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  • MARUSKA D`APARECIDA SANTOS

    Eficcia da dieta fracionada e restritiva de carboidratos em pacientes

    portadores de distrbios do equilbrio corporal associados a alteraes

    do metabolismo da glicose por meio da posturografia dinmica

    computadorizada, disability ndex e escala anlogo visual

    Tese apresentada Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo para obteno do Ttulo de Doutor em Cincias Programa de Otorrinolaringologia Orientadora: Prof Dra. Roseli Saraiva Moreira Bittar

    So Paulo

    2012

  • Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)

    Preparada pela Biblioteca da

    Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo

    reproduo autorizada pelo autor

    Santos, Maruska d`Aparecida

    Eficcia da dieta fracionada e restritiva de carboidratos em pacientes

    portadores de distrbios do equilbrio corporal associados a alteraes do

    metabolismo da glicose por meio da posturografia dinmica computadorizada,

    disability index e escala anlogo visual / Maruska d`Aparecida Santos. -- So

    Paulo, 2012.

    Tese(doutorado)--Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo.

    Programa de Otorrinolaringologia.

    Orientadora: Roseli Saraiva Moreira Bittar.

    Descritores: 1.Equilbrio postural 2.Tontura 3.Transtornos do metabolismo

    de glucose 4.Dieta com restrio de carboidratos 5.Escalas 6.Posturografia

    dinmica computadorizada 7.Questionrio

    USP/FM/DBD-235/12

  • iii

    Tranquilidade e inconstncia, pedra e corao.

    Sou abraos, sorrisos, nimo, bom humor, sarcasmo, preguia e sono. Msica

    alta e silncio... No me limito, no sou cruel comigo! Serei sempre apego

    pelo que vale a pena e desapego pelo que no quer valer Suponho que me

    entender no uma questo de inteligncia... Ou toca, ou no toca.

    Clarice Lispector

    http://pensador.uol.com.br/autor/clarice_lispector/

  • iv

    Agradecimentos

    Agradeo

    minha orientadora, Dra. Roseli Saraiva Moreira Bittar, mentora

    desta pesquisa, por realmente ter me ensinado o Universo da Otoneurologia

    com toda competncia e sabedoria. Verdadeira orientadora e incentivadora

    da disciplina cientfica para se alcanar qualquer objetivo. Minha profunda

    gratido e carinho por nossa convivncia durante todos estes anos. Meu

    eterno exemplo de profissionalismo.

    Aos meus queridos pais Geraldina e Sidnei, meu respeito e amor,

    verdadeiros incentivadores do meu crescimento.

    Aos Pacientes, colaboradores e razo desta pesquisa, minha eterna

    fonte de aprendizado.

    Ao Professor Dr. Ricardo Ferreira Bento, professor titular do

    Departamento de Otorrinolaringologia do HCFMUSP, pelo incentivo

    pesquisa cientfica.

    Ao Dr. Marco Aurlio Bottino, por permitir o desenvolvimento desta

    pesquisa no Ambulatrio de Otoneurologia. Meu carinho, respeito e muita

    considerao.

    Ao Dr. Luiz Ubirajara Sennes, pelo apoio e coordenao da Ps-

    graduao.

    Ao meu eterno amigo Professor Dr. Jefferson DallOrto Muniz, por

    ter sempre simbolizado em minha formao a expresso mais sbia da

    postura de um professor, e por ter sido o grande incentivador da minha

    procura nos conhecimentos otoneurolgicos.

    Ao Professor Dr. Yotaka Fukuda, por todo seu legado e estimvel

    contribuio do crescimento da Otoneurologia Brasileira, especialmente por

    seus estudos dos distrbios do equilbrio de causas metablicas.

    Dra Tanit Ganz Sanchez, toda a minha admirao e respeito pela

    sua inteligncia,competncia e incentivo nesta pesquisa.

  • v

    Ao Dr. Virgnio Cndido Tosta de Souza e Dr. Carlos de Barros

    Laraia, que desde o incio da minha formao mdica, me incentivaram na

    procura de conhecimentos.

    Ao Dr. Antonio Mauro Vieira, pela amizade e incentivo inicial na

    minha vida cientfica, exemplo de profissionalismo e competncia.

    Aos membros da banca de qualificao: Dr. Ronaldo Frizzarini, Dr.

    Rui Imamura e Dra. Tanit Ganz Sanchez pelas sugestes quanto

    correo e aprimoramento desta pesquisa.

    Dra. Camila de Gicomo Carneiro Barros, Dr. talo Roberto

    Torres de Medeiros e Dra. Lucinda Simoceli, amigos queridos e fonte de

    inspirao, pela participao marcante na minha jornada paulistana e na

    minha vida Otoneurolgica quo importante so os nossos incansveis

    dilogos filosficos.

    s minhas amigas Dbora, Brunna e Brenda, verdadeiras

    companheiras desde o incio desta minha jornada cientfica. Meu respeito,

    admirao e gratido por todos os momentos que necessitei de um colo

    acolhedor. Vocs so muito especiais.

    Tia Maria Olvia, Tio Ari, Aline e Marcel, por me acolherem

    sempre de forma to especial.

    Aos meus amigos queridos Fernanda, Gabriela, Gugu, Luiz Renato,

    Val e Zu, pela amizade dedicada, por nossos dilogos to incentivadores e

    carinhosos durante estes anos. Obrigada pela nossa deliciosa convivncia.

    Aos meus amados afilhados: Ana Clara, Las, Pedro e Toms, por

    tornar minha vida cheia de graa nos ltimos anos. Com certeza vocs

    transformam e fazem meu mundo mais especial.

    Aos meus compadres e comadres: minha querida irm Geraldinne

    e Carlos Leopoldo, meus amigos Lucinda e Bruno, Trsia e Guto, todo

    meu carinho por confiarem a mim a participao na vida dos seus filhos,

    mesmo em anos to conturbados.

    Aos mdicos ex-residentes do Servio de Otorrinolaringologia da

    UNIVS pela oportunidade de dividir e sedimentar tantos conhecimentos,

    apesar da minha inevitvel ausncia.

  • vi

    amiga Dra. Jeanne Oiticica Ramalho, pela convivncia,

    participao na minha formao otoneurolgica e ajuda com a estatstica

    inicial desta pesquisa.

    Aos amigos Bruno, Lucinda, Salete Momjian e Rosana Dianin, pela

    fraterna acolhida em suas casas durante minhas idas e vindas a So Paulo.

    Meu carinho especial por nossa amizade.

    Aos amigos Dr. talo Roberto Torres de Medeiros e Dra Raquel

    Mezzalira pelas sugestes no aperfeioamento da minha dissertao.

    Aos especiais amigos, Dr. Mrio Edvin Greters e Dra. Patricia Arena

    Abramides e outros colegas da ps-graduao, pelo companheirismo e

    aprendizado. Palavras de incentivos sempre na hora certa.

    Aos demais colegas do setor de Otoneurologia, Dr. Arlindo C. Lima

    Neto, Dra. Eliane von Shsten, Dra. Juliana C. Anauate, Dra. Mrcia

    Bilecki Stipsky, Dra. Raquel Mezzalira, Dra. Sandra Bastos de

    Magalhes e todos os colegas do ambulatrio de Otoneurologia do

    HCFMUSP, pela convivncia harmnica durante estes anos.

    Dra. Lydia Sebba Tosta Mariosa, pela colaborao inicial nesta

    pesquisa.

    Ao Dr. Clayton de Paula e Marcos Anibal de Oliveira, pela

    inestimvel contribuio tcnica na minha dissertao.

    amiga Eliana de Melo Hinds, por toda colaborao e sugestes.

    Dra. Alessandra Carvalho Goulart e Wagner de Paulo Pereira

    da Costa pela essencial contribuio e sugestes com o paper.

    Maria Mrcia Alves, Maria Marilede Alves, Lucivnia da Silva

    Quinto e Milva T. Luciano Braz, funcionrias do Departamento de

    Otorrinolaringologia do HCFMUSP, pela amizade, carinho e colaborao nos

    aspectos burocrticos e assistenciais na execuo desta pesquisa.

    Ao Departamento de Otorrinolaringologia da Faculdade de

    Medicina da Universidade de So Paulo, por acolher tantos mestres e

    doutores e incentivar o crescimento cientfico de todos que por aqui tm o

    privilgio de frequentar.

    CNPq, pela bolsa de estudos que contribuiu para financiar este

    trabalho.

  • vii

    Sumrio

    Listas de Figuras ............................................................................................ ix

    Lista de Tabelas .............................................................................................. x

    Listas de Siglas .............................................................................................. xi

    Listas de Abreviaturas .................................................................................. xii

    Resumo ....................................................................................................... xiii

    Summary ..................................................................................................... xiv

    1 INTRODUO ............................................................................................ 1

    2 OBJETIVO .................................................................................................. 5

    2.1 Objetivo primrio ................................................................................ 6

    2.2 Objetivo secundrio............................................................................ 6

    3 REVISO DE LITERATURA....................................................................... 7

    3.1 Glicose, Insulina e sua participao na fisiopatologia da orelha

    interna ................................................................................................ 8

    3.2 As provas laboratoriais da orelha interna nos DMG ......................... 12

    3.3 Diagnstico da tontura de origem metablica .................................. 13

    3.4 Tratamento da tontura atribuda aos DMG ....................................... 17

    3.5 Efeito placebo .................................................................................. 19

    3.6 Posturografia Dinmica Computadorizada na avaliao da

    funo labirntica .............................................................................. 19

    3.7 Escalas questionrios de avaliao clnica dos pacientes com

    tontura .............................................................................................. 22

    4 MTODOS ............................................................................................... 23

    4.1 Casustica ........................................................................................ 24

  • viii

    4.2 Metodologia ...................................................................................... 26

    4.2.1 Avaliao Clnica ................................................................... 26

    4.2.2 Avaliao funcional do equilbrio ........................................... 27

    4.2.3 Diviso dos grupos ................................................................ 29

    4.2.4 Anlise Estatstica ................................................................. 31

    5 RESULTADOS ......................................................................................... 32

    5.1 Caracterizao da amostra .............................................................. 33

    5.2 Variveis quantitativas pela PDC ..................................................... 34

    5.3 Variveis quantitativas encontradas na Escala Anlogo Visual e

    Disability Index ................................................................................. 36

    6 DISCUSSO............................................................................................. 39

    7 CONCLUSES ......................................................................................... 49

    8 ANEXOS ................................................................................................... 51

    9 REFERNCIAS ........................................................................................ 62

  • ix

    Listas de Figuras

    Figura 1 Condies de estimulao sensorial no TIS ............................. 28

    Figura 2 Fluxograma do estudo .............................................................. 30

  • x

    Lista de Tabelas

    Tabela 1 Valores da CONDIO 4 da PDC dos Grupos Dieta e

    Controle e dos momentos Dia 1 e Dia 30 .................................. 34

    Tabela 2 Valores da CONDIO 5 da PDC dos Grupos Dieta e

    Controle e dos momentos Dia 1 e Dia 30 .................................. 35

    Tabela 3 Valores da CONDIO 6 da PDC dos Grupos Dieta e

    Controle e dos momentos Dia 1 e Dia 30 .................................. 35

    Tabela 4 Valores do NDICE DE EQUILBRIO (IE) dos Grupos Dieta e

    Controle dos momentos Dia 1 e Dia 30 ..................................... 36

    Tabela 5 Valores da varivel EAV dos Grupos Dieta e Controle e dos

    momentos Dia 1 e Dia 30 .......................................................... 37

