrado que possvel unir sim a culinria tpica goiana, os

    frutos do Cerrado e o turismo, no entanto, so necessrias diversas mudanas nos

    trs principais contextos, para que essa unio realmente acontea. E as mudanas

    precisam ser rpidas, pois o Cerrado no resistir com sua plena biodiversidade

    por muitos anos de acordo com os estudos realizados.

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    REFERNCIAS

    CARNEIRO, Henrique. Comida e sociedade: uma histria da alimentao. Rio de

    Janeiro: Campos, 2003.

    DA MATTA, Roberto. O que faz o Brasil, Brasil? 2 ed. Rio de Janeiro: Rocco,

    1986.

    DENKER, Ada de Freitas Maneti. Mtodos e tcnicas de pesquisa em turismo.

    So Paulo: Futura, 2000.

    DOUGLAS, Mary. Estilos de pensar ensaios crticos sobre el Bueno gusto.

    Madri: Gedisa, 2000.

    FERNANDES, Caloca. Viagem gastronmica atravs do Brasil. Design Sylvia

    Monteiro. So Paulo: Senac So Paulo e Estdio Snia Robatto, 2001.

    FERNANDEZ-ARMESTO, Felipe. Comida: uma histria. Traduo de Vera Joscelyn.

    Rio de Janeiro: Record, 2004.

    FRANCO, Ariovaldo. De caador a gourmet: uma histria da gastronomia. 3 ed.

    revista e ampliada. So Paulo: Senac So Paulo, 2004.

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    IBGE 2004. IBGE lana o Mapa de Biomas do Brasil e o Mapa de Vegetao

    do Brasil, em comemorao ao dia Mundial da Biodiversidade. Disponvel

    em:

    http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_notic

    ia=169 Acesso em: 06 de jan de 2012.

    IBGE 2003. Economia do Turismo. Anlise das atividades caractersticas do

    turismo. Estudos e Pesquisas, Informao Econmica nmero 5. Disponvel em:

    www.ibge.gov.br/.../economia/.../economia...20032007/publ_comp_ecotur.pd

    f Acesso em: 10 de jan de 2012.

    IGLSIAS, Jos Carlos. Sabor e saber. So Paulo: Singular. 338 p., 2007.

    KLINK, Carlos A.; MACHADO, Ricardo B. A conservao do Cerrado brasileiro,

    2005. Disponvel em: www.scielo.br. Acesso em: 06 de jan de 2012.

    LVI STRAUSS, Claude. O cru e o cozido (Mitolgicas, v.1) Ttulo original: Le Cru

    et le cuit (Mythologiques l) Traduo: Beatriz Perrone Mises. So Paulo: Cosac &

    Naify, 2004.

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    MAGALHES, Snia Maria. Alimentao, sade e doenas em Gois no sculo

    XIX. (Tese de Doutorado). Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita

    Filho. Franca-SP, 2004.

    MOLINA, Suely Ferreira Lopez. Sobre Comidas e o Ato de Comer em Gois:

    Uma Reflexo acerca da Goianidade. In: Gois: identidade, paisagem e tradio/

    Nars Fayad Chaul; Paulo Rodrigues Ribeiro (Orgs.). Goinia: UCG, 2001.

    ORTNCIO, Bariani. Cozinha Goiana: Conceito Histrico - Receiturio. 7 ed.

    ampliada, 396 p. Goinia: Kelps, 2011.

    PACHECO, Aristides de Oliveira. Manual de organizao de banquetes. 3 ed.

    rev. e atual. So Paulo: Senac So Paulo, 2004.

    PCLAT, Glucia Tahis da Silva Campos. O Jeito da Comida Goiana. Hbitos

    alimentares e a noo simblica de comer em Gois. (Artigo). Disponvel em:

    http://www.altiplano.com.br/0602comida.html Acesso em: 02 de fevereiro de

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    SANO, Edson Eyji, et.al 2008. Mapeamento semidetalhado do uso da terra do

    Bioma Cerrado. Disponvel em: www.scielo.br. Acesso em: 06 de jan de 2012.

    SOUZA, Arminda; CORRA, Marcus. Turismo - Conceitos, Definies e Siglas. 2

    ed. So Paulo: Valer, 2000.

    TRIGO, Luiz Gonzaga Godoi. Turismo Bsico. 3 ed. So Paulo: SENAC, 1999.

    VELOSO, Marcelo Parreira. Turismo simples e eficiente: um guia com

    orientaes bsicas para municpios. So Paulo, Roca, 2003.

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    A Galinha de Cabidela entre a Sade Pblica e a Tradio Culinria:

    avaliao dos aspectos higinico-sanitrios que colocam em risco a

    sua continuidade

    Robson Luis Trindade Lustosa4

    Especialista em Docncia no Ensino Superior. Professor assistente no Curso

    Superior de Tecnologia em Gastronomia da Faculdade Senac Pernambuco.

    Contato: [email protected].

    Resumo

    Os rgos oficiais de sade pblica buscam a garantia de produo e

    fornecimento de alimentos seguros, todavia colocam em risco os saberes e prticas

    culinrias transmitidos atravs das tradies familiares. Os rituais de fazer e servir

    a comida atuam na construo de uma identidade e, constituem-se em uma

    patrimonializao. Interrompido o ciclo de relao entre produtor e comensal,

    descaracteriza-se a identidade gastronmica de um povo por limitar a atuao

    culinria representada pelos espaos coletivos de comensalidade ao bem querer

    dos gostos construdos no ambiente domstico. Pratos tpicos, como a galinha de

    cabidela, podem ocasionar a ocorrncia de doena de origem alimentar. Neste

    dualismo entre sade pblica e tradio, chocam-se a oferta de alimentos seguros

    e a manuteno da tradio culinria, pautando-se da a necessidade de investigar

    os aspectos higinico-sanitrios os quais colocam em risco a perpetuao da

    galinha de cabidela na gastronomia brasileira. Realizou-se a anlise de ficha

    tcnica, para coleta de dados que identifiquem os fatores intrnsecos e extrnsecos

    que ocasionam a contaminao, proliferao e/ou sobrevivncia de

    microrganismos causadores de doenas de origem alimentar. Esta preparao

    apresenta perigos microbiolgicos que podem ser provocados pela matria-prima

    e pelos procedimentos operacionais, contudo tais perigos podem ser controlados.

    A galinha de cabidela necessita de adequada execuo a fim de garantir a sua

    inocuidade e a perpetuao deste prato tpico, signo das relaes sociais

    construdas, tanto no mbito coletivo quanto familiar.

