marquÊs de pombal e a reforma educacional brasileira. colônia período pombalino (1759-1822)....

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MARQUÊS DE POMBAL E A REFORMA EDUCACIONAL BRASILEIRA. Colônia Período Pombalino (1759-1822). Períodos. História, Sociedade e Educação ... http://www.histedbr.fae.unicamp.br/navegando/periodo_pombalino_intro.html[28/01/2014 07:41:30] Colônia - Período Jesuítico (1500-1759) Colônia Período Pombalino (1759-1822) Império (1822 - 1889) Primeira República (1889 – 1930) Era Vargas (1930 – 1945) Nacional Desenvolvimentismo (1946-1964) Período Militar (1964-1984) Transição democrática (1984 - Hoje) Introdução Concepções Pedagógicas Arquivos, Fontes e Estado da Arte versão p/ impressão MARQUÊS DE POMBAL E A REFORMA EDUCACIONAL BRASILEIRA Ana Paula Seco [1] Tania Conceição Iglesias do Amaral [2] RESUMO: A origem e o desenvolvimento histórico da educação pública no Brasil são estritamente ligados as ações reformistas empreendida pelo Marquês de Pombal durante o seu governo de Portugal e possessões no período colonial, notadamente por meio do banimento do trabalho missionário e catequético empreendidos pela Companhia de Jesus. Após quase cinco séculos de história, tal tema permanece ainda no horizonte acadêmico como importante debate e referência de pesquisa. Este trabalho apresenta a discussão sobre o contexto em que se deu a primeira reforma educacional no país, e mais precisamente, discute a relação direta entre a expulsão dos jesuítas e a necessidade da implantação de um novo modelo educacional no Brasil. Tem como objetivo realçar importantes contingências a serem consideradas na análise da gênese da educação pública no país por meio do percurso da história. Evidencia a reforma educacional do Marques de Pombal como uma estratégia que se

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    Colnia - Perodo Jesutico (1500-1759)Colnia Perodo Pombalino (1759-1822)

    Imprio (1822 - 1889) Primeira Repblica (1889 1930) Era Vargas (1930 1945) Nacional Desenvolvimentismo (1946-1964) Perodo Militar (1964-1984) Transio democrtica (1984 - Hoje)

    Introduo Concepes Pedaggicas Arquivos, Fontes e Estado da Arte

    verso p/ impresso

    MARQUS DE POMBAL E A REFORMA EDUCACIONALBRASILEIRA

    Ana Paula Seco [1]

    Tania Conceio Iglesias do Amaral [2]

    RESUMO: A origem e o desenvolvimento histrico da educao pblica no Brasil so estritamente ligados asaes reformistas empreendida pelo Marqus de Pombal durante o seu governo de Portugal e possesses noperodo colonial, notadamente por meio do banimento do trabalho missionrio e catequtico empreendidos pelaCompanhia de Jesus. Aps quase cinco sculos de histria, tal tema permanece ainda no horizonte acadmicocomo importante debate e referncia de pesquisa. Este trabalho apresenta a discusso sobre o contexto em que sedeu a primeira reforma educacional no pas, e mais precisamente, discute a relao direta entre a expulso dosjesutas e a necessidade da implantao de um novo modelo educacional no Brasil. Tem como objetivo realarimportantes contingncias a serem consideradas na anlise da gnese da educao pblica no pas por meio dopercurso da histria. Evidencia a reforma educacional do Marques de Pombal como uma estratgia que se

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    apresentou necessria, no s pela lacuna deixada pelo sistema jesutico de ensino, mas tambm como tentativa demodernizao da sociedade em prol do desenvolvimento da economia portuguesa para manuteno efortalecimento do seu regime absolutista.

    Palavras-chave: Marques de Pombal, Reforma Educacional Pombalina, Ensino Estatal,Poltica colonial.

