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1/5/2014 Revista Antt http://appweb2.antt.gov.br/revistaantt/ed5/_asp/ArtigosCientificos-MercadoDeTransporte.asp 1/9 Mercado de Transporte Rodoviário de Cargas no Brasil MarketofFreightRoad Transportin Brazil Giovanna Megumi Ishida Tedesco (PPGT-UnB) Thaís Maria de Andrade Villela Sérgio Ronaldo Granemann José Augusto Abreu Sá Fortes Resumo Com o intuito de fomentar a discussão sobre o mercado de Transporte Rodoviário de Cargas (TRC), este trabalho apresenta e analisa informações referentes aos transportadores, a partir dos dados cadastrados no Registro Nacional de Transportadores Rodoviários de Cargas (RNTRC). No Brasil, todos os transportadores rodoviários remunerados são obrigados por Lei a se cadastrar e a obter o RNTRC. As análises apresentadas refletem características dos transportadores, em termos de sua distribuição quantitativa, em relação à frota de veículos e no que diz respeito à sua distribuição espacial. Essas informações auxiliam na compreensão das características atuais do mercado de TRC no Brasil e também servirão como base em comparações com cenários futuros. Tais comparações serão essenciais, por exemplo, para avaliar efetividade da atual intervenção regulatória neste mercado e podem subsidiar estudos e ações públicas e privadas para o desenvolvimento do setor. Palavras-chave: Transporte Rodoviário de Cargas; Mercado de Transporte; Transportadores Remunerados de Carga. Abstract In order to subsidize discussion about road freight transportation, this paper presents and analyzes information about paid transporters, by the data registered in National Licensing System of Road Freight (RNTRC). In Brazil, freight carriers are required by law to register and obtain the RNTRC. The analyses that are presented reflect characteristics of the carriers in terms of their quantitative distribution in relation to the fleet of vehicles and their spatial distribution. That information helps researchers in understanding the freight transportation market in Brazil and is also a basis for further scenarios comparisons. These analyses can be very useful to subsidize studies and activities for public and private sector development. Keywords: Freight Road Transport; Transportation Market; Freight Road Carriers. 1. Introdução O termo ‘mercado’ foi criado para designar o local onde compradores e vendedores se reuniam para realizar transações comerciais. Samuelson e Nordhaus (2004) definem mercado como um mecanismo por meio do qual compradores e vendedores interagem para estabelecer preços e trocar produtos e serviços. Assim, o mercado está associado à existência de forças de oferta e de demanda, onde as condições de equilíbrio se refletem nos preços. Partindo do enfoque econômico, Nunes (2007) afirma que a oferta no mercado de transportes de cargas é composta por operadores que concorrem entre si. No entanto, em muitos casos, os mercados não funcionam em ambientes de concorrência perfeita. Nessa situação, pode haver necessidade de atuação do governo, pois o mercado não tem a capacidade de se controlar apenas por suas forças. Embora existam estudos e relatos sobre o histórico de intervenção estatal no Transporte Rodoviário de Cargas (TRC) em diversos países (e.g. GEIPOT, 1980; LAMBERT et al.; 1998; PECI, 2002; FALCÓN, 2007; entre outros), infelizmente são

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MercadodeTransporteRodoviáriodeCargasnoBrasil

MarketofFreightRoadTransportinBrazil

Giovanna Megumi Ishida Tedesco (PPGT-UnB)

Thaís Maria de Andrade Villela

Sérgio Ronaldo Granemann

José Augusto Abreu Sá Fortes

ResumoCom o intuito de fomentar a discussão sobre o mercado de Transporte Rodoviário de Cargas (TRC), este trabalhoapresenta e analisa informações referentes aos transportadores, a partir dos dados cadastrados no Registro Nacional deTransportadores Rodoviários de Cargas (RNTRC). No Brasil, todos os transportadores rodoviários remunerados sãoobrigados por Lei a se cadastrar e a obter o RNTRC. As análises apresentadas refletem características dostransportadores, em termos de sua distribuição quantitativa, em relação à frota de veículos e no que diz respeito à suadistribuição espacial. Essas informações auxiliam na compreensão das características atuais do mercado de TRC no Brasile também servirão como base em comparações com cenários futuros. Tais comparações serão essenciais, por exemplo,para avaliar efetividade da atual intervenção regulatória neste mercado e podem subsidiar estudos e ações públicas eprivadas para o desenvolvimento do setor.

