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União Europeia – Fundos Estruturais Governo da República Portuguesa PROJETOS DE INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA E DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO RELATÓRIO REFERENTE AO PROJETO PTDC/ECM/099250/2008 “Comportamento em serviço de estruturas de betão: uma abordagem multi-física das tensões auto-induzidas” Medição de humidade no betão: Relatório final da Tarefa 1 Autores: José Granja Miguel Azenha Joaquim Barros Rui Faria Guimarães, UM, 2011

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União Europeia – Fundos Estruturais Governo da República Portuguesa

 

PROJETOS DE INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA E DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO

RELATÓRIO REFERENTE AO PROJETO PTDC/ECM/099250/2008 “Comportamento em serviço de estruturas de betão: uma abordagem multi-física das tensões

auto-induzidas”

Medição de humidade no betão: Relatório final da Tarefa 1

Autores: José Granja Miguel Azenha Joaquim Barros Rui Faria

Guimarães, UM, 2011

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ÍNDICE

Índice ........................................................................................................................... 1

1 Introdução ........................................................................................................... 3

2 Humidade relativa ............................................................................................... 6

2.1 Medição de Humidade Relativa ...................................................................... 7

2.1.1 Psicómetros ............................................................................................. 8

2.1.2 Higrómetros elétricos ............................................................................... 9

2.1.3 Métodos de medição do ponto de orvalho ................................................ 9

2.1.4 Outros métodos ...................................................................................... 10

2.2 Erros na medição de humidade relativa ......................................................... 10

3 A humidade relativa e o betão .......................................................................... 12

4 Problemáticas na medição de humidade relativa no betão .............................. 19

4.1 Experiência 1: utilização de soluções de sais saturados para criar ambientes de

humidade relativa constante .................................................................................... 27

4.2 Experiência 2: exposição dos sensores a ambiente extremo durante um longo

periodo de tempo..................................................................................................... 35

4.3 Experiência 3: influência do tipo de sensor ................................................... 37

4.4 Experiência 4: influência da utilização de tecidos Gore-Tex®

........................ 40

4.5 Experiência 5: influência do tamanho do macro poro .................................... 44

4.6 Experiência 6: selagem do macro poro .......................................................... 46

4.7 Experiência 7: selagem de superfícies de peças de betão ............................... 49

5 Conclusões ......................................................................................................... 52

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6 Referencias bibliográficas ................................................................................. 54

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1 INTRODUÇÃO

A humidade no betão influência fortemente as propriedades do próprio betão nas

primeiras idades assim como o seu comportamento a longo prazo (Kim e Lee, 1999,

Zhang et al., 2011, Norris et al., 2008). Exemplos típicos são a retração e a consequente

fendilharão. O betão retrai à medida que a humidade interna diminui quer seja por troca

com ambiente (evaporação), quer por auto-dissecação (hidratação das partículas de

cimento). A magnitude da retração é normalmente proporcional à quantidade de

humidade perdida (Bissonnette et al., 1999). Este fenómeno causa tensões

(autoinduzidas) no betão que podem provocar, caso seja atingida a tensão máxima de

retração, o aparecimento de fissuras. Por outro lado, a retração de secagem ocorre mais

rapidamente junto à superfície do betão do que no seu interior (Ayano e Wittmann,

2002), podendo provocar fissuração superficial, diminuindo a durabilidade dos

elementos de betão.

Deste modo é de fulcral importância estimar corretamente a evolução de perfis de

humidade em peças de betão para ser possível estimar corretamente as tensões induzidas

por esse processo e inclui-las no seu dimensionamento. Inicialmente a medição de

humidade no betão era efetuada através de métodos destrutivos, nomeadamente através

de gravimetria (Akita et al., 1997, Schmugge et al., 1980, Parrott, 1990, Visscher,

1999). Este consiste na determinação do teor de água do betão através de amostras de

exposta à secagem em estufa, medindo a perda de massa do betão endurecido. Este

método, apesar de bastante preciso, tem grandes desvantagens, nomeadamente devido

ao facto de ser destrutivo, não permitindo, por exemplo, a medição da perda de

humidade das amostras de betão ao longo do tempo. Para colmatar esta dificuldade

foram surgindo ao longo do tempo vários outros métodos de medição de humidade no

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betão tais como: método da absorção de micro-ondas; absorção de raios gama;

resistividade; propriedades térmicas; propriedades dielétricas; absorção de radiação

infravermelha; tempo de propagação de ondas ultra sónicas; georadar; gamadensimetro;

humidade relativa (Ekaputri et al., 2010, Parrott, 1990, Visscher, 1999, Bell, 1971, Berg

et al., 1992, Rollet et al., 2008, Ohdaira e Masuzawa, 2000, Al-Mattarneh et al., 2001,

da Rocha et al., 2001, Laurens et al., 2002, Villain e Thiery, 2006). Todos estes

métodos apresentam algumas vantagens e desvantagens que podem ser consultadas nos

trabalhos de Parrott (1990), de Visscher (1999) e Bell (1971). Um dos métodos mais

utilizados atualmente é a medição de humidade relativa, uma vez que tem fornecido

resultados consistentes, para além de ser um método bastante versátil e de fácil

aplicação tanto em aplicações laboratoriais como in situ. A medição de humidade

relativa no betão pode ser útil para uma série de aplicações, incluindo (Grasley et al.,

2006a):

Determinar quando um pavimento está seco o suficiente para instalar a camada

final de cobertura;

Avaliar a eficácia de compostos de cura ou de selantes;

Desenvolver correlações para avaliar tensões internas causadas pela secagem,

variações de temperatura ou auto-dissecação.

Para estimar as tensões autoinduzidas no betão devido à perda de humidade é necessário

criar modelos numéricos que simulem o campo de humidades no betão ao longo do

tempo. Os modelos numéricos mais utilizados e aceites simulam a humidade do betão

através da humidade relativa (Kim e Lee, 1999, Zhang et al., 2011). Uma vez que estes

modelos necessitam de ser calibrados com dados experimentais, ao longo deste trabalho

vão ser estudas algumas incertezas existentes nos procedimentos mais utilizados para

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medição de humidade relativa no betão com o intuito de obter um método fiável e

simples, que possa ser utilizado como padrão.

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2 HUMIDADE RELATIVA

A humidade relativa (HR) ( ) do ar é a relação entre a quantidade de água que o ar

contém ( ) e a quantidade de água que ar pode conter à mesma temperatura ( ).

(2.1)

O ar pode ser visto como uma mistura de ar seco e vapor de água. O vapor de água,

quando a pressão se encontra abaixo de 10kPa qualquer que seja a temperatura a que se

encontre pode ser assimilado a um gás ideal com erros associados desprezáveis (Çengel

e Boles, 2006, Wiederhold, 1997). Desta forma pode ser aplicada a equação de estado

de um gás ideal:

(2.2)

Em que ( ) é a pressão absoluta, ( ) é a temperatura absoluta, ( ) é o volume do gás,

( ) é a constante do gás e ( ) é a massa do gás. É possível então expressar a HR pela

reção entre a pressão de vapor ( ) e a pressão de saturação ( )

(2.3)

A pressão de saturação ou a pressão de equilíbrio de vapor é a pressão de um gás em

equilíbrio termodinâmico com as fases condensadas num sistema fechado, sendo que a

pressão de vapor ou pressão parcial de um gás ideal numa mistura é igual à pressão que

o gás exerceria se ocupasse o mesmo volume sozinho à mesma temperatura

(Wiederhold, 1997).

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2.1 Medição de Humidade Relativa

Existem várias formas de efetuar medições de humidade relativa: através da medição da

temperatura do bolbo húmido, com recurso a um psicómetro através da medição da

humidade relativa, através de um higrómetro ou da medição da temperatura do ponto de

orvalho (Wexler e Brombacher, 1954, WMO, 2008, Wiederhold, 1997). A Organização

Mundial de Meteorologia (WMO) apresenta num relatório recente um resumo das

capacidades de medição destes três grupos de sistemas de medição de humidade relativa

(ver Tabela 2.1).