    A reforma Pombalina um importante marco na Historiografia da EducaoBrasileira. Por ser contextual, no possvel compreend-la seno por meio da prpriaHistria do Brasil enquanto Colnia de Portugal, espao temporal onde foi criada. Isso passanecessariamente pelo entendimento das idias de quem a gerou, qual seja, um dos vultoshistricos mais contundentes de Portugal e da Amrica Portuguesa, Sebastio Jos de

    Carvalho e Melo, o Marqus de Pombal (primeiro ministro de Portugal de 1750-1777) [3] .Tanto ele como o seu governo controverso permanecem motivo de polmica at hoje. Paraalm do mito, ficou o debate que a sua atuao suscitou ao longo de dcadas: o lastro

    ideolgico, reformador e autoritrio, voluntarista e desptico e de tirano esclarecido [4] .Deste modo, a anlise das transformaes da sociedade portuguesa em meados do sculoXVIII, consubstanciadas nas Reformas Pombalinas, que abarcaram os mbitos econmico,administrativo e educacional, tanto em Portugal como nas suas colnias, requer oconhecimento da situao da metrpole neste perodo.

    A poltica colonial portuguesa tinha como objetivo a conquista do capital necessriopara sua passagem da etapa mercantil para a industrial. Porm, Portugal no conseguiualcanar este objetivo. A nao que se destacava neste perodo era a Inglaterra, bastantebeneficiada pelos lucros coloniais dos portugueses.

    Com o Tratado de Methwen (1703), firmado com a Inglaterra, pas j

    inserido no capitalismo industrial, o processo de industrializao em Portugal sufocado. Seu mercado interno foi inundado pelas manufaturas inglesas, enquantoa Inglaterra se comprometia a comprar os vinhos fabricados em Portugal.Canaliza-se , assim, para a Inglaterra, o capital portugus, diante da desvantagemdos preos dos produtos agrcolas em relao aos manufaturados. Desta maneira,enquanto uma metrpole entrava em decadncia (Portugal) outra estava emascenso (Inglaterra) (Ribeiro, 2000, p. 29)

    Na anlise de Lencio Bausbaum (1957) sobre a situao econmica e poltica dos

    pases colonizadores, fica claro a posio de Portugal frente s demais potncias da poca,concluindo que a Inglaterra a partir do sculo XVI e, principalmente, do sculo XVII j erauma nao burguesa e industrial estando frente das demais.

    Como nao, continuava Portugal um pas pobre, sem capitais, quase

    despovoado, com uma lavoura decadente pela falta de braos que a trabalhassem,pelas relaes de carter feudal ainda existentes, dirigido por um Rei absoluto,

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    uma nobreza arruinada, quase sem terras e sem fontes de renda, onde sesalientava uma burguesia mercantil rica mas politicamente dbil, preocupadaapenas em importar e vender para o estrangeiro especiarias e escravos e viver noluxo e na ostentao. (Bausbaum, 1957, p. 48-9).

    Neste perodo, o ento rei de Portugal, D. Jos I, nomeia para seu ministro Sebastio

    Jos de Carvalho e Melo, o Marqus de Pombal, que caminha no sentido de recuperar aeconomia atravs de uma concentrao do poder real e de modernizar a cultura portuguesa,reforando o Pacto Colonial, iniciando assim, uma tentativa de transformao no sculoXVII com as Reformas Pombalinas.

    Tais reformas visavam transformar Portugal numa metrpole capitalista, seguindo oexemplo da Inglaterra, alm de adaptar sua maior colnia o Brasil a fim de acomod-la anova ordem pretendida em Portugal. A idia de pr o reinado portugus em condieseconmicas tais que lhe permitissem competir com as naes estrangeiras era talvez a maisforte razo das reformas pombalinas.

    Assim, Pombal procurou industrializar Portugal, decretando altos impostos sobre osprodutos importados. Fundou a Companhia dos Vinhos do Douro, que monopolizou acomercializao dos vinhos em Portugal, prejudicando a nobreza que produzia vinhos emsuas quintas. Incentivou a produo agrcola e a construo naval. Reformou a instruopblica e fundou vrias academias. Confiou a reorganizao do Exrcito portugus ao condede Schaumburg-Lippe, militar alemo. Acabou com a distino entre cristos-novos ecristos-velhos. Entretanto, o exemplo mais conhecido de suas aes reformadoras aexpulso dos jesutas de Portugal e de seus domnios.