    Tabela 6 Valores da varivel Disability Index (DI) dos Grupos Dieta e

    Controle e dos momentos Dia 1 e Dia 30 .................................. 37

    Tabela 7 Correlao entre EAV e DI em ambos os grupos e nos dois

    tempos de coleta (Dia 1 e Dia 30) .............................................. 38

  • xi

    Listas de Siglas

    ABR Audiometria de Tronco Cerebral

    ANOVA Anlise de Varincia

    ATP Adenosina Trifosfato

    CAPPesq Comisso de tica para Anlise de Projetos de Pesquisa

    DI Disability Index

    DMG Distrbios do Metabolismo da Glicose

    EAV Escala Anlogo Visual

    EOAPD Emisses Otoacsticas por Produto de Distoro

    GC Grupo Controle

    GD Grupo Dieta

    HCFMUSP Hospital das Clnicas da Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo

    IE ndice de Equilbrio

    ORL-FMUSP Departamento de Otorrinolaringologia do Hospital das Clnicas da Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo

    PDC Posturografia Dinmica Computadorizada

    SNC Sistema Nervoso Central

    TIS Teste de Integrao Sensorial

    TTG Teste Tolerncia Glicose

    VEMP Potencial Evocado Miognico Vestibular

    VPPB Vertigem Posicional Paroxstica Benigna

  • xii

    Listas de Abreviaturas

    = igual

    mais ou menos

    U/l micro unidades internacionais por litro

    D1 dia 1

    D30 dia 30

    dl decilitro

    h hora

    K Potssio

    mg miligrama

    min minuto

    Na Sdio

    U/ml unidades internacionais por mililitro

  • xiii

    Resumo

    Santos, Maruska d`Aparecida. Eficcia da dieta fracionada e restritiva de carboidratos em pacientes portadores de distrbios do equilbrio corporal associados a alteraes do metabolismo da glicose por meio da posturografia dinmica computadorizada, disability index e escala anlogo visual [tese]. So Paulo: Faculdade de Medicina, Universidade de So Paulo; 2012. 70p. INTRODUO: O consumo mundial de acar triplicou nos ltimos 50 anos e a sua ingesta abusiva responsvel pela resistncia perifrica insulina, que origina a sndrome metablica obesidade, diabetes melito, hipertenso arterial e doenas coronarianas . Motivados pelo elevado nmero de pacientes que nos procuram com queixas vestibulares associadas aos distrbios de metabolismo da glicose (DMG) resolvemos avaliar de forma objetiva, a influncia dos DMG nas disfunes labirnticas e o efeito da dieta restritiva de carboidratos como forma de tratamento. OBJETIVO: Observar o impacto da dieta fracionada e restritiva de carboidratos na qualidade de vida dos pacientes portadores de distrbios do equilbrio corporal e DMG por meio da posturografia dinmica computadorizada (PDC), do disability index (DI) e da escala anlogo-visual (EAV). CASUSTICA E METODOLOGIA: Este estudo foi desenhado como um ensaio clnico prospectivo controlado randomizado realizado no Hospital das Clnicas da Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo. A amostra foi constituda de 51 pacientes divididos em dois grupos: Grupo Dieta (GD): indivduos tratados com comprimidos de placebo e dieta fracionada com restrio de glicose, Grupo Controle (GC): receberam apenas placebo. Os pacientes realizaram PDC, DI e EAV no primeiro e trigsimo dias do estudo. RESULTADOS: A amostra mostrou-se homogna quando comparados os grupos e observou-se melhora, estatsticamente comprovada nas condies posturogrficas avaliadas quando comparados GD e GC. Observou-se ainda melhora clnica do GD na anlise da EAV. CONCLUSO: A dieta fracionada e restritiva de carboidratos mostrou-se eficaz no tratamento da nossa amostra de pacientes portadores de disfunes vestibulares associadas a DMG. Descritores: 1.Equilbrio postural 2.Tontura 3.Transtornos do metabolismo de glicose 4.Dieta com restrio de carboidratos 5.Escalas 6.Posturografia dinmica computadorizada 7.Questionrios

  • xiv

    Summary

    Santos, Maruska d`Aparecida. Effectiveness of the glucose restrictive and

    fractionated diet in patients with corporal imbalance and disorders of glucose

    metabolism by computerized dynamic posturography, disability index and

    visual analog scale. [thesis]. So Paulo: Faculdade de Medicina,

    Universidade de So Paulo; 2012. 70p.

    INTRODUCTION: World sugar consumption has tripled in the last 50 years and its abusive ingestion is responsible for peripheral insulin resistance, which leads to metabolic syndrome - obesity, diabetes mellitus, hypertension and coronary heart disease. Because of the high number of patients with vestibular complaints and with glucose metabolism disorders (GMD) we decided to objectively evaluate the effect of glucose restrictive and fractionated diet as a option of treatment in these patients. OBJECTIVE: To evaluate the impact of the glucose restrictive and fractionated diet on the Computerized Dynamic Posturography (CDP), disability index (DI) and the visual analogue scale (VAS) in patients with balance disorders and disorders of glucose metabolism. SAMPLES AND METHODOLOGY: Randomized controlled trial. Sample of 51 patients divided into two groups: Diet Group (DG) treated with placebo pills and glucose restrictive and fractionated diet and Control Group (CG) with only placebo. The individuals performed CDP, DI and VAS at first and thirtieth days of study. RESULTS: The sample groups were homogeneous before the study. There were significant improvement of DG on CDP conditions 4, 5, 6 and composite score. There was, also, significant improvement of VAS analysis on DG after intervention. CONCLUSION: The glucose restrictive and fractionated diet was effective in the treatment of patients with vestibular dysfunction associated with glucose metabolism disorders.

    Descriptors: 1.Postural balance 2.Dizziness 3.Glucose metabolism

    disorders 4.Diet carbohydrate-restricted 5.Scales 6.Computerized dynamic

    posturography 7.Questionnaires

  • xv

    Normalizao Adotada

    Esta tese est de acordo com as seguintes normas, em vigor no momento

    desta publicao:

    Referncias: adaptado de International Committee of Medical Journals

    Editors (Vancouver).

    Apresentao: Universidade de So Paulo. Faculdade de Medicina. Diviso

    de Biblioteca e Documentao. Guia de apresentao de dissertaes, teses

    e monografias. Elaborado por Anneliese Carneiro da Cunha, Maria Julia de

    A. L. Freddi, Maria F. Crestana, Marinalva de Souza Arago, Suely Campos

    Cardoso, Valria Vilhena. 3a ed. So Paulo: Diviso de Biblioteca e

    Documentao; 2011.

    Abreviaturas dos ttulos dos peridicos: de acordo com List of Journals

    Indexed in Index Medicus.

  • 1 INTRODUO

  • Introduo 2

    O consumo mundial de acar triplicou nos ltimos 50 anos, e a sua

    ingesto abusiva responsvel pela resistncia perifrica insulina, que

    origina a sndrome metablica obesidade, diabetes melito, hipertenso

    arterial e doenas coronarianas (Fukuda, 2004; Rask-Madsen; King, 2007).

    De acordo com as Naes Unidas, as doenas crnicas no transmissveis

    como diabetes, cancer e coronariopatias so responsveis por 35 milhes

    de mortes por ano. Recentemente a revista Nature publicou artigo

    discorrendo sobre o fato de que cerca de 40% de indivduos com pesos

    considerados normais desenvolvero algum tipo de sndrome metablica em

    funo da ingesta de glicose. Segundo o mesmo artigo, o problema tem se

    tornado motivo de segurana nacional, uma vez que os jovens esto cada

    vez mais obesos e inaptos ao servio militar (Lustig et al., 2012).

    Embora tenha despertado o interesse da comunidade cientfica

    mundial nos ltimos anos, os sintomas atribudos aos distrbios do

    metabolismo da glicose (DMG) na rea otoneurolgica so conhecidos de

    longa data. Observamos a relevncia dos DMG no campo da Otoneurologia

    quando documentamos sua alta prevalncia em pacientes portadores de

    labirintopatias (Bittar et al., 2004). Dados da literatura internacional estimam

    que de 30 a 90% de pacientes portadores de tontura possuem nveis

    alterados de glicemia e insulinemia (Powers, 1978; Proctor; Oak, 1981;

    Lehrer et al., 1986; Knight et al., 1995). A importncia dos DMG na

  • Introduo 3

    etiopatogenia das disfunes da orelha interna tem sido amplamente

    estudada ao longo dos ltimos anos (Powers, 1978; Pillsbury,1981; Leher et

    al., 1986; Rybak, 1995; Sanchez et al., 2001; Bittar et al., 2004). Com a

    evoluo dos conhecimentos de fisiopatologia, possvel diagnosticar os

    distrbios de origem sistmica, como os DMG, por meio da sintomatologia

    precoce, que resulta do acometimento de estruturas labirnticas.

    Muitos autores tentam demonstrar, atravs de estudos experimentais

    e clnicos, o mecanismo pelo qual os nveis alterados de insulina e glicose

    poderiam ser responsveis por disfunes auditivas e vestibulares (Koide et

    al., 1960; Gladney; Shepherd, 1970; Marcus et al., 1978; Mangabeira-

    Albernaz et al., 1985; Knight et al., 1995; Yoshihara et al., 1999; Perez et al.,

    2001). J est documentada a intensa atividade metablica na estria

    vascular e sua sensibilidade ao fornecimento de oxignio, glicose e

    disponibilidade de ATP para manuteno do potencial endococlear

    (Fukuda, 1982; Marcus et al., 1978).

    Updegraft1 (apud Leher et al., 1986) identificou os DMG em 90% de

    seus pacientes com tontura, e todos eles se tornaram assintomticos com

    orientao diettica. Powers (1978), encontrou alteraes do teste tolerncia

    glicose (TTG) em 30% de seus casos de Doena de Mnire que

    obtiveram melhora sintomatolgica com dieta. Outros autores que associam

    os DMG disfuno labirntica tambm obtiveram melhora clnica aps

    instituio de dieta que restringe a ingesto de glicose (Fukuda, 1982,

    Bittar et al., 1998; Bittar et al., 2004; Proctor; Oak, 1981).

    1 Updegraft WR. Impaired carbohydrate metabolism and idiopatic Menirs disease. Ear

    Nose and Throat J. 1977; 56:160-3.

  • Introduo 4

    Apesar da existncia de vrios trabalhos relacionando os DMG como

    fatores causais dos distrbios do equilbrio, ainda existe certo descrdito por

    alguns pesquisadores em aceitar o fato. Rybak (1995) ressalta necessidade

    de documentao mais objetiva da influncia dos DMG na gnese das

    disfunes da orelha interna.

    Motivados pelo elevado nmero de pacientes que nos procuram com

    queixas vestibulares associadas aos DMG, resolvemos avaliar de forma

    objetiva a influncia dos DMG nas disfunes labirnticas e o efeito da dieta

    restritiva de carboidratos como forma de tratamento.

  • 2 OBJETIVO

  • Objetivo 6

    2.1 Objetivo primrio

    Avaliar as condies posturogrficas de plataforma mvel condies

    4, 5, 6 e o ndice de equilbrio em pacientes portadores de distrbios

    do equilbrio corporal e alteraes do metabolismo da glicose antes e

    aps dieta fracionada e restritiva de glicose por 30 dias.