    Palavras-chave: prato tpico, identidade gastronmica, controle higinico-

    sanitrio.

    Abstract

    The public health officials seek to guarantee production and supply of safe

    food, however put in risc the knowledge and practices culinary traditions passed

    4 Especialista em Docncia no Ensino Superior. Professor assistente no Curso Superior de Tecnologia em Gastronomia da Faculdade Senac Pernambuco. Contato: [email protected].

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    down through the family. The ritual of making and serving the food build an

    identity and a patrimony. Interrupted the cycle of relationship between producer

    and dinner, mischaracterizes the gastronomic identity of a people by limiting the

    actions cuisine represented by collective spaces to the wishes and tastes in the

    household. Dishes such as galinha de cabidela, can cause the occurrence of

    foodborne illness. This dualism between public health and tradition collide the

    supply of safe food and the maintenance of culinary tradition, basing itself hence

    the need to investigate the sanitary-hygienic aspects which endanger the

    perpetuation of galinha de cabidela in Brazilian cuisine. An analysis of the technical

    specifications was conducted for data collection to identify the intrinsic and

    extrinsic factors that cause contamination, proliferation and / or survival of

    microorganisms that cause foodborne illness. This preparation presents

    microbiological hazards that may be caused by the raw material and the operating

    procedures, however such hazards can be controlled. Galinha de cabidela requires

    proper implementation to ensure its safety and perpetuity of this dish, a sign of

    social relationships built, both in collective and family.

    Key words: Typical dish, gastronomic identity, sanitary-hygienic control.

    Introduo

    Freyre (1967, p.72), em seu Manifesto Regionalista, advertia que "uma

    cozinha em crise significa uma civilizao inteira em perigo: o perigo de

    descaracterizar-se". Os rgos oficiais de sade pblica buscam a garantia de

    produo, fornecimento e consumo de alimentos seguros, todavia colocam em

    risco os saberes e prticas culinrias perpetuadas e transmitidas pela oralidade e

    cadernos de receitas, numa sequncia linear de continuidade atravs das tradies

    familiares.

    Pratos tpicos, como a galinha de cabidela, empregam no seu preparo o uso

    do sangue fresco do animal e, ainda, procedimentos operacionais os quais podem

    ocasionar a ocorrncia de doena de origem alimentar, sendo por esta a razo pela

    qual rgos oficiais de Vigilncia Sanitria estejam proibindo a sua

    comercializao.

    Ao interromper o ciclo de relao entre produtor e comensal, descaracteriza-

    se a identidade gastronmica de um povo, de uma regio, por limitar a atuao

    culinria representada pelos espaos de convivialidade e comensalidade coletivas

    do ambiente urbano, remanescendo esta produo ao bem querer dos gostos

    construdos no ambiente domstico.

    De acordo com Lima (2005, p. 14), a cozinha um reativo de rara

    sensibilidade para avaliar a cultura de uma populao, um conjunto de signos e

    smbolos que ao serem interpretados do compreenso histria civilizatria de

    um povo. Portanto, a alimentao tambm encontra-se inserida neste contexto

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    de representao simblica das caractersticas econmicas, culturais e sociais as

    quais suplantaram o desenvolvimento e aprimoramento de prticas e saberes

    advindos das relaes humanas, determinando uma identidade prpria (LODY,

    2008).

    Neste dualismo entre sade pblica e tradio, chocam-se aspectos de

    garantia de controle higinico-sanitrio e oferta de alimentos seguros contra a

    manuteno da tradio culinria, a partir das prticas advindas de uma

    hereditariedade individual e coletiva. Neste front de debates e proibies pauta-se

    a necessidade de investigar os aspectos higinico-sanitrios os quais colocam em

    risco a perpetuao e continuidade da galinha de cabidela na gastronomia

    brasileira.

    Este trabalho objetiva avaliar os perigos existentes em preparao culinria

    regional que podem ocasionar doena de origem alimentar; possuindo como

    atividades complementares analisar a matria-prima utilizada no preparo da

    galinha de cabidela e procedimentos operacionais de pr-preparo e preparo no que

    concerne ao controle higinico-sanitrios de alimentos, bem como avaliar a

    importncia da manuteno de pratos tpicos para a preservao de uma

    identidade, no apenas gastronmica, mas sobretudo cultural.

    Referencial Terico

    A alimentao, alm de estar inserida no rol das necessidades bsicas para a

    existncia e prolongamento da vida, constitui-se, alm das necessidades

    biolgicas, para contextualizar-se em um complexo sistema de representaes

    simblicas, ou seja, na formao de smbolos significantes, de acordo com os

    aspectos sociais, religiosos, polticos, sexuais direcionados pelos hbitos, rituais,

    etiquetas e tabus construdos (CARNEIRO, 2003).

    No cabidal da evoluo dos prazeres gustativos denotar-se- os movimentos

    exploratrios de carter econmico e expansionista que permitiram a alterao

    das dietas alimentares ao redor do globo, promovendo a descoberta de novos

    sabores e percepes os quais determinaram, ipso facto, o surgimento e

    aprimoramento de habilidades e tcnicas culinrias.

    De acordo com Montanari (2008, p.183), assim como a lngua falada, o

    sistema alimentar contm e transporta a cultura de quem a pratica, depositrio

    das tradies e da identidade de um grupo, processo pelo qual torna-se possvel

    compreender a construo das cozinhas regionais como formas culturalmente

    estabelecidas, codificadas e reconhecidas de alimentar-se de uma coletividade.

    As cozinhas regionais evoluem agregando valor a uma srie de

    representaes, prticas, expresses, conhecimentos e habilidades constitudas na

    construo de unidade cultural e determinante de uma identidade prpria,

    individualizada e ao mesmo tempo coletiva. Destas cozinhas, muitas vezes

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    emergem pratos que, por suas caractersticas de preparo e degustao terminam

    por constituir smbolos locais.

    A Galinha de Cabidela advm do termo cabos, antiga designao portuguesa

    para as extremidades do animal (perna, asa e pescoo) os quais eram igualmente

    utilizadas no guisado, alm do sangue. O sangue estar presente na comida, alm

    das representaes religiosas, pelos prazeres gustativos, em especial nos molhos

    para cozimento dos guisados, como a cabidela, o sarapatel, a buchada

    (CAVALCANTI, 2009; LODY, 2008).

