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INSTITUTO DO PATRIMÔNIO ARTÍSTICO CULTURAL DA BAHIA Memorial Descritivo PROJETO DE PRESERVAÇÃO DO ENGENHO FREGUESIA Implantação do Parque do Engenho Freguesia Museu do Recôncavo Wanderley Pinho Candeias – Bahia.

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INSTITUTO DO PATRIMÔNIO ARTÍSTICO CULTURAL DA BAHIA

Memorial Descritivo

PROJETO DE PRESERVAÇÃO DO ENGENHO FREGUESIA

Implantação do Parque do Engenho Freguesia Museu do Recôncavo Wanderley Pinho

Candeias – Bahia.

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SUMÁRIO 01 – APRESENTAÇÃO 02 – HISTÓRICO DO ENGENHO 03 – INTERVENÇÕES FÍSICAS REALIZADAS 04 – O ENTORNO DO ENGENHO 4.1 – ASPECTOS GERAIS E FISIOGRÁFICOS 4. 2 – INPACTOS AMBIENTAIS 4. 3 - A ENSEADA DE CABOTO 4. 4 - O DISTRITO DE CABOTO 05 - A CASA GRANDE E CAPELA 5.1 - CARACTERÍSTICAS ARQUITERTÔNICAS 5. 2 - ESTADO FÍSICO 06 - A FÁBRICA 07 - O MUSEU DO RECÔNCAVO 08 - PROJETO DE RESTAURO 09 - PROPOSTA GLOBAL DE PRESERVAÇÃO 10 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 11 - CRÉDITOS - EQUIPE TÉCNICA 12 - ANEXOS 12.1 - DOCUMENTAÇÃO FOTOGRÁFICA E ICONOGRÁFICA 12.2 - ESCOPO TÉCNICO - ESPECIFICAÇÕES 12.3 - PROPOSTA PARA RESTAURAÇÃO DOS BENS MÓVEIS E

INTEGRADOS

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01. APRESENTAÇÃO O antigo Engenho Freguesia, atual Museu do Recôncavo Wanderley Pinho

(MRWP), está localizado na enseada do Caboto, à margem da Baía de Todos os Santos (BTS), em frente à Ilha de Maré, a 65 km de Salvador, reunindo no mesmo local expressivos valores do patrimônio construído e natural. O distrito de Caboto pertence ao município de Candeias que integra a Região Metropolitana de Salvador e o Recôncavo, conhecido desde o século XVI como a faixa de terra formada por mangues, baixios e tabuleiros que contornam a BTS.

O conjunto, considerado de elevado valor monumental, de meados do século XVIII, é constituído da Casa Grande, desenvolvida em quatro pisos, com Capela anexa. A edificação da Fábrica, de um só pavimento, está localizada próxima ao cais. Possui, ainda, um píer em concreto armado.

Tombado federalmente, em 1944, o monumento foi restaurado entre 1970/71, passando a ser sede do Museu do Recôncavo, atualmente fechado. Apesar de estar em péssimo estado físico, a Casa Grande/Capela conserva suas características arquitetônicas, representando um raro exemplar da arquitetura rural do Brasil Colônia. Já as instalações da fábrica estão em ruínas, permanecendo apenas remanescentes de sua antiga estrutura.

Seu entorno, considerado pelo Estado como Patrimônio Natural, é constituído por uma grande área com um relevo bastante variado, formado por diversos grotões que contornam uma área embrejada com uma lagoa e um manguezal. Apesar de já ter sido antropizada desde os tempos dos canaviais, e de ter tido a sua mata nativa substituída, oferece excelente visual em função das diversas formas volumétricas de sua massa verde, tendo como pano de fundo o mar da BTS.

Inicialmente este texto situa o Engenho Freguesia em seu contexto histórico. Em seguida, levanta alguns aspectos sócio-ambientais, com relação à área do entorno no qual o monumento está inserido e suas vinculações com a da Baía de Todos os Santos, apresentando uma primeira avaliação da lagoa e dos demais atributos que configuram o patrimônio natural, além de abordar os impactos ambientais existentes. Mais adiante trata das principais características e do estado físico da Casa Grande/Capela e da Fábrica, bem como da trajetória do Museu em seus 34 anos de existência. E finaliza com a apresentação dos projetos arquitetônicos de restauração e reconstrução física das suas instalações, bem como do futuro Projeto Global de Preservação e Revitalização de todo o conjunto, enfocando as propostas para a criação do Parque do Engenho Freguesia Museu do Recôncavo Wanderley Pinho.

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02 – BREVE HISTÓRICO DO ENGENHO

Entre os diversos historiadores, Wanderley de Araújo Pinho foi quem levantou de forma mais ampla o perfil histórico do Engenho Freguesia, em sua monografia de 1946, tendo obtido o primeiro prêmio no concurso promovido pelo Instituto do Açúcar e do Álcool. Neste trabalho estão registrados diversos aspectos da vida brasileira entre o período de 1552 a 1944, o qual foi considerado uma inestimável contribuição histórica e do qual foram extraídos este breve histórico.

Freguesia que já foi considerado como um dos engenhos mais produtivos de todo o Recôncavo e teve uma trajetória histórica bastante rica, representando um valioso testemunho da própria história do Brasil Colônia.

A economia do Recôncavo, basicamente vinculada à lavoura açucareira, sofreu grandes oscilações em seus quatro séculos de existência. Nos primeiros 50 anos era uma cultura próspera e crescente, que chegou a fazer de Portugal o maior produtor mundial de açúcar.

Em 28/07/1542, Afonso Torres recebe de Pereira Coutinho – capitão e Governador da Bahia - a sesmaria que partindo do porto de Tubarão até o Rio Matoim possuía três léguas de largura. O Governador Mem de Sá, considerado “O Conquistador do Recôncavo”, fez a doação das terras onde se localiza o Engenho Freguesia, a Sebastião Álvares, que veio de Portugal, com o título de Oficial da Fazenda Real, em 1553. Somente após a grande guerra de Mem de Sá com índios do Recôncavo, (1559 – 1560) a região Matoim foi considerada segura para o estabelecimento do homem branco.

Na verdade foi à guerra ao gentio que determinou os primeiros traçados de ocupação e da exploração econômica da nova terra. Portanto, não foram às bacias hidrográficas e as terras férteis que levaram a penetração, mais sim os sucessos políticos e militares que permitiram a concessão das sesmarias, que veio estabilizar as propriedades e disciplinar o inicio da colonização brasileira.

Sebastião Álvares, por volta de 1584, doa ou vende as terras do Engenho Freguesia ao filho Sebastião de Farias, que provavelmente foi o construtor das primeiras instalações do Engenho Freguesia.

Quanto a tais instalações desta época, o primeiro grande cronista civil e também Senhor de Engenho, o português GABRIEL SOARES DE SOUSA, que chegou ao Brasil em 1569, assim descreve:

“Saindo pela boca de Matoim a fora, virando sobre a mão Direita, vai a terra fabricada com fazendas e canaviais dali a meia légua, onde está o outro engenho de Sebastião de Faria, de duas moendas que lavram com bois, o qual grandes edifícios, assim do engenho como de casas de purgar, de vivendas e outras oficinas e uma formosa igreja de Nossa Senhora da Piedade, que é freguesia deste limite, a qual fazenda mostra tanto aparato da vista do mar que parece uma vila”.

O Padre Fernão Cardim, percorrendo os 36 engenhos existentes até então no Recôncavo, descreve que dentre eles havia os de Água Rasteira e os de Água Copeiro. E

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outros que usam bois conhecidos como Trapiches, como eram o do Engenho Freguesia. Este último tipo não dependia de água, que às vezes faltava, e eram mais produtivos, apesar de serem mais caros. O de Sebastião Farias chegou a utilizar 60 bois, trabalhando o ano todo, alternando de 12 em 12 horas, começando a meia noite e terminando a três ou quatro horas do dia seguinte. Além do grande número de escravos, havia os carpinteiros, ferreiros, feitores e outros oficiais, comandados pelo Mestre do Açúcar, que na prática era o verdadeiro Senhor de Engenho, o qual recebia remuneração mais alta, só comparada aos capelães.

O Recôncavo foi objeto de vários ataques e saques dos piratas ingleses em 1587 e dos holandeses em 1599 e 1604. As concessões de sesmaria traziam como condição que os sesmeiros montassem seu esquema de defesa com seus escravos, barcos e armas, além da ajuda do Estado. Conforme destaca Milton Santos, além de defender suas terras os senhores de engenho tinham também a responsabilidade de socorrer as cidades contra os ataques dos selvagens e dos corsários. A distribuição das sesmarias pela coroa portuguesa, para implantação dos engenhos, tinha como objetivo a criação de baluartes de defesa, repetindo a experiência feudal no novo continente. Entretanto apesar da descrição feita por Frei Vicente, não há certeza se o Engenho Freguesia foi realmente vítima destes ataques, que aconteceram nos engenhos instalados mais próximos dos rios e do mar, por onde escoavam sua produção e eram abastecidos de mercadorias.

Durante o século XVII o Engenho Freguesia foi mantido na mesma família, por via sucessória, através de quatro gerações, até cerca de 1680 – 1690, época em que Clara da Franca, viúva de um dos bisnetos de Sebastião de Farias – Luiz Pais Florão – o vendeu a Antonio da Rocha Pita. Entretanto seu filho João Pais Florão, por morte de seu pai, já havia arruinado o patrimônio da família, levando o engenho a parar de moer por alguns anos, até sua nova venda.

O comprador do Engenho Freguesia – Antonio da Rocha Pita – ficou conhecido como um dos cinco maiores possuidores de terra da Bahia e do Norte do Brasil. Em 1675, por ordem régia do Conselho Ultramarino, ele é comparado aos Ávila, Guedes de Brito, Afonso Sertão e Barbosa Leal. Além de latifundiário, era também possuidor de navio que transportava escravos vindos da África, atividade na época estimulada e premiada pelo Estado.

Com relação à mão de obra escrava, segundo Pinho, em 1811 foi realizado a primeira avaliação de escravos do Engenho Freguesia, perante o Juiz de Órfãos, sendo arrolados 82 escravos. Entre eles haviam os considerados “defeituosos, velhos, aleijados de uma perna, quebrado da virilha, cego de um olho, com o vício de fugir e furtar”. Entre as mais diversas profissões, as mais comuns eram a de pedreiro, carpinteiro, oficial de caldeira, purgador, serviço de enxada, trabalhador da moenda, carreiro, arrais de saveiro, marinheiro, do serviço de horta, lavadeira, costureira, bordadeira e demais serviços domésticos. Já no inventário de 1856, a população havia crescido para 163 escravos. Havia escravos que eram senhores de outros escravos. E escravos que eram utilizados como moeda de troca (peças) em pagamento de impostos. E eram cedidos para obras militares, ou eram trocados por ouro ou tabaco. Com relação ao tráfego de escravos, conforme destaca Sérgio Buarque de Holanda, os portugueses tinham muita prática com os escravos negros, pois muito antes de 1500 já exploravam este tipo de mão de obra em Portugal, trazida das possessões ultramarinas. E este tráfego continuou até as vésperas da abolição, conforme esclarece Cid Teixeira, pois eram trazidos por navios de várias bandeiras, que declaravam ter chegado ao

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porto de Salvador sem cargas, quando na verdade já haviam desembarcado os negros nos ancoradouros da praia de Chega Negro em SSA ou no Porto de Sauípe no litoral norte.

Durante o século XVIII, com a morte de Antonio, entre 1725 e 1726, o engenho foi passado por herança aos seus descendentes, até que em 1785 estava nas mãos de um de seus filhos – Cristóvão da Rocha Pita - que também era proprietário do engenho vizinho Caboto. Era Capitão-mor, sertanista, latifundiário, vereador e ficou viúvo, por 54 anos. Em 1760 recebe de seu irmão uma grande herança, tendo incorporado o Engenho Caboto à Freguesia. Além de recuperar as plantações e os pastos, Pinho sugere que Cristóvão poderia ter sido o construtor da atual casa grande e capela, pelo fato de ter reconstruído a fábrica nesta mesma época.