    2.2 Objetivo secundrio

    Avaliar o impacto da dieta fracionada e restritiva de carboidratos na

    qualidade de vida dos pacientes portadores de distrbios do

    equilbrio corporal e alteraes do metabolismo da glicose por meio

    do disability index (DI) e da escala anlogo visual (EAV).

  • 3 REVISO DE LITERATURA

  • Reviso de Literatura 8

    3.1 Glicose, Insulina e sua participao na fisiopatologia da

    orelha interna

    A importncia do metabolismo da glicose para o adequado

    funcionamento da orelha interna tem sido estudada por vrios pesquisadores

    ao longo dos anos. A primeira observao clnica da relao entre as

    disfunes metablicas e os distrbios labirnticos foi realizada por Jordo2

    em 1864 com um grupo de pacientes portadores de disacusia sensorioneural

    e diabetes melito (apud Mangabeira-Albernaz; Fukuda, 1984). Desde ento,

    vrios estudos experimentais e clnicos tentam esclarecer esta relao.

    Os carboidratos, depois de ingeridos, so desdobrados em molculas

    de glicose no intestino delgado pela ao da enzima sacarase. A glicose

    ento absorvida atravs da corrente sangunea e ser responsvel por gerar

    energia em todas as clulas (Guyton, 1991). Para que a glicose absorvida

    consiga gerar a energia que a clula precisa, necessria sua entrada no

    interior da clula. A insulina o hormnio polipeptdeo, que atua na

    membrana da clula responsvel pela passagem da glicose sangunea para

    o interior celular. Esse hormnio regula a maior parte das atividades

    metablicas e tem ao na sntese de glicognio e de gordura a partir da

    glicose. Sendo assim, existem receptores de natureza protica denominados

    2 Jordo A. Estudos sobre diabetes. Lisboa: Tipografia da Academia; 1864.

  • Reviso de Literatura 9

    receptores de insulina, que reconhecem o complexo molecular glicose-

    insulina e permitem sua entrada. Uma vez no interior da clula, a molcula

    de glicose se desprende da insulina e encaminhada mitocndria,

    responsvel pela extrao de energia na forma de ATP (Guyton, 1991;

    Jensen et al., 2008). A maior parte da energia, apropriada para utilizao

    celular na forma de ATP, liberada por meio de um processo bioqumico

    denominado ciclo do cido ctrico ou ciclo de Krebs (Stryer, 1992).

    A taxa de insulina eleva-se aps ingesto de hidratos de carbono,

    gordura ou protena, atingindo nveis mais elevados quando so carboidratos

    de rpida absoro, pois, nesse caso, o pncreas solicitado para a

    produo adicional do hormnio. No caso de ingesto frequente de

    carboidratos de rpida absoro, h reduo dos receptores de insulina

    (resistncia insulina), situao caracterizada pela hiperinsulinemia crnica,

    que gera a hiperglicemia que, por sua vez, pode evoluir para obesidade,

    diabetes, hipertenso arterial e doenas coronarianas a Sndrome

    Metablica (Spencer, 1981; Brun et al., 2000; Fukuda, 2004).

    As clulas da orelha interna dependem de suprimento sanguneo com

    nveis satisfatrios de glicose, oxignio e disponibilidade de ATP para seu

    funcionamento (Rybak, 1995). A manuteno do potencial endococlear

    realizada pelo transporte ativo de sdio atravs da membrana celular. Trata-

    se de transporte ativo dependente de energia, realizado contra um gradiente

    de concentrao sdio/ potssio, que s possvel devido ao bom

    desempenho da enzima Sdio Potssio Adenosina Tri Fosfatase (Na+K+

    ATPase), comumente designada como bomba de Na+-K+. Essa enzima est

  • Reviso de Literatura 10

    presente em alta concentrao na estria vascular (Kuijpers; Bonting, 1969),

    sugerindo que altos gastos energticos so necessrios para manter as

    altas concentraes de K+ e baixas concentraes de Na+ na endolinfa.

    A queda da glicose circulante tem como consequncia a diminuio da

    energia disponvel para manuteno da funo ideal da bomba de Na+-K+

    (Mangabeira-Albernaz; Fukuda 1984; Betti et al., 1985).

    Estudos experimentais em cobaias demonstram aumento da taxa

    respiratria e da atividade da bomba de Na+-K+ nas clulas da estria

    vascular incubadas in vitro aps adio de alguns substratos como fumarato,

    piruvato, succinato, glicose, Na+ e K+ livres. Embora as clulas ciliadas

    tenham utilizado todos estes substratos, nenhum deles foi to efetivo quanto

    a glicose para manter os nveis de energia necessrios para o

    funcionamento da bomba de Na+-K+. Tambm a presena de glicognio na

    estria vascular foi detectada, mas esta fonte alternativa no se mostrou

    capaz de sustentar o potencial endolinfa/perilinfa na ausncia de glicose

    (Marcus et al., 1978).

    Portanto, as flutuaes dos nveis sanguneos de glicose e insulina

    perturbam a homeostase da orelha interna, causando alteraes qumicas

    da endolinfa. O aumento da concentrao de sdio e a reduo de potssio

    aumentam a presso osmtica, responsveis por originar a hidropisia

    endolinftica substrato anatomopatolgico da Sndrome de Mnire e de

    outras afeces cocleovestibulares (Mangabeira-Albernaz, 1995).

    A presena de receptores de insulina observada no epitlio do saco

    endolinftico de cobaias e sua atividade ideal ocorre em temperatura

  • Reviso de Literatura 11

    corprea fisiolgica (Knight et al.,1995). Esses receptores parecem estar

    envolvidos em importantes vias metablicas responsveis pela homeostasia

    da orelha interna.

    Estudando cobaias e coelhos, Koide et al. (1960), aps 3 horas da

    administrao de insulina, observam um decrscimo na amplitude do

    microfonismo coclear, com queda da glicemia e dos nveis de tenso de

    oxignio. A administrao de glicose e de outros substratos do ciclo de

    Krebs, como piruvato e fumarato, produziu apenas recuperao parcial do

    microfonismo coclear, sugerindo que a reduo na concentrao de

    carboidratos e/ou substratos do ciclo de Krebs na orelha interna contriburam

    para o decrscimo da amplitude que foi observado. A insulina foi

    responsvel pela reduo do microfonismo coclear secundria diminuio

    da concentrao de oxignio na orelha interna. Outros estudos tambm

    confirmam a reduo do microfonismo coclear em roedores aps

    administrao de insulina (Mendelsohn; Roderique, 1972).

    Apesar da importncia do metabolismo da glicose para a fisiologia

    cocleovestibular, os mecanismos de seu transporte ainda no esto bem

    estabelecidos. Na orelha interna h um sistema de barreira semelhante

    barreira hematoenceflica, rica em protenas transportadoras de glicose

    (GLUT 1), denominada barreira hematolabirntica. Essa barreira

    responsvel pelo equilbrio inico entre endolinfa e perilinfa e exige intenso

    gasto energtico para seu adequado funcionamento. Em estudo

    ultraestrutural com microscopia eletrnica, detectou-se GLUT 1 na estria

    vascular e dark cells vestibulares de cobaias. Estes achados indicam que a

  • Reviso de Literatura 12

    GLUT 1 encontra-se envolvida no apenas na regulao de glicose e

    metabolismo da orelha interna, mas tambm no transporte de glicose entre o

    sangue e a perilinfa (Yoshihara et al., 1999).

    O controle da entrada de glicose realizado por meio de

    comunicaes denominadas nexus com o auxlio da GLUT 1. Mtodos

    imunohistoqumicos tambm demonstram que a GLUT 1, ocludina (protena

    que bloqueia o nexus) e as protenas conexina 26 e conexina 30 esto

    presentes nas clulas basais da estria vascular de ratos (Suzuki et al., 2009).

    3.2 As provas laboratoriais da orelha interna nos DMG

    Os estudos funcionais da orelha interna em animais demonstram que

    ratos diabticos apresentam maiores latncias e menores amplitudes da primeira

    onda do potencial evocado miognico vestibular (VEMP) e latncia prolongada

    da primeira onda da audiometria de tronco cerebral (ABR), quando comparados

    com ratos no diabticos. Esses achados comprovam o sofrimento da orelha

    interna frente s situaes de hiperglicemia (Perez et al., 2001).

    Em estudos com ovelhas submetidas hiperinsulinemia, observa-se

    reduo dos limiares das emisses otoacsticas por produto de distoro

    (EOAPD) e reduo da amplitude do potencial de ao na eletrococleografia

    (Zuma-Maia et al., 2008; Angeli et al., 2009).

    Em pacientes diabticos com audiometria e impedanciometria

    normais, foram descritas alteraes precoces no ABR (aumento da latncia

  • Reviso de Literatura 13

    das ondas I, III, V) e nas EOAPD (amplitude das ondas reduzidas), quando

    comparados ao Grupo Controle (Marcus et al., 1978; Lisowska et al., 2001).

    Vrios autores estudam a relao entre as sndromes vertiginosas e a

    curva de tolerncia glicose. Apenas alguns deles relatam alteraes na

    curva como hipoglicemia ou hiperglicemia (Powers, 1978; Spencer, 1981;

    Lehrer et al., 1986; Ramos & Ramos, 1993). No entanto, grande parte dos

    autores encontra a hiperinsulinemia como caracterstica de maior prevalncia

    (Rybak, 1995; Proctor; Oak, 1981; Mangabeira-Albernaz; Fukuda, 1984; Kim;

    Reaven, 2008). H tambm relato de ausncia de alterao na curva

    glicoinsulinmica (Rybak, 1995), mas o autor no capaz de contradizer a

    extraordinria melhora clnica destes pacientes aps orientao sobre hbitos

    dietticos adequados. De qualquer maneira, a avaliao conjunta de ndices

    glicmicos e insulinmicos aumenta a sensibilidade do diagnstico de DMG

    (Lehrer et al., 1986; Ramos; Ramos, 1993).

    3.3 Diagnstico da tontura de origem metablica

    A anamnese fundamental para o diagnstico das tonturas

    metablicas causadas pelos DMG. Os sintomas cocleares incluem plenitude

    auricular, zumbido, hipoacusia flutuante ou persistente e o desconforto com

    relao aos rudos intensos (o mais comum desses sintomas). J o sintoma

    vestibular mais comum a tontura tipo flutuao com ou sem ocorrencia de

    crises tpicas de vertigem. A cefalia um sintoma frequente, provavelmente

  • Reviso de Literatura 14

    relacionada ao funcionamento inadequado da bomba de Na+K+ nas clulas

    cerebrais. A ansiedade e estresse agravam os sintomas em virtude da

    elevao do consumo de glicose pelas clulas nervosas (Currier, 1971;

    Mangabeira-Albernaz; Fukuda, 1984).

    Os sintomas secundrios hipoglicemia podem ser divididos em

    neuroglicopnicos (queda da concentrao de glicose no Sistema Nervoso

    Central SNC) reconhecidos pela confuso mental, fadiga, convulses, perda de

    conscincia e alteraes de comportamento e os autonmicos (manifestaes

    adrenrgicas e colinrgicas), cujos sintomas so palpitaes, tremores,

    ansiedade, sudorese, parestesia e sensao de fome (Bittar et al., 2004).