Palavras-chave: Transporte Rodoviário de Cargas; Mercado de Transporte; Transportadores Remunerados de Carga.

AbstractIn order to subsidize discussion about road freight transportation, this paper presents and analyzes information about paidtransporters, by the data registered in National Licensing System of Road Freight (RNTRC). In Brazil, freight carriers arerequired by law to register and obtain the RNTRC. The analyses that are presented reflect characteristics of the carriers interms of their quantitative distribution in relation to the fleet of vehicles and their spatial distribution. That information helpsresearchers in understanding the freight transportation market in Brazil and is also a basis for further scenarioscomparisons. These analyses can be very useful to subsidize studies and activities for public and private sectordevelopment.

Keywords: Freight Road Transport; Transportation Market; Freight Road Carriers.

1. IntroduçãoO termo ‘mercado’ foi criado para designar o local onde compradores e vendedores se reuniam para realizar transaçõescomerciais. Samuelson e Nordhaus (2004) definem mercado como um mecanismo por meio do qual compradores evendedores interagem para estabelecer preços e trocar produtos e serviços. Assim, o mercado está associado à existênciade forças de oferta e de demanda, onde as condições de equilíbrio se refletem nos preços.

Partindo do enfoque econômico, Nunes (2007) afirma que a oferta no mercado de transportes de cargas é composta poroperadores que concorrem entre si. No entanto, em muitos casos, os mercados não funcionam em ambientes deconcorrência perfeita. Nessa situação, pode haver necessidade de atuação do governo, pois o mercado não tem acapacidade de se controlar apenas por suas forças.

Embora existam estudos e relatos sobre o histórico de intervenção estatal no Transporte Rodoviário de Cargas (TRC) emdiversos países (e.g. GEIPOT, 1980; LAMBERT et al.; 1998; PECI, 2002; FALCÓN, 2007; entre outros), infelizmente são

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escassas as referências sobre planejamento das políticas regulatórias especificamente para este setor.

Atualmente no Brasil, a publicação da Lei no 11.442/07 (BRASIL, 2007) e da Resolução ANTT no. 3056 (ANTT, 2009)trouxe à tona a discussão sobre a regulação do TRC. Contudo, essa não é uma discussão recente. Já houve outrastentativas, porém sem sucesso, de intervenção estatal neste setor.

Em 1980, dado o contexto de acentuado desenvolvimento do TRC no Brasil, foi promulgada a Lei no 6.813 (BRASIL, 1980),que estabelecia, entre outras coisas, que a exploração do TRC deveria ser atividade privativa de transportadores autônomosbrasileiros. Posteriormente, em 1983, foi criado o Registro Nacional de Transportes Rodoviários de Bens (RTB) pela Lei no7.092 (BRASIL, 1983), que também fixava algumas condições para o exercício da atividade de TRC. Com quotas limitadasà quantidade de registros anuais de transportadores, o RTB foi destinado à inscrição e ao cadastro daqueles que exerciama atividade de transporte de bens (próprios ou de terceiros) com fins econômicos ou comerciais, por via pública ourodovia, tendo efeito de autorização legal para o transporte.

Considerada incompatível com a Constituição de 1988, a Lei no 7.092/83 foi revogada e, desde então, não houve maisqualquer disciplinamento ou regra para o acesso à atividade de transportador rodoviário de cargas no Brasil. Somente em2001, com a criação da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) pela Lei n° 10.233 (BRASIL, 2001), aregulação do mercado de TRC voltou a ser considerada.