    De acordo com Lopes (2010), a galinha cabidela vai desaparecer, pois as

    autoridades sanitrias ordenam que a ave seja abatida em frigorfico, em avcolas

    devidamente regulamentadas e os fiscais da sade pblica do Estado de So Paulo

    exigem que o sangue, quando posto venda, seja certificado, contudo tal produto

    no se encontra devidamente regulamentado.

    A carne de aves e seus derivados configuram-se como os principais alimentos

    envolvidos em surtos de infeces alimentares, sobretudo devido presena da

    Salmonella, e do preparo inadequado e contaminao cruzada passvel de ocorrer

    nas cozinhas domiciliares, industriais e nos restaurantes. A excessiva manipulao

    do produto durante a preparao aliada exposio da carne a diversas fontes de

    contaminao e, ainda, a procedncia de aves j contaminadas na linha de abate,

    sobretudo nas primeiras operaes, como pendura, sangria, escaldamento e

    depenagem, contribuem favoravelmente para a contaminao do produto final

    (GERMANO, GERMANO, 2003; RIEDEL, 2005; SILVA Jr, 2007; JAY, 2005).

    Metodologia

    A pesquisa realizou-se atravs da anlise de ficha tcnica da galinha de

    cabidela para coleta de dados que identifiquem os fatores intrnsecos e extrnsecos

    que ocasionem a contaminao, proliferao e/ou sobrevivncia de

    microrganismos causadores de doenas de origem alimentar, bem como o estudo

    dos pontos crticos e a confeco do fluxograma de preparao. O mtodo da

    rvore Decisria, conforme metodologia preconizada por Silva Jr (2007), bastante

    empregado no sistema APPCC, com a subseqente resposta a seus quesitos, fora

    utilizado para a identificao e determinao dos pontos crticos de controle.

    Resultados e Discusso

    No recebimento da galinha de capoeira e do seu sangue, os perigos existentes

    so os patgenos existentes no alimento cru e a contaminao pelas superfcies

    de contato, bem como a sua temperatura no recebimento. Na limpeza e corte da

    galinha, os perigos existentes, so a contaminao pelos equipamentos e

    utenslios, bem como as superfcies de contato, e a contaminao pelos

    procedimentos higinicos inadequados dos manipuladores.

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    A acidificao (limpeza) e o enxge da carne so pontos crticos de controle

    pouco eficazes, sendo considerados apenas pontos de controle, pois havero

    etapas posteriores mais eficientes contra a sobrevivncia de microrganismos

    (coco). Ainda no comprovado que a reduo do pH por cidos orgnicos fracos

    sejam eficientes para a reduo de microrganismos patognicos.

    Nas etapas de preparo, o cozimento possui ao bactericida se atingir a

    temperatura de segurana (74C no interior do alimento) e for controlado o

    binmio tempo x temperatura. Os temperos devem ser de boa procedncia e

    devidamente estocados (embalagens adequadamente vedadas e com baixa

    umidade), evitando a contaminao por fungos e a presena de microrganismos

    esporulados como B. Cereus.

    A adio do sangue representa perigo de contaminao, uma vez que

    alimento cru est sendo adicionado a alimento cozido (contaminao cruzada).

    Apesar da temperatura de 74C eliminar a Salmonella no alimento, pode haver

    sobrevivncia e propagao de clulas dependendo da sua quantidade inicial, fase

    de crescimento, presena de gordura, sobretudo se a temperatura de coco for

    muito baixa e/ou o tempo de coco for muito curto.

    Consideraes Finais

    O preparo da galinha de cabidela apresenta perigos microbiolgicos que

    podem ser provocados pela matria-prima utilizada (a galinha de capoeira e o

    sangue fresco) e tambm pelo emprego inadequado dos procedimentos

    operacionais de pr-preparo e preparo, contudo tais perigos podem ser

    controlados nas etapas de preparao.

    A galinha de cabidela necessita, como qualquer outro tipo de alimento, de

    adequada execuo a fim de garantir a sua inocuidade e a perpetuao deste prato

    tpico sugerindo-se que ocorram aes em conjunto de controle higinico-sanitrio

    da matria-prima e preparao, como tambm da valorizao desta preparao

    tpica da culinria brasileira, signo das relaes sociais construdas, tanto no

    mbito coletivo quanto familiar.

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    Referncias

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    CAVALCANTI, M. L. M. Histria dos sabores pernambucanos. Recife: Fundao

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    LIMA, C. M. de A. R. Para uma Antropologia da Alimentao Brasileira. In:

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    LODY, R. Brasil bom de boca: temas da antropologia da alimentao. So Paulo:

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    LOPES, D. Ascenso e Queda da Galinha de Cabidela. Disponvel

    em:. Acesso em: 24 jun. 2012.

    MONTANARI, M. Comida como cultura. So Paulo: Editora SENAC So Paulo,

    2008. 207p.

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    336p.

    SILVA Jr, E. A. Manual Higinico-sanitrio em Servios de Alimentao. So

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    Paola Biselli Ferreira

    O doce brasileiro como identidade cultural

    So Paulo

    2013

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    RESUMO

    Esta pesquisa tem por objetivo atualizar e aprofundar o acervo pessoal de

    conhecimento para que seja possvel investigar o reflexo dos cursos de confeitaria

    internacional na profissionalizao dos confeiteiros no Brasil e os impactos na

    identidade cultural brasileira. identificado que no mercado da confeitaria no

    Brasil, existe uma tendncia a valorizar o que importado, exterior ao pas, e

    esta caracterstica tem desdobramentos na cultura do doce no Brasil, no paladar

    da populao e, ainda, na formao dos novos profissionais do mercado. Atravs

    de uma abordagem qualitativa, o estudo faz um levantamento bibliogrfico

    terico-reflexivo abrangendo os campos do contexto histrico da confeitaria e a

    relevncia da manuteno do patrimnio da confeitaria brasileira. A concluso

    deste trabalho uma reflexo sobre a importncia da disciplina de confeitaria

    brasileira nos cursos de gastronomia no Brasil.

    Palavras-chave: Formao de confeiteiros brasileiros. Doce como cultura

    brasileira. Patrimnio cultural imaterial.