Já em meados do século XIX, o Barão e depois o Conde de Passé - Antonio Bernardino da Rocha Pita e Argolo - neto de Antonio Rocha Pita e sobrinho-neto do Capitão Cristóvão, não conseguindo a anulação da partilha, passa a comprar a parte dos demais herdeiros, reintegraram as terras do Caboto e Freguesia e recuperou todo o conjunto.

Com relação às crises, durante o século XVI, de 1560 a 1600, a lavoura de cana era próspera e crescente, pois era uma fase de formação, estímulos e proteção oficial. Havia liberdade de produção, de transportes, nos preços e no comércio. Portanto havia poucas restrições.

No século XVII, ocorreram muitas crises. A pior foi em 1626, decorrente da guerra holandesa, que resultou em falta de dinheiro, miséria, destruição de engenhos e povoados, e até na ocupação de imóveis pelos combatentes. Em 1631 o ambiente econômico da Bahia era sombrio. E em 1666, já havia uma grande depressão econômica. O aumento dos impostos, a peste, as doenças e a alteração da moeda que faziam as mercadorias subissem de preço, elevando as despesas dos engenhos, contribuíram para as crises. Vale acrescentar que a invasão holandesa durou de1624 a 1649, portanto foram 25 anos de saques e incêndios ocorridos na Bahia, (32 engenhos em 1649) que contribui para tais momentos de crises.

No início do século XVIII dava impressão de ter havido uma fase próspera, sobretudo com a elevação do preço do açúcar. Mas essa alta veio beneficiar os concorrentes produtores em outras colônias, como o açúcar produzido pelos holandeses nas Antilhas. . Em seguida, a situação foi agravada com a exploração das minas de ouro e diamantes, que encareceram tudo, especialmente os bois, cavalos e escravos. A mudança da capital para o Rio de Janeiro também influiu neste processo. Somente por volta de 1766, verifica-se uma nova fase de prosperidade, com os Alvarás de Abolição das frotas, que levou a normalidade dos transportes, que acumulava as safras nos armazéns por um longo período, sem ser exportado, e represavam o recebimento dos gêneros pelo agricultor que ficava sem mantimentos. Foram então abolidas as taxas sobre os preços dos víveres e houve o restabelecimento da liberdade de comércio interior nas colônias. Por outro lado Esterzilda observa que apesar de toda a crise econômica deste século, foi o período em que houve mais investimento na arquitetura religiosa e civil, sobretudo nas instalações dos engenhos, por conta justamente da produção do ouro que escoava pelos portos de Cachoeira e Salvador.

A adoção dos avanços tecnológicos como o arado, a introdução das máquinas a vapor e a abertura dos portos brasileiros a todas as nações, fazem o número de engenhos dobrarem no inicio do século XIX, restabelecendo um dos períodos de prosperidade.

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Entretanto, segundo a síntese de Góis Calmon, citada por Pinho, durante esta época “vão se repetir às crises do século XVII, com rápidos períodos de satisfação”. Haja vista as crises geradas com a Guerra da Independência, a cólera em 1855, e as secas na década de 1860. Contudo, logo depois da guerra de Secessão nos Estados Unidos, o preço do açúcar sobe novamente e aumenta as exportações, que apesar da guerra do Paraguai, houve um novo momento de prosperidade.

Todavia, com a morte da filha, a Baronesa de Cotegipe, entrou o Conde de Passé numa fase de decadência que se refletiu diretamente no Engenho Freguesia, que foi por algum tempo um castelo a beira mar, animado e festivo. Antonio Bernardino, que recebeu as condecorações de Coronel, Fidalgo-Cavaleiro, Comandante Superior da Guarda Nacional, Barão, Visconde e depois Conde morre em 1877, deixando sua herança para as netas. O engenho passa então a ser administrado pelo Barão de Cotegipe – João Maurício Wanderley, que era muito ausente, chegando a ir morar com a família no Rio de Janeiro.

Em 17 de junho de 1886, a neta Maria Luísa casa-se com o Dr. João Ferreira de Araújo Pinho, político, Ex-Secretário da Presidência da Bahia, o então deputado, passa a administrar Freguesia, numa fase crítica. Como político e possuidor de outros engenhos, seu novo dono era obrigado a freqüentes ausências. Mas manteve a fábrica, que moia e produzia o açúcar, que enchia as lanchas que levavam para os trapiches da cidade baixa, apesar da crise e das dívidas.

A abolição da escravatura, em 1888, e o advento das usinas deram o golpe final nos engenhos, que praticamente desapareceram com a criação do Instituto do Açúcar e do Álcool, em 1933, onde foi instaurado um verdadeiro monopólio de fabricação em favor das usinas.

A última safra de cana moída foi a de 1898-99, quando passa para a classe da fazenda fornecedora de canas e em 1900 Freguesia para de moer.

A partir de 1947, inicia-se um novo ciclo econômico no Recôncavo, com o começo da exploração de petróleo em vários campos, incluindo o de Candeias. Em 1950 entra em funcionamento a Refinaria de Mataripe. E em 1967, surgiu o Centro Industrial de Aratu – CIA, nos municípios de Candeias e Simões Filho. Em seguida foi implantado o Pólo Petroquímico da Bahia.

Vale destacar que, todo este novo processo de industrialização afetou diretamente o meio ambiente, gerando impactos sócio-econômicos e várias formas de contaminação, poluição e agressão ambiental.

Em 1968, o Governador do Estado da Bahia – Luiz Viana Filho, criou por decreto o Museu do Recôncavo Wanderley Pinho, cuja inauguração ocorreu em 15 de fevereiro de 1971, após ter sido novamente restaurado pelo Estado, em convênio com o CIA.

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03 – INTERVENÇÕES FÍSICAS REALIZADAS Considerando que as instalações atuais correspondem às construídas ou

reconstruídas em 1760, pelo Capitão Mor Cristóvão da Rocha Pita, posteriormente foram realizadas as seguintes intervenções físicas:

Em 1817, o filho bastardo do homônimo Capitão Mor, realiza reparos gerais no engenho. (Pinho)

Em 1856/57, o Conde de Passé – Antonio Bernardino da Rocha Pita e Argolo, restaura todo o conjunto da Casa Grande / Capela / Fábrica, sem alterar a antiga fisionomia arquitetônica, onde foram recompostos o mobiliário e todos os demais objetos de uso doméstico. (Pinho)

Em 1948, o IPHAN, promoveu restaurações parciais, através da administração técnica do “Engenheiro Guirlando”, que “cometeu o erro em mandar caiar o salão de visitas” não conservando as pinturas murais existentes.

Após a criação do Museu do Recôncavo, em 1970/71 a Casa Grande e Capela são restauras pela Superintendência do CIA, na diretoria do Eng. Rivaldo Guimarães, pelo Departamento de Edificações de Obras Públicas do Estado da Bahia - DEP, na diretoria do Eng. Carlos Guimarães, sob a orientação técnica do Professor Jair Brandão, do DPHAN (atual IPHAN). E em fevereiro de 1971 o museu foi inaugurado. (Rocha / IPAC-BA)

Em 1973, houve novas obras gerais de recuperação, sob administração da Superintendência do CIA. (Diário Oficial – 29/11/1973).

Em 1978, o telhado da Fábrica foi novamente recuperado e foi aplicada uma pintura geral em todo o prédio. (IPAC-BA)

Entre 1984/85, novas obras foram realizadas pela empresa COMPAR - Construção, Pavimentação, Restauração Ltda., tendo como Responsável Técnico o Eng. Lauro Barreto Fontes (Jornal A TARDE – 20/09/85).

Em 1997, foram realizadas novas obras, com duração de cinco meses, através do Convênio da SEC com a SURCAB (Jornal A Tarde 02/12/97).

Entre 1979/82, ocorreram novas obras realizadas pelo DEP. (Jornal A Tarde – 12/11/81).

Em 2003, foram realizadas obras parciais de recuperação interna e da cobertura, no período de julho a dezembro, mediante contrato de nº. 025/2003, celebrado entre o IPAC e a empresa Domo Arquitetura e Projetos Culturais Ltda. (arquivo IPAC).

Em 2009, foram realizadas obras de consolidação da casa grande e capela, recuperação do sistema de drenagem do entorno do casarão, recobrimento de vegetação dos taludes do entorno do casarão, no período de junho de 2009 a maio de 20010, mediante financiamento da PETROLEO DO BRASIL S.A (PETROBRAS) mediante Contratos 6000.003007.07.02 e 6000.00531010.09.2

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firmados entre a Fundação de Apoio a Pesquisa e Extensão (FAPEX) com fiscalização e orientação do IPAC e do IPHAN e do Contrato de Obras Públicas nº 106/2009 celebrado entre o IPAC e a Empresa Mehlen Construções LTDA.

Em 2011 ocorreram obras no andar nobre, com serviços de recuperação de esquadrias externas, instalação elétrica provisória, raspagem, calafetagem e enceramento de assoalhos e execução de bloco de sanitários. 04 – O ENTORNO DO ENGENHO FREGUESIA 4.1 – ASPECTOS GERAIS E FÍSIOGRÁFICOS Por estar localizado na borda da Baía de Todos os Santos – BTS, bem defronte da

Ilha de Maré, a área de entorno do antigo Engenho Freguesia possui várias características fisiográficas e atributos naturais, comuns ao arquipélago soteropolitano. Segundo o PROJETO DE OLHO NO AMBIENTE, a BTS é formada por 55 ilhas e ilhotas, nas quais 39 são marítimas e 16 fluviais. O arquipélago é dotado de belíssimos cenários e magníficos atributos naturais (Guedes).

Conforme o Art. 216, inciso V, da Constituição do Estado da Bahia, de 05/10/1989, toda a BTS e sua zona costeira é considerada Patrimônio Natural Estadual. E em 05/06/1999, de acordo o Decreto nº. 7.595, foi criada a “Área de Proteção Ambiental – APA da Baía de Todos os Santos”, envolvendo as águas e o conjunto de ilhas inseridas na poligonal, formada pela linha da costa, que delimita a Baía e o estuário do Rio Paraguaçu, que inclui a Enseada do Caboto.

Quando da instalação da Capitania da BTS, no início da colonização do Brasil, todas as ilhas pertenciam a Capital da Província da Bahia, cujo território foi posteriormente desmembrado, dando lugar às antigas freguesias (subdivisão do território pela tradição eclesiástica portuguesa). E mais recentemente aos municípios emancipados, como o de Candeias criado em 1958. E pela Lei Municipal nº. 3.207 de 01/07/1982, foram consideradas como Reservas Ecológicas a vizinha Ilha de Maré e a Ilha dos Frades (Guedes).

Nestas ilhas habitam grupos sociais formados predominantemente por pescadores, marisqueiras, artesões e eventualmente de veranistas, compondo um universo nativo próprio e com uma dinâmica sócio-econômica peculiar. Vale o registro da ocupação da Nação Tupinambá, que dominava as terras insulares e continentais do Recôncavo e do litoral brasileiro, muito antes da chegada dos portugueses. Haja visto os vestígios da cultura indígena, quer sejam os bens intangíveis e os materiais, como os diversos Sambaquis (amontoados de casca de ostras e mariscos) que comprovam a “existência de uma intensa atividade de mariscagem ao longo dos estuários, coroas e bancos de areia” (Guedes).

