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MASTECTOMIA REDUTORA DE RISCO NA PREVENÇÃO DO CÂNCER DE MAMA Belo Horizonte Revisão agosto de 2014

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MASTECTOMIA REDUTORA DE RISCO NA PREVENÇÃO

DO CÂNCER DE MAMA

Belo Horizonte

Revisão agosto de 2014

2

Instituições parceiras:

Associação dos Hospitais de Minas Gerais – AHMG

Associação Médica de Minas Gerais – AMMG

Instituto de Previdência dos Servidores do Estado de Minas Gerais – IPSEMG

Federação Interfederativa das Unimeds do Estado de Minas Gerais

Federação Nacional das Cooperativas Médicas – FENCOM

Contato: [email protected]

Declaração de Potenciais Conflitos de Interesse

Nenhum dos autores recebe qualquer patrocínio da indústria ou participa de qualquer entidade de

especialidade ou de pacientes que possa ser incluída como conflito.

3

RESUMO

Este Parecer Técnico-Científico (PTC) foi elaborado pelo Grupo de Avaliação de Tecnologias em Saúde da Unimed-

BH para avaliar as evidências científicas disponíveis atualmente acerca da eficácia e segurança da utilização da

mastectomia“profilática“ na reduçãode risco do câncer de mama.

INTRODUÇÃO

Câncer de mama é o câncer mais comum e a segunda maior causa de morte por câncer no mundo. Seu risco

aumenta muito nos portadores de mutações dos genes BRCA1 e BRCA2 e outras em estudo. Mastectomia em

pacientes de alto risco é uma alternativa profilática que tem sido cada vez mais utilizada nos últimos anos. Seu

risco-benefício é controverso pela desvantagem de ser um procedimento invasivo e mutilante. Enquanto o

tratamento cirúrgico do câncer de mama opta pela conservação da mama, a prevenção propõe a sua amputação.

Tratamentos profiláticos menos invasivos incluem quimioprofilaxia, contraceptivos orais, monitorização com

exames de imagens eooforectomia.

OBJETIVO

Essa revisão procurou avaliar a eficácia e a segurança da mastectomia redutora de risco para câncer de mama.

MÉTODO

Foram selecionadas quatro revisões sistemáticas avaliando o resultado da mastectomia redutora de risco na

prevenção do câncer de mama. Buscaram-se ensaios clínicos publicados depois da data da última revisão, que

foi atualizada em 2011. Na falta de estudos randomizados, foram utilizados os estudos populacionais e estudos

de casos.

RESULTADOS

Mastectomia profilática bilateral - Foram observados benefícios na utilização da mastectomia redutora de risco

bilateral para a prevenção do câncer de mama em mulheres com mutação BRCA1 e 2 em estudos de fraca

qualidade metodológica. A época adequada para sua realização e qual paciente tem maior chance de se

beneficiar não está definida. As pacientes devem ser informadas das outras opções de prevenção e participar da

decisão.

Mastectomia redutora de risco da mama contralateral - Não foram observados benefícios significativos na

realização da mastectomia contralateral para prevenção da recidiva do câncer de mama. As pacientes, com alto

risco familiar de câncer de mama deveriam ser informadas de que o procedimento poderá diminuir o risco de

metástase a distância, mas não altera a sobrevida. Pacientes, sem risco familiar aumentado, deveriam ser

orientadas a não realizar o procedimento. Outras características que aumentam o risco de metástase a distância,

como fatores étnicos e estágio do tumor, deverão ser melhor estudados antes de se recomendar

mastectomiaredutora de risco contralateral.

4

RECOMENDAÇÕES

Mastectomia redutora de risco bilateral –

Não está indicada em pacientes sem risco familiar aumentado para câncer de mama.

Pode ser benéfica em pacientes com risco familiar aumentado, porém as evidências disponíveis são de fraca

qualidade.

Mastectomia redutora de risco da mama contralateral –

Pacientes sem risco familiar aumentado para câncer de mama devem ser orientadas contra a realização do

procedimento.

Pacientes com alto risco familiar devem ser informadas de que o procedimento poderá diminuir o risco de

metástase a distância, mas não altera a sobrevida.

5

SUMÁRIO

CONTEXTO ................................................................................................................................ 6

PERGUNTA ................................................................................................................................ 6

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................... 6

ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS, DEMOGRÁFICOS E SOCIAIS ......................................................... 6

DESCRIÇÃO DA TECNOLOGIA A SER AVALIADA E ALTERNATIVAS TERAPÊUTICAS ........................ 8

MASTECTOMIA REDUTORA DE RISCO ...................................................................................... 8

ALTERNATIVAS TERAPÊUTICAS ................................................................................................. 8

MÉTODO PARA ELABORAÇÃO DO PARECER TÉCNICO-CIENTÍFICO ............................................... 8

Bases de dados e estratégia de busca ........................................................................................... 8

CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E EXCLUSÃO DE ARTIGOS ...................................................................... 9

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA EVIDÊNCIA .................................................................................. 9

RESULTADOS........................................................................................................................... 11

REVISÕES SISTEMÁTICAS E METANÁLISES .................................................................................. 11

COORTES E SÉRIES DE CASOS ...................................................................................................... 16

MASTECTOMIA REDUTORA DE RISCO BILATERAL .................................................................. 16

MASTECTOMIA REDUTORA DE RISCO CONTRALATERAL ....................................................... 17

RECOMENDAÇÕES .................................................................................................................. 21

REFERÊNCIAS .......................................................................................................................... 22

6

CONTEXTO

Este Parecer Técnico-Científico (PTC) foi elaborado pelo Grupo de Avaliação de Tecnologias em Saúde da

Unimed-BH para avaliar as evidências científicas disponíveis atualmente acerca da eficácia e da segurança da

tecnologia em questão, visando ao bem comum e à eficiência do Sistema de Saúde.