    Em relao colnia, Pombal procurou organizar melhor a explorao das riquezasdo Brasil, pois, dessa forma, aumentariam os ganhos de Portugal, to necessrios paraalcanar os objetivos pombalinos referentes economia portuguesa. Criou duas companhiasde comrcio, a do Gro-Par e Maranho e a de Pernambuco e Paraba, para financiarem aproduo de acar, caf e algodo e depois comercializarem os produtos. O algodo eraexportado para a Inglaterra e para as indstrias por ele criadas em Portugal. Incentivou aindstria de construo naval, com a criao de estaleiros, a de laticnios, de anil e decochonilha.

    Com relao minerao, aboliu o imposto do quinto (pagamento ao rei da quintaparte de toda a produo de ouro), substituindo-o pela avena (cobrana fixa de 100arrobas). Suprimiu o regime de contratos para a explorao dos diamantes, criando a RealExtrao. Para melhor controlar a exportao do ouro e dos diamantes, mudou a capital deSalvador para o Rio de Janeiro, que era o porto por onde saam os metais preciosos. Criouum tribunal da relao na nova capital e juntas de justia em todas as capitanias. Ascapitanias hereditrias que ainda pertenciam a particulares foram compradas pela Coroadurante seu governo e transformadas em capitanias reais.

    Em 1753, Pombal extinguiu a escravido dos ndios no Maranho, onde ela era maiscomum que no resto da colnia. Em 1755, proclamou a libertao dos indgenas em todo o

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    Brasil, indo ao mesmo tempo contra os proprietrios de escravos ndios e os jesutas, quedirigiam a vida das comunidades indgenas nas misses (aldeamentos indgenas organizadospelos jesutas). Aps ter expulsado os jesutas de Portugal, obrigou-os tambm a sair doBrasil em 1760. Pombal proibiu a discriminao aos ndios e elaborou uma lei favorecendo ocasamento entre eles e portugueses. Finalmente, criou o Diretrio dos ndios para substituiros jesutas na administrao das misses.

    Segundo Maxwell [5] , Pombal no agia por inteno, mas pelas opes determinadaspela posio de Portugal no sistema de Estado mercantilista do sculo XVIII. No caso daexpulso dos jesutas, o que pretendia era a supresso do domnio dos religiosos sobre a

    fronteira, acordada no tratado de Madri [6] , onde estavam situadas as sete missesjesuticas. Seu objetivo era que os ndios fossem libertados da tutela religiosa e semiscigenassem para assegurar um crescimento populacional que permitiria o controle dointerior, nas fronteiras. Na verdade, no acreditava em uma emigrao europia que pudessecumprir com essa tarefa, era mais fcil europeizar, digamos assim, a populao local. Paraele, o afastamento dos jesutas dessa regio significava to somente, assegurar o futuro daAmrica Portuguesa atravs do povoamento estratgico. O interesse de Estado acabouentrando em choque com a poltica protecionista dos jesutas para com os ndios emelindrando as relaes com Pombal, tendo este fato entrado para a histria como umagrande rivalidade entre as idias iluministas de Pombal e a educao de base religiosajesutica.

    importante lembrar que embora o iluminismo estar presente na Europa do sculoXVIII, Pombal no pode ser considerado um defensor do mesmo, pelo menos no doiluminismo que pregava a autonomia. Ao contrrio, como estadista que era, considerava asidias iluministas dos demais pases da Europa perigosas autoridade real. No obstante,sentia a necessidade de colocar Portugal a altura das demais naes esclarecidas da poca,mas sobre o controle de um forte poder centralizador.

