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Frutas do Brasil, 39 Maçã Pós-colheita 10 2 MERCADO NACIONAL E INTER- NACIONAL Loiva Maria Ribeiro de Mello Luiz Borges Júnior INTRODUÇÃO A maçã é a fruta de clima temperado de maior importância comercial como fru- ta fresca, tanto no contexto internacional quanto no nacional. O cultivo da macieira é recente no Brasil e se estabeleceu por meio de grandes empresas atraídas por incentivos de políticas públicas. As mes- mas empresas instalaram pomares e mon- taram toda a infra-estrutura de pós-colhei- ta, com câmaras frigoríficas, transporte adequado e estrutura de comercialização. A produção de maçã está concentra- da na Região Sul do Brasil, que é responsá- vel por 98% da produção nacional. Em 2002, foram produzidas 857.340 t de maçã, das quais 474.516, no Estado de Santa Catarina e 346.314, no Rio Grande do Sul. A estrutura produtiva está baseada em três cultivares: Gala, Fuji e Golden Delicious. A ‘Gala’‚ a primeira colhida (fevereiro), com 46% da produção total; a ‘Fuji’, cuja colheita se dá em abril, é a mais resistente para frigoconservação, partici- pando com 45% da produção; a ‘Golden Delicious’, colhida em março, representa 6% da produção total, ficando os 3% res- tantes distribuídos entre outras varieda- des de menor importância. Em razão das operações manuais, a cultura da macieira demanda muita mão-de-obra, seja na forma- ção da planta, no raleio e na colheita seja na classificação e na embalagem. Cerca de 80% do total de maçã pro- duzido são destinados ao consumo in na- tura. O fruto é comercializado especial- mente via Centrais de Abastecimento (Cea- sas e Ceagesp) e grandes supermercados. A maçã que é destinada à agroindústria é de qualidade inferior e não apresenta con- dições de ser comercializada para o consu- mo in natura. A maior parte da produção de maçã provém de grandes empresas, que cultivam extensas áreas, com avançado nível de inte- gração vertical nas estruturas de classifica- ção, de conservação e de comercialização. Parte dos pequenos e médios produ- tores associa-se às grandes empresas, atuan- do sob contrato, beneficiando-se de sua in- fra-estrutura, e outra parte está organizada em associações ou cooperativas, com infra- estrutura para armazenagem, classificação e embalagem. Em que pese toda essa estrutura, ainda existem produtores – pequenos e médios – que encontram grandes dificuldades de co- mercialização e vendem a produção de for- ma individual aos intermediários, diretamente no pomar, a preços bem abaixo do mercado. MERCADO INTERNO Até a década de 1970, o Brasil importa- va praticamente toda a maçã consumida. No período 1975/79, o Brasil importou, em média, 181 mil toneladas por ano. Em mea- dos da década de 1980, o aumento da produ- ção de maçã permitiu ao Brasil substituir gradativamente as importações. A Fig. 1 mostra as quantidades de maçã produzidas, importadas e exportadas no período 1986/ 2002. Observa-se que, apesar do aumento significativo da produção nacional, em 2002, a maçã importada representou cer- ca de 6% do consumo interno.

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  • Frutas do Brasil, 39Maçã Pós-colheita10

    2MERCADONACIONAL E INTER-NACIONAL

    Loiva Maria Ribeiro de MelloLuiz Borges Júnior

    INTRODUÇÃO

    A maçã é a fruta de clima temperadode maior importância comercial como fru-ta fresca, tanto no contexto internacionalquanto no nacional. O cultivo da macieiraé recente no Brasil e se estabeleceu pormeio de grandes empresas atraídas porincentivos de políticas públicas. As mes-mas empresas instalaram pomares e mon-taram toda a infra-estrutura de pós-colhei-ta, com câmaras frigoríficas, transporteadequado e estrutura de comercialização.

    A produção de maçã está concentra-da na Região Sul do Brasil, que é responsá-vel por 98% da produção nacional. Em2002, foram produzidas 857.340 t de maçã,das quais 474.516, no Estado de SantaCatarina e 346.314, no Rio Grande do Sul.

