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Universidade de Aveiro 2005 Departamento de Engenharia Cerâmica e Vidro Marta Alexandra dos Reis Lopes A Gestão Ambiental e Energética em IES – A questão da Sustentabilidade

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Universidade de Aveiro 2005

Departamento de Engenharia Cerâmica e Vidro

Marta Alexandra dos Reis Lopes

A Gestão Ambiental e Energética em IES – A questão da Sustentabilidade

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Universidade de Aveiro

2005 Departamento de Engenharia Cerâmica e Vidro

Marta Alexandra dos Reis Lopes

A Gestão Ambiental e Energética em IES – A questão da Sustentabilidade

Dissertação apresentada à Universidade de Aveiro para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Gestão Ambiental, Materiais e Valorização de Resíduos, realizada sob a orientação científica do Prof. Doutor Joaquim José Borges Gouveia, Professor Catedrático do Departamento de Economia, Gestão e Engenharia Industrial da Universidade de Aveiro

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Ao futuro.

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o júri

presidente Prof. Doutora Maria Isabel Aparício Paulo Fernandes Capela professora associada da Universidade de Aveiro

Prof. Doutor Joaquim José Borges Gouveia professor catedrático da Universidade de Aveiro

Prof. Doutora Maria Teresa Costa Pereira da Silva Ponce de Leão professora auxiliar da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto

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agradecimentos

A autora deseja manifestar o seu reconhecimento especial ao Prof. Doutor Joaquim José Borges Gouveia, Professor Catedrático do Departamento de Economia, Gestão e Engenharia Industrial da Universidade de Aveiro, e seu orientador científico, pela disponibilidade, estímulo e sugestões. Ao Prof. Doutor António Dinis Ferreira, professor adjunto do Departamento de Ciências Exactas e do Ambiente da Escola Superior Agrária de Coimbra, pelo apoio que tem recebido nas suas funções enquanto docente, pelo estímulo e constantes desafios, pelas sugestões que recebeu ao longo da elaboração desta tese, e muito em particular, pela sua paciência e amizade. À Escola Superior Agrária de Coimbra, pelas condições indispensáveis para a realização desta tese e por ser um laboratório fantástico para teste de estratégias com vista à sustentabilidade. À equipa do projecto EMAS@SCHOOL, em particular à Manuela Carreiras, Ricardo Martins, Érica Castanheira, Micaela Soares, Gil Feio e Joana Dias pela sua permanente disponibilidade, colaboração e apoio, mas principalmentepela amizade. A todos os funcionários docentes e não docentes da ESAC, que têm colaborado no projecto EMAS@SCHOOL, sem a qual este não seria possível, em particular o Prof. Dr. Dias Pereira, a Prof. Doutora Carmo Magalhães, o Eng. Rui Ferreira, o Sr. João Simões, o Filipe Sol e a Carla Bogalho, pela disponibilização de informação e colaboração no desenvolvimento deste trabalho. Aos alunos de Engenharia do Ambiente da ESAC, pela motivação, inspiração e colaboração neste projecto de construir uma escola mais sustentável. Ao Pedro Gama, pelo apoio na parte gráfica. À Filipa Lopes, Graça Santos, Pedro Morais, Noémia Bárbara e José Ferreira pelas sugestões que recebeu ao longo da elaboração desta tese, apoio, disponibilidade, amizade e por acreditarem. Aos meus pais, pela compreensão, paciência, apoio nas horas difíceis…e a quem devo grande parte daquilo que sou. Ao Nuno e à Dídia pela preocupação e apoio constantes. Ao Programa LIFE Ambiente da Comissão Europeia, pelo financiamento do Projecto EMAS@SCHOOL (LIFE03 ENV/P/000501). E a todos que, embora não referidos, contribuíram de alguma forma para o desenvolvimento deste trabalho.

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palavras-chave

gestão ambiental, gestão de energia, ensino superior, sustentabilidade, desenvolvimento sustentável.

resumo

Os sistemas de gestão ambientais e energéticos são actualmente ferramentas de uso quase obrigatório nas organizações que se assumem como competitivas e modernas, nomeadamente nas instituições de ensino superior. Embora estes sistemas constituam ferramentas eficazes na resolução de problemas ambientais, a sua implementação é, todavia, um processo complexo, existindo inúmeras dificuldades. Por outro lado, as instituições de ensino superior têm características específicas que devem ser consideradas na implementação destes sistemas. Este projecto de dissertação tem por objectivo, o desenvolvimento de uma metodologia de implementação de sistemas de gestão ambientais e energéticos nestas instituições, assim como a determinação dos factores críticos de sucesso neste processo. Com este propósito recolheu-se e estruturou-se a informação sobre a implementação destes sistemas em organizações, identificando os factores críticos de sucesso. Desenvolveu-se um modelo, que foi testado numa situação real, e sobre o qual, são feitas análises e tecidas conclusões. Espera-se que este trabalho possa ser utilizado como ferramenta de referência para instituições de ensino superior, ou outras, que pretendam implementar um sistema de gestão ambiental e energético com sucesso a longo prazo.

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keywords

environmental management, energy management and conservation, higher education, sustainability, sustainable development.

abstract

Environmental and energetic management systems are currently almost compulsory tools in organizations that deem to be modern and competitive, namely higher education institutions. Although these systems are effective tools for solving environmental problems, its implementation is a complex process with many hindrances. On the other hand, higher education institutions have specific characteristics that must be considered when implementing these systems. The aim of this dissertation project is to develop an implementation methodology of environmental and energetic management systems in higher education institutions, and also to determine the critical factors of success. With this object, information on the implementation of these systems in organizations was collected and structured and the critical factors of success were identified. A model was developed and tested in a real situation on which analyses were carried out and conclusions were drawn. It is expected that this work can be used as a reference tool for higher education institutions, or other, wishing to implement an environmental and energetic management system with success in the long run.

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ÍNDICE Lista de Figuras.................................................................................................................................... 10 Lista de Tabelas.................................................................................................................................... 11 Acrónimos............................................................................................................................................. 12 CAPÍTULO 1 - Introdução .................................................................................................................... 13 CAPÍTULO 2 - O ‘Estado da Arte’ dos SGA e Energéticos .............................................................. 16

2.1 A Sustentabilidade das Instituições de Ensino Superior .............................................................. 17 2.2 Sistemas de Gestão Ambientais e Energéticos ........................................................................... 20

2.2.1 Factores Críticos de Sucesso ................................................................................................................ 24 2.2.2 Modelos ................................................................................................................................................. 28

CAPÍTULO 3 - Caracterização e Definição do Problema da Gestão Ambiental e Energética ...... 32 3.1 O Problema................................................................................................................................... 33

3.1.1 A Escola Superior Agrária de Coimbra .................................................................................................. 34 3.1.2 O Projecto EMAS@SCHOOL ................................................................................................................ 36

CAPÍTULO 4 - Modelo de Implementação do SGA e Energético..................................................... 41 4.1 Sistema de Gestão Ambiental ...................................................................................................... 41 4.2 Envolvimento Organizacional ....................................................................................................... 42 4.3 Monitorização................................................................................................................................ 46

4.3.1 Monitorização Ambiental e Energética................................................................................................... 46 4.3.2 Monitorização Organizacional................................................................................................................ 48

4.4 Informação.................................................................................................................................... 51 4.5 Comunicação................................................................................................................................ 53 4.6 Formação...................................................................................................................................... 54

CAPÍTULO 5 - Estudo de Caso: ESAC ............................................................................................... 56 5.1 Monitorização Ambiental e Energética ......................................................................................... 56

5.1.1 Energia................................................................................................................................................... 58 5.1.2 Água ...................................................................................................................................................... 60 5.1.3 Papel e Consumíveis de Impressão ...................................................................................................... 63 5.1.4 Fertilizantes e Produtos Fitofarmacêuticos ............................................................................................ 64 5.1.5 Reagentes Químicos ............................................................................................................................. 66 5.1.6 Resíduos Sólidos ................................................................................................................................... 67 5.1.7 Efluentes Líquidos ................................................................................................................................. 69 5.1.8 Emissão de CO2 .................................................................................................................................... 70

5.2 Monitorização Organizacional ...................................................................................................... 71 5.2.1 Caracterização da Amostra.................................................................................................................... 71 5.2.2 Comportamentos em matéria de Ambiente............................................................................................ 71 5.2.3 Percepção sobre a ESAC ...................................................................................................................... 71 5.2.4 Posicionamento em relação ao SGA ..................................................................................................... 72 5.2.5 Conhecimentos sobre a temática ambiental .......................................................................................... 73 5.2.6 Análise Global........................................................................................................................................ 73

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5.3 Discussão ..................................................................................................................................... 74 5.3.1 Envolvimento Organizacional................................................................................................................. 75 5.3.2 Monitorização......................................................................................................................................... 76 5.3.3 Informação, Comunicação e Formação ................................................................................................. 77 5.3.4 Metodologia global e o papel do Investigador........................................................................................ 78

CAPÍTULO 6 - Conclusões .................................................................................................................. 82 Referências Bibliográficas .................................................................................................................. 85 Anexos................................................................................................................................................... 90

Anexo I – Apresentação da ESAC...................................................................................................... 90 Anexo II – Serviços da ESAC............................................................................................................. 90 Anexo III – Departamentos e Sectores da ESAC............................................................................... 90 Anexo IV – Explicação do Questionário ............................................................................................. 90 Anexo V - Questionário....................................................................................................................... 90 Anexo VI - Newsletters ....................................................................................................................... 90 Anexo VII - Caracterização físico-química dos efluentes................................................................... 90

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LISTA DE FIGURAS

Figura 2.1 – Ciclo de melhoria contínua do desempenho ambiental..................................................... 20 Figura 2.2 - Etapas de implementação de um SGA............................................................................... 21 Figura 2.3 – Modelo da ‘Harvard Green Campus Initiative’ ................................................................... 29 Figura 2.4 – Modelo de SGA de Herremans & Allwright (2000) ............................................................ 30 Figura 2.5 - Modelo de SGA de Viebahn (2002).................................................................................... 31 Figura 3.1 – Diferença entre uma indústria e uma IES.......................................................................... 33 Figura 3.2 – Estrutura interna da ESAC................................................................................................. 36 Figura 3.3 – Acções previstas no EMAS@SCHOOL............................................................................. 37 Figura 3.4 – Ocupação de solo da ESAC .............................................................................................. 39 Figura 3.5 – Área de implementação do SGA ....................................................................................... 40 Figura 4.1 – Modelo de implementação do SGA ................................................................................... 41 Figura 4.2 – Síntese da estratégia de envolvimento organizacional ..................................................... 43 Figura 4.4 – Interacção entre a implementação do SGA e a ESAC...................................................... 45 Figura 4.5 – Pressuposto da monitorização organizacional .................................................................. 49 Figura 4.6 – Sistema de informação dos indicadores operacionais de entrada .................................... 52 Figura 5.1 – Análise comparativa dos indicadores em relação ao custo per capita.............................. 57 Figura 5.2 – Variação anual do consumo de electricidade no núcleo central da ESAC........................ 59 Figura 5.3 – Variação anual do consumo de água no núcleo central da ESAC.................................... 62 Figura 5.4 – Tipos e toxicidade dos produtos fitofarmacêuticos............................................................ 65 Figura 5.5 – Perigosidade dos reagentes químicos............................................................................... 67 Figura 5.6 – Distribuição percentual da produção de resíduos orgânicos............................................. 68 Figura 5.7 – Emissão de CO2................................................................................................................. 71 Figura 5.8 – Localização dos contadores oficiais de fornecimento de electricidade ............................. 79 Figura 5.9 – Pontos de abastecimento públicos e captações superficiais e subterrâneas ................... 80 Figura 5.10 – Localização dos pontos de recolha dos RSU .................................................................. 81 Figura 6.1– Modelo de implementação de um SGA e energético ......................................................... 82

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LISTA DE TABELAS

Tabela 2.1 - Principais marcos políticos em matéria de sustentabilidade ambiental nas IES............... 17 Tabela 2.2 - Análise comparativa entre o EMAS e a ISO 14001........................................................... 21 Tabela 2.3 – Factores críticos de sucesso dos SGA em IES ................................................................ 24 Tabela 3.1 – Principais actividades da ESAC........................................................................................ 34 Tabela 4.1 – Indicadores operacionais de desempenho ambiental e energético.................................. 47 Tabela 5.1 – Indicadores operacionais de desempenho ambiental e energético.................................. 57 Tabela 5.2 – Consumo energético global .............................................................................................. 58 Tabela 5.3 – Consumo dos vários vectores energéticos ....................................................................... 58 Tabela 5.4 – Consumo de electricidade no núcleo central da ESAC .................................................... 58 Tabela 5.5 – Utilização da água superficial e subterrânea .................................................................... 60 Tabela 5.6 – Consumo de água superficial e subterrânea .................................................................... 61 Tabela 5.7 – Consumo de água da rede de abastecimento público...................................................... 61 Tabela 5.8 – Custos globais em papel e consumíveis de impressão. ................................................... 64 Tabela 5.9 – Consumo de fertilizantes e de produtos fitofarmacêuticos ............................................... 65 Tabela 5.10 – Reagentes químicos adquiridos...................................................................................... 66 Tabela 5.11 – Custos relativos à recolha dos RSU ............................................................................... 68 Tabela 5.12 – Efluente doméstico produzido e custos inerentes. ......................................................... 69

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ACRÓNIMOS

AEESAC – Associação de Estudantes da Escola Superior Agrária de Coimbra

EMAS - Sistema Comunitário de Ecogestão e Auditoria

EMAS@SCHOOL – Implementação do Sistema Comunitário de Ecogestão e Auditoria numa instituição de ensino diversificada

ESAC – Escola Superior Agrária de Coimbra

HGCI - Harvard Green Campus Initiative

IES – Instituições de Ensino Superior

IPC – Instituto Politécnico de Coimbra

ISO – International Organisation for Standardisation

ONG – Organizações Não Governamentais

OTL – Oficina Tecnológica de Lacticínios

PME – Pequenas e Médias Empresas

RSU – Resíduos Sólidos Urbanos

SGA – Sistema de Gestão Ambiental

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CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO

Os sistemas de gestão ambientais e energéticos são actualmente ferramentas de uso quase obrigató-rio nas organizações que se assumem como competitivas e modernas. Numa economia globalizada, estas ferramentas são cada vez mais usadas pelas diversas instituições, já que estas perceberam as enormes vantagens que estes sistemas representam para a melhoria da sua gestão. Nomeadamente, contribuem para um conhecimento pormenorizado da própria organização, o que facilita a reengenha-ria dos processos produtivos, aumentando a sua eficiência e a redução de custos, conseguindo assim, vantagens competitivas no mercado; promovem a imagem pública; a resposta avançada a um merca-do cada vez mais exigente com as questões ambientais; a melhoria das relações com parceiros estra-tégicos; o cumprimento da legislação nacional e internacional; a sensibilização ambiental dos colabo-radores, tornando-os melhores cidadãos; e a redução dos seus impactes ambientais (Lopes et al, 2005).

Os sistemas de gestão ambientais e energéticos podem possuir, contudo, uma face mais burocrática que visa fazer prova de forma contínua do desempenho ambiental da organização. Este aspecto é fundamental para uma cultura de transparência, rigor e responsabilidade, sobre a qual se deve alicer-çar a ética de gestão sustentável de uma organização. O ónus da prova de um bom desempenho passa a ser responsabilidade da organização, que tem que fomentar o seu controlo interno sobre todos os aspectos relevantes, facilitando a identificação de ineficiências, que uma vez solucionadas, lhe concederão vantagens competitivas. Estes sistemas devem ser periodicamente auditados, não apenas por uma questão de credibilidade, mas porque tanto as auditorias internas como as externas são fundamentais para identificar ineficiências e sugerir medidas correctivas (Lopes et al, 2005). Este processo pode basear-se no cumprimento de requisitos normalizados a nível internacional por diver-sas instituições (nomeadamente a British Standard Institution, a International Organisation for Standar-disation, ou a União Europeia), que após cumpridos, disponibiliza às organizações a utilização de uma marca comprovativa, para uma sociedade globalizada, do bom desempenho ambiental da organiza-ção. Sendo sistemas voluntários, as organizações reconhecem as vantagens da sua adopção, tendo estes sistemas tido uma grande aderência nos últimos anos. Em particular, relativamente às normas de gestão ambiental - ISO 14001 existiam, em 2001, mais de 36 mil entidades certificadas em 112 países, representando um crescimento de 61% face a 2000 (Gonçalo, 2005). Portugal destacou-se neste mesmo período com um crescimento de 87% (Gonçalo, 2005), apresentando em Março de 2005, cerca de 259 organizações certificadas, sendo duas pertencentes à administração pública e doze na área da educação (em particular centros de formação profissional) (APCER, 2005). Relativamente ao sistema europeu, Portugal apresentava em Dezembro de 2004 apenas 25 empresas registadas, num total de cerca de 3000 organizações a nível europeu (EMAS, 2005). Prevê-se, todavia, que a receptividade ao sistema europeu venha a aumentar, uma vez que a União Europeia tem vindo a apoiar a sua implementação.

Porém, são vários os motivos que levam à não adesão destes sistemas, nomeadamente: a insuficiên-cia de dados de base que permitam realizar um diagnóstico ambiental eficiente, não só do processo produtivo, mas também do produto final; a falta de divulgação de informação sobre os benefícios am-bientais, sociais e económicos de uma abordagem preventiva na área ambiental; condições de merca-do desfavoráveis à introdução de produtos mais eco-eficientes; incapacidade financeira; e a elevada carga burocrática associada à sua implementação (Kirkland & Thompson, 1999). Por sua vez, embora estes sistemas sejam ferramentas eficazes na resolução de problemas ambientais, a sua implemen-tação é um processo complexo, existindo inúmeras barreiras e escassas soluções metodológicas publicadas de como implementar, com sucesso, um sistema de gestão ambiental e energético numa organização.

Estes sistemas não se aplicam apenas a empresas, mas a toda e qualquer instituição que durante a sua actividade apresente um processo produtivo, quer seja pública ou privada. Nomeadamente, as instituições de ensino superior têm um papel muito importante, porque constituindo um microcosmo da sociedade (nelas existindo muitas das actividades e operações dos vários sistemas sociais),

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apresentam impactes ambientais negativos significativos. Deste modo, estas instituições encontram-se assim numa posição privilegiada com vista à implementação da gestão ambiental e energética, principalmente devido às suas responsabilidades na educação, ao seu papel ético e social na promo-ção da sustentabilidade, às suas elevadas competências em matéria de ambiente e ciência, factores que as tornam o local ideal para abordar os problemas ambientais, melhorando ao mesmo tempo a sua imagem e eficiência. A implementação de sistemas de gestão ambientais e energéticos contribui não só para melhorar de um modo global a gestão e o comportamento ambiental destas instituições, mas também para melhorar o ensino ministrado através de um ambiente onde os estudantes aprendem em situações reais, desenvolvendo assim competências fundamentais para o futuro das suas carreiras (Ferreira et al, 2004). Isto é tanto mais importante, quanto as melhorias na gestão dos recursos decorrentes da implementação destes sistemas serão, provavelmente no futuro, um dos factores chave de desequilíbrio em termos de competitividade. As instituições de ensino superior têm, contudo, características organizacionais e ambientais específicas que devem ser consideradas na implementação destes sistemas.

Coloca-se então a questão: “Como implementar um sistema de gestão ambiental e energético numa organização e, em particular, numa instituição de ensino superior, de modo a que este tenha sucesso a longo prazo?”

A resposta a esta questão é assim o objectivo principal deste projecto de dissertação. Considerando as diversas barreiras que dificultam os processos de implementação de sistemas de gestão ambien-tais e energéticos em geral, serão também analisados os factores críticos de sucesso a considerar.

Este projecto de dissertação focar-se-á em particular nas instituições de ensino superior, dado o impacte, já referido, que estas têm na sociedade, tendo como estudo de caso a Escola Superior Agrária de Coimbra, no âmbito de um projecto europeu actualmente a decorrer. A resposta à questão inicial estará assim intrinsecamente ligada à realidade em estudo.

O desenvolvimento desde projecto baseia-se inicialmente na análise da bibliografia sobre sustentabili-dade e sistemas de gestão ambientais e energéticos em instituições de ensino superior, bem como na síntese dos aspectos relevantes para este trabalho, tendo sido usados, fundamentalmente, artigos científicos e livros publicados internacionalmente. De salientar que este trabalho foi desenvolvido seguindo uma abordagem de investigação-acção, existindo uma permanente colaboração entre o investigador e a instituição. No decorrer do trabalho utilizaram-se técnicas de auditoria ambiental, energética e financeira, bem como de investigação em ciências sociais, nomeadamente, questioná-rios. Foi também utilizada informação não publicada relativa à instituição em estudo, como relatórios de actividades e dados contabilísticos.

A estrutura deste trabalho, não incluindo esta introdução, está dividida em quatro partes principais:

Capítulo 2 – O ‘Estado da Arte’ dos SGA e Energéticos

É apresentado o panorama em termos de sustentabilidade ambiental das instituições de ensino superior, quer actualmente, quer em termos de evolução histórica dos principais marcos políticos, sendo fundamentada a relevância desta temática nestas instituições. São expostos os principais siste-mas de gestão ambientais e energéticos disponíveis a qualquer organização, assim como os princí-pios em que se baseiam. Por último, é apresentada a síntese dos factores críticos de sucesso para a implementação de sistemas de gestão ambientais e energéticos, resultado da revisão bibliográfica, bem como modelos de implementação desenvolvidos por alguns autores.

Capítulo 3 – Caracterização e Definição do Problema

Este capítulo enquadra o problema e a questão inicial, fundamentando-o nas características específi-cas das instituições de ensino superior e na complexidade de implementação dos sistemas de gestão ambientais e energéticos. Apresenta o estudo de caso, a Escola Superior Agrária de Coimbra, carac-terizando as suas actividades e o projecto LIFE-Ambiente EMAS@SCHOOL, bem como as acções que este visa desenvolver.

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Capítulo 4 – Modelo de Implementação do SGA e Energético

É apresentado e fundamentado o modelo desenvolvido para a implementação do sistema de gestão ambiental e energético nas suas diversas vertentes. O modelo entra em consideração com os factores críticos de sucesso que foi possível apurar durante a revisão bibliográfica, bem como a realidade específica do estudo de caso. Neste capítulo apresentam-se igualmente as diversas metodologias específicas adoptadas com vista à implementação de cada componente do modelo.

Capítulo 5 – Estudo de Caso: ESAC

Neste capítulo é aplicado o modelo desenvolvido ao estudo de caso, a Escola Superior Agrária de Coimbra, sendo apresentados os resultados das auditorias ambiental, energética e financeira, quer sob a forma de indicadores, quer desenvolvendo os fluxos mássicos e energéticos adoptados. São analisados os resultados e apresentadas situações de ineficiência, bem como acções correctivas. Face às limitações do trabalho desenvolvido, são sugeridas propostas de trabalho futuro em cada área temática. É ainda analisada a metodologia adoptada, o modelo desenvolvido e discutidos os resultados obtidos na ESAC.

Capítulo 6 - Conclusões

Nesta última parte é recapitulado o problema em análise e a abordagem adoptada com vista à sua resolução. São apresentadas as principais conclusões do trabalho, analisadas as limitações do mesmo e a contribuição original deste trabalho, bem como as perspectivas de trabalho futuro.

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CAPÍTULO 2 - O ‘ESTADO DA ARTE’ DOS SGA E ENERGÉTICOS

As instituições de ensino superior (IES)1 têm como principal missão o ensino, a investigação e a liga-ção à sociedade. O vector ensino visa a preparação e certificação de alunos para os graus de licencia-tura, mestrado e doutoramento. A investigação está relacionada com a geração de novos conheci-mentos, quer pela participação em programas nacionais e internacionais, quer pelo desenvolvimento de teses de mestrado e doutoramento. A ligação à sociedade é um aspecto fundamental, já que as IES são promotoras do desenvolvimento tecnológico, social e económico, quer através da prestação de serviços às empresas e entidades externas, mas também pela formação orientada para as neces-sidades do mercado de trabalho e pela formação contínua em áreas de âmbito geral. (Conceição et al, 1998)

Em Portugal, o ensino superior sofreu nas últimas décadas intensas alterações quantitativas, estrutu-rais e legislativas. Enquanto que nos anos 60 o panorama nacional era reduzido a quatro universida-des públicas sediadas em Lisboa, Coimbra e no Porto, nos anos 90 verificou-se uma diversificação marcada pela coexistência de Universidades e de Institutos Politécnicos, numa multiplicação de cen-tros de ensino superior e de pólos descentralizados por todas as cidades do país (Conceição et al, 1998), resultado da necessidade de proporcionar um grau académico de ensino superior a grandes camadas da população (Gouveia, 2004).

Contudo, esta rápida expansão da rede de IES não seguiu uma adequada articulação entre as IES e a actividade produtiva, e consequentemente estas instituições não adaptaram os currículos de formação às necessidades de um mercado de trabalho cada vez mais competitivo e exigente ao nível de outro tipo de competências, marcadamente diferente das tradicionais (conhecimento), como por exemplo flexibilidade, rápida adaptação a novos contextos de trabalho, capacidade de trabalho intensivo, ou carácter empreendedor (Gouveia, 2004). Adicionalmente, no contexto global, colocam-se às IES uma multiplicidade de outros desafios, como: as implicações resultantes das necessidades de aprendi-zagem ao longo da vida; um défice de recursos humanos qualificados em tecnologias de informação e comunicação; a globalização e a competição internacional crescente na oferta de ensino superior; o papel das IES na preparação de cidadãos para a vida numa sociedade multicultural (Smith, 2004), e ainda o papel das IES na sustentabilidade ambiental, social e económica da sociedade. A eco-eficiência das IES, em particular, é um factor de diferenciação e de competitividade no mercado global actual, sendo utilizada por inúmeras IES por todo o mundo. As IES devem assim rever a sua missão, o seu posicionamento, estratégias de formação, e a ligação à sociedade e ao meio empresarial, como meio de responder a estes desafios e de se tornarem mais competitivas.

As IES, enquanto sistemas sociais complexos, têm demonstrado uma grande capacidade de sobrevi-vência ao longo da história. Apesar das características das empresas e outras organizações terem mudado radicalmente nos últimos 100 anos, muitas das IES mantêm actualmente uma semelhança surpreendente com as primeiras dos séculos XII e XIII (Conceição et al, 1998). Esta longevidade e resistência à mudança são pouco comuns em organizações empresariais e são fruto das caracterís-ticas organizacionais destas instituições (Conceição et al, 1998). Nomeadamente, as áreas de conhe-cimento são a base da organização das IES, dando origem a uma estrutura fortemente fragmentada por áreas científicas e pela especialização dos conhecimentos (Maassen & van Vught, 1992; Sharp, 2002). O processo de tomada de decisão é difuso e descentralizado, pelo que os responsáveis exercem menos controlo e autoridade que os seus equivalentes nas empresas (Shriberg, 2002). A fragmentação da estrutura conduz ainda à existência de sub-culturas com estilos decisórios, restrições de tempo e prioridades diferentes (Sharp, 2002). No interior de cada unidade científica, as IES são inovadoras e adaptáveis com inovações de carácter incremental. Em síntese, a nível estrutural e glo-balmente, as IES são muito resistentes à mudança e têm elevada aversão ao risco (Maassen & van

1 Adopta-se a designação de Instituições de Ensino Superior para as instituições de ensino superior universitário e politécnico, de acordo com a Lei de Bases do Ensino Superior Português actualmente em vigor (Lei nº 46/86 de 14/10).

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Vught, 1992; Sharp, 2002; Shriberg, 2002). Todavia, as IES são sistemas abertos que interagem com a sua envolvente, pelo que no contexto actual de mudanças aceleradas, essa interacção é um factor imprescindível para a sua sustentabilidade (Conceição et al, 1998), nomeadamente, as IES devem dar resposta a um novo desafio que actualmente se lhes coloca: o seu papel no desenvolvimento sustentável (Marbach-Ad & Sokolova, 2000).

2.1 A SUSTENTABILIDADE DAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR

“Since universities are generally long-lived institutions, they should be concerned with the long-term health and livability of their community and region” (Creighton, 2001)

O movimento da sustentabilidade ambiental em IES é relativamente novo. Ao nível político, desde a Conferência de Estocolmo, e principalmente desde a Conferência das Nações Unidas para o Ambien-te e Desenvolvimento, que muito tem sido escrito sobre o desenvolvimento sustentável a vários níveis, inclusive sobre as IES (Filho, 2000). Neste contexto, têm existido vários marcos políticos no processo de introdução da dimensão ambiental nestas instituições (Tabela 2.1). Tabela 2.1 - Principais marcos políticos em matéria de sustentabilidade ambiental nas IES

1972 Declaração do Ambiente, Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente, Estocolmo. Foi a primeira declaração a fazer referência à sustentabilidade no ensino superior, embora de modo indirecto. O princípio 19 afirma a necessidade da educação ambiental, desde a juventude até à idade adulta.

1977 Declaração de Tbilisi, Conferência intergovernamental sobre a educação ambiental. Considerada um ponto de partida das iniciativas formais para a educação ambiental, discute a necessidade da educação ambiental, as suas características e as linhas estratégicas internacionais para acção. A declaração solicita ao ensino superior a inclusão de conceitos e preocupações ambientais na sua actividade. Esta declaração reconhece ainda a necessidade de iniciativas ambientais ao nível dos docentes, restantes funcionários e estudantes.