    Esse esclarecimento sobre as aes do Marqus de Pombal, por quem se introduziu oiluminismo no imprio portugus, importante para compreender que diferentemente damaior parte dos governantes Iluministas, mais preocupados com a teoria do que com aprtica, Pombal geralmente atingiu seus objetivos. E no menos pela reforma educacional,por meio da qual abriu as portas a um florescimento da cincia e da filosofia portuguesas emfins do sculo XVIII, mas pelas relaes entre o Iluminismo e o exerccio do poder doEstado. No foi por esprito libertador e igualitrio que Pombal empreendeu a reformaeducacional por meio de mestres e professores seculares, mas pela necessidade, alm depreencher o extenso vazio deixado pela expulso dos jesutas, preparar homenssuficientemente capazes para assumir postos de comando no Estado absolutista.

    POMBAL E A REFORMA EDUCACIONAL

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    A poltica educacional como outra qualquer de Pombal era lgica, prtica e centradanas relaes econmicas anglo-portuguesa.

    A reforma educacional pombalina culminou com a expulso dos jesutasprecisamente das colnias portuguesas, tirando o comando da educao das mos destes epassando para as mos do Estado. Os objetivos que conduziram a administrao pombalina atal reforma, foram assim, um imperativo da prpria circunstncia histrica. Extintos oscolgios jesutas, o governo no poderia deixar de suprir a enorme lacuna que se abria navida educacional tanto portuguesa como de suas colnias.

    Para o Brasil, a expulso dos jesutas significou, entre outras coisas, a destruio donico sistema de ensino existente no pas. Para Fernando de Azevedo, foi a primeira grandee desastrosa reforma de ensino no Brasil. Como bem colocou Niskier,

    A organicidade da educao jesutica foi consagrada quando Pombal os

    expulsou levando o ensino brasileiro ao caos, atravs de suas famosas aulasrgias, a despeito da existncia de escolas fundadas por outras ordens religiosas,como os Beneditinos, os franciscanos e os Carmelitas. (Niskier, 2001, p. 34) Enquanto na Metrpole buscava-se construir um sistema pblico de ensino, mais

    moderno e popular, na colnia, apesar das vrias tentativas, atravs de sucessivos alvars ecartas rgias, as Reformas Pombalinas no campo da educao, s logrou desarranjar a slidaestrutura educacional construda pelos jesutas, confiscando-lhes os bens e fechando todos osseus colgios.

    importante destacar que a reforma pombalina no Brasil no foi implementada nomesmo momento e da mesma forma que em Portugal. Foi de quase trinta anos o tempo deque o Estado portugus necessitou para assumir o controle pedaggico da educao a seroferecida em terras brasileiras; da completa expulso dos jesutas e do desmantelamentosistemtico de seu aparelho educacional, dos mtodos aos materiais didticos, at anomeao de um Diretor Geral dos Estudos que deveria, em nome do Rei, nomearprofessores e fiscalizar sua ao na colnia.

    Atravs do Alvar Rgio de 28 de junho de 1759, o Marqus de Pombal, suprimia asescolas jesuticas de Portugal e de todas as colnias ao expulsar os jesutas da colnia e, aomesmo tempo, criava as aulas rgias ou avulsas de Latim, Grego, Filosofia e Retrica, quedeveriam suprir as disciplinas antes oferecidas nos extintos colgios jesutas.

    Estas providncias, entretanto, no foram suficientes para assegurar a continuidade ea expanso das escolas brasileiras, constantemente reclamadas pelas populaes que atento se beneficiavam dos colgios jesutas. Portugal logo percebeu que a educao noBrasil estava estagnada e era preciso oferecer uma soluo.