Assim como Salvador, a BTS apresenta um território com contornos bastante recortados, com muitas reentrâncias, saliências acentuadas e um relevo com alturas variáveis

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tendo como ponto mais alto a cota de 125 m. na Ilha dos Frades. E em seguida vem a Ilha de Maré com 105 m. Essas ilhas foram formadas por rochas sedimentares. As ilhas integram o bioma Mata Atlântica, com trechos muito semelhantes as do continente, com vários ecossistemas associados e com densas florestas secundárias em diversos estágios de regeneração. A maior reserva florestal está localizada na Ilha dos Frades, onde foi criada uma APA, juntamente com Itaparica e Iguape, através do Decreto 24.6453, de 28/02/1975, visando à preservação da sua diversidade florística. Segundo o PDDU, a cobertura vegetal ainda existente nessas ilhas atinge “76,49%, sendo 41,71% de vegetação nativa”, apesar de todo o processo de degradação física e ambiental. (Guedes).

A Ilha de Maré, segundo o site do AIC – Aratu Iate Clube, é a terceira maior ilha da BTS, localizada em frente à foz do Rio Cotegipe e a Baía de Aratu, com 1.378,57 ha. É a ilha mais importante a ser integrada ao Engenho Freguesia, dada a sua proximidade e acessibilidade.

Conforme a descrição de Gabriel Soares, “a ilha tem de uma légua de comprimento por meia de largura. E fica a três léguas da Ilha dos Frades e apenas a meia légua do continente, onde existiu um engenho de açúcar de Bartolomeu Pires”.

Dos onze núcleos urbanos existentes, pelo mapa da BTS, Botelho e Oratório são os mais próximos da localização do Engenho Freguesia no continente. Botelho é a quarta praia em número de habitantes e é a única a possuir um terminal marítimo com atracadouro para embarque e desembarque de passageiros e mercadorias, construído pelo Governo do Estado. E Oratório que teve origem na fábrica de cal (caeira) que ficava localizada na fazenda chamada Oratório (Guedes).

Retornando de Botelho em direção ao sul, está a praia de Itamoabo, que possui águas rasas, mornas e cristalinas, propícia para o banho em todos os períodos de maré. Neves é a outra localidade com apenas 20 casas, que surgiu em torno das Capelas de N. S. das Neves, construída pelos Jesuítas no século XVI – mencionada por Gabriel Soares em 1587 – tombada pelo Governo Federal como patrimônio Nacional. Santana é considerada a capital da ilha, com 200 casas, cujo núcleo se formou em torno da Igreja de Nossa Senhora de Santana, do século XIX, padroeira do local. Possui cerca de mil habitantes, que se dedicam à pesca artesanal e a mariscagem. E grande parcela da população feminina produz a tradicional e famosa renda de birro. Apesar de sua importância, o trecho de praia é de mangue, possui muitas formações rochosas e não é propicia para o banho. (Site Aratu Iate Clube).

Já o lado oeste, está o tradicional povoado de Praia Grande, que se desenvolveu em tono da Igreja de Nossa Senhora das Candeias. Possui aproximadamente 200 imóveis, onde habita uma “comunidade negra nagô” que preservaram traços de sua cultura africana, “resquícios de um antigo quilombo”. Além da pesca, seus habitantes desenvolvem atividades de construção de embarcações, em rústicos estaleiros, mantendo uma forte tradição, passada de geração em geração. Vale ressaltar que o “Saveirão de Feira”, o chamado “Saveiro de Vela de Içar” era a embarcação mais tradicional que abastecia toda a região, considerada “um bem cultural típico”, que está em processo de extinção. Outra importante atividade é o “artesanato de cestarias, feito com Canabrava, vegetação hidrófila, endêmica de áreas úmidas (brejos e várzeas) que normalmente é coletado e trançado somente pelos homens, dado o esforço necessário para sua produção”. (Guedes)

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4.2 – IMPACTOS AMBIENTAIS No século XX, os dois marcos geográficos, que delimitam a Bahia do Caboto,

sofreram grandes transformações. Na Baía de Aratu foi implantado o Porto com o mesmo nome. E na Ilha de Madre Deus predominam as instalações petrolíferas da Petrobras.

Com relação à contaminação química do ambiente marinho, desde meados do século passado, a BTS, sobretudo nos seus quadrantes norte e nordeste, vem sofrendo os efeitos negativos do processo de industrialização, que teve início, quando da instalação da primeira refinaria de petróleo no Brasil – Landolfo Alves em Mataripe – RLAM, em 1950. Conseqüentemente vieram as demais atividades correlatas da Petrobras, com as perfurações de poços, implantação de rede de dutos submersos e terminais marítimos de carga e descarga. Por conseguinte ocorreram os desastrosos vazamentos de óleo e de outros derivados do petróleo, causando significativas transformações para o meio ambiente, representando uma primeira fonte de poluição e contaminação das águas, praias e manguezais (Guedes).

Em 1967, a implantação do CIA exigiu a criação do Porto de Aratu, a fim de dar suporte ao transporte marítimo de sua produção, representando uma segunda fonte poluidora. Na década de 80, foi então implantado o COPEC, que também passou a utilizar o Porto de Aratu para escoamento de seus produtos e entrada de matéria prima. (Guedes) E mais recentemente, foi implantado o complexo da Ford em Camaçari, que começou a operar a partir de 2001. Atualmente o Porto de Aratu é administrado pela CODEBA, que opera com quatro terminais. Um para produtos gasosos, com berço de 287 m. de extensão. Outro com 390 m. para granéis líquidos. E dois para granéis sólidos com 600 m. Através do Porto são exportados produtos petroquímicos e siderúrgicos, granito, celulose, frutas, sisal, cobre e veículos. E são importados trigo em grãos, alimentos, equipamentos, malte e produtos químicos. (Site do ICA).

Segundo o Diagnóstico do CRA sobre a Concentração de Metais Pesados e Hidrocarbonetos de Petróleo nos sedimentos e na Biota da Bahia de Todos os Santos, divulgado pelo jornal A Tarde de 01/11/2005, em Madre Deus foi encontrado resíduo de cádmio (Cd) e cobre (Cu). E na Baía de Aratu, foi encontrado arsênio (As), manganês (Mn) além de cobre. E mais acima, próximo a Ilha de Cajaíba, pertencente ao município de São Francisco do Conde, na foz do Rio Subaé, foi encontrado concentrações de zinco (Zn), além de (Cd) e (As). Mas o local mais comprometido é a península de Itapagipe, em Salvador, onde é encontrado o mercúrio (Hg), além de Cd, Cu e As.

Ainda com relação à contaminação química segundo os estudos realizados pelo Departamento de Química Analítica do Instituto de Química da UFBA, tendo como titular a Prof. Drª. Tânia Tavares, “da entrada da Baia de Aratu até o estuário do Rio Subaé, a BTS encontra-se contaminada com cádmio, chumbo, cobre, m-alcanos e de hidrocarbonetos poli cíclicos aromáticos – IHPAs”. E acrescenta que “o cobre deve estar afetando a produtividade da Baía, particularmente no canal entre a Ilha de Maré e o continente onde a concentração atinge valor de 1,1% muito provavelmente proveniente da descarga de concentrado de cobre no Porto de Aratu”. Como uma das conseqüências os “moluscos desta região estão impróprios o consumo para continuado”. (Guedes).

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Com relação ao estuário do Rio Subaé, segundo levantamento realizado em 2001 pelo CRA, divulgados pelo Site da SEI, pelos resultados das análises químicas para metais em sedimentos, houve evidencias quanto à presença de cádmio, cobre, chumbo e zinco. A principal fonte de contaminação dos rios era a Indústria Plumbum, desativada desde 1973, mas que deixou pilhas de escória, rica em chumbo e cádmio, que é lixiviado pelas chuvas e carreados para o rio e conseqüentemente para a BTS. Já a contaminação por zinco e cobre podem ser associadas a esta e outras fontes de poluição, como o Centro Industrial de Subaé.

Dentro deste monitoramento do CRA, foi avaliada a quantidade de nutrientes através da concentração de nitrogênio (N-total) e do fósforo (P-total), com valor acima do índice estabelecido pelo CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente, indicando haver carga orgânica associada ao despejo de esgoto na Bacia do Subaé. Quanto às condições do suporte biológico, as baixas concentrações de oxigênio dissolvido na água, inferior ao parâmetro do CONAMA, também indicam comprometimento do manancial por carga orgânica. A quantidade de matéria orgânica, oriundas dos efluentes urbanos e industriais, é importante, pois ao se decompor, consomem o oxigênio dissolvido na água necessário aos metabolismos respiratórios dos animais e vegetais, ou por envenenamento de espécies, afetando elos da cadeia alimentar, alterando a estrutura das redes tróficas (nutrientes) do ecossistema. Os indicadores microbiológicos também foram avaliados, onde foi constatado que a concentração de coliformes fecais ultrapassam os limites estabelecidos pela legislação, significando que houve lançamento de esgoto em vários pontos da bacia hidrográfica. Na verificação do balanço iônico, o fator pH e os valores de cloreto ficaram dentro da faixa estabelecida. Assim como na avaliação das características fixas da água, os valores de turbidez ficaram dentro dos limites estabelecidos pela Resolução nº 20/86 do CONAMA. Quanto ao índice de qualidade das águas (IQA), variaram de boa a ruim, porque foram considerados apenas os indicadores de contaminação orgânica como os esgotos e efluentes domésticos. Mas, se tivessem considerado os efluentes industriais, os metais pesados e os pesticidas o resultado mudaria, pois existe contaminação industrial em grandes partes da bacia.

A conclusão foi de que o despejo de dejetos orgânicos através dos esgotos domésticos é a principal fonte de contaminação, havendo também um comprometimento pela presença de metais pesados, oriundos do setor industrial. Encerrando o diagnóstico, o CRA apresenta um quadro com o resumo das causas da poluição e contaminação do rio, os indicadores de degradação das águas avaliadas e as ações de controles que deveriam ser implementadas. Tal procedimento deverá ser solicitado ao CRA, para avaliação do estado atual das águas marítimas da enseada e da lagoa do Caboto.

Vale ressaltar que a poluição e a contaminação provocada pelo lançamento dos esgotos sem tratamento adequado, além de prejudicar o desenvolvimento de ovos e larvas dos animais marinhos, prejudicam a balneabilidade das praias afastando seus usuários e visitantes. Já a contaminação do solo (provocada pela falta de esgotamento sanitários, comum em todos os assentamentos insulares, e pelo uso inadequado de fossas negras e sumidouros) vai atingir as águas subterrâneas e consequentemente o sistema de abastecimento de água feito através de cisternas e poços.

Também a atividade de deslocamento e a atracação de navios no Porto de Aratu e em Madre Deus promovem o comprometimento dos “sistemas bentônicos” (destruição dos zobentos) com a alteração do substrato marinho. “Até a década de 90, por cerca de 30 (trinta) anos, ocorreu grande extrativismo mineral submarino de corais coníferos”, sobretudo na

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proximidade das Ilhas de Maré e dos Frades, para a produção de cimento das fábricas COCISA em Paripe e ARATU na Baía de Aratu, provocando a destruição de parte da fauna e da flora marinha. Atualmente continua a ocorrer à coleta indiscriminada de organismos marinhos como o “ouriço do mar (pinaúnas) e peixes (paru, peixe anjo, tainha donzela, diamante) e crustáceos (camarão, palhaço, aranha do mar), utilizados na ornamentação de aquários e para artesanato como a estrela do mar e conchas de moluscos”. (Guedes)

Certas atividades agrícolas e extrativistas também representam um dos principais riscos para a preservação dos remanescentes florestais, sobretudo ao norte da BTS, além de serem atingidas pela proximidade com os terminais petrolíferos de Madre Deus. Na Ilha de Maré, além das atividades agrícolas, existem a pecuária de pequeno porte, implantada em fazendas no centro-norte da ilha, provocando desmatamentos para o plantio de pastagens. Em outras áreas está ocorrendo atividades extrativistas na exploração de madeira, atingindo matas ciliares, nas nascentes e ao longo de riachos intermitentes, existentes nos fundos dos vales, implicando na redução do abastecimento de água potável.