    A estrutura produtiva está baseadaem três cultivares: Gala, Fuji e GoldenDelicious. A ‘Gala’‚ a primeira colhida(fevereiro), com 46% da produção total; a‘Fuji’, cuja colheita se dá em abril, é a maisresistente para frigoconservação, partici-pando com 45% da produção; a ‘GoldenDelicious’, colhida em março, representa6% da produção total, ficando os 3% res-tantes distribuídos entre outras varieda-des de menor importância. Em razão dasoperações manuais, a cultura da macieirademanda muita mão-de-obra, seja na forma-ção da planta, no raleio e na colheita seja naclassificação e na embalagem.

    Cerca de 80% do total de maçã pro-duzido são destinados ao consumo in na-tura. O fruto é comercializado especial-mente via Centrais de Abastecimento (Cea-

    sas e Ceagesp) e grandes supermercados.A maçã que é destinada à agroindústria éde qualidade inferior e não apresenta con-dições de ser comercializada para o consu-mo in natura.

    A maior parte da produção de maçãprovém de grandes empresas, que cultivamextensas áreas, com avançado nível de inte-gração vertical nas estruturas de classifica-ção, de conservação e de comercialização.

    Parte dos pequenos e médios produ-tores associa-se às grandes empresas, atuan-do sob contrato, beneficiando-se de sua in-fra-estrutura, e outra parte está organizadaem associações ou cooperativas, com infra-estrutura para armazenagem, classificação eembalagem.

    Em que pese toda essa estrutura, aindaexistem produtores – pequenos e médios –que encontram grandes dificuldades de co-mercialização e vendem a produção de for-ma individual aos intermediários, diretamenteno pomar, a preços bem abaixo do mercado.

    MERCADO INTERNO

    Até a década de 1970, o Brasil importa-va praticamente toda a maçã consumida. Noperíodo 1975/79, o Brasil importou, emmédia, 181 mil toneladas por ano. Em mea-dos da década de 1980, o aumento da produ-ção de maçã permitiu ao Brasil substituirgradativamente as importações. A Fig. 1mostra as quantidades de maçã produzidas,importadas e exportadas no período 1986/2002. Observa-se que, apesar do aumentosignificativo da produção nacional, em2002, a maçã importada representou cer-ca de 6% do consumo interno.

  • 11Frutas do Brasil, 39 Maçã Pós-colheita

    Fig. 1. Quantidades de maçã produzidas no Brasil, exportadas e importa-das, 1986/2002.

    A participação no consumo internode maçã de origem nacional e importada éapresentada na Fig. 2. No período emquestão, destacam-se os anos de 1987 e1996, quando a maçã importada represen-tou quase 40% do total do consumo brasi-leiro. Embora nesses anos a proporção damaçã importada em relação ao consumotenha sido semelhante, em termos de quan-tidade, foi bem distinta. Em 1987, foramimportadas 123,78 mil toneladas e em1996, 338,91 mil toneladas, isto é, quase otriplo. Nos últimos três anos, a fatia do

    mercado nacional ocupada pela maçã im-portada ficou em torno de 7%.

    A maçã produzida no Brasil, queapresenta uma característica de sabor dife-renciada em relação à importada, mudou oshábitos do consumidor brasileiro, resultandono aumento do consumo anual per capita,que se situa entre 3,5 e 4,3 kg. Tal consumoainda é baixo se comparado ao da Áustria(32,8 kg), Turquia (71,7 kg), Bélgica (28,7kg) e mesmo os países do Mercosul, como aArgentina, que consome 11,1 kg per capita,e o Chile, 6,5 kg per capita.

    Fig. 2. Consumo nacional de maçã, em milhões de quilos, 1986/2002.

  • Frutas do Brasil, 39Maçã Pós-colheita12

    que o valor pago pelas importações, em1996, foi praticamente o mesmo pago em1995, apesar de a quantidade importada tersido o dobro, em decorrência do baixo valordo dólar em relação ao real verificado naquelaépoca (Fig. 4). Nos últimos quatro anos, asimportações tiveram redução expressiva.As importações por país de origem sãoapresentadas na Fig. 5, em que se verificaque praticamente toda maçã importadaprovém da Argentina, com exceção do anode 1996 quando o Chile também exportouvolumes expressivos para o Brasil.