    Classicamente, o diagnstico de hipoglicemia feito pela Trade de

    Whipple: sintomas compatveis com hipoglicemia, baixa concentrao de

    glicose no plasma (menor que 55 mg/dl) e alvio dos sintomas com o

    aumento da glicemia (The Endocrine Society, 2009; Foster, 1999). Outros

    dados importantes na histria clnica so a necessidade de ingerir alimentos

    doces e a presena de antecedentes familiares diabticos, embora estes

    no estejam presentes em todos pacientes (Mangabeira-Albernaz, 1995).

    J hipoglicemia crnica pode ser assintomtica ou referida apenas como

    sensao de cabea oca e/ou flutuao (Bittar et al., 2004).

    A dosagem metablica que inclui glicemia, dosagem do colesterol

    total e fraes, triglicrides e hormnios tireoidianos de grande relevncia

    e deve fazer parte da triagem de todos os pacientes com suspeita de

    disfuno da orelha interna (Charles et al., 1979; Pillsbury, 1981; Bittar et al.,

    1998; Oiticica; Bittar, 2010). A alta prevalncia destes distrbios, quando

  • Reviso de Literatura 15

    comparados a populao geral, justifica sua solicitao para todos pacientes

    com tontura (Bittar et al., 2003).

    A curva glicoinsulinmica a ferramenta diagnstica mais importante

    na avaliao dos pacientes com suspeita de DMG. As dosagens de glicose e

    insulina podem ser solicitadas na curva de trs, quatro ou cinco horas.

    Estudos mostram que a maioria dos DMG j podem ser diagnosticados nas

    curvas de 3 horas, com coletas de sangue aos 0, 30, 60, 90, 120 e 180 minutos

    (Proctor; Oak, 1981; Vexiau et al., 1983; Mangabeira-Albernaz; Fukuda, 1984;

    Lehrer et al., 1986; Lavinsky et al., 2004).

    Serra et al. (2009), ao avaliarem 81 curvas de 4 horas em pacientes

    com sndrome vestibular perifrica, encontraram 87,7% de alteraes, que

    incluram hiperinsulinemia, intolerncia a glicose, hipoglicemia e

    hiperglicemia. At a terceira hora a curva glicmica apresentou 71,6% de

    alteraes, valores estatisticamente semelhantes aos 87,7% obtidos pela

    curva de quatro horas.

    Critrios recentes para diagnstico das alteraes de glicemia

    estabelecidos pela American Diabetes Association (2010; 2011) incluem:

    Diabetes: valor de glicemia de jejum maior ou igual a 126 mg/dl e/ou

    glicemia ps-prandial (2 horas aps as refeies ou 2 horas aps

    ingesto de uma sobrecarga de 75mg de glicose) maior ou igual a

    200 mg/dl e/ou glicemia ao acaso maior ou igual a 200 mg/dl;

    Intolerncia glicose ou pr-diabetes: valores entre 145 mg/dl e

    199 mg/dl observados na glicemia ps-prandial;

    Hipoglicemia: valor de glicemia abaixo de 55 mg/dl associado a

    sintomas sugestivos, em qualquer momento do exame.

  • Reviso de Literatura 16

    A curva insulinmica classificada em 5 tipos segundo os critrios de

    Kraft (Kraft; Nosal, 1975; Proctor; Oak, 1981):

    Tipo I: curva normal - Valor em jejum: 0 a 25 U/l, pico entre 30 e

    60 min (independente do valor), valor em 120 minutos menor que

    50 U/l, soma dos valores em 120 e 180 minutos menor que

    60 U/l e valores entre 240 e 300 minutos na faixa do jejum.

    Tipo II: pico normal com retorno lento.

    o II1: pico entre 30 e 60 minutos, soma dos valores em 120 e 180

    minutos entre 60 a 100 U/l (limtrofe).

    o II2: pico entre 30 e 60 minutos, soma dos valores em 120 e 180

    minutos maior que 100 U/l.

    Tipo III:

    o IIIA - pico em 120 minutos.

    o IIIB - pico em 180 minutos.

    Tipo IV: valor em jejum maior que 50 U/l.

    Tipo V: curva insulinopnica (resposta insulnica baixa), todos os

    valores insulinmicos menores que 50 U/l.

    A avaliao dos pacientes otoneurolgicos por meio da curva

    glicoinsulinmica mostra-se eficaz no diagnstico precoce dos distrbios do

    metabolismo dos carboidratos, como hipoglicemia, intolerncia glicose e

    diabetes melito. Alm de prevenir a deteriorao da orelha interna e a

    progresso para o prprio diabetes, evita complicaes sistmicas futuras,

    como alteraes vasculares aterosclerticas e neuropatias que podem

    repercurtir na morbimortalidade (Gladney; Shepherd, 1970; Mangabeira-

    Albernaz; Fukuda, 1984).

  • Reviso de Literatura 17

    Em relao ao gnero e idade, os estudos apontam maior

    prevalncia das alteraes metablicas relacionadas s disfunes da

    orelha interna em pacientes do gnero feminino com mdia de idade por

    volta da quinta dcada de vida (Pillsbury, 1981; Mangabeira-Albernaz;

    Fukuda, 1984; Ramos; Ramos, 1993; Bittar et al., 2003; Bittar et al., 2004;

    Fonseca; Davidson, 2006; Oiticica; Bittar, 2010). Provavelmente, alteraes

    hormonais femininas, como as flutuaes de estrogneo e progesterona,

    associadas migrnea e s disfunes de metabolismo de glicose

    favoream o aparecimento de distrbios do equlbrio corporal nesta faixa

    etria (Bittar et al., 2003; Sacco et al., 2012).

    3.4 Tratamento da tontura atribuda aos DMG

    A elevao da glicose plasmtica aps as refeies, especialmente

    aps a ingesto abusiva de carboidratos, faz com que a insulina seja

    excessivamente liberada. Somente ao compreender este mecanismo

    possvel aceitar o relevante e primrio papel da dieta no manejo das DMG

    na orelha interna (Currier, 1971; Spencer, 1981; Brun et al., 2000).

    Devido alta prevalncia das disfunes labirnticas associada a

    alteraes do metabolismo de carboidratos, essencial encorajar os

    pacientes a manter seu peso ideal custa de dieta equilibrada (Currier, 1971;

    Spencer, 1981; Lehrer et al.,1986; Bittar et al., 2004; Lavinsky et al.,2004).

    Estudos com reviso de literatura baseada em evidncias concluem que

  • Reviso de Literatura 18

    exerccios fsicos associados dieta restritiva de carboidratos so capazes

    de melhorar a resistncia perifrica insulina e intolerncia glicose,

    prevenindo as comorbidades relacionadas obesidade e ao diabetes melito

    (Sato et al., 2003; Savage et al., 2007).

    As orientaes dietticas propostas por vrios autores podem

    diferenciar-se em detalhes, mas basicamente incluem reduo categrica

    dos carboidratos de rpida absoro como a farinha de milho, trigo, arroz,

    massas e batatas. indicado substituir o acar branco ou mel por adoante

    e pes com farinha branca por po integral. O fracionamento das refeies

    indicado em intervalos de 3 horas, com quantidades menores de alimentos,

    evitando, assim, a hipoglicemia relacionada ao consumo normal de glicose.

    Um dos alimentos ideais para essas refeies intermedrias so as frutas,

    pois a frutose no to rapidamente absorvida, no entanto, o abuso de

    frutas muito doces como uva, figo, caqui e mamo papaya deve ser evitado

    (Mangabeira-Albernaz; Fukuda, 1984; Bittar et al., 2004).

    O consumo exagerado de carboidratos e gorduras associado ao

    sedentarismo responsvel pela obesidade associada ao diabetes melito

    tipo 2 e resistncia perifrica insulina. A dieta balanceada e o exerccio

    fsico regular podem melhorar esse quadro por reduzir a liberao de

    insulina e sua ao hipotalmica, responsvel pelo controle ponderal

    (Kahn et al., 2006; Savage et al., 2007; Kim; Reaven, 2008).

  • Reviso de Literatura 19

    3.5 Efeito placebo

    Ensaios clnicos com placebo tornam-se cada vez mais

    indispensveis nas pesquisas devido ao seu efetivo poder de controle e

    validao dos tratamentos, desde que no ofeream risco substancial ao

    paciente (Colloca et al., 2010; Avins et al, 2012).

    Ingerindo o placebo, o paciente se sente tratado e acompanhado por

    seu mdico assistente, e pode originar um efeito de origem psquica capaz

    de minimizar os sintomas apresentados.

    Estudos recentes demonstram que o efeito placebo capaz de gerar

    importantes fenmenos biolgicos e mimetizar efeitos farmacolgicos, como

    por exemplo ativao de vias centrais responsveis pela produo de

    opiides endgenos (Finness et al., 2010; Benedetti, 2012). Alguns autores

    encontram at 35% de respostas positivas ao tratamento com placebo

    (Benedetti, 2012).

    3.6 Posturografia Dinmica Computadorizada na avaliao

    da funo labirntica

    A Posturografia Dinmica Computadorizada (PDC) complementa a

    bateria clssica de testes para diagnstico otoneurolgico e abre caminho na

    averiguao mais objetiva das tonturas (Di Fabio, 1995; Bittar, 2007; Simoceli,

    2007). A PDC possibilita a avaliao do reflexo vestbulo-espinal e faz a

  • Reviso de Literatura 20

    anlise sensorial dos resultados. Trata-se de um mtodo quantitativo que

    avalia os sistemas sensoriais e motores envolvidos no equilbrio corporal e

    considerado padro ouro na avaliao do equilbrio corporal (Dobie, 1997).

    Os testes realizados na PDC avaliam quatro funes bsicas

    envolvidas na manuteno do equilbrio: (1) percepo dos estmulos

    proprioceptivos, visuais e vestibulares, (2) integrao central das informaes

    gerando uma resposta motora, (3) estabelecimento da estratgia adequada

    de seleo sensorial para a correo postural e (4) respostas motoras em

    latncias e intensidades adequadas para a manuteno do centro de massa

    corporal dentro dos limites fsicos de estabilidade da postura ereta

    (Owen, 2001; Black, 2001a).

    Clinicamente, a PDC pode determinar se h uma alterao do

    equilbrio ou no, quantificando-a e verificando se est relacionada s

    aferncias sensoriais, integrao central das informaes, ao controle motor

    reflexo, ou a uma combinao de todos esses fatores. No entanto, a finalidade

    da PDC determinar um topodiagnstico e no se prope a diagnosticar a

    etiologia do desequilbrio (Norr, 1994; Harcourt,1995; Black, 2001b).

    Dentre os vrios testes realizados na PDC, inclui-se o Teste de

    Integrao Sensorial (TIS). O TIS permite quantificar o estado funcional dos

    trs sistemas sensoriais envolvidos no equilbrio corporal, as respostas

    motoras, as situaes de conflito sensorial e as estratgias de equilbrio

    envolvidas na manuteno da postura ereta (Herdman, 2002).

    As principais condies que avaliam a funo vestibular so as que

    permitem oscilao da plataforma de fora, ou seja, as condies 4, 5 e 6.