1990 Declaração de Talloires, University Presidents for a Sustainable Future, Centro Universitário Europeu de Tufts, Talloires. A primeira declaração feita pela gestão de topo das universidades sobre a sustentabilidade. Reforça o papel da direcção das IES na liderança, apoio e mobilização de recursos, bem como o encorajamento de outras instituições para se tornarem signatárias.

1991 Declaração de Halifax, Conferência para a Acção das universidades no desenvolvimento sustentável, Halifax. Reafirma o papel das universidades no desenvolvimento sustentável, e desafia esta comunidade a repensar e reconstruir a sua acção a nível local e nacional. Esta declaração oferece uma nova dimensão, na medida em que estabelece um plano de acção com objectivos de curto e longo prazo para as universidades canadianas.

1992 Declaração do Rio sobre Ambiente e Desenvolvimento, Conferência das Nações Unidas para o Ambiente e Desenvolvimento, Rio de Janeiro. Embora não se referindo directamente ao papel das IES, no seu princípio 9 reforça a necessidade de melhoria dos conhecimentos científicos, do intercâmbio de informação e da transferência de tecnologia

1992 Agenda 21 - Capítulo 36 – Promoção da Educação, Consciencialização Pública e Formação, Conferência das Nações Unidas para o Ambiente e Desenvolvimento, Rio de Janeiro. Reconhece a carência generalizada de educação ambiental e afirma a educação como solução para um comportamento mais sustentável. Está assente em três principais linhas de acção: reorientação da educação em direcção ao desenvolvimento sustentável; consciencialização pública sobre os assuntos ambientais; e promoção da educação ambiental entre os educadores.

1993 Declaração de Swansea, 15ª Conferência quinquenal da Associação de Universidades da Commonwealth, Universidade de Wales, Swansea. Reafirma a revisão das operações das IES, a necessidade de formação ambiental dos docentes e estudantes, e o dever ético das IES em relação às gerações vindouras. Acrescenta uma dimensão de equidade entre países como contributo para o desenvolvimento sustentável, devendo por isso as IES apoiar os programas de desenvolvimento sustentável de IES de países menos favorecidos

1993 Declaração de Kyoto, adoptada pela 9ª mesa redonda da Associação Internacional de Universidades. Diferencia-se por uma maior ênfase no que fazer com vista à sustentabilidade. Afirma a necessidade das

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universidades criarem planos de acção, o seu dever ético em relação ao ambiente e princípios de desenvolvimento sustentável, e a promoção deste através das operações das IES.

1994 Carta CRE-COPERNICUS, Conferência de Reitores Europeus (agora denominada Associação das Universidades Europeias). Resultado da sequência de várias iniciativas, a carta reitera a necessidade das universidades liderarem a criação de uma sociedade mais sustentável e a criação de um novo quadro mental e de valores na comunidade universitária. As áreas chave incluem a formação ambiental, a acção sobre o público e a criação de uma rede de parcerias entre as universidades.

1995 Declaração de Barbados, adoptada na Conferência sobre Desenvolvimento Sustentável das Small Island Developing States, Barbados. Transpõe a Declaração do Rio e a Agenda 21 para as suas especificidades, focando o papel da educação e da transferência de informação no seu artigo II.

1997 Declaração de Tesalónica, Conferência Internacional sobre Ambiente e Sociedade – Educação e sensibilização pública para a sustentabilidade, Tesalónica. Discute que as iniciativas ambientais devem ocorrer nos vários níveis da sociedade e serem interdisciplinares. Afirma ainda que a sustentabilidade ambiental deve estar estreitamente ligada à pobreza, população, segurança alimentar, democracia, direitos humanos, paz e saúde, respeito pela cultura e conhecimento ecológico. Esta declaração afirma que os currículos devem ter incluído questões ambientais e que as universidades devem honrar as declarações passadas já assinadas.

2000 Carta da Terra Iniciado em 1987 com a Comissão das Nações Unidas para o Ambiente e Desenvolvimento, o processo de elaboração deste documento só foi concluído em 2000. Esta carta é uma síntese de valores, princípios e aspirações com vista ao desenvolvimento sustentável, reafirmando nos seus artigos 8º e 11º o papel da informação, formação e educação neste processo.

2001 Declaração de Lüneburg, Conferência do ensino superior para a sustentabilidade, Lüneburg, Alemanha. Reafirma os princípios das declarações anteriores e reforça a ênfase em acções concretas que as IES devem implementar com vista à sustentabilidade, e em particular na criação de materiais de apoio a estas acções.

2002 Declaração de Ubuntu, Conferência Mundial para o Desenvolvimento Sustentável, Joanesburgo. Reforça o papel da educação com vista à sustentabilidade, e tem como principais objectivos o desenvolvimento dos currículos, o reforço das redes entre IES, o planeamento estratégico da formação e da sua integração com as políticas e do reforço da capacidade de investigação.

Fonte: adaptado de IPAMB, 1993; CRE-COPERNICUS, 1994; Filho, 2000; Wright, 2002; IAU, 2004.

As preocupações ambientais têm sido incorporadas nas declarações políticas de diversas formas, conforme o contexto político-institucional que as determinou e em que foram validadas. Há aspectos comuns entre as várias declarações: o dever ético e moral das IES na prossecução da sustentabilida-de; a incorporação da sustentabilidade nas operações físicas das instituições; a realização de investi-gação em prol do desenvolvimento sustentável; a educação e formação ambiental, nomeadamente em relação ao público em geral; a cooperação inter-universitária e as parcerias com outras instituições (governos, ONGs e indústria) e o desenvolvimento de currículos interdisciplinares, cobrindo em parti-cular a temática ambiental e de sustentabilidade (Wright, 2002).

Todavia, passadas cerca de três décadas de declarações políticas internacionais, verifica-se uma la-cuna de conhecimentos e de informação no que se refere ao modo de implementação, bem como à sua avaliação enquanto fonte efectiva de mudança de comportamentos e atitudes, nomeadamente nas IES (Wright, 2002). Estas declarações não possuem um sistema efectivo de acompanhamento dos processos (Wright, 2002). No entanto, pelo número de signatários é possível conferir de um modo global, uma relativa receptividade às iniciativas ambientais por parte das IES. Como exemplo, refere-se a Carta CRE-COPERNICUS, que tinha em Setembro de 2004 cerca de 400 signatários de 39 países europeus, e a Declaração de Talloires, na mesma data, com 310 signatários de 48 países.

No que se refere à sustentabilidade da dimensão ambiental, as IES têm desenvolvido diversas abor-dagens: enfatizam as questões operacionais; têm uma abordagem filosófica; abordam temáticas espe-cíficas; introduzem esta temática nos curricula; incorporam esta questão nos processos de tomada de decisão, numa perspectiva estratégica de longo prazo (Clugston, 2000; Filho, 2000b; Weenen, 2000); ou implementam ferramentas mais racionais e sistémicas como sistemas de gestão ambiental. Contu-

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do, a maioria das iniciativas ambientais nas IES tem surgido sobretudo por razões circunstanciais, em lugar do resultado de estratégias planeadas, não estando desta forma integradas por políticas próprias, e não constituindo acções alargadas que integram as várias áreas funcionais características destas instituições (Shriberg, 2002).

As IES, enquanto microcosmos da sociedade, possuem muitas das actividades e operações dos vários sistemas sociais, como por exemplo a alimentação, o alojamento, a prestação de serviços, ou o comércio (Neumayer & Dahle, 2001). Estas instituições, possuindo uma dimensão significativa, conso-mem quantidades consideráveis de recursos e produzem grandes quantidades de resíduos (Simkins & Nolan, 2004). Apresentam um consumo elevado de energia (electricidade, combustíveis), de água e substâncias químicas (Creighton, 2001). Produzem igualmente grandes quantidades de resíduos sóli-dos e de resíduos perigosos, como resíduos químicos, pesticidas, tintas, solventes e resíduos radioac-tivos (Creighton, 2001). Os químicos perigosos usados em laboratório, os fitofármacos (pesticidas e insecticidas), e os fertilizantes são abundantes nos campus universitários e aumentam o risco de contaminação, colocando em risco a segurança de trabalhadores, estudantes, da comunidade e dos ecossistemas (Creighton, 2001). As IES são também grandes produtoras de efluentes líquidos, muitas vezes contaminados com elevadas cargas orgânicas e substâncias químicas, provenientes dos labo-ratórios. Acrescenta-se o transporte de e para os campus universitários, fonte de aumento dos níveis de ruído, de tráfego e dos níveis de poluição atmosférica nas comunidades onde se inserem (Creighton, 2001). No seu funcionamento, as IES apresentam portanto impactes ambientais negativos graves, que devem ser minimizados (Shriberg, 2002).

Neste contexto, estas instituições encontram-se numa posição única e privilegiada para implementar um comportamento ambiental mais sustentável. Para além de fontes geradoras de problemas ambien-tais, são igualmente instituições com competências e geradoras de conhecimento, o que as torna o local ideal para abordar os problemas ambientais (Shriberg, 2000; Graedel, 2002; Mora, s.d.). As IES estão no limiar do conhecimento científico, têm níveis elevados de acesso a informação ambiental e possuem as competências, os conhecimentos e os recursos necessários ao alcance de progressos significativos nesta área (Shriberg, 2002). Usar as IES como estudo de caso na aplicação de boas práticas ambientais poderá representar, pelo exemplo, um impulso para a mudança de atitudes da sociedade. A participação interventora dos docentes e investigadores na sociedade possibilitará a transferência de conhecimentos e de tecnologias para outras organizações e profissionais (Noeke, 2000; Orr, 2000; Creighton, 2001; Graedel, 2002; Shriberg, 2002; Pike et al, 2003; Simkins & Nolan, 2004; Mora, s.d.). Além disso, as IES partilham a responsabilidade especial de estarem directamente ligadas à formação dos futuros profissionais qualificados. As actividades que promovem o consumo sustentável de recursos podem ser integradas no currículo, com benefícios na formação dos futuros profissionais (Levy, Dilwaly, 2000; Ferreira et al, 2004). Mais do que outra instituição na sociedade moderna, as IES têm assim, o dever ético e moral de serem líderes na integração e promoção da sustentabilidade (Noeke, 2000; Orr, 2000; Creighton, 2001; Neumayer & Dahle, 2001; Graedel, 2002; Shriberg, 2002; Pike et al, 2003; Simkins & Nolan, 2004; Mora, s.d.).

Por outro lado, as actividades que promovem o consumo sustentável dos recursos aumentam a eficiência dos processos, com benefícios ambientais e económicos, e consequências muito positivas em termos de competitividade (Levy & Dilwaly, 2000; Noeke, 2000; Shriberg, 2002; Pike et al, 2003). Estas organizações podem acrescentar aos benefícios económicos e ambientais, enormes benefícios termos de reputação (Shriberg, 2002), que poderão resultar numa imagem de qualidade e foco de atracção de estudantes (Creighton, 2001), contribuindo assim para assegurar a sustentabilidade das próprias IES.

No entanto, apesar das inúmeras iniciativas ambientais existentes na Europa, Estados Unidos da América e por todo o mundo, são poucas as que continuam e se expandem (Neumayer & Dahle, 2001), não sendo generalizado o compromisso destas instituições (Clugston, 2000).

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2.2 SISTEMAS DE GESTÃO AMBIENTAIS E ENERGÉTICOS

Nas últimas décadas foram criadas várias ferramentas de análise integrada e de alteração operacional das organizações com vista à maior eficiência dos processos produtivos. De entre as ferramentas de gestão ambientais e energéticas disponíveis actualmente salientam-se: políticas governamentais; le-gislação e processos judiciais; instrumentos económicos e práticas de contabilidade; planeamento estratégico; normas internacionais como as dos sistemas de gestão de qualidade e ambiental; audito-rias e análises energéticas; avaliação de impactes ambientais; avaliação de ciclo de vida; análise de riscos; e indicadores (Kirkland & Thompson, 1999).

Os sistemas de gestão organizacionais, em particular, são metodologias que tornam possível a con-cretização de um projecto de gestão e definem: o papel a tomar por cada parte da organização; as responsabilidades de cada pessoa ou grupo; o poder de tomada de decisão; as regras de conduta; os processos operacionais; os recursos disponíveis; e a avaliação das actividades, que fornece informa-ção sobre os resultados da aplicação do sistema e possibilita a melhoria do mesmo (Montanana et al, s.d.).

Os sistemas de gestão ambiental (SGA) podem ser definidos como sendo a “parte do sistema global de gestão de uma organização que inclui a estrutura funcional, a actividade de planeamento, a atribui-ção de responsabilidades, um sistema de controlo e monitorização, um conjunto de práticas e procedi-mentos, de processos e recursos que permitem desenvolver, implementar, concretizar, rever e manter uma política ambiental” (NP EN ISO 14001:2002).

Os SGA visam a melhoria contínua do comportamento ambiental das organizações, através da avalia-ção sistemática, objectiva e periódica dos mesmos, da prestação de informações ao público e outras partes interessadas e da participação activa do pessoal da organização (Regulamento CE n.º 761/2001 de 19/03/2001). A melhoria contínua pressupõe um ciclo contínuo onde se planeia, realiza, revê e melhora o desempenho ambiental da organização, baseado no ciclo de Deming (Figura 2.1).

Figura 2.1 – Ciclo de melhoria contínua do desempenho ambiental

Para implementar um SGA uma organização deve seguir várias etapas (Figura 2.2). Deve começar por identificar os problemas ambientais relevantes e definir uma política que estabeleça o compromis-so de redução e prevenção dos impactes ambientais. Deve analisar a legislação vigente e aplicável, e definir objectivos e metas. Em função destes, deve estabelecer um programa ambiental, o qual deve conter as acções a executar para fazer face aos aspectos ambientais identificados, salientado as res-ponsabilidades e funções de cada membro da organização para cada uma das acções. Deve ainda identificar as necessidades de formação e garantir que todos os colaboradores têm sensibilização e formação nas áreas relevantes, estabelecendo para tal um programa de formação. Na implementação propriamente dita do sistema, deve estabelecer uma metodologia de controlo das operações em cada fase do processo, bem como definir um plano de emergência.

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Figura 2.2 - Etapas de implementação de um SGA

Após a implementação, uma organização deve verificar as acções executadas, para tal definindo um programa de monitorização e de correcção às acções que não tiveram êxito na execução. Deve esta-belecer um programa de auditorias internas, que vai permitir transmitir à organização o grau de imple-mentação e de eficácia do sistema implementado, bem como identificar oportunidades de melhoria. Todo este processo deverá estar devidamente documentado e ser de acesso a qualquer colaborador.

Estes sistemas podem ser implementados segundo normas internacionalmente reconhecidas, como a ISO 14001 ou o Sistema Comunitário de Ecogestão e Auditoria (EMAS). As organizações podem de-monstrar publicamente as suas preocupações com as questões ambientais, requerendo a uma entida-de externa independente a verificação da conformidade entre o sistema implementado as normas internacionais, obtendo consequentemente uma certificação de qualidade ambiental.

A versão revista em 2001 do Sistema Comunitário de Ecogestão e Auditoria aproximou os requisitos do EMAS aos da ISO 14001, tornando mais fácil às organizações utilizarem ambos os sistemas. Persistem todavia diferenças entre os dois, como se encontra explicitado na Tabela 2.2. A decisão de utilizar o EMAS ou a ISO 14001 deve ser tomada de acordo com o objectivo da organização seja o desempenho ambiental (EMAS) ou a conformidade com os requisitos (ISO 14001). Uma organização em conformidade com o EMAS possui os requisitos necessários para se certificar pela ISO 14001, pelo que muitas organizações vêem a ISO 14001 como uma etapa para o registo pelo EMAS. Tabela 2.2 - Análise comparativa entre o EMAS e a ISO 14001

EMAS ISO 14001

Utilização Mais usado no espaço europeu Muito utilizada a nível internacional

Envolvimento das autoridades públicas

As autoridades públicas são envolvidas no processo, podendo mesmo vetá-lo Não é obrigatório

Aplicabilidade Instrumento legislativo da UE (regulamento), aplicável a organizações dos estados-membros da União Europeia

Normal internacional aplicável a organizações de qualquer país

Levantamento ambiental inicial Obrigatório Não é obrigatório mas é recomendável

Comunicação externa e verificação

Exige-se no final do processo uma comunicação pública do desempenho ambiental da organização

Apenas a política ambiental deve ser tornada pública

Auditorias Determina a frequência e as metodologias das auditorias ao SGA e ao desempenho ambiental

Não são especificadas as metodologias e a frequência das auditorias ao SGA

Contratantes e fornecedores

Exige-se que se exerça influência sobre contratantes e fornecedores

Apenas os procedimentos relevantes devem ser comunicados aos contratantes e fornecedores

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Compromissos e exigências

Exige-se o envolvimento dos trabalhadores, melhoria contínua do desempenho ambiental e da conformidade com a legislação ambiental

Exige-se o compromisso com a melhoria contínua do SGA e da conformidade com a legislação ambiental

Fonte: Adaptado de Camino, 2001; Watzold et al, 2001.

Em situação de conformidade, caso a organização tenha utilizado a ISO 14001 é-lhe atribuído um certificado2, e no caso do EMAS é efectuado um registo3, que constituem provas públicas do bom desempenho ambiental. Em termos de implementação, as empresas preferem a ISO 14001 em prol do EMAS, que é o favorito das instituições governamentais (Camino, 2001), já que a ISO 14001 é reconhecida mundialmente e apresenta menores custos de participação (Watzold et al, 2001).

As organizações não são obrigadas a aderir a estas normas, mas existindo diversas vantagens quando implementam um SGA, é esperado que os adoptem voluntariamente (Camino, 2001). Fazen-do-o através da implementação de um SGA, as organizações conseguem atingir as várias dimensões da sustentabilidade: económica, social e ambiental.

A implementação de um SGA introduz melhorias administrativas numa organização, através de uma melhor gestão das responsabilidades e competências, da melhoria do sistema de comunicação e de documentação, o que reforça a sua eficiência e competitividade (Strachan, 1999; Noeke, 2002; von Oelreich, 2002; Simkins & Nolan, 2004). A análise efectuada ao consumo de recursos e as medidas implementadas no âmbito do SGA conduzem a uma maior eficiência dos processos e a uma redução de custos, com melhorias claras a médio e longo prazo em termos de competitividade (Strachan, 1999; Noeke, 2002; von Oelreich, 2002; Gerrard, 2003; Fisher, 2003; Simkins & Nolan, 2004; Mora, s.d.). Para além das vantagens em termos de redução de custos e aumento da eficiência de proces-sos, a implementação do SGA facilita o acesso a incentivos, e devido à redução de riscos, favorece a redução de prémios de seguradoras e bancos (Mora, s.d.). Por outro lado, se as organizações respon-dem à preocupação ambiental crescente dos consumidores, podem distinguir-se da concorrência e ganhar vantagem competitiva sobre esta (Camino, 2001).

Os SGA promovem uma postura pró-activa em termos ambientais, que responde à consciência global da protecção ambiental apoiada pelos governos e pela sociedade (Camino, 2001), daí advindo benefícios políticos e uma melhoria da relação com outras instituições (Noeke, 2002; von Oelreich, 2002; Fisher, 2003; Gerrard, 2003). A imagem e reputação das organizações resultam também melho-radas (pois existe uma prova e demonstração de responsabilidade social), podendo estes sistemas ser usados em estratégias de marketing, quer para atracção de clientes (no caso das IES de estudan-tes), quer de fundos (nas IES, de fundos para a investigação) (Strachan, 1999; Noeke, 2002; Mora, 2002; Fisher, 2003; Gerrard, 2003; Simkins & Nolan, 2004).

Do ponto de vista legal, os SGA promovem não só o cumprimento da legislação, como também uma postura pró-activa. Esta atitude reduz o risco de multas legais e contribui para a melhoria da relação com as instituições reguladoras (Strachan, 1999; Noeke, 2002; Fisher, 2003; Mora, s.d.). Os SGA têm assim uma consequência indirecta sobre os custos, na medida em que se evitam custos com penas, danos civis, ou outros custos legais (Kirkland & Thompson, 1999; Noeke, 2002; Gerrard, 2003; Simkins & Nolan, 2004). Por sua vez, no mercado internacional, é reduzida a probabilidade de ocorre-rem barreiras comerciais devido ao incumprimento de normas ambientais (Mora, s.d.).

Os SGA possibilitam a avaliação do desempenho ambiental das organizações, mas contribuem sobre-tudo para a detecção e correcção de ineficiências, para a definição de soluções alternativas que resul-tam numa melhor gestão de recursos, contribuindo deste modo para a melhoria do seu desempenho ambiental (redução de riscos ambientais e de segurança no trabalho, redução do consumo de recur-sos e da emissão de poluentes).

2 Atribuído por uma entidade acreditada para o efeito pelo Instituto Português da Qualidade 3 Concedido pela entidade pública que é a autoridade nacional, neste caso, o Instituto do Ambiente

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Os SGA focam os impactes ambientais causados por uma organização. No caso de uma IES, o aspecto ambiental mais relevante talvez seja a qualidade da educação proporcionada aos estudantes, a qual tem impactes ambientais indirectos (Ferreira et al, 2004; Simkins & Nolan, 2004). As IES formam decisores e líderes, que serão responsáveis pela protecção ambiental no futuro, pelo que estas têm o dever de incutir nos estudantes um sentido apurado de responsabilidade ambiental (Mora, 2002; Simkins & Nolan, 2004). Além dos SGA serem ferramentas na melhoria ambiental, podem ser ferramentas valiosas na educação dos estudantes, permitindo, inclusive, a formação destes nos sistemas de gestão (Noeke, 2002; von Oelreich, 2002; Ferreira et al, 2004). Acrescenta-se ainda o importante papel que os SGA podem desempenhar enquanto impulsionadores da motivação dos colaboradores no seio das IES, resultando numa melhoria significativa do próprio desempenho, assim como no incremento da colaboração interdepartamental (Noeke, 2002; Simkins & Nolan, 2004).

Integrados nos SGA, os sistemas de gestão de energia têm como principal objectivo racionalizar os consumos de energia com vista a reduzir os custos inerentes. Conduzem, por sua vez, a benefícios a nível global e nacional (redução do consumo global de energia e da contribuição em emissão de gases com efeito de estufa). Em qualquer organização, e em particular nas IES, estes sistemas proporcionam a redução da factura energética, o aumento da eficiência energética, um maior conheci-mento da energia dispendida no processo produtivo, e consequentemente, um acréscimo de produtivi-dade e da competitividade (Gouveia & Ferreira, 2000).

Neste âmbito, a auditoria é a técnica mais utilizada com o objectivo da conservação de energia. Esta consiste na quantificação do consumo e fluxos energéticos de uma organização, bem como do respectivo custo, durante um determinado período. O objectivo global é identificar soluções eficazes e economicamente viáveis de modo a reduzir os custos energéticos. O processo de auditoria envolve: a recolha de dados através de facturas ou contadores; a análise das instalações, equipamentos e edifí-cios; e a recolha de informação junto dos responsáveis da organização e do restante pessoal. A auditoria energética deve identificar oportunidades de aumentar a eficiência energética de uma organi-zação, reduzir os custos de manutenção e resolver problemas de conforto relacionados com a energia (conforto térmico, iluminação, condições de segurança relativas aos equipamentos e instalações eléc-trica) (Beggs, 2002). Complementarmente, a auditoria energética deve estabelecer metas de consumo de energia, propor um programa para as acções e investimentos a empreender, assim como um esquema operacional de gestão de energia na organização (Gouveia & Ferreira, 2000).

A auditoria energética confronta-se, frequentemente, com a existência de diversas formas de energia, o que constitui um problema para a sua contabilização, pois não é possível adicionar indiscriminada-mente o seu contributo para obter um valor global. Nestes casos, recorre-se aos princípios da análise energética de sistemas, que reduzem as diversas formas de energia a uma forma de energia primária básica, que se convencionou ser o petróleo, originando o conceito de tonelada equivalente de petróleo (Tep) (Ferrão, 1998). A tonelada equivalente de petróleo é uma unidade de energia primária de refe-rência, cujos coeficientes de conversão para energia final se encontram publicados na legislação (D.R. nº 98, IIª Série de 29/04/83).

Ao nível da legislação sobre gestão de energia, o principal diploma nacional é o Regulamento de Gestão do Consumo de Energia – RGCE (Decreto-Lei nº 58/82 de 26/02) que é aplicável a todos os sectores de actividade, e que, de entre várias medidas, estipula a obrigatoriedade de auditorias ener-géticas e a implementação de um plano de racionalização e conservação de energia para organizações onde se verifique um elevado consumo deste recurso4. Mais recentemente, como resultado do Protocolo de Kyoto sobre as alterações climáticas, entrou em vigor o regime de comércio

4 O RGCE é aplicável a qualquer instituição que esteja numa das seguintes situações: consumo de energia anual superior a 1.000 Tep, soma dos consumos energéticos nominais dos equivalentes instalados superior a 0,5 Tep/hora; ou consumo energético nominal de pelo menos um equipamento instalado exceda os 0,3 Tep/hora.

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de licenças de emissão de gases com efeito de estufa na Comunidade Europeia (Decreto-Lei nº 233/2004 de 14/12), regulamentado em relação à monitorização e comunicação de emissões pela Portaria nº 121/2005 de 31/01. O Decreto-Lei nº 233/2004 de 14/12 apenas é aplicável a actividades com grandes consumos de energia, como por exemplo, instalações de combustão, produção e transformação de metais ferrosos, indústria mineral, produção de vidro ou produção cerâmica, não estando por isso as IES englobadas por esta legislação.

2.2.1 Factores Críticos de Sucesso

A implementação de um SGA é um processo bastante complexo, atravessando muitas barreiras que podem interagir entre si. Estas dependem da cultura organizacional, dos estilos formais e informais de gestão, dos indivíduos envolvidos no processo, e da fase de implementação do SGA (Watzold et al, 2001). Os SGA têm recebido alguma receptividade por parte das IES. No entanto, apesar de reconhe-cerem as vantagens dos SGA, estas instituições ainda estão hesitantes em incorporar estes sistemas (Camino, 2001).

Os factores críticos de sucesso são variáveis cruciais no sucesso da implementação dos SGA. Os factores críticos referidos na bibliografia especificamente para a IES podem ser externos e internos (Tabela 2.3). Enquanto os externos são essencialmente derivados da envolvente onde as IES estão inseridas, tendo um carácter político-legal, os internos são derivados das características organizacio-nais das IES, da sua gestão e competências técnicas. Outras barreiras apontadas pela bibliografia correspondem à não identificação dos factores específicos que influenciam a organização, e à pre-sença de partes interessadas (internas e externas) em conflito de interesses (Kirkland & Thompson, 1999). Tabela 2.3 – Factores críticos de sucesso dos SGA em IES

Factores críticos Sistemas das IES

Posicionamento estratégico Institucionalização

Objectivos e valores

Cultura organizacional Mudança organizacional Envolvimento

Psicossocial

Competências Informação

Técnico Inte

rnos

Recursos humanos Custos Tempo Comunicação

Gestão

Ext

erno

s

Política Legislação

Ambiental

Posicionamento Estratégico

O pensamento estratégico das IES é usualmente de curto prazo e particularmente inexistente relativa-mente às questões ambientais. Não existem preocupações acerca das questões ambientais, apenas uma postura reactiva em vez de pró-activa, bem como a crença de que as práticas correntes são ade-quadas. Esta atitude assume consequências directas no enfraquecimento do posicionamento estraté-gico das IES nesta matéria e contribui para a reduzida prioridade institucional atribuída a estas ques-tões (Dahle & Neumayer, 2001; Shriberg, 2002; Arvidsson, 2004). A implementação de um SGA, pela

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sua complexidade, exigências e implicações para as IES deve assumir um papel de prioridade máxi-ma, atribuída pela direcção destas instituições. Contudo, a implementação dos SGA envolve investi-mentos a curto prazo com retorno a médio e longo prazo, o que retrai a implementação destes siste-mas, pois o desempenho destas organizações é medido usualmente a curto prazo (Kirkland & Thompson, 1999).

Como forma de focar a atenção dos decisores nas questões ambientais, Shriberg (2002) propõe a criação de uma ‘crise’, ou a capitalização de uma existente, e Creighton (2001) a integração das acções ambientais com as prioridades da instituição.

Institucionalização

Um dos factores mais referidos para o sucesso da implementação dos SGA é o compromisso e apoio a longo prazo da liderança das IES, pessoal e estudantes, bem como a institucionalização deste pro-cesso através da atribuição de responsabilidades e da aprovação de políticas (Post & Altman, 1994; Kirkland & Thompson, 1999; Allen, 2000; Orr, 2000; Creighton, 2001; Neumayer & Dahle 2001; von Oelreich, 2002; Sharp, 2002; Shriberg, 2002; Arvidsson, 2004; Simkins & Nolan, 2004). Alguns dos factores de insucesso muito comuns são o não reconhecimento da necessidade de um SGA por parte da liderança da organização, a perda de compromisso decorrente da tomada de consciência sobre a complexidade do processo ou devido a mudanças na organização (Kirkland & Thompson, 1999; Camino, 2001).