Tabela 2.1 – Características dos vários tipos de medição de humidade no ar. Adaptado

de (WMO, 2008)

Requisito Temperatura do

bolbo húmido (Psicómetros)

Humidade Relativa (Higrómetros)

Temperatura do ponto de orvalho

Gama de leitura -10 a 35 °C 5 a 100 % Pelo menos 50 °C entre -60 a 35 °C

Precisão de leitura 0.1 a 0.2 °C 1 a 5 % 0.1 a 0.5 °C

Incerteza nas medições realizadas

0.2 °C 3 a 5 % 0.5 °C

Tempo de

estabilização 20 s 40 s 20 s

Tempo médio de

leitura 60 s 60 s 60 s

Como se pode observar a medição de humidade no ar a partir de medição de

temperaturas, quer do bolbo húmido quer do ponto do orvalho possuem menores

incertezas quando comparadas com os higrómetros. A temperaturas ambiente correntes

em climas temperados os métodos baseados em medição de temperaturas não

apresentam limitações na medição de humidade do ar, mas, nem sempre podem ser

utilizados. Em algumas aplicações específicas, como por exemplo a medição de

humidade relativa em poros criados no interior de matérias cimentícios, onde uma

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pequena libertação de água no interior do poro altera fortemente a humidade relativa do

poro (devido à pequena dimensão do poro) ou uma alteração da temperatura interna do

poro altera as características do meio envolvente, a utilização de sistemas de medição

que impliquem a libertação de água para o meio ou a alteração da temperatura do

mesmo é indesejável.

Em seguida serão apresentados vários métodos de medição de humidade relativa:

2.1.1 Psicómetros

Um psicrómetro consiste essencialmente em dois termómetros colocados lado a lado,

com a superfície de um dos sensores coberta por uma fina película de água, para medir a

temperatura do chamado bolbo húmido. O segundo termómetro é exposto simplesmente

ao ar para medir a temperatura do chamado de bolbo seco (ver Figura 2.1). Este é o

método mais amplamente utilizado e é descrito em detalhe por (WMO, 2008, Çengel e

Boles, 2006, Wiederhold, 1997).

Mecha

Água liquida

Termómetro de

bolbo húmido

Termómetro de

bolbo seco

Fluxo de ar

Figura 2.1 – Psicómetro

Através da diferença de temperaturas entre o bolbo seco e o bolbo húmido é possível,

recorrendo a um diagrama psicométrico obter para a temperatura ambiente a humidade

relativa do ar (Çengel e Boles, 2006, Wiederhold, 1997).

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2.1.2 Higrómetros elétricos

Os higrómetros elétricos são atualmente dos instrumentos de medição de humidade

relativa mais utilizados. Estes sensores tiram partido da mudança das propriedades

elétricas de mariais hidrópicos em resposta a mudanças na humidade relativa do

ambiente (WMO, 2008, Wiederhold, 1997). Existem essencialmente dois tipos de

higrómetros elétricos: resistivos e capacitivos. Os higrómetros resistivos apesar de

possuírem um reduzido tempo de resposta, de praticamente não envelhecer, sem perdas

por histerese, de possuir uma baixa dependência da temperatura, de a sua operação ser

estável e repetível em muitas aplicações, barato e apresentar um baixo consumo de

energia, estes higrómetros são dispositivos de medição secundária e necessitam de

re-calibração periódica, são sensíveis a certos contaminantes, necessitam de

compensação de temperatura se usados numa ampla gama de temperatura e possuem um

baixa grama de leitura de humidade (Wiederhold, 1997). Já os higrómetros capacitivos,

quando comprados com os resistivos apresentam um tempo de resposta mais reduzido,

melhor precisão, podem ser usados a temperaturas ambiente mais elevadas e apresentam

uma dependência da temperatura mais reduzida.

2.1.3 Métodos de medição do ponto de orvalho

A medição do ponto de orvalho pode efetuada através de vários métodos, como se pode

consultar nos trabalhos de Wiederhold (1997), da WMO (2008) e de Visscher (1999),

tais como: o método do espelho refrigerado (Chilled-mirror method) e o medidor de

ponto de orvalho de Cloreto de Lítio (The Lithium Chloride Dewpoint Meter). Estes métodos

baseiam-se no princípio fundamental de que a humidade no ar aumenta com a diminuição da

temperatura, até atingir um ponto que condensa. No primeiro método, o ponto de orvalho é

detetado arrefecendo uma superfície de condensação reflexiva (um espelho) até que a água

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comece condensar. Através da deteção de pequenas gotículas condensadas com um

sistema de deteção ótico é possível identificar a temperatura a que ocorre a condensação

(temperatura do ponto de orvalho). Através desta temperatura é possível estimar a

humidade relativa do ar. Estes métodos são os mais precisos e confiáveis de entre todos

os métodos com equipamentos comerciais disponíveis (Wiederhold, 1997).

2.1.4 Outros métodos

Para além dos métodos descritos anteriormente, existe ainda uma grande variedade de

métodos de medição de humidade relativa. Aqui são apresentados alguns desses

métodos: higrómetros gravimétricos, higrómetros mecânicos, higrómetros que usam a

absorção de radiação eletromagnética, higrómetros de Óxido de Alumínio, método de solução

salina aquecida, método coulométrico, oscilador de cristal, entre outros. Detalhes sobre estes

métodos podem ser encontrados nas seguintes referências (Wiederhold, 1997, Sonntag, 1994,

Visscher, 1999, WMO, 2008)

2.2 Erros na medição de humidade relativa

A medição de humidade relativa é uma tarefa delicada. Podem facilmente surgir erros

causados por inadequados procedimentos adotados. Alguns desses erros podem ser

causados pelo seguinte (WMO, 2008):

Modificação da amostra de ar, por exemplo, por variações de temperatura ou de

vapor de água;

A contaminação do sensor;

Erro de calibração, incluindo correção de pressão, coeficiente de temperatura do

sensor, e interface elétrica;

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Conceção inadequada dos instrumentos, por exemplo, condução de calor na

haste do termómetro de bolbo húmido;

O funcionamento incorreto, por exemplo, a incapacidade de atingir o equilíbrio

estável;

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3 A HUMIDADE RELATIVA E O BETÃO

A humidade do betão está presente na sua rede porosa tanto sob a forma de vapor, nos

poros de grandes dimensões, como em estado líquido, nos poros dimensões reduzidas.

Devido a este facto, a medição de humidade no betão não é uma tarefa simples, pelo que

muitas das vezes se recorre à medição da humidade relativa. A humidade relativa não é

uma propriedade do betão (Grasley et al., 2006a). Apenas representa uma aproximação,

sendo que para se obter um valor representativo do conteúdo de água livre presente

numa peça de betão é necessário criar um macro poro que contacte com a rede porosa

do betão, como é ilustrado na Figura 3.1.

Figura 3.1 – Macro poro em contacto com rede porosa do betão

Este conceito começou a ser utilizado para facilitar a medição do conteúdo em água do

betão, uma vez que a medição da quantidade de água livre presente numa peça de betão

requer a aplicação de métodos destrutivos impossibilitando tanto a medição ao longo do

tempo da perda de água assim como a medição em estruturas reais (Akita et al., 1997).

Várias metodologias para a medição da humidade relativa interna têm vindo a ser

propostas por vários investigadores. A escolha de uma metodologia tem de ser

ponderada por cada utlizados uma vez que cada metodologia apresenta algumas

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vantagens e desvantagens. Uma vez que, com este estudo, se pretende apenas testar

metodologias que possam ser inseridas em materiais cimentícios, para permitir a

monitorização ao longo do tempo da perda de humidade a várias profundidades serão

apresentadas apenas esse tipo de metodologias. Para consultar outro tipo de

metodologias consultar as referências (Yeo et al., 2006, Stojanović et al., 2010, Jiang et

al., 2006). Algumas metodologias bem conhecidas são descritas em seguida:

Metodologia proposta por Andrade et al. (1999)

Esta metodologia consiste em abrir um furo num provete de betão onde a humidade

relativa possa ser medida. O volume do furo é cerca de 4.5 a 5 cm3, com 3.5 cm de

profundidade. O aspeto final e o esquema do ensaio é apresentado na Figura 3.2. Para

medir a humidade relativa foram utilizados dois tipos de equipamentos: um sensor

higroscópico e um higrómetro capacitivo (Vaisala).

Figura 3.2 – Metodologia de medição de humidade relativa proposta por Andrade et al.

(1999)

Mais recentemente uma metodologia semelhante foi aplicada por El-Dieb (2007) e por

Jiang et al. (2006). Um aspeto esquema utilizado é apresentado na Figura 3.3. Após o

aberto um furo na peça de betão é inserido um sensor de humidade relativa no seu

interior e este é selado com uma rolha de borracha.