    IMPORTAÇÕES

    As importações brasileiras de maçãforam significativas até 1998, situando-sepróximas aos 64 milhões de dólares (média1975/1978), época em que o Brasil dependiaexclusivamente das importações para oabastecimento do mercado. A evolução daquantidade de maçã importada é apresentadana Fig.3. Observe-se que, em 1996, mesmocom o aumento da produção interna demaçã, as importações dispararam, emconseqüência do Plano Real. Cabe destacar

    Fig. 3. Quantidades de maçã importadas, em quilos, 1986/2002.

    Fig. 4. Valor das importações, em dólares FOB, 1986/2002.

  • 13Frutas do Brasil, 39 Maçã Pós-colheita

    Fig. 5. Importações brasileiras de maçã por país de origem, 1986/2002.

    EXPORTAÇÕES

    O histórico das exportações brasileirasé insignificante. Houve uma tentativa departicipação no mercado externo no períodode 1992 a 1995, com exportações de cerca de30 mil toneladas, que foram reduzidas amenos de 5 em 1996, ano de um altoconsumo interno, motivado pela política deestabilização de preços. Os novos esforçospara incrementar as exportações continua-ram e, em 2002, o volume atingiu 66 miltoneladas (Fig. 6), representando mais de 30milhões de dólares (Fig.7). Tendo em vista aqualidade do produto brasileiro ofertado, hápossibilidade de expansão das exportaçõespara o mercado internacional; no entanto, élimitada, dada a grande produção mundial.Os principais países de destino são os PaísesBaixos (Holanda), o Reino Unido, a Bélgica,a Alemanha e a Itália, como mostra a Fig. 8.

    SUCO: EXPORTAÇÕES EIMPORTAÇÕES

    O interesse em elaborar suco de maçãpor parte das agroindústrias surgiu no final dadécada de 1980 e no início de 1990, dada acrescente demanda mundial pelo produto.Em 1992, foram exportados 4,3 milhões dequilos, número que evoluiu para 21,2 mi-lhões em 2002 (Fig.9). Os valores corres-

    pondentes a essas exportações são apresen-tados na Fig.10.

    Também se pode observar, nas Fig. 9 e10, que as quantidades e os valores corres-pondentes às importações são insignifican-tes.

    Comportamento dos preços

    Os níveis de preços nacionais e interna-cionais da maçã têm decrescido em decor-rência do aumento de produtividade. Essespreços variam de acordo com o volumeproduzido, a época de comercialização, aqualidade e as variedades dos frutos. Ospreços internos praticados pelo Ceagesp-SP(caixa de 18 quilos), são apresentados na Fig.11. Observa-se um pequeno efeito da sazo-nalidade nos preços praticados no últimoano; já nos anos anteriores, especialmenteem 1994, esse efeito é bastante marcante.Os preços mais baixos se verificam de marçoa agosto, período de safra e início do períodode armazenagem. A composição do preçoda maçã desde o produtor até o consumidorfinal é apresentada na Tabela 1.

    Os preços médios internacionais damaçã, tomando-se como referência os pre-ços de exportação dos principais países ex-portadores, incluindo o Brasil, são apresen-tados na Tabela 2. Os preços da maçã expor-tada pelo Brasil situam-se próximos à médiamundial, e vêm apresentando tendência de-crescente.

  • Frutas do Brasil, 39Maçã Pós-colheita14

    Fig. 6. Quantidades de maçãs exportadas, 1986/2002.

    Fig. 8. Exportações brasileiras de maçã, principais países, 1986/2002.

    Fig. 7. Valor das exportações brasileiras, em dólares FOB, 1986/2002.

  • 15Frutas do Brasil, 39 Maçã Pós-colheita

    Fig. 9. Quantidades de suco de maçã importadas e exportadas, 1991/2002.

    Fig. 10. Valor das importações e exportações brasileiras de suco, 1990/2002.

    Fig. 11. Preços médios da maçã CAT1, caixa de 18 kg, em dólares.