Por outro lado, além de agredir o meio ambiente, o “boom econômico” gerado com a descoberta e exploração do petróleo, promovem profundas alterações na cultura de toda região e graves problemas de natureza sócio-ambientais, com a proliferação de habitações precárias e sem saneamento básico. Assim com o crescimento desordenado dos núcleos habitacionais, por falta de planejamento e controle, muitas edificações invadiram áreas da Marinha, aterraram e ocuparam manguezais e apicuns (mangue seco) e promoveram em determinados locais, a proliferação de edificações inadequadas ao meio e a paisagem (Guedes).

A poluição da atmosfera causada pela queima de combustíveis fósseis e pelos poluentes químicos é gerada, no caso, pelo CIA e pelo COPEC. “O comportamento atmosférico de poluentes químicos é muito complexo, dependendo de diversos fatores químicos, físicos, meteorológicos e geográficos” (Guedes).

4.3 - A ENSEADA DE CABOTO A área possui valiosos ecossistemas e vários atributos naturais. É dotada de uma

exuberante paisagem, formada pela variação da topografia, marcada pelo contraste das elevações com as áreas planas de vale e da praia. O cenário é complementado pela considerável cobertura vegetal que envolve as instalações da Casa Grande/Capela. Embora tenha sido antropizada, a massa verde atual é muito mais densa do que a existente em épocas anteriores sobretudo nos tempos em que predominavam os canaviais, onde toda a Mata Atlântica original foi desmatada para o plantio da cana de açúcar e para alimentar as fornalhas dos engenhos. É bem verdade que grande parte da vegetação continua sendo substituída por plantações de bananas (musa nana) de forma desordenada. E até ilegalmente, como tem acontecido no caso de invasões de terras. Todavia, as bananeiras sempre fizeram parte da paisagem da região, como no caso da Ilha de Maré. O sítio é também dotado de um manguezal, berçário de uma rica fauna, com solo constituído de sedimentos lamosos, que se tornam mais visíveis quando nas marés baixas, assim como no pequeno trecho de praia, delimitada pelo cais de alvenaria, conhecida como a “Praia do Museu”, segundo Guedes.

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Pelos mapas antigos, publicado no livro de Wanderley Pinho, este trecho do continente, localizado entre a Baía de Aratu e a Ilha de Madre Deus, era marcada pela foz do Rio Matuim ou Cotegipe, onde está situado o Engenho Freguesia. Este rio, ao desembocar no mar, formava uma outra pequena baía ou enseada, que seria a de Caboto. Em 1970 foi represada e transformada em uma lagoa, com o aterro realizado para construção da via de acesso próprio ao sítio do engenho, dividindo a área em dois ecossistemas. De um lado a área do manguezal a beira mar. E do outro lado à represa de água doce, interligada apenas por uma tubulação. Atualmente a lagoa está inteiramente dominada pela vegetação Taboa (Typhia sp) que impede a visualização do espelho d’água. Indicada na planta geral da CODEBA como área embrejada.

Pela avaliação realizada em 1997, por Thompison França, a lagoa ou o reservatório que possui área de aproximadamente 30 hectares (dado da CONDER de 1976), sofreu inúmeras alterações com a construção da barragem, provocando o aumento da concentração de nutrientes, principalmente do fósforo e nitrogênio, resultando na proliferação exagerada da Taboa (macrófita aquática), que pode ser considerada até como um sintoma de poluição.

Tal cobertura vegetal fechada dificulta o acesso ao reservatório em quase toda sua extensão e impedi o transito de pessoas. Em suas margens existem várias espécies vegetais como o Dendê (Elaes guianensis), o Araçá (Pisidium sp), a Imbaúba (Poruma sp), a Aroeira (Astromius sp), a Unha de Gato (Mimosa sp), o Genipapo (Genipapa americana), o Pau Pombo (Tapirira guianensis), o Canudo (Iponmea sp) e a Pororoca (Rapanea sp). Neste levantamento foi encontrada uma rica fauna, com a presença de inúmeros pássaros, várias espécies de ofídios, lagartos de porte como o Teiú (Tupinambis teguixin) e mamíferos como o Gambá (Didelphis mansupialis), a Cutia (Dasyopracta), a Preá (Cavia sp) e a Raposa (Cerdocyon thous). Quanto a Ictiofauna, neste primeiro levantamento foram identificados apenas a Traíra (Hoplias malabaricus) e o Tamboatá (Callychthys callychthys).

Ainda segundo Pinho, assim como em outras residências rurais, Freguesia possuía dois famosos viveiros de peixes, “onde eram fisgados na hora de comer”. Eram formados de tanques, cavados “na terra junto ao mar, com um canal de comunicação com uma ou duas comportas...” Pelo inventário de 1811, “o primeiro viveiro era grande e cercado em parte da embocadura por paredão de alvenaria e sobre ele uma casa de recreios, construída sob esteios de madeira e assoalho, já arruinado”. “O segundo era contíguo e cercado de paredes de pilão”. No século XIX, quando as instalações do Engenho foram restauradas pelo Conde de Passé, tais viveiros também foram recuperados, mas depois “desapareceram entupidos”. Tais informações deverão ser confirmadas ou não através de prospecções a serem realizadas, quando da elaboração do diagnóstico detalhado da área.

Para a recuperação e utilização do reservatório Thompison recomenda a retirada, pelo método manual, de pelo menos 1/3 das macrófitas da área interna. A limpeza da vegetação rasteira na margem sudoeste e em um pequeno trecho da margem sul. O cultivo de peixes, através da piscicultura extensiva, utilizando alevinos de espécies apropriadas, para serem criados com alimentação natural. E a construção de equipamentos para a guarda de materiais e fiscalização das atividades voltadas para o eco-turismo, através da implantação do sistema pesque-pague e do turismo náutico, a ser explorado com pequenos barcos de passeios, que possibilitem a observação mais direta da fauna e da flora aquática. Quanto a retira do excesso de vegetação é plenamente justificável por não representar uma agressão ao ecossistema da represa, na medida em que irá trazer melhoria da qualidade da água, além

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de permitir a utilização como área de lazer. Haja visto que os detritos originados pelas macrófitas contribuem para a formação de sedimentos orgânicos, que produzem gás metano e sulfidrico, responsável pelo odor fétido, sentido pela pessoas que transitam na referida via de acesso. Como estratégia de preservação, a recomendação é de seja preparada, para a prática de esportes náuticos e pesca, apenas as margens Sul e Sudoeste, a fim de facilitar o controle e a fiscalização, mantendo as demais margens sem acesso.

Para a implantação da piscicultura extensiva será necessário complementar o levantamento da Ictiofauna e dos parâmetros físico-químicos da água do reservatório. Assim como da água do mar a fim de avaliar o nível de poluição e contaminação, decorrentes dos setores petrolíferos e petroquímicos, possibilitando a realização do referido diagnóstico detalhado de Caboto.

4.4 - O DISTRITO DE CABOTO O distrito de Caboto integra o Município de Candeias, assim como os povoados de

Passé, Mucunga e Passagem dos Teixeiras, sendo neste último onde existia outro importante engenho. Sua sede fica a 46 km. de Salvador, 18,5 km. da cidade de Candeias e a 1,5 km. do Engenho Freguesia.

Segundo a pesquisa realizada pelo grupo de alunos do curso da FTC – Faculdade de Tecnologia e Ciências, em 2004, durante as fases produtivas dos engenhos, o lugarejo desenvolveu-se em torno do transporte de açúcar para a capital. No final do século XVII, o arraial de N. S. das Candeias passou a ser visitado por romeiros de todo o Recôncavo, a partir do milagre atribuído a uma criança cega, que ao se banhar na fonte próxima a igreja, voltou a enxergar. Mas a mudança só ocorreu a partir de 1941, com a exploração dos primeiros poços de petróleo, onde a população começou a se espraiar, ocupando vales e encostas.

Em termos de serviços urbanos, a população é bem atendida quanto ao fornecimento de energia elétrica por parte da COELBA. Bem como pelos serviços de correios e demais meios de comunicação, chegando a possuir uma rádio comunitária, a FM 87.9. O abastecimento de água realizado pela EMBASA chega a 95% dos moradores, embora alguns ainda dependem de poços, cisternas e fontes. Quanto ao esgotamento sanitário é precário, pois só funciona a rede de esgoto mantida pela empresa multinacional Dow Química. Existem ligações clandestinas direcionadas para a rede de drenagem pluvial e conduzidas para córregos, que por sua vez lançam detritos diretamente para o mar ou para as áreas de mangues. A limpeza urbana é feita de forma irregular, com a coleta de lixo de uma a três vezes por semana. Já a varrição é diária por que é realizada por moradores contratados pela Prefeitura. Os serviços de saúde pública são prestados por um posto de atendimento. E o deslocamento de doentes é feito pela Dow Química ou pelo Hospital de Candeias. O distrito possui duas escolas municipais de ensino fundamental, somente até a 4ª série, que integra a rede do município com cerca de 70 escolas.

No ano de 2000, segundo dados do IBGE, a população de Caboto era de apenas 750 habitantes, enquanto na sede do município a população era de 76.748 habitantes. A

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maior parcela dos moradores trabalha nas indústrias instaladas na região e as demais vivem de pesca e de agricultura de subsistência, destacando as plantações de bananas no fundo de quintais. O comércio é muito reduzido e não tem feiras e mercados, obrigando os moradores a se abastecer nos centros comerciais de Candeias ou de Salvador.

Como espaço aglutinadores existe a Igreja de São Roque e pequenos templos evangélicos. Apesar do tamanho da população existem as seguintes organizações sociais: Clube Recreativo São Roque, utilizado como espaço cultural; Associação Comunitária Amigos de Caboto – ACAC; Associação Beneficente dos Moradores de Caboto – ABMC; Cooperativa dos Criadores de Ostras de Caboto - COOPEROSTRA, que integra o Projeto Pró Ostra, formados por famílias de pescadores e marisqueiras, implantada com apoio financeiro da Dow Química e técnico-administrativo da ABAQ – Associação Baiana de Aqüicultura, que controlam a produção das fazendas de ostras, muita das vezes atingidas pela pesca predatória com bombas.

Entre os principais problemas ambientais, além da falta de saneamento básico, há degradação das nascentes dos Rios São Roque e o Capim de Boi, com os desmatamentos para o cultivo da agricultura de subsistência. E a poluição atmosférica causada pelo lançamento de gases tóxicos das indústrias instaladas nas proximidades.

05 – A CASA GRANDE / CAPELA Segundo Pinho, na avaliação de 1811, a descrição da casa é semelhante à de

hoje: “uma morada de casa de vivenda, nobre sobrado com primeiro segundo andares com eirado (mirante), em fundo da dita propriedade outro quarteirão de casa que serve para arranjo da família, tudo feito de pedra e cal, com a caixa de paredes mestras, contígua à dita casa de vivenda uma capela com dois a mesma, acrescentando os consistórios, sacristia, átrio, campanários e coro com forro... de volta na capela-mor e na frente da dita capela uma escadaria que faz entrada da capela e da casa...”. Já na segunda avaliação de 1832, a descrição faz referência a duas cozinhas. “ Tudo muito arruinado, com falta de muitas portas e janelas, e também nas cozinhas também arruinadas...”

