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Matriz de decisão qualitativa para escolha do método construtivo de contenções – Estudo de caso na implantação
da expansão do Metrô em Ceilândia dezembro/2014
ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 8ª Edição nº 009 Vol.01/2014 dezembro/2014
Matriz de decisão qualitativa para escolha do método construtivo
de contenções – Estudo de caso na implantação da expansão do
Metrô em Ceilândia
Giovanni Quirino de Freitas – [email protected]
MBA Gerenciamento de Obras, Tecnologia & Qualidade da Construção
Instituto de Pós-Graduação - IPOG
Brasília, DF, 05 de Junho de 2014
Resumo
Este artigo é sobre a utilização de matriz de decisão qualitativa para comparação de
possíveis metodologias construtivas de trincheira na implantação da futura expansão do
Metrô em Ceilândia/DF. Com várias soluções disponíveis no mercado, inclusive aquelas
inseridas recentemente no contexto nacional, qual é a mais vantajosa para a sociedade, uma
vez que se trata de empreendimento público? A hipótese é que nem sempre a alternativa mais
econômica é a mais vantajosa para a população e para o meio ambiente e que outras
variáveis devem ser levadas em consideração nas análises de viabilidade. O objetivo foi
demonstrar, dentre várias tipologias, qual é a mais propícia e viável no cenário regional
atual. Para isso, foi proposta uma matriz de decisão qualitativa, em que foram atribuídos
pesos (relevâncias) para vinte características importantes à implantação da obra e notas
(méritos) para atendimento dessas características, em função de quatro metodologias
elencadas para comparação. Os resultados indicam que a alternativa de contenções em
estacas justapostas de grande diâmetro é a mais vantajosa para o caso em questão, com
média ponderada de 6,24. A conclusão é que a alternativa mais vantajosa não foi a mais
econômica.
Palavras-chave: Transporte Metroviário. Contenções. Fundações. Trincheira. Métodos
Construtivos.
1. Introdução
A implantação de qualquer empreendimento de Engenharia, por mais benéfico que seja para a
comunidade, é uma atividade que traz consideráveis impactos ao meio ambiente e à
sociedade, durante sua construção e operação. Segundo Priori Jr et al. (2008), a construção
civil participa, direta e indiretamente, com cerca de 18% do Produto Interno Bruto - PIB,
sendo responsável por expressiva parcela do desenvolvimento da economia nacional.
Na visão de Silva (2003), a indústria da construção, particularmente a construção, operação e
demolição de edifícios, representam as atividades humanas de maior impacto sobre o meio
ambiente. A magnitude dos impactos sociais, ambientais e econômicos posiciona
estrategicamente o setor, em dimensão mundial, como um motor potencial para o atendimento
de metas de desenvolvimento sustentável.
Diante dessa necessidade, o presente estudo foi realizado com o objetivo de mensurar
características importantes para o empreendimento e, por meio da utilização da matriz de
decisão qualitativa (Anexo 1), municiar o gestor público na tomada de decisão para a escolha
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de método construtivo de trincheira mais vantajoso para a sociedade, levando em conta todos
aspectos envolvidos.
No caso em questão, a implantação da expansão do Metrô do Distrito Federal na cidade
satélite de Ceilândia, o estudo demonstrou que a conjugação de fatores técnicos, sociais,
ambientais e econômico-financeiros é mais importante que a análise isolada da variável custo.
Demonstrando, assim, a magnitude e abrangência deste trabalho, que pode ser ampliado e
adaptado para outras áreas da Engenharia, objetivando reduzir os impactos na sociedade e
meio ambiente quando da implantação de obras de infraestrutura, principalmente as urbanas.
2. Metrô do Distrito Federal
O Metrô do Distrito Federal teve seus primeiros estudos em 1991, por meio de uma
Coordenadoria Especial integrada por técnicos de vários órgãos do governo distrital, com
objetivo de gerenciar a construção da primeira linha de transporte metroferroviário da capital
federal. Passado um ano, a obra de implantação foi iniciada pelo trecho que liga Samambaia
ao Plano Piloto. No ano seguinte, em dezembro de 1993, foi criada a Companhia do
Metropolitano do Distrito Federal, cuja missão era planejar, construir, operar e manter o
transporte sobre trilhos na capital. Após várias paralisações das obras e viagens
experimentais, denominadas operação branca, em 2001 foi iniciada a operação comercial do
trecho que liga Samambaia ao Plano Piloto, passando por Taguatinga, Águas Claras e Guará,
transportando, diariamente, cerca de 45 mil passageiros. No final de 2007 foi inaugurado o
trecho de ligação Taguatinga a Ceilândia Sul, via Estação Centro Metropolitano,
desencadeando um carregamento diário de 100 mil passageiros. A conclusão da linha atual
ocorreu em 2008, quando da inclusão do trecho entre as Estações Ceilândia Sul e Terminal
Ceilândia, passando a transportar, em média, 140 mil passageiros por dia. Atualmente, o
Metrô-DF conta com 24 estações operacionais, frota de 32 trens e 42,38 km de via com duas
linhas, conforme apresentado na Figura 1.
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Figura 1 – Mapa do Metrô do Distrito Federal
Fonte: Metrô-DF. Disponível em http://www.metro.df.gov.br/estacoes/linhas.html
2.1. Expansão da Linha 1 do Metrô-DF
O plano de Expansão da Linha 1 do Metrô do Distrito Federal está em consonância com o
PDTU (Plano Diretor de Transportes Urbanos), aprovado pela Lei Distrital nº 4.566 de 04 de
maio de 2011, conforme mostra a Figura 2. Ao todo, são 7,5 km de novas vias, distribuídas
conforme Tabela 1.