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    ABSTRACT

    This research aims to update and deepen the personal knowledge so that is

    possible to investigate the reflection of the international pastry courses in the

    professionalization of Brazilian manpower and its impacts on Brazilian cultural

    identity. It is identified that in the Brazilian market, there is a tendency to value

    what is "imported", and this, has consequences on the culture in Brazil, the

    population palate, and also in the formation of new market professionals. Through

    a qualitative approach, the study makes a theoretical and reflective literature

    covering the historical context and the importance of maintaining the heritage of

    Brazilian pastry. The conclusion of this work is a reflection on the importance of

    pastry subjects in Brazilian gastronomy courses.

    Keywords: Bazilian pastry professional education. Brazilian sugar culture.

    Intangible cultural heritage.

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    LISTA DE ILUSTRAES

    Quadro 1 Principais heranas e ingredientes da Gastronomia Brasileira ........ 36

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    SUMRIO

    INTRODUO ________________________________________________________ 32

    1 A confeitaria brasileira _______________________________________________ 34

    1.1 Breve histrico, heranas e matrias-primas usadas na confeitaria brasileira

    ............................................................................................................................................................... 34

    1.2 A importncia da perpetuao da cultura do doce no Brasil ................................. 37

    CONSIDERAES FINAIS ______________________________________________ 39

    REFERNCIAS ________________________________________________________ 40

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    INTRODUO

    Existe uma tendncia cada vez mais importante na confeitaria no Brasil que

    de valorizar o que exterior ao pas. Cada vez mais, so absorvidas tcnicas,

    sabores e esttica de pases importantes para a confeitaria mundial e so perdidos

    aos poucos as tradies, os costumes e a cultura locais. Neste mbito, o tema

    deste trabalho de pesquisa o impacto do baixo conhecimento da confeitaria

    brasileira na formao do confeiteiro no pas e suas consequncias culturais.

    De forma geral, pouco se conhece sobre os doces regionais brasileiros, e,

    ainda mais, sobre as frutas tpicas do pas. Um exemplo disso so as frutas

    amaznicas que so comercializadas apenas em lugares especializados e

    dificilmente se encontram em So Paulo. Contrariamente a isso, no difcil de

    encontrar, dentro das confeitarias, doces a base de frutas europeias como o

    mirtilo, a amora e a framboesa.

    Ao exercer a funo de confeiteira em alguns restaurantes e confeitarias do

    Brasil e da Frana, foi possvel identificar uma diferena importante de

    comportamento dos profissionais da rea. No Brasil, algumas pessoas qualificadas

    da nova gerao de profissionais possuem conhecimento das tcnicas tradicionais

    estrangeiras e lanam isso no mercado brasileiro como algo sofisticado e de alto

    valor em relao confeitaria nacional, um movimento inverso do identificado na

    Frana. Os franceses tem como cultura a defesa dos produtos nacionais e at

    mesmo a propagao da confeitaria francesa em outros pases, mas raramente a

    absoro de tcnicas estrangeiras, muito menos posicionando-as como algo de

    luxo.

    Baseada nesses argumentos e com base na experincia pessoal, profissional

    e como estudante de gastronomia, possvel destacar uma lacuna dos cursos de

    confeitaria atualmente ministrados nas universidades em relao ao que

    culturalmente interessante e importante.

    O objetivo desta pesquisa de destacar pontos importantes na histria da

    formao da confeitaria brasileira, suas bases, seus ingredientes tpicos, sua

    importncia para a identidade cultural do Brasil e as lacunas na formao dos

    profissionais da rea no Brasil.

    Por isso, o problema de pesquisa a ser analisado neste estudo ser: A

    valorizao do conhecimento da confeitaria internacional afeta negativamente a

    profissionalizao da confeitaria brasileira e consequente propagao do

    patrimnio cultural do saber fazer doce do Brasil?.

    Para responder a este problema, o trabalho traz uma pesquisa bibliogrfica

    que contextualiza o problema, referncias histricas e a identificao das ementas

    dos cursos correlatos como parte da formao dos confeiteiros no Brasil.

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    Como referncia histrica, os autores Cascudo, (1983), Lima, (1999), Perrella

    e Perrella, (1999), Freyre, (1939), Freixa e Chaves, (2009) enfatizam as bases da

    confeitaria clssica brasileira e internacional, suas origens, seus ingredientes e

    apresentam receitas originais brasileiras, suas histrias e curiosidades.

    Como referncia da problemtica cultural, os autores Lemos, (2000) e

    Pellegrini, (2008) trazem os conceitos de patrimnio cultural e sua importncia

    para a sociedade.

    O trabalho est estruturado para, inicialmente, contextualizar a histria da

    confeitaria brasileira, suas origens, seus ingredientes nativos e trazidos pelos

    diferentes povos que formaram a cultura do doce brasileiro. Depois, foram

    descritos alguns pontos de destaque da influncia da confeitaria internacional, ps-

    independncia do pas, com os novos imigrantes que chegaram e se instalaram no

    pas.

    Depois dessa imerso histrica, o trabalho ressalta a importncia da

    perpetuao da cultura brasileira como identidade de uma nao e a relao desta

    com a formao do confeiteiro profissional.

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    1 A confeitaria brasileira

    Qual a definio do que confeitaria brasileira? Fruto de uma miscigenao

    cultural, resultado da histria de colonizao e escravido no pas, a confeitaria

    brasileira uma mistura de ingredientes diversificados e tcnicas multiculturais.

    Por no ter uma origem pura e nica, difcil saber o que de fato original do

    pas. Entretanto, ao longo dos anos, possvel identificar quais receitas constituem

    uma identidade cultural do Brasil. Lemos (2000, p.25) faz referncia a isso em:

    fcil de entender que de uma determinada condio

    ambiental, e no existem duas iguais no mundo, e de um

    determinado povo, seja misturado da maneira como for, como o

    nosso, s pode resultar um processo cultural cuja evoluo sempre

    percorre diretrizes identificadas por uma linha mestra do saber

    predominante.

    Ou seja, mesmo com tantas heranas diferentes, desde a sua origem

    possvel determinar o que de fato deve fazer parte do patrimnio cultural

    brasileiro. Dialogando com Montanari, (2008, p.11), a confeitaria, assim como o

    gosto pela comida, o produto de uma complexa construo histrica, ou seja,

    do ambiente, e no uma simples escolha sensorial.

    A anlise a seguir ressalta a importncia de manter viva a cultura do doce no

    Brasil, sua histria, sua importncia e o impacto na formao da mo de obra

    especializada no pas.

    1.1 Breve histrico, heranas e matrias-primas usadas na confeitaria

    brasileira

    A confeitaria brasileira divide a sua origem entre indgena, africana escrava

    e portuguesa. Com influncia, principalmente, destes trs povos, foi constituda

    uma nova diversidade de receitas que se tornaram tradicionais brasileiras ao longo

    dos anos.

