melaço de soja na fertilização do cultivo super-intensivo

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS DEPARTAMENTO DE AQUICULTURA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AQUICULTURA Melaço de soja na fertilização do cultivo super-intensivo de camarão branco do Pacífico em sistema de bioflocos microbianos Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Aquicultura do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Santa Catarina. Orientador: Walter Quadros Seiffert Coorientador: Edemar Roberto Andreatta Carlos Manoel do Espírito Santo Florianópolis 2014

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Page 1: Melaço de soja na fertilização do cultivo super-intensivo

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

DEPARTAMENTO DE AQUICULTURA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AQUICULTURA

Melaço de soja na fertilização do cultivo super-intensivo de camarão

branco do Pacífico em sistema de bioflocos microbianos

Dissertação apresentada ao Programa de

Pós-Graduação em Aquicultura do Centro

de Ciências Agrárias da Universidade

Federal de Santa Catarina.

Orientador: Walter Quadros Seiffert

Coorientador: Edemar Roberto Andreatta

Carlos Manoel do Espírito Santo

Florianópolis

2014

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Melaço de soja na fertilização do cultivo super-intensivo de camarão

branco do Pacífico em sistema de bioflocos microbianos

Por

CARLOS MANOEL DO ESPÍRITO SANTO

Esta dissertação foi julgada adequada para a obtenção do título de

MESTRE EM AQUICULTURA

e aprovada em sua forma final pelo Programa de

Pós-Graduação em Aqüicultura.

_____________________________________

Prof. Alex Pires de Oliveira Nuñer, Dr.

Coordenador do Programa

Banca Examinadora:

__________________________________________

Dr. Walter Quadros Seiffert – Orientador

__________________________________________

Dr. Felipe do Nascimento Vieira

__________________________________________

Dra. Leila Hayashi

__________________________________________

Dr. Sérgio Winckler da Costa

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Page 5: Melaço de soja na fertilização do cultivo super-intensivo

AGRADECIMENTOS

A minha família que é a maior incentivadora em seguir sempre

em frente estudando.

A minha amada Marysol que foi compreensiva em todos os

momentos e me deu muita força e carinho durante este trabalho.

Ao meu orientador, professor Walter Quadros Seiffert pela

oportunidade de qualificação profissional e sempre ter disponibilizado

toda estrutura e pessoal do Laboratório de Camarões Marinhos- LCM

para que eu fizesse o melhor possível.

Ao José Luís Pereira Mouriño pelo apoio técnico, operacional e

intelectual, fundamental neste trabalho e no meu curso de Pós-

graduação.

Ao Felipe do Nascimento Vieira pela ajuda na interpretação dos

resultados, supervisão da escrita e ensinamentos de como fazer um texto

científico.

Ao professor Edemar Roberto Andreatta, pela honra de tê-lo

como coorientador.

Ao Rafael Garcia pela parceria de trabalho, paciência para ouvir e

ajuda nas questões de Química.

A professora Leila Hayashi que deu amparo quando nada dava

certo e mostrou que era possível seguir e frente.

A professora Carla Bonetti, que gentilmente prestou socorro nas

dúvidas sobre análise de água e deu apoio à minha formação.

Ao João Santana pelos serviços administrativos que mantém e

melhora o LCM para atender aos pesquisadores e estudantes.

A(os) professora(es) Katt Lapa, Luis Vinatea, e Roberto

Bianchini pelo incentivo á minha formação e ingresso na Pós-graduação.

Ao Bruno Correa da Silva que desde o início do meu curso de

mestrado esteve disposto a ajudar em todas as áreas e foi o

“descobridor” do melaço de soja.

Ao Efrayn Wilker Souza Candi, pela preparação das unidades

experimentais, dedicação e cuidado no manejo do experimento.

A Juliana Ribeiro pela realização das análises de água.

Ao Douglas Severino e Isabela Claudiana Pinheiro pela

realização das análises de água, preparação e manejo do experimento e,

plantões de final de semana.

Ao Gabriel Alves de Jesus e Marcello Mendes pela realização das

análises microbiológicas, preparação e manejo do experimento e,

plantões de final de semana.

Page 6: Melaço de soja na fertilização do cultivo super-intensivo

Ao Rafael Arantes e Rodrigo Schveitzer pelo conhecimento que

compartilharam e ajuda em todas as dúvidas sobre bioflocos.

Ao Marco Antonio de Lorenzo pelo apoio na estatística.

Aos alunos colaboradores do Laboratório de Camarões Marinhos,

Marcos Santiago, Gabriela Soltes e Scheila Pereira, que dedicaram

tempo e trabalho em alguma etapa deste trabalho.

À equipe da microbiologia do LCM que fez análises

microbiológicas, ajudou no povoamento, na despesca e certamente em

outros momentos que agora não estou lembrado.

A Andréia, Davi, Ilson, Dimas, Carlos Miranda, Paulo e Diego,

colaboradores do LCM que contribuíram cada um na sua área, com este

trabalho.

À empresa IMCOPA Ltda, que gentilmente cedeu o melaço de

soja para o experimento.

Ao Doutor João Grigoletti Scholl, porque me ensinou que o bom

uso da ciência é aplicá-la para o bem das pessoas, e além de tudo é

entusiasta da carcinicultura.

Aos que colaboraram, mas não encontraram seus nomes aqui,

também sou muito grato.

Page 7: Melaço de soja na fertilização do cultivo super-intensivo

RESUMO

Neste estudo foi avaliado o uso do melaço de soja líquido, como fonte

de carbono complementar ao melaço de cana na fertilização orgânica do

cultivo super-intensivo de camarão branco do Pacífico, Litopenaeus

vannamei (Bonne 1931) em sistema de bioflocos com renovação

mínima de água. O melaço de soja é um subproduto do beneficiamento

da soja, oriundo da extração do óleo e do farelo concentrado proteico de

soja, com aproximadamente 30% de umidade e 47% de carboidratos. O

experimento consistiu em cultivo de camarões com peso médio inicial

de três gramas, densidade de 250 camarões/ m3 e o controle da amônia

total pela aplicação de melaço de soja combinado com o melaço de cana

na água do cultivo. Foram avaliados os efeitos, nos parâmetros de

qualidade de água recomendados para o camarão branco do Pacífico, na

concentração de amônia total, na formação de bioflocos, na

concentração de clorofila-a, na concentração de Vibrios spp. e de

bactérias heterotróficas na água e nos índices de produção zootécnicos.

O delineamento experimental foi unifatorial e inteiramente casualizado,

com quatro réplicas. Foram utilizados três tratamentos com diferentes

taxas de inclusões de melaço de soja e melaço de cana (60-40%, 38-

62% e 15- 85%, respectivamente). O grupo controle foi fertilizado

apenas com melaço de cana. Após 50 dias não foi apresentada alteração

significativa dos parâmetros de qualidade de água e dos índices de

produção zootécnicos do cultivo. A concentração de amônia foi mantida

em níveis adequados para o cultivo de L. vannamei. Não houve efeito

significativo nos sólidos suspensos totais que indicasse aumento da

quantidade de bioflocos com o uso do melaço de soja. Também não

houve diferença significativa para clorofila-a que apontasse aumento da

produtividade primária. A concentração de bactérias heterotróficas na

água do cultivo não foi modificada com o uso do melaço de soja.

Entretanto o número de Vibrios spp. na água do final do cultivo foi

significativamente menor. Sendo assim, o melaço de soja se mostrou

eficiente no controle da amônia e formação de bioflocos para o cultivo

de L. vannamei mantendo a produtividade do cultivo em sistema de

bioflocos. Destaca-se neste estudo que o melaço de soja ocasiona

redução dos víbrios na água.

Palavras-chave: Litopenaeus vannamei, camarão marinho, fertilização

orgânica, relação carbono/nitrogênio, cultivo heterotrófico, Vibrios spp.