Descrição Asa Norte Samambaia Ceilândia
Extensão da via (km) 1 4 2,5
Tipo de via subterrânea superfície trincheira
Tipo de estação subterrânea semi-enterrada subterrânea
Quantidade de estações por trecho 1 2 2
Área construída por estação (m²) 12.580 2.570 2.670
Subestação de energia por trecho 1 3 2
Obras de arte especiais 1 6 10
Urbanização do entorno sim sim sim
Tabela 1 – Características das obras da expansão do Metrô-DF
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Fonte: Adaptado de Engevix (2014)
Figura 2 – Mapa do sistema ferroviário de passageiros do Distrito Federal previsto no PDTU
Fonte: Secretaria de Transportes. Disponível em http://www.st.df.gov.br/programas-projetos/pdtu/relatorios-
tecnicos.html
Além da expansão de 7,5 km, está prevista a modernização dos sistemas fixos do trecho em
operação, ocasionando, juntamente com o início da operação do trecho estendido, aumento da
capacidade de carregamento máximo para 440 mil passageiros por dia, com uma velocidade
de projeto de 80 km/h e headway de 3 minutos.
Desses três trechos propostos para a expansão, Ceilândia será o que mais trará desafios na
etapa construtiva e na fase operacional. Nesta por conta do acréscimo de passageiros
advindos, principalmente, do entorno de Brasília, que utilizarão o Terminal de ônibus do
Setor “O” para ingressarem no sistema metroviário e deslocar até o centro de Brasília.
Naquela por razões de uso do solo, uma vez que a metrovia será implantada em trincheira, no
exíguo canteiro central da Via 3 no Setor “O” em Ceilândia, conforme mostrado na Figura 3.
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Figura 3 – Mapa da ampliação do Metrô-DF em Ceilândia
Fonte: Adaptado de Engevix (2014)
Com larguras médias de 11,50 metros para o canteiro central e 25,00 metros de bordo a bordo
da Via 3, a implantação da trincheira estará limitada a várias condicionantes, tais como espaço
reduzido para manobras, menor tempo possível para a implantação, impossibilidade de
vibrações em decorrência da proximidade de edificações e custo.
Logo, o estudo de metodologias construtivas para as contenções laterais se faz necessário,
pois subsidiará o gestor público na escolha da solução mais vantajosa para a sociedade e meio
ambiente, ainda que tais soluções não sejam as mais econômicas.
3. Tipologias construtivas
Em função das características técnicas, operacionais, urbanísticas e orçamentárias a
implantação da linha metroviária em Ceilândia será em trincheira aberta e, em alguns pontos
da via e nas Estações, trincheira fechada na parte superior. Independentemente de ser aberta
ou fechada, a execução das contenções laterais se pautará em uma série de restrições, a
começar pela profundidade exigida pelo traçado vertical para uma boa conformação do greide
devido à topografia local. Os traçados metroferroviários não permitem rampas superiores a
4%, obrigando o projetista, em alguns casos, aprofundar a cota do topo do boleto, superfície
de contato da roda do veículo com o trilho. No caso da trincheira de Ceilândia, constatam-se
profundidades de até 20 metros entre a superfície e o topo do boleto. A Figura 4 revela a
planta e o perfil longitudinal do projeto geométrico adotado para a via em Ceilândia, e a
Figura 5 sua respectiva seção transversal.
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6+
7.7
82
0 -
VIA
2
SP-01
SP-02 SP-03
SP-04
SP-05
SP-06
SP-07
SP-09
SP-08
SP-10 SP-11SM-102
SM-103
SP-104SP-105
SM-101A
SP-106
SP-101
SP-102
SP-103 PROF. 25m
PROF. 21m
PROF. 27m
PROF. 20m
PROF. 33m
PROF. 27m
PROF. 26m
PROF. 25m
(1ª etapa)
(1ª etapa)
(1ª etapa)
(1ª etapa)
(1ª etapa)
(1ª etapa)
(1ª etapa)
(1ª etapa)
T.B. VIA 2
1220
1225
1230
1235
1240
1245
1250
1215
4915 49254920
4935
4930
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1205
4970 4975
49854980 4990 4995
1250
1255
1260
1265
1270
1275
1280
1245
1240
4940 4945
4960 4965
49554950
4955
5000
4980
4909+61,26
5000+54,00
ESTAÇÃO 29
ESTAÇÃO 29
ESTAÇÃO 28
21,30 m
18,20 m
20,85 m
16,74 m
TERRENO NATURAL
Figura 4 – Planta e Perfil longitudinal da via metroviária em Ceilândia
Fonte: Adaptado de Engevix (2014)
Figura 5 – Seção transversal da via metroviária em Ceilândia
Fonte: Adaptado de Engevix (2014)
Não obstante as imposições geométricas, as características geológico/geotécnicas do local
apontam que o solo resistente se dá, na maioria das vezes, em profundidades próximas a 30
metros, conforme perfil geológico-geotécnico constante da Figura 6.
Para vencer tais profundidades e resistir aos diversos esforços atuantes (empuxos, cargas
axiais, momentos fletores), os projetistas adotam elementos mais robustos, com considerável
taxa de armadura e dispositivos de contraventamento, tais como tirantes e estroncamentos
provisórios e definitivos.
Por essas razões, algumas soluções construtivas nem sequer foram estudadas, pois são
inviáveis para o caso em questão. Segundo Hachich (1998), a partir da metade da década de
90, o mercado brasileiro foi invadido por máquinas importadas da Europa, principalmente da
Itália, construídas especialmente para execução de estacas hélice contínua. Essa estaca,
mesmo com suas vantagens inerentes, tais como alta produtividade proporcionada pelos
equipamentos, vários diâmetros disponíveis e ausência de vibração, é um desses casos. A
inviabilidade de seu uso é ocasionada pela limitação da profundidade de inserção da armadura
no concreto, sendo possível até, no máximo, 18 metros, inferior às alturas médias da
trincheira.
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Quanto aos métodos que utilizam percussão, tais como estacas prancha, estacas cravadas
metálicas ou pré-moldadas de concreto, também são inviáveis, uma vez que as edificações
vizinhas estão muito próximas aos locais de intervenção. Além dessa proximidade, as
construções simplistas, que indicam a ausência de acompanhamento técnico adequado,
sustentam a inviabilidade destes métodos, haja vista a possível ocorrência de vários sinistros e
impactos sociais consideráveis.
Diante desses cenários, as soluções a serem apresentadas nos itens 3.1 a 3.4 são plenamente
viáveis, todavia, a mais vantajosa será indicada com a utilização da matriz de decisão
qualitativa.