No Inventário de 1877, dá as dimensões 22,85 de frente e 22,40m de fundo. E descreve o número de portas, janelas e vãos dos quatro pavimentos. Quanto à época construtiva, o engenho de Sebastião Farias do Século XVI, descrito por Gabriel Soares, poderia ter sido a primeira construção, pois quase nada restou como testemunho dos dois primeiros séculos. Segundo Estersilda, em sua dissertação de mestrado, afirma que do século XVI só ficou à capela das ruínas da Torre de Garcia D’Ávila, em Tatuapara, município de Mata de São João, justificando que a fragilidade da técnica construtiva utilizadas nas construções daquela época foi um dos fatores decisivos para o desaparecimento de tais edificações. E esclarece que torre (além de ser utilizada como base elevada de sustentação dos campanários das igrejas) poderia também se referir aos mirantes, originários dos castelos não fortificados do período medieval. E acrescenta que, do século XVII, o único testemunho que sobreviveu até nossos dias é o Sobrado de João Rodrigues Adorno, em Cachoeira, de 1683, possuindo pátio interno, mas que foi inteiramente descaracterizado como casa de engenho, quando foi adaptado para Casa de Detenção em 1925.

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Pela estrutura da construção, pelos seus ornatos e pela presença de vergas arqueadas (até o século XVII só se usava verga em arco pleno ou romano), a atual construção de Freguesia deve ter sido realmente levantada pelo Capitão-mor em 1760. Pode ter sido posterior ao vizinho Engenho Matoim e contemporâneo do Engenho Caboto, cuja construção ficou inacabada. Pinho chama atenção ainda de que o Paço da Câmara de Santo Amaro, edificado em 1760, guarda determinadas semelhanças com Freguesia, que poderia ser obra do mesmo arquiteto.

Comparado com outros engenhos, Freguesia juntamente com Matoim, Lagoa, Cinco Rios, Embira e Passagem, poderiam ser enquadrados como grandes casarões assobradados. Já de época mais recente e de menor porte são os engenhos de Cajaíba, Paramirim e Poço Ponto. Os de casa térrea, arrodeadas de varandas sustentadas por colunas, da segunda metade do século XIX: Roçado, Pimentel, Triunfo e Rio Fundo. E os de construções mais modestas: Boa Vista e Benfica. Vale registrar a existência de jardins e pomares em torno das casas nobres.

O mobiliário das casas situadas na cidade ou no campo eram os mesmos. Assim como não variava muito o mobiliário dos séculos XVIII e XIX, com móveis dourados e estofados, espelhos, cristais, bronzes, porcelanas e livros, todos em grande quantidade. Entre 1809 (data do falecimento do Capitão-mor) e 1811, quando foi feita a primeira avaliação, muitos bens móveis teriam desaparecido. Mesmo na época áurea de 1859, Freguesia foi por muito tempo uma casa fechada, pois o Conde de Passé além de possuir casa na cidade, mantinha mais duas residências rurais – Matoim e Pindobas - onde faleceu.

Outro aspecto importante é quanto à localização das construções. É muito provável que, ao fundarem os primeiros engenhos, a morada do dono e a fábrica fossem contíguas, formando uma só estrutura. Com o enriquecimento de seus donos, a busca de um maior conforto e comodidade, levou o afastamento das fábricas e das senzalas da casa de moradia. “No sobrado de Freguesia o dono não estava distante de sua fábrica nem muito separado de seus escravos”, já que a Casa Grande sempre era localizada numa cota mais alta, permitindo o controle das demais instalações.

Igualmente importante é quanto ao aspecto ambiental levantado por Pierre Verger, quando afirma que a paisagem dominante era da fazenda de cana, que ocupava as terras plantas e encostas, juntamente com as bananeiras.

5.1 – CARACTERÍSTICAS FÍSICAS “A capela de N. Srª. da Conceição de Freguesia exibe uma singularidade talvez

única no Recôncavo”. Enquanto na maioria dos engenhos da Bahia as capelas eram afastadas ou separadas por um muro, esta possui uma parte da fachada encravada no corpo da casa principal. Outra característica especial é quanto à escadaria terminada no adro, em forma de patamar, que dá acesso ao solar e a igreja, com seu “campanário tão modesto quanto pitoresco com sino ao alcance das mãos das crianças”, no dizer de Pinho.

No seu interior, a característica mais antiga quanto curiosa, é a existência das treliças de madeira ou gelozia que separava o coro da nave, onde a parte feminina da família podia assistir aos eventos, sem serem vistas pelos demais participantes. E podiam receber a

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comunhão na capela-mor através do exíguo postigo por onde passava apenas a mão do sacerdote com a hóstia. No inventário de 1877, dos bens deixados pelo Conde de Passé, há referências à medida de 9,56m de frente e que possuía pedra de mármore no piso da capela-mor. Dentro dos hábitos da época, o padre sempre acumulava a função de sacerdote e professor dos filhos do senhor de engenho. E esta capela possivelmente teria sido filial de N. Srª. da Piedade de Matoim, considerada a Matriz.

Vale ressaltar que sua tipologia e volumetria, seu tratamento espacial e decorativo é típico de uma igreja matriz. Segundo Esterzilda, tal tipologia está enquadrada no terceiro tipo de capelas, que segue o modelo das igrejas matrizes e de irmandades, com corredores laterais superpostos por galeria de tribunas. Tal disposição espacial permite uma articulação direta com o setor social da casa no primeiro pavimento. E no segundo pavimento a articulação se dá através do coro e da tribuna.

Considerando tais descrições que correspondem à edificação existente, cabe acrescentar que a Casa Grande / Capela, possui méritos arquitetônicos e elevado valor monumental, em função de ter sido preservado suas principais características, como sua tipologia, volumetria, técnica construtiva e o tratamento de seus principais elementos estruturais e ornamentais. A Casa Grande é considerada um dos raros exemplares conhecidos no país, como edifício residencial desenvolvido em torno a dois pátios internos, segundo dados tipológicos do Inventário - IPAC-BA. E de acordo Smith, o outro exemplo relevante é a casa do Barão do pontal em Mariana, Minas Gerais, de 1790, também com dois pátios.

O pátio com a função secundária de iluminar e ventilar os cômodos internos da edificação foi introduzido no Brasil por influência tardia dos tratadistas renascentistas, no século XVII. E está presente em algumas poucas casas urbanas, como a Casa das Sete Mortes, o Solar Berquó, o Paço Municipal e o Palácio Arquiepiscopal, situados no Centro Histórico de Salvador, edificados entre os séculos XVII e XVIII (IPAC-BA). Entretanto, o pátio não exerceu a função de centro de convivência, tão comum em Portugal e na Espanha, devido à influência islâmica. E como partido arquitetônico foi muito utilizado nas habitações das cidades colonizadas pelos espanhóis, como por exemplo, nas construções da cidade de Cuzco, no Peru. Como solução espacial, sua utilização ficou restrita a região onde foi construído o Engenho Freguesia, existindo também nos engenhos pertencentes à mesma família dos Rocha Pita (Caboto e Matoim). Somente nos conventos e mosteiros é que tais pátios foram utilizados, com mais freqüência e com outras proporções, que podem ter servido de inspiração para os engenhos citados.

Internamente, a Casa Grande possui atualmente 57 cômodos, além das áreas de circulação horizontal, e a mesma planta da construção setecentista, com 2.001 m2 de área construída, desenvolvida em quatro pavimentos. Em função de ter sido implantada na meia encosta, como se fosse para facilitar o escoamento das águas, não tem comunicação através de escadas ligando os andares inferiores ao andar nobre. O número de pavimentos concebidos para atender a complexidade do programa, a divisão espacial com tratamento requintado e o emprego dos elementos decorativos revelam a hierarquia de funções e os usos estratificados. O Inventário de 1877, descrito por Pinho, fornece indicações sobre o uso dos cômodos.

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No porão, que corresponde ao 1º piso, os quatro vãos existentes eram utilizados como estrebaria e como depósito.

No térreo (ou 2º piso) existem duas salas, sendo uma de entrada e a outra de refeições, um depósito e nove quartos voltados para dois corredores, provavelmente destinados aos agregados, visitantes e viajantes, sendo que um deles poderia ter servido de gabinete para o senhor de engenho. Cabe destacar que não existe escada de comunicação com o porão e o andar superior, e o acesso é feito através de duas portas localizadas em ambas laterais.

No primeiro pavimento (3º piso ou andar nobre), morava o senhor de engenho e sua família. A entrada principal era feito pela escada lateral terminada no pátio que tanto dá acesso ao vestíbulo como à capela contígua. Deste vestíbulo se tem acesso à parte mais nobre da casa, composta de saleta, quarto de orações, salão de visitas e salão de jantar, com vista para o mar da Baía de Todos os Santos. Em seguida está localizado o provável quarto do casal e o quarto das crianças, voltados para o exterior. E outro quarto voltado para o 1° pátio interno. Pierre Verger ressalta as dimensões imponentes das salas comparando-as com as dos conventos e monastérios. Bem como a seqüência de quartos de dormir, dando às vezes para pátio interno. Separado por um longo corredor está localizado a parte de serviços, composto da cozinha mais recente e da primitiva cozinha ampla e escura, com um só vão de porta, que merece destaque. Segundo a descrição de Pinho a cozinha possuía um longo balcão, com pequenas e sucessivas arcadas de tijolos para depósito de lenhas. Sobre o balcão se assentavam as trempes. Havia roldanas e correntes que facilitavam a remoção de caldeirões e grandes panelas utilizadas nos dias de banquetes. Na parte superior existia oito coifas de alvenaria, terminadas em curtas chaminés Posteriormente tais elementos foram alterados, apresentando atualmente quatro coifas de concreto com chaminés de alvenaria do “tipo alentejano” (IPAC-BA.).

Completando a parte de serviços, existem mais sete cômodos iluminados e ventilados pelo segundo pátio interno, além das áreas onde estão implantadas duas escadas de madeira de um só lance de acesso ao ultimo pavimento. Tais cômodos deveriam ser utilizados como áreas de serviços, aposentos de escravos domésticos e depósitos. E o cômodo situado no canto era utilizado como cloaca, conforme vestígios existentes. Fechando a descrição das plantas deste pavimento, esta localizada as instalações da capela, separada por uma parede, que se comunica com a casa através de um vão de porta voltado para o vestíbulo. E havia uma outra comunicação através de um vão de porta, dando para os atuais sanitários, que foi tamponado. Este primeiro piso da capela é composto pela nave e altar mor, ladeada por dois corredores laterais e duas sacristias.

No segundo pavimento (4º piso ou mirante), existem nove cômodos entre áreas de circulação, salas e possíveis quartos femininos. A área de piso sobre a capela é constituída pelas duas galerias de tribunas e pelo coro.

A fachada principal é marcada pelas três ordens de tratamento dos vãos de esquadrias. No porão os vãos são com cercadura simples. No térreo as janelas de peitoril já apresentam cercaduras com adornos na parte superior. E no primeiro andar as janelas rasgadas com postigos são valorizadas pelo tratamento das cercaduras e pela presença dos balcões isolados com pisos de tabuado sobre barrotes recobertos por caixotes de madeira. Merecem destaque o tratamento interno das ombreiras e vergas das janelas rasgadas dos

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salões, e as larguras das tábuas dos assoalhos. Ainda segundo Wanderley Pinho, na sala de visitar há notícias sobre a existência de pinturas murais, em barras. E de afrescos, representando paisagens campestres e marinhas, ruínas, árvores, fortalezas e castelos, nas paredes do salão de jantar, que teriam sido pintadas a mando do Conde de Passé, durante a reforma de 1856/57, que substitui os “antigos varais de ferro com nós” das sacadas pelos atuais gradis de ferro. No teto do salão de visitas o Conde também mandou pintar o brasão de armas, como uma insígnia de antiguidade, tradição e nobreza. E há notícias que haveria um vão de janela no salão de jantar, dando para o primeiro pátio, que teria sido tamponada, para possibilitar a pintura dos referidos afrescos.