Este PTC tem a finalidade de subsidiar a tomada de decisão dos gestores em saúde como subsídio para fins

de incorporação.

PERGUNTA

O objetivo deste PTC é analisar as evidências científicas disponíveis atualmente sobre a eficácia e a segurança

da mastectomia redutora de risco para câncer de mama, quando comparada a outras técnicas de prevenção.

Para sua elaboração, estabeleceu-se a seguinte pergunta, cuja estruturação encontra-se apresentada no

quadro 1:

Quadro 01. Pergunta estruturada para elaboração do PTC

População Pacientes com câncer de mama.

Intervenção (tecnologia) Mastectomia profilática (redutora de risco).

Comparação Rastreamento com mamografia ou ressonância magnética, ooforectomia profilática, quimioprofilaxia.

Parâmetros Eficácia e segurança

Desfechos (resultados em saúde) Maior sobrevida, melhor qualidade de vida

PERGUNTA:

A mastectomia redutora de risco é um tratamento seguro e eficaz para a prevenção do câncer de mama?

INTRODUÇÃO

ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS, DEMOGRÁFICOS E SOCIAIS

Câncer de mama é o câncer mais comum e a segunda maior causa de morte relacionada ao câncer no mundo.

Para o Brasil, em 2014, são esperados 57.120 casos novos de câncer de mama, com um risco estimado de

56,1 casos a cada 100 mil mulheres.1

Avanços recentes no conhecimento genético do câncer de mama levaram a um interesse progressivo na

prevenção da doença com a identificação de mulheres com alto risco genético. Aproximadamente 7% dos

casos de câncer de mama têm origem genética2. Mastectomia redutora de risco é uma das alternativas

disponíveis de prevenção.3

O risco de desenvolver câncer de mama ou de ovário aumenta muito em portadores de mutações dos genes

BRCA1 e BRCA2, que são genes humanos pertencentes a uma classe supressora de tumor, e sua frequência

na população geral é estimada em 1/300 indivíduos. Em condições normais, esses genes ajudam a garantir

a estabilidade do material genético da célula (DNA) e a impedir o crescimento celular descontrolado. Em

7

famílias do Leste europeu, a frequência chega a 1/40. Testes genéticos estão disponíveis para diagnosticar

mutações de BRCA1 e BRCA2. A figura 1 compara a percentagem de risco por idade na população geral e

em portadores da mutação BRCA 1 para o câncer de mama e de ovário.4

Figura 01. Risco relacionado à idade para câncer de mama e ovário associados à mutação BRCA1.

Fonte: Shulman L.P.4

Em 2001, surgiram evidências de que a mastectomia redutora de risco poderia reduzir, de forma importante,

o risco de câncer de mama associado ao BRCA. Nos anos subsequentes, a salpingo-ooforectomia preventiva

mostrou não somente diminuir o risco de câncer ginecológico associado ao BRCA, como diminuir o risco de

câncer de mama quando realizado na pré-menopausa. Desde que esses estudos foram publicados, vários

outros avaliaram os resultados das cirurgias preventivas, mas não ficou muito claro o impacto da

intervenção da mastectomia sobre a mortalidade.5

Por outro lado, a mastectomia redutora de risco não é a única opção para pacientes com alto risco para

câncer de mama. Outras opções possíveis incluem quimioprofilaxia com tamoxifeno, contraceptivos orais,

monitorização frequente com exames de imagens ou ooforectomia.3 Na década passada, o avanço mais

importante não-cirúrgico na redução do risco de câncer de mama em portadores de mutações do BRCA foi o

advento da ressonância magnética, que parece detectar duas vezes mais câncer quando associada à

mamografia, em comparação com a mamografia isolada, resultando em detecção precoce da doença em

75% a 94% dos casos.6

Devido à natureza drástica e irreversível da mastectomia, é essencial que sua escolha seja acompanhada de

consentimento informado a respeito dos riscos e benefícios do procedimento e das alternativas possíveis.5

8

DESCRIÇÃO DA TECNOLOGIA A SER AVALIADA E ALTERNATIVAS TERAPÊUTICAS

MASTECTOMIA REDUTORA DE RISCO

Mastectomia redutora de risco é uma das alternativas propostas com finalidade preventiva primária em

mulheres com alto risco genético de câncer, assim como aquelas que tiveram câncer contralateral

(mastectomia contralateral).3

As indicações para mastectomia redutora de risco incluiriam microcalcificações difusas, câncer de mama

contralateral, história familiar consistente, tecido mamário denso especialmente em mulheres com história

familiar ou pessoal de câncer de mama e mutação em BRCA1 e BRCA2.7

Como medida preventiva, a mastectomia redutora de risco permanece controversa. O benefício potencial de

redução do risco é acompanhado da desvantagem de um procedimento invasivo, com consequente

morbidade. Enquanto o tratamento cirúrgico do câncer de mama procura técnicas cada vez menos radicais,

com a maioria das mulheres optando pela conservação da mama, a prevenção propõe a sua amputação. 3

A mastectomia não retira todo o tecido mamário e não elimina totalmente o risco de câncer de mama, além

de poder causar morbidades e afetar a qualidade de vida da mulher.3

Não existe teste que determine qual mulher com alto risco genético vai desenvolver a doença, e a

mastectomia poderá ser feita desnecessariamente em algumas pacientes.3

ALTERNATIVAS TERAPÊUTICAS

O rastreamento com mamografia e ressonância magnética, ooforectomia profilática, quimioprofilaxia com

tamoxifeno, contraceptivos orais são alternativas para a mastectomia.