48
3522
23
14
17
34
2
16
4
5
4
7
6
4
55
4
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4
4
5
2
44
3
75
5
4
7
8
65
12
40
57
7
4
10
6025
11,45 m 13,9 m
18,87 m
3,80 m
SP-01COTA 1.221,136
SP-02COTA 1.231,184
SP-03COTA 1.233,833
SP-04COTA 1.241,188
PROJ. 2,33
PROJ. 2,40
PROJ. 6,35
PROJ. 0,67TERRENO NATURAL
3
3
4
4
4
7
14
20
17
38
40
22
59
3
54
4
4
65
3
7
11
11
15
5
617
7
1415
20
44
3
5
17
7
45
27,87 m
25,45 m
SP-05COTA 1.248,833
PROJ. 0,40
SP-06COTA 1.255,609
PROJ. 0,27
564
44
7
4
5
4
6
89
10
13
T.B. VIA 2
5
31,45 m
SP-102COTA 1.254,32
PROJ. 4,36
3
4
2
2
2
3
4
2
4
3
4
5
8
10
9
10
9
9
5
6
10
12
13
11
9
7
8
17
8
30
21
6
29,15 m
SP-103
2
4
4
5
5
6
5
4
13
17
20
19
9
6
4
4
7
7
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11
12
22
26
16
27
40
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36/15*
11
T.B. VIA 2
25
30,00 m
SM-101 ACOTA 1236,90PROJ. 14,85
18
9
20
20
7
10
7
21
25
21
19
14
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17
19
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30/15
30/4
30/11
30/3
30/2
30/0
30/0
30/0
30/0
30/0
30/0
30/15
1220
1225
1230
1235
1240
1245
1250
1215
4910 4915 49254920
4935
4930
1210
1205
4940 4945 49554950
4955
4930 +30,00
4930 +30,00
4909+61,26
3
30,10 m
SP-101COTA 1.247,05m
PROJ. 4,35
2
2
2
2
2
4
3
4
7
6
5
6
5
7
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8
10
9
13
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19
17
15
44
18
44
8
53
35/10
ESTAÇÃO 29
- AREIA - AREIA SILTOSA OU SILTE ARENOSO, POUCO A MUITO COMPACTA. VARIEGADA.
- ARGILA - ARGILA ARENOSA MUITO MOLE A RIJA. VERMELHA.
UNIDADES LITOLÓGICAS
CONTATO GEOTÉCNICO
- CASCALHO - CASCALHO LATERÍTICO, ARGILOSO VERMELHO.
INDICAÇÃO NÍVEL D'ÁGUA
SONDAGEM À PERCURSÃO (2008) - EXECUTADA
SONDAGEM MISTA (2013) - EXECUTADA
SONDAGEM À PERCUSSÃO (2013) - EXECUTADA
SP-XXX
TOPO DO BOLETO
- ATERROS - ARGILA ARENOSA DURA - PODENDO CONTER PEDREGULHOS VARIEGADOS À AMARRONZADOS
- AREIA - AREIA SILTOSA OU SILTE ARENOSO MUITO COMPACTO. COR AMARRONZADA OU ROXA COM
- SILTITO - ROCHA MEDIANAMENTE ALTERADA, POUCO COERENTE, MEDIANAMENTE FRATURADA, FRATURADA
INCLINADA. COR CLARA COM VEIOS ROSA E CINZA.
CONVENÇÕES GRÁFICAS
LEGENDA
VEIOS BRANCOS.
SP-1XX
SM-1XX
4
1616
13
40
45
4
16
33
5
8
6
7
15
6018
16
8
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3
2
3
2
3
7
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5
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1915
7
9
32
2
2
2
5
2
1012
4
1453
2
5
8
12,95 m
12,45 m
15,25 m
13,73 m
SP-08COTA 1.266,718
PROJ. 0,37
SP-09COTA 1.269,697
PROJ. 5,68
SP-10COTA 1.271,012
PROJ. 2,75
SP-11COTA 1.272,552
PROJ. 0,90
TERRENO NATURAL
2
2
4
4
2
16,21 m
SP-1041.268,39
PROJ. 4,39
2
2
2
2
5
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51
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12
24
24
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35/1535/10*
5
14,14m
SP-1051.274,31mPROJ. 0,02
2
2
2
2
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2
3
6
4
6
35/10
35/10
35/8
35/10
2
11,07 m
SP-106COTA 1.273,96m
PROJ. -
2
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-
-
-
-
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3
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6
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TERRENO NATURAL
13,82 m
SP-07COTA 1.261,574
PROJ. 0,32
6
29,15 m
SP-103COTA 1.260,76
PROJ. 4,32
2
4
4
5
5
6
5
4
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20
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6
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36/15*
11
2
27,00 m
SM-103A1270,964
PROJ. 2,38
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30/11
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30/8
30/630/2
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RQ
D
100
100
100
100
84
100
100
67
67
33
RE
C
8
25,10 m
SM-102ACOTA 1260,862
PROJ. 4,35
9
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19
20
25
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25/15
30/15
30/15
30/13
30/13
30/10
28/15
4970 4975
49854980 4990 4995
1250
1255
1260
1265
1270
1275
1245
1240
4960 49654955
5000
4980
5000+54,00
Figura 6 – Perfil geológico-geotécnico da via metroviária em Ceilândia
Fonte: Adaptado de Engevix (2014)
3.1. Parede diafragma em lamelas pré-moldadas e escavação com clamshell mecânico
Esta metodologia foi utilizada em diversas frentes de construção na implantação do trecho em
operação do Metrô-DF, tais como trincheiras de Ceilândia e Guará, túnel Taguatinga e
estações subterrâneas da Asa Sul. O método consiste na colocação de painéis (lamelas) pré-
moldados de concreto armado em valas previamente escavadas com o equipamento clamshell.
Inicialmente, realiza-se a marcação topográfica do eixo da parede, que delimitará, tanto no
plano vertical quanto no horizontal, a correta localização da vala a ser escavada. Após a
marcação topográfica, são construídas as muretas guia ao longo da extensão da parede, cujo
objetivo é auxiliar o operador do clamshell e guiar a ferramenta de escavação. A mureta guia
é composta por dois muros de concreto distanciados entre si pela largura da parede mais 5
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centímetros. Assim que a mureta guia atingir resistência adequada, a escavação com clamshell
é iniciada e continua até o momento em que o solo apresentar instabilidade, ocasião em que a
vala deve ser preenchida com lama bentonítica, material tixotrópico cuja função é estabilizar
as paredes da vala por pressão e formação de película impermeável (“cake”).