5.2 - ESTADO FÍSICO Durante o período em que o museu ficou desativado, o edifício da antiga fabrica se

arruinou completamente, restando apenas algumas paredes e pilares. A Casa Grande e a Capela anexa estão em progressivo estado de arruinamento,

apresentando problemas de estabilidade e de conservação. Em função do precário estado do piso do adro da Capela, constituído de lajedos de

pedras, permitem penetração de águas pluviais. Possivelmente acrescida de outros problemas, a serem diagnosticados, provocaram recalque diferencial ou abatimento das fundações, resultando na fissura existente na parede do frontispício, que vai do piso até a cimalha, representando um serio risco a estabilidade do prédio.

Outras fissuras menores e diversas trincas são encontradas nas paredes internas, de diversos cômodos da Casa Grande, sobretudo nas paredes com peças de madeiras embutidas e que se encontram danificadas. Tais situações provocaram a desagregação de trechos do revestimento de determinadas paredes, bem como em trechos das fachadas, que ruíram pela ação do tempo, incluindo os elementos decorativos, como parte das cercaduras, frisos e cimalhas.

Existem outros trechos de paredes e alvenarias de contenção, com alto teor de umidade ascendente, que também afetaram o revestimento e o meio ambiente.

Integrando o sistema estrutural da edificação, existem vários barrotes de sustentação dos assoalhos danificados, a serem substituídos e reaproveitados em vãos menores. Assim como quase todas as áreas assoalhadas, apresentam fendas e vários tipos de danos, sobretudo pela ação das térmitas e pela falta de conservação. Nos demais pisos danificados, existem várias tijoleiras e pedras soltas que deverão ser reassentadas para evitar maiores perdas.

Os pisos de tábuas, sobre cachorros de madeira dos balcões do andar nobre foram bastante danificados, pela ação das intempéries e deverão ser reparados e impermeabilizados.

Existem passeios de pedras que estão facilitando a penetração de águas pluviais, que podem estar afetando as fundações, a serem reparados e impermeabilizados.

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A cobertura apresenta trechos danificados e até desabados, necessitando de substituição de telhas e madeiramento. Em função da declividade dos telhados, as telhas foram grampeadas para evitar escorregamento. Todavia, considerando a qualidade das telhas e a necessidade de proteção do acervo do museu a ser reinstalado, torna-se necessário o uso de sobre-forros na cobertura.

As instalações prediais estão em estado precário, sem condições de uso. O único sanitário existente e a cozinha apresentam problemas, que a rigor dependem de projetos complementares para a instalação de novas redes e sanitários, em função do uso proposto.

Existem dois sistemas de drenagem. Um interno subterrâneo, que coleta as águas pluviais dos pátios internos. E o outro sistema externo, superficial e parte subterrânea, que deverão ser verificados, mapeados e revisados, em função dos trechos de umidade existentes.

Toda a edificação foi infestada pela proliferação de morcegos e insetos xilófagos, que precisam ser combatidos, devendo haver uma descupinização e imunização geral de todo o madeiramento de pisos, forros e telhados.

06 - A FÁBRICA Segundo a narrativa de Pinho, “nas avaliações de 1811 e 1832, a fábrica era

descrita como uma grande casa de paredes de alvenaria, com cobertura de telha vã, com 17 tesouras sobre 22 pilares dobrados, arrodeadas de varandas sobre esteios de madeira, onde era depositada a cana a ser moída (picadeiros e moendas). Em seguida a Casa de Cadeira com suas fornalhas onde era cozido o caldo; a Casa de Purgar, onde o açúcar era recolhido nas formas para se cristalizar; a caixaria onde o açúcar era pesado e encaixotado, com quatro balcões ou grandes tabuleiros que sobre rodas e trilhos levam o açúcar para secar ao sol; o sobradinho ou palanque de onde o Mestre de Açúcar assiste e supervisiona o cozimento ou mesmo o senhor do engenho com sua família; o curral calçado de pedras para os animais da roda; a Estribaria para os cavalos; e o cais de pedra e cal em toda a extensão de uma das varandas, que levava até o mar”. Foram também inventariados os equipamentos de cobre, substituídos posteriormente por ferro. No inventário de 1856, constata-se que o Conde de Passé fez vários melhoramentos. “O cais é coberto com uma ponte de 106 pilares que sustentam as vigas, com paredões de pedra e cal nas suas extremidades; um guindaste de ferro com armação de madeira; uma casa de bagaço feita de caibraria, coberta de telhas sobre esteios; a residência do caixeiro, com paredes de taipa coberta de telhas; o tendal com 101 pilares, 150 tábuas de furo e outras tantas de bica; seis sistemas balcões com 17 pilares de pedra e cal; um vapor de baixa pressão de seis cavalos; um de calhas de pedra alimentar a máquina, com bueiros, cisterna e tanque e cal para levar água para” e outros equipamentos como: bomba, parol de ferro e cocho de tabuado.

Há um registro de que em 1815 foram instaladas as primeiras máquinas a vapor, nos Engenhos Boa Vista e Pimentel, em Maragogipe. E haviam já 495 engenhos movidos com animais; 62 a água; e 46 a vapor. Vale destacar que as formas de barro eram geralmente

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fabricadas no próprio engenho, assim como as telhas e tijolos. E que usavam balcões e até estufas para secar o açúcar no inverno e em dias de chuvas.

Comparando esta descrição com a planta baixa da fábrica, também publicada por Pinho e pelo IPAC-BA, trata-se de uma das poucas instalações deste tipo que sobreviveu até as últimas décadas, constituído por um grande barracão em forma de “L”, com 2.923 m2 de área construída. Era recoberto por telhado de seis águas, com estrutura de madeira, composta por caibros, ripas sobre tesouras do tipo canga de porco, que venciam toda a largura dos vãos, apoiadas em pilares dobrados de tijolos chatos no corpo central e de esteios de madeira nas varandas posteriormente substituídos por tijolos. A casa das moendas e as varandas utilizadas como picadeiros eram abertas. Enquanto a casa de cozimento ou de cadeira e a casa de purgar eram fechadas, quase todas contornadas por alvenaria mista de pedra e tijolos. Já a varanda que contornava a casa de purgar era utilizada para condicionar animais e carros de boi. E era usada também para deposito para secar o bagaço de cana na época de chuvas.

Conforme a análise de Estersilda, esta tipologia representa a evolução do partido arquitetônico utilizado na época, fruto do maior domínio das técnicas construtivas, integrando todas as etapas produtivas em um só edifício. É o caso de Freguesia, onde a casa de moendas ocupava a primeira ala, a casa de purgar a outra, e a casa do cozimento com a caixaria ficavam mais próximas da área de articulação entre ambas.

Além da fábrica de Freguesia restam remanescentes dos engenhos Cajaíba em São Francisco do Conde, Pimentel em São Sebastião do Passé e do Engenho da Ponta em Cachoeira.

Com relação às senzalas, Esterzilda justifica que pela precariedade da sua técnica construtiva e pelo irrelevante valor econômico, poucas são os exemplos do século XVIII que sobreviveram ao tempo. E cita como exemplo que no Inventário do Conde de Passé, de 1877, que também era proprietário dos Engenhos Matoim e Pitomba, não haver nenhuma referência a tais instalações, as quais eram constituídas por unidades de morada, que poderiam estar isoladas em pequenas construções, de pau-a-pique ou adobe, ou mesmo estarem agrupadas em um mesmo espaço de uso coletivo. Seria o caso de Freguesia, onde foi levantada a possibilidade de que na varanda, vizinha a casa de purgar, sustentada por treze pilares, poderia conter o mesmo numero de espaços, tanto destinado à estrebaria como a moradia de escravos, o que não exclui a existência de outras pequenas construções próximas ou mais afastadas.

Como atualmente só restam os remanescentes de paredes e pilares, a Fábrica será novamente reconstruída, seguindo uma nova proposta de suporte da cobertura, mantendo a volumetria, baseada em documentação iconográfica e nas marcações dos pontos de telhado existentes. Na recomposição da tipologia primitiva, os trechos de alvenarias serão reaproveitados e complementados. E para o fechamento da edificação será utilizado panos de vidros. Em seu novo programa de ocupação, além dos espaços destinados a exposições estão previsto a construção de equipamentos de apoio às atividades do museu, como amplas áreas para exposição, recepção, loja, auditório, bar/restaurante e sanitários.

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07 – O MUSEU DO RECÔNCAVO O museo inaugurado em novembro de 1971, teve origem, com o Decreto Nº.

20.529, de 03 de janeiro de 1968, instituído pelo então Governador Luiz Viana Filho, que criou o Museu do Recôncavo denominado de Wanderley Pinho, em homenagem ao seu idealizador, o historiador, escritor e professor. José Wanderley de Araújo Pinho (1890 – 1967).

Entre outras justificativas o referido decreto destaca “a importância e o significado da Região do Recôncavo baiano para o desenvolvimento da economia e formação social da Bahia”, bem como o fato do Engenho ser considerado “um dos melhores exemplares da arquitetura colonial brasileira”. No seu segundo artigo, o decreto define que a finalidade do museu é “descrever, documentar e evocar” sobre o ciclo da cana de açúcar, a evolução da vida social nos engenhos e os principais episódios históricos ocorridos na região.

Conforme tais premissas e a descrição de Carlos Eduardo da Rocha, este foi concebido como um museu histórico, onde o acervo exposto foi dividido em dois grupos. O primeiro referente à vida social, política e religiosa foram distribuídos pelo interior da Casa Grande e Capela. Era constituído pelo mobiliário do século XVII ao XIX e pelas peças de uso doméstico dos senhores de engenho. O acervo do segundo grupo, exposto na antiga Fábrica, estava relacionado com a economia, representados pelas peças e instrumentos de trabalho agrícola utilizados na produção e transporte do açúcar. Havia referências também às culturas da mandioca e do fumo, que sempre tiveram papel importante desde o inicio da colonização.

Durante sua trajetória de 34 anos, o museu foi objeto de várias iniciativas no sentido de promover uma redefinição conceitual, buscando sua dinamização, reafirmando seu papel junto à comunidade local e regiões vizinhas, através de programas culturais específicos. Esta foi à tônica do seminário promovido pela FCEBA, em 1981. Neste seminário foi novamente colocada à preocupação com a área externa do museu, tendo sido proposto o Projeto de Agenciamento, com objetivo eco-cultural, já que o Plano de Urbanização anunciado no Diário Oficial, de 1973, não havia sido elaborado. Tal preocupação é reafirmada em outros momentos, como em 1984, quando é novamente cobrada a elaboração do Projeto de Urbanização e Paisagismo, a instalação da cantina, restaurante, parque infantil, área para pic-nic, camping e área para apresentação de espetáculos ao ar livre de grande porte, como os festivais de inverno e verão. Entretanto, pelo visto a redefinição conceitual não ocorreu de fato. Até o inicio da década de 90, a mesma concepção de museu foi relativamente mantida, agregada de novos conceitos e procedimentos metodológicos, buscando uma outra dinâmica através de programas que possibilitassem o uso dos espaços do museu, tanto pelas empresas instaladas na área quanto pela população vizinha.

Assim, entre os diversos documentos consultados nos arquivos do IPAC e pelas informações fornecidas pelas profissionais que fizeram parte da equipe técnica, destaca-se o Relatório do ano de 1995, onde estão relacionadas às atividades desenvolvidas pelo corpo técnico, como: a promoção de várias pesquisas; visitas programadas com as escolas da região; cursos diversos; oficinas de dança e teatro; exibição de filmes educativos; palestras, encontros seminários; festas e baile da 3ª idade; premiações e comemorações; atos litúrgicos e sociais como missas, casamentos, batizados e procissões; cessão do espaço para trabalhos culturais como filmagem de documentários, lançamentos de livros e da cartilha ambiental;

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passeios e outras atividades culturais e recreativas. Por outro lado, neste mesmo relatório, foram identificados vários pontos de dificuldades existentes, que devem ter sido constantes durante a história de vida do museu, tais como: escassez de recursos financeiros e de pessoal técnico e de apoio especializado; carência de material técnico e de consumo; falta de segurança adequada e de transporte permanente; ausência de uma equipe de manutenção das instalações físicas e de recuperação do acervo; falta de instalação de serviços de apoio e de infra-estrutura para a realização de eventos.