MÉTODO PARA ELABORAÇÃO DO PARECER TÉCNICO-CIENTÍFICO

Bases de dados e estratégia de busca

Foi realizada uma ampla busca nas bases The Cochrane Library (via Bireme), Medline (via Pubmed), CRD

(Centre for Reviews and Dissemination), Tripdatabase, Scielo (via Bireme) e Lilacs (via Bireme), objetivando-

se encontrar revisões sistemáticas ou, na falta dessas, ensaios clínicos randomizados, considerando-se as

evidências científicas de melhor qualidade.

Utilizamos artigos publicados em inglês e português, nos últimos 15 anos.

Os termos utilizados nas buscas e os números de referências encontrados, selecionados e disponíveis estão

apresentados na tabela a seguir.

9

Tabela 01. Pesquisa em bases de dados eletrônicas realizada em 07/2011

Base Termos Resultados Referências

selecionadas Referências

utilizadas The Cochrane Library (via Bireme)

"prophylactic mastectomy"

3 1 1

Medline(via Pubmed)

"prophylactic mastectomy"published

last 5 years 140 40 10

Tripdatabase "prophylactic mastectomy"

295 6 0

Centre for Reviews and Dissemination

"prophylactic mastectomy"

23 3 0

Scielo(via Bireme) "prophylactic mastectomy"

0 0 0

Lilacs(via Bireme) Mastectomia

profilática 12 2 0

Busca manual "prophylactic mastectomy"

1 1 1

CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E EXCLUSÃO DE ARTIGOS

Foram selecionadas quatro revisões sistemáticas, avaliando o resultado da mastectomia redutora de risco na

prevenção do câncer de mama. Buscaram-se ensaios clínicos publicados depois da data da última revisão,

que foi atualizada em 2011. Na falta de estudos randomizados, foram utilizados os estudos populacionais e

estudos de casos.

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA EVIDÊNCIA

Para a avaliação da qualidade da evidência apresentada, utilizaram-se os modelos para avaliação da

qualidade de revisões sistemáticas e ensaios clínicos randomizados propostos por Guyatt e colaboradores.

Apresenta-se o resultado da avaliação da qualidade dessas evidências nas tabelas 2,3 e 4.

10

Tabela 02. Resultado da avaliação da qualidade da revisão sistemática incluída no PTC

Estudo Busca No de

estudos incluídos

Qualidade dos estudos primários

Avaliação Perfil dos

participantes Intervenção

Conflitos de

interesse

Calderon-Margalit R,

e col.2

MEDLINE, Pubmed(1998-

2004)

14 14 estudos

observacionais Não

informado

Mulheres com mutação BRCA1 e BRCA2

Mastectomia

profilática, ooforectomia profilática, screening seriado quimio-

prevenção

Os autores declararam não haver

conflitos de interesse.

Lostumbo L. e col3

MEDLINE, Cancerlit, the

Cochrane

Library Central

Register of Controlled

Trials, Embase,WHO ICTRP (1974 a

2006)

55

6 estudos prospectivos

13 estudos

etrospectivos, 26 séries de

casos, 2 relatos de

casos

Cada estudo

foi avaliado de forma

independente

por 2 autores

Mulheres com

alto risco de câncer de

mama

Mastectomia

profilática bilateral ou contralateral

Os autores

declararam não haver

conflitos de

interesse.

Kurian A.W.

et al.7

Metanálise Busca não informada

64

2 metanálises, 62 estudos

coortes prospectivos

Foi feita uma análise de sobrevida

utilizando os dados obtidos

Mulheres com mutação

BRCA1 e BRCA2

Mastectomia profilática,

ooforectomia profilática,

screening seriado quimio-

prevenção

Os autores declararam não haver

conflitos de interesse.

Fayanju

O.M. et al.9

MEDLINE,

Cancerlit, the Cochrane

Library Central Register of

Controlled Trials,

Embase,WHO ICTRP (1974 a

2012)

14 ERC e

observacio-nais

Dois avaliadores

independentes

Pacientes portadoras de

câncer de mama

unilateral

Mastectomia profilática

contralateral

Os autores declararam não haver

conflitos de interesse.

Fonte: Adaptado de Guyatt&Rennie, 2006. ERC – estudo randomizado controlado

Tabela 03. Resultado da avaliação da qualidade de coortes e séries de casos de mastectomia redutora de

risco, incluídos no PTC

Estudo Perfil dos pacientes Pacientes incluídos

(n) Intervenção

Conflitos de

interesse

Kaas S. et al.9

Mulheres portadoras de mutação BRCA 1 ou 2

submetidas à mastectomia

redutora de risco bilateral ou contralateral.

254 Estudo

retrospectivo Não declarado

11

Arver et al 10

Mulheres submetidas a

tratamento cirúrgico de câncer de mama que

optaram por mastectomia redutora de risco

contralateral.

223 Estudo

retrospectivo

Os autores declararam não

haver conflitos de interesse.

Damle S. e col. 15

Mulheres submetidas a tratamento cirúrgico de câncer de mama que

optaram por mastectomia redutora de risco

contralateral.

78 Estudo

retrospectivo

Os autores declararam não

haver conflitos de interesse.

RESULTADOS

REVISÕES SISTEMÁTICAS E METANÁLISES

Prevention of breast cancer in women who carry BRCA1 or BRCA2 mutations: a critical review of the

literature.Calderon-Margalit R, Paltiel O.2

Calderon–Margalit e Paltier fizeram uma revisão sistemática dos estudos publicados no período de 1997 a

2004, comparando as várias alternativas de prevenção do câncer de mama relacionado às mutações de

BRCA1 e BRCA 2.