Em 2004, a ANTT passou a exigir dos transportadores rodoviários de carga a inscrição no Registro Nacional deTransportadores Rodoviários de Cargas (RNTRC). Com a publicação da Lei no 11.442/08 e da Resolução ANTT no3056/09, em 2009, esse registro deixou de ser apenas um cadastro e passou a ter a função de habilitação para otransportador rodoviário de cargas por conta de terceiros mediante remuneração. Os requisitos exigidos dos transportadorespara obtenção do RNTRC evidenciam a regulação no mercado de TRC, impondo algumas barreiras (principalmentetécnicas) para a entrada nesse mercado.

As análises dos dados do RNTRC são fundamentais para embasar a discussão acerca do mercado de TransporteRodoviário de Cargas no Brasil. Assim, o objetivo deste trabalho é apresentar um panorama do mercado de transporterodoviário de cargas a partir de dados relativos aos transportadores e seus veículos.

É importante ressaltar que os dados aqui apresentados são de 2008, ou seja, são anteriores à publicação da Lei no11.442/08 e da Resolução ANTT no 3056/09. Os dados e análises apresentados neste trabalho, além de trazerem umpanorama do mercado de TRC em determinado momento (ano de 2008), também servirão como base para comparaçõescom cenários futuros. Tais comparações serão essenciais, por exemplo, para avaliar efetividade da atual intervençãoregulatória neste mercado (por meio da Lei no 11.442/08 e da Resolução ANTT no 3056/09).

2. O Transporte de Cargas no BrasilA importância da atividade de transporte é indiscutível para qualquer economia, uma vez que a maioria das atividadeseconômicas depende do deslocamento de bens e de pessoas. É por meio do transporte que a força de trabalho e osinsumos chegam aos seus destinos, possibilitando produzir e distribuir serviços, bens e tecnologia, contribuindo com odesenvolvimento.

A atividade de transporte brasileira vem aumentando sua participação no Produto Interno Bruto (PIB). Entre os anos de1985 e 1999 sua representatividade passou de 3,7% para 4,3% no PIB brasileiro. Entre os anos de 1970 e 2000, o setorde transportes cresceu cerca de 400%, enquanto o crescimento do PIB foi de 250%. Este crescimento foi fortementeinfluenciado pela desconcentração geográfica da economia brasileira nas últimas décadas, na direção das regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste (FLEURY, 2003).

Atualmente, o transporte rodoviário é responsável pela movimentação de mais de 60% de toda a carga que trafega noterritório nacional (CNT, 2008). Esse cenário mostra que a economia brasileira ainda é bastante dependente do transporterodoviário, apesar das características físicas brasileiras serem favoráveis à utilização de outros modos, como o ferroviário eo aquaviário (principalmente para o transporte de grandes quantidades de cargas por longas distâncias).

No Brasil, o TRC é uma atividade realizada por empresas, cooperativas e transportadores autônomos. Em alguns casos, aspróprias indústrias e produtores de bens realizam o transporte de seus produtos. Nesse caso, o serviço de transporte édenominado Transporte de Carga Própria (TCP), não sendo uma atividade remunerada nem regulada pelo Governo Federal.

Quando o serviço de transporte é remunerado e executado por terceiros, existe a obrigatoriedade da empresa outransportador autônomo que realiza essa atividade em obter uma habilitação (BRASIL, 2007). Essa habilitação é obtida coma efetivação de seu registro no RNTRC, que, conforme citado anteriormente, é de responsabilidade da ANTT. Conformeconsta na Resolução ANTT no 3056/09 (ANTT, 2009), é obrigatório o registro no RNTRC para: Transportadores Autônomosde Cargas (TAC); Cooperativas de Transporte de Cargas (CTC); e Empresas de Transporte de Cargas (ETC).

O RNTRC exige o atendimento a requisitos mínimos para que empresas, cooperativas e autônomos possam se registrar econseguir a habilitação para realizar a atividade remunerada de transporte de cargas. Como o RNTRC contempla apenas ostransportadores rodoviários remunerados de carga e os dados apresentados neste trabalho tem como base o banco dedados do RNTRC, os TCPs não serão aqui analisados.