  • Reviso de Literatura 21

    Nessas situaes, a oscilao fisiolgica do centro de gravidade do corpo

    desloca a superfcie de apoio com o balano corporal e obriga o paciente a

    utilizar a informao vestibular para corrigir seu ngulo de tornozelo e no

    cair. Nesse caso, o sistema vestibular a aferncia cuja preciso da

    informao tem o maior impacto na estabilizao corporal. A condio 5 a

    situao que melhor avalia o sistema vestibular isoladamente, considerando

    que nela o paciente encontra-se sobre uma plataforma instvel e no dispe

    da informao visual (Di Fabio, 1996; Ruckenstein; Shepard, 2000; Owen,

    2001; Bittar et al., 2004; Novalo et al., 2008).

    Dentre as vrias indicaes da PDC encontra-se o controle de

    tratamento clnico ou de reabilitao (Dobie,1997; Medeiros, et al., 2003;

    Bittar, 2007; Novalo et al., 2008). Nesse aspecto, ainda existem poucos

    estudos que sugerem a PDC como uma ferramenta til na documentao da

    melhora do equilbrio de pacientes portadores dos DMG e sua aplicao na

    documentao mais objetiva dos dados (Oppenheim, 1999).

    Bittar et al. (2004) ao avaliarem pacientes com DMG e tontura por

    meio da PDC encontram alteraes significativas, tanto na condio 5, como

    no ndice final de equilbrio. A performance desses pacientes PDC

    apresentou-se melhor aps dieta restritiva de carboidratos.

    Alteraes posturais precoces so encontradas em pacientes com

    diabetes melito utilizando testes posturogrficos (Yamamoto et al., 2001;

    Fioretti et al., 2010). Por meio da PDC, j foi documentado o desequilbrio

    subclnico em pacientes diabticos tipo 1 com neuropatia perifrica

    (Di Nardo et al., 1999). De acordo com Eman et al. (2009), a deteco precoce

    das alteraes posturais, associada a um bom controle glicmico, pode

    prevenir futuras quedas em pacientes diabticos com neuropatia perifrica.

  • Reviso de Literatura 22

    3.7 Escalas questionrios de avaliao clnica dos

    pacientes com tontura

    Vrias ferramentas so utilizadas no campo da Otoneurologia com o

    objetivo de fornecer medidas numricas para o acompanhamento clnico de

    determinado tratamento institudo aos pacientes com tontura. As escalas

    mostram-se eficazes na avaliao do grau de impacto dos sintomas na

    qualidade de vida desses pacientes (Shepard et al., 1990; Clendaniel, 2000;

    Duracinsky et al., 2007). O Disability Index (DI) citado por alguns autores

    como uma escala que fornece a auto-percepo do grau de capacidade

    diria do indivduo em relao ao seu equilbrio.

    Nesse questionrio o paciente atribui uma nota de 0 a 5 repercusso

    da tontura nas atividades dirias ou incapacidades baseada na descrio

    dos sintomas e suas limitaes dirias. A nota zero corresponde ausncia

    de sintomas, enquanto a nota 5 significa incapacidade severa de longa data,

    incapacidade laborativa por mais de um ano ou incapacidade permanente.

    Este ndice visa estabelecer uma relao numrica do grau de impacto da

    disfuno de equilbrio na vida do paciente (Shepard et al., 1990;

    Clendaniel, 2000) (ANEXO 4).

    A Escala Anlogo Visual (EAV) tambm outra ferramenta que pode

    ser utilizada no acompanhamento dos pacientes com a finalidade de quantificar

    a evoluo subjetiva e individual dos sintomas. O paciente solicitado a

    pontuar o grau de incmodo dos seus sintomas utilizando uma nota de 0 a 10,

    em que 0 significa a ausncia de incmodo e 10 o grau mximo de incmodo

    com a tontura (Colloca et al., 2010; Kammerlind et al., 2011).

  • 4 MTODOS

  • Mtodos 24

    Este estudo foi desenhado como um ensaio clnico prospectivo

    controlado randomizado. O protocolo da pesquisa foi previamente aprovado

    pela Comisso de tica para Anlise de Projetos de Pesquisa CAPPesq

    da Diretoria Clnica do Hospital das Clnicas e da Faculdade de Medicina da

    Universidade de So Paulo em sesso de 14/12/2005 sob o nmero 482/05

    (ANEXO 1).

    Todos os participantes includos no estudo assinaram o termo de

    consentimento livre e esclarecido (ANEXO 2). Foram respeitados os

    princpios ticos que versam a resoluo 196/96 (Ministrio da Sade, 1996)

    sobre tica em pesquisas com seres humanos e as orientaes do Comit

    de tica em Pesquisa HCFMUSP.

    4.1 Casustica

    A amostra foi composta por 51 pacientes, 42 do gnero feminino e 9

    do masculino, provenientes do ambulatrio de Otoneurologia do Hospital das

    Clnicas da Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo

    (HCFMUSP). Todos pacientes j haviam sido submetidos ao protocolo

    padro de investigao clnica do Ambulatrio de Otoneurologia do

    Departamento de Otorrinolaringologia do Hospital das Clnicas da Faculdade

    de Medicina da Universidade de So Paulo (ORL-FMUSP) composto por:

  • Mtodos 25

    anamnese geral, exame otorrinolaringolgico e dos nervos cranianos,

    avaliao do Equilbrio esttico e dinmico (Romberg e Fukuda), testes de

    coordenao (diadococinesia com pronao e supinao alternadas dos

    antebraos e ndex-nariz) e exame eletronistagmogrfico completo.

    Os indivduos selecionados apresentavam queixas vestibulares e

    diagnstico de alteraes do metabolismo de glicose (alteraes dos nveis

    sricos de glicose e/ou insulina encontradas nas curvas glicmicas e/ou

    insulinmicas de 3 horas). A curva glicmica foi classificada de acordo com

    os critrios da American Diabetes Association (2010; 2011) e The Endocrine

    Society (2009). A interpretao da curva insulinmica baseou-se nos

    Critrios de Kraft (Kraft; Nosal, 1975; Charles et al., 1979; Proctor; Oak,

    1981; Mangabeira-Albernaz; Fukuda, 1984).

    O mtodo escolhido para a avaliao da curva glicoinsulinmica foi o

    enzimtico colorimtrico (determinao da glicose aps oxidao enzimtica

    pela glicose oxidase: GOD-PAP) e o radioimunoensaio para insulina

    (Mangabeira-Albernaz; Fukuda, 1984). A coleta de sangue foi realizada nos

    tempos: 0min; 30min; 60min; 90min; 120min e 180min. Imediatamente aps a

    primeira coleta foram administrados 75 mg de glicose (dextrosol) por via oral.

    Os pacientes selecionados e includos na pesquisa seguiram os

    seguintes critrios de incluso:

    Idade igual ou superior a 18 anos.

    Queixas de tonturas ou desequilbrio por disfuno vestibular perifrica.

    Glicemia menor ou igual a 55 mg/dl observados em qualquer

    momento na curva glicmica e/ou:

    Glicemia entre 145 e 199 mg/dl na segunda hora do exame e/ou:

    Soma das insulinemias de segunda e terceira horas maior que 60 U/ml.

    Assinatura do termo de cincia e consentimento livre ps-esclarecido.

  • Mtodos 26

    Foram considerados critrios de excluso do estudo:

    Queixas no atribuveis ao sistema vestibular.

    Alteraes ortopdicas ou neurolgicas que possam interferir na PDC.

    Pacientes diabticos (American Diabetes Association, 2010; 2011).

    Pacientes com diagnstico recente de Vertigem Posicional Paroxstica

    Benigna (VPPB).

    4.2 Metodologia

    4.2.1 Avaliao Clnica

    Anamnese

    Os pacientes selecionados responderam a um questionrio clnico

    especfico para a investigao da tontura no primeiro dia da investigao

    (D1). O questionrio foi sempre preenchido pelo examinador e avaliou o tipo

    de tontura e suas caractersticas: intensidade, fatores desencadeantes,

    fatores de piora ou melhora e alteraes auditivas (ANEXO 3).

    A gravidade das tonturas e sua relao com a qualidade de vida foi

    avaliada atravs do DISABILITY INDEX (DI) (Shepard et al.,1990). Nesse

    questionrio o paciente atribui uma nota de 0 a 5 repercusso da tontura

    nas atividades dirias ou incapacidades. A nota zero correspondeu

    ausncia de sintomas, enquanto a nota 5 significou incapacidade severa de

    longa data, incapacidade laborativa por mais de um ano ou incapacidade

    permanente. Este ndice visou estabelecer uma relao numrica do grau de

    impacto da disfuno de equilbrio na vida do paciente (ANEXO 4).

  • Mtodos 27

    Realizou-se ainda a ESCALA ANLOGO VISUAL (EAV), com a

    finalidade de quantificar a evoluo subjetiva e individual dos sintomas.

    O paciente foi solicitado a pontuar o grau de incmodo dos seus sintomas

    atribuindo-lhes uma nota de 0 a 10, em que 0 significou a ausncia de

    incmodo e 10 o grau mximo de incmodo.

    Tanto o DI quanto o EAV foram aplicados no primeiro (D1) e trigsimo

    (D30) dias do estudo.

    4.2.2 Avaliao funcional do equilbrio

    A avaliao funcional quantitativa do equilbrio corporal foi realizada

    sempre pelo mesmo examinador, por meio da Posturografia Dinamica

    Computadorizada (PDC). O protocolo de avaliao escolhido foi o Teste de

    Integrao Sensorial (TIS) e o aparelho utilizado foi o Equitest System Verso

    4.0 produzido pela NeuroCom Iternacional - USA. O exame foi realizado em dois

    momentos: no primeiro dia de estudo (D1) e aps 30 dias de tratamento (D30).

    O TIS avaliou a participao dos diversos componentes do equilbrio

    corporal e sua integrao sensorial na resposta reflexa motora frente a diversas

    situaes que desafiam a estabilidade postural desses pacientes. Foram

    realizadas 6 condies de conflito sensorial, durante 20 segundos repetidas 3

    vezes cada uma. Dentre essas, as condies 4, 5, 6 (condies de oscilao da

    plataforma) foram consideradas de maior relevncia por melhor traduzir a

    funo vestibular e conflito sensorial. Alm disso, tambm foi avaliado o ndice

    de equilbrio (mdia aritmtica das somatrias dos valores das condies 1 e 2

    e os melhores resultados das condies 3, 4, 5 e 6 da PDC).

  • Mtodos 28

    Condies sensoriais avaliadas pelo TIS:

    Condio 1 (C1): Paciente em posio ortosttica, plataforma fixa e

    olhos abertos;

    Condio 2 (C2): Paciente em posio ortosttica, plataforma fixa e

    olhos fechados;

    Condio 3 (C3): Paciente em posio ortosttica, plataforma fixa,

    olhos abertos e campo visual mvel;

    Condio 4 (C4): Paciente em posio ortosttica, plataforma

    instvel e olhos abertos com campo visual fixo;

    Condio 5 (C5): Paciente em posio ortosttica, plataforma

    instvel e olhos fechados;

    Condio 6 (C6): paciente em posio ortosttica, plataforma instvel

    e campo visual em movimento, com olhos abertos.

    As condies descritas podem ser visualizadas na Figura 1.

    Fonte: Bittar, 2007.