    Somente quando a Real Mesa Censria, criada em 1767 (inicialmente com atribuiopara examinar livros e papis j introduzidos e por introduzir em Portugal), alguns anosdepois, passa a assumir a incumbncia da administrao e direo dos estudos das escolasmenores de Portugal e suas colnias, que as reformas na instruo ganham meios de

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    implementao. Com as novas incumbncias e a partir das experincias administrativas dadireo geral de estudos, nos anos anteriores, a Mesa Censria apontou para as necessidadestanto na metrpole quanto na colnia referente ao campo educacional. Assim, os estudosmenores ganharam amplitude e penetrao com a instituio, em 1772, do chamado

    subsdio literrio [7] para manuteno dos ensinos primrio e secundrio. ComoCarvalho (1978) bem explicitou:

    Com os recursos deste imposto, chamado subsdio literrio, alm do

    pagamento dos ordenados aos professores, para o qual ele foi institudo, poder-se-iam ainda obter as seguintes aplicaes: 1) compra de livros para aconstituio da biblioteca pblica, subordinada Real Mesa Censria; 2)organizao de um museu de variedades; 3) construo de um gabinete de fsicaexperimental; 4) ampliao dos estabelecimentos e incentivos aos professores,dentre outras aplicaes (Carvalho, 1978, p. 128).

    Dessa forma, foi implantado o novo sistema educacional que deveria substituir o

    sistema jesutico. Aberto que estava modernidade europia, incorporou partes do discursossobre a ao do Estado na educao e passou a empreg-lo para ocupar o vcuo que foideixado com a sada dos jesutas, pelo menos no que diz respeito ao controle e gestoadministrativa do sistema escolar.

    O NOVO SISTEMA

    Como vimos, foi atravs do Alvar Rgio de 28 de junho de 1759 que o Marqus dePombal, ao mesmo tempo expulsou os jesutas de Portugal e de suas colnias, suprimindo asescolas e colgios jesuticas de Portugal e de todas as colnias; criou as aulas rgias ouavulsas de Latim, Grego, Filosofia e Retrica, que deveriam substituir os extintos colgiosjesutas e criou a figura do Diretor Geral dos Estudos, para nomear e fiscalizar a ao dosprofessores.

    As aulas rgias eram autnomas e isoladas, com professor nico e uma no searticulava com as outras. Destarte, o novo sistema no impediu, a continuao dooferecimento de estudos nos seminrios e colgios das ordens religiosas que no a dosjesutas (Oratorianos, Franciscanos e Carmelitas, principalmente).

    Em lugar de um sistema mais ou menos unificado, baseado na seriao dos estudos, oensino passou a ser disperso e fragmentado, baseado em aulas isoladas que eram ministradaspor professores leigos e mal preparados.

    Com a implantao do subsdio literrio, imposto colonial para custear o ensino,houve um aumento no nmero de aulas rgias, porm ainda muito precrio devido escassez de recursos, de docentes preparados e da falta de um currculo regular. Ademais,vemos uma continuidade na escolarizao baseada na formao clssica, ornamental eeuropeizante dos jesutas, isto porque a base da pedagogia jesutica permaneceu a mesma,

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    pois os padres missionrios, alm de terem cuidado da manuteno dos colgios destinados formao dos seus sacerdotes, criaram seminrios para um clero secular, constitudo portios-padres e capeles de engenho, ou os chamadas padres-mestres Estes, dandocontinuidade sua ao pedaggica, mantiveram sua metodologia e seu programa deestudos, que deixava de fora, alm das cincias naturais, as lnguas e literaturas modernas,em oposio ao que acontecia na Metrpole, onde as principais inovaes de Pombal nocampo da educao como o ensino das lnguas modernas, o estudo das cincias e a formaoprofissional j se faziam presentes. Por isso, se para Portugal as reformas no campo daeducao, que levaram a laicizao do ensino representou um avano, para o Brasil, taisreformas significaram um retrocesso na educao escolar com o desmantelamento completoda educao brasileira oferecida pelo antigo sistema de educao jesutica, melhorestruturado do que as aulas rgias puderam oferecer.