Alguns autores sugerem o estabelecimento de uma rede de apoio formal e informal dos diversos departamentos e estruturas da organização, a criação de parcerias e a maximização de sinergias como factores de sucesso (Sharp, 2002; Shriberg, 2002).

Cultura Organizacional

A cultura de uma organização pode ser definida pelos valores partilhados, estilo de gestão ou atitudes prevalecentes na organização sendo influenciada, entre outros aspectos, pela aceitação ou rejeição de ideias (Kirkland & Thompson, 1999). Shriberg (2002) refere que condições organizacionais onde se verifique uma colaboração estreita entre as várias estruturas da IES, uma política pró-activa, o reco-nhecimento da importância da imagem e da reputação da instituição, e uma atmosfera académica onde o relacionamento entre os indivíduos é consistente e agradável, são fundamentais para o suces-so da implementação dos SGA, em contraposição às abordagens de natureza top-down ou marcadas por uma forte liderança. Outros factores também referidos na bibliografia estão relacionados com a ética dos indivíduos (Kirkland & Thompson, 1999), a tradição nas actividades ambientais ou os incenti-vos à implementação dos SGA (Simkins & Nolan, 2004). Mas o aspecto mais relevante apontado é a compatibilidade entre o SGA e a cultura organizacional (Kirkland & Thompson, 1999; Klaver & Jonker, 2000). A implementação de um SGA é um processo que afecta a estratégia, a estrutura e a cultura da organização, interagindo com vários aspectos desta, como a contabilidade, a rentabilidade e a gestão, pelo que deve ser planeado e desenvolvido integrando todos estes aspectos (Kirkland & Thompson, 1999). Por outro lado, quando um SGA não está integrado com a cultura da organização, pode ser visto por esta e pelos seus colaboradores como uma crítica e uma ameaça, reduzindo a probabilidade de colaboração (Kirkland & Thompson, 1999).

Existem essencialmente as seguintes subculturas nas IES: pessoal docente e de investigação, pessoal administrativo, técnicos, pessoal de apoio, e estudantes (von Oelreich, 2002; Sharp, 2002). No respeitante às iniciativas ambientais, os estudantes têm tendência para se concentrar em questões pontuais com uma perspectiva normalmente ambientalista (von Oelreich, 2002; Sharp, 2002). O pessoal docente e de investigação tende a olhar as questões operacionais como responsabilidade da direcção das IES, mesmo sendo o seu ensino e investigação sobre a área de ambiente (Sharp, 2002). O pessoal administrativo não tem um papel directo na missão fundamental da instituição, sendo visto usualmente como um recurso dispensável (Sharp, 2002). No entanto, pelas suas relações e acesso à informação, podem influenciar as decisões tomadas (Sharp, 2002). Von Oelreich (2002) refere que o pessoal operacional (como por exemplo o pessoal de limpeza), usualmente menosprezado, é muito importante na implementação de um SGA, pois constitui a sua ‘frente de combate’.

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Mudança Organizacional

As IES são organizações que possuem uma estrutura organizacional e uma cultura conservadoras, uma inércia institucional, e cujo pessoal de gestão é pouco tolerante ao risco com tendência para evitar o desconhecido e relutância a usar soluções inovadoras (Ginkel, 1996; Kirkland & Thompson, 1999; Strachan, 1999; Allen, 2000; Breyman, 2000; Orr, 2000; Neumayer & Dahle, 2001; Sharp, 2002; Shriberg, 2002; Simkins & Nolan, 2004). Estas características constituem assim barreiras à mudança, dificultando a implementação de novas iniciativas, nomeadamente ambientais.

Contudo, as IES têm de lidar com uma realidade dinâmica, com mudanças ecológicas, tecnológicas, sociais, culturais e políticas cada vez mais rápidas (Malmborg, 2002). A percepção dos problemas ambientais, como crescentemente complexos, e envolvendo cada vez mais actores, necessita que a gestão ambiental das IES e, elas próprias, sejam muito flexíveis e adaptáveis (Malmborg, 2002). Deste modo, os SGA implicam a mudança dos indivíduos e das IES, pelo que estas devem tornar-se organi-zações em contínuo processo de aprendizagem, criativas, e dispostas a alterar o seu modo de funcio-namento e de acção (Orr, 2000; Malmborg, 2002; Sharp, 2002; Arvidsson, 2004). A capacidade de mudança das IES é crucial para estabelecer um SGA dinâmico e alcançar objectivos de melhoria ambiental contínuos (Jorgensen, 2000). Sharp (2002) defende que a mudança organizacional sistémi-ca não ocorre por estratégias racionais, mas quando se atinge uma massa crítica de indivíduos que realmente mudam os seus modelos mentais e alteram os seus hábitos e rotinas. Esta mudança pode ser potenciada pelo efeito de alavanca, usando situações onde as mudanças podem conduzir a melhorias significativas e duradouras (Senge, 1990). No caso das IES, o maior efeito de alavanca pode surgir quando o conflito aparente entre as actividades de ensino, investigação e funcionamento desaparecer, e quando existir alinhamento entre a visão e o envolvimento das três sub-culturas das IES: estudantes, docentes e pessoal administrativo (Sharp, 2002; Arvidsson, 2004). Outras estratégias apontadas como forma de contornar a resistência à mudança, são a identificação dos indivíduos inovadores na instituição, com os quais se inicia a implementação do SGA; o recurso a lideranças fortes e a uma visão unificadora e motivadora (Kirkland & Thompson, 1999; Allen, 2000; Orr, 2000).

Envolvimento

Independentemente da forma como a equipa está estruturada, o sucesso de um SGA depende da boa vontade e cooperação do pessoal da organização (Simkins & Nolan, 2004). O interesse, a motivação, a atitude e o entusiasmo do pessoal são aspectos apontados como críticos para o sucesso do SGA (Shriberg, 2002; Simkins & Nolan, 2004). Por outro lado, a aceitação do SGA por parte do pessoal da instituição é crítica, já que estes podem sabotar (consciente ou inconsciente) um SGA (Kirkland & Thompson, 1999).

Algumas das estratégias de envolvimento referidas na bibliografia são: fóruns de discussão (Sharp, 2002); formação, comunicação e envolvimento do pessoal e dos estudantes no planeamento do SGA (Kirkland & Thompson, 1999; Neumayer & Dahle, 2001; Sharp, 2002); e a informação dos resultados e poupanças alcançados (Levy & Dilwaly, 2000; Neumayer & Dahle, 2001).

Competências

Muitas das barreiras na implementação dos SGA estão relacionadas com a educação e formação do pessoal envolvido, muitas vezes reduzidas na área ambiental (Kirkland & Thompson, 1999; Allen, 2000; Creighton, 2001; Neumayer & Dahle 2001; Starik et al, 2002; Simkins & Nolan, 2004). A falta de competências, conhecimentos e informação em matéria ambiental, a inexistência de indicadores de desempenho ou da quantificação dos benefícios ambientais, a confusão em relação ao conceito de sustentabilidade, e até o desconhecimento das novas tecnologias ambientais, leva a uma desconfian-ça do retorno económico e da eficiência de desempenho, dificultando a implementação destes siste-mas (Levy & Dilwaly, 2000; Neumayer & Dahle, 2001).

A implementação das medidas do SGA não é possível sem que os indivíduos saibam e tomem cons-ciência da consequência das suas acções, e portanto da razão das medidas a ser tomadas, quer ao nível dos decisores, como dos restantes actores (Neumayer & Dahle, 2001). A formação ambiental é,

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deste modo, um factor crítico no sucesso dos SGA. Além disso, a implementação de um SGA requer formação básica prévia nesta área, exigindo actualizações contínuas em áreas mais específicas (Kirkland & Thompson, 1999).

Um papel importante dos SGA é tornar as questões ambientais complexas geríveis. No entanto, estes nem sempre são vistos assim, já que as normativas internacionais são vistas como pouco claras, a terminologia e o processo demasiado burocráticos, e a documentação formal, além de confusa, exces-siva (Kirkland & Thompson, 1999; Strachan, 1999; Camino, 2001; Recomendação da Comissão de 7/09/2001-Anexo IV). As instituições nem sempre têm competências para lidar com esta complexidade dos SGA, por possuírem reduzidas capacidades e conhecimentos técnicos nesta matéria, aos quais se associa parcialmente uma incapacidade de implementação do sistema (p.e. objectivos e metas mal definidos; não delegação de responsabilidades; não clarificação do papel de cada indivíduo; excesso de informação produzida dificultando a sua análise; sistema de comunicação deficiente entre o pes-soal; e aplicação de soluções inapropriadas) (Kirkland & Thompson, 1999; Strachan, 1999; Camino, 2001).

Informação

A implementação de um SGA produz uma quantidade muito grande de informação, resultado das actividades de auditoria e das várias fases do SGA, associada a inúmeros documentos, muitas vezes complexos. É assim reconhecida a dificuldade na consulta, análise e tratamento desta informação (Creighton, 2001; Barnes & Jerman, 2002; Sharp, 2002; Simkins & Nolan, 2004), pelo que o sistema de informação criado no âmbito do SGA deve ser de acesso rápido, de fácil e flexível actualização, suportado por uma base de dados centralizada (Noeke, 2000).

Um aspecto muito importante e não muitas vezes referido é o cuidado a ter com a linguagem nos documentos produzidos no âmbito do SGA. O vocabulário nesta temática é altamente técnico, pelo que documentos e materiais para acesso generalizado requerem a utilização de vocabulário mais simples (Newport et al, 2003).

Recursos Humanos

Um SGA precisa de ter pessoal responsável pelo seu desenvolvimento, operacionalidade e manuten-ção (Kirkland & Thompson, 1999). Pode ser criada uma equipa de SGA (ou sub-equipas) de forma a possibilitar o planeamento e a integração das acções, cujas actividades sejam lideradas por um coordenador, preferencialmente membro da instituição, e com disponibilidade para responder atempa-damente às solicitações (Creighton, 2001; Simkins & Nolan, 2004). Embora o coordenador ou a equipa desempenhem o papel de catalisador na implementação do SGA e que haja a tendência de delegar nestes as várias responsabilidades, é considerado mais produtivo para o sucesso do SGA a distribuição de responsabilidades pelos indivíduos da instituição (Shriberg, 2000). Numa grande orga-nização é adequada a utilização de uma hierarquia bem definida (Kirkland & Thompson, 1999).

A equipa responsável pela implementação do SGA deve conhecer, em pormenor, a instituição e compreender como esta funciona, quais são as suas actividades, quem são os actores e as várias partes interessadas, qual é a estrutura de tomada de decisão (formal e informal), e quais as percep-ções e relações com a gestão ambiental (Kirkland & Thompson, 1999; Creighton, 2001; Shriberg, 2002).

Custos

A implementação de SGA exige investimentos a curto prazo com um período de retorno a médio, longo prazo, exigindo por isso às IES capacidades imediatas de investimento que usualmente não possuem (Ginkel, 1996; Newbold et al, 1997; Kirkland & Thompson, 1999; Strachan, 1999; Allen, 2000; Levy & Dilwaly, 2000; Camino, 2001; Neumayer & Dahle, 2001; Shriberg, 2002; Arvidsson, 2004; Simkins & Nolan, 2004). Os custos do SGA são também maiores quando o know-how é menor, e o financiamento e a amortização do SGA não são feitos no período de tempo adequado, nem os benefícios do SGA são adequadamente calculados (Kirkland & Thompson, 1999).

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Por outro lado, existe uma generalizada ausência de incentivos (Neumayer & Dahle 2001), mesmo ao nível legal, com a ausência de requisitos legais para boas práticas ambientais (Viebahn, 2002). O próprio sistema de financiamento das IES não é influenciado pela sua eficiência ambiental (Viebahn, 2002), nem existe vantagem competitiva, neste tipo de produto, por ser ‘verde’ (esta situação verifica-se em vários locais do mundo, como no norte da Europa ou nos Estados Unidos da América).

Tempo

A implementação de um SGA é um processo que demora tempo, pela mobilização de recursos, alteração de processos e mudança organizacional e de mentalidades que implica (Barnes & Jerman, 2002; Sharp, 2002; Simkins & Nolan, 2004). Por outro lado, Shriberg (2002) aborda este factor como crítico em termos de pouca disponibilidade de tempo do pessoal das IES.

Comunicação

A gestão ambiental exige bons níveis de comunicação entre os membros da organização e o exterior desta, sem a qual as várias partes interessadas não tomam consciência da política e das acções do SGA (Malmborg, 2002; Shriberg, 2002; Simkins & Nolan, 2004). A comunicação e o diálogo interpes-soais são mais efectivos do que a comunicação em massa na disseminação de mensagens que visam a alteração dos conhecimentos, valores, acções e comportamentos de indivíduos ou organizações (Levy & Dilwaly, 2000; Malmborg, 2002; Sharp, 2002). Por último, o uso da comunicação electrónica tem uma grande importância na comunicação ambiental e documentação de um SGA numa IES (Levy & Dilwaly, 2000).

Política e Legislação

Os factores político-legais são apontados como incentivos à implementação dos SGA em IES. Noeke (2000), refere por exemplo que a legislação ambiental alemã é bastante exigente para as IES, tendo-as levado à alteração de comportamentos e à implementação de SGA. Ardvinsson (2004) refere por sua vez que em 1996 o governo sueco decidiu que as autoridades públicas (onde as IES estão incluí-das) deveriam servir como exemplo na promoção da sustentabilidade, devendo implementar SGA, embora não exigindo a sua certificação. Em Portugal, não existem indicações políticas ou legais em relação à implementação de SGA, existindo todavia diplomas legais na área da conservação de ener-gia (RGCE), licenças de emissão de CO2 e eficiência energética relativamente a edifícios públicos.

2.2.2 Modelos

O movimento da sustentabilidade em IES é relativamente recente, e a investigação nesta área é dimi-nuta, em particular em estudos comparativos de metodologias adoptadas nas várias iniciativas am-bientais (Fien, 2002). A bibliografia apresenta diversos casos, mas é escassa a sua sistematização e avaliação.

Uma das abordagens das IES tem sido o desenvolvimento de iniciativas ambientais em áreas temá-ticas específicas e dispersas, como forma de contornar a relutância em relação a estas actividades (Filho, 2000; Sharp, 2002). As áreas onde têm sido desenvolvidos projectos são variadas, como por exemplo: gestão de energia; gestão de resíduos e resíduos perigosos; educação ambiental; águas residuais; aprovisionamento; investimentos; eficiência de utilização de recursos e biodiversidade (Filho, 2000; Herremans & Allwright, 2000). As acções desenvolvidas podem decorrer a diferentes níveis: político; de gestão e planeamento; investigação e desenvolvimento, educação, serviços à comunidade; e operacional (Hohhmann & Delakowitz, 2002).

Outra das abordagens possui um carácter flexível, sendo as acções focadas na mudança organizacio-nal e nas oportunidades de aumento de eficiência e de redução de custos. É o caso da Harvard Green Campus Initiative (HGCI), uma iniciativa da Universidade de Harvard, que pretende reduzir os impactes ambientais das operações e promover a sustentabilidade ambiental do campus, envolvendo os diversos actores da instituição (HGCI, 2004). A HGCI utiliza o campus como um laboratório para investigação e implementação de inovação, tendo já desenvolvido acções nas áreas de gestão de

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energia, gestão de resíduos, gases com efeito de estufa e edifícios sustentáveis (HGCI, 2004). Os elementos chave da HGCI são o envolvimento e as parcerias na comunidade, a investigação e desen-volvimento de projectos, a formação e actividades promocionais, o sistema de informação ambiental, a comunicação e o planeamento estratégico, e o financiamento de novos projectos através da poupança originada pelas acções desenvolvidas (Figura 2.3) (Sharp, 2002).

Figura 2.3 – Modelo da ‘Harvard Green Campus Initiative’

Fonte: Adaptado de HGCI (2004)

Um SGA pode ser introduzido numa IES de várias maneiras. Alguns autores recomendam a imple-mentação do SGA de modo progressivo, com a implementação em alguns sectores (ou departa-mentos), e só posteriormente o seu alargamento ao resto da IES (Noeke, 2000; Sharp, 2002, Simkins, 2003; Simkins & Nolan, 2004; Montanana et al, s.d.). São referidas como vantagens desta estratégia: custos iniciais menores; a demonstração da utilidade e pertinência de um SGA; o aumento de con-fiança no conceito; o providenciar de um conjunto de objectivos estruturados; e assegurar que os problemas de implementação são identificados e corrigidos antes do SGA ser expandido a toda a IES (Simkins, 2003; Simkins & Nolan, 2004). No entanto, embora esta abordagem possa ser a preferida pela gestão de topo, pode não ser a melhor abordagem em instituições pequenas (Simkins, 2003). Kirkland e Thompson (1999) apontam uma estratégia semelhante, que passa pela introdução de partes do SGA na instituição, de modo a que os seus benefícios sejam reconhecidos com vista a facili-tar a implementação das outras componentes.

A implementação de um SGA pode ainda seguir uma estratégia centralizada ou descentralizada (Wehrmeyer, 1996). A gestão centralizada implica a existência de uma equipa ou elementos do pes-soal exclusivamente dedicados ao SGA, enquanto que numa gestão descentralizada vários elementos do pessoal são responsáveis pelo SGA e representam papéis específicos (Wehrmeyer, 1996). A centralização dificulta a consciência sobre o SGA, mas assegura uma linha hierárquica clara sobre as responsabilidades ambientais, enquanto que a descentralização facilita a expansão e a penetração do SGA na instituição, responsabilizando e envolvendo o pessoal e maximizando as suas competências (Wehrmeyer, 1996; Viebahn, 2002).

Kirkland e Thompson (1999) não recomendam a aplicação de formatos normalizados de SGA às organizações, devendo estes ser desenvolvidos e aplicados a cada caso específico, para serem mais eficazes, apesar dos custos que isso possa representar. Para além das componentes estruturais básicas dos SGA, Kirkland e Thompson (1999) sugerem a incorporação de outros elementos neste processo, como a psicologia e a dinâmica organizacional.

Herremans e Allwright (2000) desenvolveram um modelo de SGA para IES, adaptado da normativa da Canadian Standards Association, baseado em quatro fases: definição dos objectivos e estabelecimen-

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to de um plano; estabelecimento do compromisso; assegurar os recursos e as capacidades; avalia-ção, aprendizagem e melhoria (Figura 2.4). Na primeira fase estabelece-se o que se pretende atingir, através da definição da política ambiental, avaliação de riscos e definição de objectivos e metas ambientais. A fase do compromisso visa motivar os indivíduos para o objectivo global da organização, envolvendo este processo o estabelecimento dos valores ambientais, a atribuição de responsabilida-des e autoridade, e um sistema de recompensas. Assegurar as capacidades envolve providenciar os recursos, os conhecimentos, a formação para se atingir os objectivos, estabelecer a gestão de informação e os procedimentos. A última fase consiste na produção de informação para a avaliação e correcção do sistema, englobando a medição e monitorização de aspectos, a comunicação e elabora-ção de relatórios, e a realização de auditorias. (Herremans & Allwright, 2000)

Figura 2.4 – Modelo de SGA de Herremans & Allwright (2000)

Fonte: Adaptado de Herremans & Allwright (2000)

Viebahn (2002) apresenta um modelo para o desenvolvimento de um SGA numa IES que é constituí-do por: estrutura organizacional; política ambiental; revisão legal; auditoria ambiental; objectivos e metas ambientais; programa ambiental; relatório ambiental; sistema de informação ambiental; formação e educação ambiental; envolvimento do pessoal e relações públicas (Figura 2.5). A estrutura deste modelo é muito parecida com a ISO 14001 e especialmente com o EMAS, sendo porém mais explícita em alguns aspectos. Propõe uma estrutura organizacional descentralizada, com a integração das questões ambientais na estrutura da IES já existente, em vez de ser criado um departamento separado. Em relação ao sistema de informação ambiental, é mais pormenorizado do que o EMAS, realçando a importância do sistema na divulgação dos resultados das auditorias e no controlo do consumo de recursos. Explicita por sua vez o envolvimento do pessoal e as relações públicas, tão necessários para o sucesso da implementação de um SGA.

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Figura 2.5 - Modelo de SGA de Viebahn (2002)

Fonte: Adaptado de Viebahn (2002)

De um modo global, todos os modelos anteriormente expostos baseiam-se no ciclo de melhoria de Deming (Figura 2.1), estando todavia adaptados às realidades a que se referem (tal como recomenda-do por Kirkland & Thompson, 1999). A norma ISO 14001 e o EMAS constituem o modelo estrutural-mente mais rígido, embora o modo como são implementados se possa tornar flexível dado a escassez de orientações de como o fazer. De salientar que nos restantes modelos apresentados se encontram estratégias que respondem aos factores críticos de implementação dos SGA, como por exemplo a incorporação dos aspectos organizacionais e o reinvestimento das poupanças em novas medidas.

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CAPÍTULO 3 - CARACTERIZAÇÃO E DEFINIÇÃO DO PROBLEMA DA GESTÃO AMBIENTAL E ENERGÉTICA

As IES são organizações com características especiais, quer em termos organizacionais, quer ambientais. Enquanto organizações, são muito diversificadas, complexas, pouco flexíveis, e resisten-tes à mudança. Por outro lado, uma unidade administrativa não implica sempre uma unidade física (geográfica) (Montanana et al, s.d.; Mora, s.d.). Estes aspectos dificultam a gestão destas instituições, e, em parte, a sua capacidade de inovação.

A actividade das IES tem, por sua vez, impactes ambientais negativos cujas características dificultam a sua gestão e mitigação. Em comparação com indústrias de dimensão similar, os impactes ambientais negativos das IES são de pequena magnitude, apresentam riscos variáveis e são descon-tínuos no tempo. Os laboratórios, usualmente as maiores fontes de contaminação, não produzem quantidades elevadas de substâncias muito tóxicas, mas quantidades muito variadas, pelo que é muito complicado gerir e mitigar o seu impacte (Montanana et al, s.d.; Mora, s.d.). Mesmo assim, estas instituições têm recorrido a várias estratégias com vista à sustentabilidade ambiental. Embora a maioria recorra a acções dispersas por diversas áreas temáticas, outras recorrem a modelos mais sistemáticos, focados na mudança organizacional e no aproveitamento de oportunidades com vista a uma maior eficiência dos processos.

As IES também têm sido receptivas aos SGA, apesar da complexidade que estes representam. Os SGA foram concebidos inicialmente para aplicação em indústrias, e não para outras actividades, como serviços (Simkins & Nolan, 2004; Mora, s.d.). Enquanto que na indústria existe geralmente uma asso-ciação directa e visível entre os produtos e os impactes produzidos, isto não acontece nas IES (Bar-nes & Jerman, 2002). No balanço mássico e energético de uma indústria os principais fluxos de entra-da são de matérias-primas e de energia, e de saída produtos, resíduos sólidos, efluentes líquidos e gasosos, e perdas energéticas (Mora, s.d.). O mesmo balanço a uma IES não tem exactamente os mesmos fluxos, devendo ser acrescentado o fluxo de informação e educação (Figura 3.1). A matéria-prima é a base do processo produtivo das IES, que é constituída pelos estudantes. Para desenvolver as suas actividades e processos, as IES desenvolvem programas educacionais, em vez de processos de fabrico. Os produtos, como resultado do processo, são profissionais treinados (bacharéis, licencia-dos, mestrados, doutorados), os serviços prestados e a investigação desenvolvida. Os clientes das IES, a quem esta se destina, são os estudantes, ou em sentido lato, a sociedade. O processo produ-tivo das IES age directamente sobre os agentes protagonistas da degradação ambiental: os profissio-nais do futuro próximo, e sobre o desenvolvimento de novas tecnologias que podem minimizar os impactes ambientais das organizações (Montanana et al, s.d.; Mora, s.d.), representando este aspecto o principal impacte ambiental positivo destas instituições.

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Figura 3.1 – Diferença entre uma indústria e uma IES Fonte: Adaptado de Mora (s.d.)

Os SGA são ferramentas eficazes na resolução de problemas ambientais complexos e interligados. Muitas barreiras podem impedir a sua implementação, mas a forma como esta decorre é crucial para o seu sucesso (Kirkland & Thompson, 1999). A implementação destes sistemas é muitas vezes dificul-tada por inúmeros factores, e quer a bibliografia, quer a investigação não têm apresentado soluções quanto a metodologias de implementação (Kirkland & Thompson, 1999; Camino, 2001). A implemen-tação tradicional dos SGA possibilita uma reduzida flexibilidade na implementação destes sistemas, bem como uma aprendizagem de curto prazo dos agentes envolvidos, já que prescreve como lidar com os problemas actuais, não se focando nos objectivos a atingir (Malmborg, 2002). Uma forma de contornar este problema poderá ser não a busca pela certificação, mas o enfoque na visão e nos objectivos, bem como uma maior flexibilização da estrutura dos SGA (Malmborg, 2002).

Por sua vez, enquanto instituições com especificidades próprias, as IES são organizações em que o sucesso dos SGA depende da sua adaptação, simplificação e flexibilização. Os SGA podem, no entanto, constituir ferramentas de melhoria das IES, tornando os indivíduos da organização mais conscientes da complexidade dos problemas ambientais, melhorando os níveis de comunicação, e transformando as IES em organizações mais flexíveis (Malmborg, 2002). Usados de uma forma não tão rígida e formal, os SGA podem fornecer informação, estruturas e processos que auxiliam os actores na melhoria do desempenho ambiental das IES (Malmborg, 2002).

Na sustentabilidade das IES, há contudo aspectos chave que é preciso notar. As IES estão sujeitas a uma envolvente dinâmica, com mudanças cada vez mais rápidas (Malmborg, 2002), que em maior ou menor grau acabarão por as influenciar, assim como às suas actividades. A solução efectiva dos problemas ambientais exige a mudança dos processos das IES e origina a produção de nova informa-ção, que potenciará a revelação de novos requisitos e oportunidades, constituindo assim um alvo em mudança (Sharp, 2002). O desafio das IES é deste modo tornarem-se organizações mais orgânicas do que burocráticas, menos formais e mais flexíveis, e competentes no processo de mudança, o que exigirá um processo contínuo de aprendizagem e de adaptação (Conceição et al, 1998; Sharp, 2002). As IES devem assim tornar-se organizações que aprendem, continuando a ser ao mesmo tempo instituições de ensino e de investigação (Sharp, 2002).

3.1 O PROBLEMA

Pretende-se implementar um SGA na Escola Superior Agrária de Coimbra (ESAC), no âmbito do projecto LIFE-Ambiente EMAS@SCHOOL – Implementação do Sistema Comunitário de Ecogestão e Auditoria numa instituição de ensino diversificada.

Tal como exposto anteriormente, além da bibliografia ser escassa na apresentação de metodologias de como implementar um SGA, existem inúmeros factores críticos que influenciam este processo. Sendo assim, o problema base é determinar como implementar o SGA na ESAC, bem como metodo-logias a aplicar e os principais factores críticos a ter em atenção, considerando também que a ESAC tem especificidades próprias que a tornam uma IES única em comparação com a maioria destas insti-tuições. A ESAC, como instituição de ensino, possui uma dinâmica temporal e organizacional depen-dente das actividades académicas e do fluxo de estudantes, que varia ao longo do ano, e de ano para ano. Além disto, é uma instituição que além do ensino, possui um conjunto muito variado de activida-des, com uma dimensão, dispersão e variação espaciais e temporais marcadas, que condicionam as actividades e a tornam uma instituição única.

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3.1.1 A Escola Superior Agrária de Coimbra

A ESAC é uma instituição centenária, com uma história na área do ensino e prestação de serviços à comunidade iniciada no século XIX como Escola Nacional de Agricultura (1899), passando por Escola de Regentes Agrícolas (1950), até aos dias de hoje, em que é uma IES pública enquadrada no Instituto Politécnico de Coimbra.

Localizada no espaço urbano da cidade de Coimbra, a ESAC possui um campus com fortes caracte-rísticas rurais (Anexo I), possuindo uma ocupação do solo maioritariamente agrícola (43% da área total), seguida pelo uso agro-pecuário (22%), uso florestal (17%), uso social (15%), e com menor significância o uso agro-florestal (1,7%) e inculto (1,2%), num total de 121 hectares (Figura 3.4). Possui um património arquitectónico vasto, característico da arquitectura tradicional local, incluindo um edifício classificado (a área edificada ocupa cerca de 2,5 hectares). O património natural da ESAC é reconhecido pela sua qualidade e diversidade, existindo espécies protegidas pela Directiva Habitats. Existe também uma grande diversidade faunística ao nível de anfíbios, répteis, aves e mamíferos, tendo sido identificadas espécies com interesse comunitário.