  • Frutas do Brasil, 39Maçã Pós-colheita16

    Tabela 1. Formação dos preços da maçã, desde o produtor até o consumidor final.

    Formação do preço

    Preço pago pela fruta colhidaCusto de armazenagem convencional ( 4 meses)Custo de classificaçãoCusto de embalagemCusto de comercialização/administraçãoSubtotal parcialMargem de lucro pelo agregadoValor do produto classificado e embaladoImpostos (ICMS12%, PIS 0,65% e Confins 2%)Preço final de venda para o atacadistaCusto do frete de São PauloCusto final do produto para o atacadistaPreço de venda do atacado para o varejistaPreço pago pelo consumidor

    US$/kg

    0,230,070,030,070,030,430,040,470,070,540,040,580,701,33

    US$ / caixa de 18kg

    4,141,260,541,260,547,740,778,511,259,760,76

    10,5212,6224,00

    Maçã embalada - índices médios das categorias extra, CAT. 1, CAT. 2. e CAT .3 nos diferentes calibres.Elaboração:Bonetti, et al., 1999.Fonte: ABPM, Cooperserra e Epagri.

    Tabela 2. Preços médios de exportação da maçã (US$/kg)

    Países

    Média mundialFrançaEstados UnidosChileItáliaHolandaBélgicaNova ZelândiaÁfrica do SulArgentinaBrasilOutros

    1997

    0,530,650,620,460,530,620,740,820,510,560,550,39

    Fonte: FAO.

    1996

    0,640,740,670,510,690,800,931,160,570,600,540,44

    Média

    0,560,680,630,450,560,660,790,900,530,560,540,42

    1998

    0,510,640,600,410,480,550,710,700,510,520,530,44

    CAPACIDADE DEARMAZENAMENTO

    Em 1972, a área com pomares demaçã no Brasil era de 931 ha, passando a18.941 ha, em 1980, e 31.070 ha, em2002. Os principais Estados produtoressão: Santa Catarina, com 15.907 hectares;Rio Grande do Sul, com 13.639 ha; Para-ná, com 1.300 ha; São Paulo, com 224 ha.A evolução da área plantada de maçã noBrasil, de 1986 a 2002, é apresentada na

    Fig. 12, em que se observa que o maiorincremento de área nos últimos anos sedeu no Estado do Rio Grande do Sul.

    A produtividade média dos pomaresde maçã tem sido crescente, passando de10,9 t/ha em 1996 para 27,6 em 2002(Tabela 3). Observa-se que o Estado doRio Grande do Sul teve maior impulso naprodutividade a partir de 1991 quandopassou de 10,7 para 15,3 t/ha. Atualmen-te, pomares que utilizam porta-enxertosanões e alta densidade, produzem de 40 a45 t ha-1.

  • 17Frutas do Brasil, 39 Maçã Pós-colheita

    Fig. 12. Área plantada de pomares no Brasil, 1988/2002.

    Tabela 3. Evolução da produtividade da maçã no Brasil e nos Estados de Santa Catarina e do RioGrande do Sul.

    Ano

    19861987198819891990199119921993199419951996199719981999

    Rio Grande do Sul

    9,58,1

    16,116,311,910,715,320,121,121,123,825,229,426,6

    Fonte: FAO.

    Santa Catarina

    14,38,8

    16,618,017,016,117,621,417,118,718,324,724,225,6

    Brasil

    10,97,9

    15,516,014,413,115,719,617,418,919,723,825,024,9

    Embora se verifique um aumento cres-cente na eficiência produtiva no Brasil, estaainda está muito aquém dos grandes produ-tores mundiais de maçã. Dados publicados,em março de 1997, pelo World Apple Re-port, apresentam produtividade de 55,2 t/hapara a Austrália, 49,3 t/ha para a Alemanha,43,3 t/ha para a Bélgica, 31 t/ha para a NovaZelândia, 31,7 t/ha para o Chile e 38,2 t/hapara a África do Sul. A mesma publicaçãomostra que, em termos de competitividade,o Brasil está em 5º lugar em eficiência na

    produção, 7° lugar em infra-estrutura e insu-mos, 18° lugar em mercados e finanças e em11° lugar no cômputo geral.