    O Brasil no contemplado com as novas propostas que objetivavam a

    modernizao do ensino pela introduo da filosofia moderna e das cincias danatureza, com a finalidade de acompanhar os progressos do sculo. Restam noBrasil, na educao, as aulas rgias para a formao mnima dos que iriam sereducados na Europa. (Zotti, 2004, p. 32)

    Nas Instrues [8] do Alvar Rgio de 1759 X, transparece claramente o objetivo quenorteou a reforma na instruo. A preocupao bsica era de formar o perfeito nobre,simplificando os estudos, abreviando o tempo do aprendizado de latim, facilitando os estudospara o ingresso nos cursos superiores, alm de propiciar o aprimoramento da lnguaportuguesa, diversificar o contedo, incluir a natureza cientfica e torn-los mais prticos.

    Em substncia, tal Alvar teve como significado central a tentativa de manter acontinuidade de um trabalho pedaggico interrompido pela expulso dos jesutas. Aeducao jesutica no mais convinha aos interesses comerciais emanados por Pombal, comseus conhecidos motivos e atos na tentativa de modernizao de Portugal, que chegariamtambm as suas colnias. Assim sendo, as escolas da Companhia de Jesus que tinham porobjetivo servir aos interesses da f no atendiam aos anseios de Pombal em organizar aescola para servir aos interesses do Estado.

    dentro desta ordem e em nome dela que o Alvar de 1759 pode ser visto como oprimeiro esforo no sentido da secularizao das escolas portuguesas e de suas colnias,entendendo que somente um ensino, dirigido e mantido pelo poder secular, poderiacorresponder aos fins da ordem civil.

    A ingerncia do Estado nas questes de educao comea a ganhar vulto a partir dodeste perodo, concomitante com a idia do desenvolvimento de sistemas nacionais deeducao, ligados aos processos poltico-sociais de consolidao dos Estados Nacionaiseuropeus.

    Seguindo nesta direo, com uma ao intensiva, o Estado portugus assumedefinitivamente o controle da educao colonial. A criao da figura do Diretor Geral dos

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    Estudos deixa bem clara, no mesmo Alvar, a inteno da Coroa de uniformizar aeducao na Colnia e fiscalizar a ao dos professores desde j por ela nomeados domaterial didtico por eles utilizado tambm devidamente recomendado no mesmodocumento de modo a que no houvesse choque de interesses isto , que nohouvesse nenhum outro poder, como era o dos jesutas, a afrontar as determinaes daCoroa. Cabe Coroa a instalao de um novo sistema de ensino, e exatamente essa a linhapela qual segue o Alvar Rgio.

    As aulas rgias institudas por Pombal para substituir o ensino religioso constituram,dessa forma, a primeira experincia de ensino promovido pelo Estado na histria brasileira.A educao a partir de ento, passou a ser uma questo de Estado. Desnecessrio frisar queeste sistema de ensino cuidado pelo Estado servia a uns poucos, em sua imensa maioria,filhos das incipientes elites coloniais.

    Pedagogicamente, esta nova organizao no representou um avano. Mesmoexigindo novos mtodos e novos livros, no latim a orientao era apenas de servir comoinstrumento de auxlio lngua portuguesa, o grego era indispensvel a telogos, advogados,artistas e mdicos, a retrica no deveria ter seu uso restrito a ctedra. A filosofia ficou parabem mais tarde, mas efetivamente nada de novo aconteceu devido principalmente, sdificuldades quanto falta de recursos e pessoal preparado.

    As transformaes no nvel secundrio no afetaram o fundamental, que permaneceudesvinculado da realidade, e buscando o modelo de exterior "civilizado". Quem tinhacondies de cursar o ensino superior enfrentava os perigos das viagens, para freqentar aUniversidade de Coimbra ou outros centros europeus. Como as "Reformas Pombalinas"visavam transformar Portugal numa metrpole como a Inglaterra, a elite masculina deveriabuscar respaldo fora, para poder servir melhor na sua funo de articuladora dos interessesda camada dominante.