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Figura 3.3 – Metodologia de medição de humidade relativa proposta por El-Dieb (2007)

No trabalho de Kim e Lee (1999) também é proposta uma metodologia semelhante. A

grande diferença reside no facto de nesta ultima após o furo ser efetuado é colocado um

tubo plástico oco e aberto nas duas extremidades. Para medir a humidade relativa é

inserida uma sonda (sensor capacitivo) no tubo selando a extremidade exterior (Figura

3.4). A humidade relativa pode ser medida logo que ocorra o equilíbrio entre a

superfície de betão e o ar no interior do tubo.

Figura 3.4 – Metodologia de medição de humidade relativa proposta por Kim e Lee

(1999)

Contudo podem existir algumas fontes de erro nas medições de humidade relativa com

estas metodologias. As propriedades do ponto de medição podem ser afetadas durante a

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perfuração do furo. Além disso, estas metodologias necessitam de um período grande

para a estabilização da humidade relativa no interior do furo.

Metodologia proposta por Grazley (2002)

No seu trabalho, Grazley propõe uma metodologia inovadora para medir a humidade

relativa no betão de uma forma mais precisa. É proposto a utilização de um sensor de

humidade capacitivo embebido no betão desde a betonagem. Contudo o sensor não pode

ser diretamente exposto ao betão fresco devido ao mau funcionamento do circuito

elétrico quando contacta com água. Para eliminar este problema, foram introduzidos os

sensores de humidade no interior tubos ocos tapados na extremidade em contacto com o

betão com tecidos Gore-Tex®, como se pode ver na Figura 3.5.

Figura 3.5 – Metodologia de medição de humidade relativa proposta por Grazley (2002)

Uma metodologia semelhante foi utlizada também no tralho de Lee et al. (2011), de

Ryu et al. (2011) e de Ekaputri et al. (2010)e o esquema de ensaio é apresentado na

Figura 3.6.

Figura 3.6 – Metodologia de medição de humidade relativa proposta por Lee et al.

(2011)

Estas metodologias permitem assim fazer medições mais rigorosas da humidade relativa

do betão, uma vez que não é necessário efetuar um furo no betão endurecido. Deste

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modo é possível efetuar medições a uma determinada profundidade do betão desde a

betonagem. Num trabalho mais recente Grasley et al. (2006b) utilizam esta metodologia

para efetuar medições a várias profundidades, como se pode observar na Figura 3.7. Isto

permite avaliar perfiz de humidade relativa no betão ao longo do tempo.

Figura 3.7 – Medição de humidade relativa efetuada por Grasley et al. (2006b)

Apesar de estas metodologias apresentarem resultados bastante bons, estas necessitam

ainda de ser validadas, nomeadamente devido à possível influência que o tecido

Gore-Tex® pode ter nos resultados. De facto existem investigadores que continuam a

sugerir metodologias, sem o uso deste tipo de tecidos na interface poro/betão. É o caso

da metodologia proposta por Zhang et al. (2009). Neste trabalho é sugerida a utilização

de tubo plástico oco por onde um sensor é inserido para medir a humidade relativa.

Porém o tubo é inserido no betão fresco, sem o sensor no seu interior, preenchido no

interior por um tubo metálico de diâmetro igual ao diâmetro interno do tubo de plástico.

Após o betão endurecer, o tubo é retirado sendo inserido posteriormente o sensor de

humidade relativa (Figura 3.8).

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Figura 3.8 – Metodologia de medição de humidade relativa proposta por Zhang el al.

(2009)

De salientar que nesta metodologia, o contacto do ar no interior do tubo com o betão

deixa de ser a extremidade do tubo oco, passando a ser através de duas ranhuras

efetuadas nas laterais do tubo.

Recentemente Chang e Hung (2012) surgiram com uma nova metodologia onde o

sensor de umidade é encapsulado no interior de um cubo composto por paredes

permeáveis à humidade relativa (Figura 3.9). Esta metodologia tem a vantagem de se

poder embeber o sensor em qualquer parte de uma estrutura real uma vez que a

transmissão de dados das leituras do sensor é efetuada por wireless. Contudo, não existe

um bom controlo da posição exata a que se referem as leituras.

Figura 3.9 – Metodologia de medição de humidade relativa proposta por Chang e Hung

(2012)

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4 PROBLEMÁTICAS NA MEDIÇÃO DE HUMIDADE RELATIVA

NO BETÃO

A medição de humidade relativa no betão apresenta, como anteriormente se mencionou,

várias condicionantes, principalmente devido à necessidade de ter de existir um macro

poro em equilíbrio com o betão envolvente onde se possa inserir um sensor de

humidade relativa, assim como à elevada humidade inicial que o betão possui que pode

danificar facilmente os sensores elétricos de humidade relativa. Apesar de vários autores

apresentarem já bons resultados deste tipo de medições (Åhs, 2005, Zhang et al., 2011,

Ryu et al., 2011, Zhang et al., 2009, Grasley et al., 2006a, Chang e Hung, 2012,

Andrade et al., 1999, Kim e Lee, 1999, Grasley et al., 2006b), ainda não existe um

estudo aprofundado sobre as condicionantes que o betão cria a esse tipo de medições

assim como a influência do próprio método de medição nos resultados. Com o intuito de

responder a estas questões foi levada a cabo uma série de experiencias onde se

pretendeu estudar o maior número de variáveis que pudessem influenciar os resultados

durante as medições:

Experiência 1: utilização de soluções de sais saturados para criar ambientes de

humidade relativa constante;

Experiência 2: exposição dos sensores a ambiente extremo durante um período

alargado de tempo;

Experiência 3: influência do tipo de sensor;

Experiência 4: influência da utilização de tecidos Gore-Tex®

;

Experiência 5: influência do tamanho do macro poro;

Experiência 6: selagem do macro poro;

Experiência 7: selagem de superfícies de peças de betão

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Após uma análise da bibliografia existente, constatou-se que a grande maioria dos

trabalhos efectuados onde foi medido a humidade relativa no betão utilizaram sensores

comerciais, tais como: o Vaisala HM44, os Sensirion série SHT e os Honeywell série

HIH-4000. Desta forma, ao longo dos ensaios foram utilizados os seguintes sensores:

Vaisala HM44 (Figura 4.1a)

Proceq Hygropin (Figura 4.1b)

Sensirion SHT75 (Figura 4.1c)

Honeywell HIH-4010 (Figura 4.1d)

a)

b)

c)

d)

Figura 4.1 – Aspecto dos vários sensores utilizados: a) Vaisala HM44 b) Proceq

Hygropin c) Sensirion SHT75 d) Honeywell HIH-4010

Apesar de todos estes sensores serem de fabricantes distintos, o princípio de medição é

semelhante. Estes sensores registam a variação na capacitância de condensador onde,

entre os dois elétrodos, existe um polímero em filme fino (Figura 4.2).

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21

Eletrodo

Eletrodo

Polimero em filme fino

Elemento sensivel do sensor

Figura 4.2 – Estrutura dos condensadores dos sensores

Este polímero absorve ou libera vapor de água à medida que a humidade relativa do ar

ambiente aumenta ou diminui. As propriedades dielétricas do filme de polímero

dependem da quantidade de água que a película contém: à medida que a humidade

relativa se altera, as propriedades dielétricas do filme também se alteram e,

consequentemente, a capacitância do sensor também varia. A capacitância é então

transformada, ou diretamente em humidade relativa, como no caso dos sensores Vaisala

HM44, Proceq Hygropin e Sensirion SHT75, ou em uma variação da diferença de

potencial, como no caso dos sensores Honeywell HIH-4010. Neste último caso, o

fornecedor dos sensores fornece com cada sensor uma curva que relaciona a voltagem

medida pelo sensor com a humidade relativa correspondente a esse nível de corrente.

As características, relevantes para este trabalho, dos diversos sensores utilizados são

apresentadas na Tabela 4.1.

Tabela 4.1 – Características dos sensores utilizados nos ensaios

Fabricante Proceq Vaisala Honeywell Sensirion

Modelo

Hygropin HM44 HIH-4010 SHT75

Gamas de medição HR [%] 0 a 100 0 a 100 0 a 100 0 a 100

T [°C] -40 a 85 -20 a 60 - -40 a 125

Precisão @ 20ºC HR [%] ±1.5

±2% (0 a 90%) ±3% (90 a 100%)

±3.5 Ver Figura 4.3a

T [°C] ±0.3 ± 0.4 - Ver Figura 4.3b

Tempo de resposta

<15 seg. 30 min 5 seg. 8 seg.

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22

a)

b)

Figura 4.3 – Precisão de medição dos sensores Sensirion SHT75: a) humidade relativa;

b) temperatura.