    Atualmente, no Brasil, a capacidade dearmazenamento de maçã é de 511.525 t,ou seja, cerca de 60% da produção nacional,sendo 44% do volume armazenados emcâmaras frias convencionais e 66% em câ-maras com atmosfera controlada (Fig. 13).O Estado de Santa Catarina apresenta maiorcapacidade de armazenamento total e a maiorproporção em atmosfera controlada.

  • Frutas do Brasil, 39Maçã Pós-colheita18

    EXPORTAÇÕES EIMPORTAÇÕES MUNDIAIS

    Segundo dados da FAO, para operíodo 1999/2001, os cinco principaispaíses exportadores de maçã no mundo,em termos de quantidades, são a França,os Estados Unidos, a Itália, o Chile e aBélgica (Fig. 14). Tomando-se os valoresobtidos com as exportações, a NovaZelândia está entre os cinco maiores,deslocando a Holanda para o 6º lugar(Fig. 15). O comércio internacional movi-

    menta em torno de 2,5 bilhões de dólares,que correspondem a 5,3 bilhões de quilosde maçã exportadas a cada ano.

    As importações mundiais de maçã sãoapresentadas nas Fig. 16 e 17. Os maioresimportadores, em termos de quantidade, sãoa Alemanha, o Reino Unido, os Paises Baixos(Holanda), a China e a Bélgica (Fig. 16).Quanto a valores, os maiores importadoressão a Alemanha, o Reino Unido, a Bélgica,a Holanda e a China. No ranking mundial dasimportações, o Brasil está em 19° lugar emquantidades e em 24° em valores.

    Fig. 14. Quantidades exportadas pelos principais países.

    Fig. 13. Capacidade de armazenagem frigorífica, em toneladas.

  • 19Frutas do Brasil, 39 Maçã Pós-colheita

    Fig. 15. Principais países exportadores (valores).

    Fig. 17. Principais países importadores (valores).

    Fig. 16. Quantidades importadas pelos principais países.

  • Frutas do Brasil, 39Maçã Pós-colheita20

    Quanto à produção mundial (Fig. 18),a China é o maior produtor, com mais de20 milhões de toneladas, ou seja, ultrapas-sa um terço da produção mundial, segundodados da FAO, 2000/2002.

    BARREIRAS COMERCIAIS

    As barreiras comerciais diferem de paíspara país, ou entre blocos econômicos.

    CONTINENTE EUROPEU

    União Européia

    É ao mesmo tempo o principal impor-tador e produtor. Impõe o maior númerode barreiras em âmbito mundial, mas é omercado que possui as regras mais claras,não utilizando medidas subjetivas paralimitar as importações, como ocorre nomercado americano. A União Européiautiliza as seguintes barreiras:

    Cotas

    Com base na legislação da Organiza-ção Mundial do Comércio – OMC –, a

    União Européia – UE – estabelece cláusu-las de salvaguarda, que são acionadas quan-do a importação atinge determinado limitepré-estabelecido, a partir do qual o impos-to de importação é elevado. Desde a Roda-da do Uruguai da OMC, a UE vem estabe-lecendo, para o Hemisfério Sul, limitesque variam em torno de 600 mil toneladaspara o período de janeiro a julho, quecorresponde à sua entressafra, quando oimposto de importação é menor.Os limites de salvaguarda são estabeleci-dos no final de cada ano, quando os núme-ros da safra já estão consolidados.

    Tarifas

    Está em negociação a redução dastarifas de produtos oriundos do Mercosul.No caso da maçã, as cotas em vigor são:

    • No período de 1º de janeiro a 31 demarço: 6,4% – proposta de eliminaçãogradual em quatro anos.

    • No período de 1º de abril a 31 dejulho: 4,8% – proposta de eliminação emdois anos.

    • No período de 01 de agosto a 31 dedezembro: 11,2% – proposta de elimina-ção em sete anos.

    Fig. 18. Quantidades de maçã produzidas no mundo, em tonela-das, média 1997/1999.