A principal actividade da ESAC é o ensino, em que a instituição ministra cinco licenciaturas: Engenha-ria Agro-Pecuária, Engenharia Alimentar, Engenharia do Ambiente, Engenharia dos Recursos Flores-tais e Eco-turismo. Além do ensino, a ESAC desenvolve um outro conjunto de actividades, nomeada-mente investigação, actividades de apoio à comunidade, actividades agrícolas, actividades pecuárias, indústria agro-alimentar e actividades florestais (Tabela 3.1). Tabela 3.1 – Principais actividades da ESAC

ACTIVIDADES

Pedagógica, Investigação e Desenvolvimento

Cinco cursos de licenciatura bi-etápica: Engenharia Agro-Pecuária, Engenharia Alimentar, Engenharia dos Recursos Florestais, Engenharia do Ambiente e Eco-turismo Projectos de investigação nacionais e internacionais Centro de I&D: Centro de Estudos em Recursos Naturais, Ambiente e Sociedade

Pecuária

Equinicultura e asinicultura (ensino de equitação, recria e trabalho, reprodução) Bovinicultura (produção de bovinos de carne e bovinos de leite) Ovinicultura / Caprinicultura (produção de ovinos de carne, ovinos de leite e caprinos) Cunicultura (produção de carne) Avicultura (produção de ovos e carne) Pastagens e forragens (alimentação animal) Suinicultura (produção de carne)

Agricultura

Culturas arvenses (produção de cereais, de culturas agro-industriais, forrageiras e pratenses) Viticultura/Fruticultura (produção de vinha, pomóideas, prunóideas e citrinos) Horticultura/Floricultura (produção de hortícolas e flores)

Floresta / Silvicultura Manutenção da área florestal (pinhal, eucaliptal, povoamentos mistos)

Indústria agro-alimentar Lacticínios (produção de leite, iogurtes, manteiga e queijos) Transformação de horto-frutícolas (fabrico de conservas, polpas, sumos e congelados) Fabrico de vinho e derivados

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Serviços

Consultoria técnica e formação específica Análises físico-químicas, bioquímicas e biológicas de largo espectro de aplicação Comércio de produtos agro-pecuários e agro-industriais Alojamento Oficinas de apoio (carpintaria, serralharia, construção, mecânica e jardinagem) Segurança Apoio a visitas de estudo e organização de eventos culturais Publicações técnicas Museu

Fonte: Adaptado de Lopes (2003); Pereira (2003)

As actividades agro-pecuárias, florestais e agro-industriais constituem um importante instrumento de demonstração e de apoio prático às licenciaturas e aos projectos de investigação e desenvolvimento realizados. A exploração pecuária é realizada predominantemente em sistema extensivo, e as práticas agrícolas são desenvolvidas recorrendo a práticas de protecção integrada. A actividade florestal não assume uma vertente de exploração florestal, restringindo-se à manutenção da área de ocupação florestal. Quer os produtos produzidos na exploração, quer os produtos transformados, destinam-se sobretudo ao consumo e venda locais. (Lopes, 2003)

A ESAC coloca à disposição dos seus utilizadores um conjunto variado de equipamentos e infra-estruturas: escolares e administrativos (salas, anfiteatros, laboratórios, gabinetes, biblioteca); agro-pecuárias (cavalariças, vacaria, ovil, coelheira, aviários, capril, estufas, silos, tanques e outras estrutu-ras de apoio); agro-industriais (oficina tecnológica de lacticínios e de horto-frutícolas, adega, unidade de produção de alimentos compostos para animais); desportivas (picadeiros, arena, ginásio, pavilhão polidesportivo, campo de râguebi); residenciais (diversas habitações e um complexo residencial); de apoio técnico (oficina, hangar de máquinas, serralharia, carpintaria); cantinas; museu; comércio; rede viária; e espaços verdes. Incluídos nos terrenos sob gestão da ESAC encontram-se ainda algumas das estruturas dos Serviços de Acção Social do IPC (cantinas e residência de estudantes), do Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Coimbra, e da Direcção Regional de Agricultura da Beira Litoral. (Pereira, 2003)

Do ponto de vista organizacional, a estrutura interna da ESAC é bastante fragmentada. Está organiza-da por órgãos de gestão, departamentos, cursos e serviços (Figura 3.2). Enquanto os órgãos de gestão e os serviços5 asseguram o funcionamento global da instituição, os departamentos garantem a concretização dos objectivos de ensino, investigação e serviço à comunidade6.

5 A ESAC possui os serviços de secretariado, assessoria jurídico-administrativa, serviços de administração financeira e recur-sos humanos, serviços académicos e de expediente, serviços de documentação e informação, serviços de estudos, planeamen-to e relações externas, serviços técnicos de informática, serviços técnicos de manutenção, serviços auxiliares de apoio e serviços de gestão agro-pecuária (Anexo II). 6 Existem na ESAC os seguintes departamentos: Ciências Exactas e do Ambiente; Ciências Sociais e Humanas; Ciência e Tecnologia Alimentar; Ciências Zootécnicas; Fitotecnia; e Florestal (Anexo III).

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Figura 3.2 – Estrutura interna da ESAC

Fonte: Adaptado de Pereira (2003)

No total, a instituição emprega cerca de 200 funcionários, equitativamente distribuídos por docentes e não docentes. A composição etária média do corpo docente situa-se principalmente na classe de ida-des de 35-40 anos, enquanto que a dos funcionários não docentes se situa entre os 35 e os 49 anos. O corpo docente da ESAC é maioritariamente do sexo feminino (58%), ao contrário do corpo não docente, em que prevalece o sexo masculino (55%). A qualificação académica predominante entre os docentes é o grau de mestre (57%), seguida pelo grau de doutor e de licenciado (ambos com 24%). No corpo não docente prevalece o 4º ano de escolaridade (38%), seguido pelo 9º ano de escolaridade (17%) e o grau de licenciado (13%). A baixa qualificação do pessoal não docente deve-se, por um lado, à origem da ESAC como Escola de Regentes Agrícolas e ao facto de grande parte destes cola-boradores estarem ligados à exploração agro-pecuária (como auxiliares ou operários). (Pereira, 2003)

Em 2004, a ESAC possuiu cerca de 1061 alunos, com a seguinte distribuição pelas licenciaturas: 28% em Engenharia Agro-Pecuária, 24% em Engenharia Alimentar, 21% em Engenharia do Ambiente, 16% em Engenharia dos Recursos Florestais, e 11% em Eco-turismo.

O orçamento da ESAC no ano civil de 2003 teve o valor global de 6.033 milhares de euros, dos quais 81% constituíram despesas com pessoal, 17,4% em despesas de funcionamento e 1,6% em despe-sas de capital. Para o mesmo ano, o orçamento geral do estado financiou 86,1% das despesas totais, o orçamento privativo 5,2% e as verbas recebidas através de projectos de investigação financiaram 5,1%. (Pereira, 2003)

3.1.2 O Projecto EMAS@SCHOOL

O projecto EMAS@SCHOOL constitui a abordagem adoptada pela ESAC para a implementação do SGA. Sendo um projecto LIFE-Ambiente (LIFE03 ENV/P/000501), tem uma comparticipação financei-ra da União Europeia, o que constitui um factor auxiliar neste processo (respondendo assim a um dos factores críticos de sucesso, os custos). Cria por sua vez um contexto motivador para a implementa-ção do SGA, responsabiliza a organização e impõe um calendário para a implementação das acções7.

7 O projecto decorre de 01/10/2003 a 30/09/2006.

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Este projecto foi concebido de acordo com as características e necessidades da ESAC (tal como reco-mendado por Kirkland & Thompson, 1999). Deste modo, prevê as seguintes acções globais: a revisão ambiental (levantamento dos problemas ambientais e requisitos legais); a definição e implementação do SGA; a implementação dos sistemas de gestão de resíduos e águas residuais; a implementação do plano de ordenamento e a recuperação e valorização de áreas florestais sensíveis e em risco de erosão; a melhoria do desempenho ambiental das actividades agrícola, pecuária e da indústria de lacticínios; e a disseminação dos resultados e da experiência do projecto (Figura 3.3).

Figura 3.3 – Acções previstas no EMAS@SCHOOL

Revisão Ambiental

A implementação de um SGA requer o conhecimento pormenorizado da instituição, das suas activida-des e dos seus problemas ambientais. Esta acção visa assim: a identificação e caracterização exausti-va das actividades da ESAC; o levantamento dos impactes ambientais de todos os sectores; a quanti-ficação dos recursos consumidos; a quantificação e caracterização dos resíduos e efluentes produzi-dos; a monitorização da qualidade e quantidade das águas superficiais e subterrâneas; a revisão das principais políticas, programas, planos e diplomas legais em vigor em matéria ambiental; e a elabora-ção de uma base de dados ambiental georeferenciada.

Sistema de Gestão Ambiental

O principal objectivo desta acção é o planeamento e implementação do SGA conforme o Regulamento Comunitário EMAS. O SGA envolve a definição e aprovação da política ambiental, dos objectivos e metas ambientais, das acções a desenvolver, das responsabilidades, do plano de formação, do siste-ma de comunicação e de documentação, dos procedimentos operacionais, do plano de emergência, do sistema de monitorização e verificação, e das acções preventivas e correctivas. A implementação do SGA exige o envolvimento da comunidade da ESAC, estando previstas estratégias diferenciadas de participação conforme o público-alvo a envolver e a fase do SGA em questão. Pretende-se ainda desenvolver um manual de apoio à implementação destes sistemas para vários sectores de actividade existentes na ESAC.

Gestão da Água e dos Resíduos

A gestão da água e dos resíduos é hoje em dia uma temática importante e bastante complexa, cuja solução efectiva exige uma abordagem integrada. Esta componente visa implementar sistemas de gestão e de tratamento de águas residuais e resíduos sólidos que integrem as várias actividades da ESAC, de forma a reduzir a carga poluente dos efluentes, a valorização dos resíduos orgânicos e a adequada gestão dos resíduos tóxicos. Estão previstos a implementação de um sistema de recolha separativa de resíduos, o tratamento e destino adequados dos resíduos tóxicos, a implementação de

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um sistema de compostagem dos resíduos orgânicos, e a construção de uma ETAR piloto para os efluentes pecuários.

Ordenamento e floresta

A implementação de um SGA torna-se mais complexa em instituições com uma dimensão territorial, já que estes sistemas não foram concebidos para estes casos. Neste sentido, este projecto pretende testar a utilização de um plano de ordenamento como ferramenta de implementação do EMAS, com vista à melhoria do desempenho ambiental da ESAC. Isto envolve um processo de participação envolvendo toda a comunidade da ESAC, bem como a comunidade envolvente. As áreas florestais sensíveis e em risco de erosão são alvo de acções de manutenção e valorização, com vista à recupe-ração da vegetação autóctone e à redução do risco de incêndio.

Agricultura e Pecuária

As actividades agrícolas e pecuárias da ESAC apresentam impactes negativos que urge minimizar, pelo que se pretende a melhoria do seu desempenho ambiental através de uma abordagem integrada e de uma melhor racionalização dos recursos. O efeito poluente da actividade pecuária é reduzido através da alteração dos processos produtivos, como por exemplo, a alteração da alimentação animal, o enriquecimento dos pastos com leguminosas, o aumento da área de extensivo e da sua integração com a área florestal. O sistema agrícola extensivo apresenta alguns problemas, em particular a neces-sidade de grandes quantidades de água para rega no verão e de fertilizantes. Deste modo, prevê-se a instalação de um sistema de irrigação computorizado e do uso de fertilização orgânica. São integradas práticas de protecção integrada, sendo o seu impacte ambiental avaliado através de balanços mássi-cos e da monitorização dos resíduos de produtos fitossanitários no solo e na água.

Indústria

A oficina tecnológica de lacticínios tem um grande impacte ambiental sobre o consumo de água e a produção de efluentes líquidos com uma elevada carga orgânica, que se pretende reduzir através de uma utilização mais eficiente dos recursos. São implementados processos de concentração por mem-branas e de osmose inversa com vista a recuperar a proteína do soro, que pode ser reintroduzida no processo de fabrico do queijo ou em outros processos fermentativos. O consumo de água e de reagentes de limpeza são reduzidos através de um melhor controlo da sua utilização e da sua reutili-zação. Um sistema piloto de tratamento de efluentes será ainda implementado no final do processo de modo a reduzir a carga poluente final.

Disseminação

Os resultados e a experiência deste processo são divulgados através de diversos meios: do sítio da internet do projecto, de relatórios, de material de divulgação, de publicações científicas e de divulga-ção, de cursos de formação e pós-graduação, de dias abertos, de seminários, de workshops e de uma conferência internacional, consoante o público-alvo. Deste fazem parte instituições públicas, institui-ções de ensino superior, PME’s dos sectores agrícola, pecuária, agro-alimentar e florestal, bem como profissionais, estudantes, comunidade científica e sociedade em geral.

Área de Implementação do SGA

A implementação do SGA no período em que decorre o projecto EMAS@SCHOOL não é efectuada a toda a área do campus da ESAC, mas apenas na margem esquerda do Rio Mondego (excluindo assim a zona da Vagem Grande), com exclusão de espaços fora do controlo directo da ESAC, tais como infra-estruturas do IPC, serviços sociais ou de outras instituições que se encontram nesta área (Figura 3.5).

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Figura 3.4 – Ocupação de solo da ESAC

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Figura 3.5 – Área de implementação do SGA

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CAPÍTULO 4 - MODELO DE IMPLEMENTAÇÃO DO SGA E ENERGÉTICO

O presente trabalho decorre no âmbito do projecto EMAS@SCHOOL que visa a implementação efectiva de um SGA numa IES. Se por um lado o projecto oferece um bom contexto para a investiga-ção nesta matéria, possibilita um contexto de trabalho real e funciona como um laboratório de experi-mentação, coloca por outro lado o desafio da investigação se desenrolar simultaneamente com a acção.

Neste contexto, a metodologia adoptada baseia-se numa abordagem investigação-acção, usualmente conhecida como uma metodologia de investigação das ciências sociais baseada na cooperação entre o investigador e o objecto da investigação, com vista à resolução conjunta de problemas e à criação de conhecimento. Esta consiste na melhoria da prática através da intervenção, e no estudo da mudan-ça a par dos acontecimentos. Após a fase de contextualização e definição dos objectivos, a abor-dagem investigação-acção segue um ciclo de diagnóstico, planeamento, acção e avaliação. Este é acompanhado por um ciclo reflexivo sobre todo o processo e os pressupostos da investigação. Ao contrário das abordagens de investigação clássicas, na investigação-acção o investigador faz parte do alvo de estudo, não ocupando uma posição neutra, mas sendo um elemento activo no desenrolar dos acontecimentos. Considera-se, deste modo, como aspecto chave desta abordagem, a capacidade do investigador se colocar em várias posições, desenvolvendo ao mesmo tempo metodologias de acção, pondo-as em prática, avaliando-as e desenvolvendo um pensamento crítico sobre todo o processo (Coghlan & Brannick, 2001).

No presente estudo é adoptada uma abordagem mais simplificada, que exclui a cooperação entre o investigador e o objecto da investigação, no sentido estrito que a abordagem investigação-acção lhe atribui. Assegura-se, todavia, a colaboração entre os principais actores da instituição e a equipa de investigadores na definição da metodologia e abordagens seguidas, e uma contínua actualização as-sente nos resultados de avaliação das acções implementadas, e ainda, da revisão bibliográfica com-plementar.

4.1 SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL

O modelo desenvolvido para a implementação do SGA na ESAC assenta no envolvimento organiza-cional da comunidade, alicerçado por uma monitorização contínua, por um sistema integrado de infor-mação, e por estratégias diferenciadas de comunicação e formação (Figura 4.1).

Figura 4.1 – Modelo de implementação do SGA

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Pretende-se que a metodologia de implementação do SGA assuma um carácter prático e sistémico, focado nos problemas ambientais. Esta abordagem sintetiza os princípios subjacentes ao recente paradigma de ecologia industrial, que aborda directamente os problemas ambientais nas suas áreas de acção de forma transversal, integradora e sistémica. A resolução dos problemas ocorre em contí-nuo, recorrendo à monitorização permanente das acções e dos seus efeitos, o que permite uma rede-finição rápida das acções, procedimentos e processos (Carreiras et al, 2005).

Como já referido anteriormente, a abordagem tradicional de implementação dos SGA, caracterizada por aspectos como uma hierarquia top-down, liderada pela gestão de topo das organizações, com a implementação das diferentes componentes estruturais (Watzold et al, 2001), apresenta diversas limitações numa instituição como a ESAC, democrática, com diversos grupos de interesse e estruturas de poder (Ferreira et al, 2005). Deste modo, para a implementação do SGA é adoptada uma dupla abordagem top-down e bottom-up, de modo a promover a participação efectiva, quer na definição das acções, quer na resposta e feedback dos resultados. Esta estratégia centra-se assim no desen-volvimento de uma cultura organizacional promotora de uma participação activa e do envolvimento dos vários actores das diversas hierarquias, tornando-os conscientes dos problemas ambientais e da necessidade da sua gestão. Isto implica o desenvolvimento individual de novas competências, exigindo estratégias de formação diferenciadas, e de informação e comunicação transparentes. É um processo mais exigente, pois envolve tempo e disponibilidade mental por parte de cada indivíduo.

Quanto à implementação da componente formal do SGA (requisitos do Regulamento Comunitário EMAS), pretende-se simplificar a abordagem, tornando-a mais clara e flexível, considerando a reduzi-da capacidade de afectação de recursos humanos existente neste tipo de instituição e a dificuldade em implementar e manter um sistema demasiado complexo.

4.2 ENVOLVIMENTO ORGANIZACIONAL

“Teach them, and they will forget; demonstrate – and they will remember; involve them and they will understand” (Hohhmann & Delakowitz, 2002)

A participação activa dos indivíduos da organização constitui uma força motriz na implementação de um SGA, sendo por isso uma condição prévia e um recurso fundamental para uma melhoria ambiental contínua bem sucedida (Regulamento CE n.º 761/2001 de 19/03/2001). A visão comum deste proces-so, bem como as suas linhas gerais, têm de ser decididas e conhecidas por todos os indivíduos da organização, para que a implementação do SGA seja apoiada por todos, e as suas atitudes diárias sejam coerentes em torno desse objectivo comum.

Um passo crítico do envolvimento organizacional é a identificação exacta dos actores chave, já que a exclusão de actores importantes pode minar todo o processo (Randolph, 2004). São considerados actores-chave, aqueles que afectam a mudança, mas que também são afectados por ela (Randolph, 2004). No processo de implementação do SGA na ESAC, os principais actores identificados são os estudantes, funcionários docentes e não docentes, e elementos externos como fornecedores, autori-dades locais, instituições reguladoras da área ambiental e outras IES.

O envolvimento organizacional implica um processo participativo, que se traduz na participação dos indivíduos da organização na tomada de decisão. Desta forma, o processo de envolvimento organiza-cional deverá ser estruturado e apoiado por uma agenda bem definida, e considerar os processos e oportunidades efectivas de interacção e troca de informação. Deverá ainda ser promovido um sentido de responsabilidade e compromisso nos actores, desenvolvendo neles o sentimento de posse do pro-blema, do processo e da decisão, através da atribuição de autoridade e de partilha de responsabili-dades (Coghlan & Brannick, 2001; Randolph, 2004).

Outros factores reconhecidos essenciais para o sucesso deste processo são: a confiança entre os indivíduos (que deve ser estabelecida cedo); tempo (para participar, estabelecer relações de confian-ça, aprender, resolver conflitos e gerar soluções); informação efectiva e de boa qualidade; e comuni-

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cação efectiva (Coghlan & Brannick, 2001; Randolph, 2004). A motivação é um factor crucial para o envolvimento, podendo desenvolver-se por parte dos indivíduos e/ou organização uma motivação ambiental, económica ou social.

O Regulamento EMAS prevê diversas formas de participação, como contactos pessoais, reuniões, comités consultivos, grupos de trabalho, recolha de sugestões, informação e colaboração activa, edu-cação e formação. Todavia, um dos desafios colocados pelo envolvimento organizacional é a impos-sibilidade de se definir um esquema básico de participação, capaz de ser aplicado mecanicamente. É reconhecida a necessidade de um processo participativo ser construído a partir de cada processo, através da reflexão crítica e permanente sobre ele (Holliday, 1998). Deste modo, é essencial que as soluções operacionais de envolvimento organizacional sejam determinadas com base na interpretação do contexto específico de implementação do SGA.

O contexto específico de implementação do SGA na ESAC é determinado pelo contexto da própria instituição e ainda, do projecto que está na origem deste estudo, pelo que a agenda de implementa-ção terá que atender aos condicionamentos de ambos os contextos. São usadas estratégias de envol-vimento diversificadas, consoante a fase do projecto, a fase de implementação do SGA e o público-alvo (Figura 4.2).

Figura 4.2 – Síntese da estratégia de envolvimento organizacional

Na fase de planeamento do SGA identificam-se dois momentos fundamentais: a iniciativa de imple-mentação, e o planeamento propriamente dito que correspondeu no presente contexto à fase de can-didatura do projecto ao programa de financiamento europeu LIFE.

A iniciativa de implementação do SGA surgiu de funcionários docentes da instituição, apoiados desde logo pela liderança de topo, adoptando-se inicialmente uma estratégia bottom-up. Este processo foi encarado como uma oportunidade de aumentar a competitividade da ESAC, tendo em conta: a possi-bilidade de financiamento europeu como meio de minimizar o custo inicial de investimento (considera-do um factor crítico neste tipo de processos); melhorar as condições de ensino, através de aquisição de equipamentos e criação de estruturas de ensino com carácter prático; de maximização das compe-tências existentes na ESAC; de aumentar a eficiência dos processos na instituição, com a consequen-te redução de custos; e de aproveitar a ‘crise’ de motivação organizacional existente (resultado de um contexto de incerteza e de restrições orçamentais) motivando os elementos da organização em torno de uma visão de futuro comum – a melhoria do desempenho ambiental da ESAC.

Na fase de candidatura do EMAS@SCHOOL foram envolvidos os líderes das principais áreas cientí-ficas (departamentos) que colaboraram na concepção técnica e financeira do projecto. Nesta fase foi também envolvida a Direcção da ESAC. O envolvimento promovido desde o início do processo de

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todos os docentes chave das várias áreas científicas, permitiu uma melhor percepção dos problemas e recursos existentes, uma maior integração das acções a desenvolver, a maior sensibilização para a necessidade de resolução dos problemas e o treino e formação de uma massa humana crítica neces-sária à execução do projecto quando aprovado, potenciando o seu sucesso. Nesta fase foram identifi-cados e avaliados os problemas ambientais, tendo sido definidas as áreas de actuação prioritárias, os objectivos e as metas a atingir. Com base numa abordagem sistémica e integrada sobre a resolução dos problemas, foram definidas várias acções, maximizando as sinergias entre os vários sectores da ESAC. Os recursos financeiros, técnicos e humanos necessários foram igualmente avaliados, conse-guindo-se com este envolvimento uma melhor racionalização dos recursos, e uma consciencialização por parte destes actores da sua responsabilidade numa gestão mais sustentável dos recursos e refor-çando o seu papel como agentes de mudança (Figura 4.3).

Ainda na fase de candidatura, foram envolvidas as entidades externas à ESAC com responsabilidades nas políticas, no planeamento e gestão do território, e nos sectores de actividade abrangidos pelo projecto (Câmara Municipal de Coimbra, Comissão de Coordenação de Desenvolvimento Regional do Centro e Direcção Regional de Agricultura da Beira Litoral). A função destas entidades no EMAS@SCHOOL passa, essencialmente, pelo apoio institucional às actividades, como auditores do SGA e das actividades a desenvolver, e como estruturas de apoio na divulgação dos resultados e da experiência da ESAC.

Na fase de implementação do SGA têm sido envolvidos os vários docentes da ESAC, os estudantes e os funcionários não docentes, de modo progressivo e de várias formas, aproximação que se traduz na dupla abordagem top-down e bottom-up já mencionada. No âmbito do projecto foram constituídos grupos de trabalho (docentes e não docentes) por área de acção, liderados pelos docentes que cola-boraram na candidatura. Estes são responsáveis pelas acções realizadas, pelo cumprimento dos prazos e pelo respectivo orçamento. O envolvimento dos docentes não se esgota na solicitação da sua participação nas actividades do projecto, estes são também incentivados a usar o projecto, os seus recursos, as infra-estruturas e equipamentos que são criados, no âmbito das disciplinas que leccionam, para fins de investigação e para valorização profissional. Dos grupos de trabalho fazem também parte funcionários não docentes, que têm um papel crucial na implementação da maioria das acções que o projecto contempla, e que usualmente não são chamados a intervir. Estes grupos de trabalho, iniciados com um determinado grupo de pessoas, tendem a aumentar à medida que o processo decorre, já que a multidisciplinaridade e integração das acções exige a colaboração cres-cente de pessoas.

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Figura 4.3 – Interacção entre a implementação do SGA e a ESAC

A equipa do projecto funciona como consultor na elaboração dos vários documentos e procedimentos formais exigidos pelo SGA para os vários sectores, elaborando as primeiras versões dos documentos e discutindo-os com as partes interessadas. Os documentos produzidos são sujeitos a processo de revisão por cada departamento. Com o objectivo de reforçar a participação colectiva, de toda a organi-zação, e a institucionalização do processo com vista ao sucesso do SGA, foi criada a figura de um órgão consultivo que irá apoiar a Direcção da ESAC. Este órgão tem como objectivos o acompanha-mento deste processo, a revisão e a elaboração de pareceres sobre os documentos oficiais prepara-dos. É constituído pelos representantes oficiais dos órgãos da ESAC, funcionários docentes e não docentes, alunos, e entidades externas à instituição com competências na área do ambiente e com influência sobre espaço e actividades da ESAC. A versão preparatória de cada documento de SGA é por sua vez aberta à discussão pública interna durante um período de consulta para recolha de opiniões, antes da aprovação final por parte desta comissão e da Direcção da ESAC.

O envolvimento dos estudantes é considerado um factor chave para o sucesso de um SGA. Estes encontram-se frequentemente na base das decisões de implementação de um SGA e geralmente envolvem-se entusiasticamente nas suas diferentes fases (Dahle & Neumayer, 2001; Mason et al 2003; Newport et al, 2003; Vega et al, 2003). O envolvimento dos estudantes na ESAC é promovido através de três níveis (Ferreira et al, 2004):

1. ao nível das disciplinas, especialmente das relacionadas com a gestão e tecnologias ambien-tais, onde são produzidos trabalhos práticos que utilizam as infra-estruturas e as acções do projecto como exemplos reais;

2. ao nível dos estágios8, durante os quais é esperado que os alunos desenvolvam competên-cias práticas. Os alunos podem escolher fazer um estágio no âmbito do projecto, optando pela área de implementação do SGA, ou por áreas mais específicas, usando os recursos do projecto;

3. ao nível do trabalho voluntário, os alunos podem colaborar com a equipa do projecto, dando apoio a diferentes acções. A este nível as perspectivas dos estudantes são alargadas, dado que como voluntários estão fortemente motivados, torna-se possível promover valores e uma atitude mais sustentável.

Na ESAC, o envolvimento dos estudantes é desejável não apenas direccionado aos alunos do curso de Engenharia do Ambiente mas também a todos os outros cursos leccionados pela ESAC. O envolvi-mento de alunos de outras licenciaturas, ainda que nas suas tarefas de interesse específico, constitui uma excelente oportunidade para promover a sustentabilidade ambiental, e difundir técnicas e meto-dologias para melhorar o desempenho ambiental a outras áreas de actividade. Esta promoção será tanto mais conseguida, à medida que as soluções forem integradas e, resultarem numa melhoria da competitividade global de cada área. (Ferreira et al, 2004)

De um modo geral e indirecto, toda a comunidade da ESAC é envolvida através das estratégias de divulgação de informação e comunicação implementadas.

O envolvimento da comunidade externa à ESAC é assegurado pela organização de actividades como ‘Dias Abertos’, dinamizadas com o objectivo de divulgar as actividades desenvolvidas, as boas práti-cas e os resultados atingidos (como por exemplo, a colaboração na iniciativa mundial ‘Clean up the World’, realizada em Setembro de 2004, que contou com cerca de 100 participantes). São ainda, realizadas workshops e outras reuniões de discussão internas, constituindo oportunidades de discus-são flexíveis e pouco formais entre os vários actores do processo de implementação do SGA (como a apresentação das actividades realizadas nas várias áreas).

8 As licenciaturas da ESAC são compostas por dois estágios, um intercalar de 250 horas de actividade laboral e um final de 800 horas laborais.

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4.3 MONITORIZAÇÃO

A monitorização é uma função chave na avaliação permanente do desempenho ambiental de uma organização e do processo de implementação do SGA.

O regulamento EMAS recomenda a monitorização das actividades recorrendo à utilização de indica-dores de desempenho ambiental que constituem informação de fácil acesso. Estes devem ser efica-zes do ponto de vista económico e adequados à dimensão e ao tipo de organização, bem como às suas necessidades e prioridades. Devem incidir nos impactes ambientais mais significativos, que a organização possa influenciar através das suas operações, gestão, actividades, produtos ou serviços. Devem ainda: permitir estabelecer comparações e apontar as mudanças ocorridas em termos de de-sempenho ambiental; distinguir áreas com mau e bom desempenho; assentar em critérios similares e em períodos ou unidades de tempo comparáveis; ser actualizados com a regularidade necessária para permitir a adopção de medidas; e ser claros e inteligíveis. Para avaliar o desempenho de uma organização, o EMAS sugere três categorias de indicadores ambientais: indicadores de desempenho operacional, de desempenho da gestão e de estado do ambiente. Os indicadores de desempenho operacional incidem nos aspectos relacionados com o funcionamento de uma organização (activida-des desenvolvidas, produtos ou serviços) e podem abordar questões como as emissões, a reciclagem de produtos, o consumo de matérias-primas ou os consumos energéticos. Os indicadores de desem-penho da gestão incidem nos esforços empreendidos a nível da gestão para criar as infra-estruturas necessárias ao êxito da gestão ambiental e podem abranger, entre outros, os programas ambientais, os objectivos e metas estabelecidos, a formação profissional, o regime de incentivos, a frequência das auditorias, as inspecções, a gestão e as relações com a comunidade. Os indicadores do estado do ambiente fornecem informações sobre a qualidade do ambiente envolvente da organização ou sobre o estado do ambiente a nível local ou regional, como por exemplo a qualidade do ar ou a concentração de determinados poluentes no solo. (Recomendação da Comissão de 10/07/03)

Atendendo à relevância atribuída ao envolvimento organizacional, faz todo o sentido expandir os tradicionais procedimentos de monitorização ambiental e energética, à avaliação e acompanhamento do comportamento organizacional.