    De acordo com Freixa e Chaves (2009, p. 167),

    Com os ndios, conhecemos a utilizao das razes como a

    mandioca, dos cereais como o milho, alm de uma infinidade de

    frutos, peixes e animais.

    Do Velho mundo lusitano vieram tcnicas culinrias, a tradio

    dos doces e o uso das especiarias. E ainda o cultivo do arroz,

    hortalias, frutas e a criao da galinha, do porco e do boi, entre

    outros.

    A contribuio africana foi imensa, tanto em nossas tradies

    como na gastronomia. O uso do coco, do azeite de dend e da

    pimenta-malagueta, por exemplo hbito que tornou calorosos

    nossos pratos e nosso jeito de ser.

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    interessante observar a forma que as culturas se misturaram e pouco a

    pouco formaram uma identidade gastronmica prpria no Brasil.

    Alm dos cereais, a mandioca e peixes citados acima, na poca da colonizao

    existiam diversas frutas silvestres que os ndios j conheciam. De acordo com

    Ornellas (2000, p.192):

    As frutas agrestes so mais cidas, e menos polpudas que as

    cultivadas (abiu), aratirum, ara, azamboa, bacupari, caiuia,

    cambuc, camboim, curuanha, guabiroba, guajiru, guapuronga,

    grumixama, imbaba, ing, jenipapo, gravat, pajur, piqui,

    pitomba, mutumba, quixaba, ubaia, umbu [...] o caju, a goiaba, o

    mamo, o murici, o oiti, o ju, o jata, o abric-do-par, o aa, o

    ap, a ata ou pinha, o bacuri, o cupuau, a jabuticaba, a

    maaranduba, a magaba, e o maracuj.

    Com a chegada dos portugueses e dos africanos escravos, temos um

    fenmeno curioso, porque as receitas dos doces eram de origem portuguesa, mas

    com uso de ingredientes locais e executados pelas mos das escravas africanas.

    J a percebemos uma troca grande entre as diferentes culturas que aconteceu de

    forma natural e que deu origem a uma quarta cultura, muito rica em sabores,

    texturas e histrias.

    Como uma grande influncia portuguesa na confeitaria brasileira, podemos

    destacar o uso excessivo do acar e dos ovos, antes desconhecidos pelos ndios

    e africanos. Conforme o autor Cascudo (1939, p.651) descreve em seu livro

    Empregavam antigamente o acar em quantidade muito maior. Na doaria era

    um desperdcio. Este uso exagerado do acar ainda se reflete na confeitaria

    atual. Exemplos desta integrao entre a culinria portuguesa e indgena brasileira

    so os tpicos doces de compota. Como Ornellas (2000, p. 229) ressalta, juntar

    acar s frutas, em receitas variadas, foi obra intuitiva da qual se originou a

    doaria nacional.

    Segundo as autoras Freixa e Chaves (2009), abaixo est um resumo de

    alguns ingredientes trazidos e por quais povos:

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    Quadro 1 Principais heranas e ingredientes da Gastronomia Brasileira

    HERANAS INGREDIENTES

    NATIVA

    Abacaxi, aa, amendoim, ara, bacuri,

    banana-da-terra, batata-doce, buriti,

    cacau, caj, caju, castanha-do-par,

    cupuau, erva-mate, goiaba, graviola,

    guaran, guariroba, jenipapo, mamo,

    mandioca/farinha de mandioca, mangaba,

    maracuj, milho, pequi, pitanga, pitomba,

    umbu.

    FRICA Banana, jil, inhame, quiabo, coco,

    melancia, dend

    PORTUGUESA

    Arroz, ch, canela, cenoura, cana-de-

    acar, cravo-da-ndia, carambola, farinha

    de trigo, laranja, limo, lima, marmelo,

    manjerico, tangerina, uva, vinho.

    Fonte: Freixa e Chaves (2009, p. 165 - adaptado)

    Os franceses que vieram ao Brasil no perodo colonial, na comitiva de D. Joo

    VI, valorizavam a confeitaria nacional que nascia nas mos das quituteiras negras

    escravas das casas-grandes e fazendas. Freixa e Chaves (2009, p.194) retratam

    como era o costume antes da chegada dos mesmos: Elas ofereciam pelas ruas

    uma alimentao baseada em produtos da terra como o milho e a mandioca,

    preparando pratos como farofa, piro, canjica, angu e beiju. Ornellas (2000)

    ainda descreve que um mdico francs em visita ao Brasil, se surpreendeu com a

    variedade de doces brasileiros e que Carme, um grande confeiteiro francs, teira

    ficado espantado com a habilidade das quituteiras de criar doces a base de coco.

    Neste momento, onde a confeitaria brasileira apenas engatinhava, j se

    encontrava um grande potencial criativo e de sabores surpreendentes.

    Neste perodo, com a abertura dos portos, nota-se uma mudana nos

    costumes locais. Nas mesas da corte e das famlias ricas, Freitas e Chaves (2009)

    relatam que entravam produtos refinados trazidos da Europa como embutidos,

    azeites, vinagres, nozes, avels, amndoas e frutas secas, manteiga, conservas,

    chs, vinhos tintos e brancos e champanhes de diversos pases. Foi uma poca de

    muito luxo e requinte, at mesmo nos detalhes das louas francesas, porcelanas,

    talheres de prata ingleses e etc.

    Com o ouro de Minas Gerais terminando e o acar j no tendo condies

    de competir com os engenhos das Antilhas e de Cuba, a vida econmica brasileira

    comea a passar por uma dificuldade financeira. E, neste mesmo perodo, surge o

    caf, um novo produto que se tornaria muito importante para o desenvolvimento

    do pas. Exportado principalmente para os Estados Unidos da Amrica e para a

    Europa, o caf foi responsvel por criar fortunas para os fazendeiros,

    principalmente de So Paulo e do Rio de Janeiro.

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    A cozinha nas fazendas de caf seguia principalmente os costumes rurais e

    simples. Mais relacionado confeitaria, Freitas e Chaves (2009, p.203) ressaltam

    alguns produtos consumidos tipicamente pelos bares de caf: [...] no

    faltavam o bolo de fub com erva-doce, o po de queijo, a geleia de laranja-cavalo

    azeda e os sequilhos. Esta confeitaria caipira, presente at hoje nos hbitos dos

    paulistanos, teve incio neste perodo.