De salientar que todos os sensores utilizados neste trabalho apresentam uma gama de

leitura de 0 a 100 % de humidade relativa com uma precisão bastante grande (com

variações inferiores a 4 %).

Teste do estado da calibração dos sensores

Uma vez que a grande maioria dos sensores que iriam ser utilizados no decorrer da

campanha experimental já apresentavam um uso extenso em condições bastante

agressivas (HR superiores a 90 % e tempo de utilização maior do que 6 meses) foi

necessário proceder à verificação do estado dos sensores e eventualmente proceder à sua

recalibração. Para efetuar esta verificação é necessário criar ambientes em que a

humidade relativa estável e seja conhecida (ou onde se sabe a pressão de vapor da

água). Com esta finalidade, e uma vez que apenas se trata de um ensaio em pequena

escala, são frequentemente usadas soluções de ácido sulfúrico, Hidróxido de Sódio,

Cloreto de Cálcio, de glicerol, ou de sais saturados (Wexler e Hasegawa, 1954, Stokes e

Robinson, 1948).

Após uma consulta da documentação anexada aos sensores que foram utilizados, foi

decidido utilizar soluções de sais saturados devido à recomendação do fabricante do

sensor Vaisala HM44 que comercializa um sistema próprio para a calibração de

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sensores de humidade relativa. Este sistema, HMK15 (Vaisala, 2006) (ver Figura 4.4),

utiliza quatro soluções de sais saturados de Cloreto de Lítio (LiCl), Cloreto de

Magnésio (MgCl2), Cloreto de Sódio (NaCl), Sulfato de Potássio (K2SO4).

Figura 4.4 – Calibrador HMK15 da Vaisala

Estas soluções de sais saturados, quando colocados em concentrações definidas geram

humidades relativas estáveis de valores conhecidos (Jowitt e Wagstaffe, 1989, Stokes e

Robinson, 1948, Greenspan, 1977, Robinson e Stokes, 2002), como se pode observar na

Tabela 4.2.

Tabela 4.2 – Concentrações de soluções de sais saturados. Adaptado de (Visscher,

1999) e (Vaisala, 2006)

Sal Quantidades HR espectável @

20ºC [%] Sal [g] Água [ml]

LiCl 15 12 11.3

MgCl2 30 3 33.1

NaCl 20 10 75.5

K2SO4 30 10 97.6

Após ser efetuada a calibração de todos os sensores de acordo com as recomendações

deste sistema de calibração, verificou-se que todos os sensores que possuíam algum

tempo de utilização não estavam a registar corretamente a humidade relativa ambiente.

Apesar de este facto ser já expectável, as operações de recalibração dos sensores através

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deste sistema comercial são dispendiosas devido à necessidade de voltar a adquiri novos

sais. Para tentar reduzir os custos destas operações de recalibrações, foram testados sais

semelhantes de um produtor diferente (Panreac), com custo bastante mais reduzido, mas

com graus de pureza ligeiramente inferiores, para verificar se a humidade relativa

garantida pela solução se mantém. Estes novos sais (ver Figura 4.5), muito menos

dispendiosos, apresentam um grau de pureza de 99 %.

Figura 4.5 – Sais do fabricante Panreac

O pequeno ensaio foi efetuado com o sensor Vaisala de acordo com os procedimentos

presentes no guia de utilizador do calibrador HMK15 da Vaisala (Vaisala, 2006). Os

resultados obtidos com estes novos sais são apresentados na Tabela 4.3.

Tabela 4.3 – Diferença entre os sais de fabricantes distintos

Sal HR [%] Diferença

[%] Vaisala Panreac

NaCl 75.5 75.3 -0.2

MgCl2 35.1 34.3 -0.8

LiCl 11.3 11.9 0.6

Como se pode verificar as diferenças entre os sais dos dois fabricantes é bastante

reduzida, estando bem abaixo da gama de precisão do próprio sensor (± 2 % nesta gama

de humidades relativas). Este facto permite-nos concluir que é perfeitamente possível a

utilização destes sais em operações de calibração de sensores de humidade relativa.

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25

Foi efetuada ainda uma última verificação, onde se pretendia saber se a humidade

relativa registada por todos os sensores seria semelhante. Desta forma foi utilizado um

recipiente com volume de 10.7 x 22.8 x 13.2 cm3 (Figura 4.6a) com quatro soluções de

salinas distintas (LiCl, MgCl2, NaCl e K2SO4). Em todos os sais foi utilizado a mesma

quantidade de sal (53.33 g) com as concentrações apresentadas na Tabela 4.2.

a)

b)

Figura 4.6 – Recipientes utilizados no ensaio de verificação/recalibração dos sensores

de humidade

De modo a garantir uma boa selagem dos recipientes permitindo o acesso dos sensores

ao seu interior, foi adaptada uma tampa onde foram introduzidos todos os sensores,

efetuando-se a selagem em volta dos furos necessários para passar os sensores com fita

plástica autocolante. Este procedimento permitiu que se efetuasse uma troca rápida entre

os diversos recipientes com os diferentes sais, não comprometendo a selagem do

recipiente que poderia alterar os resultados esperados de HR.

Para permitir uma adequada estabilização dos valores de HR no interior dos recipientes

nos valores gerados por cada sal, em cada etapa do ensaio os sensores permaneceram

pelo menos 4 horas (como se pode observar no Figura 4.7).

Os resultados em bruto (isto é, obtidos pelas calibrações anteriores dos sensores) do

ensaio realizado estão apresentados na Figura 4.7. Neste ensaio foram utilizados quatro

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tipos de sensores de humidade distintos: nove sensores do tipo SHT75 da Sensirion; sete

sensores do tipo HIH-4000 da Honeywell (por forma a facilitar a leitura do gráfico,

apenas são apresentados os resultados de 3 sensores: o que obteve valores máximos,

mínimos e mais próximo da média); um sensor do tipo HM44 da Vaisala e um do tipo

Hygropin da Proceq.

Figura 4.7 – Resultados do ensaio de verificação/recalibração dos sensores

Analisando a Figura 4.7 verifica-se que existe uma grande dispersão de resultados nas

medições de HR, confirmando o que já se suspeitava, que a calibrações dos sensores

não está correta. De facto existe na grande maioria dos sensores uma tendência de

registar HR superior ao real. Esta tendência é tanto maior quanto o tempo de utilização

dos sensores em ambientes agressivos.

Aplicando então as novas curvas de calibração são obtidos então resultados muito mais

coerentes com o que seria espectável (ver Figura 4.8).

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

0 10 20 30 40 50 60 70 80

HR

[%

]

Tempo [horas]

Vaisala H-1

H-2 H-3

Hygropin S-1

S-2 S-3

Teórico

Troca de sal

(1) (2) (3)

(4)

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Figura 4.8 – Resultados recalibrados do ensaio de calibração

Como se pode observar na Figura 4.8, os resultados dos diversos sensores ficam então

coincidentes entre si e não divergem muito dos valores teóricos (gerados pelas soluções

de sais saturados). Com este pequeno ensaio provou-se, deste modo, que as novas

curvas de calibração dos sensores levam à obtenção de resultados de humidade relativa

mais realistas. Pode-se verificar também que tanto o tempo de resposta dos sensores,

como o tempo de estabilização da humidade relativa ambiente em recipientes com

soluções de sais saturados são bastante reduzidos (para a escala de tempo normalmente

utilizada em ensaio em materiais cimentícios). De salientar que a partir dos resultados se

pode concluir que um curto período de exposição a humidades relativas extremas

(superiores a 90 %) não altera a danifica os sensores, nem altera a sua calibração.

4.1 Experiência 1: utilização de soluções de sais saturados para criar ambientes

de humidade relativa constante

Uma das grandes dificuldades com que se deparam muitas vezes os laboratórios é

garantir condições de temperatura e humidade relativa do ambiente onde decorrem

ensaios. Esta problemática é de especial importância no estudo de materiais cimentícios,

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

0 10 20 30 40 50 60 70 80

HR

[%

]

Tempo [horas]

Hygropin Vaisala

H - 132 H - 322

H - 318 H - 53

H - 246 H - 139

H - 244 S - 1

S - 2 S - 3

S - 4 S - 5

S - 6 S - 7

S - 8 S - 9

Teórico

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onde em diversas ocasiões, como nos casos do estudo da retração de autogénea e de

secagem, os investigadores deparam-se com a necessidade de manter várias humidades

relativas distintas para uma mesma temperatura ambiente. Este facto por si só pode à

primeira vista não ser considerado um grande entrave, uma vez que existem já câmaras

onde facilmente se garante diferentes condições ambientais. O obstáculo apresenta-se,

não na dificuldade, mas no custo que representam esses equipamentos laboratoriais.