  • 21Frutas do Brasil, 39 Maçã Pós-colheita

    O acordo ainda não foi assinado, masos prazos de redução já estão sendo contados.

    A tarifa é definida com base no Entry-Price, que é estabelecido mensalmente e refe-re-se ao preço no atacado. O não-cumpri-mento do referido preço de entrada resultaem penalidades pecuniárias ao exportador.

    Certificado de classificação

    Com a ampliação da UE, por causa daentrada de mais dez países do leste euro-peu, os mecanismos de subsídios serãoalterados, os valores serão estabelecidosnão mais pelo volume de produção, mascom base na qualidade e na proteção domeio ambiente. Com isso, foi criado ocertificado de classificação que deve acom-panhar a mercadoria desde a fase de empa-cotamento até a chegada no varejo.

    A legislação entra em vigor em janei-ro de 2004. Os produtos oriundos de ter-ceiros países podem vir com atestados dopaís de origem, porém, o país exportadordeve ter convênio com a UE (o Brasil estáem fase de negociação).

    A mercadoria sem certificado de clas-sificação oficial será classificada no portode entrada por conta do exportador. Issocaracteriza uma barreira técnica.

    Barreiras sanitárias

    A ampliação do mercado comum eu-ropeu também está mudando a legislaçãosobre agroquímicos. Ao invés de cada paíster a sua legislação, o parlamento europeuestabelecerá uma diretiva que deverá sercumprida por todos os países. A impor-tância das novas exigências vigorará a par-tir de março de 2005 e implicará a retiradado mercado de 465 moléculas de produtosque já perderam a proteção de patentes ehoje são produzidos por países fora da UE.Isso afetará países como o Brasil, quedeverá incluir na sua legislação o uso denovas moléculas por um preço maior queos atuais.

    Quanto a pragas quarentenárias, a le-gislação é bastante aberta. No Brasil, somente

    o piolho-de-são-josé (Quadraspiodiotuspermiciosus) tem tolerância zero.

    Rússia e Noruega

    São importantes países importadoresque não fazem parte da União Européia.Esses países não utilizam o sistema decotas, porém, as medidas sanitárias e tari-fárias seguem as da União Européia.

    AMÉRICA

    Estados Unidos

    O mercado americano não usa cotas outarifas. Suas restrições são as barreiras sani-tárias. No final do Governo Clinton, foieditada a norma de controle de contamina-ção microbiológica, que é bastante restrita,porém, está em fase de regulamentação –será uma barreira bastante complicada. Apóso 11 de setembro, o governo Bush estabele-ceu a legislação de combate ao bioterroris-mo, que também está em fase de regulamen-tação e que, quando implementada, seráuma forte barreira de acesso ao mercadoamericano.

    Na área de controle de resíduos deagroquímicos, os americanos atuam nosmoldes da União Européia. Porém, no queconcerne a pragas, as barreiras americanassão rigorosas. Qualquer inseto vivo oumorto que for encontrado é motivo deexigência de fumigação, o que torna oproduto praticamente inapto para o co-mércio.

    O rigor dessa barreira depende daoferta no mercado e da produção interna.

    Uma solução para o produto brasileiroseria fazer a inspeção na origem, por técnicosamericanos, que são pagos pelo exportador.O Brasil vem tentando convencer o governoamericano da viabilidade dessa solução, como apoio do Ministério da Agricultura e doltamaraty, porém sem sucesso. No Chile,

  • Frutas do Brasil, 39Maçã Pós-colheita22

    existe esse serviço, devendo-se, contudo,ressaltar que nesse país a exportação estánas mãos de tradings americanas.

    Canadá

    Assim como os Estados Unidos, oCanadá não tem cotas nem tarifas. As res-trições são apenas sanitárias.

    No que diz respeito a resíduos, asregras são semelhantes às americanas.Quanto a pragas, o comportamento é dife-rente: para entrar no mercado canadense,o país exportador deve solicitar uma aná-lise de risco, que será feita pelos técnicoscanadenses que inspecionam as áreas deprodução, de embalagem e de embarque.Junto ao requerimento da análise de risco,deve ser encaminhado um trabalho com aslistas das pragas existentes no país, e seumétodo de controle.