Foram incluídos 14 estudos avaliando medidas de vigilância, mastectomia redutora de risco, tamoxifeno,

ooforectomia profilática isolada e associada ao tamoxifeno, entre estudos retrospectivos, séries de casos,

coortes e estudos randomizados.. A mastectomia redutora de risco (três estudos incluídos, todos

observacionais, tempo de acompanhamento de 3 a 14 anos) pareceu ser a medida mais eficaz, com uma

redução do risco relativo de 80% a 100%.

Os autores comentaram que nenhum dos estudos incluídos avaliou eficácia e efetividade para desfechos

clínicos, como mortalidade, estágio do câncer ou qualidade de vida.

Conclusão: Os autores concluíram que, apesar dos dados favoráveis à mastectomia redutora de risco, a

qualidade dos estudos não permitiu concluir que esta seja a medida mais eficaz de profilaxia e que serão

necessários maiores estudos incluindo intervenções alternativas para possibilitar uma escolha adequada da

melhor estratégia.2

Prophylactic mastectomy for the prevention of breast cancer. Lostumbo L. e col.3

Liz Lostumbo e colaboradores atualizaram em 2010 uma revisão sistemática e metanálise para determinar

se a mastectomia redutora de risco reduziu a taxa de mortalidade relacionada a câncer de mama em

mulheres que nunca tiveram câncer ou com câncer de mama unilateral. Não foram encontrados estudos

randomizados e foram incluídos 39 estudos de coorte e séries de casos. Foram incluídos dezesseis novos

estudos publicados desde a última revisão, porém não houve mudança na conclusão.

Em 20 estudos, foram incluídos apenas pacientes submetidos à mastectomia redutora de risco bilateral.

Desfechos considerados:

Mortalidade: Quatro estudos avaliaram mortalidade na mastectomia bilateral. No estudo de Meijers-

Heijboer 2001, em pacientes BRCA positivo, ocorreu uma morte em acompanhamento de três anos no grupo

12

vigilância (1/63) e nenhuma morte no grupo mastectomia redutora de risco (0/76). Hartmann 1999b

acompanhou 639 mulheres durante 14 anos, sendo 214 de alto risco. Ocorreram duas mortes pela doença

no grupo mastectomia bilateral e 90 em irmãs das pacientes. Em 425 pacientes de risco moderado, não

ocorreu nenhuma morte.

Incidência: Dez estudos avaliaram a incidência de câncer de mama em mulheres submetidas à mastectomia

bilateral.

A tabela 4 mostra os resultados dos estudos que avaliaram a incidência de câncer de mama após a

mastectomia bilateral.

Tabela 04. Incidência de câncer de mama após mastectomia redutora de risco bilateral

Autor Pacientes incluídas Incidência Tempo de

acompanhamento

Borgen 1998 BRCA não especificado 3/370 14,8 anos

Contant 2002 BRCA positivo 0/79 2,5 anos

Evans 1999 BRCA não especificado 0/400 mulheres ano 2,2 anos

Geiger 2005 BRCA não especificado 1/276 10,3 anos

Hartmann 1999b BRCA positivo 3/214 14 anos

Hartmann 2001 BRCA positivo 0/26 14 anos

Horton 1978 BRCA não especificado 0/93 3,1 anos

Meijers- Heijboer

2001 BRCA não especificado 0/73 3,0±1,5

Mulvihill 1982 BRCA não especificado 0/9 1 a 12 anos

Rebbeck 2004 BRCA positivo 2/102 5,5 anos

Adaptado de Lostumbo3

Os estudos demonstraram diminuição na incidência e morte por câncer de mama para mastectomia

preventiva bilateral, com OR de 3,24(1,09 a 9,65) e p=0,03.

Os autores apontaram para a qualidade fraca dos estudos incluídos na análise da mastectomia redutora de

risco bilateral. Principalmente em estudos mais antigos, podem ter sido incluídos pacientes normais e de

baixo risco. O tempo de acompanhamento foi menor que cinco anos em vários estudos, o que coloca em

dúvida seus dados. Muitos estudos não tiveram grupo de comparação.

Em 12 estudos, foram incluídos apenas pacientes submetidos à mastectomia redutora de risco contralateral.

DESFECHOS CONSIDERADOS

Os estudos demonstraram diminuição na incidência e morte por câncer de mama para mastectomia

preventiva contralateral com OR de 3,82(1,35 a 10,81) e p=0,01.

O estudo de Herrinton 2005 mostrou melhora significativa de incidência e mortalidade no grupo submetido

à mastectomia contralateral, quando comparado ao grupo que não foi submetido ao procedimento.

O estudo van Sprundel 2005 comparou as pacientes submetidas à mastectomia contralateral e à

mastectomia contralateral associada à ooforectomia e observou resultados significativamente melhores em

pacientes submetidas aos dois procedimentos. O mesmo achado foi relatado por Metcalfe 2004.

13

O estudo de Peralta 2000 fez o ajuste dos grupos por fatores prognósticos e não encontrou melhora na

sobrevida global após 15 anos de acompanhamento. No estudo de subgrupos, houve melhor sobrevida

apenas em pacientes com doença em estágio inicial.

Portanto, a maioria dos estudos falhou no controle de fatores prognósticos associados ao câncer de mama.

Conclusão: Os autores concluíram que a ciência está longe de predizer com exatidão quem vai desenvolver

ou morrer de câncer de mama.