Portanto, tentando resgatar sua trajetória histórica, durante todos estes anos o museu funcionou de forma precária, sem condições reais de trabalho. A maioria das ações só aconteceu mediante o esforço pessoal de cada gestor. Em seus 34 anos de existência, o museu passou por quatro diferentes fases, tendo ficado mais tempo fechado do que aberto. Em sua primeira fase, após sua inauguração em novembro de 1971 e durante a década de 70, o museu chegou a funcionar plenamente, ficando diariamente aberto ao público. Na fase seguinte, de outubro de1979 a outubro de 1992, portanto por 12 anos o museu permaneceu fechado ao público, passando por diversas novas etapas de obras de suas instalações e do acervo. Neste período foram realizadas varias atividades e discutidas em seminários como o museu deveria ser reaberto. Em 06 de março de 1991, o museu sofreu um forte impacto com o furto de grande parte de seu acervo, não tendo sido recuperada grande parte das peças desaparecidas. Finalmente em 29 de outubro de 1992, o museu foi reaberto ao público apenas duas vezes por semana, (as 3ª e 5ª feiras e no último domingo de cada mês) embora ainda em condições físicas precárias, conforme Relatório Técnico do IPAC, de maio de 1991. Todavia apesar das poucas condições de trabalho, nesta 3ª fase foram realizados vários eventos e atividades em conjunto com as comunidades vizinhas e com as escolas de Salvador e da região. Em 1997, suas instalações foi objeto de novas obras, durante cinco meses, e voltou a entrar em declínio, sendo oficialmente fechado em 16 de dezembro de 2000, o que veio contribuir com seu atual estado crítico de conservação, nesta sua 4ª fase de existência.

08 – PROJETO DE RESTAURO Considerando o grau de importância do monumento, o estado de preservação de

suas características físicas e a necessidade de resgatar uso compatível com sua estrutura espacial, a presente proposta de intervenção física, de caráter restaurativo, foi desenvolvida considerando os seguintes princípios básicos:

- Recuperação global de todo o conjunto, conservando sua volumetria, tipologia e o mesmo tratamento dado aos elementos arquitetônicos;

- Adequação do novo programa de uso aos espaços existentes; - Atendimento as novas necessidades de circulação, acessos, instalações

de serviços e conforto ambiental.

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Desta forma, objetivando compatibilizar as necessidades decorrentes da revitalização e a manutenção dos aspectos espaciais e ambientais, foram adotadas as seguintes soluções:

- Suprir a necessidade de interligar verticalmente todos os pavimentos para viabilizar

os aspectos funcionais e possibilitar acesso das pessoas idosas e deficientes físicos,

com a instalação de duas unidades de elevadores interligados todos os pavimentos.

E com a construção de uma nova escada metálica, articulando o térreo ao primeiro

pavimento. - Dotar o imóvel de sanitários e vestiários para os funcionários, usuários e

visitantes, distribuindo tais serviços entre os diversos pavimentos, em locais adequados.

- Dotar o imóvel de um refeitório, copa-cozinha e despensa, utilizando as instalações da antiga cozinha e das demais dependências contíguas, que já tiveram usos correspondentes. - Promover a abertura e o deslocamento de alguns vãos de esquadrias, a fim de possibilitar a iluminação e a ventilação de determinados cômodos, além de melhorar a circulação horizontal para os diversos circuitos de visitação interna.

Com relação ao programa de utilização espacial, todos os usos foram adaptados aos cômodos existentes, com base no Anteprojeto Museográfico apresentado pela empresa TECNOMUSEU CONSULTORIA, com algumas alterações.

Foi também utilizado como referência, o estudo comparativo entre o programa de uso, publicado por Wanderley Pinho e pelo IPAC-BA, como sendo o uso que teria existido na morada do século XVIII, com os programas de utilização montados nas décadas de 70 e de 90.

O primeiro programa de uso foi fruto de uma interpretação espacial coerente, baseada na leitura dos costumes da época e nos elementos ainda existentes na edificação. Já os demais foram resultantes da necessidade de utilizar as peças disponíveis do acervo existente, de forma a retratar os ambientes onde originalmente estariam inseridos.

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Na proposta atual, tratando-se de um museu histórico, tais preocupações foram consideradas pertinentes, tanto é que os espaços nobres foram destinados à remontagem de tais ambientações, muito embora possam ser remanejadas e desmaterializados com a utilização dos meios multimídias, os quais hoje são indispensáveis. Afinal não se pode pensar na instalação de um museu contemporâneo sem o uso de tais recursos tecnológicos.

De um modo geral, os vãos existentes no porão deverão ser utilizados como recepção, com serviços de apoio de uma pequena loja para venda de publicações e materiais diversos, sanitários, lanchonete e sala de segurança. Como os espaços são reduzidos está previsto a colocação de um toldo, na área externa contígua, para ampliação do espaço da lanchonete e proteção dos fatores climáticos, quando da chegada de um grupo maior de visitantes. Na recepção será instalado um elevador para atender preferencialmente aos idosos e portadores de deficiência física, que fará a comunicação do porão com o térreo e o 1º pavimento. Para os demais visitantes a alternativa será o acesso pela rampa lateral e a utilização da recepção a ser instalada no vestíbulo do 1º pavimento. E para os pesquisadores, usuários e funcionários haverá também a recepção do térreo. Para racionalizar, os acessos pela outra lateral deverão ser destinados exclusivamente para um grupo determinado de funcionários.

No térreo deverá ser instalado a biblioteca especializada e os cômodos destinados aos técnicos do Centro de Referência, dotadas de sanitários. A referida sala de recepção e a sala de reuniões poderão também ser utilizadas como espaço de lazer, em conjunto com o jardim do1º pátio interno. No cômodo com entrada independente será utilizado como almoxarifado.

No 1º pavimento ou andar nobre, os espaços representativos da antiga morada

deverão ser ambientados, tais como as salas de visita e jantar, quarto de casal e de solteiro ou infantil. Os demais espaços desta ala social serão utilizados como recepção, circulação horizontal, hall de escada e do 2º elevador exclusivo para pessoas com dificuldades de locomoção. Sobre o 1º pátio deverá ser instalada uma passarela metálica para interligar a outra saída do elevador com o hall da escada metálica, para facilitar os circuitos de visitação. Na ala de serviços serão instalados as baterias de sanitários e vestiários para os funcionários, os sanitários para os visitantes e o destinado aos PPNE. A antiga cozinha deverá ser também ambientada e receber novos vãos de esquadrias, para permitir a ventilação e iluminação (auxiliada com o uso de telhas de vidro), bem como de mobiliário contemporâneo adequado para servir de restaurante para funcionários e visitantes. Tal uso deverá se estender pela área contígua ao jardim do 2º pátio interno, e deverá ser apoiado pela cozinha a ser instalada no vão onde anteriormente já teve o mesmo uso, além da copa e despensa que deverão funcionar nos cômodos próximos. Ainda nesta ala no cômodo da “cloaca” deverá ser conservado para visitação.

No 2º pavimento ou mirante, os cômodos da ala posterior, que eram utilizadas como alcovas, receberão novas janelas para uso da administração e reserva técnica do museu. E na ala da frente, o último cômodo será acrescido de um sanitário para compor o apartamento destinado à administração. E os demais como hall de acesso e espaços para a exposição do acervo iconográfico da antiga morada feminina.

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A capela será restaurada e ambientada para voltar a funcionar como local de eventos religiosos e sócios cultural, sobretudo a nave e o antigo consistório que deverão ser utilizados com muita freqüência com as atividades voltadas para os programas educativos.

Ainda com relação ao uso, em uma de suas descrições Pierre Verger ressalta que “as casas grandes tiveram quase sempre salas de aula, e muitas até cafua para o menino vadio que não soubesse a lição. Muitas vezes aos meninos se reuniam as crias e moleques, todos aprendendo juntos a ler e escrever, a contar e a rezar”.

Assim, o resgate de determinados espaços destinados ao ensino não é apenas uma questão simbólica. Mas considerando a grande carência existente nos núcleos urbanos da região e os programas de integração com as comunidades a serem implementados, além do auditório da Fábrica alguns cômodos deverão ser disponibilizados para atender a tais demandas. Sejam cursos complementares ao ensino fundamental, cursos profissionalizantes e os voltados para a educação patrimonial e ambiental.

09 - PROPOSTA GLOBAL DE PRESERVAÇÃO E REVITALIZAÇÃO Considerando sua importância histórica e suas características físicas que

motivaram seu tombamento, assim como o meio ambiente no qual o monumento se inseri, o conjunto considerado como patrimônio cultural e natural deverá a ser preservado e valorizado como sítio histórico e ambiental.

Portanto para a preservação e revitalização de todo o sítio, incluindo sua área de entorno conhecida como enseada do Caboto, o Projeto Global a ser elaborado deverá atender aos seguintes objetivos e metas previstas:

Na vertente histórica cultural, o objetivo geral será o resgate do bem cultural e de

parte da história econômica, social e política do ciclo da cana de açúcar na Bahia, através da reinstalação do novo museu (MRWP) e da implantação do CENTRO DE REFERÊNCIA HISTÓRICA DO RECÔNCAVO – CRHR ou do “Centro de Estudo e Pesquisa do Recôncavo”, denominação usada pelo corpo técnico em 1992, que funcionava no último pavimento (mirante) da Casa Grande, como parte integrante do museu. Nesta vertente o projeto busca atingir as seguintes metas:

- Estabilização e restauração da Casa Grande e Capela do Engenho Freguesia através do projeto arquitetônico executivo, que engloba os projetos de instalações prediais e complementares.

- Recuperação do acervo do museu e dos bens móveis integrados da Casa Grande/Capela e da Fábrica.

- Reconstrução da antiga Fábrica para instalações complementares do Museu. - Reinstalação do Museu com base nos novos projetos Museológico e

Museográfico.

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Vale ressaltar que o CRHR deverá representar um pólo auxiliar de pesquisa científica e de divulgação dos trabalhos produzidos sobre a história da formação social, política, econômica, cultural e ambiental do Recôncavo e da Bahia. E de outros temas de interesse a serem considerados. Deverá, portanto, ser um centro dinâmico e capacitado para planejar e promover diversas atividades sócio-culturais e educativas, sendo dotado de biblioteca, auditório, salas de aula e demais espaços multifuncionais e equipamentos multimídia, com tecnologia capaz de atender a todas as demandas. Caberá a este centro a elaboração de projetos em parceria com a Universidade do Recôncavo, Centros Culturais e entidades afins, traçar as diretrizes para a criação da rota de integração e visitação dos diversos engenhos, monumentos e sítios históricos de todo o Recôncavo e especialmente da Baía de Todos os Santos. Tal rota deverá integrar o “Projeto Caminho da Cana de Açúcar” a ser elaborado pelo próprio centro para ser incorporada aos roteiros turísticos existentes.

Na vertente sócio-ecômica o principal objetivo será o de dar sustentabilidade ao

Museu e buscar alternativas empresariais voltadas para o turismo ecológico, beneficiando as comunidades residente na área do Caboto e adjacências. Para isso será necessária a elaboração e a implantação do Projeto Urbanístico e Paisagístico, a fim de dotar, a área de entorno do monumento, de infra-estrutura capaz de atender as novas demandas, incluindo portarias, acessos, estacionamentos, o cais e o píer. Este projeto deverá incluir as seguintes propostas:

- Instalação de um Terminal de Transporte Urbano e Interurbano, como estrutura de apoio e articulação entre a BR 324, a Via Matoim e a via de acesso interna. E como barreira, protegendo e evitando a entrada de veículos não autorizados no interior do sítio. Deverá ser dotada de parque infantil; amplo estacionamento; área para embarque e desembarque; alojamento para funcionários; escritório da administração; balcão de informações; sanitários públicos; praça de alimentação com bares, lanchonetes, restaurantes e outros complementos.