    Uma vez aprovado, o país pode ex-portar ao Canadá, sendo sua mercadoriamonitorada no mercado varejista. Se iden-tificado qualquer problema, o exportadorserá advertido; havendo reincidência, pro-íbe-se seu acesso ao mercado.

    México

    Depois da entrada deste país no Naf-ta, ele passou a adotar os mesmos procedi-mentos americanos.

    AMÉRICA CENTRAL

    Poucos países da América Centralimportam maçãs. Nenhum usa cotas comobarreiras. As tarifas sobre o preço CIF são:

    • Costa Rica 20%• República Dominicana 35%• Guatemala 20%

    Barreiras sanitárias

    Praticamente não existe análise deresíduos e qualquer atestado sanitário co-mum é aceito.

    AMÉRICA DO SUL

    Os países componentes do PactoAndino importam volumes significativos.Esses países não estabelecem cotas.

    Tarifas

    Os países pertencentes ao Pacto An-dino são isentos de tarifas. Os demaisdevem pagar os seguintes níveis de tarifassobre o preço CIF:

    • Colômbia 15%• Equador 15%• Peru 25%• Venezuela 15%

    Barreiras sanitárias

    Com relação a resíduos, não existemestruturas de controle. Quanto a pragas,existem restrições, porém aquelas considera-das proibidas não existem no Brasil.

    ÁSIA

    Os países asiáticos não usam o siste-ma de cotas. Suas barreiras são tarifárias.Os países produtores utilizam altas taxaspara dificultar o acesso a seus mercados.

    As tarifas sobre o preço CIF são daseguinte forma:

    • Bangladesh 45%• China 40%• Cingapura 0%• Coréia 50%• Filipinas 20%• Índia 65%• Indonésia 25%• Japão 0%• Malásia 10%• Tailândia 10%• Taiwan 50%• Vietnã 30%

    Barreiras sanitárias

    Nesta área, destaca-se o Japão, cujasbarreiras são praticamente impossíveis de

  • 23Frutas do Brasil, 39 Maçã Pós-colheita

    ser ultrapassadas, tanto com relação a re-síduos quanto a restrições sanitárias.O produto de países onde ocorre a mosca-da-fruta só pode entrar no Japão com tra-tamento térmico e desinfecção com bro-meto de metila, o que torna o produto debaixa qualidade. Em curto prazo, o merca-do do Japão deve ser deslocado para se-gundo plano pelo Brasil, pois o protecio-nismo atual torna-o inacessível.

    Os demais países asiáticos não apre-sentam grandes restrições quanto a agro-químicos e adotam o Codex como referên-cia. Com relação a pragas, apenas Taiwantem barreiras, as quais são contornáveismediante análise de risco.

    OUTROS PAÍSES

    Arábia Saudita

    Não possui cotas.

    Tarifas

    Adota o Codex como referência eraramente faz análise de resíduos. Em setratando de pragas existentes no Brasil,somente o piolho-de-são-josé não épermitido.

    Emirados Árabes Unidos

    Possui mercado livre.

    POTENCIAL E PERSPECTIVAS

    A produção brasileira de maçãs apontapara um crescimento anual, para os próxi-mos anos, ao redor de 10%, e, já no ano de2000, o Brasil atingiu a auto-suficiência,com colheita de 968.063 t.

    O aumento no consumo dependerá deum aumento no poder aquisitivo, especial-mente das classes menos favorecidas. Noinício do Plano Real, o consumo de frutasfrescas aumentou significativamente, porém,com a queda do poder aquisitivo dos últimosanos, voltou a cair.

    Os eventuais excessos de produção e osfrutos fora de padrão para consumo in naturatêm sido absorvidos pela agroindústria desucos, que remuneram mal essa fruta emvirtude dos baixos preços do suco no merca-do mundial.

    As perspectivas de exportação de gran-des volumes não são favoráveis, pois a pro-dução de maçãs no mundo vem aumentandode forma significativa. Os res-ponsáveis porisso são a China e o Hemisfério Sul. Osgrandes consumidores são também grandesprodutores.