É importante destacar que, na fase de escavação, a verticalidade e os desvios deverão ser
conferidos e corrigidos a todo momento. Concomitantemente às etapas anteriores, os painéis
pré-moldados armados estão sendo fabricados no canteiro, com a utilização de fôrma metálica
e mesa de concretagem, a fim de garantir um bom acabamento superficial. Concluída a
escavação até a profundidade de projeto, as lamelas, que possuem esperas nas duas
extremidades, são içadas e colocadas na vala, mantidas suspensas de modo a garantir a altura
mínima da ficha, que deverá ser concretada no local. Colocada a primeira lamela, as contínuas
serão inseridas na vala por meio de encaixe macho e fêmea, umas lamelas às outras, com
auxílio de pino guia metálico concretado na extremidade macho da peça. A Figura 7 mostra a
seção transversal típica de uma lamela e os seus detalhes construtivos.
EXTREMIDADEMACHO
EXTREMIDADE
FÊMEA
PINO-GUIA
ABERTURA PARACONCRETAGEM DA FICHA
ABERTURA PARA
CIRCULAÇÃO DE LAMA
BENTONÍTICA, DETRITOS E "COULIS"
ENCONTRO DOS PAINÉIS
PRÉ-MOLDADOS
Figura 7 – Seção transversal típica de lamela pré-moldada
Fonte: Dados produzidos pelo autor
Após a colocação de alguns painéis, a lama bentonítica é retirada e tratada, simultaneamente à
injeção na vala de uma mistura de cimento, água e bentonita, denominada “coulis”, a qual
visa garantir plasticidade e impermeabilidade para a parede diafragma. Nesse ponto, por meio
de orifício deixado na própria seção transversal da lamela, é introduzida tremonha para
concretagem submersa da ficha na parte inferior e concretagem normal da viga de coroamento
na parte superior. Terminada a execução das duas paredes diafragmas paralelas que delimitam
a largura da trincheira, dá-se início à escavação invertida ou confinada, bem como a execução
dos estroncamentos e atirantamentos à medida que se aprofunda a escavação, se for
necessário.
As principais vantagens desse método são a ausência de vibração, excelente acabamento
superficial da parede e alta mecanização envolvida. Como desvantagem cita-se a necessidade
de grandes áreas para canteiros de confecção de peças pré-moldadas, transporte e içamento
das lamelas que geram transtornos ao trânsito, altos custos de implantação e dificuldade de
execução em solos de 3ª categoria.
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3.2. Contenções laterais em estacas de grande diâmetro (estacões) justapostos espaçados
com arco de concreto projetado
Esse foi outro método adotado com sucesso no Metrô-DF para contenções laterais. Cita-se a
Estação Guará, VCAs (Vala Céu Aberto) dos túneis Asa Sul e Taguatinga e passagens
subterrâneas para pedestres das Estações 102, 108, 112 e 114 Sul.
Segundo França (2011:8), estacas escavadas de grande diâmetro são conhecidas no meio
técnico como estacões, sendo escavadas por rotação com auxílio de camisa-guia e lama
bentonítica ou polimérica, com diâmetros que variam de 0,60 a 2,50 metros.
O método se desenvolve com a escavação desses estacões justapostos e espaçados no sentido
longitudinal, formando uma parede de contenção contínua. Antes é feita a locação topográfica
de cada estaca bem como a indicação da profundidade de projeto. De acordo com o Manual
de Especificações e Procedimentos ABEF (2004), o equipamento de escavação é formado por
mesa rotativa e/ou rotatores hidráulicos, que acionam uma haste telescópica tipo Kelly, que
tem acoplada na sua extremidade inferior a ferramenta de perfuração, que pode ser trado,
caçamba ou coroa, dependendo do tipo de solo. A escavação vai até 1 metro de profundidade,
momento em que é colocado tubo guia metálico, que possui diâmetro de 10 centímetros
superior ao diâmetro nominal da estaca. Então, a escavação prossegue até a profundidade
constante do projeto, simultaneamente com o enchimento do furo com lama bentonítica ou
fluido estabilizante, que, além da função de estabilização, propicia manter em suspensão os
detritos provenientes da desagregação do terreno. Concluída a escavação, a armadura é
colocada no furo ainda preenchido com fluido estabilizante. Observa-se nessa etapa que a
concretagem tem de ser realizada rapidamente, para evitar a formação de película entre o
fluido e a armadura, o que pode prejudicar a aderência das barras de aço com o concreto. Com
o auxílio de uma tremonha, a concretagem submersa (de baixo para cima) é realizada de
modo contínuo e uniforme, com a ponta da tremonha imersa, no mínimo, em 3 metros de
concreto. Após, é executada a viga de coroamento na parte superior da parede. A Figura 8
esquematiza essa sequencia executiva.
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Figura 8 – Sequência executiva das estacas de grande diâmetro
Fonte: Brasfond. Disponível em http://www.brasfond.com.br/fundacoes/egdiametro.html
Depois de realizada as duas linhas paralelas de estacões, que delimitarão a largura da
trincheira, é realizada a escavação invertida ou confinada, estroncamento e atirantamento,
simultaneamente à colocação de tela metálica e aplicação de concreto projetado, em forma de
arco, no espaço entre os estacões. A Figura 9 ilustra os detalhes dessa técnica.
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AA
Figura 9 – Detalhes executivos de trincheira com estacas de grande diâmetro
Fonte: Dados produzidos pelo autor
Como principais vantagens dessa tipologia construtiva, citam-se alta produtividade,
possibilidade de escavação em rocha, menor necessidade logística e de canteiro e alto grau de
industrialização do processo. Como desvantagens destacam-se o acabamento superficial da
parede da trincheira (que pode se mitigada com a construção de alvenaria contígua) e trânsito
de caminhões betoneira.