Page 8: Melaço de soja na fertilização do cultivo super-intensivo
Page 9: Melaço de soja na fertilização do cultivo super-intensivo

ABSTRACT

In this study, the use of liquid soybean molasses was evaluated as a

supplementary carbon source to sugarcane molasses on the organic

fertilization of Pacific white shrimp, Litopenaeus vannamei (Boone,

1931), super-intensive farming in Biofloc technology (BFT) system

using a minimum water exchange. The soybean molasses is a processing

byproduct obtained from the extraction of the soybean oil and the

protein concentrate powder and approximately 47% of its content is

carbohydrates and 30% is moisture. The experiment consisted of

farming shrimps weighting initially three grams at a stocking density of

250 shrimps per m³. The total ammonia content was controlled by the

addition of combined amounts of sugarcane and soybean molasses to the

cultivation water. As result, the effects of the molasses addition on the

recommended water quality parameters for the Pacific white shrimp

farming, the total ammonia concentration, the biofloc formation, the

chlorophyll A concentration, the heterotrophic bacterial load, the Vibrios

spp. concentration and the zootechnical indexes were evaluated. The

unifactorial experimental design was completely randomized and four

replicates were performed. Three different molasses treatments were

performed using several soybean to sugarcane molasses ratios (60 -

40%, 38 - 62% and 15 - 85%, respectively). The control group was

treated only with sugarcane molasses. After 50 days, it was not noticed

significant changes on both the water quality parameters and the

zootechnical indexes. The total ammonia content was kept on adequate

levels for L. vannamei cultivation. There was no significant increase on

the total suspended solids, indicating that the use of soybean molasses

did not lead to an increase on the biofloc formation. Also, there was no

increase on the primary productivity since no increase on the

chlorophyll A concentration was noticed. The heterotrophic bacterial

load in the cultivation water was not modified by soybean molasses use.

However, in this case, the Vibrios spp. concentration was significantly

reduced. As result, the soybean molasses showed to be efficient

controlling the total ammonia content and the biofloc formation,

therefore maintaining the productivity of L. vannamei farming when the

Biofloc technology (BFT) system is employed. It is noteworthy to

highlight that it also led to a significant reduction of vibrios in the

cultivation water.

Keywords: Litopenaeus vannamei, marine shrimp, organic fertilization,

carbon / nitrogen ratio, heterotrophic cultivation, Vibrios spp.

Page 10: Melaço de soja na fertilização do cultivo super-intensivo
Page 11: Melaço de soja na fertilização do cultivo super-intensivo

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO................................................................................. 13

1.1 Fertilização orgânica e fontes de carbono orgânico ................ 15 1.2 O melaço de soja ..................................................................... 15

2. JUSTIFICATIVA .............................................................................. 17 2. OBJETIVOS: .................................................................................... 17

3.1 Objetivo geral: ......................................................................... 17 3.2 Objetivos específicos: ............................................................. 17

4. FORMATAÇÃO DA DISSERTAÇÃO ............................................ 18 5. RESUMO .......................................................................................... 20 6. ABSTRACT ...................................................................................... 21 7. INTRODUÇÃO ................................................................................ 22 8. MATERIAL E MÉTODOS............................................................... 23

8.1 Material biológico ................................................................... 23 8.2 Delineamento experimental e unidades experimentais ........... 24 8.3 Condições experimentais......................................................... 24 8.4 Relação carbono/nitrogênio (C/N), fertilização orgânica e

manejo da qualidade da água .............................................. 25 8.5 Análise dos parâmetros de qualidade de água e clorofila a ..... 27 8.6 Análise microbiológica da água .............................................. 27 8.7 Lodo removido do cultivo ....................................................... 28 8.8 Desempenho zootécnico dos camarões ................................... 28 8.9 Análise estatística .................................................................... 28

9. RESULTADOS E DISCUSSÃO ...................................................... 29 9.1 Qualidade de água, relação carbono/nitrogênio (C/N) e

clorofila- a .......................................................................... 29 9.2 Bactérias heterotróficas totais e Vibrio spp ............................. 33 9.3 Lodo removido ........................................................................ 35 9.4 Índices de produção zootécnicos ............................................. 36

10. CONCLUSÕES ............................................................................... 37 11. AGRADECIMENTOS .................................................................... 37 12. REFERÊNCIAS .............................................................................. 37 13. CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................... 43 14. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DA INTRODUÇÃO .......... 43 ANEXO I: ............................................................................................. 48 ANEXO II: ............................................................................................ 49

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Page 13: Melaço de soja na fertilização do cultivo super-intensivo

13

1. INTRODUÇÃO

O camarão branco do Pacífico Litopenaeus vannamei é a espécie

de camarão mais cultivada no mundo desde 2003, sendo que no ano de

2012 foram produzidos 3,18 milhões de toneladas desta espécie,

representando aproximadamente 73,5% da produção mundial de

camarões marinhos (FAO, 2014). Não obstante, o cultivo desta espécie

contribuiu com aproximadamente 9,9% do rendimento total de dólares

gerados internacionalmente com a produção aquícola animal em 2012.

Estes dados têm ainda mais expressividade, quando se considera o

aumento de 11,5 vezes na quantidade de camarão branco do Pacífico

produzida no mundo em uma década (2001-2011) (FAO, 2014). No

Brasil foram produzidos 74,1 mil toneladas de L. vannamei em 2012,

resultando em 13,6% do valor gerado por cultivos de animais aquáticos

(FAO, 2014).

Mesmo com o bom cenário produtivo e econômico, a

carcinicultura é afetada por enfermidades de origem virais, como o vírus

da mancha branca (WSSV), vírus de taura (TSV), vírus da cabeça

amarela (YHV) e vírus da mionecrose infecciosa (IMNV) (LIGHTNER,

2005) que já causaram prejuízos em diversas regiões produtoras do

planeta. Desde 2010 a síndrome da necrose aguda do hepatopâncreas

(AHPNS), causada por víbrio, também tem provocado surtos de

mortalidade na Ásia e América Latina (TRAN et al., 2013). No Brasil o

IMNV e o WSSV, têm sido um entrave para o crescimento da

carcinicultura marinha (NUNES; MADRID; ANDRADE, 2011).

Uma das portas de entrada destas enfermidades nos cultivos é

através da renovação da água dos viveiros. Pois, existe risco de captação

de água de drenagem de outras fazendas e introdução de agentes

patogênicos no cultivo (PÁEZ-OSUNA, 2001). Entretanto, nos cultivos

tradicionais as renovações são uma opção de manejo, sendo que a

qualidade de água é mantida pela assimilação dos compostos

nitrogenados tóxicos para o cultivo pelas microalgas (HARGREAVES,

2006). Porém, a água é renovada quando ocorre floração excessiva de

fitoplâncton ou acúmulo de matéria orgânica (CRAB et al., 2007). As

renovações podem liberar no ambiente água e vetores infectados,

disseminando a enfermidade nas regiões de cultivo (COSTA, 2010).

Os primeiros estudos em cultivo de camarões sem renovação e

sem recirculação de água iniciaram nos anos 90, nos Estados Unidos, no

centro de pesquisa Waddel Mariculture Center, com o trabalho de (Steve

Hopkins e colaboradores) e em Israel (AVNIMELECH, 2012). As

Page 14: Melaço de soja na fertilização do cultivo super-intensivo

14

pesquisas culminaram com o trabalho de Avnimelech (1999),

demonstrando que uma relação carbono/nitrogênio (C/N) acima de 12,

promovida pela adição de glicose na água juntamente com suprimento

de aeração, diminui a concentração dos compostos nitrogenados tóxicos

e permitem a renovação mínima de água do cultivo. Isto devido ao fato

de que o aumento da relação C/N, através da adição de carboidratos de

moléculas simples e solúveis, favorece o crescimento de bactérias

heterotróficas que assimilam e imobilizam a amônia em biomassa

bacteriana (EBELING; TIMMONS; BISOGNI, 2006). O crescimento

dessas bactérias formam agregados microbianos chamados de flocos,

que por suas particularidades, deram origem ao nome do sistema de

cultivo com mínima ou nenhuma renovação de água em meio

heterotrófico, bioflocos (AVNIMELECH, 1999).

O cultivo de camarão marinho em sistema de bioflocos possibilita

utilizar altas densidades de estocagem, resultando em produtividades

altas ao final de cada ciclo e reduzida necessidade de área para produção

(TAW, 2010). McAbee et al. (2003) e Otoshi et al. (2007) relatam

rápido crescimento e boa sobrevivência nos cultivos em sistema de

bioflocos com densidades até 600 camarões/ m2.

Pesquisas recentes demonstram que o cultivo em sistema de

bioflocos, constitui uma medida de biossegurança (COHEN et al.,

2005). Isto devido ao fato de que por utilizar menor volume de água e

ser realizado em menores áreas, facilita o controle da entrada de

organismos patogênicos no cultivo de camarões (WANG, CHANG;

CHEN, 2008). Além disso, devido à competição entre os micro-

organismos existentes, pode diminuir o potencial infeccioso de víbrios e

outros patógenos, quando estes estão presentes na água do cultivo

(CRAB et al., 2010b). Outro fator positivo para sanidade do cultivo é

que o sistema de bioflocos pode aumentar a atividade imunológica de L.

vannamei, melhorando a sobrevivência em comparação a cultivos com

água clara renovada diariamente (KIM et al., 2014).