A mastectomia redutora de risco contralateral mostrou redução da mortalidade, mas não pôde prever que

tipo de paciente se beneficiou com essa medida. 3

Survival Analysis of Cancer Risk Reduction Strategies for BRCA1/2 Mutation Carriers.Kurian A. e col.7

Kurian e colaboradores, em 2009, realizaram uma análise de sobrevivência para portadores de mutação em

BRCA 1 e BRCA 2 submetidos a estratégias de profilaxia de câncer de mama. A tabela 5 discrimina as

estratégias de diminuição de risco isoladas e combinadas para portadores de mutação BRCA1 com o ganho

absoluto de sobrevida em cada uma, em relação à sobrevivência aos 70 anos. A tabela 6 discrimina as

estratégias de diminuição de risco isoladas e combinadas para portadores de mutação BRCA2 com o ganho

absoluto de sobrevida em cada uma, em relação à sobrevivência aos 70 anos.8

Tabela 05. Ganho de sobrevida aos 70 anos nas intervenções em portadores de mutação de BRCA1

Estratégia isolada Ganho

absoluto Estratégia associada

Ganho

absoluto

Ooforectomia profilática aos 40 anos

15% Mastectomia redutora de risco aos 25 anos e ooforectomia profilática aos 40 anos.

26%

Ooforectomia profilática aos

50 anos 8%

Mastectomia e ooforectomia profilática aos 40 anos + screening entre 25 e 39 anos

24%

Mastectomia redutora de risco aos 25 anos

13% Screening entre 25 e 69 anos + ooforectomia profilática aos 40 anos

21%

Mastectomia redutora de risco aos 40 anos

11%

Ressonância magnética e

mamografia entre 26 e 69 anos

6%

Fonte: Kurian et al.7

Tabela 06. Ganho de sobrevida aos 70 anos nas intervenções em portadores de mutação de BRCA 2.

Estratégia isolada Ganho

absoluto Estratégia associada

Ganho

absoluto

Mastectomia redutora de risco aos 25 anos

8% Ressonância magnética anual + ooforectomia aos 40 anos.

26%

Fonte: Kurian et al.7

14

Figura 01. Probabilidade de sobrevivência em relação à idade em mulheres com e sem mutação de

BRCA1(A) e BRCA 2 (B) em diferentes estratégias de redução de risco.OP – oofrectomia profilática,MP-

mastectomia redutora de risco,SC- screening de 25 a 69 anos. Fonte:Kurian et al.7

Para portadores da mutação em BRCA 1, a intervenção isolada mais efetiva foi a ooforectomia profilática aos

40 anos, o que representou um ganho absoluto de 15% comparado à não intervenção. A mastectomia

redutora de risco aos 25 anos ofereceu um ganho de 13%, enquanto sua realização aos 40 anos aumentou o

ganho de sobrevida em apenas 2%. A realização exclusiva de ressonância magnética e mamografia entre 26

e 69 anos teve o pior ganho (6%).

A estratégia conjunta mais efetiva foi mastectomia redutora de risco aos 25 anos e ooforectomia profilática

aos 40 anos, com um ganho de sobrevida de 26% aos 70 anos, quando comparada à não intervenção.

A substituição da mastectomia redutora de risco pela ressonância magnética anual associada à ooforectomia

aos 40 anos levou a um acréscimo na sobrevida de apenas 3% a 5%, uma informação que deverá ser útil no

futuro para auxiliar as portadoras de mutação do BRCA2 na escolha da estratégia de prevenção.7

Pro

babili

dade d

e s

obre

viv

ência

%

Pro

babili

dade d

e s

obre

viv

ência

%

Idade (anos)

Idade (anos)

Sem intervenção

Sem OP, sem MP, SC

Sem MP, OP aos 40 anos, sem SC

Sem MP, OP aos 40 anos, SC

MP e OP aos 40 anos, SC

MP aos 25 anos, OP aos 40 anos

Sem mutação BRCA

Sem intervenção

Sem OP, sem MP, SC

Sem MP, OP aos 40 anos, sem SC

Sem MP, OP aos 40 anos, SC

MP e OP aos 40 anos,SC

MP aos 25 anos,OP aos 40 anos

Sem mutação BRCA

15

Contralateral Prophylactic Mastectomy After Unilateral Breast Cancer: A Systematic Review and Meta-

analysis. Fayanju O.M.e col.8

Fayanju e colaboradores realizaram revisão sistemática e metanálise recente de estudos que avaliaram a

mastectomia redutora de risco (profilática) contralateral (MPC) em câncer de mama. Foram incluídos na

metanálise 14 estudos randomizados ou não.

A tabela 7 mostra as características dos estudos incluídos.

Tabela 07. Estudos incluídos na metanálise (Fayanju e col. 2014)

Autor Tipo de estudo MPC (n); tempo de acompanhamento

Sem intervenção(n); tempo de

acompanhamento

Babieraet al 1997 retrospectivo 18; 52 meses 115; 70 meses

Bedrosianet al 2010 retrospectivo 8748; 47 meses 95283; 47 meses

Bougheyet al 2006 retrospectivo 382; não informado -----

Bougheyet al 2010 caso-controle 385; 18 anos 385; 16,4 anos

Goldflamet al 2004 série de casos 239; 7,8 anos -----

Herrintonet al 2005 retrospectivo 908; 5,7 anos 46368; 4,8 anos

Kielyet al 2011 prospectivo 154; 8 anos 864;11,7 anos

King et al 2011 retrospectivo 407;4,4 anos 2572; 6,8 anos

King et al 2011 série de casos 407; 4,4 anos -----

McDonnellet al 2001 série de casos 745; 10 anos -----

Metcalfeet al 2004 retrospectivo 146; 9,2 anos 336; 9,2 anos

Montgomery et al 1999 amostra de conveniência 296; 4,9 anos ----

Peralta et al 2000 retrospectivo 64; 6,8 anos 182; 6,8 anos

Van Sprundelet al 2005 retrospectivo 79;7,4 anos 69; 10,5 anos

Fonte: Fayanju e col. 20148

A sobrevida global foi avaliada em seis estudos (MPC=10.666, Não MPC = 145.490); e foi significativamente

maior no grupo MPC [RR =1,09 (IC 95%: 1,06, 1,11, P <0,001)], e sete pacientes a mais em 100 deverão

sobreviver se receberem MPC.