3.3. Parede diafragma em lamelas moldadas in loco e escavação com hidrofresa
Sendo um dos equipamentos de execução de fundações mais recentes no mercado nacional, a
hidrofresa é um equipamento hidráulico dotado de duas rodas de corte na parte inferior, as
quais giram em sentidos opostos em torno dos respectivos eixos horizontais. Essas rodas
possuem pinos de tungstênio ou vídea que, com os movimentos circulares, trituram o solo, e
até mesmo rocha, levando os sedimentos à superfície por meio de circulação reversa da lama
bentonítica (ou fluido estabilizante) colocado na vala. A Figura 10 mostra os detalhes do
equipamento hidrofresa.
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Figura 10 – Detalhes do funcionamento da hidrofresa
Fonte: Costa Fortuna. Disponível em http://www.costafortuna.com.br/downs/apHidrofresa.pdf
A execução da parede diafragma é iniciada pela marcação topográfica e construção da
mureta-guia, similares ao método indicado no item 3.1. Após, é iniciada a pré-escavação da
vala com utilização de clamshell mecânico ou hidráulico, a fim de gerar profundidade
suficiente para que a bomba da hidrofresa fique submersa no fluido estabilizante. Garantida
essa profundidade mínima, a hidrofresa inicia a escavação por meio da trituração do material,
sendo que sua retirada se dá por meio de sucção, com a bomba submersa, desse material
misturado com o fluido estabilizante já preenchido na vala. A escavação é ininterrupta, todo o
trabalho é feito de forma contínua até atingir a cota de projeto, o que gera excelente
produtividade. Ressalta-se que, diferentemente do método indicado no item 3.1, no qual a
parede diafragma é executada continuamente no sentido longitudinal, a escavação com
hidrofresa é realizada de maneira intercalada, criando juntas secantes, que serão escavadas e
concretadas após as lamelas atingirem resistência adequada. Terminada a fase de escavação,
dá-se início à colocação da armadura e concretagem submersa, que é realizada de maneira
análoga à do método descrito no item 3.2. Quando a lamela adquire resistência suficiente, as
juntas secantes já podem ser escavadas, inclusive com escarificação de parte do concreto dos
painéis adjacentes, visando garantir superfície rugosa e boa aderência entre o concreto
endurecido e o concreto fresco. Os métodos de escavação, armação e concretagem da junta
secante são os mesmos dos realizados para as lamelas. Em seguida, executa-se as vigas de
coroamento na parte superior da parede. A Figura 11 esboça a execução desse método.
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Figura 11 – Detalhes do método executivo de paredes diafragmas com hidrofresa
Fonte: Brasfond. Disponível em http://www.brasfond.com.br/fundacoes/hidrofresa.html
Com as duas paredes diafragmas executadas, dá-se continuidade à escavação invertida, de
maneira idêntica à do descrito no item 3.1.
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Os principais pontos positivos do sistema são excelente produtividade, possibilidade de
execução em qualquer tipo de solo, excelente acabamento superficial da parede e alto grau de
industrialização envolvido. Como pontos negativos citam-se a necessidade de pré-escavação
com clamshell, altos custos e disponibilidade de equipamentos na região.
3.4. Parede diafragma em lamelas moldadas in loco e escavação com clamshell
hidráulico
Método mais usual para execução de paredes diafragmas, a escavação com clamshell, que
pode ser hidráulico ou mecânico, e concretagem in loco das lamelas é atrativo pois há
disponibilidade de equipamentos na região, não produz vibrações no terreno, tem algo grau de
industrialização no processo e excelente acabamento superficial da parede. Como pontos
negativos destaca-se a impossibilidade de escavação em rocha, o que demanda outros
equipamentos e processos, tais como trepanação. Com relação ao custo, é a solução mais
barata se comparada às outras três, somente se a escavação ocorrer em solo de 1ª categoria.
Na ocorrência de rocha, dependendo do volume a ser escavado, esse método passa a ser
antieconômico quando comparado aos dos itens 3.2 e 3.3.
A execução dessa metodologia é similar à do item 3.1, com algumas diferenças. Neste caso, a
escavação não é realizada em todo sentido longitudinal da parede, e sim intercalando os
painéis com juntas secantes. Para a execução dessas juntas, utilizam-se chapas espelho antes
da concretagem, que têm a função de delimitar a largura da lamela. As juntas são
imprescindíveis, pois, diferentemente da hidrofresa, que tem a capacidade de escarificar o
concreto, o equipamento clamshell não o faz. Após concretagem e atendimento a resistências
adequadas, as chapas espelhos são retiradas e as juntas e posterior viga de coroamento
executadas, finalizando assim a construção da parede. A escavação invertida e demais etapas
para construção da trincheira são similares ao dos itens 3.1 e 3.3. A Figura 12 ilustra essa
sequência executiva.
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Figura 12 – Detalhes do método executivo de paredes diafragmas moldadas in loco com clamshell
Fonte: Geofix. Disponível em http://www.geofix.com.br/site2010/servicos/paredes-diafragma-clam-
shell/parede_clamshell.pdf
4. Metodologia
Apresentadas e definidas as quatro metodologias executivas viáveis para construção da
trincheira em Ceilândia, utiliza-se a matriz de decisão qualitativa proposta para a escolha do
método mais vantajoso para a sociedade e meio ambiente, levando em conta fatores
econômico-financeiros, técnicos, sociais e ambientais.
Essa matriz, que tem por objetivo auxiliar o gestor público na tomada de decisão, é composta
pelos seguintes campos:
- item e características importantes para a implantação da obra: sequencialmente, são
propostos os quesitos a serem observados pelo gestor na escolha da solução construtiva que
traga menores impactos à sociedade e ao meio ambiente, com os menores custos. Neste
estudo de caso, foram propostos vinte itens que, de alguma forma, interferem com a execução.