De facto, como muitas das vezes os provetes dos ensaios apresentam dimensões

reduzidas, estar a utilizar equipamentos laboratoriais dispendiosos e de grande volume

não é uma opção muito lógica do ponto de vista económico. Muitas vezes, com a

finalidade de se obter, em pequena escala, uma atmosfera de humidade relativa

conhecida (ou onde se sabe a pressão de vapor da água), são frequentemente usadas

soluções de ácido sulfúrico, Hidróxido de Sódio, Cloreto de Cálcio, de glicerol, ou de

sais saturados (Wexler e Hasegawa, 1954, Stokes e Robinson, 1948).

A utilização de sistemas com este tipo de soluções requer um cuidado especial, uma vez

que a estabilidade da humidade relativa ou pressão de vapor pode ser facilmente

influenciada pelo próprio provete. De facto, os sistemas de duas fases (líquido-vapor) de

ácido sulfúrico e de glicerol apesar de serem relativamente insensíveis à temperatura

ambiente e de poderem ser utilizados numa ampla gama de humidade relativa

pretendida, a humidade relativa estabelecida por estes sistemas é facilmente afetada por

ensaios que troquem água com o sistema (Rockland, 1960, Stokes e Robinson, 1948,

Greenspan, 1977), como no caso do estudo de provetes em secagem.

Este problema pode ser facilmente comprovado com base nos resultados presentes na

bibliografia. No trabalho de Stokes e Robinson (1948) é possível obter as concentrações

de soluções de Ácido Sulfúrico (H2SO4), Hidróxido de Sódio (NaOH) e Cloreto de

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Cálcio (CaCl2) necessárias para obter uma determinada humidade relativa (Tabela 4.4).

Então, se se considerar que no decorrer de um ensaio existir uma libertação de 40 g de

água para o ambiente, o que num sistema fechado levaria ao aumento da humidade

relativa do ar, a solução terá de absorver essa mesma quantidade de água para conseguir

manter a humidade relativa constante, diminuindo a sua concentração.

Tabela 4.4 – Concentrações das soluções e respetivas humidades relativas espectáveis a

25 °C. Adaptado de Stokes e Robinson (1948)

HR

[%]

Massa de

soluto [g]

H2SO4 NaOH CaCl2

Massa de

água [g]

Soluto [%

em massa]

Massa de

água [g]

Soluto [%

em massa]

Massa de

água [g]

Soluto [%

em massa]

55 200 490.80 40.75% 757.00 26.42% 593.30 33.71%

50 200 464.04 43.10% 710.48 28.15% 561.17 35.64%

45 200 440.43 45.41% 669.79 29.86% 531.77 37.61%

40 200 419.20 47.71% 633.31 31.58% 504.80 39.62%

35 200 399.68 50.04% 599.16 33.38% 478.13 41.83%

30 200 381.32 52.45% 566.73 35.29% 450.86 44.36%

25 200 363.57 55.01% 534.05 37.45% - -

Analisando a Tabela 4.4, para manter uma humidade relativa de 30 %, no caso de ser

utilizada uma solução de Ácido Sulfúrico (H2SO4) seria necessário ter uma

concentração de 50 % em massa de soluto. Um aumento de 40 g de água numa solução

com 200 g de H2SO4 e 400 g de água representaria uma redução de concentração,

passando de 50 % para 45.45 %. Esta diminuição influenciaria a humidade relativa

ambiente em 15 %, passando de 30 % para 45 %. São obtidos variações de igual

maneira significativas se a análise for efetuada com as restantes soluções apresentadas.

As soluções salinas saturadas são geralmente as mais úteis, uma vez que os sistemas de

três fases (vapor-líquido-sólido) são independentes das mudanças no seu teor de

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humidade total (Rockland, 1960). Deste modo, neste trabalho apenas serão utilizadas

apenas soluções de sais saturados em prejuízo de outro tipo de soluções, uma vez que

normalmente a perda de água de uma pasta é de grandeza tal que seria necessário uma

grande quantidade de solução no sistema para que a influência dessa libertação de água

fosse desprezável na humidade relativa resultante, como se comprovou anteriormente.

Para analisar a influência da libertação de água para o ambiente no interior de

recipientes com soluções de sais saturados na humidade relativa no interior desses

recipientes foram efetuados quatro ensaios com dois sais distintos (Tabela 4.5).

Tabela 4.5 – Ensaios efetuados nos recipientes com soluções de sais saturados

Recipiente Água@75% Pasta@75% Água@33% Pasta@33%

Sal NaCl NaCl MgCl2 MgCl2

HR esperada 75 % 75 % 33 % 33 %

Material em

secagem Água

Pasta de

cimento Água

Pasta de

cimento

Para cada sal foi analisada a influência da colocação de um copo com água e com pasta

de cimento (foi utilizada uma relação w/c de 0.5) segundo o esquema de ensaio

apresentado na Figura 4.9. Neste ensaio foram utilizados dois sensores de dois tipos

diferentes em cada recipiente (um Sensirion SHT75 e um Honeywell HIH-4010).

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31

a)

Sensor de humidade

Água

Copo

Tripé

Recipiente

Tampa

Solução

salina

Sensor de humidade

Pasta de

cimento

Copo

Tripé

Recipiente

Tampa

Solução

salina

b)

Figura 4.9 – a) Esquema de ensaio da influência de um material em secagem no interior

de recipientes com soluções de sais saturados; b) Foto geral do ensaio

Ao longo do decorrer dos ensaios foi controlada a perda em massa dos copos. Para tal

os recipientes foram abertos no instante da medição da massa dos copos (Figura 4.10).

Figura 4.10 – Abertura dos recipientes para pesar os copos

Esta abertura poderia confundir a análise dos resultados obtidos nestes ensaios. Assim

foi calculada qual seria a variação de vapor de água durante a abertura da tampa do

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32

recipiente, pela diferença das massas de vapor de água existentes nos recipientes às

humidades relativas geradas pelos sais e do ambiente exterior (de salientar que o ensaio

decorreu no interior de uma camara climática a 20 °C e 60 % HR), obtidas pela equação

(2.2). Os resultados são apresentados na Tabela 4.6.

Tabela 4.6 – Variação de massa de vapor de água no interior dos recipientes (em mg)

Variação da HR 33% para 60% 60% para 75%

Vrec = 3.220 dm3 15.05 -8.36

Após uma análise dos resultados verifica-se que a troca de vapor de água com o

ambiente exterior é reduzida, mesmo se todo o ar do recipiente fosse renovado. Assim, e

uma vez que a abertura dos recipiente seria apenas para retirar o copo contido no seu

interior, fechando de imediato o recipiente, será espectável que tenha pouco impacto nos

resultados.

Os resultados da evolução da humidade relativa no interior dos recipientes com as

soluções de sais saturados assim como a perda de massa ao longo dos ensaios dos

materiais contidos nos copos são apresentados nas figuras 4.11 e 4.12 respetivamente.

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33

Figura 4.11 – Evolução da humidade relativa nos recipientes com soluções de sais

saturados com materiais em secagem no seu interior

Como se pode observar na Figura 4.11 a variação da humidade relativa nos recipientes

com soluções de Cloreto de Sódio (que gera humidades relativas de 75 %) originada

pela presença dos materiais em secagem no interior do recipiente não foi significativa,

sendo os resultados bastante semelhantes. Contudo isto não se verificou nos recipientes

com soluções de Cloreto de Magnésio (que gera humidades relativas de 33 %). No

recipiente que continha um copo com água, apesar de a humidade relativa não ser

aquela que seria esperada, onde existiu um shift dos resultados de aproximadamente

6 %, os valores mantiveram-se constante nos primeiros dias do ensaio. Porém a partir

dos 11 dias de ensaio (indicado Figura 4.11 pelo ponto (1)) o sal deixou de ter

capacidade de manter constante a humidade relativa. Este facto pode ser explicado pela

diminuição da concentração da solução, fazendo com que esta deixe de gerar a

humidade relativa pretendida.

No recipiente que continha pasta de cimento em secagem, que não deveria apresentar

uma variação de humidade relativa superior ao que continha um copo com água, existiu

uma variação na fase inicial muito significativa, elevando a humidade relativa ambiente

para valores de 50 % (zona (2) da Figura 4.11). Após este período inicial de grande

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34

variação da humidade relativa ni interior do recipiente, a solução de NaCl conseguiu

recuperar a humidade relativa no recipiente.