No sistema de bioflocos, os agregados microbianos também

servem de alimento, e auxiliam na nutrição (AZIM; LITTLE, 2008;

BURFORD et al., 2004; HARI et al., 2004). Desta forma, pode ocorrer

aumento da retenção de nitrogênio da ração, possibilitando a redução ou

substituição parcial da proteína animal nas rações (CRAB et al., 2007;

KUHN et al., 2009; CRAB et al., 2010a; BAUER et al., 2012).

Page 15: Melaço de soja na fertilização do cultivo super-intensivo

15

1.1 Fertilização orgânica e fontes de carbono orgânico

Nos cultivos em sistema de bioflocos, uma relação

carbono/nitrogênio (C/N) acima de 12/1 na água promove o crescimento

de bactérias heterotróficas e o controle da amônia nos cultivos de peixes

e camarões em bioflocos (AVNIMELECH, 1999). Neste sistema de

cultivo, a relação C/N mínima é alcançada pela adição de uma fonte de

carbono orgânico na água, sendo que a utilização de fontes de carbono

orgânico é ainda apontada como um desafio para futuras pesquisas

(CRAB et al., 2012). Glicose, dextrose, melaço de cana, farinha de

mandioca, farelo de arroz, farelo de trigo e celulose, são produtos ricos

em carbono que podem ser usados para aumentar a relação C/N no

cultivo e estimular o desenvolvimento de comunidades microbianas

heterotróficas (SCHRYVER et al., 2008). No entanto, para formação de

bioflocos e eficaz controle da amônia devem ser usadas fontes ricas em

carboidratos simples e solúveis, como, a glicose, dextrose e o melaço de

cana (EBELING; TIMMONS; BISOGNI, 2006). Crab et al. (2010a),

avaliaram o uso de outras fontes de carbono, glicose, glicerol e acetato,

que foram eficazes no controle da amônia. Para a melhoria da

sustentabilidade dos cultivos em bioflocos, Schryver et al. (2008),

recomendam preferencialmente o uso de fontes de carbono que sejam

resíduos de processos agrícolas e industriais ou com baixo custo de

aquisição. Estes mesmos autores sugerem o uso de melaço de cana, já

que possui menor custo de aquisição, quando comparado a outras fontes

de carbono solúveis, como dextrose, acetato, glicerol, açúcar refinado ou

glicose.

No Brasil, apesar de Suita (2009) ter obtido melhores resultados

utilizando dextrose em cultivos super-intensivo de L. vannamei, é muito

utilizado o melaço de cana, que possui aproximadamente 50% de

carbono e é constituído principalmente de sacarose (KRUMMENAUER,

2012; SCHVEITZER, 2012).

1.2 O melaço de soja

O melaço de soja é um subproduto da extração do óleo e do farelo

concentrado proteico de soja (GAO; LI; LIU, 2012). O melaço de soja

em geral possui 50% de umidade, sendo constituído essencialmente de

carboidratos (60%), 10% de proteínas, 20% de lipídeos e 10% de cinzas

(KINNEY, 2003). O melaço de soja é utilizado principalmente como

matéria prima para fermentação (SIQUEIRA et al., 2008), sendo a

produção de etanol combustível o principal destino para o melaço de

Page 16: Melaço de soja na fertilização do cultivo super-intensivo

16

soja (MACHADO, 1999; SIQUEIRA et al., 2008; LONG; GIBBONS,

2013). O melaço de soja produzido no Brasil possui quantidade

significativa de carboidratos e baixo teor de umidade (Tabela 1), o que

qualifica este produto como uma potencial fonte de carbono para

controle da amônia e formação de bioflocos microbianos em cultivos

com mínima renovação de água.

Tabela 1: Composição bioquímica e teor de cinzas e umidade do melaço de soja líquido e do melaço de cana em pó

Composição (%) Melaço de soja Líquído1 Melaço de cana em pó2

Umidade 29,96 4,49

Açúcares totais 46,97 73,49

Proteína bruta 6,97 2,84

Lipídeos 9,72 0,4

Cinzas 34,78 18,77

1 Produzido por: IMCOPA – Importação, exportação e indústria de óleos S.A. (Araucária, PR, Brasil). ² Produzido por Indumel - Indústria e comércio

de melaço Ltda. (Sertãozinho, SP, Brasil).

Antes de 2006, com a implantação de usina de álcool na própria

planta de uma das maiores beneficiadoras de soja do Paraná, o resíduo

de melaço de soja gerado não tinha utilidade, sendo que, a maior parte

era queimada (FINEP, 2014). Apesar da disponibilidade no mercado, a

baixa procura encarece o produto para a venda. Por isso, o custo de

aquisição do melaço de soja líquido diretamente na fábrica (sem

transporte) é de R$ 2,00 o litro. Enquanto que o melaço de cana líquido

pode ser encontrado a R$ 0,80 o litro.

O melaço de soja é estudado principalmente na área da

biotecnologia, como, substrato para produção de leveduras na indústria

alimentícia (GAO; LI; LIU, 2012), biossínteses de soforolipídeos

(biossurfactantes) (SOLAIMAN et al., 2007) e produção de

hidroxialcanoatos (biopolímeros) (SOLAIMAN et al., 2006). Em

recente revisão bibliográfica, de janeiro de 2014, foi encontrada apenas

uma referência com uso de melaço de soja na aquicultura, como

ingrediente na formulação de dietas para peixe (WARD et al., 2013).

Page 17: Melaço de soja na fertilização do cultivo super-intensivo

17

2. JUSTIFICATIVA

A prática sustentável do cultivo de camarões vem sendo

viabilizada pela adoção de medidas de biossegurança que buscam a

minimização da taxa de renovação de água. Porém, estes cultivos

demandam maior uso de tecnologias, materiais e energia, quando

comparados aos de manejo tradicional. A utilização de resíduos de

outras atividades como insumos ou fertilizantes orgânicos, pode suprir

uma destas demandas. Nesta direção, o potencial uso do melaço de soja

deve ser estudado, considerando as características que o qualificam

como fonte de carbono na fertilização orgânica do cultivo super-

intensivo de Litopenaeus vannamei em meio heterotrófico, apesar do

custo de aquisição mais elevado do melaço de soja em relação ao

melaço de cana. O qual se deve principalmente à baixa comercialização

desse produto para outras finalidades além da produção de etanol

combustível.

2. OBJETIVOS:

3.1 Objetivo geral:

Avaliar o uso do melaço de soja combinado com melaço de cana,

como fertilizante orgânico no cultivo super-intensivo de Litopenaeus vannamei em sistema de bioflocos com mínima renovação de água.

3.2 Objetivos específicos:

Avaliar o efeito da aplicação de melaço de soja líquido

combinado com melaço de cana em pó, em três taxas (15- 85%; 38-

62% e 60- 40%, respectivamente), na fertilização orgânica do cultivo de

Litopenaeus vannamei em sistema de bioflocos e renovação mínima de

água, sobre:

a) Os parâmetros de qualidade de água (amônia, nitrito, nitrato,

Ortofosfato, pH e alcalinidade).

b) A concentração de clorofila-a.

c) A quantidade de bioflocos formada no cultivo (Sólidos

sedimentáveis, sólidos suspensos totais e sólidos suspensos

voláteis e quantidade de lodo removida do cultivo).

Page 18: Melaço de soja na fertilização do cultivo super-intensivo

18

d) A concentração de bactérias heterotróficas e vibrionáceas na

água do cultivo.

e) O desempenho zootécnico dos camarões.

4. FORMATAÇÃO DA DISSERTAÇÃO

Esta dissertação está dividida em duas partes, a primeira

introdutória, referente à revisão bibliográfica sobre o tema, a

justificativa e os objetivos do trabalho. A segunda parte é um artigo

científico formatado de acordo com as normas da revista “Aquaculture

Research”, referente à pesquisa realizada sobre o tema apresentado.

Page 19: Melaço de soja na fertilização do cultivo super-intensivo

19

ARTIGO CIENTÍFICO

O melaço de soja como fonte de carbono orgânico no cultivo

de Litopenaeus vannamei (Bonne 1931) em sistema de bioflocos

Carlos Manoel do Espírito Santo, Isabela Claudiana Pinheiro, Douglas

Severino, Gabriel Alves de Jesus, José Luis Pereira Mouriño, Felipe do

Nascimento Vieira, Roberto Edemar Andreatta, Walter Quadros Seiffert.

Laboratório de Camarões Marinhos, Departamento de Aquicultura,

Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Santa Catarina,

Brasil.

Artigo formatado segundo as normas da revista Aquaculture Research.