Esses vinte itens se concentram em torno de quatro eixos temáticos: fatores econômico-
financeiros; técnicos; sociais e ambientais, que serão detalhados nos itens 4.1 a 4.4;
- relevância (peso) para cada característica a ser considerada: cada quesito é avaliado de
acordo com sua importância para a implantação do empreendimento, com pesos variando de 1
a 5, sendo nota 1 – indiferente, 2 – pouco importante, 3 – importante, 4 – muito importante e
5 – importantíssimo;
- mérito da metodologia construtiva (nota para atendimento): para as quatro soluções técnicas
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apresentadas, foram aferidas notas conforme o desempenho de cada solução para cada
característica considerada para a implantação. Essa notas variam de 1 a 10, sendo nota 1 – não
atende, 3 – atende inferior, 5 – atende, 8 – atende superior e 10 – atende com méritos;
- média ponderada: os resultados finais são obtidos para cada solução, levando-se em conta a
média ponderada das notas conforme os pesos de cada característica. A metodologia
construtiva que alcançar a maior média ponderada será considerada a mais vantajosa.
A matriz qualitativa de decisão resultante desse estudo de caso encontra-se no Anexo 1.
As ponderações dos pesos de relevância e notas para atendimento foram estabelecidas, no
estudo de caso em questão, conforme literatura técnica especializada e experiência do autor na
área adquirida com a implantação das obras subterrâneas do Metrô do Distrito Federal.
4.1. Fatores econômicos e financeiros
Existe certa tendência dos profissionais do ramo da Engenharia em adotar soluções que sejam
menos onerosas, do ponto de vista financeiro, em detrimento da análise ampla de outros
fatores que afetem, mesmo que indiretamente, a implantação, operação e manutenção da obra.
Em se tratando de investimento público, como no presente estudo de caso, o gestor estatal fica
vinculado a observar esses outros fatores, uma vez que custos indiretos podem ser decisivos e
mais representativos que os custos diretos dos insumos construtivos.
No estudo de caso em questão, a implantação se dará na exígua faixa do canteiro central da
Via 3 no Setor “O” em Ceilândia, que tem alto tráfego de veículos particulares e ônibus do
sistema metropolitano de transportes. Logo, quaisquer interrupções que venham a ser feitas
nessa via no momento das obras gerarão enormes prejuízos financeiros indiretos que são de
complexa quantificação. Dentre esses prejuízos, elenca-se maior consumo de combustível dos
ônibus, pois terão que alterar suas rotas (desvios de tráfego), consequente majoração na
emissão de poluentes, acréscimo no tempo de deslocamento que reflete, inclusive, na
produtividade dos trabalhadores e queda nas vendas do comércio local.
Custos diretos de construção propriamente ditos formam uma variável extremamente
importante na escolha do método, mas, se houver soluções um pouco mais caras, porém mais
produtivas, implicando em menor tempo de construção, o impacto na cidade será menor. Vale
então pagar essa diferença de custo visando reduzir o tempo da obra e seus respectivos
transtornos?
Dispêndios referentes à manutenção e durabilidade (vida útil de projeto) também devem ser
embutidos na análise dos custos indiretos da obra. A estrutura ideal é aquela que totaliza os
menores custos em toda sua vida útil, sejam custos de construção, de manutenção ou
durabilidade.
É proeminente considerar se a metodologia construtiva proposta contribuirá ou retardará o
alcance do objetivo proposto, bem como pela disponibilidade do bem pelo maior tempo para a
sociedade e se os recursos investidos trazem resultados.
O papel do gestor público então é conhecer essas variáveis e ponderar, com o auxílio de
ferramentas de gestão, como a matriz de decisão qualitativa, a representatividade e
importância de cada uma.
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4.2. Fatores técnicos
Excluídas as técnicas construtivas inviáveis para a implantação da trincheira em Ceilândia,
tais como estacas hélice contínua e estacas cravadas, ponderam-se elementos de cunho
técnico para comparação das alternativas viáveis, cuja aderência aos outros três fatores é
inerente. Melhado et al. (2002) enfatizam que para a escolha da fundação mais adequada,
deve-se conhecer os esforços atuantes sobre a edificação, as características geotécnicas do
solo, bem como dos elementos estruturais que formam as fundações. A presença de material
de 3ª categoria, por exemplo, não impede a adoção de nenhum dos quatro métodos propostos,
porém há acréscimo de custos e dilatação dos prazos de execução. No caso de Ceilândia,
conforme perfil geológico/geotécnico mostrado na Figura 6, a presença de material rochoso é
mínima, mas não descartada, uma vez que a imprevisibilidade e os riscos geotécnicos são
altos.
Outra característica local determinante para escolha do método é o uso do solo. Ceilândia é
uma cidade satélite muito adensada, não há áreas disponíveis nas proximidades para
instalação de canteiros centrais, o que minora a possibilidade de utilização de lamelas pré-
moldadas. Até mesmo a faixa de servidão metroviária é exígua, com edificações bem
próximas, o que demanda estudo logístico e de impacto de vizinhança detalhados. Verificam-
se, com esses estudos, as alternativas mais propensas a gerar o menor transtorno possível, e
até mesmo, aquelas possíveis de serem realizadas (acesso de equipamentos ao local).
4.3. Fatores sociais
Por serem executadas dentro de um sistema complexo, dinâmico e em pleno funcionamento,
que são as cidades, as obras de infraestrutura urbana, no momento de sua execução, são
geradoras de transtornos inestimáveis para a sociedade. Mesmo com melhorias para a
qualidade de vida de seus habitantes, medidas mitigadoras das adversidades são fundamentais
e necessárias para a obtenção do propósito a qual foi destinada. A escolha de estratégias
construtivas condizentes com menores impactos sociais deve ser perseguida pelo gestor
público e considerada no estudo de viabilidade.
No corrente estudo de caso, métodos que utilizam percussão, transmitindo vibrações e elevada
poluição sonora para a comunidade local, foram considerados inviáveis, não sendo objeto de
comparação. Os seguintes aspectos sociais também foram ponderados:
- industrialização do processo: quanto maior o grau de industrialização envolvido, menor a
necessidade de mão de obra braçal, a qual executa tarefas árduas, insalubres e perigosas.