4.3.1 Monitorização Ambiental e Energética

Como exposto anteriormente, o EMAS sugere que a avaliação do desempenho ambiental de uma organização seja efectuada através de indicadores de desempenho operacional, de desempenho da gestão e de estado do ambiente. Encontrando-se os dois últimos em fase de desenvolvimento, no presente trabalho serão apenas abordados os indicadores de desempenho operacional.

A abordagem de flexibilização adoptada para a implementação do SGA na ESAC reflecte-se na estra-tégia de monitorização do desempenho ambiental da instituição. Um modo eficaz e expedito de moni-torizar o desempenho ambiental consiste na utilização de ferramentas analíticas, como os balanços de massa e energia, associados aos fluxos financeiros. Estabelecer a associação da componente finan-ceira aos balanços de massa e energia enriquece a monitorização realizada, acrescentando à avalia-ção ambiental e energética uma avaliação económica. A monitorização contínua destes fluxos permite a rápida detecção de ineficiências e consequente redefinição de objectivos e acções. Está subjacente o princípio de que a minimização das entradas no sistema conduzirá inevitavelmente a menores saídas e, portanto a uma maior eficiência da utilização dos recursos com menor produção de resí-duos. A utilização destas ferramentas, de carácter simplificado, é sobretudo justificada, na implemen-tação de SGA numa instituição como a ESAC, com uma grande variedade de actividades, e com uma dimensão e variabilidade espacial e temporal significativas.

A definição dos fluxos mássicos e energéticos teve em consideração as principais actividades desen-volvidas pela ESAC (pedagógica, investigação e desenvolvimento; serviços de apoio à comunidade; agrícolas e pecuárias; indústria agro-alimentar e actividades florestais). Foram escolhidos fluxos de entrada, que pela sua abrangência de utilização pelas várias actividades (p.e. energia e água), ou pela

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especificidade inerente a cada actividade (p.e. papel, consumíveis de impressão e reagentes químicos relativos às actividades pedagógica, de investigação e de serviços; fertilizantes e produtos fitofarma-cêuticos relativos à actividade agro-pecuária) conduzem a indicadores de desempenho ambiental e energético adequados. Quanto aos fluxos de saída, foram estabelecidos nesta fase, a produção de resíduos sólidos, de efluentes líquidos e a emissão de gases de efeito de estufa, em particular a emis-são de CO2. Com base nestes fluxos foram estabelecidos os respectivos indicadores, que consistem na capitação anual de cada fluxo, calculada nas unidades mássicas ou energéticas, e monetárias, tendo em consideração a sua especificidade (Tabela 4.1).

O EMAS sugere que os indicadores de desempenho operacional sejam estabelecidos por unidade de produto, o que se verifica na maioria dos SGA. No presente caso, a utilização generalizada desta metodologia produziria diversas distorções nos resultados. Primeiro, porque a ESAC possui uma multiplicidade de actividades, como já foi referido, produzindo diversos produtos. Segundo, embora exista esta grande variedade de actividades, a principal actividade da ESAC é a pedagógica, sendo o respectivo produto os estudantes graduados. Todavia, em alguns dos fluxos este tipo de produto não se aplica, como é o caso dos fertilizantes e produtos fitofarmacêuticos, que se referem a produtos agrícolas. Outra das situações é o caso do papel e dos consumíveis de impressão, em que existem fontes de distribuição específicas para estudantes e para funcionários (docentes e não docentes), pelo que o seu agrupamento distorceria por completo a avaliação do consumo dos recursos9. Opta-se assim por não utilizar o produto como referência, mas, consoante o caso, o(s) consumidor(es) dos recursos.

O balanço mássico e energético teve como principal fonte a informação contabilística e em algumas situações recorreu-se a estimativas e a quantificações directas. Os vários fluxos foram avaliados no período de 2001 a 2004, com o objectivo de obter uma percepção evolutiva, e assim melhor aferir sobre o desempenho ambiental e energético da ESAC.

Há a acrescentar que os fluxos de entrada e saída da ESAC são definidos por área de implementação do SGA, sendo que para os indicadores de maior expressão agrícola (como os fertilizantes e os pro-dutos fitofarmacêuticos) a capitação é determinada pela extensão da área agrícola da ESAC, perten-cente à margem esquerda do Rio Mondego (área de implementação do SGA). Tabela 4.1 – Indicadores operacionais de desempenho ambiental e energético

Indicadores Operacionais Tipo Unidades Método

Tep / Ano / Pessoa

Tep / Ano / m2 área coberta Energia

Electricidade Combustíveis Gás e outros gases Óleos e lubrificantes € / Ano / Pessoa

Auditoria financeira

m3 rede / Ano / Pessoa € / Ano / Pessoa

Auditoria financeira Água

Água de abastecimento público Água subterrânea e superficial m3 / Ano / ha Estimativa

Resmas / Ano / Aluno Resmas / Ano / Funcionário Papel € / Ano / Pessoa

Auditoria financeira

Unidades / Ano / Aluno Unidades / Ano / Funcionário

Consumíveis de impressão

Tonners Tinteiros

€ / Ano / Pessoa Auditoria financeira

Kg / Ano / ha Fertilizantes

€ / Ano / ha Auditoria financeira

Entr

ada

Produtos fitofarmacêuticos Kg / Ano / ha Auditoria financeira

9 Assim, na Tabela 4.1 denomina-se por ‘Pessoa’ o conjunto dos funcionários (docentes e não docentes) e alunos.

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L / Ano / ha € / Ano / ha

Kg / Ano / Pessoa L / Ano / Pessoa Reagentes químicos € / Ano / Pessoa

Auditoria financeira

Kg RSU / Ano / Pessoa

Kg separados / Ano / Pessoa

Quantificação directa Resíduos sólidos

RSU indiferenciados Papel, vidro, embalagens

€ / Ano / Pessoa Auditoria financeira

m3 doméstico / Ano / Pessoa Estimativa Efluentes líquidos Domésticos

€ / Ano / Pessoa Auditoria financeira

Saíd

a

CO2 Ton / Ano / Pessoa Estimativa

Os indicadores ambientais e energéticos constituem a síntese dos resultados obtidos na auditoria ambiental e energética realizada a uma instituição, neste caso, à ESAC. No entanto, os resultados directos da auditoria fornecem informação adicional, de grande utilidade na detecção de problemas e ineficiências. Sendo assim, serão apresentados e analisados os resultados da auditoria realizada à ESAC, tendo em atenção os aspectos que se revelaram mais significativos, bem como potenciais situações de melhoria.

4.3.2 Monitorização Organizacional

O envolvimento organizacional é, como já foi referido, um factor assumido como primordial na imple-mentação do SGA, pois as pessoas são uma peça chave deste processo. Deste modo, a monitoriza-ção dos factores organizacionais torna-se fundamental para aferir o nível de mudança organizacional e de envolvimento associado, sendo estes aspectos considerados inovadores na metodologia de im-plementação do SGA adoptada.

A estrutura organizacional da ESAC, a base psicológica dos indivíduos que dela fazem parte (objecti-vos, atitudes e valores) e os seus conhecimentos, condicionam a metodologia e os resultados de implementação do SGA. Pressupõe-se assim que o empenho de cada indivíduo em relação à imple-mentação do SGA seja função dos conhecimentos em matéria de ambiente que cada um dispõe, do seu comportamento ambiental e das características da organização onde se insere (Figura 4.4). Esta relação é, contudo, biunívoca e é esperado que a implementação do SGA amplie os conhecimentos que a comunidade da ESAC tem em matéria da ambiente, crie comportamentos ambientalmente mais sustentáveis, e valorize a imagem da ESAC perante a comunidade envolvente. Sendo assim, preten-de-se monitorizar a organização e as pessoas que a constituem durante o decorrer deste processo, quanto aos seguintes indicadores: os seus conhecimentos sobre a temática ambiental; as suas atitudes e comportamentos nesta matéria; a sua percepção sobre a ESAC; e o seu posicionamento e percepção face à implementação do SGA. O objectivo principal desta monitorização é conhecer em que medida o processo de implementação do SGA modifica a comunidade da ESAC, sendo que este é um aspecto essencial para o sucesso de todo processo.

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Figura 4.4 – Pressuposto da monitorização organizacional

A questão que se coloca é “Qual técnica de investigação social utilizar?”. Quando se realiza uma investigação social deve começar-se por identificar e determinar o problema a estudar, seguindo-se o estabelecimento dos objectivos a cumprir, a formulação das várias hipóteses a analisar, e só depois a escolha do método de consulta. Existem diferentes modos de consulta, os quais variam em função da maior ou menor directividade que se pretende, ou seja, do maior ou menor grau de liberdade que se pretende atribuir à pessoa para ela expressar os seus pontos de vista. Esta consulta pode ser efectua-da recorrendo a dois tipos de técnicas: entrevista ou questionário. O questionário é mais directivo, ou seja, condiciona mais as respostas do entrevistado, e produz dados quantitativos, viabilizando um tra-tamento matemático. A entrevista é pouco directiva e gera dados qualitativos que resultam, geralmen-te, na criação de tipologias e construção de modelos. (Ghiglione & Matalon, 1997)

Deste modo, a técnica de investigação social escolhida para a monitorização organizacional da imple-mentação do SGA é o questionário. É uma técnica que permite uma análise quer qualitativa, quer quantitativa, e que aplicada a uma amostra representativa, permite de forma facilitada uma monitoriza-ção rigorosa dos seguinte aspectos da comunidade da ESAC:

conhecimentos sobre a temática ambiental;

atitudes e comportamentos nesta matéria;

percepção sobre a ESAC;

posicionamento e percepção face à implementação do SGA.

Esta monitorização é conseguida com a aplicação do questionário uma vez por ano, no período de três anos em que decorre o projecto. A evolução das respostas, num ou noutro sentido de cada pergunta, constitui um indicador passível de ser comparado por cada aplicação do questionário ao longo da implementação do SGA10. Os aspectos abrangidos por cada componente do questionário, levariam a um questionário bastante extenso. Tendo em conta que o objectivo principal é monitorizar a evolução global de cada componente, é utilizado um reduzido número de aspectos com o objectivo de minimizar os recursos (tempo e humanos) associados à aplicação e análise do questionário. Note-se que no primeiro ano de realização a análise do questionário será qualitativa.

Adopta-se por usar uma estrutura de perguntas e respostas fechadas, de modo a facilitar a análise dos resultados, com escalas de concordância, de significância, de classificação, verdadeiro e falso, sim e não. São usadas escalas de resposta com números de opções par atendendo à posição defen-dida pelos autores, Ghiglione & Matalon (1997), que consideram que uma posição intermédia pode “oferecer uma escapatória àqueles que não fazem qualquer esforço de reflexão”. A redacção do questionário teve igualmente em conta a sua contextualização, extensão, linguagem simples, aspecto visual, a motivação do entrevistado e a referência ao anonimato do mesmo.

10 O questionário é estruturado e planeado para os três anos em que o projecto será realizado, sendo algumas perguntas modificadas em cada ano, mas mantendo-se o seu objectivo.

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Questionário

Na estruturação dos temas do questionário, optou-se por abordar inicialmente as questões relativas às atitudes comportamentais, deixando para o fim as questões de conhecimento. O objectivo é afastar a ideia de um exame de conhecimentos, e iniciar-se o questionário com objectivo principal de análise, que consiste na avaliação das atitudes. As questões de percepção sobre a ESAC precedem as ques-tões relativas à implementação do SGA, com o objectivo de não influenciar o aspecto mais abran-gente, a ESAC.

O questionário é constituído por quatro partes (Anexo IV, Anexo V): (0) dados gerais; (I) atitudes e comportamentos sobre o Ambiente; (II) percepção sobre a ESAC; (III) posicionamento face à imple-mentação do SGA e (IV) conhecimentos sobre a temática do Ambiente. A parte 0 caracteriza o univer-so inquirido. A parte I visa avaliar a evolução das atitudes e comportamentos das pessoas em matéria de ambiente. Espera-se que com o decorrer do projecto que os comportamentos mudem de uma forma positiva em relação à área ambiental (especialmente no espaço da ESAC, e desejavelmente noutros espaços públicos e privados). Na parte II pretende-se avaliar a percepção das pessoas sobre a instituição ESAC, no que diz respeito a condições e equipamentos, qualidade de ensino, e em parti-cular o ambiente na ESAC, quer ao nível estratégico, quer o operacional. Espera-se que o processo de implementação do SGA tenha um papel de mudança (para melhor) na instituição. A parte III tem como objectivo perceber a percepção e a opinião das pessoas relativamente à implementação do SGA e às acções desenvolvidas neste âmbito. Avalia-se os conhecimentos que as pessoas têm do SGA, o seu nível e vontade de participação, a informação disponibilizada, a sua avaliação global deste processo, assim como os possíveis impactes sobre a ESAC. A parte IV tem como objectivo a avalia-ção dos conhecimentos das pessoas sobre a temática do ambiente. Parte-se do pressuposto que o projecto aumentará os conhecimentos em matéria de ambiente de toda a população da ESAC, quer através de formação informal (material e acções de divulgação), quer via acções de sensibilização e formação que irão decorrer durante este processo. Escolheram-se temas gerais em matéria de am-biente, tendo como referência os conhecimentos que um cidadão bem informado sobre a temática de ambiente possui.

Amostra e Tratamento de Resultados

O universo de estudo é a população da ESAC e a amostra foi definida, recorrendo ao método de clusters, em: funcionários docentes, funcionários não docentes, e alunos. Nas duas primeiras catego-rias, foram ainda definidos sub-clusters que correspondem aos departamentos em que as pessoas estão inseridas: para os funcionários docentes, os departamentos considerados são Ciências Exactas e do Ambiente, Ciências Sociais e Humanas, Ciências e Tecnologia Alimentar, Ciências Zootécnicas, Fitotecnia e Florestal; enquanto que para os funcionários não docentes são acrescidos aos anteriores a exploração, o aprovisionamento, o gabinete de apoio informático, a biblioteca, o gabinete de apoio aos cursos e os serviços administrativos. No caso dos alunos, a amostragem incidiu também numa subdivisão por curso (Licenciatura em Engenharia do Ambiente, Licenciatura em Engenharia dos Recursos Florestais, Licenciatura em Engenharia Agro-pecuária, Licenciatura em Engenharia Alimentar, Licenciatura em Eco-turismo) e ano (1º, 2º, 3º, 4º, 5º). Tendo em atenção a especificidade da população a inquirir (no momento do questionário, existiam 93 funcionários não docentes, 94 funcionários docentes e 1.063 alunos), optou-se por uma amostragem de 20%, de modo a que a amostra fosse representativa do universo, e que fosse possível realizar, na fase de tratamento, vários testes. A amostra de funcionários foi escolhida aleatoriamente a partir de uma lista, respeitando o método de clusters, e contactando pessoalmente os funcionários. A amostra de alunos foi também escolhida pelo mesmo método, tendo-se recorrido ao horário de aulas como forma de alcançar este público. De acordo com a metodologia anterior obteve-se um número total de 253 respostas. O questionário foi realizado durante os meses de Abril e Maio de 2004.

O tratamento dos resultados recorreu à utilização do software de tratamento estatístico SPSS (Statisti-cal Package for the Social Sciences), tendo-se nesta fase apenas efectuado uma análise em termos de estatística descritiva e de tendências globais. Os questionários que serão aplicados nos próximos anos permitirão realizar uma análise mais completa e pormenorizada.

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4.4 INFORMAÇÃO

A implementação de um SGA produz uma grande quantidade de informação, de natureza diferen-ciada, que resulta sobretudo da fase de levantamento ambiental e de monitorização. Esta informação representa a base de trabalho de todas as estratégias, planos e medidas de acção a desenvolver, com o objectivo de melhoria do desempenho ambiental da organização. Deste modo, a gestão de informação é reconhecida por diversos autores como um dos factores críticos de todo o processo.

Na implementação do SGA na ESAC, verifica-se que a principal fonte de informação, no âmbito da monitorização ambiental e energética, é contabilística. Um modelo que tem como principal fonte de informação os dados contabilísticos da organização poderá apresentar vantagens e desvantagens. Se por um lado, esta é a informação considerada mais fidedigna, tem associado um modelo clássico contabilístico, demasiado agregado que dificulta o acesso à informação de detalhe. A informação con-tabilística encontra-se, normalmente, agrupada por rubricas que não correspondem aos indicadores estabelecidos, e que omitem os detalhes necessários para uma adequada auditoria ambiental e energética. Estas informações de detalhe encontram-se disponíveis, em formato papel, nas facturas relativas aos diferentes fluxos.

Coloca-se deste modo um dilema: serão os sistemas de informação contabilísticos clássicos suficien-temente flexíveis de modo a descriminar a informação com o detalhe que se pretende? Não sendo, impõe-se a criação de um sistema de informação exclusivamente dedicado à monitorização dos indicadores operacionais ambientais e energéticos de entrada, o que duplica o trabalho do pessoal administrativo da área da contabilidade. Um aspecto adicional a ter sempre em consideração é que estes recursos humanos não têm, usualmente, formação ambiental, pelo que será neste caso neces-sário investir na formação destes técnicos e criar um sistema de informação de fácil actualização, e de actualização centralizada (tal como sugerido por Noeke, 2000).

Neste trabalho propõe-se um sistema de informação integrado no sistema de contabilidade oficial, que, sendo preenchido durante o processamento das facturas na contabilidade, possibilitará uma consulta expedita à análise global dos indicadores operacionais de entrada, possuindo igualmente os dados para se proceder a uma auditoria mais pormenorizada. Tendo em conta a diversidade dos potenciais utilizadores, este sistema de informação assenta nas seguintes características: amigável ao utilizador (operações rápidas e de fácil manuseamento); detalhada (em relação aos indicadores operacionais); económica nos requisitos informativos; selectiva na visualização dos resultados (em função do interesse do utilizador); e de actualização permanente (Lopes et al, 2004).

O sistema de monitorização ambiental e energético deverá assentar numa base de dados, onde os indicadores operacionais de entrada surgem como variáveis do sistema (Figura 4.5). Estas variáveis são caracterizadas através das tabelas, definindo-se à partida os campos de atributos que se preten-dem considerar. Os atributos considerados relevantes são: a data a que as facturas se referem, as quantidades totais do fluxo (por unidade específica e monetária), e para algumas situações, o local de consumo correspondente. Com o objectivo de tornar a actualização desta base de dados operacional no âmbito do processamento normal contabilístico, e de conseguir aceder à informação de detalhe contida nas facturas, optou-se por acrescentar apenas dois campos de imagem que vão permitir armazenar o ficheiro da digitalização da factura e da respectiva requisição interna. Será relevante referir que a data (ano) é considerada como campo chave de todas as tabelas, permitindo estabelecer uma relação temporal sobre todas as informações. A avaliação de evolução temporal do estado da organização nos diferentes indicadores constitui o elemento fundamental tanto na auditoria ambiental e energética, como na contabilística.

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Figura 4.5 – Sistema de informação dos indicadores operacionais de entrada

Todavia, este sistema de informação não fornece todos os dados necessários para a monitorização ambiental e energética desenhada para a implementação do SGA na ESAC. A monitorização dos indi-cadores operacionais de saída, como os efluentes líquidos, resíduos sólidos e emissões de CO2, não é possível através deste sistema de informação, de origem contabilística, devendo por isso ser realiza-da, quer por quantificação directa, quer por estimativas, optando-se pelo armazenamento dos dados noutro sistema de informação complementar.

Em instituições com uma dimensão espacial, como é o caso da ESAC, toda a informação é natural-mente georeferenciável e, mais importante, o seu atributo de localização geográfica facilita a monitori-zação e gestão contínua do sistema, conduzindo à interpretação de dinâmicas espaciais relevantes para um diagnóstico de ineficiências e possibilitando a implementação de acções correctivas. Para estas situações, justifica-se o desenvolvimento de um sistema de informação que contemple o atributo espacial, isto é, um sistema de informação geográfica. Este sistema permitirá assegurar o correcto armazenamento de toda a informação, bem como a sua integração (já que a informação se encontra muitas vezes dispersa por várias fontes), facilitando a sua análise e interpretação. Permitirá também a integração de indicadores que não foram desenvolvidos no âmbito deste trabalho, como sejam os indicadores de estado do ambiente e os de gestão espacial. A avaliação de toda a informação geore-fenciada, ao longo do tempo, permite a avaliação de padrões temporais e espaciais, fornecendo as bases de modelação do SGA. A possibilidade de desenvolver uma ferramenta de modelação de todo o sistema representa um valor acrescentado de suporte ao planeamento, gestão e tomada de decisão, visto que poderão ser simulados cenários futuros ou hipotéticos, e avaliar com antecedência os prejuízos e ganhos conseguidos.

É de realçar as reconhecidas capacidades dos sistemas de informação geográfica, enquanto platafor-mas de comunicação e de veículos de informação. Estes sistemas permitem que a informação seja analisada de diversas formas, consoante os objectivos, fornecendo suportes de visualização, no for-mato de tabelas, mapas ou gráficos, que facilitam a compreensão da informação (em comparação com a usual apresentação desarticulada, que pode não revelar a totalidade do seu significado). Deste modo, permitem ainda estimular a colaboração e participação de todos os agentes envolvidos no SGA.

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Este tipo de sistemas de informação poderá ser facilmente distribuído em plataformas de Internet e Intranet, o que representa uma vantagem adicional, uma vez que, poderá permitir, entre outras funcio-nalidades, a consulta on-line de toda a informação do SGA.

4.5 COMUNICAÇÃO

O regulamento EMAS refere, no respeitante à comunicação, a obrigatoriedade de uma organização estabelecer, quer meios de comunicação internos entre as diversas hierarquias e funções, quer meios de comunicação com o exterior (Regulamento CE n.º 761/2001 de 19/03/2001). À semelhança do EMAS, diversos autores recomendam uma comunicação efectiva entre os membros da organização, mas também com o exterior, apontando a comunicação como um factor crítico na implementação de um SGA, sem a qual as diversas partes interessadas não tomam consciência dos objectivos e das acções.

No presente modelo, o sistema de comunicação é considerado um pilar essencial do processo de implementação do SGA, já que é através da informação disponibilizada aos indivíduos da organiza-ção, bem como a outras partes interessadas, que estes se tornam conscientes dos problemas am-bientais e da necessidade da sua gestão (não só nesta perspectiva, mas também vão percebendo que o sistema pode funcionar com resultados animadores e que em suma uma abordagem ambiental, mais do que idealista, poderá ser eficaz e benéfica em diferentes dimensões – económicas, e até rela-cionais). Parte-se do pressuposto que um maior conhecimento e consciência dos problemas ambientais e do processo de implementação do SGA conduzem a um maior envolvimento organiza-cional, potenciando o sucesso do processo (tomando conhecimento das actividades e dos seus resul-tados as pessoas consciencializam-se de que o sistema funciona e participam mais). Isto exige que as estratégias de comunicação da informação sejam abrangentes, transparentes, eficazes, e adequadas à situação e ao público-alvo. De um modo geral, o público-alvo da comunicação da ESAC é a própria comunidade da instituição, mas são ainda consideradas alvos de interesse os fornecedores e institui-ções públicas.

O sistema de comunicação proposto para a ESAC foi conceptualizado tendo em conta as característi-cas da instituição. A ESAC possui: um número de funcionários e alunos pequeno quando comparada com outras IES; apresenta uma dispersão espacial de edifícios, meios e pessoas; os seus funcioná-rios possuem funções bastante distintas (desde agrícolas a administrativas); e os seus elementos apresentam qualificações muito diferenciadas (desde a 4ª classe ao doutoramento). Deste modo, o sistema de comunicação adoptado assenta fundamentalmente em duas estratégias distintas de modo a atingir este público-alvo tão diferenciado: por um lado, na comunicação e no diálogo interpessoais informais; e por outro em meios de comunicação mais abrangentes.

O diálogo interpessoal é um meio extremamente eficaz na disseminação de mensagens que visam a alteração de comportamentos, de conhecimentos, valores, ou acções de indivíduos nas organizações (Levy & Dilwaly, 2000; Malmborg, 2002; Sharp, 2002). Esta estratégia é utilizada para todos os níveis hierárquicos, revelando-se muito eficaz no envolvimento e motivação dos indivíduos da organização. De salientar que o contacto interpessoal com as hierarquias mais baixas é visto por estas como uma forma de valorização e de reconhecimento, o que conduz à sua motivação e consequente participação voluntária no SGA. Esta estratégia apresenta, contudo, um grande inconveniente, que é a exigência em termos de tempo e de disponibilidade por parte dos promotores do SGA.

Embora alguns autores refiram o uso da comunicação electrónica como tendo um papel muito importante na comunicação ambiental de um SGA, a realidade da ESAC requer que sejam utilizados outro tipo de meios, nomeadamente em formato de papel. Neste formato é publicada periodicamente uma newsletter (Anexo VI_a, Anexo VI_b, Anexo VI_c, Anexo VI_d) bem como folhetos informativos sobre diversos temas ambientais, que são distribuídos em locais específicos da ESAC, como sejam os placares de divulgação do projecto. Ao nível electrónico, o sítio do projecto (www.esac.pt/emas@school) pretende ser a principal fonte de informação sobre o processo de imple-

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mentação do SGA, servindo inclusivamente como uma plataforma de gestão do SGA, constituindo uma base de consulta de procedimentos, boas práticas para os vários sectores da ESAC, acessível a qualquer pessoa fora e dentro da ESAC. O correio electrónico é, neste âmbito, uma ferramenta muito útil como canal de comunicação (interna e externa), embora não seja totalmente eficaz internamente, já que não é acessível a todos os funcionários da ESAC, pelo que a comunicação através de outros meios é fundamental.

De salientar que a linguagem utilizada na comunicação da informação relativa ao SGA deve conside-rar o público a que se destina e o meio a ser utilizado. No modelo proposto, a linguagem utilizada pretende ser acessível, mas com um carácter técnico mínimo de forma a contribuir para o quarto pilar do sistema: a formação.

4.6 FORMAÇÃO

Diversos autores indicam a formação e educação ambiental das pessoas envolvidas num SGA, como um factor crítico na sua implementação. A falta de competências, conhecimentos e informação em matéria ambiental dificulta a implementação destes sistemas. A implementação de um SGA não tem sucesso a longo prazo se as pessoas não tiverem consciência da consequência das suas acções e das razões que motivam determinadas medidas.

O regulamento EMAS encara a formação numa perspectiva limitada à componente formal do SGA, focando apenas a necessidade de sensibilização global para o sistema, e de formação dos indivíduos cuja actividade tenha impactes ambientais significativos:

“A organização deve identificar as necessidades de formação, e criar condições para que todo o pessoal cujo trabalho possa ter um impacte ambiental significativo receba formação adequada. Deve estabelecer e manter procedimentos que permitam aos seus colaboradores, em cada nível e função relevante, estarem sensibilizados para:

a importância da conformidade com a política ambiental, procedimentos e requisitos do SGA;

os impactes ambientais significativos, reais ou potenciais, das suas actividades, e para os benefícios ambientais decorrentes de uma melhoria do seu desempenho individual;

as suas funções e responsabilidades para atingir a conformidade com a política e os procedi-mentos ambientais e com os requisitos do SGA, incluindo os requisitos de prevenção e de resposta a situações de emergência;

as consequências potenciais do não cumprimento dos procedimentos especificados.

Os colaboradores que desempenhem tarefas que possam causar impactes ambientais significativos devem adquirir competências com base numa adequada educação, formação e/ou experiência.” (Regulamento CE n.º 761/2001 de 19/03/2001)

No presente modelo, encara-se a formação numa perspectiva mais abrangente de sensibilização, for-mação cívica e profissional. Não se pretende sensibilizar e formar a comunidade da ESAC apenas em relação ao SGA e às boas práticas específicas na área de actividade de cada um, mas transmitir-lhe um conhecimento global da situação, promovendo a consciência da globalidade, de modo a atingir uma massa crítica consciente a qual é necessária para conseguir a mudança organizacional. Pretende-se que os indivíduos adquiram uma maior consciência e consequentemente uma maior capacidade de intervenção perante problemas e desafios (Carreiras et al, 2005). Esta estratégia é, contudo, mais exigente, mas também mais sustentável a longo prazo. Deste modo, o modelo de for-mação adoptado é totalmente distinto do modelo usual (formação típica em sala), consistindo essen-cialmente em estratégias informais e voluntárias. Esta escolha justifica-se também com dois argumen-tos baseados nas especificidades dos recursos humanos da ESAC: por um lado, dada a multiplicidade de actividades realizada pelo pessoal docente e não docente, estes não têm disponibilidade de tempo para actividades de formação extra; por outro lado, a classe docente em particular, não seria muito

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receptiva a este tipo de formação, já que a sua carreira profissional está dependente de outro tipo de formação, como os graus de mestrado, de doutoramento, e da necessidade de produção de publica-ções científicas.