Os resultados da perda de massa dos materiais em secagem no interior dos recipientes

(apresentados na Figura 4.12) vêm tornar ainda mais confusos os resultados

apresentados anteriormente, uma vez que a quantidade de água libertada para o

ambiente pelos copos com água foi maior ou pelo menos igual à libertada pelos copos

com pasta de cimento. Este facto permite-nos excluir a libertação de água como o fator

que provocou esta variação anormal.

Figura 4.12 – Evolução da perda de massa do material no interior dos copos

Fazendo uma análise da Figura 4.12 pode-se concluir que a secagem de materiais no

interior dos recipientes com sais ocorre de uma forma bastante semelhante ao que

ocorrem em condições ambientais. Isto é, a variação da perda de massa ao longo do

tempo dos copos com água é linear com maior declive no recipiente com 33 % de

humidade relativa, assim como a cuva de variação da perda de massa dos copos com

pasta de cimento é logarítmica, ou seja, na fase mais inicial do ensaio apresentam

declives semelhantes aos da perda em massa dos copos com água, reduzindo

progressivamente os seus valores, com tendência para estabilizar (declive igual a zero).

0

10

20

30

40

50

60

70

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22

Per

da

de

mas

sa [

%]

Tempo [dias]

Água @ 75%

Água @ 33%

Pasta @ 33%

Pasta @ 75%

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35

Devido à falta de explicação logica para o que terá acontecido no recipiente com

solução de Cloreto de Magnésio (MgCl2) quando foi colocado um copo com pasta de

cimento em secagem no seu interior, o ensaio voltou a ser repetido para verificar se teria

ocorrido algum erro. Porém os resultados obtidos foram bastante semelhantes aos

apresentados anteriormente. Este facto poderá indicar que existe libertação de uma

substância para o ar que reage com a solução de MgCl2, contudo para melhor

compreender este fenómeno será necessário efetuar estudos mais aprofundados.

4.2 Experiência 2: exposição dos sensores a ambiente extremo durante um

periodo alargado de tempo

Uma das grandes problemáticas da medição de humidade relativa no betão logo após a

betonagem prende-se com a grande sensibilidade dos sensores existentes a ambientes

com humidades relativas bastante elevadas por um longo período de tempo. Com o

intuito de se verificar se seria possível efetuar medições de humidade relativa em

materiais cimentícios desde o estado fresco, foi efetuado um ensaio com 3 sensores: um

Honeywell HIH-4010 e dois Sensirion SHT75 (S-1 e S-2), onde se pretendeu medir

durante um longo período a humidade relativa de uma pasta de cimento com w/c de 0.5

impedida de secar. Para tal foi vertida a pasta de cimento para três tubos de ensaio

sendo introduzido um sensor por cada tubo, sendo selada a extremidade aberta do tubo

com fita plástica, como se pode observar na Figura 4.13.

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36

a) b)

Fita adesiva plástica

Tubo de ensaio

Pasta de cimento

Sensor

Figura 4.13 – Ensaio de exposição dos sensores a ambiente extremo: a) Esquema; b)

Foto

Após um período de exposição de ~ 160 horas os sensores foram colocados no interior

de um recipiente com humidade relativa controlada a 75 %. Os resultados obtidos são

apresentados na Figura 4.14.

Figura 4.14 – Resultados do ensaio de exposição dos sensores a ambiente extremo

Os resultados apresentados na Figura 4.14 apresentam uma grande dispersão entre os

diferentes sensores. O sensor S-1 após atingir a humidade relativa de 90 % começou a

apresentar uma evolução dos resultados bastante incoerente, presumivelmente deverá ter

ficado danificado. Este facto reforça a ideia da grande sensibilidade dos sensores

quando expostos a humidades relativas elevadas. Nos restantes sensores isto não

60

65

70

75

80

85

90

95

100

0 1 2 3 4 5 6 7 8

HR

[%

]

Tempo [dias]

Honeywell

S-1

S-2

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37

aconteceu. O sensor S-2, apesar de durante todo o ensaio aparentemente não se ter

danificado, apresentando resultados bastante coerentes com o que seria de esperar, após

ser colocado num ambiente com humidade relativa de 75 % apresentou um shift dos

resultados de ~7 %. Por fim o sensor Honeywell apresentou inicialmente uma evolução

coerente, mas a partir das 120 horas começou a registar uma diminuição da humidade

relativa. Apear de teoricamente poder existir uma perda de humidade relativa devido ao

consumo autogéneo de água por parte da pasta de cimento, não é real essa redução ser

tão elevada como a apresentada. No entanto, quando colocado num ambiente com

humidade relativa de 75 %, registou a humidade relativa corretamente.

4.3 Experiência 3: influência do tipo de sensor

Nesta experiência pretende-se saber qual a influência que a utilização de diferentes tipos

de sensores de humidade relativa tem nas medições de humidade relativa. Para permitir

melhor representar as condições de medição da humidade relativa do betão as medições

foram feitas com a secagem de uma pasta de cimento de pequena espessura. Para

controlar a espessura desta pasta foram cortados anéis, a partir do mesmo tudo em que

os poros foram efetuados, com ~3 mm de espessura (ver Figura 4.15). Seguidamente foi

moldada a pasta de cimento no interior dos anéis sendo posteriormente colocados nas

extremidades dos poros (ver Figura 4.17).

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38

a) b) c)

Figura 4.15 – Montagem do ensaio

Os macro poros foram criados a partir de tubos de PVC com 15 mm de diâmetro

interior. Neste ensaio foram utilizados comprimentos do tubo do macro poro de 7 cm

(comprimento mínimo necessário para conseguir colocar todos os sensores), onde foram

colocados os quatro tipos de sensores utilizados em todos os ensaios: Honeywell HIH-

4010 (H-7), Sensirion SHT75 (S-7), Vaisala HM44 (V-7) e Proceq Hygropin (Hy-7).

70

15

H-7 70

15

70

15

70

15

Honeywell Sensirion Vaisala Hygropin

S-7 V-7 Hy-7

Figura 4.16 – Esquema do ensaio da influência do tipo de sensor (unidades: mm)

Numa fase inicial, o ensaio decorreu completamente isolado do ambiente circundante

através de uma pelicula plastia na face exposta da pasta de cimento. Após todos os

sensores estarem estabilizados foram retiradas as peliculas plásticas na face exposta das

pastas para permitir a secagem da pasta (Figura 4.17).

a) b) c)

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39

Fita adesiva

plástica

Sensor

Tubo de PVC

Pasta de cimento

Fase Inicial Fase Secagem

Figura 4.17 – Fases do ensaio da influência do tipo de sensor: a) esquema; b) foto fase

inicial; c) foto fase secagem

De modo a melhor controlar a humidade relativa ambiente todos os provetes foram

colocados num recipiente com solução de NaCl saturado que induz um ambiente com

75 % de humidade relativa (rever Tabela 4.2).

Os resultados obtidos, no decorrer deste ensaio, diretamente a partir dos sensores, são

apresentados na Figura 4.18.

Figura 4.18 - Resultados do ensaio da influência do tipo de sensor obtidos diretamente a

partir dos sensores

Analisando a Figura 4.18 verifica-se que existe uma grande dispersão dos resultados.

De facto, os valores obtidos pelo sensor Vaisala HM44 evoluem até atingir valores

abaixo da HR ambiente. Estes resultados não são realistas, comprovando uma vez mais

a necessidade da recalibração dos sensores.

55

60

65

70

75

80

85

90

95

100

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18

HR

[%

]

Tempo [dias]

Hy-7 H-7

H-Ambiente S-7

V-7

Em condições

seladas Em sacagem a 75 % HR

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40

Aplicando as novas curvas de recalibração os resultados que possuíam uma evolução

irrealista tornam-se bastante coerentes, como se pode observar na Figura 4.19.

Figura 4.19 – Resultados calibrados do ensaio da influência do tipo de sensor

Todos os sensores apresentam assim um comportamento bastante semelhante,

evoluindo na fase inicial do ensaio para valores muito próximos de 100 % de humidade

relativa. Após a remoção da pelicula plástica, expondo a pasta de cimento à secagem,

todos os sensores evoluíram de uma forma coerente entre si. De salientar que nenhum

sensor evoluiu para valores de humidade relativa abaixo da ambiente.