A mortalidade específica por câncer de mama foi avaliada em quatro estudos (MPC=10.120 e não

MPC=142.105). Os pacientes submetidos à MPC apresentaram mortalidade 31% menor por câncer de mama

[RR=0,69(IC 95% 0,56, 0,85, P=0,001)]. Para cada 100 mulheres com câncer de mama unilateral, no grupo

submetido à MPC, é esperado que três a quatro pacientes a mais não morram de câncer de

mama.[RD1=−3,5% (IC 95%−4,0 a -3,0%, P <0,001)].

A recorrência de metástase a distância foi avaliada em cinco estudos (MPC=953, não MPC= 3.323), sendo

observada incidência 36% menor nos pacientes submetidos à MPC[RR = 0,64 (IC 95% 0,51a 0,81, P <0,001)],

e foi esperado que aproximadamente cinco mulheres a mais em cada 100 não terão metástases a distância

como procedimento. Apenas dois estudos alcançaram diferença estatística entre as intervenções, porém o

1 RD = diferença de risco

16

estudo de King e colaboradores observou que, ao corrigir a amostra para idade e tratamentos recebidos, a

diferença entre os grupos não foi significativa.

A análise estratificada para risco genético/familiar foi feita unindo os estudos Metcalfe e Van Sprundel, que

incluíram apenas pacientes com mutação de BRCA 1 e 2 e os estudos Boughey e Kiely, que incluíram apenas

pacientes com história familiar para câncer de mama. O risco de metástase a distância não diminuiu

significativamente em pacientes com alto risco familiar [RR = 0,66 (IC 95%: 0,27, 1,64, P = 0,283); RD = −4,2%

(IC 95%: −9,5%, 1,1%, P = 0,123), mas, para pacientes com todos os níveis de risco familiar, a MPC continuou

associada com diminuição de metástases a distância [RR = 0,63 (IC 95%: 0,56 a 0,70, P <0,001); RD = −3,5%(IC

95%: −4,0% a −3,0%, P <0,001).

Os autores comentaram que a MPC diminuiu o risco de metástase a distância em pacientes com mutação de

BRCA e história familiar de câncer de mama, mas que, mesmo nesse grupo de mulheres com alto risco, a

profilaxia com mastectomia contralateral não pareceu oferecer benefício na sobrevida.

Em pacientes sem risco familiar aumentado, o aumento da sobrevida se deveu a outras características, como

tumor em fase precoce e atendimento de qualidade. Como o risco de metástase a distância é baixo, a MPC

teria um risco- benefício pouco recomendado.

Conclusão: Os autores concluíram, com base nos dados da metanálise, que pacientes com alto risco familiar

de câncer de mama deveriam ser informadas de que o procedimento poderá diminuir o risco de metástase

a distância, mas não altera a sobrevida. Pacientes sem risco familiar aumentado deveriam ser orientadas

contra a realização da MPC. Outras características que aumentam o risco de metástase a distância, como

fatores étnicos e estágio do tumor, deverão ser melhor estudados antes de se recomendar mastectomia

redutora de risco contralateral.8

COORTES E SÉRIES DE CASOS

MASTECTOMIA REDUTORA DE RISCO BILATERAL

Prophylactic mastectomy in BRCA1 and BRCA2 mutation carriers: very low risk for subsequent breast

cancer. Kaas R. e col.9

Kaas e colaboradores estudaram as peças anatômicas retiradas consecutivamente de 254 mulheres

portadoras de mutação do BRCA 1 e 2 submetidas à mastectomia redutora de risco bilateral ou contralateral.

Foi detectado um caso de câncer invasivo (0,7%) em 147 mastectomias redutoras de risco bilaterais e

consideraram o diagnóstico pré-operatório de imagem importante e a biópsia de linfonodo sentinela

desnecessário. Os autores consideraram o procedimento com alta efetividade para prevenção do câncer de

mama em portadores da mutação de BRCA1 e 2. Como o risco remanescente é de 0,2% mulheres-ano, os

autores consideraram não haver necessidade de manter a vigilância preventiva nesses casos.9

Bilateral prophylactic mastectomy in Swedish women at high risk of breast cancer: a national survey.

Arver B. e col.10

Arver B. e colaboradores, em estudo retrospectivo que incluiu todas as pacientes submetidas à mastectomia

redutora de risco bilateral, na Suécia, no período de 1995 a 2005, avaliaram 223 mulheres submetidas à

mastectomia bilateral como prevenção para câncer de mama sem diagnóstico prévio de malignidade. As

17

pacientes foram distribuídas em seis grupos conforme a sua estratificação de risco para câncer de mama e

ovário hereditários. Mais da metade da amostra (58%) era portadora de mutação BRCA1 e 2. Foram

encontradas lesões pré-malignas e malignas em 10% das pacientes. Quatro tumores invasivos foram

encontrados, três deles em mulheres com mutação BRCA 1. Nenhuma delas teve recidiva da doença num

período de acompanhamento médio de 6,6 anos. Os autores concluíram que o procedimento foi seguro e

eficaz na prevenção do câncer de mama em mulheres de alto risco e que é necessário intensificar a utilização

de métodos de imagem, uma vez que foram identificados oito casos não diagnosticados. 10

MASTECTOMIA REDUTORA DE RISCO CONTRALATERAL

Contralateral prophylactic mastectomy and survival: report from the National Cancer Data Base, 1998-

2002. Yao K. e col. 11

Os autores realizaram um levantamento retrospectivo dos dados do Registro Nacional de Câncer do Colégio

Americano de Cirurgiões de 1998 a 2007, de todos os casos de câncer de mama unilateral (n=1.166.456), das

quais 23.218 mulheres realizaram mastectomia redutora de risco contralateral. Foram analisados os dados

de idade, cor, nível social, plano de saúde, tamanho e características do tumor.