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3. O Mercado de TRC no BrasilO banco de dados utilizado para gerar as informações presentes neste documento passou por um processo de validaçãoem que os dados foram analisados em relação à sua qualidade. Nesse processo de análise da qualidade dos dados, foramexcluídos do banco os dados considerados inválidos, tais como CPFs e CNPJs inexistentes. Foram retirados, também,registros de duplicidade de dados, como placa, renavam, CPF ou CNPJ repetidos. Esse procedimento permitiu que asanálises se aproximassem mais da realidade do TRC no Brasil, uma vez que o banco de dados utilizado apresenta maiorqualidade.

As análises dos dados do RNTRC serão apresentadas sob três abordagens. Inicialmente serão analisados os dados emrelação aos transportadores registrados no RNTRC, de acordo com sua categoria.

Posteriormente serão analisados os dados dos veículos registrados no RNTRC. Neste item, os veículos serão caracterizadose quantificados em função da categoria de transportador à qual pertencem.

Por fim, os dados referentes aos transportadores e aos veículos serão apresentados em função da sua distribuiçãoespacial, a partir da localização geográfica do registro efetuado. Foram utilizados tabelas e mapas temáticos para permitiruma visualização espacial mais detalhada desses registros.

É importante observar que a frota cadastrada no RNTRC até março de 2008, data de fechamento do banco de dados paraas análises deste trabalho, contempla apenas os veículos de carga com capacidade acima de 1,5 toneladas.

3.1 Transportadores cadastradosConsiderando os registros no RNTRC (Tabela 1), a grande maioria dos transportadores remunerados no Brasil é de TACs,representando 84% do total. De acordo com os registros, existem apenas 623 cooperativas de transporte rodoviárioremunerado de cargas no Brasil, que representam um percentual de apenas 0,1% do total.

TABELA 1 – Quantidade de registros no RNTRC, segundo a categoria do transportador.

Categoria Quantidade de transportadores %

TAC 671.781 84,0%

ETC 127.595 15,9%

CTC 623 0,1%

Total 799.999 100,0%

3.2 Veículos cadastradosA quantidade de transportadores em cada categoria permite obter uma compreensão inicial a respeito do mercado de TRC.No entanto, para melhor compreensão do setor, mostra-se necessário avaliar, também, os registros de seus veículos noRNTRC.

É importante salientar que os veículos cadastrados no banco de dados do RNTRC não representam necessariamente umveículo de transporte de carga completo. São considerados veículos tanto aqueles que possuem tração quanto os que sãotracionados e rebocados por outros, conforme definições do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) e da AssociaçãoBrasileira de Normas Técnicas (ABNT).

O termo veículo é originário do latim vehiculum e se refere a todo e qualquer meio de transporte existente, seja motorizadoou não, por quaisquer vias (terrestres, marítimas ou aéreas). O CTB não define o significado do termo veículo, masapresenta uma definição para os termos 'trator' e 'reboque'. De acordo com o CTB, o termo 'trator' refere-se ao veículoautomotor construído para realizar trabalho agrícola, de construção e pavimentação, e para tracionar outros veículos eequipamentos; o termo 'reboque' refere-se ao veículo destinado a ser engatado atrás de um veículo automotor (BRASIL,1997).

O CTB define, ainda, 'veículo automotor' como todo veículo que possui motor de propulsão e que se movimente por seuspróprios meios, utilizado para o transporte viário de pessoas e cargas, ou para tração viária de outros veículos. Paracomplementar, o termo 'veículo de carga' está definido no CTB como aquele destinado ao transporte de carga, podendotransportar, além da carga, dois passageiros, exclusive o condutor. Ainda, de acordo com o CTB, os veículos automotoresenglobam os veículos unitários (caminhão simples) e as combinações veiculares (trator + reboque). As definiçõesapresentadas pela ABNT na Norma NBR 9762 (ABNT, 2006), que trata de veículos rodoviários de carga, seguem asmesmas definições do CTB.

No RNTRC, o cadastro dos veículos é feito a partir de suas placas. No Brasil, cada parte de um veículo de carga completo

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possui uma placa distinta. Assim, cada veículo de tração ou cada veículo rebocável que possuir uma placa é cadastradoseparadamente no sistema.