Page 20: Melaço de soja na fertilização do cultivo super-intensivo

20

5. RESUMO

Neste estudo foi avaliado o uso do melaço de soja líquido, como fonte

de carbono orgânico complementar ao melaço de cana na fertilização

orgânica do cultivo super-intensivo de camarão branco do Pacífico

Litopenaeus vannamei (Bonne 1931) em sistema de bioflocos com troca

mínima de água. O experimento consistiu em cultivo de camarões com

peso médio inicial aproximado de três gramas e densidade inicial de 250

(camarões. m-3

), sendo o aumento da relação carbono/nitrogênio e o

controle da concentração de amônia total na água, pela aplicação de

melaço de soja combinado com melaço de cana. Após 50 dias não houve

alteração significativa dos parâmetros de qualidade de água e dos

índices de produção zootécnicos do cultivo. A concentração de amônia

total foi mantida em níveis adequados para o cultivo de L. vannamei. A

concentração de sólidos suspensos totais na água não apresentou

alteração significativa que indicasse aumento da quantidade de bioflocos

com a utilização do melaço de soja. A concentração de clorofila-a

também não sofreu impacto significativo, sendo formado e mantido

bioflocos heterotrófico “marrom” na água do cultivo. A concentração de

víbrios na água do final do cultivo foi significativamente menor com o

uso de melaço de soja. Entretanto, o número de bactérias heterotróficas

totais não se alterou. Sendo assim, o melaço de soja se mostra eficiente

no controle da amônia e formação de bioflocos no cultivo super-

intensivo do camarão branco do Pacífico em meio heterotrófico,

possibilitando a manutenção da produtividade do cultivo em sistema de

bioflocos. Destaca-se neste estudo que o melaço de soja ocasiona

redução da concentração de víbrios na água do cultivo. Porém, não foi

possível substituir completamente o melaço de cana pelo melaço de

soja, devido ao elevado teor de nitrogênio do melaço de soja.

Palavras-chave: camarão marinho, fertilização orgânica, relação

carbono/nitrogênio, cultivo heterotrófico, Vibrios spp.

Page 21: Melaço de soja na fertilização do cultivo super-intensivo

21

6. ABSTRACT

The use of liquid soybean molasses was investigated as a supplementary

carbon source to sugarcane molasses on the organic fertilization of

Pacific white shrimp, Litopenaeus vannamei (Bonne, 1931), super-

intensive farming in Biofloc technology (BFT) system using a minimum

water exchange. The experiment consisted of farming shrimps

weighting initially three grams at a stocking density of 250 (shrimps. m-

³). The increase on the carbon/nitrogen ratio and the control of the total

ammonia concentration were performed by the addition of combined

mixtures of sugarcane and soybean molasses to the cultivation water.

After 50 days, it was not noticed significant changes on both the water

quality parameters and the zootechnical indexes. The total ammonia

content was kept on adequate levels for L. vannamei cultivation. There

was no significant increase on the total suspended solids, indicating that

the use of soybean molasses did not lead to an increase on the biofloc

formation. The chlorophyll A concentration was not influenced by the

use of soybean molasses and “brown” heterotrophic bioflocs were

formed in the cultivation water. A significant reduction of vibrios was

noticed. However, the heterotrophic bacterial load was not altered. As

result, the soybean molasses showed to be efficient controlling the total

ammonia content and the biofloc formation, therefore maintaining the

productivity of the Pacific white shrimp farming when the Biofloc

technology (BFT) system was employed. It is noteworthy to highlight

that the use of soybean molasses led to a significant reduction of vibrios

in the cultivation water. However, it was not possible to completely

replace sugarcane molasses on the L. vannamei cultivation due to the

high nitrogen content of soybean molasses.

Keywords: marine shrimp, organic fertilization, carbon / nitrogen ratio,

heterotrophic cultivation, Vibrios spp.

Page 22: Melaço de soja na fertilização do cultivo super-intensivo

22

7. INTRODUÇÃO

Entre os anos de 2001-2011 houve um aumento de

aproximadamente 11,5 vezes na produção mundial do camarão branco

do Pacífico Litopenaeus vannamei (Bonne 1931), que representou

73,5% da produção mundial de camarões marinhos em 2012 (FAO

2014). O cultivo desta espécie contribuiu com um de cada 10 dólares

gerados pela produção mundial de animais aquáticos em 2012 (FAO

2014).

A aplicação de medidas de biosseguridade (Burford, Thompson,

McIntosh, Bauman & Pearson 2003) possibilitou esse aumento da

produção, uma vez que o cultivo desta espécie também é assolado por

enfermidades de origens virais (Lightner 2005), que causam mortalidade

massiva nos cultivos e em muitos casos se tornaram endêmicas (Costa

2010). Recentemente a síndrome da necrose aguda do hepatopâncreas

provocada por víbrios é um novo entrave em algumas regiões produtoras

(Tran, Nunan, Redman, Mohney, Pantoja, Fitzsimmons & Lightner

2013). Dentre as medidas de biosseguridade adotadas, se destaca o uso

de viveiros menores e revestidos com geomembranas, aumento da taxa

de aeração e redução da renovação da água (Chamberlain 2010).

O cultivo em sistema de bioflocos (Avnimelech 1999)

complementa essas medidas de biosseguridade, uma vez que, mantém a

qualidade de água, reduzindo ou eliminando a renovação (Samocha,

Patnaik, Speed, Ali, Burger, Almeida, Ayub, Harisanto, Horowitz &

Brock 2007; Crab, Avnimelech, Defoirdt, Bossier & Verstraete 2007) e

permite a intensificação do cultivo (Avnimelech 1999; Otoshi, Scott,

Naguwa & Moss 2007; Taw 2010).

A formação de compostos nitrogenados tóxicos é o principal fator

limitante para intensificação dos cultivos (Ebeling, Timmons & Bisogni

2006). Porém, no cultivo em sistema de bioflocos a fertilização orgânica

é efetuada para aumentar a relação carbono/nitrogênio (C/N) e

consequentemente promover o crescimento de bactérias heterotróficas

que assimilam e imobilizam a amônia na biomassa bacteriana (Ebeling

et al. 2006). Para formação de bioflocos e eficaz controle da amônia, são

utilizadas fontes ricas em carboidratos solúveis e de moléculas simples,

como a glicose (Avnimelech 1999), sacarose (Ebeling et al. 2006),

glicose, glicerol ou acetato (Crab, Chielens, Wille, Bossier & Verstraete

2010), glicerol ou glicose (Ekasari, Crab & Verstraete 2010), dextrose

(Vinatea, Gálvez, Browdy, Stokes, Venero, Haveman, Lewis, Lawson,

Shuler & Leffler 2010) ou melaço de cana (Krummenauer, Peixoto,

Cavalli, Poersch & Wasielesky 2011; Schveitzer, Arantes, Costódio,

Page 23: Melaço de soja na fertilização do cultivo super-intensivo

23

Espírito Santo, Vinatea, Seiffert & Andreatta 2013b; Souza, Suita,

Romano, Wasielesky & Ballester 2014).

Schryver, Crab, Defoirdt, Boon & Verstraete (2008) sugerem

preferencialmente o uso de fontes de carbono que sejam resíduos de

processos agrícolas ou industriais ou com baixo custo de aquisição.

Estes mesmos autores recomendam o uso de melaço de cana, já que

possui menor custo de aquisição, quando comparado a outras fontes de

carbono solúveis, como dextrose, acetato, glicerol, açúcar refinado ou

glicose. O melaço de cana é a fonte de carbono mais utilizada para

fertilização dos cultivos em sistema de bioflocos (Schneider, Sereti,

Eding & Verreth 2006; Samocha et al. 2007; Schryver et al. 2008;

Schveitzer et al. 2013b). Como alternativa ao melaço de cana,

encontramos o melaço de soja líquido, que é um subproduto da extração

do óleo e do farelo concentrado proteico de soja (Gao, Li & Liu 2012).

Em geral, o melaço de soja possui 50% de sólidos totais, que são

constituídos essencialmente de carboidratos (60%), mais, 10% de

proteínas, 20% de lipídeos e 10% de cinzas (Kinney 2003). Isto faz do

melaço de soja uma potencial fonte de carbono para controle da amônia

e formação de bioflocos microbianos em cultivos com mínima

renovação de água. No entanto, foi encontrada apenas uma referência na

área de aquicultura em estudo com nutrição de peixes (Ward, Bone,

Bengtson, Lee, & Gomez-Chiarri 2013).

Neste estudo, foi avaliado o efeito do uso do melaço de soja

líquido combinado com o melaço de cana em pó na fertilização orgânica

do cultivo de Litopenaeus vannamei em sistema de bioflocos com

mínima renovação de água, sobre os parâmetros zootécnicos,

microbiológicos e de qualidade de água.