RESULTADOS

Características demográficas – Durante o período estudado, a percentagem de pacientes que escolheu a

mastectomia redutora de risco aumentou de 0,4% para 4,7%. A idade média foi 61,2 anos, diminuindo no

último ano para 60,8 anos (P<0,0001).

Pacientes, com idade entre 40 e 69 anos, apresentaram um aumento progressivo de escolha da mastectomia

redutora de risco de 62,3% para 66,8% e houve um decréscimo concomitante em pacientes entre 70 e 79

anos de 21,5 a 17,7%.

Houve aumento proporcional de pacientes não brancos de 13,2% para 16,9%.

18

FATORES RELACIONADOS AO PACIENTE

A figura 2 mostra a distribuição de pacientes por faixa etária pelo período de dez anos. Houve aumento

mais acentuado de escolha da mastectomia redutora de risco contralateral em mulheres mais jovens.

Figura 02. Distribuição de pacientes por faixa etária através do período

Fonte: Yao e colaboradores 11

A escolha do procedimento foi predominante em pacientes de raça branca, de melhor nível socioeconômico

(OR:2,1; IC 95% 1,936–2,282), e portadores de plano de saúde (OR = 2,1; IC 95% 1,94–2,28).

Tumores in situ e de menor tamanho foram os que mais se acompanharam de mastectomia redutora de risco

contralateral em todo o período (FIG. 3).

Figura 03. Distribuição de pacientes por estágio tumoral através do período

Fonte: Yao e colaboradores 11

19

Conclusão: Os autores concluíram que houve um aumento progressivo da escolha por mastectomia redutora

de risco contralateral. Atualmente as diretrizes americanas desencorajam a realização de mastectomia

redutora de risco contralateral devido ao pequeno benefício da medida, exceto em mulheres de alto risco.

Os autores concluíram também que maiores estudos são necessários, comparando desfechos clínicos, para

definir quando a mastectomia contralateral beneficiaria a sobrevida após o diagnóstico de câncer de mama

invasivo e não invasivo.11

CONTRALATERAL PROPHYLACTIC MASTECTOMY. RAI S.S.E COL.12

Rai e colaboradores fizeram uma revisão em 301 amostras de mamas retiradas por mastectomia redutora de

risco contralateral em mulheres submetidas à cirurgia para câncer de mama unilateral. Em 14 mamas, foram

encontrados sinais de malignidade (4,7%) e 45 mamas (15,0%) apresentavam lesões de risco alto e

moderado. A análise univariada e multivariada apontou como fatores de risco para malignidade a idade igual

ou acima de 54 anos e histologia lobular do tumor primário. Para lesões de risco alto a moderado, cinco

fatores foram identificados: idade igual ou acima de 54 anos, histologia lobular do tumor primário, status

pós-menopausa, tumores estrogênio-receptores e progesterona-receptores positivos. Os autores concluíram

que os achados foram compatíveis com os resultados de outras publicações para os fatores de risco

detectados. Em nenhum dos casos com diagnóstico de lesões malignas ou lesões de risco alto e moderado

detectadas na mastectomia redutora de risco, havia diagnóstico prévio por imagem. Os autores sugeriram

que estudos devem ser feitos com imagens pré-operatórias para determinar por que lesões com significado

clínico passaram despercebidas e como isso poderia ser evitado.11

Embora os autores tenham informado que foi feita pesquisa de BRCA 1 e 2 nas mulheres submetidas à

mastectomia redutora de risco incluídas no estudo, não há referência sobre as características genéticas da

amostra nos resultados, e as mutações de BRCA não foram apontadas como fatores de risco.

Bedrosian e colaboradores realizaram um estudo retrospectivo populacional em 8.902 mulheres americanas

submetidas à mastectomia no período de 1998 a 2003 e à mastectomia redutora de risco contralateral no

mesmo período para avaliar o ganho em sobrevida de cinco anos associado à mastectomia redutora de risco

contralateral. Foi observado um pequeno aumento de sobrevida associado à mastectomia contralateral. Três

fatores de risco foram associados ao aumento da sobrevida: mulheres com menos de 50 anos, tumor

estrogênio-negativo e estágio I e II da doença. Os autores concluíram que os resultados observados

confirmaram achados semelhantes em outros estudos populacionais e que só será possível confirmar uma

relação de causa-efeito entre mastectomia redutora de risco e aumento de sobrevida através de um estudo

randomizado controlado.12

CLINICAL MANAGEMENT FACTORS CONTRIBUTE TO THE DECISION FOR CONTRALATERAL PROPHYLACTIC

MASTECTOMY. KING TA E COL.14

King T.A. e colaboradores realizaram um estudo recentemente publicado com o propósito de determinar se

o aumento das taxas de mastectomia contralateral redutora de risco está relacionado a fatores de risco para

câncer de mama contralateral ou a fatores relacionados à lesão diagnosticada. Foram levantados os dados

retrospectivos de 2.965 mulheres submetidas à mastectomia para tratamento de câncer de mama em

estágios I a III, das quais 407 realizaram mastectomia redutora de risco contralateral. Os autores observaram

20

que apenas 29% das pacientes que optaram pelo procedimento tinham estudo genético prévio para

identificar fatores de risco conhecidos e que fatores não relacionados ao risco de câncer contribuíram para

o aumento da taxa de mastectomia contralateral. Após acompanhamento de seis anos, pacientes submetidas

à mastectomia redutora de risco tiveram menor taxa de recorrência da doença (p=0,02), mas a diferença

desapareceu na regressão multivariada após ajuste de idade e outros fatores de tratamento (p=0,23).