    Apesar de a produo de caf ter tido incio com a mo de obra escrava, a

    Lei urea, de 1888, libertou todos os escravos. Para suprir a demanda de mo de

    obra nos cafezais, o Brasil recebeu milhes de imigrantes provenientes da Europa,

    Oriente Mdio e, mais tarde, do Japo. Todas essas diferentes culturas ajudaram

    a formar uma nova fase da confeitaria brasileira, com outras influncias, sabores,

    texturas e histrias.

    Os povos que mais se destacaram neste perodo como influentes da

    gastronomia nacional foram: o italiano, os rabes trouxeram os doces folhados a

    base de mel, alm de ingredientes como damasco, tmaras, hortel, e,

    posterioremente, os japoneses.

    A imigrao no Sul do pas teve o intuito de ocupar regies pouco povoadas

    e tambm foi muito importante para a sua formao cultural. Nesta regio, os

    principais povos colonizadores foram o alemo e o italiano.

    Com o incio do sculo XX, sob novo regime, o pas entra no processo de

    industrializao e, com ele, h o xodo rural e a concentrao nos centros urbanos.

    As mulheres ainda no podiam trabalhar e, muitas, para aumentar a renda

    familiar, eram doceiras, quituteiras, costureiras e bordadeiras. Freitas e Chaves

    (2009, p.215) descrevem em seu livro esta situao: Elas preparavam em casa

    guloseimas como balas, pastis, biscoitos, tortas, petiscos, comercializados nas

    ruas, nas igrejas, e nas comemoraes de festas religiosas.

    possvel perceber que a confeitaria brasileira passou por diversas

    influncias, sejam culturais ou econmicas, e que formaram o que hoje este

    acervo to variado e rico, que no pode ser perdido por falta de conhecimento

    histrico dos novos profissionais da rea. Na prxima etapa deste trabalho, ser

    aprofundada a importncia de no perder a base da confeitaria brasileira para a

    sociedade.

    1.2 A importncia da perpetuao da cultura do doce no Brasil

    Para compreender melhor esta importncia, necessrio antes entender os

    conceitos de patrimnio cultural e de imaterialidade dos saberes e fazeres. Neste

    sentido, Pelegrini (2008) conceitua que a ideia de patrimnio cultural est

    associada quilo que representa um povo ou uma nao, ou seja, tudo que

    diferencia um brasileiro de qualquer outro povo.

    Segundo Pelegrini (2008, p.10), a diviso se d em duas categorias: material

    e imaterial, sendo que a segunda definida como [...] De uma maneira mais

    prosaica a imaterialidade foi resumida impossibilidade de tocar (mas no de ser

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    percebida, claro). Neste contexto, ambos os autores concordam que

    conhecimento, o saber fazer, um patrimnio cultural imaterial, com importncia

    real para a sociedade em questo.

    Relacionando com o tema da pesquisa, a prtica da confeitaria parte do

    patrimnio cultural imaterial no Brasil, e temos que preserv-la da mesma forma

    que devemos faz-lo com nossas florestas, construes e com a nossa histria,

    pois parte do que nos caracteriza, nos identifica.

    A formao de profissionais desta rea est diretamente relacionada com a

    perpetuao da cultura, uma vez que uma maneira formal de manter as

    tradies, receitas e o saber fazer.

    Ao fazer uma verificao sobre as ementas dos cursos de confeitaria das

    principais universidades que oferecem o curso de gastronomia no Brasil, possvel

    verificar que, grande parte das ementas nem cita confeitaria brasileira como parte

    do curso. Isto j demonstra uma lacuna de conhecimento dos alunos egressos,

    pois o contedo terico bsico para a manuteno da identidade cultural brasileira

    no referenciado e considerado na programao do curso. Cabe ao aluno

    pesquisar sobre este tema individualmente.

    Complementar a isso, Barreto aponta a carncia de material especfico de

    gastronomia brasileira a ser explorado em sala de aula: preciso que se faa

    algum inventrio sobre alimentao no Brasil. (BARRETO, 2002, p. 11). Neste

    contexto, como em muitas outras reas da educao, a pesquisa mais aprofundada

    sobre diversos temas feita por estudantes. A confeitaria brasileira pode ser

    beneficiria deste modelo, sendo produzidas pesquisas por alunos de gastronomia,

    orientados por professores. Isto contribui para duas lacunas de conhecimento

    presentes atualmente: falta de material bibliogrfico especfico de confeitaria

    regional e nacional e formao aprofundada dos alunos de gastronomia.

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    CONSIDERAES FINAIS

    A formao do confeiteiro profissional profundamente importante para a

    perpetuao da confeitaria nacional, conforme j exposto. A mo de obra que hoje

    mais produz os doces tpicos brasileiros dever passar por uma transformao

    depois do grande nmero de alunos de gastronomia ingressando no mercado de

    trabalho.

    Aps pesquisar sobre a estrutura de alguns cursos de gastronomia, possvel

    verificar que o curso de confeitaria um curso genrico, no focado em demonstrar

    fatores histricos e produes especficas nacionais. Pelo fato de a confeitaria

    francesa ser uma das mais influentes do mundo, o curso de confeitaria na maior

    parte dos cursos do Brasil trata, apenas, das tcnicas francesas.

    Neste contexto, a importncia de alterar a ementa e o plano de ensino dos

    cursos de confeitaria se destaca. Muitos alunos formados em universidades

    renomadas ingressam no mercado de trabalho tendo pouco contato com as

    tcnicas e ingredientes locais. Aos poucos, o patrimnio cultural da confeitaria

    brasileira se perde e, junto a ele, a identidade do povo brasileiro.

    A criao de uma disciplina de confeitaria brasileira e a produo de pesquisas

    cientficas realizadas pelos alunos podero reverter a lacuna de conhecimento e,

    ao mesmo tempo, ressaltar a importncia da histria da confeitaria do nosso pas.

    Com uma mo de obra ingressante no mercado de trabalho conhecedora da

    cultura, dos ingredientes locais e de tcnicas utilizadas desde a formao deste

    pas, ser possvel atingir o reconhecimento da confeitaria brasileira no pas e no

    exterior.

    importante que os jovens ingressantes no mercado de trabalho tenham um

    conhecimento profundo da confeitaria nacional e que saibam tambm as

    especificidades da confeitaria internacional, para conseguir, com facilidade,

    manter sempre um dilogo entre essas duas importantes reas sem que nenhuma

    perca importncia na sociedade.