8. MATERIAL E MÉTODOS

8.1 Material biológico

A pesquisa foi desenvolvida com o camarão branco do Pacífico

Litopenaeus vannamei (Bonne 1931) no Laboratório de Camarões

Marinhos-LCM do Departamento de Aquicultura da Universidade

Federal de Santa Catarina, região sul do Brasil. A produção destes

animais foi realizada no LCM, com a reprodução de progenitores da

linhagem Livre de Patógenos Específicos (SPF, Specific Pathogen Free)

de notificação obrigatória (WSSV, IMNV, YHV, TSV e IHHNV) pela

Organização Mundial de Epizootias (OIE), cedidos pela empresa

Page 24: Melaço de soja na fertilização do cultivo super-intensivo

24

(Aquatec Ltda- Canguaretama, Rio Grande do Norte, Brasil). Os

camarões utilizados no experimento foram cultivados em sistema de

berçário super-intensivo em bioflocos (Samocha et al. 2007).

8.2 Delineamento experimental e unidades experimentais

O cultivo foi realizado dentro de estufa retangular coberta com

filme de polietileno de 20 micras (Anexo I). Como unidade

experimental, foi utilizado tanque circular de polietileno com fundo

plano e volume útil de 800 litros (Anexo II). Cada unidade estava

equipada com aquecedor elétrico de titânio (800 Watts) controlado por

termostato (Fullgauge®

); um anel central de aeração no fundo, feito com

40 cm de mangueira microporosa (Airtube®) alimentado por soprador

radial elétrico; bandeja para alimentação de camarões (Wasielesky,

Atwood, Stokes & Browdy 2006); substratos artificiais submersos

(Schveitzer, Arantes, Baloi, Costódio, Vinatea, Seiffert & Andreatta 2013a); tanque de decantação de sólidos com volume de 20 Litros (Ray,

Dillon & Lotz 2011), e cobertura de tela Aluminet®

50%.

O experimento consistiu em cultivo de engorda de camarões em

sistema de bioflocos, com fertilização orgânica da água e manutenção de

baixa concentração de amônia total, mediante aplicação de mistura de

melaço de soja líquido e melaço de cana em pó na água do cultivo. O

delineamento experimental foi unifatorial e inteiramente casualizado

com quatro réplicas, sendo três tratamentos com diferentes taxas de

mistura de melaço de soja líquido e melaço de cana em pó (15-85%; 38-

62% e 60-40%, respectivamente) e um grupo controle fertilizados

somente com melaço de cana (Tabela 2).

8.3 Condições experimentais

O povoamento em todos os tratamentos e no controle foi

realizado em água clara, captada em praia de mar aberto (Praia de

Moçambique, Florianópolis, Brasil), com salinidade de 31 g. L -1

,

alcalinidade igual a 120 mg. L-1, turbidez de dois NTU, transparência (>

2 m) e temperatura de 24,4 °C.

Cada unidade foi povoada com 200 camarões de peso médio de

3,15 ± 0,02 g, resultando na densidade inicial de cultivo de 250

camarões. m-³. Para alimentação foi utilizada ração comercial (Guabi®

Active - 38% de proteína bruta), sendo o total de ração diária igual 5%

da biomassa de camarões no início do experimento. A ração foi

fornecida a lanço três vezes ao dia (8:00; 11:00 e 17:00 h) com

Page 25: Melaço de soja na fertilização do cultivo super-intensivo

25

aproximadamente 10% do total de ração colocado na bandeja

(Schveitzer et al. 2013b) para checagem do consumo após 1,5 h (Baloi,

Arantes, Schveitzer, Magnotti & Vinatea 2012).

Tabela 2: Composição das misturas utilizadas na fertilização orgânica do cultivo super-intensivo de Litopenaeus vannamei em sistema de bioflocos,

nos tratamentos T60 com 60% de melaço de soja e 40% de melaço de cana;

T38 com 38% de melaço de soja e 62% de melaço de cana; T15 com 15%

de melaço de soja e 85% de melaço de cana, e controle T0 fertilizado

apenas com melaço de cana.

Composição (%)

Controle Tratamentos

T0 T15 T38 T60

Carboidratos 73,5 69,5 63,4 57,6

Proteína bruta 2,8 3,5 4,4 5,3

Cinzas 18,8 21,2 24,8 28,4

Umidade 4,5 8,3 14,2 19,8

Melaço de soja líquido1 0,0 15,0 38,0 60,0

Melaço de cana em pó² 100,0 85,0 62,0 40,0 1 Produzido por IMCOPA – Importação, exportação e indústria de óleos

S.A. (Araucária, PR, Brasil). ² Produzido por Indumel - Indústria e comércio

de melaço Ltda. (Sertãozinho, SP, Brasil).

8.4 Relação carbono/nitrogênio (C/N), fertilização orgânica e

manejo da qualidade da água

O cálculo da relação carbono/nitrogênio (C/N) foi de acordo com

Avnimelech (2012), sendo considerados 40% de carbono nos

carboidratos dos melaços de soja e de cana e 50% de carbono na ração

utilizada (Ebeling et al. 2006). A aplicação de fertilizante orgânico nos

tratamentos e no controle foi realizada duas vezes ao dia (09:30 e 15:00

h). O período de duração do manejo de fertilização orgânica foi dividido

em duas fases (Figura 1).

A primeira fase de fertilização orgânica foi realizada na primeira

semana de cultivo. Nesta fase, a adição do fertilizante orgânico foi diária

e de acordo com a quantidade de ração diária total, mantendo relação

C/N fixa de 12/1 (Avnimelech 2012). A partir do oitavo dia de cultivo

iniciou a segunda fase da fertilização orgânica. Nesta fase o fertilizante

orgânico foi adicionado na água diariamente para manter a concentração

de amônia total abaixo de um mg. L-1

(Vinatea et al. 2010; Baloi et al. 2012; Schveitzer et al. 2013a; Souza et al. 2014), sendo que para cada

Page 26: Melaço de soja na fertilização do cultivo super-intensivo

26

grama de nitrogênio amoniacal no tanque acima de um mg. L-1

foram

adicionados 20 g de carboidratos via fonte carbono orgânico

(Avnimelech 1999). Na segunda fase de fertilização também foi

adicionado fonte de carbono, diariamente, em função da perda de

nitrogênio da ração para água (Avnimelech 1999), sendo considerada

perda teórica para água de 50% do nitrogênio da ração fornecida aos

camarões diariamente (Ebeling et al. 2006). Após a estabilização da

concentração de amônia total em valor menor que um mg. L-1

foi

finalizado o período de fertilização orgânica e o cultivo continuou até

completar sete semanas.

Após o período de fertilização orgânica, a alcalinidade da água

foi mantida em aproximadamente 150 mg L-1

com aplicação de

hidróxido de cálcio (CaOH-) (Figura 1). Os sólidos suspensos totais

foram mantidos entre 400 e 600 mg. L-1

(Schveitzer et al. 2013b) com

auxílio dos tanques de decantação. O lodo retido no tanque de

decantação foi filtrado com malha de 60 micras para quantificação e

toda água devolvida para a unidade experimental.

Figura 1. Esquema de desenvolvimento temporal do manejo de fertilização orgânica adotado no experimento de cultivo de Litopenaeus vannamei em

sistema de bioflocos durante 50 dias, fertilizado com melaço de cana no

controle T0 e tratamentos, T15 fertilizado com 15% de melaço de soja e

85% de melaço de cana; T38 com 38% de melaço de soja e 62% de melaço de cana e T60 com 60% de melaço de soja e 40% de melaço de cana.

Page 27: Melaço de soja na fertilização do cultivo super-intensivo

27

8.5 Análise dos parâmetros de qualidade de água e clorofila a

A medição do oxigênio dissolvido e da temperatura da água foi

realizada duas vezes ao dia (08:00 e 17:00 h) com oxímetro YSI 5908®.

O oxigênio dissolvido também foi mensurado meia hora após as

aplicações de fonte de carbono. A salinidade foi medida uma vez por

semana com refratômetro Instrutherm®

e o pH foi medido todas as tardes

com pHmetro YSI 100®. A alcalinidade medida por titulação (APHA,

2005- 2320 B), a turbidez medida em turbidímetro Alfakit®, a

transparência da água medida com disco de Secchi e os sólidos

sedimentáveis- SS medido com auxílio de Cone Imhoff (Avnimelech

2007), foram analisados duas vezes por semana durante o cultivo.

A coleta da água para análise foi realizada antes da primeira

alimentação. A concentração de amônia total (Strickland & Parsons

1972) foi medida diariamente durante o período de fertilização orgânica.

Após esse período, a análise de amônia foi realizada duas vezes por

semana. A concentração de nitrito e fosfato inorgânico dissolvido

(Strickland & Parsons 1972) também foi medida duas vezes por semana.