    CONSIDERAES FINAIS

    Os 27 anos de governo de Pombal caracterizaram-se por uma tentativa demodernizao da sociedade e de desenvolvimento da economia portuguesa.A peculiaridadede Portugal nessa poca foi a coincidncia do iluminismo com a luta do Estado portuguspara voltar a ser a grande nao da poca dos descobrimentos - por meio do fortalecimentodo Reino e seu soberano - adaptando-se s tcnicas que acreditava terem sido utilizadaspelos seus rivais para ultrapass-lo - ainda que para tanto devesse se apoiar nas novas idiasda Ilustrao, que no poupavam crticas a sua ordem poltica e social j considerada velha -Pombal tinha essa misso. Foi um homem ecltico, pragmtico e obstinado, disposto a tirarde seu caminho tudo que lhe impedisse de alcanar seus objetivos. - em inmerasoportunidades entrou em conflito com membros da nobreza e do clero como se percebe acontrovrsia est no ncleo da ao pombalina, na combinao particular de mtodos queele utilizou. Eles refletem seu posicionamento entre oportunidade e necessidade. Era aoportunidade e seu senso prtico que o faziam agir independentemente do julgamento de

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    quem quer que fosse. Isso se esclarece por meio das grandes reformas perpetradas por

    Pombal [9] , como por exemplo: A reconstruo de Lisboa foi possvel pela catstrofe doterremoto de 1755. A reforma da rea militar seguiu-se invaso espanhola de 1762. Suareforma do sistema educacional foi o resultado inevitvel da expulso dos jesutas. Acrescente nfase nas manufaturas que ocorriam na poca acompanhou a criao de umambiente econmico favorvel substituio das importaes.

    Portanto, a praticidade, s vezes perversa de Pombal, se traduz nas atividades ereformas estabelecidas pelo Marqus na defesa do absolutismo. Na verdade tratava-se de umoportunista cuja hbil manipulao das circunstncias nas quais no lhe importavam osmtodos, colocou o poder do Estado como o maior de seus objetivos, tendo sido, nessesentido, o maior reformador de seu tempo. Tratava-se, portanto de manobras sociais para ofortalecimento estado absolutista de Portugal.

    Embora a Metrpole portuguesa s abrisse perspectivas para a penetrao de umIluminismo contido, cientfico na aparncia, j que permaneceria submetido tradiocultural da imitao, memorizao e erudio literria, houve um avano no ensino pblicoportugus, que passou a formar uma burocracia administrativa mais moderna e eficiente.Alm disso, os professores rgios que aqui exerciam a profisso de ensinar, forampropulsionadores dos sentimentos liberais e incentivadores das idias filosficas que tosignificativamente se fizeram atuantes nos ltimos trinta anos que antecederam aindependncia do pas.

    muito interessante perceber por quais vias o iluminismo implantou-se no Brasil. justamente atravs da poltica imperial de racionalizao e padronizao da administrao dePombal que a educao passou para as mos do Estado, mas essa educao que passou a serpblica, no se faz para os interesses dos cidados. Ela serviu aos interesses imediatos doEstado, que para garantir seu status absolutista precisa manter-se forte e centralizado nasmos e sobre comando de uns poucos preparados para tais tarefas. Assim, mesmo queaparentemente as aes de Pombal induzam ao entendimento de uma poltica desptica debenefcios individuais - idia que no de toda invlida - preciso acordar com a anlise deMaxwell de que os lucros das reformas pombalinas foram individuais, privados. Mas osinteresses foram pblicos - no sentido de estatal - na medida em que naquele contexto,iluminismo, racionalidade e progresso tm um significado muito diferente aos quais se deveestar atento: iluminismo no contexto da colnia brasileira tratou-se, na verdade doengrandecimento do poder do Estado e no das liberdades individuais, Dessa forma,entender o projeto do iluminismo pombalino talvez seja a chave para ajudar a perceber atradio reformista nas tentativas de construo de um sistema nacional de educao pblicarealmente voltado aos interesses pblicos, que at hoje no se consolidou no Brasil.

    BIBLIOGRAFIA

    BAUSBAUM, Lenico. Histria sincera da Repblica: das origens at 1889. Rio deJaneiro: Livraria So Jos, 1957.

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