Consequentemente, infere-se diminuição nos acidentes de trabalho e o tempo de execução das
obras, haja vista a produtividade ser maior;
- interferência com o trânsito e sistema viário: processos que mobilizam grandes, numerosos e
ineficazes equipamentos, inclusive com içamento e transporte de peças pré-moldadas de
grandes dimensões, tendem a agravar, no seu deslocamento, o trânsito da cidade e conturbar o
sistema viário local. Equipamentos de menor porte e maior eficiência levam vantagem nesse
ponto;
- assim como explanado no item 4.1, soluções técnicas mais produtivas, mesmo sendo mais
onerosas, podem, ao longo de sua vida útil, apresentar maior economicidade, tendo em vista
os custos indiretos envolvidos, inclusive os sociais. Por conseguinte, quanto mais produtivo o
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sistema, mais rápida será a conclusão do empreendimento, diminuindo o prazo crítico de
obras e seus respectivos prejuízos sociais, tais como segurança dos transeuntes, poluição
ambiental e interferências com edificações vizinhas.
4.4. Fatores ambientais
Associados aos outros fatores e presentes em toda etapa produtiva, os requisitos de mitigação
de danos ambientais e sustentabilidade, além de serem exigências legais (concessão das
Licenças Prévia, de Instalação e de Operação), trazem benefícios diretos para a sociedade,
tornando-se obrigatórios no estudo de viabilidade para escolha da solução construtiva.
Metodologias que demandam menores recursos naturais (insumos construtivos e combustíveis
fósseis) cujos processos racionalizam a aplicação de mão de obra e materiais, reduzindo o
desperdício, são vantajosas sob os pontos de vista ambiental, mas também do financeiro e
social.
Contudo, é consenso entre os profissionais da área que a execução de fundações é uma etapa
que gera grandes danos ambientais, uma vez que envolve alto consumo de matéria prima e
interfere no subsolo e lençol freático. Dirimir completamente esses danos, com as tecnologias
e padrões atuais, é praticamente impossível, o que não dispensa a adoção medidas mitigadoras
desses impactos. É exemplo de prática mitigadora a substituição de lama bentonítica por
fluido estabilizante com polímeros para conter as paredes laterais da escavação, uma vez que
o reaproveitamento do fluido é cerca de 5 vezes maior que o da lama, além de ser
biodegradável.
Logo, métodos construtivos que permitem melhorias em seus processos, refletindo em ganho
ambiental, devem ter suas notas para atendimento majoradas no estudo de viabilidade. No
caso em questão, os quatro tipos construtivos avaliados têm essa possibilidade, porém
diferenciam no consumo de combustíveis, dado que os métodos em lamelas pré-moldadas e
escavação com hidrofresa utilizam maior número de equipamentos motores que queimam
combustíveis fósseis.
5. Conclusão
A expansão da linha metroferroviária em Ceilândia no Distrito Federal, uma obra complexa
de infraestrutura, causará transtornos e impactos de diversas ordens, posto que será executada
em zona urbana altamente adensável.
Visando mitigar esses danos, a utilização de matriz de decisão qualitativa é um instrumento
que possibilita ao gestor público escolher o método construtivo mais vantajoso para a
sociedade e meio ambiente, implicando assim na redução dos impactos com os menores
custos. A matriz foi elaborada em função de características relevantes a serem observadas
para implantação da obra no contexto regional atual, bem como as diferenciando pelo seu
grau de importância, cujo peso varia de 1 a 5 (indiferente a importantíssimo).
No total, foram elencadas 20 características, com somatório dos pesos atingindo 76 pontos.
Desses, 36,8% se referem a aspectos técnicos (itens 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11 e 13 da matriz
constante no Anexo 1), 29,0% a fatores sociais (itens 14, 15, 16, 17 e 18), 25,0% a aspectos
econômico-financeiros (itens 1, 2, 3, 6 e 12), e 9,2% a motivos ambientais (itens 19 e 20).
Com esses dados, destaca-se a representatividade dos fatores sociais para a escolha da
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metodologia construtiva, que, no caso da construção da trincheira em Ceilândia, foi superior
aos fatores econômico-financeiros.
Foram estudados então apenas os métodos construtivos viáveis, principalmente do ponto de
vista técnico e social, para comparação. No caso em questão, foram observadas quatro
soluções: alternativa 1 – parede diafragma em lamelas pré-moldadas e escavação com
clamshell mecânico; alternativa 2 – Contenções laterais em estacas de grande diâmetro
(estacões) justapostos espaçados com arco de concreto projetado; Alternativa 3 – Parede
diafragma em lamelas moldadas in loco e escavação com hidrofresa; e Alternativa 4 – Parede
diafragma em lamelas moldadas in loco e escavação com clamshell hidráulico.
A correspondência entre esses métodos construtivos e as características importantes para a
obra, visando a escolha da solução mais vantajosa, foi realizada com a atribuição de notas
para atendimento a cada uma das características, para cada tipologia construtiva. Essas notas
variam de 1 (não atende) a 10 (atende com méritos). Atribuídas essas notas, o resultado final
foi obtido, para cada alternativa, por meio de média ponderada. Os resultados apontaram que
a alternativa 2 obteve a maior média, com 6,24, sendo a mais viável para o cenário em
questão. Foi seguida pela alternativa 3, com 5,51 pontos, alternativa 4, com 5,28 pontos e por
último alternativa 1, com 4,13 pontos.
Conclui-se que a hipótese levantada se confirmou para o estudo de caso em questão, ou seja,
que o método mais barato (alternativa 4) não foi o mais vantajoso para a sociedade e meio
ambiente (alternativa 2), uma vez que fatores técnicos, sociais e ambientais, conjugados aos
quesitos econômico-financeiros, expressam considerável representatividade para um
empreendimento público, e não apenas os custos envolvidos.
Para outros casos de análise de viabilidade de métodos construtivos, inclusive em outras áreas
da Engenharia, a matriz de decisão qualitativa é um instrumento útil para definição dos
sistemas mais vantajosos, para além dos mais baratos, porém é necessário que as variáveis
relevantes sejam analisadas caso a caso, demandando assim outras pesquisas para se
estabelecer um referencial mais representativo.
Referências
ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6122: Projeto e
Execução de Fundações. Rio de Janeiro, 1996.
ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6118: Projeto de
Estruturas de Concreto. Rio de Janeiro, 2003.
ABEF, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EMPRESAS DE ENGENHARIA DE
FUNDAÇÕES E GEOTECNIA. Manual de Especificações e Procedimentos ABEF. São
Paulo, 2004.