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    REFERNCIAS

    BARRETO, R. Passaporte para o sabor. 3 ed. So Paulo: SENAC, 2002.

    CASCUDO, L.C. Histria da alimentao no Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia,

    1983. Vol. 2

    FREIXA, D.; CHAVES, G. Gastronomia no Brasil e no Mundo. Rio de Janeiro:

    Senac, 2009.

    FURTADO, S; TOMIMATSU, E. Formao em gastronomia: aprendizagem e

    ensino. So Paulo: Boccato, 2011.

    LEMOS, C.A.C. O que Patrimnio Histrico? So Paulo: Brasiliense, 2000.

    LIMA, C. Tachos e Panelas: historiografia da alimentao brasileira. Recife:

    Autora, 1999.

    ORNELLAS, L.H. A alimentao atravs dos tempos. 2. ed. Florianpolis: UFSC,

    2000.

    PELEGRINI, S. O que patrimnio cultural imaterial. So Paulo: Brasiliense,

    2008.

    PERRELLA, A.S.; PERRELLA, A.C. Histria da confeitaria no mundo. Campinas:

    Livro Pleno Ltda, 1999.

    TOLEDO, R.F.M. A importncia da fundamentao terica na formao do professor

    de Gastronomia. In: Revista de ensaios acadmicos. So Paulo: Hotec, 2006.

    p. 59-64.

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    A Miscigenao na Gastronomia do Brasil 5

    Bruna de Castro Mendes6

    Regina Coeli C. Perrotta7

    Suely Sani Pereira Quinzani8

    Resumo: Processos de migrao e imigrao provocam alteraes culturais

    e gastronmicas favorecendo a miscigenao de costumes e contribuindo para a

    universalizao da Gastronomia. Este estudo procurou destacar a formao

    cultural de alguns alimentos e preparaes tidas como nacionais, mas que se

    originaram da herana de imigrantes que se fixaram no Brasil, e que acabaram

    por influenciar o cotidiano da Gastronomia Brasileira. Aps uma escolha aleatria

    foram eleitas as seguintes preparaes para anlise: estrogonofe, quibe, pizza e o

    po francs. Diante do perfil acolhedor do povo brasileiro notou-se que, tais

    preparaes de origem externa, foram absorvidas gastronomia nacional, fazendo

    parte do hbito alimentar, e que ainda guardam caractersticas originais, mas

    tambm adaptaes brasileiras.

    Palavras-Chave: Gastronomia; Miscigenao na Gastronomia; Estrogonofe;

    Quibe; Pizza; Po Francs.

    Abstract: Migration and imigration process lead to cultural and alimentation

    changes, that collaborate to miscegenation of habits, that helps the

    universalization of Gastronomy. This study emphasize the cultural formation of

    some plates and foods that people from Brazil think are brazilian food, but their

    origin comes from imigrants that stayed in Brazil a long time ago. After an aleatory

    selection we decided to analyze this plates: stroganoff, kebab, pizza and the french

    bread. Against the friendlly profile of brazilian people, we realize that this plates

    thats come from out, were absorbed to local gastronomy, and now, are part of the

    eating habits with some original characteristics and brazilians adaptations.

    Key-words: Gastronomy; Gastronomy Miscigenation; Stroganoff; Kebab; Pizza;

    French Bread.

    5Submetido ao grupo: Herana e Histria- sociedade, imigrao. 6 Docente do Centro Universitrio Nossa Senhora do Patrocnio (Itu-SP) nos cursos de Gastronomia, Turismo e Hotelaria. Mestre em Hospitalidade (UAM), ps graduada em Administrao (FGV), Gesto do Turismo e Hotelaria (USP) e Docncia Ensino Superior (UNIMEP). Contato: [email protected] 7 Nutricionista graduada pela UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro- RJ) e Gastrnoma graduada pelo CEUNSP (Centro Universitrio Nossa Senhora do Patrocnio, Itu -SP). Contato:[email protected] 4Advogada graduada pela USP e Gastrnoma graduada pelo CEUNSP (Centro Universitrio Nossa Senhora do Patrocnio, Itu-SP), ps graduada em Docncia no Ensino Superior (CEUNSP), e em Cozinha Brasileira (SENAC). Contato:[email protected]

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    INTRODUO

    No h nenhuma novidade na constatao de que a alimentao, nas mais

    diversas sociedades e em diferentes tempos, cumpre sempre um papel bem mais

    complexo do que o simples ato fisiolgico de nutrir, constituindo-se uma base para

    o entendimento de como os grupos se organizam (GOMES; RIBEIRO, 2011). Entre

    os aspectos da vida cotidiana de significativo interesse a socilogos e antroplogos,

    ressalta-se a culinria e os rituais a ela associados (GASPAR, SANTOS, 2007).

    Nesse sentido, pode-se dizer que h, hoje, uma obsesso pela histria da

    mesa, fazendo com que a gastronomia saia da cozinha e passe a ser objeto de

    estudo com a devida ateno ao imaginrio, ao simblico, s representaes e s

    diversas formas de sociabilidade ativa, ressalta Santos (2005). Esse fato se

    destaca, refora o mesmo autor, pois o alimento constitui uma categoria histrica,

    j que os padres de permanncia e mudanas dos hbitos e prticas alimentares

    tm referncias na prpria dinmica social. Apesar de alimentar-se ser um ato

    nutricional, comer um ato social, pois constitui atitudes ligadas aos usos,

    costumes, protocolos, condutas e situaes.

    Considerando-se que nenhum alimento que entra em nossas bocas neutro,

    acredita-se que um conjunto de prticas alimentares determinadas ao longo do

    tempo por uma sociedade passa a identific-la e muitas vezes, quando enraza, se

    torna patrimnio cultural. O ato da alimentao, mais do que biolgico, envolve as

    formas e tecnologias de cultivo, manejo e a coleta do alimento, a escolha, seu

    armazenamento e formas de preparo e de apresentao, constituindo um processo

    social e cultural (SONATI; VILARTA; SILVA, 2013).

    Dessa forma, a historicidade da sensibilidade gastronmica explica e

    explicada pelas manifestaes culturais e sociais como espelho de uma poca e

    que marcaram uma poca. Sendo assim, o que se come to importante quanto

    quando se come, onde se come, como se come e com quem se come (SANTOS,

    2005). Logo, refora-se que a comida tpica que representa uma tradio no

    necessariamente faz parte do dia a dia de seu povo, o importante que ela

    desperte um sentimento de apropriao, que faz com que a comida vista a

    roupagem de seu pas de origem (REINHARDT, 2007).