Para leitura das absorbâncias das amostras foi utilizado

espectrofotômetro Lamotte® modelo Smart Spectro. O nitrato foi

analisado uma vez por semana com Kit de análise (HACH®, método

8039 de redução do nitrato com cádmio) em espectrofotômetro HACH®

modelo DR 2800.

Os sólidos suspensos totais- SST (APHA 2005- 2540 D) e sólidos

suspensos voláteis- SSV (APHA 2005- 2540 E) foram medidos pelo

método gravimétrico duas vezes por semana. A análise de clorofila-a

(APHA 2005- 10200 H) foi realizada a cada 15 dias. As leituras foram

com espectrofotômetro HACH® DR 2800 em cubeta de quartzo com

cinco centímetros de caminho ótico. Para análise de SST, SSV e

clorofila-a, foi utilizado microfiltro de fibra de vidro com porosidade de

0,6 µm (GF- 6 - Macherey- Nagel®).

8.6 Análise microbiológica da água

No décimo dia de cultivo e na despesca foram realizadas as

análises microbiológicas da água. Foi formado um pool de cada

tratamento e do controle de um mL de amostra, com 0,25 mL de água de

cada repetição. Cada pool foi homogeneizado e diluído serialmente (1/

10) em solução salina 3% estéril e semeado em duplicata em meio de

cultura ágar marinho (MARINE) para contagem de bactérias

Page 28: Melaço de soja na fertilização do cultivo super-intensivo

28

heterotróficas totais viáveis e em meio ágar tiossulfato bile sacarose

(TCBS) para contagem de bactérias vibrionáceas. As placas de Petri

com os meios semeados foram incubadas em estufa microbiológica a

30ºC. Após 24 h foram efetuadas contagens totais de unidades

formadoras de colônia (UFC).

8.7 Lodo removido do cultivo

As análises de sólidos suspensos totais- SST e sólidos suspensos

voláteis- SSV do lodo removido foram feitas com amostras diluídas até

200 vezes e a quantidade de lodo removido da água do cultivo (gramas

de matéria seca) foi estimada com a fórmula: Quantidade de lodo

removida (g) = volume de lodo removido (L) x SST do lodo removido

(g. L-1

) (Schveitzer et al. 2013b).

8.8 Desempenho zootécnico dos camarões

Para avaliar resultados dos dados zootécnicos do cultivo foram

calculados, de cada unidade experimental, os índices que seguem:

Sobrevivência (%) = [número final de camarões / número inicial

de camarões] * 100

Ganho de Peso Semanal (g por semana) = [{peso médio final (g)

– peso médio inicial (g)} / dias de cultivo] * 7

Biomassa Final (kg. m-3

) = biomassa final (kg) / volume do

tanque (m3)

Índice de Conversão Alimentar (CA) = quantidade de ração

fornecida (kg) / [biomassa final – biomassa inicial (kg)].

8.9 Análise estatística

Uma vez verificadas as premissas de homogeneidade de

variâncias pelo teste de Barttelet, os dados foram submetidos à análise

de variância unifatorial suplementada pelo teste Tukey de separação de

médias, ambas ao nível de significância de 0,05. Os valores das

variáveis microbiológicas (bactérias heterotróficas totais e vibrionáceas)

foram transformados para Log de x (x = 10). No texto e tabelas os dados

são apresentados em média ± desvio padrão.

Page 29: Melaço de soja na fertilização do cultivo super-intensivo

29

9. RESULTADOS E DISCUSSÃO

9.1 Qualidade de água, relação carbono/nitrogênio (C/N) e

clorofila- a

O cultivo teve duração de 50 dias, não sendo observada diferença

significativa nos parâmetros de qualidade de água entre os tratamentos e

o controle. Todos os parâmetros de qualidade de água estiveram dentro

dos limites adequados ao cultivo de Litopenaeus vannamei (Van Wyk &

Scarpa 1999). A temperatura média diária da água foi de 29,4 ± 1,3 °C e

esteve dentro das condições ideais para o crescimento da espécie

(Wyban, Walsh & Godim 1995). A salinidade foi de 32,0 ± 1,3 g. L-1

. O

oxigênio dissolvido durante todo o período experimental não foi um

fator limitante para o manejo dos cultivos (Tabela 3). O pH e a

alcalinidade se mantiveram estáveis, uma vez que houve aplicação de

hidróxido de cálcio na água (Tabela 3), sendo que ambos estiveram

dentro do esperado para cultivos em sistema de bioflocos (Furtado,

Poersch & Wasielesky 2011).

Os nutrientes inorgânicos dissolvidos, amônia, nitrito, nitrato e

ortofosfato não apresentaram diferença significativa entre os tratamentos

(Tabela 3). O manejo de fertilização efetuado para controle da

concentração de amônia demonstrou-se eficiente, como em outros

trabalhos de cultivo em meio heterotrófico com mínima renovação de

água (Burford et al. 2003; Furtado et al. 2011; Schveitzer et al. 2013b).

A concentração máxima de amônia tóxica (N-NH3) calculada do cultivo

foi de 0,09 mg. L-1

, e ficou abaixo da concentração sugerida como

segura (0,16 mg. L-1

) ao cultivo de L. vannamei (Lin & Chen 2001). A

concentração de nitrito esteve dentro do esperado e apresentou

concentrações semelhantes a estudos com densidades de cultivo

próximas (Wasielesky et al. 2006; Krummenauer et al. 2011). A

concentração máxima de nitrito em todos os tratamentos ficou abaixo do

nível considerado seguro (27,4 mg N-NO2-. L

-1) para L. vannamei (Lin

& Chen 2003). A concentração do nitrato esteve abaixo da máxima de

220 mg. L-1

tolerada pela espécie (Kuhn, Smith, Boardman, Angier,

Marsh & Flick 2010). A presença de nitrato e os baixos valores de

nitrito indicaram que ocorreu a oxidação completa da amônia pela ação

de bactérias quimioautotróficas do bioflocos em todos os tratamentos e

no controle (Cohen, Samocha, Fox & Lawrence 2005; Ebeling et al. 2006) O ortofosfato apresentou a mesma média e desvio em todos os

tratamentos e no controle, indicando que o impacto causado pelo melaço

Page 30: Melaço de soja na fertilização do cultivo super-intensivo

30

de soja neste nutriente é mínimo. As concentrações de ortofosfato

observadas estiveram próximas de outros trabalhos com bioflocos

(Furtado et al. 2011; Schveitzer et al. 2013b). Em todos os tratamentos e

no controle não ocorreu diferença significativa para sólidos

sedimentáveis-SS. O SS máximo variou de 12 a 16 mL. L-1

e

permaneceu abaixo do limite máximo de 20 mL. L-1

para os cultivos em

sistema de bioflocos (Avnimelech 2012).

Os sólidos suspensos totais- SST, turbidez e a transparência da

água, não apresentaram diferença significativa entre os tratamentos e o

controle (Tabela 3). A concentração de SST foi mantida no nível

adequado (Schveitzer et al. 2013b). Para isso, foram realizadas três

remoções de sólidos com auxílio dos tanques de decantação em todas as

unidades durante o cultivo.

Os sólidos suspensos voláteis- SSV são diretamente afetados pela

fonte de carbono (Schryver et al. 2008), mas, não apresentaram

diferença significativa (Tabela 3). O percentual de SSV contido nos

sólidos suspensos totais não apresentou diferença, e foi igual em todos

os tratamentos e controle (44% ± 7).

Embora a disponibilidade de nutrientes inorgânicos dissolvidos

na água e a incidência de luz natural sobre os tanques fossem favoráveis

à proliferação de microalgas, a concentração de clorofila- a foi baixa

como (Hari, Kurup, Varghese, Schrama & Verdegem 2004) e não

apresentou diferença significativa em todos os tratamentos e o no

controle (Tabela 3). Os valores de clorofila-a foram mais baixos que os

estudos de Baloi et al. (2012) que realizou cultivo na ausência de luz e

de Schveitzer et al. (2013b) que utilizou iluminação artificial e relatou

baixos valores de clorofila-a. Ressaltamos que não foi detectado

clorofila-a na água utilizada para iniciar o experimento. Desta forma, a

fertilização orgânica sob a forma de melaço e ração, resultou em relação

C/N favorável ao crescimento de micro-organismos heterotróficos em

detrimento de algas, o que também foi verificado por Samocha et al.

(2007) e Vinatea et al. (2010).