As estratégias informais adoptadas baseiam-se assim nos elementos de comunicação anteriormente referidos, como a newsletter e outros materiais informativos, que sendo distribuídos pela ESAC forne-cem conhecimentos sobre o SGA e matérias ambientais em geral. Estes materiais deverão ter aten-ção um factor adicional: a formação do público-alvo. Enquanto que o nível de formação dos docentes é elevado (varia entre o grau de licenciatura e de doutoramento), o dos não docentes é mais baixo (varia entre o 4º ano de escolaridade, com cerca de 38%, até ao de licenciatura). Deste modo, a linguagem utilizada deve ser acessível e perceptível, mas de algum modo técnica.

Os estudantes, por sua vez, constituem uma população flutuante e variável ao longo do tempo, que se encontra na ESAC para receber formação específica em determinadas áreas, durante um período médio aproximado de cinco anos. São uma comunidade jovem, e portanto aberta a desafios, novos conhecimentos e potencialmente mais receptiva aos problemas ambientais. Contudo, os estudantes estão condicionados pelas actividades lectivas, nomeadamente aulas, trabalhos, testes, exames ou estágios, que lhes condiciona de algum modo a disponibilidade para actividades de formação extra-curriculares. Deste modo, a estratégia mais eficaz de atingir a população estudantil da ESAC é a inte-gração da formação e sensibilização ambiental no âmbito curricular, através de conteúdos em discipli-nas, realização de trabalhos ou de estágios. Espera-se que o envolvimento dos alunos através de estágios constitua a abordagem mais eficaz, em termos de formação nesta área, já que o período de tempo envolvido é suficiente para estes adquirirem uma verdadeira consciência sobre os problemas ambientais, levando a uma real mudança de atitudes e comportamentos. De realçar que a longo prazo a formação ambiental dos estudantes terá um impacte muito significativo com vista à sustentabilidade, já que este serão os futuros profissionais no mercado de trabalho.

No âmbito da formação estão previstas, contudo, actividades formais mas com um carácter pontual, como por exemplo cursos de especialização, pós-graduações e conferências científicas.

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CAPÍTULO 5 - ESTUDO DE CASO: ESAC

Este capítulo apresenta os resultados preliminares da implementação do modelo desenvolvido e apresentado anteriormente, na ESAC.

5.1 MONITORIZAÇÃO AMBIENTAL E ENERGÉTICA

A monitorização ambiental e energética envolve a auditoria aos fluxos de energia, água, papel, consu-míveis de impressão, fertilizantes e produtos fitofarmacêuticos que entram na ESAC, aos de resíduos sólidos e efluentes líquidos que são emitidos para o exterior, e emissões de CO2 da sua responsabili-dade. Com base nestes resultados foram estabelecidos indicadores de desempenho ambiental e energético da ESAC.

Dada a inexistência de valores de referência (de outras instituições similares) para os indicadores utili-zados, procedeu-se a uma análise evolutiva do consumo anual de cada fluxo, e a uma análise compa-rativa dos indicadores (quando aplicável), em termos de custo per capita.

Os indicadores operacionais de entrada apresentam tendências diferenciadas (Tabela 5.1): enquanto que o consumo de água, de energia e de papel tem vindo a aumentar, o gasto em consumíveis de impressão tem diminuído. Por outro lado, o consumo de fertilizantes, produtos fitofarmacêuticos e de reagentes químicos é variável ao longo dos quatro anos. Em relação aos indicadores de saída, quer o volume de efluentes líquidos, quer as emissões de CO2 têm vindo a aumentar. De realçar que o indi-cador relativo à quantidade de resíduos sólidos produzida apenas se aplica para 2004, ano em que se iniciou a quantificação e que se implementou a recolha separativa.

A análise comparativa dos fluxos per capita nas unidades monetárias permite uma análise rápida e expedita do grau de significância que o custo de cada fluxo tem na ESAC. Globalmente, verifica-se que o consumo de energia (em média 71 €/ano/pessoa) e de consumíveis de impressão (51 €/ano/pessoa) são os fluxos com maior custo por pessoa (de salientar que em 2001 os segundos chegaram a suplantar a energia) (Figura 5.1). Com menor significância aparece o consumo de água de rede (20 €/ano/pessoa) e de reagentes químicos (11 €/ano/pessoa), seguidos pelo consumo de papel (6 €/ano/pessoa), efluentes líquidos e resíduos sólidos (ambos com 5 €/ano/pessoa), sendo que este último apresenta uma tendência de crescimento relevante no último ano. Realça-se, todavia, que no caso dos fluxos de papel e de consumíveis de impressão, o custo per capita é resultado da junção dos consumos de alunos e funcionários. Analisando os referidos fluxos pelas unidades de resmas e de consumíveis de impressão verifica-se uma contribuição muito superior dos funcionários da ESAC do que a dos alunos. Sendo que cerca de metade dos funcionários da ESAC não utiliza estes recursos (a maioria dos não docentes), pode concluir-se que o impacte dos funcionários, sobretudo dos docentes, é bastante significativo no que diz respeito a estes dois fluxos.

Note-se que o indicador relativo ao consumo de água de captação para rega é constante ao longo dos três anos, dado que se baseia numa estimativa do volume captado, e que não houve alteração das actividades agrícolas. Para finalizar, os valores relativos aos fertilizantes e produtos fitofarmacêuticos apresentam uma variação significativa ao longo dos quatro anos, sendo de realçar o custo mais elevado por hectare no caso dos produtos fitofarmacêuticos.

Por último, o indicador de consumo anual de energia por área coberta corresponde a um valor médio, não sendo possível compará-lo com os valores de referência publicados. Este valor resulta do agrupa-mento de um conjunto muito diversificado de edifícios da ESAC, que apresentam diferentes intensida-des no consumo energético (pedagógicos e administrativos, agro-pecuários, agro-industriais, desporti-vos, residenciais e de apoio técnico).

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Tabela 5.1 – Indicadores operacionais de desempenho ambiental e energético

Indicadores 2001 2002 2003 2004 Unidades 0,28 0,26 0,28 0,30 Tep / Ano / Pessoa 0,01 0,01 0,01 0,02 Tep / Ano / m2 área coberta Energia 65 66 76 78 € / Ano / Pessoa

5,3 7,5 11 10 m3 rede / Ano / Pessoa 1.803 1.803 1.803 1.803 m3 / Ano / ha Água

11 17 25 25 € / Ano / Pessoa

1,1 1,2 0,9 1,8 Resmas / Ano / Aluno 5,7 7,0 7,4 6,0 Resmas / Ano / Funcionário Papel 4,5 5,3 5,6 6,5 € / Ano / Pessoa

0,07 0,08 0,09 0,09 Unidades / Ano / Aluno 1,6 1,2 1,0 1,2 Unidades / Ano / Funcionário

Consumíveis de impressão

80 62 29 32 € / Ano / Pessoa

898 126 647 162 Kg / Ano / ha Fertilizantes

148 43 135 40 € / Ano / ha

7,1 11 8 15 Kg / Ano / ha 5,4 140 12 1,3 L / Ano / ha

Produtos fitofarmacêuticos

117 134 385 55 € / Ano / ha

0,7 0,2 0,3 0,3 Kg / Ano / Pessoa 0,5 0,6 0,4 0,3 L / Ano / Pessoa

Reagentes químicos

9 13 10 11 € / Ano / Pessoa

--- --- --- 72 Kg RSU / Ano / Pessoa 0 0 0 2,5 Kg separados / Ano / Pessoa Resíduos sólidos

1,1 1,6 4,3 12 € / Ano / Pessoa

4,2 6,0 8,4 8,0 m3 doméstico / Ano / Pessoa Efluentes líquidos

2,8 4,1 6,1 6,2 € / Ano / Pessoa

CO2 0,6 0,5 0,6 0,6 Ton / Ano / Pessoa

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

2001 2002 2003 2004

€/A

no/P

esso

a Energia

Água

Papel

Consumíveisde impressão

Reagentesquímicos

Resíduossólidos

Efluenteslíquidos

Figura 5.1 – Análise comparativa dos indicadores em relação ao custo per capita

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5.1.1 Energia

O consumo energético global da ESAC tem apresentado uma evolução crescente no período de análise de 2001 a 2004, representando no último ano um valor de 375 Tep, que totaliza cerca de 100.000 euros (Tabela 5.2). A variação dos consumos reflecte a variabilidade das actividades realiza-das, sendo igualmente sensível a outros factores, nomeadamente a aquisição de equipamentos (com-putadores e de equipamentos de ar condicionado). A variação dos custos, para além de manifestar dependência directa dos consumos, varia também em função das actualizações do custo de energia. Tabela 5.2 – Consumo energético global

Ano [Tep] Evol. anual [€] Evol. anual

2001 349 ---- 81.982 ---- 2002 323 -7% 83.687 2% 2003 350 8% 95.581 14% 2004 375 7% 97.750 2%

O consumo energético distribui-se pelos seguintes vectores: electricidade; gases (propano, butano, oxigénio, acetileno, hidrogénio e azoto); combustíveis (gasóleo, gasolina e gasóleo agrícola); óleos e lubrificantes. Analisando a contribuição dos diferentes vectores para o consumo global (Tep), verifica-se que a electricidade apresenta o maior peso, com uma média de 94%, seguida pelos combustíveis com 6%. Com peso inferior a 1% contribuem os óleos, lubrificantes e os gases (Tabela 5.3). O peso do vector electricidade reflecte a grande quantidade de equipamentos eléctricos existentes na ESAC, característica de uma instituição de serviços, com algumas especificidades como o facto de possuir uma pequena indústria de lacticínios. No contexto global, dada a dominante contribuição do vector energia eléctrica, os restantes vectores são desprezáveis, pelo que este será alvo de uma análise de pormenor. Tabela 5.3 – Consumo dos vários vectores energéticos

Electricidade Gases Combustíveis Óleos e Lubrificantes Ano

[MWh] [Ton] [Ton] [Ton] 2001 1.135 0,3 18 0,3 2002 1.040 1,0 19 1,0 2003 1.105 1,4 27 0,2 2004 1.226 1,0 17 0,4

Electricidade

A ESAC possui seis pontos de fornecimento de electricidade, sendo dois de média tensão e quatro de baixa tensão normal, distribuídos pelo campus em função das várias necessidades (Figura 5.8). O núcleo central (contador de Bencanta, de média tensão) é o principal consumidor de electricidade, representando uma média de 92% do consumo total (Tep) deste vector energético. É neste local onde se concentram a maior parte dos edifícios e actividades da ESAC. A electricidade é essencialmente consumida em equipamentos de trabalho, de apoio pedagógico em aula e laboratório (como por exemplo: computadores, estufas, hottes, autoclaves, máquinas de fotocopiar), em aquecimento e arrefecimento (através de equipamentos de ar condicionado), e em iluminação.

Em termos evolutivos, verifica-se uma redução de consumo de 2001 para 2002, com aumentos poste-riores, com crescente grau de significância, representando em 2004 o consumo de 328 Tep, no valor de cerca de 70.000 euros (Tabela 5.4). Os custos relativos a este consumo apresentam uma variação idêntica, mas não proporcional dado à evolução do tarifário e à variabilidade das componentes de electricidade consumidas. Tabela 5.4 – Consumo de electricidade no núcleo central da ESAC

Bencanta [MWh] Evol. anual [€] Evol. anual 2001 1.052 ---- 63.806 ----

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2002 949 -10% 61.424 -4% 2003 1.013 7% 68.728 12% 2004 1.132 12% 69.698 1%

A maior parte do consumo de electricidade (MWh) é de energia activa11 no período de cheias (média de 41%), seguido do período de vazio (31%) e de ponta (16%), o que indica que a ESAC possui um consumo de electricidade mais ou menos contínuo durante as 24h diárias. Este facto deve-se aos inúmeros equipamentos laboratoriais que se encontram em funcionamento de 24 horas por dia, com um consumo não desprezável. De salientar que a energia reactiva12 no período de cheias representa uma parcela significativa do consumo (10%), e este é um indicador de mau funcionamento da rede eléctrica, pelo que justifica a instalação de equipamentos acumuladores deste tipo de energia (o que foi efectuado durante a realização deste trabalho).

Finalmente, o consumo de electricidade anual, no núcleo central da ESAC, é bastante variável apre-sentando, todavia, picos nos períodos de Verão e Inverno, associados a funcionamentos de natureza sazonal como rega, arrefecimento e aquecimento (Figura 5.2).

0

20

40

60

80

100

120

140

160

Jan Fev Mar Abr Maio Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

MW

h

2001

2002

2003

2004

Figura 5.2 – Variação anual do consumo de electricidade no núcleo central da ESAC

Propostas e Trabalho Futuro

Embora os consumos de energia da ESAC não a classifiquem como uma instituição intensiva em energia (conforme o Regulamento de Gestão de Consumo de Energia), os elevados custos e consu-mos de electricidade observados no núcleo central da ESAC impõem a continuação dos trabalhos de auditoria iniciados, no âmbito deste trabalho. De acordo com os resultados, deverá ser implementado um plano de racionalização de energia. Deste modo, propõe-se como trabalho futuro nesta área:

1. A continuação da auditoria energética iniciada, com vista a identificar os locais de maior consumo e as respectivas tipologias.

De acordo com a diversidade de actividades e infra-estruturas da ESAC, deverão estimar-se os consumos por: habitações do campus, instalações desportivas, bar, cantina, reprografia, instalações da Associação de Estudantes, oficina tecnológica de lacticícios e de hortofrutícolas, biblioteca, lavan-

11 Energia activa é a energia útil consumida no sistema. É consumida em três períodos do dia: cheias (dia), vazio (noite) e ponta (dia, nas alturas de maior consumo), cujo período horário varia entre o horário de Inverno e o de Verão, sendo estabelecido pelo fornecedor (www.edp.pt) 12 Energia reactiva é uma forma de energia eléctrica que não produz trabalho. Esta energia poderá ser totalmente adquirida ao distribuidor, que providenciará a sua produção e transporte, ou poderá ser compensada nas instalações do consumidor através de uma bateria de condensadores. Os consumos excessivos de energia reactiva apresentam inconvenientes diversos que se traduzem geralmente em piores condições de exploração das instalações: aumento das perdas na rede; redução da vida útil dos equipamentos; penalizações tarifárias; subutilização da capacidade instalada (www.edp.pt).

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daria, serviços administrativos, salas de aulas, gabinetes, instalações sociais (corredores, WC’s, oficinas) e rega.

Do mesmo modo, deverão ser determinados e localizados os consumos por tipologia de utilização, ou seja, em termos de consumos em iluminação, equipamentos informáticos, de laboratório, de aqueci-mento e arrefecimento, e ainda deverão ser identificados os equipamentos pouco eficientes.

2. A instalação de contadores de electricidade e a sua monitorização periódica.

Existem diversos contadores instalados nas habitações da ESAC para se poder atribuir os custos energéticos aos respectivos utilizadores. Verificou-se, contudo, no decorrer deste trabalho, que a sua monitorização não é contínua nem rigorosa. Deste modo, é recomendável que de futuro este procedi-mento seja corrigido. Além dos contadores já existentes, foram instalados no decorrer deste trabalho três contadores em locais considerados como potenciais grandes consumidores, nomeadamente nos edifícios onde estão localizados os laboratórios e na oficina tecnológica de lacticínios.

3. A elaboração de um plano de racionalização de energia, definindo objectivos de redução e medidas a implementar. Neste plano poderão constar igualmente projectos com vista à diversificação de fontes de energia, como por exemplo de energias renováveis.

Já foi desenvolvido um projecto de análise de viabilidade técnica e financeira de um sistema solar tér-mico para aquecimento de águas sanitárias, que demonstrou plena viabilidade. Estes sistemas pode-rão também fornecer água quente para outras utilizações, nomeadamente laboratórios.

4. A análise do tarifário e consulta de propostas, quer ao fornecedor actual de electricidade, quer a outros existentes decorrente da actual liberalização deste mercado.

Decorrente deste trabalho, o actual fornecedor (EDP Corporate) apresentou uma proposta de altera-ção de tarifário para o núcleo central da ESAC, que representa uma poupança anual de 16,4%, no valor de 13.244€. Aguardam-se outras propostas já solicitadas a outros fornecedores (como a empresa Sodesa – Comercialização Energia, S. A.).

5.1.2 Água

A água utilizada na ESAC é proveniente da rede de abastecimento público, de captações subterrâ-neas (furos e poços) e de captações superficiais (Figura 5.9).

As fontes superficiais de água são a Ribeira dos Covões e sobretudo o Rio Mondego. A ESAC possui várias captações subterrâneas, nomeadamente furos e poços dispersos um pouco por toda a área. A água superficial e com origem em captações subterrâneas, é utilizada essencialmente para rega de espaços agrícolas e em infra-estruturas de apoio à actividade agro-pecuária (Tabela 5.5). Realça-se a oficina tecnológica de hortofrutícolas, uma instalação industrial, que ao contrário do estabelecido para a produção de produtos alimentares (ligação à rede de abastecimento público), possui uma ligação à água subterrânea, cuja qualidade não é adequada). Tabela 5.5 – Utilização da água superficial e subterrânea

Tipo Origem Utilização

Rio Mondego Rega das pastagens de regadio, área milho e arvenses, pomares e horto Superficial

Ribeira dos Covões Rega das pastagens de regadio

Subterrânea Furo e poço Rega de espaços verdes, horto, oficinas, lagar, zona das cavalariças e picadeiro, pastagens junto da casa do motor, Oficina tecnológica de hortofrutícolas

Não existindo quaisquer registos da quantidade de água superficial ou subterrânea captada, recorre-se a uma estimativa dos consumos agrícolas considerados como mais significativos, tendo como base dados recomendados pelo Ministério da Agricultura, Desenvolvimento Rural e das Pescas, e a expe-

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riência da ESAC. Estima-se assim um consumo médio anual de 81.000 m3 de água captada para rega (Tabela 5.6), o que revela os elevadíssimos valores de consumo de água associados à actividade agrícola. Tabela 5.6 – Consumo de água superficial e subterrânea

Utilização Consumo teórico13

[m3/ha/ano]

Consumo [m3/ano]

Rega de pastagens de regadio 6000-7500 52.500 Rega de pastagens junto ao ovil 3700 16.650 Rega da área de milho e culturas arvenses 3000 12.000 Total --- 81.150

No respeitante à rede de abastecimento público, existem quatro pontos de fornecimento, localizados em vários locais do campus. Estes abastecem os vários edifícios do núcleo central, as habitações, as instalações desportivas e a oficina tecnológica de lacticínios. Nos edifícios principais, a utilização da água é variada: lavandaria, laboratórios, instalações sociais (WC’s), cantina, bar e inclusivamente a rega dos espaços verdes envolventes.

O consumo de água da rede de abastecimento público aumentou substancialmente desde 2001 até 2003, verificando-se uma ligeira redução em 2004 (Tabela 5.7). Neste último ano, o volume de água consumido foi cerca de 13.000 m3, rondando o montante de 46.000 euros. Esta redução em 2004 poderá estar associada à não laboração da oficina tecnológica de lacticínios durante este ano. Em termos de custos, o comportamento é idêntico, justificando-se as discrepâncias entre a evolução do volume de água consumido e os custos, pelas alterações do tarifário e respectivas taxas. Tabela 5.7 – Consumo de água da rede de abastecimento público

Ano [m3] Evol. Anual [€] Evol. Anual 2001 6.667 ---- 19.237 ---- 2002 9.400 41% 28.183 47% 2003 13.199 40% 44.300 57% 2004 12.658 -4% 45.601 3%

Analisando o consumo dos vários pontos de abastecimento, verifica-se que o maior consumidor de água é o núcleo central da ESAC representando uma média de 82% do total, seguido pelo núcleo habitacional da Casa do Bispo com 10%, e por Bencanta-Freixo com 8%. O ponto de abastecimento de Bencanta-Santa Clara não foi utilizado durante todo este período, tendo-se verificado o desconhe-cimento por parte dos responsáveis técnicos da ESAC da sua existência.

O consumo de água (m3) entre 2001 e 2004 no núcleo central da ESAC é muito variável (Figura 5.3), observando-se, contudo, picos no período de Verão (possivelmente derivados do aumento de utiliza-ções em rega). De notar o valor nulo em Fevereiro/Abril de 2001, que poderá estar associado à falta de leitura do contador.

13 Valores recomendados pelo Ministério da Agricultura, Desenvolvimento Rural e das Pescas para cada cultura em: http://www.idrha.min-agricultura.pt/

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500

1000

1500

2000

2500

Jan/Fev Fev/Abr Abri/Jun Jun/Ago Ago/Out Out/Dez

m3

2001

2002

2003

2004

Figura 5.3 – Variação anual do consumo de água no núcleo central da ESAC

A análise da factura de água no local de maior consumo revela que a maior parte dos custos se deve ao volume de água consumido, que representa uma média de 68% do total. As restantes parcelas mais significativas são indexadas a esta, e correspondem à taxa de saneamento (18%) e à de resí-duos sólidos (12%).

Consumo Global

O consumo global de água da ESAC ronda os 100.000 m3/ano, sendo que destes, 89% (em média) são provenientes das captações subterrâneas e superficiais, e apenas 11% da água é proveniente da rede de abastecimento.

Estes valores revelam um aspecto importante. O maior fluxo de água é o consumo de água subterrâ-nea e superficial, destinada à rega das culturas agrícolas. Este não tem um reflexo proporcional nos custos financeiros para a ESAC, já que o respectivo custo ambiental não é internalizado. O único fluxo financeiro associado corresponde ao custo de electricidade relativo à bombagem da água. Assim, no fluxo do indicador água não existe uma relação directa entre o volume total de água consumido e o fluxo monetário. Esta relação directa só existe para alguns tipos de utilização de água, que é a forneci-da pela rede de abastecimento público.

Propostas e Trabalho Futuro

Embora o maior volume de água consumido pela ESAC não tenha um custo efectivo (água subterrâ-nea e superficial), a restante (água de rede) representa um custo relevante para a instituição (em 2004, cerca de 35.000 euros), pelo que a auditoria aos consumos de água deverá ser concluída de modo a estabelecer um plano de racionalização de água.

Propõe-se assim como trabalho futuro nesta área:

1. A continuação da auditoria iniciada, com vista a identificar os locais e actividades de maior consumo.

Tendo em conta as actividades da ESAC, deverão determinar-se os consumos nos seguintes locais: habitações do campus, instalações desportivas, bar, cantina, oficina tecnológica de lacticínios e de hortofrutícolas, lavandaria, laboratórios, instalações sociais (WC’s), e outros (oficinas, rega de espa-ços verdes envolventes aos edifícios principais). Poderá recorrer-se a estimativas e medição por con-tadores.

2. A instalação de contadores e a sua monitorização periódica.

À semelhança do exposto para o indicador energia, também em relação à água se verificou a existência de contadores nas habitações da ESAC e em diversos locais como forma de atribuir os custos de consumo aos respectivos utilizadores. Porém, a sua monitorização não é contínua nem rigorosa, pelo que se recomenda a correcção deste procedimento. Além destes contadores, foram instalados, no decorrer deste trabalho, outros contadores em locais de grande consumo, como: labo-

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ratórios, a oficina tecnológica de lacticínios e a cantina. De modo a medir com rigor as captações subterrâneas, foi também colocado um contador no ponto principal de captação.

3. A elaboração de um plano de racionalização de água, com base na segregação dos usos e identificação dos pontos críticos, definindo objectivos de redução e medidas a implementar.

Realça-se que no âmbito do EMAS@SCHOOL já se encontra em implementação uma medida de racionalização de água num dos pontos mais problemáticos: a rega de pastagens, através de um sistema automático concebido em função da monitorização da humidade do solo.

4. A análise do tarifário da água da rede de abastecimento público e negociação com o fornecedor do serviço.

A análise do tarifário da água de rede de abastecimento público revelou que a ESAC se encontra numa categoria desadequada para as características da instituição (que possui actividades de ensino, de investigação, industriais, entre outras) e que corresponde ao tarifário mais dispendioso. Foi realiza-da uma simulação de consumo para 2005, em que se adoptou o tarifário considerado mais adequado, estimando-se uma poupança de 56%, no valor de cerca de 30.000 euros. Sugere-se assim a negocia-ção do tarifário com o fornecedor do serviço (empresa ‘Águas de Coimbra’). As poupanças obtidas poderão ainda ser orientadas para investimentos em equipamentos mais eficientes.

Salienta-se porém outro aspecto inerente à factura da água, que é a taxa de resíduos sólidos indexada ao consumo de água. Esta evoluiu de 10% do custo da água em 2001 para 50% em 2004. Sendo que numa instituição como a ESAC não existe uma relação directa entre o consumo de água e a produção de resíduos, recomenda-se a negociação desta taxa, tendo como informação base a quantificação de resíduos da instituição já realizada.

5.1.3 Papel e Consumíveis de Impressão

O papel e os consumíveis de impressão são utilizados na ESAC com fins pedagógicos, de investiga-ção e administrativos (p.e. em impressão e cópias de exames, artigos, material bibliográfico ou docu-mentos administrativos). Os seus utilizadores são os estudantes, funcionários docentes e não docen-tes ligados à actividade administrativa, de docência, investigação e técnica.

Existem três principais pontos de utilização destes recursos: a Associação de Estudantes (AEESAC), a reprografia (um fornecedor da instituição) e a própria ESAC, em cada departamento e sector, atra-vés do serviço de aprovisionamento. A AESAC proporciona um serviço de impressão principalmente dirigido aos estudantes, mas também à restante comunidade. O principal serviço da reprografia é a fotocópia de elementos de estudo para os alunos. Além dos serviços anteriores, os funcionários da ESAC têm ao seu dispor uma máquina de impressão e de fotocópia central, bem como impressoras de menor dimensão nos seus postos de trabalho. As aquisições aos fornecedores de papel e consu-míveis de impressão são efectuados pela AEESAC, reprografia, e pelo serviço de aprovisionamento no caso de se tratarem de pedidos internos de funcionários da ESAC.

Da auditoria efectuada verificou-se que o consumo total de papel tem vindo a aumentar, apresentando uma média anual de cerca de 2.700 resmas (6.800 Kg). Esta mesma tendência não se observa nos consumíveis de impressão, já que diminuíram significativamente de 2001 a 2003, verificando-se um ligeiro aumento em 2004 (estes apresentam um consumo médio anual de 340 unidades, represen-tando cerca de 7 litros de tinta, em tinteiros, e 71 Kg de pó, em tonners). Ao nível dos custos, também se verificou uma tendência de aumento no papel e de diminuição nos consumíveis de impressão. Em 2004 foram gastos cerca de 8.000 euros com papel, o mesmo não se passando com os consumíveis de impressão, já que se verificou uma redução de 57% nos custos, atingindo-se em 2004 o montante de 40.000 euros (Tabela 5.8). Como os custos com o papel têm vindo a aumentar ao contrário do que se verifica com os consumíveis de impressão, pode concluir-se que os custos unitários em impressão foram reduzidos, o que se poderá dever à introdução do equipamento de impressão e de fotocópias

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centralizado (que possui uma relação impressão/custo inferior à média dos equipamentos) e à sua utilização pela maioria dos funcionários da ESAC. Tabela 5.8 – Custos globais em papel e consumíveis de impressão.

Ano Papel [€]

Consumíveis de impressão [€]

2001 5.727 93.201 2002 6.686 78.173 2003 7.031 37.093 2004 8.248 39.754

A ESAC é a maior consumidora de papel, representando em média 49% do consumo total, seguida pela reprografia (47%) e pela AEESAC com apenas 5%. A ESAC é igualmente a principal consumido-ra de consumíveis de impressão, com 74% da quantidade média total adquirida, seguida pela AEESAC com 16% e a reprografia com 10%. A ESAC apresenta-se como a mais consumidora de tinteiros, e a reprografia de tonners (o que resulta directamente do tipo de equipamento dominante: fotocopiadoras). O consumo de tonners na ESAC não é contudo desprezável, representando uma média anual de 37% da quantidade total. Realça-se a redução na ESAC de tinteiros acompanhada por um aumento dos tonners, o que reflecte uma maior utilização do equipamento central de impressão, ou de outro tipo de impressoras que não sejam de jacto de tinta.

Propostas e Trabalho Futuro

Propõe-se como trabalho futuro nesta área:

1. Continuar a auditoria iniciada, especificamente para a ESAC, identificando os locais e/ou funções de maior consumo de papel e consumíveis de impressão.

Embora a análise apresentada exponha os consumos globais da ESAC, a informação recolhida no âmbito deste trabalho permite atribuir os consumos a cada departamento da ESAC. Por outro lado, o equipamento central de impressão e cópias regista, por utilizador, a quantidade de cópias e impres-sões realizadas.