Um veículo completo pode ser composto de até quatro partes, e possuir, dessa forma, quatro placas distintas cadastradasno RNTRC. Um exemplo dessa situação é o rodotrem, que possui um caminhão-trator, dois semirreboques com carroceria,além de um dolly, considerado um semirreboque sem carroceria. Destaque-se, portanto, que os valores de "quantidade deveículos" mencionados neste documento referem-se à quantidade de placas cadastradas para cada tipo de veículo detração ou rebocável.

Os dados referentes à quantidade de veículos de tração e de veículos rebocáveis de cada categoria são apresentados naTabela 2.

TABELA 2 – Quantidade de veículos, segundo a categoria do transportador.

Categoria Quantidade de veículos %

TAC 840.322 57,1%

ETC 624.350 42,4%

CTC 6.526 0,5%

Total 1.471.198 100,0%

As cooperativas participam com menos de 1% do total de registros de veículos, enquanto os autônomos são proprietáriosde mais da metade deles. É importante lembrar que a participação de autônomos, no total de transportadores, é de 84%enquanto seus veículos representam apenas 57% da frota total.

Avaliando-se apenas a distribuição dos veículos que possuem tração (caminhão simples e caminhão-trator) em relação àscategorias de transportador, nota-se uma maior concentração desses veículos em posse dos transportadores autônomos(63,1% do total), como observado na Tabela 3.

TABELA 3 – Quantidade de veículos de tração, segundo a categoria do transportador.

Quantidade de veículos de tração Caminhão simples + trator %

TAC 669.803 63,1%

ETC 387.964 36,5%

CTC 4.304 0,4%

Total 1.062.071 100,0%

A relação entre a quantidade de veículos e a quantidade de transportadores define o tamanho médio da frota de veículospor categoria de transportador, ou seja, a quantidade média de veículos que cada transportador possui. Os dados daTabela 4 apresentam os valores de frota média.

Considerando todos os veículos (tração e rebocáveis), é interessante notar que as cooperativas apresentam um tamanhomédio de frota maior que as demais categorias, uma vez que a Lei das Cooperativas (BRASIL, 1971) estabelece umaquantidade mínima de vinte cooperados para a constituição de uma cooperativa.

Utilizando apenas os dados de veículos de tração para o cálculo do tamanho médio da frota, por categoria detransportador, nota-se que os autônomos possuem, em média, apenas um veículo de tração, enquanto as empresas ecooperativas possuem, em média, três e sete veículos de tração (Tabela 5).

TABELA 4 – Tamanho médio da frota, por categoria de transportador.

Categoria Quantidade de veículos / Quantidade de transportadores

TAC 1,25

ETC 4,89

CTC 10,48

TABELA 5 – Tamanho médio da frota de veículos de tração, por transportador.

Categoria Quantidade de veículos de tração* / Quantidade de transportadores

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TAC 1,00

ETC 3,04

CTC 6,91

3.3 Idade média da frotaOs valores de idade média da frota foram obtidos de forma ponderada, considerando-se a idade dos veículos de cadacategoria de transportador e a respectiva quantidade de veículos pertencentes a cada faixa etária. A seguir seráapresentada a idade média da frota dos transportadores autônomos, das empresas e das cooperativas, além da idademédia geral dos veículos.

A idade média dos veículos do RNTRC, se considerados veículos de tração e veículos rebocáveis, é de aproximadamente17 anos (lembrando que o ano de análise é 2008). Cabe ressaltar que os veículos de tração (caminhão simples ecaminhão-trator) apresentam idade média bastante superior aos veículos rebocáveis (reboques e semirreboques), comopode ser visto na Tabela 6.

TABELA 6 – Idade média da frota, segundo a categoria do transportador.

TAC ETC CTC Geral

Tração* Rebocáveis Tração* Rebocáveis Tração* Rebocáveis Tração* Rebocáveis

22,82 14,89 12,02 10,52 15,68 13,08 18,85 11,81

21,43 11,48 14,61 17,17

* valores incluindo apenas CSp e CTr

A idade média dos veículos apresenta grande variação, quando consideradas as categorias de transportadores. Ostransportadores autônomos possuem frota com idade média superior às demais categorias, fato que pode ser atribuído àdificuldade histórica que os TACs têm em acessar programas de financiamento para renovação da frota (CNT, 2008).