Conclusão: Os autores sugeriram que o aumento da demanda pela mastectomia contralateral redutora de

risco não está associado ao aumento de reconhecimento de pacientes com risco aumentado para câncer de

mama contralateral, e indicaram a necessidade da informação para as pacientes do baixo risco absoluto de

câncer contralateral e da ausência de benefício obtido pelo procedimento.13

Khan, a respeito do estudo de King, comentou que está bem estabelecido o baixo risco de câncer de mama

contralateral num cenário de terapia adjuvante sistêmica para a grande maioria de mulheres submetidas à

mastectomia unilateral, excluindo o pequeno grupo que apresenta mutação de BRCA1/2 ou com história de

exposição à radiação. O autor reafirmou a necessidade de resolver o paradoxo entre o progresso no

tratamento da terapia contra o câncer de mama e o aumento da utilização de um tratamento radical e sem

comprovação, que compromete a qualidade de vida das pacientes. Como proposta, expôs a necessidade de

uma nova geração de estudos prospectivos iniciados no momento da mastectomia redutora de risco,

emparelhados com estudos de terapia adjuvante com a finalidade de comparar as terapias disponíveis.14

MASTECTOMY AND CONTRALATERAL PROPHYLACTIC MASTECTOMY RATES: AN INSTITUTIONAL REVIEW.

DAMLES.E COL.15

Damle S. e colaboradores realizaram um estudo retrospectivo analisando 802 cirurgias para câncer de mama

no período de 2001 a 2009. Todas as pacientes eram elegíveis para cirurgia conservadora, porém 78

escolheram a mastectomia contralateral redutora de risco. Os autores compararam o grupo submetido à

cirurgia conservadora com as pacientes que escolheram mastectomia radical e mastectomia contralateral.

Uma história pessoal de câncer anterior e tumor grande foi significativamente associada à mastectomia

radical. Pacientes jovens mostraram preferência pela cirurgia radical, mas sem significância estatística. Idade,

história familiar, multíparas, raça branca e cirurgia reconstrutora foram associadas à cirurgia conservadora.

Conclusão: Os autores concluíram que, embora o tratamento preconizado para câncer de mama inicial seja

cirurgia conservadora e que o risco de metástases em outros locais seja maior que o risco de câncer

contralateral, algumas pacientes escolheram o tratamento cirúrgico radical, e eles sugerem a necessidade de

estudos com amostras maiores para esclarecer as razões da escolha.15

INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS

Foram observados benefícios na utilização da mastectomia redutora de risco bilateral na prevenção do

câncer de mama em mulheres com mutação BRCA1 e 2 em estudos de fraca qualidade metodológica, com

pouco tempo de acompanhamento, e que não consideraram outros fatores importantes na evolução do

câncer de mama. A época adequada para sua realização e qual paciente tem maior chance de se beneficiar

ainda não estão definidas. 2,3,7

21

Os estudos mostraram que a escolha mais adequada para diminuir o risco de câncer de mama em mulheres

com mutação BRCA persiste como uma decisão pessoal, diante das várias alternativas disponíveis de

prevenção. A ausência de estudos prospectivos comparativos entre as opções disponíveis de vigilância e

prevenção da doença não permite, no momento, definir qual é a melhor escolha, e as análises de risco

assumiram um papel importante para orientar, em cada caso, os riscos e benefícios de cada tratamento.7,9

No futuro, maiores conhecimentos sobre a penetrânciados gens, novas modalidades de rastreamento por

imagens e novas possibilidades de prevenção e tratamento poderão modificar a indicação de mastectomia

redutora de risco bilateral.

O uso da mastectomia contralateral redutora de risco (MPC) tem crescido muito nos últimos anos. Porém,

pouco ou nenhum efeito benéfico foi observado nas evidências encontradas, e o motivo que levou as

pacientes a escolherem o tratamento radical não teve relação com as características do tumor. As pacientes

com alto risco familiar de câncer de mama deveriam ser informadas de que o procedimento poderá diminuir

o risco de metástase a distância, mas não altera a sobrevida. Pacientes sem risco familiar aumentado

deveriam ser orientadas contra a realização da MPC. Outras características que aumentam o risco de

metástase a distância, como fatores étnicos e estágio do tumor, deverão ser mais bem estudadas antes de

se recomendar mastectomia redutora de risco contralateral.8

RECOMENDAÇÕES

Mastectomia redutora de risco bilateral –

Não indicada em pacientes sem risco familiar aumentado para câncer de mama.

Pode ser benéfica em pacientes com risco familiar aumentado, porém as evidências disponíveis são de fraca

qualidade metodológica.

Mastectomia redutora de risco contralateral –

Pacientes sem risco familiar aumentado para câncer de mama devem ser orientadas contra a realização do

procedimento.

Pacientes com alto risco familiar devem ser informadas de que o procedimento poderá diminuir o risco de

metástase a distância, mas não altera a sobrevida.

22

REFERÊNCIAS

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