EDITORA PINI. Revista Téchne. Edição 200. São Paulo, 2013.
ENGEVIX ENGENHARIA S/A. Projeto Básico de Engenharia da Expansão da Linha 1
do Metrô do Distrito Federal. Brasília, 2014.
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FRANÇA, Danilo Costa de. Provas de carga estáticas instrumentadas em profundidade
em estacas escavadas de grande diâmetro (Estacões). São Paulo, 2011.
HACHICH, Waldemar; FALCONI, Frederico F.; SAES, José Luiz; FROTA, Régis G. Q.;
CARVALHO, Celso S.; NIYAMA, Sussumu. Fundação Teoria E Prática. 2ª edição. São
Paulo: Editora Pini, 1998.
MELHADO Silvio Burrattino et al. Fundações. São Paulo: Escola Politécnica Da
Universidade de São Paulo, 2002.
PRIORI JUNIOR, L; MENEZES, J.R.R.; GUEDES, R.; NETO, S.B.F. Construção
Sustentável: Potencialidades e desafios para desenvolvimento sustentável na construção
civil. 22ª edição. Recife: Editora Brascolor, 2008.
SILVA, V.G. Avaliação da sustentabilidade de edifícios de escritórios brasileiros:
diretrizes e base metodológica. Tese de Doutorado. Escola Politécnica da USP, São Paulo,
2003.
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Item Características importantes para a
implantação da obra
Relevância (Peso): de 1
a 5 pela importância
para a obra
Mérito da metodologia construtiva: Nota para atendimento de 1 a 10
Alternativa 1 Alternativa 2 Alternativa 3 Alternativa 4
Parede diafragma em
lamelas pré-moldadas
e escavação com
clamshell mecânico
Contenções laterais
em estacas de grande
diâmetro (estacões)
justapostos espaçados
com arco de concreto
projetado
Parede diafragma em
lamelas moldadas in
loco e escavação com
hidrofresa
Parede diafragma em
lamelas moldadas in
loco e escavação com
clamshell hidráulico
1 Custos de implantação Importante 3 Atende inferior 3 Atende 5 Atende inferior 3 Atende superior 8
2 Produtividade, implicando em
menores prazos de execução Importantíssimo 5 Atende inferior 3
Atende com
mérito 10
Atende com
mérito 10 Atende 5
3
Racionalidade logística (canteiro de
obra menor, reduzida equipe de apoio
e produção, efetivo controle
tecnológico, planejamento adequado)
Importante 3 Atende inferior 3 Atende com
mérito 10 Atende 5 Atende superior 8
4 Mitigação de atrasos no cronograma
por conta de fatores imprevisíveis Muito importante 4 Atende inferior 3 Atende 5 Atende 5 Atende inferior 3
5
Possibilidade de execução em
diferentes tipos de solo (não coesivo,
rochoso, etc.)
Importantíssimo 5 Atende inferior 3 Atende com
mérito 10
Atende com
mérito 10 Atende inferior 3
6 Disponibilidade de equipamentos na
região Importantíssimo 5 Atende 5 Atende 5 Atende inferior 3 Atende 5
7 Acessibilidade de equipamentos no
local das obras Importantíssimo 5 Atende inferior 3 Atende superior 8 Atende inferior 3 Atende inferior 3
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Matriz de decisão qualitativa para escolha do método construtivo de contenções – Estudo de caso na implantação
da expansão do Metrô em Ceilândia dezembro/2014
ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 8ª Edição nº 009 Vol.01/2014 dezembro/2014
8
Alto grau de industrialização e
mecanização, dispensando parte da
mão de obra para tarefas árduas,
insalubres e de risco elevado
Muito importante 4 Atende superior 8 Atende superior 8 Atende superior 8 Atende superior 8
9
Possibilidade de refazimento durante a
obra, visando atender o controle
tecnológico de qualidade
(verticalidade, prumo, cotas)
Importante 3 Atende inferior 3 Atende 5 Atende inferior 3 Atende inferior 3
10 Qualidade do produto acabado
(acabamento superficial, estética) Pouco importante 2
Atende com
mérito 10 Não atende 1
Atende com
mérito 10
Atende com
mérito 10
11 Desempenho e durabilidade da
construção Importante 3 Atende superior 8 Atende superior 8 Atende superior 8 Atende superior 8
12 Manutenibilidade pós obra Importante 3 Atende superior 8 Atende 5 Atende superior 8 Atende superior 8
13 Possibilidade de alterações e
modificações pós obra Pouco importante 2 Atende inferior 3 Atende 5 Atende inferior 3 Atende inferior 3
14 Menor interferência possível com o
sistema viário local durante as obras Importante 3 Não atende 1 Atende inferior 3 Atende inferior 3 Atende inferior 3
15 Reduzidos impactos no trânsito da
cidade durante as obras Muito importante 4 Atende inferior 3 Atende inferior 3 Atende inferior 3 Atende inferior 3
16 Mínimas interferências com
edificações vizinhas Importantíssimo 5 Atende 5 Atende 5 Atende 5 Atende 5
17
Minoração do impacto na vizinhança
(ruídos, poluição visual, necessidade
de desvios de tráfego de veículos e de
pedestres)
Importantíssimo 5 Atende inferior 3 Atende 5 Atende inferior 3 Atende 5
18 Segurança do trabalhador e população
próxima Importantíssimo 5 Atende inferior 3 Atende superior 8 Atende superior 8 Atende superior 8
19 Mitigação dos impactos ambientais Muito importante 4 Atende 5 Atende 5 Atende 5 Atende 5
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Matriz de decisão qualitativa para escolha do método construtivo de contenções – Estudo de caso na implantação
da expansão do Metrô em Ceilândia dezembro/2014
ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 8ª Edição nº 009 Vol.01/2014 dezembro/2014
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Eficiência na aplicação de materiais e
mão de obra, implicando em menores
desperdícios
Importante 3 Atende inferior 3 Atende 5 Atende inferior 3 Atende 5
Média ponderada = (Peso x Nota) /
Peso Peso = 76 4,13 6,24 5,51 5,28
Anexo 1 – Matriz de decisão qualitativa