3.4 Distribuição espacial dos transportadores e da frota de TRCNesta seção, serão apresentadas análises espaciais, considerando as principais características do TRC (quantidade detransportadores, categoria de transportador, idade da frota, tamanho da frota etc.). Para as análises espaciais foramexcluídos os veículos de apoio, pois eles não realizam o transporte de cargas. Foram excluídas, também, as Caminhonetes-furgão, pois estas são utilizadas apenas como veículos de auxílio, especialmente em áreas urbanas, não apresentandoparticipação significativa no mercado de TRC.

Assim, na Tabela 7, os transportadores foram organizados de acordo com sua categoria e quantificados por regiãobrasileira. Pode-se observar que a maioria dos transportadores, em todas as categorias, concentra-se na região sudeste,com 50,4% dos registros (402.999 transportadores). Na região norte, encontra-se a menor quantidade de transportadores,com 24.094 transportadores (3,01% do total). Percebe-se elevada concentração dos TACs na região sudeste,correspondendo a 51,0% dos registros dessa categoria. Em relação às ETCs, as regiões sudeste e sul apresentampercentuais elevados, com 47,2% e 32,7% respectivamente. As CTCs apresentam-se também concentradas nestas regiões,mas com maior quantidade na região sul.

A Figura 1 apresenta a distribuição das três categorias de transportadores, agrupadas nos estados brasileiros. Os estadosda Bahia e de Pernambuco possuem maiores quantidades de TACs registrados do que os outros estados da regiãonordeste. Nessa região, as quantidades de ETCs e CTCs são semelhantes em todos os estados.

TABELA 7 – Quantidade de transportadores, separados por categoria e região.

Quantidade detransportadores

Centro-oeste Nordeste Norte Sudeste Sul Total

TAC

52.439 89.557 18.974 342.582 168.229 671.781

7,8% 13,3% 2,8% 51,0% 25,0% 100,0%

ETC7.193 13.448 5.088 60.196 41.670 127.595

5,6% 10,5% 4,0% 47,2% 32,7% 100,0%

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CTC 28 76 32 221 266 623

4,5% 12,2% 5,1% 35,5% 42,7% 100,0%

FIGURA 1 – Distribuição espacial de transportadores nos estados brasileiros.

Na região centro-oeste, ocorre maior concentração de TACs no estado de Goiás, enquanto ETCs e CTCs aparecem emquantidades equivalentes em todos os estados. Por fim, na região sudeste, os TACs e as ETCs estão concentradosprincipalmente nos estados de São Paulo e Minas Gerais.

A distribuição dos TACs por estados é apresentada na Figura 2. O estado de São Paulo apresenta a maior concentraçãode TACs, seguido pelos estados de Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul.

Os estados da região sudeste apresentam maior concentração de TACs, seguidos pelos estados da região sul. Já osestados da região norte apresentam a menor quantidade de registros.

FIGURA 2 – Distribuição espacial de TACs nos estados brasileiros.

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A distribuição agregada das ETCs no Brasil, por estados, é apresentada na Figura 3. O estado de São Paulo apresenta amaior concentração de ETCs, seguido pelos estados de Minas Gerais, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

As ETCs apresentam maior quantidade de registros nas regiões sul e sudeste, de maneira semelhante ao que ocorre comos TACs. A região norte apresenta o menor percentual de registros de ETCs do País.

A distribuição agregada das CTCs no Brasil é apresentada na Figura 4. Nessa categoria de transportador, o estado do RioGrande do Sul é o que apresenta a maior concentração, seguido pelo estado de Minas Gerais.

FIGURA 3 – Distribuição espacial de ETCs no Brasil.

FIGURA 4 – Distribuição espacial de CTCs no Brasil.