2. Elaboração de um plano de racionalização de consumo de papel e de consumíveis de impressão.

A definição de um plano de racionalização engloba a definição de objectivos e metas de redução e acções a implementar. Destas últimas poderão constar, p.e. a colocação dos conteúdos didácticos na Internet, a utilização do correio electrónico como meio de comunicação preferencial relativamente ao formato papel, uma maior informatização dos serviços administrativos, ou a utilização do papel nas duas faces. Contudo, nesta temática é indiscutível a reengenharia de determinados processos nos vários sectores de funcionamento, desde o pedagógico ao administrativo. De realçar que o envolvi-mento da comunidade da ESAC na definição deste plano pode conduzir não só à identificação de acções de redução mais eficazes, como aumentar a probabilidade de sucesso da sua implementação.

5.1.4 Fertilizantes e Produtos Fitofarmacêuticos

Os fertilizantes são substâncias que se aplicam ao solo com o objectivo de melhorar a qualidade do mesmo, de modo obter maiores e/ou melhores produções. Estas substâncias tanto podem ter uma acção directa sobre as plantas, fornecendo-lhes os nutrientes que elas necessitam, como uma acção indirecta, através da melhoria das condições do meio onde as plantas se desenvolvem, destinando-se essencialmente a corrigir a composição química dos solos.

Os produtos fitofarmacêuticos, correntemente denominados pesticidas agrícolas, englobam as formu-lações destinadas a destruir ou prevenir a acção dos organismos prejudiciais aos produtos vegetais, e a favorecer ou regularizar a produção vegetal. Um pesticida é uma mistura de uma substância activa com outras substâncias que facilitam a sua aplicação. Na designação de pesticidas estão incluídos

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alguns tipos de produtos com acções diferentes: insecticidas; fungicidas; herbicidas; acaricidas; moluscicidas; nematodicidas e rodenticidas.

A ESAC aplica fertilizantes e produtos fitofarmacêuticos14 em várias culturas agrícolas, instaladas nas áreas de implementação do SGA da ESAC, como na vinha, horta e pomar, nas pastagens e forragens, em algumas culturas arvenses, com objectivos produtivos e em actividades de investiga-ção. As quantidades de fertilizantes e produtos fitofarmacêuticos adquiridas, no período de análise, têm sido muito variáveis (Tabela 5.9), o que pode estar associado ao facto destes produtos poderem ser adquiridos e ficar armazenados, não sendo gastos no mesmo ano. Neste tipo de fluxo não existe, portanto, uma relação directa temporal entre as aquisições e o consumo, ao contrário do que se passa, por exemplo, com a água ou energia. Em média, a ESAC adquiriu neste período, por ano, cerca de 21 toneladas de fertilizantes, no valor de 4.000 euros, e cerca de 460 kilogramas e 1.800 litros de produtos fitofarmacêuticos, no valor de 8.000 euros (note-se o custo unitário mais dispendioso dos produtos fitofarmacêuticos). Tabela 5.9 – Consumo de fertilizantes e de produtos fitofarmacêuticos

Fertilizantes Produtos Fitofarmacêuticos Ano [Kg] [€] [Kg] [L] [€]

2001 40.410 6.670 319 241 5.282 2002 5.650 1.913 488 6.303 6.036 2003 29.135 6.096 342 556 17.313 2004 7.275 1.786 692 57 2.472

São aplicados diversos tipos de produtos fitofármacêuticos, num total de 45 substâncias, em que 29 são diferentes. São maioritariamente fungicidas (37%), herbicidas (30%) e insecticidas (22%). Em menor número são utilizados moluscicidas (5%), acaricidas (3%) e rodenticidas (2%). Pela sua função, estas substâncias apresentam um grau de toxicidade para quem as manuseia e para o ambiente em geral. A maioria dos produtos fitofarmacêuticos apresenta um carácter nocivo (58%), seguido por isentos (24%), irritantes e tóxicos (8% cada), e corrosivos (1%)15. (Figura 5.4)

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

40%

45%

2001 2002 2003 2004

Fungicida

Herbicida

Insecticida

Moluscicida

Rodenticida

Acaricida

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

2001 2002 2003 2004

Nocivo

Irritante

Tóxico

Corrosivo

Isento

Figura 5.4 – Tipos e toxicidade dos produtos fitofarmacêuticos

14 Ambas as substâncias existem na forma sólida e líquida. No caso da ESAC, os fertilizantes têm sido adquiridos apenas na forma sólida, enquanto que os produtos fitofarmacêuticos em ambas. 15 Classificação de toxicidade atribuída segundo o Decreto-Lei nº 294/88 de 24/08.

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Propostas e Trabalho Futuro

Propõe-se como trabalho futuro nesta área:

1. Continuar a auditoria iniciada, determinando as quantidades de fertilizantes e de produtos fitofarmacêuticos utilizados em cada cultura agrícola.

Embora os resultados apresentados apenas indiquem valores globais, a informação recolhida permite conhecer a que áreas agrícolas foram estas substâncias aplicadas. No entanto, dada a falta de rigor detectada na informação de base, é neste momento impossível atribuir a cada cultura as quantidades aplicadas. Sugere-se assim, que estes registos sejam de futuro efectuados para cada cultura, como forma de controlar a aplicação destes produtos e possibilitar, deste modo, o aumento de eficiência da aplicação.

Em particular para os fertilizantes, propõe-se a identificação dos macronutrientes de cada um, de modo a agrupá-los e a avaliar melhor a sua aplicação (à semelhança dos produtos fitofarmacêuticos, em que foram identificadas as substâncias activas).

2. Devido ao carácter tóxico dos produtos fitofarmacêuticos, propõe-se uma avaliação das con-dições em que estes são armazenados e manuseados, seguida da implementação de medi-das conducentes a reduzir os riscos para a saúde de quem os manuseia e para o ambiente.

3. A redução da utilização de fertilizantes e produtos fitofarmacêuticos de síntese, por técnicas alternativas, como a utilização de produtos orgânicos para a fertilização (recorrendo à compostagem), e o recurso a técnicas de protecção integrada (como p.e. a confusão sexual). Salienta-se que estas técnicas estão já a ser implementadas no âmbito do projecto EMAS@SCHOOL em algumas culturas agrícolas, mas deverão ser expandidas para outras.

5.1.5 Reagentes Químicos

Os reagentes químicos são substâncias ou preparações utilizadas nos diversos laboratórios da ESAC no âmbito de actividades pedagógicas, de investigação e de prestação de serviços. Estes são adquiri-dos sob a forma sólida e líquida. À semelhança de outros fluxos, a aquisição de reagentes químicos anual não tem uma relação directa com o consumo nesse mesmo ano.

A auditoria realizada revela que os valores globais variam de ano para ano, quer em termos de quanti-dades, quer de custos. Em média, a ESAC consome anualmente cerca de 600 L e 500 Kg de rea-gentes, no valor de cerca de 14.000 euros (Tabela 5.10). Em média, são adquiridos 249 reagentes por ano, dos quais 192 são substâncias diferentes. Tabela 5.10 – Reagentes químicos adquiridos

Ano [L] [Kg] [€] 2001 636 823 11.6532002 766 306 15.9542003 467 392 12.8812004 417 345 14.174

Os reagentes químicos apresentam um carácter perigoso, quer para o Homem, quer para o ambiente. A maioria dos reagentes utilizados nos laboratórios da ESAC apresenta um carácter não perigoso (29%), seguida de corrosivo (16%), facilmente inflamável (15%), nocivo (11%), irritante (8%), tóxico (6%) e oxidante (4%)16. São poucos os reagentes classificados como extremamente inflamáveis e explosivos (menos de 1%) (Figura 5.5). Salienta-se contudo que não foi possível obter informação de perigosidade acerca de 9% dos reagentes adquiridos.

16 Classificação de perigosidade segundo a Portaria 732-A/96 de 11/11.

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0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

2001 2002 2003 2004

Corrosivo

Explosivo

Extrema/ inf lamável

Facil/ inflamável

Oxidante

Tóxico

Irritante

Nocivo

S/ informação

Não perigoso

Figura 5.5 – Perigosidade dos reagentes químicos

Propostas e Trabalho Futuro

Propõe-se como trabalho futuro nesta área:

1. Continuar a auditoria iniciada, com vista a identificar a utilização das substâncias mais perigosas.

Embora os resultados apresentados apenas indiquem valores globais, a informação recolhida permite aferir em que laboratórios são utilizados os reagentes. É assim possível detectar onde são utilizados os de maior perigosidade e definir procedimentos de manuseamento, bem como de substituição. Porém, a classificação de perigosidade agora efectuada cingiu-se apenas à classificação principal, pelo que se recomenda uma análise mais detalhada, nomeadamente dos perigos adicionais.

A auditoria realizada no âmbito deste trabalho identificou, igualmente, as frases de risco e de seguran-ça associadas a cada substância, bem como as fichas de segurança dos reagentes utilizados. Propõe-se a recolha das fichas de segurança em falta e a sua distribuição pela totalidade dos labora-tórios, já que foi detectada a ausência destas fichas nos referidos locais.

2. Devido ao carácter perigoso dos reagentes químicos, propõe-se uma avaliação das condi-ções em que estes são armazenados, manuseados e qual o seu destino final, seguida da implementação de medidas conducentes a reduzir os riscos para a saúde de quem os manu-seia, assim como ambientais.

5.1.6 Resíduos Sólidos

Tendo em conta as suas características, a ESAC é uma instituição que produz diversos tipos de resí-duos, como: resíduos sólidos urbanos (RSU), resíduos orgânicos (agrícolas e alimentares), resíduos contaminados com substâncias químicas ou tintas, resíduos eléctricos e electrónicos, madeiras ou sucata, dependendo do sector e da actividade.

A recolha dos RSU está a cargo da Empresa de Resíduos Sólidos Urbanos do Centro (ERSUC), exis-tindo cinco pontos de recolha de RSU da responsabilidade da ESAC, incluindo um ecoponto (Figura 5.10). A produção de RSU foi estimada em cerca de 600 kg/dia, o que, tendo em conta períodos de férias e exames, perfaz cerca de 91 ton/ano. No âmbito deste trabalho foram colocados nos vários edifícios da ESAC contentores para recolha separativa de resíduos, em particular para papel e cartão, vidro, embalagens e pilhas. De acordo com a monitorização efectuada, verifica-se uma recolha separativa anual de cerca de 645 Kg em vidro, 2.000 Kg em papel e cartão, e 505 Kg em embalagens, num total de 3.141 kg/ano. A recolha de pilhas não foi ainda contabilizada, dado a reduzida quanti-dade recolhida até ao momento.

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A grande produção de resíduos é, contudo, a de resíduos sólidos orgânicos, resultante da actividade agro-pecuária, da limpeza de espaços verdes e da produção de refeições (cantinas). Diariamente são produzidos cerca de 824 Kg de resíduos orgânicos, em que a maior percentagem pertence ao estru-me produzido pelas cavalariças (52%) e aos resíduos de limpeza de jardins (20%) (Figura 5.6). A produção anual de resíduos orgânicos é de 301 toneladas. Actualmente os resíduos provenientes das cantinas são encaminhados como RSU. Os restantes resíduos orgânicos foram caracterizados e estão de momento a ser utilizados na realização de ensaios de compostagem, com vista à sua poste-rior valorização com esta técnica de tratamento.

Cavalariças52%

Coelheira4%

Aviário6%

Ovil5%

Podas3%

Cantinas10%

Jardins20%

Figura 5.6 – Distribuição percentual da produção de resíduos orgânicos

Os custos pela recolha dos RSU são indexados ao custo da água, como foi já referido, quer através de uma taxa fixa, quer através de uma taxa indexada (esta última aumentou de 10% em 2003 para 50% em 2004). A taxa fixa passou, em 2004, a ser afecta ao número de contentores existentes cujo custo unitário mensal é de cerca de 140 euros). Os custos da ESAC com a produção de RSU e a sua recolha tiveram, deste modo um aumento significativo atingindo o valor, em 2004, de cerca de 13.000 euros (Tabela 5.11). A existência do ecoponto não representa para a ESAC qualquer custo, como forma de incentivo à separação de resíduos. Tabela 5.11 – Custos relativos à recolha dos RSU

Ano RSU [€]

Taxa fixa RSU [€]

Total [€]

2001 1.083 15 1.0982002 1.665 15 1.6802003 4.720 15 4.7352004 4.898 8.316 13.214

Propostas e Trabalho Futuro

Sugere-se como trabalho futuro:

1. Continuar a monitorização dos resíduos produzidos e quantificar a produção desconhecida.

A ESAC produz outro tipo de resíduos com algum grau de perigosidade, nomeadamente: embalagens e materiais contaminados com substâncias de laboratório, embalagens de consumíveis de impressão, pilhas, resíduos eléctricos e electrónicos, embalagens de produtos fitofarmacêuticos, embalagens de óleos, lubrificantes e tintas, bem como materiais contaminados com estas substâncias. Estes resíduos não estão ainda contabilizados, pelo que deverão sê-lo num futuro próximo. Este trabalho poderá ser facilmente executável, já que a informação recolhida no âmbito desta auditoria permite estimar, por exemplo, o número de embalagens de produtos fitofarmacêuticos (75 embalagens/ano, em média, entre 2001 e 2004), de consumíveis de impressão (95 embalagens/ano) e de reagentes químicos (249 embalagens/ano).

2. Dar um destino adequado a todos os resíduos produzidos.

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No âmbito deste trabalho está a ser implementado um parque de resíduos que permite a acumulação organizada dos resíduos a valorizar, assegurando o encaminhamento para fornecedores autorizados. É o caso do papel, cuja quantificação da recolha separativa permitiu verificar que a quantidade produzida é suficiente para vender a fornecedores, ao invés de sobre acumular o ecoponto do siste-ma municipal. Resíduos como sucata, madeiras, resíduos eléctricos e electrónicos, óleos e lubrifican-tes já foram encaminhados para fornecedores licenciados. Relativamente às embalagens de reagen-tes químicos e de consumíveis de impressão, ainda não foi possível assegurar um adequado destino final, devendo esta situação ser resolvida no curto prazo.

3. Compostar os resíduos orgânicos

Dada a elevada quantidade de resíduos orgânicos produzidos, a continuidade do projecto experimen-tal de compostagem é fundamental, não só como valorização dos resíduos produzidos, nomeada-mente na utilização como fertilizantes do solo, como também pelos benefícios pedagógicos que representa.

4. Reduzir os custos inerentes à produção de resíduos

Como exposto anteriormente, os custos inerentes à produção de resíduos derivam de uma taxa inde-xada ao consumo de água, acrescidos do custo de recolha por contentor de RSU existente na ESAC. De futuro, prevê-se o acréscimo de custos devido ao encaminhamento dos resíduos especiais para operadores licenciados. Deste modo, deverão ser tomadas medidas conducentes à redução dos resí-duos, fomentando essencialmente a reutilização dos mesmos. Por outro lado, salienta-se os elevados custos actuais associados ao número de contentores e respectivo serviço de recolha de RSU. Consi-derando que a recolha separativa tem sido implementada com sucesso e que a maioria dos resíduos orgânicos será encaminhada para compostagem, a quantidade de RSU tenderá a manter-se cons-tante, senão mesmo, a diminuir. Deste modo, recomenda-se a negociação dos custos de recolha dos RSU produzidos face à necessidade de manter o número actual de contentores, atendendo as dimensões espaciais e dispersão dos edifícios da ESAC (Figura 5.10).

5.1.7 Efluentes Líquidos

Dada a diversidade de actividades da ESAC, esta produz diversos tipos de efluentes líquidos: efluente doméstico proveniente dos principais edifícios (núcleo administrativo e pedagógico, laboratórios e cantinas); efluente industrial proveniente da actividade da oficina tecnológica de lacticínios (OTL) e hortofrutícolas; e efluente pecuário proveniente da actividade agro-pecuária (p.e. bovinos, suínos, ovinos, coelhos, galináceos).

O efluente do tipo doméstico é actualmente encaminhado para o sistema municipal de saneamento, assim como o efluente industrial. Neste último caso, está actualmente a decorrer a monitorização do efluente da OTL de modo a aferir a necessidade ou não de tratamento em fim de linha, antes da sua descarga no sistema de drenagem de águas residuais (conforme o Regulamento Municipal dos Serviços Municipalizados de Água e Saneamento de Coimbra). No caso dos efluentes pecuários a situação é mais precária. Embora a maior parte da actividade pecuária se desenvolva em regime extensivo (com produção de efluentes com menor carga poluente mas de forma difusa), também existe alguma produção pecuária intensiva, com produção de efluentes de elevada carga poluente. Na maioria dos casos, não existe qualquer sistema de acumulação e de tratamento dos efluentes, e estes são descarregados directamente no solo ou nas linhas de água mais próximas.

A quantidade de efluente doméstico foi estimada com base no consumo de água da rede de abasteci-mento público (cerca de 80% do consumo de água), verificando-se um aumento desde 2001. Os custos relativos à produção de efluentes líquidos domésticos estão indexados ao consumo de água, observando-se um aumento no período de análise, atingindo em 2004 cerca de 8.000 euros (Tabela 5.12). Tabela 5.12 – Efluente doméstico produzido e custos inerentes.

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Efluente doméstico Ano [m3] [€]

2001 5.334 3.513 2002 7.520 5.175 2003 10.559 7.691 2004 10.126 7.758

O efluente doméstico e pecuário (apenas o bovino) foram caracterizados de modo a delinear um quadro informativo das características dos efluentes resultantes destas actividades. No primeiro caso, o objectivo consistiu em avaliar a contaminação de diversas fontes, como os laboratórios, cantinas, WC’s nas características do efluente doméstico. No segundo, visou uma pré-avaliação da necessida-de de implementação de um sistema de tratamento específico. Foram avaliados diversos parâmetros físico-químicos, sendo que, de acordo com a legislação aplicável (Decreto-Lei nº 236/98 e Regula-mento Municipal dos Serviços Municipalizados de Água e Saneamento de Coimbra) apenas cinco parâmetros excedem os valores legais: o CQO em ambos os efluentes, o CBO5 no efluente domésti-co, o azoto amoniacal e o ferro no efluente bovino (Anexo VII). Salvaguarda-se o facto de, nesta fase, não terem sido avaliados parâmetros microbiológicos e de a caracterização ter sido realizada com base numa amostragem simples, pelo que uma análise destes resultados não seria significativa.

Propostas e Trabalho Futuro

Sugere-se como trabalho futuro:

1. Monitorização e quantificação dos diversos efluentes produzidos

Ao nível dos efluentes domésticos está delineada uma amostragem anual, sendo os parâmetros a avaliar os apresentados no Anexo VII. Os efluentes da OTL encontram-se actualmente em fase de quantificação e monitorização, actividade que vai decorrer continuamente com a laboração da oficina tecnológica. Relativamente aos efluentes pecuários, é necessário quantificar e caracterizar os efluen-tes produzidos nos diversos pontos de produção.

2. Implementação de sistemas de tratamento de efluentes

No âmbito do EMAS@SCHOOL estão a ser testados alguns sistemas de tratamento de efluentes. Contudo, conforme os resultados da monitorização e quantificação dos efluentes pecuários, é impera-tivo que sejam instalados sistemas de tratamento adequados.

5.1.8 Emissão de CO2

O consumo de energia tem um reflexo directo na emissão de gases com efeito de estufa. Derivado do consumo de energia da ESAC, esta instituição é responsável pela emissão para a atmosfera de uma média de 710 toneladas de CO2/ano, verificando-se um aumento das emissões desde 2002 (Figura 5.7). De realçar que a ESAC não está sujeita ao regime de comércio de licenças de emissão de gases com efeito de estufa (Decreto-Lei nº 233/2004 de 14/12), pelo que não tem, legalmente, um limite de emissão de CO2.

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Figura 5.7 – Emissão de CO2

Propostas e Trabalho Futuro

Como trabalho futuro sugere-se a inventariação dos pontos de emissões atmosféricas, bem com a caracterização de alguns dos efluentes gasosos, já que, por exemplo, os laboratórios realizam técnicas de análise que expelem para a atmosfera substâncias poluentes (p.e. o funcionamento das hottes e nomeadamente a técnica de absorção atómica).

5.2 MONITORIZAÇÃO ORGANIZACIONAL

A monitorização organizacional visa avaliar em que medida o processo de implementação do SGA é impulsionador de uma alteração comportamental da comunidade da ESAC. A monitorização realizada baseou-se numa análise da comunidade da ESAC em relação: aos seus conhecimentos sobre a temática ambiental; às suas atitudes e comportamentos nesta matéria; à sua percepção sobre a ESAC; e ao seu posicionamento e percepção face à implementação do SGA.

5.2.1 Caracterização da Amostra

Os resultados da caracterização da amostra são claramente influenciados pela forma como esta foi constituída pelo que não se procederá à análise por tipo de inquirido e respectivas características. A influência da categoria maioritária – alunos – é revelada pela pirâmide etária que se obtém, com uma a média de idades que ronda os 25 anos. A maior percentagem da amostra está na ESAC há menos de cinco anos e possui como habilitações académicas o ensino secundário (59%). A amostra é maio-ritariamente feminina (65%).

5.2.2 Comportamentos em matéria de Ambiente

Da avaliação da percepção da comunidade da ESAC sobre o seu comportamento ambiental verifica-se que os inquiridos adoptam um razoável comportamento ambiental, mas com a consciência de que podem melhorá-lo. A falta de tempo e a não inclusão de bons comportamentos no hábito de trabalho são os principais factores apontados como justificação para o seu comportamento não ser melhor. Não saber o que fazer e a falta de condições e/ou equipamentos, são factores com os quais a maioria dos inquiridos não se reconhece, mas que surgem, contudo com percentagens na casa dos 30%.

5.2.3 Percepção sobre a ESAC

A percepção global da ESAC é boa. Todos os factores têm uma avaliação maioritária, igual ou melhor a ‘Bom’, com excepção dos factores relacionados com a investigação, onde se obtém uma classifica-ção maioritária de ‘suficiente’. É de salientar que ninguém avalia o campus da ESAC como mau, e os recursos naturais são classificados maioritariamente como ‘muito bons’, o que se deve às caracterís-ticas naturais do campus da ESAC.

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Verifica-se uma concordância global sobre a ESAC assumir a área ambiental como uma prioridade estratégica. As principais razões identificadas pela maioria da amostra são: o potenciar das competên-cias da ESAC em matéria ambiental; a contribuição desta para o desenvolvimento local; e o seu dever social e ético em ter um bom comportamento ambiental. Os benefícios para a imagem da ESAC e o aumento de motivação do pessoal são consideradas as principais consequências decorrentes desta estratégia. Todavia, cerca de metade (47%) dos inquiridos indicam que as características do campus da ESAC são um factor suficiente para a classificar com bom comportamento ambiental.

Embora a percepção sobre o desempenho ambiental da ESAC seja positiva, quando questionados sobre os principais problemas ambientais da ESAC, foi obtida a seguinte listagem apresentada por ordem decrescente de significância: (1) consumo de recursos (papel, água, electricidade, combustí-veis); (2) produção de resíduos orgânicos sem tratamento adequado; (3) não separação de resíduos; (4) falhas ao nível da higiene e segurança no trabalho; (5) produção de águas residuais sem tratamento; (6) poluição difusa da agricultura (fertilizantes, pesticidas); (7) produção de efluentes com substâncias químicas; (8) degradação da mata e da galeria ripícola; (9) produção de resíduos tóxicos sem destino adequado; (10) contaminação das águas residuais (pelos laboratórios e agro-indústrias); (11) deficiências nas instalações; (12) compactação do solo; (13) qualidade do ar no interior dos edifí-cios deficiente; (14) poluição atmosférica; e (15) poluição sonora.

A análise dirigida à diversidade de actividades da ESAC revelou que a maioria dos inquiridos está mal informado acerca das mesmas, mostrando nalgumas áreas um total desconhecimento.

5.2.4 Posicionamento em relação ao SGA

Verificou-se que, cerca de oito meses depois do início da implementação do SGA, a maior parte dos inquiridos já tinha ouvido falar neste processo. Verificou-se que os placares criados foram o meio mais eficaz na divulgação imediata, seguido de outros meios como: conversa entre amigos; da semana de divulgação (que decorreu em Março de 2004); do contacto pessoal com os coordenadores do EMAS@SCHOOL; das aulas; da newsletter; da apresentação oficial e da televisão. Conclui-se, deste modo, que um dos meios de comunicação mais eficaz de chegar à população é através dos placares, e ainda, da conversa entre amigos, considerado um meio muito eficaz de propagação de informação, embora de menor controlo por parte dos responsáveis pelo SGA.

Globalmente, verifica-se que os inquiridos gostariam de saber mais sobre o processo de implementa-ção do SGA, e que esta informação deveria estar mais acessível, quer em termos de linguagem, quer de meios de comunicação/informação. Quando se analisa em pormenor o grau de conhecimento sobre o processo de implementação do SGA conclui-se que apenas as acções na área dos resíduos, consumo de recursos, e o processo de implementação do SGA, foram correctamente assimilados pelos inquiridos. Note-se que no período em que foram realizados os questionários, a segunda newsletter que possuía pormenores sobre as várias actividades ainda não tinha sido divulgada.

Relativamente ao envolvimento directo no projecto, a maioria dos inquiridos afirma não estar envolvido de momento. Quando analisadas as causas pelo não envolvimento, constatam-se como principais a falta de tempo, não saber como participar e não serem chamados a colaborar. Conclui-se, deste modo, que as razões são organizacionais e de relativa facilidade de resolução. A segunda causa é de fácil resolução através da apresentação de tarefas ou trabalhos específicos a realizar, e a terceira pelo convite directo à comunidade da ESAC. De realçar que não é por trabalho adicional, à partida, que se justifica a recusa da participação, mas por falta de tempo. A integração da colaboração no projecto com tarefas já realizadas pelas pessoas, poderia ajudar a contornar este problema.

Há todavia uma resposta positiva à futura participação no projecto. É preferida a participação através de grupos de trabalho, seguida da elaboração de trabalhos de disciplinas e de estágios. Tendo em conta que os resultados estão fortemente influenciados pela constituição da amostra, em que o grupo maioritário é constituído por alunos, é de realçar uma vontade destes para integrar os grupos de trabalho, em detrimento de formas de envolvimento mais implicativas do ponto de vista curricular. No

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processo de implementação do SGA, os grupos de trabalho são constituídos apenas por docentes, funcionários e bolseiros, constituindo um fórum de discussão, trabalho e decisão em cada tarefa e área temática. Desconhece-se até que ponto as repostas obtidas, nesta pergunta, foram dadas tendo em atenção este conceito, ou outro, em que os grupos de trabalho são vistos apenas como fóruns de discussão. Coloca-se assim, a seguinte questão: ‘Até que ponto os grupos de trabalho são pretendi-dos como forma de controlo e de tomada de decisão ou como forma de trabalho mais informal?’.

Quando questionados sobre os efeitos da implementação do SGA sobre a ESAC, a resposta é unâni-me relativamente à redução dos seus efeitos ambientais negativos. Outros efeitos apontados são: a melhoria da imagem da ESAC; o aumento de competências e conhecimentos na área do ambiente; a melhoria das condições de trabalho e ensino; uma maior motivação; a melhoria das relações com o exterior e da qualidade das licenciaturas. As respostas não são, todavia, unânimes quanto aos facto-res custos, relações no interior da ESAC e o volume de trabalho, embora a maioria das respostas seja maioritária no sentido de se verificar um aumento dos custos e do volume de trabalho, assim como da melhoria das relações na ESAC.

De realçar que, embora os conhecimentos sobre o processo de implementação do SGA não sejam muito pormenorizados, a sua avaliação global e imagem sobre este processo é positiva.

5.2.5 Conhecimentos sobre a temática ambiental

Globalmente, verifica-se que a amostra possui conhecimentos médios sobre a temática de ambiente, não havendo todavia um completo domínio da área (51% de respostas certas). Em pormenor, a amostra demonstra alguma noção sobre a capitação de consumo de recursos, mas não tem, por exemplo, noção exacta das disponibilidades de água potável. Conhece o protocolo de Kyoto e os seus objectivos, mas desconhece exactamente quais os gases causadores da destruição da camada de ozono. Percebe a relação do consumo de energia com a emissão de CO2 e as alterações climáticas, mas não conhece bem a realidade nacional em termos de consumos de energia. A temática dos resí-duos é maioritariamente bem conhecida. Por último, os inquiridos têm algumas noções sobre qualida-de do ar e sabem o que é um SGA. Relativamente ao conceito de desenvolvimento sustentável, a maioria das pessoas considera que ‘desenvolvimento sustentável é sinónimo de crescimento económico sustentável’, confirmando-se assim o que Filho (2000) refere acerca da confusão existente sobre este conceito.

5.2.6 Análise Global

As pessoas consideram que têm globalmente um bom comportamento ambiental, embora as suas no-ções sobre a temática não sejam muito pormenorizadas. Por outro lado, também têm a noção de que o seu comportamento poderia melhorar. A avaliação da ESAC e do comportamento ambiental da insti-tuição é globalmente boa, e a estratégia de melhoria do comportamento ambiental obtém o apoio da maioria dos inquiridos. À semelhança do seu próprio comportamento, os inquiridos consideram que o comportamento da ESAC pode e deve melhorar. Embora não tendo um conhecimento muito apro-fundado do processo de implementação do SGA, têm uma boa imagem deste, gostariam de saber mais sobre o processo e de participar mais.