Apesar da evolução entre os vários sensores ser coerente, apresenta ainda uma pequena

dispersão na fase de maior secagem da pasta. Este facto pode ser devido a dois fatores: a

imprecisão dos próprios sensores e a pequenas variações na espessura da pasta. Deste

modo pode ser concluído que a utilização de qualquer um dos sensores utilizados no

decorrer deste ensaio conduz a resultados semelhantes.

4.4 Experiência 4: influência da utilização de tecidos Gore-Tex®

Nesta experiência pretende-se saber qual a influência que a utilização de tecidos

Gore-Tex® na interface entre o poro e o betão tem nas medições de humidade relativa.

55

60

65

70

75

80

85

90

95

100

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18

HR

[%

]

Tempo [dias]

Hy-7 H-7 H-Ambiente S-7 V-7

Em condições

seladas Em sacagem a 75 % HR

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41

O procedimento de ensaio utilizado foi semelhante ao utilizado na experiência 3, apenas

com algumas diferenças. Neste caso específico foram utilizados apenas dois tipos de

sensor: três sensores Honeywell HIH-4010 (H-4) e três sensores Sensirion SHT75 (S-4).

O macro poro, efetuado uma vez mais em tubo de PVC de 15 mm de diâmetro, apenas

tinha 4 cm de altura (ver Figura 4.20).

40

40

Honeywell Sensirion

15 15

H-4 S-4 40

15

S-440

15

S-440

15

H-440

15

H-4

S/ Gore-TexGore-Tex

Tipo 1

Gore-Tex

Tipo 2 S/ Gore-TexGore-Tex

Tipo 1

Gore-Tex

Tipo 2

Figura 4.20 – Esquema de ensaio da influência da utilização de tecidos Gore-Tex®

(unidades: mm)

Um sensor de cada tipo foi colocado como provete de controlo, onde não foi colocado

nenhum material entre a interface da pasta de cimento e o macro poro. Os restantes

sensores, foram colocados em provetes onde se procedeu a colocação de tecidos

Gore-Tex® na interface macro poro/pasta de cimento, como se apresenta na Figura 4.21.

Fita adesiva

plástica

Sensor

Tubo de PVC

Pasta de cimento

Fase Inicial Fase Secagem

Gore-Tex

Figura 4.21 – Esquema da colocação do tecido Gore-Tex®

Neste ensaio foram utilizados dois tipos de tecidos Gore-Tex® com características

distintas, um comercial e outro de fabrico militar, com as seguintes características:

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42

Tabela 4.7 – Características dos tecidos Gore-Tex®

Tipos de Gore-Tex Respirabilidade

[m2Pa/W]

Gore-Tex Civil (Tipo1) 9

Gore-Tex Militar (Tipo2) 13

Os resultados obtidos, diretamente a partir dos sensores, durante o ensaio são

apresentados na Figura 4.22.

Figura 4.22 – Resultados do ensaio da influência da utilização de tecidos Gore-Tex®

obtidos diretamente a partir dos sensores

Ao analisar a Figura 4.22 verifica-se que o sensor S-4 Civil (tipo 1) após atingir uma

humidade relativa de 90 % ficou danificado e começou a apresentar uma evolução

estranha. Este facto vem reforçar a grande sensibilidade dos sensores a humidades

relativas elevadas, já constatado na experiência 2. Para além deste problema existe uma

grande dispersão dos resultados obtidos nos vários provetes não existindo qualquer

tendência logica. Contudo esta dispersão foi eliminada quando foram aplicas as novas

cuvas de calibração dos sensores (ver Figura 4.23).

55

60

65

70

75

80

85

90

95

100

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18

HR

[%

]

Tempo [dias]

H-Ambiente H-4 H-4 Civil (tipo 1)

H-4 Militar (tipo 2) S-4 Civil (tipo 1) S-4 Militar (tipo 2)

S-4

Em condições

seladas Em sacagem a 75 % HR

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43

Figura 4.23 – Resultados calibrados do ensaio da influência da utilização de tecidos

Gore-Tex®

Como se pode observar na Figura 4.23 os resultados com e sem tecido Gore-Tex®

na

interface da pasta de cimento com o macro poro são bastante semelhantes. Ou seja, não

existe qualquer influência nos resultados obtidos pela utilização deste tipo de tecidos.

Este facto pode ser explicado pela comparação das permeabilidades dos tecidos

Gore-Tex®

e da pasta de cimento, apresentadas na Tabela 4.8.

Tabela 4.8 – Permeabilidades dos tecidos Gore-Tex®

e da pasta de cimento

Material Permeabilidade

[m/s]

Respirabilidade

[m2Pa/W]

Pasta 1.00E-07 1.00E+07

Gore-Tex® Civil (Tipo 1) 0.1111 9

Gore-Tex® Militar (Tipo 2) 0.0769 13

Na verdade a permeabilidade dos tecidos Gore-Tex®

é bastante superior à que da pasta

de cimento, pelo que a existência deste tecido na interface não poderia exercer qualquer

influência sobre a transferência de humidade entre a pasta de cimento e o ar do macro

poro.

55

60

65

70

75

80

85

90

95

100

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18

HR

[%

]

Tempo [dias]

H-Ambiente H-4 H-4 Civil (tipo 1)

H-4 Militar (tipo 2) S-4 Militar (tipo 2) S-4

Em condições

seladas Em sacagem a 75 % HR

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44

4.5 Experiência 5: influência do tamanho do macro poro

Nesta experiência pretende-se saber qual a influência que o tamanho do poro tem nas

medições de humidade relativa. O procedimento de ensaio foi semelhante ao utilizado

nas experiencias 3 e 4. Contudo nesta experiência foram utilizados quatro provetes

distintos, onde foram colocados os quatro tipos de sensores utilizados nos ensaios: três

Honeywell HIH-4010 (H-2.5, H-4 e H-7), três Sensirion SHT75 (S-2.5, S-4 e S-7), um

Vaisala HM44 (V-7) e um Proceq Hygropin (Hy-7), de acordo com o esquema

apresentado na Figura 4.24.

40

70

25

40

70

25

70

Honeywell Sensirion VaisalaHygropin

70

15

15

15

15

15

15

1515

H-2.5 S-2.5

H-4

H-7

S-4

S-7 V-7Hy-7

Figura 4.24 – Esquema da experiência da influência do tamanho do macro poro

(unidades: mm)

Nesta experiência, como se pode observar na Figura 4.24, foram utilizados três

tamanhos de macro poros distintos. Na Tabela 4.9 são apresentadas as dimensões dos

macro poros, assim como o seu volume.

Tabela 4.9 – Volumes dos macro poros

Macro poro Diâmetro (mm) Altura (mm) Volume (cm3)

1 15 25 4.42

2 15 40 7.07

3 15 70 12.37

Os resultados destas experiencia obtidos diretamente a partir dos sensores são

apresentados na Figura 4.25.

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45

Figura 4.25 – Resultados do ensaio da influência do tamanho do macro poro obtidos

diretamente a partir dos sensores

Uma vez mais, como se pode observar na Figura 4.25, os resultados apresentam uma

grande dispersão, sem que exista uma clara tendência lógica, isto é, que seja possível

agrupar curvas de variação por tamanho dos macro poros. Volto a existir também um

sensor (V-7) que evoluiu até valores abaixo da humidade relativa ambiente. Todas estas

evoluções estranhas foram uma vez mais eliminadas quando se aplicaram aos resultados

as novas curvas de calibração (Figura 4.26).

Figura 4.26 – Resultados calibrados do ensaio da influência do tamanho do macro poro

55

60

65

70

75

80

85

90

95

100

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18

HR

[%

]

Tempo [dias]

Hy-7 H-Ambiente H-7

H-2.5 H-4 S-4

S-7 S-2.5 V-7

Em condições

seladas Em sacagem a 75 % HR

55

60

65

70

75

80

85

90

95

100

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18

HR

[%

]

Tempo [dias]

Hy-7 H-Ambiente H-7 H-2.5 H-4

S-4 S-7 S-2.5 V-7

Em condições

seladas Em sacagem a 75 % HR

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46

Assim como se verificou nos resultados das experiências 3 e 4, os resultados obtidos

também não apresentam influência devido às diferenças de tamanho dos macro poros.