    Figura 1 Condies de estimulao sensorial no TIS

  • Mtodos 29

    4.2.3 Diviso dos grupos

    Os pacientes selecionados para o estudo realizaram a PDC e foram

    randomizados por ordem numrica de chegada ao ambulatrio (primeiro

    paciente alocado no Grupo Dieta, segundo para o grupo no dieta, terceiro

    Grupo Dieta e assim sucessivamente) em 2 grupos distintos:

    a) Grupo Dieta (GD): indivduos tratados com comprimidos de

    placebo e dieta fracionada com restrio de glicose. As orientaes

    dietticas foram fornecidas ao paciente em papel impresso

    (ANEXO 5).

    b) Grupo Controle (GC): os indivduos deste grupo receberam os

    comprimidos de placebo e foram orientados a manter uma dieta

    regular, no receberam informaes a respeito do fracionamento

    e restrio de acar.

    Todos os pacientes utilizaram o placebo diariamente com o objetivo

    de mimetizar o efeito de um medicamento anti vertiginoso e para que se

    sentissem tratados. A posologia orientada para o placebo foi uma vez ao dia,

    de preferncia no mesmo horrio. Ao ler e assinar o termo de consentimento

    livre e esclarecido, os sujeitos da pesquisa foram esclarecidos quanto ao

    fato do comprimido placebo no apresentar efeitos teraputicos na

    vestibulopatias, como orientado pela CAPPesq.

    Os comprimidos de placebo foram manipulados em cpsulas

    transparentes contendo 180 miligramas de amido de milho. Os pacientes

  • Mtodos 30

    foram solicitados a retornar com a embalagem fornecida para que o

    examinador observasse se os comprimidos haviam sido tomados ou no.

    Aps 30 dias, os pacientes de ambos os grupos retornaram ao

    ambulatrio e refizeram a PDC e os questionrios DI e EAV. Os pacientes

    apresentaram a embalagem do placebo e foi questionada a aderncia ao

    tratamento diettico proposto. Aps o trmino do estudo (D30), os pacientes

    de ambos os grupos foram encorajados a manter uma dieta adequada

    (ANEXO 5) e foi fornecido ao Grupo Controle o papel impresso com as

    orientaes. Os pacientes mantiveram seu acompanhamento no ambulatrio

    de Otoneurologia FMUSP-SP.

    Na Figura 2 esto representadas as etapas desenvolvidas na

    pesquisa.

    Fonte: Elaborao prpria.

    Figura 2 Fluxograma do estudo

    Dia 30

    Randomizao

    Dia 1 DMG

    PDC + EAV + DI

    Grupo Dieta

    (dieta e placebo)

    PDC + EAV + DI

    Grupo Controle

    (placebo)

    PDC + EAV + DI

  • Mtodos 31

    4.2.4 Anlise Estatstica

    As variveis primrias de estudo consideradas foram o DI, EAV e

    PDC. Na PDC foram utilizadas as condies posturogrficas do TIS que

    envolveram a plataforma instvel (C4, C5 e C6) e o ndice de Equilbrio (IE).

    Todos os dados foram catalogados em fichas individuais, contendo

    identificao dos pacientes, grupo ao qual pertenceu, bem como suas

    avaliaes clnicas e posturogrficas (ANEXO 3). Os pontos de anlise

    foram: o impacto da dieta na organizao sensorial do equilbrio e a possvel

    diferena de resultados numricos entre os grupos.

    A metodologia de anlise incluiu ferramentas da estatstica descritiva

    e da estatstica paramtrica e no paramtrica.

    Para a anlise estatstica foram utilizados os seguintes testes:

    Teste t de Student (Magalhes; Lima, 2000);

    Teste de Cochran (Maxwell; Satake, 1997);

    Teste Qui-quadrado com correo de continuidade de Yates

    (Maxwell; Satake, 1997);

    Comparaes mltiplas de Tukey (Maxwell; Satake, 1997);

    Teste de Correlao de Pearson (Magalhes; Lima, 2000);

    Teste de Correlao de Spearman (Siegel; Castellan, 1988);

    DI ANOVA com Medidas Repetidas No Paramtricas (Neter et. al, 1996).

    O nvel de significncia empregado nos testes de hiptese foi de 5%,

    conforme preconizado para estudos biolgicos (p < 0,05).

  • 5 RESULTADOS

  • Resultados 33

    5.1 Caracterizao da amostra

    Cinquenta e um pacientes preencheram os critrios de incluso e

    excluso. O Grupo Dieta (GD) foi constituido por 26 indivduos e a idade

    mdia observada foi de 45,8 11,3 anos. O Grupo Controle (GC) foi

    composto por 25 pacientes e sua mdia de idade foi de 52 13,7 anos.

    A maioria dos pacientes pertenceram ao gnero feminino (42 pacientes -

    82,4%) e 9 pacientes do gnero masculino (17,6%). Para avaliao

    estatstica dos grupos, foram utilizados os testes do qui-quadrado e t de

    Student para comparao do gnero e idade respectivamente. Quando

    comparados, os grupos mostraram-se homogneos quanto distribuio de

    gneros (p = 0,948) e idade (p = 0,086) (Maxwell; Satake,1997).

    As frequncias e porcentagens para a verificao da homogeneidade

    dos grupos em relao ao gnero foram obtidas atravs do Teste Exato de

    Fisher. Verificou-se a ausncia de associao significativa (p = 0,726)

    indicando que os grupos so homogneos em relao ao gnero

    (Magalhes; Lima, 2000).

    Com relao s medidas descritivas para idade e o teste de verificao

    de diferena para os grupos utilizando o Teste t de Student, devido ao ajuste

    para distribuio normal verificado, identificamos que no houve diferena

    significativa (p = 0,086), portanto, os grupos foram homogneos em relao

    idade (Magalhes; Lima, 2000).

  • Resultados 34

    Com relao caracterizao clnica dos pacientes, utilizou-se o teste

    do qui-quadrado e o teste de Cochran para avaliao da hierarquia em

    termos de incidncia. Os tipos de tontura mais frequentes foram a flutuao

    (70,5%) e sensao de desequilbrio (60%). O diagnstico laboratorial mais

    frequente foi a hiperinsulinemia em 76,47% dos casos. A intolerncia

    glicose esteve presente em 62,39% da amostra e a hipoglicemia em 21,56%

    (Maxwell; Satake,1997).

    5.2 Variveis quantitativas pela PDC

    Para avaliar as variveis quantitativas da PDC, aplicou-se o teste de

    ANOVA (Anlise de Varincia) para comparao entre os grupos. Ao observar-

    se significncia, foi realizado clculo de comparaes mltiplas de Tukey, que

    identificou quais as diferenas significantes (Maxwell; Satake,1997).

    Os resultados da PDC obtidos entre os dois grupos foram

    comparados entre si. Quando avaliada a CONDIO 4, observou-se

    melhora significativa do Grupo Dieta na segunda medida em relao

    primeira (p = 0,0128) e em relao ao Grupo Controle no 30 dia do

    experimento (p = 0,0002). Os valores de ambos os grupos no primeiro e

    trigsimo dias e os valores de p podem ser observados na Tabela 1.

    Tabela 1 Valores da CONDIO 4 da PDC dos Grupos Dieta e Controle e

    dos momentos Dia 1 e Dia 30

    C4

    GRUPO DIA 1 DIA 30 VALORES DE P

    MDIA + DP MDIA + DV

    Dieta 69,24 15,21 77,09 9,73 0,0128*

    Controle 62,30 14,50 61,94 15,22 0.9991

    p 0,0420* 0,0002*

    Fonte: Elaborao prpria.

  • Resultados 35

    Com relao CONDIO 5, observou-se melhora significativa do

    Grupo Dieta na segunda medida em relao primeira (p = 0,0015) e em

    relao ao Grupo Controle no 30 dia do experimento (p = 0,0028).

    Os valores de ambos os grupos no primeiro e trigsimo dias e os valores de

    p podem ser observados na Tabela 2.

    Tabela 2 Valores da CONDIO 5 da PDC dos Grupos Dieta e Controle e

    dos momentos Dia 1 e Dia 30

    C5

    GRUPO DIA 1 DIA 30 VALORES DE P

    MDIA + DP MDIA + DV

    Dieta 42,75 23,68 59,87 16,99 0,0015*

    Controle 44,91 19,06 43,15 17,29 0.9804

    p 0.9616 0,0028*

    Fonte: Elaborao prpria.

    A anlise da CONDIO 6, mostrou melhora significativa do Grupo

    Dieta na segunda medida em relao primeira (p = 0,0015). Os valores de

    ambos os grupos no primeiro e trigsimo dias e os valores de p podem ser

    observados na Tabela 3.

    Tabela 3 Valores da CONDIO 6 da PDC dos Grupos Dieta e Controle e

    dos momentos Dia 1 e Dia 30

    Cond.6

    GRUPO DIA 1 DIA 30 VALORES DE P

    MDIA + DP MDIA + DV

    Dieta 41,17 18,03 55,23 15,95 0,0024*

    Controle 45,65 18,03 46,93 14,66 0.9874

    p 0.6370 0.1390

    Fonte: Elaborao prpria.

  • Resultados 36

    A comparao entre os valores obtidos do ndice de Equilbrio

    demonstrou melhora significativa do Grupo Dieta na segunda medida em

    relao primeira (p = 0,0002) e em relao ao Grupo Controle no 30 dia

    do experimento (p = 0,0002). Os valores de ambos os grupos no primeiro e

    trigsimo dias e os valores de p podem ser observados na Tabela 4.

    Tabela 4 Valores do NDICE DE EQUILBRIO (IE) dos Grupos Dieta e

    Controle dos momentos Dia 1 e Dia 30

    IE

    GRUPO DIA 1 DIA 30 VALORES DE P

    MDIA + DP MDIA + DV

    Dieta 64,2811,37 73,44 8,80 0,0002*

    Controle 64,55 9,62 63,95 10,61 0.9838

    p 0.9984 0,0002*

    Fonte: Elaborao prpria.

    5.3 Variveis quantitativas encontradas na Escala Anlogo

    Visual e Disability Index

    Com relao s variveis quantitativas EAV e DI e comparao

    entre os grupos, aplicou-se o teste de ANOVA (Anlise de Varincia).

    Ao observar-se significncia, foi realizado clculo de comparaes

    mltiplas de Tukey que identificou as diferenas significantes (Maxwell;

    Satake,1997).

    Quando avaliados os resultados da escala anlogo visual (EAV),

    observou-se melhora estatisticamente significativa no Grupo Dieta na

  • Resultados 37

    segunda medida (p = 0,0002) e em relao ao Grupo Controle (p = 0,0044).

    Os resultados podem ser observados na Tabela 5.

    Tabela 5 Valores da varivel EAV dos Grupos Dieta e Controle e dos

    momentos Dia 1 e Dia 30

    EAV

    GRUPO DIA 1 DIA 30 VALORES DE P

    MDIA + DP MDIA + DV

    Dieta 7,78 1,75 4,04 3,73 0,0002*

    Controle 7,38 2,10 6,503,15 0.5913

    p 0.9347 0,0044*

    Fonte: Elaborao prpria.

    Os resultados da varivel Disability Index (DI) indicaram diferenas

    estatisticamente significativas no trigsimo dia tanto no Grupo Dieta

    (p = 0,0119) como no Grupo Controle (p = 0,022). No houve diferena

    significativa entre os grupos no trigsimo dia de experimento. Os valores

    obtidos podem ser observados na Tabela 6.