Em termos globais, a avaliação sobre o comportamento ambiental, a ESAC, e o processo de imple-mentação do SGA é boa. Todavia, quando esta é esmiuçada, a avaliação já não é tão positiva assim. De notar que o défice de conhecimentos detectado pode originar uma falta de consciência sobre os comportamentos, a ESAC, e o processo do SGA, e produzir como resultado uma avaliação positiva global. Ou seja, a percepção comportamental, da ESAC e do SGA é distorcida pelas lacunas de conhecimento dos inquiridos.

Na análise de questionários, há uma avaliação obrigatória, que é o número de questões não respondi-das. De um modo global, esta percentagem é desprezável: na primeira parte as questões não respon-

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didas representam no máximo 6%; na segunda parte 19%; na terceira parte 43%; e na última parte 21%. Não é possível determinar o motivo das não respostas, podendo-se apontar como possíveis causas o desconhecimento, a não compreensão da pergunta, a não concordância com a sua formula-ção, ou o simples cansaço pelo facto do questionário ser longo.

Analisando criticamente o questionário elaborado, realçam-se alguns aspectos que deverão ser corri-gidos na próxima monitorização organizacional (em 2005). O questionário realizado era: muito longo, o que causou cansaço nos inquiridos, e por vezes não respostas; repetitivo, aspecto referido por algu-mas pessoas, mas foi concebido assim propositadamente como meio de testar as respostas; tinha frases na negativa, que geram dúvida nos inquiridos e que dificultam a interpretação das respostas (cuja utilização a bibliografia desaconselha); possuía perguntas incorrectamente formuladas; tinha uma escala de classificação desadequada (p.e. sim/não, cuja utilização a bibliografia desaconselha); e não incluía um campo de ‘não sabe / não responde’, o que pode ter levado os inquiridos a não responder.

5.3 DISCUSSÃO

Este trabalho teve como objectivo o desenvolvimento de uma metodologia de implementação de um sistema de gestão ambiental e energético na ESAC, desenvolvendo e aferindo os principais factores críticos de sucesso a ter em atenção. O trabalho desenvolvido demonstrou que a implementação deste sistema na ESAC é difícil e moroso, sendo o factor tempo um factor crucial (para mobilizar recursos, planear e implementar acções, mudar mentalidades). Deste modo, ainda só é possível ter conclusões preliminares, e que ainda não permitem comprovar o sucesso da sua implementação na ESAC, embora qualitativamente, se considere que o modelo é adequado e que tem resultados positi-vos. Deste modo, o presente trabalho permanece em aberto e carece de continuação. Espera-se que no próximo ano e meio existam já resultados conclusivos quanto à aplicabilidade do modelo, embora isto não signifique que o SGA esteja totalmente implementado, pois sendo um processo de melhoria contínua, estará permanentemente em evolução.

No que diz respeito ao SGA propriamente dito, a sua implementação na ESAC é encarada de forma prática, focando-se directamente na resolução dos problemas ambientais e no aumento de eficiência dos processos. Se, por um lado, esta abordagem simplificada facilita a implementação destes siste-mas em IES, por outro, coloca o problema do não cumprimento dos requisitos exigidos por normas internacionais como o EMAS ou a ISO 14001, comprometendo assim um possível registo ou certifica-ção (nos moldes em que estas se encontram actualmente). Do trabalho desenvolvido, pode concluir-se que estas duas abordagens não são disjuntas, mas que iniciar um processo de implementação de um SGA como usualmente é feito – pelos requisitos das normas – conduz, mais cedo, ou mais tarde, ao insucesso do objectivo destes sistemas: a melhoria do desempenho ambiental, uma vez que os recursos humanos são sobrecarregados com procedimentos, sem antes tomarem consciência dos problemas e da necessidade da sua resolução. Considera-se que a abordagem seguida, que se foca na resolução das ineficiências, é mais eficaz a curto prazo, quer na resolução dos problemas, quer na sensibilização dos vários actores, sendo que durante este processo eles próprios chegam à conclusão da necessidade de definição de procedimentos (e estes, quando elaborados, poderão conduzir ao reconhecimento pelas normas internacionais). Deste modo, a abordagem adoptada é eficaz como sistema de gestão ambiental e energético de uma IES per si, mas no caso de se pretender um reco-nhecimento normativo internacional, esta fase preliminar deve constituir o ‘motor de arranque’ para todo processo.

A abordagem de implementação do SGA seguida na ESAC consistiu no desenvolvimento e imple-mentação do sistema por pessoal interno da organização. Usualmente tal não se verifica, pois as organizações solicitam o apoio de consultoria externa. Se por um lado, esta última estratégia pode facilitar a institucionalização do processo e a aceitação do mesmo por parte dos membros da institui-ção, por outro, uma organização externa não conhece tão bem o seu alvo de implementação do SGA, não se alcançando um tão elevado envolvimento organizacional como no caso da ESAC, onde se

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verifica um envolvimento efectivo do pessoal interno. A abordagem adoptada na ESAC tem, contudo um factor crítico: é muito exigente em recursos humanos, necessitando que o envolvimento organiza-cional seja efectivo como garantia de sucesso.

5.3.1 Envolvimento Organizacional

O envolvimento e a participação de toda a organização são fundamentais para o sucesso do SGA. Decorrido um ano e meio após o início da implementação do SGA, pode fazer-se um balanço global positivo do envolvimento organizacional. Dada a abrangência temática das acções, e do número e tipo de pessoas envolvidas, foi criado um clima de mudança na ESAC e um espírito mobilizador das pessoas em torno de uma visão comum, motivando-as e aumentando-lhes a auto-estima. Este pro-cesso tem criado uma dinâmica de trabalho de equipa e de colaboração entre as pessoas de vários departamentos, com a potenciação de sinergias e o uso mais eficiente dos recursos. Tem igualmente aumentado as competências em matéria ambiental dos indivíduos da organização (aspecto a confir-mar com a monitorização organizacional). No decorrer deste trabalho verificou-se, igualmente, um aumento de motivação e envolvimento dos actores, à medida que as acções iam sendo implementa-das e os seus resultados visíveis (Carreiras et al, 2005) verificado, nomeadamente, com a implemen-tação do sistema de recolha separativa de resíduos.

Verificam-se todavia alguns problemas organizacionais. A exclusão deliberada ou acidental de pes-soas ou sectores da organização origina entropia, e por vezes sabotagem das acções, o que coloca em perigo a execução do programa de implementação do SGA e, constitui um factor de desestabiliza-ção e de conflito, que tem um efeito oposto ao que se pretende. A resistência por parte de algumas pessoas pertencentes à parte mais tradicional da hierarquia da instituição, que têm uma visão sobre-valorizada sobre a sua posição, e se vêem ultrapassadas pela dinâmica do processo de implementa-ção do SGA, dificulta igualmente o seu sucesso. O envolvimento de funcionários não docentes e a valorização do seu papel nas diversas acções origina, por vezes, mal-estar neste grupo de indivíduos mais tradicional, causando situações de conflito. Isto exige da equipa de coordenação do SGA uma atitude de grande diplomacia e a capacidade de gerir conflitos. Além destes aspectos, existem por vezes interesses escondidos por parte de actores-chave, que entram em conflito com o processo de implementação do SGA. (Lopes et al, 2004)

As condições organizacionais em que o SGA é implementado condicionam, igualmente o envolvimen-to das pessoas da ESAC. A dinâmica da organização, fortemente condicionada pelas actividades pedagógicas e científicas (reuniões, aulas, períodos de avaliação) influencia, por sua vez, todo o pro-cesso de SGA. Esta dinâmica atinge, em alguns períodos do ano, picos de saturação durante os quais é quase impossível manter o processo de SGA a decorrer, já que a disponibilidade de tempo físico e mental das pessoas é muito reduzido (verificado, sobretudo em funcionários docentes e alunos). A dinâmica e as condições organizacionais são ainda influenciadas por elementos externos, como as restrições orçamentais, a incerteza face ao futuro da principal actividade da ESAC (pedagógica), decorrente do processo de Bolonha e/ou das alterações formais de financiamento. Embora estes factores influenciem negativamente o SGA através da criação de um clima de incerteza, tornam os indivíduos conscientes para as oportunidades que um processo de implementação de um SGA proporciona (como por exemplo uma maior eficiência, poupança de recursos, oportunidades de investigação), e para o seu próprio papel enquanto agentes de mudança.

Salienta-se porém que o grau de envolvimento da população da ESAC não é total. Este é usualmente determinado pelos recursos disponíveis: agendas, orçamentos e pessoal colocam limites no tipo de interacções e no número de actores-chave envolvidos. Mesmo com tempo e recursos ilimitados, há um limite no número de pessoas que podem ser envolvidas. No entanto, o que quer que seja que se faça, nem todos os que precisam, ou querem, irão participar, porque não estão identificados como actores-chave e, como tal, não são convidados a participar; as oportunidades de participação são calendarizadas para locais e períodos de tempo nem sempre acessíveis a todos; a informação

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fornecida pode ser demasiado técnica para a maioria; e algumas pessoas preferem queixar-se ou mesmo não participar. (Coghlan & Brannick, 2001)

Um exemplo do exposto anteriormente é o órgão consultivo criado para apoio da Direcção neste processo. Sendo constituído por representantes oficiais dos vários órgãos internos da ESAC, e por agentes externos a esta, tem como missão o acompanhamento e verificação do SGA. Embora este processo se encontre no início, verificou-se uma falta de disponibilidade temporal e mental dos seus membros para as reuniões marcadas e discussão de assuntos tão relevantes como, por exemplo, a aprovação da política ambiental da ESAC. Espera-se que com a continuação do processo de imple-mentação do SGA, e com a comunicação por via electrónica que foi estabelecida neste âmbito, o envolvimento ao nível institucional através deste órgão consultivo seja superior.

Verificou-se que o envolvimento dos alunos é, particularmente eficaz através da realização de está-gios, através do qual o período de tempo investido pelos alunos e a sua colaboração com a equipa de implementação do SGA lhes deixa uma marca indelével, modificando-lhes os comportamentos e a maneira de encarar a questão da sustentabilidade. Por sua vez, os seus níveis de aprendizagem, pelo envolvimento no processo do SGA, são superiores, já que a experiência de aprendizagem é prática e os alunos têm a oportunidade de desenvolver projectos reais (Ferreira et al, 2004).

Apesar de existirem sinais positivos quanto ao envolvimento no processo de implementação do SGA e à consequente alteração de comportamentos, só daqui a algum tempo se poderão tirar conclusões definitivas acerca da eficácia das várias estratégias de envolvimento adoptadas.

5.3.2 Monitorização

No modelo adoptado na ESAC, a monitorização tem como objectivo aferir o grau de implementação do SGA, focando não só os aspectos ambientais e energéticos, como também os aspectos organiza-cionais.

A monitorização ambiental e energética recorre aos balanços de massa, energia e financeiros, como forma expedita de controlar o consumo de recursos da ESAC, cujos fluxos constituem os indicadores ambientais de desempenho, em particular, os operacionais de entrada. Todavia, a avaliação do desempenho ambiental da ESAC deve envolver outros indicadores, como os indicadores de estado do ambiente, que reflectem no ambiente global os efeitos dos fluxos de entrada e de saída. O desenvolvi-mento destes indicadores foi iniciado no âmbito deste trabalho, mas não foi possível concluí-lo, pelo que esta é uma tarefa que deverá ser realizada no futuro próximo. Os indicadores de estado de ambiente são particularmente importantes numa instituição como a ESAC, que possui também activi-dades agrícolas e industriais, e que está inserida num ecossistema fragilizado. Nomeadamente, é relevante saber, permanentemente, a qualidade das águas superficiais e subterrâneas, como forma de controlar o impacte da utilização de fertilizantes de produtos fitofarmacêuticos na actividade agrícola. Neste contexto, poderá tornar-se difícil estabelecer a correspondência da aplicação quantita-tiva destes produtos com os indicadores de desempenho de estado do ambiente, quer por não existir uma relação estritamente directa, quer pela influência da dinâmica temporal nos processos de lixiviação que determinam a contaminação dos recursos (solo e água). Os indicadores operacionais de entrada constituem, deste modo, dados essenciais que quando conjugados com os de estado do ambiente, podem contribuir para uma melhor avaliação do sistema. À semelhança dos indicadores de estado de ambiente, também não foi possível desenvolver, neste trabalho, os indicadores de gestão, embora a monitorização organizacional forneça, indirectamente, alguma informação sobre esta com-ponente, considera-se relevante a determinação futura destes indicadores.

O trabalho de auditoria que permitiu a determinação dos indicadores ambientais operacionais foi difi-cultado por um conjunto de factores organizacionais e de gestão, como por exemplo o facto da infor-mação necessária apenas se encontrar em formato papel, em facturas correspondentes a cada fluxo. Constatou-se que a gestão contabilística actual é incompatível com o tipo e pormenor de informação que se pretende com este tipo de trabalho, já que agrupa a informação impossibilitando o seu trata-

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mento, numa perspectiva de monitorização ambiental e energética. Deste modo, foi proposto um siste-ma de informação integrado que permita a monitorização contínua de toda a informação relevante.

O trabalho desenvolvido revelou, também um total desconhecimento e falta de controlo de custos dos fluxos analisados, quer por parte dos responsáveis financeiros, quer por parte da Direcção da ESAC. Embora se reconheça que o custo total destes fluxos constitui uma pequena percentagem do orça-mento global da ESAC, o trabalho realizado detectou várias situações de ineficiência (como por exemplo, a desadequação dos tarifários de água e resíduos), que se corrigidas, possibilitam a pou-pança significativa de verbas para a ESAC. Este aspecto torna-se tanto mais importante no contexto actual de restrições financeiras da ESAC, mas também como aspecto crucial da eficiência de proces-sos, e inclusivamente, de competitividade da instituição. Realça-se ainda que a consciência por parte da Direcção, dos responsáveis financeiros e dos indivíduos da ESAC acerca dos custos envolvidos nestes indicadores os tornou mais sensíveis e cooperantes relativamente ao processo de SGA.

De um modo global, os fluxos de entrada e saída analisados apresentam uma tendência de aumento. Porém, é importante realçar que não existem valores de referência de instituições similares que pos-sam ser utilizados para comparação. Deste modo, apenas foi possível fazer uma análise comparativa de fluxos ao longo dos quatro anos. Como forma de melhorar a eficiência da instituição, a fase de trabalho seguinte é o estabelecimento de objectivos de redução e/ou de manutenção dos fluxos consi-derados mais significativos, estabelecendo para isso medidas e metas a atingir.

Relativamente à monitorização organizacional, esta foi concebida recorrendo à ferramenta de questio-nário, que deverá ser realizado anualmente. Embora este tenha revelado na primeira fase algumas incorrecções, já referidas anteriormente e que facilmente podem ser corrigidas, considera-se um meio eficaz de avaliar, de modo imparcial, o envolvimento organizacional da comunidade da ESAC no seu todo. Contudo, os resultados das estratégias adoptadas na implementação do SGA apenas poderão ser avaliados com rigor após, pelo menos, a realização de duas ou três monitorizações, pelo que neste trabalho apenas se efectuou uma análise preliminar.

5.3.3 Informação, Comunicação e Formação

A implementação de um SGA produz uma quantidade muito grande de informação, o que foi possível verificar durante a realização deste trabalho. Dadas as características espaciais da informação produ-zida e, especialmente das actividades que decorrem na ESAC, é proposto o desenvolvimento de um sistema de informação geográfico (SIG), que permitirá assegurar o correcto armazenamento, gestão e integração da informação produzida no âmbito deste processo, e ainda, de acrescentar aos processos de análise tradicionais, a análise de componente espacial. Esta é uma tarefa que se encontra em desenvolvimento, e que se espera que venha a constituir no futuro uma ferramenta muito útil de planeamento, gestão e tomada de decisão.

A comunicação e formação são dois pilares essenciais com vista à sensibilização e colaboração da comunidade da ESAC, no processo de implementação do SGA. Isto foi particularmente sentido no início do processo do SGA, em que a falta de sensibilização sobre a temática ambiental e a falta de informação sobre o SGA da ESAC foram factores de não colaboração quer por parte de alunos, quer de funcionários. As estratégias de divulgação implementadas, a concretização de acções visíveis pela comunidade e a melhoria dos canais de comunicação contribuíram substancialmente para a resolução deste problema. Qualitativamente, a equipa de implementação do SGA tem sentido uma maior colabo-ração e sensibilidade por parte de alunos, funcionários docentes e não docentes, o que é um indicador de que as estratégias de comunicação e formação têm funcionado. Todavia, a eficácia das estratégias propostas apenas poderá ser aferida com rigor através da monitorização organizacional, ou seja, através dos questionários realizados.

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5.3.4 Metodologia global e o papel do Investigador

Enquanto que uma investigação em ciência começa usualmente por identificar o problema a investi-gar, seguindo-se o desenvolvimento e teste de hipóteses, a obtenção de resultados e a sua interpreta-ção, a gestão consiste na decisão e implementação de uma estratégia de gestão ou política, de forma a atingir um determinado objectivo, monitorizando os resultados e adaptando as estratégias e políticas iniciais (Bosch et al, 2003). O presente trabalho funde estas duas abordagens, na tentativa de desen-volver uma metodologia de implementação de um sistema de gestão ambiental e energético sustentá-vel a longo prazo na ESAC.

Neste contexto, o agente de investigação tem o triplo papel de investigador, planeador e gestor, o que complica os vários processos, quer pela necessidade do investigador se colocar nas várias posições, quer pelas características específicas de cada processo (Coghlan & Brannick, 2001). Embora esta abordagem tenha como vantagem o facto de se estar ‘dentro’ da organização e por isso conhecê-la bem (a sua cultura, valores, funcionamento), pode ter como desvantagens a dificuldade de distancia-mento de modo a analisá-la com imparcialidade (Coghlan & Brannick, 2001). Todavia, o modelo adop-tado, alicerçado por técnicas de auditoria ambiental e energética e por uma monitorização organiza-cional que recorre à técnica de questionário, permite análises quantitativas que conduzem à imparcia-lidade da análise. Para além disto, o facto dos investigadores constituírem consultores técnicos da Direcção da ESAC, não exercem um papel tão directo na gestão, mas apenas de apoio.

Qualquer forma de investigação, numa organização, tem por sua vez uma dinâmica política. Ter acesso a informação sobre a organização, tratá-la e publicá-la, pode ter consequências políticas, pelo que este tipo de investigação é considerado por alguns subversivo, já que expõe pontos fortes, mas também as fraquezas do desempenho da organização. As forças políticas internas podem por um lado facilitar, mas por outro dificultar a investigação. A abordagem adoptada requer assim que o investiga-dor seja politicamente astuto e que possua competências quer ao nível da implementação da acção, quer ao nível da intervenção nos sistemas culturais e políticos. (Coghlan & Brannick, 2001) O trabalho desenvolvido demonstrou que o apoio reconhecido da liderança da ESAC, a sua postura de transpa-rência em relação ao SGA, e a rede informal criada pela equipa de investigadores (para além das ligações institucionais e hierárquicas) constituíram factores críticos essenciais, como forma de contor-nar e resolver as dificuldades de carácter político inerentes ao acesso de informação.

Ao longo deste processo o investigador deve manter a credibilidade quer como agente de mudança, mas também como actor político, devendo saber gerir a relação com superiores, pares e colegas (Coghlan & Brannick, 2001). O trabalho desenvolvido confirma a opinião de diversos autores, relativa-mente às competências interpessoais que as pessoas envolvidas na implementação de um SGA devem possuir: excelentes capacidades de comunicação (principalmente de ouvir); construção e manutenção de relações positivas; postura pró-activa, reflexiva e crítica; desenvolvimento de visões, estratégias e a sua adaptação contínua; sentido de responsabilidade e de compromisso; capacidade de trabalho em grupo, mas também solitário; boa capacidade de planeamento, resolução de proble-mas de modo expedito e criativo; bom gestor e influenciador de pessoas, e capacidade de identifica-ção de motivações escondidas; boa capacidade de negociação, diplomacia e competência na resolu-ção de conflitos (Coghlan & Brannick, 2001; Sharp, 2002; Simkins, 2003).

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Tipo Contador Localização Cód.Ident.Loc. Pot. Contrat. [KVA] Utilização

1 Bencanta (núcleo central da ESAC) 0 068 371 147 354 Equipamentos, iluminação,

aquecimento, arrefecimento MTM 6 Vagem Grande 0 068 371 158 46,5 Rega 2 Freixo (Ovil) 0 013 267 806 34,5 Equipamentos, iluminação, rega 3 Freixo 0 013 267 407 3,45 Uso doméstico, rega 4 Freixo 0 088 443 153 20,7 Rega BTN

5 Freixo 0 070 962 361 3,45 Uso doméstico

Figura 5.8 – Localização dos contadores oficiais de fornecimento de electricidade

Contador Nº Identificação Localização Utilização

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C1 10781 R. Lagar dos Cortiços - Bencanta Núcleo habitacional da casa do Bispo

C2 26830 Bencanta-Freixo Ovil, zona dos coelhos e galinhas, pocilga, habitações particulares

C3 14235 Parque Residencial N/S S. Martinho do Bispo

Núcleo central pedagógico da ESAC, habitações, lacticínios

C4 18245 / 37541 Bencanta – Sta Clara Sem uso

Figura 5.9 – Pontos de abastecimento públicos e captações superficiais e subterrâneas

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Figura 5.10 – Localização dos pontos de recolha dos RSU

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CAPÍTULO 6 - CONCLUSÕES

A questão central que motivou a realização deste trabalho foi “Como implementar um sistema de gestão ambiental e energético numa organização e, em particular, numa instituição de ensino superior, de modo a que este tenha sucesso a longo prazo?”

Em resposta a esta questão assumiu-se como objectivo último a elaboração de uma metodologia para a implementação de sistemas de gestão ambientais e energéticos em IES, ou em outras organizações. Para isso:

foi fundamentada a relevância desta temática nas IES, e apresentado o panorama actual em termos de sustentabilidade nas mesmas;

foi efectuado um levantamento dos principais sistemas de gestão ambientais e energéticos disponíveis a qualquer organização, apresentados os factores críticos de sucesso para a implementação destes sistemas, bem como alguns modelos de implementação;

foi proposto um modelo de implementação, considerando os principais factores críticos identi-ficados, que, embora tenha sido desenvolvido para uma instituição específica, se pretende de aplicação universal;

foi ainda apresentado um caso real de aplicação do modelo, a Escola Superior Agrária de Coimbra, e discutidos os principais resultados obtidos.

A resposta à questão de base levou ao desenvolvimento de um modelo baseado no envolvimento organizacional, e alicerçado pela monitorização ambiental, energética e organizacional, por um siste-ma integrado de informação e por estratégias de comunicação e formação (Figura 6.1).

Figura 6.1– Modelo de implementação de um SGA e energético

Este modelo tem como principais inovações a integração dos principais factores de sucesso numa metodologia generalizável e facilmente transponível para outras organizações. O modo como cada uma das suas componentes é implementada, pode e deve ser adaptada a cada situação, e ter em consideração as especificidades dessa organização. Este modelo é também inovador na introdução explícita da componente organizacional, quer ao nível do envolvimento das pessoas da organização, quer em termos da monitorização desta componente.

Contudo, o trabalho desenvolvido apresenta algumas limitações, derivadas essencialmente de não ter sido possível, devido ao factor tempo, validar e avaliar completamente o modelo desenvolvido na ESAC, e portanto, verificar se este garante a sustentabilidade do sistema de gestão ambiental e ener-gético a longo prazo.

Como principais conclusões do trabalho desenvolvido destacam-se:

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A ausência, na bibliografia publicada, de soluções metodológicas para a implementação de SGA e energéticos, que dêem resposta às dificuldades que estes processos apresentam.

Este é de facto um problema referenciado por alguns autores, e em face da necessidade da imple-mentação deste sistema na ESAC, foi proposto no quarto capítulo um modelo de implementação.

A real importância dos factores críticos como factores a ter em consideração na implemen-tação destes sistemas.

Os factores críticos devem ser considerados nos processos de implementação de SGA e energéticos em qualquer instituição, sob a pena destes incorrerem no insucesso. Salientam-se: a cultura organiza-cional das organizações; a resistência à mudança destas; o envolvimento dos indivíduos da organiza-ção; a institucionalização do processo; o posicionamento estratégico da organização; as competências do pessoal; a informação; os custos; o tempo; a comunicação; os recursos humanos; a política e a legislação (como factores externos); a transparência nas acções desenvolvidas, informação e resul-tados; os contactos pessoais e o recurso a uma rede de contactos informal, paralela à estrutura hierár-quica; a flexibilidade e adaptabilidade constante do planeamento e das acções, de modo a responder à realidade dinâmica das organizações; a análise sistémica e holística dos problemas; as competên-cias interpessoais das pessoas que implementam o processo, em particular, de gestão diplomática; e por último, a participação de todos os actores-chave nas diversas fases do processo, através de estratégias de envolvimento duplas de bottom-up e top-down. Deste conjunto diverso, destaca-se a importância crucial das pessoas e do tempo como factores de mudança de mentalidades e comporta-mentos.

A gestão ambiental e energética como uma ferramenta para a sustentabilidade 3D.

A gestão ambiental e energética nas organizações constitui uma ferramenta eficaz na melhoria do desempenho ambiental destas, utilizando a análise sistémica e holística como forma de resolver problemas ambientais complexos e interligados. Implica ainda, um aumento de eficiência sobre os processos, levando à redução do consumo de recursos e minimização da produção de resíduos redu-zindo assim, os impactes ambientais das suas actividades. Estes sistemas actuam ainda sobre os recursos humanos das organizações, melhorando os seus conhecimentos em matéria ambiental, e aumentando a sua percepção sobre a complexidade dos problemas ambientais. Esta consciência é um ingrediente essencial para um comportamento ambiental mais sustentável e para uma atitude pró-activa em relação à organização e à realidade. Estes sistemas têm ainda um efeito de melhoria sobre as condições de trabalho das pessoas nas organizações, o que, associado a uma maior consciência sobre os problemas ambientais, constitui um elemento adicional de motivação no trabalho. A cultura organizacional é deste modo influenciada, tornando a organização mais competitiva. Em particular nas IES, o impacte sobre os estudantes em instituições que implementam sistemas de gestão ambientais e energéticos é enorme, já que estes são envolvidos no processo, adquirem competên-cias práticas fundamentais e, ficam conscientes sobre a complexidade dos problemas ambientais e da sustentabilidade, o que terá efeitos a longo prazo na sociedade, já que eles serão os futuros profissionais. Estes sistemas têm ainda, consequências na melhoria da eficiência da gestão das organizações, reduzindo custos, tornando os processos mais eficientes, melhorando a gestão de informação e os sistemas de comunicação, o que aumenta a produtividade e tem um impacte positivo e directo sobre a competitividade das instituições. (Lopes & Ferreira, 2004).

A simplificação dos SGA e energéticos, numa fase inicial, focando-os na resolução dos prob-lemas ambientais e no aumento de eficiência dos processos pode contribuir para o seu sucesso a longo prazo.

Do trabalho desenvolvido, pode concluir-se que iniciar um processo de implementação de um SGA e energético como usualmente é feito – pelos requisitos das normas internacionais, propicia o insuces-so a longo prazo destes sistemas. Uma abordagem simplificada, focada na resolução dos problemas e no aumento da eficiência dos processos, não só não é incompatível com as normativas, como facilita a sua posterior implementação.

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Como perspectivas de trabalho futuro, realçam-se:

Continuação da implementação do sistema de gestão ambiental e energético da ESAC.

O trabalho desenvolvido demonstrou que a implementação deste sistema na ESAC é difícil e moroso, sendo o factor tempo um factor crucial. Deste modo, e como já foi referido, este trabalho consistiu apenas na primeira fase deste processo, tendo ficado tarefas por terminar e desenvolver futuramente, tais como: a monitorização ambiental, energética e organizacional; a quantificação dos indicadores operacionais de entrada e saída; a definição e avaliação dos indicadores de estado do ambiente e de desempenho de gestão; a definição de objectivos e de acções. Em particular, a monitorização organi-zacional permitirá aferir se as estratégias de informação, comunicação e formação funcionam, e se são eficazes na mudança de mentalidades e de comportamentos dos indivíduos da ESAC. Só a continuação deste trabalho poderá comprovar, plenamente, a aplicabilidade do modelo. Por sua vez, sendo a implementação de um sistema de gestão ambiental e energético um processo de melhoria contínua, este trabalho terá intrinsecamente continuidade.

Aplicação deste modelo a outras IES e outro tipo de organizações.

Sendo o modelo desenvolvido facilmente transponível para outras instituições, o passo óbvio seguinte será a sua aplicação noutras IES, em que o problema da sustentabilidade tem sido menosprezado, mas também a outro tipo de organizações.

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A Gestão Ambiental e Energética em IES – A questão da Sustentabilidade

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ANEXOS

ANEXO I – APRESENTAÇÃO DA ESAC

ANEXO II – SERVIÇOS DA ESAC

ANEXO III – DEPARTAMENTOS E SECTORES DA ESAC

ANEXO IV – EXPLICAÇÃO DO QUESTIONÁRIO

ANEXO V - QUESTIONÁRIO

ANEXO VI - NEWSLETTERS

ANEXO VII - CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DOS EFLUENTES

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RIA – Repositório Institucional da Universidade de Aveiro

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