Este facto pode ser explicado pela pequena quantidade de água que é necessária para

variar a humidade relativa no interior do poro. Através da equação de estado de um gás

ideal (2.2) é possível calcular a quantidade de vapor de água existente num determinado

volume. Sendo a pressão de saturação do ar a 20 °C igual a 2.34 kPa, a quantidade de

vapor de água existente em cada macro poro é a seguinte:

Tabela 4.10 – Quantidade de vapor de água existente em cada macro poro a cada

humidade relativa

Quantidade de vapor de água [µg]

Variação

[µg]

Macro

poro 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% p/ 10%

1 8 15 23 31 38 46 54 61 69 76 8

2 12 24 37 49 61 73 86 98 110 122 12

3 21 43 64 86 107 128 150 171 193 214 21

Como se pode observar na Tabela 4.10, a quantidade de água necessária para fazer

variar 10 % a humidade relativa no interior de cada macro poro é bastante reduzida,

sendo facilmente absorvida/libertada pela pasta de cimento ou pelo betão.

4.6 Experiência 6: selagem do macro poro

Para verificar a influência nas medições de humidade relativa da selagem dos macro

poros criados a partir da introdução de tubos no betão foi elaborado uma experiencia

onde foram testadas três formas distintas de selagem: uma apenas selando o tubo com

Silicone, uma outra apenas com Latex e por fim uma solução mesta de Latex e Silicone,

como se pode observar na Figura 4.27.

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47

Silicone Latex Latex

SiliconeTubo de PVC

Tampa de plástico

Fio de ligação

Sensor de humidade

Fita adesiva plástica

40

Figura 4.27 – Esquema de ensaio para verificação da selagem do macro poro (unidades:

mm)

A montagem do ensaio decorreu em ambiente controlado (20 °C e 50 % RH). Após a

montagem o ensaio foi colocado num ambiente distinto (20 °C e 30 % RH). Para

verificar se os materiais utilizados na selagem dos poros consomem ou libertam água

para o ambiente foram colocadas amostras desses materiais em dois ambientes distintos

(um a 20 °C e 30 % HR e outro a 20 °C e 100 % HR) sendo controlada a massa dessas

amostras. Os resultados obtidos são apresentados na Figura 4.28 e Figura 4.29.

Figura 4.28 – Resultados do ensaio para verificação da selagem do macro poro

0

10

20

30

40

50

60

70

0.0 2.0 4.0 6.0 8.0 10.0 12.0 14.0 16.0 18.0 20.0

HR

[%

]

Tempo [dias]

Latex + Silicone

Latex

Silicone

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48

Analisando a Figura 4.28 verifica-se que existe uma grande diferença de

comportamento entre as selagens com Latex e com Silicone. As primeiras, apesar de

existir uma pequena variação na fase inicial, a humidade relativa no interior dos macro

poros mantem-se relativamente constante ao longo dos 18 dias da experiência. Isto não

acontece no poro selado apenas com Silicone. Neste último existe uma redução bastante

grande da humidade no interior do macro poro durante o primeiro dia. Isto é explicado,

como se pode observar na Figura 4.29, pelo consumo de água pelo próprio Silicone nos

primeiros dois dias da experiência.

Figura 4.29 – Variação de massa dos materiais utilizados para efetuar a selagem dos

macro poros

Este facto deve-se à própria reação de endurecimento do Silicone, que necessita de áhua

para que possa ocorrer a reação (François, 2001). Contudo, mesmo após este período

inicial de consumo grande de humidade do ar, o Silicone não oferece uma selagem

perfeita do poro, existindo um aumento significativo da humidade relativa para valores

muito próximos da humidade relativa do ar exterior.

-1.0

0.0

1.0

2.0

3.0

4.0

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18

Per

da

de

mas

sa [

%]

Tempo [dias]

Latex @ Camara húmida Latex @ HR 30%

Silicone @ Camara húmida Silicone @ HR 30%

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49

4.7 Experiência 7: selagem de superfícies de peças de betão

Muitas vezes para simular em laboratório condições de secagem de peças de betão in

situ são utilizadas condições de secagem unidimensionais, sendo, para tal, necessário

selar algumas superfícies das peças em estudo para impedir a perda de humidade nessa

superfície. Normalmente são utilizados materiais impermeabilizantes de superfície

comerciais para efetuar essas tarefas. Nesta experiência foram estudados sete materiais:

plástico; Parafina; Resina Epóxi; Resina Siloxânica; Silicone líquida; Borracha líquida;

e Betume (ver Figura 4.30). Para simplificar o processo experimental, nesta experiência

foram utilizados cubos de pasta de cimento (5 x 5 x 5 cm3) com w/c 0.5 em substituição

de peças de betão.

Figura 4.30 – Aspeto dos provetes de teste

De salientar que apenas foi dada uma demão na colocação do revestimento, uma vez

que em aplicações laboratoriais normalmente pretende-se que logo após a descofragem

das peças, as superfícies sejam impermeabilizadas o mais rapidamente possível para não

existir logo perda de humidade para o ambiente.

Para registar a perda de massa do próprio material de revestimento foram colocadas

amostras desses materiais em pequenos recipientes. Toda a experiencia decorrem num

ambiente controlado, no interior de uma camara climática, a 20 °C e 30 % de humidade

relativa.

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50

Os resultados da perda de massa dos provetes selados e das amostras dos materiais de

revestimento são apresentados nas figuras 4.31 a) e b) respetivamente.

a)

b)

Figura 4.31 – Perda de massa: a) dos provetes selados; b) das amostras dos materiais de

revestimento

Analisando as figuras anteriores constata-se que os selantes que provocam uma menor

perda de massa nos provetes de pasta de cimento são o plástico e a parafina. No entanto

a utilização de plástico para selar superfícies não é desejável uma vez que este permite a

perda de água do provete para o ar existente entre a superfície e o revestimento. Para

além destes materiais, o Betume apresenta também um comportamento bastante bom.

Este apenas apresenta uma perda de massa na fase inicial, após a qual deixa de existir

perda de água.

0

4

8

12

16

20

24

0.0 5.0 10.0 15.0 20.0 25.0

Per

da

de

mas

sa [

%]

Tempo [dias]

s/ rev.

Plástico

Resina Epóxi

Resina Siloxânica

Silicone liquida

Borracha líquida

Parafina

Betume

0

20

40

60

80

100

0.0 5.0 10.0 15.0 20.0 25.0

Per

da

de

mas

sa [

%]

Tempo [dias]

Resina Epóxi

Resina Siloxânica

Silicone liquida

Borracha líquida

Parafina

Betume

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51

Contrariamente a estes materiais, a Resina Siloxânica é material que apresenta o pior

comportamento. Este comportamento já era esperado, uma vez que se trata de um

material de impregnação superficial, que permite a respiração da superfície tratada.

Apesar de não permitir a passagem de água em estado liquido, permite a troca de água

sob a forma de vapor.

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52

5 CONCLUSÕES

Neste trabalho foi efetuado um estudo de algumas incertezas que podem existir na medição

de humidade relativa em materiais cimentícios, assim como o estudo de procedimento

alternativos de criação de ambientes controlados para aplicações laboratoriais. Após a

realização deste trabalho experimental salientam-se as seguintes conclusões principais:

O uso de soluções de sais saturados para o controlo da humidade relativa

ambiente durante ensaios com materiais cimentícios é possível, uma vez que não

se verificou grande influência nos na humidade relativa ambiente. Contudo é

preciso ser cauteloso na utilização deste tipo de soluções se se pretender colocar

desde a altura da betonagem os provetes de teste no interior de recipientes com

este tipo de sais, uma vez que na faze muito inicial da exposição das soluções se

verificou uma alteração significativa da humidade relativa ambiente.

Nas experiências realizadas neste trabalho foram utilizados quatro tipos de

sensores capacitivos, sendo que se verificou que os resultados entre os diferentes

sensores são bastante coerentes. A utilização deste tipo de sensores tem, no

entanto, de ter em consideração a grande sensibilidade que este tipo de sensores

tem à exposição prolongada a ambiente de humidade relativa bastante elevados

(acima de 90 %), uma vez que é alterada a calibração dos sensores.

A utilização de tecidos Gore-Tex® na interface entre o material cimentício e o

macro poro necessário para medir a humidade relativa não influenciou os

resultados obtidos, conclusão semelhante foi obtida também quanto à utilização

de macro poros de diferentes volumes.

Os macro poros criados em materiais cimentícios a partir de tubos ocos inseridos

na altura da betonagem dos materiais necessitam de uma correta selagem. Esta

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53

selagem pode ser facilmente efetuada através de uma rolha de Latex. De

salientar que a utilização de Silicone é desaconselhada devido ao consumo de

água durante a reação de endurecimento do mesmo.

Para selar superfícies de provetes de materiais cimentícios o material mais

eficiente é a parafina, embora o betume também apresente um bom

comportamento.

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