Após o período de fertilização orgânica, a quantidade de ração

fornecida diariamente contribuiu para a baixa presença de clorofila-a no

cultivo, mantendo um sistema majoritariamente heterotrófico e

quimioautotrófico (Hargreaves 2006; Hargreaves 2013). A baixa

concentração de clorofila-a reforça que as vias de controle da amônia no

cultivo foram assimilação da amônia por bactérias heterotróficas através

da adição de fonte de carbono na água e a oxidação até nitrato pela via

quimioautotrófica por bactérias oxidadoras de amônia e nitrito.

Page 31: Melaço de soja na fertilização do cultivo super-intensivo

31

Tabela 3: Parâmetros de qualidade de água do cultivo super-intensivo de Litopenaeus vannamei em sistema de bioflocos com duração de 50 dias,

fertilizado com melaço de soja líquido e melaço de cana em pó, nos

tratamentos T15 com 15% de melaço de soja e 85% de melaço de cana; T38

com 38% de melaço de soja e 62% de melaço de cana; T60 com 60% de

melaço de soja e 40% de melaço de cana e controle T0 fertilizado somente

com melaço de cana.

Controle Tratamentos

Parâmetros T0 T15 T38 T60 P

Oxigênio (mg O2. L-1) 5,89

±0,30

5,88

±0,30

5,89

±0,28

5,76

±0,35

0,120

pH 7,88

±0,17

7,88

±0,18

7,85

±0,18

7,87

±0,19

0,706

Alcalinidade (mg CaCO3. L-1) 149

±25

153

±28

153

±30

163

±37

0,615

Amônia total (mg N-AT1. L-1) 0,8 ±0,8

0,9 ±0,9

0,8 ±0,8

0,9 ±0,8

0,956

Nitrito (mg N-NO2-. L-1) 0,3

±0,2

0,3

±0,2

0,3

±0,2

0,3

±0,2

0,995

Nitrato (mg N-NO3-. L-1) 50,4

±31,5

49,1

±32,3

46,2

±32,6

49,3

±36,7

0,995

Ortofosfato (mg P-PO3-4. L-1) 1,8

±0,8

1,8

±0,8

1,8

±0,8

1,8

±0,8

0,983

Clorofila- a (µg. L-1) 1,0

±1,1

1,6

±2,0

1,2

±0,6

2,9

±3,3

0,780

Transparência (cm) 16

±11

16

±11

16

±11

16

±10

0,997

Turbidez (NTU)2 112

±53 110

±48

119

±50

122

±51

0,968

SST3 (mg. L-1) 477 ±96

470 ±92

499 ±104

513 ±110

0,654

SSV4 (mg. L-1) 205

±44

201

±50

222

±50

238

±64

0,250

1 N-NAT- nitrogênio amoniacal total. 2 NTU - Unidades nefelométricas de turbidez. 3 SST - Sólidos suspensos totais. 4 SSV - Sólidos suspensos

voláteis.

Page 32: Melaço de soja na fertilização do cultivo super-intensivo

32

Nos cultivos em meio heterotrófico sem renovação de água é

esperada queda natural de pH (Wasielesky et al. 2006), causada pela

respiração dos micro-organismos da água e consumo da alcalinidade

pela nitrificação (Ebeling et al. 2006). No entanto, a aplicação de cal

hidratada para correção da alcalinidade evitou a queda do pH, sendo

que, a quantidade de cal utilizada para corrigir a alcalinidade da água foi

menor no tratamento com maior percentual de melaço de soja (Tabela

4). A possível explicação para a menor quantidade de cal utilizada no

tratamento T60 é que o maior teor de melaço de soja aplicado neste

tratamento contribuiu para o aumento da alcalinidade.

Tabela 4. Insumos utilizados na fertilização orgânica e no manejo da

qualidade da água e período de fertilização orgânica do cultivo super-intensivo de Litopenaeus vannamei em sistema de bioflocos com duração de

50 dias, fertilizado com melaço de soja líquido e melaço de cana em pó, nos

tratamentos T15 com 15% de melaço de soja e 85% de melaço de cana; T38

com 38% de melaço de soja e 62% de melaço de cana; T60 com 60% de

melaço de soja e 40% de melaço de cana e controle T0 fertilizado apenas

com melaço de cana.

Valores na mesma linha seguidos de letras minúsculas diferentes indicam diferença significativa pelo teste de Tukey (p < 0,05).

O período de fertilização orgânica foi significativamente maior

no tratamento T60 do que em T15 e controle (Tabela 4). Isto indica que

foi necessário maior número de dias para estabilizar a amônia em valor

Variáveis

Controle Tratamentos

P T0 T15 T38 T60

Cal (g) 248,9

±33,2a 252,8

±5,2a 246,3

±26,7a 191,8

±7,0b 0,005

Melaço de soja (g) 0,0

±0,0a 108,7

±15,2a 337,3

±69,0b 830,6

±97,8c <0,001

Melaço de cana (g) 610,9

±180,0a 615,5

±85a 550,1

±112,8a 560,2

±69,6a 0,811

Carboidratos (g) 448,8

±132,3a 506,9

±70,0a 559,1

±114,5a 806,7

±96,9b 0,002

Período de fertilização orgânica (dias)

13,5 ±1,0a

13,5 ±1,0a

15,2 ±1,2ab

17,0 ±0,8b

0,001

Page 33: Melaço de soja na fertilização do cultivo super-intensivo

33

(<1mg. L-1

) com a inclusão de 60% de melaço de soja na fertilização

orgânica. As quantidades de melaço de soja e melaço de cana utilizadas

em cada tratamento e no controle são apresentadas na Tabela 4. Como já

previsto na metodologia do trabalho, houve aumento significativo de

quantidade de melaço de soja, proporcional ao percentual de melaço de

soja em cada tratamento. No entanto, em todos os tratamentos e controle

não houve redução significativa da quantidade melaço de cana. A

provável explicação para este fato é o teor de nitrogênio do melaço de

soja. O teor de nitrogênio do melaço de soja, também pode explicar o

aumento significativo de carboidratos utilizados na fertilização do

tratamento T60 (Tabela 4). Estes resultados indicam que a utilização de

60% de melaço de soja na mistura eleva significativamente, o período de

fertilização orgânica e a quantidade de fonte de carbono necessária para

fertilizar um cultivo em sistema de bioflocos em meio heterotrófico.

Entretanto, a relação C/N calculada de 13 ± 2 durante o período de

fertilização orgânica não apresentou diferença nos tratamentos e

controle. Após o período de fertilização orgânica e estabilizado o

processo de nitrificação, não houve reaplicação de fonte de carbono nos

tratamentos e controle.

9.2 Bactérias heterotróficas totais e Vibrio spp

Nos tratamentos e no controle a abundância média foi de 106

células. mL-1

, sendo que não houve diferença significativa para bactérias

heterotróficas viáveis totais (p= 0,8814). Outros trabalhos com

Litopenaeus vannamei em sistema de bioflocos apresentaram valores

próximos (Piérri 2012; Kim, Pang, Seo, Cho, Samocha & Jang 2014).

No entanto, os valores para viveiros super-intensivos sem renovação de

água podem ser mais elevados, na faixa de 107 a 10

8 células. mL

-1

(Avnimelech 2012; Otoshi, Holl, Moss D., Arce & Moss S. 2006).

Panjaitan (2010) obteve valores ainda mais elevados de 109 a 10

10

células. mL-1

. Porém, vale ressaltar que o melaço de soja em todas as

taxas de inclusão, não causou impacto significativo no número de

bactérias heterotróficas totais em relação ao controle.

No início do cultivo não houve diferença significativa para

abundância de Vibrio spp. (Figura 2). Porém, no final do cultivo a

concentração de Vibrio spp. foi significativamente menor nos

tratamentos T38 e T60 em relação ao controle (Figura 2). Estes

resultados sugerem que o incremento de melaço de soja pode reduzir a

quantidade de víbrios na água. Anand, Kohli, Kumar, Sundaray, Roy,

Page 34: Melaço de soja na fertilização do cultivo super-intensivo

34

Venkateshwarlu, Sinha & Pailan (2014) obtiveram concentrações de

Vibrio spp. mais altas (106). Aguilera-Rivera, Prieto-Davó, Escalante,

Chávez, Cuzon & Gaxiola (2014) relataram maior crescimento e

sobrevivência de L. vannamei em cultivos sem renovação de água e

aplicação de melaço de cana em comparação a cultivos sem renovação e

sem aplicação de melaço de cana, mas, aumento significativo de víbrios

na água. Abundâncias mais baixas de víbrios na água de cultivo são

relatadas para cultivos com menor densidade e/ou biomassa de

camarões, como, em berçários com bioflocos (Souza et al. 2014),

fazenda de engorda em sistema semi-intensivo (Mouriño, Buglione,

Vieira, Ramirez, Seiffert, Martins, Pedrotti & Schveitzer 2008) e

larvicultura de L. vannamei (Vieira 2010). Por apresentar valores de

víbrios próximos do esperado é provável que, não houve impacto

significativo causado por víbrios nas variáveis zootécnicas avaliadas.