Os estados das regiões sul e sudeste apresentam maior quantidade de registros de CTCs, semelhantemente ao que ocorrecom os TACs e ETCs. No entanto, ao contrário do que ocorre com essas duas outras categorias, a maior parte das CTCsconcentra-se na região sul e não na região sudeste.

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4. Considerações FinaisAs análises presentes neste documento foram realizadas a partir dos dados do Registro Nacional de TransportadoresRodoviários de Cargas – RNTRC, que é um registro de transportadores que realizam o transporte rodoviário de cargas porconta de terceiros, mediante remuneração. Transportadores e veículos que não atendem a essa restrição e, portanto, nãoestão cadastrados no RNTRC, não estão contemplados nestas análises.

Considerando que diferentes tipos de veículos causam diferentes externalidades ao ambiente e devem, portanto, ser tratadosde maneira distinta, para estudos de financiamento da frota, estatísticas de acidente, entre outros, as análises da frotadesagregam os veículos em: veículos de tração (caminhão simples e caminhão-trator), veículos rebocáveis (reboques esemirreboques), além de caminhonetes-furgão e veículos de apoio operacional. Esta desagregação permite analisar demaneira distinta esses tipos de veículo quanto à idade, propriedade, distribuição espacial e tipos de carroceria.

As empresas de transporte representam menos de 16% do total de registros. No entanto, estas possuem mais de 42% dototal da frota registrada. Quanto ao tamanho da frota, as cooperativas apresentam, em média, apenas 10,48 veículos, valorbastante inferior à quantidade mínima de cooperados exigida para constituir uma cooperativa.

Os veículos pertencentes aos TACs são os que apresentam idades médias mais elevadas, concentrando-se nas regiõessudeste e sul. Apesar disso, considerando todos os veículos do RNTRC, a frota mais antiga concentra-se no estado deGoiás. É importante lembrar que o transporte é uma atividade dinâmica, ou seja, a frota cadastrada em determinada regiãoou Estado não se limita ao transporte de cargas apenas naquela região ou Estado. Grande parte dos transportadorespossui atuação em nível nacional, ou seja, presta o serviço remunerado de transporte de cargas para todas as regiões dopaís.

Outro aspecto importante a ser ressaltado é que os dados utilizados para a estruturação deste trabalho, referem-se aoregistro de transportadores durante a vigência da Resolução ANTT no. 1737/06. A partir da publicação da Resolução ANTTno. 3056/09, o RNTRC deixou de ser apenas um cadastro de transportadores e passou a possuir caráter de habilitação,incluindo novas exigências aos transportadores e aos veículos. Após o recadastramento dos transportadores e de seusveículos poderão ser verificadas as mudanças decorrentes dessa regulamentação. Este trabalho tem um papel fundamentalpara estudos futuros, pois poderá servir como base para constatação de alterações no mercado de TRC e,consequentemente auxiliar na avaliação da efetividade da intervenção regulatória no setor.

ReferênciasABNT. NBR 9762: Terminologia. Associação Brasileira de Normas Técnicas, Rio de Janeiro, RJ, 2006.

ANTT. Agência Nacional de Transportes Terrestres. Resolução nº 3.056. Dispõe sobre o exercício da atividade detransporte rodoviário de cargas por conta de terceiros e mediante remuneração, estabelece procedimentos para inscrição emanutenção no Registro Nacional de Transportadores Rodoviários de Cargas – RNTRC e dá outras providências. AgênciaNacional de Transportes Terrestres. Diário Oficial da União, 13 março 2009.

BRASIL. Lei nº 5.764. Define a Política Nacional de Cooperativismo, institui o regime jurídico das sociedades cooperativas,e dá outras providências. Diário Oficial da União, 16 dezembro 1971.

BRASIL. Lei no 6.813. Dispõe sobre o transporte rodoviário de cargas, e dá outras providências. Diário Oficial da União,10 de julho 1980.

BRASIL. Lei no 7.092. Cria o Registro Nacional de Transportes Rodoviários de Bens, fixa condições para o exercício daatividade e dá outras providências. Diário Oficial da União, 20 de abril 1983.

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