    Tabela 6 Valores da varivel Disability Index (DI) dos Grupos Dieta e

    Controle e dos momentos Dia 1 e Dia 30

    DI

    GRUPO DIA 1 DIA 30 VALORES DE P

    MDIA + DP MDIA + DV

    Dieta 2,60 1,80 1,16 2,10 0,0119*

    Controle 2,21 0,98 1,63 1,21 0,0222*

    p 0.3894 0.3077

    Fonte: Elaborao prpria.

  • Resultados 38

    Na Tabela 7 apresentamos as correlaes entre as medidas de DI e

    EAV no mesmo momento. Verifica-se que h correlao estatisticamente

    significativa entre EAV e DI em ambos os grupos e em ambos os tempos, alm

    do que as correlaes so de tamanho moderado e com valores positivos

    indicando que a relao no fraca. Quanto maior o EAV maior o DI.

    Tabela 7 Correlao entre EAV e DI em ambos os grupos e nos dois

    tempos de coleta (Dia 1 e Dia 30)

    DI 1 Dia

    EAV 1 Dia

    Correlao Coeficiente p-valor

    sem dieta Pearson 0,518 0,008

    com dieta Pearson 0,238 0,241

    DI 30 Dia EAV 30 Dia

    Correlao Coeficiente p-valor

    sem dieta Spearman 0,748

  • 6 DISCUSSO

  • Discusso 40

    Cinquenta e um pacientes avaliados e includos no presente

    estudo apresentaram idade mdia de 45,8 anos 11,3 no Grupo Dieta e de

    52 anos 13,7 no Grupo Controle. Todos os 51 pacientes completaram

    adequadamente o estudo e no houve nenhuma desistncia durante o

    perodo proposto.

    A maioria dos casos estudados, equivalente a 82,4%, pertenceu ao

    gnero feminino, dados semelhantes literatura mundial. Algumas

    circunstncias favorecem o aparecimento de distrbios do equilbrio corporal

    nessa faixa etria na mulher, como os distrbios hormonais e a migrnea

    (Bittar et al., 2003; Sacco et al., 2012). As alteraes hormonais na mulher

    entre a quarta e quinta dcadas de vida marcam o incio do climatrio,

    cujas manifestaes podem incluir reteno hdrica, distrbios metablicos

    e ansiosos mais evidentes (Pillsbury, 1981; Mangabeira-Albernaz;

    Fukuda, 1984; Ramos; Ramos, 1993; Bittar et al., 2003 e 2004; Fonseca;

    Davidson, 2006; Oiticica; Bittar, 2010). Nessa faixa etria, os DMG funcionam

    como um dos gatilhos migranosos e so responsveis pelo desencadeamento

    e manuteno de desequilbrios corporais (Bittar et al., 2003, Mangabeira-

    Albernaz; Fukuda, 1984).

    Todos os pacientes includos no estudo apresentavam queixas

    vestibulares e distrbio de metabolismo de glicose. Optou-se por excluir

    pacientes diabticos para evitar possvel vis na amostra devido a

  • Discusso 41

    alteraes especficas presentes que comprometem a homeostasia da

    orelha interna (Mangabeira-Albernaz, 1995; Bittar et al., 2004). Alguns autores

    detectaram alteraes precoces na PDC em pacientes com diabetes tipo I e

    tipo II, por provvel neuropatia perifrica e essas alteraes comprometeriam a

    qualidade de nossos resultados (Di Nardo et al., 1999; Yamamoto et al., 2001;

    Fioretti et al., 2010).

    As alteraes ortopdicas e neurolgicas foram excludas por impedir

    a adequada realizao da PDC e a Vertigem Posicional Paroxstica Benigna

    foi excluda por apresentar substrato antomo-patolgico conhecido que no

    o distrbio de metabolismo de glicose (Prez et al., 2012).

    Este estudo foi desenhado como um ensaio clnico prospectivo

    controlado que seguiu randomizao simples, por ordem numrica do

    pronturio de acordo com a chegada do paciente ao ambulatrio (primeiro

    paciente alocado no Grupo Dieta, segundo para o grupo no dieta, terceiro

    Grupo Dieta e assim sucessivamente). Os grupos dieta e controle mostraram-

    se homogneos entre si, portanto, apresentaram caractersticas semelhantes

    nas variveis mais relevantes, fato que imputou credibilidade aos resultados

    encontrados. Observamos o resultado final do Grupo Dieta com dois

    comparativos: os dados iniciais antes da dieta restritiva de glicose e os dados

    obtidos pelo grupo que no sofreu interveno. Essa dupla abordagem nos

    permite confiar nos resultados encontrados.

    A anamnese fundamental para o diagnstico das tonturas de origem

    metablica, que incluem os DMG. Vrios sintomas acompanham esses

    pacientes como tontura tipo flutuao (citado pela maioria dos autores como

  • Discusso 42

    o mais comum) com ou sem crises tpicas de vertigem, desequilbrio,

    plenitude auricular, zumbido, hipoacusia e desconforto frente a rudos intensos

    (Currier, 1971; Mangabeira-Albernaz; Fukuda, 1984; Bittar et al., 2004).

    As caractersticas encontradas em nossa amostra no divergem da

    literatura, e o sintoma mais prevalente foi tontura tipo flutuao em 70,5%

    dos indivduos seguido pelo desequilbrio, em 60% dos casos.

    A curva glicoinsulinmica a ferramenta diagnstica mais importante

    na avaliao dos pacientes com tontura e DMG e deve ser sempre solicitada

    quando h suspeita clnica (Mangabeira-Albernaz; Fukuda, 1984;

    Lavisnsky et al., 2004). Segundo a literatura, a avaliao conjunta de ndices

    glicmicos e insulinmicos aumenta a sensibilidade do diagnstico dos DMG

    em pacientes portadores de disfunes vestibulares (Lehrer et al., 1986;

    Ramos; Ramos, 1993). Optamos pela realizao da curva glicoinsulinmica

    de 3 horas pelas evidncias fornecidas por pesquisas clnicas anteriores que

    diagnosticaram algum DMG j nas primeiras 3 horas do exame, alm de ser

    rpida e no causar grande desconforto ao paciente (Proctor; Oak, 1981;

    Vexiau et al., 1983; Serra et al., 2009). Quando avaliamos as alteraes

    mais encontradas na curva glicoinsulinmica, observamos que a

    hiperinsulinemia foi a alterao mais prevalente, observada em 76,47% dos

    casos, semelhante a outras pesquisas clnicas com pacientes com tontura

    associada a DMG (Mangabeira-Albernaz; Fukuda, 1984; Rybak, 1995;

    Lavisnsky et al., 2004; Kim; Reaven, 2008).

    O placebo foi intencionalmente administrado em ambos os grupos

    para que os pacientes se sentissem tratados e acompanhados pelo

  • Discusso 43

    pesquisador. Alm disso, com a administrao de placebo aos diferentes

    grupos, foi possvel excluir a dieta como placebo em potencial, e

    provavelmente a dieta foi o fator responsvel pela melhora dos pacientes

    estudados no GD. Atualmente, o efeito placebo tem se tornado essencial

    aos ensaios clnicos para validao de um tratamento proposto (Colloca

    et al., 2010; Avins et al., 2012), pois podem gerar fenmenos biolgicos que

    mimetizam efeitos farmacolgicos e alguns autores chegaram a encontrar

    35% de casos com resposta positiva ao placebo (Finness et al., 2010;

    Benedetti, 2012). Curiosamente, apesar do termo de consentimento livre e

    esclarecido ser lido e explicado, apenas um paciente questionou a utilizao

    de um comprimido sem efeito teraputico.

    Com base em ensaios clnicos, a dieta fracionada e restritiva de glicose

    a conduta que apresenta papel relevante dos pacientes estudados

    (Currier, 1971; Spencer, 1981; Brun et al., 2000; Fukuda, 2004). Em nosso

    estudo, os pacientes foram orientados a adotar uma dieta com reduo

    categrica dos carboidratos de rpida absoro e fracionamento da dieta em

    intervalos de 3 horas. Ao retornarem, no trigsimo dia de estudo, os pacientes

    do GD foram questionados sobre a aderncia ao tratamento e todos

    afirmaram ter seguido a dieta adequadamente como orientada. A dieta foi um

    tratamento de fcil aceitao e realizao durante o perodo de 1 ms.

    A importncia da PDC como mtodo de avaliao reside na

    possibilidade de quantificar com preciso e objetividade a melhora clnica

    dos pacientes com tontura, alm de permitir a comparao dos achados

    objetivos encontrados nas diversas medidas efetuadas. Com a documentao

  • Discusso 44

    obtida da PDC possvel agregar aos dados clnicos, dados quantitativos

    fundamentais para o diagnstico e acompanhamento das afeces

    vestibulares (Norr, 1994; Black, 2001a).

    No existem estudos que aplicam a metodologia utilizada como a do

    presente estudo, mas a PDC j havia sido utilizada como forma de

    documentao em tratamentos de indivduos com DMG e disfuno vestibular,

    demonostrando a efetividade da dieta fracionada e restritiva de glicose

    (Bittar et al., 2004). A PDC um exame com alta sensibilidade e adequado

    no controle e acompanhamento para tratamentos clnicos como a dieta

    proposta nesse estudo (Dobbie, 1997; Medeiros et al., 2003).

    Nesse estudo, a PDC foi realizada nos dois grupos (GD e GC) em

    dois momentos: no primeiro e no trigsimo dia do estudo. Baseados em

    estudos prvios, optamos pela anlise das condies de plataforma mvel,

    4, 5 e 6 obtidos do Teste de Integrao Sensorial (TIS). Os testes com

    oscilao de plataforma obrigam o paciente a se utilizar de informaes

    vestibulares e/ou apoio visual diante de situaes de conflito sensorial

    (Di Fabio, 1996; Ruckenstein; Shepard, 2000; Owen, 2001; Bittar et al., 2004;

    Novalo et al., 2008). Tambm foi analisado o ndice de equilbrio (IE) por

    representar o desempenho do equilbrio final estudado.

    As condies da posturografia, testadas em plataforma mvel,

    instabilizam a articulao do tornozelo, exigindo maior efetividade dos outros

    sistemas na estabilizao da postura. As condies 4, 5 e 6 so situaes

    de desafio e, dentre elas, a condio 4 a de mais fcil desempenho, pois

    oferece uma informao correta do posicionamento do corpo o campo

  • Discusso 45

    visual. Sendo assim, os indivduos que apresentam bom aproveitamento das

    aferncias visuais podem responder normalmente aos desafios oferecidos,

    mesmo que possuam informao vestibular inadequada (Herdman, 2002).

    Em nosso estudo, o GD apresentou melhor aproveitamento visual que

    o GC j no primeiro dia de avaliao (p = 0,042). Essa mesma situao

    ocorreu no trigsimo dia, mas com significncia estatstica (p = 0,0002).

    Observamos que esse melhor desempenho do GD em relao ao GC no

    incio do estudo foi muito aumentado no trigsimo dia, sendo observado,

    ainda, o melhor desempenho do grupo em relao a si mesmo quando

    comparados o primeiro e segundo resultados. Esses dados sugerem que o

    GD, que j possua melhor aproveitamento visual antes da interveno, saltou

    de uma significncia prxima do limite de aceitao (p = 0,042) para um

    valor altamente significante (p = 0,0002), demonstrando a eficcia da dieta

    adotada. Essa melhora significativa da condio 4 aps a interveno

    poderia ser atribuda ao melhor desempenho vestibular, somando-se agora

    ao melhor aproveitamento da informao visual.