0

1

2

3

4

5

6

a

aa a

T0

T15

a

ab b b

T38

T60

Décimo dia de cultivo 50ª dia de cultivo

Vib

rio

sp

p.

log

(U

FC

. m

L-1

)

Figura 2. Concentração de Vibrio spp. na água do cultivo super-intensivo

de Litopenaeus vannamei em sistema de bioflocos fertilizada com melaço

de cana no controle T0 e tratamentos, T15 com 15% de melaço de soja e

85% de melaço de cana; T38 com 38% de melaço de soja e 62% de melaço

de cana e T60 com 60% de melaço de soja e 40% de melaço de cana, no

décimo dia de cultivo e na despesca após 50 dias de cultivo. Letras

minúsculas diferentes acima das barras indicam diferença significativa pelo

teste de Tukey (p< 0,05).

Page 35: Melaço de soja na fertilização do cultivo super-intensivo

35

9.3 Lodo removido

A quantidade de lodo removido do cultivo (Tabela 5) não

apresentou diferença significativa entre os tratamentos e controle. Isto

indica que o uso do melaço de soja não causou efeito significativo na

quantidade de bioflocos formada no cultivo, uma vez que também não

houve diferença significativa nos sólidos suspensos totais, sólidos

suspensos voláteis e sólidos sedimentáveis na água do cultivo (Tabela

3). Com este resultado, o melaço de soja em combinação com o melaço

de cana apresenta potencial para formação de bioflocos em todas as

taxas de inclusão estudadas. O sólido suspenso volátil do lodo removido

não apresentou diferença significativa e foi próximo ao de Schveitzer et al. (2013b) (Tabela 5). O volume de lodo removido esteve dentro do

esperado (Schveitzer et al. 2013b) e entre os tratamentos e o controle

não houve diferença significativa.(Tabela 5). A reposição do volume de

lodo removido foi feia com adição de água doce potável.

Tabela 5. Somatório do lodo removido em duas retiradas do total de três remoções de sólidos ao longo de 50 dias do cultivo super-intensivo de

Litopenaeus vannamei em sistema de bioflocos com fertilização orgânica,

através da aplicação de melaço de soja líquido e melaço de cana em pó nos

tratamentos, T15 com 15% de melaço de soja e 85% de melaço de cana;

T38 com 38% de melaço de soja e 62% de melaço de cana; T60 com 60%

de melaço de soja e 40% de melaço de cana e controle T0 fertilizado apenas

com melaço de cana.

Valores na mesma linha seguidos de letras minúsculas diferentes indicam

diferença significativa pelo teste de Tukey (p < 0,05). 1 SST - Sólidos

suspensos totais. 2 Peso seco.

3 SSV - Sólidos suspensos voláteis.

Parâmetros

Controle Tratamentos

P T0 T15 T38 T60

Volume de lodo

removido (L)

2,0

±0,3a

2,0

±0,4a

2,6

±0,4a

2,8

±0,4a

0,023

SST1 (g. L-1) do lodo 103,6

±33,6a 125,5

±75,4a 91,07

±25,0a 96,2

±21,0a 0,382

Lodo removido (g)2 206,1

±22,7a 221,6

±31,0a 242,4±

18,9a 271,2

±54,2a 0,096

SSV3 (g. L-1) 63,1 ±15,0a

68,0 ±13,1a

61,9 ±10,8a

68,8 ±8,0a

0,516

Page 36: Melaço de soja na fertilização do cultivo super-intensivo

36

9.4 Índices de produção zootécnicos

Após o período experimental, não foi observada diferença

significativa nos índices de produção dos tratamentos e do controle

(Tabela 6). Estes resultados demonstraram que o melaço de soja

combinado com o melaço de cana não teve impacto significativo na

sobrevivência, ganho de peso, conversão alimentar, peso médio final e

biomassa final dos camarões. Todos os índices zootécnicos

apresentaram valores médios próximos dos resultados de Baloi et al. (2012) que utilizou a mesma linhagem de camarões e condições de

manejo semelhantes, sendo que a sobrevivência está de acordo com o

esperado para cultivos super-intensivos em sistema de bioflocos

(Samocha et al. 2007; Krummenauer et al. 2011; Schveitzer et al.

2013a).

Tabela 6. Índices de produção no cultivo super-intensivo de Litopenaeus vannamei em sistema de bioflocos com duração de 50 dias, fertilizado com

melaço de soja líquido e melaço de cana em pó, nos tratamentos T15 com

15% de melaço de soja e 85% de melaço de cana; T38 com 38% de melaço

de soja e 62% de melaço de cana; T60 com 60% de melaço de soja e 40%

de melaço de cana e controle T0 fertilizado apenas com melaço de cana.

1 GPS - ganho de peso semanal. 2 C.A - conversão alimentar.

Variáveis

Controle Tratamentos

P T0 T15 T38 T60

Peso médio inicial (g) 3,15

±0,02

3,14

±0,00

3,17

±0,02

3,15

±0,02

0,996

Peso Médio Final (g) 11,42

±0,38

10,96

±0,82

11,38

±0,26

11,36

±0,34

0,510

GPS1 (g. semana-1) 1,16

±0,05

1,10

±0,11

1,15

±0,03

1,15

±0,05

0,630

Biomassa Final (Kg. m-3) 1,8 ±0,2

1,9 ±0,2

2,0 ±0,1

1,9 ±0,3

0,516

Sobrevivência (%) 84,9

±6,6

89,4

±5,1

94,1

±2,9

86,4

±12,9

0,394

C.A2 2,2

±0,2

2,0

±0,2

1,8

±0,1

2,1

±0,5

0,454

Page 37: Melaço de soja na fertilização do cultivo super-intensivo

37

10. CONCLUSÕES

Todas as composições de melaço de soja e melaço de cana,

avaliadas, mantém a qualidade de água e a produtividade do cultivo

super-intensivo de Litopenaeus vannamei em sistema de bioflocos. A

concentração de víbrios na água diminui com a fertilização orgânica da

água pela aplicação de misturas com, 38% de melaço de soja e 62% de

melaço de cana e com, 60% de melaço de soja e 40% de melaço de

cana.

11. AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao Laboratório de Camarões Marinhos

(LCM – UFSC) e toda sua equipe de colaboradores pelo apoio à

realização deste trabalho.

A IMCOPA – Importação, exportação e indústria de óleos S.A.

(Araucária, PR, Brasil) pela disponibilização do melaço de soja utilizado

neste estudo.

Ao Efrayn Wilker Souza Candi, pelo inestimável apoio durante a

preparação e manejo do experimento.

O primeiro autor também agradece ao Departamento de

Aquicultura da Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil, pelo

incentivo para realizar o curso de Pós-graduação que resultou neste

trabalho.

12. REFERÊNCIAS Aguilera-Rivera D., Prieto-Davó A., Escalante K., Chávez C., Cuzon G. &

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Page 43: Melaço de soja na fertilização do cultivo super-intensivo

43

13. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O melaço de soja mostrou potencial para ser utilizado como

fertilizante orgânico no cultivo super-intensivo de Litopenaeus vannamei em sistema de bioflocos. Devido não ter ocorrido incremento

no ganho de peso, conversão alimentar e biomassa final, não foi

realizada análise do teor de proteína e lipídeos dos bioflocos. Contudo,

futuros estudos com a redução do teor de proteína da ração e

consequente aumento da relação carbono/nitrogênio com a utilização do

melaço de soja são promissores. Pois o melaço de soja possui todos os

aminoácidos essenciais. Sob esta perspectiva, podem ser realizados

estudos em berçários de juvenis, uma vez que neste estágio de

desenvolvimento os camarões apresentam maior aproveitamento

nutricional dos bioflocos.

O uso de melaço de soja como fonte de carbono orgânico na

produção de tilápias e outras espécies de água doce em sistema de

bioflocos pode ser promissor, nas regiões próximas às beneficiadoras de

soja onde o este produto é bastante disponível.

Ressaltamos neste estudo o impacto do melaço de soja sobre a

concentração de víbrios na água, reduzindo-a significativamente. Pois os

víbrios são responsáveis por redução de crescimento e da sobrevivência

em cultivos de camarões, que resulta em inúmeros prejuízos para esta

atividade.

14. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DA INTRODUÇÃO AVNIMELECH, Y. Biofloc Technology - A Practical Guide Book, 2d

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ANEXO I:

Estufa onde foi realizado experimento de cultivo de engorda de camarões em sistema de bioflocos

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ANEXO II:

Unidade experimental