- Instalação de um Terminal Marítimo, aproveitando o píer existente, a ser recuperado, para embarque e desembarque de turistas, visitantes e usuários. Ancoradouro para barcos de passeio, de pesca e de equipamentos para práticas esportivas. Este empreendimento deverá ser dotado de serviços diversos de apoio, como sanitários públicos, restaurante, bar, lanchonete, agências de viagens para passeios e aluguel de embarcações; estaleiro para guarda e reparos de barcos de pequeno porte. Este terminal deverá se articular com o terminal de transportes urbano e interurbano, de forma a oferecer alternativas de acessos terrestres e marítimos mais rápidos. Além de possibilitar uma melhor integração com a Ilha de Maré e outras localidades situadas na borda da Baía de Todos os Santos, incluindo, sobretudo os demais engenhos, museus e monumentos históricos e naturais.

Ambos os terminais deverão estar inseridos nos roteiros culturais das agências de turismo receptivo para divulgação do sítio. E em especial a Baía de Aratu, onde está localizado o Iate Clube, com o qual deverá exercer um sistema de parceria.

Por outro lado, a depender dos estudos de viabilidade econômica a serem feitos a proposta é de implantar equipamentos turísticos, capaz de alavancar um novo processo econômico na região, como a construção de um Eco-Resort com instalações diferenciadas (suítes, apartamentos e cabanas), voltadas para atender turistas nacionais e estrangeiros, de

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diversos seguimentos sociais, executivos e funcionários do CIA, do Pólo Petroquímico, assim como velejadores, viajantes, moradores da RMS e demais cidades. Deverá ser dotado de uma gama variada de equipamentos esportivos e de lazer, terrestres e náuticos.

Na vertente Sócio-Ambiental, os principais objetivos será o de atender as

carências das populações locais e vizinhas, priorizando Caboto e Ilha de Maré, com a instalação de programas sociais, educativos e produtivos. Bem como de promover intervenções e ações voltadas ao processo de sustentabilidade do sítio histórico, valorizando e dando usos adequados aos atrativos naturais e promovendo a recuperação das áreas degradadas. Para isso deverá ser elaborado um Projeto de Preservação Sócio-Ambiental capaz de compatibilizar as necessidades de uso e de proteção dos recursos naturais, dentro dos princípios da sustentabilidade. Para subsidiar as propostas deverá ser diagnosticada a situação de toda área, considerando os meios físico, biótico e antrópico, cujo resultado será avaliado nos Estudos de Impactos Ambientais e seu respectivo Relatório – EIA/RIMA. Que por sua vez, deverá indicar as medidas mitigadoras e compensatórias aos impactos ambientais existentes e os que poderão ser gerados com a instalação dos empreendimentos propostos. Nesta vertente o projeto deverá atender ainda as seguintes metas:

- Criar mirantes e trilhas ecológicas de pequeno, médio e longo esforço, através de caminhadas e do uso de diversos meios de transportes, para reconhecimento da área do sítio e contato direto com a fauna e a flora. Ao longo das trilhas, os recantos mais estratégicos e aprazíveis com vistas panorâmicas, serão dotados de infra-estrutura de apoio, com quiosques, sanitários e telefones públicos.

- Recuperar a lagoa, atualmente dominada pela vegetação, resgatar o antigo criatório de peixes, implantar a piscicultura extensiva com o sistema pesque-pague e os demais equipamentos de lazer e pesca, voltados para as práticas do eco-turismo.

- Criar um horto florestal visando suprir as necessidades de reflorestamento das áreas degradadas com espécies nativas e frutíferas para atender as demandas do projeto paisagístico e as novas solicitações externas do mercado, a fim de gerar recursos, emprego e renda.

- Criar um programa de Educação Ambiental e Patrimonial, em parceria com a Secretaria Municipal de Educação de Candeias, a Secretaria de Educação do Estado, a Universidade do Recôncavo, o Centro de Recursos Ambientais e ONGs, para atuar no CRHR e na rede das escolas públicas da região. E desenvolver ações que venham sensibilizar e conscientizar os moradores envolvidos, quanto à preservação ambiental e patrimonial, além de capacitar mão de obra local para exercer as atividades produtivas a serem implantadas.

Estes três projetos temáticos, agrupando este conjunto de propostas, deverão

compor o projeto final de criação do PARQUE ESTADUAL DO RECONCAVO, como o empreendimento que deverá conter o Museu do Recôncavo Wanderley Pinho e todos os demais equipamentos urbanísticos, naturais, turísticos e comunitários, constituindo-se em um novo pólo cultural e ecológico.

Para viabilizar tal projeto, além dos recursos federais, estaduais e municipais, envolvendo outras secretarias do Estado e Prefeituras, será necessário estabelecer uma rede

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de parcerias com a Associação de Empresas do CIA - PROCIA e demais indústrias que possuem um passivo ambiental com relação à área em questão, com a participação de Associações Comunitárias, Cooperativas, ONGS e outras entidades afins. Portanto, estarão participando desta rede o Setor Público, o Setor Empresarial e o 3º Setor – da Sociedade Civil Organizada - em torno de uma proposta global, a ser executada em etapas, sem perder entretanto sua perspectiva de sustentabilidade.

Cabe esclarecer que sustentabilidade está sendo empregada com duplo significado. Tanto no sentido da necessidade do Estado estabelecer uma política voltada para dotar os empreendimentos culturais de condições para se manter e para promover as ações que lhe são pertinentes. Quanto no sentido de que, os equipamentos a serem implantados, tenham como principio o respeito e a valorização do meio ambiente, incluindo as comunidades envolvidas, de forma compatível com o conceito mais amplo de desenvolvimento sustentável.

10 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

- PINHO, WANDERLEY, História de um Engenho do Recôncavo, 1552 – 1944, Rio de Janeiro, Ed. Zélia Valverde, 1946.

- SOUZA, GABRIEL SOARES de Tratado Descritivo do Brasil, em 1587, São Paulo, Cia.Ed. Nacional, 1971, p. 144, 149 e 162.

- ROCHA, CARLOS EDUARDO, Museu do Recôncavo Wanderley Pinho, o Engenho Freguesia, Salvador, ed. Itapoã, 1973, 44 p.

- VERGER, PIERRE, 1902, Notícia da Bahia de 1850, Salvador, Ed. Currupio, 1981.

- TEIXEIRA, CID, A Bahia em Tempo de Província, Salvador, Fundação Cultural do Estado da Bahia, 1995, 153 p. - VILHENA, LUÍS DOS SANTOS, A Bahia no Século

XVIII, Salvador, Ed. Itapuã, 1969.

- SMITH, ROBERT CHESTER, Arquitetura Civil do Período

Colonial, Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, MEC: 17, Rio de Janeiro, 1969, 27 – 125.

- MATOS, MILTON DOS SANTOS, Recôncavo; berço dos

Canaviais, Salvador, Ed. Itapuã, 1975, 64 p.

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- BAHIA, SECRETARIA DE INDÚSTRIA E COMÉRCIO – IPAC-BA, Inventário de Proteção do Acervo Cultural – Monumentos e Sítios do Recôncavo, Bahia, 1978, v.II, p. 29 a 50, 1982, v.III, p. 75 a 76.

- BAHIA, INSTITUTO DO PATRIMÔNIO ARTÍSTICO E CULTURAL – IPAC, Anteprojeto para Implantação do Economuseu do Recôncavo Wanderley Pinho, Salvador, [s.n.], 2003.

- GUEDES, ANTÔNIA ROSA; ROCHA, L. A. R.; PEIXOTO, J. A. S.; RIBEIRO, S. N. Projeto de Olho no Ambiente: levantamento preliminar das condições de agenciamento ambiental do arquipélago soteropolitano, Salvador, [s. n.], 2004, 109 p.

- AZEVEDO, ESTERZILDA D. DE. Arquitetura do Açúcar. 1983, 64f. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) – Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, UFBA, Salvador.

- LOPES, ANTONIO ROBERTO. et. al. Educação ambiental como instrumento de gestão na localidade de Caboto, Candeias, BA, 2004, 68 f. Monografia (Especialização em Planejamento e Gestão do Meio Ambiente). Faculdade de Tecnologia e Ciências – TFC, Salvador.

- SANTANA, MARINAIDE L. R. DE, Et. Al. Projeto para Revitalização do Museu do recôncavo Wanderley Pinho, Salvador, [s. n.], 1992, 133 p.

- FRAÇA, THOMPSON. Et. Al. Considerações sobre o uso da represa do sítio histórico do Museu do Recôncavo Wanderley Pinho como área de lazer e pesca, Salvador, [s.n.], 1997, 33 p.

- SEC - SECRETARIA DA CULTURA E TURISMO http://www.sct.ba.gov.br (/sudecult - museu Wanderley).

- IRDEB – INSTITUTO DE RADIO DIFUSÃO DO ESTADO DA BAHIA http//www.irdeb.ba.gov.br/

- AIC - ARATU IATE CLUBE – http// www.aratuiateclub.com.br

- PETROBRÁS www.petrobras.com.br. - SITE VISITE BAHIA – www.visitebahia.com.br - ONDA AZUL – www.ondazul.org.br - ILHA DE ITAPARICA – www.ilhaitaparica.com.br - SITE DA BAHIA - www.bahia.com.br

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11 – CRÉDITOS E EQUIPE TÉCNICA DIRETOR GERAL Dr. Julio Santana Braga DIRETORIA DE PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARTÍSICO E CULTURAL Engº Jorge Halla Guimarães – CREA 12.378 – D – 3ª Reg. DIRETORIA DO MUSEU DO RECÔNCAVO WANDERLEY PINHO Mus. Maria de Fátima dos Santos GERÊNCIA DE RESTAURAÇÃO E CONSERVAÇÃO DE BENS CULTURAIS Arqtº José Carlos de Oliveira Matta – CREA 13.211 – D - 3ª Reg. SUBGERÊNCIA DE PROJETOS Artº Elisabete Gándara Rosa – CREA 11.786 –D – 3ª Reg. EQUIPE TÉCNICA ARQUITETOS: Ayrton Silva Ferreira Filho – CREA 3.930 – D – 3ª Reg. Responsável Técnico pelo Projeto de Reconstrução da Fábrica e co-autor da

Proposta Global de Preservação do Conjunto. Paulo Roberto Pinheiro Nunes – CREA 4.993 – D- 3ª Reg. Responsável Técnico pelo Projeto de Restauro da Casa Grande/Capela, co-autor

da Proposta Global de Preservação e autor do Memorial Descritivo. Elisabete Palmeira - CREA 5.343 – D – 3ª Reg. Co-autora da Proposta Global de Preservação do Conjunto DESENHISTAS Jailton Gonçalves Lima – Cadastro Arquitetônico Carlos Alberto Gomes – Cadastro Arquitetônico Luciano César Dias Silva – Cadastro Arquitetônico

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Cristina Santos Morelli – Projetos Arquitetônicos

ESTAGIÁRIOS: Elisa Fialho - Estagiária – participou da 1ª fase do Projeto

12.1 - DOCUMENTAÇÃO FOTOGRÁFICA E ICONOGRÁFICA

PLANTAS BAIXAS DA CASA GRANDE E CAPELA – FONTE: IPAC. BA TIPOLOGIA E INDICAÇÃO DO USO DO ENGENHO FREGUESIA - SÉCULO XVIII

PLANTA BAIXA DA FÁBRICA - FONTE: IPAC. BA

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