    A avaliao da condio 5 a informao mais importante quando

    buscamos o desempenho vestibular na manuteno da estabilidade postural.

    a condio considerada puramente vestibular, pois nela que submetemos

    o corpo instabilidade da articulao do tornozelo e retiramos a informao

    visual, ficando o vestbulo como nico informante e responsvel pela

    estabilidade postural. Nessa condio, observamos melhora significativa dos

    valores encontrados no trigsimo dia de estudo no GD (p = 0,0028) quando

    comparados ao GC (p = 0,9804), e ainda quando comparados aos ao seu

  • Discusso 46

    prprio resultado inicial (p = 0,0015). So dados altamente significantes que

    demonstram a eficcia da dieta adotada no desempenho vestibular em sua

    funo de manuteno da estabilidade postural. Dessa maneira,

    reproduzimos os achados de Bittar et al. (2004), que se utilizaram da PDC

    para documentar a melhora da recuperao postural em pacientes portadores

    de DMG e submetidos dieta fracionada e restritiva de glicose.

    Com relao condio 6, a finalidade desestabilizar a informao

    proprioceptiva e fornecer informao visual conflitante, situao que exige

    bom desempenho do vestbulo na informao e manuteno da postura.

    Nessa condio, tambm, foi observada melhora dos valores encontrados

    no trigsimo dia de estudo do GD (p = 0,0024). No pudemos encontrar

    diferena estatisticamente significante entre os dois grupos no primeiro e

    trigsimo dias do estudo. Esses resultados apresentaram-se semelhantes

    aos encontrados na literatura (Bittar et al., 2004).

    O ndice final de equilbrio uma mdia ponderada de todas as

    condies avaliadas pelo TIS e reflete o desempenho final do equilbrio.

    Os resultados de GD no trigsimo dia de estudo mostraram-se superiores

    s medidas do primeiro dia (p = 0,0002) como tambm foram superiores

    no trigsimo dia (p = 0,0002), quando comparados ao GC (p = 0,9838).

    Os resultados demonstram o melhor desempenho postural atingido pelo

    GD atribudo ao efeito da dieta no desempenho vestibular dos sujeitos.

    Novamente, reproduzimos os achados de Bittar et al., 2004

    Em resumo, quando analisadas as variveis posturogrficas, foram

    encontrados valores que refletem o melhor desempenho na segunda medida

  • Discusso 47

    (D30) do GD, mas no do GC. Houve ainda melhor desempenho global do

    GD em relao ao GC no trigsimo dia de estudo. De acordo com estes

    resultados, pode-se inferir que a dieta fracionada e restritiva de carboidratos,

    administrada durante o perodo de um ms a pacientes com disfuno

    labirntica e DMG, mostrou-se eficaz na melhora do desempenho do

    equilbrio dos casos estudados.

    A literatura se utiliza de diversas escalas clnicas para a quantificao

    do impacto da tontura e/ou desequilbrio em pacientes vestibulopatas.

    Optamos por uma escala simplificada, a denominada Disability Index

    (Shepard et al., 1990; Clendaniel, 2000; Duracinsky et al., 2007). A escala

    pretende avaliar o comprometimento funcional e laboral provocado pela

    doena. Os valores do DI obtidos em nossa populao de estudo alcanaram

    escores intermedirios de impacto do sintoma tontura, isto , mdia do GD em

    2,6 e do GC em 2,2. Esses valores implicam em caracterizar a amostra como

    sendo constituda por indivduos que possuam incapacidade leve ou

    moderada s tarefas habituais. De fato, na prtica diria, o indivduo que

    apresenta vestibulopatia e DMG no um paciente que apresenta quedas,

    comprometimento significante do cotidiano ou necessita afastamento do

    trabalho e, por isso mesmo, muitas vezes tm seus sintomas subestimados

    pelo mdico assistente. Aps 30 dias de seguimento, ambos os grupos

    mantiveram um mesmo padro de resposta, sugerindo que o Disability Index

    no a melhor escala para acompanhamento de pacientes com tontura e

    DMG, j que a incapacidade desses pacientes no interferiu de maneira

    significante nas atividades cotidianas.

  • Discusso 48

    Com relao Escala Anlogo Visual, a finalidade foi observar o grau

    de incmodo dos sintomas e quantificar sua evoluo subjetiva como

    resultado da dieta adotada (Simoceli, 2007; Colloca et al., 2010; Kammerlind

    et al., 2011). No nosso estudo foi possvel observar melhora significativa

    (p = 0,0044) do grau de incmodo dos pacientes do GD em relao ao GC

    aps 30 dias de tratamento. Tambm observamos que o GD apresentou

    melhora no trigsimo dia em relao aos seus prprios resultados iniciais

    (p = 0,0002), o que no ocorreu com GC (p = 0,5913). Baseados nessas

    informaes, podemos inferir que a dieta interferiu positivamente na

    qualidade de vida dos pacientes do GD.

    Comparando-se os resultados do Disability Index e Escala Anlogo

    Visual dos grupos, observamos que h uma relao positiva entre elas, ou

    seja, quanto maior o incmodo da tontura, maior a incapacidade que ela

    resulta. Tambm observamos que, embora a incapacidade que o sintoma

    tontura provoca no indivduo portador de DMG no seja elevada, seu grau

    de incmodo elevado. Notamos ainda que a dieta foi capaz de baixar

    significativamente esse grau de incmodo, elevando a auto-estima e a

    qualidade de vida desses sujeitos.

    Por fim, torna-se importante lembrar que vrios autores ressaltam o

    diagnstico precoce de DMG como fator decisivo na conduo teraputica

    adequada e preveno de comorbidades futuras, o que justifica a solicitao

    do perfil glicoinsulinmico para todos pacientes com suspeita clnica de DMG

    (Kahn et al., 2006; Savage et al., 2007; Kim; Reaven, 2008).

  • 7 CONCLUSES

  • Concluses 50

    A partir do estudo realizado foi possvel concluir que:

    1 - As condies posturogrficas de plataforma mvel condies 4,

    5 e 6 em pacientes portadores de disfuno do equilbrio corporal

    e distrbios do metabolismo da glicose apresentaram valores

    significantemente melhores no grupo de pacientes submetidos

    aos 30 dias de dieta fracionada e restritiva de glicose. Tambm o

    ndice de equilbrio foi melhor nesse grupo, portanto houve

    melhora significativa do desempenho final do equilbrio corporal

    nos pacientes do Grupo Dieta.

    2 - A dieta fracionada e restritiva de carboidratos foi responsvel pela

    melhora clnica dos pacientes portadores de distrbios do

    equilbrio corporal e alteraes do metabolismo da glicose, fato

    comprovado atravs da anlise significativa da EAV no Grupo

    Dieta, quando comparado ao Grupo Controle. No entanto, o DI

    no apresentou melhora significativa em nenhum dos grupos

    estudados, ambos mantiveram um mesmo padro de resposta,

    provavelmente porque a incapacidade desses pacientes no

    interferiu nas atividades cotidianas.

  • 8 ANEXOS

  • Anexos 52

    Anexo 1 Protocolo aprovado pela Comisso de tica para

    Anlise de Projetos de Pesquisa CAPPesq

  • Anexos 53

    Anexo 2 Termo de consentimento livre e esclarecido

    HOSPITAL DAS CLNICAS DA FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE DE SO PAULO

    DIRETORIA CLNICA COMISSO DE TICA PARA ANLISE DE PROJETOS DE PESQUISA -

    CAPPesq

    CADASTRO DE PROTOCOLO DE PESQUISA

    Registro ( uso reservado Secretaria da CAPPesq )

    N do Protocolo: ............................... Data de Entrada : ............................

    1. Ttulo do Protocolo de Pesquisa

    DISTRBIOS DO METABOLISMO DA GLICOSE E MANIFESTAES

    VESTIBULARES: AVALIAO PELA POSTUROGRAFIA

    COMPUTADORIZADA

    2. Palavras-chaves que caracterizam o assunto da Pesquisa

    Hipoglicemia, metabolismo acar, posturografia dinmica, tonturas, vertigem, glicose

    3. Resumo do Protocolo de Pesquisa:

    O objetivo do estudo avaliar, atravs da posturografia dinmica computadorizada(PDC), pacientes portadores de tontura com diagnstico concomitante de distrbios do metabolismo da glicose, que sero submetidos dieta fracionada e com restrio de acar. O estudo ter o formato de um ensaio clnico randomizado. Sero estudados pacientes do ambulatrio de Otoneurologia do Hospital das Clnicas da Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo (HCFMUSP) portadores de tonturas, de ambos os gneros, com queixas vestibulares, previamente submetidos avaliao otorrinolaringolgica geral, teste audiomtrico e eletro-oculografia, que apresentarem alteraes dos nveis sricos de glicose e insulina encontrados nas curvas glicmicas e/ou insulinmicas de 3 horas. Ser realizada Posturografia Dinmica Computadorizada em todos os indivduos e os mesmos sero submetidos a um questionrio relacionando as queixas e a qualidade de vida; sero constitudos dois grupos:

  • Anexos 54

    a) Grupo Dieta/Placebo (GDP): compreendendo indivduos que sero tratados com placebo e dieta fracionada com restrio de glicose. Estes pacientes recebero orientaes dietticas em papel impresso

    b) Grupo Placebo (GP): os indivduos deste grupo sero tratados apenas com placebo.

    Aps 30 dias, os pacientes de ambos grupos retornaro e repetiro a PDC e o questionrio clnico Disability Index. Os indivduos do Grupo DP sero submetidos a questionrio de validao da dieta. Neste, sero pesquisadas falhas ou total aderncia dieta instituda para o tratamento. Os resultados sero obtidos atravs de comparao entre os dados iniciais e finais do estudo. Para avaliao comparativa sero considerados os seguintes aspectos:

    a) Comparao do Disability Index da primeira avaliao (Dia 1) com o ndice obtido no retorno (Dia 30).

    b) Comparao dos resultados quantitativos obtidos pela PDC nos dias 1 e 30.

    c) Comparao entre os dois grupos quanto aos aspectos quantitativos e qualitativos obtidos.

    4. Pesquisador Responsvel: Roseli Saraiva Moreira Bittar

    5. Pesquisador Executante: Maruska dAparecida Santos

    6. Orientador: Roseli Saraiva Moreira Bittar

    7. Especificao da finalidade acadmica da pesquisa

    Graduao Ps-graduao

    XOutros - especificar : Pesquisa clnica

    8. Unidades e Instituies envolvidas ( especificar )

    - HOSPITAL DAS CLNICAS: Diviso de Clnica Otorrinolaringolgica.

    - FACULDADE DE MEDICINA USP: Setor de Otoneurologia

    9. Pesquisa:

    x seres humanos animais (espcie) :

    10. Investigao:

    Retrospectiva x Prospectiva

    Doutorado Mestrado

  • Anexos 55

    11. Materiais e mtodos:

    x Laboratorial Pronturios de pacientes

    Peas anatmicas de cadveres Tecidos, rgos, fludos orgnicos

    x Entrevistas e questionrios x Outros : Posturografia Dinmica Computadorizada.

    12. A Pesquisa envolve: (preencher mais de um se necessrio )

    Istopo Radioativo, Dispositivo Gerador de Radiao Ionizantes

    Microorganismos Patognicos

    cidos Nucleares Re