    Porm, com o processo de migrao e imigrao, culturas foram e vo se

    misturando, provocando alteraes culturais e gastronmicas. Assim, pode-se

    dizer que as cozinhas locais, regionais, nacionais e internacionais so produtos da

    miscigenao cultural, fazendo com que as culinrias revelem vestgios das trocas

    culturais (SANTOS, 2005). Quando se fala em saborear um prato de comida,

    envolve muito mais do que simplesmente matar a fome, pois uma imerso na

    cultura alimentar de determinado local nos faz muitas vezes viajar at ele sem

    sequer sair de nosso prprio pas. (SONATI; VILARTA; SILVA, 2013).

    Portanto, pressupondo-se que a cultura brasileira caracteriza-se por uma

    mistura de raas, crenas, costumes e hbitos alimentares diferentes, sendo

    definida por um termo em ingls conhecido como melting pot, conforme os

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    autores supracitados, pode-se destacar diversos alimentos consumidos

    normalmente pelos brasileiros, mas com sua origem externa.

    Aproveitando-se dessa compreenso o presente estudo objetivou destacar a

    formao cultural de diversos alimentos tidos como nacionais, mas que fazem

    parte da herana deixada por nossos antepassados. Para tanto, utilizou-se de uma

    pesquisa de carter descrito, complementado por pesquisas bibliogrficas e

    documentais.

    MELTING POT BRASILEIRO

    A alimentao est envolta nos mais diversos significados, desde o mbito

    cultural at as experincias pessoais. H momentos mais propcios para o doce, o

    salgado, a bebida, a fartura ou a restrio alimentar, que so impregnados de

    significados culturalmente determinados. Nas prticas alimentares, que vo dos

    procedimentos relacionados preparao do alimento ao seu consumo

    propriamente dito, a subjetividade veiculada inclui a identidade cultural, a

    condio social, a religio, a memria familiar, a poca, que perpassam por esta

    experincia diria (GARCIA, 1994).

    Assim, o alimento constitui uma categoria histrica, pois os padres de

    permanncia e mudanas dos hbitos e prticas alimentares tm referncias na

    prpria dinmica social (SANTOS, 2005). Segundo Sonati; Vilarta e Silva (2013)

    cada regio desenvolveu uma cultura alimentar peculiar e caracterstica; porm,

    atualmente, com a mudana do estilo de vida e a necessidade de refeies rpidas

    em grande parte das regies metropolitanas brasileiras, se alimentar passou a ser

    mais um item a ser realizado na agenda, fortalecendo o mercado conhecido como

    comida de rua. O termo tem sido utilizado para designar alimentos e bebidas

    vendidos em vias pblicas, destinados ao consumo imediato ou posterior, porm

    que no necessitam de etapas adicionais de processamento (CARDOSO; SANTOS;

    SILVA, 2009).

    A cidade comporta uma complexidade de ritmos, valores e prticas refletidos

    em todas as modalidades e instncias da vida metropolitana. A traduo dessa

    diversidade no modo de comer e na comida um tema vasto para

    compreendermos melhor o modo de vida citadino. Contudo, as modalidades das

    preparaes culinrias registram em parte a histria da colonizao e as diferentes

    influncias culturais (GARCIA, 1994).

    Os alimentos modernos so aqueles que se difundiram pelo mundo por meio

    da intensificao do comrcio e do intercmbio provocada pelas navegaes

    transocenicas da primeira globalizao do sculo XVI, entre os quais o acar

    constituiu talvez o produto mais importante, mas tambm os lcoois destilados,

    as especiarias, as bebidas quentes, alm de diversos produtos regionais que a

    poca moderna universalizou (batata, tomate, milho, arroz, trigo etc.). Os

    historiadores, e at mesmo os arquelogos, tm identificado, em fontes diversas,

    os hbitos e prticas alimentares do passado (CARNEIRO, 2005).

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    Portanto, ao observar tal universalizao nota-se que algumas preparaes

    que se fazem presente e so bastante difundidas em nossa cultura, no so

    oriundas das regies brasileiras, mas sim incorporadas nossa cultura por meio

    de imigrantes e influncias externas globalizadas. Como exemplo pode-se citar o

    estrogonofe, o quibe, a pizza, alm do po francs, alimentos to comuns e

    encontrados facilmente em diversos meios de alimentao, alimentos estes que

    sero destacados a seguir.

    EXEMPLOS DE MISCIGENAO GASTRONMICA

    Para que possamos iniciar nossa exposio acerca dos produtos e

    preparaes que mais representam a mistura cultural na alimentao, destaca-se

    que a escolha dos alimentos descritos foi puramente aleatria, escolhidas pela

    memria das pesquisadoras, no seguindo nenhum carter metodolgico. No

    entanto, acredita-se serem os mais emblemticos dessa miscigenao cultural

    brasileira.

    Comecemos nossa descrio por um dos produtos mais comuns na mesa do

    brasileiro no caf da manh: o po francs. A histria do po se confunde com a

    da humanidade, existindo h cerca de seis mil anos antes de cristo, tendo sido

    descoberto por acaso (BARRETO apud CANELLA-RAWLS, 2003). Inicialmente,

    misturava-se cereais com gua e esta mistura era deixada sobre pedras que

    levedavam grosseiramente, para depois serem assados envoltos ou cobertos por

    brasas (CANELLA-RAWLS, 2003). Nota-se ento, que a produo de pes comeou

    de maneira rstica e artesanal mas sua importncia to grande que em todas as

    culturas ele se faz presente, tendo variaes e caractersticas prprias de cada

    cultura. Mas o que representou uma evoluo na fabricao dos pes foi a

    descoberta do fermento, que atribuda aos egpcios e que por isso so

    considerados os primeiros padeiros.

    No Brasil o hbito de comer po foi trazido pelos portugueses, que em um

    primeiro momento substituram a farinha de trigo por farinhas locais (BARRETO

    apud CANELLA-RAWLS, 2003). Estas necessidades que se apresentam sempre

    contriburam para o desenvolvimento de novas receitas ou adaptaes de receitas

    tradicionais, colaborando para o desenvolvimento da Gastronomia. Dessa forma,

    o po que se denomina como francs pelos brasileiros, nada mais que uma

    adaptao da baguete francesa ao paladar nacional. A tradicional baguete francesa

    croca